COMO POTENCIALIZAR EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM DO TEMA ESPAÇO E FORMA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL? Edda Curi Introdução Sabemos que as crianças vivenciam uma série de experiências referentes ao espaço que lhe é familiar. Em situações do dia a dia, na interação com o espaço que a cerca, as crianças constroem noções de distância e buscam formas de localização, por exemplo. A estruturação espacial da criança inicia-se pela constituição de um sistema de coordenadas relativo ao seu próprio corpo e por noções adquiridas no convívio social como a identificação de termos como à direita, à esquerda, pra frente, atrás etc. No entanto, essas aprendizagens não são suficientes para que a criança represente o espaço e utilize vocabulário adequado à sua localização ou movimentação no espaço. É necessário um conhecimento escolar intencional e sistematizado, no qual a criança se apropria das formas de representação do espaço. Na escola é importante organizar expectativas de aprendizagem para o tema Espaço e Forma pensando numa organização horizontal e vertical, sempre retomando e ampliando as noções já estudadas. No entanto, as sequências de atividades devem permitir sempre a ampliação do pensamento geométrico da criança e não apenas a realização de atividades pontuais. Na sequência, vamos apresentar algumas reflexões sobre expectativas de aprendizagem e possibilidade de atividades a serem realizads, por ano de escolaridade. Primeiro ano Iniciemos por analisar as expectativas de aprendizagem que se espera sejam alcançadas pelas crianças de primeiro ano: Identificar pontos de referência para indicar sua localização na sala de aula. Identificar pontos de referência para indicar a localização de sua sala de aula na escola. Indicar como se movimentar no espaço escolar e chegar a um determinado local da escola, oralmente. Indicar como se movimentar no espaço escolar e chegar a um determinado local da escola, por meio de desenhos. Fazer a leitura de croquis simples que indiquem a posição e a movimentação de um objeto ou pessoa. Identificar semelhanças e diferenças entre as formas dos objetos tridimensionais de seu cotidiano. Identificar, nos objetos de seu cotidiano, superfícies planas e superfícies arredondadas. Nomear algumas formas tridimensionais. Representar objetos do seu cotidiano por meio de desenhos. Montar e desmontar embalagens e identificar as peças a serem usadas para remontá-las. As três primeiras expectativas sugerem atividades orais. Na primeira as crianças vão identificar pontos de referência que possibilitem sua localização em sala de aula, na segunda pontos de referência que possibilitem identificar sua sala no ambiente escolar, ampliando o espaço a ser analisado, e na terceira a descrição de caminhos dentro do espaço escolar. Também há uma ampliação no sentido de que nas duas primeiras expectativas, os alunos vão apenas identificar pontos de referência e na terceira vão descrever um movimento no espaço escolar. Uma sequencia de atividades envolvendo essas expectativas premite a ampliação das noções das crianças com relação à localização no espaço. É possível propor aos alunos uma diversidade de situações cuja resolução possibilite que sistematizem e ampliem esses conhecimentos. Pode-se iniciar o trabalho explorando a sala de aula, por exemplo, em situações em que os alunos indiquem sua localização usando pontos de referência, como objetos que são fixos na sala, descrevendo sua localização em função desses pontos de referência. Ao resolver esse tipo de atividade, que envolve a produção ou interpretação de informações para localizar objetos em um determinado espaço, os alunos avançam progressivamente no domínio de um vocabulário específico que os permita chegar a uma localização mais precisa. Cabe destacar que, ao elaborar uma informação para localizar um objeto, por exemplo, o aluno pode pensar a partir do próprio corpo, considerando o corpo à direita do objeto e não o objeto à direita do corpo. Considerar, simultaneamente, esses diferentes aspectos pode provocar confusões na elaboração e interpretação de referências pela criança. Essas interpretações poderão ser discutidas num trabalho coletivo, o que possibilita uma oportunidade para discutir sobre a necessidade de estabelecer convenções: à direita de quem, por exemplo..... Na terceira expectativa é interessante propor atividades que permitam às crianças que percorram caminhos, por exemplo, da sala de aula até o banheiro, ou do pátio até a sala de aula. No entanto, para que os alunos avancem nesses conhecimentos, é necessário desenvolver a capacidade de deslocar-se mentalmente e de pensar o espaço sob diferentes pontos de vista. Essa é a finaldiade da expectativa 4 que permite uma evolução que se dá a partir de problemas que incluam representações