Caso Clínico
Tratamento da mordida aberta
anterior: relato de caso clínico
Márcio José Reis*, Carla Nogueira Pinheiro**, Mirelle Malafaia***
Resumo
Fazendo parte das más oclusões verticais, a mordida aberta anterior é motivo
de grande preocupação na clínica ortodôntica. Podemos defini-la como sendo a
presença de um trespasse vertical negativo existente entre as bordas incisais dos
dentes anteriores superiores e inferiores.
É uma má oclusão difícil de ser tratada
e de estabilidade duvidosa, em decorrência da sua uma etiologia multifatorial. O prognóstico apresenta-se de bom
a deficiente, dependendo das condições
apresentadas: gravidade, etiologia e fase
em que se inicia o tratamento. Possuin-
do uma maior predileção pela população
infanto-juvenil, a mordida aberta anterior
deve ser corrigida o mais precocemente
possível, proporcionando uma terapêutica
mais simples e um prognóstico mais favorável. Uma abordagem multidisciplinar
é necessária para a manutenção da oclusão normal obtida pelo tratamento ortodôntico. Portanto, o objetivo deste artigo
é realizar uma breve revisão de literatura
sobre a etiologia e os tipos de tratamento
mais empregados na correção da mordida
aberta anterior, seguindo-se com a apresentação de um caso clínico.
Palavras-chave: Mordida aberta anterior. Alteração vertical. Estabilidade.
* Professor do Curso de Especialização em Ortodontia do Hospital Geral de São Paulo. Ortodontista clínico em Passos e Itaú de Minas / MG.
** Especialista em Ortodontia pelo Hospital Geral de São Paulo / SP.
*** Especialista em Ortodontia pelo Hospital de Guarnição da Vila Militar / RJ.
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Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 4 - ago./set. 2007
Márcio José Reis, Carla Nogueira Pinheiro, Mirelle Malafaia
IntRodução
A mordida aberta anterior pode ser definida como a presença de uma dimensão vertical negativa entre as bordas incisais
dos dentes anteriores superiores e inferiores2.
Nahoum13, em 1975, classificou a mordida aberta em duas
categorias: dentária e esquelética. As dentárias resultam da
interrupção do desenvolvimento vertical normal dos dentes
anteriores e as esqueléticas, por sua vez, envolvem displasias
craniofaciais e caracterizam-se pela rotação no sentido antihorário do processo palatino, associada a um aumento da altura facial ântero-inferior, com um ângulo goníaco obtuso e um
ramo mandibular encurtado.
Worms et al.24, em 1971, afirmaram que a incidência das
mordidas abertas diminui com o aumento da idade, apresentando uma alta prevalência na fase pré-puberal, uma correção
espontânea em 80% dos casos na fase puberal, sendo que na
fase pós-puberal são mais prevalentes as mordidas abertas esqueléticas.
A etiologia da mordida aberta anterior é multifatorial22, sendo os principais: a hereditariedade e as causas ambientais7.
Nas fases de dentadura decídua e mista, os fatores mais encontrados são os ambientais: a hipertrofia das amígdalas, a respiração bucal e, principalmente, os hábitos bucais deletérios7,20.
FAtoRes etIoLÓGICos
Genética
É considerado o fator etiológico primário das mordidas abertas esqueléticas, pois o seu desenvolvimento e sua gravidade
estão diretamente relacionados ao padrão de crescimento facial
do paciente. A intensidade das mordidas abertas esqueléticas
pode ser aumentada pela ocorrência concomitante de hábitos
bucais deletérios, deglutição atípica e respiração bucal2.
Hábitos de sucção digital e chupeta
A maioria dos autores concorda que os hábitos de sucção
digital e chupeta têm uma grande participação na etiologia da
mordida aberta anterior21. Neste caso, esta deformidade apresenta caráter dentoalveolar, já que a abertura da mordida é
restrita à região de sucção6,12. Apresenta-se na forma circunferencial e circular, quando advinda do uso de chupeta, já com a
sucção de polegar acarreta a inclinação dos incisivos superiores
para vestibular e inferiores para lingual17.
Em comportamento esquelético, o dedo ou a chupeta, durante a sucção, interpõem-se entre os incisivos superiores e
inferiores, restringindo a erupção destes dentes, enquanto os
dentes posteriores continuam a desenvolver-se no sentido vertical. Devido à geometria dos maxilares, 1mm de alongamento
posteriormente abre a mordida cerca de 2mm anteriormente.
Segundo Graber6, a instalação de alterações morfológicas na
presença do hábito depende de sua intensidade, duração e freqüência, assim como da suscetibilidade individual, determinada,
principalmente, pelo padrão de crescimento facial.
