FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE UNIÃO DA VITÓRIA COLEGIADO DE MATEMÁTICA VANESSA VERBANEK OS TREZE POLIEDROS ARQUIMEDIANOS: COMPREENSÃO, CARACTERIZAÇÃO E UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA UNIÃO DA VITÓRIA - PR 2012 VANESSA VERBANEK OS TREZE POLIEDROS ARQUIMEDIANOS: COMPREENSÃO, CARACTERIZAÇÃO E UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA . Trabalho de conclusão de curso apresentado para obtenção do título de licenciado em Matemática na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória - FAFIUV. Orientador: Everton José Goldoni Estevam UNIÃO DA VITÓRIA – PR 2012 ii AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me dado força, coragem e determinação, por nunca ter me deixado nos momentos difíceis, por me trazer a esperança quando tudo parecia perdido e por ter permitido que eu chegasse até aqui. Aos meus pais, Arno e Cristiane, que amo muito por terem me dado a vida, o amor, o apoio e o incentivo. Obrigada por terem compartilhado comigo esse sonho e hoje ter a alegria de vê-lo realizado. Às minhas irmãs, Patrícia e Thaís, que se fizeram presentes durante toda essa caminhada e que além de irmãs são grandes amigas. Ao meu namorado, Marcos Daniel, por me consolar, por me fazer rir, me dar amor, carinho e incentivo. Aos meus avós, Hugo e Margarida, por sempre estarem ao meu lado. Aos amigos da faculdade, pois juntos sonhamos o mesmo sonho e sentimos as mesmas angústias. A amizade aqui formada jamais será esquecida. Em especial, às minhas amigas Bruna, Juliane, Tatiana, Keity, Mauren e Daniel. Ao Professor Mestre Everton José Goldoni Estevam, que se dedicou muito para a realização deste trabalho e em meio à sua agenda lotada sempre se fez presente me auxiliando e transmitindo seus conhecimentos. Além de um ótimo orientador se tornou um grande amigo. Obrigada pela paciência, compreensão, incentivo e respeito, pois sem você esse trabalho não seria possível. Agradeço a todos pela compreensão de muitas vezes que não me fiz presente, pois troquei a compania de vocês pelos livros e hoje só queria dizer que essa conquista não é apenas minha, mas nossa, pois sem vocês eu não teria conseguido vencer essa importante etapa da minha vida. A todos vocês, o mais sincero Obrigada. iii "A Geometria faz com que possamos adquirir o hábito de raciocinar, e esse hábito pode ser empregado, então, na pesquisa da verdade e ajudar-nos na vida!" Jacques Bernoulli iv RESUMO O presente trabalho tem como objetivo revisitar os Poliedros Arquimedianos, caracterizá-los e discutir uma possível proposta didática utilizando como metodologia de ensino os materiais manipuláveis e o software Poly. Para investigarmos e explorarmos este conteúdo de geometria, recorremos a um estudo bibliográfico que permitiu o desenvolvimento da pesquisa, apontando que o maior obstáculo na abordagem dos Poliedros Arquimedianos pelos professores está pautado na dificuldade de visualização. Partimos de alguns aspectos e conceitos que envolvem a Geometria Espacial, como demostrações, propriedades e definições para desenvolvermos o processo de contrução dos Poliedros Arquimedianos, sob o pressuposto de que eles se constituem a partir de truncaturas (cortes) nos Poliedros Platônicos. A opção metodológica contribuiu para o alcance do objetivo desejado, visto que nos permitiu pensar uma proposta didática na qual os materiais manipuláveis podem auxiliar na obtenção dos Poliedros Arquimedianos, a partir de sequência de truncaturas nos Platônicos, e o software Poly proporcionar visualização e investigação quanto às características e relações envolvendo faces, arestas e vértices desses sólidos, o que torna as aulas de geometria espacial dinâmicas e significativas. Palavras-Chave: Poliedros Arquimedianos, Geometria, Software Poly, Materiais Manipuláveis. v LISTA DE FIGURAS Figura 1: Exemplo de polígonos ................................................................................ 12 Figura 2: Exemplos e características de não-polígonos ............................................ 13 Figura 3: Exemplos de poliedros. .............................................................................. 13 Figura 4: Exemplos de não-poliédros. ....................................................................... 14 Figura 5: Sólidos geométricos. .................................................................................. 15 Figura 6: Exemplo de Poliedro. ................................................................................. 17 Figura 7: Poliedro convexo (a) e poliedro não-convexo (b). ...................................... 17 Figura 8: Poliedros regulares convexos. ................................................................... 18 Figura 9: Poliedros regulares não convexos. ............................................................ 19 Figura 10: Poliedros Arquimedianos. ........................................................................ 19 Figura 11: Poliedro não-Arquimedino. ....................................................................... 20 Figura 12: Poliedros irregulares. ............................................................................... 20 Figura 13: Exemplo de truncatura. ............................................................................ 27 Figura 14: Tetraedro truncado. .................................................................................. 33 Figura 15: Octaedro truncado.................................................................................... 34 Figura 16: Icosaedro Truncado. ................................................................................ 35 Figura 17: Cubo Truncado. ....................................................................................... 35 Figura 18: Dodecaedro Truncado.............................................................................. 36 Figura 19: Rombicuboctaedro. .................................................................................. 38 Figura 20: Cuboctaedro. ............................................................................................ 39 Figura 21: Dodecaicosaedro. .................................................................................... 39 Figura 22: Cubo – Rombo. ........................................................................................ 40 Figura 23: Dodecaedro – Rombo. ............................................................................. 41 Figura 24: Cuboctaedro Truncado............................................................................. 42 Figura 25: Icosidodecaedro Truncado. ...................................................................... 43 Figura 26: Rombicosidodecaedro.............................................................................. 44 Figura 27: Representações de truncaturas nos vértices de um sólido geométrico ... 45 Figura 28: Estudos do Octaedro Truncado................................................................ 57 Figura 29: Estudos do IcosaedroTruncado ............................................................... 59 Figura 30: Estudo do Cuboctaedro............................................................................ 61 Figura 31: Estudos do CuboctaedroTruncado. .......................................................... 63 vi Figura 32: Poliedros Arquimedianos com 2 tipos de faces e ângulos triédricos ........ 65 Figura 33: Poliedros Arquimedianos com 3 tipos de faces e ângulos triédricos ........ 65 Figura 34: Poliedros Arquimedianos com 2 tipos de faces e ângulos tetraédricos ... 65 Figura 35: Poliedros Arquimedianos com 2 tipos de faces e ângulos pentaédricos .. 66 Figura 36: Poliedro Arquimediano com 3 tipos de faces e ângulos pentaédricos ..... 66 Figura 37: Moldes de Poliedros Aquimedianos. ........................................................ 69 Figura 38: Molde dos Poliedros Aquimedianos e Platônicos ..................................... 70 Figura 39: Exemplo de Truncatura Modificada .......................................................... 72 Figura 40: Truncatura no Octaedro Regular para obter o Octaedro Truncado .......... 73 Figura 41: Truncatura no Icosaedro Regular para obter o Icosaedro Truncado ........ 73 Figura 42: Truncatura no Cubo para obter o Cuboctaedro ........................................ 74 Figura 43: Truncaturas no cubo e no cuboctaedro para obter o cuboctaedro truncado .................................................................................................................................. 75 vii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 8 2 SITUANDO O CAMPO DE PESQUISA: GEOMETRIA ESPACIAL .................................. 10 2.1 POLIEDROS .............................................................................................................. 16 2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS POLIEDROS ........................................................................ 17 2.3 PESQUISA REALIZADA EM LIVROS DIDÁTICOS .................................................... 21 3 COMPREENDENDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS ............................................. 26 3.1 POLIEDROS SEMI-REGULARES EQUIANGULARES .......................................... 28 3.2 PESQUISA E DEMOSTRAÇÃO DE QUE SÓ HÁ TREZE GÊNEROS DE POLIEDROS INDIVIDUAIS SEMI-REGULARES ................................................................................... 30 3.2.1 Pesquisa e demonstração do número de poliedros semi-regulares existente, que só têm dois tipos de faces ............................................................................................ 32 3.2.2 Pesquisa e Demostração do número de Poliedros semi-regulares equiangulares existentes, que têm três tipos de faces ......................................................................... 41 4 O ENSINO DOS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS .......................................................... 46 4.1 A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS MANIPULAVEIS E SOFTWARES NAS AULAS DE MATEMÁTICA.................................................................................................................. 47 5 DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE ENSINO ..................................................................... 52 5.1 ESTUDANDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS COM O SOFTWARE POLY ...... 53 5.2 ESTUDANDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS COM MATERIAL MANIPULÁVEL.. .............................................................................................................. 68 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES ................................................................ 77 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 79 8 1 INTRODUÇÃO Quando pensamos na elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso, deparamo-nos com a necessidade de optar por um campo, dentre os diversos existentes na Matemática, para aprofundarmos nossas discussões. No presente trabalho abordamos a Geometria, ramo da matemática cujo objeto de estudo é o espaço e as figuras que podem ocupá-lo, pautando-se em definições, axiomas, postulados, teoremas e corolários. Uma abordagem etimológica do termo corrobora essa definição, uma vez que geo significa terra, solo e metria remete à medida. Dessa forma, geometria significa “medida da terra”. Refletindo sobre minha própria formação, penso que no período em que estudei no ensino fundamental e médio a geometria foi apenas apresentada, reduzida à nomenclatura, à identificação visual, ao cálculo de áreas e alturas de algumas figuras paralelogramo, mais retângulo, conhecidas pentágono como: e pirâmide, hexágono, quadrado, não sendo losango, tratados adequadamente os axiomas e teoremas que regem esta área do conhecimento matemático. Tal situação acarretou uma grande dificuldade ao entrar na faculdade, pois faltava base para o meu conhecimento. Ao conhecer mais profundamente a geometria, fiquei encantada com a perfeição de cada teorema, uma vez que pude perceber como essa área da matemática é rica em conhecimento, bem como nos auxilia a desenvolver o raciocínio na matemática como um todo. Assim, a geometria se tornou uma das áreas da matemática que mais me identifico e admiro. No que concerne ao tema de investigação, ele surgiu em virtude do pouco conhecimento obtido sobre o assunto no decorrer do curso. Assim, amadurecemos (eu e meu orientador) a ideia de trabalhar com os poliedros, mais especificamente, os Poliedros Arquimedianos. Para nossa surpresa, após definido o tema, encontramos muita dificuldade em conseguir materiais que pudessem auxiliar-nos na construção deste trabalho. Realizando uma pesquisa em livros, dissertações e teses, encontramos: o livro Poliedros Regulares e as suas Extensões (FONTES, 1967) e o livro Poliedros (RANGEL,1976), os quais apresentam as propriedades métricas e as demonstrações dos treze Poliedros Arquimedianos; e as dissertações desenvolvidas por Almeida (2010), e por Silva (2008). Pesquisamos ainda alguns livros didáticos, pois, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), 9 este assunto deve ser trabalhado no ensino médio, e podemos afirmar que em nenhum dos livros pesquisados os Poliedros Arquimedianos apareceram1. Realizando trabalho semelhante, Almeida (2010) também evidenciou a quase inexistência de materiais brasileiros tratando dos Poliedros Arquimedianos. Além disso, o estudo revelou que outros tipos de Poliedros como, por exemplo, os de Platão2 aparecem em diversos materiais, incluindo os livros didáticos, dissertações, teses e artigos. O trabalho aqui apresentado encontra-se organizado em cinco partes. No próximo capitulo fazemos uma discussão quanto à Geometria Espacial e os Poliedros. No terceiro, discutimos e caracterizamos os Poliedros Arquimedianos, a partir de alguns elementos históricos. No quarto capítulo, refletimos sobre a possibilidade de abordagem desses conceitos utilizando como metodologia os materiais manipuláveis e a tecnologia. O quinto capítulo é dedicado à estruturação de uma proposta didática envolvendo o software Poly e materiais manipuláveis. E finalmente, no último capítulo apresentamos nossas considerações e conclusões. 