LIVRO DE RESUMOS
GRUPOS DE TRABALHOS
SUMÁRIO
Mesas Redondas
05
Painéis
27
Grupos de Trabalhos
51
Índice Remissivo
267
MESAS REDONDAS
MESAS REDONDAS
5
NATUREZA,
TERRITORIALIZAÇÃO
E ETNICIDADE
Coordenador:
Renato Athias (NEPE/UFPE)
[email protected]
MESAS REDONDAS
MESA 1
Participantes:
Vânia Fialho - UPE
Edmundo Pereira - UFRN
Mércia Batista - UFCG
Esta mesa redonda pretende desenvolver questões relacionadas aos
paradigmas natureza e cultura enfatizando o discurso político das comunidades étnicas. Pretende prioritariamente discutir a relação que envolve as
diversas concepções de natureza e suas dimensões na produção da cultura
com p recorte da etnicidade. O entendimento sobre as questões dos recursos ambientais, notadamente relacionados aos aspectos da natureza orienta o caminho das expectativas das comunidades étnicas com relação ao
seu desenvolvimento social e econômico. A “mãe natureza”, a “mãe terra” torna-se o eixo norteador nas principais reivindicações dessas comunidades. As diversas dimensões da terra e a transformação de um território
buscam a uma análise mais ampla sobre a relação com a natureza e os
processo de identidade étnica nos diversos momentos históricos. Uma
análise da relação natureza e cultura entre os índios possibilitam hoje ter
uma visão das possibilidades de futuro nas relações interétnicas que se
formam a partir de processos de territorialização. Como as dimensões da
natureza são construídas no discurso políticos das comunidades étnicas e
sua relação com o estado e nos processo de busca de autonomia de políticas locais de desenvolvimento.
As interfaces das intervenções:
Renato Athias (Coordenação)
Na moderação do debate se procurará direcionar a uma discussão sobre as
noções de cultura e Natureza que é parte importante do conflito político
onde se situam e são elaboradas as identidades indígenas e negras no
Nordeste. Em outras palavras, se trata situar as idéias de Cultura e Natureza nos diversos contextos sociais e como estas relacionam e com os processo identitários.
Vânia Fialho - Universidade de Pernambuco
A apresentação será a partir das experiências de elaboração laudos antropológicos em áreas indígenas e quilombolas com a finalidade de regularização fundiárias. Serão apresentados os modelos de produção de cultura e
a discussão sobre a idéia de natureza e ambiente entre os índios e negros
o nordeste.
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MESAS REDONDAS
Mércia Batista - Universidade Federal de Campinas Grande
A apresentação desenvolverá as temáticas da Identidade e da diversidade que aparentemente apontam para
campos opostos: o que privilegiar o idêntico ou o diverso nos processos de elaboração cultural dos índios. A
apresentação terá como pano de fundo os índios Truka de Pernambuco.
Edmundo Pereira - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
A partir da experiência de campo na Comunidade de Macambira: de “negros da Macambira” à Associação
Quilombola, será discutido o processo de etnicização do grupo, em particular tendo como eixo a constituição de
uma memória social - de fundação, família e território do - e tomando como situação social a produção de
“relatório antropológico”, esta entendida como produção dialógica de conhecimento.
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MESA 2
Coordenadora:
POLÍTICAS E
AÇÕES CULTURAIS
MESAS REDONDAS
Maria Eunice Maciel (UFRGS)
Participantes:
Antonio Motta (UFPE)
Julie Cavignac (UFRN)
[email protected]
Jane Felipe Beltrão (UFPA)
Convidado Especial: (UFBA)
A Proposta visa promover um debate em torno de questões relacionadas às
políticas culturais bem como à chamada “economia da cultura” e à “ação
cultural” pois, hoje, proliferam diversas atividades às quais o antropólogo
é chamado a participar e que se relacionam, muito genericamente, com a
“cultura”. Trata-se, porém, de campo ambíguo, derivado do próprio entendimento do termo “cultura” pela sociedade em geral e mesmo pelas instituições “especializadas” no fazer cultural. Instituições estas que se apressam em criar setores e mesmo fundações destinadas ao tema (empresas
privadas e estatais) aproveitando-se das leis de incentivo à Cultura tornando-se um espaço à atuação de antropólogo. Neste contexto, o antropólogo
tem sido chamado para atuar em áreas nas quais ele não atuava anteriormente e o faz em interlocução com outras áreas do conhecimento num
diálogo que nem sempre fácil. Enquanto, permanece longe das situações
com as quais estaria mais familiarizado e, nas quais, o antropólogo executaria seu “métier” com pertinência, como na estruturação de políticas
culturais. Urge inventariar as situações, discutir a pertinência das ações e
pensar os significados destas, refletindo sobre “nós” e os “outros” no
processo de inclusão/exclusão social que vivenciamos.
Promover um debate em torno de questões relacionadas às políticas culturais bem como à chamada “economia da cultura” e à “ação cultural”, pois,
hoje, proliferam diversas atividades às quais o antropólogo é chamado a
participar e que se relacionam, muito genericamente, com a “cultura”.
Trata-se, porém, de campo ambíguo, derivado do próprio entendimento
do termo “cultura” pela sociedade em geral e mesmo pelas instituições
“especializadas” no fazer cultural. Instituições estas que se apressam em
criar setores e mesmo fundações destinadas ao tema (empresas privadas e
estatais) aproveitando-se das leis de incentivo à Cultura tornando-se um
espaço à atuação de antropólogo. Neste contexto, o antropólogo tem sido
chamado para atuar em áreas nas quais ele não atuava anteriormente e o
faz em interlocução com outras áreas do conhecimento num diálogo que
nem sempre fácil. Enquanto, permanece longe das situações com as quais
estaria mais familiarizado e, nas quais, o antropólogo executaria seu “métier”
com pertinência, como na estruturação de políticas culturais. Urge
inventariar as situações, discutir a pertinência das ações e pensar os significados destas, refletindo sobre “nós” e os “outros” no processo de inclusão/exclusão social que vivenciamos.
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MESAS REDONDAS
MESA 3
Coordenador:
Ernesto Seidl (UFS)
ANTROPOLOGIA DA
POLÍTICA: CAMPO
EM EXPANSÃO
[email protected]
Participantes:
Marcos O. Bezerra (UFF/CNPq)
Antonádia M. Borges (UnB)
Igor G. Grill (UFMA)
A mesa tem por objetivo reunir pesquisadores com estudos voltados aos
fenômenos da política a partir de um ângulo próprio ao campo da Antropologia para discutir algumas das contribuições trazidas pela Antropologia da
Política. A idéia central é estruturar os debates em torno de dois eixos: um
deles mais centrado em discussões sobre as redefinições das próprias Ciências Sociais em relação a seus objetos e, em especial, à renovação dos estudos da política proporcionada pela Antropologia e as novas e perspectivas
de investigação abertas; e um segundo eixo, mais específico, dedicado às
possibilidades de exploração dos recursos conceituais e metodológicos engendrados por essa área temática, a partir da apresentação de estudos empíricos
recentes.
Sobre vivos e mortos: estado e teoria antropológica na África
do Sul contemporânea
Antonádia Monteiro Borges
A recusa de nossos anfitriões aos nossos enquadramentos é sempre um
convite à transformação e expansão dos conceitos antropológicos. Na África do Sul contemporânea, a Antropologia da Política aprende com outras
teorias que admitem a relação do Estado com vivos e com mortos, com
espíritos e com coisas. O desafio teórico de pensarmos um Estado que governa e, por vezes, é também governado pelos mortos afasta-se sobremaneira
das teorias que apregoavam ou (i) a inexistência do Estado nesses lugares, ou
que (ii) interpretavam a atuação política desses grupos como formas
transmutadas de outros tipos de socialidade - como parentesco, como magia
ou como religião, por exemplo. Essa definição a priori de um Estado laico
tornou-nos incapazes de enxergar os espíritos agindo, atuando sobre as pessoas e sobre próprio Estado. Essa lição, que se aplica tanto no Brasil como
fora daqui, servirá de ponto de partida para fazer desta comunicação uma
reflexão sobre as relações entre trabalho de campo, comparação e produção
de conhecimento antropológico a respeito da vida política daqueles que nos
recebem em nossas pesquisas.
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Marcos Otavio Bezerra
As divulgações recentes de investigações sobre irregularidades na administração pública têm alimentado o
sentimento de descrédito e desconfiança em relação à política e aos políticos. Tendo esta conjuntura como
referência, proponho nesta intervenção retomar a perspectiva que considera o fenômeno da corrupção como
porta de entrada para a análise de uma das dimensões efetivas do funcionamento do Estado e da política, isto é,
aquela que se distancia das normas e formulações oficiais. A idéia é explorar como este fenômeno pode tornarse terreno fértil de estudo, uma via para se pensar questões como a definição de moralidades públicas, as
exigências próprias do exercício do poder e modalidades de interação com o poder público.
Herança e memória na política: parentesco, redes e partidos.
Igor Gastal Grill
A exposição apresentará reflexões que resultam de pesquisas empíricas concernentes à seleção e ao recrutamento das elites políticas no Rio Grande do Sul e no Maranhão. Serão analisadas as bases sociais e as estratégias em
pauta na ativação do passado como recurso de “luta política”, assim como as invenções de “genealogias” a cargo
de “famílias de políticos” e de protagonistas ligados por laços pessoais.
Relações pessoais e carreiras institucionais militares e religiosas.
Ernesto Seidl
A comunicação terá por base discussões oriundas de pesquisas dedicadas ao exame do recrutamento e seleção de
elites da Igreja e do Exército. O foco central repousará nas condições de realização de carreiras institucionais
bem sucedidas e o peso do uso de recursos sociais oriundo de relações pessoais, acumulados e mobilizados de
diversos modos, pelo grupo familiar, através de relações de amizade, compadrio, patronagem, clientelismo, entre
outros. As modalidades e estratégias de acionamento desses recursos são apreendidas através do exame de
trajetórias sociais e profissionais de militares e religiosos consagrados em suas respectivas esferas de atuação.
11
MESAS REDONDAS
Um olhar antropológico sobre a política e a corrupção.
MESAS REDONDAS
MESA 4
Coordenador:
Carlos Guilherme Octaviano do Valle (UFRN)
REGULARIZANDO
TERRAS DE
QUILOMBO:
CONSTRUÇÃO DE
IDENTIDADES,
CONHECIMENTOS
AUTORIZADOS E
POLÍTICAS PÚBLICAS
[email protected].
Essa mesa redonda tem como objetivo refletir sobre questões diretamente
associadas à regularização de terras de quilombo. Mais particularmente, a
atividade buscará tanto convergir como comparar idéias e posições de
antropólogos e agentes institucionais envolvidos com as atuais políticas
públicas de territorialização quilombola, ainda que resguardando, ao mesmo tempo, seus diferentes pontos de vista e o alcance específico de suas
práticas institucionais e profissionais. Considerando a posição já
estabelecida, em termos normativos, do antropólogo nos processos de regularização das terras de quilombo, sua produção especializada baseia-se
em critérios de autoridade intelectual, cujo alcance e autonomia estão
referidos aos limites de suas atribuições, das expectativas que estão em
jogo no processo de situação etnográfica bem como da configuração política que transcorre ao longo de todo processo de regularização. Deve-se
considerar a heterogeneidade atual de posições e experiências de pesquisadores (antropólogos docentes de IES, antropólogos vinculados ao INCRA,
pesquisadores autônomos, etc) no caso da grande variedade de demandas
sociais de regularização das terras de quilombo, incluindo as que vêm
sendo realizadas ultimamente em áreas urbanas brasileiras. Do mesmo
modo, o tema da (re)construção identitária étnico-racial se impõe através
dessas demandas sociais e consiste em um dos nódulos da política de
identidades que se manifesta ao longo de todo o processo de regularização
fundiária. Além disso, a necessidade de articulação do trabalho do antropólogo em equipes governamentais não impede a existência de tensões,
descompassos e impasses entre todos os agentes envolvidos, o que enseja
uma maior atenção acadêmica e institucional.
“O INCRA e a polít ica de regularização de territórios
quilombolas: desafios e perspectivas”
Rui Leandro da Silva Santos
(Coordenador Geral de Regularização de Territórios Quilombolas, INCRA; Mestre em Antropologia Social, UFRGS).
Apresentação das linhas gerais da política pública de regularização de
terra de quilombo, considerando a atuação da agência governamental e do
profissional em Antropologia na execução dessa política.
12
Carlos Guilherme Octaviano do Valle
(UFRN; Doutor em Antropologia, Universidade de Londres).
Será apresentada uma reflexão sobre a atuação profissional de um antropólogo no caso de regularização de uma
terra de quilombo no Rio Grande do Norte.
Terras de quilombo: identidade étnica e os caminhos do reconhecimento
Eliane Cantarino O´Dwyer
(UFF; Doutora em Antropologia Social, Museu Nacional/UFRJ).
Discussão do tema da construção da identidade étnica e da etnicidade quilombola em termos dos processos
políticos de regularização de suas terras.
Produção de relatórios antropológicos de terra de quilombo: desafios e perspectivas
José Augusto Laranjeira Sampaio
(UNEB; Doutor em Antropologia; ANAI).
Apresentação de um panorama da produção especializada de antropólogos no caso das terras de quilombo,
partindo da experiência do palestrante como coordenador do GT Quilombo da Associação Brasileira de Antropologia.
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MESAS REDONDAS
“Dialogando com os Negros de Acauã ou Cunhã Velha: auto-análise de uma experiência
como antropólogo”
MESAS REDONDAS
MESA 5
Coordenador:
Rodrigo de Azeredo Grünewald (UFCG)
ETNICIDADE,
CULTURA MATERIAL
E EXPOSIÇÕES
ETNOGRÁFICAS
[email protected] / [email protected]
Através das materializações da cultura pode se compreender como os homens codificam parte de suas relações com o mundo e, assim, externam
valores e significados embutidos em processos sociais. Ao longo da história, a evidência de objetos tem sido fundamental para se falar de encontros interculturais ou para se trazer às audiências metropolitanas provas
da existência de distintas experiências de vida. Os objetos produzidos historicamente por grupos étnicos estão dinamicamente relacionados com a
construção de suas identidades sociais, de modo que uma dimensão política da cultura material está conectada com a etnicidade desses grupos. O
estabelecimento de um patrimônio cultural material nativo remete-nos,
além disso, a processos (políticos) criativos de objetos que já promoveram
a exigência da reformulação de pressupostos acerca da concepção das exposições etnográficas - as quais devem agora ter a precaução de contextualizar
a produção dos objetos, notando que os mesmos procedem de coletividades que experimentam trocas culturais com outras sociedades e que são
produzidos situacionalmente para diversos fins, inclusive para
comercialização. A produção, mediação, negociação e apresentação desses
objetos devem ser pensadas em seus vários aspectos sociais constituintes.
Além disso, o papel dos museus para a legitimidade dessas etnicidades
pode ser importante e, portanto, não só um exame da rede de atores sociais envolvidos na produção, circulação, recepção e apresentação dos objetos étnicos é fundamental para apreciação antropológica, como também a
questão da política cultural que dá visibilidade aos atores culturais - quer
pensados em termos étnicos ou através da produção dos artistas individuais.
As estratégias das exposições são ainda importantes para reflexões em torno
tanto da natureza e da dinâmica do pluralismo étnico, quanto dos fluxos e
misturas culturais dentro de grupos étnicos e da relação entre a arte (ou cultura material) e a etnicidade desses grupos.
Trajes, sementes e relíquias: as taxonomias nativas e o lugar
dos objetos no contexto de alguns povos indígenas do
Nordeste brasileiro.
Wallace de Deus Barbosa
(IACS – UFF)
O processo de afirmação étnica dos povos indígenas no nordeste do Brasil, deflagrado a partir da década de 1980, culminou com o reconhecimen-
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Antiquidades, segredos e bandeiras: Dilemas atuais para os museus e os movimentos étnicos
João Pacheco de Oliveira
(Museu Nacional/UFRJ e DIPES/FUNDAJ)
Os museus tem tido um papel importante nos processos de formação nacional e de construção de identidades
étnicas, re-elaborando imagens e representações com ampla repercussão social, em geral revestidas de uma
elevada aceitação e legitimidade.
Para as coletividades portadoras de culturas que não apresentam fortes e conhecidos sinais diacríticos, os museus
revestem-se igualmente de enorme interesse, ao mesmo tempo que trazem muito medo e desconfiança. As
formas de vida e pensamento de cada uma dessas coletividades implica em viva e intensa troca com outras
tradições culturais (indígenas, européias, afro-brasileiras, etc), não vindo a configurar estruturas rígidas, homogêneas, excludentes e auto-reprodutivas. Os ideais culturais, embora remetidos ao passado, não são unicamente
consubstanciados no cotidiano atual das aldeias, nem resultam de exercícios mecânicos. A comunicação irá
basear-se no processo de pesquisa e formação de coleções sobre os índios do nordeste destinada à exposição Os
Primeiros Brasileiros (Recife, 2006), procurando apresentar as imagens e concepções pelas quais uma extensa
rede de atores sociais (museólogos, historiadores, antropólogos, indigenistas e líderes indígenas) engendra doutrinas distintas (em certos aspectos antagônicas) para explicar o processo de criação de culturas por essas coletividades.
Tradições de arte em mudança em exposição
Nelson Graburn
Universidade da Califórnia em Berkeley (UCB)
P. A. Hearst Museum of Anthropology
Não se pode esperar que tradições de artes de povos étnicos minoritários tenham permanecido imutáveis através
dos séculos. De fato, muitos povos perderam ou mudaram suas tradições materiais e recentemente muitos têm
renovado seu patrimônio cultural através de revitalização étnica e do estímulo de demandas turísticas. Exposições devem, portanto, traçar e contextualizar as mudanças na cultura material, enfatizando agência e criatividade
local. Velhos objetos podem ser mostrados (com exemplos materiais ou imagens) ao lado de modernos, ilustrando continuidades ou mudanças. Se possível, a lembrança das populações sobre essas mudanças deveria ser
incluída no texto e na exposição narrativa. Exemplos serão esboçados a partir de uma exibição proposta das
coleções do Alaska do Phoebe Hearst Museum of Anthropology in Berkeley.
15
MESAS REDONDAS
to oficial de uma série de povos. Neste contexto, determinados grupos indígenas do sertão pernambucano
investiram na retomada de práticas culturais tidas como “tradicionais”, como as danças e o artesanato. Esta
produção cultural contemporânea, expressa por meio das indumentárias e dos objetos rituais concorreu para a
configuração de uma ‘imagem índia’ a ser apresentada para a sociedade nacional. Neste mesmo movimento, se
constituiu um extenso repertório de itens materiais e de práticas que se consagraram como elementos atestatórios
da indianidade e contribuiu grandemente para o estabelecimento de um patrimônio cultural nativo. Este processo ensejou ainda a construção, afirmação e difusão de um sistema de objetos que tem colocado em xeque alguns
pressupostos museológicos tradicionais e as formas mais usuais de se conceber as exposições e os museus
etnográficos.
MESAS REDONDAS
MESA 6
Coordenador
Rubens Alves da Silva (UNIP/Brasília)
PERFORMANCE,
DRAMA E RITUAL –
A FORMAÇÃO DE
UM CAMPO E A
EXPERIÊNCIA
CONTEMPORÂNEA.
[email protected]
Participantes
Esther Jean Matteson Langdon (UFSC)
João Gabriel Lima Cruz Teixeira (UnB)
John Cowart Dawsey (USP)
Campos emergentes de estudo revelam deslocamentos produzidos nos
substratos de sua própria formação. Em estudos de performance desenvolvidos nas ciências sociais, as categorias do drama e ritual surgem em tais
substratos. Nesta proposta de MR pretende-se discutir o campo da
performance nas ciências sociais tendo-se em vista as relações entre
performance, drama e ritual.
Duas questões e suas respectivas premissas merecem destaque. Em primeiro lugar, chama atenção o descentramento desse universo de estudos. O
conceito de performance adquire formas variadas, cambiantes e híbridas.
Há algo de não resolvido neste conceito que resiste às tentativas de definições conclusivas ou delimitações disciplinares. O que dizer da variedade
de abordagens, recortes e composições conceituais do campo?
A segunda questão surge como um desdobramento da primeira. Em se
tratando de uma espécie de campo liminar – inter(e anti)-disciplinar –
estudos de performance espelham a própria experiência do mundo contemporâneo. A fragmentação das relações. O ‘inacabamento’ das coisas. A
dificuldade de significar o mundo. Seria o campo da performance, onde se
espelha a fragmentação do mundo contemporâneo, também uma expressão da busca de significado? O que dizer desse empreendimento?
O objetivo desta proposta de mesa redonda é propiciar uma oportunidade
para reflexão sobre um campo (ainda) emergente nas ciências sociais,
com destaque às relações entre performance, drama e ritual. Propõe-se um
diálogo entre pesquisadores que se inspiram nos trabalhos de Victor Turner,
Richard Schechner, Erving Goffman, Dell Hymes, Richard Bauman, e
Judith Butler, entre outros, para fins de explorar o caráter descentrado do
campo e o modo como nele se espelha a experiência contemporânea.
Dessa forma, procura-se dar continuidade às discussões que vem ganhando destaque no cenário brasileiro desde os anos de 1990 e, mais recentemente, em uma série de GTs e Mesas Redondas nos principais fóruns do
país: ABANNE, 2003; ABRACE 2003 e 2005, ABA, 2004, 2006; e ANPOCS,
2005, 2006.
Relevância da proposta.
“Performance” entrou como um campo importante no cenário internacional há várias décadas (Bateson, Bauman, Geertz, Goffman, Schnecher,
Singer, Tambiah, Turner, etc). No Brasil, os estudos de performance na
antropologia cresceram significativamente a partir do início da década de
90, impulsionados em grande parte pelo retorno de pesquisadores de seus
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Um dos componentes da Mesa está realizando uma pesquisa com apoio de CNPq para investigar as diferentes
abordagens teórico-metodológicas da noção de performance nos estudos antropológicos brasileiros. Além de
apontar a variedade de conceitos sendo utilizados neste campo interdisciplinar, a pesquisa indica que há ainda
uma necessidade de um dialogo teórico e analítico. Em geral os Grupos de Trabalho tem sido mais caracterizados por apresentações de estudos de caso sem maiores discussões sobre os conceitos e métodos de análise.
Assim, os conceitos de “performativo” e “performance” têm especificidades variadas, dependendo do pesquisador e como os emprega.
A proposta da mesa visa, sobretudo, dar continuidade e aprofundar o debate já iniciado sobre as perspectivas
teórico-metodológicas que embasam as pesquisas brasileiras sobre performance. Para tanto, foram convidados
para esta MR três pesquisadores, dois pioneiros na introdução da perspectiva da performance nas ciências
sociais brasileira, e um terceiro que mais recentemente se destaca como referência importante da teoria da
performance no Brasil.
Algumas das principais abordagens na área são: performance ritual, festas, danças, música e arte indígena
(Amaral, 1998; Müller, 2000; Calvacante 1999; Silva, 2005); performance e oralidade (Langdon, 1996; 1999;
Lima, 2003; Hartmann, 2000); performance e teatro (Dawsey, 1997; Teixeira, 1996; Bião, 1996); performance,
política e identidade étnica (Peraino, 2001).
17
MESAS REDONDAS
estágios de formação no exterior. Um reflexo deste crescimento está no surgimento de núcleos de pesquisa em
universidades e na freqüência com que grupos de trabalho voltados para a discussão da relação entre rito,
performance, arte, identidade, política e sociedade têm se formado em congressos, tendo todos como característica a interdisciplinaridade . Apesar de recorrente, entretanto, a noção de performance tem sido usada com
diferentes significados. Para que seja possível um avanço epistemológico e a conseqüente consolidação dos
estudos nesta área, observou-se a necessidade de implementação de uma discussão que considere os distintos
marcos teórico-metodológicos que estão orientando suas respectivas pesquisas, no sentido de estabelecer uma
maior clareza na conceituação da performance.
A importância do tema atual é verificada pelo número crescente de núcleos de pesquisa formados no campo. Só
na antropologia, há núcleos consolidados na Universidade de Brasília, Unversidade Federal de Rio de Janeiro,
Universidade Federal da Bahia, UNICAMP, e Universidade de São Paulo. Em outras universidades, pesquisadores vêm pesquisando sobre o tema, consolidando seus grupos. Outra indicador da importância do campo é o
número de GT’s realizados em conferências nacionais e regionais nos últimos cinco anos. Podemos citar a
realização dos GT’s na últimas Reuniões da ABANNE, RBA, RAM e ANPOCS.
MESA 7
Coordenador/Debatedor
MESAS REDONDAS
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga (UFAM);
DIÁLOGOS
INTERCULTURAIS
DE CULTURA
POPULAR
Participantes
Profa.Dra. Maria Paula de Abreu
(Universidade de Coimbra – Portugal);
Prof. Dr. Ulisses Neves Rafael (UFS)
[email protected]
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga (UFAM)
Cultura popular em cidades Amazônicas (Manaus, Parintins
e Manacapuru, Estado do Amazonas): entre a festa de rua e o
espetáculo folclórico.
Prof. Dra. Paula Abreu
(Investigadora do Centro de Estudos Sociais – CES (FEUC)
Docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra – FEUC
O estudo da cultura popular tem adquirido relevância em estudos antropológicos nas últimas décadas, com ênfase em processos sócio-culturais
que tem como contraponto as cidades. Um conceito interessante para
análise desses processos desponta com certo interesse na atualidade, o de
patrimônio imaterial ou de bens culturais intangíveis. Temas como “conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades”, “celebrações, manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e
lúdicas”, “lugares”, como “mercados, feiras, santuários, praças e demais
espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas”,
encontram-se não raro resumidos em eventos que freqüentemente assumem a conotação de folclóricos, na perspectiva de seus protagonistas, ao
mesmo tempo que representam diferentes formas de apropriação da cidade originando inclusive novas formas de centralidade da cultura popular
em meio urbano. Os eventos selecionados para exposição referentes ao
Estado do Amazonas são os seguintes: Manacapuru (Festival de Cirandas e
Festa de Santo Antônio da Terra Preta), Parintins (Festa de Nossa Senhora
do Carmo, Festival Folclórico de Parintins) e Manaus (Festival Folclórico
do Amazonas). Busca-se demonstrar, em última instância, a dinâmica de
certas manifestações da cultura popular associadas ao fenômeno urbano
amazônico.
O Fado de Lisboa ou de como a cidade se encena na sua
cultura popular
Prof. Dr. Ulisses Neves Rafael
(Professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais de Universidade Federal
de Sergipe)
As cidades são espaços de muitos cruzamentos: sociais, económicos, políticos e culturais. Nesse caldo urbano forjam-se múltiplas expressões de
cultura que ganham forma de um modo que poderíamos definir original-
18
Os processos de construção identitária nas cidades a partir de expressões culturais de
tradição agrária
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga (UFAM)
Nosso objetivo é discutir a construção de identidades nas cidades, a partir de processos de permutas e negociações envolvendo agentes sociais provenientes de outras áreas habitacionais do mesmo estado. Trata-se de debater o papel do migrante rural em contextos citadinos, cujo ambiente não impede a emergência de práticas
culturais de tradição agrária.
Assim, nossa atenção estará voltada para os traços idiossincráticos de capitais brasileira de origem recente e que
resultaram de projetos de planejamento modernos, mas que agregam em seu interior agentes, cujas práticas
encontram-se atreladas ao passado rural dos seus agentes. Em Aracaju, especificamente, a presença desses agentes faz-se notar não apenas pelo conjunto de expressões culturais por eles desenvolvidas e que encontram no
universo agrário sua referência fundamental, mas também pelo peso que o termo “tabaréu”, ocupa no cotidiano
da cidade, sendo freqüentemente veiculada como forma de classificação depreciativa, daqueles que estão associados àquela procedência interiorana.
Para acompanharmos o papel que o tabaréu desempenha na moderna Aracaju, faz-se necessário deter-se sobre
algumas expressões da cultura que se desenvolvem por intermédio da presença desse segmento e que nesta
capital, atualiza o passado, remoto ou recente no campo, expresso, sobretudo nos festejos juninos.
19
MESAS REDONDAS
mente híbrido. As culturas urbanas distinguem-se exactamente por nascerem da intensidade dos contactos, das
relações e das trocas sociais e culturais entre grupos. Em Portugal, o Fado é um dos exemplos mais interessantes
do modo como uma expressão cultural popular se cria e reinventa no espaço urbano, assumindo um carácter
híbrido. A sua transformação até aos nossos dias ilustra como as expressões de cultura popular urbana são
apropriadas e redefinidas pelas tecnologias económicas, culturais e políticas que produzem a cultura urbana. E
isso é tanto mais importante quando nos referimos a uma expressão cultural musical, definida não apenas pela
sua dimensão material, mas sobretudo pelo seu carácter simbólico e, portanto, imaterial.
No contexto da comunicação que aqui apresento, proponho-me equacionar uma reflexão em torno dos modos
de criação e produção das expressões culturais populares urbanas, analisando o exemplo do Fado de Lisboa,
actualmente objecto de um processo que visa a sua consagração como património cultural (imaterial) da humanidade.
MESAS REDONDAS
MESA 8
Coordenação:
Parry Scott (UFPE) [email protected]
ENSINO DE
ANTROPOLOGIA NO
NORTE E NO
NORDESTE:
RAÍZES,
CONTEXTOS E
PERSPECTIVAS.
Apresentações:
Carlos Caroso (UFBA)
Luciana Chianca (UFRN)
Heraldo Maués (UFPA)
Parry Scott (UFPE)
Debate:
Lea Freitas Perez, Coordenação da Comissão de Ensino da ABA e UFMG
Nesta mesa discute as experiências de inserção do ensino de antropologia
em quatro contextos estaduais diferentes no Norte e no Nordeste com o
objetivo de subsidiar uma discussão sobre as perspectivas atuais deste ensino. Na atualidade o emprego de conhecimento antropológico continua
em expansão e diversificação e encontra novas perspectivas para os contextos em que é ensinada. De acordo com a diversidade de experiências
locais , ressaltam-se questões envolvendo as transformações históricas da
inserção do ensino da antropologia nos cenários estaduais, o ensino de
antropologia nos contextos acadêmicos, o ensino e capacitação antropológicos em contextos extra-acadêmicos, emprego da antropologia em movimentos e programas governamentais e não governamentais, a antropologia no ensino médio, a antropologia no ensino público e privado, e a
importância de intercambios e vínculos extra-regionais na qualidade e
abrangência do ensino. A discussão centra nas perspectivas que estas
condições traçam para a promoção atual do ensino de antropologia no
Norte e no Nordeste.
20
MESA 9
Coordenação:
PROCESSOS QUE
DINAMIZAM O
MUNDO SOCIAL NA
CONTEMPORANEIDADE
O BRASIL PÓSMODERNO E SUAS
DINÂMICAS
MESAS REDONDAS
Danielle Perin Rocha Pitta (UFPE)
Participantes:
Arneide Cemin (UNIR)
Rosalira Oliveira (FUNDAJ)
Cláudia Leitão (CE)
Ruy Póvoas (UESC – BA)
Antropólogos e sociólogos atentos às dimensões simbólicas e míticas da
vida social, têm elaborado teorias e métodos capazes de identificar dinâmicas subjacentes à vivência cotidiana. È o caso, por exemplo, de Gilbert
Durand que vai propor a noção de “Trajeto antropológico”, ou de Michel
Maffesoli que vai elaborar a de “centralidade subterrânea”. Esta Mesa propõe elaborar um painel destas dinâmicas levando em consideração: os
diálogos estabelecidos entre diversas entidades míticas, a criação artística, as diversas formas de espiritualidade em ação no Norte/Nordeste do
Brasil.
O “Projeto Cultura em Movimento - Secult Itinerante (20052006): 1001 histórias recolhidas no Ceará adentro e afora,
pela Secretaria da Cultura do Ceará.
Cláudia Leitão
Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará
Todos nós ouvimos histórias, todos nós teríamos histórias para contar. A
narrativa constitui vocação primordial do homem, simbolizando sua astúcia de redesenhar o mundo, refazendo-o ao sabor dos seus sonhos e desejos mais recônditos. Ao descrevermos fatos ou episódios, iluminamos o
vivido com as cores da imaginação. Quando definimos os caminhos de
nossas narrativas nós o fazemos a partir das estruturas do imaginário.
Através do “Projeto Cultura em Movimento: Secult Itinerante”, a Secretaria da Cultura do Ceará, durante dois anos, atravessou sertões, serras e
praias, ouvindo e registrando relatos maravilhosos, capazes de nos fazer
mergulhar em nossas origens, de nos fazer beber em nossas fontes primordiais, revisitando nossas ancestralidades. No chão batido dos terreiros,
nas calçadas das pequenas cidades, nas feiras, bodegas, das selas dos cavalos, o tempo foi “paralisado” a serviço dos contadores de histórias. Todo
povo tem suas “Mil e uma Noites”, afirma a escritora Ana Miranda. Tal
qual as noites de Sheerazade com o rei Shahryar, nossas 1001 histórias
recompõem mitos, reinventam e reencantam o mundo, ora com argúcia,
ora com crueldade, ora com doçura os grandes traços de nossa humanidade. Essa artesania da comunicação, segundo Walter Benjamin, é marca
maior do narrador, que dá sua forma à dor, à morte, aos medos e anseios,
à vontade de Deus, à eternidade.
21
MESAS REDONDAS
Ouvindo uma Terra que fala: dimensões espirituais da ecologia ou dimensões ecológicas da
espiritualidade.
Rosalira dos Santos
Drª em Antropologia. Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
A crise ambiental é também uma crise espiritual e de valores que desafia nosso modelo de civilização. O debate
ecológico coloca em discussão nossa concepção do mundo, de nós mesmos, e, sobretudo, nossa relação com a
natureza. Para responder criativamente a essas questões, é necessária a reconstrução de um pensamento ético
que não separe o ser humano dos outros seres e que incorpore a dimensão de uma Ordem superior ao homem,
de acordo com a qual todos os seres vivos devam ser respeitados. Essa ética vem sendo delineada, através das
reflexões de alguns intelectuais e também da atuação de determinados movimentos sociais. Dentre estes destacamos o Neopaganismo, um movimento religioso no qual a vinculação espiritual com a Terra constitui o cerne da
vivencia espiritual. Essa ressacralização da Terra constitui, a meu ver, um elemento central de enfrentamento da
crise ecológica. Afinal, a repressão ocidental aos pensamentos religiosos que consideram a natureza como
sagrada foi um passo fundamental para o desenvolvimento da sociedade urbano-industrial. É exatamente esse
modelo de sociedade que começa a ser posto em evidência e questionado por diferentes atores sociais, dentre os
quais as diferentes tradições religiosas que se agrupam sob o termo Neopaganismo.
Do Engenho de Santana ao Ilê Axé Ijexá:trajeto de um terreiro
Ruy do Carmo Póvoas
A cidade de Ilhéus, na Bahia, tem quase a idade do Brasil. Ali se localizou um dos mais antigos engenhos de açúcar que
se tem notícia, o Engenho de Santana, que se tornou conhecido de um restrito público especializado em História.
Uma negra escrava que viveu naquele engenho passou sem ser notada pelos historiadores. Trata-se de Mejigã, que no
Brasil foi batizada com o nome de Inês Maria. Oriunda da cidade de Ilexá, onde tinha sido sacerdotisa de Oxum,
Mejigã iniciou uma luta subterrânea para que a religião de seu povo sobrevivesse em Ilhéus. Muitas décadas depois, em
Itabuna, seus descendentes fundaram um terreiro de nação ijexá. Disso resultou um novo olhar na Região Sul da
Bahia sobre a religião do candomblé e as relações de seus adeptos com a sociedade mais ampla.
Sexo, poder e violência homicida contra a mulher na Amazônia: práticas, imaginários e
políticas públicas de Desenvolvimento e Direitos Humanos.
Arneide Bandeira Cemin
Departamento de Sociologia e Filosofia, curso de Ciências Sociais e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
Pesquisadora do Centro de Estudos do Imaginário Social (CEI/UNIR)
Relações sociais violentas e redes de dominação. Enfocando a violência como questão social mundial, Tavares
dos Santos (2002), esclarece que ela diz respeito aos aspectos macros e externos, mas também aos micro-processos internos que reorganizam a vida cotidiana. Argumenta que o fundamento da violência encontra-se inscrita
em nossas formas de racionalidade e define a violência como procedimento racional arbitrário, exercício de
relações sociais de violência, configurando redes de dominação que fundamentam relações baseadas no uso de
força e coerção que causam dano ao outro.
Sexo e família em contextos de “cidadania dilacerada”. Propõe a noção de cidadania dilacerada como modo de
evocação das rupturas provocadas pelos diversos dispositivos produtores de violência e que se considere a
violência como fenômeno cultural e histórico que se exerce física e simbolicamente, requerendo conhecimento
sobre o imaginário social: conteúdo simbólico que fundamenta e sustenta as relações sociais (Maffesoli:1987).
Entre estas relações queremos destacar as relações de contrato sexual e conjugal cujo desfecho é o homicídio,
procurando perceber os padrões e as dinâmicas cotidianas da violência visando subsídios para políticas públicas
de Desenvolvimento e Direitos Humanos.
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MESA 10
Coordenação:
OLHARES
CRUZADOS:
ETNOGRAFIAS DA
EXPRESSÃO
ARTÍSTICA NA
DIÁSPORA
MESAS REDONDAS
Ilka Boaventura Leite
Prof. Dra. Departamento de Antropologia - UFSC
Programa de Pós Graduação em Antropologia - PPGAS
Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas -NUER
A proposta de mesa-redonda Olhares Cruzados (ou Fronteiras Perdidas) constitui modos de conceber e dialogar com a pesquisa antropológica a partir
do olhar de pesquisadores situados em seus trânsitos de lugares e de cruzamentos temáticos sobre a expressão artística. O foco dado à expressão
artística aqui envolve narrativas, música e arte plástica no campo diverso
e transnacional da diáspora, na perspectiva do “Atlântico Negro”. Esta
mesa propõe reunir pesquisadores de diferentes instituições com alguma
incursão de campo e diálogo na esfera internacional, tornando-se um encontro de experiências etnográficas situadas em vários terrenos entre Angola, Brasil, Chicago (EUA), Moçambique e Portugal, por exemplo. Além
de uma perspectiva da análise situada em algumas referências da Teoria
Pós-Colonial, com foco na expressão artística em sua relação com reflexões sobre identidades na contemporaneidade. A proposta desta mesa estabelece também algumas interfaces entre as diferentes pesquisas dos expositores no sentido de propor o diálogo e a reflexão sobre o fazer
etnográfico e as referências à crítica da arte e da cultura.
Olhares de África: lugares e entre-lugares da arte na diáspora
Ilka Boaventura Leite
Prof. Dra. Departamento de Antropologia - UFSC
Programa de Pós Graduação em Antropologia - PPGAS
Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas -NUER
A Arte é um dos lugares de produção da vida cultural contemporânea que
transforma a diferença dentro do discurso, para fazê-la compreensível para
a ação e o pensamento (Marcus & Myers,1995). Assim, os/as artistas podem ser visto/as como uma espécie de mediadores/as entre diferentes
discursos epistemológicos, linguagens estéticas e códigos visuais capazes
de revelar uma parte significativa dos sujeitos contemporâneos e de seus
mundos. Busco apreender e analisar aspectos relativos à produção de imagens e discursos sobre o que vem sendo concebido como “arte africana”
em Portugal, Brasil e Moçambique, enquanto países inseridos em processos históricos correlacionados de construção de discursos sobre a nação.
23
MESAS REDONDAS
A arte do Outro no Surrealismo
Els Lagrou
Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, PPGSA
(IFCS), Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O lugar da chamada “Arte primitiva” na apreciação estética do Ocidente sempre nos revelou mais sobre os
anseios dos apreciadores do que sobre os valores dos criadores dos objetos classificados e coletados sob esta
rubrica. Os Surrealistas foram colecionadores entusiasmados deste tipo de objetos e os tinham em alta estima.
Visa-se aqui lançar um olhar sobre as possíveis diferenças entre o olhar do mainstream Modernista e do movimento surrealista sobre este Outro através dos seus artefatos.
Escritores angolanos, fronteiras perdidas e identidades contemporâneas.
Frank Marcon
Prof. de Antropologia, na UFS
GERTS – Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interetnicas
Jose Eduardo Agualusa, Pepetela e Onjaki sao escritores angolanos contemporâneos, que tem sua obra amplamente conhecida no espaço de língua portuguesa, principalmente entre Portugal, Angola e Brasil e fazem parte
do escopo de minha analise sobre identidades contemporaneas pos-coloniais na perspectiva daquilo que um
deles, Jose Eduardo Agualusa, tem em alguns de seus livros traduzido sob o conceito de “fronteiras perdidas”.
Não apenas o que dizem os autores, mas também os personagens de seus romances possibilitam nosso dialogo
com estratégias de identificação e diferenca num espaço que hora e o da nação, hora e o da esfera transnacional,
como o da Comunidade dos Paises de Língua Portuguesa (CPLP), hora são referencias a africanidades.
Os sons do Atlântico Negro
Carlos Benedito Rodrigues da Silva
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros-UFMA
Análise sobre processo de construção de identidade entre grupos negros na diáspora, refletindo sobre o reggae
jamaicano que atravessa o Atlântico Negro e se espalha em várias regiões do mundo, adotando características
diferenciadas. Concentro minhas análises em grupos negros de São Luis do Maranhão, entre os quais o reggae
se alojou desde os anos setenta, interagindo com as culturas locais. Embora sendo considerado “estrangeiro” por
alguns “defensores das tradições regionais”, o ritmo caribenho adquiriu ali, uma característica particular, pois
mesmo sem compreender seu idioma, uma grande parcela da juventude negra das periferias o define como um
importante elemento de afirmação de identidade.
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Coordenador:
Dr. Adolfo de Oliveira
AUTONOMIAS
INDÍGENAS
CONTEMPORÂNEAS:
DEBATES
INTERCULTURAIS
(Grupo de Pesquisa ‘Questão Social e Assistência Social no Amazonas’, UFAM) [email protected]
Pretende-se trazer ao debate acadêmico a realidade das duas últimas décadas
de relações entre povos Indígenas e Estado e sociedade civil no Brasil: as
autonomias Indígenas e seus protagonistas, os povos e organizações Indígenas
brasileiros. Se para o órgão indigenista federal ‘autonomia Indígena’ é um
estado de coisas que não existe (e que talvez exista no futuro, por graciosa
concessão do Estado), para os povos Indígenas brasileiros as autonomias Indígenas – entendidas como as formas contemporâneas de relacionamento com
estado e sociedade civil, pautadas pelo protagonismo Indígena por meio da
utilização de uma ‘linguagem de direitos’ como meio por excelência de
interlocução com a sociedade englobante - são uma realidade presente em seu
cotidiano nas duas últimas décadas. O debate centra - se nas formas de mediação do estado em vários diferentes países, contanto com profissinais Indígenas e acadêmicos, em busca de uma reflexão crítica centrada na prática Indígena contemporânea.
Autonomias Indígenas contemporâneas e estados nacionais:
ações e reações
Prof. Dr. Luis Eugenio Campos Muñoz
Busca-se discutir, a partir de diferentes exemplos (Mixtecos do México;
Mapuche do Chile) as formas contemporâneas de relacionamento entre
povos Indígenas e estados nacionais na América Latina, com particular
atenção para aspectos relativos à formação de consciências étnicas e sua
relação com as respectivas formas de representação das consciências nacionais, bem como para com o caráter da reação do estado frente às autonomias Indígenas. Busca ainda analisar aspectos distintivos das distintas
Indianidades do continente, em particular seu caráter estético e sua eficácia
simbólica e política.
Mediação jurídica e autonomias indígenas na América do Norte
Patricia Christine Aqiimuk Paul , J.D
A partir da experiência de advogada e juíza indígena no estado de Washington, e de uma identidade esquimó de Alaska por parte da mãe a
partir de uma longa experiência como advogada indígena e juiza indígena,
examina-se as formas de mediação jurídica em relações intercomunitárias,
intracomunitárias e com instâncias do Estado nos EUA. O trabalho com-
25
MESAS REDONDAS
MESA 11
MESAS REDONDAS
para situações indígenas na América do Norte e América do Sul.
Autonomias indígenas no Alto Rio Negro e a mediação do PDPI: Estado e povos Indígenas
na Amazônia
Gersem Baniwa
(doutorando do PPGAS, DAN, UnB)
Apresenta o papel das autonomias indígenas a partir da experiência de secretário de educação de São Gabriel da
Cachoeira e coordenador do PDPI, examinando como a autonomia indígena se configura em níveis diferentes,
desde a representação no MMA em nível nacional, na Secretaria de Educação em nível minicipal, e em nível de
comunidade local, e como as conquistas frente ao Estado se traduzem a partir de um filtro cultural indígena,
neste caso os povos indígenas do Alto Rio Negro e em nível de comunidade, na identidade baniwa.
26
PA I N É I S
PAINÉIS
27
P01
À IMAGEM DA MITOLOGIA: TRAÇOS DA LENDA DO ORIXÁ OBÁ INSERIDOS EM SUA
PERFOMANCE NO XIRÊ E NAS RELAÇÕES SOCIAIS DO TERREIRO OMIN MAFÉ
Aspectos mitológicos se confundem nas relações sociais. Nas religiões afro-brasileiras, por vezes, a definição do
orixá que rege cada adepto também carrega em si a consideração de aspectos psicológicos do indivíduo, além de
conter nos atos do culto fatos que remetem diretamente aos mitos. A partir de um trabalho de catalogação dos
movimentos e das narrativas nas danças dos orixás no terreiro Omin Mafé, localizado no município sergipano
de Riachuelo, pôde-se identificar algumas provocações nesse sentido. Aqui o trabalho baseia-se amplamente na
discussão de Peirano (2000) acerca das concepções de dicotomia entre os conceitos de mito e de rito (sic)
substancialmente constituída por grandes nomes da pensamento cinetífico. A importância de tal fenômeno se
coloca na observação da apropriação pelo culto de mitos que fazem parte da História africana, não se excluindo
aqui a possibilidade de circularidade de alguns desses, e, possivelmente, de uma padronização de certas informações psicológicas e corporais comuns a “filhos” de determinado orixá, apontados ou não pelo direcionamento
do seu dirigente. Aqui utilizaremos o mito do orixá Obá, a fim de traduzir tal possibilidade de apropriação
espontânea. A lenda do orixá Obá relata que esse seria esposo do orixá Xangô. Ao conhecer o orixá Oxum,
Xangô por ele teria se enamorado e teria enfim o tornado seu primeiro esposo. Obá teria ficado bastante
decepcionado, porém teria aceitado tal situação por amar incondicionalmente Xangô. Oxum, orixá da fertilidade e da beleza, também é bastante caprichoso, e em certo dia, ordenou que Obá cozinhasse uma das comidas
que mais lhe agradava. Esse último não atende as ordens e como vingança, Oxum decepa sua orelha direita. No
culto, nas ocasiões dos toques para o orixá Obá, vê-se o “cavalo”, que “montado” por seu orixá, dança com a mão
no lugar da orelha decepada. Quando por vezes, numa mesma festa, os dois orixás incorporados em seus cavalos
se encontram, ainda que em transe, vê-se os dois indivíduos se confrontarem, um dançando empurrando o
outro. Além de tal aspecto, propõe-se aqui a observação da dinâmica social da casa. Baseado na apreensão da
História Oral através de filhos da casa e de conversas informais, coletou-se o seguinte fato: uma freqüentadora da
casa havia se casado com um outro adepto do culto. Esta primeira determinada como filha de Obá, e o marido
como filho de Xangô. Com algum tempo, o casamento se desfez, e o rapaz se enamorou de uma outra freqüentadora
da casa, designada filha do orixá Oxum. Algumas fontes afirmam ainda que o rapaz sempre fora apaixonado por
esta segunda. As duas mulheres aparentemente nunca teriam tido uma relação muito amistosa. Nessa abordagem, apresentamos aqui a possibilidade de “reinvenção” dos mitos africanos na vida cotidiana dos adeptos da
religião, o que poderia ser lido como a essencial presença dos mitos dentro do ritual. Para fundamentar o
trabalho, utilizou-se como referencial, entre outras, as obras: A análise antropológica de rituais(2000), de Mariza
G. S Peirano; Esboço de uma teoria geral da magia(1974), Marcel Mauss; Mitologia dos orixás, Reginaldo Prandi
(2001); Usos e abusos da História Oral (2001), Ferreira e Amado.
P02
A IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA NA REFLEXÃO E ANÁLISE DE MÁRIO
YPIRANGA MONTEIRO SOBRE A CULTURA AMAZONENSE
Ivanilson Barbosa da Costa (UFAM - [email protected]);
Dr. Sérgio Ivan Gil Braga (UFAM – [email protected])
Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004) exerceu importante papel a nível local refletindo as contribuições do
movimento folclorista brasileiro, sobretudo no período de 1930 a 1950. O autor mostrou interesse pelo estudo
de processos sócio-culturais do que convencionou chamar de cultura amazonense, focalizando aspectos históricos e folclóricos da contribuição de índios, negros e brancos na ocupação da região. As interpretações da cultura
amazonense, em certos casos, fundamentaram-se em teorias antropológicas do funcionalismo inglês, com Bronislaw
Malinowski (1976), por exemplo, e no culturalismo americano, em autores como Franz Boas, Ruth Benedict,
Ralph Linton. Nesta comunicação, busca-se reconhecer a importância da pesquisa documental e factual empreendida por Mário Ypiranga Monteiro identificando formas de apropriação da teoria antropológica, posto que o
29
PA I N É I S
Christiane Rocha Falcão - Núcleo de Estudos Afro Brasileiros - Universidade Federal de Sergipe
Martha Sales Costa - Núcleo de Estudos Afro Brasileiros - Universidade Federal de Sergipe
Edmilson Suassuna da Silva - Núcleo de Estudos Afro Brasileiros - Universidade Federal de Sergipe
mesmo lança mão deste recurso teórico e metodológico em diversos textos publicados. Segundo Clifford Geertz
(2002), os trabalhos de antropologia deveriam ser examinados tal como os livros de literatura, posto que, o leitor,
deve considerar o “momento vivenciado pelo autor durante a escrita da obra”. Os “momentos” sugeridos por
Geertz (2002) aplicam-se as obras de antropólogos, no entanto, a partir desta idéia, buscamos identificar “as
teorias” que Mário Ypiranga Monteiro se apropriou para escrever sobre a cultura amazonense. Vilhena (1997)
afirmou que os autores que tiveram vinculação ao movimento folclorista brasileiro assumiam a identidade de
“antropólogo”. As referências à antropologia americana e ao funcionalismo inglês contemplam de modo “implícito” as idéias do autor, tal como propôs Durham (2004) em seu estudo da obra de Malionowski, no que
convencionou chamar de uma “teoria implícita” da cultura. A produção de Mário Ypiranga Monteiro inicia-se
na década de 30 do século passado, segundo Oliveira (1995), nesse contexto existia “uma consciência de país
novo”, onde “a ausência de uma elite educada e conhecedora da realidade do país impedia o desenvolvimento
sócio-político adequado”. No mesmo contexto, Costa (1997) reconhece que as “influências da produção das
grandes metrópoles mundiais que chegavam ao Brasil”, foram “ajustadas e adaptadas” no âmbito regional com
“novos estilos, novas linguagens”.
Palavras – Chaves: Mário Ypiranga Monteiro, antropologia, cultura amazonense
P03
A MENTIRA E A HIPOCRISIA COTIDIANA.
PA I N É I S
Michel Ribeiro de Melo e Silva. Universidade Federal do Pará.
O foco central deste trabalho, é através da leitura de Erving Goffman em “A Representação do Eu na Vida
Cotidiana”, demonstrar como a mentira é um mecanismo cultural de inserção do indivíduo dentro de um
ambiente social coercitivo e excludente, e como consequência desse ambiente social hostil à autenticidade do
Eu cria-se uma necessidade de este se afirmar para si e para os que o cercam. E com o base no que é dito em “O
Jeitinho Brasileiro” por Lívia Barbosa, e apresentado por Roberto DaMatta em grande parte da sua produção
teórica demonstra como a mentira usada no cotidiano do brasileiro torna-se um mecanismo de defesa, expressa
através do discurso e gerando uma incompatibilidade com este, por causa da sua variação de potencialidade e
prática. Através dessa análise é possível de se obter uma percepção aproximada de como se dão as micro-relações
entre os indivíduos e os grupos sociais definidos por estereótipos e fachadas.
P04
A PEREGRINAÇÃO DE NAZARÉ NO BAIRRO DO UMARIZAL EM BELÉM
Mariana Pamplona Ximenes Ponte (UFPa- [email protected])
A peregrinação de Nossa Senhora de Nazaré ocorre todos os anos antes do Círio da mesma santa em Belém. A
ida nas casas, tanto do centro como de bairros periféricos, é realizada por pessoas com vínculos estreitos com a
igreja católica. As paróquias dividem a cidade em áreas e determinam quais comunidades ficam responsáveis por
quais ruas/ bairros. O objetivo foi analisar as visitas feitas num bairro da cidade a fim de observar o fenômeno
e sua relação com as famílias que participam da peregrinação. A pesquisa foi realizada através de revisão bibliográfica — incluindo o conteúdo dos livretos impressos exclusivamente para esta ocasião—, observação participante e entrevistas no bairro do Umarizal que por vários fatores, como a localização, vive intensamente o círio de
Nazaré, portanto participa de forma importante da peregrinação há vários anos. As casas que recebem a santa
têm como padrão familiar a família nuclear, recebem convidados que fazem parte da parentela, a refeição servida
ao fim da reza é recorrente mesmo que a igreja não incentive, a casa bem como o “altar” da santa são organizados
de forma especial. Mesmo o evento ocorrendo dentro das casas não são todos os membros que participam, sendo
freqüente a ausência dos homens. Relatos de anos anteriores relacionados aos participantes, às peregrinações e ao
círio como um todo é recorrente durante a depois da reza. Para a igreja é um importante meio de evangelização, e
para as famílias um importante veículo de adentrar no círio, como num rito de passagem, de iniciar a vivência da
festa, e garantir a sociabilidade, a tradição, bem como sua identificação de família tradicional.
Palavras-chaves: círio, peregrinação, família.
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P05
A RELAÇÃO ENTRE O ARRASTÃO JUNINO DO ARRAIAL DO PAVULAGEM E O SEU
PÚBLICO.
Gabriela da Costa Araújo Universidade Federal do Pará
Durante o mês de junho de 2007 em Belém/PA acontencem costumeiramente, aos domingos, os Arrastões
Juninos do Grupo Musical Arraial do Pavulagem, que consistem em grandes cortejos com o objetivo de resgatar
ritmos e costumes tradicionais da cultura paraense (em que entenda-se cultura como é definido por Roque
Laraia em Cultura: Um Conceito Antropológico) e festejar o período da quadra junina. No decorrer destes
acontecimentos, foi elaborada a pesquisa de campo através de questionários aplicados ao público frequentador
dos Arrastões, e da observação das relações entre o público e o evento em si, e com base nos fatos que puderam
ser apercebidos, foi perceptível a falta de interesse do público pelo resgate cultural e pelo conteúdo folclórico em
si da manifestação que se dá como produto de um processo de pesquisa realizado pelo instituto ligado ao grupo,
com o objetivo de “reavivar” tradições culturais e simbolos folclóricos (de acordo com o que define como
folclore Carlos R. Brandão em O que é Folclore?) da região amazônica. É neste ponto que se concentra a
problemática central do trabalho. O público que frequenta o evento é formado por indivíduos que podem ser
facilmente associados à diversos estereótipos, não demonstrou que vai pelo interesse a sua cultura e sim pura e
exclusivamente pela diversão e pela repercussão do acontecimento. Conclui-se então que o contingente de
pessoas de fato interessadas no conteúdo cultural e folclórico é muito pequeno em relação ao número total de
frequentadores do Arrastão, que chegou a mobilizar no seu primeiro dia algo próximo de 10 mil pessoas pela Av.
Presidente Vargas na capital do Pará.
AMOR MATERNO: REFLEXÕES SOBRE AS REPRESENTAÇÕES E AS EXPERIÊNCIAS
DA MATERNIDADE ENTRE MULHERES DE CAMADAS MÉDIAS EM RECIFE
Érica Cristina de Sá - Universidade Federal de Pernambuco
Michele Bezerra Couto de Lima - Universidade Federal de Pernambuco
Este trabalho procurou realizar um estudo acerca das representações e das experiências da maternidade. As representações maternas dão sustentação ao surgimento de manifestações afetivas (sentimentos e emoções), levando-nos a considerar uma relação de interdependência dos domínios afetivo e cognitivo.Tendo em vista ser as experiências da gravidez,
do parto, da amamentação e do puerpério elementos fundamentais para a construção do amor materno e de uma
identidade feminina, visou-se aqui investigar os conflitos existentes nessas experiências, como também as ideologias e as
representações que explicam as construções identitárias adquiridas pelas mulheres a partir da maternidade. A partir da
aplicação de métodos de pesquisa bibliográfica e pesquisa qualitativa, buscou-se alcançar o objetivo de analisar como se
dá na atualidade a compreensão do corpo, das emoções e os elementos sociais e culturais que possam contribuir com a
construção do ideal do amor materno. Como todas as representações sociais, as representações da maternidade foram
criadas com determinado fim, onde a maternação, vista como agente essencial para construção da psique feminina,
faz com que as mulheres adequem seus sentimentos e emoções, acerca da maternidade, à sua subjetividade feminina.
Na sociedade ocidental moderna, que passou por muitas transformações tecnológicas e comportamentais, poderia se
pensar que as representações tradicionais de mãe pareceriam ultrapassadas, no entanto a pesquisa de campo feita
entre mulheres de camadas médias na Cidade de Recife nos mostrou que as mulheres continuam buscando reproduzir modelos ideais de mãe. Isso nos permitiu visualizar entre estas mães um dos grandes conflitos vividos pela mulher
contemporânea. Ao possuir diversos papéis dentro da sociedade moderna (mulher, esposa, mãe) a mulher procura
conciliar alguns valores modernos, tais como autonomia e individualismo, com alguns valores tradicionais, principalmente os que se refere à divisão de tarefas domésticas, remetendo-lhes a uma vida com muitos dilemas e conflitos.
Diante de tais questões, compreende-se que os sentimentos que surgem nas experiências da gravidez e da amamentação
são elementos fundamentais para a construção do vínculo mãe-filho (a) e levam a uma representação naturalizante
da maternagem. Entretanto, o vínculo mãe/filho é simbolicamente criado a partir da amamentação, ao menos sob
forma lúdica, já de amor ou algo que é dito por ele. Contudo, essas emoções são vistas como partes constituintes da
maternidade e são essenciais para que se possa compreender como se dá a construção do self materno e a significação
da maternidade para as mulheres como meio de construção de uma identidade feminina. BADINTER, Elizabeth
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PA I N É I S
P06
(1985); BEAUVOIR, Simone de (1955); BOURDIEU, Pierre (2003); CADERNOS CEPIA (1999); COSTA, Albertina
de Oliveira; AMADO, Tina (1994); CHODOROW, Nancy (2002); DEL PRIORE, Mary (1995); DUMONT, Louis(2000);
GIDDENS, Anthony (1991/1993).
P07
APRECIAÇÕES E DEPRECIAÇÕES NA MÚSICA BREGA.
Vinícius Rodrigues Alves de Souza; José Rodorval Ramalho (orientador DCS/UFS )
PA I N É I S
A variedade de gêneros da música brasileira já se tornou uma de suas principais características. Cada gênero com
a sua história mais ou menos misturada pela força e criatividade da nossa antropofagia sonora. A música brega
não foge à regra e envolve várias misturas, tais como: o bolero, o samba, a jovem guarda, a música sertaneja e
outros. Nosso estudo tem como objetivo discutir o gênero brega e o porquê da simplificação da música brega nos
discussões teóricas. Para isso analisaremos algumas características da crítica da música brega e seu estilo fragmentário e disperso; sua metodologia superficial e preconceituosa, entendendo a classe média intelectualizada
como protagonista da nomeação e da estigmatização do gênero musical estudado. Demonstraremos a inconsistência do estigma simplista e imposto à música brega como gênero da “dor de cotovelo” e do alheamento dos
problemas sociais fazendo uma análise nos discursos do gênero, tendo como referência a obra de Odair José e
Fernando Mendes. E por fim, apresentaremos dois processos de recepção da música brega, tentando demonstrar
como um gênero musical repercute diferentemente em grupos sociais distintos. O método o qual nos utilizaremos é o método da análise de conteúdo, uma vez que o que objetivamos é apreender os significados dos discursos
dos indivíduos em questão pois nesse método a fala dos atores sociais é situada em seu contexto. Foram utilizados os seguintes recursos metodológicos: entrevistas semi-estruturadas com a classe média intelectualizada e a
classe popular.
P08
ARTESANATO E TRANSFORMAÇÕES: IDENTIDADE DO ARTESANATO INDÍGENA
NA CIDADE DE MANAUS
Rosseline da SilvaTavares - UniversidadeFederal doAmazonas; (Orientador: Raimundo Nonato Pereira daSilva)
A cidade Manaus possui uma população de aproximadamente 1.405.835 habitantes sendo que 952 indivíduos, constituem-se de indígenas. Assim, a cidade torna-se uma referência de populações indígenas do Brasil. Além das informações do IBGE, outras instituições levantaram e mapearam o contingente indígena urbano. De acordo com o CIMI, a
partir de um levantamento realizado em 1996 pela Pastoral Indigenista (2000) a população indígena em Manaus seria
de 8.500 indivíduos. A sobrevivência dessas populações em Manaus possui sérios desafios, pois a interação dos
recursos naturais, provenientes do meio urbano, e os indígenas, já não suprem mais suas necessidades básicas, necessitando de outras fontes para obtenção de recursos. O número de pessoas que trabalham fora, geralmente é limitado.
Em grande parte das famílias, o chefe da casa é assalariado mas ainda sim, sua renda é irregular e por conta dessas
situações, mais da metade desse contingente, volta para sua comunidade de origem. A tentativa de estabilidade
econômica, através do vínculo empregatício tipicamente urbano tenderia a afastar os índios dessa prática
tradicional, mesmo que não exclusivamente indígena. O artesanato configura-se como uma fonte de renda
importante para a sobrevivência dessas populações no perímetro urbano. A matéria-prima utilizada e alguns
artesanatos já prontos vêm principalmente do Alto Rio Negro, Região do Baixo Amazonas e Região do Alto
Solimões4. Muitas das peças, reconhecidas tradicionalmente, por suas características específicas de determinada etnia, vem se transformando ao longo do tempo. Algumas peças vêm recebendo outro tipo de matériaprima, adquirindo novos significados, ao entrarem nas relações comerciais na cidade. Grande parte dos vendedores são os próprios artesãos, logo, nos leva a chegar a um denominador comum: a matéria prima pode até vir de
longe, mas as peças são produzidas aqui. A partir da compreensão do discurso de alguns indígenas, há dois tipos de
artesanatos confeccionados por eles: um indígena e o não indígena. O artesanato dito como indígena, segundo o
próprio artesão, é aquele que se aproxima do que seja o tradicional (com a matéria-prima específica da região
étnica) e o não indígena, seriam as peças do cotidiano urbano, ainda que as mesmas (peças) sejam confeccionadas
com a matéria-prima do lugar de origem. Outros discursos contrariam a opinião de que exista um artesanato “que
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não seja indígena”, feitos por mãos indígenas, pois, segundo um dos entrevistados (indígena), se o artesão é
indígena, logicamente seu artesanato ou qualquer tipo de produção artesanal, será indígena. A problemática da pesquisa, não se encontra no “ser ou não ser” indígena, e sim no estudo de suas transformações ao longo do tempo, e
principalmente, ao longo da migração para a cidade de Manaus, na tentativa de compreender o contexto e a dinâmica da
vida dessas populações indígenas que moram na cidade e da sua projeção do cotidiano através da cultura Material.
Palavra Chave: Identidade – Artesanato – Transformações
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AS ATITUDES E RELAÇÕES SOCIAIS ENTRE OS FREQÜENTADORES DAS FESTAS
DA APARELHAGEM “O GUERREIRO TUPINAMBÁ”.
Lela Caroline Arantes Mesquita – Universidade Federal do Pará (UFPA)
Objeto e objetivo - O sucesso do movimento bregueiro, no âmbito regional e nacional, impulsionado pelas
aparelhagens, levantou questionamentos a respeito do quê os freqüentadores esperam de si e dos outros durante
a festa, sendo assim, essa pesquisa procura analisar as atitudes e relações sociais entre os freqüentadores das
festas da aparelhagem “O Fantástico guerreiro Tupinambá”, analisando, também, o papel do Dj principal na
festa. Metodologia - Como recurso metodológico, emprega-se pesquisas de campo, observação participante nas
festas, em diferentes níveis de casas de show e entrevistas semi-estruturadas levando em conta gênero, idade e
nível social dos entrevistados. Resultados e conclusões - O presente trabalho está em fase de pesquisa e por esse
motivo, não se pode esboçar um resultado final ou uma conclusão.
AS JOVENS PROSTITUÍDAS CASA DE ZABELÊ – SOCIOPOETIZANDO OS CONCEITOS
SOBRE O CORPO.
Gianne Carline Macedo Duarte (UESPI – Universidade Estadual do Piauí – [email protected])
O objetivo geral do projeto da iniciação científica, fomentado pelo programa PIBIC – UESPI é analisar a relação
entre a teoria especializada e os conceitos produzidos pelas jovens prostituídas da Casa de Zabelê em Teresina/PI,
sobre o próprio corpo. O Programa Casa de Zabelê – Programa de atendimento a meninas em situação de risco –
começou a ser elaborado em 1994, através de um convênio firmado entre a prefeitura de Teresina, o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Ação Social Arquidiocesana de Teresina (ASA). Os objetivos específicos que darão condições para atingirmos a análise final, por sua vez, são o de criar condições de aproximação
entre mim, a bolsista e a entidade que trabalha com jovens prostituídas, no caso a Casa de Zabelê, em Teresina-PI
para as devidas negociações que são as de acordar com a parte administrativa e pedagógica da entidade e o de
realizar oficina de negociação com as jovens prostituídas para a formação do grupo-pesquisador. Em seguida,
faremos a seleção e a vivência das técnicas que serão utilizadas na pesquisa com essas jovens de modo que se torne
possível a criação de conceitos filosóficos para o tema-gerador O que é o corpo. O método de pesquisa a ser
utilizado será a Sociopoética, pois nos permitirá refletir sobre o corpo da jovem prostituída em relação ao que
pensam sobre o próprio corpo. Diante da nossa investigação, percebemos que a parte referente à revisão bibliográfica deverá continuar especialmente no que se refere às categorias juventude, corpo e prostituição. A pesquisa
bibliográfica dará o suporte aos objetivos, instrumentalizando a pesquisa, bem como, fundamentando teoricamente
a análise dos dados. Ressaltamos que a parte da pesquisa empírica será iniciada no segundo semestre de 2007, na
Casa de Zabelê, onde já realizamos, em um primeiro momento, a negociação com a parte administrativa que
aceitou a pesquisa. Não podemos deixar de enfatizar que durante este processo faremos, também, a análise dos
dados bem como a contra-análise – momento que permitirá aos co-pesquisadores conhecer, confirmar, retificar, reexaminar e, especialmente, contrapor-se às idéias dos facilitadores (orientador e orientando), tornando mais precisas as nossas reflexões. Por fim, faremos à análise filosófica sobre os achados das análises classificatórias e transversais. Ao final da pesquisa, realizaremos a socialização para a comunidade, científica e em geral, juntamente com os
co-pesquisadores, as jovens prostituídas da Casa de Zabelê.
Palavras-chaves: corpo, sociopoética e juventude.
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“BOM DIA SENHORES PASSAGEIROS!” A FEBRE DOS VENDEDORES AMBULANTES
NOS COLETIVOS DE BELÉM.
PA I N É I S
Eduarda Romélia Trindade de Souza (Universidade Federal do Pará- [email protected])
Objeto e objetivos: A pesquisa trata-se de uma abordagem baseada no mercado informal de Belém do Pará.
Dentro desse mercado, uma nova manifestação desta economia informal vem se alastrando de uma maneira
acelerada que são os vendedores ambulantes que trabalham dia-a-dia nos coletivos da cidade. A pesquisa teve
como finalidade fazer um apanhado econômico-social sobre essas pessoas que sobrevivem através da venda de
variados produtos que vão, por exemplo, desde balinhas até a venda de acrobacias feitas por malabaristas com
objetos perigosos. Buscou-se investigar o modo de vida social dessas pessoas que tem como renda a efetivação desses
produtos dentro dos coletivos onde, segundos os próprios vendedores, dizem ser mais prático tanto para eles, que
entram em inúmeros ônibus para vender seus produtos se tornando assim mais rápidos, quanto para as pessoas que
viajam nos coletivos, no qual, segundo os vendedores, aceitam os produtos em busca de comodidade. Metodologia:
A pesquisa foi realizada com observação participante, foram feitas entrevistas com os vendedores em pontos
estratégicos utilizados por eles, e também o acompanhamento em seus itinerários, além de pesquisas bibliográficas
e pesquisas em informações sobre o assunto na Internet. Nas entrevistas, foi utilizado um roteiro padrão que servia
de base para a interação com esses vendedores, no qual se acercavam de indagações pessoais, econômicas, culturais
e sociais, além de câmera fotográfica e gravador para a complementação das entrevistas. Foram realizadas 10 (dez)
entrevistas no centro de Belém como nas principais avenidas, praças e paradas de ônibus, na qual servem como
ponto de encontro para esses trabalhadores. Resultados e Conclusões: A pesquisa realizada pode estabelecer entre
os ambulantes dos coletivos pontos semelhantes e pontos distintos. Foi possível concluir que todos os personagens
da pesquisas são pessoas que trabalham pelo seu sustento a de suas famílias e que acabaram buscando essa opção
por falta de oportunidades acessíveis no mercado formal. Os planos por um futuro melhor, a inclusão no mercado
de trabalho com todos os benefícios trabalhistas, são características universais presentes nos discursos de todos os
entrevistados, apesar de alguns verem estas como planos futuros bem distantes e outros como um plano futuro
bem próximo.
Palavras-chave: mercado informal, transportes coletivos, vendedores.
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CAVALHADAS DE PIRENÓPOLIS: RELIGIÃO, TURISMO E POLÍTICA EM CENA.
Fabíola Silva Gomes - Universidade de Brasíl ia (Aluna bolsista do Programa de IC do CNPq)
Na pequena cidade histórica de Pirenópolis (GO), a principal atividade econômica é intensificada durante o mês de
maio: na Festa do Divino Espírito Santo, em especial durante as Cavalhadas, milhares de turistas viajam para a região.
Uma vez que esse ritual tornou-se o ponto alto da festa, tem-se ali um momento privilegiado para observar o sentido
que os moradores dão ao seu envolvimento com as festividades. A afluência de turistas urbanos - em busca do
consumo da celebração religiosa e das paisagens exuberantes do entorno da cidade - incide sobre a vida local: i)
aumentando o número de postos de trabalho, na atividade que emprega a maior parte da mão-de-obra disponível e ii)
inflamando a performance dos políticos regionais, os quais vêem nos turistas uma ponte para serem notados dentro
e fora da cidade. O presente trabalho busca investigar a forma como é construída essa teia de relações envolvendo
turistas, moradores e políticos e de que modo a política se dá entre essas diferentes pessoas. O trabalho consiste em
pesquisa de campo através do método etnográfico, no qual se investiga, mediante observação participante, as questões
expostas acima. Durante a pesquisa etnográfica também temos investido na produção de documentação audiovisual,
com intuito de proceder à análise iconográfica que deverá contribuir para a apreensão de aspectos importantes de
nosso objeto. O trabalho etnográfico, compreende regulares idas a Pirenópolis, com o devido registro das informações
obtidas em diários de campo, desde setembro de 2006. Material em folhetos, publicações e periódicos locais e entrevistas gravadas têm sido igualmente recolhidos. Os resultados obtidos até o momento indicam que os turistas e os
moradores, reunidos no momento da festa, movimentam o que poderíamos chamar de economia política local. A
pesquisa em Pirenópolis demonstra que a Política – como disputa e invenção de poder – pode estar nas Cavalhadas e
no próprio Turismo.
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CIDADANIA E COMUNIDADE: PRÁTICAS COLETIVAS DA ASSOCIAÇÃO FEMININA
DO BAIRRO GUARANI NA CIDADE DE UBERLÂNDIA – MG
A ênfase deste trabalho está nas práticas coletivas da Associação Feminina do Bairro Guarani – AFEGU (associação
totalmente apartidária, sem fins lucrativos que visa o bem da comunidade e ainda, que se afirma como uma
associação majoritária e legalmente feminina) e, conseqüentemente, no bairro Guarani, situado no setor oeste
da cidade de Uberlândia - MG. Nessa perspectiva, portanto, almeja-se dar visibilidade, primeiramente a um
bairro periférico da cidade que abriga uma associação que visa antes de tudo o “bem familiar”( Expressão
cunhada pela presidente da AFEGU (Cláudia Andréa Santana) ao referir-se à função da associação). Entendendo-se que este “bem familiar” se aplica não só à necessidade de famílias específicas, mas sim a uma família
chamada: comunidade do bairro Guarani. Pretende-se ainda, observar como questões referentes à cidadania e,
por conseguinte à comunidade, são vivenciadas na prática, ou seja, perceber como certos atores sociais através de
uma coalizão institucional definem e classificam problemas de ordem prática, além de analisar os princípios e
necessidades que norteiam estes atores ao engajamento nestas práticas coletivas, bem como verificar a lógica do
discurso que dispõem. Para isso parte-se de autores clássicos da Antropologia Urbana internacional (George
Simmel, Robert Park, Louis Wirth) e brasileira (Gilberto Velho), utiliza-se expressões como rede de resolução de
problemas práticos do historiador Linderval Monteiro (historiador), contextualiza-se movimentos sociais (Ruth
Cardoso), associações de moradores (Sérgio Pechman) e também se trabalha com noções de comunidade, cidadania, coletividade, discurso moral, implícitas nestes e em outros autores. A investigação propõe num primeiro
momento, pesquisa e revisão bibliográfica acerca de teóricos da Antropologia Urbana, combinadas a um estudo
sobre o processo de urbanização e desenvolvimento da cidade de Uberlândia e do conjunto habitacional em
questão. Em seguida, procede-se com o trabalho de campo, o qual, inicialmente se dividirá em duas fases; em
meio aos moradores do bairro Guarani e a AFEGU, mediante a elaboração e aplicação de questionários fechados, entrevistas abertas, captação de histórias de vida e memória oral, registros fotográficos e em vídeos enfim,
um processo de inserção através da observação participante. O trabalho se realizará ainda, através de uma
pesquisa sobre o tema em jornais, revistas e circulares. Desta forma, cumpre dizer, que este estudo possibilitará
não só uma investigação das práticas coletivas de uma associação específica, mas também, perceber como estas
práticas são recebidas pela comunidade, quem as legitima ou repudia; delineando-se assim uma nova perspectiva
para a concepção de cidadania e comunidade. Concluindo desta forma, ser inquestionável uma investigação em
torno de discussões tão atuais, as quais devem ser esmiuçadas a fim de se tornarem visíveis e representativas.
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CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS E CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS:
UMA UNIÃO QUE GEROU FRUTOS. CRIAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA FÍSICA.
Fernanda Maria Vieira Ribeiro (Universidade Estadual Vale do Acaraú – [email protected])
Objeto e objetivos: Proponho neste trabalho analisar o funcionamento e a organização estrutural, política e
pedagógica do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Estadual Vale do Acaraú – Sobral/CE,
fazendo uma análise histórica do CCH; e do projeto de criação do Curso de Graduação em Ciências Sociais,
como se deu o seu desenvolvimento dentro dos parâmetros do projeto, e as mudanças na prática de ensino e
pesquisa. Além disso, tratei de aspectos como: a interação entre os cursos existentes no Centro de Ciências
Humanas; as dificuldades sofridas dentro da problemática do ensino superior; uma abordagem analítica sobre a
direção do centro, suas perspectivas e seus projetos; dentre outros. Essa pesquisa encontra-se em andamento,
pretendendo analisar o novo projeto do curso, que está em fase de conclusão, e acompanhar o desenvolvimento
deste em pratica. Metodologia: Estudo de documentos como regimento do centro e projeto do curso; pesquisa
teórica sobre uma abordagem geral das universidades (organização e relações políticas); pesquisa metodológica
com autores como Florestan Fernandes e Roberto Cardozo de Oliveira; pesquisa de campo e entrevistas semiestruturadas com professores, coordenadores e diretor; avaliação estrutural do centro através de observações.
Resultados e conclusões: Através das analises pude perceber que o Centro de Ciências Humanas não possui o
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Maria Carolina Rodrigues Boaventura e Profa. Dra. Alessandra Siqueira Barreto
Universidade Federal de Uberlând ia – UFU/MG
suporte necessário para os cursos existentes, possui um espaço físico bom, mas precisam ser investidos recursos
para a construção de mais laboratórios e salas de aula, como também restauração e ampliação de espaços
existentes. O curso de ciências sociais não ajusta a prática docente à proposta curricular definida no projeto, mas
desde janeiro desse ano está sendo posto em pratica um novo projeto curricular, que tenta solucionar os problemas existentes no projeto de criação do curso.
Palavras-chaves: infra-estrutura, organização, graduação em ciências sociais.
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DIREITO AO DESLOCAMENTO E AO CONSUMO DE LUGARES NA CIDADE: RELAÇÕES
DE SOCIABILIDADE E LAZER ENTRE SUJEITOS DE CULTURA POPULAR EM MANAUS
Rodrigo Pollari Rodrigues
PA I N É I S
A comunicação tem como propósito compatibilizar o estudo do transporte coletivo e de lugares voltados para o
lazer na cidade de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil. Lugares enquanto objeto de “consumo” para sujeitos de
cultura popular que moram em diferentes bairros desta cidade. Para isso, considera-se relevante observar o
deslocamento realizado por esses sujeitos aos finais de semana e os lugares apropriados para as suas práticas
culturais de lazer. A ênfase teórica recai sobre o enfoque da antropologia urbana, utilizando diferentes autores,
entre os quais, Magnani (1991), que utiliza a categoria “pedaço” enquanto espaço de sociabilidade e vivência da
cultura popular no contexto urbano. São evidenciadas para investigação duas linhas de ônibus da cidade, que
ligam bairros de Manaus a equipamentos ou logradouros públicos orientados para o lazer. No espaço interno do
próprio ônibus e nos lugares destinados ao lazer, busca-se interpretar regras, aspectos formais e formas de
sociabilidade estabelecidas pelos dos sujeitos de cultura popular nesses espaços. Para coleta e interpretação de
dados, tomamos como referência o que Henry Lefebvre (1991) convencionou chamar de um direito à cidade (à
circulação, liberdade, socialização, habitação, etc) e também a noção de um “desvio ao direito à cidade” (à festa,
ao lazer, à natureza e diferentes formas de fruição dos sujeitos, enquanto desconto do cotidiano).
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“ENTRE A FÉ E A FEBRE”: A FOTOGRAFIA RELIGIOSA COMO MEIO DE
INTERATIVIDADE SOCIAL ENTRE OS FOTOGRAFADOS E O “OBSERVADOR
PARTICIPANTE” GUY VELOSO
Fabíola Corrêa da Costa Oliveira (Universidade Federal do Pará – UFPA; fabiolajornal [email protected])
O registro imagético da incondicional fé entre alguns grupos religiosos do Norte e Nordeste brasileiro, realizado
pelo fotógrafo paraense Guy Veloso, tem como objetivo mostrar os limites febris da fé em imagens preto e
branco com caráter de obras de arte. Ele estuda as manifestações por meio de referências bibliográficas e coleta
de dados, para posteriormente dirigir-se às localidades em datas específicas – como a Quaresma - a fim de
realizar um trabalho etnográfico com entrevistas, fotos e filmagem. Usa a máquina analógica modelo Leica M6 e lente Leica Summilux 35mm F1.4. Os filmes p&b são o T-Max 100 Professional Kodak e T-Max 400. Toda
a documentação é catalogada junto com os objetos de demonstrações de fé que é presenteado, tal é a coroa de
espinhos e a “disciplina”. A máquina fotográfica funciona como um contrato social entre fotógrafo (o observador participante) e os fotografados, e as imagens são o que John Collier Jr (1973, p.18) chama de “can-opener”:
literalmente um “abridor de lata” na relação entre os atores do processo. A pesquisa durou oito anos até se
concretizar na exposição fotográfica “Entre a fé e a febre”, realizada entre dezembro de 2006 a janeiro de 2007,
em Belém-PA. O presente trabalho foi realizado por meio de entrevista com o fotógrafo, observação das imagens
e pesquisa a referências bibliográficas, e tem o objetivo de compreender a relação por meio da fé entre Guy e os
atores. O resultado é uma percepção imagética relativizada mais apurada da autora. As imagens, silenciosas,
plenas e poderosas, exploram um mundo além da percepção visual, numa tentativa de retratar a fé em seus
limites. Elas remetem para um universo pouco conhecido: o mágico, o sagrado. A força imagética dos retratos
que ao mesmo tempo revelam e ocultam, transportam o “leitor – observador” para além da sua dimensão.
Palavras- chave: Fé; fotografia; observador participante.
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FESTIVAIS E GRUPOS FOLCLÓRICOS NA CIDADE: DIVULGAÇÃO DE ÓRGÃOS OFICIAIS
E DA IMPRENSA DA (DES) CONHECIDA CULTURA POPULAR DE MANAUS
Antonio Felipe de Carvalho Limeira
O projeto de pesquisa tem como propósito o estudo de manifestações da cultura popular em Manaus, focalizando festivais e grupos folclóricos da cidade. Trate-se de identificar as formas de divulgação promovidas por órgãos
oficiais municipais e estaduais, além da imprensa de grande circulação, de diferentes “danças dramáticas”,
envolvendo aspectos musicais, coreográficos, teatrais e dança propriamente dita, conforme expressão sugerida
por Mário de Andrade (1982). Os grupos folclóricos que constituirão objeto de pesquisa envolvem os seguintes
gêneros artístico-culturais: cirandas, quadrilhas, bois-bumbás, danças de cangaço, cacetinhos etc. Deve-se considerar as apresentações realizadas por esses grupos no âmbito do bairro e em “centros culturais” da cidade, com
vistas a avaliar a expressão cultural dos mesmos e a divulgação promovida pelos meios de comunicação. Também
constitui objetivo do projeto, identificar Mestres de cultura popular e outros produtores e divulgadores dessas
manifestações, com vistas a reconhecer as dificuldades enfrentadas por esses sujeitos em dar visibilidade à sua
produção popular, cujas informações poderão ser obtidas no contexto de produção cultural e nos mecanismos
utilizados para evidenciarem os seus propósitos de divulgação e avaliar, em que medida, a divulgação de suas
manifestações é importante para os grupos folclóricos pesquisados. O que se quer, em última instância, é reconhecer as formas de promoção e divulgação da cultura popular em Manaus, fazendo a crítica das fontes ou
mecanismos de divulgação, posto que o tratamento dispensado a cultura popular, a título de hipótese, não tem
levado em conta as formas de produção e vivência dos próprios sujeitos de cultura popular.
IMAGEM E SOCIEDADE: UMA FOTOETNOGRAFIA NUMA COMUNIDADE RURAL DA
AMAZÔNIA.
Haydeé Márcia de Souza Marinho - UFPA Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/UFPA.
O que cada grupo social elege para fotografar é o que considera digno de ser solenizado. Refletindo sobre as
questões de subjetividades e alteridade foi desenvolvida uma pesquisa utilizando a fotografia como um instrumento de diálogo, na Comunidade do Cumarú – Ig-Açú, em 2004, nordeste paraense, da Amazônia. Que
corroborou e dinamizou a pesquisa de campo etnográfica inscrita na técnica definida como fotoetnografia, que
objetivava investigar o esfacelamento e a reprodutibilidade dos estabelecimentos familiares, o registro das técnicas e tecnologias de produção da agricultura familiar na comunidade. A metodologia do trabalho é baseada na
sistematização de informações, primeiramente, referente aos croquis dos estabelecimentos familiares do banco de
dados do projeto Shift-sócio-economia/NAEA. No segundo momento, a ida, semanalmente, durante os meses de
maio, junho e julho de 2004, para o campo da pesquisa é desenvolvida através da observação participante, valendonos de uma técnica da antropologia visual denominada de fotoetnografia. Assim, a estratégia da pesquisa foi
dinamizada, seguramente, com entrevistas feitas com fotografias que funcionou como um instrumento dialógico,
de registro da memória social, dinamizando a pesquisa de campo a partir de um princípio importante da técnica
fotoetnográfica, a devolução do retrato fotográfico pelo pesquisador ainda em campo. O retrato fotográfico como
um objeto de medição intercultural, troca simbólica e restituição possibilitou a circulação de imagens fotográficas dentro da comunidade. Assim, as informações sobre a propriedade rural, estabelecimentos familiares, herança e casamento eram trocadas, simbolicamente, na ocorrência da devolução do retrato fotográfico pelo pesquisador. Podemos afirmar que a Comunidade Cumarú têm na patrifocalidade a reprodutibilidade técnica e social do
estabelecimento familiar (de 25 hectares), que se esfacela com a reprodução rápida da unidade familiar que se
fixa no mesmo estabelecimento do pai, ocasionando a pressão demográfica e o desgaste do solo, ou mesmo a
desestruturação da unidade familiar. Um sistema social que envolve relações entre parentes e não parentes entre
3 troncos familiares, a Carneiro das Chagas, os Gomes da Silva e os Britos, constituindo-se a árvore genealógica
desta comunidade amazônica.Trabalhar a imagem fotográfica num campo etnográfico é estabelecê-la como um
objeto de mediação intercultural, que para o antropólogo é um olhar fotoetnográfico nas relações que se desen-
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cadearam em campo que lhe traduz a decisão de um determinado recorte da realidade presente e, fotógrafo e
antropólogo (visual) sabem disso. Pois, a fotografia deve convergir para uma informação, sobretudo cultural, para
se entender de sobremaneira a feitura e a leitura de imagens através de um olhar crítico e interpretativo sobre
comunidades, grupos sociais e sociedades humanas.
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IMAGINÁRIO NOS CONTOS ORAIS NO VALE DO JURUÁ
PA I N É I S
Dra. Selda Vale da Costa (UFAM)
Jordeanes do Nascimento Araújo (Graduado-UFAM)
As expressões orais da literatura traduzem a representação maior da psicologia coletiva de um povo. Os contos
e suas diversas expressões em seus processos de transmissão preservam na oralidade a existência de usos, costumes, pedagogias, normas morais, éticas e preceitos advindos de um imaginário secular. Ao contar, o narrador é
um espírito livre para criar, modificar espaços, sofisticar enredos, incorporando novos personagens, possibilitando por meio da flexibilidade da oralidade inovações imprevisíveis. A pesquisa buscou perceber, através da
análise estrutural das dez narrativas orais coletadas, os processos de produção do imaginário no Vale do Juruá, ao
mesmo tempo em que buscou compreender as construções simbólicas presentes nessas narrativas e como elas
representam conceitos de organização social, religião e leis morais (DURAND, 1982, 1997), (ARIAS, 2OO2) e
(LOUREIRO, 1995). Utilizando a epistemologia da hermenêutica cultural de GEERTZ (1989), o estruturalismo
de LÉVI-STRAUSS (1975, 1989), a teoria da ação comunicativa de HABERMAS (1996) e a sociolingüística,
tentou-se compreender o significado e o aspecto lingüístico das narrativas orais junto aos narradores idosos dos
municípios de Guajará-AM, Ipixuna-AM e Cruzeiro do Sul-AC: “João Acaba Mundo”, “O Carrasquinho”, “João
de Calais do amor sem fim”, narrados por Adalgisa Nascimento, 67 anos, aposentada, moradora de Guajará;
“Março-Marçal, Barro vermelho-laranjeiral”, “Touro Azul”, transmitidos por Terezinha Isidoro do Nascimento,
46 anos, doméstica, moradora de Guajará; “Borbolectus”, narrado por Adalgiso Barbosa Gurgel, morador de
Eirunepé; “Água do pássaro da vida”, por João Rodrigues de Oliveira, aposentado, residente em Cruzeiro do SulAcre; “História do Mapinguari”, relatado por Ibianez Batista, aposentado, morador de Guajará; “Suru-Babão”
transmitido por Anizia Machado, aposentada, moradora de Ipixuna, e “O casal”, narrado por Tereza Gomes,
agricultora, moradora de Ipixuna. Através da análise antropológica conseguiu-se perceber nos dez contos orais
analisados que o imaginário juruaense está reconstruindo estruturas míticas, ou seja, incessantemente ele está
disseminando três tipos de narrativas, uma de matriz nordestina (ex. João Acaba Mundo), outra composta de
elementos amazônicos (ex. História do Mapinguari) e por último, uma narrativa onde comporta tanto fragmentos da cultura amazônica quanto resquícios da cultura nordestina (ex. Borbolectus). Nesse sentido, reconhece a
existência de um imaginário mestiço no Vale do Juruá. Além disso, as narrativas podem está resistindo a um
sistema de dominação, de ordenação do mundo via uma razão instrumental, nesse caso, percebe-se a força de
uma razão comunicativa nos contos orais que revela a existência de uma organização social reforçada pela
religião. Por outro, percebe-se que os contos analisados, em seus universos simbólicos ao construir sistemas
organizacionais e processos de sociabilidade, utilizam-se dos símbolos para denunciar regras morais, sociais,
religiosas e processos educacionais, que são transmitidos ainda hoje nas escolas como ação pedagógica em
municípios como Guajará e Ipixuna, no Amazonas.
Palavras-chave: cultura, imaginário, narrativas orais, Amazonas.
Colaborador: Ms. Giancarlo Stefani-(UFAM)
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JOVENS DE “VILA PESCOÇO”: A VOZ DA JUVENTUDE CONSTRUINDO CIÊNCIA DE
SUAS FRAGILIDADES
O estudo foi realizado no Município de Tefé-AM, em um dos bairros pobres e marginalizados: Nossa Senhora de
Fátima conhecido como “Vila Pescoço”. Neste local vivem indivíduos em condições precárias de sobrevivência,
convivendo com a criminalidade, pobreza, prostituição, dentre outros. O objeto desta pesquisa são jovens com
idade entre 15 e 21 anos, moradores do bairro, estudantes, filhos de agricultores e de pais separados. O objetivo
deste estudo foi compreender qual é a visão da população jovem do referido bairro a respeito de seus problemas,
seus enfrentamentos e as expectativas de soluções, visando contribuir com a participação dos jovens na construção do conhecimento sobre as fragilidades que caracterizam a condição juvenil nos dias de hoje. A pesquisa
realizou-se em 2006, com os métodos de história de vida e etnografia, entrevistas e conversas informais. Os
sujeitos desse estudo foram três jovens, dois do sexo masculino e um do feminino, escolhidos a partir das
observações e conversas informais, respeitando os critérios de idade, sexo, grupos de amigos e local de encontro,
condições de moradia. No final dos relatos cada entrevistado refletiu sobre seus problemas e a maneira como
enfrentam. A visão que os jovens possuem sobre seus problemas concentra-se na falta de um local de lazer no
bairro; na falta de empregos para ajudar na renda familiar; aos conflitos familiares, especialmente intrigas de
enteados com padrastos ou madrastas; e marginalização dos jovens do local. Seus enfrentamentos se dão através
de improvisos, pois para se divertir, jogam baralho, dominó, futebol, reúnem-se em grupos para conversar,
brincadeiras tradicionais ou inventadas por eles mesmos; quanto ao trabalho, valem-se de pequenos serviços
atuando como ambulantes, agricultores ou empregadas domésticas; as intrigas são resolvidas com a saída do
jovem para a casa de um parente por algum tempo; a marginalização é enfrentada com a mobilização da família,
com a comunidade e por vezes com o policiamento e conselho tutelar. Entre suas expectativas está a construção
de um local de lazer pelo poder público; conclusão do ensino básico para conseguir um bom emprego; sair de
casa; acompanhamento dos pais, constância das ações da polícia e conselho tutelar. Dentre os resultados, chama
à atenção a distância entre as avaliações da pesquisadora, e dos entrevistados sobre seus problemas e a maneira
de enfrentá-los. Na visão da pesquisadora, os jovens necessitam de mais educação escolar e melhor ética familiar:
acredita que pais e escolas mais presentes resolveriam o problema da sua marginalização. Já na visão dos jovens,
o maior problema é a falta de lazer, considerando que é a causa de todos os problemas que sofrem. Tais resultados tendem a mostrar que a visão que temos sobre os problemas da juventude é diferente da deles, e é fundamental o esforço para compreender essas diferenças tecendo um diálogo em que os jovens são tomados como sujeitos
e não “alvo” das políticas públicas e científicas.
Palavras-chave: Juventude, Problemas, Expectativas.
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LAZER, ESPAÇO E IDENTIDADE: MOSTRA PARCIAL DO INVENTÁRIO DOS GRUPOS
FOLCLÓRICOS DE MANAUS.
Maísa Elaine Arruda Fernandes; Alvatir Carol ino da Silva
Eder de Castro Gama; Mauro Augusto Dourado Menezes
O Festival Folclórico do Amazonas (2007) completou 51 anos de realização na cidade de Manaus, reuni anualmente cerca 170 grupos entre quadrilhas, cirandas, tribos, danças nordestinas e bois-bumbás, filiados em quatro
associações. O registro mais antigo dessas manifestações nas ruas de Manaus, é de Ave-Lallemant (1859) que
descreve a cantoria e o batuque, as cores, as luzes, os personagens, a dança, a coreografia e a peça dramática de
um boi não real. Buscou-se compreender as relações sociais nos diferentes grupos e a vinculação identitária
deles aos espaços da rua e do bairro, no período que antecede as festas do ciclo junino, nos locais de ensaios e
nos festivais de bairros. As informações foram complementadas por entrevistas qualitativas, registros fotográfi-
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Fabriciana Dantas Moraes (Universidade do Estado do Amazonas-UEA/Centro de Estudos Superiores
de Tefé CEST/Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas-FAPEAM – E-mail:
[email protected]).
Guilherme Gitahy de Figueiredo (Universidade do Estado do Amazonas/Centro de Estudos Superiores
de Tefé/ Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Ama zonas – E-mail: [email protected]).
cos e levantamento bibliográfico no Igha, Biblioteca Pública Estadual e acervos particulares, nos meses maio e
junho. Oliveira (2003) sugere que “compreender o espaço urbano significa identificar não apenas os mecanismos que colocam em funcionamento o sistema social, mas também as várias dimensões por meio das quais o
sistema social se espacializa na cidade”. Os locais de ensaios de grupos folclóricos, os diversos festivais folclóricos nos bairros e o próprio Festival Folclórico do Amazonas podem ser tratados como “mancha de lazer”
conforme Magnani (2000), pois neles se concentram práticas de lazer e sociabilidade, uma vez que esses espaços
oferecem parque de diversões, barracas de jogos, barracas de venda de bebidas e comidas, e palco para apresentações dos grupos. O Festival Folclórico do Amazonas é o ápice da inter-relação dos grupos folclóricos de
Manaus, na medida em que o mesmo consegui envolver a maioria dos grupos folclóricos da cidade, reforçando
a necessidade de revalorização do folclore que, segundo Maria Mira (2000) se torna cada vez mais uma instância
turística, servindo de vitrine para culinária, para o artesanato e até mesmo para religiosidade local.
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MEMÓRIA E IMAGINÁRIO NO MUNDO URBANO CONTEMPORÂNEO: DIÁLOGOS
COM VELHOS TAXISTAS NA CIDADE DE BELÉM (PA)
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Pedro Paulo de Miranda Araújo Soares (UniversidadeFederal do Pará – [email protected]);
Dr. Flávio Leonel Abreu da Silveira – Orientador (Universidade Federal do Pará – [email protected])
A cidade de Belém vem passando por um complexo processo de modernização nos últimos 50 anos. Dessa
forma, é importante considerar as representações e interpretações dos atores sociais os quais vivenciaram essas
modificações e reconfigurações do espaço urbano belemense. O presente trabalho busca então coletar narrativas
de velhos moradores da cidade a fim de compreender melhor a dinâmica das transformações das paisagens
urbanas de Belém durante a última metade do século XX. Na realização da pesquisa, o trabalho volta-se para um
profissional em especial: o antigo taxista. Acredita-se que tal personagem possa ser uma rica fonte de narrativas,
na medida em que seu ofício implica o constante exercício do deslocamento pelo espaço urbano e um conhecimento especial sobre o mesmo em função da constante interação com os passageiros e com as próprias vias da
cidade. Para a realização do trabalho lançar-se-á mão da metodologia antropológica, ou seja, aposta-se no convívio prolongado com os sujeitos estudados, bem como a utilização de entrevistas abertas com o intuito de registrar
narrativas sobre as modificações da paisagem, causos curiosos e, especialmente, visagens. De modo a realizar uma
etnografia por imagens, também será utilizada a máquina fotográfica para registrar o cotidiano profissional dos
taxistas.
Palavras-chaves: memória, imaginário, espaço urbano.
P23
MOBILIDADE AFRICANA NO VALE DO COTINGUIBA: DISCURSOS E ESTRATÉGIAS
DE SOLIDARIEDADE E DIFERENÇA.
Aline Ferreira da Silva, Universidade Federal de Sergipe
Daniela Moura Bezerra, Universidade Federal de Sergipe
Williams Souza Silva, Universidade Federal de Sergipe
A história do Brasil é uma história eurocêntrica. Estudiosos, porém, têm questionado os fatos tidos como
acabados e apresentado outras formas de se ver as questões sociais. Baseado nisto, desenvolvemos a pesquisa cujo
tema é Mobilidade Africana no Vale do Cotinguiba: discursos e estratégias de solidariedade e diferença, cujo objetivo é, a
partir da investigação de diversos tipos de documentos encontrarmos meios de chegarmos às vozes dos escravos
africanos, denominados, muitas vezes, simplesmente como “de nação”, na documentação oficial, procurando
reconstruir suas trajetórias, a partir de documentos ainda não explorados suficientemente e que nos permitam
perceber seus discursos de identidade. Para que essa análise fosse possível, recorremos a jornais do século XIX,
cartas de alforria, livros da Alfândega, documentos da Câmara Municipal, inventários e testamentos.
Palavras-chave : Identidade, africanidades, etnicidade.
40
P24
MODA E ETNICIDADE: DINÂMICA RELACIONAL NO PROCESSO DE VALORIZAÇÃO
DO “ÉTNICO”
Adla Viana Lima (UFBA – [email protected])
P25
MULHER TRABALHA OU AJUDA: RELAÇÕES DE GÊNERO NO SISTEMA PRODUÇÃO
NA COMUNIDADE SÃO FRANCISCO DO PARAUÁ, NA COSTA DO CANABUOCA,
MANACAPURU/AM.
Dr. Iraides Caldas Torres-UFAM Orientador (a)
Luana Mesquita Rodrigues-UFAM Bolsista
Nas populações rurais da Amazônia as mulheres possuem um papel social importante na organização do trabalho e da
economia doméstica. O homem é responsável pelas atividades de caca e pesca, enquanto que às mulheres cabem os
encargos da casa, limpeza do roçado, a capinação e a feitura da farinha. A agricultura é uma atividade realizada por todos
os membros da família, sendo em grande parte, exercida pela própria mulher. O trabalho das mulheres rurais é uma
questão difusa no imaginário social, até mesmo no âmbito da sociologia do trabalho esta questão não está totalmente
resolvida. É assim que a indagação central que presidiu esta pesquisa, consistiu em saber, se a mulher trabalha ou
ajuda. O estudo buscou verificar as clivagens de gênero presentes nas relações sociais dos moradores da comunidade
São Francisco do Parauá, colocando em visibilidade a divisão sexual do trabalho como um elemento central de
exploração da mulher no sistema produtivo. A comunidade São Francisco do Parauá está localizada à margem do rio
Solimões há 35 km da zona urbana de Manacapuru. Trata-se de uma comunidade de várzea com habilitações de estilo
palafita dispostas linearmente ao longo da margem do rio. O trabalho de campo foi realizado utilizando a técnica de
entrevista do tipo semi-estruturado dirigido a moradores homens e mulheres, lideranças locais, masculinas e femininas, além do professor e o agente de saúde da comunidade perfazendo um total de 14 pessoas. Utilizamos também a
técnica da etnografia para descrever com precisão o cotidiano de uma unidade familiar. Constatou-se que as mulheres
são os sujeitos centrais do sistema produtivo familiar, elas não só participam das atividades de agricultura, feitura de
farinha, criação de pequenos animais domésticos, organização do puxirum, como também participam das reivindicações sociais organizadas pelas associações da comunidade.Concluiu-se que, apesar da sobrecarga do trabalho das
mulheres, elas não se vêem exploradas. O trabalho fora de casa é visto como uma atividade subsidiária ao trabalho do
homem, elas próprias admitem que somente ajudam o marido para contribuir com a economia familiar. Poder-se-ia
dizer que as mulheres figuram como um elemento de apoio, mas extremamente necessário ao sistema produtivo, o que
confirma a importância do seu trabalho e o sujeito central que são na economia doméstica.
Palavras-Chave: Relações de gênero, Amazônia, Trabalho
41
PA I N É I S
O painel pretende apresentar a discussão sobre a valorização dos elementos culturais étnicos no campo da moda,
sobretudo do patrimônio imaterial e étnico de povos tradicionais, no caso aqui, dos índios Pataxó Meridionais. O
campo da moda e estilismo baseia muitas de suas produções em pesquisas relacionadas às práticas artesanais
tradicionais, e muitas vezes usando o termo “étnico”. Essa relação interétnica formulada no uso desse patrimônio
em coleções de roupas e desfiles de moda constitui um dos aspectos de discussão da pesquisa, que surgiu a partir do
trabalho desenvolvido no projeto “Tradições Étnicas entre os Pataxó no Monte Pascoal: subsídios para uma educação diferenciada” (que visa preservar e difundir o patrimônio imaterial Pataxó, aprovado no programa Petrobrás
Cultural) através do qual foi possível que eu fizesse levantamentos – em trabalho de campo recente, com visita,
etnografia, e registro fílmico e fotográfico de 14 aldeias indígenas pataxó – e, posteriormente, já com intenção de
levantar dados etnográficos para tal, a visita ao evento Fashion Rio. Neste último foi analisado o desfile da estilista
Márcia Ganem, cuja grife leva o mesmo nome, escolhida pelo fato de ter apresentado na edição de 2000 o desfile
da coleção “Juacema”, que apresentou forte influência de elementos indígenas Pataxó, e no qual foi declamado um
poema sobre tal grupo étnico. Essas iniciativas trazem consigo a possibilidade de discussão sobre o capital simbólico, cultural e econômico, no sentido de entender a valorização do que é exótico aos olhos. O foco principal da
discussão parte da noção de patrimônio cultural, em termos gerais, considerando o ponto de vista nativo e, sobretudo, a construção identitária étnica e sua relação com o não étnico.
Palavras-chaves: moda, etnicidade, relações interétnicas
P26
MÚSICA POPULAR AMAZONENSE
PA I N É I S
Mauro Augusto Dourado Menezes - Graduando de Ciências Sociais. Bolsista de Iniciação científica (CNPq)
no projeto de pesquisa “Música popular amazonense”, com orientação do Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga.
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga - Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal
do Amazonas, do Programa de Pós-graduação Sociedade e Cultura e do Programa de Pós –Graduação em
Sociologia da Universidade Federal do Amazonas. Pesquisador da FAPEAM e do CNPq.
A música popular amazonense (MPA), produzida em Manaus desde meados da década de sessenta do século
passado, é caracterizada pela presença em suas letras de temas característicos da região amazônica, enfatizando
o cotidiano do homem mestiço caboclo, indígena, o homem da cidade, os migrantes e outros motivos que
inspiram músicos e compositores a produzirem música. Uma característica peculiar desta música é o uso de
múltiplas expressões e termos regionais, presentes tanto no meio urbano como no interior, entre os quais:
“banzeiro”, “curumim”, “leseira”, e etc. Observa-se também que a MPA se apropria de temas associados às
manifestações folclóricas locais e regionais. Neste caso, não raro retoma antigos refrões de músicas folclóricas
associados às letras das músicas, como também a outros gêneros musicais não folclóricos, como a bossa-nova,
samba, xaxado, etc. A fim de fixar aspectos característicos dessas práticas folclóricas, muitas vezes vivenciadas
pelos próprios compositores e músicos, mas também na exaltação das festas folclóricas correspondentes ao mês
de junho, como bois-bumbás, entre outras, com propósitos de conferir a tais composições uma suposta “autenticidade” cultural amazônica. O que nos sugere um diálogo com os ideais modernistas da década de trinta, sem
deixar de reconhecer influências de movimentos musicais nacionais como a Bossa Nova e a Tropicália na MPA,
que se ocuparam dentre outras coisas, com a problematização da identidade nacional do Brasil. Dessa forma,
identificando a música popular como expressão de cultura popular e, que a relação entre a arte e a cultura pode
assinalar a incorporação de processos sócio-culturais locais e regionais, a “MPA” seria um “movimento” ou
manifestação cultural que distingue a produção musical do Amazonas e por meio da qual afirmam-se valores e se
coloca em debate, em poesia e em música, a vivência do homem amazônico.
]Palavras-chave: Cultura Popular, Música Popular, Antropologia Urbana
P27
MÚSICOS “CAFONAS” DE TERESINA/PI E SUAS REPRESENTAÇÕES SOBRE O
MOMENTO DITATORIAL BRASILEIRO
Fernando Muratori Costa (UESPI – Universidade Estadual do Piauí – [email protected])
O problema que este estudo se propõe a desvendar é como era a percepção relativa ao momento ditatorial vivido
nesse período dos músicos do estilo “cafona” em Teresina, entre 1968 e 1978 que, segundo Paulo César de
Araújo, foi o período em que este estilo fez mais sucesso, com as mais altas vendagens do mercado fonográfico,
tentando sempre desmistificar a visão que ainda hoje é forte na sociedade brasileira de que a música “cafona” é
uma música feita por artistas “alienados”, que não estão preocupados com a realidade brasileira. Muitos trabalhos foram escritos sobre a música na ditadura militar, inclusive sobre a produção musical piauiense, contudo,
não tenho notícia de nenhum trabalho que fale sobre o estilo “cafona” ou “brega” em Teresina, sobretudo com
a proposta adotada, que é trabalhar o estilo em sua concepção de relação com o sistema político. Para alcançar
o objetivo de identificar as percepções dos artistas do estilo “cafona” em Teresina no final da década de 1960 e
início da década de 1970 acerca do momento ditatorial vivido no país, já foi feito um levantamento da bibliografia. Contudo, com o início da pesquisa propriamente dita este levantamento deve ser ampliado, seguido da
leitura e fichamento das obras selecionadas com o critério de afinidade com o tema Músicos “cafonas” de Teresina
e suas percepções sobre o momento ditatorial brasileiro (1968-1978). A pesquisa bibliográfica será mais intensa na
primeira fase do trabalho, entretanto, ela continuará até o encerramento do trabalho, dada a possibilidade de
surgir alguma obra do interesse deste estudo em desenvolvimento. No momento da coleta de dados, será necessário o uso de algumas ferramentas e noções da pesquisa histórica. Será feita, a princípio, uma pesquisa exploratória
para localizar as fontes. Em seguida, para o êxito na pesquisa trabalharei com a oralidade, a memória e a análise
do discurso. No entanto, este não é um trabalho específico de História Oral. Também serão analisadas letras de
composições do período de autoria de músicos teresinenses, de acordo com a atual perspectiva historiográfica, que
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trata os textos, sejam escritos, falados, pintados, esculpidos ou de qualquer outra natureza, não mais como testemunhos, mas como discurso, passando de uma perspectiva ingênua de absorção de informações para uma outra que
procura analisar com vários critérios distintos, entre eles a época e o contexto em que o discurso foi produzido,
procurando ler as entrelinhas do processo.
Palavras-chaves: ditadura, música e popular.
P28
NA MARGEM DA SOCIEDADE: NOTAS ETNOGRÁFICAS SOBRE PERCEPÇÃO DE
RISCO E VIOLÊNCIA POLICIAL ENTRE A TPS E O TRAFICANTE DE DROGAS EM UM
CONTEXTO URBANO.
No contexto atual da Globalização, tornam-se mais visíveis novas “profissões” que, dentre outros motivos, são
frutos do desemprego estrutural e da falta de oportunidades. È o caso das TPS profissionais do sexo (TPS) e do
tráfico de drogas em contextos urbanos. Este trabalho objetiva conhecer a percepção de risco e o entendimento
de características culturais próprias de grupos sociais que compartilham do mesmo problema: a marginalidade
de sua condição frente à sociedade. Para isso, utilizaram-se pesquisas de abordagens etnográficas anteriores
realizadas pelos autores, com TPS profissionais do sexo e com um traficante de drogas de um bairro residencial,
ambas realizadas na mesma capital de um estado brasileiro. Ao longo de 6 meses, os autores se debruçaram no
universo sócio-cultural destas pessoas e utilizaram as técnicas de coleta de dados etnográficos para conhecerem
a percepção de vida e seu cotidiano, a fim de entender sua relação com a marginalidade e os riscos à saúde
provenientes disso. Apesar de possuírem características próprias e pouco semelhantes, tais grupos compartilham
dos problemas proporcionados pelo fato de não se inserirem na ótica moral do discurso vigente no senso
comum e legal, como a relação ambígua com policiais e o constante risco de exposição à violência e a dependência de drogas ou hormônios/silicone. Estes segmentos sociais argumentam que se expõem a esses riscos por
necessidades de sobrevivência, o que leva a concluir que é preciso a implementação de políticas públicas de
redução de riscos e de conscientização destas pessoas em relação a uso de hormônios/silicone ou contrair
doenças sexualmente transmissíveis, no caso das TPS, e medidas de conscientização e de reorganização das
oportunidades de emprego e renda, mediante a precarização do trabalho no atual estágio da Globalização e o
desemprego estrutural, no caso de jovens que se iniciam no tráfico de drogas. Portanto, traçar as características
culturalmente compartilhadas e compara-las servem de análise para que se possam tomar medidas culturalmente sensíveis à realidade dessas pessoas, contribuindo, assim, para o entendimento dos riscos percebidos por estes,
a fim de elaborar políticas e práticas de saúde que se aproximem das condições características das TPS, bem
como buscar medidas que melhor regulamentem o funcionamento do arcabouço policial no combate ao tráfico
de drogas.
Palavras-chaves: Percepção de risco, violência, saúde
P29
“NOVAS CENTRALIDADES DA CULTURA POPULAR NA CIDADE DE MANAUS:
MANIFESTAÇÕES FOLCLÓRICAS COMO MEIO DE SOCIABILIDADE E APROPRIAÇÃO
DE LUGARES NO ESPAÇO URBANO.”
Ellen da Silva Fernandes.
Profº. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga - Universidade Federal do Amazonas
A comunicação refere-se a resultados parciais da pesquisa de práticas de cultura popular vivenciadas hoje no
espaço urbano de Manaus, em especial no Bairro da Cachoeirinha, com vistas a identificar lugares em que a
população se reúne para realizar “festas” e manifestações folclóricas. O termo folclore é aqui tomado em sua
acepção “nativa”, enquanto sinônimo de cultura popular para sujeitos que tomam parte nessas manifestações
culturais, tais como: quadrilhas, cirandas, bois-bumbás, danças de cangaceiros, cacetinhos e outras mais. Cons-
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PA I N É I S
Gustavo Ribeiro de Araújo (Instituto de Saúde Coletiva/UFBa – [email protected])
Aílton da Silva Santos (Instituto de Saúde Coletiva/UFBa – [email protected])
Rosana Santos de Araújo (Universidade Federal da Bahia – [email protected])
tituem objetivos da pesquisa: identificar lugares dentro do bairro onde são promovidas e concentradas as manifestações culturais ou folclóricas, reconhecendo a influência do poder público e evidenciando equipamentos
próprios construídos pela população local, destinados às manifestações culturais; identificar e conhecer políticas públicas municipais e estaduais voltadas para a realização das festividades folclóricas tanto a nível da cidade
em geral como o reflexo dentro do próprio bairro da Cachoeirinha, interpretando tais práticas culturais na
perspectiva de ritos ou espetáculos característicos dos sujeitos de cultura popular; reconhecer de que forma essa
manifestações folclóricas estão presentes no cotidiano das pessoas, que tipo de relações de sociabilidade elas
proporcionam para aqueles que a vivenciam, e como tais laços de sociabilidade podem se expandir e se consolidar cada vez mais a partir de relações estabelecidas com base nas práticas culturais. A pesquisa se desenvolve
através de observação participante, com o intuito de descrever as manifestações folclóricas dentro das centralidades
identificadas no bairro da Cachoeirinha na cidade de Manaus. Utiliza-se também entrevistas, registros de conversas informais realizadas durante os ensaios e acompanhamento de eventos. O que se observa por exemplo é
a criação de equipamentos pela própria população, como é o caso da Quadra da Escola de Samba Andanças de
Ciganos, da Quadra da Rua General Glicério, a própria Rua Carvalho Leal que servem de locais para ensaios e
festividades, possibilitando redes de sociabilidade no próprio bairro.
P30
O DIA DA NOIVA: RITO E MAGIA NUMA PRÁTICA DE EMBELEZAMENTO CORPORAL
PA I N É I S
Sandro Rabelo de Freitas - UFMG
Este projeto pretende relacionar os conceitos antropológicos de corporalidade e festa tomando como exemplo
empírico o “Dia da Noiva” - prática culturalmente instituída nos salões de beleza brasileiros. Nessa prática se
busca proporcionar à noiva a beleza, a segurança e o bem estar necessários para a transição que marcará
definitivamente sua vida, segundo o discurso nativo. Considerando-se a cerimônia de casamento enquanto rito
de passagem, o trabalho de campo deve fornecer dados sobre a condição da noiva na situação limiar imediatamente anterior à celebração do casamento, que marcará seu novo status social. As técnicas e os instrumentos de
produção de uma noiva, ou do corpo da noiva, são observadas levando-se em conta o aspecto mágico que eles
estão investidos ao realizarem, no corpo, a transformação necessária para a iniciação. O trabalho etnográfico,
feito em salões de beleza de Belo Horizonte, está fundamentado nas teorias sobre rito e casamento de Turner,
Van Gennep e Westermarck, além de contribuições preciosas de autores que trabalham com temas como estética, corporalidade e magia.
P31
O TABULEIRO DE SENHORA SANTANA: UMA FESTA, VÁRIOS CAMINHOS
Martha Sales Costa (UFS – Universidade Federal de Sergipe- [email protected])
O trabalho em questão parte de um exercício etnográfico realizado em Julho de 2006 ,observando o ritual de
uma festa nagô em homenagem a Nossa Senhora Santana e o Orixá Nanã no Povoado São Braz, município de
Nossa Senhora do Socorro, onde o culto nagô permanece vivo, mantendo suas especificidades, a partir de sua
auto-identificação como tal. Esse exercício nos proporcionou a oportunidade de reflexão acerca do conjunto de
símbolos mediadores da compreensão desse grupo inserido em um país cheio de contradições, como também de
sua forma de legitimação, no sentido que Rita Amaral aborda. A festa traz assim em suas cores, alimentos,
linguagem, calendário, cantos, símbolos, os traços que se atribui a uma origem africana e traços originários do
ritual da Igreja Católica, marcados pelo sincretismo construído ao longo dos anos e que, conforme observamos,
é perfeitamente justificado e legitimado pelo grupo estudado sem qualquer referência ou preocupação em relação à “pureza nagô” que segundo Beatriz Góes Dantas, várias produções acadêmicas se encarregaram de construir em seus estudos acerca das religiões afro-brasileiras. Através de uma metodologia com observação participante, registros escritos e fotográficos e entrevistas abertas, descobrimos um universo mítico, ritualístico, sincrético,
sagrado e também profano de importante integração social, um prazer que a Antropologia ainda pode encontrar
ao estudar as representações e desvendar toda simbologia envolvida.
Palavras-chaves: festa, ritual, nagô
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P32
“PAIS” OU “PATRÕES”? UM ESTUDO SOBRE “CRIAS DE FAMÍLIA” NA AMAZÔNIA
Luísa Maria Silva Dantas
P33
PAISAGENS LIMÍTROFES: RELAÇÕES SOCIAIS NO ESPAÇO URBANO EM DOIS
MOMENTOS DO BAIRRO CENTRO EM BELÉM.
Ionaldo Rodrigues/UFPA – [email protected].
Objeto e Objetivos: É possível visualizar o centro histórico e comercial da cidade de Belém como um espaço de forte
contraste entre diferentes tipos de sociabilidade e de fluxos de ocupação em suas ruas e casarios antigos. Toda a lógica
de mercado presente durante o horário comercial imprime no espaço uma ocupação voltada para uma negociação
tensa do ambiente urbano, então disputado por consumidores, vendedores ambulantes, comerciantes e demais atores
sociais. Fora do horário comercial as ruas ficam esvaziadas e outras formas de convívio são tramadas entre os atores
que permanecem mantendo relações de trabalho e de vizinhança. Nos dois momentos a dinâmica social impõe
diferentes “paisagens” a um observador que percorra esse espaço durante as duas temporalidades aqui citadas. O
trabalho objetiva uma interpretação sociológica das “paisagens” citadas anteriormente a partir da analise do perfil dos
diferentes tipos de ocupação do bairro da Campina no que toca a produção da sociabilidade e do imaginário nas duas
temporalidades (horário comercial e noturno), buscando compreender as implicações políticas que a predominância
do atual tipo de ocupação comercial produz na fisiognomia (Bolle, 2000: 40 & Chaves, 2003: 179) do Bairro. Metodologia:
O projeto contou em seu desenvolvimento com pesquisa bibliográfica e de campo. Desdobramos as idas a campo na
produção de material imagético, fotografias artesanais produzidas no espaço da pesquisa (de 2004 a 2007). Realizamos a pós-produção e a análise das fotografias do lócus da pesquisa, assim como entrevistas com moradores,
trabalhadores, consumidores e demais ocupantes das ruas do centro comercial. Através do índice fotográfico
propomos o diálogo com a reflexão de Georg Simmel sobre o caráter blasé enquanto estratégia de adaptação da
subjetividade do individuo frente ao domínio do entendimento e da economia monetária na trama social da cidade.
Simmel nos indica que “A essência do caráter blasé é o embotamento frente a distinção das coisas” (2005: 581), esse
movimento nos parece essencial para o contraste que a fisiognomia do horário comercial e noturno revelam. Resultados e Conclusões: O marcante processo de degradação física e simbólica em que o centro histórico e comercial da
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PA I N É I S
Este trabalho surge para a compreensão de um arranjo familiar historicamente corrente na cidade de Belém-PA
e as possíveis desigualdades sociais nele encontradas, dentro do quadro mais amplo das formas de família entre
nós. Para evidenciar, ainda, a presença dessas mulheres que não possuem uma nomeação especifica no interior
das famílias, relacionando com sexo, origem e classe social. Trata-se de um trabalho antropológico que busca
aplicar a alteridade, tornando interessante e surpreendente uma prática tão familiar na sociedade paraense, mas
não necessariamente conhecida sociologicamente. O estudo é centrado nas “crias de família”- que é um rótulo
designativo de referência de terceiros, uma categoria encoberta – personagens muito freqüentes nos arranjos
familiares paraenses, em sua maioria mulheres, negras ou não-brancas, advindas de pequenas cidades do interior
do Estado, que vêm para a casa de uma família em Belém em busca de melhores condições de vida. Caracterizadas por uma posição ambígua na família, já que, ora são tratadas como “parentes” e ora como agregadas ou
domésticas, dependendo da situação. Ainda em andamento, o estudo pretende descobrir a história de vida de
mulheres que se adequam à categoria “cria de família”; investigar como o fato de elas terem sido criadas longe
dos pais biológicos é interpretado por elas com relação ao desenrolar de suas vidas; identificar como elas
compreendem a família, a forma como foram criadas e tratadas e se elas continuam reproduzindo essa prática
adotiva; se não, interpretar o porquê; analisar a origem dessas mulheres, de onde a maioria advém, fazendo
relação com a classe social a que pertenciam e a classe social de sua “nova família”; perceber a relação – quando
existe – da mãe genitora com a “mãe de criação”; notar a relevância do fator cor da pele e a predominância do
gênero feminino em todo o processo. Para a apresentação do painel no congresso pretende-se divulgar os casos
preliminares da pesquisa. A pesquisa bibliográfica sobre a temática contemplada no projeto permeará todas as
etapas do trabalho até a construção do relatório final. As pessoas que participarão deste estudo serão mulheres
que apresentem os pré-requisitos condizentes com a pesquisa. Embora não se esteja descartando a participação
de homens.
cidade de Belém está inserido possui em nosso ver um significativo correspondente na unilateralidade da ocupação
comercial frente a outras potencialidades adormecidas na temporalidade noturna. Período em que a iluminação
artificial dos postes revela a um flâneur desavisado os rastros da cena do local de um crime (Benjamin, 1991:240). A
esse flâneur, aqui sujeito e objeto da presente pesquisa, não restam dúvidas da pertinência das palavras de Walter
Benjamin sobre as ruas de comércio do seu tempo: “O comércio e o tráfego são os dois componentes da rua. Ora,
nas passagens, o segundo está praticamente extinto; o trafego aí é rudimentar. A passagem é apenas rua lasciva do
comércio, só afeita a despertar os desejos. Mas como nesta rua os humores deixam de fluir, a mercadoria viceja em
suas bordas entremeando relações fantásticas como um tecido ulcerado – O flâneur sabota o tráfego. Ele também
não é comprador. É mercadoria.” (2006: 85)
P34
PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E A COMUNIDADE DE SANTA CRUZ DOS MARTÍRIOS – PA.
PA I N É I S
Liliane Carrera Barbosa (Universidade Federal do Pará-UFPA-l il [email protected])
A comunidade de Santa Cruz dos Martírios, localizada próxima ao parque Estadual Serra dos Martírios /Andorinhas, no sudeste do Estado do Pará é o destaque abordado, pois este parque apresenta um rico patrimônio
arqueológico, porém não se sabe que tipo de relação à comunidade estabelece com esses sítios arqueológicos,
necessitando assim identificá-la, para realizar uma estruturação de educação patrimonial e ambiental voltada
para área.
Essa comunidade, por ser formada fundamentalmente por imigrantes, denota uma região marcada pela pluralização
das culturas e pela formação da identidade, já que está é vista sempre como algo que vai se moldando através do
contato com o outro. Logo, é importante levar em conhecimento dessa comunidade local, que será exercido um
conjunto de ações de educação, principalmente patrimonial, permitindo que as pessoas deste local possam ser
sensibilizadas sobre a importância histórica do passado e a necessidade de preservar o patrimônio arqueológico,
ou seja, os sítios de cerâmicos e de arte rupestre. Contudo, é necessário compreender que a educação também é
um processo cultural e que qualquer ação nesse sentido, junto ás populações circunvizinhas aos sítios arqueológicos, são intervenções em sua realidade sociocultural, portanto, requerem um processo de percepção cultural.
Por isso, esse processo foi realizado com a comunidade de Santa Cruz dos Martírios, por meio da aplicabilidade
de um roteiro sistemático de entrevista de percepção socioeconômica e cultural. Além, de entrevistas abertas
para o registro de depoimentos e narrações; observação do comportamento dos moradores e a relação que eles
exprimem com os sítios arqueológicos. Participaram destas entrevistas as mais diversas pessoas, para uma eficaz
análise dessas informações. Depois de um estudo etnográfico realizado com essa comunidade local, e com a
metodologia da pesquisa-ação, resultados completos servirão para subsidiar a elaboração de um programa de
educação para o patrimônio arqueológico e ambiental.
Palavras-chaves: patrimônio arqueológico, comunidade local, educação.
P35
POVO GUERREIRO: A LUTA COTIDIANA NAS NARRATIVAS DE HISTÓRIA DE VIDA
DE TEFÉ - AM
Prof. Msc. Guilherme Gitahy de Figueiredo ([email protected]).
Centro de Estudos Superioes de Tefé da Universidade do Estado do Amazonas – CEST/UEA
Objeto e objetivos: O objetivo é levar Tefé (AM), cidade do Médio Solimões com 70 mil habitantes, a estudar sua
cultura popular através de entrevistas de histórias de vida, propondo-se a análise de como a população constrói
suas próprias histórias e, nessas narrativas, o que são “problemas”, e como são enfrentados. O conceito de
“cultura popular” inspira-se na formulação de Michel de Certeau, para quem ela não se define pelo consumo,
mas pela produção constituída pelos usos que o povo dá aos bens e símbolos da cultura dominante, apropriandose e recriando-se a partir de seus próprios valores e interesses. Espera-se produzir documentos históricos, fortalecer a auto-estima e o pensamento reflexivo da população, iniciar estudantes na pesquisa, e buscar o conhecimento tradicional sobre o que são problemas sociais e como a população os enfrenta. Metodologia: Cerca de
300 alunos de história, geografia e normal superior, divididos em grupos de 2 ou 3, já entrevistaram mais de 100
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pessoas de variadas idades, gêneros e camadas sociais. As equipes foram convidadas a colher inicialmente o
relato mais espontâneo possível, e em seguida direcionar perguntas para a temática dos “problemas” e como o
entrevistado lida com eles. Realizaram observações, colheram fotos e documentos. Resultados e conclusões: Já
foram apresentados mais de 100 seminários e relatórios de pesquisa com os registros, reflexões metodológicas e
análises das equipes. Estão surgindo, assim, 3 camadas de interpretação: a construção narrativa dos entrevistados
da cidade, a construção da pesquisa pelas equipes de estudantes, via de regra também tefeenses, e as interpretações do pesquisador coordenador. A produção dos entrevistados e equipes, na forma de relatórios, estão sendo
armazenados e espera-se montar um arquivo e um site onde possam ser disponibilizados a pesquisadores e ao
grande público. O coordenador já apresentou resultados da pesquisa no Seminário Internacional Cidades da
Floresta, realizado pela UFPA em Belém entre novembro e dezembro de 2006, e na reunião nacional da SBPC
em julho de 2007. O trabalho tem propiciado o fortalecimento da reflexão e da auto-estima: as situações de
emoção e debate que geram mostra que os tefeeses não estavam acostumados a produzir suas histórias de vida.
