UNEP Background Paper
Sustainable Production & Consumption: Making the Conection
Sessão II
Contexto global de consumo e produção sustentáveis
Padrões de consumo atuais
Os padrões de consumo atuais representam um problema por causa de dois traços
aparentemente contraditórios – superconsumo (over-consumption) e subconsumo (underconsumption). No agregado, o consumo mundial tem crescido dramaticamente. Ao mesmo
tempo, milhões de pessoas não estão consumindo o suficiente para saciar suas necessidades
básicas. As duas tendências geram enorme estresse ao meio ambiente global.
As últimas décadas têm visto uma extraordinária expansão da economia global e uma
correspondente explosão de consumo. As despesas com o consumo global têm crescido em
uma faixa de 3% ao ano desde 1970. De 1973 a 1998, ela dobrou em termos reais,
alcançando US$24 trilhões. Parte desse crescimento do consumo foi essencial para o
desenvolvimento humano (comida, abrigo, água limpa, etc.). No entanto, muito desse gasto
foi direcionado para “vontades” mais que para “necessidades” (“wants” more than
“needs”).
Como riqueza, privilégios e poder, o consumo é distribuído de maneira desigual. O quintil
mais rico da população mundial responde por 86% do total de despesas com consumo
privado. Em contraste, o quintil mais pobre responde a 1,3%. Foi estimado que uma pessoa
comum na América do Norte consome quase 20 vezes mais que uma pessoa na Índia ou na
China e 60 a 70 vezes mais que uma pessoa em Bangladesh. A distribuição do consumo é
também desigual dentro dos países. No México, quase todos do quintil mais rico – e quase
nenhum do quintil mais pobre – têm acesso a saneamento básico.
Embora o consumo médio per capita tenha aumentado em muitas partes do mundo, ele não
cresceu para todos. De 1973 a 1998, o consumo de uma dona de casa africana média
decresceu 20% - mesmo enquanto o consumo per capita no Leste da Ásia aumentou 6.1%
anualmente. Hoje, quase um bilhão de pessoas precisam aumentar seu consumo para
alcançar suas necessidades básicas – incluindo 100 milhões de pessoas em nações
desenvolvidas industrialmente.
Como o subconsumo torna-se um problema ambiental? Pobreza e falta de infra-estrutura
prejudicam a capacidade de países menos desenvolvidos de cuidar de sua própria população
e ambiente natural. Pessoas que não consomem suficientemente para alcançar suas
necessidades básicas são freqüentemente forçadas a tomar decisões para a sobrevivência a
curto-prazo que têm impactos ambientais de longo-prazo negativos. Pescadores pobres no
Sudeste Asiático praticam pesca com cianeto, ameaçando ecossistemas de recife no
processo. Agricultores pobres na África Sub-Saariana queimam árvores para aumentar a
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terra para plantar arroz. A destruição de florestas tem acelerado a erosão e a desertificação,
aumentando a pobreza e a privação – freqüentemente sem produzir mais terra produtiva.
Novos desafios para a Produção Sustentável
Atividades produtivas (manufaturas, extração de recursos, agricultura) também têm um
impacto significante no ambienta global. Em países industrialmente desenvolvidos,
inovações nos processos produtivos têm reduzido o uso de energia na indústria e a emissão
de determinados poluentes como os óxidos sulfúricos e metais pesados. No entanto, os
ganhos ambientais obtidos com esses incrementos têm sido compensados por tendências no
lado da demanda, tais como crescimento da população e o aumento dos padrões de vida.
Ironicamente, esforços para aumentar a compatibilidade ambiental de produtos e serviços
ou para aumentar sua eficiência econômica, têm aberto maiores possibilidades de consumilos e, então, anulam o benefício alcançado pelas melhorias originais na produção.
Mais de mil projetos demonstrativos de produção mais limpa foram lançados. Ainda há
muito trabalho a ser feito no mainstream das práticas de produção sustentável em todo
mundo. O conceito de produção mais limpa deve ser traduzido do setor manufatureiro,
onde surgiu, para o cada vez mais importante setor de serviços. Esforços de produção mais
limpa devem ser expandidos além de seu foco histórico em questões urbanas para endereçar
melhorias nas atividades de produção rural, como agricultura, produção de leite, mineração,
pescaria e silvicultura. Inovações nessas áreas são críticas para proteger e administrar os
recursos naturais assim como para manter a subsistência de comunidades rurais.
