Número 26 – 2014 Revista Pesquisa Naval ISSN 2179-0655 NÚMERO 26 – 2014 NÚMERO 26 – 2014 A Revista Pesquisa Naval tem como missão proporcionar à comunidade científica um canal formal de comunicação e de disseminação da produção técnico-científica nacional, por meio da publicação de artigos originais que sejam resultados de pesquisas científicas e que contribuam para o avanço do conhecimento nas áreas de interesse da MB. Os artigos aqui publicados não refletem a posição ou a doutrina da Marinha e são da responsabilidade dos seus autores. PATROCÍNIO Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha – SecCTM CONSELHO EDITORIAL CMG André Luís Dias Gomes CF André Luiz Trindade Gomes EDITOR-CHEFE Almirante-de-Esquadra Sergio Roberto Fernandes dos Santos Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha EDITORES ADJUNTOS C Alte Cid Augusto Claro Junior Diretor do Centro de Análises de Sistemas Navais – CASNAV C Alte Oscar Moreira da Silva Filho Diretor do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira – IEAPM C Alte (EN) Humberto Moraes Ruivo Diretor do Instituto de Pesquisas da Marinha – IPqM CC Benjamin Dante Rodrigues Duarte Lima 2º SG-CN Mauricio Vila Pereira CB-AD Andréia Cristina Rosa Costa EDIÇÃO Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha – SecCTM www.secctm.mar.mil.br/Revista.php PRODUÇÃO EDITORIAL Zeppelini Editorial / Instituto Filantropia www.zeppelini.com.br COMISSÃO EDITORIAL Silvio Eduardo Gomes de Melo – UFPE – Recife/PE/Brasil Luiz Felipe Assis – UFRJ – Rio de Janeiro/RJ/Brasil Mirabel Cerqueira Rezende – IAE – São José dos Campos/SP/Brasil Regina Maria Queiroz de Mello – UFPR – Pontal do Paraná/PR/Brasil Silmara Neves – Universidade São Francisco – São Paulo/SP/Brasil Erasmo Felipe Vergara Miranda – UFSC - SC/Brasil Leonardo Moreira Leodido – IFB - Taguatinga/DF/Brasil Marco Antonio Arancibia Rodriguez - Católica De Santa Catarina - SC/Brasil José Manuel Cárdenas Medina - UCSP - Arequipa/Peru Marcos Julio Rider Flores - FEIS/UNESP - Ilha Solteira/SP/Brasil Wilingthon Guerra Zvietcovich – Universidade Federal De Ouro Preto – Ouro Preto/MG/Brasil Cristiano Poleto – UFRGS-IPH – Porto Alegre/RS/Brasil Magda Beretta – UFBA - Salvador/BA/Brasil Alex Costa da Silva - Docean/UFPE – Recife/PE/Brasil Javier Alcántara Carrió - USP - São Paulo/SP/Brasil Leonam dos Santos Guimarães – Amazul – Rio de Janeiro/RJ/Brasil Flávio de Marco Filho – UFRJ/DEM – Rio de Janeiro/RJ/Brasil Juan Carlos Alvarado Alcócer – UNILAB – Redenção/CE/Brasil Oldrich Joel Romero - UFES - ES/Brasil Adilson Roberto Fontanetti - UNESP - Rio Claro/SP/Brasil José Fernando Queiruga Rey - UFABC - Santo André/SP/Brasil Afranio Rubens de Mesquita - IO-USP - São Paulo/SP/Brasil Eduardo Marone - CEM-UFPR - Pontal do Paraná/PR/Brasil Sueli Susane de Godoi - IO-USP - São Paulo/SP/Brasil Roberto Lima Barcellos - UFPE – Recife/PE/Brasil Valeria da Silva Quaresma - UFES - ES/Brasil Waldemar de Castro Leite Filho - IAE/DCTA - São José dos Campos/SP/Brasil Omar Lengerke - UFRJ – Rio de Janeiro/RJ/Brasil Willen Borges Coelho - IFES - Cariacica/ES/Brasil Marco Antonio Grivet Mattoso Maia - PUC-Rio - Rio de Janeiro/RJ/Brasil Carlos Eduardo Parente Ribeiro - UFRJ – Rio de Janeiro/RJ/Brasil A REVISTA PESQUISA NAVAL É PATROCINADA POR Revista Pesquisa Naval / Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha v. 1, n. 1, 1988 – Brasília – DF – Brasil – Marinha do Brasil Anual Título abreviado: Pesq. Nav. ISSN 2179-0655 1. Marinha – Periódico – Pesquisa Cientifica. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha. CDU 001.891.623/.9 CDD 623.807.2 SUMÁRIO | NÚMERO 26 – 2014 1APRESENTAÇÃO Sergio Roberto Fernandes dos Santos - Almirante-de-Esquadra - Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha AMBIENTE OPERACIONAL 2 ESPECIFICAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UM MODEM ACÚSTICO PARA COMUNICAÇÃO SUBMARINA Specification, Development and Validation of an Acoustic Modem for Underwater Communication Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira 11 ESTUDO DA MATURIDADE DO MODELO DE UM ESCRITÓRIO DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS: O CASO DE UMA INSTITUIÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA MARINHA DO BRASIL Study of maturity of a project management office model: case of a scientific and technological institution of the brazilian navy Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa 22 PRODUTO ALTIMÉTRICO REGIONAL PARA A ÁREA DE INTERESSE DA REDE TEMÁTICA DE MODELAGEM E OBSERVAÇÃO OCEANOGRÁFICA (REMO) Regional altimetry product to the area of interests of the Oceanographic Modeling and Observation Network (REMO) Victor Bastos Daher, Paulo Roberto Costa Junior ARQUITETURA NAVAL E PLATAFORMA 34 ALGORITMOS GENÉTICOS APLICADOS AO PROJETO DE CONCEPÇÃO DE SUBMARINOS Genetic algorithms applied to conceptual submarine design Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto 48 INFLUÊNCIA DA TENSÃO RESIDUAL DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA NA FLAMBAGEM DE CASCOS RESISTENTES DE SUBMARINOS Effect of cold bending residual stress in submarine pressure hull buckling Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto ENERGIA 56 CLASSIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DE FALTAS DE ALTA IMPEDÂNCIA EM SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA Classification and localization of high impedance faults in power distribution systems Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro 67 SÍNTESE DE FASES LI4TI5O12 (LTO) PARA APLICAÇÃO COMO ÂNODO DE BATERIA SECUNDÁRIA DE ÍON LÍTIO Synthesis of Li4Ti5O12 Phases (LTO) for Application as Anode in Lithium Ion Secondary Battery Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido MATERIAIS ESPECIAIS 78 PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITO SPEEK/SPANI COM POTENCIAL APLICAÇÃO COMO MEMBRANA CONDUTORA DE PRÓTON PARA EMPREGO EM CÉLULAS A COMBUSTÍVEL Preparation and characterization of SPEEK/SPANI composite with potential application as proton conducting membrane to be used in Fuel Cells Ana Paula Santiago de Falco PROCESSO DECISÓRIO 89 CONTAMINAÇÃO POR HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS EM SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DE TRÊS REGIÕES PORTUÁRIAS DO SUDESTE DO BRASIL (SANTOS, ARRAIAL DO CABO E MACAÉ) Aliphatic Hydrocarbons Contamination in Surface Sediments of three Port Regions of Southeastern Brazil (Santos, Arraial do Cabo and Macaé) Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro 102 MODELOS DE ANÁLISE DE CRÉDITO E MECANISMOS DE SECURITIZAÇÃO ORIENTADOS AO FINANCIAMENTO DE PROJETOS DE CONSTRUÇÃO NAVAL NO MERCADO BRASILEIRO Models of Analysis of Credit and Mechanisms of Securitization Orientated to the Financing of Shipbuilding Projects in the Brazilian Market Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz da Silva SENSORES, GUERRA ELETRÔNICA E GUERRA ACÚSTICA 114 CALIBRAÇÃO DE TRANSDUTORES HIDROACÚSTICOS POR RECIPROCIDADE EMPREGANDO SALVAS DE SINAIS MONOTÔNICOS E DE FREQUÊNCIA MODULADA Calibration of hydroacoustic transducers by reciprocity method using burst signals and chirps Carlos Alfredo Orfão Martins, Sandro Aureliano Miqueleti, Carlos Eduardo Parente Ribeiro, Rodrigo Pereira Barretto da Costa-Félix APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO A pesquisa, a inovação e o desenvolvimento científico constituem temas indissociáveis da missão atribuída à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha (SecCTM) no âmbito do conhecimento. Por essa razão, a SecCTM, com o concurso do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), do Centro de Análises de Sistemas Navais (CASNAV ) e do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), tem a grata satisfação de apresentar aos seus leitores a 26ª edição do seu periódico científico. Tal periódico corrobora, de maneira inconteste, o lema da SecCTM “Imperium per Scientia” (Soberania pela Ciência), procurando difundir, junto à sociedade brasileira e no âmbito interno da própria Força, a necessidade da investigação científica, a qual constitui, por sua vez, um dos eixos estruturantes, vital para o crescimento do nosso País. O Brasil vive uma nova realidade, com um grande espectro de desafios no campo tecnológico. Nesse sentido, cabe reconhecer que as pesquisas desenvolvidas no âmbito da Marinha do Brasil, mais especificamente nos seus Institutos de Ciência e Tecnologia, são consideradas, atualmente, expoentes significativos, reconhecidos nacional e internacionalmente pela qualidade e relevância dos seus projetos. Nesse contexto, a Marinha do Brasil, em consonância com as necessidades advindas do cumprimento da sua missão constitucional, a defesa da Soberania Nacional, com a elevada competência dos seus pesquisadores e com o apoio incondicional da academia, da comunidade científica e do empresariado, vem apresentando expressivos resultados para a geração de novos conhecimentos. Essa relevante contribuição é mais um esforço para a consolidação de uma mentalidade de ciência e tecnologia, que trará, com certeza, consequências benéficas e permanentes para o desenvolvimento nacional. A SecCTM, por meio da Revista Pesquisa Naval, vem contribuindo, ao longo de todos esses anos, para fomentar uma salutar e indispensável troca de conhecimentos. Por ser um vetor de divulgação dos trabalhos científicos das áreas de interesse da comunidade científica brasileira, encontra-se permanentemente atenta às demandas e às exigências da coletividade, bem como aos desafios do crescente desenvolvimento tecnológico, estejam eles inseridos nos âmbitos econômico, humano ou ambiental. Assim, expresso o meu profundo reconhecimento e agradecimento a todos aqueles que, direta ou indiretamente, participaram, com dedicação e empenho, da elaboração desta Edição, que reflete o elevado patamar no qual se encontram as pesquisas desenvolvidas na Marinha do Brasil e na sociedade brasileira. Por fim, convidamos os senhores e as senhoras a usufruírem dos conhecimentos aqui contidos. Boa leitura! SERGIO ROBERTO FERNANDES DOS SANTOS Almirante-de-Esquadra Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha |1| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 1 AMBIENTE OPERACIONAL ESPECIFICAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UM MODEM ACÚSTICO PARA COMUNICAÇÃO SUBMARINA Specification, Development and Validation of an Acoustic Modem for Underwater Communication Jefferson Osowsky1, Fábio Contrera Xavier2, Celso Marino Diniz3, Marcus Vinícius da Silva Simões4, Leonardo Martins Barreira5 Resumo: Este trabalho visa apresentar a especificação, desenvolvimento e validação de um protótipo de modem acústico para comunicação submarina. Este trabalho surgiu a partir de um experimento de comunicação acústica que tinha por objetivo transmitir e receber textos curtos em código Morse através de um canal digital de banda estreita. Nesta primeira versão, o modem utiliza a modulação e demodulação por chaveamento de frequência (frequency shift keying - FSK) na transmissão e recepção dos dados, respectivamente. Antes da transmissão, para melhorar sua confiabilidade, os dados são processados por um código de correção antecipativo de erro ( forward error correction - FEC) convolucional e então embaralhados (do inglês, interleaved) de forma a reduzir a distorção causada pelo canal de comunicação e o erro de burst entre símbolos contíguos, respectivamente. Um experimento recente de transmissão/recepção de dados em um canal de comunicação em águas rasas foi realizado em Maio 2012 na Enseada dos Anjos, Rio de Janeiro, para avaliar o desempenho deste primeiro protótipo. Palavras-chave: Comunicação Digital. Comunicação Submarina. Acústica Submarina. Modem Acústico Submarino. Modulação por Chaveamento de Frequência. Código de Correção Antecipativa de Erro. Codificação Convolucional. Abstract: In this paper it is presented the specification, devel- opment and validation of an acoustic modem prototype for underwater communication. This work stemmed from an acoustic communication experiment which had the aim at transmitting and receiving short texts in Morse code by a narrowband digital channel. In this first version, the modem uses frequency shift keying (FSK) modulation/demodulation to send/get data to/from the receiver. Before transmission, to improve its reliability, data are coded via a convolutional forward error correction (FEC) code and then interleaved in order to reduce the distortion yielded by the communication channel and the burst error between successive symbols, respectively. An recent experiment of data transmission/reception in a shal- low water communication channel has been conducted in May 2012 at Enseada dos Anjos, Rio de Janeiro, to assess the first prototype performance. Keywords: Digital Communication. Underwater Communication. Underwater Acoustic. Underwater Acoustic Modem. Frequency Shift Keying Modulation. Forward Error Correction Code. Convolutional Coding. 1. Doutorando em Modelagem Computacional no Laboratório Nacional de Computação Científica – Petrópolis, RJ – Brasil. Bolsista DTI/CNPq da Divisão de Comunicação Submarina no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira – Arraial do Cabo, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Mestrando em Engenharia Oceânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Ajudante da Divisão de Comunicação Submarina no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira – Arraial do Cabo, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 3. Engenheiro Eletrônico pela Universidade Estadual de Campinas – Campinas, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 4. Doutorando em Engenharia Oceânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Encarregado do Grupo de Acústica Submarina no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira – Arraial do Cabo, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 5. Doutor em Engenharia Oceânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Encarregado do Grupo de Sistemas Acústicos Submarinos no Instituto de Pesquisas da Marinha – Ilha do Governador, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] |2| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira 1. INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, a comunicação acústica submarina vem atraindo a atenção de institutos de pesquisa ao redor do mundo devido ao seu potencial de aplicação em áreas tais como: oceanografia, petróleo e gás e defesa naval (CHITRE et al., 2008a; CHITRE et al., 2008b; LACOVARA, 2008). Além disso, dada a facilidade com que o som se propaga no oceano, a comunicação acústica é um método de transmissão e recepção de dados mais adequado se comparado à comunicação eletromagnética. Por exemplo, a atenuação de uma onda eletromagnética de 1kHz se propagando no oceano é cerca de 60 vezes maior que a atenuação de uma onda acústica de mesma frequência. Por outro lado, a comunicação em alta velocidade em canais acústicos submarinos é um desafio, por possuir, dentre outros limitantes, a estreita largura de banda, os múltiplos percursos do sinal transmitido e o efeito Doppler (LACOVARA, 2008; LI et al., 2008a; 2008b). Na literatura, pode-se encontrar trabalhos que visam reduzir alguns desses efeitos por meio do uso de modulação por multiportadora (BERGER et al., 2010; LI et al., 2008b; YEUNG et al., 2003), em especial a modulação por divisão de frequências ortogonais (orthogonal frequency division multiplexing – OFDM) (CARRASCOSA; STOJANOVIC, 2010; LI et al., 2008a; LEE et al., 2006; TU et al., 2011), inclusive para canais acústicos em águas rasas, onde o efeito de percursos múltiplos é ampliado (PANARO et al., 2012; RADOSEVIC et al., 2010). Portanto, neste tipo de comunicação de dados, pode-se encontrar diversos problemas ainda não solucionados. Neste trabalho, os autores apresentam de forma sucinta as etapas do desenvolvimento de um protótipo de modem acústico implementado em ambiente MatLab, bem como os resultados preliminares obtidos na transmissão/recepção de dados via um canal acústico submarino, em águas rasas, sujeito a ruído aditivo tratado como um processo gaussiano branco (aditive white gaussian noise – AWGN). Tal projeto tem como objetivo principal o desenvolvimento de um modem acústico totalmente nacional que possa ser incorporado aos sistemas de comunicação da Marinha do Brasil. Este artigo está organizado da seguinte maneira: a Seção 2 relata o experimento que originou o projeto do protótipo do modem acústico para comunicação submarina; a Seção 3 descreve o desenvolvimento de tal protótipo até o presente momento; os resultados alcançados por outro experimento realizado na Enseada dos Anjos e as conclusões obtidas são apresentados nas Seções 4 e 5, respectivamente. 2. HISTÓRICO O protótipo do modem acústico submarino surgiu a partir da implementação de um código de comunicação acústica simples, mas eficaz, desenvolvido em ambiente MatLab pelos pesquisadores do Grupo de Acústica Submarina (GAS) do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), que tinha por objetivo principal a transmissão em banda estreita de textos em código Morse. Este experimento foi composto por dois módulos: módulo de transmissão/codificação (MTx) e módulo de recepção/ decodificação (MRx). O protocolo de comunicação especificado para este experimento inicial foi baseado na regra de pontos, traços e pausas descrita pelo código Morse, i.e, um ponto foi codificado como uma forma de onda senoidal contínua (continuous waveform – CW) de 7 kHz, duração de 0,3 segundos e amplitude unitária; um traço foi representado pela combinação de três pontos consecutivos. Além disso, uma pausa codificada como um período de silêncio de duração igual ao do ponto separava pontos e traços. Duas letras e duas palavras eram separadas por duas e três pausas, respectivamente. Como exemplificação deste protocolo, o sinal que codifica o texto “MARINHA DO BRASIL” é mostrado na Figura 1. O módulo MTx era responsável por, dado um texto qualquer, codificá-lo em símbolos do código Morse para em seguida construir o sinal a ser enviado, s(t), a partir do protocolo descrito acima. Cabe ressaltar que, como a implementação dos módulos foi realizada em ambiente MatLab, o sinal s(t) foi discretizado em uma sequência s[k], com frequência de amostragem de 44,1 kHz. O sinal discreto s[k] era então transmitido para a porta de saída de áudio do computador, conectada a um amplificador de áudio e a uma fonte acústica. Assim, a energia sonora era transportada por um canal submarino aqui suposto como AWGN, cuja característica é a de adicionar um ruído w(t) de média µ e variância σ2 ao sinal s(t). No módulo MRx, o sinal recebido s(t) + w(t) era adquirido via um hidrofone, digitalizado com janela temporal de 13 ms |3| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira A B G H I J K L A B C D E F M N O P Q R S T U V W X Y Z 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1 M A R I N H A D O B R A S I L Figura 1. Exemplo de um sinal transmitido pelo MTx. (A) símbolos do código Morse para o alfabeto; (B) texto “MARINHA DO BRASIL” codificado pelo protocolo deste experimento. canal AWGN saída de áudio MTx s[k] + w(t) s(t) s[k] + w[k] s(t) + w(t) texto texto MRx entrada de áudio Figura 2. Diagrama em blocos do sistema de comunicação submarina utilizando código Morse. e frequência de amostragem igual a 44,1 kHz. Em seguida, o espectro do sinal discreto s[k] + w[k] era analisado e sua densidade calculada (OPPENHEIM; SCHAFER, 1999). Se a densidade espectral fosse maior que um limiar, dependente de w[k] naquele instante, o sinal era detectado e sincronizado no tempo para uma decodificação mais eficaz. Finalmente, s[k] era identificado e decodificado em tempo real. A Figura 2 mostra o diagrama em blocos deste sistema. Cabe ressaltar que os resultados obtidos por este experimento realizado no tanque acústico de testes do IEAPM possibilitou o desenvolvimento do protótipo do modem acústico para comunicação submarina a ser descrito na próxima seção. |4| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira 3. O MODEM ACÚSTICO SUBMARINO Na primeira etapa deste projeto, foram feitos alguns estudos sobre técnicas de modulação e demodulação a fim de melhorar o desempenho do experimento anterior, que até então tinha sua eficácia garantida em ambiente controlado. Dentre as técnicas de modulação existentes, foi utilizada a modulação digital (frequency shift keying – FSK), por razões de simplicidade e confiabilidade. Esta modulação consiste, resumidamente, em associar cada símbolo a ser transmitido a um pulso senoidal de frequência específica com duração predefinida. Desta forma, os dados se transformam em uma série de pulsos modulados em n frequências distintas sendo transmitidos sequencialmente para o canal de comunicação (WATSON, 1980). A fim de reduzir a taxa de erro de bit (bit error rate – BER) e elevar a taxa de transmissão de dados (bits per second – bps) neste tipo de canal de comunicação, um protocolo mais robusto e eficaz foi especificado, fazendo com que os módulos MTx e MRx fossem reprojetados. Primeiramente, foi escolhida a modulação 16-FSK, chaveamento de 16 frequências distintas (canais), a qual permite transmitir 4 bits por símbolo. A frequência fCk de cada canal é definida como fCk = f0 + (k - 1) Δf, k = 1, ... , 16, onde f0 e Δf são a menor frequência utilizada na modulação e o espaçamento entre os canais, respectivamente. O k-ésimo canal modula a sequência de 4 bits que representa o número k na base binária, i.e, o dado em binário 0111 é transformado em k = 7 na base decimal que, por sua vez, será modulado pelo canal 7, com frequência igual à fC7 = f0 + 6Δf. O formato do protocolo de comunicação está exemplificado na Figura 3 e é descrito a seguir. A mensagem é empacotada de forma que no início e no final de cada transmissão seja enviado um sinal CW_STT, que indica o seu início, e um sinal CW_STP, que indica o seu final, com duração de tCW segundos e frequência fCW, usado na etapa de demodulação como indicativo do momento de início e de término da mensagem, permitindo que o sinal recebido seja analisado dentro de uma janela temporal conhecida, facilitando assim o sincronismo, detecção e decodificação dos seus símbolos. Cada símbolo (SYMB #k), k = 1, ... , N, é codificado por um pulso de duração igual à ts + tg segundos, onde nos primeiros ts segundos reside o pulso senoidal que identifica o canal da modulação 16-FSK como já descrito anteriormente. Após este pulso, segue-se um tempo de guarda ou silêncio de tg segundos necessário para reduzir o efeito da interferência intersimbólica, causada, principalmente, pelo espalhamento de retardo (delay spread) do pulso, devido aos múltiplos percursos a que ele está sujeito durante sua propagação no meio de transmissão (VITERBI; OMURA, 1979). Cabe ressaltar que um canal de comunicação acústica em águas rasas exibe um tempo considerável de delay spread. Note que, pela Figura 3, o pulso que identifica cada um dos símbolos na mensagem não é definido por um sinal senoidal puro, mas sim, pela multiplicação de um sinal senoidal por uma janela cuja forma se assemelha à de uma onda senoidal de meio ciclo conhecida na literatura como “Janela de Hanning”, tendo como principais características a distinção eficiente entre sinais de baixa e alta amplitude que possuam frequências próximas; a atenuação dos lóbulos laterais; e a redução significativa de contaminação espectral (spectral leakage) do sinal (OPPENHEIM; SCHAFER, 1999). Na recepção, primeiramente, dentro do sinal discreto recebido, s[k], devem ser identificados os pulsos CW_STT e CW_STP, permitindo assim que apenas a sequência existente entre estes marcadores, chamada daqui em diante de {s}, seja encaminhada para o processo de demodulação FSK. Nesta etapa, a sequência {s} é dividida em subsequências {s}t de duração igual a ts + tg segundos, que são analisadas por um banco de filtros digitais passa-banda, cada um sintonizado em uma frequência fCk, k = 1, ... , 16, que identifica o canal recebido. Contudo, pelo fato de {s}t estar corrompido por ruídos inerentes ao meio de comunicação, delay spread e fading devido aos múltiplos percursos e Doppler shift, este procedimento deve ser realizado via um algoritmo de decisão que analisa a probabilidade da frequência fCk estar presente em {s}l. Ao final, o símbolo correspondente ao canal que possui a maior probabilidade de ter sido recebido é armazenado em um buffer. Até o presente momento, além das etapas de modulação e demodulação 16-FSK do sinal transmitido e recebido, respectivamente, os módulos MTx e MRx realizam três outras funções ilustradas nos diagramas em blocos da Figura 4. Tais funções são descritas de forma sucinta a seguir. • Conversor ASCII (binário) para binário (ASCII): converte um caracter da tabela ASCII para a sua representação na base binária e vice-versa. Por exemplo, o caracter ‘A’ é representado na tabela ASCII pelo número inteiro 65, que transformado em binário torna-se 01000001. • Codificador (decodificador) convolucional (MUNIZ, 2011; VITERBI; OMURA, 1979): sua função principal é a de |5| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira CW_STT tcw SYMB #1 tg ts tg SYMB #2 ts tg SYMB #3 ts SYMB #N ts CW_STP tg tcw Figura 3. Especificação do protocolo de comunicação do protótipo do modem acústico submarino. Módulo de Transmissão/Codificação (MTx) ASCII 2 BIN converter convolutional coder interleaver 16-FSK modulator Módulo de Recepção/Decodificação (MRx) 16-FSK demodulator convolutional coder deinterleaver ASCII 2 BIN converter Figura 4. Módulos implementados para o sistema de comunicação submarina. adicionar bits de redundância à sequência de bits contendo a informação desejada de forma que esta possa ser recuperada no seu destino mesmo que a distorção causada pelo canal de comunicação tenha corrompido alguns bits originais. Tal técnica pertence à classe de códigos FEC. Em relação ao decodificador, utilizou-se o Algoritmo de Viterbi (VA), por possuir o melhor desempenho em relação aos outros do ponto de vista probabilístico. O VA infere os valores da sequência de entrada dos bits recebidos e distorcidos pelo canal de comunicação de forma a produzir uma sequência de saída que possui a maior probabilidade de ter sido transmitida. Neste processo, os bits corrompidos podem ser corrigidos. • (Des)Embaralhador (VITERBI; OMURA, 1979): A maioria dos canais de comunicação, na prática, possuem dependência estatística entre os símbolos contíguos transmitidos. Tais canais são chamados “com memória” e degradam consideravelmente o desempenho de codificadores projetados para operar em canais “sem memória”. Isso ocorre porque esta memória reduz o número de graus de liberdade independentes dos sinais transmitidos, causando o erro de burst (ELLIOTT, 1963). Se o número de símbolos contíguos errados exceder a capacidade de correção de erro do código (forward error correction – FEC), o decodificador falha na recuperação do sinal original na sua íntegra. Uma técnica utilizada na prática para reduzir o erro de burst de forma a melhorar o desempenho do FEC e que não requer nenhum conhecimento a priori sobre a memória do canal de comunicação, já que na prática isso se torna impossível, é a de embaralhamento dos |6| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira bits do sinal a ser transmitido, eliminando assim a dependência existente entre bits contíguos. O embaralhamento consiste em separar dois bits contíguos provenientes de um codificador FEC de uma distância L de forma que após este processo a memória estatística entre bits consecutivos seja reduzida. Por exemplo, seja uma sequência binária dada por 1,0,1,0,0,1,0,1 , os números em subs12345678 crito indicam a posição do bit na sequência, e seja L = 1 a separação entre bits do embaralhador. Então o sinal de saída do embaralhador, tendo como entrada a sequência acima, é dada por 1,0,0,1,1,0,0,1, . Cabe ressaltar que 15263748 quanto maior o valor de L, menor a dependência estatística entre os símbolos. { { { { 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A fim de se avaliar o desempenho deste primeiro sistema de comunicação acústica submarina desenvolvido pelo GAS/IEAPM, primeiramente foram realizadas simulações em ambiente MatLab. Neste contexto, um conjunto com distribuição uniformemente aleatória contendo 2.000 bytes foi gerado. Esta sequência de bytes foi codificada pelo MTx de forma a obtermos o sinal modulado a ser transmitido. Os parâmetros de configuração do modem acústico foram os seguintes: f0 = 4.235 Hz, Δf = 235 Hz, ts = 10 ms, tg = 50 ms, tCw = 30 ms, fCw = 8.005 Hz e code rate igual a1/2. Estes valores foram tomados a partir da análise da faixa espectral de operação do projetor e do hidrofone que foram utilizados no experimento realizado na Enseada dos Anjos e da análise do fading que ocorre neste canal de comunicação. A este sinal foi adicionado um ruído gaussiano branco (AWG) ou um ruído impulsivo (IMP), de forma a gerar um sinal ruidoso com um dado (signal-to-noise ratio – SNR) que em seguida foi processado pelo MRx desenvolvido neste laboratório. Os resultados alcançados de BER versus SNR para ambos os ruídos antes e depois do processo de decodificação — curvas em azul e vermelho, respectivamente — são mostrados na Figura 5. O experimento realizado para avaliar o desempenho do protótipo de um modem acústico submarino em ambiente real ocorreu em maio de 2012, na Enseada dos Anjos, Arraial do Cabo, RJ. O hidrofone utilizado, modelo ITC 1001, estava fundeado na Praia dos Anjos a uma profundidade de 7.3 metros e a fonte sonora, modelo Lubell 1424HP, estava instalada no Aviso de Pesquisas Oceanográficas (AvPqOc) Diadorim a 3 metros de profundidade e distante de 1.180 a 3.400 metros do hidrofone. A mensagem escolhida para este teste de desempenho do modem foi o pantograma em inglês “the quick brown fox jumps over the lazy dog”, que possui a característica de compreender todas as letras do alfabeto, repetido 5 vezes com um espaço entre frases, totalizando 219 caracteres, i.e., 1.752 bits. Os parâmetros de configuração do modem foram mantidos os mesmos daqueles utilizados nas simulações em MatLab. Note que, com code rate igual a 1/2, o total de bits transmitidos foi de 3.504. Seis mensagens foram transmitidas do AvPqOc Diadorim e processadas de forma offline pelo algoritmo descrito neste trabalho. Para exemplificar o procedimento de transmissão e recepção da mensagem, são plotados nas Figuras 6a e 6c os gráficos contendo os primeiros 7 segundos dos sinais transmitido e recebido, respectivamente. Ao lado destes, Figuras 6b e 6d, são mostrados seus respectivos espectrogramas, onde a coloração vermelha indica o símbolo que foi transmitido por seu respectivo canal. Para avaliar o desempenho do modem, foram calculados os BERs antes e depois da etapa de decodificação para cada uma das mensagens. Note que, o BER obtido antes da decodificação é calculado a partir dos 3.504 bits recebidos — resultados mostrados em azul escuro na Figura 7 — e o BER após a decodificação é calculado com os 1.752 bits da mensagem original — resultados mostrados em azul claro na Figura 7. O melhor desempenho foi obtido para a mensagem rotulada de “28May2012-1215” com BER(1) = 3,14•103 e BER(2) = 5,71•104, Sendo BER(1) antes da decodificação (undecoded) e BER(2) depois da decodificação (decoded), e o pior resultado foi alcançado pela mensagem “28May20121307”, BER(1) = 3,77•10-2 e BER(2) = 1,71•10-2. Para este conjunto de dados, tem-se como BER médio os seguintes valores: BER(1) = 1,31•102 e BER(2) = 6,28•103. Cabe ressaltar que, em vista dos BERs obtidos antes e depois do bloco de decodificação, o método de codificação convolucional aplicado na versão deste modem se mostrou eficiente e robusto, corrigindo significativamente os erros ocorridos durante a transmissão dos dados. Por exemplo, para as mensagens “28May2012-1215” e “28May20121307” seus BER (1) são 444,91% e 120,47% maiores que seus BER(2), respectivamente. |7| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira 100 AWG - undecoded IMP - undecoded AWG - decoded IMP - decoded BER 10-1 10-2 10-3 -20 -19.5 -19 -18.5 -18 -18.5 -17 -17.5 -16 -16.5 -15 SNR (dB) Figura 5. Resultados das simulações realizadas em MatLab para uma mensagem de 2.000 bytes. Sinal Transmitido 0,5 0 -0,5 -1 0 1 2 Amplitude C 3 4 Tempo (s) 5 6 7 1 0,5 0 -0,5 -1 0 1 2 3 4 Tempo (s) 5 10000 8000 6 7 Espectrograma do Sinal Transmitido 6000 4000 2000 D Sinal Transmitido Frequência (Hz) 1 Frequência (Hz) B Amplitude A 10000 8000 1 2 3 4 Tempo (s) 5 6 7 Espectrograma do Sinal Recebido 6000 4000 2000 1 2 3 4 Tempo (s) 5 6 7 20 40 60 80 100 120 140 20 40 60 80 100 120 140 Figura 6. Sinais transmitido e recebido pelo modem acústico submarino durante os 7 primeiros segundos. (A) sinal transmitido e (B) seu espectrograma; (C) sinal recebido e (D) seu espectrograma. |8| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira 100 28Maio2012-1153 28Maio2012-1201 28Maio2012-1215 28Maio2012-1236 28Maio2012-1307 28Maio2012-1311 BER Médio 10-1 10-2 10-3 Resultados antes da decodificação Resultados depois da decodificação 10-4 1230 metros 1180 metros 2100 metros 2480 metros 3400 metros 3400 metros Figura 7. BERs das mensagens transmitidas no teste de validação do modem acústico e seu valor médio. 5. CONCLUSÕES Neste trabalho foram descritas as etapas de projeto e implementação de um modem acústico para comunicação submarina, definido por software com modulação 16-FSK e codificação convolucional, bem como foram apresentados os resultados preliminares obtidos durante sua validação. Ante os resultados do experimento na Enseada dos Anjos, as seguintes alterações estão sendo implementadas: • inserção de um sinal de chirp no lugar dos sinais CW_ STT e CW_STP a fim de melhorar o sincronismo entre transmissor e receptor; • selecionar as frequências fCk dos canais de forma a serem ortogonais duas a duas no intuito de reduzir a interferência intersimbólica; • substituição dos bancos de filtros digitais passa-banda por um banco de filtros casados (matched filters) a fim de melhorar a identificação do canal recebido através da maximização de sua relação sinal-ruído (NORTH, 1963; SUSSMAN, 1960; TURIN, 1960); • correção do efeito de Dopplerização via técnicas de interpolação; e • utilização de técnicas de equalização adaptativa para compensar os efeitos de distorção do canal de comunicação. 6. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à tripulação do AvPqOc Diadorim pelo constante apoio nos diversos experimentos realizados pelo GAS; ao 1° Ten (EN) Vale, ao 1°Ten (RM2-T) Giuseppe, ao SO-EL (RM1) Nonato e ao estagiário Marcos Felipe Medeiros pela condução, organização e participação eficaz no experimento realizado na Enseada dos Anjos; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte financeiro concedido mediante a subvenção número 381984/2012-5/DTI. Cabe ressaltar que, este trabalho tem o suporte financeiro da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha do Brasil (SecCTM), processo número TC 53000/2011-001/2011. |9| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 Jefferson Osowsky, Fábio Contrera Xavier, Celso Marino Diniz, Marcus Vinícius da Silva Simões, Leonardo Martins Barreira REFERÊNCIAS BERGER, C.R.; ZHOU, S.; PREISIG, J.C.; WILLETT, P. Sparce Channel MUNIZ, D.A. 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Conf., 22-26 de setembro, San Diego, EUA, 2003. | 10 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 2-10 AMBIENTE OPERACIONAL ESTUDO DA MATURIDADE DO MODELO DE UM ESCRITÓRIO DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS: O CASO DE UMA INSTITUIÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA MARINHA DO BRASIL Study of maturity of a project management office model: case of a scientific and technological institution of the brazilian navy Fernanda Gomes Fontes1, Stella Regina Reis da Costa2 Resumo: Este artigo apresenta o estudo da avaliação do nível de maturidade do modelo de gerenciamento de projetos existente em uma Instituição Científica e Tecnológica (ICT) da Marinha do Brasil (MB). A abordagem metodológica utilizada consiste na aplicação de um questionário de autoavaliação, baseado no modelo PMO Maturity Cube, buscando obter uma avaliação a respeito do nível, tanto atual quanto pretendido, das funções organizacionais cabíveis ao Escritório de Gerenciamento de Projetos, em inglês, Project Management Office (PMO), existente na Organização Militar (OM) estudada. Como um dos principais resultados decorrentes do caso estudado, pode-se destacar o alinhamento das funções identificadas pela maioria dos entrevistados com os principais papéis de um PMO. Visando à elevação do nível da maturidade organizacional em gerenciamento de projetos, são feitas recomendações para os procedimentos pertinentes ao PMO. Palavras-chave: Gerenciamento de Projetos. PMBOK. Escritório de Gerenciamento de Projetos. PMO Maturity Cube. Maturidade Organizacional. Abstract: This article presents the study of the evaluation of the level of maturity of an existing project management model in a scientific and technological institution of the Brazilian Navy. A self-assessment questionnaire of the applicable functions of the Project Management Office (PMO) in the studied military organization, based on the PMO Maturity Cube model, was administered to generate results concerning the current and desired levels of maturity. The main finding of the case study was the alignment of functions with the leading roles of a PMO, which was highlighted by most of the respondents. To improve the procedures and the level of organizational maturity in project management, some recommendations are made to the studied PMO. Keywords: Project Management. PMBOK. Project Management Office. PMO Maturity Cube. Organizational Maturity. 1. INTRODUÇÃO deparam-se com o conflito de adaptar-se a um cenário de competição acirrada e escassez de recursos, sem desviar-se de seu planejamento estratégico. Neste aspecto, cresce o entendimento de que a adoção e o desenvolvimento da metodologia de gerenciamento de projetos é fator importante na geração dos resultados alinhados No atual contexto de economia globalizada, marcado por concorrência desenfreada, clientes muito exigentes e extremo dinamismo no cenário econômico, as empresas buscam incessantemente destacar-se no mundo corporativo. Nessa busca, 1. Mestre em Sistemas de Gestão pela Universidade Federal Fluminense – Niterói, RJ – Brasil. Servidora Civil do Centro de Análises de Sistemas Navais – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Doutora em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Professora da Universidade Federal Fluminense – Niterói, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] | 11 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa aos objetivos estratégicos da Organização. De acordo com Kerzner (2002), o gerenciamento de projetos gera diferencial competitivo, melhora a eficiência e a eficácia, que concorrem para a sobrevivência da empresa. Como base teórica ao gerenciamento de projetos, foi elaborado, em 1987, o Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (Guia PMBOK®), que se encontra em sua quinta edição. Trata-se de uma norma reconhecida para o gerenciamento de projetos, que descreve normas, métodos, processos e um conjunto de boas práticas estabelecidas. Além disso, o Guia PMBOK® fornece diretrizes, define o gerenciamento e os conceitos relacionados e descreve o ciclo de vida do gerenciamento de projetos e os processos relacionados. O Project Management Institute (PMI) considera esta norma como uma referência básica de gerenciamento de projetos para seus programas de desenvolvimento profissional e certificações. Segundo Xavier (2005), o PMBOK® serviu como referência para a norma brasileira NBR ISO 10.006 – Gestão da Qualidade – Diretrizes para a gestão da qualidade no gerenciamento de projetos. O PMBOK® orienta para a aplicação e integração apropriadas de 42 processos categorizados em cinco grupos (iniciação; planejamento; execução; monitoramento e controle; e encerramento). Esses processos possuem um relacionamento forte entre si e são compostos por entradas de informações, técnicas e ferramentas para transformar a informação em um resultado que poderá ser entrada de outro processo. A Figura 1 faz uma analogia desses cinco grupos com o ciclo Planejar–Executar–Verificar–Agir (Plan–Do–Check– Act – PDCA). PMBOK Processes Executing & Controlling Initiating Planning Closing Fonte: Jim Hertzfeld (2006). Figura 1. Analogia entre os cinco grupos do gerenciamento de projetos e o ciclo Plan–Do–Check–Act. Segundo Kerzner (2002), a implantação do gerenciamento de projetos constitui a gestão avançada de projetos, cuja prática depende da existência de um mínimo de infraestrutura de apoio aos gerentes e equipes de projeto, tais como padronização, recursos e sistemas de informação. Para tal, as empresas têm implementado estruturas organizacionais às quais são atribuídas várias responsabilidades relacionadas ao gerenciamento centralizado e coordenado dos projetos sob seu domínio. Estas estruturas são conhecidas como Escritórios de Gerenciamento de Projetos ou Project Management Office (PMO). Segundo Crawford (2002), o PMO é a estrutura organizacional estabelecida para facilitar as atividades do gerenciamento de projetos e trazer melhorias ao próprio processo de gestão da Organização por meio da gestão do portfólio e do alinhamento de projetos com a estratégia corporativa. Na medida em que o foco do gerenciamento de projetos migrou da teoria para a sua implantação, surgiu o conceito de maturidade em gerenciamento de projetos que, de acordo com Kerzner (2002), é o desenvolvimento de processos e sistemas repetitivos, de modo a aumentar a probabilidade de sucesso dos projetos submetidos a estes processos e sistemas. 1.1. OBJETIVOS As empresas brasileiras vêm concentrando investimentos para obter melhores resultados em seus projetos. No entanto, tem-se observado iniciativas fracassadas devido à falta de uma abordagem consistente, muitas vezes em decorrência de metodologias que não estão alinhadas à cultura e às necessidades organizacionais. A investigação sobre a relação entre o nível de maturidade de uma Organização e as diretrizes estabelecidas no Guia PMBOK® podem contribuir com a indicação de novos pontos de melhoria de procedimentos e, ainda, o estabelecimento de novas métricas para avaliação destes fatores. Este artigo é produto de uma pesquisa que trata da maturidade organizacional em gerenciamento de projetos. No âmbito geral, a pesquisa que originou este artigo tem o objetivo de verificar o nível de maturidade de uma Organização em Gerenciamento de Projetos, por meio da análise do modelo de gerenciamento de projetos existente em uma Instituição Científica e Tecnológica (ICT) da Marinha do Brasil (MB). Cabe ressaltar que o foco deste estudo é a avaliação da maturidade em gerenciamento de projetos de uma ICT da | 12 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa MB que desenvolve serviços técnicos especializados em diferentes áreas de atuação. Mais especificamente, trata-se de uma autoavaliação empreendida pela Divisão que atua como PMO na Organização Militar (OM) pesquisada, com a perspectiva que possa se estender aos seus clientes internos. Portanto, não foram investigados outros aspectos do gerenciamento de projetos, sendo apresentadas apenas algumas definições e explicações existentes na literatura, com a profundidade e objetividade necessárias ao entendimento dos conceitos básicos de maturidade organizacional e dos modelos de avaliação de maturidade conhecidos. 