Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 Mini-simpósio in press Interações dos processos sócio-ambientais nas bacias das Enseadas de Icaraí e São Francisco, Niterói (RJ). 1a Parte. Ulrich Gerhard Richard Werder * (Coordenador) Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PGCA), Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ; * correspondência: [email protected] Resumo – A interdisciplinaridade do Curso de Mestrado em Ciência Ambiental (PGCA-UFF) foi posta em prática analisando as “Interações dos processos sócio-ambientais nas bacias das Enseadas de Icaraí e São Francisco, Niterói (RJ)”. Este mini-simpósio in press é o resultado do trabalho coletivo dos alunos da turma de 2002 sob a orientação do grupo de docentes responsáveis pela disciplina Módulo Integrador das Áreas Temáticas (MIAT). Interactions of Socio-Environmental Processes within the drainage basins of the Icaraí and São Francisco coves, Niterói (RJ). 1st Part. Abstract – The interdisciplinary character of the Mastership in Environmental Science (PGCA-UFF) has been trained through the analysis of the “Interactions of Socio-Environmental Processes within the drainage basins of the Icaraí and São Francisco coves, Niterói (RJ)”. This mini-symposium in press results from a collaborative work of the students from the 2002 class and the professors responsible for the Integration Block to the Thematic Areas (MIAT). Interactions des processus socio-environnementaux dans les bassins versants des anses de Icaraí et São Francisco, Niterói (RJ). 1re Partie. Résumé – Le charactère interdisciplinaire du Cours de Maîtrise en Science de l’Environnement (PGCA-UFF) a été mis en pratique par l’analyse des «Interactions de processus socio-environnementaux dans les bassins versants des anses de Icaraí et São Francisco, Niterói (RJ)». Le mini-syposium qui suit est le résultat de l’effort collectif des élèves de la classe de 2002 et des professeurs responsables de la discipline Module d’Intégration aux Thèmes Centraux (MIAT). Participaram da 1a parte deste Mini-simpósio in press os professores Alphonse Kelecom Cláudio Belmonte de Atahyde Bohrer Emílio Maciel Eigenheer Erica Pauls Julio Cesar Wasserman e os alunos Ana Kosawa Carlos Alberto Muniz 100 Christianne Bernardo da Silva Deolinda Alexandra O. Fernandes Moreira Polzin Gilberto de Carvalho Heitor de Brito Cintra Leila Cristina Jorge Luciene de Moraes Garcia Luiz Firmino Martins Pereira Marcela Auxiliadora Silva Passos Telma Mara Bittencourt Bassetti Santos Vanda Buzgaib Martins Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 Interações dos processos sócio-ambientais nas bacias das Enseadas de Icaraí e São Francisco, Niterói (RJ). 1. Qualidade das Águas 1 2 Carlos Alberto Muniz 1,*, Luiz Firmino Martins Pereira 1, Heitor de Brito Cintra 1, Marcela Auxiliadora Silva Passos 1, Cláudio Belmonte de Atahyde Bohrer 2 e Julio Cesar Wasserman2 Mestrandos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PGCA), Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ; Professores do Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PGCA), Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ; *autor para correspondência: [email protected] Resumo – Neste estudo é feita uma avaliação expedita da situação socioambiental e da ocupação das bacias de drenagem que deságuam nas enseadas de Icaraí e São Francisco. A ocupação desordenada de áreas sensíveis, próximas às nascentes dos rios causou em anos anteriores significativo impacto na qualidade das águas das duas enseadas; contudo, a construção de um emissário submarino e ampliação de uma ETE (Icaraí) têm melhorado a qualidade das águas. As comunidades carentes que vivem mais a montante nas bacias de drenagem continuam sofrendo com a degradação de seu ambiente. Resultado desta degradação são os problemas como alagamento, deslizamentos, e dificuldade de locomoção, sem falar nos problemas sérios relacionados às doenças infectocontagiosas e à proliferação de vetores. Para finalizar são propostas soluções onde a participação da comunidade é incentivada, não só em termos plebicitários, mas também buscando a inclusão do indivíduo na construção da melhoria da qualidade de vida. Palavras chave: degradação ambiental, fontes de água doce, esgotos domésticos, participação. Interaction of the Socio-Environmental processes within the drainage basins of the Icaraí and São Francisco coves, Niterói. 