1 2 A pesquisa realizada nos livros didáticos será mais bem definida no item 2.3. Os Poliedros Platonicos serão definidos em 2.1 10 2 SITUANDO O CAMPO DE PESQUISA: GEOMETRIA ESPACIAL Os PCN (BRASIL, 1998) dispõem que a geometria permite compreender melhor as obras da natureza e do homem, desempenhando um papel fundamental no currículo, à medida que contribui para o desenvolvimento de algumas habilidades essenciais às atividades do dia a dia. O estudo da Geometria deve possibilitar aos alunos o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas práticos do quotidiano, como, por exemplo, orientar-se no espaço, ler mapas, estimar e comparar distâncias percorridas, reconhecer propriedades de formas geométricas básicas, saber usar diferentes unidades de medida. (BRASIL, 2006, p. 75). De acordo com Grando (2009), o estudo da geometria na educação básica traz aos alunos uma grande contribuição no entendimento de outras áreas da matemática, como a álgebra e a aritmética. A geometria também tem ligações com áreas externas à matemática, como a física e a química, nas quais o aluno pode consolidar a ideia de grandeza (densidade, aceleração, por exemplo). Loureiro (2009 apud LIMA, 2010) defende o ensino da geometria na educação básica e acredita que um de seus grandes valores é a contribuição na representação e visualização, componentes fundamentais do raciocínio geométrico e da matemática em geral. Um dos princípios da geometria são os conceitos sobre ponto, reta e plano, que podem ser compreendidos da seguinte maneira: Ponto: não possui definição, mas o matemático Euclides o entende como sendo “aquilo que não tem parte” (pode-se imaginar um ponto de caneta, um furo com uma agulha); Reta: é uma linha infinita que tem uma única direção; Plano: é uma superfície plana que se estende infinitamente em todas as direções (sua representação pode ser imaginada como uma folha de papel A4 infinita). É importante sabermos, ou ao menos termos uma ideia intuitiva, dos conceitos citados, pois são importantes para entendermos algumas proposições, postulados e axiomas, existentes na geometria. A geometria encontra-se dividida em euclidianas e não-euclidianas. A primeira trata de superfícies planas e foi desenvolvida pelo matemático Euclides com 11 base em cinco proposições primitivas, conhecidas como postulados. De acordo com Braz (2009), são eles: Postulado 1 : Pode ser desenhada uma linha reta conectando qualquer par de pontos. Postulado 2 : Uma reta pode ser prolongada indefinidamente. Postulado 3 : Dado um segmento reto, um círculo pode ser desenhado tendo o segmento como raio e um dos seus extremos como o centro. Postulado 4 : Todos os ângulos retos são congruentes (iguais). Postulado 5 : Se duas retas intersectam uma terceira reta de tal forma que a soma dos ângulos internos em um lado é menor que dois ângulos retos, então prolongando as duas retas indefinidamente, elas se encontram naquele lado cuja soma dos ângulos internos é menor que dois retos. O quinto postulado é também conhecido como Postulado de Paralelismo e até hoje não foi possível prová-lo como um teorema. Na geometria euclidiana não podemos definir superfícies curvas. Esse, portanto, é um dos motivos que origina a geometria não-euclidiana, estudada e desenvolvida por alguns matemáticos como: Gauss, Bolyai, Lobachevski e Riemann. Segundo o Observatório Nacional (BRASIL, S. N.), essa geometria surgiu quando esses matemáticos resolveram desprezar o quinto postulado de Euclides, citado acima, e considerar exatamente o oposto, ou seja, que “através de um ponto C não situado sobre uma dada linha reta AB, pudéssemos traçar não uma mas duas, e consequentemente um número infinito, de linhas paralelas a AB”. (BRASIL, S.N., p. 3) Ao construírem a “nova” geometria baseada nesse axioma, puderam perceber que não havia contradições e encontraram, para a geometria não euclidiana, características interessantes e únicas. Embora tenhamos tratado diversos aspectos que permeiam o campo da Geometria, cabe salientar que no presente trabalho trataremos, mais especificamente, da Geometria Espacial, que se refere ao estudo da geometria no espaço, isto é, figuras com mais de duas dimensões. Essas figuras recebem o nome de sólidos geométricos e integram a geometria euclidiana. A matemática é a mais antiga das ciências, uma vez que ela surgiu nas antigas civilizações egípcias. A geometria espacial teve início nos estudos feitos pelos povos da mesopotâmia (região situada no Oriente Médio, no vale dos rios 12 Tigre e Eufrates), datados aproximadamente dois mil anos a.C. e uma grande parte do conhecimento que temos hoje foi retirada dos documentos conhecidos por papiros (documentos deixados pelos estudiosos da mesopotâmia). Foi estudada em particular pelos filósofos e matemáticos Arquimedes, Platão e Pitágoras. Apesar de toda colaboração por eles deixada sobre a geometria espacial, ela parece ter sido esquecida por aproximadamente mil anos, quando no período denominado historicamente “renascimento” ela voltou a ser estudada por outros matemáticos. De acordo com Sá (2010), podemos descrever a geometria espacial como uma ampliação da Geometria plana (euclidiana) que trata dos métodos apropriados para o estudo de objetos espaciais assim como a relação entre esses elementos. Os objetos primitivos do ponto de vista espacial são: pontos, retas, segmentos de retas, planos, curvas, ângulos e superfícies. Os principais tipos de cálculos que podemos realizar são: comprimentos de curvas, áreas de superfícies e volumes de regiões sólidas. (p.1) A geometria espacial estuda, portanto, os sólidos geométricos definidos por regiões do espaço limitadas por uma superfície fechada ou ainda volumes que têm na sua constituição figuras geométricas. Essas figuras podem ser identificadas por meio da planificação, na qual uma figura plana nos permite, através de dobragem e colagem, obter o modelo do sólido pretendido. Segundo Lima (2010), na geometria temos as figuras planas que “ficam” no plano e as não-planas que “saem” do plano. As planas são classificadas em polígonos de região fechada que utilizam apenas contornos retos, e não-polígonos com regiões abertas e contornos curvos e retos. Temos como definição de polígono toda figura plana limitada por segmentos de reta chamados lados do polígono, na qual cada segmento de reta intersecta exatamente dois outros extremos. A Figura 1 apresenta alguns exemplos de polígonos, enquanto a Figura 2 traz algumas características de não-polígonos: Figura 1: Exemplo de polígonos Fonte: http://aprenderpassoapasso.blogspot.com.br/2011/10/poligonos-e-nao-poligonos.html 13 Seus lados não intersectam exatamente dois outros extremos. Não é limitada por de segmentos de reta. Não é uma figura fechada. Figura 2: Exemplos e características de não-polígonos Fonte: http://aprenderpassoapasso.blogspot.com.br/2011/10/poligonos-e-nao-poligonos.html Classificamos ainda as figuras não-planas em dois grupos: os poliédros, que são toda superfície poliédrica fechada, sendo esta última entendida como a junção de um número limitado n (n ∈ N*) de polígonos planos3; e as não-poliédros, que são limitadas por superfícies arredondadas (como a esfera) ou por superfícies arredondadas e planas (caso do cone e cilindro, por exemplo). As figuras 3 e 4 elucidam melhor essa classificação, apresentando exemplos de poliedros e nãopoliedros, respectivamente. Figura 3: Exemplos de poliedros. Fonte:http://sempreamathematicarcommusica.blogspot.com.br/2010/10/solidos-geometricos.html 3 Uma discussão mais aprofundada quanto aos poliedros será realizada no item 2.1. 14 Figura 4: Exemplos de não-poliédros. Fonte: http://junior.te.pt/escolinha/anosLista.jsp?id=196&p=5&d=mat&t=ap Os sólidos geométricos são encontrados nas diferentes formas existentes ao nosso redor, como exemplo, temos objetos em nosso dia a dia o qual seu formato lembra alguns sólidos como: as casquinhas de sorvete, caixa d’água, caixa de sapatos, entre outros. Para exemplificar os sólidos geométricos nomeamos alguns deles: Prisma, Cilindro, Cone, Pirâmides triangulares e quadrangulares, Cubo e Paralelepípedo. A figura 5 traz as representações dos exemplos citados acima. 15 PRISMA HEXAGONAL CILINDRO CONE PIRÂMIDE TRIANGULAR PIRÂMIDE QUADRANGULAR CUBO PARALELEPÍPEDO Figura 5: Sólidos geométricos. Fontes: http://tudo-matematica.blogspot.com.br/2011/07/prisma.html http://www.letmebuy.com/cone http://www.reidaverdade.com/cilindro-eletrico-hidraulico.html http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=27090 16 2.1 POLIEDROS Os objetos de estudo do nosso trabalho serão os Poliedros, situados no conteúdo da geometria espacial, como discutimos no item anterior. Podemos pensar então: por que estudamos os poliedros? Uma possível resposta está pautada na presença de figuras desse tipo em muitos lugares, pois vivemos em um mundo com três dimensões. Dessa forma, encontramos poliedros na história da humanidade como, por exemplo, as pirâmides do Egito. É possível percebê-los também na natureza, nas estruturas das radidarias (plânctons marinhos), em indústrias na fabricação de embalagens, no futebol, no qual a bola tem um formato de poliedro. Para Rangel (1976), Poliedro pode ser definido como : toda superfície poliédrica fechada. Poliedro é, portanto, a superfície que pode ser concebida como um conjunto de polígonos tais que cada lado de uma face pertence, sempre, a duas faces, e os polígonos não são coplanares. (p. 6) De acordo com o Novo Dicionário de Língua Portuguesa (Aurélio), o termo poliedro é designado para sólido limitado por polígonos planos. Contudo, Quando observamos a definição de poliedros apresentada em livros de Geometria Espacial, percebemos contradições nos discursos de autores, que embora considerem poliedros como sólidos, não os definem como tal. (ALMEIDA, 2010, p. 26) Uma análise etimológica permite-nos elucidar algumas questões. A palavra Poliedro provém do grego poly (muitos) + edro (face), ou seja, podemos entender Poliedros como um sólido de muitas faces. Eles são limitados externamente no espaço R3, pois caracterizam-se por possuir três dimensões, sendo elas: comprimento, largura e altura ou espessura. As arestas são as interseções das faces e o encontro das arestas são os vértices do poliedro. Cada face tem n lados com n≥3. 17 Figura 6: Exemplo de Poliedro. Fonte: http://dc143.4shared.com/img/jKEoImjh/preview.html Os Poliedros podem ser classificados ainda como convexos e não-convexos. Os Poliedros são ditos convexos se qualquer reta (não paralela a nenhuma de suas faces) o corta em apenas dois pontos. Já os não-convexos cortam em mais de dois pontos, como mostra a figura: (a) (b) Figura 7: Poliedro convexo (a) e poliedro não-convexo (b). Fonte: Bulla e Gerônimo (2011, p. 06) 2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS POLIEDROS De acordo com Barison (2012), os poliedros podem ser divididos em três grupos conforme suas faces e ângulos: Regulares: Regulares convexos são os Poliedros cujas faces são polígonos regulares congruentes entre si, e cujos ângulos são todos iguais. Isto 18 significa que existe uma simetria do Poliedro que transforma cada face, cada aresta e cada vértice numa outra face, aresta ou vértice. São conhecidos também por sólidos Platônicos4. Os cinco Poliedros regulares convexos são: tetraedro regular, cubo ou hexaedro regular, octaedro regular, dodecaedro e icosaedro regular, e encontram-se representados na figura abaixo. Figura 8: Poliedros regulares convexos. Fonte:http://sempreamathematicarcommusica.blogspot.com.br/2010/10/solidos-geometricos.html Já nos Poliedros regulares não convexos o plano de pelo menos uma face divide o poliedro em duas ou mais partes. Também são conhecidos como poliedros de Kepler-Poinsot ou Poliedros Estrelados, construídos a partir do dodecaedro e do icosaedro. 4 Toda vez que nos referirmos aos Poliedros Platônicos estaremos falando dos Poliedros Regulares Convexos. 19 Grande Dodecaedro Pequeno Dodecaedro Estrelado Grande Dodecaedro Estrelado Figura 9: Poliedros regulares não convexos. Fonte: http://www.edumatec.mat.ufrgs.br/cursos/trab4/5serie.html Semi-regulares: são todos os Poliedros que apresentam uma das seguintes formas: a) Os ângulos dos sólidos são todos iguais entre si, mas as faces não são iguais, embora sejam polígonos regulares. Esses são conhecidos por Poliedros semi-regulares equiangulares ou Poliedros Arquimedianos. São eles: Tetratroncoedro, cuboctatroncoedros, dodecaicosetroncoedros, alguns dos Poliedros que se encontram dentro destes três grupos estão representados na Figura 10. Cubo Truncado Rombicuboctaedro Cubo-Rombo Figura 10: Poliedros Arquimedianos. Fonte: http://www.edumatec.mat.ufrgs.br/cursos/trab4/5serie.htm 20 b) As faces são todas iguais entre si, mas os ângulos não são iguais. Esses Poliedros são chamados de Poliedros semi-regulares equifaciais ou poliedros semiregulares não-Arquimedianos. Uma representação consta na figura a seguir. Dodecaedro Romboidal Figura 11: Poliedro não-Arquimedino. Fonte: http://www.mat.uel.br/geometrica/php/gd_t/gd_20t.php Irregulares: são aqueles que não admitem lei de geração que os caracterize com perfeição, sendo divididos em três grupos: Pirâmide Irregular, Prisma Irregular e Antiprisma. PIRÂMIDE IRREGULAR PRISMA IRREGULAR ANTIPRISMA Figura 12: Poliedros irregulares. Fontes:http://ceibal.edu.uy/UserFiles/P0001/ODEA/ORIGINAL/110822_piramides.elp/clases_de_pirmi des.html http://www.geoka.net/poliedros/prisma_geometria.html http://www.juntadeandalucia.es/averroes/iesarroyo/matematicas/materiales/4eso/geometria/poliedros/ poliedros.htm 21 2.3 PESQUISA REALIZADA EM LIVROS DIDÁTICOS Procuramos pesquisar a forma como a geometria, os Poliedros e, sobretudo, os Poliedros Arquimedianos estão presentes no currículo do ensino fundamental e médio das escolas. Encontramos nos PCN (BRASIL,1999) a importância dos alunos perceberem a matemática como um sistema de códigos e regras que permite modelar a realidade e interpretá-la. Assim, os números e a álgebra como sistemas de códigos, a geometria na leitura e interpretação do espaço, a estatística e a probabilidade na compreensão de fenômenos em universos finitos são subáreas da Matemática especialmente ligadas às aplicações. (p.40, grifo nosso). A geometria condiciona os alunos a perceberem o espaço de diferentes pontos de vista, terem noções de direção, sentido, distância, ângulo e muitas outras essências do pensamento geométrico. A geometria, ostensivamente presente nas formas naturais e construídas, é essencial à descrição, à representação, à medida e ao dimensionamento de uma infinidade de objetos e espaços na vida diária e nos sistemas produtivos e de serviço. No ensino médio, trata de suas formas