11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas
SELEÇÃO DE INIMIGOS NATURAIS DE ÁCAROS-PRAGA DE PINHÃOMANSO: TESTANDO AS TEORIAS DE COMPETIÇÃO APARENTE E
PREDAÇÃO INTRAGUILDA.
Nome dos autores: Renata Vieira Marques; Renato de Almeida Sarmento.
1
Aluno do Curso de Engenharia Florestal; Campus de Gurupi; e-mail: [email protected] “PIBIC/CNPq”
Orientador(a) do Curso de Engenharia Florestal; Campus de Gurupi; e-mail: [email protected]
2
RESUMO
O pinhão-manso (Jatropha curcas L.) apresenta excelentes perspectivas para a produção de
biodiesel, porém, no plantio em larga escala, a planta tem sido atacada por duas espécies de ácaros
fitófagos: Polyphagotarsonemus latus e Tetranychus bastosi. Foram identificados os ácaros
predadores Euseius concordis e Iphiseiodes zuluagai em associação com os ácaros-praga acima
descritos. A ocorrência simultânea desses predadores em plantas nativas de pinhão-manso sugere que
esses predadores possuem presas em comum (P. latus e T. bastosi) e dessa forma podem interagir por
meio da predação intraguilda, Foi verificado o efeito positivo de uma mistura de dietas composta por
P. latus e T. bastosi sobre a reprodução dos inimigos naturais (I. zuluagai e E. concordis). O trabalho
estudou se predadores (I.zuluagai e E. concordis) alteram seu forrageamento buscando misturar suas
dietas, se isso melhora sua capacidade de reprodução e desenvolvimento e se ocorre predação
intraguilda do ácaro I. zuluagai sobre o ácaro E. concordis. Os predadores I. zuluagai e E. concordis
alteraram seus forrageamentos a fim de misturar suas dietas entre as pragas T. bastosi e P. latus.
Ocorreu predação intraguilda do ácaro I. zuluagai sobre ninfas de E. concordis e a manuntenção do
pólen favorece o controle biológico.
Palavras-chave: Jatropha curcas; ácaros fitófagos; predação intraguilda;
INTRODUÇÃO
O pinhão-manso (Jatropha curcas L.) apresenta excelentes perspectivas para a produção de
biodiesel. No entanto, o plantio de J. curcas em larga escala, tem gerado problemas divido o ataque
do ácaro Polyphagotarsonemus latus Banks (Acari: Tarsonemidae), conhecido popularmente como
ácaro-branco, e o ácaro Tetranychus bastosi Baker & Pritchard (Acari: Tetranychidae).
Em levantamentos já realizados, foram identificados os ácaros predadores Euseius concordis
Chant (Acari: Phytoseiidae) e Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma (Acari: Phytoseiidae) em
associação com os ácaros-praga acima descritos em plantas nativas de J. curcas. A ocorrência
simultânea desses predadores em plantas nativas de J. curcas sugere que esses dois predadores
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possuem presas em comum (P. latus e T. bastosi) e dessa forma podem interagir por meio da
predação intraguilda, o que pode afetar negativamente em programas de controle biológico das
referidas pragas. No plano de trabalho anterior (período 2010/2011 da bolsa) foi verificado o efeito
positivo de uma mistura de dietas composta por P. latus e T. bastosi sobre a reprodução dos inimigos
naturais (I. zuluagai e E. concordis).
Sabe-se que os animais balanceiam suas dietas para maximizar sua capacidade de
sobrevivência e reprodução (HAMMEN et al., 2012). O presente trabalho estudou se predadores (I.
zuluagai e E. concordis) alteram seu forrageamento buscando misturar suas dietas, e assim melhorar
a capacidade reprodução e desenvolvimento. Além de estudar se ocorre predação intraguilda do ácaro
I. zuluagai sobre o ácaro E. concordis.
MATERIAL E MÉTODOS
Experimentos de Preferência Alimentar
Em experimentos anteriores foi encontrado um efeito positivo, quando oferecida uma dieta
mista com ninfas de T. bastosi e P. latus. Entretanto no sistema estudado sabe-se que o ácaro P. latus
ataca preferencialmente folhas jovens. Já o ácaro T. bastosi ataca preferencialmente a região mediana
da planta (FLECHTMAN, 1972). Um experimento posterior foi feito para estudar o comportamento
do predador quando oferecido simultaneamente, mas em recipientes separados, ácaros T. bastosi e P.
latus. Assim um experimento foi desenvolvido com intuito de avaliar se o predador se desloca entre
os recipientes a fim de misturar sua dieta.
