Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI
ISSN 1809-1636
O CONHECIMENTO DO HOMEM A RESPEITO DO AUTO-CUIDADO:
POTENCIALIZANDO ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DE DOENÇAS E AGRAVOS À
SAÚDE1
The man’s knowledge about the self care: powering strategies for prevention of diseases and health problems
Grazieli da Silva CARDOSO2
Carmen Lucia ZUSE3
RESUMO
O presente estudo parte do Princípio da Universalidade da Constituição Federal, que ressalta que a
saúde é um direito de todos e que, conseqüentemente, qualquer pessoa independente de sexo, faixa
etária ou nacionalidade possui o direito de usufruir os serviços de saúde. Porém, mesmo com esse
direito garantido, a população do sexo masculino pouco adere ou possui resistência aos programas
existentes; além disso, os estudos sobre a saúde do homem são temas freqüentemente discutidos
entre os profissionais de saúde e pouco divulgados na mídia. O objetivo é identificar o
conhecimento do homem acerca do auto-cuidado, auxiliando na prevenção de doenças e agravos,
buscando a potencialização das estratégias de saúde coletiva, em uma unidade militar no interior do
estado do Rio Grande do Sul. Para coleta de dados utilizou-se entrevista com perguntas abertas e
uso de gravador. O público-alvo foi constituído por sete policiais bombeiros militares, com faixa
etária entre 23 e 46 anos, atuantes numa Unidade do Corpo de Bombeiros em um município da
região noroeste do RS. A análise dos resultados foi realizada através do discurso do sujeito coletivo.
Por último são sugeridas algumas estratégias para a conscientização e posterior adesão ao autocuidado por parte da população do sexo masculino.
Palavras-chave: Auto-cuidado; Saúde do homem; Educação em saúde.
ABSTRACT
The present study starts from the universality principle of the Federal Constitution which says that
health is a right for all, therefore any person regardless of sex, age or nationality has the right to
enjoy health services. But even with that right guaranteed to the male population does not adhere or
have resistance to existing programs, in addition, studies on human health issues are frequently
discussed between health professionals and little publicized in the media. The objective is to
identify the man's knowledge about the self care care, assisting in the prevention of diseases and
disorders, and seeking to maximize the public health strategies in a military unit in the state of Rio
Grande do Sul. For data collection makes use of interview with open questions and use the recorder.
The target audience were seven military police firefighters, aged between 23 and 46 years, working
in a unit of the Fire Department in a municipality of northwestern region of RS. The analysis was
performed by a Collective Subject's Discourse. Finally some strategies are suggested for further
awareness and adherence to the self care from the male population.
1
Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões – URI, Campus Santo Ângelo, Departamento de Ciências da Saúde, como requisito parcial para obtenção
do título de Enfermeiro.
2
Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI,
Campus Santo Ângelo/RS; [email protected].
3
Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; orientadora e professora do
Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus Santo
Ângelo/RS. Enfermeira da Fundação de Atendimento Sócio Educativo do RS – FASE; [email protected].
Vivências. Vol.5, N.8: p.42-52, Outubro/2009
42
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Key words: Self care; Men’s health; Health education.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No decorrer de seu aprendizado no curso
de enfermagem a pesquisadora deparou-se com
uma incômoda observação, na qual os homens
eram excluídos dos programas de saúde devido
a estratificação da população em camadas e
conseqüentemente no cuidado, pois o Ministério
da Saúde prevê cuidados com a saúde da
mulher, idoso, criança, saúde bucal; mas e o
homem?
Nesse mesmo período, a pesquisadora
também ingressou em uma unidade do Corpo de
Bombeiros da Brigada Militar e pôde observar a
necessidade da promoção e adesão ao autocuidado por parte da população masculina, com
intuito de prevenir doenças e agravos
constantes. Sendo a saúde um direito de todos e
dever do Estado assegurado pela Constituição
Federal, o profissional de enfermagem deve
buscar estratégias para proporcionar um
atendimento de qualidade fundamentado nos
princípios do sistema de saúde vigente (Sistema
Único de Saúde - SUS), o qual nos traz a
universalidade,
integralidade,
eqüidade,
hierarquização e regionalização e a participação
da comunidade (BRASIL, 2005).