planas e tridimensionais, suas representações em desenhos, planificações modelos e objetos do mundo concreto. Para o desenvolvimento desse tema, são propostas quatro unidade temáticas: geometria plana, espacial, métrica e analítica. (BRASIL, 2002, p. 123, grifo nosso). Desta forma inferimos que os Poliedros devem ser trabalhados na educação básica, utilizando desenhos e materiais concretos, que possibilitem a visualização dos sólidos e suas dimensões. Os PCN (Brasil, 1998) destacam a contrução de figuras geométricas com régua e compasso, para que os alunos possam visualizar, representar e interpretar. Com relação a esses conceitos, esse documeto aponta: [...] classificação de figuras tridimencionais e bidimensionais segundo, critérios diversos como: corpos redondos e poliedros; poliedros regulares e não regulares; prisma, pirâmide e outros poliedros; círculos, polígonos e outras figuras; número de lado dos polígonos; eixo de simetria de um polígono; paralelismo de lados, medidas de ângulos e de lados. (BRASIL, 1998, p. 73, grifo nosso). Apesar da contribuição que a geometria traz às pessoas, Grando (2009) acredita que de uma forma geral, ela está esquecida pelos professores da área de matemática, tanto no ensino fundamental como no médio. Segundo a mesma autora, pode-se notar o grande desconhecimeto faculdade de matemática na disciplina de geometria. dos alunos que ingressam na 22 Como docente da disciplina de Geometria Euclidiana há mais de oito anos, tenho observado que a situação de abandono desse conteúdo na educação básica vem se agravando. O conhecimento em Geometria dos alunos ingressantes no curso de Matemática tem se restringido à nomenclatura de alguns polígonos, à identificação visual destes, às medidas (área, perímetro e aplicação do teorema de Pitágoras) e a algumas experimentações (recorte, colagem, dobraduras e manipulação de materiais), livres de teorizações. (GRANDO, 2009 , p. 203). Lima (2010) também acredita na desvalorização da geometria na sala de aula e, quando questionados por essa desvalorização, a grande maioria dos professores alega falta de tempo ou dificuldade dos alunos em compreender os conceitos e propriedades de geometria. No que concerne aos Poliedros, Proença e Pirola (2005) acreditam que os alunos têm dificuldades nas tarefas realizadas que abordam os conceitos básicos da geometria, especificamente sobre polígonos e Poliedros, e principalmente na discriminação entre figuras planas e não-planas. Quanto aos Poliedros no ensino fundamental econtramos nos PCN (BRASIL, 1997) as seguintes orientações para o estudo de Formas e Espaços: Reconhecimento de semelhanças e diferenças entre poliedros (como os prismas as pirâmides e outros) e identificação de elementos como faces, vértices e arestas. Composição e decomposição de figuras tridimensionais, identificando diferentes possibilidades. Exploração das planificações de algumas figuras tridimensionais. Identificação de semelhanças e diferenças entre polígonos, usando critérios como número de lados, número de ângulo, eixos de simetria, etc. Representações de figuras geométricas. (p. 88, grifo nosso). Podemos considerar as mesmas orientações para o ensino médio, pois se baseia nos mesmos itens apontados, complementando de uma maneira mais ampla e desenvolvendo as capacidades de abstração e raciocínio já estudadas no ensino fundamental. Em um refinamento para sabermos o que realmente acontece na educação básica com relação aos Poliedros, realizamos uma análise em seis livros didáticos do ensino médio. Dentre eles, escolhemos dois para descrevermos nesse trabalho, pois alguns continham os mesmos tópicos ou abrangiam os mesmos conteúdos relacionados à geometria, que nos interessam. 23 Os PCN trazem5 que os Poliedros, incluindo os Arquimedianos, devem ser estudados no ensino médio, neste sentido fizemos a análise em livros da 2ª série do ensino médio da rede pública do Paraná, pois os livros didáticos das 1ª e 3ª séries abrangem outros conteúdos da geometria. Neste estudo nos preocupamos em analisar se os Poliedros, em geral, e os Poliedros Arquimedianos aparecem como conteúdos matemáticos programados. Nossas considerações então apresentadas a seguir: 1º Livro Didático: PACCOLA, Herval; BIANCHINI, Ediwaldo. Matemática. 1ª Ed. – São Paulo: Moderna, 2004. O capítulo 8 é especificamente sobre Poliedros. Já na primeira página, na qual está sendo introduzido o conteúdo descrito na forma de história da matemática, encontramos uma tarja com o seguinte dizer: “Neste capítulo estudaremos os principais poliedros, suas propriedades, área e volume”. Inicialmente os autores denominam as partes dos Poliedros: faces, arestas e vértices. Em seguida, são definidos Poliedros, Poliedros convexos e Poliedros regulares, apresentando algumas figuras para exemplificar. Discute-se aspectos relacionados aos Poliedros específicos, na seguinte ordem: prismas, prismas regulares, áreas da superfície do prisma, paralelepípedos, diagonal de um paralelepípedo retângulo, pirâmides, pirâmides regulares, área da superfície de uma pirâmide, tetraedro, volume de uma pirâmide e finaliza com o tronco de pirâmide. Na análise desse livro, concluímos que o autor em nenhum momento tratou a questão da geometria como um todo, como por exemplo, seus axiomas e teoremas; não citou que a maioria das figuras geométricas estão no espaço tridimensional, nem que as figuras trabalhadas neste capítulo fazem parte da geometria espacial. Abordar estas questões faz com que os alunos se situem no conteúdo que está sendo estudado e o compreendam melhor. O que mais nos preocupou foi a questão dos Poliedros estarem tão reduzida, pois não foi definido nem relatado que existem os Poliedros não-convexos e os irregulares. Os autores também deixaram a desejar na abordagem dada aos Poliedros semi-regulares, pois não consta nada sobre esse assunto no livro didático analisado. Como citamos no início da análise deste livro, os autores descrevem os Poliedros abordados, como os mais importantes, o que nos leva a inferir que para tais autores os Arquimedianos não são 5 Observamos que, embora os Poliedros Arquimedianos não estejam explicitamente descritos nos PCN, sabemos que eles estão vinculados ao estudo dos Poliedros. 24 importantes. Não podemos afirmar isso, pois, tudo que é descoberto e estudado tem seu lugar e sua importância. No caso dos Poliedros Arquimedianos não é diferente. Eles têm caracteristicas únicas que valem a pena serem estudadas ou minimamente conhecidas. Pensemos, então, no caso de um aluno que depois de concluir o Ensino Médio, vai ingressar no ensino superior em um curso diferente da licenciatura ou bacharelado em matemática. Ele pode vir a nunca saber que existem os poliedros Arquimedianos e isso não é justo, nem com os alunos, nem com os estudiosos do passado que dedicaram muito tempo de suas vidas para descobrí-los. Temos uma preocupação especial com os Poliedros Arquimedianos, uma vez que percebemos uma exclusão desse conteúdo no tratamento dado à Geometria. 2º Livro Didático: PAIVA, Manoel. Matemática. 1ª Ed. São Paulo: Moderna, 2004. Esse livro aborda mais conteúdos específicos de Geometria, conforme a descrição a seguir: No capítulo 12, denominado Geometria de Posição e Poliedros, o autor começa com uma noção de Geometria abordando vários tópicos importantes como relações das retas, planos e axiomas da geometria. Em seguida, trata dos Poliedros, começando com o exemplo da bola de futebol, “figura que será definida a seguir”. Logo define região poligonal convexa e Poliedros convexos, ambos com figuras exemplificando. Segue com os elementos de um polígono convexo, traz como nota os Poliedros não-convexos e define Poliedros regulares, exemplificando com figuras. No capítulo posterior, o autor descreve apenas os prismas e as pirâmides, da mesma forma como foi apresentada no 1º livro analisado. Na análise deste segundo livro, concluímos que o autor abrange mais conteúdos relacionados à geometria, utilizou ideias relacionadas a este campo da Matemática na introdução do capítulo e só então descreveu os Poliedros. Neste livro, o autor trouxe como nota a questão dos Poliedros não-convexos, mas, como na primeira análise, deixou a desejar na parte que diz respeito às outras classificações dos poliedros. Podemos notar que o livro cita como introdução aos Poliedros a bola de futebol, que é um Poliedro semi-regular, portanto Poliedro Arquimediano, no qual em nenhum momento definiu ou nomeou. Em um apanhado geral, percebemos que apenas os Poliedros regulares convexos, também conhecidos por Platônicos, são estudados na educação básica, e que a geometria vêm sendo deixada de lado, pois os professores ensinam aos alunos apenas os conceitos básicos de algumas figuras geométricas, suas diagonais e os cálculos de área e volume. O grande problema em questão diz respeito ao 25 trabalho que estamos desenvolvendo, pois pudemos constatar que os Poliedros Arquimedianos não são ensinados aos alunos da Educação Básica. Para Almeida (2010), O estudo dos sólidos de Arquimedes, conhecidos também por sólidos semiregulares, pode se tornar evidente e justificável segundo os aspectos de contextualização e interdisciplinariedade como “princípios condutores da organização curricular”, uma vez que estabelecem conecção com outras áreas do conhecimento (biologia, arte, arquitetura, cartografia,...) e suas representações fazem parte do nosso contexto sociocultural. (p.36). Segundo a mesma pesquisadora, a falta de material envolvendo os Poliedros Arquimedianos está presente na maioria dos livros didáticos do ensino médio (como pudemos constatar na análise), pois o assunto não é abordado como conteúdo para as aulas de matemática e isso nos leva a crer que este conteúdo é praticamente desconhecido pelos alunos e educadores. Almeida (ibidem) ainda acredita que o estudo dos Poliedros Arquimedianos no Brasil é pouco explorado, pela dificuldade relacionada com a visualização e representação dos mesmos, que necessitam da compreensão das propriedades de geometria espacial. 26 3 COMPREENDENDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS De acordo com Almeida (2010), alguns temas relacionados à geometria ficam adormecidos durante anos, ou séculos, para depois tornarem a despertar o interesse de alguns estudiosos, que retomam sua exploração e descobrem novos caminhos de estudo. Os sólidos Arquimedianos enquadram-se nesse contexto. Eves (2004 apud ALMEIDA, 2010) destaca: “Os trabalhos originais de Arquimedes que tratam de sólidos estão perdidos, assim como grande parte das obras dos matemáticos gregos. Seus trabalhos são conhecidos, principalmente, pelas escritas de comentadores” (p. 83). Pappus de Alexandria foi um desses comentadores e escreveu a Coleção Matemática, descrita em oito livros, cada um existindo como obra única, no qual reúne uma lista de obras antigas, algumas atualmente perdidas. Apenas o quinto livro atribui a Arquimedes a descoberta dos treze sólidos. Cromwell (2008 apud ALMEIDA, 2010) aponta a Coleção Matemática de Pappus como “um manual contendo os clássicos, no qual existem considerações sistemáticas das obras mais importantes da matemática grega, incluindo comentários e descrições históricas de muitos trabalhos” (p.83-84). O quinto livro de Pappus (1876) traz a seguinte consideração sobre os sólidos Arquimedianos: Embora muitos sólidos possam ser concebidos tendo todos os tipos de faces, aqueles que parecem ser formados regularmente são mais merecedores de atenção. Estes não incluem apenas os cinco sólidos encontrados por Platão [...], mas também os sólidos de número treze, que foram descobertos por Arquimedes e que contém polígonos equilaterais e equiangulares, mas não similares. (p. 353). Para a reconstrução desses sólidos Arquimedianos, pudemos contar com a ajuda de alguns artistas do renascimento que produziram os sólidos em suas obras. De acordo com Almeida (2010), os cinco renascentistas são: Piero della Francesca (1412 – 1492), Luca Pacioli (1445 – 1517), Leonardo da Vinci (1452 – 1519), Albert Durer (1471 – 1528) e Daniele Barbaro (1513 – 1570). Eles descrevem em suas obras os sólidos Arquimedianos sem conhecer o estudo realizado por Arquimedes, relatado por Pappus, em escritos que foram impressos 1588 e que não estavam disponíveis antes de 1560. De acordo com Field (1997 apud ALMEIDA, 2010), o que movia os artistas era a busca de sólidos que pudessem ser inscritos em uma esfera, 27 os cortes sobre as arestas de sólidos platônicos não poderiam ser feitos de maneira arbitrária. O processo utilizado por esses artistas e que deu origem a essa redescoberta é chamado de truncatura e consiste na eliminação de partes de um sólido de forma simétrica, que pode ser feita sobre seus vértices ou sobre suas arestas. (ALMEIDA, 2010). Silva (2009) destaca que podemos obter os sólidos Arquimedianos por meio de truncaturas6 de sólidos platônicos, ou seja, ao truncar as arestas de um sólido platônico, pode-se obter alguns sólidos Arquimedianos. Icosaedro (Sólido Platônico) Ao fazer truncaturas (cortes) nos vértices, este sólido obtêm uma nova face. Poliedro Arquimediano formado a partir das truncaturas no Icosaedro. Figura 13: Exemplo de truncatura. Fonte: http://paulosutil.blogspot.com.br/2012/04/poliedros-de-arquimedes-iii-truncaturas.html 6 Encontramos o termo truncaduras e truncaturas, ambos têm o mesmo significado, mas neste trabalho optamos por utilizar o termo truncaturas. 28 Embora não houvesse naquele tempo explicitação ou esquematização do estudo das relações entre sólidos Platônicos e sólidos Arquimedianos e os diferentes processos de construção, a partir de truncaturas, Field (1997 apud Almeida, 2010) “pontua que tais artistas precisaram se dirigir para a Os Elementos de Euclides, mais especificamente ao livro XIII” (p.87), para conseguirem realizar os estudos sobre os sólidos Arquimedianos. De acordo com a classificação dos Poliedros discutida em 2.2, existem os semi-regulares equiangulares e os semi-regulares equifaciais, sendo os primeiros de nosso maior interesse, pois se tratam dos Poliedros Arquimedianos. Dessa forma, segue uma discussão mais aprofundada sobre eles. 3.1 POLIEDROS SEMI-REGULARES EQUIANGULARES De acordo com Rangel (1976), os Poliedros Arquimedianos podem aparecer agrupados em dois gêneros: quando as faces são de dois gêneros, os ângulos sólidos podem ser triédricos, tetraédricos ou pentaédricos e quando as faces são de três gêneros, os ângulos sólidos só podem ser triédricos ou tetraédricos. Para o desenvolvimento do trabalho, é importante sabermos as vinte propriedades dos Poliedros Arquimedianos, incluindo o Teorema de Euler: I. 7 Num Poliedro semi-regular equiangular o número de diedros e o de arestas são iguais, como também, são iguais o número de vértices e o de 8 ângulo sólido . II. Qualquer seção plana em um poliedro semi-regular equiangular é sempre um polígono convexo. III. Uma reta que não pertença nem a uma aresta, nem a uma face, nem a um vértice de um poliedro semi-regular equiangular, só pode ter dois pontos comuns ou nenhum ponto comum com o poliedro. Teorema: “Uma reta não pode ter mais que dois pontos comuns com um poliedro semiregular”. 