5/3/2012 Fundamentos de Materiais Poliméricos I Prof. Gustavo Baldi de Carvalho Polimerização é a reação ou conjunto de reações na qual moléculas simples reagem entre si formando uma macromolécula de alta massa molar. Durante o processo de polimerização, algumas variáveis são mais (variáveis primárias) ou menos (variáveis secundárias) importantes. Variáveis primárias nas reações de polimerização: ◦ Temperatura, pressão, tempo, presença e tipo de iniciador e agitação. Variáveis secundárias: ◦ Presença e tipo de inibidor, retardador, catalisador, controlador de massa molar e quantidade de reagentes. 1 5/3/2012 Podem ser classificados de acordo com: Número Nú de d monômeros: ô ◦ Homopolimerização: apenas 1 monômero está envolvido na polimerização ◦ Copolimerização: 2 monômeros estão envolvidos Cinética de polimerização: ◦ Polimerização em etapas (ou policondensação) ◦ Polimerização em cadeia (ou poliadição) ◦ Polimerização com abertura de anel Tipo de arranjo físico: ◦ Processo homogêneo (em massa e em solução) ◦ Processo heterogêneo (em suspensão e em emulsão) Consiste na condensação sucessiva de grupos funcionais reativos existentes nos materiais iniciais, com formação de uma macromolécula. macromolécula Exemplo: ◦ Reação de esterificação para formar um poliéster. 2 5/3/2012 Características da polimerização em etapas: ◦ Ocorre O condensação d ã sucessiva i de d grupos funcionais f i i com a eliminação li i ã de d moléculas de baixa massa molar como subprodutos (H2O, HCl, NH3 etc). ◦ Os materiais iniciais vão reagindo entre si simultaneamente, sendo que já no início da polimerização (grau de polimerização < 10), mais de 99% dos materiais iniciais já reagiram. Isto acontece devido à maior mobilidade dos materiais iniciais comparado aos grupos recém formados. ◦ A massa molecular aumenta com o tempo, pois pequenos grupos reagem com outros grupos formando moléculas maiores e que com o tempo, formam grandes estruturas (polímeros). ◦ Como os grupos funcionais são reativos entre si, na há necessidade de adição de iniciadores para dar início à reação. Fatores que afetam a polimerização em etapas: Temperatura/tempo de reação ◦ Tempo: ◦ O aumento do tempo de reação permite obter polímeros com massas molares maiores. ◦ Temperatura: ◦ O aumento da temperatura inicial produz uma taxa de reação maior devido ao fornecimento de mais energia ao sistema (portanto, um número maior de reações vence a barreira da energia de ativação da reação). ◦ Por outro lado, a longo prazo, o grau de polimerização tenderá a ser menor, pois o processo é exotérmico, deslocando o equilíbrio no sentido dos reagentes. 3 5/3/2012 Fatores que afetam a polimerização em etapas: Catalisador: ◦ O catalisador reduz as barreiras de energia de ativação, facilitando a reação. Dessa forma, se obtém uma molécula de maior massa molecular do que uma reação não catalisada. Adição não-equimolar dos materiais iniciais: ◦ Numa reação equimolar (aquela que contém o mesmo número de moléculas de cada grupo funcional), a possibilidade de cada ponta de cadeia diferente se encontrar é de aproximadamente 50%. ◦ Quando a reação não é equimolar, há excesso de um dos componentes, o que reduz a chance de grupos funcionais diferentes se encontrarem. Isto dificulta a polimerização, reduzindo sua velocidade e gerando polímeros com baixa massa molecular. Fatores que afetam a polimerização em etapas: Funcionalidade do terceiro material inicial: ◦ Para que haja polimerização é necessário que a funcionalidade dos dois materiais iniciais seja pelo menos dois (f ≥ 2). ◦ A adição de um terceiro material inicial, reativo com um dos outros dois, com funcionalidade 1 (f = 1), reduz a massa molecular final, pois todas as pontas que reagiram com este terceiro material estarão inativas. Se a adição deste material de f =1 for grande, pode ocorrer a interrupção da reação. ◦ Por outro lado, se o terceiro material tiver funcionalidade 3 (f = 3), propiciará a formação de ligações cruzadas. 4 5/3/2012 Fatores que afetam a polimerização em etapas: Término da polimerização em etapas: ◦ Adição não equimolar de reagente Quanto maior a diferença da concentração molar entre os dois materiais iniciais, maior será a probabilidade dos mesmos grupos funcionais presentes no componente em maior concentração se encontrarem, dificultando a reação de polimerização e, como conseqüência, reduzindo a massa molar final. ◦ Adição de reagente monofuncional A ponta da cadeia em que ele reagir não será mais reativa. Se for adicionada uma quantidade suficiente para que todas as pontas reajam com este componente, não haverá mais funcionalidade para permitir o crescimento da cadeia. ◦ Redução da temperatura Provoca a redução na velocidade de reação para valores tão baixos que podem ser considerados na prática como zero, resultando na