1 Estudo comparativo do campo elétrico do cabo coaxial XLPE e da barra retangular em máquinas conversoras de energia Caio C. N. Rodrigues¹, Prof. Dr. Jorge Tomioka, CECS, UFABC 1 2 Graduando do curso de Engenharia de I.A.R., UFABC Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas, UFABC Index Terms— Energia, Maquinas Conversoras, Campo Elétrico, Descargas Parciais, Cabo Coaxial, Estator em Barra. I. INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo realizar um comparativo em específico sobre campo elétrico entre as principais configurações de estator de maquinas conversoras de energia elétrica, barras retangulares, encontrado na maioria das maquinas conversoras convencionais, e o estatores que utilizam cabos coaxiais de alta tensão, utilizados em maquinas conversoras como o Powerformer desenvolvido pela empresa suiça ABB. Serão abordados também técnicas de mensura de potenciais elétricos, que se apresenta como uma grande fonte de dados sobre o campo eletrostático, assim como o monitoramento de descargas parciais, um dos principais indicadores de problemas no isolamento do equipamento. MODELO CAMPO ELÉTRICO PARA CABO COAXIAL Um cabo coaxial é basicamente formado por um condutor concêntrico a uma malha material condutor, ambos recobertos por um composto isolante, na grande maioria dos casos polietileno, como pode ser visto na Figura 1. A malha atua como uma blindagem não permitindo nenhum tipo de interferência entre os meios interno (cabo) e externo (meio), incluindo o campo elétrico, que é nulo fora do cabo. Figura 2 - Esquematização do Problema envolvendo Cabo Coaxial Se considerarmos que o condutor interno (superfície de raio Ri) está exposto a potencial elétrico Vo, e a malha (superfície de raio Re) está a um potencial elétrico de 0 V, temos que o potencial (em V) entre os condutores é: O Campo Elétrico (em V/m) entre os condutores, que se apresenta de forma radial, é dado pela seguinte relação: Figura 1- Composição básica de um Cabo Coaxial Para efeito de simplificação, consideraremos o comprimento axial z (comprimento do cabo) é maior que o raio, assim temos que os potencias e campos são aproximadamente independentes ao comprimento z. Este caso apresenta simetria circular, portanto a distribuição de linhas potenciais e de campos são uniformes, permitindo determinar o potencial elétrico e o campo elétrico em função de um raio r. O esquema apresentado na Figura 2 mostra os principais elementos do problema: o raio interno Ri, o raio externo Re e o comprimento axial z. MODELO DE CAMPO ELÉTRICO PARA BARRA RETANGULAR Nos estatores em barra, comumente utilizado em maquinas de geração de energia, pode-se observar a ocorrência de um fenômeno de concentração de campo nas extremidades do condutor. Isso se deve, principalmente, a brusca mudança da geometria do condutor, como pode ser notado Figura 3. De acordo com dados coletados estatisticamente, cerca de 95% das avarias ocorridas, ocorrem nos cantos de estatores, devido a este fenômeno. 2 Vb, Vc, Vd e Ve, são localizados em um dos vértices dos quadrados, como demostrado na Figura 4. Figura 3 - Diagrama simplificado barra do estator A analise da distribuição de campo em barra de estator se demonstra muito complexa, sendo necessária a utilização de métodos numéricos como o de elementos finitos. Várias são as maneiras de realizar a analise da distribuição do campo, entretanto a resultados, em principio, são os mesmos: • O campo nos cantos é mais intenso que o campo médio Ea= U⁄d (onde U é a tensão aplicada no isolante e d é a espessura do isolante); • O campo máximo Em é orientado na direção 45º; • O fator de não uniformidade do campo nas extremidades fm é dado pela relação: fm=Em⁄Ea , que está relacionada aos parâmetros d(espessura do isolante) e r (raio do canto do condutor); Utilizando o método de elementos finitos [1] ou através de evidencias experimentais[2] pode-se chegar a equações muito semelhantes, sendo as equações abaixo obtidas pelo segundo meio: II. MÉTODO ITERATIVO PARA OBTENÇÃO DE POTENCIAL ELÉTRICO A medição de Potencial Elétrico é uma grande fonte de informações sobre o campo eletrostático e um método de obtenção de Potencial Elétrico muito utilizado é o Método Iterativo. Através deste método é possível a obtenção de resultados com qualquer precisão desejada, porém quanto maior a precisão, mais extensa é a quantidade de cálculos necessária para a determinação da grandeza, fazendo-se necessária a utilização de recursos computacionais. Entretanto, para a utilização deste método é necessário que o potencial elétrico não varie em uma direção, ou seja, o problema apresente uma variação bidimensional do mesmo. Como exemplo, consideraremos que no problema em questão não haja variação de potencial na direção do eixo z, e iremos dividir o plano formado por x e y por diversos quadrados de dimensões h de altura e comprimento, onde os pontos desconhecidos de potencial, definidos por Va, Figura 4 – Diagrama do Problema O método em si se resume a utilizar a equação descrita abaixo, que pode ser obtida através da equação de Laplace e considerando a região livre de cargas e com um dielétrico homogêneo, para cada ponto da matriz, varrendo a mesma da esquerda para direita, de cima para baixo, excluído a primeira e ultima linhas, assim como a primeira e ultima colunas, uma vez que estas são os valores de contorno do problema. Para uma maior eficiência nos