7 Diedro, em geometria, é uma expansão do conceito de ângulo a um espaço tridimensional. Pode ser definido como o espaço entre dois semiplanos não contidos num mesmo plano com origem numa aresta comum. 8 Ângulo sólido pode ser definido como aquele que, visto do centro de uma esfera, percorre uma dada área sobre a superfície dessa esfera. Para compreender essa ideia, e de maneira simplista, podemos pensar que, se nos considerarmos no centro de uma esfera que abarca sua superfície a área visível do céu, o "ângulo de visão" do céu é o nosso ângulo sólido. 29 (Propriedade atribuída a Descartes) – A soma dos ângulos planos IV. 9 das faces de um poliedro semi-regular equiangular é igual a tantas vezes 360º quantos forem os vértices menos dois. ∑ β = 360º (V - 2) (Propriedade atribuída a Descartes) – A soma dos ângulos planos das V. faces de um poliedro semi-regular equiangular é igual a tantas vezes 360º quantos foram as arestas menos as faces. ∑ β = 360º (A – F) VI. Não existe poliedro semi-regular equiangular que tenha todas as faces com mais de cinco lados, nem ângulos sólidos com mais de cinco arestas. VII. Num poliedro semi-regular equiangular o número de faces que tem número impar de lados é par, é o número de vértices que tem número impar de arestas é par. VIII. Num poliedro semi-regular equiangular o triplo do número de vértices é igual ou menor que o dobro de número de arestas 3.V ≤ 2.A IX. Num poliedro semi-regular equiangular a soma dos ângulos planos que tem um vértice comum é menor que 360º. X. O número de diagonais de um poliedro semi-regular equiangular é dado pela formula. D = C2 V – (A + d) onde: C2 V = é a combinação do número de vértices dois a dois. A = é o número de arestas. d = é o número total de diagonais das faces. XI. Num poliedro semi-regular equiangular o número de faces que tem um vértice comum é igual ao número de arestas que tem esse mesmo vértice comum. XII. Todo poliedro semi-regular equiangular admite, sempre, vários outros 10 poliedros convexos que são seus conjugados . XIII. Em todo poliedro semi-regular equiangular o dobro do número de arestas A é igual ao produto do número V de vértices pelo número m de aresta de um vértice. 2.A = V . m [...] XIV. Em todo poliedro semi-regular equiangular o dobro do número de arestas A é igual ao produto do número V de vértices pelo número N de faces que tem um vértice comum. 2. A = V.N [...] XV. Todo poliedro semi-regular equiangular pode ser decomposto em tantas pirâmides retas quantos são as suas faces. Os vértices comuns da pirâmides são o centro da esfera circunscrita ao poliedro. 9 Um ângulo plano é a abertura formada por duas semi-retas que se encontram em um ponto. Um poliedro dual é obtido ligando os centros de todos os pares de faces adjacentes de qualquer sólido, produzindo-se outro sólido menor. Quando há a dualidade entre dois poliedros dizemos ques estes são poliedros conjugados. 10 30 XVI. Todo poliedro semi-regular equiangular admite esfera circunscrita mas não admite esfera inscrita. A esfera circunscrita a um poliedro semiregular equiangular é inscrita num poliedro semi-regular equifacial, que é seu conjugado. XVII. Em todo poliedro semi-regular equiangular, o dobro do número de arestas A é igual à soma dos produtos do número de faces de mesmo tipo pelo respectivo número de lados. 2.A = Fa a + Fb b + Fc c XVIII. Num poliedro semi-regular equiangular, o produto do número de faces F com L lados, pelo número L desses lados de uma dessas faces, é igual ao produto do número de vértices V pelo número N de faces de L lados que concorrem em um vértice. XIX. A esfera diretriz tangente as arestas de um poliedro semi-regular equiangular, é também tangente as arestas de um poliedro semi-regular equifacial conjugado do primeiro equifacial. XX. Teorema de Euler: “Em todo poliedro semi-regular equiangular, o número de faces mais o número de vértices é igual ao número de arestas mais dois”. F + V = A + 2. (RANGEL, 1976, p.41) 3.2 PESQUISA E DEMOSTRAÇÃO DE QUE SÓ HÁ TREZE GÊNEROS DE POLIEDROS INDIVIDUAIS SEMI-REGULARES Para desenvolvermos esta demonstração serão utilizadas as vinte propriedades dos Poliedros Arquimedianos citadas em 3.1. Subsidiamo-nos do trabalho de Rangel (1976) para apresentar a demonstração quanto aos 13 Poliedros Arquimedianos. Sejam: V o número de vértices; Fa o número de faces de a lados; Fb o número de faces de b lados; Fc o número de faces de c lados; F o número total de faces, isto é: F = Fa + Fb + Fc Na o número de faces de a lados que concorrem em um vértice; Nb o número de faces de b lados que concorrem em um vértice; Nc o número de faces de c lados que concorrem em um vértice; N o número total de faces que concorrem em um vértice, isto é: 31 N = Na + Nb + Nc A o número de aresta, isto é: A= F a . a + F b . b+ F c . c 2 Sabe-se que: Fa . a = V. Na ; ou Fa = V. N a 𝑎 Fb . b = V. Nb ; ; Fb = V. N b 𝑏 ; Fc = Fc . c = V. Nc V. N c 𝑐 como F = Fa + Fb + Fc , vem: F = V( Por outro lado: A = V. N 2 Na 𝑎 + Nb 𝑏 + Nc 𝑐 ). , mas N = Na + Nb + Nc, logo A = V 2 (Na + Nb + Nc). Considera-se, agora, o teorema de Euler: F + V = A + 2, por substituição, tem-se: N V( 𝑎a + V. N a 𝑎 + Nb 𝑏 + V. N b 𝑏 Nc 𝑐 + )+V= V. N c V 2 (Na + Nb + Nc) + 2 (1) +V= 𝑐 V. N a 2 + V. N b 2 + V. N c 2 + 2 ou: 2VbcNa + 2VacNb + 2VabNc + 2Vacb = VNaabc + VNcabc + VNcabc + 4abc 2VbcNa + 2VacNb + 2VabNc + 2Vabc - VNaabc – VNbabc – VNcabc = 4abc V(2bcNa + 2acNb + 2abNc + 2abc - Naabc - Nbabc - Ncabc) = 4abc V{ 2 (bcNa + acNb + abNc) + abc (2 - Na - Nb - Nc)} = 4abc. Para facilitar, seja ∆ a expressão entre chaves, isto é: ∆ = (bcNa + acNb + abNc) + abc (2 - Na - Nb - Nc) vem: 4 2 V = ∆ . abc; A= ∆ . abc (Na + Nb + Nc) 4 4 4 4 Fa = ∆ . bcNa; Fb = ∆ . acNb; Fc = ∆ . abNc; F = ∆ . (bcNa + acNb + abNc). É evidente que os resultados dessas expressões terão que ser inteiros e positivos. Além disso, terão que ser iguais ou maiores que três e, ainda, a ≠ b ≠ c. Quando o poliedro tem apenas dois tipos de faces, a equação (1) fica: N V( 𝑎a + Nb 𝑏 )+V= V 2 (Na + Nb) + 2 Então: V. N a 𝑎 + V. N b 𝑏 +V= V. N a 2 + V. N b 2 +2 2VbNa + 2VaNb + 2Vab + 2Vacb = VNaab + VNcab + 4ab V{ 2 (bNa + aNb ) + ab (2 - Na - Nb)} = 4ab Analogamente, fazendo-se: ∆ = 2 (bNa + aNb ) + ab (2 - Na - Nb) vem: 4 2 V = ∆ . ab; A= ∆ . ab (Na + Nb) 32 4 4 4 Fa = ∆ . bNa; Fb = ∆ . aNb; F = ∆ . (aNb + bNa) Sendo: 3 ≤ (Na + Nb) ≤ 5 Para pesquisar e demonstrar, então, o número de poliedros semi-regulares equiangulares existentes, divide-se o estudo em dois grandes grupos: no primeiro, estão os poliedros que só têm dois tipos de faces, e no segundo, estão os poliedros que têm três tipos de faces. 3.2.1 Pesquisa e demonstração do número de poliedros semi-regulares existente, que só têm dois tipos de faces Antes de iniciarmos as demostrações julgamos pertinente definir a designação que mostrará, por meio de combinações numéricas, a quantidade de polígonos que compõem cada um dos poliedros e suas característica: Optamos pela representação (QT – QT), no qual Q = quantidade de Poliedros e T= tipo de Poliedro, como por exemplo: (33 – 46) = três triângulos e quatro hexágonos ou (304 – 206 – 1210) = trinta quadrados, vinte hexágonos e doze decágonos. Este caso pode ser dividido em três grupos, já que, quando as faces são de dois tipos, os ângulos sólidos são triédricos, ou tetraédricos, ou pentaédricos. Então: 1º grupo: Ângulos sólidos triédricos Na + Nb = 3 O poliedro tem em cada vértice duas faces do mesmo tipo. Essas duas faces não podem ter número ímpar de lados. Sendo a o número de lados de tais faces, e como a soma dos ângulos planos que têm um vértice comum deve ser menor que 4 retos, a só pode ser igual a 4, 6, 8 ou 10, e b ≥ 3 e diferente de a. a não pode ser superior a 10 porque o valor de ∆ será nulo ou negativo, o que não tem sentido. Tem-se: 1º Caso: a = 4 Na = 2 e Nb = 1 Vem: ∆ = 8 então: V = 2b; F4 = b; Fb = 2; F = b + 2; A = 3b. Como b tem que ser inteiro e positivo, essas expressões são, também, inteiras e positivas. 33 Logo, há um número infinito de poliedros tendo em cada vértice um ângulo triédrico e a cada vértice pertencem três faces, sendo duas do mesmo tipo. Esses, são os poliedros chamados “Prismas Arquimedianos” e é fácil compreender que uma das faces de um ângulo triédrico pode ser um polígono regular convexo qualquer, mas, as outras faces tem que ser quadrados. 2º Caso: a = 6 Na = 2 e Nb = 1 Vem: ∆ = 12- 2b, onde b só pode ser 3, 4 ou 5. Então: 2º a): para b = 3. ∆ = 6; V = 12; F6 = 4; F3 = 4; F = 8; A = 18. É, pois, um poliedro com 8 faces sendo 4 hexagonais e 4 triangulares. É mais conhecido por Tetraedro Truncado ou Tronco-Tetraedro11; modernamente chama-se Triahexagonal 43 – 46. Possui 18 arestas, 12 vértices e 12 diagonais. Seus ângulos são triédricos, formados por um triângulo e dois hexágonos. Cada vértice tem três arestas. É o conjugado do dodecaedro triangular (antigo triakis tetrahedron, também chamado octatriedro ou trioctaedro). Figura 14: Tetraedro truncado. Fonte: a autora, 2012 11 Adotaremos para este trabalho a nomenclatura antiga dos Poliedros Arquimedianos, pois a moderna não é muito conhecida, nem utilizada. 34 2º b): para b = 4 ∆ = 4; V = 24; F6 = 8; F4 = 6; F = 14; A = 36. É, pois, um poliedro com 14 faces sendo 8 hexagonais e 6 quadradas. É mais conhecido por Octaedro Truncado ou Tronco-octaedro; modernamente chama-se Quadrahexagonal (64 – 86). Possui 36 arestas, 24 vértices e 158 diagonais. Seus ângulos são triédricos, formados por um quadrado e dois hexágonos. Cada vértice tem três arestas. É o conjugado do icositetraedro triangular (antigo triakis hexahedron, também chamado tetrahexaedro). Figura 15: Octaedro truncado. Fonte: a autora, 2012 2º c): para b = 5 ∆ = 2; V = 60; F2 = 12; F6 = 20; F = 32; A = 90. É, pois, um poliedro com 32 faces sendo 12 pentagonais e 20 hexagonais. É mais conhecido por Icosaedro Truncado ou Tronco-icosaedro; modernamente chama-se Pentahexagonal (125 – 206). Possui 90 arestas, 60 vértices e 1440 diagonais. Seus ângulos são triédricos, formados por um pentágono e dois hexágonos. Cada vértice tem três arestas. É o conjugado do hexacontrado triangular (antigo pentakis dodecahedron). 35 Figura 16: Icosaedro Truncado. Fonte: a autora, 2012 3º Caso: a = 8 Na = 2 e Nb = 1 Vem: ∆ = 16 – 4b onde b só pode ser 3. Então: ∆ = 4; V = 24; F8 = 6; F3 = 8; F = 14; A = 36. É, pois, um poliedro com 14 faces sendo 6 octogonais e 8 triangulares. É mais conhecido por Cubo Truncado ou Tronco-cubo; modernamente chama-se triotogonal (83 – 68). Possui 36 arestas, 24 vértices e 120 diagonais. Seus ângulos são triédricos, formados por um triângulo e dois octógonos. Cada vértice tem três arestas. É o conjugado do icositetraedro triangular (antigo triakis octahedron). Figura 17: Cubo Truncado. Fonte: a autora, 2012 36 4º caso: a = 10 Na = 2 e Nb = 1 Vem: ∆ = 20 = 6b onde b só pode ser 3. Então: ∆ = 2; V = 60; F10 = 12; F3 = 20; F = 32; A = 90. É, pois, um poliedro com 32 faces sendo 12 decagonais e 20 triangulares. É mais conhecido por Dodecaedro Truncado ou Tronco-dodecaedro; modernamente chama-se triadecagonal (203 – 1210). Possui 90 arestas, 60 vértices e 1260 diagonais. Seus ângulos sólidos são triédricos, formados por um triângulo e dois decágonos. Cada vértice tem três arestas. É o conjugado do hexacontaedro triangular ( antigo triakis octahedron). Figura 18: Dodecaedro Truncado. Fonte: a autora, 2012 2º grupo: Ângulos sólidos tetraédricos Na + Nb = 4 O poliedro só pode apresentar uma das seguintes formas: a) – há três faces iguais entre si e uma diferente. b) – as faces são iguais duas a duas. Como a soma dos ângulos planos que tem um vértice comum deve ser menor que 4 retos, na forma a (primeira hipótese) as faces iguais só podem ser triângulos equiláteros ou, quadrados; na forma b (segunda hipótese), só se pode ter um dos seguintes casos: I)- dois triângulos equiláteros e dois quadrados; 37 II)- dois triângulos equiláteros e dois pentágonos regulares. Tem-se: 1º caso: a = 3 Na = 3 e Nb = 1 Vem: ∆ = 6 então: V = 26; Fa = 2b; Fb = 2; F = 2b + 2; A = 4b Como b tem que ser inteiro e positivo, o resultado dessas expressões serão, também, inteiras e positivas. Logo, há um número infinito de poliedros tendo em cada vértice um ângulo tetraédrico e a cada vértice pertencem 4 faces, sendo três do mesmo tipo. Esses são os poliedros chamados “Antiprismas Arquimedianos” ou “Prismas Torcidos”, e é fácil compreender que uma das faces de um ângulo tetraédrico pode ser um polígono regular convexo qualquer, mas as outras têm que ser triângulos equiláteros. 2º caso: a = 4 Na = 3 e Nb = 1 Vem: ∆ = 8 – 2b que é positiva, apenas para b = 3. Então: ∆ = 2; V = 24; F4 = 18; F3 = 8; F = 26; A = 48 É, pois, um poliedro com 26 faces sendo 18 faces quadradas e 8 faces triangulares. É mais conhecido por Rombicuboctaedro; modernamente chama-se Triaquadrangular (83 – 184). Possui 48 arestas, 24 vértices e 192 diagonais. Os ângulos são tetraédricos, formados por um triângulo e três quadrados. Cada vértice tem quatro arestas. As 6 faces quadradas são as que tem lado comum com os triângulos. É o conjugado do icositetraedro trapezoidal. 38 Figura 19: Rombicuboctaedro. Fonte: a autora, 2012 OBSERVAÇÃO: Existe, também, outro poliedro semi-regular com o mesmo número de vértices (24), o mesmo número de faces quadradas (18), o mesmo número de faces triangulares (8) e o mesmo número de arestas (48). Seu aspecto lembra o de um rombicuboctaedro em que se deu uma rotação numa calota poliédrica. Embora esse poliedro apresente algumas características dos poliedros semi-regulares Arquimedianos, não é estudado como tal, por não satisfazer a todas elas. 3º caso: a = 3 Na = 2 e Nb = 2 Vem: ∆ = 12 -2b onde b só pode ser 4 ou 5. Então: 3º a): - para b = 4 ∆ = 4; V = 12; F3 = 8; F4 = 6; F = 14; A = 24. É, pois, um poliedro com 14 faces sendo 8 triangulares e 6 quadradas. É mais conhecido por Cuboctaedro; modernamente chama-se triaquadrangular (83 – 64). Possui 24 arestas, 12 vértices e 30 diagonais. Seus ângulos são tetraédricos, formados por dois triângulos e dois quadrados. Cada vértice tem quatro arestas. É o conjugado do dodecaedro romboidal. 