1.2. MATURIDADE EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS A necessidade de inovação das organizações tornou o gerenciamento de projetos uma atividade, uma vez que o uso de modelos de referência próprios para esse fim e a repetição de ações e práticas proporcionam agilidade e a possibilidade de aprimorar seus processos. Segundo Prado (2008), na medida em que as práticas e conhecimentos em gerenciamento de projetos são incorporados ao trabalho da empresa, o desempenho na realização de projetos melhora, tornando-se possível otimizar seus resultados até o nível de excelência. Portanto, a maturidade em gerenciamento de projetos seria a naturalidade com a qual a Organização conduz o gerenciamento dos seus projetos e a evolução e o amadurecimento das organizações podem e devem ser planejados para que a aquisição de competências permita sua renovação e sobrevivência. No entanto, esta maturidade pode estar em diferentes estágios, dependendo da Organização ou da forma de condução de seus projetos, além de ser influenciada por diversos outros fatores, como sua estrutura ou a cultura existente. Tal maturidade organizacional permite identificar os fatores de sucesso e as alternativas para correção e prevenção de problemas ordinários que possam impactar na melhoria dos processos. Assim, a maturidade em projetos seria a utilização de práticas adequadas às peculiaridades de cada Organização, como sua área de atuação, complexidade, porte e recursos disponíveis, conforme seu planejamento e ações tomadas para a aquisição de competências. No Quadro 1, são comparadas algumas características das organizações maduras e imaturas. Observa-se, também, que a maturidade em gerenciamento de projetos obedece a um ciclo de vida pelo qual passa a maioria das empresas. Tal ciclo é representado no Quadro 2. A avaliação do nível de maturidade utiliza a comparação com parâmetros da própria Organização ou área analisada, para calcular os níveis de maturidade em gerenciamento de projeto atuais e desejados, além de proporcionar orientações para alcançar seus objetivos. Ademais, ela é uma ferramenta eficaz de benchmarking entre seus próprios processos ou comparativamente com outras empresas, no sentido de identificar práticas que geram melhores resultados para seu negócio. Segundo Prado (2008), o mecanismo que quantifica a habilidade das organizações nesse contexto é o modelo de maturidade, o qual além de auxiliar na avaliação do grau de maturidade, deve ser capaz de ajudar a organização a estruturar um planejamento para o seu crescimento e melhoria neste aspecto. Quadro 1. Organizações imaturas versus Organizações maduras. Organizações Imaturas Organizações Maduras Ad hoc, processo improvisado por profissionais e gerentes. Não é rigorosamente seguido e o cumprimento dos projetos não são controlados. Altamente dependente dos profissionais envolvidos nos projetos. Coerente com as linhas de ação, o trabalho é efetivamente concluído. O cumprimento dos projetos é acordado, documentado e melhorado continuamente. Baixa visão do progresso da qualidade. A funcionalidade e a qualidade do produto podem ficar comprometidas para que prazos sejam cumpridos. Arriscado do ponto de vista do uso de nova tecnologia. Custos de manutenção excessivos. Apoio visível da alta administração e outras gerências. Bem controlado — fidelidade ao processo de gestão projetos é objeto de auditoria e de controle. São utilizadas medições do produto e de processo. Uso disciplinado da tecnologia. Custos planejados e controlados. Fonte: Adaptado de Carvalho e Rabechini (2008). | 13 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa Quadro 2. Ciclo de vida da maturidade em gerenciamento de projetos. Embrionária Aceitação pela gerência executiva Aceitação pelos gerentes da área Reconhecer a necessidade Obter o apoio visível dos executivos Obter o apoio dos gerentes de área Reconhecer os benefícios Fazer com que os executivos entendem a gestão de projetos Reconhecer a aplicabilidade Estabelecer promotores no nível executivo Reconhecer o que precisa ser feito Estar disposto a mudar a maneira de conduzir o empreendimento Crescimento Maturidade Conseguir o comprometimento dos gerentes de área Reconhecer a utilidade das fases do ciclo de vida Desenvolver uma metodologia de gestão de projetos Proporcionar conhecimento aos gerentes de área Obter o comprometimento com o planejado Desenvolver um sistema de controle gerencial de custo e programação Integrar o controle de custos e da programação Desenvolver um programa de ensino para melhorar as competências em gestão de projetos Estar disposto a Minimizar as oscilações liberar os funcionários de escopo para treinamento em Definir um sistema de gestão de projetos rastreamento do projeto Fonte: Adaptado de Kerzner (2006). Ainda de acordo com Prado (2008), os modelos de maturidade são organizados em níveis e as empresas cujos projetos estão alinhados à sua estratégia, normalmente estão nos níveis mais elevados, o que corresponde à percepção de que o aprendizado contínuo organizacional em gerenciamento de projetos proporciona, como efeito, o alinhamento estratégico dos projetos. Os modelos de maturidade também são observados em nível nacional. De acordo com a PMSURVEY.ORG 2012, 23,4% das empresas brasileiras declararam pretender investir em avaliação e diagnóstico do nível de maturidade em gerenciamento de projetos. Por tudo que foi dito, observa-se a importância do entendimento de como a maturidade em gerenciamento de projetos influencia os resultados dos projetos e qual a sua relação com a estratégia da Organização. Consequentemente, constata-se a necessidade de um instrumento de autoavaliação frente ao variado leque de funções possíveis dos PMO. Mais ainda, este modelo de avaliação de maturidade deve proporcionar a desejável confrontação entre as funções existentes no PMO ao mesmo tempo em que permite ao PMO identificar apenas as funções desejadas, gerando uma avaliação relativa à necessidade existente e percebida. Tal instrumento de autoavaliação deve permitir, adicionalmente, o registro das intenções de melhoria percebidas no ato da avaliação de maturidade, o que facilitará a geração de um plano de ações. A simplicidade do método permite sua autoaplicação, sem necessidade de contratação de serviços de consultoria. 1.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJECT MANAGEMENT OFFICE MATURITY CUBE 2. METODOLOGIA DA PESQUISA O modelo PMO Maturity Cube foi idealizado por Américo Pinto e desenvolvido em conjunto com Marcelo Foresti Cota, contando ainda com a colaboração da Dra. Ginger Levin. Segundo Pinto, Cota e Levin (2012), este modelo prevê que o PMO gera valor para seus clientes e para a Organização como um todo por meio das funções que exerce, as quais são traduzidas em serviços. Dessa forma, a maturidade de um PMO pode ser resumida pelo grau de sofisticação com que ele provê cada serviço sob a sua responsabilidade. Pelos critérios de taxionomia propostos por Vergara (2007), esta pesquisa é classificada como investigação explicativa, pois visa esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno. Neste trabalho, pretendeu-se investigar a aplicação dos procedimentos de um PMO e sua relação com o nível de maturidade organizacional. Ainda segundo Vergara (2007), trata-se de uma pesquisa aplicada e de campo, de acordo com as seguintes conceituações: | 14 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa (i) aplicada, pois foi motivada pela necessidade de resolver problemas concretos, com finalidade prática; (ii) de campo, por ser realizada no local onde ocorre o fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Os critérios para a escolha do caso analisado foram assim definidos: (i) a existência de uma estrutura organizacional bem definida; (ii) a prática de atividades de projeto; (iii)uma Unidade Organizacional com características de PMO implantado. Com base nesses critérios foi escolhido o caso de uma OM que adota a metodologia do PMI e desenvolve serviços técnicos especializados, nas seguintes áreas de atuação: pesquisa operacional, criptologia, gestão da informação e desenvolvimento de sistemas. A escolha do modelo a ser aplicado nesta pesquisa baseou-se na experiência da autora no ambiente em estudo, na aplicabilidade do questionário na OM abordada e na novidade do modelo. Assim, o PMO Maturity Cube foi considerado um modelo eficaz e simples de ser aplicado, além de não necessitar de investimento em software específico para compilação dos dados. Como instrumento da pesquisa de campo foi aplicado um questionário contendo o modelo de avaliação PMO Maturity Cube. De modo a elucidar o objeto da pesquisa, foram acrescidas algumas questões fechadas, elaboradas com base em algumas funções do PMO elencadas por Ortega (2009), as quais poderiam ser realizadas em ambientes virtuais colaborativos e consultivos. Para verificar a viabilidade da aplicação do questionário do modelo PMO Maturity Cube ao PMO em estudo, foi realizada uma validação das perguntas por um especialista em gerenciamento de projetos da OM pesquisada. Como resultado, foi possível verificar uma adequação de 85% das questões às atividades executadas por esta Unidade Organizacional. Tendo em vista a recomendação dos próprios autores do modelo PMO Maturity Cube de que o questionário seja aplicado apenas aos próprios componentes do PMO, devido à predominância de linguagem técnica, foram aplicados oito questionários-teste de modo a identificar possíveis dificuldades de entendimento destes termos e de preenchimento propriamente dito. Não foi observado nenhum problema que pudesse comprometer a análise dos dados coletados e, portanto, não foi considerado necessário elaborar mecanismos de esclarecimento da terminologia empregada, além dos utilizados na apresentação do questionário. A análise quantitativa utilizou a estatística descritiva, e a qualitativa foi conduzida através da exposição, pela autora, da percepção acerca dos resultados, visando indicar ações para preencher as lacunas identificadas. 2.1. CRITÉRIOS DO MODELO PROJECT MANAGEMENT OFFICE MATURITY CUBE Cada estágio corresponde a uma pontuação específica e ao fim do preenchimento são obtidas as pontuações totais correspondentes à situação atual da Organização e à situação desejada pela Organização, divididas nas abordagens Estratégica, Tática e Operacional. Com base nessas pontuações são calculados os níveis de maturidade Atual e Desejada. O Nível de Maturidade Atual em cada uma das abordagens é dado pela comparação entre a pontuação relativa à situação atual da Organização, com o total de pontos possíveis de serem obtidos no modelo. Já o Nível de Maturidade Desejada é dado pela comparação entre a pontuação relativa à situação desejada pela Organização, com o total de pontos possíveis de serem obtidos no modelo. A Maturidade Atual e a Maturidade Desejada são representadas por meio de percentuais. O nível de Maturidade Atual representa o quanto o PMO está aderente a todos os serviços possíveis a um PMO, em seu mais alto estágio de maturidade. Já o nível de Maturidade Desejada representa onde o PMO gostaria de chegar, situação na qual estaria plenamente aderente aos seus objetivos e missão, considerando apenas os serviços que de fato lhe interessam, nos estágios de maturidade esperados. Os níveis de Maturidade são classificados de acordo com a Tabela 1. Tabela 1. Classificação do nível de maturidade por percentual obtido. Percentual obtido (%) Classificação do nível de maturidade 0 ≤ x ≤ 33 Básico 34 ≤ x ≤ 66 Intermediário 67 ≤ x ≤ 100 Avançado Fonte: Pinto, Cota e Levin (2012). | 15 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa 2.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO EM ESTUDO O PMO estudado, ativado em 2003, sofreu uma profunda reestruturação em 2008, passando a atuar mais fortemente na elaboração de modelos e controles que auxiliassem as tarefas gerenciais ao mesmo tempo que viabilizavam uma maior integração destes nas diversas fases do projeto. Atualmente, o PMO atua com um portfólio aproximado de 60 projetos de diferentes características e orçamentos, com uma equipe de quatro profissionais. O PMO dispõe de um modelo de gestão de projetos, com metodologia e controles padronizados, fortemente implantado. Este modelo é bastante dinâmico, procurando sempre oferecer soluções aos problemas encontrados e adaptandose às necessidades dos Gerentes e da Alta Administração. Assim, o PMO atua predominantemente no gerenciamento de integração, escopo, tempo, custo e recursos humanos. As diretrizes determinadas pelo PMO estão descritas sob a forma de Procedimentos Operacionais, os quais estão organizados em um Sistema de Gestão da Qualidade, acessíveis por todos da OM. Neste aspecto, existe um sistema para apoiar uma parte destes processos, mas este foi desenvolvido em um aplicativo limitado, que não emite os alertas necessários, funcionando mais como um repositório de informações. Por este motivo, são necessárias outras ferramentas para consolidar todas as informações necessárias ao assessoramento à Alta Direção. Ainda, existe um sistema de lançamento de recursos materiais e serviços administrado por outro Departamento da OM e planilhas eletrônicas individualizadas, elaboradas manualmente, por outros setores, para seu próprio controle. Desta forma, é necessária uma mobilização de diversos setores da OM para que sejam extraídas as informações solicitadas. Não se pode deixar de mencionar que algumas destas planilhas, por serem elaboradas manualmente, podem gerar erros involuntários em informações extremamente sensíveis, podendo gerar distorções críticas. 3. RESULTADOS 3.1. PARTE 1 – PERFIL DO RESPONDENTE A Tabela 2 expõe o tempo médio que os entrevistados estão na OM estudada e, ainda, o tempo médio que ocupam o atual cargo. O elevado tempo médio na OM, observado em todos os cargos, pode indicar uma alta familiaridade com a estrutura e com a cultura organizacional. Percebe-se, também, que os entrevistados apresentam pouco tempo de ocupação no cargo atual, demonstrando que a maioria é contemporânea da nova estruturação do PMO. Esse fato, porém, pode revelar pouco conhecimento das atividades exercidas pelo PMO, em especial por parte dos Gerentes e Adjuntos. Apesar de o tempo médio no cargo dos Encarregados de Divisão ser ainda menor, em geral estes ocupam esta posição após haverem passado pelo cargo de Gerente ou Adjunto, o que, aparentemente, indica uma maior experiência organizacional. 3.2. PARTE 2 – MODELO DO PROJECT MANAGEMENT OFFICE MATURITY CUBE Sendo o PMO Maturity Cube uma ferramenta de autoavaliação, cada entrevistado fez sua avaliação individual. A consolidação final dos questionários preenchidos pelos componentes do PMO foi realizada segundo o seguinte critério, indicado pelos autores do modelo: (i)Conforme a mais baixa avaliação, no caso do nível atual de maturidade; (ii)Conforme a mais alta avaliação, no caso do nível desejado de maturidade. Tendo em vista que este estudo propôs-se a verificar a propriedade da extensão da aplicação do questionário do modelo a outros que não os componentes do PMO, será apresentado um novo critério para a consolidação destes valores, Tabela 2. Tempo médio por cargo ocupado. Cargo ocupado Componente do PMO Encarregado de Divisão De modo a permitir uma melhor visualização dos resultados obtidos, eles serão estruturados conforme as partes componentes do questionário aplicado. Gerente ou Adjunto Tempo médio Tempo médio na OM no cargo atual 18 anos e 1 mês 11 anos e 11 meses 8 anos e 9 meses 3 anos e 5 meses 1 ano e 7 meses 3 anos e 7 meses PMO: Project Management Office; OM: Organização Militar. | 16 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa Tabela 3. Pontuação obtida para os níveis Atual e Desejado, por Abordagem, na avaliação pelos componentes do Project Management Office. Níveis Maturidade Estratégica Abordagem Tática Operacional 5 29 4 27 4 22 Atual Desejado que pode vir a permitir a avaliação da maturidade do PMO por estes outros atores. Trata-se da utilização da medida Moda, que apresenta ótima representatividade para um número maior de observações, em vez de Mínimo e Máximo, inicialmente indicados no modelo. Moda é uma medida de posição, sendo o valor que ocorre com a maior frequência em um conjunto de números. (SPIEGEL, 1977, p. 74) Para uma melhor análise, esta parte será apresentada dividida por grupo avaliador, assim distribuído: (i) componentes do PMO; (ii) Encarregados de Divisão; (iii)Gerentes ou Adjuntos. 3.2.1. Componentes do Project Management Office (utilizando Mínimo e Máximo) A Tabela 3 mostra que os três âmbitos de Abordagem previstos no Modelo (Estratégica, Tática e Operacional) obtiveram pontuação equilibrada, no nível Atual, na avaliação realizada pelos componentes do PMO. No entanto, é possível observar uma grande defasagem entre os níveis Atual e Desejado. Isto evidencia a percepção, por parte dos componentes do PMO, da necessidade de amadurecimento das funções por eles desempenhadas. Em relação à categorização da maturidade do PMO por cada Abordagem, percebe-se no Gráfico 1 que, atualmente, o PMO encontra-se no nível Básico (entre 0 e 33%). Também é possível verificar que, atualmente, o PMO atua com uma discreta tendência à Abordagem Operacional. Isto condiz com sua realidade, uma vez que, logo após sua reestruturação, em meados de 2008, o foco principal foi a elaboração de modelos gerenciais para o planejamento e controle dos projetos. Já para o nível Desejado, os três âmbitos de Abordagem foram avaliados no nível Avançado (entre 67 e 100%), tendo as Abordagens Estratégica e Operacional uma discreta predominância. % 100 96,67% 93,10% 95,65% 80 60 40 20 0 16,67% Estratégica 13,79% 17,39% Tática Operacional Abordagem Atual Desejado Gráfico 1. Índice de maturidade por Abordagem, na avaliação pelos componentes do Project Management Office. 3.2.2. Encarregados de Divisão (utilizando a medida Moda) A Tabela 4 mostra que os três âmbitos de Abordagem (Estratégica, Tática e Operacional) obtiveram pontuação equilibrada, no nível Atual, na avaliação realizada pelos Encarregados de Divisão. Também é possível observar uma grande defasagem entre os níveis Atual e Desejado. Em relação à categorização da maturidade do PMO por cada Abordagem, percebe-se no Gráfico 2, que atualmente, na percepção dos Encarregados de Divisão, o PMO encontra-se no nível Básico (entre 0 e 33%) nas três Abordagens, com tendência às Abordagens Operacional e Tática, apresentando, esta última, uma discreta preponderância. Já para o nível Desejado, os três âmbitos de Abordagem foram avaliados no nível Avançado (entre 67 e 100%), com preponderância das Abordagens Operacional e Estratégica, respectivamente. | 17 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa Tabela 4. Pontuação obtida para os níveis Atual e Desejado, por Abordagem, na avaliação pelos Encarregados de Divisão, utilizando a medida Moda. Níveis Abordagem Tática Operacional 7 28 8 26 6 22 Atual Desejado Maturidade % 100 Estratégica 93,33% 89,66% 95,65% 80 60 40 20 0 23,33% Estratégica 27,59% 26,09% Tática Operacional Abordagem Atual Desejado Gráfico 2. Índice de maturidade por Abordagem, na avaliação pelos Encarregados de Divisão, utilizando a medida Moda. 3.2.3. Gerentes ou Adjuntos (utilizando a medida Moda) A Tabela 5 mostra que dois âmbitos de Abordagem (Estratégica e Tática) obtiveram pontuação equilibrada, no nível Atual, na avaliação realizada pelos Gerentes ou Adjuntos. Também é possível observar uma grande diferença entre os níveis Atual e Desejado. Em relação à categorização da maturidade do PMO por cada Abordagem, percebe-se no Gráfico 3, que atualmente, na percepção dos Gerentes ou Adjuntos, o PMO encontra-se no nível Básico (entre 0 e 33%) nas Abordagens Operacional e Estratégica e no nível Intermediário (entre 34 e 66%) na Abordagem Tática. Já para o nível Desejado, os três âmbitos de Abordagem foram avaliados no nível Avançado (entre 67% e 100%), com predominância da Abordagem Estratégica. 3.3. PARTE 3 - QUESTÕES FECHADAS, APRESENTADAS NO ANEXO Nesta parte do questionário, foram apresentadas 19 funções possíveis de serem executadas por um PMO, com o intuito de verificar o atual estágio de oferta e as possibilidades para o futuro. O Quadro 3 mostra as funções consideradas interessantes, de serem implementadas, pela maioria dos entrevistados dos três cargos. As funções identificadas no Quadro 3 estão perfeitamente alinhadas com a definição, pelo PMI, descritas no Guia PMBOK®, dos principais papéis de um PMO, tais como: (i) gerenciar recursos compartilhados nos projetos; (ii) identificar e desenvolver as melhores práticas e padrões; (iii)promover instrução, treinamento e supervisão. Também é possível perceber que estes mesmos anseios são compartilhados com outras empresas brasileiras entrevistadas na PM SURVEY.ORG 2012, assim representados: • 18,4% dos problemas mais frequentes em projeto referem-se à falta de uma ferramenta de apoio; • 70% das empresas afirmaram não utilizar ferramentas para a gestão (armazenamento e recuperação) do conhecimento adquirido em projetos. No entanto, 64% pretendem reverter esta situação e • 42,6% das empresas consideram que o monitoramento do portfólio de projetos é uma das funcionalidades mais importantes dos softwares de gerenciamento de projetos. Não houve convergência quanto às funções consideradas indiferentes de serem implementadas pelos entrevistados dos três cargos. 4. CONCLUSÕES Neste estudo, o objetivo principal foi avaliar o nível de maturidade do modelo de gerenciamento de projetos existente em uma ICT da MB. A partir dos resultados obtidos é possível contribuir com a indicação de novos pontos de melhoria de procedimentos, bem como delinear recomendações, visando auxiliar outras Organizações no alinhamento de seus processos de gerenciamento de projetos. É importante ressaltar que, à primeira vista, a relação entre maturidade em gerenciamento de projetos e o desempenho | 18 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa Tabela 5. Pontuação obtida para os níveis Atual e Desejado, por Abordagem, na avaliação pelos Gerentes e Adjuntos de Projeto, utilizando a medida Moda. Níveis 100,00% 82,76% 80 Abordagem Tática Operacional 10 30 10 24 6 21 Atual Desejado Maturidade % 100 Estratégica 91,30% 60 40 33,33% 34,48% Estratégica Tática Operacional Abordagem 26,09% 20 0 Atual Desejado Quadro 3. Funções consideradas interessantes, pela maioria dos entrevistados dos três cargos, de serem implementadas. Funções possíveis de serem executadas pelo PMO - Identificação, análise, implantação e divulgação de melhores práticas - Suporte, análise e monitoramento centralizado do gerenciamento de portfólio, garantindo a ligação entre os relatórios de desdobramento de metas e os escopos dos projetos - Ferramenta de apoio ao gerenciamento de recursos críticos - Disponibilização de área virtual para atividades de mentoring ou coaching em gerenciamento de projetos PMO: Project Management Office. Gráfico 3. Índice de maturidade por Abordagem, na avaliação pelos Gerentes e Adjuntos de Projeto, utilizando a medida Moda. dos projetos parece ser diretamente proporcional. No entanto, um nível mais elevado de maturidade em gerenciamento de projetos favorece, mas não assegura, que um número maior de projetos seja executado com sucesso, apenas indicando que a Organização possui as capacidades e está apta à execução, com sucesso, de seus projetos. Cabe também destacar a importância no que se refere à percepção da continuidade de sucesso dos projetos. Este estudo propôs-se a investigar um possível instrumento que possa auxiliar a OM em foco e, em especial, seu PMO, na medição da efetividade de suas ações no sentido de alcançar as expectativas organizacionais. No entanto, a real efetividade deste instrumento só pode ser verificada com a repetição do experimento, com seus devidos ajustes. É inegável que o sucesso do gerenciamento de projetos depende de um bom modelo de gestão e, portanto, o monitoramento e controle dos procedimentos determinados neste modelo são de extrema importância. Também, não se pode deixar de reconhecer que a automatização e a integração de todos os processos que afetam o PMO minimizariam fortemente os erros involuntários provenientes do trabalho manual, evitando distorções em informações extremamente sensíveis para a OM. É notório que a Tecnologia da Informação (TI) é capaz de suportar várias funções, aplicações e ferramentas facilitadoras para o gerenciamento de projeto e, consequentemente, contribuir para o seu amadurecimento organizacional. Assim, com base nas observações obtidas na pesquisa, recomenda-se: (i) a implantação de um sistema integrado de gerenciamento que venha a possibilitar ao PMO a execução das funções desejadas apontadas e, consequentemente, elevar o nível da maturidade organizacional em gerenciamento de projetos. Esta necessidade é especialmente importante quando se verifica que todas as funções não exercidas atualmente pelo PMO e que foram consideradas interessantes pelos entrevistados dos três cargos, apresentadas no Quadro 3, necessitam de uma forte estrutura tecnológica; (ii) que estas soluções de TI sejam compatíveis, o máximo possível, com a realidade da Organização e seus recursos humanos e físicos. | 19 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa REFERÊNCIAS CARVALHO, M.M; RABECHINI, Jr. R. Construindo competências Gestão) – Departamento de Engenharia de Produção, Universidade para gerenciar projetos: teoria e casos. 2 ed. Rio de Janeiro: Atlas, Federal Fluminense, Niterói, 2009. 2008. 430 p. PRADO, D. Maturidade em gerenciamento de projetos. Série CRAWFORD, J.K. The Strategic Project Office: A Guide to Improving Gerência de Projetos v.7. Nova Lima: INDG tecnologia e serviços Organizational Performance. New York: Marcel Dekker Inc, 2002. 367 p. LTDA. 2008. 206 p. Guia PMBOK®: Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de PINTO, A.; COTA, M.F.M.; LEVIN, G. “PMO Maturity Cube”, um Projetos. 5 ed. Newtown Square, Pennsylvania: PMI, 2013. 595 p. modelo de avaliação de maturidade exclusivo para Escritórios de HERTZFELD, J. 2006. Figura 1 - Analogia entre os cinco grupos do gerenciamento de projetos e o ciclo PDCA. Disponível em: <http:// Projetos. Disponível em <www.pmomaturitycube.org>. Acesso em: 23 mar 2012. www.mpmm.com/project-management-best-practices.php>. Acesso PM SURVEY.ORG 2012 Edition. Project Managemente Institute em: 12 abr. 2012. Chapters. Disponível em: <http://www.pmsurvey.org>. Acesso em: KERZNER, H. Gestão de Projetos: as melhores práticas. São Paulo: Bookman, 2002. 519 p. 13 fev 2013. SPIEGEL, M.R. Estatística: Resumo da Teoria. São Paulo: McGraw-Hill ______. Gestão de Projetos: as melhores práticas. São Paulo: Bookman, 2006. 821 p. do Brasil, 1977. VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 9. ORTEGA, E.S. Virtualização do escritório de gerência de projeto: ed. São Paulo: Atlas, 2007. 92 p. uma proposta de convergência das decisões estratégicas em XAVIER, C.M.S. Gerenciamento de projetos: como definir e controlar resultados operacionais. 161p. Dissertação (Mestrado em Sistemas de o escopo do projeto. São Paulo: Saraiva, 2005. | 20 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 Fernanda Gomes Fontes, Stella Regina Reis da Costa ANEXO QUESTIONÁRIO UTILIZADO NA PESQUISA Parte 1. Perfil do respondente Tempo que está lotado na Organização: Cargo que ocupa atualmente: Tempo que está no atual cargo: ___ ano(s) ___ meses □ Membro do □ Gerente ou Adjunto □ Encarregado de Divisão, Chefe de PMO de Projeto ___ ano(s) ___ meses Departamento ou Alta Direção Parte 2. Modelo do PMO Maturity Cube - Fonte: Pinto, Cota e Levin (2012) Parte 3 Atualmente Futuro Exercida Interessante Indiferente FUNÇÕES DO PMO 1) Fornecimento de modelos (templates), listas de verificação (checklist), ferramentas, formulários, relatórios e procedimentos em gerenciamento de projetos; 2) Coletor de dados, arquivamento e manutenção do histórico e lições aprendidas dos projetos; 3) Ferramenta de apoio ao gerenciamento das atividades e tarefas dos projetos; 4) Identificação, análise, implantação e divulgação de melhores práticas; 5) Consultoria e assessoria em gerenciamento de projeto; 6) Comunicação de papéis, responsabilidades e limites de autoridade dos gerentes de projetos; 7) Elaboração e manutenção de todos os planos de gerenciamento dos projetos e do acompanhamento de indicadores de projetos; 8) Suporte, análise e monitoramento centralizado do gerenciamento de portfólio, garantindo a ligação entre os relatórios de desdobramento de metas e os escopos dos projetos; 9) Avaliações e apoio na recuperação ou aceleração de projeto; 10) Comunicação de eventos, grupos focais, grupos de trabalhos e reuniões; 11) Coordenação central das comunicações entre projetos; 12) Ferramenta de apoio ao gerenciamento de recursos críticos; 13) Distribuição e controle dos recursos humanos; 14) Disponibilização de área virtual para atividades de mentoring ou coaching em gerenciamento de projetos; 15) Apoio tecnológico à realização de desenvolvimento de carreira para os gerentes de projeto e equipe de projeto; 16) Comunicação de programas de treinamentos; 17) Personalização e configuração flexível para administração do portal de gerenciamento de projeto da organização; 18) Edição de relatórios executivos e de governança contendo as informações do portfólio dos projetos e 19) Suporte e assessoria à alta administração da organização. | 21 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 11-21 AMBIENTE OPERACIONAL PRODUTO ALTIMÉTRICO REGIONAL PARA A ÁREA DE INTERESSE DA REDE TEMÁTICA DE MODELAGEM E OBSERVAÇÃO OCEANOGRÁFICA (REMO) Regional altimetry product to the area of interests of the Oceanographic Modeling and Observation Network (REMO) Victor Bastos Daher1, Paulo Roberto Costa Junior2 Resumo: Neste trabalho foram analisados dados de Altura da Superfície do mar medidos por satélites processados exclusivamente para serem assimilados nos modelos numéricos da REMO. Estes dados são processados pelo Instituto Francês Collecte Localisation Satellite (CLS) dentro do projeto denominado Altimetry Tailored and Optimized for Brazilian Applications (ATOBA) que foi assinado em 2012 entre a REMO e o CLS. Os dados do ATOBA foram analisados e comparados com os produtos altimétricos globais de uso livre e com dados in situ. Palavras-chave: Altimetria. Satélite. Oceanografia. Abstract: In this study, data from the Sea Level Anomaly (SLA) 1. INTRODUÇÃO armazenado na coluna d’água, variações na profundidade da termoclina, interações entre maré oceânica e ondas internas (DUCET et al., 2000; POLITO et al., 2000; RYAN et al., 2006). Devido a esta característica e outras como a precisão e grande abrangência espacial dos dados altimétricos, a técnica tornou-se igualmente importante também no campo da assimilação de dados em modelos numéricos oceanográficos. Dessa forma, torna-se cada vez mais difícil encontrarmos na literatura recente estudos da dinâmica oceânica que prescindam da utilização direta ou indireta desse tipo de dado (PUJOL e LARNICOL, 2005; RIO et al., 2007; PASCUAL et al., 2006). A altimetria por satélite modificou a forma com que se pode analisar um dado medido remotamente. Isso acontece pois, ao contrario da maioria dos dados obtidos por sensoriamento remoto que permitem a obtenção de informações de processos oceânicos que ocorrem na superfície ou no máximo na zona fótica, as medidas altimétricas da superfície do oceano permitem que obtenhamos informações sobre processos que ocorrem também em subsuperfície. Eles permitem estimarmos, por exemplo, correntes geostróficas, quantidade de calor measured by satellite and processed in order to be assimilated in the REMO oceanic numeric model were analyzed. These data are processed by the French Institute Collecte Localisation Satellites (CLS) as part of the project called Altimetry Tailored and Optimized for Brazilian Applications (ATOBA), which was signed in 2012 by REMO and CLS. The data were ana- lyzed and compared with global altimetry products and with in situ measurements. Keywords: Altimeter. Satellites. Oceanography. 1. Oceanógrafo no Centro de Hidrografia da Marinha – Niterói, RJ – Brasil. Mestre em oceanografia Física pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Capitão-de-Corveta na Marinha do Brasil – Niterói, RJ – Brasil. Mestre em engenharia oceânica pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] | 22 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior Diante da preocupação da equipe Rede de Modelagem e Observação Oceanográfica - Centro de Hidrografia da Marinha (REMO-CHM – http://www.rederemo.org) em manter-se atualizada na pesquisa e na modelagem oceanográfica, foi firmado no ano de 2012 um contrato com o Collected Localisation Satellites (CLS – http://www.cls.fr/). Essa aliança deu origem ao projeto denominado Altimetry Tailored and Optimized for Brazilian Applications (ATOBA). Este tem como objetivo o refinamento e desenvolvimento de dados de Anomalia da Altura da Superfície do Mar (AASM), processados especificamente para as regiões de interesse da REMO. Informações que devem auxiliar a pesquisa da oceanografia observacional e a assimilação de dados em modelos numéricos. A análise dos resultados obtidos pelo projeto ATOBA é apresentada neste trabalho de forma a validar e verificar as melhorias obtidas pelo novo processamento aplicado aos dados altimétricos. 2. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é analisar o produto regional de altimetria por satélite desenvolvido especificamente para a área de interesse da REMO e realizar a inter-comparação entre estes dados e aqueles processados com a metodologia já existente e ajustada à dados globais. A comparação é feita utilizando-se dados along track (dados medidos ao longo da trajetória do satélite) e os satélites utilizados são os satélites de ciclo repetitivo Jason1 e Jason2. 3. DADOS Atualmente, existe uma gama variada de dados de altimetria por satélites. Eles diferenciam-se, entre si, basicamente pelos tipos de correções realizadas, pela filtragem de determinados comprimentos de onda, ou ainda pelo esquema de interpolação e tempo para disponibilização. As correções aplicadas aos dados de AASM são divididas em correções atmosféricas e geofísicas. Elas visam corrigir as variações da velocidade de propagação da onda de radar ao longo da atmosfera e as oscilações da altura da superfície do mar causadas por fenômenos geofísicos, respectivamente. A filtragem dos dados altimétricos tem por objetivo eliminar ruídos de pequena e média escalas existentes nos dados along-track. Após a filtragem, pode ser aplicada uma sub-amostragem along track para diminuir a quantidade de dados, uma vez que parte do sinal é eliminada durante a filtragem. Para preservar ao máximo a energia presente em certos comprimentos de onda por regiões, os comprimentos dos filtros utilizados e a sub-amostragem dos dados along-track podem variar por faixa de latitude. Abaixo são apresentadas as características principais que tornam os dados do projeto ATOBA diferentes dos dados processados globalmente (dados distribuídos gratuitamente pelo Archiving, Validation and Interpretation of Satellite Oceanographic data – AVISO). 3.1. DADOS GLOBAIS Para padronizar e agrupar os dados de múltiplos satélites altimétricos, o CLS mantém, junto ao Centre National D’études Spatiales (CNES), um projeto denominado Ssalto multimission ground segment/Data Unification and Altimeter Combination System (Ssalto/Duacs). O referido projeto disponibiliza dados através do AVISO, que são calibrados e homogeneizados entre si, conferindo aos mesmos uma das melhores precisões existentes. Estes permitem ainda a realização de estudos de processos oceanográficos em escalas espaciais e temporais impossíveis de serem realizadas utilizando-se dados de apenas um satélite. A Tabela 1 apresenta as características que diferenciam os dados processados pelo projeto Ssalto/Duacs e ATOBA. 3.2. DADOS REGIONAIS Dentro do projeto ATOBA, foram selecionadas três diferentes áreas: V0 (Oceano Atlântico, longitudes 98°W a 20°E e latitudes 50°N a 78°S); V1 (Atlântico Tropical e Sul, longitudes 68°W a 18°W e latitudes 10°N a 45°S); e V2 (longitudes 54°W a 32°W e latitudes 11°S a 35°S). A Figura 1 apresenta as áreas citadas. Para cada uma dessas áreas os dados altimétricos são processados com diferentes filtragens, resoluções e correções de maré oceânica. O produto gerado para a área V0 contempla apenas dados along-track com resolução de aproximadamente 20 km. As únicas diferenças entre estes e os disponibilizados pelo Salto/Duacs envolvem somente os comprimentos dos filtros utilizados e a resolução espacial (Tabela 1). | 23 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior Nos dados processados para a região V1, além das mudanças de filtragem e sub-amostragem, é aplicada como correção de maré oceânica as alturas de maré estimadas pelo modelo hidrodinâmico FES-2012. Os dados do Salto/Duacs, assim como os dados ATOBA, na região V0, utilizam como correção de maré oceânica as alturas de maré estimadas pelo modelo 50°N V0 25°N GOT4.8. Os dados along-track da região V1 possuem resolução espacial de aproximadamente 6 km. Nesta região, também são gerados dados em grade regular com resolução espacial de 1/8°, cujo método de interpolação segue a metodologia desenvolvida por Le Traon et al. (1998). Cabe ressaltar que a análise destes campos não faz parte do escopo deste trabalho. A resolução do dado along-track do produto V2 é de aproximadamente 1.5 km e a correção de maré oceânica é feita utilizando o modelo FES-2012. Quando da redação final deste artigo, estes dados se encontravam em desenvolvimento no CLS e os resultados estavam sendo avaliados pelo instituto. 3.3. DADOS DE MARÉGRAFOS Para dar mais robustez aos resultados, foram selecionados 23 marégrafos ao longo da costa brasileira. Suas constantes harmônicas foram obtidas do arquivo da Fundação de Estudos do Mar (FEMAR). A lista dos marégrafos, assim como suas coordenadas e números de dias utilizados para estimar as constantes harmônicas de maré, é descrito na Tabela 2. Foram analisadas as oito principais componentes diurnas e semidiurnas de maré (M2, S2, N2, K1, O1, K2, P1 e Q1), as quais possuem a maior parte da energia do sinal da maré nesta área. V1 0° V2 25°S 50°S 4. METODOLOGIA 75°S 90°W 60°W 30°W 0° A metodologia empregada na análise do produto ATOBA baseou-se na comparação desses dados com aqueles fornecidos pelo Ssalto/Duacs, disponibilizados pela AVISO. Para os dados along-track, foram feitas comparações envolvendo análise espectral along-track, análise nos pontos crossover, correlação 30’ Figura 1. Áreas de estudo do Projeto ATOBA: V0 (verde), V1 (azul) e V2 (vermelha). Tabela 1. Característica que diferenciam os dados utilizados. Faixas de Latitude Ssalto/Duacs (em graus) Comprimento dos filtros aplicados nos dados colineares (along track) Resolução dos dados colineares Resolução dos dados em grade regular Correção de Maré oceânica 0–10 10–20 20–30 30–40 40–90 0–10 10–20 20–30 30–90 – – 235 km 190 km 135 km 90 km 58 km 45 km 40 km 25 km 20 km 1/4° GOT4.8 | 24 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 ATOBA V0 98 km 63 km ATOBA V1 ATOBA V2 98 km 78 km 65 km 76 km 52 km 20 km ~6 km 1,5 km – GOT4.8 1/8° FES2012 1/12° FES2012 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior dos dados de satélite com dados de marégrafos, conforme descrito a seguir. Também foi realizada uma comparação dos resultados dos modelos de maré FES2012 e GOT4.8 com as constantes harmônicas de marégrafos. 10°N 0° 4.1. ANÁLISE ESPECTRAL DOS DADOS ALONG-TRACK 10°S A análise espectral along track é uma forma de se observar a quantidade de energia presente nos comprimentos de onda, de pequena à grande escala, para cada tipo de dado altimétrico. Com isto, é possível verificar o efeito da filtragem e sub-amostragem aplicada para cada tipo de dado e em cada faixa de latitude. Neste trabalho, a análise espectral é feita para cada track de uma mesma faixa de latitude e, por fim, é calculado o espectro médio para a referida faixa latitudinal. A Figura 2 representa a divisão da METAAREA-V por faixa de latitude com os tracks do satélite Jason-2. 20°S 30°S 40°S 60°W 50°W 40°W 30°W 20°W Figura 2. Faixas de latitude utilizadas para a análise espectral dos dados colineares. 4.2. ANÁLISE DE PONTOS CROSSOVER Os pontos de crossover representam as regiões onde dois tracks se cruzam (Figura 3). Ao considerarmos que a AASM Tabela 2. Lista dos marégrafos utilizados. Marégrafos Lat (o) Long (o) 1 Penrod 06 3,0000 -49,2850 Dias 30 2 3 4 5 6 7 8 9 Arquipélago São Pedro e São Paulo Mucuripe Ilha de Fernando de Noronha 05 Natal Ilha de Itamaracá Recife Plataforma OCM1 - Oceanica Aratu 0,9200 -3,7150 -3,8283 -5,7900 -7,7750 -8,0566 -11,0000 -12,7900 -29,3433 -38,4766 -32,4000 -35,2233 -34,8883 -34,8650 -34,9933 -38,4950 424 30 30 31 31 352 31 30 10 11 Terminal Usiba Ilhéus -12,8216 -14,7983 -38,2166 -39,0383 30 31 12 13 Abrolhos Tubarão -17,9600 -20,2850 -38,7033 -40,2416 27 31 14 15 Ilha de Trindade Enchova II -20,5033 -22,7000 -29,3116 -40,8366 360 10 16 17 Montao de Trigo Ilha das Palmas -23,8583 -24,0083 -45,7800 -46,3266 29 29 18 19 20 21 22 23 Ilha das Cobras Guaratuba Ilha da Rita Ilha do Arvoredo Torres Sarita -25,4816 -25,8733 -26,2516 -27,2833 -29,3466 -32,6300 -48,4316 -48,5816 -48,7133 -48,3583 -49,7250 -52,4283 121 30 30 20 30 14 | 25 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior não deve mudar em um intervalo de tempo pequeno (5 dias) (LE TRAON e OGOR, 1998) e sabendo que os tracks se cruzam no tempo que varia de 0,5 a 10 dias para os dados dos satélites Jason-1 e Jason-2, é possível analisar o desempenho dos altímetros utilizando-se a AASM medida nos pontos crossover. Em outras palavras, se calcularmos a diferença das AASM medidas em duas passagens consecutivas em um crossover (diferença crossover), dependendo do tempo entre essas duas passagens, o resultado deveria ser nulo. Assim, uma forma de avaliar o desempenho da estimativa da AASM é calcular a variância da diferença crossover, onde, para dois tipos de dados submetidos a uma mesma filtragem, quanto menor a variância da diferença crossover, melhor é considerado o dado. 4.3. COMPARAÇÃO ENTRE AASM MEDIDAS POR SATÉLITE E AASM MEDIDAS POR MARÉGRAFOS Como para todos os aparelhos e medidas de sensoriamento remoto, a forma de se avaliar o desempenho dos satélites altimétricos e o processamento de seus dados é compará-los com medidas in situ. Assim, os dados de altura da superfície do mar medidos por marégrafos, após tratamentos específicos, são indicados para a validação dos dados de AASM medidos por satélites. Uma vez que os dados de AASM medidos por satélites são corrigidos de efeitos geofísicos como maré, pressão atmosférica (correção de barômetro invertido) e variações de alta frequência causados pelo vento, os dados dos marégrafos devem ser tratados de forma a retirar dessas medidas tais efeitos. O efeito de barômetro invertido, junto com as variações do nível do mar causadas por variações de alta frequência dos ventos, são retirados dos dados dos marégrafos (da mesma forma que são retirados dos dados dos satélites) utilizando-se o modelo denominado Dynamic Atmospheric Correction (DAC). Este modelo realiza uma combinação ótima da alta frequência do modelo barotrópico MOG2D/TUGO e a baixa frequência relativa ao efeito do barômetro invertido (CARRÈRE e LYARD, 2003). Para retirar as variações do nível do mar causadas por maré oceânica, subtrai-se, dos dados dos marégrafos, a altura de maré prevista utilizando as componentes harmônicas calculadas para os referidos marégrafos (Equação 1). TGcorr = TG – DAC – Tide_pred 10°N (1), em que TGcorr é o dado do marégrafo corrigido,TG é o dado do marégrafo bruto, DAC é a correção de alta frequência do modelo barotrópico MOG2D mais a baixa frequência do efeito de barômetro invertido e Tide_pred é a maré oceânica prevista palas constantes harmônicas estimadas com os dados do marégrafo. 0° 10°S 4.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS DE MARÉ GOT4.8 E FES2012 E MARÉGRAFOS 20°S 30°S 40°S 60°W 50°W 40°W 30°W 20°W Asteriscos vermelhos: Pontos de crossover. Figura 3. Pontos crossover para os dados do satélite Jason-1 na METAAREA-V. Como já descrito anteriormente, para o processamento dos dados ATOBA-V0, foram utilizadas como correção de maré oceânica as estimativas de maré feitas pelo modelo hidrodinâmico de maré GOT4.8. Já para o processamento dos dados do ATOBA-V1, foi utilizado o FES2012. Para quantificar a diferença entre a amplitude e a fase das componentes de maré estimadas por estas duas fontes de dados e as estimadas pelo marégrafos, utilizou-se o RMSmisfit (Equação 2). RMSmisfit=(∑1/2[(H1cos(g1)-H2cos(g2)]2+[H1sin(g1)H2sin(g2)]2)1/2(2), | 26 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior em que H1 e g1 são, respectivamente, a amplitude e a fase das componentes de maré obtidas pelos modelos, e H2 e g2 são, respectivamente, a amplitude e a fase obtidas por outro modelo ou resultado da analise harmônica dos dados dos marégrafos. A comparação entre marégrafo e modelo foi feita para o ponto de grade dos modelos mais próximo aos marégrafos. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Na Figura 4, são apresentados os espectros médios do ano de 2011 por faixa de latitude para os dados ATOBA-V0 (vermelho), Duacs filtrado (azul) e Duacs sem filtro (preto) do satélite Jason-2. É possível observar que, nas faixas de latitude onde o comprimento do filtro utilizado nos dados ATOBA e DUACS são diferentes (de 0 a 30° – Tabela 1), o dado ATOBA-V0 conserva mais energia na meso-escala. Esta maior energia observada nos dados ATOBA-V0 demonstra o efeito da filtragem e sub-amostragem utilizadas, conforme apresentado na Tabela 1. Vale lembrar que, entre estes dois tipos de dados, somente estes dois processamentos foram alterados. Todas as correções atmosféricas e geofísicas foram mantidas inalteradas para todas as faixas de latitude. Diante disso, nas latitudes acima de 40°, os dados ATOBA-V0 e Duacs filtrado são idênticos. O mesmo padrão é observado quando são analisados os espectros dos dado along track do satélite Jason-1 (Figura 5). A Figura 6 representa a comparação entre os dados along track do ATOBA-V0 e ATOBA-V1. Para estes dois tipos de dados, além de se alterar o comprimento do filtro, foram alteradas as correções de maré oceânica, GOT4.8 para o V0 e FES2012 para o V1. Pelos espectros, pode-se notar que a maior diferença entre os dois Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 10-20) 105 100 cm2/km cm2/km Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 0-10) 105 Duacs vfec ATOBA vfec 100 Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc 10 1 10 Comprimento da onda (km) 2 Duacs vxxc 10 10 3 1 cm2/km cm2/km Duacs vfec ATOBA vfec 100 Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc 10 1 10 Comprimento da onda (km) 2 Duacs vxxc 10 10 3 1 Duacs vfec ATOBA vfec 10 Comprimento da onda (km) 2 100 Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc 101 102 Comprimento da onda (km) 103 Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 50-60) 105 cm2/km cm2/km Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 40-50) 105 100 103 Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 30-40) 105 Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 20-30) 105 100 10 Comprimento da onda (km) 2 Duacs vxxc 103 101 102 Comprimento da onda (km) 103 Figura 4. Espectros médios do ano de 2011 por faixa de latitude para os dados colineares ATOBA-V0 (vermelho), Duacs filtrado (azul) e Duacs sem filtro (preto) do satélite Jason-2. | 27 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior Duacs vfec Duacs ATOBAvfec vfec Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc ATOBA vfec Duacs vxxc 2 2 2 cm /km cm cm /km /km 102 101 103 Duacs vxxc 102 da onda (km) 101 103 Comprimento 102 da onda (km) 101 103 Comprimento Espectro da SLA-J1 media de da 2011 (Latitudes Comprimento onda (km) 20-30) Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 20-30) 105 Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 20-30) 105 105 100 100 100 Duacs vfec Duacs ATOBAvfec vfec Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc ATOBA vfec Duacs vxxc 2 2 2 cm /km cm cm /km /km 3 101 102 Duacs vxxc 10 101 102 da onda (km) 103 Comprimento Comprimento 101 102 da onda (km) 103 Espectro da SLA-J1 media de da 2011onda (Latitudes Comprimento (km) 40-50) Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 40-50) 105 Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 40-50) 105 5 10 100 100 100 101 101 101 Duacs vfec Duacs ATOBAvfec vfec Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc ATOBA vfec Duacs vxxc 3 102 Duacs vxxc 10 2 3 10 10 Comprimento 2 da onda (km) 3 10 10 Comprimento da onda (km) Comprimento da onda (km) 2 2 2 cm /km cm cm /km /km 100 100 100 Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 10-20) Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 10-20) 105 Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 10-20) 105 5 10 Duacs vfec 100 100 100 Duacs ATOBAvfec vfec Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc ATOBA vfec Duacs vxxc 102 101 103 Duacs vxxc 102 da onda (km) 101 103 Comprimento 102 da onda (km) 101 103 Comprimento Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes Comprimento da onda (km) 30-40) Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 30-40) 105 Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 30-40) 105 105 2 2 2 cm /km cm cm /km /km 2 2 2 cm /km cm cm /km /km Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 0-10) Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 0-10) 105 Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 0-10) 105 105 dado ATOBA-V0 possui uma maior variância da diferença crossover, pois é menos filtrado que o dado DUACS (Tabela 1). Nas latitudes superiores a 30°S os dados são os mesmos (Tabela 1), o que explica os valores zero da diferença representada pelo eixo y da Figura 7. Porém, para um ponto crossover específico, o valor da diferença é superior em até três ordens de grandeza do que qualquer outro ponto. Isto demonstra que, neste ponto, a filtragem aplicada ao dado ATOBA-V0 não foi capaz de eliminar algum erro de correção (atmosférica ou geofísica), o qual foi eliminado com a filtragem aplicada ao dado DUACS. Para sabermos em que região ocorreu esta discrepância entre as variâncias das diferenças crossover, foi plotado o mapa da região com as diferenças entre as 100 100 100 Duacs vfec Duacs ATOBAvfec vfec Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc ATOBA vfec Duacs vxxc 3 101 102 Duacs vxxc 10 Comprimento 101 102 da onda (km) 103 2 da onda (km) Comprimento 101 da SLA-J1 103 Espectro media 10 de 2011 (Latitudes 50-60) Comprimento da onda (km) Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 50-60) 105 Espectro da SLA-J1 media de 2011 (Latitudes 50-60) 105 105 2 2 2 cm /km cm cm /km /km tipos de dados se deve principalmente à filtragem aplicada. Ou seja, as maiores diferenças ocorrem nas faixas de latitude onde os comprimentos dos filtros estão mais distantes um do outro (Tabela 1). Assim, a mudança nas correções de maré não alteram significativamente os espectros médios along track. A primeira análise dos pontos crossover verifica a diferença entre as variâncias das diferenças crossover dos dados ATOBA-VO e Duacs. A Figura 7 representa os resultados dessa análise, sendo que o eixo x representa os pontos crossover, e o eixo y representa a variância da diferença crossover do dado ATOBA-VO menos a variância da diferença crossover do dado Duacs. Observa-se que os valores das diferenças das variâncias são todos positivos ou nulos, o que mostra o efeito da filtragem. Ou seja, o 100 100 100 101 101 101 Duacs vfec Duacs ATOBAvfec vfec Duacs vfec ATOBA vfec Duacs vxxc ATOBA vfec Duacs vxxc 3 102 Duacs vxxc 10 2 3 10 10 Comprimento 2 da onda (km) 3 10 10 Comprimento da onda (km) Comprimento da onda (km) Figura 5. Espectros médios do ano de 2011 por faixa de latitude para os dados colineares ATOBA-V0 (vermelho), Duacs filtrado (azul) e Duacs sem filtro (preto) do satélite Jason-1. | 28 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior 222 cm cm cm /km /km /km 0 0 10 10 100 ATOBA-VO ATOBA-VO vfxc vfxc ATOBA-VO vfxc ATOBA-V1 ATOBA-V1 vfxc vfxc ATOBA-V1 vfxc 222 cm cm cm /km /km /km 10111 10333 10222 10 10 10 10 10 10 Comprimento da onda (km) Comprimento da onda (km) Comprimento da onda (km) Espectro da SLA-J2 media media de de 2011 2011 (Latitudes (Latitudes 20-30) Espectro da SLA-J2 20-30) Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 20-30) 10555 10 10 0 0 10 10 100 10222 10 10da onda (km) Comprimento Comprimento da onda onda (km) (km) Comprimento da 222 cm cm cm /km /km /km 10111 10 10 ATOBA-VO vfxc vfxc ATOBA-VO ATOBA-VO vfxc ATOBA-V1 vfxc vfxc ATOBA-V1 ATOBA-V1 vfxc Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 10-20) Espectro da Espectro da SLA-J2 SLA-J2 media media de de 2011 2011 (Latitudes (Latitudes 10-20) 10-20) 10555 10 10 10000 10 10 ATOBA-VO ATOBA-VO vfxc vfxc ATOBA-VO vfxc ATOBA-V1 ATOBA-V1 vfxc vfxc ATOBA-V1 vfxc 11 10 10 101 222 cm cm cm /km /km /km 222 cm cm cm /km /km /km Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 0-10) Espectro da Espectro da SLA-J2 SLA-J2 media media de de 2011 2011 (Latitudes (Latitudes 0-10) 0-10) 5 5 10 105 10 10222 10 10 da onda (km) Comprimento Comprimento Comprimento da da onda onda (km) (km) Espectro da SLA-J2 media media de de 2011 2011 (Latitudes (Latitudes Espectro da SLA-J2 Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 5 5 10 10 105 10000 10 10 10333 10 10 10111 10 10 ATOBA-VO vfxc vfxc ATOBA-VO ATOBA-VO vfxc ATOBA-V1 vfxc vfxc ATOBA-V1 ATOBA-V1 vfxc 10222 10 Comprimento da onda (km) Comprimento10da da onda onda (km) (km) Comprimento 3 3 10 10 103 30-40) 30-40) 30-40) 10333 10 10 Espectro da SLA-J2 de (Latitudes Espectro da SLA-J2 media media de 2011 2011 (Latitudes 40-50) 40-50) Espectro da SLA-J2 media de 2011 (Latitudes 40-50) 5 5 10 10 105 10000 10 10 10111 10 10 ATOBA-VO vfxc vfxc ATOBA-VO ATOBA-VO vfxc ATOBA-V1 vfxc vfxc ATOBA-V1 ATOBA-V1 vfxc 10222 10 10 Comprimento Comprimento da da onda onda (km) (km) Comprimento da onda (km) 10333 10 10 Figura 6. Espectros médios do ano de 2011 por faixa de latitude para os dados colineares ATOBA-V0 (azul) e ATOBA-V1 (vermelho) do satélite Jason-2. VAR (diff (ATOBA_VO)) - VAR (diff (DUACS_vfxc)) Jason 2 0,05 0,045 0,04 0,03 Latitude m2 0,035 0,025 0,02 0,015 0,01 0,005 0 VAR (diff (ATOBA_VO)) - VAR (diff (DUACS_vfxc)) Jason 2 0,05 m2 5 0,04 0 0,03 -5 0,02 -10 0,01 -15 0 -20 -0,01 -25 -0,02 -30 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 Número do ponto Crossover Figura 7. Análise crossover entre o dado ATOBA-V0 e Duacs. O eixo x representa os pontos crossover e o eixo y representa a variância da diferença crossover do dado ATOBA-VO, menos a variância da diferença crossover do dado Duacs. -0,03 -35 -0,04 -40 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30 -25 -20 Longitude -0,05 Figura 8. Variância da diferença crossover do dado ATOBA-VO, menos a variância da diferença crossover do dado Duacs. | 29 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior variâncias da diferença crossover dos dados ATOBA-VO e DUACS em escalas de cor (Figura 8). Na Figura 8, pode-se observar que o maior valor da diferença ocorreu próximo a Foz do Rio Amazonas. Como é sabido que, nesta região, a maré oceânica possui uma grande amplitude e uma grande complexidade, pode-se atribuir esta discrepância aos erros advindos da correção de maré, que VAR (diff (ATOBA_V1)) - VAR (diff (ATOBA_VO_vfxc)) Jason 2 0 -0,05 -0,01 m2 -0,015 -0,02 -0,025 -0,03 -0,035 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 Número do ponto Crossover Eixo x: pontos crossover, Eixo y: variância diferença crossover do dado ATOBA-V1 menos a variância da diferença crossover do dado ATOBA-V0. Figura 9. Análise crossover entre o dado ATOBA-V0 e ATOBA-V1. VAR (diff (ATOBA_V1)) - VAR (diff (DUACS_vfxc)) Jason 2 c 5 0,03 0 0,02 -5 Latitude -10 0,01 -15 0 -20 -25 -0,01 -30 -0,02 -35 -40 -0,03 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30 -25 -20 Longitude Figura 10. Variância da diferença crossover do dado ATOBA-V1 menos a variância da diferença crossover do dado ATOBA-V0 para o ano de 2011. não foram eliminados durante a filtragem along track do dado ATOBA-V0. Esta mesma análise de crossover foi aplicada na comparação do dado ATOBA-V0 e ATOBA-V1 (Figuras 9 e 10). Neste caso, observa-se uma homogeneidade na distribuição espacial dos pontos onde ocorrerram reduções da variância da diferença crossover com os pontos onde ocorreram aumento da mesma. Porém, para os pontos onde houve a redução da variância, a magnitude desta é até duas ordens de grandeza maior que a magnitude do aumento da variância para os outros pontos (Figura 9). Em outras palavras, comparado ao processamento do dado ATOBA-V0, o processamento do dado ATOBA-V1 ocasionou uma maior diminuição da variância da diferença crossover. Além disto, nota-se que para o ponto próximo a Foz do Rio Amazonas, onde a variância da diferença crossover do dado ATOBA-V0 era maior do que a do dado Duacs. Este foi o ponto onde o processamento do dado ATOBA-V1 mais conseguiu reduzir a variância da diferença crossover. Como o comprimento dos filtros aplicados por banda de latitude no dado ATOBA-V0 são bem próximos dos aplicados ao dado ATOBA-V1, pode-se atribuir às mudanças da variância da diferença crossover a alteração das correções de maré oceânica (ATOBA-V0 utiliza GOT4.8 e ATOBA-V1 utiliza o FES2012). Para comparar os resultados dos processamentos do ATOBA-V0 e ATOBA-V1 com o marégrafo da Ilha Fiscal – RJ, são mostrados dois mapas de correlação, um para cada tipo de processamento. A Figura 11 mostra os resultados destas correlações considerando o satélite Jason-2. Pela escala de cor, fica evidente na Figura 11, que nas proximidades do marégrafo os dados processados pelo ATOBA-V1 estão mais correlacionados com os dados do marégrafo do que os dados do ATOBA-V0. A Figura 12 mostra o mesmo resultado para o satélite Jason-1. Nesta Figura 12, ainda é possível observar que, na região ao norte de Cabo Frio, nas proximidades da latitude de 21°S, os dados do ATOBA-V1 possuem uma menor correlação com o marégrafo do que os dados do ATOBA-V0. Como é bem conhecido na literatura, a região de Cabo Frio pode ser considerada uma região de intensa mudança das condições dinâmicas do oceano local, separando a região ao sul de Cabo Frio da região ao norte. Isto corrobora com o fato do dado do ATOBA-V1 representar melhor as condições locais | 30 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior A B Ilha Fiscal Tide Gauge & J2 data VO TGcorr (filtHP) (Correlation coefficient) 1 0,8 21°S 22°S Ilha Fiscal Tide Gauge & J2 data VO TGcorr (filtHP) (Correlation coefficient) 1 0,8 21°S 0,6 Ilha Fiscal 22°S 0,4 0,2 23°S 0,6 Ilha Fiscal 0,4 0,2 23°S 0 24°S 0 -0,2 -0,4 25°S -0,6 -0,8 26°S 24°S -0,2 -0,4 25°S -0,6 -0,8 26°S 46°W 45°W 44°W 43°W 42°W 41°W 40°W 46°W 45°W 44°W 43°W 42°W 41°W 40°W O triângulo vermelho na costa representa a posição do marégrafo. Figura 11. Correlações entre os dados do marégrafo da Ilha Fiscal-RJ e os dados do satélite Jason-2 processados pelo ATOBA-V0 (A) e ATOBA-V1 (B). A B Ilha Fiscal Tide Gauge & J1 data VO TGcorr (filtHP) (Correlation coefficient) 22°S 1 Ilha Fiscal Tide Gauge & J1 data VO TGcorr (filtHP) (Correlation coefficient) 1 0,8 Ilha Fiscal 0,6 0,4 23°S Ilha Fiscal 22°S 0 0,2 0 24°S -0,2 -0,4 25°S -0,2 -0,4 25°S -0,6 26°S -0,8 45°W 44°W 43°W 42°W 41°W 40°W 0,6 0,4 23°S 0,2 24°S 0,8 -0,6 26°S -0,8 45°W 44°W 43°W 42°W 41°W 40°W O triângulo vermelho na costa representa a posição do marégrafo. Figura 12. Correlações entre os dados do marégrafo da Ilha Fiscal-RJ e os dados do satélite Jason-1 processados pelo ATOBA-V0 (A) e ATOBA-V1 (B). | 31 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior de meso-escala do que o ATOBA-V0. Ou seja, os processos que ocorrem ao norte de Cabo Frio devem possuir uma baixa correlação com os processos que ocorrem próximos a cidade do Rio de Janeiro. Para dar mais robustez aos resultados, serão apresentados os resultados da comparação entre os modelos de maré utilizados no processamento dos dados altimétricos e os 23 marégrafos selecionados ao longo da costa brasileira (Tabela 2). Os resultados das comparações são apresentados na Figura 13. Nesta figura, fica evidente que o modelo FES2012 possui um melhor desempenho que o modelo GOT4.8 nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Para a região Sudeste, as melhorias RMSmisfit (FES2012_TG) - RMSmisfit (GOT4.8_TG) (North Region) RMSmisfit (FES2012_TG) - RMSmisfit (GOT4.8_TG) (East Region) 1 2 0 0 -1 -2 cm cm 4 foram pequenas onde os RMSmisfit entre os marégrafos e os modelos reduziram no máximo 1,3 cm para as componentes S2 e K2. Para a componente M2, a melhoria não ultrapassa 1 cm. Na região Sul, os resultados mostram que, para alguns marégrafos, os resultados do modelo FES2012 são melhores e para outros os resultados do modelo GOT4.8 são superiores. As diferenças de RMSmisfit variam de 4 à -4 cm. Uma visão geral das avaliações dos dois modelos estudados faz concluir que o modelo FES2012 apresenta um melhor desempenho na METAAREA-V, pois este conseguiu reduzir o RMSmisfit entre os resultados de modelo e as medidas de marégrafos. -4 -6 Ilha de Itamaraca - 19.0655 km Natal - 29.2853 km Fernando de Noronha - 18.7852 km Mucuripe - 20.0225 km spesp.txt - 15.6123 km Penrod - 20.8064 km -8 -10 -12 1 M2 S2 N2 K1 O1 K2 Constantes de Maré P1 Abrolhos - 18.9356 km Ilheus - 18.3804 km Terminal Usiba - 27.403 km Aratu - 20.7833 km Plataforma OCM1 0 km Recife - 14.8501 km -5 -6 Q1 RMSmisfit (FES2012_TG) - RMSmisfit (GOT4.8_TG) (Southeast Region) M2 S2 N2 K1 O1 K2 P1 Constantes de Maré Q1 RMSmisfit (FES2012_TG) - RMSmisfit (GOT4.8_TG) (South Region) 4 3 2 1 0 cm cm -3 -4 0,5 -0,5 0 -1 Ilha das Palmas - 15.9233 km Montao de Trigo - 23.7667 km Enchovall - 25.0026 km Ilha de Trindade - 19.234 km Tubarao - 31.52 km -1 -1,5 -2 M2 S2 N2 K1 O1 K2 Constantes de Maré P1 Q1 Sarita - 10.911 km Torres - 22.8437 km Ilha do Arvoredo - 24.2042 km Ilha da Rita - 14.2336 km Guaratuba - 14.3508 km Ilha das Cobras - 5.0304 km -2 -3 -4 M2 S2 N2 K1 O1 K2 P1 Constantes de Maré Q1 Figura 13. RMSmisfit entre o dado dos marégrafos e do modelo GOT4.8 menos o RMSmisfit obtido da comparação entre os marégrafos e o modelo FES2012. | 32 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 Victor Bastos Daher e Paulo Roberto Costa Junior 6. CONCLUSÕES A análise dos produtos ATOBA V0 e V1 mostrou que esse novo conjunto de dados apresenta maior energia em meso-escala em relação aos dados disponibilizados pelo Ssalto/Duacs. Apenas na região da Foz do Rio Amazonas, os dados do Duacs apresentaram uma menor variância da diferença crossover que o ATOBA-V0. Isto mostrou que, utilizando-se a mesma correção de maré (modelo GOT4.8), a filtragem aplicada no processamento do Duacs consegue reduzir mais os erros provenientes da maré quando comparado com o ATOBA-V0. Esse processo foi resolvido com o desenvolvimento do produto ATOBA-V1, quando a utilização do modelo FES2012, para se estimar a maré, fez com que os dados apresentassem uma menor variância da diferença crossover. Em outras palavras, a comparação entre as variâncias das diferenças crossover dos dados ATOBA-V0 e V1 mostra que este último apresenta uma melhor acurácia em relação ao anterior, especialmente nas regiões costeiras como Foz do Rio Amazonas e Bacia do Prata. A comparação dos dados altimétricos com o marégrafo da Ilha Fiscal permitiu verificar que os dados ATOBA-V1 estão mais próximos dos dados in situ do que o ATOBA-V0. Quando analisados os modelos de maré utilizados, pode-se concluir que as componentes de maré estimadas pelo FES2012 possuem valores de amplitude e fase mais próximas das obtidas pela análise dos dados dos marégrafos (RMSmisfit – até 11 cm menor). Espera-se, com isso, um aumento na qualidade dos resultados dos modelos oceanográficos operacionais da REMO, rodados no CHM, após a assimilação dos dados altimétricos ATOBA. 7. AGRADECIMENTOS Este trabalho foi realizado com financiamento da PETROBRAS e ANP, dentro do projeto REMO. REFERÊNCIAS CARRÈRE, L.; LYARD F. Modelling the barotropic response of the global description of the ocean mesoscale variability by combining ocean to atmospheric wind and pressure forcing - comparisons with four satellite altimeters. Geophysical Research Letters, v. 33, i. 2, observations. Geophysical Research Letters, v. 30, n. 6, p. 1275, 2003. p. L02611, 2006. CARRÈRE, L.; LYARD, F.; GUILLOT, A.; CANCET, M. FES 2012: A POLITO, P.S.; SATO, O.T.; LIU, W.T. Characterization and Validation new tidal model taking advantage of nearly 20 years of altimetry of the Heat Storage Variability from TOPEX-POSEIDON at Four measurements. Proceedings of the 20 Years of Altimetry. Venice, Italy, Oceanographic Sites. Journal of Geophysical Research, v. 105, i. C7, 2012. p. 16911-16921, 2000. DUCET, N.; LE TRAON, P.Y.; REVERDIN, G. Global high resolution PUJOL I.; LARNICOL, G. Mediterranean Sea eddy kinetic energy mapping of ocean circulation from Topex/Poseidon and ERS-1 and -2. variability from 11 years of altimetric data. Journal of Marine Systemsi, Journal of Geophysical Research: Oceans (1978–2012), v. 105, i. C8, p. v. 58, i. 3-4, p. 121-142, 2005. 19477-19498, 2000. RIO, M.H.; POULAIN, P.M.; PASCUAL, A.; MAURI, E.; LARNICOL, G.; LE TRAON, P. Y.; OGOR, F. ERS-1/2 orbit improvement using TOPEX/ SANTOLERI, R. A Mean Dynamic Topography of the Mediterranean POSEIDON: The 2 cm challenge. Journal of Geophysical Research: Oceans (1978–2012), v. 103, i. C4, p. 8045-8057, 1998. LE TRAON, P. Y.; NADAL, F.; DUCET N. An improved mapping method of multiple satellite altimeter data. Journal of atmospheric and oceanic technology, v. 15, n. 2, p. 522-534, 1998. Sea computed from altimetric data, in-situ measurements and a general circulation model. Journal of Marine Systems, v. 65, i. 1-4, p. 484-508, 2007. RYAN, J.P., UEKI, I.; CHAO, Y.; ZHANG, H.; POLITO, P.S.; CHAVEZ, F.P. Western Pacific modulation of large phytoplankton blooms in the central and eastern equatorial Pacific. Journal of Geophysical PASCUAL A.; FAUGÈRE, Y.; LARNICOL, G.; LE TRAON, P.Y. Improved Research: Biogeosciences (2005–2012), v. 111, i. G2, 10.1029, 2006. | 33 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 22-33 ARQUITETURA NAVAL E PLATAFORMA ALGORITMOS GENÉTICOS APLICADOS AO PROJETO DE CONCEPÇÃO DE SUBMARINOS Genetic algorithms applied to conceptual submarine design Michel Henrique Pereira1, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade2, Kazuo Nishimoto3 Resumo: Apresenta-se neste artigo um estudo sobre a aplicabilidade de algoritmos genéticos ao projeto de concepção de submarinos. Neste estudo, o problema de projeto é tratado como um problema de otimização (mono e bi-objetivo). Três figuras de mérito de interesse são analisadas: 1) Minimização de Resistência ao Avanço (Rav); 2) Maximização de Área de Conveses (Atotal) e 3) Minimização da relação Peso Estrutural/Deslocamento (P/∆). Modelos analíticos de baixa e média fidelidade são usados para a obtenção de Rav, Atotal e P/∆. Uma rotina de otimização multiobjetivo, baseada em uma adaptação do algoritmo NSGA II, é utilizada para a determinação de uma Fronteira de Pareto (objetivos “1” e “2”). Posteriormente, uma rotina de otimização (objetivo “3”), também baseada em algoritmos genéticos, é aplicada às soluções pertencentes àquela fronteira. Ao final do processo, um conjunto de soluções, adequadas às restrições estabelecidas e às figuras de mérito adotadas, estará disponível para análise e comparação. Palavras-chave: Otimização. Algoritmos Genéticos. Projeto de Submarinos. Abstract: This article presents a study regarding the applicability of genetic algorithms to conceptual submarine design. In this study, the design problem is treated as an optimization problem (single and bi-objective). Three figures of merit are analyzed: 1) Minimizing Drag (R av); 2) Maximizing Deck Area (A total) and 3) Minimizing the Structural Weight/ Displacement ratio (P/Δ). Low and medium fidelity analytical models were used for obtaining R av, Atotal and P/Δ. A multiobjective optimization routine, based on an adaptation of the NSGA II algorithm, was used to determine a Pareto Front (objectives “1” and “2”). Subsequently, another optimization routine (objective “3”), also based on a genetic algorithm, was applied to the solutions of that Pareto Boundary. At the end of that process, a set of feasible solutions, in accordance with the constraints and adopted figures of merit, will be available for analysis and comparison. Keywords: Optimization. Genetic Algorithms. Submarine Design. 1. INTRODUÇÃO 2. A complexidade e considerável amplitude do espaço de soluções. O projeto de sistemas complexos de engenharia geralmente apresenta pelo menos duas características que inserem dificuldade na avaliação e escolha das possíveis soluções: 1. A existência de objetivos de projeto múltiplos e, não raro, conflitantes; A multiplicidade e a natureza antagônica de certos objetivos e/ou de certos requisitos de projeto tornam complexa a hierarquização das diversas soluções viáveis. Frequentemente, as soluções diferem entre si quanto ao grau de atendimento aos 1. Engenheiro Naval pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. Encarregado da Divisão de Arranjos, Superintendência de Projeto de Submarinos, Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Doutor em Engenharia Naval pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. Professor Doutor do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 3. Doutor em Engenharia Naval pela Universidade de Tóquio – Tóquio, Japão. Professor Titular do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] | 34 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto objetivos ou critérios de desempenho e há casos em que não é possível estabelecer categoricamente se dada solução é superior às outras. Nestes casos, a escolha da solução de projeto engloba o estudo dos trade-offs envolvidos e a seleção de soluções de compromisso. Por seu turno, a complexidade do espaço de soluções pode tornar proibitivo (ou mesmo impraticável) o estabelecimento de um modelo analítico que descreva o sistema em sua totalidade. Além disso, a adoção de modelos de alta fidelidade para representação da solução pode se revelar computacionalmente onerosa, sobretudo nas etapas iniciais do projeto. O projeto de navios de guerra, em especial de submarinos, geralmente enquadra-se na descrição acima (BROWN, 2003). O objetivo deste trabalho é explorar a aplicabilidade de algoritmos genéticos e modelos analíticos de baixa e média fidelidade ao projeto de concepção de submarinos. Mais especificamente, propõe-se uma avaliação do espaço de soluções viáveis, de acordo com figuras de mérito preestabelecidas, baseada em modelos analíticos adequados às fases iniciais de projeto e em estratégias de otimização evolutiva. Neste trabalho, a busca da Fronteira de Pareto foi realizada tanto por meio da formulação “clássica” de algoritmos genéticos como por meio do algoritmo NSGA II. Após a etapa de otimização multiobjetivo, um novo processo de otimização, da figura de mérito restante, foi aplicado sobre algumas das soluções de projeto pertencentes à Fronteira de Pareto obtida. A pesquisa empreendida ao longo do trabalho permitiu a adaptação/elaboração de modelos analíticos de baixa e média fidelidade para avaliação das três figuras de mérito. Embora o caráter em geral sigiloso dos projetos militares restrinja a disponibilidade de informações acerca do projeto de concepção de submarinos, a bibliografia aberta ora disponível foi suficiente para subsidiar a elaboração de modelos analíticos satisfatórios para os propósitos deste trabalho. Quanto aos Algoritmos Genéticos e seu uso em Engenharia Naval, há extensa bibliografia à disposição. Por fim, os resultados finais alcançados foram analisados e as conclusões e recomendações para trabalhos futuros apresentadas. 2. ABORDAGEM EMPREGADA 3. MODELOS ANALÍTICOS O propósito deste trabalho é apresentar um procedimento para o projeto de concepção de submarinos no qual o problema de projeto é tratado como um problema de otimização. Três figuras de mérito foram consideradas como objetivos do problema: (1) Minimização da Resistência ao Avanço; (2) Maximização da Área de Convéses; (3) Minimização da Relação Peso Estrutural/Deslocamento. Para simplificar o procedimento e facilitar a busca das melhores soluções, o problema de projeto foi tratado de forma hierárquica. Inicialmente consideraram-se apenas as duas primeiras figuras de mérito, que são conflitantes, e tratou-se o projeto como um problema de otimização multiobjetivo. Em tal contexto, foi realizada a busca da Fronteira de Pareto, ou seja, da região do espaço de soluções sobre a qual a tentativa de melhorar o desempenho em um objetivo/ requisito específico vem necessariamente acompanhada de uma redução ou degradação de desempenho em outro(s) objetivo(s)/requisito(s). Para uma dada solução pertencente a tal fronteira, não há como estabelecer em termos dos objetivos estabelecidos, categoricamente e a priori, uma relação de superioridade em relação às demais soluções da fronteira. 3.1. DEFINIÇÃO GEOMÉTRICA DO NAVIO – CASCO RESISTENTE E CASCO EXTERNO Os submarinos contam com um casco resistente (interno) e um casco não resistente (externo). Detalhes sobre as considerações de projeto envolvidas na definição da geometria dos cascos fogem ao escopo deste trabalho e estão disponíveis em Burcher (1994) e Jackson (1992). O parágrafo seguinte apresenta uma breve explicação do tema, apropriada aos propósitos da presente discussão. O casco interno deve resistir à pressão hidrostática e prover volume interno suficiente para abrigar os diversos sistemas de bordo. O casco externo (não resistente) abriga as áreas de livre alagamento e costuma ser projetado para prover o melhor desempenho hidrodinâmico possível. Considerações sobre volume, peso estrutural, estabilidade, construtibilidade etc., permeiam todo o projeto dos cascos e, não raro, soluções de compromisso devem ser estabelecidas. Neste trabalho, o modelo adotado para a definição do casco externo hidrodinâmico consta em Jackson (1992). A geometria do casco resistente (interno) é obtida por meio de uma formulação simplificada, compatível com o modelo anterior. | 35 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto O casco hidrodinâmico foi dividido em três seções; a seção de ré (AR), o corpo paralelo médio (CPM) e a seção de vante (AV). Os comprimentos recomendados das seções de ré (La) e de vante (Lf ) são diretamente proporcionais ao diâmetro. Arbitrando-se o comprimento total do navio (L), como é o caso no presente trabalho, o comprimento do corpo paralelo médio (Lpmb) decorre de imediato. As alturas de meia baliza, de ré e vante, são definidas em função do diâmetro do submarino, de parâmetros de forma (na e nf ) e das coordenadas longitudinais (xa e xf ) medidas a partir de referenciais específicos. As meias balizas ao longo do CPM têm altura igual ao raio do submarino (Tabela 1 e Figura 1). O casco resistente (CR) é admitido como sendo um cilindro com calotas de fechamento hemisféricas. As calotas têm raio igual ao raio do submarino e a parte cilíndrica do CR tem comprimento igual ao do corpo paralelo médio (Lpmb) do submarino (Figura 2c). 3.2. RESISTÊNCIA AO AVANÇO Considerações sobre a performance propulsiva desempenham um papel crucial no projeto de submarinos. Tanto em submarinos convencionais quanto em nucleares, os equipamentos relacionados à planta propulsora ocupam considerável porção do volume total a bordo. Além disso, requisitos de velocidade (máxima/patrulha) e autonomia submersa costumam limitar consideravelmente a amplitude de soluções disponíveis (BURCHER, 1994). Embora diversos aspectos de engenharia/arquitetura naval estejam envolvidos na busca das melhores soluções de projeto, considera-se de fundamental interesse a minimização da resistência ao avanço da embarcação (BURCHER, 1994; HART, 2010). Em termos gerais, a resistência ao avanço (Rav) de um corpo movendo-se em um meio fluido é função da densidade do fluido, no caso a água do mar (ρsw), da velocidade (v), da Tabela 1. Equacionamento (geometria dos cascos). Equacionamento Legenda La = 3.6* D Lf = 2.4* D L = La + Lpmb + Lf La = comprimento da seção de ré (m) D = diâmetro do navio (m) Lf = comprimento da seção de vante (m) L = comprimento do navio (m) Lpmb = comprimento do corpo paralelo médio (m) ya = altura de meia baliza da seção de ré (m) xa = abscissa da meia baliza (m) na = fator de forma AR yf = altura de meia baliza da seção de vante (m) xf = abscissa da meia baliza (m) nf = fator de forma AV ypmb = altura de meia baliza no CPM (m) n ⎡ ⎛ ⎞ a⎤ x D ⎢ a ⎥ ya= 12 ⎢ ⎜ L⎟ ⎥ ⎝ a⎠ ⎣ ⎦ nf 1/nf ⎡ ⎤ D ⎢ ⎛ xf ⎞ ⎥ yf= 1- ⎜ ⎟ 2 ⎢ ⎝ Lf ⎠ ⎥ ⎣ ⎦ ypmb= D 2 ya La xa D Lpmb L Figura 1. Geometria do casco externo. Adaptado de Jackson (1992). | 36 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 xf yf Lf Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto superfície molhada total do corpo e de certos coeficientes (friccional, de forma e residual). A potência requerida (P) para mover um submarino é função das mesmas v ariáveis. Como a parcela da potência requerida devida ao casco é de cerca de 68% da total (BURCHER, 1994), optou-se neste trabalho por analisar somente o componente de resistência ao avanço devido ao casco. Logo, apenas a superfície molhada do casco externo (WS) é considerada (o valor de WS é obtido por integração numérica a partir da forma geométrica do casco externo). P=Rav*V= 1 *ρ *V 3*[WS*(Cf+δCf+Cr)](1) 2 sw Na Equação 1 ( JACKSON, 1992), os termos entre colchetes dependem fundamentalmente da forma do casco (exceto pelo número de Reynolds, que compõe o cálculo de Cf e depende da velocidade). Assim, o problema de minimização da resistência foi tratado com foco apenas nestes termos. Uma velocidade de 5,14 m/s (10 nós) foi utilizada nos cálculos. Os parâmetros, as variáveis de entrada e o equacionamento do módulo de resistência são fornecidos a seguir. 3.3. ÁREA DE CONVESES O arranjo interno de submarinos é de complexidade considerável (BURCHER, 1994) devido ao espaço restrito d isponível para posicionamento dos sistemas de bordo. Os aspectos de manutenção, operação e acesso (além dos requisitos de alinhamento/adjacência/justaposição entre sistemas) costumam inserir complexidade adicional à execução dos arranjos internos. Embora o arranjo interno dos compartimentos não seja uma tarefa empreendida nas fases iniciais do projeto de concepção, uma análise preliminar da área de conveses permite avaliar, antecipadamente, a viabilidade de execução dos arranjos. No presente trabalho, assume-se, por hipótese, que a maximização da área de conveses seja de interesse do ponto de vista da execução futura do arranjo do submarino. Para tanto, um modelo analítico simplificado do cálculo da área de conveses, adaptado de Hart (2010), foi adotado. Os parâmetros, as variáveis de entrada do modelo simplificado de área de conveses e o equacionamento empregado são expostos a seguir (Tabelas 4 e 5). As alturas de conveses são definidas no plano diametral do submarino. Conforme descrito anteriormente, o casco resistente (CR) é composto por um cilindro de certo comprimento (Lpmb) Tabela 2. Parâmetros e variáveis de entrada (módulo de Resistência ao Avanço). Parâmetros Variáveis de Entrada Par. Definição Valor Var. Definição V Velocidade 5,14 (m/s) D diâmetro do submarino ν viscosidade cinemática da água do mar 1,05 e-6 (m2/s) L/D razão comprimento/diâmetro na fator de forma AV nf fator de forma AR Tabela 3. Equacionamento (módulo de Resistência ao Avanço). Equacionamento Legenda Fav=WS*(Cf+δCf+Cr) δCf=0.0004 0.075 Cf= [log10(Re)-2]2 Fav = fator de resistência ao avanço (m2) Cf = coeficiente de resistência friccional Re = número de Reynolds δCf = coeficiente de resistência residual Cr = coeficiente de resistência de forma WS = superfície molhada do casco (m2) Cwsf = coeficiente de superfície molhada AV Cwsa = coeficiente de superfície molhada AR Cr= 0.00789 L/D-K2 WS=π*D2*(L/D-K2) K2=6-2.4*Cwsf-3.6*Cwsa | 37 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto e por calotas de fechamento hemisféricas de raio idêntico ao do submarino (Figura 2). A divisão dos conveses é feita da seguinte maneira: Inicialmente, admite-se que um espaço para máquinas auxiliares, baterias, tanques e/ou equipamentos da propulsão será reservado na parte inferior do submarino. O pé direito, ou altura (Hb), deste “compartimento” é definido arbitrariamente. Neste trabalho, arbitrou-se uma altura de 2,2 m, divididos em: 1,8 m para circulação, 0,2 m para passagem de dutos e cabos e 0,2 m para a espessura do convés superior (teto). O espaço vertical restante é dividido em quantos conveses quanto possível, respeitando-se o pé direito mínimo, ou altura mínima, dos conveses habitáveis (Htd). A altura mínima, ou pé direito mínimo, dos conveses habitáveis foi definida arbitrariamente como 2,5 m, divididos em: 2,0 m para circulação, 0,3 m para passagem de dutos e cabos e 0,2 m para a espessura do convés superior/altura da caverna. Como pode ser observado, o número mínimo de conveses será 1 e o número máximo dependerá do diâmetro do navio (para o limite máximo de diâmetro e Htd adotados neste trabalho o número máximo de conveses será 4). A partir da divisão de conveses, a área total (Atotal) pode ser calculada. Para este cálculo, o “raio” da intersecção do plano do convés com a calota esférica “ri” é de interesse. O equacionamento utilizado é apresentado abaixo (Tabela 5 e Figuras 2b e 2c). 3.4. ANÁLISE ESTRUTURAL A principal função do CR é prover resistência estrutural suficiente para garantir uma operação segura diante da alta pressão hidrostática encontrada a grandes profundidades. Fixada uma dada profundidade de operação (MOD), aspectos como custo, peso estrutural e volume interno costumam ser considerados durante o projeto estrutural. A minimização da relação Peso Estrutural/Deslocamento favorece, implicitamente, muitos dos aspectos ligados a tais considerações. O modelo utilizado para a análise estrutural consta em Buelta (1987). Trata-se de um modelo de média fidelidade e de relativa complexidade matemática, de forma que os detalhes não serão expostos. Diversas novas variáveis são introduzidas nesta formulação (Tabela 6). Neste módulo, a seguinte hierarquia de falhas é adotada para o casco resistente: 1. Escoamento do flange das cavernas (primeiro modo de falha). 2. Colapso entre cavernas (segundo modo de falha). 3. Flambagem global (terceiro modo de falha). Para um dado escantilhamento e dadas dimensões do CR, o cálculo do peso estrutural (P) e do deslocamento do CR (Δ) pode ser obtido com base nas respectivas geometrias e nas densidades do aço e da água do mar. A relação P/Δ decorre de imediato. Tabela 4. Parâmetros e variáveis de entrada (módulo de Área de Conveses). Parâmetros Variáveis de Entrada Par. Definição Valor Var. Definição Hb Altura do convés de auxiliares 2,2 (m) D Diâmetro do submarino Htd Altura dos conveses habitáveis 2,5 (m) L/D Razão comprimento/diâmetro Tabela 5. Equacionamento (módulo de Área de Conveses). Equacionamento r i= D 2 2 D 2 2 [Hb+(i-1)Htd] Ai=2ri*Lpmb+πri2 Atotal= ∑ Legenda/Comentários Ai ri = raio de interseção do convés “i” (m) D = diâmetro do navio (m) Ai = área do convés “i” (m2) Lpmb = comprimento do corpo paralelo médio (m) Atotal = Área de conveses total (m2) i=1 a nº conveses | 38 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto A Htd Htd Htd Hb B C Htd Lpmb Htd Htd r = D/2 ri r = D/2 Hb Figura 2. (A) Casco resistente e divisão de conveses. (B) Divisão dos conveses. (C) Geometria do casco resistente. Tabela 6. Modelo de análise estrutural. Variáveis de Projeto Parâmetros da Função Var. Definição Min Máx Par. Definição Valor D diâmetro (m) 6 12 MOD profundidade de operação (m) 350 L/D relação comprimento/diâmetro 8 12 K fator de segurança (1º modo de falha) 1,5 Lc espaçamento de cavernas (m) 0,75 1 E Módulo de Young (GPa) do aço 206 Hc altura da caverna (m) 0,1 0,45 σy tensão de escoamento do aço (MPa) 559 f comprimento do flange (m) 0,1 0,4 ρs densidade do aço (kg/m3) 7.850 tf espessura do flange (m) 0,01 0,05 ν coeficiente de poisson 0,3 tp espessura do casco (m) 0,01 0,05 g gravidade (m/s2) 9,81 tw espessura da alma (m) 0,01 0,05 ρsw densidade da água do mar (kg/m3) 1.025 | 39 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto 4. OTIMIZAÇÃO MULTIOBJETIVO 4.5. ALGORITMOS GENÉTICOS E OTIMIZAÇÃO EM ENGENHARIA NAVAL Algoritmos Genéticos (GAs) podem ser definidos como rotinas heurísticas que tentam replicar o processo de seleção natural. Eles têm sido geralmente utilizados em problemas de busca e otimização, além de outras aplicações em ciência da computação (GOLDBERG, 1989; SIVANANDAM, 2008; MITCHELL, 1999). Embora o conceito de otimização aplicada ao projeto de navios não seja recente (EAMES, 1982; REED, 1976), algumas características inerentes ao problema (ex.: não linearidade/descontinuidade do espaço de soluções) dificultam a aplicação de rotinas clássicas de otimização (ex.: métodos baseados em gradiente). Algoritmos genéticos têm se mostrado eficientes para abordar este tipo de problema (BROWN, 2003). 4.6. FORMULAÇÃO GENÉRICA DE UM ALGORITMO GENÉTICO Em termos biológicos, o processo de seleção natural exige a ocorrência de três condições: replicação, variação (mutação) e aptidão diferencial (competição) (DENNET, 2006). A estrutura genérica de um GA, adaptado de Mitchell (1999) e fornecida a seguir, evidencia como tais condições são reproduzidas pelo algoritmo genético. 1. Gere aleatoriamente uma população inicial P, composta por N “indivíduos” viáveis (soluções candidatas). 2. Avalie o desempenho (fitness) de cada um dos N indivíduos (função objetivo). 3. Repita até que seja obtida uma população Q, composta por M “indivíduos” viáveis. (I) Selecione um par de indivíduos de P. A probabilidade de seleção de um indivíduo para cruzamento deve aumentar quanto maior for o seu fitness. (II)Com uma dada probabilidade de cruzamento (pc), realize o cruzamento do par de indivíduos (pais) para formar um par de dois novos indivíduos (prole). Se não houver cruzamento, o par de indivíduos é copiado (prole = pais). (III)Realize a mutação da prole com uma dada probabilidade de mutação (pm), teste sua viabilidade e armazene os dois novos indivíduos, se viáveis, na população Q. 4. Substitua a população corrente pela nova população (P ← Q). 