Décimas de Inocêncio de Brito José Rabaça Gaspar (coord.) Cremilde Brito e José Fialho (família) Manuel de Sousa Aleixo (memórias) Com o apoio empenhado da Casa do Povo e da Junta de Freguesia de S. Matias, Beja, Maio de 2006 – Revisto em Maio de 2010 (com certidões) 1 2 GRITOS NA SOLIDÃO Décimas de Inocêncio de Brito Poeta Popular de S. Matias, Beja Que terá falecido em 1938 com cerca de 85 anos 3 Este livro sobre Inocêncio de Brito, poeta popular de S. Matias, Beja, que terá falecido em 1938 com cerca de 85 anos, foi escrito e realizado especialmente para a família do poeta, e editado com o apoio empenhado da Casa do Povo e da Junta de Freguesia de S. Matias, Beja, e com a colaboração dos familiares, o neto Paulino de Brito e sua filha D. Cremilde de Brito (bisneta); o Senhor Manuel de Sousa Aleixo (mais conhecido por Mestre Aleixo e mais familiar por Blezinho, em representação dos mias VELHOS da Aldeia e ainda conviveu com Inocêncio de Brito, como o Senhor João da Torre e outros…), José Fialho, bisneto, que terá herdado a veia poética do seu bisavô; os jovens e admiradores que recolheram, reescreveram e dactilografaram as décimas de Inocêncio de Brito, que muitos sabiam de cor, salientando aqui, em sua representação, os que mais me deram o seu contributo: o Manuel Alexandre de Sousa Aleixo e Maria de Fátima da Vinha Borges, a minha companheira, natural de S. Matias. Como surpresa final, após a publicação de 2006, entre Julho e Dezembro de 2008, esta obra foi complementada com a preciosa contribuição do Dr José António Cabrita, (Sociólogo) que conseguiu as várias certidões referentes a Inocêncio de Brito e sua esposa, Mariana Fialho, que também aparece como Maria Fialho. Aqui fica um agradecimento especial pelo contributo deste competente investigador e as nossas desculpas pelo “comodismo” e descuido ou a “lei do menor esforço” que, em vez de investigar, nos levou a aceitar a voz corrente, que apontava para o desaparecimento dessas certidões. Nota de JRG para a edição de Maio de 2010, através da BUBOK. 4 Décimas de Inocêncio de Brito José Rabaça Gaspar (coord.) Cremilde Brito e José Fialho (família) Manuel de Sousa Aleixo (memórias) Com o apoio empenhado da Casa do Povo e da Junta de Freguesia de S. Matias, Beja, Maio de 2006 S. Matias, Beja – 2006 5 FICHA TÉCNICA Uma evocação do Pastor na imensa solidão, Capa com arranjo de Isabel Juvera, www.e-libro ; em 2010 reformulada pela equipa da BUBOK Baseada em foto de uma colecção de Rui Cunha Autor/es ©2006 José Rabaça Gaspar (coord.), com recolha e digitalização de textos e dados, organização, comentários e esboço de um estudo (www.joraga.net ) – (http://www.joraga.net/iBrito/index.htm) . O autor teve a colaboração dos Familiares, o neto Paulino de Brito e sua filha D. Cremilde de Brito; José Fialho, bisneto, que terá herdado a veia poética do seu bisavô (como representantes da família ainda viva em 2006); o Senhor Manuel de Sousa Aleixo (mais conhecido por Mestre Blezinho) (a representar as pessoas mais velhas, como o senhor João da Torre, que conviveram com Inocêncio de Brito e guardam memórias de muitas “pequenas estórias”…); os jovens e admiradores que, nos anos setenta e quatro, setenta e oito recolheram, reescreveram e dactilografaram as Décimas de Inocêncio de Brito, que muitos sabiam de cor, salientando aqui, em sua representação, os que mais me deram o seu contributo: o Manuel Alexandre de Sousa Aleixo e Maria de Fátima da Vinha Borges, a minha companheira, natural de S. Matias, porventura a responsável deste trabalho ter acontecido. O essencial deste trabalho foi publicado na Revista ARQUIVO DE BEJA, vol. XII, série III, Dezembro de 1999. Esta obra está publicada e disponível para os leitores da Américas, em: ©Edição virtual e em papel, www.e-libro.net - http://www.e-libro.net/libros/libro.aspx?idlibro=2032 Buenos Aires, Junho de 2006 ISBN 1-4135 - 3624 - 7 – edição virtual - ISBN 1-4135 - 3625 - 5 – edição em papel E em 2010: ISBN 978-84-9916-782-4 DL: M-23888-2010 http://joraga.bubok.pt/ 6 DEDICATÓRIA Ao Povo de S. Matias através dos dirigentes da Casa do Povo e Autarcas da Junta de Freguesia em Maio de 2006… À Família de Inocêncio de Brito e todos os habitantes de S. Matias que me diziam Décimas do Mestre e/ou me facultaram as suas estórias e os seus manuscritos… Às Escolas de Beja onde tive o privilégio de trabalhar com muitos colegas e alunos nos anos 80 e 90 do século XX… A todos os que têm alma de Poeta e, como eu, têm de gritar a sua Poesia na Solidão, onde: «Brado, Ninguém me responde, Olho, não vejo Ninguém» 7 8 APRESENTAÇÃO Esta obra é dedicada à memória de Inocêncio de Brito, um Poeta Popular, por muitos considerado um MESTRE nesta Arte Maior da Cultura Popular, admirado por muitos conterrâneos que sabem e repetem os seus poemas de cor, às vezes, como é natural na “Literatura Oral”, com algumas alterações e tentação de emendar palavras usadas e por vezes criadas pelo autor… Lamentavelmente, sempre que falámos deste Poeta Popular a vários “entendidos” da cultura alentejana, vários, que em caso de necessidade posso nomear, afirmaram-me que “Esse poeta nunca existiu”!!! A recolha, coordenação e esboço de um estudo é da minha responsabilidade, José Rabaça Gaspar que, após várias tentativas de tentar reescrever as Décimas deste Poeta, que muitos consideram um Mestre, se defrontou com uma variedade de manuscritos e cópias dactilografadas que apresentavam diferenças de vários níveis. Felizmente, através do Senhor António de Sousa Aleixo, foi possível contactar, em 1996 um seu neto Paulino de Brito, já com mais de noventa anos e que nos revelou uma pista quase milagrosa. A sua filha, D. Cremilde Brito, bisneta do Poeta, era a fiel depositária de vários manuscritos, em papel azul, que nos forneceu fotocópias dos manuscritos. Mais tarde, com a ajuda do Senhor Olímpio Carvoeiras, como guia, foi possível contactar outro bisneto, o Senhor José Fialho, de Faro do Alentejo e morador em Aires, Palmela, que dedicou uma Décima ao seu bisavô e conseguiu mais alguns originais. Não podem ser esquecidos os jovens entusiastas da revolução dos Cravos que nos anos setenta recolheram e transcreveram numerosas décimas de Inocêncio de Brito. Deixo registados os nomes de Maria de Fátima da Vinha Borges, como já disse, que será, sem o saber, a responsável maior deste trabalho e Manuel Alexandre de Sousa Aleixo, considerado seu “mano” e grande amigo, que não descansou enquanto não viu este trabalho reconhecido e apreciado pelas entidades da Freguesia de S. Matias, Beja. Aqui ficam os seus nomes, em representação do Grupo de jovens de Abril que seriam muito longo enumerar correndo o risco de omitir alguns. Como se verifica mais adiante, devo ao Senhor Manuel de Sousa Aleixo, a paciência com que me contou numerosas e saborosas estórias do Mestre Inocêncio e aqui fica em representação daqueles que guardam na memória episódios da vida e dos versos que ecoam no presente e no futuro como GRITOS na imensa SOLIDÃO... afinal, posso quase arriscar, esta obra tem o contributo de Todo o Povo de S. Matias... Para conseguirmos algumas fotografias da época, como ilustração, recorremos a Fotografias da Família de Inocência de Brito, e as restantes são de A. Cunha, Rui Cunha, M. A. S. Aleixo, JRG e Inge Wilkens, com arranjos de JRG e, quanto às históricas recorremos a várias pesquisa na internet. A todos, mesmo os que não foi possível identificar, devido às várias versões a que tivemos acesso e ao tempo decorrido entre as diversas redacções que tive de fazer, o maior respeito pelo seu trabalho e autoria. É o que peço também para este meu trabalho, que, necessariamente, também fica incompleto e com muitos aspectos que poderão vir a ser emendados e melhorados pelas gerações futuras. 9 10 ÍNDICE Plano de trabalho que levou ao produto final............................................13 I Dados Biográficos ..............................................................................................17 II Introdução..........................................................................................................23 Introdução por Cremilde de Brito.................................................................25 Homenagem a Inocêncio de Brito por José Fialho....................................26 Rua com o nome do Poeta Inocêncio de Brito.................................................28 III EPISÓDIOS DA VIDA DE INOCÊNCIO DE BRITO............................29 PEQUENAS HISTÓRIAS E VERSOS RECORDADOS ..........................31 Notas finais importantes neste ponto:.........................................................37 IV A organização que foi dada às DÉCIMAS,................................................39 DÉCIMAS de Inocêncio de Brito...............................................................41 Décimas mais biográficas ...............................................................................41 MINHA TERRA, MINHA TERRA - mn ..........................................................43 TRABALHO NÃO TENHO ACHADO - mn ...................................................45 NÊSTE LUGAR SOLITARIO - mn ..................................................................47 NO TEU GIRO SÓL BRILHANTE - mn.........................................................49 PARTI A TOLA À MARIA- mn??? dc..............................................................51 JÁ O BOM FÁTO VESTI - dc ............................................................................53 JÁ FUI SENHOR PROFESSOR - mn .............................................................55 NO LUGAR QUE DESEMPENHO - dc ..........................................................57 NO MONTE DA CASA BRANCA - dc .............................................................59 SORRI CUBA E SEJAS GRATA - mn.............................................................61 PEDRÓGÃO INDUSTRIAL - dc .......................................................................63 Décimas que comentam casos simbólicos ...................................................65 A INSTRUÇÃO É PRECIZA - mn ....................................................................67 RIQUEZA E VISTA PERFEITA - mn .............................................................69 VINHO CRUEL INIMIGO - mn .......................................................................71 NÃO CLAMES CONTRA O VINHO - mn ......................................................73 É COMO O CORPO SEM ALMA - dc ..............................................................75 OS OLHOS, ORGÃOS DA VISTA - mn ..........................................................77 DESCÓBRE-TE MILIONARIO - mn..............................................................79 Décimas sobre o REGICÍDIO ........................................................................81 O NOBRE TERREIRO DO PAÇO - dc ............................................................83 DONA AMELIA de ORLEÃNS - mn................................................................85 JOVEM PRÍNCIPE REAL - mn........................................................................87 ELREI D. MANUEL SEGUNDO - mn ............................................................89 Décimas a respeito da I Grande Guerra Mundial.....................................91 KAIZER DÉSPOTA ORGULHÔSO - mn........................................................93 A RAINHA DAS POTENCIAS - mn ................................................................95 11 Décimas relacionadas com a GUERRA e a MORTE ................................97 FORMA O HOMEM IDEALMENTE - mn .....................................................99 NO MUNDO PORQUE HAVERÁ - dc...........................................................101 FAZEM NAVIOS DE GUERRA - mn ............................................................103 Ó CYPRESTE, VERDE E TRISTE - mn .......................................................105 FUI A PROCURA DA PÁZ - mn .....................................................................107 NO VENTRE DA VIRGEM BÉLA - mn........................................................109 V Colaboração de outros poetas e autores... .................................................111 A INSTRUÇÃO (NÃO) É PRECISA...............................................................113 pelo Ti Belchiorinho da Estação de Ourique................................................113 Página para ANTÓNIO ALEIXO e o seu MILIONÁRIO......................115 MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO da Cuba...........................................116 O ALFERES BORGES DOS REIS, ................................................................116 DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18 ...........................117 ANTÓNIO MIGUEL CARMO .....................................................................119 ADEUS, MINHA QUERIDA AMADA,..........................................................119 “DÉCIMAS” de D. Antónia Carvalho.........................................................120 CIENTISTA, PENSA BEM:.............................................................................120 OUTROs MOTEs com fundamento, ...........................................................120 Versos do Senhor António Lúcio .....................................................................120 Versos da D. Joana Garcia, ..............................................................................121 Versos do Senhor Joaquim Ruaz, ...............................................................122 Cena do Campo ...................................................................................................122 AS FLORES .........................................................................................................123 DÉCIMAS de Francisco Piriquito Junior, ................................................124 EU MAL APRENDI A LER..............................................................................124 SE TEVE A INFELICIDADE..........................................................................125 NÃO SOU ESPERTO, NEM BRUTO ............................................................126 PUS-ME A ESPREITAR O VENTO...............................................................127 PROSA POÉTICA de A.A.............................................................................129 MESTRE INOCÊNCIO DE BRITO de José Penedo ..................................131 O PÔTRA por Luís Alves..........................................................................133 UM BISPO PASTOR DE ALMAS por José Penedo ...................................134 - DIGA LÁ, SENHOR POETA - José Fialho ................................................135 - VOU INFORMAR O SENHOR - Augusto José.........................................137 VI - GRITOS NA SOLIDÃO – esboço de estudo.........................................139 VII - BIBLIOGRAFIA e outras informações sobre DÉCIMAS ................147 12 Plano de trabalho que levou ao produto final. I Dados Biográficos de Inocêncio de Brito, família, trabalho e zonas por onde andou... será possível Foto? ou desenho reconstituído a partir das descrições feitas pela família??? e... Nota: Os Livros Paroquiais, que poderiam ter o registo do nascimento, estarão entre o número daqueles que arderam no incêndio da Câmara que teria ocorrido em 23 de Julho de 1946 (Ver e confirmar esta nota pelos que sabem...) II Introdução feita por familiares, a Ex.ma Senhora D. Cremilde Brito, Professora na reforma, bisneta de Inocêncio de Brito e o Senhor José Fialho, outro bisneto e algumas pessoas mais que deram e podem dar contributos importantes sobre este tema. III Outras notas importantes: Qual foi o trabalho deste homem? Por onde andou? Porque esteve separado da família e durante quanto tempo, para justificar as cartas ou cartas em forma de Décimas, interpelações que envia ao “Sol brilhante”, para saber dos filhos e do pai... Pequenas histórias e versos recordados que mostram a sua veia de repentista... - Um Pinheiro velho e seco à beira do caminho de ferro... Um Cipreste à beira do cemitério... - Como ganhou, ou outros por ele, as popias enormes que eram sorteadas na Festa que se fazia em Ervidel, pelo S. João e era colocada no cimo do mastro... Estórias conseguidas com o contributo de muitas pessoas, mas, baseadas especialmente nalgumas longas conversas com o Blezinho, o Senhor Manuel Sousa Aleixo… IV A organização a dar às DÉCIMAS, uma decisão subjectiva imposta pela necessidade de não ter encontrado outra alternativa, desde as mais biográficas, que falam do poeta e da família e das terras vizinhas; passando para as que comentam casos simbólicos e temas de reflexão geral como os Olhos, a Mulher, o diálogo do Vinho...; seguindo para as que comentam o Regicídio de 1908 em que invoca as personagens principais; mais duas contra a I Grande Guerra Mundial 14/18 e prenúncio da II, terminando com quatro décimas mais simbólicas sobre o Homem IDEAL, o desconcerto e insensatez da guerra e a invocação da Morte e da Solidão para terminar com uma ODE à VIRGEM – no Ventre da Virgem… o VERBO!!! As DÉCIMAS de Inocêncio de Brito, que foi possível recolher, foi feita através dos manuscritos do próprio (assinaladas com – mn), a grande maioria (21 a 22) e do recurso a outros manuscritos de outras pessoas, alguns já dactilografados (assinaladas com - dc) e que nos foram garantidos pela família e outros testemunhos. Décimas mais biográficas 1-mn - MINHA TERRA, MINHA TERRA 2-mn - TRABALHO, NÃO TENHO ACHADO 3-mn - NÊSTE LUGAR SOLITARIO (carta aos filhos) 4-mn - NO TEU GIRO, SÓL BRILHANTE (O sol como mensageiro...) 5-mn?- dc - PARTI A TOLA À MARIA 13 6-dc - JÁ O BOM FÁTO VESTI 7-mn - JÁ FUI SENHOR PROFESSOR 8-dc - NO LUGAR QUE DESEMPENHO 9-dc - NO MONTE DA CASA BRANCA 10-mn - SORRI CUBA E SEJAS GRATA (As terras vizinhas de S. Matias) 11-dc - PEDRÓGÃO INDUSTRIAL, (As terras vizinhas de S. Matias) Décimas que comentam casos simbólicos ou tratam TEMAS de reflexão geral como: 12-mn - A INSTRUÇÃO É PRECISA (O caso defendido pelo Afonso Costa, no tribunal de Beja) 13-mn - RIQUEZA E VISTA PERFEITA (Parece referido a irmãos ou ???) 14-mn - VINHO, CRUEL INIMIGO 15-mn - NÃO CLAMES CONTRA O VINHO 16-dc - É COMO O CORPO SEM ALMA (O papel da MULHER numa casa) 17-mn - OS OLHOS, ORGÃOS DA VISTA 18-mn - DESCÓBRE-TE MILIONARIO (Ver se é caso pontual, conhecido...) Décimas referentes ao REGICÍDIO em 1908 19-dc - O NOBRE TERREIRO DO PAÇO (Imprecação contra o regicídio) 20-mn - DONA AMELIA DE ORLEÃNS (Condolências à Rainha viúva...) 21-mn - JOVEM PRINCIPE REAL 22-mn - ELREI D. MANUEL SEGUNDO (Apelo ao jovem Rei...) Décimas a respeito da I Grande Guerra Mundial, 1914 / 18 23-mn - KAIZER, DÉSPOTA ORGULHÔSO (Invectiva contra o Imperador Guilherme II) 24-mn - A RAINHA DAS POTENCIAS (Invectiva contra o orgulho da Alemanha) Décimas relacionadas com a GUERRA e a MORTE (1938?) e Ode à Virgem Maria 25-mn - FORMA O HOMEM IDEALMENTE 26-dc - NO MUNDO, PRA QUE HAVERÁ (Sobre a insensatez da luta e da Guerra) 27-mn - FAZEM NAVIOS DE GUERRA (Desafio ao génio humano para descobrir coisas úteis) 28-mn - Ó CYPRESTE, VERDE E TRISTE (Diálogo com o cipreste sobre a MORTE) 29-mn - FUI A PROCURA DA PÁZ (O poeta descobre que só no cemitério, encontrará a PAZ.) 30-mn - NO VENTRE DA VIRGEM BÉLA V Colaboração de outros poetas e autores a finalizar com o esboço para um estudo A DÉCIMA da INSTRUÇÃO glosada pelo Ti Belchior da Estação de Ourique... Quadra de António Aleixo? do Milionário??? 14 MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO, o Manuel de Castro da Cuba, dedicou uma DEIXA – DÉCIMA à MORTE DO ALFERES BORGES DOS REIS de S. Matias, Beja. DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18 ANTÓNIO MIGUEL CARMO pai da D. Antónia Carvalho, sobre a I Guerra Mundial Outros poemas e mensagens de outros poetas, familiares, amigos e admiradores que quiseram colaborar nesta homenagem ao poeta que foi durante tempo esquecido. A família que guardou religiosamente muitos dos seus manuscritos, nunca os quis divulgar, pelo pouco interesse manifestado pelos agentes da Cultura em Portugal e na Região Testemunhos de pessoas que o conheceram e/ou sabem os seus poemas e os recolheram e falar da justiça e do dever que o Povo de S. Matias tem para com este Poeta seu conterrâneo, que continua a ser pouco conhecido, levando muitos, mesmo bem intencionados (ou não?!) a atribuir as DÉCIMAS de sua autoria a outros poetas ou a eles próprios! D. Antónia Carvalho António Lúcio e D. Joana Joaquim Ruaz Francisco Piriquito Júnior A. A. José Penedo O PÔTRA VI - Esboço para um estudo por José Rabaça Gaspar VII - Bibliografia e outras informações sobre Décimas 15 16 I Dados Biográficos Dados Biográficos de Inocêncio de Brito, família, trabalho e zonas por onde andou... será possível Foto? ou desenho reconstituído a partir das descrições feitas pela família??? e... Nota: Os Livros Paroquiais, que poderiam ter o registo do nascimento, estão entre o número daqueles que arderam no incêndio da Câmara que teria ocorrido em 23 de Julho de 1946 (Ver e confirmar esta nota pelos que sabem...) Paulino de Brito, foto de 1985, o neto que segundo a família era o mais parecido com o avô Inocêncio de Brito. I Os Dados Biográficos de Inocêncio de Brito, talvez ou apesar de ainda haver na aldeia muitos familiares foram muito parcos mas os possíveis. Os Dados sobre a família, trabalho e zonas por onde andou ficam como breves apontamentos... Uma foto, que muitos dizem dever existir, porque há sempre, em cada casa, uma mesa com fotografias de familiares, não foi possível. Um desenho a partir das descrições feitas pela família também não foi possível. Os Livros Paroquiais, que poderiam ter o registo do nascimento, estão certamente entre o número daqueles que arderam no incêndio da Câmara que teria ocorrido em 23 de Julho de 1946. Onde foi sepultado? E o registo do óbito? Ficam mais estes elementos para verificar. No lugar da foto ou desenho fica: A assinatura de um dos manuscritos: Uma nota incompleta feita aos 85 anos, provavelmente em 1938, segundo as memórias da sua Bisneta, D. Cremilde de Brito, que teria 5 anos quando morreu o seu bisavô. 17 Dados Biográficos (possíveis): Nome completo: Inocêncio de Brito Data de Nascimento: __/__/1853?; faleceu em __/__/1938?, com 85 anos. Naturalidade: S. Matias, Beja Filho de António do Monte de Brito e de Paulina de Brito Casado com Mariana Rosalina Fialho Filhos: Maria de Brito que teve 5 filhos António Paulino de Brito que teve 2 filhos Mariana Teresa de Brito que teve 5 filhos Francisco José de Brito que teve 2 filhos Leonor de Brito que teve 4 filhos Manuel António de Brito que teve 1 filha Paulina de Brito que teve 7 filhos Dos netos (seriam 26) e bisnetos (?) conseguimos uma lista provisória de: António Paulino de Brito, de 91 anos (1998), e sua irmã Maria Clara de Brito moradores em S. Matias, Beja e sua filha Cremilde de Brito, moradora em Beja, Inocêncio de Brito Ruaz Mariana Fialho João Paulino José da Rosa Fialho António José Fialho Francisco António José Mariana Henrique José (Pato) Francisco João Manuel Francisco António de Brito José Fialho Joana Delmira José Maria Manuel Maria António 18 Foto com A esposa de Sr. Paulino de Brito; o Sr. Paulino de Brito e D. Clara de Brito netos de Inocêncio, no Natal de 1980 Contribuições dadas para este estudo: A família é muito numerosa e está espalhada um pouco por todo o lado. Eis alguns que foi possível contactar: Nome Idade em Pare Contacto 1998 ntesco António 91 (1907) neto S. Matias Paulino de Beja, já falecido Brito em 2002.11.19 Maria Clara de Brito neta Notas Conta numerosas histórias do seu avô e guardou durante muitos anos originais com a letra do seu avô que depois confiou à guarda da sua filha Cremilde... Informou-nos por exemplo que: «O padre que o terá ensinado a ler, ao ver que o rapaz tinha queda para os estudos, foi um Senhor Padre José Maria Carreira que tinha casa e família e bens em S. Matias». (o mesmo de Vive com o irmão, Mestre Paulino e mestre Paulino) ajuda-o a lembrar-se de muitas coisas... e vai contando as que se lembra.. 19 Professora 65 (1933) bisCremilde neta de Brito Inocêncio Brito Ruaz José Martins Ruaz Mariana Paulino José Fialho J. Parreirinha Mestre Leonel Manuel António Panasqueira Parrinha neto bisneta Beja Teria 5 anos quando faleceu o seu bisavô e tem dele a imagem de uma figura franzina, de olhos azuis, lembrando-se sobretudo da sua figura na essa, durante o velório; e foi professora em S. Matias, Beja, tendo ensinado uma grande parte dos adultos que vivem agora em S. Matias; está agora reformada e é a fiel depositária dos originais que serviram para emendar praticamente todas as recolhas feitas até 1998. Monte do Calvá- Terá possivelmente, ainda, alguns documentos e originais do seu avô e a rio, S. Matias, foto de família. Beja Vendas Novas Filho de Inocêncio Brito Ruaz, é coronel do exército. Beja e depois Foi professora de Língua e Literatura Lisboa Portuguesa, na Esc. Sec. Diogo de Gouveia, é funcionária das Finanças, formada em Direito, dá aulas na Universidade Moderna, em Beja, depois colocada em Lisboa... Mora em Faro do Alentejo e em Aires, Palmela. Sabe muitas coisas do Mestre Inocêncio de Brito e tem até alguns originais... também faz poemas e quadras de sua autoria... É bisneto de I.B. e terá sido o que herdou a queda do bisavô. Filho de José Fialho, mora na Moita e, em 1994, fez uma recolha das Décimas do pai e algumas do trisavô que intitulou HERANÇAS. Ferreiro, morador em S. Matias, Monte do Calvário, que é primo irmão de José Fialho, morador em Faro do Alentejo Morador em S. Matias, Beja, 62 anos (2006, nasc. em 1944), coleccionou cerca de 29 das Décimas de I. Brito, dactilografadas e numeradas, e que infelizmente deixou “levar” uma meia dúzia. Colecção importante a ter em conta e depositário de Décimas de outros poetas…para outros estudos a desenvolver. No fundo, temos que admitir que, para a elaboração deste trabalho, foi decisiva a colaboração e compreensão de muita gente e muitas entidades. Cumpre nomear aqui, correndo o risco de esquecer alguém, pelo que desde já apresento as mais sinceras desculpas: A Escola Secundária D. Manuel I, especialmente ao seu Conselho Directivo e Conselho Pedagógico (1998), pois sem a sua compreensão e tolerância, não teria sido possível, nem o tempo nem a distanciação necessárias para um trabalho desta envergadura para o qual, normalmente, as Escolas e o Ensino Oficial não têm tempo ou disponibilidade, ou não há sensibilidade suficiente para lhes dar a devida atenção. A Casa do Povo e S. Matias que sempre se prontificou a dar as informações e apoios que foram solicitados e a contribuição do Grupo Coral e do Grupo de Teatro. A Junta de Freguesia de S. Matias, especialmente na pessoa do seu Presidente que sempre se mostrou interessada em implementar um trabalho deste género. 