Os traços mais marcantes são a construção das trajetórias por entrevistados e equipes enquanto modelos de
comportamento, nos quais se valoriza as contribuições para a comunidade e a perseverança no enfrentamento
dos problemas individuais. A pesquisa está ajudando a renovar a ética do povo “guerreiro”. Estão emergindo
também novos problemas teóricos: se o trabalho de pesquisa não pode ser dissociado da produção de valores
sociais e, na medida em que a população é capacitada em técnicas de pesquisa, que impacto isso pode ter na
renovação de seus valores?
POVOS DO CERRADO E PESCADORES: AS LIÇÕES DA TRADIÇÃO
Lidiane Maria Maciel, graduanda de Ciências Sociais Universidade Federal de São Carlos/
[email protected]
Maria Inês Rauter Mancuso, Universidade Federal de São Carlos, SP, Brasil/[email protected].
Arlete ( Graal-MG)
Ana Paula Glinfskoi Thé, Universidade de Montes Claros MG Brasil.
Alison Macnautgton, Word Fisheries Trust, Victoria BC, Canada
Sarah Bryce, Word Fisheries Trust, Victoria BC, Canada
Este estudo tem como objetivo geral, analisar a visão de mundo de uma líder de um movimento ligado aos povos
do cerrado, visão contextualizada pelas relações estabelecidas entre pescadores e coletores de frutos do cerrado
e entre dois municípios do Médio Rio São Francisco. O depoimento foi obtido no início de 2007, por ocasião
da pesquisa de avaliação do projeto Pesca Continental no Brasil: modo de vida e conservação sustentável, financiado
pela CIDA – Agência de Desenvolvimento Internacional do Canadá, o qual fundamentou um acordo bilateral
Brasil - Canadá. A área de abrangência projeto foi o Alto e Médio Rio São Francisco. Trabalhou-se com a
população ribeirinha em especial pescadores artesanais de rio residentes nos municípios de Três Marias, São
Gonçalo do Abaeté (Bairro Beira Rio), Buritizeiro, Várzea da Palma (distrito de Barra do Guaicuí), Pirapora e
Ibiaí. Pelo depoimento percebe-se uma visão de mundo centrada em relações intermediadas pela troca de produtos - peixes e frutos - e pela “mesa” (o padrão de alimentação) que vão se alterando conforme o peixe se torna
raro e se encarece e as relações, pari passu, vão deixando de ser altruístas e se tornam cada vez mais individualistas. O depoimento destaca formas de se perceber o cerrado, como um ambiente cujos frutos devem ser compartilhados entre o homem, os animais e as espécies vegetais e, nessa comunhão, o aproveitamento dos frutos do
cerrado como alternativas econômicas de sobrevivência. Demonstra também a dimensão educativa de um projeto de pesquisa-ação, na medida em que foi, no contexto dessa pesquisa, que a depoente foi percebendo o
complexo das múltiplas relações no qual se insere seu trabalho e também foi ressignificando, pela memória, as
lições da tradição.
Palavras - chave: desenvolvimento comunitário, memória, tradição.
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PA I N É I S
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REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE TERRITÓRIOS REMANESCENTES DE QUILOMBOS
NO ESTADO DO MARANHÃO
PA I N É I S
Fernanda Lucchesi (INCRA/ SR-12 (MA) – [email protected])
Objeto e objetivos: O painel pretende apresentar e analisar os dados referentes à regularização fundiária dos
territórios das comunidades de remanescentes de quilombos no estado do Maranhão. Em 20 de novembro de
2003, o é promulgado o Decreto nº. 4.887 que regulamentou o procedimento para titulação dos territórios
remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o Artigo n.º 68. A partir de então, a titulação passou
a ser de competência do INCRA. Em 24 de março de 2004, foi publicada a primeira norma interna de regulamentação para a titulação desses territórios. Desde julho de 2004, foram abertos 132 processos na SR-12 sem
que, entretanto, nenhum dos territórios tenha recebido o título definitivo de suas terras. Apesar da não efetivação
da política, há uma crença por parte das comunidades, movimentos sociais e prefeituras de que a mesma possui
muitas vantagens. Tal crença está presente nas falas dos atores e se traduz no crescente número de processos.
Metodologia: Foi construído um banco de dados dos processos de titulação abertos na SR-12 no qual são
inseridos, progressivamente, as informações sobre as peças técnicas que devem fazer parte do processo segundo
regulamentação da Instrução Normativa INCRA n.º 20 de 19.09.2005. Além de mostrar o estágio dos processos,
o cruzamento dos dados permitiu analisar a distribuição geográfica e temporal dos processos, identificar de onde
partem as demandas (prefeituras, movimentos sociais, etc.) e verificar a sobreposição/conflito em áreas de
projeto de assentamento (PA) comum. Realizou-se pesquisa de campo nas comunidades de Mata de São Benedito
e Santa Rosa dos Pretos, em Itapecuru Mirim, São Francisco Malaquias, em Vargem Grande, e Pitoró dos Pretos,
em Peritoró. Foram realizadas entrevistas sobre a titulação como área de remanescentes de quilombos nas
comunidades de Filipa, Oitero dos Pires e Monge Belo, em Itapecuru Mirim, e Damásio, em Guimarães. Serviram ainda para informar o estudo conversas com os interessados no processo de titulação que visitam o Serviço
de Regularização de Territórios de Quilombos da SR-12. Fez-se um levantamento bibliográfico sobre o tema da
regularização de territórios quilombolas e grupos étnicos e estudo da legislação pertinente. Resultados e conclusões: O aumento na demanda pela regularização fundiária não reflete apenas um aumento na conscientização
dos membros das comunidades. 80 processos (60%) não possuem qualquer documento da comunidade interessada apesar de a auto-definição ter um papel central na legislação vigente. Embora nenhum dos 132 processos
tenha resultado em titulação definitiva, a crença de que há muitos recursos no Programa e que ele é uma forma
eficaz de regularização fundiária têm feito com que as comunidades concordem com a abertura dos processos
sem que haja um pleno conhecimento do significado da legislação ou dos detalhes que envolvem essa forma de
regularização fundiária.
Palavras-chaves: Remanescentes de Quilombos, Regularização Fundiária, Programa Brasil Quilombola.
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SER MÃE, ESPOSA, DONA DE CASA E SAFRISTA: A IDENTIDADE FEMININA EM UM
GRUPO POPULAR DE SANTA CRUZ DO SUL - RS
Profa. Ms. Paula Camboim Silva de Almeida (UNISC)
Mariana Silva Carlos (UNISC)
Este trabalho decorre da problemática levantada no meu Trabalho de Conclusão de Curso, onde me propus a
analisar os significados de trabalho elaborados por mulheres safristas, assim como, as configurações particulares
de gênero de um bairro popular em Santa Cruz do Sul. O principal objetivo foi investigar sobre os valores que
compõem a moral do trabalho e se a atividade de safra exercia influência nessa composição, e ainda, perceber
como ela se submete às concepções de gênero, ou seja, se homens e mulheres compartilham da mesma moral do
trabalho. Utilizando o referencial teórico da antropologia pude estudar este grupo a partir de seus recursos
simbólicos, procurando interpretar os valores que condicionam suas visões de mundo. Para tanto, coloquei em
prática o método etnográfico e fiz uso de instrumentos como a observação participante, entrevistas e diário de
campo. Embora o trabalho temporário represente perda de direitos trabalhistas, para o grupo investigado ser
safrista envolve uma série de atrativos - não exige escolaridade elevada, garante salário mínimo e cesta básica
enquanto durar o contrato, possibilita ficar em casa, fazer outras atividades durante um período, além do que,
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proporciona um ambiente lúdico capaz de fazer amigos. O trabalho se justifica moral e socialmente pela possibilidade de manter a sobrevivência da unidade doméstica, sendo assim, homens e mulheres compartilham a
mesma moral do trabalho como algo que promove honra, dignidade e satisfação. No entanto, a disposição para
trabalhar é que possui um corte de gênero - a identidade do trabalhador está submetida a uma ética do provedor
e a identidade feminina está vinculada às tarefas domésticas, imprimindo uma lógica hierárquica e complementar no seio da unidade familiar. No caso das mulheres safristas, o ser trabalhadora também se constitui como um
valor, uma vez que permite manter a família com seu próprio esforço, fazendo aparecer a face feminina da moral
do trabalho para além do papel de mãe, esposa e dona de casa.
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SERGIPE: SERTÃO BAIANO
Márcia Regina de Andrade - Universidade Federal de Sergipe – [email protected]
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PA I N É I S
Este artigo pretende colocar em debate o conceito de sertão em seus aspectos políticos e ideológicos, para tanto
tomaremos o caso de Sergipe para nossa análise, uma vez que Sergipe era considerado uma região marginal, um
local de fronteira aberta passivo de colonização, e nesta perspectiva era considerada uma região de sertão.
Sergipe permaneceu anexado à Província Baiana por todo período Colonial, fornecendo suporte necessário à
manutenção dos plantéis de cana-de-açúcar. Este suporte se consolidava na forma de aviamentos, tais como:
carne, animais de tração, farinha, adquiridos através agricultura de subsistência praticada nos sítios e fazendas
sergipanas realçando o caráter área suplementar a um território principal, área de reserva. Do aspecto metodológico
fizemos uso do método comparativo para nossa análise regional onde propomos a possibilidade de averiguação
empírica deste conceito, onde fica o sertão, quais suas características predominantes, onde se localiza, é uma
realidade física ou puramente ideológica? Por que Sergipe representava uma região de Sertão para o território
Baiano.
Palavras-chave: Sergipe, território, sertão
TABARÉUS NA CAPITAL: UM ESTUDO DE IDENTIDADE EM ARACAJU-SE
Karine Oliveira Lopes
Nossa pesquisa tem por objetivo analisar os processos através dos quais são feitas as escolhas identitárias que
marcam o ethos aracajuano. Para tanto, selecionamos entre os vários segmentos formadores dessa idiossincr asia,
a figura do migrante, que ali é conhecido por tabaréu, numa clara alusão à sua condição acanhada e tacanha,
própria do estilo de vida agrário de onde procedem. No contexto da formação daquela capital, resultado de um
moderno planejamento urbano, caracterizado pela divisão precisa dos quarteirões centrais, conhecido como
Quadrado de Pirro, em homenagem ao engenheiro que a projetou, os tabaréus vão se imiscuindo por entre as
brechas que os códigos de posturas permitem para se instalarem em áreas mais afastadas desse perímetro. Apesar
do apelo moderno do projeto inicial, a referida capital vai se afirmando pela presença daqueles indivíduos que
a ela recorriam em busca de melhores condições de vida, tornando-se uma referência no litoral, dos padrões de
sociabilidade interioranos. Tomaremos as primeiras décadas do século passado, época em que se intensificam os
fluxos migratórios que tomam a capital como destino, como referência para o acompanhamento do processo de
distribuição sócio-espacial desse segmento na cidade.
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TECENDO SABERES: ANÁLISE DOS DISCURSOS DE HONRA, FEMINILIDADE E
MORALIDADE (1900-1945)
Edivalma Cristina da Silva (Mestranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – ed [email protected]) - Bolsista da CAPES
A instauração da República, em 1889, levou ao Brasil mudanças extremas que foram tatuadas em todo o corpo
social: a reformulação dos códigos e valores morais, o aburguesamento e capitalização da sociedade, a construção
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de uma Pátria higienizada e o tutelamento do corpo feminino pelo Estado. Este corpo feminino passou a ser
“tecido” a partir de discursos plurais que visam disciplinar e torná-lo útil para servir a Pátria, zelando pela honra
brasileira e familiar (dela). Este trabalho tem como objetivo mapear os discursos que emergiram no Seridó
Potiguar, entre 1900 e 1945 sobre honra feminina e familiar. Portanto, pretendemos entender as diversas construções discursivas jurídicas acerca da família e honra seridoense, tendo em vista que cada discurso está enraizado em condições sócio-culturais. Dessa forma, esta pesquisa é uma forma de entender a heterogeneidade discursiva
e sobre o imaginário cultural que se formou em torno dos conceitos de honra, moralidade, “himenolatria”,
dentre outras formas de preservar a honra e moralidade familiar, através da análise de processos–crime de
defloramento e de sedução entre 1900 e 1930. Para costurar a malha discursiva sobre o feminino, utilizou-se os
conceitos de Michel Foucault, com seus fios de poder, saber, disciplina, sexualidade e discursos, o qual arrematou as “pinces” historiográficas e sociológicas. Vários sujeitos (advogados, juizes, promotores, réus, vítimas,
testemunhas e literatos) participaram desta trama discursiva, cercando o feminino de vários significados: ora
valorizando e enaltecendo o corpo familiar, ora mostrando quebra de valores e costumes, o que enriquece, ainda
mais, a análise desta documentação. Os resultados permitem visualizar dois estereótipos femininos distinto: a
mulher seduzida, sedimentada pelos discursos como ingênua, facilmente enganável, o “ser invertebrado”, e a
mulher Sedutora (que emerge a partir das seduções da modernidade, como seus cabelos a La Garçonne, transcendendo o espaço privado para o público) a qual é sedimentada discursivamente como frívola, desonesta, um
perigo para ao bem-estar da sociedade. As referências teórico-bibliográficas respaldam-se nas obras de Michel
Foucault, e em artigos e livros que remontam os olhares para a análise da honra, moralidade, códigos jurídicos
e que discutam representações culturais e antropológicas do corpo feminino: Margareth Rago, Sueann Caulfield,
J. G. Peristiany, entre outros. Reler a história da mulher seridoense na primeira metade do século XX é tentar
compreender as várias práticas culturais que cercavam esta cartografia corporal, que a .fez construir identidades
plurais e afirmá-las ao longo das décadas a posterior.
Palavras-chave: Sexualidade, Mulher e Representações Culturais.
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UMA ETNOGRAFIA DO TRÂNSITO DA CIDADE DE SÃO LUÍS/MA
José Wel l ington de Ol iveira Silva - Universidade Federal do Maranhão E-mail:
[email protected]
O presente trabalho é fruto de pesquisa de campo feita na vias de tráfego de São Luís-MA entre os meses de
novembro de 2005 e fevereiro de 2006. Para a sua realização adotamos como metodologia as observações diretas
e, como referencial teórico, nos baseamos nos pensamentos de autores como Guillermo Giucci, Georg Simmel,
entre outros e o estudo do Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº. 9.503, de 23/09/97. O nosso objetivo foi
identificar as manifestações predominantes entre condutores de automóveis e pedestres no trânsito na área
urbana da cidade mencionada anteriormente. Dessa forma selecionamos pontos de observações que atenderam
aos seguintes requisitos: as vias com maior movimentação e as com o maior número de acidentes de trânsito.
Sendo assim, pretendemos apresentar os resultados da pesquisa citada que, nos mostrou que o trânsito, nas vias
de São Luís, é caracterizado por momentos de conflito físico e político que se expressam através de xingamentos,
buzinadas e gestos obscenos. Verificamos também momentos de sociabilidade amigável, como nos casos de
paqueras e cumprimentos entre os condutores e os pedestres.
Palavras-chaves: sociabilidade, trânsito, conflito
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GRUPOS DE TRABALHOS
GRUPOS DE TRABALHOS
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GT 0 1 - P O P U L AÇ Õ E S T R A D I C I O N A I S N O N O R D E S T E E L E S T E : O R G A N I Z AÇ ÃO S O C I A L , E C O N O M I A , E C O LO G I A
GT 01
POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO NORDESTE E LESTE: ORGANIZAÇÃO SOCIAL,
ECONOMIA, ECOLOGIA
ÀS MARGENS DA LAGOA GUARAÍRAS: A PERCEPÇÃO NATIVA DA FAUNA.
Autor(a): Francisca de Souza Miller (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
[email protected] doutor(a) .
O trabalho analisa a classificação dos moluscos (lilius) pelas mulheres dos pescadores, no Estuário da Lagoa
Guaraíras em Patané/Camocim, no litoral sul do Rio Grande do Norte, e é fruto da pesquisa desenvolvida no
período de 2003 a 2004, por ocasião do meu doutoramento em Antropologia, na Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Objetiva compreender a importância do mangue para as populações que o têm como meio de
sobrevivência. Partindo das categorias dos próprios informantes, utilizamos a observação participante complementada
por entrevistas abertas. Utilizamos aqui, a abordagem etnocientífica para tratarmos da identificação e categorização
dos lilius pelas mulheres e filhas dos pescadores-agricultores, que, além de valorizá-los como produto econômico, os
têm como uma das fontes de proteína importante para a unidade famíliar. Encontramos critérios morfológicos,
ecológicos, comportamentais e sensíveis, na classificação dos moluscos efetuada pelas coletoras das citadas vilas.
Palavras-chaves: Etnoconhecimento; Moluscos aquáticos; Natureza.
ASSENTAMENTO CAXIRIMBU EM CAXIAS-MA, ORGANIZAÇÃO SOCIAL, ECONOMIA, E
ECOLOGIA: CONSTRUINDO SUSTENTABILIDADE?
Este trabalho se origina de pesquisa de cunho predominantemente qualitativo realizada no Assentamento Caxirimbu
localizado no município de Caxias-MA, com vistas à apreensão da sua sustentabilidade nas dimensões econômica e
socioambiental, a partir do modo de vida das famílias camponesas assentadas, chamando a atenção, para o como se dá
a relação desse grupo com o ambiente natural, inclusive, como o grupo transforma potencialidades naturais em
recursos para sua própria manutenção e reprodução social, nos marcos de uma agricultura camponesa de aprovisionamento. Assim, quando se pensa agricultura camponesa, faz-se necessário compreender que sustentabilidade
corresponde à ampla reprodução da rede que envolve as unidades de produção (família, terra e patrimônio), e a forma
como o grupo pensa e atua em relação à própria integração e a das futuras gerações com a manutenção dos ecossistemas
sob as dimensões sócio-econômicas e culturais. As práticas e soluções criativas encontradas pelos assentados/as de
Caxirimbu são relacionadas com tradições culturais herdadas, e são responsáveis pelo manejo adequado, ou não, dos
ambientes naturais e assim, tendendo a ampliar a diversidade para a ocupação do espaço físico dentro do sistema de
produção do grupo que, por um lado, revela um cotidiano marcado pela preocupação com a manutenção da diversidade biológica – já que reconhecem o quanto dela necessitam – e por outro, certos limites na adoção de práticas
ambientalmente sustentáveis. Compreender e explicar as práticas e os sentidos subjacentes a essa ambigüidade – aqui
tratada não como defeito mas como um elemento inscrito na realidade sociocultural – é o propósito desse artigo.
Palavras-chaves: sustentabilidade, campesinato, assentamento rural
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GRUPOS DE TRABALHOS
Luciana Batista Lima - Engenheira Agrimensora, Mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA/TROPEN/
UFPI; Email: [email protected]
Maria Dione Carvalho de Moraes - Socióloga, doutora em Ciências Sociais pelo IFCH/UNICAMP, professora no DCS/
CCHL/UFPI; no Mestrado de Políticas Públ icas/CCHL/UFPI, e no Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente/
PRODEMA/TROPEN/UFPI. E-mails: md [email protected]; md [email protected]
“BRINCAR O TORÉ É LUTA, É DE GUERRA, OS PERITO VELHO REFORÇA A LUTA, É A NOSSA
TRADIÇÃO. O AUÊ? É UMA BRINCADEIRA DOS ÍNDIOS MESMO”: PERFORMANCE E
DESCONCERTO NAS REPRESENTAÇÕES PATAXÓ MERIDIONAIS
José Luís Caetano da Silva [email protected]
Orientadora Dra Maria Rosário Gonçalvesde Carvalho - Programa de Pós-graduaçao em Ciëncias Sociais PPGCS
Universidade Federal da Bahia UFBa
Esta comunicação é o resumo de uma tese que discute as representações Pataxó meridionais, acerca da sua
tradicionalidade étnica e do processo identitário que atualiza sua diferenciação no poli-étnico Extremo Sul baiano.
Para tanto, caracterizar-se-á os diferentes textos e falas textualizadas feitas sobre e/ou pelos Pataxó meridionais e suas
relações com o processo de territorialização deste povo indígena nas ultimas quatro décadas; tomar-se-á os múltiplos reflexos identitários emergidos no uso do equipamento expressivo, em especial nas performances do Auê/
Toré, como índices privilegiados da construção de uma identidade, pessoa e self étnicos, na análise de tais índices
a etologia será mais central que as relações ecossistêmicas na formação/conformação a um behavioral environment;
por fim, tais textualizações e falas e o ethos construído pelo comportamento individual e coletivo na territorialização,
configuram-se numa perspectiva da vida tradicional como luta: pela terra, pelo nome indígena, por um estilo
(‘ritmo’) de vida etnicamente diferenciado, por direitos que, desrespeitados, geram guerra. Enfim, tal ‘ritmo’ seus
cantos e danças, sua representação colocam os Pataxó em situação de desconcerto por um brincar que é luta, por
uma tradição reforçada pelos ‘perito velho’, mas que, conforme um deles próprio é apenas ‘...brincadeira de índio”.
Palavras-chave - Pataxó meridionais, ecologia, tradição
COMUNIDADES DE FUNDOS DE PASTO: USO COMUM DA TERRA E CONSTRUÇÃO
IDENTITÁRIA NO SEMI-ÁRIDO BAIANO.
GRUPOS DE TRABALHOS
Elisa Machado Camarote (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome-el [email protected];
Lil [email protected])
A comunicação aqui proposta baseia-se em meu projeto de mestrado e na experiência profissional junto à
Coordenação Geral de Povos e Comunidades Tradicionais do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A partir do trabalho dessa Coordenação junto à presidência da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, e da disciplina Sociedades Camponesas cursada no
Departamento de Antropologia da UNB, defini que meu objeto de pesquisa são as Comunidades de Fundo de
Pasto do Largo de Sobradinho, Bahia. As comunidades de Fundos de Pasto do semi-árido nordestino são formações sócio-economicas constituídas por agentes sociais que se agrupam a partir da forma de apropriação e uso
comum da terra. São comunidades tradicionais que vivem em pequenas propriedades constituídas por terras
devolutas, formadas por áreas coletivas acrescidas das áreas individuais não cercadas, tendo a agricultura, a
criação de abelhas, caprinos, ovinos e outros animais como fonte de renda e subsistência. Os Fundos de Pasto
são comunidades que estão associadas à agricultura e à pecuária na região da caatinga e poderiam ser facilmente
identificados como camponeses, porém as lutas pelo reconhecimento do direito étnico e territorial possibilitamlhes uma abertura política para que se auto-identifiquem enquanto grupos étnicos ou, no mínimo, grupos com
características étnicas. Diante desse quadro, meu objetivo é explorar a construção identitária das comunidades
de Fundos de Pasto na dimensão empírica, que se constitui a partir de um território e que se reproduz de maneira
complexa nas relações sociais, mas também na dimensão política que o Fundo de Pasto enquanto um povo ou
comunidade tradicional engendra. Para tanto, pretendo abordar etnograficamente algumas das comunidades
que vivem na região do entorno do Lago do Sabradinho-BA, correlacionando memória coletiva, práticas sociais,
diacríticos e peculiaridades que constroem essas comunidades como sujeitos coletivos.
Palavras-chave: comunidades tradicionais, territorialidade, identidade.
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GT 0 1 - P O P U L AÇ Õ E S T R A D I C I O N A I S N O N O R D E S T E E L E S T E : O R G A N I Z AÇ ÃO S O C I A L , E C O N O M I A , E C O LO G I A
DE CANAVIEIROS A POVOS TRADICIONAIS: IDENTIDADES EM TRANSFORMAÇÃO NO
LITORAL SUL PERNAMBUCANO.
Thereza Cristina Cardoso Menezes - Professor Adjunto I do Departamento de Antropologia da UFAM e Pesquisador
PPGAS-Museu Nacional
Este trabalho visa reconstituir o processo que permitiu grupos sociais anteriormente identificados como trabalhadores rurais passassem a se identificar como pescadores e, recentemente, serem considerados “povos tradicionais”. Serão examinadas comparativamente as trajetórias de pescadores que residem à cerca de 40 anos no
estuário de Rio Formoso e das ilhas estuarinas de Barra de Sirinhaem, áreas do litoral sul pernambucano,
situadas nas fronteiras de grandes plantações canavieiras. A partir do esforço comparativo pretende-se inscrever
a adoção da nova identidade social tanto no processo de transformações da gestão da mão de obra na agroindústria
canavieira, quanto em sua dinâmica de ocupação territorial. Busca-se ainda abordar a mudança de olhar sobre
grupos e territórios em posição marginal perante as atividades que formam a base das economias regionais e a
recente valorização de espaços preservados e grupos sociais que vivem de atividades voltadas ao uso de recursos
naturais.
Palavras-chave: populações tradicionais, meio ambiente, agroindústria
O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO XUKURU NUM CONTEXTO DE RELAÇÕES INTERÉTNICAS
Hosana Celi Oliveira e Santos (Universidade Federal de Pernambuco - hosanacel [email protected])
POVO TRUKÁ, TERRITORIALIDADE E MOVIMENTO INDÍGENA: DISCUTINDO ALGUNS
ASPECTOS DA ECOLOGIA E DO SISTEMA POLÍTICO TRUKÁ FRENTE A PLANOS DE
INTERVENÇÕES DO GOVERNO COM “PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO”
Eliana de Barros Monteiro
Universidade Federal de Pernambuco – PPGAS ([email protected])
Este trabalho compõe uma das reflexões trazidas com o percurso que venho estabelecendo na pesquisa de
mestrado. Tentando contribuir com as discussões sobre a atualidade do movimento indígena em Pernambuco, este
trabalho procura apresentar alguns aspectos atuais do sistema organizativo Truká, povo indígena situado no
sertão pernambucano, tendo como foco de observação a sua relação com o meio-ambiente e as expressões de sua
territorialidade. Diante da problemática atual de planos de intervenções do Estado com “projetos de desenvolvi-
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GRUPOS DE TRABALHOS
O objetivo deste trabalho é tratar os Xukuru no contexto de relações interétnicas, tecendo, inicialmente, um
esboço de como a antropologia vem discutindo a temática destas relações, para, em seguida, fazer uma retrospectiva histórica da organização desse povo, a partir dos trabalhos acadêmicos sobre esta etnia e da etnografia obtida
através da pesquisa de campo. Os Xukuru do Ororubá são índios que habitam o Agreste de Pernambuco, na
Serra do Ororubá, Pesqueira-PE. Vivem em 23 aldeias e 02 bairros de Pesqueira: Bairro “Xukuru” e “Caixa
D’água”, onde o urbano e o rural se constitui como área fronteiriça. Para estabelecer as fronteiras do espaçoterritório, a regularização fundiária foi fundamental no acionamento da etnicidade, determinam as clivagens
existentes entre o ser e o não ser Xukuru. (Metodologia) Viagens periódicas a campo que possibilitaram uma
observação participante direta, e o registro de entrevistas e História de Vida, alem de material fotográfico. (Resultados e conclusões) A invisibilidade dos índios, e especificamente das mulheres enquanto sujeitos históricos de
processos sociais e políticos é ainda atrelada a estereótipos, sendo suas sociedades muitas vezes vistas como realidades estáticas, onde tudo se mantém inalterado e estável. Nos últimos anos, os povos indígenas, em especial o
Xukuru, vêm se organizando e lutando por seus direitos, sobretudo o reconhecimento étnico enquanto povos
diferenciados, resistindo através de manifestações míticas e da dança do Toré, expressando sua identidade e ocupando lugar no cenário político, obrigando-nos a rever a História, superar equívocos e omissões e a idéia errônea
de uma homogeneidade cultural no Brasil.
Palvaras-chaves: Organização Social, Relações Interétnicas, Territorialidade
mento” na área indígena Truká e no entorno desta região do submédio do rio São Francisco, podemos apontar
como relevante o acionamento de sua identidade étnica, presente neste contexto de atuação política, de diálogo
com o Estado, com agências de assessoria, e com vários segmentos dos movimentos sociais ligados as comunidades ribeirinhas. É á partir deste ponto do debate, que se pretende apontar sobre a possibilidade de existência (ou
de idealização desta existência) do exercício de novas formas de cidadania.
Palavras-chaves: Povo Truká, Territorialidade, Ecologia, Projetos de Desenvolvimento.
RESERVA EXTRATIVISTA: UM ESPAÇO PARA A ATUAÇÃO POLÍTICA DE MARISQUEIRAS
EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE.
Amanda Braga de Melo Fadigas (Mestranda do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente-PRODEMA. Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa, PB, Brasil.-amanda01d [email protected]) ;
Loreley Gomes Garcia (Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Professora Titular e Coordenadora do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente-PRODEMA, Universidade
Federal da Paraíba - João Pessoa, PB, Brasil. - [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
A atuação das populações tradicionais na consolidação do Sistema Nacional de Unidade de Conservação vem se
confirmando como um direito à convivência pacífica com o ambiente. Nesse contexto de sociedade e natureza
as mulheres, através de sua organização social, podem assumir um papel diferenciado direcionando suas práticas
citadinas em defesa do meio ambiente. Para essas mulheres caracterizadas como ‘população tradicional’ o sistema jurídico que tutela o ambiente em que estão inseridas repercute de forma preponderante em seus aspectos
sociais, culturais, econômicos e políticos, como nos casos em que são criadas as reservas extrativistas. Dessa
forma, esse trabalho objetiva analisar, mediante uma metodologia participativa, a organização social das marisqueiras
do distrito de Acaú (PB) e do município de Goiana (PE) e o papel desses grupos sociais no processo de criação
da Reserva Extrativista Federal do estuário rios Goiana e Megaó. Para tanto foram selecionados como método de
execução do projeto a pesquisa de documentos técnicos do IBAMA e das associações comunitárias referentes ao
processo da resex; a realização de entrevistas abertas e semi-estruturadas com as informantes-chave (marisqueiras)
e servidores federais envolvidos na criação da resex; e o acompanhamento das reuniões convocadas pelas
associações comunitárias e/ou pelo IBAMA. Podem ser observados como resultados parciais que a participação
(ou falta de participação) das marisqueiras tem se dado de forma independente do seu associativismo e que as
marisqueiras ainda não percebem a resex como um campo de intervenção política em prol da realização de suas
atividades econômicas extrativas e da conservação ambiental. Pode ser concluído, preliminarmente, que apesar
das marisqueiras estarem organizadas em associações apenas algumas líderes têm se envolvido com a criação da
resex, sendo que as demais marisqueiras demonstram falta de conhecimento adequado para participar do processo de forma ativa e legítima.
Palavras-chave: marisqueiras, reserva extrativista, ecologia política.
SUSTENTABILIDADE RURAL: “NOVAS” E “VELHAS” PRÁTICAS NA AGRICULTURA
Tânia Mara dos Santos Bernardelli (tmbernardell [email protected]) – Universidade Federal da Paraíba
Este trabalho é o resultado de dois anos de pesquisa acadêmica que envolveu a comunidade rural do assentamento Padre Gino localizado no município de Sapé a 55 km da capital paraibana. A história destes produtores rurais,
assim percebida, pode ser dividida em três momentos distintos: enquanto trabalhadores assalariados da zona
rural produzindo alimentos através de técnicas convencionais; como assentados rurais iniciando o processo de
conversão para a agroecologia e o atual marcado por uma remodelagem na maneira de se perceberem enquanto
responsáveis pela preservação ambiental e conseqüentemente a continuidade de suas práticas. O assentamento
fundado em 10 de dezembro de 1996, foi fruto de uma longa caminhada de lutas entre sem-terras, organizados
pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e latifundiários locais, além do poder judiciário. Atualmente 62 famílias
residem e desenvolvem a agricultura familiar no local, sendo que há cinco anos um grupo de 23 agricultores fez
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GT 0 1 - P O P U L AÇ Õ E S T R A D I C I O N A I S N O N O R D E S T E E L E S T E : O R G A N I Z AÇ ÃO S O C I A L , E C O N O M I A , E C O LO G I A
a conversão para a agroecologia. Se no primeiro momento, este processo se deu na tentativa de persistir na
produção, ou seja, como estratégia de sobrevivência, enquanto muitos não resistiram, por falta de incentivos
técnicos e financeiros para a pequena produção, ele contribuiu diretamente para as transformações socioculturais
destes produtores. Com a adesão ao sistema agroecológico, houve alterações nas formas de organizações social e
econômica do assentamento. Estas transformações encontram-se presentes em vários aspectos da vida dos agricultores que vai desde a busca por uma organização política mais sólida e autônoma até a melhoria na qualidade
de vida passando por uma nova percepção ambiental e um novo relacionamento com a natureza, através de uma
agricultura ecológica.
Palavras-chaves: Agricultura Familiar; Agroecologia; Auto-Sustentabilidade.
UM OLHAR ETNOECOLÓGICO SOBRE A SITUAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NA BARRA DO RIO
PARAGUAÇU (BA).
Juliana Lima Spinola ([email protected]; Instituto Mamíferos Aquáticos)
GRUPOS DE TRABALHOS
O estudo versa sobre as percepções e interações ecológicas em duas comunidades ribeirinhas, Barra do Paraguaçu
e Cairu, da região estuarina do Rio Paraguaçu (BA). Ambas as comunidades sobrevivem da extração de recursos
pesqueiros, esta área têm sofrido diversas transformações socioambientais nos últimos anos, inclusive por intervenções empresariais. Foram utilizadas as técnicas de observação participante e entrevistas semi-estruturadas, na
elucidação de práticas e conhecimentos tradicionais no uso dos recursos pesqueiros bem como da percepção
socioambiental dos informantes. Os resultados preliminares demonstram que, geralmente, os artefatos utilizados para extrair os recursos são tradicionais e a produção é de pequena escala, os pescados incluem peixes,
moluscos e crustáceos que são utilizados na alimentação ou vendidos para atravessadores. A maioria dos entrevistados revela que a abundância e diversidade de pescados têm diminuído bastante, alguns já não são encontrados na área a exemplo do peixe mero, o sururu de velha e as lagostas, e que outros como cações e os siris
diminuíram muito. Alguns relatam que o advento do “nylon” na confecção dos artefatos de pesca aumentou
bastante o potencial de captura e que a chegada da energia elétrica e das estradas nas comunidades teria permitido o armazenamento e maior escoamento da produção, aumentando a pressão sobre os recursos. No entanto,
muitos informantes relatam que o número de pescadores e mariscadeiras locais não aumentou, e sim o esforço
de pesca destes. Muitos relatos também apontam as intervenções da empresa Petrobrás na área bem como a
ativação da barragem de Pedra do Cavalo, localizada no Rio Paraguaçu a montante da área de estudo, como
marcos históricos e responsáveis pelas grandes mudanças ambientais locais.
Palavras Chave: percepção ecológica, transformações sociambientais, recursos pesqueiros.
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GT 02
JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE
A AGÊNCIA MISSONÁRIA JOCUM: UMA ONDA DE JOVENS PREGANDO O EVANGELHO
Denise Alessandra Goulart; [email protected]; Universidade Estadual Paul ista – Unesp; Departamento
de Sociologia e Antropologia
O trabalho proposto se insere em uma tendência de estudos que pretendem enfatizar as mudanças que estão ocorrendo no
campo religioso protestante colocando em foco a agência missionária evangélica internacional e interdenominacional
Jovens com Uma Missão (JOCUM) e seus missionários. Tal agência é reconhecida como Organização Não Governamental (ONG) filantrópica, educacional e assistencial, amparada pela Organização das Nações Unidas (ONU) por incluir em
seu trabalho proselitista atividades de assistência social que dão suporte e fornecem oportunidades para a evangelização dos
assistenciados. O aumento da procura por instituições de amparo ao trabalho missionário pelos jovens se justifica pelo fato
do avanço dos índices quantitativos referentes ao reconhecimento como pertencentes à religião protestante de um número
cada vez maior da população brasileira. Muitos jovens buscam seus próprios espaços dentro dessa religião, haja vista o
surgimento de igrejas temáticas voltadas a esse público como a Bola de Neve, voltada aos surfistas e a Zadoque que enfoca
os metaleiros, além da Marcha para Jesus, realizada pela Igreja Renascer em Cristo e os shows de música “gospel”, os quais
reúnem multidões. Nesse sentido, a JOCUM é o objetivo de muitos dos jovens que pretendem uma carreira missionária
pois atua de forma criativa dando espaço e estrutura para que seus “obreiros” desenvolvam suas habilidades da forma como
fariam na “vida secular”, porém, com viés proselitista, a exemplo de uma universidade mantida pela organização. Assim
sendo, esta investigação tem por finalidade a contrução de uma etnografia, observando o modo como os jovens missionários de JOCUM conduzem suas vidas com o objetivo de “revelar” o significado cotidiano.
Palavras-Chave: juventude, evangélicos, comprometimento missionário
AS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR COMO ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE DA
JUVENTUDE O CASO ESPECÍFICO DAS QUADRILHAS JUNINAS DO RECIFE
GRUPOS DE TRABALHOS
Hugo Menezes Neto Mestrando em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco
E-mails: [email protected] / [email protected]
Este trabalho pretende analisar as manifestações da Cultura Popular como espaços de sociabilidade nas grandes cidades a partir
do caso específico das quadrilhas juninas do Recife. Brinquedo que, além de belíssimos espetáculos públicos apresentados nas
festas de São João, agregam jovens da periferia da cidade sem ser, necessariamente, religioso, hereditário, nem tampouco
unicamente lazerístico. Os quadrilheiros estabelecem entre si uma rede de relações sociais própria, viabilizada e reforçada
pelos encontros sistemáticos, os ensaios (vistos a partir do conceito de Pedaço de Magnani), pontos de encontro e de diferenciação do grupo, que promovem e fortalecem o vínculo entre os participantes. A quadrilha é um espaço onde muitos jovens do
Recife, entre outras coisas, comungam símbolos; valores e experiências; conhecem e reconhecem pessoas; utilizam vocabulário, datas e eventos particulares; lidam com as diversas formas de sexualidade e afetividade e estabelecem funções e hierarquias.
As quadrilhas também se relacionam externamente umas com as outras, ampliando a referida rede, promovendo embates que
podem estar imbuídos de competitividade, solidariedade e corporativismo, ou seja, favorece vivências embasadas na coletividade, promove a experimentação de diversos sentimentos e relações interpessoais e intergrupais. Analisar tal manifestação sob a
ótica antropológica ajuda a pensar Cultura Popular como processo (re)produzido pelo homem em suas relações sociais e que
expõe polissêmica e alegoricamente sua realidade, identidade e existência social.
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GT 02 - JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE
‘CORPO PERFEITO, JUVENTUDE COMPULSÓRIA: TEM QUE CORRER, TEM QUE MALHAR’
Marta Simões Peres - Professor Adjunto – Departamento de Arte Corporal – Escola de Educação Física e Desportos –
Universidade Federal do Rio de Janeiro ([email protected])
Este artigo relaciona a proliferação das atividades físicas, a partir da segunda metade do século XX, à busca da
juventude eterna, apresentando uma revisão bibliográfica e elementos do discurso de entrevistados em pesquisa
de campo com praticantes de caminhada e freqüentadores de academia. Uma corrida contra o tempo não
permite mais que se envelheça, cresce a identificação com os jovens, enquanto exigência e novo estilo, nas
atitudes, nos comportamentos, no consumo (inclusive de cosméticos e alimentação) e na aparência
(Travaillot,1998:23). Edgar Morin menciona o aparecimento de uma ‘cultura jovem’ que se torna um microcosmo
da sociedade e seus valores: consumo, gôzo, e juventude (Travaillot,1998:17,23). Um corpo magro e esbelto seria
conseqüência do triunfo do modelo da juventude e do reinado do ‘mito de Fausto’ (Descamps,1986:180). ‘O
desejo de um tempo para si, acaba assumindo a figura de um tempo para o corpo’ (Travaillot,1998:10). Ao aumentar
o acesso a férias, viagens para praias e camping, difundem-se os trajes de banho, não somente na França, mas nos
países do Ocidente, e os corpos passam a ser mostrados. O modelo jovem e magro influencia os novos cânones da
beleza. Todas as mulheres desejam emagrecer, o corpo magro vira uma espécie de fantasma altamente desejado
(Travaillot,1998:58). Guy Debord (1967) denomina esse culto à aparência pela expressão ‘sociedade do espetáculo’, ‘momento em que a mercadoria ocupou totalmente a vida social e que a aparência fetichista de suas relações
esconde seu caráter de relação entre homens e classes’ (Debord,1997:30). Vandenberghe apontou na juventude
um objeto de estudo privilegiado para se examinar a relevância das teorias de mudança social na modernidade
tardia. Dados de pesquisa qualitativa (entrevistas e questionários) com praticantes de atividade física são relacionados às questões apresentadas acerca da busca da juventude e dos modelos ideais de corpo contemporâneos.
Palavras-chave: Corpo – Juventude – Atividade Física
COSMOLOGIAS DO ROCK EM FORTALEZA
Este trabalho tem como objetivo oferecer uma interpretação do show de Rock como Ritual focando as dimensões de Espaço/Tempo, Música/Corpo e Liminaridade/Comunitas, sob à luz de dados etnográficos obtidos ao
longo de observações realizadas em shows referentes ao tipo de rock mais conhecido como “rock pesado” - o
Metal - na cidade de Fortaleza. Os shows são protagonizados por grupos juvenis na cidade de Fortaleza e que se
denominam metaleiros/headbangers, cujo significado é batedores de cabeça. Como base empírica, tomo os shows
nos quais participam os “metaleiros” que integram a Associação Cultural Cearense do Rock (ACR), ONG
fundada em 25 de Abril de 1998 por Amaudson Ximenes, que também é “metaleiro”, e que tem como finalidade
promover shows, cursos, seminários e debates referentes à música do Rock, como também, intervir por meio de
oficinas de informática e eventos musicais na comunidade do bairro Jacarecanga, zona oeste de Fortaleza, onde
está localizada a sede da instituição. A opção pelos “metaleiros” que integram à ACR, deve-se ao fato de que essa
instituição foi fundada pelos grupos de “metaleiros” que vivenciaram os primeiros eventos de Metal em Fortaleza. Além disso, a ACR é uma das instituições de maior visibilidade no que se refere ao trabalho musical e de
intervenção social congregando atualmente não apenas grupos de Metal, como também, grupos que executam
outros tipos de rock. O interesse por esse campo empírico advém de minhas experiências com pesquisa desde
2002, quando então, dediquei-me aos estudos de grupos e manifestações juvenis que se utilizam da música do
Rock e do corpo como instrumentos para contarem a si mesmos e aos “outros” suas estórias (Geertz,1978)
focando sempre os mecanismos de aceitação e de conflitos inerentes ao universo no qual estão inseridos. Os
caminhos traçados por esta pesquisa se utilizaram da observação de palco e platéia, entrevistas realizadas entre
os jovens “metaleiros”, sites, jornais e revistas referentes aos shows.
Palavras-chave: Juventude, Cidade e Rituais
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GRUPOS DE TRABALHOS
Abda de Souza Medeiros, E-mail: [email protected], Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade
Federal do Ceará (UFC) - Mestrado
DAS BIOGRAFIAS ESTANDARDIZADAS ÀS BIOGRAFIAS DE ESCOLHA:
DESENVOLVIMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA DA JUVENTUDE
Nilda Stecanela – Universidade de Caxias do Sul – Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul ([email protected])
Pedro de Moura Ferreira – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa ([email protected])
Este texto pretende explorar os universos conceituais em que se tem movido a sociologia da juventude. O ponto
de partida radica na proposição dominante segundo a qual se assiste hoje a uma mudança de paradigma. Sob a
individualização, a modernidade e a desagregação das forças do mercado, a experiência juvenil deixa de ser vista
como um destino de classe e passa a pautar-se por trajetórias individuais e incertas Às biografias estandardizadas
sucedem-se as biografias de escolha. Esta mudança de paradigma é diferentemente captada pelas duas perspectivas teóricas que mais marcam a sociologia da juventude — a perspectiva da transição e a da cultura juvenil. A
reflexão revê e problematiza de que forma essas duas perspectivas equacionam a mudança em curso a partir dos
conceitos que propõem desenvolver. Interroga a sua adequação à diversidade das experiências juvenis na
contemporaneidade, tanto em contextos locais como globais.
Palavras-chave: biografias estandardizadas – biografias de escolha – transições incertas – subculturas juvenis
DE MULEQUES E BACURIS: REFLEXÕES SOBRE SEXUALIDADE E JUVENTUDE ENTRE
MENINOS E MENINAS EM SITUAÇÃO DE RUA.
Priscila Pinto Calaf. Email: [email protected]. Universidade de Brasília, UnB.
GRUPOS DE TRABALHOS
Discorrer sobre os papéis da sexualidade nas representações identitárias de um grupo específico de meninos e
meninas em situação de rua de Brasília (pessoas entre 9 e 18 anos) é a proposta principal deste trabalho. Neste
contexto, busco demonstrar como a disposição ativa para o sexo é fator fundamental na construção das identidades masculinas deste grupo, enquanto a sexualidade feminina, não somente atrelada ao desejo e ao prestígio
masculinos, é também responsável pelo respeito dentro do grupo, e para além dele quando a maternidade traz
em seu bojo a entrada definitiva para o “mundo adulto”. Mais do que isto, proponho percorrer os caminhos
pelos quais estes sujeitos (re)constróem-se identitariamente como não necessariamente tutelados, utilizando-se
para tanto, e entre outras coisas, da sexualidade e do respeito. Assim, busco demonstrar como os conceitos de
infância e adolescência são ressignificados por estes meninos e meninas, tendo como aporte tanto categorias
jurídicas (ser “de menor” por não ir para a cadeia, e sim para o centro de atendimento juvenil) quanto proposições concernentes à atividade sexual. Daí, procuro dar ênfase às categorias nativas muleque e bacuri, que se
tornam mais elucidativas das relações geracionais e do que a antropologia chamaria infância e juventude. Novas
maneiras de pensar a juventude são engendradas na e pela rua, e é delas que este artigo procura tratar.
Palavras-chave: sexualidade, identidade, juventude.
DELINQUÊNCIA JUVENIL: REINSERÇÃO SOCIAL OU INSTITUCIONALIZAÇÃO DA
VIOLÊNCIA?
Valmir Tibúrcio Cavalcante - UFPE - FCRC ([email protected], [email protected])
Este trabalho tem como objetivo interpretar o cotidiano de uma instituição de controle social para adolescentes
infratores a partir da relação entre as estratégias de controle institucional (controle formal) e suas práticas
cotidianas (controle informal). Inspirado na teoria do cotidiano de Michel de Certeau pude constatar que as
relações de poder no cotidiano da instituição de que falo são “fabricadas” a partir do uso de estratégicas e táticas
por parte do grupo de controle – direção e instrutores educacionais, bem como por parte do grupo controlado
– os adolescentes. Na coleta e análise dos dados, privilegiamos os pressupostos da pesquisa qualitativa, inspirado
nos recursos da etnografia. A análise da realidade observada apontou para uma série de concessões recíprocas
nas relações de poder institucional, fato que nos levou a observar uma discrepância entre o discurso oficial e o
que efetivamente a instituição pratica em seu cotidiano. No cotidiano da instituição em questão, as relações de
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GT 02 - JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE
poder são “inventadas”, fabricadas de diversas maneiras, operacionalizadas em ações que favorecem a
institucionalização da violência nas instituições ditas ressocializadoras de adolescentes infratores.
Palavras-chave: Controle social, resistência, delinqüência juvenil.
ESTILO JUVENTUDE: O CASO DO TRABALHO VOLUNTÁRIO JOVEM
Andréa Freitas da Silva – UERJ (andré[email protected] ou [email protected])
O artigo aborda a importância do conceito de solidariedade na construção da identidade de jovens voluntários.
A pesquisa foi empreendida com jovens que optaram pelo engajamento em movimentos sociais e que se consideram parte da solução e não dos problemas da sociedade. A rotina no contexto de uma ONG, que conta com
um grupo de voluntários com idades entre 15 e 24, anos permitiu que as especificidades do grupo fossem
observadas mais amiúde. As categorias dádiva, cidadania e solidariedade são os eixos estruturantes do artigo,
pois são consideradas pelo grupo como tal em sua relação com outros grupos de jovens. De que forma os jovens
que buscam a instituição vivenciam o conceito de solidariedade? Quais são as suas propostas para intervir na
sociedade? Enfim, porque alguns insistem em continuar a atuar como voluntários quando seus responsáveis
prefeririam que não estivessem envolvidos com esta atividade? Partindo destes questionamentos, estabeleceu-se
diálogo rico com os jovens voluntários da instituição acerca de seus objetivos, anseios e problemas para continuar com seus projetos.
Palavras-chaves: voluntariado; juventude; movimentos sociais.
FILHOS NO MUNDO: MOBILIDADE ESPACIAL E JUVENTUDE ENTRE PEQUENOS
PRODUTORES RURAIS NO SUDESTE DO PARÁ
Este trabalho é baseado numa pesquisa realizada em um Projeto de Assentamento no sudeste do estado do Pará, em
2005, e se insere numa análise que venho realizando acerca das condições para a constituição e para a reprodução social de um conjunto de pequenos produtores e trabalhadores rurais cujo percurso dos chefes de família e
de seus filhos e filhas se caracteriza pelo deslocamento de outros estados do país ou mesmo entre uma série de
localidades circunvizinhas. Naquele momento, observei que certas experiências e constrições encontradas por
esses trabalhadores contextualizaram a reprodução de ciclos de vida pautados por intensos deslocamentos espaciais intra e inter-regionais e por dinâmicos processos de constituição familiar e doméstica. Processos estes que
estão relacionados a aspectos de idade, gênero, relações com os demais familiares, posição na família e situação
econômica dos núcleos familiares, dentre outros fatores. Neste trabalho, entretanto, abordo as condições
estabelecidas para tais deslocamentos tendo como referência a noção de “estar no mundo”, comumente utilizada
no contexto em questão para designar os deslocamentos espaciais e sociais feitos por parcela considerável de
filhos dos pequenos produtores rurais. Os filhos homens “no mundo” eram aqueles que deixaram a casa dos pais
entre 13 e 25 anos e que, geralmente, tinham paradeiro incerto há anos. No caso das mulheres, cujos deslocamentos não eram tidos pelos pais como previsíveis – ou até mesmo esperados – como os dos homens, tais
deslocamentos relacionavam-se a concepções de desacordo e/ou de exceção e elas eram mencionadas, por
exemplo, como filhas que “fugiram”. Neste sentido, analiso de que maneira estes fatos estão relacionados a uma
determinada construção de pessoa, quer dizer, a uma referência de valor, associando, de um lado, casamento–
terra–família e solteiridade–juventude–mundo–assalariamento–fazendas, de outro.
Palavras-chave: Mobilidade Espacial, Juventude, Campesinato, Amazônia Oriental.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Gil Almeida Felix Mestre em Antropologia (UFF); professor assistente no Instituto Superior Bilíngüe de Educação Instituto Nacional de Educação de Surdos (ISBE/INES). ([email protected]
FOUCAULT, A GENEALOGIA E O ADOLESCENTE SUJEITO DE PRÁTICAS DISCURSIVAS E
INSTITUCIONAIS
Marcelo da Silveira Campos - Mestrando em Ciência Política pela UNICAMP
Este trabalho busca mostrar de que forma Foucault, através do ‘resgate’ do método genealógico nietzschiano,
compreende o conhecimento, não mais como uma busca pela verdade dos fatos; nem o conhecimento possuindo uma identidade homogênea com a realidade. Mas sim, como uma relação de saber-poder, que é constantemente reinventado, conforme as articulações que assumem no interior das disposições históricas. É nesta relação de saber-poder que circunda o adolescente como sujeito de práticas discursivas e institucionais, resultado de
relações de força e estratégias de dominação, que procuraremos relacionar estes autores e a problemática do
adolescente, analisando de que modo estes elementos emergem num tema tão debatido em nossa sociedade: a
redução da maioridade penal e às propostas de emenda à constituição que tramitam na Câmara dos Deputados
(PEC´S).
Palavras Chaves: Foucault; Genealogia; Maioridade Penal
FRONTEIRAS SIMBÓLICAS E FORMAS DE SOCIABILIDADE: SEMELHANÇAS E
DESSEMELHANÇAS JUVENIS NO BAIRRO DE TAMBAÚ, JOÃO PESSOA – PB.
Anne Gabriele Lima Sousa – (Doutoranda PPGS/UFPE - [email protected])
Este trabalho, que culminou na dissertação de mestrado “Olhares que se cruzam, fronteiras que se erguem. A
sociabilidade em Tambaú – João Pessoa, PB”, lança o olhar para o comportamento social contemporâneo,
através da percepção dos sistemas classificatórios responsáveis pela construção de fronteiras simbólicas no
cotidiano de Tambaú, bairro nobre e de grande visibilidade, maior destino de lazer diurno e noturno dos jovens
na cidade de João Pessoa, PB. As relações estabelecidas pelos diferentes grupos que participam do campo de
sociabilidade plural do qual Tambaú é palco, são percebidas a partir dos processos de diferenciação social e da
adoção de elementos simbólicos responsáveis pela inclusão ou exclusão dos jovens nos círculos sociais que
permeiam seus espaços de pertencimento. A partir de observações sobre sua dinâmica social e das narrativas de
seus freqüentadores, Tambaú é apresentado a partir dos diferentes estilos de vida que se revelam no seu interior,
manifestando valores, reafirmando identidades e reforçando habitus inerentes a trajetórias culturais específicas.
As escolhas e os diferentes papéis assumidos pelos jovens em seu interior levam à relativização de valores,
realçados ou disfarçados de acordo com a posição ocupada pelo outro, o grupo em situação de concorrência ou
ameaça simbólica à identificação dos freqüentadores em suas respectivas redes de sociabilidade.
Palavras-chaves: Identidade, Sociabilidade, Fronteiras simbólicas.
IMAGENS FOTOGRÁFICAS REVELANDO VIVÊNCIAS JUVENIS FEMININAS
GRUPOS DE TRABALHOS
Sueli Salva – doutoranda no PPGEDU-UFRGS, em estagio no exterior, financiado pela CAPES. ([email protected])
Nosso universo cultural é fortemente marcado pelas imagens, elas comunicam, de modo pouco inocente, sentidos do mundo e, a partir desses sentidos, também inventam um mundo. De acordo com alguns teóricos, a
imagem de si, produzida através da fotografia pode ser considerada uma forma de invenção de si. Esse principio
está orientado com base, principalmente, em dois pressupostos: o de que a vida é inventada, e sem essa invenção
ela não existiria (SOUZA, et. al. 2001); e o status de arte biográfica por excelência conferida a fotografia.
(ARFUCH, 2002). Desse modo, este trabalho tem por objetivo refletir acerca da construção de identidades
culturais produzidas através de fotografias, realizadas por jovens mulheres de periferia urbana de Porto Alegre. As
imagens foram incluídas como forma de análise ao perceber que estas fazem parte da cultura, como diz Bourdieu
(2003) é a arte mais acessível à classe popular e em especial para as jovens mulheres. Esta reflexão surge durante
o desenvolvimento de estudos de doutorado, cuja temática são as vivências cotidianas de jovens mulheres de
periferia urbana, a qual utiliza como um dos métodos de produção de dados, narrativas autobiográficas escritas
em diários. De modo espontâneo, as jovens compõem narrativas entremeando texto, imagens, símbolos e códi-
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GT 02 - JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE
gos, às vezes indecifráveis, para expressar suas vivências. Através das imagens pretendo buscar um fio interpretativo
que me possibilite compreender sentidos das suas vivências cotidianas, concebendo a imagem como uma forma
de auto-produção de si que se oferece ao olhar do outro, de modo interessado.
Palavras-chave: jovens mulheres, identidades, imagem fotográfica
JUVENTUDE OTAKU – SOCIABILIDADE E IDENTIDADE ENTRE OS FÃS DAS HISTÓRIAS EM
QUADRINHOS JAPONESAS
Claudia Pedro Winterstein (Universidade Federal de São Carlos; claud [email protected])
No fim do século XX, devido ao novo movimento expansionista da cultura nipônica nos países do ocidente, surge no
Brasil um grupo aficionado pela cultura pop japonesa. Tal cultura se mostra presente no cotidiano de muitas pessoas por
vários meios (jogos eletrônicos, karaokês, etc), mas principalmente pelo consumo das histórias em quadrinhos japonesas (mangás) e dos desenhos animados japoneses (animes). Depois das primeiras publicações dos mangás no Brasil, não
tardou para que surgissem no país os aficionados por essas mídias, os chamados otakus. Este é o termo em japonês dado
para os fãs de mangás e animes no Brasil. Devido ao gosto similar compartilhado entre os jovens que se denominam
otakus, acabou surgindo entre eles um partilhamento de códigos culturais e estilos de vida diretamente ligados aos
mangás. A aparente socialização existente entre os otakus e a identificação deles com alguns aspectos de uma cultura tão
diferente na nossa, me incitou um grande interesse em compreender a lógica da sociabilidade existente entre os
consumidores dessas mídias tangenciando alguns conceitos caros à antropologia, tais como a problemática da identidade, bem como o consumo cultural e o estilo de vida. Para tanto dei início a uma pesquisa etnográfica que teve como
ponto inicial as convenções de mangás e animes (eventos que tiveram início em 1999 na cidade de São Paulo e se
tornaram muito populares, sendo realizados hoje em todo país), nas quais os otakus se encontram para participar de
concursos, oficinas, para assistirem aos animes e apresentações musicais e trocarem experiências.
Palavras-chave: sociabilidade, identidade, juventude
MICROREBELDIAS: UMA REFLEXÃO SOBRE A TRANSGRESSÃO JUVENIL NA
CONTEMPORANEIDADE
A referida proposta tem como objetivo apresentar em forma de ensaio teórico, uma reflexão acerca das condutas
transgressoras que compõem o repertório das práticas cotidianas de inúmeros jovens em todo país. Da mesma
forma que no inicio do do século XIX, Foucault (1979) observou a busca desenfreada por uma “pedagogização” do
corpo da criança, observamos na contemporaneidade um dispositivo de poder semelhante incidindo sobre as
subjetividades juvenís. Podemos exemplificar essa tentativa de esquadrinhamento através da noção de “crise
identitária”, que de tão comentada por psicólogos e pedagogos (e porque não dizer por sociólogos), tornou-se parte
do léxico de pais e mães aflitos com as mudanças de comportamento de seus filhos. Diante da falta de explicação
frente ao novo, criou-se um conceito para assim ser possível colocar um molde sobre a revolta e dessa forma
apontar procedimentos adequados para contê-la. Partindo da premissa de que na contemporaneidade observa-se
uma saturação dos “grandes ideais da modernidade” - entre eles, de forma mais incisiva, as idéias de revolução e
progresso – pensamos que as microrebeldias podem ser vistas como uma espécie de “válvula de escape” de inúmeros
jovens. As células juvenís de nossa época não possuem uma estrutura hierárquica regida, ou mesmo um grande
ideal a ser conquistado, trata-se de jovens com visões de mundo distintas, que encontraram uma forma bastante
peculiar de dizer não ao conformismo generalizado e ao disciplinamento, construindo linguagens próprias e
reinventando a condição de sujeito político. Na ausência de uma narrativa orientada “pelo passado” e/ou “para o
futuro, o presente se mostra como alternativa para esses jovens. É dessa forma que vislumbramos o surgimento de
uma nova cartografia afetiva para as culturas urbanas, caracterizada pelas práticas de riscos, pela erotização dos
encontros por intermédio das chamadas tribos, pela mutações corporais (piercing, branding, tatuagem), etc.
Palavras- chave: Juventude, transgressão, microrebeldias.
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GRUPOS DE TRABALHOS
João Batista de Menezes Bittencourt - Doutorando emCiências Sociais- IFCH/UNICAMP (e-mail: [email protected])
OS EMOS: MÚSICA, ESTILO DE VIDA E SENSIBILIDADES ENTRE JOVENS URBANOS
Raphael Bispo dos Santos (Museu Nacional/ UFRJ – [email protected])
Partindo do conceito de “taste cultures”, definido por Herbert Gans em trabalho sobre cultura popular e erudita,
a comunicação pretende analisar o estilo de vida de uma cultura jovem contemporânea, os Emos, bastante
comum nos centros urbanos de várias cidades brasileiras. O grupo adota um visual bastante característico e é fã
do emocore, vertente do rock cujas músicas apresentam um lirismo considerado mais emotivo do que o normal,
conjugando letras românticas com batidas pesadas. No entanto, ser emo é acima de tudo, ser emotivo, compartilhar de um ethos em que a sensibilidade e a possibilidade das emoções serem livremente expressadas são valorizadas. Apresento o resultado parcial de uma pesquisa de campo que vem sendo realizada com esses jovens na
cidade do Rio de Janeiro, situada numa vertente da antropologia das emoções preocupada com sua dimensão
micropolítica, ou seja, com a capacidade que as emoções têm de dramatizar, na experiência subjetiva individual,
aspectos das macrorelações sociais. O presente trabalho procura analisar esse estilo de vida a partir de dois
pontos: o confronto perpetrado pelo grupo às fronteiras rígidas no campo da sexualidade e um exame das letras
de música ouvida por eles, que propõem uma exaltação extremada das sensibilidades fazendo uso de uma “estética das sombras”.
Palavras-chaves: uma, duas, três.
REDE JOVEM DE CIDADANIA: UMA EXPERIÊNCIA REFLEXIVA SOBRE JUVENTUDE EM
COMUNICAÇÃO
GRUPOS DE TRABALHOS
Valéria Cristina de Paula Martins – Universidade de Brasíl ia (UnB) – [email protected]
Este trabalho é fruto de uma experiência de dois anos em um projeto de acesso público aos meios de comunicação
junto a jovens residentes em bairros considerados como áreas de “risco social” na capital de Minas Gerais, Belo
Horizonte. A Rede Jovem de Cidadania é realizada desde 2002 e incluiu 54 jovens (entre 2002 e 2004) na elaboração, planejamento e execução de programas de rádio, vídeo, jornal impresso, webzine e ainda uma agência de
notícias: a partir de pesquisas realizadas por eles nos bairros e regiões de sua residência sobre projetos e instituições
socioculturais, os jovens produziam boletins eletrônicos enviados para a imprensa local para divulgar atividades
muitas vezes desconhecidas pela maior parte da população da cidade. A metodologia de trabalho, que visava tanto
o produto final quanto o próprio processo de produção, permitiu que emergissem e fossem discutidas e refletidas
uma série de questões relativas a “o que é ser jovem?”. As imagens estereotipadas sobre o jovem, em especial o
“jovem de periferia”, nos meios de comunicação de massa e na sociedade foram problematizadas e postas em
cheque para que o grupo pudesse (re)elaborar a(s) imagem(ns) que eles mesmos faziam de si, dando visibilidade a
elas por meio das produções em comunicação citadas acima. A violência dentro de casa, o sistema policial, o
conflito entre gerações, assim como a articulação juvenil em torno de ações culturais e comunitárias tornaram-se
temas por eles sugeridos, eleitos e abordados no processo de produção midiática. Um dos “quadros” criados para o
programa de televisão por dois jovens, o “Debate na rua”, era gravado literalmente no meio da rua, nos breves
intervalos em que o sinal de trânsito ficava vermelho. A alusão crítica pode ser vista como referente ao escasso
tempo no cotidiano, especialmente para ouvir e ser ouvido. A Rede Jovem de Cidadania é desenvolvida pela AIC
(Associação Imagem Comunitária), grupo de pesquisa e experimentação em mídias de acesso público, uma organização não-governamental.
Palavras-chave: jovens, comunicação, imagens identitárias
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GT 02 - JUVENTUDE, COTIDIANO E SUBJETIVIDADE
“SOM DE MACHO”: UMA REFLEXÃO SOBRE IDENTIDADE, MASCULINIDADE E ALTERIDADE
ENTRE OS “HEADBANGERS”
Leonardo Turchi Pacheco - Universidade Federal de Minas Gerais ([email protected])
“Os Headbangers”, “os metaleiros”, “os camisas pretas” são designações para um mesmo grupo urbano que é
formado na sua maioria por jovens do sexo masculino e que se caracteriza por compartilhar a mesma estética
musical – o Heavy Metal – e os mesmos códigos culturais relativos a essa forma de expressão.
Partindo da análise das entrevistas, das reportagens e cartas de leitores contidas nas três maiores publicações
nacionais do estilo – as revistas Rock Brigade, Road Crew e Valhalla –, esse trabalho tem como proposta fazer
uma reflexão sobre os códigos culturais dos “Headbangers” enfocando as relações existentes entre a construção
de identidade, a masculinidade e a percepção da alteridade.
Palavras-Chave: Tribos Urbanas, Masculinidade, Identidade
“UM JOVEM DIFERENTE”? ANOTAÇÕES SOBRE JUVENTUDE E VÍNCULO RELIGIOSO
PENTECOSTAL, EM RECIFE - PE
Maria de Fátima Paz Alves - Aluna do PPGA Antropologia/UFPE ([email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
Ser um/uma jovem pentecostal da Assembléia de Deus não é algo que pode ser apreendido de modo unívoco,
observando-se diferenciações em função de diversas situações e contextos de vida. Num amplo sentido, podem
ser concebidos/as enquanto pessoas e grupos que não obstante terem por base identitária uma distinção, vivem
numa sociedade que, principalmente nos dias atuais, coloca em cheque esta distinção, podendo-se observar uma
tensão entre “igreja e mundo” ao refletirmos sobre as vivências e representações destes/as jovens. No trabalho
nos atemos ao que significa e em que implica ser um/uma jovem assembleiano/a - a partir de análise de dados
provenientes de entrevistas e observação participante com jovens e adultos desta denominação, em Recife/PE –
focalizando vários aspectos da vida deste/a, entre os quais: vivência familiar, sociabilidade, vida afetiva e sexual.
Centramos a análise naquele/a jovem que em princípio segue os preceitos da denominação, estando atenta aos
desvios e suas motivações assim como as estratégias utilizadas pelos/as jovens ao lidar com as normas, o contexto em que estas se configuram e os capitais sociais em jogo neste contexto. A vivência da juventude e sua relação
com o pertencimento a uma determinada denominação, o modo como se constrói e vivencia um determinado
ethos, representam o fulcro central do trabalho.
Palavras-chave: Jovem, pentecostal, distinção.
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GT 03
MEMÓRIA, PATRIMÔNIO, CULTURA E PODER, NA SOCIEDADE DO
ESQUECIMENTO
A ARQUITETURA DO SAGRADO REPRESENTADA NA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO
SOCORRO, EM TOMAR DO GERU-SE.
Ane Luíse Silva Mecenas (UFS – [email protected]);
Magno Francisco de Jesus Santos (UFS - [email protected])
O período colonial brasileiro é marcado pelas concepções européias tanto no campo político, econômico e religioso. Após a conquista do Novo Mundo houve a necessidade de “construir” uma sociedade civilizada, pautada nos
dogmas cristãos. Nessa nova empreitada de construção de uma civilização no “paraíso” mergulhado no pecado, os
padres necessitam edificar sua moradia, bem como os templos. Como o ser humano produz o que está de acordo
com seus interesses e suas concepções ideológicas, o objetivo desse estudo é identificar a mentalidade jesuítica
através do legado arquitetônico. Dentre as construções jesuíticas edificadas na Capitania de Sergipe, foi utilizada
como exemplo a Igreja de Nossa Senhora do Socorro, fruto da atuação dos padres na antiga aldeia do Geru. O
templo responsável pela evocação da fé atendia de forma direta os objetivos da evangelização. A funcionalidade da
Igreja como local de ligação dos fiéis aos céus ainda hoje é perceptível pelos seus elementos de decoração. Ao
adentrar na capela-mor, a composição teatral dos objetos é capaz de confundir o real com a fantasia. É como se
aquele local servisse de passagem e estivesse mais próximo do mundo habitado por anjos, arcanjos e santos. A igreja
é um bem cultural inserida nos livros de Tombo Federal, no Livro Histórico e no Livro Belas Artes.
Palavras-chave: arquitetura, jesuítas, Tomar do Geru.
A PINTURA ESQUECIDA E AS SANDÁLIAS ROUBADAS: MEMÓRIA, PROPRIEDADE, E AS
ANTINOMIAS DO PATRIMÔNIO IMATERIAL INDÍGENA
GRUPOS DE TRABALHOS
Marcela Coelho de Souza - Departamento de Antropologia/UnB ([email protected])
Esta comunicação pretende esboçar uma etnografia da experiência dos Kisêdjê (Parque Indígena do Xingu, MT)
com a cessão contratual de padrões gráficos de pintura corporal para uso em uma conhecida linha de sandálias,
em um acordo que envolveu também sua participação direta e proeminente no marketing do produto. Um
discurso insistente de “perda” ou “esquecimento” da “cultura”, e de forte afirmação de “direitos” sobre aqueles
aspectos que percebem capazes de suscitar o interesse alheio (grafismos e música, neste caso), forma o pano de
fundo dessa experiência, bem como de um certo interesse, crescente, pelas formas de “proteção” e de “revitalização”
da “cultura” oferecidas por políticas públicas (como a do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, entre
outras) ou iniciativas privadas. Entretanto, como a etnografia da experiência com as sandálias roubadas e a
pintura esquecida (e lembrada) pretende mostrar, os modos da memória e as formas de propriedade (de apropriação e circulação) constitutivos da experiência e ação indígena não se traduzem para os termos das noções de
patrimônio cultural imaterial e de propriedade intelectual que pautam essas políticas e iniciativas senão com
muitas dificuldades — e às custas de muitos mal-entendidos. Delinear os equívocos constitutivos dessas experiências, e explorar suas potenciais implicações não só para o presente debate sobre patrimônios e diversidade
culturais, como também para a própria imagem do conhecimento antropólogico sustentada por nossa disciplina
(por meio de seu/s conceito/s de cultura), é um objetivo desta comunicação.
Palavras-chave: patrimônio cultural; sociedades indígenas; propriedade intelectual
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GT 03 - M E M Ó R I A , PAT R I M Ô N I O, C U LT U R A E P O D E R , N A S O C I E D A D E D O E S Q U E C I M E N TO
A PROPÓSITO DE PATRIMÔNIOS IMATERIAIS: CONSIDERAÇÕES ANTROPOLÓGICAS
ACERCA DO RECONHECIMENTO DO JONGO COMO ‘PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO’
Wilson Rogério Penteado Júnior - UNICAMP ([email protected])
Nos últimos anos no Brasil, a discussão acerca de patrimônios imateriais tem obtido evidente atenção do Estado,
de antropólogos e historiadores na condição de pesquisadores, bem como de Ongs e produtores de determinadas práticas sócio-culturais evidenciadas como dignas de se tornarem patrimônio nacional. Neste processo,
como se sabe, tais práticas revestidas de um valor distintivo são colocadas como construtos a edificar a nação
enquanto entidade total e coerente, configurando o que deveria ser a ‘cultura brasileira’ que, por sua vez, evoca
uma série de outras ‘verdades transcendentes’ como a ‘tradição’, a ‘cultura popular’ e a ‘civilização’. Minha
pesquisa de doutoramento parte desta discussão para analisar o reconhecimento do jongo – uma dança ritual
que evoca a memória escrava no Brasil – pelo IPHAN, em 2005, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Com base em dados colhidos em trabalho de campo com comunidades jongueiras do sudeste brasileiro (RJ e
SP), com Ongs relacionadas a tais comunidades e com base numa leitura minuciosa do material produzido pelo
IPHAN referente ao processo de reconhecimento do jongo como patrimônio imaterial, exporei aqui as questões
que emergem do discurso de preservação do jongo e, especificamente, como as comunidades jongueiras orquestram localmente tal discurso. A ênfase dada neste estudo, portanto, recai sobre os sujeitos produtores do jongo;
entender suas concepções e propósitos de atuação neste contexto.
Palavras-chaves: Patrimônio Imaterial; Narrativas Nacionais; Comunidades Jongueiras.
ARTE CHOKWE: DE MEDIADOR NA TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO A MERCADORIA
E SÍMBOLO ÉTNICO E NACIONAL
Este trabalho parte da reflexão sobre o papel mediador que assumem a produção, uso e circulação de objetos e
símbolos (como esculturas, máscaras, desenhos na areia e pinturas murais) no processo de transmissão oral do
conhecimento aos jovens do povo Chokwe, no nordeste de Angola, como parte importante de sua socialização
e conformação de sua identidade étnica. A par de seus usos e sentidos originários, a estes objetos foram agregados outros significados, desde sua incorporação ao acervo do Museu do Dundo, criado em 1936 pela Companhia de Diamantes de Angola, que explorava as ricas jazidas da área. Sua proposta museológica, inserida na
lógica colonial, pautou-se na “reconstrução” da vida nativa, empregando chefes locais como guias, patrocinando
a produção de objetos “tradicionais” (contratando escultores e ferreiros como funcionários) e promovendo
festivais folclóricos que buscavam domesticar práticas culturais e sociais vitais, transformando-as em entretenimento. A descontextualização e musealização de objetos africanos eficazes (produtores de sentidos e efeitos
sociais) os convertem, via de regra, em objetos fossilizados, através de um processo que alguns autores têm
descrito como “violência museal”, redundando na invenção ocidental da “arte primitiva” ou da “arte africana”.
Pretende-se assim compreender a dinâmica destes objetos na atualidade, analisando as tensões resultantes da
confrontação de seus usos e sentidos originários com aqueles que incorporaram enquanto “arte africana”,
inseridos em um mercado internacional de arte e patrimonializados e exibidos como símbolos identitários pelo
Estado nacional.
Palavras-chave: arte africana; musealização; povo Chokwe (Angola)
AS MARCAS DA ALMA REFLEXÕES ACERCA DE UM GRUPO DE PENITENTES DO CARIRI
CEARENSE
Otilia Aparecida Silva Souza - Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Professora da Universidade
Regional do Cariri – URCA (e-mail: otil [email protected] / otil [email protected]
A proposta deste trabalho é analisar as práticas de autoflagelação vivenciadas por um grupo de penitentes no
município de Barbalha – CE. Essa abordagem compreende a penitência como uma herança cultural que resiste
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GRUPOS DE TRABALHOS
Maria Paula Fernandes Adinolfi – Doutoranda Universidade Federal da Bahia (paulaad [email protected])
à ‘secularização dos tempos’ para dar suporte a uma idéia de purificação construída a partir do cotidiano de
agricultores que se penitenciam para purgar seus pecados e amenizar as culpas do próximo, acreditando que a
autoflagelação deve servir também para livrar as pessoas dos castigos divinos como a fome, as doenças, as secas.
A penitência, para esse grupo, apresenta significados específicos possuindo dimensões extra-corpo relacionadas
ao campo da moral e das emoções, refletindo o descontentamento com as desigualdades e os estigmas culturais
de que são vítimas. Portanto, o trabalho contextualiza o penitencialismo na história do Cariri cearense (ressaltando os aspectos da religiosidade popular) e analisa a atuação do grupo refletindo sobre a relação existente
entre o cotidiano de agricultores que executam ‘práticas ancestrais’ e, ao mesmo tempo, convivem com a rotina
de um mundo secularizado.
Palavras-chave: Religiosidade, Penitência, Cotidiano
AS PARTEIRAS GRIÔS DE PERNAMBUCO
Danieli Siqueira Soares - Universidade Federal de Pernambuco-UFPE (daniel [email protected])
O Ministério da Cultura através da Secretaria de Programas e Projetos Culturais criou o Programa Cultura Viva
- Ação Griôs / Mestres de Tradição Oral. Este programa visa a preservação e valorização da tradição oral do
Brasil. Estes Griôs e Mestres, que por diversas razões, acumularam uma gama de conhecimentos e habilidades
referentes a cultura popular, através da vivência junto a comunidade as quais estão inseridos, são detentores de
conteúdos que podemos entender como “patrimônio cultural imaterial”. No Brasil há uma nova abertura no que
se refere a preservação do patrimônio cultural imaterial, logo, políticas públicas estão sendo criadas e
implementadas no intuito de que a tradição seja perpetuada através da história oral, do regate da memória. O
Programa Cultura Viva – Ação Griô tem ainda como objetivo promover a interlocução entre os mais velhos e os
mais jovens incentivando a transmissão dos conhecimentos acumulados, das habilidades, do “saber fazer”. Este
Programa selecionou no Brasil alguns pontos de cultura para que estes sejam anfitriões e apoiadores das
atividades a serem realizadas. A ONG C.A.I.S. do Parto, que é um Ponto de Cultura, submeteu o projeto ao
Ministério da Cultura o qual foi selecionado para participar do referido programa, onde estão envolvidas parteiras tradicionais de Pernambuco. O presente artigo busca abordar a questão de como uma política pública medeia
o processo de valorização e transmissão do saber, bem como as condições sócio-culturais das parteiras em
Pernambuco, e ainda as formas e adaptações realizadas para que o trabalho das parteiras possa ser efetuado.
Entendendo que estes dois últimos pontos são essenciais para um possível intercâmbio das habilidades no que
se refere ao ato de partejar.
Palavras-chave: História Oral; Parteiras Tradicionais; Patrimônio Cultural Imaterial
MARECHAL DEODORO, PENEDO E PIRANHAS: TESTEMUNHOS ORAIS DE SUAS
HISTÓRIAS – UM INSTRUMENTO PARA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
GRUPOS DE TRABALHOS
Ana Gloria Ferreira dos Santos - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN ([email protected])
O objetivo deste trabalho é identificar, a partir da história oral dos moradores dos sítios históricos tombados em
Marechal Deodoro, Penedo e Piranhas, o patrimônio histórico por eles percebidos e a partir da (re)construção
dessas memórias trabalhar com a perspectiva de que conhecendo a história do sujeito e entendendo o seu
significado de patrimônio histórico, além de valorizar a memória e as recordações dos atores envolvidos, podese contribuir com ações eficazes de educação patrimonial. E nessa (re)construção, é possível resgatar através dos
relatos orais, histórias do cotidiano, memórias e lembranças dos moradores dos sítios históricos tombados e
contribuir com iniciativas de preservação desse patrimônio. O procedimento metodológico da história oral tem
desempenhado um importante papel na transmissão e preservação do conhecimento e também como fontes de
dados para as ciências em geral. Sua característica básica é que a fala dos sujeitos constitui o ponto de partida
para o pesquisador buscar respostas às questões formuladas. Essa fala gira em torno das experiências vividas
pelos indivíduos e o recorte se dá em torno da coleta e registro de relatos sobre fatos e acontecimentos testemunhados pelo entrevistado. Pretende-se perceber como as histórias de vida, relatos e lembranças dos moradores de
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GT 03 - M E M Ó R I A , PAT R I M Ô N I O, C U LT U R A E P O D E R , N A S O C I E D A D E D O E S Q U E C I M E N TO
sítios históricos podem contribuir para realização de políticas afirmativas de educação patrimonial. Assim, a
proposta deste trabalho é identificar a relação da população local com o patrimônio histórico das cidades
especificadas; identificar, através dos relatos orais, quais são os patrimônios mais importantes para essa população; traçar metas para formulação de políticas públicas de educação patrimonial nos sítios urbanos tombados,
além de mapear os bens culturais relacionados nos registros orais.
Palavras-chave: Memória; patrimônio; educação patrimonial
MEMÓRIA E RELIGIOSIDADE: AS ARTES VOTIVAS DO NORDESTE ORIENTAL DO BRASIL
NO CONTEXTO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL
Luís Américo Silva Bonfim - Universidade Federal da Bahia / Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS/
UFBA) ([email protected]; [email protected])
Tratando “artes votivas” como as práticas e produções simbólicas do catolicismo que envolvem a consagração,
renovação e pagamento de promessas – em geral culminadas pelos “ex-votos” – tivemos a oportunidade de
elaborar um inventário que envolveu mais de oitenta sítios devocionais na região, desenvolvendo sistemas
taxonômicos em diferentes níveis etnográficos, o que veio a resultar na tese de doutorado intitulada “O signo
votivo católico no nordeste oriental do Brasil: mapeamento e atualidade”, defendida em março de 2007 no
PPGCS/UFBA. Visando apresentar a temática das “artes votivas” e fornecer os subsídios para sua submissão ao
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), a presente comunicação também pretende contribuir para
dar visibilidade ao tema, instar desdobramentos teórico-metodológicos e elaborar as possíveis estratégias de
preservação para as artes votivas do nordeste oriental do Brasil, dentro do contexto do patrimônio imaterial.
Palavras-chave: Artes votivas; patrimônio imaterial; Nordeste do Brasil
MEMÓRIAS DA CIDADE E PATRIMÔNIO HISTÓRICO: VILA PLANALTO EM BRASÍLIA
Este trabalho pretende discutir a questão da preservação histórica e da oficialização de patrimônios a partir do
estudo de Vila Planalto — antigo acampamento da construção civil — situado no centro do Plano Piloto de
Brasília. Trata-se de um antigo espaço provisório, instalado para a construção da nova capital nacional, que
permaneceu irregular durante mais de trinta anos para ser, finalmente, regularizado e reconhecido como patrimônio do Distrito Federal, no dia 21 de abril de 1988, exatamente um ano após o reconhecimento de Brasília
como patrimônio da Humanidade pela Unesco (1987). O caráter não previsto deste espaço no centro do Plano
Piloto de Brasília, sua origem popular e seus anos de irregularidade fazem do reconhecimento e tombamento de
Vila Planalto uma situação imprevista e interessante na análise das conseqüências da construção de Brasília. A
memória dos inícios de Brasília foi valorizada no reconhecimento de Vila Planalto, seja em função do papel deste
espaço como vestígio da cidade, seja pela memória ainda viva dos primeiros moradores de Brasília que ainda
residem em Vila Planalto. A memória como tipo de “capital social” (Bourdieu, 1987), é valorizada neste caso.
Palavras-chaves: patrimônio, memória, identidade.
PATRIMÔNIO DESTERRITORIALIZADO: TRANSMIGRANTES CHINESES E SUAS
“NEGOCIAÇÕES” CULTURAIS EM PERNAMBUCO
Marcos de Araújo Silva – PPGA/UFPE – ([email protected])
Este estudo investiga dinâmicas sociais que envolvem as categorias “patrimônio”, “memória” e “etnicidade” em
contextos transnacionais e possui como intenção central a exploração descritiva e analítica destas categorias nos
processos de reconstrução identitária entre transmigrantes de origem chinesa que residem no estado de Pernambuco.
Os bens culturais analisados revelam interconexões que unem não apenas pontos geográficos, mas que também
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GRUPOS DE TRABALHOS
Christiane Machado Coêlho, PhD - Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (CIES, ISCTE), Lisboa. (Email:
[email protected])
agregam o Patrimônio Cultural com a chamada Globalização Popular, acarretando influências que se retroalimentam e agem na construção de múltiplas identidades e nas apropriações particulares feitas pelos consumidores em relação a estilos de vida, alimentação, vestuário e design de interiores. Nesse sentido, o “patrimônio”
será refletido em termos etnográficos, a partir de elementos sócio-culturais que estão presentes nos discursos e
ações dos interlocutores; estejam estes elementos “patrimonializados” ou apenas circulando no cotidiano do
comércio informal ou em celebrações religiosas. Através de pesquisa de campo, observação direta, participação
em eventos e rituais, entrevistas abertas e da coleta e análise de notícias e dados quantitativos, pretendo refletir
acerca da memória social destes migrantes, que conseguem tornar visíveis determinados pleitos através de
diferentes agenciamentos de suas heranças culturais e com isso adquirem distinções e acúmulo de capital
político e simbólico dentro de um universo social onde são minoria étnica. Vale salientar que o governo não
tem interesse em dar visibilidade a estes migrantes, visto que eles são protagonistas em redes de comércio
informal que não se adaptam aos interesses burocráticos de um estado nacional neoliberal. Por fim, o estudo
problematiza a necessidade de políticas públicas que considerem as interseções transnacionais e percebam
cidadãos e patrimônios desterritorializados não como problemas, mas como fatores aliados no desafio de compreender e cooperar em mundo no qual o diálogo entre as culturas pode se desdobrar em estratégias para o
desenvolvimento.
Palavras-chaves: Migrantes chineses, Patrimônio Cultural em Contextos Transnacionais, Memória Social
PATRIMÔNIO IMATERIAL E ETNICIDADE: COMO PENSAR OS CIGANOS?
Erisvelton Sávio Silva de Melo - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia - PPGA/
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (E-mail: [email protected])
O texto versa sobre a construção da identidade cigana, a partir da auto-atribuição e atribuição pelos não-pertencentes, na cidade do Recife-PE, pesquisa motivada a partir de um questionamento duplo: “Há ciganos na região
metropolitana do Recife? Como é perceptível dentro do quadro de patrimônio a sua presença?”. Essa indagação
tornou-se pertinente, fomentando uma discussão teórico-metodológica sobre identidade étnica e etnicidade com
as argumentações a respeito de quem são estes ciganos, e como são retratados, visto abargarem em si todo um
legado constitutivo de patrimônio imaterial, enquanto grupo étnico “tradicional”. Portanto, é proposto debater
aspectos de interface da identidade como resultado de um legado patrimonial advindo dos contatos interétnicos.
A metodologia empregada se deu com observações diretas com grupos ciganos e em locais onde são realizadas
festas, registros no diário de campo e entrevistas. Para tanto, a memória foi um fator determinante na composição da identidade e, respectivamente, no constructo patrimonial, partindo sempre da teia de relações do imaginário sobre os ciganos e seu possível nomadismo.
Palavras-Chaves: Grupo Étnico, Ciganos, Memória.
GRUPOS DE TRABALHOS
PATRIMÔNIO IMATERIAL E MUDANÇA SOCIAL: AS PANELEIRAS E SUAS FORMAS
Carla da Costa Dias (PUC-RIO; LACED/MN/UFRJ - cd [email protected]; carcd [email protected] )
Pretendo neste trabalho, analisar as mudanças expressas em inovações no repertório das formas a partir da
análise do sistema de circulação no qual os objetos produzidos pelas Paneleiras de Goiabeiras estão inseridos.
Estamos falando de objetos materiais de cultura que chamamos de tradicionais; pois originalmente eram feitos
para consumo local de um grupo restrito de pessoas, mas que no correr do tempo, foi dinamicamente sendo
transformado num símbolo regional reconhecido, porque consumido, em várias partes do território nacional,
principalmente pelo reconhecimento atribuído pelo registro no Livro dos Saberes/IPHAN, em 2002. O estudo
destes objetos é fundamental que se pense como as questões se modificaram no tempo; como a panela que antes
era produzida domesticamente para consumo “privado”, torna-se um objeto público, consumido como recipiente onde é preparada e servida a “tradicional moqueca capixaba”, prato característico da região, e exposto como
objeto de artesanato popular em feiras e museus nos grandes centros urbanos. Desta maneira, tentaremos
mostrar, que o modo como lidam com a mudança tem sido incorporando novos significados à sua prática, à sua
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GT 03 - M E M Ó R I A , PAT R I M Ô N I O, C U LT U R A E P O D E R , N A S O C I E D A D E D O E S Q U E C I M E N TO
organização e conseqüentemente ao objeto que simboliza seu pertencimento e articulação com os demais segmentos da sociedade. Portanto, o processo de mudança é bastante complexo, pela dinâmica que comporta
múltiplas trajetórias, cada qual com respostas diferenciadas, na medida em que as mulheres dele participam
como receptoras e emissoras de ações e representações. Estas questões serão exploradas no contexto da mudança
que isto trouxe para as mulheres ou melhor na forma como elas operam as mudanças no contexto da produção
e as conseqüências no ambiente doméstico. Como manipulam as novas regras do mercado e com presença
institucional através de órgãos públicos e de organizações não-governamentais, onde estabelecem relações de
reciprocidade.
Palavras-chaves: cultura material, patrimônio imaterial; identidade
SACO DO RIBEIRO POVOADO DE ITABAIANA: MEMÓRIA E PODER NA CRIAÇÃO DO
DISTRITO DE PAZ (1927).
Tatiane Oliveira da Cunha. Professora da Rede Estadual em Sergipe e da Rede Municipal em Ribeirópol is (SE).Graduada em
História (UFS) e Pós-graduanda do curso de Especial ização em Ciências da Rel igião (UFS) ([email protected].)
Saco do Ribeiro até 18 de dezembro de 1933 pertencia ao municipio de Itabaiana-SE. Nosso objetivo nessa
pesquisa é compreender o uso da memória e das relações de poder durante a instalação do Distrito de Paz.
Priorizamos como principal documento de análise o discurso do Juiz de direito Gervásio de Carvalho Prata
proferido por ocasião da solenidade de instalação do distrito de paz de “Saco do Ribeiro” da Comarca de
Itabaiana em 1927. A partir desse discurso apreendemos como se processou a instalação desse distrito de paz,
quais as pessoas que fizeram parte e, sobretudo, as opiniões a cerca dos motivos para tal acontecimento. O juiz
Prata deixou-nos pistas a cerca do entendimento de que a ocasião dessa solenidade era momento de mencionar
o desenvolvimento dessa localidade chamada “Saco do Ribeiro” e, sobretudo, de relembrar o nome do padre
Vicente Francisco de Jesus, um ex-pároco de Itabaiana. Seu discurso enfatiza, assim, a existência de um “benfeitor” esquecido por todos. Na reflexão do porquê dessa memória de um “esquecido” encontramos interesses de
um grupo político e, sobretudo, a tentativa de superação de (res)sentimentos individuais, conforme as vicissitudes dos acontecimentos ocorridos desde o ano de 1916, quando em Itabaiana o padre Vicente era perseguido
pelo coronel José Sebrão de Carvalho.
Palavras-chave: Memória, Poder, Distrito de Paz.
SHAN-DANY: “ASSIM FAZEMOS CONHECER A NOSSA CULTURA”
Através do Programa para el Desarrollo de la Función Educativa de los Museos (PRODEFEN), na década de 1980, o
México tornou-se, mundialmente, uma das mais importantes sedes de produção da museologia comunitária.
Localizado neste país, o Museu Shan-Dany é produto do esforço coletivo dos indígenas habitantes de Santa Ana
del Valle, em Oaxaca. Contando com o apoio do Instituto Nacional de Antropologia e História - INAH, eles são
os protagonistas deste museu. Empenhados na valorização e divulgação de sua cultura, atuaram no processo da
idealização do projeto, na doação dos objetos, na coleta das informações, na montagem da exposição e na
manutenção e administração do espaço físico. A partir do estudo deste caso, é possível constatar que os museus
comunitários surgem fundamentados em ideais de afirmação da identidade, pautados no envolvimento social e
em novas formas de interpretar o patrimônio e seu uso. Estamos, portanto, diante de uma nova configuração
para a museologia.
Palavras-chaves: Museu Comunitário, cultura e identidade indígena
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GRUPOS DE TRABALHOS
Carmen Lúcia Silva Lima (UFPE – [email protected])
GT 04
SEXUALIDADES, CULTURA E IDENTIDADE
A FIGURA DO ANORMAL NA MIRA DO SINÓPTICO: A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVA DE
SUBJETIVIDADES NA MÍDIA
Marluce Pereira da Silva (PPGEL/UFRN)[email protected]
Cássio Eduardo Serafim (UFRN/SEC)[email protected]
Neste trabalho, problematiza-se a constituição de subjetividades veiculadas pela mídia, cujas imagens apresentam
modelos para a construção de novos sujeitos. A partir da utilização de algumas ferramentas conceituais foucaultianas,
como as noções de masturbação, anomalia e técnica da confissão, associadas a estudos voltados para sexualidade,
erotismo e mídia, tenciona-se trazer algumas questões que conduzam a pensar como a cultura da confissão, tão
fortemente acionada pela mídia, constitui tipos de identidades e a refletir sobre quais interditos discursivos recebem
os confessados diante dos mecanismos de poder (FOUCAULT, 1979) exercidos pelos confessores, pelos que editam e
pelos que traduzem os discursos que perpassam tais confissões. Toma-se um dos depoimentos apresentados ao final de
cada capítulo da telenovela Páginas da Vida, exibida pela TV GLOBO em 2006. Os depoimentos eram de pessoas que
procuravam, face a processos de vitimização de algum mal, apresentar soluções que foram encontradas no seu
enfrentamento. Partindo da premissa de que a linguagem desempenha um papel social e constitutivo ao construir e
refletir realidades sociais, examina-se a materialidade lingüístico-discursiva do depoimento selecionado, a fim de
apreender os efeitos de sentido que poderiam construir um dos primeiros sinais de anormalidade.
Palavras-chave: subjetividades, confissão, relações de poder.
A (IN)EXISTÊNCIA DA DIVERSIDADE SEXUAL NAS ESCOLAS
GRUPOS DE TRABALHOS
Zenilton Gondim Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – [email protected])
A sexualidade é palco de discussões nas escolas. Este tema torna-se oficial quando o ministério da Educação
(MEC) o inclui nos seus Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – Temas Transversais – sob o título de
Orientação Sexual. Diante deste fato surgem indagações a respeito de como as escolas vêm abordando a diversidade sexual. Com a contribuição dos estudos foucaultianos aplicados às Ciências Sociais e Humanas (Antropologia, Sociologia, Pedagogia, etc) chega-se a compreensão que o discurso é socialmente construído. Portanto,
através do discurso e das práticas se define o que é “normal” ou “anormal”. Com a teorização Queer, que
contrapõe a idéia da sexualidade humana enquanto natural, já que ela se faz a partir de mecanismos discursivos
sendo, portanto, uma construção social e que, enquanto queer (estranho, esquisito, excêntrico...) não se encaixam no modelo padrão de sexualidade – a heteronormatividade – espera-se que as escolas possam contemplá-los
em seus discursos, em suas práticas pedagógicas. No entanto, fazendo uma pesquisa em uma escola estadual de
Vitória da Conquista constatei através da análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) e de um questionário
aplicado ao profissional da instituição, que a diversidade sexual nesta escola não é abordada na medida em que
a própria se encarrega de discutir a sexualidade numa visão biológica que enfoca a Gravidez na Adolescência,
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), perdendo a dimensão da sexualidade enquanto histórica, social e
cultural, bem como excluindo, através de seus mecanismos discursivos, os sujeitos da sexualidade configurados
socialmente como “desviante” ( homossexuais, bissexuais, drags, travestis, transexuais, etc.).
Palavras-chaves: Sexualidade, Teoria Queer, Discurso.
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GT 0 4 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E
ALÉM DO HUMANO E DO ROBÓTICO: DEMASIADAMENTE CIBORGUE
Francisco Jander de Sousa Nogueira; Mônica Ramalho de Albuquerque.
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Mestrandos do Programa de Pós-graduação em Sociologia – PPGS.
E-mail: [email protected] / [email protected]
O trabalho se propõe a analisar e a descrever como as novas tecnologias do corpo têm refletido na “performance”
de travestis no município de João Pessoa-PB, que utilizam seus corpos e sua ambigüidade como objeto de desejo.
Neste processo de “transformação”, observamos que não é apenas a imagem que está em cheque, mas a mensagem que estes corpos carregam no tocante aos marcadores corporais: cirurgias, maquiagem, perfurações, cor,
cabelos, adornos, gestos e formas. Dentro do contexto de uma era pós-moralista, a tirania dos detalhes anatômicos
abarca grandes proporções e “corpos estranhos com práticas não convencionais” se configuram significativamente. Em termos metodológicos, mais do que a idéia de mosaico, pretendemos estabelecer um debate onde se
refletem distintos posicionamentos sobre o assunto, estabelecendo-se confrontos em nível teórico. A pesquisa
tem por base a etnografia envolvendo a observação participante e entrevistas com travestis. Estes instrumentos
nos dão suporte para tecer posicionamentos acerca de uma realidade que vem se estabelecendo em uma plataforma cibernética permeada por sinuosidades corporais.
Palavras-chave: gênero – novas tecnologias do corpo - travestilidade – corporalidade.
CATÓLICOS, FIDELIDADE CONJUGAL E AIDS: ENTRE A CRUZ DA DOUTRINA MORAL E AS
ESPADAS DOS IMPASSES DO COTIDIANO SEXUAL DOS ADEPTOS*
Luis Felipe Rios - Coordenador do Laboratório de Estudos da Sexual idade Humana. Professor do Programa de Pósgraduação em Antropologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFPE. (E-mail: [email protected])
Francisca Luciana de Aquino - Mestranda do Programa de Pós-graduação em Antropologia/UFPE.
Cinthia Oliveira - Graduanda em Psicologia/UFPE.
Richard Parker - Columbia University.
*
Os dados coletados para a elaboração do trabalho resultam da pesquisa Respostas Rel igiosas ao HIV/AIDS no Brasil (Projeto financiado pelo U.S.
National Institute of Child Health and Human Development, 1 R01 HD05118-01. Principal Investigador: Dr. Richard Parker – Columbia University).
O estudo, de abrangência nacional, é real izado em quatro sítios específicos, nas seguintes instituições e com os respectivos coordenadores: Rio de
Janeiro (Associação Brasileira Interd iscipl inar de AIDS/ABIA – Dr. Veriano Terto Jr.); São Paulo (Universidade de São Paulo/USP – Dra. Vera Paiva);
Porto Alegre (Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS – Dr. Fernando Seffner) e Recife (Universidade Federal de Pernambuco/ UFPE – Dr.
Luís Fel ipe Rios). Informações ad icionais sobre o projeto podem ser obt idas pelo e-mail rel [email protected] ou através do site
O trabalho é embasado em pesquisa etnográfica viabilizada por dois meses de observação participante do cotidiano de católicos de uma paróquia de um bairro popular do Recife, entrevistas a onze dos leigos engajados nos
serviços religiosos da Igreja, e a oito sacerdotes que realizam seus serviços religiosos em outras localidades.
Discute a visão da Igreja Católica sobre sexualidade e as implicações morais de uma perspectiva de enfrentamento
à epidemia do HIV/AIDS focada na “camisinha”. Analisa relatos de sacerdotes e leigos quando precisam aplicar
as diretrizes do vaticano (cruz) em relação ao preconizado no que se refere à epidemia e se deparam com a
realidade concreta dos rebanhos católicos recifenses (espadas). Nesse contexto, conjugalidade e fidelidade se
afiguram como importantes analisadores de como aqueles lidam com problemática da “cruz e da espada”, pois
que a partir delas são possíveis identificar uma série de re-descrições práticas e de re-interpretações conceptuais
das assertivas do discurso moral religioso.
73
GRUPOS DE TRABALHOS
www.abiaids.org.br.
CULTO DO CORPO, TRANSTORNOS ALIMENTARES E ESTILOS DE VIDA NA
MODERNIDADE: O CASO DAS “ANAS” NA INTERNET
Guilherme Paiva de Carvalho Martins - Doutorando do Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPG/SOL) da
Universidade de Brasíl ia (UnB), Professor de Filosofia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).
Marcela Carvalho Martins Amaral - Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPG/SOL) da Universidade de Brasíl ia (UnB).
Partindo de uma análise de diários virtuais e páginas pessoais disponíveis na Internet, a presente proposta tem
como objetivo refletir sobre o fenômeno do culto do corpo na modernidade, enfocando, especificamente, as
práticas de culto à magreza adotadas por jovens mulheres que defendem a anorexia como estilo de vida. O
referido conceito, conforme assinalado por Pierre Bourdieu, está atrelado ao habitus gerado em condições de
existência específicas no interior de inúmeros campos possíveis da realidade social e diferentemente constituídos em composições particulares de capital econômico e cultural. Além disso, a modernidade é caracterizada
pela reflexividade e pela pluralidade de escolhas, portanto, o indivíduo poderá incorporar diferentes estilos de
vida, na medida em que também se posiciona em diferentes campos nas dimensões de sua existência. Afora sua
reflexividade e autonomia para incorporar um estilo de vida específico, a mídia também exerce significativa
influência sobre suas escolhas e sobre a adoção de um estilo de vida. Sendo o corpo parte da reflexividade da
modernidade, acreditamos que o corpo é um dos espaços principais de inscrição das escolhas, adoção de estilos
de vida e incorporação de identidades. Nos referindo especificamente à anorexia nervosa, ainda que esta seja
reconhecida pelo discurso médico como desordem alimentar, tal percepção não é recorrente entre as “Anas”. E
na medida em que a Internet se apresenta como um sistema de comunicação global que atua cada vez mais
intensamente sobre práticas e modos de interação social, os espaços virtuais tornam-se um ambiente no qual é
possível compartilhar “ideologias” de magreza como corpo ideal, sendo, ao mesmo tempo, um espaço público,
que permite a explicitação dos seus sentimentos e a interação com outras pessoas sem se identificar, e um espaço
privado, uma vez que é possível se esconder da família e das pessoas conhecidas que poderiam repreendê-las.
DAS NARRATIVAS DA DOR: UM ESTUDO SOBRE PRÁTICAS DE MODIFICAÇÕES CORPORAIS
E AFETIVIDADES NA ‘EXPERIÊNCIA DA TRAVESTILIDADE.’
GRUPOS DE TRABALHOS
Adrianna Figueiredo - Bacharel em Ciências Sociais (UFPE) - Mestranda do Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco. EMAIL: [email protected]
Desde a modernidade, as sociedades contemporâneas ocidentais, vêm sugerindo um imaginário “poluidor”
próprio, principalmente através da institucionalização da heterossexualidade; da atmosfera ‘naturalizante’ de
corpos-sexuados e do discurso médico e jurídico, que infere o normal e o anormal. As travestis parecem se
encontrar no limiar de muitos desses significantes poluidores, não fazendo parte dos corpos que importam
(Butler:2001), dos corpos sexuados e inteligíveis, onde usualmente a questão da travestilidade e tomada em sua
dimensão grotesca e erotizada, e sua hibridez, ou ainda a própria possibilidade de existência desta hibridez, se
torna fator revelador da não linearidade necessária entre desejo sexual, gênero e corpo. Demonstram, assim, a
carne viva, numa performance social pulsante, o caráter manufaturado dessas representações, que são a todo
momento articulados entre si, através de identificações (Hall, 2000) experienciadas tanto através de questões
cognitivas, relacionadas a idéia de ‘eus-desejantes’ (Rose, 2000) quanto objetivas, de reiteração de dispositivos de
sexualidade e de matrizes culturais de percepção do indivíduo, que o ajudam a formular o imaginário sobre si e
sobre o mundo. Assim as experiências emocionais, proferidas através das narrativas da dor, tomam centralidade
deste trabalho, visando perceber através deste discurso, bem como suas representações na experiência de
corporalidades vividas, questionamentos que envolvem quebras de representações de teor essencial, vivências e
estados de abjeção e táticas de subversão cotidiana. È possível perceber que se entrelaçam nestas ‘narrativas da
dor’ duas linguagens: ‘A linguagem Política’, onde se alinham discursos sobre as dores do enfrentamento social e
da conseqüente abjeção e a da ‘Satisfação’, relacionada às dores de suas práticas de modificações corporais,
significadas como fator positivo, de realização, empreendimento e adequação. Essas duas linguagens se tornam
elementos de um jogo difuso, e o que se procura refletir, é justamente como ocorrem essas articulações entre
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GT 0 4 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E
dores e prazeres, entre identificação e exclusão, demonstrando-se como um profícuo campo de investigação para
esta temática, onde as narrativas da dor nos levam a pensar sobre as articulações entre ação e emoção, ao mesmo
tempo em que esboça a dor como política, atuando com um elemento distintivo de suas trajetórias. A idéia da
dor aparece aqui, como reflexividade e espaço de intervenção, onde se afirmará a dignidade e a condição de
humanidade.
(DES)HONRA E (DESAS)SOSSEGO: “DESLIZES NO MODELO HEGEMÔNICO DE
MASCULINIDADE EM SOSSEGO-PB.
Valdonilson Barbosa dos Santos - Faculdade do Vale do Ipojuca – FAVIP - Mestre em Antropologia pela Universidade
Federal de Pernambuco – UFPE (E-mail: [email protected])
Os conceitos de honra e masculinidade funcionam neste trabalho como instrumentos através dos quais se
podem obter uma leitura da realidade social e mais especificamente das relações sociais. Nesse sentido, nosso
objetivo é discutir como honra e masculinidade se articulam na trama cotidiana. Sabemos que as práticas sociais
são tecidas a partir de infinitos fios, concretizando-se nos espaços de sociabilidade. A partir, portanto, de alguns
espaços de homossociabilidade (bares, calçadas, rua, etc.) na cidade de Sossego-PB, faremos uma leitura de como
as relações de gênero e, em particular, da construção social da masculinidade, (re) configuração no universo das
práticas sociais ordinárias. A apreensão dos elementos constituintes da masculinidade se deu através de observações sistemáticas das falas e das práticas dos agentes sociais em questão: os homens. O mergulho nos sistemas de
significação desses espaços de homossociabilidade nos fornece uma interpretação acerca das categorias de classificação utilizadas cotidianamente para distinguir, diferenciar, e (des) igualar coisas e pessoas. Trata-se de espaços de demarcação de fronteiras entre atividades consideradas masculinas e femininas, ou seja, instrumentos de
(re) significação das formas de conceber as diferenciações entre os gêneros.
Palavras-chave: Honra; Masculinidade; Sociabilidade; Gênero
DIÁLOGOS E QUESTÕES SOBRE TRANSEXUALIDADES: CORPO, NATUREZA,
BIOMEDICINA E DIREITO
Os debates sobre direitos sexuais e intervenção médico-tecnológica na saúde têm gerado desafios para as ciências sociais no sentido de compreender as nuances do controle do corpo, da constituição das identidades através
da experiência corporal, das relações de poder e da normatização das pessoas por meio da biomedicina. O
trabalho pretende fazer uma breve revisão das questões envolvendo transexualidades, a partir de textos sobre
transexualidade escritos por juristas em defesa da cirurgia de trangenitalização, assim como resolução do Conselho Federal de Medicina pela legalização da cirurgia. O discurso hegemônico de juristas e médicos sobre transexuais,
ao defenderem a legalidade das cirurgias de trangenitalização e direito à mudança de nome no registro civil,
baseia-se na idéia de que a transexualidade é uma patologia. Transexuais “verdadeiros”, para estes profissionais,
são indivíduos que negam o sexo biológico e exigem a operação de reajustamento sexual a fim de poder assumir
a identidade de seu verdadeiro gênero, que não condiz com seu sexo anatômico. A ruptura entre o que se
considera sexo, anatomia, com o que é classificado como do domínio da psiqué é o conflito instaurado entre as
normas de gênero e as ficções sobre o corpo. As transexualidades, por serem classificadas como patologias são
retiradas da esfera de comportamentos “moralmente corruptos”, podendo ser alvo de respostas políticas de
proteção aos transexuais. A patologização retorna o que poderia ser considerado subversão das normas de gênero
para a esfera da natureza, causada por anomalias no desenvolvimento embrionário, e, portanto, passível de
conserto e solidariedade. A liberdade de expressar comportamentos diversos é podada pelo saber biomédico, já
que a naturalização da transexualidade significa também a impossibilidade de se comportar diferente. Ao mesmo
tempo em que o argumento da natureza propicia a proteção de transexuais, é criado um fosso entre o comportamento de transexuais e sua possibilidade de escolhas de vida e de itinerários terapêuticos. A idéia de doença gera
novas formas de proteção às categorias de humanos vulneráveis na contemporaneidade. Novas estratégias de
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GRUPOS DE TRABALHOS
Izis Morais Lopes dos Reis (PPGAS/Universidade de Brasíl ia – [email protected])
proteção são criadas, como a ética direito ao não sofrimento. Há consciência nas esferas jurídicas e médicas da
necessidade de um olhar diferenciado sobre questões que desafiam a ordem moral hegemônica. É um desafio
interessante pensar como os valores existentes estão sendo modificados pela sobreposição de várias lógicas, que
podem gerar liberdades, de um lado, e novas formas de dominação, de outro.
Palavras-chave: transexualidades, direito, medicina
ENTIDADES ESPIRITUAIS HOMOSSEXUAIS NO UNIVERSO RELIGIOSO DA UMBANDA
Sulivan Charles Barros (UnB/ UNIEURO, [email protected])
O presente trabalho se propõe a considerar a importância da presença de entidades espirituais homossexuais no
imaginário umbandista. Por se tratar de um estudo pioneiro no campo da sociologia da religião, este paper não
visa um caráter conclusivo, mas exploratório e instigante, no sentido de levantar algumas questões sobre a
inserção destas entidades nesta religião. Torna-se necessário ressaltar que a umbanda acolhe em seu panteão
religioso todos aqueles elementos sociais que, postos em estratos inferiores da sociedade ou marginalizados pela
mesma, passam à categoria de “deuses” poderosos e atuantes como é o caso de velhos escravos, índios, crianças,
prostitutas, malandros, delinqüentes, além de homossexuais.
Palavras-chave: Entidades espirituais; homossexuais; umbanda.
HOMOSSEXUALIDADE E DIREITO: ALGUMAS REFLEXÕES
Dayse Amâncio dos Santos (PPGA-UFPE / Doutoranda em Antropologia ([email protected])
A proposta deste trabalho é refletir sobre as uniões homossexuais à luz do direito de família. Com esse intuito
analisaremos a perspectiva antropológica da família da família e do parentesco na sociedade contemporânea
discutindo o modo artificial como é legalmente delimitado o conceito de família. Este exame das uniões homossexuais e direito é parte de um projeto de doutorado que busca refletir sobre as redefinições de papéis de gênero
e os novos arranjos familiares que trazem questões antes imagináveis para o direito. Diante das “lacunas” na lei,
o argumento da afetividade é utilizado como legitimador das uniões.
Palavras-chaves: Homossexualidade, direito, afetividade
HOMOSSEXUALIDADE E O CISMA ANGLICANO DE RECIFE EM 2002.
GRUPOS DE TRABALHOS
AldenorAlves Soares (UniversidadeFederal da Bahia – Programa de Pós-graduação deAntropologia – [email protected])
O Jornal do Commercio (JC: um dos maiores em circulação de Pernambuco) de 2 de outubro e 10 de novembro de
2002, destacou a saída do pastor Paulo Garcia (juntamente com sua igreja, a Catedral Anglicana do Recife, à época
maior congregação anglicana do país) da Igreja Anglicana. Em entrevista ao Jornal, o pastor alegou como motivo
para deixar o anglicanismo, a abertura do mesmo em relação às ordenações e casamentos de homossexuais (praticantes e assumidos). O objetivo deste ensaio é descrever e analisar o discurso do religioso (nos dois artigos do JC)
a respeito da relação do cisma com os homossexuais, apontando os interesses em jogo no contexto do conflito.
Palavras-chaves: Homossexualidade, anglicanismo, Paulo Garcia.
HOMOSSEXUALIDADES E NOVAS NORMATIVIDADES, OU SOBRE COMO SER GAY EM UMA
IGREJA PENTECOSTAL INCLUSIVA.
Marcelo Tavares Natividade (Doutorando em Antropologia – PPGSA/IFCS/UFRJ) – [email protected]
Paulo Victor Leite Lopes (Graduando em Ciências Sociais/Uerj) – [email protected]
É expressiva a atuação de grupos religiosos no Brasil que oferecem aconselhamento e tratamentos espirituais a
homossexuais, como o Movimento pela Sexualidade Sadia, o Ministério Êxodus Brasil, o Conselho de Psicólo-
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GT 0 4 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E
gos e Psiquiatras cristãos. A noção de cura da homossexualidade aparece como um discurso hegemônico, defendido no âmbito de igrejas evangélicas de distintas vertentes e denominações. Em contrapartida, perspectivas
minoritárias emergem nos anos 1990 no Brasil, a partir da atuação de líderes protestantes que reinterpretam
dogmas religiosos sobre a propalada condenação da homossexualidade. Auto-proclamadas “igrejas inclusivas”,
estes grupos não se diferenciam apenas pela aceitação e participação de homossexuais em suas atividades, mas
também pela construção de um modelo de homossexualidade. A partir da realização de trabalho de campo e
entrevistas, desejamos esboçar as construções sobre sexualidade elaboradas por uma igreja pentecostal “inclusiva”, investigando os usos e expressões de gênero e sexualidade do grupo, com o propósito de compreender as
representações da homossexualidade veiculadas e como estas se articulam ao surgimento de novas normatividades.
Interessa-nos também, relacionar os discursos apresentados no interior do grupo com uma concepção hegemônica
da homossexualidade em voga na “esfera pública”.
Palavras-chave: Homossexualidades; culturas homossexuais; novas normatividades
INQUIRINDO A SEXUALIDADE — DE KINSEY AOS BEHAVIORAL SURVEILLANCE SURVEYS
Pedro Moura Ferreira – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa ([email protected] )
Neste artigo pretende-se lançar um olhar sobre as formas de inquirir a sexualidade a partir dos inquéritos
quantitativos. Esse olhar desdobra-se em dois planos. No primeiro plano, indagam-se as questões que são colocadas, indo ao encontro da ideia de que as perguntas são por vezes mais interessantes do que as respostas. Que
revelam as perguntas dos inquéritos sobre as formas de pensar a sexualidade? De que forma as perguntas que
pressupõem uma resposta quantificável são medidas adequadas ao conhecimento da intimidade? Em que medida
a mudança social, especialmente após a disseminação da epidemia da Sida, tem vindo a condicionar ou a
suscitar novas questões? Há, portanto, o propósito de cobrir e inventariar as teorias, as metodologias e os
problemas com que a pesquisa quantitativa se tem vindo a confrontar. No segundo plano, o eixo da reflexão
desloca-se do campo da ciência para o da sociedade e procura equacionar e balizar as consequências que resultam dos dados quantitativos para a reflexividade social. Das múltiplas questões em jogo, duas são privilegiadas.
Por um lado, o impacto que esses dados podem ter nas orientações normativas na medida em que a quantificação
faz emergir as tendências de mudança que se observam no campo sexual; por outro, a relação que não poderá
deixar de existir entre a pesquisa quantitativa e o confronto ideológico e político em torno da sexualidade,
envolvendo temas sensíveis como a educação, as orientações e as identidades sexuais, que a tornam inevitavelmente num elemento de disputa desse mesmo confronto.
Palavras-chave: Sexualidade, metodologia, análise quantitativa.
JEITO DE CORPO: PERFORMANCES E PERIGOS NAS SEXUALIDADES
A fragilidade da tentativa de reunir as identidades trans numa categoria fixa foi um dos temas de discussão da
pesquisa de doutoramento em conclusão. Observei que a preocupação em diferenciar travestis e transexuais é
recorrente e integra os discursos oficiais e ressoa nos espaços de sociabilidades como, por exemplo, no cenário
político. Ter jeito de travesti ou de transexual remete à discussão proposta por Leandro Oliveira em que este
parte da categoria jeito para repertoriar as performances consideradas como definidoras de “bicha” e de “homem” recobrindo estilos que supostamente expressariam atributos perduráveis da pessoa. Entendendo, a exemplo do que coloca Leandro Oliveira, que “o jeito de uma pessoa é muito mais que a adesão a um estilo de
vestuário, tem a ver com certa ‘atitude’ que seria perceptível em todos os gestos e atos da pessoa”. Ao performarem
um corpo ambíguo as identidades em disputas acionam um jogo de diferenças com regras de difícil compreensão. Os deslocamentos dos sujeitos entre uma multiplicidade de redes e fluxos de sinais que demarcam as
identidades a partir do que Nestor Perlongher chamou de código e diferenciam o jeito acionado pelas mulheres
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GRUPOS DE TRABALHOS
Flavia do Bonsucesso Teixeira - Universidade Federal de Uberlând ia/Universidade Estadual de Campinas - Mestre –
Doutoranda em Ciências Sociais pela Unicamp (E-mail: [email protected])
(transexuais) e as (mulheres) travestis. Compreendi que nesse espaço de circulação, jeito se referia entre outras
coisas, à discrição. Estabelecendo a relação entre discrição e promiscuidade, penso na impossibilidade de ser
discreto quando se goza com a ambigüidade.
NUDEZ E GÊNERO: UMA REFLEXÃO SOBRE OS PAPÉIS DE GÊNERO NO NUDISMO
Eduardo Carrascosa de Oliveira - Ciências Sociais - Unicamp - Doutorando - E-mail: [email protected]
Historicamente, o nudismo aparece como parte de uma receita medicinal: o naturismo da Europa do século XVIII,
que prescrevia uma melhor higiene de vida pela observação das “leis naturais”. No século XIX, corresponde a uma
reação contra os abusos da sociedade industrial e à refutação dos preceitos religiosos. Como uma alternativa da
natureza, sem partidos políticos, ideologia, nem nação, o naturismo formou um discurso, uma organização de princípios e atitudes. No fim dos anos 1960, o nudismo/naturismo dobra o número de praticantes em paralelo com a revolta
da juventude, o feminismo, o pacifismo, os movimentos alternativos que colocavam em xeque a ordem estabelecida.
Os hippies e suas comunidades se juntavam ao naturismo através dos valores contestatórios da simplicidade, igualdade
e do natural. Com o tempo, o sentido do termo evoluiu e atualmente exprime a busca de uma qualidade de vida
baseada no respeito e na proteção da natureza pela prática da nudez cotidiana e coletiva, desenvolvendo-se utopias e
mitos do paraíso perdido, da inocência e da sinceridade. No pressuposto de que ele se inclui na vigência de um grande
processo social de busca da identidade, pode-se utilizar o nudismo como ponto de partida para se analisar os instrumentos teóricos e metodológicos que abordam o conceito de identidade. As transformações dos vínculos subjetivos na
modernidade, portanto, tornam-se uma referência necessária para uma definição das motivações contidas e levadas a
termo pela “filosofia” e prática do nudismo e demonstração de um pertencimento a uma identidade definida. Na
proposta nudista, a nudez coletiva não teria somente a condição de estabelecer uma conotação diferente da erótica: se
despir e defender a natureza humana como essencialmente nua, aparentemente, negaria o pertencimento ligado às
identidades produzidas pela sociedade moderna que as roupas simbolizariam. Desta forma, podemos entender que a
nudez no nudismo, na verdade, surge também como outro emblema de pertencimento à raça humana, se tomamos o
nu como o humano em sua pureza, o que traz de volta a vinculação a um aparato simbólico. Neste contexto, o
trabalho apresentará a discussão referente aos papéis de gênero expressos na relação que os praticantes do nudismo
mantêm com a nudez. O objetivo é demonstrar como condições baseadas no gênero, bem como preocupações
subjetivas com beleza, justiça, saúde e etc., podem dar conformidade a estas vergonhas e orgulhos da nudez coletiva
levantando-se como “interesses” ligados a ganhos individuais de prestígio e superioridade social influenciam o valor
simbólico da nudez, para verificar em que medida estes interesses operam na sociabilidade e na construção contemporânea das identidades, não só de gênero, mas sociais de maneira geral.
O “ESPETÁCULO DO CABRA-MACHO”: UM ESTUDO SOBRE AS MASCULINIDADES DOS
VAQUEIROS NAS VAQUEJADAS DO RIO GRANDE DO NORTE
GRUPOS DE TRABALHOS
Francisco Janio Filgueira Aires (UFRN – [email protected]); Orientadora: Elisete Schwade (UFRN)
O objetivo deste estudo é compreender a dimensão simbólica da masculinidade dos vaqueiros nas vaquejadas do Rio
Grande do Norte face às mudanças ocorridas ao longo do seu desenvolvimento histórico. Essas mudanças processadas nas
competições, no cenário da vaquejada, nas regras do evento e no meio social, entre os competidores, acaba por resignificar
os sentidos atribuídos ao ser “macho” associado ao vaqueiro. Hoje, vista como espetáculo, a vaquejada se torna o palco onde
os vaqueiros disputam o prestigio de ser o campeão, tornando a concorrência cada vez mais acirrada, seja na condução do
cavalo, seja na puxada do boi entre as faixas. Esta investigação se realiza através do diálogo entre a pesquisa bibliográfica e
o envolvimento etnográfico, mediante a observação direta e entrevistas semi-estruturadas nos parques de vaquejada, possibilitando reflexões a respeito da inserção do pesquisador em campo e dos temas: o vaqueiro, a vaquejada e a construção da
masculinidade. As investigações preliminares apresentam alguns indícios relevantes evidenciados pela busca de uma
performance voltada para a conquista de prêmios nas competições, contribuindo para que estes atores sociais estejam
sempre provando que é o melhor, como um símbolo de afirmação da sua masculinidade.
Palavras-chave: vaqueiro, vaquejada e masculinidade.
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GT 0 4 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E
O CORPO FEMININO COMO UMA OBRA DE ARTE E ENQUANTO OBJETO DO DESEJO
MASCULINO
Fabiola Salgueiro - PPGA-UFF/RJ (e.mail: [email protected]) - Orientador: José Sávio Leopold i
Neste trabalho a corporeidade feminina apresenta-se como instrumento de reflexão teórica para pensar o self/
corpo como um “local de debate público”, e para mostrá-lo como construção da sociedade contemporânea com
viés conservador. Manifestar-se-á concepções teóricas referentes a uma abordagem artístico-performática com
relação aos padrões estéticos femininos, bem como uma discussão sobre o corpo da mulher como objeto de
desejo, pois este se apresenta como uma “obra de arte” esculpida e definida por padrões e valores sociais
comandados pelo olhar masculino, dos quais não se excluem nem a violência, nem a coercitividade. Nossa
hipótese é que a construção da beleza feminina, e reificação pela mídia em termos de um padrão único e
impositivo, bem como o fenômeno da estética nas academias, clínicas de cirurgia plástica e no universo da moda
configuram padrões e pressões sociais que remetem à sociedade patriarcal, apesar da beleza constituir-se numa
indiscutível expressão artística da modernidade.
O JORNAL DO NUANCES DE PORTO ALEGRE- RS
Fernando Luiz Alves Barroso - Professor do Departamento de Artes e Comunicação da Universidade Federal de
Sergipe - Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) (E-mail:
[email protected])
O Jornal do Nuances é um periódico pulicado pelo Nuances - grupo pela livre expressão sexual. Esta é uma
organização não-governamental da cidade de Porto Alegre-RS, voltada para a defesa dos direitos humanos da
população homossexual. Trata-se, portanto, de um jornal gay. Tem periodicidade irregular, formato tablóide com
12 páginas, circulação desde janeiro de 1998 e distribuição gratuita. Entendemos que este é um periódico gerado
no ambiente do movimento homossexual brasileiro e, em particular, da cidade de Porto Alegre. Em virtude desta
origem político-cultural, o jornal existe em função dos (do é contaminado pelos) desafios, das dinâmicas, das
divisões internas e dos processos inerentes a este movimento. O Jornal do Nuances reflete (e existe para refletir)
sobre estas divisões, desafios e processos e para sugerir trilhas para o seu enfrentamento. O jornal é um canal
para difusão dos temas que o grupo que o produz elege como decisivos e para a manifestação das posições
políticas e ideológicas assumidas internamente a respeito destes temas. Considerando que um dos temas eleitos
como decisivos para difusão é o significado que o jornal assume para seus fazedores (em muitas páginas, seja em
editoriais, artigos ou notas curtas, os militantes nuanceiros expressam muitas opiniões a respeito do jornal que
produzem), definimos que o objetivo deste paper é apresentar a visão que este periódico tem a respeito de si
mesmo. O principal ineresse deste tema e das posições defendidas a seu respeito é a condição de janela através
da qual é possível descortinar e compreender o significado deste importante veículo da comunicação midiática
homossexual brasileira.
Tiago Cantalice da Silva Trindade (Universidade Federal de Pernambuco – tiagocantal [email protected])
O turismo é a principal atividade econômica da praia de Pipa, assim sua comunidade vem tendo que se adaptar
aos seus ditames e refazer seu cotidiano, contribuindo para a redefinição da sua identidade e mudança de seus
valores, sendo o gênero em sua multidimensionalidade um fator importante para compreensão do fenômeno.
Em Pipa, são numerosos os casos de “nativos” que se relacionaram com mulheres estrangeiras, em sua maioria,
européias, e que, apoiados na aparente estabilidade financeira delas, lhes fazem companhia em seu regresso.