O princípio da universalidade ressalta que
a saúde é um direito de todos e,
conseqüentemente
qualquer
pessoa
independente de sexo, faixa etária ou
nacionalidade possui o direito de usufruir dos
serviços de saúde. Porém, segundo Gomes
(2008), mesmo com esse direito garantido, a
população do sexo masculino não adere ou
possui resistência aos poucos programas
existentes. Os estudos sobre a saúde do homem
são temas freqüentemente discutidos entre os
profissionais de saúde e pouco divulgados na
mídia. Percebe-se que vem sendo implementada
a Política Estadual de Saúde do Homem, mas os
programas existentes ainda são muito tímidos
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
RIO GRANDE DO SUL, 2009).
Na perspectiva de potencializar estratégias
que fortaleçam a adesão do homem aos
programas de saúde, busca-se descobrir o
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conhecimento do homem acerca do autocuidado. Sem esse entendimento, a eficácia dos
programas de saúde elaborados pode não
resultar positivamente.
Pode-se perceber, assim, que as
informações de saúde repassadas não estão
sendo assimiladas por este grupo e isso é
extremamente preocupante. Schraiber, Gomes e
Couto (2005) ressaltam que o homem em sua
natureza
possui
diversos
tipos
de
“masculinidades”, dentro delas destaca-se a
masculinidade hegemônica, a qual gera
comportamentos danosos à saúde. Essa questão
sendo estudada posteriormente pode vir a ser
uma maneira de intervenção eficaz.
Inserida neste contexto está a relevância
deste estudo, o qual provocou grande interesse
da pesquisadora em tentar descobrir o que o
homem conhece sobre o auto-cuidado e quão
importante seria o papel da enfermagem
manejando ações conforme as necessidades dos
sujeitos. Neste estudo busca-se obter uma
possível resposta dos informantes e a partir das
respostas propor estratégias de saúde para o
sexo masculino.
Sendo assim, entende-se por auto-cuidado
o comportamento do indivíduo que atua de
maneira autônoma para estabelecer e manter a
própria saúde, prevenir e lidar com as doenças.
O auto-cuidado inclui cuidados com a higiene
(geral e pessoal), a alimentação (tipo e
qualidade dos alimentos ingeridos), estilos de
vida (atividades desportivas, lazer, etc.), fatores
ambientais (condições de vida, hábitos sociais,
etc.), fatores sócio-econômicos (níveis de renda,
níveis culturais, etc.). Assim, se houvesse a
internalização do auto-cuidado por parte do
sexo masculino, a promoção da saúde seria
efetiva e conseqüentemente reduziria os índices
altíssimos de morbimortalidade neste sexo
(SCHRAIBER, GOMES E COUTO, 2005).
Na questão da competência profissional
do enfermeiro destaca-se a necessidade de que
este conheça profundamente sua área de atuação
profissional e que deva ter interesse pelo ser
humano e pelos aspectos sociais, numa
abordagem holística, atuando de forma a gerar
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novos conhecimentos, os quais devem
contribuir para a qualificação das ações e do
cuidado de enfermagem (VANZYN & NERY,
1996). Compreender essa realidade e entender
seus desdobramentos específicos para o trabalho
e para a educação, no e para o setor saúde, é um
desafio para a conformação de papéis e ações no
espaço de trabalho e de capacitação profissional
do setor, que transcende saídas normativas ou
mesmo
processos
de
auto-regulação
profissional.
A enfermagem humanística vai viabilizar
o encontro, possibilitar o diálogo que vai
proporcionar o encontrar-se, o relacionar-se, e o
bem-estar, o estar melhor no mundo, colocando
o enfermeiro numa posição de agente
transformador, comprometendo-se em alterar
fatores sociais que têm gerado uma sociedade de
excluídos. Seguindo a Teoria Humanística de
Paterson & Zderad, os seres humanos são
capazes de escolhas responsáveis que vão lhe
proporcionar vir-a-ser, e a interdependência, ou
seja, a troca com outros seres humanos é própria
à condição do ser humano (GEORGE, 1993).
As articulações entre o processo de
formação de profissionais e trabalhadores de
saúde e a necessidade de produção de serviços
do setor expressam particularidades entre
educação e trabalho na sociedade. Enfim,
equipes transdisciplinares de saúde devem estar
qualificadas para proporcionar consciência em
saúde, resultando em uma sociedade
comprometida com seu próprio bem-estar. A
educação em saúde é dirigida para atuar sobre o
conhecimento dos envolvidos, para que eles
desenvolvam juízo crítico e capacidade de
intervenção sobre suas vidas e sobre o ambiente
com o qual interagem e assim criarem condições
para se apropriarem de sua própria existência
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1982).
