36 3. ACTIVIDADES PRÁTICO-LABORATORIAIS AL 1.3. Capacidade térmica mássica Fundamento teórico da experiência A quantidade de energia que se fornece a materiais diferentes, de modo a provocar-lhes a mesma elevação de temperatura, depende da constituição desse material. Por isso, há materiais que aquecem e arrefecem mais ou menos do que outros, quando se lhes fornece a mesma quantidade de energia, durante o mesmo intervalo de tempo. Isto significa que cada material é caracterizado por uma grandeza física que está relacionada com a capacidade que esse material tem para absorver ou ceder energia. Essa grandeza designa-se por capacidade térmica mássica e representa-se pela letra c . Define-se como sendo a quantidade de energia que é necessário fornecer a 1 kg de qualquer material, de modo que a sua temperatura se eleve de 1 °C . O comportamento térmico de um material está relacionado com o valor da sua capacidade térmica mássica: • se o seu valor for elevado, a quantidade de energia envolvida no aquecimento e no arrefecimento desse material também é elevada; • se o valor da capacidade térmica mássica for baixo, a quantidade de energia necessária para que o material aqueça e arrefeça também é baixa. O valor da capacidade térmica mássica de um material (por exemplo, um metal ou uma liga metálica) pode determinar-se, experimentalmente, utilizando blocos calorimétricos de massa aproximadamente igual a 1 kg [FIG. 1]. Bloco de alumínio Bloco de latão Resistência de aquecimento Material isolante (cortiça) [FIG. 1] Blocos calorimétricos de alumínio e de latão com a resistência de aquecimento colocados sobre material isolante. AL 1.3. Capacidade térmica mássica 37 Estes blocos dispõem de orifícios que permitem introduzir uma resistência de aquecimento e um termopar. A quantidade de energia transferida como calor para os blocos calorimétricos pode ser relacionada com a capacidade térmica mássica através da expressão matemática seguinte: E = m * c * Dq E = energia transferida c = capacidade térmica mássica m = massa do bloco calorimétrico Dq = variação de temperatura do bloco (1) Como: P = potência fornecida ao bloco calorimétrico Dt = intervalo de tempo de aquecimento P= E Dt Então, dividindo ambos os membros da expressão matemática (1) por Dt , obtém-se: Dq Dq E =m*c* § P=m*c* Dt Dt Dt Ou seja: c= P m* Dq Dt O traçado do gráfico q = f (t ) permite determinar o declive da recta obtida e, consequentemente, a capacidade térmica mássica do material. 1 Dq Dt 2 Para isso, é necessário saber a potência eléctrica fornecida ao circuito efectuando leituras dos valores da diferença de potencial nos terminais da resistência e dos valores da intensidade da corrente que atravessa o circuito eléctrico. O conhecimento dos valores da capacidade térmica mássica dos materiais alumínio e latão permite verificar as propriedades específicas destes materiais relativamente ao aquecimento. 38 3. ACTIVIDADES PRÁTICO-LABORATORIAIS Algumas notas importantes na realização da experiência • Deve usar-se glicerina dentro dos blocos calorimétricos para facilitar o contacto térmico com o bloco, quer da resistência eléctrica quer do termopar. Os blocos calorimétricos devem ser, também, colocados sobre material isolante. • Devem evitar-se aquecimentos prolongados. Por isso, sugere-se o registo dos valores de temperaturas para tempos de aquecimento curtos (alguns minutos). • O traçado do gráfico Dq = f (Dt ) permite a determinação do declive da recta Dq obtida, . Dt • A resistência eléctrica nunca pode estar ligada fora dos blocos calorimétricos, pois pode fundir. • É necessário esperar que os blocos calorimétricos, assim como a resistência eléctrica de aquecimento e, até o termopar, arrefeçam antes de iniciar outra determinação experimental. A resistência eléctrica não deve ser mergulhada em água para arrefecer, mas sim em glicerina. • É importante saber que os valores das capacidades térmicas mássicas tabelados dizem respeito a substâncias (puras) ou a ligas metálicas isentas de impurezas e de composição conhecida. O latão é uma liga de composição variável. Para uma amostra de composição de 70% de cobre e 30% de zinco, a capacidade térmica mássica é de 370 J kg- 1 °C- 1 .