39 Figura 20: Cuboctaedro. Fonte: a autora, 2012 3º b): - para b = 5 ∆ = 2; V = 30; F3 = 20; F3 = 12; F = 32; A = 60. É, pois, um poliedro com 32 faces sendo 20 triangulares e 12 pentagonais. É mais conhecido por Icosidodecaedro ou Dodecaicosaedro; modernamente chama-se triapentagonal (203 – 125). Possui 60 arestas, 30 vértices e 315 diagonais. Seus ângulos são tetraédricos, formados por dois triângulos e dois pentágonos. Cada vértice tem quatro arestas. É o conjugado do triacontaedro romboidal. Figura 21: Dodecaicosaedro. Fonte: a autora, 2012 40 3º grupo: Ângulos sólidos pentaédricos Na + Nb = 5 Considerando que a soma dos ângulos planos que têm um vértice comum deve ser menor que quatro retos, que cada ângulo sólido é pentaédrico, isto é, reúne cinco polígonos no vértice, e que o poliedro tem apenas dois tipos de faces, conclue-se que a cada vértice tem que pertencer quatro triângulos equiláteros. Tem-se: 1º caso: a = 3 Na = 4 e Nb = 1 Vem: ∆ = 6 – b onde b só pode ser 4 ou 5, pois tem que ser inteiro. 2º a) : - para b = 4 ∆ = 2; V = 24; F3 = 32; F4 = 6; F = 38; A = 60. É, pois, um poliedro com 38 faces sendo 32 triangulares e 6 quadradas. É mais conhecido por Cubo-rombo ou Cubo Achatado; modernamente chama-se triaquadrangular (323 – 64). Possui 60 arestas, 24 vértices e 204 diagonais. Seus ângulos são pentaédricos, formados por um quadrado e quatro triângulos. Cada vértice tem cinco arestas. As 8 faces triangulares são as que tem lado comum com os quadrados. É o conjugado do icositetraedro pentagonal. Figura 22: Cubo – Rombo. Fonte: a autora, 2012 41 2º b): - para b = 5 ∆ = 1; V = 60; F3 = 80; F5 = 12; F = 92; A = 150. É, pois, um poliedro com 92 faces sendo 80 triangulares e 12 pentagonais. É mais conhecido por Dodecaedro-rombo ou Dodecaedro Achatado; modernamente chamase triapentagonal (803 – 125). Possui 150 arestas, 60 vértices e 1560 diagonais. Seus ângulos são pentaédricos, formados por quatro triângulos e um pentágono. Cada vértice tem cinco arestas. É o conjugado do hexacontaedro pentagonal. Figura 23: Dodecaedro – Rombo. Fonte: a autora, 2012 Ficou, então, demonstrado que só existem 10 tipos de poliedros semiregulares arquimedianos individuais que tem apenas dois tipos de faces. Existem, ainda, dois grandes grupos, com três tipos de faces, também. 3.2.2 Pesquisa e Demostração do número de equiangulares existentes, que têm três tipos de faces Poliedros semi-regulares Este caso pode ser dividido em dois grupos, já que os ângulos sólidos ou são triédricos ou são pentaédricos. Então: 1º grupo: ângulos sólidos triédricos: Na + Nb + Nc = 3 Como as faces de um ângulo sólido não podem ter número impar de lados, tem-se: 42 1º caso: a = 4 Na = Nb = Nc = 1 Vem: ∆ = 8 (b + c) – 2bc onde ∆ tem que ser inteiro e positivo, e isso só acontece para b = 6 e c = 8, ou para b = 6 e c = 10. Então: 1º a): - para b = 6 e c = 8 ∆ = 16; V = 48; F4 = 12; F6 = 8; F8 = 6 F = 26; A = 72. É, pois, um poliedro com 26 faces sendo 12 quadradas, 8 hexagonais e 6 ortogonais. É mais conhecido por Cuboctaedro truncado ou Tronco-cuboctaedro; modernamente chama-se quadrahexagonal (124 – 86 – 68). Possui 72 arestas, 48 vértices e 840 diagonais. Seus ângulos são triédricos, formados por um quadrado, um hexágono e um octógono. Cada vértice tem três arestas. É o conjugado do hexacontaedro triangular (antigo hexakis octahedron). Figura 24: Cuboctaedro Truncado. Fonte: a autora, 2012 1º b): - para b = 6 e c = 10 ∆ = 8; V = 120; F4 = 30; F6 = 20; F10 = 12 F = 62; A = 180. É, pois, um poliedro com 62 faces, sendo 30 quadradas, 20 hexagonais e 12 decagonais. É mais conhecido por Icosidodecaedro Truncado ou Troncoicosidadecaedro; modernamente chama-se quadrapentadecagonal (304 – 206 – 1210). Possui 180 arestas, 120 vértices e 6300 diagonais. Seus ângulos são triédricos, formados por um quadrado, um hexágono e um decágono. Cada vértice 43 tem três arestas. É o conjunto do duohexacontaedro triangular (antigo hexakis icosahedron). Figura 25: Icosidodecaedro Truncado. Fonte: a autora, 2012 2º grupo: ângulos sólidos tetraédricos: Na + Nb + Nc = 4 Como a soma dos ângulos planos que têm um vértice comum deve ser menor que quatro retos, e como não pode haver mais que uma face triangular pertencente ao mesmo vértice, tem-se: a=4 N = 2 e Nb = Nc = 1 Vem: ∆ = 4 [2 (b + c) – bc] onde b e c têm que ser diferentes de 4 e maiores que 2. Sendo b = 3, tem-se ∆ = 4 (6 – c), onde c tem que ser igual a 5 para que a expressão seja inteira e positiva. Logo, para: a = 4; b = 4; c = 5 Na = 2; Nb = Nc = 1 F3 = 20; F4 = 30 ∆ = 4; V = 60; F3 = 20; F4 = 30; F5 = 12 F = 62; A = 120. É, pois um poliedro com 62 faces sendo 20 triangulares, 30 quadrangulares e 12 pentagonais. É mais conhecido por Rombicosidodecaedro; modernamente chamase triaquadrapentagonal (203 – 304 - 125). Possui 120 arestas, 60 vértices e 1530 diagonais. Seus ângulos são pentaédricos, formado por um triângulo e dois quadrados e um pentágono. Cada vértice tem quatro arestas. É o conjugado do 44 hexacontaedro trapezoidal. Seus ângulos são pentaédricos, formado por um triângulo e três quadrados. Cada vértice tem quatro arestas. Figura 26: Rombicosidodecaedro. Fonte: a autora, 2012 Ficou demonstrado que só há 13 tipos de poliedros semi-regulares equiangulares individuais e mais dois grandes grupos distintos. A maneira de agrupamento desses poliedros já foi mostrada na classificação dos poliedros e se justifica da seguinte forma: o modo mais simples de serem relacionados com os poliedros regulares convexos é por meio de truncaturas nesses últimos. Daí, tem-se um tetratroncoedro (truncaturas num octaedro); seis cuboctatroncoedros (truncaturas num cubo ou num octaedro); seis dodecaicositroncoedros (truncaturas num dodecaedro ou num icosaedro). Para mostrar as truncaturas mais simples, considera-se, por definição, o seguinte: a) Chama-se truncatura em um vértice uma seção plana em todas as arestas que pertencem a esse vértice. b) Chama-se truncatura numa aresta uma seção plana paralela a essa aresta. Além disso, é necessário destacar dois tipos de truncatura em um vértice: o tipo I é obtida se cada aresta é cortada ao meio e o tipo II é obtida se cada aresta é cortada em três partes iguais. 45 Figura 27: Representações de truncaturas nos vértices de um sólido geométrico Fonte: http://mandrake.mat.ufrgs.br/~mem023/20072/anuar/midia_mat.htm Estas definições serão uteis para a descrição da proposta na qual utilizaremos truncaturas nos vértices. 46 4 O ENSINO DOS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS Os Poliedros Arquimedianos pertencem à geometria espacial, que está ligada à visualização e interpretação de objetos tridimensionais e suas representações. Conforme os levantamentos feitos em 2.1, concluímos que a maioria dos autores de livros, incluindo os didáticos, prefere trabalhar com os Poliedros regulares convexos, provavelmente pela questão de simplicidade de suas formas e representações, portanto praticamente inexistem estudos sobre os Poliedros Arquimedianos. Segundo Almeida (2010), Os Sólidos Arquimedianos eram estudados em Desenho Geométrico, disciplina que dava suporte para que suas propriedades geométricas fossem exploradas por meios das suas construções. Contudo, com a substituição de Desenho Geométrico por Educação Artística no currículo, esse conhecimento de ensino passou a não ser mais abordado. (p. 59). A partir dessa questão podemos pensar na possibilidade e relevância dos conteúdos do desenho geométrico, encontrados hoje apenas nas faculdades e universidades, serem explorados em outra matéria, ou até mesmo em uma disciplina opcional em contra turno para que os alunos não deixassem de conhecer as propriedades e construções desses sólidos importantes. Em geral, é difícil assimilarmos objetos tridimensionais desenhados no plano, como por exemplo, no quadro negro ou em uma folha de papel, com a representação real da figura, sem contar que desenhos no plano acarretam uma perda de informações e geram conflitos com o que está sendo visto e como é representado no espaço. Com os estudos e reflexões desenvolvidos até aqui, percebemos a necessidade de incluir no currículo estudos direcionados aos Poliedros Arquimedianos na educação básica. De acordo com Almeida (2010), o estudo desses Poliedros é pouco explorado, pela dificuldade de visualização e representação. Outro problema encontrado são as pesquisas que envolvem os Poliedros Arquimedianos, pois se encontram reduzidas haja vista a carência de literatura que abrange esse assunto no Brasil. Ao considerarmos esses aspectos, acreditamos que a utilização de materiais manipuláveis para o estudo das truncaturas e a utilização de um software de geometria que facilite a visualização e 47 caracterização, são possibilidades para o ensino dos Poliedros Arquimedianos na educação. Assim elaboramos a seguinte questão: Como os Poliedros Arquimedianos podem ser resgatados enquanto objeto de estudo e ensino na educação básica? A seguir apresentamos metodologias que podem ser utilizadas para responder nossa questão de pesquisa. 4.1 A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS MANIPULAVEIS E SOFTWARES NAS AULAS DE MATEMÁTICA De acordo com Fiorentini e Miorim (1990) alunos e professores encontram muitas dificuldades no processo de ensino-aprendizagem da matemática. O aluno não consegue entender a matemática que a escola lhe ensina, muitas vezes é reprovado nesta disciplina ou mesmo que aprovado, sente dificuldades em utilizar o conhecimento "adquirido", não o assimila ao seu dia a dia e não vê aplicação. Em síntese, não consegue efetivamente ter acesso a esse saber de fundamental importância. Por outro lado temos o professor que, apesar de todo esforço e o pouco tempo destinado para elaborar “novas” atividades, tem consciência de que não consegue alcançar resultados satisfatórios junto a seus alunos. De acordo ainda com os mesmos autores, o professor [...] procura novos elementos - muitas vezes, meras receitas de como ensinar determinados conteúdos - que, acredita, possam melhorar este quadro. Uma evidência disso é, positivamente, a participação cada vez mais crescente de professores nos encontros, conferências ou cursos. (FIORENTINI; MIORIM, 1990, p. 1) Nas escolas os professores se deparam com materiais manipuláveis e jogos, alguns desses materiais já conhecidos, outros não, mas muitas vezes o professor não encontra uma maneira de utilizá-lo em suas aulas. A não utilização de diferentes metodologias pode tornar as aulas monótonas, repetitivas e desinteresantes aos alunos. Quando os professores participam de encontros, conferências ou cursos conhecem uma maneira diferenciada de trabalhar com esses materiais, despertando a vontade de utilizá-los nas salas de aula, o que pode melhorar o conhecimento dos alunos e auxiliar nos processos de ensino e de aprendizagem. Se considerarmos que estudar matemática proporciona o desenvolvimento do raciocínio lógico, estimula o pensamento independente, o desenvolvimento da 48 criatividade, a capacidade de manejar situações reais e resolver diferentes tipos de problemas, então precisaremos que o ensino da mesma não seja apenas com aulas expositivas, mas que os professores partam em busca de altenativas que permitam desenvolver nos alunos essas qualidades. Pautados em Novello et al (2009), pensamos que os materiais manipuláveis venham a ser uma possível alternativa para auxiliar as aulas de matemática, pois podem promover uma aula interativa, incentivando a busca, o interesse, a curiosidade e o espírito de investigação, instigando os alunos na elaboração de perguntas, verificação de relações, criação de hipóteses e descobertas. Os PCN (BRASIL, 1997) destacam a utilização de materiais concretos pelos professores como um recurso alternativo que pode tornar bastante significativo o processo de ensino-aprendizagem da Matemática. Na geometria encontramos um campo propício e amplo para a utilização de materiais manipuláveis, visto que em muitas circunstâncias é indispensável a concretização de situações para ajudar os alunos na compreensão dos problemas e dos conceitos. Para Almiro (2004), muitos alunos não aprendem apenas com a demonstração passada pelo professor, sendo necessários alguns materiais para que ele possa mexer, interpretar e verificar suas características. O ato de manipular permite ao aluno experimentar padrões que são essenciais na matemática. É importante salientarmos que a utilização de materiais manipuláveis não garante uma aprendizagem significativa e cabe ao professor o papel de obter bons resultados, encontrando o momento certo para utilizá-los. Segundo Fiorentini e Miorim ( 1990), Ao aluno deve ser dado o direito de aprender. Não um 'aprender' mecânico, repetitivo, de fazer sem saber o que faz e por que faz. Um aprender significativo do qual o aluno participe raciocinando, compreendendo, reelaborando o saber historicamente produzido e superando, assim, sua visão ingênua, fragmentada e parcial da realidade. (p. 2). O material manipulável pode ser fundamental para que isso ocorra. Neste sentido, o material mais adequado nem sempre será o visualmente mais bonito e nem o já construído. Muitas vezes, durante a construção de um material o aluno tem a oportunidade de aprender matemática de forma mais efetiva. 