P R O G R AM A D E R E C U R S O S H U M AN O S PRH NO 16 D A AN P P AR A O S E T O R P E T R Ó L E O E G Á S - P R H - AN P / M M E / M C T UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ PROCESSAMENTO DE LAMAS DE PERFURAÇÃO (LAMAS A BASE DE ÁGUA E LAMAS A BASE DE ÓLEO) INICIAÇÃO CIENTÍFICA BOLSISTA: ALEXANDRA LIMA DE CARVALHO ORIENTADOR: JÚLIO NAVARRO SANTOS - NOVEMBRO / 2005 - SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS I LISTA DE TABELAS II RESUMO III ABSTRACT IV 1. INTRODUÇÃO / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1 2. OPERAÇÕES DE PERFURAÇÃO 5 3. LAMAS DE PERFURAÇÃO 8 3.1 HISTÓRICO DAS LAMAS DE BASE-ÁGUA 3.1.1 Água fresca 3.1.2 Lamas inibidoras 3.1.3 Lamas com baixo teor de sólidos 8 13 13 13 3.2 HISTÓRICO DAS LAMAS DE BASE ÓLEO 14 3.3 - HISTÓRICO DAS LAMAS DE BASE SINTÉTICA 17 3.4 – HISTÓRICO DAS LAMAS BASE-GÁS 19 4. FUNÇÕES DAS LAMAS DE PERFURAÇÃO 21 4.1 REMOÇÃO DOS CAVACOS 21 4.2 CONTROLE DA PRESSÃO NO INTERIOR DO POÇO 22 4.3 ESTABILIZAR AS FORMAÇÕES ROCHOSAS 22 4.4 LUBRIFICAÇÃO DA BROCA E DO CANAL DE PERFURAÇÃO 23 4.5 AQUISIÇÃO DE DADOS 24 5. COMPOSIÇÃO E APLICAÇÕES 25 5.1 - CONTROLE DE DENSIDADE 27 5.2 - CONTROLE DE PERDAS 27 5.3 - CONTROLE DE PH 28 5.4 - LUBRIFICANTES 28 5.5 - INIBIDORES DE CORROSÃO 28 5.6 - CONTROLE DE DANOS À FORMAÇÃO 29 6. SISTEMA DE CIRCULAÇÃO DO FLUIDO DE PERFURAÇÃO 30 7. SEPARAÇÃO DOS FLUIDOS DE PERFURAÇÃO 32 7.1. INTRODUÇÃO SOBRE SISTEMAS HOMOGÊNEOS/HETEROGÊNEOS 7.1.1. Substâncias Puras 7.1.2. Misturas 7.1.3. Misturas Homogêneas e Heterogêneas 7.2. MÉTODOS DE SEPARAÇÃO 34 34 35 36 37 8. TESTES EM LAMAS DE PERFURAÇÃO 41 9. RESULTADOS OBTIDOS 47 10. CONTAMINAÇÕES CAUSADAS PELAS LAMAS DE PERFURAÇÃO 51 11. ASPECTOS AMBIENTAIS DO FLUIDO DE PERFURAÇÃO 53 11.1 TOXICIDADE DO FLUIDO DE PERFURAÇÃO 54 11.2 - BIODEGRADAÇÃO 54 11.3 – BIOACUMULAÇÃO/BIOCONCENTRAÇÃO 56 11.4 - CONTROLE DE SÓLIDOS 56 11.5 - TRATAMENTO DOS SÓLIDOS CONTIDOS NAS LAMAS DE PERFURAÇÃO 57 12. REUSO DOS CAVACOS DE PERFURAÇÃO 58 13. COMENTÁRIOS FINAIS 60 REFERÊNCIAS 62 i LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Elementos de uma torre de perfuração .............................................. 5 FIGURA 2- Ilustração de tipos de emulsões......................................................... 14 FIGURA 3 – Movimento da lama no interior do poço durante a perfuração ......... 22 FIGURA 4 – Estabilização das formações rochosas ........................................... 23 FIGURA 5 – Sistema de circulação e separação da lama................................... 30 FIGURA 6 – Peneira vibratória, desander e desilter............................................ 31 FIGURA 7 – Sistema de circulação da lama ....................................................... 32 FIGURA 8 – Mistura água (H2O) e sal de cozinha (NaCl) ................................... 35 FIGURA 9 – Diferenciação entre misturas homogêneas e heterogêneas ........... 36 FIGURA 10 – Métodos de separação Líquido-Sólido .......................................... 38 FIGURA 11 - Desenho esquemático do tanque de decantação da bancada de testes............................................................................................................. 42 FIGURA 12 - Forças envolvidas em uma centrífuga (Brown, 1965)..................... 42 FIGURA 13 - Fotos da centrífuga utilizada no ensaio........................................... 43 FIGURA 14 - Desenho esquemático e foto do sistema evaporador e condensador ...................................................................................................................... 43 FIGURA 16 – Recipientes e amostras utilizados no ensaio de centrifugação ...... 49 ii LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Principais lamas Base Água - formulações iniciais........................... 11 TABELA 2 . Principais lamas Base Água - desenvolvimentos posteriores. .......... 12 TABELA 3 . Principais lamas Base Óleo. ............................................................. 16 TABELA 4 . Evolução dos fluidos oleosos e sintéticos. ........................................ 18 TABELA 5 . Fluidos de perfuração de base gasosa. ............................................ 20 TABELA 6 - Aditivos mais utilizados e suas respectivas funções e efeitos nas perfurações.................................................................................................... 26 TABELA 7 - Detalhamento das amostras a serem ensaiadas.............................. 46 TABELA 8 – Detalhamento dos resultados obtidos no ensaio de centrifugação .. 48 iii RESUMO CARVALHO, A., L. (2005). Estudo dos fluidos de perfuração e seus impactos relacionados às atividades da indústria de petróleo, 2005. 74p. Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Itajubá O objeto de estudo deste projeto é o fluido utilizado na perfuração de poços na indústria do petróleo, comumente chamado de lama de perfuração. Durante este processo, um grande volume de cavacos é gerado e levado para fora do poço pelo fluido de perfuração. Estes cavacos devem ser separados do liquido da lama para que este possa ser reinjetado dentro da coluna de perfuração para remover mais cavacos. Os cavacos contaminados pela lama de perfuração são a principal fonte de resíduo da indústria do petróleo. O potencial de impacto ambiental desses cavacos pode ser significativamente reduzido separando-os dos sólidos da lama mais tóxica. O principal impacto causado pela atividade de perfuração se dá pelos pedaços de rocha e pelo fluido de perfuração utilizado para retira-los do poço. A contaminação pode ocorrer em uma extensão variável, dependendo da natureza da amostra e das condições de perfuração. iv ABSTRACT CARVALHO, A., L. (2005). Study of drilling fluids and its impacts related to the oil industry activities, 2005. 74p. Monograph (Graduation) – Federal University of Itajubá The object of this project is study the fluid used in drilling operations of wells in the oil industry, generally called drilling mud. During this process, a great amount of cuttings is generated and thrown away from the hole by the drilling fluid. These cuttings must be separated from the liquid of the mud so this can be re-inject inside of the well to remove more cuttings. The cuttings contaminated by the mud are the main source of wastes from oil industry. The potential of environmental impact of these cuttings can be reduced separating them from the solids of the most toxic mud. The main impact caused by drilling activity is given by the cuttings and drilling fluids used to take them off the hole. The contamination can occur at a variable extension, depending on the core nature and drilling conditions. 1 1. INTRODUÇÃO / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O objeto de estudo deste projeto é o fluido utilizado na perfuração de poços na indústria do petróleo, comumente chamado de lama de perfuração. Esta lama deve apresentar características químicas e físicas satisfatórias para suportar os esforços da operação de perfuração. As lamas são constituídas por uma fase predominante, também chamada de contínua, podendo ser líquida (água ou óleo) ou gasosa; a partir desta fase predominante, temos a incorporação de outros elementos (sólidos, líquidos ou gasosos) para conferir às lamas as especificações adequadas. Sendo assim, as lamas são misturas complexas de sólidos, líquidos e gases. Conforme sugerido por FERREIRA (2002), pode-se dividir as lamas em quatro tipos básicos: • Base Água ou Water-Based Fluids (WBF); • Base Óleo ou Oil-Based Fluids (OBF); • Base Sintética ou Synthetic-Based Fluids (SBF); e • Base Gás. Os três primeiros tipos encontram grande aplicação na indústria offshore, enquanto o último é basicamente empregado na perfuração terrestre. Esta divisão leva em conta basicamente as fases contínuas, porém as lamas recebem uma série de outros elementos que são incorporados pela fase contínua destinados a melhorar ou acentuar uma característica específica. Pode-se destacar como principais elementos incorporados: os controladores de pH, bactericidas, viscosificantes e redutores de filtrado, surfactantes, agentes obturantes, modificadores de densidade e outros. Outros elementos também podem ser empregados, o que varia de acordo com o tipo de lama empregada e das características da formação geológica a ser perfurada. De acordo com as solicitações específicas de cada perfuração é que são definidos os tipos de elementos que devem ser incorporados. Em linhas gerais, as principais funções das lamas são: 2 • Limpar o fundo do poço e levar os cavacos (fragmentos de rocha) de perfuração até a superfície; • Manter os sólidos em suspensão durante a ausência de bombeamento; • Exercer pressão hidrostática sobre as formações, de modo a evitar o influxo de fluidos indesejáveis (kick); • Sustentar as paredes do poço evitando seu colapso; • Resfriar e lubrificar a broca; Além destas funções básicas, existem determinadas características consideradas desejáveis às lamas de perfuração, tais como: serem facilmente bombeáveis; serem estáveis quimicamente, terem baixo grau de corrosão e abrasão e não causarem danos às formações rochosas. Além disso, é importante que as lamas tenham um baixo custo de aquisição e serem facilmente separáveis dos cavacos na superfície. É de extrema importância para que a perfuração seja conduzida de maneira adequada, que haja a escolha correta do tipo de lama, dos elementos a serem incorporados (aditivos), ou seja, das características físicas e químicas das lamas devem ser compatíveis com a operação de perfuração. Durante a perfuração, as lamas devem ser monitoradas constantemente com o intuito de se garantir a eficiência no processo de perfuração. As propriedades mais importantes e freqüentemente medidas na sonda são a densidade, as leituras reológicas, a força gel (inicial e final), os parâmetros de filtração e o teor de sólidos (GRAY & DARLEY, 1981). Ressalta-se que tais propriedades encontram-se principalmente relacionadas ao desempenho operacional dos fluidos. Uma das principais propriedades a serem monitoradas indicadas anteriormente é a densidade da lama. Este parâmetro é extremamente importante, pois conforme a perfuração vai alcançando níveis cada vez mais profundos, a pressão estática vai aumentando, sendo necessário uma lama cada vez mais densa para impedir o colapso do poço. Porém, esta lama não deve ser demasiadamente densa para diminuir a infiltração das lamas nas formações rochosas. Apesar dos fluidos de perfuração serem essenciais para uma operação bem sucedida, também podem ser um aspecto complicador da perfuração do poço. O 3 cascalho resultante, que contém certa fração do fluido a ele agregado, precisa ser descartado. Os impactos decorrentes do descarte podem até ser pequenos nas vizinhanças do poço, mas podem ser significantes nas proximidades da sonda, variando de acordo com o tipo de fluidos, a forma de descarte e as condições ambientais locais. Na indústria offshore, os fluidos de base aquosa são menos impactantes do que os de base oleosa, devido principalmente as suas características de dispersão (uma vez que os diversos componentes encontrados em sua formulação podem exibir toxidade considerável). Cavacos oleosos, quando descartados na água, não se dispersam adequadamente, formando pilhas de cascalho no leito do oceano. Quanto menor a profundidade da coluna d´água na qual o poço está instalado, maior a tendência à formação de tais pilhas. As condições anóxidas, resultantes da decomposição da matéria orgânica hidrocarbônica, juntamente com a produção de sulfetos, podem ocasionar a morte total dos organismos bentônicos presentes, com conseqüente desequilíbrio de toda a cadeia alimentar deles dependentes. Cessada a fonte poluente, conforme o local se recupera do impacto causado pela operação, os organismos menos tolerantes à poluição, que vivem fora dos limites da contaminação, gradualmente reaparecem próximo à sonda. A maior parte do desequilíbrio ocorre aproximadamente a 500 m do local do poço, mas há relatos de impactos biológicos em raios de até 10 km do local da operação. Quando a perfuração ocorre em locais de fortes correntes marinhas, o cascalho descartado tende a se espalhar deixando uma cobertura fina no fundo do mar, o que favorece a ação de microorganismos decompositores que degradam o fluido a ele agregado, acelerando a recuperação da área . A dispersão mecânica e química do cascalho tende a aumentar o teor de sólidos no fluido, conforme a perfuração prossegue. Até certo ponto, a incorporação de sólidos ao fluido de perfuração é desejável, mas seu excesso pode acarretar problemas reológicos, de filtração e operacionais diversos, levando a um aumento no custo do processo. Analogamente, a incorporação natural de silte é um meio economicamente eficaz para o aumento da densidade do fluido até o ponto em que não cause redução excessiva na taxa de penetração do fluido nos poros da formação, nem na capacidade de retirada dos cavacos produzidos (GRAY et DARLEY, 1981). As duas formas principais de evitar o aumento indesejável do teor de sólidos no fluido são: o controle químico através de dispersantes (por exemplo, a lignita) e a 4 diluição. A primeira aumenta os custos do processo, e a segunda envolve descarte de parte do fluido, que contém não só cascalho como também componentes utilizados em sua formulação (GRAY & DARLEY, 1981). O descarte implica em duplo prejuízo: a perda de ingredientes e a poluição ambiental, tornando cada vez mais necessária à otimização dos sistemas de recirculação de fluidos. 