[*] • O bloco de alumínio cuja capacidade térmica se pretende determinar também, em geral não é uma substância (pura). É uma liga cuja capacidade térmica mássica tem o valor típico de 880 J kg- 1 °C- 1 .[*] [*] Tennent, R. M., Science Data Book, Oliver & Boyd, London, 1995. AL 1.3. Capacidade térmica mássica 39 Actividade prático-laboratorial › Por que é que no Verão a areia fica escaldante e a água do mar não? › Por que é que os climas marítimos são mais amenos do que os continentais? Para responderes a estas questões-problema poderias, por exemplo, realizar uma experiência com água do mar e com areia. Contudo, a utilização destes materiais, implicaria dificuldades experimentais. Por exemplo, existe ar entre os grãos de areia, que introduziria erros na medição de temperaturas; por outro, seria difícil a homogeneização da temperatura neste material. Assim, propomos que determines a capacidade térmica mássica de dois outros metais, latão e alumínio, partindo do material e equipamento que se mostra nas FIGS. 2A/B. As conclusões a que chegares permitir-te-ão responder, por analogia, às questões-problema. Fonte de alimentação Material e equipamento necessários › Balança › Conjunto de blocos Bloco de alumínio calorimétricos (latão e alumínio) Bloco de latão › Resistência de aquecimento (12 V; 66 W) › Sensor de temperatura › Amperímetro › Voltímetro › Fonte de alimentação (0-12 V; 6 A) › Cronómetro › Interruptor › Fios de ligação › Glicerina › Cortiça Voltímetro Amperímetro Cronómetro Termopar G R A V [FIG. 2A] Material isolante (cortiça) B Sugere-se que executes as seguintes etapas da experiência: • Monta o circuito eléctrico com uma fonte de alimentação, um voltímetro em paralelo com a resistência de aquecimento, um amperímetro e um interruptor. • Introduz no bloco calorimétrico de latão a resistência de aquecimento e fecha o interruptor. Faz leituras da temperatura, minuto a minuto (durante 10 minutos), e regista, também no teu caderno, os valores da intensidade da corrente e da diferença de potencial nos terminais da resistência. 40 3. ACTIVIDADES PRÁTICO-LABORATORIAIS • Repete o procedimento experimental, agora, para o bloco calorimétrico de alumínio, tendo em atenção que as condições iniciais da actividade se deverão manter.[ ] 6 Nota: Cada grupo de alunos(as) deve executar a experiência com blocos diferentes. Após a experiência, devem comparar os resultados experimentais obtidos. • Regista, no teu caderno, os valores das leituras efectuadas nos QUADROS I e II. t / min Quadro I Quadro II Bloco calorimétrico de latão Bloco calorimétrico de alumínio q / °C U/V I/A t / min q/ °C U/V I/A Exploração dos resultados • Para cada um dos blocos calorimétricos, traça os gráficos em papel milimétrico ou no programa Excel dos valores da temperatura em função do tempo. • Determina para cada uma das situações, tendo em conta os algarismos significativos: Dq › o declive de cada um dos traçados dos gráficos obtidos; Dt › a potência fornecida (P = U * I ) ao circuito eléctrico; 1 2 › a capacidade térmica mássica de cada material, através da expressão matemática: c= Pfornecida Dq m* Dt • Consulta uma tabela de capacidades térmicas mássicas e compara os valores tabelados com os valores experimentais obtidos. • Calcula o erro na determinação da capacidade térmica mássica de cada um dos materiais. Responde no teu caderno às seguintes questões 1 Supõe que tens duas cafeteiras com igual massa: uma de alumínio e outra de latão. As cafeteiras contêm a mesma massa de água e são aquecidas durante o mesmo intervalo de tempo no mesmo disco do fogão. Em qual das duas cafeteiras a água aquece até uma temperatura mais elevada? Justifica a tua resposta. 