1. Water quality. Abstract - A screening survey of the socio-environmental settings and of the land occupation processes in the drainage basins of Icaraí and São Francisco coves has been carried out. The disorganized territory occupation of sensible areas that are situated close to the river sources was responsible, in the few years passed, for a significant decrease in the water quality of both bays, nonetheless, the recent construction of a submarine pipeline and the improving of the sewage treatment plant of Icaraí, have increased water quality of both coves. The poor communities that live upstream in the drainage basins continue on suffering from degradation of their own environment. The result of this degradation are frequent flushing of the areas, land sliding, difficulties in transportation, not mentioning the myriad of problems related to health, infecto-contagious diseases, proliferation of vectors. Finally, the solutions of the problems are proposed in the light of an incentived community participation where the citizen is fully included in the construction of the life quality. Key-words: environmental degradation, fresh water sources, domestic sewage, participation Interactions des processus socio-environnementaux dans les bassins versants des anses de Icaraí et São Francisco, Niterói. 1. Qualité des Eaux. Résumé – Dans cette étude, une recherche diligente a été développée quant à la situation socio-environnementale et aux processus d'occupation des bassins versants qui draînent les anses de Icaraí et São Francisco. L'occupation désorganisée des endroits sensibles situés auprès des sources d'eau douce a été responsable, au cours des dernières années, de la dégradation de la qualité des eaux dans les deux anses; néanmoins, la récente construction d'un émissaire sous-marin, ainsi que l'augmentation de la station de traitement d'égouts de Icaraí ont engendré une amélioration de la qualité des eaux dans les deux anses. Les communautés pauvres qui habitent en amont des rivières continuent à souffrir des méfaits de la dégradation de leur propre environnement. Le résultat de cette dégradation se traduit par de fréquentes inondations, glissements de terrains, difficultés de transport, sans mentionner les problèmes liés aux maladies infecto-contagieuses et à la prolifération de vecteurs. Finalement des solutions sont proposées qui encouragent, non seulement la participation plébiscitaire, mais une participation où le citoyen est inclus dans le processus de construction de la qualité de vie. Mots-clés: dégradation de l’environnement; sources d’eau douce; égoûts domestiques; participation. 101 Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 1. INTRODUÇÃO Na Baía de Guanabara, o começo da degradação mais intensa das matas virgens aconteceu no século XVII, quando as baixadas foram transformadas em grandes canaviais. Esse processo mudou a configuração e a qualidade dos rios que desaguavam na baía. No início do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro abrigava 60 mil habitantes. A ocupação urbana, a abertura de ruas e os aterros alteraram e, muitas vezes, eliminaram os rios e os leitos naturais de drenagem; as áreas alagadas foram modificadas e, conseqüentemente, a retenção das águas afetada. O bloqueio e o assoreamento dos rios fizeram com que o abastecimento de água ficasse prejudicado e o escoamento lento. No início do ciclo do café, com o surgimento das ferrovias, aconteceu uma grande transformação no panorama ambiental da baía. O comércio foi desviado da via fluvial para a terrestre, resultando em mais obras que agravaram os problemas de alagamento, formando mais e maiores áreas de represamento das águas (FEEMA, 2002) Esta ocupação desordenada e a urbanização das áreas antes alagadas não se fizeram sem danos à bacia hidrográfica da baía da Guanabara. Em 1897, a ocupação das encostas cariocas teve início com o surgimento da primeira favela no morro da Providência. Os barracos multiplicaram-se nas proximidades do Centro e nos maciços ao redor da cidade. O desmatamento para a construção de barracos afetou as nascentes de água potável enquanto resíduos sólidos, dejetos e efluentes líquidos, uma considerável carga poluidora produzida pela população, sujava e bloqueava os cursos d’água. As favelas cresciam, pois haviam