2.
TRAJETÓRIA
METODOLÓGICA
TEÓRICO-
O início desta pesquisa partiu da
aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP-SAN), do Campus de Santo
Ângelo, pelo consentimento livre e esclarecido,
conforme normativa federal, envolvendo
Cardoso, G.S. e Zuse, C.L.
pesquisa com seres humanos, regido pela
Portaria 196/96. Previamente, os participantes
receberam esclarecimentos a respeito da
metodologia, conteúdo, garantia do sigilo e
anonimato do estudo a ser desenvolvido, bem
como sobre a livre opção de participar ou
cancelar sua permissão sem penalidade alguma,
autorizando transcrições literais dos diálogos
gravados, observando a privacidade individual e
coletiva quanto aos dados confidenciais
envolvidos no estudo. Além de proporcionarlhes as condições de acompanhamento pela
certificação do retorno dos resultados obtidos
em todas as etapas do estudo (BRASIL, 1996).
O estudo teve uma abordagem qualitativa,
conforme Flick (2004), pois buscou observar de
diferentes
perspectivas
o
objeto,
sua
singularidade e sua subjetividade. Este tipo de
pesquisa não se deteve apenas em um conceito
teórico e sim, requereu variadas abordagens
para a devida caracterização das discussões e
fundamentação da prática da pesquisa. As
entrevistas exigiram um envolvimento maior e
ampliaram os laços entre entrevistado e
pesquisador. O desenvolvimento humano é
assinalado pelas aproximações e conflitos entre
os diversos modos de organizações sociais, das
formas de assimilação e modificação de bens
naturais, da compreensão e modo de expressar a
realidade (GARRETT, 1991)
A população em estudo foi composta por
07 indivíduos do sexo masculino, com faixa
etária entre 23 e 48 anos, bombeiros da Brigada
Militar de uma cidade no interior do Rio Grande
do Sul. Para a seleção dos participantes, após a
aprovação do projeto pelo Comandante do
Corpo de Bombeiros, foi realizado um
levantamento do contingente de todo o efetivo
da referida Unidade Militar e suas respectivas
datas de nascimento. Foram então, estabelecidos
sete
grupos
(Apêndice-D),
formando,
aproximadamente a cada quatro anos, um grupo.
De cada grupo formado realizou-se um sorteio
com a participação do Comandante do Socorro
(pessoa idônea) e a Guarnição de Serviço do dia
(testemunhas), onde foi extraído um nome de
cada grupo totalizando sete participantes.
No decorrer da mesma semana foi
realizado contato com cada participante,
fornecido informações e disponibilizada uma
44
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reprodução do presente projeto de pesquisa na
Unidade Militar. Após a confirmação ocorreu o
agendamento das entrevistas. Houve duas
desistências, sendo refeito o sorteio dos
respectivos grupos com o mesmo efetivo de
serviço. Assim, posterior ao agendamento, as
entrevistas foram realizadas entre os dias 05 e
14 do mês de abril do presente ano, com
utilização de gravador.
Verificou-se a apreensão da maioria dos
participantes quanto a qualidade das respostas,
pois desejavam fornecer explicações científicas
e ressaltavam não ter estudado o tema. Após o
esclarecimento da pesquisadora, adquiriram
confiança e tranqüilidade. No que diz respeito à
gravação de conversas o grau de revelação está
ligado diretamente, devido à perda do controle
antecipado relacionado ao relato da própria vida
cotidiana (FLICK, 2004).
Para garantia do sigilo e anonimato dos
participantes, conforme a normativa federal
explicitada acima, a cada integrante do efetivo
do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar foi
denominado um codinome.
3. OS OBJETIVOS
O objetivo geral da pesquisa era
identificar o conhecimento do homem acerca do
auto-cuidado, auxiliando na prevenção de
doenças e agravos, buscando a potencialização
das estratégias de saúde coletiva em uma
Unidade Militar no interior do Estado do Rio
Grande do Sul.