20 O Povo de S. Matias que afinal colaborou directa ou indirectamente, através dos que já foram nomeados e da colaboração que é mencionada a seguir, incluindo a colaboração dada nas conversas informais, que não tive oportunidade de referir. Outras contribuições. Nome Domingos António Espinho Mariana Ramalho Joaquim Ruaz, reformado, agricultor e mestre-de-obras, nascido, criado e morador em S. Matias, foi elemento da Junta de Freguesia e da Casa do Povo, bem como do Grupo Coral. Manuel de Sousa Aleixo e Maria da Conceição Sousa Aleixo, familiarmente conhecidos pelo Mestre Blé ou Blezinho (que são todos os Manéis) e pela Bia São (porque todas as Marias são Bias) Maria de Fátima da Vinha Borges Domingos Borges e Beatriz da Vinha Notas Escriturário na Cuba, conhecido de José Fialho e Mestre Leonel, dactilografou muitas Décimas de I. Brito e outros. Uma senhora que foi professora / regente em S. Matias, vivia, em 1998, no asilo em Beja (lar para idosos), Mansão de S. José... “Era a única que escrevia as décimas como ele (o Inocêncio de Brito) lhe pedia...” afirma o Mestre Paulino... os outros ou se enganavam ou pretendiam emendar o que ele dizia... Sabe de cor várias Décimas de Inocêncio de Brito, ajudando a descobrir a palavra exacta ou o sentido para algumas transcrições. Afirma que o António Aleixo e Manuel de Castro, que por vezes se encontravam nas Feiras da região, especialmente na de Castro Verde, consideravam este pastor o seu Mestre e terão glosado Quadras suas. Afirma ainda que algumas Décimas consideradas anónimas e atribuídas a outros, são de sua autoria, e por isso, seria justo e oportuno dedicar-lhe um estudo que merece. Pedreiro, agricultor, morador em S. Matias, sabe quadras (décimas) inteiras de mestre Inocêncio e lembram-se de muitas histórias. Ainda conviveu com ele no Monte Vale de Água, onde, pelos anos 1935, para onde foi chamado pelos rendeiros que eram da família Guiomar, um tal Pedro Nunes, para ser professor dos filhos que não podiam ir à escola e ali com ele, encarregado também de guardar as vinhas, podiam aprender a ler e a escrever... “Quando ia com os animais para algum trabalho, chegava a desmontar-se para apanhar algum papel que encontrava no chão ou restos de algum jornal para ler e aprender palavras novas que depois aplicava nos versos... Professora do Ensino Secundário que com um Grupo de Jovens, entre 76 e 78, pesquisaram e recolheram versos do poeta... com Mariana Paulino, Lucília Aleixo, o José Vargas Aleixo, Leonel Sousa, Manuel Aleixo, Fátima Faneco, Jaime Curva, José Curva, António Manuel Curva, Ana das Dores, João Sardica... José Silva, A. Ventura, com o apoio e orientação do professor Rui Parreira da Escola Secundária N.º 1, de Beja, com alunos de Beja como Joaquim Oliveira Caetano e outros... O “Velho mais novo” de S. Matias que conhecia toda a gente e toda a gente o conhecia em S. Matias e, como feitor, correu, com a sua mulher Beatriz e as filhas, Fátima e Lourdes, todo o Alentejo desde Barrancos, Monte do Pintador em S. Amador, Beringel, Odivelas... Faleceu em Outubro de 1995... e ainda conheceu e lidou com Inocêncio de Brito. 21 Manuel Alexandre Souas Aleixo, contabilista, nascido, criado e morador em S. Matias. Arisberta Costa Aleixo, professora no Ensino Secundário Jaime Curva (Emigrante em França e nos anos noventa já no Algarve), Olímpio José Carvoeiras Leonel de Jesus Rato Sousa José Galo Manuel António Modesto Pedro António Nunes José Maximino Silva Isabel Horta Borges Foi das primeiras pessoas que me forneceu por escrito algumas Décimas e tentava estabelecer contactos e procurava conseguir cópias junto de pessoas ou familiares que teriam uma recolha. Fez parte dos grupos que em tempos se dedicaram à recolha da obra de Inocêncio de Brito. A viver com a família em S. Matias, mesmo sem ser alentejana de nascimento, tem um contacto privilegiado com os poetas populares e já é alentejana de coração... Conseguiu guardar fotocópias de uma recolha realizada e depois bateu à máquina, e serviu de base a grande número de Décimas que constam deste trabalho... O dinâmico presidente da Junta de Freguesia de S. Matias, nos anos noventa, que sempre procurou conhecer e dar a conhecer este Poeta, embora sempre absorvido com muitas responsabilidades. Foi Presidente da Junta em dois mandatos nos anos oitenta e tomou a iniciativa de dar o nome de pessoas importantes de S. Matias às ruas da aldeia, por exemplo a Rua Inocêncio de Brito e Alferes Borges dos Reis Foi o primeiro Presidente da Junta de Freguesia democraticamente eleito e exerceu o mandato durante três anos. Foi o Presidente da Comissão que presidiu à Junta de Freguesia após o 25 de Abril até às primeiras eleições. Um antigo Presidente da Junta, antes do 25 de Abril, que muito fez por S. Matias, a ponto de lhe ter sido atribuído o nome de uma rua, a antiga Rua Longa. Como representantes de alunos que frequentavam os Cursos Complementares Nocturnos na Escola Secundária Nº1 de Beja (Diogo de Gouveia) nos anos 1983/85 e me falaram dos Poetas de S. Matias e da representação do Presépio no Natal. Como representante dos alunos dos Cursos Complementares Nocturnos, na Escola Secundária Nº2 de Beja (D. Manuel I) que levavam para as aulas textos de Literatura Popular Tradicional e além de trabalhar na Secretaria da Junta de Freguesia, é animadora dos Grupos de Teatro e Presidente da Casa do Povo. 22 II Introdução em representação da Família Introdução por D. Cremilde de Brito Homenagem a Inocêncio de Brito por José Fialho D. Clara de Brito e Senhor Paulino de Brito, em representação da Família (Foto da Família de Inocêncio de Brito) 23 24 Introdução por Cremilde de Brito bisneta do Poeta que foi Professora em S. Matias e residente em Beja. ...o segredo do POETA possivelmente naqueles OLHOS sedutores de azul-marinho, inesquecíveis... «Que mistério se encerrava naqueles olhos azuis para se gravarem indelevelmente na memória de uma criança de cinco anos? Havia neles qualquer coisa de tão extraordinariamente invulgar que nunca mais se esqueciam. Aos oitenta e cinco anos o seu olhar tinha a cor e o brilho dos olhos de um jovem, a pureza e a ternura duma criança, uma cor intensamente azul-marinho que eu nunca antes vira e jamais esquecerei. Não era a saudade da sua Terra e dos seus familiares que lhe transmitia aquela ternura porque estava na casa duma filha rodeado pelos netos e não “num lugar solitário”. Talvez sentisse a nostalgia dos longos e frios serões de boémia, da “vida reinadia” com companheiros e amigos, dos imensos horizontes do Alentejo que lhe inspiraram as rimas. Era o fulgor da paixão pela liberdade (que mostrou ao recusar o lugar de escrivão do juiz). Como poderia trocar pela pequenez dum escritório o rubro entardecer dos dias de Verão, ou o pôr do Sol de uma tarde de Outono, a terna canção dos passarinhos numa bela manhã de Primavera, a magnificência dos “raios purpurinos dourando o cume da serra” ou “a luz divina as campinas prateando”? A sua alma sensível que se indignou com o Regicídio e com a crueldade da guerra, com o “desejo de mandar”, “a cegueira de conseguir”, a “ambição de possuir” reflectia-se no seu rosto ainda “alegre e sedutor”. Pensaria certamente na sua companheira falecida, a esposa que não cantou enquanto ela viveu, mas que depois homenageou com um autêntico hino de exaltação ao seu lugar incomparável no seio da família. Chamou-lhe “anjo”, “ser adorável”, “formosa e bela”, lembrando que, sem a sua presença, a vida é “insuportável”, que a mulher é insubstituível no lar e que, como Mãe, quando ela falta, a “sorte não sorri”, os filhos são “como cegos”, porque onde ela não mantiver “amor, paz, santa união, é sempre uma escuridão, dê-lhe o sol onde lhe der”. Nessa casa só há penas e amarguras e falta a luz da esperança. Não andava “à procura da paz” porque ele era um homem de paz, sensível e bom e, na luz dos olhos que eu recordo estava a Paz de Deus, a pureza da sua Fé na “Virgem Bela”. É assim que eu vejo ainda aquele corpo franzino, aqueles olhos azuis e doces, aqueles olhos de Poeta.» Cremilde Brito Beja, 14 de Junho de 1999 25 Homenagem a Inocêncio de Brito por José Fialho Talvez o familiar que herdou os dotes do seu bisavô. 26 Foi por Deus predestinado Sem pompas sem gabarito Só agora homenageado O Poeta Inocêncio de Brito Foi um homem excepcional Em toda a sua existência Não pagou nada à ciência Nem à cultura geral Não foi um intelectual Nem num colégio educado Foi sim um privilegiado Da divina providência Perante tal evidência Foi por Deus predestinado Não foi à escola mas deu Lições aos que precisavam Dando aos que o rodeavam Aquilo que ele aprendeu Não estudou no liceu Nem em qualquer outro lado Sem honras de magistrado Foi um mestre permanente Porquê tão tardiamente Só agora homenageado Viveu tão humildemente Tão simplesmente acabou Foi por onde passou Estimado por toda a gente Delicado eloquente Em oração, ou por escrito Prestigiou o distrito Com mérito nacional Foi tudo isto afinal Sem pompas sem gabarito Prestigiar com dignidade A história, a poesia E tudo o que ele dizia É pura realidade Ninguém com a verdade Lhe apontou qualquer delito Foi um hábil perito Dos seus puros ideais Quem pode esquecer jamais O Poeta Inocêncio de Brito Palmela, 13 de Julho de 1999 José Fialho Uma Décima, do bisneto de Inocêncio de Brito, o Senhor José Fialho Brito da Silva, que nasceu em Vale de Vargo, em 19 de Março de 1929, mas viveu em Faro do Alentejo, e desde muito jovem, veio morar em Aires, Palmela. Trabalhou em todos os ofícios até aprender a profissão de barbeiro que ainda exerce aos setenta anos. Esta Décima foi escrita e assinada para as Décimas de Inocêncio de Brito, em 13 de Julho de 1999, mas foi feita em homenagem ao bisavô Inocêncio, quando finalmente soube que a Junta de Freguesia de S. Matias, Beja, se tinha lembrado do seu Poeta e lhe dedicou o nome de uma Rua - a Rua Inocêncio de Brito, uma rua Atrás dos Quintais que, até aos anos oitenta, teria só uma ou duas casas... 27 Rua com o nome do Poeta Inocêncio de Brito 28 III EPISÓDIOS DA VIDA DE INOCÊNCIO DE BRITO Episódios da vida de I. Brito e alguns dados da época... Outras notas importantes: Qual foi o trabalho deste homem? Por onde andou? Porque esteve separado da família e durante quanto tempo, para justificar as cartas ou cartas em forma de Décimas, interpelações que envia ao “Sol brilhante”, para saber dos filhos e do pai... Pequenas histórias e versos recordados que mostram a sua veia de repentista... - Um Pinheiro velho e seco à beira do caminho de ferro... Um Cipreste à beira do cemitério... - Como ganhou, ou outros por ele, as popias enormes que eram sorteadas na Festa que se fazia em Ervidel, pelo S. João e era colocada no cimo do mastro... Estórias conseguidas com o contributo de muitas pessoas, mas, baseadas especialmente nalgumas longas conversas com o Blezinho, o Senhor Manuel Sousa Aleixo… Foto do Senhor Manuel Aleixo e seus pais para situar a época em que viveu Inocêncio de Brito (Foto da Família de Manuel Aleixo) 29 Notas a partir de várias conversas com muitas pessoas, mas como foi dito, a partir dos elementos transmitidos pelo Senhor Manuel de Sousa Aleixo. Inocêncio de Brito nasceu na freguesia de S. Matias, Concelho e Distrito de Beja. A família morava ao meio da Rua Nova que agora mudou o nome para Alferes Borges dos Reis, como a antiga Rua de Beja se passou a chamar Rua Dr. António Covas Lima em homenagem ao Médico que ainda hoje é considerado como um grande médico e benfeitor de todos os habitantes da freguesia. As casas já seriam da família ou foram doadas em herança a Inocêncio de Brito? Sempre trabalhou, como a família na agricultura e desde muito novo teria sido criado com o tio José de Brito que era feitor da Quinta do Pimentel, homem de posses que teria pensado em deixar-lhe alguns bens e casas em herança mas morreu sem deixar testamento e essa ideia não se terá realizado... Quem ensinou a ler Inocêncio de Brito, a escola só terá aparecido em S. Matias, com a República, e por achar o pequeno dotado para as letras, foi o padre José Maria Carreira, que vivia com a família na freguesia e ali tinha casa e propriedades. Foi padrinho de Inocêncio de Brito e ter-lhe-á deixado as casas onde ainda vivem alguns descendentes, na Rua Borges dos Reis que então se chamava Rua Nova. A última rua da freguesia, na direcção de Évora, tem agora o nome de Inocêncio de Brito e fica ligada ao Monte do Calvário, na extrema da aldeia... A rua principal, agora, Rua Dr. António Covas Lima, chamava-se Rua de Beja; A rua, que agora é Rua 25 de Abril e vai direita à Apariça, era Rua da Apariça; A Rua Pedro António Nunes (um presidente da Junta de Freguesia de antes do 25 de Abril, que muito fez pela Freguesia e pela sua gente) era, antes, a Rua Longa. A Rua Alferes Borges dos Reis era Rua Nova… A zona Norte de S. Matias, na direcção da Cuba e Évora, ainda é conhecida por Calvário e Monte da Morena, a dar-nos pistas para perceber a origem desta aldeia que nasceu nas extremas das duas grandes herdades: Apariça e Monte da Morena... A Rua Inocêncio de Brito, no Monte da Morena... (Chamava-se antes…?) Para sabermos de mais lugares por onde andou e por onde terá andado a família, há duas Décimas em que conseguimos ver a assinatura: NESTE LUGAR SOLITÁRIO, onde também escreveu em notas ao lado do MOTE, explicando onde estava, Monte Corvesso (?), e por onde andavam os filhos: um na vida militar, outro a guardar as Cabras da Apariça, lá para os lados de Moura, mas sem saber onde estava...; e outra NO TEU GIRO SOL BRILHANTE. Na Décima a INSTRUÇÃO É PRECISA, escreveu uma nota “É letra de 85 anos não posso”... 30 PEQUENAS HISTÓRIAS E VERSOS RECORDADOS O que eu me lembro do Mestre Inocêncio, conta o Senhor M. Aleixo, é que, já bastante idoso terá sido chamado pelos rendeiros do Monte Vale de Água, da família Guiomar, de Ferreira do Alentejo, para guardar as vinhas e educar os filhos que estavam longe da Escola. (Ver a Décima MINHA TERRA, MINHA TERRA) e, possivelmente a que deu origem ao MOTE: Já fui senhor professor A um pai eduquei filhas Agora sou não sei quem Na Ribeira de Campilhas Montes por onde terá andado? Como trabalhador rural, andaria por onde era preciso para o amanho das terras da família e por onde lhe arranjavam trabalho à jorna ou às épocas ou até anos a fio... Monte da Casa Branca é aquele a seguir ao cruzamento para Selmes, na direcção da Vidigueira; Monte da Morena, na extrema Norte de S. Matias, até ao cruzamento para Selmes; Monte Vale de Água, em Ferreira do Alentejo (Ver “Minha Terra, minha Terra...”); Ribeira de Campilhas (ver “Já fui senhor professor...”); Monte Corvesso? – referido na nota de NESTE LUGAR SOLITÁRIO, não conheço. Outros dados da época, relacionados com temas desenvolvidos nas décimas. Afonso Costa: Político português, nasceu em Seia, Serra da Estrela, em 1871, morreu em Paris em 1937. Foi professor de Direito nas Universidades de Coimbra e Lisboa. Foi deputado republicano combatendo com violência as instituições monárquicas. Foi Ministro da justiça no 1º governo da República e ficou célebre pelo seu sectarismo antireligioso. Ver a Quadra “A instrução é precisa...” Brito Camacho. Manuel de Brito Camacho, (1862-1934) nasceu em Aljustrel, foi médico, muito absorvido pela política, confirmou os seus créditos de prosador regionalista com – Nas Horas Calmas, 1920; Quadros Alentejanos, 1925, Gente Rústica, 1927, Gente Vária, 1928, Cenas da Vida, 1929. Foi amigo e correlegionário de homens como Afonso Costa, António José de Almeida que se destacaram na propaganda e implantação da República e de M. Teixeira Gomes que veio a ser eleito para a Presidência da República. Fundou, foi director e redactor principal do jornal A Luta, desde 1906 até 1934 quando saiu o último número e ano da sua morte. Regicídio, de 1 de Fevereiro de 1908, e o Rei D. Carlos: Nasceu a 28 de Setembro de 1863, morreu a 1 de Fevereiro de 1908. Foi rei de Portugal desde 1889 a 1908 a quando do regicídio. Foi um estadista de uma envergadura invulgar e muito fez para dignificar Portugal tanto na dimensão ultramarina como internamente. Foi cientista e desportista de mérito e pintor laureado internacionalmente. 31 Rainha D. Amélia – Foi a última rainha de Portugal. Nasceu em Twickenham, Inglaterra, em 1865 e morreu em Versalhes em 1951. Era filha dos Condes de Paris e casou com o Rei D. Carlos de Portugal em 22.5.1886. Criou a Assistência Nacional aos Tuberculosos, em 1899, o Sanatório do Outão, em 1900 e vários dispensários e outros sanatórios. Fundou o Museu dos Coches em 1905. Está sepultada no Panteão de S. Vicente, em Lisboa. O Príncipe D. Luís Filipe – Príncipe herdeiro do trono, morreu no atentado contra a família real, nasceu a 21.3.1887 e morreu em 1.2.1908... D. Manuel II: Foi rei de Portugal após o duplo regicídio do seu pai, o rei D. Carlos e de seu irmão mais velho, D. Luís Filipe, em 1908. Nasceu em Lisboa em 15.11.1888 e morreu em Twickenham, Inglaterra em 1932, onde viveu no exílio desde a implantação da República em 1910. João Franco – Nasceu em Alcaide, concelho do Fundão em 14 de Fevereiro de 1855 e morreu em Lisboa a 4 de Abril de 1929. Formou-se em Coimbra aos 20 anos seguindo a carreira administrativa entre 1877 e 1885. Em 1886 torna-se deputado pelo círculo de Guimarães. Foi nomeado Ministro da Fazenda, pelo Partido Progressista, em 14 de Janeiro de 1890. Foi também ministro das Obras Públicas e foi ministro do Reino depois da I Revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891. Em 16 de Maio de 1903 funda o Partido Regenerador Liberal e coligado com os Progressistas assume o poder em 19 de Maio de 1906. Com a sua política contraditória e violenta contribuiu de forma decisiva para o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908. Talvez por ironia do destino, uma trineta de Inocêncio de Brito veio a casar com um sobrinho neto de JOÃO FRANCO FRAZÃO, cuja família oriunda e residente na Beira Baixa, muito se orgulha deste seu antepassado. Detentora de abundante documentação deste seu familiar, sabem que se chegou a bater em duelo contra adversários da Monarquia e em defesa da Rainha e não terá sido o “João Franco malvado” que Mestre Inocêncio invectiva na Décima “NOBRE TERREIRO DO PAÇO”. Em vez de a omitirmos, registamos a Décima como homenagem ao político e família e ao poeta que assim procurava interpretar a ideia sobre aquele político que se difundiu pelo povo naquele período agitado e de grandes convulsões políticas. I Grande Guerra Mundial – 1914 – 1918 (Armistício assinado em 11/11/1918) (80 anos em 1998) Guerra Civil Espanhola – 1936 - 1939 II Grande Guerra Mundial – 1939 - 1945 Hitler – o Kaiser déspota orgulhoso? Não se refere a ele. – Adolfo Hitler, 1889 – 1945, torna-se chefe de um pequeno Partido Alemão dos Trabalhadores, em 1921, que transforma em Partido Nacional Socialista. Torna-se chanceler em 1932 e em 1934 já é o chefe ditatorial da Alemanha. O seu sonho de domínio e expansão leva-o a desencadear a II Guerra Mundial. Guilherme Segundo - O Kaiser déspota orgulhoso, neste caso é o Guilherme Segundo, Imperador alemão (1859-1941) subiu ao trono em 1888 e, com o seu espírito militarista e expansionista veio a provocar a I Grande Guerra, 1914/18 e se exilou, nos Países Baixos, desde 1918. (Ver Décima relacionada: Kaiser déspota orgulhoso). 32 Mestre Inocêncio, andarilho de Feiras e Poeta repentista. Segundo informações do Senhor Manuel de Sousa Aleixo e afinal confirmada pelo Mestre Paulino, nas festas de Ervidel, onde faziam um arraial pelo S. João, havia normalmente uma grande POPIA que era ganha por aquele que lhe fizesse os melhores versos... Claro que, quando estava o Mestre Inocêncio de Brito, era certo e sabido quem é que ganhava. Como sabiam que ele era muito desprendido, nunca publicou nenhum dos seus versos nem fez daquelas folhas que os poetas populares costumavam fazer para vender nas feiras..., um dia um dos miúdos foi pedir uns versos ao Ti Inocêncio... Primeiro ainda disse que não, mas já que ele não queria concorrer, perante a insistência do rapaz, ele perguntou-lhe: - Então de que é feita a POPIA meu menino, diz lá... E o moço lá disse que, com a farinha, a POPIA levava manteiga e mel e... – Então presta bem atenção e leva lá esta que de certeza vais ganhar a POPIA... Claro que o júri do qual fazia parte o professor lá da terra logo viu que a quadra não era dele, mas perante a confissão de que era uma oferta do Mestre Inocêncio lá lhe deram o prémio que ele foi repartir com o Mestre, os amigos e a família... A Manteiga nutritiva Junta ao mel saboroso À face de Deus unida Faz um manjar delicioso. Doutra vez teria ganho com a quadra seguinte: Que lindo Arco Celeste Que Deus mostrou a Noé Que linda, agradável vista Que aquela POPIA é. Nessa altura, havia também em Beja um poeta popular muito considerado, um tal Francisco Campos, que, ao que parece, se considerava o melhor... Consta que lhe terá dedicado os seguintes versos: Francisco Campos não penses Que és sábio sem ter segundo Mais tolo é quem se persuade (Tolo é considerar-se)? Ser o único no mundo. Mas também terão sido em sua defesa que fez estes: Está muita gente enganada Com respeito a Francisco Campos Em motes ninguém lhe ganha Só se forem alguns Santos. Para o Manuel de Castro, poeta da Vila de Cuba, que seria um tanto mais novo do que ele, e a quem, segundo dizem, ele tratava por Mestre, fez esta quadra que parece ter o seu desenvolvimento em Décimas: 33 Vila de Cuba tu és A terra com que eu engraço Ao contemplar-te imagino Ser passarinho e tu laço. Consta que, sobretudo, nas Feiras de Castro Verde, o Mestre Inocêncio de Brito se juntaria com o Manuel de Castro que ia da Cuba e o António Aleixo que vinha do Algarve... e, como não podia deixar de ser, tinha de haver um despique. Ainda nos anos 90 se têm juntado, na taberna do João das Cabeças, os poetas populares que cantam o baldão, que cantam ao despique acompanhados pela viola campaniça... Consta que haveria despiques de décimas ou décimas silvadas, que à semelhança do baldão, que joga com oitavas espelhadas, obrigavam o que respondia a pegar no último verso com que o primeiro poeta terminava a sua décima... Como podemos ver, pela recolha à frente, o Mestre Inocêncio de Brito glosou o mote que normalmente é atribuído a António Aleixo, mais conhecido por ter livros publicados. Seria dele o MOTE ou de Inocêncio de Brito que, segundo consta, pelo menos por ser mais velho, considerava seu Mestre, como o Manuel de Castro? Descobre-te, milionário Vai um enterro a passar É a filha de um operário Que morreu a trabalhar. Falando ainda de poetas populares que se teriam cruzado com Inocêncio de Brito, existe uma grande disputa a respeito do MOTE que transcrevemos a seguir e muitos atribuem a Ti Belchior da Estação. O certo é que os dois terão glosado o mesmo mote e como assinalamos na transcrição, teriam nascido de histórias diferentes. A Décima do Ti Inocêncio terá nascido dum episódio em que o Afonso Costa vem a Beja, como advogado, defender um cigano bastante abastado, famoso, naquela altura, por aquelas redondezas. A caminho de uma feira, esse cigano que levava a sua caravana, ter-se-ia cruzado no caminho com um moiral que levava o seu gado e os animais enlearam-se uns com os outros o que provocou uma grande confusão. No meio da discussão o cigano puxou duma pistola e matou o outro lavrador. Quando a família meteu o processo em tribunal, o outro, que tinha dinheiro, apresenta como seu advogado, nada mais nada menos que o próprio Ministro da Justiça, o Afonso Costa. A jovem República que tinha acabado com os males da Monarquia, para bem da Pátria, mostrava-se logo como defensora dos pobres e da justiça desinteressada!!! A história do mesmo mote glosado pelo Ti Belchior da Estação, parece meter também outro conhecido da Primeira República, o Brito Camacho, que teria contado a um grupo de estudantes de Coimbra, esta habilidade de poetas “analfabetos” do Alentejo fazerem décimas a partir de um mote e então, consta que o mote seria do próprio Brito Camacho... A instrução (não) é precisa A instrução não convém A instrução embrutece A quem muita instrução tem Do Ti Belchiorinho da Estação seria também esta quadra relacionada com o tabaco, já que o Mestre Inocêncio tinha umas sobre o vinho e parece que gostava bem dele... 34 Contou-nos o Senhor Manuel de Sousa Aleixo: Este vício do tabaco Dos pobres e figurões Não é vício é um costume Onde se gastam milhões. Como consta que gostava de afogar as mágoas na bebida, e não era só ele, num meloal, onde havia vários encarregados de olhar pelos “amigos do alheio”, às tantas, uma CHOÇA que servia de abrigo ao pessoal, era já um depósito de garrafas, onde já não se podia entrar... Então a quadra que saiu era assim: Ai que belo meloal Ai que choça que lá está Não é choça é botica Isso choça, espere lá! Conta-se ainda que um dia o Mestre Inocêncio foi servir de testemunha num caso que foi julgado em Ferreira do Alentejo. No final o Juiz, ou por já ter ouvido falar, ou impressionado com as falas do homem, no final da audiência, depois de mandar todos em paz, disse: - Aquele senhor além fica aqui para falar comigo... O Juiz teria falta de um escrivão e teria convidado o Ti Inocêncio para o ofício, mas ele escusou-se, talvez a pensar no “Passarinho e no laço” que dedicou ao Manuel de Castro... (Ver também a referência da bisneta D. Cremilde, na introdução). Um dia um colega do trabalho, perdeu a “pataca” onde guardava o tabaco e andou à procura por todo o lado e a perguntar a toda a gente... Então o Ti Inocêncio, como não podia deixar de ser, respondeu com uma quadra: Eu não vi a sua pataca Nem fechada nem aberta Se achasse a sua pataca O meu amigo tinha-a certa. Já, possivelmente, nos últimos anos, quando trabalhava na “apanha da palha” para fazer os grandes montes onde era guardada, desabafou com a seguinte quadra: No Monte da Casa Branca, Fizeram-me carregar palha! Cá no chão, ‘inda lá vai, A escada é que atrapalha! Afinal, esta quadra que nos apareceu primeiro, isolada, deu origem a uma DÉCIMA que reproduzimos no devido lugar. 