NÃO É FÁCIL ENCONTRAR A FELICIDADE EM NÓS MESMOS E É IMPOSSÍVEL ENCONTRÁ-LA EM OUTRO LUGAR (Agnes Repplier) Thais Motta Cassiano Mendes E-mail: [email protected] O que significa ser feliz? Feliz aniversário, feliz ano novo, felicidades! As saudações são nossos votos para aqueles que estimamos. E desejamos o mesmo para nós: ser feliz. Mas é possível ser feliz? Em que consiste a felicidade? Alguns, mais pessimistas, acham a felicidade um sonho impossível. Os problemas do cotidiano, os sofrimentos físicos e morais, a fome, a pobreza, a violência, o tédio são empecilhos severos. Mas será que mesmo essas pessoas não tem um fiapo de esperança de ter uma vida melhor? Para outros, como vemos na publicidade, a felicidade estaria nos momentos de consumo, longe do trabalho, com todo conforto e prazer que o dinheiro pode lhes dar. um carro, um iate, roupas de marca, ausência de sofrimento, um doce nada a fazer... Por isso tantos esperam as férias, a aposentadorias ou prêmio da loteria. Pelos consultórios médicos passam pessoas com estresse, a doença do nosso tempo. O enfrentamento de depressões desemboca na banalização do consumo de psicofármacos as pílulas da felicidade. Sob essa última perspectiva, a felicidade é vista pelo seu avesso: como não dor, o não sofrimento, a não perda. O contrário dessa busca cega, a felicidade encontra-se mais naquilo que o ser humano faz de si próprio e menos no que consegue, alcançar com os bens materiais ou sucesso. Não se veja aqui a acusação de que rico não pode ser feliz nem o elogio ao despojamento ou à pobreza. Queremos dizer que, no primeiro caso, apenas as posses não nos tornam felizes, porque a riqueza nunca é um bem em si, mas um meio para nos propiciar outras coisas. Os tipos de amor: É difícil definir o amor. Se pensarmos nas mais conceituações que recebeu no decorrer da história humana, principalmente se levarmos em conta a especificidade desse sentimento, cujo sentido nos escapa. Assim o filósofo francês Roland Barthes: que é que eu penso do amor? Em suma, não penso nada. Bem eu gostaria de saber o que é, mas estando do lado de dentro, eu vejo em existência, não em essência. Mesmo que eu discorresse sobre o amor durante um ano, só poderia esperar pegar o conceito pelo rabo; por flashes, formulas, surpresas de expressão, dispersos pelo grande escoamento do imaginário; estou no mau lugar do amor, que é seu lugar iluminado: o lugar mais sombrio, diz um provérbio chinês, é sempre embaixo da lâmpada. Filia O termo grego filia (philia), geralmente é traduzido por amizade. Trata-se do amor vivido na família ou entre os membros de uma comunidade. Os laços de afeto que expressam são,em tese, a generosidade, o desprendimento e a reciprocidade, isto é a estima mútua. Ágape Ágape, do grego ágape, significa amor fraterno. Entre os cristão primitivos, o termo designava as refeições fraternais, em que se reuniam ricos e pobres, daí o sentido de caridade, de amar ao próximo como a si mesmo. Eros Eros se refere-se as relações que costumamos chamar de amorosas propriamente ditas. Diferentemente das outras expressões de amor já citadas, a paixão amorosa está associada a exclusividade e a reciprocidade. Por isso, ao contrário da tradição, que caracteriza o ser humano apenas como ser racional, poderíamos vê-lo também como ser desejante, tal é a força que impulsiona a busca do prazer da alegria de conquistar o amado. Esse deseja, porém, não visa apenas alcançar o outro como objeto, mais do que isso, busca o reconhecimento do amado, quer capturar sua consciência, porque o apaixonado deseja o desejo do outro. É de tal ordem a força desse impulso que foi necessário o controle dos instintos agressivos e sexuais, para que a civilização pudesse existir. o mundo humano organizou-se com instauração da lei e , conseqüentemente, com a interdição, pois as proibições estabelecem regras que tornam possível a vida em comum. Platão Eros e a filosofia Para os gregos antigos. A felicidade