III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 O FÓRUM EDUCACIONAL EM CURSOS VIRTUAIS DE LE COMO FERRAMENTA DE INTERAÇÃO: UMA ANÁLISE CRÍTICA DE DUAS EXPERIÊNCIAS1 Cibele Cecilio de Faria ROZENFELD (UNESP-Araraquara/CNPQ)2 Kátia Silene GABRIELLI (UNESP Araraquara/CAPES)3 Ucy SOTO (UNESP-Araraquara)4 Resumo : Em estudos e trabalhos da contemporaneidade, que discorrem sobre as vantagens oferecidas pela utilização de novas tecnologias no ensino de línguas, é comum encontrarmos como características das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) a possibilidade que elas oferecem de promover aprendizagem colaborativa, interação entre alunos, aproximação entre participantes e professores. Todavia, este não é um caminho direto, natural e sem obstáculos. Para que as tecnologias cumpram tais objetivos, é necessário que pequenos/grandes detalhes sejam considerados do momento da concepção e elaboração das atividades até a realização das mesmas. Tomando como foco deste trabalho os fóruns educacionais utilizados em dois cursos de línguas à distância (espanhol e alemão), apresentaremos uma análise dos elementos que se configuraram como dificuldades para que essa ferramenta cumprisse seu papel de promoção de interação e de aprendizagem colaborativa. Apontaremos então para algumas das soluções encontradas e buscaremos trazer subsídios de reflexão para alguns cuidados a serem tomados no momento da elaboração de atividades em fórum. Pretendemos, dessa forma, contribuir para uma melhor compreensão das funcionalidades e potencialidades dessa ferramenta, que consideramos extremamente importante para o trabalho com as NTIC em sala de aula de LE. Palavras-chave: Fóruns educacionais; Cursos Virtuais de LE; Aprendizagem Colaborativa; Interação INTRODUÇÃO Em estudos e trabalhos da contemporaneidade, que discorrem sobre as vantagens oferecidas pela utilização de novas tecnologias no ensino de línguas, é comum encontrarmos como características das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) seu grande potencial na promoção de aprendizagem colaborativa, interação entre alunos, aproximação entre participantes e professores. Todavia, para que as NTICs cumpram tais objetivos faz-se necessário que pequenos/grandes detalhes sejam considerados do momento da concepção e elaboração das atividades até a realização das mesmas. Tomando como foco fóruns educacionais utilizados em dois cursos de línguas à distância (espanhol e alemão), apresentaremos neste trabalho uma análise dos elementos que se configuraram como dificuldades encontradas no uso dessa ferramenta com vistas à promoção de interação e de 1 Trabalho apresentado ao Grupo de Discussão “Propostas Pedagógicas Mediadas por Mídias Digitais”, no III Encontro Nacional sobre Hipertexto, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. 2 Mestre na linha de pesquisa Ensino e Aprendizagem de línguas e doutoranda na área de ensino de línguas e uso de novas tecnologias. Email: [email protected] 3 Graduada em Letras, mestranda na área de Ensino e Aprendizagem de Línguas e uso de novas tecnologias. Email: [email protected]. 4 Doutora, docente na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, campus Araraquara, departamento de Letras Modernas. Email: [email protected] III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 aprendizagem colaborativa. Com este objetivo, pretendemos trazer reflexões para o campo da formação do aluno em contexto virtual e para uma melhor compreensão das funcionalidades e potencialidades dos fóruns em ambientes virtuais. ENSINO DE LÍNGUA MEDIADO POR NOVAS TECNOLOGIAS A utilização de novas tecnologias em sala de aula no campo educacional vem despertando o interesse de muitos pesquisadores, incluindo do campo do ensino e aprendizagem de línguas (materna e estrangeira) de forma crescente (cf. LEFFA, 2005, 2006; MARQUESI, ELIAS E CABRAL, 2008; ARAÚJO, 2007; PAIVA, 2001, 2005, 2008; COLLINS & FERREIRA, 2004 e outros). Paiva (2008) em uma retrospectiva histórica sobre a utilização de tecnologias no ensino de línguas desde o livro, como “velha”, até o computador como “nova” tecnologia, chama a atenção para o fato de que mudam-se os suportes textuais, alteram-se as práticas de leitura e escrita, modificam-se as dimensões de espaço, de tempo, os papéis do aluno e do professor fazendo-se necessário o desenvolvimento de novas pesquisas neste campo. Leffa (2005) aponta para o fato de que o professor não é mais o centro, o detentor de saberes e não deve dar as costas às