5 2. OPERAÇÕES DE PERFURAÇÃO O assunto deste trabalho é a lama de perfuração. Sendo assim é necessário descrever sobre operações de perfuração. Abaixo na figura 1 são apresentados todos os componentes de uma plataforma de perfuração. FIGURA 1 – Elementos de uma torre de perfuração Fonte: http://static.howstuffworks.com/gif/oil-drilling-derrick.gif A perfuração é um processo no qual um furo é feito no sub-solo para permitir que os hidrocarbonetos da subsuperfície escoem para a superfície. As perdas geradas durante esta atividade são os fragmentos de rocha removidos pela perfuração, o fluido usado para erguer estes fragmentos, e os materiais adicionados 6 ao fluido para alterar suas propriedades, fazendo com que este fique adequado ao uso e às condições do poço. A maioria dos poços de óleo e gás são perfurados comprimindo-se a broca de perfuração contra a rocha, até que esta se desgaste por completo. Um sistema de perfuração é usado para controlar a broca, para remoção dos fragmentos de rocha do poço pelo fluido de perfuração, e para remover estes fragmentos do fluido de perfuração para que este possa ser utilizado novamente. Com isso, o principal impacto causado pela atividade de perfuração se dá pelos fragmentos de rocha e pelo fluido de perfuração utilizado para retirá-los do poço. Impactos secundários podem ocorrer através de emissões de ar devido à combustão interna dos motores usados nos equipamentos de perfuração. Durante a perfuração, um fluido é injetado na coluna de perfuração, o qual sai através de pequenos orifícios da broca, permitindo que o fluido remova os fragmentos de rocha da broca. O fluido, com os fragmentos em suspensão, volta para a superfície, onde estes fragmentos são separados do fluido. Os demais fragmentos, com algum fluido ainda retido são colocados em “reservatórios” para um posterior tratamento. O fluido separado é re-injetado para remover mais fragmentos de rocha. A base de fluido mais usada nos processos de perfuração é a água, seguida pelo óleo, ar, gás natural e espuma. Quando um líquido é usado como base de fluido, base-óleo ou base-água, é chamado lama. Fluidos base-água são usados em 85% dos poços perfurados no mundo. Fluidos base-óleo são usados nos poços restantes. Durante os processos de perfuração, parte da lama pode ser perdida para formações subterrâneas muito permeáveis. Para se assegurar que a lama estará sempre disponível para manter o poço preenchido, lama extra é sempre misturada na superfície e deixada em reservatórios para uso imediato. Os fluidos de perfuração têm muitas finalidades no processo de perfuração de um poço. Na maioria dos casos, entretanto, a base do fluido não tem as características físicas e químicas adequadas para atender a estes propósitos, e aditivos são necessários para alterar suas propriedades. 7 O principal propósito do fluido de perfuração é remover os fragmentos de rocha do furo, enquanto estes são gerados pela broca, e levá-los para a superfície. Devido aos sólidos serem mais densos que o fluido, eles tendem a se depositar, sedimentando-se, enquanto são levados para cima. Aditivos para aumentar a viscosidade do fluido são usados para diminuir a velocidade de sedimentação. Os fluidos de perfuração também ajudam a controlar o desempenho do poço e prevenir blowouts. Blowouts ocorrem quando a pressão do fluido no poço é menor que a pressão do fluido na formação. O fluido na formação escoa no poço e para a superfície. Se os equipamentos da superfície são incapazes de segurar este fluxo, uma produção incontrolada pode ocorrer. A principal propriedade exigida do fluido para manter o poço sob controle é a densidade e os aditivos para aumentar a densidade do fluido são bastante usados. Os fluidos de perfuração também evitam que o poço entre em colapso antes que se faça a cimentação do furo. A pressão do fluido contra as laterais da formação evita que as paredes da formação se desestabilizem e obstruam o poço. Aditivos são constantemente usados para evitar a reação com a base do fluido. Um tipo comum de reação é o aumento no tamanho das partículas de argila. A última função do fluido de perfuração é a de resfriar e lubrificar a broca de perfuração enquanto esta corta a rocha e lubrifica o tubo de perfuração enquanto este gira contra a formação. Isto aumenta a vida útil da broca e reduz o torque requerido na mesa de rotação para impulsionar a broca. Aditivos para aumentar a lubricidade do fluido de perfuração são geralmente usados, particularmente em poços horizontais ou muito desviados. Muitos dos aditivos usados nos fluidos de perfuração podem ser tóxicos e não são regulamentados no mercado. Para atender as novas regulamentações, aditivos novos estão sendo formulados. Estes novos aditivos têm uma toxicidade mais baixa do que aqueles tradicionalmente usados, além de apresentarem baixo potencial de impacto ambiental. 8 3. LAMAS DE PERFURAÇÃO Desde os primeiros poços perfurados pelo sistema rotativo, já se usa de forma bem simples um composto a base de água que tem por objetivo principal lubrificar a broca durante a perfuração. Sendo assim, os primeiros fluidos de perfuração desenvolvidos foram os de base aqüosa. Ao longo dos anos, as lamas Base Água passaram a ser incorporadas por diversas substâncias para que algumas de suas características e funções fossem melhoradas. Algumas destas substâncias são: argilas, álcalis, sais, polímeros, gotas de óleo (formando-se as emulsões) e várias outras substâncias insolúveis como barita, bentonita, argila e cascalho em suspensão. As composições destas lamas dependem então das substâncias nelas dissolvidas, dos materiais solúveis ou dispersos nas formações rochosas perfuradas, da quantidade de infiltração da lama nos poros das formações e outros. As lamas de perfuração são uma classe especial dos fluidos de perfuração usados principalmente para a exploração de poços de petróleo. O termo ‘lama’ se refere basicamente à consistência espessa deste fluido, característica esta obtida através da adição de inúmeros materiais e elementos químicos. Estes materiais serão mais bem detalhados posteriormente no trabalho, bem como suas propriedades, especificações e funções específicas. Existem inúmeros tipos de lamas de perfuração, que são classificadas de acordo com a fase do fluido, alcalinidade, dispersões e tipos de elementos químicos utilizados. É possível agrupar as lamas em basicamente quatro tipos, conforme exposto a seguir: 3.1 Histórico das Lamas de Base-Água Segundo FERREIRA (2002), uma variedade de fluidos de base aquosa vem sendo desenvolvida desde o início da perfuração dos poços de petróleo, porém podemos destacar como componentes clássicos das lamas de base aquosa, a barita e a bentonita. A barita é o nome comercial do sulfato de bário (BaSO4), empregado 9 basicamente para aumentar a densidade do fluido (GRAY & DARLEY, 1981). A barita por ter uma densidade elevada, algo próximo de 4,5 kg/m3, faz com que a lama fique mais densa, ajudando na estabilização da coluna de perfuração no fundo do poço. Quanto mais profundo for o poço, mais densa deve ser a lama para resistir a pressão hidrostática a que o poço estará submetido. Já a bentonita é uma argila de origem vulcânica que possui uma granulometria muito fina (inferior a 0,002mm) e tem como principal componente a montmorilonita (GRAY & DARLEY, 1981). A montmorilonita é um argilomineral do grupo das esmectitas (estrutura 2:1), apresenta forma lamelar, elevada atividade e se expandem na presença de água. Esta possui inúmeras características, destacando-se sua ação como viscosificante (diminuição da viscosidade), redutor de filtrado dentre outras. As formulações das lamas de base aquosa foram evoluindo ao longo do tempo, ou seja, diversas substâncias dissolvidas e em suspensão foram sendo incorporados e seu desempenho operacional foi sendo testado. A partir do estudo e do teste destas novas formulações, diversos parâmetros operacionais de filtração, de viscosidade, de lubrificação da broca, de toxidade, de densidade e de sua influência na taxa de perfuração, foram sendo analisados. Através da análise do resultado destes testes, as novas lamas foram evoluindo ao longo dos anos e passaram a ter formulações mais específicas para cada tipo de poço a ser perfurado, ou seja, passaram a desempenhar cada vez melhor as suas funções. Sendo assim, alguns exemplos destas melhorias das lamas ao longo dos anos foram sendo obtidas (FERREIRA, 2002): • O amido foi considerado um bom agente redutor de filtrado e passou a ser empregado tanto em formulações de base aquosa quanto oleosa; • Nos anos 30, o agente dispersante (redutor de viscosidade) mais popular para os fluidos de perfuração era o quebracho (tanino vegetal de coloração avermelhada). Estas lamas, que continham quebracho, possuíam elevado pH e tinham como característica a baixa força gel e a grande tolerância à incorporação de sólidos; • Após os fluidos contendo tanino (quebracho), foi desenvolvido os fluidos à base de cal (Lime Muds), que possuíam basicamente as mesmas 10 características. Estas lamas são preparadas através da adição de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) e de bentonita; • Em 1956, surgiram alguns fluidos para o controle de folhelhos (Shale Control Muds), no qual o seu objetivo era aumentar a estabilização dos folhelhos através da manutenção de altas concentrações de íons cálcio e do controle da alcalinidade do filtrado. Os folhelhos são rochas sedimentares finas e laminadas, muito encontradas nas perfurações; • Uma outra combinação de fluido que surgiu na mesma época que os controladores de folhelhos foram as lamas com adição de antiespumantes e surfactantes que contém cálcio, capaz de operar em temperaturas mais elevadas do que os demais fluidos; • Para as formações com elevada salinidade foram desenvolvidas as lamas com adição de gipsita (Gyp Muds), nas quais o sulfato de cálcio ou gipsita (CaSO4) substituiu o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) na mistura com a bentonita. O rápido desenvolvimento da força gel exibido por estas lamas implicava em limitações na perfuração de folhelhos, e levou à realização de estudos com agentes controladores de viscosidade, que resultaram na adição de lignossulfonatos de ferro, cromo, alumínio e cobre nas formulações. • Os lignossulfonatos promovem um controle adequado do filtrado e auxiliam na ação dos eletrólitos na inibição da desintegração dos folhelhos e da dispersão do cascalho durante a perfuração. Assim, o estudo de desenvolvimento de um novo tipo de fluido de base aquosa culminou com a combinação entre lignito de cromo (para minimizar a solidificação em altas temperaturas) e lignossulfonato de cromo (CL-CLS Muds). Tais componentes mostraram-se capazes de controlar simultaneamente as propriedades reológicas e de filtração do fluido numa ampla faixa de pH, salinidade e teor de sólidos (GRAY & DARLEY, 1981). • Na década de 80, o lignossulfonato de cromo foi substituído pelo lignossulfonato de ferro devido às restrições ambientais relacionadas à poluição das formações por metais pesados. A partir da década de 80, começou a se notar em todo o mundo uma maior preocupação quanto ao impacto ambiental causado pelas lamas de perfuração. O uso das substâncias com elevada toxidade passaram a sofrer algum tipo de restrição e, 11 como vemos atualmente, as novas lamas já vêm sendo desenvolvidas por serem ambientalmente menos poluentes. Um resumo das principais lamas de base aquosa, de acordo com suas principais aplicações, é apresentado nas tabelas 1 e 2. Na tabela 1, seguem as formulações mais básicas e mais antigas, que serviram de base para a invenção das lamas Base Água mais modernas, que foram evoluindo ao longo dos anos. Já na tabela 2, seguem as formulações mais modernas, com a incorporação de substâncias mais recentes. TABELA 1 - Principais lamas Base Água - formulações iniciais. Composição Classificação Principais utilizações Água Pura Água e floculantes Perfuração rápida em formações rochosas estáveis e pouco duras Água Salina Água do mar Perfuração em rochas de baixa permeabilidade Lama com baixo Água, polímeros e teor de sólidos bentonita Lama Spud Água e bentonita Perfuração em rochas mais duras Usado para início de poço (incorpora sólidos em formação) Fonte: Modificada de GRAY & DARLEY, 1981. 