Esses relacionamentos são, em grande parte, permeados pelo interesse econômico, mas não pressupõem um
pagamento financeiro direto, isso é feito por meio de presentes. A teoria da reciprocidade de Mauss (1974) é
aqui, constantemente, verificada, sendo o sexo, o elemento central das trocas. As turistas buscam, nos “nativos”,
estilos de masculinidades não mais encontrados em seus lugares de origem. Eles, uma oportunidade de mudar de
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GRUPOS DE TRABALHOS
PARAÍSO TROPICAL, TURISMO SEXUAL E RELAÇÕES DE GÊNERO
vida. Esse comportamento embaralha os repertórios tradicionais de gênero. Contudo, essas identidades não são
fixas, ratificando a idéia do indivíduo como fonte das diferenças, composto por diversas posições de sujeito, que
variam de acordo com os discursos de gênero em que se encontram posicionados (MOORE, 2001). Esse fenômeno praiano pode nos revelar as tensões existentes na relação entre os valores tradicionais e as experiências
cotidianas, instigando-nos a pensar sobre as formas pelas quais as representações de gênero são postas em
prática. Essa inversão é possível pois ocorre em uma “região moral”, onde as pessoas liberam todos os impulsos
reprimidos pela civilização, inclusive os sexuais, assim, Pipa pode ser também vista como um “ponto de fuga
libidinal” Perlongher (1987). O método utilizado é a observação participante, visando analisar as transformações que vêm ocorrendo nas relações de gênero, influenciadas, principalmente, pela atividade turística, enfatizando
as relações entre autóctone (homem) X turista (mulher).
Palavras-chave: turismo sexual, gênero e práticas sociais.
PROSTITUIÇÃO COMO DOENÇA E OUTRAS IMAGENS: PESQUISA SOBRE SAÚDE EM
CONTEXTO DE PROSTITUIÇÃO EM BELÉM E LISBOA
Luis Junior Costa Saraiva - Instituto de Ciências Sociais (ICS) Universidade Federal do Pará (UFPa) - Email:
[email protected]
As imagens das popularmente denominadas mulheres da vida (como são conhecidas até hoje em algumas
cidades da região Norte do Brasil) esteve sempre associado às chamadas doenças do mundo, doenças que na
metáfora bélica foram vencidas pelos antibióticos, mas até que ponto essa associação entre prostituição e doença
ficou no passado ou volta novamente em tempos de Sida? E de que forma as religiosidades cotidianas surgem
como elementos importantes nessa definição de pureza e impureza da sexualidade vivenciada no contexto de
prostituição. A partir da pesquisa realizada na cidade de Belém-Pará-Brasil, nos anos de 2000 e 2001 e do
trabalho de campo que se realiza no momento em Lisboa-Portugal, busca-se analisar como essas imagens presentes em diferentes discursos definem práticas sociais nesses contextos de trabalho sexual e em alguns casos
definindo políticas de saúde publica, seja por parte do Estado ou de ONGs.
Palavras-chave: saúde, sexualidade, prostituição
RELAÇÕES DE CLASSE E GÊNERO, FRANÇA, SÉC. XIX.
GRUPOS DE TRABALHOS
Letícia de Abreu Gomes, mestranda em Antropologia Social UFRGS
Patrícia Melotto, mestranda em Antropologia Social UFRGS
A partir de um diálogo entre a literatura e a antropologia, tenta-se compreender parte do comportamento da
burguesia francesa do século XIX. Através das leituras dos romances A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas
Filho; Mulher de Trinta Anos, de Honoré de Balzac; e Madame Bovary, de Gustave Flaubert, busca-se ilustrar
com as protagonistas dessas obras a construção social dos comportamentos femininos relacionando-a aos comportamentos masculinos e os diferentes papéis executados por ambos no seio familiar. Numa perspectiva de
gênero, podemos perceber que a aquisição de prestígio se dá de forma diversa para homens e mulheres. Enquanto apara o sexo masculino o prestígio social estava relacionado a atividades “fora de casa”, como aquisição de
dinheiro para garantir uma vida luxuosa, correspondendo às perspectivas de sua classe, bem como a manutenção
da honra de seu nome, a partir da vigília do comportamento das mulheres em sua casa, o prestígio, ou a chamada
virtuosidade feminina se dava a partir do seu comportamento “dentro de casa”, como a forma que administrava
o dinheiro dentro de casa. Outro fator indicativo do prestígio feminino é o comportamento relacionado à sua
sexualidade, nessa esfera são moldados inúmeros ‘preceitos’ das condutas femininas. Visa-se aqui uma breve
análise de um comportamento de classe e de gênero, acreditando que a literatura, desenvolvida dentro de um
contexto específico, pode revelar muito da sociedade na qual surgiu determinado gênero literário.
Palavras-chave: gênero, literatura e relações de classe
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GT 0 4 - S E X U A L I D A D E S , C U LT U R A E I D E N T I D A D E
“VOCÊ É ATIVO OU PASSIVO?”-”EU FAÇO DE TUDO! SOU LIBERAL”- NEGOCIANDO
MASCULINIDADES NAS SAUNAS DE MICHÊ EM SÃO PAULO
Elcio Nogueira dos Santos (PUC-SP; [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
Este texto é uma discussão aprofundada de um trabalho anterior, (Santos, 2007), sobre masculinidades, sexualidades e corporeidades. Os resultados aqui apresentados fazem parte de minha pesquisa de doutorado e são ainda
parciais. Foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas com michês que exercem suas atividades profissionais em saunas de São Paulo e seus clientes. Perlongher(1987), Cáceres(1999) entre outros, em suas pesquisas
com profissionais do sexo masculino que exercem sua atividade profissional nas ruas, observaram a existência
de um sistema sexual pouco flexível, que é um forte mediador nas práticas sexuais entre eles e seus clientes, ou
seja, o sistema “hierárquico” (Fry,1982). Em nossa pesquisa, nas chamadas saunas de michê em São Paulo,
observamos que, tal sistema é flexibilizado, as posições durante o ato sexual são negociadas e que tal negociação
é mediada por outros marcadores de diferença social tais como: geração, classe, raça.
Palavras-chave: Masculinidades, prostituição masculina, negociação
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GT 05
ANTROPOLOGIA DA PESCA NO NORTE E NO NORDESTE: BALANÇOS E
PERSPECTIVAS
A PESCA ARTESANAL NAS PRAIAS URBANAS DE NATAL: TRABALHO, LAZER E PRÁTICAS
CULTURAIS
Sandoval Villaverde Monteiro (Doutor em Estudos do Lazer - Docente do CEFET-RN – [email protected])
A realidade da pesca artesanal no litoral nordestino, sobretudo em áreas urbanas, encontra-se fortemente marcada
pela intervenção de modos de produção capitalista que, cada vez mais, cerceiam as comunidades tradicionais de
suas práticas sociais. Entre essas práticas, trabalho e lazer se apresentam como dimensões estreitamente relacionadas, evidenciando nuances peculiares na relação com essas duas esferas da vida cotidiana. Tais peculiaridades
apontam para a manutenção e sustentabilidade de uma atividade econômica de subsistência em meio a um
panorama social, político e cultural cada vez mais contrário a ela. O presente trabalho trata de um estudo
etnográfico das práticas sociais de comunidades tradicionais que vivem da pesca artesanal no entorno de áreas
urbanas, e tem como objetivo analisar as relações entre lazer, trabalho e sociabilidade nessas comunidades. A
pesquisa, em fase inicial de coleta de dados, está sendo realizada com trabalhadores da pesca praticada na
Redinha, praia urbana situada às margens do rio Potengi, em Natal-RN. A pesquisa de campo, em andamento,
consiste no registro visual de tais atividades relacionadas com a pesca e no contato direto com os pescadores.
A coleta de dados está sendo feita através de depoimentos, histórias de vida e relatos de trabalho. Além da
praia da Redinha, pretende-se realizar a coleta de dados em outras duas praias urbanas de Natal: Forte e Ponta
Negra. Espera-se, ao seu término, traçar, do ponto de vista sócio-cultural, o perfil do trabalhador da pesca
artesanal em áreas de intensa concentração urbana, para investigar as relações estabelecidas entre suas práticas, seus conhecimentos tradicionais e modos de vida, em um espaço social pautado pelo entrecruzamento de
culturas e modos de produção antagônicos entre si.
Palavras-chave: pesca artesanal / lazer e trabalho / práticas culturais
AS IDÉIAS DO PEIXE NA BACIA DO UAUPÉS.
GRUPOS DE TRABALHOS
Pedro Rocha de Almeida e Castro (Doutorando do Programa de Pós-Graduação do Museu Nacional, UFRJ.
E-mail: [email protected])
Os habitantes da Bacia do Uaupés integram dezessete etnias, falantes de línguas da família Tukano Oriental
(ISA, 2007). O principal item da dieta destes povos é o peixe, que constitui o grosso da quantidade diária de
proteínas (Chernela, 1981). Os povos tukano desenvolveram uma complexa ciência de sua relação com os
peixes. O mundo subaquático é habitado pelos os Wai Mahsã (Waí, “peixe”, e Mahsã, “gente”, em Tukano), seres
mitológicos explicitamente relacionados aos os peixes atuais.
Neste trabalho procuro relacionar algumas idéias tukano a partir dos peixes, considerando que para estes povos
este animal funcione como uma espécie de operador lógico (sensu Lévi-Strauss, 1962), uma ferramenta mental que
articula fenômenos de diferentes ordens e escalas. Nas práticas cotidianas os peixes figuram como veículos ou
mediadores (sensu Latour), que conectam diferentes coletivos, podendo constituir formações mais ou menos estáveis.
Vamos analisar o papel dos peixes nos rituais de troca de alimentos entre grupos afins, oportunidade ideal de
jovens conhecerem e cortejarem possíveis futuras esposas. Através do peixe circula a aliança entre grupos aparentados, e também é por meio dele que o grupo de irmãos (sib) reforça (ou desgasta) o vínculo que os une em um
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mesmo grupo local, criando e recriando os coletivos (sempre provisórios) para os quais a antropologia da região
costuma adotar termos como sibs, clãs, grupos exogâmicos, entre outros.
Levando em conta estas orientações, vamos discutir neste trabalho a relação entre peixes e mulheres, evidenciando a associação da corte como pescaria. Passaremos pelo lugar dos peixes no pensamento mítico, e de suas
correlações com os nomes e outras propriedades tukano. Na conclusão, discutiremos se é possível afirmarmos
que, pelo menos entre os povos tukano do Uaupés, os peixes possuem a capacidade de agir – positiva e negativamente, intencionalmente ou não – sobre os seres humanos.
ÀS MARGENS DA LAGOA GUARAÍRAS: A PERCEPÇÃO NATIVA DA FAUNA.
Francisca de Souza Miller (Universidade Federal do Rio Grande do Norte - e-mail: [email protected] doutor(a).
O trabalho analisa a classificação dos moluscos (lilius) pelas mulheres dos pescadores, no Estuário da Lagoa
Guaraíras em Patané/Camocim, no litoral sul do Rio Grande do Norte, e é fruto da pesquisa desenvolvida no
período de 2003 a 2004, por ocasião do meu doutoramento em Antropologia, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Objetiva compreender a importância do mangue para as populações que o têm como meio de
sobrevivência. Partindo das categorias dos próprios informantes, utilizamos a observação participante
complementada por entrevistas abertas. Utilizamos aqui, a abordagem etnocientífica para tratarmos da identificação e categorização dos lilius pelas mulheres e filhas dos pescadores-agricultores, que, além de valorizá-los
como produto econômico, os têm como uma das fontes de proteína importante para a unidade famíliar. Encontramos critérios morfológicos, ecológicos, comportamentais e sensíveis, na classificação dos moluscos efetuada
pelas coletoras das citadas vilas.
Palavras-chaves: Etnoconhecimento; Moluscos aquáticos; Natureza.
COGNIÇÃO AMBIENTAL E APROPRIAÇÃO ECONÔMICA EM UMA COMUNIDADE
PESQUEIRA ESTUARINA: VISIBILIDADE FEMININA NO TRABALHO DE MARISCAGEM
Batateira é uma comunidade pesqueira situada na região do Baixo Sul baiano, onde o extrativismo representado
pela coleta de moluscos e crustáceos no manguezal constitui a principal atividade econômica, sendo realizada
por homens e mulheres. Os moluscos e crustáceos coletados e comercializados são o caranguejo, a lambreta e
ostras, sendo a maior parte da produção comercializada. A pesca estuarina é realizada em pequena escala e com
objetivo primordial de abastecimento doméstico e comércio de pequena escala na própria comunidade. As
atividades de mariscagem são a via interação entre população e meio ambiente. Esta interação é proporcionada
e proporciona a construção do conhecimento local sobre o manguezal, que contempla todo o ecossistema,
estabelecendo relações entre diferentes aspectos do ambiente, bem como estabelecendo classificações acerca da
variação de marés, da vegetação do manguezal e da fauna. O conhecimento adquirido é compartilhado por todos
os membros da comunidade, assim como as técnicas de produção, diferentemente de sociedades que vivem da
pesca marítima, em que o conhecimento sobre o mar e sobre as técnicas de pesca é negado à mulher, tornando
seu trabalho invisível, portanto, não reconhecido na comunidade. Ao se apropriar de conhecimento produtivo
e participar da principal atividade econômica, a mulher deixa de ocupar este lugar de invisibilidade e passa a ter
sua importância reconhecida, muito embora seu trabalho assuma caráter de “ajuda” e não de centralidade na
economia. Porém, a divisão do trabalho se faz com base nas características físicas de força e crenças a respeito da
fragilidade e vulnerabilidade das mulheres, sendo estes os principais fatores na definição de especializações.
Nesta comunicação, propomos discutir a visibilidade feminina em uma comunidade pesqueira estuarina, como
resultado do compartilhamento do conhecimento tradicional, dos espaços produtivos e de atividades econômicas com os homens.
Palavras-chaves: extrativismo, cognição ambiental, divisão sexual do trabalho
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GRUPOS DE TRABALHOS
Carlos Caroso (Universidade Federal da Bahia, [email protected]);
Uliana Esteves (Universidade Federal da Bahia, ul [email protected])
DE PESCADOR A PISCICULTOR: AS TRANSFORMAÇÕES DO PROCESSO PRODUTIVO DOS
RIBEIRINHOS NO BAIXO SÃO FRANCISCO/SE
Patrícia Santos Silva (Doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) ) - E-mail:
[email protected]
As transformações nas economias capitalistas a partir dos anos 60 difundiram, no Brasil, idéias ligadas ao fato de
que o desenvolvimento produtivo do país dependeria da modernização tecnológica e que as condições tradicionais seriam características de uma sociedade atrasada, destinada a desaparecer para deixar lugar aos médios/
grandes empreendimentos capitalistas, julgados economicamente mais eficientes. Essa situação é constatada em
todo o meio rural. No entanto, é preciso romper com a idéia de que o rural é setorial, isto é, sinônimo de
atividades estritamente agrícolas e de que os agricultores são os legítimos representantes e o alvo privilegiado das
políticas e dos projetos de desenvolvimento rural. Em linhas gerais, compreende-se que as populações que se
desenvolvem num considerado espaço rural possuem dinâmicas diversificadas, multidimensionais, complexas,
multifacetadas em termos de produção, composição social e cultural. No entanto, assemelham-se quando se trata de
constantes transformações no modo de vida causadas pela modernização tecnológica, que tem orientado o processo de modernização do país e sua inserção no processo contemporâneo de globalização econômica. Diante desse
contexto o presente trabalho pretende apresentar e analisar o processo de transformação produtiva que vem ocorrendo em uma comunidade ribeirinha à margem do Rio São Francisco localizada no município de Poço Redondo
no Estado de Sergipe. Essa transformação é percebida quando os pescadores dessa região, estimulados pelo poder
público, formam uma associação e através de um projeto financiado pelo PRONAF (Programa Nacional de Apoio
a Agricultura Familiar), partem para a atividade de criação de peixes em tanques-rede, o que requer uma mudança
no seu processo produtivo, descaracterizando-se como pescadores artesanais adotando uma nova identidade
produtiva: a de piscicultor.
Palavras-chave: pescador, produção, tecnologia
EMALHADOS EM REDES DE PODER: O VALOR DA TUTELA E DA LIBERDADE ENTRE OS
PESCADORES ARTESANAIS DA BEIRA DA PRAIA
GRUPOS DE TRABALHOS
Ronaldo Lobão (Fac. de Direito/UFF)
Nesta apresentação quero discutir algumas dimensões culturais de pescadores artesanais da beira da praia que
sugerem, inicialmente, um posicionamento refratário a determinados modelos de organização, de associação,
cooperação ou participação por parte de um grupo social que denomino “pescadores artesanais da beira da
praia”. Entretanto, a adoção de uma perspectiva histórico-cultural acrescenta novos elementos que permitem
desvendar outros elementos. Estes evidenciam contextos e esferas relacionais que incluem a participação da
sociedade nacional – através de seus agentes – na conformação, ou imposição, de determinadas regras de
relacionamento que ignoram nesses grupos, um determinado modo de estar no mundo, seu ethos, de uma forma
particular de apreender o espaço que os cerca, seu eidos, e uma maneira especial de sentir e de se relacionar, seu
pathos. Assim, quando confrontados com o desafio de assumirem papéis determinados por políticas de governo
na gestão, fiscalização e ordenamento dos seus espaços de produção e reprodução econômica e social, respondem de forma ambígua, reproduzindo formas históricas com que o Estado brasileiro os tratou.
GIOCONDA MUSSOLINI: UM ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO
Andrea Ciacchi (Universidade Federal da Paraíba – [email protected])
Com este trabalho dou prosseguimento à divulgação dos resultados de uma pesquisa (desenvolvida no âmbito de
estágio de pós-doutorado em Antropologia, na UNICAMP) voltada para a reconstrução da trajetória intelectual
da professora Gioconda Mussolini, pioneira no ensino de antropologia na Faculdade de Filosofia da USP, entre
1944 e 1969. Nesta etapa, resenho a sua produção mais significativa: seis artigos e a co-autoria de um livro, um
conjunto de textos dedicados a vários aspectos da vida cultural e social de populações de pescadores do litoral do
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Estado de São Paulo, produzidos entre 1944 e 1961 e fruto de intensas e numerosas pesquisas de campo. O
objetivo da análise é mostrar como o conjunto das atitudes metodológicas que se revelam na formulação dos
textos remete para uma superação crítica dos “estudos de comunidade”, no contexto dos quais Gioconda havia
se formado, tanto como aluna da USP e da Escola Livre de Sociologia e Política, quanto como colega e colaboradora de representantes dessa vertente (Donald Pierson, Emílio Willems e Egon Schaden, entre outros); e que,
nesse sentido, ela se aproxima mais das perspectivas de outros colegas seus, como Antonio Candido e Florestan
Fernandes. Finalmente, aponto os primeiros elementos que permitem ligar a sua produção aos rumos sucessivos
do campo da etno-antropologia da pesca no Brasil.
Palavras-chave: Gioconda Mussolini, Trajetória intelectual, Litoral de São Paulo
HISTÓRIAS DE PESCADOR: AS CULTURAS POPULARES NAS REDES DAS NARRATIVAS
Ana Claudia Mafra da Fonseca (Doutora em Letras - Docente do CEFET-RN - [email protected])
O presente trabalho se propõe a apresentar e discutir, de forma sucinta, os resultados da tese de doutoramento
intitulada Histórias de pescador: as culturas populares nas redes das narrativas, defendida em 2005 pelo Programa de
Pós-Graduação em Letras da UFPB. A mesma resulta de uma pesquisa etnográfica realizada no município de
Nísia Floresta, litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte, com pescadores e moradores de comunidades
existentes no entorno da lagoa de Papary, local onde, nos dias de hoje, a pesca artesanal do camarão, trabalho de
muitos pescadores, tem perdido espaço para a indústria da carcinicultura. Situada em uma linha de estudos
voltados para a análise das culturas populares tendo em vista seus elementos e sua contextualização social, a
pesquisa priorizou a coleta e análise das narrativas populares, atentando para as relações entre os elementos
culturais presentes nas narrativas com os modos de vida de seus portadores. Sabendo-se que pelo menos dois
fatores importantes surgiam como divisores de águas – o turismo e a carcinicultura –, a pesquisa propôs dar
conta dessas influências como elementos modificadores das condições de vida destas comunidades, na medida
em que as narrativas refletem as estratégias de produção e reprodução social em um contexto de transformações
sociais.
Palavras-chave: memória e produção cultural / pesca artesanal / narrativas populares
LAGUISTAS E PESCADORES: HABILIDADE TÉCNICA E CONSTRUÇÃO DA PESSOA NO
ESTUÁRIO DO AMAZONAS (VILA SUCURIJU – AP)
São abordadas as formas de engajamento humano nas técnicas de pesca empregadas por uma população do
litoral do Amapá. Situada ao norte da foz do Amazonas, a Vila de Sucuriju conta com dois grupos de pescadores.
Um deles especializado no ambiente costeiro, onde a pesca visa sobretudo a gurijuba (Arius parkeri) e se desenvolve em embarcações motorizadas, com tripulações de três a seis pescadores, empregando espinhel de fundo com
centenas de anzóis. O outro atua na região de lagos, deslocando-se em canoas a remo para duas pessoas e usando
arpões para capturar o pirarucu (Arapaima gigas). As habilidades (skills, Ingold) dos pescadores em cada atividade são
particulares e correspondem a diferentes interações: enquanto os laguistas têm no arpão uma extensão do próprio
corpo e estabelecem uma relação dialógica com o pirarucu, os pescadores de fora integram-se ao barco ao coordenar
suas ações com os ritmos de diversos objetos (âncoras, bóias, anzóis), derivados da relação entre o motor e a maré;
no mar é o anzol que captura o peixe, mas ele pode também fisgar o próprio pescador. Efetuar cada umas dessas
pescas é uma forma de ser macho, mas enquanto o laguista configura sua masculinidade no contexto da predação,
numa relação intersubjetiva com animais e outros seres, o pescador costeiro se afirma através da disposição para
conectar-se à dinâmica a bordo, tido como um processo de árdua transformação corporal.
Palavras-chave: antropologia da técnica, pesca, caboclo.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Carlos Emanuel Sautchuk (Doutorando em Antropologia Social – UnB - e-mail: [email protected])
LEVANTAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO E AMBIENTAL DE BARRA DO CAMARATUBA/PB
Edith Carmem de Azevedo Bacalháo
Este trabalho de campo teve como objetivo principal fazer o levantamento Sócio-econômico e Ambiental da
comunidade tradicional, Barra do Camaratuba, nos dias: 26 e 27 de maio de 2007. Foram realizados dois tipos de
levantamentos: O Primário, através de entrevistas e aplicação de questionário com os moradores nativos, contendo os seguintes dados: pessoais, infra-estrutura, saúde, moradia, meio ambiente e aspectos culturais. Como
também, foi realizado o levantamento secundário, através de pesquisa bibliográfica. Constatou-se que Barra do
Camaratuba, apesar dos impactos causados pelo turismo, nos últimos anos, ainda mantém características de
comunidade tradicional, pois a maioria dos moradores vive da pesca artesanal, de pequenas culturas de subsistências e as relações pessoais são baseadas na solidariedade.
“MAPAS DE PESCA: IDENTIDADE E PERTENÇA EM 7 COLÔNIAS DO LITORAL NORTE DE
PERNAMBUCO”
Luciana Campelo de Lira - Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro (ll [email protected])
Co-autores (as): Jacirema Bernardo de Araújo ([email protected]), Nathanael MaranhãoValle ([email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
A Zona Costeira de modo geral e, especificamente, seus manguezais, são responsáveis por 55% do total da
produção de pescado no Estado de Pernambuco, sendo 16% proveniente da pesca desembarcada. Considerando
pescadores registrados, pescadores não registrados e suas famílias, estima-se que cerca de 48.000 pessoas, direta
e indiretamente tiram seu sustento deste ambiente, o que equivale a aproximadamente 30% da população dos
municípios de Goiana, Itapissuma, Itamaracá e Igarassu. As pressões provenientes da produção sucro-alcooleira,
dos pólos industriais, do turismo e da carcinocultura, além de uma densidade de mais de 707 habitantes por km2
(GERCO, 1996), representam fortes ameaças a estes ambientes. O desequilíbrio desses ecossistemas, extremamente sensíveis à intervenção humana desordenada, tem como conseqüência o aumento do grau de vulnerabilidade
das populações que ali vivem, gerando alterações nas condições de vidas, afora modificações nas referências
sócio-culturais, por específico, nos valores dos grupos que tem inter-relações com esses ambientes. Diante dessa
realidade, o projeto “Mapas de Pesca: Identidade e Pertença, uma Contribuição ao Ordenamento da Atividade Pesqueira do
Estado de Pernambuco”, tem como um dos objetivos à construção de informações sobre a atividade pesqueira artesanal
local com a participação efetiva de segmentos da população. Considerando que as 7 Colônias de pescadores dessa
região apresentam grande diversidade em relação à tradição histórica de suas populações, aos modos de vida,
valores, crenças e práticas que orientam as relações dessa população com o meio ambiente e com a atividade
pesqueira em geral, dentro de uma investigação mais abrangente, encontra-se em curso um estudo etnográfico
desses grupos.
Palavras chave: Pesca Artesanal, Identidade, Meio ambiente
O VELHO E O NOVO NAS PRÁTICAS SOCIAIS DE PESCADORES EM PITANGUI/RN
Winifred Knox (UFRN) Mestra em sociologia e antropologia pelo IFCS/UFRJ e doutoranda no PPGCS/UFRN.
[email protected]
Trata-se da apresentação do estado atual da pesquisa de doutoramento que busca explicitar a relação natureza e
sociedade sob o prisma das transformações socioculturais que envolvem a atividade pesqueira no litoral do Rio
Grande do Norte. Dentre os diversos fatores que contribuem para as mudanças significativas que vêm acontecendo
neste setor, destacam-se as pressões do mercado capitalista mundial no mercado local, a intensa valorização das
terras nas áreas costeiras e as intensas trocas simbólicas produzidas através das novas tecnologias informacionais.
Neste sentido, foi possível registrar a transformação da dinâmica interna de uma comunidade pesqueira que no
passado estava embasada na tradição oral para uma nova dinâmica de trabalho acrescida de novas tecnologias
informacionais que promovem o sensoriamento remoto, entre outras metodologias. Do ponto de vista dos sujeitos
pesquisados paradoxalmente registrou-se sensíveis perdas e, ao mesmo tempo, paupaveis ganhos.
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GT 0 5 - A N T R O P O LO G I A D A P E S C A N O N O R T E E N O N O R D E S T E : B A L A N Ç O S E P E R S P E C T I VA S
O IMPACTO DO TURISMO NA VIDA COSTEIRA E RIBEIRINHA DA AMAZÕNIA.
Denize Genuína da Silva Adrião ([email protected] - MPEG/UFPA)
Atividades humanas desordenadas decorrentes de pressões demográficas, econômicas e políticas, têm provocado
drásticos danos ao meio ambiente contribuindo para o desaparecimento de nichos ecológicos fundamentais
para a preservação da vida. Neste cenário está incluída a destruição dos mangues que são verdadeiros berçários
naturais, a poluição dos rios e águas interiores, afastamento e diminuição de cardumes, desmatamento desregrado, extinção de espécies vegetais e animais, contribuindo para o empobrecimento da qualidade de vida na
região. Nesta perspectiva, constata-se que a presença do “turismo” provoca mudanças nos sistemas locais: na
organização social, nas relações dos homens entre si e nas relações que envolvem o homem e a Natureza, através
das relações de trabalho e serviços que passam a ser requeridas, atualizando, reafirmando ou reconstruindo uma
nova identidade social diante de transformações produzidas pela presença freqüente de turistas. Diante deste
fato, é necessário fomentar o diálogo a respeito dos impactos negativos e positivos do turismo nas comunidades
locais e atentar, igualmente, para as políticas de implantação e restrição. É crescente o interesse que as operações
de turismo realizadas na natureza sigam adotando alguns princípios (sustentabilidade) de forma a garantir que as
áreas sensíveis sejam conservadas e as comunidades locais respeitadas. É difícil imaginar uma análise efetiva de
custo/benefício sem mecanismos de pesquisa e a troca de informações entre pares. Este artigo faz reflexão dos
impactos causados pelo turismo na vida das famílias de pequenos agricultores, coletores e pescadores artesanais
residentes em Salinópolis e na ilha do Combu , respectivamente região costeira e ribeirinha no Estado do Pará
que, tradicionalmente, vivia mais dependente dos recursos da natureza e que gradativamente substitui e/ou
incorpora às suas atividades tradicionais, trabalhos voltados ao turismo.
Palavras-chave: Impacto Sociocultural, Turismo, Amazônia.
PESCADORES ARTESANAIS DA PRAIA DA PENHA – PB: QUANDO O TRADICIONAL E O
NOVO SE ENCONTRAM.
Comunidades pesqueiras artesanais tem sido alvo de estudo em virtude da adoção de práticas que conciliam a
extração do recurso natural com a preservação, exercendo menor impacto sobre o Meio Ambiente. Com a
redução do pescado pela pesca predatória a piscicultura tem crescido significativamente. Objetivando-se reduzir
a pesca predatória do peixe e proporcionar uma melhoria na qualidade de vida destes pescadores, o presente
estudo derivou da proposta de transmissão das técnicas de cultivo do peixe marinho Lutjanus synagris popularmente denominado Ariacó, junto aos pescadores artesanais da Praia da Penha-PB, Para avaliar a aceitação de tal
prática e sua viabilidade foi feita uma pesquisa junto a comunidade com a finalidade de conhecer o perfil sócioeconômico e sua percepção ambiental. Tal investigação se deu através da aplicação de questionários e observações participativas em que tomou-se como referência a separação entre o espaço masculino e o feminino em suas
atividades cotidianas para caracterizar traços tradicionais, assim como, mudanças sócio-comportamentais. Diversos são os estudos que apontam o caráter tradicional patriarcal das comunidades pesqueiras, em que os papéis
sociais são bastante marcados e distintos entre homens e mulheres, cabendo a eles prover e a elas cuidar.
Contudo, foi constatado que este quadro vem paulatinamente se modificando já que as mulheres cada vez mais
estão se inserindo como pescadoras registradas. Apesar disso, a pescaria, para a maioria, ainda é um misto de
lazer e oferta de melhor alimentação para os filhos, predominantemente não revendem o que pescam, com
exceção de ostras e mariscos. Verificou-se que as transformações ocorridas no universo feminino, podem ser
detectadas através de um nível escolar superior aos de seus companheiros, entre o ensino fundamental completo
e médio incompleto. Uma incongruência significativa entre os pesquisados foi detectada no que diz respeito ao
estado civil, enquanto os homens consideravam-se casados a maioria das mulheres se apresentou como solteira,
mesmo quando viviam com um companheiro e tinham filhos, elas alegavam que assim era mais fácil para levar
a vida. Com relação às expectativas quanto ao futuro, ambos demonstraram a busca por melhores condições de
vida, tanto dentro como fora da comunidade, o que denota a possibilidade de abandono do modo de vida
pesqueiro, uma vez que as mulheres, em particular, não desejam para seus filhos, a vida sacrificada da pesca, nem
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GRUPOS DE TRABALHOS
LIMA-SILVA, L & ANDRADE, M. O (Msc PRODEMA/UFPB – Profa.Dra.DCS/PRODEMA/UFPB)
para suas filhas as incertezas do mar, almejam para eles, um universo além do mar. Embora os homens tenham
demonstrado a aceitação do cultivo do peixe como alternativa de vida, com menor exigência de esforço quanto
aos aspectos aludidos acima.
Palavras-chaves: Pescadores artesanais. Pescadoras. Papéis sociais.
RESERVAS MARINHAS, PESCA LITORAL E GOVERNANÇA: O CASO DA ILHA DE TENERIFE,
ARQUIPÉLAGO DE CANARIAS, ESPANHA.
Coords.: Profª. Drª. Francisca de Souza Miller (UFRN) e Profª. Drª Andrea Ciacchi (UFPB)
Ponente: Karyn Nancy Rodrigues Henriques (Univ. La Laguna - ULL, Canarias, España) [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Resumo: Como em muitos países, as medidas de proteção dos recursos pesqueiros em Espanha dependem das
administrações públicas. A partir dos anos 80, o Minitério da Agricultura, Pesca e Alimentação criou Reservas
Marinhas de Interesse Pesqueiro (R.M.I.P.) para recuperação do meio marinho e sustentabilidade da pesca
artesanal. O desenho destas figuras varia en cada contexto específico (origem das propostas, usos permitidos,
participação de grupos de usuários, interesses vinculados, plano de manejo, tamanho das áreas, etc.). Concretamente em Canarias, existem três R.M.I.P. em funcionamento. Mais recentemente, a administração local vem
impulsando estudos de viabilidade para a declaração de outras duas R.M.I.P. em Tenerife. Este trabalho apresenta os resultados preliminares do estudo sócio-econômico realizado por Cientistas Sociais da ULL com apoio da
mencionada administração, para o desenho institucional das futuras figuras de proteção. No desenvolvimento
desta pesquisa começamos a analisar as possibilidades dos novos enfoques da governança em torno ao projeto de
reservas para Tenerife. Contatamos com as “Cofradías”, associações de vizinhos, escolas de mergulho, empresas
de excursões marítimas, pescadores esportivos e outros grupos de usuários para formulação de propostas de
zoneamento das áreas implicadas. De maneira geral, as populações de pescadores são favoráveis ao projeto para
regular as atividades na área e evitar a pesca ilegal. Porém, a limitação de uso de certas técnicas de pesca
despertou certa polêmica no âmbito de algumas “Cofradías”. A percepção dos outros grupos de usuários implicados também será contemplada neste trabalho. De qualquer maneira, ainda que os possíveis afetados não
estejam plenamente de acordo com as propostas, a aceitação de certos custos para a conservação de um recurso
comum representa um passo importante para o desenvolvimento da pesca sustentável e respeituosa com o meio
marinho. Os resultados deste trabalho convergem para a aplicação de um modelo de gestão costeira integrado,
participativo e adaptado ao contexto local.
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G T 0 6 - PAT R I M Ô N I O C U LT U R A L , I D E N T I D A D E E D E S E N V O LV I M E N TO R E G I O N A L
GT 06
PATRIMÔNIO CULTURAL, IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
A FOTOGRAFIA COMO INSTRUMENTO DE DOCUMENTA ÇÃO E PRESERVAÇÃO DA
MEMÓRIA: ARTE E SOBREVIVÊNCIA NO ALTO VALE DA RIBEIRA
Prof. Manoel Nascimento (Universidade Presbiteriana Mackenzie - PUC) Email: [email protected]
Registrar por meio da imagem fotográfica o processo de produção da cerâmica do Alto Vale do Ribeira e
consolidar a fotografia como elemento comunicativo e discursivo, contar a história da produção da cerâmica de
utilitários, antropomórficas e zoomórficas do Alto Vale do Ribeira e principalmente fundamentar a fotografia
como reconstrução histórica e cultural é o principal objetivo de estudo.
Entender o processo de produção das peças e utilitários do Alto Vale do Ribeira e viabilizar o acesso de outras
comunidades e do público externo a essa produção. Esse registro iniciou em janeiro de 2005, inicialmente no
Bairro Encapoeirado, município de Apiaí e no decorrer foi se estendendo pelo bairro Ponte Alta, município da
Barra do Chapéu e o bairro de Pavão, no município de Itaóca. Fazer a produção de peças e utilitários de barro um
dos meios para a melhoria da qualidade de vida da população, já que a localização em uma região de proteção
ambiental, Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), dificulta a exploração da terra com plantios ou
outro manejo em que seja necessário o desmatamento. A necessidade do registro das atividades produtivas do
artesanato produzido sem o uso do torno, desde o garimpo do barro, a retirada e o preparo do barro, o molde e
a queima. Divulgar as formas de produção da cerâmica sem o uso do torno e utilizar a fotografia como elemento
de consenso na comunidade do Alto Vale do Ribeira. Compreender as influências culturais externas na produção das peças e utilitários do Alto Vale do Ribeira e viabilizar o acesso de outras comunidades e do público
externo para essa produção.
A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO FITOTERÁPICO ENTRE CAMPONESES QUE HABITAM A
ÁREA RURAL DE BLUMENAU, SC, BRASIL
A pesquisa realizada teve por objetivo o estudo da importância do patrimônio fitoterápico entre a população
camponesa que habita a área rural de Blumenau, sua importância para essa população, a identificação e registro
das plantas mais utilizadas, os saberes ligados ao seu uso, bem como compreender como este tipo de conhecimento se mantém e está sendo transmitido de uma geração à outra. A importância desse trabalho além da sua
identificação e registro, está na possibilidade que ele oferece de poder vir a subsidiar políticas públicas voltadas
para a saúde da população da região. Os resultados obtidos com a pesquisa evidenciaram que o uso de plantas
medicinais e seu preparo em chás e infusões ainda se mantêm e vêm sendo repassado de uma geração à outra,
ainda que entre a população camponesa mais jovem, que trabalha na condição de worker-peasent esse hábito
esteja se modificando. Observou-se também que o projeto da Epagri/SC, de incentivo ao cultivo e propagação de
espécies junto à população camponesa, bem como do Programa de Saúde da Família, incentivando e orientando
o uso de plantas medicinais, tem contribuído para que essa prática se mantenha.
Palavras-chave: patrimônio, camponeses, área rural
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GRUPOS DE TRABALHOS
Leonilda Wessling (Furb: Universidade Regional de Blumenau, SC. e-mail; leonilda.wessl [email protected])
ARTE E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: UMA PROPOSTA PARADIDÁTICA
Sarah Karenine Paes Ribeiro. (Universidade Federal de Sergipe- [email protected])
Esse trabalho versa sobre a trajetória do estilo barroco, presente no patrimônio arquitetônico e religioso do
complexo franciscano da cidade de São Cristóvão, Sergipe, Brasil. O complexo é formado pela Igreja e o Convento de Santa Cruz, conhecido pela população local como São Francisco, e é considerado um dos mais belos
monumentos em estilo barroco do estado de Sergipe. Tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional) em 1945, hoje é reconhecido como patrimônio nacional. Essa edificação foi escolhida para
análise por deter em seu interior diversos elementos da arte religiosa barroca, oferecendo um grande leque de
representações do estilo em Sergipe. Através de um estudo sobre esse complexo, deu-se a confecção de um texto
que foi adaptado a uma linguagem para o público Infanto-Juvenil e transformado em livro paradidático, intitulado
“Conhecendo a Arte Sacra Barroca: Igreja e Convento de São Francisco”. O livro busca contribuir para ensino
de Artes e para os processos de educação patrimonial, onde através de imagens e ilustrações, oferece um recurso
visual para atividades pedagógicas. Além de informações sobre o estilo barroco, o livro contém uma personagem,
diversas fotografias e vale-se da aplicação de técnicas artísticas, como o desenho em grafite e a pintura em
aquarela. Resultante de pesquisa bibliográfica e de campo, o livro produzido, mais do que uma fonte de informações sobre a arte sacra barroca, é um livro artístico que deve ser apreciado em sua totalidade, objetivando que
seus leitores sejam sensibilizadas sobre a importância da história e memória identitária do Barroco em Sergipe.
Palavras-chave: Barroco, Patrimônio Histórico, Paradidático
CULTURA MATERIAL É PATRIMÔNIO MATERIAL: UM ESTUDO DE CASO DA CERÂMICA DE
ICOARACI – BELÉM – PA
Leandro Pinto Xavier (Universidade Federal do Piauí – [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
O trabalho discute como a cerâmica do Distrito de Icoaraci, tem sido considerada patrimônio material. A análise tem
como ponto de partida as ações do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (SEBRAE/PA), do Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e dos próprios artesãos, que aplicam os conhecimentos adquiridos em cursos e
eventos realizados pelas instituições. Constatou-se o surgimento de novos tipos cerâmicos, que se estabeleceram como
tradicionais. Vale ressaltar também a temática do patrimônio utilizada como um recurso, nos eventos, com a finalidade de revelar para os artesãos a potencialidade do estado. A partir dos dados coletados, buscou-se contribuir para o
entendimento do processo de modificação das criações populares da cultura material de um determinado grupo,
salientando ações específicas em que os objetos cerâmicos são vendidos como um patrimônio da cultura paraense.
Pretende-se, analisar como as instituições planejam suas ações e como os artesãos absorvem esse discurso. Desta
maneira, através do estudo foi possível perceber que as ações das instituições, sobretudo o SEBRAE/PA, estão relacionadas com a identidade enquanto produto que atende a um plano de desenvolvimento regional.
Palavras-chave: patrimônio, cerâmica e identidade.
DO CANTO AO GRITO - “A NOVA NAÇÃO” SOB O DISCURSO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL.
Msc.Cristian Pio Ávila (Gerência de Patrimônio Imaterial – SEC – Amazonas- Brasil - Uninorte – Amazonas - Brasil )
O trabalho pretende apresentar um panorama da constituição de um discurso do patrimônio imaterial através de uma
breve análise das ações empreendidas por agentes públicos do governo federal e estaduais. Dessa forma, se infere que
a constituição de um discurso de patrimônio (atrelado ao da construção de nação) obedece a campos profissionais
específicos de interesses e ao que poderíamos chamar de “afinidades eletivas” com determinadas expressões. Tenta se
discutir também um processo de “tutelamento” estatal de expressões localizadas, que apesar dos diversos riscos que
correm (transfiguração, espetacularização) beneficiam-se das vantagens mercadológicas pelo lado dos produtores e dos
diversos aportes aos Estados e Municípios. Os dados são resultado da experiência profissional junto a órgãos estatais
responsáveis pela gestão de ações de registro e salvaguarda do patrimônio imaterial.
Palavras-chaves: Patrimônio Imaterial; Culturas Populares; Nação, Amazonas.
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G T 0 6 - PAT R I M Ô N I O C U LT U R A L , I D E N T I D A D E E D E S E N V O LV I M E N TO R E G I O N A L
IDENTIFICAÇÃO E REGISTRO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO DE BLUMENAU E
SUA CONSERVAÇÃO ATRAVÉS DO TURISMO
Regina Ballmann (mestranda Universidade Regional de Blumenau - Programa de Mestrado em Desenvolvimento
Regional) E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]
O presente trabalho propõe uma reflexão referente à importância do turismo para conservação dos patrimônios
culturais existentes nos municípios de abrangência do médio Vale do Itajaí (Blumenau, Gaspar, Indaial, Pomerode,
Timbó, Rodeio, Benedito Novo, Doutor Pedrinho e Rio dos Cedros) situada no Estado de Santa Catarina.
Embora o fenômeno turístico seja estudado há dezenas de anos e seja muitas vezes definido grosso modo como
transição, deslocamento de pessoas de um lugar ao outro, recentemente esse conceito tem recebido múltiplas
significações e desdobramentos, chegando em alguns paises a alçar posição de fator principal de sustentação
econômica local. Turismo virou sinônimo de renda, aliado a cultura é considerado em vários países, como um
setor estratégico e condutor do desenvolvimento. As atividades de conservação, criação, produção, difusão e
consumo de bens e serviços culturais representam hoje o setor mais dinâmico da economia mundial e tem
registrado crescimento médio de 6,3% ao ano, enquanto o conjunto da economia cresce 5,7%. Estimativas do
Banco Mundial apontam a cadeia produtiva da cultura como responsável por 7% do PIB (Produto Interno
Bruto) do planeta. Pensando nisso cada vez mais o Estado tem difundido as belezas e atrativos culturais de cada
nação ou região angariando com isso centenas, milhares de turistas, deixando em troca farta receita. Apesar de
existir o temor de que o turismo possa prejudicar o patrimônio local, chamamos atenção para o fato de que este
mesmo fenômeno pode gerar maior preocupação da população e órgãos governamentais na conservação desse
patrimônio, já que esta modalidade de turista somente existirá se a cultura for preservada, caso contrário, o
turismo cultural deixará de existir. Embasados nesse pressuposto e na constatação de uma economia cada vez
mais globalizada, surge a necessidade de pensar a relação entre turismo, cultura e desenvolvimento regional,
identificando e analisando de que forma os patrimônios culturais podem ser favorecidos em sua conservação.
Esta pesquisa visa também preencher uma lacuna no planejamento turístico e cultural da Secretaria de Estado
do Desenvolvimento Regional de Blumenau. A metodologia é etnográfica e bibliográfica e os procedimentos
empregados envolvem a utilização de dados secundários e primários que sugerem a utilização de técnicas de
análise bibliográfica, análise documental, entrevista estruturada direta e indireta e fontes de dados não escritos
(depoimentos orais).
Palavras-chave: Conservaçao; Cultura; Turismo.
INSTITUIÇÕES, CULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O PROJETO DA BACIA
CULTURAL DO ARARIPE
O trabalho discute as relações entre instituições, cultura e desenvolvimento sustentável, a partir da análise de
uma experiência de planejamento que toma a cultura regional como referência. Trata-se de analisar um projeto
de desenvolvimento regional, cuja mola propulsora é a promoção da cultura em todas as suas dimensões, para
discutir as condicionantes culturais e os limites normativos do institucionalismo na promoção do desenvolvimento. A região escolhida para esse exercício é o Araripe, território que fica na confluência das fronteiras dos
Estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí, no Nordeste do Brasil.
Palavras-chave: Cultura, Desenvolvimento, Instituições
LIÊDO MARANHÃO: RESGATANDO EMBLEMAS DA CULTURA POPULAR NORDESTINA
Simone Rosa de Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco, e-mail: [email protected])
A discussão sobre a questão nacional, de identidade no Brasil só iniciou no século XIX, onde o nacional-popular
se tornou o fio condutor, peça fundamental para o entendimento da cultura genuinamente brasileira. Na cultura
popular estão algumas das vertentes da expressão da identidade nacional, em Olinda, por ex., o pesquisador
91
GRUPOS DE TRABALHOS
Freederico Lustosa da Costa (Fundação Getul io Vargas – [email protected])
Liêdo Maranhão, reuniu ao longo dos anos, os mais diversificados artefatos do universo popular de um patrimônio vivo: o Mercado de São José. Folhetos, cordéis, postais, livros de medicina popular, entre outros, fazem parte
do acervo deste pesquisador, na tentativa de construir a memória nacional de um grupo. Longe da idéia de
apenas fixar-se às imagens do passado, mas de dar vazão às discussões futuras a respeito das relações conflituosas
que constituíram o universo dos diversos freqüentadores do Mercado de São José, Liêdo reúne também imagens
que fazem parte das crenças, da maneira de ser e ver das pessoas; elementos dos quais revelam a ponte para a
compreensão dessa multiplicidade e da dinâmica da história social e cultural da sociedade. E diante desta
preocupação com a preservação da memória nacional, foi idealizado um projeto para criar instrumentos de pesquisa
e acesso público num trabalho de recuperação, organização e valorização dessa história viva da cultura popular. Até
porque, em oportunidades futuras, o resultado deste trabalho servirá como motivação para outros estudos, cada vez
mais aprofundados sobre identidade nacional-popular brasileira, traduzindo-o em novos aspectos de valores culturais
e sociais.
Palavras-chaves: memória nacional, cultura popular, Liêdo.
O JEITO CARIOCA DE SER / UM PATRIMÔNIO CULTURAL INTANGÍVEL?
CRIAÇÃO DO LIVRO DE REGISTRO DOS COMPORTAMENTOS
Phrygia Arruda (IP/UFRJ Memória Social / UNIRIO [email protected] )
GRUPOS DE TRABALHOS
Pesquisa de estágio de pós-doutorado cujo enfoque é o de uma psicóloga interessada no estudo da memória e do
patrimônio. Docente e pesquisadora recente no campo do Patrimônio Imaterial, se qualificando como antiga
observadora do cotidiano das pessoas cujas lembranças de tempos passados são temas igualmente afeitos às áreas
das ciências humanas. As cidades contemporâneas como local de preservação de uma subjetividade construída
no passado. A concepção dinâmica de patrimônio cultural imaterial com significados justapostos, onde no
contemporâneo o cotidiano deve ser olhado como expressivo capital de memória. A conformidade dos instrumentos metodológicos desenvolvidos (questionário e esquema de entrevistas) com a hipótese do “jeito carioca”
ser considerado patrimônio imaterial. Os resultados obtidos poderão ser usados num protocolo de criação de
novo Livro de Registro dos Comportamentos. A tese doutorado começo da atual pesquisa que examinou uma
subjetividade particular singularizada numa população, cultura e mentalidade que fabricaram um imaginário
“jeito carioca de ser”. Cuja discussão se baseou num recorte da cidade dentro do espaço e tempo subordinado à
seqüência Colônia, Segundo Império e República. Mas, foi a Copacabana dos anos 50, mistura de novos comportamentos a discursos da tradição brasileira, inspirados no “way of life” americano que acabou “inventando”
o jeito carioca de ser. Falar do jeito carioca é ter como objeto de análise em particular a cidade do Rio de Janeiro.
A questão proposta para este GT 06 é a de discutir se o instrumento metodológico desenvolvido (questionário)
é relevante como referência a continuidade histórica do bem imaterial, sua relevância nacional para a memória
e a identidade brasileira, e critério no protocolo de criação de novo Livro de Registro dos Comportamentos?
Palavras-chave: Carioca – patrimônio – memória
PATRIMÔNIO CULTURAL E ARTE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA. O ARTISTA PLÁSTICO
ALUÍSIO DA ROCHA LEÃO.
Arlete Assumpção Monteiro (Universidade Presbiteriana Mackenzie, docente no Centro de Comunicações e Letras.
Centro de Memória Unicamp, pesquisador associado e CERU/USP.) Email: [email protected]
[Introdução] Pesquisa iniciada em 2006. Investiga a arte brasileira na atualidade. [Objetivos] Analisar expressões
significativas da arte brasileira contemporânea. Registrar a formação acadêmica e a trajetória de vida de artistas
brasileiros contemporâneos com destaque internacional. [Metodologia] História Oral através de entrevistas
formais e informais, gravadas e ou filmadas em vídeo. [Desenvolvimento] Selecionou-se o artista plástico paulista
Aluísio da Rocha Leão, arquiteto de formação, desenhista do carro Itamarati - utilizado por vários presidentes do
Brasil – e projetista de mais de 40 unidades escolares no município de São Paulo. Nos últimos anos dedica-se a
pintura, experimentando diferentes técnicas. Participou de várias exposições no Brasil e no exterior. Possui obra
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G T 0 6 - PAT R I M Ô N I O C U LT U R A L , I D E N T I D A D E E D E S E N V O LV I M E N TO R E G I O N A L
no Museu Miró de Barcelona e outros acervos. [Considerações Finais] A oportunidade de se obter depoimentos
do próprio artista possibilita desenvolver nas novas gerações a consciência da importância do patrimônio cultural brasileiro, tornando visível o invisível. O prestígio no exterior de artistas brasileiros muitas vezes é desconhecido pela população brasileira e mesmo da própria academia. A arte é um importante aspecto do patrimônio
cultural brasileiro, portanto, pesquisar a trajetória de vida de artistas plásticos brasileiros é de suma importância
para a cultura brasileira. O estudo, o registrado e a divulgação da arte contemporânea brasileira fazem parte do
compromisso dos pesquisadores sobre patrimônio cultural.
PATRIMÔNIO CULTURAL E RELIGIÃO: PERSPECTIVAS DE UM DIÁLOGO
Sandro Guimarães de Salles (UFPE - [email protected])
Na contemporaneidade, a questão do patrimônio cultural tem sido objeto de um debate significativo, em nível
nacional e internacional. Esse expressivo interesse pelo tema, no entanto, surge no momento em que alguns
conceitos que lhe dão sustentação, como os de cultura, tradição e identidade, estão sendo repensados. No
presente trabalho, discuto a relação entre patrimônio e religiosidade, partindo da minha pesquisa sobre o culto
da Jurema em Alhandra, município localizado no Litoral Sul da Paraíba. Inicialmente, procuro descrever a atual
situação desse complexo religioso na região, trazendo á reflexão algumas questões sobre a destruição dos lugares
sagrados para os juremeiros. Em um segundo momento, discuto as possibilidades e limites de um projeto de
registro dessa tradição, bem como alguns dos novos desafios teórico-metodológicos em que se insere o tema na
atualidade.
Palavras-chaves: patrimônio, religiosidade popular, Jurema
SALGAR, DEFUMAR, CONGELAR: OS TRATOS COM O PEIXE E DESENVOLVIMENTO
COMUNITÁRIO
Este estudo tem, como objetivo geral, destacar, no âmbito das atividades realizadas, de 2003 a 2007, nos projetos
Pesca Continental no Brasil: modo de vida e conservação sustentável e Rumo à Co-gestão da pesca no Vale do Rio São
Francisco, um caso que permite analisar as relações estabelecidas entre a recuperação de uma tradição de trato
com o peixe e a perspectiva de um projeto comunitário. Os projetos foram financiados pela CIDA – Agência de
Desenvolvimento Internacional do Canadá e pelo IDRC – Centro Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento. O primeiro fundamentou um acordo bilateral Brasil- Canadá. A área de abrangência dos dois projetos
foi o Alto e Médio Rio São Francisco. Trabalhou-se com a população ribeirinha em especial pescadores artesanais
de rio residentes nos municípios de Três Marias, São Gonçalo do Abaeté (Bairro do Beira Rio), Buritizeiro,
Várzea da Palma (distrito de Barra do Guaicuí), Pirapora e Ibiaí. O caso estudado perpassa uma série de atividades observadas e de entrevistas realizadas, possíveis dado à continuidade e intensidade de relações estabelecidas
com o grupo de pescadores artesanais e de suas famílias. Ele se centra nas alterações da forma de preservação do
pescado: do salgamento ao gelo, e de como isso determinou mudanças nas relações de gênero no trabalho. Na troca
de experiências com técnicos do Canadá, trazendo a maneira tradicional canadense de defumação do peixe,
sempre com o objetivo de agregação do valor, o salgamento reaparece como uma alternativa econômica factível e
favorecida pelo valor da tradição. O caso, portanto, revela a dimensão educativa de um processo de pesquisa e de
intervenção, alterando comportamentos, valorizando práticas tradicionais e ressignificando-as como alternativas
de sobrevivência.
Palavras- chave: desenvolvimento comunitário, memória, tradição
93
GRUPOS DE TRABALHOS
Maria Inês Rauter Mancuso, Universidade Federal de São Carlos,SP, Brasil/[email protected]
Lidiane Maria Maciel, graduanda de Ciências Sociais Universidade Federal de São Carlos/ [email protected]
Ana Carolina Bichoffe, graduada em Ciências Sociais Universidade Federal de São Carlos
Ana Paula Glinfskoi Thé, Universidade de Montes Claros Mg Brasil
Alison Macnautgton, Word Fisheries Trust, Victoria BC, Canada
Sarah Bryce, Word Fisheries Trust, Victoria BC, Canada
GT 07
PELA LENTE DO INFORMAL: ABORDAGENS ETNOGRÁFICAS DE MERCADOS,
PRÁTICAS COMERCIAIS E TRANSFORMAÇÕES URBANAS
“A MINHA AGÊNCIA É A SUA CASA!”: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO SOBRE O MERCADO
TURÍSTICO INFORMAL DOS BAIRROS POPULARES DO RECIFE.
Rosana Eduardo da Silva Leal (Doutorado em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco- UFPE.
E-mail: [email protected]
O presente estudo pretende descortinar as lógicas comerciais, simbólicas e culturais do mercado turístico informal produzido nos bairros populares do Recife. A intenção é tentar visualizar os modos de produção domésticos,
baseados nas relações de parentesco, de amizade e vizinhança, que produzem uma economia popular calcada
não só em trocas monetárias mas também nas relações de confiança e dádiva. Para isso, a pesquisa tem como
principais interlocutores os respectivos empreendedores turísticos, que planejam, comercializam e acompanham tais deslocamentos, utilizando-se de um saber-fazer local. Ao explicar como funciona a sua empresa, uma
organizadora de viagem declarou-me: “A minha agência é a sua casa!”. Para esclarecer que tal empreendimento
funciona na interação, no plano simbólico. Como se trata de produções dispersas e quase invisíveis, essas
práticas turísticas ora carregam concepções estereotipadas ora sofrem de uma invisibilidade e banalização por
parte da sociedade, das políticas públicas e da academia. Por isso, o estudo pretenderá contribuir para a relativização
das práticas turísticas não-hegemônicas, na medida em que buscará entender a dinâmica dessas micro-ações de
indivíduos que, como indica De Certeau (1994), estão “supostamente” entregues a passividade e a disciplina,
mas que empiricamente reelaboram o que está posto, construindo outras “maneiras” de comercializar o Turismo.
Palavras-chave: Turismo, economia popular, informalidade.
A NOÇÃO DE “ILEGALISMO” E O MERCADO “INFORMAL” DAS DROGAS NO RIO DE JANEIRO
GRUPOS DE TRABALHOS
Antonio Rafael Barbosa (Bolsista PRODOC CAPES/PPGA-UFF - Universidade Federal Fluminense)
O tráfico de drogas efetuado nas comunidades pobres do Rio de Janeiro nunca pôde ser dissociado de uma
atividade que lhe é complementar: a venda da droga no asfalto por aqueles que tomavam os morros e favelas
como locais de compra, a partir das relações de confiança estabelecidas. Hoje, quando assume aspectos
organizacionais com um grau maior de formalização – em razão dos fluxos comerciais e bélicos que o atravessam
-, tais relações que se produzem nas bordas dos grupos locais são fundamentais para o próprio funcionamento do
tráfico nas favelas. Podemos falar aqui, guardando as devidas reservas, que existe uma relação de complementaridade
entre um “modelo empresarial”, que serve como horizonte para o tráfico nas comunidades pobres, e um modelo
“freelance”, que informa a trajetória dos pequenos traficantes nas ruas e se assenta, quase exclusivamente, sobre
bases comerciais. Embora reconhecendo a importância das estratégias de legitimação social assentadas na
dissociação entre informalidade e ilegalidade, o que pretendo fazer aqui é deslocar o foco para as relações
“informais” presentes numa esfera amplamente denominada de ilegal – o tráfico de drogas (neste caso, entre os
traficantes que “trabalham” no comércio da droga nos morros e aqueles que traficam no “asfalto”, como também entre traficantes e consumidores). Trata-se então de pensar em que medida a regulação estatal – com seus
aparelhos e sobrecódigos normativos – é indispensável, por si só, para o reconhecimento e a produção da
informalidade ou se realmente estamos diante de uma zona de interseção e confluência de diversos centros de
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GT 07 - PELA LENTE DO INFORMAL: ABORDAGENS ETNOGRÁFICAS DE MERCADOS, PRÁTICAS COMERCIAIS E TRANSFORMAÇÕES
URBANAS
poder, pelo menos no que diz respeito a este objeto de estudo. Neste sentido, a noção de “ilegalismo”, tal como
foi proposta por Michel Foucault, se mostra indispensável para pensar esse campo de problemas, uma vez que
permite ultrapassar o par dicotômico lei/ilegalidade, assim como outros que lhe são derivados (formal/
informalidade; informalidade/ilegalidade).
Palavras-chave: Informalidade; tráfico de drogas; ilegalismos
ARTESÃOS, CAMELÔS: FORMAS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NA CIDADE DE NITERÓI
Marisa Dreys da Silva Xavier (Mestranda em Antropologia PPGA/UFF) e-mail: [email protected]
Sabrina Souza da Silva (Mestra em Antropologia PPGA/UFF) e-mail: [email protected]
Este trabalho tem por objetivo descrever processos de interação que contribuem para a construção de identidades
diferenciadas entre comerciantes do chamado mercado informal. Focalizaremos dois atores que atuam no centro
da cidade de Niterói: “camelôs” e “artesãos”. Direcionaremos a atenção aos valores diferenciados destes dois atores
e a influência destes valores nos produtos comercializados. Esta é uma pesquisa que está vinculada ao projeto
“Entre o legal e o ilegal: Lógicas Igualitárias e Hierárquicas na Administração de Conflito no Espaço Público”,
financiado pelo CNPq e executado pelo Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas -NUFEP/UFF, que vem sendo
realizada desde janeiro de 2007. A metodologia utilizada caracterizou-se pela observação direta e realização de
entrevistas semi-estruturadas com os comerciantes do chamado mercado informal. Comerciantes informais vendem suas mercadorias nas ruas e parques da cidade, porém acionando identidades e valores diferentes. Seus estilos
de vida, o processo de fabricação de mercadorias, compra de matérias primas - no caso dos artesãos – e o processo
de obtenção dos produtos vendidos - para os camelôs -, colaboram para a expressão do conjunto de valores que
orienta cada atividade. Além disso, as relações sociais e familiares também exercem influencia em todo este modo
de viver que, por vários motivos, não podem ser analisados separadamente. Ser artesão ou camelô pode ou não ser
uma escolha nos grandes urbanos.
CARRINHOS, BALANÇAS E PAPEL: RELAÇÕES ENTRE “PAPELEIROS” E COMPRADORES
DE MATERIAL RECICLÁVEL EM PORTO ALEGRE/RS
A coleta de resíduos sólidos na cidade de Porto Alegre/RS foi implantada no início dos anos 90 pela prefeitura
municipal e, desde então, um processo de coleta informal desse tipo de material não apenas aumentou como
ganhou mais visibilidade. Durante a realização de pesquisa etnográfica no loteamento popular Santa Terezinha
(entre fevereiro e junho de 2007) localizado no centro de Porto Alegre, onde a maioria dos moradores trabalha
com coleta e/ou triagem de material reciclável, o que fez com que o local fosse conhecido antigamente por “Vila
dos Papeleiros”, uma dimensão que envolve relações entre papeleiros e compradores de resíduos sólidos foi
sendo revelada. A partir dos dados etnográficos, o objetivo desse trabalho é focar na forma como é realizada a
coleta informal de material reciclável pelos próprios papeleiros e na relação desses com compradores do material.
Palavras-chave: resíduos sólidos, coleta, relações.
“COMERCIO INFORMAL –AMBULANTES DENTRO DOCAMPUSCIDADEUNIVERSITÁRIA DA UFRJ”
Maria de Fátima Farias (UFRJ - mffarias@cl ick21.com.br);
Eduardo Lacerda Mourão (UFRJ - [email protected]);
Viviane de Oliveria Mello (vivisocial@cl ick21.com.br)
Nesta comunicação focalizaremos os relacionamentos que se viabilizam em torno do pequeno comércio de
cachorro-quente em uma cidade universitária de uma universidade federal no Rio de Janeiro. Buscaremos demonstrar como se articulam estas atividades comerciais e os representantes de redes familiares que vivem em
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GRUPOS DE TRABALHOS
Indira Nahomi Viana Caballero (PPGAS Museu Nacional UFRJ - ind [email protected])
uma vila residencial localizada nos fundos do campus universitário. Discutiremos as estratégias de viabilização
dos empreendimentos comerciais, nos quais se pode perceber, de forma adjacente, os interesses em torno do
reconhecimento da pertinência dos serviços, mas também da ocupação da referida vila por parte de pessoas que
não são servidoras públicas federais. Nosso foco estará centrado nas formas de crédito que envolve funcionário e
professores da universidade e os valores contidos nestas redes de confiança. Este trabalho se vincula a um Projeto
de Extensão e faz parte de uma linha de pesquisa desenvolvida pelo LeMetro, (Laboratório de Etnografia Metropolitana/DAC-IFCS-UFRJ).
Palavras-chave: Comércio, Informalidade, Relações Sociais.
ECONOMIA SOLIDÁRIA: AUTOGESTÃO E PODER SIMBÓLICO NA GERAÇÃO DE TRABALHO
E RENDA
Rafaelle Monteiro de Castro (Universidade Federal do Rio de Janeiro – IPPUR/UFRJ – [email protected]);
Consta neste trabalho um relato etnográfico sobre a constituição de uma cooperativa comunitária na área de
construção civil. Esta cooperativa foi fundada sob os princípios da Economia Solidária, é uma tentativa de
geração de trabalho e renda através da autogestão e da propriedade coletiva, representando uma alternativa a
reprodução do trabalho assalariado e desemprego. Devido ao tempo destinado a esta pesquisa permitiu-se a produção
de um histórico sobre o surgimento do grupo, bem como a apreciação da trajetória de vida de 3 dos 32 sócios. A partir
do momento de constituição da cooperativa, observa-se o impacto do novo modelo de gestão democrática aos trabalhadores acostumados, anteriormente, com o trabalho assalariado e hierarquizado da construção civil. O principal
objetivo deste trabalho é a observação e investigação dos fundamentos das relações de poder e conflito engendrados
nessa nova concepção de trabalho autogestionário, com base nos laços de sociabilidade desenvolvidos dentro da
cooperativa.
Palavras-chaves: Economia Solidária; Autogestão; relações de poder.
ESTADO MÍNIMO: DITOS E FEITOS DO TRABALHO POR CONTA PRÓPRIA
GRUPOS DE TRABALHOS
Diana Lima, Nucec/MN, UFRJ
O cenário é conhecido. Crise de endividamento, descontrole inflacionário e diversas tentativas de estabilização
monetária são os traços da fisionomia sócio-econômica do “continente da esperança”, na década de 1980. No
mundo do trabalho, no Brasil, a acentuação dos processos de exclusão do mercado formal de ocupação provocada
pela crise do modelo fordista-taylorista de produção vem acompanhada de uma depressão do sistema público e
uma decorrente deterioração dos mecanismos de proteção social contra o desemprego e a miséria, provocando
um agravamento das já historicamente precárias condições de existência da pobreza urbana.
Em um ambiente de 80% de inflação mensal e longa estagnação econômica, portanto, em março de 1990 é
empossado no Brasil o primeiro presidente eleito pelo voto direto após 29 que, endossando as recomendações
aos países periféricos para a retomada do crescimento econômico, para o desenvolvimento e para o alcance da
igualdade social que tiveram “Consenso [em] Washington”, tratou imediatamente de cumprir sua promessa
eleitoral de ruptura com o “atraso”. Assim, Collor de Mello pôs-se a diminuir a presença do Estado da arena
econômica, tomou suas medidas para a estabilização da moeda e implementou, no país, a “abertura comercial”
e a “privatização”. Nesse momento, ao mesmo tempo em que o vocabulário econômico local e internacional
passou a empregar a categoria “emergente” para classificar o Brasil no teatro da economia mundial, a rede social
“Nova Sociedade Emergente” surgiu como uma boa notícia na coluna social. Com base em material de imprensa sobre essa rede de relações e em observação direta de seu estilo de vida, o objetivo da minha comunicação é
refletir sobre o fenômeno que venho chamando de ethos emergente. Trata-se de um conjunto de atitudes e de
uma mentalidade que articula positivamente trabalho empreendedor/comercial/autônomo árduo, acúmulo financeiro e consumo conspícuo. Tal articulação ganhou ampla legitimidade e passou a informar a conduta em
alguns meios sociais na época em que a economia brasileira endossou as diretrizes e princípios do “mercado
livre”.
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GT 07 - PELA LENTE DO INFORMAL: ABORDAGENS ETNOGRÁFICAS DE MERCADOS, PRÁTICAS COMERCIAIS E TRANSFORMAÇÕES
URBANAS
EU QUERO É PEGAR NAS CARNES! SÁUDE, DIREITO, CONSUMO E TRADIÇÃO NA VITRINE.
Mário Miranda Neto (NUFEP-UFF / SEE-RJ / HCTE-UFRJ [email protected])
O trabalho procura explicitar as práticas comercias em torno do consumo da carne bovina e suína, mais
específicamente no que tange aos hábitos profiláticos garantidores da qualidade da carne. Sustento que tais hábitos
marcam diferenças entre alguns grupos sociais e procuro mostrar o esbarrar destes hábitos com o sistema de
vigilância sanitária brasileira e suas diversas instâncias, levando em conta as práticas dos comerciantes para levarem a cabo sua atividade. O trabalho parte de notas etnográficas efetuadas na feira de Campina Grande e em
cidades circundantes do Brejo e do Cariri Paraibanos onde, em decorrência de campo na dita favela da Maré no Rio
de Janeiro, fui trabalhar com outras questões. Após uma primeira sistematização de notas e diálogos com colegas, o
problema do consumo de carne ganhou corpo havendo mais uma viagem para a região aludida e um novo investimento etnográfico no Rio de Janeiro tanto em feiras livres como na Feira de São Cristovão, inclusive quando da
transferência desta ultima para dentro do pavilhão de mesmo nome, oportunidade para a instalação de box e
balcões frigoríficos para os açougues buscando deixar de lado a venda nas “tarimbas”.
Palavras-chaves: consumo, carne, legislação sanitária
ILEGAL, E DAÍ? CONFLITOS SOBRE OS USOS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DA CIDADE VISTO
POR UM JORNAL DE GRANDE CIRCULAÇÃO
Pedro Paulo Thiago de Mello
Há cerca de três anos, o jornal O Globo lançou a campanha “Ilegal, e daí?” Para denunciar a omissão do poder publico em
relação aos usos dos espaços públicos por grupos comerciais e moradores. Inicialmente, a campanha, composta de uma
série de reportagens-denúncia e também de pareceres de especialistas (autoridades públicas, guarda civil, engenheiros,
planejadores urbanos e acadêmicos), abrangeu o problema dos veículos transgressores das leis de trânsito, especialmente no
que se refere a avanço de sinais, condução em alta velocidade e estacionamentos irregulares. Nesta primeira fase, também
foram denunciados bares que ocupam as calçadas com mesas e cadeiras bloqueando o passeio público, e até mesmo alguns
que construíram “puxadinhos” sobre áreas públicas. Nesta primeira etapa, o alvo principal das reportagens eram atores de
classe média. Numa segunda etapa, a campanha “Ilegal, E daí?”, focou o crescimento das favelas e atuação de camelôs em
áreas proibidas. O presente trabalho parte de uma etnografia na redação do jornal O Globo sobre os preparativos das
reportagens e uma análise das matérias em si, em relação sobretudo ao impacto na opinião pública.
INFORMALIDADE E ESPAÇO PÚBLICO: SOCIABILIDADES E ESPACIALIZAÇÃO DE ATIVIDADES
A diminuição dos empregos com carteira assinada é uma realidade crescente no Brasil, uma vez que o desenvolvimento
de outras atividades fora do âmbito da formalidade empregatícia passou a ser uma realidade a algum tempo. Neste
sentido, as atividades de cunho informal passaram a ser uma alternativa para a complementaridade de renda, ainda que
em muitos casos sirva como fonte principal de renda. Assim sendo, os informais organizam suas atividades de diversas
maneiras, sejam em barracas improvisadas, carros móveis, ou vendendo produtos alimentícios, adornos populares, ou
prestando serviços de transporte, essas são algumas formas de como este tipo de trabalho se distribui pela cidade. Sendo
assim, este se torna um estudo relevante já que a sua disposição pelos espaços citadinos, bem como as suas sociabilidades
de interação e de conflitos são influentes na busca por pontos de comercialização. Deste modo, a etnografia utilizada na
apreensão das ações destes atores sociais se apresenta como instrumentos metodológicos para a verificação de comportamentos sociais. O objeto empírico aqui investigado corresponde aos informais localizados nas proximidades do
shopping Jardins em Aracaju, estes utilizam a demanda, referente aos transeuntes que se dirigem ao shopping, uma vez
que estabelecem relações com os moradores dos prédios. Portanto, sob as atividades econômicas e através da etnografia,
pode-se apreender seus comportamentos sociais e suas redes de relação social no espaço, neste sentido, pode-se inferir
sobre a espacialização de suas atividades e possíveis causas de escolha daquela localidade.
Palavras-chave: informalidade, espaço público e sociabilidades
97
GRUPOS DE TRABALHOS
Alysson Cristian Rocha Souza (alyssoncristian79@cl ick21.com.br - Universidade Federal de Sergipe – UFS;)
LES NOUVELLES D’AYITI: UMA MIRADA INICIAL SOBRE OS MERCADOS DE RUA DE PORT
AU PRINCE E JACMEL
José Renato de Carvalho Baptista – Doutorando em Antropologia Social Universidade Federal do Rio de Janeiro/
Pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Cultura e Economia (NUCEC/PPGAS/UFRJ): [email protected]
A presente comunicação é uma tentativa preliminar de realizar uma etnografia dos mercados de rua do Haiti,
nas cidades de Jacmel e Port au Prince. Minha expectativa é estabelecer algumas linhas iniciais de investigação
a partir de uma série de percepções provocadas pelo contato com o ambiente dos mercados de rua destas duas
cidades haitianas. Opto aqui por um registro eminentemente descritivo, tendo em vista de que se trata de uma
investigação preliminar, retratando desde de problemas clássicos presentes nas etnografias dos mercados do Caribe,
tais como a presença maciça de mulheres no controle das atividades mercantis (Mintz, 1971 e 1974), até o caso dos
“dólares haitianos”, moeda de conta utilizada largamente em todo país, a despeito da existência de uma moeda
oficial.
Palavras chave: Mercados, Haiti, Dinheiro
MORALIDADES, ESTRATÉGIAS E EMOÇÕES ENTRE VENDEDORES AMBULANTES NOS
ÔNIBUS DO RIO DE JANEIRO
Isabel Milanez Ostrower (Mestre e Doutoranda do PPGAS / Museu Nacional / UFRJ, [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
O presente trabalho procura analisar as práticas e discursos envolvidos nas estratégias de atuação dos vendedores ambulantes nos ônibus do Rio de Janeiro, especificamente nos bairros de Botafogo e Copacabana. A partir
de um exercício etnográfico, busca perceber como estes vendedores recuperam trajetórias e fazem determinadas
escolhas para sobreviver em um universo de fronteiras fluidas, tendo em vista as condições adversas em que
estão inseridos. Ao circularem por locais públicos e privados, procuram negociar seu espaço físico e simbólico
através de relações estratégicas com motoristas, cobradores, fiscais e passageiros. Se, em um plano legal, não têm
autorização para comercializar seus produtos, moralmente acionam diferentes recursos visando obter reconhecimento social. A ambigüidade de sua posição diante das leis e regras, faz-nos questionar como se dá a construção
de sua dignidade, tendo em vista que estes atores sociais são geralmente confundidos com “pedintes”, “malandros”, “um-sete-um”, “vagabundos”. Neste contexto, tem especial relevância a utilização de recursos retóricos e
estratégias performáticas como apresentar-se como pai de família e trabalhador, saber se vestir e se comunicar,
além de se relacionar e negociar com a clientela. Estas estratégias permitem driblar as regras e reelaborar
moralmente outras formas de sociabilidade, práticas e saberes. Assim, a pesquisa busca identificar as relações
com outros agentes, assim como o contexto local e cultural das situações problemáticas que viabilizam ou não o
trabalho do vendedor ambulante nos espaços da rua. A atuação do vendedor envolve todo um conjunto de
práticas e valores que extrapolam os códigos de socialização institucional e que são o resultado de relações e
dinâmicas negociadas cotidianamente.
O QUE FAZ O VER-O-PESO ?VIR EM PESO??: PRÁTICAS SOCIAIS, POLÍTICAS E CULTURAIS
EM RELATOS ETNOGRÁFICOS DA FEIRA MAIS FAMOSA DE BELÉM DO PARÁ.
Mônica Prates Conrado (Universidade Federal do Pará - [email protected])
A relevância da abordagem antropológica nesse estudo é a negociação de conflitos e demandas sociais presentes
na ?co-existência? entre as esferas legais-formais, representadas pela Secretaria de Economia do Município de
Belém e as atividades desenvolvidas pelos feirantes do Ver-o-Peso como atores sociais aqui privilegiados. Observamos determinados locais que ganham caráter proibitivo, restringindo a circulação daqueles que fazem a feira
acontecer através de processos políticos de demarcação territorial e simbólica pelas ações da SECOM. Isso se
reflete na tentativa de desinvestir o sentido à vida e à cidade atribuído pelos feirantes. Tais práticas escamoteiam,
dissimulam laços de coesão social e vínculos afetivos construídos entre eles ao longo de gerações, que agregam
parentes, amigos e conhecidos em iniciativas culturais, como grupos de teatro que extrapolam as dimensões
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GT 07 - PELA LENTE DO INFORMAL: ABORDAGENS ETNOGRÁFICAS DE MERCADOS, PRÁTICAS COMERCIAIS E TRANSFORMAÇÕES
URBANAS
econômicas e comerciais da feira. A estrita vinculação imediata feita pela História Oficial do Ver-o-Peso como
ponto turístico da cidade de Belém empobrece a rica e complexa diversidade de significados presentes no
cotidiano das relações ali existentes. São questões como essas que geram a hipótese de trabalho da pesquisa
etnográfica da feira mais famosa de Belém do Pará.
Palavras-chave: feirantes, cidade, mercados.
OS DONOS DA SITUAÇÃO – UMA DISCUSSÃO SOBRE AS RELAÇÕES QUE VIABILIZAM O
FUNCIONAMENTO E LEGITIMAM UM CAMELÓDROMO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Lídia Canellas – Cientista Social/UFF - NUFEP
Tatiana Calandrino Maranhão – Graduanda em Direito /UFF – NUFEP
Nesta comunicação buscaremos descrever o cotidiano dos trabalhadores e comerciantes ditos informais que
atuam em um camelódromo do centro do Rio de Janeiro, com particular atenção para as formas associativas
estabelecidas entre eles. Estas assumem papel relevante na negociação das diferentes formas de ocupação do
espaço com as instituições públicas municipais. Em projeto desenvolvido pelo NUFEP, no âmbito do Projeto
“Entre o legal e o ilegal: lógicas igualitárias e hierárquicas na administração de conflitos no espaço público
urbano”, temos tido oportunidade de acompanhar esse cotidiano desde dezembro de 2006. Neste exercício, percebemos as diferentes formas de organização das atividades e do espaço, as múltiplas identidades que são acionadas,
de acordo com os contextos, como também os valores morais e sociais concorrentes para que a Associação,
entidade existente há pelo menos doze anos, se estabeleça como mediadora das relações entre os comerciantes
- os associados - com a Prefeitura.
OS SENTIDOS DO CRÉDITO COMUNITÁRIO NA EXPERIÊNCIA DO BANCO PALMAS
Neste trabalho busco compreender a performance simbólica e prática que é protagonizada por meio de uma
instituição de crédito comunitário, o Banco Palmas. Criado por iniciativa da Associação dos Moradores do
Conjunto Palmeiras (ASMOCONP), na periferia da cidade de Fortaleza – CE, o Banco Palmas funciona de modo
diferenciado do sistema bancário e do crédito convencional, com o objetivo de fomentar o movimento de uma
rede local de economia solidária. Para apreender os sentidos que se manifestam nessa experiência de organização comunitária, realizo um trabalho de pesquisa que se apóia nos instrumentos da etnografia, base metodológica imprescindível no estudo do fenômeno aqui focalizado. Através da observação em campo, já reuni vasto
material que revela aspectos fundamentais da experiência do Banco Palmas: o pertencimento comunitário, a
confiança e a reciprocidade. Para obter crédito junto à instituição, não é necessária a formalidade exigida nos
bancos convencionais, como por exemplo, o condicionamento ao sistema de Proteção ao Crédito. É preciso,
sim, morar na comunidade e ter conduta conhecida e aprovada no espaço da vizinhança. O Banco Palmas é
objeto de interesse nesta pesquisa também por configurar outros referenciais em sua performance cotidiana: um
cartão de crédito local (Palmacard); uma moeda social circulante (moeda Palmas); diversos empreendimentos
populares nas áreas produtiva, comercial e de serviços; e projetos de educação e formação aplicados ao desenvolvimento da economia solidária. Dentre os resultados parciais da pesquisa, ressalto que a experiência do Banco
Palmas se revela como protagonista de um esforço de construção simbólica e prática de significados da economia solidária, “tecendo redes” de sociabilidade e solidariedade originadas nos laços de vizinhança e pertencimento
ao espaço local.
Palavras-chave: pertencimento, economia, crédito.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Antonio George Lopes Paulino (UFC – antoniogeorge_lopespaul [email protected])
PARENTESCO E INFORMALIDADE NA FEIRA DA PRAINHA, BELÉM-PA
Samuel Maria de Amorim e Sá (UFPA, Belém, Pará, Brasil. [email protected])
Breno Rodrigo de Oliveira Alencar (UFPA, Belém, Pará, Brasil. [email protected])
Este trabalho é resultado da pesquisa intitulada “Práticas e representações na transferência de patrimônio familiar: o caso da Feira da Prainha”, desenvolvida junto ao Departamento de Antropologia da Universidade Federal
do Pará. Nele se discorre sobre a relação existente entre o processo de ocupação dos espaços na feira e sua
conseqüente legitimação através do parentesco, no qual transferências de bens (materiais—bancas, barracas e
mercadorias—e simbólicos—crédito, clientela) aliados a regras de convívio e códigos de conduta caracterizam as
redes de sociabilidade existentes no local. Sendo assim, e ainda, influenciada pelo amplo processo migratório
dos anos de 1980, pela ocupação urbana dos anos de 1990 e pelas tendências neoliberais da economia contemporânea, é que a Feira da Prainha possibilita interpretar a lógica do pertencimento ao “pedaço” (Magnani,
1984), uma vez que as tramas da informalidade envolvidas no conjunto destas características são o marco teórico
que nos guiam na compreensão dos elementos que determinam sua existência e continuidade. Para tanto, far-seá referência ao método etnográfico utilizado em contexto geertziano, onde se busca dar eloqüência as mais
simples ocorrências.
“VILA & UFRJ: O COTIDIANO DO COMÉRCIO INFORMAL NO PRÉDIO DA REITORIA - UFRJ.”
GRUPOS DE TRABALHOS
Marco Aurélio Lacerda da Silva (UFRJ – [email protected]);
Vera Lucia Valente de Freitas (UFRJ – [email protected])
O presente trabalho busca construir uma análise do comércio informal localizado na Cidade universitária,
focalizando o prédio da reitoria e especificamente um de seus “fornecedores de alimentos” (salgadinhos): uma
moradora da Vila Residencial/UFRJ. A estratégia da pesquisa é manter o recorte analítico apenas no prédio da
Reitoria, tentando mapear a rede de relações que giram ao redor deste sistema de comércio informal existente
ali, centro da maior universidade do país. O prédio é “alimentado” por uma série de comerciantes, dos quais
uma das origens comerciais é a Vila Residencial. A rotina no prédio da Reitoria fica inviabilizada sem esses
serviços, são estes que fornecem os alimentos tanto para os intervalos de trabalho e estudo, como para o lanche
da tarde, as festinhas de aniversário de última hora e o jantar de vários funcionários que saem depois do horário.
Este comércio informal tem a capacidade de “afreguesar” indivíduos dispersos ou até um Departamento inteiro
– constituindo uma rede de comércio ambulante. Para a grande quantidade de funcionários que são clientes
cativos existe um sistema de crédito, operado através da caderneta dos próprios funcionários, que entre eles tem
reconhecimento ativo, sendo o desrespeito às suas regras passível de sanções morais. O “selo de qualidade” é
aferido pelo próprio acolhimento que o produto tem pelos consumidores em geral. A moradora em questão,
responsável pelo serviço do “salgadinho”, mobiliza recursos de sua casa, e conta com a ajuda de seus familiares,
mãe, filhos, etc. Sem esses serviços, de uma forma geral, o campus padeceria. Essa “miscelânea” de práticas
comerciais informais ali correntes - que a administração gostaria de ver longe do seu escritório ou manter na
invisibilidade - é que torna possível e palatável o convívio e o desenvolvimento das atividades normais deste
lugar. Esses serviços, em seu conjunto, desenham uma rede de comércio informal florescente que ocupa uma
posição importante no funcionamento geral das atividades no Campus Fundão da UFRJ.
Palavras-chave: Freguesia, Troca, Crédito
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GT 08 - IMAGINÁRIO E CIÊNCIA: EXPERIÊNCIAS ETNOGRÁFICAS CONTEMPORÂNEAS
GT 08
IMAGINÁRIO E CIÊNCIA: EXPERIÊNCIAS ETNOGRÁFICAS CONTEMPORÂNEAS
A EXCLUSÃO PELO CORPO: TECNOLOGIAS DO PODER, DESVIO E ESTIGMA NO CASO
DOS HANSENIANOS DO BONFIM - SÃO LUÍS/MA.
Cidinalva Silva Cârama (Mestranda em Ciências Socias-PPGCS- UFMA - cid [email protected])
Esta comunicação surgiu a partir das reflexões metodológicas que orientam os trabalhos de pesquisa que terão
como resultado nossa dissertação de mestrado. Assim sendo, esta comunicação destaca as categorias de análises
que estão orientando nosso trabalho de campo com os ex-internos da ex-colônia do Bonfim em São Luís. Nesta
perspectiva de análise, muito valiosas têm sido as categorias de “exclusão”, desenvolvida por Norbert Elias em
seus estudos; “tecnologias do poder”, tal como tratadas por Michel Foucault; “desvio” e “estigma” como largamente desenvolvidas por E. Goffman. Nossa pesquisa tem se realizado por meio de entrevistas livres, nas quais
utilizamos gravador de voz, pela observação participante, análise da documentação da ex-colônia e pesquisa nos
arquivos do estado. A adoção das referidas categorias foi motivada por nossas conclusões preliminares apontarem para a criação da colônia como resultado de procedimentos de exclusão que isolaram os doentes de lepra –
considerados fora da normalidade corporal - num espaço afastado da cidade, submetendo-os à internação compulsória e a uma disciplina rígida. Essas medidas, tidas como profilaticamente corretas, tinham como objetivo
ambíguo adequarem os pacientes ao convívio social. Todavia, conclui-se que de fato isso não correu, uma vez que
mesmo depois de curados, as marcas do estigma da lepra tenderam a afastá-los do convívio social limitando sua
ação como agentes. Dessa forma, restringiram-se os espaços em que tais pessoas poderiam atuar, bem como
limitaram-se as suas rede de sociabilidades: família, trabalho, religião, lazer, opinião política - fato esse que
interferiu e ainda interfere nas suas interações com a comunidade que se formou nos arredores da ex-colônia.
“ABRAÇOS DE MONO”: CICLOS E REDES EM UM CASO DA PRIMATOLOGIA NO BRASIL.
Este trabalho consiste numa abordagem etnográfica pautada em trabalho de campo acompanhando um grupo de
primatólogos que realizam suas pesquisas no Brasil, e trata-se de uma parte da argumentação desenvolvida em
minha tese de doutorado em Antropologia Social, cuja ênfase foi dada à área de antropologia da ciência e tecnologia.
Aqui me dedico à analise da construção da imagem dos primatas [chamados “muriquis” ou “mono-carvoeiros”]
envolvidos no discurso-cultura de seus pesquisadores. Para expressar como as representações desta espécie de
primatas são produzidas de acordo com a relação que estabelecem com diversos agentes interlocutores e seus
variados interesses, utilizei como fonte os relatos de campo de cientistas confrontando-os com as diversas percepções de habitantes da população local acerca deste mesmo objeto-primata. Paralelamente, foi fundamental consultar reportagens e entrevistas concedidas por primatólogos e veiculadas pela imprensa não-especializada em âmbito,
sobretudo, local e regional. Estes textos de divulgação e promoção científica compõem um elo de uma ampla rede
envolvendo macacos, primatólogos, fazendeiros, jornalistas, ambientalistas, organizações não-governamentais e
seus contribuintes financiadores. Utilizando a idéia de redes sociotécnicas, pensada por Bruno Latour, pretendo
explorar as relações e variações a que estão submetidas estes coletivos de humanos e não-humanos, e demonstrar
como o ciclo de produção e reprodução de imagens e identidades se retroalimenta neste caso espefícico.
Palavras-chave: antropologia; primatologia; redes
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GRUPOS DE TRABALHOS
Guilherme José da Silva e Sá (UFSM – [email protected])
ANIMAL E CIÊNCIA: TRANSLAÇÕES NO DISCURSO INSTITUCIONALIZADO
Daniel Pereira Ramiro (Unicamp – [email protected])
Atualmente muitos experimentos científicos utilizam-se de animais como instrumentos de pesquisa; são apresentados
como modelos vivos para testes farmacológicos, produção de imunobiológicos e desenvolvimento de estudos de doenças de diversos tipos (degenerativas, infecciosas, genéticas). Com a organização da sociedade civil em entidades a fim de
lutar contra a crueldade para com os animais – iniciada na Inglaterra em 1824 com a Society for the Prevention of Cruelty
to Animals – a disputa pela ampliação da área de preocupação moral dos humanos tomou corpo institucional, trazendo
à luz uma nova discussão sobre a validade/legitimidade do método científico pautado no uso de animais. No intuito de
apreender a rede de atores mobilizados, bem como os vínculos entre os mediadores coletados no processo de desenvolvimento de um novo ethos da experimentação animal – muito em face das disputas políticas entorno da ética animal –
buscou-se entrar em contato com o discurso científico institucionalizado acerca das relações envolvidas em todo o
processo que abarca a utilização de animais de laboratório na produção do conhecimento científico. Dessa forma, o
trabalho etnográfico, realizado no estado de São Paulo, concentrou-se em cursos sobre o uso de animais em pesquisas e
bioterismo – evidenciando a produção e manutenção dos modelos –, eventos científicos (encontros, palestras e workshops)
e apresentações de resultados publicados. Buscando incluir no horizonte ético das elaborações humanas o suporte
biológico natural, a ética adquire um corpo protocolar nos moldes dos padrões científicos trazendo ferramentas que
refinam a pesquisa com animais objetivando obter modelos que promovam maior qualidade dos dados científicos
gerados, apontando assim para um estreito vínculo entre bem-estar animal e relações de conhecimento.
Palavras-chave: animal de laboratório, conhecimento científico, bem-estar animal.
CURANDEIRISMO NO RECIFE IMPERIAL E CONTEMPORÂNEO - TRANSFORMAÇÕES E
SOBREVIVÊNCIAS
Rosilene Gomes Farias (UFPE - [email protected])
Em janeiro de 1856, uma devastadora epidemia de cólera invadiu o Recife, matando cerca de 5% da população.
A falta de uniformidade na atuação dos médicos e a ineficácia dos tratamentos empregados encorajavam a
desconfiança que a população nutria em relação à medicina. Uma forte herança cultural africana surgiu como
paliativo para os recifenses, durante a epidemia. Nesse cenário, o pai Manoel, um curandeiro africano que
afirmava conhecer a cura para o cólera, ganhou fama na cidade chegando a receber autorização para aplicar o
seu remédio em meio aos médicos, no Hospital da Marinha. O episódio reflete a força das tradições africanas no
Brasil imperial, algo recorrente na sociedade contemporânea, em que a medicina convive com as antigas formas
de cura que atravessaram o Atlântico com os escravos no século XIX.
Palavras-chave: cultura africana, curandeirismo, antropologia histórica.
DA RUA À PAGINA: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NA E DA RUA DA PRAIA/ PORTO ALEGRE /RS.
GRUPOS DE TRABALHOS
Thais Cunegatto
O trabalho proposto busca através de um mergulho nas formas da cidade, o exercício de uma etnografia de rua,
procedimento metodológico definido pelas autoras por Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornelia Eckert que
consiste num duplo deslocamento do antropólogo pela cidade: epistemológico e do caminhar. A pesquisa abrange
a Rua da Praia, um forte ponto de amarração da memória coletiva e das formas de sociabilidade da área central de
Porto Alegre/RS, se caracterizando ao longo do tempo como território de enraizamento de trocas sociais marcadas
pela heterogeneidade social e cultural dos indivíduos e/ou grupos que por ela são atraídos. Buscarei, portanto, uma
imersão nas narrativas textuais já existentes, para assim compor outras narrativas sobre este tema. Sendo assim
compreendo distintas imersões: uma na paisagem construídas e reconstruídas por cronistas e viajantes que relataram esta rua em seus detalhes, outra que ponde ser entendida como uma etnografia da etnografia, ou seja, uma meta
etnografia nos termos de James Clifford. A produção de narrativas textuais se faz crucial como elemento metodológico,
pois o texto ao ser encarado como uma imagem e ao mesmo tempo gerador de outras imagens compõe a constelação imagética do imaginário do centro porto-alegrense do qual a escrita antropológica também faz parte.
102
GT 08 - IMAGINÁRIO E CIÊNCIA: EXPERIÊNCIAS ETNOGRÁFICAS CONTEMPORÂNEAS
DAS PÁGINAS AOS BECOS E BITS: NOTAS SOBRE NOVAS CONFIGURAÇÕES DA
SOCIEDADE EM REDE.
Mônica Ramalho de Albuquerque (Universidade Federal da Paraíba – UFPB - Mestranda do Programa de Pósgraduação em Sociologia – PPGS E-mail: [email protected] / [email protected])
Este trabalho busca compreender o surgimento de novos sujeitos e elementos de identificação que compõem o panorama da sociedade contemporânea a partir do impacto das novas tecnologias da informação e comunicação nas relações
sociais. O descentramento do sujeito cartesiano e a discussão sobre o fim da modernidade, envolvendo aspectos de
massificação e mercadologização inerentes à sociedade de consumo, fazem parte das vigas de sustentação destas novas
configurações. O movimento cyberpunk é um desdobramento deste cenário. Emergiu como uma vertente da literatura de
ficção científica, expandindo para diferentes mídias, suportes e formatos. Suas obras descrevem o lado niilista e underground
da sociedade digital, através de uma visão cínica e distópica da realidade. A pesquisa contou com o levantamento e a
análise de referenciais teóricos, sites, recursos cinematográficos, e comunidades virtuais. Entrevistas foram realizadas
com o intuito de identificar a visão cyberpunk sobre os aspectos que permeiam as formas de dominação e controle
reproduzidos pela instrumentalização técnica. Conforme os dados coletados, percebemos que subjetividade e sociabilidade entre os atores sociais - inseridos na sociedade da informação - são resignificados por novos fenômenos e elementos estéticos, que ganharam maiores proporções a partir da constituição do ciberespaço e da consolidação da cibercultura.
Palavras-chaves: redes sociais; identidade; ciberespaço; cibercultura.
EXISTE UMA RECEITA PARA TRABALHAR COM MEDICAMENTOS? REFLEXÕES SOBRE UMA
ETNOGRAFIA COM OS ‘MEDICAMENTOS DO ESTILO DE VIDA’
Rogerio Lopes Azize (Doutorando em Antropologia Social - PPGAS/MN/UFRJ [email protected])
A ‘medicalização do cotidiano’ é um fenômeno contemporâneo cuja análise oferece desafios à antropologia,
tanto em termos das estratégias metodológicas a serem utilizadas, quanto em termos do locus da pesquisa. Em
uma investigação nesta área, lida-se com uma pluralidade de discursos – leigos, técnicos, jornalísticos, publicitários – que pedem estratégias heterogêneas de pesquisa e análise. Trata-se de um objeto de estudo cujas fronteiras
são de difícil delimitação, visto que os limites entre o tratamento de ‘doenças’ e estratégias de enhancement não
é claro; além disso, a pesquisa não possibilita aquilo que chamamos de observação participante, o que nos leva
às fronteiras daquilo que se considera classicamente uma etnografia. Nesta comunicação, reflito sobre estas
questões e sobre a minha experiência de campo com processos de ‘medicalização do estilo de vida’, a partir de
uma etnografia cujo objeto são consumidores de medicamentos para a ‘depressão, a ‘obesidade’ e a ‘disfunção
erétil’, e o imaginário biotecnológico do qual fazem parte. Proponho aqui uma reflexão sobre práticas que
reconfiguram os objetivos da medicina e dos medicamentos, e as fronteiras entre estados normais e patológicos.
EXPERIÊNCIA DE ALTERIDADE: DA ASSIMETRIA SÓCIO-CULTURAL ÀS CONCEPÇÕES DE
SAÚDE E DOENÇA ENTRE OS TENTEHAR.
Tratamos no presente trabalho da construção da alteridade da pesquisa realizada entre os indígenas Tentehar, em
Amarante no Maranhão. Tendo como objetivo, problematizar o processo de construção da alteridade da pesquisa tomando como base a experiência percebida nas concepções de saúde e doença entre os Tentehar, incluídas a
noção da pessoa e cosmologia próprias. A experiência parte da percepção das relações interétnicas entre Tentehar
e não-índios no contexto das problemáticas de saúde e doença. Nosso trabalho prima por práticas etnográficas
aprofundadas, fortemente influenciadas pelos princípios da etnologia indígena desenvolvida por Viveiros de
Castro (1996). Daí, irremediavelmente voltada para o trabalho de campo com confrontação permanente de
bibliografia especializada. O processo de construção da alteridade remete o pesquisador às várias armadilhas que
são criadas ora pela complexidade do ambiente pesquisado, ora por ele próprio, via de regra envolto – e cegado
– por abordagens que não contribuem para perspectivas mais aproximadas do rico universo cosmológico Tentehar.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Emerson Rubens Mesquita Almeida (Graduando em Ciências Sociais - Universidade Federal do Maranhão)
HISTÓRIAS DE ASSOMBRAÇÃO DO RECIFE: OS EMBATES ENTRE TRADIÇÃO E TECNOLOGIA
Bárbara Luna de Araújo (Mestranda do PPGA/UFPE – [email protected])
As ruas do Recife sempre foram povoadas de assombrações. Em diversos lugares, em qualquer tempo, podemos
ouvir essas narrativas que são parte constituinte do imaginário local da cidade. Em 1951, Gilberto Freyre, em seu
livro “Assombrações do Recife Velho”, já havia atentado para fenômenos que há séculos fazem parte do cotidiano dos recifenses. Meio século depois da pesquisa de Freyre e com tantos avanços tecnológicos que a sociedade
vem sofrendo, é interessante notarmos como essas histórias continuam vivas, oxigenadas e resignificadas em
nosso contexto atual. Diante disso, é objetivo desse trabalho investigar os embates entre tradição e tecnologia
usando como operador metodológico as histórias de assombração do Recife.
Palavras-chaves: tradição, tecnologia, narrativas.
IMAGINÁRIO NO ESPORTE: RECORTES E SIGNIFICADOS NA PERSPECTIVA DOTELESPECTADOR.
Ms Bertulino José de Souza, Ms Themis Soares – Docentes UERN/CAMEAM; Simone Martins Aquilino, Paulo
Rogério de Lima, Jandeilmo Cleidson Aires – Discentes/Educação Física UERN/CAMEAM – Pau dos Ferros/RN.
Discutir o Imaginário no esporte tem sido um desafio lançado pelo projeto de pesquisa Da cultura do futebol ao
futebol como cultura. Tal debate, em seus desdobramentos, identifica o esporte de massa, como um importante
fenômeno sócio-cultural da contemporaneidade, pelo incontestável espaço no cotidiano de indivíduos, em
diferentes sociedades e em todo o mundo. Analisamos aqui, eventos esportivos relacionados ao futebol e o que
eles tem desencadeado ao longo dos tempos, no que se refere ao seu consumo como espetáculo, muitas vezes
extrapolando suas especificidades e ganhando contornos ainda mais amplos, na medida que envolve diversas
dimensões antes impensadas. Coloca-se para esse estudo, a necessidade de investigar o imaginário social, político e psicológico presente nos relatos dos telespectadores, buscando apreender seus significados para a
reestruturação de potencialidades sociais, pela própria reflexão que recruta ao tratar do esporte espetáculo e a
condição do telespectador na sociedade atual. A amostra é composta por homens e mulheres moradores do Alto
Oeste Potiguar, na faixa estaria entre 20 e 40 anos de idade, escolhidos mediante o interesse por futebol.
Buscamos com a pesquisa, criar um quadro de referência, que permita compreender as manifestações relacionadas ao fenômeno como expressão da cultura corporal de movimento, especialmente pensado-a no âmbito desta
região geográfica.
Palavras-chave: Imaginário – esporte/cultura – telespectador
MULHERES E SAÚDE: FORMAS DE PERCEPÇÃO SOBRE O CORPO FEMININO NUMA
ENFERMARIA PARA MULHERES
GRUPOS DE TRABALHOS
Lilian Rose Mascarenhas
O presente trabalho tem por objetivo a construção de um olhar antropológico a partir de experiências como
fisioterapeuta em uma enfermaria destinada ao atendimento de mulheres que são submetidas a cirurgias relacionadas aos órgãos genitais, internos ou externos (útero, vagina, trompas, ovários, períneo.) Este projeto nasceu
de meu interesse e desejo em construir o olhar antropológico sobre assuntos ligados a gênero, especialmente quando
o enfoque recai sobre o corpo de um modo geral, mais detidamente, sobre o corpo feminino Desde 1988 mantenho
contato com os estudos sobre o corpo feminino.Na construção do olhar fisioterapêutico, tenho observado com
interesse um dos aspectos do corpo humano, que possui grande importância na qualidade de vida feminina, o períneo.
Considerando o que venho estudando, tenho encontrado em meus contatos com mulheres na prática da Fisioterapia, muita dificuldade quando abordo a percepção da importância do períneo e das demais áreas do corpo
feminino, independente do grau de instrução destas mulheres. Neste ponto ressalto que este comportamento
não é exclusivo e nem determinante por serem elas mulheres usuárias dos serviços de saúde, pois também
mantenho conversas com mulheres em minhas redes de relação, na sua maioria também profissionais da saúde,
que também se mostram curiosas e interessadas sobre as informações relacionadas ao corpo feminino, mas
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GT 08 - IMAGINÁRIO E CIÊNCIA: EXPERIÊNCIAS ETNOGRÁFICAS CONTEMPORÂNEAS
O QUE SIGNIFICA FAZER ANTROPOLOGIA NO BRASIL? PARA PENSAR A PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO EM UM CONTEXTO DE FLUXOS ASSIMÉTRICOS DE PODER
Izis Morais Lopes dos Reis (PPGAS/Universidade de Brasíl ia – [email protected])
A antropologia vem discutindo dentro de seu campo de abrangência sobre o que é a ciência, em especial
biotecnologia e seus impactos no mundo contemporâneo. Entretanto, pouco tem sido debatido sobre o que
significa fazer antropologia no Brasil, em uma crítica da disciplina como produtora de conhecimentos marcados
por condições específicas e relações de poder assimétricas em um mundo globalizado. Este trabalho pretende
articular um debate sobre a antropologia brasileira com foco nas práticas de produção, circulação, consumo dos
discursos da disciplina e suas micro-práticas acadêmicas, a partir da análise do local de formação acadêmica de
alguns professores em ciências sociais/antropologia e lugares em que estes professores de algumas universidades
no Brasil (UnB, UFPE, UFRJ e UFAM) publicam seus textos. Propõe-se a realizar uma breve análise do conteúdo
105
GRUPOS DE TRABALHOS
externando as mesmas dúvidas e até “espanto” quando o assunto é o corpo feminino. Entretanto, minha
abordagem tem sido estritamente fisioterápica, cumpre ampliar o olhar através da investigação antropológica,
com vistas a interpretação dos saberes que as mulheres possuem sobre o assunto. O lócus da pesquisa é a cidade
de Belém, sendo desenvolvida na Fundação Santa Casa de Misericórdia, instituição reconhecida regional e
nacionalmente como hospital referência em saúde da mulher e saúde materno-infantil, daí meu interesse em
desenvolver a pesquisa com a equipe de enfermagem do hospital , pois desde 2004 trabalho na Santa Casa em
algumas enfermarias e espaços onde ao atendimento a saúde feminina se dá. Durante minha ação como
fisioterapeuta nestes locais, senti interesse pela maneira como as mulheres que foram submetidas a cirurgias
ginecológicas encaram seus corpos e como conseqüência deste interesse, inscrevi-me no processo seletivo do
mestrado em antropologia 2006, com um projeto intitulado: “Mulheres da Santa Casa: representações sobre o
assoalho pélvico”, onde usava o termo técnico procedente das ciências da saúde para denominar o períneo.
Desta forma, hoje pretendo desenvolver projeto de pesquisa abordando as mulheres que trabalham ns Santa
Casa, especificamente, as que compõem a equipe de enfermagem da enfermaria Santa Maria. As usuárias desta
enfermaria são atendidas por uma grande quantidade de profissionais entre médicas, enfermeiras, técnicas de
enfermagem, psicólogas, nutricionistas, fisioterapeutas, administradoras, assistentes sociais e demais membros
da equipe de saúde. Interessei-me pelas mulheres da equipe de enfermagem, pois esta é uma das maiores
equipes no hospital. Elas dão plantões que variam entre 6 a 24 horas e lidam diretamente com as usuárias que
sofreram as cirurgias. Portanto, penso que será possível, através do contato com as mulheres desta equipe,
conseguir relatos de como elas percebem, interpretam as situações referentes as corpo feminino tanto das
pessoas que recebem seus cuidados quanto delas próprias. Neste contexto, da percepção do corpo, será que o
períneo aparecerá como importante? Como ele é representado? Como as demais partes do corpo são representadas? Qual a percepção e referências que elas fazem aos problemas que enfrentam em sua jornada de trabalho
como mulheres? Além da abordagem das mulheres da equipe de enfermagem, buscarei através de minha rede de
relações, ouvir mulheres que tenham se submetido a procedimentos cirúrgicos, principalmente que resultaram
na perda de órgãos pélvicos. Estes momentos não se darão no âmbito da Santa Casa Para viabilizar o entendimento das percepções sobre o corpo, em especial o corpo feminino, entre as mulheres participantes da pesquisa
na Santa Casa. procurarei usar a observação direta, pois não será possível o uso da observação participativa uma
vez que a características do trabalho da equipe possui limitações éticas que inviabilizam a observação participante sob o aspecto de incorporara as práticas das interlocutoras. Esta opção será concretizada a partir do estar lá
durante o dia a dia da equipe de enfermagem. A referida abordagem será complementada com as entrevistas
semi-estruturadas, além de conversas informais e da coleta de histórias de vida, uma vez que muitas das participantes possuem um considerável tempo de trabalho na Santa Casa. Essas fases funcionarão como meio de
atingir os objetivos propostos da investigação; que terá como etapas o reconhecimento do campo de estudo, com
coleta de material que permita manter contato com as interlocutoras da pesquisa podendo de acordo com a
aceitação utilizar o gravador para colher os relatos ou registro e descrição dos dados em caderneta própria.
Quanto as interlocutoras que estarei abordando fora do âmbito da Santa Casa, eu as entrevistarei em suas
residências.
dos cursos de teoria antropológica da UnB e UFRJ. Alguns dos problemas trazidos à tona são: que tipo de
Antropologia está sendo construído no Brasil e quais as análises chegam aos alunos? Qual a formação dos
professores inseridos institucionalmente no país? Os resultados indicam que existem produtores centrais e
periféricos da disciplina dentro do Brasil, em que fluxos assimétricos de conhecimento no são definidores das
diferenças entre centros e periferias. Se a proposta das Antropologias Mundiais é ampliar o espaço para diferentes vozes sobre Antropologias no mundo, parece-me que o Brasil tem reproduzido a estrutura centro hegemônico/
periferia dentro do próprio país. Se as antropologias mundiais problematizam a idéia de uma única tradição
antropológica ocidental – reconhecendo a origem da disciplina no Ocidente, mas colocando em perspectiva a
disseminação da mesma – a construção do conhecimento no Brasil parece seguir os centros “produtores reais” da
ciências antropológica. Os dados demonstram que no dia-a-dia da antropologia no Brasil, ignora-se boa parte do
que é produzido ao estilo brasileiro, já que a formação básica não inclui autores diferentes do centro Estados
Unidos-Inglaterra-França. Parece-me possível afirmar que a construção do conhecimento da disciplina brasileira
está se restringindo a conseguir publicar o que se tem para dizer sobre as diferenças em revistas estrangeiras. Não
perguntamos sobre o que significa fazer antropologia no país dentro de configurações sócio-culturais e políticas
específicas: e qual é o jeito brasileiro de fazer antropologia.
Palavras-chaves: construção do conhecimento, fluxos mundiais, Antropologia brasileira.
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO POR ALUNOS DO MESTRADO EM
ANTROPOLOGIA, UFPE : IDENTIFICAÇÃO DA REDE SOCIOTÉCNICA
Ligia Barros Gama (Mestranda em Antropologia - UFPE - l [email protected] / [email protected])
A proposta do referido trabalho diz respeito à produção de conhecimento científico desenvolvida por alunos do
curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco. O
grupo de mestrandos selecionados é composto por dezesseis alunos, ingressados no Programa no ano de 2005.
Entretanto, observei com mais ênfase quatro destes estudantes. Tendo como referencial teórico Bruno Latour e
outros autores da Complexidade, descrevo, através da observação direta, entrevistas e coleta de dados, as atividades realizadas pelos quatro mestrandos: suas pesquisas em campo, as reuniões com seus respectivos orientadores
e o grupo de estudo, formado por eles, visando a realização de seus projetos para a qualificação do mestrado, a
construção de suas dissertações, além da ampliação do conhecimento antropológico através de debates e leituras
de textos da área. A partir da análise realizada, identifiquei as relações estabelecidas por esta amostragem, dentro
e fora do ambiente universitário, assim como as redes sociotécnicas nas quais este grupo está inserido.
REFLEXÕES SOBRE A SIMBÓLICA DOS CORPOS POLIFÔNICOS NA CONTEMPORANEIDADE.
GRUPOS DE TRABALHOS
Emilene Leite de Sousa (Mestre em Sociologia. Professora Assistente da Universidade Federal do Maranhão/UFMA)
Flávio Leonel Abreu da Silveira (Doutor em Antropologia Social. Professor Adjunto do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Pará – UFPA.)
As sociedades sejam elas quais forem, sempre fizeram uso dos corpos para inscreverem suas regras e normas,
colocando-os sob os desígnios da cultura. Há, portanto, uma memória inscrita no corpo que está para além do
indivíduo, refletindo-se nas expressões e coerções sociais que nele deixam as suas marcas. Neste sentido, para
além das meras coerções, o corpo do homem pós-moderno transforma-se em pergaminho – imagem potente do
tempo - onde ele e a sociedade escrevem um texto num processo de negociação de signos e sentidos impressos
no corpo. Nele reside a inscrição dos acontecimentos cotidianos e dos processos de identificação dos sujeitos
detentores de corpos cada vez mais polifônicos. O imaginário associado a uma expressão fantástica da memória
torna as paisagens corpóreas na atualidade, um símbolo da convivência do arcaico com as biotecnologias; do
tradicional com pós-humano; do “primitivo” com o cyborg: uma simbólica do corpo revela a sua multivocalidade
nas muitas linguagens expressas na experiência singular das corporeidades complexificadas pelas tecnociências
e pela arte no século XXI. Assim, na pós-modernidade, o corpo passa a atuar como arquivo, relato e memória que
se concretiza, passando a ser compartilhada, na medida mesmo em que é narrada pelo corpo polifônico ao falar
106
GT 08 - IMAGINÁRIO E CIÊNCIA: EXPERIÊNCIAS ETNOGRÁFICAS CONTEMPORÂNEAS
por si mesmo, através de um discurso inscrito na pele, instaurando polissemias. Essa narrativa silenciosa, da
memória da pele e do implante na carne, passa a atuar como mecanismo de identificação. A identidade é
construída pela narrativa do corpo do indivíduo a evocar imagens complexas que precisam ser interpretadas. Por
isso, a importância de pensar a identidade de grupos ou indivíduos a partir da tatuagem/piercing/implantes que
operam como dispositivos de identificação tanto individual quanto coletiva. Ora, se a construção da identidade
toma como referência o corpo, como pensá-lo e os usos que fazemos dele na pós-modernidade? Como considerar
uma identidade não-fixa, circunstancial, descartável, fragmentada, presa a um corpo que permanece uno, indiviso,
fixo ainda que transformado pela tecnociência ou pela arte enquanto dimensão do vivido corpóreo? A
contemporaneidade é caracterizada pela arte que transita sobre os corpos dos indivíduos, cuja identidade circunstancial, não-fixa só encontra como referência estável, lugar de ancoragem no mundo social, o corpo transformado em mosaico ou pergaminho pela atuação do indivíduo de re-significar o que está dado, exercendo o seu
papel de bricoleur do próprio corpo, lidando com um tempo turbulento e veloz, onde as marcas – tatuagens,
piercings, escarificações, implantes – são as memórias inscritas num suporte simbólico sui generis em constante
modelagem criativa.
SEGUINDO TRILHAS: UM APRENDIZADO PASSO A PASSO
Tânia Cristina Costa Ribeiro (UFMA/CCH/PPGCS/Mestranda, MA, Brasil - [email protected])
Ednalva Maciel Neves (UFMA/PPGCS - [email protected])
UMA OUTRA FACE DA DOR: PERCEPÇÕES SOBRE O SOFRIMENTO NO IMAGINÁRIO
MÉDICO.
Francisco Jander de Sousa Nogueira (Universidade Federal da Paraíba – UFPB - Mestrando do Programa de Pósgraduação em Sociologia – PPGS - E-mail: [email protected])
Orientador: Prof. Dr. Artur Perrusi
O objetivo central deste trabalho busca investigar, analisar e descrever como o sofrimento é construído e reproduzido no imaginário da categoria profissional médica, inserida no Sistema Único de Saúde do município de
João Pessoa -PB. O sofrimento é um dos temas freqüentes nos questionamentos filosóficos e um dos elementos
de criação na literatura. Apesar de ser comumente abordado de forma tangencial nas ciências sociais, autores
como Norbert Elias e Richard Sennett mantêm uma estreita relação com a questão das emoções que vêm
107
GRUPOS DE TRABALHOS
O trabalho faz uma reflexão sobre a experiência do trabalho de campo, fruto da pesquisa denominada “A
Sociabilidade na Dança: incorporação de habitus”, a qual tem como objeto de estudo a dança vista como uma
atividade prática, que constrói posturas, gestos e comportamentos de dançarino (a)s/bailarino (a)s, investidos
por técnicas corporais específicas que se realizam através de regras interiorizadas. A investigação sobre tais
sistemas simbólicos e corporais exige uma postura diferente, em particular, quando se está envolvido com o
campo de estudo. O pertencimento a área de conhecimento resulta no desafio de vivenciar o papel de pesquisadora nas Ciências Sociais, deparando-se com o primeiro estágio desta experiência que é a de nos sentirmos
literalmente iniciantes, um neófito. Vários são os caminhos a trilhar, caminhando passo a passo nos deparamos
com a dificuldade de articular a experiência vivida ao discurso teórico. Metodologicamente, a reflexão é pautada
na descrição da vivência de campo a qual a investigação comporta o mapeamento da dança em São Luís,
orientado pelo processo de classificação referido pelos interlocutores, definido a partir dos estilos de dança
adotados por cada uma delas, especificando por escolas, grupos e companhias. Dois grupos foram selecionados
para o aprofundamento da pesquisa, em razão das diferenças de estilos e das relações entre dançarino (a)s/
bailarino (a)s e organização dos grupos. São duas experiências que têm possibilitado perceber a dança como um
fenômeno simbólico, singularizado em formas de expressão e manifestação de critérios de pertencimento, num
contexto de relações complexas. A ênfase é dada às estratégias adotadas para alcançar o objeto de estudo e ao
mesmo tempo vivenciar essa experiência existencial do trabalho de campo.
Palavras-chaves: técnicas corporais e dança, questões de pertencimento, experiência de campo
GRUPOS DE TRABALHOS
entrelaçadas com valores e sentimentos, pois eles são partes integrante do fazer social. Neste sentido, como
podemos pensar a humanização e as práticas cotidianas a partir da concepção de sofrimento que permeia o
imaginário médico? Para tanto, pretendemos estabelecer um jogo de espelhos no qual serão refletidos distintos
posicionamentos sobre o assunto, utilizando as técnicas de levantamento e análise do referencial teórico, grupos
focais e entrevistas com médicos (as) e observação participante em espaços que também abrangem novas plataformas metodológicas como os chats, fóruns e comunidades virtuais. Consideramos, no atual cenário, que as
pessoas estão perdendo sua totalidade dentro do paradigma saúde, sendo diluídas em uma universalização excludente.
Uma compreensão da construção social do sofrimento, neste contexto, pode nos levar a reflexões esmeradas da
realidade.
Palavras-chave: - imaginário - sociologia e antropologia das emoções - saúde pública.
108
GT 09 - ETNOBIOGRAFIA, NARRAÇÕES E SUBJETIVIDADE
GT 09
ETNOBIOGRAFIA, NARRAÇÕES E SUBJETIVIDADE
A PALAVRA E O EXORCISMO DOS MALES: A HISTÓRIA DE VIDA DE UMA REZADEIRA
ITABAIANENSE.
Magno Francisco de Jesus Santos (UFS, [email protected]);
Ane Luíse Silva Mecenas (UFS, [email protected])
O ritual dos rezadores constitui uma relevante manifestação de fé no povoado Cajaíba. Localizado no extremo
sul do município de Itabaiana, Cajaíba possui treze rezadores. O número significativo de pessoas que exercem
esta prática religiosa demonstra a relevância da tradição no povoado. A prova disso é que as rezadeiras continuam sendo procuradas pelos enfermos antes mesmo da consulta aos médicos convencionais. O foco desta análise
é a trajetória de uma das principais rezadeiras do povoado, conhecida como dona Marietinha. A pesquisa foi
desenvolvida a partir da realização de entrevistas e observação do ritual da rezadeira estudada. Com isso, podemos dizer que a pesquisa baseou-se nos pressupostos da história oral. A partir da análise das entrevistas que
conseguimos compreender alguns aspectos da trajetória de dona Marietinha enquanto difusora das rezas. No
povoado rezar enfermos é visto como um ritual masculino, pois no imaginário local os homens são detentores
das rezas mais ‘fortes’. Mesmo assim, dona Marietinha conseguiu se legitimar enquanto rezadeira, sendo tão
procurada quanto os melhores rezadores da localidade. Trata-se de uma mulher que conseguiu extrapolar a sua
função aceita socialmente: além de parteira, ela também restabelecia a saúde da população.
Palavras-chave: oralidade, rezadeira, gênero.
“DE AGORA EM DIANTE, É SÓ CULTURA”: AS DESESTABILIZADORAS IRONIAS DE MR.
CATRA
A comunicação se propõe a discutir as relações entre o funk e uma ampla “cultura carioca” através das narrativas
artísticas e pessoais de Mr. Catra, cantor e performer do referido ritmo musical. A singularidade do artista consiste
em reunir, em suas apresentações artísticas, a religião e a ironia a um universo tradicionalmente classificado
como erótico ou violento. O que torna-se possível acessar por meio do mundo que nos desvenda Mr. Catra é um
posicionamento político que constantemente desafia e questiona o poder hegemônico, esteja ele expresso nas
relações entre a polícia e o favelado, o branco e o negro, o rico e o pobre. Nesse contexto soma-se à convivência
de sagrado e profano um uso do riso que desestabiliza o mundo oficial ao subverter recorrentemente os símbolos
da cultura dominante, branca e ocidental. Desta forma, torna-se possível traçar um paralelo entre a criação
artística individual e a própria visão de mundo dos jovens moradores das favelas cariocas, que parece produzir a
dissolução de muitas outras oposições derivadas de cosmologias que tradicionalmente separam o bem e o mal.
109
GRUPOS DE TRABALHOS
Mylene Mizrahi (Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia
e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA-IFCS-UFRJ)
Professor Substituto – Departamento de Antropologia Cultural (DAC/IFCS-UFRJ) Email: [email protected]
DORES DA ALMA: ETNOGRAFIA DO SOFRIMENTO EM INDIVÍDUOS DE CAMADAS MÉDIAS
URBANAS.
Maria Carolina de Araujo Antonio (Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos
– UFSCAR. e-mail: [email protected])
Nesta pesquisa analisa-se a demanda por terapia psicanalítica, existente entre indivíduos de segmentos de camadas médias urbanas, como resposta ao sofrimento psíquico, fruto de suas experiências cotidianas. Para isso, é
dada ênfase na esfera particular da vida psicológica individual como meio de apreensão da realidade social na
cultura ocidental moderna. A etnografia articula o modelo de sofrimento acionado por indivíduos de camadas
médias urbanas à noção de Pessoa que sustenta seus valores e categorias simbólicas, considerando as relações
entre as formas universais e particulares das modalidades de concepção do sofrimento, bem como da forma de
resolução das aflições emocionais. Toma-se a relação entre antropologia e psicanálise, nesta pesquisa, através do
método de entrevista qualitativa em profundidade, utilizando as narrativas pessoais de indivíduos que fazem
terapia psicanalítica como lugar central na cena etnográfica, em vista de codificar os sentimentos e suas estruturas no cotidiano, levando em conta os temas e os pontos de vistas apresentados pelos indivíduos. A narrativa
pessoal de um sofrimento faz com que o indivíduo reflita acerca de sua aflição, problematizando a respeito do
sentido e do por que de tal sentimento, levando-o a repensar e atribuir sentidos a sua própria experiência e
trajetória de vida. A narrativa, assim, é vista como constituinte da construção de uma versão coerente de si.
Entende-se o sentimento como algo que sempre se alimenta da cultura, e varia de acordo com concepções
subjetivas de pessoa, corpo, identidade, nesse sentido, a apreensão dessas narrativas conduzem a uma antropologia interessada em compreender e teorizar sobre as relações entre subjetividade, cultura e sociabilidade. São as
narrativas orais que permitem analisar os significados atribuídos ao sofrimento psíquico e as trajetórias individuais, acessando os processos de subjetivação, de construção de sentido e de (re) construção de si mesmo e de sua
experiência cotidiana.
Palavras-chave: Cultura Ocidental Moderna, Noção de Pessoa, Sofrimento Psíquico, Narrativas Auto-Biográficas.
ESTÓRIAS DE OUTRAS VIDAS: NARRATIVAS DE ESPÍRITOS E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
GRUPOS DE TRABALHOS
Vânia Z. Cardoso (PPGAS/UFSC - [email protected])
Nas macumbas cariocas, circulam inúmeras estórias sobre os chamados espíritos de preto-velhos e do povo da rua.
Tais estórias são contadas não só por clientes e filhos-de-santo, mas também pelos próprios espíritos, em um
narrar disperso e coletivo onde sujeitos e objetos se confundem. Não demarcadas enquanto ‘textos’ cuja performance
remeteria a um repertório tradicional ou um corpus de estórias ritualizadas, essas estórias situam-se de certa
forma no limite do texto enquanto emergente em performances narrativas, inseridas no fluxo de outras falas. O
que se sugere aqui é que estas narrativas não se referem a um mundo a ser revelado pela interpretação do que é
contado, não meramente representam uma prática, mas são constitutivas desta prática e de um imaginário no
qual a percepção do mundo torna-se saturada pela presença dos espíritos. Dentro deste imaginário, os espíritos
são culturalmente reconhecidos enquanto ‘sujeitos’, mas suas performances narrativas - marcadas pela
intertextualidade de gêneros, onde histórias de vida, orações, narrativas morais, narrativas históricas, e estórias
emotivas, se entremeiam - têm papel fundamental não só em dar a estes espíritos seu estatuto de sujeito, mas
também em marcar o estatuto de sua ‘realidade’ como peculiar e distinto daquele dos outros sujeitos sociais. Os
espíritos, enquanto narradores, tornam-se agentes centrais das performances narrativas, mas sua ambigüidade
inerente, sua natureza ‘supernatural’, e as múltiplas temporalidades implícitas tanto em sua identidade quanto
em suas performances verbais, tendem a desmistificar a própria noção do narrador ou autor da narrativa como
sujeito unitário. O que se busca pensar aqui então é a própria poética destas narrativas, seu papel criativo nas
múltiplas constituições dos espíritos enquanto sujeitos sociais.
110
GT 09 - ETNOBIOGRAFIA, NARRAÇÕES E SUBJETIVIDADE
ETNOBIOGRAFIA OU «CINEMA ETNOGRAFICO EM PRIMEIRA PESSOA » : NARRAÇÕES,
HISTORIAS E PERSONAGENS NOS FILMES DE JEAN ROUCH
Marco Antonio Gonçalves (PPGSA-IFCS-UFRJ)
O Objetivo deste trabalho é partindo da análise de alguns filmes de Jean Rouch (como ‘Jaguar’, ‘Os mestres
loucos’,‘Eu, um negro’, ‘Tourou et Bitti’ e ‘A pirâmide humana’) propor uma discussão conceitual sobre a problemática relação entre perspectivas individuais e proposições culturais e sociais na formulação das construções de
mundo. ‘Jaguar’ conta a história de três amigos que resolvem migrar para viver a experiência da migração, a saída
da Nigéria, a viagem, o saber novas coisas. Um pator, Lam, um pescador, Illo e um escrivão público, o sedutor
Damouré. Com essa caracterização inicial o filme apresenta a diversidade dos personagens que se são, num
primeiro momento, definidos de forma etnográfica a partir de uma razão cultural vão se transformando no
decorrer do filme em seres subjetivados, pessoas, indivíduos. Porém, não menos etnograficos que biográficos.
Aliás, esta mistura entre biografia e etnografia nos filmes de Rouch poderia dar origem a uma nova conceituação
que, talvez pudesse ser definida, como etnobiografia. A partir de experiências individuais de cada um dos atores
ancorados em suas percepções culturais estrutura-se uma narrativa que procura dar conta destes dois aspectos na
simultâneidade, propondo de uma só vez e a um só momento a não mais tensa relação entre subjetividade e
objetividade, cultura e personalidade.
INDIVIDUAÇÃO , REPRESENTAÇÕES E LIMINARIDADE.
O interesse pela individuação surge da construção de um objeto de pesquisa cuja premissa é a possibilidade de
indivíduos constituírem trajetórias próprias, deslocando-se no espaço e atravessando fronteiras políticas e sociais um certo “nomadismo pós-moderno”, que articula identidades operacionais nos novos contextos vividos e pressupõe
a noção de agência dos sujeitos sociais . Na busca de uma perspectiva metodológica que abarque a experiência
singular de indivíduos na condição de liminaridade, transitando entre o 1º e o 3º mundos, o recurso à biografia e à
narrativa como instrumentos etnográficos se impõe , porém não sem reservas. Se não quisermos incorrer no
entusiasmo acrítico por relatos auto-biográficos sem contexto, nem ação ou interação sociais,que supervalorizam a
auto-revelação e o domínio cotidiano do senso comum, devemos aplicar aos mesmos o ceticismo metodológico , ao
invés de privilegiá-los como um tipo especial de representação. (Atkinson,1997). A idéia de representação é problemática, dada a divergência observada entre o modo como as pessoas representam a si próprias e sua visão de mundo
e como agem face às contingências diárias. Na década de 70 discutiu-se a natureza situacional dos processos
representacionais, ressaltando-se seu status negociado enquanto resultado de atos de criação de significado. Lakoff e
Johnson (1980) sugerem que os sistemas de pensamento deveriam ser vistos como experienciais, em vez de subjetivos
ou objetivos. Face ao conflito entre paradigmas concorrentes culturalmente disponíveis, o indivíduo situado no
tempo e no espaço interage com interpretações culturais amplas. Surgem então elaborações e representações individuais como resultado do esforço para ordenar e estruturar, dar sentido à experiência que , em termos hegemônicos,
é vista como “desordem”, e que podemos situar como liminar. Para analisar tais experiências deve-se ter em conta que
a liminaridade é essencialmente o que há de comum em todos os fenômenos transformativos. (Turnbull,1990)
Palavras-chave: individuação; representações; liminaridade.