O experimento foi conduzido em placas de petri (Ø = 9 cm), onde foi colocada uma camada
de algodão umedecido. Sobre o algodão foi colocado uma folha de pinhão-manso contendo 30 ovos
de P.latus, e em outra placa, 30 ovos de T.bastosi. Este tratamento foi denominado P. latus x T.
bastosi. As placas contendo os ácaros-pragas foram interligadas por uma ponte de plástico
transparente (8 x 0,5 cm), simulando a disposição das folhas na planta de J. curcas. Como controle
foram feitos tratamentos contendo a mesma espécie de ácaro-praga dos dois lados (P. latus x P.latus
e T. bastosi x T. bastosi). Uma fêmea com oito dias de cada ácaro predador foi colocada na ponte e
observada em qual lado ela se alimentou. O experimento foi realizado com dez repetições. A
avaliação estatística foi feita por Modelos Lineares Generalizados (GLM) com distribuição binomial.
Após 48horas foi avaliada a taxa de oviposição do predador com o teste Kruskal-Wallis.
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Experimento de Predação Intraguilda
Muitas teorias de predação intraguilda predizem que o predador-intraguilda se alimenta da
presa-intraguilda e de um recurso compartilhado (pólen) no mesmo tempo (MONTESERRAT et al.,
2008). Portanto, a predação intraguilda do I. zuluagai sobre o E. concordis foi medida tanto na
presença quando na ausência do recurso compartilhado (pólen). Arenas de plástico (7.5 x 7.5cm)
foram posicionadas dentro de placas tipo GERBOX@, as quais foram preenchidas com água. Uma
fêmea de I. zuluagai (9 dias de idade) e 30 ninfas de E. concordis (3 dias de idade) foram colocadas
sobre as arenas, com ou sem pólen. Depois de 48h a taxa de predação e oviposição de I. zuluagai
sobre E. concordis foi avaliada. Como controles foram usadas arenas com 30 ninfas de E. concordis
sem I.zuluagai e arenas somente com I.zuluagai e o pólen para acessar a oviposição. O número de
ninfas mortas de E. concordis (Transformação logarítima) e o número de ovos (transformação
logarítima) de I. zulugai foram analisados usando ANOVA. As médias foram comparadas com o
teste de Tukey (LSD) usando o programa estatístico R (R Development Core Team 2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Experimentos de Preferência Alimentar
A observação da distribuição do ácaro predador E. concordis entre os discos com as duas
espécies de presa mostrou que inicialmente este ácaro predador teve preferência pelo disco com P.
latus, mas esta tendência se alterou, mostrando que o predador não possui preferência entre as duas
presas (GLM, Deviance = 8.808, d.f. = 1,28, P = 0.002999) (Figura 1a). A mudança de escolha
também é observada para I. zuluagai (GLM, Deviance = 7.4632, d.f. = 1,28, P = 0.006297) (Figura
1b.).
Ou
seja,
os
ácaros
predadores
forrageiam
a
fim
de
misturar
suas
dietas.
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Figura 1 Frequência de escolha do predador E. concordis (a) e I. zuluagai (b) às diferentes presas oferecidas durante 24h.
As barras brancas demonstram que o predador optou P. latus, já as barras cinza representam a escolha pelo T. bastosi.