49 Da mesma forma que os materiais manipuláveis vêm para auxiliar na aula e colaborar com o aprendizado dos alunos, as tecnologias, particularmente os softwares, também enriquecem as aulas e podem auxiliar no aprendizado. Nas aulas de matemática, principalmente na área da geometria espacial, a qual necessita de visualizações de objetos no espaço, muitos alunos apresentam dificuldades em entender certos conceitos, podemos citar um exemplo simples como a distinção entre um quadrado e um cubo. Para diminuir estas dificuldades podemos utilizar um software de geometria, pois este colabora para à visualização, comparação e até elaboração de cálculos respectivos a eles. Desta forma, as tecnologias podem auxiliar o professor na explicação e colaborar para um melhor entendimento da matéria pelo aluno. A utilização de computadores, softwares, internet e programas ampliam as possibilidades de ensino para além das salas de aula, na qual os alunos podem estudar e relembrar os conteúdos vistos na sua própria casa. A presença das tecnologias, principalmente do computador, requer das instituições de ensino e do professor novas posturas frente ao processo de ensino e de aprendizagem. Nesse contexto, Dullius et al (2006) defendem que [...] a questão do uso desses recursos, particularmente na educação, ocupa posição central e, por isso, é importante refletir sobre as mudanças educacionais provocadas por essas tecnologias, propondo novas práticas docentes e buscando proporcionar experiências de aprendizagem significativas para os alunos. (p. 2). De acordo com Kenski (2007), no ensino que envolve tecnologias de uma forma geral, em nosso caso mais especificamente os softwares, o professor passa a auxiliar os alunos, que por sua vez desenvolvem a criatividade utilizando outros tipos de “racionalidade” como a imaginação criadora, a sensibilidade tátil, a visualização e audição. Weinert et al (2011), consideram que as tecnologias são parte integrante do dia-a-dia das crianças e adolescentes, é responsabilidade dos gestores e professores, acolhê-las como aliadas em seu trabalho, utilizando-a como ferramenta para o processo de ensino e aprendizagem e também formando para o uso correto dessas tecnologias. (p. 4) O professor deve sempre estar se aprimorando, pois o desenvolvimento tecnológico, a comunicação e a informática se renovam a cada dia. O professor não precisa saber tudo na área da informática, mas é fundamental que conheça alguns 50 programas e softwares, que venham a enriquecer a aula, melhorar o entendimento dos alunos e poupar trabalho. Cabe destacar que Assis (2011), define software educativo da seguinte forma: Software educativo – são desenvolvidos especialmente para a construção do conhecimento relativo a um conteúdo didático em uma determinada área com ou sem a mediação do professor. O objetivo de um software educativo é favorecer os processos de ensino-aprendizagem e sua principal característica é seu caráter didático. Nesse sentido, os principais objetivos desses softwares é que eles servem para auxiliar o professor a utilizar o computador como ferramenta pedagógica, servir de fonte de informação, auxiliar o processo de construção de conhecimentos e desenvolver a autonomia do raciocínio, da reflexão e da criação de soluções. (p. 3) Segundo Souza (2011), ao utilizarmos softwares adequados para determinados assuntos da geometria possibilitamos aos alunos as seguintes etapas: visualização, na qual as formas são compreendidas pelas suas aparências; análise, a partir de suas propriedades; ordenação, pela hierarquização lógica das propriedades; dedução, compreensão da Geometria como sistema dedutivo; e rigor, apoiado nos diversos sistemas axiomáticos. Para desenvolvermos este trabalho optamos pelo software Poly, um programa shareware (funciona por tempo determinado ou apresenta limitações, depois precisa ser comprado), desenvolvido para exploração e construção de Poliedros. O Poly ainda não possui versão em português, mas apresenta uma interface simples de trabalhar e de fácil acesso, podendo ser baixado uma versão de teste/avaliação gratuitamente pelo site http://www.peda.com/poly/. Pode ser instalado nos sistemas operacionais: Windows 95, 98, 2000, XP, Vista e 7. O Poly possibilita estudos de vários sólidos sendo eles: Sólidos de Platão; Sólidos de Arquimedes; Prismas e Antiprismas; Sólidos de Johnson; Sólidos de Catalan; Dipirâmides e Deltoedros; Esferas e Domos Geodésicos. Permite visualizar figuras geométricas tridimensionais de vários ângulos, alterar o tamanho, planificá-las, girálas, salvá-las como gif animado12, visualizar em projeção paralela ortogonal e colorir com as cores desejadas. Foi desenvolvido para o estudo da geometria no ensino médio e é caracterizado como software dinâmico e educacional.Os softwares nos 12 GIF animado é o termo dado às animações formadas por várias imagens GIFcompactadas numa só. É utilizado para compactar objetos em jogos eletrônicos, para usar como emoticon em mensageiros instantâneos, para enfeitar sites na Internet, entre outros. 51 permitem observar propriedades geométricas que dificilmente conseguiríamos utilizando apenas o quadro e o giz. Com o desenvolvimento de atividades que envolvem os softwares os alunos podem migrar de uma atividade mecânica para uma atividade dinâmica. Nesse processo, as figuras tornam-se agentes no processo investigativo, já que o estudante pode perceber a diferença entre desenhar e construir uma figura, verificando que, para construí-la, não basta apenas chegar a uma aproximação desejada, mas ter a clareza sobre as relações entre os diferentes elementos que ela possui de forma que, ao ser arrastada, mantenham-se as propriedades geométricas. (ASSIS, 2011 p. 4) Com os levantamentos feitos sobre a utilização das tecnologias e materiais manipuláveis, podemos perceber a possível contribuição dessas alternativas metodológicas para a abordagem, particularmente, dos Poliedros Arquimedianos na educação básica, como alternativa para a superação das dificuldades relatadas pelas pesquisas que se relacionam, sobretudo, da visualização dos sólidos geométricos. 52 5 DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE ENSINO Retornaremos a alguns aspectos já estudados no segundo e terceiro capítulos para apresentarmos uma possível proposta para o ensino e aprendizagem dos Poliedros Arquimedianos e a sua inclusão na educação básica por meio de materiais manipuláveis e do software Poly. Por acreditarmos que o objetivo desse capítulo é apresentar tarefas que apontem possibilidades para o ensino dos Poliedros Arquimedianos, optaremos por discorrer sobre quatro dos treze sólidos existentes, sendo eles: o octaedro truncado, o icosaedro truncado, o cuboctaedro e o cuboctaedro truncado, sendo que as questões discutidas para esses poliedros particulares podem ser estendidas aos demais. As tarefas apresentadas a seguir têm por objetivos (i) mostrar como os Poliedros Arquimedianos podem ser construídos, a partir de truncaturas, e (ii) discutir as características desses poliedros em termos de suas planificações, faces, arestas e vértices. Os dois tipos de ambientes que discutimos no presente trabalho podem contribuir com os dois objetivos. Contudo, destacamos que a utilização de material manipulável estará mais direcionada ao primeiro, enquando o segundo se subsidia do software Poly. Discutimos inicialmente o software Poly para depois partirmos para os materiais manipuláveis, pois desta forma os alunos já conhecerão as figuras, suas características e propriedades. Ao fazermos uso do software conseguimos apresentar e estudar mais figuras em um menor tempo. A escolha pelo software Poly se deu pela abrangência nos principais tópicos que queremos estudar com os alunos. Nossos objetivos serão investigá-los, movimentá-los para visualizar diferentes perspectivas, verificar sua planificação, e discutir algumas características desses poliedros para torná-los familiares aos alunos. Cabe salientar que, para nos situarmos melhor no software Poly, é importante colocarmos os nomes como os Poliedros Arquimedianos aparecem no mesmo, pois em alguns casos eles são escritos de forma diferente. Segue a baixo a nomeclatura utilizada pelo software: 53 O Tetraedro Truncado, o Octaedro Truncado, o Icosaedro Truncado, o Cubo Truncado, o Dodecaedro, o Rombicuboctaedro, o Cuboctaedro e o Rombicosidodecaedro aparecem com a mesma nomenclatura; O Dodecaicosaedro aparece como Icosidodecaedro; O Cubo-Rombo aparece como Cuboctaedro Snub; O Dodecaedro-Rombo aparece como Icosidodecaedro Snub; O Cuboctaedro Truncado aparece como Cuboctaedro Rombitruncado; O Icosidodecaedro Truncado aparece como Icosidodecaedro Rombitruncado. Desta forma começaremos nosso estudo pelo Poliedro Octaedro Truncado. 5.1 ESTUDANDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS COM O SOFTWARE POLY No item 3.1 foram apresentadas as propriedades que caracterizam os Poliedros Arquimedianos. Contudo, acreditamos ser consensual que alguns deles envolvem conceitos algébricos e geométricos bastante complexos, cuja exploração não seria adequada na educação básica. Dessa forma, trazemos algumas características daquelas propriedades para estruturar as tarefas envolvendo uma software Poly. Como objetivos dessa exploração, elencamos basicamente quatro: 1. Retomar e ratificar os conceitos de face, aresta e vértice de um Poliedro; 2. Estudar quais e quantas faces de cada tipo possui um determinado Poliedro Arquimediano. 3. Investigar o número de arestas e vértices do Poliedro em estudo e como são constituídos (número de arestas) cada um dos vértices; 4. Investigar a relação existente entre os vértices dos Poliedros Arquimedianos, a partir dos ângulos das faces que os formam. O software possibilia a visualização de cada poliedro de três maneiras diferentes: visualização em três dimensões, em que é possível girar o poliedro em todas as direções, possibilitando uma visão bastante abrangente e próxima da realidade. Uma segunda possibilidade é a planificação do poliedro que pode ser realizada pelo próprio indivíduo num processo interativo de simulação semelhante àquele que é feito quando se planifica as faces de um sólido geométrico, utilizando papel, por exemplo. Por fim, o software ainda permite uma vista em projeção 54 paralela ortogonal, que possibilita a vista frontal do poliedro com uma visão bidimencional dele, em diferentes perspectivas, uma vez que essas vistas também podem ser movimentadas/giradas. Para alcançarmos os objetivos citados acima sugerimos um roteiro para orientar os alunos na exploração. Para isto os conceitos de ângulo interno, ângulo plano e ângulo sólido já devem ter sido estudados anteriormente. Primeiramente será estudado apenas quatro dos treze Poliedros Arquimedianos sendo eles: Octaedro Truncado, Icosaedro Truncado, Cuboctaedro e Cuboctaedro truncado, a partir da exploração feita nestes será respondido as questões do roteiro. Na sequência serão feitas algumas generalização sobre eles, para só depois os alunos explorarem e conhecerem os demais, verificando a adequebilidade das conclusões obtidas, para os demais Poliedros. ROTEIRO: ESTUDANDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS NO SOFTWARE POLY Orientações para utilização do software Poly: Como utilizar o software Poly: Primeiramente abra o software, então aparecera uma janela que deve ser maximilizada (conforme figura ao lado). O software abrirá direto nos Poliedros Platônicos. Clique na aba “Poliedros Platônicos” (Platonic Solids, em inglês) e altere para os Aquimedianos (Archimedean Solids, em inglês). A aba abaixo dessa primeira permite que você escolha o poliedro a ser representado na janela de visualização. Abaixo das abras encontra-se “quadradinho(s)” que possibilitam alterar a(s) cor(es) do poliedro. Acima das abas anterioriores encontram-se quatro “representações”, que se referem as possibilidades de visualização do Poliedros. O primeiro permite uma visão tridimensional do Poliedro, porém não marca as suas arestas. O segundo também permite uma visão tridimencional do Poliedro, mas marca suas arestas. O terceiro permite uma visão planificada da figura, ou seja permite vê-la aberta. O quarto permite uma visão paralela ortogonal, que seria uma visão bidimencional do Poliedro. Continua... 55 Por fim, abaixo do menu de cores encontra-se uma “barrinha” com seletor que, quando movimentado, abre (planifica) e/ou fecha o poliedro. Os Poliedros Arquimedianos numerados treze são conhecidos por: tetraedro truncado, cuboctaedro, cubo truncado, octaedro truncado, dodecaedro truncado, icosaedro truncado, icosidodecaedro, icosidodecaedro truncado, rombicuboctaedro, rombicosidodecaedro e cuboctaedro truncado, cubo achatado e o dodecaedro achatado. O software Poly assume algumas nomenclaturas diferentes para o Poliedros Arquimedianos: O Tetraedro Truncado, o Octaedro Truncado, o Icosaedro Truncado, o Cubo Truncado, o Dodecaedro Truncado, o Rombicuboctaedro, o Cuboctaedro e o Rombicosidodecaedro aparecem com a mesma nomenclatura. O Dodecaicosaedro aparece como Icosidodecaedro. O Cubo-Rombo aparece como Cuboctaedro Snub. O Dodecaedro-Rombo aparece como Icosidodecaedro Snub. Rombitruncado. O O Cuboctaedro Icosidodecaedro Truncado Truncado aparece aparece como como Cuboctaedro Icosidodecaedro Rombitruncado. Conceitos geométricos necessários: Ângulo sólido pode ser definido como aquele que, visto do centro de uma esfera, percorre uma dada área sobre a superfície dessa esfera. Para compreender essa ideia, e de maneira simplista, podemos pensar que, se nos considerarmos no centro de uma esfera que abarca na sua superfície a área visível do céu, o "ângulo de visão" do céu é o nosso ângulo sólido. Ou para uma melhor compeensão o ângulo sólido será o encontro das arestas que formam um vértice, este pode ser: triédrico, tetraédrico ou pentaédrico. Um ângulo plano é a abertura formada por duas semi-retas que se encontram em um ponto. Conhecendo o software e os conceitos anteriores, realize as seguintes tarefas: 1) 1) Com o auxilio do software Poly faça a visualização dos Poliedros em: três dimensões, planificação e visão paralela ortogonal. Em seguida responda no quadro ao final desse roteiro: a) a) Quantas faces, arestas e vértices o Octaedro Truncado, o Icosaedro Truncado, o Cuboctaedro e o Cuboctaedro Truncado possuem? b) b) Quantas arestas formam cada vértice dos Poliedros: Octaedro Truncado, icosaedro truncado, Cuboctaedro e Cuboctaedro truncado. Como se denomina o ângulo sólido formado pelo encontro das arestas no vértice de cada um dos 4 Poliedros? c) A partir da número (b) responda: quais faces formam os ângulos planos e qual é o valor da soma dos ângulos planos comuns a um dos vértices? c) 2) Quais relações são possíveis fazer no que se refere às faces (tipos, quantidades), vértices (quantidade), arestas (quantidade) e ângulos (planos e sólidos) dos Poliedros Arquimedianos Analisados? Continua... 