interrupção da reação de polimerização. Consiste na formação de uma cadeia polimérica completa, através da instabilização da dupla ligação de um monômero e sua sucessiva reação com outras duplas ligações de outros monômeros. A equação geral é dada por: Polietileno (PE) n 5 5/3/2012 Durante a polimerização há abertura de uma dupla ligação para formação de duas ligações simples. Polietileno (PE) n Portanto, para que haja a polimerização em cadeia é necessário que exista pelo menos uma insaturação reativa na molécula. O processo é exotérmico e libera 20 kcal/mol ◦ Absorve 146 kcal/mol para ruptura da dupla ligação e libera 166 kcal/mol a cada duas ligações simples formadas. Polimerização em cadeia via radicais livres Iniciação: I i i ã ◦ A iniciação da reação se da pelo uso de iniciadores termicamente instáveis (I-I), que se decompõem termicamente em dois centros ativos (I*) OBS: a decomposição do iniciador pode se dar também através da ação de radiação (raio X, raio UV e luz visível). ◦ O radical ativo I* ataca a dupla ligação de um monômero (C=C), transferindo o centro ativo e dando início polimerização. 6 5/3/2012 Polimerização em cadeia via radicais livres Iniciação: I i i ã ◦ O iniciador mais comum utilizado é do tipo peróxido (que se decompõem termicamente). Polimerização em cadeia via radicais livres Propagação: P ã ◦ Transferência do centro ativo de monômero a monômero, com o crescimento da cadeia a uma velocidade altíssima e com baixa energia de ativação. 7 5/3/2012 Polimerização em cadeia via radicais livres Término: Té i ◦ A interrupção do crescimento da cadeia se dá pelo desaparecimento do centro ativo, que pode ser de várias maneiras dependendo do monômero e das condições de polimerização. Combinação de dois macro-radicais Desproporcionamento Transferência de cadeia Transferência para o solvente Polimerização em cadeia via radicais livres Término: Té i ◦ Combinação de dois macro-radicais Este tipo de terminação gera cadeias com uma massa molar alta, pois envolve a soma das massas molares individuais de cada cadeia radical. Sua ocorrência pode ser dificultada, ou até impedida, se houver impedimento estérico entre os radicais laterais (R) presentes nas pontas reativas dos macro macro-radicais. radicais Este impedimento será tanto mais intenso quanto mais volumosos forem os grupos laterais. Por exemplo, este mecanismo dificilmente ocorre durante a polimerização do poliestireno (PS), pois seu grupo lateral é um anel benzênico, que é muito volumoso. 8 5/3/2012 Polimerização em cadeia via radicais livres Término: Té i ◦ Desproporcionamento Ocorre transferência intermolecular de H do C-cauda de uma ponta da cadeia para o C-cabeça na ponta da outra cadeia. O mecanismo de desproporcionamento é favorecido quando o grupo lateral R é volumoso, pois este impede a aproximação p ç dos dois carbonos ativos cabeça. Esse tipo de terminação gera uma ponta com insaturação do tipo vinil terminal. Este mecanismo é comum na polimerização do PS, PMMA, que são polímeros com grupos laterais volumosos. Polimerização em cadeia via radicais livres Término: Té i ◦ Transferência de cadeia Durante o crescimento de uma cadeia, ela pode abstrair um próton (hidrogênio) de um ponto qualquer de outra cadeia, interrompendo seu crescimento. O centro ativo é transferido para o “meio” meio da cadeia polimérica polimérica, permitindo a formação de ramificações. Este mecanismo é comum durante a polimerização do polietileno de baixa densidade (LDPE), o qual emprega altas pressões, favorecendo a transferência de cadeia e gerando um polímero ramificado. 9 5/3/2012 Polimerização em cadeia via radicais livres Término: Té i ◦ Transferência para o solvente Dependendo do tipo das outras moléculas presentes no meio reacional (ex: solvente), pode haver a transferência de átomos para o centro ativo da cadeia, interrompendo seu crescimento. Principais diferenças entre polimerização em cadeia e em etapas: 10 5/3/2012 Parte-se de um monômero na forma de um anel. Através A é da d abertura b deste d anel, l tem-se a geração ã de d uma bifuncionalidade que, se reagir consigo mesma muitas vezes, formará uma cadeia polimérica. Neste tipo de polimerização, não há a formação de subprodutos durante a reação. Exemplo: ◦ Polimerização da PA 6, ou seja, da ε-caprolactama. ◦ O monômero ε-caprolactama é um anel que sofre ruptura a altas temperaturas (acima de 200°C) e na presença de uma pequena quantidade de água, que inicia a abertura dos primeiros anéis. ◦ A ruptura acontece na ligação amida (-CO-NH-) que é a ligação de nível energético mais baixo da molécula. 