5. Se a condição de parada não for atendida, retorne à etapa 2. O processo descrito é retratado graficamente na Figura 3. P1 / P2 População Viável Viável (F1 / F2) Nova População a) Seleção F1 / F2 N P1 / P2 c.2) Viabilidade Cruzamento F1 /F2 N S F1 / F2 b) Cruzamento Mutação? S Figura 3. Algoritmo Genético (estrutura genérica). | 40 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 c.1 ) Mutação Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto 4.7. FORMULAÇÕES DE GA UTILIZADAS PARA A OTIMIZAÇÃO MULTIOBEJETIVO O problema de otimização multiobjetivo (MOP) foi abordado por duas formulações de GA, uma “clássica”, próxima aos modelos simplificados de GA, disponíveis em Goldberg (1989), Mitchell (1999), e outra baseada em uma adaptação do algoritmo NSGA II (Non Dominating Sorting Genetic Algorithm) (DEB, 2002). O problema consiste em maximizar Atotal e minimizar Fav para uma dada solução. Os objetivos são claramente conflitantes, uma vez que a tentativa de maximização da área de convés conduzirá a soluções de maior deslocamento e a tentativa de minimização da resistência ao avanço caminha em sentido inverso. Ambas as formulações são aplicadas a uma população inicial de tamanho N, gerada aleatoriamente, e composta em sua totalidade por indivíduos viáveis. Indivíduos viáveis são aqueles que obedecem às restrições dos limites das variáveis de projeto e do valor máximo para o deslocamento de superfície (o deslocamento de superfície pode ser estimado a partir do volume do CR). Os limites de variação e a restrição de deslocamento utilizados são expostos na Tabela 7. Em ambas as formulações, a condição de replicação é assegurada pela própria estrutura dos GAs (proles geradas a partir dos pais). A condição de variação é assegurada por um operador de mutação e, indiretamente, pela própria estrutura de cruzamento adotada (crossover). Por seu turno, a condição de aptidão diferenciada é garantida por meio das restrições (pressão de seleção por eliminação de indivíduos inviáveis) e pela seleção para cruzamento com base no desempenho dos indivíduos (pressão de seleção por meio de probabilidade de cruzamento associada ao fitness). Nos dois casos, é utilizada codificação binária para as variáveis de projeto. O número máximo de gerações (ng) é definido como critério de parada. As probabilidades de cruzamento (pc) e mutação (pm) utilizadas foram, respectivamente, 98% e 5%. Foi adotado lócus de cruzamento duplo, e um par de pais gera um par de filhos a cada cruzamento. Na formulação “clássica”, o fitness dos indivíduos é calculado pela soma do valor das funções objetivo normalizadas. Pesos variáveis foram atribuídos a cada um dos o bjetivos (é possível, assim, priorizar determinado objetivo em relação ao outro). O equacionamento utilizado é apresentado na Tabela 8. De forma a preservar as melhores soluções de cada geração, é mantido um elitismo de 30% entre gerações sucessivas. Desta forma, os melhores indivíduos da geração atual (30%) são copiados para a geração seguinte. A seleção para cruzamento é realizada por “roleta enviesada” (MITCHELL, 1999). Ou seja, indivíduos de maior fitness têm maiores chances de serem escolhidos para a reprodução. Após o cruzamento, os filhos são testados quanto à sua viabilidade e armazenados, até que o tamanho desejado da nova população seja atingido. A formulação do NSGA II é distinta (DEB, 2002) e será resumidamente exposta a seguir. Primeiramente, antes da descrição do algoritmo, o conceito de dominância deve ser estabelecido. Um dado indivíduo x1 dominará um indivíduo x2 se: Tabela 7. Variáveis de projeto e restrições (GAs). Variáveis de Projeto Variável Definição Min Máx D Diâmetro (m) 6 12 L/D Relação comprimento/diâmetro 8 12 na Fator de forma AR 2 5 nf Fator de forma AV 2 5 Restrição de Deslocamento de Superfície Parâmetro Definição Máx ∆↑ Deslocamento de superfície (t) 6.500 | 41 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto Tabela 8. Equacionamento (função de desempenho do GA “clássico”). Equacionamento f1 _ médio + W 2* f2 f2 _ médio ⎧ ⎩ ⎧ ⎩ F = W1* f1 Legenda/Comentários f1=Atotal f2=1/Fav w1=w2=0,5 ∀i:f i(x1)≤f i(x2) ∃i:f i(x1)<f i(x2) F = fitness do indivíduo f1 = “área de conveses do indivíduo (m2) f1_médio = valor médio de f1 (população) (m2) w1 = peso do objetivo 1 f2 = 1/Fav do indivíduo (1/m2) f2_médio = valor médio de f2 (população) (1/m2) w2 = peso do objetivo 2 F 2 Ou seja, para todos os objetivos “i” considerados, x1 tem, ao menos, desempenho igual ao de x2. Além disso, há pelo menos um objetivo “i” para o qual x1 tem desempenho melhor que o de x2. As inequações acima são estabelecidas para um problema de minimização dos objetivos, mas o conceito é igualmente aplicável a um problema de maximização pela mera variação do operador de comparação. Se x1 preservar a relação de dominância em relação aos demais indivíduos de sua população, diz-se que x1 é uma solução não dominada. O NSGA II também utiliza um parâmetro de “distância de agrupamento” (crowding distance), cuja definição não será rigorosamente estabelecida aqui. Entretanto, em termos simplificados, a distância de agrupamento atua como um indicador de “isolamento” de dada solução em relação às outras. Soluções com distância de agrupamento maior tendem a estar situadas em regiões menos densamente povoadas do espaço vetorial definido pelas funções objetivo. Como será posteriormente explicado, a distância de agrupamento desempenha um importante papel na preservação da diversidade das soluções obtidas por meio do NSGA II. Nesta formulação, o fitness e a preservação dos indivíduos estão ligados à dominância e à distância de agrupamento. Indivíduos “não dominados” e “distantes” entre si têm maior probabilidade de serem selecionados para a reprodução e serem mantidos na geração subsequente (Figura 4). A figura exemplifica um problema de minimização a dois objetivos. Os indivíduos não dominados dentre as soluções (pontos preenchidos) formam um “front”. Dentro de um front, as distâncias de agrupamento são calculadas como a soma dos lados do retângulo representado na figura. i -1 i i +1 F 1 Figura 4. Fronteira de indivíduos não dominados e distância de agrupamento. Adaptado de DEB (2002). Dada uma população inicial viável, a formulação implementada ordena os N indivíduos da população atual P de acordo com seu grau de dominância em fronts. Indivíduos dentro de um mesmo front têm mesmo grau de dominância e, conseqüentemente, não dominam uns aos outros. Os fronts recebem uma numeração (1, 2, 3...). Desta forma, os indivíduos pertencentes ao front de número K dominam todos os indivíduos pertencentes aos fronts cujo número é maior que K. A seleção para cruzamento é realizada pelo sorteio aleatório de dois indivíduos componentes de P. Se os indivíduos pertencem a fronts diferentes, o indivíduo do front com número menor é escolhido. Se indivíduos do mesmo front são escolhidos, o primeiro indivíduo é selecionado. Um par de pais é assim selecionado e cruzado, gerando dois filhos. Os filhos são testados quanto a sua viabilidade e armazenados, até que o tamanho desejado da nova população | 42 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto Q (M indivíduos) seja atingido. Este processo inicial é relativamente semelhante ao algoritmo clássico, os passos posteriores é que diferenciam o NSGA II e são responsáveis por muitas das vantagens desta formulação. De forma a manter o elitismo, uma nova população R (de tamanho N+M) é gerada da união entre P e Q. A população R é então ordenada em fronts. Esse ordenamento envolvendo a geração de pais e a prole (P e Q) garante que o elitismo seja preservado. O passo seguinte consiste na obtenção da nova população P (geração seguinte). Ela é feita por meio do armazenamento direto dos fronts sucessivos de R, até que o tamanho desejado seja atingido. Haverá muito provavelmente um front de corte, cujos elementos não serão todos incorporados a P. Este front de corte é então ordenado pela distância de agrupamento (da maior para a menor). Desta forma, a diversidade das soluções é preservada uma vez que soluções muito próximas umas das outras, pertencentes ao front de corte, tenderão a ser descartadas em detrimento das soluções com maior distância de agrupamento (Figura 5). Ordenamento de soluções não dominadas 5. OTIMIZAÇÃO ESTRUTURAL Após a obtenção das soluções não dominadas pelo processo de otimização multiobjetivo, um dado número de cascos é escolhido uniformemente ao longo da Fronteira de Pareto. Para estes cascos o processo de otimização estrutural é conduzido por meio de uma adaptação do GA clássico (adequado para o problema de otimização de apenas um objetivo). Um conjunto de escantilhões viáveis é gerado para cada navio. O processo de otimização se dá sobre esta população de escantilhões (minimização da relação P/Δ) durante um número estabelecidos de gerações. Após isso, o valor mínimo e o escantilhamento que minimiza a função objetivo são armazenados. Os parâmetros do GA (limites das variáveis, tamanho das populações, número de gerações, probabilidades de cruzamento e mutação, percentual de elitismo etc.) foram estabelecidos por meio de uma bateria de testes envolvendo o dimensionamento estrutural de três cascos para as condições estabelecidas anteriormente (Tabela 6). Ordenamento por distância de agrupamento (front de corte) Pt + 1 F1 Pt F2 F3 Solu ções rejeitadas Qt Rt Figura 5. Dinâmica do NSGA II. Adaptado de DEB (2002). | 43 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto É interessante destacar que o número de operações realizadas neste módulo é consideravelmente maior do que nos módulos anteriores, daí a necessidade de uma calibração adequada dos parâmetros de forma a acelerar o processo de cálculo. Isso se dá porque, a partir de um determinado número de gerações, a diminuição do fator de resistência obtido passa a ser marginal (região de “rendimentos decrescentes”). A correta calibração dos parâmetros permite evitar processamento desnecessário. 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados obtidos pelas duas formulações utilizadas são apresentados na Tabela 9. Os códigos foram elaborados em MATLAB® e o processamento foi realizado em um computador de processador AMD Phenom 9750 Quad-Core 2.4 GHz com 2 GB de RAM. Tabela 9. Resultados obtidos (GAs). Parâmetro/Resultado Formulação O tamanho das populações iniciais e o número de gerações foram mantidos em patamares adequados à discussão aqui apresentada. Naturalmente, em casos reais, estes valores podem ser ampliados. As populações finais obtidas foram filtradas para eliminar “clones” (soluções com parâmetros idênticos ou muito próximos). O percentual de perda de diversidade é definido como (1 – Pf/P1)*100. Dos números, observa-se que o GA clássico apresentou considerável perda de diversidade e maior tempo de processamento. Parte desta perda de diversidade se deve à maior tendência de formação de clones pela formulação clássica (já que a não há nela um operador capaz de avaliar o agrupamento das soluções). Os valores dos objetivos ficaram próximos em ambas as formulações, embora o NSGA II apresente uma média de valores mais próxima ao “centro” dos valores dos objetivos, o que é reflexo da melhor distribuição das soluções obtidas. As Figuras 6 e 7 retratam as populações iniciais geradas pelo GA clássico e pelo NSGA II, bem como as populações finais obtidas. 14 12 GA clássico NSGA II População inicial (P1) 500 indivíduos 200 indivíduos Gerações 30 10 Probabilidade de cruzamento 98% 98% Probabilidade de mutação 5% 5% Indivíduos restantes (Pf) 81 120 Perda de diversidade 84% 40% Tempo de processamento 19 segundos 5 segundos Max Atotal (m2) 1.961 2.002 4 2 1.355 931 Min Fav (m ) 2,7 2,9 Média Fav (m2) 8,4 6,3 2 Fav (m2) 8 6 4 2 Pop. Inicial Geração 30 0 500 1000 1500 2000 2500 Atotal (m2) 14 Média Atotal (m ) 2 10 12 Fav (m2) 10 8 6 Pop. Inicial Geração 30 0 500 1000 1500 2000 2500 Atotal (m2) Figura 6. Resultados do GA “clássico” (Fav x Atotal). | 44 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto Tabela 10. Parâmetros e resultados – módulo estrutural. Formulação 12 Parâmetro/Resultado GA clássico Fav (m2) 10 8 6 4 2 Pop. Inicial Geração 30 0 500 1000 1500 2000 2500 Atotal (m2) 14 12 População inicial (P1) 500 indivíduos Gerações 20 Probabilidade de cruzamento 98% Probabilidade de mutação 5% Tempo de processamento 35 segundos P/Δ min (grupo analisado) 0,2124 P/Δ máx (grupo analisado) 0,2295 Média P/Δ 0,2212 Fav (m2) 10 8 6 4 2 Pop. Inicial Geração 30 0 500 1000 1500 2000 2500 Atotal (m2) Figura 7. Resultados do NSGA II (Fav x Atotal). No GA clássico, é clara a formação de dois nichos de indivíduos (um situado na região de resistência mínima e outro situado na região de máxima área de conveses). Não ocorreu a formação de uma Fronteira de Pareto bem definida, visto que nas regiões dos nichos observam-se soluções dominadas e não dominadas aparecendo em grupo. É notória a perda de diversidade na região central do espaço de soluções (onde se situam os valores médios de resistência ao avanço e área de conveses) (Figura 6). Já o NSGA II foi efetivo em isolar a Fronteira de Pareto e manter uma diversidade adequada ao longo de todo o espaço de projeto (Figura 7). Embora seja possível melhorar a formulação clássica por meio da introdução de rotinas específicas (SIVANANDAM, 2008; ZITZLER, 1999), os resultados do NSGA II são superiores para os propósitos aqui considerados, sendo apropriados para o prosseguimento do processo de otimização estrutural. Um módulo específico, implementado com esse objetivo, foi aplicado a cascos selecionados ao longo da Fronteira de Pareto e apresentou os resultados expostos na Tabela 10. Por se tratar de um problema de único objetivo, optou-se pela formulação clássica. Como salientado anteriormente, o tempo de processamento foi maior neste módulo, devido à maior quantidade de cálculos efetuados. Para a seleção de cascos a partir dos resultados, é interessante o traçado gráfico dos valores obtidos em relação a um determinado atributo de projeto (no caso, foi escolhido o deslocamento de superfície ‑ Δ↑). Observa-se que as distribuições de Fav e Atotal em função de Δ são semelhantes, crescendo proporcionalmente ao deslocamento (Figura 8a). Entretanto, a distribuição de P/Δ apresenta uma “tendência em vale” na região entre 1.500 e 3.000 toneladas de deslocamento (Figura 8b). Obviamente, não se pode falar categoricamente em uma tendência, pois se trata de uma distribuição envolvendo poucos pontos. Entretanto, seria possível realizar uma mudança dos limites de variação/ número de indivíduos para explorar mais detalhadamente esta região de interesse. Um projetista em busca de soluções iniciais equilibradas, em termos dos três atributos, provavelmente se sentiria inclinado a escolher alternativas de projeto localizadas nesta região. | 45 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto A 2000 11 10 1500 Atotal (m2) Fav (m2) 9 8 7 6 1000 500 5 4 3 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 Deslocamento (t) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 Deslocamento (t) P/Delta B 0,23 0,228 0,226 0,224 0,222 0,22 0,218 0,216 0,214 0,212 0,21 0 1000 P/Delta "tendencia" 2000 3000 40005000 6000 7000 Deslocamento (t) Figura 8. Fav x Deslocamento e Atotal x Deslocamento (A). P/D e “tendência” (B). Tabela 11. Exemplos de soluções pertencentes à Fronteira de Pareto. Geometria Escantilhonamento (mm) Solução 1 Solução 2 Solução 3 Solução 4 Solução 5 D (m) 6,0 7,3 7,4 9,9 10,4 L/D 9,4 8,7 10,6 11,9 11,9 Na 3,0 2,8 3,0 2,3 2,9 Nf 3,2 4,2 2,4 3,0 4,4 Δ (t) 733 1.126 1.781 5.318 6.115 Lc 837 851 753 758 757 Hc 275 312 372 283 290 f 113 102 145 299 208 tf 20 38 28 38 47 tp 34 44 42 50 49 tw Atributos 14 13 12 29 49 2 Atotal (m ) 145 351 548 1752 1921 Fav (m2) 3,0 4,1 4,7 9,0 10,1 P/Δ 0,224 0,218 0,219 0,227 0,228 | 46 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 Michel Henrique Pereira, Bernardo Luis Rodrigues de Andrade, Kazuo Nishimoto 7. CONCLUSÃO Conforme inicialmente proposto, o presente trabalho exemplifica a utilização de algoritmos genéticos e modelos analíticos de baixa e média fidelidade na fase de concepção do projeto de submarinos. Há, naturalmente, espaço para maiores sofisticações quanto aos modelos e formulações aplicados, sobretudo no que concerne a: 1. Refinamento dos modelos de baixa fidelidade; 2. Refinamento do módulo de otimização estrutural; e 3. Implementação de módulos adicionais (autonomia, hidrodinâmica, estabilidade, etc.). De qualquer modo, a abordagem proposta é uma ferramenta interessante, que permite ao projetista explorar diversas geometrias, realizar uma análise de sensibilidade sobre mudanças em determinados parâmetros/requisitos e avaliar diferentes fatores de desempenho para as inúmeras soluções possíveis. Entretanto, esta abordagem serve como um guia auxiliar, não isentando o projetista de sua responsabilidade em efetuar cálculos mais aprofundados e não restringindo o uso de sua intuição e bom senso na busca pelas melhores alternativas de projeto. REFERÊNCIAS BROWN, A.J.; SALCEDO, J. Multiple-Objective Optimization HART, C.G.; VLAHOPOULOS, N. Relating affordability and performance in Naval Ship Design. Naval Engineers Journal, v. 115, n. 4, metrics in a multidisciplinary conceptual submarine design optimization. Journal of Ship Production and Design, Nova Jersey, v. 26, n. 4, p. 273-289, p. 49-61, 2003. nov. 2010. BURCHER, R.; RYDILL, L. Concepts in Submarine Design. Cambridge JACKSON, H. A. Fundamentals of Submarine Concept Design. SNAME (Reino Unido): Cambridge University Press, 1994. Transactions, Nova Jersey, v. 100, p. 419–448, 1992. DEB, K. et al. A fast and elitist multiobjective genetic algorithm: BUELTA, M. A. M. O Projeto do Casco Cilíndrico Resistente de NSGA-II. IEEE Transactions on Evolutionary Computation, [Nova Submersíveis. 1987. 1 v. Tese (Livre Docência) – EPUSP, São Paulo, 1987. York], v. 6, n. 2, abr. 2002. MITCHELL, M. An Introduction to Genetic Algorithms. Massachusetts: DENNET, D.C. Breaking the Spell. Londres: Pinguin Books, 2006. EAMES, M.E.; DRUMOND, T.G. Concept Exploration – An Approach to Small Warship Design. Transactions RINA, Londres, v. 119, p. 29-54, 1982. The MIT Press, 1999. REED, M. R. Ship Synthesis Model for Naval Surface Ships. 1976. 1 v. Dissertação (Mestrado) – MIT, Massachusetts, 1976. SIVANANDAM, S. N.; DEEPA, S. N. Introduction to Genetic Algorithms. Berlim: SPRINGER, 2008. GOLDBERG, D.E. Genetic algorithms in search, optimization, and ZITZLER, E. Evolutionary algorithms for multiobjective optimization: machine learning. Boston: Addison-Wesley, 1989. methods and applications. 1999. 1 v. Tese (Doutorado) – ETH, Zurique, 1999. | 47 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 34-47 ARQUITETURA NAVAL E PLATAFORMA INFLUÊNCIA DA TENSÃO RESIDUAL DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA NA FLAMBAGEM DE CASCOS RESISTENTES DE SUBMARINOS Effect of cold bending residual stress in submarine pressure hull buckling Paulo Rogério Franquetto1, Miguel Mattar Neto2, Kazuo Nishimoto3 Resumo: A conformação a frio aplicada no processo de fabricação de cascos resistentes de submarinos produz tensões residuais de tração e compressão ao longo da espessura do material. Essas tensões reduzem a vida em fadiga e a pressão crítica de flambagem da estrutura, podendo comprometer a integridade estrutural do casco. Neste trabalho, o efeito de um perfil de tensão residual é estudado sobre o comportamento a flambagem de cascos resistentes de diferentes diâmetros, dimensionados utilizando o aço HY80 por meio da metodologia americana de projeto. A tensão residual é implementada em um modelo numérico de elementos finitos utilizando o comando INISTATE disponível no software comercial Ansys 14,5. Além disso, não linearidades geométricas e de material são consideradas na análise de flambagem, realizada por meio do método de Newton-Raphson. Os resultados mostram uma redução da ordem de 8% na pressão crítica de flambagem. Palavras-chave: Tensão residual. Submarino. Flambagem. Abstract: The cold bending used in the submarine pressure hull manufacturing process introduces tension and compression residual stresses through the material thickness. These residual stresses reduce the fatigue cycles and the critical buckling pressure, jeopardizing the pressure hull structural integrity. The present article shows the effect of residual stress profile in the pressure hull buckling for different submarine radius, that have been designed analytically using HY80 steel based on the American design criteria. The residual stress is introduced in the numerical model by using the INISTATE command available in Ansys 14.5 commercial software. In addition, material and geometric non-linearity is considered in the buckling analysis, based on Newton-Raphson methodology. The results show a reduction up to 8% in the pressure hull critical buckling pressure. Keywords: Residual stress. Submarine. Buckling. 1. INTRODUÇÃO como a pressão hidrostática da água do mar, explosões submarinas e colisões. A falha dessa estrutura pode causar a perda do meio com prejuízos operativos, financeiros e políticos. Dessa forma, o dimensionamento do casco é conservador e baseado em critérios de projetos validados por meio de testes experimentais e modelos O casco resistente é a estrutura mais crítica de um submarino. Consiste basicamente em um cilindro estanque, reforçado externa ou internamente, que deve suportar um conjunto de carregamentos, 1. Capitão-Tenente (EN) do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Professor Doutor do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 3. Professor Doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] | 48 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 48-55 Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto numéricos. A construção também demanda grande controle a fim de garantir a qualidade dos materiais e dos processos de fabricação utilizados (BANKS; KUGLES, 1986). A metodologia de projeto do casco resistente varia conforme o critério de projeto empregado que, por sua vez, é bastante característico para cada país construtor de submarinos. Diferentes hierarquias de falha, procedimentos de cálculos analíticos, imperfeições geométricas e coeficientes de segurança são utilizados conforme o país construtor. Na verdade, os critérios de projeto dimensionam o casco resistente para operar com segurança até uma máxima cota de operação (MCP), que é um requisito de projeto da Marinha que irá operar o submarino. Com a MCP, aplica-se um fator de segurança (k) e tem-se a cota de colapso mínima (CCM) requerida do casco (MARTINEZ, 1987). Durante a fabricação do casco, diversas imperfeições são induzidas na estrutura que reduzem a cota de colapso do submarino, como ovalização do cilindro (falta de circularidade), empenamento da caverna, contração da chapa entre cavernas em decorrência da soldagem, tensões residuais e distorções em razão da conformação das chapas e do processo de soldagem, trincas e vazios nos cordões de soldas, entre outros. Atualmente, devido às limitações dos processos de fabricação existentes, as imperfeições produzidas durante a construção não podem ser eliminadas completamente. Como a presença dessas imperfeições reduz a capacidade do casco de resistir à pressão, favorecendo a instabilização do casco e a falha por flambagem, elas devem ser consideradas no projeto e controladas durante a fabricação (MARTINEZ, 1987). A forma como as imperfeições são consideradas no projeto varia conforme o critério de projeto utilizado. Em geral, a falta de circularidade e o empenamento da caverna são utilizados no cálculo analítico das tensões nas cavernas e na avaliação da pressão crítica de colapso do casco. Já as imperfeições produzidas nos cordões de solda são utilizadas na avaliação da vida em fadiga e são controladas no estaleiro utilizando ensaios não destrutivos (líquido penetrante, raio X, partículas magnéticas, ultrassom), não podendo exceder limites previstos em normas militares ou nos critérios de projeto (ABS, 2002; GERMANISCHER LLOYD, 2008). Além disso, os cordões de soldas são inspecionados durante os períodos de manutenção e, caso uma trinca exceda os limites normalizados, é realizado o reparo. Por sua vez, a tensão residual é considerada no projeto por meio do coeficiente de segurança previsto no critério de projeto utilizado, não sendo normalmente abordada diretamente no cálculo analítico ou no modelo numérico. Isso se deve à dificuldade da obtenção de valores da tensão residual e de sua implementação em modelos numéricos (MARTINEZ, 1987; ROBLES et al., 1999; GERMANISCHER LLOYD, 2008). Vários estudos mostraram que a tensão residual reduz a pressão crítica de flambagem do casco resistente. Kirstein e Slankard (1957), Krenzke (1960) e Bushnell (1980) mostraram, por meio de modelos numéricos e ensaios experimentais, que a tensão residual decorrente dos processos de soldagem e conformação a frio pode reduzir em até 30% a pressão crítica de flambagem de cilindros reforçados. Entretanto, nesses estudos os autores consideraram modelos em escala reduzida. Lunchick (1970) apresentou resultados analíticos em que a conformação a frio pode reduzir em até 20% a cota de colapso do submarino. Mais recentemente, Lennon (2006) verificou, por meio de análises numéricas, uma redução de 25% na pressão crítica de flambagem em cilindros reforçados longitudinal e transversalmente, em razão da presença de tensões residuais. Deve-se notar que a tensão residual em um componente mecânico é consequência do gradiente de deformações plásticas introduzidas pelo processo de fabricação. Durante a conformação a frio e a soldagem das chapas do casco, a tensão residual pode atingir valores da ordem do limite de escoamento do material (GRUNITZ, 2003; GRAHAM, 2007). Para a obtenção dos valores de tensão residual, modelos numéricos e analíticos existentes na literatura podem ser utilizados para uma estimativa inicial do perfil de tensões. Por exemplo, Masabuchi (1980) apresenta modelos analíticos destinados à estimativa de tensão residual em cordões de soldas. Já Bushnell (1980) e Aguiar et al. (2001) mostram uma abordagem analítica para o cálculo da tensão residual devido à conformação a frio de chapas. Por outro lado, Spoorenberg et al. (2009) e Gannon (2010) apresentam uma abordagem numérica para o cálculo da tensão residual devido à conformação a frio. Entretanto, por se tratar de um problema não linear, em que efeitos de plasticidade devem ser considerados, a análise experimental em protótipos é a metodologia mais indicada para a avaliação das tensões residuais (SHAN-KHAN et al., 1993). | 49 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 48-55 Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto 2. METODOLOGIA Este trabalho está dividido em duas etapas: • Primeira etapa: para validar o procedimento de utilização do comando INISTATE disponível no software comercial Ansys 14,5 (ANSYS, 2013), utilizado na introdução de um perfil de tensão residual no modelo numérico, um benckmarking é realizado utilizando como referência os resultados apresentados por Gannon (2010). Em seu trabalho, Gannon (2010) utiliza modelos numéricos com e sem tensão residual de cilindros reforçados internamente, verificando a influência da tensão residual na redução da pressão crítica de flambagem da estrutura. Nos modelos com tensão residual apresentados pela referência, a curva “tensão x deformação” do material é alterada a fim de considerar a presença da tensão residual no modelo numérico. Então, são elaborados modelos numéricos similares aos apresentados por Gannon (2010), entretanto, introduzindo o perfil de tensão residual com o comando INISTATE. Dessa forma, é possível comparar os resultados e verificar a aplicabilidade do comando INISTATE na introdução de um perfil de tensão residual em um modelo numérico. • Segunda etapa: após a validação do comando INISTATE, uma série de cascos resistentes de submarinos são dimensionados utilizando o critério americano de projeto apresentado por Martinez (1987). Para cada um, uma análise de flambagem não linear utilizando o Método dos Elementos Finitos (ZIENKIEWICZ; TAYLOR, 2005) é realizada considerando a influência de um dado perfil de tensão residual em razão da conformação mecânica da chapa do casco e do flange da caverna. 2.1. VALIDAÇÃO DO MODELO NUMÉRICO Gannon (2010) avalia a influência da tensão residual devido à conformação mecânica na flambagem de cilíndros reforçados internamente (Figura 1A). O perfil de tensão residual implementado no estudo é obtido por meio de análises numéricas utilizando modelos de elementos finitos do processo de conformação mecânica (Figura 1B). Com base nos valores de tensão residual obtidos, a curva “tensão x deformação” do material é alterada a fim de considerar a presença da tensão residual no modelo. Também são consideradas não linearidades geométricas (falta de circularidade de 0,5%R) e de material (aço HY80, elástico-plástico bilinear e encruamento isotrópico). Nesse modelo, é realizada uma análise de flambagem não linear, sendo utilizado o elemento finito de casca shell181 (ANSYS, 2013) com interpolação linear (6 graus de liberdade, Ux, Uy, Uz, Rotx, Roty e Rotz) e 21 pontos de integração através da espessura do casco e do flange e 5 através da espessura da alma. 1524 505 4,76 152,4 995,24 19,05 4,76 19,05 A 76,2 4,76 Posição Radial (mm) 500 Chapa 495 490 485 Alma 480 475 470 Flange 465 -600 -400 -200 0 200 400 Tensão Residual Circunferencial [MPa] A B Figura 1. Dimensões em milímetros do cilindro reforçado (A) e perfil de tensão residual circunferencial (B). | 50 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 48-55 600 Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto Assim, um modelo numérico similar ao apresentado por Gannon (2010) é elaborado. As condições de contorno e malha utilizados estão apresentados na Figura 2. Nesse modelo, a imperfeição geométrica da falta de circularidade é aplicada sobre o primeiro modo de flambagem linear do casco resistente utilizando o comando UPGEOM. O perfil de tensão residual (Figura 1B) é introduzido no modelo utilizando o comando INISTATE disponível no software Ansys. Para isso, o perfil de tensão residual circunferencial foi discretizado e implementado em cada ponto de integração do elemento de casca, considerando o sistema de coordenadas do elemento. Uy=Uz=0 Roty=Rotz=0 Simetria y z Pressão hidrostática x Pressão linear devido a ação da tampa A 2.2. CRITÉRIO AMERICANO DE PROJETO O critério americano de projeto utilizado é apresentado por Martinez (1987). Nesse critério, três modos de falhas são avaliados: colapso do casco entre cavernas, escoamento do flange das cavernas e flambagem global. Esses modos de falhas são hierarquizados como apresentado na Figura 3. Para o atendimento do critério, o escoamento do flange da caverna deve ocorrer em uma profundidade Hcol (cota de escoamento do flange da caverna) igual ou maior que a CCM. Além disso, o colapso entre cavernas deve ocorrer em uma profundidade de 30 a 75% acima de Hcol. Finalmente, a flambagem global deve ocorrer após o colapso entre cavernas. A cota de colapso do casco entre cavernas é determinada com base na geometria da caverna, nas propriedades mecânicas do material e utilizando curvas de projeto obtidas a partir de resultados experimentais. O cálculo do escoamento do flange das cavernas é realizado considerando a presença do defeito de falta de circularidade na caverna, o que gera tensões de flexão no flange, acelerando o processo de plastificação, somada à tensão circunferencial em razão de pressão hidrostática. Já o cálculo da pressão crítica de flambagem global é realizado por meio da equação simplificada de Bryant, em que são consideradas as dimensões principais da caverna e a distância entre suportes rígidos do casco resistentes (i.e, anteparas resistentes, calotas de fechamento e cavernas gigantes) (MARTINEZ, 1987). A Figura 4 apresenta as principais dimensões a serem definidas no dimensionamento analítico do casco. 2.3. ESTUDOS DE CASOS Com base no critério americano de projeto, diversos arranjos estruturais de cascos resistentes são estudados Nível do mar Hcol Escoamento do flange da caverna Colapso do casco entre cavernas 30 a 75% de Hcol Flambagem Global B Hcol: cota de escoamento do flange da caverna Figura 2. Condições de contorno (A) e malha de elementos finitos, 6.000 elementos (B). Figura 3. Hierarquia de falha do critério americano de projeto. | 51 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 48-55 Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto para raios de 3,1 e 4,0 m (Tabela 1). Para cada arranjo, são estudadas diferentes espessuras de chapa e do flange da caverna. Assim, é verificada analiticamente, mediante o critério americano de projeto, a cota de colapso do submarino, supondo uma distância entre suportes de 30 m, sendo posteriormente realizadas análises de flambagem linear, não linear e não linear com tensão residual. Para as análises não lineares, são consideradas não linearidades geométricas (falta de circularidade de t/2 pelo critério americano e grandes deslocamentos) e de material (aço HY80, elástico perfeitamente plástico e encruamento isotrópico). As propriedades mecânicas do aço são adotadas conforme a norma americana MIL-S-16216K (1987). O perfil de tensão residual é adotado de forma conservadora, considerando valores de pico da ordem da tensão de escoamento (550 MPa) do aço HY80. O perfil adotado é introduzido no modelo numérico utilizando o comando INISTATE disponível no software Ansys 14,5 (ANSYS, 2013), sendo a curva discretizada por meio de 21 pontos de integração do elemento de casca linear shell181 (Figura 5). Nas análises realizadas, somente a tensão residual circunferencial é considerada na chapa e flange dos cascos resistentes. A alma é considerada livre de tensão residual de fabricação. As condições de contorno estão apresentadas na Figura 6. São aplicadas condições de simetria nos planos XY, XZ e YZ. É aplicada restrição de todos os graus de liberdade em uma das extremidades do modelo, exceto na direção axial, sendo aplicada uma pressão linear em razão da ação das calotas de fechamento. Finalmente, é aplicada a pressão hidrostática devido à coluna de água do mar. 3. RESULTADOS t b R ef Lf Lc b: espessura da alma; ef: espessura do flange; H: altura da caverna; Lc: distância entre cavernas; Lf: largura do flange; R: raio médio do casco resistente; t: espessura da chapa do casco. Figura 4. Dimensões das cavernas. Tabela 1. Geometria dos cascos resistentes estudados. Dimensões em milímetros. R Lc H b Lf t=ef 100 35 40 45 50 35 40 45 50 3.100 600 4.000 295 15 b: espessura da alma; ef: espessura do flange; H: altura da caverna; Lc: distância entre cavernas; Lf: largura do flange; R: raio médio do casco resistente; t: espessura da chapa do casco 3.1. VALIDAÇÃO DO MODELO NUMÉRICO A Tabela 2 apresenta uma comparação entre os resultados apresentados por Gannon (2010) e os obtidos neste trabalho, para a flambagem não linear com e sem tensão residual. A Figura 7 mostra o deslocamento total, em metros, do modo de falha do cilindro com tensão residual. Comparando os resultados obtidos com os apresentados por Gannon (2010), pode-se verificar que o comando INISTATE introduziu de maneira adequada o perfil de tensão residual por meio dos pontos de integração do modelo, podendo assim ser utilizado na implementação de perfis de tensão residual em modelos numéricos de flambagem. A redução na pressão crítica de flambagem obtida de 4,8% está na mesma 21 Pontos de Integração H 14 7 0 -550 -450 -350 -250 -150 -50 50 150 250 350 450 550 Tensão Residual (MPa) Figura 5. Perfil de tensão residual adotado para chapa e flange dos cascos resistentes. | 52 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 48-55 Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto ordem de grandeza da redução apresentada na referência, mostrando aderência nos resultados. 3.2. ESTUDOS DE CASOS Considerando os arranjos estruturais estudados, o comportamento, a flambagem linear, não linear e não linear com tensão residual são apresentados na Figura 8 para cascos resistentes com 3,1 e 4,0 m de raio. Observa-se que o cálculo analítico realizado é conservador, pois apresenta valores de colapso inferiores aos obtidos por meio da análise não linear de flambagem. Além disso, também verifica-se que a flambagem linear não fornece valores conservadores da cota de flambagem do casco, não podendo ser utilizada para o dimensionamento desse tipo de estrutura. Já a Figura 9 apresenta um modo de flambagem típico obtido durante as análises. Na verdade, em todas as análises realizadas os cascos resistentes falharam por flambagem no segundo modo (2 lóbulos), sendo um comportamento típico de compartimentos estruturais de grande comprimento. A partir dos estudos de casos realizados, obteve-se reduções de 6 a 8% na cota de colapso de cascos resistentes com raio de 3,1 e 4,0 m, respectivamente. Essa redução na cota de colapso deve-se ao fato de a tensão residual acelerar o processo de plastificação das estrutura favorecendo o processo de flambagem (Figura 10). Porém, o perfil de tensão residual utilizado é adotado de forma conservadora, tendo em vista que os valores de tensão residual estão da ordem de grandeza da tensão de escoamento do material. Para uma avaliação mais adequada, é necessário realizar uma análise experimental de tensões, em que valores reais de tensão residual encontrados na estrutura podem ser implementados no modelo numérico. SUB =13 TIME =.891504 USUM (AVG) RSYS =0 DMX =.003264 SMN = .319E-03 SMX =.003264 Tabela 2. Comparação de resultados com e sem tensão residual. Cota de colapso Gannon Resultados (2010) obtidos Sem tensão residual (m) Com tensão residual (m) Redução (%) 554 560 535 534 -3,6 -4,8 Simetria Plano XY .319E-03 .973E-03 .001628 .002282 .002937 .646E-03 .0013 .001955 .002609 Figura 7. Deslocamento total, em metros, do modo de .646E-03 falha do cilindro com tensão residual. Simetria Plano XY Simetria Plano YZ Pressão Hidrostática Uy=Uz=0 Roty=0 Rotz=0 Simetria Plano XZ Pressão Linear Figura 6. Condições de contorno. | 53 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 48-55 Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto B 2800 2300 1800 1300 800 x 300 35 40 x x x 45 50 Cota de colapso global (m) Cota de colapso global (m) A 1200 1000 800 600 400 200 x x Análitico Linear Não Linear Não linear com Tensão Residual x x x 35 40 45 50 Espessura da Chapa/Flange (mm) Espessura da Chapa/Flange (mm) Figura 8. Cota de colapso para cascos resistentes com 3,1 (A) e 4,0 (B) m de raio. USUM (AVG) RSYS=0 DMX =.040905 SMN =.004429 SMX =.040905 USUM (AVG) RSYS=0 DMX =.040905 SMN =.004429 SMX =.040905 .004429 .004429 .012534 .02064 .028746 .036852 .008482 .016587 .02493 .032799 .040905 .008482 .012534 .016587 .02064 .02493 .028746 .032799 .036852 .040905 Figura 9. Deslocamento total, em metros, do modo de falha típico dos cascos resistentes analisados. .040905 B (x10**5) 8000 8000 7200 7200 6400 6400 5600 Von Mises (Pa) Von Mises (Pa) A 4800 4000 .040905 3200 2400 5600 4800 4000 3200 2400 1600 1600 800 800 0 100 200 300 400 500 600 700 Profundidade (m) 800 900 1000 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Profundidade (m) Figura 10. Comportamento da tensão equivalente de von Mises no nó de maior deslocamento. Modelos sem tensão (A) e com tensão residual (B). | 54 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 48-55 Paulo Rogério Franquetto, Miguel Mattar Neto, Kazuo Nishimoto 4. CONCLUSÕES Este estudo apresentou a influência da tensão residual em razão da conformação mecânica no comportamento a flambagem de cascos resistentes de submarinos, dimensionados por meio do critério americano de projeto. As análises mostram que a tensão residual pode reduzir a cota de colapso do submarino em valores da ordem de 8%, reduzindo assim a capacidade operacional do meio naval. Dessa forma, é importante que sejam adotados processos de fabricação que reduzam os valores de tensão residual e que o projeto considere os efeitos da tensão residual na flambagem a fim de dimensionar com segurança o casco resistente. REFERÊNCIAS ABS. Underwater Vehicles, Systems and Hyperbaric Facilities. Houston, LENNON, R.F. The Effects of Cold Forming and Welding Residual USA: American Bureau of Shipping, 2002. Stress States on the Buckling Resistance of Orthogonally Stiffened AGUIAR, J.B.; BARBOSA, G.M.; BATALHA, G.F. Sheet Bending Theory Cylinders. 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O trabalho proposto utiliza uma modelagem autorregressiva dos sinais de correntes e tensões, com o auxílio das Redes Neurais Artificiais para classificação e localização das faltas, levando-se em conta essas características. Foram realizados diversos testes em um sistema de distribuição, variando os seguintes parâmetros: tipo de falta, ângulo de incidência, distância ou local de ocorrência e resistência de falta. O modelo proposto responde de maneira favorável, mesmo com uma frequência de amostragem relativamente baixa. Palavras-chave: Faltas de alta impedância. Classificação e localização de faltas. Sistemas de distribuição. Redes neurais artificiais. Abstract: This paper presents a methodology for the classification and localization of faults in power distribution systems. In such systems, the main characteristics that need to be handled are high impedances of fault and presence of various load types connected along the grid. The proposed methodology is based on an autoregressive model of current and voltage signals, with the aid of Artificial Neural Networks for localization and classification of the faults, taking into account the aforementioned system characteristics. Several tests were performed on a small-scale distribution system, varying the following parameters: fault type, incidence angle, fault distance location, and its resistance. Results show that the proposed model is effective in detecting faults, even using a relatively low-sampling frequency. Keywords: High impedance faults. Classification and localization of faults. Power networks. Artificial neural networks. 1. INTRODUÇÃO ser considerada é o ângulo de falta associado à precisão dos modelos de identificação. As faltas de alta impedância (FAIs) têm desafiado as concessionárias de energia elétrica e os pesquisadores há vários anos em função da característica da corrente de falta apresentar valores abaixo daqueles de partida dos relés de sobrecorrente tradicionais, o que dificulta sua localização e, em consequência, o rápido restabelecimento do sistema. Essas faltas são causadas principalmente devido à queda de condutores de energia em superfícies de baixa condutividade, aos galhos de árvores que se encostam aos alimentadores e aos isoladores em mau funcionamento. Outro aspecto a ser destacado nas faltas dos sistemas de distribuição é a presença dos harmônicos que podem afetar Os sistemas elétricos de potência, formados pela geração, transmissão e distribuição de energia, devem garantir a continuidade e a confiabilidade em seu fornecimento. Porém, esses sistemas, principalmente as redes de transmissão e distribuição, estão sujeitos às faltas oriundas de curtos-circuitos. Essas faltas devem ser detectadas, classificadas e localizadas precisamente a fim de evitar interrupções e danos nos equipamentos. As características das faltas dos sistemas de distribuição diferem-se dos sistemas de transmissão, principalmente devido aos altos valores de impedâncias de faltas e à presença de harmônicos. Adicionalmente, uma característica importante a 1. Primeiro-Tenente (EN), Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Doutor, Universidade Federal de Juiz de Fora – Juiz de Fora, MG – Brasil. E-mail: [email protected] | 56 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro os equipamentos de proteção, tais como os relés digitais. Mais especificamente, nos casos dos classificadores e localizadores de faltas microprocessados, os harmônicos podem acarretar em imprecisão (BAKAR, 2008; DUGAN et al., 1996). De forma a garantir a precisão nos modelos dos classificadores e localizadores de faltas, deve-se considerar o ângulo de incidência das faltas que afeta tanto o transitório quanto a amplitude inicial da falta. Nesse sentido, alguns trabalhos têm sido publicados para a classificação e localização de faltas em sistemas de distribuição. Estão incluídos testes hipotéticos baseados em estatísticas (BALSER et al., 1986); sistemas especialistas baseados nos princípios de indução (KIM; RUSSELL, 1989); redes neurais artificiais (EBRON et al., 1990; APOSTOLOV et al., 1993); ângulo do terceiro harmônico das correntes de falta (JEERINGS; LINDERS, 1991); decomposição das wavelets (LIANG et al., 1998; LAI et al., 2003) e árvores de decisão (SHENG; ROVNYAK, 2004) e lógica fuzzy ( JOTA; JOTA, 1998). Outras publicações referentes à classificação e localização de faltas, não só relativas aos sistemas de distribuição, como também aos de transmissão, são encontradas na literatura, sendo algumas baseadas na Teoria das Ondas Viajantes, tais como encontradas em Costa e Souza (2011), Feng et al. (2008), Lin et al. (2008), Lopes et al. (2013a) e Silva (2003). A grande limitação de tais métodos é a utilização de altas taxas de amostragem da ordem de até MHz (ZIMATH et al., 2010). Essas frequências limitam seu uso em sistemas com relés digitais com baixa frequência de amostragem. Ainda, com grande influência das altas taxas de amostragem, podendo limitar o uso destes métodos em sistemas reais, encontram-se os métodos baseados em componentes de alta frequência (FAYBISOVICH et al., 2010; IURINIC et al., 2013). Alguns dos quais são baseados em inteligência artificial (SADINEZHAD; AGELIDIS, 2009; REDDY; MOHANTA, 2008), em técnicas de Transformada de Fourier (TAKAGI et al., 1981) e em técnicas de Transformada Wavelet (SILVA et al., 2005). Por fim, em Girgis et al. (1992), Lopes et al. (2013b) e Tziouvaras et al. (2001), são mostrados alguns dos métodos mais usados nas concessionárias baseados, principalmente, em componentes fundamentais. Alguns destes utilizam-se de técnicas de dois ou mais terminais, possibilitando uma maior precisão na localização das faltas. Trabalhos desta natureza seguem, normalmente, três etapas: • detecção: visa determinar o ponto de incidência da falta, o momento em que ocorreu. Esta etapa deve ser necessariamente on-line, pois se trata do momento de atuação dos equipamentos de proteção; • classificação: tem por objetivo classificar qual o tipo de falta, em qual fase ocorreu e se há contato, ou não, com terra. Esta etapa não necessariamente precisa ser on-line, bastando apenas ter os dados coletados na fase de detecção; • localização: pode ser realizada off-line e nela é determinada a distância da falta dos sistemas de monitoramento, fornecida em metros ou quilômetros. Neste contexto, o objetivo desse trabalho foi detectar, classificar e localizar faltas em sistemas de distribuição, analisando tanto a influência da impedância de faltas como também o ângulo de incidência. A contribuição da metodologia procura contornar três pontos de dificuldades dos principais métodos encontrados na literatura e citados anteriormente: • utilização de baixa frequência de amostragem (1,5 kHz): talvez a principal contribuição deste trabalho, visto que considera uma baixa frequência de amostragem de 1,5 kHz, bem abaixo dos valores encontrados na literatura. Esta baixa frequência permite a utilização do algoritmo na maioria dos equipamentos microprocessados; • monitoramento de apenas um terminal: algumas concessionárias utilizam-se do monitoramento de mais de um terminal para maior precisão na localização, tendo, por vezes, que fazer o uso de GPS para sincronização dos dados coletados. Nesta metodologia fez-se necessário o monitoramento de apenas um terminal, o que permitiu menor custo de instalação dos equipamentos; • simples filtragem dos sinais: a modelagem autorregressiva (AR) (MARPLE et al., 1987) do sinal permite uma simples filtragem dos sinais para detecção dos sinais faltosos. Desta forma, é possível evitar cálculos matemáticos mais complexos como Transformada Wavelet (SILVA et al., 2005) ou Teoria de Ondas Viajantes (TAKAGI et al., 1981). Para tanto, o tratamento inicial dos dados é realizado por meio de uma modelagem AR (MARPLE et al., 1987), monitorando os sinais de corrente e permitindo detectar precisamente o momento inicial da falta. Este tipo de filtragem | 57 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 2. METODOLOGIA PROPOSTA O método proposto é dividido em quatro etapas: simulação; detecção do ponto de incidência; tratamento dos dados e treinamento da RNA. A seguir, será descrito cada procedimento proposto. 