12 TABELA 2 . Principais lamas Base Água - desenvolvimentos posteriores. Classificação Composição Principais utilizações Lama Salina Água do mar, salmoura, Perfuração de rochas com argila, amido e celulósicos elevado teor de sal Água, bentonita, hidróxido Perfuração de rochas de cálcio e lignossulfato de sedimentares argilosas Lama Base Cal (Lime Muds) Lama com adição de gipsita (Gyp Muds) cromo Água, bentonita, sulfato de Perfuração de formações salinas cálcio e lignossulfato de e anidritos cromo Lama com Água, bentonita, soda Perfuração de folhelhos em lignossulfato cáustica, lignossulfato de maiores temperaturas de cromo e surfactantes operação (CL-CLS Muds) Fonte: Modificada de GRAY & DARLEY, 1981. De maneira geral, as lamas de base aquosa possuem baixo custo, quando comparadas aos demais fluidos, são biodegradáveis e se dispersam facilmente na coluna d’água (DURRIEU, ZURDO et al., 2000). Porém apresentam algumas limitações de uso, principalmente relacionadas ao fato de conterem argilas altamente hidrofílicas em sua composição que reagem quimicamente com a água presente no próprio fluido, o que provoca um inchamento da argila, interferindo mecanicamente com a perfuração. Uma outra realidade é que, ao longo dos anos, a profundidade média de perfuração dos poços petrolíferos tem aumentado consideravelmente. Antigamente, os poços estavam em profundidades bem mais rasas do que os poços atuais e as lamas Base Água têm muitos problemas operacionais com perfuração muito profundas, principalmente relacionadas à elevada pressão hidrostática exercida nestas profundidades. Sendo assim, o desenvolvimento de novas lamas visou melhorar as condições de operação e de estabilização da broca e da coluna de perfuração em elevadas profundidades. As lamas à base de água são utilizadas no início da perfuração, ou seja, em baixas profundidades. Esta perfuração causa menos danos ao meio ambiente e, estas 13 lamas, são normalmente descarregadas diretamente no mar. Porém, atualmente esta prática está sendo contestada, por causa da presença de diversos elementos poluidores na lama, apesar de a lama ser à base de água. Os sistemas à base de água não são sempre tão eficazes como os fluidos à base de petróleo e sintéticos quando são necessárias melhores propriedades, tais como maior força de resistência ao colapso do poço, maior poder de lubrificação das brocas de perfuração e outros. Nestas lamas, o componente dominante é a água, que normalmente estará parcialmente ou inteiramente saturada com aditivos, tais como sais, ácidos, álcalis, álcoois ou polímeros e também substâncias em suspensão como argila, barita (sal insolúvel de BaCO3) e cavacos de perfuração. 3.1.1 Água fresca São sistemas dispersantes e com baixo valor de pH, algo em torno de 7,0 e 9,5. Nesta subdivisão se incluem as lamas a base de bentonitas, de baritas, de fosfatos, alguns tipos de lamas orgânicas e outras. 3.1.2 Lamas inibidoras Estas lamas são importantes em tipos particulares de formações rochosas, tais como a argila, para inibir a dispersão e a hidratação destas formações. São basicamente constituídas por lamas à base de cal (alto pH), de gesso (baixo pH) e água do mar, sendo estas divididas em saturadas (baixo pH) e insaturadas (baixo pH). 3.1.3 Lamas com baixo teor de sólidos São sistemas não dispersantes e que contêm um percentual razoável de sólidos em sua formação. Estas lamas contêm entre 3% e 6% do volume em sólidos, tem peso específico menor que 9,5 lb/gal ou 0,95 Kg/m3 e podem ser de a base de água fresca ou salgada. Os principais tipos de lamas com sólidos são compostos basicamente com adições de argila, bentonitas, baritas e polímeros. 14 3.2 Histórico das Lamas de Base Óleo Além das lamas Base Água, outros tipos de fluidos foram desenvolvidos para resolver problemas causados pelos fluidos de base aquosa. Na tentativa de criação destes novos fluidos, surgiram as lamas de base oleosa, na década de 40 e 50. Estas lamas possuem características bem distintas da lama Base Água. Porém, do ponto de vista químico são bem semelhantes, pois são constituídas de uma fase líquida predominante e também tem a adição ou incorporação de diversas partículas ou substâncias, para que a lama tenha determinadas funções. Antes de se dar continuidade na caracterização das lamas de base óleo, é preciso conhecer o que são as denominadas emulsões. As emulsões são formadas quando um líquido é disperso na forma de pequenas gotas em um outro líquido. As emulsões são constituídas basicamente por uma mistura de água e óleo em quantidades específicas. O líquido predominante na emulsão é chamado de fase contínua, enquanto que o líquido em gotas é chamado de fase dispersante ou descontínua. Existem basicamente dois tipos de emulsões empregadas como lama de perfuração, que são os seguintes: a emulsão óleo em água, onde a água é a fase contínua e o óleo a fase dispersante; e a emulsão água em óleo, onde o óleo é a fase contínua e a água é a fase dispersante. A seguir tem-se exemplos de emulsões de óleo em água e de água em óleo. (a) Óleo/Água (b) Água/Óleo FIGURA 2- Ilustração de tipos de emulsões Fonte: OLIVEIRA & CARVALHO, 1998 15 No início de sua aplicação em operações de perfuração, as lamas Base Óleo tinham como principais obstáculos uma menor taxa de penetração assim como os riscos de incêndio. Primeiramente foi empregado o asfalto como fase contínua, evoluindo para a utilização de óleo diesel e petróleo. Tais sistemas continham um baixo teor de água em suas composições, o que é chamado de emulsão, ou seja, uma mistura de óleo e água, que neste caso tinha uma fase predominante de óleo. Utilizava-se um baixo teor de água, pois um alto teor (acima de 10%) causava um espessamento indesejável do fluido. Para superar esse problema foram desenvolvidos os sistemas “invertidos” (ou as denominadas emulsões inversas), que contêm entre 5% e 50% de água emulsionada como agente de suspensão e o óleo como fase contínua (UKOOA, 1999). A emulsão inversa geralmente possui emulsificantes solúveis em água e emulsificantes solúveis em óleo (formados in situ pela adição de compostos de cálcio e magnésio a ácidos graxos específicos). Com o decorrer do tempo, diversas outras lamas foram sendo desenvolvidas com a incorporação de diversas substâncias. Um exemplo é o desenvolvimento de argilas organofílicas, também denominadas bentonita aminada capazes de formar gel em óleo (similarmente ao efeito da bentonita em água) ampliaram as aplicações das formulações à base de óleo durante as décadas de 60 e 70 (GRAY & DARLEY, 1981). Segundo GRAY & DARLEY (1981), algumas das principais vantagens relacionadas ao desempenho dos fluidos à base de óleo quando comparados aos de base aquosa são: • Baixa compatibilidade com as formações reativas (sensíveis à água); • Maior estabilidade térmica e estrutural (para perfuração de poços profundos e com altas temperaturas); • Melhor capacidade de lubrificação da broca da coluna de perfuração; e • Menor taxa de corrosão. As maiores desvantagens, porém, se devem às restrições ambientais cada vez mais crescentes dos fluidos de base oleosa. Novos fluidos de base aquosa estão sendo desenvolvidos com a adição de glicóis, menos reativos com as formações 16 sensíveis á água, os quais apresentam características satisfatórias quanto ao desempenho hidráulico e à lubricidade. Para que a lama a base óleo não tenha uma elevada toxidade, característica de um óleo diesel, foi desenvolvido um substituto, que seria um óleo mineral de baixa toxidade. A saída encontrada foi utilizar um óleo parafínico, bem menos tóxico do que um óleo diesel. Outra desvantagem destas lamas é o seu custo de aquisição, pois sua composição (petróleo, diesel ou outros) tem um custo muito superior ao da água, apesar de diversas outras substâncias serem incorporadas a ambas as lamas. O custo de tratamento e processamento das lamas de base oleosa também é bem maior, visto que o óleo por si só é bem mais poluente do que a água quando descartado inadequadamente. A seguir é mostrado um resumo (tabela 3) dos principais tipos de lamas Base Óleo, de acordo com suas principais aplicações. Na prática, existem muitos outros tipos de lamas de base oleosa, para as mais diversas utilizações, porém as mais importantes e significativas estão representadas nesta tabela. TABELA 3 . Principais lamas Base Óleo. Classificação Composição Principais utilizações Lama oleosa Óleo cru ou asfalto, Perfuração de poços rasos e de sabão e água (<2%) baixa pressão Óleo diesel, asfalto, Ampla aplicação até temperaturas emulsificantes e água da ordem de 315 ºC Lama asfáltica (2%-10%) Lama não-asfáltica (emulsão invertida) Óleo diesel, argila, Elevado custo de fabricação e resinas, emulsificantes, grande impacto no meio ambiente, água (5%-50%) porém baixo custo de manutenção Fonte: modificada de GRAY & DARLEY, 1981. As lamas à base de óleo têm propriedades muito melhores do que as lamas a base de água. Esta diferença é acentuada quando o poço é mais profundo, ou seja, normalmente acontece a substituição da lama à base de água pela lama à base de óleo à medida que o poço vai se aprofundando. Não existe um limite correto que a 17 lama base-água é capaz de lubrificar e estabilizar do poço, pois estas propriedades são particulares em cada poço, sendo muito difícil definir um limite para todos os tipos de perfuração. Apesar de as lamas à base de óleo serem um excelente fluido de perfuração, elas podem ser extremamente tóxicas para praticamente todos ambientes, sejam eles terrestres, marinhos e outros. Por este fator, sua utilização deve ser controlada. Mais adiante no trabalho, teremos maiores detalhes destes problemas causados pelas lamas à base-óleo. Esse tipo de lama é especialmente utilizado para perfurações onde a estabilidade e inibição do inchamento das formações rochosas são necessárias, tais como em seções profundas de poços submetidos a altas pressões, poços submetidos a altas temperaturas e em casos onde o poço é perfurado em um ângulo (perfuração direcional) onde existe um aumento da probabilidade do tubo de perfuração ficar preso nas formações. 3.3 - Histórico das Lamas de Base Sintética As lamas sintéticas vieram da evolução das lamas de base óleo, principalmente das lamas não-asfálticas. Por isso, os fluidos não asfálticos podem ser considerados a base para o desenvolvimento das chamadas lamas sintéticas (Synthetic Based Fluids – SBF). Seus principais objetivos eram alcançar desempenhos comparáveis aos dos fluidos de base oleosa, com menor impacto ambiental por possuírem menor toxidade e maior biodegradabilidade (UKOOA, 1999). O termo lamas sintéticas refere-se aos fluidos cuja fase contínua é composta por um ou mais fluidos produzidos por uma reação química específica e não por processos de separação física do óleo cru (fracionamento e destilação) ou de quebra (craqueamento catalítico e hidroprocessamento) de frações de petróleo (OFFSHORE PETROLEUM BOARD, 1998). Os fluidos sintéticos, apesar de caros, são indicados para aplicações nas quais a utilização dos fluidos de base aquosa é totalmente impraticável, ou quando não é permitido o descarte marítimo dos fluidos de base oleosa e de seus resíduos,o que já ocorre em diversas partes do mundo. 18 O desenvolvimento dos fluidos sintéticos é recente, datando da década de 90 o primeiro poço comercialmente perfurado com um fluido a base de éster, na costa da Noruega. A primeira geração de fluidos sintéticos foi composta por ésteres, éteres, poli alfa-olefinas (PAOs) e acetatos. Na segunda metade da década de 90, pesquisas originaram a segunda geração dos fluidos sintéticos, compostas pelos alquil-benzenos lineares (LABs), alfa-olefinas lineares (LAOs), olefinas internas (IOs) e parafinas lineares (LPs) (FRIEDHEIM & CONN, 1996). Estudos realizados na Noruega empregando leitos de mar simulados indicaram que, quando se consideram simultaneamente os efeitos combinados de degradação do fluido e do impacto na fauna marinha, as LAOs e os ésteres de ácido graxos insaturados são os menos prejudiciais ao ambiente oceânico. Contudo, segundo PATTIN (1999), os desenvolvimentos da segunda geração, que objetivavam a redução dos custos do fluido, trouxeram um aumento na toxidade em relação aos fluidos da geração anterior. O tema é recente e vem sendo objeto de intensas pesquisas, devido à existência de lacunas nos dados experimentais, sendo as PAOs e as LAOs os fluidos sintéticos de maior emprego na Europa (UKOOA, 1999). A Tabela 4 mostra a evolução do desenvolvimento das bases dos fluidos de perfuração desde o óleo diesel. TABELA 4 . Evolução dos fluidos oleosos e sintéticos. DATA DE INTRODUÇÃO TIPO DE FLUIDO BASE Antes de 1980 Óleo diesel e óleo cru 1980 - 1985 Óleos minerais 1985 - 1990 Óleos minerais de baixa toxidade 1989 Ésteres 1992 Éteres 1993 LABs 1995 1996 Fonte: GETLIFF & al., 2000. LAOs IOs 19 3.4 – Histórico das Lamas Base-gás Os fluidos de perfuração de base gasosa, também conhecidos como fluidos leves, ainda não encontram grande aplicação na perfuração marítima. Ainda são necessários esforços de desenvolvimento para sua viabilização em cenários de águas profundas, onde é imprescindível o uso de sondas flutuantes. As principais vantagens do emprego dos fluidos leves são para as formações estruturalmente frágeis e para os poços depletados devido à possibilidade de aumento da pressão de operação sem intensificar o dano às rochas do reservatório, o que implica em aumento da vazão de produção e do fator de recuperação do fluido. Esses benefícios tornam-se mais significativos no caso de poços horizontais, mais suscetíveis aos danos do que os demais tipos de poços. Adicionalmente às vantagens de produção, relata-se um aumento da vida útil das brocas, e de sua taxa de penetração quando da utilização desse tipo de fluido. No contexto dessa tecnologia emergente para operações offshore, o controle da pressão no fundo do poço e das vazões de injeção e de produção constitui sua principal característica, constatando-se a carência de ferramentas de engenharia confiáveis para efetuar os cálculos de hidráulica de perfuração e garantir a segurança operacional. Um resumo dos principais tipos de fluidos de base gasosa, de acordo com suas principais aplicações onshore, é apresentado na Tabela 5. 