11 5/3/2012 Tipos de copolímeros: ◦ Aleatório ~~~~A-A-B-A-A-A-B-B-A-B-B-B-A-B-A-A~~~~ A A B A A A B B A B B B A B A A ◦ Alternado ◦ Em bloco ◦ Graftizado (ou enxertado) Durante a copolimerização natural (sem interferência externa) de dois comonômeros diferentes (M1 e M2), dependendo da reatividade g mesmo e com o outro ((k), ), há uma de cada um deles consigo tendência para a geração de copolímeros diferentes, isto é, alternado, aleatório ou em bloco. O que determina a velocidade da reação (quando a concentração dos comonômeros é igual) é o valor das constantes de reatividades (k) de cada comonômero consigo mesmo (k11 e k22) e um com o outro t (k12 e k21). ) v = kij . [Mi].[Mj] Define-se uma razão de reatividade (r) como sendo: r1 = k11/k12 e r2 = k22/k21 12 5/3/2012 Quando a constante de reatividade de um monômero consigo mesmo (k11 e k22) é menor do que com o outro (k12 e k21), a condição ç de reação ç de comonômeros iguais g é dificultada,, g gerando um copolímero alternado. r1 e r2 próximos de zero copolímero alternado O mesmo raciocínio pode ser feito para o caso contrário, ou seja, em que a preferência de reação é de um comonômero consigo mesmo, o que gera copolímeros em bloco. r1 e r2 com valores altos copolímero em bloco Quando não há uma preferência definida, são gerados copolímeros ao acaso (aleatórios). Classificação quanto ao meio em que é realizada a polimerização. ◦ Polimerização em massa Monômero é adicionado ao iniciador (meio). A reação se inicia pelo aquecimento, podendo ser verificada pelo aumento da viscosidade do meio. Reação exotérmica (20 kcal/mol), com dificuldade de controle da temperatura. ◦ Polimerização em solução Um solvente é adicionado ao meio reacional, formando uma solução (monômero + iiniciador i i d + solvente). l ) M lh f ê i d l e controle l d Melhora transferência de calor da temperatura. Industrialmente este é o arranjo físico usado para a polimerização das poliolefinas. 13 5/3/2012 Classificação quanto ao meio em que é realizada a polimerização. ◦ Polimerização em suspensão Solvente é substituído por água. O iniciador é previamente dissolvido no monômero e esta mistura é adicionada à água. Um agente de suspensão também é adicionado e inicia-se a agitação. O monômero é então disperso na forma de pequenas gotas por todo o volume, que são estabilizadas pela ação do agente de suspensão que envolve cada gota. Com o aumento da temperatura, tem-se o início da polimerização em cada uma das gotas. Exemplo: S-PVC ◦ Polimerização em emulsão Uma outra maneira de manter um líquido orgânico (monômero) disperso em água ocorre com o uso de um agente emulsificante (“sabão”). Sob forte agitação e aquecimento, a polimerização acontece, com formação de um polímero em pó muito fino. Exemplo: E-PVC S-PVC E-PVC 14 5/3/2012 Degradação é o conjunto de reações que envolvem quebra de ligações primárias da cadeia principal do polímero e formação de outras, outras com consequente mudança da estrutura química e redução da massa molar. Normalmente implica em mudanças das propriedades físicoquímicas dos polímeros. Os principais tipos são: li i ã ◦ D Despolimerização ◦ Degradação térmica ◦ Degradação por ataque a grupos laterais Despolimerização ◦ Caminho inverso da polimerização (partindo-se do polímero, recupera-se o monômero). ◦ Poucos são os polímeros que permitem a regeneração do monômero desta forma, se aplicando quase que exclusivamente para o PMMA. ◦ PMMA quando aquecido a altas temperaturas (~280°C), depolimeriza, produzindo o monômero de MMA. 15 5/3/2012 Degradação térmica ◦ Cadeia principal de um heteropolímero tiver alguma ligação química com energia de ligação abaixo da ligação covalente simples C C-C C (83 kcal/mol), esta pode ser instabilizada termicamente e atacada por uma molécula de baixa massa molar (oxigênio, água, etc). ◦ Esse ataque normalmente gera a quebra (cisão) da cadeia principal neste ponto. Exemplos: hidrólise da PA e poliésteres (PET, PBT), degradação termo-oxidativa do PP (carbono terciário), etc. Hidrólise da PA (ligação C-N 70 kcal/mol) + Degradação por ataque a grupos laterais ◦ Polímeros com grupos laterais com energia de ligação abaixo da ligação simples C-C, podem permitir a sua retirada, com a conseqüente mudança da estrutura química do polímero. Exemplo: PVC, onde HCI é eliminado, deixando uma dupla ligação em seu lugar. O encadeamento de reações catalisadas pela presença do HCl resulta em uma sequência de duplas ligações na cadeia do PVC, denominada sequência poliênica. Cadeias poliméricas contendo sequências poliênicas de 7 ou mais duplas ligações conjugadas absorvem determinados comprimentos de onda da luz visível, o que resulta no amarelamento do PVC. Com a continuação do processo de degradação do PVC, sua coloração progressivamente se altera de incolor para amarelo claro, amarelo, laranja, vermelho, marrom e por fim preto, conjuntamente à liberação de HCl. 16 5/3/2012 Degradação por ataque a grupos laterais ◦ PVC, onde HCI é eliminado, deixando uma dupla ligação em seu lugar. 17