Dentre os objetivos específicos, destacamse:
• Definir a faixa etária da população em
estudo;
• descrever
o
conhecimento
do
informante a respeito do auto-cuidado;
• identificar se o informante realiza
ações preventivas de saúde;
• definir as possíveis ações preventivas
realizadas pelos informantes para a
promoção do auto-cuidado;
• propor estratégias para programar
ações quanto à saúde da população em
estudo;
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•
listar a ocorrência de doenças ou
agravos mais incidentes na população
em estudo.
4. CENÁRIOS DA PESQUISA
O Local
A Instituição escolhida para concretização
da referida pesquisa é uma Unidade do Corpo
de Bombeiros da Brigada Militar, localizada em
uma cidade no interior do Estado do Rio Grande
do Sul. A Brigada Militar do Estado do Rio
Grande do Sul, instituição permanente e regular,
tem sua missão, valores e deveres descritos de
acordo com o que dispõem o inciso V e os
parágrafos 5º e 6º do artigo 144 da Constituição
Federal e dos artigos 129 a 132 da Constituição
do Estado. Além de ser organizada com base na
hierarquia e na disciplina, nos termos da Lei
10.991, de 18 de agosto de 1997, e possuir um
rigoroso Regimento Interno.
Cabe à autora da pesquisa ressaltar o art.
130 o qual dispõe que as atividades de
prevenção e combate de incêndios, as buscas e
salvamento, e a execução de atividades de
defesa civil competem à Brigada Militar através
do Corpo de Bombeiros que a integra. Apenas
cinco Estados no Brasil mantém essa
dependência entre Corpo de Bombeiros e
Brigada Militar, enquanto vinte e dois possuem
missão, valores, características, inclusive
remuneração,
independentes.
O
desenvolvimento humano é assinalado pelas
aproximações e conflitos entre os diversos
modos de organizações sociais, das formas de
assimilação e modificação de bens naturais, da
compreensão e modo de expressar a realidade.
Sujeitos da Pesquisa
Para ingressar na Corporação, o Policial
Bombeiro deve preencher todos os requisitos
necessários: ter no mínimo dezoito anos,
exames de saúde, testes físicos e psicológicos e
investigação da vida pregressa. Após a
aprovação no concurso público é transferido
para a região para qual se inscreveu, podendo
sofrer alterações. Ocupa a graduação de soldado
45
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ou soldado temporário, aquele que realizou o
concurso no nível de Ensino Médio,
dependendo do edital. Oficial de Saúde é o
sujeito habilitado com registro na respectiva
área em que se graduou, geralmente é designado
para trabalhar nos hospitais da Brigada Militar.
Também pode obter o cargo de Oficial o
graduado em direito aprovado por processo
seletivo no nível de Ensino Superior. Além dos
processos seletivos para progredir na carreira
militar é válido o tempo de serviço e a
aprovação em concursos internos. A hierarquia
militar é exercida através de postos (oficiais) e
graduações (praças) em 6 níveis de funções
composta respectivamente por: aluno soldado,
soldado, 3º, 2º e 1º sargento (praças), aspirante,
2º e 1º tenente; Capitão, Major, TenenteCoronel e Coronel (oficiais).
O Comandante Geral da Polícia ou do
Corpo de Bombeiros Militar é escolhido pelo
Governador do Estado ou do Distrito Federal,
dentre os oficiais do posto de Coronel. A função
de Subcomandante Geral também é exercida por
um oficial do posto de Coronel e a ele incumbe
mais outra tarefa, a de exercer a função de
Chefe do Estado Maior Geral, órgão superior na
hierarquia da instituição responsável por
assessorar o Comandante Geral. Outra função
importante exercida pelo posto de Coronel é a
do Chefe de Gabinete Militar, que além de
responsável direto pela segurança do
governador, é de grande influência política para
a instituição, pois auxilia o governador na
tomada de decisões sobre o destino da
corporação.
Na Unidade Militar em estudo, o
Comando Regional do Corpo de Bombeiros
(CRB) é de responsabilidade de um Major e o
Comando do Corpo de Bombeiros (CCB), desta
unidade, é de responsabilidade de um Capitão.