35 Para mostrar o cuidado que este poeta tinha a escrever, uma vez que teve oportunidade de aprender a ler e escrever com o Padre Carreira, registamos estes versos que o seu neto António Paulino de Brito recorda com os seus 91 anos (em 1998) e que afinal são o final de uma adaptação da terceira décima da Décima: MINHA TERRA, MINHA TERRA: Manitas que tão bem escrevem Escrevam a Deus que é Pai Nosso Visto que eu lá ir não posso Os anjos do Céu me levem Para finalizar estes dados iniciais, recordando ainda versos, que Mestre Paulino e a imã, D. Clara (Maria Clara de Brito) recordam, acrescentamos ainda uns versos que teria feito o Mestre Inocêncio, ao sentir o fim dos seus dias: O Tempo vai-se passando E eu estou no fim com certeza Tenho contas a ir dar Ao autor da Natureza A maneira como Inocêncio de Brito arquitectava as suas QUADRAS / DÉCIMAS é lembrada pelos netos António Paulino e Maria Clara de Brito: “Muitas vezes, dávamos com ele a falar sozinho e quando lhe perguntávamos o que estava a dizer, muitas vezes não respondia e pedia que o deixassem em paz, pois estava com certeza a engendrar os seus poemas... Algumas vezes, quando já tinha na cabeça os versos completos, voltava-se para nós e dizia: - Querem ouvir? e ali desfiava as sua Décimas. E ainda nos disse mais: - “Não misturem os meus versos com os dos outros...” Mesmo neste trabalho não esquecemos este “recado”. Juntamos outros versos e textos, mas para os melhor entender na sua época e para lhes dar o devido relevo que todos podem verificar. Para mostrar a sua grande memória e o gosto que tinha em ler, conta-se ainda um episódio que se passou numa daquelas representações do PRESÉPIO, um teatro popular – Auto de Natal - ciosamente guardado por algumas famílias de S. Matias e poderá e deverá ser objecto de estudo e futura publicação, embora haja algumas pessoas que considerem que pode haver inconvenientes em se fazer isso. A representação mais recente foi levada ao palco no Natal de 1995 ou 1996 e a anterior tinha sido há cerca de 48 anos, em 1946 ou 1947. Conta-se que numa das representações anteriores, em que Inocêncio de Brito estava presente mas num grupo com uns amigos numa sala anexa àquela em que se representava o AUTO, a dada altura, o actor estava a declamar a genealogia do Menino Jesus, enumerando todos os descendentes desde David a Jesus, (Vide S. Mateus, I, 1 a 12), às tantas teve uma “branca”, uma perda de memória, atrapalhou-se, e ficou mudo. Do seu lugar, Mestre Inocêncio que parecia alheio à representação, que se passava na sala ao lado, mas com a qual tinha ligação a sala em que se encontrava, calmamente, segue a citação da Genealogia de Jesus, sem falhar um nome. Todos se viraram para trás, aplaudiram, e o AUTO seguiu a sua representação. 36 Notas finais importantes neste ponto: Como é evidente, a ortografia dos versos que nos foram ditos oralmente foi feita segundo as leis actuais da escrita. Como também será fácil de perceber, de todos os restantes textos a que pudemos ter acesso aos manuscritos escritos pelo próprio autor ou ditados por ele, procurámos manter a ortografia usada, apesar de poder haver alguns desvios mesmo às normas da época. Inocêncio de Brito não terá frequentado a escola oficial, mas, como já foi dito noutras notas, aprendeu a ler e escrever com o senhor padre José Maria Carreira e nota-se, pelas fotocópias dos manuscritos a que tivemos acesso, que procurava esmerar-se na caligrafia e ortografia. Além disso, como revelam certos testemunhos como o do mestre Paulino seu neto, D. Cremilde, bisneta e até o senhor Manuel de Sousa Aleixo, o poeta só confiava nas cópias escritas pela professora regente D. Mariana Ramalho: – “Essa sim, é a única que escreve como eu digo” – pois muitos não ouviam o que ele dizia ou procuravam e procuram emendar o que achavam que o “pobre poeta pouco letrado” não podia saber! Do que acontecer de parecido neste trabalho, apresento desde já as minhas desculpas. É de considerar entretanto, apesar de estarem escritos, que o próprio autor, como é normal acontecer, quando se trata de textos onde domina a oralidade, usasse por vezes termos diferentes de acordo com a inspiração ou memória do momento, como acontece frequentemente, embora o rigor da estrutura e das rimas não permita grandes alterações e divagações. Voltamos a frisar que, na medida em que nos foi possível decifrar os manuscritos, procuramos manter a ortografia escrita ou ditada pelo autor. Ver os casos do fizestes e quisestes para a segunda pessoa do singular tão comum no Alentejo e já ouvi esta deformação a muita gente ilustrada por esse país fora, e depois no plural, quando emprega o Vós, mesmo majestático é, por exemplo, fizesteis, quisesteis, deis... Há certamente ainda muito que estudar sobre expressões e características do “falare alentejano” que o estudo destes e outros poetas populares ajudariam a descobrir. Como nunca nos passou pela cabeça conseguir obter todas as informações completas, ficam aí as interrogações e reticências para cada leitor completar os dados que faltam e alguém mais habilitado as consiga compilar e escrever numa próxima edição mais completa, mais elaborada e com maior divulgação. José Rabaça Gaspar S. Matias, Beja, Novembro de 1998 37 38 IV A organização que foi dada às DÉCIMAS, A organização que dói dada à DÉCIMAS, desde as mais biográficas, que falam do poeta e da família e das terras vizinhas; passando para as que comentam casos simbólicos e temas de reflexão geral como os Olhos, a Mulher, o diálogo do Vinho...; seguindo para as que comentam o Regicídio de 1908 em que invoca as personagens principais; mais duas contra a I Grande Guerra Mundial 14/18; terminando com décimas sobre o desconcerto e insensatez da guerra e a invocação da Morte e da Solidão e No Ventre da Virgem Bela. 1 – DÉCIMAS mais BIOGRÁFICAS, relacionadas com a família, Lugares e Terras por onde andou... 2 – DÉCIMAS que comentam casos simbólicos ou tratam temas de reflexão geral, desde a Instrução..., ao Vinho..., Olhos... e Mulher... 3 – DÉCIMAS referentes ao REGICÍDIO, 1908... 4 – DÉCIMAS a respeito da I GRANDE GUERRA MUNDIAL, 1914/18... 5 – DÉCIMAS de reflexão (com fundamento) sobre a GUERRA e a MORTE... e a Virgem Maria. 39 Igreja de S. Matias e casas antigas (Fotos de Manuel Alexandre Sousa Aleixo) 40 DÉCIMAS de Inocêncio de Brito Décimas mais biográficas Minha Terra, Minha Terra Trabalho não tenho achado Nêste Lugar solitario No teu giro sól brilhante Parti a tola à Maria Já o bom fáto vesti Já fui senhor professor No lugar que desempenho No monte da casa branca Sorri Cuba e sejas grata Pedrógão industrial Brasão da Junta de Freguesia e da Casa do Povo de S. Matias 41 42 "Quando eu estava lá pro val dAgua" MINHA TERRA, MINHA TERRA - mn Minha terra, minha terra Éla lá e eu aqui Os anjos do Céo me levem Prà terra onde eu nasci Quasi no resto da vida Intentei abandonar-te Cruamente desprezar-te Tornar-te como esquecida Ao não vêr-te hoje patria querida Só paixão em mim se encérra Tua ausencia me fáz guerra E tal saudade me obriga Que a todo o momento diga Minha terra, minha terra Sem os menores embaraços Sai dela para fóra E no sítio onde habito agora As pedras pra mim são laços Mover para lá meos passos Minhas pernas não se atrévem Mãossinhas que tão bem escrevem Escrevão a Deos que é pai nosso Visto que eu lá ir não posso Os anjos do Céo me levem Foi éla onde nasceu Este homem tão seu amante Hoje tornou-se um viajante Todo o amor lhe perdeu Foi éla o berço aonde eu Os infantis sonos dormi Desde que os olhos abri Ternamente nos amâmos E hoje presentes nos achamos Éla lá e eu aqui Minha naturalidade Patria dos meos ascendentes Minha e dos meos descendentes És tu na realidade Deixar-te foi crueldade Já meos erros conheci E já contrito a Deos pedi Pra que contes da minha morte Por seu amór me transporte Prà terra aonde eu nasci Nota: Os acentos, por exemplo “Éla” e “Prà” foram conferidos pelos manuscritos, bem como “Mãossinhas”… “Escrevão” e outras maneiras de escrever que podem parecer menos correctas. 43 44 TRABALHO NÃO TENHO ACHADO - mn Trabalho não tenho achado Peço esmola não me a dão Se a fome a roubar me obriga Serei prêso por ladrão O incansavel trabalho Me saceia a negra fome Expulsa quem me consome E ao corpo dá-me agasalho Com ele maguas espalho Ganho as medalhas de honrado Sou rico, sou abastado Quando a ele me dedico E por tanto que o suplico Trabalho não tenho achado Quero o pão de cada dia Ganhar com o suor do rosto A trabalhar estou disposto Não quero vida reinadia Não quero por outra via Que a má fama me persiga Mas se não vale a fadiga Do meu deligente braço Aos Ceos pregunto o que faço Se a fome a roubar me obriga O ocio ameaça o perigo Eu quero trabalhar com excesso E por isso trabalho pesso E encontra-lo não consigo Eis como pobre mendigo Estendo à caridade a mão Pedi deram-me o perdão Deos dos Ceos o que farei Trabalho não encontrei Peço esmola não me a dão Se essa feia denegrida Me invadir barbaramente Perderei forçosamente O amor à honra querida Ah quantos há nesta vida Malvados por condição E eu se o for por precisão Não há juis que me atenda Não há lei que me defenda Serei preso por ladrão Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Na recolha de J. Parreirinha (filho de José Fialho) no 1º verso da 1ª Décima escreve “O incessante trabalho / Me sacia a negra fome”. 45 46 NÊSTE LUGAR SOLITARIO - mn Nêste lugar solitario Onde o acaso me tem Brado ninguém me responde Olho não vejo ninguém Estou por cá bem felismente Só me faz incomodar Uma pendencia de olhar Para a parte do nascente Passo a vida tristemente Neste continuo fadario. Sinto-me louco ando vario E o caso é está bem visto Que não dou remedio a isto Nêste lugar solitario Que mais pra eu viver triste Um cinge as armas de Elrei E o mais novinho não sei Ao mênos aonde existe Pra que o pai o não aviste A distancia me o esconde Lançar a vista pra onde Se o pobre pai nada vê Estar-lhe bradando pra quê Brado ninguem me responde A côr que não desmerêce É amôr de pai pra filhos E se ausente dêsses caudilhos Mais a côr resplandêce É lembrança que não esquêce E não pode esquecer a quem Tem um aqui, outro álem Onde a sórte os colocou E eu por sórte tamem estou Onde o acaso me tem De dia mando o sentido Levar novas e trazêr Tanto dêles quero sabêr Tão pouco conrespondido À noite um sonho atrevido Com illusões me entertem Illude-me o querer bem Que os estou vendo e ouvindo E eu tão nescio acordo rindo Olho não vêjo ninguem Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Tem assinatura, cortada na fotocópia: Inocêncio de Brito Por onde andou este homem enquanto um dos filhos fazia o serviço militar? Porque é que não sabe do outro? Porque nunca fala da mulher, ou da mãe dos filhos? É ele mesmo que responde, com NOTAS escritas pelo próprio ao lado do MOTE: "Esta obra fis eu quando estive no monte Corvesso. E, os filhos estavão em diferentes pontos." "Um era militar, e o mais moço estava com as cabras da Apariça ao pé de Moura. E eu não sabia onde êle estava." Monte Corvesso? Ou Monte Corveiro? No original parece-nos poder ler Corvesso, mas as pessoas contactadas não conhecem tal nome e este, como é em nota, ao lado da Décima, não deve ser invenção. Há algum Monte, para os lados de Ferreira, com este nome ou parecido? Quanto ao reparo de não falar, quase nunca na esposa, responde a sua bisneta D. Cremilde: «Pensaria certamente na sua companheira falecida, a esposa que não cantou enquanto ela viveu, mas que depois homenageou com um autêntico hino de exaltação ao seu lugar incomparável no seio da família.» 47 48 NO TEU GIRO SÓL BRILHANTE - mn No teu giro sol brilhante Teu explendor vai e vem Trás-me nóvas dos meus filhos Recomenda-me a meu pai Quando tu sól aparéces Dourando o cume da serra Com teu giro em mar e terra Consôlo restabeléces Assim como os entristéces Se deixas de ser constante Sem tua luz radiante Tão tristes que são os dias E tudo alegras se alumias No teu giro sól brilhânte Luz Divina de ahi vêm As campinas prateando Saudosas nóvas dando Dáme-as cá a mim tamêm Dá-me notícias de quêm Tenho afetos mas escondi-lhos Em meos olhos não há brilhos Os dias que os não avisto E tu sol atendendo a isto Trás-me nóvas dos meos filhos Teus raios são consoladôres São os mantos purpurinos Que cóbrem os perigrinos Mitigam-lhe as suas dôres És o rei dos benfeitôres Moderador de tanto ai Quando o teu vigôr descai Vão-se alegrias perdendo Alegrando e entristecendo Teu esplendôr vem e vai E à tarde ao declinares Fita a vista atencioso Num ancião muito idoso Mas nóta que me dê ares É êsse sem duvidares Quem me estima e não me envai! Aqui ninguém me distraí E tu sól se por mim te interéssas Rei dos astros não te esquéças Recomenda-me a meu pai Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Tem assinatura: Inocêncio de Brito Esta interpelação ao SOL como mensageiro das missivas que o Poeta na solidão precisava urgentemente de enviar para os familiares, será uma das PROSOPOPEIAS mais conseguidas do Poeta. Depois das apóstrofes em que elogia o SOL, o Poeta transforma-o em seu interlocutor e parceiro para lhe trazer e levar as suas mensagens importantes! 49 50 PARTI A TOLA À MARIA- mn??? dc Parti a tola à Maria E não lhe falo seis meses Por causa de uma pulseira Que ela comprou aos chineses Maria lhe disse eu Que queres Artur disse-me ela Olha com raça amarela Não vou nem mesmo pro Céo A Maria estremeceu Deu-lhe a tal neurastenia Vai eu com diplomacia Fui lá fora beber dois Vim de lá e ao depois Parti a tola à Maria Nesta altura o meu cunhado Por ver a mana a chorar Tentou em mim se vingar E eu vi-me muito empessado Depois de um braço quebrado Entendi que fis asneira Mas no fim da brincadeira Ao ver fiquei comovido Em casa tudo envolvido Por causa duma pulseira Minha sogra que é uma fera Por ver a filha a chorar E para me castigar ?? Meu sogro José Pantera Pereira e Cunha Menezes Já me disse duas vezes Se você se faz Matias Suspendo-lhe as garantias E não lhe falo seis mezes Mas agora felismente Pases com Maria fis Já me sinto mais felis Ando alegre e sorridente Já não sou intransigente Com Chinos ou Japoneses Já findaram os meus revezes E a minha Mariazinha Já usa a tal argolinha Que ela comprou aos Chinezes Este deve ser um episódio, que com certeza foi muito comentado lá na terra, e é de imaginar o Ti Inocêncio, na roda dos amigos, numa taberna, a contar o passado com o “Artur” a sogra e o sogro José Pantera. Pelos nomes usados e pela pompa do nome do “sogro” trata-se de uns versos encomendados, ou uma pura ficção para divertimento do poeta e do seu público. A maneira como foi escrito no original, a aproveitar o espaço livre de outra Décima – “O nobre Terreiro do Paço...”, dificultou imenso a leitura destes versos e o quarto verso da segunda décima não foi possível ler. Podemos inventar? – Fez-me sentir o mais bera? Tornou-se muito severa?! Abriu-me um lenho na testa? Deu-me uma tareia mestra? Fez-me da tola uma esfera! Atirou-me com uma esfera? Chamou-me de besta bera! Fez-me o mesmo que eu fizera! Tirou-me a que antes me dera! Chamou-me aquilo que eu era! Disse qu’era d’outra era! Fez-me partes (artes) de megera? Podíamos ficar para aqui a inventar muitas outras... Claro que não é possível adivinhar a saída do Poeta... Talvez ainda alguém se lembre!... Nota importante – Creio que posso afirmar que tive nas mãos o original manuscrito desta décima, muito deteriorado e muito confuso por estar misturado com outra décima (a do Terreiro do “Passo”, como já disse creio que escrito com dois ss!), e, numa visita à família, em Lisboa, para tirar dúvidas e confrontar com o original, o certo é que, como não tinham ali os originais, e por isso não foi possível verificar, eu fiquei sem a fotocópia! A família poderá emendar este lapso em qualquer altura, ou quando houver oportunidade de conseguir fotocópias de qualidade dos originais ainda existentes. 51 52 JÁ O BOM FÁTO VESTI - dc Já o bom fáto vesti Bom fáto chapéu e calçado Hoje a penas um barrete Chinélo e fáto rasgado Na flor da minha edade Na verdura dos meus anos Dos loucos prazêres mundanos Saciei minha vontade Tive alegre mocidade Muito gosei muito ri Bem -vestidinho me vi Hoje porem só visto trapos Mas se ando a pingar farrapos Já o bom fato vesti Fazenda azul ou preta Trajáva conforme cria Osava o que apetecia Como quem usava xeta Uzei a boa jaqueta Boa calça bom colête Um chapéu todo cadête Preso com duas borlinhas E para tapar as orelhinhas Hoje apenas um barrête Eu sempre tive lugar Entre as pessoas decentes E hoje tornam-se impacientes Se eu delas me aproximar Quando estou nisto a pensar Vivo um tanto apaixonado Morreu meu tempo passado Morreu já para mim não vive Morreu o tempo em que tive Bom fáto chapéu e calçado Em trajar bem eu fiz brio E seguir os intentos meus Com a ajuda de Deus E dum homem que foi meu tio Hoje porem já me desvio Dum homem bem arranjádo Tornei-me tão desbochado Que de mim proprio eu abuso E por meu desboche só uso Chinélo e fato rasgádo Cuba, 8 de Maio de l950, Domingos António Espinho, (que era escriturário na Câmara de Cuba, passou à máquina alguns versos de Inocêncio de Brito, que depois deu ao seu bisneto José Fialho) 53 54 JÁ FUI SENHOR PROFESSOR - mn Já fui senhor professor A um pai eduquei filhas Agora sou não sei quem Da ribeira de campilhas Ditoso homem que gosa De profissões quantas quer Diga o contrario quem disser É pessôa venturosa Entre élas a mais honrosa Já eu fui merecedor Por um meio seja quem fôr Por meos dotes excelentes De jovens minhas parentes Já fui senhor professor Elle então aos meos cuidados As meninas entregou Certamente confiou Em meos modos delicados Para os fins mencionados Estavão de mim à mercê Nesse tempo já se vê Era o seu mestre estimado Era délas respeitado Agora sou não sei que Fis excessos e bastantes Pra que elas se aplicassem Pra que lessem e estudassem As coisas mais interessantes Como as terras importantes Do continente e das ilhas Do mundo as maravilhas Istoria passada e presente De quanto sei finalmente A um pai eduquei filhas Agora sou maltezóte E para as insígnias da malta Hoje presente só me falta A bordôa o tarro e o capote No jogo do deite e bóte Sou o az Mato as manilhas E pra esgotar essas bilhas Por aqui tudo me aclama Pelo Sagorro da fama Da ribeira de campilhas Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Neste manuscrito está riscado o mote de “A instrução é preciza” e ainda escreveu oito versos da primeira décima. Este facto criou uma dificuldade acrescida para se tentarem ler as décimas que ficaram mais apertadas. Ao contrário do que costuma fazer, a 2ª décima está logo, muito apertada, ao lado do primeira e não por baixo. No primeiro verso da 3ª escereveu: “Ele então aos meus” e logo na linha seguinte: “Elle então aos meus cuidados”. (Ver fotocópia ou original). Sagorro? Ver a expressão Sagorro que em certas zonas quer dizer “Um trabalhador de determinado lugar”. É tentar imaginar nesta DÉCIMA o desejo natural de ensinar a outros aquilo que aprendeu. Naquela época em que não havia facilidades de frequentar a escola, talvez este impulso natural tenha criado a vocação de alguns dos seus descendentes que vieram a ser professores... 55 56 NO LUGAR QUE DESEMPENHO - dc No lugar que desempenho De um infâme sensurado Faço obras de misericórdia Pratico um dever sagrado Minha importante memória Me faculta me franqueia Profissão que me grangeia Ilugios, louvores e glória Eu dou gravuras à história Que com o meu punho desenho Dou com quem me entertenho A luz do entendimento Dou de mim bom docomento No lugar que desempenho O meu instruir civiliza As maiores barbaridades E desenvolvo faculdades A quem instrução precisa O meu educar moraliza Introduz paz e concórdia Com ele expulso a discórdia Para os pontos mais distantes Ensino os ignorantes Faço obras de misericórdia A tua tosca poesia Que insulta a delicadeza Com a máxima franqueza Nem resposta merecia Eu responder não devia Mas não quero ficar calado Porque quero ser respeitado Como Roldão na peleja Não quero que o meu nome seja De um infâme sensurado Onde estou sem permanência Dou este mimo à infância Arranco a ignorância E planto a inteligência Estou com respeito e decência De um homem civilizado Neste posto delicado Quem por tal tudo isto crê Dou a vista a quem não vê Pratico um dever sagrado I. de Brito Copiado por J. Parreirinha, em Janeiro de 1994 para uma colectânea de versos de José Fialho, onde incluiu alguns do seu bisavô. I. Brito seria trisavô deste senhor J. Parreirinha da Silva, filho de José Fialho e mora na Moita. 57 58 NO MONTE DA CASA BRANCA - dc No monte da casa branca Me fizeram carregar palha No chão ainda eu vou bem A escada é que me atrapalha Muito sofre um indigente Que vive sem ter guarida E muito sofre nesta vida Um orfãsinho inocente Muito sofre um padecente Que maldita fera o espanca Com palavra de honra e franca Vou contar ao pôvo meu Quanto tenho sofrido eu No monte da casa branca O primeiro giro foi no chão Ali ao pé do caminho Como aquilo era pertinho Era quasi um valentão Já sentia presunção Já julgava ser alguem Ainda não disse a ninguem Agora aqui é que digo Já dizia para comigo No chão ainda eu vou bem Ouvi dizer o palheiro Precisa ser destapado Fiquei atmorisado Mas com fé sou cavalheiro O deus da terra o dinheiro Quem o quer ganhar trabalha Esse que muito ramalha Perde por dar à tramela E eu com vontade ou sem ela Me fizeram carregar palha A escada trepei contente Quasi que sem ter receio Apenas ia no meio Sim para tráz e não para a frente Então disse tristemente Eu não venso esta batalha Nossa senhora me valha Aí Jesus o lançol cai No chão ainda lá vai A escada e que me atrapalha Cuba, 8 de Maio de l950, Domingos António Espinho, (que era escriturário na Câmara de Cuba, passou à máquina alguns versos de Inocêncio de Brito, que depois deu ao seu bisneto José Fialho). 59 60 SORRI CUBA E SEJAS GRATA - mn Sorri Cuba e sejas grata Ao teu nobre habitante Que intentou embelezar-te Tornar-te mais importante Óh mórta restituída Não recues à Vidigueira Tamem já tens uma feira Luxuósa e concorrida E se és disso reconhecida Este facto relata E com mil prazeres escreve a data Pra ti de eterna memoria E para o autor desta gloria Sorri Cuba e sejas grata A qualquer terra mesquinha Tu fazias continencia Hoje tens trato de Excelencia Majestade de Rainha E como de mim és visinha Os meos parabens vou dar-te Mas que foi vou demonstrar-te Não sei se acerto se falho O senhor Palma Borralho Que intentou embelezar-te Em escuras trevas do outróra Vivestes que eu bem me lembro Veio o primeiro de Setembro Resurgirte a luz da aurora Graças que já és agora Mais pitorêsca e brilhante Já és vila triunfante A par de quem de ti ria De quem tal primazia Ao teu nobre habitante Qualquer povinho o mais réles Qualquer terrinha rural Tinha uma feira anual Trajando sêda e tu péles É bem que agora reveles Gratidão no semblante Não esquecendo a cada instante Quem de galas te vestiu O senhor que conseguiu Tornar-te mais importante Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê assinatura na fotocópia. Seria importante saber de quando data a Feira de Setembro, em Cuba ou na Cuba e quem foi este senhor Palma Borralho. 61 62 PEDRÓGÃO INDUSTRIAL - dc Pedrógão industrial Enorme a tua riqueza Neste velho Portugal Vives na maior pobreza Grandes explorações De especiais granitos, Polições, dos mais bonitos Artigos com distinções Para as grandes construções Na cidade capital, Forneces seu material E tudo quanto precisou, Mas, para ti, ninguém olhou, Pedrógão industrial. Tens exploração mineira De rico magnetite Tens cobre, Tens pirite Fortunas à tua beira Vives uma vida inteira Dentro de um facto penal Tens de uma forma geral, Um passeio intransitável! Rica vives miserável Neste velho Portugal. Tens areias aprovadas Concedes toda a matéria Forneces uma base aérea Das obras mais ilustradas Grandes pistas elevadas Pavimentos com firmeza Cantarias de nobreza Nas zonas da região E tu, sem compensação, Enorme a tua riqueza. Tens hortas tens olivais Tens terras de semear Tens indústria de pescar Em águas fluviais Tens condições naturais De uma terra portuguesa Olha-se e é uma tristeza: Ruas inutilizadas Com águas estagnadas, Vives na maior pobreza. Esta Décima não consta dos manuscritos guardados pela família. Podem dar-se elementos sobre Pedrógão nesta época descrita por Inocêncio de Brito? E agora? A cópia dactilografada é a conseguida por Jaime Curva. 63 64 Décimas que comentam casos simbólicos ou tratam TEMAS de reflexão geral A Instrução Riqueza e vista perfeita (saber ler)... O Vinho em diálogo O Milionário A Mulher Os Olhos 65 66 A INSTRUÇÃO É PRECIZA - mn A instrução é preciza A instrução não convem A instrução embrutece A que a instrução tem Base das habilidades Importante educação Sem a sua proteção Não brilham dignidades As maiores barbaridades O seu poder civiliza E se com ela se diviza A lus do entendimento Quase como o alimento, A instrução é preciza. Esse dóte essa riquêza Esse dom essa excelencia Faltando-lhe a consciencia Não lhe pertence a nobrêza Quem zéla pela defêza De quem castigo meréce Se um sagrado dever esquece E pratica por ambição Nada vale a instrução A instrução embrutece Ela meiga e carinhosa Abre os olhos à infancia Opôe à ignorancia A sciencia vantajosa Por tanto tem (quem) a gósa Dispoder dela muito bem Mas se com orgulho ou desdêm A transforma inconsciente Então verdadeiramente A instrução não convem Creio ser ela o principal Adôrno da creatura Que illustra quem a procura Com um dom sem ter rival Mas sem auxílio moral Não pode illustrar ninguém Com imoral se houver quem Com imprópria instrução suba Essa desfeia e derruba A quem a instrução tem. NOTA DO AUTOR no manuscrito: «É letra de 85 anos não posso »??? ... Nota 1 - Esta décima terá ficado célebre em S. Matias e zona de Beja, pois o poeta, tê-laia feito, na ocasião em que o Ministro do Justiça do I Governo da República, Afonso Costa, teria ido ao tribunal de Beja como advogado. Foi o caso de um cigano que matou um agricultor, mas como o cigano era rico, Afonso Costa veio defendê-lo e ganhou a causa. A jovem República que se propunha acabar com os abusos, privilégios e desmandos da Monarquia, logo no início, demonstrava assim a sua vocação para defender “os pobres e os oprimidos”!!! Assim a família do agricultor, foi prejudicada e roubada duas vezes: pelos ladrões e pela justiça. Nota 2 - Os parêntesis indicam modos diferentes como estas Décimas foram recolhidas. São, evidentemente, casos normais neste tipo de poesia essencialmente oral, correndo o risco de o próprio autor a ter dito de diversas maneiras, e consequentemente, aqueles que a aprenderam e repetem de cor, umas vezes cedem à tentação de emendar ou complementar o que é de difícil intelecção, ou há mesmo palavras ou expressões que não se entendiam. Sempre que tiver oportunidade, registarei as várias versões e tentaremos no fim chegar a uma leitura corrente, com as notas em roda pé para não estragar a fluidez da leitura. 