Efeito da temperatura retal e temperatura escrotal sobre a qualidade espermática em ovinos1
Joelma Vasconcelos Celestino da Silva2, Marciane da Silva Maia3, Carlos Eduardo Bezerra de Moura4,
Iralice Montenegro de Medeiros5, Cláudio Adriano C. de Lima6, Vicente Severiano da Câmara Filho7
1
Parte da monografia da primeira autora
Graduanda em Zootecnia, UFRN, Natal-RN. E-mail: [email protected]
3
Pesquisadora Embrapa/Emparn, Natal-RN. E-mail: [email protected]
4
Prof. Adjunto, Depto de Morfofisiologia, UFRN, Natal-RN. E-mail: [email protected]
5
Bolsista EMATER/ EMPARN, Natal-RN. E-mail: [email protected]
6
Pesquisador, EMPARN, Natal, RN. E-mail: [email protected]
7
Graduando em Zootecnia, UFRN, Natal-RN. E-mail: [email protected]
2
Resumo: objetivou-se avaliar a influência da temperatura retal e temperatura da pele do escroto sobre as
características seminais de ovinos das raças Dorper, Santa Inês e mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês) no
nordeste do Brasil. Foram utilizados 17 carneiros de três genótipos diferentes, sendo cinco da raça
Dorper, cinco Santa Inês e sete mestiços. Houve efeito do genótipo na temperatura retal (TR),
temperatura escrotal (TE), motilidade espermática (MT) e total de defeitos espermáticos (TDE). Em todos
esses parâmetros, os animais da raça Dorper apresentaram desempenho inferior ao da raça Santa Inês. A
TR correlacionou-se negativamente (P<0,05) com a MT (r = -0,28) e positivamente com o TDE (r= 0,67).
Concluiu-se que os animais da raça Santa Inês e os mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês) são mais
adaptados às condições de clima e manejo da região onde o estudo foi realizado, que os da raça Dorper.
Palavras-chave: Dorper, estresse térmico, Santa Inês, sêmen
Effec of rectal and scrotal temperatures on sperm quality in sheep
Abstract: The goal of this study was to evaluate the influence of rectal temperature and temperature of
the scrotum skin on the seminal characteristics of Dorper, Santa Ines and crossbred (¾ Dorper + ¼ Santa
Inês) sheeps in northeast of Brazil. 17 rams of three different genotypes were used, five of the Dorper
breed, five Santa Inês and seven crossbred. There was significant effect (P<0.05) of genotype on rectal
temperature (TR), scrotal temperature (TE), sperm motility (MT) and total sperm defect (TDE). In all
these parameters the animals of Dorper breed showed worst performance that Santa Inês rams. The TR
was negatively correlated (P<0.05) with MT (r= -0.28) and positively correlated with TDE (r = 0.67). It
was concluded that the animals Santa Inês and crossbred are more adapted to climate and management
conditions of the region where the study was conducted, that the Dorper.
Keywords: Dorper, heat stress, Santa Inês, semen
Introdução
A ovinocultura é uma atividade pecuária desenvolvida em toda a região Nordeste do Brasil. O
rebanho é formado, em grande parte, por ovinos deslanados sem padrão racial definido e por animais
puros das raças nativas Santa Inês, Crioula, Somalis e Morada Nova. Nos últimos anos tem havido a
introdução de raças exóticas especializadas para carne como a Dorper. No entanto, pouco se conhece
quanto à atividade sexual e capacidade de fertilização durante o ano, tanto dos carneiros das raças nativas
quanto daqueles de raças introduzidas. Em geral, os animais apresentam atividade reprodutiva satisfatória
durante o ano todo, porém, fatores nutricionais e climáticos, como a alta temperatura ambiental, durante o
período seco podem interferir na qualidade do sêmen. As conseqüências da exposição dos testículos a
altas temperaturas ambientais são a redução da libido, da qualidade seminal e da fertilidade. Segundo
Chemineau et al., (1991) a alta temperatura ambiente afeta adversamente a qualidade do sêmen
provocando o decréscimo na motilidade espermática e o aumento da porcentagem de espermatozoides
morfologicamente anormais. Para proteger-se do efeito deletério da alta temperatura ambiental, o
testículo possui um complexo mecanismo local de termorregulacão. A pele do escroto exerce uma