Interposição de língua
A interposição da língua entre os arcos dentários, durante
a fonação, deglutição e mesmo durante o repouso ou postura,
constitui uma anormalidade funcional denominada pressionamento lingual atípico. Encontra-se presente em 100% dos casos
com mordida aberta anterior1.
A interposição lingual pode ser considerada como um hábito primário, determinando, assim, um pior prognóstico. Também
pode atuar como um hábito secundário. Desde modo, origina-se,
principalmente, por uma adaptação do espaço existente causado
por sucção digital ou chupeta, portanto, atua mais como um
agravante da mordida aberta do que propriamente como a sua
causa17.
A interposição lingual pode ocorrer também nos casos de hipertrofia das amígdalas palatinas. O contato da porção posterior
da língua com as amígdalas hipertrofiadas provoca uma sensação
dolorosa e a língua acaba sendo projetada, num movimento reflexo, para frente e para baixo, interpondo-se entre os incisivos
e favorecendo o desenvolvimento de uma mordida aberta anterior2. Logicamente, deve existir a predisposição genética, não
significando que toda criança com amígdalas hipertróficas tenha
mordida aberta anterior18.
Respiração bucal
A respiração bucal é causada por algum tipo de obstáculo no
trato respiratório superior, impedindo de alguma forma o fluxo
aéreo nasal. Como fatores relevantes pode-se citar a hipertrofia
amigdaliana (faringeana e palatina), rinite alérgica ou desvio do
septo nasal9.
Respirar pela boca exige uma mudança na postura, para assegurar a abertura de uma via aérea bucal. Deste modo, a criança
permanece com os lábios entreabertos, com a língua repousando
mais inferiormente e anteriormente, sem contato com a abóbada
palatina e a mandíbula deslocada para baixo e para trás, liberando
os dentes posteriores para uma erupção passiva, proporcionando
um aumento da altura facial ântero-inferior (AFAI) e da convexidade facial. Estas alterações posturais favorecem um maior desenvolvimento ântero-inferior da face, assim como a atresia do
arco dentário superior e a mordida aberta anterior1,8.
O paciente respirador bucal deve ser diagnosticado e tratado
precocemente, pois o sucesso e a estabilidade da correção das
mordidas abertas dependem do restabelecimento da respiração
nasal15.
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Tratamento da mordida aberta anterior: relato de caso clínico
Aleitamento materno
Maresca e Feres10, em 1992, elaboraram uma teoria para explicar
a relação entre o aleitamento materno e a má oclusão. Segundo os
autores, os bebês aleitados de forma natural executam um intenso
trabalho muscular ao sugar o seio materno, causando fadiga da
musculatura peribucal. Com isso, a criança dorme sem necessitar
da sucção da chupeta, dedos e outros objetos, os quais são fatores
prejudiciais ao desenvolvimento do sistema estomatognático, que
possibilitam a instalação da mordida aberta anterior. Nesse contexto, Serra Negra et al.19, em 1997, observaram que 86,1% das crianças que receberam aleitamento materno por no mínimo 6 meses,
não apresentaram hábitos bucais deletérios de sucção.
CondutA teRAPÊutICA nAs dentAduRAs
O tratamento a ser seguido está diretamente relacionado com
o diagnóstico, a etiologia e com a época de intervenção8.
dentadura decídua
Os hábitos bucais deletérios praticados até os 4 anos de idade
não devem sofrer interferências, visto que o benefício emocional
dos mesmos supera os prejuízos funcionais que acarretam. A partir
dos 5 anos de idade, se a interrupção do hábito for espontânea,
auxiliada por um padrão de crescimento favorável, a correção da
mordida aberta pode ocorrer naturalmente6,17. Porém, o abandono
do hábito nem sempre implicará na autocorreção da mordida aberta, principalmente quando já estiverem instalados hábitos secundários, como a interposição lingual e/ou labial, e o paciente realizar
a respiração bucal. Nestes casos, a má oclusão deve ser interceptada adequadamente, evitando o seu agravamento3.
dentadura mista
Devido à alta prevalência de más oclusões na dentadura mista, esta fase é, reconhecidamente, a melhor época para se intervir,
interceptando problemas que interferem no correto crescimento e
desenvolvimento do complexo dentomaxilar11.
No tratamento precoce dessa má oclusão os aparelhos utilizados têm a finalidade de eliminar hábitos deletérios, sendo os mais
utilizados: os aparelhos interceptores e funcionais, que serão descritos abaixo, em forma de tópicos.