67 NOTA 3. Ver noutra parte, o mesmo MOTE glosado pelo Ti Belchior, já falecido, da Estação de Ourique. Segundo o senhor Vítor Paquete, muito conhecedor do Alentejo, esta glosa também tem uma história. Terá sido um Mote trazido de Coimbra por um estudante de Aljustrel, o Brito Camacho, e teria sido dado pelos colegas que não acreditavam que houvesse poetas alentejanos, que, de uma Quadra - Mote, criassem as quatro Décimas como desenvolvimento do tema. Ou o MOTE já era de Inocêncio de Brito e o Brito o Camacho achou que seria o mais indicado para o “consoante” que se pretendia? Ou o MOTE é do Ti Belchior e o Inocêncio terá usado um Mote Alheio como era uso entre os poetas populares, para melhor tratar o tema que pretendia? Mas o Ti Belchior seria mais novo e assim é natural que tenha sido ele a usar um Mote Alheio. Há quem sugira que o MOTE seria do Brito Camacho que era versado em letras e era escritor polémico e conflituoso. Até prova em contrário, nós apostamos no Ti Inocêncio. Nota 4: Na recolha de J. Parreirinha, é curioso notar que, talvez por influência do pai, o 2º verso foi registado com um SIM: “A instrução, sim, convém”. 68 RIQUEZA E VISTA PERFEITA - mn Riqueza e vista perfeita Num homem sem saber lêr É ser rico andar a esmola Ter boa vista e não vêr Dois filhos dos mesmos pais Vê-se um em oiro nadando Outro com a fome lutando Que heranças tão desiguais Da mão de quem dá o mais O pobre o menos aceita E se uma cegueira o espreita Mais a sorte e desditosa Por tanto é feliz quem gósa riqueza e vista perfeita Basta não pode ufanar-se De felis em todo o sentido Pode ao pobre instruido Suceder ter que humilhar-se Té por não saber expresar-se A sua pêta rebola Já vê que não tem da escola O bem que esta lhe concede Não tem e por não ter pede É ser rico andar a esmola Mas se for analphabeto Pode como ignorante Sair-lhe um trato importante Por um caminho indireto E se em seu favor o discreto Essa questão resolver Do seu digno saber Um bom documento dá E essa vantagem não ha Num homem sem saber ler (“Num homem sem saber ler” repetido no manuscrito) Pede indispensavelmente Por falta de educação A vantajosa instrução Para que por si represente E pra êle surpreendente Simples cousa pode ser Olhar não comprehender Se é por letras enganado Eis pois como esta provado Ter bôa vista e não ver Saber se há alguém que possa conhecer um caso de dois irmãos, um rico e um pobre?.... ou algum caso que se tenha passado com ele, que terá valido a algum patrão rico, mas que não sabia ler?.... 69 70 VINHO CRUEL INIMIGO - mn Vinho cruel inimigo Completo criminôso Pra prova do teu delicto Tu és reos eu sou queixôso O teu espirito forte Causa tal influencia Que ao sabio usurpa a sciencia Ao são adquire a morte O marinheiro perde o norte Quando navega contigo Arriscado a todo o perigo Vive aquêle que te quer bem Felis não fazes ninguem Vinho cruel inimigo Noé por se embriagar Logo por terra o deitastes Em triste estado o deixastes Se o filho o não vai tapar Com por de seu pai sombar Logo de Deos foi maldito Segundo se acha escrito Tu que aos homens desleixas Té Noé de ti fes queixas Pra prova do teu delito Mesmo a si proprio se inflama O que por ti se apaixona Honra e credito abandona A pessoa que te âma Como a arvore perde a rama Perde o homem o ser ditôso Tu voltas ao venturôso A cabeça para os péz Ninguém duvide que ês Completo criminôso Causas a má união Entre mulher e marido Fazes do fraco atrevido Derrubas o valentão Tiras ao rôsto a feição Seja embora o mais formoso Tornas o manso teimôso Causas toda a desavença Em vista de tanta ofensa Tu és réo e eu sou queixôso Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se lê a assinatura na fotocópia. Esta DÉCIMA e a seguinte são um modelo de diálogo ou encadeamento que mostram como, com as DÉCIMAS, se pode construir um DIÁLOGO ou até uma infindável NOVELA ou uma peça de teatro... 71 72 NÃO CLAMES CONTRA O VINHO - mn Não clames contra o vinho Que é uma queixa injustamente Não manda a lei castigar Quem esta da culpa inocente O vinho não é culpado Rudo é quem não percébe A culpa tem quem o bebe Em ponto demasiado Tu vêz que o seu resultado Que é turbulento e daninho Se segues tão mao caminho E clamas que te perdestes Clama de ti que o bebestes Não clames contra o vinho Ninguem a diser se exponha É sina que Deos me deu Isso é lhe direi eu A sua pouca vergonha Quem, com seu contrario sônha É até mesmo o vai provocar Não tem nada a alegar Não se tenha por queixôso A quem não é criminôso Não manda a lei castigar A culpa toda é do homem É de mim e é de ti Que não retira de si Os vícios que o consomem Vícios são leões que comem Bens e honra a muita gente Quem vê a cousa patente E não foge a vil desgraça Queixas do vinho não fáça Que é uma queixa injustamente Seja homem ou mulher Tem livre a sua vontade Digo e juro ser verdade Se é bêbado é por que quer E tu dis a quem não souber O vinho é impertinente Esse homem no que dis mente Eide eu então responder Só á fim de defender Quem está da culpa inocente Ver o problema do advérbio “injustamente” servir de adjectivo. É de facto uma liberdade poética notável. O problema da recensão, ou análise da crítica erudita, levanta por vezes problemas. A pena é não termos o poeta para ouvirmos a sua forma de dizer. A solução é ouvir ou ver as várias versões que for possível e discorrer, uma vez que se trata de uma tradição essencialmente oral, que o autor poderia dizer, conforme as ocasiões, ora de uma maneira, ora de outra, e então com os ouvintes, ou aqueles que costumam dizer Décimas de outros, corre-se sempre o risco de interpretarem ou de terem ouvido, à sua maneira. Esta DÉCIMA foi conferida pelo manuscrito do próprio poeta e, tal como nas outras, decidimos manter a ortografia usada, porque corresponde, em grande parte à ortografia usada na época e apresenta uma razoável facilidade de interpretação, sobretudo para se poder imaginar a tonalidade da cadência que é marcante neste tipo de poesia e, ainda por cima, com o sotaque de um alentejano que aprendeu a ler e a escrever, o que acontecia a poucos no seu tempo... 73 74 É COMO O CORPO SEM ALMA - dc É como o corpo sem alma A casa sem ter mulher Não tem luz dentro de si Dê-lhe o sol como lhe der. Oh! mulher, louvado seja, Quem ao mundo (te) a enviou, Bendito quem (te) a dotou, Maldito quem (te) a pragueja. Lugar, onde ela não esteja, Gela o frio, afronta a calma; Aí, só, levantam palma, Os incómodos da vida, Que, a casa onde ele não lida, É como o corpo sem alma Se entre esposo e filhos queridos A voz materna não soe (soa) Parece, Deus me perdoe, Uma casa de bandidos. Se caminham, vão perdidos, Uns por aqui, outros por ali. A sorte não lhes sorri. Se jogam, não fazem vaza. Cegos, que a sua casa Não tem luz dentro de si. Esse anjo, esse (ser) adorável, Que Deus fez formosa e bela, Bendito(a) é, (pois) que sem ela, Era a vida insuportável. Seu ser é indispensável. Tudo em geral (a) o requer E eu, mal direi, se disser, Que parece, meus senhores, Um covil de malfeitores, A casa sem ter mulher. Não tem luz, está às escuras, Não tem ordem, nem tem graça. Tem aspectos que ameaça Às mais cruéis desventuras. Só penas, só amarguras Há, onde mãe não houver, Onde ela não mantiver Amor, paz, santa união, É sempre uma escuridão Dê-lhe o sol como lhe der. Nas últimas revisões não tivemos oportunidade de confrontar esta DÉCIMA com a fotocópia do manuscrito. Depois de vários contactos com a família foi difícil verificar se existia de facto o manuscrito para desfazer as dúvidas... É mais uma que fica para confrontar entre a Décima original e a leitura e a interpretação que fazem as pessoas que têm memória destes versos... Os parêntesis usados servem para indicar a confusão das várias cópias que foram usadas e para se escolher a que melhor se adaptar a quem a disser. Já em 2006, tivemos oportunidade de ouvir esta DÉCIMA dita pelo Mestre Ti Limpas, Manuel Inácio Veladas, na Confraria do Pão em Terena e, dita como ele sabe, é difícil não perceber os arrepios e as emoções que provocam uma interpretação como a deste Mestre! Há toda uma musicalidade que é preciso saber ouvir e poucos sabem “dizer” ou entoar! Sem nunca se referir à sua mulher, não há dúvida de que este é dos hinos à mulher dos mais bem conseguidos e exaltantes. Sem platonismos ou romantismos exaltados, a figura omnipresente e omnipotente da mulher, temos de concordar que é dum realismo e oportunidade flagrante. É evidente que esta Décima podia estar muito bem enquadrado no primeiro grupo mais biográfico... 75 76 OS OLHOS, ORGÃOS DA VISTA - mn Os olhos orgãos da vista Alegres são sedutores Irados são agravantes Humildes são defensôres Os olhos são ornamentos A graça, o brilho do rôsto Em relação do seu gôsto Seguimos nossos intentos Não há a estes portentos Um poder que lhe resista Se intentão qualquer conquista Dificilmente se rendem Conseguem quanto pretendem Os olhos orgãos da vista Se pingas de agua chorosas Brótão de olhos femininos Felizes são seus destinos Custam pouco e são rendosas Convertem almas bondosas Com seus ares suplicantes Não há enlace de amantes Sem sua prévia licença Mas há nêles a diferença Irados são agravantes Obras humanas possiveis As propias da naturêza Artes que encerrão belêza Por êles nos são visiveis De caprichos invenciveis São hábeis conquistadôres São fieis embaixadôres Das ordens do coração E por um especial condao Alegres são sedutôres Os olhos tristes comóvem Genios os mais indomáveis E tornão mais favoráveis Pênas de crimes que aprovem E se deles lagrimas chovem Muito mais são vencedôres Tem então estes primôres Progetos que não combinão Se são soberbos criminão Humildes são defensôres Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Possivelmente há uma assinatura no manuscrito, mas cortado na fotocópia. O poder e a magia do OLHAR, dos OLHOS, tratados por “mão de Mestre”... A adjectivação e a adjectivação dupla é possivelmente o artifício literário mais evidente neste Poema para realçar o papel dos olhos... e para descobrir ou verificar que, como alguém disse: “Há muita filosofia escondida nos poemas de Mestre Inocêncio que não está ao alcance de qualquer um!”... É interessante verificar que na recolha de J. Parreirinha que com certeza escreveu as Décimas do seu trisavô, a partir do que ouvia ao seu pai José Fialho Brito da Silva, o MOTE leva “SE” nos três versos, menos no 1º. Ficaria: Os olhos órgãos da vista / Se alegres são sedutores /Se irados são agravantes /Se humildes são defensores”. Mas isto não confere com o original consultado. 77 78 DESCÓBRE-TE MILIONARIO - mn Descobre-te milionario Vai um enterro a passar É o corpo de um operario Que morreu a trabalhar (Mote alheio, atribuído a A. Aleixo, ou mote próprio? O Aleixo diz: “Levanta-te...” ... e “É a filha do operário que morreu a trabalhar... aplicando-a, possivelmente a outro episódio!?) Aváro com pompa nascido Com abundancia criado Do que lhe tem sobejado Nada ao pobre tens valido Cru, e não compadecido Sem um ser humanitario Básta que como usurario É duro teu coração Por monstro sem compaixão Descobre-te milionario Quem prá campa vai seguindo Sobre braços caridósos Passou dias tormentósos Dores e miseria sentindo Fui um que nas mãos cuspindo Cumpriu seu triste fadario Um fiel depositario Dum porte que amou com fé Quem louvo sabes quem é É o corpo de um operario Soma a janela vem vêr Onde a vida se reduz Onde a morte nos conduz Quem és e quem hás-de sêr Se hoje em ti reina o prazêr Na sala a solfa o dançar Não esqueças vem contemplar Frutos do mal e do bem Aqui o gôso e alem Vai um entêrro a passar É quem com santa coragem Foi no trabalho incessante Têve a esse amor constante Odiando a vadiagem Não foi alta personagem Nem pessôa titular Mas foi homem exemplar Com a honra condecorado Um pai de família honrado Que morreu a trabalhar Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a assinatura na fotocópia. Será possível saber, em concreto, a que episódio se refere? 79 80 Décimas sobre o REGICÍDIO O nobre Terreiro do paço (Passo) D. Amélia de Oleãns Jovem Principe Real Elrei D. Manuel segundo 81 82 O NOBRE TERREIRO DO PAÇO - dc O nobre terreiro do paço Teatro de horríveis cenas O João Franco malvado Causador de tentas penas A infeliz realêza No dia um regressada Devia ser esperada Por guarnição por defêza Não da terrível surprêza Não da morte o féro laço No dia que menção faço Que tão triste nova espalha Fostes campo de Batalha Ó nobre terreiro do paço Tu fonte de maus intentos Pensar pra fera gerado Foi teu intento malvado Causa de tantos lamentos Devias bôns sentimentos Teres ao teu Rei inspirado E nunca nunca teres causado Cruel morte ao teu Senhor Fostes um ímpio um traidor Ó João Franco malvado Em ti levantem memória Onde se vêja patente Manchas dum sangue inocente Enlutando a tua historia Aonde indigna vitoria Ganharam feras hiênas, Pondo nodoas não pequenas No portuguez reino honrado De hoje em diante chamado Teatro de horríveis scênas. Judas por má condição À morte Christo entregou E como traidôr se enforcou Em premio dessa traição E tu com igual condição Como ele te não condênas E hoje donde estás nos acênas Dizendo adeos povo mêo Não culpem outro fui eu Causador de tantas pênas Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito do qual já não tenho fotocópia como aconteceu com a o outro “Parti a tola à Maria. Possivelmente está escrito no verso da mesma folha. O Regicídio data de 1 de Fevereiro de 1908. Foi assassinado o Rei D. Carlos e o seu filho e primeiro sucessor D. Luís Filipe. A Rainha D. Amélia e o seu filho D. Manuel, que depois foi D. Manuel II, saíram ilesos do atentado. Como já dissemos na introdução onde se dão elementos sobre as figuras da época e se fornecem dados históricos, a figura de João Franco aparece aqui como “malvado”, “Judas”, “traidor” e “causador de tantas penas”. Em vez de omitirmos esta Décima, deixamo-la aqui como interpretação da ideia que circulou a respeito desta controversa figura política nesses tempos conturbados. A Família de João Franco FRAZÃO garante que tem abundante documentação sobre este seu antepassado que não se pode considerar responsável pelo regicídio. João Franco ter-se-á, até, batido em duelo com adversários seus em defesa da Rainha. Esta Décima e a interpretação de Mestre Inocêncio servirão para testemunhar as confusões desses tempos conturbados de grande agitação política. Mal sonhava o Poeta que uma sua descendente viria a casar com um sobrinho neto de João Franco Frazão. Ironias do destino? Aqui fica a nossa homenagem à Família. 83 84 DONA AMELIA de ORLEÃNS - mn Dona Amélia de Orleãns Quem tem justas consciencias Manda a Vª Magestade As mais serias condolencias Princêsa vinda de França O vosso sangue real Veio deixar, em portugal Triste e eterna lembrança Bradai à velha aliança Às pessoas cortezãs Disei que as ideias vãs Dêsse partido homicida Que já sepultou em vida Dona Amelia de Orleãns. Tivesteis desventurada Pra brandir os agressôres Na mão um ramo de flôres Servindo de humilde espada Infelis o desamparada Da divina piedade A tanta calamidade Quem é firmemente opôsto Sentir o vosso desgosto Manda a V.ª Magestade Clamai que vos mataram Vosso espôso e Vosso filho E o vosso esplendido brilho Ao mais mesquinho o tornaram Para êsse fim se empregaram Tão inuteis diligências Contra éssas imprudências Vossos clamôres ao Ceo sobem E os vossos soluços comovem Quem tem justas consciencias Para moderar vossos ais Vossa animação suplico Escelsa nisto me fico Não tenho instruções pra mais Sou filho de pobres pais Rudes sem terem sciencias Mas porem sem eloquencias Que illustrem a mente minha Vos mando Martir Rainha As mais serias condolencias Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se lê a assinatura na fotocópia. Ao ler esta DÉCIMA não é possível resistir a transcrever para aqui a prosa poética de Miguel Torga, in Portugal, Coimbra, 1ª Edição 1950, e conferir na 5ª Edição 1986, ALENTEJO, P. 119, e ler na p. 123: “É preciso ter uma grande dignidade humana, uma certeza em si muito profunda, para usar uma casaca de pele de ovelha com o garbo de um embaixador.” “Foi a terra alentejana que fez o homem alentejano, e eu quero-lhe por isso. Porque o não degradou, proibindo-o de falar com alguém de chapéu na mão.” “Sim, pobre ganhão que seja, ele é um rei nos seus domínios. Não há outro português mais rico de pão, agasalhado por tão quente manta de céu e dono de tantos palmos de sepultura.” (p. 129). Já imaginaram este nosso “Embaixador” a escrever esta carta de condolências à Rainha e as outras a seguir, aos Príncipes, em nosso nome? Conta-nos o seu bisneto José Fialho (Faro do Alentejo) que esta “missiva” terá chegado, de facto, às mãos da Rainha que lhe terá enviado uma “tença”, provavelmente “não pequena”, mas que ele nunca revelou. Quando lhe perguntavam: - “Então a “tença” da Rainha?!... Ele respondia: - “Isso é cá comigo...” Deu com certeza para uns “petiscos” e uns “copitos”... 85 86 JOVEM PRÍNCIPE REAL - mn Jovem Príncipe Real Um inocente um bondôso Qual erão vossos delitos Pra um fim tão desditôso Na vossa patria Lisbôa Se viu o vil atentado Crime horrível praticado Na vossa reál pessôa Vós herdeiro de scetro e corôa Futuro rei de Portugal Tudo encontrasteis fatal Num barbaro sem consciencia Que roubou vossa existencia Jovem príncipe real No meio dum quadro de horrôr Causado por tal insulto Sentiu a Baixa um tumulto Que a tudo causou pavôr O modêlo dum puro amôr Como mãe soltando gritos E vós os dois gemendo aflitos Na mortal aflição E para têres tal punição Qual erão vossos delitos A perda da vossa vida A meio mundo eternéce É feito que nunca esquece À vossa patria querida Vossa idade florida Vosso viver preciôso Nada tornou piedoso Um assassino uma fera Dando ao tumulo quem só era Um inocente um bondôso Se o vosso pai no seu porte Tornou o povo inimigo Não merecias vós castigo Muito menos o de morte Não merecia fatal sorte Um segundo esperançôso Tipo elegante formôso Tão alto tão reduzido Não devias ter nascido Pra um fim tão desditôso Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê assinatura na fotocópia. Nota: As palavras “fera” e “era” que terminam os 8º e 9º versos da segunda décima, na fotocópia usada não se pode ver bem se estão ou não acentuadas, como acontece outras vezes. Seria então “féra” – “éra”. 87 88 ELREI D. MANUEL SEGUNDO - mn Elrei D. Manuel segundo Deos vos dei felis reinado Mais felis que o vosso pai Que morreu assassinado Os écos de um crime atrós Que horroriza o mundo inteiro Constrangem o estrangeiro Muito mais senhor a nós Ai meu rei vistes vós Vosso pai deixar o mundo Hoje, em silêncio profundo D. Carlos Primeiro jáz E não por efeitos da páz Elrei D. Manuel segundo Que vos mova a rei clemente Deos vos depare um ministro Que evite um caso sinistro Como o triste antecedente Esse honrado presidente Pra bem vos aconselhai E Deos do Céo derramai Sobre vós a sua graça E como regente vos faça Mais felis que o vosso pai Deos vos dei vida futura Mas com mais tranquilidade Não troqueis na vossa idade O Sol pela noite escura Deos vos conceda a ventura De um segundo afortunado De ser bom chefe de Estado Vos peço êsse privilegio Empunhando o cetro regio Deos vos dei feliz reinado A arvore de quem sois fruto Seu fim de negra tristeza Deixa a historia portuguêza Coberta de negro luto E a vós vos deixa um produto Duma instrução dum legado Quando fôres convocado A rubricar novas leis Do vosso autor vos lembreis Que morreu assassinado Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a assinatura na fotocópia. D. Manuel II, rei de Portugal (o último), nasceu em Lisboa em 1889 e morreu em Twickenham, Inglaterra, em 1932. Sobe ao trono em 1908 devido ao regicídio de seu pai D. Carlos e seu irmão Luís. Desde 1910, com a implantação da República, exilou-se em Inglaterra. No 9º verso da última décima a palavra “lembreis” parece estar escrito “lembreies”, mas tudo leva a crer que é dos erros normais em quem escreve à mão e com o cuidado e esforço que se nota, tendo em conta que são mãos que não estavam habituadas a tal tarefa mas ao duro trabalho do campo. Será assim um “lapsus calami” tão semelhante ao “lapsus linguae”. Seria importante poder fazer o “fac-simile” de todos os originais, para se poderem observar e estudar este caso e outros semelhantes e completar o estudo do que era a escrita da época e os possíveis erros de uma pessoa que aprendeu a ler com o padre da freguesia e não fazia da escrita a sua profissão. . 89 90 Décimas a respeito da I Grande Guerra Mundial 1914 / 18 ou prenúncio da II, 1938 – 1945? Kaizer déspota orgulhoso A rainha das potencias Foto in HISTÓRIA COMPARADA, Dir. António Augusto Simões Rodrigues, Círculo de Leitores 1996, Vol. II, p. 251, – Partida de um contingente militar português para a Guerra, 1917 91 92 «Um sobrano entre sobranos» KAIZER DÉSPOTA ORGULHÔSO - mn Kaizer déspota orgulhôso Mau progéto concebêstes Deos da terra ser quizestes Jujlgastes subir decêstes Dinheiro, munições e tropa Deram-te um altivo porte Que intentou teu braço fórte Conquistar toda a Europa Nunca envergastes a ópa Dum cristão que é piedôso Com lusbel ambicioso Isso sim qu és comparado E como êle és castigado Kaizer déspota orgulhôso Imitar o supremo Ente Querias Guilherme segundo E sêres adorado no mundo Como um onipotente Coitado pobre inocente Baldado esfôrço fizestes Um sonho ilusorio tivestes Tão illudido sonhastes Que quando louco acordastes Deos da terra ser quizestes Cego por uma ambição, Vencido dum máo pensar Tanto quizéste abarcar Que não te coube na mão Enganos da illusão! Tão sabio e não percebestes Ao contrario te convencêstes Seres milagrôso seres santo Quando avançastes a tanto Máo progeto concebêstes Um soberano entre os soberanos Um distinto Imperador Quis mais ser conquistador Conquistou paixões e danos Errados foram teos planos Quando tanto pertendestes Pensastes ganhar perdêstes Saiute a sorte fatal Meu Deus artificial Julgastes subir decêstes Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a ssinatura na fotocópia. (Dedicada a: Kaiser, Oficial Alemão, na Guerra 1914/18) É uma nota que vem na cópia, já escrita à máquina, pelo Senhor Jaime Curva e que me chegou às mãos através do Senhor Manuel Aleixo. É evidente que no decorrer da Décima, Inocêncio de Brito se refere a Guilherme Segundo, Imperador alemão (1859-1941) que, com o seu espírito militarista e expansionista veio a provocar a I Grande Guerra, 1914/18 e se exilou, nos Países Baixos, desde 1918. Numa primeira leitura, para as pessoas que conhecem mais a Segunda Guerra Mundial e o que com ela está relacionado, tudo nos levava a crer que se referia a Adolfo Hitler, mas a II Grande Guerra só foi desencadeada em 1938, ano da morte de Inocêncio de Brito, embora a Guerra já estivesse como que desenhada e preparada desde há muito, como aliás se pode ver bem neste poema. A palavra “progéto”, com acento, no segundo verso do Mote e “progeto”, sem acento, no final da segunda décima, deixámos como estava uma vez que não impede uma leitura correcta. 93 94 A RAINHA DAS POTENCIAS - mn A rainha das potencias Morreulhe o óstentamento A primeira a sciencias Vestiu-se de sentimento A excéta entre as nações Jogou sem necessidade Perdeu por fatalidade Homens armas seus brazões Das soberbas ambições Provem-em as decadencias Funestas consequencias Suporta o muito exigente Dá disto prova evidente A rainha das potencias Duma febre padeceu Quatro anos meses e tal Não apòs remédio ao mal Com febre o delirio morreu! Esta febre procedeu Das erradas conferencias Erradas experiencias E por tanto erro talvêz Errou a conta que fez («A rainha das potências» no mn.) A primeira a ciências Pena é que huma Rainha Que entre as mais foi exaltada Se veja agora tornada A tão humilde e mesquinha Morreu-lhe o brilho que tinha Tudo quanto era opulento A pátria do espavento Soberba, rica orgulhósa Com febre contagiosa Morreu-lhe o ostentamento Fez uma conta coitada Pondo néla confiança Sonhada foi sua esperança A conta saiu-lhe errada Éla então envergonhada Por seu nulo atrevimento Elevou seu pensamento Pedindo perdão a Christo E com vergonha e paixão disto Vestiu-se de sentimento Esta Décima parece referir-se directamente ao final da Grande Guerra... excéta – Esta palavra que em princípio não existe, foi inventada por Mestre Inocêncio, com certeza a partir de “excepto” que pode ser prep.: com sentido de “fora” “salvo”; adj.: que quer dizer “excepcional”, “exceptuado”, “excluído”; e até s.m.: no sentido de “Aquele contra quem se aduz excepção em justiça”. Parece que podemos entender que este adjectivo poderá querer dar a ideia de “excepcional” ou excelsa ou que se tornou excluída ou mal vista entre as outras... É de ter em conta este fenómeno de procurar criar palavras novas, a partir de uma palavra que se não conhece bem, para exprimir uma ideia e que sirva para resolver os problemas de métrica e em muitos casos, de rima... Sobre esta décima, que terá sido feita depois de 1918 e do fim da Primeira Grande Guerra, não sabemos quando terá sido passada a escrito. Isto para perceber que o Poeta trocou a Primeira com a Segunda décima, na ordem que costuma dar e no final da terceira décima escreveu o primeiro verso do mote a que nós escrevemos o terceiro É uma das poucas alterações que, por evidente, nos atrevemos a fazer. 95 96 Décimas relacionadas com a GUERRA e a MORTE ou de reflexão sobre os grandes temas da humanidade que os entendidos chamam com FUNDAMENTO Forma o homem idealmente No mundo, porque haverá Fazem navios de guerra Ó cypreste, verde e triste Fui a procura da páz No ventre da Virgem Béla 97 98 FORMA O HOMEM IDEALMENTE - mn Forma o homem idealmente Adorna-o com perfeição Põe-lhe na bôca eloquencia Virtude no coração Sabio senhor do talento Tu que impossíveis consegues Faz uma obra onde empregues Teu profundo pensamento Dá ao mundo um documento De um feito surprehendente Põe ao publico põe patente Teu dom sobrenatural E por meio de um dote ideal Forma o homem idealmente Põe-lhe no peito a firmeza Nos péz e mãos energia Consciente valentia Piedosa naturêza Põe-lhe pra suma belêza O dom da inteligencia Põe-lhe que indique a sciencia Nos olhos a magestade E pra mais preciosidade Põe-lhe na boca eloquencia Discórre como faráz Esse ente maravilhôso Por tanto no fabulôso Metais não empregaráz Esse fim conseguiráz Por meio de imaginação À semelhança de Adão Forma o ente imaginado E depois de o têres formado Adorna-o com perfeição Tem pois firmêza no peito No cérebro um espírito vasto Na boca espressões de casto Eis tudo quanto há perfeito. Mas por tanto a tal respeito Tem em consideração Que imperfeitas ficarão Todas essas perfeições Se nesse homem não pões Virtude no coração «Inocêncio de Brito Foi escrita com o maior sacrifício» (Tirada de um manuscrito fornecido pelo Sr. José Fialho, bisneto de Inocêncio e morador em Aires, Palmela, em 13 de Julho de 1999. No verso desse Manuscrito vem outro Manuscrito com a Décima “Ó Cypreste verde e triste”) 99 100 NO MUNDO PORQUE HAVERÁ - dc No mundo porque haverá Afronta guerra e vingança Se o cemitério além está Onde tudo em paz descansa Para que luta a humanidade Sem ter repouso um momento Para que luta o pensamento Com tanta adversidade Se a crua realidade Com a guerra findará Porque a paz não reinará Nos dias de existência Causa guerra tal tendência No mundo porque (pra que)haverá O desejo de mandar A cegueira de conseguir (possuir) A ambição de possuir (conseguir) Manda vencer e tomar A (Mas a) morte manda largar Chega e diz largue lá Em chegando não há Ambições a conce(d)ber Para que é (quê) contares com viver Se o cemitério além está Pr’a que é a luta incessante (Porquê o ódio incessante) Nos dois momentos da vida P’ra que é (Porquê) a luta renhida Sem ter repouso um instante Na guerra grita-se avante Sem na vitória haver esperança Em vez de uma ira mansa Remediável e prudente Só reina constantemente Afronta guerra e vingança Além está onde terás A tua eterna morada Onde há-de ser assinada Santa União Santa Paz Pensa quem és Quem serás Que diferença que mudança Aqui onde a guerra avança Onde o descanso é nenhum Além a vala comum Onde tudo em paz descansa Não conferida pelo manuscrito original. Os parêntesis indicam algumas das variantes encontradas nas vária cópias. 