transformações educacionais decorrentes do uso das novas tecnologias e à expansão das fronteiras. Ao contrário, ele deve entender o seu papel fundamental como guia, orientador e/ou de animador de interações. Araújo (2007) reuniu pesquisadores que discutem questões sobre o papel da internet no ensino e aprendizagem de língua materna como, por exemplo, os gêneros utilizados nos meios digitais, os seus produtores e consumidores, a visão da escrita digital pela escola, da internet como provocadora de prejuízos na aprendizagem linguística dos adolescentes ou da web como ameaça para a língua. Collins e Ferreira (2004) apresentam relatos de experiências de diversos pesquisadores do ensino de línguas com o ensino e aprendizagem mediados pelo computador. A partir das análises destes e de outros trabalhos, pudemos observar alguns pontos de consonância entre os autores: o uso das NTICs em atividades educacionais, bem como no ensino de línguas, é uma realidade já presente em contextos distintos e sua relevância é de natureza inquestionável. Todavia, tal fenômeno introduz novas práticas e novas questões a serem investigadas. Em consequência disso, é necessário que as pesquisas neste campo se intensifiquem, que os processos sejam bem observados, descritos, as ferramentas e recursos bem explorados. Com o intuito de contribuir nesse sentido, pretendemos com este trabalho tecer algumas reflexões, discorrendo, inicialmente, sobre o Ambiente Virtual de Aprendizagem (doravante AVA). III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM Os autores Litto e Formiga (2008) reuniram trabalhos de grande importância que dizem respeito às inovações tecnológicas e metodológicas voltadas para o trabalho pedagógico. Dentre eles destacaremos o de Araújo Jr. e Marquesi (2008, p. 358), que definem Ambiente Virtual de Aprendizagem como “ambientes que simulam os ambientes presenciais de aprendizagem com o uso da TIC”. Os autores afirmam ainda que, na sociedade informação e do conhecimento, os AVAs permitem um “redimensionamento do ensinar e do aprender, que antes era realizado apenas no espaço escolar”. Neles o aluno tem possibilidade de ter maior autonomia e o professor, maior capacidade de mediação e atuação como facilitador do processo de aprendizagem. [...] as atividades realizadas em ambiente virtuais podem ser utilizadas como um caminho para promover a autonomia, sistematizar o conhecimento, possibilitar a exploração de espaços virtuais e recursos virtuais e avaliação formativa. (op.cit., 2008, p.358). Todavia, este não é um caminho fácil, visto que buscar desenvolver a autonomia do aluno significa, muitas vezes, não estar em consonância com sua cultura de aprender, centralizada no professor, como podemos observar muitas vezes em contextos educacionais brasileiros. As NTICs e os AVAs permitem novas e potencialmente diferentes experiências de aprendizagem. Todavia, “é necessário ter em mente, que essas novas e diferentes experiências só poderão existir se forem bem orientadas e moderadas pelo professor” (op. cit., 2008, p.358). Os AVAs, por si só, não garantem essa diferenciação. Para que haja um bom entendimento do papel de mediação do professor deve haver também um bom entendimento das características dos AVAs. (ARAÚJO JR. E MARQUESI, 2008, p. 358) Dentre os recursos de um AVA, utilizamos fortemente nos cursos que focalizaremos neste trabalho a ferramenta “Fórum de discussão”, sobre a qual discorreremos a seguir. O FÓRUM DE DISCUSSÃO O conceito fórum de discussão nos remete atualmente ao fórum de discussão virtual, mas na realidade esse termo representa algo mais antigo e que certamente foi o responsável pela evolução para o fórum virtual. Como nos lembra Brito (2004), a palavra fórum nos faz recordar das grandes assembléias romanas, em que era permitida a participação de pessoas presentes na reunião. Neste período, os fóruns eram organizados para tratar ou debater um tema ou problema determinado. Sua finalidade era permitir a livre expressão de idéias e opiniões de todos os presentes. O fórum de discussão virtual é uma ferramenta para páginas de internet que tem como objetivo principal promover debates abordando uma mesma questão, permitindo a ocorrência de discussões e interações por meio da troca de mensagens. Os fóruns de discussão permitem comunicação assíncrona, ou seja, as pessoas interagem por meio de uma rede de computadores a III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 qualquer hora e em qualquer lugar, sem a participação simultânea de todos