Sendo que a cada dia, pela escala de 12 horas de
serviço por 36 horas de folga, permanece no
Quartel de Bombeiros a Guarnição de Serviço
(GU). A GU é composta geralmente por: um
sargento, denominado Comandante de Socorro;
um SOP (sala de operações-telefonista); dois
Motoristas (viatura pesada – M1 e viatura de
emergência - MR); Chefe de Linha (C1) e
Auxiliar de Linha (A1) que acompanham o M1;
Socorrista de Resgate e algumas vezes Auxiliar
Cardoso, G.S. e Zuse, C.L.
de Socorrista os quais acompanham o MR,
totalizando de sete a oito militares por
guarnição.
Nesta corporação o efetivo totaliza em 42
militares, com idades que variam entre vinte e
dois a cinqüenta anos, devido ao Comando
Regional ser adstrito ao Corpo de Bombeiros.
Assim, mesmo os militares que possuem
funções e horários administrativos, auxiliam as
guarnições em horas extras.
5. INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS
PARA COLETA DE DADOS
Para a coleta de dados foi elaborado um
roteiro de entrevista semi-estruturada, com
perguntas abertas, gravadas com a devida
autorização do informante. Segundo Flick
(2004), a entrevista semi-estruturada é
elaborada com um roteiro sem respostas
prefixadas, assim o informante pode expressar
livremente sua opinião sobre o assunto referido
pelo pesquisador. O roteiro de entrevista é um
instrumento orientador e não um questionário
que pressupõe hipóteses, mas sim um facilitador
da comunicação.
6. ANÁLISE E PROCESSAMENTO DOS
DADOS
Para interpretação dos resultados utilizouse a técnica de Análise de Discurso. Em análise
de discurso (AD), o termo corpus define o
modelo teórico escolhido para efetuá-la. Esta
forma de análise nasceu com Michel Pêcheux na
década de 60 na França, e tem por proposta
realizar uma reflexão sobre as condições de
produção e apreensão dos significados de textos
produzidos nos mais distintos campos.
(LEFRÈVE & LEFRÈVE, 2005).
Nesse tipo de análise existem várias
formas de condução ou modelos teóricos
possíveis para desenvolver uma análise de
discurso. O modelo adotado nesta pesquisa é o
Discurso do Sujeito Coletivo- DSC.
Entendendo o DSC
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O DSC, enquanto técnica de pesquisa
qualitativa, é um procedimento de tabulação de
depoimentos verbais que consiste basicamente
em analisar o material coletado de entrevistas ou
documentos, extraindo-se deste material as
Idéias Centrais, as Expressões-Chave, a
Ancoragem e finalmente os Discursos
Individuais. Estes serão a base dos discursos
coletivos, ou discursos-síntese, que estarão na
forma de enunciados os quais fornecerão através
das palavras escritas ou depoimentos as
respostas propostas nos objetivos.
Os DSC – que podem ser tanto das Idéias
Centrais quanto das Ancoragens - podem ser
compostos de um ou mais depoimentos que
apresentam um sentido singular que, sob uma
forma discursiva, refletem os pensamentos e os
valores associados a um dado tema, presentes
numa formação sócio-cultural num dado
momento histórico.
Os instrumentos básicos do Discurso do
Sujeito Coletivo são: Idéia Central, ExpressãoChave, Ancoragem e Discurso do Sujeito
Coletivo (Apêndice-E). Estes podem ser
definidos sinteticamente como:
• A Idéia Central (IC): é um nome ou
expressão lingüística que revela e
descreve da maneira mais sintética,
precisa e fidedigna possível o sentido
das afirmações específicas presentes
em cada um dos discursos analisados.
É importante assinalar que a IC não é
uma interpretação, mas uma descrição
do sentido de um depoimento ou de
um conjunto de depoimentos.
• As Expressões-Chave (ECH) são
pedaços, trechos ou transcrições
literais do discurso, que devem ser
sublinhados, iluminados, coloridos,
pelo pesquisador, e que revelam a
essência do depoimento ou a base que
gerou o mesmo. A esta base
denominamos de Ancoragem (AC).
• O Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC), enquanto figura metodológica
é um discurso-síntese, redigido na
primeira pessoa do singular e
elaborado a partir das idéias centrais,
expressões-chave
e
ancoragens,
Vivências. Vol.5, N.8: p.42-52, Outubro/2009
compondo a soma das idéias e da base
contextual do discurso elaborado.