gráficas e descrições, tanto orais, quanto gráficas (desenhos e esquemas). A representação é apenas um modelo que permite tomar decisões e antecipar as ações efetivas. Para consecução da expectativa 5 é possível propor problemas que envolvam conhecer e interpretar mapas e croquis, por exemplo, do bairro da escola – ou uma planta baixa de um local de visitação ou de uma casa – e solicitar que os alunos elaborem instruções para chegar de um lugar a outro, oralmente ou por escrito. Com relação às formas geometricas, o trabalho se inicia com as formas tridimensionais e se amplia para as formas bidimensionais. As formas tridimensionais, como o nome indica, têm três dimensões: comprimento, altura e largura. As formas bidimensionais, também como o nome indica, têm duas dimensões: comprimento e largura. As figuras tridimensionais podem ser ocas ou não. Quando não são ocas, são conhecidas como sólidos geométricos, dentre os quais se destacam os poliedros e os corpos redondos. O estudo das figuras geométricas planas e espaciais envolve muito mais que as reconhecer por meio de um desenho e conhecer seus nomes, implica também em conhecer propriedades. Aquilo que o aluno pode “ver” no desenho está diretamente relacionado aos conhecimentos que possui sobre o objeto que esse desenho representa. A evolução nas aprendizagens dos alunos, descritas pelas expectativas de aprendizagem permite às crianças avançar na compreensão das propriedades das formas geometricas. No primeiro ano, as expectativas referem-se ás formas tridimensionais. O professor pode propor atividades que permitam a exploração de formas do cotidiano, percebendo semelhanças e diferenças e o trabalho com sucatas ajuda nesse sentido. Ainda explorando formas do cotidiano, o professor pode propor atividades em que as crianças identifiquem superfícies planas ou arredondadas, como por exemplo, se explorarem uma caixa de remédios e uma lata de refrigerantes. Como já foi dito, embora não seja necessário um trabalho exaustivo com nomenclatura, é interessante na exploração das formas tridimensionais nomear algumas que as crianças têm mais proximidade, como o cubo, o bloco retangular, o cone, o cilindro, a esfera, a pirâmide, etc. A partir da exporação de sucatas e do estudo das formas geometricas as crianças passam a representá-las por meio de desenhos numa folha de papel, permitindo a visualização. A montagem e desmontagem de embalagens permite as primeiras aproximações com a planificação das formas tridimensionais. Após essa atividade, as crianças podem desenhar “os moldes” das embalagens que foram exploradas. Segundo ano Agora analisaremos as expectativas de aprendizagem que se espera sejam alcançadas pelas crianças de segundo ano. Com relação às expectativas desse ano de escolaridade há ampliação do que foi proposto para o primeiro ano, com exigência de alguma nomenclatura e com identificação de algumas características das formas. Localizar pessoas ou objetos no espaço, com base em diferentes pontos de referência e algumas indicações de posição. Identificar a movimentação de pessoas ou objetos no espaço, com base em diferentes pontos de referência e algumas indicações de direção e sentido. Observar e reconhecer figuras geométricas tridimensionais presentes em elementos naturais e nos objetos criados pelo homem e identificar algumas de suas características. Estabelecer comparações entre objetos do espaço físico e objetos geométricos - corpos redondos e poliedros com uso de alguma nomenclatura. Identificar características de esferas, cones e cilindros. Identificar características de cubos, paralelepípedos e pirâmides. Diferenciar figuras tridimensionais das figuras bidimensionais. Identificar características de círculos e polígonos. Identificar características de triângulos e quadriláteros. Compor figuras planas, explorando quebra-cabeças. Reproduzir figuras planas em malhas quadriculadas. As duas primeiras expectativas permitem ampliação em relação aos conhecimentos tratados no primeiro ano. Para a consecução da primeira, por exemplo, o professor pode dar uma série de pistas para a localização de um lugar e pedir aos alunos que analisem se são suficientes. Para trabalhar a segunda, o professor pode dividir a classe em grupos e um grupo descreve um percurso de um determinado ponto até a escola, indicando pontos de referência e os outros grupos desenham esse percurso seguindo as indicações. Nesse tipo de atividade, o tamanho do lugar e dos objetos que aparecem no problema desempenha um papel importante. Não é a mesma coisa indicar o caminho para ir da escola até um ponto conhecido e indicar o caminho para localizar um objeto dentro da sala de aula. No primeiro caso, as relações permitem a referência a um espaço que não pode ser “visto” em sua totalidade ao mesmo tempo, pois exige deslocamentos. No