Grade palatina
A grade palatina é descrita por vários autores como o melhor
aparelho para a correção da mordida aberta anterior alveolar. Esse
aparelho é utilizado no arco superior e pode ser fixo ou removível,
dependendo do grau de colaboração do paciente. É um aparelho
passivo, com efeito restrito aos incisivos, agindo somente como um
obstáculo mecânico, que não só impede a sucção digital ou da chupeta, como também mantém a língua numa posição mais retruída,
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impedindo sua interposição nos dentes anteriores2.
Verticalmente, a grade palatina deve estender-se até a região
lingual dos incisivos inferiores, proporcionando um vedamento da
área da mordida aberta. A grade deve ser utilizada até a obtenção
de 2 a 3mm de trespasse vertical positivo8. A contenção pode ser
realizada com o próprio aparelho, por 3 a 6 meses16.
Preferencialmente, utiliza-se a grade palatina fixa, pois, além de
não depender da colaboração do paciente, fornece resultados mais
rápidos e seguros8.
Bionator de Balters fechado
O Bionator de Balters fechado é indicado para a correção da
mordida aberta anterior causada por interposição lingual e sucção
digital ou de chupeta6. Esse aparelho proporciona função e postura
normal para a língua, orientada pela alça palatina. Possui uma porção de acrílico na região oclusal posterior, para prevenir a extrusão
dentária, que se estende até a porção anterior, desde a região palatina dos dentes superiores até a lingual dos inferiores, inibindo
a pressão ou interposição lingual e propiciando o vedamento da
mordida aberta anterior. Além disso, confecciona-se um arco vestibular para estimular o selamento e estiramento labial, favorecendo
o movimento extrusivo dos dentes anteriores5.
Bite Block
O Bite Block é descrito pelos pesquisadores como um aparelho que obtém melhores resultados se utilizado precocemente. É
aplicado nas mordidas abertas esqueléticas. A correção ocorre pela
inibição da erupção dentária no segmento posterior, denominada
de “intrusão relativa”, e extrusão dos incisivos superiores e inferiores, gerando rotação para cima e para frente da mandíbula ou uma
direção de crescimento mandibular mais horizontal. A espessura do
Bite Block habitualmente excede o espaço livre de 3mm a 4mm20.
tração alta
Sendo aplicado nas mordidas abertas esqueléticas, o aparelho
extrabucal (AEB) com tração alta é descrito na literatura como um
meio de se controlar a extrusão dos dentes póstero-superiores.
Para um efeito ortopédico, esse aparelho pode ser utilizado por um
período de 12 a 14 horas/dia, com uma força de aproximadamente
350 a 400g de cada lado17.
esporão Colado Lingual nogueira
Este acessório foi idealizado com base nos princípios dos esporões tradicionais. É utilizado no tratamento da deglutição atípica
por pressionamento lingual, podendo ser aplicado tanto no arco
superior como no inferior14.
Este esporão apresenta uma base com uma malha convexa na
sua parte posterior, para colagem nas superfícies linguais dos inci-
Márcio José Reis, Carla Nogueira Pinheiro, Mirelle Malafaia
sivos superiores e/ou inferiores, soldado a essa base apresenta duas
hastes afiladas, com as extremidades levemente arredondadas. Sua
grande vantagem é de ser um método rápido e de baixo custo14.
dentadura permanente
O tratamento mais utilizado na dentadura permanente é o
aparelho ortodôntico fixo com elásticos intermaxilares na região
anterior, com o objetivo de extruir os dentes anteriores16. Outros
preconizam que, além desse subsídio, o que pode facilitar a correção da mordida aberta e talvez melhorar sua estabilidade são as
extrações dentárias que, dependendo da situação, podem ser dos
pré-molares ou dos primeiros molares21.
Porém, em casos em que há um maior envolvimento de componentes esqueléticos, somente as compensações dentárias podem
ser insuficientes para a correção da mordida aberta. Nestes casos,
geralmente é necessário associar a cirurgia ortognática ao tratamento ortodôntico14.
estABILIdAde
A estabilidade do tratamento da mordida aberta é pouco relatada na literatura. Os estudos são unânimes em afirmar que quando se promove o tratamento dessa má oclusão precocemente, em
crianças na dentadura decídua ou mista, obtêm-se os melhores
resultados, com o mínimo de recidiva. Porém, a recidiva pode ocorrer em qualquer caso de mordida aberta anterior, mesmo quando
tratada com cirurgia ortognática6,8.