Meio ambiente sob a pressão do consumo
Qual é o impacto dos padrões atuais de consumo e produção sobre o meio ambiente? Eles
estão esgotando muitos recursos não-renováveis, gerando poluição e resíduos que excedem
a capacidade de suporte do planeta de absorver e convertê-los, e contribuindo para a
deterioração de recursos renováveis tais como água, solo e florestas.
Quando estoques de peixes são esgotados ou florestas sofrem cortes-rasos, é fácil observar
o impacto dos padrões de consumo no meio ambiente. Mas padrões de consumo também
afetam o meio ambiente em muitas maneiras menos óbvias. Energia, água e matériasprimas são requeridas para fazer os produtos que os consumidores demandam. Solo e
ecossistemas são perturbados para extrair recursos e converter terra para uso produtivo. A
produção, uso e eliminação de produtos contribuem com poluição e lixo para o meio
ambiente.
Em 1998, o WWF desenvolveu um index de “Pressões do Consumo” tentando mensurar o
fardo posto nos ecossistemas naturais pela atividade humana. O index listou seis categorias
de dados de 152 países para calcular a pressão do consumo por pessoa e por país. O index é
uma ferramenta interessante para comparar os efeitos do consumo entre diferentes países.
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Os efeitos ambientais dos padrões atuais de produção e consumo não são nem localizados
nem distribuídos eqüitativamente. Por exemplo, enquanto o desmatamento está concentrado
em países em desenvolvimento, muito disso ocorreu para suprir a demanda de países
desenvolvidos por madeira e papel. De maneira semelhante, é previsível que a mudança
climática, que é em grande parte resultado do uso intensivo de combustível fóssil nas
sociedades industriais, irá afetar adversamente países tais como Bangladesh e as nações das
ilhas do Pacífico que nunca tiveram participação significante na (ou benefícios da)
industrialização.
Como nós consumimos e produzimos em um modo ambientalmente sustentável? É possível
para a produção disponibilizar produtos que aumentem a qualidade básica de vida para
mais pessoas com menor impacto ambiental. Igualmente, é possível para pessoas consumir
recursos de um modo que não coloquem em xeque o meio ambiente e não estimule a
demanda por produtos produzidos de maneira insustentável. Para alcançar estes objetivos,
nós precisamos abandonar nossa abordagem de consumo e produção como sistemas
separados.
Section III
Integrando Consumo e Produção Sustentáveis
Entendendo Consumo e Produção Sustentáveis
A Agenda 21 deixou bem claro que mudar os padrões de consumo e produção está no
coração do desenvolvimento sustentável. Mas o que significa fazer com que a produção e o
consumo sejam “sustentáveis”? Os termos “produção sustentável” e “consumo sustentável”
pode evocar uma variedade de reações de diferentes pessoas. Para discutir estas idéias de
maneira efetiva, é necessário desenvolver um entendimento compartilhado dos dois
conceitos.
A definição da UNEP de Produção Mais Limpa é: Produção Mais Limpa é a contínua
aplicação de uma estratégia ambiental preventiva e integrada aos processos, produtos
e serviços para aumentar a eficiência geral e reduzir riscos aos humanos e ao meio
ambiente. Produção Mais Limpa pode ser aplicada ao processo utilizado em qualquer
indústria, produtos e vários serviços providos na sociedade. A Comissão das Nações Unidas
para o Desenvolvimento Sustentável define Consumo Sustentável com ênfase na qualidade
de vida e equidade intergeracional. Mas as duas definições compartilham o foco em
produtos/serviços mais do que no processo separadamente. Isso reflete a ênfase comum em
uma abordagem global de todas as fases do ciclo de vida de um produto ou serviço.
