Licenciatura de Engenharia do Ambiente – Ramo Sanitária Cadeira de Projecto de Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos Volume 2 Memória Descritiva e Justificativa Autores: Joana Santos Ricardo Anastácio Rita Eleutério Monte de Caparica, 14 de Junho de 2004 FICHA TÉCNICA Joana Santos, Nº 10769 Ricardo Anastácio, Nº 11099 Rita Eleutério, Nº 8354 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Índice ÍNDICE .......................................................................................................................................................1 ÍNDICE DE PEÇAS DESENHADAS.......................................................................................................3 1. ÂMBITO DO PROJECTO...................................................................................................................4 2. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................4 3. INFORMAÇÃO BASE PARA A ELABORAÇÃO DO PROJECTO DO ATERRO SANITÁRIO ......................................................................................................................................................................5 3.1. HORIZONTE DE PROJECTO ........................................................................................................5 3.2. ESTUDO DEMOGRÁFICO ............................................................................................................6 3.3. POPULAÇÃO SERVIDA................................................................................................................8 3.4. CAPITAÇÃO DOS RESÍDUOS......................................................................................................9 3.5. PRODUÇÃO DIÁRIA DE RESÍDUOS...........................................................................................9 3.6. PESO ESPECÍFICO DOS RESÍDUOS............................................................................................9 3.7. VOLUME DIÁRIO À ENTRADA DO ATERRO SANITÁRIO .....................................................9 3.8. PESO ESPECÍFICO DOS RESÍDUOS EM ATERRO ....................................................................9 3.9. TAXA DE COMPACTAÇÃO .......................................................................................................10 3.10. VOLUME DIÁRIO DE RESÍDUOS EM ATERRO ....................................................................10 3.11. VOLUME DIÁRIO INTRODUZIDO NO ATERRO...................................................................10 3.12. VOLUME ANUAL OCUPADO NO ATERRO SANITÁRIO ....................................................10 3.13. VOLUME ACUMULADO DE RESÍDUOS................................................................................10 4. TIPO DE RESÍDUOS ADMITIDOS .................................................................................................11 5. LOCALIZAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO ................................................................................12 6. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO PROJECTO .....................................................................12 6.1. MODELAÇÃO DO TERRENO ....................................................................................................12 6.1.1. MODELAÇÃO DO FUNDO DO ATERRO............................................................................................13 6.2. ESTIMATIVA DO VOLUME DISPONÍVEL NO ATERRO........................................................13 6.3. ESCAVAÇÕES NO TERRENO....................................................................................................14 6.4. ENCHIMENTO DO TERRENO....................................................................................................14 6.5. VOLUME TOTAL DE TERRAS DISPONÍVEL ..........................................................................15 6.6. ESTIMATIVA DO VOLUME DE TERRAS NECESSÁRIAS AO ATERRO SANITÁRIO, DURANTE O PERÍODO DE EXPLORAÇÃO.....................................................................................15 6.7. ESTIMATIVA DA VIDA ÚTIL DO ATERRO SANITÁRIO.......................................................16 7. INSTALAÇÕES DE APOIO E INFRA-ESTRUTURAS.................................................................16 7.1. INSTALAÇÕES DE APOIO .........................................................................................................16 7.1.1. ÁREA ADMINISTRATIVA .....................................................................................................17 7.1.2. ÁREA FUNCIONAL E OPERACIONAL................................................................................18 7.2. INFRAESTRUTURAS ..................................................................................................................20 7.2.1. REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA .................................................................................20 7.2.2. REDE DE DRENAGEM E TRATAMENTO DAS ÁGUAS RESIDUAIS E PLUVIAIS ...........20 7.2.3. REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA E ILUMINAÇÃO EXTERIOR......20 7.2.4. REDE DE TELEFONE ..........................................................................................................21 7.2.5. ACESSOS ...............................................................................................................................21 7.2.6. VEDAÇÃO E PORTÃO..........................................................................................................21 7.2.7. CORTINA ARBÓREA ............................................................................................................22 8. SISTEMA DE IMPERMEABILIZAÇÃO ........................................................................................22 8.1. GEOSSINTÉTICO BENTONÍTICO.............................................................................................24 8.2. GEOTÊXTIL NÃO TECIDO E GEOMEMBRANA EM PEAD..................................................24 8.2.1. FORÇA DE PUNÇOAMENTO ..............................................................................................25 8.2.2. FORÇA DE RASGAMENTO..................................................................................................26 8.2.3. FORÇA DE TRACÇÃO..........................................................................................................27 Memória Descritiva e Justificativa 1 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 8.2.4. VALAS DE ANCORAGEM.....................................................................................................28 8.3. CAMADA DRENANTE ...............................................................................................................29 9. ÁGUAS LIXIVIANTES......................................................................................................................29 9.1. CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES ..................................................................29 9.2. TRATAMENTO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES ...........................................................................31 9.3. SISTEMA DE DRENAGEM E CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES...............................33 9.3.1. CONCEPÇÃO DO SISTEMA ................................................................................................33 9.3.2. CÁLCULO DO CAUDAL DE ÁGUAS LIXIVIANTES...........................................................34 9.3.3. EXECUÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM E CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES.35 10. SISTEMA DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS...................................................................37 11. BIOGÁS .............................................................................................................................................37 11.1. FORMAÇÃO DE BIOGÁS.....................................................................................................37 11.2. LIBERTAÇÃO DOS PRODUTOS GASOSOS ...........................................................................39 11.3. CONTROLO DO ESCOAMENTO DOS PRODUTOS GASOSOS E TRATAMENTO DO BIOGÁS ................................................................................................................................................40 11.3.1. CONTROLO DO ESCOAMENTO DOS PRODUTOS GASOSOS E TRATAMENTO DO BIOGÁS ............................................................................................................................................42 11.3.2. TRATAMENTO DO BIOGÁS...............................................................................................42 11. SISTEMAS DE MONITORIZAÇÃO..............................................................................................43 11.1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................43 11.2. LIXIVIADOS DO ATERRO .......................................................................................................44 11.3. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E NÍVEIS FREÁTICOS.................................................................44 11.4. CONTROLO DE GASES ............................................................................................................46 11.5. TOPOGRAFIA DA INSTALAÇÃO ............................................................................................48 11.1. METEOROLOGIA.......................................................................................................................48 12. EXPLORAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO ................................................................................49 12.1. SEQUÊNCIA DE ENCHIMENTO ..............................................................................................49 12.2. FUNCIONAMENTO DO ATERRO SANITÁRIO .....................................................................50 12.3. PESSOAL E EQUIPAMENTO NECESSÁRIO ..........................................................................52 13. SELAGEM E INTEGRAÇÃO PAISAGÍSTICA ...........................................................................53 14. AVALIAÇÃO ECONÓMICA...........................................................................................................55 15. REFERÊNCIAS .................................................................................................................................58 16. ANEXOS ...........................................................................................................................................59 ANEXO A .............................................................................................................................................60 Memória Descritiva e Justificativa 2 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Índice de Peças Desenhadas Desenho nº 1 – Levantamento Topográfico. Planta com Delimitação da Área do AS Desenho nº 2 – Rede de Perfis Desenho nº 2.1 – Perfil Longitudinal Desenho nº 2.2 – Perfis Transversais 1 e 2 Desenho nº 2.3 – Perfis Transversais 3 e 5 Desenho nº 3 – Planta com Modelação do Terreno e Instalações de Apoio.Coordenadas Desenho nº 4 – Planta com Sistema de Drenagem de Águas Lixiviantes.Coordenadas Desenho nº 5 – Planta com Sistema de Drenagem de Biogás.Coordenadas Desenho nº 6 – Planta Modelação final. Arranjo Paisagístico Desenho nº 7 – Desenho de Pormenor de Dreno de Biogás Desenho nº 8 – Desenho de Pormenor do Sistema de Drenagem de Águas Lixiviantes e Pluviais Desenho nº 9 – Desenho de Pormenor do Sistema de Impermeabilização Desenho nº 10 – Desenho de Pormenor do Sistema de Selagem do AS Memória Descritiva e Justificativa 3 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 1. ÂMBITO DO PROJECTO Um aterro sanitário constitui um complemento indispensável aos restantes processos de tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos realizados. Através deste método de deposição dos resíduos no solo, é optimizada a sua degradação natural por via biológica, até à mineralização da matéria biodegradável, em condições essencialmente anaeróbias. Em conformidade com a redacção dada pelo Decreto-Lei N.º 239/97, de 9 de Setembro, na alínea d) do artigo 3º, os resíduos sólidos urbanos definem-se como: “ resíduos domésticos ou outros resíduos semelhantes, em razão da sua natureza ou composição, nomeadamente provenientes do sector de serviços ou de estabelecimentos comerciais ou industriais e de unidades prestadoras de cuidados de saúde, desde que, em qualquer dos casos, a produção diária não exceda 1 100 L por produtor” . Pelo Decreto-Lei N.º 152/2002 de 23 de Maio, relativo à deposição de resíduos em aterros, a definição de Aterro Sanitário aparece como “ uma instalação de eliminação para deposição de resíduos acima ou abaixo da superfície natural” . Na implantação de aterros sanitários tem-se como objectivos, a preservação e qualidade do ambiente e as exigências associadas aos aspectos construtivos, de exploração e monitorização dos aterros para resíduos, de modo a garantir os padrões de qualidade exigidos. Assim, neste trabalho, pretende-se a apresentação do Projecto de Execução respeitante ao Aterro Sanitário do Outeiro da Cabeça para solucionar o problema dos RSU nos Concelhos de Bombarral, Cadaval, Lourinhã e Torres Vedras. 