segundo, as relações podem ser “vistas” diretamente. O trabalho com esses dois tipos de atividade permite uma evolução das crianças na compreensão do espaço. Com relação às formas geométricas, as atividades que podem ser propostas devem se apoiar em objetos conhecidos das crianças, por exemplo, a bola de futebol, a casquinha de sorvete, embalagens de pasta de dente, etc., destacando características como superfícies arredondadas, superfícies planas, “pontas”, etc. A quarta expectativa propõe a comparação entre objetos do mundo físico e objetos geométricos no sentido de identificação de algumas das características desses objetos, ou seja, num dado, as superfícies são todas planas e iguais, já numa lata de óleo, as superfícies são arredondadas. Nesse caso, pode ser introduzida a nomenclatura poliedros (para os sólidos de superfícies planas) e corpos redondos (para os sólidos que tem superfícies arredondadas). A quinta expectativa dá origem à atividades que envolvem características de esferas, cones e cilindros, ou seja as superfícies arredondadas e a quinta envolve características dos poliedros (muitas faces). Com relação às formas bidimensionais, as expectativas de aprendizagem surgem no segundo ano. As atividades devem ser propostas para que os alunos identifiquem formas tridimensionais e bidimensionais, identificando características de círculos e polígonos, em especial de triângulos e quadriláteros. A composição de figuras explorando quebra cabeças também permite o reconhecimento de características de formas bidimensionais. Quando solicitada a reprodução de figuras em malhas quadriculadas é importante verificar se a malha é um material de apoio interessante, ou seja, se a criança conta os quadradinhos da malha, se usa os lados do quadradinho para fazer o desenho, etc. Terceiro ano No terceiro ano, as expectativas de aprendizagem avançam na observação das propriedades das formas tridimensionais e de sua planificação, dando origem à exploração das formas bidimensionais. O conjunto das expectativas relativas a esse ano de escolaridade está descrito a seguir. Ler, interpretar e representar a posição de um objeto ou pessoa no espaço pela análise de maquetes, esboços, croquis. Ler, interpretar e representar a movimentação de um objeto ou pessoa no espaço pela análise de maquetes, esboços, croquis que mostrem trajetos. Identificar semelhanças e diferenças entre cubos e quadrados, paralelepípedos e retângulos, pirâmides e triângulos. Identificar planificações de algumas pirâmides e prismas. Identificar características de figuras poligonais. Explorar características de figuras quadrangulares. Explorar características de figuras triangulares. Realizar a composição e a decomposição de figuras planas. Explorar a simetria em figuras planas. As duas primeiras expectativas referem-se à análise de maquetes, esboços, coquis que mostrem trajetos. A primeira refere-se à localização e a segunda à movimentação. As atividades propostas devem permitir aos alunos que possam utilizar as relações espaciais para interpretar e descrever, de forma oral ou gráfica, deslocamentos, trajetos, posição de objetos e pessoas por meio de desenhos ou instruções orais ou escritas, analisando pontos de vista, formas de representar, proporções, códigos e referências. As atividades relativas às formas geométricas envolvem a identificação entre formas tridimensionais e as faces que as compõem, destacando semelhanças na forma, mas diferenças na espacialidade. As planificações podem ser feitas usando sucatas, em que as crianças cortam pelas arestas e “desmontam” as caixas para explorar as figuras planas que compõem essa planificação. Nesse ano de escolaridade há ampliação nas expectativas de aprendizagem. O professor pode propor atividades que permitam a exploração das características das formas bidimensionais, em especial das figuras quadrangulares e triangulares com uso de desenhos dessas figuras. São incorporadas atividades que exploram também a decomposição de uma figura plana em outras, além das de composição já estudadas no segundo ano. o trabalho de simetria se inicia nesse ano com uso de tinta guache e dobraduras, ou com uso de espelho. Quarto ano O conjunto das expectativas relativas a esse ano de escolaridade está descrito a seguir. Utilizar malhas quadriculadas para representar, no plano, a posição de uma pessoa ou objeto. Utilizar malhas quadriculadas para representar, no plano, a movimentação de uma pessoa ou objeto. Identificar planificações do cone e do cilindro. Reconhecer semelhanças e diferenças entre poliedros (como os prismas, as pirâmides e outros poliedros). Identificar planificações de prismas e pirâmides Identificar nos poliedros, elementos como faces, vértices e arestas e fazer sua contagem. Identificar regularidades nas contagens de faces, vértices e arestas no