2 Por que é que no Verão a areia fica escaldante e a água do mar não? 3 Por que é que os climas marítimos são mais amenos do que os continentais? [6] É necessário arrefecer completamente a resistência de aquecimento. AL 1.3. Capacidade térmica mássica AL 1.3. Capacidade térmica mássica Objecto de ensino • Capacidade térmica mássica • Balanço energético Objectivos de aprendizagem Esta actividade permitirá ao(à) aluno(a) saber: • Analisar transferências e transformações de energia num sistema. • Estabelecer balanços energéticos em sistemas termodinâmicos, identificando as parcelas que correspondem à energia útil e à energia dissipada no processo. • Associar o valor (alto ou baixo) da capacidade térmica mássica ao comportamento térmico do material. • Aplicar o conceito de capacidade térmica mássica à interpretação de fenómenos do dia-a-dia. Competências a desenvolver pelos(as) alunos(as) • Construir uma montagem laboratorial a partir de um esquema ou de uma descrição. • Manipular, com correcção e respeito por normas de segurança, material e equipamento. • Recolher, registar e organizar dados de observações (quantitativos e qualitativos) de fontes diversas, nomeadamente em forma gráfica. • Executar, com correcção, técnicas previamente ilustradas ou demonstradas. • Exprimir um resultado com um número de algarismos significativos compatíveis com as condições da experiência e afectado da respectiva incerteza absoluta. • Analisar dados recolhidos à luz de um determinado modelo ou quadro teórico. • Interpretar os resultados obtidos e confrontá-los com as hipóteses de partida e/ou com outros de referência. • Discutir os limites de validade dos resultados obtidos respeitantes ao observador, aos instrumentos e à técnica usados. • Elaborar um relatório (ou sínteses, oralmente ou por escrito, ou noutros formatos) sobre uma actividade experimental por si realizada. • Desenvolver o respeito pelo cumprimento de normas de segurança: gerais, de protecção pessoal e do ambiente. • Adequar ritmos de trabalho aos objectivos das actividades. 19 UNIDADE 1 DO SOL AO AQUECIMENTO 20 Material e equipamento por turno Resistência de aquecimento Fonte de alimentação Bloco calorimétrico de alumínio Material e equipamento necessários: › Conjunto de blocos calorimétricos (latão e Bloco calorimétrico de latão alumínio) (4) › Resistência de aquecimento (12 V; 66 W) (4) › Termómetro (- 10 °C a 110 °C) ou sensor de temperatura (4) Amperímetro Voltímetro Cronómetro Termopar › Balança (1) › Amperímetro (0-5 A) (4) › Voltímetro (0-15 V) ou (0-10 V) (4) › Fonte de alimentação (0-12 V; 6 A) › Reóstato (4) › Cronómetro (4) › Interruptor › Fios de ligação › Glicerina (4) Montagem do material. G R A V Resultados experimentais obtidos Quadro I Quadro II Bloco calorimétrico de latão Bloco calorimétrico de alumínio t / min q / °C I/A U/V t / min q / °C I/A U/V 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 19,9 25,5 30,6 35,7 40,5 45,5 50,0 54,7 59,0 63,4 9,76 9,76 9,76 9,77 9,77 9,77 9,77 9,77 9,78 9,78 3,90 3,88 3,89 3,89 3,89 3,89 3,89 3,89 3,89 3,89 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 20,5 23,2 26,3 29,2 32,0 35,0 37,8 40,5 43,3 46,1 4,48 4,46 4,46 4,46 4,46 4,46 4,46 4,46 4,47 4,47 11,10 11,10 11,15 11,09 11,09 11,10 11,16 11,15 11,15 11,14 Nome do instrumento Sensibilidade do instrumento Tempo de reacção = 0,2 s Termopar ¿ 0,3 °C Cronómetro ¿ 0,01 s Voltímetro ¿ 0,01 V mlatão = (1010,4 ¿ 0,1) g Amperímetro ¿ 0,01 A malumínio = (1025,6 ¿ 0,1) g Dados: 21 AL 1.3. Capacidade térmica mássica Exploração dos resultados [ ] 4 Gráfico I Gráfico II Bloco calorimétrico de alumínio Bloco calorimétrico de latão 60 80 50 40 q/°C q/°C 60 40 y = 0,0802x + 16 30 y = 0,0476x + 17,693 20 20 10 0 0 0 0 100 200 300 400 500 600 700 t/s 100 200 300 400 500 600 700 t/s Declive / d Incerteza no declive / Dd Declive / d Incerteza no declive / Dd 0,080 0,001 0,0476 0,0002 (valores obtidos no Excel) (valores obtidos no Excel) Cálculo da potência fornecida: P=U *I P = 3,89 * 9,77 § P = 38,01 W (cálculo intermédio) Cálculo da incerteza na potência fornecida: Cálculo de U Cálculo do desvio (di) 3,90 3,90 - 3,89 = 0,01 3,88 3,88 - 3,89 = - 0,01 3,89 3,89 - 3,89 = 0 3,89 3,89 - 3,89 = 0 3,89 3,89 - 3,89 = 0 3,89 3,89 - 3,89 = 0 3,89 3,89 - 3,89 = 0 3,89 3,89 - 3,89 = 0 3,89 3,89 - 3,89 = 0 3,89 3,89 - 3,89 = 0 DU =|di(máx.)| DU = 0,01 U = 3,89 V U = (3,89 ¿ 0,01) V [4] Os cálculos que se apresentam são para a determinação da capacidade térmica mássica do latão. O mesmo procedimento pode efectuar-se para a determinação da capacidade térmica mássica do alumínio. 22 UNIDADE 1 DO SOL AO AQUECIMENTO Cálculo do desvio (di) Cálculo de I 9,76 9,76 - 9,77 = – 0,01 9,76 9,76 - 9,77 = – 0,01 9,76 9,76 - 9,77 = – 0,01 9,77 9,77 - 9,77 = 0 9,77 9,77 – 9,77 = 0 9,77 9,77 – 9,77 = 0 9,77 9,77 – 9,77 = 0 9,77 9,77 – 9,77 = 0 9,78 9,78 – 9,77 = 0,01 9,78 9,78 – 9,77 = 0,01 I = 9,77 A DI =|di(máx.)| DI = 0,01 I = (9,77 ¿ 0,01) A DP DU DI = + P U I DP 0,01 0,01 = + § P 3,89 9,77 § DP DP = 2,57 * 10- 3 + 1,02 * 10- 3 § = 3,59 * 10- 3 P P DP = 3,59 * 10- 3 * 38,01 DP = 136,4 * 10- 3 9 0,14 P = (38,01 ¿ 0,14) W Cálculo da capacidade térmica mássica do latão: Pf = m * clatão * clatão = Pf m* clatão = Dq Dt Dq Dt 38,01 § 1,0104 * 0,080 § clatão = 470 J/(kg * °C) (cálculo intermédio) AL 1.3. Capacidade térmica mássica Cálculo da incerteza na determinação da capacidade térmica mássica do latão: Dc DP Dm D(Dq) D(Dt) = + + + c m P Dq Dt twwuwwv Dd d 0,14 0,0001 Dc = + + 0,0125 c 38,01 1,0104 Dc ) 0,0163 § Dc = 0,0163 * 470 c Dc ) 7,7 (cálculo intermédio) Conclusões O valor da capacidade térmica mássica do latão obtido experimentalmente foi: clatão = (470 ¿ 8) J/(kg * °C) O cálculo da capacidade térmica mássica do alumínio seria feito de modo análogo. Crítica dos resultados Há erros cometidos na determinação experimental, com origens diversas: – perdas de calor para a vizinhança do sistema, através das paredes do bloco calorimétrico, havendo, por isso, dissipação de energia; – apesar de se ter usado a glicerina como um material bom condutor do calor, de modo a permitir um melhor contacto térmico, também ocorre dissipação de energia. Para minimizar as perdas de calor para a vizinhança do sistema, deve-se colocar o bloco calorimétrico sobre material isolante, como, por exemplo, cortiça. Os valores tabelados dizem respeito a capacidades térmicas mássicas de substâncias puras ou de ligas metálicas isentas de impurezas. No entanto, o latão nunca é uma substância pura. É uma liga de composição variável. O bloco calorimétrico de latão[ ] utilizado tem a seguinte composição: 70% de cobre e 30% de zinco, cuja capacidade térmica mássica tem o valor de 370 J/(kg * °C). 5 Sugestão de trabalho Sugere-se que cada grupo determine, experimentalmente, a capacidade térmica mássica de apenas um dos materiais. Após a experiência e o tratamento dos dados, os grupos devem confrontar os resultados experimentais obtidos, entre si e com os valores tabelados. [5] O bloco calorimétrico de alumínio não é constituído por uma substância pura. É uma liga, cuja capacidade térmica mássica é de 880 J/(kg * °C). 23