INTERSEÇÃO DE OLHARES: PERSPECTIVAS TRANSCULTURAIS NAS FOTOGRAFIAS DE
SEBASTIÃO SALGADO
Ana Luiza Abreu
Este trabalho trata-se de uma reflexão teórica-observacional, tendo como objeto as fotografias de Sebastião
Salgado. A narrativa fotográfica de Sebastião Salgado é analisada por meio dos conceitos teóricos transculturação
e zona de contato, prioritariamente desenvolvidos por Mary Louise Pratt (1999). No caso da presente pesqui-
111
GRUPOS DE TRABALHOS
Anamaria Morales Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia. [email protected]
sa, deslocamos o tempo e o espaço para o contexto contemporâneo de zona de contato e transculturação,
ressignificando-os. O instante, o gesto e o produto fotográfico são mecanismos que proporcionam o estabelecimento destes fenômenos. As fotografias a serem analisadas fazem parte da obra Êxodos, a qual reúne uma
tríade: fotografias documentais, militância política e ecologia humana. As paisagens capturadas enfocam o
êxodo rural, o conflito de terras, a urbanização acelerada, ilhas de refugiados e as conseqüências de guerras
civis. Leva-se em consideração, que Salgado é um viajante contemporâneo em situação de deslocamento,
assim como seus modelos fotográficos. Ele percorre, com seu olhar de viajante estrangeiro, diferentes regiões
do mundo com organizações socioculturais distintas. Considera-se que, nesse lugar (in)comum formam-se
importantes redes de relações, representadas pelos fenômenos acima citados. Entende-se por transculturação
a escolha, por parte de “povos subjugados”, do que e em que nível, elementos de uma cultura metropolitana
são absorvidos em sua própria cultura e em que esses novos elementos serão utilizados. Grupos subordinados
ou marginais determinam, portanto, em graus variáveis, o que absorvem em sua própria cultura e no que o
utilizam. Este é um fenômeno que proporciona a criação da zona de contato, a qual se caracteriza por uma
tentativa de invocar a presença espacial e temporal conjunta de vários sujeitos anteriormente separados por
descontinuidades históricas e geográficas, cujas trajetórias agora se cruzam. Podemos dizer que Salgado resgata
a ausência (Ver Boaventura de Souza Santos. IN: Crítica da Razão Indolente. 1. ed. Rio de Janeiro: Cortez
Editora, 2000.) (os marginalizados), instituída pela hegemonia cultural e política, para colocar em discussão a
realidade do outro. No entanto, entendemos que a intenção do fotógrafo cria uma relação paradoxal de
submissão e denúncia social. O presente trabalho é uma parte do trabalho de dissertação. Portanto, tais
questões serão solucionadas na medida em que a pesquisa avançar.
INVENÇÃO E CANONICIDADE: ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DE TEORIAS YANOMAMI DE
ALTERIDADE A PARTIR DO MOMENTO DE DIÁLOGO
GRUPOS DE TRABALHOS
Luis Fernando Pereira, mestrando em antropologia social pelo PPGAS/USP e integrante do Núcleo de História
Indígena e do Ind igenismo/USP (e-mail: [email protected])
[Introdução] A partir das narrativas de Geraldo e Cazuzo, duas lideranças yanomami, sobre rotas migratórias e
primeiros encontros com os não-indígenas (napë pë) que adentravam a região na primeira metade do século XX,
pretendo explorar como as experiências individuais são cruciais para o entendimento da dinâmica de invenção
da cultura, ela própria a cultura (Wagner, 1981), e como tais experiências só são construídas (culturadas) no
momento de sua transmissão. Daí a importância do momento de enunciação dessas experiências, local e momento no qual os narradores produzem novos conhecimentos se remetendo a enredos canônicos (Bruner)
compartilhados socialmente. A experiência do narrador, a interação com os ouvintes, as necessidades contingenciais
e as leituras múltiplas de intenções dos interlocutores definem o andamento e a escolha de conteúdos do
diálogo, desvanecendo-se separação entre individual e coletivo. [Descrição dos materiais e métodos utilizados]
Meu texto é construído a partir da análise dos discursos de dois headmen de comunidades yanomami do alto rio
Demini, um afluente do Rio Negro, no estado do Amazonas, recolhidas durante minha permanência de seis
anos na Terra Indígena Yanomami (AM e RR). As entrevistas foram parte de um projeto de elaboração de
pesquisas pelos professores indígenas, cuja formação eu assessorava diretamente. [Síntese dos resultados] As
narrativas yanomami sobre o contato com os napë pë, devido à variabilidade do que convencionamos chamar
fatos históricos e da fluidez de interpretações, oferecem um excelente ponto de partida para a reflexão. [ Conclusões] As experiências individuais de Geraldo e de Cazuzo são referências essenciais para a construção de narrativas sobre sua comunidade e outrem, a região e mesmo sobre gradientes de alteridade. Ao retomar elementos
para a construção de uma memória, avaliam e transformam as concepções presentes sobre os não-yanomami
com os quais convivem.
Palavras-chave: narrativas indígenas, história indígena, Yanomami, alteridade
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GT 09 - ETNOBIOGRAFIA, NARRAÇÕES E SUBJETIVIDADE
JOÃO: NOTAS PARA UMA BIOGRAFIA DE PERTO E DE DENTRO
Fernando Firmo (UNB/DAN/PPGAS – mestrando – [email protected])
Joao foi um dos personagens mais enigmáticos que conheci durante meu trabalho de campo. Falo de uma pessoa
cuja self characterization aponta para um “marginal” dentro de um grupo indígena (Cinta-Larga) que correu o
mundo. Quando o encontrei morava em uma barraca de lona no acampamento de sem-tetos Grajaú, Goiânia.
Tempos depois tive o prazer de vê-lo ser beneficiado pelo Estado com uma moradia (casa+lote) em um conjunto
habitações populares. Sempre que conversávamos, surgia uma nova peça do quebra-cabeça de sua trajetória de vida.
Suas narrativas o insere em contextos multi-situados: grandes guerras (Malvinas e Iraque), um acidente radioativo
e, sua saga como trabalhador de empreiteiras na construção de barragens no sul do país e alhures. Suas inquietações
pela ausência de um sobrenome é outro assunto de suma importância que o faz refletir sobre um possível erro da
engenharia social do Estado no processo de “nominação” (registro civil) de um indígena. Depois de correr o
mundo e realizar um projeto (a conquista de uma moradia popular) resolveu entrar para um mercado novo e em
expansão: a coleta de materiais recicláveis no lixão e nas zonas centrais da capital goiana. No intuito de evitar
tropeços ao escrever estas notas biográficas, centro-me em descrever como elas foram relatadas. Para finalizar,
deixo claro que levar a cabo esta proposta de perto e de dentro (focalizada na descrição das experiências que
vivenciei) é um caminho na elaboração de teorias etnográficas que podem solucionar o dilema dos antropólogos
presos entre as ciências e a narrativa (descrição). Pois, o máximo que uma teoria etnográfica aspira é tentar
explicar razoavelmente (no sentido de explicitar) um número relativamente grande de coisas.
Palavras-chaves: biografia, subjetividade e teoria etnográfica.
MAPEANDO CORPOS, GERANDO TERRITÓRIOS: GÊNERO E COTIDIANO NO CARIRI
Nossa proposta de trabalho centra-se na análise das relações de gênero ao sul do Ceará após a década de 70.
Definido usualmente pelos signos identitários do Nordeste (Albuquerque Jr., 2001; Marques, 2004), a região do
Cariri estabelece uma instigante tensão entre narrativas da tradição e experiências de modernização no mundo
rural. Quando descentramos nosso olhar das falas das instituições e dos produtores culturais locais e tomamos
o corpo como campo de performance, somos convidados a abandonar hipóteses anteriores nos estudos sobre o
Nordeste, seja como campo da tradição, seja como espaço organizado por um discurso anti-moderno, ou ainda
como espaço da exigüidade das narrativos dos sujeitos. Campo de fronteiras borradas, o Nordeste, a noção de
Gênero, a tradição tornam-se antes marcadores da diferença (Gonçalves, ). Mais que uma suposta materialidade
ou um espaço físico, arquivos a ser ativados ou não pelos sujeitos em situações distintas. Aqui, tais temáticas
serão discutidas a partir de um conjunto de fotografias de uma de nossas entevistadas tiradas na década de 70; de
um apanhado de artigos jornalísticos sobre assassinatos de mulheres na região e ainda de observações etnográficas
de uma festa agropecuária. Mais que definir fronteiras, tais eventos nos chegam como atos unificadores (Strathern,
2006) por vezes erráticos presentes na região. Nessa fase inicial de nossa pesquisa buscaremos demonstrar como
a etnografia se impõe como método privilegiado para a dissolução de noções como rural e urbano; masculino e
feminino; tradicional e moderno distanciadas dos sujeitos ou como princípios unificadores de um grupo social
específico. Ao mesmo tempo, o corpo é tomado como materialidade privilegiada na atualização desses marcadores.
MARIA AUGUSTA RODRIGUES, CARNAVAIS E CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADE
Nilton Silva dos Santos Universidade Cand ido Mendes (UCAM) [email protected]
Em diferentes tipos de relatos oferecidos pela cultura ocidental, o lugar do sujeito e de sua vivência como
pressupostos do estabelecimento da bildung (SIMMEL:1998) é fundamental. Simultaneamente, aspectos relativos à self-cultivation, formais ou não, emergem e complexificam esse quadro. Partindo de minha tese de doutorado, sobre a trajetória da ex-carnavalesca Maria Augusta Rodrigues, pretendo problematizar a noção de experiência na narrativa biográfica dessa artista do Carnaval.
113
GRUPOS DE TRABALHOS
Roberto Marques
PRODUZINDO INTERSTÍCIOS. A TECNOLOGIA COMO ESTÉTICA
Tatiana Braga Bacal. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ (PPGSA).
[email protected]
Uma das mais relevantes discussões nas mais diferentes áreas das ciências humanas nos séculos XX e XXI tem
se dedicado ao estudo do impacto das “novas tecnologias” nas artes. Esses estudos ganham força a partir do que
se convenciona chamar da “tecnologia digital”. Os estudos privilegiam a influência da tecnologia da Internet
para estremecer certas categorias “iluministas” e “românticas” estabelecidas em diferentes áreas artísticas, como
as de “autor”, “cópia”, “original”, “autenticidade”, entre outras. Vejam-se os procedimentos como o creative
commons e o copy-left como “respostas” institucionais a essas transformações.
Gostaria de sugerir neste trabalho que criadores envolvidos com auto-produção (e dentro dessa categoria integram-se diferentes denominações que utilizam o computador como meio de criação, como as de artistas-visuais,
artistas-sonoros, lap-top performers, djs, vjs, entre outros não classificáveis) em muitos casos utilizam a idéia de
tecnologia como uma categoria estética. Essa inversão, quase propositalmente determinista, possibilita ver a
polissemia da idéia de tecnologia dentro das narrativas e escolhas criativas dos auto-produtores. Neste sentido, a
categoria de “etnobiografia” seria usada de maneira tentativa para integrar o sujeito criativo à sua produção e
escapar de espaços especificamente estriados, dando atenção a criadores dos “interstícios”.
Palavras-chaves: arte, tecnologia, modernidade, etnobiografia.
“TRANFORMAÇÕES NA SUBJETIVIDADE FEMININA NO ALTO RIO NEGRO”
GRUPOS DE TRABALHOS
Cristiane Lasmar Bolsista de Pós-Doutorado (CNPq) PPGSA IFCS-UFRJ
O objetivo do trabalho é discutir as relações entre a experiência social e a subjetividade das mulheres indígenas
de São Gabriel da Cachoeira, principal pólo urbano da bacia do alto rio Negro, Amazonas. Mais especificamente, trata-se de evidenciar o modo como os casamentos com brancos na cidade contribuem para transformar as
percepções dessas mulheres sobre si mesmas. A temática das relações entre homens e mulheres, bem como da
separação dos espaços e atividades seculares e rituais por sexo, têm sido objeto de atenção na literatura sobre as
comunidades indígenas do alto rio Negro desde as descrições mais antigas. De uma maneira ou de outra, todos
os autores notam o alto rendimento que a diferença de gênero adquire nas concepções indígenas sobre o
cosmos, a comunidade e a vida social. Além disso, essas leituras sugerem que haveria modos e capacidades de
poder e agência especificamente masculinos ou femininos. Em um livro recente sobre o pensamento dos Cubeo,
Irving Goldman, por exemplo, salienta a conexão entre os gêneros e formas distintas de poder, e afirma que “um
gênero se diferencia do outro em razão de seu enraizamento em esferas distintas” ( 2004: 391). É importante
destacar, contudo, que nessa sociocosmologia extremamente sensível à diferença de gênero, o masculino e o
feminino não se equivalem em termos de valor. Isso se exprime, de um lado, nas concepções sobre a origem do
mundo e da humanidade; por outro, em alguns aspectos cruciais da organização social. Sendo patrilinear o
princípio de descendência e virilocal a regra de residência, o destino das mulheres solteiras é sempre deixar o
grupo ao qual pertencem por nascimento; e quando casadas, são estrangeiras na comunidade em que passam a
viver. Os homens, por sua vez, permanecem a vida inteira em sua comunidade de origem, à qual se vêem fortemente associados. São eles os detentores de certas prerrogativas que os tornam capazes de recriar ritualmente a ordem
mítica e agenciar simbolicamente o processo de reprodução social a cada geração. Ao analisar a experiência social
das mulheres que deixam suas comunidades ribeirinhas para residir na cidade, o presente trabalho pretende
demonstrar o modo como a sociabilidade urbana e as novas perspectivas de relacionamento conjugal infletem a
subjetividade feminina. A ênfase recai sobre a análise do discurso que as mulheres constrõem sobre si mesmas,
a partir de suas próprias narrativas de vida.
114
GT 09 - ETNOBIOGRAFIA, NARRAÇÕES E SUBJETIVIDADE
VISÕES DA NATUREZA E DA SOCIABILIDADE AKWEN (XERENTE)
Odilon Rodrigues de Morais Neto (UnB/DAN/PPGAS-doutorado) e-mail: od [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Certa vez, estávamos sentados em frente a casa de Sawrepté observando o fluxo da vida diária de uma aldeia
Akwen: crianças indo e vindo; correndo juntas umas pelas casas dos outros. Sawrepté comentou comigo: quando eu cheguei por aqui (na aldeia Hespohurê) só tinha quatro criancinhas (ele me conta os nomes destes
que agora são rapazes e moças); mas agora veja só quantas tem por aí vivendo... Em tese, ele me falava que,
homens e mulheres se juntam, formam uma aldeia, e ocasionalmente permanecem nela, para criar crianças e
oferecer a elas condições ‘sociáveis’ de sociabilidade. Nesse caso, quantidade (de filhos, crianças) é qualidade (de
sociabilidade). Desde este ponto de vista, a aldeia Hespohurê é uma ‘boa aldeia’ na medida em que ali nasceram
e cresceram muitas crianças. A partir da trajetória biográfica do ancião Sawrepté, descrevo neste ensaio o
processo de construção de um ‘corpo de parentes’, isto é, um processo de transformação da pessoalidade de
sujeitos engajados na partilha de corpos, substâncias, e na criação responsável de filhos. Digamos que os ‘mais
velhos’, aqueles que estão no fim de um ciclo de construção do parentesco, pois a morte é o limite, refletem
sobre isso desde uma perspectiva histórica, que aliás, é a perspectiva de história de suas próprias vidas; das
histórias de suas próprias experiências de ver a produção de ‘corpos de parentes’ irem e virem à revelia da
vontade humana em retê-la.
115
GT 10
POVOS TRADICIONAIS: PERSPECTIVAS ATUAIS
O CONCEITO DE “POVOS TRADICIONAIS”: SÓCIO-GÊNESE E CONTRADIÇÕES
Paul E. Little (Professor Adjunto de Antropologia, Universidade de Brasíl ia)
O surgimento e consolidação do conceito de povos tradicionais dentro do âmbito étnico e político brasileiro
nas últimas duas décadas faz referência a um leque amplo de grupos sociais: povos indígenas, quilombolas,
seringueiros, caiçaras, ribeirinhos, pantaneiros, caatingueiros, geraizeiros, chapadeiros, entre outros. Na análise
da sócio-gênese do conceito, este trabalho propõe que há duas origens, às vezes contraditórias entre si: uma
vinculada ao movimento ambientalista, que considera esses grupos como aliados intrínsecos a sua causa; e outra
vinculada às lutas desses grupos pelo reconhecimento de seus direitos culturais e territoriais. Com a criação do
Conselho Nacional do Desenvolvimento Sustentável das Comunidades e Povos Tradicionais em 2004 pelo
Governo Federal, abriu-se um novo espaço político para a formulação e implementação de políticas públicas
para atender as necessidades dos povos tradicionais. Com a realização, em 2005, do I Encontro Nacional de
Comunidades Tradicionais, em Luziana, Goiás, os embates entre distintos projetos políticos desses grupos se
manifestaram, provocando assim uma necessidade de reconciliar as reivindicações étnicas com as dos
ambientalistas. Seis problemáticas que surgiram no bojo desse novo espaço político serão brevemente analisadas: (i) direitos territoriais; (ii) sobreposição entre unidades de conservação e territórios tradicionais; (iii) desenvolvimento sustentável; (iv) conservação da biodiversidade; (v) proteção dos conhecimentos tradicionais; e (vi)
políticas públicas eco-regionais. O trabalho terminará com uma visão prospectiva sobre os rumos desse novo
espaço político.
Palavras-chave: povos tradicionais; direitos territoriais; políticas públicas
O TERRITÓRIO NA “AUTO-IDENTIFICAÇÃO” DOS PESCADORES DE CORUMBAU: O CASO
DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE CORUMBAU.
GRUPOS DE TRABALHOS
Helio de Castro Lima Rodrigues; Consultor Técnico Convênio MMA/IESB; e-mail hcastrol [email protected]
A necessidade em conceituar a categoria de População Tradicional e os seus signos diacríticos que as difere da
sociedade envolvente nos processos de implementação de Unidades de Conservação, sobretudo àquelas definidas em lei como sendo de Uso Sustentável, passa por uma profunda discussão no campo teórico sem nos
atentarmos, na “práxis”, para as questões identitárias sob a ótica do duplo pertencimento – pertencer ao local e
o local lhes pertencer. Observando a trajetória de implementação da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau
– BA, o principal motivo de luta social que deu origem a reserva, o sentimento de pertencer a um espaço marcado
pela cosmologia dos saberes, parece ser negligenciado, dando lugar a necessidade legal de responder a questão de
quem são os beneficiários diretos que terão a concessão de direito real de uso. Entretanto, no processo da releitura
e revisão do Plano de Uso da Reserva, elaborado em 2002, houve a preocupação de reconstrução da “auto-identificação” dos pescadores de corumbau, levantando a questão sobre o que, realmente, os motivaram para o movimento pela criação da Reserva. Nesse sentido, a construção de uma “consciência de identidade” passa pelo enfoque de
pertencimento a uma dada população local, cujas representações sociais, culturais e econômicas estão, sobretudo,
relacionadas com o uso do espaço marinho. A territorialidade, enquanto síntese integradora entre o natural e o
humano, localizada histórica e espacialmente, é fundamental para trazer essa reflexão. Dessa maneira, a elabora-
116
GT 1 0 - P O V O S T R A D I C I O N A I S : P E R S P E C T I VA S AT U A I S
ção de mapas êmicos coletivos e posteriormente o estímulo às reflexões sobre as formas de uso dos seus espaços
de trabalho e de reprodução social, permitiram a “auto-identificação” dos pescadores de corumbau. Neste contexto a reconstrução do conceito de População Tradicional para os pescadores de corumbau, passa por experiências concretas vivenciadas pelos próprio sujeitos da ação, tendo em vista os saberes assimilados por meio das
gerações anteriores.
Palavras-chave: População Tradicional, Reserva Extrativista, Territorialidade.
“POVOS DA FLORESTA”: UMA METÁFORA DE IDENTIDADE NA AMAZÔNIA
José Maria da Silva (Professor da Universidade Federal do Amapá) e-mail: [email protected])
“Populações tradicionais”, “povos da floresta” e “ribeirinhos” são categorias genéricas e abrangentes utilizadas
para designar diferentes populações da Amazônia brasileira, especialmente das áreas rurais % de terras firmes e
de várzeas. Muitas das vezes essas expressões cedem lugar a categorias específicas a partir de atividades de
trabalho, tais como: castanheiros, seringueiros, extrativistas, pescadores, entre outros. O objetivo deste artigo é
examinar as especificidades e significados do uso corrente da expressão “populações tradicionais da Amazônia”,
analisando os desdobramentos dessa terminologia em outras como “povos da floresta”. Na verdade, derivada
contextualmente desta última expressão, a palavra floresta tornou-se amplamente utilizada como unidade semântica que denota não apenas um espaço natural, mas incide em elementos simbólicos que exprimem uma forma
de estabelecer identidade, com forte conotação de exotismo. Desta forma, pretende-se aqui analisar os significados dessas categorias classificatórias e o contexto social sobre as quais incidem. A base etnográfica deste trabalho
recai, de um lado, nas produções sociológicas sobre as populações da região amazônica e, por outro, procura
examinar a incorporação dessas categorias no cotidiano. Como expressões empíricas, essas categorias se apresentam como representações “naturais” demarcadoras de identidades sociais, principalmente a partir da retórica
ambientalista em voga no mundo contemporâneo.
Palavras-chave: Amazônia, populações tradicionais, identidade.
POVOS TRADICIONAIS NA AMAZÔNIA: AS PERSPECTIVAS DE CHARLES WAGLEY E
EDUARDO GALVÃO
No grupo de pesquisa intitulado “Transformações sociais na Amazônia”, criado em 2006, junto ao Departamento de Antropologia da UFAM, iniciamos um levantamento e análise crítica de literatura clássica e atual sobre
mundo rural amazônico, visando mapear categorias, temas e abordagens que sustentam conceitualmente o
conhecimento sobre povos tradicionais. Nesta comunicação nos propomos a discutir uma parte dos dados
levantados, a partir da leitura dos trabalhos de Charles Wagley e Eduardo Galvão, identificando as categorias
utilizadas por esses autores para qualificar os povos tradicionais na Amazônia, ao mesmo tempo em que apresentamos sua reflexão sobre o papel da Antropologia na construção desse conhecimento.
Palavras-chave: povos tradicionais; antropologia; mundo rural amazônico
RITUAL E AFIRMAÇÃO ÉTNICA NA SERRA DA GAMELEIRA (SÃO TOMÉ – RN)
Flávio Rodrigo Freire Ferreira, mestrando em Antropologia Social, PPGAS – UFRN ([email protected]);
Prof. Drª. Julie Antoinette Cavignac, (Orientadora) PPGAS / DAN – UFRN ([email protected]).
A comunidade quilombola de Gameleiras localiza-se na microrregião do Potengi, no município de São Tomé,
no Rio Grande do Norte. A serra abriga dois núcleos populacionais: Gameleira de cima e Gameleira de baixo
que reinvidica anterioridade e agrupa 150 famílias que se identificam como remanescentes de quilombo. Já a
117
GRUPOS DE TRABALHOS
Dra. Márcia Regina Calderipe Farias Rufino (Professora da Uversidade Federal do Amazonas) E-mail:
[email protected]
Dra. Raquel Wiggers – (Professora da Universidade Federal do Amazonas) E-mail: [email protected]
comunidade de Gameleiras de cima tem um número maior de famílias que acionam uma identidade indígena e
se percebem como um grupo distinto dos seus vizinhos. Queremos, aqui, descrever a organização social e as
relações travadas entre essas duas comunidades, a fim de investigar os processos de afirmação étnica, privilegiando o recurso das vias simbólicas, em particular a do ritual.
Palavras-chaves: gameleiras, anterioridade, afirmação étnica.
UM OLHAR SOBRE AS ARTICULAÇÕES ENTRE ESTADO E POPULAÇÕES TRADICIONAIS
NA PRODUÇÃO DE TERRITÓRIOS NO MÉDIO JURUÁ
Kátia Helena Serafina Cruz Schweickardt (Programa de Pós-Graduação Sociologia e Antropologia/ IFCS/ UFRJ –
[email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
O presente artigo é parte de uma pesquisa maior que visa discutir as razões sócio-antropológicas de produção e
(re)produção de territórios no Estado do Amazonas a partir da relevância da problemática ambiental. Neste
trabalho, procuramos enfocar como a questão agrária antes colocada em oposição à questão ambiental, vai aos
poucos se ambientalizando. Detemo-nos na análise de um caso na região do Médio Rio Juruá acerca da criação
de duas Unidades de Conservação (UC’s) de uso sustentável. Procuramos perceber quais as motivações que
levaram à criação de uma Reserva Extrativista (RESEX) e uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS),
que possuem origens e estatutos diferentes, numa área que aparentemente não tem nenhuma descontinuidade em
termos de fatores ecológicos e sociais. Propomos, a partir dos agentes e das ações que se constroem e que estão em
disputa em torno destas duas Unidades reconstruir as relações e processos sociais que levaram à criação e estabelecimento destas áreas protegidas. A relevância de tal reflexão se traduz no fato de que mais que denominar
territórios e nos remeter às origens de sua implantação, RESEX e RDS são termos que organizam relações, disputas
políticas e visões de mundo em diálogo permanente com o seu tempo histórico e com o que está a sua volta.
Configura-se assim como questão relevante para se pensar a Amazônia hoje, as diferentes faces que o Estado
ambientalizado assume na região e nos ajuda também a perceber como a Amazônia está se pensando por meio
desses processos socioambientais.
Palavras-chaves: Amazônia, território, questão ambiental
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GT 11 - MIRADAS RECENTES SOBRE O ECOTURISMO: QUESTÕES DE TERRITORIALIDADE, IDENTIDADE E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
GT 11
MIRADAS RECENTES SOBRE O ECOTURISMO: QUESTÕES
TERRITORIALIDADE, IDENTIDADE E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
DE
AS QUESTÕES DAS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPNs): O
USO E APROPRIAÇÃO DA NATUREZA PELO ECOTURISMO
Isis Maria Cunha Lustosa (UEG/Unidade Cora Coral ina e MMA/PDA - [email protected])
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) insere, em sua classificação, a Unidade de Conservação (UC) de Uso Sustentável que inclui a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) como UC oficial
de propriedade particular. Há 16 anos a RPPN integra a Política Ambiental Nacional. A RPPN depois de criada
continua na posse e domínio do seu proprietário com gravame de perpetuidade, concessiva de incentivo e
ocupante de área parcial ou total da propriedade particular por decisão do proprietário e efetivação do órgão
executor. O SNUC concebe na RPPN atividade de educação ambiental, projeto científico e de turismo ecológico.
Neste trabalho o enfoque direciona-se às RPPNs de Pirenópolis – GO que permitem a visitação e o ecoturismo
em seu interior. O propósito é discutir o uso e a apropriação da natureza pelo ecoturismo nessas UCs a fim de
elucidar se as RPPNs cumprem com a conservação da natureza. Ou se, as RPPNs, são mais um dos potenciais
emergentes para as atividades de ecoturismo em face do crescente interesse por áreas protegidas com tendência
à turistificação. Considera-se que as RPPNs estão para os seus proprietários como concessivas de incentivos e/
ou pertinentes à turistificação. Apesar de esteticamente bem preparadas para os visitantes porque uma paisagem
natural/artificial aprazível revela-se como conservação da natureza, tanto para os visitantes como para o poder
público, e dissimulam o contexto econômico.
Palavras-chave: RPPN, ecoturismo, natureza e conservação.
CONFLITOS SOCIAIS NO PARQUE ESTADUAL MARINHO DE AREIA VERMELHA,
CABEDELO, PB
O Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha, localizado no município de Cabedelo, Paraíba, tornou-se unidade de conservação (UC) com o Decreto Estadual nº 21.263 de 28 de agosto de 2000. Atualmente esta UC é
considerada um dos principais cartões postais da Paraíba, atraindo grande quantidade de turistas e veranistas
para o seu ecossistema frágil e ameaçado, formado por recifes de corais. O fato de a área ter-se tornado um
Parque Estadual não implica dizer que aconteceram mudanças na sua gestão e nos seus usos, que continuam
levando ao uso ilimitado daquele ambiente. Quase sete anos após a sua criação, o plano de gestão ainda não foi
criado e medidas paliativas como a publicação da Portaria Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado da Paraíba (SUDEMA) nº 002/2007 de 24 de janeiro de 2007 têm falhado em garantir a preservação de seus recursos naturais. No contexto apresentado, este estudo buscou identificar os principais conflitos
sociais que envolvem os usuários do Parque, entre os quais se destacam: turistas, veranistas, praticantes de
esportes náuticos, vendedores ambulantes e comunidade local. A partir disso objetivou-se apresentar os principais motivos pelos quais a necessária alteração de comportamento e usos com relação à UC tem sido tão difícil.
Os dados utilizados como base para a elaboração deste trabalho foram obtidos por meio de conversas informais
119
GRUPOS DE TRABALHOS
Anna Karla Cavalcante Moura (PRODEMA/UFPB – [email protected]);
Kallyne Machado Bonifácio (PRODEMA/UFPB – [email protected]);
Maria Cristina Crispim (PRODEMA/UFPB – [email protected])
com usuários do PEMAV, entrevistas com funcionários da SUDEMA e com a gestora voluntária do Parque e de
observação direta da área da UC por uma equipe multidisciplinar em visitas de campo. Por fim, a educação
ambiental é apresentada como uma ferramenta fundamental para um princípio de solução desta problemática,
que tem gerado tanta polêmica e conflito de interesses entre os diferentes atores e instituições envolvidos.
Palavras-chave: unidade de conservação, conflitos sociais, gestão ambiental
ECOTURISMO NA “POLINÉSIA BRASILEIRA”: ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA À
TRANSVERSALIDADE ENTRE CONSERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO.
David Ivan R. Fleischer (University of Albany – [email protected] )
O ecoturismo no litoral norte da Bahia vem sendo impulsionado por diferentes vetores: grandes investimentos
estrangeiros (hotéis e resorts); programas de incentivo do estado (e.g. PRODETUR II); atrativos naturais bem
preservados (praias, reservas ecológicas, vegetação nativa e espécies nativas); infra-estrutura para receber o visitante com conforto (sistema viário, saneamento, rede elétrica, sistemas de comunicação); serviços diversificados
(e.g. Praia do Forte possui culinária internacional, acomodação de todos os níveis de conforto, lojas diversificadas);
e projetos de conservação ambiental. Esse artigo focaliza na comunidade de Praia do Forte (chamada de Polinésia
Brasileira) e nos projetos de conservação Tartarugas Marinhas (TAMAR) e Projeto Baleias Jubarte. O município
de Mata de São João (do qual o distrito de Praia do Forte faz parte) faz parte da APA do Litoral Norte, criada pelo
Decreto Estadual n°. 1.046, de 17/03/1992 que compreende 142.000 hectares. Áreas de Proteção Ambiental
possuem zoneamento econômico ecológico com inúmeras regras de uso do solo, mas que podem se apresentar
como tênues principalmente em regiões que estão passando por um acelerado processo de urbanização. O
objetivo do artigo é discutir (1) a transversalidade entre iniciativas de desenvolvimento (ecoturismo e desenvolvimento urbano), e iniciativas de conservação (projetos científicos de preservação de espécies ameaçadas de
extinção) dentro de uma unidade de conservação estadual; e (2) as estratégias desenvolvidas pela comunidade
local para lidar com as transformações econômicas, sociais e políticas advindas dessas duas iniciativas (às vezes
diacrônicas, às vezes dicotômicas) e da normativa ambiental imposta pela criação da APA do Litoral Norte.
Palavras-chave: unidades de conservação, ecoturismo, projetos ambientais, estratégias econômicas.
EL ECOTURISMO EN LA COMUNA INDÍGENA DE OYACACHI, ECUADOR
GRUPOS DE TRABALHOS
Lucía Fernanda Lasso González (FLACSO-ECUADOR [email protected] e [email protected])
La Comuna Indígena Quichua de Oyacachi está asentada por más de 500 años en un territorio que ha sufrido
varias transformaciones. A partir de 1906 recibe escrituras de sus 44.500 ha., espacio que queda inscrito como
Territorio Ancestral y propiedad de la Comuna. A partir de 1970, este territorio pasa a formar parte de la Reserva
Ecológica Cayambe – Coca y por ende del Sistema Nacional de Áreas Protegidas del Ecuador. Esto implica una
serie de cambios para la Comuna, uno de ellos el establecimiento del ecoturismo como una estrategia de
conservación ambiental y otro, la entrada de varias organizaciones no gubernamentales (ONG) a trabajar en el
área. Mi estudio de tesis se enmarca en el trabajo que desempeñó la ONG EcoCiencia en el área de ecoturismo
(1999-2006). El objetivo es analizar los efectos de esta actividad en la Comuna. Los métodos utilizados son
entrevistas a los actores principales de la ONG y de la Comuna y Revisión Bibliográfica de primera y segunda
fuente. Los resultados parciales indican que: - hay un conflicto entre el modelo comunitario del ecoturismo y el
modelo empresarial sustentado por las ONG; -que la “sustentabilidad” del proyecto ecoturístico está determinada por el seguimiento que hagan las ONG a las enseñanzas impartidas, -que el ecoturismo es una práctica que
definida bajo los estándares de conservación actuales, responde a la lógica de trabajo de las ONG y no a la
dinámica de la Comuna; que el rol de la Autoridad Ambiental no ha podido ser ejecutado totalmente y que ha
sido sustituido en gran medida por el de las ONG. Finalmente, estos resultados parciales, me llevan a concluir,
que el ecoturismo es una actividad impuesta que busca ser sustentable pero a un precio muy alto: cambios
estructurales en la Comuna, presencia constante de ONG y de autoridades públicas.
Palavras-chave: ecoturismo, ONG e Oyacachi.
120
GT 11 - MIRADAS RECENTES SOBRE O ECOTURISMO: QUESTÕES DE TERRITORIALIDADE, IDENTIDADE E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
ESTUDOS SOBRE A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES TURÍSTICAS NAS TERRAS INDÍGENAS
BRASILEIRAS
Gilberto da Silva (CMAM/CGPIMA/FUNAI – [email protected])
A partir do início dos anos 80 do século passado, o ecoturismo passou a ganhar maior expressão no Brasil e, nos
últimos anos, tornou-se um termo recorrente nos veículos de comunicação de massa, publicações específicas e,
principalmente, nos discursos relacionados a alternativas econômicas de sustentabilidade. Os Povos Indígenas,
por sua vez, sofrem um crescente assédio de empreendedores, organizações não-governamentais e até mesmo de
instituições governamentais para que realizem atividades turísticas no interior de suas terras, criando expectativas econômicas imediatas às comunidades. Este trabalho, portanto, consiste numa análise interpretativa documental e de verificações in loco onde subsiste ou emerge a idéia e/ou ação para se utilizar atividades turísticas,
abarcando suas diferentes variantes terminológicas, numa suposta fonte de rendimentos para algumas sociedades indígenas. Refere-se, portanto à representação desse potencial exploratório como uma forma alternativa na
busca de recursos para a aquisição de produtos necessários à sobrevivência e a satisfação de suas necessidades.
Pretendeu-se um detalhado levantamento de informações que pudessem suprir os objetivos iniciais do trabalho,
assim na pesquisa qualitativa por amostragem, utilizando-se as técnicas metodológicas de observação participante e
entrevista informal, foram realizadas visitas a algumas comunidades indígenas distribuídas nas diferentes regiões
bioclimáticas do país, considerando as peculiaridades socioculturais dos povos residentes nesses locais. Além disso,
a metodologia de análise documental supriu as lacunas a respeito dos resultados dos seminários, oficinas, palestras,
workshops e demais encontros realizados sobre o tema ao longo dos últimos quinze anos. Os resultados preliminares apontam para a hipótese de que o turismo se apresenta como uma das formas de sustentabilidade econômica para as comunidades indígenas, no entanto, carece de um aprofundamento nas ações, visando uma
quantificação temporal que demonstre realmente ser uma opção com reduzido risco de contingência na sua
aplicabilidade. Comprovou-se ainda que a possibilidade de exploração de atividades turísticas nas terras indígenas está condicionada a uma seqüência de elementos jurídicos e administrativos, garantindo desta forma, os
direitos constitucionais dos Povos Indígenas.
Palavras-chave: Ecoturismo, etnoturismo, turismo, terras indígenas, Funai, ambiente, sustentabilidade, povos
indígenas, pluralidade étnica, preservação ambiental, degradação socioambiental, cultura, patrimônio imaterial,
legislação ambiental, legislação indigenista, sociobiodiversidade, áreas protegidas.
MEMÓRIAS DA CIDADE E PATRIMÔNIO HISTÓRICO: VILA PLANALTO EM BRASÍLIA
Este trabalho pretende discutir a questão da preservação histórica e da oficialização de patrimônios a partir do
estudo de Vila Planalto — antigo acampamento da construção civil — situado no centro do Plano Piloto de
Brasília. Trata-se de um antigo espaço provisório, instalado para a construção da nova capital nacional, que
permaneceu irregular durante mais de trinta anos para ser, finalmente, regularizado e reconhecido como patrimônio do Distrito Federal, no dia 21 de abril de 1988, exatamente um ano após o reconhecimento de Brasília
como patrimônio da Humanidade pela Unesco (1987). O caráter não previsto deste espaço no centro do Plano
Piloto de Brasília, sua origem popular e seus anos de irregularidade fazem do reconhecimento e tombamento de
Vila Planalto uma situação imprevista e interessante na análise das conseqüências da construção de Brasília. A
memória dos inícios de Brasília foi valorizada no reconhecimento de Vila Planalto, seja em função do papel deste
espaço como vestígio da cidade, seja pela memória ainda viva dos primeiros moradores de Brasília que ainda
residem em Vila Planalto. A memória como tipo de “capital social” (Bourdieu, 1987), é valorizada neste caso.
Palavras-chave: patrimônio, memória, identidade.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Christiane Machado Coelho (CIES, ISCTE/Lisboa - [email protected])
O DEBATE SOBRE O TURISMO CULTURAL EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Sati Albuquerque Ballabio - sati@maril ia.unesp.br- Universidade Estadual Paul ista Júl io de Mesquita Filho
O turismo em Unidades de Conservação que abriga populações é um fenômeno crescente, uma vez que esta
atividade coloca-se muitas vezes como única oportunidade de desenvolvimento econômico de uma região. A
indústria do turismo assimila este potencial e passa a estimular esta forma de lazer criando assim, diversos
subterfúgios para atrair turistas, como a busca de significados para a “construção” de fenômenos que contemplem o olhar desses turistas, o que Urry (URRY, John O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades
contemporâneas. São Paulo: Studio Nobel, 1996) chama de atração inventada, construções de significações
culturais para agradar a expectativa do viajante. O presente trabalho tem como proposta refletir sobre o desenvolvimento deste turismo movido por, ditos, interesses culturais em que os visitantes buscam ter contatos com
culturas e cotidianos diferentes dos seus. Pretendemos analisar se a ênfase da quase exclusiva exploração comercial da diversidade cultural pode provocar a descaracterização e ou determinados impactos nas comunidades
exploradas. Para tanto tomamos como ponto de partida o debate existente entre estudiosos do tema (PELLEGRINI
FILHO Américo. Ecologia cultura e turismo. Campinas: Papirus, 1997; BURNS.Peter. Turismo e antropologia.
São Paulo: Chronos, 2002; Robterson, R Globalization: Social Theory and Global Culture. London: Sage, 1992.
Entre outros) entre os que argumentam que o turismo com este viés estimula o desenvolvimento cultural de uma
sociedade, e ainda que as possíveis mudanças que ocorrem fazem parte da dinâmica cultural da sociedade. E o
quadro de teóricos (FURLAN, Sueli; BALLABIO, Sati; DIEGUES, Antonio C; BANDUCCI, Álvaro Jr OLIVEIRA, Ezequiel. Entre outros.), que a partir de diversos estudos de casos têm constatado que a forma como essa
atividade se impôs a diversos locais gerou mudanças rápidas e, em alguns aspectos irreversíveis, não possibilitando, inclusive, uma reflexão mais comprometida das populações e comunidades envolvidas.
O TURISMO ÉTNICO EM COMUNIDADES INDÍGENAS NO BRASIL: A RESERVA PATAXÓ DA
JAQUEIRA E O PARQUE INDÍGENA DO XINGU.
GRUPOS DE TRABALHOS
Rodrigo Padua Rodrigues Chaves (UNIP – Campus Brasíl ia - [email protected])
O objetivo da proposta é realizar uma etnografia comparada do turismo em duas Terras Indígenas: Coroa
Vermelha, de ocupação Pataxó, localizada nos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália - BA e Parque
Indígena do Xingu, na aldeia Kamayurá de Ipavú, localizada nos municípios de Canarana e Gaúcha do Norte –
MT, contextualizando-a no âmbito do desenvolvimento e no crescente interesse no denominado turismo étnico
nos últimos anos em todo o mundo, assim como nas discussões levantadas por antropólogos, geógrafos e cientistas sociais que desenvolvam pesquisas sobre turismo cultural e étnico em comunidades indígenas. Os índios
Pataxó criaram no final da década de 1990 a Associação Pataxó de Ecoturismo (ASPECTUR), com o objetivo de
implantar atividades de ecoturismo, turismo cultural e educação ambiental na Reserva da Jaqueira, a qual é
apresentada pelos índios como “fragmento preservado de Mata Atlântica na gleba B da Terra Indígena Pataxó de
Coroa Vermelha” (Projeto da Jaqueira está disponível no site da Aspectur www.rabarsa.com/pataxo/proje.html).
No Parque Indígena do Xingú, os índios Kamayurá da aldeia Ipavu buscam apoio de entidades como a Funai e
Ministério do Meio Ambiente para a implantação de projetos de visitação turística em sua aldeia, que vem ocorrendo efetivamente desde o início do ano 2000. Desta forma, pretendo relacionar a experiência dos Pataxó e Kamayurá
em relação às atividades turísticas não só com os demais segmentos da população regional mas, também, com uma
sorte de outros segmentos multilocalizados, contextualizando a pesquisa nas discussões ensejadas no âmbito da
antropologia do turismo, buscando dialogar com a literatura antropológica brasileira e internacional, bem como
analisar as políticas públicas implementadas no Brasil, suas repercussões e conseqüências para as sociedades
indígenas no país.
Palavras-chave: Turismo étnico, ecoturismo, Kamayurá, Pataxó.
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GT 11 - MIRADAS RECENTES SOBRE O ECOTURISMO: QUESTÕES DE TERRITORIALIDADE, IDENTIDADE E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
PERSPECTIVAS TURISMO ECOLÓGICO E AS UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL BRASILEIRAS
Marco Aurélio Belmont Figueira (Instituto Chico Mendes/IBAMA – [email protected]);
Lindolfo Abdalla Junior (Instituto Chico Mendes/IBAMA)
Nas últimas duas décadas assistiu-se a construção e a popularização de novos conceitos e paradigmas sobre a utilização
sustentável dos recursos naturais e, especialmente, as possibilidades advindas da exploração, racional e controlada, dos
sítios naturais para fins turísticos. No Brasil, devido às características naturais e sociais do país, houve, a partir dos anos
90 e por razões concernentes à política interna externa, a tentativa de construir um novo paradigma de desenvolvimento
social respeitando o meio ambiente e as complexas relações sócio-culturais existentes no universo rural brasileiro.
Todavia, essa nova abordagem, a despeito de sua ampla adoção enquanto política pública pelo governo brasileiro,
ainda não logrou a construção de uma interface consistente (seja quantitativa, seja qualitativamente) com as possibilidades, reais ou ideais, do turismo ecológico. Esse descompasso entre uma perspectiva de maior valorização das
relações sócio-culturais e o turismo ecológico encontra suas raízes em vários fatores concernentes a todas as partes
envolvidas, sejam elas o Estado, as comunidades, ou os atores não governamentais interessados no processo.
Palavras-chaves: turismo ecológico, desenvolvimento sustentável, unidades de uso sustentável, reservas extrativistas
e reservas de desenvolvimento sustentável.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO E SUSTENTABILIDADE: INCOMPATIBILIDADES E
CONTRADIÇÕES
Anna Karla Cavalcante Moura (Prodema/UFPB – [email protected]);
Loreley Gomes Garcia (Prodema/UFPB – [email protected])
Em meio à crise ambiental que assola o planeta, o desenvolvimento sustentável tem sido freqüentemente apontado
como alternativa para conciliar crescimento econômico e preservação dos recursos naturais. Trata-se de um conceito que foi rapidamente incorporado na terminologia dos discursos ambientais nos meios político e acadêmico,
entretanto, muitas vezes levianamente, como se sua simples evocação já resolvesse todos os problemas ambientais,
sociais e econômicos automática e inequivocamente. A atividade turística é apontada pela Organização Mundial de
Turismo como opção prática econômica sustentável, porém poucos são os exemplos nos quais a atividade obteve
sucesso em prol da sustentabilidade. Muitos são os exemplos de práticas de turismo predatório, algumas vezes
mascarado de ecoturismo, não havendo grandes vantagens para as comunidades receptoras e muito menos para o
meio ambiente. O objetivo deste trabalho foi avaliar de que maneira o discurso da sustentabilidade tem influenciado as políticas públicas de turismo na Paraíba. Com esta finalidade, foi feito um vasto levantamento bibliográfico,
juntamente com a avaliação de estatísticas específicas da atividade turística no Brasil. Conclui-se que o discurso da
sustentabilidade tem sido usado para legitimar a implantação de políticas públicas muitas vezes indiferentes às reais
necessidades das comunidades receptoras, políticas estas que têm sido guiadas pelas necessidades do mercado.
Palavras-chave: turismo sustentável, desenvolvimento sustentável, políticas públicas de turismo
Luiz André Soares (Museu Nacional/UFRJ - [email protected])
O presente trabalho visa caracterizar ou projeto particular de turismo, regulado por leis ambientais, na Praia do Forte,
situada na Costa dos Coqueiros, Bahia. Através da construção (e conseqüente análise) de um quadro sincrônico contemplando a cronologia de eventos e empreendimentos turísticos, pretendo demonstrar a existência de novas relações entre
ao atores, por trás de uma nova “geografia” para a vila. A nova composição turística, a partir de políticas e legislações
pertinentes ao meio ambiente, aliada às novas condições de acesso rodoviário, permite afirmar que o lugar foi sendo
preparado gradativamente e de forma planejada para o turismo. É um marco inevitável dessa nova fase da Praia do Forte
a chegada e instalação do Projeto Tamar (1984), o qual se tornaria o grande ator ambiental da Praia do Forte ao
estabelecer relações com os pescadores que acarretariam, simultaneamente, em aceitação e confronto. Competirá ao
trabalho também a discussão de que o turismo foi desenvolvido de uma certa forma, ou seja, a condição de produção do
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GRUPOS DE TRABALHOS
TURISTIFICAÇÃO E AMBIENTALIZAÇÃO NA PRAIA DO FORTE, BAHIA
turismo é indissociável do meio ambiente. Normas em relação às construções arquitetônicas, à poluição visual e sonora,
à circulação em alguns lugares da Praia do Forte e, sobretudo, ao que era preconizado como ambientalmente correto são
seguidas à risca, com a execução e fiscalização dos processos regulatórios e fundiários a cargo da Fundação Garcia
D’Ávila, ONG fundada pelo proprietário das terras para esse fim específico. A construção simbólica do lugar como
“paraíso ambiental”, suportada por anúncios publicitários que ressaltam a fauna e a flora locais e animada pela biologia
da conservação – programas institucionais voltados para tartarugas marinhas e baleias -, é viabilizada por uma estratégia
de preservação que, não raramente, aplicava sanções morais e/ou formais aos transgressores, tendo como efeito,
notadamente sem desmanchar ou apagar conflitos, a manutenção de uma “ordem ambiental consentida”.
USO PÚBLICO: QUANDO INCLUIR A COMUNIDADE?
Rodrigo Paranhos Faleiro (IBAMA e UnB – [email protected])
Alguns estudos atuais sobre a instalação de atividades turísticas em unidades de conservação no cerrado brasileiro
demonstram a frágil relação entre o Estado, por meio de seus representantes, e as comunidades locais, notadamente
aquelas excluídas do modelo de desenvolvimento econômico nacional. Essa divergência está situada no contexto contemporâneo que, aparentemente, exige do Estado eficiência, eficácia, efetividade e engajamento na resolução dos problemas sociais. Ela acaba contrapondo, de um lado, discursos de dirigentes da pasta ambiental que enaltecem essas áreas
como instrumento que coaduna as políticas ambientais e sociais, e do outro, as dificuldades do governo em concretizar
sua agenda na prática local dos órgãos públicos. Em geral, essa contraposição está apresentada por dois atores: o dirigente
dos órgãos, membro do governo; e o gestor da unidade em questão, equipe técnica do órgão. Evidentemente essa
dificuldade pode ser interpretada de diferentes formas, sem, contudo, desprestigiar a influência da formação desses
profissionais nos campos da gestão pública, do trabalho com sociedade, da conservação da diversidade biológica e da
inclusão social. Assim, a perspectiva desses atores pode ser entendida como uma tendência ideológica que predomina
mais em alguns segmentos técnicos e políticos que em outros e, por isso, constitui redes e grupos que viabilizam, ou não,
a gestão estatal. Nesse sentido, essa análise do turismo está focada nos conteúdos ideológicos, na interação de campos
(burocracia e política) e, principalmente, no papel da comunidade, elementos que influenciam e são manejados pela
percepção das equipes do Estado. Portanto, o turismo como atividade que resguardaria o papel da conservação da
diversidade biológica, promoveria a inclusão social e propiciaria a manutenção de áreas para pesquisa e lazer, ao ser objeto
de análise, possibilita problematizar a gestão territorial estatal como palco das relações pessoais. Talvez por isso surja a
pergunta: quando incluir a comunidade no uso público?
Palavras-chaves: turismo, unidades de conservação e inclusão social.
VISITANTES E POPULAÇÕES LOCAIS: INTERAÇÕES CONFLITUOSAS?
GRUPOS DE TRABALHOS
Júlio de Andrade (IBAMA - jul [email protected]); Leonardo Boquimpani Freitas (IBAMA); Juliana Cristina
Fukuda (IBAMA)
Atendendo a um chamado para um retorno à natureza, “tribos” urbanas querem se divertir, relaxar, conhecer e contribuir para a conservação da natureza e para o desenvolvimento local, tendo então a oportunidade de relacionar-se com
“tribos” mais tradicionais. No entanto este encontro é mediado por algumas instâncias: trade turístico, gestores de áreas
protegidas e representantes das elites locais. Quanto deste encontro se transforma em desencontro e conflito na
realidade brasileira? A palavra chave que permite este amálgama é ecoturismo. Um rótulo embebido em mitos sobre
lugares com natureza intocada e culturas diferenciadas, que permite que extratos da população urbana afluente relacionem-se com populações ditas tradicionais, ocorrendo aí um choque de identidades e intenções. Baseado na experiência
como gestores públicos, os autores relatam resultados de vivências com grupos de turistas, gestores públicos e representantes da população local sobre a co-construção de experiências de gestão de dois parques nacionais brasileiros –
Lençóis Maranhenses, no Maranhão, e Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais – especialmente no que concerne ao
uso público destas unidades de conservação. Longe da visão de lugares paradisíacos, estes parques nacionais revelam-se
espaços sobre-determinados por múltiplas territorialidades e lugar de amplas disputas de significado e uso.
Palavras-chave: ecoturismo, parque nacional.
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GT 1 2 - P R ÁT I C A S E S A B E R E S I N D Í G E N A S : N OVA S C O N F I G U R AÇ Õ E S S O C I A I S
GT 12
PRÁTICAS E SABERES INDÍGENAS: NOVAS CONFIGURAÇÕES SOCIAIS
A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS MÚLTIPLOS UM UMA ALDEIA MAXAKALI: DO KUXEX À
CASA DE FORRÓ
Douglas Ferreira Gadelha Campelo (PPGAN-FAFICH-UFMG)
ACERVO TIMBIRA: NOVAS FORMAS DE DIFUSÃO DE SABERES
Lígia Raquel Rodrigues Soares – Centro de Trabalho Ind igenista (CTI)
Este trabalho tratará das formas de difusão de saberes que os Timbira estão usando para a recuperação e continuidade dos seus saberes (músicas e histórias) e da relação destes com as atividades dos pesquisadores que
trabalharam com eles. A pesquisa se dá através da formação de um acervo de músicas, entrevistas e fotografias,
iniciado desde 1996 pela ONG Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e do seu uso por aqueles povos. Na cidade
de Carolina (MA) o CTI estrutura um acervo, contando atualmente com cerca de 600 fitas K-7 (com músicas e
entrevistas) e 10.000 fotografias digitais e digitalizadas, em parceria com a Associação Indígena Wyty-Catë das
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GRUPOS DE TRABALHOS
Os maxakali como tantos outros grupos indígenas no Brasil sofreu e vem sofrendo constantes mudanças no
plano estrutural, cosmológico e social a partir do contato com alteridades múltiplas, e uma delas são os ãnyhuk,
termo designado para falar dos brancos.Um dos lugares privilegiados para se analisar estas mudanças seria um
estudo em torno da casa, tentando mostrar como vem ocorrendo um processo de transformação desta dentro da
sociabilidade Maxakali e conseqüentemente proporcionando mudanças estruturais no plano sociológico e
cosmológico. Para fazer esta análise utilizarei os dados etnográficos que coletei nas duas viagens que fiz à terra
indígena em janeiro e julho de 2005. Além disso, utilizarei: desenhos, narrativas míticas, fotos e vídeos coletados
nos últimos três anos pela equipe do “Laboratório de Etnomusicologia da UFMG” coordenado pela professora
Rosângela de Tugny. Percebe-se que houve uma mudança na forma e na estética das casas ao longo dos anos,
desde o tempo dos monayxop - presente nas narrativas míticas - até os tempos atuais. As casas que tinham uma
forma ovalar segmentada ao meio, deram lugar a casas com formato mais retangular próximas ao das casas dos
brancos, no entanto, sem utilizarem os mesmos materiais como: tijolos, telhas, cimento e sim: madeira, cipó e
capim. Nos últimos anos algumas intervenções dos ãnyhuk ocorreram, como: a construção de uma escola, da
sede do posto da FUNAI e recentemente uma casa foi construída pela prefeitura de Bertópolis para que os índios
a utilizassem como lugar de atendimento dos agentes da FUNASA e que funcionasse ali uma escola. Função
que não foi seguida pelos índios, utilizando o lugar para outros fins como: reuniões, casa de forró, para realizações de festas como um baile de carnaval e funcionamento de um pequeno comércio. Esta casa tem sido
“administrada” pelo líder político Guigui Maxakali. Com a construção desta, tem coexistido na aldeia dois tipos
de experiência com a alteridade. A que passa pelo kuxex, casa dos espíritos aonde estes vem cantar para os
humanos e a casa doada pela prefeitura aonde se experimenta rituais do mundo dos brancos. Com isso a aldeia
mudou sua estrutura de casas que formavam um semicírculo em volta do kuxex para um oito, dois círculos em
volta da casa de reuniões ou de forró, e, um outro, em volta do kuxex. Existe agora uma espécie de conflito entre
os discursos dos pajés e dos líderes políticos. Os primeiros anseiam em voltar ao tempo dos monayxop através dos
rituais e os segundos na aquisição de novas tecnologias e que proporcionam devires outros como o carnaval.
Palavras chave: etnologia, mitologia, transformações ameríndias
Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins. Esse acervo tem fortalecido e difundido as manifestações
culturais dos povos Timbira no Maranhão e Tocantins (Apanjekrá, Ramkokamekrá, Krikati, Krahô, Apinajé e
Pykobjê), pelo acesso livre ao conteúdo do acervo. Esse acervo conta com material de antropólogos do CTI
(Maria Elisa Ladeira, Gilberto Azanha e Jaime Siqueira), com fitas gravadas e enviadas rotineiramente pelos
cantadores Timbira, com entrevistas realizadas por alunos indígenas da Escola Timbira. Também começa a ser
reunido nesse acervo materiais de pesquisadores que estiveram entre os povos Timbira (Damatta, Giraldin,
Melatti e Crocker). Os materiais desse acervo têm sido intensamente solicitado pelos Timbira. Os pedidos são
atendidos durante os eventos que acontecem no Centro de Ensino e Pesquisa Timbira, proporcionando dessa
forma aos jovens Timbira o contato com as músicas gravadas com cantadores atuais ou antigos que já faleceram,
além das várias histórias contadas por esses povos através dos anos.
Palavras Chave: música, difusão, povos Timbira.
ASSOCIATIVISMO CANELA E AS DEMANDAS DO DESENVOLVIMENTO
Adalberto Luiz Rizzo de Oliveira (Universidade Federal do Maranhão - [email protected])
O trabalho versa sobre o associativismo Canela e a política e ação tutelar em relação aos povos indígenas no centrosul do Maranhão. Aborda inicialmente a ação indigenista do SPI junto aos Ramkokamekra-Canela e outros grupos
indígenas na região, especialmente voltadas à implementação de atividades econômicas de auto-sustentação. Num
momento seguinte discorre sobre a ação tutelar da FUNAI e a implantação de ‘projetos de desenvolvimento comunitário’ junto aos Canela nas décadas de 1970-80 relacionados ainda, a presença de grandes projetos de desenvolvimento regional, especialmente o Projeto Ferro-Carajás. Considera a emergência do associativismo entre os Canela como
decorrência das mudanças constitucionais e na ação tutelar, na perspectiva de implantação de novos projetos econômicos, educacionais e de saúde, sob a coordenação de pesquisadores vinculados à instituições internacionais. A
proliferação de associações indígenas entre os Canela durante os anos 90 é, ainda relacionada à presença de recursos
disponibilizados por agências internacionais (BIRD, BID, CEE), através de projetos de “ajuda humanitária” e programas de “combate à pobreza rural” implementados por órgãos federais e estaduais e por empresas privadas. Concluí-se
que nos últimos anos, o associativismo Canela tem substituído as instâncias políticas tradicionais nas relações
intersocietárias e junto às agências de desenvolvimento constituindo, assim, uma nova forma de organização política
desse grupo, embora em tese, subordinada à essas instâncias e às lideranças tradicionais.
Palavras-Chave: Associativismo Indígena – Agentes de Desenvolvimento – Práticas Indigenistas
AUTONOMIAS NAS ESCOLAS INDÍGENAS DOS POVOS TIMBIRA?
GRUPOS DE TRABALHOS
Lígia Raquel Rodrigues Soares Centro de Trabalho Indigenista (CTI)
Este trabalho procura discutir o significado da palavra autonomia para as escolas indígenas no Estado do
Maranhão e Tocantins, em especial nas escolas dos povos Timbira. Nas análises que tenho feito ao longo de sete
anos sobre a educação escolar indígena no Maranhão e Tocantins percebo a não-autonomia na maioria das
escolas indígenas dos povos Timbira por conta de um aparato legal que a sufoca diante de tantas condições
estabelecidas (carga horária, calendário, dias letivos) apesar de a mesma legislação propor a tais instituições
especificidade e flexibilidade. Além desse aparato legal, também percebo que a ausência de autonomia é proporcionada por profissionais não-indígenas não desejosos (e tampouco preparados teoricamente para) de pensar
uma escola diferente, que questionem essa base legal, profissionais esses que pensam as escolas com os parâmetros
de pedagogos (formatados na legislação) formados para escolas não-indígenas. Por esses e outros motivos, faço
nessa análise as seguintes questões: como as escolas terem autonomia diante desse contexto? O que pensam os
professores e diretores indígenas diante da legislação que amarra tudo e todos? O que acontece nessas escolas
quando os professores e diretores são indígenas e o que acontece quando quem está à frente dessa escola é um
não-indígena? Estas e outras questões serão pensadas no referido trabalho propondo uma análise dessa situação
observada na educação escolar oferecida aos povos Timbira no Estado do Maranhão e do Tocantins.
Palavras-chave: educação escolar indígena, povos Timbira, Maranhão e Tocantins.
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GT 1 2 - P R ÁT I C A S E S A B E R E S I N D Í G E N A S : N OVA S C O N F I G U R AÇ Õ E S S O C I A I S
DOIS ARTISTAS E UM MITO
Larissa Lacerda Menendez (Pontifícia Universidade Catól ica de São Paulo (Doutoranda) e-mail: [email protected])
Este trabalho versa sobre as obras de Feliciano Pimentel Lana e Luís Gomes Lana, artistas desana da comunidade São João
Batista do rio Tiquié, região do alto rio Negro, Amazonas. Os desana, ou Umukomahsã, “Gente do Universo”, somam
aproximadamente mil pessoas, distribuídas em 50 comunidades espalhadas pelos rios Tiquié e Papuri. As pinturas dos
referidos autores são figurativas, feitas de guache sobre papel e tratam, entre outros assuntos, do universo mítico-ritual do clã
Desana-Kehiriporã. A pesquisa apresenta as obras dos artistas e propõe-se a analisa-las a partir de uma perspectiva interdisciplinar
entre Antropologia e Arte, inspirada nas reflexões de Gaston BAchelard, Richard Wollheim e nos estudos de Berta Ribeiro
e Reichel-Dolmatoff. O trabalho apresenta ainda o estudo comparativo das ilustrações do mito de origem do universo,
elaboradas por Feliciano e Luís. A comparação das obras foi concretizada a partir da tentativa de identificação das
estruturas arquetípicas comuns aos trabalhos dos artistas, fundamentada nas obras de Gaston Bachelard e Gilbert
Duran.
Palavras-chave: Arte, Imaginário, índios
“ELA SABE REZAR MAS NÃO É REZADEIRA”: A FABRICAÇÃO SOCIAL DE UM SABEDOR
ENTRE OS ATIKUM.
Georgia da Silva, NEPE/UFPE, [email protected]
Uma das faces com que podem ser lidos caminhos para a alteridade entre os Atikum, atualmente, é através da idéia de
medicina tradicional, caracterizada pela atuação sistemática de determinados agentes terapêuticos da comunidade.
Numa região de efervescência pelos direitos étnicos, o campo da saúde tem se apresentado como espaço discursivo
para a consolidação de uma categoria étnica, a indígena, corroborando dentro outras noções a idéia de medicina
indígena Atikum. Não obstante as relações políticas imbricadas na relação acesso a saúde e saúde indígena e a importância dos Conselhos Locais de Saúde na comunidade, a delimitação de categorias terapêuticas e de uma tradição médica
local em oposição aos outros grupos (quilombola, comunidades não etnicamente diferenciadas, e biomedicina via
órgão gestor) se constitui como elemento distintivo entre os Atikum e os demais grupos sociais da região. Neste
ínterim estão as rezadeiras, cuja prática pode ser encontrada em toda região, mas que, para a comunidade Atikum,
somente o domínio das rezas não constitui o signo para o reconhecimento como rezadeira, mas outros elementos de
ordem sócio-politica. Assim, pretendo neste trabalho, delinear estes espaços de construção social da categoria rezadeira,
enfatizando os aspectos políticos da proposição de uma medicina propriamente indígena na atualidade.
Palavras-chave: medicina indígena Atikum, rezadeira, alteridade.
O “LIVRO PANKARARU” – NOTAS SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES INDÍGENAS.
O objetivo desta exposição é refletir sobre a experiência dos professores Pankararu (Tacaratu/PE) na elaboração
de um livro didático com noções relativas à sua história, sociedade e cultura, desenvolvido no âmbito de um
projeto do Centro de Cultura Luis Freire (Olinda/PE) entre os anos de 2000 e 2007, e destinado ao uso nas suas
próprias escolas. Partimos da premissa de que a produção deste livro nos serve como um “evento” ou “situação
histórica” capaz de traduzir os dilemas e características deste múltiplo processo de “formação” dos professores
indígenas Pankararu. A noção de formação é usada aqui de forma propositadamente imprecisa, como meio de
apontar para a convergência entre os diferentes processos que correm em paralelo à produção do “Livro
Pankararu”: a formação pessoal e profissional dos professores, a sua formação como um tipo novo de liderança
étnica e de agente no campo da política indígena mais ampla, assim como a formação de uma visão de si –
quando, então, operam como intelectuais étnicos. Este último aspecto aponta ainda para as questões envolvidas
na forma particular por meio da qual, no contexto nordestino, se estabelecem as relações entre mitologia e
história, ou mais precisamente, se mitologiza ou se incorpora à memória indígena a história.
127
GRUPOS DE TRABALHOS
José Maurício Arruti (Doutor em antropologia pelo Museu Nacional – UFRJ e Prof. da PUC-Rio)
SAÚDE INTERCULTURAL NO ALTO XINGU: A PARTICIPAÇÃO DOS AGENTES INDÍGENAS
DE SAÚDE (AIS)
Marina Pereira Novo (Universidade Federal de São Carlos - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
[email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Com o desenvolvimento das organizações indígenas e dos trabalhos a respeito dos grupos indígenas do Brasil,
na década de 1980, ampliaram-se as discussões a respeito da saúde indígena, culminando na criação de um subsistema específico para a atenção à saúde do índio – com a criação dos Distritos Especiais de Saúde Indígena
(DSEIs) – dentro do sistema nacional de saúde. Este processo de distritalização da saúde indígena promovido
pelo governo federal, caracteriza-se pelo exercício das atividades de prevenção e promoção de saúde, mediante
ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, de acordo com as diretrizes do SUS de busca do
acesso universal e igualitário às ações e serviços para prevenção e promoção de saúde, através da participação
comunitária, o chamado “controle social” – como forma de reconhecer e garantir aos índios sua organização
social, costumes, línguas, crenças e tradições. Este trabalho trata especificamente das relações que se estabelecem entre diferentes representações acerca dos conceitos relacionados aos processos de saúde/doença numa
situação de contato interétnico, tendo como foco o processo de formação e atuação dos Agentes Indígenas de
Saúde (AISs) na região do Alto Xingu. Estes agentes representam um elo entre as comunidades e os serviços de
saúde, apresentando uma grande ambigüidade, uma vez que são representantes das comunidades frente à medicina ocidental e, ao mesmo tempo, portadores de um saber específico ocidental dentro das aldeias, inserindo-se
numa relação ambígua. Uma vez que o atendimento à saúde é centralizado no Posto Leonardo (pólo-base de
referência das aldeias), a presença dos AIS nas aldeias torna-se fundamental para o atendimento básico junto às
comunidades, garantindo-lhes um espaço efetivo de atuação que, entretanto, não se dissocia das práticas tradicionais de cuidados e atenção à saúde promovidos pelos curandeiros tradicionais.
Palavras-chave: Agentes indígenas de Saúde, Distritos Sanitários Especiais Indígenas, Medicina tradicional
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GT 13 - I T I N E R Á R I O S I N T E L E C T U A I S , T R A J E TÓ R I A S D E V I D A , I M A G E M E I M AG I N Á R I O
GT 13
ITINERÁRIOS INTELECTUAIS, TRAJETÓRIAS DE VIDA, IMAGEM E IMAGINÁRIO
A CONSTRUÇÃO DA VIDA PÚBLICA DE INTELECTUAIS NEGROS: ABDIAS NASCIMENTO E
MILTON SANTOS
Rosemere Ferreira da Silva (Universidade Federal da Bahia [email protected])
O trabalho de pesquisa, “ A construção da vida pública de intelectuais negros: Abdias Nascimento e Milton
Santos”, pretende discutir as funções do intelectual na sociedade contemporânea e a representação do intelectual negro frente aos dilemas e entraves que se estabelecem diante de intervenções políticas e sociais propostas por
estes mesmos intelectuais, na maioria das vezes, para criar condições de participação de afro-descendentes na
dinâmica das relações, que envolvem uma compreensão do negro como sujeito de suas ações e legitimador de
um processo histórico de investigações descontínuas, em relação a relevância da afro-descendência, para uma
sociedade tão complexa, na sua formação étnico-racial, como a brasileira. Neste trabalho, levarei em conta o
debate sobre o significado da vida pública do intelectual negro tomado como uma articulação política, formado
a partir de estratégias que colocam em evidência as relações de poder no meio de atuação destes intelectuais.
Embora estas trajetórias pareçam distintas muito interessa a esta pesquisa mostrar como as relações étnicoraciais movimentam uma construção de intelectualidade negra, que diferente da não-negra, está voltada para um
trabalho de questionamento e ênfase a uma produção de saber e conhecimento mais esclarecedora sob o ponto
de vista do exercício social/ político da cidadania na contemporaneidade.
Palavras-chave: Intelectual, Afro-descendência e Etnicidade.
ACONSTRUÇÃOSIMBÓLICA DA IMAGEM DO JAGUNÇO NOS ESCRITOS DE EUCLIDES DACUNHA
A pesquisa que aqui apresento tem como objetivo estudar a obra do escritor Euclides da Cunha (1866-1909),
buscando entender a forma como a figura do homem violento – em especial o jagunço, descrito enquanto tal –
é tratada nos escritos deste autor. Procura-se, com esse trabalho, enfocar uma esfera de relações presentes na obra
euclidiana: desde a noção de violência até as idéias de alteridade e de discurso literário. Esta investigação parte
da concepção de que a linguagem escrita também pode ser objeto de um estudo antropológico, tomando-a como
uma forma de fabulação, de interpretação do mundo e, portanto, como uma ação social. Constrói-se, deste
modo, a pesquisa como uma etnografia do texto e a Literatura Euclidiana como um campo simbólico a se compreender. Inserido em um espaço intelectual múltiplo, Euclides da Cunha transita entre ciência e arte no desdobramento
de sua leitura dos sertões e do Brasil. Buscando a convergência entre criar um quadro estético e manter uma postura
de analista do social, o escritor terminou por deixar como marca uma visão estruturada do sertanejo – visão que iria
atravessar os séculos como releituras de muitos outros pensadores. O sertanejo euclidiano, desenhado como guerreiro,
como jagunço, é, ao mesmo tempo, o símbolo de uma brasilidade isolada e o contraponto da visão que o escritor e o
mundo intelectual que o rodeava tinham de um “movimento civilizador” – um processo de transformações históricopolíticas que mesclou embates físicos e culturais. Mas, mesmo alimentado por discursos positivistas e etnocêntricos
dos fins do século XIX, Euclides deixou margem para que o poder fundamental de sua linguagem literária reaparecesse, ainda hoje, como tentativa de uma antropologia estetizada das mudanças violentas na terra e no homem do sertão.
Palavras-chave: Violência, Imaginário, Antropologia da Literatura.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Mário Henrique Castro Benevides (Universidade Federal do Ceará – [email protected])
A NATUROLOGIA NO BRASIL: O ENCONTRO DE SABERES, ALTERIDADES E
COMPLEXIDADE.
Adriana Elias Magno da Silva [[email protected]]- Docente da Universidade Anhembi Morumbi, doutoranda
em Ciências Sociais-Antropologia pela PUC-SP.
Surgida oficialmente há cinco anos no Brasil através de cursos de bacharelados a Naturologia propõe ser um
saber das práticas naturais, tradicionais, modernos, ocidentais e orientais. Este novo conhecimento procura, a
luz de conceitos como transdiciplinaridade, complexidade e dialogia, unir práticas e saberes que vão desde
aqueles pertencentes ao pensamento selvagem ou oriundo de culturas tradicionais ligadas às práticas milenares
como Xamanismo, fitoterapia, Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Ayurveda até técnicas mais recentes
como a Terapias Floral criada pelo Dr. Bach e a medicina Antroposófica criada por Rudolf Steiner ambas
desenvolvidas a partir do início do século XX na Europa. No Brasil a Naturologia encontra no sincretismo que
caracteriza a formação cultural brasileira uma afinidade que pode facilitar sua aceitação e popularização. Com
uma proposta de agregar conhecimentos e práticas variadas de diversas culturas e tempos este saber resgata
heranças de uma brasilidade moldada pelo encontro de povos e raças que fez do brasileiro um gênero humano
novo mais aberto e tolerante do que outros povos as alteridades. Com uma postura inovadora que redimensiona
a relação saúde-doença-cura, a Naturologia propõe um foco de ação que não privilegia a díade doença-cura, mas
a promoção da saúde e a recuperação do indivíduo como ser autônomo, responsável pelo seu cuidado, corroborando as últimas recomendações da OMS sobre a postura e o papel das práticas e dos profissionais de saúde e a
valorização das práticas e medicinas tradicionais.
Palavras-Chaves: Naturologia, Complexidade, Alteridade.
A SOCIEDADE DO SILÊNCIO: O COTIDIANO DA INTERAÇÃO SOCIAL EM BRASÍLIA
Inaê Elias Magno da Silva – Câmara dos Deputados – [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Este paper, que consiste em um fragmento da tese de doutoramento intitulada “Brasília, a cidade do silêncio”,
dedica-se a discutir alguns aspectos peculiares ao padrão de sociabilidade brasiliense diretamente relacionados à
produção da representação social que identifica a capital federal como uma cidade fria, vazia, solitária. Tentando
agregar fundamentos sócio-culturais à explicação arquitetônica de Brasília, hegemônica, busco entender como
os indivíduos, dotados de distintas subjetividades, reagem à experiência de vida em uma sociedade formada
majoritariamente por migrantes, famílias nucleares e funcionários públicos dos estratos superiores da classe
média que, dentre outras características peculiares, encontra-se espacialmente segregada dos locais de residência
das classes populares.
Palavras-chave: Brasília, sociabilidade, subjetividade
A VIA CRUCIS DO DESEJO: A APRENDIZAGEM DO AMOR HOMOERÓTICO NA RELAÇÃO DE
RIO BALDO E DIADORIM
Manoel Messias Rodrigues Santos (Universidade Federal de [email protected])
Se as padronizações culturais da sexualidade muitas vezes reduzem o desejo a formas intercambiáveis; a natureza
de cada indivíduo pode propor o contrário: um universo desejante quase ilimitado na sua inventividade, por
isso, pensar o desejo homoerótico é fazê-lo de dentro dos diversos caminhos a partir dos quais se configura o
desejo humano na tradição ocidental. O amor que gradativamente apodera-se de Riobaldo o desperta para novas
sensações capazes de conduzi-lo a uma travessia interior em busca da compreensão do significado do sentimento
que experimentou por Diadorim. Desse modo, ao assistir à via crucis deste desejo, este trabalho objetiva analisar
como em meio à sociedade forjada sob a égide da jagunçagem o homoerotismo emerge como uma outra possibilidade de vivenciar o desejo, mesmo perpassado pelo jogo de vontade e repulsa provocado pelas representações
que esta sociedade construiu acerca do homoerotismo. O corpo de Diadorim, estilhaçado em fragmentos que se
vão aparecendo ao leitor não pode ser tocado por não constituir um lugar ontológico fixo, ao contrário, configu-
130
GT 13 - I T I N E R Á R I O S I N T E L E C T U A I S , T R A J E TÓ R I A S D E V I D A , I M A G E M E I M AG I N Á R I O
ra-se como um espaço ambivalente de desejo e de culpabilidade, de prazer e de negação que vai se delineando
numa relação com a memória de modo que o desejo se constitui como temporalidade, aptidão do sujeito para
protelar indefinidamente a satisfação, desligando-se do dado presente, encontrando mediação que remete ao
ausente e o abre ao imaginário, ao simbólico, seja como desejo de reconhecimento, seja como desejo de plenitude e repouso, ele institui o campo das relações intersubjetivas, os laços de amor só se efetua pela mediação de
uma outra subjetividade. Trata-se do desejo como devir e, portanto, como travessia interior que leva Riobaldo ao
auto-conhecimento, a percepção de si e do mundo a sua volta, a ressignificação da identidade, desencadeado
pela explosão do amor: Diadorim.
Palavras-chave: desejo, homoerotismo, imaginário
ANÁLISE DA CEGUEIRA EM “DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL”.
Aina Guimarães Azevedo. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social-UnB (Mestrado) [email protected]
Neste trabalho procuro analisar o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” de Glauber Rocha como uma fonte
documental interessante para se pensar como a identidade do cego ganha significados distintos na sociedade
brasileira a depender do contexto, da situação em que é encontrada. O instrumental analítico para esta empreitada advém da análise de rituais e combina: Saussurre, Jakobson, Austin, Tambiah, Crapanzzano, Turner e
Kondo. Se hoje nos deparamos, nas cidades, com cegos estudando em escolas especiais para superar sua deficiência - num claro projeto institucional marcado pela ideologia da igualdade - em outros momentos, o cego
desenvolve habilidades que pertencem ao lugar da vidência ou do sobrenatural. Apesar do ideal de igualdade ser
vigente hoje, mesmo assim, nem todos os cegos podem ser enquadrados nesta lógica. O cego de “Deus e o Diabo
na Terra do Sol” surge quase como um personagem mítico que passa não só a marcar o lugar do cego no
imaginário da população nacional, como também a marcar que mesmo no moderna sociedade ocidental diferentes formas de se enxergar a cegueira são englobadas e persistem na ideologia da igualdade.
Palavras-chave: cinema-identidade-cego
BRASIL EM TEMPO DE COMÉDIA
O presente trabalho analisa a trajetória do riso nas suas dimensões naturais e culturais. Parte-se do pressuposto
que esse fenômeno interage como um componente a mais no elo de ligação entre os dois territórios, bem como
estabelece uma rede sistêmica e dialógica entre eles. O humor é uma particularidade existente em nosso organismo e que por ser úmido e fluido, assim como a bílis, o sangue e a fleuma, encontra-se sempre em movimento e
ganha novas atribuições no decorrer do processo histórico. Atribuições que incluem novos significados à palavra “humor” e que o definem como uma forma de comportamento - identificações que o ligam à atividade
artística que acionam diretamente o riso. Seguindo essa linha de raciocínio que articula o humor à atividade
artística, o trabalho debruça-se sobre uma das atividades mais expressivas do fenômeno risível em um determinado período no Brasil. Trata-se das chanchadas, uma particularidade do cinema brasileiro que encantou e fez rir
uma parcela significativa da população nacional com suas sátiras, paródias e pilhérias e acentuou a trajetória do
efeito do cômico na configuração do riso. Confiar ao cinema a possibilidade de entender os mecanismos de
identificação-projeção entre indivíduo e filme é não só destacar um modelo de observação entre os efeitos da
comédia no espectador, mas desvendar as fruições imaginárias deste e captar a participação afetiva como um
instante de magia entre o universo perceptível e o trajeto do riso, por onde circulam os mitos, códigos instintuais
de um sonho que trafega na brecha entre natureza e cultura.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Edmilson Felipe da Silva Pontifícia Universidade Catól ica de São Paulo (Departamento de Antropologia) e-mail:
d [email protected]
CIÊNCIAS SOCIAIS: TEATRO DAS CONSCIÊNCIAS
Eduardo Fernando Montagnari – [email protected]
Ao considerar que tanto a beleza quanto a verdade formam uma unidade na multiplicidade, Cassirer entende
que tanto a arte quanto a ciência, de modo semelhante, implicam concentração e condensação da realidade, das
coisas e da vida humana. Levando-se em conta a relativa autonomia e características desses dois domínios – arte
e ciência - e certos de que em meio às diferentes consciências possíveis, sempre coadjuvamos, de alguma maneira, as cenas que interpretamos, sem qualquer privilégio que nos permitam participar de seus enredos como
meros espectadores, nossa exposição tem como propósito demonstrar que os acontecimentos dramáticos –
épicos e naturalistas - traduzem uma vocação bastante similar às análises científicas - sociológicas, antropológicas, das ciências políticas - que sempre recorrem a determinados termos - ator, teatro - como metáforas para
associar e lançar pontes entre um objeto e outro, para, por meio das correspondências, ‘interpretar’ os papéis e
as relações sociais - humanas.
Palavras-chaves: ciências sociais, teatro, sociedade.
DARCY RIBEIRO: O HOMEM E A OBRA
Tânia Elias Magno da Silva
O objetivo central da presente comunicação é buscar delinear e compreender a trajetória intelectual de Darcy
Ribeiro, educador, antropólogo, político e literato, tendo como principais referências às obras Confissões (1997),
O Brasil como problema (1995) e O Povo Brasileiro (1995), este último considerado pelo próprio Darcy como a
sua melhor contribuição ao estudo da formação e do sentido do Brasil. Este livro, que levou trinta anos para ser
concluido, teve o objetivo de contribuir para o entendimento de nossas origens: Quem somos, o que somos e
porque somos um povo “sui generis”. Nesta aventura seguimos algumas trilhas teóricas que nos ajudaram a
acompanhar a trajetória intelectual de Darcy e compreender o homem e a obra e o processo de criação. Michel
Guérin (1995) ao afirmar que para melhor compreender e analisar a obra é preciso decifrar o autor que nela se
esconde, pois não é possível entender a criação sem o criador, foi o ponto de partida, mas também nos apoiamos
em Edgar Morin, Gasto de Bachelard, Ítalo Calvino e Milan Kundera entre outros.
IMAGENS DA CIDADE - CIDADE IMAGINADA
GRUPOS DE TRABALHOS
Marcos Henrique Barbosa Ferreira (PPGA / UFMG) [email protected]
A cidade, tal qual a imaginamos, só pode existir como uma representação. Composta por imagens selecionadas da
cidade, essa representação acaba por constituir um modelo imaginário que se apresenta como a paisagem urbana
por excelência. Além de inspirar o cinema, a literatura, a fotografia e toda produção artística que faz referência
ao urbano, esse modelo, essa cidade imaginada, influencia projetos urbanísticos e todo tipo de intervenção na
paisagem da cidade. Até mesmo essa paisagem, composta ao mesmo tempo por formas físicas e culturais, é uma
representação - como um desenho - que, pela atribuição de significado, transforma determinado espaço ou
território em uma imagem cultural, um signo presente em um imaginário social e revelador de um amplo
discurso carregado da auto-representação daqueles que produziram tal paisagem. Ao considerar os grafiteiros e
pixadores como agentes produtores da paisagem da cidade entendo que o que eles fazem é imprimir certa representação do urbano na própria superfície da cidade. A construção dessa paisagem teria por base o modelo
imaginado a que me referia anteriormente, num processo em que a cidade acaba se tornando uma cópia simulada dela mesma. A interpretação desse modelo imaginário, a identificação de seus elementos constitutivos, das
idéias articuladas que lhe dão forma e conteúdo é um exercício necessário, tanto quanto a reflexão sobre as
possibilidades de apreensão e apresentação dele e sobre as contribuições que a imagem ou os recursos áudiovisuais de produção podem oferecer nessa tarefa.
Palavras chave: cidade, paisagem, representação.
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IMAGINÁRIO E IDENTIDADE CULTURAL: AS MÚLTIPLAS TRAJETÓRIAS RE-SIGNIFICADAS
NOS MUSEUS
Joselita Maria dos Santos
Os museus nos permitem um re-encontro com as diversas trajetórias e criações culturais de um grupo social ou mesmo
de um povo ou nação. Apresentam um conteúdo reflexivo embasado em relações sociais identitárias entre o passado
e o presente, o antes e o agora, o concreto e o abstrato com o objetivo de dar significado à realidade. Neste sentido o
museu pode ser visto como um meio de transmissão de mensagens, signos, símbolos, sinais a partir dos quais o homem
constrói imagens mentais indispensáveis acerca de sua trajetória cultural, bem como sua identidade enquanto membro de
um grupo social. No museu as imagens alimentam o imaginário, pois não é um espaço que guarda “coisas mortas”, ao
contrário é um espaço vivo, dinâmico, sempre em construção, que tem finalidades educativas e pode ser visto como um
espaço de reconhecimento da cidadania. Há neste sentido uma gama variada de tipos de museus, inclusive os ao ar livre,
encontrados nas reservas ecológicas, nos parques nacionais e nas áreas preservadas. A presente comunicação tem como
objeto de estudo central a análise do papel e importância dos museus na construção da identidade social e de compreender como a partir desses espaços a sociedade mapeia e constrói seus percursos de identificação e de valor coletivo.
Palavras-chave: imaginário, identidade, cultura, museu
IMAGINÁRIO NOS CONTOS ORAIS NO VALE DO JURUÁ
As expressões orais da literatura traduzem a representação maior da psicologia coletiva de um povo. Os contos e suas
diversas expressões em seus processos de transmissão preservam na oralidade a existência de usos, costumes, pedagogias,
normas morais, éticas e preceitos advindos de um imaginário secular. Ao contar, o narrador é um espírito livre para criar,
modificar espaços, sofisticar enredos, incorporando novos personagens, possibilitando por meio da flexibilidade da oralidade
inovações imprevisíveis. A pesquisa buscou perceber, através da análise estrutural das dez narrativas orais coletadas, os
processos de produção do imaginário no Vale do Juruá, ao mesmo tempo em que buscou compreender as construções
simbólicas presentes nessas narrativas e como elas representam conceitos de organização social, religião e leis morais
(DURAND, 1982, 1997), (ARIAS, 2OO2) e (LOUREIRO, 1995). Utilizando a epistemologia da hermenêutica cultural de
GEERTZ (1989), o estruturalismo de LÉVI-STRAUSS (1975, 1989), a teoria da ação comunicativa de HABERMAS (1996)
e a sociolingüística, tentou-se compreender o significado e o aspecto lingüístico das narrativas orais junto aos narradores
idosos dos municípios de Guajará-AM, Ipixuna-AM e Cruzeiro do Sul-AC: “João Acaba Mundo”, “O Carrasquinho”, “João
de Calais do amor sem fim”, narrados por Adalgisa Nascimento, 67 anos, aposentada, moradora de Guajará; “MarçoMarçal, Barro vermelho-laranjeiral”, “Touro Azul”, transmitidos por Terezinha Isidoro do Nascimento, 46 anos, doméstica, moradora de Guajará; “Borbolectus”, narrado por Adalgiso Barbosa Gurgel, morador de Eirunepé; “Água do pássaro da
vida”, por João Rodrigues de Oliveira, aposentado, residente em Cruzeiro do Sul-Acre; “História do Mapinguari”, relatado
por Ibianez Batista, aposentado, morador de Guajará; “Suru-Babão” transmitido por Anizia Machado, aposentada, moradora de Ipixuna, e “O casal”, narrado por Tereza Gomes, agricultora, moradora de Ipixuna. Através da análise antropológica
conseguiu-se perceber nos dez contos orais analisados que o imaginário juruaense está reconstruindo estruturas míticas, ou
seja, incessantemente ele está disseminando três tipos de narrativas, uma de matriz nordestina (ex. João Acaba Mundo),
outra composta de elementos amazônicos (ex. História do Mapinguari) e por último, uma narrativa onde comporta tanto
fragmentos da cultura amazônica quanto resquícios da cultura nordestina (ex. Borbolectus). Nesse sentido, reconhece a
existência de um imaginário mestiço no Vale do Juruá. Além disso, as narrativas podem está resistindo a um sistema de
dominação, de ordenação do mundo via uma razão instrumental, nesse caso, percebe-se a força de uma razão comunicativa
nos contos orais que revela a existência de uma organização social reforçada pela religião. Por outro, percebe-se que os
contos analisados, em seus universos simbólicos ao construir sistemas organizacionais e processos de sociabilidade, utilizam-se dos símbolos para denunciar regras morais, sociais, religiosas e processos educacionais, que são transmitidos ainda
hoje nas escolas como ação pedagógica em municípios como Guajará e Ipixuna, no Amazonas.
Palavras-chave: cultura, imaginário, narrativas orais, Amazonas.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Dra. Selda Vale da Costa (UFAM)
Jordeanes do Nascimento Araújo (Graduado-UFAM)
Colaborador: Ms. Giancarlo Stefani-(UFAM)
MEMÓRIA E CULTURA: OS CAMINHOS DA AFIRMAÇÃO ÉTNICA FULNI-Ô
Eliana Gomes Quirino (Professora do CEFET / RN - l il [email protected])
Este trabalho diz respeito aos índios Fulni-ô, grupo étnico que está situado no município de Águas Belas,
localizado no estado de Pernambuco. São, em média, 3.600 índios que apresentam como signos de identificação
étnica: o Yathê, língua específica do grupo que continua sendo utilizada no cotidiano; o Ouricuri, termo que
designa o ritual que acontece durante a primavera e durante períodos específicos do ano; o Toré dança comum
aos índios do Nordeste. Será apresentada uma analise sobre a afirmação da identidade Fulni-ô e sobre sua
mobilização étnica, envolvendo, para tanto, a história, a memória e as principais manifestações culturais e
simbólicas vividas e encenadas pelo grupo. Os Fulni-ô ao utilizarem a memória e os símbolos e signos culturais
ensejam sublinhar os limites de suas fronteiras sociais, avultar a identidade étnica perante os não-índios e diante
de índios de outros grupos. Salientam esses elementos para que corroborem com o processo de reconhecimento
público de sua identidade e com a defesa de seu território. Estão sendo sempre empregados no contínuo jogo da
afirmação da identidade. São artifícios muito utilizados pelo grupo como estratégia de visibilidade e suporte para
a mobilização étnica. Deve-se salientar que no caso da sociedade brasileira afirmar-se como diferente, compondo
um grupo étnico, é possuir elementos culturais diferentes daqueles apresentados pela sociedade envolvente. De
fato, esta é uma visão insuficiente e inadequada de como se forma e se define um grupo étnico. Mas, os Fulni-ô
seguem essa lógica disseminada socialmente e apegam-se a discursos ligados à existência de elementos culturais
diacríticos para que estes venham lhe servir de suporte a afirmação de que são índios. Apresentam narrativas
orais de cunho étnico em relação ao presente, assim como fazem uso da memória para defender a identidade.
Expõem publicamente signos e insígnias próprios de seu contexto sócio-cultural, com o mesmo objetivo.
Palavras-chaves: Identidade étnica, Memória, Símbolos étnicos.
MINISSÉRIE A CASA DAS SETE MULHERES: A HISTÓRIA COMO ESPETÁCULO
GRUPOS DE TRABALHOS
Luiz Carlos Rondini (Pontifíca Universidade Catól ica de São Paulo – l.rond [email protected])
Herdeira das experiências dos Casos Especiais e das novelas das 22 horas, as minisséries da TV Globo surgem
no começo dos anos 1980 como um novo formato que pretendia ampliar as experimentações narrativas e
produtivas e que se aproximasse da realidade sócio-cultural brasileira. Em 1985, o sucesso de crítica e público da
minissérie Grande sertão: veredas pareciam coroar as pretensões dos idealizadores do novo formato. Mas a partir
de 1990, com o acirramento da concorrência televisiva, as minisséries da emissora foram lançadas, acentuadamente, no turbilhão da busca pelos maiores índices de audiência. O presente trabalho analisa a minissérie A
casa das sete mulheres de 2003 que tinha como tema principal a Guerra dos Farrapos, e é um exemplo típico dos
conflitos que envolvem esse tipo de produção dentro TV Globo.O pretendido rigor inicial do formato e particularmente a aproximação com a realidade sócio-histórica transformaram-se, em alguns casos, em um elemento
de marketing que busca legitimar a minissérie como produto diferenciado ao associá-la ao campo da História.
No entanto, a busca pelos maiores índices de audiência possíveis transformou o elemento histórico em um
discurso, uma embalagem, que privilegia a formula do espetáculo voltado para as massas em detrimento da
própria História.
Palavras-chave: Televisão, minissérie, cultura de massa.
MITOCRÍTICAS DO IMAGINÁRIO REVELADOS EM FOTOGRAFIAS E MEMÓRIAS DE VIAGEM
Ana Flávia Andrade de Figueiredo (Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós Graduação em Antropologia – [email protected])
Fotografias de viagens constituem-se em um complexo e dinâmico arcabouço de elementos que podem nos
ajudar a compreender construções de vida e coletividades. A mitocrítica destes registros a ser apresentada neste
artigo, construída a partir de imagens enviadas a esta autora por integrantes de uma rede de viajantes conectados
pela internet, revela trajetos antropológicos surpreendentes. Buscar os lugares e paisagens de seu imaginário,
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transportando-os para o universo de suas fotografias de viagem, possibilita a estes viajantes deter aquele olhar
continuamente. A construção da memória, dinâmica em essência, e os inúmeros trajetos acerca dos diversos
tempos vivenciados em um mesmo espaço são suas próprias virtualidades. As conexões, os vínculos reconstruídos
a cada momento revisto nas fotografias, permitem ao ser humano repensar o passado a partir do presente e
resignificar a todo instante fundante e ressonântico sua própria ontogenia. Neste artigo buscou-se estabelecer-se
um caminho microscópico/cíclico de compreensão destas complexas bacias semânticas alimentas e produtoras
de um imaginário coletivo e suas construções sociais no campo do contato e das viagens.
Palavras-chaves: Imaginário, viagem, memória.
NO ESCURO DO PORÃO – O DESAFIO DE COMPREENDER O IMAGINÁRIO DO CEGO PELOS
CAMINHOS DA VISÃO.
Sandra Simone Moraes de Araújo Doutoranda do PPGA/UFPE [email protected]
Segundo Bachelard a filosofia racionalista compreende que a percepção das imagens determina os processos da
imaginação. Para eles, é necessário primeiro ver as coisas para depois imaginá-la. Nesta filosofia a visão e todo o
seu isomorfismo simbólico passa a exercer no cenário da cultura ocidental certa primazia, o modo de viver se
caracteriza em viagens do olhar, percebidas desde as simples atividades da vida diária até os avanços tecnológicos
que transformam o cotidiano em imagens televisivas. Descordando dos racionalistas Bachelard entende ser a
imaginação uma totalidade que envolve tanto a percepção das imagens externas, e a memória quanto à imaginação criadora, aquela que exerce a função do irreal, as pulsões inconscientes e oníricas. É apoiando-se nesta
totalidade que este trabalho busca conhecer a dinâmica do imaginário do cego congênito diante da ausência da
sensibilidade visual da imagem.
Palavras-chave: Cego, imaginário, percepção.
O CINEMA DE ESTRADA DE CACÁ DIEGUES E WALTER SALLES: CONFLUÊNCIAS E
CONTRASTES ENTRE A PRODUÇÃO EMBRAFILME E O NOVO CINEMA BRASILEIRO
Este texto analisa a significação social e cultural que o gênero filme de estrada ou road movie adquire nas obras dos
cineastas Cacá Diegues e Walter Salles, com ênfase nos seus longas-metragens, respectivamente, By by Brasil
(1979) e Central do Brasil (1998). Objetiva-se assim discutir as noções de identidade cultural e de geração expressas
nos temas sociais e valores etnográficos assimilados, bem como avaliar as principais condições de produção dos
ciclos do cinema nacional às quais estes diretores estão vinculados e que são reconhecidos representantes:
Embrafilme (1970-80) e o Novo Cinema Brasileiro (1990-2000). Em termos de resultados, pode-se afirmar que o filme
de estrada é uma narrativa que se tornou referência cinematográfica mundial a partir do filme Sem destino (1969),
de Dennis Ropper, estabelecendo um diálogo intenso com o movimento de contracultura da época. É uma
narrativa muito pouco apropriada na filmografia brasileira até os anos 1990, à exceção exemplificada no longametragem de Cacá Diegues, originário do Cinema Novo, quando começa a ser mais notada na produção de
diretores da geração Pós-Embrafilme como no caso da obra de Walter Salles, na qual se torna um gênero
recorrente. Os dois cineastas possuem em comum uma nítida adesão ao realismo crítico e a preocupação com a
questão da identidade cultural, uma busca permanente em retratar a diversidade regional, partindo do foco das
cidades Rio de Janeiro e São Paulo para fotografar também locais urbanos e rurais do nordeste/norte. O gênero
road movie torna-se portador destas duas perspectivas culturais e políticas, nas quais o sertão nordestino representa
um território imaginário de identidade ao expressar a tradição em contraste com a globalização da vida urbana.
Por outro lado, há ainda uma dimensão universal, pois este aciona elementos de caráter mítico, com evocação
das narrativas milenares de viagem, bem como se conecta com os valores da cultura de mobilidade individual dos
tempos atuais, sua mediação histórica.
Palavras-chave: Cinema brasileiro; gêneros ficcionais; identidade cultural.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Carlos Pereira Gonçalves Doutorando do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Catól ica – PUC - SP E-mail: [email protected]
O IMAGINARIO DAS RELAÇÔES ETNICO-RACIAIS EM ROMANCE E PINTURA : UM ESTUDO
COMPARATIVO DA FIGURAÇÃO SIMBÓLICA DA PINTURA DE CARIBE E O ROMANCE TOCAIA
GRANDE DE JORGE AMADO
Miguel Arturo Chamorro Vergara Universidade Estadual Santa Cruz, BA - [email protected]
O imaginaro das relações raciais brasileiras apartir da construção ideológica tem sido marcante na formação de
identidade Brasileira auxiliada pelos domínios da literatura , pintura, conto etc, tem se construido um discurso
cultural. Nesse sentido, a força da imaginação com suas imagens, mitos e arquetipos tem servido para elaboração dessas representações sem perceber as vezes, os antagonismos e contradições de nossa realidade nacional.
O presente trabalho procura estabelcer uma analise comparativa entre a Pintura e o Romance, dos elementos
etnico-raciais tomando algumas gravuras do artista Caribe e o romance Tocaia Grande de Jorge Amado, ambos
dominios interagem e constribuem para o debate da formação de um imaginario racial dos baianos , assim
como para a construção de uma matriz de estrutura mitica que auxilia a sustenta-lo.
Relações étnico-raciais, Gravuras de Caribe , Tocaia Grande
O MANGUE COMO LINGUAGEM MIMÉTICA: AS METÁFORAS DE JOSUÉ DE CASTRO EM
HOMENS E CARANGUEJOS
Anna Waleska N. C. de Menezes Doutoranda em Ciências Sociais. Professora da Faculdade Câmara Cascudo
e-mail: [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Este trabalho tem por problemática central analisar a dimensão simbólica do mangue na obra de Josué de Castro
Homens e caranguejos. Para tanto, recupera a seqüência lógica geral da obra e as diversas metáforas por ela apresentada em
seus capítulos. Parte da hipótese de que há vários mangues dentro da obra, os quais variam de acordo com as diversas
situações sociais. Deste modo, esta investigação buscou resgatar este importante intelectual que trouxe, no lirismo de
suas metáforas, o tema da fome a partir de um prisma da ecologia humana e suas estratégias de adaptação ao meio
ambiente. Deste modo, tendo como referencial teórico a noção de Walter Benjamin no texto A doutrina das semelhanças,
para o qual a linguagem seria a forma mais complexa e elevada da faculdade mimética humana, o mangue é caracterizado em sua linguagem visual e em seus ciclos naturais, seus animais, marés, raízes, cheiro, textura, cores e força
criadora, como uma relação sexual com o rio Capibaribe e Beberibe, provocando nos seus moradores, por ação mimética,
semelhantes linguagens de ciclos de fome e de migração, de mau cheiro e de força renovadora, revolta e reprodução,
honra e decadência. Por seu final em aberto, no qual não se sabe se o protagonista virou caranguejo, morreu em combate
ou se fugiu com os revolucionários, Josué de Castro indica que a história da Aldeia Teimosa e do menino João Paulo
ainda está em aberto para ter o seu fim contado pelos próprios homens anfíbios que são os seus moradores.
Palavras-chaves: Mangue. Identidade. Mimese.
“ORIENTALISMO MUSICAL”? NOS FILMES? ELEMENTOS PARA O ANALISE
TNOMUSICOLÓGICO DA MÚSICA DE FILMES
Bernardo Rozo (Universidade federal da Bahia – [email protected])
Neste trabalho introdutório, se analisam algumas das implicações do uso de composições musicais nos filmes, partindo de
quatro contribuições teórico-metodológicas específicas, a saber: a) as relações entre música e etnicidade segundo Josep
Marti; b) o conceito de “Orientalismo” de Edward Said; c) o Modelo de analise musicológico de Philip Tagg; e, d) a filosofia
sociológica de J. Baudrillard. A partir destas contribuições, se observa que os usos musicais atuais, nos produtos cinematográficos, devem fazer-nos refletir sobre a força que a música tem na construção do imaginário social e das representações
coletivas, e também nas formas variáveis de discriminação sociocultural e homogeneização cultural que existem nos
últimos tempos. Desta maneira, surgem três questões importantes para a configuração de uma pesquisa: Como se representa a alteridade cultural nos filmes contemporâneos? Qual o papel da música nestas representações visuais? Até que ponto
o “orientalismo musical” não caracteriza algumas das produções cinematográficas nacionais/regionais?
Palavras-chave: Orientalismo, Música de filmes, Etnicidade
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OS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS E A RELAÇÃO TRABALHO/CONSUMO
Adriana Maria Giubertti (UNICESP, [email protected])
Este estudo é uma investigação sobre a relação dos professores universitários de IES privadas com o trabalho.
Algumas considerações podem ser feitas: 1) o indivíduo está cada vez mais valorizando e se disponibilizando
para o trabalho-moeda, e como conseqüência direta, possui cada vez menos tempo para o trabalho sem
envolvimento mercantil; 2) há um espaço prioritário para o trabalho, cada vez maior, inclusive que “rouba”
tempo e importância de outras esferas e atividades, o que faz com que todos sacrifiquem tempos já consagrados
para a família e para si próprios; 3) nesse processo de valorização, a ideologia do consumo está conformando
uma ideologia do trabalho, ou seja, os imperativos do consumo exacerbado têm justificado uma supervalorização
do ato de trabalhar; e, 4) gradualmente, o trabalho-que-se-troca tem sido cada vez mais valorizado pelos professores universitários de instituições privadas - mesmo quando estes possuem outro emprego - e que têm aceitado,
inclusive, redução de salário para continuar trabalhando e, conseqüentemente, consumindo.
Palavras-chaves: trabalho, identidade, consumo
PAULO PRADO, UM PERCURSO INTELECTUAL
Thaís Chang Waldman - Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) Mestranda do
Programa de Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP) E-mail: [email protected]
Paulo Prado (1869-1943), como sabido, foi o principal ensaísta do Modernismo, reconhecido como personagem
central pelo grupo de intelectuais e artistas ligados à Semana de Arte Moderna de 1922, é muitas vezes deixado
de lado pelos estudiosos e, a despeito da sua centralidade, ele em geral se faz presente nas análises de bastidores
e/ou em referências de terceiros. Herdeiro de uma das famílias mais ilustres de São Paulo, além de trabalhar na
produção e comercialização de café, Paulo Prado escreveu dois livros capitais sobre aspectos sociais e culturais de
nossa terra, a partir da experiência colonial - Paulística (1925) e Retrato do Brasil (1928). Além disso, publicou
artigos e resenhas em jornais e revistas, escreveu editoriais para diversas revistas modernistas e se fez presente
como um dos organizadores e financiadores da Semana. Paulo Prado mostra-se um elo de ligação fundamental
entre os modernistas e um grupo de intelectuais que compunham uma geração anterior a sua, a de seu tio, o
jornalista e monarquista Eduardo Prado, e do historiador Capistrano de Abreu, seu amigo e mestre. Se isso é
verdade, Paulo Prado também inaugura um ensaísmo histórico-sociológico que irá desembocar, em 1930, em
obras como Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre e Evolução
Política do Brasil, de Caio Prado Júnior, todos eles, vale lembrar, possuidores de vínculos pessoais e de amizade
com Paulo Prado. Há, portanto, uma conexão entre o pensamento, e o tempo e o espaço em que foi gestado; e é
isto que este artigo pretende analisar. Recuperando essas pistas, será possível desenhar as redes de sociabilidade
e a inserção de Paulo Prado, definindo sua posição central no campo cultural da época.
Palavras chave: Paulo Prado, Pensamento Social Brasileiro, Ensaísmo da Década de 1920
Maria Luisa Scardini - Mestranda do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe/ 2005 - E-mail:
luisascard [email protected]
Orientadora: Profª Dra. Tânia Elias Magno da Silva - Email: [email protected]
Tendo como alvo de pesquisa professores migrantes das duas principais universidades localizadas em Aracaju,
sendo uma pública federal e outra particular, e estabelecidos voluntariamente na cidade há mais de dois anos, o
estudo, de caráter exploratório, busca identificar motivos impulsionadores da migração e sua repercussão nas
subjetividades/identidades, através de elementos relativos à representação social e práticas de interação e sociabilidade entre os migrantes em particular, e desses, na condição de “estrangeiros”, com os “nativos”. Conjugando métodos quantitativos e qualitativos, foram encaminhados questionários ao universo da população-alvo (com
50% de retorno) e realizadas entrevistas semi-estruturadas, mediante uma amostra intencional que contemplou
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GRUPOS DE TRABALHOS
PROFESSORES MIGRANTES EM ARACAJU: MÚLTIPLAS SOCIABILIDADES
até o momento 8 (oito) professores, sendo 4 homens (1 solteiro e 3 casados) e 4 mulheres (2 solteiras e 2
casadas), com idade variando entre 30 e 45 anos, procedentes de estados do nordeste, sudeste e sul do país.
Questionário e entrevista pautaram-se na seguinte temática: motivos da migração; expectativas e impressões
quando da instalação na cidade; formas de sociabilidade e inserção cultural; imaginário e representações da
sociedade local; projeto de vida. Os resultados, na perspectiva dos sujeitos pesquisados, apontam perdas e ganhos
com a migração, sugerindo que a decisão de migrar foi pautada por dois motivos fundamentais: oportunidade de
trabalho e qualidade de vida. Merecem destaque diversos aspectos relativos a proximidades e distanciamentos
(“estranhamentos”) entre os migrantes e os nativos da cidade, o que parece conduzir à caracterização de um
“ethos” sergipano/aracajuano no olhar “objetivo” de um “estrangeiro”, além de sugerir aprofundamento quanto
à noção de hospitalidade como categoria sociológica.
Palavras-chave: migração - sociabilidade - hospitalidade
SABORES E DISSABORES DOS SEXOS: REPRESENTAÇÕES DA VIDA SEXUAL NOS
ROMANCES DE FRANCISCO J. C. DANTAS
Sidiney Menezes Gerônimo - Mestrando em Sociologia Universidade Federal de Sergipe E-mail:
sid [email protected]
Orientadora: Drª. Tânia Elias Magno da Silva
GRUPOS DE TRABALHOS
Esta pesquisa tem por objeto as representações da vida sexual nos romances do escritor sergipano Francisco J. C.
Dantas, partindo da convicção de que a obra literária retrata a vida em sociedade. Dessa forma, a vida sexual é
estudada a partir da observação e análise da conduta dos personagens nos romances Coivara da memória, Os
desvalidos e Cartilha do silêncio. Para precisar os laços entre vida e obra, faz-se necessária uma investigação biográfica, na qual se revele a história de vida do escritor, sua experiência de neto de senhor de engenho que descobriu
parte do mundo no contato direto com a natureza, observando o comportamento dos animais. A linguagem
usada pelo romancista para realçar, enfatizar e intensificar atributos sexuais de homens e mulheres prende-se à
cultura regional nordestina. Para além dos efeitos estéticos, o foco nos recursos lingüísticos prioriza o significado cultural de palavras extraídas do reino animal e do reino vegetal para caracterizar sexualmente a conduta dos
personagens. Assim, circunstancialmente, alguns elementos da ordem da natureza se transformam em atributos
da mulher sedutora, associada à figura da “cobra”, da “serpente”, enquanto o homem se metamorfoseia em
“touro”, em “cavalo”. Intimamente relacionado à animalização da conduta sexual humana, o tema do excesso e
da escassez sexuais ocupa parte da obra de Francisco Dantas, sobretudo pela criação de personagens femininas
representadas como sexualmente excessivas e de tipos masculinos de “macheza dócil”. A divisão social do
trabalho – a impotência masculina para chefiar a família e administrar a fazenda – reflete-se na imagem de
homem sem a macheza de seus antepassados fortemente patriarcais. Assim, este estudo enfoca o universo da
vida sexual no meio rural nordestino, cujas representações são analisadas a partir da memória que os personagens vão desenhando e transmitindo ao leitor.
Palavras-chave: vida sexual, sociedade e representação literária
UMA CERTA HISTORIOGRAFIA DE SÃO PAULO: PAULO PRADO E O INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO
Thaís Chang Waldman Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Mestranda do Programa de Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP). E-mail: [email protected] .
Herdeiro de uma das famílias mais ilustres de São Paulo, além de trabalhar na produção e comercialização de
café, Paulo Prado (1869-1943) escreveu dois livros capitais sobre aspectos sociais e culturais do Brasil a partir da
experiência colonial. Prado figura como mecenas e também como ensaísta, editor, organizador e fomentador da
arte moderna, fazendo parte de uma elite intelectual comprometida, na década de 1920, com a construção de
uma identidade cultural para um país de raízes coloniais, ainda por demais atrelado aos modelos culturais
estrangeiros. Os intelectuais paulistas, no final do século XIX, sentindo-se colocados à margem dos círculos das
138
GT 13 - I T I N E R Á R I O S I N T E L E C T U A I S , T R A J E TÓ R I A S D E V I D A , I M A G E M E I M AG I N Á R I O
letras do Rio de Janeiro, procuravam reagir dedicando-se persistentemente à afirmação da própria identidade
regional e ambicionavam reescrever a história do Brasil a partir da epopéia paulista, fundando, em 1894, o
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do qual Paulo Prado era sócio. Os historiadores de São Paulo não
ocultavam o propósito de abalar a história da nacionalidade, até então construída pelo Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, fundado em 1838, no Rio de Janeiro. Para afirmar-se no território nacional, o IHGSP
precisava destacar a diferença e a particularidade paulista, escolher um determinado passado e formar uma certa
identidade, mas sempre enfatizando, como no primeiro artigo da revista da instituição, que “a história de São Paulo
é a própria história do Brasil” (RIHGSP, 1895, p.1). Este foi um momento em que São Paulo redescobriu a si mesmo,
inventando uma tradição e um mito de origem que seriam legitimados pela história. Logo em seu primeiro livro,
Paulística (1925), Prado retoma, desde o título, as trilhas desta certa historiografia de São Paulo, e retoma-as
novamente em seu ensaio Retrato do Brasil (1928). São justamente essas trilhas que este trabalho pretende seguir,
trilhas que produziram interpretações ainda hoje presentes na nossa história oficial.
Palavras-chave: Paulo Prado, Ensaísmo da Década de 1920, Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
UM ESTUDO ANTROPOLOGICO: A IMAGEM NA CONSTRUÇÃO DAS TRAJETORIAS E
PROJETOS DE VIDA DE ESTUDANTES UNIVERSITARIOS NEGROS
Fabiela Bigossi, [email protected]. Núcleo de Antropologia Visual Mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS.
GRUPOS DE TRABALHOS
O presente estudo busca investigar a construção de projetos familiares e individuais de ascensão de jovens
negros que percebem na carreira universitária um campo de possibilidade de aquisição de capital econômico,
social e cultural. Para dar conta desse processo são desenvolvidas as trajetórias que levam a uma formação
universitária. A memória familiar também é destacada no estudo por fornecer indicadores básicos do passado,
proporcionando maior consistência ao projeto. As fotografias são utilizadas como possibilidade de um estudo
etnográfico através da imagem como forma de construir as trajetórias dos estudantes numa perspectiva analítica
da vida cotidiana no espaço de vivência do estudante, onde se desenvolve um projeto familiar ancorado na
possibilidade de uma ascensão social através do investimento familiar em estudos universitários de determinados membros da família. Tem-se o desafio de utilizar a imagem para além de seu apelo enquanto material
ilustrativo, mas sim enquanto captação de dados que nos forneça elementos de análise e de reflexão sobre o
trabalho de campo assim como sobre a antropologia visual. O processo de fazer antropologia através de imagens
é a aprendizagem de um novo olhar sobre as questões de campo e se insere como uma nova possibilidade de
conhecer os interlocutores. Aliada a notas e diários de campo, a imagem é mais uma forma de interpretar o
outro e amplia consideravelmente a possibilidade de diálogo entre entre os dois autores do conhecimento
antropológico. Propõe-se ainda o uso das imagens juntamente com o texto antropológico, estabelecendo uma
conexão entre esses dois argumentos da escrita, de forma que um não tenha o papel de apenas ratificar o outro,
mas que sejam compreendidos e possibilitem a reflexão dentro das suas diferentes lógicas. São utilizadas imagens produzidas pela pesquisadora e aquelas do acervo pessoal dos informantes, além de imagens publicitárias
que tratem da universidade enquanto possibilidade para os jovens.
Palavras chave : Antropologia Visual, Projetos de Vida, Etnicidade
139
GT 14
ETNOGRAFIA ARRISCADA: DOS LIMITES ENTRE VICISSITUDES E “RISCOS” NO
FAZER ETNOGRÁFICO CONTEMPORÂNEO
AMEAÇAS DA POLÍTICA? TRABALHO DE CAMPO ENTRE CONFLITOS EM TIMOR-LESTE.
Kelly Silva Universidade de Brasíl ia - [email protected]
Este texto aborda os riscos existenciais e epistemológicos que se impuseram em um trabalho de campo sobre
disputas eleitorais em Timor-Leste, em um contexto de ameaça de guerra civil e crise política e militar. Realizada
entre janeiro e março de 2007, tratou-se de uma segunda imersão em campo, após 3 anos sem visitar o país. Explorase as implicações que a observação de uma questão altamente politizada, como embates eleitorais em um quadro de
pós-conflito, trouxe para o processo de produção dos dados nas seguintes dimensões: a) na manutenção de condições de pesquisa minimamente seguras; b) na construção de relações de confiança e afinidade com informantes
alinhados a diferentes partidos políticos; c) no acesso a espaços de observação vinculados a grupos sociais opostos
etc. Discute-se ainda como se deu a politização da presença da antropóloga em certos eventos e os riscos daí
advindos. Indica-se, por fim, de que maneira o sentimento de medo limitou a pesquisa e como a investigação
realizada entre 2002 e 2003 condicionou o desenvolvimento da experiência etnográfica mais recente.
Palavras-chave: trabalho de campo, política, riscos, Timor-Leste
APRENDIZ DE ANTROPÓLOGO: MARCAS DA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA
ENTRE GRADUANDOS
GRUPOS DE TRABALHOS
Carolina Pedreira (UnB – carol [email protected])
O texto intenta discutir idéias e questões surgidas a partir de tensões e dúvidas em diferentes trabalhos de campo
realizados por um grupo de estudantes de graduação da Universidade de Brasília. Existe um certo consenso de que
cada fazer antropológico – no campo e na escrita – é singular, porém o impacto da primeira experiência etnográfica,
quando realizada ainda na graduação, é, via de regra, silenciado. Isso porque, não sendo legitimadxs enquanto autores
e autoras, xs estudantes são estimuladxs a deixarem de lado as angústias e anseios ao longo do primeiro contato com
a produção antropológica. Entretanto, observa-se entre xs aprendizes uma liberdade relativa em relação aos cânones
metodológicos e teóricos da disciplina, além de um vínculo institucional difuso com a academia. Diante disso, a
questão que se coloca é como o risco aparece para xs estudantes de graduação, partindo do pressuposto que ele pode
ser incorporado ora como condição do fazer antropológico, ora como “desvio” dentro do treinamento metodológico
da disciplina, no qual as vicissitudes não correspondem a arriscar-se e/ou deixar-se arriscar.
Palavras-chave: trabalho de campo, graduação, risco
ARRISCANDO NÃO DIZER NADA OU FALAR DEMAIS: DESVENTURAS DE DUAS
PESQUISADORAS ESTRANGEIRAS RESIDENTES NO BRASIL
Clara Lourido (UFBA - [email protected]); Christine Nicole Zonzon (UFBA - [email protected])
Os jogos da familiaridade e estranhamento típicos da antropologia aparecem revirados, tanto respeito da relação
clássica do etnógrafo proveniente de um país central estudando povos “exóticos”, como respeito de antropólogos locais estudando fenômenos familiares de um ponto de vista “des-cotidianizado”, quando as pesquisadoras
140
GT 14 - ETNOGRAFIA ARRISCADA: DOS LIMITES ENTRE VICISSITUDES E “RISCOS” NO FAZER ETNOGRÁFICO CONTEMPORÂNEO
não são nem uma coisa nem a outra, mas estrangeiras residentes. Diferentes equívocos, não exclusivamente no
“campo” mas também junto à comunidade acadêmica local da qual participam, chamam a atenção para a
necessidade de estender o conceito de “momento etnográfico” (que para M. Strathern inclui o processo de
escrita do texto em que descobertas empíricas são feitas, tanto quanto no campo aparecem questões teóricas)
para o os processos de interlocução além do texto, interlocuções que fazem parte da construção do objeto de
pesquisa tanto como os pressupostos teóricos e a “observação”. Relataremos duas experiências, de uma pesquisa
sobre capoeira angola feita por uma francesa residente na Bahia há 20 anos e practicante de capoeira, e outra de
uma pesquisa de antropologia histórica sobre um mito na Argentina, feita por uma argentina há 11 anos
residente no Brasil. Em ambos os casos, mudanças de direção da familiaridade e o estranhamento requereram
modificações e acréscimos na condução das pesquisas e da escrita para evitar que semelhanças fossem interpretadas como diferenças e diferenças, como semelhanças. Se para Geertz a autoridade etnográfica se sustenta em
haver “estado lá”, o “estar aqui” requer uma descrição não menos densa: não fazer tal coisa arrisca ora domesticar demais, ora exotizar demais, e até inviabilizar a própria pesquisa.
Palavras chave: familiaridade, estranhamento, risco
AS ARMADILHAS E VICISSITUDES DA PESQUISA DE CAMPO NA ÁREA DA VIOLÊNCIA E DA
SEGURANÇA PÚBLICA
Ana Paula Galdeano Cruz (Unicamp, [email protected])
A comunicação pretende refletir sobre as interações entre pesquisador e os personagens observados/ entrevistados ao longo de uma pesquisa de campo sobre as representações da violência e da segurança pública, em um
bairro de classe popular e um bairro de classe média/ alta, na cidade de São Paulo. Pretende-se apontar como
algumas interações, para além de seus efeitos específicos (ameaças, medos, trocas), convertem-se mais do que em
“armadilhas de campo”, em experiências reveladoras sobre o peso de marcadores de diferenciação, tais como
classe, gênero, raça e idade nas opiniões sobre a violência. Tratando-se de uma pesquisa cujos personagens observados e entrevistados se constituem como aqueles ligados ao universo do Sistema de Justiça Criminal – policiais
militares, policiais civis, guardas civis metropolitanos, jovens infratores, segurança privado, militantes de direitos
humanos etc -, reflete-se sobre as especificidades desse campo multifacetado de representações, que envolve a
temática da violência.
Palavras-chave: pesquisa de campo, violência, segurança pública
“BOM SERVIÇO”: TRABALHO DE CAMPO ENTRE POLICIAIS MILITARES
Quando um policial militar é “rendido” por um colega que vai ocupar seu “posto”, aquele que “sai de serviço”
cumprimenta o que “entra em serviço” com a expressão “bom serviço”. Esses termos êmicos carregam os
significados de uma profissão de risco. Muitas vezes os antropólogos também são expostos a situações de risco a
nossa integridade física no trabalho de campo. Acompanhar policiais militares a lugares perigosos, sob a égide da
lógica “estás com a gente estás segura”, permite refletir sobre os significados de diferentes formas de proteção que
recebo de meus informantes. Além disso, questionar se o fato de me tornarem uma figura frágil e responsabilizarse pela minha salvaguarda não poderia ser uma tática para lidar com a violência simbólica que se estabelece entre
pesquisador e pesquisados. Neste texto pretende-se discutir, a partir de minha experiência etnográfica entre policiais militares, como se constrói esse processo de significação e aceitação do pesquisador no campo em situações
de risco.
141
GRUPOS DE TRABALHOS
Fernanda Valli Nummer (Doutoranda do PPGAS-UFRGS, [email protected])
DA QUEDA DOS MITOS À ASSUNÇÃO DOS RISCOS: O LUGAR DO MEDO NA PESQUISA
ANTROPOLÓGICA CONTEMPORÂNEA
Alinne Bonetti - Antropóloga e consultora da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres - al [email protected]
Tema pouco debatido, são raras as referências antropológicas sobre o sentimento do medo do etnógrafo em
campo. Embora pareça ser algo sempre presente nas experiências de encontro com o outro, seja na forma de
angústia originada pelo enfrentamento do desconhecido, pela saudade de casa ou mesmo na forma de riscos
concretos que enfrentamos no trabalho de campo, o medo não encontra muito espaço nas análises etnográficas.
Esse silêncio acerca de sentimentos como o do medo evoca alguns mitos vigentes de forma tácita na disciplina,
como os do antropólogo invulnerável, assexuado e poderoso. Nesse texto busco problematizar tais mitos e os
desafios que implicam ao método etnográfico à luz da presença do sentimento do medo e de estar em risco em
meio à pesquisa etnográfica realizada em Recife – PE entre o movimento feminista e popular de mulheres.
DESIGNAÇÃO, SENSIBILIDADES E PRÁTICAS: PENSANDO ANTROPOLOGICAMENTE
SOBRE RISCO E CRIANÇAS
Fernanda Bittencourt Ribeiro (PUCRS)
A partir de uma breve retomada da utilização da noção de “risco” em estudos antropológicos, busco nesta
comunicação levantar possibilidades de contribuição da antropologia para a análise da designação “situação de
risco” aplicada ao campo da proteção à infância. No início dos anos 90, os mentores do Estatuto da Criança e
do Adolescente propuseram a substituição da palavra “menor” por “criança/adolescente” e da designação “situação irregular” por “situação de risco”. Considerando a dimensão política do risco e colocando as definições
legais numa perspectiva histórica interrogo possíveis significados da expressão “menor em situação de risco”
utilizada pelo senso comum e presente também na mídia. Finalmente, com o intuito de explorar outras abordagens para o termo risco retomo estudos que situados no âmbito da antropologia da criança permitem além de
explorar a diversidade das sensibilidades relativas a riscos incorridos por crianças vislumbrar potencialidades de
etnografias que abordem a participação ativa e contextual das crianças na utilização das noções de risco e perigo.
ETNOGRAFIA DE UM CAMPO DE DISPUTA: TERRITORIALIDADE, DIREITO E COMUNIDADES
QUILOMBOLAS NO PARANÁ
GRUPOS DE TRABALHOS
Christine de Alencar Chaves (UFPR–[email protected])
Sendo um dos derradeiros estados brasileiros a ter comunidades negras certificadas pela Fundação Cultural
Palmares, em processo recentíssimo de identificação e classificação oficial, o Paraná de certo modo renova a
experiência de reconfiguração da identidade vivida, de um modo ou de outro, por mais de um milhar de
comunidades negras rurais nos últimos quinze anos no Brasil. Ele se coloca, portanto, como um excelente
campo de investigação desse complexo processo de reconversão de identidade em que tomam cena múltiplos
atores além dos membros das comunidades e seus líderes. Assim, tratar desse processo do ponto de vista de seus
atores principais não é possível sem levar em conta o campo de forças políticas mais amplas em que eles se
encontram inseridos e no qual a identidade dos antropólogos e do seu mister é, inevitavelmente, colocada em
questão. O objetivo da comunicação é refletir sobre este processo a partir de uma experiência concreta, oportunidade de exercer uma reflexão sobre os limites, fronteiras e vicissitudes do exercício da etnografia no Brasil
contemporâneo.
Palavras-chaves: Etnografia, Identidade Étnica, Estado.
142
GT 14 - ETNOGRAFIA ARRISCADA: DOS LIMITES ENTRE VICISSITUDES E “RISCOS” NO FAZER ETNOGRÁFICO CONTEMPORÂNEO
ETNOGRAFIA DOS RITUAIS DE CONTROLE DE RISCO NO HOSPITAL DE BASE (DF)
Diogo Neves Pereira (Universidade de Brasíl ia – d [email protected])
Hospitais são instituições intensamente vigiadas do ponto de vista da produção de males à saúde de pacientes e
profissionais. A constante utilização de certos medicamentos e equipamentos, além da manipulação de resíduos corporais, gera no funcionamento deles uma condição ambígua: concomitantemente à busca da cura produz-se uma série de
riscos. Estes se referem, sobretudo, à possibilidade de danos corporais tais como ferimentos, infecções ou contaminações. Para lidar com isso existem procedimentos institucionalizados de prevenção, identificação e resolução destes
riscos. No entanto, coexistem no ambiente hospitalar diferentes noções acerca de como os riscos devem ser definidos
e geridos. Em geral, tanto pacientes quanto profissionais os percebem de modos distintos, embora comunguem com a
idéia de que o hospital é local arriscado que exige medidas de controle de riscos. E ainda que os princípios destas
concepções não sejam semelhantes, é o saber médico que predomina institucionalmente. Na situação de pesquisa
etnográfica em ambiente hospitalar o antropólogo é levado a lidar com estas visões e, mais do que isto, a formular e
explicitar suas próprias em circunstâncias nas quais ocorrem rituais de controle de risco. Deve, portanto, desenvolver
artifícios de inserção nesta realidade e de interação com seus riscos. Este trabalho explora etnograficamente estas
questões a partir de pesquisa desenvolvida no Hospital de Base (DF). Compara os rituais desenvolvidos em múltiplos
setores do hospital e que envolvem riscos diferentemente definidos, assim como reflete sobre a presença do antropólogo
na realização destes. Descreve e analisa alguns rituais procurando compreender como eles explicitam o confronto e a
convivência de diferentes visões acerca dos modos de definição das fontes de risco, seus agentes e prováveis efeitos.