2. INTRODUÇÃO A situação em Portugal na década de 90, no domínio do tratamento e valorização dos resíduos sólidos urbanos, situava-se com um baixo índice de cobertura, traduzido num elevado passivo ambiental (Cabeças, 2004). No ano de 1996 foi elaborado em Portugal, pelo Ministério do Ambiente, o Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU) cujo objectivo foi a definição Memória Descritiva e Justificativa 4 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II das bases orientadoras de uma política de gestão de RSU que respondesse às necessidades do país. (Cabeças, 2004) Para recuperar este passivo ambiental, estabeleceram-se metas até ao final do ano de 2001, que incluíam o encerramento e recuperação das lixeiras existentes e o desenvolvimento de adequadas soluções de tratamento e de destino final, nomeadamente na construção de infra-estruturas de tratamento e confinamento adequado de RSU. As metas definidas traduziram-se numa redução do passivo ambiental existente. Segundo o Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), um aterro sanitário é uma modalidade de confinamento no solo, em que: • Os resíduos são lançados ordenadamente e cobertos com terra ou material similar; • Existe controlo sistemático das águas lixiviantes e dos gases produzidos; • Existe monitorização do impacto ambiental durante a operação e após o seu encerramento. A concepção do aterro sanitário tem por objectivo o cumprimento das disposições que constam na Directiva 1999/31/CE do Conselho, de 26 de Abril, relativa à deposição de resíduos em aterro, nomeadamente no que se refere a: • Protecção das águas subterrâneas e superficiais; • Controlo de lixiviados; • Controlo de gases do aterro; • Controlo de assentamentos; • Controlo de exploração; • Monitorização. 3. INFORMAÇÃO BASE PARA A ELABORAÇÃO DO PROJECTO DO ATERRO SANITÁRIO 3.1. HORIZONTE DE PROJECTO Para o dimensionamento do aterro sanitário procedeu-se à estimativas dos quantitativos de resíduos produzidos durante o horizonte de projecto, através da Memória Descritiva e Justificativa 5 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II determinação do volume de encaixe de RSU necessário para o período de vida útil da obra por forma a determinar a área necessária à deposição. Efectuou-se um estudo da evolução da população servida, ao longo dos anos, para os concelhos abrangidos, de modo a estimar a população existente para os anos de exploração e assim determinar o volume acumulado de resíduos, ou seja, o volume global de resíduos para o horizonte de projecto. A vida útil considerada para o aterro sanitário foi de 15 anos, sendo o ano de arranque da obra em 2005 e o ano de horizonte de projecto em 2020. 3.2. ESTUDO DEMOGRÁFICO Os dados de população obtidos no Instituto Nacional de Estatística (INE), estão apresentados na Tabela A1 do Anexo A. A Figura 1 apresenta a evolução da população total dos quatro concelhos. Para a análise demográfica da população dos Concelhos de Bombarral, Cadaval, Lourinhã e Torres Vedras, deve ter-se em conta aspectos relativos à história de portugal no século XX, que influenciaram os dados dos recenseamentos. Neste sentido, o censo de 1911 e 1920 é aqui desprezado, como aliás na maioria dos estudos, uma vez que o elevado número de óbitos devidos ao surto de gripe pneumónica e os desvios na natalidade e mortalidade provocados pela Primeira Grande Guerra Mundial (19141918), lhe provocou uma grande distorção. Por comparação, faz sentido não considerar também o ano 1911. Relativamente ao censo de 1970, podemos observar na Figura 1 que, houve uma redução da população, pelo que aparenta um desvio do crescimento da população em relação aos outros censos. Deste modo considerou-se como ponto de partida o recenseamento de 1981. Memória Descritiva e Justificativa 6 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II População Residente (hab) 140000 120000 100000 80000 60000 40000 20000 0 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Anos Figura 1 – Evolução do total da população residente nos quatro concelhos abrangidos obtidos. Na previsão da evolução demográfica futura utilizou-se o Modelo de Evolução por Progressão Aritmética. Este modelo consiste em somar à população existente sempre o mesmo número de habitantes, em iguais períodos de tempo. Define-se uma taxa de crescimento aritmético (Ta) e calcula-se a população no ano de Horizonte de Projecto (Pn). Este método admite que a taxa de evolução se mantém constante ao longo do tempo. Num modelo cartesiano o modelo ideal corresponde graficamente a uma recta, ficando os pontos correspondentes aos dados reais localizados aproximadamente à sua volta, num alinhamento. Assim sendo, o número de habitantes acrescentado ou diminuído em cada ano é teoricamente igual. As expressões analíticas utilizadas são: Ta = (P2 - P1) / (t2 - t1) A expressão para a taxa de crescimento aritmético ou linear Ta surge como resultado da integração de Ta = dP / dt entre dois pontos (t1,P1) e (t2,P2). Memória Descritiva e Justificativa 7 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II dP - incremento populacional dt – intervalo de tempo considerado t1, t2 – anos de referência P1, P2 – população conhecida nos anos t1,t2 Uma vez determinado Ta, a população no horizonte de projecto é calculada pela seguinte expressão: Pn = P0 + (tn – t0)* Ta Em que: P0 – população do último ano de dados conhecido t0; P1, P2 – população conhecida nos anos t1,t2; Pn – população no ano de horizonte de projecto, tn A análise de elementos estatísticos pode avaliar Ta em diferentes períodos. Estes valores, dificilmente, serão iguais de período para período. Deste modo, a projecção demográfica será elaborada considerando o valor médio das taxas dos vários períodos, a média da taxa entre os anos mais recentes, a maior taxa encontrada e a taxa mais recente. O valor da taxa utilizado na expressão analítica será resultado da média entre os valores de Ta. A população total estimada para os anos de exploração do Aterro Sanitário está apresentada na Tabela A2 do Anexo A. 3.3. POPULAÇÃO SERVIDA O Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça irá abranger as populações dos Concelhos de Bombarral, Cadaval, Lourinhã e Torres Vedras. Memória Descritiva e Justificativa 8 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 3.4. CAPITAÇÃO DOS RESÍDUOS A capitação de resíduos admitida foi o valor de 1 kg/hab.dia para o primeiro ano, admitindo-se uma taxa de crescimento de capitação de 3% nos três anos seguintes e de de 1% nos restantes anos. 3.5. PRODUÇÃO DIÁRIA DE RESÍDUOS A produção diária de RSU é determinada pelo produto da capitação pela população, e pelos valores calculados, varia entre 123,3 ton/dia no ano 2005 e 168,9 ton/dia no ano 2020. Na Tabela A3 do Anexo A encontram-se os valores obtidos. 3.6. PESO ESPECÍFICO DOS RESÍDUOS Admitiu-se um peso específico em contentor de 200 kg/m3, que se considerou constante ao longo do período 2005 – 2020. 3.7. VOLUME DIÁRIO À ENTRADA DO ATERRO SANITÁRIO A partir do peso específico em contentor e da produção diária de resíduos, obtiveram-se os volumes diários de RSU em contentor de 616,6 e 844,9 m3/dia para o ano 2005 e 2020 respectivamente (Tabela A3, Anexo A). 3.8. PESO ESPECÍFICO DOS RESÍDUOS EM ATERRO Para a determinação do volume ocupado pelos RSU em aterro, admitiu-se um peso específico de 1000 kg/m3, correspondente ao peso específico em aterro com um processo de enfardamento a montante da deposição. Através deste sistema de compactação, obtêm-se fardos com aproximadamente a mesma forma, o que faz com que o seu manuseamento seja facilitado, conduzindo a uma “ montagem” da massa residual mais eficaz. Obtém-se deste modo uma gestão operacional com melhor qualidade estética, ambiental e também técnica. Memória Descritiva e Justificativa 9 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 3.9. TAXA DE COMPACTAÇÃO A taxa de compactação em aterro é dada pela diferença entre o peso específico do resíduo em contentor e em aterro, ou seja de 500%. 3.10. VOLUME DIÁRIO DE RESÍDUOS EM ATERRO O volume diário de RSU depositado em aterro foi determinado pela razão entre produção diária e o peso específico, tendo-se obtido os volumes diários de RSU em aterro de 123,20 e 165,09 m3/dia para o ano 2005 e 2020 respectivamente (Tabela A3, Anexo A). 3.11. VOLUME DIÁRIO INTRODUZIDO NO ATERRO O aterro sanitário deverá comportar a quantidade de resíduos estimada, acrescida das terras de recobrimento diário, das camadas de impermeabilização e drenagem de fundo e taludes, e, da selagem final. O volume das terras de cobertura corresponderá a 15 % do volume depositado em aterro. O volume diário introduzido no aterro irá corresponder ao volume diário de RSU depositado em aterro mais o volume de terras de cobertura, sendo de 141,67 m3/dia para o ano 2005 e 189,86 m3/dia para o ano 2020. 3.12. VOLUME ANUAL OCUPADO NO ATERRO SANITÁRIO Para o cálculo do volume anual multiplicou-se ao volume diário introduzido no aterro, 365 dias equivalentes a um ano, tendo resultado um volume anual de 51 711,23 m3 para o ano zero e de 69297,54 m3 para o ano de horizonte do projecto (Tabela A3, Anexo A) 3.13. VOLUME ACUMULADO DE RESÍDUOS O volume acumulado, valor utilizado para o dimensionamento, resulta do valor acumulado de resíduos e de terras de cobertura, durante a vida útil do aterro. O volume Memória Descritiva e Justificativa 10 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II estimado ocupado em aterro ao fim de 15 anos para os quatro concelhos foi de 989 521,42 m3. 4. TIPO DE RESÍDUOS ADMITIDOS Os resíduos a serem admitidos no Aterro Sanitário, para além dos que são considerados resíduos urbanos de acordo com o Decreto-lei n.º 239/97 de 9 de Setembro, alínea d) do artigo 3º, serão ainda recebidos no aterro: a) Resíduos sólidos da limpeza pública; b) Resíduos de limpeza e manutenção de jardins e de áreas verdes urbanas; c) Objectos domésticos volumosos fora de uso (“ monstros” ). Este aterro poderá ainda receber resíduos inertes, que de acordo com a alínea e) do artigo 2º do Decreto-lei atrás referido, são definidos, como “ resíduos que não sofrem transformações físicas, químicas ou biológicas importantes e, em consequência, não podem ser solúveis ou inflamáveis, nem ter qualquer outro tipo de reacção física ou química, e não podem ser biodegradáveis nem afectar negativamente outras substâncias com as quais entram em contacto de forma susceptível de aumentar a poluição no ambiente ou prejudicar a saúde humana. A lixiviabilidade total, o conteúdo poluente dos resíduos e a ecotoxicidade do lixiviado devem ser insignificantes e, em especial, não pôr em perigo a qualidade das águas superficiais e subterrâneas” . Deste modo, não serão admitidos resíduos líquidos; resíduos que em condições de aterro não representam perigo de explosão, corrosão, oxidação, inflamabilidade; resíduos provenientes de estabelecimentos de prestação de cuidados de saúde a seres humanos ou animais e ou investigação relacionada; pneus usados (excepto os necessários como protecção do aterro, de bicicletas, e que tenham um diâmetro exterior superior a 1400 mm; e quaisquer outros tipos de resíduos que não satisfaçam os critérios de admissão constantes no anexo III do Decreto-lei referido referido anteriormente (Cabeças, 2004). Memória Descritiva e Justificativa 11 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 5. LOCALIZAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO O Aterro Sanitário ficará situado a cerca de 8,5 km para Nordeste do geocentro de produção, no Distrito de Lisboa, Concelho de Cadaval, na freguesia de Pêro Moniz, no lugar do Outeiro da Cabeça, entre os paralelos 39º:11’ :00’ ’ e 39º 12’ :’ ’ de latitude Norte e os meridianos 9º:08’ :00’ ’ e 9º:09’ :00’ ’ de longitude Oeste. Estará limitado a Norte pela Quinta de S. Francisco, a Sudeste por Monte Agulhas, situando-se a povoação de Outeiro da Cabeça e Cabeça Gorda, respectivamente a Oeste e Este do Aterro. 6. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO PROJECTO 6.1. MODELAÇÃO DO TERRENO O local escolhido para a implantação do aterro sanitário é uma zona em vale com uma área total de 12 ha. No Desenho nº 1 está representada a delimitação da área de intervenção, bem como a topografia do terreno, no Desenho nº 2, a rede de perfis longitudinais e transversais e nos Desenhos 2.1., 2.2 e 2.3, os perfis elaborados (um longitudinal e quatro transversais). A zona para deposição dos resíduos é aproximadamente 9,0 ha. A construção dos alvéolos deverá desenvolver-se longitudinalmente através de dois patamares separados por uma banqueta. O fundo de cada patamar terá uma inclinação, de 2%. Os taludes longitudinais terão uma inclinação 1 para 2 e os taludes transversais de 1 para 3. Deste modo, o aterro terá dois alvéolos de forma a garantir uma gestão integrada. Existe ainda a área das infra-estruturas de apoio que ocupam cerca de 1 hectare e meio, uma lagoa de regularização de águas lixiviantes com 0,125 ha e a estação de tratamento de águas lixiviantes (ETAL) que ocupa cerca de 0,250 ha. A partir da carta topográfica à escala 1:1000 procedeu-se à modelação do aterro sanitário (Desenho nº 3). Memória Descritiva e Justificativa 12 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 6.1.1. Modelação do fundo do aterro Na modelação do fundo do aterro teve-se em consideração as escorrências dos lixiviados, que são recolhidos em valas com colectores, para que o seu escoamento se faça graviticamente. Estes seguirão para a lagoa de regularização e posteriormente para tratamento apropriado, na ETAL do aterro. As águas pluviais serão drenadas também por colectores para caixas apropriadas de onde seguirão para o exterior até uma linha de água. Assim, o fundo do aterro foi modelado em forma de “ telhado invertido” com inclinações longitudinais de 2%. A morfologia/topografia do terreno permitirá um bom escoamento das águas lixiviantes por gravidade até à lagoa de regularização. Considerou-se também a possibilidade de recirculação dos lixiviados para dentro do aterro. 