se tornado uma alternativa para a população pobre que chegara ao Rio de Janeiro por causa dos empregos oferecidos na indústria, comércio e, principalmente, na construção civil. Em 1906, a população da capital já ultrapassava os 800 mil habitantes. Enquanto a Zona Sul passa a contar com rede de esgotos, as regiões correspondentes a Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias crescem de forma cada vez mais desordenada. A expansão urbana não foi acompanhada do apoio do Estado ou de investimentos privados para o suprimento de outros tipos de infra-estrutura e serviços urbanos que se faziam necessários (FEEMA, 2002) Os baixos indicadores da qualidade ambiental que se formavam, tanto no interior da baía como nas bacias dos rios que nela deságuam e conseqüentemente nas cidades que a circundam, entre elas Niterói, eram o 102 resultado da evolução desse processo desordenado de ocupação. Podemos observar no bairro de Cachoeiras que apesar da ocupação da encosta, preserva ainda parte de sua cobertura vegetal. Em contrapartida, do ponto de vista da preservação ambiental, o córrego que corta o bairro encontra-se poluído, sendo usado como esgoto a céu aberto e depositário de vários tipos de entulhos (Foto da capa). Quanto ao abastecimento d’água, só há canalização para os domicílios até a área próxima à Escola Estadual Duque de Caxias. A parte alta do bairro não dispõe ainda desse serviço (PMN, 1996). Os problemas antigos permaneceram e a degradação dos recursos naturais se manteve nesse início de século. Maximizadas pelos maus hábitos das comunidades, não só os praticados pelas populações carentes favelizadas, mas também pelos demais níveis sociais – vide, por exemplo, a situação em que se encontram as lagoas Rodrigo de Freitas, de Jacarepaguá e Marapendi, localizadas em área urbana habitada, principalmente, por população de alta renda – a poluição e a ocupação urbana sem planejamento continuaram até os dias de hoje, agravando os problemas de saúde dos aqüíferos, das cidades e das pessoas que nelas vivem. Neste estudo é feita uma avaliação expedita da situação socioambiental e da ocupação das bacias de drenagem que deságuam nas enseadas de Icaraí e São Francisco. 2. METODOLOGIA Inicialmente procurou-se coletar e analisar amostras de água em pontos representativos nos córregos e rios desde a nascente até sua chegada no mar, de maneira a poder se avaliar a qualidade das águas nos referidos corpos hídricos, considerando-se a influência da ocupação humana na sua bacia hidrográfica. A partir de uma foto aérea (Pires et al., próximo volume) e de informações já coletadas preliminarmente com o apoio do Presidente da Associação de Moradores do Morro Bela Vista Sr. Luis, foram definidos os pontos de coleta de amostras e foi estimada a posição da nascentes dos rios objeto da pesquisa, cabendo aqui um registro quanto à dificuldade de sua identificação devido às ocupações irregulares que predominam na região . Em cada local eram medidas a temperatura, o pH e era coletada uma amostra de água em frasco de DBO, fixada e encaminhada ao laboratório com a finalidade de medir o oxigênio dissolvido - OD. Encontramos uma das nascentes no Morro Bela Vista, onde a água é coletada por um cano diretamente da rocha e que ainda hoje é usada pelos moradores quando há interrupção do abastecimento público. Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 ◄Fig.1: ● tomada de tempo seco do Canal da Ary Parreiras. Línguas negras eliminadas: 1. Miguel de Frias; 2. Pereira Nunes; 3. Nilo Peçanha; 4. Boa Viagem; 5. Campus da UFF. ▲Fig.2: Línguas negras eliminadas: 6: Canal de São Francisco; 8. R. Juiz Alberto Nader; 9. em frente ao nº 651; 10. em frente ao nº 855; 11. em frente ao Green House; 13. em frente ao Hospital da ASPERJ; projetos de eliminação: 7. R. Taubaté; 12. R. Dr João Leitão. Figuras 1 e 2. Mapas das enseadas de Icaraí (esquerda) e de São Francisco-Charitas (direita). Tabela 1. Análise das amostras de água. Local Coordenadas Temperatura pH OD Nascente Morro Bela Vista Subida do Viradouro Subida Viradouro – Aqüífero Travessa Pedra Branca Canal de São Francisco 0697324 , 7466171 0697325 , 7466130 0697325 , 7466130 0697324 , 7466171 0695274 , 7464687 22,9 º C 21,8º C 20,6 º C 22,9 ºC 25,1 ºC 5,76 8,40 6,47 5,76 8,86 2,31 1,73 3,38 1,07 0,50 Figura 3. Casas construídas às margens do rio Cachoeira. Umidade