101 102 FAZEM NAVIOS DE GUERRA - mn Fazem navios de guerra Maquinas pra trabalhar Não aparece um artista Que faça chover e escampar É pena que a sepultura Oculte bens preciosos Os feitos maravilhosos Que illustrão a creatura Devido à architetura Que os primôres da arte encerra Os architetos na terra Fazem obras especiais E os architetos navais Fazem navios de guerra Milhares de artistas têmos Que maquinas fazem mover E a carreira suspender Muito bem o conhecêmos Mas esta em que nós vivêmos Aparente ou imprevista Se a move o seu maquinista Com raios, trovões, chuva ou vento Que lhe impéssa o movimento Não aparece um artista. As grandes inteligencias Os eminentes talentos Elevão seus pensamentos Ao alto grau das sciencias As marítimas experiencias Fazem vapôres pro mar E pra na terra se tornar A lide mais vantajosa Faz a classe industriosa Máquinas pra trabalhar Um que explique a combustão Com que a máquina se move Com causa justa que aprove Se é lenha gaz ou carvão O summo poder na mão Se o tem pode mostrar Faça o tempo moderar Nem muito frio nem muito quente Um artista finalmente Que faça chover e escampar Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a assinatura na fotocópia. 103 104 Ó CYPRESTE, VERDE E TRISTE - mn Ó cypreste, verde e triste Tristônho sombrio e forte És o rei da solidão És sentinela da morte Cipreste se alguem te chama Recreio dos passarinhos Muitos ocultão seus ninhos Na tua frondósa rama Verdura, nobreza e fama Tudo em ti por lei existe Facilmente quem te aviste Esta pergunta te fáz Qual a razão porque estás Ó cipreste, verde e triste Tens por visinho o coveiro Que gosa as graças diurnas E tu das aves noturnas És constante companheiro Em ti o môcho agoureiro Pia a lugubre canção Nas trevas, na solidão Velas o campo funéreo E és guarda dum cemiterio És o rei da solidão Triste estás simbolizando A nossa eterna morada Tua fronte maguada Estão fieis contemplando E tu serio estás meditando Da fatal tesoura o córte Poderes do sul e norte Te conferem dignidades Que te dão trez faculdades Tristonho sombrio e fórte Sobre tua vigilancia Estão mortos encarcerados Estão esqueletos myrrados Da velhice e da infancia Juraste firme constancia O posto que tens por sorte Tu passas o passaporte A quem vai não volta mais E vigias pelos mortais Es sentinela da morte Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Afinal por dois Manuscritos. Ver Cypreste e Cipreste, até no mesmo manuscrito!… O mais interessante é que no decorrer do trabalho de recolha e contactos havidos, conseguimos, oh! espanto! encontrar na posse do Senhor José Fialho, um outro Manuscrito, por sinal o único manuscrito que nos foi dado consultar (dos outros só vimos fotocópias) e que tem no verso a outra Décima “Forma o homem idealmente”. O interessante é verificar, que mesmo na escrita, numerosas palavras são escritas de maneira diferente e algumas alteradas. Isto levar-nos-ia muito longe no problema de autenticar a versão original e exclusiva do autor, pois, tratando-se de una Arte predominantemente oral, com certeza que nas várias ocasiões o autor sentir-se-ia no pleno direito de alterar ou criar no momento algo de diferente e que lhe soasse melhor... Por exemplo: No Manuscrito que encontrámos depois da fotocópia do 1º encontramos logo no MOTE: Ó cypréste... ; no 1º verso do 1ª décima escreveu “Cipréste que alguém te chama”... e no último: “Oh cypreste verde e triste”. Na 2ª décima, 5º v. “Tu serio estás meditando / Da fatal thezoura o córte” e no último verso escreve “Tristônho, sombrio e forte”. Na 3ª assinalamos “Têns” no 1º v. “agoreiro” no 5º v. “lúgrube” no 6º v. “Vélas o campo funereo” no 8º “E és guarda do cemiterio” no 9º.Na 4ª fará mais sentido o 6º v. ser “Ao posto que tens por sorte”; mas já escreveu “paçaporte” no 7º; e “És sentinela da morte”, no último, está claramente acentuado!!! É interessante ter isto em conta para possíveis discussões sobre várias versões da mesma Décima, mesmo do mesmo autor e autenticada pelo mesmo punho. 105 106 FUI A PROCURA DA PÁZ - mn Fui a procura da páz Só no cemitério a vi Vi um letreiro dizendo Á páz mas somente aqui Mundo mundo em ti só há No mar a tormenta o dâno Na terra a guerra o engano Que tão máo produto dá Guerra terrível e má Tudo máo consigo tráz Estragos somente fáz E eu seus maos efeitos vendo A crua guerra temendo Fui à procura da páz Chiguei o cemitério santo Onde os cadaveres repouzão Onde irmãos nossos não ouzão Dar ais gemer fazer pranto Ajoeilheime por tanto Minhas mãos ao Céo erguendo Oração a Deus fazendo Por todo que ali descança E pra minha eterna lembrança Vi um letreiro dizendo Com a maior devoção A santa páz procurei Entre vivos encontrei Guerra sim mas a páz não Fasendo esforços em vão De tal a esperança perdi Tanto que me afligi Tudo foi inutilmente Repito a páz clemente Só no cemiterio a vi Que procurais caminhante Dis o letreiro referido Andas no mundo illudido Vives cego ignorante Não busques páz dhoje avante Neste vale onde eu desci Quando eu de cá subi Já deixei o mundo em guerra Sabei não há páz na terra A páz mas somente aqui Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não consta a assinatura na fotocópia. Ver o “Á” no quarto verso do Mote e o “A” no final da quarta décima que com certeza são ambos “Há”. 107 108 NO VENTRE DA VIRGEM BÉLA - mn No ventre da Virgem Béla O Verbo encarnou por graça Entrou e saiu por ela Como o Sól pela vidraça Maria filha de Ana Em vosso ventre purissimo Entrou por graça o Altissimo E nele tomou carne humana Quem isto crê não se engana Crer que há virgindade néla Supomos como da véla No vidro penetra a luz Assim concebeu Jesus No ventre da Virgem Bela Deu o seu consentimento Seu filho néla encarnou Em seu ventre se ocultou Deus, e homem num momento Misterioso portento Conceber ficar donsela Concebeu mas sem que déla Sua pureza manchasse Sem que o ventre macullasse Entrou e saiu por éla Quando a mãe do Redentor Foi pelo Anjo anunciada Respondeu mas perturbada Humilde e toda em tremôr A vontade de Senhôr Consinto que em mim se faça E como a luz o vidro passa Entrou nela Deos poderôso E por misterio tão portentôso O Verbo encarnou por graça Fez voto de castidade Desde jovem creatura Votando conservar pura Sua exceta honestidade Deus de infinita bondade Que os filhos crentes abraça Sem do pecado haver traça Ao ventre humano se uniu Entrou e dêle saiu Como o Sol pela vidraça Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não consta a assinatura na fotocópia. Vemos, de novo, aqui a palavra “exceta” como aconteceu na Décima “A rainha das potências” Apesar de, naquela décima, a palavra em questão estar numa página, que esteve dobrada muito tempo, parece claro que, ali, ele terá escrito “excéta” e aqui “exceta”. 109 110 V Colaboração de outros poetas e autores... A DÉCIMA da INSTRUÇÃO glosada pelo Ti Belchior da Estação de Ourique... Décima de António Aleixo? do Milionário? Ou só o Mote?... MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO, o Manuel de Castro da Cuba, dedicou uma DEIXA – DÉCIMA à MORTE DO ALFERES BORGES DOS REIS de S. Matias, Beja. DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18... ANTÓNIO MIGUEL CARMO pai da D. Antónia Carvalho, sobre a I Guerra Mundial... Outros poemas e mensagens de outros poetas, familiares, amigos e admiradores que quiseram colaborar nesta homenagem ao poeta que foi durante tempo esquecido. A família que guardou religiosamente muitos dos seus manuscritos, nunca os quis divulgar, pelo pouco interesse manifestado pelos agentes da Cultura em Portugal e na Região Testemunhos de pessoas que o conheceram e/ou sabem os seus poemas e os recolheram e falar da justiça e do dever que o Povo de S. Matias tem para com este poeta seu conterrâneo, que continua a ser pouco conhecido, levando muitos, mesmo bem intencionados (ou não?!) a atribuir as DÉCIMAS de sua autoria a outros poetas ou a eles próprios! D. Antónia Carvalho Outros Motes com fundamento António Lúcio e D. Joana Garcia Joaquim Ruaz Francisco Piriquito Junior A. A. José Penedo O “Pôtra” 111 112 UMA DÉCIMA DO TI BELCHIORINHO da Estação de Ourique, com o MOTE da INSTRUÇÃO, talvez anterior (?) à de Inocêncio de Brito... (Glosando o mesmo mote mas com o 1º verso modificado(?), transcrevemos esta décima atribuída ao “tio” Belchior, (falecido), Estação de Ourique, Castro Verde, in a espiga uma publicação Nº 1 de 1982, da Escola Preparatória de Beja, coordenada por Abílio, Maria do Carmo, Maria da Conceição Teixeira e Maria Joaquina. A INSTRUÇÃO (NÃO) É PRECISA pelo Ti Belchiorinho da Estação de Ourique A INSTRUÇÃO (NÃO) É PRECISA A INSTRUÇÃO NÃO CONVÉM QUE A INSTRUÇÃO EMBRUTECE A QUEM MUITA INSTRUÇÃO TEM. Duques, marqueses, morgados Família de igual medida É tudo gente instruída Alguns em direito formados Lentes e deputados A morte os harmoniza Sabe Deus quem autoriza A conhecer o bem do mal Para a base fundamental A instrução não é precisa. O rico por ter estudado Não faz trabalhos de peso Nem encargos de desprezo Quem os faz é gente rude O que não sabe faz tudo É o que menos merece É aquele que não conhece De que serve ter aprendido Há tanto homem instruído Que a instrução embrutece Se todos pudessem estudar E todos pudessem saber Quem havia exercer Por aí tanto lugar Ninguém queria trabalhar Cuidar dos gados de alguém O estudo para quem não tem Não é útil o seu ensino Para quem é pequenino A instrução não convém. Ver-se o pobre ignorante Não causa admiração Ele não recebeu instrução Não vê os erros por diante Admira é o estudante Que vai a Coimbra e vem Não é um são mais de cem Se a gente os for a contar Isso é que é para admirar A quem muita instrução tem. NOTA. Ver nas DÉCIMAS de I. Brito o mesmo MOTE (excepto o “NÃO é precisa” que pode ser erro da transcrição) glosado por Inocêncio de Brito. As histórias que terão dado origem aos respectivos desenvolvimentos, são completamente diferentes. Segundo Victor Paquete, dizem uns amigos do Ti Belchiorinho da Estação, por exemplo o Chico Nobre Carreira, de Casével, que terá sido feita, provocado pelo desgosto causado pelo filho que foi estudar e na volta, nem sequer ligava ao pai. Mas segundo investigações do mesmo, terá sido um Mote trazido de Coimbra por Brito Camacho, pelos colegas que não acreditavam que houvesse poetas alentejanos, que, de uma Quadra - Mote, criassem as quatro Décimas como desenvolvimento do tema. 113 Afinal, quem será o autor do MOTE e qual é? Com NÃO ou sem NÃO? Ora este episódio ter-se-á passado pelos anos 1880/90. O Ti Belchior morreu em 1917, vítima da pneumónica. Ora a vinda do Afonso Costa a Beja, que terá dado origem à DÉCIMA de Inocêncio de Brito, ter-se-á passado, pelos anos 1912/13. Assim, será fácil recolher dados sobre esse episódio, pelos registos do tribunal ou até junto de pessoas que ouviram contar... 114 Página para ANTÓNIO ALEIXO e o seu MILIONÁRIO (António Aleixo – Poeta Cauteleiro – nasceu em Vila Real de S. António, em 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu, em Loulé, em 16 de Novembro de 1949. A obra deste Poeta está impressa em “Este livro que eu vos deixo...” publicado e 1975? e já foi publicado um segundo volume... «Levanta-te, ó milionário, Vai um enterro a passar; É o corpo de um operário Que morreu a trabalhar.» É esta a Quadra que pode ter servido de Mote a mestre Inocêncio de Brito. Seria dele e usada também por António Aleixo? Seria, de facto do Aleixo, como podemos ler in «António Aleixo – este livro que vos deixo...», Volume II, Editorial Notícias, Obras de António Aleixo, 8ª Edição, Julho de 1997 (1ª Edição, 1978). Outras informações sobre António Aleixo. ESTE LIVRO QUE EU VOS DEIXO, 1º Volume, tem a 1ª edição, Lisboa, 1969 e vai pelo menos na 7ª Edição, e podem ser encontradas outras obras de António Aleixo como «Quando começo a cantar»... que foi publicado em Faro em 1943. Pena é que em todos os registos biográficos e comentários que temos lido sobre António Aleixo não se encontre nenhuma referência a outros poetas com quem ela possa ter convivido. 115 MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO da Cuba (Cuba Alentejo, nasceu em ???? e morreu em 1972). O Manuel de Castro, da Cuba, dedicou uma DEIXA – DÉCIMA à MORTE DO ALFERES BORGES DOS REIS de S. Matias, Beja. In DEIXAS, de Manuel de Castro, Pesquisa e Comentários de Cristóvão Enguiça, recolha de familiares e população de Cuba, edição da Câmara Municipal de Cuba, Julho de 1987, p.48. O ALFERES BORGES DOS REIS, O ALFERES BORGES DOS REIS NATURAL DE S. MATIAS, NUM DESASTRE DE AVIÃO ENCONTRA O FIM DOS SEUS DIAS. Nascido na humildade De simples filho do povo, Deixa ver logo de novo Robusta mentalidade. Com poucos anos de idade, Bem menos de dezasseis, Já em Beja dava leis De conceituado aluno, Era o primeiro no seu turno O Alferes Borges dos Reis. Foi Alferes aviador Este herói predestinado, Por todos conceituado, Piloto de alto valor; O comando superior Incumbiu-o de uma missão, Alto treino de instrução Que a rigor executava, Sem se lembrar que findava Num desastre de avião. De assuntos colegiais Ele entendia de tudo, Ganhava bolsas de estudo E ganhava ensinando os mais. Era o ídolo dos seus pais E aqui destas freguesias, Tinha gerais simpatias Numa grande circunferência, Esta viva inteligência Natural de S. Matias. Sorraia, pequeno rio Nos campos de Coruche corre, Perto dele onde morre Um herói de tanto brio, Destino cruel e frio Que tens tantas tiranias, Tanto matas como crias, Tragédias não te comovem E um bravo, distinto jovem Encontra o fim dos seus dias! Embora não se refira directamente a Inocêncio de Brito, dadas as ligações que estes poetas tiveram entre si, e das Décimas dedicadas a Cuba que o poeta dedicou a Manuel de Castro “Eu sou pássaro e tu laço”, achámos por bem incluir aqui esta DEIXA de Manuel de Castro, por se referir a um filho de S. Matias, que dá nome a uma rua vizinha da que foi dedicada a Inocêncio de Brito. 116 DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18 Por estarem relacionadas com temas que foram tratados por Inocêncio de Brito, e por pessoalmente (JoRaGa) se referirem à minha pesquisa pessoal que me levaram a descobrir o que eram as Décimas, decidi incluir aqui, para, de certa maneira enriquecer este trabalho e nos obrigar a reflectir sobre os caminhos, as leituras, as interpretações que ao longo do tempo e em diversos lugares, podem ter estes textos da Literatura Oral Tradicional (Popular). A pedido da professora de Educação Visual, na Escola Secundária de Rio Maior, no ano lectivo de 1976/77, para que os alunos trouxessem para as aulas Cantares Populares, o aluno do 7º D, n.º 91 (150) Mário António Carvalho dos Santos, escreveu na contra capa do caderno e na primeira folha, tudo seguido, o que ouviu cantar a Júlia Jejuína da Cruz. Depois de várias tentativas para decifrar, conseguimos descobrir que era com certeza uma Décima que a senhora tinha ouvido e decorado e adaptado à sua maneira. In Compact Disc Artes da Fala, Portel, 1996?, recolha em Santiago de Rio de Moinhos (Borba/Évora), informante: Lino do Fado, cantado um texto aprendido, aparece esta quadra de Décimas, recolhida por Paulo Lima da OFICINA DO PATRIMÓNIO, Portel, Rua do Álamo, 36, Câmara Municipal de Portel, 7220 PORTEL, tel. 611334: 117 Ao te escrever estas linhas Muito chora meu coração Porque as palavras são minhas Só as letras as não são. Ao escrever-te destas linhas Só chora o meu coração Que estas palavras são minhas Só as letras é que não. São nove de Abril meu amor triste dia em que ditei tudo quanto por ti passei ó minha adorada flor pedaços da minha dor fatalidades da vida não sabes nem adivinhas quanto padeço querida estou entre a morte e a vida ao te escrever estas linhas. A nove de Abril meu amor E triste dia em que ditei E tanto que eu cá em ti pensei Minha adorada flor Pedaços de minha dor Oh minha lembrança de Aninhas Tu não pensas tu nem adivinhas Oh minha adorada querida Eu estou entre a morte e a vida Ao escrever-te destas linhas. numa horrorosa batalha ao fim de tanto cansaço estou ferido perdi um braço numa chuva de metralha adeus meu amor passa bem que eu por ti fico chorando pela amizade que te tenho sempre amor me estás lembrando todo o meu corpo está sangrando muito chora meu coração. Numa horrorosa batalha E no fim de um grande cansaço Olha já cá fui ferido e perdi um braço Numa chuva de metralha Vês tu enquanto a nossa esperança falha Ou por acaso ou por maldição Já nem sequer possui braço nem mão Para depois te dar em casamento Com horror e estremecimento Só chora o meu coração. olha leva à minha mãe muitos beijos e carícias diz-lhe que estou vivo estou bem e que de mim tens notícias depois desengana também a minha pobre irmãzinha que lá está coitadinha e sente como tu sentes porque és tu que não me mentes porque as palavras são minhas. Olha leva à minha mãe Muitos beijos e carícias E diz-lhe que tens de mim notícias Que eu sou vivo e que estou bem Depois enganas também Minhas queridas irmãzinhas Inocentes, coitadinhas Que sentem como tu sentes E diz-lhe que não és tu que mentes Que estas palavras são minhas. ó mãe da minha alma pai do meu coração por muitos anos que eu viva não lhes pago a criação o que em nome de deus começo em nome de deus acabo sem dizer seu nome em vão nesta minha condição porque as palavras são minhas só as letras as não são. Enquanto tudo esvaece Trata aí doutro namorado Porque um pobre inutilizado Que condições é que oferece Nosso amor desaparece Fica comigo a paixão Recebe ainda como recordação Ainda mais esta cartinha Junta às outras que aí tens minhas Só as letras é que não. 118 ANTÓNIO MIGUEL CARMO (S. Matias? Beja, nasceu em... e morreu em????) ADEUS, MINHA QUERIDA AMADA, ADEUS MINHA QUERIDA AMADA, ESCUTA, DÁ-ME ATENÇÃO: EU CÁ VOU JÁ DE ABALADA COM PENAS NO CORAÇÃO Cá levo uma saudade Que não a posso deixar. Não me deixas de lembrar, Acredita que é verdade. Não me percas a amizade, Fica de mim bem lembrada. Cá te levo retratada Dentro do meu coração E aceita um aperto de mão Adeus, minha querida amada. Se soubesses, meu amor, A dor que o meu peito sente! Tu hás-de-me lembrar sempre, Ó minha branca flor. Para mim tens todo o valor, Ó minha doce adorada. Sempre serás minha amada, Se eu não chegar a morrer... E agora é que tem de ser, Eu cá vou já de abalada. Vê lá, se tens sentimentos, Ó minha rosa tão querida... Vou-te dar a despedida. Acaba-se o nosso bom tempo... Cá vais no meu pensamento, Ó minha rosa em botão, Amor do meu coração... Já te não posso falar. Não faço senão chorar, Escuta, dá-me atenção. Com a esperança de não voltar De ti me vou despedir, Mas se ainda tornar a vir, Eu lá te irei visitar... Eu desejava falar Contigo com atenção. Levo uma grande paixão Causada a teu respeito E cá vai, meu leal peito, Com penas no coração. Esta DÉCIMA é de ANTÓNIO MIGUEL CARMO, pai de D. Antónia Carvalho e dita por ela, em 6 de Abril de 1996. Esteve 18 meses, nas linhas de fogo, da 1ª GRANDE GUERRA MUNDIAL, de 1914/18. (?Ver ??) Nasceu em Junho de 1896 (faria 100 anos neste ano de 1996 ) e faleceu em 25 de Março de 1968. Talvez tenha sido esta DÉCIMA e outros poemas que ela recorda, que deixaram à filha esta inclinação ou vocação para a poesia. 119 OUTROS POETAS de S. MATIAS e... “DÉCIMAS” de D. Antónia Carvalho CIENTISTA, PENSA BEM: CIENTISTA, PENSA BEM: POR QUEM O MUNDO FOI FEITO? FOI FEITO POR ESSE ALGUÉM QUE TUDO O QUE FAZ É PERFEITO. Fez a água a correr para o mar, Fez a luz no sol para brilhar E fez o que essa luz contém, Que tudo ajuda a criar... Tu tens muito que estudar, Cientista, pensa bem. Fez estrelas no céu a cintilar Que, para acender ou apagar, Esse poder ninguém tem. Nada se pode mudar, Tudo está no seu lugar, Foi feito por esse alguém. Tu estudas filosofia Seja de noite ou de dia E tudo guardas no teu peito... Vou-te dizer a sorrir: Não consegues descobrir Por quem o Mundo foi feito. Para a terra fez as flores De mil feitios e mil cores E plantou-as a seu jeito... Com seu olhar fez uma ronda, Fez o sol e a lua redonda... Tudo o que faz é perfeito. Este poema foi dito pela D. Antónia, em S. Matias, no dia 6 de Abril de 1996, como sendo uma DÉCIMA, ou a maneira como ela entende que deve ser uma décima... Logo a seguir, confrontando com a que recorda do pai, verificamos que ela procura simplificar, fazendo para cada verso do mote, uma sextilha. Assim cada sextilha, só ficará DÉCIMA com os quatro versos do mote! OUTROs MOTEs com fundamento, Versos do Senhor António Lúcio, Retiro dos Caçadores, S. Matias, Beja. I Homem de tanto talento, Que tens um saber profundo, Diz-me: de onde estava o vento, No primeiro dia do Mundo? II Antes de a noite ser noite E antes de o dia ser dia... Antes de o Mundo ser Mundo, Diz-me lá, o que existia? 120 Versos do Senhor António Lúcio Retiro dos Caçadores, S. Matias, Beja Quero ir ao Alentejo, Passar lá uma semana, Quero admirar e gozar a paisagem alentejana. A paisagem alentejana, Isso é o que mais invejo; Passar lá uma semana, tirana, Quero ir ao Alentejo. Versos da D. Joana Garcia, Retiro dos Caçadores, S. Matias, Beja Alentejo pequenino Província de muito labor, Além do meu marido e dos filhos Tu és o segundo amor. Tu dás azeite, pão e vinho, Tu és riqueza sem fim; Alentejo pequenino, Tu és tudo para mim. Na tua planície dourada Coberta de girassol, Das províncias portuguesas, Alentejo és o maior. Quando eu, de ti, me ausento Levo logo uma saudade; Estou desejando voltar Para te poder abraçar, Nisso eu tenho vaidade. 121 Versos do Senhor Joaquim Ruaz, natural de S. Matias Nascido em 1934, , in POETAS POPULARES do Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987. Cena do Campo I Sai o rebanho p'ró prado O pastor o vai guardando... Atrás vai o cão de gado Companheiro indispensável Que é para ir ajudando. III Os pássaros dão alvorada De manhã cedo a cantar... Ainda de madrugada Sai o pastor da malhada Pr’ó seu rebanho guardar. II As ovelhas vão pastando E andam de lado p’ra lado... Encostado ao seu cajado O pastor o vai guardando Sai o rebanho p’ró prado. IV Se a ovelha vai andando E o cordeiro fica atrasado... Ouvem-se os lobos uivando Enquanto o cão vai ladrando Pr’ó pastor ser avisado. OUTROS VERSOS do Senhor Joaquim Ruaz I IV Se rico é ser alteza Ser humilde e cumpridor Ter saúde é ser abastado Dos seus deveres naturais Ter miséria é ser aleijado É aproximar-se mais E ser pobre por natureza Da vida no seu valor Foi destino que Deus deu Não fugindo às regras normais A quem sofre resignado... Que o homem tem ao seu dispor. - Ao imitar o tormento meu Fica livre de pecado V Já basta o que sofreu. O valor aos principais Há sempre uns ou outros que dão... II Não havendo menos, nem mais Nos subúrbios da cidade Não haveria distinção Dormem sempre os rejeitados Seríamos todos iguais. De toda a sociedade... Por agirem com maldade VI Ou por o destino levados De mais e menos de tudo um pouco Na tristeza ela solidão O mundo está composto... Todos esses seres são Um é certo, outro é louco... Vítimas da Humanidade. Um tem gosto, outro desgosto... Segundo as estatísticas III Quem tem estas características Há quem fuja ao seu destino Bem se conhece no rosto. No caminho ela verdade... Sem haver realidade O adulto e o menino Fica sendo um peregrino Longe da eternidade. 122 Uma DÉCIMA do Senhor Joaquim Ruaz, natural de S. Matias Nascido em 1934, publicada no Boletim Informativo da Junta de Freguesia de S. Matias, Beja, Volume II, Junho de 1998. AS FLORES Até nas próprias flores Há a diferença da sorte Umas enfeitam amores Outras enfeitam a morte Quando o mundo se formou Com distinta perfeição Na sua vegetação Tão completo ficou Em plantas que germinou Há nelas grandes primores Demonstrando seus valores Em algumas medicinais Com efeitos tão desiguais Até nas próprias flores Santa Isabel um dia Quando seu esposo encontrou Em lindas rosas transformou As esmolas que trazia Do seu regaço caía Rosas de diversas cores Que enfeitaram seus andores Por um especial condão Nas mesmas rosas de então Umas enfeitam amores Elas mesmas é que são O brilho da Natureza Que encerram toda a beleza Na sua composição Divinos poderes na mão Tem quem lhe deu este porte Sendo o seu destino forte No desempenho de uma função Sobre a sua própria missão Há a diferença da sorte Em bouquês para namorados Amor se transporta nelas Conjugações das mais belas São as que enfeitam noivados Mas para os que forem sepultados São símbolos de passaporte Para aquele que transporte O que da vida lhe resta Flores enfeitam a festa Outras enfeitam a morte 123 DÉCIMAS de Francisco Piriquito Junior, nascido em S. Matias, Beja, 05.12.1924, , in POETAS POPULARES DO Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987.. EU MAL APRENDI A LER EU MAL APRENDI A LER NUMA ESCOLA PARTICULAR QUANDO FIZ A QUARTA CLASSE DEU-ME VONTADE DE CHORAR. Comecei na incerteza Na vida triste e sombria. Na classe que pertencia Ainda imperava a pobreza. Foi com imensa tristeza Que ao meu pai ouvi dizer: Tens que ir ganhar para comer... Tem paciência, Joaquim... Nesse tempo a vida era assim Eu mal aprendi a ler. Já homenzinho ingressei Num teatro de amadores Imaginem, meus senhores, Como contente fiquei! Sempre com afinco estudei O papel que me calhasse Esperando que me deparasse Alguma oportunidade... Foi aos vinte e oito anos de idade Quando fiz a quarta classe. Era um garoto franzino Com pouca saúde também Os meus irmãos, com desdém, Chamavam-me: - Menino fino. Por malfadado destino Tive que a escola deixar Fui umas cabras guardar Mas sempre num livrito li Para não esquecer o que aprendi Numa escola particular. Surge o presépio sagrado Auto de meditação e fé... O papel de S. José Foi por mim interpretado. Depois de o ter terminado Um padre me veio chamar Para no palco me apresentar Como verdadeiro artista... Senti humedecer a vista... Deu-me vontade de chorar. 