caso das pirâmides. Identificar regularidades nas contagens de faces, vértices e arestas no caso dos prismas. Identificar figuras poligonais e circulares nas superfícies planas das figuras tridimensionais. Identificar semelhanças e diferenças entre polígonos, usando critérios como número de lados e número de ângulos. Explorar a simetria em figuras planas. As expectativas de aprendizagem propostas para o 4º ano permitem aos alunos avançar nesses conhecimentos usando malhas quadriculadas. O uso desse tipo de malha para interpretar ou representar, em um plano, a posição de uma pessoa ou objeto, ou a movimentação de uma pessoa ou objeto pode ser explorado com caças ao tesouro, batalha naval, etc. No quarto ano há uma ampliação no trabalho com formas tridimensionais. As atividades envolvem planificações de cones e cilindros e o uso de sucatas e depois de desenhos facilita a exploração. O trabalho com prismas e pirâmides é ampliado e as atividades devem permitir aos alunos explorar semelhanças e diferenças entre prismas e pirâmides, como por exemplo, o prisma tem duas bases iguais e as faces laterais retangulares e a pirâmide tem uma base e as faces laterais triangulares, etc. A exploração de caixas em formas de prismas e de pirâmides permite a identificação e a contagem de faces, vértices e arestas, e ainda a exploração de regularidades nessas contagens em função da base, e em função do tipo de sólido (prisma ou pirâmide). Sugere-se a consecução e exploração oral de tabelas para que as crianças analisem essas regularidades e tirem conclusões. As atividades para explorar formas planas que compõem formas tridimensionais, devem possibilitar a identificação de formas poligonais e circulares. As formas bidimensionais podem ser exploradas a partir do número de lados e de ângulos, permitindo aos alunos identificarem algumas semelhanças e diferenças entre elas. A exploração de simetria em formas planas pode ser ampliada por meio de dobraduras, com situações em que se apresenta uma figura e as crianças dobram a mesma, a partir de um “eixo”, buscando que figura se divida em duas metades simétricas. Quinto ano No quinto ano, é possível avançar ainda mais com as expectativas de aprendizagem propostas: alguams delas permitem sistematizações, mesmo que parciais. O foco maior está na exploração das formas bidimensionais. Descrever, interpretar e representar a posição ou a movimentação de uma pessoa ou objeto no espaço e construir itinerários. Interpretar representações no plano cartesiano, usando coordenadas. Reconhecer elementos e propriedades de poliedros, explorando planificações de algumas dessas figuras Resolver problemas envolvendo o número de vértices, faces e arestas de um poliedro. Reconhecer elementos e propriedades de polígonos e círculos Identificar semelhanças e diferenças entre polígonos, usando critério eixos de simetria. Estudar características de figuras como a rigidez triangular. Compor e decompor figuras planas e identificação de que qualquer polígono pode ser composto a partir de figuras triangulares. Ampliar e reduzir figuras planas pelo uso de malhas. Construir figuras simétricas a uma figura dada. Identificar eixos de simetria num polígono. A segunda expectativa de aprendizagem do 5º ano permite atividades de localização em locais arrumados em filas e colunas – como na sala de aula ou em teatros ou cinemas – em que os estudantes possam discutir e elaborar instruções sobre a localização de determinada fila e coluna. Aproveitando as explicações dos alunos, o professor pode fixar um referencial para fazer este tipo de localização.Esse trabalho pode dar origem ao estudo do plano cartesiano e colaborar para que os estudantes passem a considerar a necessidade de dois eixos para determinar a localização. Para que os alunos possam se apropriar da terminologia adequada e de aspectos importantes para localizar objeto ou pessoa, ou para explicar um itinerário, é preciso organizar momentos coletivos de troca e de sistematização dos conhecimentos, anotar as observações em cartazes as conclusões do grupo. É possível, por exemplo, concluir a atividade de caça ao tesouro, propondo que os alunos discutam com seus colegas e anotem quais informações são úteis para descobrir onde está o tesouro. Os elementos e propriedades dos poliedros podem ser explorados por meio das planificações dessas formas geométricas. Nesse caso, as crianças já raciocinam sem ver a “figura montada”. Alguns problemas usando relações entre vértices, faces e arestas trabalhadas no quatro ao podem ser desenvolvidos agora neste ano de escolaridade. Referências MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO E SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL.Parâmetros Curriculares Nacionais: Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Fundamental. – Brasília, 1997.