Relativa 58 % 58 % 3. RESULTADOS & DISCUSSÃO As Figuras 1 e 2 situam a área do estudo; a Tabela 1 resume os resultados das análises físicoquímicas das amostras de água coletadas. A foto da capa mostra um valão típico, que outrora fora um rio; este atravessa uma comunidade que ocupa suas encostas. A ocupação das faixas marginais é uma constante (Figura 3) somada ao despejo de esgoto “in natura” e ao despejo indiscriminado de lixo (Foto da capa). Segundo o depoimento de moradores, é realizada nestes valões uma só limpeza por mês pela empresa de limpeza pública de Niterói. Fizemos, neste local, um cálculo de vazão e encontramos o valor aproximado de 3 L/s (no dia 06/09/02, às 11:30 h). Após os trabalhos de avaliação preliminar no campo já descritos, levantamos dados relativos à 103 Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 situação de esgotamento sanitário da bacia Icaraí, São Francisco, Charitas e Jurujuba. A empresa Águas de Niterói assumiu o sistema de esgotamento sanitário de Niterói em novembro de 1999, trata-se de uma terceirização de serviços e não de uma privatização, uma vez que todos os bens que foram incorporados da antiga CEDAE, e que venham a ser adquiridos, pertencem ao Município, e serão devolvidos ao final da concessão (Contrato de Concessão, 1999). Ao assumir o sistema, encontrou-se uma ampla rede separadora já implantada que coletava os esgotos da bacia drenante de Icaraí, São Francisco e Charitas e os encaminhava para a ETE da Icaraí, situada à rua Ary Parreiras. Esta estação operava em sistema secundário, tratando em média 800 L s-1 (dados da Cedae, 2002) e lançando-os no canal da Ary Parreiras, que por sua vez desemboca na Praia de Icaraí. Detectou-se entretanto, que apesar de todo este sistema, haviam lançamentos via sistema de drenagem pluvial em todas as manilhas que desembocavam na Praia de Icaraí, além do próprio canal da Ary Parreiras, canal da Pres. Roosevelt em São Francisco e canal da Taubaté também em São Francisco, além de lançamentos indevidos dos quiosque em São Francisco e Charitas (Fig. 1 e 2). Em paralelo a esta situação, o Programa de Despoluição da Baia de Guanabara (PDBG) em curso durante este período, modificou a ETE de Icaraí, transformando-a de secundária para primária, [Decisão que representou um retrocesso e visou somente aumentar a capacidade de tratamento de esgotos] implantando ainda um emissário submarino com 3.560 metros de extensão, lançando os efluentes da dita ETE no canal de entrada da Baia de Guanabara (EIA-RIMA do Sistema de Tratamento de Esgotos da Cidade de Niterói – 1999) Entretanto, apesar da entrada em operação do Emissário em janeiro de 2000, as obras da ETE, não foram concluídas e a mesma permanece até hoje removendo apenas sólidos grosseiros, antes de lançar via emissário (informado em entrevista com a Concessionária). Segundo a Concessionária Águas de Niterói, falta muito pouco para colocar em funcionamento o novo sistema primário ampliado, entretanto a obra é de responsabilidade do PDBG, apesar de a ETE ser operada pela Concessionária. Quanto à questão dos lançamentos via sistemas pluviais, foram adotadas as seguintes medidas: • Implantação de tomadas de tempo seco nos cruzamentos da Ary Parreiras com Lemos Cunha e no canal Canto do Rio (Figura 1). • Implantação de rede coletora no morro da Cotia, que lançava esgoto direto no canal da Ary Parreiras. • Interceptação em tempo seco das galerias 104 pluviais das ruas Estado de Israel, Joaquim Távora, Moreira César e Irineu Marinho e implantação de estação elevatória de esgoto no calçadão da Praia de Icaraí, que bombeia o efluente de volta para a ETE (Figura 1). • Ampliação da capacidade da Estação Elevatória de São Francisco, que além de receber a rede coletora de São Francisco e Charitas, recebe ainda parte do canal da Presidente Roosevelt (Figura 2). • Implantação de uma rede em forma de cinturão coletando os efluentes de todos os quiosques de praia na sub-bacia São Francisco / Charitas (Figura 2). No canal da rua Ary Parreiras foi implantada uma comporta na altura da ETE que desvia todos os efluentes para a ETE. Esta ação fez com que a jusante do canal secasse, e a água a montante do citado trecho ficasse totalmente parada ocasionando problemas de mau cheiro e proliferação de vetores. Isto fez com que a Concessionária, após autorização da SERLA, revestisse o