6.2. ESTIMATIVA DO VOLUME DISPONÍVEL NO ATERRO Com base na carta topográfica à escala 1/1000, e de forma a maximizar a vida útil do aterro sanitário, procedeu-se à elaboração de uma rede de perfis no terreno (Desenho nº 2). Traçou-se um perfil longitudinal (PL) (Desenho nº 2.1) e quatro transversais (PT) (Desenhos nº 2.2 e nº 2.3). O volume disponível para o enchimento com R.S.U. foi calculado recorrendo à seguinte equação: V= Em que: A1 + A 2 *d 2 3 V – volume médio disponível entre dois perfis transversais (m ) 2 A1 – área do perfil transversal (Ptn) (m ) 2 A2 – área do perfil transversal (Ptn+1) (m ) d – distância entre perfis (m) Desta forma chegou-se a um volume de 924 625 m3 disponíveis para os resíduos. Em função da morfologia do terreno, efectuaram-se as escavações indicadas nos vários perfis. Memória Descritiva e Justificativa 13 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 6.3. ESCAVAÇÕES NO TERRENO A área/terreno que abrange a implantação do aterro sanitário é em vale, logo aproveitar-se-á esta topografia para a deposição dos resíduos. No entanto, é necessária a escavação em parte das encostas do vale para uma melhor disposição dos resíduos e respectivas infra-estruturas de apoio. A estabilidade dos taludes dos alvéolos será assegurada através de uma inclinação de 1:3 nos taludes transversais e de 1:2 e nos taludes longitudinais. A modelação das encostas tem que ser feita através de dois patamares sucessivos, com a implantação de uma banqueta de contenção a jusante e uma banqueta de encosto a montante. A meio do aterro existirá uma banqueta de separação de dois patamares com 2 metros de altura e de coroamento, com taludes de 1 para 2, a jusante e de 1 para 3, a montante, que permite o melhor aproveitamento do comportamento natural do terreno, levando a uma menor necessidade de escavação. Deverá estar previsto o escoamento das águas pluviais e das águas lixiviantes das células destinadas à deposição dos resíduos. Para tal, estas serão modeladas com uma inclinação de fundo de 2%. As águas pluviais deverão convergir para um ponto a partir do qual são drenadas para o exterior, enquanto que as águas lixiviantes serão conduzidas para o sistema de tratamento do aterro. Para a área correspondente às instalações de apoio foi necessária a modelação do terreno, tendo havido a necessidade de aterro e escavação do terreno natural, de modo a facilitar a implantação dessas estruturas (Desenho nº 3). 6.4. ENCHIMENTO DO TERRENO O enchimento do aterro foi definido com a construção de células diárias de resíduos que correspondem ao volume diário de resíduos, com 1,5 metros de altura. São feitos patamares de 3 metros de altura de resíduos, entre os quais se considerou uma distância entre o fim de cada estrato e o início do estrato que se lhe sobrepõe, de 3 metros. Os resíduos são colocados sob a forma de fardos, preenchendo-se os espaços livres das células com resíduos não enfardados. Com a sobreposição dos estratos de resíduos obtemos a massa de resíduos que perfazem a volumetria projectada. Memória Descritiva e Justificativa 14 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Os resíduos são depositados em 2 alvéolos que atingem uma altura máxima de 24 m. O primeiro alvéolo a entrar em exploração é o alvéolo inferior. Quando se atinge o nível da banqueta de separação entre os alvéolos, inicia-se a exploração do alvéolo superior (interrompendo-se a do alvéolo inferior), até atingir o mesmo nível. Posteriormente procede-se ao enchimento sobre os dois alvéolos, até perfazer a altura máxima de 24 metros sobre o fundo do alvéolo inferior. O topo do enchimento do alvéolo inferior poderá ser impermeabilizado nesta fase, de modo diminuir o caudal de lixiviados produzidos no aterro A forma de enchimento e as escavações a realizar poderão ser visualizadas nos perfis transversais e longitudinais ((Desenhos n.º 2.1, nº 2.1 e nº 2.3)) e na planta de modelação (Desenho nº 3) 6.5. VOLUME TOTAL DE TERRAS DISPONÍVEL A estimativa do volume de escavação determinou-se a partir das áreas medidas em planta e do desenvolvimento do terreno de acordo com os perfis traçados. Assim, o volume total de escavação será igual a 340.000 m3. Na área de localização das infra estruturas houve a necessidade de escavação de 3 3 35.050 m . Assim, no total, o volume de terras disponíveis foi de 304.500 m . 6.6. ESTIMATIVA DO VOLUME DE TERRAS NECESSÁRIAS AO ATERRO SANITÁRIO, DURANTE O PERÍODO DE EXPLORAÇÃO O volume de terras necessário no aterro sanitário corresponde ao somatório das terras necessárias para execução das banquetas, das terras para cobertura diária dos resíduos depositados e ainda das terras necessárias para uniformização terreno. O funcionamento correcto de um aterro sanitário implica a cobertura diária dos resíduos que poderá ser efectuada através da colocação de camadas de terra com cerca de 15 cm de espessura. Este procedimento reveste-se da maior importância e visa prevenir a emanação de maus cheiros, a proliferação de roedores, pássaros e insectos, focos de incêndio, a infiltração de águas pluviais, o espalhamento de resíduos leves por Memória Descritiva e Justificativa 15 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II acção do vento, os impactes visuais negativos, as dificuldades de circulação de operários e viaturas. Para o cálculo do volume ocupado pelas terras de cobertura no aterro, considerou-se 15% do volume ocupado pelos resíduos do mesmo. De acordo com o volume total disponível, obtém-se um volume de terras necessário de 129 068 m3. O volume de terras necessário para uniformização do terreno na área de localização das infra-estruturas de apoio é de 36.510 m3. 3 O volume necessário para a construção das banquetas é de 15.000 m . Sendo 3 assim, o volume total de terras necessário ao aterro sanitário é de 180.578 m . Para um volume total de escavação de 340.000 m3, verifica-se que não há défice de terras. 6.7. ESTIMATIVA DA VIDA ÚTIL DO ATERRO SANITÁRIO O horizonte de projecto do aterro admitido foi de 15 anos. Verificou-se que o volume de aterro disponível permite encaixar um pouco menos resíduos do que aquilo que estava previsto. Comparando com o volume acumulado de resíduos, calculado no capítulo 3.13., podemos ver pela Tabela A3 do Anexo A, que o tempo útil de vida do aterro será de aproximadamente 14 anos e 1 mês. No entanto, como a quantidade que falta não é significativa, considera-se, deste modo, que a vida útil do aterro é de cerca de 15 anos. 7. INSTALAÇÕES DE APOIO E INFRA-ESTRUTURAS 7.1. INSTALAÇÕES DE APOIO As instalações e infra-estruturas de apoio ao aterro sanitário devem ser dimensionadas de forma a garantir as condições necessárias ao bom desenvolvimento das tarefas operacionais, administrativas e sociais (Desenho nº 3). É de salientar que a estruturação dos órgãos de apoio deverá ter em conta o número de funcionários e meios operacionais a que a dimensão do projecto em estudo obriga. Os sistemas de protecção deverão ser escolhidos de acordo com o tipo de resíduo a depositar. Memória Descritiva e Justificativa 16 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 7.1.1. ÁREA ADMINISTRATIVA 7.1.1.1. Edifício Administrativo O edifício administrativo destina-se a apoiar o desempenho de actividades relacionadas com o funcionamento do aterro. Localiza-se à entrada do aterro a seguir à báscula e à portaria, estando à frente um parque de estacionamento para ligeiros (6 lugares) e compreende as seguintes estruturas: - Uma sala de reuniões; - Uma área administrativa; - Um refeitório; - Duas instalações sanitárias. Cada instalação é composta por um balneário – zona limpa e uma zona suja (onde os operadores vestem o fardamento para o trabalho); - Laboratório; - Posto médico. O edifício administrativo ocupa uma área 10x15 m2 e encontra-se prevista a instalação de: uma rede de abastecimento de água, electricidade e de uma rede de águas residuais. 7.1.1.2. Portaria e Unidade de Controlo e Pesagem Sendo o acesso ao recinto do Aterro Sanitário restrito, deve estar prevista a construção de uma portaria com uma área de 4x3 m2 com funções de controlo às viaturas e pessoas que entram no recinto. Para tal este edifício deverá estar equipado com um sistema de vídeo e cancela, e estar situado junto ao portão, de modo a ter uma boa visibilidade para o exterior. Associada a este edifício, deverá estar uma unidade de pesagem automática com báscula com uma capacidade mínima de carga de 60 toneladas. A báscula será informatizada e por intermédio da leitura de cartões por sistema óptico, será possível o registo de dados que permitirão avaliar a evolução na produção de resíduos nos concelhos de Torres Vedras, Bombarral, Cadaval e Lourinhã. A báscula deverá ter uma área de 8x3 m2. Memória Descritiva e Justificativa 17 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 7.1.1.3. Parque de Estacionamento de Viaturas O parque de estacionamento deverá permitir o parqueamento de 6 veículos ligeiros em frente ao edifício administrativo. 7.1.2. ÁREA FUNCIONAL E OPERACIONAL 7.1.2.1. Nave de Enfardamento Esta unidade consiste numa área coberta dividida em duas zonas distintas, com uma área de 60x30 m2, e terá: • Uma zona de descarga, recepção e armazenamento dos RSU – os RSU provenientes da recolha são depositados numa plataforma térrea ou numa fossa, sendo posteriormente encaminhados para um tapete transportador que vai alimentar a prensa de compactação. • Zona de compactação e saída de fardos – zona destinada à implantação da tremonha de carga, máquina de compactação, canal de saída dos fardos e transferidor automático de carregamento para posterior transporte para o aterro sanitário. A existência de uma unidade de enfardamento permite que os resíduos depositados a granel passem a ser compactados em fardos promovendo uma densidade de resíduos na ordem de 1 ton/m3 e um peso por fardo de cerca de 2,5 toneladas. 7.1.2.2. Nave de Triagem A unidade de triagem tem como objectivo receber todo o material proveniente da recolha selectiva realizada nos quatro concelhos em estudo, onde se procederá a uma separação mais afinada. O material triado será enviado para as respectivas indústrias recicladoras. A nave de triagem terá uma área de 60x30 m2, e terá: Ao lado da nave de triagem estará uma plataforma, a descoberto, com quatro alvéolos, em betão armado (5x5 m2), para o armazenamento de materiais recicláveis tais Memória Descritiva e Justificativa 18 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II como o vidro, o plástico e metais ferrosos e não ferrosos e ainda um contentor para óleos usados. 7.1.2.3. Nave ou Unidade Funcional (Armazém e pavilhão oficinal) O pavilhão servirá simultaneamente como instalação para parqueamento e como zona oficinal de pequenas reparações a viaturas e máquinas que operam no aterro, tendo uma área de 20x10 m2. O armazém, também com uma área de 10x20 m2, poderá albergar peças de substituição e outros materiais de consumo, bem como uma instalação sanitária. 7.1.2.4. Plataforma de Lavagem de Contentores e Viaturas Esta unidade terá uma área de 15x10m2 e servirá para a lavagem semanal dos contentores e das máquinas utilizadas no aterro, para remover os cheiros. 7.1.2.5. Unidade de Lavagem de Rodados A unidade de lavagem de rodados é extremamente importante para a prevenção de eventuais riscos para a saúde pública e degradação do ambiente, que podem advir do espalhamento dos resíduos nos acessos internos do aterro e na via pública. Esta plataforma ocupa uma área de 8x3 m2 e trata-se do local para onde as viaturas seguem após a descarga dos resíduos, para que se proceda à sua lavagem. Deste modo, as viaturas, bem como os seus contentores, circulam no exterior em condições mais limpas. Esta unidade será composta por duas rampas de declive suave separadas por um tanque em profundidade. A lavagem consiste em jactos de pressão, que serão accionados pela passagem das viaturas, através de um sistema de feixe óptico. Deverá ser contemplado o abastecimento de água para a operação e a sua consequente drenagem para posterior tratamento. 7.1.2.6. Plataforma para abastecimento de combustível Está prevista a instalação de um posto de abastecimento de combustível com uma área de 6x4 m2, que irá servir as viaturas e máquinas de trabalho no aterro. Memória Descritiva e Justificativa 19 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 7.2. INFRAESTRUTURAS 7.2.1. REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA A água que abastecerá as instalações e actividades do aterro terá origem na rede pública de distribuição, estando igualmente previsto uma rede de rega e bocas-deincêndio em pontos estratégicos do recinto. 7.2.2. REDE DE DRENAGEM E TRATAMENTO DAS ÁGUAS RESIDUAIS E PLUVIAIS As águas residuais domésticas produzidas nas instalações do aterro serão drenadas por meio de colectores até à unidade de tratamento. No que respeita às águas pluviais procurou-se minimizar a áreas permeáveis junto das instalações (exceptuando a cortina arbórea), e executou-se uma vala de drenagem ao longo do perímetro dos alvéolos do aterro de modo a evitar a sua infiltração na massa de resíduos, e evitar um aumento do caudal das águas lixiviantes. Estas águas serão lançadas na linha de água que existe junto à estação. O sistema de drenagem na zona de deposição de RSU será constituído por colectores em PEAD com um diâmetro de 315 mm, perfurados a meia cana e assentes em valas próprias no fundo do alvéolo. O fundo do alvéolo encontra-se devidamente impermeabilizado e possui uma inclinação de 2% para que o escoamento das águas possa ocorrer graviticamente. 7.2.3. REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA E ILUMINAÇÃO EXTERIOR A energia eléctrica é fornecida pela rede pública que permitirá obter energia necessária às seguintes actividades e instalações do aterro sanitário: • Rede de iluminação exterior; • Rede interna de electricidade das instalações propostas; • Iluminação das frentes de trabalho; • Força motriz. Memória Descritiva e Justificativa 20 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 7.2.4. REDE DE TELEFONE Está prevista a existência de uma rede telefónica dentro do aterro sanitário, bem como uma rede interna nas instalações propostas. 