2.1. SIMULAÇÃO A primeira etapa deste trabalho é a simulação dos sistemas de distribuição a serem analisados. Nestes sistemas, foram simuladas diversas faltas variando quatro parâmetros de estudo: tipos, ângulo, resistência e local da falta. Todas as simulações foram realizadas no Simulink/Matlab® (versão R2012a, MathWorks). Algumas destas simulações foram testadas teoricamente e grande parte analisada graficamente a fim de se evitarem resultados inesperados ou imprecisos. As informações obtidas na etapa de simulação foram divididas em dados de teste, validação e treinamento da RNA. 2.2. DETECÇÃO DO PONTO DE INCIDÊNCIA Nessa etapa, o primeiro passo é detectar a ocorrência da falta e encontrar o seu ponto de incidência, ou seja, o exato momento em que o distúrbio ocorreu, como pode ser visto na Figura 1. A determinação do ponto de incidência é por muitas vezes complexas, tendo necessidade a utilização de ferramentas matemáticas, tais como Transformada de Fourier (TAKAGI et al., Fase C 1 Fase B 1,5 Amplitude (pu) contribui significativamente para a redução da taxa de amostragem do sinal, possibilitando seu uso em sistemas digitais. Após detectada a falta, programou-se um algoritmo com base teórica nas Redes Neurais Artificiais (RNAs). Consequentemente, é possível classificar e localizar os tipos de faltas ocorridos de maneira off-line. Os estudos de casos foram realizados em dois sistemas de distribuição. O primeiro sistema, apresentado em Barros et al. (2008) e Moreto (2005), tem por objetivo validar os resultados da metodologia proposta, comparando-os com aqueles encontrados nestas referências. O segundo sistema escolhido, encontrado em Vieira Junior (1999), trata-se de um sistema com várias ramificações que possibilitam a análise da robustez do algoritmo frente a sistemas com características operativas radiais. Fase A Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro 0.5 0 -0.5 -1 -1,5 30 Ponto de incidência 40 50 60 70 80 Amostras 90 100 Figura 1. Correntes trifásicas – ponto de incidência da falta. 1981 e Transformada Wavelet (SILVA, 2003). Apresenta-se na sequência uma metodologia simples que permite a determinação exata do ponto inicial da falta. Para detecção do ponto de incidência, o dado de corrente foi filtrado com um filtro Passa-Alta Butterworth de terceira ordem, com frequência de corte de 430 Hz. Esse filtro tem como característica suprimir em -60 dB as frequências de 60 Hz, além do ganho superior a -3 dB em 600 Hz. Essas características têm como finalidade suprimir os harmônicos mais significativos (até a sétima ordem) e melhorar a identificação do transitório. A Figura 2 mostra a resposta em frequência, ganho e fase do filtro Passa-Alta Butterworth de terceira ordem implementado. Para eliminar as grandes distorções de fase ocasionadas pelo filtro IIR Butterworth, utilizou-se a filtragem com inversão temporal (FIT), que tem por característica a dupla filtragem do sinal, sendo uma delas com a inversão temporal do sinal. Com esse processo, a distorção de fase é retirada devido ao cancelamento angular das duas filtragens (OPPENHEIM; SCHAFER, 1989). Após a filtragem, a fim de suprimir os pontos de baixa amplitude dos dados de corrente, os sinais resultantes foram elevados ao quadrado e somados entre si ponto a ponto, obtendo um único vetor normalizado entre zero e um (Figura 3). É importante ressaltar que este algoritmo detecta o ponto de incidência para qualquer tipo de falta sem a necessidade de janelamento. A Figura 4 ilustra a corrente da fase A e o sinal normalizado obtido. Observa-se que o sinal obtido apresenta seu máximo exatamente sobre o ponto de incidência da falta, o que permite localizar precisamente o ponto de incidência. | 58 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro Amplitude (dB) 2.3. TRATAMENTO DOS DADOS 0 -50 -100 -150 -200 0 Fase (Graus) 0 -100 -200 -300 -400 0 Nessa etapa, são extraídos os parâmetros para o treinamento das RNAs, utilizando-se a modelagem AR (MARPLE, 1987), que foi escolhida devido a sua simplicidade e rapidez, além de ser um método eficiente para estimação dos parâmetros de sistemas. A modelagem AR consiste em relacionar determinado sinal, por meio de combinações lineares entre amostras passadas, minimizando o quadrado da diferença entre a amostra atual e aquelas obtidas (Equação 1). 100 200 300 400 500 600 700 Frequência (Hz) H(z) = 100 200 300 400 500 600 700 Frequência (Hz) em que: an: representa o n-ésimo coeficiente estimado do modelo AR; e : representa a variância estimada do ruído branco da entrada. Figura 2. Filtro Butterworth passa-alta de décima primeira ordem. Ia Filtragem X2 Ib Filtragem X2 Ic Filtragem X2 + Normalização: X Max(|X|) Figura 3. Diagrama de blocos do algoritmo de localização do ponto de incidência. 1 Amplitude (pu) 0,8 0,6 Sinal Obtido Sinal Original 0,4 0,2 0 -0,4 -0,6 -0,8 -1 30 40 50 60 70 Amostras Figura 4. Sinais original e obtido. O resultado é uma função de transferência all-poles (somente com polos, sem zeros). O método de Yule-Walker, também conhecido por método de autocorrelação, foi utilizado para a obtenção dos coeficientes, no qual um modelo AR é ajustado para minimizar o erro de predição à frente pelo método dos mínimos quadrados (MARPLE, 1987). Os sinais de corrente (Ia, Ib, Ic) e tensão (Vab, Vbc, Vca) foram extraídos de 25 amostras (um ciclo de 60 Hz) de cada sinal, sendo 12 amostras pré-falta, uma no ponto de ocorrência e 12 pós-falta (Figura 5). De tais sinais, foram extraídos 10 coeficientes AR de cada sinal, totalizando 60 para cada evento de falta, os quais foram aplicados como dados de entrada da RNA de classificação e da RNA de localização das faltas. A Figura 5 exemplifica a parte do sinal utilizado para a extração dos coeficientes do modelo AR. A curva destacada por figuras geométricas é o sinal de um ciclo de 60 Hz utilizado para extração dos coeficientes do modelo AR de um sinal de corrente. O mesmo foi feito para os demais sinais de corrente e tensão. 2.4. TREINAMENTO DAS REDES NEURAIS ARTIFICIAIS Ponto de Incidência -0,2 e 1+a2z-1+a3z-2+ ... +a(n+1)z-n (1) 80 90 100 Nessa etapa do trabalho foi feito o treinamento das RNAs (THE MATHWORKS INC., 2002). Para os algoritmos de classificação e localização, utilizaram-se redes Multilayer Perceptron (MLPs), com função de ativação tansig para as camadas ocultas (duas camadas) e purelin para a de saída (uma camada), além do algoritmo de aprendizagem Levenberg-Marquardt. | 59 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro Tabela 1. Convenção adotada para classificação de falta. 1 Corrente de falta Sinal utilizado Ponto de Ocorrência 0,8 Amplitude 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 Tempo (s) Figura 5. Sinal utilizado para extração dos coeficientes da modelagem autorregressiva. 2.4.1. Rede neural artificial de classificação No treinamento da RNA para classificação das faltas, convencionou-se que as fases envolvidas nas faltas teriam saídas variando de 1 a 10, como mostrado na Tabela 1. Na Tabela 1, as letras A, B e C determinam quais fases foram envolvidas na falta e T é presente nas faltas que envolveram o condutor terra. Para entrada da RNA de classificação, utilizaram-se os 60 parâmetros extraídos na etapa de tratamento dos dados. 2.4.2. Rede neural artificial de localização Para a localização, convencionou-se a saída da RNA como sendo a própria distância da ocorrência da falta em quilômetros. Para entrada da RNA de localização, foram utilizados os mesmos 60 parâmetros extraídos na etapa de tratamento dos dados. 3. SISTEMAS TESTES Foram escolhidos dois sistemas de distribuição: um sem ramificações e um ramificado, ambos da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). 3.1. SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO SEM RAMIFICAÇÕES: SISTEMA 1 O primeiro sistema de distribuição simulado, Sistema 1, consiste de um alimentador operando de forma radial, Fases envolvidas Convenção numérica adotada AT 1 BT 2 CT 3 AB 4 ABT 5 CA 6 CAT 7 BC 8 BCT 9 ABC 10 adaptado do trabalho de Wakileh e Pahwa (1997). As diversas ramificações presentes no sistema original foram agregadas, isto é, substituindo cada ramificação por cargas equivalentes. A Figura 6 apresenta o diagrama unifilar do sistema simulado. A Tabela 2 mostra os dados de linha e das cargas. A resistência da linha (R) é de 0,28 Ω/km e a reatância (X) de 0,27 Ω/km. Este é o mesmo sistema utilizado por Moreto (2005) e Barros et al. (2008). Desta forma, procurou-se fazer uma análise mais completa e, então, comparar os resultados de classificação e localização das faltas com aqueles encontrados nas referências citadas. 3.2. SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO RAMIFICADO: SISTEMA 2 O segundo sistema de distribuição simulado, Sistema 2, consiste de uma rede ramificada da CPFL, que foi adaptada de Vieira Junior (1999). O sistema possui oito barras além de um cogerador na barra oito e barramento slack na 1, como mostrado no diagrama unifilar do sistema na Figura 7. A tensão da rede primária é 13,8 kV e a potência nominal do cogerador é 400 kVA. Os dados das cargas e linhas são apresentados em Vieira Junior (1999). Esse sistema destaca-se por ser ramificado. Dessa forma, há simetria das condições de falta, o que dificulta a localização | 60 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro 13,8 kV 8 9 10 11 12 13 14 carga carga 7 carga carga 6 carga carga 5 carga 4 carga 3 carga 2 carga 1 carga 0 Figura 6. Sistema de distribuição sem ramificação. Tabela 2. Dados do alimentador simulado. Barra Potência ativa (kW) Potência reativa (kVA) i j Comprimento (km) 0 1 4,18 2.646 882 1 2 1,26 522 174 2 3 1,26 4.896 1.632 3 4 2,19 936 312 4 6 2,96 1.806 602 6 8 3,16 1.503 501 8 9 1,55 189 63 9 11 6,2 657 219 11 12 2,17 336 112 12 13 0,89 125 42 13 14 1,8 225 85 • tipo de falta: as faltas simuladas são do tipo fase-fase (AB; AC; BC), fase-fase-terra (ABT; ACT; BCT), monofásicas (AT; BT; CT) e trifásica (ABC); • ângulo de falta: é o ângulo de ocorrência da falta tomando como referência a fase A, que foi simulado para 0°, 15°, 30°, 45°, 60°, 75° e 90°; • resistência de falta: variou entre os valores 1, 10, 20, 50 e 100 Ω; • distância da falta: para o primeiro sistema, o local em que ocorreu a falta foi simulado de 0,4 até 27,6 km, variando com incrementos de 0,2 km, e totalizando 137 locais faltosos. Para o segundo sistema, o local onde ocorreu a falta foi simulado de 0,2 até 27,8 km, variando com incrementos de 0,2 km, e totalizando 139 locais faltosos. Essas simulações foram voltadas para o treinamento e teste da rede. exata da mesma. Tais condições serão comentadas nos resultados de localização. Para este sistema serão apresentados apenas os erros médios absolutos e percentuais de todas as simulações, ficando a análise mais aprofundada das condições de falta no primeiro sistema. Fizeram-se todas as combinações possíveis entre esses parâmetros, o que totalizou em 47.950 simulações para o primeiro sistema e 38.920 para o segundo, sendo 30% dos dados voltados para a validação, 40% voltados para testes e 30% para treinamento da RNA. Para cada simulação foram salvos os dados de correntes de linha (Iabc) e tensões de fase (Vabc). Para a obtenção dos dados, utilizou-se uma frequência de amostragem de 1,5 kHz. Cada simulação teve duração de 0,1 s, isto é, das formas de ondas foram salvos seis ciclos de 60 Hz. 3.3. ESTUDOS DE CASO 3.4. RESULTADOS DA CLASSIFICAÇÃO 3.3.1. Simulação As simulações foram feitas variando, para cada um dos sistemas, os quatro parâmetros para o estudo: Na classificação, utilizou-se uma rede de duas camadas ocultas e uma de saída. Por meio do teste de várias arquiteturas, a melhor rede obtida foi a que possuía 13 neurônios em cada camada oculta. | 61 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro Barra 5 Linha 5 Barra 1 Linha 1 Barra 8 Barra 6 Barra 2 Linha 2 Linha 3 Cogerador Linha 6 Linha 4 Barra 4 Linha 7 Barra 3 Barra 7 Figura 7. Sistema de distribuição ramificado (CPFL). 1,4 1,2 1 Erro (%) Para o Sistema 1, na apresentação dos resultados, destacam-se três parâmetros que podem afetar significativamente o modelo proposto na classificação das faltas, sendo eles: tipo, resistência e ângulo de falta. As Figuras 8 a 10 apresentam os erros percentuais em função desses parâmetros testados. Esses erros foram calculados a partir de 19.180 dados de teste (40% dos dados simulados). Das Figuras 8 a 10 observa-se que o algoritmo de classificação obteve um resultado favorável quando relacionado à exatidão e à independência dos parâmetros testados (resistência, tipos e ângulo de falta). O erro máximo encontrado foi de apenas 1,6%, no caso da resistência de falta. O erro percentual médio foi de 0,65%. Para esse mesmo sistema, Barros et al. (2008) apresentam os resultados da classificação de faltas utilizando o Sistema Fuzzy. A modelagem aqui proposta apresentou erro máximo de classificação de 1,6% para o carregamento máximo do sistema, enquanto na referência citada encontram-se erros de até 16,7%, para o mesmo caso analisado. Ressalta-se que a taxa de amostragem utilizada neste artigo é de 1,5 kHz, enquanto que naquele chegou a 7,68 kHz. 0,8 0,6 0,4 0,2 0 AT BT CT AB ABT CA CAT BC BCT ABC Tipos de Falta Figura 8. Sistema 1 – erros de classificação em função do tipo de falta. Os resultados dos testes para o Sistema 2 são apresentados na Tabela 3. A Tabela 3 apresenta os erros percentuais médios para os casos apresentados. O maior erro foi para o caso da falta | 62 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro Tabela 3. Erros de classificação para o Sistema 2. Maior erro 1,8 1,6 17,3% Erro (%) 1,4 Falta bifásica-terra Erro médio (todos os casos) 10,4% 1,2 1 0,8 3.5. RESULTADOS DA LOCALIZAÇÃO 0,6 Para a localização utilizou-se a mesma rede anterior, diferenciando-se apenas sua arquitetura, sendo no caso em questão, 32 neurônios na primeira camada e de 17 neurônios na segunda. A camada de saída é a resposta dos valores de distância da falta, variando de 0,4 a 27,6 km. Os resultados da localização de falta foram obtidos a partir dos mesmos 19.180 dados de teste da seção anterior. No cálculo dos erros destacam-se dois parâmetros que podem afetar significativamente o modelo proposto na localização das faltas, sendo eles: resistência de falta e ângulo de incidência. As Figuras 11 e 12 apresentam uma média dos resultados obtidos em função da resistência de falta e do ângulo de incidência (cada ponto é uma média de resultados do algoritmo para cada situação). Os resultados apresentados na Figura 11 mostram a eficiência do algoritmo, mesmo para faltas de alta impedância. O erro médio máximo obtido foi de 2,77 km. Pode-se observar na Figura 12 que, novamente, o modelo proposto obteve bons resultados, independentemente dos ângulos de incidência e com um erro máximo de 3,2 km. Um resumo geral dos resultados é apresentado na Tabela 4. A partir da Tabela 4, pode-se notar o bom comportamento do modelo apresentado nas diversas situações testadas, destacando-se o resultado de erro médio absoluto. Mesmo com esse bom comportamento, observa-se um erro máximo de 25,2 km. A fim de justificá-lo, fez-se uma análise mais aprimorada calculando-se os erros para os diversos intervalos, conforme descrito na Tabela 5. Apesar de o erro máximo absoluto ter um valor considerável (Tabela 4), pode-se observar da Tabela 5 que os valores com erros maiores que 10 km ocorreram em 0,08% dos casos e os menores de 1 km se destacam por ocorrem com maior frequência, em 87,13% dos casos. Quando comparado com os estudos feitos por Moreto (2005) para o mesmo sistema, pode-se observar o bom comportamento da metodologia proposta. Em Moreto (2005), 0,4 0,2 0 1 10 20 50 100 Resistência (Ohms) Figura 9. Sistema 1 – erros de classificação em função da resistência. 1,8 1,6 Erro (%) 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 15 30 45 60 75 90 Ângulo (graus) Figura 10. Sistema 1 – erros de classificação em função do ângulo. bifásica-terra (17,3%) e o erro médio total foi de 10,4%. Ambos os casos são maiores que aqueles observados no sistema anterior. Explica-se tal fato pela maior complexidade do sistema, destacando-se as condições de simetria da falta. Essas condições serão comentadas em maiores detalhes nos resultados de localização da falta referentes ao segundo sistema. | 63 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro Tabela 4. Erros absolutos para todos os casos. 3 Erro absoluto (km) Resistência de falta 2,5 1 Ohm 10 Ohms 20 Ohms 50 Ohms 100 Ohms 2 1 0,5 0 5 10 15 20 25 30 Distância (km) Figura 11. Sistema 1 – resultados em função da resistência de falta. Erro absoluto (km) 3,5 3 Ângulo 0 15 30 45 60 75 90 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0 5 10 15 20 Erro absoluto mínimo Erro absoluto médio Desvio padrão 25,2 km 0,0 km 0,56 km 0,83 km Tabela 5. Erros absolutos para todos os casos separados em intervalos. 1,5 0 Erro absoluto máximo 25 30 Distância (km) Figura 12. Sistema 1 – resultados em função do ângulo de incidência. os erros médios para todos os tipos e as condições de faltas com o sistema em seu carregamento máximo ficaram em torno de 0,16 a 2,35%. A metodologia proposta apresentou erro médio de 2,07% para as mesmas condições faltosas. Deve-se destacar que, em Moreto (2005) a frequência de amostragem foi de 11,5 kHz, enquanto a utilizada neste artigo foi de 1,5 kHz. Erros entre Erro (%) 0 e 1 km 87,13 1 e 5 km 12,39 5 e 10 km 0,38 10 e 25,2 km 0,08 Os resultados dos testes para o Sistema 2 estão apresentados na Tabela 6. Os erros médios e o desvio padrão são relacionados à média global dos resultados, incluindo a variação dos tipos de falta, o ângulo de falta, o local da falta e a variação da resistência de falta. Em um sistema ramificado, caso do Sistema 2, deve-se destacar a simetria das condições de falta, a qual certamente dificulta sua localização visto que alguns locais de falta, a partir do ponto de coleta de dados, podem ser coincidentes. Desta forma, esperase um erro médio maior haja vista da complexidade do sistema. Em resposta a esta condição, o sistema de distribuição ramificado obteve 10,5% de erro médio, o maior dentre os sistemas, o que é esperado devido às suas ramificações e simetria. Deve-se destacar que tal resultado ainda é bem favorável haja vista que o algoritmo tem apenas um ponto de amostragem dos dados. Em situações práticas, devido à complexidade do problema, deve-se considerar o localizador de falta como um indicativo dos possíveis locais de ocorrência de uma determinada falta. Porém, apesar de ser um indicativo, minimiza consideravelmente o espaço de procura do local exato da falta. Para os sistemas testados, deve-se notar que a metodologia proposta por ser baseada em RNAs depende do treinamento da rede para o aprendizado e escolha de melhor arquitetura. Portanto, quando da implementação em sistemas reais existe uma dependência dos dados das linhas e, caso o sistema seja alterado de configuração, deve ser feito um novo treinamento da RNA. | 64 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 56-66 Jésus Anício de Oliveira Neto, Marco Aurélio Almeida Castro Tabela 6. Erros de localização para o Sistema 2. Erro médio absoluto Desvio padrão Erro percentual médio 2,93 km 2,31 km 10,5% Essa metodologia permite seu uso em sistemas de grande porte, como, por exemplo, sistemas de transmissão, visto que neles as impedâncias de faltas são bem menores devido ao alto nível de tensão das linhas. Sabia-se que nestes sistemas seu comportamento seria ainda melhor, pois os menores erros médios foram obtidos com baixas resistências de falta. 4. CONCLUSÕES Este trabalho apresentou uma aplicação das RNAs em conjunto com a modelagem AR na classificação e localização de faltas em sistemas de distribuição. Essa metodologia foi baseada nos transitórios de alta frequência gerados por tais faltas, destacando-se: faltas monofásicas, bifásicas (com e sem terra) e trifásicas. A abordagem do presente trabalho incluiu o estudo de casos de alta e baixa impedâncias, além de diferentes pontos de incidência das faltas. Para a extração dos parâmetros de entrada da rede neural, realizou-se um pré-processamento dos sinais de tensão e corrente, por meio dos quais foram calculados os coeficientes do modelo AR do sinal pelo método de Yule-Walker. Os resultados obtidos mostraram que o desempenho geral do algoritmo proposto para classificação e localização de faltas foi favorável quando relacionado à precisão. Para o primeiro sistema testado, cujas ramificações foram agregadas em forma de carga equivalente, obteve-se um erro de classificação de 0,65% e um erro absoluto médio de localização de 0,56 km. O método proposto também se mostrou praticamente independente da impedância de falta, do tipo da falta e do ângulo de incidência da falta. Os resultados foram comparados com aqueles encontrados na literatura, mostrando a eficácia do algoritmo. Em um segundo sistema, agora ramificado, obteve-se erro médio percentual em torno de 10,4% para classificação e 10,5% para localização. O maior erro ocorreu em função da simetria das condições de falta. Com esta simetria, a distância estimada de alguns locais de falta, a partir do ponto de coleta de dados, pode ser coincidente. Apesar do maior erro, o resultado foi considerado satisfatório visto da complexidade do sistema analisado. Como principal contribuição, o modelo proposto obteve um bom desempenho quando comparado com os resultados encontrados na literatura, utilizando uma baixa frequência de amostragem (1,5 kHz), mesmo sendo uma metodologia baseada em altas frequências. Esta frequência de amostragem permite a utilização do algoritmo na maioria dos equipamentos microprocessados. Destaca-se, ainda, que toda proposta foi realizada com o monitoramento de apenas um terminal do sistema. 5. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (FAPEMIG). REFERÊNCIAS APOSTOLOV, A.P.; BRONFELD, J.; SAYLOR, C.H.M.; SNOW, P.B. An BALSER, S.J.; CLEMENTS, K.A.; LAWRENCE, D.J. A Microprocessor- artificial neural network approach to the detection of high impedance Based Technique for Detection of High Impedance Faults. 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As amostras foram caracterizadas por Difração de Raios X (DRX), método do pó, e Espectroscopia no Infravermelho (IV). Em um estudo preliminar de Voltametria Cíclica, foi identificada a característica eletroativa para um dos materiais obtidos, indicando a eletroatividade deste material. Palavras-chave: Bateria de íon-lítio. Fase LTO. Ânodo. Abstract: The secondary lithium ion batteries stand out among the alternative technologies for the production and storage of electricity. In this work, materials containing the Li4Ti5O12 spinel type phase (LTO) were synthesized by sol-gel method in the presence of starch. In the proposed method, different molar ratios of lithium, titanium and soluble starch were used and the effect of pH and heat treatment in the preparation of the LTO materials were also evaluated. The samples were characterized by X-ray diffraction (XRD), the powder method, and infrared spectroscopy (IR). In a preliminary study of Cyclic Voltammetry was identified the electroactive characteristic for one of the materials obtained, indicating the electroactivity of this material. Keywords: Lithium-ion battery. LTO phase. Anode. 1. INTRODUÇÃO ambiente e do esgotamento dos recursos não renováveis usados, atualmente, como fonte de energia ( JUNG et al., 2011a). Por consequência, têm sido desenvolvidas inúmeras pesquisas com dispositivos eletroquímicos, destacandose as baterias. Baterias são fontes portáteis de eletricidade formadas por um conjunto de pilhas, agrupadas em série ou em paralelo, que produzem energia elétrica a partir de Nas últimas décadas, o desenvolvimento de novas tecnologias para produção e armazenamento de energia elétrica, principalmente as que utilizam fontes renováveis, faz-se cada vez mais emergencial em todo o mundo. Essa motivação é decorrente da preocupação com o meio 1. Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, Colégio Pedro II – Duque de Caxias, RJ – Brasil. Mestre em Química, Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Professor Adjunto IV, Instituto de Química – Niterói, RJ – Brasil. Doutor em Química, Instituto de Química da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 3. Professor Associado III, Instituto de Quimica da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Doutor em Química, Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas – Campinas, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 4. Professor Associado II, Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Doutor em Química, Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas – Campinas, SP – Brasil. E-mail: [email protected] | 67 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido uma energia química armazenada (BOCCHI et al., 2000; VARELA et al., 2002; PESQUERO et al., 2008). De um modo geral, as baterias são classificadas como baterias primárias e secundárias. As baterias primárias são utilizadas em aparelhos portáteis e não são recarregáveis, ou seja, são descartáveis. As baterias secundárias são recarregáveis e as reações eletroquímicas podem ser revertidas por meio da aplicação de uma corrente externa (PESQUERO et al., 2008). Dos diferentes tipos de baterias secundárias desenvolvidas ou em desenvolvimento, a bateria secundária de íon-lítio tem se mostrado uma das mais promissoras. Ela é mais leve, tem menores dimensões, não tem efeito memória, possui uma baixa taxa de auto-descarga e uma alta voltagem, entre 3 e 4 V, se comparada com outras baterias secundárias, e pode ser operada numa larga faixa de temperatura, inclusive à temperatura ambiente (VARELA et al., 2002; PESQUERO et al., 2008). Atualmente, a bateria secundária de íon-lítio tem sido considerada uma das mais promissoras fontes de energia com inúmeras aplicações (como em telefones celulares, relógios, veículos elétricos, alarmes de segurança, entre outros). Desse modo, observa-se um maior interesse comercial nesse dispositivo (LI et al., 2012). Verifica-se um maior investimento e incentivo para o armazenamento eficiente de energia para o futuro mercado de veículos elétricos e híbridos, sendo este um dos principais motivos para o desenvolvimento e o melhoramento de baterias secundárias que ofereçam uma alta densidade de energia e que utilizem eletrodos com alta capacidade de carga (VARELA et al., 2002; HSIAO et al., 2008; KUNIAK et al., 2011; JUNG et al. 2011a; 2011b). De um modo simplificado, a bateria é formada por um eletrólito e dois eletrodos - o ânodo e o cátodo. Na bateria secundária de íon-lítio o eletrólito é uma solução eletrolítica de um sal de lítio, dissolvido em um solvente não aquoso. Os eletrodos são formados, geralmente, por compostos de estrutura aberta, denominados compostos de intercalação, que são sólidos capazes de incorporar reversivelmente átomos ou moléculas dentro da sua estrutura (cristalina ou não) sem sofrer grandes variações estruturais (VARELA et al., 2002). O uso de eletrodos com essa característica é vantajosa devido ao processo de intercalação iônica, que é uma consequência da reação redox. Nesse processo a velocidade com a qual os íons lítio intercalam ou desintercalam do cátodo e do ânodo, respectivamente, influenciam significativamente no desempenho da bateria (VARELA et al., 2002; WOO et al., 2007; JUNG et al., 2011b). Os principais cátodos utilizados são os compostos litiados de óxidos de metais de transição, como o LiMn2O4, LiCoO2 , LiNiO2 (VARELA et al., 2002; Oh et al., 2002; PESQUERO et al., 2008) e LiV2O5, o espinélio de LiMnO2 (VARELA et al., 2002), sendo o óxido de cobalto litiado (LiCoO 2) o mais frequentemente utilizado (VARELA et al., 2002). Atualmente, o grafite é o material anódico mais utilizado, devido a propriedades como estabilidade, custo, disponibilidade, desempenho, potencial versus lítio, baixa capacidade de irreversibilidade, boa ciclabilidade e capacidade específica de 372 mAhg-1 (PESQUERO et al., 2008; BELHAROUAK et al., 2011). Além disso, ele é um eletrodo de inserção com estrutura lamelar que intercala reversivelmente os íons lítio sem alterar significativamente a sua estrutura (Pesquero et al., 2008). Entretanto, são observadas algumas limitações do ânodo de grafite, tais como, perda estrutural, deformação, desconexão elétrica (Oh et al., 2006), diminuindo sua reversibilidade e desempenho em baixas temperaturas e em altas taxas de carga e descarga (KUBIAK et al., 2011). Também são observados problemas com a segurança quando o lítio metálico é acumulado no ânodo de grafite (OH et al., 2006). Historicamente, durante os anos 70 e 80, o lítio metálico foi o material mais utilizado em ânodos de bateria de lítio, por possuir uma capacidade específica muito alta 3860 mAhg-1 (PESQUERO et al., 2008). Entretanto, foram observados problemas relacionados com a alta reatividade e instabilidade do lítio e limitações oferecidas pela química redox do lítio. Com o decorrer dos ciclos de carga e descarga, observa-se uma diminuição da capacidade de armazenamento de carga, ficando esta abaixo do nível aceitável. Este fato é observado quando o lítio é depositado eletroquimicamente no ânodo de lítio, sendo esse depósito mais poroso que o metal original. Por consequência, o potencial do lítio e o contato elétrico diminuem, provocando a corrosão e a formação de dendritos (YI et al., 2010), que podem causar um curto-circuito, seguido por um superaquecimento rápido da bateria, inflamado-a, e reduzindo sua segurança e vida útil (VARELA et al., 2002; GANESAN et al., 2007; Pesquero et al., 2008; YI et al., 2010; Jung et al., 2011b). Com essas limitações, observou-se um desinteresse pela configuração que utiliza o ânodo de lítio metálico (VARELA et al., 2002). Por esse motivo, inúmeros trabalhos têm sido desenvolvidos com novos materiais anódicos de baixo custo e com alto desempenho, para | 68 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido que minimizem ou eliminem as propriedades indesejáveis, e intercalem íons lítio com cinética relativamente rápida (KUBIAK et al., 2011). Alguns exemplos de materiais anódicos são apresentados na Tabela 1. Dos materiais anódicos apresentados na Tabela 1, destaca-se, nesse trabalho, o Titanato de Lítio (LTO), especificamente a fase Li4Ti5O12 com estrutura tipo espinélio cúbico (Grupo espacial Fd3m). Observa-se que os valores de Capacidade Específica Teórica/Experimental (mAhg-1) da LTO são valores relativamente próximos, comparado com os demais ânodos apresentados. Esses valores estão relacionados com a quantidade de íon lítio que pode ser desintercalada, no processo de carga, ou intercalada, no processo de descarga. A diferença entre a Capacidade Específica Teórica/ Experimental dos demais ânodos pode ser atribuída a fenômenos estruturais e eletrônicos, sendo também fortemente dependente do processo de síntese. Na literatura, são citados diferentes métodos de síntese para a obtenção da fase LTO, como o método do precursor (SORENSEN et al., 2006), o método template combinado com processo sol-gel (WOO et al., 2007; HSIAO et al., 2008), a reação no estado sólido (GANESAN et al., 2007; BELHAROUAK et al., 2011), o método de irradiação por microondas (YI et al., 2010), a co-precipitação de carbonatos ( JUNG et al., 2011b), síntese hidrotérmica ( JUNG et al., 2011b), o processo de secagem por pulverização associado com calcinação em estado sólido (HSIAO et al., 2008; YI et al., 2010; JUNG et al., 2011a), o método hidrotérmico assistido por microondas e seguido por tratamento térmico (LIU et al., 2012), entre outros. A fase LTO tem se mostrado um material alternativo promissor (LIU et al., 2012), mesmo apresentando uma baixa capacidade teórica de 175 mAhg-1 (SORENSEN et al., 2006), quando comparado com capacidade de carga de 372 mAhg-1 do ânodo de grafite (BELHAROUAK et al., 2011). Uma das propriedades mais interessantes da fase LTO é a expansão muito pequena de sua célula unitária quando se insere reversívelmente os íons lítio (WOO et al., 2007; HSIAO et al., 2008; LI et al., 2012). Portanto, a fase LTO torna-se um ânodo robusto (SORENSEN et al., 2006) e, consequentemente, sua segurança e o ciclo de vida são aumentadas, quando comparada com o ânodo de grafite (SORENSEN et al., 2006; WOO et al., 2007; GANESAN et al., 2007; YI et al., 2010; BELHAROUAK et al., 2011; JUNG et al., 2011a; 2011b). Além disso, em 1,55 V vs Li/Li+ , os íons lítio intercalam facilmente, com excelente mobilidade, se distribuindo uniformemente na estrutura espinélio, inserindo três íons de lítio por unidade fórmula, sem que ocorra problemas com a interface eletrodo/eletrólito (SORENSEN et al., 2006; LI et al., 2012). No entanto, apesar das vantagens mencionadas, a fase LTO não cumpre todos os requisitos para ser utilizada com sucesso em baterias de alta taxa de carga/descarga, principalmente devido à sua baixa condutividade eletrônica (HSIAO et al., 2008; Jung et al., 2011a; LI et al., 2012). Estudos recentes têm demonstrado que a utilização de materiais porosos ou nanomateriais podem melhorar significativamente a taxa de carga/descarga devido a maior área de contato eletrodo/eletrólito, menor comprimento de transporte de Li+ e aumento na condutividade eletrônica. Tabela 1. Alguns exemplos de materiais anódicos estudados atualmente. Material anódico Capacidade Específica Teórica/Experimental (mAhg -1) Autores Li0 LiC6 (grafite) TiO2 TiO2 SnO2 Li4Ti5O12 Li4Ti5O12 Li4Ti5O12 Li4Ti5O12 Li4Ti5O12 Li4Ti5O12 Li4Ti5O12 Li4Ti5O12 3862/3600 372∕194 335∕168 335∕180 601/410 175/168 175/152 175/170 175/160 175/144 175/165 175/170 175/169 Pesquero et al., 2008 Pesquero et al., 2008 Kubiak et al., 2011 Oh et al., 2006 Pesquero et al., 2008 Hao et al., 2005 Sorensen et al., 2006 Ganesan et al., 2007 Woo et al., 2007 Hsiao et al., 2008 Yi et al., 2010 Jung et al., 2011a Jung et al., 2011b | 69 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido No trabalho desenvolvido por WOO et al. (2007), foram sintetizadas nanopartículas da fase LTO e, posteriormente, foram dopadas com cátions de valência elevada. Segundo Hsiao et al. (2008), uma das alternativas para aumentar a condutividade eletrônica consiste na dopagem da fase LTO com um metal nobre ou com nanopartículas de um óxido condutor, ou então, a redução do tamanho de suas partículas, o que conduz a um caminho mais curto de difusão dos íons lítio. Os autores verificaram um aumento na condutividade eletrônica da fase LTO porosa, devido ao menor tamanho de partícula e maior área de superficie específica, sendo também observado um aumento da capacidade de carga/descarga, decorrente da menor distância de transporte dos íons lítio. Mais recentemente, Li et al. (2012) doparam a fase LTO com nanopartículas de ouro obtendo esferas mesoporosas de Au/Li4Ti5O12. Segundo os autores, o glicolato de titânio foi utilizado como precursor por possibilitar uma síntese rápida da fase LTO, pela reação direta com LiOH. Os autores concluíram que o material mesoporoso, de Au/Li4Ti5O12, apresentou uma maior área superficial específica e melhor condutividade eletrônica, se comparado com a fase LTO pura, devido ao revestimento com nanopartículas de ouro. No trabalho de Jung et al. (2011b), a fase LTO foi sintetizada na forma de nanopartículas isoladas, tendo como precursores o TiO2 e o Li2CO3, com o objetivo de reduzir o caminho de difusão do íon Li+ e melhorar sua capacidade de taxa de carga/descarga. Posteriormente, a fase LTO foi calcinada a 900ºC durante 20 horas em ar, e em seguida, foi revestida com Li2CO3, formando uma camada de carbono uniforme com elevada densidade aparente. No aquecimento entre 600 e 650ºC, esta camada de carbono inibiu o crescimento das partículas primárias, durante a calcinação, mantendo a morfologia esférica semelhante a do precursor de TiO2, em tamanho e forma. Também foi verificado que essa camada é altamente condutora e melhora significativamente a condutividade eletrônica da fase LTO. Além disso, os nanoporos facilitaram a infiltração do eletrólito provocando uma difusão mais rápida dos íons lítio. Com base no exposto, o objetivo deste trabalho foi o de estudar a síntese, pelo método sol gel em presença de amido, de materiais contendo a fase Li4Ti5O12 (LTO), do tipo espinélio, a qual apresenta potencial para ser utilizada em ânodos de baterias secundárias de íon-lítio. Foram utilizadas diferentes proporções molares de lítio, titânio e amido solúvel. Também, foi avaliada a influência do tratamento térmico e do pH, na formação da fase LTO. O método de síntese foi desenvolvido com o objetivo de reduzir o tempo e o custo da síntese, comparado com trabalhos existentes na literatura. Os materiais foram caracterizados por Difração de Raios X (DRX), método do pó, Espectroscopia no Infravermelho (IV). Um estudo preliminar de Voltametria Cíclica também foi realizado, em um dos materiais sintetizados, para avaliar a possibilidade de utilizar estes materiais em ânodos de baterias secundárias de íon-lítio. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. SÍNTESE DOS MATERIAIS LTO_x Os materiais LTO_x, onde x indica a ordem cronológica da síntese, foram sintetizados pelo método sol-gel em presença de amido. As especificações dos reagentes utilizados se encontram na Tabela 2. Foi preparada a solução do precursor de titânio, adicionando 0,10 mol de TiCl4 (18,97 g) em 100 mL de água destilada a 0ºC, de acordo com o procedimento descrito por Park et al. (1999). Observou-se uma reação bastante exotérmica, devido a hidrólise do TiCl 4, sendo necessário realizá-la em banho de gelo. Nessa etapa, verifica-se a formação de um precipitado de TiOCl2, de coloração amarela intensa, que foi dissolvido com a adição gradual de 100 mL de água destilada a 0ºC, sob agitação, formando uma solução transparente homogênea de coloração amarela clara de TiO(OH)2. A seguir, foram adicionadas, diretamente sobre a solução, 25,20 g de ácido oxálico (razão molar Ti+4/Ácido Oxálico=1:2) e, posteriormente, 90 mL de solução 4,44 mol/L de hidróxido de amônio (14,02 g de NH4OH), obtendo-se uma razão molar Ti+4/NH4OH=1:4, de acordo com o procedimento desenvolvido por Van de Tabela 2. Características dos reagentes utilizados. Reagentes Fórmula Molecular Fornecedor Tetracloreto de lítio TiCl4 Ácido oxálico C2H2O4. 2 H2O VETEC Carbonato de lítio Li2CO3 ALDRICH Hidróxido de amônio NH4OH MERCK P.A. Amido solúvel (C6H10O5)n VETEC P.A. | 70 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 VETEC Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido Velde et al. (1973). Foi obtida, assim, uma solução do precursor de titânio Ti+4 (0,60 mol/L), que apresentou um aspecto límpido e incolor, com pH<1. Para a síntese dos materiais LTO_x foram separadas alíquotas de 5 mL da solução do precursor de Ti+4 (3,0 mmol) e adicionado, sob agitação e à temperatura ambiente, hidróxido de amônio concentrado, com volumes variando de 1 a 5 mL, obtendo-se soluções com o pH entre 5,0 e 9,2. Nessas soluções, foram adicionadas diferentes quantidades de Li+ (com massas de Li2CO3 variando entre 0,09 e 0,17 g) e de amido solúvel (com massas variando entre 0,40 e 1,60 g), com base nas razões molares de Ti/Li e de cátions/amido indicadas na Tabela 3. Cabe ressaltar que, inicialmente, foi utilizada a razão molar Ti/Li=1,0/0,8; quantidade definida como estequiométrica de lítio de acordo com a fórmula Li4Ti5O12. Posteriormente, o lítio foi utilizado em excesso com o objetivo de compensar a perda de lítio por difusão, em altas temperaturas, de acordo com a literatura (LAUMANN et al., 2011). Também deve ser esclarecido que a quantidade de amido identificada como amido estequiométrico foi escolhida de forma empírica, considerando a soma das quantidades molares de Ti+4 e Li+, uma vez que, não há dados na literatura sobre a adição deste reagente. Desta forma, a partir do referencial de amido estequiométrico foram utilizadas outras quantidades de amidos, de acordo com a Tabela 3. Para cada uma das condições de síntese, indicadas na Tabela 3, as soluções foram aquecidas a 90ºC/2 h, sob agitação, para a formação dos géis. A seguir, os géis obtidos foram aquecidos utilizando-se um dos três tratamentos térmicos descritos a seguir, identificados pelas siglas T1, T2 e T3 (Figura 1), todos eles em presença do ar. No tratamento térmico identificado por T1, os materiais foram secos na estufa a 50ºC/12 h e pré-calcinados a Tabela 3. Razões molares utilizadas na síntese dos materiais LTO_x. Razão Razão Molar Siglas dos Molar Cátions**/ Materiais Ti/Li amido LTO_1 LTO_2 LTO_3 LTO_4 1,0:0,8 1,0:1,0 1,0:1,5 1,0:1,0 1:1 1:2 1:1 1:0,6 pH Massa de amido (g) 5,0 5,0 5,0 5,2 a 9,2 0,68 1,51 0,95 0,45 *x indica a ordem cronológica da síntese; **cátions, nesse caso, é a soma das quantidades molares de Ti+4 e Li+. 300ºC/2 h em forno elétrico (NARDELLE), recebendo o código LTO_x/300ºC. Em seguida, os materiais foram calcinados em forno tipo mufla (THERMOLYNE, 48000) nas temperaturas de 500, 700 e 800ºC/4 h, recebendo o código LTO_x/300/XºC, onde XºC representa a temperatura de calcinação em forno tipo mufla. No caso do tratamento térmico denominado T2, foram utilizados apenas os aquecimentos no forno elétrico, 300ºC/2 h, e tipo mufla, entre 500 e 800ºC/4 h. Por fim, no tratamento térmico T3 foi utilizado somente o forno tipo mufla, a 500ºC/4 h, sendo que os materiais receberam o código LTO_x/500ºC. Os diferentes tratamentos térmicos utilizados nos materiais LTO_x são apresentados na Tabela 4. Cabe ressaltar que as temperaturas utilizadas nos tratamentos T1, T2 e T3 (Tabela 4) foram baseadas em trabalhos da literatura, para a síntese da fase LTO. Por exemplo, Liu et al. (2012) constataram que após calcinação a 550ºC/6 h, inicia-se a formação de picos de baixa intensidade da fase LTO. T1 T3 T2 Secagem na estufa a 50°C/12 h Pré-calcinação a 300°C/2h Pré-calcinação a 300°C/2h Calcinação em mufla Calcinação em mufla Calcinação em mufla (500, 700, 800°C/4 h) (500, 700, 800°C/4 h) (500°C/4 h) Caracterização DRX Voltametria Cíclica IV T1: Tratamento térmico 1, T2: Tratamento térmico 2, T3: Tratamento térmico 3, h: hora, DRX : Difração de Raios X, IV: Espectroscopia no Infravermelho. Figura 1. Diagrama de bloco dos tratamentos térmicos e caracterizações dos materiais LTO_x. Tabela 4. Tratamentos Térmicos utilizados nas sínteses dos materiais LTO_x. Siglas dos Materiais LTO_x* Tratamentos Térmicos realizados - Tx** LTO_1 LTO_2 LTO_3 LTO_4 T1, T2 e T3 T1 T1 T3 *x indica a ordem cronológica da síntese; **x indica a ordem cronológica dos aquecimentos. | 71 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido Hsiao et al. (2008) obtiveram a fase LTO após calcinação a 850ºC/8 h. Ganesan et al. (2007) utilizaram etapas distintas de tratamento térmico, a primeira a 90ºC/8 h, e a segunda a 900ºC/24 h. Belharouak et al. (2011) sintetizaram a fase LTO a 850ºC, com aquecimento por um período de 24 h. Jung et al. (2011b) obtiveram a fase LTO por calcinação a 900ºC/20 h. Desta forma, no método de síntese proposto, foram utilizadas temperaturas ou tempo de aquecimento iguais ou menores que as relatadas na literatura, priorizando a redução do tempo total de síntese. Uma vez que, a otimização desse parâmetro, ao se utilizar o método sol-gel, se mostra uma característica importante. 