CLIMA URBANO E PARÂMETROS ATMOSFÉRICOS
Adriana Aparecida Silva
Mestre, docente do Curso de Geografia, UnU de Itapuranga – UEG.
RESUMO
Existe hoje um grande interesse da sociedade e do meio científico em torno das questões
climáticas. Isto se deve ao fato de que alterações nesta dinâmica seriam responsáveis por
impactos já sentidos na atualidade, dentre os quais o aumento nas temperaturas. É preciso
considerar, no entanto, que alterações nos parâmetros atmosféricos podem ser decorrentes de
transformações espaciais ocorridas localmente e não apenas em decorrência de fatores
globais. Neste sentido, este trabalho apresenta uma contribuição buscando realizar uma
análise dos parâmetros atmosféricos: temperatura, precipitação e umidade relativa do ar, em
ambientes urbanos. Sendo um estudo de caso, foram selecionados dois municípios do Estado
de Goiás com condições de infra-estrutura e adensamento populacional diferenciados:
Goiânia, capital do Estado, que apresenta uma população de cerca de 1,3 milhões de
habitantes; e Itapuranga, município pertencente à região noroeste, com população de cerca de
24 mil habitantes. Buscamos refletir sobre a existência de alterações percebidas e sua relação
com as características do espaço geográfico, partindo do pré-suposto de que o clima
influencia o meio e o meio influencia o clima.
PALAVRAS-CHAVE: parâmetros atmosféricos, Goiânia, Itapuranga
INTRODUÇÃO
A sociedade do século XXI deverá ser marcada pela preocupação crescente em
relação às questões ambientais: os impactos herdados e a necessidade de preservação. A
questão climática “aquecimento ou resfriamento global” é um exemplo de tema hoje bastante
em foco (SILVA; GUETTER, 2003) (FONSECA et al., 2004) (IPCC, 2006), no entanto são
necessárias pesquisas, sendo estas em escala global e local, objetivando o entendimento
completo da dinâmica climática. Segundo NUNES (2002), o clima é influenciado cada vez
mais pela ação antrópica, principalmente na escala local, onde estas alterações vão variar
conforme o desenvolvimento econômico e os padrões de ocupação do espaço, definindo
características climáticas em macro, meso e micro escalas.
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Focando na necessidade de pesquisas em escala local, que se fundamenta pela
existência de micro climas decorrentes de formas de uso e ocupação diferenciados da terra,
uma questão se faz presente: cidades com maior adensamento populacional possuem valores
de parâmetros atmosféricos diferentes de cidades menos populosas?
Para que possamos abordar esta temática é preciso que sejam considerados alguns
conceitos, de acordo com os autores (AYOADE, 1998) (CONTI, 1998), sendo eles: Clima:
que pode ser entendido como um conjunto de condições normais que dominam uma região,
referindo-se a dados atmosféricos obtidos das médias das observações durante um certo
intervalo de anos, o ideal é que sejam observados dados de cerca de trinta anos de informação;
Tempo: refere-se ao estado médio da atmosfera num determinado instante e lugar; Micro
clima: corresponde às condições climáticas em um recorte espacial de escala; Mudanças
climáticas: refere-se a alterações no padrão do comportamento atmosférico; Parâmetros
atmosféricos: são elementos utilizados para mensurar as condições atmosféricas; Precipitação:
trata-se de diversas formas de deposição de elementos líquidos e sólidos derivados da
atmosfera, sendo que chuva e neve são os que mais contribuem para com a mensuração dos
volumes totais de precipitação; Temperatura: é a medida da energia cinética média das
moléculas ou átomos individuais, sendo que quanto mais rápido for deslocamento mais
elevada a temperatura que um corpo possui. As escalas de temperatura são: Celsius,
Fahrenheit e Kelvin (ou absoluta), no Brasil se utiliza frequentemente a escala Celsius;
Umidade relativa do ar: este termo é utilizado para descrever o percentual de vapor d’água
contido no ar se concentrando nas primeiras camadas da atmosfera (baixa atmosfera), ou seja,
abaixo de 2000 metros. Existe uma relação de diminuição da quantidade de umidade do ar
relacionada a elevação de altitude
Neste sentido, este trabalho se propõe a refletir sobre a relação entre a dinâmica
climática local e as características dos diferentes aspectos do espaço geográfico, através da
associação de dados referentes aos parâmetros atmosféricos: temperatura, precipitação e
umidade relativa do ar, para dois municípios do Estado de Goiás com condições de infraestrutura e adensamento populacional diferenciados.