As taxas de oviposição de E. concordis e I. zuluagai foram maiores quando oferecidos aos
predadores duas espécies de presas (P. latus e T. bastosi) para que os predadores misturem suas
dietas (Kruskal-Wallis test's: para E. concordis, Chi2 = 11.08975, d.f. = 2, P = 0.003907436; para I.
zuluagai, Chi2 = 22.19388, d.f. = 2, P < 0.0001) (Figura 2). A habilidade de forragear para se
alimentar de diferentes presas associado com o aumento na capacidade reprodutiva pode beneficiar o
controle biológico (MESSELINK et al., 2007).
da oviposição
Média
Mean
oviposition
/ 2dias
/ fêmea
(eggs ovos
/ female
/ 2 days)
2.5
A
2
A
1.5
1
B
B
B
B
0.5
0
T. bastosi
P. latus
T. bastosi
T. bastosi
P. latus
X
X
X
X
X
X
T. bastosi
P. latus
P. latus
T. bastosi
P. latus
P. latus
E. concordis
T. bastosi
I. zuluagai
Figura 2 Oviposição de E. concordis e I. zuluagai após 48h para avaliar a preferência alimentar dos predadores com três
dietas diferentes. Uma composta de T. bastosi e P. latus oferecidos simultaneamente, porém em recipientes separados, e
como controle dietas compostas com apenas uma espécie oferecida ao mesmo tempo (T. bastosi ou P. latus).
Experimentos de predação intraguilda
Na presença de pólen, as fêmeas de I. zuluagai mataram um número maior de ninfas de E.
concordis em comparação com a mortalidade natural de E. concordis (E.concordis + pólen) (F =
0.0543, P = 0.0001818) (Figura 3a). Mostrando a existência de uma predação intraguilda de I.
zuluagai sobre o E. concordis na presença de pólen. Experimentos estão sendo desenvolvidos para
determinar se as fêmeas adultas de E. concordis também se alimentam com as ninfas de I. zuluagai.
Quando foi oferecido para I. zuluagai apenas E. concordis a mortalidade de E. concordis foi maior
em comparação com o tratamento composto por I.zuluagai, pólen e E. concordis (F = 0.0034, P =
5,578e-09) (Figura 3a). Como para a eficiência do controle biológico faz-se necessário a manutenção
de uma alta população de predadores e isto é alcançado na presença de pólen, o pólen deveria ser
mantido no sistema.
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Além disso, a oviposição de I. zuluagai é maior no tratamento em que há somente a presença
de pólen comparado quando é alimentado somente com ninfas de E. concordis. (F = 0.1333, P =
0.01613) (Figura 3b). O que reforça a ideia da manutenção do pólen no sistema favorecendo a
c
bc
25
b
20
15
10
a
5
0
E.concordis
+
Pólen
E.concordis
+
I.zuluagai
+
Pólen
(a)
Oviposição I.zuluagai [ovos/fêmea/48 h]
Mortalidade ninf as E.concordis [1/48h]
30
Oviposição I.zuluagai [ovos/fêmea/48 h]
capacidade reprodutiva dos predadores.
E.concordis
E.concordis
+
I.zuluagai
(b)
3
c
2,5
bc
2
1,5
ab
1
a
0,5
0
I.zuluagai
I.zuluagai
+
E.concordis
I.zuluagai
+
E.concordis
+
Pólen
I.zuluagai
+
Pólen
Figura 1(a) Número de ninfas de E. concordis mortos (médias ± SE) após 48h na presença ou na ausência de pólen, e com
ou sem I. zuluagai. (b) Oviposição de I. zuluagai após 48h na presença ou na ausência de pólen, e com ou sem E.
concordis. Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste Tukey (LSD) a 5% de probabilidade.
LITERATURA CITADA
FLECHTMANN, C. H. Ácaros de importância agrícola. São Paulo: Nobel, 1972.
MONTSERRAT, M.; MAGALHÃES, S.; SABELIS, M. W.; DE ROOS, A. M.; JANSSEN, A.
Patterns of exclusion in an intraguild predator prey system depend on initial conditions. Journal of
Animal Ecology, n.77, p.624-630. 2008.
HAMMEN, T. van der.; MONTSERRAT, M.; SABELIS, M. W.; de ROOS, A. M.; JANSSEN, A.
Whether ideal free or not, predatory mites distribute so as to maximize reproduction. Oecologia,
n.169, P.95–104. 2012.
MESSELINK, G. J.; VAN MAANEN, R.; VAN STEENPAAL, S. E. F.; JANSSEN, A. Biological
control of thrips and whiteflies by a shared predator: two pests are better than one. Biological
Control, n.44, p.372- 379. 2007.
AGRADECIMENTOS
"O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq – Brasil"
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