os usuários em um mesmo local. De acordo com Crystal (2001), em um entorno assíncrono, as interações se armazenam em algum tipo de formato e isso possibilita que os usuários participem da discussão ou se mantenham em dia com ela quando desejarem, inclusive depois de um período considerável de tempo. Devemos considerar que nos fóruns, as formas de interação têm se caracterizado pela centralidade na escrita, mesmo que haja a integração de recursos visuais e sonoros, enquanto na situação presencial elas são predominantemente oral. Todavia, essa linguagem escrita possui características especiais, constituindo um novo gênero digital, pois tem um caráter híbrido: ela é mais informal que a linguagem dos textos escritos, na medida em que as pessoas se utilizam dela para aproximação. Vários outros autores apontam para o caráter especial da linguagem digital como, Souza (2007, p. 197), que se refere a ela como “a fala por escrito”, Marcuschi (2004) como “hibridismo acentuado entre fala e escrita” ou ainda Xavier (2007), que defende a característica enunciativa, híbrida e inédita do hipertexto online e que exige do usuário outro tipo de comportamento cognitivo. Também devemos considerar que o fórum digital é considerado um gênero emergente do discurso. Bakhtin (2002) define os gêneros do discurso como sendo enunciados relativamente estáveis compostos indissoluvelmente por três elementos fundamentais, que são: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Dessa forma, o fórum de discussão também é considerado um dos gêneros emergentes (Marcuschi, 2005), que surgiram com o desenvolvimento da internet e das tecnologias de comunicação. Neste trabalho utilizaremos o conceito de fórum educacional. Devemos considerar que os fóruns educacionais são uma variante do fórum de discussão virtual. Para Crescitelli, Geraldini e Quevedo (2008), o gênero fórum educacional digital ainda está em constituição, pois esses fóruns possuem características específicas da prática social do âmbito da educação, e propósitos comunicativos próprios que os difere dos fóruns digitais. Para Silva (2009) a principal função do fórum digital educacional é: ... constituir-se espaço para a discussão de um tema. Como o tema é combinado, o fórum digital educacional oferece condições para a construção de um ambiente colaborativo, em que o conhecimento é construído coletivamente por diferentes interlocutores e compartilhado para a construção ou a reconfiguração de conceitos (Silva, 2009, p. 48) III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 Em consonância com o autor, reafirmamos a grande potencialidade da ferramenta. Todavia, em dois cursos de línguas virtuais, observamos que alguns obstáculos desafios se apresentam para que o uso do recurso seja satisfatório para se atingir a estes objetivos. Faremos inicialmente uma breve descrição dos cursos, para em seguida, apresentar alguns dos aspectos analisados ao longo dos cursos. DESCRIÇÃO DOS CURSOS DE LE VIRTUAIS (ESPANHOL E ALEMÃO) O curso de alemão “Kulturenannäherung: aproximação de culturas à distância”(doravante DKKA) foi proposto como curso de extensão, na modalidade online, em uma plataforma aberta de ensino à distância (Moodle), no ambiente virtual da Faculdade de Ciências e Letras da UNESPAraraquara. Ele teve como público-alvo principal professores de alemão em serviço e uma carga horária estimada em 30 horas. A elaboração do curso e seleção de material online se deu a partir de preceitos da abordagem comunicativa5 e do ensino intercultural de línguas6. Foram estabelecidos como principais objetivos do curso favorecer o aprimoramento linguístico de forma colaborativa, por meio do uso de novas tecnologias de informação e da interação com os colegas e com os professores responsáveis e promover a vivência na utilização de recursos tecnológicos para fins pedagógicos e a interação entre os participantes. No ambiente do curso foram utilizadas as ferramentas: Fóruns de discussão, Glossário, Chat, Tarefas, Questionário, Link a um site da Web, Wiki, Diário e Escolha. O curso DKKA foi dividido em cinco módulos, cada um correspondendo a uma semana e a uma temática. Durante o curso, em todos os módulos, a ferramenta Fórum de Discussão foi usada com bastante freqüência, com o intuito de promover a interação e discussão de temas. O curso de espanhol Español para Turismo (doravante EPT), assim como o DKKA, também foi proposto como curso de extensão, na modalidade online, em uma plataforma aberta de ensino à distância (Moodle), no