cálculos, pode-se utilizar alguns passos adicionais ao método, que consistem em uma preparação previa dos valores de potencial nos extremos da matriz, através de uma média aritmética entre os potenciais nas arestas. Empiricamente, o método aqui descrito tem uma fácil implementação em um algoritmo para a utilização de recursos computacionais, porém, sem a utilização dos passos descritos para o calculo manual, necessita-se de uma alta quantidade maior de cálculos para ser resolvido. Para exemplificar, vamos imaginar uma situação onde um espaço bidimensional está exposto a um potencial elétrico de 100 V acima, e nos demais lados, a um potencial de 0 V, e queiramos determinar os potenciais Va e Vb. Para uma melhor aproximação, nos cantos iremos realizar uma média aritmética entre os potenciais vizinhos para assim determinarmos seus valores. Na Figura 5 temos a diagramação do problema, e a sua respectiva distribuição de potencial. Figura 5 - Diagrama do Exemplo e Curva Equipotencial Obtida 3 Ao utilizarmos este método em comparação com o valor exato, obtido por uma série de Fourier, temos: Estimativa Original M. I. com Grade 4x4 M. I. com Grade 64x64 Exato Va 25 V 25 V 25 V 25 V Vb 53,2 V 52,6 V 54,05 V 54,05 V diversos aspectos que merecem atenção para uma aquisição de dados precisa e exata. Entre elas podemos destacar o capacitor de acoplamento, fonte de alta tensão externa - para os casos em que a medição for off-line -, impedância de medição – determinada devido ao equipamento-, distância física do equipamento sob teste – referente a atrasos devido ao meio de transmissão dos dados -, supressão de ruídos, freqüência de medição, aterramento e calibração. CONCLUSÃO Tabela 1 - Potenciais Va e Vb do Problema Proposto III. MONITORAMENTO DE DESCARGAS PARCIAIS Descarga parcial (DP) é uma descarga elétrica que ocorre numa região do espaço sujeita a um campo elétrico, cujo caminho condutor formado pela descarga não une os dois eletrodos de forma completa. Em equipamentos elétricos de alta tensão, se caracterizam por pulsos de corrente de alta freqüência que ocorrem no interior dos mesmos, e são, originadas pelo processo de ionização do meio gasoso, que geralmente são bolsas ou bolhas de ar no isolante, submetido a um elevado campo elétrico. A Descarga Parcial é notada no isolamento de um equipamento elétrico através de um trem de pulsos de corrente de alta freqüência, da ordem de kHz até GHz, superpostos à tensão aplicada no equipamento. Por se tratar de um sinal de alta freqüência podemos utilizar um circuito[3], como sugerido na Figura 6, em específico para equipamentos de baixa freqüência - geralmente 60 Hz -, para realizar as medições deste tipo de fenômeno. Com este estudo pode-se observar que a utilização de estatores constituídos de cabos de alta tensão são uma boa opção aos estatores em barra. A configuração em barra há o problema da intensificação do campo elétrico nas extremidades, que causa um maior estresse ao isolante nestes pontos, ao decorrer do tempo, proporcionando o aparecimento de Descargas Parciais, e mesmo o rompimento deste, enfim deteriorando o equipamento. Em enrolamentos de estator que utilizam cabos coaxiais, a distribuição do campo se faz de forma uniforme, o que proporciona ao material isolante uma uniformidade ao estresse a que o mesmo está exposto, além da minimização do risco de descargas parciais, uma vez que o enrolamento do estator está totalmente isolado. Outro fato importante é o tipo de isolante utilizado, nos estatores em barra, o isolante utilizado é o composto solido epóxi-mica, que durante sua aplicação pode ocasionar bolhas, além de suportar uma menor intensidade de campo elétrico (de 3 a 9 kV/mm) frente ao polietileno XLPE, utilizado nos cabos coaxiais (10 kV/mm)[4]. Na Figura 7 temos uma representação gráfica da variação do estresse pelo espaço nos dois materiais. Figura 6 - Circuito de Medição Descarga Parcial Ao acoplarmos um capacitor Ca e uma resistência Ra em um dos enrolamentos do estator, este ramo atuará como um filtro tipo passa-altas, e a intensidade da DP pode ser conferida sobre o resistor. Para realizar a caracterização do defeito no isolamento, também é conveniente registrar os pulsos de DP em função da fase da tensão aplicada através do ângulo de fase na senóide. Para obter este sinal de sincronismo, podemos utilizar um divisor de tensão capacitivo formado por C1 e C2, fazendo com que este sinal provenha da alimentação do circuito, ou um transformador de potencial conectado ao equipamento, ou ainda, a tensão de alimentação do sistema de monitoramento. Os sinais obtidos devem seguir para um equipamento de medição onde serão processados e registrados digitalmente. Este método de monitoramento, embora simples, tem Figura 7- Representação gráfica de estresse pelo Campo Elétrico. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] Zhang Ruijun, Liu Shanchun. Numerical Analysis of Electrical Field in Stator Slot Winding of Large Generator with High Voltage, 1980. Guo Zhongyuan. Study on the Test Method for High Voltage Performace of High Voltage Large Electrical Machine Insulation, 1985. Amorim, H.; Levy, A.; Tomaz, A.; Rodrigues, J. A.; Sanz, J. Medições de Descargas Parciais no Campo - Aspectos Praticos em Geradores e Motores, XIII ERIAC, maio de 2003 Al-Halabieh, S., Powerformer, Electrical Power Engineering Seminar, Lappeenranta University of Technology,13 de abril de 1999.