7.2.5. ACESSOS As vias de acesso de duas faixas, cada uma com uma largura de 4 metros, destinam-se a possibilitar a circulação de veículos pesados, quer nas zonas de instalações de apoio quer na frente de trabalho. O pavimento nas vias de acesso, bem como no parque de estacionamento, serão constituídos por: • 0,15 m de saibro compactado a 95% do A.A.S.H.O.; • 0,25 m de base em “ tout-venant” compactado a 95% do A.A.S.H.O.; • Rega de colagem; • 0,05 m em betão betuminoso. A contenção lateral das vias será feita em lancil de betão pré-fabricado e os passeios serão realizados em blocos tipo “ UNI” , assentes em almofada de areia e ligados por argamassa de cimento. O pavimento no acesso à frente de trabalho será apenas realizado em “ toutvenant” . 7.2.6. VEDAÇÃO E PORTÃO Todo o recinto do aterro sanitário será envolvido por uma vedação que servirá para evitar o acesso indiscriminado de pessoas e animais, e ainda para impedir o eventual espalhamento dos resíduos leves que possam ser arrastados pelo vento. A vedação terá 1727 m de comprimento, uma altura de 2 metros e será constituída por rede de arame vincado, com uma malha de 40 mm, montada em tubos de ferro galvanizado assentes em maciços de amarração que serão colocados de 5 em 5 metros. O acesso ao interior do recinto será efectuado por um único portão com duas folhas de 3,5 m largura e 2 m de altura, devendo ter afixado uma placa informativa em que serão fornecidos os dados respeitantes aos concelhos pertencentes ao aterro, o período de funcionamento, bem como o tipo de resíduos admitidos. Memória Descritiva e Justificativa 21 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 7.2.7. CORTINA ARBÓREA Numa faixa paralela e interior à vedação será plantada uma cortina arbórea com cerca de 10 metros de largura que funcionará como uma barreira às poeiras, odores e ruídos resultantes da movimentação dos resíduos e terras de cobertura. A cortina arbórea constituída por árvores de médio porte, com crescimento rápido, e dispostas em duas filas desencontradas (no meio das quais serão colocados arbustos), tem também a finalidade de minimizar o impacte visual. 8. SISTEMA DE IMPERMEABILIZAÇÃO Um dos principais sistemas de protecção ambiental, associado a um aterro sanitário, reside na impermeabilização do fundo e dos taludes a fim de evitar a contaminação do solo e das águas subterrâneas e superficiais, por intermédio dos lixiviados resultantes da degradação dos resíduos, bem como das águas pluviais que percolam através destes. Esta barreira tem ainda como objectivo impedir a entrada na zona de deposição dos resíduos de águas subterrâneas como resultado de uma eventual subida do nível freático. De acordo com a Directiva do Conselho 1999/31/CE, de 26 de Abril, relativa à deposição de resíduos em aterro, o sistema de impermeabilização em aterros com estas características poderá ser simplesmente de origem natural (impermeabilização passiva), sendo necessário garantir a existência de 1 m de terreno em toda a área de deposição, com um coeficiente de permeabilidade (k) de 10-9 m/s. Por outro lado, quando as condições naturais não garantem a impermeabilização pretendida, torna-se imperioso recorrer a sistemas de revestimento de natureza artificial, compostos por múltiplas camadas de materiais geossintéticos que, no seu conjunto, apresentam um coeficiente de permeabilidade inferior ao exigido pela directiva (impermeabilização activa). Dada a permeabilidade dos solos referentes ao local de implementação do aterro, torna-se necessário recorrer a um sistema de impermeabilização artificial, que deverá Memória Descritiva e Justificativa 22 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II contemplar o emprego de várias camadas com funções específicas. A sua ordem de colocação no terreno é a seguinte: • Sub-base ou leito do aterro (é uma camada regularizadora sob o revestimento); • Camada de detecção de fugas ou sistema secundário de drenagem e remoção de lixiviados, destinada a drenar e remover os lixiviados que migraram através do revestimento primário; • Revestimento primário, camada (ou conjunto de camadas) de baixa permeabilidade com função de barreira ao movimento descendente do lixiviado para o subsolo; • Camada de drenagem e remoção dos lixiviados (camada permeável que drena os lixiviados provenientes dos resíduos para os pontos de captação e remoção); • Camada de protecção, em regra constituída por solo compactado com a função de proteger dos resíduos as camadas de revestimento. O sistema de impermeabilização e drenagem proposto para o fundo do aterro sanitário, cujo pormenor construtivo se encontra no Desenho nº 9, é constituído pelas seguintes camadas, da base até ao topo: • Barreira geológica que será constituída por uma camada de 0,5 metros de solo argiloso local, regado e compactado a 95% AASHO; • Geossintético bentonítico, agulhado, com uma gramagem de 4 kg/m2 que garante um coeficiente de permeabilidade (K) igual 10-11 m/s; • Geomembrana, calandrada de polietileno de alta densidade (PEAD) com uma espessura de 2 mm; • Tela de geotêxtil não tecido com uma gramagem de 300 g/m2 e que tem por função a protecção da geomembrana; • Camada mineral drenante com 0,5 m de espessura constituída por 20 cm de areia junto ao geotêxtil e, no topo da areia, 30 cm de brita. Esta camada garantirá um K = 10-4 m/s; • Tela de geotêxtil não tecido, com uma gramagem de 300 g/m2. Memória Descritiva e Justificativa 23 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II O sistema de impermeabilização e protecção dos taludes proposto, expresso no esquema que se apresenta no Desenho n º 9, é constituído pelas seguintes camadas, da base até ao topo: • Solo argiloso local regularizado; • Geossintético bentonítico, com uma gramagem de 4 kg/m2 que garante um coeficiente de permeabilidade (K) igual 10-11 m/s; • Geomembrana, calandrada de polietileno de alta densidade (PEAD) com uma espessura de 2 mm; • Tela de geotêxtil não tecido com uma gramagem de 300 g/m2; • Tela geocompósita drenante com a face superior revestida de geotêxtil não tecido com capacidade de resistência aos UV' s. A cobertura final do aterro sanitário encontra-se descrita na Selagem e Integração Paisagística. 8.1. GEOSSINTÉTICO BENTONÍTICO Este material contém uma camada interior de bentonite (argila), com um coeficiente de permeabilidade (K) de 10-8 cm/s. Por razões de segurança o material tem de ter uma elevada resistência (5500 g/m2), com espessura mínima de 6 mm. Como a bentonite tem uma elevada capacidade de expansão com a humidade, em caso de perfuração os espaços vazios ficam colmatados evitando assim a contaminação das camadas mais profundas. 8.2. GEOTÊXTIL NÃO TECIDO E GEOMEMBRANA EM PEAD O dimensionamento do sistema de impermeabilização consiste na estimativa da força de punçoamento e da força de rasgamento a que estão sujeitas a tela de geotêxtil não tecido e da geomembrana em PEAD, e da sua espessura considerando uma determinada força de tracção. A força de punçoamento permite aferir quais os tipos de geomembrana e geotêxtil que suportam essa força e que são, por isso, adequados à impermeabilização do aterro. A força de rasgamento é também uma característica para selecção dos tipos de telas usadas. Tal como a força de punçoamento, são comparadas Memória Descritiva e Justificativa 24 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II as características estimadas com as características associadas às telas existentes no mercado. Além disso, procede-se ao dimensionamento das valas de ancoragem determinando a sua altura. Todas as tabelas de cálculo encontram-se em Anexo. Os valores correspondentes aos três critérios referidos foram determinados e posteriormente confrontados com os valores tabelados apresentados pelos fabricantes permitindo, desta forma, uma correcta avaliação das necessidades. De forma a avaliar as características que os geossintéticos devem possuir para permitir a sua colocação em condições de segurança interessa determinar a carga máxima a que estes ficam sujeitos. Os geossintéticos encontram-se confinados entre o terreno de fundação e o restante material de aterro. De acordo com o enchimento mais desfavorável projectado para o aterro, a carga máxima que será exercida sobre o sistema de protecção corresponde à pressão global provocada pela massa de RSU depositada e pela camada drenante. Assim, tem-se: P = (H × PRSU) + (di × Pi) Sendo: P – pressão máxima exercida (KPa) H – altura mais desfavorável da massa de resíduos (m) PRSU – peso específico dos RSU compactados (KN/m3) di – espessura dos diferentes materiais da camada drenante (m) Pi – peso específico dos materiais que constituem a camada drenante (KN/m3) 8.2.1. FORÇA DE PUNÇOAMENTO A força de punçoamento nominal foi calculada utilizando a seguinte fórmula: Fp = π × ds 2 4 × Pf Fp – força de punçoamento nominal (KN) ds – diâmetro do agregado da camada drenante em contacto com a tela (admitiuse 20 mm, correspondente à granulometria do areão) Memória Descritiva e Justificativa 25 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Pf – pressão exercida pela camada de resíduos, pela camada drenante e por uma máquina-tipo (KN/m2) Para o cálculo da força de punçoamento final deve ser feita uma correcção de acordo com a Norma DIN 54307, acrescida de um factor de segurança igual a 2. A força de punçoamento final foi determinada através da seguinte expressão: Fpf = Fp × dP × Fs (ds − S ) S – coeficiente de forma do agregado da camada drenante (entre 0,4 e 0,85) dP – diâmetro do pilão de ensaio segundo a Norma DIN 54307 (admitiu-se 0,05 m) Fs – factor de segurança (considerou-se o valor de 2) No que diz respeito ao geotêxtil utilizou-se um coeficiente de forma de 0,4, visto este se encontrar em contacto com o saibro. No caso da geomembrana empregou-se um coeficiente de 0,85 dado que esta se encontra protegida pelo geotêxtil. 8.2.2. FORÇA DE RASGAMENTO A força de rasgamento nominal foi calculada utilizando a seguinte fórmula: Fr = π × ds 2 × P(1 − S ) Fr – força de rasgamento (KN) A força de rasgamento final é obtida pela aplicação do factor de segurança ao valor anteriormente obtido: Frf = Fr × Fs Frf – força de rasgamento final (KN) Memória Descritiva e Justificativa 26 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Fs – factor de segurança (considerou-se o valor de 4) 8.2.3. FORÇA DE TRACÇÃO Admitindo um determinado deslocamento no conjunto de telas, a expressão que permite calcular o valor da espessura é a seguinte: e= F1 + F2 ×L σ × cos β e – espessura da tela (m) F1, F2 – força exercida pela camada de resíduos e pela camada drenante 2 (KN/m ) L – mobilização da resistência (comprimento de amarração igual a 0,1 m) σ – Tensão de rotura (para o geotêxtil foi considerado um valor de 2567 KN/m2 e para a geomembrana 13750 KN/m2) β – Ângulo de inclinação das telas O valor de F1 e F2 é dado pela seguinte fórmula: Fi = P × tgα i αi – ângulos de atrito entre as superfícies das telas; Relativamente a este parâmetro é necessário verificar-se a seguinte condição: σ × cos β < F1 + F2 Os resultados obtidos pela consideração das forças de punçoamento, rasgamento, e resistência à tracção/espessura do geotêxtil e da geomembrana são apresentados no quadro seguinte: Memória Descritiva e Justificativa 27 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Quadro 1 – Valores de força de punçoamento e rasgamento finais e de espessura para o geotêxtil não tecido e a geomembrana em PEAD Geotêxtil não tecido Geomembrana (PEAD) Força de punçoamento final (N) 483,8 483,8 Força de rasgamento final (N) 278,7 139,3 Espessura (mm) 2,5 2* * O valor obtido foi de 0,6 mm mas por uma questão de segurança foi sobredimensionado para 2 mm. O Instituto de Resíduos (INR) aconselha a utilização de uma espessura mínima de 2 mm em aterros sanitários para RSU, pelo que se prevê a utilização de um tipo de geomembrana com esta espessura. 8.2.4. VALAS DE ANCORAGEM As telas serão amarradas no topo dos taludes por intermédio de uma vala de ancoragem, que circunda a totalidade da área útil do aterro. A fixação propriamente dita é conseguida através do preenchimento da valeta com material escavado o qual exerce pressão sobre as telas de forma a não as deixar escorregar. As dimensões da vala de ancoragem, cujo esquema se apresenta no Desenho n.º 9, foram calculadas de forma a se obter para a geomembrana uma determinada resistência de amarração. A altura de vala (hv) que contraria esta força de tracção foi determinada através da seguinte expressão: Rt = [γ s (hv + hs )× b × tgα ] + (γ s × L × hs × tgα ) Em que, Rt – resistência de amarração (KN/m); γ s – peso específico do solo (21 KN/m3); hv – altura da vala (m); Memória Descritiva e Justificativa 28 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II hs – altura do solo (admitiu-se o valor de 0,5 m); b – largura da vala (em geral 1,0 m); α – ângulo de atrito GCL/solo (admitiu-se 25º); L – espaço entre a crista do talude e a vala (m). O valor de Rt é dado pela seguinte fórmula: Rt = σ × e σ – tensão de rotura (para a geomembrana foi considerado um valor de 13750 kN/m2); e – espessura da tela (admitiu-se um valor para a geomembrana de 2 mm). As dimensões da vala de ancoragem apresentam-se no Quadro 1. Quadro 1 – Dimensões da Vala de Ancoragem (hv) Altura da vala (m) 1,56 (b) Largura da vala (m) 1 (La) Comprimento entre crista do talude e vala de amarração (m) (hs) Altura de solo (m) 1,5 0,5 8.3. CAMADA DRENANTE A camada drenante é constituída por 0,2 m de areão na parte inferior e 0,3 m de brita na parte superior. A aplicação de uma camada fina de areia amortece o efeito da brita sobre o geotêxtil. 