7. COMPREENSÃO DOS DADOS
Os Discursos
Os discursos foram construídos a partir da
seleção e processamento das respostas de todos
os participantes obtidas pelo roteiro de
entrevista. Selecionando e categorizando as
expressões-chave, as quais respondiam aos
questionamentos. Como resultado final pôde-se
construir o DSC, atendendo os objetivos da
pesquisa.
Descrevendo o conhecimento do homem a
respeito do auto-cuidado
Em relação ao conhecimento dos sujeitos
do estudo a respeito do auto-cuidado pôde-se
observar que existe uma idéia correta sobre o
assunto embora não haja uma definição exata ou
uma conceituação explícita. Conforme o DSC 1
abaixo apresentado.
IDÉIA CENTRAL: Prevenção é Importante
DSC 1:
“... É mais fácil prevenir, é muito importante a
questão do auto-cuidado pra manutenção da
saúde. Todo mundo deveria fazer alguns
exames, pra saber como que ta o seu organismo
até evita fica doente, uma maneira de prevenir
várias doenças novas e até muito graves e até
letais, agravar o problema inicial. Muito
melhor que futuramente acabar sofrendo de um
mal maior...”
O conceito de auto-cuidado incorpora um
conjunto de medidas a serem tomadas
diariamente e individualmente em busca de um
bem-estar físico, emocional, cultural e sócioeconômico, a fim de manter a própria saúde,
prevenir e lidar com as doenças. Conceito pode
ser definido como algo concebido na mente,
tanto de maneira empírica quanto abstrata.
Assim de certo modo nesse discurso obtivemos
o conceito coletivo de auto-cuidado (GEORGE,
2000).
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Ao utilizar a teoria humanística na prática
de enfermagem verifica-se que as pessoas
necessitam de informações e opções enfim, de
oportunidades para fazerem suas próprias
escolhas. Cabe a enfermagem auxiliar para que
estas escolhas sejam feitas da maneira mais
responsável possível e neste caso, orientar ações
que visem o desenvolvimento do bem-estar e
promoção da saúde. Este é compreendido como
um processo que permite ao indivíduo e aos
grupos assumirem o controle de sua própria
saúde mediante ações educativas. (NERY,
1994).
Sugestões de estratégias para adesão do
homem ás ações preventivas
Com intuito de realizar uma prática de
enfermagem
humanizada
observando
a
perspectiva de mundo dos sujeitos em estudo, e
em resposta a uma necessidade percebida
relacionada ao perfil epidemiológico, que consta
uma maior mortalidade masculina em todas as
idades, o que confirma o descaso por parte deste
sexo no que tange os assuntos sobre saúde, os
participantes foram levados a refletir sobre
quais estratégias atrairiam sua atenção para o
comprometimento com a saúde.
IDÉIA CENTRAL: Abordagem Direta
DSC 2:
“... Fazendo uma abordagem mais próxima,
pelo homem, nos locais de trabalho, nos
quartéis onde têm grandes concentrações
masculinas, acho que vai tê o resultado
desejado. Esclarecendo os benefícios de uma
ação preventiva dentro do trabalho, porque é
onde o pessoal vem se preocupar com a
saúde...”
Como resultado desta reflexão fica
estabelecido a necessidade de realização de
educação em saúde nos locais de trabalho,
evidenciada pela expressão “abordagem direta”.
Reconhecer no outro a qualidade de sujeito
enquanto ser racional é reconhecer-lhe o direito
a educação. Porque apenas a educação lhe
permite evoluir. (CANIVEZ, 1991).
Educação
é
a
articulação
de
conhecimentos,
atitudes,
aptidões,
Cardoso, G.S. e Zuse, C.L.
comportamentos e práticas pessoais que possam
ser aplicados e compartilhados com a sociedade
em geral. Nessa perspectiva, o processo
educativo favorece o desenvolvimento da
autonomia e conseqüentemente à adesão ao
auto-cuidado ao mesmo tempo em que atende a
objetivos sociais (BRASIL, 2009).
Naturalmente, a educação para a Saúde
não cumpre o papel de substituir as mudanças
estruturais da sociedade, necessárias para a
garantia da qualidade de vida e saúde, mas pode
contribuir decisivamente para sua efetivação.
Pois a maioria das doenças é gerada de acordo
com o tipo de vida que as pessoas levam. É
importante conhecer sobre as doenças para
saber modificar a maneira de viver.