124 Outra (II) DÉCIMA de Francisco Piriquito Junior, S. Matias, Beja, , in POETAS POPULARES DO Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987. SE TEVE A INFELICIDADE SE TEVE A INFELICIDADE SE NÃO APRENDEU A LER VÁ À ESCOLA COM ATENÇÃO AINDA PODE APRENDER. Não precisa ser chamado Pode ir quando quiser, Seja homem ou mulher, Seja solteiro ou casado, Não deve estar envergonhado, Nem sentir inferioridade. Não tem limite de idade Para se valorizar... Deve agora aproveitar Se teve a infelicidade. O que hoje se pode fazer Para amanhã não se guarda. A D. Maria Eduarda Recebe-o com muito prazer. Quanto mais gente aparecer Com mais gosto ensina a lição. Para ser um cidadão Livre de obscurantismo Liberte-se do analfabetismo Vá à escola com atenção. Porque é que não aceitamos Aquilo que nos querem dar? De quem nos quer ajudar Porque não nos aproximamos? Se indiferentes ficamos Que lhe pode acontecer? Pode mais tarde dizer: Bastante pena eu tenho. Em ir à escola faça empenho Se não aprendeu a ler. Ainda pode possuir O que tanta falta lhe faz. Não diga que não é capaz De esse dom adquirir. Se chegar a conseguir Pode seus versos escrever. Deve de comparecer Na escola sem demora. Aquilo que ignora Ainda pode aprender. 125 Outra (III) DÉCIMA, de Francisco Piriquito Junior, S. Matias Beja, in POETAS POPULARES DO Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987. NÃO SOU ESPERTO, NEM BRUTO NÃO SOU ESPERTO NEM BRUTO NEM BEM, NEM MAL EDUCADO SOU APENAS O PRODUTO DO MEIO EM QUE FUI CRIADO. (Com MOTE de uma QUADRA de António Aleixo e em sua homenagem, – MOTE ALHEIO) Ao 1embrar o personagem Que este mote escreveu A oportunidade que me deu Para lhe prestar homenagem Com espírito de camaradagem Defendo o meu reduto Ao meu cérebro recruto Talento e sabedoria Para dizer como ele dizia: Não sou esperto nem bruto. Não posso rivalizar Com poetas deste quilate. Cometia um disparate Se nisso fosse pensar. Limito-me a valorizar O meu saber diminuto Para não ficar de luto Nem sequer mal cultivado. Do que tenho concretizado Sou apenas o produto. Não sigo suas pegadas Nem o posso igualar. Ao seu mote vou juntar Estas minhas simples quadras Humildemente rimadas Com este significado Para que não seja abandonado O Património Cultural. Sou um cidadão afinal Nem bem, nem mal educado. Falando de António Aleixo Grande poeta algarvio Quem me dera ter seu brio Circular no mesmo eixo... Quem não tem o apreteixo Dum cérebro privilegiado Como ele foi dotado... Eu não tive esse condão Vou mantendo a tradição Do meio em que fui criado. 126 Outra DÉCIMA (IV) de , Francisco Piriquito Junior, S. Matias Beja, in POETAS POPULARES DO Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987. PUS-ME A ESPREITAR O VENTO PUS-ME A ESPREITAR O VENTO AMENAMENTE SOPRANDO; VI AS ÁRVORES EM MOVIMENTO PARECIAM ESTAR DANÇANDO. Vi em frente uma oliveira Com bastante ramaria Dançando também parecia Uma enorme fogueira Ao lado de uma laranjeira... Um pessegueiro mais dolento Veio-me logo ao pensamento... Que quadro tão maravilhoso! Como sou assim curioso Pus-me a espreitar o vento. Os ramos menos desenvolvidos Imitam as mesmas danças… Pareciam as crianças Dançando entre os mais crescidos... Pareciam tão divertidos Nesse preciso momento Quando eu estava atento A ver o que se passava Tudo isto se me afigurava As árvores em movimento. Como é linda a natureza Como é sorridente e bela! Não me canso de olhar para ela Contemplar sua beleza Com muita delicadeza Seus mistérios vou desvendando, Às vezes, de quando em quando Como imperador me revelo... Verifiquei qu’o vento é belo Amenamente soprando. Foi assim na solidão Curiosamente a olhar Tudo isto me faz lembrar Aquela movimentação Até me dava inspiração Que os ramos se iam beijando Fui isto descortinando Dos raminhos engraçados Como pares de namorados Pareciam estar dançando. 127 128 PROSA POÉTICA de A.A. Remetendo para OS OLHOS tema glosado pelo mestre Inocêncio de Brito, uma filha adoptiva de S. Matias que assina A.A. enviou-nos este poema: NO OLHAR DOS VELHOS DA MINHA ALDEIA No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam memórias de tempos em que a seara era mais dourada, o trigo era mais verde e a terra sigilata se contorcia em movimentos sensuais despertados pelas carícias do arado e recebia, qual mulher ardendo em paixão, a semente lançada à terra. No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam imagens claras de raparigas junto ao poço, descalças e de saias arregaçadas, matando o calor com a água que lhes molhava o rosto e escorria por entre os seios, percorrendo lugares secretos dos corpos brancos que eles tentavam adivinhar. No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam alegrias de conversas à mesa da taberna em que um naco de pão e queijo e uma garrafa de vinho, alimentavam a esperança de um amanhã sem fome, sem dor, e o cante fortalecia as almas unindo-as numa só, chegando mais alto, sentindo-se mais fortes... No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam ainda aqueles que já empreenderam a viagem mas que continuam vivos no ondular do trigo, nas oliveiras grávidas de luz e nos chaparros guardiães do sol. No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam, enfim, as almas antigas dos sábios, dos simples, dos que choram de emoção ao ver a vida em cada planta recém-nascida, em cada gota de água que a alimenta, e continuam crianças desvendando o milagre de cada novo amanhecer. A. A., S. Matias, Beja, Primavera de 1999. 129 130 A INOCÊNCIO DE BRITO Homenagem modesta de José Penedo Aprendiz de fazedor de Décimas... MESTRE INOCÊNCIO DE BRITO de José Penedo Mestre Inocêncio de Brito, Que foi Mestre de Doutores, Nas Quadras foi grande perito, Viveu grandes dissabores. Foi pastor, foi professor Almocreve e tudo o mais; Lidava com animais, Cavava a vinha ao rigor; Carregou palha ao calor... Nas campinas, o seu grito É um clamor infinito Bradando, na solidão, Como se fora um pregão: Mestre Inocêncio de Brito. Todo o tema lhe servia À profunda inspiração: Era o povo, era a nação, Os olhos onde ele lia A guerra que se acendia A família? O pai? Um Grito Duma ovelha ou dum cabrito... Ou gritando as injustiças Dos Costas ou dos Buiças, Nas Quadras foi grande perito. Pelas andanças da vida Encontrou muitos poetas Uns sábios, outros patetas... Nas feiras foi conhecida A sua fama subida De despique aos cantadores Glosando da vida as dores Mostrando ao Castro, ao Aleixo, Com fundamento e preceito Que era Mestre de Doutores. Enquanto os outros vendiam Suas Quadras e talento Lançando versos ao vento Os seus gritos acendiam Fogos e luzes que ardiam Como ideias, como flores, Cantando raivas, amores, Os trabalhos que sofria, As penas, as dores que via... Viveu grandes dissabores. Mestre Inocêncio de Brito Natural de S. Matias Foi um poeta esquecido Foi rico, de mãos vazias. Um mestre que foi pastor Cavador, apanha fardos Ensinou alguns doutores Dá lições a alguns letrados. 131 132 Evocando outra figura “esquecida” de S. Matias O PÔTRA por Luís Alves Uma célebre Décima (mesmo só dez versos) do PÔTRA O senhor Luís Alves, natural de S. Matias, Beja, com cerca de sessenta anos em 1999, (entretanto já falecido em 2001.07.24) autodidacta, senhor de uma cultura e de uma memória fora do vulgar, pode passar um dia inteiro, dizendo por exemplo, factos episódios, datas de nascimento ou morte de grandes personalidades, começando no dia um de Janeiro e seguindo por aí fora..., criando e resolvendo problemas complicadíssimos, dizendo volumes e medidas de rios montanhas quedas de água... A propósito deste fenómeno que foi Inocêncio de Brito, no final do século dezanove e primeiras décadas do século XX, lembrou-se de um outro PASTOR DE CABRAS, do tempo de frei Manuel do Cenáculo (n. 1724, foi Bispo de Beja e arcebispo de Évora; em 1770 renovou a Diocese de Beja que tinha deixado de o ser durante uns tempo)... Quando este sábio Pastor de Almas andava nas suas vistas e andanças pelo Alentejo, alguns lavradores que sabiam do seu interesse pela literatura e pela poesia, falaram-lhe de um pastor de cabras, o PÔTRA que era um poeta repentista... Cheio de curiosidade quis um dia pôr à prova o famoso pastor com fama de repentista... Levado à sua presença, diz o bispo: - Faz-me um poema, pastor! - Dê-me, Senhor, o Mote! E no entusiasmo e na galhofa o Bispo bateu as palmas... E sai-se o pastor: Senhor meu, bateu as palmas Pois nós não somos iguais Eu sou pastor de animais E vós sois pastor das almas Sofro frio e sofro calmas Sofro do tempo os rigores Vós brilhais entre os doutores Servindo aos sábios de exemplo Eu no prado e vós no templo Nós ambos somos pastores. 133 Um atrevimento – A invenção de um possível MOTE e o seu desenvolvimento em 4 décimas para terminar com a que é atribuída ao Pôtra, por José Penedo: UM BISPO PASTOR DE ALMAS por José Penedo Um Bispo Pastor de Almas, Encara o POTRA, pastor... O Senhor bateu as palmas: - Nós ambos somos Pastores Conta a estória, que, um dia, O Frei Manuel do Cenáculo, Governando com seu báculo E grande sabedoria, Quando os montes percorria Sofrendo o rigor das calmas Recebendo flores e palmas, Encontra o POTRA, o pastor Poeta de grande valor! Ele, um Bispo Pastor de Almas! - Creio que um analfabeto Não pode versos fazer!... Não sabes ler, escrever!... Mas dizem que és esperto... - Eles fazem do longe perto!... Meu labor não são as almas, Mas sofrer, do tempo, as calmas, Da chuva e frio, o rigor... Eu sou, de animais, pastor... E o Senhor bateu as palmas... Diz o bispo com ardor - Tens fama de grande bardo! Faz versos a nosso agrado E terás o meu louvor Pois muitos te dão valor... - Pois se o ouviste(s), Senhor E o pedis com tal calor Venha o MOTE para o verso!... E o Bispo de olhar travesso Encara o Pôtra, pastor: - Senhor meu bateu as palmas!!! Pois nós não somos iguais... Eu sou pastor de animais E vós sois Pastor das almas! Sofro frio e sofro as calmas Sofro, do tempo, os rigores. Vós brilhais entre os Doutores Servindo, aos sábios de exemplo! Eu, no prado e vós no Templo... Nós, ambos, somos pastores! Aí fica, como aprendiz de “fazedor de Décimas” esta DEIXA, com o meu pedido de desculpas aos Mestres mais entendidos, que cito neste trabalho e com os quais estarei sempre disposto a aprender. * José Penedo é um dos deNómios (género de pseudónimo ou heterónimo) usado pelo autor. José Rabaça Gaspar Corroios, Junho de 2004 134 A FINALIZAR, aqui ficam duas DÉCIMAS, que recebi como resposta a um desafio de leigo que desconhecia esta Arte Maior: perguntar aos Artistas, se saberiam explicar aos analfabetos e aos menos entendidos nestas artes, o que é uma DÉCIMA. O primeiro aceitou o mote que elaborei. O segundo criou ele o próprio mote. Décima de José Fialho Brito da Silva Palmela, 3 de Setembro de 1999 Mote proposto: - DIGA LÁ, SENHOR POETA - José Fialho - Diga lá, senhor Poeta Perguntou-me um professor: - Como se faz rima certa Numa DÉCIMA ao rigor. Com toda a sinceridade Pergunto porque não sei Como é que eu entenderei O dom de tal faculdade Se os versos são na verdade Uma mensagem concreta Uma lição completa Cada qual no seu sentido Eu quero ficar esclarecido Diga lá, Senhor Poeta. Não é fácil explicar Parecendo simples questão Se é um dom de propensão Ninguém o pode negar Muito menos ensinar Nem dar-se como oferta Se o dote é quem o desperta Faculta a quem o herdou Este tema explicou Como se faz rima certa Eu não me canso de ouvir Uma décima bem rimada Cada frase enquadrada Unidas para construir Pretendendo atingir Com harmonia e primor Em prol do seu autor Que a construiu habilmente Este tema pertinente Perguntou-me um professor Se o tema é facultativo É mais fácil rimar Podemos imaginar Como em imagens de arquivo Mas no acto decisivo A razão tem que opor O verso tem mais valor Porque a justiça é suprema Tem que usar este sistema Numa décima a rigor Palmela, 3 de Setembro, 1999 José Fialho Brito da Silva 135 136 Décima de Augusto José, mais conhecido por Augusto “o Grande”, de Almodôvar Para um amigo: - VOU INFORMAR O SENHOR – Augusto José - Vou informar o senhor, Preste bem lá atenção Vou descobrir ao professor: - O dote é de nação Sou já velho e reformado Mal tenho a 4ª.classe Queria que explicasse Eu não estou bem preparado Procure o Zé Saramago É poeta e escritor Tem fama e é bom actor Faz uns livros de poesias É vendido nas livrarias Vou informar o senhor Em letras sou atrasado Hó amigo José Rabaça Na vida tudo se passa Vou contar o meu passado Sinto o corpo magoado Fui um pobre trabalhador Há gente que não dá valor A quem trabalha para comer Escrevo mal e pouco sei ler Vou descobrir ao professor Não tive meios de estudar Quem não lê, não sabe história Estou já fraco da memória Não consigo explicar Mesmo assim vou tentar Dou o meu opinião Quem não tem a vocação Não consegue compreender Vou tentar responder Preste lá bem atenção. Eu ficava satisfeito Não o posso agradar Às vezes fico a pensar À noite quando eu me deito É preciso é ter preceito Ter um pouco de noção Arranjar ocasião Quando a cabeça está boa Nasce logo com a pessoa O dote é de nação Autor: Augusto José, Almodôvar, 2000? 137 138 VI - GRITOS NA SOLIDÃO – esboço de estudo Esboço para um ESTUDO do HOMEM, do POETA e das suas DÉCIMAS... S. MATIAS, uma terra de Poetas?! José Rabaça Gaspar 139 O que dizer de ou sobre Inocêncio de Brito? Já ouvi de tudo. Até ouvi dizer que ele não existia enquanto uma povoação inteira como S. Matias, uma freguesia do concelho de Beja, sabe as suas Décimas de cor, conta imensas histórias da sua atribulada vida e lhe dedicou uma rua para não ser esquecido. Até já ouviram na rádio e na televisão dizer Quadras dele como sendo de outros e Décimas dele como se fossem de outros autores. Porquê? Creio que foi um economista recém formado ou doutorado que mo explicou. O ar, como é abundante e toda a gente precisa fundamentalmente dele, não tem valor, não tem preço. Não está à venda. De Inocêncio de Brito, depois de durante alguns anos ouvir falar das suas aventuras e das suas Décimas apetece-me dizer que como o ar ou como a água das fontes, não tem valor, não tem preço. Enquanto não conspurcaram a água que bebemos e não apareceu um “Cintra” qualquer a meter a água numas garrafas de plástico e vendê-las pelo dobro do preço da gasolina, a água não tinha valor. Não tinha preço. Tal como, por vezes, a água, que corre nas veias do ventre da terra, brota em fontes e rios, nos lugares mais inesperados, escondidos ou abertos... Tal como a água dos rios corre sempre, sempre para o mar... para a mar… amar… Tal como as árvores e as plantas, por vezes, abrem o ventre da terra, para darem a conhecer as fecundas potencialidades que a Terra mãe guarda no seu seio... Por vezes, e inesperadamente, sem licença dos ditos donos das letras, ou dos ditos donos da cultura, surge, no deserto, uma Voz de Poeta que fala da vida, que fala da sua terra, que fala da sua família, do pai, da mulher, dos filhos, dos problemas nacionais que ecoam no mundo, dos problemas internacionais que abalaram o mundo, exalta uma figura de mulher de rara beleza e majestade, interpela o “Kaizer déspota orgulhoso” que provocou a I Grande Guerra Mundial, interpela o Rei, escreve ao sucessor do Rei, geme na sua solidão onde “Brado ninguém me responde / Olho não vejo ninguém”; foi ou “Já fui senhor Professor”, “Agora sou não sei quê”, “Partiu a tola à Maria” e depois fizeram as pazes, interpela o “Vinho cruel inimigo” e logo a seguir defende-o dos adversários “Tu não clames contra o vinho”, afinal “Trabalho não tenho achado” e “se a fome a roubar me obriga / Serei preso por ladrão”, escolhe o Sol como mensageiro “No teu giro Sol brilhante”, invectiva “A Rainha das potências” passa um diploma de mau comportamento a ministros e doutores e denuncia a falta de instrução e o abuso que os instruídos fazem dela “A instrução é precisa / A instrução não convém”; desafia os génios, os artistas e os inventores a «Que faça chover, “escampar”», manda tirar o chapéu ao rico que se banqueteia e diverte “Descobre-te milionário / Vai um enterro a passar”, procura a Paz e só a encontra no cemitério e canta a Virgem como um inspirado teólogo “No ventre da Virgem Bela / O Verbo encarnou por graça / Entrou e saiu por ela / Como o Sol pela vidraça”... E, inesperadamente, este poeta que ninguém conhece, este poeta que não existe, nunca ninguém ouviu falar dele, inesperadamente, sessenta anos depois da sua morte (morreu em 1938?), podemos ter a inesperada feliz surpresa de entrarmos num café da aldeia, pararmos na esquina duma rua, sentarmo-nos em frente de uma mesa duma família diante de uma tigela de azeitonas pisadas, tirando um petisco e... inesperadamente ouvir um jovem neto de Inocêncio de Brito com 91 anos, ou uma neta de oitenta, ou uma bisneta de sessenta e cinco, ou um velho companheiro de lides dos trabalhos pelos montes, ou até alguns jovens que ainda não tinham nascido quando o Ti Inocêncio morreu... 140 inesperadamente, num lugar qualquer de S. Matias, basta puxar a conversa, e as histórias os ditos, as saídas repentistas, os Motes e as Quadras e as Décimas de Inocêncio de Brito jorram em borbotões como se o estivessem a ver e a ouvir o poeta desconhecido e ignorado, o poeta que para conhecedores do Alentejo, não existe, nunca existiu!!! Deste Poeta, atrevo-me a dizer, na nossa (MRD) modesta, respeitável e discutível opinião – ensinaram-me há pouco, e já vou nos sessenta, que era assim que devia, por ser politicamente correcto, emitir as minhas respeitáveis opiniões que bruscamente eu dizia que eram, só, respeitáveis e discutíveis – de Inocêncio de Brito, repito, atrevo-me a dizer, pelo que me foi dado ouvir e ver, pelo que tenho ouvisto, que é indubitavelmente um poeta da Língua Portuguesa. Um poeta desconhecido? Um poeta menor? Um poeta de que ninguém fala? Um poeta que nem os folhetos volantes da feira fazia, como os outros, e nem os deixava fazer? Creio poder dizer que Inocêncio de Brito é a prova viva de que um Poeta, na imensa solidão da planície alentejana, “Onde brado ninguém me responde / Olho não vejo ninguém” longe de tudo e de todos, até da imprensa e dos meios de difusão, embora ele fosse dos raros poetas “analfabetos” que naquele tempo sabia ler e escrever como uma letra cuidada, desenhada e esmerada como deixou nos seus manuscritos, Inocêncio de Brito é a prova viva de que, mesmo sessenta anos depois de morto e enterrado, esquecido e ignorado, afinal ESTÁ VIVO, porque as pessoas da sua família, as pessoas da sua terra S. Matias, Beja, sabem de cor os seus poemas, os discutem, os copiam à socapa, os deturpam, os emendam como acontece com toda a literatura Oral e a sua poesia fala, canta, grita temas e problemas que vão da Terra ao Sol, da Vida à Morte, dos problemas locais aos Universais... Merecia porventura o Prémio Nobel? Talvez. Entretanto, graças a Deus e à minha modéstia, não preciso, nunca precisei da modesta, respeitável e discutível opinião da Real Academia Sueca, nem do peso dos seus cento e setenta mil contos, para emitir as minhas opiniões. Atenção. Neste ano da graça de todas as graças como a Expo98 e do Prémio Nobel para o Saramago, eu não sou contra. Antes pelo contrário. Na Expo não pus os pés. Do Saramago disse, alto e bom som, nas aulas e no jardim público da cidade de Beja, rodeado de doutores, em 83/84, quando tive oportunidade de ler “O Memorial” que me emprestaram porque não tinha dinheiro para o comprar, que, pela sua estrutura, pela cadência da narrativa, pela fluidez do texto, pelo visualismo do invisível, pelo simulacro de fundamento histórico, pela riqueza de personagens “levantados” do imaginário, o livro de Saramago era melhor, muito melhor, do que o badalado, na altura “Nome da Rosa” de Humberto Eco. Só que o Eco vendia aos milhares nos Estados Unidos e o Saramago tinha o azar de ser português. Enganei-me graças a Deus! Passados uns anos ele vendia milhares nos “States” e na Itália deu Ópera!!! Ainda me recordo dos olhares de comiseração e dos comentários venenosos dos meus justamente indignados e ilustrados colegas sabedores, a dizerem – Pois é! É por isso que os alunos de professores como este não sabem nada de português nem de literatura. É por isso que o ensino em Portugal está como está!!! Estou a vê-los, agora em finais de 98, a correr às livrarias a comprar Saramago, e a correrem aos críticos para saberem da originalidade, criatividade e riqueza estrutural e simbólica dos livros de Saramago. Que pode valer a minha opinião, enquanto não “falarem três doutores” ou enquanto não se pronunciar a Real Academia Sueca? 141 O que é preciso para ser Poeta? O que é a Poesia? O reconhecimento da Academia? Ou a Arte e o Génio, a capacidade de olhar e captar a realidade com olhos e ouvidos de Poeta para nos levar a entrar noutra dimensão. O que é a Inspiração? O que são as Musas? O que são as Tágides e as Ninfas do Mondego de Camões? E o simbolismo da Ilha dos Amores? E a intervenção dos Deuses do Olimpo? E as minhas “azereides”? Estou a lembrar-me da intervenção “aflita” e trémula do meu querido e saudoso amigo Doutor Manuel Viegas Guerreiro, em 1996, em Portel, no colóquio Artes da Fala, talvez, não sei, pressionado pelos “donos do Colóquio” a tentar contrariar as minhas heresias sobre literatura e poesia, por ter intitulado o meu trabalho “AS DÉCIMAS – OU A MAGIA DA POESIA POPULAR” para afirmar à douta assembleia que considerava esta Arte de Poetas “Analfabetos” das lides literárias, tanto pela complexidade da sua estrutura, como na aparente facilidade da sua comunicação a que poucos se atrevem, como uma peça de rara beleza e um “prodígio de arquitectura narrativa e de estrutura simbólica e significativa” semelhante a uma jóia ou um diamante, semelhante a um esmerado trabalho de lapidador, que, para além da perfeição formal, deixa na obra uma carga de simbolismo que poucos podem alcançar, sugerindo que a Décima, em que o Mote de quatro versos de redondilha maior se espraiam por quatro décimas que vão desaguar em cada verso, criam, do quadrado do Mote e do quadrado das quatro décimas, uma espiral de leitura em círculo que desafia os sábios que desde sempre procuram conseguir a quadratura do círculo, ou, melhor dizendo, “a circulatura do quadrado”. Pois é mesmo disso que eu estou convencido. Não é possível pedir, apesar de todos os defeitos de grande número de Décimas, apesar das falhas de vocabulário e das rimas forçadas, considerando que é uma arte eminentemente oral e repentista, não é possível conceber, que uma arte que poucos eruditos conseguem, mesmo escrevendo e emendando, que sem uma INSPIRAÇÃO ESPECIAL, sem uma ligação superior, sem uns “olhos” especiais, sem uns “ouvidos” que ouçam para além dos ruídos comuns, sem uma “fé” que os leve a acreditar que a palavra dita é criadora e pode ser mais forte que a escrita, não é possível, dizia, acreditar que Poetas como Inocêncio de Brito, dizerem o que dizem, e passados sessenta anos de morte e esquecimento sejam repetidos e ditos, comentados por novos, velhos e a mais “desvairada” Gentes... Aliás não é a minha teoria, ou as minhas teorias que me preocupam. O que eu não percebo é o que é que é afinal a inspiração. É ou não é uma forma diferente do comum de ver as coisas? É ou não é o resultado de uma capacidade invulgar de “captar” o mundo que nos rodeia? E isso é privilégio só dos aprovados pelas altas sumidades ou dos bafejados pela sorte da publicação? - Que não senhor, que dizer que os poetas poderão ter um dom especial e uma ligação a outras dimensões, isso não é científico e literário!!!... - Aconselho-o a que não se meta em coisas parecidas como ciências ocultas ou esoterismos porque por exemplo o Pessoa e o Camões, grandes poetas nunca se meteram nisso... - As pessoas que não sabem o que estão a dizer deviam, no mínimo estar caladas!!! Isto era a sentença de um puto iluminado que já sabe tudo só que tinha a vantagem de poder escrever num jornal onde com certeza lhe pagavam e aos vintes e tantos anos já aprendeu tudo!!! Eu que ando nos sessenta ainda tenho algumas coisa para aprender e só admiti que a sabedoria de muita gente do povo pode ir mais longe e ter outros meios de informação e comunicação que os ditos eruditos não percebem nem lhes admitem... Isso de ocultismos e esoterismos ou exoterismos deixo por conta dos que acham que percebem dessas coisas!!! 