9. ÁGUAS LIXIVIANTES 9.1. CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES A execução de um sistema de drenagem, captação e tratamento de águas lixiviantes é fundamental para a redução dos riscos de contaminação dos solos, Memória Descritiva e Justificativa 29 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II aquíferos subterrâneos e cursos de água superficiais, devido à elevada carga poluente destas águas. Assim, deve assegurar-se um rápido escoamento destas águas para impedir a sua acumulação prolongada no volume de resíduos, diminuindo desta forma o risco de infiltração na base do aterro e consequente contaminação das águas subterrâneas. A formação de águas lixiviantes resulta da percolação das águas pluviais (ou outra fonte de humidade) através dos RSU depositados no aterro, promovendo a dissolução e/ou transporte de substâncias minerais ou orgânicas provenientes da decomposição físico-química de resíduos. Assim, a composição química dos lixiviados dependerá da natureza dos resíduos, taxa de lixiviação, do tempo de permanência dos resíduos em aterro sanitário e das condições da exploração. Além disso, a sua acumulação facilita a formação de zonas enlameadas que dificultam as operações de deposição e compactação de resíduos no aterro. No que diz respeito à quantidade de lixiviados, esta dependerá dos seguintes factores: • Disponibilidade de água: precipitação, presença de águas superficiais, eventual recirculação de águas lixiviantes; • Características da cobertura: tipo de solo e vegetação, presença de material impermeável, inclinação do terreno e outras características topográficas; • Características dos resíduos depositados: densidade, teor em humidade, compactação; • Método de impermeabilização; natural ou artificial, características do solo. É na fase I da estabilização de um aterro, ou seja, na fase inicial, que ocorre uma produção acentuada de lixiviados. A composição química dos lixiviados produzidos num aterro varia em função da idade do mesmo. No quadro 3 apresentam-se as características das três grandes classes de aterros, fundamentalmente com base na fase em que o processo de degradação anaeróbia se encontra. Memória Descritiva e Justificativa 30 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Quadro 3 – Caracterização qualitativa dos lixiviados Componente Lixiviados jovens (< 2 anos) Lixiviados maduros (> 15 anos) Lixiviados em Evolução (> 2 anos e < 15 anos) (15000 - 20000) (100 – 2000) (7000 – 15000) Biodegradabilidade muito baixa Biodegradabilidade baixa CQO (mg/l) Elevada Carga Orgânica CBO5/CQO Biodegradabilidade média > 0,3 ≈ 6 ,5 pH Baixa Carga Orgânica > 0,1 ≈ 7 ,5 ≈ 0,2 ≈7 Um dos parâmetros mais importantes a ter em conta na análise qualitativa de um lixiviado é a sua biodegradabilidade, que é expressa através da relação CBO5/CQO. Como se pode observar no quadro 3, os lixiviados jovens possuem valores típicos de CBO5/CQO de 0,3 ou superiores, ou seja, possuem uma boa biodegradabilidade. Em aterros maduros os valores desta razão diminuem consideravelmente, encontrando-se numa gama entre 0,1 e 0,2, o que mostra a fraca biodegradabilidade dos lixiviados. Estas variações acentuadas de qualidade ao longo do tempo são um dos motivos pelos quais é bastante complicado o tratamento das águas lixiviantes. A fim de permitir recolher rapidamente as águas lixiviantes formadas no aterro, procedeu-se ao dimensionamento de um sistema de drenagem e tratamento das mesmas. 9.2. TRATAMENTO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES Segundo a Directiva do Conselho 1999/31/CE, de 26 de Abril, relativa à deposição de resíduos em aterro, as águas lixiviantes, bem como todas as águas de escorrência que estiveram em contacto com os resíduos, deverão ser captadas e tratadas em conformidade com as normas adequadas exigidas para a sua descarga. Assim sendo, estas são conduzidas para a ETAL, aplicando-se à saída da mesma os “ Valores Limite de Emissão (VLE) na Descarga de Águas Residuais” que constam no Anexo XVIII do Memória Descritiva e Justificativa 31 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, desde que não se verifiquem situações especiais nele previstas (art. 64º) que justifiquem condições mais exigentes. As características dos lixiviados variam de aterro para aterro e, dentro do mesmo aterro, ao longo de cada ano e ao longo do seu período de vida. No entanto, de uma forma geral, as águas lixiviantes apresentam elevados teores em CBO, CQO, Cloretos, Nitratos, Sulfatos, Ferro e Metais Pesados, pelo que se prevê um sistema de tratamento biológico e físico-químico, de forma a cumprir os valores de descarga no meio receptor natural. O sistema de tratamento a instalar terá que ter flexibilidade suficiente para suportar as variações das características dos lixiviados. A combinação de um tratamento biológico com um tratamento físico-químico, fornece uma solução que permite com maior segurança garantir um tratamento eficiente ao longo de todo o período de produção de lixiviados. O tratamento biológico, o mais simples de implementar e o mais económico em termos de custos de exploração, adapta-se aos lixiviados “ jovens” , caracterizados por carga orgânica elevada e elevada biodegradabilidade (CBO/CQO 0,4). O tratamento biológico de lixiviados “ velhos” , apesar de apresentar baixas eficiências de remoção de CBO, pode permitir a remoção de azoto. O tratamento físico-químico, por outro lado, é tanto mais eficaz quanto menor for a relação CBO/CQO, adaptando-se bem aos lixiviados “ velhos” ou lixiviados já tratados biologicamente. Assim, adoptar-se-á o seguinte esquema de tratamento: - Lagoa de regularização de caudais – o efluente é conduzido graviticamente para uma lagoa de regularização de caudais, de modo a amortizar as pontas, permitindo a afluência de um caudal constante à linha de tratamento. - Lamas activadas – o tratamento biológico por lamas activadas tem uma eficiência de remoção para o CBO5 que ronda os 90 – 99% e de CQO que varia entre 35 – 95%, dependendo dos valores iniciais. Este sistema de tratamento permite a remoção de azoto pela introdução de um tanque de anóxia a anteceder o tanque de arejamento, o que é importante pois à medida que o aterro envelhece ocorre um aumento da concentração do mesmo. - Coagulação / Floculação - Decantação Memória Descritiva e Justificativa 32 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II As lamas geradas no tratamento serão bombadas do fundo do decantador para um espessador e depois de condicionadas com cal e polielectrólito serão desidratadas em filtra banda. No Desenho n.º 4 é possível observar o sistema de captação e drenagem dos lixiviantes até à lagoa de regularização de caudais, e a localização desta e da ETAL. 9.3. SISTEMA DE DRENAGEM E CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES O sistema de drenagem tem por objectivo promover a recolha e drenagem dos lixiviados produzidos na massa de resíduos, bem como as águas pluviais que nela se infiltram, quer durante a fase de enchimento do aterro sanitário, quer após a sua selagem. O esquema definido para a drenagem e captação das águas lixiviantes é composto por valas de drenagem, rede de colectores de drenagem, poços de junção, caixa de visita (Desenho nº 4). 9.3.1. CONCEPÇÃO DO SISTEMA A drenagem dos lixiviados originados no aterro será efectuada através de uma rede de drenos na sua base, colocados em valas, que os conduzirão por gravidade para poços de captação e daí para uma câmara de derivação da qual serão conduzidos para a lagoa de regularização. Da lagoa de regularização (5 000 m3), os lixiviados serão bombeados para a ETAL. A existência de uma lagoa de regularização apresenta as seguintes vantagens: • Regularização do caudal excedentário das águas lixiviantes ocorrentes em situação de pluviosidade anómala; • Controlo de entrada de águas lixiviantes na ETAL; • Armazenamento em situações de manutenção ou avaria da ETAL. A sua capacidade nunca deve ser inferior a 3000 m3, pelo que 10000 m3 assegura de longe esta condição. Memória Descritiva e Justificativa 33 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II A rede de drenagem será constituída por três valas de drenagem longitudinais (modelação em telhado invertido) em cada alvéolo, com uma inclinação de 2%. Em cada vala existirá um colector perfurado a meia cana, constituído por uma tubagem em PEAD de diâmetro de 315 mm, instalada no meio da camada drenante do fundo do aterro, como se ilustra no Desenho nº 4. A impermeabilização das valas é realizada de modo idêntico à descrita na impermeabilização geral do aterro. No entanto, torna-se necessário adicionar uma segunda tela de geotêxtil não tecido de modo a evitar a entrada de areias nas tubagens perfuradas, o que poderia impedir a entrada de águas lixiviantes. Devido ao enfardamento a camada de resíduos torna-se consideravelmente impermeável o que propicia a acumulação de águas lixiviantes dentro das células de aterro. Para evitar este problema colocam-se os fardos de forma a deixar espaços entre eles, durante a estação seca, que depois são preenchidos com resíduos a granel durante a época das chuvas, para permitir um maior escoamento dos lixiviados. 9.3.2. CÁLCULO DO CAUDAL DE ÁGUAS LIXIVIANTES O caudal de águas lixiviantes foi calculado para 3 anos do período de exploração do aterro (2007, 2013 e 2020), através da seguinte tabela de cálculo: Quadro 4 – Tabela de cálculo para águas lixiviantes Mês Precipit. (mm) Evaporação Adsorção (mm) (mm) Infiltração (mm) RSU (ton) Área 2 (m ) QRSU Qmédio 3 (m ) 3 (m ) Qtotal médio (m3) Cada coluna relativa ao Quadro 4 foi determinada da seguinte forma: • Os valores da Precipitação e da Evaporação foram obtidos com base na Estação Meteorológica de Cela, visto ser a que melhor satisfazia o binómio proximidade relativa ao aterro – base de dados mais completa. Esta base de dados foi consultada no site do INAG (www.inag.pt). Por fim, calcularam-se os valores médios mensais da Precipitação e Evaporação; • A Adsorção é 0 mm; • A Infiltração é igual a (Precipitação – Evaporação – Adsorção); Memória Descritiva e Justificativa 34 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça • Volume II RSU corresponde às quantidades de resíduos sólidos urbanos produzidos em cada mês do ano; • A Área refere-se ao terreno de contribuição para o caudal de lixiviantes (área de resíduos sobre a qual ocorre precipitação); • Finalmente, QRSU = 15% × RSU (ton); Qmédio = Infiltração * Área; e Qtotal médio = QRSU + Qmédio. Obteve-se um caudal total anual máximo de lixiviantes da ordem dos 25 000 m3 (25 633 m3), correspondente ao último ano de exploração (horizonte de projecto). Para este caudal, dimensionou-se uma lagoa de regularização de caudais com 5 000 m3. 9.3.3. EXECUÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM E CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS LIXIVIANTES 9.3.3.1. Valas De Drenagem As valas de drenagem têm como função a recolha e transporte de todos os líquidos que resultam da decomposição dos resíduos, incluindo ainda as águas pluviais que se infiltram na massa de resíduos, encaminhando-as para colectores de ligação que as conduzirão para até ao poço de junção final. O escoamento dos lixiviados ocorre graviticamente dado que a inclinação das valas é idêntica à do terreno de implantação do aterro, e que é superior a 2%. Estas estruturas envolvem colectores de PEAD perfurados a meia cana tendo-se admitido, por questões de segurança, um diâmetro de 315 mm. A rede de colectores de drenagem é constituída por um colector principal, que se dispõe longitudinalmente no terreno, sendo interceptado por 4 colectores secundários que estão colocados em espinha. O Desenho nº 8 representa os pormenores da vala de drenagem principal, de secção trapezoidal com uma altura de 1,5 m, largura da base de 1 m e 1,5 m de topo, e do assentamento dos colectores. Os colectores serão preenchidos com brita e envolvidos em geotêxtil não–tecido de 300 g/m2, a fim de prevenir a sua colmatação, e posteriormente cobertos com uma camada de solo de protecção. Memória Descritiva e Justificativa 35 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 9.3.3.2. Poços De Junção Os poços de junção têm como função colectar as águas lixiviantes provenientes de toda a área do aterro (permitindo a junção de águas lixiviantes provenientes de colectores com diferentes cotas de entrada no poço). As águas colectadas são conduzidas pelas valas de drenagem para a lagoa de regularização e em seguida para a a ETAL. É no último poço de junção que se procede à análise quantitativa e qualitativa das águas lixiviantes. À medida que os estratos de resíduos vão aumentando, o poço de junção irá sendo progressivamente construído para que, no final do enchimento, a sua extremidade superior fique a descoberto. O topo do poço coincidirá com a superfície do aterro após selagem, possuindo na zona superior a descoberto, um aro e uma tampa protectora móvel de ferro fundido. Na sua construção recorre-se a manilhas de betão pré-fabricado de 0,5 m de altura, 0,15 m de espessura e 1,5 m de diâmetro interior. O acesso ao seu interior realizar-se-á por intermédio de uma escada construída de acordo com as normas NP-883, que se encontra sob uma tampa protectora móvel em ferro fundido. Os poços serão assentes sobre uma laje de fundação em betão armado, de secção quadrangular de lado igual a 2,5 m, sendo perfurado em toda a sua volta. Num raio de 0,5 m será circundado por brita de granulometria média, de forma a se criarem caminhos preferenciais para facilitar a captação das águas lixiviantes. No Desenho nº 8 encontra-se um esquema referente a esta estrutura. 