fundo do canal, corrigindo sua declividade, de forma a drenar este trecho para a estação elevatória da rua Ary Parreiras e mantendo-o seco. Nas figura 4 e 5 podem ser observados os dados de colimetria das praias da Baía de Guanabara de Niterói, dois anos antes e dois anos depois da assunção do sistema pela Concessionária e implantação do emissário. Pode-se observar que as ações implantadas, à exceção de Jurujuba, resultaram em uma melhora significativa na balneabilidade das praias, destacandose a Praia de Icaraí que manteve índices constantes de balneabilidade dentro dos padrões para recreação primária. O maior problema verificado na bacia em questão, fora a ETE de Icaraí inacabada, diz respeito ao Bairro de Jurujuba, com cerca de 3.000 domicílios e ainda sem qualquer tratamento. A construção de rede e uma pequena ETE com sistema secundário, estão no planejamento da Concessionária para o segundo semestre de 2003. Permanecem ainda alguns canais pluviais ainda não interceptados em tempo seco, como por exemplo, o canal da Taubaté em São Francisco (Fig.2). As observações de campo demonstram que a decisão de captação de tempo seco nos canais pluviais foi acertada, melhorando a qualidade da água nas praias da baía de Guanabara de Niterói, entretanto, a não finalização da ETE de Icaraí e a falta de um monitoramento da pluma de dispersão do efluente do emissário no Canal de entrada da Baía, sugerem que a contaminação das águas permanece ocorrendo. Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 . Balneabilidade 1998 16000 15000 14000 13000 12000 11000 10000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 JAN FEV MAR ABR Jurujuba MAI JUN JUL Charitas AGO S. Francisco SET OUT NOV DEZ Icaraí Figura 3: Variação temporal da balneabilidade (definida pela colimetria, dada em NMP/100 mL) antes da implantação do sistema de tratamento e do emissário submarino de Icaraí. (NMP=nº mais provável) Balneabilidade 2002 16000 15000 14000 13000 12000 11000 10000 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 JAN FEV MAR ABR Jurujuba MAI JUN JUL Charitas AGO S. Francisco SET OUT NOV DEZ Icaraí Figura 4: Variação temporal da balneabilidade (definida pela colimetria, dada em NMP/100 mL) após a implantação do sistema de tratamento e do emissário submarino de Icaraí. (NMP=nº mais provável) Com relação aos canais, córregos e rios da bacia, é preciso implantar um programa de redução de lançamento de efluentes “in natura” nestes corpos receptores, partindo-se das nascentes, junto às comunidades dos morros e descendo em direção às praias De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Município de Niterói, no ano de 1993, foram notificadas na área de influência objeto deste trabalho, um total de 926 casos de doenças que podem ser associadas às condições de moradia e de saneamento, quais sejam: cólera, dengue, diarréias agudas, difteria, esquistossomose, hepatites, leishmaniose, leptospirose e malária. As diarréias agudas corresponderam a mais de 90% do total e os maiores números de casos foram registrados em Jurujuba (234), Santa Rosa (208) e Icaraí (158). Jurujuba não era atendido por rede de esgotos. Comparando a área de influência com o total do município, tem-se 38,5% de casos de hepatite A; 105 Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 34,8% de casos de cólera e 33,3% de casos de difteria. A implantação do Emissário Submarino de Icaraí visava promover a melhoria da qualidade da água na enseada de Icaraí, utilizada intensamente pela população para atividades de lazer e esportes náuticos. Propõe-se as seguintes ações: • 4. CONCLUSÕES Niterói se apresenta como um Município que vem fazendo um esforço contínuo para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, tendo alcançado (segundo vem sendo divulgado), o 3º lugar entre os Municípios de melhor qualidade de vida do Brasil (IQV-UFF). Dentre os indicadores que servem para avaliar a qualidade de vida se destaca o saneamento básico e é justamente neste aspecto que acreditamos estar um dos pontos fracos do desempenho de Niterói no tocante às comunidades de baixa renda como no caso dos morros do Viradouro e Bela Vista . Assim deve-se desenvolver estudos que possibilitem a democratização do acesso ao saneamento básico por parte de comunidades com o perfil encontrado nas localidades onde predomina a ocupação desordenada com todas as