ambiente virtual da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP-Araraquara e teve como público-alvo principal, estudantes de espanhol, professores em serviço e pessoas interessadas na língua espanhola no contexto de turismo. A carga horária estimada do curso foi de 30 horas distribuídas ao longo de seis semanas. A elaboração do curso e seleção de material online teve como base preceitos da abordagem comunicativa e a metodologia utilizada foi o enfoque por tarefas. Além da ferramenta fórum de discussão, também foram utilizadas as ferramentas: Glossário, Chat, Tarefas, Questionário, Link a 5 O conceito abordagem e os princípios da abordagem comunicativa são temas discutidos por diferentes autores, dentre os quais destacamos Almeida Filho (1993). Tomamos neste trabalho o conceito de ensino intercultural discorrido por Rozenfeld (2007), que é ressaltado como aquele que se concretiza tanto no campo linguístico, por meio do contato de alunos com novos códigos lingüísticos, quanto no campo do encontro com a cultura-alvo como alteridade (op. cit, 2007,p.74), buscando maior conhecimento dos aspectos culturais acerca da cultura-alvo, sensibilização para diferenças, além da reflexão sobre a própria cultura. 6 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 um site da Web, bem como o programa de voz Skype7, para trabalhar com a competência oral dos alunos. O conteúdo do EPT foi dividido em seis módulos, cada um correspondendo a uma semana do curso. Em todos os módulos, a ferramenta Fórum de Discussão foi usada de três distintas formas: o fórum geral, os fóruns para debates individuais e os fóruns para trabalhos em grupo. O primeiro fórum intitulado Foro General foi destinado às duvidas gerais do curso, este fórum esteve presente durante todas as semanas do curso. O segundo e o terceiro fórum foram pensados para desenvolver discussões individuais dos alunos baseados e textos e vídeos sobre o turismo. Os fóruns das três ultimas semanas foram utilizados para desenvolver o trabalho colaborativo, isto é, os alunos foram divididos em grupo, e deveriam discutir o trabalho final de cada unidade nos fóruns educacionais. A FERRAMENTA FÓRUM EDUCACIONAL NOS CURSOS EPT E DKKA: REFLEXÕES E PONDERAÇÕES Tendo explicitado algumas bases teóricas do trabalho e descrito os ambientes virtuais em foco, passaremos neste item para algumas reflexões acerca da utilização dos fóruns nos dois cursos propostos. Para melhor organização dos aspectos analisados, levantamos alguns pontos centrais de dificuldades encontradas comuns nos dois cursos, apresentaremos sugestões para lidar com elas e levantaremos algumas questões para reflexão. Sintetizamos os aspectos a serem discutidos em quatro tópicos principais: o uso dos fóruns e as questões técnicas, o trabalho colaborativo, as questões linguísticas, e a mediação. Utilização de fóruns e questões técnicas: A maior dificuldade observada nos fóruns educacionais do EPT e do DKKA está relacionada a organização das unidades e dos fóruns. Como cada fórum tinha uma característica, os alunos se confundiam em relação aos locais onde deveriam postar suas dúvidas. Observamos que muitos alunos não conhecem as funcionalidades dos fóruns, suas possibilidades, formas de organização e de funcionamento e acabam utilizando-o de forma inadequada. Este fato foi observado, por exemplo, na abertura de fóruns: houve várias ocorrências de abertura de tópicos de um mesmo assunto (ex: Wortschatztraining e Alle links) como vemos na Figura 1 (DKKA) ou de envio de uma mesma mensagem para pessoas diferentes (EPT), que apresentamos na Figura 2. Diante de tal equívoco, a possibilidade de interação e trabalho colaborativo fica dificultada, apontando para a grande importância da explicitação adequada e exaustiva do professor acerca dos aspectos referentes a essas funcionalidades. Tal fato nos leva a perceber a necessidade de se 7 O programa Skype não faz parte das ferramentas presentes no ambiente de aprendizagem Moodle. No curso Español para Turismo foi inserido um link para que os alunos pudessem descarregar o programa e instalar no computador pessoal. III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 estabelecer como objetivo do curso não apenas o conteúdo linguístico, mas também o desenvolvimento da competência digital no manejo das ferramentas. Figura 1: Fórum do curso DKKA Figura 2: Fórum do curso EPT Utilização de fóruns e o trabalho colaborativo O professor não deve perder de vista que uma das grandes possibilidades dos fóruns educacionais