9.3.3.3. Poços De Captação Na zona mais baixa do aterro encontra-se o poço de junção final, para onde são conduzidas as águas lixiviantes recolhidas pelo colector principal, que apresenta características idênticas aos poços anteriormente referidos, à excepção do pormenor da tubagem efluente que não se encontra perfurada a meia cana. O poço de captação tem como função recolher as águas lixiviantes, que para aí são encaminhadas pelo sistema de drenagem e que posteriormente são conduzidas para a lagoa de regularização. O poço terá de ficar assente em laje de betão armado, que lhe servirá de fundação, subjacente ao sistema de impermeabilização. Memória Descritiva e Justificativa 36 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 10. SISTEMA DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS A colocação de um sistema de drenagem de águas pluviais tem por fim desviar as águas da zona de deposição dos resíduos, evitando que as escorrências superficiais oriundas de terrenos vizinhos aumentem o caudal de lixiviados. Permite também o desvio da linha de água principal que percorre a zona onde se implanta o aterro de RSU. A drenagem de águas pluviais será assegurada por uma vala periférica ao longo dos limites superiores dos taludes, que acompanhe a topografia do terreno, com uma inclinação mínima de 2%. As águas são assim conduzidas graviticamente para uma zona de cota mais baixa, até à linha de água mais próxima. A vala será constituída por betão, a meia cana. No Desenho n.º 4 encontra-se representado este sistema de drenagem. As águas pluviais que caírem sobre o alvéolo não explorado serão recolhidas por um colector e desviadas, o que evitará sobrecarregar a ETAL. Quando este alvéolo for necessário para deposição de resíduos, a saída de águas pluviais será bloqueada na zona a montante da banqueta e o colector de pluviais (que passará a ser de lixiviados) será ligado ao sistema de drenagem de lixiviados executado no outro alvéolo. No primeiro alvéolo existirá um colector que terá apenas a função de transporte e não de recolha, não sendo por isso perfurado. Por sua vez, o troço deste colector localizado no segundo alvéolo (a montante do primeiro) será perfurado a meia cana a fim de recolher as águas pluviais afluentes ao mesmo. A tubagem deste sistema será de PEAD de diâmetro de 315 mm, e instalada no meio da camada drenante do fundo do aterro. A localização das tubagens obedece aos princípios da modelação de fundo em telhado invertido. Assim, existem em cada alvéolo três tubagens de águas pluviais. A afluência das águas pluviais à frente de trabalho será protegida por valas progressivas, cujas dimensões dependerão do caudal de afluência. Algumas destas valas serão absorvidas à medida que se verifica o crescimento gradual do aterro. 11. BIOGÁS 11.1. FORMAÇÃO DE BIOGÁS Memória Descritiva e Justificativa 37 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II O biogás é produzido a partir dos diversos processos de transformação química e biológica, processos de decomposição dos resíduos pelos microorganismos, nomeadamente pelas bactérias acetogénicas e metanogénicas. Os vários processos de decomposição dos resíduos, caracterizam-se pela oxidação da matéria orgânica presente na massa de resíduos; esta oxidação é condicionada por diversos factores: altura das camadas de resíduos, grau de compactação, degradabilidade, teor em humidade, temperatura, permeabilidade dos materiais de cobertura e ainda pela pluviosidade da região. Dada a inexistência de oxigénio nas camadas inferiores de resíduos desenvolvem-se processos anaeróbios, na camada superior de resíduos ocorrem normalmente processos aeróbios, devido à existência de uma certa quantidade de oxigénio. Numa primeira fase da decomposição da matéria orgânica, enquanto decorre a fermentação aeróbia dá-se a formação de uma mistura gasosa que é composta por amoníaco (NH3), água (H2O) e dióxido de carbono (CO2). No entanto, numa fase II, devido à sobreposição de resíduos sólidos e à sua compactação, estabelecem-se condições de anaerobiose, daí resultando a oxidação de parte da matéria orgânica em dióxido de carbono (CO2) e a redução de outra parte a metano (CH4). Devido à hidrólise e fermentação de proteínas aumenta significativamente a produção de azoto amoniacal, ocorrendo pela produção de outros gases uma diminuição de azoto no ar. Na fase III, progressivamente a concentração de metano (CH4) vai aumentando e simultaneamente diminuindo as concentrações de H2, CO2 e AGV. Normalmente a produção de metano (CH4) começa alguns meses até dois anos após terminar a deposição dos resíduos. Na fase IV, dá-se a maior produção de CH4, chegando este a constituir 50-65% do volume total de gases produzidos; em zonas de clima temperado este volume pode durar pelo menos 15 a 20 anos. A fase V é caracterizada pela diminuição considerada de CH4 em que nos resíduos enterrados só a matéria orgânica de difícil degradação permanece, dando lugar ao aparecimento de azoto nos gases produzidos. Este processo é ilustrado na figura 2. O biogás é uma mistura gasosa composta por CH4 (cerca de 40 a 60%) e CO2 (cerca de 30 a 40%), representando um total de cerca de 90%. Em menores percentagens liberta-se ainda o monóxido de carbono (CO), ácido sulfídrico (H2S), azoto (N2), amoníaco (NH3), oxigénio (O2) e hidrogénio (H2). Memória Descritiva e Justificativa 38 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Figura 2 – Variação da composição de biogás 11.2. LIBERTAÇÃO DOS PRODUTOS GASOSOS Para além dos produtos gasosos já referidos, liberta-se ainda na degradação da matéria orgânica monóxido de carbono (CO), ácido sulfídrico (H2S), azoto (N2), oxigénio (O2) e hidrogénio (H2). Sendo o CO2 e H2 mais densos que o ar, tendem a migrar para o fundo do aterro, dissolvendo-se nas águas lixiviantes. A prevenção dos inconvenientes por eles causados, serão assim resolvidos, através de drenagem, tratamento e adequado destino final dos lixiviados. O metano sendo menos denso, tende a migrar para a superfície ou a escapar-se por caminhos preferenciais. O CH4 é o mais perigoso dos gases produzidos num aterro sanitário, devido à sua natureza explosiva quando se mistura com o ar numa proporção de 5 a 15%. No interior do aterro propriamente dito, tal problema não surge, porque a relação entre as concentrações presentes não são dessa ordem de grandeza. Além disso, o CH4 e o CO2 são gases que contribuem para o efeito de estufa, apresentando ainda outros efeitos tóxicos sobre o ambiente. Para evitar os referidos problemas, é fundamental que se proceda ao seu controlo, recolha e tratamento. Memória Descritiva e Justificativa 39 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II A fim de eliminar os efeitos nocivos inerentes à libertação do biogás, deverá efectuar-se um correcto controlo da sua migração dentro da massa de resíduos, construindo-se para o efeito drenos de captação, drenagem e difusão deste gás para o exterior da massa de resíduos. Para que não haja escoamento de gases para terrenos adjacentes ao aterro sanitário é colocado geomembranas no fundo e paredes laterais do aterro, numa fase anterior ao enchimento com resíduos. Durante o seu período de exploração, pelo que a própria pressão do gás é suficiente para o fazer fluir até ao local de processamento, o sistema de escoamento deverá ser passivo. Após a selagem do aterro sanitário, os drenos verticais passarão a estar em contacto por intermédio de um sistema de drenos horizontais, através dos quais ocorre o escoamento dos biogás formado, cujo fluxo é controlado por meio de vácuo aplicado ao sistema. Nesta fase, recorre-se, então, a um sistema de escoamento activo. Como forma de controlo das emissões de metano e compostos orgânicos voláteis, o gás captado será queimado, numa unidade concebida para o efeito. A viabilidade da utilização do biogás recolhido para a produção de energia será um estudo a fazer posteriormente. 11.3. CONTROLO DO ESCOAMENTO DOS PRODUTOS GASOSOS E TRATAMENTO DO BIOGÁS A extracção de produtos gasosos é feita através da implantação de um sistema de drenagem. O sistema de drenagem de biogás é formado por uma rede de condutas verticais (poços) e drenos horizontais. As condutas verticais estão localizadas de formas equidistantes e os drenos horizontais encontram-se instalados no interior da massa de resíduos, permitindo a extracção de produtos gasosos. Cada poço tem um diâmetro de acção de cerca de 25 m (varia entre 25 e 30 m). No Desenho nº 5 é possível observar a implantação do sistema de drenagem. Em todos os locais escolhidos para a colocação de poços, começa-se pela colocação de um tubo em PEAD perfurado radialmente a 360º, com um diâmetro de 160 mm e uma altura de 3,0 m, num gabião com um 1 m3, com pedra rolada. Após a estabilização do tubo fecha-se o painel superior do gabião. Memória Descritiva e Justificativa 40 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Exteriormente à tubagem de PEAD, coloca-se um tubo-guia em ferro fundido com protecção exterior e interior contra a corrosão, apresentando um diâmetro de 250 mm. O tubo-guia será preenchido com brita de granulometria média/grossa que permita, por um lado, a migração dos efluentes gasosos e, por outro, impeça a entrada no poço de águas lixiviantes ou resíduos. Os pormenores referentes ao poço de biogás na fase de construção, encontram-se expressos no Desenho nº 7. Quando o nível de resíduos atingir o topo do tubo-guia, este é elevado com o auxílio de umas pegas, ocorrendo um aumento da altura poço através da junção de um novo tubo de PEAD de 160 mm, com o auxílio de uma abraçadeira de aço inoxidável. No Desenho nº 7 encontra-se uma representação esquemática do poço de biogás na fase de exploração. À medida que ocorre a selagem dos alvéolos do aterro sanitário, as cabeças móveis dos poços de captação são substituídas por cabeças fixas, procedendo-se ainda à ligação horizontal dos drenos, por intermédio de uma tubagem de PEAD de diâmetro igual a 160 mm, a um colector principal. O esquema relativo ao poço de biogás na fase de selagem está representado no Desenho nº 7. Deste modo, o sistema só começará a funcionar em pleno a partir da selagem do alvéolo. O gás colectado é transportado, através da introdução de vácuo gerado por compressores, até à unidade de separação de condensados e daí, por intermédio de uma bomba adequada, é elevado para o queimador, que garante uma temperatura de 1200ºC. A queima do biogás terá como objectivo controlar as emissões de metano e outros compostos orgânicos voláteis. A composição física e química dos resíduos depositados, faz depender a valorização energética do biogás; estes resíduos influenciam directamente a produção diária do gás metano no aterro. Dependendo da qualidade e do volume de biogás resultante, inclusivamente durante a fase de pós-encerramento, o biogás pode ser aproveitado como forma de energia alternativa, nomeadamente electricidade, vapor ou gás, quer em benefício das instalações de apoio existentes no aterro, quer de outras situadas nas proximidades. Memória Descritiva e Justificativa 41 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Relativamente à decisão de implementação, ou não, de infra-estruturas de valorização energética, deve efectuar-se um estudo de viabilidade de aproveitamento de biogás, a ocorrer durante a fase de exploração do aterro, através da medição e registo da produção do biogás, e da variação do teor do metano. 11.3.1. CONTROLO DO ESCOAMENTO DOS PRODUTOS GASOSOS E TRATAMENTO DO BIOGÁS Uma parte do biogás que se forma na massa de resíduos tem tendência para subir, ou outra parte, escoar para terrenos adjacentes através de caminhos preferenciais caso não houvesse o sistema de impermeabilização basal. De forma a controlar a saída dos gases produzidos, são introduzidos na massa de resíduos uma rede de drenos. Esses drenos ligam-se a colectores de superfície (ou enterrados sub-superficialmente) e que permitem o escoamento desses gases para o exterior. A maior produção de biogás ocorre durante os dois/três primeiros anos após o início da deposição de resíduos. A extracção subdivide-se em dois tipos: sistema de extracção passiva e sistema de extracção activa. A extracção passiva verifica-se quando o gás flúi pela própria pressão até ao local de drenagem, sendo a diferença de pressão entre o corpo e a atmosfera o factor responsável pelo fluxo de gás. O sistema de extracção activa consiste na aplicação de um diferencial de pressão adequado à rede de drenagem do biogás através de um ventilador ou de um compressor, assegurando o seu movimento até à instalação de queima. Este sistema é o mais eficiente na redução das emissões livres do aterro. A extracção adoptada é constituída por drenos verticais instalados durante a deposição dos resíduos, acompanhando o seu crescimento em altura. Trata-se da técnica mais vantajosa, uma vez que apresenta os custos mais baixos e não está dependente da altura de enchimento do aterro. 11.3.2. TRATAMENTO DO BIOGÁS No final do sistema de extracção e drenagem de biogás vai existir uma unidade de queima. Esta unidade permite eliminar significativamente os odores que, em regra, se fazem sentir ao fim de um ano de exploração do aterro e transformar o metano em Memória Descritiva e Justificativa 42 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II dióxido de carbono. Contudo, é necessário garantir uma correcta combustão do biogás e evitar a formação de subprodutos como o monóxido de carbono, óxido de azoto e compostos de hidrogénio não combustíveis. Para que a combustão não seja inadequada, é importante assegurar: • Que a temperatura de queima seja suficientemente elevada para ocorrer uma combustão eficiente dos compostos halogenados e hidrocarbonetos mas, não demasiado elevada para que não haja formação de óxidos de azoto; • Que o tempo de retenção na chaminé seja o suficiente para garantir a combustão completa dos compostos halogenados e dos hidrocarbonetos (superior a 0,3 s). Na prática, não está a ocorrer uma combustão adequada do biogás quando a chama do queimador é visível à luz do dia e existem pontos amarelos na chama. 