2.2. CARACTERIZAÇÕES DOS MATERIAIS DE LTO_x Na análise por IV foi utilizado um espectrofotômetro de infravermelho (Nicolet Magna – IR 760) com resolução 4 cm-1 e detector DTGS-KBr. As amostras foram preparadas em pastilhas de KBr. Os espectros foram obtidos na região de 4.000 a 400 cm-1, com 32 acumulações. Na Difração de Raios X (DRX), método do pó, foi utilizado um difratômetro Rigaku, modelo Minifex, com radiação CuKα (λ=1,5418 Å), filtrada por Ni, com tensão de 30 kV e corrente de 15 mA. Foi utilizado 2θ de 15º≤2θ≤70º, método contínuo, com aquisição a cada 0,02º. Os difratogramas das fases identificadas foram extraídos da Base de Dados Crystmet (2012), disponível no portal de pesquisa do periódico CAPES. Os dados cristalográficos dos difratogramas utilizados como padrões e suas principais características são apresentados na Tabela 5. O tamanho médio de cristalito (D) foi calculado pela Fórmula de Scherrer, a partir da largura à meia altura de um pico de difração (OH et al., 2006): D=kλ /β corrigido.cos θ (1) onde k é a constante que depende da forma das partículas do sólido (0,9 para cristalitos esféricos), λ é comprimento de onda da fonte do equipamento (λ = 1,5418 Å), θ é a posição do pico de difração analisado, em radianos, e o β corrigido, em radianos, é a largura a meia altura do pico de difração, calculado utilizando a equação: β corrigido = [ (β experimental 2 – β instrumental 2 )1/2] (2) onde o βexperimental, é a largura a meia altura do pico de difração experimental, enquanto que, o βinstrumental é um valor constante, determinado para o equipamento utilizado. As análises de Voltametria Cíclica foram realizadas, em temperatura ambiente, sem utilização de atmosfera controlada, num potenciostato Autolab, modelo µAutolab III. Utilizou-se a velocidade de varredura de 5 mVs-1, uma solução de LiClO4 0,5 M em acetonitrila como eletrólito, contra -eletrodo de platina, eletrodo de pseudo-referência de Ag, e o eletrodo de trabalho de aço inoxidável, sobre o qual foi depositado o material LTO_2/300/800ºC. Na confecção artesanal dos ânodos, o contra-eletrodo de platina, o eletrodo de referência de prata e o eletrodo de aço inoxidável foram lixados e polidos antes de cada medida, utilizando uma lixa 1200, lavados com água destilada e logo alumina com 1 µm e, posteriormente, foram lavados com água destilada. Em seguida, o eletrodo de trabalho foi mergulhado em água destilada e levado ao ultrassom (UNIQUE, modelo USC-1800a) por 30 minutos. A secagem do eletrodo de trabalho de aço inoxidável foi realizada na estufa na temperatura de 60ºC por 1 h. O eletrodo de aço inoxidável, utilizado como coletor de corrente, foi fabricado artesanalmente no Laboratório de Eletroquímica e Materiais Nanoestruturados (LEMN) da UFF, utilizando um pequeno cilindro de aço inoxidável (416 L), diâmetro de 0,3 cm e área de 0,07 cm2, que foi recoberto por uma resina que, posteriormente, foi curada em uma seringa plástica de 5 mL. Este eletrodo não apresentou evidencias de corrosão no meio utilizado. Tabela 5. Dados cristalográficos dos difratogramas utilizados como padrões. Compostos Identificação Código Grupo Espacial Estrutura Li4Ti5O12 ID 488292 fase Li4Ti5O12 Fd-3m Cúbica (MgAl2O4) Li2TiO3 ID 550006 fase Li2TiO3 C2/c Monoclínica (Li2TiO3) TiO2 (rútilo) ID 134635 fase TiO2 rútilo P42/mnm TiO2 TiO2 (anatase) ID 133735 fase TiO2 anatase Pbcn PbO2 (alpha) | 72 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido (4 440)0) (4 (5 (5331)1) (5 11) (5 1 1) (4 2 (4 2 2) 2) (4 000)0) (4 0 CC LTO_1/300/700 LTO_1/300/700 (5(5331) 1) (4(4440) 0) (4(422 2) 2) (5(51 11) 1) 0 (3(3331) 1) (4(400 0) 0) (2 222)2) (2 (1 1 1) (1 1 1) 0 0 LTO_1/300/800 C LTO_1/300/800 C (3 (3 331)1) (3 (3111)1) (1 1 (1 1 1) 1) Li2CO3 TiO2 anatase TiO2 rutilo TiO LiTiO 2 3 anatase 2 (hkl) Ti5 O12 4 tilo TiOLi rú 2 Li2TiO3 (h k l) Li4Ti5O12 (3(31 11)1) 2) (2(2222) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Este resultado pode estar associado à adição de amido em excesso, que aparentemente aumenta a estabilidade da fase anatase. O início da formação da fase Li4Ti5O12 (LTO), com estrutura tipo o espinélio, foi observado na temperatura de 500ºC, para os materiais LTO_2 e LTO_3. Com base no pico em Intensidade Intensidade(u.a.) (u.a.) Foram realizados ensaios de suspensão do material LTO_2 em diferentes solventes com o auxílio do ultrassom, sendo a água destilada o solvente em que se obteve a suspensão mais homogênea e sem precipitados aparentes. A suspensão do material LTO_2 foi levada ao ultrassom para sua homogeneização por 30 minutos. Posteriormente, foram depositadas três alíquotas de 5 µL da suspensão do material LTO_2, com auxílio de uma micropipeta, consecutivamente a cada 1 hora, na temperatura de 60ºC, sobre o eletrodo de aço inox que foi seco em estufa previamente, para a evaporação do solvente e formação do filme. Os depósitos consecutivos do material LTO_2 foram necessários para obtenção de um filme homogêneo. O filme do material LTO_2 foi formado após secagem do eletrodo de trabalho na estufa por 12 horas obtendo filmes finos com depósito de 0,183 mg do material LTO_2. 0 LTO_1/300 C C LTO_1/300 0 15 15 20 20 25 25 30 30 35 35 40 40 45 45 50 50 2θ (graus) 20 (graus) 55 55 60 60 65 70 65 70 (4 (4440)0) (5331) 1) (5 (5 11) (5 1 1) (4 (4222)2) (3 (3331)1) (4 000)0) (4 (4 (4 440)0) (5 (5 331)1) (5(5 1 11)1) (4 (4 222)2) (3 331)1) (3 0 LTO_2/300/700 C LTO_2/300/7000C (5 331)1) (5 0) (4 (44 0)4 (5 (511)1 1) (4 (42 22) 2) LTO_2/300/500 C LTO_2/300/500 00C (3 (3331)1) (4 0 0)(4 0 0) (3 (3 111)1) (2 222)2) (2 0 LTO_2/300/800 C LTO_2/300/8000C (4 (40 00) 0) (1(11 1) 1 1) (3 (3111)1) (2 222)2) (2 (h k l) Li4Ti5O12 (3 111)1) (3 (2 (2 222)2) TiO2 anatase TiO rutilo 2 anatase TiO 2 TiO Li2TiO rútilo 3 2 TiO3Ti O (hkl)Li2Li 4 5 12 (1 (1111) 1) (1 111)1) (1 Figura 2. Difratogramas dos materiais LTO_1 calcinados em diferentes temperaturas e com tratamento térmico T1. Intensidade (u.a) Intensidade (u.a.) Inicialmente, foram avaliados pela técnica de DRX os materiais obtidos nas sínteses LTO_1, LTO_2 e LTO_3, aquecidos em diferentes temperaturas, utilizando o tratamento térmico T1 (Figuras 2 a 4). Os picos, da fase nonoclínica Li2TiO3 e as das fases TiO2 anatase e rútilo, consideradas como impurezas, foram identificados de acordo com os difratogramas padrões da Tabela 5, enquanto os picos referentes à fase do espinélio Li4Ti5O12 (LTO) foram indexados com seus respectivos hkl. De um modo geral, nos difratogramas experimentais (Figuras 2 a 4), foi verificado o afinamento dos picos de difração com aumento da temperatura de calcinação, indicando a influência do tratamento térmico na cristalinidade dos materiais. Especificamente para o aquecimento a 300ºC, foram observados picos largos referentes à fase TiO2 anatase, de baixa cristalinidade. O tamanho médio de cristalito (D) para esta fase, calculado pela Fórmula de Scherrer, considerando-se o pico em 2θ = 25,50º e hkl (110), variou entre 6 nm (LTO_2) e 9 nm (LTO_1). Este pico, da fase anatase, também foi identificado nos difratogramas dos materiais aquecidos a 500 e 700ºC, sendo que, na temperatura de 800ºC, a fase anatase está presente apenas para a LTO_2. Acreditamos que este fato pode estar relacionado à quantidade de amido utilizado na LTO_2, muito superior ao das demais sínteses. No aquecimento a 700ºC, em todos os difratogramas, identificam-se os picos referentes às fases anatase e rútilo. No caso da LTO_2 (Figura 3), os picos da fase anatase são mais intensos, enquanto que os picos da fase rutilo são de baixa intensidade. LTO_2/300 C LTO_2/30000C 10 15 15 20 20 25 25 30 30 35 35 40 40 45 45 50 50 55 55 60 60 65 65 70 70 10 2θ(graus) (graus) 20 Figura 3. Difratogramas dos materiais LTO_2 calcinados em diferentes temperaturas e com tratamento térmico T1. | 73 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 TiO2 anatase TiO2 rutilo TiO2 anatase Li2 TiO 3 rútilo TiO 2 (hkl) Li4LiTi TiOO 2 5 3 12 (4(4 4 0) 0) (5331)1) (5 (4 222)2) (4 (5 11) (5 1 1) (4 440)0) (5 331)1) (4 222)2) (4 (3 (3331)1) 0 LTO_3/300/700 C LTO_3/300/7000C (5 (511) 1 1) (4 (4000)0) (3 (3 331)1) LTO_3/300/800 C (3 (3111)1) (2 222)2) (2 (1 (1111)1) Intensidade Intensidade (u.a.) (u.a.) 0 LTO_3/300/800 0 C (4 0 (4 0 0)0) (h k l) Li4Ti5O12 (3(311 1) 1) (2 2) (2 2 2) 1) (1(111 1) Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido 0 (4 0) (4 4 4 0) (4222)2) (4 (3 331)1) (4 000)0) (1 111)1) (1 (2 (2222)2) LTO_3/300/5000C LTO_3/300/500 C 0 LT O_3/300 0C C LTO_3/300 15 15 20 25 25 20 30 30 35 40 45 50 50 55 55 60 35 40 45 60 20 2θ (graus) (graus) 65 70 70 65 Figura 4. Difratogramas dos materiais LTO_3 calcinados em diferentes temperaturas e com tratamento térmico T1. Tabela 6. Tamanho médio de cristalito (D) da fase Li4Ti5O12 em 2=18,34º no plano cristalográfico hkl (111). Materiais LTO_x D (nm) LTO_2/300/500ºC LTO_3/300/500ºC LTO_1/300/700ºC LTO_2/300/700ºC LTO_3/300/700ºC LTO_1/300/800ºC LTO_2/300/800ºC LTO_3/300/800ºC 24 24 43 39 41 71 35 29 2θ=18,34º e hkl (111), foi calculado o tamanho médio de cristalito (D) para a fase Li4Ti5O12, pela Fórmula de Scherrer, sendo observada uma variação entre 24 e 71 nm (Tabela 6). Nas temperaturas de 700 e 800ºC, para todos os materiais deste conjunto de sínteses (Figuras 2 a 4), foram identificados picos referentes à fase espinélio da LTO e à fase Li2TiO3 monoclínica, sendo que os picos da fase Li2TiO3 monoclínica são mais intensos nos difratogramas da LTO_2 e 3 (Figuras 3 e 4). Essa mistura de fases foi citada por Laumann et al. (2011) como consequência da utilização, na síntese, de lítio em excesso. Nos difratogramas dos diferentes materiais LTO_x aquecidos a 800ºC, foram identificados picos intensos da fase Li4Ti5O12, com destaque para a LTO_1. Esta amostra apresenta picos de baixa intensidade referentes à fase Li2TiO3 monoclínica. Entretanto, os picos referentes à fase rutilo são mais intensos nesse material, indicando que uma parte do lítio foi perdida por difusão. Nas sínteses com excesso de lítio, LTO_2 e LTO_3, identificam-se claramente os picos a fase Li2TiO3 monoclínica (Figuras 3 e 4). A ausência de picos característicos da fase TiO2 rútilo, na LTO_3 aquecida a 800ºC, pode ser atribuída ao grande excesso de lítio utilizado. Também foi verificado que adição do amido em excesso, na LTO_2, provoca o aparecimento de TiO2 nas fases rutilo e anatase, sendo esta última predominante. A presença da impureza de TiO2 de fase rútilo ou anatase na fase Li4Ti5O12, em métodos de síntese distintos, também foi evidenciada nos trabalhos publicados por Sorensen et al. (2006), Oh et al. (2006), Woo et al. (2007), Hsiao et al. (2007), Ganesan et al. (2007), Hsiao et al. (2008) e Liu et al. (2012). De acordo com os resultados apresentados e devido a formação predominante da fase Li4Ti5O12 na LTO_1, foi avaliado o tratamento térmico T2, exclusivamente, nesses materiais (Figura 5). Observa-se que os difratogramas são similares aos da LTO_1 com tratamento térmico T1 (Figura 2), principalmente, para as calcinações em temperaturas superiores a 700ºC. Entretanto, constata-se que na amostra tratada termicamente a 300ºC a fase TiO2 anatase apresenta picos mais largos na LTO_1 obtida pelo tratamento T2, o que indica a formação de um material com cristalitos menores (D=4 nm), em 2θ=25,50º e hkl (110). Para a fase LTO, foram calculados, em 2θ=18,34º e hkl (111), valores de D de 34 e 53 nm para os aquecimentos a 700 e 800ºC, respectivamente. Portanto, pode-se considerar que a eliminação da etapa de secagem na estufa é vantajosa, em termos sintéticos, pois diminui o tempo de síntese, em 12 horas, sem alterar significativamente os produtos formados. Foi realizada ainda uma síntese nas condições da LTO_1 e utilizando-se o tratamento T3, sendo que os resultados foram similares aos das sínteses com tratamentos T1 e T2 e aquecimentos a 500ºC. Com bases nesses resultados, foram avaliadas outras condições de síntese, visando à obtenção da fase LTO pura. Portanto, nas sínteses dos materiais LTO_4 foi diminuída a quantidade de lítio, utilizando-se excesso de apenas 25%, uma vez que excessos maiores levam à formação da fase Li2TiO3 monoclínica, como no caso da síntese LTO_3, enquanto que uma quantidade estequiométrica resulta em | 74 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido LTO_1/ 8000C (4(4440)0) (5 3 3 1) 1) (4 22 2) 2) (4 (5 33 1) 1) (4 4 0) (5 (5 11) 1 1) (4 (422 2) 2) 0 LTO_1/300 LTO_1/ 3000CC 0 40 45 50 50 55 55 60 60 65 65 70 70 40 45 2θ (graus) 20 (graus) 15 15 LTO_4/5000C LT O_4/ 500 C 35 35 45 45 (5 (511) 1 1) (4 222)2) (4 pH = 7,09 pH=7,09 1) pH=6,40 (3 (33 1) 3 pH = 6,40 pH=5,20 pH = 5,20 50 50 55 55 60 60 Figura 6. Difração de Raios X da variação de pH da LTO_4 no tratamento térmico T3 (500ºC). 0 LTO_1/ 300/700 LTO_1/ 300/7000CC 1039 1039 (3 (3 33 1) 1) 40 40 (graus) 2θ20 (graus) (3 (3 33 1) 1) (3 (3 33 1) 1) (4 0 0) 30 30 pH = 8,66 (3 33 1) 1) (3 (4 (4 00 0) 0) (4 (4 00 0) 0) (4 0 0) (22 2 (2 2) 2) (1 1) (1 11 1) 25 25 pH=8,66 1039 1039 pH = 9,18 (4 000)0) (4 (3 111)1) (3 (1 1) (1 11 1) (1 1) (1 11 1) 20 20 0 0 LTO_1/ 300/800 CC LTO _1/ 300/800 pH=9,18 1506 1506 0 (511) 1 1) (5 (4 (4 00 0) 0) (3 111)1) (3 TiOT2iO anatase anatase 2 Li2 TiO Li2TiO 33 (h k l) Li O152 O12 (hkl) Li4T4i5Ti (1 11 1) (1 1) Intensidade (u.a.) Intensidade (u.a.) (1 1) (1 11 1) Figura 5. Difratogramas dos materiais LTO_1 calcinados em diferentes temperaturas com tratamento T2. 1506 1506 35 35 0 0 CC LTO_1/ 300/500 LTO_1/ 300/500 LTO_1/ 300 C 0C LTO _1/0300 1506 1506 30 30 1632 1632 1506 1506 25 25 3400 3400 20 20 3400 3400 15 15 aumentando sua quantidade no produto final. Finalmente, se avaliou o efeito do pH, que foi variado entre 5,2 e 9,2. Na Figura 6, são apresentados os resultados de DRX para os materiais LTO_4, que foram calcinados a 500ºC, utilizando o tratamento térmico T3, escolhido por diminuir significativamente o tempo total de síntese. Observam-se picos, de baixa intensidade, para os materiais obtidos em valores de pH menores ou igual a 7,09, os quais são atribuídos a fase LTO, tipo espinélio, e à fase TiO2 anatase. Enquanto isso, para os materiais obtidos com valores de pH superiores a 8 há um grande aumento na intensidade dos picos referentes à fase LTO, em 2θ=18,3º, 35,5º e 43,2º. Embora, não sejam observados os picos referentes à fase TiO2 anatase. Para a fase Li4Ti5O12 foram calculados, em 2θ=18,34ºC e hkl (111), valores de D de 38 nm, para essas duas sínteses (pH=8,66 e 9,18). Estes resultados mostram que com a otimização das condições síntese foi possível à obtenção da fase LTO com boa pureza. A análise por Espectroscopia (IV ) da síntese LTO_1, apresentada na Figura 7, foi utilizada de forma complementar para investigar a presença de grupos carbonato e hidroxi no processo de síntese. Nos espectros de IV da amostra LTO_1, submetida ao tratamento térmico T1, observa-se uma banda forte, Intensidade (u.a.)(u.a.) Intensidade (3 (3 33 1) 1) LTO_1/ 7000CC LTO_1/700 (3 33 1) 1) (3 (4 00 0) 0) (4 (3 1) (3 1 1 1) (2 (2 2 2 2) 2) (5 (5 11) 1 1) (4000)0) (4 LTO_1/8000C (3 1) (3 1 1 1) (2 (2 222) 2) (1 (111 1) 1) TiOTiO anatase 2 anatase 2 TiO2 rutilo TiO2 rútilo Li2 TiO Li TiO3 (hkl) Li24 Ti3 5 O12 (h k l) Li4Ti5O12 (1(1111) 1) Intensidade (u.a.) Intensidade (u.a.) impurezas de TiO2 (sínteses LTO_1). Também se diminuiu a quantidade de amido, para menor do que a estequiométrica, considerando-se que de acordo com os resultados da síntese LTO_2 o amido aparentemente aumenta a estabilidade da fase TiO2 anatase, que é uma das impurezas identificadas, 4000 4000 3500 3500 3000 3000 2500 2500 2000 2000 1500 1500 1000 1000 500 500 -1 NoO de de onda onda (cm N (cm-1) ) Figura 7. Espectros de IV das amostras da síntese LTO_1, submetida ao tratamento térmico T1. | 75 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido entre 3.600 e 2.500 cm-1, relativa ao estiramento da ligação O–H (νOH), esta banda é larga indicando que os grupos OH estão associados por ligação hidrogênio, possivelmente por estarem presentes na superfície das partículas (SILVERSTEIN et al.,1979; NAKAMOTO,1986), observa-se uma diminuição progressiva desta banda com o aumento da temperatura de aquecimento. Também foram identificadas, de acordo com Silverstein et al. (1979), bandas correspondentes aos modos de estiramento C‑O do grupo carbonato, entre 1.800 e 800 cm-1, para a amostra LTO_1/300ºC. Nessa região, também se observa a banda de deformação angular no plano da ligação O‑H (δOH), sendo que esta normalmente se encontra sobreposta às bandas referentes aos modos vibracionais do carbonato. Constatou-se que, com o aumento da temperatura de aquecimento, ocorre uma diminuição acentuada na intensidade das bandas de carbonato, sendo estas de baixa intensidade nos materiais calcinados a 700 e 800ºC. Resultados análogos foram encontrados para as demais amostras preparadas pelos outros procedimentos de síntese, mas submetidas a aquecimentos nas mesmas temperaturas. Um estudo preliminar de Voltametria Cíclica (Figura 8) mostra que o material LTO_2/300/800ºC é eletroativo e que ocorre um processo quase-reversivel em aproximadamente -1V (vs Ag), referente ao par Ti+3/Ti+4, sendo o pico de oxidação indicado por (I) e de o redução por (III). Observa-se ainda o pico (II), que está relacionado a um processo irreversível (Ti+3/Ti+4). Uma progressiva 75 75 (II) (II) 50 50 -1 i/ i / AKg A Kg -1 25 Ciclos Ciclos (I) (I) 11 22 33 44 45 66 77 88 99 10 10 0 -25 -25 -50 -50 -75 -75 -100 -100 diminuição da corrente nos picos (II) e (III) é observada até o 8o ciclo, sendo que, depois, fica praticamente estável até o 10o ciclo, indicando uma razoável reversibilidade eletroquímica. Cabe ressaltar, que a bateria de íon lítio pode operar entre 3 e 4 V dependendo dos materiais que compõem o cátodo e o ânodo. Essa variação refere-se à diferença de potenciais entre as semi-reações do ânodo e do cátodo. Deve-se ressaltar ainda que o eletrodo de referência de Ag/AgCl apresenta uma diferença de potencial de aproximadamente 3V vs Li/Li+. Este último eletrodo é utilizado para realizar medidas eletroquímicas em cátodos e/ou ânodos em atmosfera inerte. É importante informar que pretendemos realizar estudos mais detalhados de Voltametria Cíclica e do comportamento eletroquímico dos materiais preparados, uma vez que, através desses estudos será possível determinar, dentre os materiais obtidos, qual o melhor para ser aplicado na confecção de ânodos de baterias secundárias de íon-lítio. 4. CONCLUSÕES Conclui-se que, o método de síntese proposto permitiu a obtenção da fase LTO (Li4Ti5O12) com boa pureza, sem a presença de fases do óxido de titânio. Este resultado foi obtido com a otimização das condições de síntese, nas sínteses LTO_4, ou seja, com o ajuste do pH próximo a 9, da diminuição da quantidade de amido (Razão Molar Cátions/amido=1/0,6) e da utilização de excesso do sal de lítio, na razão molar Ti:Li de 1:1. Além disso, ao se realizar um estudo preliminar de Voltametria Cíclica, foi identificado que o material LTO_2 é eletroativo, indicando que o método de síntese proposto permite a preparação de materiais com potencial para serem utilizados em ânodos de baterias secundárias de íon-lítio. 5. AGRADECIMENTOS (III) (III) -1,5 -1.5 -1,2 -1.2 -0,9 -0.9 -0,6 -0.6 -0,3 -0.3 0,0 0.0 0,3 0.3 0,6 0.6 0,9 0.9 ( ) EE// V V (vs vs Ag) Ag Eletrodo de pseudo: referência de Ag, velocidade de varredura de 5 mVs-1, solução 0,5 mol/L de LiClO4 em acetonitrila como eletrólito. Figura 8. Voltametria cíclica da LTO_2, aquecida a 800ºC. Os autores agradecem ao Instituto de Macromoléculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro pela possibilidade de utilização do equipamento de Difração de Raios X e ao Departamento de Química Inorgânica da mesma universidade pelas análises de IV. Também agradecemos a agência de fomento Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa de doutorado para F. R. R. Caldas. | 76 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 67-77 Fernanda Regina Rocha Caldas, Eduardo Ariel Ponzio, Marta Eloisa Medeiros, Francisco Manoel dos Santos Garrido REFERÊNCIAS Base de Dados Crystmet. Portal de pesquisa do periódico CAPES. LIU, J.; LI, X.; YANG, J.; GENG, D.; LI, Y.; WANG, D.; LI, R.; SUN, X.; CAI, Disponível em: <http://www.portaldapesquisa.com.br/databases/sites>. M.; VERBRUGGE, M.W. Microwave-assisted hydrothermal synthesis Acesso em: 4 dez 2012. of nanostructured spinel Li4Ti5O12 as anode materials for lithium ion BELHAROUAK, I.; KOENIG JR., G.M.; AMINE, K. 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De modo a atingir tal objetivo, os compostos Polianilina (PAni), Polianilina sulfonada (SPAni) e Poli(éter-éter-cetona) sulfonada (SPEEK) foram preparados em condições estabelecidas. Filmes compósitos, contendo 1, 2, 5% m/m de SPAni em matriz de SPEEK, foram preparados pela técnica de filme prensado e analisados por DMA, TG/DTG e EIS. Os resultados de DMA indicaram que existiu interação entre a matriz e a fase dispersa por conta de ligações intra/inter moleculares dos grupamentos sulfônicos em ambas as fases. O efeito dos grupamentos sulfônicos sobre as propriedades térmicas foi revelado por termogravimetria. A técnica de EIS revelou que alguns dos compósitos preparados apresentaram propriedades de condutividade protônica da mesma ordem de grandeza da membrana de Nafion 115®. Palavras-chave: Polianilina Sulfonada. SPEEK. Compósitos. Células a Combustível. Abstract: The aim of this work was to prepare and evaluate the thermal and proton conductivity properties of different SPAni/SPEEK composites, to be used as Polymer Electrolyte Membrane Fuel Cell (PEMFC). To accomplish this goal, Polyaniline (PAni), Sulfonated Polyaniline (SPAni) and Sulfonated Poly(ether-ether-ketone) (SPEEK) were prepared in fixed conditions. Compression films of the composites, containing 1, 2, 5% wt SPAni in a SPEEK matrix, were prepared and analyzed by using DMA, TG/DTG and EIS techniques. The DMA results indicated there was interaction between the matrix and the disperse phase on account of intra/intermolecular linkages of the sulfonic groups in both phases. The effect of sulfonic groups on thermal properties was revealed by thermogravimetry. The EIS technique revealed that some of the composite materials prepared showed proton conductivity properties of the same magnitude as Nafion® membranes. Keywords: Sulfonated Polyaniline. SPEEK. Composites. Fuel Cells. 1. INTRODUÇÃO polimérica eletrolítica (Polymer Electrolyte Membrane Fuel Cell – PEMFC) e tem sido objeto de intensas pesquisas pelos setores automobilístico e eletroeletrônico. O princípio básico dessa tecnologia consiste na produção de energia por intermédio de uma reação eletroquímica. No compartimento anódico, A célula a combustível (Fuel Cell – FC) tem despontado como uma alternativa bastante promissora para geração de energia limpa. Em particular, aquela que utiliza membrana 1. Capitão-de-Corveta Engenheira Naval, D.Sc, Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), Grupo de Tecnologia de Materiais – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] | 78 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 Ana Paula Santiago de Falco ocorre a oxidação do combustível hidrogênio (H2) com a consequente geração de prótons (H+) e elétrons (e-). Os elétrons gerados alimentam um circuito elétrico e são conduzidos até o catodo, enquanto os prótons também são simultaneamente transferidos para o catodo, através da membrana polimérica eletrolítica. O oxigênio (O2), por sua vez, é alimentado no compartimento catódico, de modo que venha a reagir com os elétrons e prótons transportados do anodo, formando água. Assim, quando alimentada pelos gases hidrogênio e oxigênio, a célula a combustível gera como produtos água, eletricidade e calor (KIRUBAKARAN et al., 2009; WANG et al., 2011; YUAN et al., 2011). A membrana polimérica eletrolítica constitui o componente principal de uma PEMFC, devendo apresentar elevada condutividade protônica (σ), preferencialmente da ordem de 0,1 Scm-1, valor compatível com o da membrana comercial Nafion®, fabricada pela DuPont (BAUER et al., 2000; JONES; ROZIÈRE, 2001). Adicionalmente, tais membranas devem possuir isolamento eletrônico, impermeabilidade a O2 e H2, além de alta seletividade, ou seja, permeabilidade a cátions e impermeabilidade a ânions e satisfatória resistência mecânica, estabilidade química, eletroquímica e térmica nas condições operacionais (RIKUKAWA; SANUI, 2000; BODDECKER et al., 2001). Existem dois tipos de membranas poliméricas condutoras de íons disponíveis comercialmente. Ambos são considerados eletrólitos poliméricos — extrinsecamente e intrinsecamente condutores de prótons. Ao grupo de polímero extrinsecamente condutor (Extrinsically Conducting Polymers – ECP) pertence a membrana perfluorada — um exemplo é a membrana Nafion®. Embora de grande emprego industrial, apresenta restrições quanto ao custo elevado e à toxidez do processo de fabricação. Além dela, há membranas à base de polímeros termoplásticos de engenharia como polissulfona (PSU), poli(éter-sulfona) (PES), poli(éter-cetona) (PEK), poliimidas (PI), polibenzimidazóis (PBI), polioxadiazóis, dentre outras, modificadas em geral com grupo sulfônico. É importante salientar que as membranas baseadas nesses polímeros apresentam como grande desvantagem a dependência inerente da condutividade de prótons, em relação ao teor de água do meio (mecanismo veicular de condução), o que, consequentemente, limita a sua aplicação a dispositivos que operam em baixas temperaturas (<100ºC). O grupo de polímeros intrinsecamente condutores (Intrinsically Conducting Polymers – ICP) é caracterizado por polímeros nos quais a estrutura química permite a atuação como um condutor intrínseco — por exemplo, a polianilina (PAni). Uma vez dopada, a membrana polimérica apresenta um mecanismo de condução de prótons independente do nível de hidratação — mecanismo de percolação ou mecanismo de Grottus. No entanto, possui como principais limitações o mecanismo misto de condução (protônica e aniônica) e propriedade mecânica inferior ( JORRISEN et al., 2002; BAUER; WILLERT-PORADA, 2006). Mais recentemente, a pesquisa tem se concentrado no desenvolvimento de membrana para uso em célula a combustível a metanol direto (Direct Methanol Fuel Cell – DMFC). Neste dispositivo, são eliminados os inconvenientes relativos à armazenagem e ao manuseio de combustível gasoso (H2) e é descartado o uso de reformadores, necessários para gerar H2 a partir de combustível líquido. No entanto, para que a tecnologia das DMFC adquira amplo emprego industrial, torna-se necessário o desenvolvimento de membrana adequada, que permita combinar, simultaneamente, as propriedades de elevada condutividade de prótons e baixa permeabilidade ao metanol. A difusão do metanol do anodo para o catodo resulta em desperdício de combustível, além de ocasionar perda de eficiência no catodo em virtude do consumo adicional de oxigênio e envenenamento do catalisador (AHMAD et al., 2010; UÇTUG; HOLMES, 2011; ZENG et al., 2012). Tendo em vista que as membranas comerciais disponíveis ainda não apresentam desempenho satisfatório quanto à permeabilidade ao metanol, o estudo tem se direcionado para o desenvolvimento de membrana compósita. Ela é constituída por uma matriz polimérica sulfonada, preferencialmente à base de um polímero termoplástico de engenharia, sulfonado, e de uma fase dispersa intrinsecamente condutora. O objetivo da elaboração do compósito está relacionado à melhoria das propriedades da membrana por meio de um efeito sinérgico entre a propriedade de condutividade de prótons da matriz e da fase dispersa, além da redução da permeabilidade ao metanol em função da maior compactação e menor caráter hidrofílico da membrana. No caso de compósito de matriz polimérica sulfonada e da PAni, as ligações de hidrogênio entre os grupos sulfônicos da matriz e os grupos amina da PAni atuariam de forma complementar. Os aspectos favoráveis seriam a compatibilização entre a fase contínua e a fase dispersa — redução do grau de inchamento da membrana — e a melhoria de propriedade mecânica. Adicionalmente, ocorreria a formação | 79 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 Ana Paula Santiago De Falco de um caminho condutor de prótons — que seriam continuamente transferidos dos grupamentos amina protonados para os grupamentos sulfônicos da matriz (LI et al., 2006; CHEN et al., 2007). A proposta deste trabalho foi preparar um compósito, tendo a matriz polimérica à base de poli(éter-éter-cetona) (PEEK), sulfonada, e a fase dispersa de PAni sulfonada, buscando obter uma membrana com potencial aplicação como membrana condutora de próton. 2. METODOLOGIA DE PESQUISA A PEEK utilizada neste trabalho foi fornecida pela Victrex, tipo 450G, com viscosidade de 0,45 kN s/m 2 e massa específica de 1,3 g/cm3 sob a forma de granulado. Todos os demais reagentes utilizados foram grau PA e usados como recebidos, com exceção da anilina, que foi bidestilada a vácuo. 2.1. SÍNTESE DA POLIANILINA A referida síntese foi efetuada em solução, por meio de rota química previamente estabelecida (MACDIARMID et al., 1987; PINHO, 1997). Inicialmente, foram dissolvidos 20,0 mL do monômero (0,2190 mol), previamente pesados, em 300 mL de solução aquosa 1,0 M de HCl e 11,5 g do agente oxidante [(NH4)S2O8] (0,0504 mol) em 200 mL de solução aquosa 1,0 M de HCl. Antes da adição, as soluções foram aclimatadas à temperatura de 0ºC em banho de gelo com sal. A solução ácida de oxidante foi gotejada à solução de anilina, por cerca de 2 horas, mantendo-se a temperatura do meio reacional sempre abaixo de 0ºC. Após esse tempo, o meio reacional foi deixado sob agitação por mais 3 horas. Em seguida, foi guardado sob refrigeração (-10ºC) por 15 horas e, decorrido esse tempo, filtrado em Büchner e lavado com solução aquosa 1,0 M de HCl e etanol (4:1) e, posteriormente, com solução ácida. O precipitado obtido foi seco a vácuo, até massa constante. A polianilina sintetizada foi neutralizada com solução aquosa 0,3 M de hidróxido de amônio (NH4OH), sob agitação magnética por 24 horas. A reação foi seguida de filtração em funil de Büchner, com o auxílio de bomba de vácuo, e lavagem por várias vezes com essa mesma solução. O produto obtido, denominado Base de Esmeraldina (EB), uma pasta de coloração azul-violácea, foi seco em estufa, a 80ºC, até peso constante. 2.2. OBTENÇÃO DA SPANI COM ÁCIDO SULFÚRICO FUMEGANTE A reação de sulfonação por essa rota foi efetuada, inicialmente, pela dissolução de 0,5 g de EB em 40,0 mL de ácido sulfúrico fumegante, previamente resfriado a 5ºC. Após a dissolução, a solução resultante foi mantida em banho de gelo, sob agitação magnética, por 10 minutos. Findo esse tempo, o meio reacional foi removido do banho de gelo, deixado atingir a temperatura ambiente e mantido sob agitação por mais uma hora. Posteriormente, o meio reacional foi lentamente precipitado em metanol em banho de gelo, mantido em torno de 10ºC. O precipitado foi filtrado em funil de Büchner, com o auxílio de bomba de vácuo, e lavado com água deionizada até que o pH do filtrado tivesse atingido o valor de 7. O produto foi seco em estufa, a 80ºC, até massa constante (YUE et al., 1992). As polianilinas sulfonadas obtidas por essa rota foram denominadas SPAni. 2.3. OBTENÇÃO DE PEEK SULFONADA A reação de sulfonação de PEEK foi efetuada, inicialmente, pela adição de 10 g do polímero a 250 mL de ácido sulfúrico concentrado 10 M, em temperatura ambiente, sob fluxo de nitrogênio. A fim de facilitar a homogeneização do sistema e a dissolução do polímero no ácido, foi empregada agitação mecânica vigorosa. Após o tempo reacional de 24 horas, o polímero modificado foi precipitado em 500 mL de água deionizada, filtrado e lavado até que o filtrado tivesse atingido o valor de pH=7. O produto foi seco em estufa, a 80ºC, até massa constante (ZAIDI et al., 2000). As amostras de PEEK sulfonadas obtidas por essa rota foram denominadas de SPEEK. 2.4. OBTENÇÃO DOS FILMES COMPÓSITOS DE SPANI/SPEEK Filmes quadrados de dimensões 2,5 x 2,5 cm e espessuras entre 150–220 µm foram obtidos pelo emprego da técnica de filme prensado. Previamente à realização da prensagem, o material de cada filme foi misturado, nas composições percentuais em massa de 1:99, 2:98 e 5:95 de SPAni:SPEEK, em homogeneizador em V da marca MARCONI, modelo MA200. Os filmes mencionados foram obtidos em prensa | 80 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 Ana Paula Santiago de Falco hidráulica CARVER aquecida sob temperatura de 210ºC e pressão de 5 t, durante 4 minutos. Findo esse tempo, o filme foi resfriado, por 4 minutos, a frio, com pressão de 5 t, em prensa CARVER com circulação de água. 2.5. TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO 2.5.1. Análise termogravimétrica A estabilidade térmica dos filmes compósitos foi avaliada a partir de um analisador termogravimétrico TA, modelo Q500, em faixa de temperaturas de 30 a 700ºC, razão de aquecimento de 10ºC/min, sob atmosfera de nitrogênio. As temperaturas de degradação inicial, máxima e final, respectivamente, Tinicial (Tonset), Tmáxima e Tfinal foram determinadas, assim como a presença de resíduo. 2.5.2. Análise Dinâmico-Mecânica A análise de Dinâmico-Mecânica (DMA) foi realizada em equipamento TA modelo DMA-Q800, utilizando corpos de prova retangulares com dimensões de 13 x 5 mm, entre -120 e 200ºC, taxa de aquecimento de 10ºC/min, frequência de 1 Hz, sob o modo single cantilever. Foram determinados o módulo de armazenamento (E’), o módulo de perda (E’’) e a tangente de perda (tan(δ) delta - E’’/E’) para todos os filmes obtidos. 2.5.3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica A medida de condutividade de prótons ou condutividade iônica pode ser obtida, de forma indireta, por meio do emprego da técnica em lide. Trata-se de um método não destrutivo poderoso, rápido e preciso para avaliação de uma ampla gama de materiais. No caso específico deste trabalho, os espectros de impedância foram obtidos em um potenciostato Autolab, modelo PGSTAT 30, com módulo FRA e software específico, em uma faixa de frequências de 10 Hz 1 MHz e amplitude de 10 mV. Para cada um dos filmes preparados, foram efetuadas medidas de condutividade de prótons a seco, na temperatura de 80ºC, e a úmido, nas temperaturas de 30, 50 e 80ºC. No caso específico das medidas a úmido, as amostras foram previamente acondicionadas em água deionizada por 24 horas. As amostras saturadas foram então colocadas entre dois eletrodos de grafite, a fim de aumentar a área de contato da membrana, e o conjunto finalmente posto entre dois eletrodos de aço inoxidável na célula de condutividade. A célula foi então preenchida com água deionizada, a fim de manter o ambiente interno da célula saturado com vapor de água, e colocada em estufa para o controle de temperatura. A técnica de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS) fornece os valores de impedância real (ZReal) e imaginária (ZImag) do conjunto membrana-eletrodo, que podem ser representados em gráficos do tipo ZImag x ZReal, também denominados de Diagramas de NyQuist. Dessa forma, a partir do menor valor obtido experimentalmente para ZImag, determinase o valor correspondente de ZReal, o qual, de acordo com a literatura, é dito como sendo o valor da resistividade gerada pelo eletrólito (R). De posse então desse valor, pode-se facilmente calcular o valor da condutividade iônica pelo emprego da seguinte equação (BARSOUKOV; MACDONALD, 2005; YUAN et al. 2010): σ = I / RA, onde: I = espaçamento entre eletrodos, sendo efetivamente a espessura da membrana polimérica; A = área efetiva dos eletrodos e da membrana polimérica (1 cm2); e R = valor da impedância resistiva obtida por meio da análise de impedância eletroquímica. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, a fim de possibilitar uma melhor compreensão dos fenômenos e interações químicas presentes neste trabalho, são apresentadas as estruturas químicas da SPAni e da SPEEK nas Figuras 1 e 2, respectivamente, além das interações presentes entre esses dois compostos, visualizadas na Figura 3. SO3-+H H H N N •+ N H •+ •• N H Figura 1. Estrutura química proposta para SPAni (FALCO, 2012). | 81 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 Ana Paula Santiago De Falco O O O O C n O S O H • Figura 2. Estrutura química proposta para SPEEK (FALCO, 2012). O O O S O C n O OH H2O OH H O S OH N N •+ •+ •• N H N H O O S OH O O O C n Figura 3. Interações propostas entre os compostos de SPEEK e SPAni (FALCO, 2012). As curvas TGA/DTG referentes a SPAni, SPEEK e dos filmes compósitos são mostradas nas Figuras 4 e 5. Adicionalmente, a Tabela 1 traz, de forma resumida, as temperaturas de degradação inicial (Tonset), temperatura de máxima taxa de degradação (Tmax), temperatura de degradação final (Tfinal) e teor de resíduos para todas as amostras. No que tange à curva de degradação térmica da SPAni, observou-se um decaimento inicial abaixo de 100ºC, atribuído à presença de água residual, seguido de queda entre 200–300ºC, possivelmente relacionada à degradação de grupamentos sulfônicos mais livres. O terceiro decaimento, por sua vez, ocorreu em ampla faixa de temperaturas (entre 400–700ºC, com temperatura de taxa máxima de degradação em aproximadamente 560ºC), o que sugeriria a presença de cadeias de polianilina com diferentes graus de reticulação, devido às interações inter e intramoleculares entre os grupamentos sulfônico, amina e imina. Para a SPEEK, a curva de perda de massa apresentou uma queda abaixo de 100ºC, atribuída à presença de água residual, além de duas quedas em diferentes intervalos de temperaturas. Entre 250–400ºC, a queda foi atribuída à degradação de grupamentos sulfônicos livres. No intervalo de 400–600ºC, houve a degradação da cadeia hidrocarbônica do polímero. Já no que se refere aos materiais compósitos, para os filmes de SPEEKSPAni foram observados três decaimentos distintos. O primeiro, abaixo de 100ºC, foi atribuído à perda de água residual. O intermediário foi relacionado à degradação de grupamentos sulfônicos livres. O terceiro, entre 425–650ºC, apresentou duas temperaturas de máximo de degradação, o que foi interpretado como cadeias poliméricas contendo Massa (u.a.) SPAni SPEEK SPEEK+SPANI 1% SPEEK+SPANI 2% SPEEK+SPANI 5% 0 100 200 300 400 500 Temperatura (°C) Figura 4. Curvas de TGA para SPAni, SPEEK e filmes compósitos. | 82 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 600 700 Ana Paula Santiago de Falco diferentes graus de reticulação, devido às interações intra e intermoleculares entre os diversos grupamentos presentes nas cadeias dos polímeros precursores, grupamentos sulfônico, éter, cetona, amina e imina. Os resultados encontrados estão de acordo com os previamente reportados pela literatura (ROEDER et al., 2005; KNAUTH et al., 2011). As Figuras 6 a 8 apresentam as curvas de módulo de armazenamento (E’), módulo de perda (E”) e tangente Derivada da massa (u.a.) SPAni SPEEK SPEEK+SPANI 1% SPEEK+SPANI 2% SPEEK+SPANI 5% 0 100 200 300 400 500 600 700 Temperatura (°C) Figura 5. Curvas de DTG para SPAni, SPEEK e filmes compósitos. Tabela 1. Parâmetros Térmicos oriundos das análises de TGA para SPAni, SPEEK e compósitos. Tonset (°C) Tmax (°C) 1º Estágio 2º 3º 1º Estágio 2º 30 30 30 30 30 238 248 230 230 220 400 460 410 410 410 44 45 45 45 45 Amostra SPAni SPEEK24 SPEEKSPAni1% SPEEKSPAni2% SPEEKSPAni5% 279 354 337 334 335 3º 560 542 500/545 500/547 500/539 Tfinal (°C) Resíduo (%) 700 700 700 700 700 29 44 46 47 46 E` (u.a.) SPEEK SPEEK SPANI 1% SPEEK SPANI 2% SPEEK SPANI 5% -150 -100 -50 0 50 100 150 200 Temperatura (°C) Figura 6. Curvas de Módulo de Armazenamento (E’) para a SPEEK e compósitos. | 83 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 Ana Paula Santiago De Falco delta (δ) dos materiais precursores e dos filmes compósitos preparados, respectivamente. Em relação às análises dinâmico-mecânicas realizadas, foi possível observar que, para alguns dos compósitos ensaiados, os valores de módulo de armazenamento aumentaram em relação à SPEEK isolada. Isto seria indicativo de que, durante o processamento, ocorreram reações de reticulação devido à formação de ligações intra e intermoleculares entre os grupamentos sulfônicos, éter, cetona, amina e imina, presentes nos polímeros precursores, de acordo com a Figura 3. Também foi observada uma tendência de queda do módulo até aproximadamente a faixa de valores de temperatura entre 0–50ºC. A partir deste intervalo, algumas curvas apresentaram tendência de elevação, o que poderia ser interpretado como uma reticulação adicional, devido ao aquecimento da amostra durante o ensaio. A curva do compósito contendo SPAni (2%) mostrou valores de E’ inferiores ao da SPEEK. Isto poderia ter ocorrido pela aglomeração da fase dispersa (polianilina), dificultando a interação (reticulação) com a matriz de SPEEK. Quanto ao módulo de perda (Figura 7), as curvas indicam que a temperatura de transição vítrea (Tg) dos materiais estaria em torno de 190–200ºC. Os picos alargados, observados em algumas curvas, poderiam ser atribuídos ao processo de reticulação do material, por ação do aquecimento, durante a análise. Em relação às curvas de tan δ (Figura 8), foi observado que os valores de Tg dos materiais analisados estavam entre 190–200ºC, em consonância com os resultados de E”. E” (u.a.) SPEEK SPEEK SPANI 1% SPEEK SPANI 2% SPEEK SPANI 5% -150 -100 -50 0 50 100 150 200 100 150 200 Temperatura (°C) Figura 7. Curvas de Módulo de Perda (E’’’) para a SPEEK e compósitos. Tan δ (u.a.) SPEEK SPEEK SPANI 1% SPEEK SPANI 2% SPEEK SPANI 5% -150 -100 -50 0 50 Temperatura (°C) Figura 8. Curvas de tan δ para a SPEEK e compósitos. | 84 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 Ana Paula Santiago de Falco O presente trabalho teve ainda por objetivo determinar a condutividade protônica dos diversos materiais obtidos, bem como avaliar a influência dos seguintes fatores nessa propriedade: hidratação da membrana e temperatura, bem como o teor e tipo de fase dispersa empregada. As Figuras 9 a 16 apresentam os Diagramas de Nyquist correspondentes às amostras de SPEEK, bem como dos filmes compósitos obtidos, tanto para as medidas realizadas a seco, como para aquelas realizadas a 100% de umidade. As Tabelas 2 e 3, em seguida, sintetizam os valores de espessura, resistividade e condutividade iônica de cada um dos filmes avaliados. A medida de condutividade de prótons ou condutividade iônica pode ser obtida, de forma indireta, a partir de medidas de resistividade geradas pelo eletrólito, por meio do emprego da técnica de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica. No caso específico deste trabalho, a avaliação dos dados apresentados nas Tabelas 2 e 3 permitiu constatar que, em ausência de água, os compósitos contendo SPAni apresentaram um ligeiro acréscimo no valor da condutividade, que seguiu uma tendência de aumento com a quantidade de polianilina. Porém, os valores, de 2,0 x 10-5 a 1,8 x 10-3 S/cm, ainda podem ser considerados não significativos. Tais resultados já eram esperados, uma vez que já foi estabelecido que a umidade relativa do ambiente, bem como o nível de hidratação dos polímeros, possui impacto determinante nesta propriedade (HAILE, 2003). Após imersão dos compósitos em água por 24 horas (100% de umidade), foi feita a determinação da condutividade 50 40 35 SPEEK 30 20 10 15 10 0 0 10 20 30 Z´(x 10-2) 40 50 Figura 9. Diagrama de NyQuist para SPEEK (medida a seco). 0 2 4 6 10 8 Z´(x 10-2) 12 14 16 Figura 11. Diagrama de NyQuist para o compósito SPEEKSPAni2% (medida a seco). 35 25 30 SPEEK SPAni 1% SPEEK SPAni 5% 25 -Z”(x 10-2) -Z”(x 10-6) 25 20 5 0 20 SPEEK SPAni 2% 30 -Z”(x 10-2) -Z”(x 10-2) 40 15 10 5 20 15 10 5 0 2,5 5 Z´(x 10-5) 7,5 10 Figura 10. Diagrama de NyQuist para o compósito SPEEKSPAni1% (medida a seco). 0 5 10 15 Z´(x 10-2) 20 25 Figura 12. Diagrama de NyQuist para o compósito SPEEKSPAni5% (medida a seco). | 85 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 Ana Paula Santiago De Falco 30 25 SPEEK 25 20 15 15 -Z” -Z” 20 10 10 5 5 0 0 30°C SPEEK SPAni 2% 50°C 80°C 0 10 20 30 40 50 0 Z´ 30°C 80°C 50°C 80 10 20 1 2 30 z´ 3 4 50 40 Z´ Figura 13. Diagrama de NyQuist para a SPPEK (medida a úmido). 100 0 -5 60 Figura 15. Diagrama de NyQuist para o compósito SPEEKSPAni2% (medida a úmido). 60 SPEEK SPAni1% 50 40 -Z” -Z” 60 40 30°C 50°C 80°C SPEEK SPAni5% 30 20 10 20 0 0 0 10 20 0 2 30 Z´ 3 40 z´ 4 50 5 0 -10 60 Figura 14. Diagrama de NyQuist para o compósito SPEEKSPAni1% (medida a úmido). 0 20 40 1 60 2 z´ 3 80 4 100 Z´ Figura 16. Diagrama de NyQuist para o compósito SPEEKSPAni5% (medida a úmido). Tabela 2. Espessura e impedância resistiva para os filmes de SPEEK e compósitos. Amostra SPEEK SPEEKSPAni1% SPEEKSPAni2% SPEEKSPAni5% Espessura do Filme (µm) 165 103 184 146 30°C 13,08 2,82 0,84 1,51 Impedância Resistiva (Ω - ohm) Umidade (100%) 50°C 80°C 6,94 2,66 0,48 1,11 4,54 2,34 0,21 0,37 Umidade (0%) 80°C 180,6 425,15 10,56 8,05 Tabela 3. Condutividade iônica para os filmes de SPEEK e compósitos. Amostra 30°C SPEEK SPEEK SPAni1% SPEEKSPAni2% SPEEKSPAni5% 1,26 3,65 21,85 9,71 Condutividade protônica (S/cm) x 10-3 Umidade (100%) Umidade(0%) 50°C 80°C 80°C 2,38 3,93 38,33 13,11 | 86 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 78-88 3,64 4,41 87,36 39,62 9,14 0,02 1,74 1,81 Ana Paula Santiago de Falco protônica em diferentes temperaturas. Com relação a esse aspecto, foi observado, para todos os materiais analisados, um aumento significativo da condutividade com a temperatura. No caso específico do compósito SPEEKSPAni2%, para as medidas realizadas a 80ºC, os resultados obtidos neste trabalho são compatíveis e da mesma ordem de grandeza daqueles anteriormente obtidos para a SPEEK (graus de sulfonação entre 50 e 62%) e Nafion 115® (PAIK et al., 2009). No entanto, cabe ressaltar que, para os compósitos, não foi observada correlação entre o teor de polianilina sulfonada e o valor da propriedade. Resultados semelhantes foram encontrados por Roeder e colaboradores (ROEDER et al., 2005) em um trabalho no qual membranas de SPEEK (matriz, GS = 60%) / PAni-EB (fase dispersa), contendo diferentes teores de fase dispersa, foram preparadas em soluções de DMF e tiveram seus valores de condutividade de prótons determinados nas temperaturas de 50, 70 e 90ºC. Os resultados encontrados indicaram tendência de aumento da propriedade em lide com a temperatura. De forma similar ao constatado neste trabalho, os valores da propriedade não apresentaram correlação linear com o teor de fase dispersa presente nos compósitos. Em um outro interessante trabalho, Roeder e colaboradores (ROEDER et al., 2006) determinaram os valores de condutividade de prótons para membranas condutoras de SPEEK/PAni preparadas por meio da polimerização in-situ de polianilina em matriz de SPEEK. Os valores de condutividade de prótons obtidos para membranas contendo 20% (m/m) de fase dispersa (PAni) e matriz de SPEEK com GS=69% foram da ordem de 3,0 mS/cm (50ºC) e 5,2 mS/cm (90ºC), o que se mostrou de acordo não somente com a ordem de grandeza dos valores obtidos no presente estudo, mas também com a tendência de aumento dos mesmos com a temperatura. A não linearidade dos resultados encontrados para os valores de condutividade de prótons, em função do teor de polianilina presente na fase dispersa, sugere que há uma heterogeneidade do teor de grupamentos sulfônicos na matriz de SPEEK e na fase dispersa de polianilina, na extensão de reação de reticulação entre os diversos grupamentos presente nos polímeros precursores e distribuição/aglomeração da fase dispersa na matriz de SPEEK. 