importante função na manutenção da temperatura testicular, uma vez que, é fina, pobre em gordura
subcutânea, relativamente sem pêlos e possui um sistema sanguíneo e linfático bem desenvolvido,
facilitando a perda térmica por irradiação e evaporação (Mies Filho, 1987). A temperatura retal é um
indicador da temperatura corporal, que por sua vez é o resultado da diferença entre a energia térmica
produzida mais a recebida pelo organismo animal e a energia térmica dissipada deste para o meio. Sendo
assim, a temperatura retal pode ser usada para avaliar a adversidade do ambiente térmico sobre os animais
(Cezar et al., 2004). O estudo teve como objetivo avaliar a influência da temperatura retal e na pele do
escroto sobre as características seminais de ovinos das raças Dorper, Santa Inês e mestiços (¾ Dorper + ¼
Santa Inês) criados no Agreste do Rio Grande do Norte.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Fazenda São Joaquim, localizada no Município de Macaíba – RN,
na messorregião Leste Potiguar, no período de fevereiro a maio de 2011. Durante o período experimental
o valor médio da temperatura do ar foi de 31,8 °C e a umidade relativa do ar foi 80,9 %. Foram utilizados
17 carneiros adultos, clinicamente sadios e em bom estado nutricional, sendo cinco da raça Dorper, cinco
Santa Inês e sete mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês), com três a quatro anos de idade. Quinzenalmente
foi realizada a medição da temperatura retal (TR) e a colheita de um ejaculado de cada animal. Foi
mensurada também, em dois momentos, a temperatura da pele na altura do funículo do cordão
espermático (TCE) e no centro da bolsa escrotal (TE), utilizando-se um termômetro de infravermelho
digital (INSTRUTHERM®). O termômetro era posicionado a cerca de 20 a 30 cm de distância da
superfície e um ponto de luz vermelha era observado na área examinada, com indicação digital da
temperatura do local, no visor do termômetro. A medição foi realizada em ambos os testículos e a média
foi utilizada para a análise dos dados. As colheitas de sêmen foram realizadas por meio de vagina
artificial (VA) aquecida à temperatura de 41 a 42°C e com o auxílio de uma fêmea em estro. Logo após a
colheita, o ejaculado era avaliado quanto ao volume, aspecto, turbilhonamento, motilidade e vigor
espermático. Em seguida preparava-se um esfregaço (eosina-nigrosina) para posterior avaliação da
morfologia espermática e porcentagem de vivos, e retirava-se uma amostra para a determinação da
concentração espermática. Os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) com
comparação de médias pelo teste de Tukey a 95% de confiança. Realizou-se também a análise do
coeficiente de correlação linear (r) entre os parâmetros espermáticos e a temperatura retal (TR), TCE e
TE.
Resultados e Discussão
A temperatura retal (TR) diferiu significativamente (P<0,05) entre as raças, tendo os carneiros da
raça Dorper apresentado maior TR, que os da raça Santa Inês e mestiços (Tabela 1). Isso demonstra que
os animais da raça Dorper não foram capazes de dissipar todo o calor necessário para manter sua
temperatura dentro do limite basal, significando que os mesmos foram menos tolerantes ao calor que os
demais genótipos. Cezar et al. (2004), trabalhando com os mesmos genótipos utilizados nesse estudo, no
semiárido paraibano, relatam que o genótipo não influenciou a temperatura retal e obtiveram uma TR
média, para todos os genótipos, de 39,5 °C para o turno da manhã. No entanto, ressaltam que com base na
freqüência cardíaca e respiratória, os animais da raça Dorper e seus mestiços demonstraram um menor
grau de adaptabilidade às condições climáticas do local do estudo que aqueles da raça Santa Inês,
confirmando nossos achados.
Houve efeito do genótipo na temperatura escrotal (TE), sendo esta significativamente maior nos
animais da raça Dorper que na Santa Inês. Quanto à temperatura na pele do cordão espermático (TCE),
não houve diferença entre os genótipos, mas foram superiores na raça Dorper e mestiços (Tabela 1).