implicações características deste tipo de comunidade como apresentamos a seguir : • Ocupação de áreas de risco como; - encostas com inclinação superior à 45º; - faixas marginais de proteção de córregos e riachos; - calhas de passagem de águas pluviais; - proximidade de pedras e barreiras instáveis; • Lançamento de resíduos sólidos nas encostas e córregos, que formam diques os quais podem formar avalanches no caso das encostas ou provocar o transbordamento no caso dos riachos; • Invasão das vias de acesso com muros e construções impedindo o acesso de veículos, incluindo os de serviços como ambulâncias, caminhões de lixo, ônibus, etc.; • Ausência de planejamento urbanístico de maneira a prever áreas de uso público, como praças com equipamento de lazer e áreas para uso institucional, como postos de saúde, creches, etc.; • Desmatamento com a retirada da vegetação existente e introdução de espécies exóticas (amendoeiras, casuarinas, etc... ); • Queima de lixo nos finais de tarde (poluição incidental); • Falta de vias de acesso que possibilitem melhor circulação das pessoas na região; • Baixa da auto-estima dos moradores, devido às condições em que vivem. 106 • • • • • • • Pesquisa antropológica que permita levantar as demandas da população daquelas comunidades, suas expectativas e dinâmica social de forma a que projetos sejam desenvolvidos de maneira totalmente compatível com este levantamento; Levantamento das áreas de risco, visando à remoção e reassentamento das residências localizadas nessas áreas; Planejamento urbanístico que organize melhor o uso do solo e identifique as áreas ainda disponíveis para uso público e reassentamentos; Implementação de projeto de educação ambiental que permita reverter o quadro de práticas nocivas ao meio ambiente, melhorar os índices de saúde e melhorar a prática da cidadania naquelas comunidades; Implantação de projeto de coleta seletiva de lixo, com a utilização do uso de bônus para serem trocados pelo material separado pela população; Liberação das faixas marginais dos riachos com implantação de vias de acesso ao longo de suas margens de maneira a atender à necessidade de acessos de pedestres e ao mesmo tempo evitar fisicamente novas invasões; Estabelecimento de um plano diretor de saneamento para efluentes líquidos na região, com as seguintes características : - Pesquisa do coeficiente de infiltração do solo em todas as regiões daquelas comunidades, com a finalidade de se estabelecer soluções específicas em cada local; - Nos casos em que for possível a utilização de sistemas domiciliares de esgotamento sanitário serão utilizados na primeira etapa o equipamento coletivo chamado de Cynamon (fossa/ filtro de fluxo ascendente/descendente, capaz de atender até 50 contribuintes e cuja manutenção possa ser liberada ao poder público) e só depois é que o efluente será disposto no solo através de sumidouros, valas de infiltração; - Utilização do sistema condominial (sistema não convencional de coleta de esgotos que se baseia na passagem dos encanamentos pelos quintais e jardins das residências de forma a que seja feito o trajeto mais curto) devido ao pouco espaço entre as residências; - Nos locais onde não for possível a disposição final no solo, seria verificada a melhor forma de encaminha-lo para a ETE de Icaraí. Implantação de projeto de reflorestamento e paisagismo com o envolvimento da comunidade . Mundo & Vida vol. 3 (2) 2002 Concluímos este trabalho, lembrando que as propostas aqui apresentadas vão necessitar de uma decisão política firme no sentido de serem feitos investimentos em comunidades com o perfil semelhante às do Sumidouro e da Bela Vista, no entanto além deste tipo de iniciativa deverão ser implantados projetos de capacitação para o trabalho, geração de emprego e renda de maneira a propiciar a “ocupação“ dessas comunidades com intervenções positivas, já que estas, só recebem a visita de equipes oficiais quando a polícia sobe o morro, ou esporadicamente para uma limpeza. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FEEMA. Baía da Guanabara, origem e evolução. Disponível em www.feema.rj.gov.br, 18/09/02. FEEMA. Baía da Guanabara, situação ambiental. Disponível em www.feema.rj.gov.br, 18/09/02. PMN – Prefeitura Municipal de Niterói, Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia. 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