20 TABELA 5 . Fluidos de perfuração de base gasosa. CLASSIFICAÇÃO BASE GÁS COMPONENTES PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS GÁS/AR SECO N2 ou ar para perfuração rápida em rochas duras NÉVOA ar e água (ou lama) alta velocidade anular ESPUMA ar, água e agente espumante para perfuração de rochas estáveis com baixa pressão de formação (Pf) ESPUMA ESTABILIZADA ar, água contendo polímeros ou bentonita e agente espumante para poços com baixa Pf (qualquer tipo de rocha) Fonte: modificada de GRAY & DARLEY, (1981) 21 4. FUNÇÕES DAS LAMAS DE PERFURAÇÃO As lamas têm papel fundamental nas operações de perfuração. Diversas pesquisas e desenvolvimentos têm sido feitos visando melhorar o desempenho das lamas. A seguir, tem-se uma lista das principais funções que as lamas devem atender. 4.1 Remoção dos cavacos Os cavacos são fragmentos de rochas arrancados do sub solo pela ação da broca giratória. Estes fragmentos necessitam ser removidos do local de trabalho da broca. Esta função é extremamente importante para facilitar os esforços de ação da broca, que é um dos equipamentos mais exigidos mecanicamente na perfuração. O fluido de perfuração é bombeado pelo interior da tubulação de perfuração (drill pipe), coleta estes pedaços de rocha e os carrega até a superfície. A lama deve ter a capacidade de fazer com que as rochas ‘flutuem’ juntamente com a lama, limpando a área de trabalho das brocas. Na figura a seguir, tem-se um exemplo da importância da atuação da lama na limpeza dos cavacos na zona de perfuração ou do contato entre broca e formação rochosa. 22 FIGURA 3 – Movimento da lama no interior do poço durante a perfuração Fonte:http://www.battelle.org/Environment/publications/EnvUpdates/winter2004/gfx/drill_bit.jpg 4.2 Controle da pressão no interior do poço A lama é projetada para evitar acidentes, visando contrabalancear a pressão natural das formações rochosas. Um equilíbrio apropriado deve ser obtido, no qual a pressão do fluido de perfuração contra as paredes do poço é suficiente para contrabalançar a pressão exercida pelas formações rochosas, porém esta não pode ser muito alta, para não danificar o poço. A pressão das lamas depende basicamente de sua densidade. Diversos aditivos são acrescentados às lamas para aumentar a sua densidade e, dessa forma, a pressão exercida sobre as paredes do poço. Esta densidade deve ser ajustada para atender as condições específicas de cada poço. 4.3 Estabilizar as formações rochosas A prioridade é manter a estabilidade das formações rochosas, submetidas aos esforços de pressão da broca giratória, o mais estável possível. Isto é feito por meio da manutenção da pressão do fluido de perfuração acima da pressão do fluido contido nos poros das rochas. Existe uma tendência natural de que o fluido de perfuração deve penetrar na rocha permeável da formação. 23 Com a utilização de aditivos nas lamas, isso pode ser minimizado. O fluido de perfuração pode interagir com a rocha ao seu redor de outras formas. Por exemplo, se a rocha estiver impregnada com sal, a água dissolverá o sal e tenderá a desestabilizar as paredes do poço; sendo, neste caso, mais indicado uma lama base-óleo. As formações rochosas com alto conteúdo de argila também tendem a serem lavadas e removidas pela água. Essas formações exigem um fluido inibidor para manter um poço estável e evitar o alargamento ou remoção pela ação da água. Após chegar até a rocha-reservatório, a composição do fluido de perfuração pode exigir uma mudança, a fim de evitar a obstrução dos poros da rocha. FIGURA 4 – Estabilização das formações rochosas 4.4 Lubrificação da broca e do canal de perfuração Quando a broca gira em contato com a rocha, ocorrem diversos problemas ligados ao atrito e ao aquecimento. Do mesmo modo, o canal de perfuração também sofre com o atrito das formações rochosas e, também pelos esforços na tubulação, sobretudo de torção. As lamas têm a função de lubrificar e de resfriar estes equipamentos para estender a vida útil da broca e diminuir os esforços das tubulações. A lubrificação é particularmente importante em poços estendidos ou 24 horizontais, nos quais o atrito entre a tubulação de perfuração, a broca e as superfícies rochosas, deve ser reduzido. 4.5 Aquisição de dados As lamas têm a função de transmitir diversos tipos de dados que são extraídos no decorrer da operação de perfuração. Estes dados são extremamente importantes para que a perfuração transcorra da melhor maneira possível. Os principais dados são: perfilagem elétrica, análise dos cavacos, pressão no interior do poço e outros. Estes testes são primordiais para se realizar algumas correções na lama, tais como a adição de elementos e, também, substituição da lama de perfuração. 25 5. COMPOSIÇÃO E APLICAÇÕES Existem inúmeras composições adequadas para cada tipo específico de perfuração. A utilização intensiva de aditivos visa adequar a lama de perfuração às formações rochosas de cada poço, isto quer dizer que as lamas sofrem uma mudança significativa ao longo da perfuração. É importante identificar o momento correto de adotar parâmetros diferentes, ou seja, de mudar as variáveis da perfuração. Normalmente, à medida que a profundidade de perfuração aumenta é necessária uma lama com densidade maior, para suportar as pressões estáticas do poço, e com maior força gel, para conseguir remover os cavacos com menos dificuldade do fundo do poço. Existem basicamente dois tipos de lamas de perfuração: lamas base-água e base-óleo. Porém, em cada perfuração um tipo específico de lama é necessário para que sejam correlacionadas da melhor maneira possível algumas variáveis, tais como: tempo, taxa de perfuração, desgaste das ferramentas, custo de manutenção e outros. Estas variáveis devem ser adequadas a cada um dos processos de perfuração, visando otimizar a operação, ou seja, minimizar os custos de produção, minimizar o tempo de perfuração e, conseqüentemente, maximizar os ganhos da empresa responsável pela perfuração. Portanto, os aditivos têm a função de desenvolver uma lama específica para cada tipo de solo a ser perfurado. Os aditivos também podem ser inseridos na perfuração ao longo do tempo, ou seja, não é necessário parar a perfuração para que a lama seja substituída, sendo possível adicioná-los de forma contínua. A classificação dos aditivos é baseada na Associação Internacional dos Contratantes de Perfuração (IADC - International Association of Drilling Contrators). A seguir, tem-se uma tabela dos principais aditivos utilizados: 26 TABELA 6 - Aditivos mais utilizados e suas respectivas funções e efeitos nas perfurações Função Aditivos mais usados Efeitos do aditivo na lama Controle de pH Cal, soda cáustica e Controlar o grau de acidez (pH) para diminuir a outros ácidos corrosão dos equipamentos de perfuração Espessantes Barita, chumbo, óxidos Controlar as pressões naturais das formações (Materiais que de ferro e outros pelo aumento do peso específico (densidade) adicionam materiais com elevada das lamas peso) densidade Viscosificantes Bentonita, vários tipos de argilas e polímeros, CMC Aumentar a viscosidade para melhor limpeza do poço e suspensão de cuttings e sólidos Redutores de Bentonita, argilas, amido, filtrado CMC, lignita e outros Floculantes Salmoura, cal e diversos Agrupar as partículas sólidas em flocos, tipos de polímeros e sais aumentando e facilitando a limpeza do poço Dispersantes Polifostfatos, lignita e ou de- lignosulfonatos floculantes Lubrificantes Diminuir a perda de lama que flui da coluna de perfuração para os poros das formações Reduzir o aglomeramento das partículas em flocos, diminuindo a viscosidade e a força gel Diversos tipos de óleo, surfactantes, glicóis e Reduzir o atrito da lama e resfriar os equipamentos de perfuração (broca e coluna) outros Estabilizadores Diversos tipos de de temperatura polímeros, copolímeros, Aumentar a estabilidade térmica e estrutural em temperaturas elevadas lignita e tanino Tensoativos Surfactantes e umidificantes Reduzir a tensão superficial entre as superfícies de partículas em contato (água/óleo, água/sólidos, etc) Emulsificantes Bactericidas Ácidos graxos e Criar e manter uma mistura heterogênea de orgânicos, amina, sabões dois líquidos imiscíveis (emulsão, usualmente e detergentes água/óleo) Cal, Soda Cáustica e paraformaldeidos Removedores Soda cáustica, de Cálcio bicarbonato de sódio e Reduzir a contagem de bactérias e prevenir a degradação bacteriana de aditivos orgânicos Prevenir a contaminação das formações rochosas de diversas formas do sulfato de 27 alguns polifosfatos Inibidores de Colóides, emulsões e Corrosão lamas base óleo cálcio Inibir a corrosão da broca, através da neutralização de gases ácidos. Fonte: elaboração a partir www.worldoil.com/TechTables/Fluids_Desc.asp ; SERRA, 2003 Para que alguns destes aditivos possam ser utilizados é preciso a tomada de controles, dentre os quais: 5.1 - Controle de Densidade Uma importante função de um fluido de perfuração é controlar a pressão do fluido no poço. Como muitas formações são hidrostaticamente pressurizadas (overpressured) e a pressão no poço deve ser mantida maior do que a da formação, a pressão no poço deve ser normalmente maior que a pressão hidrostática da água pura para prevenir o blowout. A pressão do fluido no poço é controlada variando a densidade do fluido de perfuração. A densidade varia adicionando-se sólidos pesados ao fluido. Entretanto as argilas adicionadas para controlar a viscosidade do fluido também aumentam sua densidade. O material mais usado para aumentar a densidade da lama de perfuração é a barita (sulfato de bário). Ela possui uma alta gravidade especifica de 4.2g/cm3. Em alguns poços que exigem uma densidade muito alta, a barita pode constituir até 35% do volume do fluido. Devido à alta gravidade especifica da barita, aditivos para controlar a viscosidade são usados para manter a barita em suspensão no fluido. 5.2 - Controle de Perdas Durante a perfuração, o fluido é perdido para a formação enquanto escoa para dentro da camada permeável. Para minimizar esta perda, pequenas partículas são adicionadas ao fluido de perfuração que irão penetrar na formação como perda de fluido. Estes sólidos depois formam uma “lama” de baixa permeabilidade que limitará a perda de fluido. Na maioria dos casos, as partículas de argila adicionadas para controlar a viscosidade de um fluido são bem sucedidas no controle das perdas de fluido para a formação. 28 Em algumas formações, entretanto, o tamanho dos poros pode ser tão grande que as partículas de argila são incapazes de tampar os buracos e construir um filtro. Estas formações podem incluir aquelas contendo fraturas naturais ou induzidas, areias muito permeáveis. Para diminuir as perdas de fluido nessas formações, sólidos grandes podem ser adicionados ao fluido de perfuração. Os sólidos que geralmente são usados para esta aplicação incluem mica, plástico, enxofre. 5.3 - Controle de pH Um elevado pH para lama entre 9.5 e 10.5 é quase sempre desejado em operações de perfuração. Um alto pH impede a corrosão do equipamento de perfuração. Para manter o pH no nível desejado, hidróxido de sódio (NaOH) é adicionado à lama. 5.4 - Lubrificantes Durante a perfuração, pode ocorrer bastante atrito entre a broca de perfuração e a formação e entre a coluna de perfuração e as paredes do poço. Para reduzir este atrito, lubrificantes são adicionados ao fluido de perfuração. Estes lubrificantes aceleram a perfuração e ajudam a manter o poço. Lubrificantes comuns são óleo diesel, óleos vegetais/minerais, perolas de vidro, grafite, ésteres e gliceróis. 