11. SISTEMAS DE MONITORIZAÇÃO 11.1. INTRODUÇÃO A implementação de um sistema de monitorização no aterro sanitário possibilita o controlo dos parâmetros ambientais mais susceptíveis de virem a ser afectados de uma forma significativa por esta instalação. Este sistema permite ainda verificar se os processos no interior do aterro estão a decorrer correctamente, e se os sistemas de protecção ambiental funcionam de forma adequada. O sistema de monitorização a implementar no aterro sanitário, durante as fases de exploração e manutenção após encerramento, tem como base as considerações expressas no Anexo III da Directiva do Conselho 1999/31/CE, de 26 de Abril, relativa à deposição de resíduos em aterro. Neste anexo encontram-se claramente definidos os parâmetros e a respectiva frequência de análise e métodos a aplicar. A monitorização prevista abrange áreas como a meteorologia e topografia local, o controlo das águas lixiviantes, das emissões gasosas e das águas superficiais e a protecção das águas subterrâneas. É de notar que se encontra programada uma amostragem inicial, anterior à exploração, para determinação dos dados de referência respeitantes à qualidade das águas subterrâneas e superficiais. Memória Descritiva e Justificativa 43 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 11.2. LIXIVIADOS DO ATERRO A implantação de um sistema de monitorização de águas lixiviantes permite a sua caracterização qualitativa e quantitativa, no sentido de proceder ao seu controlo. É ainda possível detectar fugas de água contaminada. A qualidade das águas lixiviantes no aterro poderá ser avaliada pela recolha em pontos representativos de amostras de lixiviados. As análises a efectuar às colheitas deverão incluir parâmetros como a Temperatura, o pH, Condutividade, Oxigénio Dissolvido, Carência Química em Oxigénio, Carência Biológica em Oxigénio, Sólidos Suspensos Totais, metais pesados, óleos e hidrocarbonetos. A amostragem e a medição (volume e composição) dos lixiviados devem ser efectuadas separadamente em cada um dos pontos, sendo que para o controlo de lixiviados, a amostra a recolher deverá ser representativa da composição média. Segundo a Directiva do Conselho 1999/31/CE, de 26 de Abril, a periodicidade das analises a efectuar aos lixiviados deverá estar de acordo com o estipulado no nº3 do Anexo III (Error! Reference source not found.). Quadro 5 – Parâmetros e frequência de amostragem dos lixiviados PARÂMETROS FASE DE EXPLORAÇÃO FASE DE PÓS-SELAGEM Volume de lixiviados mensal semestral Composição dos lixiviados trimestral semestral Após encerramento do aterro deverão continuar a efectuar-se as análises, medições de caudal e de volume dos lixiviados produzidos durante cerca de 2 a 5 anos. 11.3. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E NÍVEIS FREÁTICOS Memória Descritiva e Justificativa 44 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Os objectivos da monitorização das águas subterrâneas na zona envolvente do aterro sanitário são: • Determinar a direcção e o sentido de escoamento das águas subterrâneas do local; • Registar os níveis freáticos certificando que a sua posição não interfere com a estabilidade física do aterro nem com a deterioração da qualidade das águas subterrâneas subjacentes; • Acompanhar a situação da qualidade das águas subterrâneas, detectando eventuais alterações significativas dos seus parâmetros; • Certificar o funcionamento do aterro, em termos de não poluição do ambiente hídrico envolvente. A monitorização deve ser efectuada num conjunto de furos a instalar antes da construção do aterro. Estes furos irão permitir caracterizar a situação de referência e monitorizar as águas subterrâneas na fase anterior ao início das obras. Devem-se considerar no mínimo três pontos de amostragem, um a montante, representando a qualidade da água original, isto é, não afectada pela unidade a instalar, e dois a jusante do foco de poluição (em áreas de jusante dos caminhos preferenciais de circulação de águas subterrâneas sob o aterro). A periodicidade de amostragem das águas subterrâneas apresenta-se no Error! Reference source not found.seguinte: Quadro 6 – Parâmetros e frequência de amostragem das águas subterrâneas Parâmetros Fase de construção Fase de Exploração Fase de Pós-Selagem Níveis das águas mensal trimestral semestral mensal trimestral semestral subterrâneas Composição das águas subterrâneas Memória Descritiva e Justificativa 45 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Sempre que se verifiquem variações significativas em qualquer parâmetro, deverá ser alterada a frequência de amostragem até que sejam averiguadas as causas e se encontre solução para o problema. O tipo de análises químicas a realizar deve ser definido com base na composição prevista do lixiviado e da qualidade das águas subterrâneas da região. Parâmetros recomendados: pH, fenóis, TOC, metais pesados, fluoretos, hidrocarbonetos. Independentemente do tipo de lixiviado produzido por cada aterro, há um conjunto de parâmetros que servem de indicadores gerais do estado de qualidade da água e que interessa serem sempre analisados para assegurar uma detecção inicial de eventuais alterações na qualidade da água. Os parâmetros a analisar são referidos no quadro 7. Quadro 7 – Parâmetros mínimos a analisar em aterros de resíduos sólidos urbanos Parâmetros a medir Parâmetros para análises químicas In situ Cloretos Zinco Temperatura Sulfatos Cádmio pH Fosfatos Chumbo Potencial redox Nitratos Cianeto Azoto amoniacal Cobre Fluoretos Crómio Fenóis Ferro Carbono Orgânico Total Mercúrio Arsénio Níquel Condutividade eléctrica Oxigénio dissolvido Após o encerramento do aterro deverão continuar a efectuar-se as análises e medições dos níveis freáticos durante cerca de 2 a 5 anos. 11.4. CONTROLO DE GASES Memória Descritiva e Justificativa 46 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II Como o metano apresenta características explosivas a baixas concentrações atmosféricas (5 a 15% em volume) torna-se indispensável a instalação de um sistema de monitorização de modo a prever o movimento das massas gasosas e evitar a migração dos gases com possível formação de bolsas. O controlo de gases é fundamental na redução, quer de emissões para a atmosfera, quer na emissão de odores, na minimização da migração lateral de gases subterrâneos e na retenção do metano por queima. A instalação de um sistema de monitorização prevê o movimento de massas gasosas evitando-se, assim, a migração de gases e a possível formação de bolsas de biogás. Por motivos de segurança, o sistema de drenagem de biogás encontra-se associado a um alarme que soará no caso das concentrações de gases excederem os valores estabelecidos, cessando a actividade da instalação até que a situação esteja sob controlo. O controlo da emissão de gases deverá ser representativo de cada secção do aterro e, como tal, ocorrerá nos drenos colocados na massa de resíduos, bem como em vários pontos do aterro, a cerca de 1,5 m de distância ao solo, de forma a se detectarem eventuais situações de fuga. Os gases a monitorizar são o metano, o dióxido de carbono, o oxigénio, o ácido sulfúrico, o hidrogénio gasoso e os hidrocarbonetos voláteis, recorrendo-se nesse sentido a aparelhagem portátil adequada (termómetro, medidor de pressão, anemómetro e instrumentos de medida). A frequência da amostragem dos efluentes gasosos consta do Error! Reference source not found.8. Quadro 8 – Parâmetros e frequência de amostragem dos efluentes gasosos Parâmetros Fase de exploração Fase de pós-selagem Pressão atmosférica mensal semestral Emissões de gases mensal semestral Após a selagem do aterro e ligação de todos os drenos de biogás a uma conduta principal e a uma unidade de queima, deverá proceder-se à monitorização da quantidade de biogás que atinge a unidade de queima, de forma a concluir se o seu aproveitamento como fonte de energia é ou não viável. Memória Descritiva e Justificativa 47 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 11.5. TOPOGRAFIA DA INSTALAÇÃO No que diz respeito à topografia da instalação, deverão ser determinados e analisados os seguintes dados: • Estrutura e composição do aterro nomeadamente no que se refere ao volume, composição e superfície ocupada pelos resíduos, métodos de deposição e cálculo da capacidade de deposição ainda disponível. Esta análise será realizada através dos registos do aterro; • Comportamento do aterro relativamente a eventuais assentamentos, cuja monitorização será efectuada através de observação das estruturas e mediante a colocação de marcas superficiais (marcos topográficos) para controlo por nivelamento. No Error! Reference source not found. é apresentada a frequência de amostragem para obtenção de dados sobre a topografia do aterro. Quadro 9 – Parâmetros e frequência de amostragem para obtenção de dados sobre a topografia do aterro Parâmetros Estrutura e composição do aterro Fase de exploração Fase de pós-selagem anual - anual anual Comportamento do aterro relativamente a eventuais assentamentos O nível de assentamento de um aterro situa-se entre 15 a 30%, dependendo da quantidade de matéria orgânica presente na massa de resíduos. Tendo isto em conta, é de esperar um assentamento considerável. Memória Descritiva e Justificativa 48 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 11.1. METEOROLOGIA A recolha de dados meteorológicos para cálculo dos balanços hídricos permitirá avaliar se há formação de lixiviados na massa do aterro ou se a instalação tem fugas. Para tal deve recorrer-se aos dados da estação meteorológica mais próxima, apresentando-se no Quadro 10 o esquema de frequência de amostragem a seguir. Quadro 10 – Dados meteorológicos a recolher e frequência de amostragem Parâmetros Volume de precipitação Fase de exploração diária Fase de pós-selagem diária, além dos valores mensais Temperatura (mínima, máxima e às diária média mensal diária - 14:00h TEC) Direcção e velocidade do vento predominante Evaporação Humidade atmosférica (14:00h TEC) diária diária diária, além dos valores mensais média mensal 12. EXPLORAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO 12.1. SEQUÊNCIA DE ENCHIMENTO No processo de enchimento do aterro sanitário há a considerar diversas condicionantes da zona de enchimento como: As condições meteorológicas da região onde se localiza o aterro determinam o seu modo de enchimento. A ocorrência de precipitação, poderá dificultar os trabalhos e condicionar a eficiência de escoamento das águas pelo sistema de drenagem projectado. Memória Descritiva e Justificativa 49 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II As características morfológicas do terreno e o enquadramento paisagístico do aterro sanitário são igualmente factores a considerar. O esquema de enchimento a adoptar consiste, basicamente, na ocupação gradual e contínua da área disponível no tempo de vida útil do aterro. O alvéolo em exploração será progressivamente ocupado com resíduos, previamente enfardados. O enchimento dos alvéolos é feito com camadas de resíduos de 1,5 m de altura, ao longo de todo o terreno destinado à deposição de resíduos As camadas sucessivas de blocos prensados serão então cobertas com material terroso, com cerca de 15 cm de espessura. Ou seja, cada camada de resíduos (genericamente designada) é composta por 1,35 m de resíduos enfardados e por 0,15 m de terras de cobertura. Cada alvéolo deverá estar convenientemente balizado em cada plataforma, de forma a orientar as viaturas que operam no aterro sanitário. Desta forma, a fim de possibilitar a descarga dos fardos de resíduos e o espalhamento do material terroso, serão criados os acessos provisórios, desde as vias de acesso fixas até às frentes de exploração, numa faixa que permita formar uma rampa, utilizando uma pequena quantidade de terras de cobertura sobre os resíduos. Esta rampa tem um carácter provisório e poderá ser executada uma outra em qualquer altura e sempre que necessário. Os lixiviados produzidos serão recolhidos pelos colectores em PEAD perfurados a meia cana e conduzidos poço a poço até ao poço de junção final. Relativamente aos drenos de biogás, ao executar-se a selagem, as cabeças móveis irão sendo substituídas por cabeças fixas e efectuar-se-ão as suas ligações ao colector de biogás, que o conduzirá à unidade de queima. Quando a capacidade de encaixe dos alvéolos é atingida, procede-se à sua selagem parcial com as adequadas camadas impermeabilizantes e drenantes. 