4. CONCLUSÕES As técnicas de análises térmicas empregadas indicaram a formação de interações dos tipos inter e intramolecular, com o aquecimento, entre os grupamentos sulfônico, éter e carbonila das cadeias da policetona e aqueles presentes nas cadeias da SPAni, a saber: amina, imina e grupamento sulfônico. Adicionalmente, os resultados de DMA (E’’ e tan δ) sugeriram que a Tg dos materiais compósitos estaria situada em valores próximos a 190–200ºC, indicando um ligeiro aumento em relação ao valor da SPEEK pura e corroborando a existência de fortes interações entre os grupamentos existentes na matriz e na fase dispersa. Finalmente, as medidas por EIS indicaram que, em ausência de água, todos os compósitos mostraram valores de condutividade muito baixos, entre 2,0 x 10-5 a 1,8 x 10-3 S/cm. Para as medidas realizadas a úmido (100% u.r.), os resultados obtidos mostraram-se coerentes e confirmaram a tendência de aumento do valor da propriedade com o aumento da temperatura. O compósito SPEEKEB2%, em medidas realizadas a úmido e 80ºC, apresentou propriedades de condutividade da mesma ordem de grandeza da membrana comercial de Nafion 115®. REFERÊNCIAS AHMAD, H.; KAMARUDIN, S.K.; HASRAN, U.A.; DAUD, W.R.W. E. Eletrochemical characterisation of sulfonated polyetherketone Overview of hybrid membranes for direct methanol fuel cell membranes. Journal of New Materials for Electrochemical Systems, applications. International Journal of Hydrogen Energy, v. 35, n. 5, v. 3, n. 2, p. 93-98, 2000. p. 2160-2175, 2010. BAUER, F.; WILLERT-PORADA, M. Zirconium phosphate Nafion® BARSOUKOV, E., MACDONALD, J.R. Impedance Spectroscopy: composites – a microstructure-based explanation of mechanical Theory, Experiment and Applications. 2nd ed. Hoboken: Wiley and conductivity properties. Solid State Ionics, v. 177, n. 26, p. 2391- Interscience, 2005. 2396, 2006. BAUER, B.; JONES, D.J.; ROZIÉRE, J.; TCHICAYA, L.; ALBERTI, G.; BODDECKER, K.W.; PEINEMANN, K.V.; NUNES, S.P. 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O gradiente de contaminação foi compatível com o nível de atividade de cada porto. As razões diagnósticas que foram utilizadas neste trabalho sugerem que os hidrocarbonetos alifáticos são predominantemente de origem de misturas de fontes (biogênica e petrogênica) nas regiões de Santos e Macaé e petrogênica na região de Arraial do Cabo. Palavras-chave: Hidrocarbonetos Alifáticos. Sedimento. Porto. Abstract: This study evaluated the contamination by aliphatic hydrocarbons in surface sediments of three port regions of southeastern Brazil (Santos, Arraial do Cabo and Macaé). Samples were collected in two campaigns (2009 and 2010). Mean concentrations of Total Aliphatics were 123.16±86.12 µg g-1 in Santos, 51.54±39.50 µg g-1 in Arraial do Cabo and 50.42±81.30 µg g-1 in Macaé. The gradient of contamination was consistent with the level of activity of each port. The diagnostic ratios used in this work suggest that aliphatic hydrocarbons originate predominantly from mixtures of sources (biogenic and petrogenic) in the regions of Santos and Macaé, and petrogenic in Arraial do Cabo. Keywords: Aliphatic Hydrocarbons. Sediment. Port. 1. INTRODUÇÃO da ocupação desordenada do solo, do desmatamento, de obras na costa e aterros que, somados, contribuem para a poluição no entorno do porto, tanto em terra como nas águas. Desse modo, esses ambientes aquáticos, que são habitat de muitos organismos da fauna e da flora e comportam uma alta diversidade de espécies, ficam vulneráveis ao impacto das atividades de navegação, principalmente pela contaminação por hidrocarbonetos de petróleo oriundos de grandes e pequenos A atividade portuária é considera pela legislação como potencialmente poluidora, tendo em vista os impactos que causa no meio ambiente (SILVA, 2007). Localizados próximos à foz de rios ou em baías e enseadas, os portos recebem, por intermédios dos rios e córregos, resíduos provenientes das atividades agropecuárias, industrial, de mineração, do turismo, 1. Encarregado da Divisão de Corrosão Marinha, Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, Marinha do Brasil – Arraial do Cabo, RJ – Brasil. Doutor em Ciências pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Email: [email protected] | 89 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro derramamentos de óleo causados por acidentes durante as atividades de navegação. Os hidrocarbonetos, compostos químicos constituídos essencialmente por átomos de carbono e de hidrogênio, são uma das principais classes de contaminantes associadas às atividades portuárias. Eles apresentam relativa persistência no ambiente, baixa biodegradabilidade e alta lipofilicidade, sendo preocupações do ponto de vista ambiental (TANIGUCHI, 2001; MENICONI, 2007). Há grande interesse em compreender a origem, a distribuição, o destino e os efeitos da presença de hidrocarbonetos em ecossistemas marinhos/aquáticos (HAMACHER, 1996). Esses ecossistemas e seus componentes podem sofrer efeitos muito variáveis decorrentes da presença de hidrocarbonetos, em função da natureza química e da concentração destes compostos, associados às características dos componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas naturais. Estes efeitos podem ocasionar desde uma toxidade aguda, que envolve situação de impacto imediato e intenso às comunidades biológicas e às atividades humanas, até uma toxidade crônica, resultante de efeitos subletais na biota devido a um longo período de exposição dos organismos a níveis elevados de concentrações de hidrocarbonetos (MELGESFIGUEIREDO, 1999; NRC, 2003). Os hidrocarbonetos alifáticos no ambiente marinho têm sua origem no petróleo (por meio de exsudações naturais ou de atividades antrópicas, tais como vazamento durante a extração do petróleo, acidentes durante o transporte do petróleo e seus derivados e acidentes durante a fase de consumo), no zooplâncton, no fitoplâncton, em algas e bactérias ou em plantas terrestres. A distinção das fontes que originam os hidrocarbonetos alifáticos pode ser possível por meio de estudo combinado destes hidrocarbonetos (CLARK JR.; BLUMER, 1967; SIMONEIT, 1984; VOLKMAN et al., 1992). Os hidrocarbonetos alifáticos são divididos em n-alcanos, alcanos isoprenóides e mistura complexa não resolvida (MCNR). Os n-alcanos são compostos que podem ser sintetizados tanto por organismos terrestres, como marinhos e são constituintes do petróleo (WEBER, 1981; COLOMBO et al.,1989; VOLKMAN et al., 1992). A existência de uma predominância na introdução de n-alcanos de origem biológica pode ser evidenciada por uma maior concentração de compostos com cadeias com números ímpares de átomos de carbono. Estes aportes de origem biogênica produzem tipicamente dois grupos de alcanos ímpares: os alcanos de menor número de átomos de carbono provenientes de macro e microalgas e os alcanos com maior número de átomos de carbono provenientes de plantas superiores vasculares terrestres (EGLINTON; HAMILTON, 1967; PHILP, 1985; COLOMBO et al., 1989; YUNKER et al., 2002). Assim, a predominância de alcanos ímpares pode prover uma valiosa indicação de aportes biogênicos. Já no petróleo, não existe uma predominância de n-alcanos ímpares ou pares. Um indicador da origem biogênica ou fóssil dos hidrocarbonetos presentes no ambiente pode ser obtido utilizando o cálculo do Índice Preferencial de Carbono (IPC), considerado em várias faixas de número de átomos de carbono, que reflete a abundância relativa de n-alcanos com número de átomos de carbono ímpar ou par na estrutura. Pode-se, então, calcular o predomínio das cadeias carbônicas ímpares em relação às pares através do IPC (Equação 1) (CLARK Jr.; BLUMER, 1967): IPC = 0,5 x (1) onde: a e b são compostos de cadeia carbônica par. Deste modo, pode-se sugerir a origem da maior parte dos n-alcanos presentes em uma amostra ambiental utilizando-se o seguinte critério: se o valor do IPC estiver na faixa de 4 a 7, há predomínio de n-alcanos de origem biogênica; se o valor do IPC for igual ou próximo a 1, ocorre o predomínio de n-alcanos de origem petrogênica. É importante salientar que os n-alcanos sofrem intensa degradação provocada por altas temperaturas (WAGENER et al., 2010). Deste modo, em regiões tropicais, o uso de razões diagnósticas utilizando hidrocarbonetos alifáticos deve ser feito com cautela, pois a degradação destes compostos pode mascarar os resultados. Os isoprenóides constituem a principal classe de alcanos ramificados presentes no petróleo, onde também se encontram o pristano e o fitano. Entretanto, estes dois compostos de origem petrogênica são originados, aproximadamente, na mesma proporção, diferentemente dos de origem biogênica que apresentam maior quantidade de pristano (BOULOUBASSI, 1990). Como regra, uma alta razão pristano/fitano ou a predominância de um só isoprenóide | 90 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro (como o pristano) indica uma fonte biogênica (UNEP/ IOC/IAEA, 1992; STEINHAUER; BOEHM, 1992), ao mesmo tempo em que a razão pristano/fitano semelhante a 1 indica sedimentos contaminados por petróleo e seus derivados (VOLKMAN et al., 1992). A mistura complexa não resolvida (MCNR) é uma fração dos hidrocarbonetos alifáticos formada por vários compostos que não podem ser separados por técnicas cromatográficas, o que impede a sua identificação e quantificação individualizada (VOLKMAN et al., 2002). O predomínio da MCNR sobre o Total de Alifáticos tem sido utilizado para indicar contaminação do sedimento de origem petrogênica (VOLKMAN et al., 1992; READMAN et al., 2002). Estudos também utilizam a relação MCNR/hidrocarbonetos resolvidos como índice diagnóstico para sugerir a origem da contaminação por hidrocarbonetos, onde valores maiores que 4 são indicativos de contaminação petrogênica (SIMONEIT; MAZURIK, 1982; SIMONEIT, 1984). Considere que os hidrocarbonetos resolvidos são todos os compostos que se encontram na fração alifática e são resolvidos pela coluna capilar. O presente trabalho foi realizado em três regiões portuárias do sudeste brasileiro, Santos (SP), Arraial do Cabo (RJ) e Macaé (RJ), com o propósito de estudar a composição, origem e a distribuição dos hidrocarbonetos alifáticos encontrados em sedimentos marinhos destas regiões. Foram realizadas duas campanhas (nos anos de 2009 e 2010) onde amostras de sedimentos superficiais (de 0 a 2 cm) foram coletadas, a fim de estabelecer relações entre as intensidades das atividades portuárias e o tipo e quantidade desses contaminantes nas três regiões estudadas. Alguns estudos sobre a distribuição dos hidrocarbonetos alifáticos nessas regiões já foram realizados (na região de Santos (SP) por Bícego, 1988; Bícego et al., 2006; Gobbato, 2012; Medeiros e Bícego, 2004; Nishigima et al., 2001; e nas região de Arraial do Cabo (RJ) e Macaé (RJ) por Taniguchi, 2001). 1.1. ÁREA DE ESTUDO Neste trabalho, será mostrado o estudo da contaminação por hidrocarbonetos alifáticos das regiões portuárias de Santos, Arraial do Cabo e Macaé. O porto de Santos, localizado no município de mesmo nome no estado de São Paulo, é o maior porto comercial do Brasil, e está classificado, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, como porto de grande porte (CAMPOS NETO et al., 2009). Os setores de maior destaque no porto são: indústria mecânica, indústria de materiais de transporte, agroindústria e madeira, indústria química, indústria de alimentos e bebidas e a metalurgia. O porto de Arraial do Cabo, conhecido como Porto do Forno, está localizado na extremidade norte da Praia dos Anjos, junto ao Morro da Fortaleza, no município de Arraial do Cabo, sudeste do litoral do estado do Rio de Janeiro. É hoje um dos mais importantes portos do sudeste do estado do Rio de Janeiro por sua localização estratégica, que permite que sirva como base de apoio às plataformas de petróleo da Bacia de Campos, além de promover o escoamento de produtos e matérias-primas que abastecem diversas empresas e indústrias da região. Este porto não consta na classificação do Ipea (CAMPOS NETO et al., 2009), provavelmente por possuir, na ocasião da classificação, pouca atividade. Neste trabalho, ele foi considerado de pequeno porte. O porto de Macaé está localizado no bairro de Imbetiba, no município de Macaé (RJ). Ocupa a 29ª colocação no ranking nacional dos portos, segundo o Ipea (CAMPOS NETO et al., 2009). Os setores de atividade em destaque que utilizam desse porto são os de produtos minerais e os da indústria mecânica, óleos brutos de petróleo, torneiras, válvulas e dispositivos semelhantes. Este porto, que não constava no levantamento anterior (2003) feito pelo IPEA, ganhou relevância por conta do movimento gerado pela exploração de petróleo e gás na Bacia de Campos (RJ), e foi classificado como porto de pequeno porte (CAMPOS NETO et al., 2009). 2. METODOLOGIA Foram coletadas amostras de sedimentos superficiais (de 0 a 2 cm) utilizando amostrador do tipo van-Veen em seis estações da região do porto de Santos (Figura 1), três estações da região do porto de Arraial do Cabo (Figura 2) e em cinco estações da região do porto de Macaé (Figura 3). Foram realizadas duas campanhas, onde as coletas foram feitas em 2009 e repetidas nas mesmas estações em 2010. Após coletadas, as amostras de sedimento foram transferidas para recipientes de alumínio previamente descontaminados. | 91 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro 46’22’30’’W 46’20’0’’W 46’17’30’’W 23’55’0’’S 23’57’30’’S N E W S 24’0’0’’S 2 1 0 2 km Figura 1. Mapa da região do porto de Santos com as estações de coleta. 42°1’0’’W 42°0’0’’W 42°59’0’’W 22°57’0’’S 22°57’30’’S 22°58’0’’S 22°58’30’’S N W 22°59’0’’S E S 22°59’30’’S 23°0’0’’S 1 0,5 0 Figura 2. Mapa da região do porto de Arraial do Cabo com as estações de coleta. | 92 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 1 km Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro 41°46’30’’W 41°46’0’’W 41°45’30’’W 41°45’0’’W 22°22’30’’S 22°23’0’’S N 22°23’30’’S W E S 22°24’0’’S 0.5 0.25 0 22°24’30’’S 0.5 km Figura 3. Mapa da região do porto de Macaé com as estações de coleta. Depois de acondicionadas nestes recipientes, as amostras foram imediatamente congeladas. Os sedimentos foram liofilizados antes da extração. Cerca de 10 g de sedimento seco foram pesados. Em seguida, foi adicionada uma quantidade conhecida de padrões sub-rogados: hexadecano e triacontano deuterados para os alifáticos e p-terfenil d-14 para os aromáticos. A extração foi feita em aparelho Soxhlet com diclorometano, segundo o método EPA 3540C (EPA, 1996). A separação das classes de compostos foi realizada por cromatografia de coluna, usando coluna de vidro preenchida com óxido de alumínio, sílica-gel ativada e Na2SO4 ativado no topo. A fração de hidrocarbonetos alifáticos foi isolada do extrato bruto por eluição com n-hexano. O volume final foi reduzido a 1 mL e, então, adicionado o tetracosano deuterado como padrão interno de quantificação. A quantificação dos hidrocarbonetos alifáticos seguiu o método EPA 8015C (EPA, 2007) modificado, baseado na análise por cromatografia em fase gasosa com detector de ionização por chama. Foram quantificados os n-alcanos lineares na faixa de n-C12 a n-C40, os isoprenóides pristano e fitano, o Total de Alifáticos resolvidos e a MCNR. Em todo o procedimento analítico foram seguidos padrões de qualidade da análise, baseado na determinação de brancos de análises e valor da recuperação do padrão sub-rogado, que variou de 51,68 a 115,20% nas amostras da região de Santos, de 64,92 a 116,92% nas amostras da região de Arraial do Cabo, e de 52,92 a 120,92% nas amostras da região de Macaé. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com UNEP (1992) e NRC (1985), sedimentos não poluídos apresentam concentrações médias de Totais de Alifáticos de 5 µg g-1, podendo chegar a 10 µg g-1 ou mais em sedimentos estuarinos ou onde existe uma contribuição significativa de plantas superiores (VOLKMAN et al., 1992; TANIGUCHI, 2001). Segundo Bouloubassi e Saliot (1993), sedimentos que apresentam concentrações de Total de Alifáticos superiores a 100 µg g-1 são considerados altamente contaminados por hidrocarbonetos. As concentrações do HAT encontradas na região do porto de Santos variaram de 22,98 a 332,54 µg g-1, com predomínio da MCNR (81,28–90,88%) (Tabela 1). As maiores | 93 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro Tabela 1. Concentração (em µg g-1 de peso seco de sedimento) para a soma dos n-alcanos na faixa de n-C12 a n-C40 (∑ n-alcanos), somatório dos compostos resolvidos (∑ resolvidos), mistura complexa não resolvida (MCNR), Total de Alifáticos (HAT), assim como índices entre os alifáticos em amostras de sedimento da região de Santos. Amostras 2009 SanC SanD SanE SanF SanA SanB 2010 SanC SanD 6,26 14,91 1,59 3,59 4,46 11,82 5,18 10,30 9,02 19,44 10,58 22,17 12,13 23,15 100,08 121,68 19,39 89,42 51,07 141,04 163,55 162,17 20,40 302,22 72,26 113,02 136,59 22,98 101,24 61,37 160,48 185,72 185,32 25,10 332,54 4,41 4,32 4,52 3,53 4,50 4,47 4,02 4,08 4,21 3,84 0,47 7,62 7,74 8,16 5,40 7,57 4,96 7,25 7,38 7,01 4,34 9,97 SanA SanB 3,13 8,88 3,78 8,39 3,50 12,94 MCNR 72,47 63,88 HAT 81,35 IPC 3,84 MCNR/∑ Resolv. 8,17 ∑ n-alcanos ∑ Resolvidos concentrações (acima de 100 µg g-1) foram encontradas nas amostras SanF-2009/2010, SanD-2009/2010, SanC2009/2010 e SanB-2010 (101,24; 332,54; 136,59; 185,32; 113,02; 185,72; e 160,48 µg g-1, respectivamente), o que representam ser amostras altamente contaminadas por hidrocarbonetos (BOULOUBASSI; SALIOT, 1993). As estações SanA, SanB, SanC e SanD estão localizadas nas proximidades do porto (a estação SanD está localizada entre a região do porto e o complexo industrial de Cubatão). Já as estações SanE e SanF estão mais afastadas da região do porto e, por estarem localizadas na parte mais externa da baía, sofrem uma maior hidrodinâmica, devido a ação de correntes e ventos e menor ação de atividades antropogênicas, o que pode caracterizar as baixas concentrações encontradas nas amostras SanE-2009/2010 (22,98 e 25,10 µg g-1, respectivamente). No entanto, a amostra SanF-2010 apresentou a mais alta concentração de HAT, mostrando um aumento na concentração entre os períodos das campanhas, provavelmente causado por atividades antrópicas. Em todas as amostras foram encontradas concentrações de HAT superiores a 10 µg g-1, caracterizando o sedimento com grau de contaminação de moderado a alto (VOLKMAN et al., 1992; TANIGUCHI, 2001). A relação MCNR/hidrocarbonetos resolvidos mostrou um predomínio da MCNR, onde os valores encontrados para esta razão em todas as amostras foram maiores do que 4 (4,34–9,97), o que caracteriza contaminação por resíduos de óleo na região, com o maior indicativo na amostra SanF2010 (9,97). Se considerarmos os valores do IPC, exceto na amostra SanF2010 (cujo valor do IPC foi igual a 0,47), nas demais amostras, SanE SanF 2,12 4,70 13,32 30,33 os resultados encontrados foram em torno de 4 (3,53–4,52), mostrando um predomínio dos n-alcanos de maior peso molecular e com número ímpar de átomos de carbono e apontando para uma possível origem biogênica desses hidrocarbonetos. A estação SanF está localizada fora da área de influência do porto e obteve na primeira campanha (amostra SanF-2009) o segundo maior valor de IPC da região (4,50). O valor do IPC de 0,47 encontrado nesta mesma estação na segunda campanha (amostra SanF-2010) caracteriza uma contaminação petrogênica entre os períodos da primeira e segunda campanha. A distribuição dos n-alcanos na maioria das amostras da região de Santos nas duas campanhas mostrou a existência do aporte biogênico de hidrocarbonetos oriundos de plantas superiores caracterizado pela maior concentração de n-alcanos de alto peso molecular com números ímpares de átomos de carbono (n-C-27, n-C29, n-C31 e n-C33), segundo o padrão mostrado na Figura 4. A única exceção foi observada na amostra SanF-2010, cuja distribuição dos n-alcanos apresentou aportes de origem biogênica proveniente, tanto de macro e microalgas, como de plantas superiores vasculares terrestres, indicados pela predominância de alcanos com número ímpar de átomos de carbono, tanto na faixa dos n-alcanos de menor peso molecular, quanto na faixa dos de maior peso molecular (Figura 5) (EGLINTON; HAMILTON, 1967; PHILP, 1985; COLOMBO et al., 1989; YUNKER et al., 2002). A presença dos isoprenóides pristano e fitano em proporções similares também na amostra SanF-2010 indica aportes petrogênicos nesta estação. Na região do porto de Arraial do Cabo, as concentrações do HAT variaram entre 6,83 e 99,87 µg g-1, com predomínio da MCNR (82,08–92,28%), que pode estar associada à introdução | 94 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro 2,0 1,5 1,0 0,5 n-C40 n-C38 n-C39 n-C35 n-C36 n-C37 n-C34 n-C31 n-C32 n-C33 n-C30 n-C27 n-C28 n-C29 n-C25 n-C26 n-C21 n-C22 n-C23 n-C24 n-C19 n-C20 Fitano Pristano n-C18 n-C15 n-C16 n-C17 n-C12 n-C13 n-C14 0,0 Figura 4. Padrão de distribuição dos n-alcanos (n-C12 a n-C40), em µg g-1, na região de Santos (estação SanD-2009). 2,0 1,5 1,0 0,5 n-C40 n-C38 n-C39 n-C36 n-C37 n-C35 n-C34 n-C31 n-C32 n-C33 n-C30 n-C27 n-C28 n-C29 n-C25 n-C26 n-C22 n-C23 n-C24 n-C21 n-C19 n-C20 Fitano Pristano n-C18 n-C15 n-C16 n-C17 n-C12 n-C13 n-C14 0,0 Figura 5. Distribuição dos n-alcanos (n-C12 a n-C40), em µg g-1, da estação SanF-2010 (região de Santos). de resíduos degradados de petróleo ao sedimento (Tabela 2). As maiores concentrações foram encontradas nas amostras ArrC2009/2010 (59,59 e 99,87 µg g-1, respectivamente) e nas amostras ArrB-2009/2010 (39,89 e 91,96 µg g-1, respectivamente), caracterizando um considerável aumento dessas concentrações entre as duas campanhas. Estas estações estão localizadas próximas ao porto do Forno, podendo estas altas concentrações estarem relacionadas às atividades portuárias. A estação ArrA, localizada afastada da região do porto do Forno, apresentou, nas duas campanhas, baixas concentrações de HAT (6,83 µg g-1 em 2009, e 11,11 µg g-1 em 2010), o que caracteriza um sedimento pouco contaminado. Nas amostras ArrB-2009/2010 e ArrC-2009/2010 as concentrações de HAT encontradas foram superiores a 10 µg g-1, chegando próximas de 100 µg g-1 (amostras ArrB-2010 e ArrC-2010), caracterizando o sedimento com grau de contaminação de moderado a alto nestas estações. Ao avaliar a razão MCNR/hidrocarbonetos resolvidos, os valores encontrados em todas as amostras foram maiores do que 4 (4,60–11,95), o que caracteriza a origem de fontes petrogênicas na região. | 95 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro O valor do IPC da amostra ArrA-2010 foi 5,42, característica de aportes biogênicos de hidrocarbonetos. Nas demais amostras, os valores do IPC variaram de 0,96 a 2,05, o que pode indicar uma introdução de compostos de petróleo nestas estações. A distribuição dos n-alcanos da região de Arraial do Cabo apresentou uma discreta predominância dos compostos de maior peso molecular na maioria das amostras, seguindo o padrão visto na Figura 6, indicando aportes biogênicos de hidrocarbonetos oriundos de plantas superiores. Apenas na amostra ArrC-2010 (Figura 7) pode-se observar aportes de origem biogênica provenientes tanto de macro e microalgas como de plantas superiores vasculares terrestres, caracterizados pela predominância de alcanos com número ímpar de átomos de carbono, em ambas as faixas dos compostos (de menor e maior peso molecular). A presença dos isoprenóides pristano e fitano em proporções similares indicam aportes petrogênicos também na amostra ArrC-2010. As concentrações do HAT na região do porto de Macaé variaram entre 2,21 e 226,76 µg g-1, com predomínio da MCNR sobre o HAT (68,85 a 99,11%) (Tabela 3), indicando, como nas outras duas regiões estudadas, contaminação por resíduos de óleo. Na segunda campanha, as concentrações do HAT encontradas em todas as amostras foram maiores do que as encontradas na primeira campanha. Isto caracteriza um considerável aumento da contaminação entre os períodos das campanhas. As maiores concentrações foram encontradas nas amostras MacA-2010, MacE-2010, MacB-2010 e MacD-2010 Tabela 2. Concentração (em µg g-1 de peso seco de sedimento) para a soma dos n-alcanos na faixa de n-C12 a n-C40 (∑ n-alcanos), somatório dos compostos resolvidos (∑ resolvidos), mistura complexa não resolvida (MCNR), Total de Alifáticos (HAT), assim como índices entre os alifáticos em amostras de sedimento da região de Arraial do Cabo. ArrA 2009 ArrB ArrC ArrA 2010 ArrB ∑ n-alcanos 0,46 0,56 0,45 1,70 1,49 4,51 ∑ Resolvidos 1,22 3,08 5,13 1,59 7,66 12,42 Amostras ArrC MCNR 5,61 36,81 54,46 9,53 84,30 87,45 HAT 6,83 39,89 59,59 11,11 91,96 99,87 IPC 2,05 0,96 1,03 5,42 1,76 1,41 MCNR/∑ Resolvidos 4,60 11,95 10,62 5,99 11,01 7,04 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 n-C40 n-C39 n-C37 n-C38 n-C36 n-C35 n-C34 n-C32 n-C33 n-C31 n-C30 n-C28 n-C29 n-C27 n-C25 n-C26 n-C24 n-C23 n-C21 n-C22 n-C19 n-C20 n-C18 Fitano n-C17 Pristano n-C15 n-C16 n-C14 n-C12 n-C13 0,0 Figura 6. Padrão da distribuição dos n-alcanos (n-C12 a n-C40), em µg g-1, Na região de Arraial do Cabo (RJ) (amostra ArrB-2010). | 96 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 n-C39 n-C40 n-C37 n-C38 n-C35 n-C36 n-C34 n-C33 n-C31 n-C32 n-C29 n-C30 n-C27 n-C28 n-C26 n-C25 n-C23 n-C24 n-C21 n-C22 n-C19 n-C20 n-C18 Fitano n-C17 Pristano n-C15 n-C16 n-C14 n-C12 n-C13 0,0 Figura 7. Distribuição dos n-alcanos (n-C12 a n-C40), em µg g-1, da amostra ArrC-2010 (Arraial do Cabo). Tabela 3. Concentração (em µg g-1 de peso seco de sedimento) para a soma dos n-alcanos na faixa de n-C12 a n-C40 (∑ n-alcanos), somatório dos compostos resolvidos (∑ resolvidos), mistura complexa não resolvida (MCNR), Total de Alifáticos (HAT), assim como índices entre os alifáticos em amostras de sedimento da região de Macaé. Amostra s MacA MacB 2009 MacC MacD MacE MacA MacB 2010 MacC MacD MacE ∑ n-alcanos 0,20 3,26 4,18 1,36 2,35 4,84 6,98 4,66 3,49 9,70 ∑ Resolvidos 0,69 4,53 7,54 2,16 3,58 18,60 15,39 9,95 1,19 21,26 MCNR 1,52 13,51 24,98 6,86 16,08 208,16 128,96 58,37 131,26 159,78 HAT 2,21 18,04 32,52 9,02 19,66 226,76 144,35 68,32 132,44 181,04 IPC MCNR/∑ Resolvidos 2,61 2,20 5,40 2,98 2,71 3,31 4,49 3,18 4,64 4,49 4,82 11,19 3,28 8,38 4,12 5,87 1,48 110,30 4,25 7,52 (226,76, 181,04, 144,35 e 132,44 µg g-1, respectivamente), e as menores concentrações foram encontradas nas amostras MacA-2009 e MacD-2009 (2,21 e 9,02 µg g-1, respectivamente). Na primeira campanha, as estações localizadas próximas ao porto de Macaé (MacB, MacC e MacE) tiveram concentrações mais altas do que as concentrações encontradas nas estações mais afastadas do porto (MacA e MacD), o que pode indicar contaminação oriunda de atividades portuárias. No entanto, na segunda campanha, a estação MacA apresentou alta concentração de HAT, o que sugere uma contaminação desta estação entre os períodos das campanhas. Exceto nas amostras MacA-2009 e MacD-2009, nas demais amostras as concentrações de HAT encontradas foram superiores a 10 µg g-1, caracterizando o sedimento com moderado grau de contaminação. As amostras MacD-2010, MacB-2010, MacE-2010 e MacA-2010 apresentaram concentrações superiores a 100 µg g-1, o que representa um sedimento com alto grau de contaminação. Ao avaliar a razão MCNR/hidrocarbonetos resolvidos, os valores encontrados nas amostras MacE-2009/2010, MacA2010, MacB-2010, MacC-2010 e MacD-2010 foram maiores do que 4, indicando uma considerável predominância da MCNR sobre os hidrocarbonetos resolvidos, o que caracteriza a origem de fontes petrogênicas nestas amostras, com o maior indicativo na amostra MacD-2010 (valor desta razão igual a 110,30). As demais amostras apresentaram valores para esta razão diagnóstica variando de 2,20 a 3,31, o que sugere baixa contaminação por petróleo nestas amostras. | 97 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro Os valores do IPC variaram de 1,48 a 5,40. As amostras MacB-2009, MacD-2009, MacE2009/2010, MacA-2010 e MacC-2010 apresentaram valores de IPC entre 4 e 7, o que representa aporte biogênico de hidrocarbonetos. A amostras MacD-2010 apresentou o menor valor de IPC (1,48). Apesar da estação MacD se encontrar longe da área do porto, este valor pode caracterizar um aporte de hidrocarbonetos de origem petrogênico nesta amostra. A distribuição dos n-alcanos nas amostras da região de Macaé mostra que, na primeira campanha (Figura 8), houve um predomínio de n-alcanos de alto peso molecular com números ímpares de átomos de carbono (nC-27, n-C29, n-C31 e n-C33), característicos de aportes biogênicos oriundos de plantas superiores em todas as amostras. Já nas amostras da segunda campanha (Figura 9), os n-alcanos são de origem biogênica provenientes tanto de macro e microalgas como de plantas 1,5 1,2 0,9 0,6 0,3 n-C39 n-C40 n-C37 n-C38 n-C35 n-C36 n-C34 n-C33 n-C31 n-C32 n-C29 n-C30 n-C27 n-C28 n-C25 n-C26 n-C23 n-C24 n-C21 n-C22 n-C19 n-C20 n-C18 Fitano n-C17 Pristano n-C15 n-C16 n-C14 n-C12 n-C13 0,0 Figura 8. Padrão de distribuição dos n-alcanos (n-C12 a n-C40), em µg g-1, nas estações da região de Macaé da primeira campanha (amostra MacB-2009). 1,5 1,2 0,9 0,6 0,3 n-C39 n-C40 n-C37 n-C38 n-C36 n-C35 n-C33 n-C34 n-C31 n-C32 n-C29 n-C30 n-C27 n-C28 n-C25 n-C26 n-C23 n-C24 n-C21 n-C22 n-C19 n-C20 n-C18 Fitano n-C17 Pristano n-C16 n-C15 n-C14 n-C13 n-C12 0,0 Figura 9. Padrão de distribuição dos n-alcanos (n-C12 a n-C40), em µg g-1, nas amostras da região de Macaé da segunda campanha (amostra MacB-2010). | 98 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro Região Soma dos n-alcanos (µg g-1) Total de Alifáticos (µg g-1) Porto de Santos (SP) 6,55±4,52 123,16±86,12 (1,59–13,32) (22,98–332,54) Porto de Arraial do Cabo (RJ) 1,63±2,15 (0,46–4,51) 51,54±39,50 (6,83–99,87) Porto de Macaé (RJ) 3,92±2,69 (0,20–9,70) 50,42±81,30 (2,21–226,76) Classificação dos portos quanto ao porte (IPEA, 2009) Grande 10 8 6 Petrogênica MCNR/Resolvidos A SanA SanB SanC SanD SanE SanF 4 Biogênica 1 2 3 4 IPC B 10 ArraialA ArraialB ArraialC Petrogênica MCNR/Resolvidos 12 8 6 Biogênica 4 1 2 3 4 5 IPC C Biogênica 100 80 60 40 20 MacaéA MacaéB MacaéC MacaéD MacaéE Petrogênica Tabela 5. Concentração da soma dos n-alcanos e HAT (média±desvio-padrão e faixa de concentração) em sedimentos das regiões portuárias estudadas neste trabalho. fontes, exceto para a amostra SanF-2010, que possui forte indicativo de ter contaminação de origem petrogênica. Na região de Arraial do Cabo, segundo esta combinação de índices diagnósticos, a maioria das amostras apresentou contaminação de origem petrogênica, com exceção da amostra ArrA-2010, que apresentou contaminação por hidrocarbonetos oriunda de MCNR/Resolvidos superiores vasculares terrestres, indicados pela predominância de alcanos com número ímpar de átomos de carbono, em ambas as faixas dos compostos (de menor e maior peso molecular). A presença dos isoprenóides pristano e fitano em proporções similares também foram observados nas amostras da segunda campanha, indicando aportes petrogênicos nas amostras. Ao relacionar as concentrações do HAT das regiões portuárias estudadas com a classificação dos seus portos quanto ao seu porte, observa-se que existe uma relação entre o grau de intensidade da atividade portuária e as concentrações desses hidrocarbonetos (Tabela 5). A região do porto de Santos apresentou faixas de concentrações da soma de n-alcanos e de HAT superiores às apresentadas pela região de Macaé que, por sua vez, apresentou faixas de concentrações superiores às apresentadas pela região de Arraial do Cabo. O porto de Santos é considerado um porto de grande porte e está localizado em uma região bastante urbanizada e industrializada. Já os portos de Arraial do Cabo e Macaé são considerados de pequeno porte, além de estarem localizados em regiões pouco industrializadas. Estes fatores podem justificar as maiores concentrações na região do porto de Santos. Uma vez combinados os índices diagnósticos IPC x MCNR/ hidrocarbonetos resolvidos (Figura 9), os resultados mostraram que os hidrocarbonetos presentes nas amostras da região de Santos são predominantemente oriundos de uma mistura de 0 2 Pequeno Pequeno 3 4 5 IPC Figura 9. Cross plot das razões diagnósticas: IPC x MCNR/hidrocarbonetos resolvidos das amostras das regiões dos portos de Santos, Arraial do Cabo e Macaé (campanhas 2009 e 2010). | 99 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 Pedro Paulo de Oliveira Pinheiro mistura de fontes. Já na região de Macaé, a combinação das razões diagnósticas IPC e MCNR/hidrocarbonetos resolvidos mostrou que na maioria das amostras a contaminação é oriunda de uma mistura de fontes. Apenas a amostra MacD2010 apresentou, segundo este gráfico, contaminação por hidrocarbonetos de origem petrogênica. 4. CONCLUSÕES Das três regiões estudadas neste trabalho, a região de Santos foi considerada a mais contaminada por hidrocarbonetos alifáticos, seguida da região de Macaé e Arraial do Cabo. Este gradiente de contaminação pode estar relacionado com a intensidade das atividades portuárias, bem como a taxa de urbanização e industrialização de cada uma das regiões. A região do porto de Santos apresentou sedimento com moderado ou alto grau de contaminação por HAT em todas as amostras. Na região do porto de Arraial do Cabo, o sedimento foi considerado com grau de contaminação de baixo a moderado, enquanto que na região do porto de Macaé, a contaminação foi considerada de baixa para alta. A MCNR foi encontrada com significada concentração em relação ao HAT nas três regiões estudadas. Este fato pode estar associado à presença de resíduos de petróleo degradado oriundos das atividades portuárias. Com relação aos índices diagnósticos utilizados neste trabalho, os hidrocarbonetos alifáticos da região de Santos e Macaé tiveram origem predominantemente de mistura de fontes (biogênicas e petrogênicas), exceto nas amostras SanF2010 e MacD-2010, que apresentaram contaminação de origem petrogênica. Na região de Arraial do Cabo, a origem dos hidrocarbonetos alifáticos foi predominantemente petrogênica, exceto para a amostra ArrA-2010, que apresentou contaminação por misturas de fontes (biogênicas e petrogênicas). Deste modo, este estudo revelou que, nas regiões portuárias estudada,s a contaminação por hidrocarbonetos alifáticos é ocasionada por múltiplos fatores, ligados tanto à biogênese, como às atividades portuárias e à influência urbana no seu entorno. REFERÊNCIAS BÍCEGO, M.C. Contribuição ao estudo dos hidrocarbonetos de CLARK Jr., R.C.; BLUMER, M. Distribution of n-paraffins in marine petróleo e biogênicos no ambiente marinho. 196p. Dissertação organisms and sediment. 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Science, v. 55, n. 1, p. 1-31, 2002. | 101 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 89-101 PROCESSO DECISÓRIO MODELOS DE ANÁLISE DE CRÉDITO E MECANISMOS DE SECURITIZAÇÃO ORIENTADOS AO FINANCIAMENTO DE PROJETOS DE CONSTRUÇÃO NAVAL NO MERCADO BRASILEIRO Models of Analysis of Credit and Mechanisms of Securitization Orientated to the Financing of Shipbuilding Projects in the Brazilian Market Ricardo Leonardo Rovai1, Marcello Muniz da Silva2 Resumo: Esse trabalho tem como foco central o financiamento de projetos de construção naval e remete à discussão dos critérios de análise de crédito e estabelecimento de garantias. Nesse contexto, são apresentados de forma reduzida as diretrizes e procedimentos adotados pelo BNDES na análise de crédito e sua relação com a exigência de garantias. Este estudo também apresenta uma revisão sumária, estabelecida a partir da moderna literatura, dos correspondentes métodos de enquadramento desses enfoques, sobretudo na área avaliação de crédito. O estudo se justifica, pois, até o presente, poucos trabalhos discutem sistematicamente os fundamentos da economia marítima e do shipping finance (compreendido como parte da economia marítima que trata de seus esquemas de financiamento). De fato, tais instrumentos devem ser avaliados sob perspectivas nem sempre convergentes (armador, estaleiro, agente financeiro, seguradoras e governo), o que conduz a assunto relevante nas discussões. O artigo busca ainda encontrar uma tipologia classificatória explicativa para o financiamento de projetos de construção naval no Brasil. Palavras-chave: Financiamento na indústria naval. Securitização. Risco de crédito. Construção de barcos. Riscos de construção de embarcações. Abstract: This work focuses on the financing of shipbuilding projects and refers back to the discussion of the criteria of analysis of credit and establishment of guarantees. In this context, the directives and proceedings adopted by the National Bank of Economic and Social Development (BNDES) in the analysis of credit and its relation with the demand of guarantees are presented in the abridged form. This study also presents a summary revision, established from the modern literature, of the corresponding methods of framing of these approaches, especially in the area of credit evaluation. The study is justified because, up to the present, few analyses discuss systematically the bases of the sea economy and of the shipping finance (when part of the sea economy that treats its schemes of financing) was understood how. In fact, such instruments must be valued under perspectives not always convergent (shipowner, shipyard, financial agent, insurers, and government), which leads to relevant subject in the discussions. The article seeks to find a qualifying explicative typology for the financing of projects of shipbuilding in Brazil. Keywords: Shipbuilding Financing. Securitization. Credit Risk. Shipping Construction. Risk Management of Shipbuilding Construction. 1. Professor do Mestrado Profissional em Administração na Universidade Nove de Julho – São Paulo, SP – Brasil. Pós Doutorando em Administração na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Pesquisador Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. Mestre em Engenharia Naval pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – São Paulo, SP – Brasil. E-mail: [email protected] | 102 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva 1. INTRODUÇÃO Este artigo pretende ter uma contribuição para a gestão financeira e de riscos da indústria naval através de seu foco central na proposta de edificação de um modelo de financiamento de projetos para a construção naval. Em particular, este estudo trata de assuntos relacionados à análise de crédito e mecanismos de secutização (seguro de crédito e seguro garantia) orientados ao setor. Estudos recentes que deram origem ao projeto (SILVA, 2007) indicam que, quando avaliada por meio de métodos de simulação, a estrutura de financiamento brasileira figura entre as mais atrativas em relação a outros países construtores (Coréia do Sul, Japão, China, EUA, Alemanha e Noruega). No entanto, se verificam fortes divergências na opinião de agentes (armador, estaleiro, agente financeiro, seguradoras e governo) quanto aos riscos associados às operações (SILVA; MARTINS, 2008a, 2008b). Em contraste, testes estatísticos sugerem que não há diferenças pronunciadas na estrutura patrimonial para amostras não intencionais de empresas nacionais e estrangeiras (transporte e apoio marítimo) quando avaliadas por meio de indicadores econômico-financeiros (solvência, atividade, rentabilidade e alavancagem), incluindo os adotados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (BNDES, 2008; SILVA; MARTINS, 2007). Os artigos concluem que essas evidências remetem à discussão dos critérios de análise de crédito e estabelecimento de garantias. Conceituado como a expectativa de recebimento de uma quantia de recursos financeiros por determinado período de tempo (ambos definidos em contrato), o risco de crédito pode ser definido como possibilidade de que essa expectativa não se concretize — o que remete a necessidade de implementação de modelos de avaliação de crédito e ao conceito de seguro de crédito. Uma vez concedido o financiamento, os riscos devem ser monitorados por meio de critérios específicos, previamente definidos. O acompanhamento da situação de crédito do(s) tomador(es) do recurso, na construção naval, remete ao conceito de seguro garantia. Esse tem por objetivo garantir o cumprimento de uma obrigação contratual específica (no caso, construir ou fabricar um navio) ou o cumprimento de uma obrigação financeira. No presente artigo, são apresentados e discutidos os procedimentos adotados pelo BNDES na análise de crédito e fixação de garantias. Isso é feito a partir de um conjunto de estudos elaborados por técnicos ligados ao Departamento de Crédito do BNDES. Também serão demonstrados modelos (consagrados na literatura) de avaliação do risco de crédito, fixação de garantias e seu tratamento por meio de instrumentos financeiros de avaliação. Esses modelos se orientam por procedimentos destinados a: identificar, descrever e avaliar os eventos de risco, antes e após a concessão do financiamento; mensurar as respectivas probabilidades de ocorrência de fatores de risco; mensurar seus impactos sobre a operação e precificá-los de maneira adequada. A partir do tratamento sistemático dessas informações, são determinados: procedimentos técnicos e operacionais que respaldam a operação; o valor do prêmio de risco; os processos de controle/reavaliação e o valor da cobertura. Com base na síntese dessas abordagens são apontadas alternativas tecnicamente consistentes e passíveis de serem implementadas em operações de contratação de financiamento à construção naval, uma vez que os contratos de construção envolvem diversas especificidades. O estudo se justifica, pois, até o presente, poucas pesquisas discutem sistematicamente os fundamentos da economia marítima e do shipping finance (compreendido como parte da economia marítima que trata de seus esquemas de financiamento). A rigor, tais esquemas devem ser avaliados sob perspectivas nem sempre convergentes (armador, estaleiro, agente financeiro, seguradoras e governo). Neste artigo, ainda discuteremos as especificidades do financiamento setorial procurando ressaltar a necessidade de mecanismos dedicados em seu enquadramento. Em seguida, são apresentados os tipos de risco e sua relação com as especificidades setoriais. Nesse contexto, se discute os trâmites do financiamento por meio da atual abordagem do BNDES. O objetivo é estabelecer uma reflexão acerca dos critérios de análise dessa instituição. Este trabalho estabelece uma relação entre riscos, aplicação de instrumentos financeiros e de seguro. Logo após, são discutidos os modelos que tem como foco o tratamento de riscos em operações de financiamento. 2. ASPECTOS METODOLÓGICOS Este estudo pode ser descrito como teórico-conceitual, especificamente dedicado à pesquisa e à revisão da literatura sobre o financiamento a projetos de construção na indústria naval. Busca-se, portanto, analisar o relacionamento entre o | 103 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva modelo de financiamento e o impacto na estrutura competitiva e operativa do setor naval para que o entendimento das restrições impostas pelo modelo de financiamento proposto pelo BNDES possa ser aprimorado em benefício da indústria naval brasileira. A revisão bibliográfica foi de cunho analítico, crítico e de atualização.A busca das publicações foi feita nas bases científicas de dados, para uma varredura mais ampla, que contou com as bases disponíveis tanto no Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (SIBINET/ USP) quanto no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que congrega várias bases de dados tais como ISI Web of Knowlwdge, PROQUEST e Scopus. Foram pré-selecionados periódicos relevantes de interesse para a temática da pesquisa. A saber: Research Policy; Research and development Management; Technovation; Journal of Product Innovation Management; Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) Transactions on Engineering Management; Journal of Engineering and Technology Management; Project Management Journal; e International Journal of Project Management. Além disso, periódicos importantes das áreas de administração também fizeram parte das buscas, tais como Academy of Management Review e Management Science, Maritime, etc. Com base na revisão da literatura propôs-se um quadro teórico-conceitual que pudesse estabelecer as relações entre a literatura de gerenciamento de projetos e financiamentos na indústria naval, com vista a evidenciar os fatores críticos em face da tipologia de projetos de construção estudados. 