142 Remeto os estudiosos para os trabalhos de Jorge de Sena sobre os Lusíadas e as possíveis implicações que a hermenêutica e a cabala podem fornecer para uma compreensão e estudo de “Os Lusíadas” para conseguir articular a leitura dos seus Ciclos e Níveis com as analepses e prolepses que isso implica; remeto para os trabalhos de Vitalina Leal de Matos e de Vasco da Graça Moura sobre por exemplo as redondilhas de “Sobolos Rios” que pode implicar a aplicação do teorema de Pitágoras ao comentário do Salmo 136, ou será o 137, conforme a numeração das Bíblias, um exercício literário que era proibido pela Santa Inquisição e que organizando os 365 versos em quintilhas ou em décimas nos podem fornecer uma leitura e uma interpretação completamente diferente?!!! Aliás, como diz Jorge de Sena, a respeito dos Lusíadas, essa obra ele considera-a “como um prodígio de arte narrativa e como um prodígio de arquitectura significativa” (Ver Jorge de Sena in “Estrutura de “Os Lusíadas” p. 67). Sem querer comparar uma simples Décima com obra de tamanha dimensão, atrevo-me no entanto em insistir em comparar, como já fiz noutras tentativas de estudo, a estrutura da construção de uma simples Décima a prodígios de arte em arquitectura, tendo em conta as devidas proporções. Já em trabalhos anteriores sugeri que se olhasse para o que dizem ter sido uma das maravilhas do mundo, o Templo de Diana, uma construção imensa que nascia de quatro grandiosos cubos vistos por fora, encimados por uma majestosa abóbada circular e, de tal maneira construída que quem a via por dentro, ao entrar nela, ficava com a ilusão-verdade de que estava imerso numa magnífica abóbada como inserido no Universo ou no imenso Cosmos. Aventei ainda a semelhança ou paralelismo com a construção da Torre de Belém que, segundo dizem entendidos na matéria, terá guardado, para quem os sabe ler, prodígios de simbolismos que passam despercebidos à maioria. Falei ainda duma pequena igreja de Terena, o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, mandada edificar pela Formosíssima Maria, que “embora de proporções miniaturais, tem imponência e o maior valor artístico e histórico”. Falei ainda da capela de S. João, na entrada Norte de Beja, cuja forma rectangular é como que rodeada por dez pequenos torreões que a adornam e completam a forma quadrada da fachada elegantemente aberta em arcos. Avanço neste trabalho, e para quem está habituado a olhar dos vários ângulos a cidade de Beja quando nos aproximamos vindos da planície, encimada com o seu imponente Castelo e Torre de Menagem. É ver bem o quadrado cimeiro a culminar as quatro paredes que se erguem esguias e altaneiras, como se as quatro décimas que se erguem do mote, sustentassem por sua vez os quatro versos do mote e lhe dessem outro brilho e outra visibilidade. É ver como os fundamentos seguem e obedecem às curvaturas do terreno, como acontece com as construções de muitos montes alentejanos que enchem as paisagens do Alentejo, quando passamos por ele com olhos de ver. Talvez não saibamos quem são nem o que sabiam os mestres construtores destas obras. Quando o soubermos, talvez saibamos um pouco mais desta Arte Maior de fazer Poesia “que não se aprende, nem se ensina”, mas que leva um simples “Analfabeto” ou assim considerado, a erguer com pedras que são palavras, a arquitectura de uma Décima que é um desafio inglório para os “senhores” da Literatura que não lhe reconhecem o valor, que não a percebem, que não a sabem construir, que a menosprezam como arte menor própria só de gente menos culta, que a ignoram, que não a estudam e portanto a não consideram nem promovem. Apesar de tudo, mesmo sem vir nos manuais das escolas, mesmo sem ser estudada nos “templos” do saber, ela aí está viva, essa Arte Maior de fazer Poesia, e pronta a ser dita, para quem tiver ouvidos para ouvir, numa praça ou numa rua de uma qualquer terra desconhecida, por poetas ignorados que carregam este glorioso fardo de Saber Rimar como herança de séculos. 143 Aceito as críticas dos mestres. Devolvo os conselhos dos “iluminados” que, mal se vêem com um qualquer “canudo”, já tiveram tempo para aprender tudo depois dos seus “estudos longos e aprofundados”! Que fiquem com as suas “certezas” que eu não tenho nem quero. Só me confunde a “curteza” de vistas dos que não admitem que os outros possam ver um pouco mais do que eles, ou um pouco diferente! Deixo-lhes a DEIXA do Mestre: “Francisco Campos não penses / Que és sábio sem ter segundo / Mais tolo é quem se persuade / Ser o único no mundo.” “Lá do assento etéreo onde subiste”, ó mestre, nós que não somos divinos, não lhes perdoes porque eles pensam que sabem o que fazem!!! Experimentem ler os seus versos e imaginar o Ti Inocêncio numa roda de amigos sem saberem ler nem escrever, a pregar como um profeta contra guerras a invectivar imperadores e criminosos e doutores que usam a instrução como arma para praticar injustiças... ou comovido a mandar “as suas condolências” à viúva do rei... seja para ganhar a grande popia na Festa do S. João em Ervidel “Que lindo Arco Celeste...”, “A manteiga nutritiva”, seja para se meter com o Manuel de Castro “Ser passarinho e tu laço”.. ou com o Francisco Campos “Tolo é quem se considera / Ser o único no Mundo”... ou brincar com as personificações que se transformam em prosopopeias “No teu giro Sol brilhante” para fazer do Sol o seu mensageiro junto da família... ou “Os anjos do céu me levem”... “Trabalho não tenho achado / Peço esmola não ma dão” “Aos céus pergunto. – o que faço?”... “De dia mando o sentido / Levar novas e trazer”...”À noite um sonho atrevido”... “Que os estou vendo e ouvindo”... “E tu, Sol... Traz-me novas dos meus filhos... Recomenda-me ao meu pai”... e tu “Pedrógão... Enorme a tua riqueza... vives na maior pobreza”... não é a síntese, a sinédoque ou a metonímia do retrato das terras do interior do país explorado só para benefício de alguns com ou sem regionalização? ... “... como o alimento / A instrução é precisa” “Mas se com orgulho ou desdém... / A instrução não convém” porque “Faltando-lhe a consciência... A instrução embrutece”... !!! ou ouvindo “Descobre-te milionário” para mostrar o valor do “Que morreu a trabalhar” e “Não foi alta personagem / Nem pessoa titular” aí estão todos os deserdados do Mundo... ou “Ser rico e andar à esmola” ou “Ter boa vista e não ver” são antíteses e contradições jogadas com uma justeza sibilina e mordaz “Num homem sem saber ler”... e a mulher’ “Que a casa onde ela não lida / É como o corpo sem alma”!!! Já alguém exaltou desta maneira o trabalho desprezado da mulher que não faz nada em casa? Ou afinal basta a sua presença e “lida” para evitar que o frio gele, que a calma afronte, para que a vida seja suportável, para que a “casa sem ter mulher” deixe de ser “Um covil de malfeitores” para que haja luz... para que haja ordem e graça, para que se afastem “as cruéis desventuras, as penas, as amarguras, para haver “Amor paz, santa união” para fugir a escuridão! É ver o jogo de palavras os anaculutos e anástrofes, as ironias, as negativas a enaltecerem a mulher pelas antíteses e contradições, figuras de estilo a esmo e processos de enriquecimento literário que os literatos inventaram e este poeta usa como quem respira... Será possível ver tudo isto e muito mais, ou será que só os considerados bons poetas, já consagrados é que usam as figuras de estilo? E o poder d’ “Os olhos, órgãos da vista” e d’ “As pingas de água chorosas” que “Brotam de olhos femininos”, não são perífrases? Não “Custam pouco e são rendosas”?... quantos jogos de palavras, na poesia deste ignorado poeta popular “analfabeto”!!! 144 Até uma peça de teatro, como um auto, podemos encontrar no “Vinho cruel inimigo”... “Tu és réu, eu sou queixoso”... “Ninguém duvida que és / Um completo criminoso”. Isto ao longo de quarenta versos... para depois o sujeito da enunciação se transmudar em destinatário Tu “Não clames contra o vinho”... “A culpa é toda do homem”... “A quem não é criminoso / Não manda, a lei, castigar”... Podíamos experimentar? Para ver a adjectivação abundante podemos pegar no “Nobre Terreiro do Paço... nas cenas que são horríveis... no João Franco malvado... na infeliz realeza... a terrível surpresa... o fero laço... a triste nova... maus intentos... intento malvado... cruel morte... ímpio... traidor... sangue inocente (ver a hipálage em que inocente é a pessoa e ele chama inocente ao sangue)... digna vitória... feras hienas... (além de fera a hiena é fera ou os assassinos são ferozes com comparações e metáforas avassaladoras...)... Até nem falta a dupla adjectivação com aliteração com a ênfase dos erres: no português reino honrado... teatro de horríveis cenas... Ver, na carta a “Dona Amélia de Orleães, ver um EU “que “Não tenho instrução pra mais” ... “Vos mando, mártir Rainha / As mais sérias condolências” e ficamos a ver aquele alentejano do Torga que “Enverga o gibão como o manto de um rei, e o cajado como um ceptro” cheio de dignidade e respeito por si para respeitar os outros! Isto é qualquer coisa de magnífico. Mais do que sermos representados pelos nossos “eleitos” à força de propaganda, eu sinto-me honrado por este Homem, este Poeta, ter mandado esta carta à Rainha que nunca a leu nem soube da sua existência. Nem da carta, nem do homem, nem do Poeta. E se o soubesse? A tese de teologia de “No ventre da Virgem Bela” “Entrou por graça o Altíssimo” como “No vidro penetra a luz”, “Como a luz o vidro passa” “Conceber, ficar donzela” e assim exaltar a “Sua exceta honestidade”!!!, pronto, esta tese escuso-me a comentar. Não lhe bastava entrar pelo campo das filosofias e nas reflexões de descobrir quem somos, donde vimos e para onde vamos, entra ainda pelas teologias e, apesar de me terem dito que foi o padre lá da terra que ensinou este homem a ler e escrever, duvido que o teólogo fosse capaz de explicar deste modo a “Senhora da Conceição”!!! Pronto. Por aqui me fico. Não quero desiludir os “doutores” que não vão ler patranhas destas, ou dizer que isto não é análise nenhuma. “Eu sinto, tenho emoções, choro, rio, tenho raivas... logo existo... logo penso.” Eu vou pelo “Erro de Descartes” do nosso António Damásio. Eles que continuem as análises e a educação pela razão, pelo “penso logo existo” e depois continuem a acusar-me que os males da “imbecilidade diplomada” dos “iluminados que nunca têm dúvidas e raramente se enganam” é toda por culpa destes professores atrevidos sem cultura que até já estão para os lados da reforma e escrevem coisas como “O Ensaio sobre a Cegueira” e até desprestigiam a cidade do “Convento”!!! Na tua Inocência, perdoa-lhes Inocêncio de Brito. Só agora, perante isto, é que percebi o comentário “maldoso” de um grupo de “ilustres letrados” em Beja que comentavam um convívio de “poesia popular” ali numa aldeola em que “havias de ver... aquilo era uma data de gente analfabeta que aprenderam uma palavras difíceis e depois, sem saberem o que querem dizer metem-nas nuns versos, ainda por cima a rimar!!!” Lembrei-me de facto do porteiro do colégio onde estudei que, uma vez que convivia todos os dias com estudantes e professores, a certa altura, em vez de nos dar os “bons dias” ou “as boas tardes” metia os palavrões que nos apanhava nas conversas e brindava-nos com um “inopinadamente” com um “pertinente” um “inóspito” e coisas no género, o que entre os estudantes era conhecido pelo “falar ao difícel” para nos mostrar que, mesmo porteiro, e sem estudos, estava a aproveitar a escola mais do que muitos de nós! Creio que esses “ilustres letrados”, meus amigos ainda por cima, nem sequer agora sabem o que é uma Décima. E daí? E eu sei? 145 Têm-me chamado à atenção de que gasto muitas energias a bradar contra doutores e autoridades e instituições e religiões e credos e seitas! É possível que tenham todos razão mas o certo é que ou não brado o suficiente ou não adianta de facto porque não sou ouvido. Aliás, como já expliquei e como todos os que me conhecem estão fartos de saber, eu que pareço do contra como aquele “que llegava a um pueblo...” eu nem sequer contra sou contra o Deus Único, sou contra os deuses únicos de cada religião ou cada seita ou cada academia, sobretudo quando não estão ao serviço da ciência, ou da cultura, ou das pessoas... nem sequer sou contra a autoridade; só contra a autoridade que é só autoridade e não sabe o que está a fazer!!! É por isso, talvez que imaginar este homem a bradar ao vento, na solidão, me anima e limpa a alma! Mestre Inocêncio, não te proponho para o Nobel, pois “Não tenho méritos para isso” não tenho essas “eloquências”, mas do alto da minha pequenez de amante da Língua e da Literatura Portuguesa, nela incluída a chamada Literatura Popular, eu proponho que sejas tratado e lido e dito como Homem e como Poeta que prestigia uma Família, um Povo, uma Região, um País... Se em vez de uma Rua com o seu nome, ou para além disso, o seu nome e os seus versos passarem para alguma Associação Cultural, forem integrados no cancioneiro do Grupo Coral, se se promoverem convívios onde os seus versos e “sentenças” sejam lembrados, se se promover uma publicação com os seus escritos juntamente com os outros poetas desta terra, talvez estejamos a abrir caminhos para que esta terra de poetas e artistas se desenvolva ainda mais. Este é um trabalho sobre Inocêncio de Brito não tem a pretensão de ser pioneiro. Já outros antes de mim tiveram a preocupação e o trabalho de recolher os seus versos e tentaram dar a conhecê-lo/s... Sabemos também que não é um trabalho completo e acabado. Temos plena consciência disso e daí as inúmeras reticências e interrogações ao longo de muitas páginas. Ficam muitas pessoas por contactar e, muitos que guardam escritos deste poeta e guardam os seus versos na memória, muito terão ainda que contar... É esse exactamente o nosso desejo. Que apareçam e os dêem a conhecer. José Rabaça Gaspar 11/11/1998 146 VII – BIBLIOGRAFIA e outras informações sobre DÉCIMAS Contactos de poetas e entidades relacionadas com as DÉCIMAS COMUNICAÇÃO apresentada nas II JORNADAS DA REVISTA ARQUIVO DE BEJA, subordinadas ao tema: O ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS - passado, presente e futuro - Beja, NERBE, 2.3.4 e 5 de Abril de 1998. O texto dessa Comunicação foi posteriormente publicado na Revista Arquivo de Beja – Vols VII / VIII – Série III, com data de Agosto de 1998, com o título – DÉCIMAS – UMA LINGUAGEM COMUM IBERO AMERICANA Nome ANTÓNIA CARVALHO Morada S. MATIAS António Cartageno (Dr. Padre) BEJA António Lourenço de C. Raposo (Poetas Populares Santiago do Cacém) ANTÓNIO RUAZ CERCAL DO ALENTEJO Centro de Tradições Populares Portuguesas FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS ALAMEDA DA UNIVERSIDADE Rua João de Deus EDIÇÕES COLIBRI Escola Secundária D. Manuel I S. MATIAS Notas Não escreve. Tem recolhas... e faz Décimas curtas? Hipótese de estudar a musicalidade e música para as DÉCIMAS. Pertence a uma Associação de Poetas Populares em Santiago. Faz poesia diversa no meio do trabalho e ao sabor da inspiração. Foi dirigida pelo Dr. Manuel Viegas Guerreiro e publicavam a Revista LUSITANA Editam a Revista LUSITANA e apoiam diversas iniciativas Editor: Fernando Mão de Ferro Escola onde estive colocado nos anos 90 e mantém a minha ligação a Beja e Alentejo. Francisco Fanhais ALVITO Cantor e a formar-se em Música, ver com Dr. Cartageno... Grupo Amador de Teatro Esc. Sec. João de Barros, Experiência de várias leituras "QUINTA DA ÁGUA", Corroios de diversas Décimas... Joaquim António Tareco VIDIGUEIRA Conhecido Decimista, participa Curva (o Rei dos Queijinhos em Programas da Rádio Vidida Vidigueira) gueira, Cuba, Castro Verde... JOAQUIM RUAZ S. MATIAS Faz Décimas e Sonetos e conhece a obra de Inocêncio de Brito JOSÉ (MOLEIRO) RIBEIRA DA AZENHA Contador de Histórias, faz e diz MENDES CAMACHO VILA NOVA DE MIL Décimas...Esqueceu muitas... FONTES José Rabaça Gaspar CORROIOS Desde os anos 80 a coleccionar e organizar estudo sobre as Décimas e... 147 LUÍS ALVES S. MATIAS Manuel Aleixo e Arisberta Costa S. Matias MÁRIO DA CONCEIÇÃO SANTA CLARA DO LOUREDO OFICINA DE PATRIMÓNIO (Paulo Lima) ROSA HELENA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTEL BERINGEL SANTA MARIA (Eng.º) BEJA, natural de MOURA José Manuel Pedrosa Madrid Escola Superior de Educação de Beja Beja 148 Poeta e senhor de uma memória prodigiosa, cita datas e eventos durante horas a fio... Casal em S. Matias que faz contactos com poetas e pessoas de S. Matias... De Santa Clara do Louredo, Boavista, tem um livro publicado, anos 90... Os que organizaram o Encontro Artes da Fala em Portel, em Junho de 1996 Poeta de Beringel com 2 livros publicados... Autor de Crónicas "Memórias de Manoel Loendreiro" que consegue pôr por escrito o “falar alentejano"... Professor Universitário, em Madrid, ofereceu LA DÉCIMA POPULAR en la TRADICION HISPÁNICA Foi lá uma das Comunicações sobre o IAC/D e as Décimas... Têm Curso de Música onde estão A. Cartageno e Fanhais e o Dr. José Orta e um Grupo de Professores de várias áreas estão a criar um Centro de Estudos Regionais... OBRAS e AUTORES de DÉCIMAS ou que tentaram tratar as DÉCIMAS. Obras e autores que tratam AS DÉCIMAS e COLECTÂNEAS com numerosas DÉCIMAS n º AUTOR / coordenador VASCONCELLO S, José Leite de GUERREIRO, M. Viegas GUERREIRO, Manuel Viegas TÍTULO NOTAS Cerca de 30 décimas completas, versando 14 temas, algumas incompletas, outras são séries de 10 versos, Além de a maioria ser do Alentejo, há, pelo menos 5 da Figueira da Foz?!, e da Estremadura, Leiria, Lisboa, Bairrada e Minde... Uma décima PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA como exemplo (de POPULAR PORTUGUESA, ed. do Instituto de Cultura Portuguesa, Ministério da Educação, 1ª Calafate) sobre o pecado original... ed. 1978, 2ª ed. 1983, Lisboa. Desde uma introdução que procura discutir Literatura ou não Literatura e a tese de que o povo nada cria antes usa e deturpa o que lhe vem da classe culta!, as origens, até è importância da literatura popular, o livro desenvolvese em VII capítulos, desde a época medieval à actualidade. Os textos finais de literatura Popular Contemporânea são transmitidos por conhecidos autores!!! POESIA POPULAR. CONCEITO, A Informação obtiREDONDILHA, A DÉCIMA. DÉCIMAS EM da in Revista POETAS DO ALENTEJO E DO ALGARVE, Lusitana (Nova comunicação no COLÓQUIO LITERATURA Série), 12 (1994). POPULAR PORTUGUESA - TEORIA DA pp. 83-94, uma LITERATURA ORAL / TRADICIONAL / Evocação AfectiPOPULAR, uma iniciativa de ACARTE na va... de João FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, Lis- David Pintoboa, 1987, in ACTAS, pp. 191-237. Correia Ver ainda LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA... CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, Coimbra , Por ordem da Universidade, 3 volumes, 1975, 1979, 1983, vide introdução I vol. pp. XIII e XXXVIII e II vol. pp. 441-485 (a nota). (A maior parte das Décimas não está identificada, e, das identificadas, a maior parte tem o nome da zona ou da terra...) 149 NUNES, Maria Arminda Zaluar O CANCIONEIRO POPULAR EM PORTUGAL, Biblioteca Breve, volume 23, Instituto de Cultura Portuguesa, Lisboa, 1978. (Ver José Leite de Vasconcelos) DELGADO, Manuel Joaquim SUBSÍDIO PARA O CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO, Vol. II, terceira parte, 2ª ed. do Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1980, 1ª ed. Lisboa 1955. TEORIA DA LITERATURA, Livraria Almedina, Coimbra, 4ª Ed., 1º, vol. 1982 (Obra em constante renovação e actualização, e fundamental pela abertura e exigências que demonstra e exige!) POETAS POPULARES, (1º volume, (1971?, v. pref.) 1976, 2ª ed.); 2º volume - pref. Agosto de 1977, 2ª ed.; 3º volume - pref. Agosto de 1977, 4º volume, pref. Nov. de 1977, 2ª ed.; Colecção poesia, 3,4,5,6, sem editora, sem data, e deve ser Setúbal?. O 1º vol. tem poemas de um CAUTELEIRO ANTÓNIO ALEIXO, um CAVADOR MANUEL ALVES; um MECÂNICO - SILVA PEIXE, um SERRALHEIRO - J. MARIA DA SILVA. O 2º vol. tem poemas de um BARBEIRO AUGUSTO PIRES; um CALAFETE ANTÓNIO MARIA EUSÉBIO, um CARPINTEIRO - J. MOREIRA DA SILVA; um CHOFER - J. FREDERICO DE BRITO; um CONTÍNUO - A. VILAR DA COSTA. O 3º vol., poemas de um ARDINA - CARLOS DOS JORNAIS; um GANHÃO - J. DA MANTA BRANCA; um GUARDA-FREIO - EDUARDO FRANCISCO; um LAVRADOR - JOSÉ FERNANDES BADAJOZ; um PEDREIRO JOSÉ CRISPIM. O 4º vol., poemas de uma BORDADEIRA ISABEL MARIA V. LOPES; um CALCETEIRO - JOÃO AUGUSTO MENDES; um CORTICEIRO - JOSÉ VICENTE; um CRIADOR DE CÃES - LUCIANO H. MARQUES; um PESCADOR - MANUEL PARDAL. Cada autor tem uma vasta e pormenorizada biografia e informações e referências abundantes. AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel CARDOSO, Fernando 150 Uma décima Trovas do Sal, ouvida a um velho, em Silves, e na introdução do Cancioneiro de José Leite de Vasconcellos. Ver algumas Décimas recolhidas e algumas interligadas... vt. Enc. Luso brasileira. Não trata deste tipo de Décimas ... Ver os diversos prefácios e tentativas de teorização... POETAS POPULARES ALENTEJANOS , CENTRO CULTURAL POPULAR BENTO JESUS CARAÇA HÁ TANTA IDEIA PERDIDA... (1) e (2), 1º e 2º ENCONTRO POETAS POPULARES ALENTEJANOS, 1º em 21, 22 e 23 de Agosto de 1981; edição de Setembro de 1981, e o 2º, em 30 e 31 de Julho e 1 de Agosto de 82, Vila Viçosa. 1ª edição do 2º Encontro, em Outubro de 1982. Estes livros apresentam o resultado da participação de 1º - 30 poetas, subordinado ao tema mote: EU TRABALHO NOITE E DIA/ HÁ CHUVA E AO CALOR/HÁ TANTA IDEIA PERDIDA / NÃO HÁ QUEM LHE DÊ VALOR, em que além das décimas aparecem sextilhas e quadras subordinadas a outros temas...; e 2º 60 poetas populares a quem tinham sido distribuídos “sete motes respeitantes a quatro temas: Alentejo, Trabalho, Amor e Paz.”. São essencialmente Décimas e “a título de exemplo, um dos despiques e duas das desgarradas...”. Mostra até a diferença entre DESPIQUE (obra escolhida pelo poeta ou “dezedor” de entre as que fez ou aprendeu; A DESGARRADA que obriga a executar uma décima a partir do mote... Tem a fotografia de muitos dos participantes. 151 Obras a ter em conta para poder entender as diferenças entre as décimas normais, até usadas para DESPIQUE e DESGARRADA e as outras que tratamos aqui... RAPOSO, Abílio Perpétua, Recolha da Coordenação Distrital de Beja, MNE, DGEA NAVARRO, Modesto POETAS POPULARES ALENTEJANO S (Vila Viçosa) LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA, (340 p.), Coordenação distrital de Beja, Ministério da Educação e Cultura, DirecçãoGeral da Educação de Adultos, 1986. Esta recolha feita pela Coordenação Distrital do Distrito de Beja, aparece esta como AUTOR?!, tem também notas e coordenação do texto de M. Viegas Guerreiro e António Machado Guerreiro, e a nota prévia é de Abílio Perpétua Raposo, coordenador Distrital de Beja. Tem 12 capítulos: Os CONTOS e as LENDAS -(10 de v. localidades); As ANEDOTAS -(3/4 p.); AS ADIVINHAS. OS PROVÉRBIOS -(11 títulos); OS ROMANCES -(5?!); QUADRAS (Umas 37 décimas); AS CANTIGAS. OS VERSOS -(25 p.); POEMETOS -(30 p.); AS MODAS (ca. 90 páginas e a maioria com a música); O CANTE A DESPIQUE - (como funciona.); LENGALENGAS. TRAVA-LÍNGUAS. JOGOS INFANTIS. -(10 p.); REZAS. BENZEDURAS -(13 p. div. Localidades); e um APÊNDICE com COSTUMES, CRENDICES, MEDICINA POPULAR -(em 18 p.). O índice por concelhos indica os 12 concelhos do Distrito de Beja POETAS POPULARES DO ALENTEJO (?) (anos 80?), um trabalho a partir da secretaria de Estado da Cultura ? em finais dos anos 70 (?) em ligação com a Companhia de Teatro Garcia de Resende de Évora..???, vide pp. 18 e 255 citando João Sarmento e o poeta popular Gil Quintas. HÁ TANTA IDEIA PERDIDA, 1º Encontro Poetas Populares Alentejanos, Vila Viçosa, Agosto de 1981, 168p., Ed. do Centro Cultural Bento de Jesus Caraça, com o apoio da Câmara Municipal de Vila Viçosa. (32 poetas que participaram neste 1º Encontro, poemas diversos especialmente dedicados a Vila Viçosa e depois ao mote do Encontro “Eu trabalho dia a dia / À chuva e ao calor / Há tanta ideia perdida / Não há quem lhe dê valor” desenvolvida por todos ou quase. Há pelo menos mais um II volume.) 152 Ver página 853 onde começam as Décimas, aqui chamadas QUADRAS e pp. 85, 86 , onde se lamenta o desprezo que é dado a este tipo de poesia. (Estas notas devem ser de M. Viegas Guerreiro e A. Machado Guerreiro.) No prefácio, além da estrutura formal, dá indicações da entoação dos diversos versos... Uma iniciativa que se realizou várias vezes e mais do que publicar os autores, era um desafio à criatividade, dando temas ou motes obrigatórios... GASPAR, José Rabaça, POETAS Populares do Concelho de Beja PINHEIRO, J. M. Monarca, POETAS POPULARES DO CONCELHO DO ALANDROAL POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA, 1987 (ed. 1989), Concelhia da DGAEE (Direcção-Geral de Apoio e Extensão Educativa), Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987 (só em 1989). (Esta obra partiu de uma recolha que foi sendo elaborada pelos professores encarregados e empenhados na Alfabetização, neste concelho, desde 1979, sob a coordenação do prof. Abílio Teixeira. A organização, introdução e esboço de estudos anexos foi confiada ao prof. José Rabaça Gaspar. Ver a necessidade de um estudo mais aprofundado da DÉCIMAS e da urgente necessidade da criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLVIMENTO.) CANTADORES DE ALEGRIAS MÁGOAS E MANGAÇÕES, Ed. da CM Alandroal, 1993, 270p. (Com introdução, selecção, correcção de textos e notas de J.M. Monarca Pinheiro, Fotografia da capa e dos poetas de José Manuel Rodrigues, Design e arranjo gráfico de António Carlos Couvinha e Desenho de Vítor Rosa, tem o apoio da Delegação Regional do Alentejo da Secretaria de Estado da Cultura, e abrange poetas populares de Alandroal, Ferreira de Capelins, Juromenha, Santiago Maior e Terena. Obra feita a partir do contacto directo com os poetas contactados porta a porta por todo o concelho de Alandroal de Casas Novas de Mares a Juromenha, numa região onde há Castelos (Alandroal, Juromenha e Terena), a ribeira de Lucefecit (fez-se luz), os vestígios de construções megalíticas, povoados castrejos, restos do templo-santuário dedicado ao deus luso-romano Endovélico, no alto do outeiro de S. Miguel da Mota, Terena; e o santuário de NªSª da Boa Nova de Terena, mandado construir pela “fermosíssima Maria, filha de D. Afonso IV, pela vitória na Batalha do Salado???... na zona em que o Guadiana faz 60 km. de fronteira com Espanha... uma região onde os cultores da poesia oral-popular têm consciência da suas ligação telúrica a valores e mensagens que de certo modo lhes escapam...) 153 Numa colectânea de POESIA em geral, pode verificar-se que, de 107 poemas, de 24 poetas, 52, são DÉCIMAS, o que mostra uma predominância notável, a chamar a atenção para esta forma quase desconhecida dos estudiosos... Numa colectânea de 38 poetas populares e mais de uma centena de poemas (105) a grande maioria são DÉCIMAS... Estamos pois perante uma forma de fazer POESIA que é predominante, característica e, entre os poetas consagrados, é condição para se ser considerado POETA. TRAPERO, Maximiano, UNIVERSIDA D de las PALMAS de GRAN CANARIA; CABILDO INSULAR de GRAN CANARIA PINHEIRO, J. M. Monarca, Jornal Terras do Cante LIMA, Paulo, Câmara Municipal de Portel MIRA, Feliciano de GASPAR, José Rabaça GASPAR, José Rabaça LA DÉCIMA POPULAR en la TRADICIÓN HISPÁNICA - Actas del Simposio International sobre la Décima. Edición: Maximiano Trapero, Las Palmas de Gran Canaria, 1994. EM CADA CASA UMA PORTA - EM CADA PORTA UM POSTIGO, Antologia de Poesia Tradicional do Alentejo, (Com a coordenação, introdução e selecção de J.M. Monarca Pinheiro), Edição, Associação Terras Dentro, com apoio do Programa Leader II, 1996; resultado de um concurso - "Os melhores Poetas populares do Alentejo" organizado pelo Jornal Terras do Cante e outros livros publicados pelos autores ou autarquias... POETAS DE CÁ - breve panorama da poesia em Portel, COM RECOLHA, ORGANIZAÇÃO e INTRODUÇÃO de Paulo Lima, Edição da Câmara Municipal de Portel, Fevereiro de 1994.(Lançado no Colóquio Artes da Fala, Junho de 1996.) FALAR DE PIAS - Recolha de Tradição Oral e Literatura Popular (1990), Editorial Pendor, Évora, 1995, apoio da Câmara Municipal de Serpa. DÉCIMAS – UMA LINGUAGEM COMUM IBERO AMERICANA In Revista Arquivo de Beja, Vols. VII / VIII – Série III, de Agosto de 1998. Introdução, selecção, anexos e esboço para um estudo das DÉCIMAS in POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA, com recolha e coordenação de Abílio Teixeira, da Concelhia da (DGAEE) DirecçãoGeral de Apoio e Extensão Educativa, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987 (Publicado em 1989) 154 Ver abundante informação, exemplos, teorias, autores especialistas e música... Entre outras recolhas, algumas Décimas... Décimas, uma teoria e uma prática... 