IDÉIA CENTRAL: Campanhas na Mídia no
Horário de Esportes
DSC 3:
“... Na verdade eu não vejo na mídia, o
Ministério da saúde deveria investir nas
campanhas com o homem e a secretaria ter um
tratamento mais próximo aos homens com
palestras e campanhas. O ideal seria uma
divulgação na rede televisada, em um dos
horários nobres que é um dos horários que os
homens geralmente assistem, tão mais
acostumado, só assiste o futebol...”
Comparando a população masculina com
a feminina, a resposta aos programas e
campanhas de câncer de colo de útero e mamas
e quanto ao câncer de próstata, por exemplo, os
homens não se mostram sensíveis a tal trabalho
educativo. Em contrapartida ao analisar o DSC
3, encontra-se a necessidade de elaborar
campanhas direcionadas ao público masculino
na mídia, porém em horário condizente com o
estilo de vida da população masculina brasileira,
por exemplo, no intervalo dos jogos
futebolísticos.
Listando doenças e agravos mais incidentes na
população em estudo
Este tópico está centrado em um exemplo,
mostrando como foi sendo categorizadas e
classificadas todas as falas dos informantes.
Considerando o tipo de questionamento e as
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respostas dadas, utilizaram-se as Expressõeschave.
Muitas vezes os indivíduos relacionam as
representações de doença com os usos sociais de
seu corpo em estado normal. Assim, estar
doente implica em qualquer alteração na
qualidade de vida, como por exemplo, não
conseguir trabalhar, dormir ou realizar qualquer
outra atividade a que está acostumado
normalmente a fazer (ALVES, 1994).
Na população em estudo, observa-se
conforme o quadro abaixo, que a incidência das
doenças mais graves pode estar relacionada
diretamente com a profissão exercida na qual
utilizam força. Pois herniação é descrita como
uma protusão anormal do tecido através de um
defeito ou abertura natural a qual pode ser
agravada por ações, no caso do disco lombar,
que aumentem a pressão do líquido
raquimedular, como por exemplo, o esforço e
levantamento de peso (BRUNNER &
SUDDARTH, 2005).
Expressões chaves
Já tive era mais um agravo, mas eu resisti fui ao
médico e então diagnosticou uma hérnia de
disco;
já tive um agravo agudo, hérnia na virilha, surgiu
e já tive que operar;
um problema de resfriado, dor de cabeça,
enxaqueca;
Sim, resfriado;
Só resfriados
Eu tive gripe.
Quadro 01
Fonte: autora (2009)
Confirmando a existência da questão de
gênero, no entendimento das barreiras culturais
dos homens, refletir sobre gênero é uma questão
muito complexa, contudo no que se refere à
masculinidade o sentido é de um conjunto de
atributos, valores, funções e condutas a serem
seguidos pelo ser homem (GOMES, 2008).
Vivências. Vol.5, N.8: p.42-52, Outubro/2009
Os DSCs 5 e 6 apontam o modelo de
masculinidade hegemônica, na qual o homem
deve
ter
valores
como
coragem,
invulnerabilidade, resistência, potência, entre
outras qualidades. O estudo da saúde do
homem, mais profundamente, serve não só para
discutir
o
perfil
epidemiológico
da
morbimortalidade masculina, mas também para
discutir aspectos culturais que comprometem
sua saúde.
IDÉIA CENTRAL: Negação
DSC 5:
“... Nunca tive um agravo. Só resfriados, mas
ainda assim é difícil eu fica resfriado, esse tipo
de coisa assim crônico, não...”
IDÉIA CENTRAL: Resistência
DSC 6:
“... Eram apenas simples dores nas pernas
demorei meses pra i ver, fui dexando me vi
impossibilitado de fazer meu trabalho
normalmente depois de dois meses é que eu fui
ao médico. Tentei vive, mas daí vi que não tinha
como. O homem tem esse lado super herói que
não será afetado por nada, pra mim faze uma
série de exames, só quando to doente mesmo. O
homem, né, pela cultura dele tem uma certa
resistência a aderir o cuidado, não dá muita
bola pra essas coisas. Essa parte da saúde tem
muita gente que não se interessa,
principalmente os homens...”
Muitos estudos demonstram que os
homens cuidam pouco de sua saúde por diversos
motivos, dentre eles o de que os homens
costumam ser vistos como fortes e invencíveis
por isso só buscam ajuda quando os problemas
se agravam ou quando não conseguem mais
trabalhar, o que foi confirmado no DSC 6.