Discute então como a gestão simbólica e prática de riscos pôde ser pensada a partir do contraponto entre as variadas
situações rituais vivenciadas na experiência etnográfica empreendida nos ambientes do Hospital de Base.
Palavras-chave: ritos sociais, controle de risco, Hospital de Base (DF).
HEMATOMAS, TERÇADOS E ANTROPOLOGIA
Durante o período em que estive realizando minha pesquisa de campo numa vila ribeirinha no Pará amazônico,
fiquei muito próxima à família da parteira que me hospedava. Convivia diariamente com suas filhas adultas e
casadas e muitos de seus netos. Uma manhã, uma dessas filhas chegou com um olho roxo e hematomas por todo
corpo. Segundo ela, tinha levado uma surra do marido. Não era a primeira vez que isso acontecia e, resolvida a dar
um basta na situação, ela pediu que eu lhe ajudasse a viajar até uma cidade vizinha. Chocada com a violência, me
compadeci imediatamente com a moça e assenti em custear sua passagem de barco. Ela aproveitou, inclusive, para
viajar no mesmo dia em que, rumo à cidade, eu própria partia para resolver assuntos burocráticos de banco e
correios. Antes de retornar, a família de minha anfitriã me avisou que o marido da moça, sabendo de minha ajuda
financeira, me ameaçara de morte, caso em voltasse. Dizia que o seu terçado estava bem afiado e que me espreitaria
até me encontrar – afinal, era preciso punir essa moça de fora que ajuda as moças da cidade a fugirem. Eu precisava
continuar a pesquisa, havia muitos dados a serem completados, tinha compromissos com a parteira que me recebia
etc. Assim, nesse artigo, pretendo discutir sobre a) os padrões locais de conjugalidade que ficaram mais explícitos a
partir do conflito entre o casal; b) a continuada negociação dos contornos de minha “estrangeiridade” nesse
contexto; c) os limites éticos de se considerar o valor epistemológico dos riscos em campo.
IMPLICAÇÕES DO FAZER ANTROPOLÓGICO EM UMA REDE NÃO ACADÊMICA: O CASO DA
ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE IMPACTOS SOCIOCULTURAIS E ECONÔMICOS DA
UHE CORUMBÁ IV
Luís Guilherme de Assis (mestrando do DAN/UnB, [email protected])
Por meio de uma experiência de consultoria/laudo realizado durante dois anos de trabalho junto a mais de dez
comunidades e populações camponesas e veranistas situadas às margens da recém construída UHE Corumbá IV,
o trabalho pretende levantar três questões para o debate sobre o fazer antropológico em meios não acadêmicos,
143
GRUPOS DE TRABALHOS
Soraya Fleischer Doutora em Antropologia pela UFRGS - e-mail: [email protected]
suas possibilidades e limitações. O primeiro ponto discute o “lugar” da prática antropológica no caso da Corumbá
IV, identificando as armadilhas que a estrutura do licenciamento ambiental impõem. Estaria o antropólogo, ao
trabalhar como “técnico” contratado por uma empresa hidrelétrica, pressionada por exigências legais, contribuindo para a legitimação do empreendimento? Que dilemas e questões surgem no ambiente de consultoria/
laudo? O segundo aspecto decorre do primeiro. Uma vez que o conhecimento antropológico no licenciamento
ambiental responde a uma rede particular de validação do conhecimento, como concebê-lo como antropológico? Dada a experiência vivida pelo autor debate-se a validação do conhecimento e dos dados antropológicos no
meio acadêmico. A questão é, como trasladar dados produzidos no contexto de consultoria para o ambiente
acadêmico quando o interesse é produzir dissertações, teses e artigos? Por último caberá levantar o problema da
autoria. Consultorias / laudos geralmente ocorrem em equipes multidisciplinares e os dados produzidos são
coletivos. O que está envolvido quando da apropriação desses dados por um ou outro membro da equipe para
produção acadêmica? Como falar de um campo etnográfico realizado por muitos pesquisadores em momentos
diferentes e com visões diferentes? A partir dessas questões o texto procura algumas conclusões sobre a etnografia
no contexto de licenciamento ambiental de hidrelétricas.
LIMITES E POSSIBILIDADES DO DISTANCIAMENTO NA PRÁTICA ETNOGRÁFICA OU
QUANDO SOMOS AQUILO QUE ESTUDAMOS
João Paulo Macedo e Castro ([email protected])
Aprendemos que o fazer etnográfico é regido por inúmeras regras e procedimentos que muitas das vezes acreditamos nos permita estabelecer uma certa objetividade ao nosso trabalho legitimando-nos a ingressar em uma
pretensa “comunidade científica”. Pretendo discutir neste trabalho o fazer etnográfico, em particular confrontar
os limites; vantagens e desvantagens do distanciamento como prática não apenas no cotidiano da pesquisa como
também no processo de redação do trabalho. Para tal discutirei a minha experiência de pesquisa realizada junto
a integrantes da cooperação internacional, quando, mais do que nos confundir com o que estudamos, somos
parte daquilo que estudamos.
MEDO, RISCO E IMPREVISIBILIDADE DO TRABALHO DE CAMPO: O NÃO-DITO DE UM
PROCESSO DE PESQUISA SOBRE MERCADOS INFORMAIS
GRUPOS DE TRABALHOS
Rosana Pinheiro Machado Doutoranda em Antropologia Social (UFRGS) - e-mail: [email protected]
Alguns objetos da Antropologia se caracterizam por possuírem um nível maior de risco e, ao optarmos pelos
mesmos, vemos-nos como equilibristas, pois, de um lado, sabemos da sua relevância social e cientifica e, por
outro, tememos, negociamos e assumimos os riscos de não desistir. Muitas vezes o que nos faz seguir adiante é
apenas uma crença quase romântica em nossos projetos e na etnografia e, aos poucos, vamos camuflando a dor,
o medo e as incertezas - que deveriam nos inquietar e fazer repensar nosso papel em campo. Alguns atos aos
quais passamos são contados como heróicos; outros, menos ‘gloriosos’ mas igualmente emblemáticos, são simplesmente ignorados ou escondidos. Ao longo de um processo de oito anos estudando mercados informais (no
Brasil, no Paraguai e na China), através do qual aprendi a ser etnógrafa na prática e da prática, tive que lidar com
as mais inusitadas situações – ser pega pela polícia com contrabando, fugir da polícia,estar no meio de uma
negociação de propina, ser assaltada, transitar por ambientes masculinos, levar cantadas e ameaças, ter que
beber até passar mal em cerimoniais de negócios chineses, etc. Neste paper, relato algumas dessas minhas
experiências paradigmáticas de campo com o intuito de trazer uma discussão reflexiva e sensível a respeito da
experiência etnográfica e da alteridade, pensando sobre as questões dos limites e das possibilidades de ação, bem
como discutindo a noção de risco, não apenas para grupos considerados socialmente “vulneráveis”, mas para o
próprio antropólogo que coloca, como diz Wacquant, seu corpo e sua alma à prova de fogo. Em que medida,
enfim, isso nos ajuda a pensar os contornos éticos de nossa disciplina e a compreender melhor nós mesmos e os
grupos que estudamos?
144
GT 14 - ETNOGRAFIA ARRISCADA: DOS LIMITES ENTRE VICISSITUDES E “RISCOS” NO FAZER ETNOGRÁFICO CONTEMPORÂNEO
NO LUGAR DO MORTO: DOS RISCOS E DAS IDENTIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA PESQUISA
DE CAMPO SOBRE O SUICÍDIO.
Célio Luiz Pinheiro - NUARP – Núcleo de Arte, Ritual e Performance. Universidade Federal do Paraná – UFPR pinheirocel [email protected]
A proposta é uma apresentação da etnográfica de uma pesquisa de campo com duração de dois anos sobre a
ocorrência de suicídios em um município. A pesquisa é parte integrante da dissertação mestrado em Antropologia Social defendido em 2007. Especificamente para este Grupo de Trabalho, destacarei em que a pesquisa com
a temática do suicídio pode conduzir o pesquisador às mais diferentes situações. Será apresentada uma experiência etnográfica em que o pesquisador acompanhou um caso de suicídio desde as primeiras horas da morte até o
enterro. Nesse “evento” as circunstâncias colocaram o pesquisador no centro dos acontecimentos por ter sido o
único a ter acesso à carta deixada pelo suicida, carta essa que a polícia local não entregou à família. Assim, o
pesquisador se fez portador das palavras do morto vindo a ocupar lugar central no velório por estar de possa de suas
palavras. Além dessa experiência também fará parte da apresentação narrativas e opiniões do senso comum sobre
o suicídio no sentido de que, ao se falar sobre o tema, poder-se-ia levar ao risco daquilo que se chamou de
“contágio”. Noções sobre indução significante, identificação e uma articulação dessas situações com conceitos
psicanalíticos farão parte do texto escrito. Finalmente, um destaque especial à necessidade de falar sobre a experiência etnográfica como forma de eficácia simbólica no sentido de anular possíveis efeitos de indução no pesquisador.
O ANTROPÓLOGO COMO UM “ESPIÃO”: QUANDO A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE PÕE
EM “RISCO” AS FRONTEIRAS DOS GRUPOS ESTUDADOS.
Durante minha pesquisa de doutorado sobre as ONG’s que atuam na defesa de causas ambientais, deparei-me,
constantemente, com a “cobrança” e a “exigência” dos militantes de diferentes organizações quanto à explicitação
do meu pertencimento a uma das “entidades”. A participação continuada em diversos eventos e instâncias
vinculados à defesa ambiental, sem estar filiado a nenhuma “entidade”, foi objeto de observação por parte dos
militantes no decorrer de toda a pesquisa, passando a ser considerada um “perigo” para a atuação das ONG’s e
chegando a ser publicamente verbalizada através do termo “espião”. Com base no princípio da reflexividade da
prática etnográfica, que exige do pesquisador a constante vigilância em relação às condições sociais, políticas e
culturais através das quais os dados etnográficos são produzidos, considerei tal situação como uma via de acesso
à investigação das concepções e práticas que conduzem ao ingresso e à militância em tais organizações. Desse
modo, pretendo demonstrar através dessa comunicação, que a designação do antropólogo como um “espião”
remete a certos aspectos centrais do trabalho das ONG’s: as lógicas de recrutamento e de seleção de seus
militantes, as formas de definição das fronteiras e hierarquias entre tais organizações, as disputas e conflitos
relacionados ao aumento considerável da quantidade de organizações, bandeiras de luta e formas de intervenção
vinculadas ao ambientalismo, o maior entrelaçamento das redes de liderança de diferentes organizações e
movimentos sociais na defesa de causas ambientais.
O PESQUISADOR EM CAMPO - DIFICULDADES E RISCOS
Patrícia dos Santos Begnami, UFSCar, [email protected].
Essa pesquisa teve como objetivo desenvolver uma etnografia e problematizar a relação intrínseca entre dois
universos geracionais: o adulto e o infantil. A partir de uma etnografia focalizada num estudo de caso, um bairro
periférico de São Carlos chamado Jardim Gonzaga, investiguei a sociabilidade no bairro, utilizando as técnicas
de pesquisa consolidadas na Antropologia, que é a pesquisa de campo e a observação participante. Foi tomado
como objetos de análise, o mundo da rua, a relação entre as crianças, a relação dessas com os pais e com a
145
GRUPOS DE TRABALHOS
Wilson José Ferreira de Oliveira (Doutor em Antropologia Social - Prof. UFPel - [email protected] ou
[email protected])
parentela. Em suma, investiguei e demonstrei através da etnografia como as crianças estão comprometidas com
a configuração e a rede de práticas sociais no bairro, e como essa tensão geracional está representada e reproduzida
no comportamento e na sociabilidade. Porém, devido à intensa pesquisa de campo, percebi que o tráfico de
drogas era uma questão central na pesquisa, pois permeava a maioria das relações. Freqüentemente presenciei
invasões policiais nos “barracos”, prisões de homens e mulheres, por isso foi necessário incluir o tráfico de
drogas em minha pesquisa, pois a etnografia de um espaço social é a etnografia do que se passa nele. Entretanto,
o tráfico de drogas é um assunto quase impossível de se trabalhar etnograficamente, por isso os riscos são
inevitáveis. O tráfico e o consumo de drogas aconteciam tanto nas casas quanto nas ruas e, diversas vezes fui
abordada pelos traficantes para se assegurarem do meu silêncio e por algumas mulheres que ameaçavam me
bater porque acreditavam que eu estava “dando em cima” dos seus esposos, o que dificultava meu trabalho em
campo. Assim, essas situações arriscadas em campo fornecem dados para nós, pesquisadores, pensarmos os
próprios riscos e dificuldades como metodologias de pesquisa para assim, auxiliarmos outras pesquisas que
perpassam os mesmos “objetos”.
Palavras-chave: periferia, tráfico de drogas, riscos.
O RISCO DE DEIXAR-SE INTERPELAR: O FAZER ETNOGRÁFICO COM BRUXOS, XAMÃS E
SADHUS
GRUPOS DE TRABALHOS
Lena Tatiana Dias Tosta (PPGAS/UnB; Bolsista do CNPq – [email protected])
A pesquisa com sadhus, conhecidos na literatura antropológica como ascetas hindus, em especial aqueles de
ordens “antinomias”, “transgressoras de regras”, prevê etnografias arriscadas pelas vicissitudes de seu próprio
universo mítico e social. Um “mundo-da-vida” em que disciplinas radicais se fundem a uma forte liberação
social é um terreno movediço em que etnógrafo vai viver e negociar sentidos. A perspectiva destes praticantes
não-dualistas “na concretude” é fruto do relativismo intrínseco a uma retórica da liberação ontológico-cognitiva,
temporalmente contextualizada e avessa a cristalizações dogmáticas. Sadhus heterodoxos buscam aliar ao seu
processo de liberação, isto é, à sua experiência do sagrado, o contato direto com “dualidades”/”alteridades
contaminadoras” tanto ‘tradicionais’ quando contemporâneas - sejam elas a morte, a violência, o sexo, a intoxicação e o estrangeiro, ou ‘o mercado’ e ‘a política’. Essas técnicas resultam na produção de forças criativas na
dimensão fenomênica, “realizações” que tornam seus virtuoses capazes de certa intencionalidade frente a ordens “naturais” e “sociais”. Não faltam riscos “em campo” em etnografias como esta, mas prefiro tratar aqui do
risco “pós-campo”. Autores contemporâneos com pesquisa sobre sadhus raramente ousaram distanciar-se de um
olhar desencantado, subsumido tanto nas certezas da modernidade quanto na certeza da incerteza de perspectivas pós-modernistas. Ao contrário, pode-se afirmar que o desencantamento tornou-se a própria tendência
epistêmica da trajetória de etnografias com sadhus (ou “bruxos”, como sugere Favret-Saada, 1977). Acredito que a
escrita etnográfica sobre “seres-no-mundo” reconhecidos como possuidores de um estatuto ontológico-cognitivo
diferenciado, feita a partir de seus instrumentos cosmológico-conceituais e reconhecendo a possibilidade de que
suas técnicas e práticas possam ter eficácia “mais do que simbólica” carrega um risco social “acadêmico” significativo que merece ser explorado.
Palavras-chaves: uma, duas, três
O RISCO E A MORTE
Fernando Cesar de Araujo - Mestre/UFMG - Comunidade Virtual de Antropologia / FEAD-MG
[email protected]
O trabalho de campo cria um contexto de proximidade entre o pesquisador e o informante que permite trocas
no plano intelectual, mas que também é constantemente enriquecido por interações afetivas, explicitadas ou
não nos relatórios de campo. Ao falar de seus informantes, os pesquisadores sempre deixam entrever, em graus
variados, aspectos de sua própria trajetória pessoal. Poderia ser dito que toda biografia dialoga com uma autobiografia. Recentemente, a antropologia resgatou do domínio exclusivo das áreas “psi” o estudo dos fenômenos
146
GT 14 - ETNOGRAFIA ARRISCADA: DOS LIMITES ENTRE VICISSITUDES E “RISCOS” NO FAZER ETNOGRÁFICO CONTEMPORÂNEO
oníricos, retomando a trilha aberta por Tylor. Nesta perspectiva, relatos de sonhos do pesquisador com o informante são tratados como via de acesso a modalidades de conhecimento, aspectos rituais e da vida social. Por
outro lado, sonhos do informante com o etnólogo deixam transparecer a forma como este é percebido na prática
de seu fazer. Pretende-se analisar neste trabalho as implicações para a pesquisa decorrentes da morte de um
iniciado nas religiões afro-brasileiras, mais especificamente no candomblé de nação jeje mahi. São textualizados
traços biográficos deste informante e examinados sonhos com o pesquisador – bem como deste com o informante –, procurando trazer à luz aspectos relevantes da relação dialógica estabelecida.
O RISCO NA SITUAÇÃO “MARGINAL” DO ANTROPÓLOGO
Rodolpho Rodrigues de Sá (PPGAS/UFRN – [email protected])
Situações “arriscadas” fazem parte do relacionamento entre pesquisadores e pesquisados, principalmente quando
se trata do contato entre sujeitos que, geralmente, fazem parte de sociedades tão distintas, por exemplo a “brasileira”
e a “indígena”. Neste contexto busco refletir sobre a possibilidade “dialógica” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2001)
da situação de “risco” no fazer antropológico contemporâneo. A análise que aqui proponho pretende suscitar
questões a partir de minha experiência enquanto pesquisador de povos indígenas no interior do estado do Maranhão,
mais precisamente enquanto sujeito que, antes da graduação em Ciências Sociais (UFMA), manteve contato constante e direto com indígenas na cidade de Barra do Corda – MA. Este contato inspirou-me a pesquisar essa situação
de contato, com ênfase na relação barra-cordenses/indígenas Tenetehara-Guajajara, na qual predomina tensões e
conflitos latentes e manifestos, onde o ápice é percebido através das interdições, pelos índios Tenetehara-Guajajara,
da BR-226 no alto da Terra Indígena Cana Brava, entreposto que liga Barra do Corda a Grajaú. Nesses eventos,
além de transtornos referentes à movimentação de automóveis, que afeta diretamente a economia local, ocorrem
assaltos aos regionais não-indígenas. Ter sido alvo de um desses assaltos me fez repensar minha atuação enquanto
antropólogo e as implicações dessa relação de “risco”, conflituosa e que, geralmente, culmina com a exacerbação
da discriminação e do preconceito frente aos indígenas da região.
Palavras-chave: risco, fazer antropológico e povos indígenas
PEDRAS NO MEIO DO CAMINHO OU O CAMINHO DAS PEDRAS: OS COMITÊS DE ÉTICA NA
PESQUISA E A VOCAÇÃO CRITICA DA ANTROPOLOGIA
A polêmica em torno da Lei 196/1996, que obriga pesquisadores a se submeterem aos Comitês de Ética na
pesquisa, não tem sido poucos, e a antropologia tem sido talvez a área cujas criticas tem sido mais constantes e
profundas:excessiva burocratização, morosidade nos resultados, desatenção quanto as peculiaridades das ciências
sociais, notadamente as metodologias qualitativas, pouca clareza quanto as atribuições do Comitês ,questionamentos
referentes ao Consentimento informado (CI)são pontos chaves neste debate, recentemente sistematizados na
Carta de Guarajá. No que tange ao CI, os antropólogos tem questionando fortemente sua total inadequação
quando se trata de pesquisar grupos e sociedade cujas noções de pessoa não correspondem ao indivíduo moderno,
caso das sociedades tribais, ou grupos que não utilizam a escrita como código cotidiano, de forma que seu uso vem
antes a beneficiar o pesquisador, muitas vezes servindo como “ cheque em branco” que isenta o pesquisador de
negociações e cuidados posteriores a assinatura do mesmo.Nesta comunicação pretendemos discutir questões que
tem se colocado em duas pesquisas na área da saúde e dos estudos de gênero , desenvolvidas em Santa Catarina,
com mulheres usuárias dos serviços públicos de saúde: Primeiro, a importância da interlocução da antropologia
com os CEPs, que são uma conquista de setores minoritários da sociedade brasileiras, e segundo, a dificuldade
de trabalhar com gestores de saúde que, investidos de seus cargos no âmbito do bio-poder, podem impedir a
realização de pesquisas, por não as compreenderem ou temerem por seus resultados. Assim, dois riscos rondam
se colocam: o risco de não realização das pesquisas realizadas, em função da cegueira e da surdez de colegas de
outras áreas e o risco de, em função das enormes dificuldades desta interlocução e de uma “desobediência civil,
147
GRUPOS DE TRABALHOS
Carmen Susana Tornquist (UDFESC) - [email protected]
Sonia Weidner Maluf (UFSC)
criar um vazio que dificilmente será preenchido por outras áreas, em função da vocação crítica e relativista de
nossa disciplina, lugar fundamental que as éticas ocupam em sua tradição.
Palavras-chave: Ética – saúde - gênero
PESQUISA ETNOGRÁFICA ENTRE USUÁRIOS DE PSICOATIVOS: RISCOS PARTILHADOS
Jaína Linhares Alcantara (PPGAS – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – [email protected])
Tratar das vicissitudes e detalhes das pesquisas de campo são sendas da antropologia à nós muito valiosas. Risco,
tensão, perigo são situações presentes em etnografias realizadas entre usuários de psicoativos [Uso o termo
genérico da farmacologia “psicoativo” que designa de forma abrangente substâncias que produzem alteração no
estado psíquico (MacRae e Simões, 2000).] ditos ilícitos. E são destas situações que este trabalho pretende tratar.
O uso de crack é uma prática tida como mais marginal em relação ao uso de outras susbstâncias ditas ilícitas.
Esta é uma representação contruída pelos próprios usuários. Em 2000, desenvolvendo trabalho no Grupo de
Apoio a Prevençao à Aids, participei da formação para redutores de danos [Termo ainda em construção e
perpassado por divergências (MacRae, 1999), aqui representa educadores sociais em atividades guiadas por uma
estretágeia de saúde pública adotada pelo Ministério da Saúde desde 2002, visa flexibilizar a atenção dispensada
aos usários de psicoativos com o objetivo destes fazerem um uso menos danoso.], onde me vi em contato com a
problemática do uso crescente de crack em Fortaleza. Entre 2001 e 2004 realizei pesquisa junto a usuários de
crack, alcool e maconha. Foi num campus universitário, o local onde consegui permanecer mais de dois anos
coletando dados e encontrei condições para desenvolver analises com foco nas sociabilidades, representações de
saúde e a urbanidade das práticas das pessoas (estudantes e não-estudantes) que encontravam-se lá quase que
diariamente. Utilizei observação participante, analise de textos produzidos por eles/as, fotografias e entrevistas,
feitas com um cuidado especial, pois a identificação traz seus riscos. A tensão causada na construção do texto
pela preocupação ética entre revelar ou não linguagens, gestual, locais, percursos e trajetórias desses interlocutores
tem sido parte importante de meus questionamentos. Percorrer caminhos que muitas vezes se fecham, apresentando percalços para finalização das pesquisas, são fatos constantes nas etnografias de risco. Despertam-me
interesse nestes trabalhos as perspectivas de gênero, estereotipo, estigma e confiança (pesquisadora-interlocutores)
como linhas que constrem as relações e os discursos decorrentes dos contatos.
Palavras-chaves: sociabilidades – riscos – redução de danos.
PESQUISANDO EM PRISÕES: REFLEXÕES ACERCA DA INSERÇÃO EM CAMPO A PARTIR
DO RELATO DE UMA REBELIÃO
GRUPOS DE TRABALHOS
Karina Biondi (UFSCAR – ka.biond [email protected])
Nesta apresentação, pretendo compartilhar uma experiência de campo ocorrida em 2006, uma rebelião no
Centro de Detenção Provisória de São Bernardo do Campo (São Paulo), onde pude presenciar a tomada do
prédio pelos detentos e, enquanto refém, acompanhar o desenrolar das negociações e os acontecimentos que
envolveram o final da revolta. Esse acontecimento oferece elementos para a reflexão sobre o trabalho de campo
e, particularmente, sobre a minha inserção em campo, que requer que eu conheça certos códigos e me comporte
de acordo com uma etiqueta própria, condizente com o que é esperado de uma mulher que visita seu parente
preso. A condição de visita, associada à questão de gênero, me impõe algumas interdições e restrições para a
pesquisa, pois uma postura de declarada aproximação a outros presos que não a pessoa a quem visito é fortemente inadequada, dificultando o estabelecimento de relações e a coleta de informações sobre o meu objeto de
estudo. Nesse contexto, a participação em uma rebelião foi um dos raros momentos que me conferiram a
oportunidade de acompanhar no ato práticas sociais cuja existência, até então, só soubera por meio de narrativas
fragmentadas. Longe de constituírem situações agradáveis ou desejáveis de pesquisa, essas situações constituem
momentos de efervescência que têm muito a dizer sobre os observados, cabendo ao antropólogo extrair elementos para sua pesquisa e dar um tratamento que contribua para a construção de seu trabalho.
Palavras-chave: prisão, rebelião, inserção
148
GT 14 - ETNOGRAFIA ARRISCADA: DOS LIMITES ENTRE VICISSITUDES E “RISCOS” NO FAZER ETNOGRÁFICO CONTEMPORÂNEO
QUANDO O CAMPO É UM ESPAÇO PRIVADO: UM CEMITÉRIO
Isabela Andrade de Lima Morais (Doutoranda do PPGA/UFPE e Professora da UNEAL/CAMPUS III)
e-mail: isadel [email protected]
Este trabalho baseia-se em reflexões surgidas no trabalho de campo que está sendo realizado para uma pesquisa no
doutorado em Antropologia da UFPE que objetiva, dentre outras coisas, compreender a motivação para o consumo
de produtos e serviços fúnebres. O campo etnográfico está sendo realizado num espaço privado – uma empresa que
atua no ramo de oferta de produtos e serviços funerários. Por este motivo, surgem diversos desafios ao pesquisador,
tais como: direcionamento e expectativa sobre a pesquisa. A situação torna-se ainda mais “arriscada” quando o
espaço privado em que está sendo realizada a pesquisa trata-se de um cemitério onde são realizadas observações dos
rituais e cerimônias fúnebres. Com isso, surgem outras “situações de risco” ao trabalho do antropólogo, tais como:
constante tensão e expectativa em relação à invasão do pesquisador em momentos de dor e emoção da família
enlutada; invasão de privacidade, sobretudo em situações que demandam exumações, velórios, etc.; risco eminente
de epidemias em velórios e exumações quando não se sabe a causa mortis, e outros. Com essas experiências,
questionamos sobre o processo de construção de uma etnografia com todos esses “riscos”. Torna-se então indispensável refletir sobre essas e outras circunstâncias para tentar extrair algum benefício teórico e/ou metodológico
dessas “situações arriscadas”.
Palavras-chave: trabalho de campo; cemitério, situações de risco.
“SE É DE RISCO NÃO PODE SER NORMAL”: CONSIDERAÇÕES ANTROPOLÓGICAS SOBRE
A ‘GRAVIDEZ DE RISCO’
Esse trabalho busca entender as perspectivas disputantes presentes no contexto do atendimento ginecológico
oferecido a mulheres categorizadas como gestantes de risco. Intento conhecer o significado de pertencer a essa
categoria para os profissionais de saúde e para as pacientes e ainda, discorrer como as gestantes emergem como
grupo nesse cenário. Em termos biomédicos a categoria risco, quando aplicada a gestantes, está relacionada à
presença de sinais e sintomas clínicos que sejam considerados como indicativos de uma alteração na ordem
natural da gestação e/ou do parto. Considera-se que tais alterações possuam implicações – concretas ou potenciais – sobre a integridade da saúde da mãe e/ou da criança e com isso, procedimentos médicos e de enfermagem diferenciados são destinados às pacientes que são enquadradas no grupo ‘gestante de risco’. Tais práticas
estão relacionadas a severas mudanças nos hábitos de mulheres que já vivenciam um processo de readaptação
diante das alterações biológicas e psicológicas próprias da gestação e culminam com a hospitalização programada
antes do parto; a hospitalização do nascimento. Nesse contexto, hospitalizar significa retirar a mulher de seu meio,
privando-a dos mecanismos de que dispõe para lidar com a nova situação que se lhe apresenta. Considerando que
essa conduta constitui procedimento padrão nas políticas públicas de saúde de assistência à mulher, a categoria de
risco aqui possibilita retirar a autonomia do grupo. Por outro lado, a utilização de estatísticas de atendimento e de
casos clínicos, bem como a pretensão normativa da conceituação de risco oferecida por órgãos como a Organização Mundial de Saúde revela o trajeto da construção de autoridade do discurso e do saber médicos.
Palavras-chave: risco; antropologia da saúde; gestação.
“TODO MUNDO TEM UM POUQUINHO DE VOYEUR”: REFLEXÕES SOBRE O CAMPO EM
UM CINEMA PORNÔ
Anna Lúcia Santos da Cunha (UnB – [email protected]); Priscila Pinto Calaf (UnB [email protected]).
Estar em campo, ali no Cine Ritz, cinema pornô do centro de Brasília, seria estar em risco, pensamos antes de
propriamente fazê-lo, por ocasião de uma pesquisa em antropologia social na UnB. Mas não o seria já fazer
qualquer etnografia? Ocupar um lugar não previsto no universo de possibilidades dos sujeitos pesquisados, um
149
GRUPOS DE TRABALHOS
Amanda Rodrigues Faria (Universidade de Brasíl ia - UnB [email protected])
estrangeiro que interage profundamente, querendo ouvir e entender as dinâmicas do lugar, mas que ao mesmo
tempo não se coloca totalmente dentro desta dinâmica. Ser mulher jovem e estar no Cine Ritz poderia significar
uma gama de coisas, mas entre elas não estaria perguntar, olhar, estar lá? Sermos garotas de programa, ou um
casal de lésbicas, ou um grupo de amigas em uma grande farra, ou jornalistas que entrevistam e vão embora.
Estar em um ambiente de saturação sexual e compartilhar do cotidiano das dançarinas, dos funcionários e dos
freqüentadores é andar na corda bamba, entre manter nossas faces (das antropólogas e dos freqüentadores e
dançarinas) e conseguir interagir. Episódios como a lap dance, ou a fuga pelo palco em dia de festa são emblemáticos
de uma relação já pensada de antemão como problemática. Falar de erotismo e pornografia não é estar em risco?
O risco do campo vai para além dos riscos no campo em si. Vai também para o colocar em jogo a idoneidade
dentro da academia. Ter pesquisado cinemas pornôs marca a identidade da antropóloga como tal. Se o cinema
é voltado ao olhar voyeur, uma atividade de “consumo sensorial”, também o nosso olhar é desafiado em campo,
jogando com o voyeurismo da própria antropologia e trazendo questões teórico-metodológicas evidentes.
Palavras-chaves: cinema pornô, etnografia, risco
TRANSITANDO POR “SEXUALIDADES PERIGOSAS”: A NOÇÃO DE RISCO EM PESQUISAS
SOBRE PROSTITUIÇÃO E SAÚDE EM BELÉM E LISBOA
Luis Junior Costa Saraiva Inst ituto de Ciências Sociais (ICS) Universidade Federal do Pará (UFPa) Email:
[email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
A proposta é refletir a partir da pesquisa de campo realizada em Belém-Pará-Brasil, em 2000 e 2001 e da pesquisa
que agora está a realizar-se em Lisboa-Portugal - ambas envolvendo a temática prostituição e saúde - sobre o risco
como uma categoria definidora de estratégias de pesquisa e definidora de modos de agir em campo. A partir
dessas experiências de trabalho de campo, nas quais muitas vezes tive que me deparar com violências do tipo,
assaltos, brigas, agressões, busco analisar os “riscos”, reais ou imaginados, vivenciados pelo pesquisador nesses
espaços-tempos de pesquisa e refletir sobre a própria noção de risco como um elemento presente tanto no
discurso acadêmico como nos discursos externos, dos vários envolvidos na pesquisa.
Palavras-chaves: risco, sexualidade, trabalho de campo
150
GT 1 5 - A F E S TA NA S O C I E D A D E C O N T E M P O R Â N E A
GT 15
A FESTA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
A BANDEIRA DE SANTA HELENA: CARTOGRAFIA DE UMA FESTA DE CONGADO.
Taís Diniz Garone
Este paper tem como objetivo refletir sobre o ritual de levantamento da bandeira de Santa Helena na cidade de Sete
Lagoas, MG. Este ritual faz parte das comemorações do ciclo de Santa Helena e Santa Cruz, uma festa anual
tradicional que tem início no último domingo de abril se estendendo por nove dias. É no sétimo dia do ciclo que
a festa atinge seu apogeu através da procissão da bandeira acompanhada pelas diversas guardas de congado da cidade
e região. Este paper consistirá, então, no esforço de apresentar uma descrição sucinta deste ritual, levando-se em
conta o contexto particular que seus participantes se encontram inseridos. Mas para que tal tarefa tenha alguma
chance de êxito, cumpre-nos um aprofundamento maior acerca de seus principais protagonistas, isto é, os congadeiros
de Sete Lagoas, o que não significa que os demais participantes possuem pouca relevância para o trabalho. Muito pelo
contrário, como bem observam autores clássicos como Durkheim e Duvignaud, ambientes festivos se configuram
como potente mecanismo de operações de ligações e de re-ligações, isto é, como espaços privilegiados de reunião das
diferenças, além de apresentarem como uma de suas principais características evidenciarem a ordem social cotidiana,
seja para afirmá-la, seja para negá-la, seja para fazer as duas coisas ao mesmo tempo. É nesse sentido que nem mesmo
segmentos da cidade que fisicamente não se fazem presentes na festa, o que a uma primeira vista poderia nos indicar
que estes não possuem nenhuma relação com o evento em questão, serão desconsiderados em nossa análise. A partir
do desenvolvimento de nossos argumentos procuraremos demonstrar como no decorrer deste ciclo toda uma rede
relações que sobejais o cotidiano da cidade é colocada em evidência e, porque não dizer, em cheque.
A FESTA COMO ESPAÇO DE RELAÇÕES IDENTITÁRIAS JUVENIS
Para as juventudes em geral e os grupos juvenis organizados, em particular, a festa desponta como um dos
principais momentos de encontro, de lazer e de trocas de experiências com relação ao que cada jovem interpreta
e experiencia como sendo o seu modo particular de viver a juventude ante as contingências e flexibilidades das
sociedades complexas nas quais se encontram inseridos. Para além desses aspectos, na pesquisa intitulada “Identidade juvenil na modernidade brasileira: sobre o constituir-se entre tempos, espaços e possibilidades múltiplas”
foi possível evidenciar que para o coletivo Só Dá Festa-SDF - um canal virtual com base territorial e atividades on
e off line em Florianópolis-SC - o evento festivo aparece como lugar de demarcação e de expressão da atuação
grupal quanto à sua forma de ocupar o espaço público na cidade, sua lógica de organização interna, suas
preferências musicais, estéticas e culturais. A festa é também locus de afirmação das relações de poder vigentes
dentro do grupo, das relações de gênero que seus membros vivenciam e das relações estabelecidas entre este e
outros coletivos similares da cidade. Desse modo, a festa aparece no grupo como um momento de síntese de suas
práticas e experiências enquanto jovens, configurando-se em espaço de reafirmação das várias identidades dos
seus membros, constituídas no dia-a-dia da convivência grupal. As indicações apontadas são produtos de análises
construídas a partir do trabalho etnográfico realizado através da observação direta durante oito meses junto ao
grupo, da fotografia e da entrevista grupal.
Palavras-chave: Juventudes, relações grupais, identidades.
151
GRUPOS DE TRABALHOS
Dra. Valéria Silva, Profa. da Universidade Federal do Piauí-UFPI
A FESTA DO CANDOMBLÉ NA RUA: O CASO ESPECÍFICO DOS AFOXÉS DE RECIFE -PE.
Priscilla Barbosa da Silva - Universidade Federal de Pernambuco - E-mail: [email protected]
Este estudo tem como objetivo averiguar as dinâmicas sociais que abarcam a interação entre os diferentes
agentes atuantes nos afoxés em Recife-PE. Através da análise de dados, por meio de observação participante,
procurou-se entender a produção e relação social que permeiam estes grupos. Percebeu-se que a estrutura de
organização e apresentações, vem adaptando-se para continuar existindo no contexto urbano. Em comemorações do carnaval, festa da lavadeira, dia da consciência negra entre outros, são recorrentes a presença de desses
grupos, havendo assim uma difusão cada vez maior dessa forma de manifestação da cultura afro-brasileira. Os
resultados identificam as mudanças que estão ocorrendo, em sua organização interna, sua função social bem
como aceitação de participação de componentes que não fazem parte da religião do candomblé.
Palavras-chave: Cultura Negra, Candomblé, Festa Popular.
A FESTA DOS CARETAS: UMA MANIFESTAÇÃO DIONISÍACA NA PACATA CIDADE DE
RIBEIRÓPOLIS
Tatiane Oliveira da Cunha. [email protected]. Professora da Rede Estadual em Sergipe e da Rede Municipal em
Ribeirópol is (SE). Graduada em História Licenciatura (UFS) e Pós-graduanda do curso de Especial ização em Ciências
da Rel igião (UFS).
Os Caretas é um grupo folclórico de Ribeirópolis, município de Sergipe, que saem pelas ruas da cidade usando
máscaras, trajando peças do vestuário feminino e acompanhado por uma banda de pífano no domingo que
antecede o carnaval desde a década de 50 do século XX. A presente pesquisa objetiva interpretar a festa dos
Caretas como uma manifestação dionisíaca na pacata cidade de Ribeirópolis, uma festa de êxtase e produção de
vida. Para embasarmos a discussão teórica sobre festa dionisíaca utilizamos o artigo “Dionísio nos trópicos: festa
religiosa e barroquização do mundo por uma antropologia das efervescências coletivas” de Lea Freitas Perez.
Objetivou-se também compreender a festa, como o espaço do inesperado, onde tudo pode acontecer de acordo
com a análise de Regina Horta, na obra, “Noites Circenses: espetáculos de circo e teatro em Minas Gerais no
século XIX”. Inicialmente foi feita uma pesquisa de campo, a etnografia, através da qual descrevemos a festa dos
caretas. Num segundo momento, através de uma pesquisa bibliográfica, foi possível compreender a festa dos
caretas, uma invasão dionisíaca, como espaço de socialização e transgressão. Os caretas sujam e bagunçam o que
aparentemente representa a ordem. Transformam o cotidiano e representam o des-concertar. A chegada deles na
cidade entusiasma, alegra, emociona, causa a sensação de prazer e dor, de medo e bem estar, enfim transformam
o cotidiano a qual estão acostumados seus moradores.
Palavras-chave: festa, Caretas, inesperado.
GRUPOS DE TRABALHOS
A MORTE É UMA FESTA?
Jeanne Almeida Dias (UFBA – [email protected])
Este trabalho pretende discutir em que aspectos os rituais da Semana Santa, na Cidade de Monte Santo,
localizada no semi-árido baiano, configuram-se como eventos festivos. Isto a partir da constatação da existência
de uma ambivalência neste período, ou seja, ao mesmo tempo em que os rituais performam simbolicamente o
enterro do Jesus, após sua crucificação, acena com a real possibilidade de um renascimento próximo. Por outro
lado, é através do compartilhamento do sacrifício do Senhor Morto pelos fieis seguidores das procissões e
celebrações que se estabelece uma relação de proximidade e, portanto, de apropriação do capital simbólico
emanado do Deus na Cruz numa espécie de contágio, servindo como resposta ao sofrimento vivido no tempo e
espaço cotidiano, a partir da observação e comparação com o sofrimento do outro que, neste caso, é o próprio
Jesus. Percebe-se, então, o estabelecimento de um cruzamento entre as relações de reciprocidade mantidas entre
fiéis e Jesus, relações estas estendidas aos Santos e a Maria, num movimento de contágio que retorna ao fiel parte
da especialidade do sagrado. A festa, neste sentido, pode ser pensada como a demonstração última da communitas
152
GT 1 5 - A F E S TA NA S O C I E D A D E C O N T E M P O R Â N E A
(Turner), em um tempo e espaço especializado, além de representar uma tentativa de entender e reafirmar as
estruturas que permeiam a vida dos habitantes da cidade durante o tempo cotidiano.
Palavras-chaves: Semana Santa, festa, Monte Santo
A TEATRALIDADE BARROCA NA FESTA DE NOSSA SENHORA DA D’AJUDA EM
ITAPORANGA (1920-1958)
Magno Francisco de Jesus Santos (UFS, [email protected] )
Ane Luíse Silva Mecenas (UFS, [email protected])
A festa do padroeiro é um dos principais momentos da vida social de muitas cidades. Celebrar o santo protetor
significa para o homem religioso o reforço do pacto estabelecido com o divino. O Brasil, colonizado sob os
auspícios da espada e da cruz, possui inúmeras festas de padroeiros, algumas das quais realizadas desde o período
colonial. A tradição católica do país fez com que essas festas se tornassem palco de seguimentos de múltiplas
facetas culturais, um teatro barroco. Neste trabalho foi discutida a festa de Nossa Senhora d’Ajuda, padroeira de
Itaporanga, entre os ano de 1920 e 1958. O objetivo central constitui-se em compreender os elementos da
teatralidade barroca presentes na procissão no decorrer do período em foco. A pesquisa foi desenvolvida a partir
do levantamento do acervo documental sobre a referida festa em obras de memorialistas e na imprensa sergipana.
A documentação localizada evidencia uma festa cercada por elementos simbólicos. Trata-se de uma trama, com
roteiro estabelecido pelo clero e enriquecido pela ação popular, que configura um teatro itinerante que se
apresenta pelas ruas da cidade em procissão. A festa era um espaço de legitimação social, uma trama social.
Palavras-chave: Festa, padroeira, Itaporanga d’Ajuda
A TRADIÇÃO E MODERNIDADE NAS FESTAS RELIGIOSAS DE BELO HORIZONTE.
Juliana Aparecida Garcia Corrêa (UFMG) garciajul [email protected]
Co-autora: Wanessa Pires Lott (UFMG)[email protected]
O presente estudo pretende tratar do tema festas religiosas no contexto das sociedades urbanas. Para tanto,
tomamos como objeto empírico de reflexão duas festas de raiz negra na cidade de Belo Horizonte: A festa do
Reinado de Nossa Senhora do Rosário da Irmandade de Justinópolis que acontece no mês de outubro e a festa
de Oxossi da comunidade-terreiro Ilê Wopo Olojukan comemorada no mês de abril. A aproximação das festas
em questão se dá pela permanência de dois elementos em ambas: a tradição e modernidade. Na esteira deste
estudo, acreditamos que a festa seja um objeto de análise privilegiado, já que, em ambas as comunidades duas
situações estão simultâneamente sendo colocadas: a preocupação com manutenção das ‘práticas antigas’ e a
crescente mudança nas festas devido ao grande fluxo de visitantes na comunidade.
Carla Maria Dantas Oliveira (UFCG – carlamdol [email protected]);
Marinalva Vilar de Lima (UFCG - iraml [email protected])
Este trabalho tem como objetivo estudar o “Bloco da Saudade” de Campina Grande-Pb – surgido em 1991 e
composto por alguns artistas locais -, a partir da análise das práticas e das representações dos sujeitos, nele
envolvidos, que o institucionalizam-se como o lugar da tradição carnavalesca campinense. Análise que entende
o carnaval como uma teia de significados, valores e representações sociais que vão sendo costurados aos espaços
e atribuídos à própria produção, de acordo com as relações instauradas no momento de sua constituição. Portanto, considerando que estudar as identidades culturais brasileiras passa pela festa, em especial, pela festa carnavalesca, reiterando ou negando o modo pelo qual a sociedade se organiza num determinado momento histórico,
estudar o “Bloco da Saudade” na cidade de Campina Grande permitirá que tracemos/acompanhemos as estra-
153
GRUPOS DE TRABALHOS
BLOCO DA SAUDADE: PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE UM LUGAR
IDENTITÁRIO
tégias e vontades utilizadas pelos produtores de construções identitárias, observando também, como as diferentes formas culturais atuais de festa se cruzam para a construção de um lugar identitário. E apoiando-nos nas
formulações de Bourdieu, podemos observar que, as mudanças sofridas no carnaval não constituem uma adaptação ou evolução natural, mas são o resultado de arranjos de poder que representam o esforço dos atores sociais
do campo social do carnaval em transmitir e fazer valer sua própria interpretação da realidade. Os atores sociais
são investidores com interesses e estratégias em busca de capitais específicos, constituindo os símbolos como
instrumentos de integração social por excelência e tornando possível a reprodução da ordem estabelecida.
Palavras-chave: carnaval; identidade; representação.
COMEMORAÇÕES DO DIA DO ÍNDIO: UMA EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA ENTRE OS
MACUXI E WAPIXANA EM RORAIMA/BRASIL.
Profª Drª Mariana Cunha Pereira / [email protected] Universidade Estadual de Goiás.
Este é um trabalho que surge do recorte da tese de doutorado intitulada: A Ponte Imaginária: o trânsito interétnico na
fronteira Brasil e Guiana, trata-se de uma etnografia que discute as relações interétnicas na região fronteiriça do
norte do Brasil, a partir do estado de Roraima. A observação etnográfica nas aldeias indígenas Macuxi e Wapixana
de Roraima, durante o período das comemorações do dia do índio em abril de 2004, revelou que está havendo
uma resiguinificação das festas no interior das aldeias indígenas. Minha hipótese é de que é a escola o agente
promotor desse processo de resiguinificação, e tal fenômeno se atrela ao processo de interculturação entre
indígenas e não-indígenas. As festas do dia do índio foram introduzidas pelo calendário escolar, porém, a
realização delas articula diferentes rituais em significados para indígenas e não-indígenas; reafirma as identidades presentes; produz empréstimos culturais; fertiliza os conflitos étnicos, e, também possibilita campus de
discussão para os antropólogos no difícil processo de articular o olhar, o ouvir e o escrever.
Palavras-chave: Festa; Macuxi; Wapixana.
DUAS MEMÓRIAS E UM ESQUECIMENTO
GRUPOS DE TRABALHOS
Rafael Barros (UFMG) [email protected]
Marcos Martins (UFMG) [email protected]
Lea Freitas Pérez (UFMG) [email protected]
A partir de um tema supostamente comum, que seja o da festa do congado, pretendemos mostrar como a
diferença constitutiva da experimentação festiva permitiu uma aproximação inesperada de nossos olhares. Quando
fizemos os cruzamentos de nossas notas de campo, percebemos que havíamos, por diferentes percursos, chegado
a um mesmo território: a memória. Tentamos aqui (re)constituir, através de um diálogo, os passos desse duplo
percurso, procurando explicitar o itinerário acadêmico, mas sobretudo o afetivo. Colocando-nos em causa através de nossas histórias, que se entrelaçam de maneira tão singular à história local do congado, pretendemos
expressar como nossas adesões são importantes na transfiguração de uma experiência de vida que se apresenta,
nessa circunstância, como trabalho de campo. Expor essas participações acaba, ao fim, por levar-nos a uma
reflexão geral sobre o processo de confecção da tradição e das relações da cultura em geral com os temas da
memória e do esquecimento. Esquecemos... por isso inventamos!
Palavras-chaves: memória; etnografia; festa
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GT 1 5 - A F E S TA NA S O C I E D A D E C O N T E M P O R Â N E A
“FESTA BOA PARA QUEM?” – A ETNOGRAFIA DA FESTA DE SÃO PEDRO NUM ARRAIAL
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Thaís Nascimento. PPGSA-IFCS-UFRJ / NEANF-LESCE-UENF
Lorena de Oliveira e Alves. PPGA-UFF / NEANF-LESCE-UENF
No povoado pesqueiro de Ponta Grossa dos Fidalgos – RJ, acontece no mês de junho a festa do patrono dos
pescadores, São Pedro. A comparação das comemorações dos últimos sete anos permite alinhar as diversas
seqüências que fazem parte do processo ritual. Assim, é possível construir um modelo de festa realizado atualmente que pode ser comparado ao antigo, que conhecemos somente por relatos dos antigos moradores que o
vivenciaram. Enquanto a atual festa acontece com o apoio e/ou patrocínio político, a antiga era organizada
pelos próprios moradores, que apontam esta característica como o ponto de partida para as outras diferenças
existentes entre os dois modelos. Há pessoas que preferem o antigo modelo e também pessoas que preferem o
modelo atual de festa, e cada grupo tem seus argumentos. Fato é que a festa de São Pedro é um momento de
grande importância econômica, política e religiosa. Desta forma, diversas “definições” de festa coexistem no
povoado, e algumas dessas concepções do que é uma “boa festa” são conflitantes. Neste trabalho, propomo-nos
a refletir sobre as diferentes idéias que os moradores de Ponta Grossa dos Fidalgos têm sobre o que é uma boa
festa.
FESTAS E RITUAIS: UMA INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO DE REORGANIZAÇÃO DA
ETNICIDADE ENTRE OS XUKURU DO ORORUBÁ
A comunicação trata do processo de reorganização da etnicidade do povo indígena Xukuru do Ororubá a partir
análise de material etnográfico acerca das festas do Dia do Rei do Ororubá, São João e Nossa Senhora das Montanhas, momentos cerimoniais que compõem parte do calendário festivo da comunidade. Com o objetivo de expor
estes momentos cerimoniais enquanto situações em que são expressos elementos históricos e religiosos delimitadores
da identidade do grupo, propõe-se a abordagem das representações relacionadas às festas e aos espaços nos quais as
cerimônias acontecem, trazendo considerações acerca dos sentidos vinculados ao toré e ás tradições Xukuru, ritual
e práticas que quando ativadas pela comunidade no contexto de mobilização político-identitária passam a figurar
como um espaço de articulação entre religiosidade, história e ação política para a composição da etnicidade do
grupo. Partindo da percepção de que a identidade indígena do povo Xukuru é afirmada tomando como base
elementos históricos e religiosos, dimensões que remetem a determinadas cerimônias e espaços do território, temse o intuito de trazer considerações acerca da dinâmica de organização de elementos e temporalidades para a
constituição de um escopo cultural diferenciador. Considerando que a cultura assim como a etnicidade são construídas
historicamente, a comunicação se baseia na análise de um processo histórico e condicionado situacionalmente,
têm-se o intuito de expor uma breve reflexão acerca da forma pela qual os sentidos comunicados por meio do toré
e das tradições Xukuru durante as festas são construídos em diferentes contextos históricos. A exposição desenvolvese, portanto, como uma incursão pelos contextos nos quais a etnicidade do povo foi organizada, dá-se ênfase aos
processos de ressemantização das festas e rituais empreendidos pelo povo como formas de atualização cultural e
expressão de sua identidade étnica e às formas pela quais esta identidade e sua etnicidade são operadas interna e
externamente pelo grupo.
Palavras chave: Festas, Tradição, Etnicidade
FESTAS TRANCE - LUGAR, TRANSFORMAÇÃO, MOBILIDADES
Luís Maria Chaves Almeida Vasconcelos - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (doutorando)
E-mail: [email protected]
A comunicação tem por objecto as festas trance realizadas em Portugal. O termo que especifica estes eventos
decorre do nome do tipo de música electrónica aí tocada e dançada. Resultado da iniciativa de produtoras
155
GRUPOS DE TRABALHOS
Ana Sávia Farias Ramos Universidade Federal de Campina Grande - [email protected]
especializadas e participadas por centenas ou mesmo milhares de participantes, estas festividades vêm a ocorrer
em sítios afastados de locais habitados, geralmente em zonas que integram propriedades agrícolas ou áreas
florestadas. Uma das marcas dos participantes neste tipo de eventos é, aliás, a presença de um discurso sobre a
natureza. Através da análise de alguns dos elementos constituintes destas festas e do processo relativo à sua
montagem e realização, argumentar-se-á que se tratam de lugares intersticiais, ou seja, lugares sensorial e
relacionalmente intensos, mas efémeros na sua duração. Argumentar-se-á ainda que tal intersticialidade é resultado do ordenamento de diferentes tipos de mobilidade, isto é, e como é o caso da dança, diferentes formas de
movimento socialmente estruturado. Estas festas convertem-se em lugares onde são consumidos produtos
psicoactivos, nomeadamente as chamadas drogas de síntese. Para além da utilização da “ganza”, designação
émica genérica para os diferentes canabinóides, o caso particular do trance tem no LSD uma espécie de droga
emblemática. O uso destes produtos será referido como parte integrante do argumento geral sobre as mobilidades
Palavras-chaves: música, dança, drogas.
FESTIVIDADE MORTUÁRIA DE MATRIZ AFRICANA: PERPETUAÇÃO DE VALORES
CIVILIZATÓRIOS
Joanice Santos Conceição - Doutoranda em Ciências Sociais/Antropologia da PUC-SP.
E-mail: [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Falar do Brasil é falar de um conjunto de memórias; entre elas, as memórias de pessoas que foram arrancadas de
suas terras para dar brilho e relevo às terras transnacionais, de uma lembrança que custou tantas vidas, de uma
memória que muitas vezes nos envergonha quando olhamos para as injustiças que foram praticadas contra uma
população que forneceu relevo a diversos setores sociais; uma população negra que transforma a dor em bandeira de resistência, que enxerga na festa, uma oportunidade de evidenciar experiências guardadas na memória e
na oralidade que mais tarde vão se transformar em espaços de reconstrução identitária, tornando-se assim impar
na solidificação da sociedade brasileira. Vários são os ethos afro-brasileiros que preservam os valores legados
pela tradição africana, tais como as congadas, as irmandades negras, que preservam ritos mortuários de matriz
africana, e suas diversas manifestações culturais, que contribuem, sobremaneira a formação do cenário nacional.
Esta comunicação objetiva promover uma discussão sobre as festividades mortuárias, que repousam nas religiões
de matriz africana, enfatizando nas estratégias empreendidas para a manutenção de saberes seculares; partindo
da premissa e, em certa medida, de constatações, que os valores civilizatórios, como as festas fúnebres e seu
conjunto de ritos foram e ainda são, responsáveis pela continuidade de traços característicos da população
africana aqui escravizada. Assim sendo, este ethos diaspórico, resguardado pela memória e pela oralidade servem
de base para que seus saberes sejam perpetuados, redesenhados e ressignificados, ao longo do tempo.
Palavras-chave: festa, mortuários, valores.
FESTIVIDADES CARNAVALESCAS: MEMÓRIA, TRADIÇÃO E IDENTIDADE CULTURAL
Profª Dra. Cristiane Maria Nepomuceno (UEPB/Campus I) – [email protected]
A festa pode ser considerada um dos mais importantes elementos na conformação da vida social. Na festa a vida
e a história de um povo podem ser representadas e realimentadas através das encenações dos papéis e das
funções sociais. A festa permite que os valores, os costumes, a tradição não só se mantenham vivos, assim como
promove e conduz a uma ordem organizacional. Este trabalho apresenta a festa de carnaval como espaço de
revalorização das tradições locais, uma forma de manifestação que faz emergir o interesse por manter e preservar
a memória da sociedade, uma manifestação que reforça a identidade local. O pano de fundo para estas reflexões
são os festejos carnavalescos da cidade do Recife-PE onde a festa apresenta um duplo caráter, sendo um carnaval
em dois: 1) o carnaval mega-espetáculo formato padrão show destinado a atrair turistas e dividendos para uma
complexa rede de atividades econômicas, políticas e sociais; 2) o carnaval tradição popular, acontecendo nas
ruas, livre e espontaneamente manifesto nas brincadeiras, máscaras e fantasias, o momento onde o povo se
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GT 1 5 - A F E S TA NA S O C I E D A D E C O N T E M P O R Â N E A
revela em sua plenitude, onde os grupos se utilizam do espaço da festa para mostrar a “cara”, dizer quem é,
fortalecer suas identidades, lutar por se fazer respeitar. Estas duas formas manifestas do carnaval recifense
revelam a dimensão, a função que a festa vem assumindo na sociedade contemporânea: reabilitar tradições e
identidades. Nesta festa existe o embate, a imbricação, a polarização, a hibridização, processos que confrontam
o tradicional e o moderno, a cultura popular e a indústria cultural, constituindo-se num contexto onde se acolhe
o novo mas também se resiste às mudanças, preserva-se os valores culturais e as manifestações populares tomam
uma nova forma, como no dizer de Hobsbawn, são (re)inventadas. Esse processo torna o carnaval do Recife uma
festa que preservar a memória e incorpora a dinâmica, mas também uma festa onde acontece confronto, contestação social e disputa. Desse modo, um elemento organizador da cultura local, assumindo ora um caráter
aglutinador, integrador ora provocador de conflitos, e por muitos considerado até subversivo. Nesse sentido, a
festa de carnaval do Recife hoje é um elemento indispensável na edificação da identidade cultural do povo
pernambucano, responsável direto por o que neste trabalho se denomina de fenômeno da pernambucanidade.
Palavras-chave: tradição, identidade, carnaval.
MEMÓRIAS DO SÃO JOÃO EM SERGIPE.
Beatriz Góis Dantas. UFS; IHGSE - [email protected]
Tomando a produção memorialista como referente empírico, procura-se decompor os elementos da festa de São
João registrada em diversos municípios sergipanos no período compreendido entre o final do século XIX e as
primeiras décadas do XX. No conjunto de elementos encontrados, a análise se detém nos fogos de artifício registrados
nos textos selecionados em sua variedade de tipos e usos, apresentando-se como uma linguagem polifônica através
da qual se expressam valores religiosos e profanos, bem como as disputas políticas que se cruzam no espaço da
festa.
Palavras-chave: Festa, São João, Sergipe
O CENÁRIO DA FESTA DO BUMBA-MEU-BOI NA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO: DE
MARGINAL A SÍMBOLO DE IDENTIDADE
Este trabalho tem como tema a festa do bumba-meu-boi na cidade de São Luís, no Maranhão. Esta é abordada
como produção da criatividade humana, ou seja, como produção simbólica, que expressa através de ritos, mitos,
danças, cantos, cores e estilos, ethos e visão de mundo dos grupos envolvidos. Mas também, como manifestação
inserida no cenário dinâmico das relações sociais e culturais presentes na sociedade maranhense, onde cada vez
mais são estabelecidas trocas, contatos e mudanças entre o local e global. Esta inserção faz com que a festa do
bumba-meu-boi se reelabore e se ressignifique, através de uma “dinâmica de adaptação”, ou seja, da inclusão e
exclusão de elementos, o que garante a sua continuidade. A festa do bumba-meu-boi assume no atual contexto da
cidade de São Luís a condição de “bem de consumo”, sendo disponibilizada para os diversos segmentos sociais.
Assim, o bumba-meu-boi torna-se conhecido como símbolo da tradição maranhense e passa à condição de
elemento de identidade cultural do referido Estado. O que o leva a adquirir maior projeção, divulgação, e, até
mesmo, revitalização, abrindo assim possibilidades para agregação de outros sentidos. Ressalto que este trabalho
teve como recursos metodológicos a pesquisa bibliográfica sobre festas, bumba-meu-boi e cultura popular e
pesquisa de campo sistemática ao longo de sete anos junto aos grupos de bumba-meu-boi.
Palavras chave: Festa, bumba-meu-boi e cultura popular
157
GRUPOS DE TRABALHOS
Abmalena Santos Sanches - Professora Assistente da Fundação Universidade Federal do Tocantins - UFT. Graduada
em Ciências Sociais/UFMA e Mestre em Antropologia/UFPE.
E-MAIL: bil ibra@bol. com. br [email protected]
POR ONDE ANDAM AS FESTAS?
Alessa Cristina P. de Souza - Doutoranda em Sociologia pelo PPGS/UFC - [email protected]
Essa comunicação tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa de dissertação de mestrado, já
concluída, acerca da (re) organização sócio-cultural dos moradores do bairro de Cruz das Armas, João Pessoa –
PB, um bairro periférico e violento que vem sendo influenciado pelas mudanças mais amplas na esfera da
cultura e do lazer. Tendo como fonte principal a memória das pessoas que presenciaram e vivenciaram essas
transformações, percebemos como um bairro de trabalhadores, periférico, com a presença de formas de cultura
e lazer (festas) tão intensas que facilitavam a coesão social, se transforma em um local perigoso, violento e
estigmatizado concomitantemente à diminuição daquelas. Nesse sentido percebemos, também, como o bairro de
Cruz das Armas vem tentando reconstruir sua imagem tanto para com a cidade de João Pessoa, como para os seus
próprios moradores, tentando não abandonar totalmente as formas de relações tradicionais que fundam as
formas de sociabilidade locais. Para tanto, vem criando uma ação organizada, o Movimento Paz e Cidadania, que
mescla elementos tradicionais das festas com mecanismos de ação política.
Palavras-chave: festa, sociabilidade, cidade.
SÃO JOÃO: A FESTA OU AS FESTAS ? PENSANDO AS VÁRIAS FORMAS DE VIVENCIAR O
SÃO JOÃO DO RECIFE
Hugo Menezes Neto (Mestrando) Programa de Pós Graduação em Antropologia – PPGA - Universidade Federal de
Pernambuco – UFPE - [email protected]
[email protected]
Este trabalho trata-se de um recorte da pesquisa que desenvolvo no mestrado em Antropologia na UFPE. Pretendo refletir acerca do “São João” do Recife explorando formas possíveis de experimentação deste, e por conseguinte, reafirmando a necessidade de pluralizar seu usos e significações, haja vista que para os diferentes sujeitos
existem formas também diferentes de vivenciar e sentir a(s) festa(s). Parto da minha experiência como brincante
de quadrilha junina durante 13 anos ininterruptos vivendo uma forma muito peculiar de envolvimento com as
festas, contudo, enquanto pesquisador pude experienciar outro São João o que sugeriu o diálogo com autores e
conceitos de Festa que me proporcionam pensar na inter-relação entre teoria e prática a partir da analise tanto
de dados objetivos quanto de elementos subjetivos. Neste contexto pretendo ainda expor o papel das quadrilhas
juninas dentro das festas, sobretudo como espaço de sociabilidade, bem como estas participam do oficial e do
não-oficial e assim pensar as tensões existentes nos espaços de festa promovido e organizado pelo poder público
e daqueles que se configuram como não-oficial.
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS:O LAZER EMTAMBAÚ E SUASFRONTEIRAS DE PERTENCIMENTO
GRUPOS DE TRABALHOS
Anne Gabriele Lima Sousa –(Doutoranda PPGS/UFPE - [email protected])
Este trabalho, que culminou na dissertação “Olhares que se cruzam, fronteiras que se erguem. A sociabilidade
em Tambaú – João Pessoa, PB”, lança o olhar para o comportamento social nas áreas de lazer urbanas contemporâneas, através da percepção dos tipos de fronteiras simbólicas construídos pelas complexas interações sociais
presentes no cotidiano de Tambaú, bairro nobre, de grande visibilidade, maior destino de lazer de João Pessoa,
PB, palco das principais festividades públicas desta capital. As relações estabelecidas pelos diferentes grupos que
participam do campo de sociabilidade plural do qual Tambaú é palco, são percebidas a partir dos processos de
diferenciação social e da adoção de elementos simbólicos responsáveis pela inclusão ou exclusão de indivíduos
nos círculos sociais que permeiam seus respectivos espaços de pertencimento. Consideramos a cidade contemporânea como um lócus de fronteiras, onde proximidade espacial e distância social se cruzam, norteando emoções e classificações. A partir de observações sobre a dinâmica social dos espaços de lazer e das narrativas de seus
freqüentadores, Tambaú é apresentado a partir dos diferentes estilos de vida que se revelam na sociabilidade
instituída em seu interior, manifestando valores, reafirmando identidades e reforçando habitus inerentes a trajetórias culturais específicas. Assiste-se, nas formas de sociabilidade presentes em Tambaú, à complementaridade entre
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GT 1 5 - A F E S TA NA S O C I E D A D E C O N T E M P O R Â N E A
espaços sociais inicialmente opostos. Os diferentes papéis assumidos por seus freqüentadores levam à relativização
de valores, realçados ou disfarçados de acordo com a posição ocupada pelo outro, o grupo em situação de concorrência ou ameaça simbólica à identificação que configura uma ordem social coesa. O campo de sociabilidade de
Tambaú foi, assim, identificado e interpretado, refletindo emoções e razões nos contornos dados às fronteiras e aos
seus reflexivos enredos.
Palavras-chaves: Sociabilidade, Lazer, Fronteiras Simbólicas
“SOAM GUNGAS E TAMBORES NA METRÓPOLE”: REINADOS NEGROS NA CIDADE DE
BELO HORIZONTE, ETNOGRAFIA E REGISTRO AUDIOVISUAL DAS FESTAS
Júnia Torres (UFMG-CRAV) [email protected]
Por meio de imagens, sons, depoimentos e fotografias, o Projeto Memória da Religiosidade Afro-Brasileira, desenvolvido pela Coordenação de Pesquisas do Centro de Referência Audiovisual de Belo Horizonte, tem como objetivo
recompor a memória e a prática das manifestações de religiosidade ancoradas na reelaboração dos elementos
míticos da cosmovisão de matriz africana, demonstrando que constituem parte fundamental da história e da
cultura dessa cidade, cidade que se transforma em contexto e cenário de performances religiosas e culturais.
Combinando história oral, etnografia e suporte audiovisual foram documentadas festas, rituais, lugares referenciais
e os principais personagens que realizam o ciclo das Festas das Irmandades do Rosário na região metropolitana
de BH, afim de constituir uma documentação contemporânea em suporte audiovisual, propondo formas novas
de dialogar com, documentar e difundir tais manifestações, constituindo um acervo público (80 horas em vídeo
digital) editadas em um filme documentário (Salve Maria, 63 min). A vitalidade das festas das guardas de congo,
moçambique, catopês, caboclinhos e candombes registradas pelas imagens e sons, aponta para a perseverança de
uma cosmologia tradicional, constantemente atualizada e renovada, reinvenção permanente, na qual elementos
da modernidade podem ser - e de fato são - relidos e incorporados à luz da matriz cultural tradicional. Revela-se
que a cultura da metrópole, longe da homogeneidade muitas vezes preconizada, é diversa, heterogênea, elaborada por uma multiplicidade de atores.
Palavras Chaves: tradição, modernidade, festa
TAMANDARÉ EM NOITE DE FESTA: OS SENTIDOS DE SE FESTEJAR O JONGO EM
GUARATINGUETÁ-SP
Na presente comunicação analiso, especificamente, a festança ocorrida no bairro Tamandaré, um bairro periférico do município de Guaratinguetá-SP e habitado predominante por afro-descendentes. A festança, realizada
anualmente, é para se comemorar o jongo, dança acompanhada de cantoria e percussão de tambores, cujos
referenciais remontam a uma memória da escravidão. Tida como dança rara, o jongo comemorado na festança
no Tamandaré conta com a presença de muitos apreciadores da ‘cultura popular’, profissionais da imprensa e
pesquisadores. Nestas ocasiões, os produtores da festança, isto é, os jongueiros, se vêem num contexto propício
para exprimirem seus anseios, valores e aspirações. Partindo da evidência de que a festa, enquanto fenômeno
social que é, não se resume apenas num momento de inconseqüência e simples busca do prazer, mas, antes, num
momento de seleção e negociação entre os vários sujeitos sociais que a compõe, e ainda, que sua ocorrência não
está dissociada da realidade vivida de seus produtores, parto de uma análise do processo sob o qual a festança se
desenvolve no Tamandaré, analisando os sentidos de se festejar o jongo naquele contexto marcado por questões
de caráter étnico-racial e visibilidade política por parte dos jongueiros e por noções de reminiscências, preservação e estética por parte dos apreciadores do evento.
Palavras-chaves: Festa; Jongo; Processo Ritual
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GRUPOS DE TRABALHOS
Wilson Rogério Penteado Júnior- UNICAMP - E-mail: [email protected]
“TEM DENDÊ E ACARAJÉ”: FESTA DE OYÁ NO ABAÇÁ SÃO JORGE-ARACAJU-SE
Fernando José Ferreira Aguiar Prof. Dep. de História/ CECH/ UFS. Prof. do curso de História da FJAV. Prof. da PósGraduação em Ed. Patrimonial e Identidades Sergipanas/ Faculdade Atlântico. Email: [email protected]
[email protected]
Janaina Couvo Teixeira Maia de Aguiar Aluna do Bacharelado em História – Universidade Federal de Sergipe
[email protected] [email protected]
Esta comunicação tem por objetivo expor o resultado de um trabalho etnográfico sobre uma festa afro-brasileira
dedicada à Iansã, que acontece todos os anos num terreiro tradicional de Aracaju-SE. Trata-se do Abaçá São Jorge,
onde acompanho há aproximadamente 8 anos esta festa, considerada como a principal festividade do terreiro. Para
este ritual participam os filhos de santo de várias partes do país, que passam o ano se preparando para se dirigir
à Capital sergipana. Esta festa se estende por 4 dias, iniciando no dia 4 de dezembro, dia dedicado à Iansã,
terminando na manhã do dia 8 de dezembro, quando todos amanhecem nas areias da Praia de Atalaia , para levar
o “presente para Oxum”. São dias de muita mobilização de todos os iniciados da casa, que trazem suas vestes mais
bonitas e preparam um verdadeiro “Banquete para os Orixás”. Este é composto por comidas denominadas
“comidas secas”, que são ofertadas a todos os Orixás, não apenas a “dona” da festa.
UMA “FLÂNERIE” NO LOMBO DO BUMBA-MEU-BOI DA MAIOBA: REFLETINDO SOBRE OS
FESTEJOS JUNINOS EM SÃO LUÍS – MA
Adriano Farias Rios (Faculdade Santa Terezinha – CEST/ Universidade Federal do Pará – UFPA) e-mail:
[email protected]
Manifestação de grande expressividade da cultura popular do Estado do Maranhão, O Bumba-meu-boi pode ser
visto como uma festa inserida num contexto mais amplo e complexo de representações, símbolos e significados: os
festejos juninos. Com base nesta perspectiva e considerando que no mundo contemporâneo as festas tanto podem
demarcar tempo e espaço fundamentais para a identidade cultural de determinados grupos e sociedades como também
apresentam características de mercadoria turística, este trabalho busca demonstrar como os brincantes do boi da
Maioba agem com e pela sociedade numa espécie de “flânerie” pelo passado e presente de São Luís. Nesta ação,
desenvolvem um complexo jogo de deslocamento dos seus símbolos que contribuem para reunião de amigos, conhecidos ou desconhecidos, levando-os a atualizar os seus laços de solidariedade e dar continuidade à brincadeira.
Palavras-chaves: Bumba-meu-boi, festejos juninos, cultura popular.
GRUPOS DE TRABALHOS
“VAMOS DANÇAR QUADRILHA, COMER CANJICA E SOLTAR BALÃO: ANÁLISE DAS
PERFORMANCES CULTURAIS NO SÃO JOÃO DE ARACAJU.
Eufrázia Cristina Menezes Santos/UFS [email protected]
Co-autoras: Priscila Santos Silva – UFS [email protected]
Vanessa B. Vasconcelos Garcez - UFS [email protected]
Graças à diversidade cultural brasileira, o São João ganha características, contornos e expressões particulares em cada
estado brasileiro, que os singularizam entre si. Essa diversidade na igualdade demonstra a riqueza com que os grupos
vivenciam a mesma festa, a partir dos seus modos e estilos característicos de celebrar, reviver seus mitos e reafirmar seus
valores. As linguagens e comportamentos característicos do ciclo junino remetem a saberes performáticos vinculados a
uma determinada tradição cultural, a um Habitus no sentido conferido por Marcel Mauss. Neste trabalho elegemos a
dimensão performativa das festas juninas como objeto de estudo, esse tipo de abordagem chama atenção para a importância dos aspectos teatrais, cênicos e expressivos das manifestações culturais. Temos como escopo analisar duas das
principais performances juninas da capital aracajuana: o forró e a quadrilha junina. Essas tradições de performances
envolvem o domínio de técnicas corporais, o corpo constitui um dos principais instrumentos de expressão e comunicação de conteúdos culturais. Nesse processo de comunicação, as linguagens não-verbais, a dança, o gesto, a música e o
movimento, desempenham um caráter fundamental na encenação pública de novas e antigas tradições.
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GT 1 6 - P O V O S I N D Í G E N A S , P R OJ E TO S E D E S E N VO LV I M E N TO
GT 16
POVOS INDÍGENAS, PROJETOS E DESENVOLVIMENTO
“A ENERGIA ELÉTRICA EM CAMICUÔ
Raquel Lima da Silva (Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade
Federal do Acre - UFAC) raquell [email protected]
Populações Indígenas são chamadas a todo o momento a um processo de desenvolvimento sob uma lógica
capitalista, que compromete a vivência e a permanência desses povos de maneira autônoma em seus territórios,
daí a importância de pensar sobre os projetos dos órgãos governamentais em terras indígenas. O presente
trabalho tem o intuito de abordar um exemplo local desse processo: a chegada da energia elétrica em uma
comunidade indígena de Boca do Acre - Amazonas, da etnia Apurinã, na aldeia Camicuã. Tentando entender
que tipo de impacto a presença da energia elétrica vem produzindo na comunidade e pensando as transformações ocorridas junto aos sujeitos envolvidos. O trabalho tem como foco entender as questões que envolvem,
direta e indiretamente, a chegada da energia elétrica, tais como a inserção da televisão e outros eletrodomésticos,
gerando novos padrões de consumo e comportamento na aldeia, e ainda a maneira pela qual serão conseguidos
os recursos financeiros para o pagamento da conta de luz. A chegada da energia elétrica na aldeia foi proporcionada através do “Programa Luz para Todos” do Governo Federal. A partir deste programa outros estão sendo
ventilados pela FUNAI junto a comunidade - construção de uma casa de farinha elétrica, exploração de água
mineral em parceria com a FUNASA, criação de animais de pequeno porte, montagem de uma oficina de
artesanato, implantação de uma escola de ensino médio noturna, transformação do salão de reuniões em um
museu com fotografias, vídeos e uma sala de estudo da língua Apurinã e implementação de um projeto de criação
de abelhas -, sendo fundamental que se avalie este processo de elaboração.
Palavras-chave: Desenvolvimento, Povos Indígenas, Amazônia.
ACERCAMIENTO ETNOGRÁFICO A LOS ACTORES DE LA INCLUSIÓN DIGITAL EN LA ALDEA
PATAXÓ DE COROA VERMELHA
A través de este trabajo pretendo acercarme etnográficamente a los actores que configuran una política de
inclusión digital (GESAC- Governo Eletrônico- Serviço de Atendimento ao Cidadão) en lo local, representada
por un centro de cómputo y una antena receptora de la señal de Internet en la escuela Pataxó de Coroa
Vermelha, aldea indígena urbana al sur de Bahía. Siguiendo el concepto de Indigenismo acuñado por Ramos,
donde existen varios actores (ONG´s, estado, asociaciones indígenas, etc.) participando en el terreno de la
cuestión indígena, me interesa presentar a los que participan en este lugar a través del análisis de la sala de
cómputo y de los múltiples discursos en torno de ésta. Pretendo mostrar cómo las relaciones que se establecen
entre estos actores generan una gama de contradicciones, situaciones de conflicto y negociaciones que influyen
decisivamente en el proceso de inclusión digital. Dentro del análisis de este proceso intentaré problematrizar la
cuestión de la apropiación como un momento donde todos los actores convergen y exponen sus diferentes
prácticas, también como un proceso donde dichos actores participan desigualmente (Turner, 1993), es decir, la
apropiación es parcial y diferenciada.
Palavras-chave: pueblos indígenas, inclusión digital, apropiación
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GRUPOS DE TRABALHOS
Elena Nava Departamento de Antropología- UnB [email protected]
DESENHOS E MAPAS: TERRITÓRIOS PROVISÓRIOS E TERRITÓRIOS CONSAGRADOS
Regina Maria de Carvalho Erthal - Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas/FIOCRUZ e-mail:
[email protected]
No alto Solimões, o Complexo de Terras Ticuna é objeto de atenção do Levantamento Etnoecológico, realizado
pelo PPTAL/FUNAI com o objetivo de suprir a ausência de levantamentos ambientais para aquelas Terras
Indígenas com o processo de demarcação realizado antes da publicação do Decreto 1775/96. Como resultado
dos trabalhos de campo destacaram-se “áreas sócio-geográficas”, sub-unidades de análise, que permitem
superposições e superam os Mapas constitutivos das Terras Indígenas. As áreas sócio-geográficas consideram
como epicentros os assentamentos indígenas, cuja capacidade de liderar processos de exploração de recursos é
“permitido” pelo estabelecimento de relações entre grupos de poder indígenas e agentes “civilizados”. Podemos
pensar a existência de diferentes desenhos, ou apropriações territoriais e/ou de recursos por determinados
“grupos de interesses”. Teríamos, então, as Terras Indígenas (Mapas), em oposição ao dinamismo da ocupação
de territórios dado pelo deslocamento em busca de recursos. Pode-se perceber a configuração de superposições
de territórios “cristalizados” (referidos na demarcação), por aqueles que atualizados pelos faccionalismos mais
cotidianos, se permitem mais amplos e complexos, agregando agentes e projetos externos, refazendo-se de modo
continuado. É justamente essa territorialidade mais complexa que faz parte do cálculo político de lideranças e
agentes sociais diversos, que muitas vezes deixa de ser capturada por “projetos de desenvolvimento” propostos
por instituições governamentais e de pesquisa, que têm sido chamadas como parceiras no seu desenho e
implementação. O desafio é retornar para as comunidades os dados produzidos em campo, sem perder a dinâmica e marcos de sua constituição, podendo embasar propostas endógenas e sustentáveis de gestão de recursos.
Palavras chave: índios ticuna, território, etnoecológico
DESENVOLVIMENTO, PODER TUTELAR E MESSIANISMO CANELA
GRUPOS DE TRABALHOS
Adalberto Luiz Rizzo de Oliveira - Universidade Federal do Maranhão - [email protected]
O trabalho aborda as relações entre desenvolvimento, políticas e ações indigenistas e movimentos sócio-religiosos
junto aos Ramkokamekra-Canela, grupo Jê-Timbira localizado no centro-sul do Maranhão. Inicialmente descrevo o processo de territorialização dos grupos timbira decorrente das frentes de expansão e da ação administrativa
colonial nos séculos XVIII e XIX e as relações entre os Canela e os criadores do sertão maranhense no século
XX, sob a mediação do SPI. Discorro sobre o impacto das transformações econômicas regionais e na ação
indigenista oficial nas últimas décadas decorrentes de projetos e programas de desenvolvimento, especialmente
o Projeto Ferro-Carajás junto aos grupos indígenas no centro-sul do Maranhão, e às ‘expectativas messiânicas’
geradas junto aos Ramkokamekra-Canela. A implementação de projetos “comunitários”, de “ajuda humanitária” e de “combate à pobreza” promovidos por órgãos governamentais, pesquisadores e agências de cooperação
internacional são relacionados à emergência de movimentos sócio-religiosos entre os Canela. Apresento quatro
movimentos vinculados ao ‘messianismo Canela’, os quais relaciono aos agentes e ações associadas ao desenvolvimento e ao poder tutelar na região. Considerando, ainda, o campo indigenista regional, a organização social e a
cosmologia timbira, especialmente o mito de Aukhê analiso o ‘messianismo Canela’ como expressão de resistência à dominação pautada em elementos da sua cultura tradicional e como elo entre a ‘consciência mítica’ e a
‘consciência histórica’ desse grupo étnico.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional e Comunitário - Movimentos Sócio-religiosos Indígenas – Agências
Tutelares e de Desenvolvimento
162
GT 1 6 - P O V O S I N D Í G E N A S , P R OJ E TO S E D E S E N VO LV I M E N TO
DO PROGRAMA DIVERSIDADE NA UNIVERSIDADE AO PROLIND – REFLEXÕES SOBRE AS
POLÍTICAS PÚBLICAS DO MEC PARA A FORMAÇÃO SUPERIOR E POVOS INDÍGENAS
Eduardo Vieira Barnes Ministério da Educação / MEC. E-mail: [email protected]
Proponho apresentar etnograficamente o contexto da produção, redação e implementação das políticas públicas
engendradas pelo, no e com o Ministério da Educação / MEC e dirigidas aos e com os representantes e
membros dos povos indígenas no Brasil no desenvolvimento e implementação de dois programas do MEC: o
Programa Diversidade na Universidade (2002 a 2007); e o Programa de Apoio a Formação Superior e Licenciaturas Indígenas / PROLIND (2005 a 2007). O trabalho pretende articular dois eixos de reflexão e ação política:
(1) por um lado apresentar reflexões e percepções de uma antropologia política registrada durante minha participação nos gabinetes, corredores e demais arenas públicas e institucionais do MEC na formulação, desenho,
implementação e interpretação desses programas - envolvendo atores indígenas (professores e representantes
políticos), especialistas e funcionários/consultores do Estado – especificamente daqueles vinculados as unidades e secretarias diretamente envolvidas com esses programas; e, por outro lado, (2) apresentar os desdobramentos empíricos da execução de dois Projetos Inovadores de Curso /PIC desenvolvidos no âmbito desses programas executados tanto pela Universidade do Estado do Amazonas, em parceria com uma organização de professores indígenas (OGPTB), e da Universidade Federal de Minas Gerais.
Palavras-chaves: povos indígenas, ações afirmativas, etnodesenvolvimento
ETNICIDADE, ETNOPOLÍTICA, EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E CONVERSÃO
RELIGIOSA: CONTRADIÇÕES DE UM PROCESSO BEM SUCEDIDO
A análise da relação indivíduo - sociedade, ação - estrutura (Elias, 1994) conduz a reflexão do texto, que explora a
atuação do associativismo indígena na condução e execução da política de educação escolar indígena em escola
autônoma, organizada e controlada por uma das organizações indígenas do povo Baniwa, no Alto rio Negro,
Noroeste Amazônico. A atuação da entidade se caracteriza por uma bem sucedida incursão ao mercado de
projetos, propiciando a aquisição de um grande volume de mercadorias e a produção de serviços substitutivos de
políticas públicas, entre as quais a de educação, cuja interiorização nas terras indígenas é insatisfatória. (Albert,
2000; Garnelo & Sampaio, 2003). O exercício do poder etnopolítico se expressa, por um lado, em bem sucedidas negociações com instituições públicas e entidades de apoio a causa indígena e, por outro, na capacidade das
jovens lideranças em legitimarem-se no exercício do poder no âmbito micro-político comunal, transitando com
sucesso nas interações cotidianas dos grupos de parentesco, orientadas pelas relações de reciprocidade entre
consangüíneos e afins (Gohn,1997; Melucci,1994). As propostas de valorização da cultura tradicional, veiculadas
pelo movimento indígena, orientam as práticas educativas da escola indígena, sob cuja influência reativaram-se
os ritos de passagem e as práticas xamânicas, abandonados há mais ou menos 50 anos atrás, em decorrência da
adesão de parte do grupo à religião evangélica. A conversão estabeleceu uma nova ordem política, associada à
negação de diversos elementos da religiosidade tradicional e a adoção dos ritos evangélicos como meio de
legitimação de lideranças comunais. Tais chefias, hoje os membros mais velhos e mais prestigiados nas aldeias,
que legitimaram o desenvolvimento local do associativismo indígena, percebem como ameaçador o sucesso da
revitalização de tradições recusadas e ameaçam romper o consenso obtido através das lutas etnopolíticas promovidas pela associação em pauta.
163
GRUPOS DE TRABALHOS
Luiza Garnelo - Centro de Pesquisas Leônidas & Maria Deane-Fiocruz e Universidade Federal do Amazonas
[email protected]
ETNODESENVOLVIMENTO E O “MERCADO DE PROJETOS” INDÍGENAS NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO. O CASO DO PDPI
Cássio Inglez de Sousa - PDPI – MMA - [email protected]
O “etnodesenvolvimento” surge no início dos anos 1980, como o resultado de um processo de reflexões críticas
acerca dos efeitos nefastos da interface entre o modelo de desenvolvimento convencional – em destaque após a
segunda guerra mundial – e os povos indígenas. A noção foi inicialmente calcada em orientações e premissas
que vislumbravam adequações ao modelo de desenvolvimento, procurando incorporar o respeito aos direitos
humanos e às especificidades socioculturais dos povos indígenas. Desde então, entretanto, o “etnodesenvolvimento”
foi apropriado de distintas formas pelos diversos agentes envolvidos no campo indígena e indigenista (organismos governamentais, ONGs, organizações indígenas etc). Muitas vezes, a noção deixou de ser utilizada, a partir
da apropriação de termos considerados mais abrangentes, como o “desenvolvimento sustentável”. Essa diversidade de situações relativas ao “etnodesenvolvimento” pode ser observada, entre outros locais, no amplo e
diversificado conjunto de agentes relacionados ao financiamento, apoio e execução de projetos indígenas. O
objetivo desta apresentação é, a partir da sistematização de algumas das distintas perspectivas sobre o
“etnodesenvolvimento”, refletir sobre este “mercado de projetos”, enfatizando a experiência do o PDPI – Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas / Ministério do Meio Ambiente. Pretende-se que estes elementos
possam contribuir para avaliações (e auto-reflexões) sobre programas de apoio a projetos voltados para os povos
indígenas, a partir de algumas questões estratégicas e comuns entre as discussões sobre etnodesenvolvimento e
os desafios que surgem na execução dos programas.
INICIATIVAS COMUNITÁRIAS: UMA PROPOSTA DE PROTAGONISMO INDÍGENA NA ÁREA
DA SAÚDE
GRUPOS DE TRABALHOS
Cláudia Tereza Signori Franco (FUNASA/ Projeto Vigisus II- claud [email protected])
Graduada em Antropologia Social pela Universidade de Brasíl ia; pós-graduada em Antropologia e Mundos Contemporâneos em estranda do curso de Planejamento e Gestão Ambiental pela Universidade Catól ica de Brasíl ia
Este resumo trata da ação do programa Iniciativas Comunitárias em saúde indígena, proposto pela FUNASA por
meio do Projeto VIGISUS II, o qual surgiu durante a III Conferência Nacional de Saúde Indígena/2001. Nesta
ocasião um número expressivo de etnias objetivava discutir e elaborar várias recomendações e sugestões para
melhorar as condições de saúde das populações indígenas brasileiras. Desse modo o Iniciativas Comunitárias
surgiu como um programa-piloto, de forma a permitir que as populações indígenas atuem como protagonistas
nas discussões sobre os meios necessários para melhorar a sua saúde, além de lhes garantir a elaboração de
projetos visando resolver os problemas identificados internamente. O processo de seleção deste programa almeja o pleno atendimento à comunidade indígena por meio de suas associações. No entanto, para garantir que os
projetos aprovados sejam realmente importantes para as comunidades indígenas, além de discutidos e elaborados pelos próprios índios, foi criado o Conselho Deliberativo Nacional – CDN. Este Conselho é o órgão
máximo do Iniciativas Comunitárias para aprovação das propostas e se assemelha aos Conselhos Distritais de
Saúde Indígena ou ao Fórum de Presidentes de Conselhos, pois é formado exclusivamente por representantes
indígenas, o que busca garantir o controle social indígena – neste caso, sobre as diretrizes gerais do Iniciativas
Comunitárias, seus objetivos, metas e procedimentos. Entre os anos de 2005 e 2007, o programa promoveu três
chamadas de projetos, cada qual com um teto máximo de R$ 36.000,00, totalizando 613 projetos recebidos e 171
aprovados. Atualmente, são realizadas visitas de monitoramento àqueles que se encontram em fase final de execução por meio das quais pretende-se identificar dificuldades enfrentadas durante a implementação, execução e
prestação de contas dos projetos aprovados, além de coletar diversas informações junto às associações indígenas
que possam contribuir para a reformulação da proposta inicial, agregando dados para uma provável segunda fase
do Iniciativas Comunitárias.
Palavras-chave: associações indígenas, projetos comunitários, saúde indígena.
164
GT 1 6 - P O V O S I N D Í G E N A S , P R OJ E TO S E D E S E N VO LV I M E N TO
O DESENVOLVIMENTO SOCIAL EM UM PROJETO DO BID ENTRE MULHERES INDÍGENAS
GUARANI DA ARGENTINA
Mauricio F. Boivin - Profesor Antropología Social. FFyL – UBA. [email protected]
Lic. Natalia Castelnuovo – Doctoranda FFyL – UBA. - [email protected]
A partir de la implementación de un programa de cooperación técnica internacional financiado por el Banco
Interamericano de Desarrollo es que nos proponemos describir y analizar el proceso socio político desencadenado
al interior de una comunidad guaraní del noroeste salteño argentino. El programa de desarrollo social supo
asentarse en fracturas pretéritas y a su vez generar nuevos conflictos, así como alianzas. El proyecto social fue
llevado adelante por distintos actores, funcionarios técnicos del programa, técnicos de organizaciones no
gubernamentales locales y un grupo de mujeres guaraníes. Es a través de la etnografía de este proceso que
intentaremos iluminar cómo la participación de estas mujeres en el proyecto adquiere una serie de valores y
significados asociados con el fortalecimiento comunitario, la capacitación en gestión y administración de
proyectos, el reconocimiento de las mujeres y de su valor social, al mismo tiempo que se constituyen y reconocen
como actores políticos y sujetos con derechos. Consideramos que el análisis de este proceso nos permitirá
reflexionar en torno a algunos tópicos metafóricos – principalmente participación y empoderamiento - que
sugieren los proyectos de desarrollo pautando las relaciones entre los organismos de financiamiento internacional, el Estado y las organizaciones indígenas.
O MERCADO DE PROJETOS: RELAÇÕES ENTRE AGÊNCIAS NO ÂMBITO DE UM PROGRAMA
DE GOVERNO ATUANDO NO FOMENTO À GESTÃO AMBIENTAL EM TERRAS INDÍGENAS
Fabio Vaz Ribeiro de Almeida - PDPI – MMA [email protected]
Na implementação de projetos apoiados pelo PDPI, um programa do Ministério do Meio Ambiente que conta
com cooperação técnica e financeira do governo alemão, podemos vislumbrar a relação entre diferentes agências, das quais podemos destacar Comunidades e Organizações Indígenas, ONGs indigenistas e FUNAI, por um
lado, e o próprio MMA e doadores alemães por outro. As estratégias de atuação desse primeiro conjunto de
agências no momento da execução de tais projetos, entretanto, é quase tão variada quanto as realidades nas quais
pretendem intervir. Acreditamos, no entanto, que a analise da gestão de alguns projetos apoiados pelo PDPI,
pode nos ajudar a refletir sobre essa complexa rede de relações, interesses, estratégias e articulações entre as
distintas “agências”, clientes do chamado “mercado de projetos”. Essa comunicação procurará realizar essa
reflexão, a partir da experiência de projetos apoiados pelo PDPI, que é apenas mais uma das agências que têm
atuação neste campo.
Luciane Ouriques Ferreira - Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social/UFSC; Gerente da
Área de Med icina Trad icional Indígena, Projeto Vigisus II/FUNASA. E-mail: [email protected];
[email protected]
O presente trabalho reflete sobre o processo de construção da Área de Medicina Tradiconal Indígena (MTI) que
integra o Subcomponente II – Ações Inovadoras em Saúde Indígena, Projeto Vigisus II/FUNASA. Esta iniciativa pode ser pensada como um desdobramento dos interesses desenvolvimentistas de organismos internacionais
e de Estados Nacionais que, desde a década de 70, buscam incentivar a exploração das medicinas tradicionais
indígenas como formas de cuidados de saúde alternativos. A Área de MTI, visando criar estratégias de articulação entre os sistemas médicos indígenas e o sistema oficial de saúde e contribuir para o reconhecimento e a
valorização dos saberes e práticas de cuidado com a saúde, desde 2004 promove projetos participativos de
pesquisa-ação, antropologicamente orientados, buscando subsidiar as políticas públicas de saúde indígena. Para
165
GRUPOS DE TRABALHOS
PROCESSOS DE INDIGENIZAÇÃO DOS PROJETOS DE PESQUISA-AÇÃO DA ÁREA DE
MEDICINA TRADICIONAL INDÍGENA, PROJETO VIGISUS II/FUNASA
tanto, foi instaurado um processo de negociação com representantes de povos indígenas e reunidos diferentes
atores para compor as equipes interétnicas de execução dos projetos. Estas equipes são compostas por consultores (antropólogos) da Área de MTI, pesquisadores vinculados a Universidades, ativistas de Organizações NãoGovernamentais e lideranças vinculadas a Organizações Indígenas. Considerando que, historicamente as relações de poder estabelecidas entre os povos indígenas e os agentes da sociedade nacional foram assimétricas, os
projetos de pesquisa-ação, por serem participativos, buscaram criar espaços dialógicos objetivando a redistribuição do poder e a tomada de decisões conjuntas feita pelos diferentes atores que compõe a comunidade interétnica
de comunicação responsável pela sua execução. Todavia, esses projetos vem sendo apropriados e indigenizados
por lideranças e comunidades indígenas segundo a lógica sociocultural local, de forma a responder aos interesses de developman (Sahlins, 1997) veiculados por esses agentes. Nesse contexto, as relações de poder estabelecidas
entre a sociedade nacional e os povos indígenas se mantém, porém agora de forma inversa.
PROJETOS E CONVÊNIOS EM TERRAS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA LEGAL: RESULTADOS
PRELIMINARES DE UMA EXPERIÊNCIA DE MONITORAMENTO.
Luís Roberto de Paula - Doutor em Antropologia Social – FFLCH/USP - ISA-Instituto Socioambiental
[email protected] / [email protected]
O objetivo central dessa proposta é o de apresentar uma análise preliminar (quantitativa e qualitativa) de cerca
de 1000 projetos e convênios celebrados entre associações indígenas (bem como de entidades de apoio) junto a
instituições governamentais e não-governamentais, tendo como foco particularmente àqueles incidentes em
comunidades indígenas localizadas na Amazônia Legal. Esses projetos e convênios se encontram cadastrados em
um banco de dados que é parte integrante de um sistema de monitoramento mais amplo das Áreas Protegidas
localizadas em território nacional - o Sistema de Gerenciamento de Áreas Protegidas do Instituto Socioambiental
(ISA-SP). A capacidade de governança das associações indígenas e das entidades parceiras, o perfil sócio-econômico das fontes financiadoras e as possibilidades (e dificuldades) presentes no processo de mapeamento e controle
social sobre os recursos financeiros investidos em comunidades indígenas, serão alguns dos temas presentes
nessa discussão.
Palavras-chaves: monitoramento, projetos, políticas públicas, controle social indígena
REVITALIZAÇÃO CULTURAL ENTRE OS ÍNDIOS DO OIAPOQUE (AP)
GRUPOS DE TRABALHOS
Marina Sallovitz Zacchi (USP/CEAD-UNB – [email protected])
Trata-se da experiência do Projeto de Revitalização Cultural desenvolvido pela APIO (Associação dos Povos
indígenas do Oiapoque), sob o patrocínio do PDPI/MMA, entre os Palikur, Karipuna, Galibi-Kali’na e GalibiMarworno. O projeto procurou estimular a transmissão de conhecimentos que podem vir a desaparecer, pondo
em evidência a importância de expressões culturais que, por razões diversas, vinham sendo pouco praticadas.
Houve na orientação das atividades o cuidado em assegurar aspectos da transmissão tradicional, tendo em vista
que o conhecimento não deve ser entendido como forma acabada e sim como base de criatividades culturalmente diferenciadas. A comunicação tem por intuito refletir sobre a possibilidade de reinserção no cotidiano indígena de práticas culturais tendentes ao desuso e as implicações de tal processo.
Palavras-chaves: Índios do Oiapoque; patrimônio cultural imaterial; dinâmicas de cultura.
166
GT 1 6 - P O V O S I N D Í G E N A S , P R OJ E TO S E D E S E N VO LV I M E N TO
UMA ANÁLISE ANTROPOLÓGICA SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DE RESERVA DE VAGAS
PARA ALUNOS INDÍGENAS NA UFSCAR
Talita Lazarin Dal’Bó - Universidade Federal de São Carlos
tal [email protected]
Este trabalho tratará do processo de construção e de discussão da proposta de reserva de vagas para alunos
indígenas na Universidade Federal de São Carlos, aprovada ano passado junto ao Programa de Ações Afirmativas. A implantação desses programas de ações afirmativas nas universidades remete a discussões mais abrangentes
acerca da diversidade sócio-econômica, racial e étnica presente no nosso país. Sobretudo ao tratar-se de alunos
indígenas, surge a necessidade do diálogo intercultural no meio acadêmico, pois as demandas indígenas apresentam interesses, expectativas e motivações diversas, as quais devem ser levadas em conta. Contudo, nota-se,
nas experiências em curso, uma marcante centralização do debate na parte referente às cotas para negros e para
alunos do ensino público, afastando-se da discussão os alunos indígenas. No entanto, este é um ponto de real
importância a ser debatido e analisado por estudos antropológicos.
Palavras-chave: ensino superior, ações afirmativas, interculturalidade.
“YORENKA ÃTAME (ESCOLA DA FLORESTA): OS (DES)CAMINHOS DA SUSTENTABILIDADE
ENTRE OS ASHANINKA DO RIO AMÔNIA (ALTO JURUÁ)”.
Permanentemente ameaçados pela exploração ilegal e predatória de madeira, os Ashaninka do rio Amônia
organizaram-se, progressivamente, para defender seu modo de vida e iniciaram uma longa luta para a
sustentabilidade de seu território. Ao longo dos últimos quinze anos, esse povo indígena desenvolveu vários
projetos e adquiriu um reconhecimento inédito. Fonte de inspiração para o governo do Acre que, desde 1998,
se autoproclamou “Governo da Floresta” e fez do desenvolvimento sustentável seu mote ideológico, os Ashaninka
tornaram-se um exemplo bem sucedido de sustentabilidade social e ambiental para a região amazônica.
Os projetos de sustentabilidade desenvolvidos pelos índios do rio Amônia culminaram com a concretização do
projeto “Escola Yor½ka Ãtame (Saber da Floresta)”. Sediada no município de Marechal Thaumaturgo, a escola
indígena será inaugurada no início de julho de 2007 e funcionará como um centro de formação, educação e
difusão de práticas de manejo sustentável dos recursos naturais da região do alto Juruá, uma das regiões mais
ricas em biodiversidade do planeta. Esse projeto é a continuação, fortalecimento e ampliação de uma longa luta
que levou os índios a estabelecer alianças com vários parceiros em torno da ideologia do “desenvolvimento
sustentável”. A despeito de projetarem os Ashaninka na cena política do indigenismo amazônico e de se traduzirem pela melhoria das condições de vida desse povo indígena, as parcerias em torno dos projetos de “desenvolvimento sustentável” também revelam a assimetria das relações interétnicas e as ambigüidades dos discursos
ambientalistas quando tomam os povos indígenas como objetos de suas políticas. Baseada em uma etnografia com
os Ashaninka do rio Amônia, a comunicação terá como fio condutor o projeto “Escola Yor½ka Ãtame (Saber da
Floresta)”, símbolo da longa luta desse povo para a sustentabilidade de seu território, e procurará refletir sobre as
relações entre os povos indígenas e alguns de seus parceiros no contexto do novo paradigma do desenvolvimento
amazônico.
167
GRUPOS DE TRABALHOS
José Pimenta
GT 17
ETNIA, RAÇA E REGIÃO: NOVAS ABORDAGENS DE PROCESSOS IDENTITÁRIOS,
POLÍTICOS E CULTURAIS CONTEMPORÂNEOS
A IDENTIDADE QUILOMBOLA POR ELES MESMOS – MAPEANDO PROCESSOS DE
ETNOGENESE, ENTRE COMUNIDADES NEGRAS
Dr. André Augusto Brandão - Professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social – UFF. Mestre em
Sociologia e Antropologia. Doutor em Ciências Sociais. [email protected]
Salete Da Dalt - Mestranda em Políticas Sociais - UFF
Mani Tebet A. Marins - Mestranda em Sociologia e Antropologia – UFRJ
GRUPOS DE TRABALHOS
No Brasil, as discussões em torno dos critérios para reconhecimento das comunidades quilombolas e da garantia
de titulação de seus territórios já atravessa duas décadas. Neste período houve uma ressemantização e um alargamento da “noção” de comunidade quilombola, promovido pelos militantes do movimento negro, pelo próprio
movimento dos quilombolas, pelos antropólogos, mas também por atores públicos situados dentro da máquina
do estado. As mudanças na noção que foram incorporadas pelo estado de forma mais definitiva a partir de 2003,
possibilitaram a legitimação de uma demanda reprimida por reconhecimento e titulação, bem como o alargamento da ação do movimento quilombola. O produto mais direto foi a expansão de processos de etnogenese
nem sempre consensuais entre os próprios grupos. Mais especificamente vem ocorrendo situações de disputa
dentro de muitas comunidades indefinidas ainda entre o ser ou não ser quilombola. Este trabalho consolida os
resultados de uma pesquisa realizada em 2006 em 20 comunidades quilombolas dos seguintes estados: Ceará,
Piauí, Maranhão R. G. do Sul, M. Grosso, M. G. do Sul, Goiás, E. Santo e M. Gerais. A questão da identidade
e do auto-reconhecimento coletivo foi investigada através das observações de campo e de um conjunto de
entrevistas em profundidade realizadas com lideranças comunitárias locais e com famílias não envolvidas no
movimento quilombola. Foi possível concluir que estas disputas estão marcadas por um lado, pela questão da
formação da identidade num contexto no qual o pano de fundo é constituído por um discurso ainda hegemônico
no senso comum nacional que tende a diluir a população negra em um continuo de cor ou raça. E por outro
lado, pela própria dinâmica sócio-histórica das comunidades que fundaram padrões e possibilidades também
diferentes de sociabilidade interna e de relação com a sociedade envolvente.
ATINGIDOS E QUILOMBOLAS: A IDENTIDADE COMO INSTRUMENTO DE LUTA PARA A
MANUTENÇÃO DE TERRITÓRIOS.
Benedito Souza Filho (UFMA) - [email protected]
A implantação do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, há mais de 20 anos, provocou graves
alterações na organização social e territorial do município. A transferência compulsória de famílias de diferentes povoados próximos à faixa litorânea para as chamadas agrovilas, contribuiu para a precarização de suas
condições de vida e trabalho. Tal quadro de dificuldades possibilitou a emergência da identidade atingidos e seu
acionamento na interlocução com o Estado visando o atendimento de demandas das famílias afetadas. Em
função da ameaça de instalação de novos sítios de lançamento de artefatos espaciais mediante aluguel, pelo
Estado, de áreas estratégicas a outros países, uma outra identidade, a de quilombola, passa a ser acionada como
instrumento de luta pela manutenção e regularização de territórios historicamente ocupados pelas famílias
168
GT 17 - ETNIA, RAÇA E REGIÃO: NOVAS ABORDAGENS DE PROCESSOS IDENTITÁRIOS, POLÍTICOS E CULTURAIS CONTEMPORÂNEOS
ameaçadas. Tomando tal quadro como referência, o trabalho procura discutir a interface entre identidade,
território e estruturas de poder em um contexto de disputa entre os remanescentes de quilombo de Alcântara e
diferentes setores do Estado interessados em garantir reservas de território para fins comerciais.
Palavras-chave: identidade, quilombola, território
BLOCOS AFRO EM ILHÉUS/BA: SINGULARIZAÇÃO, CULTURA E RACISMO
Ana Claudia Cruz da Silva (UESC - [email protected])
Os blocos afro – grupos carnavalescos de ‘preservação’ e ‘divulgação’ da cultura negra surgidos em meados da
década de 1970 em Salvador – constituem territórios negros não porque são espaços onde vivem pessoas negras,
mas porque aí é produzido um modo de existência que é singular em relação ao dominante. É na produção da
singularidade que se constitui o movimento, entendido como vontade de sair de um determinado lugar em
direção a outro vislumbrado como melhor. A esse movimento também se pode dar o nome de resistência. No
entanto, enquanto grupo racialmente organizado, o bloco afro trava relações racialmente orientadas com outros
setores sociais, que ora podem significar conquistas para os grupos, ora podem revelar-se como racismo.
Fruto de uma longa pesquisa etnográfica junto aos blocos afro da cidade de Ilhéus, Bahia, este trabalho pretende
contribuir com o debate em torno de conceitos como identidade cultural, etnicidade, movimentos negros e
racismo a partir da reflexão sobre as tensões experimentadas pelos grupos observados em suas relações com
alguns desses outros setores. A pesquisa mostra como o poder público municipal e os agentes envolvidos com o
turismo, entre outros, investem contra o movimento dos blocos afro a partir mesmo do reconhecimento de seu
caráter étnico-cultural. Os blocos afro se vêem, assim, diante de escolhas só aparentemente não opostas: investir
no processo de singularização ou apostar no tipo de inclusão social oferecido, o qual pode, a partir das propostas
e condições colocadas, ser concebido como racismo, já que visa impedir o movimento, cuidando, assim, de manter
a desigualdade estabelecida.
Palavras-chave: movimento negro, cultura, racismo.
CLAREANDO AS FLECHA: O PROCESSO DE EMERGÊNCIA DOS PITAGUARY E O RITUAL
DO TORÉ
Eloi dos Santos Magalhães, [email protected], UFC
GRUPOS DE TRABALHOS
Nesta comunicação buscarei mostrar o processo de articulação política engendrado na construção da etnicidade
Pitaguary e a resultante mobilização cultural de sinais e emblemas de diferenciação étnica evidenciados no toré.
A idéia é refletir sobre a experiência histórica dos Pitaguary que culminou na organização de seu toré. Assim, ao
mesmo tempo em que produziu o toré como “sua tradição”, os Pitaguary “deram” mais força na afirmação das
tradições étnicas dos povos indígenas do Ceará, ampliando a distributividade de alguma modalidade particular
do ritual no Nordeste.
Palavras chave: etnicidade, cultura, ritual.
169
COMO A HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA ENCONTRAM-SE
RETRATADAS NO LIVRO DIDÁTICO VISANDO PROMOVER A DIVERSIDADE ÉTNICORACIAL?
Inácia Maria Rodrigues do Nascimento, Universidade Federal de Sergipe, [email protected];
Jorge Alberto Vieira Tavares, Universidade Tiradentes, [email protected].
O artigo apresentado discute a inclusão do estudo da História e Cultura Africana e Afro-brasileira nos currículos
da Educação Básica, tendo em vista o objetivo de resgate da contribuição do povo negro nas áreas sociais,
econômicas e políticas ao longo da história do Brasil, conforme o espírito do artigo 26 da LDB, em especial nas
áreas de Educação Artística, Literatura e História. São problematizados aspectos tais como a qualificação e
formação de professores diante da mudança que se pretende já que a citada regulamentação não trata de reformulação
nos programas das universidades dos cursos de graduação, em especial nos de licenciaturas, para formarem
professores aptos para ministrarem os novos conteúdos e contornarem as questões do tipo de abordagem e
apresentação dos mesmos, sobretudo em relação ao ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira, deixando
está responsabilidade exclusivamente para os professores. Por outro lado, o presente artigo trata ainda da insegurança e do receio dos docentes para tratar sobre a temática racial, pois muitas vezes independente do fato do
professor ser branco, negro ou indígena, ele desconhece o debate sobre temas como etnia e identidade, não
tendo, em muitos casos, refletido nem mesmo quanto a sua própria posição diante de tais questões. Deste modo,
o artigo interroga como um quadro docente assim caracterizado poderá promover a diversidade étnico-racial.
Finalmente, ressalta-se a importância do livro didático, que serve de suporte para o professor, no sentido de
trazer a discussão das novas temáticas de modo crítico e comprometido, ajudando a acabar com as falácias
raciais, mostrando que existem diferenças étnicas e de identidades culturais, mas que todos fazemos parte da
única raça existente que é a raça humana.
Palavras chave: Etnia, identidade cultural e livro didático.
CONFLITO TERRITORIAL E EMERGÊNCIA ÉTNICA NA COMUNIDADE DE PONTINHA
GRUPOS DE TRABALHOS
Ricardo Álvares (UFMG – [email protected])
A comunidade de Pontinha, em MG, vem sendo espoliada de seu território ao longo de décadas. Grande parte
deste território tradicional encontra-se, hoje, em posse de terceiros, dentre os quais uma multinacional francogermânica que o utiliza para a monocultura de eucalipto. Práticas ilegais e ações judiciais em comarcas da região
vêm sendo usadas, desde a primeira metade do século XX, por proprietários confrontantes para se apossarem das
faixas de “larga”, área de uso coletivo dos comunitários. No bojo da situação conflituosa vivenciada, um fazendeiro vizinho divulgou que os moradores de Pontinha eram descendentes de Chico Rei, lendário escravo africano que teria vivido em Ouro Preto, onde teria feito fortuna. Apropriando-se desta “revelação” e se mobilizando
frente às pressões externas sofridas, após terem acesso a informações sobre a possibilidade de regularização
fundiária de seu território, a comunidade de Pontinha passa a se auto-identificar como quilombo.
Palavras-chaves: quilombo, etnicidade, territorialidade.
CONFLITOS E IDENTIDADES DO PASSADO E DO PRESENTE: POLÍTICA E TRADIÇÃO EM
UM QUILOMBO DA AMAZÔNIA
Carmela Zigoni. Universidade de Brasíl ia, UnB..Email: [email protected].
Este artigo tem por objetivo demonstrar, a partir da focalização nativa de dois eventos vividos – a saber, o
conflito com a empresa Reasa, no passado, e o conflito presente com a Companhia Vale do Rio Doce –, como
os quilombolas de Jambu-açú, no Pará, elaboram sua história política e a atualizam, conferindo dinamicidade à
sua identidade cultural. O conflito de hoje com a CVRD – atual extratora de bauxita e caulim na área – será o
ponto de partida para um outro conflito ocorrido na década de 80, ocasião em que o grupo também reagiu para
170
GT 17 - ETNIA, RAÇA E REGIÃO: NOVAS ABORDAGENS DE PROCESSOS IDENTITÁRIOS, POLÍTICOS E CULTURAIS CONTEMPORÂNEOS
defender os limites de seu território. Por meio da memória e de categorias nativas, capturadas em entrevistas
realizadas junto aos mais velhos e às lideranças locais, será analisado como as identidades jurídicas advindas do
Estado – trabalhador rural e quilombola – são lidas e acionadas como recurso retórico e político para as
traduções necessárias às negociações entre os quilombolas, de um lado, e grupos se lhes opõem, de outro. O
contexto empírico encontrado em campo se localiza teoricamente nos estudos sobre quilombolas, e também
acerca de conflitos ambientais e fundiários envolvendo “populações tradicionais”. Assim, será problematizado o
contexto de mercantilização e fetichização da etnicidade por meio de artifícios essencialistas representados pelas
categorias tradição e isolamento, em oposição às explicações que atribuem aos usos de quilombo – seja como
conceito em uma perspectiva teórica, seja como categoria jurídica quando se trata de reivindicação de direitos –
, como dinâmicos e legítimos. Neste sentido, a ameaça recorrente e a possibilidade de atualizar medos e expectativas pelo componente da memória evocado nos relatos, possibilitam inteligibilidade em relação a ambos os
eventos históricos: “lutar” é atributo do grupo, e contribui para sua reprodução social.
Palavras-chave: quilombo, identidade, conflito.
DE “GUETO DE NEGROS” A “QUILOMBOS”: FORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO
IDENTITÁRIAS EM COMUNIDADES RURAIS NEGRAS DA CHAPADA DIAMANTINA
Queila de Brito Oliveira (Universidade Federal da Bahia/UFBA – queila_ol [email protected])
DO PATRONÍMIO A ETNIA, OU DE COMO SE REINVENTA UM POVO
Olendina de C. Cavalcante - PPGAS, Unicamp. E-mail: olend [email protected].
O trabalho discute a apropriação da noção de etnia num caso recente de reivindicação étnica por parte de uma
família extensa residente em uma aldeia mista formada pelos índios Makuxi e Wapixana, região de campos do
estado de Roraima. Ao descobrir que o “sobrenome” que usam (Sapará) é o nome de um grupo indígena
(etnônimo), essas pessoas passaram a reivindicar uma identidade diferenciada daquela que adotavam. A busca de
uma relação de continuidade com os antigos Sapará que habitavam a região, levou ao acionamento da memória
do grupo como um importante recurso na mobilização da nova identidade. O percurso dessa família será
apresentado na tentativa de estabelecer conexões entre memória e história.
Palavras-chave: Etnia, Historia, Memória
171
GRUPOS DE TRABALHOS
Esta comunicação trata do processo de formação identitária de três comunidades rurais negras, localizadas no
município baiano de Rio de Contas, Chapada Diamantina. Barra, Bananal e Riacho das Pedras tiveram, no ano
de 1999, suas terras tituladas, pelo INCRA, e sua identidade quilombola reconhecida, pela Fundação Cultural
Palmares. A partir de então, diversas mudanças vêm ocorrendo no cotidiano das três localidades, a saber: visibilidade e valorização, aos níveis regional e nacional, maior atenção por parte do Estado, já que, agora, as comunidades são alvo de políticas públicas que as impactam, econômica e culturalmente, e, por fim, a emergência de
uma identidade quilombola, ainda em formação. No geral, observa-se uma percepção positiva, que antes não
havia, da identidade quilombola. O sentido de quilombo afasta-se, pois, crescentemente, da degradante experiência da escravidão e passa a significar comunidade negra, organizada, que apresenta como características principais fatores como resistência, luta, “comunitarismo”, mobilização e a presença de importantes lideranças, a
exemplo de Carmo Joaquim da Silva, entre outros. É importante destacar que a constituição dessa identidade
está ligada não somente a fatores internos que diferenciam Barra, Bananal e Riacho das Pedras das outras
localidades do entorno, mas também à presença de agentes externos, como a Fundação Pró-Memória, Fundação
Palmares, a Igreja Católica, a Organização Não-Governamental NigerOkan, e, principalmente, o DNOCS –
Departamento Nacional de Obras contra Secas, que, na década de 70, implantou a Barragem de Livramento de
Brumado, que inundou, parcialmente, as terras agricultáveis de Barra e Bananal e a totalidade das terras de
Riacho das Pedras, provocando a transferência dos seus moradores para a sede municipal de Rio de Contas. Este
fato foi crucial para a mobilização das comunidades negras em torno das questões territorial e identitária.
Palavras-chaves: quilombos, etnicidade, etnogênese.
ETNICIDADES E O REGIONALISMO AMAZÔNICO
José Maria da Silva Professor da Universidade Federal do Amapá. [email protected]
Este trabalho pretende examinar a emergência de categorias étnicas na Amazônia brasileira contemporânea e
como esse processo relaciona-se com a formação de uma singularidade da região nos contextos nacional e
internacional. A premissa é de que o surgimento de identidades étnicas, assim como o fortalecimento de antigas,
sob a etiqueta de “populações tradicionais”, está diretamente relacionado com o atual papel da região no mundo
globalizado, enquanto fronteira ambiental, bem como com a busca de construção de uma identidade regional
amazônica. O estudo pretende focalizar as políticas de desenvolvimento, incluindo o meio ambiente e o turismo,
bem como eventos culturais nos quais se situam formas atuais de articulação de etnicidade e de identidade
regional.
Palavras-chave: etnicidade, regionalismo, Amazônia.
ETNOGÊNESES E ARGUMENTOS RACIAIS NO MOVIMENTO INDÍGENA DA REGIÃO DE
CRATEÚS-CE
Estêvão Martins Palitot (PPGS - Universidade Federal da Paraíba/Universidade Federal de Campina Grande –
epal [email protected])
Desde os anos 1980, observamos o crescimento da valorização das identidades étnicas e culturais minoritárias,
com a consolidação de inúmeros movimentos sociais baseados nestas idéias, o que contraria os princípios de
unidade étnica e cultural sobre os quais assentam-se os estados-nação desde o século XIX. Neste contexto,
merecem destaque as diversas situações indígenas no nordeste brasileiro que sustentam lutas por reconhecimento territorial e político, negando os pressupostos de homogeneidade étnica do Brasil. Na região polarizada pela
cidade de Crateús, no sertão do Ceará, inúmeros grupos reivindicam o atendimento a demandas territoriais e de
assistência, a partir da assunção de determinadas identidades indígenas. Neste trabalho, buscamos situar e
analisar a utilização de argumentos raciais nos discursos dos atores indígenas e não-indígenas envolvidos no
processo de emergência étnica destes povos.
Palavras-chaves: etnogêneses, argumentos raciais, movimento indígena
IDENTIDADE INDÍGENA E QUILOMBOLA NO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO
GRUPOS DE TRABALHOS
Caroline Leal (Centro de Cultura Luiz Freire – [email protected]); Carla Siqueira Campos
([email protected]); Cristiane Damasceno ([email protected]); Joab Ferreira
([email protected]); Sumaia Vieira ([email protected]).
Este artigo pretende provocar uma discussão acerca dos impactos do Projeto de Transposição das Águas do Rio São
Francisco nos processos de auto-atribuição e territorialidade de comunidades que articulam as categorias identitárias
indígena e quilombola, focando a intervenção do Ministério da Integração e da gestão municipal nessas comunidades. Trata-se de um estudo de caso das comunidades localizadas nos municípios de Cabrobó, Orocó e Santa
Maria da Boa Vista, no projeto de mapeamento das Comunidades Quilombolas do Sertão de Pernambuco, coordenado pelo Centro de Cultura Luiz Freire em parceria com a Comissão Estadual de Comunidades Quilombolas de
Pernambuco e a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do governo estadual. Os dados da
pesquisa de campo, têm permitido uma discussão acerca da complexidade que há entre a leitura que se faz das
categorias de quilombo e indígena (enquanto categoria jurídico-política) e a realidade no sertão do São Francisco,
cujo processo histórico aciona na memória coletiva desses grupos uma relação de pertencimento a uma trajetória
de resistência negra e também indígena. Essa realidade tem sido manipulada pelas agencias governamentais,
especificamente pelo Ministério da Integração e Gestão Municipal, segundo interesses claros na viabilidade das
obras do projeto de Transposição e da construção das barragens de Pedra Branca e Riacho Seco. Essas comunidades
têm sido interpeladas a se definir como quilombo, sob as promessas de melhorias de infra-estrutura e políticas
assistenciais, o que tem gerado conflitos internos e em alguns desses casos na relação com o povo indígena Truká.
172
GT 17 - ETNIA, RAÇA E REGIÃO: NOVAS ABORDAGENS DE PROCESSOS IDENTITÁRIOS, POLÍTICOS E CULTURAIS CONTEMPORÂNEOS
Contudo, as dinâmicas internas de cada comunidade têm revelado estratégias distintas para assegurar direitos
coletivos, especialmente o direito ao território tradicional, que coloca em debate a lógica dos operadores do direito
e da gestão governamental na formulação e garantia de políticas públicas específicas.
Palavras-chaves: indígena, quilombola, transposição águas Rio São Francisco.
MEDIAÇÕES QUESTÕES DE TERRA E TRANSFORMAÇÕES RECENTES EM COQUEIROS - RN
Stéphanie Campos Paiva Moreira (UFRN – [email protected])
A questão quilombola no Rio Grande do Norte cresce e se complexifica de maneira notável também como um
reflexo do contexto de mobilização nacional do movimento quilombola. Comunica-se com um contexto mais
geral de busca de terras através de outros movimentos como o MST e grupos de sindicalistas. Aponta–se, nesse
trabalho, para uma aproximação entre esses eixos de mobilização e sobre as identidades fluidas que são construídas
por sujeitos sociais do mundo rural e que, em determinadas situações oscila entre agricultores familiares, de forma
mais ampla, e quilombolas, especificamente. O lócus de observação mais direto foi uma comunidade remanescente de
quilombo chamada Coqueiros que se encontra desde 2001 em contato crescente com o contexto nacional e estadual
de políticas públicas específicas para tais comunidades. Possui, além disso, um histórico de trabalho agrícola que
envolve tanto de relações de patronagem como a presença do movimento sindical de trabalhadores rurais. A partir
dessa realidade puderam-se observar um pouco da história e as transformações recentes no local influenciadas
tanto por questões políticas e sociais de nível nacional, estadual e municipal como pela configuração das terras
da região, com a intensa participação de diferentes intermediários e mediadores.
Palavras-chaves: mediação, políticas públicas, comunidade remanescente de quilombo
“NEGROS” MISTURADOS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE “IDENTIDADES NEGRAS” EM
MOSSORÓ-RN
Com aproximadamente 213 000 habilitantes, Mossoró é a segunda cidade mais desenvolvida do estado do Rio
Grande do Norte. A cidade é proclamada como a terra da liberdade. Para tanto, existem quatro momentos da sua
história relacionados com a defesa da liberdade que são apontados como legitimadores de tal proclamação. Tais
acontecimentos são o primeiro voto feminino do Brasil, a resistência contra o bando de Lampião, o Motim das
Mulheres e a libertação dos escravos em 1883, cincos anos antes da sanção da Lei Áurea. Esses acontecimentos são
comemorados anualmente no mês de setembro com um grande evento teatral denominado de o Auto da Liberdade.
Dentro deste contexto de exaltação à liberdade, existe um movimento negro por nome de Negro e Lindo. Este
trabalho discute a construção de “identidades negras” entre os militantes negros de Mossoró e entre moradores do
bairro Santo Antônio. Com tal abordagem, pretendemos refletir sobre as possíveis diferenças ou semelhanças na
forma como os militantes e os moradores do referido bairro se auto-afirmam como “negros” ou não. Ademais,
Desenvolvo uma discussão na qual abordo as questões da mistura racial e cultural como elementos intrínseco à
lógica da elaboração de “identidades negras” na sociedade brasileira. Tal abordagem vai de encontro às perspectivas teóricas que percebem a mistura racial como um arquiinimigo da formação de “identidades negras” no
Brasil e como um dos principais obstáculos a consolidação de uma polarização do conflito racial
Palavras-Chave: Racismo, Identidade negra, Militância negra.
NOS MEANDROS DA AFIRMAÇÃO DA DIFERENÇA NA INGLATERRA MULTI-RACIAL
(Dra Liana Lewis – Bolsista Prodoc do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE). l [email protected]
Na contemporaneidade a Inglaterra tem, cada vez mais, fechado suas fronteiras para imigrantes, especialmente
integrantes de ex-colônias européias. No caso dos refugiados, apesar de haver uma legislação internacional que
garante a proteção no que diz respeito aos países receptores, os mesmos vêm sofrendo, continuamente, medidas
173
GRUPOS DE TRABALHOS
Francisco Carlos de Lucena - Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. E-mail: [email protected]
governamentais que diminuem a possibilidade de uma vida digna, bem como a permanência na Inglaterra.
Concomitantemente, o discurso político, ao mesmo tempo em que afirma ser a Inglaterra uma nação multiracial, promove uma diferenciação explícita entre os refugiados e os demais membros da nação. Esta diferenciação, que até a década de 1980 era estabelecida entre ingleses brancos e membros de ex-colônias inglesas (afrocaribenhos e asiáticos), vem, na atualidade, se multiplicando e complexificando através de uma contestação
cotidiana pela identidade britânica, uma identidade que tem sido, desde sua origem, constituída de forma racial.
Este artigo tem, como proposta, analisar, através de um trabalho etnográfico, a afirmação e disputa racial entre
algumas crianças refugiadas e ingleses de procedência branca (adultos) e asiática (crianças) no universo de uma
escola primária. Para tanto, lançarei mão de material proveniente de observação participante, bem como de
entrevistas com as crianças e professores.
Palavras-chaves: Raça, refugiados, identidade nacional, Inglaterra
“NOTTING HILL: CONSIDERAÇÕES ETNOGRÁFICAS SOBRE UM CARNAVAL ANGLOCARIBENHO”
Iara Gomes de Bulhões – Universidade Federal Fluminense - Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA/
UFF)email (PPGA/UFF) - [email protected]. [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Este artigo apresenta o carnaval de Notting Hill, realizado na Inglaterra, na cosmopolita Londres. Visto como
um ritual que acontece no âmbito de uma sociedade urbano-industrial complexa, marcada pela diversidade e
constituída por diferentes grupos étnicos, a intenção é colocá-lo sob descrição e analisar, do ponto de vista
etnográfico, alguns de seus significados. O carnaval londrino estabeleceu-se a partir de um social drama e, como
tal, traz em seu bojo a co-presença de diversos grupos étnicos e pessoas de distintas nacionalidades; portanto,
uma situação e conjuntura privilegiadas para se observar e analisar processos sociais onde se encontram presentes a (re)construção, a manutenção, a manipulação (por determinados grupos sociais, de aspectos distintivos) e a
afirmação das chamadas ‘identidades étnicas’, enfatizadas nesse ritual através do recurso aos sinais diacríticos.