MATERIAL E MÉTODOS
Objetivando proceder a comparação entre duas localidades com características
distintas, foram selecionadas duas áreas de estudo, sendo elas: os municípios de Goiânia e
Itapuranga: Goiânia, capital do Estado, localizado na micro-região Goiânia e meso-região
Centro Goiano, possui uma área de 739Km2, situando-se a 749m de altitude nas coordenadas:
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16º40’05” de latitude sul e 49º15’07” de longitude oeste. Sua população é de 1.244.645
habitantes segundo o senso IBGE (2007), sendo que deste 94,34% residem em área urbana;
Itapuranga, localizado na micro-região de Ceres e meso-região centro goiano, possui uma área
de 1.277Km2, situa-se a 651m de altitude nas coordenadas: 15º33’44” de latitude sul e
49º56’55” de longitude oeste. Este município abriga uma população, segundo o senso 2007 do
IBGE, de 24.832 habitantes, sendo que destes 74,44% habitam a zona urbana e 25,56%
residem na zona rural
Este estudo foi realizado a partir das seguintes etapas metodológicas: 1.
Levantamento bibliográfico; 2. Definição dos parâmetros atmosféricos a serem considerados
(temperatura, precipitação e umidade relativa do ar) e do recorte temporal, onde foram
definidos os meses de: janeiro, fevereiro, março, julho, agosto e setembro do ano de 2007; 3.
Coleta e levantamento de dados dos parâmetros climáticos (INMET); 4. Trabalho de gabinete
objetivando tabulação e tratamento gráficos dos dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura nos municípios de Goiânia e Itapuranga, durante os meses de
janeiro, fevereiro e março, apresentaram valores bastante aproximados, sendo que em
Itapuranga os maiores picos de temperatura variaram de máxima de 33ºC na primeira
quinzena de fevereiro e mínima de 21ºC na primeira quinzena de março; (Figura 01).
Temperatura ºC
35
33
31
29
27
25
23
21
19
17
15
1-jan
16-jan
31-jan
15-fev
Goiânia
1-mar
16-mar
31-mar
Itapuranga
Figura 01- Temperatura em graus Celsius dos municípios de Goiânia e Itapuranga durante os
meses de janeiro, fevereiro e março de 2007.
Entre os meses de julho, agosto e setembro as médias das temperaturas diárias no
município de Itapuranga foram, em todo o período, superiores a Goiânia. No município de
Goiânia a temperatura variou entre 23º e 37ºC, amplitude de 10ºC, já em Itapuranga as médias
de temperatura ficaram entre mínima de 26º e máxima de 39ºC, amplitude de 13ºC. Já na
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segunda quinzena de julho apresentou temperaturas abaixo dos 34ºC enquanto que na segunda
quinzena de setembro as temperaturas foram todas superiores a 34ºC (Figura 02).
Temperatura ºC
40
38
36
34
32
30
28
26
24
22
20
18-jul
2-ago
17-ago
1-set
Goiânia
16-set
Itapuranga
Figura 02- Temperatura em graus Celsius dos municípios de Goiânia e Itapuranga durante os
meses de julho, agosto e setembro de 2007.
No que se refere ao parâmetro atmosférico Umidade Relativa do ar, nos meses de
janeiro, fevereiro e março de 2007, foi observado que o município de Goiânia apresentou
valores médios abaixo dos mensurados para Itapuranga, que apresentou uma menor variação
nos índices de umidade entre 50 e 80% (Figura 03).
100
Umidade Relativa (%)
90
80
70
60
50
40
30
20
1-jan
16-jan
31-jan
15-fev
Goiânia
1-mar
16-mar
31-mar
Itapuranga
Figura 03- Umidade Relativa do ar referente aos municípios de Goiânia e Itapuranga durante
os meses de janeiro, fevereiro e março de 2007.