Identificando e definindo as ações preventivas
e curativas realizadas pelos informantes para a
promoção do auto-cuidado
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ISSN 1809-1636
Expressões-chave:
Medidas Preventivas
x
Medidas Curativas
Quadro 02
Fonte: a autora (2009)
Como se pôde observar através das
expressões-chave, a questão da prevenção ainda
gera dúvidas por parte da população em estudo,
pois ao serem questionados quanto às medidas
preventivas, muitos sugeriram a automedicação
e a utilização da medicina popular. Embora as
pesquisas demonstrem vários benefícios
trazidos pelo uso de chás e ervas, deve-se
possuir um conhecimento adequado para que
não tenha efeito contrário (VASCONCELOS,
1998).
Pelas ações preventivas citadas nas
expressões-chave obtém-se o conceito de autocuidado intrínseco nos participantes. Com a
realização de exercícios físicos, cuidados com a
alimentação,
com
ergonometria
e
principalmente, o que não foi citado, mas é de
fundamental importância, a realização de
atividades de lazer. Assim a pessoa tende a
melhorar sua qualidade de vida potencialmente.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se que através desta pesquisa
significativas descobertas a respeito do
conhecimento do homem sobre o auto-cuidado
surgiram. Descobertas essas que surpreenderam
Cardoso, G.S. e Zuse, C.L.
a pesquisadora, como exemplo pode-se citar a
verificação da necessidade de educação em
saúde no local de trabalho por parte da
população masculina e também as frustradas
tentativas de demonstrar a invulnerabilidade
masculina caracterizando o sentimento de
negação frente à doença.
Embora estivesse, na maioria das vezes,
presente o medo e o receio por parte dos
participantes em proferir as respostas, sendo
esta a maior dificuldade encontrada pela
pesquisadora, foi possível a identificação de
todos os objetivos previamente designados e
confirmou-se a necessidade de não haver uma
conclusão para esta discussão. Pois se faz
necessário a abertura de muito diálogo para
escolher uma melhor ação para determinado
momento, criando um processo contínuo de
ação e reavaliação que nos permita ir
reavaliando novas ações.
Além das sugestões para adesão do
homem ao auto-cuidado, como a educação em
saúde no local de trabalho e o incentivo de
programas direcionados à população masculina
nos horários de esportes, a pesquisadora ressalta
a importância da divulgação de orientações para
a saúde via rádio. Pois segundo estudos, o rádio
é um meio de comunicação em massa de grande
penetração junto das famílias de regiões rurais e
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das periferias das cidades. O qual tem a
oportunidade de abordar de maneira profunda os
diversos
problemas
enfrentados
pela
comunidade, suas causas e possíveis soluções.
O que não se deve deixar acontecer é que essas
ações sejam dirigidas de “cima para baixo”, mas
sim executadas e planejadas em conjunto com
os grupos populares.
Assim como prevê a prática da
enfermagem humanística, a qualidade de ser
aberto, receptivo, pronto e disponível para outra
pessoa de maneira recíproca é a presença. O
homem necessita da presença de alguém que
através do diálogo propicie a solução para os
problemas a serem enfrentados. E a enfermagem
implica neste tipo especial de encontro entre as
pessoas, em resposta a uma necessidade
percebida.
Em contrapartida sabe-se que o
significado de cada ação depende do momento
em que ela é realizada. Podendo uma mesma
ação causar alienação ou conscientização,
libertação ou a criação de uma forte relação de
dependência. Necessita-se urgente aprender a
ler a realidade, pois o que parece ser solução em
determinada situação pode não ser em outro
momento. Por isso deve-se relembrar que a
colaboração do profissional em saúde é ajudar a
compreender as razões do que está acontecendo
e fornecer auxilio para a modificação desta
realidade.
Contudo é desestimulante o fato de os
profissionais de saúde serem trabalhadores
assalariados os quais se submetem a normas e
limites impostos pelas instituições na qual estão
dependentes, além da dominação do poder
econômico. Porém deve-se acreditar na
educação popular que incentive a melhoria das
condições de saúde, pois autoconhecimento é o
alicerce e o caminho para a preocupação e
aquisição de vontade para enfim obter a
realização do auto-cuidado nos diversos
segmentos populacionais, incluído a população
masculina.
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