Provavelmente os animais da raça Dorper tiveram maior dificuldade em dissipar calor por irradiação ou
evaporação, através da pele do escroto, em decorrência do maior depósito de gordura no tecido
subcutâneo da bolsa escrotal e cordão espermático observado nessa raça, como foi relatado por Fourie et
al. (2004). Além disso, Araújo et al. (2011) observaram que a forma do testículo afeta significativamente
a temperatura escrotal em ovinos, variando até 5ºC na temperatura irradiada entre os formatos. Sendo que
o longo-oval foi o que irradiou menos calor e foi o formato predominantemente apresentado na raça
Dorper.
Tabela 1- Valores (média  dp) da temperatura retal (TR), temperatura na pele do cordão espermático
(TCE) e do escroto (TE) em carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços (¾ D x ¼ SI).
TR (°C)
TCE (°C)
TE (°C)
DORPER
34,260,74
32,630,83a
39,560,88a
SANTA INÊS
38,620,45b
33,640,33
31,870,45b
¾ DR + ¼ SI
38,790,37b
34,211,06
32,510,91ab
MEDIA
39,000,69
34,060,83
32,360,82
CV (%)
1,78
2,45
2,55
Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente entre si pelo teste de
Tukey a P < 0,05.
A motilidade espermática (MT) foi significativamente menor (P<0,05) na raça Dorper, comparada
à Santa Inês e mestiços (77,8%; 85,5 e 85,2%, respectivamente) e o total de defeitos espermáticos (TDE)
foi maior (P<0,05) na raça Dorper (26,2%) que na Santa Inês (17,7%) e mestiços (15,5%). Observou-se
uma correlação negativa (P<0,05) entre TR e MT, vigor, concentração e % vivos (r= -0,28; -0,21; -0,51 e
-0,44 respectivamente) e uma correlação positiva entre TR com TDE e DMA (r= 0,67 e 0,70
respectivamente). A TE correlacionou-se positivamente com TDE e DMA (r= 0,45 e r=0,38) enquanto
que a TCE correlacionou-se positivamente (P<0,05) apenas com o DMA (r= 0,76). Portanto, parece ser
indiscutível a influência da temperatura retal e na pele do cordão espermático e escroto sobre as
características seminais, em particular a morfologia espermática.
O alto percentual de TDE e menor MT nos animais da raça Dorper comparada às outras duas raças,
reflete o efeito negativo da alta TR dos animais sobre as características espermáticas, o que foi
confirmado pela correlação negativa entre TR e MT e positiva entre TR e TDE. Chemineau et al. (1991)
relatam que a elevação da temperatura corporal acima de 39,5ºC afeta a espermatogênese. Os dados
sugerem que estes animais estão sofrendo estresse térmico nas nossas condições climáticas, resultando em
prejuízo na termorregulação testicular, repercutindo na qualidade espermática.
Conclusão
A temperatura retal (TR), temperatura na pele do cordão espermático e do escroto influenciam
diretamente as características seminais, em particular a morfologia espermática, sendo a TR o principal
fator de efeito negativo sobre essas características.
Com base nas características seminais e temperatura retal e escrotal, os carneiros da raça Santa Inês
e os mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês) se mostraram mais adaptados às condições de clima e manejo da
região onde o estudo foi realizado, que os da raça Dorper.
Literatura citada
1- ARAÚJO, M.S. et al. Variações de forma e calor irradiado pelo testículo de ovinos adultos. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL, 19, 2011, Recife, PE, Anais... Belo
Horizonte: CBRA, 2011. (CD-ROM).
2- CEZAR, M.F et al. Avaliação de parâmetros fisiológicos de ovinos Dorper, Santa Inês e seus mestiços
perante condições climáticas do trópico semi-árido nordestino. Ciênc. Agrotec., Lavras, v. 28, n. 3, p.
614-620, 2004.
3- CHEMINEAU, P.; COGNIÉ, Y.; GUERIN, V.; ORGEUR, P.; VALLET, J.C. Training manual on
artificial insemination in sheep and goats. FAO: Rome, 1991. 222p.
4- FOURIE, P.J. et al. Scrotal, testicular and semen characteristics of young Dorper rams managed under
intensive and extensive conditions. Small Ruminant Research, v. 54, p.53-59, 2004.
5- MIES FILHO, A. Reprodução dos animais domésticos e Inseminação Artificial. 6. ed. Porto
Alegre: Sulina, 1987. v.2. 736 p.
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Efeito da temperatura retal e temperatura escrotal