Aspectos distintivos estes que têm como referência carnavais tomados como “originais”, referenciados às nações
e lugares dos quais as pessoas que dele participam são oriundas. A presença expressiva de “grupos caribenhos”,
que desfilam representando “identidades culturais” daquelas ilhas, fazem dele uma espécie sui generis de “carnaval étnico”. Atualmente também se fazem presentes na parade londrina “escolas de samba” que representam a
“cultura nacional” brasileira. O carnaval de Notting Hill é marcado pelas oposições rituais, com seus verdadeiros desafios e concorridas apresentações, concursos musicais, concursos de fantasias... tudo empreendido segundo as “tradições” do carnaval de Trinidad. E tudo isso numa situação tanto de festejo – pois, exalta um tipo de
presença coletiva encarnando o ideal de liberdade e preponderância caribenha, quanto de desafio – pois, além das
competições de caráter agônico, estagna, além do mais, o fluxo ordinário de pessoas, veículos, informações, mercado e o substitui por uma outra ordem: a desejada ordem da “não ordem”, por assim dizer; a ordem do inverso e do
anverso, elevando ao centro e ao cume categorias consideradas socialmente suburbanas e subalternas.
Palavras-Chave: ritual, identidade, étnico.
OS ELEOTÉRIOS DO CATU: EMERGÊNCIA ÉTNICA E SEMÂNTICA
Claudia Maria Moreira da Silva
A região sul do Rio Grande do Norte tem sido historicamente reconhecida como áreas de antigos aldeamentos
indígenas. Habitantes das margens do rio Catu, divisa entre os municípios de Canguaretama e Goianinha ao sul
do estado, os Eleotérios no lumiar do século XXI passaram a ser vistos e a se reconhecer como “remanescentes
indígenas” do Rio Grande do Norte. Suas mobilizações étnicas ao se tornarem públicas colocaram no campo
intelectual e político uma antiga questão a ser refletida: as asseverações acerca do “desaparecimento” indígena
no estado. Mas, não somente essa. Acessados por um indigenismo pára-oficial, os Eleotérios, foram incitados a
estabelecer relações políticas com os índios Potiguara da Baía da Traição/Pb, Movimento Indígena e também
estimulados a produzir e (re)produzir formas de diferenciação social. Nessa situação histórica, os Eleotérios
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GT 17 - ETNIA, RAÇA E REGIÃO: NOVAS ABORDAGENS DE PROCESSOS IDENTITÁRIOS, POLÍTICOS E CULTURAIS CONTEMPORÂNEOS
demonstraram de forma recorrente, o uso de uma “economia discursiva” através da qual, se posicionavam frente
à mobilização étnica. Entender essas formas específicas de lidar com a construção da diferença, ressaltando o
aspecto semântico constitui o objetivo deste trabalho, principalmente, em virtude da importância que é dada ao
campo discursivo pelos atores sociais.
Palavras-chave: etnicidade, indigenismo, semântica.
RACISMO DE ESTADO – POLÍTICAS PÚBLICAS E CONFINAMENTO DE CAMPONESES
Maristela de Paula Andrade - Antropóloga, professora associada do DESOC e do PPGCS UFMA, coordenadora do
GERUR – Grupo de Estudos Rurais e Urbanos.
Trata-se dos dilemas que envolvem a questão da regularização fundiária e das políticas públicas voltadas aos
territórios ocupados pelos atuais quilombolas e por outros grupos que não se encaixam, necessariamente, nessa
“rubrica”. Com base em estudos de caso, referidos a distintos contextos históricos, tenta-se extrair traços recorrentes, característicos da interferência oficial nessas áreas. A partir da análise de situações consideradas
emblemáticas levanta-se a tese de que os procedimentos adotados pelos aparelhos de estado revelam profundo
racismo quando se trata dos camponeses em geral.
UM PASSADO, UMA TERRA, UM QUILOMBO? MEMÓRIA, IDENTIDADE E
TERRITORIALIDADE NUMA COMUNIDADE NEGRA RURAL.
Dentro do atual contexto em que o reconhecimento da identidade quilombola apresenta um expressivo aumento, o presente trabalho pretende apresentar um relato de uma etnografia realizada numa comunidade negra
rural, localizada na região oeste do estado do Rio Grande do Norte. Tal comunidade apesar de não se considerar
quilombola apresenta como característica central o tripé história, identidade e territorialidade, enquanto fatores
de seu arcabouço étnico-identitário. A pesquisa teve como procedimento principal a observação participante
baseando-se em questionários semi-estruturados, e em bibliografias que abordassem a temática quilombola e de
comunidades rurais. Em CASCUDO (1984) e em CAVGNAG (2003) podemos ter algumas idéias a respeito da
história do negro no Rio Grande do Norte. Com relação à territorialidade do grupo utilizaremos P. OLIVEIRA
(1999) e E.WOORTMANN (1995). Ao pensarmos sua identidade apreendemos as concepções de MOURA
(1989) E OD‘WYER (2002). Uma memória coletiva que relata a existência de negros enquanto primeiros habitantes da região e por outro uma História demonstrando a invisibilidade destes no estado do Rio Grande do
Norte; uma terra pensada sob a ótica comunal das famílias que habitam os sítios desta comunidade e que tomam
as sua terra enquanto patrimônios pertencentes de seus antepassados, além de uma identidade marcada pelas
grandes manifestações culturais e fortes relações de parentesco, são características sine qua non que apreendemos
enquanto pontos condutores desta etnografia. Ao verificarmos a formação identitária do grupo percebe-se que os
conceitos de história, identidade e território são inter-relacionais e interdependentes, , na medida em que um
conceito serve para legitimar os outros e vice-versa, sendo de suma relevância para análise etnográfica do grupo
tornando-se assim conceitos indissociáveis.
Palavras-chave: História, Identidade, Territorialidade.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Francisco Marcelo Gomes Ferreira Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. E-mails: [email protected]
GT 18
NOVAS CARTOGRAFIAS DA ANTROPOLOGIA: MEMÓRIAS E NARRATIVAS
A EDUCAÇÃO CORPORAL EM DUAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS – CULTURA
CORPORAL E MANIFESTAÇÕES CÊNICAS.
Paulina Maria Caon Mestranda - Escola de Comunicações e Artes da USP
Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Pupo
GRUPOS DE TRABALHOS
A pesquisadora, com mestrado em andamento financiado pela FAPESP, observa os trânsitos de padrões de
movimento corporal entre gerações, no contexto de duas comunidades quilombolas do Estado de São Paulo.
Nessa investigação, interessa refletir sobre a centralidade do corpo na educação corporal dos indivíduos e na
formação de uma cultura corporal coletiva nas comunidades estudadas, especialmente na presença de manifestações cênicas tradicionais. Alguns dos questionamentos que pautam essa reflexão são: Esse processo de trânsito
de padrões corporais subsidia os modos de ser e estar dos indivíduos da comunidade? Subsidia os modos de
apropriação do mundo pelos indivíduos e pela comunidade? A presença de manifestações cênicas enriquece a
capacidade de leitura e apropriação do mundo pela comunidade? A observação, coleta de depoimentos e convivência com as comunidades na pesquisa em campo, articuladas à bibliografia, tecem os fios para o mergulho
mais profundo nesses questionamentos. Até o momento, desse mergulho reflexivo surge a hipótese de que a
experiência corporal, individual e coletiva, seja um caminho para repensar os conceitos de identidade, memória
e tradição, por vezes restritos à análise de narrativas orais ou de aspectos exteriores resultantes das manifestações
cênicas presentes em tais contextos. Ao centrar na experiência corporal o nascimento do patrimônio cultural de
uma comunidade também se amplia a compreensão, resgatando W. Benjamim, sobre a capacidade de atribuir
sentido às experiências e situar-se como sujeito histórico para o âmbito da corporalidade.
Sintetizando, o corpo, como categoria do pensamento e como materialidade na experiência, é gerador de saberes: na elaboração de metáforas, na percepção e ressignificação de si próprio, do mundo ou de sua relação com
o outro. Por fim, nessa pesquisa, se entrelaçam diferentes áreas conectadas: o corpo como constante movimento
de interação com o ambiente, a memória e o processo de educação corporal, como experiência de troca entre as
gerações, e a tessitura do patrimônio cultural comunitário nessas interações.
A ETNOESTÉTICA NA TRADIÇÃO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA.
Marina Locchi. Mestranda do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP- Campus de Maríl ia-SP
mari_ [email protected]
A presente pesquisa visa construir uma etnografia do pensamento etnológico brasileiro, especialmente aquele
que trata da etnoestética, desenvolvido no período pós-setenta. A análise será realizada a partir do produto dos
trabalhos sobre o tema referido, partindo da teoria de Geertz, considerando-os, deste modo, como artefatos
culturais, ou seja, procurarei compreender como os conceitos foram apropriados, apreendidos e transformados
no contexto nacional. Para isso me concentrarei nas pesquisas produzidas no Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social da Universidade de São Paulo, desenvolvidas pela antropóloga Lux Boelitz Vidal e seus
alunos. Mapearei, então, os espaços acadêmicos ocupados por esses alunos, identificando suas dissertações, teses
e publicações subseqüentes, como, também, seus eventuais orientandos nessa temática específica.
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GT 1 8 - N O VA S C A R TO G R A F I A S D A A N T R O P O LO G I A :
M E M Ó R I A S E N A R R AT I VA S
A NARRATIVA DE JOÃO GUIMARÃES ROSA: TRANSCULTURAÇÃO E HIBRIDISMO NO
SERTÃO
Vigna Nunes Lima (UEFS - [email protected])
Este artigo tem por objetivo analisar a narrativa de João Guimarães Rosa à luz dos Estudos Culturais, problematizando
o conceito de transculturação narrativa de Ángel Rama para demonstrar como Rosa contribui para dar visibilidade
a heterogeneidade e a hibridez sertaneja. Nesta análise, o conceito de transculturação narrativa é o viés para pensar
o hibridismo na narrativa de Rosa a partir de três níveis: a língua, a estrutura narrativa e a cosmovisão. A idéia de
transculturação vem complementada com o conceito de hibridismo de Canclini, com os conceitos de residual e
emergente de Raymond Williams e com a discussão de heterogeneidade de Cornejo Polar. A partir desta análise,
conclui-se que Rosa cria uma língua literária como recriação da oralidade sertaneja, estrutura estas narrativas orais em
construções que favorecem o ritmo e o som e posiciona-se dentro da comunidade para representar um sertão-metáfora
para pensar o global, para expressar a heterogeneidade lingüística e cultural da América Latina.
Palavras-chaves: Narrativa – transculturação - hibridismo
A TEATRALIDADE DA DORMIÇÃO DE MARIA: A PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DA
BOA MORTE, EM SÃO CRISTÓVÃO NO SÉCULO XIX.
Ane Luíse Silva Mecenas (UFS- [email protected])
A cidade de São Cristóvão durante o século XIX tinha o seu cotidiano marcado por uma série de celebrações
religiosas. O calendário religioso da Velha Capital era repleto de festas e procissões que mobilizavam a população católica da Província.. Era difícil encontrar um mês em que não houvesse alguma celebração religiosa. O
presente estudo busca compreender os elementos teatrais da procissão de Nossa Senhora da Boa Morte, realizada na segunda metade do século XIX, por negras alforriadas, vindas da Bahia. A reflexão tornou-se possível
através da análise da imagem na referida procissão e do relato da mesma constante no Annuario Christovense
de Serafim de Santiago. O estudo da referida procissão contribuiu para a reflexão acerca da multiplicidade
étnica da sociedade brasileira durante o período imperial, mostrando a necessidade da realização de estudos
envolvendo os aspectos culturais e religiosos para melhor compreender a memória coletiva. Neste sentido, a
procissão de Nossa Senhora da Boa Morte nos revela um panorama do universo religioso e das representações
culturais de São Cristóvão nos últimos decênios do século XIX.
Palavras Chave: São Cristóvão, procissão, Boa Morte, fé
A VIOLÊNCIA E O SAGRADO: A RESSIGNIFICAÇÃO DO MITO NA FESTA DE SÃO JOSÉ EM
CAMPO DO BRITO.
Todos os anos, no dia 19 de março, é realizada a festa de São José dos Montes em Campo do Brito, Sergipe. A
festa constitui uma romaria de âmbito local, para a qual convergem romeiros de municípios circunvizinhos
como Itabaiana, São Domingos e Macambira. O evento religioso é uma das principais solenidades de Campo do
Brito, ao lado da festa dos padroeiros Nossa Senhora da Boa Hora e São Roque, realizadas nos dias 15 e 16 de
agosto. A capela de São José dos Montes é apenas uma Santa Cruz de beira de estrada, erguida para relembrar
uma morte trágica, mas que no decorrer do século XX se tornou um centro de romaria. O propósito desse estudo
é compreender o processo de formação do santuário de São José na Serra dos Montes. A pesquisa foi desenvolvida a partir do levantamento de fontes concernentes ao evento no arquivo paroquial de Campo do Brito e com
a realização de entrevistas com romeiros. Com isso, pôde ser constatada uma relação entre a morte trágica de
uma criança e a formação de um santuário de âmbito local. Neste sentido, podemos dizer que a festa de São José
pode ser lida como um documento, por ter surgido para relembrar uma de suas maiores tragédias.
Palavras-chaves: religiosidade, morte, festa.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Ane Luíse Silva Mecenas ([email protected])
Magno Francisco de Jesus Santos ([email protected])
AS MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES DA CEGUEIRA – NARRATIVAS LITERÁRIAS E MÍTICAS.
Sandra Simone Moraes de Araújo. Doutoranda do PPGA/UFPE. [email protected]
Segundo Gilbert Durand a cegueira faz parte da convergência dos símbolos nictomórficos do regime diurno das
imagens. Nela se encontra o isomorfismo “negativo dos animais, das trevas e do barulho”. Uma vez que as trevas
se relacionam à cegueira vai-se encontrar nesse isomorfismo a figura do cego sendo reforçada pelos símbolos da
mutilação como também o da noite sombria que desperta o medo e o caos. No processo de suavizar as valências
pejorativas da cegueira, esta aparece na convergência dos símbolos espetaculares como uma grande magia da
visão do invisível. É se espelhando nestas idéias que este trabalho tem o objetivo perceber como as narrativas
literárias e míticas tratam o tema da cegueira. Os poemas de Glauco Mattoso, as histórias das Mil e Uma Noites,
o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, e os mitos de Édipo, Tiréisas, e da Feiticeira Cega, são as narrativas
que servirão de fonte para a análise.
Palavra Chave: Cegueira, imaginário, narrativa.
CONTADORES DE HISTÓRIAS, NARRATIVAS E O BOM PENSAMENTO: DOM E ESTRATÉGIA
DE ENFRENTAMENTO DO REAL.
Maria do Socorro Fonseca Vieira Figueiredo. UFPE - Doutoranda PPGA- [email protected]
Este estudo busca conhecer o universo dos contadores de histórias, esse ser definitivamente complexo que tece
suas narrativas com fios simultâneos dos itinerários empírico–lógico-racional e mítico–mágico-simbólico, procurando
verificar como estão narrando na contemporaneidade, e se o seu papel tradicional de guardião das memórias
coletivas, de conselheiro do grupo ainda se faz presente. Concordando com Humberto Maturana e Francisco
Varela que defendem não ser mais possível pensar em um sujeito do conhecimento despreendido de sua experiência carnal no mundo que pretende conhecer, mergulhei no universo dos contadores de histórias. Participei de
suas contações e brincadeiras. Escutei atentamente as falações tanto dos narradores quanto do seu público, que
revelavam sem pudores seu mundo. Foi recorrente, na fala dos narradores, a questão do bom pensamento, dom
recebido de Deus e/ou dos antepassados, que eles procuram, através das suas narrativas, transmitir aos ouvintes.
Acreditam que: o bom pensamento forma pessoas do bem. Trago, neste estudo, a escuta de dois universos narrativos
no Crato/CE: um com Mestra Zulene, agricultora e brincante, ela diz que: narrando histórias, ritmando-as, brincando, vai cumprindo a missão de não deixar a cultura cair e vai criando nas crianças um pensamento positivo que afasta do mal.
Outro com Mestre Raimundo, agricultor e músico, para ele: as histórias são como a terra na qual se plantam as
músicas. A pessoa pode não ter estudo, mas tem que ter um pensamento bom, porque é pelo pensamento que a gente verifica,
presta atenção a tudo, sabe do tempo, do inverno, dos astros.
GRUPOS DE TRABALHOS
NARRATIVAS LOCAIS E O PASSADO PERDIDO.
Rafael Henrique Teixeira. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social FFLCH – USP.
(rafael_d [email protected]).
A memória se configura acima de tudo como um espaço fantástico de força interpretativa e de construção de
conhecimento do sujeito sobre o mundo. Caracteriza-se por uma linguagem arbitrária de símbolos coordenada
no plano da imaginação criadora por esquemas de pensamento de diferentes procedimentos narrativointerpretativos (Eckert & Rocha, 2000). Memória enquanto espaço fantástico, cujos “jogos” permitem uma
relação reflexiva com a trajetória histórica do sujeito e do coletivo que a professam sob a forma narrativa. Em
pesquisa realizada em uma pequena cidade no interior do estado de São Paulo (Santo Antonio de Posse), busquei
retratar representações locais de transformações históricas pela qual passou a região, me deparando com narrativas em torno da perda de um suposto passado comunitário. Tais histórias devem ser encaradas como referencial
simbólico que aparece enquanto estratégia discursiva articulada a práticas concretas vinculadas a objetivos
políticos e identitários (Frúgoli, 2003). A emergência dessas histórias do passado ligam-se e coincidem com
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GT 1 8 - N O VA S C A R TO G R A F I A S D A A N T R O P O LO G I A :
M E M Ó R I A S E N A R R AT I VA S
momentos onde a existência e condição se encontram ameaçadas, ativando filtros da memória (Godoi, 1999),
como o referido passado comunitário que se opõe nas narrativas locais a um presente de instabilidade e insegurança. Há nessa arte narrativa uma habilidade de condensar o passado em brilhantes e excêntricas imagensfragmentos de comentários e conselhos, como o narrador de Benjamin. Através de interrupções, uma montagem
cultural e temporal acerca do passado perdido ultrapassa a mera nostalgia, aparecendo como script dramático.
Trazendo o antigo para o terreno do corpo e da mente, podemos falar em uma forma épica de colocar o passado
nas palavras, que não se da apenas pela expressão da arte da memória, mas a memória aplicada nos tempos
modernos à estética do choque num tempo que aparece saturado de agoras (Taussig, 2006). Modelo épico de
adesão imediata a vida de uma consciência viva, que permite ordenar experimentalmente os elementos da realidade através do choque e do assombro (Benjamin, 1931). Memória local que não pode ser enfocada fora do contexto
das manifestações culturais e sociais que configuram a estética de seus arranjos, veiculadas sob a forma de narrativas em torno do passado comunitário suprimido.
Palavras-chaves: Memória, Narrativa, Passado.
O ENSINO/APRENDIZAGEM E AS RELAÇÕES ÉTNICOS: CONTRIBUIÇÕES PARA
IMPLANTAR A LEI 10639/2003
A Educação e as Relações Étnicas com ênfase especialmente no processo ensino/aprendizagem dos descendentes de africanos tem sido objeto de minhas pesquisas inclusive com grupo de pesquisa certificado pelo CNPq. No
espaço escolar esta relação sempre foi permeada de elementos constitutivos de uma história secular etnocêntrica
em que se priorizou uma determinada “raça” e cultura em detrimento de outras, os saberes da cultura européia
foram considerados superiores e civilizadas enquanto os saberes dos outros povos, particularmente dos africanos, foram considerados inferiores e de não civilizados. Portanto ao longo da história a escola tem evidenciado
uma monoculturalidade, formando docentes com valores maniqueístas, brancos e cristãos. A lei 10639/2003
vem alterar a Lei de Diretrizes e Bases da educação 9.394/96, requisitando dos/das docentes uma educação
voltada aos diversos sujeitos da sociedade. O respeito às diferenças é um princípio que deve nortear a ação
pedagógica, ainda que não se tenha o domínio dos conteúdos propostos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
enunciados pela lei 10639/2003, é de fundamental importância compreender que os sujeitos na escola têm
trajetórias de vida específicas e escolhas pessoais que precisam ser respeitadas, que o sujeito no processo de
formação está também construindo sua identidade. Diante destas constatações nossas pesquisas apontam as
dificuldades que os/as docentes possuem para desenvolver atividades com os saberes do Legado africano, assim
neste ensaio pretendo descrever como as atividades de docência com a cultura local em escolas da cidade de
Candeias no Recôncavo da Bahia/ Brasil, passam pela desapropriação dos elementos de identidade de alunos e
alunas que são descendentes de africanos. Entendo que a Didática enquanto disciplina que estuda o Para quê,
o Porquê e o como, no processo ensino/aprendizagem deve buscar (re)pensar os modelos educacionais vigentes
e como eles lidam com as relações Étnicas.
POVO GUERREIRO: A LUTA COTIDIANA NAS NARRATIVAS DE HISTÓRIA DE VIDA DE TEFÉ - AM
Prof. Msc. Guilherme Gitahy de Figueiredo (CEntro de Estudos Superioes de Tefé da Universidade do Estado do
Amazonas – CEST/UEA – [email protected]).
O objetivo é levar Tefé (AM), cidade do Médio Solimões com 70 mil habitantes, a estudar sua cultura popular
através de entrevistas de histórias de vida, propondo-se a análise de como a população constrói suas próprias
histórias e, nessas narrativas, o que são “problemas”, e como são enfrentados. Espera-se com isso produzir
179
GRUPOS DE TRABALHOS
Marise de Santana - Doutora em Ciências Sociais- Antropologia. Professora de Didática e Antropologia do Departamento de Ciências Humanas e Letras da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Coordenadora do Órgão de
Educação e Relações Étnicas da UESB. Coordenadora do curso de Antropologia com Ênfase em Culturas Afro-brasileiras. Líder do grupo de pesquisa certificado pelo CNPq ‘Educação e Relações Étnicas com Ênfase em Culturas Afrobrasileiras’.
documentos históricos, fortalecer a auto-estima e o pensamento reflexivo da população, iniciar estudantes na
pesquisa, e buscar o conhecimento tradicional sobre o que são problemas sociais e como a população os enfrenta. Cerca de 300 alunos dos cursos de História, Geografia e Normal Superior, divididos em grupos de 2 ou 3, já
entrevistaram mais de 100 pessoas de variadas idades, gêneros e camadas sociais. As equipes foram convidadas a
colher inicialmente o relato mais espontâneo possível, e em seguida direcionar perguntas para a temática dos
“problemas” e como o entrevistado lida com eles. Realizaram observações, colheram fotos e documentos. Apresentaram seminários e relatórios de pesquisa com seus registros, reflexões metodológicas e análises. Estão surgindo, assim, 3 camadas de interpretação: a construção narrativa dos entrevistados da cidade, a construção da
pesquisa pelas equipes de estudantes, via de regra também tefeenses, e as interpretações do pesquisador coordenador. O trabalho tem propiciado o fortalecimento da reflexão e da auto-estima: as situações de emoção e debate
que geram mostra que os tefeeses não estavam acostumados a produzir suas histórias de vida. Os traços mais
marcantes são a construção das trajetórias por entrevistados e equipes enquanto modelos de comportamento,
nos quais se valoriza as contribuições para a comunidade e a perseverança no enfrentamento dos problemas. A
pesquisa está ajudando a renovar a ética do povo “guerreiro”.
Palavras-chaves: cultura popular, história de vida, pesquisa participante.
PROXIMIDADES (ETNO)METODOLÓGICAS: NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS E FORMAÇÃO
Daniela Maria Barreto Martins Professora Auxil iar da Universidade do Estado da Bahia – CAMPUS XI; Mestre em
Educação e Contemporaneidade / UNEB, Psicóloga; E-mail: [email protected]
O artigo explora primeiramente a passagem às narrativas autobiográficas, a partir dos precedentes métodos
historiográficos que constituíram a base fundamental na investigação dos etnométodos. São abordadas as condições propícias à cisão entre os termos de verdade (científica) e realidade (cotidiana), como acontecimentos
favoráveis ao interesse desperto pelas narrativas, por relatos ignorados nas operações científicas até a primeira
metade do século XX. Estes novos interesses de pesquisa corroboram para o aparecimento, no campo da Educação, em meados dos anos 60, início dos 70, dos métodos autobiográficos e narrativas de formação. À medida que
agregavam à experiência formativa a dimensão subjetiva e vivencial, estes novos métodos tornavam os processos
de rememoração partes integrantes do percurso formativo, momento em que novas significações eram produzidas, ampliando este percurso para além dos estritos limites da escolarização. Para a nossa discussão, utilizamos
como aportes conceituais básicos os estudos de Michel de Certeau acerca dos fazeres científicos, de Alain Coulon
e seu clássico texto sobre etnometodologia e os referenciais das Histórias de Vida e Formação apresentados por
Jorge Larrosa e Marie-Christine Josso.
Palavras-chave: Etnometodologia, métodos autobiográficos, narrativas de formação.
GRUPOS DE TRABALHOS
REASSENTAMENTO DE ITACURUBA: CONTADORES DE HISTÓRIAS E NARRATIVAS
GESTANDO A CIDADE.
Maria do Socorro Fonseca Vieira Figueiredo. UFPE - Doutoranda PPGA. [email protected]
Após submergir nas águas do lago de Itaparica e ser reassentada na nova Itacuruba, a população silenciosa grita
em números estatísticos alarmantes, o Diário de Pernambuco traz dados já apontados pelo Conselho Regional
de Medicina de Pernambuco 2006; Itacuruba é citada como a cidade brasileira que mais utiliza antidepressivos,
sendo detentora do maior índice de suicídios, estando este índice bem acima da média mundial. Este panorama
remete a noção de Marcel Mauss de “fato social total”, e convida a dá a ver essa comunidade, colocando o
desafio de “refazer o todo”. Mas, como dá a ver Itacuruba considerando seus sonhos, medos, angústias, projetos
e memórias, suas experiências no/com o mundo? Se as pessoas, mesmo crianças e jovens nascidas na nova
cidade, parecem mudas em lamentos do paraíso perdido. Seus contadores de histórias revelam-se interlocutores
ideais, seriam, na deriva das reflexões da biologia de Humberto Maturana e Francisco Varela, unidade distinta
em acoplamento estrutural com outras unidades e com o meio, cujo fazer fundamentado em esferas de experiência, solidariedade e cooperação permitiriam uma aproximação das pulsões de Itacuruba; suas narrativas, transi-
180
GT 1 8 - N O VA S C A R TO G R A F I A S D A A N T R O P O LO G I A :
M E M Ó R I A S E N A R R AT I VA S
tando entre o lembrar e o esquecer, rejeitando a repetição inerte de discursos rotinizados, tecidas com fios
simultâneos do que dura para além do tempo às marcas que vão constituir as âncoras emotivas da memória; e
com a fragmentação, a fluidez, o jogo de potências, do momento fugidio, permitem, num movimento autopoiético,
a criação de uma nova narrativa em que a cidade se gesta.
Palavras-chave: Itacuruba, contadores de história, memória.
TRANSFORMAÇÕES RELIGIOSAS EM EVIDÊNCIA: UM ESTUDO SOBRE PÉ-DE-VELUDO E
O IMAGINÁRIO POPULAR MARILIENSE
Aline Martins Verdi. Universidade Estadual Paul ista “Júl io de Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e Ciências:
Unesp – Maríl ia. Mestranda em Ciências Sociais. E-mail: al ine_verd [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Num mundo onde se encontra cada vez mais o apelo ao individualismo, ao abandono das manifestações religiosas, à presença da racionalidade contemporânea propagada por diversos teóricos e ao chamado “desencantamento do mundo” weberiano; constata-se cada vez mais inseridas nas sociedades as transformações no campo
religioso. Neste estudo entende-se portanto, a importância em ressaltar as modificações religiosas atuais vistas
pela ótica de inúmeros e interessantes casos brasileiros existentes sobre criminosos que se transformaram em
santos populares. Esta pesquisa tem como pressuposto analisar o perfil de um criminoso do Centro-Oeste
paulista e que atuou em Marília - SP dentre 1958 até 1964, chamado Guaraci Marques Pinto (conhecido como
Pé-de-Veludo), bem como sua performance criminal e sua transformação em mito pela população local. Pé-deVeludo ficou conhecido por este nome devido a sua destreza no ato de furtar as residências e, após sua trágica
morte em 1964, se transformou em santo milagreiro pelo imaginário popular mariliense. Passou a receber visitas
constantes em seu túmulo, sendo atualmente, uma das sepulturas mais visitadas do centro-oeste paulista. O
trabalho visa pesquisar a percepção social do medo e encantamento que essa personagem provocava em suas
violações ao patrimônio alheio e tentar compreender a sua presença como santo popular até presente momento.
A fim de abranger a percepção social no que se refere à crença popular à figura de Pé-de-Veludo, bem como às
novas manifestações religiosas atuais compostas na sociedade mariliense; deve-se abordar e contemplar a pesquisa oral, a memória no intuito de compreender como um criminoso conseguiu ser transformado pela população
local em santo popular. Este caso questiona o conceito de “desencantamento do mundo” Weberiano e a
racionalidade contemporânea, pois percebe-se que as necessidades do Homem mudam com o tempo, as manifestações religiosas se alteram e conseqüentemente, a percepção do individuo em relação à identidade também se
transforma.
Palavras-chaves: Transformações religiosas – imaginário popular – memória
181
GT 19
SISTEMAS DE JUSTIÇA CRIMINAL E DE SEGURANÇA PÚBLICA, EM UMA
PERSPECTIVA COMPARADA: PROCESSOS DE ADMINISTRAÇÃO
INSTITUCIONAL DE CONFLITOS
A CONSTRUÇÃO DE VALORES, EMOÇÕES E IDENTIDADES ENTRE OS MENORES TIDOS
COMO AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS
Alessa Cristina P. de Souza. Doutoranda em Sociologia pelo PPGS/UFC. [email protected]
Esta comunicação visa uma primeira aproximação teórica acerca do projeto de pesquisa “A construção de valores,
emoções e identidades entre os menores tidos como autores de atos infracionais”. O mesmo tem como objetivo discutir e
compreender as bases para a construção de vínculos sociais, emocionais e morais entre menores infratores,
internos no CEA – Centro Educacional de Adolescentes, localizado na cidade de João Pessoa - PB, em suas
práticas cotidianas. Partindo da idéia de que esses atores, normalmente, são considerados como uma categoria
estigmatizada e excluída socialmente, buscaremos trazer para a discussão as tensões geradas pelas condições
sociais em que eles se encontram e as formas como percebem a si mesmos e aos demais, que compartilham o
mesmo espaço físico, em um cenário que aparentemente se mostra fragmentado, hierarquizado e complexo. A
importância de se fazer este tipo de análise reside na contribuição que se pretende oferecer ao pensamento
social nacional acerca da realidade dos grupos em situação de risco e exclusão na atualidade. A especificidade da
pesquisa se revela por dar voz aos próprios atores deste cenário, dando realce às suas subjetividades, buscando
levantar como se dá à construção de suas identidades sociais, bem como analisar como se configura a pertença
no interior de uma categoria de indivíduos representados socialmente como seres desprovidos de valores e
referências.
Palavras-chave: instituições totais, juventude, emoções
DIREITOS INDÍGENAS E DIREITOS DO ÍNDIO: A ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DA
SÚMULA 140 DO STJ E O RECONHECIMENTO DA PESSOA INDÍGENA
GRUPOS DE TRABALHOS
André Gondim do Rego (UnB – [email protected])
Este trabalho discute, a partir de uma perspectiva antropológica, a orientação jurisprudencial que levou o Superior Tribunal de Justiça à formulação da Súmula 140 cujo conteúdo afirma ser de competência da justiça comum
estadual “processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima”. Separando as disputas por
direitos indígenas dos crimes cometidos pela pessoa indígena, o STJ gerou uma interpretação da lei que qualifica
a especificidade do tratamento legal dado ao índio no Brasil. Entretanto, a elaboração desta separação, ao
pretender desvincular direitos de privilégios, também dá margem a todo um não reconhecimento legal, ou
mesmo a uma desconsideração moral do índio no que diz respeito a conflitos que envolvem a produção problemática de sua identidade.
Palavras-chaves: direitos indígenas, súmula 140, reconhecimento.
182
GT 1 9 - S I S T E M A S D E J U S T I Ç A C R I M I N A L E D E S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A , E M U M A P E R S P E C T I VA C O M PA R A D A
DISQUE-DENÚNCIA: A ARMA DO CIDADÃO – UM ESTUDO SOBRE FORMAS DE
CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA CRIMINAL A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DA CENTRAL
DISQUE-DENÚNCIA DO RIO DE JANEIRO
Luciane Patrício – Doutoranda PPGA/UFF
O objetivo deste trabalho é, em primeiro lugar, apresentar uma análise sobre os processos de construção, reconstrução e legitimação da narrativa criminal a partir das experiências da Central Disque-Denúncia do Rio de
Janeiro: uma central de atendimento telefônico cuja proposta é receber informações anônimas sobre práticas
criminosas, ilegalidades e informações relacionadas a ordem pública. Criada inicialmente para ajudar as polícias no esclarecimento de crimes, este instrumento tem sido caracterizado por receber as mais variadas demandas
que, apesar de não serem criminais, guardam relação direta com os sentimentos de temor, insegurança e medo
da população carioca. A apresentação partirá da descrição do histórico e do contexto social e político da criação
da Central, perpassando sua estrutura, fluxo, modus operandi e analisando as implicações do seu sistema
classificatório. Seguida essa introdução, será analisado o processo de construção da “denúncia” por parte do
atendente – enfocando seu treinamento e o momento em que trava um diálogo com quem aciona o serviço,
num esforço de transformação de um relato numa narrativa. Posteriormente, serão analisados os processos de
consolidação e legitimação deste instrumento como narrativa criminal. Em primeiro lugar busca-se analisar as
relações estabelecidas com a Polícia, órgão responsável por investigar as informações registradas pelo DisqueDenúncia, seguida da observação e análise de sua relação com a Mídia, ator que lhe empresta credibilidade,
capilaridade e publicidade. Este trabalho é resultado da pesquisa que desdobrou na Dissertação de Mestrado em
Antropologia defendida pelo PPGA/UFF em 2006 e intitulada “Disque-Denúncia: a arma do cidadão - um
estudo sobre os processos de construção de verdade a partir das experiências da Central Disque-Denúncia do
Rio de Janeiro. A metodologia utilizada contou com a realização de entrevistas, grupos focais e de trabalho de
campo durante aproximadamente um ano. Somado a este, foram levantadas obras, dissertações e teses cujo tema
está relacionado com centrais telefônicas de recebimento de informações anônimas.
“FAXINA” E “PILOTAGEM”: DISPOSITIVOS (DE GUERRA) POLÍTICOS NO SEIO DA
ADMINISTRAÇÃO PRISIONAL
Adalton José Marques - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (PPGAS/USP).
Ao longo de nossa pesquisa acerca de um tal “proceder” – que, de um modo pouco cuidadoso, poderíamos
compreender como um complexo de moralidades que atravessa as experiências prisionais –, preocupados principalmente com os litígios entre presos, tivemos, pela própria exigência da problemática, que tratar do exercício
dos “faxinas” e “pilotos” – lideranças entre os presos – durante verdadeiros julgamentos conhecidos como
“debates”. Contudo, nossos dados vêem apontando que tal poder político se faz, também, através de uma ativa
participação e, no limite, intervenção na administração prisional. Pensamos que tais relações de força devem ser
tratadas, não em termos de ação política, já que essa via nos levaria a identificar variações performáticas entre os
atores, mas antes, como dispositivos capazes de colocar um poder em exercício fazendo-o incidir sobre os corpos.
A presente comunicação versa sobre esses desdobramentos de minha pesquisa.
GÍRIAS: IDENTIDADE, VÍNCULO E RESISTÊNCIA DE ADOLESCENES INFRATORES
INSTITUCIONALIZADOS
Valmir Tibúrcio Cavalcante. UFPE - FCRC. [email protected], [email protected]
Este trabalho tem como objetivo interpretar o cotidiano de uma instituição de controle social para adolescentes
infratores a partir das práticas de resistência dos adolescentes. Inspirado na teoria do cotidiano de Michel de
Certeau pude constatar que as relações de poder no cotidiano da instituição de que falo são “fabricadas” também
a partir do uso táticas por parte do grupo controlado. A definição de papéis ou tipos sociais como o “líder”, “testa
183
GRUPOS DE TRABALHOS
E-mail: [email protected]
de ferro”, “laranja” e “cabueta” são elementos que fazem parte da construção identitária dos adolescentes. As
gírias e códigos usados são colocados pelos adolescentes como elementos táticos da resistência. Na coleta e
análise dos dados, privilegiamos os pressupostos da pesquisa qualitativa, inspirado nos recursos da etnografia. A
análise da realidade observada apontou para uma série de concessões recíprocas nas relações de poder institucional. No cotidiano da instituição em questão, as relações de poder são “inventadas”, fabricadas de diversas
maneiras, operacionalizadas em ações que favorecem a institucionalização da violência nas instituições ditas
ressocializadoras de adolescentes infratores.
Palavras-chave: Controle social, gírias, resistência.
IGUALDADE JURÍDICA E INQUÉRITO POLICIAL
Carlos Alberto da Silva Campos – Bacharel em Direito – Anal ista Jud iciário do Tribunal de Justiça-RJ, Pesquisador do
NUFEP/UFF e Gestor em Segurança Públ ica e Justiça Criminal (NUFEP/UFF/SEBH/EU)
No presente trabalho proponho um estudo sobre as incongruências no sistema jurídico brasileiro que obedece
a duas éticas: uma explícita na maior parte do sistema legal e nas lições doutrinárias, igualitária e democrática;
outra que informa implicitamente a nossa prática jurídica hierárquica e inquisitorial e os privilégios positivados
no nosso ordenamento, que, em conseqüência, naturaliza as desigualdades, sendo um dos exemplos, a prisão
especial para aqueles detentores de curso superior e os foros especiais para julgamento de pessoas por prerrogativa da função que exerçam. Especificamente neste trabalho pretendo trabalhar como exemplo a questão do
inquérito policial no Brasil - investigando as razões de sua manutenção - através do qual, em nosso ponto de vista
está uma das concretizações, na prática das distorções entre os nossos princípios e as nossas práticas jurídicas,
indagando sobre a possibilidade de se falar em igualdade jurídica com a presença de tal instrumento em nosso
ordenamento. Procuraremos ainda tentar fazer uma explanação, de caráter comparativo, do sistema de produção
da verdade, onde o sistema americano da common law comporta a negociação da culpa ao passo que o processo
penal brasileiro é informado por distintas formas de produção de verdade, inquisitorial numa fase e procurando
acolher o princípio do contraditório e da ampla defesa num outro momento.
O JUIZADO ESPECIAL DA FAMÍLIA DE SÃO PAULO.
GRUPOS DE TRABALHOS
Sandra Brocksom - PPGAS - UFPR. [email protected]
O Juizado Especial da Família da cidade de São Paulo (Jecrifam - provimento 805/03) foi criado no intuito de
“processar e julgar as infrações penais definidas na Lei 9099/95, observada a competência do Foro Central,
envolvendo a violência doméstica” (art. 1º.). Poucos meses após sua instalação, sua competência foi estendida
para todos os delitos incluídos na lei ocorridos na região central de São Paulo, configurando o Juizado Especial
Criminal Central (Jecrim Central). Tem se assim duas estruturas diferentes funcionando no mesmo local com
o mesmo quadro de operadores da Justiça. Segundo a juíza titular do Jecrifam, Jecrifam e Jecrim soam como
microsistemas judiciais distintos, operando de formas distintas. Essa constatação foi possível através da etnografia
realizada a formulação de questões que apóiam a pesquisa de mestrado em andamento: Como se realiza essa
distinção? Quais são os conceitos de gênero e família acionados pelos operadores, que representam as instituições, para resolver conflitos? Quais são as concepções a respeito dos direitos da mulher que orientam suas
práticas? O estudo proposto pretende analisar a articulação entre os conceitos de gênero, família e justiça entre
os operadores e/ou executores do Direito, em particular o Juizado Especial Criminal (Jecrim) – Central e o
Juizado Especial Criminal da Família, na cidade de São Paulo.
Palavaras-chave: gênero, família e direito.
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GT 1 9 - S I S T E M A S D E J U S T I Ç A C R I M I N A L E D E S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A , E M U M A P E R S P E C T I VA C O M PA R A D A
O JÚRI E OS “JURADOS”: UMA COMPARAÇÃO ENTRE CONCEPÇÕES SOBRE A
PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO SISTEMA JUDICIÁRIO NO BRASIL E NA ARGENTINA
Lucía Eilbaum – Doutoranda PPGA/UFF – Pesquisadora do PRONEX/NUFP/UFF e do Equipo de Antropologia Política
e Juríd ica/UBA – Bolsista CAPES
Neste trabalho proponho um estudo exploratório, de caráter comparativo, sobre as discussões jurídicas, legislativas
e políticas que levaram à regulação do Tribunal do Júri no Brasil e do “juicio por jurados” no processo penal nacional
na Argentina. O objetivo será refletir comparativamente o processo de implementação e institucionalização do Júri
no Brasil e o processo diferenciado do “juicio por jurados” na Argentina, onde o mesmo foi estabelecido pela
Constituição nacional, mas nunca implementado. Entendo que as opiniões e discussões da doutrina jurídica e os
debates parlamentares sobre essas duas instituições, em um e em outro país, podem ajudar a elucidar as formas
como ambos sistemas jurídicos e sua relação com a população foram representados. A comparação de ambos
processos e das justificativas para sua implementação, ou não, pode ressaltar concepções diferenciadas sobre o
papel do Judiciário em ambos os países, bem como ao contrário, mostrar que ambos sistemas mantêm, sob instituições diferentes, concepções semelhantes sobre a relação dos especialistas em direito com a sociedade.
O QUE PENSAM, QUEREM E FAZEM OS REPRESENTANTES DOS CONSELHOS LOCAIS DE
SEGURANÇA.
Ana Paula Galdeano Cruz (Unicamp, [email protected])
A comunicação discute dados colhidos através de pesquisa de campo realizada em dois Conselhos Locais de
Segurança Pública, em um bairro de classe média alta e um bairro de classe popular da cidade de SP. O trabalho
de campo gerou análises etnográficas que informam sobre a interação, da sociedade civil e do Estado, na
tentativa de resolver assuntos relativos à segurança pública. Os resultados parciais da pesquisa apontam uma
heterogeneidade de grupos (do Estado e da sociedade civil) que disputam discursos táticos sobre a violência, suas
causas (pobreza, autoritarismo, corrupção) e soluções (ações sociais, policiais e judiciais), bem como a articulação de diferentes noções sobre posições de classe, gênero, raça e idade. Tal análise considera que tais posições
sobre a questão da violência têm como efeito confrontos de valores em torno das propostas para a segurança
pública, que implicam ainda na dificuldade de realizar ações concretas.
O USO DE DROGAS E O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL
Esse trabalho visa discutir as possíveis transformações criadas pela Lei 11.343/06 – a nova lei de drogas – na
relação entre os usuários de drogas e o sistema de justiça criminal. Para realizar a discussão sobre esse assunto,
irei me valer da pesquisa que desenvolvi para minha dissertação de mestrado em Antropologia no PPGA/UFF,
defendida no início do ano, e também de pesquisas desenvolvidas no Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas,
do qual faço parte. No início de 2007, defendi minha dissertação de mestrado que tinha como objeto de pesquisa
o Programa Justiça Terapêutica da Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio de Janeiro, um programa judicial de
atenção ao usuário de droga. O encaminhamento para o programa deveria ser ofertado pelo Ministério Público,
durante a audiência nos Juizados Especiais Criminais, como uma medida alternativa disponível ao usuário de
drogas. Isto é, deveria ser uma opção dada ao usuário: caso o usuário aceitasse, o procedimento judicial seria
suspenso até o final do tratamento oferecido pelo programa. Contudo, a pesquisa indicou que os operadores do
direito não forneciam uma assistência jurídica adequada, o que impossibilitava a existência da opção pela
medida alternativa. Os operadores dos JECrim privilegiavam a aplicação imediata de multa para o crime de uso
de drogas, ao invés do encaminhamento para a equipe da VEP, com o argumento de dar mais rapidez ao
cumprimento da medida e evitar a prescrição do crime. Essa situação me levou a concluir que, como aos
usuários de drogas não era dada a possibilidade de optarem pela medida alternativa que melhor se adequassem,
185
GRUPOS DE TRABALHOS
Frederico Policarpo de Mendonça Filho. Núcleo de Estudos e Pesquisas (NUFEP)/ Universidade Federal Fluminense.
E-mail: fredericopol [email protected]
os JECrim impunham a multa e não deixavam espaço para que a natureza do conflito que havia provocado o
envolvimento com a justiça fosse apreciado. O surgimento da nova lei de drogas no final de 2006 provocou
mudanças: esse programa foi extinto e a pena de prisão deixou de ser prevista para o uso de drogas. A partir
desse novo contexto, o meu objetivo é discutir as possíveis mudanças geradas na forma de atuação dos atores
responsáveis pelo julgamento e pela execução das medidas propostas aos usuários.
REBELIÕES E O COTIDIANO DOS JOVENS INTERNOS EM ABREU E LIMA/PE
Mônica Maria Gusmão Costa – Mestranda em Antropologia, PPGA/ UFPE. Email: [email protected]
Este trabalho parte do pressuposto de que as rebeliões estão presentes não só no acontecimento em si, mas no
cotidiano dos jovens que estão em internação em Abreu e Lima-PE. Elas são vistas através da expectativa da sua
ocorrência, nos trabalhos preventivos e até na negação de que ocorrerá qualquer motim, tornando-se o nome
rebelião dentro da unidade de internação, por vezes, uma palavra proibida, de mau agouro. O objetivo é refletir
sobre as rebeliões numa unidade masculina de internação para jovens que cometeram ato infracional, buscando
uma compreensão do fenômeno enquanto conflito social com expressões de violências que refletem a condição
do internado numa instituição fechada. Para tal objetivo foi utilizada a observação direta e entrevistas com os
diversos atores sociais envolvidos no conflito (jovens internos, agentes sócio-educativos, funcionários e dirigentes da instituição). Foram abordadas neste trabalho as teorias de Erving Goffman sobre instituição total, numa
versão sociológica da estrutura do eu, considerando, ainda, o estigma que no caso é reforçado pela ação negativa
da mídia à sociedade. Também foram utilizados os conceitos de poder e disciplina de Michel Foucault. A
unidade pesquisada tem capacidade para receber 98 jovens, porém possui três vezes mais que sua capacidade. A
superpopulação que desumaniza, que torna as estruturas carcerárias insuportáveis para viver, é também um fator
de interação entre os jovens, pois alguns mecanismos de dominação como o panoptismo não podem ser utilizados, o sistema autoritário individualizante não pode ser colocado em prática. A disciplina é relativizada na
dificuldade imposta pelo alto número de jovens encarcerados e o controle não é totalmente obtido também por
esse fator. Gera-se, assim, uma rede de relações sociais entre os jovens dentro das unidades de internação, com
formação de líderes, grupos rivais, elaboração de normas pelos internos, troca, armas confeccionadas dentro da
instituição fechada e a própria rebelião como sinal de resistência.
Palavras-chave: rebeliões, jovens, instituições fechadas
“SÓ DE BIRRA, SÓ PARA INCOMODAR” SENTIDOS DE JUSTIÇA E RECONHECIMENTO EM
FORMAS JUDICIAIS E EXTRA-JUDICIAIS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS EM BELO
HORIZONTE
GRUPOS DE TRABALHOS
Daniel Schroeter Simião - UFMG, MG, Brasil/ PRONEX
Co-autores: Natan Ferreira de Carvalho, Vitor Barbosa Duarte - Grad. Ciências Sociais / UFMG, MG, Brasil
A comunicação apresenta os resultados de uma etnografia das práticas de resolução de conflitos dos Núcleos de
Mediação e Cidadania (NMC) da Faculdade de Direito da UFMG em duas favelas de Belo Horizonte, procurando compara-las aos mecanismos judiciais alternativos, nomeadamente o Juizado Especial Criminal da capital
mineira. Por meio do estudo de casos selecionados entre março e agosto de 2007, do acompanhamento dos
demandantes e da análise do perfil de casos atendidos ao longo do ano de 2006, a pesquisa aponta para a forma
como a dimensão moral do direito é retratada na representação e nos usos que os usuários destes mecanismos
institucionais de resolução de conflitos fazem da Justiça, sugerindo que a capacidade de reconciliação de vínculos locais, normalmente apontada na bibliografia como uma das vantagens de formas de justiça com o perfil da
mediação, é bem mais limitada do que se imagina. Os dados sugerem ainda que em mecanismos próximos ao
cotidiano dos demandantes, como nos NMCs, o sentido da lei e da justiça deixa-se marcar por valores locais
fortemente relacionados às formas de organização familiar e de gênero, o que torna ainda necessária a produção
etnográfica para a compreensão dos limites e potenciais de tais mecanismos.
Palavras-chave: justiça, direitos, antropologia urbana
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GT 1 9 - S I S T E M A S D E J U S T I Ç A C R I M I N A L E D E S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A , E M U M A P E R S P E C T I VA C O M PA R A D A
VAGABUNDO NÃO MERECE RESPEITO: PROCESSOS DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS
UTILIZADOS PELA POLÍCIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO
Sabrina Souza da Silva Mestre em Antropologia PPGA/UFF. Pesquisadora Associada NUFEP/UFF.
[email protected]
Este trabalho, propõe discutir como é a atuação dos policiais militares na administração dos conflitos em sua
prática de policiamento ostensivo. A autonomia destes policiais, nestes momentos, faz com que eles não só
administrem os conflitos de acordo com o que está previsto na lei, mas também se inclinem a substituir os fins
que lhes são prescritos pelos seus próprios, procurando, assim, formas alternativas para negociar com atores
envolvidos (Monjardet, 2001) baseada em uma ética policial que seria o fundamento para uma aplicação autônoma da lei. Particularmente busco perceber como estes policiais utilizam sensibilidades jurídicas (Gerrtz, 1997)
próprias, para agir, ou não, de acordo com o que lhes está prescrito. Neste sentido, pretendo analisar os diversos
significados atribuídos, pelos policiais, a categorias tais como “justiça”, “moral” e “ética” assim como os mecanismos institucionais de controle de sua atuação. Minha hipótese é que esses diferentes significados orientam as
práticas policiais e, portanto, definem critérios de atuação dos policiais militares.
“VIOLÊNCIA CIVIL E VIOLÊNCIA CRIMINAL. RIO DE JANEIRO E BUENOS AIRES”
Jorge da Silva (NUFEP/UFF)
GRUPOS DE TRABALHOS
Trata-se de desdobramento da pesquisa para a tese de doutorado. Em foco o problema de as políticas de segurança pública se estabelecerem sem que nem sempre se tenha clareza quanto à distinção entre a “criminaldade
violenta” (basicamente atos violentos praticados por agentes dedicados ao crime) e a violência contida em
eventos outros, conexos àquela ou não (como manifestações de moradores de ´favelas´, sem terra, sem teto, etc.),
cuja natureza recomenda a adoção de atitude diferenciada por parte do poder político e formas de administração
próprias por parte das instituições de controle. Tal constituiria a “violência civil”. Ademais, leva-se em conta os
efeitos da “violência simbólica” como elemento potencializador da “violência civil” e da “violência criminal”.A
análise se pretende como uma contribuição à melhor compreensão dessas diferenças e à busca de caminhos
alternativos às abordagens tradicionais, sobretudo no caso do Rio de Janeiro.
187
GT 21
MULHERES, RELAÇÕES DE GÊNERO E FEMINISMO NO NORTE E NORDESTE
“DE DOMÉSTICA A TRABALHADORA: O RECONHECIMENTO DA MULHER ENQUANTO
TRABALHADORA RURAL”
Agnes Santos Melo. Mestranda em Sociologia na Universidade Federal de Sergipe – UFS. [email protected]
Durante muito tempo, as mulheres do campo não eram reconhecidas enquanto trabalhadoras rurais, posto que,
eram vistas como domésticas. Isto é conseqüência, dentre outros motivos, pelo fato da concentração de poder e
recursos está presente na figura do pai, fruto do patriarcado associado ao capitalismo que legitima a opressão da
mulher. Sendo assim, o campo da produção - e tudo que lhe diz respeito como, propriedade, assistência técnica,
crédito, etc., - é de responsabilidade masculina. Assim, o trabalho feminino que é realizado na roça, não é visto
como trabalho, mas sim como “ajuda” devido justamente a “divisão sexual do trabalho” existente, onde aos
homens, cabe o trabalho produtivo e a mulher o reprodutivo. Até meados dos anos 1980, apenas era aceita a
sindicalização de homens porque eram considerados os “verdadeiros” trabalhadores, que tinham que se organizar em favor de seus direitos. O trabalho agrícola realizado pelas mulheres por ser “ajuda”, sequer era visto pelos
dirigentes sindicais. Isto não era diferente em órgãos governamentais, posto que a norma do INSS exigia que,
para ter direito à aposentadoria, a mulher rural comprovasse a sua condição de trabalhadora, já que, primeiro ela
era “doméstica” e não trabalhadora. A efetiva luta pelo reconhecimento da identidade de trabalhadoras, portanto, passa a ser o tema central da mobilização das trabalhadoras rurais nos anos 1980. É possível destacar significativas vitórias desde então, a exemplo do direito à sindicalização, o crescimento real do número de mulheres
sindicalizadas e, mais importante, de diretoras de organismos sindicais; bem como o reconhecimento da identidade de trabalhadora por parte de muitos programas e políticas governamentais. Frente a isto, o presente resumo
visa discutir o processo de reconhecimento da mulher enquanto trabalhadora rural.
Palavras-chave: Mulher, trabalhadora rural, reconhecimento.
GRUPOS DE TRABALHOS
DE ESPINHOS A ROSAS: A MULHER SEDUTORA ENQUANTO PRODUTO DA
MODERNIDADE (1900 A 1945)
Edivalma Cristina da Silva (Mestranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ed [email protected])
Mulheres, Sedução e Modernidade se entrecruzam em meio a códigos morais e valores familiares burgueses
(re)formulados a partir da Instauração da República (1889) no Brasil. Higienizar o corpo social, construir um
modelo feminino ideal para servir a Pátria brasileira. No entanto, no seio da sociedade, surge um novo estereótipo feminino: a mulher sedutora enquanto produto da modernidade, com seus cabelos a La Garçonne, transcendendo o espaço público para o privado, o ser “anormal”, a mulher frívola e desonesta, como colocam os
discursos jurídicos. Este trabalho tem como objetivo analisar a heterogeneidade discursiva (jurídicos, literários,
médicos-higienista) que constroem a mulher “feminista” enquanto um produto da anormalidade, em oposição
ao modelo ideal feminino difundo pela República: esposa, mãe e dona-de-casa (mulher ideal). Mostra-se necessário perceber como estas mulheres sedutoras ocupam o espaço público, masculinizado, e como ocorre esta
transcendência, através da análise dos conceitos de honra, moralidade, “himenolatria”, dentre outras formas de
preservar a honra e moralidade familiar difundida no Seridó do Rio Grande do Norte. A metodologia adotada
188
GT 21 - MULHERES, RELAÇÕES DE GÊNERO E FEMINISMO NO NORTE E NORDESTE
repousa na análise de processos–crime de defloramento e de sedução entre 1900 e 1945 e dos Jornais das Moças,
aliado as discussões teóricas e bibliográficas. A malha discursiva será urdida a partir dos fios de saberes, poderes,
disciplinas, sexualidade e discursos cedidos por Michel Foucault, o qual arrematará as “pinces” historiográficas,
sociológicas e antropológicas. A partir da análise destes processos-crime e dos Jornais das Moças pode-se perceber
que a atuação e a inserção feminina na sociedade se dá lentamente, despertando a “fúria” dos conservadores,
“arrebentando” valores e costumes familiares, como se torna perceptível nos discursos jurídicos e literários. O
resultado deste trabalho enriquece o estudo das relações de gênero, das mulheres e do feminismo, possibilitando
reler a história da mulher seridoense que afirma identidades plurais ao longo das décadas posteriores.
Palavras-chave: Sexualidade, Sedução e Feministas
ESPÍRITO EMPREENDEDOR FEMININO: RELAÇÕES DE GÊNERO, INFORMALIDADE E
MICROCRÉDITO NO GRANDE RECIFE
Géssika Cecíl ia Carval ho da Silva (Mestranda em Sociologia – Universidade Federal de Pernambuco /
gessikacecil [email protected])
O objetivo deste trabalho consiste em identificar se os programas de microcrédito da Agência do Crédito, do
Banco do Povo e do Centro de Apoio ao Microempreendedor (ambos em Recife) têm beneficiado a força de
trabalho feminina, diminuindo a exclusão e a discriminação que são entraves para a inserção e permanência das
mulheres no mercado de trabalho. Para tal, realizaram-se entrevistas semi-estruturadas com quinze beneficiárias
dos programas já citados. Assim, a hipótese ficou comprovada de que o microcrédito tem favorecido as mulheres,
não somente na geração de renda e no estímulo à capacidade empreendedora, mas também alcança a subjetividade dos atores sociais envolvidos nesta trama, no caso estudado as mulheres, despertando sentimentos de
autonomia, satisfação, independência e auto-suficiência. Através da observação do que dizem as informantes fica
evidente que tais mulheres encontram no microcrédito uma possibilidade, uma chave para a lucratividade nos
âmbitos econômico, social, cultural e psicológico. Quanto ao econômico, na geração de renda e estabilidade
financeira. No social, como um meio de emancipação e de ruptura das situações de discriminação. Em aspecto
cultural, na tentativa de romper com a ideologia de dominância masculina. Por fim, psicologicamente, através da
elevação da auto-estima e do sentir-se produtiva. Esta lucratividade oriunda da recorrência ao pequeno empréstimo e a percepção de benefício não passam necessariamente pela formalização do empreendimento (embora
esta seja preocupação da maioria das entrevistadas), mas está na capacidade de suprir as necessidades de manutenção da renda familiar e assegurar um padrão de vida digno.
Palavras-chave: mulher, trabalho, microcrédito.
IGUAIS E DIVERSOS: O (NÃO) EXERCÍCIO DOS DIREITOS SOCIAIS
O fenômeno da feminização da pobreza é influenciado pela rigidez das funções que são atribuídas às mulheres
– o que, por sua vez, decorre das identidades de gênero -, assim como pelo seu limitado acesso ao poder, à
educação, à capacitação, aos recursos econômicos (incluindo o crédito). Ainda que a pobreza afete a todos os
lares em geral, as mulheres suportam uma carga desproporcional, ao procurar administrar a produção doméstica, em condições de crescente escassez. Essa situação agrava-se, no caso das mulheres chefes de família e nas
unidades domésticas rurais. O crescimento econômico não vem sendo garantia de desenvolvimento social; pelo
contrário, vem sendo fonte de aumento da pobreza e de desigualdade na distribuição da renda dentro do país. A
conquista e o exercício dos direitos sociais, econômicos e políticos de mulheres e homens da agricultura familiar mexem em estruturas pessoais, comunitárias e institucionais. A ligação estreita entre eqüidade de gênero e
desenvolvimento rural merece ser aprofundada, trazendo novos caminhos para “um outro jeito de ser” na
agricultura familiar. Essa é uma das perspectivas que se pode observar dentro do amplo universo da discussão de
gênero em áreas rurais hoje.
189
GRUPOS DE TRABALHOS
Mônica Cristina Silva Santana. Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – NPPCS / UFS. Doutora em
Ciências Sociais – UFBA. E-mail: [email protected]
LUZ, CÂMERA, AÇÃO: TRANSGÊNEROS NO CINEMA
Márcia Tavares
Neste ensaio resgato enredos fílmicos para refletir sobre personagens que ultrapassam as fronteiras de gênero
demarcadas pela heteronormatividade, a partir das seguintes questões: O que é gênero e qual a sua utilidade? O
que é ser transgênero? Quais as implicações na construção identitária para os sujeitos que destoam do gênero
que lhes é atribuído socialmente? Quem são eles e como nomeá-los? Como a monossexualidade perde seu
caráter exclusivo e ganha plasticidade? Confrontar essas indagações com os discursos e imagens produzidas pelo
cinema pode nos ajudar a compreender a construção da diversidade e abrir espaço para outras possibilidades se
ser e perceber que, de perto, todo mundo é normal.
MULHER PENTECOSTAL: ENTRE A VIDA RELIGIOSA E REALIDADE SOCIAL
José Rômulo de Magalhães Filho (Universidade Tiradentes – [email protected])
O número de mulheres pentecostais representa 4,36% da população de Sergipe (IBGE 2000). Com uma taxa de
projeção no crescimento dos evangélicos neste estado da Federação de 8,8% (SEPAL, 2007), aponta-se que até o
fim de 2007, haja um contingente de 89.000 mulheres pentecostais apenas nas zonas urbanas deste Estado. A
partir desta realidade dos números, e da penetração de mulher deste grupo social nas mais variadas esferas da
sociedade sergipana, justifica-se uma mudança no comportamento feminino dentro da prática religiosa pentecostal,
sempre visto como submisso, segundo interpretação doutrinária do pentecostalismo clássico e neopentecostal.
Até que ponto há conflito entre orientação doutrinária e realidade social na vida dessas mulheres? Essas mulheres seguem as orientações da comunidade de fé, ou passam a ter uma visão mais “secularizada” da vida? Assim o
objetivo deste texto é discutir como o pentecostalismo orienta as mulheres para a vida social, além de procurar
avaliar o grau de assimilação da orientação religiosa pelas mulheres; de perceber como as mulheres pentecostais
se relacionam com o discurso de liberdade feminina, advindo do feminismo contemporâneo; e avaliar o grau de
influência da sociedade não-religiosa nas mulheres pentecostais. Este estudo partiu de uma leitura fenomenológica
da religião onde se procura discutir o conceito de sociedade e de mulher no pentecostalismo brasileiro (dividido
entre pentecostais clássicos e neopentecostais). Diante destes conceitos foram entrevistados 05 líderes pentecostais,
com o objetivo de saber como essas comunidades de fé orientam suas fiéis para a vida social. Em seguida aplicouse há um grupo de 50 mulheres um questionário fechado onde às questões sugeridas sejam trabalhadas. Percebese que a mulher pentecostal vive um conflito: a orientação eclesiástica e a realidade vivida. O que tem levado a
igreja a uma necessidade de adequar seu discurso a esta nova e emergente realidade social.
Palavras-chaves: mulher, pentecostalismo, realidade social.
GRUPOS DE TRABALHOS
O GÊNERO E A UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA.
Anna Chaisuk Barouchel – Mestranda. Mestrado Profissional Multid iscipl inar em Desenvolvimento Humano e Responsabil idade Social da Faculdade Visconde de Cairu.
Cada vez mais as mulheres vêm ocupando espaços profissionais, culturais e políticos que tradicionalmente eram
reservados aos homens. A busca pela igualdade de direitos tem sido uma constante reivindicação das mulheres.
Este artigo tem como objetivo principal verificar se as opções profissionais feitas, no ato da matrícula, no ano de
2005, pelas alunas dos cursos com maior demanda feminina, na Universidade Federal da Bahia, foram baseadas
em motivos que rompem com o estereótipo de gênero e contribuem para uma nova condição feminina. Para
tanto, foram levantados quais os cursos que apresentaram maior inclusão feminina e se eles continuam sendo os
cursos tradicionalmente femininos. Adotou-se, como suporte teórico, uma abordagem culturalista da identidade
feminina, permeada pela diferença de gênero. Observou-se, também, os tipos de papéis da mulher na sociedade
e como se deu, historicamente, seu ingresso na universidade. Trata-se de uma pesquisa de estudo de caso, através
de uma abordagem quantitativa com levantamento da literatura especifica e pesquisa documental. Apesar das
importantes mudanças na inserção das mulheres no mercado de trabalho, grande parte concentra-se, ainda, em
190
GT 21 - MULHERES, RELAÇÕES DE GÊNERO E FEMINISMO NO NORTE E NORDESTE
ocupações tradicionalmente femininas: serviços pessoais, de alimentação, educação e saúde. Constatou-se, também, que as preferências profissionais das mulheres continuam sendo aquelas que fortalecem o estereótipo de
gênero: elas ainda ingressam, em maior número, nos cursos do cuidar e do servir.
Palavras-chave: Mulher. Escolha Profissional Universidade.
PAPÉIS SEXUAIS E MANEJO DE RECURSOS HÍDRICOS
Loreley Garcia. Universidade Federal da Paraíba/Prodema e PPGS. [email protected]
Pretende-se discutir a associação entre o feminino simbólico, frequentemente ligado ao elemento água, e o papel
atribuído à mulher na formação de uma nova ética de manejo da água, adequada às necessidades do século XXI.
Nas Metas para o Milênio (2000) e na Conferencia Internacional da Águas (Berlim,2001), a ONU destaca a
eqüidade de gênero como um condicionante para a implantação da gestão sustentável dos recursos hídricos.A
participação da mulher na tomada das decisões sobre o destino das águas garante efetividade e sustentabilidade,
evitando políticas equivocadas na provisão eqüitativa de água. Ela garante o acesso a todos, bem como confere a
todos responsabilidade na preservação dos ecossistemas. A escassez de água, sobretudo no meio rural, impacta
muito mais mulheres e meninas, considerando que, na maioria das culturas, a divisão sexual do trabalho,
confere a elas tarefas de buscar, carregar, manipular e armazenar a água. Elas também detêm conhecimento
acumulado sobre a localização, qualidade das águas e armazenamento que precisam ser resgatados. Defendemos
a equidade de gênero na participação nos Comitês Gestores das Bacias Hidrográficas, exemplificado no projeto
Pro-agua para a Bacia do Rio Taperoá na regiao semi-árido da Paraíba. Trata-se de criar uma nova cultura da água,
o que implica interferir no imaginário social, repensar valores, comportamentos e adotar novos hábitos e
atitudes.
Palavras-chaves: relações de gênero, recursos hídricos, manejo, equidade.
PARA ALÉM DO VOTO: DISCUTINDO GÊNERO, CIDADANIA E COTIDIANO
No início do século XX, as reivindicações das mulheres por seus direitos trouxeram significativas transformações sociais. O direito ao voto, o ingresso nas instituições escolares, a participação no mercado de trabalho
foram reivindicações e conquistas, que implicaram no direito ao reconhecimento de sua cidadania. Para exercer
essa cidadania, as mulheres tiveram que conciliar a atividade doméstica com a pública. Sob tal enfoque este
trabalho se propõe, juntamente com as discussões teórico-metodológicas, abrir espaço para uma discussão ampliada sobre o assunto. O trabalho objetiva investigar, no âmbito do lazer, trabalho, família e participação política,
as estratégias e práticas cotidianas que são formuladas pelas mulheres para que possam desenvolver suas atividades, destacando que outros atores entram em cena e de que forma contribuem. O procedimento metodológico
contou com pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo com mulheres residentes nos municípios
de Almeirim e Belém, localizados no Estado do Pará, num total de 21 entrevistadas. Os resultados apontam que
o grupo doméstico possui uma significativa participação na manutenção pública e privada, pois para que as
mulheres possam realizar suas atividades contam com “ajuda” de seus familiares, que pode ocorrer como um
auxílio nas atividades domésticas, no trabalho ou no momento de lazer. Os homens aparecem em evidência, no
que se refere a essa “ajuda”, mostrando que estudar as relações sociais de gênero implica numa relação dialogal,
ou seja, numa “cumplicidade” entre homens e mulheres. Desse modo, dizer que a relação entre as mulheres
entrevistadas e suas famílias são um dos alicerces para o entendimento da sua situação na busca pela cidadania.
191
GRUPOS DE TRABALHOS
Prof. Dr. Samuel Sá (Laboratórios de Antropologia e Metodologia/IFCH/UFPA)
Profª. Drª. Denise Machado Cardoso (Laboratório de Antropologia/IFCH/UFPA)
Profª. Msc. Kirla Korina dos Santos Anderson (Laboratório de Sociologia/IFCH/UFPA)
Martha Regina Freitas (Cientista Social/UFPA)
Thaize Bianca Figueiredo de Souza (Graduanda em Ciências Sociais/UFPA)
PERMANÊNCIAS DO PATRIARCADO NA PRÁTICA JURÍDICA RECIFENSE
Carlos Eduardo de Albuquerque Filgueiras (Mestrando em História pela UFPE – [email protected])
Fruto de um estudo interdisciplinar entre os campos da história e da antropologia, o objetivo desse trabalho é
analisar os posicionamentos do poder judiciário diante das reformulações por que passavam as relações de
gênero no Recife da década de vinte. A adoção, pelas mulheres, de novos costumes e práticas colocava em xeque
o que era socialmente instituído como feminino. Nosso ponto de observação são processos judiciais relativos a
crimes passionais e o contraste destes com a imprensa, principal difusora dos “costumes modernos”. Como
resultado de nossas observações, constatamos que o judiciário, num momento de tensão (no caso, o crime)
reforçava características patriarcais nos julgamentos, tornando-se um obstáculo às novas aspirações das mulheres. Esse estudo é parte do trabalho final de uma disciplina sobre gênero, sexualidade e família ministrada no
Programa
Palavras-chaves: justiça, gênero, Recife
RELAÇÕES DE GÊNERO NA CHEFIA FEMININA: UMA PROPOSTA TEÓRICOMETODOLÓGICA DE ANÁLISE.
Mary Alves Mendes (UFPI – [email protected])
A participação feminina na esfera pública, em geral, representa emancipação e autonomia, mas quando vista em
seus pormenores apresenta outros elementos explicativos, a exemplo das desigualdades de gênero e desigualdades sociais, formando um quadro paradoxal das relações de gênero (Lipovetsky, 2000), caso verificado com as
chefes de famílias residentes em áreas ZEIS, na cidade do Recife. Compreendendo a questão a partir das relações
de poder, na sua forma negativa (divisão sexual do trabalho, violência doméstica, condições de pobreza) e
positiva (autonomia, poder de decisão no contexto familiar), o presente estudo discute a proposta teórico-metodológica que a fundamenta com o objetivo de construir uma matriz explicativa de interlocução entre teoria
feminista e teoria social visando à análise da referida questão. Toma-se como referência feminista gênero como
categoria analítica, entendendo-o como construção social e campo de significação das relações de poder (Scott,
1989) que se constitui tanto pelos dispositivos incorporados pelo habitus, gerando estruturas de dominação e
desigualdades de gênero (Bourdieu, 2002), como pelas micro relações de poder, via estratégias cotidianas, operando de forma fluída, em níveis diferenciados e não unilaterais, gerando formas positivas de poder e micro
mudanças na esfera doméstica (Foucault, 1995).
Palavras-chave: chefia feminina, gênero, relações de poder.
SENHORAS NO COMANDO: ESTUDO SOBRE MULHERES APOSENTADAS E CHEFES DE
FAMÍLIA RESIDENTES NO SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE SALVADOR
GRUPOS DE TRABALHOS
Carolina Santana de Souza (Projeto TEMPO – NEIM/UFBA; carol [email protected])
O Nordeste é a região brasileira que apresenta a maior proporção de domicílios chefiados por mulheres: 24,9%.
Este trabalho aborda as mudanças ocorridas em relação à posição da mulher na família e aos padrões de
assistência entre as gerações, examinando a questão da responsabilidade que muitas mulheres idosas vêm assumindo quanto à chefia do grupo doméstico. Para tanto, foram investigadas as trajetórias individuais de mulheres
com mais de 60 anos, que são aposentadas e chefes de família, residentes no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
A questão da chefia feminina é colocada considerando o atual contexto de aumento da longevidade da população mundial, e de suas repercussões em todas as dimensões da sociedade — principalmente no interior das
famílias. Os métodos adotados nesta pesquisa qualitativa foram o trabalho de campo intensivo, através da
observação direta, e a realização de entrevistas individuais; visitas informais foram registradas em Diário de
Campo, no intuito de apreender o contexto em que os encontros ocorreram. Com o desenvolvimento da
investigação, foram identificadas convergências e divergências significativas entre as responsabilidades e a
multiplicidade de papéis desempenhados pelas mulheres no curso de sua vida — dimensionados pelos diferenci-
192
GT 21 - MULHERES, RELAÇÕES DE GÊNERO E FEMINISMO NO NORTE E NORDESTE
GRUPOS DE TRABALHOS
ais de sexo/gênero, idade/geração, classe social e cor/raça; a co-residência, por vezes interpretada como uma
necessidade das gerações mais velhas, revelou-se como uma demanda principalmente entre as gerações mais
jovens, adultos e crianças, estabelecendo-se um padrão de assistência intergeracional, cujo fluxo de ajuda mais
intenso parte das gerações mais velhas na direção dos membros mais jovens. A identidade “mulher idosa”
permite às senhoras entremearem seus discursos e posturas com representações tradicionais do envelhecimento
como resíduo de vida, com novos significados incorporados em suas experiências atuais, reclassificando suas
posições na hierarquia etária. Diante dos resultados obtidos, é possível afirmar que as transformações percebidas
em relação à posição da mulher na família e aos padrões de assistência entre as gerações não significam o
enfraquecimento das relações familiares; indicam a plasticidade e a enorme capacidade de adaptação às transformações econômicas e estruturais que caracterizam a “família” — visto que sua relevância como espaço de sociabilidade e socialização primária persiste, com intensidade, respaldada pela noção de responsabilidade e solidariedade presentes na ideologia da família brasileira.
193
GT 22
IDENTIDADES ÉTNICAS E CULTURIAS
A DIVERSIDADE DESENHADA NOS LIVROS DIDÁTICOS: “O QUE É SER INDÍO” PARA OS
LIVROS DIDÁTICOS
Celênia de Souto Macêdo (UFCG – [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
Este trabalho discute a questão indígena apresentada nas escolas e nos seus suportes (educação indígena) em
torno das aldeias a partir da educação contextualizada, mostrando como esta se relaciona com a educação
tradicionalmente aplicada em escolas no mesmo recorte. A Constituição estabelece que a educação é um direito
de todos, embora não se tenha ainda implementado “modelos” que atendam à demanda nacional. A educação
pública, ainda em fase de expansão, não estimula a visão crítica e relativista em relação ao “outro”. O Programa
Nacional do Livro Didático – PNLD – busca oferecer materiais condizentes com o contexto dos educandos. A
questão indígena apresentada no âmbito das escolas públicas em livros didáticos de História e Geografia em
torno das aldeias, ainda hoje é abordada sob uma ótica preconceituosa e equivocada, até mesmo nos livros que
tentam apresentar uma abordagem responsável e coerente. A diversidade cultural no Brasil, país destacado por
contemplar um grande número de povos, línguas e histórias, é ainda um desafio. E estando a escola com a
responsabilidade de levar aos educandos a percepção dessa riqueza, e fazer desse cenário um local propício para
a percepção das diferenças enquanto algo legítimo e de direito, justifica a pesquisa que ora empreendemos.
Sendo os livros didáticos instrumentos capazes de auxiliar o professor, contribuindo para dimensionar e destacar o que realmente significa ser diferente, e partindo do pressuposto de que em algumas escolas os livros são as
ferramentas mais acessíveis, abre-se espaço à necessidade de uma percepção quanto à contribuição que esses
recursos auxiliam enquanto suporte em relação ao convívio e ao reconhecimento do que vem a ser essa diversidade cultural tão presente e, ao mesmo tempo, ausente no processo educativo. Assim, procura-se, com o presente
estudo, abrir espaço a uma crítica ao planejamento pedagógico brasileiro, por não contemplar as diversidades
culturais existentes no Brasil.
Palavras-chaves: Educação – Antropologia – Livro Didático
A ELEVAÇÃO DO ESPÍRITO SOFREDOR: O CONCEITO DE CORPO NO TRATAMENTO DE
AFLIÇÕES DO RITUAL DE TRONOS DO VALE DO AMANHECER
Erich Gomes Marques (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – [email protected])
Pretendo analisar a contribuição que o desempenho do ritual de tronos, inserido em contexto religioso da
Ordem Espiritualista Cristã Vale do Amanhecer, possui na construção simbólica do corpo, doença e saúde entre
pacientes e fiéis que freqüentam o templo local. Para tal abordei aqui o modo como crises e transtornos
emocionais são interpretados e inseridos em contexto ritualístico e em meio às experiências cotidianas. Assim,
procuro mostrar como a construção simbólica do corpo no ritual de comunicação dos tronos é fundamental
para entender a compreensão que pacientes e fiéis tem de si mesmos no âmbito da saúde e da doença. O
conceito dos praticantes sobre mediunidade, a inserção no sistema simbólico religioso e o desempenho do ritual
são imprescindíveis para a compreensão do processo de cura.
Palavras-chaves: incorporação, mediunidade, espíritos sofredores, desobsessão
194
GT 22 - I D E N T I D A D E S É T N I C A S E C U LT U R I A S
A PLURALIDADE RELIGIOSA E A CONSTITUIÇÃO DOS GRUPOS NAS CELEBRAÇÕES
WICCANAS
Amaro Xavier Braga Júnior - Antropólogo e Sociólogo. Professor da UFPE/ Fac. Maurício de Nassau [email protected]
A wicca se organiza como um movimento religioso de retomada da chamada “antiga religião”, um conjunto de
práticas religiosas pré-cristãs ligadas à feminilidade e a natureza. Este trabalho constitui uma análise das relações
identitárias da religiosidade atual a partir de uma constituição de uma única interface religiosa envolvendo uma
série de panteões divinos de outras religiões míticas. Deusas gregas, nórdicas, celtas, egípcias e sumerianas
dividem as atenções dos adeptos com Mitos femininos bretões, escandinavos, russos e africanos em torno de
altares a elas consagrados. Praticas xamânicas e ritos de fraternidades iniciáticas complementam esta interface
pluri-religiosa dos cultos wiccanos. Construindo uma nova religiosidade sacerdotal e iniciática e ligada ao culto
doméstico que nos apresenta uma nova forma de religião, tradicional e pós-moderna ao mesmo tempo, configurando novas relações identitárias. Esta diversidade religiosa é complementada pelo caráter de identificação e
formação de grupos de referência nos ambientes das chamadas Tradições Wiccanas ou ainda na existência dos
Covens, ambos intencionados na referência das ações pessoais, comportamentais e da personalidade.
A REDESCOBERTA DA IDENTIDADE JUDAICA NO NORDESTE BRASILEIRO
Marcos Silva. Prof. Adjunto no Departamento de História. UFS - Universidade Federal de Sergipe.
[email protected]
Jéssica Barros Silva. Acadêmica de Psicologia. UFBA – Universidade Federal da Bahia [email protected]
Os estudos a respeito da presença judaica no Brasil se concentram, sobretudo, nos processos inquisitoriais
resultantes das visitações do Tribunal do Santo Ofício ao país durante o período colonial ou nas diferentes levas
de imigrantes judeus que aqui chegaram nas primeiras décadas do século XX. Porém, provavelmente sob influência do incremento dos estudos sobre o “marranismo”, um fenômeno de redescoberta étnica e cultural judaica
entre os descendentes dos primeiros colonizadores se esboçou a partir do final do século XX. Que fatos indicam
a emergência desta tendência? Quais as conseqüências da redescoberta destas origens que se verifica no Brasil,
especificamente no Nordeste?
Palavras-chave: Identidade Judaica, Judaísmo no Nordeste, Marranismo.
AFRICANIDADES, IDENTIDADES ÉTNICAS E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO NO “BERÇO DA
CULTURA NEGRA SERGIPANA”.
Este trabalho é parte da dissertação da autora e aborda os repertórios culturais de base africana, sua relação com
a vivência das identidades étnicas dos sujeitos e as possibilidades de inclusão desses repertórios na educação
escolar, a partir da realidade do campo da pesquisa, povoado Mussuca, em Laranjeiras-SE. A interpretação parte
dos olhares de discentes, profissionais da educação e membros dos grupos culturais locais. Os eixos norteadores
são identidades étnico/raciais, africanidades e afrodescendência, prática pedagógica e currículo escolar. O
estudo aponta alguns pontos de aproximação e de distanciamento nas concepções e nas práticas presentes no
espaço escolar e nos demais espaços sócio-culturais da comunidade no que se refere aos repertórios culturais
locais e seus sujeitos. Esses apontamentos servem como base para uma reflexão teórica sobre as práticas pedagógicas nos quilombos contemporâneos.
Palavras-chave: Identidade étnico-raciais / africanidades e afrodescendência, prática pedagógica e currículo escolar.
195
GRUPOS DE TRABALHOS
Maria Batista Lima – Profª Ajunta (UFS/Campus Prof. Alberto Carvalho) - mabal [email protected]
AS CONCEPÇÕES DE BRASILIDADE E “PLANTA EXÓGENA”: IMIGRANTES, MOVIMENTO
OPERÁRIO E ESTADO NA IMPRENSA ANARQUISTA NO BRASIL EM INÍCIOS DO SÉCULO
XX.
Rogério Humberto Zeferino Nascimento (<[email protected]> UFCG)
O estabelecimento da república brasileira foi marcado por modificações profundas na sociedade. O fim da
escravidão negra, o estabelecimento da indústria, a imigração européia e a formação do movimento operário
caracterizam este período. As condições de vida do trabalhador eram desfavoráveis, sendo pior ainda a situação
das mulheres e crianças trabalhadoras. Isto sem esquecer da violência policial. Os republicanos procuraram
solidificar as instituições democráticas recém inauguradas através da difusão da concepção de uma brasilidade
primordial. Era preciso assegurar a particularidade da nação brasileira diante dos países, sobretudo da Europa.
Literatos e precursores das ciências sociais procuraram dar sustentação a este pensamento. O mito das três raças
– índio, negro, branco – foi digerido pela intelectualidade estabelecida, sendo mais bem assimilado por se
beneficiar do aval de um conhecimento dito científico. Este particular deu maior solidez à idéia de brasilidade
porque ‘raça’ remete ao campo do biológico, portanto do natural. Apesar da intelectualidade acadêmica da época
avalizar esta concepção biologizante, vozes dissonantes produziram ruídos neste coro. Jornais e impressos de
anarquistas tensionaram esta idéia. A lei Adolfo Gordo de 1907, regulamentando a expulsão de estrangeiros, é
indício das tentativas de controle social. A imprensa comercial difundiu a idéia de uma conspiração internacional com o fim de obstar o crescimento do Brasil através de imigrantes que traziam “idéias exóticas”. Eram as
“plantas exógenas” a causa das convulsões sociais. Nesta ocasião muitos anarquistas questionaram a lei em si, o
mito das três raças e a idéia de brasilidade difundida por segmentos da elite. Recuperar este debate é importante
por favorecer um conhecimento de aspectos do pensamento proletário nas primeiras décadas do século passado,
críticos a estudos biologizantes do social. Importante também por focar saberes que tratam da idéia de identidade nacional brasileira num período de intensificação de processos de imigração européia.
Palavras-chaves: brasilidade, movimento operário, anarquistas.
ASPECTOS IDENTITÁRIOS E DE RESISTÊNCIA CUTURAL NO TEMPLO ESPIRITUALISTA PAI
OXOCE DE UMBANDA RACIONAL (RECIFE/PE)
GRUPOS DE TRABALHOS
Claudia Maria da Silva Cruz (Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco
PPGA/UFPE – claud [email protected]);
João Marcelo Silva (Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco PPGA/
UFPE – [email protected])
O presente artigo tem por escopo compreender a relação entre identidade e resistência cultural no Templo
Espiritualista Pai Oxoce (Casa do Amigo), centro umbandista localizada no bairro do Ipsep, em Recife (PE). Ali
seus fiéis se classificam como praticantes de uma “Umbanda Racional”, sustentada como uma forte marca
identitária para o grupo, num campo extremamente disputado por filiações religiosas diversas. Mediante o
estudo de seu sistema ritual, nossa abordagem visou detectar elementos dos sincretismos religiosos lá existentes
e ensaiou uma explicação para o sucesso desse grupo, a partir da configuração de sua identidade. Adotando a
prática de uma Umbanda voltada para o estudo e a elevação moral do espírito, influenciada por doutrinas
oriental-esotéricas, o que sobressai nesse Templo são as táticas para atração de um grande número de adeptos,
mediante a afirmação de sua cultura grupal. Essa pesquisa foi realizada a partir de uma metodologia etnográfica,
com o uso de observações de campo, entrevistas e registro áudio-visual dos discursos e das performances rituais.
Palavras-chaves: Umbanda Racional, identidade e resistência cultural.
196
GT 22 - I D E N T I D A D E S É T N I C A S E C U LT U R I A S
CAMPONESES TATUADOS? ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DO “SEM TERRA ACAMPADO”
Graziele Cristina Dainese de Lima (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social – Museu Nacional/UFRJ)
Neste trabalho abordo a experiência do “sem terra acampado” a partir do trabalho de campo realizado num dos
acampamentos organizados pelo MST no Rio Grande do Sul. Tendo por pressuposto a proposta destacada pela
antropóloga Lygia Sigaud para a abordagem desses espaços, a qual trata de “reconstruir e relacionar os diferentes
pontos de vista e encontrar o significado que têm os acampamentos para os indivíduos”, apresentarei alguns
eventos e conflitos ocorridos entre esses “acampados” a fim de reconstituir a experiência do grupo e apreender
os diversos interesses e formas de inserção no que eles denominam de “luta pela terra”. Tais eventos demonstram como esses sem terras redefinem suas práticas e narrativas a partir da relação “urbanos” e “camponeses” no
acampamento. Para tanto, parto das discussões de Norbert Elias sobre as relações de poder fundadas na distinção. Tal leitura é sugestiva para o tema aqui debatido à medida que as diferenças entre “urbanos” e “camponeses” era destacada a partir do estilo de vida e comportamento, envolvendo elementos distintivos como o tipo de
roupa, o gosto musical, dentre outros. A distinção entre os sem terras acampados se baseia em identidades
idealizadas, referentes à vida no campo e na cidade. Algumas características são atribuídas aos “camponeses” e
outras aos “urbanos”, e estas são concebidas como antagônicas. Entretanto, alguns indivíduos no grupo, assim
como o próprio grupo, manipulam essas identificações - ora acionando o ideal de “camponês”, ora acionando o
ideal de “urbano” - de acordo com as estratégias convenientes ao contexto e à imagem com a qual querem ser
identificados.
DESMISTIFICANDO CONCEITOS “UNIVERSALIZANTES”: REPENSANDO AS
CONSTRUÇÕES DE SER MULHER E GANHADEIRA, NAS RUAS DE SALVADOR. (1900-1930)
Paloma Vanderlei da Silva; Ceao-UfBA.
“EM TEMPO DE SOLIDÃO FORÇADA” - A EPIDEMIA DE VARÍOLA EM LARANJEIRAS E O FIM
DA UNIDADE NAGÔ NA ZONA DO COTINGUIBA-SE
Fernando José Ferreira Aguiar Prof. Dep. de História/ CECH/ UFS Prof. do curso de História da FJAV. Prof. da pósgraduação em Ed. Patrimonial e Identidades Sergipanas/ Faculdade Atlântico. [email protected].
[email protected]
O intuito dessa comunicação é apresentar os resultados de um estudo detalhado da desestruturação da unidade
nagô a partir da experiência vivida por africanos e seus descendentes no maior centro de concentração de
negros do Estado de Sergipe, considerando as relações estabelecidas entre a epidemia, as alterações ritualísticas
e a construção de novas relações de poder no campo religioso a partir da chegada do Candomblé de Feitorio
197
GRUPOS DE TRABALHOS
Entender a construção da Identidade Social, étnica e cultural que as Ganhadeiras construíram no seu cotidiano,
requer antes de qualquer coisa, compreender como estas encarnavam a contradição do discurso de modernização e civilidade tão em voga no período estudado. Quando este projeto de Políticas Públicas se propôs a reordenar
as ruas da cidade e fazer com que esta se tornassem ambiente salubre para a circulação da família baiana,as
mulheres negras ganhadeiras já ocupavam este espaço historicamente não apenas para o seu sustento e de seus
familiares mas também como um local onde se construíram suas teias de solidariedade,sociabilidade,onde eram
travadas suas relações sexo afetivas,identitárias e conflituosas.Os Estudos sobre a Mulher e os Estudos Feministas apontam caminhos diversos para a interpretação das realidades históricas e culturais vivenciadas por estes
sujeitos ao longo do tempo,interpretando as especificidades às quais as mulheres estão inseridas a depender de
sua realidade e contexto sócio – econômico e cultural.No caso da nossa pesquisa não é possível compreender
esta construção de identidades sem a categoria de análise “raça”,que aqui interpreto como forma de identificação das diferenças étnicas de cor,que apareciam nas notícias da Imprensa,assim como Gênero se constitui em
Relações de Poder portanto determinante na compreensão do cotidiano e da vida das mulheres ganhadeiras.
Palavras Chaves: Ganhadeiras, Identidade, Gênero.
proveniente de uma nova diáspora religiosa baiana. Com o fim da epidemia e a sucessão das lideranças dos dois
mais antigos terreiros de Sergipe (o Terreiro de Santa Bárbara e Os Filhos de Obá) é estabelecida uma verdadeira
“desordem”, e a revitalização das “Casas de Santo” se dá com a construção de um novo discurso de legitimidade
religiosa fomentada a partir de ferrenhas rivalidades no complexo universo dos bens simbólicos.
HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DE UMA ALDEIA: UMA ANÁLISE ETNOGRÁFICA DE PIAÇAGÜERA – SP
Camila Mainardi (PPGAS/UFSCAR – e-mail: cami_mainard [email protected]).
Partindo do pressuposto de que os Guarani possuem um modo particular de lidar e de entender o local em que
vivem, este trabalho tem como objetivo a compreensão do discurso indígena sobre o território que habitam a fim
de legitimar politicamente sua ocupação. Voltaremos nossa atenção especificamente à aldeia Piaçagüera, localizada no litoral paulista. Para compreendermos tal discurso é necessário termos em vista alguns aspectos da
cosmologia guarani já apontados por diversos autores. Nesse sentido discorremos sobre a idéia de tekoha. Existiria entre os diversos tekoha Guarani uma dinâmica específica que se daria através das relações políticas e sociais
e das redes de parentesco, sendo caracterizada pela constante circulação dos índios entre os territórios. Presente
nesta dinâmica está a aldeia Piaçagüera. Formada recentemente (há cerca de sete anos), ela foi reconhecida
como Terra Indígena pela FUNAI, no ano de 2002; porém, ainda não foi homologada. Atualmente os índios
estão brigando judicialmente pelo seu direito à terra. A área em que habitam, por ser perto da orla é de grande
especulação imobiliária, porém, seu maior oponente é uma Mineradora, que retomou suas atividades de extração
de areia naquela região. Trata-se, além disso, de uma aldeia em que os índios se consideram Tupi-Guarani. Este
fato contraria tanto a literatura etnográfica que diz não existir uma etnia Tupi-Guarani, que seria antes um grupo
lingüístico, como a bibliografia Guarani que aponta os índios do litoral paulista como sendo Guarani Mbya e
Nhandevá. Há uma complexidade de fatores no que tange a identidade do grupo – contexto de legitimação da
terra, descendência, diferenciação de outros grupos Guarani – que podem ser observados no discurso sobre o
território, o que justifica a escolha do objeto do trabalho.
Palavras-chaves: Guarani, território, discurso
IDENTIDADE ÉTNICA NO ISLAMISMO TRADICIONALISTA NO SURINAME
GRUPOS DE TRABALHOS
John da Silva Araújo. Universidade Federal do Pará (UFPA). Palavras-chave: identidade; islamismo; Suriname.
Email: [email protected]
O trabalho trata da relação entre as tendências religiosas tradicionalistas e reformistas do islamismo no Suriname,
país com maior percentual de muçulmanos no continente americano. A busca de referenciais tradicionais no
passado produziu maneiras heterogêneas de praticas islâmicas, que retratam o processo singular de formação do
islamismo naquele país. A pesquisa acerca dessas questões é orientada por uma etnografia em ambiente cultural
considerado multiétnico, na qual busca-se interpretar o sentido das ações dos grupos, os processos específicos em que
se dão as dissensões e o modo pelo qual as categorias cultura, religião, etnia são construídas e significadas dentro da
realidade social daquele país. A diferença entre as duas vertentes principais do islamismo no Suriname, o tradicionalismo
baseado num islamismo heterodoxo, e o reformismo orientado pela ortodoxia, é norteada pelos referenciais aos
quais a comunidade encontra-se vinculada. A prática religiosa da corrente tradicionalista encontra os referenciais na
tradição trazida dos países de origem de seus ancestrais: a Índia e a Indonésia; enquanto que a corrente reformista
busca seu conjunto de valores morais no Alcorão, na Suna e na comunidade muçulmana constituída na península
Arábica do século VII, à época do profeta Maomé. Os tradicionalistas tendem a conservar os costumes islâmicos
trazidos de seus países de origem, ainda que imersos em práticas alheias ao Alcorão. A auto-afirmação e o sentimento
de pertencimento étnico reforçam, e são reforçados, pelas tradições da comunidade, o que a leva a assumir também
a heterodoxia islâmica oriunda do subcontinente indiano e do sudeste asiático e um caráter moral mais tolerante na
interpretação do texto sagrado. A oposição entre tradicionalistas e reformistas é um dilema recorrente no islamismo
em geral: a antinomia entre a identidade étnica tradicional peculiar à comunidade, e a vocação universalista do islã.
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GT 22 - I D E N T I D A D E S É T N I C A S E C U LT U R I A S
NAÇÃO XAMBÁ: TRÂNSITOS CULTURAIS E CONFIGURAÇÃO DE IDENTIDADE ÉTNICA
Valéria Gomes Costa. Mestra em História pela UFPE, Professora Substituta do Curso de Graduação em História da
UFRPE. Email: [email protected]
A busca por uma identidade africana, pelos/as adeptos/as dos cultos aos orixás e/ou das demais práticas religiosas
elaboradas a partir de narrativas de pertencimento ao mundo africano, vem sendo objeto de estudos nas diversas
áreas do conhecimento, como da Antropologia, Sociologia, Lingüística e da História. Em suas abordagens, percebemos como ponto de interseção, o debate em torno da apropriação e resignificação cultural e de identidade
africanas, elaboradas pelos grupos religiosos, isto é, da busca por uma África no Xangô/Candomblé. A reconstrução dos vínculos rompidos com a cultura africana “original” e a afirmação da tradição, no Nordeste, passam pelo
debate sobre o hibridismo no Candomblé/Xangô predominantes na luta pela supremacia que opõe os terreiros
entre si. Por outro lado, as discussões sobre etnicidade, construção de identidade étnica, anteriormente designados
apenas para estudos relacionados as populações indígenas, passaram também a se estender aos debates sobre
construção de identidade desses grupos afrodescendentes. Isto pelo fato de que aos estudos da etnicidade cabem
todas as formas de interação entre os grupos culturais que operam dentro de contextos sociais comuns (CARDOSO
DE OLIVEIRA, 2006). As discussões em torno das elaborações e reelaborações simbólicas dos membros do
Terreiro de Santa Bárbara, localizado no bairro de Beberibe, em Olinda/PE, que se diz de Nação Xambá, entendendo o termo nação, dentro da perspectiva de grupo étnico africano, tornou-se nosso objeto para esta discussão. Ainda
pela designação de Xambá, encontramos o grupo étnico, “tchambá”, nas proximidades dos montes Adamawa, entre
os paises da Nigéria, Camarões e Senegal; “samba”, “shamba”, “soba”, foram configurados como outros indícios de
identidades étnicas africanas que os adeptos do culto Xambá no Nordeste se designaram descendentes. Assim, o
presente trabalho se proponhe a discutir as elaborações e reelaborações de identidade étnico-religiosa dos membros da Nação Xambá, tradição de culto afrodescendente praticado em Alagoas e Pernambuco que teve seu apogeu
entre as décadas de 1930-1960. Tomamos como ponto de partida, para estudar as elaborações e ressignificações
desta identidade africanizada, os trânsitos culturais e a memória das pessoas que pertencem e/ou pertenceram, em
Maceió/AL e Recife/PE, a prática de cultuar orixás a ‘forma’ Xambá.
Palavras-chaves: Nação Xambá, identidade étnico-religiosa, trânsito cultural.
NO BERÇO DA POESIA, O PASSADO EMBALA O PRESENTE
A cidade de Itapetim-PE é designada por sua comunidade poética como Berço da Poesia. Tal título remonta à
necessidade de afirmação de um pertencimento, visto que, a poesia de improviso cantada neste local atua concomitante
ao repente cantado no cenário nacional. Os cantadores intapetinenses, além de desqualificados pela condição de
autóctones, precisam acompanhar as novas demandas do improviso, em meio à intensificação das trocas interculturais
e os processos advindos da globalização. Berço da Poesia é também uma metáfora da condição de origem. O termo
relembra o lugar nascedouro de grandes repentistas, mitos fundadores da poesia de improviso, tais como, Rogaciano
Leite e os irmãos Batista. Uma memória que é reconstituída no tempo, para reclamar uma particularidade sobre
esta forma de saber. O presente trabalho é fruto de pesquisa de mestrado, que arrolou cerca de três anos, alternando
estratégias de observação, entrevistas e observação participante. De acordo com os resultados da pesquisa, podemos
perceber os reflexos e as tensões que acompanham a constituição de tradições populares como representantes de
uma identidade nacional que prioriza o fator da “pureza cultural” como critério de autenticidade da cultura. Um
movimento comum à construção dos nacionalismos (frente à epifania cultural global), que retorna sobre a vida dos
grupos populares pela necessidade de preservação das raízes. Tal identidade acaba condenando esses grupos à
antigüidade e dificultando seus diálogos interculturais. Por outro lado, percebe-se que os grupos populares recompõem sua memória com a perspectiva no olhar de hoje, conformando e moldando o sentido de sua continuidade.
A reconstrução pelo passado deve ser pensada, além do fator fundamental de construção de pertencimento, como
reivindicação de um lugar particular nessa rede específica de circularidade e fluxo. Portanto, pretendo problematizar
esta devoção pela origem, desconfiando da possibilidade de uma cultura ser livre de misturas e apostando nas
brechas pelas quais deve ser entendida a inovação.
199
GRUPOS DE TRABALHOS
Karlla Christine A. Souza – [email protected]
“NOTTING HILL: CONSIDERAÇÕES ETNOGRÁFICAS SOBRE UM CARNAVAL ANGLOCARIBENHO”
Iara Gomes de Bulhões – [email protected]. Universidade Federal Fluminense - Programa de Pós-Graduação em
Antropologia (PPGA/UFF)
Este artigo apresenta o carnaval de Notting Hill, realizado na Inglaterra, na cosmopolita Londres. Visto como
um ritual que acontece no âmbito de uma sociedade urbano-industrial complexa, marcada pela diversidade e
constituída por diferentes grupos étnicos, a intenção é colocá-lo sob descrição e analisar, do ponto de vista
etnográfico, alguns de seus significados. O carnaval londrino estabeleceu-se a partir de um social drama e, como
tal, traz em seu bojo a co-presença de diversos grupos étnicos e pessoas de distintas nacionalidades; portanto,
uma situação e conjuntura privilegiadas para se observar e analisar processos sociais onde se encontram presentes a (re)construção, a manutenção, a manipulação (por determinados grupos sociais, de aspectos distintivos) e a
afirmação das chamadas ‘identidades étnicas’, enfatizadas nesse ritual através do recurso aos sinais diacríticos.
Aspectos distintivos estes que têm como referência carnavais tomados como “originais”, referenciados às nações
e lugares dos quais as pessoas que dele participam são oriundas. A presença expressiva de “grupos caribenhos”,
que desfilam representando “identidades culturais” daquelas ilhas, fazem dele uma espécie sui generis de “carnaval étnico”. Atualmente também se fazem presentes na parade londrina “escolas de samba” que representam a
“cultura nacional” brasileira. O carnaval de Notting Hill é marcado pelas oposições rituais, com seus verdadeiros desafios e concorridas apresentações, concursos musicais, concursos de fantasias... tudo empreendido segundo as “tradições” do carnaval de Trinidad. E tudo isso numa situação tanto de festejo – pois, exalta um tipo de
presença coletiva encarnando o ideal de liberdade e preponderância caribenha, quanto de desafio – pois, além das
competições de caráter agônico, estagna, além do mais, o fluxo ordinário de pessoas, veículos, informações, mercado e o substitui por uma outra ordem: a desejada ordem da “não ordem”, por assim dizer; a ordem do inverso e do
anverso, elevando ao centro e ao cume categorias consideradas socialmente suburbanas e subalternas.
Palavras-Chave: ritual, identidade, étnico.
O CASO DOS SURDOS E DA LIBRAS: O DISCURSO ÉTNICO DA SURDEZ
GRUPOS DE TRABALHOS
César Augusto de Assis Silva, [email protected], USP
O objetivo é apresentar dados etnográficos sobre um processo de identificação coletiva relativamente recente, o
caso dos surdos e da língua de sinais brasileira (libras). Historicamente, os surdos sempre foram visto como
deficientes e dotados de um distúrbio em sua capacidade lingüística. Entretanto, nos últimos anos, alguns
intelectuais, juntamente com surdos organizados num movimento social, passaram a afirmar que a libras é uma
língua. Como resultado desse processo, essa língua foi reconhecida juridicamente pelo Estado e, a partir de
então, os surdos passaram a afirmar num discurso étnico que possuem língua e cultura específicas, reconhecidas
oficialmente. Pretendo demonstrar a especificidade desse discurso que tem feito com que surdos se vejam como
pertencentes a um grupo culturalmente diferenciado.
Palavras-chaves: surdez, língua de sinais brasileira, cultura surda.
REFLETINDO SOBRE ETNICIDADE A PARTIR DE UMA FAMÍLIA CIGANA
Erisvelton Sávio Silva de Melo. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia - PPGA. Universidade
Federal de Pernambuco - UFPE. E-mail: [email protected]
Este trabalho sobre a construção da identidade cigana, a partir da auto-atribuição e atribuição pelos não-pertencentes, na cidade do Recife-PE, se deu partindo de um questionamento sobre: “Quem são os ciganos da região
metropolitana do Recife?”. Essa indagação tornou-se pertinente, pois fomenta uma discussão teórico-metodológica sobre pertencimento étnico e etnicidade com argumentações a respeito de grupos desterritorializados, quem
são, o que fazem e como vivem. Partindo da problemática, o texto se propõe a discutir aspectos da construção de
identidade, perpassando pelos conceitos de fronteiras étnicas, bem como das relações advindas dos contatos
200
GT 22 - I D E N T I D A D E S É T N I C A S E C U LT U R I A S
interétnicos e o papel da memória nesse processo de construção e re-significação identitária. A metodologia
empregada se deu com observações diretas, registros de diário de campo e entrevistas semi-abertas, com uma
família de ciganos residentes no bairro do Coque, Recife-PE, e informantes não ciganos do mesmo bairro. Para
tanto, é notório a memória o imaginário como um fator determinante na construção da identidade étnica, seja
como definição atribuída, seja como auto-atribuição, partindo dos pressupostos das vertentes construcionistas.
Palavras-Chaves: Ciganos, Identidade, Construcionismo.
RELAÇÕES ENTRE CONFLITO, IDENTIDADE E GERAÇÕES
Maria Antonieta Albuquerque de Souza. Universidade de Pernambuco (UPE – Petrol ina).
[email protected]
Ao tratar das relações entre Identidade, Conflito e Geração propomos que a partir da estrutura simbólica das
identidades modernas, possamos identificar um lugar onde o ‘conflito’ pode emergir, interferindo na reprodução do discurso sobre as gerações. Lembrando que as grandes representações modernas são estruturadas a partir
de dualidades, como jovem/velho, que tendem a estender relações dentro dos mesmos termos, embora às
resignificações e inversões sejam possíveis há sempre a perspectiva da previsibilidade dos efeitos. Construímos
as nossas identidades etárias com base na dualidade adulto/criança onde esta é o termo negativo, assim um e
outro não podem existir sem que a relação se estabeleça. O processo que vai do crescimento ao amadurecimento
pleno é trabalho da socialização para a suplementação da ‘falta’, devendo supri-la pela ‘formação’ de um indivíduo adulto. Por essa lógica, o envelhecimento segue o sentido do esvaziamento que caracteriza as gerações
idosas, sendo as diferenças de identidade construídas a partir da distancia que se toma dos pólos. Tomando a
positividade adulta, quanto mais nos identificamos menos seremos diferentes e corremos mais riscos de perda da
autonomia. A partir do que temos de semelhante no outro (somos obrigados a considerá-lo) construímos nossas
identidades, o limite desta alteridade define a preservação da autonomia. Trata-se de permanente vazio estrutural,
de modo que, e esse é um ponto vital, o fundamento dos conflitos geracionais reside na própria construção
valorativa da diferença. Defendemos que o conflito de geração simboliza aquilo que se colocou no lugar dessa
‘falta’ ou da ‘perda’. A essa ‘essência’ ou fundamento, que opera ocupando os lugares nas várias posições (seguindo
Derrida e Laclau & Mouffe e outros pós-estruturalistas afins), denomina-se suplemento que confere um efeito de
unidade - o sentido que vai predominar no discurso sobre aquela identidade como sendo uma característica
intrínseca, natural de uma dada geração.
Palavras-chave: Identidade cultural – conflito de geração – curso da vida
SUJEITO HOMEM NÃO É MACHO: AS REPRESENTAÇÕES DE HOMENS NEGROS POBRES
NO SUBÚRBIO CARIOCA
Neste trabalho pretendo discutir, a partir de uma experiência de campo, como a categoria machismo tem pouca
utilidade analítica para a realidade brasileira, pois como defendem alguns antropólogos hispanos e norte-americanos, as categorias machismo e machista são categorias que trazem no seu nascedouro preconceitos de classe,
geográfica, além de racista. As representações sociais que o grupo pesquisado, homens negros de um bairro popular,
fazem de si trazem desafios metodológicos que demonstram que as discussões sobre identidade gênero masculino
carecem discussões acadêmicas para se pensar em categorias e conceitos mais voltados para a análise realidade
brasileira.
Palavras-Chaves: Representação, Identidade social, identidade de gênero.
201
GRUPOS DE TRABALHOS
Rolf Ribeiro de Souza (Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense - PPGA/
UFF) e-mail: [email protected]
GT 23
A ANTROPOLOGIA CONTEMPORÂNEA E O DIÁLOGO COM GÊNERO,
REPRODUÇÃO E FEMINISMO: REFLEXÕES SOBRE A CONSTITUIÇÃO DE
“NOVAS” DEMANDAS
A (HOMO)SEXUALIDADE MASCULINA E SUA FRAGILIDADE
Danilo Clímaco – Universidade Federal de Santa Catarina. danilocl [email protected]
Entre os esforços teóricos (feministas ou não) por compreender a maneira em que os homens vivem sua sexualidade, há uma concepção que se faz cada vez mais consensual: a de que os vínculos sexuais e eróticos que os
homens constituem – e através dos quais eles se constituem – estão pautados, principalmente ainda que não
exclusivamente, por suas relações mais amplas com outros homens. Isto seria válido para a sexualidade masculina não importando a quem ela se dirige: se a outros homens, se a mulheres, se a mulheres e homens ou se às/
aos movimentos Lésbico, Gay, Travestis, Transgêneros, Intersex e Bissexuais - LGTTIB. Mas o que significa
exatamente dizer que os vínculos sexuais e eróticos que os homens constituem e pelos quais se constituem estão
pautados primordialmente por suas relações com outros homens? A sexualidade dos homens, antes que tratar-se
de um modo afetivo ou sexual de relação entre um homem e outra pessoa, é parte de um sistema maior de
comunicações entre homens que instrumentaliza a pessoa com quem se tem sexo, erotizando não a sua individualidade, mas a sua capacidade de significar um determinado status. Importa também dizer que, apesar do
espaço limitado deste resumo deter-me-ei a diversas autoras, como por exemplo, Eve Sedgwick, em seu livro de
título tão explícito “Beetwen men”, René Girard, em sua bela análise do estupro de Lucrecia, na obra de
Shakespeare, ou Mieke Bal, que cunhou a expressão da sexualidade dos homens como “um ato semiótico” para
a apresentação do artigo.
Palavras-chave: homossexualidade masculina, gênero, masculinidade
AJUDANDO A NATUREZA: A CONSTRUÇÃO DA PARENTALIDADE A PARTIR DO USO DE
NOVAS TECNOLOGIAS CONCEPTIVAS.
GRUPOS DE TRABALHOS
Débora Allebrandt – PPGAS - UFRGS
As novas tecnologias reprodutivas emergem como técnicas capazes de muito mais do que ajudar a natureza no
que se refere à reprodução. Com estas técnicas o sexo foi dissociado da reprodução e com esta separação tornouse possível a construção de parentalidades com bases distintas. No entanto, frente ao vasto leque de opções que
tais técnicas podem desenvolver existem alguns embargos que buscam desenhar o modo como estas devem ser
utilizadas. Aqui me refiro especialmente a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) e a deontologia
dos profissionais que atuam em clínicas e centros de reprodução. Assim, buscar-se-á através de entrevistas semiestruturadas realizadas com profissionais que atuam em clínicas particulares de Porto Alegre o modo pelo qual
acreditam que devem ser utilizadas estas técnicas para a construção de parentalidades. Tal perspectiva se acentua
uma vez que apesar de amplas tais tecnologias vem sendo moldadas na prática através de constantes negociações
entre o que os usuários demandam, os profissionais entendem e a resolução do CFM recomenda. Deste modo,
a busca pelo fim da ausência involuntária de filhos através da reprodução assistida pode ser analisada como um
local, no qual a cultura é um universo de significação que tem os seus significados postos em ação nas práticas
do que chamamos de “tratamento”.
202
GT 23 - A ANTROPOLOGIA CONTEMPORÂNEA E O DIÁLOGO COM GÊNERO, REPRODUÇÃO E FEMINISMO
EU E MINHA MÃE: UM ESTUDO SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE FEMININA SOBRE A ÓTICA
DA FAMÍLIA
Daniella Marçal Gomes. Graduanda em psicologia - UFPE
Luís Felipe Rios. Professor Adjunto I do Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPE
Ainda é escassa a literatura científica brasileira sobre a homossexualidade feminina; neste contexto, os estudos
sobre o processo do coming out tem enfocado o homossexual masculino, e em geral é tratado sob a ótica do
próprio homossexual. Ainda que a família seja referida como lócus importante no reconhecimento e revelação
da orientação sexual, não identificamos estudos que tratem do tema enfocando o olhar dos familiares, seja entre
gays ou entre lésbicas. Este trabalho vem se inscrever nesta lacuna, investigando, a partir de uma abordagem
metodológica qualitativa e com base na teoria da construção social da sexualidade, a relação entre mães e suas
filhas homossexuais no processo do assumir-se. A amostra desta pesquisa foi composta por conveniência e se
constituiu de seis mulheres com práticas homossexuais, com idade superior a 18 anos e suas respectivas mães,
totalizando doze entrevistadas. Um dado interessante, e não planejado, a ser observado foi que das seis filhas
entrevistadas, duas possuem mães que também têm práticas homossexuais. A análise dos relatos revela que o
tema do estigma aparece marcando a relação entre as filhas e as mães. As filhas de mães com práticas homossexuais, ainda que tenham experimentado preconceito com suas mães, quando da revelação destas, referem-se a
certa facilidade para a revelação da sua própria identidade homossexual. Em síntese, o estigma, a discriminação
e o preconceito apareceram como dando o tom para a abertura/fechamento da orientação sexual das mães, das
filhas, e das mães em relação às filhas, dentro e fora da família.
Palavras-chave: Família, homossexualidade, maternidade.
FAMÍLIA E GÊNERO NO DIREITO DE FAMÍLIA
Dayse Amâncio dos Santos (PPGA-UFPE / Doutoranda em Antropologia – [email protected])
FAMÍLIA, GÊNERO E EMPRESA: O COMÉRCIO DE VESTUÁRIO NO BAIRRO DE SÃO JOSÉ,
RECIFE, PERNAMBUCO
Maria Grázia Cardoso Cribari - Universidade Salgado de Ol iveira. graziacardozo@cl ick21.com.br
Etnografia de uma loja comercial de vestuário para as populações de baixa renda. Mostra como as relações
sociais entre comerciantes e comerciários traçam a linha geral de organização da pequena empresa e delineiam
aspectos culturais. O comércio varejista no bairro de São José é formado por pequenas empresas familiares
gerenciadas segundo modelos tradicionais de hierarquia e autoridade. A pesquisa empírica foi elaborada por
meio da observação participante e da realização de entrevistas com funcionários e proprietários da loja. Da
análise das relações de trabalho no contexto, constatamos uma estruturação hierárquica que coloca homens e
mulheres em posições antagônicas. Não existe uma concepção unitária de família entres os pesquisados.A noção
203
GRUPOS DE TRABALHOS
As mudanças na dicotomia entre papéis públicos e privados atribuídos de acordo com o gênero produziram
transformações significativas na forma como os homens e as mulheres constroem suas identidades e administram suas relações de casamento e família. A legislação brasileira na época da criação do Código Civil de 1916
não identificava o gênero como um “problema” devido à “obviedade” dos papéis de homens e mulheres. Nas
últimas décadas a legislação avançou muito no sentido de proporcionar uma maior igualdade entre os sexos.
Entretanto, nas práticas cotidianas as mudanças ocorridas nas famílias geram situações que “caem nas brechas
da lei”. Assim, a proposta deste trabalho é a de refletir sobre a afetividade e o direito no contexto das novas
relações familiares. Procuraremos analisar a perspectiva antropológica sobre alguns pontos cruciais das relações
familiares no Brasil. A partir de casos concretos, como as uniões homossexuais e brigas judiciais pela guarda de
uma criança entre o pai biológico e o pai que a criou, analisaremos como o afeto vem sendo a “chave” para
solucionar os impasses existentes nas famílias e nas definições dos papéis de gênero, na atualidade.
Palavras-chaves: Família, gênero, afetividade, direito
de família tem sentido diferenciado de acordo com os atores sociais envolvidos no comércio: funcionários,
gerentes e proprietários. Mais do que um dado inscrito na realidade, a família, apresentou-se como um valor
capaz de avaliar as relações sociais no ambiente de trabalho.
Palavras-chave: trabalho feminino; família; gênero.
GÊNERO, CULTURA POPULAR E RE-CONFIGURAÇÃO CORPORAL:
ALTERAÇÃO NA SIMBOLOGIA DA FERTILIDADE FEMININA?
Profª Drª Lady Selma Ferreira Albernaz. UFPE – Departamento de Ciências Sociais. Programa de Pós-Graduação em
Antropologia. [email protected]
Este trabalho apresenta resultados parciais de pesquisa apresentada a partir de uma etnografia realizada em São
Luís (MA), no período 2006-2007, financiada pelo CNPq. Trata da participação de homens e mulheres no
bumba meu boi maranhense, de acordo com sua classificação local em sotaques, considerando os recortes de
classe, geração e raça. Pôde-se constatar elaboração e prática de um novo modelo de corpo para as mulheres, a
partir dos grupos do sotaque de orquestra, especialmente aqueles cujos dirigentes são de classe média (renda e
escolaridade), de cor mais clara e mais jovens. Este modelo exige formas perfeitas – barriga batida, cintura
delineada, pernas grossas e torneadas, nádegas arrebitadas. Esta conformação parece alterar a definição de
Bakhtin sobre o simbolismo do corpo na cultura popular, que seria gordo, com orifícios e protuberâncias,
remetendo às suas transformações do nascimento até a morte e ressaltando sua fertilidade. A nova conformação
sugere um privilégio do erótico, apontando para o modelo de corpo da alta cultura, enclausurado na juventude
e início da idade adulta, com forte controle sobre o baixo corporal, principalmente a sexualidade e sua relação
com a fertilidade, sinalizando novos poderes sobre o corpo das mulheres.
IDENTIDADES E SUJEITOS FEMINISTAS EM DISPUTA NO CONTEXTO DO BRASIL
CONTEMPORÂNEO
GRUPOS DE TRABALHOS
Karla Galvão Adrião. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interd iscipl inar em Ciência Humanas – DICH/UFSC.
Orientadora: Profa Dra. Maria Juracy Filgueiras Toneli (Departamento de Psicologia-UFSC)
Meu encontro com o tema “sujeitos feministas no campo político” deu-se desde a época de militância feminista,
no Fórum de Mulheres de Pernambuco, importante arena de debate e construção de agendas políticas para o(s)
movimento(s) feminista(s) no Brasil, nas duas últimas décadas. Nesse momento, ainda do lugar de militante
feminista, interessava-me compreender como aglutinar as diferenças de tantas mulheres, identidades e sujeitos
políticos - negras, lésbicas, indígenas – em uma ‘identidade ou questão maior’: a de ‘ser mulher’ e, portanto, viver
em relações de desigualdades de gênero. Chamou-me a atenção que existiam discursos sobre o(s) sujeito(s) do
feminismo que vinham se modificando, da década de 1980 até hoje. Estes discursos mostravam-se consoantes
com os contextos de lutas e embates políticos históricos atuais, parecendo indicar: a) novas ações no mundo
político, b) a constituição de disputas de reconhecimentos de novas identidades dentro do feminismo, e c) a
evidência da problemática do(s) sujeito(s) do feminismo como uma questão central para o movimento feminista
brasileiro na atualidade. Assumir e evidenciar os vários segmentos identitários foi algo que presenciei nos
discursos de diversas militantes feministas, como característica atual (dos anos 2000) do movimento feminista
brasileiro: buscar uma pluralidade e visibilizar a diversidade das mulheres que estavam em seu bojo. Esta demarcação da pluralidade me lançava para um recente histórico, nos idos das décadas de 1970 e 1980, anos de
reabertura da democracia no Brasil e conseqüente renascimento de movimentos sociais, dentre eles o feminista.
Naquele momento, a busca de uma integração de todas as mulheres se fazia necessária, senão urgente. A especificidade ainda era uma questão que se iniciava como problemática. Meu objetivo com este artigo é discutir essas
mudanças no interior do feminismo brasileiro a partir da análise comparativa de dois momentos distintos do
movimento: o 3o e o 10o Encontros Feministas Latino-Americanos e do Caribe, ambos ocorridos no Brasil,
respectivamente, em 1985 e em 2005. Nesses 20 anos, novas questões emergiram para o movimento feminista,
entre elas o lugar político do(s) sujeito(s). Percebe-se de uma forma geral, que, no percurso de 1985 até 2005, há
204
GT 23 - A ANTROPOLOGIA CONTEMPORÂNEA E O DIÁLOGO COM GÊNERO, REPRODUÇÃO E FEMINISMO
um deslocamento do debate interno do movimento feminista, com relação às questões de programa e estratégia
política dos princípios gerais do movimento. Os significantes autonomia e especificidade passavam, antes, por
um conflito de interpretações, onde a pergunta colocada poderia ser: ‘Qual a melhor política para o movimento’. Hoje, em contrapartida, as divisões e divergências se dão em torno de questões de subjetividade e identidade
política dentro do movimento. A pergunta se desloca para ‘Qual é e quais são os lugares políticos qualificados e
legítimos no movimento?’. O aparecimento de discursos de novos sujeitos – jovens feministas e transgêneros que se colocam neste momento, como segmento, vem reforçar a centralidade que as diferenças internas ao
movimento passam a ter para as políticas de ação. Coloca-se isto porque, tanto jovens como transgêneros, já
transitavam nos espaços internos do movimento feminista, no período anterior. A distinção que se impõe é a de
ser necessária a afirmação da diferença como segmento estruturado politicamente. Se as jovens antes eram
produzidas discursivamente com os significantes de ‘feministas’e/ou ‘feministas jovens’, agora passam a se colocar discursivamente como ‘jovens feministas’. Ou seja, o marcador geracional aparece em primeiro lugar, denotando a centralidade que esta especificidade passa a ter. De certa forma, o mesmo se dá com as transgêneros, que
antes se diluíam discursivamente no significante “mulheres”. Entretanto, agora, ao exigirem o reconhecimento
e a legitimidade da “transexualidade”, colocam centralmente para movimento feminista, para além da apresentação de mais um segmento, o questionamento sobre a própria noção de “ser mulher” e de “ser feminista”. Ou
seja, em que medida é preciso ter um corpo biológico de mulher, para se constituir como feminista e participar
do movimento? Dessa forma, hoje no movimento a pergunta que paira e que orienta as ações políticas pode ser
formulada da seguinte maneira: quais são os modos (ao menos discursivos) de subjetivação (e constituição de
sujeitos) colocados pelo movimento nesses fóruns políticos?
INDO ÀS COMPRAS: PENSANDO GÊNERO E CONSUMO NAS CLASSES POPULARES.
As diversas formas de vivência das masculinidades, das relações de gênero e gerações nas classes populares é o
alvo dos questionamentos da pesquisa, aqui apresentada. Direcionamos, porém, nosso olhar ao viés do consumo, sendo este aqui compreendido enquanto fenômeno cultural e social, no qual, juntamente com uma lógica
da produção, existe uma lógica simbólica. Buscamos assim compreender até que ponto o consumo pode ser
entendido como um campo em que se produzem a negociação e afirmação de identidades de gênero em contextos de pobreza, enfatizando as possíveis tensões entre expectativas sociais divergentes para o exercício das masculinidades, feminilidades, como, por exemplo, consumo doméstico (provedores do lar), consumo de lazer
(sociabilidade masculina) e consumo diferenciado entre as gerações na família . Acreditamos que tal enfoque
teórico é extremamente relevante para pensar, abordar, ler e interpretar o que as formas de consumo, imbuídas
de escolhas e significados, podem mostrar-nos a respeito das identidades de gênero no contemporâneo . Do
ponto de vista teórico, estamos dialogando basicamente com a literatura sobre gênero/ masculinidade, geração, família nas classes populares e consumo. A pesquisa empírica está sendo realizada nas comunidades de São
Rafael e Padre Hildom Bandeira, em João Pessoa/ PB. Na observação participante da vida cotidiana dos moradores locais, buscamos conhecer suas “tramas” e lógicas sociais, elementos estes que a entrevista em si não captaria. Mais do que conversar/entrevistar, buscamos estar com eles, acompanhando-os em conversas informais, nos
lugares de lazer e, sobretudo, durante as suas compras em supermercados, feiras, ambulantes, entre outros.
Destaco neste momento, a relevância que tem a etnografia das compras, com anotações das impressões e
interpretações in situ no ato de aquirir bens de consumo cotidianos.
Palavras- chave: Gênero-Masculinidade- Consumo
205
GRUPOS DE TRABALHOS
Christina Gladys de Mingareli Nogueira - Universidade Federal de Pernambuco /UFPE, Programa de Pós-Graduação
em Antropologia. [email protected].
“NO SENTIDO MOLECULAR, ESSA LEI NÃO VALE A PENA”: ABORTO, SABER MÉDICO E
PROCESSOS LEGISLATIVOS
Anna Lúcia Santos da Cunha (UnB – [email protected])
A comunicação analisa a relativa proeminência da biomedicina em jogos argumentativos recentemente travados
no parlamento acerca da legalização do aborto. A partir da pesquisa etnográfica de eventos relativos à discussão
do PL 1135/91, que suscitou fortes mobilizações em 2005 e 2006, observa-se certa absorção pelo legislativo de
argumentos proferidos por representantes dos campos da medicina fetal e da genética. Aborda-se o espaço
privilegiado reservado à dimensão imagética nas exposições destes especialistas nas audiências públicas. Estes
eventos congregaram aos olhos dos espectadores uma diversidade de produções visuais: imagens de ultra-som,
fotografias evidenciando fetos ciclopes e anencefálicos, vídeos expondo procedimentos cirúrgicos, representações obtidas por meio de microscópio e, por fim, diagramas representando moléculas de DNA. Um impressionante culto à visualidade, característico da medicina e impulsionado pelo progressivo desenvolvimento tecnológico
de imagens, passa a ser, assim, acionado também nos processos de construção de lei. Busca-se compreender, em
especial, a atuação de tais exposições na ressemantização de categorias cruciais ao projeto, segundo a configuração de novas sensibilidades e significados relativos a embrião, feto, processos reprodutivos, gestação e maternidade. Juntamente com as legendas, comentários verbais e narrativas proferidos por esses representantes do saber
médico, os recursos imagéticos parecem contribuir, dentre outras questões, para a individualização do embrião/
feto, entendido como fato isolado e auto-contido – o que, num âmbito mais geral, tem implicações para sua
construção como pessoa. De fato, um caráter específico das imagens médico-científicas, qual seja, a sugestão de
corresponderem a representações frias e objetivas do mundo, informações supostamente puras, não-metafóricas
e verificáveis, confere à exposição visual um estatuto de verdade capaz de se converter em um poderoso instrumento argumentativo.
Palavras-chaves: reprodução, biomedicina, processos legislativos
‘O PROBLEMA É COMIGO’: GÊNERO E ACESSO A SERVIÇOS PÚBLICOS DE REPRODUÇÃO
ASSISTIDA.