Somente a abordagem multidisciplinar da mordida aberta é
que determina o sucesso do tratamento. Torna-se essencial que o
ortodontista possua essa visão global de tratamento, para que seus
encaminhamentos ao psicólogo, otorrinolaringologista e ao fono-
audiólogo sejam mais precisos e eficientes, culminando numa terapia eficaz e diminuindo o risco de instabilidade desta má oclusão8.
desCRIção do CAso CLÍnICo
O paciente E.H.M., do gênero masculino, com 13 anos e 10
mese de idades, leucoderma, apresentou-se ao curso de especialização de Ortodontia do Hospital Geral de São Paulo-HGeSP, para a
realização de tratamento ortodôntico.
Na análise facial, em norma frontal, verificou-se o terço inferior suavemente aumentado, pequena assimetria facial, relação
labial deficiente, sem expor os incisivos superiores quando em
repouso, e ao sorriso não mostrava festão gengival. Em norma
lateral observou-se perfil facial convexo, um bom ângulo nasolabial, uma boa linha queixo-pescoço e lábio inferior aumentado
e evertido (Fig. 1).
Na análise dentária, foi observada uma relação molar de Classe
I, com mordida aberta anterior dentária de 4mm e maxila atrésica
(Fig. 2).
No exame funcional, notou-se interposição de língua entre os
incisivos na fonação e na deglutição. O paciente foi encaminhado
para avaliação fonoaudiológica.
Através da avaliação cefalométrica, observou-se que os incisivos superiores e inferiores estavam acentuadamente vestibularizados e protruídos (Fig. 3).
O paciente foi diagnosticado como sendo Padrão Facial II, segundo Capelozza4, com relação de molares em Classe I de Angle.
Na radiografia panorâmica verificou-se a presença dos quatro
terceiros molares em fase final de formação radicular. Necessitavase de um acompanhamento radiográfico para previsão de erupção,
principalmente dos terceiros molares inferiores (Fig. 4).
FiguRa 1 - Fotos extrabucais iniciais.
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Tratamento da mordida aberta anterior: relato de caso clínico
Plano de tratamento e mecânica empregada
Optou-se, inicialmente, por uma expansão rápida da maxila com
o aparelho tipo Haas modificado, adotando o protocolo de Andrew
Hass, ou seja 4/4 de volta por dia nos três primeiros dias e 2/4 de volta por dia até o término da abertura do parafuso de 9mm (Fig. 5).
Após 60 dias do término das ativações, realizou-se a montagem
do aparelho fixo tipo Straight-Wire prescrição I Capelozza e deu-se
início à fase de nivelamento e alinhamento (Fig. 6).
Quando foram instalados os arcos redondos 0,018” superior
e 0,016” inferior iniciou-se o uso de elásticos verticais bilaterais
3/16” (Fig. 7). A cada 30 dias, os elásticos foram sendo acrescentados gradualmente, assim como prosseguia a troca dos arcos.
Necessitou-se chegar ao arco retangular superior 0,019”x
0,025” para a correção dos torques anteriores e fechamento dos
diastemas e espaços residuais. No arco inferior, o arco redondo de
maior calibre foi o de 0,020” (Fig. 8).
Com a correção dos torques ântero-superiores, retornou-se aos
arcos redondos 0,016” superior e 0,018” inferior, para uma intercuspidação mais prolongada e efetiva por 90 dias, com controle
radiográfico verificando sempre a mobilidade dentária. Nesta fase
foram colocados ganchos Kobayashi anteriores e o uso de elásticos
foi realizado em todos os segmentos dos arcos dentários (Fig. 9).
Convém ressaltar que, paralelamente ao tratamento ortodôntico, foi feito um acompanhamento fonoaudiológico. Após a alta por
parte da fonoaudióloga, reduziu-se o número de horas do uso de
elásticos até a suspensão dos mesmos.
FiguRa 2 - Fotos intrabucais iniciais.
FiguRa 4 - Radiografia panorâmica inicial.
FiguRa 3 - Telerradiografia cefalométrica inicial.
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FiguRa 5 - Instalação do disjuntor palatino tipo
Haas modificado.
Márcio José Reis, Carla Nogueira Pinheiro, Mirelle Malafaia
FiguRa 6 - Observar a eficácia técnica da ERM frente à abertura de diastema interincisivos. O alinhamento e nivelamento foi iniciado após 60 dias da ERM.
FiguRa 7 - Início de uso de elásticos 3/16” para fechamento gradual da mordida aberta.
FiguRa 8 - Os elásticos continuaram sendo usados até a instalação do arco retangular superior e
0,020” inferior.
FiguRa 9 - Retornando aos arcos redondos, procedeu-se uma intecuspidação total com elásticos 1/8”.