está ligada à atividade do sábio, capaz de levar uma vida virtuosa e racional. Platão, no diálogo Górgias, diz, por meio de Sócrates: Tal é segundo penso, o fim que preciso ter sem cessar diante dos olhos para dirigir sua vida. É preciso que cada um empenhe todas suas forças, todas as do estado, na direção desse fim, a aquisição da justiça e da temperança como condição da felicidade. O corpo sobre o olhar da ciência Durante o renascimento e a idade moderna, começou a mudar a concepção do corpo. Um indício foi a pratica da dissecação de cadáveres, até então proibida pela igreja, por ser um ato sacrílego que desvenda o que Deus teria ocultado de nosso olhar. No século XVI, o médico belga Andreas Vasalius (1514-1564) causou perplexidade ao desafiar essa tradição. Apesar das dificuldades enfrentadas, seu procedimento revolucionário alterou várias concepções inadequadas da anatomia tradicional, até então baseada na obra de Cláudio Galeno, médico que viveu no século II e que restringia a dissecação de animais. A inovação de Espinosa No século XVII, Espinosa contitui uma exceção na tentativa de superar a dicotomia corpo-conciência para restabelecer a unidade humana. Como para ele o desejo é a própria essência humana, interessa-se por tudo que nos da alegria e, por conseqüência, aumenta nossa capacidade de pensar e de agir, distinguindo o que nos leva à tristeza, à passividade e que atrofia nossa potência de existir. A teoria do paralelismo Espinosa desafia a tradição vinda dos gregos. A novidade é a teoria do paralelismo, segundo a qual não há relação de causalidade ou de hierarquia entre corpo, e o espírito: nem o espírito é superior ao corpo, com afirmam os idealistas, nem o corpo determina a consciência, como dizem os materialistas. A relação entre um e outro não é de casualidade, mas expressão e simples correspondência, pois o que se passa em um deles exprime-se no outro: a alma e o corpo expressam a mesma coisa, cada um a seu modo próprio. Uma ética da felicidade O que fazer para evitar uma paixão triste e propiciar a paixão alegre? Pela teoria do paralelismo, a alma não determina o movimento ou repouso do corpo, nem o corpo leva a alma a pensar, por isso não cabe ao espírito combater as paixões tristes. O que as destruirá só pode ser uma paixão alegre, nas situações em que, de joguetes dos nossos afetos, podemos passar a ser senhores deles. Portanto, um afeto jamais é vencido por uma idéia, mas um afeto forte é capaz de destruir um afeto fraco. As teorias contemporâneas No final do século XIX, Friedrich Nietzsche critica Sócrates por ter sido o primeiro a encaminhar a reflexão moral em direção ao controle racional das paixões. Acrescenta que a tendência de desconfiar dos instintos culminou com o ascetismo cristão, que ele responsabiliza pelo processo de domesticação do ser humano, ao torná-lo culpado e fraco. Orienta-se então no sentido de recuperar as forças vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante séculos. Freud e a natureza sexual da conduta humana A sexualidade para Freud tem um sentido bastante amplo e não deve ser associada apenas a genitalidade, isto é atos que se referem explicitamente a atividade sexual. Uma das maneiras de reencaminhar as energias sexuais é a sublimação, pela qual a força primária da libido é desviada para um alvo sexual caracterizado por atividades valorizadas socialmente. Segundo a teoria freudiana, há libido investida em todos os atos psíquicos, o que nos permite encontrar prazer também em atividades que não são primariamente de natureza sexual. Exemplos de formas sublimadas da libido são trabalhos, o jogo, a investigação intelectual e a produção artística, entre outras. Libido De difícil definição, a libido pode ser entendida como pulsão da energia sexual, mais propriamente a manifestação da pulsão sexual na vida psíquica. Na psicanálise, a energia das pulsões refere-se a tudo o que podemos incluir sob o nome de amor. Ver texto na pagina 89