12.2. FUNCIONAMENTO DO ATERRO SANITÁRIO A gestão e a exploração do aterro sanitário, obedece a regras simples permitindo o controlo desta estrutura sanitária. As operações diárias básicas são as seguintes: Memória Descritiva e Justificativa 50 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça • Volume II Nas entradas e saídas de viaturas ligeiras e pesadas dever-se-á realizar um controlo pela portaria onde se efectua o respectivo registo; • Passagem pela unidade de pesagem automática. Esta unidade alberga uma báscula informatizada e leitura de cartões que por sistema óptico regista os dados que permitirão avaliar a evolução de produção de resíduos pelos concelhos; • As viaturas deslocam-se à nave de enfardamento para descarga dos resíduos regressando em seguida, passando obrigatoriamente, pela unidade de lavagem de rodados, de forma a circularem na via pública nas melhores condições de limpeza; • Os resíduos depois de compactados e transformados em fardos são expelidos para o exterior e são as viaturas de apoio interno que transportam os fardos para a célula em curso; • Os fardos são conduzidos à frente de trabalho em curso por intermédio de uma viatura ou reboque, depois de para aí terem sido transportados com recurso a um sistema de transferência automático ou a uma máquina carregadora com acessório de pinças; • O depósito dos fardos transportados ocorre de forma organizada na frente de trabalho antecipadamente definida no plano de exploração; • A descarga dos fardos deve ser efectuada de forma a serem obtidos estratos de 1,5 m de altura. Este procedimento é repetido ao longo do período de trabalho em toda a extensão e largura da zona definida para esse dia, obtendo-se uma célula de resíduos a que se chama célula diária; • Quando são atingidos os 1,35 m de altura, procede-se a uma cobertura dos fardos, com terras, cuja camada deverá ter cerca de 15 cm de espessura; • A superfície é regularizada diariamente, retomando-se idêntico trabalho no dia seguinte, com a delimitação da área de intervenção efectuada pelo paramento vertical da zona utilizada no dia anterior; • As viaturas de exploração do aterro são conduzidas no início do dia até à frente de trabalho onde permanecem até à conclusão da sua tarefa diária. No final do período de trabalho, estas viaturas regressam ao armazém, que serve igualmente de zona de recolha de viaturas, depois de atravessarem a unidade de lavagem de rodados. Memória Descritiva e Justificativa 51 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 12.3. PESSOAL E EQUIPAMENTO NECESSÁRIO Para o correcto funcionamento do aterro é necessário a presença de pessoal qualificado para que se faça uma exploração cuidada e segura. Nesse sentido deverão ser admitidos os seguintes funcionários: • 1 Engenheiro, responsável pela parte técnica do aterro sanitário; • 1 Administrativo/apontador; • 1 Encarregado geral, que deverá assegurar e controlar as operações diárias a executar no aterro; • 4 Operadores, considerando-se a permanência de dois deles junto da máquina de enfardamento e os restantes na operação de transporte dos fardos e colocação na frente de trabalho; • 1 Operador de dumper; • 1 Guarda para vigilância e controlo da entrada dos resíduos; • 1 Servente; • 1 Mecânico especializado. Para além do pessoal, para se garantirem as condições referenciadas é necessária, igualmente, a aquisição de equipamento de exploração tal como: • 1 Máquina compactadora destinada a proceder à compactação e enfardamento dos resíduos a depositar nas células (28/30 ton) (opcional); • 1 Máquina com braço telescópico e acessório com pinças, que se destina a colocar os fardos na viatura com estrado; • 2 Viaturas com estrado liso de 8,0 m de comprimento e taipal frontal, para colocar os fardos na frente de trabalho; • 1 Máquina empilhadora com acessórios (garfos, pinças e escovas de limpeza); • 1 Máquina Pá de Rastos, equipada com balde, com a função de proceder à deposição dos resíduos nas células previstas; • 1 dumper articulado para o transporte de terras de cobertura dos resíduos após a sua compactação. Memória Descritiva e Justificativa 52 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 13. SELAGEM E INTEGRAÇÃO PAISAGÍSTICA Após a exploração do aterro sanitário, e atingida a sua capacidade total, há que proceder aos trabalhos finais de modelação do terreno e executar a sua selagem. O projecto do sistema de cobertura final envolve critérios de segurança, sanitários e paisagísticos. Os principais problemas geotécnicos estão relacionados com a permeabilidade, a estabilidade da cobertura e os potenciais riscos de rotura, quer após o encerramento, quer a longo prazo. Uma vez que o aterro vai continuar a assentar, após o seu encerramento, torna-se necessário que a cobertura se possa adaptar a estas deformações, mantendo-a estável e sem fissuras que comprometam a sua integridade. O sistema de cobertura final do aterro sanitário deverá assegurar as seguintes funções: • Minimizar o escoamento superficial; • Controlar a infiltração de águas pluviais, de forma a reduzir a produção de lixiviados; • Impedir a formação de bolsas de lixiviados no interior do aterro e a sua ressurgência nos taludes naturais; • Impedir o acesso de animais aos resíduos e as emissões para o exterior; • Proteger as pessoas do contacto directo com os resíduos; • Controlar a emissão de gases; • Reduzir o risco de ocorrência de incêndios. • A selagem final do aterro será efectuada através da colocação ordenada dos seguintes estratos, conforme se apresenta no Desenho nº 10: • Camada de terras de cobertura de 0.8 m de espessura dispostas sobre a camada de regularização dos resíduos; • Camada mineral drenante com 0.2 m de espessura constituída por material de elevada porosidade (brita) para captação e drenagem horizontal do biogás acumulado na zona superior da massa de resíduos; • Camada de impermeabilização sob a forma de uma geossintético bentonítico, com 4,5 kg/m2 de bentonite; Memória Descritiva e Justificativa 53 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça • Volume II Camada mineral drenante com 0.3 m de espessura constituída por material britado e protegida superiormente por geotêxtil não tecido de 300 g/m2, cuja função é permitir a drenagem lateral da água infiltrada pelo topo; • Camada de solo de suporte da vegetação, incluindo terra vegetal na razão de 3:1, com uma espessura dependente do uso final que se irá dar à área em estudo; • Sistema de drenagem de águas pluviais, em manilhas de meia cana ou valetas; • Hidro-sementeira e plano de arranjo paisagístico. A camada de terra colocada sobre a última camada de resíduos deverá ser bem compactada para evitar a ocorrência de abatimentos e consequente formação de concavidades onde as águas pluviais se poderão acumular. As últimas camadas de terra não deverão ser compactadas a fim de permitir a circulação de ar e a penetração das raízes. Numa primeira fase, que terá uma duração de 5 a 7 anos, deverão ser plantadas espécies herbáceas sobre a camada de terra vegetal para promover a consolidação da terra. Na fase de desactivação do aterro sanitário, torna-se imperiosa a implementação do Plano de Integração e Arranjo Paisagístico, previamente elaborado na fase inicial da escolha do local, para que o funcionamento deste espaço seja recuperado ou mesmo valorizado. No Desenho nº 10 é apresentado um esquema referente ao arranjo paisagístico final após encerramento. Os problemas relacionados com os assentamentos e riscos de explosões e toxicidade, tornam a reflorestação como a solução geralmente mais utilizada relativamente à superfície de aterros sanitários encerrados. Para além de facilitar o arranjo paisagístico, a vegetação é responsável pela redução da erosão devida ao escoamento superficial, da infiltração por efeito da evapotranspiração, desempenhando ainda um papel importante a nível de cheiros. Ao fim de algum tempo, a transformação do local numa zona de lazer poderá ser considerada. Na fase de selagem há ainda que proceder à ligação dos poços de captação de biogás à conduta principal e respectiva unidade de queima. Memória Descritiva e Justificativa 54 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 14. AVALIAÇÃO ECONÓMICA No estudo económico do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça, não se teve em consideração a taxa de inflação, pois a sua evolução torna-se difícil de determinar para um horizonte de projecto de 15 anos. Sendo o tratamento dos resíduos sólidos um serviço público, o somatório dos custos totais actualizados deve igualar o das receitas totais actualizadas. O custo total estimado foi de 7.980.174 euros, encontrando-se de seguida os valores considerados e os respectivos custos, no quadro 11. Quadro 11 – Estimativa dos custos. I. Estudos, Projectos e Despesas Globais Concepção e Projecto de aterro Estudo de impacto ambiental II. Trabalhos Preliminares Desmatação, decapagem e desenraizamento da vegetação III. Movimento Geral de Terras Escavação e regularização para implantação das cotas de trabalho Aterro na formação da plataforma das instalações de apoio Remoção e transporte dos materiais escavados (factor de empolamento de 25%) Regularização geral das superfícies e dos taludes para impermeabilização Preço Unitário Unidade Quantidade Custo total /unidade /unidade 1 1 50.000,00 25.000,00 50.000,00 25.000,00 /m2 1430434 1,35 193.108,92 /m3 374606 3,43 1.283.024,59 /m3 35053 2,50 87.633,33 /m3 512074 1,00 512.073,82 /m2 85157 2,38 202.247,07 /m2 22353 34,00 760.014,51 /m.l. /unidade 1727 1 27,50 765,00 47.492,50 765,00 /m.l. 1455 10,00 14.547,50 /m.l. 15 4,00 60,00 IV. Vias de Circulação Arruamentos Interiores V. Infraestruturas Vedação e arranjos exteriores Vedação Portão Plantação de uma cortina arbórea, junto à vedação Plantação de arbustos interiores ao aterro Memória Descritiva e Justificativa 55 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Rede Eléctrica Instalação eléctrica Rede telefónica Instalação telefónica Rede de abastecimento de água Baixada de água (até 10m) Fornecimento de tubagem e acessáorios Rede de drenagem de esgotos Ligação à rede de esgotos incluindo material e mão de obra Volume II /unidade 1 1.475,00 1.475,00 /unidade 1 1.000,00 1.000,00 /unidade 1 250,00 250,00 /unidade 1 500,00 500,00 /m 100 47,50 4.750,00 /m2 1 400,00 400,00 Pavilhão oficinal e armazém Unidade de controlo e pesagem Unidade de lavagem de rodados /m2 /unidade /unidade 2 1 1 400,00 30.000,00 2.500,00 800,00 30.000,00 2.500,00 Instalação para recolha de recicláveis /unidade 1 25.000,00 25.000,00 /m2 97930 1,20 117.516,19 /m2 97930 4,25 416.203,18 /m2 97930 1,20 117.516,19 /m 1898 7,50 14.231,25 /m3 97930 3,25 318.273,02 /m3 1031 4,00 4.125,15 /m3 1289 1,00 1.289,11 /m3 516 15,75 8.121,39 /m 1590 57,75 91.822,50 /m2 4770 1,20 5.724,00 /unidade 2 4.450,00 8.900,00 VI. Instalações de apoio Edifício administrativo VII. Sistema de impermeabilização do aterro Aplicação de geocomposito bentónitico Aplicação da membrana em HPDE sobre o geotêxtil Aplicação de geotêxtil não tecido sobre a membrana em HPDE Execução de valas de amarração do geotêxtil e da membrana HPDE Material mineral na formação da camada drenante VIII. Sistemas de drenagem, captação e tratamento das águas lixiviantes Rede de drenagem de águas lixiviantes Escavação para implantação das valas de drenagem de águas lixiviantes Remoção e transporte a depósito dos materiais (factor de empolamento de 25%) Preenchimento das valas Fornecimento e colocação em obra de brita com granulometria entre 50 e 100 mm Fornecimento e colocação de tubo PEAD de d=315, perfurado a meia cana Fornecimento e aplicação de geotêxtil não tecido de 300 g/m2 Poços de ligação de águas lixiviantes Execução de trabalhos referentes aos Memória Descritiva e Justificativa 56 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça poços de ligação/junção de águas lixiviantes Fornecimento e colocação de anéis de betão na formação dos poços Lagoa de recepção de águas lixiviantes Escavação, remoção e transporte a depósito de materiais escavados Execução da lagoa de recepção de águas lixiviantes Execução de tampa amovível em betão armado IX. Sistemas de drenagem pluvial Rede de drenagem de águas pluviais X. Sistemas de drenagem do biogás Fornecimento e assentamento dos drenos de biogás Unidade de queima Encabeçamento dos drenos com uma saída Tubagem para recolha de biogás, em PEAD Execução de estações de regularização e medição Evacuador de condensados líquidos formados nas condutas de biogás XI. Equipamento Equipamento de enfardamento e acessórios Máquina de pá de rastos Dumper Máquina com braço telescópico com acessórios de funções multiplas Viaturas (6x4) com estrado de 8,0 m XII. Selagem do aterro Cobertura dos RSU com geomembrana, camada drenante, cobertura vegetal e arranjo paisagistico Volume II /unidade 12 108,00 1.296,00 /m3 1404 3,43 4.808,70 /m3 5000 12,50 62.500,00 /unidade 12 150,00 1.800,00 /m.l. 2153 1,50 3.228,79 /unidade 24 575,00 13.800,00 /unidade 1 90.000,00 90.000,00 /unidade 24 1.900,00 45.600,00 /m.l. 1140,41 3,75 4.276,52 /unidade 1 4.000,00 4.000,00 /unidade 1 5.000,00 5.000,00 /unidade 1 750.000,00 750.000,00 /unidade /unidade 1 1 125.000,00 90.000,00 125.000,00 90.000,00 /unidade 1 55.000,00 55.000,00 /unidade 2 75.000,00 150.000,00 /m2 89100 25,00 2.227.500,00 Total Memória Descritiva e Justificativa 7.980.174,22 57 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 15. REFERÊNCIAS Cabeças, A. J. L, “ Concepção., Projecto, Operação e Selagem de Aterros Sanitários e Encerramento de Lixeiras – Aspectos Práticos” Cabeças, A. J. L, “ Sistema Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos” , Casa das Folhas, 2004 Martinho, M.G.M.; Gonçalves, M.G.P; “ Gestão de Resíduos” ; Universidade Aberta; 2000. Martinho, M.G.M.; “ Confinamento em Aterros Sanitários - apontamentos para a cadeira de Recolha e Tratamento de Resíduos Sólidos” ; FCT-UNL, 1998. Directiva 1999/31/CE do Conselho, de 26 de Abril de 1999, relativa à deposição de resíduos em aterros Carta do Concelho dos Concelhos de Bombarral, Cadaval, Lourinhã e Torres Vedras, Instituto Geográfico de Portugal (IGP) Decreto-Lei Nº 278/97, de 8 de Outubro Decreto-Lei Nº 251/87 de 24 de Junho Decreto-Lei Nº 186/90 de 6 de Junho Decreto-Lei Nº 236/98, de 1 de Agosto Memória Descritiva e Justificativa 58 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II 16. ANEXOS Memória Descritiva e Justificativa 59 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Volume II ANEXO A Tabela A.1- Dados de população residente para os concelhos abrangidos obtidos nos recenseamentos de 1864 a 2001 (I.N.E., 2004). Ano 1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Bombarral 4730 5882 7706 9024 9796 11206 12669 14535 15413 15209 13745 13758 12727 13324 Concelho Cadaval Lourinhã 6774 7270 8270 9421 9998 11216 10731 12154 11620 13708 12584 15177 14728 17049 15737 20040 17012 21820 17287 22927 14165 19070 14474 21245 13516 21596 13943 23265 Torres Vedras 24268 27746 32269 35726 38993 41790 47917 52143 56514 58837 57850 65039 67185 72250 Total 43042 51319 61189 67635 74117 80757 92363 102455 110759 114260 104830 114516 115024 122782 Tabela A2 – População estimada obtida para os anos de exploração do aterro após aplicação do método aritmético. Memória Descritiva e Justificativa 60 Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Memória Descritiva e Justificativa Volume II 61 Memória Descritiva e Justificativa Volume II ! " ! " # # 62 ! " # # Tabela A3 – Estimativa de produção obtida para os anos de exploração do aterro. Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça $ # $ # # $ # Projecto de Execução do Aterro Sanitário de Outeiro da Cabeça Memória Descritiva e Justificativa Volume II 63