5.5 - Inibidores de Corrosão A corrosão é causada por gases que se encontram dissolvidos na lama de perfuração, por exemplo, oxigênio, gás carbônico, ou acido sulfidrico. A melhor proteção contra corrosão para os equipamentos de perfuração deve incluir a eliminação destes gases da lama. Se esta eliminação não for possível, a taxa de corrosão deve ser reduzida. Inibidores de corrosão não previnem a corrosão, mas reduzem sua taxa para níveis aceitáveis. Os inibidores mais comuns utilizam um surfactante que protege o metal com uma camada de óleo. 29 5.6 - Controle de Danos à Formação Muitas formações contêm argilas que incham em contato com a água. Estas argilas ao sofrerem expansão podem obstruir os poros do reservatório, diminuindo sua permeabilidade. Para evitar que ocorram estas reações, são adicionados sais ao fluido de perfuração. Estes sais evitam que ocorram trocas entre as moléculas de água e os cátions nas argilas. Os sais mais usados são cloreto de potássio (KCl) e de sódio (NACl). Acetato de potássio ou carbonato de potássio (K2CO3) também podem ser usados. Um problema que ocorre durante a perfuração é que os fragmentos de rocha podem envolver e aderir na broca, formando uma pasta de elevada aderência. Esta pasta reduz a velocidade da perfuração porque não é facilmente removida da broca pelo fluido de perfuração. Se um poço é perfurado através de um domo de sal, uma lama de base-água saturada em sais cloreto pode ser usada para prevenir uma dissolução excessiva de sal ao longo do poço. 30 6. SISTEMA DE CIRCULAÇÃO DO FLUIDO DE PERFURAÇÃO Durante a perfuração, um fluxo contínuo de lama de perfuração circula dentro do poço para mover os cavacos da perfuração para fora da broca e do poço (figura 5). O fluido de perfuração é bombeado para a parte inferior do poço através do tubo de perfuração (drill pipe) sendo injetado através de bocais presentes na broca de perfuração com grande velocidade e pressão. Os jatos de fluido erguem os cavacos do fundo do poço e para longe da broca. A lama de perfuração circula através do espaço entre o tubo de perfuração e o revestimento do poço (casing), chamado anular de perfuração (annulus). Abaixo se pode ver um esquema do sistema de circulação da lama. FIGURA 5 – Sistema de circulação e separação da lama Fonte: http://www.osha.gov/SLTC/etools/oilandgas/drilling/wellcontrol.html#Monitoring Na superfície, os cavacos, argila, areia e os gases presentes são removidos do fluido de perfuração, antes de retornar ao poço. Os processos de separação dos sólidos do fluido incluem a passagem por uma peneira vibratória (shale shaker), onde os cavacos mais grosseiros são removidos da lama. Em seguida, passa por um 31 desaerador (degaser) onde os gases presentes na lama são removidos e depois por armadilhas de areia (desander) e por um remover de silte (desilter) onde as partículas mais finas de areia e argila removidos. Posteriormente, passam também por centrífugas para completar a separação. Após todo este processo de purificação da lama ela segue para um compartimento denominado misturador de lama (mud mixing) onde são adicionados os aditivos para restaurar as suas propriedades, antes de ser bombeado novamente para dentro do tubo de perfuração e recomeçar o ciclo (figura 6). FIGURA 6 – Peneira vibratória, desander e desilter Fonte: http://www.miswaco.com/Products_and_Services/Solids_Control/index.cfm 32 7. SEPARAÇÃO DOS FLUIDOS DE PERFURAÇÃO Durante o processo de perfuração, um grande volume de cavacos é gerado e levado para fora do poço pelo fluido de perfuração. Estes cavacos devem ser separados do liquido da lama para que este possa ser re-injetado dentro da coluna de perfuração para remover mais cavacos. Os cavacos contaminados pela lama de perfuração são a principal fonte de resíduo da indústria do petróleo. O potencial de impacto ambiental desses cavacos pode ser significativamente reduzido separando-os dos sólidos da lama mais tóxica. Abaixo se tem a figura 7 que apresenta o sistema de lama. FIGURA 7 – Sistema de circulação da lama Fonte: http://static.howstuffworks.com/gif/oil-drilling-mud-pump.gif A eficiência da separação dos cavacos da lama depende principalmente do tamanho deles e o tamanho destes depende de uma série de fatores. O fator mais importante em manter os cavacos grandes é para gerar cavacos também grandes na broca durante a perfuração. O tamanho inicial dos cavacos é controlado pelo tipo de broca, pelo peso na broca, e pelo tipo de formação. Um segundo fator importante no 33 controle do tamanho dos cavacos é minimizar o esfacelamento dos cavacos no poço enquanto são levados para a superfície. A remoção dos cavacos é controlada pela viscosidade e velocidade da lama, profundidade do poço, velocidade de rotação da coluna de perfuração, e pela força dos cavacos. Um terceiro fator é a presença ou não de argilas hidratáveis na lama antes da separação. O primeiro passo da separação é remover os cavacos maiores da lama com uma peneira vibratória (“shale shaker”). O líquido, e pequenos cavacos passam através das peneiras, enquanto os cavacos maiores ficam retidos. Se a lama contém gás, a “shale shaker” também irá separar boa parte deste da lama. A lama e os pequenos cavacos que passam através das peneiras são colocados de volta no reservatório de lama, onde ocorre uma separação adicional por sedimentação gravitacional. A eficiência das peneiras vibratórias depende da freqüência e amplitude de vibração, velocidade dos sólidos enquanto eles passam através das peneiras, e tamanho dos furos da peneira. Produtos químicos podem ser adicionados à lama que fazem com que as pequenas partículas de argila coagulem ou floculem em grupos maiores de partículas. Quanto mais flocula, mais rápido sedimenta no reservatório da lama. Se uma lama de perfuração contém gás que não é removido pelo equipamento de separação de sólidos, uma câmara de vácuo pode ser adicionada ao sistema de lama. Isto diminui a pressão da lama na câmara e expande o tamanho das bolhas de gás, permitindo que elas sejam separadas do líquido por gravidade mais rápido. Nestes sistemas, a lama passa por planos inclinados em camadas finas para otimizar a separação. Se não for usado o equipamento apropriado e adotados os procedimentos corretos para remover os cavacos enquanto eles são adicionados ao sistema de lama, a concentração de cavacos na lama cresce gradualmente com o tempo, e as propriedades da lama, como densidade e viscosidade, são degradadas. A concentração máxima tolerável de sólidos varia com o uso da lama, mas está geralmente entre 4% e 15%. Para manter as propriedades da lama em uma taxa aceitável, a lama pode ser diluída; isto requer a adição de mais fluido, tanto água ou óleo. A diluição, entretanto, aumenta o volume dos resíduos de perfuração que devem ser descartados. 34 Em muitos casos, “shale shakers” e reservatórios de sedimentação são insuficientes para separar os sólidos dos líquidos da lama, e tratamento adicional com tecnologia avançada é requerido. Por exemplo, depois da separação dos sólidos da lama, um volume significativo de liquido é normalmente retido com os cavacos. A dificuldade em usar tecnologia avançada para separação em um local de perfuração é o elevado custo de locação do equipamento. 7.1. Introdução sobre sistemas homogêneos/heterogêneos 7.1.1. Substâncias Puras É extremamente importante para o processo de separação o conhecimento dos constituintes que formam as misturas que deverão ser separadas durante o processo. Para isto, a seguir temos uma breve explicação de como as misturas são separadas em sistemas homogêneos e heterogêneos. Esta conceituação teórica visa dar subsídios para a melhor escolha dos métodos mais eficientes e mais indicados para a separação das lamas de perfuração. A natureza é constituída, em sua menor divisão de elétrons, prótons e nêutrons, que unidos de um modo único formam o átomo, também chamado de elemento químico. As substâncias e os compostos conhecidos surgem da combinação de átomos iguais ou diferentes através de ligações químicas. De forma simples, temos basicamente dois tipos de substâncias: a) Substâncias puras simples: Neste caso, a substância é formada por um ou mais átomos de um mesmo elemento químico, tais como gás hidrogênio (2 átomos de hidrogênio), o ozônio (3 átomos de oxigênio) e inúmeros outros exemplos. Estes compostos são chamados de substâncias puras simples, pois apresentam em sua estrutura somente átomos de um mesmo elemento químico. b) Substâncias puras compostas: As substâncias compostas são formadas pela combinação de átomos de dois ou mais elementos químicos diferentes, como por exemplo, a água (H2O), ácido clorídrico (HCl), sal de cozinha (NaCl), gás metano (CH4) e muitos outros. 35 Estes são os dois tipos de substâncias puras encontradas na natureza, porém podemos formar outros tipos de substâncias a partir substâncias puras, que são denominadas misturas. Uma mistura é a união de uma ou mais substâncias puras em um determinado composto químico. Uma forma de se diferenciar as substâncias puras das misturas é através de sua composição, que é sempre fixa e definida, por exemplo, para a formação de água sempre será necessária a combinação de dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, ou seja, na proporção de 2 gramas de hidrogênio para cada 16 gramas de oxigênio. As misturas, não possuem composição fixa e definida, por exemplo, para obter uma mistura de água e sal pode-se colocar qualquer quantidade de água e qualquer quantidade de sal. 7.1.2. Misturas Normalmente as substâncias presentes na natureza se apresentam sobre a forma de misturas, ou seja, encontrar uma substância totalmente pura na natureza é extremamente difícil, sendo mais comum a separação das misturas o caminho mais indicado para se obter uma substância pura. No caso da água consumida em nossas casas, há um tratamento especial desta água através de métodos de separação, que separam a água de outros elementos, tais como areia, argila, barro, elementos ferrosos e outros. Para exemplificar uma mistura, temos abaixo uma figura de uma mistura de água (H2O) e de sal de cozinha (NaCl), bem como sua saturação. FIGURA 8 – Mistura água (H2O) e sal de cozinha (NaCl) Fonte: http://educar.sc.usp.br/ciencias/quimica/qm1-2.htm#composta 36 A partir desta figura, podemos notar que quanto maior a quantidade de sal presente nesta água, maior será as chances da mistura não ficar completamente saturada. Existe um limite de sal para que este possa ser inteiramente dissolvido na água, sendo que esta água é denominada de mistura completamente saturada. O grau de saturação determinará se esta mistura poderá dissolver mais material (neste caso, o sal) ou se a adição resultará em uma distinção entre as duas fases (sólido e líquido). 7.1.3. Misturas Homogêneas e Heterogêneas Existem inúmeras misturas como a demonstrada acima, água (H2O) e sal de cozinha (NaCl), onde há uma dissolução do sólido (sal) no líquido (água). Estas misturas são chamadas de homogêneas, pois não se observa um ponto de separação ou de contato entre a fase líquida e fase sólida. Este exemplo também pode ser estendido para sistemas líquido/líquido, onde haja uma dissolução dos líquidos formando uma mistura homogênea. Estes líquidos são chamados de miscíveis. Em outros tipos de misturas, não se consegue que haja entre as substâncias constituintes, sejam elas líquido/líquido ou líquido/sólido, um processo de dissolução ou de saturação. Neste caso, a mistura é denominada heterogênea, pois se observa claramente uma separação entre as fases constituintes da mistura. A partir da figura abaixo, podemos diferenciar mais claramente estes dois tipos de misturas ou sistemas: FIGURA 9 – Diferenciação entre misturas homogêneas e heterogêneas Fonte: http://educar.sc.usp.br/ciencias/quimica/qm1-2.htm#mistura 37 Nas misturas B, D, E observa-se uma superfície de separação entre os componentes que as formam e, por isso, recebem a denominação de misturas heterogêneas. Nesse caso, as espécies químicas que formam a mistura são insolúveis entre si; no caso de dois líquidos, usa-se termo imiscível. Nas misturas A e C não se percebe superfície de separação entre os componentes, a mistura apresenta o mesmo aspecto em toda sua extensão e recebem a denominação de mistura homogênea. Nesse caso, as espécies químicas que formam a mistura são solúveis entre si; quando as substâncias solúveis entre si, são dois líquidos, usa-se o termo miscíveis entre si. As misturas homogêneas são monofásicas ou unifäsicas, isto é, possuem uma única fase e as heterogêneas polifásicas, isto é, possuem duas ou mais fases. Recebe a denominação de fase cada porção uniforme de uma determinada matéria, com as mesmas características em toda sua extensão. O granito, uma matéria heterogênea constituída de três fases, isto é, de três porções visualmente uniformes, a fase da mica (brilhante), a fase do quartzo (transparente) e a fase do feldspato. 