Para ganhar uma compreensão mais profunda de consumo e produção sustentáveis, pode
ser de ajuda revisar os seguintes pontos:
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Os ganhos em produtividade e eco-eficiência são ultrapassados pelo crescimento
global na produção. Essa tendência é claramente mostrada em diversos setores. Por
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exemplo, a energia global empregada na produção metalúrgica de alumínio para
cada tonelada de produtos foi reduzida em 10% entre 1991 e 2000. Contudo, o total
da produção global cresceu mais de 40%. Então, o total de energia empregado para
a produção de alumínio continua crescendo. Situações semelhantes existem no que
concerne a extração de recursos naturais. Superexploração de água, levando a
decréscimos sem precedentes dos níveis de água, pescaria extensiva resultando em
diminuição de estoques de peixes, diminuição de coberturas florestais, são apenas
alguns dos bem conhecidos exemplos. Isso significa que até que a demanda global
por produtos baseados em matéria-prima estabilize-se, os impactos ambientais
adversos não serão reduzidos. Em outras palavras, o aumento da eficiência sozinho
não irá reverter a atual tendência da degradação ambiental. O crescimento da
população e o aumento do desejo por mais produtos e serviços precisam ser tratados
ao mesmo tempo.
Consumo sustentável é mais do que o “consumo verde”. O “consumismo verde”
vem sendo criticado como uma estratégia de foco restrito de “prover eco-produtos
para nichos de mercado servindo consumidores opulentos, apoiados por iniciativas
políticas modestas tais como eco-rotulagem”. O Consumo Sustentável procura
reformar os padrões de consumo e usar o lado da demanda para promover
benefícios sociais, econômicos e ambientais de longo-prazo.
Consumo sustentável fala de mudança de padrões, não de “fazer sem”. Uma
percepção errônea do que é mudar padrões de consumo seria idêntico a forçar
consumidores a demandar poucos produtos e serviços (o nível). A força potencial
deste conceito, no entanto, é aquela que promove diferentes escolhas de consumo,
permitindo aos consumidores satisfazer suas necessidades com produtos ou serviços
com melhor performance e que usam menos recursos, causando menos poluição e
impactos sociais negativos (o padrão). O conceito estimula inovação de produtos e
tecnologias e abre novos padrões de consumo baseados no desempenho e maior
utilização de serviços que de materiais. Isso cria espaço para o consumo de uma
esmagadora maioria da população mundial que não tem acesso às suas necessidades
básicas ou que estão lutando para sobreviver.
Produção e consumo sustentável requerem uma “leapfrog change”. A
sustentabilidade irá requerer a criação de novos sistemas e negócios que alterem
fundamentalmente a relação atual entre recursos-consumo-resíduos e a criação de
valor econômico. Melhorias incrementais aos sistemas existentes de produção e
consumo não serão suficientes. Na construção destes sistemas, países em
desenvolvimento têm a oportunidade de pôr em prática uma economia de
desempenho e redução da pobreza sem usar tecnologias e produtos ultrapassados –
i.e., “saltar” (leapfrog) sobre o caminho tomado pelos países industrialmente
desenvolvidos.
Mudanças fundamentais e dramáticas são necessárias para fazer com que consumo e
produção sejam sustentáveis. Será difícil (senão impossível) fazer essas mudanças
abordando padrões de consumo e produção separadamente. Sua interconectividade,
particularmente quanto a produtos e serviços, exige uma estratégia de sistema.
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Uma abordagem sistêmica de consumo e produção
Um esquema clássico de “sistema” fabril tem inputs, um processo, e outputs. A Figura 1
(pág. 11 do paper) traz a representação bem simplista do que acontece dentro das fronteiras
de uma fábrica de produtos. Enquanto isso pode ser muito útil para um trabalho focado no
processo de produção, é um modelo muito linear e limitado: matérias-primas entrando,
produtos e resíduos saindo.
Uma visão mais macro revela, no entanto, um sistema ligeiramente mais sofisticado. Esse
sistema, que olha para produtividade e eficiência de energia, vai além da fábrica anterior e
inclui extração, distribuição, consumo e gestão de resíduos em uma perspectiva de ciclo-devida, como indicado na Figura 2 (pág. 12 do paper). Mesmo que mais amplo, é ainda assim
um sistema linear. É focado no processo (foca nos processos dentro do sistema de
manufatura) e apenas sugere a reciclagem.