56 d) 3) A partir dessas observações é possível estabelecer fórmulas gerais para calcular a quantidade de faces, arestas, vértices, arestas que formam um vértice e a soma dos ângulos planos. Você consegue deduzi-las? 4) Verifique se suas conjecturas são válidas para os demais Poliedros Arquimedianos. Poliedros Octaedro Truncado Icosaedro truncado Cuboctaedro Cuboctaedro Truncado Nº de faces. Nº de arestas. Nº vértices. Quantas arestas formam cada cada vértice. Como se denomina os ângulos sólidos. Quais faces formam os ângulos planos. Qual é o valor da soma dos ângulos planos comuns a cada um dos vértices. Quais relações são possíveis de fazer, quanto as faces, vértices, arestas e ângulos. Você consegue estabelecer fórmulas que auxiliam nos calculos dos tópcos pedidos acima. Descreveremos alguns resultados que podem ser obtidos com a utilização do roteiro e a exploração no software Poly. A figura a seguir apresenta os três tipos de representação para o Octaedro Truncado, e ratificamos que o software não as trabalha de maneira estanque. Ele possibilita movimentos de giro em todas elas, o que favorece a percepção das caraterísticas dos poliedros a partir de diferentes perspectivas de visualização, seja em três dimensões, na sua planificação ou a partir da vista da projeção ortogonal. 57 Visualizações em três dimensões do Octaedro truncado. Visualizações da planificação do Octaedro truncado. Visualizações em projeções paralelas ortogonais do Octaedro truncado. Figura 28: Estudos do Octaedro Truncado. Fonte: a autora, 2012 A partir dos objetivos traçados para essas tarefas de exploração dos poliedros no software e investigação quanto a suas características e propriedades (conforme discutido nos itens 3.1 e 3.2), os alunos deverão/poderão perceber que: O Octaedro Truncado possui 14 faces, sendo 8 hexagonais e 6 quadradas (a planificação do poliedro possibilita essa visualização); O total de arestas pode ser contado a partir da visão paralela ortogonal, e nesse caso, o total é 36. 58 Combinando os três tipos de visualização, mas utilizando a projeção de modo similar ao anterior que o software possibilita, os alunos poderão contar o número de vértices desse poliedro percebendo que são 24. Visualizando e movimentando a representação do Octaedro Truncado em três dimensões (ou combinando-a com as demais possibilidades de visualização desse poliedro no Poly), os alunos poderão perceber que cada vértice possui 3 arestas, sendo duas decorrente do encontro da face quadrática com as faces hexagonais e uma do encontro entre as duas faces hexagonais. Trata-se, portanto, de ângulos triédricos. Cada um dos vértices é formado por 2 ângulos planos de superfícies hexagonais e 1 de superfície quadrática. Considerando que cada ângulo do hexágono mede 120º e o quadrado é constuído de 4 ângulos retos, temos que a soma dos ângulos planos comuns a cada um dos vértices totaliza 330º. A seguir, apresentamos as mesmas tarefas de exploração envolvendo o Icosaedro Truncado: 59 Visualizações em três dimensões do Icosaedro truncado. Visualizações da planificação do Icosaedro truncado. Visualizações em projeções paralelas ortogonais do Icosaedro truncado. Figura 29: Estudos do IcosaedroTruncado Fonte: a autora, 2012 O Icosaedro Truncado possui 32 faces, sendo 12 pentágonais e 20 hexágonais (a planificação do poliedro possibilita essa compreensão); O total de arestas pode ser contado a partir da visão paralela ortogonal, nesse caso, é 90. Combinando os três tipos de visualização, mas utilizando a projeção de modo similar ao anterior que o software possibilita, os alunos 60 poderão contar o número de vértices desse poliedro percebendo que são 60. Visualizando e movimentando a representação do Icosaedro Truncado em três dimensões (ou combinando-a com as demais possibilidades de visualização desse poliedro no Poly), os alunos poderão perceber que cada vértice possui 3 arestas, sendo duas decorrente do encontro da face pentagonal com as faces hexagonais e uma do encontro entre as duas faces hexagonais. Trata-se, portanto, de ângulos triédricos. Cada um dos vértices é formado por 2 ângulos planos de superfícies hexagonais e 1 de superfície pentágonal. Considerando que cada ângulo do hexágono mede 120º e cada ângulo do pentágono mede 108º, temos que a soma dos ângulos planos comuns a cada um dos vértices totaliza 348º. Com o Cuboctaedro, a exploração pode ser semelhante visando a atingir os mesmos objetivos anteriores. A Figura 30 ilustra suas possíveis formas de representação no software Poly. 61 Visualizações em três dimensões do Cuboctaedro Visualizações da planificação do Cuboctaedro Visualizações em projeções paralelas ortogonais do Cuboctaedro Figura 30: Estudo do Cuboctaedro Fonte: a autora, 2012 O Cuboctaedro possui 14 faces, sendo 8 triangulares e 6 quadradas (a planificação do poliedro possibilita essa compreensão); O total de arestas pode ser contado a partir da visão paralela ortogonal, nesse caso, é 24. Combinando os três tipos de visualização, mas utilizando a projeção de modo semelhante ao anterior que o software possibilita, os alunos poderão contar o número de vértices desse poliedro percebendo que são 12. 62 Visualizando e movimentando a representação do Cuboctaedro em três dimensões (ou combinando-a com as demais possibilidades de visualização desse poliedro no Poly), os alunos poderão perceber que cada vértice possui 4 arestas, sendo decorrentes do encontro das faces triangulares com as faces quadrangulares. Trata-se, portanto, de ângulos tetraédricos. Cada um dos vértices é formado por 2 ângulos planos de superfícies triâgulares e 2 de superfícies quadráticas. Considerando que cada ângulo do triângulo mede 60º e cada ângulo do quadrado mede 90º, temos que a soma dos ângulos planos comuns a cada um dos vértices totaliza 300º. Com o Cuboctaedro truncado, a exploração pode ser semelhante visando a atingir os mesmos objetivos anteriores. A Figura 32 ilustra suas possíveis formas de representação no software Poly. 63 Visualizações em três dimensões do Cuboctaedro truncado. Visualizações da planificação do Octaedro truncado. Visualizações em projeções paralelas ortogonais do Cuboctaedro truncado. Figura 31: Estudos do CuboctaedroTruncado. Fonte: a autora, 2012 O Cuboctaedro Truncado possui 26 faces, sendo 12 quadradas, 8 hexagonais e 6 octogonais (a planificação do poliedro possibilita essa compreensão); O total de arestas pode ser contado a partir da visão paralela ortogonal, e nesse caso, o total é 72. Combinando os três tipos de visualização, mas utilizando a projeção de modo similar ao anterior que o software possibilita, os alunos 64 poderão contar o número de vértices desse poliedro percebendo que são 48. Visualizando e movimentando a representação do Cuboctaedro Truncado em três dimensões (ou combinando-a com as demais possibilidades de visualização desse poliedro no Poly), os alunos poderão perceber que cada vértice possui 3 arestas, sendo decorrente do encontro da face quadrangular com a face hexagonal, do encontro da face octogonal com a face hexágonal e do encontro da face quadrangular com a face octágonal. Trata-se, portanto, de ângulos triédricos. Cada um dos vértices é formado por 1 ângulo plano de superfície quadratíca, 1 de superfície hexágonal e 1 de superfície octogonal. Considerando que cada ângulo do quadrado mede 90º, cada ângulo do hexágono mede 120º e cada ângulo do octagono mede 135º, temos que a soma dos ângulos planos comuns a cada um dos vértices totaliza 345º. Discutimos apenas 4 Poliedros Arquimedianos e a partir destes é possível generalizar de algumas ideias de acordo com os objetivos apresentados no início dessa proposta. Uma primeira generalização que os alunos podem chegar a partir das tarefas de exploração seria: que os Poliedros Arquimedianos são constituídos de dois ou três tipos de faces diferentes. Do mesmo modo, os ângulos sólidos são formados por no máximo cinco arestas. Os ângulos destes Poliedros podem ser triédricos, tetraédricos ou pentaédricos, sendo que os Poliedros Arquimedianos com duas faces podem ter ângulos triédricos, tetraédricos ou pentaédricos, já os de três faces podem ter ângulos triédricos ou pentaédricos. As figuras a seguir elucidam melhor essa classificação, a qual nos referimos, que envolve os tipos e as quantidades de faces e ângulos e isso pode ser verificado pelos alunos com o auxilio do software. 65 Tetraedro Truncado Cubo Truncado Octaedro Truncado Dodecaedro Truncado Icosaedro Truncado Figura 32: Poliedros Arquimedianos com 2 tipos de faces e ângulos triédricos Fonte: a autora, 2012 Cuboctaedro Truncado Icosidodecaedro Truncado Figura 33: Poliedros Arquimedianos com 3 tipos de faces e ângulos triédricos Fonte: a autora, 2012 Icosidodecaedro Rombicuboctaedro Cuboctaedro Figura 34: Poliedros Arquimedianos com 2 tipos de faces e ângulos tetraédricos Fonte: a autora, 2012 66 Cubo-Rombo Dodecaedro Rombo Figura 35: Poliedros Arquimedianos com 2 tipos de faces e ângulos pentaédricos Fonte: a autora, 2012 Rombicosidodecaedro Figura 36: Poliedro Arquimediano com 3 tipos de faces e ângulos pentaédricos Fonte: a autora, 2012 Além disso á partir dos números de vértices, faces e arestas, os alunos poderão encontrar outras generalizações existentes como, por exemplo: Para encontrar o número total de arestas, pode-se utilizar a seguinte fórmula: 𝑛º 𝑑𝑒 𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑐𝑒 𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑙𝑖𝑔𝑜𝑛𝑜 . 𝑛º 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑙𝑎 𝑠𝑒 𝑟𝑒𝑝𝑒𝑡𝑒 +⋯ , Como exemplo podemos 2 calcular para o Octaedro Truncado, que contém 6 faces quadradas e 8 hexagonais, então: 4. 6+6. 8 2 = 36. Sempre que somamos o total de vértices com o total de faces de qualquer Poliedro Arquimediano o valor encontrado é igual ao total de arestas mais 2. Se multiplicarmos o número de vértices pelo número de arestas do vértice o resultado encontrado será sempre o dobro da quantidade total de arestas. A partir da relação encontrada para o número de arestas pode-se chegar a fórmulas para calcular o número total de faces, vértices, arestas, arestas que formam um vértices. Desta forma chegamos nas seguintes fórmulas: 2 . A = V . m, na qual A representa o número total de arestas, V o número total de vértices e m a quantidade de arestas que formam o vértice. Utilizando esta fórmula, conseguimos encontrar o valor para qualquer uma das 67 variáveis. Com exemplo calcularemos para Octaedro Truncado o número de arestas que formam seus vértices, sabemos que A = 36 e V = 24 então: 2 . 36 = 24 . m, logo m= 3, constatando que o seu ângulo é formado por três arestas, neste caso seu ângulo sólido é triédrico. Outro exemplo, seria calcular o número de vértices para o mesmo Poliedro agora sabendo que m = 3, desta forma: 2 . 36 = V . 3, logo V = 24. Ainda podem fazer relacões com soma das arestas mais 2, ou seja: F + V = A + 2. Este também é conhecido pelo Teorema de Euler. Como exemplo podemos verificar esta relação no Icosaedro Truncado F + 60 = 90 + 2, resolvendo encontramos F = 32. Quando os alunos realizaram a soma dos ângulos planos dos vértices, puderam constatar que em nenhum dos quatro Poliedros Arquimedianos explorados, a soma foi maior que 360º, neste sentido podemos fazer a seguinte generalização: a soma dos ângulos planos dos Poliedros Arquimedianos que tem um vértice comum é menor que 360º. Sabendo que os ângulos sólidos são menores que 360º, e utilizando a relação de faces e arestas, chegamos na seguinte fórmula ∑β = 𝟑𝟔𝟎𝐨 .(𝐀 – 𝐅) 𝐕 , na qual ∑β representa a soma dos ângulos planos do Poliedro, A o número total de arestas e F o número de faces e V o número total de vértices. Esta fórmula vêm para facilitar os calculos, pois com ela não é necessário calcular o valor de cada ângulo interno do poligono que compõem o vértice. Como exemplo, podemos calcular para o Cuboctaedro Truncado, desta forma ∑β = 𝟑𝟔𝟎𝐨 .(𝟕𝟐 – 𝟐𝟔) 𝟒𝟖 , logo ∑β = 345º. Como algumas dessas fórmulas são complexas, o professor poderá construí-las junto com os alunos com o auxilio do Poly, caso eles não tenham conseguido sozinhos. Com as generalizações feitas o professor deverá pedir para os alunos verificarem se as mesmas são válidas para os demais Poliedros Arquimedianos. 68 5.2 ESTUDANDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS COM MATERIAL MANIPULÁVEL A partir desse momento discutimos uma outra possibilidade de abordagem para o ensino dos Poliedros Arquimedianos na educação básica pautada em materiais manipuláveis, na qual será possível a montagem e visualização das truncaturas, de modo a proporcionar a compreensão da origem desses Poliedros. É importante ratificarmos que é possível construir os treze Poliedros Arquimedianos a partir dos platônicos, mas apenas onze desses Poliedros são obtidos por truncaturas, sendo eles: tetraedro truncado, cuboctaedro, cubo truncado, octaedro truncado, dodecaedro truncado, icosaedro truncado, icosidodecaedro, icosidodecaedro truncado, rombicuboctaedro, rombicosidodecaedro e cuboctaedro truncado. De acordo com Almeida (2010) essas truncaturas podem ser de dois tipos: Truncaturas Diretas: envolvem apenas um Poliedro, sendo este Platônico; Truncaturas Modificadas: são truncaturas diretas em Poliedros Platônicos seguida de transformações convenientes. Os outros dois Poliedros Arquimedianos que faltam para completar os treze são o cubo achatado (ou cubo rombo) e o dodecaedro achatado (ou dodecaedro rombo), que segundo Almeida (2010) podem ser obtidos por snubificação de Poliedros platônicos, ou seja, consiste em afastar todas as faces de um Poliedro platônico, girá-las 45 º e preencher os espaços vazios resultantes com triângulos. Portanto, esses não podem ser abordado com a ideia de truncatura, mas a abordagem anterior os contempla tranquilamente. Os sete primeiros Poliedros Arquimedianos mencionados acima, são obtidos a partir de truncaturas diretas feitas nos vértices de um dos Poliedros Platônicos, ou seja: O Tetraedro Truncado se origina partir do Tetraedro, Cuboctaedro e o Cubo Truncado se originam a partir do Cubo, o Octaedro Truncado se origina a partir do Octaedro, o Dodecaedro Truncado se origina a partir do Dodecaedro, o Icosaedro Truncado e o Icosidodecaedro se originam a partir do Icosaedro. Os quatro últimos são obtidos a partir de truncaturas modificadas nos vértices de dois Poliedros, sendo primeiramente truncado um Platônico obtendo-se assim um Arquimediano, em seguida esse Arquimediano recebe uma nova sequência de truncaturas obtendo-se um outro Poliedro Arquimediano, ou seja: a partir do Icosaedro obtivemos o Icosidodecaedro e a partir deste obtemos o 69 Icosidodecaedro Truncado e o Rombicosidodecaedro, a partir do Cubo obtivemos o Cuboctaedro e a partir deste podemos obter o Rombicuboctaedro e o Cuboctaedro Truncado. A proposta de ensino aqui discutida vislumbra exatamente possibilitar que os alunos percebam essa relação, o que favorece a compreensão das diferenças e semelhanças entre os Poliedros