7.2. Métodos de separação As misturas são muito encontradas na natureza de forma natural e também de forma artificial, assim como as lamas de perfuração. Existem alguns métodos capazes de separar as lamas em diversas substâncias puras ou com poucos resíduos. Para tal, necessitamos de conhecer os métodos de separação e os equipamentos mais usualmente empregados neste tipo de operação. As misturas, como vimos anteriormente, podem ser classificadas em sistemas homogêneos ou heterogêneos. Sendo assim, para cada tipo de sistema existe um determinado método de separação que se encaixa em cada tipo de operação. Neste trabalho, muito se discutirá a separação das lamas Base Água, Base Óleo e outros fluidos sintéticos. 38 As lamas são normalmente sistemas homogêneos, com uma fase predominante líquida (Base Água ou Base Óleo) com diversos tipos de materiais sólidos (tais como barita, argila, bentonita, floculantes e outros) incorporados ou dissolvidos nesta fase líquida. Sendo assim, esta mistura pode ser definida como um sistema líquido/sólido. A partir disto, é preciso encontrar métodos de separação que consigam uma maior eficiência neste tipo de separação (líquido/sólido). Existem outros inúmeros métodos de separação de fases, tais como: sedimentação, evaporação, centrifugação, peneiramento, separação magnética, dissolução, destilação simples e fracionada e outros. Porém, para um sistema homogêneo como as lamas de perfuração, se faz necessária a separação de líquidos e sólidos, os métodos mais eficientes e mais comumente utilizados estão descritos na figura 10 a seguir. Porém, em alguns tipos de lamas de perfuração temos a presença das emulsões, que são uma mistura de água e óleo extremamente difíceis de serem separadas. Em algumas operações de perfuração, a utilização das emulsões é extremamente vantajosa propiciando que a lama se torne bem mais eficiente. Este é um sistema heterogêneo e, apesar de ser líquido/líquido, é de difícil separação em substâncias puras (água e óleo). Abaixo, temos uma figura que ilustra os métodos de separação mais empregados em sistemas líquido-sólido: SEPARAÇÃO LÍQUIDO-SÓLIDO SEDIMENTAÇÃO DECANTAÇÃO FILTRAÇÃO DESTILAÇÃO CENTRÍFUGA FIGURA 10 – Métodos de separação Líquido-Sólido Fonte: elaboração própria 39 No decorrer do trabalho estes métodos serão mais profundamente discutidos e analisados de forma a se obter um processo de separação mais eficiente, com maior capacidade de separação total, com maior rendimento, menor tempo de processo, equipamentos mais simplificados, e diversos outro parâmetros. A seguir tem-se um breve resumo destes métodos, que são os mais indicados e os mais importantes para um sistema líquido/sólido, mais precisamente para a separação das lamas de perfuração: a) Sedimentação/Decantação: É usado para separar os componentes de misturas heterogêneas ou homogêneas, tanto de sistemas sólido/líquido ou líquido/líquido. Este método consiste em se deixar a mistura em repouso num tanque ou tubo e a substância com maior densidade, sob a ação da força da gravidade, formará a fase inferior e o com menor densidade ocupará a fase superior. Como por exemplo, a decantação é muito usada nas estações de tratamento de água, para precipitar os componentes sólidos que estão misturados com a água. b) Sedimentação/Centrifugação: É bastante utilizado para acelerar a sedimentação da fase densa de uma mistura constituída de um sistema sólido/líquido ou líquido/líquido. Este método consiste em utilizar um movimento de rotação da mistura em torno de um eixo de tal forma que o componente mais denso da mistura se deposite no fundo do recipiente. A separação acontecerá mais rapidamente, pois com o movimento de rotação do eixo, a força centrífuga atuará sobre a mistura acentuando a força da gravidade e, com isso, a separação acontecerá de forma muito mais rápida. Um exemplo deste método é a centrifugação utilizada na máquina de lavar roupa, na separação da água e do tecido das roupas. c) Filtração: A filtração é utilizada para separação de misturas heterogêneas, ou seja, um sistema sólido/líquido. A mistura passa através de um meio filtrante, que é um material ou meio poroso, e as partículas de maior diâmetro (parte dos sólidos) ficam retidas neste meio filtrante. Para que este meio seja eficiente, seus poros devem ter um diâmetro menor do que o diâmetro das partículas a serem retidas. Um exemplo do método de filtração bastante comum é o filtro de óleo lubrificante utilizado em automóveis, caminhões, máquinas e outros para impedir que o óleo lubrificante fique impregnado de partículas sólidas, o que dificultaria seu trabalho de lubrificação. 40 d) Destilação: É bastante indicada para separar misturas homogêneas, tanto para sistemas sólido/líquido quanto para líquido/líquido, e quando existe um interesse em ambas as fases. Este processo consiste em aquecer a mistura até se atinja o ponto de fusão do líquido fazendo-o entrar em ebulição. Assim o vapor irá evaporar e sairá pela parte superior do balão de destilação chegando ao condensador. No condensador, o vapor é refrigerado, normalmente pelo contato com uma superfície fria, e se condensa, voltando novamente ao estado líquido. Enquanto o líquido vai evaporando e condensando posteriormente, a mistura remanescente no tanque de destilação vai ficando cada vez mais saturada do sólido. 41 8. TESTES EM LAMAS DE PERFURAÇÃO O correto controle das propriedades da lama de perfuração é muito importante para sua preparação e manutenção. Apesar das lamas de base-óleo serem substancialmente diferentes das de base-água, muitos testes são realizados em ambas. Entretanto, as interpretações dos testes são diferentes. As lamas base-óleo, ainda, têm propriedades únicas como sensibilidade à temperatura, estabilidade da emulsão, que requerem outros testes. Com o propósito de se realizar ensaios e testes em amostras de lamas foram construídos dois equipamentos (o tanque de decantação e o evaporador) e, ainda será utilizado um outro equipamento já disponível (centrífuga). Estes equipamentos estão descritos abaixo: Decantação. Este método está baseado na diferença de densidade dos componentes de uma mistura. A permanência da mistura em um recipiente, através da força de gravidade e através de relações de solubilidade das fases da mistura, acontece a separação das fases. A substância mais densa formará a fase mais baixa e o menos denso ocupará a fase superior do recipiente. Este é um processo excessivamente lento, podendo levar vários dias até a separação entre as fases seja satisfatória. As figuras a seguir mostram o recipiente a ser utilizado na bancada de testes, um decantador de cerca de 40 litros. Pela dificuldade de obtenção de um grande volume de amostras, este decantador não foi utilizado nos ensaios; preferindose utilizar potes padrão menores como poderá ser visto posteriormente no trabalho. 42 Carcaça de ferro Recipiente de vidro Tanque montado FIGURA 11 - Desenho esquemático do tanque de decantação da bancada de testes Centrífuga: Usou-se uma centrífuga laboratorial constituída de quatro (4) barris que tem um movimento de rotação em elevadas velocidades, ao redor de um eixo, propiciando a separação das substâncias de diferentes densidades. O movimento de rotação confere uma ampliação gigantesca da força centrífuga imposta à mistura, fazendo com que a velocidade de separação seja bem maior do que a decantação. A Fig. 11 demonstra as forças atuantes no processo de centrifugação e a Fig. 12 mostra as fotos da centrífuga utilizada no ensaio. Força Centrífuga Velocidade tangencial, Vt Força Centrípeta Raio, r Velocidade angular, ω FIGURA 12 - Forças envolvidas em uma centrífuga (Brown, 1965) 43 FIGURA 13 - Fotos da centrífuga utilizada no ensaio Evaporador e condensador. O processo de evaporação é a passagem da fase líquida para a fase gasosa, que consiste em aquecer a mistura até uma certa temperatura fazendo com que a parte líquida evapore. Com a transformação em vapor, este gás tende a subir, sendo ele direcionado através de um tubo até um condensador. Assim, o gás formado no evaporador, se movimenta através de tubos e entra em contato com o condensador. Este condensador tem como função resfriar os vapores e, conseqüentemente, condensá-los em um outro tanque. As figuras a seguir ilustram o sistema de evaporador e condensador a ser utilizado. condensador coifa caixa de apoio recipiente FIGURA 14 - Desenho esquemático e foto do sistema evaporador e condensador Com o intuito de se processar alguns tipos de lamas de perfuração, três métodos de separação de misturas serão utilizados: decantação, centrifugação e queimador evaporação/condensação. 44 Sedimentação (decantação e centrifugação). Este método utiliza como fonte de separação a diferença de densidade entre os elementos constituintes de uma mistura. Portanto, os dois ensaios terão seus resultados analisados de acordo com o procedimento a seguir. Neste ensaio, tem-se o propósito de levantar as características de separação das lamas. O ensaio consiste em traçar um gráfico tendo como a abscissa o tempo transcorrido e como ordenada a altura da interface de separação. Este ensaio é baseado, segundo Foust (1982), nos trabalhos de Cloe e Clevenger, que mostram como resultado, a altura de interface em função do tempo, é possível se obter os coeficientes angulares da curva, que representam a velocidade de sedimentação ao longo do tempo e sua concentração de sólidos, como o gráfico a seguir. Altura da Interface [z] Ensaio de Sedimentação Zi ZL α θL θi Tempo [θ] Gráfico 1 - Ensaio de sedimentação (Interface de separação X Tempo transcorrido) Os principais parâmetros obtidos através deste gráfico são: Zi = Altura de interface tangente a curva; ZL = Altura de interface horizontal a curva; θi = Tempo de sedimentação tangente a curva; θL = Tempo de sedimentação vertical a curva; α = Coeficiente angular da curva (tgα = velocidade de sedimentação). Através dos resultados do gráfico 1, é possível se determinar as velocidades de sedimentação em cada ponto da curva. Outro dado importante é determinar a função que mais condiz com este ensaio, ou seja, a função que mais se aproxima da curva apresentada no ensaio. Com estes dados podemos determinar diversos parâmetros 45 importantes para se buscar a eficiência e a melhoria do processo de separação. Do mesmo modo, através deste ensaio, pode-se se determinar quais são os aditivos que mais infuenciam na separação dos componentes. Todo este trabalho visa reduzir a utilização de aditivos que dificultem a separação entre as fases líquidas e sólidas das lamas. Ensaio de evaporação e condensação. O ensaio de evaporação/condensação será feito com o aquecimento de uma mistura pré-definida de lama. E de tempos em tempos pré-determinados, a amostra colocada no recipiente deve ter seu peso anotado. Com o passar deste tempo e a uma certa temperatura de aquecimento, controlada pelo queimador, os componentes com menor ponto de ebulição irão evaporar. Esta taxa de evaporação será calculada através destes dados medidos ao longo de todo este processo. Com este ensaio espera-se encontrar uma relação entre os aditivos utilizados nas lamas e o tempo de evaporação necessário a esta amostra. O intuito é conhecer os aditivos que mais dificultam na rápida separação dos componentes e encontrar esta relação da taxa de separação com o aditivo empregado. Procedimento experimental. Em virtude da dificuldade da obtenção de amostras comerciais de lamas, foi necessária a confecção de algumas amostras em laboratório. Estas amostras confeccionadas apresentam os mesmos aditivos disponibilizados pela bibliografia do assunto. Os materiais a serem utilizados são: água (fase contínua), argila, amido de milho, polvilho e CMC (Carbometilcarboxi). Somente uma amostra a ser utilizada é que representa uma lama comercial obtida na empresa SCHLUMBERGER na base de Macaé/RJ. Por razões de sigilo industrial e concorrência acirrada pelo setor, esta amostra fabricada pela empresa MI SWACO não tem nenhuma identificação (tipologia e concentração) de seus componentes. Todos os aditivos, com exceção das argilas, já foram obtidos em uma granulometria e um teor de água adequados. As argilas foram obtidas em sua forma hidratada, com um teor de água elevado e na forma pastosa. Foi necessário passar esta argila por um processo de secagem (desidratação) em uma estufa na temperatura de 250oC por algo em torno de 6 horas.Com este processo, o teor de água da argila é praticamente zero, porém sua granulometria não era adequada para a sua utilização nas lamas, que é de grãos menores que 0,1 [mm]. As argilas tiveram que passar por um processo de moagem por dois métodos: por um moinho de bolas e 46 também por moagem manual (através de um moinho tipo Mortar). Para assegurar uma granulometria adequada, a argila desidratada e moída, foi classificada em uma peneira de malha espaçada de 0,1 [mm], finalizando a adequação da mesma. Com todos os materiais disponíveis, deve-se promover a mistura correta nas devidas proporções de peso e volume. Para que as misturas fossem mais bem homogeneizadas, utilizou-se um liquidificador. Na tabela 7 a seguir, estão detalhados os aditivos utilizados, dosagem, número e fase contínua das amostras a serem ensaiadas. TABELA 7 - Detalhamento das amostras a serem ensaiadas Número 1 2 3 4 5 6 7 8 Fase contínua Desconhecido * Água Água Água Água Água Água Água Aditivo 1 Argila Argila Argila Argila Argila Argila Argila Concentração 300 [g/l] 300 [g/l] 300 [g/l] 300 [g/l] 300 [g/l] 300 [g/l] 300 [g/l] Aditivo 2 CMC Amido Polvilho CMC Amido Polvilho Concentração 3 [g/l] 3 [g/l] 3 [g/l] 9 [g/l] 9 [g/l] 9 [g/l] * Após alguns testes realizados nesta amostra comercial pode se estimar que se trata de uma lama a base de óleo sintético complexa, com a presença de inúmeros aditivos, tais como bentonita, barita, óxido de ferro, viscosificantes, surfactantes e outros. 