Diferentemente do primeiro trimestre de 2007 nos meses de julho, agosto e
setembro a umidade relativa do ar foi superior no município de Goiânia, com mínima de 10%
e máxima de 42%. Em Itapuranga a temperatura esteve na maior parte de período próximo à
média entre 10% e 30% de umidade (Figura 04)
4
80
Umidade Relativa %
70
60
50
40
30
20
10
0
18-jul
2-ago
17-ago
1-set
Goiânia
16-set
Itapuranga
Figura 04- Umidade Relativa do ar referente aos municípios de Goiânia e Itapuranga durante
os meses de julho, agosto e setembro de 2007.
A precipitação pluviométrica o primeiro no trimestre de 2007 os valores totais
apresentam o município de Goiânia com maior precipitação, total de 49 mm, e Itapuranga
com valor próximo somando 40 mm de chuva. A distribuição se concentra na ultima quinzena
de janeiro, com maior intensidade, e primeira quinzena de março, com menor intensidade
(Figura 05). Já para os meses de julho, agosto e setembro foi observado apenas um episódio
de precipitação e apenas no município de Goiânia, com volume bastante baixo de apenas 0,2
Precipitação (mm)
mm. Durante o restante do período não houveram chuvas.
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1-jan
16-jan
31-jan
15-fev
Goiânia
1-mar
16-mar
31-mar
Itapuranga
Figura 05- Precipitação Pluviométrica referente aos municípios de Goiânia e Itapuranga
durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 2007.
Os dados apresentados nos demonstram que, em principio, não existe uma relação
direta entre densidade populacional e aumento de temperatura ou mudanças significativas nos
valores dos parâmetros atmosféricos no caso de Goiânia e Itapuranga. No entanto, não
podemos concluir que esta correlação não exista de fato, pelo contrário se faz necessário
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associar esta proximidade entre os dados a alguns fatores, sendo eles: a fonte dos dados que
trata-se de duas fontes distintas; segundo o local de coleta dos dados que, em se tratando de
uma estação, não reproduz com fidelidade a condição de adensamento populacional que nossa
hipótese aponta; por fim e talvez o ponto mais relevante, diz respeito ao status atual da
ocupação do município de Itapuranga, que apesar de não possuir grande concentração
populacional, apresenta grande parte de sua área construída restando poucas áreas com
presença de algum tipo de vegetação e, agravando o quadro, apresenta um usina de álcool
bem próxima à cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Estes dados não nos possibilitaram avançar no sentido de perceber mudanças no
clima em decorrência do adensamento populacional. Entendemos no entanto que, para melhor
análise e compreensão é preciso que sejam coletados um volume maior de dados (ao menos
uma série de trinta anos seria necessário), a fim de correlacioná-los com outros fatores, quer
sejam outros parâmetros atmosféricos ou parâmetros associativos, como índice de
crescimento populacional e urbano, de desmatamento, etc.
Sem grandes pretensões, este foi um trabalho inicial que teve como objetivo maior
introduzir alunos graduando em geografia na pesquisa e iniciar uma base de estudo que
possam ter continuidade com outros projetos envolvendo o corpo docente e discente da UEG.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AYOADE, J. O Introdução a climatologia para os trópicos. 5ª ed. trad. Maria Juraci Zani dos
Santos. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 1998.
CONTI, J. B. Clima e Meio Ambiente. Editora Atual. São Paulo. 1998.
FONSECA, V. et al. Clima e saúde humana. In: VI Simpósio Brasileiro de Climatologia
Geográfica. Anais. Sergipe, 2004.
IPCC. Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Relatório. 2006
SILVA, M. E. S.; GUETTER, A. K. Mudanças climáticas regionais observadas no estado do
Paraná. Terra Livre, São Paulo, ano 19, v. I, n. 20, p. 111-126, jan-jul. 2003.
NUNES L. H. Discussão acerca de mudanças climáticas. (nota) Terra Livre, São Paulo nº 18,
jan – jun, 2002.
www.inmet.gov.br
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