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Tratamento da mordida aberta anterior: relato de caso clínico
Resultados obtidos
Houve uma grande alteração estética facial do paciente. Em
norma frontal, os lábios se reposicionaram, determinando uma relação normal entre ambos. Em norma lateral, o lábio inferior melhorou seu aspecto de eversão anteriormente relatado, procurando
contato com o lábio superior. Conseqüentemente, houve uma diminuição do sulco mentolabial, favorecendo a estética.
Houve melhora na musculatura peribucal, tornando-a mais
equilibrada, sem grandes tensões, como era inicialmente. O sorriso
mostrou um agradável festão gengival, trazendo harmonia e beleza
(Fig. 10).
A oclusão mostrou-se satisfatória ao final, com um perfeito
engrenamento oclusal, uma excelente relação interincisal e com
movimentos funcionais adequados (Fig. 11).
Como contenção superior, foi empregada no arco superior a
placa de contenção tipo Hawley modificada com grade palatina e
no arco inferior contenção 3x3 colada (Fig. 12).
A radiografia panorâmica final evidenciou boa disposição radicular e também impactação dos terceiros molares inferiores (Fig. 13).
Cefalometricamente, reduziu-se a protrusão e inclinação vestibular dos incisivos superiores e inferiores através da extrusão
dentoalveolar anterior proporcionada pela mecânica empregada:
alinhamento, nivelamento e intercuspidação elástica. De um IMPA
inicial de 97,69º, ao final do tratamento este valor foi de 90,57º.
Esta ocorrência pôde ser confirmada na imagem de sobreposição
dos traçados cefalométricos inicial e final (Fig. 14).
No controle pós-tratamento de 4 meses (Fig. 15), o caso apresentava excelente estabilidade. No entanto, 15 meses depois (Fig.
16), verificou-se um certo desajuste na relação vertical dos incisivos superiores e inferiores. Todavia, não se considerou relevante
esta perda de qualidade até aquele momento, não descartando
porém, um acompanhamento mais freqüente.
FiguRa 10 - Fotos extrabucais finais evidenciando boa harmonia estética do sorriso.
FiguRa 11 - Fotos intrabucais finais mostrando excelente engrenamento dentário.
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Márcio José Reis, Carla Nogueira Pinheiro, Mirelle Malafaia
FiguRa 12 - Contenção fixa inferior 3x3.
FiguRa 13 - Radiografia panorâmica final.
inicial (13 a 10m)
final (15 a 11m)
FiguRa 14 - Telerradiografia cefalométrica final e sobreposição dos traçados cefalométricos.
FiguRa 15 - Foto intrabucal frontal final demonstrando o fechamento da
mordida aberta.
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FiguRa 16 - Moderada instabilidade vertical 15 meses pós-tratamento.
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Tratamento da mordida aberta anterior: relato de caso clínico
ConCLusão
Este caso diagnosticado como sendo uma mordida aberta
anterior dentoalveolar, foi favorecido com uma grande alteração
estética-ocluso-facial ao final do tratamento. A mecânica utilizada foi de fácil execução. Notou-se uma grande colaboração do
paciente quanto ao uso dos elásticos intercuspídeos. A avaliação
funcional, bem como o tratamento e acompanhamento desta
especialidade fonoaudiológica, foi de fundamental importância, pois para evitar recidivas é necessário o retorno das funções
musculares a índices de normalidade. A estabilidade foi satisfatória, porém, o paciente deverá retornar à clínica para avaliações
periódicas.
Treatment of the anterior open bite: case report
abstract
Being part of the malocclusion of vertical alterations,
the clinical treatment of the anterior open bite is
cause of great concern for the orthodontic clinic in the
present days. We may define it as being the presence
of a negative vertical trespass existent between the
incisal borders of the superior and inferior anterior
teeth. They are more difficult to be treated and also
less stable, presenting a prognostic which ranges from
good to deficient, depending on its gravity, etiology
and the stage in which the treatment is introduced.
The anterior open bite should be corrected as early as
possible, making it possible for a simpler therapeutical
and a more favorable prognostic. A multi-disciplinary
approach is needed for the conservation of the normal
occlusion obtained with the orthodontic treatment.
The anterior open bite being a frequent malocclusion
in the child-youth population, and considering the
aspects which were reported, the aim of this study is
to revise some of the concepts concerning its etiology
and the types of treatment which are most commonly
employed it its correction. A presentation of a clinical
case will follow.
key words: Anterior open bite. Vertical alteration. Stability.
RefeRências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
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Tratamento da mordida aberta anterior: relato de caso clínico