Assim como sistemas de produção, sistemas de consumo também foram formalmente
diagramados. Esse modelo mostra que vários “atores” afetam o comportamento do
consumidor – tecnologia, economia, demografia, instituições e cultura. Isso determina
como eles interagem e indica potenciais resultados. O comportamento do consumidor
corresponde às necessidades da sociedade por produtos e serviços, que é a base para a
existência do ciclo de vida (ver Figura 2).
Estratégias focadas em produção têm uma sólida história de sucesso e infra-estrutura
estabelecida, mas elas têm dois grandes inconvenientes. Primeiro, questões de consumo têm
chamado a atenção para seus limites. Segundo, estratégias focadas em produção (assim
como estratégias focadas em consumo) refletem uma “divisão simplista em esferas de ação
separadas: com foco na produção (produtores, processos, facilidades tecnológicas) e com
foco no consumo (necessidades, conscientização, comportamento)”. Essa categorização
dualística não reflete acuradamente a complexidade existente nas estruturas social e
econômica.
De acordo com esta “visão de engenharia” do processo para encontrar as necessidades
humanas, consumo e produção operam no mesmo sistema, que é fechado e não-linear. A
ênfase primária nessa visão, no entanto, é ainda em processo ou produção. Há um grande
risco de focar em apenas parte do sistema como um todo.
Como as partes do sistema produção/consumo se unem? Produtos são a clara conexão
entre os sistemas de produção e de consumo. O sistema de produção produz produtos,
que são então consumidos pelo sistema de consumo. Inversamente, o sistema de consumo
consome produtos que são produzidos pelo sistema de produção.
Uma ênfase em produção e consumo foca atenção nas subpartes do sistema. Por contraste,
a ênfase em produtos foca atenção no sistema com um todo. Passar dos subsistemas de
foco na produção e de foco no consumo para um maior e mais compreensivo sistema
focado no produto, envolverá uma mudança de paradigma.
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É comum pensar em produção e consumo como estágios distintos do ciclo de vida dos
produtos, como produção (uma atividade industrial) precedendo o consumo (uma atividade
doméstica). Mas produção e consumo estão inextricavelmente entrelaçados. Todos os
produtos consomem energia e recursos: produzir alguma coisa requer que algo seja
consumido. De fato, em termos de massa ou peso, o maior volume de materiais consumidos
em uma economia nacional é consumido não por indivíduos, mas por grandes instalações
de produção industrial, particularmente aquelas que envolvem extração de recursos.
Um olhar mais próximo ao sistema de consumo e produção focado em produtos revela que
cada nó da cadeia de produto é tanto um nó de consumo quanto um nó de produção. Não há
nenhum único, determinante nó; nenhum ponto que possa ser rotulado como um ponto de
consumo ou um ponto de produção exclusivamente. O consumo que ocorre em qualquer
dos nós é determinado pelas atividades de produção/consumo que o precede.
O sistema produção-consumo é um sistema complexo. Como é usualmente o caso em
sistemas complexos, geralmente é difícil enxergar a relação entre causa e efeito.
Freqüentemente, uma mudança na mentalidade ou na estrutura está distante da mudança do
comportamento que cria. Isso pode dificultar atribuir um link causal direto entre uma ação
ou iniciativa e um resultado distante.
Processos de mudança são freqüentemente tornados possíveis através de uma série de
pequenos passos, mais que através de uma grande ação. Mesmo que o caminho para
alcançar um objetivo seja geralmente difícil de discernir, isso não deve ser uma barreira
para começar a jornada para atingir aquele objetivo. Para corrigir problemas correntes nós
precisamos nos mover além do entendimento corrente e “pensar fora da caixa” por
soluções. Essa sessão estabeleceu uma compreensão integrada de produção e consumo
sustentável e proveu uma abordagem de sistema baseado no ciclo de vida para futuras
análises.
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Padrões de consumo atuais - Ministério do Meio Ambiente