é a possibilidade de trabalho colaborativo. Além da dificuldade técnica exposta anteriormente para o desenvolvimento do trabalho colaborativo, descrita anteriormente, verificamos que esse tipo de trabalho é bastante difícil em decorrência da cultura de aprender dos alunos, centralizada na figura do professor. No curso EPT, pudemos observar algumas interações que poderiam se caracterizar como trabalho colaborativo, como verificamos no exemplo da Figura 3. III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 Re: Grupo: Liliam, Ana e Rita - Trabajo de Rita Epti - domingo, 14 de octubre de 2007, 18:42 ¡Hola Chicas! He pesquisado y encontré muchas cosas sobre Salamanca. Aún falta hacer la selección do que podemos aprovechar, pues son muchas informaciones. ¿Quién gustaría de hacer la finalización? Mostrar mensaje anterior | Editar | Partir | Borrar | Responder Figura 3: Mensagem do curso EPT No entanto, em outras, percebia-se claramente a necessidade do aluno de apreciação do professor para a validação de sua resposta. Outra situação em que se intencionou o trabalho colaborativo, mas ele não se efetivou, foi em uma atividade na wiki, na qual os alunos deveriam em fórum organizar um texto a ser desenvolvido em grupo na wiki. Todavia, tal objetivo não se cumpriu, visto que na maioria dos grupos, um único aluno fazia o trabalho completo, ou o grupo se dividia e cada um fazia sua parte, não colaborando com o texto como um todo. Esse fato foi observado também no EPT: alguns fóruns deveriam ser utilizados com vistas ao desenvolvimento de trabalho colaborativo, mas na verdade, eles foram utilizados como um trabalho em grupo com características do ensino presencial, já que os alunos se dividiram e dividiram o trabalho, apresentando no final apenas um apanhado da pesquisa de cada um, como podemos verificar na Figura 4. Figura 4: Mensagens do curso EPT Utilização de fóruns e questões lingüísticas: fazer correções ou não fazê-las? Em se tratando de dois cursos que tiveram entre seus objetivos o desenvolvimento das habilidades linguísticas, é importante se pensar na questão da correção linguística. Deve ser feita? Não deve? Como o professor deve proceder diante de inadequações linguísticas? Nosso trabalho apresenta duas abordagens diferentes em relação a este aspecto: no curso EPT, os professores III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 priorizaram o conteúdo e não foram feitas correções. No DKKA o professor mencionou a possibilidade de serem feitas correções das mensagens postadas nos fóruns. Assim, os alunos que assim desejaram, escreveram mensagens e ao final solicitaram: “pediria a correção de meu texto” (ich bitte den Text zu korrigieren). Para evitar constrangimentos dos alunos e exposição frente aos colegas, as correções foram enviadas em mensagens individuais e acreditamos terem contribuído para o aprimoramento linguístico dos alunos/professores, tendo em vista a avaliação positiva do procedimento expressa por alguns alunos na avaliação final do curso DKKA. Utilização de fóruns e mediação pedagógica Segundo Masetto (2007, p. 144) a Mediação Pedagógica pode ser definida como: [...] a atitude, o comportamento do professor que se coloca como facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem-não uma ponte estática, mas uma ponte rolante, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos. É a forma de se apresentar e tratar um conteúdo ou tema que ajuda o aprendiz a coletar informações, relacioná-las, manipulá-las, discuti-las e debatê-las com seus colegas, com o professor e com seus colegas, com o professor e com outras pessoas (interaprendizagem), até chegar a produzir um conhecimento que seja significativo para ele, conhecimento que se incorpore ao seu mundo intelectual e vivencial, e que o ajude a compreender sua realidade humana e social, e mesmo interferir nela. Para Perez e Castillo (1999, citado por Masetto, 2009, p.145) o objetivo da mediação pedagógica é “buscar abrir um caminho para novas relações do estudante com os materiais, o próprio contexto, com outros textos, com seus parceiros de aprendizagem, dentre eles o professor, consigo mesmo e com o futuro”. Como características da mediação pedagógica Masetto (2009, p.145) aponta: ...dialogar permanentemente de acordo com o que acontece no momento; trocar experiências; debater dúvidas, questões ou problemas; apresentar perguntas orientadoras; orientar nas carências e dificuldades técnicas ou de conhecimento, quando o aprendiz não consegue encaminhá-las