GRUPOS DE TRABALHOS
Pedro Francisco Guedes do Nascimento. PPGAS - NACI - UFRGS. [email protected]
Este trabalho apresenta questões postas por pesquisas anteriores tendo por base a perspectiva de gênero e o lugar
dos homens nestes estudos, com novas dimensões apontadas nos estudos sobre reprodução e parentesco no
contexto das Novas Tecnologias Reprodutivas (NTR). A possibilidade desta articulação está relacionada principalmente à centralidade da paternidade na construção das concepções de masculinidade. Se por um lado à
noção de uma masculinidade convencional está associada à idéia de pai como provedor, por outro, nas NTR,
acontece uma ampla revisão da noção de paternidade bem como da concepção clássica de parentesco na medida
em que estas tecnologias apontam para a flexibilidade e multiplicidade das formas de “relatedness”, ao mesmo
tempo em que a noção de filho biológico continua marcar fortemente os domínios do que é ser pai/mãe. A
proliferação das NTR constrói a noção de que existe um serviço disponível que pode ser acessado, reforçado
pelo fato de laboratórios e clínicas divulgarem seus serviços como algo simples que apenas “dá uma mãozinha
à natureza” levando a uma compreensão de que este “problema” pode ser resolvido e a infertilidade algo a ser
superado por qualquer pessoa. A partir de investigação etnográfica em desenvolvimento junto a usuários de
serviço público de reprodução assistida em Porto Alegre/RS, reflito como vem se dando o acesso a essas tecnologias
pelas classes populares, destacando as questões em comum e as formas diferenciadas de homens e mulheres se
implicarem nesse processo; os cruzamentos entre reprodução, ciência e tecnologia e a marca de gênero na forma
como o ‘tratamento para infertilidade’ é definido e encaminhado no serviço de saúde e como os sujeitos percebem esses caminhos. Insiro-me, dessa forma, no debate sobre o ‘gênero das NTR’, problematizando os lugares de
homens e mulheres nesse contexto a partir da crítica feminista.
Palavras-chave: Gênero; Novas Tecnologias Reprodutivas; Feminismo
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GT 23 - A ANTROPOLOGIA CONTEMPORÂNEA E O DIÁLOGO COM GÊNERO, REPRODUÇÃO E FEMINISMO
PAIS E MÃES JOVENS EM ASSENTAMENTOS RURAIS: REFLEXÕES A PARTIR DO GÊNERO
Elisete Schwade – Professora do Departamento de Antropologia – UFRN. E-mail: schwade@d igizap.com.br
Este estudo contextualiza maternidade e paternidade a partir de atribuições e práticas associadas ao masculino e
feminino, particularmente noções que aludem às responsabilidades decorrentes da efetivação da condição de pai e
mãe, tendo como referência empírica a vivência da condição de pai/mãe por jovens residentes no assentamento
Aracati, , município de Touros RN. Desde que o assentamento é, de modo geral, o resultado de um processo de luta
pela terra que tem como referência o MST, diferencia-se de outras situações de vida no campo. No decorrer da
participação do processo de luta pela terra, ocorre um aprendizado resultante de múltiplas possibilidades e contatos, onde se destaca forte interferência de grupos que atuam no sentido de estabelecer políticas voltadas para os
diferentes segmentos e setores, tais como: educação, produção, mulheres entre outros. A abordagem da paternidade
e maternidade amplia a reflexão sobre o exercício do masculino e do feminino, visto no contexto de múltiplas
dimensões que se articulam na realidade dos assentamentos. Os papéis tradicionalmente associados ao masculino
e ao feminino sofrem, no nível da proposta e nas inúmeras ações levadas a efeito nos assentamentos de reforma
agrária, alterações que contrastam significativamente com as atividades tradicionalmente associadas a homens e
mulheres no trabalho com a terra. Neste contexto se organizam arranjos familiares singulares, envolvendo estes
jovens pais e mães.
Palavras-chave: assentamentos rurais, gênero, paternidade/maternidade
PATERNIDADE E MORTALIDADE INFANTIL NA PERIFERIA DE RECIFE
Marion Teodósio de Quadros. Professora Adjunta da área de Antropologia da UFPE . [email protected]
Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa sobre mortalidade infantil (financiada pelo CNPq), focalizando o itinerário que vai da gravidez à morte de um/uma filho/filha. Baseia-se em trabalho de campo, constituindo um conjunto variado de relatos de homens e mulheres, residentes em comunidades da periferia do
Recife, que perderam algum de seus filhos até o 1º ano de vida. Contempla as dimensões sociais e culturais que
atravessam o fenômeno da mortalidade, questionando a ausência da reflexão sobre práticas e sentimentos
paternos na literatura antropológica e biomédica relacionada à mortalidade e evidenciando emoções e práticas
de cuidados para com os/as seus/suas filhos/as, levando em consideração que a atuação de homens e mulheres
nos âmbitos público e privado constituem espaços nos quais estão em curso mudanças significativas. Evidencia
práticas, sentimentos e expectativas relacionados à paternidade durante o itinerário percorrido. Considera as
implicações deste conjunto de práticas e significados para as desigualdades de gênero.
Palavras chave: paternidade; cuidados com crianças; mortalidade infantil.
TELENOVELA E REPRESENTAÇÕES: IDENTIDADES GAYS NA MÍDIA
A televisão assume uma grande dimensão na vida cotidiana dentre os meios de comunicação de massa, uma vez
que utilizando uma linguagem audiovisual, ela penetra diariamente no espaço privado das casas levando informações e entretenimentos. É por meio desses entretenimentos especificamente da relação das telenovelas brasileiras com o público que se constroem, de maneira específica, um espaço simbólico onde são reforçados e ou
atualizados sentimentos, valores, emoções e fantasias da vida cotidiana. É neste espaço com suas tensões e
limites que focamos o nosso estudo sobre novelas da Rede Globo que tratam da visibilidade gay masculina Essas
abordam a questão da identidade gay masculina sem, necessariamente repetir jargões e caricaturas estereotipadas
quando representam sujeitos homossexuais. Assim, o nosso interesse é na recepção que estas produções sofrem
por parte de indivíduos homossexuais masculinos que freqüentam um bar MKB (Meu’s Kasos Bar) localizado no
bairro da Boa Vista, bairro com diversos espaços de socialização ga,y no centro da cidade de Recife em Pernambuco.
Queremos apreender os sentidos que são engendrados, produzidos, lidos a partir destas novelas por esse segmento
específico da sociedade e que desta forma, contribuem para edificações dessas identidades de gênero e sexual, bem
207
GRUPOS DE TRABALHOS
Marcelo Henrique Gonçalves de Miranda. UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina.
GRUPOS DE TRABALHOS
como contrastar comas representações veiculadas pela mídia em foco. O nosso objetivo: é identificar os sentidos
engendrados por gays masculinos na construção de suas identidades de gênero e sexuais realizando uma análise de
recepção das telenovelas com temáticas homoeróticas da rede Globo; Optou-se pela utilização de métodos qualitativos com a finalidade de apreender as construções simbólicas compartilhadas com os sujeitos da pesquisa, em sua
relação com gênero e identidade sexual. Escolhemos as técnicas de observação participante, entrevistas e o
recontar das novelas.
Palavras-chave: Telenovela, Representação, homossexdualidade.
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G T 2 4 - A N T R O P O LO G I A V I S U A L
GT 24
ANTROPOLOGIA VISUAL
A FITA E O “DOM”: NOTAS SOBRE A IMPORTÂNCIA E O USO DOS RECURSOS ÁUDIOVISUAIS
Normando Jorge de Albuquerque Melo. Mestre em Antropologia (PPGA/UFPE). [email protected]
O presente artigo vincula-se a pesquisa que realizei em função do meu mestrado em antropologia, na qual
procurei observar um processo “astucioso” de reapropriação/reinvenção do espaço pelo/para o uso do trabalho,
que resultava na emergência de “agricultores” e “hortas” nos interstícios do complexo viário “Contorno do
Recife”, na capital pernambucana. Através da “história de vida” pude reconstruir as trajetórias dos agricultores
e do espaço por eles ocupado. Neste “campo de astúcias”, os recursos áudio-visuais revelaram-se ferramentas de
extrema importância, não só para a captura dos relatos e imagens do cotidiano do lugar, mas como um “facilitador”
da interlocução. Não obstante, a devolução dos registros fez circular confianças e cordialidades, construindo
uma relação de dar-receber-retribuir, que remete a teoria do “dom”. A este respeito é que esta comunicação tem
como objetivo “dar a ver” uma experiência etnográfica áudio-visual, enfocando o uso dos recursos, os problemas
dele decorrentes e, sobretudo, a sua importância para o trabalho do antropólogo, no seu exercício de sociabilidade com o “outro”.
Palavras-chave: Antropologia Visual, Dádiva, Sociabilidade.
A FOTOGRAFIA NO COLECIONISMO INDÍGENA NO BRASIL
A imagem fotográfica como técnica etnográfica possibilita observar a construção do olhar fotográfico autoral e
atentar também para os aspectos da construção sociocultural dos indivíduos/grupos indígenas representados.
Esse trabalho tem tem a Coleção Carlos Estevão do Museu do Estado de Pernambuco, como fonte das observações que pretendemos aqui. Tais observações manifestam os elementos básicos do processo de representação
fotográfica e conduzem a reflexão, em princípio, sobre dois aspectos focais – a construção fotográfica pelo
fotógrafo e a fotografia como representação do fotografado. Esta comunicação pretende debater o lugar do
produtor da imagem. Essas imagens fotográficas que registraram a cultura indígena e a sua provável alteridade
(sob o aspecto fotógrafo/fotografado/espectador), provavelmente revelam um ponto de vista exógeno, portanto,
passível de uma construção particular, e possivelmente individual. Levando-se em consideração o fato de que o
observador/fotógrafo/etnógrafo não fazia necessariamente parte do outro representado, assim como o espectador da imagem pode também não fazer, fica estabelecida claramente uma relação entre o fotógrafo e o espectador, expressa na forma como ambos percebem e formulam suas impressões visuais a respeito do sujeito representado: o outro indígena.
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GRUPOS DE TRABALHOS
Karla Melanias, NEPE/UFPE/UFAL. [email protected]
A IMAGEM NA CONSTRUÇÃO DAS TRAJETORIAS E PROJETOS DE VIDA DE ESTUDANTES
UNIVERSITARIOS NEGROS
Fabiela Bigossi, NAVISUAL/UFRGS. Núcleo de Antropologia Visual
O presente estudo busca investigar a construção de projetos familiares e individuais de ascensão de jovens
negros que percebem na carreira universitária um campo de possibilidade de aquisição de capital econômico,
social e cultural. Para dar conta desse processo são desenvolvidas as trajetórias que levam a uma formação
universitária. A memória familiar também é destacada no estudo por fornecer indicadores básicos do passado,
proporcionando maior consistência ao projeto. As fotografias são utilizadas como possibilidade de um estudo
etnográfico através da imagem como forma de construir as trajetórias dos estudantes numa perspectiva analítica
da vida cotidiana no espaço de vivência do estudante, onde se desenvolve um projeto familiar ancorado na
possibilidade de uma ascensão social através do investimento familiar em estudos universitários de determinados membros da família. Tem-se o desafio de utilizar a imagem para além de seu apelo enquanto material
ilustrativo, mas sim enquanto captação de dados que nos forneça elementos de análise e de reflexão sobre o
trabalho de campo assim como sobre a antropologia visual. O processo de fazer antropologia através de imagens
é a aprendizagem de um novo olhar sobre as questões de campo e se insere como uma nova possibilidade de
conhecer os interlocutores. Aliada a notas e diários de campo, a imagem é mais uma forma de interpretar o
outro e amplia consideravelmente a possibilidade de diálogo entre entre os dois autores do conhecimento
antropológico. Propõe-se ainda o uso das imagens juntamente com o texto antropológico, estabelecendo uma
conexão entre esses dois argumentos da escrita, de forma que um não tenha o papel de apenas ratificar o outro,
mas que sejam compreendidos e possibilitem a reflexão dentro das suas diferentes lógicas. São utilizadas imagens produzidas pela pesquisadora e aquelas do acervo pessoal dos informantes, além de imagens publicitárias
que tratem da universidade enquanto possibilidade para os jovens.
A MODERNIDADE ESQUECIDA
Lisabete Coradini, PPGAS/UFRN. l isabete @d igi.com.br. Giovanna Rego (Navis/UFRN)
Objetivo deste trabalho é trazer uma reflexão sobre a construção da imagem moderna da cidade do Natal,
principalmente a partir dos anos quarenta, através da exploração do seu potencial imagético. Partindo de uma
retrospectiva histórica, iremos mostrar através do registro fotográfico, as intervenções urbanas e arquitetônicas
(os monumentos, prédios, casas residenciais, ruas e avenidas) que fomentaram e receberam a modernidade.
Pretende-se discutir também como foi realizado o mapeamento e a identificação dos elementos que contribuíram para a construção/produção de uma identidade urbana moderna.
GRUPOS DE TRABALHOS
DO (ÁUDIO) VISUAL AO O URBANO: UM OLHAR SOBRE A LUTA POR MORADIA NA GRANDE
JOÃO PESSOA
Gabriela Buonfiglio Dowling (UFRN – gabidowl [email protected])
Com a invenção de novas técnicas e métodos utilizados pela Antropologia Visual, houve uma ampla contribuição para que o próprio sujeito pesquisado se reconhecesse e refletisse sobre a importância do uso da imagem. Foi
a partir do propósito, da visibilidade, que decidimos embarcar numa pesquisa sobre os sem tetos, parcela esta da
sociedade que é tratada sob uma quase total invisibilidade. Pudemos então constatar que, através da utilização da
linguagem audiovisual, poderíamos atingir, ainda que em momentos instantâneos, uma visibilidade e reconhecimento para aqueles que sempre ficaram à margem da cidadania e dos direitos sociais. Essa pesquisa foi o
resultado de nossa dissertação de mestrado pela UFRN onde o estudo consistiu em uma pesquisa empírica,
através da observação participante e entrevistas abertas e semi-abertas, e contou com o registro audiovisual de
duas ocupações, uma no centro de João Pessoa (antigo prédio do INSS, no Ponto dos Cem Réis) e outra (Comunidade do Cajueiro), próxima à Praia do Jacaré, no município de Cabedelo, as duas na Paraíba. Utilizamos o
vídeo como mais um instrumento de pesquisa que nos subsidiou uma maior aproximação – troca e devolução do
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G T 2 4 - A N T R O P O LO G I A V I S U A L
material registrado à realidade vivenciada pelas famílias da ocupação. O uso da câmera de vídeo no ato de nossas
entrevistas permitiu uma interação que foi bastante valorizada pelos entrevistados. Para eles, naquele momento,
havia ocorrido um registro documentário, de forma que havia uma maior convicção e comprovação do material
recolhido. Sem a pretensão de esgotar neste trabalho a discussão sobre a pertinência, possibilidades e limites da
Antropologia Visual, mas apenas concluindo nossas colocações sobre esse tema neste trabalho, lembramos com
Samain (1995) que o ideal da complementaridade entre a visualidade e a escrita na Antropologia corresponderia
a “duas tentativas de se responder a uma mesma necessidade: a de dizer o homem”.
DO VERMELHO AO AMARELO: RELAÇÃO TEMPO E HONRA NO FILME ABRIL
DESPEDAÇADO
Igor Monteiro Silva. Mestrando em Sociologia, Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected]
A presente comunicação tem como objetivo principal refletir acerca da categoria TEMPO (entendendo-o como
construção social), mais especificamente sobre seu caráter coercitivo e sua relação com a honra, tomando para
tal feito a película Abril Despedaçado como campo empírico. A obra em questão, dirigida por Walter Salles e
livremente adaptada do romance albanês homônimo de Ismail Kadaré, narra a história de duas famílias, habitantes do árido sertão baiano, que travam uma briga ancestral pela posse das terras locais. O movimento - ora de
manutenção, ora de reivindicação - da posse de tais terras é marcado por assassinatos constantes, legitimados por
um código de honra vigente na região. Assim, as famílias se alternam no direito de “cobrar o sangue” de seu ente
morto, dando cabo da vida do membro da família rival que cometeu o crime. A cobrança de sangue, por vezes,
não é imediata, materializando-se a “trégua”, que tem seu tempo determinado pela camisa que a vítima usava à
hora de sua morte: somente quando o sangue, vermelho, torna-se amarelo a vingança pode se concretizar, pondo
a roda dos assassinatos, novamente, em sua dinâmica natural. Tal camisa é uma das representações simbólicas
do tempo presentes na narrativa. Entendido como instituição social, o tempo demonstra seu caráter coercitivo
quando, por exemplo, a trégua não é respeitada, atribuindo “desonra” àquele que infringiu o referido código de
honra (calcado na tradição e transmitido pelo processo civilizador). É, justamente, este diálogo entre tempo e
honra que comunicação tenta contemplar e discutir. Além do objetivo principal, este trabalho tem a pretensão
de pensar sobre a tensão entre diferentes temporalidades (estrutura temporal do circo, elemento extrínseco a
lógica local) e entre o tempo de ação e o tempo de espera (exemplo do luto, onde o matador pode participar do
ritual funerário da vítima). Acreditando que cinematografia não é somente encantamento, encarando o cinema
como produto cultural e, portanto, passível de interpretação, busco lançar mão de uma etnografia fílmica,
fazendo uma descrição densa da obra no afã de encontrar elementos (discursos, signos, práticas...) que me
permitam pensar sobre a temática exposta.
FOTOGRAFIAS DE VIOLÊNCIA: EMOÇÕES E SENSIBILIDADES DIANTE DA IMAGEM
Nos últimos anos, os jornais impressos voltados para as camadas médias no Rio de Janeiro passaram a dar maior
destaque à questão da violência e da criminalidade que acomete a cidade. Inúmeras fotografias têm sido publicadas
periodicamente sobre a ótica dessa temática, fornecendo aos leitores uma espécie de “dieta diária de horrores”.
A comunicação pretende examinar a gramática das emoções suscitadas pelos observadores dessas fotografias a
partir de duas experiências sensíveis: a indiferença e o constrangimento. As conclusões partem da realização de
entrevistas em profundidade com jovens moradores da zona sul carioca. A partir do questionamento “Você sente
o quê?” este trabalho também busca fornecer pistas exploratórias às seguintes colocações: o uso da imagem como
instrumento de pesquisa e a análise cultural das emoções a partir delas, dada as dificuldades metodológicas em
se abordar o que é entendido como privado e interiorizado.
Palavras-chaves: fotografia, mídia, emoções
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GRUPOS DE TRABALHOS
Raphael Bispo dos Santos (Museu Nacional/ UFRJ – [email protected])
IMAGEM E COMUNIDADE: UMA FOTOETNOGRAFIA DA RECONCILIAÇÃO EM UMA
ANTROPOLOGIA COMPARTILHADA NO CUMARU.
Haydee Márcia de Souza Marinho (UFPA – [email protected])
Foi refletindo sobre uma multiplicidade de aspectos subjetivos, compartilhados e coletivos na interpretação do
simbólico de uma Sociedade que se desenvolveu uma pesquisa com imagem utilizando a fotografia como um
instrumento de diálogo, na Comunidade do Cumarú , no nordeste paraense, na Amazônia. Que corroborou e
dinamizou a pesquisa de campo etnográfica, que objetivava investigar o esfacelamento e a reprodutibilidade dos
estabelecimentos familiares, o registro das técnicas e tecnologias de produção da agricultura familiar na
comunidade.A metodologia do trabalho é baseada na sistematização de informações, referente aos croquis dos
estabelecimentos familiares do banco de dados do projeto Shift-sócio-economia/NAEA. E, num segundo momento, a ida, semanalmente, durante 3 meses e meio a campo, valendo-nos de uma técnica da antropologia
visual denominada de fotoetnografia.O retrato fotográfico como um objeto de medição intercultural, troca simbólica e restituição possibilitou a circulação de imagens fotográficas dentro da comunidade. Assim, as informações
sobre a propriedade rural, estabelecimentos familiares, herança e casamento eram trocadas, simbolicamente, na
ocorrência da devolução do retrato fotográfico pelo pesquisador.Trabalhar a imagem fotográfica num campo
etnográfico é estabelecê-la como um objeto de mediação intercultural, que para o antropólogo é um olhar
fotoetnográfico das relações que se desencadearam em campo que lhe traduz a decisão de um determinado recorte
da realidade presente. Pois, a fotografia deve convergir para uma informação, sobretudo cultural, para se entender
de sobremaneira a feitura e a leitura de imagens através de um olhar crítico e interpretativo. Este paper tem a
intenção de discutir, como a fotografia é um instrumento de sociabilidade que possibilita a dinamização das
relações soiais e da comunicação social viabilizada em projetos de pesquisa, a exemplo do projeto Shift-socioeconomia
do Núcleo de Altos Estudos – NAEA/UFPA, em vista de dez anos de atuação de pesquisadores nesta comunidade
que já desacreditava no projeto.
Palavras-chaves: Fotografia, etnografia e comunidade.
LINGUAGENS VISUAIS E CULTURA: VIVÊNCIAS COM DOCENTES DA REGIÃO DE JEQUIÉ- BA
GRUPOS DE TRABALHOS
Edson Dias Ferreira, Universidade Estadua de Feira de Santana. [email protected]
Ligado por formação à área das linguagens visuais, utilizei desta experiência para buscar no espaço da rua, que
se converteu no espaço da cotidianidade onde a cultura acontece, a motivação necessária para aproximar imagem e cultura. Essa experiência resultou numa tese de doutorado realizada na Puc de São Paulo, cujo enfoque foi
a manifestação de fé na festa percebida durante a realização dos festejos de verão na cidade do Salvador, entre
janeiro e março de cada ano, pontuando a influência das culturas africanas no seu movimento. Todo esse trajeto
foi permeado por registros que se converteram na expressão visual das manifestações a me auxiliar na percepção
do movimento de cada festa através da fotografia. Concluída a pesquisa, fui convidado para desenvolver um
trabalho com professores da rede pública da região de Jequié-Ba. A partir de uma atividade proposta – Curso
Linguagens Visuais e Cultura – foram desenvolvidas ações com o propósito estimular os mencionados professores a desenvolverem a capacidade de empreender a leitura imagens com o objetivo de melhor se relacionarem
com as peculiaridades da cultura nos seus respectivos contextos, particularmente, aqueles cuja influência provém do legado africano. O curso constituiu-se de atividades teórico-práticas de leitura e ações via produção e
análise de fotografias e outras linguagens visuais, de tal maneira que o propósito inicial pudesse ser alcançado.
Desse modo, o presente trabalho resulta da experiência vivida como participante do projeto de extensão e
pesquisa com vistas à implantação de Lei 10639/2003 na cidade de Jequié e região. O projeto vem sendo
desenvolvido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB através do seu Órgão de Educação e
Relações Étnicas – ODEERÉ, nos últimos dois anos.
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G T 2 4 - A N T R O P O LO G I A V I S U A L
O ÁUDIO VISUAL NA POLÍTICA PÚBLICA PARA CULTURA E NOS MOVIMENTOS DE LUTA
PELA TERRA.
Jozelito Alves Arcanjo NEPE/UFPE. jozel [email protected]
Os integrantes do Ponto de Cultura Associação Estação da Cultura, da cidade de Arcoverde-PE, participaram do
Encontro Terra Toré, fazendo assessoria e a cobertura em vídeo e fotos do encontro. O primeiro Terra Toré
aconteceu no contexto do Abril indígena, momento em que os povos indígenas de todo Brasil se encontram em
Brasília para apresentar ao Governo brasileiro suas reivindicações referente aos direitos no campo da demarcação das terras indígenas e atendimentos as políticas voltadas para educação, saúde e subsistência especifica e
diferenciada para diversas populações indígenas de todo o Brasil. O Trabalhando foi feito com o equipamento
do Kit Multimídia da ação Cultura Digital, fornecido a este Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura através
do Programa Cultura Viva e do Projeto Pontos de Cultura. A Associação estação da Cultura além de ser um Ponto
de Cultura é um Ponto de Difusão digital. Nesse trabalho relatamos essa experiência de registro, edição e
exibição do vídeo dentro da Aldeia Pankará, Casa Nova, no Sertão de Pernambuco, o vídeo Terra Toré que foi
exibido simultaneamente no local do encontro, relacionada a uma outra ação desse ponto nos territórios étnicos
em Pernambuco de difusão do cinema nacional e da produção de vídeo documentários de movimentos como o
MST, quilombola, indígena e de cultura no sertão pernambucano. A partir desse fato buscamos fazer uma
reflexão a luz dos conceitos que orientam a antropologia visual e o enfoque antropológico dado ao conceito de
cultura que norteia a atual política pública para cultura no Brasil e sua relação com o objetivo institucional desse
Ponto de Cultura que busca formar jovens na relação com os grupos étnicos em Pernambuco: indígenas, negros,
quilombo e com os movimentos de luta pela terra para o exercício do direito a cultura. Procurando pensar o
registro e veiculação das imagens das práticas sociais e culturas desses grupos na perspectiva da possibilidade de
interculturalidade e mobilização cultural entre estes grupos e movimentos através do áudio visual.
O PODER DA IMAGEM: A FOTOGRAFIA E O VÍDEO NA REPRESENTATIVIDADE INDÍGENA
KAPINAWÁ E XUKURU DE PERNAMBUCO
Glauco Fernandes Machado, [email protected], UFPE
Kelly Oliveira, kellyol iveira@cl ick21.com.br, UFPE
OS ÍNDIOS DO BRASIL - IMAGENS DA ALTERIDADE EM DOCUMENTÁRIOS FRANCESES.
Renato Athias/ NIS&CH – UFPE [email protected]
O interesse do uso de imagens na pesquisa social não pode ser considerado um dado recente, pois, podemos
associar desde os primórdios do advento da fotografia. O interesse atual entre os pesquisadores no Brasil que
lidam com as narrativas imagéticas situa-se em diferentes tendências acadêmicas e abordagens metodológicas, e
hoje é um debate amplo e aberto entre os pesquisadores no Brasil. Os povos indígenas, nessas últimas décadas
foram alvos do interesse da mídia internacional, tanto no âmbito do telejornalismo quanto no campo da pesquisa etnográfica na Europa, e sempre estiveram associados às questões sociais da Amazônia. Esse trabalho situa-se
213
GRUPOS DE TRABALHOS
Por muitos anos a apropriação de imagens pela Ciência Antropológica subutilizou apenas como elemento
ilustrativo de textos escritos, possuindo utilidades que vão além do registro no papel ou em meios digitais,
podendo ser re-significada pela representatividade social. O trabalho de pesquisa que se apresenta, visa mostrar
a apropriação da imagem fotográfica como elemento de fortalecimento étnico, como é o caso dos povos indígenas pernambucanos: Xukuru e Kapinawá. O estudo contempla um diálogo entre o conteúdo imagético e o seu
contexto como pontos que não podem ser assistidos separadamente, já que a fotografia em si é capaz de conter
uma multiplicidade de sentidos. Em vista disso, têm-se a capacidade imagética de carregar um poder simbólico,
fruto da condição histórica vivenciada por esses povos, formando assim, uma análise para estudos futuros,
sobretudo, no universo da Antropologia Visual.
Palavras Chaves: Imagem, Kapinawá, Xukuru
no âmbito do debate da produção de imagens na antropologia visual e pretende analisar as imagens sobre os
índios do Brasil em três documentários veiculados na França nestes últimos anos buscando apresentar um
debate sobre a alteridade na produção de imagens. Muito se tem escrito sobre essa temática, sem, no entanto,
buscar uma maior compreensão sobre como as imagens dos índios são visualizadas pelo público francês e nem
como essas imagens são selecionadas e veiculadas na França. Essa apresentação é uma apresentação dos resultados parciais do projeto de pesquisa ainda em andamento intitulado: Imagens da Alteridade, os Povos Indígenas do
Brasil e as Organizações Francesas de Cooperação Internacional.
“REVISITANDO O ESTADO NOVO, ATRAVÉS DAS IMAGENS DA GRANDE EXPOSIÇÃO
NACIONAL DE PERNAMBUCO” 1939-1940
Rita de Cássia Guaraná PPGA/UFPE. [email protected]
O presente trabalho aborda as especificidades culturais representadas no acervo imagético referente à Exposição
Nacional de Pernambuco, objetivando recuperar a memória social deste evento, através das imagens fotográf icas.
Visando identificar as representações socioculturais do Estado Novo. Analisando as fotografias sobre esta Mostra Industrial como fonte de interpretação etnográfica, é possível identificar representações sobre economia,
indústria e cultura durante esse regime político. Examinando como a sociedade recifense participou desse
evento. A feira industrial foi realizada no Recife. Sendo desenvolvida uma análise iconográfica, procurando
apreender o significado do conteúdo das fotografias, descrevendo-as, realizando uma incursão nas cenas representadas, de modo a relacioná-las ao momento histórico retratado nesta coleção fotográfica, composta por 99
imagens, observa-se a diversidade cultural existente em 66 municípios de Pernambuco, 16 estados federais, 169
indústrias e fábricas. A concretização desse trabalho ganhou sustentação na medida, em que foi possível relacionar os estudos sobre acervo fotográfico e a Exposição a o período estadonovista em Pernambuco, quando este
se encontrava sob a Intervenção de Agamenon Magalhães (1937-1945).
SEITAI HO - A EXPERIÊNCIA COM O VÍDEO
Ana Lúcia Camargo Ferraz – PPGAS/USP. [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Desenvolvemos nesse trabalho uma reflexão sobre o processo de produção de uma série de vídeos fruto de
pesquisa etnográfica com um mestre japonês que desenvolve em São Paulo um trabalho de difusão de uma
técnica corporal chamada seitai ho. O objetivo da pesquisa, mediada pelo vídeo, é refletir acerca da noção de
antropologia compartilhada, desenvolvida por Jean Rouch, e para tanto experimentar compartilhar a produção
de representações acerca do seitai ho, suas possibilidades e seus limites. Cinco anos depois, tecemos um balanço
da experiência refletindo sobre as relações entre sujeito e objeto na produção de conhecimento em Antropologia. Dialogando com Mac Dougall, Claudine de France e Marc Piault, procuramos fazer um balanço das elaborações no campo do filme etnográfico.
TRADIÇÃO, POLÍTICA E O VÍDEO COMO METODOLOGIA.
Gabriel O. Alvarez. Antropologia visual - Metodologia participativa- Sateré-Mawé. CESTU-UEA. [email protected]
O trabalho sistematiza as reflexões teórico-Metodológicas sobre o uso do vídeo na pesquisa Tradição e política
Sateré-Mawé. O mesmo abordara diferentes momentos na metodologia participativa com vídeo numa população
tradicional do estado de Amazonas. Analisaremos três momentos interpretativos do uso de vídeo no registro da
tradição e política do grupo. O primeiro, durante a pesquisa, quando foram os próprios indígenas os que
decidiram o que tinha que ser filmado e assistiam ao material das filmagens. Um segundo momento, quando
trabalhamos na transcrição das falas para o sub-titulado e nos voltamos para o material com um olhar mais
acurado. Um terceiro momento aconteceu quando os próprios indígenas assistiram aos clipes editados e decidiram o material que seria incluído e inclusive tiveram oportunidade de complementar o material. Finaliza com a
214
G T 2 4 - A N T R O P O LO G I A V I S U A L
fala do tuxaua geral depois de assistir o material e pedir para agregar algumas palavras. Este momento permitiu
um tipo de interação comunicativa que dificilmente tivera-se obtido com o material escrito permitindo a apropriação dos resultados e o diálogo paritário sobre os resultados da pesquisa.
VÍDEO E FOTOGRAFIA DIGITAL, CELULAR E INTERNET: NOVOS PARADIGMAS PARA A
ANTROPOLOGIA VISUAL.
Andreas Valentin Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Cand ido Mendes
GRUPOS DE TRABALHOS
Uma série de daguerreótipos de dois índios botocudo realizada em 1844 por E. Thiesson em Paris representa,
possivelmente, o início da utilização da fotografia para registro e documentação do “outro”. Poucos anos depois,
com os avanços técnicos que permitiram a mobilidade do equipamento e melhorias no processo fotográfico, a
fotografia já se estabelecia como ferramenta indispensável para o conhecimento. A partir do início do século
XX, a fotografia se alia às práticas modernas da antropologia e ambas acabam traçando uma história paralela
que, de certa forma, continua até hoje. Mais adiante, acrescentam-se a esse processo, também as imagens em
movimento e os registros sonoros. Hoje, com as tecnologias digitais, internet e, conseqüentemente, o processamento
da informação cada vez mais rápido, estabelecem-se novos paradigmas para a utilização dos recursos audiovisuais
na antropologia. A partir de um breve histórico da antropologia visual, pretende-se aqui discutir esses novos
processos e suas possibilidades na formação e produção do conhecimento antropológico.
Palavras-chave: Fotografia digital, vídeo digital, antropologia visual.
215
GT 26
RITMOS DA IDENTIDADE: MÚSICA, TERRITORIALIDADE E CORPORALIDADE
A ARTE HERÉTICA DO HIP HOP: IDENTIDADE, POÉTICA POLÍTICA E SINCRETISMO
MUSICAL
Benedito Souza Filho (Ufma, [email protected])
Jailson Galvão Rocha (Ufma, [email protected].)
A música, segundo os usos e leituras possíveis, pode definir hierarquizações tributárias de princípios ideológicos
e de diferenciação de classe e raça. No campo artístico o hip hop se afirma como uma arte herética, como arte
transgressora, ao incorporar nesse conceito particular de arte, a denúncia da estigmatização, dando visibilidade
aos dramas, dilemas e problemas sociais vividos por segmentos sociais excluídos ou violentados. Tomando o hip
hop como foco de discussão, e enfatizando a sua vertente musical, o rap, o trabalho procura estabelecer uma
interface entre identidade, poética política e o que denominamos de sincretismo musical. Essa inter-relação será
tratada a partir da análise do trabalho do grupo de rap maranhense Klã Nordestino, sublinhando os conteúdos
políticos das letras e a fusão musical com ritmos locais como o tambor de crioula e o bumba-meu-boi como
elementos que definem uma particularidade do rap ao mesmo tempo em que reafirmam identidades ao serem
apropriados artística e politicamente.
Palavras-chave: hiphop, identidade, sincretismo musical
A CONSTRUÇÃO DO SER PORTELENSE: PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO E EXPERIÊNCIAS
RITUAIS.
GRUPOS DE TRABALHOS
Ronald Clay dos Santos Ericeira - Doutorando em Antropologia Cultural
[email protected]
IFCS-UFRJ. e-mail:
RESUMO: O processo ritual de desfiles das escolas de samba incita os sujeitos celebrantes a estabelecerem
relações de reciprocidade e rivalidade entre si ao despertar-lhes um desejo mimético: ganhar o carnaval. A paixão
despertada de atores sociais por essas agremiações produz simbolicamente processos de identificação social na
tessitura urbana do Rio de Janeiro: salgueirense, mangueirense, entre outras. O enfoque da comunicação recairá
sobre as experiências rituais dos torcedores da Portela, procurando compreender as dimensões de afinidades
atuantes na construção dessa identificação social, bem como delinear os diversos planos de realidade que
constituem as diferentes experiências de ser portelense.. Além de abordar temas sociologicamente relevantes,
como reciprocidade, rivalidade, e os dispositivos de identificações coletivas existentes no mundo do samba,
dados etnográficos permitem também debater questões antropológicas proeminentes: sociabilidade, territorialidade
no contexto urbano, religiosidade e corporalidade.
216
GT 2 6 - R I T M O S D A I D E N T I D A D E : M Ú S I C A , T E R R I TO R I A L I D A D E E C O R P O R A L I D A D E
BUMBA-MEU-BOI DE ZABUMBA: TERRITÓRIO, RITMO E ETNICIDADE
Carla Georgea Silva Ferreira. Graduada em Ciências Sociais-UFMA e Pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – UFMA. [email protected];
Carlos Benedito Rodrigues da Silva. Prof. Dr.do Programa Pós-Graduação em Ciências Sociais-UFMA.
[email protected] (orientador)
A multiplicidade de manifestações da cultura popular maranhense revela uma forte tradição de ritmos, cantos e
danças, expressos em um amplo calendário de festas, especialmente no período junino. A maioria dessas
expressões tem suas origens nos povoados rurais e passaram a ser reproduzida também em São Luís. As festas
refletem também, a riqueza “sincrética” da religiosidade maranhense, revelada, tanto na devoção aos santos
padroeiros, quanto em suas atividades de trabalho e lazer, onde sagrado e profano compõem um mesmo universo
de relações de trocas. As questões que trago para esse GT, são no sentido de compreender as relações entre as
representações lúdicas do bumba-meu boi no “sotaque” de zabumba e as comunidades quilombolas do Maranhão,
enquanto grupos étnico-raciais, onde a criatividade rítmica e a expressão corporal são traços demarcadores de
etnicidades e territorialidades.
Palavras-chave: Bumba-meu-boi; Territorialidade; Etnicidade.
CABOCLINHOS E TRANSMISSÃO MUSICAL NA ATUALIDADE
Climério de Oliveira Santos (UFPB – zabumba@hotl ink.com.br)
O atual trabalho investiga e discute, de forma introdutória, o complexo da transmissão musical dos caboclinhos
Canindés, agremiação localizada no bairro da Bomba do Hemetério, zona norte do Recife (PE), Nordeste do
Brasil. O trabalho advém de uma pesquisa que ora desenvolvo no Mestrado em Etnomusicologia (UFPB), sobre
a performance musical da Tribo dos Caboclinhos Canindés, cujos registros de campo foram empreendidos durante os ensaios do referido grupo, entre 01 dezembro de 2006 e 25 de fevereiro de 2007. O estudo discorre não
apenas sobre a oralidade, ou auralidade, mas ainda sobre os diversos elementos – escritos (texto), gravações de
áudio, vídeo – aos quais os partícipes do grupo recorrem intencionalmente ou entram em contato aleatoriamente, dinamizando o processo de transmissão do conhecimento. O trabalho examina também alguns efeitos de
meios de comunicação de massa - rádio, TV, Internet - que incidem sobre tais processos de transmissão.
Palavras-chave: caboclinho, música, transmissão.
DANÇAS COLETIVAS MUSICAIS: COMUNIDADES RURAIS DO VALE DO JEQUITINHONHA
EM MOVIMENTO, PALAVRA E SOM
Este trabalho trata da análise de danças coletivas realizadas em comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha,
região nordeste de Minas Gerais, que são compartilhadas há pelo menos três gerações por homens e mulheres,
a maioria adultos, e contam invariavelmente com a presença da música, por meio de instrumentos musicais e/
ou do canto. O trabalho centra-se em duas brincadeiras (como são chamadas pelos moradores das comunidades):
1- a roda, em que um grupo formado majoritariamente por mulheres gira em contínuo movimento circular
entoando cantigas e versos (“se descer praí abaixo/ e achar um lenço, é meu/ numa ponta tem meu nome/ na
outra, retrato seu”), comumente sem a presença de instrumentos musicais; e 2- o Nove, em que homens e
mulheres dispõem-se e movimentam-se em uma série de fileiras, com a presença de instrumentos musicais e
sistema de canto alternado entre dois grupos. Estas danças figuram como meios profícuos para uma compreensão acerca do que constitui a vida social do grupo que as realiza. Em um grupo social onde o lugar do indivíduo
parece restrito, os versos proferidos na dança, a princípio individuais, são grande parte das vezes compartilhados
com o grupo, se mais pessoas os souberem cantar. O verso adequa-se à melodia da cantiga entoada pelo grupo;
em si, ele não tem melodia. Passa a tê-la a partir do momento em que é inserido na cantiga. A melodia da cantiga
cantada por todo o grupo figura, assim, como uma espécie de regra de pertencimento a ele. O amor, a amizade,
217
GRUPOS DE TRABALHOS
Valéria Cristina de Paula Martins – Universidade de Brasíl ia (UnB) – [email protected]
o trabalho, presentes de forma recorrente nas letras, os movimentos de “giro” da roda e o “trançado” das fileiras
do Nove, assim como o canto sustentado em notas que formam intervalo de terça entre si, figuram como
referenciais de sentidos compartilhados a partir de modos de se dizer, momentos de se cantar, maneiras de se
cantar, posturas assumidas por pessoas, valores dados a posturas assumidas por pessoas e tantos outros pensamentos e ações que criam e recriam os sentidos deste grupo social.
Palavras-chave: dança, música, Vale do Jequitinhonha
É MELHOR FAZER UMA CANÇÃO? MÚSICA E PENSAMENTO CRÍTICO NA AMÉRICA LATINA
Carlos Bonfim. Faculdade de Letras - Universidade Federal de Alagoas
Uma pesquisa sobre maneiras de fazer música na América Latina (práticas musicais que se caracterizam por sua
recorrente ênfase nas tensões entre repertórios culturais e musicais diversos) nos permitiu identificar a atualidade e a pertinência do debate sobre os modos como nos relacionamos com a diversidade de saberes com os quais
temos contato. Trata-se de um debate que, no âmbito latino-americano em particular, interessa de maneira
especial pela relação que guarda com as reflexões que há mais de um século se debruçam sobre a identidade
cultural (e os temas a ela associados) no continente. Este trabalho apresenta um breve histórico de tais reflexões
e busca contribuir com o debate sobre a incidência de tais questões na definição de políticas públicas.
O MARACATU DE BAQUE SOLTO -NAÇÃO LEÃOZINHO DAS FLORESGabriela Buonfiglio Dowling (UFRN – gabidowl [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
Este trabalho objetiva apresentar um viés acerca da Nação Leãozinho das Flores do Maracatu de Baque Solto de
Pedras de Fogo (PB), a partir de uma pesquisa feita em 2005 com alguns dos integrantes da Nação.Analisamos
como a cultura popular vem se adaptando ao contexto da intervenção da mídia, do turismo e da indústria
cultural. O maracatu de Baque solto Nação Leãozinho das Flores veio escrever através da oralidade e memória,
suas respectivas trajetórias. Pretendemos com este estudo demonstrar a realidade em que vivem os integrantes do
maracatu e a população geral de Pedras de fogo que oprimidos pela violência na região, o grupo padecia um
momento de recolhimento e perdas, que ainda permanece. Investigamos neste estudo a atual situação da Nação,
que vive entre o medo e a resistência. Um outro fator determinante pelas dificuldades que vem enfrentando o
grupo está na falta de apoio financeiro para a sua possível manutenção. Desta forma, o grupo hoje encontra-se
disperso e sem muitas possibilidades de mobilização.
Palavras-chave: baque solto, resistência, oralidade. Gabriela Buonfiglio Dowling (UFRN –
[email protected])
PERCURSO ETNOGRÁFICO A PARTIR DA PRÁTICA DA CAPOEIRA ANGOLA NO BRASIL E
NA FRANÇA
Heloisa Gravina (PPGAS/UFRGS, [email protected])
Esta comunicação é um recorte a partir do projeto para pesquisa de doutoramento em Antropologia Social, no
qual proponho, através da observação da prática da Capoeira Angola, observar mecanismos de definição e
negociação de identidade, os quais se constituem, para os atores, predominantemente através do corpo. A partir
de um estudo da prática da Capoeira Angola em Porto Alegre e Salvador (no Brasil), e de seu crescente processo
de internacionalização, na França, busco recortar, na multiplicidade que compõe esse universo, formas específicas através das quais a simbólica da luta e da resistência é acionada e negociada em cada contexto, como parte
de processos de construção de identidades étnicas, ou mesmo tensionando identidades nacionais. Como a
prática da capoeira é mobilizada e se constitui para esses agentes enquanto via de inscrição social e política?
Numa abordagem predominantemente relacional, busco, investigando especificidades — históricas, culturais e
corporais — dos contextos brasileiro e francês, investigar como posições de centro e periferia são performatizadas
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GT 2 6 - R I T M O S D A I D E N T I D A D E : M Ú S I C A , T E R R I TO R I A L I D A D E E C O R P O R A L I D A D E
e negociadas continuamente nos corpos dos sujeitos. Partindo do conceito de embodiment, dinamizado através da
performance enquanto ferramenta analítica, pretendo investigar os mecanismos que interligam os processos de
simbolização e formação de visões de mundo através da corporalidade. Estendendo essa noção à metodologia de
pesquisa em campo, propus-me a experimentar o aprendizado da Capoeira Angola como parte do método
etnográfico, problematizando a própria corporalidade da pesquisadora enquanto ferramenta fundamental no
processo de construção do conhecimento científico. Levando em conta o trabalho de campo desenvolvido até
agora (cinco meses), um recorte de gênero atravessa a pesquisa, acrescentando a pergunta: como as mulheres
angoleiras experienciam e constituem suas identidades enquanto capoeiristas num meio predominantemente
masculino?
PERFORMANCES MASCULINAS OU A VIRILIDADE ENQUANTO DEFINIDORA DO
MASCULINO: UMA CRÍTICA A PARTIR DA NARRATIVA DO RAP BRASILEIRO
Waldemir Rosa Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasíl ia, professor de antropologia e sociologia
da educação no Instituto de Ensino Superior de Samambaia (IESA-DF) e Consultor IPEA.
A masculinidade denota atributos de força, virilidade, vigor e destreza física que conferem ao masculino uma
proeminência, em relação ao feminino. Em sociedades ex-escravistas, como o Brasil, esses valores estão na base
da constituição do colonialismo, do escravismo e do Estado Nacional. Diversos estudos indicam para a virilidade como o valor definidor da masculinidade negra. O que problematizamos neste artigo é a possibilidade e
limitação da virilidade como definidora da masculinidade negra. Temos como objeto de análise a narrativa do
Rap Brasileiro por compreendermos que esta é um dos principais discursos sobre o cotidiano dos homens
heterossexuais negros produzidos por eles próprios. A fonte principal dos dados etnográficos foram letras de
músicas gravadas entre os anos de 1990 a 2005 por grupos dos estados brasileiros de São Paulo, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul e Goiás, além do Distrito Federal. Buscamos aqui realizar uma análise profunda e crítica
procurando perceber a centralidade dos processos racistas e sexistas para a elaboração estética destas narrativas.
Compreendemos aqui que, através dessas narrativas os autores do Rap buscam exercer alguma forma de controle
sobre a realidade social. O principal resultado do trabalho é a de que a “narrativa da virilidade” no Rap Brasileiro indica não para uma centralidade da virilidade como definidora das performances masculinas, mas como um
reflexo à subalternização racial e sexista existente nas sociedades que emergiram do colonialismo e do escravismo.
PRÁTICA E HABILIDADE NO IMPROVISO DO REPENTE
Esta comunicação expõe resultado parcial de pesquisa para tese de doutorado tendo como tema etnográfico a
cantoria (ou repente), um gênero poético-musical do nordeste brasileiro no qual se canta versos improvisados no
momento da apresentação. As regras da cantoria bem como a prática as habilidades dos repentistas emergem
como elementos empíricos que permitem pensar a questão antropológica da relação entre estrutura e ação, entre
modelos e práticas, entre o que se pensa e o que se faz. O foco recai sobre as habilidades envolvidas no
improviso poético. Este é entendido como uma relação do cantador (ou repentista) com regras poéticas e padrões
musicais, com valores, assuntos e conhecimentos que aborda nos versos, com seu parceiro (as apresentações
ocorrem quase sempre em dupla), com os ouvintes e com o tempo. As habilidades são consideradas como
disposições incorporadas que englobam técnicas e estratégias de relação com tais atores e fatores. A principal
estratégia de pesquisa é a aproximação prática de aprendizado da arte da cantoria e de participação em performances
de cantadores. Discuto algumas implicações desse tipo de inserção etnográfica na construção da reflexão sobre
as práticas musicais e suas realidades sociais.
Palavras-chaves: cantoria nordestina (repente), música e poesia, antropológica da prática e de rituais
219
GRUPOS DE TRABALHOS
João Miguel Sautchuk (PPGAS – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – [email protected])
SONS E RITMOS DA CIDADE: INTERROGAÇÕES SOBRE INTERCULTURALIDADE E
QUOTIDIANO URBANO
Luciana Ferreira Moura Mendonça (Centro de Estudos Sociais – Universidade de Coimbra – [email protected])
Pretende-se explorar, neste texto, como a atenção às sonoridades e ritmos pode contribuir para a compreensão
das novas (des)articulações das culturas contemporâneas e das relações interculturais nas cidades. Esta exploração baseia-se em pesquisas sobre a música nordestina, sobretudo no contexto do desenvolvimento do movimento manguebeat, em Recife, e na utilização da música baiana como forma de identificação dos brasileiros e de
comunicação com os portugueses em situações de contacto no processo de imigração, constituindo-se como
signo de celebração e descontração, em especial na cidade do Porto, Portugal. As cidades há muito têm sido
consideradas locus privilegiado de estudo da interculturalidade, por apresentarem-se como campo de encontros
e desencontros, contradições e convergências de elementos culturais com diversas origens e temporalidades. As
relações sociais, atravessadas pelos fluxos globais, nacionais, regionais e locais, encontram-se sob o impacto das
mudanças estruturais, que se manifestam na expansão caótica do tecido urbano, na ação da indústria cultural,
nas migrações internacionais e nas novas articulações identitárias no contexto dos processos de mundialização.
É sob este pano de fundo que se podem analisar as relações entre a divulgação midiática da música brasileira,
particularmente a nordestina, e os processos de identificação que se estabelecem em contextos urbanos no
exteriror.
Palavras-chaves: antropologia urbana; etnomusicologia; paisagens sonoras.
VINHOS ANTIGOS EM GARRAFAS NOVAS. A CONSTRUÇÃO DE “NOVAS” IDENTIDADES
CULTURAIS A PARTIR DO CENÁRIO MUSICAL PARAIBANO CONTEMPORÂNEO
GRUPOS DE TRABALHOS
Alessa Cristina P. de Souza. Doutoranda em Sociologia pelo PPGS/UFC. [email protected]
Esta comunicação visa uma primeira aproximação teórica acerca do projeto de pesquisa “Vinhos antigos em
garrafas novas: a construção de ‘novas’ identidades culturais a partir do cenário musical paraibano contemporâneo”. O mesmo tem como objetivo discutir e compreender como as mudanças ocorridas no cenário sóciocultural contemporâneo, proveniente do acirramento da globalização, vêm influenciando a construção de novas
identidades, pautando-se no cenário musical paraibano. A identidade cultural musical paraibana, antes basicamente conhecida e reconhecida no cenário mais amplo através do forró, encontra-se hoje definida por uma
miscelânea de elementos locais, nacionais e universais, dentro de uma proposta mais ampla de resgate e valorização da cultura e identidade local que, visto de uma perspectiva mais crítica, parece compor mais uma
ressignificação, estetização e estilização ditada pelos valores da cultura capitalista globalizante. O que pretendemos desvendar com este estudo é justamente esse cenário sócio-cultural paraibano novo e múltiplo, que se
apresenta a partir de signos aparentemente tão ricos e ainda tão desconhecidos. Nesse sentido, a importância da
análise proposta visa contribuir para o pensamento sócio-cultural acerca das mudanças e das (re) construções
identitárias criadas com o advento e com a expansão do processo de globalização. A especificidade da pesquisa
se dá por se concentrar nas mudanças culturais que permeiam um estado e região de menor desenvolvimento e
com elementos de cultura bastante diferenciados, que parecem estar tomando visibilidade a partir dessas mudanças atuais.
Palavras: chave: música, cultura local, cultura global
220
GT 27 - T R A Z E N D O À L U Z A S A U TO N O M I A S I N D Í G E N A S C O N T E M P O R Â N E A S N O B R A S I L
GT 27
TRAZENDO À LUZ AS AUTONOMIAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS NO
BRASIL
A INSTITUCIONALIDADE INDÍGENA NO VAUPÉS COLOMBIANO
Juan Carlos Peña Márquez - Professor Universidade Federal do Amazonas UFAM, doutorando em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual de Campinas UNICAMP.
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR: AUTONOMIAS INDÍGENAS?
Prof. Dr. Odair Giraldin – UFT
Na última década diversas ações têm sido efetivadas visando oportunizar o acesso de estudantes indígenas ao
ensino superior no Brasil. Elas cobrem um leque variado que vai desde a oferta de cursos de licenciaturas
interculturais (casos das universidades federais de Roraima, de Minas Gerais, de Goiás e as estaduais de Mato
Grosso e do Amazonas), de sistema de reservas de vagas em cursos específicos (caso da UnB e da UFPR), para
formação de profissionais indígenas em áreas determinadas de acordo com interesses coletivos das comunidades
indígenas, até os sistema de reservas de vagas por sistema de cotas em todos os cursos (casos da UFT, UFBA e
221
GRUPOS DE TRABALHOS
Os indígenas do Vaupés colombiano não são só receptáculos das instituições político administrativas e sociais
da sociedade abrangente. As estruturas sociais da cultura indígena e do seu modelo de organização social, quer
dizer, as hierarquias, os sistemas de casamento, o sistema de aproveitamento dos recursos naturais se reacomodam
e reestruturam para adotar a aldeia e a cidade como novo cenário de convivência.O movimento indígena
colombiano teve expressão de organização e luta fundamentalmente pela recuperação dos territórios que tinham
sido reconhecidos pela coroa espanhola como resguardos. Quintin Lame, liderança indígena do sul da Colômbia, começou essa luta expressada na organização do primeiro congresso indigenista na década dos 20 ]2 “...el
primer congreso indígena nacional fue organizado por Quintin Lame em 1920, em el Tolima, y que de él surgió
el Supremo Consejo de Indias, que constituyó así la primera organización indígena nacional independiente,
titulo que hoy se atribuye a la ONIC…”(Vasco, 199**]. No entanto, foram as lutas sociais e populares das décadas
dos 60 e 70 que consolidaram a organização indígena e negra fundamentalmente na reivindicação pela recuperação de terras e os direitos sócio-culturais diferenciados. Os movimentos indígenas e negros da Colômbia
fazem parte de um contexto mais amplo de lutas sociais herdeiras da crise econômica e social sofrida nas nações
latino-americanas, da dependência dos grandes blocos econômicos e da desintegração regional que gerou atraso
tecnológico, econômico, educativo etc. Esta crise é mais profunda quando desenvolvida no meio de varias ondas
de violência que se repetem na Colômbia desde finais do século XIX. A resposta dos movimentos sociais se vê
alimentada pelo auge das mobilizações populares da América Latina e particularmente pela revolução cubana.
Os movimentos indígenas e negros fazem parte de uma luta por direitos particulares encaixados dentre um
amplo movimento social campesino, sindical, estudantil: “En su doble carácter, el problema de los indígenas
hace parte del problema de la democracia colombiana, es decir, de la consecución de sus derechos por parte de
los sectores más amplios de la población de nuestro país.” (Vasco, 199**. P.182). Os direitos reivindicados pelos
povos indígenas constituem uma ordem diferente que aprofunda em direitos particulares e que estão carregados da
base cultural aonde surgem. No meio de amplas reivindicações sociais da Colômbia os direitos indígenas pela terra,
pela autodeterminação cultural, lingüística, jurídica etc., se constituem em novos direitos, ou direitos diferenciados,
que precisam ser reconhecidos dentre uma estrutura mais ampla que também os condiciona.
UFMA). A maioria destas ações nasceu das articulações e reivindicações de movimentos indígenas. Este paper,
então, refletira sobre em que medida esses acessos, frutos de lutas autônomas, contribuirá, ou não, para o
fortalecimento das autonomias dos povos indígenas no Brasil.
Palavras-chaves: Autonomias; ensino superior; cotas
ARTICULAÇÃO ÉTNICA E MOBILIZAÇÃO POLÍTICA: OS CHIQUITANOS E A LUTA PELA
TERRA
Alda Lúcia Monteiro de Souza ([email protected]) – mestranda em Antropologia Social – Universidade de
Brasíl ia.
Ocorre, nos dias atuais, um movimento que pode ser denominado como “explosão étnica”, onde populações e
indivíduos que negavam sua identidade indígena se vêem em um contexto modificado, em que ser índio não é
mais uma vergonha ou mesmo um perigo, a partir principalmente da Constituição de 1988, e voltam a articular
sua “indianidade”. E nesse processo encontram-se os Chiquitanos, que estão atualmente reivindicando direitos
históricos, como o acesso a terra e o reconhecimento como uma coletividade diferenciada. Percebe-se que essa
etnia se volta contra a homogeneização vinculada à idéia de nação, e a sua resistência reflete a existência e
permanência de diversidades culturais em solo nacional. No trabalho que venho realizando nessas comunidades
consigo perceber este processo móvel e dinâmico que caracteriza um grupo étnico, do caráter conflituoso das
relações interétnicas, e dos processos de articulação étnica elaborados entre os membros dessas comunidades. E
o que interessa aqui é o modo como essa articulação é feita, como os Chiquitanos têm adotado formas de
agencialidade permanentes, buscando a rejeição de sua sujeição e a reivindicação de sua liberdade, de sujeitos de
sua própria história, capazes de conduzir e negociar suas mudanças.
Palavras-chave: Chiquitanos, articulação étnica, identidade étnica.
AUTONOMIA INDÍGENA: DA REFLEXÃO ACADÊMICA AMALGAMADA A ESTRATÉGIAS DE
LUTA POLÍTICA
GRUPOS DE TRABALHOS
Yoko Nitahara Souza, Universidade de Brasíl ia. [email protected]
Pretendo analisar neste trabalho discursos de líderes Indígenas que são também profissionais do direito e
acadêmicos em um contexto de fusão/sobreposição entre discurso acadêmico e de engajamento político, durante um seminário acadêmico sobre direitos Indígenas. Meu intento é fazer uma etnografia da fala: uma etnografia
de uma situação de mudança nas características fundamentais do ‘lugar de fala’ do profissional acadêmico e do
direito SOBRE Indígenas, para um contexto no qual esta produção começa a ser feita POR Indígenas eles
mesmos, oriundos de movimentos Indígenas. Em um evento acadêmico (Seminário Internacional Constituições e Povos Indígenas, 9 a 11 de maio de 2007, UnB, Brasília), busco descrever, nas falas de um antropólogo e
de uma advogada Indígenas – ambos trabalhando profissionalmente/academicamente com questões relacionadas a direitos Indígenas – a formação in concreto de um ‘lugar de fala’ Indígena com competência comunicativa
e argumentativa tanto na esfera acadêmica quanto na esfera jurídico/legal, em especial nas avaliações e descrições, presentes nos discursos de ambos, do movimento Indígena e sua relação com o estado e a sociedade
brasileiras. Busca-se relacionar este contexto social específico com o contexto mais geral da transformação das
relações entre povos Indígenas e Estado e sociedade civil no Brasil nas últimas duas décadas.
Palavras-chave: movimento Indígena, etnografia da fala, autonomias Indígenas.
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GT 27 - T R A Z E N D O À L U Z A S A U TO N O M I A S I N D Í G E N A S C O N T E M P O R Â N E A S N O B R A S I L
AUTONOMIA INDÍGENA: SOBRE PROTAGONISMO E INTERPELAÇÕES A LIDERANÇA
XAKRIABÁ.
Alessandro Roberto de Oliveira. UnB. [email protected]
O objetivo desta comunicação é registrar algumas observações, etnograficamente orientadas, quanto as noções
de protagonismo e autonomia indígena. Para este propósito, tomo como objeto a experiência vivenciada por uma
liderança Xakriabá. As transformações da política indígena e seus efeitos no campo interétnico aparecem no
relato de Chiquinho sobre percalços, entraves e interpelações vividas pela liderança indígena em posição de
secretário municipal de educação e representante indígena para o assunto em meio as estruturas de Estado.
Chiquinho identifica os incômodos e reações de setores estatais a objetivação do protagonismo indígena. Por
outro lado, observo os recursos simbólicos presentes quando Chiquinho reflete sobre o idealismo alheio a
respeito da indianidade e sobre autonomia indígena em meio a ‘pressão dialógica’ frente a agentes e técnicos do
Estado.
Palavras-chave: autonomia - protagonismo
AUTONOMIAS NAS ESCOLAS INDÍGENAS DOS POVOS TIMBIRA?
Lígia Raquel Rodrigues Soares – Centro de Trabalho Ind igenista (CTI)
Este trabalho procura discutir o significado da palavra autonomia para as escolas indígenas no Estado do
Maranhão e Tocantins, em especial nas escolas dos povos Timbira. Nas análises que tenho feito ao longo de sete
anos sobre a educação escolar indígena no Maranhão e Tocantins percebo a não-autonomia na maioria das
escolas indígenas dos povos Timbira por conta de um aparato legal que a sufoca diante de tantas condições
estabelecidas (carga horária, calendário, dias letivos) apesar de a mesma legislação propor a tais instituições
especificidade e flexibilidade. Além desse aparato legal, também percebo que a ausência de autonomia é proporcionada por profissionais não-indígenas não desejosos (e tampouco preparados teoricamente para) de pensar
uma escola diferente, que questionem essa base legal, profissionais esses que pensam as escolas com os parâmetros
de pedagogos (formatados na legislação) formados para escolas não-indígenas. Por esses e outros motivos, faço
nessa análise as seguintes questões: como as escolas terem autonomia diante desse contexto? O que pensam os
professores e diretores indígenas diante da legislação que amarra tudo e todos? O que acontece nessas escolas
quando os professores e diretores são indígenas e o que acontece quando quem está à frente dessa escola é um
não-indígena? Estas e outras questões serão pensadas no referido trabalho propondo uma análise dessa situação
observada na educação escolar oferecida aos povos Timbira no Estado do Maranhão e do Tocantins.
Luiz Augusto Sousa do Nascimento - Mestrando em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – UFRN, Pesquisador associado ao Centro de trabalho Ind igenista – CTI, membro do Grupo de Pesquisa Estado
Multicultural e Políticas Públ icas – UFMA/CNPq e bolsista do Programa Internacional de Bolsa de Pós-Graduação da
Fundação Ford – IFP.
Por associativismo abordado nesse trabalho, refere-se às organizações indígenas de caráter formal e estatutária,
que com o advento da Constituição Federal brasileira de 1988, passou a legitimar aos povos indígenas, o direito
de constituir organização juridicamente definidas (Art. 232). Nesse contexto, analiso o processo de constituição
do associativismo entre grupos timbira, considerando esse processo como formação de comunidades políticas
no sentido weberiano do termo, que fundamenta que a formação de comunidades políticas está pautada na
crença da afinidade de origem comum (mitologia dos grupos timbra), seja esta objetivamente fundada ou não. A
partir desse pressuposto, relaciono as ações políticas das associações timbira, suas interconexões com as políticas
do Estado nacional, bem como as dinâmicas de um conjunto-de-ação interna, marcadas pelo intercâmbio cultural,
pelo diálogo conflitivo, pela tensão entre política de aldeia e política calcada nos parâmetros da cooperação
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GRUPOS DE TRABALHOS
COMUNIDADES POLÍTICAS E REDES SOCIAIS: UMA ANÁLISE DO ASSOCIATIVISMO ENTRE
GRUPOS TIMBIRA.
internacional, entre política de Estado e política local, configurando um campo amplo de “redes sociais”. O
conceito de redes sociais (Barnes, Firfh, Mayer) para essa análise é indispensável para a discussão referente à
situação onde grupos e indivíduos estão envolvidos em relações que ultrapassam as fronteiras de seus territórios,
dificultando o domínio de novos códigos simbólicos e práticas culturais em um contexto relativamente novo no
campo das relações interétnicas.
Palavras chave: comunidades políticas, redes sociais, associativismo, grupos timbira
CONSTRUINDO REDES E RELAÇÕES: ESTRATÉGIAS POLÍTICAS NO POVO INDÍGENA
XUKURU (PE)
Kelly E. de Oliveira (Doutoranda do PPGA/UFPE – kellyol iveira@cl ick21.com.br)
O presente trabalho resulta de pesquisa de mestrado sobre a organização política do povo indígena Xukuru do
Ororubá (PE). O estudo percebe as diferentes relações estabelecidas entre representantes indígenas e organizações governamentais e não-governamentais na construção de sua alteridade política. Pretendo, a partir dessa
observação, ampliar a compreensão de como a construção do movimento indígena, seja em uma esfera regional
ou nacional, passa principalmente por tensões, disputas e alianças locais. Objetivo me ater não apenas a uma
observação burocrática da atuação das lideranças indígenas com o Estado ou sociedade civil, mas focar a atenção
na construção de relações políticas que possam sugerir um certo modelo de ação política presente. De fato, o que
se observa é que a compreensão dessa alteridade política indígena passa por uma necessária compreensão do
percurso histórico local de cada povo e das ligações que este estabelece com organizações da sociedade civil, com
o Estado e com outros grupos e organizações indígenas. Podemos perceber que essas relações de alianças e
embates podem refletir a própria identidade política dos povos indígenas, amparado não só por elementos de
etnicidade, mas também fruto de negociações políticas em constante movimento.
Palavras-chaves: Xukuru, movimento indígena, Nordeste
DO AZEITE À LOMBRIGA: REFLEXÕES SOBRE HIGIENIZAÇÃO E CORPORALIDADE ENTRE
OS XAVANTE
GRUPOS DE TRABALHOS
Estêvão Rafael Fernandes. Doutorando em Saúde Públ ica – Escola Nacional. De Saúde Públ ica/Fiocruz (RJ)
Este trabalho diz respeito a perspectiva sobre o conceito de “corpo”, e sobre como os índios Xavante (grupo indígena
falante da família lingüística Jê, com aproximadamente 13.000 indivíduos, localizados ao leste do estado do Mato
Grosso) constróem, no contexto das políticas higienizantes levadas a cabo pelo Estado, seu corpo e o dos nãoindígenas, como arena simbólica para afirmarem-se como pessoas ativas no processo de contato e no relacionamento
que mantêm com a sociedade envolvente. Em suas aldeias, é comum ouvirmos frases como “a diarréia do branco
mata, a do índio, não”; “comida do branco não presta, só faz a gente ficar doente”; “quem toma remédio do branco
morre”; etc. Essas formulações, dentre inúmeras outras, comunicam ao não-índio seu lugar na cosmologia Xavante:
somos não-pessoas. Quando o Xavante afirma que nossos corpos são diferentes, da mesma forma que a mulher Piro
relatada na anedota de Viveiros de Castro (Viveiros de Castro, Eduardo. 2002. O nativo relativo. Mana 8(1):113-148), ela
está se posicionando frente aos brancos, enquanto agente – e não sujeito – das relações interétnicas. O corpo é, aqui,
tomado enquanto lugar privilegiado para se pensar, simbolicamente, a diferença. Como aponta Vilaça, à luz da
literatura perspectivista (Vilaça, Aparecida. 2000. O que significa tornar-se outro? Xamanismo e contato interétnico na
Amazônia. Revista Brasileira de Ciências Sociais 15 (44). Outubro), a corporalidade nas sociedades ameríndias é
extremamente fluida, de tal modo que eles podem transitar entre as categorias “índio” e “branco” sem que isso se
torne um dilema. Isso explica o porquê de, em certas circunstâncias, elementos como “amebas”, “vírus” e “bactérias”
terem sido incluídas em algumas explicações êmicas de distúrbios, sempre com uma conotação diferente da dos
biólogos: quando o homem sai para beber na cidade (algo extra-estrutural - nota-se aqui paralelos com o argumento de
Mary Douglas, em Pureza e Perigo -, para os Xavante), quando ele volta para a aldeia, a ameba sai de sua barriga e entra,
de noite, na barriga de uma criança descoberta, que ficará com diarréia. Em última instância, o que o Xavante
comunica quando formula esse tipo de teoria sobre a diarréia nas crianças, é que isso se dá devido à beberagem fora
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da aldeia, é, por assim dizer, uma mimesis da teoria Xavante acerca das relações de contato que mantêm com o nãoíndio. Se, por um lado, temos explicações complexas sobre surgimento de doenças diarréicas e manutenção das
relações extra-aldeia, por outro temos uma política de Estado que não contempla, de fato, essa diversidade de pontos
de vista: o que significa empurrar aos índios a construção de poços, cartilhas educativas em higiene (com frases como
“corte a unha regularmente”, “ande de chinelo nas aldeias”, “beba água do poço, não do rio”,...), a doação de filtros de
barro em algumas aldeias, etc. Se, por um lado, temos um Estado que se lhes busca “domesticar” (no sentido weberiano
do termo – cf. Bourdieu), por outro, temos uma complexa reorganização do sistema classificatório indígena de tal
maneira a reverter o quadro de relativa violência simbólica implicado nesse processo.
IDENTIDADE INDÍGENA E ATIVISMO POLÍTICO NO BRASIL: DEPOIS DA CONSTITUIÇÃO
DE 1988
Stephen G. Baines. Professor Associado 1, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasíl ia; pesquisador 1B
do CNPq
Neste trabalho levanto algumas questões gerais sobre a especificidade de identidades indígenas e ativismo político no
Brasil a partir da promulgação da Constituição de 1988, passando a examinar alguns exemplos etnográficos de
reconfiguração étnica: os Waimiri-Atroari em Amazonas e Roraima; os Makuxi e Wapichana ao longo da fronteira
internacional entre a República da Guiana e o Brasil; e os Tremembé do litoral oeste do Ceará. Estes casos revelam a
imensa diversidade de situações no Brasil. No caso dos Waimiri-Atroari, encapsulados dentro de um Programa indigenista
vinculado aos interesses de grandes empresas que atuam em grandes projetos de desenvolvimento regional – a UHE
Balbina e a Mina de Pitinga – a possibilidade de ativismo político está circunscrita pelo próprio programa de indigenismo
empresarial num regime de liberdade vigiada. No caso dos Wapichana e Makuxi na fronteira entre a Guiana e o
Brasil, existe a possibilidade de interação destes povos com dois Estados nacionais que têm políticas indigenistas
diferentes. No caso dos Tremembé do Nordeste brasileiro, surgem identidades indígenas em contextos locais diversos
e através de reivindicações de direitos territoriais, frente a grandes empresas de plantações de coco em Varjota e
Tapera, Almofala, nos municípios de Itarema e Acaraú, e em resposta à proposta implantação de uma cidade turística
por um consórcio de empresas transnacionais em Buriti e São José, no município de Itapipoca.
NA PROA DA CANOA: UMA ETNOGRAFIA DO MOVIMENTO INDÍGENA EM TEFÉ
Os estudos sobre o Movimento Indígena, constituem um dos temas importantes da Antropologia brasileira nos
últimos 40 anos. No Médio Solimões tais estudos vêm sendo realizados desde a década de 1980, principalmente,
Priscila Faulhaber, onde aparece claro que na relação e na intervenção dos diferentes agentes do Estado com os
povos indígenas, há uma tendência clara para a homogeneização dos grupos étnicos, porém, esta tendência tem
encontrado por parte dos índios uma reação ou uma “resistência”, articulada, sobretudo, pelo Movimento
Indígena. Este artigo procura traçar um perfil história e discutir o caráter afirmativo e identitário do Movimento
a partir das atividades desenvolvidas pela Uni-Tefé (União das Nações Indígenas de Tefé). Tomei como referência para este trabalho o período de 1992 a 2003, quando pode acompanhar através do CIMI (Conselho Indigenista
Missionário) em vários trabalhos tanto nas aldeias como no assessoramento ao Movimento Indígena e à UniTefé e, quando realizei também minha dissertação de mestrado (2000 a 2003). Neste período o Movimento
Indígena em Tefé passou por importantes mudanças em seu caráter afirmativo e organizacional, passando de
encontros esporádicos de lideres indígenas e assembléias para uma organização mais formal com uma agenda de
encontros e reuniões bastante rígida e um escritório fixo na cidade. Ao traçar-mos um perfil histórico e etnográfico
do Movimento Indígena em Tefé, percebemos três fases: a primeira, marcada pelos encontros de lideranças
indígenas e comunitárias, articulados pela Igreja; segunda, marcada pelas assembléias, encontros e reuniões
indígenas, proporcionadas, sobretudo, pela atuação do CIMI e; terceira, bem mais recente, em que os índios
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GRUPOS DE TRABALHOS
Benedito Maciel Licenciado em História e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela UFAM, professor de
Antropologia Indígena e Coordenador do Curso de Bacharelado em Antropologia do Instituto Natureza e Cultura da
UFAM em Benjamin Constant.
assumiram através de projetos e convênios com o Estado, grande parte do atendimento à educação, saúde,
economia, etc. Neste contexto, ocorrem duas tendências dentro do Movimento: uma ligada aos agentes do
estado e outra á atuação da igreja.
SAÚDE INDIGENA: UM CAMPO DE DISPUTAS
Ana Caroline Amorim Oliveira- Mestranda de Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco-PPGA/ UFPE. Email: carol [email protected]/ ana.carol ine.ol [email protected]
A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (2002), estabelece o Subsistema de Saúde Indígena,
que é um considerado pelo Estado como um novo modelo de atendimento de saúde da população indígena no
Brasil. Este novo modelo é baseado no respeito às especificidades culturais dos indígenas e na complementaridade
entre a biomedicina ocidental e seus profissionais e, os saberes tradicionais e seus especialistas. Assim, minha
investigação se estabelece no intuito de analisar este novo espaço político, o campo de relações interétnicas,
mais especificamente o campo da saúde indigenista, este espaço de lutas e conflitos entre a sociedade brasileira
e os povos indígenas(Bourdieu, 1996). Ou melhor, entre o universal (cidadania) e o particular(especificidade
étnica). Este confronto dentro do campo indigenista da saúde é constante devido à imposição de um modelo
burocrático e ocidental para vários povos indígenas culturalmente diferenciados. No entanto, é percebido que os
indigenas em vez de simplesmente naturalizem o universal, desenvolvem estratégias de instrumentalizá-lo, quer
dizer, transformar a cidadania em um instrumento de luta por seus direitos, entre eles o da saúde. Ocorrendo,
dessa forma, uma adequação do novo modelo de atendimento à saúde, observando a tensão decorrente das
especificidades culturais dos indígenas em confronto com o modelo ocidental de medicina.
Palavras-Chave: Saúde Indígena,Relações Interétnicas, Disputas Simbólicas.
UMA CRÍTICA ZURUWAHÁ AOS HUMANOS DOS DIREITOS: A PRÁTICA DO INFANTICÍDIO
INDÍGENA E A NORMA COMO EXCEÇÃO
GRUPOS DE TRABALHOS
Marianna Holanda [email protected]. Universidade de Brasíl ia
A partir da repercussão que o infanticídio indígena tem gerado em setores nacionais, e da atuação específica de
missionários entre os Zuruwahá, analisarei tanto a pretensão política colonial de rejeição da diferença como
exotismo - caracterizada aqui pelo empenho na retórica da vida -, como a reação do órgão indigenista como
“protetor da alteridade”, que arraiga seu argumento em culturalismos e não-intervenções. Essas perspectivas
externalistas vão ser repensadas a partir de uma redefinição dos brancos, do estado, da igreja como outros tantos
daqueles “arbitrários históricos” (Viveiros de Castro, 1999 e 2003) que sempre se relacionaram com os sistemas
nativos. Assim, se de um lado temos os discursos missionários, parlamentares, da Funai, ou do Ministério
Público, por outro temos as falas indígenas sobre as nuances da prescrição da morte.
A prática do infanticídio indígena, muitas vezes etnografada como depositária de necessidades e funções que
visam a auto-perpetuação de um povo, por outro lado, envolve um idioma corporal e processual de construção da
pessoalidade que não pode ser determinada – e, como veremos, não se determina – por conceitos e diretrizes
presentes nas cartas constitucionais e nos direitos ditos humanos e fundamentais. Ora uma questão religiosa ora
de política (inter)nacional é um tema privilegiado para desvelar moralidades vestidas de direito, justiça, lei,
cultura.
Palavras chave: relações interétnicas, infanticídio ameríndio, direitos humanos.
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GT 27 - T R A Z E N D O À L U Z A S A U TO N O M I A S I N D Í G E N A S C O N T E M P O R Â N E A S N O B R A S I L
WYTY-CATË: CULTURA E POLÍTICA DE UM MOVIMENTO PAN-TIMBIRA
Jaime Garcia Siqueira
O problema abordado neste artigo refere-se ao olhar, à reflexão e à agência dos índios no âmbito do movimento
pan-Timbira, a partir do qual buscam a construção de uma unidade política frente ao Estado e a “tradução” para
a “forma Timbira” dos processos de modernização que estão enfrentando. Busco discutir aspectos da cultura e
da política de um movimento pan-Timbira, na perspectiva de contribuir para o entendimento das organizações
indígenas e novas expressões da política indígena. Ao analisar essas novas formas de aglutinação entre os
Timbira, procuro evidenciar a construção de uma “timbiridade” e de uma unidade tanto no plano discursivo
como no das suas práticas. Se no plano intra-tribal a busca da unidade é constante e instável, no plano das
relações com os cupen – seja frente ao Estado, seja frente a outros agentes - a Wyty-Catë tem construído e
explicitado uma unidade pan-Timbira. Essa unidade se manifesta igualmente junto ao próprio movimento indígena, entidades indigenistas e agências de financiamento. A compreensão das sociedades ameríndias requer
uma investigação sobre os modos pelos quais são estruturadas e conceitualizadas, em diversos níveis simbólicos,
as relações com a alteridade. É nessa perspectiva que procuro entender as novas formas de expressão da cultura
Timbira, por meio da apropriação que os índios fazem da Assoc. Wyty-Catë. O processo Timbira de incorporação
das formas de funcionamento de uma associação formal deu-se, inicialmente, com base em mecanismos já
existentes no mundo indígena para a captura e incorporação de conhecimentos e signos do exterior. No entanto,
a dinâmica dessa incorporação vem conduzindo a transformações que, hoje, extravasam os mecanismos tradicionais para lidar com a alteridade. A reprodução cultural convive com transformações em cadeia, criando novos
desafios que os Timbira procuram enfrentar por meio de novas “indigenizações” e também de sua própria
modernização.
XUCURU DO ORORUBÁ (PE-BRASIL): CONTRASTE ENTRE O IDEAL OCIDENTAL DE
DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E A ORGANIZAÇÃO TRADICIONAL
A etnia Xucuru do Ororubá localiza-se na Serra do Ororubá, próxima ao município de Pesqueira, em Pernambuco,
Brasil. Composta por aproximadamente nove mil indígenas, a etnia é distribuída por vinte e quatro aldeias. Hoje
é considerada uma das mais evidentes do estado de Pernambuco em termos de organização política, fundamentada na luta pelo território e pelo reconhecimento étnico, na sua diversidade enquanto indígenas. A presente
pesquisa teve como foco a análise das esferas de poder em um contraste entre o discurso ideal de democracia
participativa e a organização tradicional da etnia. Contraste este decorrente da relação entre os valores indígenas e a nova realidade jurídica. O principal método utilizado foi uma análise de “drama social”. Idealizado por
Victor Turner, a metodologia permite uma percepção das mudanças e da própria estrutura através da análise de
composições temporais marcadas por conflitos e mudanças dos sistemas de significação. Neste caso, faço uma
análise de um drama social que presenciei em maio de 2006, durante a VI Assembléia do Povo Xucuru do
Ororubá. Além deste estudo de caso, também foram realizadas quinze entrevistas acerca do tema. O ideal de
democracia participativa que é ressaltado no discurso e nas ações dos Xucuru é resultante, entre outros motivos,
da participação da etnia no movimento indígena nacional que inaugurou a nova era legislativa. Diante das
ideologias que são suportes do Movimento Xucuru, estabelecem-se conflitos devido ao choque com situações em
que prevalecem valores da tradição. A estrutura de organização política dos Xucuru expressa uma divisão entre
poder político e sagrado, sendo o último determinante sobre o primeiro. Portanto, são instituições que nem
sempre permitem que as decisões sejam feitas por todos da etnia.
Palavras chave: movimento indígena; democracia participativa; organização política
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GRUPOS DE TRABALHOS
Júnia Marúsia Trigueiro de Lima. Instituição de pertencimento: Universidade de Brasíl ia. E-mails: [email protected],
[email protected]
GT 28
ANTROPOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E QUESTÃO FUNDIÁRIA QUILOMBOLA
A CONQUISTA DA TERRA DA NAÇÃO
Roberto Alves de Almeida (Coordenação Geral de Regularização de Territórios Quilombolas / INCRA –
[email protected] / [email protected])
Com vistas a aprofundar a discussão sobre o processo de regularização fundiária de territórios quilombolas,
objetiva-se discutir a experiência na realização de um Relatório Antropológico de Identificação e Delimitação
Territorial produzido em uma comunidade quilombola. O foco do trabalho foi a Comunidade Quilombola
Família Magalhães, situada em Nova Roma – GO, na Chapada dos Veadeiros, região norte do Estado de Goiás.
Esta comunidade se origina do casamento de Dona Alvina com Seu Magalhães, este um dos três irmãos que
migram da região do Kalunga e sobem o rio Paranã para tentar uma vida melhor. O casal se fixa no território
conhecido por “Lavado”, na beira do rio Paranã, onde seus descendentes resistem até a atualidade.
Focando o trabalho na territorialidade do grupo levantou-se que o território quilombola, assim como grande
parte das terras da região ocupada por várias famílias de posseiros, é considerado Terra da Nação ou Terra Devoluta.
Neste contesto camponês, a ética que fundamenta o acesso, a conquista e a manutenção do território da família
é baseados num conjunto inequívoco de marcas referenciais presentes tanto no plano da memória do grupo
como fisicamente em seu território: o tempo, a permanência, o trabalho a produção e a comprovação. Foi a partir do
entendimento destes elementos centrais na construção da territorialidade quilombola que foi possível à elaboração do referido relatório e a defesa do território proposto.
Palavras-chaves: Territorialidade, Regularização Fundiária, Quilombos de Goiás.
ALTO DA SERRA (RJ): POLÍTICAS PÚBLICAS, RECONHECIMENTO E CONSTRUÇÃO DE
IDENTIDADE.
GRUPOS DE TRABALHOS
André Luiz Videira de Figueiredo (mestre em Antropologia pelo PPGACP-UFF; doutorando em Sociologia pelo
IUPERJ, professor de Sociologia Juríd ica da UCAM e pesquisador associado de KOINONIA)
A comunidade remanescente de quilombo de Alto da Serra, localizada no município de Rio Claro (RJ), se
apresenta, hoje, como um dos grupos mais organizados e ativos do movimento quilombola fluminense. Tal
organização se construiu em razão da forte adesão do grupo ao campo de debates relativos às “políticas quilombolas”
e, por conseqüência, à identidade étnica correspondente a tal campo. Essa adesão se deu a partir do recurso a
uma forte retórica dos direitos, a articular as formas locais de reconhecimento étnico às categorias constitucionais e suas interpretações. Neste processo, foi de fundamental importância o acesso do grupo a um pacote de
políticas direcionadas à população quilombola, o que lhes conferiu reconhecimento político antes mesmo que
fossem formalmente reconhecidos como remanescentes de quilombo. Este trabalho é o resultado de um longo
período de observação do processo organizativo do grupo, que culminou com a sistematização de dados de
pesquisa para a produção de relatório antropológico ao INCRA-RJ, peça obrigatória para o processo de reconhecimento e titulação da comunidade.
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G T 2 8 - A N T R O P O LO G I A , P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S E Q U E S TÃ O F U N D I Á R I A Q U I LO M B O L A
ASSENTAMENTO QUIOMBOLA, UMA CATEGORIA DE AJUSTE: QUANDO A LEI E A CULTURA
INSTITUCIONAL SE CONFRONTAM EM PROCESSOS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁIA.
Paula Elaine Covo (SR-04- GO)
Os marcos legais distinguem com clareza as categorias “projeto de assentamento” e “comunidade quilombola”,
atribuindo a cada uma sua própria forma de regulamentação em conformidade com critérios jurídicos e considerando formas de ocupação e uso do território. De forma crescente, vêm incorporando também contribuições da
reflexão acadêmica e da militância política, como parâmetros de referência para suas práticas. Entretanto,
fatores endógenos ao funcionamento da instituição encarregada desse processo da regularização – o INCRA –
mostram-se tanto ou mais influentes na formulação e condução dessas políticas públicas quanto a própria
legislação. Trata-se de uma reincorporação dos conteúdos regulatórios à luz de uma dinâmica institucional
interna que parece ter vida própria, caracterizada pelo conservadorismo, paternalismo e resistência à influência
externa. A reflexão empreendida focaliza a tensão constitutiva entre um projeto inovador (a regularização de
territórios quilombolas) e uma instituição com características arcaicas, que procura implementar este projeto. O
objetivo é compreender a articulação de uma política pública de caráter agrário e etnicamente referenciada,
considerando questões referentes à cultura institucional, seus rituais próprios, seus discursos, seus atores, através
da análise de um caso empírico do P. A. Chico Moleque, no Município de Mineiros (GO). Trata-se de um
desdobramento da tradicional Comunidade Quilombola de Cedro, e vem recebendo o tratamento de “assentamento quilombola” nos documentos e nas ações oficias do órgão. A construção desta categoria. Que inexiste no
plano jurídico, faz parte de uma estratégia de ajustamento da instituição às transformações ela vivencia na
atualidade.
CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA ENTRE OS QUILOMBOLAS DE ALTO ALEGRE
O presente resumo é parte de uma pesquisa em andamento que tem por objetivo analisar as questões de identidade e as tradições culturais dos descendentes de escravos que habitam a comunidade quilombola de Alto
Alegre, localizada no município de Horizonte na Região Metropolitana de Fortaleza. Analiso como moradores
de uma comunidade remanescente de quilombo constroem sua identidade negra dentro do grupo e fora dele.
Nessa discussão tomo como ponto de partida o significado de quilombo na atualidade, contextualizando o objeto
de estudo na busca de esclarecer questões concernentes à construção identitária daquele grupo social. A comunidade conta com a existência de uma associação chamada ARQUA (Associação dos remanescentes quilombolas
de Alto Alegre e Adjacências). Nas visitas que realizei ao quilombo percebi a associação ARQUA como sendo
um espaço social, político e de construção da identidade étnica quilombola.As ações desenvolvidas pelo grupo,
como uma associação, demarcam identidades coletivas, em torno de linguagens comuns, de códigos, interesses,
etc. Por isso, as práticas de construção da identidade quilombola não podem ser tomadas isoladamente, sem
levar em consideração a importância desses atores na construção de novas estratégias de aglutinação e ação
coletiva. Muitas dessas construções identitárias são elaboradas visando reformas políticas, modificando leis e
gerando políticas sociais. Nesse sentido, discuto uma identidade re-significada, onde se funda um debate em
torno da identidade do grupo. A busca dessa identidade também aparece associada a novas estratégias de
enfretamento com a chegada de crises ao campo rural e do acesso a terra. Assim, a construção dessas identidades
coletivas é ao mesmo tempo a luta por direitos sociais intimamente ligados a um território, que promovem
mudanças culturais no interior da vida das comunidades. Ela foi pensada e desenvolvida com o objetivo de
promover reuniões com os habitantes do quilombo no intuito de fortalecer os laços comunitários em busca de
um reconhecimento pela negritude na tentativa de preservar uma raiz negra.
Palavras-chave: Quilombos – identidade - tradição cultural
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GRUPOS DE TRABALHOS
Francisco Herbert Pimentel Monteiro Universidade Federal do Ceará. Mestrando em Sociologia. E-mail:
[email protected]
DA MEMÓRIA À IDENTIDADE DA IDENTIDADE À TERRITORIALIDADE OU VICE-VERSA:
ETNOGRAFANDO UMA COMUNIDADE NEGRA RURAL.
Francisco Marcelo Gomes Ferreira. Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. E-mails: [email protected]
Dentro do atual contexto em que o reconhecimento da identidade quilombola apresenta um expressivo aumento, o presente trabalho pretende apresentar um relato de uma etnografia realizada numa comunidade negra
rural, localizada na região oeste do estado do Rio Grande do Norte. Tal comunidade apesar de não se considerar
quilombola apresenta como característica central o tripé história, identidade e territorialidade, enquanto fatores
de seu arcabouço étnico-identitário. A pesquisa teve como procedimento principal a observação participante
baseando-se em questionários semi-estruturados, e em bibliografias que abordassem a temática quilombola e de
comunidades rurais. Em CASCUDO (1984) e em CAVGNAG (2003) podemos ter algumas idéias a respeito da
história do negro no Rio Grande do Norte. Com relação à territorialidade do grupo utilizaremos P. OLIVEIRA
(1999) e E.WOORTMANN (1995). Ao pensarmos sua identidade apreendemos as concepções de MOURA
(1989) E OD‘WYER (2002). Uma memória coletiva que relata a existência de negros enquanto primeiros habitantes da região e por outro uma História demonstrando a invisibilidade destes no estado do Rio Grande do
Norte; uma terra pensada sob a ótica comunal das famílias que habitam os sítios desta comunidade e que tomam
as sua terra enquanto patrimônios pertencentes de seus antepassados, além de uma identidade marcada pelas
grandes manifestações culturais e fortes relações de parentesco, são características sine qua non que apreendemos
enquanto pontos condutores desta etnografia. Ao verificarmos a formação identitária do grupo percebe-se que os
conceitos de história, identidade e território são inter-relacionais e interdependentes, , na medida em que um
conceito serve para legitimar os outros e vice-versa, sendo de suma relevância para análise etnográfica do grupo
tornando-se assim conceitos indissociáveis.
Palavras-Chave: História, Identidade, Territorialidade.
HONRA E RECIPROCIDADE NO QUILOMBO CURRAL DA PEDRA
GRUPOS DE TRABALHOS
Leonardo Leocádio da Silva (Universidade de Brasíl ia, leonardo.leocad [email protected])
O artigo aqui proposto tem como objetivo avaliar a vinculação entre família, trabalho, parentesco e afinidade na
relação direta com o sistema de valores morais inseridos no quilombo Curral da Pedra. Analisa, a principio, a
relação de afinização de pessoas de “fora da comunidade”, o que permite visualizarmos os diferentes valores
relativos ao status e prestígios que os indivíduos possuem em relação à estrutura social e, ao mesmo tempo,
possibilitará evidenciar os campos semânticos compartilhados entre o quilombo e o mundo social “fora do
quilombo”. Destacam-se, como pontos analíticos, os tipos de práticas sociais ou de memória que remetem a
parentes que vivem ou viveram na cidade e as relações estabelecidas entre os adultos e jovens que trabalham fora
do quilombo. Todavia, a análise aqui empreendida também deverá abordar aspectos da manutenção de redes
sociais a partir de elementos de reciprocidade. O que se torna peculiar no grupo aqui analisado são as estratégias
de reprodução material, aliadas a manutenção de vínculos estratégicos, que permitem determinadas diferenciações sociais dentro da comunidade. Ao que parece, o status de qualquer família depende de fatores morais e de
fatores materiais. Cabe o homem assegurar a sobrevivência material e, se possível, a prosperidade da família,
cabe à mulher garantir que permaneça intacta a sua integridade moral e cabe a rede de relações estabelecidas
sustentar tal reconhecimento. A insolvência se torna um problema para a manutenção do status de uma família,
já o adultério é relativizado, podendo significar acessão social ou decadência. Dessa forma, exigência da sobrevivência material, articulado com a lógica simbólica do grupo, sem dúvida, se torna um elemento essencial para
entendermos o sistema de valores morais que regula a vida social dos moradores do quilombo, sendo o nó
górdio analisado nesse artigo.
Palavras chaves: Parentesco – Honra- Reciprocidade
230
G T 2 8 - A N T R O P O LO G I A , P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S E Q U E S TÃ O F U N D I Á R I A Q U I LO M B O L A
IDENTIDADE, RECONHECIMENTO E AUTO-RECONHECIMENTO EM LAGOA DA PEDRA
Luciene de Oliveira Dias. lud [email protected]. Universidade de Brasíl ia – UnB
A Comunidade Remanescente de Quilombo Lagoa da Pedra, a 30 quilômetros de Arraias, estado do Tocantins,
obteve a certificação como Remanescente de Quilombo pela Fundação Cultural Palmares em 2004. A partir de
então, Lagoa da Pedra vem recebendo pacotes de melhorias sociais, que visam, segundo os “tomadores de
decisão”, possibilitar acessos e bem-estar social, além de manifestar materialmente o reconhecimento. Entre os
acessos, discuto a entrega do título definitivo das terras, 80 alqueires, pelo Instituto de Terras do Tocantins –
Intertins, em 2004; a implantação de um sistema de saneamento básico pela Fundação Nacional de Saúde –
Funasa, em 2006; a instalação de um telefone público para atender aos 150 moradores de Lagoa da Pedra, em
2006 e a criação de uma linha de ônibus Lagoa da Pedra-Arraias-Campos Belos três vezes por semana, em 2005.
Assim, proponho discutir os motivos de somente agora, considerando que os primeiros povoados em Lagoa da
Pedra contam cerca de 200 anos, o grupo passar a ter estes acessos considerados a materialização do reconhecimento. A principal perspectiva adotada nesta proposta é a de que o reconhecimento passa necessariamente pelo
auto-reconhecimento, daí a necessidade de buscar saber quais são as demandas locais com o propósito de cotejálas com o que está sendo disponibilizado. Aceitando que uma das bases da interação é o conflito, sendo para isso
essencial considerar o que dizem os interlocutores em questão e considerando o conflito como um dos fios da
teia de relações que conduz ao reconhecimento, concluo que a luta por reconhecimento, que parte no caso
específico da Comunidade Remanescente de Quilombo Lagoa da Pedra, tem seu foco nos direitos e acessos e
não nas identidades constituídas. Daí ser possível aos beneficiados pelas políticas públicas manterem suas
identidades étnicas mesmo após inserção em culturas tão díspares das locais.
Palavras-Chave: Identidade, Reconhecimento, Quilombolas
NEGRO NACIONAL – EM DEFESA DA IDENTIDADE
Eduardo Campos Rocha (INCRA / PI – [email protected])
NOVAS PRAXES PARA O INCRA: ENTRE A REFORMA AGRÁRIA E A REGULARIZAÇÃO
FUNDIÁRIA DOS TERRITÓRIOS DOS REMANESCENTES DAS COMUNIDADES DOS
QUILOMBOS
Leslye Bombonatto Ursini – Incra (61-3411-7249; [email protected])
O espaço que suscitou a observação acerca de alguns pontos do trabalho de campo foi o Quilombo de Alto
Alegre e Adjacências, nos municípios de Horizonte e Pacajus, no estado do Ceará, na zona metropolitana onde
- apesar de encontrar-se em meio a um acelerado processo de urbanização e avizinhado com a zona industrial do
município de Horizonte - a tradição da lida com a terra é muito forte de um lado e, de outro a baixa qualificação
profissional e baixa instrução não ajudam aqueles que quisessem escolher não trabalhar mais na terra. Com o
Decreto n 4.887 de 20 de novembro de 2003 – que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos
231
GRUPOS DE TRABALHOS
É como antropólogo do INCRA que realizo a produção do RTID – Relatório Técnico de Identificação e Delimitação, referente a Comunidade da Volta do Campo Grande no município de Campinas do Piauí. A Comunidade
vem resistindo em seu território há mais de 120 anos, lutando contra as diversidades naturais do semi-árido
nordestino e o preconceito das elites locais, sendo testemunha das mudanças econômicas ocorridas na região
desde a época em que escravos tocavam a boiada dos colonizadores passando a escravos Reais em distinção aos
escravos de parte, depois com a independência do Brasil tornando-se escravos das Fazendas Nacionais e com a
libertação, chegam até nós reivindicando a identidade de “NEGROS NACIONAIS”. O sinal diacrítico é orgulhosamente reivindicado pelos mais antigos da comunidade. O artigo busca descurtinar o processo pelo qual os
membros da comunidade se orgulham de serem os verdadeiros “Negros Nacionais”.
Palavras-chaves: negro-nacional, quilombos, incra
de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - o Incra assume como sua atribuição
a regularização fundiária dos remanescentes das comunidades dos quilombos. O corpo técnico institucional
tem a praxe de seus trabalhos volta para os movimentos sociais relacionados à reforma agrária e desde 2004 –
com o referido decreto em vigor – os trabalhos técnicos devem também acender luz sobre aspectos técnicos
voltados para outro movimento social também de cunho histórico na experimentação da exclusão social e
econômica: os remanescentes das comunidades dos quilombos. Neste trabalho pontua-se alguns dos aspectos
das pesquisas e dos trabalhos em campo que são diferentes para a finalidade da reforma agrária e para a finalidade da regularização fundiária dos territórios. Dessa forma procura-se expor tais pontos para corroborar com
metodologias em campo como uma checagem desses pontos acerca dos quais técnicos com formações e conhecimento de áreas diversas lidam. Nesse sentido abrange-se o trabalho do técnico responsável pelo componente
antropológico que não resulta em uma etnografia embora sirva-se de dados etnográficos em seu trabalho e
pesquisas. Este trabalho não pretende uma comparação entre os públicos da reforma agrária e dos remanescentes das comunidades dos quilombos, mesmo porque o exemplo a ser trazido a partir do trabalho em campo em
Alto Alegre é que o público da reforma agrária pode aumentar por conta da menor agilidade da regularização
fundiária de determinados territórios dos remanescentes das comunidades dos quilombos.
Palavras-chave: Quilombolas – reforma agrária – metodologia
O QUILOMBO É DO GOVERNO? TERRITÓRIO, CONFLITOS E POLÍTICAS PÚBLICAS NUMA
COMUNIDADE QUILOMBOLA DO RIO GRANDE DO NORTE.
Cyro H. de Almeida Lins (mestrando – PPGAS/UFRN)
Orientadora: Profª Drª Julie Cavignac (DAN – UFRN)
Sibaúma, praia localizada no litoral sul do Rio Grande do Norte, é reconhecida como remanescente de quilombo e
encontra-se atualmente em processo de regulamentação fundiária. Notamos, durante trabalhos de campo realizados para elaboração do relatório antropológico do grupo, que muitos conflitos relacionados ao processo em
questão tomavam cenário em Sibaúma. A implementação de políticas públicas visando a salvaguarda do grupo
tem gerado diversas questões relacionadas aos seus anseios e reconhecimento identitário. Procuramos entender
como se constrói uma identidade étnica em Sibaúma e de que forma essa identidade pode se tornar vetor de uma
luta política visando o processo de regulamentação fundiária e implementação de políticas públicas. Buscamos
também entender os diferentes posicionamentos e interesses dos atores sociais envolvidos, especialmente na
interlocução com os órgãos estatais responsáveis pelo processo em curso.
Palavras-chave: quilombolas, políticas públicas, conflito.
OS RENASCENTES DE QUILOMBOS: REAVALIAÇÕES PRÁTICAS DO ART. 68 DO ADCT
GRUPOS DE TRABALHOS
Fernanda Lucchesi (INCRA/ SR-12 (MA) – [email protected])
O trabalho busca refletir sobre os novos significados do conceito de quilombo surgidos a partir da regulamentação do Art. 68 pelo decreto 4.887. Com essa, a atribuição do processo de titulação passa a ser do INCRA. Desde
2004, há um aumento do número de processos de titulação, principalmente na superintendência regional do
Maranhão (SR-12). Em 2004 foram abertos 29 processos, 27 em 2005, 45 em 2006 e 31 até o dia 11 de abril de
2007. Em meio a esse progressivo aumento de comunidades que reivindicam a titulação de suas terras como
sendo de remanescentes de quilombos há o aparecimento de várias versões de uma identidade “quilombola”.
Assim, por exemplo, na comunidade de Pitoró dos Pretos, ao invés de “remanescente”, usa-se o termo “renascente de quilombo”. Não só o quilombo sai definitivamente do passado tornando-se algo que é presente e aponta
para o futuro, como a própria escravidão é reatualizada, conferindo ao processo significados inesperados.
Palavras-chave: Remanescentes de Quilombos, Regularização Fundiária, Identidade.
232
G T 2 8 - A N T R O P O LO G I A , P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S E Q U E S TÃ O F U N D I Á R I A Q U I LO M B O L A
PRIMEIRAS NOTAS SOBRE QUILOMBOS URBANOS
Carlos Eduardo Marques Discente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas
Gerais - PPGAN/UFMG. Membro do Núcleo de Estudos Quilombolas/NUQ da Universidade Federal de Minas Gerais/
UFMG. [email protected] [email protected]
Este ensaio pretende ser um “estudo da arte” em relação à temática do quilombo urbano. Ele busca fazer uma
relação entre o tema que discuto em minha dissertação, que se encontra em elaboração (a relação entre antropologia e direito na construção de um laudo antropológico) e as idéias discutidas na disciplina Antropologia
Urbana, do Programa de Mestrado em Antropologia. Neste ensaio buscamos fazer algumas inferências sobre as
Comunidades Quilombolas Urbanas de Belo Horizonte, certificadas pela Fundação Cultural Palmares: Comunidade dos Luízes e Comunidade de Mangueiras, para as quais nosso Núcleo de Pesquisa irá realizar o Relatório
Técnico de Identificação e Delimitação em Convênio com o INCRA. O ensaio se divide em cinco partes: 1Introdução onde fazemos uma pequena revisão da idéia de quilombos e remanescentes quilombolas em nossa
literatura; 2-Primeiras impressões sobre quilombos no meio urbano onde descrevemos as primeiras inferências sobre os
quilombos urbanos de Belo Horizonte; 3-A antropologia Urbana onde fazemos uma gênese dos conceitos presentes nos estudos antropológicos no contexto urbano brasileiro; 4-Grupos étnicos e territorialidade na cidade onde
buscamos fazer uma discussão, a partir do conceito de territorialidade desenvolvido por Antônio Augusto Arantes
e o conceito de Território de Muniz Sodré, da validade de identificação e delimitação de comunidades quilombolas
em meio urbano e suas características específicas; por fim, na Conclusão buscamos demonstrar a relação entre a
Antropologia e o Direito na temática quilombola.
Palavras-Chaves: quilombos, grupos étnicos e territorialidade.
TERRA E IDENTIDADE: A COMUNIDADE QUILOMBOLA DO JATOBÁ (RN).
Luiz Assunção (UFRN; [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
Partindo de dados de pesquisa histórica e etnográfica sobre a comunidade quilombola do Jatobá, no município
de Patu – RN, realizada com o objetivo de proceder à identificação e delimitação do seu território (convênio
INCRA/RN – UFRN), propomos nesta comunicação refletir sobre os processos de construção da identidade. O
grupo se caracteriza por um passado escravista, a terra enquanto propriedade adquirida por compra e pela
manutenção dos laços de parentesco, mas também é marcado pela existência de pouca terra para a reprodução
social e pela herança que divide a terra proporcionando sua venda. A ação do movimento negro e do governo na
comunidade e o conhecimento do Art. 68 da Constituição Federal tem estimulado ao grupo repensar seu
passado e a relação com a terra, produzindo novas identidades sociais. Que elementos permeiam essa construção? Quais os vínculos desse processo com as políticas públicas, em especial o processo de titulação das terras do
Jatobá.
Palavras-chaves: Identidade, Etnicidade, Quilombolas.
233
GT 29
ETNOLOGIA E ENTOHISTÓRIA INDÍGENA
A COMPANHIA DO MUCURY E OS ‘SELVAGENS’: CONSIDERAÇÕES SOBRE UM MODELO
DE CATEQUESE LAICA.
Wender Silveira Freitas - PPGCS- UFBA - [email protected]
Este trabalho, parte de uma pesquisa de Mestrado em andamento, pretende tratar de um modelo de integração de
populações indígenas no nordeste de Minas Gerais em meados do século XIX. A partir da leitura de documentos
da Cia. do Mucury e administrativos busca-se articular idéias pertinentes ao trato dos índios ao contexto empírico
de sua aplicação. Ou seja, analisando a atuação de empreendedores particulares em uma situação de expansão da
civilização sobre áreas e populações indígenas, pretende-se destacar alguns elementos da natureza de certo
discurso indigenista marcado por propostas de tratamento pacíficas dos belicosos ‘selvagens’ do vale do rio Mucuri.
Trata-se de um estudo de história do indigenismo que procura destacar a atuação de empreendedores particulares em detrimento de projetos religiosos e estatais de administração dos índios.
Palavras-Chave: Catequese Laica, Índios, Minas Gerais, Século XIX.
COTIDIANO, TRAJETÓRIAS E IDENTIFICAÇÃO: OS POTIGUARA NA SERRA DAS MATAS
GRUPOS DE TRABALHOS
Carmen Lúcia Silva Lima - Doutoranda em Antropologia UFPE- [email protected]
Este relato etnográfico da vida Potiguara possibilitará o conhecimento mais profundo do cotidiano e das relações desenvolvidas pelos atores sociais que compõem esta etnia. Privilegiando a perspectiva indígena, a descrição contemplará aspectos como o parentesco, a organização social, a espacialidade, as crenças, as práticas
terapêuticas, as atividades produtivas e as fontes de renda; revelando quem são, onde estão e como vivem as
pessoas que constroem o processo de emergência étnica Potiguara na Serra das Matas, Centro-oeste do estado do
Ceará. Permitirá, ainda, conhecer a trajetória e a lógica de identificação acionada na integração a este processo,
bem como na implantação das escolas indígenas em seu meio. Considerando a produção a cerca dos índios no
Nordeste, a contribuição desta exposição consiste em analisar aspectos importantíssimos para a compreensão
desta realidade, entretanto, pouco evidenciados nas abordagens que se fecham na construção da etnicidade.
Palavras-chaves: etnografia, cotidiano e identificação indígena
DOIS ELOS DA MESMA CORRENTE UMA ETNOGRAFIA DA CORRIDA DO IMBU E DA
PENITÊNCIA ENTRE OS PANKARARU
Priscila Matta
Este trabalho apresenta uma etnografia dos rituais do grupo Pankararu, denominados Corrida do Imbu e Penitentes. Esses rituais, realizados anualmente, envolvem diversos aspectos da cosmologia pankararu, de noções de doença e cura e simbolizam a mais importante expressão da vida religiosa pankararu. Através dos rituais da Corrida do
Imbu e da Penitência, e dos processos de promessas, doenças e cura se estabelecem relações com seres nãohumanos. A Corrida do Imbu está ligada aos encantados, entidades “vivas” cuja gênese remonta a um tempo mítico
e que se manifestam através de praiás ¾ encantados que se apresentam através de máscaras rituais. Na Penitência, as
234
GT 29 - ETNOLOGIA E ENTOHISTÓRIA INDÍGENA
relações são com os mortos e com a Santa Cruz. Nas rezas proferidas durante a Penitência, fazem referência aos
encantados. Os penitentes visitam, durante a Quaresma, entre os meses de fevereiro e março, cruzes de mortos colocadas em diversos pontos de certas aldeias. Aos encantados e à Santa Cruz são atribuídos poderes de cura. Os rituais e
as promessas são veículos para estabelecerem contatos com esses seres não-humanos, e a contrapartida para a cura
ou para a realização dos pedidos são oferecimentos de rituais aos encantados e à Santa Cruz, no âmbito das relações
familiares e interpessoais. Os Pankararu são encontrados no sertão de Pernanbuco e, também, em diversas localidades da cidade de São Paulo e da Grande São Paulo. O início do processo migratório data da década de 1950,
movimento que sedimentou redes de trocas. O foco deste trabalho são as relações que os rituais instituem e o
intercâmbio entre Pernambuco e São Paulo. Os Pankararu passaram por intensos contatos e são considerados por
determinados atores como “ex-índios”, mas lutam para serem reconhecidos e valorizados como índios. Casos como
esse fornecem pistas para a compreensão das transformações sofridas pelas sociedades indígenas.
ETNOHISTÓRIAS DOS SABANÊ E DOS POVOS DO NAMBIKWARA DO NORTE: SOBRE AS
‘RUÍNAS DA HISTÓRIA’ E RECRIAÇÕES SOCIOCULTURAIS E LINGÜÍSTICAS TÁRDIAS
Edwin Reesink (PPGA/UFBA – [email protected])
Os Sabanê e os povos do conjunto lingüístico ‘Nambikwara do Norte’ são pouco conhecidos em sua setnohistórias e
culturas ‘originais’. Como fazem parte da família lingüística Nambikwara, em muitos momentos tendem a ser incluídos
num suposto ‘povo Nambikwara’. Porém, mesmo que a natureza exata das unidades sociais antigas seja difícil de reconstituir
e não se enquadre com facilidade em uma noção de povo, estas unidades (aldeias e conjuntos de aldeias) mantinham e
concebiam entre si diferenças significativas e não se confundiam. O processo histórico foi particularmente ruinoso para
a continuidade étnica, sociocultural e lingüística destes povos. Salvo os Mamaindê e os Negarotê – ambos, como todas
as atuais unidades nomeadas (inclusive os Nambikwara, propriamente dito), também resultados de fusões de unidades
anteriores –, os outros povos do Norte sofreram impactos de tal ordem que chegaram a desarticular suas aldeias e a afetar
sua continuidade sociocultural e lingüística. Somente mais recentemente alguns povos, ou uma parcialidade deste, estão
tentando recriar aldeias próprias e tentar reconstruir condições para continuidades culturais e lingüísticas. Com efeito,
este processo é que forjou povos hoje conhecidos como Sabanê, Latundê e Tawandê (e os Nambikwara de povos da
Chapada dos Parecis). Em suma, aqui traço um panorama etnohistórico e lingüístico resumido dos povos do Norte, desde
antes da chegada do Rondon, passando pelas ‘ruínas de história’ de Lévi-Strauss, até a situação atual.
Palavras-chaves: Sabanê, Nambikwara do Norte, etnohistória
“GUERREIRAS INDÍGENAS REUNINDO FORÇAS”
Em 2006 aconteceu o primeiro encontro de mulheres indígenas envolvendo a região Nordeste e os estados de
Minas Gerais e Espírito Santo. Pensado pela Articulação dos povos indígenas do Nordeste Minas Gerais e Espírito
Santo – Apoinme, cerca de 80 mulheres representaram os povos dessa região. A partir daí essas indígenas tem se
destacados em seus povos e estados coordenando processos de discussão das várias temáticas da luta do movimento
indígena. Esse processo de mobilização em passo acelerado tem tido uma grande visibilidade dentro do movimento
indígena de forma a proporcionar encontros nos povos e regionais (por estado), com a finalidade de fazer um
diagnóstico sobre o que pensam as mulheres sobre as diversas temáticas, o que querem discutir e o que pensam
sobre o movimento de mulheres. Coordenadas pela Apoinme, cuja coordenação é composta prioritariamente por
homens, essa articulação vislumbra, dentro da Apoinme, contribuir para o fortalecimento da luta como um todo.
Parece-nos que o resultado desse diagnóstico revela que a temática gênero é pensada de maneira a articular esta
nova força com os demais movimentos no campo dos direitos indígena. Acompanhando as discussões dessas
mulheres nos povos indígenas em Pernambuco e também o encontro estadual que teve como tema o título deste
artigo nos propomos a apresentar os resultados desse diagnóstico e perceber como as mulheres indígenas se vêem
nesse processo a fim de contribuir com maior competência nesse processo.
Palavras-chave: Mulheres, indígenas, movimentos sociais
235
GRUPOS DE TRABALHOS
Heloisa Eneida Cavalcante - Mestre em sociologia pela UFPE. Centro de Cultura Luiz Freire. [email protected]
IDEOLOGIAS E CONSCIÊNCIAS DE GÊNERO CONTRAPOSTAS A EXPECTATIVAS DE
CARÁTER ÉTNICO
Maria Rosário Gonçalves de Carvalho. Prof. Adj. Dep. Antropologia/PPGA da UFBA, coordenadora do PINEB
Jurema Machado de Andrade Souza. PINEB/UFBA e ANAI
A esterilização de mulheres indígenas da Reserva Caramuru-Paraguaçu, sul da Bahia, vem sendo investigada,
no âmbito do programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro – PINEB, desde 1998, ano
em que a denúncia foi veiculada nacionalmente. Desde então, as autores acompanham os desdobramentos
dos fatos noticiados e as repercussões engendradas no cotidiano da Reserva. A proposta aqui é apresentar os
resultados da pesquisa de Souza para sua dissertação de mestrado, e o desdobramento do tema por Carvalho,
através de projeto do CNPq. O suposto principal da comunicação é o de que os Índios estabelecidos nessa
Reserva estão experimentando mudanças nos padrões de reprodução e nas relações entre os gêneros. Deste
modo, o foco da comunicação incidirá sobre as tensões e contradições que estão tendo lugar, no contexto
referido, entre as motivações contraceptivas das mulheres e, muitas vezes, dos casais, e aquelas, francamente
favoráveis à concepção, oriundas do contexto étnico mais amplo, sob a égide dos líderes masculinos. O foco
incidirá, ainda sobre o contexto das relações de gênero femininas, no âbito do qual prevalece forte clivagem
inter-geracional, com explícita posição contrária das mais velhas à utilização, pelas mais jovens, de práticas
contraceptivas, notadamente a denominada laqueadura tubária.
ÍNDIOS NO PIAUÍ: REFLEXÕES SOBRE DESAPARECIMENTO ÉTNICO
Hélder Ferreira de Sousa (Associação Indígena Itacoatiara de Piripiri – associaçã[email protected])
Inicia-se pelo Nordeste a relação entre conquistadores europeus e sociedades indígenas que viram suas populações severamente reduzidas, quando não quase completamente aniquiladas. Os achados arqueológicos na Serra
da Capivara em São Raimundo Nonato, região sudeste do Estado do Piauí, nos faz supor tratar-se de uma das
ocupações mais antigas do Brasil. A Fundação Nacional do Índio, órgão indigenista do Governo Federal, não
reconhece a presença indígena em apenas dois estados da Federação Brasileira, o Piauí e o Rio Grande do Norte
além do Distrito Federal. Ao mesmo tempo, o Censo 2000 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE)
aponta uma população de 170.389 indígenas no Nordeste, desta 2.664 pessoas declararam-se indígenas no Piauí,
apesar da recorrência dos discursos contrários, que reafirmam o “desaparecimento” das etnias indígenas em
solo piauiense. O que explica ter sido o Piauí o último estado do Nordeste a ser devassado pela Colônia e o
desaparecimento “prematuro” das populações indígenas em seu território? É uma das discussões nesse trabalho.
Palavras-chaves: Piauí, indígenas, desaparecimento
GRUPOS DE TRABALHOS
LEVANTAR ALDEIA: O PROCESSO DE RECONHECIMENTO ÉTNICO PERANTE O ESTADO
BRASILEIRO DO POVO INDÍGENA TUXÁ DE RODELAS.
Ricardo Dantas Borges Salomão - Universidade Federal Fluminense - E-mail: [email protected]
O trabalho analisa o processo de reconhecimento e afirmação étnica perante o estado brasileiro dos índios Tuxá
de Rodelas, localizado no município homônimo, ao norte do estado da Bahia, nas margens do rio São Francisco,
limítrofe com o Estado de Pernambuco. Os Tuxá foram o segundo povo indígena reconhecido pelo estado
brasileiro na Bahia e o terceiro no nordeste durante o século XX. Eles também tiveram um papel destacado no
processo que ficou conhecido como “levantar a aldeia”, onde serviram como modelo para outras populações
indígenas do sertão nordestino como os Kiriri, Truká, Atikum, Pankará e Tumbalalá se organizassem para buscar
a afirmação e o reconhecimento étnico perante o estado brasileiro. Nesse sentido o trabalho procura refletir
sobre a relação da construção e afirmação da identidade étnica dos índios Tuxá, com o processo de territorialização
do médio São Francisco e como diferentes vínculos e afinidades morais, emocionais, políticas, culturais e
históricas são elaborados pelos sujeitos em um contexto histórico determinado, estabelecendo diferenças
identitárias, a partir de saberes materiais e simbólicos, tanto na esfera cultural, social e econômica, estabeleci-
236
GT 29 - ETNOLOGIA E ENTOHISTÓRIA INDÍGENA
dos nas relações interdependentes de grupos em interação. Em outras palavras, não propõe compreender a
identidade étnica como produto de isolamentos sociais e culturais, mas de processos constituídos a partir de
processos históricos intersocietários e de interculturalidade, que são atualizados na vida cotidiana de índios e
não índios.
Palavras chaves: etnicidade, povos indígenas, territorialidade
MORADA DOS ENCANTADOS – RELIGIOSIDADE E IDENTIDADE ENTRE OS TUPINAMBÁ
DA SERRA DO PADEIRO – BUERAREMA—BA
Patrícia Navarro de Almeida Couto – Mestranda em Ciências Sociais(Antropologia) PINEB/PPGCS/UFBA.
patrí[email protected]
O povo Tupinambá referido pelos cronistas e viajantes por seus feitos guerreiros e seus rituais de antropofagia e
tidos como extintos desde o século XVII. Foram os primeiros indígenas a manterem contado com as populações
européias sendo portanto submetidos a massacres doenças e exploração as quais foram vítimas os indígenas das
terras baixas sul americanas.No ano 2000 os Tupinambá iniciaram mais enfaticamente seu processo de ressurgimento étnico estando seu território atualmente em processo de regulamentação. O presente trabalho pretende
esboçar, a partir de relatos etnográficos e documentos etnohistóricos o modo de vida dos Tupinambá da Serra do
Padeiro uma das 22 comunidades que compõem a terra indígena de mesmo nome situada nos municípios de
Buerarema e Uma, porção sul do estado da Bahia. O referido trabalho tem como objetivo central demonstrar
como a comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro se distinguem das demais comunidades Tupinambá por
apresentar características muito particulares no que diz respeito a sua religiosidade, religiosidade esta que está
intrinsecamente relacionada com os processos de afirmação da identidade indígena deste povo,.tendo a festa
em louvor a são Sebastião, ocorrida todos os anos no dia 19 de janeiro como um momento em que os Tupinambá
da Serra do Padeiro atualizam sua cultura através do culto aos encantados, estreitam laços de solidariedade e
fortalecem sua luta política e identitária.
Palavras-chave: Tupinambá, Identidade, Religiosidade, Resistência Étnica
MULHERES INDÍGENAS: DIÁLOGO SOBRE A VIDA NA CIDADE
Claudina Azevedo Maximiano
O GOSTO DOS OUTROS: O SAL E A TRANSFORMAÇÃO DOS CORPOS ENTRE OS
KARITIANA NO SUDOESTE DA AMAZÔNIA
Felipe Ferreira Vander Velden (Universidade Estadual de Campinas – [email protected])
Este artigo pretende analisar os complexos desdobramentos da introdução do sal comum (cloreto de sódio), bem
como de outros alimentos, entre populações indígenas, com especial ênfase no material Karitiana, grupo de
língua Tupi-Arikém, localizado no sudoeste da Amazônia brasileira (Rondônia). Argumento que as mudanças
nos hábitos alimentares dos povos indígenas, provocadas pelo contato, podem ser vias de acesso privilegiadas
para a compreensão dos modos nativos de percepção do aparecimento dos brancos e do seu convívio duradouro
com a sociedade envolvente, assim como para compreender os processos que vêm sendo descritos pela literatura
como “tornar-se ou metamorfosear-se em branco”. Partindo do duplo sentido da palavra “gosto” (isto é, ou sabor,
237
GRUPOS DE TRABALHOS
O objetivo desse texto é tecer um diálogo com algumas mulheres indígenas do Alto Rio Negro que vivem na
cidade de Manaus, através do relato de experiência vivida no ambiente urbano, buscando perceber como se dão
as relações inter-étnicas nesse contexto, apontando para o como elas constroem as relações, com outros indígenas e não indígenas que vivem na cidade a partir do que elas revelam sobre sua vida na cidade. Dessa forma,
pretendo possibilitar a visibilidade da mulher indígena, no seu ser e fazer cotidiano no contexto da grande
cidade.
paladar; ou maneira, hábito), defendo que o contato pode ser descrito, precisamente, como a criação de vínculos
que unem as sociedades indígenas à sociedade envolvente, por meio tanto da transformação dos corpos indígenas provocada pelas alterações na dieta (pois, para estas sociedades, os seres são aquilo que comem, e o contato
permanente trouxe, muitas vezes, e como verbalizado pelos índios, uma degradação corporal), quanto do cenário
que extrapola estas mudanças, e coloca em cena a relação de poder expressa, primeiro, no amansamento dos
índios, e depois na criação da necessidade de aquisição (compra ou troca) e da dependência desses novos itens
alimentares. Sugiro, ainda, que para os Karitiana, o convívio estreito com os brancos e a dependência em relação
aos alimentos (e outros “gostos”) destes expressam um movimento, historicamente compreensível, de transformação (metamorfose) deste povo indígena seguindo orientações míticas e cosmológicas pré-existentes. Este
processo não pode ser descrito como aculturação, e seus desdobramentos apontam para as intrincadas relações
entre desejos, práticas, valores e trajetórias que influenciam os rumos das histórias do contato e do convívio interétnico.
OS XUKURU E AS LIGAS CAMPONESAS
Edson Silva UFPE/UNICAMP [email protected]
A partir de registros das memórias orais indígenas, jornais, documentação do DOPS e relatórios oficiais do
período, discutiremos a mobilização e participação dos Xukuru nas Ligas Camponesas em Pesqueira-PE, na
ocupação de terras onde viviam os chamados “caboclos” da Serra do Ororubá na condição de moradores e
trabalhadores assalariados, em uma região de um antigo aldeamento indígena invadido por latifundiários.
Palavras-chave: índios; Ligas Camponesas; Nordeste.
XAMANISMO E REDES DE RELAÇÕES NO BAIXO OIAPOQUE (AP)
Ugo Maia Andrade (NHII/USP - PINEB-UFBA – [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
A comunicação proposta pretende refletir sobre as dinâmicas de relações sociais entre os Palikur (aruaque),
Karipuna e Galibi-Marworno (tupi/caribe) produzidas no campo do xamanismo na região do baixo Oiapoque,
extremo norte do AP e fronteira com a Guiana Francesa. Tais relações abrangem ainda os Wajãpi e Emerillon
(tupi) do alto Oiapoque; “brasileiros” das cidades de Oiapoque, Macapá e localidades adjacentes; negros Saramaká
e créoles de Saint Georges e Cayenne (Guiana Francesa), além das “pessoas invisíveis” ou espíritos auxiliares
dos pajés. Observa-se que as complexas dinâmicas sociais focadas no xamanismo estão distribuídas entre permutas regionais de múltiplas qualidades, cobrindo desde os intercâmbios ritual, comercial e matrimonial às agressões simbólicas.
Palavras-chave: Xamanismo; baixo Oiapoque; redes de relações
238
GT 30 - CRISTIANISMO: FRONTEIRAS E INTERAÇÕES
GT 30
CRISTIANISMO: FRONTEIRAS E INTERAÇÕES
“A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA : A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO ATRAVÉS DAS ONDAS DO
RÁDIO PRODUZINDO INTERAÇÕES.”
Sueli Ribeiro Mota Souza - Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia. Professora Assistente da
Universidade do Estado da Bahia –Uneb. - E-mail: [email protected] e [email protected]
Este trabalho tem como objetivo principal apresentar aspectos da utilização do rádio enquanto parte da experiência cotidiana religiosa de mulheres pentecostais e não pentecostais que vivenciam contextos de aflição
(grupos da 1º, 2° Geração). São as mulheres, que sendo maioria nas igrejas, (Conforme pesquisa divulgada pelo
IBGE no censo de 1991) e também, talvez, por preferência própria, estão responsabilizadas por boa parte dos
serviços de cura desenvolvidos nas agências pentecostais através dos dons. Objetivo foi: a) Analisar a experiência religiosa, os modos corporais de atenção que configuram a relação com o sagrado frente ao rádio. Para
entender melhor de que maneira se conforma e organiza a rotina cotidiana do grupo pesquisado frente ao
preceito elementar da ética pentecostal de primeira e segunda geração é necessário que se analisem as performances
típicas das experiências religiosas. Aqui interessa especialmente o cotidiano das mulheres dentro e fora das
igrejas. No pentecostalismo, as mulheres parecem encontrar alívio para suas aflições através de constante participação nos cultos, nas orações pela cura, que além de fornecerem, em certa medida, a crença na cura dos
“males,” têm o poder de alimentar os desejos e projetos de plena atividade. O hábito dessas mulheres de
recorrerem às orações e sessões rituais de cura parece conformar suas vidas cotidianas como uma estratégia de
resistência aos ditames tanto biológicos como sociais. Além disso, traz também a possibilidade de interação e/
ou inserção em redes de suporte. O sucesso do pentecostalismo pregado via mídia televisiva ou levada ao ar pelas
ondas de rádio parece ser garantido pela transmissão de uma mensagem simples e quase homogênea – A ação do
Espírito Santo com base da experiência pessoal, disponível a todos quantos queiram.
Palavras-chave: Pentecostalismo, Mulher e interação.
ALGUMAS “FACES” DO SINCRETISMO NAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
Esta comunicação se circunscreve ao problema da definição de sincretismo nas religiões afro-brasileiras, segundo Roger Bastide e Sérgio Figueiredo Ferretti. Estes autores buscam encontrar um conceito que melhor explique
o que aconteceu com as religiões de raízes africanas ao se defrontarem com o cristianismo e com as religiões
indígenas no Brasil. Assim, procura-se analisar, nesse trabalho, as similitudes e diferenças existentes entre os
conceitos de sincretismo apresentados por ambos, a partir da compreensão do conceito bastideano de
interpenetração de civilizações em comparação com o termo sincretismo utilizado pela maioria dos estudiosos
do tema em questão. Destacou-se, também, o importante papel de Roger Bastide nesse âmbito, como um novo
fundador no campo de estudo das religiões afro-brasileiras e sua influência no que tange a estudos mais recentes.
Palavras-chave: sincretismo, interpenetração de civilizações, religiões afro-brasileiras.
239
GRUPOS DE TRABALHOS
Camilo Antônio Santa Bárbara Júnior, Mestrando em Sociologia pela UFS. [email protected]
CIBERESPAÇOS SAGRADOS: AS CAPELAS VIRTUAIS NO CATOLICISMO BRASILEIRO
CONTEMPORÂNEO
Péricles Andrade - Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco; Mestre em Sociologia e Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe.
Esta comunicação tem como objetivo analisar a consagração católica do ciberespaço. Demonstra-se como esta
nova experiência do sagrado está relacionada às novas relações entre religião e Modernidade, que leva cada vez
mais as religiões tradicionais a buscarem traduzir e capitular com o mundo contemporâneo. Parte-se da premissa
que as capelas e velas virtuais atendem a constituição duma sociedade marcada pela nova mídia. O fiel que acessa
tais capelas não se constitui mais como uma pessoa que visitou um espaço sagrado, mas um usuário que consome
em um espaço virtual e se identifica a partir de um e-mail.