Arquimedianos e os Platônicos. Para tanto, pela questão de tempo, acreditamos que o professor deve levar os Poliedros Arquimedianos já construídos para sala de aula. Essa construção deverá ocorrer da seguinte maneira: inicialmente constrói-se o sólido Arquimediano e, separadamente, constrói-se as pirâmides oriundas das truncaturas realizadas no poliedro Platônico (ou em alguns casos em um Arquimediano) que origina tal Poliedro Arquimediano. Tal construção possibilitará o encaixe (futuro), de forma a se proporcionar a visualização da truncatura que transforma poliedro Platônico em Arquimediano e vice-versa. Para fins de comparação, também parece-nos interessante ter em mãos os Poliedros Platônicos, de modo a facilitar o processo de visualização, uma vez que o aluno poderá visualizar o Poliedro que dá ou dará origem ao outro e verificar as transformações que vão ocorrer a cada passo e a cada corte. Exemplos de planificações que possibilitam a construção dos sólidos (Arquimedianos e Platônicos) são apresentados nas Figuras 37 e 38. Cuboctaedro Truncado Icosaedro Truncado Cuboctaedro Octaedro Truncado Figura 37: Moldes de Poliedros Aquimedianos. Fonte: http://www.korthalsaltes.com/ 70 Octaedro Icosaedro Figura 38: Molde dos Poliedros Aquimedianos e Platônicos Fonte: http://www.korthalsaltes.com/ Cubo Contruídos os poliedros é possível propor tarefas de estudo, com o objetivo de que os alunos percebam a construção dos Poliedros Arquimedianos a partir das truncaturas nos Platônicos e consigam perceber as diferenças entre um e outro. Na sequência o roteiro para o estudo. ROTEIRO: ESTUDANDO OS POLIEDROS ARQUIMEDIANOS COM OS MATERIAIS MANIPULÁVEIS Informações Importantes: Truncatura: consiste na eliminação de partes de um sólido de forma simétrica, que pode ser feita sobre seus vértices ou sobre suas arestanos. Ela pode ser feita no vértice, o qual faz-se cortes em todas as arestas que pertencem a este vértice, ou ainda ela pode ser feita na aresta, o qual é feito cortes paralelos as arestas. Truncaturas Diretas: envolvem apenas um Poliedro, sendo este Platônico; Truncaturas Modificadas: são truncaturas diretas em Poliedros Platônicos seguida de transformações convenientes. Apenas onze dos treze Poliedros são obtidos por truncaturas. Os outros dois são: o cubo achatado (ou cubo rombo) e o dodecaedro achatado (ou dodecaedro rombo), podem ser obtidos por snubificação de Poliedros platônicos, ou seja, consiste em afastar todas as faces de um Poliedro platônico, girá-las 45 º e preencher os espaços vazios resultantes com triângulos. Continua... 71 2) 1) Com o auxilio dos materiais manipuláveis responda as questões abaixo utilizando o quadro ao final desse roteiro: a) a) Dos quatros poliedros manipulados, quais foram os tipos de truncaturas e como elas foram feitas? b) b) O que podemos observar nas faces quando fazemos truncaturas diretas em Poliedros Platônicos para dar origem a um Arquimediano que apresenta dois tipos de faces? c) c) O que podemos observar nas faces quando fazemos truncaturas modificadas em Poliedros Platônicos ou Arquimedianos para dar origem a um outro Arquimediano que apresenta três tipos de faces? d) d) Quais diferenças são possíveis encontrar entre os Poliedros Platônicos e os Arquimedianos? Octaedro Truncado Poliedro Icosaedro Truncado Cuboctaedro Cuboctaedro Truncado Qual foi o tipo de truncatura realizada Quando fazemos truncaturas diretas o que podemos observar nas faces do Poliedro obtido Quando fazemos truncaturas modificadas o que podemos observar nas faces do Poliedro obtido Quais são as diferenças entre os Poliedros Platônicos e os Arquimedianos Para o desenvolvimento do roteiro sugerimos que o professor leve para a sala de aula o Octaedro Truncado, Icosaedro Truncado, Cuboctaedro e Cuboctaedro Truncado, neste ultimo o processo de truncatura é diferente, pois quando truncamos diretamente o Cubo (Poliedro Platônico) obtemos o cuboctaedro e fazendo truncaturas modificadas neste, nos deparamos com um Poliedro intermediario como mostra o exemplo abaixo: 72 Figura 39: Exemplo de Truncatura Modificada Fonte: http://dc201.4shared.com/doc/e839Riok/preview.html Desta forma para chegarmos no cuboctaedro truncado, o Poliedro intermediário deve ter seus vértices truncados de maneira que os retângulos resultem em quadrados, ou seja, neste caso necessita de uma aproximação por tronco de pirâmide, o que pode dificultar a confecção (ver figura 43). Acreditamos que o estudo realizado nos três primeiros Poliedros citados acima, é suficiente para a compreensão das truncaturas e a diferenciação dos Poliedros Arquimedianos com os Platônicos, pois a exploração no software Poly já terá sido desenvolvida e os alunos já conhecem os treze Poliedros. O quarto Poliedro o Cuboctaedro Truncado servirá para exemplificar as truncaturas modificadas e para visualizar o que ocorre com as faces quando esse tipo de truncatura é feita. Segue abaixo a descrição para obtenção de Poliedro desejado a partir de truncaturas. Octaedro truncado: Podemos obter o octaedro truncado utilizando o octaedro regular (Poliedro Platônico). Para isso, devem ser realizadas truncaturas em seus vértices, dividindo suas arestas em três partes congruentes. A reunião dessas truncaturas origina, em cada vértice, pirâmides de base quadrangular que, quando eliminadas do octaedro regular dão origem ao Octaedro Truncado. 73 Uma representação dessa sequência de ações das truncaturas no Octaedro Regular originando o Octaedro Truncado está apresentada a seguir: Poliedro Platônico Octaedro Regular Truncaturas em seus vértices Retira-se os cantos Poliedro Arquimediano (pirâmides de base Octaedro Truncado quadrangular) Figura 40: Truncatura no Octaedro Regular para obter o Octaedro Truncado Fonte: a autora, 2012 Icosaedro Truncado: De modo semelhante, o Icosaedro Truncado pode ser obtido a partir do Icosaedro Regular (Poliedro Platônico). Para isso devem ser feitas truncaturas em seus vértices, separando cada uma das arestas em três partes congruentes. A reunião dessas truncaturas origina, em cada vértice, pirâmides de base pentagonal que, quando eliminadas do Icosaedro regular dão origem ao Icosaedro Truncado, conforme é mostrado na figura 41. Poliedro Platônico Icosaedro Regular Truncaturas em seus vértices Retira-se os cantos Poliedro Arquimediano (pirâmides de base Icosaedro Truncado pentagonal) Figura 41: Truncatura no Icosaedro Regular para obter o Icosaedro Truncado Fonte: a autora, 2012 Cuboctaedro: O Cuboctaedro pode ser obtido a partir do Cubo (Poliedro Platônico). Para isso devem ser feitas truncaturas em seus vértices, a partir do ponto médio de cada uma das arestas. A reunião dessas truncaturas origina, em cada 74 vértice, pirâmides de base triangular que, quando eliminadas do cubo dão origem ao Cuboctaedro, conforme é mostrado na figura 42. Poliedro Platônico Cubo Retira-se os cantos Poliedro Arquimediano (pirâmides de base Cuboctaedro triangular) Figura 42: Truncatura no Cubo para obter o Cuboctaedro Fonte: a autora, 2012 Truncatura em seus vértices Cuboctaedro Truncado: Para obter o Cuboctaedro Truncado, iremos utilizar o poliedro já obtido pela truncatura do cubo (poliedro Platônico), o Cuboctaedro (Poliedro Arquimediano). Primeiramente fazemos truncaturas em seus vértices, separando cada uma das arestas em três partes congruentes. A reunião dessas truncaturas origina, em cada vértice, pirâmides de base quandrangular que, quando eliminadas do Cuboctaedro dão origem ao CuboctaedroTruncado, conforme é mostrado segunda parte da figura 43. Para este caso o material manipulável não é factivel. 75 Poliedro Arquimediano (Cuboctaedro) Truncatura em seus vértives Aproximação dos retângulos para quadrados As truncaturas resultam em pirâmides de base retangular Poliedro Arquimediano Cuboctaedro Truncado Figura 43: Truncaturas no cubo e no cuboctaedro para obter o cuboctaedro truncado Fonte: a autora, 2012 Neste último podemos observar o que descreveu Almeida (2010), pois a partir de um Poliedro Platônico obtivemos um Arquimediano e fazendo truncaturas neste Arquimediano obtido, conseguimos um novo Poliedro Arquimediano. As truncaturas feitas nos quatro Poliedros Arquimedianos foram nos vértices. Podemos observar que quando fazemos truncaturas diretas (apenas em um sólido) em Poliedros Platônicos para dar origem a um Arquimediano, esse apresenta dois tipos de faces: faces que provêm de faces do primeiro e faces que provêm da eliminação dos cantos do Poliedro Platônico de partida. Já quando fazemos truncaturas em um Poliedro Arquimediano para obter outro encontramos três tipos de faces: faces que provêm de faces do primeiro e do segundo e faces que provêm da eliminação dos cantos do Poliedro Arquimediano. Portanto, com os estudos envolvendo materiais manipuláveis construídos a partir da ideia de truncaturas, os alunos poderão perceber as diferenças existentes, entre os Poliedros Platônicos e os Arquimedianos, sendo elas: Os Platônicos são constituidos por apenas cinco Poliedros, já os Arquimedianos por treze; Os Platônicos tem apenas um tipo de face, já os Arquimedianos podem ter dois ou três tipos; 76 Nos Poliedros Platônicos o Icosaedro é o Poliedro que possui o maior número de faces sendo 20, já nos Arquimedianos é o Dodecaedro Achatado que possui 92. A maior face de um Poliedro Platônico é um pentágono, já do Arquimediano é um decágono. O Dodecaedro é o Poliedro Platônico que possui a maior soma dos ângulos planos totalizando 324º, já dos Arquimedianos é o Icosidodecaedro Truncado, cuja a soma é 354º. Os Poliedros Arquimedianos são diferenciados pelas várias faces contendo Poliedros distintos, a forma como podemos obtê-los, as faces que se originam de outras faces, vários tipos de ângulos e vários tipos de faces. Todas essas características mencionadas no decorrer do trabalho mostram a importância de estudá-los, mostra também diversos conteúdos que podem ser estudados juntamente com os Poliedros Arquimedianos. 77 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES Com os estudos preliminares apresentados no início desse trabalho foi possível perceber o quanto a Geometria, e em especial os Poliedros Arquimedianos, vêm sendo deixada de lado pela maioria dos professores, privando assim os alunos do desenvolvimento do raciocínio e habilidades características dessa área do conhecimento matemático e dos entes por ela permeados. A pesquisa bibliográfica e o referencial teórico utilizado permitem-nos afirmar que os Poliedros Arquimedianos não são estudados na educação básica, uma vez que os livros didáticos não apresentam nenhum conteúdo relacionado a temática. Além disso, o argumento mais forte para tal “abandono” relaciona-se com a dificuldade de visualização e complexidade para representação desses poliedros. Neste sentido, algumas alternativas didático-metodológicas vêm sendo apresentadas. Dentre elas, nosso trabalho atribuiu destaque aos recursos tecnológicos, particularmente ao software Poly, e à utilização de Materiais Manipuláveis, enquanto constituintes de um ambiente de aprendizagem favorável à investigações e estabelecimento de relações, no que diz respeito às propriedades do Poliedros Arquimedianos e ao Teorema de Euler que também é valido para eles. A proposta apresentada visa explorar, a partir do software e de sólidos construídos em papel, as características e propriedades que diferenciam os Poliedros Arquimedianos de outros, bem como a comprensão das truncaturas nos Poliedros Platônicos (e em alguns casos num outro Arquimedinao) que originam os Poliedros Arquimedianos. objetivos explicitados Acreditamos que tais atividades corroboram aqueles pelos PCN, relacionados com a necessidade de desenvolvimento das habilidades para reconhecimento dos aspectos que permeiam as diferentes formas presentes no mundo. Exemplo disso é a bola de futebol, por exemplo, que constitui um Icosaedro Truncado, portanto Poliedro Arquimediano. Destacamos ainda que, embora tenhamos apresentado duas alternativas para a abordagem desses conteúdos na educação básica (o Poly e os materiais manipuláveis), o professor de acordo com os objetivos de suas aula, pode trabalhar separadamente com cada uma delas. Acreditamos, que as discussões aqui realizadas apontam caminhos para sua exploração. Do mesmo modo, outros tipos de materiais podem e devem ser incorporados a estes, de modo a favorecer e ampliar as discussões como, por exemplo, envolvendo as diagonais desses sólidos. 78 Diante do que foi apresentado, acreditamos ser necessário retomar nossa questão de investigação e buscar elementos que possibilitem respondê-la. Como os Poliedros Arquimedianos podem ser resgatados enquanto objeto de estudo e ensino na educação? Em face das discussões realizadas, acreditamos que o software Poly associado aos materiais manipuláveis caracterizam uma alternativa interessante, à medida que possibilitam a construção, visualização, caracterização e manipulação desses poliedros, considerados de difícil visualização pelos professores, bem como a exploração da ideia de constituição dos Poliedros Arquimedianos a partir de truncaturas nos Platônicos, o que favorece a compreensão das características, semelhanças e diferenças entre esses poliedros. Para finalizar, acreditamos que, embora se trate de um trabalho despretensioso e limitado, ele se constitui numa obra relevante enquanto referencial para os estudos e pesquisas envolvendo os Poliedros Arquimedianos, tendo em vista a escasses de materiais desse cunho no Brasil. Por fim, destacamos ainda que a elaboração do presente trabalho constituiu um espaço de estudo, reflexão, aprendizagem e discussão, à medida que possibilitou uma melhor aproximação com a temática (até então praticamente inexplorada em nossa formação), seja na perspectiva de compreensão dos Poliedros Arquimedianos e de suas propriedades, seja no pensar e estabelecer estratégias didáticas que possibilitassem a abordagem de tais conteúdos na educação básica. 79 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Talita. Sólidos Arquimedianos e Cabri 3D: Um Estudo de Truncaturas Baseadas no Renascimento. 2010. Dissertação (Mestrado em Ensino de Matemática) – Póntificia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010. ALMIRO, João. Materiais manipuláveis e tecnologia na aula de Matemática. Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/sd/textos/GTI-JoaoAlmiro.pdf. Acesso em: 04 de julho de 2012. ASSIS, Cibelle de Fátima Castro de. 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