sozinho; garantir a dinâmica do processo de aprendizagem; propor situações problemas e desafios; desencadear e incentivar reflexões; criar intercâmbio entre a aprendizagem e a sociedade real onde nos encontramos, nos mais diferentes aspectos; colaborar para estabelecer conexões entre o conhecimento adquirido e novos conceitos; fazer a ponte com situações análogas; colocar o aprendiz frente a frente com questões éticas, sociais, profissionais por vezes conflitivas; colaborar para desenvolver crítica com relação à quantidade e a validade de informações obtidas; cooperar para que o aprendiz use e comande as novas tecnologias para suas aprendizagens e não seja comandado por elas ou por quem as tenha programado; colaborar para que se aprenda a comunicar conhecimentos, seja por meios convencionais, seja por meio de novas tecnologias.(op.cit., 2009) III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 Diante das reflexões dos autores, inferimos que a grande relevância da mediação pedagógica está em poder colocar o aluno como ator das atividades e fortalecer seu papel ativo no processo de aprendizagem. Nos cursos analisados por nós, a relevância do papel da mediação foi notória, sendo ela uma chave importante para minimizar, ou mesmo solucionar algumas das dificuldades descritas anteriormente. CONCLUSÃO Concluímos nosso trabalho, reiterando que o professor e sua forma de mediação poderão ser elementos decisivos para o sucesso ou fracasso do processo de aprendizagem, desde o momento de elaboração do curso e durante todo o processo de acompanhamento dos alunos. O professor como mediador, se encontra constantemente diante de incertezas e de desafios relacionados à forma de apresentação de conteúdos, de sistematização do conhecimento, de melhor exploração de espaços e recursos virtuais, de orientações técnicas e avaliação formativa, ou ainda, relacionados à melhor forma de interagir com e responder ao aluno, visando a promoção o ensino e a aprendizagem de uma maneira adequada, o trabalho colaborativo e a autonomia. A conscientização de tal fato, suas escolhas e reflexões acerca de seus objetivos, das características das ferramentas, das implicações e do perfil de seus alunos, poderão nortear suas decisões para a elaboração de um bom planejamento, preparação dos alunos e para o bom uso da ferramenta para a interação e aprendizagem colaborativa. Corroborando Araújo Junior e Marquesi, (2008), acreditamos que deve-se primeiramente compreender as questões técnicas, desenvolvendo as competências e habilidades para o uso das ferramentas, não apenas no sentido mecânico ou técnico de seu funcionamento e suas possibilidades, mas também no sentido de desenvolver habilidades para saber buscar informações, dados, avaliar e construir significados. A importância dessa compreensão técnica e desenvolvimento de habilidades, aplica-se, em nosso entender, tanto ao professor quanto para ao aluno. Além disso, reiteramos a relevância de compreender que a internet introduziu uma nova forma de comunicação e interação: uma comunicação sem fronteiras de tempo e espaço, que gerou proximidade entre pessoas, podendo serem elas advindas de várias partes do mundo e essa comunicação tem características próprias. Todavia, em consonância com Araújo-Junior e Marquesi (2008, p. 363), verificamos durante os cursos a grande relevância de o professor “assegurar a interação em situações virtuais, pois ela irá garantir a presença social”, bem como provocar, por meio de atividades bem elaboradas, o trabalho colaborativo. Como ressalta Leffa (2005), a interação virtual exige um movimento em direção a ela, pressupõe um movimento pessoal, uma iniciativa, que se III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 inicia pelo simples ligar do computador, inserir uma senha, até chegar na busca por contato com as pessoas, enquanto que na situação presencial ela já é dada pela própria presença física. Assim, em um AVA, é necessário elaborar estratégias que permitam ao professor se fazer presente (ou, em determinadas situações, se fazer ausente....), a fim de motivar os alunos a interagirem, a buscarem informações, a terem uma atitude de autonomia diante de seu processo de aprendizagem, característica que confere, assim, grande valor ao tipo de ferramenta e linguagem utilizada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, J. L. (Org.). Internet & Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. 282p. ARAÚJO JR., C.F. E MARQUESI, S.C. 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