10 Décimas originais de José Penedo. A sublinhar a urgente necessidade de se estudar este Tesouro de Arte Poética tão original e pouco conhecido. FAZEDORES / CRIADORES e DEZEDORES de DÉCIMAS CAMÕES, Luís Vaz de1 obras de luís de Camões, Lello & Irmão - Editores, Porto, 1970, pp. 743 - 754. Brandão, Tomás Pinto2 PINTO RENASCIDO, pp. 72-73, vide POETAS DO PERÍODO BARROCO, col. TEXTOS LITERÁRIOS, Editorial Comunicação, Lisboa, 1985, pp. 299300. Aparece com 9 DÉCIMAS, sobre a Guerra 14/18, in HISTÓRIA DE PORTUGAL - DOS TEMPOS PRÉHISTÓRICOS AOS NOSSOS DIAS, Volume XI, REPÚBLICA II, , 1995, Direcção de João MEDINA, CLUBE INTERNACIONAL DO LIVRO, Edição e Comércio de Livros Ldª, 1995. ANDRADE, Joaquim dos Santos - poeta algarvio, contemporâneo ou um pouco mais velho que António Aleixo? (Ver) CASTRO, Manuel de SANTINHOS, Manuel José (poeta popular), 1 2 AS DEIXAS, Edição da Câmara Municipal de CUBA, 1987. Um livro que tem pesquisa e comentários de Cristóvão Enguiça, com recolha de familiares e população de Cuba, está dividido em 6 capítulos: 1º - A MORTE (3 poemas); 2º A JUVENTUDE (8); 3º A FOME (14); 4º - O MISTICISMO (8); 5º - A FILOSOFIA (7); 6º - A VIDA (5); que é, evidentemente um critério do organizador, vendo por exemplo a NOVA CORTANTE ENXADA metida no 4º tema a fome, que quanto a nós é um poema à vida, à renovação, à morte que gera a vida... Contemporâneo que foi de ANTÓNIO ALEIXO, e com encontros memoráveis na FEIRA DE CASTRO, este e aquele poeta precisavam de um estudo mais desenvolvido e em conjunto, para saber algo de despiques e desgarradas e baldões e das raízes e performances da poesia popular portuguesa. MEMÓRIA DAS GENTES DO LUGAR, Trabalho de Campo e Tratamento paraeditorial de Vítor Manuel Bastos e Maria Celeste Matias Rodrigues, Edi- - 4 Décimas mais um exemplo. Século XVI - 1 Décima. séc. XVII. Poeta do Período Barroco. 155 4 décimas versando vários temas... e outras... uma DÉCIMA, na morte de uma filha, Isabel, muito bonita. Uma história diferente, com colaboração de não historiadores, muito ilustrada, e que só vi em promoção em 16 de Maio de 1996. Se puder levo cópias das 9 Décimas... Ver por exemplo 2 décimas que considero magistrais: Fui nova cortante enxada... Em tudo sinto poesia... Era necessário contactar o poeta e os organizadores para se saber COELHO, António Maria ALEIXO, António GALRITO, Francisco Augusto VILHENA, José Gil ção da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, 1991. (Além da originalidade deste poeta popular que se exprime através de quadras, quintilhas, sextilhas e as já tradicionais DÉCIMAS ou QUADRAS DE QUARENTA PONTOS, apresenta as pouco conhecidas e difíceis QUADRAS (sextilha) DE SESSENTA PONTOS!... (15*4) BIOGRAFIA E POESIA DO POETA POPULAR ANTÓNIO MARIA COELHO, Ed. de autor, Março de 1993, Corte Vicente Anes, Aljustrel. (96p. uma quase centenas de décimas de um poeta que nasceu em 1937, trabalhou nas minas de Aljustrel desde os 18 aos 52 anos, reformado em 1972? com mil escudos por mês!!!, a sua biografia é a memória do tempo e terras que percorreu e poetas que conheceu e dos problemas sociais que detecta e se empenha em resolver, comprometendose... , as suas décimas e a vivacidade com que as diz, são um caleidoscópio de casos públicos e particulares... significativos.) ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO e INÉDITOS de ANTÓNIO ALEIXO, recolha e... de Joaquim MAGALHÃES e Ezequiel FERREIRA.... A VERDADE DA POESIA , vol. I, Edição do autor, Castro Verde, 1993. (Já publicou um II volume.). Uma DÉCIMA sobre a sua comissão na Guerra do Ultramar... 156 mais deste trabalho... Participou, em 15 de Novembro de 1995, nas Jornadas de Cultura tradicional, na Escola Secundária D. Manuel I, Beja... Ver os outros livros... 256 pp. Nem tudo são Décimas, mas a maioria a retratar uma vida, uma vivência... Ilha do Pessegueiro, no Restaurante - Vista do Mar. MOLEIRO, Tio Zé CAMACHO, José Mendes RUAZ, Joaquim3 BRITO, Inocêncio de CARVALHO, Antónia CONCEIÇÃO, Mário da4 Poeta Popular, 1996 BERNARDINO, António Afonso (Bagacinha) VENTURA, António O Tio Zé Moleiro como é conhecido, nasceu para os lados de Abela, Cercal e mora desde há muito que reside na Ribeira da Azenha, Vila Nova de Mil Fontes, onde o pai foi moleiro e ele também, mas desde há muito que vive da pesca... Além de fazer poesia e também Décimas, sabe ou sabia muitas que decorou de outros poetas populares e é um exímio contador de histórias... nunca se sabendo quando está a contar um facto que se passou com ele ou a dar largas à sua fantástica fantasia... Poeta de S. Matias. Admirador e conhecedor das Décimas de Inocêncio de Brito e empenhado na sua divulgação. ele próprio faz Décimas e outros poemas. Considera a Décima como Arte Maior ou a forma de fazer Poesia por excelência. Poeta de S. Matias, Beja, já falecido há mais de 50 anos, muito falado e admirado na zona, que o Manuel de CASTRO considerava o Mestre, e ainda inédito por incúria e.... Poeta versátil, não sabe escrever. Pede às pessoas e família que escrevam o que ela dita. É entretanto, como mulher, a única que vi tentar fazer DÉCIMAS, uma arte que parece reservada aos homens, embora as que ouvi sejam glosas de quintilhas ou sextilhas a partir do Mote (quadra), tendo entretanto, como modelo, a que decorou de seu pai. MEMÓRIAS DA MINHA TERRA 2ª Edição, Montagem e impressão, Associação de Municípios do Distrito de Beja, 1996 Poeta Popular, natural de Santa Clara do Louredo – Bosvista, Beja. DESCALÇO - Poesia Popular, Aljustrel, 1995, com o apoio da Câmara Municipal de Aljustrel, Edição do autor, Abril de 1995. NUNCA É TRADE - Livro de Versos e 3 Desde há cinco seis anos que tenho o rascunho para aquilo que chamei “O meu livro do Tio Zé Moleiro...” É possivelmente o poeta que pode promover a publicação de Inocêncio de Brito... É preciso promover a recolha completa possível e a publicação da obra deste poeta maior... Em anexo, a décima que decorou de seu pai e uma das que ela sabe fazer... Possivelmente as mais marcantes Décimas são sobre a História de Portugal e a Língua Portuguesa... - Que poderá apresentar Décimas de sua autoria e de Inocêncio de Brito e do que pensa e sabe sobre este assunto. 4 Que publicou um livro de Décimas. “Memórias da Minha Terra”, 1996, 2ª Edição, Beja. 157 Domingos Poesias para jovens e Adultos, s/ data (1996?) O autor nasceu em Cabeça Gorda, concelho e distrito de Beja, a 1 de Janeiro de 1924 e vive em Setúbal há 15 anos (em 1996?)...começou a fazer versos aos sessenta anos... MOITA, Rosa Helena ENTRE MARGAÇAS E URTIGAS, Poesia, 1992, Edição da Câmara Municipal de Beja. Poesia Popular, mas não faz Décimas.... Joaquim António Tareco Curva (Rei dos Queijinhos) Vidigueira. Tem Décimas do quotidiano da sua vida que vai dizendo enquanto ordenha as ovelhas e vive ao fundo da rua dos Bombeiros na Vidigueira. Tem sido convidado pela Rádio Vidigueira e outras, mas creio que não tem nada publicado nem deixa interferir nos seus direitos... 10 DÉCIMAS - (inéditas) - sobre poesia popular, 4 sobre a Arte de fazer Décimas, 1 a Mariana do Alcoforado, 1 à Moura Salúquia, 1 ao tema Viagem e 1 a O MAR - A MAR - AMAR. Organizadores: Jorge Freitas Branco e Paulo Lima – Comunicações apresentadas no Colóquio «ARTES DA FALA» que se realizou em Portel, dias 27, 28 e 29 de Junho de 1996. POESIA NO ALENTEJO - Nª Sª das Neves, Maio 2004 - «A pessoa que vai ler / Este livro até ao fim / Nela fica a conhecer / Um bocadinho de mim.» PENEDO, José ARTES DA FALA, Celta Editora, Oeiras 1997 LUÍS, José Maria AFONSO, Raimundo Emídio VELADAS, Manuel Inácio – (TI LIMPAS) Não faz Décimas mas é considerada colega de bons Poetas Populares... Tentativas de criar décimas através de um laborioso trabalho de escrita... Estuda a oralidade ao sul do Tejo, numa perspectiva antropológica. Décimas de um Homem que viveu em vários Montes sempre ligado à agricultura… Aprendeu a ler só VERDADES QUE RIMAM – Aljustrel, aos anos, com Dezembro de 2005 – é já o sexto livro uma vizinha e, de um Poeta que escreve: «Tu que és dono do poder / E ter julgas importante desde 1997, já / Vê o que andas a fazer /Ao teu próprio publicou outros cinco livros de semelhante.» poesia. NASCE DO MEU PENSAMENTO – ed. Desde muito novo da Confraria do Pão (Alentejo), Terena, aprendia e dizia um Mestre “fazedor” e “dezedor” de as poesias dos Décimas suas e dos outros… dotado de outros… uma memória excepcional…Diz, por exemplo as 50 “silvadas” de Estremoz… 158 159 Obras do mesmo autor publicadas in A MAR – Autor: José d’A MAR – Maio / Junho de 2003 – 102 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. A MAR - Como a água das fontes e dos rios, a VIDA, todas as VIDAS, correm sempre para O MAR… A MAR… AMAR… Nestes poemas com a influência de Camões, Torga e Borges, é proclamada a subversão: O MAR é A MAR! ISBN 950-502-602-5 /e 6 – Preço para transferir €3 - Em papel – $7.28 mais custos de envio. A ILHA – Autor: José d’A MAR – Julho / Agosto de 2003 – 80 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. A ILHA, na sequência de A MAR, é um poema carregado de LENDAS e pretende ser um desafio para que os leitores descubram a MAGIA de criarem a sua própria ILHA em A MAR.... ISBN 1-4135-0116/7-8/6 - Preço para transferir €3 - Em papel – $6.44 mais custos de envio. A FEIRA – Autor: José Penedo de Castro – Set/ Out 2003 –154 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. José Penedo de Castro é um cigano andarilho de FEIRAS que tenta mostrar com palavras e imagens o movimento e o colorido destes centros de Encontros e desEncontros... Publicou também, na mesma editora, como José d’A MAR – A MAR e A ILHA. ISBN 1-4135-0126/7-5/3 - Preço para transferir €3 - Em papel – $9.80 mais custos de envio. A COBRA – Autor: José Penedo – Dez 2003 / Jan 2004 – 184 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. Em A COBRA, José Penedo, outro deNómio como José d’A MAR, e José Penedo de Castro, canta-nos aqui, em BALADAS, as Lendas do Touro e da Cobra (uma LENDA de BEJA?) e o enCanto das Fontes... numa espécie de sinfonia em três Andamentos e várias Cantatas... ISBN 1-4135-0135/6-4/2 - Preço para transferir €3.5 - Em papel – $10.64 mais custos de envio. A SERPE – Autor: José Penedo de Serpa, Março / Abril de 2004 – 118 pp. Outro deNómio de JRG, como José d'A MAR, José Penedo de Castro e, e José Penedo, canta agora AQUI, as Lendas da SERPE, que pode ser o Rio ANA, e as origens de SERPA e Mértola... ISBN 1-4135-0142/3-7/5 - Preço para transferir €3 - Em papel – $7.68 mais custos de envio. A MOURA – Autor: José Penedo de Moura, Maio / Junho de 2004 – 136 pp. José Penedo de Moura, outro deNómio de JRG, canta agora AQUI, através de 10 “vozes” – autores diferentes, as Lendas da MOURA, cidade cristã, com nome pagão – ou a UTOPIA da CONVIVÊNCIA (im)Possível!!! ISBN 1-4135-0164/5-8/6 - Preço para transferir €3 - Em papel – $8.30 mais custos de envio. ALFÁTIMA – Autor: José da Serra do Vale do Zêzere, Julho / Setembro de 2004 – 124 pp. Com este livro sobre a LENDA da MOURA – ÁLFÁTIMA – o autor, decide regressar ao FUTURO, à sua STerra – Serra da Estrela – Manteigas, com 10 Lendas da Moura encantada, à espera de uma libertação gloriosa, com Cristãos e Mouros… A HUMANIDADE, um só POVO, com o tesouro da sua polícroma diversidade interCULTURAL. ISBN 1-4135-0185/6-0/9 - Preço para transferir €3.5 - Em papel – $8.30 mais custos de envio. NOMINALIA – Autor: Herminia Herminii – Março de 2005 – 526 pp. - Uma TRILOGIA da minha STerra – Serra da Estrela, Manteigas, a minha Terra na Serra… NOMINALIA é uma Sinfonia vastíssima e caótica cujas notas não são outra coisa senão NOMES: terras, lugares, apelidos, alcunhas, expressões… de Serra da Estrela, Manteigas, terra do autor ISBN 1-4135-3547/8-X/8 - Preço para transferir €5 - Em papel – $19.80 mais custos de envio. O PASTOR – Lenda do Pastor dos Hermínios – por Viriato dos Hermínios – previsto para ser editado na elibro.net, em Setembro de 2005 (uma trilogia da Serra da Estrela) O PASTOR - LENDA/s do PASTOR DOS HERMÍNIOS – é só uma MENSAGEM fascinante ditada pela ESTRELA – A SERRA, do Pastor que conquistou os MONTES ERMOS! Viriato dos Hermínios foi encarregado de a divulgar a quem a quiser ouvir. Há mais 5 lendas complementares. ISBN 1-4135-3600/1-X/8 - Preço para transferir €2.62 - Em papel – US$ 9.80 (más gastos de envío).. MANTEIGAS – uma Terra na Serra enoVELADA em Lendas – Lenda da Fundação mítica de Manteigas, por Hermes do Zêzere - previsto para ser editado na e-libro.net, em Novembro de 2005 (enfim a outra TRILOGIA sobre Manteigas, Serra da Estrela, com ALFÁTIMA e O PASTOR). Manteigas enoVELADA em muitas lendas e A LENDA de como foi descoberto o lugar onde hoje é MANTEIGAS e do PORQUÊ de ser este nome usado, contrariamente ao uso corrente, no plural - manteigas... & o que são OU PODEM SER os ribeiros e ribeiras e caminhos e estradas… que serpenteiam pela Serra... ISBN 1-4135-3613/4-8/X - Preço para transferir €2.62 - Em papel – US$ 11.20 (más gastos de envío).. OUTROS EM COLABORAÇÃO: ISBN 972 9171 03 3 «Lendas da Moura SALÚQUIA», Março de 2005, com mais de duas dezenas de versões, uma Edição de “Moura Salúquia” AMCM, 250 pp., tem prefácio e colaboração de 10 versões da lenda e uma Décima; «OS LOBOS DE MANIAMBA» Moçambique 1968 / 1970» Memórias da CART2326, Janeiro de 2005, com 156 pp., tem recolha de dados, organização, plano, digitalização e apresentação (c/ versão do CANCIONEIRO DO NIASSA). "Que modas?...que modos? (actas do 1º. Congresso do Cante Alentejano) (dos GRUPOS CORAIS ALENTEJANOS)", edição de FaiALentejo, Horta, Faial, Açores, com 360 pp. – colaboração. DEIXAS… As DÉCIMAS e Os Poetas Populares… colaboração no jornal “Há Tanta Ideia Perdida”, da Confraria do Pão… Alentejo, Alandroal, Terena… GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de INOCÊNCIO DE BRITO – um POETA popular de S. Matias, Beja – Um Mestre esquecido e ignorado – (previsto para Maio / Junho 2006 160 BIO(BIBLIO)GRAFIA Nota: deNómios de José Rabaça Gaspar. (www.joraga.net ) Não são um pseudónimo nem um heterónimo (exclusivo de Pessoa) mas um neologismo inventado, um NOME (outro), anjo ou demónio, musa inspiradora, que escreve através do autor, o livro ou cada um dos poemas do autor. José RABAÇA GASPAR – usando 1001 deNÓMIOS diversos... Professor de Língua e Literatura Portuguesa, já dispensado do Ensino Oficial, é de novo aluno. Nasceu na Serra da Estrela, Manteigas (1938), tirou o Curso Superior de Filosofia e Teologia, na Guarda, e exerceu a sua actividade, desde 1961 em várias localidades da Serra – Loriga, Gouveia, Covilhã e Ferro, passando depois pela Academia Militar, em Lisboa, antes de cumprir o Serviço Militar em Moçambique - Metanguala, Maúa e Nampula, (4 anos) tendo passado algum tempo em Angola - Luanda e Benguela. Frequentou depois, em Paris, um Curso intensivo de Animação Cultural, para os Povos em Desenvolvimento e Alfabetização, com Paulo Freire, e esteve, 4 anos, nos Serviços de Apoio aos Emigrantes Portugueses na Alemanha onde frequentou Cursos de Alemão e leccionou Português. De regresso a Portugal, em 1975, esteve primeiro a trabalhar nas Cooperativas Agrícolas como trabalhador agrícola, na Alfabetização e Animação Cultural tendo ingressado no ensino Oficial em 1976. Leccionou em Rio Maior, Setúbal, Caldas da Rainha e cerca de 20 anos em Beja, Alentejo, procurando levar os alunos a aprender o melhor da Língua e da Literatura Portuguesa, a partir das suas raízes culturais. A Poesia Popular, as Canções, o Contos, as Lendas, os Provérbios e os usos e costumes, bem como a maneira característica de FALAR (saudações, nomes, alcunhas, expressões regionais...) serviam, normalmente, de base para aprender toda a gramática e “riqueza” da Língua e da Literatura. Com mais de 20.000 páginas de Recolhas e Textos dispersos por mais de 200 obras alguma das quais podem ser consultadas em http://www.joraga.net – um ESPAÇO na NET – aminhaTEIAnaREDE... desde 09.2002. PUBLICAÇÕES 2006 – Junho – GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de Inocêncio de Brito, um Poeta Popular de S. Matias, Beja, um Mestre ignorado e esquecido! - in www.e-libro.net 2006 – Março – MANTEIGAS – uma Terra na Serra enoVELADA em LENDAS, por Hermes do Zêzere (no prelo, na elibro) 2005 – Novembro – O PASTOR – LENDAS do Pastor dos Hermínios, por Viriato dos Hermínios, in www.e-libro.net 2005 – Março - "Que modas? ...que modos? (actas do 1º. Congresso do Cante Alentejano em Nov. de 1997)", edição de FaialAlentejo, Horta, Faial, Açores – colaboração com resumo da comunicação apresentada e participação em debates. 2005 – Março – OS LOBOS DE MANIAMBA – Edição da Cart2326, recolha de dados, organização, plano, digitalização e apresentação. 2005 – Março – Lendas de Moura, edição de “Moura Salúquia” AMCM* – Prefácio, colaboração e apresentação. *Associação das Mulheres do Concelho de Moura 2005 – Março – NOMINALIA, com o deNómio de Herminia Herminii, in www.e-libro.net 2004 – Setembro – ALFÁTIMA, com o deNómio de José da Serra do Vale do Zêzere, in www.e-libro.net 2004 – Maio – A MOURA, com o deNómio de José Penedo de Moura, in www.e-libro.net 2004 – Abril – O Canto do CANTE – DEIXAS – as DÉCIMAS e os Poetas Populares, colaboração regular, no Jornal “Há Tanta Ideia Perdida” da Confraria do Pão, Alentejo, Alandroal, Terena… 2004 – Fevereiro – A SERPE, com o deNómio de José Penedo de Serpa, in www.e-libro.net 2003 – A GUERRA68/70 – LOBOS DE MANIAMBA – Memórias da Guerra Colonial da CART 2326 – Moçambique 1968/1970. (ver tb. in www.joraga.net com o Cancioneiro do Niassa e Canções de Guerra contra a Guerra...) 2003 – Dezembro A COBRA, com o deNómio de José Penedo, in www.e-libro.net 2003 – Outubro – A FEIRA, com o deNómio de José Penedo de Castro, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia) 2003 – Julho – A ILHA, com o deNómio de José D’A MAR, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia). 2003 – Maio – A MAR, com o deNómio de José D’A MAR, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia). 2003 – Fevereiro – Mértola – As Vozes do Silêncio – in www.joraga.net - Alentejo – Mértola... 2002 – Lenda/s do Pastor da Serra da Estrela (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual) 2002 - LENDA/s de ALFÁTIMA (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual) 2001 – Ceifeiro e Mil e Uma Noites - Grito do Índio, A LENDA do Pastor da Serra da Estrela, e NOMINALIA (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual) 2000 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. XV, série III - PRESÉPIO - AUTO DE NATAL de S. Matias, Beja 1999 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. XII, série III – Décimas de Inocêncio de Brito – GRITOS NA SOLDÃO. 1998 – Agosto – in Revista Arquivo de Beja – Vol. VII e VIII, série III – DÉCIMAS – Uma Linguagem Comum Ibero Americana 1997.01 – 1996.12 – SERPA enCANTADA EM LENDAS – Serpa Antiga – separata de SERPA INFORMAÇÃO, 4º série, n.º 17 (12.000 exemplares). 1997 - Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. VI, série III – MOURA - 10 LENDAS - UMA LENDA – A Moura Amor A Morte - A Magia ou a Utopia da Convivência (im)possível. 1996 - Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. II e III, série III – INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA (IAC/D). 1996 – Setembro – AUTO DA VISITAÇÃO (DO VAQUEIRO) -NATAL NA ESCOLA OU A MAGIA DE TUDO RENOVAR – proposta de várias re/cr(i)eações. Ed. Da Escola Secundária João de Barros, Corroios, (50 exemplares impressão e encadernação manual). 1996 - Abril – in Revista Arquivo de Beja – Vol. I, série III – A/s LENDA/s do TOURO E DA COBRA – Uma lenda de Beja? 1995 Abril / Maio - A/s FEIRA/s – A FEIRA DE CASTRO EM VÃS REDONDILHAS – Brochura policopiada, (500 exemplares) ed. Escola Secundária João de Barros, Corroios e Junta de Freguesia de Corroios. 161 1995 Abril / Maio – ILHA DO PESSEGUEIRO – A/s LENDA/s enCoANTADAS em redondILHAS – Edição policopiada (100 exemplares) Junta de Freguesia de Corroios. 1995 – Março / Dezembro in LER EDUCAÇÃO Nºs 17/18 – Revista da Escola Superior de Educação de Beja – A LITERATURA (CULTURA TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA /DESENVOLVIMENTO. 1994 – Abril e Maio O CANTO DO CANTE – in Jornal Terras do Cante Ano I, 1ª série, Nº 2 e Nº 3, Alcáçovas, Évora. 1987 (1989) – POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA – introdução, selecção, Anexos e Estudo final, arranjo gráfico, paginação e trabalho em processador de texto – Editora Câmara Municipal de Beja – Concelhia DGAEE (Direcção-Geral de Apoio e Extensão Educativa, Beja, 1987. 1985 – Outubro, Évora – A Linguística e a Análise Literária como contributo para o Desenvolvimento do Alentejo – in ACTAS do CONGRESSO SOBRE O ALENTEJO, III volume, pp. 1127 - 1131 1957 – Desde o Curso de Filosofia e Teologia, imensos trabalhos publicados em órgãos Regionais e da Escola e muitos preparados para publicação... 162 163 GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de Inocêncio de Brito – foi digitalizado usando o tipo Century Schoolbook 11/14, no mês de Junho de 2006 e pode ser enviado na modalidade de “livro a pedido”. JORAGA JORAGA em emviagem... viagem... em prol da criação de escrito e realizado especialmente para a família do poeta com a ideia de preparar uma publicação a sair na REVISTA ARQUIVO DE BEJA no final de 1998, para a Escola Secundária D. Manuel I, Beja, e para Junta de Freguesia e Casa de Povo de S. Matias, BEJA, que, segundo julgamos, até pela rua que lhe dedicou na aldeia, estão interessados em divulgar o trabalho do poeta que ainda é recordado e declamado por muita gente, embora tenha sido ignorado e esquecido, e isto, passados sessenta anos depois da sua morte. Novembro, Dezembro de 1996 Novembro, Dezembro de 1998 Junho Julho de 1999 Maio Junho de 2006 Verão e Dezembro de 2008 – completado com certidões conseguidas pelo Dr. José António Cabrita. 164 165 Uma fotocópia de um manuscrito de uma Décima com a assinatura de Inocêncio de Brito 166 167 Nota final a reparar falhas na investigação, fornecidas em Julho de 2008, pela pesquisa de José António Cabrita, que realiza um trabalho sobre uma Família de São Matias. Cópia de mensagem De: José António Cabrita Data: 28-07-2008 14:53:48 Para: José Rabaça Gaspar Assunto: Inocêncio de Brito. Sr. Professor José Rabaça Gaspar, Tal como combinámos, aí vai uma súmula dos elementos biográficos que pude apurar, relativos ao poeta Inocêncio de Brito: 1) Inocêncio, foi baptizado no dia 21 de Maio de 1854, na Igreja Paroquial de São Matias, pelo Pároco José Anacleto da Costa. Deve ter nascido a 10 do mesmo mês e ano, mas, ao assento, ficou a faltar a palavra "nascido", comum nos outros assentos adjacentes. Foi o segundo filho, primeiro do nome, do pai, registado como António José, e da mãe, como Paulina Rosa, todos naturais da freguesia de São Matias. De São Matias eram também os avós paternos, João José e Ana do Sacramento, com estes nomes os aponta o registo. Os avós maternos, descritos como António Paulino e Teresa Baptista, eram igualmente de São Matias. Os padrinhos foram Inocêncio das Dores e Brázia Maria. 2) Inocêncio de Brito e Mariana Rosalina, casaram na Igreja Paroquial de São Matias, no dia 26 de Maio de 1878, num acto presidido pelo Pároco José Francisco Neves. Refere o registo que Inocêncio tinha 24 anos, era solteiro, trabalhador e morador na freguesia de São Matias, e os pais, tal como no documento do seu baptismo, são assentes como António José e Paulina Rosa. Mariana tinha 23 anos, era solteira, natural e moradora na mesma freguesia. E era filha de José Fialho e de Rosalina Maria, esta, já falecida. As testemunhas da cerimónia foram José de Brito, casado e seareiro e Manuel António Guiomar, igualmente casado e seareiro, ambos moradores na aldeia de São Matias. Inocêncio de Brito, como uma caligrafia muito elegante, assina o registo do seu casamento. 3) Inocêncio de Brito, faleceu no dia 30 de Dezembro de 1938, numa casa da Rua da Apariça, em São Matias, aos 85 anos de idade. Contudo, no assento do seu óbito, o pai é apontado com o nome de António do Monte e a mãe, com o de Paulina de Brito. Quando faleceu, Inocêncio de Brito, era já viúvo de Mariana Fialho, que, refere o documento, havia falecido há dezassete anos. Inocêncio, não deixou bens, nem fez testamento e foi sepultado no cemitério de São Matias. 4) Mariana Fialho, faleceu no dia 5 de Abril de 1922. A falecida, certifica o assento de óbito, era casada com Inocêncio de Brito, de 70 anos, trabalhador, natural de São Matias. Contudo, o referido documento, designa a falecida com o nome de Maria Fialho. Quando faleceu, numa casa da Rua Nova, onde residia, em São Matias, tinha também 70 anos de idade. O registo confirma que era filha de José Fialho e de Rosalina Maria, ambos já falecidos. Assim como aponta que deixou bens, mas não fez testamento. Como pode ver, senhor Professor, não disponho do registo de nascimento de Mariana. Mas não parece nada difícil consegui-lo, junto do Arquivo Distrital de Beja, se tal interessar às suas pesquisas. Vou procurar, ainda hoje, tal como também prometi na nossa conversa telefónica de há pouco, enviar-lhe, por correio, as cópias dos registos que sustentam a informação que, ora, lhe estou a remeter. Queira aceitar, senhor Professor, os cordiais cumprimentos do José António Cabrita 168 Certidão de Nascimento de Inocêncio de Brito – 30 de Abril de 1854 169 3 Certidões de Manoel – Francisca – Francisco Pedro (exposto) – 28 de Maio de 1854 170 Certidão d Casamento de Inocêncio de Brito e Marianna Rozalina 26 de Maio de 1978 171 CERTIDÃO DE ÓBITO de INOCÊNCIO de BRITO 30 de Dezembro de 1938 172 CERTIDÃO de ÓBITO de (Mariana) MARIA FIALHO 5 de Abril de 1922 173 174 175 Neste lugar solitário Onde o acaso me tem Brado, ninguém me responde Olho, não vejo ninguém «Não misturem os meus versos com os dos outros...» Nota do organizador deste trabalho: No sentido de respeitar esta vontade do Poeta, atrevemo-nos a “juntar” outros textos e outros “versos”, não para misturarmos os «Versos do Mestre”, mas para os localizar no seu devido contexto e na actualidade e para que, como é evidente, lhes dar o mérito e relevo que todos podem verificar. ISBN 1 – 4135 – 3625 – 5 – da obra publicada pela e-libro, em Maio de 2006. - http://www.e-libro.net/libros/libro.aspx?idlibro=2032 E em Maio de 2010: ISBN 978-84-9916-782-4 - DL: M-23888-2010 http://joraga.bubok.pt/ 176