47 9. RESULTADOS OBTIDOS Foram realizados dois tipos de ensaios: sedimentação (decantação e centrifugação) e evaporação. Embora as amostras ensaiadas não representem exatamente as lamas comerciais utilizadas nas operações de perfuração, a partir destes experimentos, é possível alcançar alguns resultados preliminares; sendo assim, nos próximos tópicos estão detalhados os resultados obtidos, bem como conclusões e considerações pertinentes. Resultados do ensaio de decantação. Conforme o método de ensaio descrito anteriormente, as amostras foram colocadas em recipientes de decantação por um determinado tempo e suas interfaces (partindo-se de 7,5 [cm], altura da coluna homogênea no início dos experimentos) foram sendo anotadas ao longo do tempo. A seguir tem-se o gráfico 2, que foi construído com os dados deste ensaio; e, também, a Fig. 15, que mostra os recipientes de decantação e o número das amostras que foram ensaiadas. 8 1 - Amostra Comercial Altura da interface [cm] 7.5 2 - Água + Argila 7 6.5 3 - Água + Argila + CMC (3g/l) 6 4 - Água + Argila + Amido (3 g/l) 5.5 5 - Água + Argila + Polvilho (3g/l) 5 6 - Água + Argila + CMC (9g/l) 4.5 7 - Água + Argila + Amido (9g/l) 4 0 6 12 18 24 30 36 Tempo [horas] Gráfico 2 - Dados obtidos através dos ensaios de decantação 8 - Água + Argila + Polvilho (9g/l) 48 FIGURA 15 - Foto das amostras e dos recipientes utilizados no ensaio de decantação Resultados do ensaio de centrifugação. Este ensaio seguiu o mesmo procedimento do ensaio anterior. Na tabela 4 a seguir, tem-se os resultados encontrados para as interfaces de separação, bem como a rotação utilizada na centrífuga e as amostras correspondentes. Além da tabela, foram obtidas as curvas de sedimentação indicadas a seguir no gráfico 3; vale salientar que os dados utilizados foram somente de 0 a 360 segundos e com rotação de 1000 [rpm] para se obter curvas de separação mais precisas e lineares. Os recipientes utilizados (com uma altura inicial homogênea de 5,5 [cm]) foram iguais para todas as amostras e próprios para serem usados em centrífugas laboratoriais. n = 3000 n = 1000 [rpm] TABELA 8 – Detalhamento dos resultados obtidos no ensaio de centrifugação Tempo (seg) 1 2 3 4 5 6 7 8 60 5.5 4.2 4.0 3.6 3.9 5.5 4.4 3.5 120 5.5 3.5 3.7 3.3 3.3 5.3 3.9 3.2 180 5.5 3.0 3.5 3.0 3.1 5.2 3.7 3.0 240 5.5 2.8 3.3 2.9 3.0 5.2 3.4 2.9 300 5.5 2.7 3.2 2.8 2.8 5.2 3.3 2.8 360 5.5 2.6 3.1 2.8 2.7 5.2 3.3 2.8 960 5.5 1.8 2.7 2.4 2.3 5.0 2.9 2.7 1260 2.6 1.1 2.2 2.0 1.9 2.9 2.3 2.1 1560 2.5 1.1 2.0 2.0 1.9 2.7 2.1 2.1 49 6 1 - Amostra Comercial Altura da interface [cm] 5.5 2 - Água + Argila 5 3 - Água + Argila + CMC (3g/l) 4.5 4 - Água + Argila + Amido (3 g/l) 4 3.5 5 - Água + Argila + Polvilho (3g/l) 3 6 - Água + Argila + CMC (9g/l) 2.5 7 - Água + Argila + Amido (9g/l) 0 60 120 180 240 300 360 8 - Água + Argila + Polvilho (9g/l) Tempo [segundos] Gráfico 3 - Dados obtidos através do ensaio de centrifugação 8 7 6 5 4 3 2 FIGURA 16 – Recipientes e amostras utilizados no ensaio de centrifugação Conclusões e considerações. Dos ensaios de decantação e centrifugação, podem ser tiradas conclusões e considerações sobre o processo de separação das amostras disponíveis: • A amostra 1 (lama comercial) apresentou muita dificuldade de separação em ambos os ensaios. Por apresentar uma composição complexa e com um elevado teor de aditivos, esta lama comercial apresenta grande difícildade de separação satisfatório, mesmo em escala laboratorial. Por se tratar de uma amostra de lama comercial, pode-se prever as dificuldades que serão encontradas para a efetiva separação de seus constituintes; 1 50 • A amostra 6, com uma elevada dose de CMC, também tem grandes dificuldades de separação. Pode-se inferir que o CMC é um aditivo que, em doses maiores, dificulta visivelmente a separação desta amostra em questão. Isto mostra que para determinados tipos de aditivos utilizados nas lamas, os resultados podem ser insatisfatórios; • As amostras 2, 3, 4 e 5, por apresentarem baixos teores de aditivos (argila, CMC, amido e polvilho), tem uma separação mais rápida e eficaz. Além disto, o líquido separado é bem límpido e transparente e a interface é também bem nítida. A amostra 5 (água, argila e polvilho) foi a que teve a sedimentação mais acelerada. Portanto, pode-se notar que alguns aditivos, em determinadas doses, não prejudicam o processo de separação das lamas; • As amostras 7 e 8 tiveram uma boa velocidade de sedimentação. Porém, o líquido acima apresenta uma coloração turva e uma interface de separação não nítida (sobretudo na amostra 8). Portanto, para maiores doses de amido e polvilho, as amostras se mostraram com uma dificuldade de separação completa entre o líquido e os constituintes sólidos, fato este que o líquido não é límpido e transpárente como o de outras amostras; • Os ensaios de sedimentação mostraram-se efetivos para amostras (2, 3, 4 e 5) com teores menores de aditivos em sua composição. Já as amostras 7 e 8 tiveram resultados menos satisfatórios para um teores um pouco maiores de alguns aditivos. Porém, para amostras com elevados teores (1 e 6) devem ser estudados outros métodos de separação que sejam mais eficientes e satisfatórios para estes tipos de lamas. Resultado do ensaio de evaporação e condensação. Foi realizado apenas um ensaio preliminar de evaporação e condensação. Uma parte da amostra comercial (300 [g]), de composição desconhecida, foi aquecida e posteriormente condensada. O resultado do experimento foi que evaporou-se 55 [g] da amostra em 1 hora de teste e um forte cheiro de óleo sublimado ficou no ar, indicando uma boa capacidade de separação por este método. Por falta de tempo, outros ensaios não foram realizados e analisados. Para trabalhos futuros, recomenda-se testar também se as lamas são suscetíveis a reações de saponificação, durante o processo, visando uma maior separação das substâncias. 51 10. CONTAMINAÇÕES CAUSADAS PELAS LAMAS DE PERFURAÇÃO A indústria de petróleo de superfície (upstream), que conduz toda atividade de exploração e produção, provê os produtos essenciais do petróleo que são usados para combustíveis, geração de energia elétrica, calor, medicina, e petroquímicos. Estes usos do petróleo são os principais colaboradores para o nosso padrão de vida atual. As atividades de procura e produção de petróleo, entretanto, podem impactar o meio ambiente, e o maior impacto vem do descarte de resíduos no meio ambiente em concentrações que não são normalmente encontradas. Estes resíduos incluem hidrocarbonetos, sólidos contaminados com hidrocarbonetos, água contaminada com uma variedade de sólidos dissolvidos e suspensos, e grande variedade de produtos químicos. Enquanto alguns destes resíduos podem ter efeitos adversos significativos no meio ambiente, outros têm impactos pequenos, e outros são até benéficos. Virtualmente em todos os casos, o impacto adverso pode ser minimizado ou eliminado através da implantação de gerenciamento adequado dos resíduos. O passo mais importante na minimização dos impactos no meio ambiente é a indústria ter uma aproximação pró-ativa para gerenciar as operações e tomar conhecimento sobre estas atividades que podem prejudicar o meio ambiente. A aproximação pró-ativa busca adotar uma atitude de responsabilidade ambiental, não apenas para cumprir com as regulamentações, mas também para realmente proteger o meio ambiente durante a atividade. A contaminação pode ocorrer em uma extensão variável, dependendo da natureza da amostra e das condições de perfuração. Os principais mecanismos de contaminação das amostras geológicas pela lama de perfuração incluem: - Invasão das camadas exteriores dos sedimentos por ação capilar. Isso ocorre porque durante a perfuração de um poço, a pressão hidrostática da coluna de lama deve ser maior do que a pressão dos fluidos nos poros da formação, para impedir que estes fluidos penetrem no poço e conseqüentemente, a lama tende a invadir as formações permeáveis. Durante este processo, os sólidos em suspensão na lama 52 aderem às paredes do poço formando um bolo de filtração com permeabilidade tão baixa quanto possível, através do qual somente o filtrado da lama pode atravessar. Desta maneira, quanto menor for a permeabilidade do bolo de filtração, menos filtrado de lama penetra nas formações e portanto menor é o dano (contaminação) causado aos fluidos presentes nas formações, pela percolação do filtrado (GRAY, DARLEY e ROGERS, 1980). - introdução dentro de fraturas presentes em testemunhos ou testemunhos laterais (sidewall cores). Nesse caso a contaminação também se da por ação capilar durante a obtenção do testemunho. 53 11. ASPECTOS AMBIENTAIS DO FLUIDO DE PERFURAÇÃO Nos últimos anos muita atenção tem sido dada aos aspectos ambientais da operação de perfuração e aos componentes de seu fluido. Há uma grande preocupação com a possibilidade de poluir reservatórios de águas subterrâneas e causar danos aos organismos marinhos assim como os efeitos sobre a produtividade do solo e qualidade da água, estimulando estudos nesta área. Muitos dos resíduos e materiais associados com as atividades de perfuração e produção causam impacto ao meio ambiente. O impacto potencial depende principalmente do material, sua concentração depois de descartado, e a comunidade biótica que está exposta. Alguns riscos ambientais podem ser significativos, enquanto outros são muito baixos. Planejamento apropriado, arranjo e controle de cada fase da operação de perfuração, levando em conta os aspectos ambientais da atividade como parte integral do empreendimento, pode ajudar a evitar, minimizar e mitigar os impactos. As principais categorias de impactos ambientais potenciais estão relacionados abaixo: • Emissões: descartes operacionais e vazamentos; • Efeitos no ecossistema relacionados a habitat: deterioração (pertinentes especialmente com terras úmidas da costa, recifes de corais e mangues); distúrbios por barulho e iluminação excessiva; interferência com áreas de alimentação ou reprodução e rotas migratórias; e desenvolvimento de novos habitats artificiais na ou em torno da estrutura da plataforma; • Efeitos geomorfologicos: subsidencia em áreas costeiras; • Riscos a consumidores humanos de frutos do mar contaminados. A medida mais comum do potencial de impacto ambiental de um material é a toxicidade. A toxicidade ocorre quando um material causa um efeito nocivo em um organismo, população ou comunidade. Estes efeitos podem variar de desordem 54 temporária a morte. Porém outras medidas comuns são a biodegradação, a bioacumulação e a bioconcentração. 11.1 Toxicidade do Fluido de Perfuração Existem três mecanismos de contribuição à toxicidade em fluidos de perfuração: tratamento químico da lama, armazenamento e rochas perfuradas. O primeiro grupo é conhecido como o melhor porque inclui produtos adicionados ao sistema para construir e manter a reologia, e estabilidade dos fluidos de perfuração. A toxicidade de uma substância é uma medida de como isto prejudica a saúde dos seres vivos expostos à substância. Na maioria dos casos, os efeitos destas substâncias na vida e saúde dos homens são de grande importância. A toxicidade é determinada através de “bioassays”, expondo animais de laboratório a diferentes quantidades da substancia em questão. A toxicidade dos fluidos de perfuração influencia diretamente no impacto ambiental sobre a comunidade marinha. O teste de ecotoxicidade dá informações sobre os possíveis efeitos do fluido na biota, e também uma base para saber sua aceitação ambiental. Os testes de ecotoxicidade são baseados nos efeitos da toxicidade. Vários índices de toxicidade como LC50 ou EC50 podem ser usados como meios de medir a toxicidade relativa. LC50 refere-se a concentração letal requerida para que 50% dos organismos do grupo de teste morra após um período especifico de tempo. Similarmente, EC50 refere-se a concentração do fluido de perfuração que causa 50% de inibição de crescimento. Os testes devem ser feitos em fluidos representativos daqueles usados. 