Palavras-chave: ciberespaço, catolicismo, capelas virtuais.
DÍZIMOS E OFERTAS NA PRÁTICA RELIGIOSA DA IURD (DO DOM A MOEDA MERCANTIL)
Rosane Guedes da Silva. Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected]
O estimulo as contribuições financeiras pelas Igrejas Neopentecostais abrem espaço para várias indagações,dentre
elas sugere reflexões sobre as funções das instituições religiosas na atualidade. O ato das ofertas confirma os
laços de compromisso entre o fiel e o sagrado , enquanto a igreja se torna uma grande empresa da fé . Esse
trabalho tem como objeto de estudo o uso da prática das contribuições pela Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD), principal representante do Neopentecostalismo brasileiro. Pretendemos dentro desse âmbito –social
religioso extrair reflexões sobre o cristão contemporâneo, cristianismo e modernidade e o papel dessas instituições religiosas sobre a sociedade em que vivemos, embasados em discussões teorias atuais como as de Ari Pedro
Ouro e Ricardo Mariano.
Palavras-chave: Cristianismo,dízimo e Neopentecostalismo.
ESPIRITISMO NO BRASIL: UMA MANEIRA ESPECÍFICA DE SER ESPÍRITA
GRUPOS DE TRABALHOS
Joacenira Helena Rodrigues de Oliveira – UFS – jhelena@ufs
O Espiritismo desenvolveu-se no Brasil fundamentado em idéias trazidas da França na metade do século XIX.
Sua proposta de concepções religiosas organizadas racionalmente de acordo com as interpretações evolucionistas
da época circularam de início em grupos estritos da elite brasileira. Entretanto, conseguiu atingir uma parcela
mais ampla da sociedade a partir da sintonia com aspectos da dinâmica cultural brasileira e consolidou-se
participando desta. Ao longo de sua trajetória no Brasil, o Espiritismo enfrentou algumas dificuldades, tanto
internas, inerentes ao movimento, quanto externas oriundas de suas relações com o contexto histórico, social,
cultural e religioso. No entanto, soube elaborar soluções para confrontar tais dificuldades e ao fazê-lo, produziu
formas específicas, brasileiras de ser espírita.
Palavras-chave: espiritismo, cristianismo e cultura brasileira
ETHOS E MUDANÇA NA AD EM ESTÂNCIA/SE: UM ESTUDO DE CASO
José Horimo Medeiros dos Santos. mestrando em Sociologia. [email protected], UFS,
A Igreja evangélica Assembléia de Deus é marcada uma estrutura rígida de conduta baseada na formação histórica de um ethos segregado – tomado aqui tal como compreende GEERTZ (1978), como um tom no caráter e na
qualidade de vida, ou seja, estilo moral, estético, com disposição e atitude subjacente em relação a ele mesmo e
ao reflexo do mundo dado pela vida. Um exemplo da construção histórica do ethos da Assembléia de Deus pode
ser visto em Estância/SE. Os dados apresentados neste trabalho revelam o processo de construção e consolida-
240
GT 30 - CRISTIANISMO: FRONTEIRAS E INTERAÇÕES
ção do ethos religioso, sendo produto dos comentários de diversos fiéis que participaram ou ouviram acerca dos
primeiros crentes da Assembléia de Deus em Estância. Logo, com o processo de secularização religiosa, a
mudança no ethos do assembleiano tem sido marcado por conflitos, o que revela um momento novo no
dinamismo deste grupo religioso.
Palavras-chave: Assembléia de Deus, Ethos e mudança.
MAÇONARIA: UM BRAÇO DO CRISTIANISMO?
Marcos Vinícius Tavares Oliveira. Universidade Federal de Sergipe (UFS). marcosvtol [email protected]
No Império Romano do Ocidente, século VI a.C, em função da atividade bélica, surgiu a primeira associação
organizada de construtores, o Collegia Fabrorum, cujo fim era o de reconstruir o que fosse sendo destruído pela
guerra. A partir do século VI d.C. as Associações Monásticas, formadas principalmente por clérigos, dominavam
a arte de construir que ficou restrita aos conventos, já que os artistas e arquitetos encontraram refúgio seguro nos
conventos. Posteriormente, a partir do século X, os frades construtores começaram a preparar e a adestrar leigos,
formando a organização das Confrarias Leigas, onde os leigos aprendiam a arte da construção. Já no século XII
surgiriam associações simplesmente religiosas, que formaram corpos profissionais denominados de Guildas. Na
Alta Idade Média iria florescer, sob a influência das Igrejas cristãs, a chamada Maçonaria de Ofício ou Operativa
entre os mestres construtores da Europa, a precurssora da atual Maçonaria.
Palavras chaves: cristianismo, maçonaria, diálogo inter-religioso.
MÚSICA: UM CANAL DE COMUNICAÇÃO E UM INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Jasoney Souto de Queiroz. Universidade Federal de Sergipe. [email protected]
O AFRO-CATOLICISMO ESPÍRITA UMBANDISTA NEW AGE DO VALE DO AMANHECER
Amurabi Pereira de Oliveira (mestrando PPGCS – UFCG). [email protected]
Este trabalho traz uma discussão acerca de um movimento religioso que menos de 40 anos já ergueu mais de 600
templos no Brasil e em mais sete países: O Vale do Amanhecer – VDA –. Este movimento religioso foi fundado
pela sergipana Neiva Chavez Zelaya, mais conhecida como “Tia Neiva”, nos arredores de Planaltina, cidade
satélite de Brasília, tendo sido assentado a sua concepção num forte sincretismo religioso, remetendo-se principalmente a matrizes católicas, espíritas, umbandistas e new age, construindo dessa maneira um universo místicoreligioso altamente complexo, onde os mais diversos elementos são tomados, ressignificados e articulados de
modo a formar um “todo significativo”. Nosso trabalho traz uma discussão acerca de como o VDA se articula e
241
GRUPOS DE TRABALHOS
Desde os primórdios, das primeiras manifestações de religiosidades até os dias atuais, a música é parte integrante, essencial, e distintiva nos ritos, cerimônias e cultos. Uma análise no desenvolvimento deste aspecto na
religiosidade brasileira mostra que nas décadas de 60 e 70 as músicas populares iniciaram a inserção de termos,
expressões e nome de entidades nas letras. Recentemente, as músicas religiosas saíram do espaço de culto, e se
apropriaram de praticamente todos os ritmos, tais como: Hip Hop, Samba, Rock, White Metal, visando participar do mercado fonográfico. Elas se apresentam com letras que identificam seu movimento religioso, enquanto
outras apresentam letras sincréticas. Premeditado ou não, esta transformação abriu um canal muito importante
de comunicação entre os grupos religiosos, uma vez que a barreira fora quebrada. Prova são os grandes shows
que têm sido realizados e como a esses acorrem pessoas de todos os credos e religiosidades e o fato de se usar
músicas de grupos pertencente a um movimento em cultos de outros grupos religiosos. Destaque entre os ritmos
é o Hip Hop que além da função de canal de comunicação entre grupos religiosos, assume uma função sociológica importante na transformação das favelas, especialmente no Rio de Janeiro. Verificamos que a musica saiu
do espaço restrito dos ritos e cultos e assume um papel de veiculo de unidade e transformação na sociedade.
Palavras-chave: Música, sincretismo, Hip Hop
incorpora elementos de matrizes cristãs (em especial católicos e espíritas) enquanto instrumentos de legitimação
no campo religioso, e de como estes elementos são sincretizados e reinventados, de modo que a permitir que os
adeptos se afirmem categoricamente enquanto cristãos e o VDA enquanot uma ordem espiritualista cristã, no
nosse entender todas estas arfimações identitparias se atrelam a este processo de legitimidade no campo que se
dá no Brasil essencialmente através de um forte diálogo com o cristianismo.
Palavras-chave: Vale do Amanhecer; Sincretismo Religioso; Campo Religioso.
O DEUS CRISTÃO E O GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO DA MAÇONARIA
José Rodorval Ramalho – DCS/PPGCS/UFS. [email protected]
A invocação do Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.), além de vincular a Maçonaria ao que existe de mais
tradicional na história moderna da instituição, coloca a problemática da natureza dessa divindade e da sua
relação com as tradições religiosas, sobretudo as monoteístas. Nossa pesquisa procura identificar, a partir dos
documentos maçônicos, a representação do GADU, bem como identificar a crítica católica a “divindade”
maçônica.
Palavras-chave: Maçonaria – Cristianismo – Monoteísmo
O ETNOCENTRISMO DO FUNDADOR DO PRESBITERIANISMO BRASILEIRO, ASHBEL
GREEN SIMONTON (1833-1867).
Aldenor Alves Soares (UniversidadeFederal da Bahia – Programa de Pós-graduação emAntropoogia – [email protected])
O missionário norte-americano Ashbel Green Simonton (1833-1867) veio para o Brasil em 1859 fundar a Igreja
Presbiteriana do Brasil (IPB), atualmente a maior denominação calvinista do país. Em seu Diário, Simonton
registrou pensamentos sobre os “selvagens/índios”, “negros” e “católicos/ibéricos” para os quais vinha pregar,
onde demonstrou uma visão bastante preconceituosa a respeito dos mesmos. O objetivo deste ensaio é descrever
e analisar os aspectos centrais do etnocentrismo do fundador da IPB.
Palavras-chaves: Simonton, presbiterianismo, etnocentrismo.
O PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO NA PRÁTICA EVANGÉLICA: ESTUDO DE CASOS NO
CONTEXTO SÓCIO-RELIGIOSO DA ZONA LESTE DA CIDADE DE MANAUS
GRUPOS DE TRABALHOS
Denis da Silva Pereira [email protected], Discente do Programa de Mestrado em Sociedade e Cultura na
Amazônia – PPGSCA da Universidade Federal do Amazonas – AFAM
Historicamente o Brasil tem sido identificado como um país hegemonicamente católico, mesmo que seja marcado por intenso processo de sincretismo, resultante do encontro com as culturas indígenas e africanas. Tal
hegemonia tem sido no decorrer dos últimos séculos superado pelo avanço do evangelismo. Assim, pode-se
afirmar que o Brasil continua sendo um país Cristão, entretanto, não mais hegemonicamente Católico. Dentro
deste processo do avanço evangélico, Manaus tem aparecido como um campo fértil para essas práticas cristãs.
Segundo o IBGE – 2000 a maior concentração demográfica do Norte do País também tem se apresentando com
o local de maior crescimento de “convertidos” dos últimos anos. Este fenômeno provocou diversas interrogações do tipo: Será que este crescimento está relacionado a implementação direta do industrialismo em Manaus
com o PIM ( Polo Incentivado de Manaus)? fato que coadunaria com o estudo de Weber sobre a Ética Protestante
e o Espírito do Capitalismo; Como estas práticas se relacionam com os traços marcantes da religiosidade amazônica
como é ocaso da pajelância?; Este fenômeno é homogêneo ou trata-se de algo mais relacionado ao periférico? A
partir dessas diversas interrogações surgiu a intenção de respondê-las de forma etnográfica fundamentando-se na
hipótese da ressignificação, isto quer dizer, a conversão representaria a construção de um novo sentido existencial. Optou-se para isto fundamentar o estudo no contexto da maior região da cidade de Manaus, ainda em
expansão, denominada Zona Leste. Assim o trabalho tem está sendo desenvolvido baseado em: um estudo
242
GT 30 - CRISTIANISMO: FRONTEIRAS E INTERAÇÕES
histórico sobre o evangelismo; uma fundamentação teórica sobre a ressignificação e uma etnografia da
religiosidade no contexto específico de três bairros desta região: São José I, Novo Reino, Grande Vitória. Os
resultados deste estudo são até o momento: O projeto, O primeiro capítulo apresentado em Julho a banca de
qualificação e um artigo que pretende-se apresentar neste encontro de Antropologia.
Palavras-chave: A Ressignificação, O Evangelismo, O Periférico
SÃO JOÃO E XANGÔ NO DESFILE DAS BANDEIRAS NO RECIFE ANTIGO.
Hugo Menezes Neto. Mestrando em Antropologia – UFPE. [email protected] / [email protected]
Ligia Barros Gama. Mestranda em Antropologia – UFPE. l [email protected] / [email protected]
A proposta do referido trabalho consiste numa explanação sobre o mito de São João Baptista. Através de fragmentos de sua mitologia, iconografia e simbologia que tal divindade nos remete, comentaremos as representações imaginárias associadas a São João, assim como alguns pontos de consonância entre este santo católico e o
orixá Xangô. Neste contexto, pensaremos a reatualização e influência de seus mitos vivenciados na
contemporaneidade, especificamente no “Desfile das Bandeiras” – manifestação cultural, na qual diversos grupos, vinculados ou não a algum culto religioso, se reúnem para festejar os santos do ciclo junino, sob a forma de
cortejo nas ruas do bairro do Recife Antigo, na cidade do Recife.
TRADIÇÕES RECRIADAS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS RE-CONFIGURAÇÕES
DA ESTRUTURA IRMANDADE NA IGREJA DO ROSÁRIO DOS PRETOS (SALVADOR – BAHIA)
Yuri Pacheco Ávila (Universidade Federal da Bahia – [email protected])
GRUPOS DE TRABALHOS
A comunicação - fruto das investigações ainda em curso no mestrado - centra-se na exposição das modificações
incididas na estrutura “irmandade religiosa ou devocional” no âmbito do catolicismo. Tece-se uma perspectiva
comparativa de seu uso colonial e de suas configurações hodiernas a partir da descrição e análise da reativação,
práticas simbólicas e ações implementadas pela Irmandade de São Benedito na Igreja do Rosário dos Pretos,
templo erigido no século XVIII por escravos, que sita na Praça José Alencar, s/n., Pelourinho, Salvador – Bahia.
À luz de conceitos como etnicidade, sincretismo religioso, formação de tradições e identidade, percebe-se que as
celebrações realizadas pela Irmandade de São Benedito refletem as transformações da Igreja Católica advindas
do Concílio Vaticano II (1962-1965), assim como o papel do Movimento Negro no assentamento de novas
formas de manejo ritual e simbólico em estruturas preexistentes de culto.
Palavras-chave: Catolicismo; Irmandade; Identidade
243
GT 31
CULTURA POPULAR, PATRIMÔNIO IMATERIAL E CIDADES
AJEUN ODARA: CONSIDERAÇÕES ACERCA DO “MODO DE FAZER” DAS COMIDAS DE
SANTO EM TERREIROS DE CANDOMBLÉ DE MANAUS
Glacy Ane Araújo de Souza - Mestranda do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia – PPGSCA
da Universidade Federal do Amazonas – UFAM.
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga – (Orientandor) Departamento de Antropologia – DAN da Universidade Federal do
Amazonas – UFAM.
Este resumo se pauta por uma abordagem antropológica acerca das comidas de santo que estão presentes na
culinária afro dos terreiros de candomblé de Manaus. O que se observa é uma especificidade no ato de “fazer”
as comidas de santo (ajeun orisá e ebó), onde se complementam condimentos especiais e maneiras de preparo.
Procuramos analisar a “forma de fazer” as comidas dos orixás em eventos específicos como no borí e em eventos
festivos maiores como as “festas da casa”. O preparo das comidas de santo se constitui num saber que é visto
pelo Programa Nacional de Patrimônio Imaterial enquanto um patrimônio imaterial, pois um “modo de fazer”
específico produziu um saber localizado. A experiência com as vendedoras de acarajé na Bahia possibilitou que
averiguássemos melhor o conhecimento local na forma de preparo, acabamento e oferenda das chamadas
comidas de santo ou comida de orixá na capital amazonense. Nossas observações darão conta, também, dos ebós
que são limpezas espirituais que envolvem uma série de comidas que, ao final da limpeza, são ofertadas aos
orixás e/ou “despachadas” em locais apropriados.
CAMINHOS DA PENITÊNCIA A SOLENIDADE DO SENHOR DOS PASSOS NA CIDADE DE
SÃO CRISTÓVÃO-SERGIPE (1886-1920)
GRUPOS DE TRABALHOS
Magno Francisco de Jesus Santos (UFS, [email protected])
A solenidade de Nosso Senhor dos Passos é um dos principais eventos religiosos de Sergipe. Realizada sempre
no segundo final de semana da quaresma, a celebração desde o século XIX atraia romeiros de diferentes segmentos sociais com o intuito de participarem de suas procissões. O cerne deste estudo foi a solenidade de Passos
entre os anos de 1886 e 1920. O nosso propósito foi compreender a solenidade do Senhor dos Passos na cidade
de São Cristóvão a partir de seus elementos simbólicos no referido período. Com isso, analisamos a simbologia
do evento a partir de elementos pouco observados pela historiografia tradicional sergipana, como a sonoridade,
o olhar e o sentir. Para viabilizar tal proposta, utilizamos como referenciais metodológicos o paradigma indiciário
e a análise do discurso para o estudo das fotografias, imagens, evento atual, ex-votos, arquitetura e textos produzidos acerca da temática. A crítica desses documentos propiciou a compreensão dos elementos constitutivos do
aumento da devoção ao Senhor dos Passos e da formação do santuário no conjunto arquitetônico do Carmo,
como também os diferentes momentos da solenidade. Portanto, trata-se de uma reflexão a respeito de um
patrimônio imaterial dos sergipanos, ainda muito pouco estudado pela historiografia religiosa local.
Palavras-chave: São Cristóvão, procissão, romaria.
244
GT 3 1 - C U LT U R A P O P U L A R , PAT R I M Ô N I O I M AT E R I A L E C I D A D E S
CENTRO HISTÓRICO DE ARACAJU: PATRIMÔNIO E RETRADICIONALIZAÇÃO
ElaineFerreira Lima (NPPCS/UFS – elafl [email protected]); Rogerio Proença Leite (UFS/UNICAMP – [email protected]).
Este trabalho pretende analisar as políticas de patrimônio que permearam a capital sergipana no final da década de
1990 e início dos anos 2000, tendo como referente empírico a “revitalização” que buscou reinventar sua área central,
transformando-a oficialmente em lugar histórico. Busca-se analisar até onde o caso aracajuano assemelha-se às atuais
políticas de enobrecimento urbano, as quais procuram agregar melhoramentos infra-estruturais com políticas de
preservação do patrimônio cultural, reestruturando determinados espaços, com vistas a sua adequação funcional e
simbólica. Nesses processos, onde se busca criar uma nova imagem para a cidade, o patrimônio cultural passa a servir
de atrativo, através do qual governantes e investidores vislumbram possibilidades de investimentos. Centros históricos
passam a ser, por isso, disciplinados, segmentados e reapropriados por novas camadas da população e pelo capital,
ligando-se desse modo a práticas extensivas de consumo cultural, lazer e turismo. Nesta perspectiva, objetiva-se também investigar as políticas de “revitalização” como intervenções que flexibilizam e ao mesmo tempo reabilitam
determinados conteúdos culturais locais, retradicionalizando nichos urbanos de consumo através da inserção de
eventos ligados à cultura popular. Isto, contudo, não representa exatamente um reconhecimento ou valorização das
manifestações locais da cultura. Antes, pretende a estratégica inserção do patrimônio no chamado mercado global de
bens culturais. Mediante pesquisa histórica e através de uma abordagem etnográfica, percebe-se que no caso aracajuano,
essa retradicionalização teve seu foco tanto na inserção de novos eventos culturais e festivos, a exemplo do Forró-Caju,
quanto na transferência de eventos já existentes para o espaço do Centro Histórico, como no caso do Pré-Caju 2004,
amplamente divulgado através do slogan “Essa festa vai fazer história”. Por fim, nota-se a tentativa de transformação da
imagem do Centro de Aracaju, o qual deveria, através da re-qualificação de seu patrimônio histórico e das mudanças
de usos e sociabilidades, transformar-se em uma nova centralidade simbólica da cidade.
Palavras-chave: Patrimônio Cultural, Retradicionalização, Centro Histórico de Aracaju.
CULTURA POPULAR EM TEMPO DE GLOBALIZAÇÃO: ENTRE A TRADIÇÃO E A
RESSIGNIFICAÇÃO
O debate em torno do universo da cultura popular é polêmico e contraditório. Independente dos avanços dos estudos
na área, as concepções continuam múltiplas, vão do tradicionalismo dogmático às visões dinamizadoras do modernismo. No entanto, seja qual for a percepção necessário se faz compreender que a partir da década de 90 do século XX a
cultura popular assume outro papel na sociedade, assume uma nova concepção. Em nenhum momento deixar de ser
atribuída ao povo, própria do fazer popular, mas o sentido de pertença amplia-se e passa a ser considerada como
principal fonte de edificação do caráter e da identidade nacional. Esta nova perspectiva assumida pela cultura popular
contribui para que esta seja entendida como um instrumento promotor de estabilidade de padrões, continuidade e raiz.
Uma espécie de reservatório do ser, saber, fazer do povo brasileiro, o que possibilitaria a reconstrução da memória e o
fortalecimento da identidade local. O mais importante, essa nova perspectiva contribui para desmistificar a idéia de
superioridade cultural, difundir respeito, aceitação e disseminar a necessidade de ressignificação das manifestações da
cultura popular. Este trabalho analisa as mudanças que vem ocorrendo no universo da cultura popular, tratando-as como
resultado dos ditames da chamada globalização cultural. A idéia de estudar os impactos da globalização no contexto da
cultura popular surgiu, fundamentalmente, da observação de um fenômeno crescente, e em estágio de efervescência: o
interesse pelo o universo da cultura popular. Este interesse se dá em todos os níveis e por todas as formas de manifestação,
mas é mais fácil de ser observado se tomarmos as massivas festas populares como referencial, o reflexo disto pode ser
observado no crescimento das tradicionais festas populares da região Nordeste que a cada dia ganham mais espaço, mais
público, mais prestígio e atenção da mídia. No entanto, o fator preponderante está no interesse da população que vem
participando integralmente desse processo, “aprendendo” a gostar, ser e fazer cultura popular. Em se tratando do
Nordeste é preciso mostrar que vem ocorrendo um processo de dinamização das manifestações onde as temáticas das
tradições populares estão sendo reformuladas e reapropriadas pela população, permitindo a cultura popular nordestina
não só permanecer, como também, se impor ao projeto capitalista de cultura global, negando seu caráter uniformizador.
Palavras- chaves: cultura popular, identidade, tradição
245
GRUPOS DE TRABALHOS
Profª Dra. Cristiane Maria Nepomuceno (UEPB/Campus I) – [email protected]
DO CANTO AO GRITO - “A NOVA NAÇÃO” SOB O DISCURSO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL.
Msc.Cristian Pio Ávila - Gerência de Patrimônio Imaterial – SEC – Amazonas- Brasil. Uninorte – Amazonas - Brasil
O trabalho pretende apresentar um panorama da constituição de um discurso do patrimônio imaterial através
de uma breve análise das ações empreendidas por agentes públicos do governo federal e estaduais. Dessa forma,
se infere que a constituição de um discurso de patrimônio (atrelado ao da construção de nação) obedece a
campos profissionais específicos de interesses e ao que poderíamos chamar de “afinidades eletivas” com determinadas expressões. Tenta se discutir também um processo de “tutelamento” estatal de expressões localizadas,
que apesar dos diversos riscos que correm (transfiguração, espetacularização) beneficiam-se das vantagens
mercadológicas pelo lado dos produtores e dos diversos aportes aos Estados e Municípios. Os dados são resultado da experiência profissional junto a órgãos estatais responsáveis pela gestão de ações de registro e salvaguarda
do patrimônio imaterial.
Palavras Chaves: Patrimônio Imaterial; Culturas Populares; Nação, Amazonas.
“FESTA DÁ TRABALHO!” AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO TRABALHO NOS GRUPOS
FOLCLÓRICOS DE MANAUS
GRUPOS DE TRABALHOS
Alvatir Carolino da Silva. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia –UFAM;
Membro do Grupo de Pesquisa Cultura Popular, Identidades e Meio Ambiente na Amazônia – UFAM; Coordenador de
Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura de Manaus. [email protected]
Este resumo trata das relações de trabalho nos grupos folclóricos da cidade de Manaus no 51º Festival Folclórico
do Amazonas, que vem adquirindo importância enquanto manifestação da cultura popular. O Festival é organizado pela Associação de Grupos Folclóricos do Amazonas (AGFAM), Associação de Grupos Folclóricos de
Manaus (AGFM), Associação Liga Independente dos Grupos Folclóricos de Manaus (ALIGFM), Associação
Movimento Bumbás de Manaus (AMBM) em parceria com os governos municipal e estadual. Em 2007, período
de observação de campo, apresentaram-se mais de 170 grupos de diversos gêneros. No entanto, a manifest ação
desses grupos na da cidade é bem mais antiga que o próprio Festival e está relacionada ao ciclo junino. O
registro mais antigo data de 1859, onde Ave-Lallemant descreve o cortejo do bumba de Manaus em homenagem
a São Pedro e São Paulo. Considerando que a apresentação de um grupo folclórico no Festival dá trabalho,
pretende-se mostrar as múltiplas dimensões do trabalho dentro desses grupos. Em observação participante nos
locais de produção de indumentárias e alegorias de boi-bumbá, quadrilha e dança nordestina, notamos em determinados grupos que o trabalho tem caráter de congregação ou reunião social, pois é realizado em horários fora do
tempo dedicado às atividades formais dos “brincantes”, que trabalham na produção de suas indumentárias sem
que haja contrato formal ou folha de pagamento. Há grupos em que os “brincantes” devem pagar o valor do
trabalho da costura das indumentárias, nesses, observamos que os costureiros e costureiras são pessoas vinculadas ao próprio grupo. Nos grupos onde a produção estabelece contratos formais, estes coexistem com os acertos
estabelecidos por vínculos de pertencimento. Há casos em que agentes sociais atribuem suas permanências em
atividades dos seus grupos por devoção a algum santo e classificam como “missão” os trabalho que desenvolvem.
Em termos de organização social, esses grupos podem ser tratados como fato social total, conforme Marcel Mauss
(1974), pois as múltiplas dimensões do trabalho observadas envolvem fenômenos jurídicos, econômicos, religiosos, morfológicos e estéticos.
Palavras chaves: cidade, cultura popular e trabalho.
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GT 3 1 - C U LT U R A P O P U L A R , PAT R I M Ô N I O I M AT E R I A L E C I D A D E S
FESTA E ESPETÁCULO: ETNOGRAFIA DO FESTIVAL DA CANÇÃO DE ITACOATIARA (FECANI
– AM) EM SUA PERSPECTIVA LOCAL E REGIONAL.
Eder de Castro Gama. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA)/
Membro do Grupo de Pesquisa Cultura popular, Identidades e Meio Ambiente na Amazônia da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM); Chefe do Núcleo de Patrimônio Imaterial da Secretaria Municipal de Cultura de Manaus..
[email protected];[email protected]
As questões discutidas nesta comunicação se referem ao Festival da Canção de Itacoatiara, o Fecani, que vem sendo
realizado anualmente no mês de setembro na cidade de Itacoatiara – AM. Em observação do XX e XXII edição
(2004 e 2006) do festival. É um evento que têm agregado diferentes segmentos sociais como pessoas da cidade,
gente vinda de municípios vizinhos e, sobretudo, de Manaus, envolvem-se em múltiplas atividades, tais como as
manifestações artísticas, culturais e desportivas. Concursos voltados para o âmbito da música, poesia, artes plásticas,
pintura, artesanato de palha, culinária regional, artes cênicas, história oral, cinema amador. E nas modalidades
desportivas como corrida pedestre, torneios de futebol, corrida de MotoCross, voleibol, volta ciclística, ornamentação de ruas e melhor torcida. O Fecani é promovido pela Associação dos Itacoatiarenses Residentes em Manaus
(AIRMA), e patrocinado pelo Governo do Estado do Amazonas, Prefeitura Municipal, comerciantes locais e empresas do município. Definiu-se como objeto de investigação a descrição etnográfica nos momentos de preparação,
durante e no pós-evento. O Fecani é analisado em sua perspectiva local e regional. Stuart Hall (2003) sugere que “as
identidades regionais e locais estão utilizando formas menores ou particularizadas de expressões culturais para dar
conta de sua inserção nos quadro da nação e no mundo”. David Harvey (2005) ao comentar sobre as ordenações
simbólicas do espaço e do tempo, afirma que “as formas temporais ou estruturas espaciais estruturam não somente
a representação do mundo e do grupo, mas é o próprio grupo que organiza a si mesmo de acordo com essa
representação”. Neste sentido, a “organização do tempo e do grupo se dá de acordo com as estruturas míticas que
leva a prática coletiva a parecer o mito realizado”. Contudo, as letras das canções do Fecani e trabalhos artísticos
apresentados no Festival fazem referência à Amazônia, que estão circunscrito há um tempo efêmero de realização.
Palavras-chave: Cultura Popular, Patrimônio Imaterial, Amazônia.
FESTAS RELIGIOSAS E POPULARES NA AMAZÔNIA: CULTURA POPULAR, PATRIMÔNIO
IMATERIAL E CIDADES
A comunicação se pauta por uma abordagem antropológica de festas amazônicas, tanto históricas como contemporâneas. Longe de uma procura das origens, busca-se comparar diferentes celebrações festivas na Amazônia
com a finalidade de estabelecer aspectos comuns e peculiaridades existentes em tais manifestações. Para a
abordagem do tema, considera-se dois conceitos importantes, cultura popular e patrimônio imaterial, que serão
apresentados de forma relacional. O estudo da cultura popular tem adquirido importância em estudos antropológicos nas últimas décadas, com ênfase em processos sócio-culturais que tem como contraponto as cidades, mas
não somente. Há também interesse em investigar o passado, baseando-se no conceito de cultura para desvelar
formas de sociabilidade e resistência de grupos sociais, não raro considerados como subalternos na cultura
brasileira, como negros escravos, migrantes e outros mais. Um conceito interessante para análise de processos
sócio-culturais que tem como lugar as cidades desponta com certo interesse, o de patrimônio imaterial ou de
bens culturais intangíveis, em abordagens atuais. Temas como “conhecimentos e modos de fazer enraizados no
cotidiano das comunidades”, “celebrações”, “manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas”,
“lugares”, como “mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços, onde se concentram e reproduzem
práticas culturais coletivas”, têm sido enfatizados nos estudos voltados para o patrimônio imaterial. Neste caso,
a cidade pode ser considerada como um espaço de múltiplas manifestações da cultura popular. Lugar de trocas,
encontros e desencontros de diferentes atores sociais. Para efeitos de delimitação do objeto de estudo, considera-
247
GRUPOS DE TRABALHOS
Sérgio Ivan Gil Braga, Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Antropologia, Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia e Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Pesquisador da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq).
[email protected]
se como “festas amazônicas” as práticas culturais de populações urbanas mestiças ou “caboclas”, com suposta
influência cultural indígena, de afro-descendentes e da colonização européia, registradas na literatura de época
e vivenciadas hoje no âmbito da região, com destaque para as festas correspondentes ao Estado do Amazonas nas
cidades de Manaus, Manacapuru, Itacoatiara e Parintins, bem como em Macapá, no Estado do Amapá.
Palavras-chave: Festas Religiosas e Populares - Cultura Popular - Patrimônio Imaterial
IMAGENS E SONS DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL: AS “TÉCNICAS CORPORAIS” E
O PROCESSO DE REGISTRO DA ARTE SANTEIRO PIAUIENSE
Esp. Daniel Oliveira (IPHAN – [email protected]);
Prof Dr. Fabiano Gontijo (UFPI – [email protected]);
Grad. Delvan Santos (UFPI);
Grad. Suely Nunes (UFPI)
Marcel Mauss define as “técnicas corporais” como um ato tradicional eficaz, ou seja, uma construção social
aprendida (tradição) para servir (eficácia). As técnicas corporais só existem como técnicas reconhecidas porque
lhe são atribuídos sentidos, logo, são simbólicas. O corpo, segundo D. Le Breton, é o primeiro suporte de
símbolos e torna-se, assim, suporte de identidade. Os movimentos técnicos da arte santeira piauiense (a produção artesanal de santos talhados em madeira), aqueles que ligam o gesto aos instrumentos, foram tomados, em
imagens fotográficas, como narrativas da própria identidade piauiense numa pesquisa que realizamos em 2006,
no âmbito do Programa de Iniciação Científica da UFPI/CNPq (PIBIC) e do Programa de Especialização em
Patrimônio (PEP) do IPHAN para subsidiar o inventário da arte santeira a ser realizado pelo IPHAN (seguindo
a metodologia do “inventário nacional de referências culturais”). Ao estudar as técnicas corporais de produção
da arte santeira piauiense através da formulação discursiva e das imagens dos mestres-artesãos, contribui-se com
a definição da cidadania cultural no contexto piauiense. Mais do que um conjunto de atos e práticas, cidadania
é um processo de conscientização e de tomada de conhecimento das posições no espaço-tempo e nas relações
sociais – e dos critérios para a ocupação dessas posições –, um projeto de objetivação da subjetividade e, enfim,
uma trajetória de construção do respeito às diferenças culturais e de combate às desigualdades sociais. Ser
cidadão é, pois, ter consciência e controle do próprio processo, projeto e trajetória de formulação/reformulação
identitária e de sua própria identidade cultural.
Palavras-chaves: técnicas corporais, arte santeira piauiense, cidadania cultural
O CINEMA NA PRAÇA TOMÉ DE SOUSA: USOS E SOCIABILIDADE EM SALVADOR-BA.
GRUPOS DE TRABALHOS
Alzilene Ferreira da Silva. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN . [email protected]
Integrante dos Grupos de Pesquisa: Cultura, Memória e Desenvolvimento – UFBa e do Núcleo de Antropologia Visual
(NAVIS) – UFRN.
São nos lugares da cidade, moldados a partir do uso cotidiano que a vida se efetiva, como produto das relações
sociais, da acumulação histórica e da tecedura realizada no presente. Nessa articulação, o “novo” e o “velho”
apresentam-se como elementos constituintes desse cenário, em que a vida se tece e expõe novas configurações
espaciais. A praça é vista como exemplo dessa relação. Comumente definida como o lugar do encontro e da
sociabilidade. Historicamente é palco onde ocorrem às feiras, as encenações, festividades e às manifestações culturais, sociais, políticas, cívicas, esportivas, religiosas da cidade. Ao longo dos tempos suas funções e finalidades foram
alterados e/ou conservados, no entanto, sua função sociocultural permanece. O trabalho tem por objetivo a análise
de espaço de sociabilidades tendo a praça da cidade de Salvador–Ba – Praça Tomé de Sousa, como palcos dessa
investigação, observando numa perspectiva antropológica e sociológica como os lugares são construídos a partir
das práticas sociais e estas, por sua vez, são também moldadas pelos lugares. Na praça Tomé de Sousa ocorrem
diversos eventos culturais como apresentação de capoeiras, shows, apresentação de Recital de violão, Orquestras
sinfônicas, Teatro e exibição de filmes semanalmente. A exibição de filmes na praça, bem como as demais atividades citadas, podem ser tomadas como exemplos de retomada das funções essenciais - viabilizar o encontro entre as
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GT 3 1 - C U LT U R A P O P U L A R , PAT R I M Ô N I O I M AT E R I A L E C I D A D E S
pessoas. Essa articulação pode ser percebida através do “Projeto Cinema na Praça” - que ocorre desde a década de
1990. O estudo é de natureza qualitativa e comparativa. Nesse sentido a construção de etnografia apresenta-se como
abordagem de investigação científica. A pesquisa consiste em investigar as alterações no uso das praças no que se
refere às sociabilidades engendradas; percebendo com isso, que elementos simbólicos influenciam na sua composição, como as práticas sociais modelam os lugares e sofrem também a influência destes.
Palavras-chaves: Cidade; Praça; Cinema
O POÇO DA DRAGA E A PRAIA DE IRACEMA: CONVIVÊNCIA, CONFLITOS E SOCIABILIDADES
Heloisa Maria Alves de Oliveira (FANOR – Faculdades Nordeste - E-mail: [email protected])
A pesquisa tem como objetivo estudar, como o processo de requalificação urbana da Praia de Iracema afeta a comunidade do Poço da Draga, em seus aspectos sociais, políticos e urbanísticos. E como essas transformações são vistas pelos
moradores da “favela” do Poço da Draga, e as estratégias que os mesmos têm utilizado para lidar com os efeitos das
mudanças. Localizado na Praia de Iracema, bairro que, nas duas últimas décadas, tem sofrido intensas intervenções
urbanísticas realizadas pelo Governo do Estado (reforma da Ponte dos Ingleses, 1994 e construção do Centro Dragão do
Mar, 1998) e Prefeitura Municipal (calçadão da Praia de Iracema e reconstrução do Estoril, 1994 e aterro, 2000), o espaço
do Poço da Draga vem há décadas sendo bastante disputado pela iniciativa privada e pelo poder público. Como
exemplos mais recentes disto, tem-se a proposta de construção do Centro Multifuncional de Eventos e Feiras do Ceará.
O que aprofunda o discurso que fundamenta as iniciativas do poder público, no sentido de dotar Fortaleza de
equipamentos turísticos e de lazer de referência internacional. Durante entrevistas ou conversas com moradores
percebi que quando perguntava sobre as transformações na Praia de Iracema, as respostas vinham insistentemente
acompanhadas de reclamações quanto ao aumento da violência, da especulação imobiliária, de prostituição infantil,
e principalmente, à incerteza quanto a permanência no local. Entretanto, a proximidade de suas moradias com o
Centro da cidade e de equipamentos públicos foram avaliadas como positivas. Para o desenvolvimento da pesquisa
realizei entrevistas e observações no cotidiano da comunidade. Participei de reuniões do Fórum da Praia de Iracema e
de eventos e festas organizados pela Associação dos Moradores do Poço da Draga. Além disso, fui voluntária no projeto
de reforço escolar da comunidade, como meio de me inserir no dia a dia dos moradores. A pesquisa revelou que
mudanças na vida cotidiana das comunidades podem estar intrinsecamente ligadas a transformações da cidade. Pois
modificações que a Praia de Iracema vem experimentando nos últimos anos, tem atingido o Poço da Draga, contribuindo para alterar as relações de sociabilidade entre moradores, particularmente no que se refere à clivagem entre os
moradores das ruas principais e do “Poço”. Além disso, após a requalificação do referido bairro alguns problemas do
Poço da Draga foram acentuados como: o aumento da violência, tráfico de drogas e ameaça de remoção.
Palavras chaves: Cidade, Sociabilidades e Conflitos.
PARINTINS: A RIVALIDADE DOS BOIS-BUMBÁS GARANTIDO E CAPRICHOSO ENRAIZADA
NA CIDADE.
Parintins, a cidade que abriga todos os anos a celebração dos Bois-bumbás Garantido e Caprichoso, reflete na sua
geografia, na sua arquitetura e no seu traçado urbano a dualidade cromática e a própria rivalidade dos dois grupos.
Ribeirinha como praticamente todas as cidades e vilas amazônicas, Parintins orienta-se em relação ao rio Amazonas.
Subindo o rio, está o território “de cima”, do Garantido. Descendo o rio, “para baixo”, está o Caprichoso. Historicamente, a cidade se construiu a partir da fundação dos Bois nesses dois sítios. O território neutro, a região de fronteira
é demarcada pela Praça Eduardo Ribeiro (onde está a antiga sede da Prefeitura), pela Catedral de N. S. do Carmo, e
finalmente, pelo bumbódromo. É nesse eixo central, em linha reta e perpendicular ao rio, que os parintinenses se
ocupam de suas atividades práticas e cerimoniais: governo, religião, sociabilidade e celebração da rivalidade. Pretende-se aqui abordar algumas das maneiras pelas quais os parintinenses se apropriam de sua cidade e, por outro lado,
como ela contribui para a construção das “práticas culturais coletivas” que levam à realização do Festival de Parintins.
Palavras-chave: Parintins, Boi-bumbá, Rivalidade
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GRUPOS DE TRABALHOS
Andreas Valentin - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Cand ido Mendes
PATRIMÔNIO CULTURAL: «BEM CULTURAL IMATERIAL», QUE É ISSO?
Dr. Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes- (Universidade Federal do Ceará – ed [email protected] )
Esta é uma comunicação que se pretende polêmica. A partir do questionamento proposto no subtítulo deste
texto, o autor pretende discutir, inicialmente, os equívocos conceptuais que nascem da lógica dicotômica que
preside o seu modo de operar por oposições binárias e mutuamente exclusivas. Há, assim, uma primeira reflexão
crítica que aponta para a inconsistência da distinção entre cultura “material” e cultura “imaterial”, superandoa pela dialética entre material e simbólico na produção social do sentido. Uma segunda reflexão crítica examina
os dispositivos do poder e do sagrado que configuram a memória coletiva, recurso sobre que assenta a constituição do patrimônio cultural e que parece nascer do impulso para a transcendência no esforço de superar a
finitude da condição humana. Enfim, um terceiro ponto analisa criticamente a inclinação conservadora que
confunde patrimônio imaterial com “folclore e tradições populares”, e esboça uma definição mais consentânea
do que seja o conjunto dos bens culturais imateriais.
Palavras-chaves: Cultura – Patrimônio cultural – Bem cultural imaterial
PRÁTICAS CULTURAIS URBANAS - O CASO DAS FESTAS POPULARES
Sidney Antonio da Silva. Departamento de Antropologia – UFAM. E-mail: [email protected]
A realização de festas devocionais por grupos de imigrantes hispânicos em diferentes locais da cidade de São
Paulo pode parecer, à primeira vista, uma manifestação cultural isolada, voltada apenas para os interesses internos de cada grupo. Entretanto, se olharmos tais práticas a partir de um outro ponto de vista, veremos que elas,
“como textos a serem lidos”, estão dizendo algo sobre os seus atores, neste caso os imigrantes, bem como sobre
o contexto onde elas se manifestam, a cidade de São Paulo. Nessa perspectiva, este trabalho propõe-se analisar os
significados que as festas devocionais, realizadas por bolivianos, paraguaios e peruanos passam a ter num novo
contexto, marcado, às vezes, pela discriminação social. Assim, as festas “são boas para pensar” a dinâmica
cultural urbana porque, como um “fato social total”, elas veiculam ao mesmo tempo uma multiplicidade de
valores, tradições, interesses, expressos em símbolos, formas sensíveis de gestualidades e expressões musicais de
múltiplos significados, e que, no limite, também exprimem diferentes identidades.
Palavras-chave: festas, dinâmica cultural, identidades.
PRÁTICAS DE CULTURA POPULAR: A TRADIÇÃO COMO MEDIAÇÃO DE SOCIABILIDADE
GRUPOS DE TRABALHOS
Lúcia Helena de Brito. Universidade Estadual do Ceará. [email protected]
O objetivo desta comunicação é refletir sobre a dinâmica permanência/mudança das práticas de cultura popular
na comunidade de brincantes da região do Cariri, ao sul do Ceará. A tradição como mediação de sociabilidade
é o ponto de partida desta reflexão. As praticas de cultura popular se perpetuam sob condições sócio-históricas
específicas que envolvem seus sujeitos sociais e a sociabilidade engendrada no seu cotidiano. No Cariri cearense
a comunidade de brincante se situa no contexto da sociabilidade urbana, todavia, muitos deles são camponeses
que migraram para as cidades e preservam entre si valores e costumes da sociabilidade rural que constituiu o seu
passado. Esses valores e crenças permanecem como um conjunto normativo que orienta comportamento, condutas e práticas de religiosidade. Esta permanência engendra as condições sociais para que as práticas de folguedos
continuem a se refazer no seu meio, dado o reconhecimento de seu sentido e significado para aqueles os
praticam. É na esfera das relações cotidianas entre esses brincantes que encontramos o sentido das tradições. As
praticas de tradições populares se perpetuam na medida em que seu sentido e significado é reeditado e comparece como forma de sociabilidade. Tem-se que o processo de “preservação” das culturas populares como “patrimônios” são atribuições externas à dinâmica das relações sociais que se estabelecem entre os brincantes. Nosso
estudo demonstrou que as tradições populares são formas de sociabilidade entre os sujeitos que os praticam e,
como tais, se perpetuam na dinâmica social em que se inserem.
Palavras-chave: tradição; sociabilidade; cotidiano
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GT 3 1 - C U LT U R A P O P U L A R , PAT R I M Ô N I O I M AT E R I A L E C I D A D E S
ROMPENDO FRONTEIRAS: A CIDADE DO SAMBA NO RIO DE JANEIRO
Leila Maria da Silva Blass. Pont ifícia Universidade Catól ica de São Paulo - PUCSP ([email protected]).
([email protected])
As manifestações de Carnaval na cidade do Rio de Janeiro, embora bastante variadas, parecem restritas aos
desfiles no Sambódromo. A construção da Cidade do Samba, inaugurada em outubro de 2006, abriga as instalações de catorze barracões aonde são produzidas alegorias e fantasias; e um pátio interno decorado com esculturas
fornecidas pelas escolas de samba cariocas. Nesse local, realizam-se apresentações musicais que são um simulacro do que ocorre nos dias de Carnaval. Apesar das avaliações bastante difundidas de que o Carnaval se tornou
um espetáculo de consumo de bens culturais pelos turistas que se destinam a cidade do Rio de Janeiro. O velho
é recriado e re-significado, sob outras condições históricas e, nessa medida, são reafirmadas as imagens sociais
que associam essa cidade ao samba, aos desfiles carnavalescos, às festas, à alegria, às praias etc. O seu funcionamento está, portanto, atravessado por tensões entre aspectos tradicionais e modernos, mas simboliza a própria
cidade na qual se localiza.
Palavras-chaves: Samba; Carnaval; Rio de Janeiro; escolas de samba
VISITANDO O MAGÙTA
Profa. Dra. Marilina Conceição Oliveira Bessa Serra Pinto. Universidade Federal do Amazonas – UFAM.
maril [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Inserida no grande eixo temático da área de Humanidades, a proteção dos bens culturais, em nome do interesse
público, é prática consolidada no Brasil por intermédio das instituições de fomento cultural. Neste sentido, o
Museu, enquanto “Casa da Memória”, constitui-se como ferramenta didática eficaz no processo educativo, uma
vez que produz novos sentidos e conhecimentos, ressignifica diferentes formas de olhar para as alteridades,
promove deslocamentos imaginários no rio da memória e do tempo. Nossa abordagem teórica sobre os bens
patrimoniais centra-se na mitologia ticuna, enquanto expressão do legado imaterial desta cultura. Pretendemos
mostrar a relação existente entre o valor simbólico das peças pertencentes ao acervo etnográfico do Museu
Magüta com a leitura dos mitos e demonstrar, portanto, o material como apoio e ilustração do imaterial. A visita
ao Magüta fez parte de uma Oficina realizada com professores da rede pública de ensino no município de
Benjamim Constant – Amazonas, na ocasião do oferecimento de um curso sobre “Educação Patrimonial e
Mitologia Amazônica”. A metodologia desenvolvida priorizou a leitura dos bens patrimoniais dos ticuna a fim
de promover o conhecimento e desenvolver o sentido de tolerância por meio da percepção da diversidade
cultural existente naquela região de tríplice fronteira, situada no Alto Solimões, cujos conflitos geraram no
passado momentos de tensão na cidade. Observamos, portanto, que a utilização do Museu Magüta como estratégia pedagógica para o desenvolvimento de um programa de educação patrimonial, representa para a cidade um
espaço de troca de saberes e apaziguamento das diferenças.
Palavras-chave: mito, museu, patrimônio imaterial.
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GT 32
SERTÃO... SERTÕES: IDENTIDADES, IMAGENS E NARRATIVAS
A NARRATIVA LITERÁRIA E A (DES)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES: AS
(RE)SIGNIFICAÇÕES DO NORDESTE NOS ESCRITOS DE GRACILIANO RAMOS
Cristiano Cezar Gomes da Silva. Universidade Federal da Paraíba (doutorando PPGLetras – UFPB). Faculdade de Formação
de Professores de Belo Jard im (FABEJA). Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Neste trabalho propomos um diálogo sobre identidades e imagens a partir da literatura. Como ponto de partida,
analisamos as narrativas de Graciliano Ramos. Discutimos suas múltiplas letras, seus múltiplos tempos, seus
múltiplos olhares sobre o interior do Nordeste. Região vista aqui não apenas delimitada em sua abrangência
geográfica, mas através das (re)significações simbólicas e textuais. Nesse sentido, os escritos não-ficcionais e a
obra Vidas secas (1938) são analisados como pano de fundo, como um grande cenário onde o autor representa, a
partir das suas personagens, as materialidades simbólicas e culturais de um lugar, um não-lugar inscrito no
imaginário e na memória coletiva acerca do Nordeste. A obra gracilianista, além de uma inequívoca expressão
literária brasileira, nos oferece indícios, vestígios, pistas e sinais sobre o silenciamento e o autoritarismo das
décadas de 1930 e 1940 que trazem desdobramentos até a nossa contemporaneidade. A partir de uma escrita
realista e sobre o sertão, as narrativas de Graciliano se engajam na denúncia da estrutura política, social e das
desigualdades da época. Sua escrita transcende o tempo e o espaço, pois fala do sertão, de suas identidades e
imagens para se referir não apenas aos lugares distantes de sua infância e juventude, mas aos problemas da
sociedade que o circundava, evocando uma memória individual que também é coletiva em suas (re)significações.
Desse modo, o autor faz da literatura uma prática de resistência ao poder durante o governo Getúlio Vargas.
Estabelece um contraponto simbólico para resistir à ordem instituída. O silenciamento do período é denunciado. A personagem Fabiano é um exemplo dessa denúncia. Vive sob o signo do silêncio. Este enfoque fragmentário faz parte da pesquisa em desenvolvimento junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPB e
“sanduíche” na UFRGS, sob orientação da Professora Drª. Ivone Tavares de Lucena.
Palavras-chave: identidades, narrativas, Graciliano Ramos.
A TRAVESSIA DO SUÇUARÃO EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS - UMA NARRATIVA SOBRE
UM TERRITÓRIO FABULOSO
Sylvia Schiavo
Em tese de doutoramento sobre o Grande Sertão: Veredas, “Do território da lenda à lenda do território na travessia
do Grande Sertão”, defendida em 2002, trabalhei a noção de sertão como categoria em oposição ao uso da palavra
como conceito. O tratamento desta noção – de peso indiscutível, e ao mesmo tempo vaga, na obra de Guimarães
Rosa – como uma categoria do porte do mana estudado por Mauss, permitiu-me explorar sua amplitude, dada a
multiplicidade de significados que o discurso do narrador Riobaldo permite. No ensaio que ora apresento, um
recorte da referida tese, ocupei-me da travessia do liso do Suçuarão, importante passagem do livro. Pondo em
suspenso qualquer possibilidade de determinismo geográfico, a narrativa da marcha sobre o raso pior havente, que
não concebia passagem a gente viva, traz o natural sob intervenção simbólica. O território inóspito do liso do
Suçuarão se assemelha à imagem de um deserto: a gente estava encostada no sol .No entanto, a partir das características físicas que, segundo o geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, “emprestou elementos do Raso da
252
GT 3 2 - S E R TÃ O... S E R TÕ E S : I D E N T I D A D E S , I M A G E N S E N A R R AT I VA S
Catarina ou do Jalapão em sua composição”, o Liso incorpora um plano metafísico, assegurado pela densidade
da descrição de Riobaldo. Visualmente impressionante, literariamente impressionante, o território do Suçuarão
é um micro-universo que, condensando na mesma unidade espaço-temporal os grandes motivos condutores da
trama, afirma seu valor semiótico como síntese ficcional de fontes múltiplas advindas de temas filosóficos,
religiosos e míticos articulados num complexo sistema de crenças.
Palavras-chave: Guimarães Rosa; sertão; antropologia; literatura.
FAMÍLIA COMO GRUPO? POLÍTICA COMO AGRUPAMENTO? A PRODUÇÃO DA FAMÍLIA E
DA POLÍTICA: ASSOCIAÇÃO E FORMAÇÃO DE GRUPO NO SERTÃO DE PERNAMBUCO.
Jorge Mattar Villela (DCSO e PPGAS/UFSCAR)
A constituição da política envolta nos ideais da democracia representativa nos acostumou a compreendê-la
como um conjunto de teorias e de práticas virtualmente puras, desgarradas das coletividades em que estavam
embebidas. Assim, sempre que nos deparamos com aspectos classificados como não políticos somos forçamos
a denunciá-los como espécies de poluições. Uma delas, a intromissão da família na política, recebe o nome
corriqueiro de nepotismo. Conforme já apontaram, desde pontos de vista bastante distintos, Herzfeld, Kuper,
Fabian, Carrier e Donzelot, o ocidente moderno tentou constantemente livrar-se das sombras da agência das
coletividades familiares em suas outras zonas de atividade, como, por exemplo, a política. Se alguns autores
assumiram a legitimidade da participação da família na política, o problema que pretendo tratar aqui é o da sua
condição de dado ou de sujeito de contornos, qualidades e funções pré-definidas desse agente. A política no
Sertão de Pernambuco aparece como um amálgama de diversos aspectos: memória, violência, família, território.
Este trabalho pretende mostrar que, a rigor, eles mais que interferirem na política, são, em certo nível de
atividade, um produto seu.
IMAGENS HÍBRIDAS DE UM SERTÃO COMPLEXO
Dois bois magros, uma bolandeira, o choro pela morte de um filho, a tradição como ordem, um cenário pintado
pelos sóbrios tons marrons e pastéis; Sete malabáres, uma corda-indiana, o riso provocado pela piada do palhaço, o novo como desordem, um quadro construído por uma caótica profusão de cores... Abril Despedaçado, filme
brasileiro dirigido por Walter Salles, narra a história de duas famílias envolvidas numa briga imemorial pela
posse de algumas terras encravadas no desértico sertão baiano. Tal disputa, baseada na tradição local, se configura em torno de um ciclo de assassinatos e vinganças. Aparentemente, condicionados por práticas que reduzem,
simplificam e etiquetam, poderíamos achar que a obra nada traz além da vendeta descrita, contudo, aguçando
um pouco mais nossos sentidos, conferindo importância à pluralidade de signos contidos na película, facilmente nos depararemos com a representação de um sertão extremamente complexo, híbrido, mestiço. Legatários de
um modelo de ciência que tem como norteador o ideal de assepsia, não cultivávamos o hábito de pensar as
misturas até bem pouco tempo, tornando-nos reféns de representações clássicas da realidade, todavia, a presente
comunicação tem por objetivo trilhar um caminho que se opõe à esteira dos binarismos e das dicotomias,
propondo, assim, uma reflexão sobre o sertão onde seja levado em consideração seu aspecto multidimensional
e suas múltiplas identidades, tendo o filme citado - Abril Despedaçado - como campo empírico. A noção de uma
identidade sertaneja determinada, invariante, imutável, sofre inúmeros abalos, uma vez que não mais se pode
desprezar a plenitude e a complexidade de uma realidade que não é só prosaica, mas também poética, que não é só
faber, mas igualmente ludens: uma realidade que traz em seu bojo o complexo, o mestiço, o contaminado.
Palavras-chave: Sertão, Hibridismo, Complexidade
253
GRUPOS DE TRABALHOS
Igor Monteiro Silva (Mestrando emSociologia – UniversidadeFederal doCeará/ UFC – e-mail: [email protected])
“LONDRES EM PLENO SERTÃO”: PEDRA, INTELECTUAIS BRASILEIROS E DELMIRO
GOUVEIA
Dilton Cândido Santos Maynard. Professor Assistente da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. Doutorando
em História – Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. [email protected]
Delmiro Gouveia tem sido descrito como o “modernizador dos sertões”. A representação do negociante cearense
como um homem à frente do seu tempo e criador de uma cidade modelo nos sertões alagoanos foi gerada pelos
relatos de alguns intelectuais. Através de crônicas jornalísticas, contos e elogios fúnebres publicados em revistas
científicas, é possível apreender a manufatura de Delmiro como um mártir e um “Antônio Conselheiro do
Trabalho”. Tomando escritos jornalísticos e algumas produções literárias como fontes, a pesquisa analisa o
trabalho destes homens das letras na inserção de Gouveia como um autêntico civilizador dos hábitos sertanejos.
Ao mesmo tempo, observamos algumas impressões causadas pela vila operária da Pedra. Criado por Gouveia no
início do século XX o lugar era, nas palavras de Oliveira Lima, uma espécie de “Londres em pleno sertão”. Por
sua vez, para Assis Chateaubriand a vila foi “uma resposta a Canudos”. A Pedra era, na ótica destes intelectuais,
um exemplo de superação das cicratizes deixadas pelo messianismo, pela fome e pelo fanatismo religioso. Deste
modo, reflete-se sobre as construções, permanências e desmontes de interpretações do sertão como espaço a ser
inserido no conjunto das narrativas e políticas nacionais.
Palavras-chaves: sertão – intelectuais – Delmiro Gouveia
MUNDAR O SERTÃO, OU QUANDO O JAGUARIBE VIROU AÇUDE NO CEARÁ
Roberto Lima (Depamento de Ciências Sociais da UFG) - robertol [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Partindo dos conflitos gerados pela implementação do “maior açude do mundo” o Castanhão -, no “maior rio
intermitente do mundo” – o Jaguaribe -, na região apontada na ideologia local como a “mais violenta” e “seca”
do sertão do Ceará, e a criação de um discurso de “modernidade” marcado pelo mesmo gigantismo para o
mesmo local, proponho uma leitura do relocamento da população de 20.000 pessoas que ali moravam, a partir
dos significados associados ao o termo mundar, cunhado por Gayatri Spivak, confrontado a entrevistas realizadas com moradores de várias comunidades às margens do rio Jaguaribe que tiveram suas terras alagadas pela
barragem do Castanhão. Isso implicará discutir o processo de silenciamento de vozes que se deu em paralelo à
desocupação da área e construção da referida barragem, e, ao mesmo tempo, tentar pensar nas possibilidades
levantadas por um movimento social atuante no local – o Movimento de Atingidos por Barragens, MAB - de
escrever outra versão dessa história através das falas e cartografias locais, que foram violentamente demolidas,
desmatadas e submersas em nome de uma estranha entidade chamada progresso.
Palavras-chaves: Mundar, sertão, Castanhão
O POVO SERTANEJO NA BATALHA DO JENIPAPO: HISTÓRIA, TRADIÇÃO ORAL, E
MEMÓRIA NO SERTÃO DE CAMPO MAIOR (TRILHAS DE UMA PESQUISA)
Maria Dione Carvalho de Moraes Socióloga, doutora em Ciências Sociais pelo IFCH/UNICAMP, professora no DCS/
CCHL/UFPI; no Mestrado de Políticas Públ icas/CCHL/UFPI, e no Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente/
PRODEMA/TROPEN/UFPI. E-mails: md [email protected]; md [email protected]
Antônio Fonseca Neto Historiador, Mestre em Gestão Unversitária, professor no Deptº de Geografia e História da UFPI.
E-mails: [email protected]; [email protected]
Sabe-se que restaram regiões da América portuguesa que não aderiram à proclamação da independência –
conforme a narrativa-mestra da independência política do Brasil, proclamada por D. Pedro I, em 7 de setembro
de 1822, e simbolizada pelo “grito do Ipiranga” – e que representou, de fato, a adesão da região centro-sul do
atual território brasileiro. De fato, o processo de independência em outras regiões, sobretudo nas províncias do
norte, incluindo o Nordeste atual, implicou em batalhas sangrentas, dentre as quais a Batalha do Jenipapo,
ocorrida em 13 de março de 1823, em Campo Maior, Piauí, luta tratada na historiografia, sobretudo, piauiense,
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GT 3 2 - S E R TÃ O... S E R TÕ E S : I D E N T I D A D E S , I M A G E N S E N A R R AT I VA S
como parte das lutas da independência política do Brasil, no século XIX. Nela, ganha destaque a “participação
do povo”, cantada e decantada por autores diversos. Nos textos historiográficos, no entanto, o povo, embora
referido como um dos atores sociais da luta, é apresentado como um ente abstrato, sem nome e sem rosto,
enquanto há uma hagiografia dos líderes das elites políticas e militares, heróis ou anti-heróis relacionados à
Batalha. Observa-se que em Campo Maior, a par da historiografia e em estreitas reverberações com ela, as
narrativas orais, em um processo de reinvenção continuada como é próprio da tradição oral, enriquecida pela
religiosidade popular, dialogam com as narrativas-mestras, seja o discurso historiográfico, seja o político, na
(re)construção de uma memória do protagonismo da participação do povo sertanejo na Batalha do Jenipapo.
Este trabalho apresenta algumas trilhas que se abrem à pesquisa desse fenômeno.
Palavras-chave: sertão, memória, tradição oral, Batalha do Jenipapo.
O SERTANEJO IMAGINADO E REPRESENTADO
Carla da Costa Dias (PUC-RIO; LACED/MN/UFRJ - cd [email protected]; carcd [email protected] )
Ponto importante no processo de construção da nação era o reconhecimento de suas expressões próprias,
nativas e singulares, autênticas representações do povo e, portanto, adequadas à sua construção simbólica,
aliadas à incorporação dos territórios longínquos, do interior, do Sertão. O que estava em jogo era a representação desse amplo território. Pretendo neste trabalho apresentar alguns aspectos relativos ao colecionamento, e,
de modo mais restrito as representações do povo no âmbito e uma instituição de caráter nacional, o Museu
Nacional. A Coleção Sertaneja foi inaugurada, em 1918, por Edgar Roquette-Pinto, inserida no contexto políticoadministrativo da primeira República e no contexto científico dos estudos sobre raças então desenvolvidos no
Museu. Na visão de Roquette-Pinto, o sertanejo era essencialmente um tipo humano cujo traço característico era
a adaptação ao meio. A incorporação dos sertões era também uma questão de incorporação humana, na qual o
sertanejo constituía o outro, o que precisava ser descrito e interpretado.
Palavras-chave: coleção, Museu Nacional, sertanejo
O SERTÃO DOS MILAGRES: FÉ E DEVOÇÃO NO SANTUÁRIO DA SANTA CRUZ
Dentro da lógica católico-cristã, e particularmente do catolicismo sertanejo, a fé é um dos elementos principais
para a possibilidade e a operacionalidade deste sistema cosmológico. Isto se torna mais explícito quando homens e mulheres estabelecem relações de devoção com um locus considerado pleno do sagrado e de uma
potência milagrosa. Monte Santo, cidade baiana localizada no sertão de Canudos, é um centro de peregrinação
e devoção que atrai, anualmente, milhares de devotos, sobretudo sertanejos, para pedir, receber e agradecer
milagres do santuário da Santa Cruz. Este trabalho pretende, então, discutir a lógica da fé, que se funda dentro
do regime de milagre (Reesink, 2005), a partir, em um primeiro momento, do ponto de vista dos moradores devotos
de Monte Santo e, em seguida, dos romeiros. Pretende-se, assim, discutir as relações de estabelecidas entre os
sertanejos e este santuário, que se baseiam na fé e que tem como fundamento o milagre.
Palavras-chaves: fé, regime de milagre, santuário religioso
O SERTÃO NEGADO E O SERTÃO DESEJADO: REPRESENTAÇÕES DA IDENTIDADE
REGIONAL PRÉ E PÓS-AUTONOMIA DO TOCANTINS.
Reijane Pinheiro da Silva. Professora Assistente de Antropologia da Universidade Federal do Tocantins.
[email protected]
A proposta de pesquisa aqui apresentada se refere à análise das demandas identitárias presentes no discurso
autonomista do Tocantins, bem como das representações postas em circulação, através de práticas institucionais
pós-autonomia. A intenção é identificar de que maneira o sertão é negado, no momento em que se deseja dividir
255
GRUPOS DE TRABALHOS
Mísia Lins Reesink (PPGA/UFBA – [email protected])
o Estado, associado ao atraso e à decadência da região, e como ele passa a ser reafirmado, quando a intenção é
forjar elementos que dêem contorno a uma identidade tocantinense. As práticas institucionais às quais me refiro
são os projetos governamentais específicos para a área cultural (1988-2002) que, através de uma narrativa sobre
a autonomia e sobre a identidade do Estado, convergem para a invenção de uma tradição tocantinense [Por
tradição inventada entende-se um conjunto de práticas, normalmente regulados por regras tácitas ou abertamente aceitas. Tais práticas, de natureza real ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento
através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado (pág. 09)]. A
reivindicação dos movimentos autonomistas, ainda que caracterizadas pela descontinuidade histórica e pelas
dificuldades de articulação política, é a modernização e superação do atraso regional. O Norte, sertão distante e
abandonado, se pretende livre das amarras que lhe impõe o “rico” Sul: A fim de responder à questão apresentada, se faz necessário analisar a trajetória do movimento autonomista, identificando os agentes promotores do
discurso e das práticas que culminaram na criação do Estado em 1998, além da narrativa institucional sobre
esses movimentos. É necessário, ainda, analisar as representações sobre o sertão diluídas nesse discurso, associando-as às perspectivas e às demandas relativas a uma identidade Nortista, anterior à criação do Estado e a uma
identidade Tocantinense, posterior à criação do Estado.
Palavras-chave: Identidade, sertão, movimento autonomista, representações
O SERTÃO NO CIBERESPAÇO:O CENTENÁRIO DA GUERRA DE CANUDOS (1997) NA
INTERNET
Antônio Fernando de Araújo Sá. Universidade Federal de Sergipe. [email protected]
Buscando investigar os meandros da construção da memória nas comemorações do Centenário do final da Guerra
de Canudos, proponho analisar uma nova fonte, ainda pouco estudada, mas em rápida expansão, que é a Internet.
Num trabalho quase arqueológico, busco questionar as recuperações da História no confronto com a memória
oficial, através das representações da Guerra de Canudos na WEB, tomando como locus privilegiado os sítios
especialmente criados durante as comemorações dos centenários da guerra. Essa investigação demonstrou que,
além do estudo dos acontecimentos em si, o historiador deve estudar os embates em torno da reapropriação do
acontecimento histórico, a partir dos valores e da posição que ocupa determinada corrente de opinião no jogo
político.
Palavras-chave: Guerra de Canudos, memória, historiografia e Internet.
OS CAMINHOS DO SERTÃO MARANHENSE
GRUPOS DE TRABALHOS
Isanda Maria Falcão Canjão – Antropologia Social – CEUMA/UFMA. [email protected]
A partir da análise de artigos de jornais maranhenses de final do século XIX, busco apreender os significados da
idéia de sertão representado em meios oficiais políticos, de bacharéis e de uma elite urbana da capital. O
discurso que se repete de forma estereotipada, recorta o sertão como povoado constituído por “assassinos,
ladrões e bandidos de toda sorte, fugidos de cadeias, retirantes flagelados pela seca, fustigados pela miséria,
espaço de jagunços”. Predominantemente há uma idéia de ordem e desordem, selvageria e civilização, erudição
e analfabetismo, desenvolvimento e atraso. Tais narrativas fazem sempre referência a um contexto de conflito e
vem permear um princípio de separatismo regional que se estendeu até nossos dias. Pretende-se ver como essa
imagem vem sendo retratada e se transformando ao longo dos anos; que medidas o governo apresentou para
lidar com um sertão marcado por forte violência; como os sertanejos lidam com tais projetos de “civilização”
pontuando suas ações enquanto sujeitos de sua história e como demarcam seu pertencimento. Por outro lado
percebe-se que há uma forte cisão partidária na região, onde famílias alternam—se em cargos políticos tecendo
um discurso de rixas constantes, acusando-se de crimes e emboscadas mútuos. Mas o que é o sertão?
Palavras-chave: Sertão maranhense, separatismo, narrativas
256
GT 3 2 - S E R TÃ O... S E R TÕ E S : I D E N T I D A D E S , I M A G E N S E N A R R AT I VA S
OS FILHOS DE TEREZA: NARRATIVAS E RELIGIOSIDADE NA BOA VISTA DOS NEGROS.
Profa. Julie Antoinette Cavignac, DAn (UFRN) - Convênio INCRA/UFRN
José Antônio de Melo - Bolsista Convênio INCRA/UFRN
Gilson José Rodrigues Junior – Colaborador Convênio INCRA/UFRN
Sebastião Genicarlos dos Santos – Bolsista CNPq – CERES/UFRN
Boa Vista dos negros, comunidade quilombola do Seridó norte-riograndense, é conhecida regionalmente por
estar ligada à irmandade do Rosário, perpetuando um culto em louvor à santa com a dança do Espontão. O
grupo solicitou recentemente junto ao Incra/RN, a regularização fundiária do seu território tradicional. Durante
a pesquisa visando à elaboração do relatório antropológico, verificamos que, na sua grande maioria, são as
mulheres que se envolvem nas questões políticas locais e que, fora da comunidade, são elas que se projetam
como lideranças. Foram nossas interlocutoras privilegiadas, ocupando os cargos representativos cujas funções
necessitam um nível de estudo superior ao resto do grupo: professoras, enfermeiras e presidentes da associação
comunitária. Os homens jovens, na sua maioria, são empregados nas cerâmicas vizinhas. No entanto, se os
homens participam pouco das tomadas de decisões, eles aparecem na esfera pública como os detentores de uma
tradição sagrada, reservando-se o direito de tocar os instrumentos, levantar as bandeiras e os estandartes da
santa, dançar com as lanças na ruas de Jardim do Seridó durante a festa; nesse caso, o prestígio ligado à dança
parece ser maior do que à da política. Também, verificamos que, fora do espaço ritual, as mulheres “entram na
dança” e reivindicam o direito de dançar, com a criação de um grupo feminino de dança africana, “Pérolas
negras”. Queremos, aqui, refletir sobre o papel das mulheres na vida cotidiana e política do grupo, entender o
aparente desinteresse dos homens por questões políticas e investigar os processos de afirmação étnica através
das vias simbólicas, no caso aqui, a importância dada ao ritual e à religiosidade.
Palavras-chave: mulheres – comunidade quilombola – afirmação étnica
SERTÃO: REGIÃO IMAGINADA
Na cartografia imaginária da nação alguns espaços são definidos como a origem ou o centro da nação enquanto
se classificam como região as áreas decadentes, arcaicas ou marginadas a serem totalizadas pela nação. Neste
trabalho, através do exame de textos produzidos por ensaístas, literatos, cientistas sociais e historiadores, procuro
refletir sobre a “região imaginada” sertão, uma das mais poderosas representações construídas pela cultura
brasileira. O termo sertão, usado pelos navegantes portugueses para designar o interior da África e da terra de
Vera Cruz, em oposição ao mar e ao litoral, aponta para um lugar vazio, isolado, inóspito, desconhecido e,
subsequentemente, rude atrasado e inferior. A essa desvalorização simbólica dos espaços definidos como sertão,
viria se juntar, ainda nos primeiros momentos do processo de construção do território brasileiro, a dimensão
positiva de vazio a ser conquistado e ocupado, referente de grandeza de nosso patrimônio geográfico. Desde o
século XIX, a classificação litoral/ sertão passa também a designar o descompasso entre duas formas distintas de
organização social e de cultura, uma que coincide com a nação e outra que ainda o será quando se completar o
processo de conquista e civilização do sertão. Neste último sentido, o sertão se constitui como uma fronteira
simbólica da nação, além da qual se situa um outro diferente e alterno do civilizado.
Palavras-chave: sertão, fronteira, nação.
257
GRUPOS DE TRABALHOS
Custódia Selma Sena (doutora em antropologia social/ professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás - UFG).
TENSÕES NO SERTÃO BAIANO: AS EXPERIÊNCIAS DOS “PIÕES” DE MOTOR.
Aline dos Santos Lima – Universidade do Estado da Bahia - Campus V - l [email protected]
GRUPOS DE TRABALHOS
Implantada como política pública, entre os anos de 1940 e 1950, visando contribuir como fonte de renda e
emprego numa região atingida pelos efeitos das periódicas secas, a Agave sisalana tornou-se, ao longo dos anos, a
principal atividade produtiva da atual Região Econômica 6 Nordeste, sendo o principal responsável pela articulação da região aos principais centros dinâmicos do estado da Bahia. O propósito deste trabalho é buscar
apreender a importância da cultura do sisal no desenvolvimento regional através das experiências dos sertanejos
que tem no vegetal a fonte de renda e sustentabilidade. A rede produtiva do sisal é iniciada no campo com seu
plantio, colheita e desfibramento, seguido do transporte para as batedeiras, no geral na zona urbana, onde a fibra
é batida, classificada e comercializada. Posteriormente, a fibra pode ou não ser levada para a indústria de transformação. No campo, a palha para ser transformada em fibra, requer o trabalho conjunto de cinco a oito pessoas
que tem funções e remuneração diferenciadas, numa espécie de rede produtiva que envolve o cortador, botador,
cevador, resideiro e estendedor. É no campo que congrega o maior esforço da cadeia produtiva, expostos as
intempéries, sujeitos a acidentes, os trabalhadores e trabalhadoras chegam a passar até 12 horas diárias de
jornada, a depender da demanda, sem ao menos receber um valor que arque com as despesas básicas. Por outro
lado, esse vegetal, conhecido como ouro verde do sertão, trouxe a um seleto grupo riqueza e poder. Em meio a
este processo produtivo se misturam complexas relações que envolvem diferentes atores e interesses, constituindo um misto de relações de pobreza para muitos e riqueza para poucos, imbricando, carências, sonhos, necessidades, dor, prazeres e fartura. O mesmo vegetal que, nos períodos de auge, permitia a aquisição de bens aos
empresários, proporcionava a muitos trabalhadores dor e sofrimento por causa dos acidentes, sendo a mutilação
o mais grave.
Palavras-chave: Cultura do Sisal, Políticas Públicas, Experiência.
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GT 3 3 - R E L I G I Õ E S E M A N I F E S TAÇ Õ E S C U LT U R A I S A F R O - D E S C E N D E N T E S
GT 33
RELIGIÕES E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AFRO-DESCENDENTES: TRÂNSITOS
ENTRE A HISTÓRIA E A ANTROPOLOGIA EM BUSCA DE SABERES E PRÁTICAS
AFOXÉS E CANDOMBLÉ: UMA RELAÇÃO HISTORICAMENTE CONSTRUÍDA.
Ivaldo Marciano de França Lima. Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF.
[email protected].
Este trabalho objetiva discutir as relações existentes entre os afoxés e as religiões afro-descendentes, especialmente o candomblé, nas cidades do Recife e Olinda entre os anos de 1980 a 2000. Tomados como candomblé
de rua por boa parte dos intelectuais do movimento negro em Pernambuco, os afoxezeiros utilizam-se desse
discurso para defenderem-se dos ataques feitos por folcloristas, memorialistas e parte significativa dos intelectuais pernambucanos. Estes acusam o afoxé de ser uma manifestação cultural baiana e, por conseguinte, não
merecedora de recursos e atenções dos poderes públicos locais. Mas o que são os afoxés? Quem os faz? Onde
moram? A quem serve os discursos de origem das manifestações culturais? Para este trabalho foram utilizados
como fonte entrevistas realizadas com afoxezeiros e militantes do movimento negro pernambucano, que serão
analisados à luz das novas abordagens teórico-metodológicas da História Social da Cultura, além de notícias dos
jornais Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio.
Palavras chave: Afoxés, cultura afro-descendente, religiões afro-descendentes.
AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS DO RECIFE E O ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE
AIDS
O trabalho analisa o engajamento das religiões afro-derivadas do Recife na resposta à epidemia de AIDS, considerando a estrutura simbólica e a organização social que sustentam as “casas de santo”. Nos terreiros a resposta
se inicia a partir de uma preocupação governamental sobre os “oberés” (cortes rituais), possível veículo para a
transmissão do HIV. Os esforços empreendidos e o entendimento pelos lideres religiosos sobre os perigos do
vírus conseguiram fazer dialogar tradição e modernidade, configurando novos padrões rituais. Já instalada dentro dos terreiros, a resposta caminhou no sentido de reconhecer o modo como estas religiões lidam com
“acoxebés” (transações sexuais), preocupando-se em especial com abertura dos terreiros às sexualidades alternativas. Não obstante, e como nos lembraram os pais e mães de santo entrevistados, a disciplinarização da sexualidade permanece prerrogativa da religião, podendo, no olhar destes, se configurar em fator protetivo contra as
DST. Entretanto, em que pese o caráter normativo da religião, os sacerdotes reconhecem a dialética entre
“responsabilidade” (ingrediente para um efetivo cuidado de si) e as imposições da “carne” (desejo sempre pronto
a surgir), e ajudam a divulgar a “camisinha” como método de prevenção. Por outro lado, o acolhimento –
expresso pela noção de “ebó” (oferenda/zelo) – aos soropositivos, permanece como desafio, dado que na construção simbólica que sustenta o enraizamento dos fies no mundo, ao terem um mortal vírus circulando em seus
sangues, aqueles são percebidos como poluídos no “axé” (força vital) – instância garantidora da vida, cujo
259
GRUPOS DE TRABALHOS
Luis Felipe Rios Coordenador do Laboratório de Estudos da Sexual idade Humana. Professor do Programa de Pósgraduação em Antropologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFPE. E-mail: [email protected]
Cinthia Oliveira Graduanda em Psicologia/UFPE.
Jonathan Garcia Columbia University.
Richard Parker Columbia University.
acúmulo e qualidade são fundamentais para o exercício religioso. Ainda no âmbito do “axé”, em seu sentido de
linhagem, reside outra dificuldade de ampliação do enfrentamento à epidemia: a dinâmica de segmentação
própria à reprodução social dos terreiros e as disputas entre sacerdotes, que vêm desafiando os modelos
interventivos que preconizam articulações em redes como fundamentais para uma resposta eficaz à AIDS.
“BRINCADEIRA DE SANTO”: CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DOS CULTOS AFROBRASILEIROS EM ARACAJU-SE
Janaina Couvo Teixeira Maia de Aguiar - Aluna do Bacharelado em História – Universidade Federal de Sergipe
[email protected] [email protected]
Este trabalho tem por objetivo analisar a constituição do campo religioso afro-brasileiro em Aracaju-SE. O
desenvolvimento dos cultos afro-brasileiros nesta região está associado ao próprio desenvolvimento da cidade.
Trata-se de cultos que, com o processo de urbanização da capital, foram ocupando áreas até então distantes do
“quadrado de Pirro”, espaço este destinado à elite em formação. Neste processo destaca-se o bairro Aribé,
conhecido atualmente por Siqueira Campo, área periférica que se destacou neste período por concentrar um
número significativo de adeptos do Nagô, Toré e Candomblé. Nas primeiras décadas do século passado, essa
parte da cidade, por ser pouco povoada, dava uma certa tranqüilidade para os praticantes realizarem seus cultos,
livrando-se, assim, das buscas e rondas policiais bem como da constante onda de exclusão e má interpretação
por parte de certos setores urbanos. Desta forma, as “brincadeiras de santo”, nome pelo qual os mais antigos pais
e mães de santo se referem aos cultos afros, desenvolveram-se na capital sergipana, constituindo um campo
religioso diversificado em suas manifestações rituais.
Palavras-chaves: religiões afro-brasileiras, campo religioso, repressão.
DA MESA AO TERREIRO, NA MESA E NO TERREIRO: PRÁTICAS E LEGITIMIDADE DE CULTOS
DA RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA NA CIDADE DE AREIA BRANCA – RN.
GRUPOS DE TRABALHOS
El iane Anselmo da Silva (Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia – UFPE). E-mail:
el [email protected]
O trabalho propõe uma discussão sobre novos enfoques histórico-antropológicos nos estudos da religião Afrobrasileira, não mais voltado exclusivamente para terreiros e federações, como é comum nos clássicos estudos já
realizados no Brasil, mas, para as práticas cotidianas dos adeptos dessa religião, expressadas nos “cultos domésticos” (rituais de mesa semelhantes aos dos terreiros, de caráter privado e “informal”, realizados nas residências
dos adeptos). Apresentaremos a partir dessa discussão um campo religioso atual, constituído por federação,
terreiros e cultos domésticos, que enquanto “níveis de organização de culto”, tem suas relações norteadas pela
legitimidade, conferida pelo documento da “licença”. A representação do que é legítimo ou clandestino na
manipulação do sagrado dissimula uma concorrência entre as diferentes competências religiosas, através de seus
trabalhos e atividades. Nesse contexto, onde questões éticas e morais entram em cena, a pesquisa torna-se um
desafio diante da própria história dessas religiões, sempre marcadas pelo estigma e o preconceito, e por seu
caráter periférico no panorama religioso do país.
Palavras-chave: religião Afro-brasileira, cultos domésticos, práticas cotidianas.
DO TEMPO DO CATIVEIRO: REPRESENTAÇÕES DA ESCRAVIDÃO NOS PONTOS CANTADOS
PARA OS PRETOS VELHOS.
Marcos Alexandre de Souza Queiroz (PPGAS/UFRN – [email protected]); Orientador: Luiz Assunção (DAN/
UFRN)
Os Pretos Velhos, entidades do panteão religioso umbandista, são espíritos de velhos escravos que sofreram as
agruras do sistema escravagista, se “passaram” e, hoje descem no corpo dos médiuns para aconselhar e ajudar aos
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GT 3 3 - R E L I G I Õ E S E M A N I F E S TAÇ Õ E S C U LT U R A I S A F R O - D E S C E N D E N T E S
necessitados. A partir de pesquisa etnográfica nos terreiros de Umbanda de Natal/RN, percebi que os pontos
cantados para essas entidades apresentam imagens relacionadas a escravidão, tais como: alusões ao navio negreiro, aos trabalhos desempenhados pelos escravos, ao sofrimento do cativeiro, as práticas religiosas, entre outras.
Como a Umbanda representa o cativeiro, o momento da libertação e a situação da qual a população liberta foi
relegada? Como a imagem construída do Preto Velho representa a aceitação e condição que a sociedade atribui
ao negro? Como a religião adotou essa imagem ideal de negro? A partir destas questões, pretendo refletir sobre
o processo ideológico de construção das imagens do Preto Velho nos pontos cantados e no imaginário umbandista.
Palavras-chaves: Umbanda, Preto Velho, escravidão.
É DE FÉ E DEVOÇÃO O BRINQUEDO DA ILHA: A RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA NO
ESPAÇO DO BUMBA-MEU-BOI EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO.
Abmalena Santos Sanches - Institucional: Professora Assistente da Fundação Universidade Federal do Tocantins UFT. Graduada em Ciências Sociais/UFMA e Mestre em Antropologia/UFPE.. E-mail: bil ibra@bol. com. br
[email protected]
O presente trabalho é um estudo que registra a relação entre as festas populares maranhenses e a religião afrobrasileira. O bumba-boi em São Luís, além de bem de consumo e espetáculo turístico, é também “uma forma de
oração”. Ainda hoje o boi é concebido em homenagem a santos católicos, mas também, às entidades espirituais
cultuadas nos terreiros de tambor de mina, umbanda, entre outros. O catolicismo ali entrelaça-se à “encantaria”
dos terreiros afro-maranhenses onde se cultuam diversas entidades das mitologias jejê/nagô, brasileiras, indígenas e uma infinidade de outras. Essa mistura demonstra a complexa e rica convivência de várias concepções
religiosas, possibilitando que cada brincante tenha a liberdade de manifestar suas crenças, sendo justamente
essa plasticidade e pluralidade resultado de um intercruzamento entre o catolicismo e outras religiões. Ressalto
que este trabalho teve como recursos metodológicos a pesquisa bibliográfica sobre festas, bumba-meu-boi e
cultura popular e pesquisa de campo sistemática ao longo de sete anos junto aos grupos de bumba-meu-boi.
Palavra Chave: religiosidade afro-brasileira, cultura popular e festa
ENCANTADOS E DIVINDADES: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA O ESTUDO DAS
RELIGIÕES AFRO-DESCENDENTES.
Considerando as dificuldades para nomear um conjunto de práticas e costumes existentes nas mais diferentes
religiões do campo afro espalhadas pelo Brasil, estamos optando em denominá-las por afro-descendentes. Essa
denominação abrange desde as mais variadas formas de umbanda, até as religiões em que os encantados são o
ponto central, e as religiões de divindades (orixás e voduns). Em meio a esse debate, consideramos serem
Intrigantes duas questões: em Sergipe, Maranhão, Pernambuco e Bahia, percebemos que as religiões de divindades (candomblé, xangô e tambor de mina) possuem imensa legitimidade em relação às de encantados (jurema,
candomblé de caboclo, terecô e outras) no que tange ao contato com pesquisadores e sociedade como um todo,
ocorrendo dos primeiros terem maior visibilidade e aceitação pública. Isso se expressa na maior quantidade de
trabalhos publicados, registros sonoros e divulgação midiática para estes terreiros ligados às religiões de divindades. No entanto, para nossa surpresa, o que constatamos em campo foi o fato de as religiões de encantados serem
mais freqüentadas, possuírem mais terreiros e maior número de adeptos. O que explica essa invisibilidade? Por
que as religiões de encantados se apresentam com demasiada força no quotidiano, mas não possuem a “legitimidade” que dispõem as divindades entre os estudiosos? Eis algumas questões que envolvem a sociologia, a
antropologia e a história na busca de saberes e práticas ligados ao tema.
261
GRUPOS DE TRABALHOS
Hippolyte Brice Sogbossi Prof. Dr. do Departamento de Ciências Sociais da UFS
Ivaldo Marciano de França Lima - Mestre em História pela UFPE e Doutorando em História pela UFF.
ESTRELA BRILHANTE: PRÁTICAS RELIGIOSAS EM UM MARACATU NAÇÃO.
Daniela Oliveira Pinheiro ( Arte - Educadora, Rad ial ista: Apresentadora e Locutora e estudante da especial ização em
História social e Cultura Afro - Brasileira / 405 ).
Este trabalho tem como objetivo discutir alguns elementos da religião e cultura presentes nas práticas e costumes dos integrantes do Maracatu Nação Estrela Brilhante, localizado na comunidade do Alto José do Pinho, na
zona norte do Recife. No tocante ao recorte cronológico, nos baseamos acerca dos últimos dez anos deste
maracatu. Estas práticas são fruto de intensas releituras de heranças, adaptadas ao presente e devidamente
contextualizadas ao meio em que vivem os maracatuzeiros do Estrela Brilhante. A tradição, nesta perspectiva, e
vista como ressignificação, móvel, adaptável, contextualizada e dotada de sentidos. Para este trabalho foram
utilizads como fonte entreveistas de maracatuzeiros e maracatuzeiras.
ETNICIDADE E INCLUSÃO SOCIAL PRATICADAS EM DUAS CASAS RELIGIOSAS DE MACEIÓ
Cláudia Cristina Rezende Puentes. Aluna do Programa de Pós-graduação em Antropologia – UFPE. Coordenadora
Acadêmica da Faculdade Decisão. [email protected]
O presente trabalho tem por objetivo discutir as relações cognatas e pragmáticas existentes entre o Núcleo de
Cultura Afro-brasileira Iyá Ogun-té e o Grupo União Espírita Santa Bárbara. Abordando de forma axiológica a
interface sócio-cultural abarcada pela religião de matiz afro-brasileira e pelo projeto de trabalho inclusivo com
crianças e adolescentes e, suas respectivas conseqüências no contexto tanto individual, quanto comunitário, dos
grupos pesquisados na cidade de Maceió-AL. As estratégias culturais utilizadas bem como o caráter diferenciador
dos grupos analisados, foram igualmente abarcados na busca de coletar dados que, contribuam com novas propostas ante os desafios atuais para antropólogos e historiadores . A pesquisa se realiza a partir de uma metodologia
com observação participante, registros escritos e fotográficos das atividades realizadas e entrevistas com perguntas
abertas.
Palavras-chaves: Etnicidade, inclusão social, interfaces.
ETNICIDADE E RELIGIOSIDADE: FRONTEIRAS NO CAMPO RELIGIOSO DE SÃO CRISTÓVÃOSE (SÉCULO XIX).
GRUPOS DE TRABALHOS
Vanessa dos Santos Oliveira. Mestrado em Sociologia-UFS. [email protected]
As irmandades foram até o processo de romanização os principais veículos do catolicismo tradicional e popular
no Brasil, promovendo a divulgação e manutenção dos rituais e sacramentos da Igreja, a construção de capelas
e a sustentação do culto além da assistência material da população através do auxílio aos irmãos na doença e na
pobreza. Nesse sentido, permitiram a formulação de estratégias identitárias estabelecidas na interação entre os
grupos, instituindo fronteiras no campo religioso. Desse modo, esse estudo pretende analisar as fronteiras que se
estabeleceram entre brancos, pardos e pretos na cidade de São Cristóvão-SE, no século XIX. Entendendo o uso
de critérios étnicos e econômicos como elemento delimitador do acesso às confrarias, utilizamos como referencial
teórico a perspectiva de grupo étnico formulada por Fredrik Barth e trabalhamos com pesquisa documental
através do método indiciário.
Palavras-chave: irmandades, etnicidade, fronteiras.
MARACATUS E AFOXÉS: A PRESENÇA DA RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA NO
CARNAVAL DO RECIFE/PE
Profª Dra. Cristiane Maria Nepomuceno (UEPB/Campus I ) - [email protected]
Os festejos carnavalescos no Estado de Pernambuco, já no século XVII, tiveram combinadas as brincadeiras dos
portugueses às tradições africanas, moldando um carnaval peculiar. Ao entrudo foram pouco a pouco incorpora-
262
GT 3 3 - R E L I G I Õ E S E M A N I F E S TAÇ Õ E S C U LT U R A I S A F R O - D E S C E N D E N T E S
das as tradições religiosas de origem africana.Em se tratando do carnaval do Recife e sobre como essa mistura
aconteceu, remetem as pesquisas para as corporações dos negros (livres e escravos) surgidas nesse mesmo
período. Essas corporações eram formadas pelos membros das companhias de carregadores de açúcar e de
mercadorias. Era também através dessas organizações que os negros se reuniam para preparar as suas festas. Para
o antropólogo Raul Lody, “a adesão africana foi fundamental para o enriquecimento de ritmos, danças, personagens, cortejos, mascarados, muitos chegados das irmandades e confrarias de homens negros, mulatos e pardos”.
De acordo com este estudioso, essas confrarias e irmandades de negros surgidas no século XVIII, que a princípio
tinha por objetivo reunir a grande massa de negros africanos e seus descendentes, “africanos de Angola e do
Congo, depois os africanos da Costa Ocidental do Golfo do Benin, inclusive os Yorubás ou Nagôs,” (LODY, 67)
tornaram-se responsáveis pela organização das festas religiosas e, posteriormente, dos cortejos. A proposta dessa
comunicação é apresentar duas manifestações carnavalescas da cidade do Recife/PE, tomá-las e apreendê-las
como uma forma de expressão da religiosidade afro-brasileira impregnadas de valores culturais a partir dos quais
se é possível revelar a influência da matriz africana. O Maracatu Nação ou Maracatu de Baque Virado, manifestação popular centenária originária dos cortejos de coroação dos reis e rainhas do Congo, cujos grupos são
formados na sua maioria por devotos dos cultos afro-brasileiro da linha Nagô. O Afoxé, também conhecido por
“Candomblé de rua”, manifestação com estreito vínculo com os elementos da religiosidade africana, especificamente os terreiros de Candomblé. Mesmo que estas manifestações não mais expressem o mesmo teor e caráter
de religiosidade de quando foram fundadas, continuam por apregoar os elementos sagrados e as tradições da
religiosidade africana.
Palavras-chave: maracatu; cortejos carnavalescos, religiosidade.
MEMÓRIA MONUMENTALIZADA DO CANGAÇO: A QUE SE PRESTA TAL SABER?
José Ferreira Júnior. Especial ista em História pela Universidade de Pernambuco. Professor da Faculdade de formação
de Professores de Serra Talhada - FAFOPST. [email protected]
Este trabalho tem como objetivo discutir o cangaço e a memória construída em torno do fenômeno nos dias
atuais. Tomando-o como um evento de grande importância para a identidade do Sertão do Pajeú, esta pesquisa
empreendeu discussão sobre os processos que geraram uma memória oficial e monumentalizada em torno do
fenômeno, mitificando-o e distanciando-o da história, viabilizando-lhe traço folclorizante. Trata-se de submeter
a produção literária e ou oral de ex-cangaceiros, ex-soldados de volantes, familiares, folcloristas e memorialistas
a uma nova abordagem, que se alicerça em pesquisa documental e se norteia pela história social.
Palavras-chave: memória, cangaço, sertão.
O BATUQUE DO RIO GRANDE DO SUL – 20 ANOS DE TRABALHO DE CAMPO
A religião que mais fielmente guarda tradições da região do Benin e Nigéria, no Rio Grande do Sul, é denominada de batuque. Os primeiros núcleos foram fundados possivelmente em meados do século XIX, o fenômeno
se difundindo não apenas pelo território rio-grandense, mas, mais recentemente, também pelos países do Prata.
Hoje, estima-se que a religião seja praticada em 30 mil templos, no Estado. O objetivo do trabalho é relatar e
analisar observações de campo que realizei, intensivamente, como pesquisador, em várias casas de culto, entre
1969 e 1989. Nesse sentido, enfatizamos algumas recomendações e possibilidades de registro escrito e iconográfico
considerando não só o papel ético do pesquisador como os conhecimentos aprofundados que exigem as diversas
linguagens desses rituais, tais como a gestual, a onírica, e a mítica.
Palavras-chave: Batuque; Religiões afro-brasileiras; pesquisa
263
GRUPOS DE TRABALHOS
Norton F. Corrêa Universidade Federal do Maranhão. nortonfc@cl ick21.com.br
O SAGRADO DO CAMDOMBLE NO PROCESSO DE CONHECIMENTO ANTROPOLOGICO
Miguel Arturo Chamorro Vergara, Universidade Estadual Santa Cruz, BA, [email protected])
No mundo de terreiro, existem alguns problemas teórico-metodologicos a serem superados pelos antropólogos.
Estes especialistas prejudicados por uma formação antropológica fora da realidade e mais afiliada a categorias
abstrata que demandam atitudes discriminatória etnocêntricas que vem provocando de certa forma, a cólera das
divindades. Além disso, perseve-se no cotidiano dos terreiros a falta de sensibilidade nas abordagens dos
pesquisadores, sobretudo, na assimilação das teorias dos filhos de santos que no processo de negociação
solicitam cumplicidades na narrativa etnográfica. A partir disso, o presente trabalho visa discutir o fundamento
do sagrado como uns dos aspectos significativo no conhecimento antropológico dessa religião que permite
preservar segredos da nação e uma adequada visão das relações entre as linhagens dos terreiros. Nesse sentido,
enfatizamos algumas recomendações e possibilidades de registro escrito e iconográfico considerando não só o
papel ético do pesquisador como os conhecimentos aprofundado que exigem as diversas linguagens desses
rituais, tais como a gestual, a onírica, e a mítica.
Palavras-chave: Sagrado, Terreiros , Recomendações.
O TERREIRO E A CIDADE: OS ESPAÇOS DA UMBANDA
Sulivan Charles Barros (UnB/ UNIEURO, [email protected])
O presente artigo se propõe a considerar a interlocução entre imaginário umbandista e cidade, buscando mostrar de que modo a umbanda (re)dimensiona o significado de sua atual presença nos espaços urbanos. Para o
grupo religioso que os freqüenta, o terreiro constitui um espaço mítico, simbólico, onde a natureza e os fiéis se
unem para viver uma realidade diferente daquela do cotidiano. O terreiro significa, para os freqüentadores, um
espaço idealizado, divinizado, onde orixás e “guias” baixam, para manifestar ali o encontro destes com a sua
comunidade religiosa. É assimilado como um local de vida, de reunião, de participação, espaço social além de
religioso. Porém, estas casas de culto, na sua maioria, possuem a peculiar propriedade de serem quase “invisíveis” aos olhos dos leigos, ao contrário das igrejas cristãs, que ocupam pontos de destaque na geografia urbana.
Palavras-chaves: terreiro, cidade, umbanda.
SINCRETISMO, “DESSINCRETISMO” E LEGITIMAÇÃO: A INCORPORAÇÃO DE ELEMENTOS
DAS RELIGIÕES AFRO NO VALE DO AMANHECER.
GRUPOS DE TRABALHOS
Amurabi Pereira de Oliveira (mestrando PPGCS – UFCG). [email protected]
Este trabalho se propõe a discutir um movimento recente dentro das chamadas religiões afro-brasileira, que é o
processo de “dessincretização” (ou reafricanização) de seus cultos, através de um processo constante de reafirmação
identitária africana através da “sublimação” de elementos do catolicismo, em especial no candomblé, bem como
o processo de incorporação de elementos oriundos desses cultos em um Novo Movimento Religioso – NMR –
que em menos de 40 anos já ergueu mais de 600 templos no Brasil e em mais sete países: O Vale do Amanhecer.
Entendemos que para além do processo de sincretismo nas religiões afro-brasileiras a sua dinamicidade na
contemporaneidade aponta para estas duas direções: a “dessincretização” e sua incorporação em NMR enquanto
instrumento de legitimação no campo religioso, sendo enfatizado em nosso trabalho este último ponto, tendo
em vista que a nosso ver ele demonstra uma “inversão” no processo de sincretismo e legitimidade no campo
religioso brasileiro, para tanto em nosso estudo nos utilizaremos do exemplo do Vale do Amanhecer que recorre
a incorporação desses elementos de forma sincretizada, ressignificada e reinventada enquanto “instrumento” de
legitimação no campo religioso.
Palavras-chave: Vale do Amanhecer; Religiões afro-brasileiras; Sincretismo Religioso.
264
GT 3 3 - R E L I G I Õ E S E M A N I F E S TAÇ Õ E S C U LT U R A I S A F R O - D E S C E N D E N T E S
SOB O AMPARO DO CARMO: IDENTIDADE NEGRA, NEGOCIAÇÃO E DEVOÇÃO À BOA
MORTE EM SERGIPE OITOCENTISTA.
Fernando José Ferreira Aguiar. Prof. Dep. de História/ CECH/ UFS. Prof. do curso de História da FJAV. Prof. da PósGradruação em Ed. Patrimonial e Identidades S ergipanas/ Faculdade Atlântico. [email protected]
[email protected]
A idéia inicial desta proposta de pesquisa surgiu a partir da localização de um livro intitulado Anuário São
Cristovense, manuscrito de caráter memorialista, pertencente ao acervo do Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, no qual aparecem referências ao culto à Boa Morte na Cidade de São Cristóvão, antiga capital da
Província de Sergipe. Para o seu autor, o pardo Serafim de Santiago, a festa da Boa Morte ocorria há muitos anos,
sendo organizada por negras africanas residentes na cidade, concorrendo e acontecendo concomitantemente
com a festa do Amparo e de Nossa Senhora da Glória, organizada pela irmandade da Amparo dos Homens
Pardos, sendo a festa devocional das negras realizada na Igreja Conventual da Ordem dos Carmelitas, local-sede
de instalação da irmandade da elite local. Fato que nos chamou a atenção, uma vez que até então não existiam
referências a esse culto em Sergipe nem também eram mencionadas pela historiografia das devoções de gente de
cor no Brasil colonial e imperial. Para além do seu ineditismo, chama-nos à observação a relação de negociação
estabelecida entre a elite, os pardos e as negras africanas residentes em São Cristóvão para a manutenção desse
culto de devoção, além da existência de uma rede de ligação entre essas mesmas negras e a Bahia, de onde eram
“enviados anéis de vidro e de louça, para serem distribuídos na ocasião da festa”. Fato que a princípio leva-nos
a crer que há uma certa possibilidade de essas mesmas africanas terem ligações com a irmandade baiana, isto
porque até 1820 Sergipe pertencia à Bahia, além de ser Salvador o seu grande centro abastecedor de escravos, até
mesmo depois da sua independência política.
UM PEDAÇO DA ÁFRICA DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO: O TERREIRO DE CANDOMBLÉ
ILE IYA MI OSUN MUIYWA
Petrônio Domingues (Universidade Federal de Sergipe – [email protected])
O objetivo desta comunicação é traçar um esboço histórico de um importante terreiro de candomblé paulista, o
Ile Iya Mi Osun Muiywa, apontando suas principais iniciativas no campo religioso, social, político e cultural. A
história desse terreiro se confunde com a própria consolidação do candomblé em São Paulo. Pretende-se, outrossim, ressaltar o fato de que esse terreiro vem se notabilizando pela luta em defesa dos direitos civis do “povo de
santo” e pelo fim da intolerância religiosa no Brasil.
Palavras-chaves: candomblé, religiões afro-brasileiras, cultura negra.
VOZ E FALA NOS TERREIROS: UM DIÁLOGO ENTRE SABERES
Durante um longo período da história ocidental o saber biomédico apresentou a necessidade em afastar-se da
magia, da religião, do misticismo, a fim de atingir o caráter científico. Não obstante, como chama a atenção a
etnomusicóloga Ângela Lühning, não podemos esquecer que os conhecimentos chamados eruditos têm sua
origem nos saberes tradicionais, saberes esses que seguem uma lógica própria e “talvez sejam até mais eficazes
devido ao seu valor empírico testado durante séculos, e baseados na aplicação prática, que supera os sistemas
teóricos dos europeus (LÜHNING, 2006: 309)”. A proposta do presente trabalho é voltar-se para as questões
simbólicas, a mitologia afro-descendente e a interferência dos Orixás no que se refere ao entendimento das
características vocais e alterações da voz e fala para os fiéis das religiões de matriz africana em dois terreiros de
candomblé e um centro de umbanda na cidade do Recife, Pernambuco. Para tanto, caminharemos por dois tipos
de conhecimento: o científico e o tradicional, reconhecendo nessa tensão suas características complementares
e opostas.
265
GRUPOS DE TRABALHOS
Luciana Barros Gama. Núcleo de Estudos sobre Imaginário – UFPE. [email protected] / [email protected]
INDICE REMISSIVO
59
157, 261
126, 162
183
41
25
130
137
74
160
188
43
131
222
242
76
158, 182, 220
35
223
258
40
181
142
47, 93
39, 246
97
248
56
149
195
241, 264
93
226
169
85
134
68
214
111
141, 185
47, 93
155
111
168
229
84, 88
61
GRUPOS DE TRABALHOS
Abda de Souza Medeiros
Abmalena Santos Sanches
Adalberto Luiz Rizzo de Oliveira
Adalton José Marques
Adla Viana Lima
Adolfo de Oliveira
Adriana Elias Magno da Silva
Adriana Maria Giubertti
Adrianna Figueiredo
Adriano Farias Rios
Agnes Santos Melo
Aílton da Silva Santos
Aina Guimarães Azevedo
Alda Lúcia Monteiro de Souza
Aldenor Alves Soares
Aldenor Alves Soares
Alessa Cristina P. de Souza
Alessandra Siqueira Barreto
Alessandro Roberto de Oliveira
Aline dos Santos Lima
Aline Ferreira da Silva
Aline Martins Verdi
Alinne Bonetti
Alison Macnautgton
Alvatir Carolino da Silva
Alysson Cristian Rocha Souza
Alzilene Ferreira da Silva
Amanda Braga de Melo Fadigas
Amanda Rodrigues Faria
Amaro Xavier Braga Júnior
Amurabi Pereira de Oliveira
Ana Carolina Bichoffe
Ana Caroline Amorim Oliveira
Ana Claudia Cruz da Silva
Ana Claudia Mafra da Fonseca
Ana Flávia Andrade de Figueiredo
Ana Gloria Ferreira dos Santos
Ana Lúcia Camargo Ferraz
Ana Luiza Abreu
Ana Paula Galdeano Cruz
Ana Paula Glinfskoi
Ana Sávia Farias Ramos
Anamaria Morales
André Augusto Brandão
André Luiz Videira de Figueiredo
Andrea Ciacchi
Andréa Freitas da Silva
267
GRUPOS DE TRABALHOS
Andreas Valentin
Ane Luíse Silva Mecenas
Anna Chaisuk Barouchel
Anna Karla Cavalcante Moura
Anna Lúcia Santos da Cunha
Anna Waleska N. C. de Menezes
Anne Gabriele Lima Sousa
Antonádia Monteiro Borges
Antonio Felipe de Carvalho Limeira
Antônio Fernando de Araújo Sá
Antônio Fonseca Neto
Antonio George Lopes Paulino
Antonio Motta
Antonio Rafael Barbosa
Arlete
Arlete Assumpção Monteiro
Arneide Bandeira Cemin
Arneide Cemin
Artur Perrusi
Bárbara Luna de Araújo
Beatriz Góis Dantas
Benedito Maciel
Benedito Souza Filho
Bernardo Rozo
Bertulino José de Souza
Breno Rodrigo de Oliveira Alencar
Camboim Silva de Almeida
Camila Mainardi
Camilo Antônio Santa Bárbara Júnior
Carla da Costa Dias
Carla da Costa Dias
Carla Georgea Silva Ferreira
Carla Maria Dantas Oliveira
Carla Siqueira Campos
Carlos Alberto da Silva Campos
Carlos Benedito Rodrigues da Silva
Carlos Caroso
Carlos Eduardo de Albuquerque Filgueiras
Carlos Eduardo Marques
Carlos Emanuel Sautchuk
Carlos Guilherme Octaviano do Valle
Carlos Pereira Gonçalves
Carmela Zigoni
Carmen Lúcia Silva Lima
Carmen Susana Tornquist
Carolina Pedreira
Carolina Santana de Souza
Caroline Leal
Cássio Eduardo Serafim
Cássio Inglez de Sousa
Célio Luiz Pinheiro
268
216, 249
66, 109, 153, 177
190
119, 123
149, 206
136
62, 158
10
37
256
254
99
9
94
47
92
22
21
107
104
157
225
168
136
104
100
48
198
239
70
255
217
153
172
184
24, 217
20, 83
192
233
85
12, 13
135
170
71, 234
147
140
194
172
72
164
145
200
29
69, 121
205
142
140
101
73, 259
140
262
21
196
174
63
164
237
217
90, 246
172
114
156, 245, 262
252
257
248
102
186
180
40
262
68
203
21
202
120
76, 203
202
242
58
191
87
96
254
143
125
39, 247
86
49, 188
131
29
7, 8
GRUPOS DE TRABALHOS
César Augusto de Assis Silva
Christiane Rocha Falcão
Christiane Machado Coelho
Christina Gladys de Mingareli Nogueira
Christine de Alencar Chaves
Christine Nicole Zonzon
Cidinalva Silva Cârama
Cinthia Oliveira
Clara Lourido
Cláudia Cristina Rezende Puentes
Cláudia Leitão
Claudia Maria da Silva Cruz
Claudia Maria Moreira da Silva
Claudia Pedro Winterstein
Cláudia Tereza Signori Franco
Claudina Azevedo Maximiano
Climério de Oliveira Santos
Cristian Pio Ávila
Cristiane Damasceno
Cristiane Lasmar
Cristiane Maria Nepomuceno
Cristiano Cezar Gomes da Silva
Custódia Selma Sena
Cyro H. de Almeida Lins 232
Daniel Oliveira
Daniel Pereira Ramiro
Daniel Schroeter Simião
Daniela Maria Barreto Martins
Daniela Moura Bezerra
Daniela Oliveira Pinheiro
Danieli Siqueira Soares
Daniella Marçal Gomes
Danielle Perin Rocha Pitta
Danilo Clímaco
David Ivan R. Fleischer
Dayse Amâncio dos Santos
Débora Allebrandt
Denis da Silva Pereira
Denise Alessandra Goulart
Denise Machado Cardoso
Denize Genuína da Silva Adrião
Diana Lima
Dilton Cândido Santos Maynard
Diogo Neves Pereira
Douglas Ferreira Gadelha Campelo
Eder de Castro Gama
Edith Carmem de Azevedo Bacalháo
Edivalma Cristina da Silva
Edmilson Felipe da Silva
Edmilson Suassuna da Silva
Edmundo Pereira
269
GRUPOS DE TRABALHOS
Ednalva Maciel Neves
Edson Dias Ferreira
Edson Silva
Eduarda Romélia Trindade de Souza
Eduardo Campos Rocha
Eduardo Carrascosa de Oliveira
Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes
Eduardo Fernando Montagnari
Eduardo Lacerda Mourão
Eduardo Vieira Barnes
Edwin Reesink
Elaine Ferreira Lima
Elcio Nogueira dos Santos
Elena Nava
Eliana de Barros Monteiro
Eliana Gomes Quirino
Eliane Anselmo da Silva
Eliane Cantarino O’Dwyer
Elisa Machado Camarote
Elisete Schwade
Ellen da Silva Fernandes.
Eloi dos Santos Magalhães
Els Lagrou
Emerson Rubens Mesquita Almeida
Emilene Leite de Sousa
Érica Cristina de Sá
Erich Gomes Marques
Erisvelton Sávio Silva de Melo
Ernesto Seidl
Estêvão Martins Palitot
Estêvão Rafael Fernandes
Esther Jean Matteson Langdon
Eufrázia Cristina Menezes Santos
Fabiano Gontijo
Fabiela Bigossi
Fabio Vaz Ribeiro de Almeida
Fabíola Corrêa da Costa Oliveira
Fabiola Salgueiro
Fabíola Silva Gomes
Fabriciana Dantas Moraes
Felipe Ferreira Vander Velden
Fernanda Bittencourt Ribeiro
Fernanda Lucchesi
Fernanda Maria Vieira Ribeiro
Fernanda Valli Nummer
Fernando Cesar de Araujo
Fernando Firmo
Fernando José Ferreira Aguiar
Fernando Luiz Alves Barroso
Fernando Muratori Costa
Flavia do Bonsucesso Teixeira
270
107
212
238
34
231
78
250
132
95
163
235
245
81
161
55
134
260
13
54
78, 207
43
169
24
103
106
31
194
70, 200
10, 11
172
224
16
160
248
139, 210
165
36
79
34
39
237
142
48, 232
35
141
146
113
160, 197, 265
79
42
77
40, 106
117
53, 83, 88
73
173
229
73, 107
78
175, 230
24
185
91
214
210, 218
31
127
26
189
133
33
61
121
257
210
244
213
248
248
197
39,46, 179
101
74
43
37, 212
236
116
235
218
249
20
261
55
58, 158, 243
174, 200
10, 11
211, 253
23
170
130
95
45
GRUPOS DE TRABALHOS
Flávio Leonel Abreu da Silveira
Flávio Rodrigo Freire Ferreira
Francisca de Souza Miller
Francisca Luciana de Aquino
Francisco Carlos de Lucena
Francisco Herbert Pimentel Monteiro
Francisco Jander de Sousa Nogueira
Francisco Janio Filgueira Aires
Francisco Marcelo Gomes Ferreira
Frank Marcon
Frederico Policarpo de Mendonça Filho
Freederico Lustosa da Costa
Gabriel O. Alvarez
Gabriela Buonfiglio Dowling
Gabriela da Costa Araújo
Georgia da Silva
Gersem Baniwa
Géssika Cecília Carvalho da Silva
Giancarlo Stefani
Gianne Carline Macedo Duarte
Gil Almeida Felix
Gilberto da Silva
Gilson José Rodrigues Junior
Giovanna Rego
Glacy Ane Araújo de Souza
Glauco Fernandes Machado
Grad. Delvan Santos
Grad. Suely Nunes
Graziele Cristina Dainese de Lima
Guilherme Gitahy de Figueiredo
Guilherme José da Silva e Sá
Guilherme Paiva de Carvalho Martins
Gustavo Ribeiro de Araújo
Haydee Márcia de Souza Marinho
Hélder Ferreira de Sousa
Helio de Castro Lima Rodrigues
Heloisa Eneida Cavalcante
Heloisa Gravina
Heloisa Maria Alves de Oliveira
Heraldo Maués
Hippolyte Brice Sogbossi
Hosana Celi Oliveira e Santos
Hugo Menezes Neto
Iara Gomes de Bulhões
Igor Gastal Grill
Igor Monteiro Silva
Ilka Boaventura Leite
Inácia Maria Rodrigues do Nascimento
Inaê Elias Magno da Silva
Indira Nahomi Viana Caballero
Ionaldo Rodrigues
271
GRUPOS DE TRABALHOS
Iraides Caldas Torres
Isabel Milanez Ostrower
Isabela Andrade de Lima Morais
Isanda Maria Falcão Canjão
Isis Maria Cunha Lustosa
Ivaldo Marciano de França Lima
Ivanilson Barbosa da Costa
Izis Morais Lopes dos Reis
Jacirema Bernardo de Araújo
Jailson Galvão Rocha
Jaína Linhares Alcantara
Janaina Couvo Teixeira Maia de Aguiar
Jandeilmo Cleidson Aires
Jane Felipe Beltrão
Jasoney Souto de Queiroz
Jeanne Almeida Dias
Jéssica Barros Silva
Joab Ferreira
Joacenira Helena Rodrigues de Oliveira
Joanice Santos Conceição
João Batista de Menezes Bittencourt
João Gabriel Lima Cruz Teixeira
João Marcelo Silva
João Miguel Sautchuk
João Pacheco de Oliveira
John Cowart Dawsey
John da Silva Araújo
Jonathan Garcia
Jordeanes do Nascimento Araújo
Jorge Alberto Vieira Tavares
Jorge da Silva
Jorge Mattar Villela
José Antônio de Melo
José Augusto Laranjeira Sampaio
José Ferreira Júnior
José Horimo Medeiros dos Santos
José Luís Caetano da Silva
José Maria da Silva
José Maurício Arruti
José Pimenta
José Renato de Carvalho Baptista
José Rodorval Ramalho
José Rômulo de Magalhães Filho
José Sávio Leopoldi
José Wellington de Oliveira Silva
Joselita Maria dos Santos
Jozelito Alves Arcanjo
Juan Carlos Peña Márquez
Juliana Aparecida Garcia Corrêa
Juliana Cristina Fukuda
Juliana Lima Spinola
272
41
98
149
256
119
259, 261
29
75, 105
86
216
148
160, 260
104
9
241
152
195
172
240
156
63
16
196
219
15
16
198
259
38, 133
170
187
253
257
13
263
240
54
117, 172
127
167
98
32, 242
190
79
50
133
213
221
153
124
57
117, 257
9, 232
124
227
159
236
119
148
49
204
209
199
88
118
224
213
140
191
204
127
20, 154
90
251
33
146
124
230
65
89
231
80
173
99
47, 93
106, 243
125, 126, 223
104
46
87
123
210
56, 123, 191
155
41
185
120
250
265
53
86
20
GRUPOS DE TRABALHOS
Julie Antoinette Cavignac
Julie Cavignac
Júlio de Andrade
Júnia Marúsia Trigueiro de Lima
Júnia Torres
Jurema Machado de Andrade Souza
Kallyne Machado Bonifácio
Karina Biondi
Karine Oliveira Lopes
Karla Galvão Adrião
Karla Melanias
Karlla Christine A. Souza
Karyn Nancy Rodrigues Henriques
Kátia Helena Serafina Cruz Schweickardt
Kelly E. de Oliveira
Kelly Oliveira
Kelly Silva
Kirla Korina dos Santos Anderson
Lady Selma Ferreira Albernaz
Larissa Lacerda Menendez
Lea Freitas Pérez
Leandro Pinto Xavier
Leila Maria da Silva Blass
Lela Caroline Arantes Mesquita
Lena Tatiana Dias Tosta
Leonardo Boquimpani Freitas
Leonardo Leocádio da Silva
Leonardo Turchi Pacheco
Leonilda Wessling
Leslye Bombonatto Ursini
Letícia de Abreu Gomes
Liana Lewis
Lídia Canellas
Lidiane Maria Maciel
Ligia Barros Gama
Lígia Raquel Rodrigues Soares
Lilian Rose Mascarenhas
Liliane Carrera Barbosa
Lima-silva, L & Andrade, M. O
Lindolfo Abdalla Junior
Lisabete Coradini
Loreley Gomes Garcia
Lorena de Oliveira e Alves
Luana Mesquita Rodrigues
Lucía Eilbaum
Lucía Fernanda Lasso González
Lúcia Helena de Brito
Luciana Barros Gama
Luciana Batista Lima
Luciana Campelo de Lira
Luciana Chianca
273
GRUPOS DE TRABALHOS
Luciana Ferreira Moura Mendonça
Luciane Ouriques Ferreir
Luciane Patrício
Luciene de Oliveira Dias
Luís Américo Silva Bonfim
Luis Eugenio Campos Muñoz
Luís Felipe Rios
Luis Fernando Pereira
Luís Guilherme de Assis
Luis Junior Costa Saraiva
Luís Maria Chaves Almeida Vasconcelos
Luís Roberto de Paula
Luísa Maria Silva Dantas
Luiz André Soares
Luiz Assunção
Luiz Augusto Sousa do Nascimento
Luiz Carlos Rondini
Luiza Garnelo
Magno Francisco de Jesus Santos
Maísa Elaine Arruda Fernandes
Mani Tebet A. Marins
Manoel Messias Rodrigues Santos
Manoel Nascimento
Marcela Carvalho Martins Amaral
Marcela Coelho de Souza
Marcelo da Silveira Campos
Marcelo Henrique Gonçalves de Miranda
Marcelo Tavares Natividade
Márcia Regina Calderipe Farias Rufino
Márcia Regina de Andrade
Márcia Tavares
Marco Antonio Gonçalves
Marco Aurélio Belmont Figueira
Marco Aurélio Lacerda da Silva
Marcos Alexandre de Souza Queiroz
Marcos de Araújo Silva
Marcos Henrique Barbosa Ferreira
Marcos Martins
Marcos O. Bezerra
Marcos Otavio Bezerra
Marcos Silva
Marcos Vinícius Tavares Oliveira
Maria Antonieta Albuquerque de Souza
Maria Batista Lima
Maria Carolina de Araujo Antonio
Maria Carolina Rodrigues Boaventura
Maria Cristina Crispim
Maria de Fátima Farias
Maria de Fátima Paz Alves
Maria Dione Carvalho de Moraes
Maria do Socorro Fonseca Vieira Figueiredo
274
220
165
183
231
69
25
73, 203, 259
112
144
80, 150
155
166
45
123
233
223
134
163
66, 109, 153, 177, 244
39
168
130
89
74
66
62
207
76
17
49
190
111
123
100
260
69
132
154
10
11
195
241
201
195
110
35
119
95
65
53, 254
178, 180
9
203
47, 93
204
176
137
18
67
54, 236
154
30
48
227
251
176
128
166
153
129
97
207
95
179
175
72
59
191
29, 44
192
165
39, 42
7, 8
30
31
136, 264
255
189
186
98
73, 103
109
165
186
86
15
60
113
209
263
221
115
GRUPOS DE TRABALHOS
Maria Eunice Maciel
Maria Grázia Cardoso Cribari
Maria Inês Rauter Mancuso
Maria Juracy Filgueiras Toneli
Maria Lúcia Pupo
Maria Luisa Scardini
Maria Paula de Abreu
Maria Paula Fernandes Adinolfi
Maria Rosário Gonçalves de Carvalho
Mariana Cunha Pereira
Mariana Pamplona Ximenes Ponte
Mariana Silva Carlos
Marianna Holanda
Marilina Conceição Oliveira Bessa Serra Pinto
Marina Locchi
Marina Pereira Novo
Marina Sallovitz Zacchi
Marinalva Vilar de Lima
Mário Henrique Castro Benevides
Mário Miranda Neto
Marion Teodósio de Quadros
Marisa Dreys da Silva Xavier
Marise de Santana
Maristela de Paula Andrade
Marluce Pereira da Silva
Marta Simões Peres
Martha Regina Freitas
Martha Sales Costa
Mary Alves Mendes
Mauricio F. Boivin
Mauro Augusto Dourado Menezes
Mércia Batista
Michel Ribeiro de Melo e Silva
Michele Bezerra Couto de Lima
Miguel Arturo Chamorro Vergara
Mísia Lins Reesink
Mônica Cristina Silva Santana
Mônica Maria Gusmão Costa
Mônica Prates Conrado
Mônica Ramalho de Albuquerque
Mylene Mizrahi
Natalia Castelnuovo
Natan Ferreira de Carvalho
Nathanael Maranhão Valle
Nelson Graburn
Nilda Stecanela
Nilton Silva dos Santos
Normando Jorge de Albuquerque Melo
Norton F. Corrêa
Odair Giraldin
Odilon Rodrigues de Morais Neto
275
GRUPOS DE TRABALHOS
Olendina de C. Cavalcante
Otilia Aparecida Silva Souza
Paloma Vanderlei da Silva
Parry Scott
Patricia Christine Aqiimuk Paul
Patrícia dos Santos Begnami
Patrícia Melotto
Patrícia Navarro de Almeida Couto
Patrícia Santos Silva
Paul E. Little
Paula Abreu
Paulina Maria Caon
Paulo Rogério de Lima
Paulo Victor Leite Lopes
Pedro de Moura Ferreira
Pedro Francisco Guedes do Nascimento
Pedro Moura Ferreira
Pedro Paulo de Miranda Araújo Soares
Pedro Paulo Thiago de Mello
Pedro Rocha de Almeida e Castro
Péricles Andrade
Petrônio Domingues
Phrygia Arruda
Priscila Matta
Priscila Pinto Calaf
Priscila Santos Silva
Priscilla Barbosa da Silva
Queila de Brito Oliveira
Rafael Barros
Rafael Henrique Teixeira
Rafaelle Monteiro de Castro
Raimundo Nonato Pereira da Silva
Raphael Bispo dos Santos
Raquel Lima da Silva
Raquel Wiggers
Regina Ballmann
Regina Maria de Carvalho Erthal
Reijane Pinheiro da Silva
Renato Athia
Ricardo Álvares
Ricardo Dantas Borges Salomão
Richard Parker
Rita de Cássia Guaraná
Roberto Alves de Almeida
Roberto Lima
Roberto Marques
Rodolpho Rodrigues de Sá
Rodrigo de Azeredo Grünewald
Rodrigo Padua Rodrigues Chaves
Rodrigo Paranhos Faleiro
Rodrigo Pollari Rodrigues
276
171
67
97
20
25
145
80
237
84
116
18
176
104
76
60
206
77
40
97
82
240
265
92
234
60, 149
160
152
171
154
178
96
32
64, 211
161
117
91
162
255
7, 213
170
236
73, 259
214
228
254
113
147
14
122
124
36
196
103
201
216
84
22
21
94
144
43
240
129
102
32
16
12
22
21
95, 187
168
100
191
82
135, 178
93
44
47, 93
90
122
257
38, 133
18, 19, 29, 42, 43, 244, 247
138
250
104
91
147
143
173
225
239
62
76, 264
172
252
151
167
107
132, 137, 138
56
114
GRUPOS DE TRABALHOS
Rogério Humberto Zeferino Nascimento
Rogerio Lopes Azize
Rolf Ribeiro de Souza
Ronald Clay dos Santos Ericeira
Ronaldo Lobão
Rosalira dos Santos
Rosalira Oliveira
Rosana Eduardo da Silva Leal
Rosana Pinheiro Machado
Rosana Santos de Araújo
Rosane Guedes da Silva
Rosemere Ferreira da Silva
Rosilene Gomes Farias
Rosseline da Silva Tavares
Rubens Alves da Silva
Rui Leandro da Silva Santos
Ruy do Carmo Póvoas
Ruy Póvoas
Sabrina Souza da Silva
Salete Da Dalt
Samuel Maria de Amorim e Sá
Samuel Sá
Sandoval Villaverde Monteiro
Sandra Simone Moraes de Araújo
Sandro Guimarães de Salles
Sandro Rabelo de Freitas
Sarah Bryce
Sarah Karenine Paes Ribeiro
Sati Albuquerque Ballabio
Sebastião Genicarlos dos Santos
Selda Vale da Costa
Sérgio Ivan Gil Braga
Sidiney Menezes Gerônimo
Sidney Antonio da Silva
Simone Martins Aquilino
Simone Rosa de Oliveira
Sonia Weidner Maluf
Soraya Fleischer
Stéphanie Campos Paiva Moreira
Stephen G. Baines
Sueli Ribeiro Mota Souza
Sueli Salva
Sulivan Charles Barros
Sumaia Vieira
Sylvia Schiavo
Taís Diniz Garone
Talita Lazarin Dal’Bó
Tânia Cristina Costa Ribeiro
Tânia Elias Magno da Silva
Tânia Mara dos Santos Bernardelli
Tatiana Braga Bacal
277
GRUPOS DE TRABALHOS
Tatiana Calandrino Maranhão
Tatiane Oliveira da Cunha
Thaís Chang Waldman
Thais Cunegatto
Thaís Nascimento
Thaize Bianca Figueiredo de Souza
Themis Soares
Thereza Cristina Cardoso Menezes
Tiago Cantalice da Silva Trindade
Ugo Maia Andrade
Uliana Esteves
Ulisses Neves Rafael
Ulisses Neves Rafael
Valdonilson Barbosa dos Santos
Valéria Cristina de Paula Martins
Valéria Gomes Costa
Valéria Silva
Valmir Tibúrcio Cavalcante
Vanessa B. Vasconcelos Garcez
Vanessa dos Santos Oliveira
Vânia Fialho
Vânia Z. Cardoso
Vera Lucia Valente de Freitas
Vigna Nunes Lima
Vinícius Rodrigues Alves de Souza
Vitor Barbosa Duarte
Viviane de Oliveria Mello
Waldemir Rosa
Wallace de Deus Barbosa
Wanessa Pires Lott
Wender Silveira Freitas
Williams Souza Silva
Wilson José Ferreira de Oliveira
Wilson Rogério Penteado Júnior
Winifred Knox
Yoko Nitahara Souza
Yuri Pacheco Ávila
Zenilton Gondim Silva
278
99
71, 152
137, 138
102
155
191
104
55
79
238
83
18
18
75
64, 218
199
151
60, 183
160
262
7
110
100
177
32
186
95
219
14
153
234
40
145
67, 159
86
222
243
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