11.2 - Biodegradação Biodegradação é uma importante característica dos fluidos de perfuração para assegurar que estes não irão persistir no meio ambiente por longos períodos de tempo. As taxas de biodegradação são influenciadas por fatores como temperatura da coluna d´água, concentração dos fluidos, área da superfície da pilha de cavacos, e 55 tamanho das partículas de sedimento. Apesar de uma alta biodegradabilidade ser desejável, altas características de biodegradação podem não necessariamente resultar em maior aceitação ambiental do fluido. Por exemplo, uma rápida biodegradação pode também ter um efeito adverso no meio ambiente, aumentando rapidamente a demanda de oxigênio e reduzindo a disponibilidade de oxigênio para a vida marinha. Os resultados do teste de biodegradação para fluidos sintéticos indicaram que os ésteres geralmente biodegradam mais rapidamente que outros fluidos de base sintética. A persistência e extensão da pilha de cavacos e sua subseqüente degradação são de grande preocupação no descarte de cavacos de perfuração, contendo fluidos não aquosos, no mar. Um dos primeiros objetivos do desenvolvimento de fluidos de base sintética foi maximizar a taxa de biodegradação para minimizar os impactos ambientais potenciais, basicamente aumentando a taxa de recuperação da fauna bentônica. Os resultados dos testes de biodegradação mostram que: • A taxa de degradação é inversamente proporcional à concentração dos fluidos de base não aquosa nos sedimentos; • A degradação ocorre mais rapidamente em condições aeróbicas do que anaeróbicas; • O tipo de sedimento é um determinante da taxa de degradação; • A avaliação completa da degradação deve ter taxas sob condições anaeróbicas e aeróbicas. O oxigênio disponível é a chave para determinar a taxa de biodegradação dos fluidos de base não aquosa no meio ambiente marinho. As características físicas e químicas da pilha de cavacos são dependentes da natureza da operação de perfuração, do tipo, quantidade e concentração dos fluidos de base não aquosa nos cavacos, da profundidade da água, da temperatura da coluna d´água e energia local do ambiente onde a descarga ocorre. 56 No entanto, persistência e efeitos só podem ser devidamente (corretamente) determinados casos por caso, preferencialmente com estudos de campo. 11.3 – Bioacumulação/Bioconcentração Bioacumulação refere-se tipicamente a ingestão e retenção de um xenobiótico por um organismo de seu habita natural. Bioconcentração se refere a acumulação de um contaminante na rede alimentar resultante da ingestão e depuração. Os termos biodegradação e bioacumulação não podem ser separados e são usados, geralmente, como sinônimos. Quando se está testando o potencial para bioacumulação, a taxa de ingestão e depuração dos organismos testados deve ser considerada. A rápida depuração pode reduzir o potencial para bioacumulação. A bioconcentração pode ser expressa como fator logaritmo de bioconcentração, que é a razão entre a concentração nos tecidos dos organismos e a concentração no ambiente. A bioacumulação e a bioconcentração de produtos químicos e fluidos de perfuração pela biota marinha pode ter conseqüências ecológicas significativas especialmente quando isto é biomagnificado pela cadeia alimentar. 11.4 - Controle de Sólidos O sistema de lama consiste do sistema de lama de sub superfície e o de superfície. O sistema de sub superfície consiste somente do furo do poço e da coluna de perfuração, e seu volume cresce com a taxa de perfuração mais a taxa de escavação. O sistema de superfície inclui o equipamento e os tanques, através dos quais a lama de perfuração passa depois que sai do poço e antes de ser rebombeada para dentro do poço. 57 A adição inevitável de sólidos vem do influxo continuo de “cavacos” no sistema de lama. O sistema de superfície é utilizado para restaurar a lama, antes de esta ser bombeada para o poço. A maioria dos equipamentos é usada para remoção de sólidos, só uma pequena parte deste sistema é voltada para o tratamento dos contaminantes químicos da lama. Existem três maneiras básicas de remoção dos sólidos perfurados da lama: tratamento químico, remoção química e diluição-descarte. 11.5 - Tratamento dos sólidos contidos nas lamas de perfuração Durante a perfuração, existe uma infinidade de materiais que retornam junto com a lama na linha de retorno, tais como: fragmentos de rochas (cavacos), areia, argila, sólidos suspensos, sólidos dissolvidos e outros. É necessário separar a lama destes materiais, pois eles são considerados contaminantes da lama, impedindo-a de exercer suas funções. E também, repor nesta lama alguns aditivos, tentando recolocar a lama nas condições de operação necessárias a perfuração. Existe uma enorme questão ambiental no tratamento das lamas de perfuração, pois dependendo do tipo e da formulação química destes materiais, sejam eles aditivos ou cavacos, tornarão a lama extremamente poluente. Ou seja, tanto para a reutilização em contínuas perfurações quanto para o descarte da lama, será necessário algum tipo de separação e tratamento. 58 12. REUSO DOS CAVACOS DE PERFURAÇÃO Os cavacos da perfuração são formados por fragmentos de rocha revestidos com uma amada de fluido de perfuração. A maioria destes cavacos é rejeitada, entretanto muitos são tratados e beneficamente reaproveitados. Antes que os cavacos possam ser reusados, é necessário assegurar que o índice de hidrocarboneto, o índice de umidade, a salinidade e índice de argila dos cavacos sejam apropriados para o uso pretendido do material. Alguns cavacos, particularmente quando uma lama de água salgada foi usada para perfurar o poço, podem necessitar de lavagem para remoção dos sais dissolvidos antes de um uso benéfico. A água usada para a lavagem pode ser descartada em um poço de injeção. Os principais tipos de uso dos cavacos são: a) Uso como “Asfalto” de estrada: um uso dos cavacos é estabilizar superfícies que estão sujeitas a erosão, tal como estradas. Cavacos oleosos tem a mesma função que a superfície tradicional da estrada de piche e micro plaquetas. Nem todas as agencias reguladoras permitem este uso. Onde isto é permitido, os operadores devem obter permissão da agencia reguladora e do latifundiário antes de dispor aleatoriamente os cavacos. Os operadores devem certificar-se de que os cavacos não estão espalhados próximo dos cruzamentos de córrego ou em inclinações muito íngremes. As taxas de aplicação devem ser controladas de modo que nenhum óleo apareça na superfície da estrada. b) Uso como Material de Construção: após a separação preliminar na peneiras vibratórias, os cavacos ainda estão revestidos com lama e são relativamente difíceis de reusar para fins de construção. Várias etapas de tratamento podem ser empregadas para tornar os cavacos mais inócuos. Alguns cavacos são tratados termicamente para remover as frações de hidrocarbonetos, deixando um material sólido relativamente limpo. Outros cavacos são peneirados ou filtrados para remover a parte líquida da lama que está agregada. Se os cavacos contêm muito líquido, eles podem ser estabilizados adicionando cinza, cimento ou algum outro material para facilitar sua manipulação. Os cavacos tratados têm sido usados em diversas situações, como: 59 - material de preenchimento; - material de cobertura em campos; - agregado no concreto, tijolo ou bloco manufaturado. Outras aplicações possíveis incluem o uso em pavimentação de ruas, betume e asfalto ou uso em cimento manufaturado. Uma outra aplicação nova para resíduos da perfuração é o uso destes como substrato para restaurar terras úmidas. Muitos projetos foram criados para testar a praticidade de tratar os cavacos e usa-los para ajudar a recuperar áreas danificadas na Louisiana. A primeira parte do trabalho envolve experimentos de efeito estufa, no qual varias espécies de plantas de terras úmidas cresceram em cavacos tratados e sedimentos dragados (substrato típico usado nas operações de restauração das terras úmidas). Os resultados indicaram que cavacos devidamente tratados crescem vegetação de terras úmidas tão bem quanto o material dragado. Entretanto, nem o Corpo de Engenheiros da marinha norte-americana nem a Agência de Proteção Ambiental (EPA) americana emitiram uma permissão para conduzir uma demonstração de campo. Para constar, nenhuma demonstração de campo deste promissor gerenciamento de resíduos foi tentado nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar, mas é provável que na próxima década este enfoque será testado em algum lugar. Como uso combustível, diversos testes têm foram conduzidos no Reino Unido usando cavacos oleosos como combustível em uma planta de geração. Os cavacos foram misturados em uma taxa baixa com o carvão, a fonte primária do combustível. A cinza resultante foi quase a mesma de queimar apenas o carvão. Estações de geração devem estar localizadas próximas de pontos onde os cavacos são originados ou são trazidos para terras de operações no mar, para minimizar a necessidade de transporte dos cavacos. 60 13. COMENTÁRIOS FINAIS As lamas são vitais e decisivas nas operações de perfuração. Sendo assim, seria preciso se fazer um extenso trabalho de revisão bibliográfica para conhecer mais profundamente as lamas de perfuração, sua importância, funções exercidas, características necessárias e outros. Com o intuito de se processar as lamas, foi necessário conhecer todos os aspectos que envolvem sua utilização, focando-se nos aditivos e elementos adicionados às fases contínuas (água ou óleo). Após este estudo teórico, alguns experimentos práticos foram realizados com o propósito de se medir a capacidade de separação dos mais variados tipos de lamas existentes. Nestes experimentos, foram empregados três tipos de métodos de separação: decantação, centrifugação e evaporação/condensação. Como previsto no início do trabalho, por se tratar de um tema pioneiro para a universidade e para o orientador, passou-se bastante tempo para conseguir uma base de conhecimentos e informações sobre o assunto. Sendo assim, a busca de referências bibliográficas para uma melhor conceituação teórica é algo primordial para a qualidade e experimentos que venham a serem realizados posteriormente. Neste trabalho observou-se que o tempo utilizado com a realização de experimentos poderia ter sido maior, fato este que recomenda uma continuação do trabalho num futuro próximo. Porém, resultados preliminares foram alcançados visando contribuir para uma base de conhecimentos mais sólida e prática possível sobre o assunto. Outra dificuldade observada no trabalho foi obter amostras de lamas comerciais utilizadas na prática, bem como especificações de seus componentes (tipologia e níveis de concentração). Os resultados preliminares obtidos mostram que a separação das substâncias constituintes das lamas é algo complicado, e que precisa ser mais bem estudado e analisado. Os ensaios realizados demonstram que quanto maior a complexidade da lama, mais demorada é a sua separação, independendo do método de separação utilizado. Além disto, o trabalho indica que as centrífugas apresentam velocidades de separação mais rápidas, porém a vazões menores. Para trabalhos posteriores, recomenda-se realizar novos experimentos com outros aditivos ou com uma mistura diferente do que foi realizada. Além disso, 61 aconselha-se destinar mais tempo e recursos para a realização dos experimentos partindo-se da base de conhecimentos teóricos disponível atualmente. O passo mais importante na minimização dos impactos no meio ambiente é a indústria ter uma aproximação pró-ativa para gerenciar as operações e tomar conhecimento sobre estas atividades que podem prejudicar o meio ambiente. A aproximação pró-ativa busca adotar uma atitude de responsabilidade ambiental, não apenas para cumprir com as regulamentações, mas também para realmente proteger o meio ambiente durante a atividade. 62 REFERÊNCIAS BROWN, G. G.,(1965), “Operaciones básicas de la Ingeniería Quimica”, 1ª Edição, Editora Marín SA, Barcelona, Espanha. DARLEY, H. C. H., GRAY, GEORGE R. (1988). Composition and properties of drilling and completion fluids. 5 ed. Gulf Publishing Company. DAVIES, J.M, BEDBOROUGH,D.R, BLACKMAN, R.A.A, ADDY, J.M, APPELBEE,J.F, GROGAN, W.C, PARKER,J.G AND WHITEHEAD,A. (1988). The Environmental Effect of Oil-based Mud Drilling in theNorth Sea. In: Drilling Wastes. Proc. Int. Conf. 1988 (Eds: J.P. Rayjp, Englehert, F.R), pp.59-89. Elsevier Science Publ. DEVEREUX, S. (1999). Drilling technology in nontechnical language. DURRIEU J., ZURDO C., BENAISSA S. 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