3. FINANCIAMENTO À CONSTRUÇÃO NAVAL A indústria de construção naval (ICN) produz um bem de capital de alto valor, fabricado sob encomenda, e que apresenta longos ciclos de produção e uso. Ao constituir demanda derivada dos serviços de transporte, o frete é a principal fonte de recursos setorial (condicionando as ordens de construção de novas embarcações dos armadores junto aos estaleiros). Uma vez tomada a decisão de investimento e definidos os parâmetros de preço-custo, qualidade e prazos do projeto construtivo, é preciso obter financiamento em condições compatíveis com a escala dos empreendimentos (BARBOZA, 2004). Dado o volume de capital exigido nos empreendimentos, as condições de financiamento setorial têm grande influência no jogo competitivo. Essa questão é apontada por diversos autores entre eles Barboza (2004), Cho e Porter (1986), Khalid (2005), Stopford (2005), entre outros. Na classificação de estruturas industriais, a ICN se caracteriza como uma indústria de bens de capital produzidos sob encomenda, ou simplesmente bens sob encomenda. Este conceito é de extrema importância para o entendimento da dinâmica de mercado de empresas ligadas ao setor de bens de capital e, consequentemente, para a determinação do padrão de financiamento da ICN, bem como, para a análise ex ante e ex post dos riscos dos empreendimentos. A produção de um bem sob encomenda é desenvolvida para um armador específico. Assim, cada pedido quase sempre se refere a uma embarcação diferente daquela produzida anteriormente. Desse modo, o estaleiro aguarda a manifestação do armador, o qual formaliza um pedido, acompanhado ou não de um projeto. Na construção de uma embarcação, um bom planejamento e controle da produção possuem enorme importância. Portanto, torna-se imprescindível para tais empresas a criação ou adoção de ferramentas que sustentem a programação das ordens de construção e de recursos de maneira exequível e confiável. Estes são elementos vitais para que se atenda de maneira satisfatória prazos e critérios de qualidade de entrega — os quais se refletem sobre os preços, custo do financiamento e demais parâmetros praticados. Os instrumentos de análise podem se basear em técnicas de credit scoring, credit rating, entre outros mecanismos de avaliação de operações. As análises provêm os termos da contratação que incluem o tratamento de riscos, definição de custos e prazos além da fixação de garantias e demais elementos associados à contratação de recursos. A existência de um conjunto de fornecedores especializados é um atributo sistêmico de grande importância para a competitividade de indústrias que produzem sob encomenda, entre elas os estaleiros. Por outro lado, o acesso ao capital depende das condições financeiras e reputação das contrapartes envolvidas nas operações, sendo variáveis extremamente relevantes na transferência de ativos. Nesse caso, se aplicam mecanismos de avaliação de crédito o que muitas vezes envolve a exigência de garantias. Esses requisitos são apontados na literatura de finanças e corroborados nas entrevistas realizadas junto a diretores financeiros de empresas ao longo do estudo elaborado por Silva (2007). | 104 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva É possível afirmar que o ciclo geral dos negócios associados ao setor de transporte marítimo irá afetar a avaliação dos ativos das empresas que nele operam (STOPFORD, 2005), impactando os resultados da avaliação de crédito. Por esta razão, os riscos relacionados ao investimento em construção naval também se refletem na avaliação dos ativos das empresas ligadas aos setores de armação e construção. Fato que interfere diretamente na fixação de garantias contratuais. Não obstante, é de extrema importância a disponibilidade de esquemas especiais de financiamento setorial. Este conforma um dos mais importantes elementos que compõem o chamado fator-país, por meio da provisão de incentivos. Tecnicamente, um financiamento constitui o processo por meio do qual as condições de pagamento e valor do empréstimo, seu suporte (se é por meio de garantia real, sem garantia, ou com garantia não real) e seu preço são combinadas a fim de atingir a finalidade a qual se destina o dinheiro que é tomado como empréstimo (RUTH, 1991). No contexto dessas discussões, duas fontes de risco são críticas: risco estaleiro e risco armador. Relacionados aos tipos de riscos apresentados na próxima seção, ambos apresentam repercussões sobre a prática e viabilidade do financiamento setorial. 4. PRINCÍPIOS DE AVALIAÇÃO DE CRÉDITO E RISCOS NO FINANCIAMENTO NAVAL Um projeto pode ser definido como um conjunto de informações (qualitativas e quantitativas, internas e externas à empresa) coletadas, processadas e analisadas para a tomada de decisões. O financiamento de novos empreendimentos depende e afeta a estrutura de ativos e passivos da empresa que o executa. O tratamento sistemático de informações financeiras da empresa resulta na classificação de crédito (credit scoring) e perfis de riscos de propostas (credit rating). Em linhas gerais, uma operação de financiamento envolve a expectativa de recebimento (ou pagamento) de determinada quantia de dinheiro por determinado período de tempo. Nesse contexto, o processo de captação de recursos e sua contratação têm como base a obtenção e análises de indicadores econômico-financeiros (IEF) que, ao refletir os riscos de transferência de ativos, se repercutem na estrutura de financiamento. Tradicionalmente, cinco critérios são tradicionalmente utilizados. Estes são conhecidos como os cinco C’s de uma operação de crédito (RUTH, 1991; DAMODARAN, 2004): Caráter, Capacidade, Capital, Conglomerado e Colateral. Atualmente, um sexto C é adicionado: Condições. Associados aos seis C’s, e considerando a fraca relação entre o curto e longo prazo das operações orientadas pela ICN, certas fontes de risco afetam profundamente o setor: • Navios de grande porte possuem longos ciclos de produção e uso e, devido à rigidez de receitas em relação aos custos e despesas, apresentam severos riscos operacionais; • Como aponta Barbosa (2004), o mesmo é verdade em relação aos estaleiros, uma vez que essas ocorrências não esperadas e que afetem os gastos do projeto implicam em riscos financeiros devido a seus efeitos sobre o EBIT das empresas; • No Brasil, as taxas de juros para o financiamento setorial são pré-fixadas (BNDES, 2007), o que limita o risco de taxa de juros. Contudo, pequenos diferenciais no custo de capital repercutem na competitividade de empresas rivais ou podem inviabilizar certas operações; • Ativos ligados ao setor (armação, construção, etc.) possuem usos específicos, implicando em sensível risco de liquidez em meio aos ciclos verificados nos negócios (isso afeta não apenas a capacidade de pagamento, mas também repercute na avaliação das garantias); • A demanda no setor é derivada da dinâmica do comércio internacional. Devido à baixa elasticidade relativa entre demanda e oferta por serviços de transporte, há expressivo risco de mercado; • Riscos de evento, oriundos de guerras, embargos econômicos, fatores climáticos, etc., que implicam em choques inesperados sobre os níveis de comércio afetando lucros e margens; • O risco cambial tem forte efeito, uma vez que o dólar constitui a moeda de referência utilizada em quase todas as transações do setor; • O risco de poder aquisitivo, traduzido em variações sistemáticas nos termos de troca, afeta desfavoravelmente os empreendimentos; • Por fim, como o setor é altamente regulado internacionalmente, fatores adversos associados ao risco legal e regulatório podem ocasionar choques inesperados na rentabilidade de operações. A partir da crise que se abateu no setor no início dos anos 1980, o Fundo da Marinha Mercante (FMM) passou a ser gerido pelo BNDES. Atualmente, quatro etapas são críticas no processo de concessão de recursos do FMM, sendo elas: | 105 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva verificação da prioridade do projeto; análise financeira da empresa; estudo de viabilidade do projeto; e fixação de condições contratuais. Essas envolvem diversas instituições, públicas e privadas e são comentadas por Silva (2007). 5. ABORDAGEM DE AVALIAÇÃO DE CRÉDITO DO BNDES As operações do BNDES são estabelecidas com vistas à oferta de crédito direcionado. Em meio às transformações econômicas verificadas nas últimas décadas, o BNDES teve de se adaptar para compatibilizar certas finalidades, nem sempre convergentes, como aumento da produção interna, oferta de emprego, ganhos de produtividade, geração de divisas, etc. Por se tratar de um banco desenvolvimento, a política de crédito do BNDES deve ser compatível com as peculiaridades do ambiente, escolhendo prioridades. Sob a perspectiva de gestão do risco de crédito as ações do banco devem se pautar por uma política de auto sustentação econômico-financeira (BERGAMINI JR; GIAMBIAGI, 2005). Em suma, enquanto as intuições financeiras privadas pautam suas ações com vistas na relação risco/retorno, as operações do BNDES devem adicionalmente se subordinar às metas estabelecidas pelo poder público, fato que repercute nos processos de avaliação e precificação de crédito. Essa atuação, pautada na auto sustentação, é ainda mais peculiar na medida em que a estrutura do BNDES é bastante alavancada (BERGAMINI JR; GIAMBIAGI, 2005). No que tange a compatibilização de sua postura desenvolvimentista e auto sustentação (o que envolve o tratamento de fatores de risco), os critérios de enquadramento de propostas se fazem por meio de critérios previamente definidos. Conforme é visto no Quadro 1, a fase de enquadramento de propostas consiste em verificar o atendimento de duas condições: verificação dos méritos e prioridade do projeto; análise financeira da empresa tendo em vista o nível de risco de crédito compatível com as políticas de atuação do BNDES. No contexto dessas hipóteses de enquadramento, a implantação de qualquer política de crédito tem que ser instrumentalizada por meio de mecanismos de classificação de crédito. No caso, os esquemas de credit scoring estão fortemente fundamentados na parametrização estatística de um vasto conjunto de dados retrospectivos (que geralmente não envolvem avaliações das garantias destinadas a lastrear a operação de crédito). Em contraste, tendo uma densidade técnica maior, os sistemas de classificação de risco envolvem informações qualitativas e quantitativas, de natureza retrospectiva e prospectiva levando em conta a análise da empresa (seu histórico, contexto operacional, etc.), do ambiente (institucional, legal, macro e microeconômico, etc.) e das garantias oferecidas (natureza, senioridade, liquidez e valor). No entanto, um sistema de classificação de riscos deve ser neutro e sinalizar a perda esperada por inadimplência de forma objetiva (BERGAMINI, 1997). Quanto à forma de alocação de recursos e determinação do spread, o modelo prevê a combinação de sistemas de rating com as prioridades estabelecidas pelo governo (Quadro 2). Essa visão relaciona prioridades e rating, ancorando as operações de bancos de desenvolvimento. A rigor, a classificação por meio de rating compreende a atribuição de notas para cada empresa. No contexto das operações do BNDES, propostas com baixa prioridade e rating ruim não devem ser autorizadas — exceto em casos excepcionais. Quadro 1. O Banco Nacional do Desenvolvimento e as hipóteses quanto ao enquadramento de projetos em termos do risco da proposta/empreendedor. Risco do empreendedor Alto risco Baixo risco Mérito da proposta Possui mérito Não possui mérito (1) não aprova (2) condiciona a aprovação a outros critérios (3) aprova (4) não aprova Fonte: Elaborado pelos autores com base em Bergamini Jr e Giambiagi (2005). Quadro 2. Exemplo de matriz de spreads/prioridades. AAA > AA > ... (i) (ii) (iii) (iV) Rating AAA AA A BBB --- Prioridades (1>2>3>4...) 1 0,7 0,9 1,1 1,3 ... 2 0,9 1,1 1,3 ... 3 1,1 1,3 ... 4 1,3 ... ... ... Fonte: Elaborado com base em Bergamini Jr e Giambiagi (2005). | 106 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva Ao levarmos em consideração os critérios de priorização expostos, os modelos de precificação de crédito devem combinar os seguintes elementos: custo de captação (tC); custos operacionais (tB), coberturas de perdas por inadimplência (tR) e retorno sobre aplicações (tPO). Adicionalmente, e no caso do BNDES, a precificação sofre reflexos de sua função desenvolvimentista. A taxa de juros praticada apresenta a seguinte estrutura denotada na Equação 1 (onde tf corresponde a taxa final praticada): tf = tC + tB + tR + tPO(1) Especificamente a taxa de juros final da operação (tf ) depende: do custo médio de captação (tC); da taxa de juros básica (tB) destinada a cobrir as despesas do BNDES (incluindo despesas fiscais); da taxa de risco (tR) que remunera o risco de crédito em termos de inadimplência esperada (calculada por nível de risco quando adotado o modelo de precificação direta ou por meio da estrutura da carteira de crédito no caso de prática de subsídio cruzado na operação); taxa de política operacional a qual engloba a função desenvolvimentista (sendo igual a zero no agregado dos desembolsos do BNDES e assumindo valores positivos ou negativos atendendo a promoção de alocação de recursos em setores específicos) (BERGAMINI JR; GIAMBIAGI, 2005). Ante ao exposto, o cerne das discussões se encontra relacionado à definição das taxas que formam tf e, especificamente, tR. Com efeito: tC depende das condições de captação do BNDES (em geral os bancos tem potencial de ganhos em operações ativas e passivas. No entanto, o custo dessas está fora de controle em muitas situações. O foco, então, se restringe as operações ativas); Já tOP reflete as opções de priorizar determinado setor atendendo a política governamental (o objetivo aqui é compatibilizar as funções de um banco de desenvolvimento com seu dever fiduciário). Enquanto isso, tB responde pela política de crédito fixada pelo Conselho Monetário nacional (CMN) e pela monetária definida pelo governo (essas de caráter exógeno). A variável tR segue princípios de avaliação de risco de crédito o que envolve a definição e o emprego de técnicas de que lhes deem conta. A rigor, tR decorre das estimativas de perdas por inadimplência, devendo ser avaliadas por meio de técnicas que permitam obter a probabilidade de perda por classe de risco e sua severidade, envolvendo ainda o emprego de técnicas de gestão da carteira de crédito pelos gestores do banco. Apesar de exigir dados dos Demonstrativos Contábeis das empresas e de solicitar as projeções dos mesmos, os bancos geralmente não divulgam os critérios de ponderação por meios dos quais são efetivamente avaliadas as propostas e através dos quais são estabelecidos os parâmetros da negociação. O mesmo se aplica ao BNDES. As análises dos indicadores são feitas de forma ponderada, remetendo a tomada de decisão. Como não se dispõe da estrutura de ponderação, nas análises quantitativas, serão avaliados os indicadores, sem levar em conta análises combinadas. Com efeito, os resultados dos testes estatísticos feitos por Silva (2007) e Silva e Martins (2007) permitem inferir que não há grandes diferenças na estrutura de financeira das empresas de transporte nacionais e estrangeiras quando avaliadas por meio da metodologia empregada pelo BNDES. Embora centrados em pequena amostra de empresas nacionais, os resultados dos testes aplicados são particularmente importantes, uma vez que indicam e traduzem características inerentes ao setor, explicitam semelhanças relativas na composição e gestão de ativos, capacidade de autofinanciamento e de captação por meio de contratos de financiamento (embora a escala das operações seja diferenciada). Além disso, como se trata de setor muito concentrado os índices representam uma boa estimativa acerca da estrutura de capital das empresas (SILVA, 2007). 6. RISCOS, INSTRUMENTOS FINANCEIROS E INSTRUMENTOS DE SEGURO A importância do mercado de fretes nas operações ligadas ao setor de transporte e construção naval foi destacada anteriormente. A rigor, em meio ao ciclo verificado nesse mercado, o valor de uso e o valor de mercado dos ativos das empresas de navegação, apoio marítimo e construção são profundamente afetados. Nos ciclos expansivos, oriundos de crescimento da economia mundial, por exemplo, os fretes tendem a aumentar, ampliando a rentabilidade das embarcações novas e usadas. Isso ocorre porque a oferta de serviços de transporte é inelástica no curto e médio prazo. Expectativas favoráveis quanto | 107 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva à rentabilidade dessas empresas induzem a valorização dos ativos (uso e mercado) e a realização de novos investimentos. Nos ciclos de contração ocorre o oposto. Apesar disso, ao competir em escala global, a situação dos estaleiros melhora parcialmente no ciclo expansivo, e tende a se tornar crítica nos ciclos de contração (uma vez que as embarcações possuem longo ciclo de uso). Após a entrada em operação das embarcações novas, caso haja uma quebra no mercado de fretes, haverá um grande número de embarcações novas pressionando o preço dos fretes. Como a construção demorará em se restabelecer, essa depressão afeta diretamente a ICN. Esse descompasso entre o curto e o longo prazo é uma das causas da necessidade de intervenção governamental no setor – incluindo no financiamento. Em suma: (I) A capacidade de pagamento de um financiamento depende, além do risco não diversificável, de uma operação primária associada à dinâmica e emprego de ativos específicos em mercado específico; (II) Se este emprego não gerar recursos suficientes, outras fontes de recursos ou bens e direitos devem ser mobilizados; (III) Em geral, as operações devem ser lastreada por outros ativos do tomador do recurso (ou outro instrumento como finança, aval, etc.); (IV) No mercado de transporte, estes são representados pelas embarcações novas e usadas de propriedade do armador, uma vez que o valor dos ativos dos estaleiros é baixo em relação ao valor financiado; (V) Esse fato representa óbice a captação por parte dessas empresas; (VI) Em geral, os armadores contratam o financiamento oferecendo embarcações novas e usadas como garantia; (VII) Essas embarcações perdem valor ao longo do ciclo depressivo e (VIII) Ainda que essas nunca devam ser o cerne do contrato, expectativas de forte variação no valor de uso ou de mercado dos ativos interferem nas operações pois essas são contratadas como garantias. Quantitativamente e do ponto de vista financeiro, os riscos podem ser conceituados de duas formas: (I) ocorrência de fracasso como no caso da possibilidade de pagamento ou não pagamento de uma obrigação financeira ou cumprimento de uma etapa de um projeto — podem ser avaliado por meio de uma distribuição de Bernoulli; (II) quantificação do processo decisório por meio do desvio padrão de uma ou mais variáveis sob investigação em relação a sua média (SECURATO, 1993). Operacionalmente, essa definição envolve a disponibilidade de dados para obtenção da distribuição de probabilidade e seus parâmetros correspondentes. Nas duas definições, o crédito estabelece uma relação de confiança entre duas (ou mais) partes envolvidas em uma operação (SECURATO, 2002). No entanto, uma vez que as operações envolvem vários atores (armador, estaleiro, banco, etc.), esse problema tende a se ampliar, com resultados adversos sobre o nível de atividade setorial. Por meio do exemplo, as seguintes observações podem ser feitas: (I) A classe de risco segue um padrão estabelecido pelo IRB Brasil Resseguros S. A. (empresas ligadas ao setor tendem a ter um baixo rating); (II) Alíquota a ser cobrada em uma operação de seguro é definida a partir de avaliações técnicas e com base na classe de risco na qual a empresa opera (essas classificações de risco são estabelecidas por auditores independentes por meio de mecanismos de modelos credit scoring e credit rating cujos parâmetros e ponderações devem ser definidos previamente – muitas vezes por técnicos que não possuem conhecimento do setor); (III) O valor segurado varia a depender da percepção de risco associada ao empreendimento, (empreendimentos com pior perfil de risco devem receber um maior volume de recursos em caso de desvios o que distorce a alocação de recursos). Em contraste ao seguro garantia, modalidade executante construtor, o seguro garantia financeira deve garantir a obrigação de pagar. Ou seja, é destinado a garantir qualquer obrigação de pagamento e pode ser utilizado em contratos de financiamentos e de construção, fornecimento ou prestação de serviços (Quadro 3). Segundo Ruth (1991), a garantia financeira não constitui o objetivo do contrato, mas representa uma segurança em razão de precariedades do postulante explicitadas durante a avaliação de crédito. | 108 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva Quadro 3. Instrumentos comuns orientados às provisão de garantias com vistas a assegurar cobertura às operações de transação de ativos. Critérios Caução (ou penhor) Políticas relacionadas Submissão de um bem em garantia ao cumprimento de uma obrigação. No caso pode estar associado a empréstimo cuja garantia são navios. O financiamento se dá de acordo com valor estimado de cada ativo. Hipoteca Alienação fiduciária Fiança e Aval Garantias de recebíveis Onerarão de um bem em garantia acerca do cumprimento de obrigação. Transmissão de direitos de propriedade de um bem ao credor para estabelecer a garantia de uma obrigação. Contrato autônomo e acessório de garantias por meio do qual o fiador compromete-se a cumprir com as obrigações perante ao credor Cessão de mandato por meio do qual o devedor dá ao credor o direito de sacar recursos que sejam frutos de operações futuras. Fonte: Adaptado de Khalid (2005). Segundo a literatura, a estrutura das garantias pode ser de vários tipos, tais como caução, penhor, valor mobiliários posto à disposição de garantia de pagamento (colateral), etc. ( JOHNSON STOKES & MASTER, 2005; KHALID, 2005; RUTH, 1991). Nesse caso, uma das principais análises feitas pelos bancos é referente ao valor mobiliário posto à disposição como garantia de pagamento (muitas vezes de difícil avaliação). Devido à flutuação no preço dos ativos em meio ao ciclo naval, para que seja efetivado um contrato, é preciso avaliar os riscos dos haveres da empresa naval. Embora essas análises fujam ao escopo do presente estudo, é importante discorrer mais acerca dos princípios que norteiam operações de seguro e sua relação com as operações orientadas ao setor de construção e transporte naval. Do ponto de vista comercial as operações de seguros são orientados por sete princípios comuns: (I) Número e homogeneidade de segurados – A maior parte do mercado de seguros atende membros individuais pertencentes a uma classe que agrega milhares de agentes que demandam um seguro específico. Em certa medida, os serviços de seguros (de automóvel, vida, etc.) são produtos homogêneos e atendem a milhares de indivíduos. Nesses casos, a oferta, magnitude do prêmio pago e valor da cobertura estão diretamente associadas à lei dos grandes números. (II) Identificação e definição da perda – É preciso definir, conhecer e descrever de forma precisa os eventos relacionados à(s) perda(s) e que dão origem a contratação do seguro, fixação do prêmio e valor da cobertura. Isso envolve definir a causa dos eventos assegurados bem como especificar o momento, local, condições, e demais elementos associados à ocorrência de tais eventos. Seguros de acidentes de trabalho, incêndio, entre outros, exemplificam esse princípio. (III) Perda acidental – Eventos que constituem “gatilho” para reivindicação do segurado devem ser fortuitos. Isso quer dizer que devem estar fora do controle do segurado. A perda deve ser pura, ou seja, deve resultar de um evento bem definido. Eventos que contém elementos especulativos geralmente não são segurados. Como exemplo, os covenants constituem uma forma de contornar tal dificuldade; (VI) Magnitude da perda – A magnitude da perda deve ser avaliada sob a ótica da seguradora. A receita com os prêmios deve ser suficiente para cobrir perdas previstas, custos operacionais, jurídicos, e de outras magnitudes, bem como garantir a remuneração do capital empregado na atividade, dada a sua correspondente margem de risco sistemático envolvido; (V) Cálculo da perda – Caso a probabilidade de ocorrência de um evento seja elevada ou a severidade em termos de custo seja tão grande que o prêmio resultante se torne demasiadamente alto em relação a proteção oferecida, é improvável que haja compradores para o seguro. Assim, deve haver um equilíbrio entre a necessidade apuração custos e perdas de forma a reduzir o valor do prêmio estimulando a contratação do seguro; (VI) Precificação – A precificação diz respeito à padronização financeira da relação entre as contrapartes envolvidas. Muitas operações no mercado de seguros | 109 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva são padronizadas. Quando isso é difícil, o processo de contratação e o prêmio são elevados; (VII)Limite para ocorrência de eventos catastróficos – A seguradora deve se precaver quanto à ocorrência de eventos catastróficos que, mesmo sendo raros, podem implicar em perdas severas ou mesmo irrecuperáveis para os envolvidos nas operações. Uma avaliação preliminar do mercado de construção e transporte naval à luz desses sete princípios que orientam a configuração/formatação e contratação de um produto de seguro permite inferir que o mercado de seguros orientado as operações de construção são severamente incompletos. Seja em termos de número, especificidades das operações, e outras características, o mercado de construção naval envolve o que os economistas ligados a escola institucional denominam de trocas não recorrentes. De fato, os contratos são celebrados de maneira mais esporádica (envolvem eventos onde é difícil prever a perda, calculá-la e precificá-la) e devem ser feitos sob medida, o que dificulta as operações devido a problemas de economia de escala. Em suma, os esquemas de securitização devem envolver seguradoras e resseguradoras como meio de diluir o risco. A abertura ressente do mercado de seguros brasileiro deve contribuir para uma melhora na qualidade das operações e maior oferta de serviços. No entanto, o problema da escala e assimetria de informações, além de outros, precisam ser contornados por meio de algum tipo de mecanismo. A maior escala que as encomendas da Transpetro deve dar ao setor, incentivos a exportação de embarcações (inclusive com apoio financeiro estatal) e apoio à indústria de reparo devem ser complementados com medidas de fomento nas áreas de configuração de novos serviços e ou modelos serviços nessa área. 7. INSTRUMENTOS DE TRATAMENTO DE RISCOS A gestão do risco de crédito constitui uma das funções essenciais de um banco. Na maior parte das vezes, os gestores dessas organizações provêm mecanismos para a avaliação individual dos postulantes. No entanto, o modelo também deve prover meios para avaliar os efeitos de cada operação sobre toda a carteira de empréstimos. As formas mais tradicionais de avaliação do risco de crédito podem ser divididas em três classes: sistemas especialistas, sistemas de rating e sistemas de score de crédito (SECURATO, 1999). Por fim, o sistema de credit scoring se destina a identificar os fatores-chaves que determinam a probabilidade de default e combiná-los, de forma a obter um score quantitativo das operações. Nessa classe, se encontra grande parte dos modelos atualmente utilizados pelas instituições financeiras na concessão de crédito e avaliação do risco de suas respectivas carteiras. Na verdade, levantamentos estabelecidos ao longo do desenvolvimento do projeto sugerem que há um verdadeiro cardápio de modelos, cada qual apresentando especificidades e vantagens próprias (Credit metrics, Risk Metrics Groups, Cash Flow at Risk, Value at Risk, Corporate Methods, Stress Analyze, Risk Management, credit Suisse finance products, Credit Risk+, etc.). Por exemplo, enquanto o Credit Metrics procura responder “se o próximo ano for ruim, quanto o banco perderá em empréstimos e do portfólio de empréstimos?”; o Risk Metrics procura dar conta da seguinte questão: “se amanhã for um dia ruim quanto o banco perderá em ativos negociáveis (ações, títulos, etc.)”. Já o Value at Risk procura medir a perda máxima de um ativo (ou passivo) em um dado período de tempo considerando certo nível de confiança (SECURATO, 1999). Certamente, a principal contribuição na avaliação da probabilidade de default teve início com o trabalho seminal de Merton (1974) que aplicou o modelo de precificação de opções proposto por Black e Scholes (1973) na avaliação de valor de uma empresa. Posteriormente, esse modelo foi generalizado por meio do modelo KMV. A estrutura desses modelos será descrita a seguir. Antes, convém salientar que a apresentação desses modelos só pretende dar uma ideia sobre o grau de versatilidade, consistência técnica e potencial de aplicação na estruturação de operações de financiamento à ICN. De acordo com o modelo Black e Scholes (1973), uma opção é um instrumento financeiro que dá ao seu titular (comprador) o direito, e não a obrigação a algo, e ao seu vendedor o dever, caso o titular exerça esse direito. Particularmente, em uma opção de compra, ou call, o comprador tem direito de adquirir um ativo (objeto da negociação), por um preço pré-fixado (preço de exercício) até (ou na) a data pré-fixada. O inverso se aplica ao vendedor. O que estimula o comprador a realizar essa operação é o desejo de garantir o preço do ativo na data futura. Merton (1974) aplica esses conceitos à operação de financiamento de uma empresa. Conforme a | 110 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva Expressão 2, se assume a identidade contábil estabelecida no balanço de uma empresa na data t=0. A0 = D0 + PL0(2) A identidade indica que, na data t=0, a empresa possui um patrimônio líquido indicado por PL0, uma dívida indicada por D0 = P0 (onde P0 corresponde ao total de passivos) resultando em um total de ativos representado por A0. Na data t=T (T>0), os proprietários da empresa se veem ante a seguinte situação: devem pagar a dívida DT? Isso envolve avaliar o valor da dívida em relação o valor dos ativos no instante t=T. Caso os proprietários optem por não pagar a dívida esta será executada e os credores assumem a empresa. A Figura 1 ajuda a ilustrar o problema. Observe que na data t=T (T>0) o valor dos ativos será dado pela identidade expressa na Equação 3. Intuitivamente, é possível verificar que se o valor dos ativos da empresa for menor do que o valor da dívida, os proprietários não terão interesse em pagar a mesma permitindo que a empresa seja liquidada. Em suma, não há incentivo em pagar a dívida, uma vez que o valor dos ativos na data t=T é menor que D0=P0). AT = DT + PLT(3) Da mesma forma, suponha que na data t=0 os ativos e dívida da empresa sejam iguais a $ 100.000 e $ 400.000, ⎞ ⎟ ⎟ ⎟ ⎟ ⎟ ⎬ ⎟ ⎟ ⎟ ⎟ ⎟ ⎠ PLT = AT - DT > 0 t=0 respectivamente. O valor dos ativos vai depender das ações do gestor e das condições do mercado (o objetivo dos proprietários é fazer com que os ativos se valorizem). No entanto vamos supor que na data t=T o valor dos ativos e da dívida sejam iguais a $ 300.000 e $ 800.000, respectivamente. Nesse caso os proprietários deixam a dívida ser executada, pois não vão pagar $ 800.000 por um ativo que vale $ 300.000 na data t=T. Em suma, analogamente ao modelo Black & Sholes (1973) o valor da dívida (D0=P0) corresponde ao preço da opção dos ativos na data de exercício (t=T). A rigor, esse modelo relaciona os três componentes fundamentais de uma operação financeira (principal, prazo e taxa de desconto). Feitas as devidas ressalvas, isso de fato ocorreu durante o período da Superintendência Nacional da Marinha Mercante (SUNAMAN) quando a garantia da operação era a primeira hipoteca do navio e havia prazo de seis meses de carência após o termino da construção e o início de pagamento das prestações. Se o armador verificasse que uma reversão no mercado de fretes implicasse em valor da dívida maior que o valor presente do fluxo de caixa da embarcação, esse permitia a execução das garantias. De acordo com essa abordagem, nas operações de financiamento atualmente orientadas ao setor, esse mesmo princípio se verifica, embora de forma diferenciada. Ao retomarmos os aspectos da modelagem, é possível demonstrar que a formulação do modelo de Merton (1974) é semelhante ao modelo de precificação de uma opção de compra (ou call) (Expressão 4). c = SN (d1) - Xe-rTN(d2)(4) ⎞ AT ⎟ ⎟ ⎟ ⎬ DT ⎟ ⎟⎟ ⎠ t=T PLt = At - Pt Figura 1. Representação esquemática do modelo de precificação de ativos proposto por Merton (1974). onde: c, S, X, r e a função N(di) compreendem respectivamente, o valor da opção de compra, o valor do ativo na data de exercício, o preço de exercício, a taxa de juros de referência da operação e a função de probabilidade acumulada de uma variável normal padronizada. A rigor, considerando aspectos do modelo de opções, que não serão demonstrados nesse artigo, esse último termo constitui a probabilidade que uma variável com distribuição normal padrão, φ (0.1), seja menor que um dado valor X (no caso a probabilidade de que o valor do preço da opção S seja menor que determinado valor). Já o modelo KMV estende e generaliza a abordagem de Merton (1974) ao obter, por meio de procedimentos empíricos, uma fórmula geral da distância ao default (Equação 5). Essa probabilidade pode ser entendida como a | 111 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva probabilidade de não pagamento, por parte de uma empresa, dos juros e do principal associados a uma obrigação financeira. A rigor, constitui uma métrica útil que dada a sua formulação, permite a avaliação e precificação do risco de crédito. 2 ⎛ VA ⎛ σ + μ- A T ln (5) ⎝ PDT ⎝ 2 DD = σA T ⎛ ⎝ ⎛ ⎝ onde VA, PDT, T, µ e σ representam, respectivamente, o valor dos ativos, o ponto de default (valor crítico mínimo associado ao valor dos ativos), o prazo da operação, o retorno médio do ativo e a volatilidade de retorno do ativo. Modernamente, Vassalou e Xing (2004) formularam um modelo semelhante que, ao generalizar as aplicações dos modelos de Merton (1974) e KMV, leva em conta o tamanho da empresa e demais fatores no processo de determinação da probabilidade de default. Esses e outros modelos constituem métricas úteis e passíveis de aplicação; uma vez que, dadas as suas formulações, incorporam características setoriais e estruturais orientadas a avaliação e precificação do risco de crédito setorial. Em suma, ao longo do desenvolvimento do projeto, serão analisados os principais modelos em usos nas instituições financeiras nacionais e internacionais com objetivo de avaliar seu grau de adequação para enquadramento das operações de financiamento orientadas a ICN. 8. SÍNTESE, PASSOS E DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA O presente artigo remeteu a assuntos relacionados ao financiamento, particularmente em temas ligados ao financiamento orientado a construção naval. Ao fazer isso procurou abordar aspectos associados às práticas estabelecidas pelo BNDES (principal instituição que provê financiamento a essas operações) por meio da análise de estudos de especialistas que trataram sistematicamente do assunto. Inicialmente, essas abordagens foram avaliadas a partir de estudos desenvolvidos pelos autores. O estudo tratou das dificuldades e limitações dos instrumentos vigentes no atendimento dessas operações. Ao fazer isso, remeteu à necessidade de tratamento diferenciado ao setor naval por meio da formulação de esquemas de financiamento dedicados, que considerem ou deem conta do dever fiduciário, a luz do enfoque dual (caráter de banco de financiamento e banco de desenvolvimento) que norteia as operações do BNDES. No contexto dessas discussões, procurou apresentar os principais aspectos que norteiam a provisão de crédito e os correspondentes esquemas de securitização. Nesse ínterim, a combinação de (i) técnicas de opções reais, (ii) combinadas ao uso de derivativos de crédito e (iii) covenants pode dar aporte à formulação de novos modelos transferência de ativos aderentes à realidade do setor. Nesse contexto, após a proposição do modelo, sua corroboração, bem como a validação dos resultados do projeto, estão centradas no emprego de simulações e convalidação por meio da metodologia Analytic Hierarchy Process (AHP) (utilizando aporte de armadores, estaleiros, bancos, seguradoras e demais entidades envolvidas nessas operações). 9. CONCLUSÃO Podemos concluir que, dada à complexidade das práticas de financiamentos operacionalizadas pela principal fonte de financiamento aos projetos de construção naval (que é o BNDES), a competitividade da indústria naval brasileira fica comprometida diante do impacto destas restrições no cumprimento de prazos, na estrutura e no aporte de capitais necessários e outros fatores restritivos impactantes. Se não houver um tratamento diferenciado ao financiamento dos projetos de construção da indústria naval, seu crescimento estará comprometido em relação às demais indústrias de classe e competitividade mundial, notadamente, as asiáticas. As restrições altamente impactantes em termos de competitividade, custos, prazos, qualidade e outros fatores por parte do modelo de financiamento proposto e praticado pelo BNDES, juntamente com os custos de mão de obra muito superiores aos custos dos países asiáticos, a carga tributária elevada que onera fortemente os setores produtivos e (com bastante intensidade) o setor naval e ainda o custo de capital para as operações diárias afetam enormemente a competitividade da indústria naval brasileira, tornando-a uma competidora em franca desvantagem em relação aos seus pares asiáticos. Enquanto esta situação perdurar teremos uma indústria aquém das necessidades de desenvolvimento nacionais. Entender o modelo e a estrutura de financiamento dos projetos da indústria naval é muito importante para podermos buscar a melhor adequação do modelo praticado pelo BNDES à realidade da indústria naval brasileira. | 112 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 Ricardo Leonardo Rovai, Marcello Muniz Da Silva REFERÊNCIAS BARBOZA, T.L. O atual cenário da construção naval civil e militar MERTON, R.C. On the pricing of corporate debt: the risk structure of no mundo, incluindo o subcenário brasileiro. 34p. Disponível em: interest rates. Journal of Finance, v. 29, n. 2, p. 449-479, 1973. <http://www.emgepron.mil.br/cenario_construcao_naval.pdf>. Acesso em: 10 nov 2004. 506 p.. BERGAMINI JR., S.; GIAMBIAGI, F. A política de crédito do BNDES: conciliando a função de banco de desenvolvimento e os cuidados com o risco. Revista do BNDES, v. 12, n. 23, p. 29-52, 20058. BERGAMINI JR., S. Classificação de risco: o modelo em uso no BNDES. 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LIX, n. 2, p. 831-868, 2004. | 113 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 102-113 SENSORES, GUERRA ELETRÔNICA E GUERRA ACÚSTICA CALIBRAÇÃO DE TRANSDUTORES HIDROACÚSTICOS POR RECIPROCIDADE EMPREGANDO SALVAS DE SINAIS MONOTÔNICOS E DE FREQUÊNCIA MODULADA Calibration of hydroacoustic transducers by reciprocity method using burst signals and chirps Carlos Alfredo Orfão Martins1, Sandro Aureliano Miqueleti2, Carlos Eduardo Parente Ribeiro3, Rodrigo Pereira Barretto da Costa-Félix4 Resumo: Neste trabalho é introduzido um novo método para calibração de transdutores hidroacústicos, comparando-o com um método convencional absoluto. O método convencional prevê o uso de salvas de sinais monotônicos de frequência discreta, como sinal de excitação e sinais de recepção em regime permanente, operando somente no intervalo de incidência direta das ondas acústicas emitidas pelo projetor. O método não convencional de calibração de transdutores hidroacústicos combina técnicas de reciprocidade e processamento de sinais. Esse novo método proporciona resultados em bandas de frequências largas por meio de um único conjunto de medições, além de minimizar as exigências de campo livre. Os resultados apresentaram compatibilidade (erro de ±1 dB) entre os valores de sensibilidade e a resposta de transmissão dos transdutores hidroacústicos modelos ITC 1001/1032 (ITC, USA) e dados fornecidos pelo fabricante para dispositivos similares empregando o método convencional absoluto de calibração. Também foram obtidos resultados empregando a metodologia não convencional de calibração entre 1 e 25 kHz num tanque hidroacústico não anecoico de 5 m utilizando pulsos de excitação codificado. Os limites inferiores e superiores da faixa de frequências utilizadas poderão ser estendidos facilmente após algum estudo complementar do método. Palavras-chave: Transdutores hidroacústicos. Varreduras de senos. Reciprocidade. Hidrofones. Projetores. Abstract: In this paper, a new calibration method for hydroacoustic transducers is introduced, which is compared to a conventional absolute method. The conventional method uses discrete monotonic frequency burst, as excitation signal, operating restrictively in the range of direct incidence of acoustic waves emitted by the projector. The non-conventional method of hydroacoustic transducers calibration is a combination of signal processing techniques and reciprocity. That novel method provides results in broader frequency bands with a single set of measurements and minimizes the free field requirements. The results showed good agreement (within ±1 dB of error) between the sensitivity calibration of a hydrophone model ITC 1001/1032 (ITC, USA) and the data sheet provided by the manufacturer. The alternative approach also gave reliable results between 1 and 25 kHz, even in a 5 m large water tank. Improvements could easily be implemented in order to extend the frequency range, such in the lower as the upper frequency limit. Keywords: Hydroacoustic transducers. Chirp. Reciprocity. Hydrophones. Projectors. 1. Mestre em Engenharia Oceânica pela COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Instituto de Pesquisas da Marinha – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 2. Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo; Pesquisador-Tecnologista do Laboratório de Ultrassom – Inmetro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 3. Doutor em Engenharia Oceânica pela COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Professor Adjunto do Laboratório de Instrumentação Oceanográfica da COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] 4. Doutor em Engenharia Biomédica pela COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Chefe do Laboratório de Ultrassom – Inmetro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected] | 114 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 114-117 Carlos Alfredo Orfão Martins, Sandro Aureliano Miqueleti, Carlos Eduardo Parente Ribeiro, Rodrigo Pereira Barretto da Costa-Félix 1. INTRODUÇÃO A necessidade de calibração de transdutores hidroacústicos é fundamental aos institutos de pesquisa oceanográfica, bem como a empresas do segmento naval e industrial. A calibração, nesse contexto, se resume a identificação das respostas de sensibilidade e transmissão em frequência de transdutores hidroacústicos. Complementarmente, aspectos relacionados de maneira mais ampla à metrologia permitem associar normas e especificações inerentes a projeto, fabricação, manutenções e verificações periódicas ao perfeito funcionamento desses dispositivos. Entre as diversas justificativas para a calibração de transdutores hidroacústicos, estão suprir a necessidade da aquisição e manutenção periódica de hidrofones e projetores hidroacústicos em laboratórios especializados ou fabricantes. Essa prática implicaria a redução de custos de maneira significativa, possivelmente evitando dificuldades com importação. Na calibração dos transdutores hidroacústicos, são medidas as respostas de recepção e de transmissão a partir do que se calculam as sensibilidades. A sensibilidade de recepção de um receptor hidroacústico consiste na medida de sua eficiência em converter um nível de pressão acústica atuando em uma de suas faces em uma medida de tensão elétrica. Essa sensibilidade de hidrofones em campo livre e distante consiste na relação entre a tensão elétrica de saída em circuito aberto e a pressão acústica gerada por uma onda plana progressiva. Já a resposta de transmissão (de tensão elétrica ou corrente) de um transdutor hidroacústico é o fator de conversão eletroacústica de um transdutor projetor, pois relaciona a tensão elétrica de excitação nos terminais de entrada com a pressão acústica radiada no meio. Neste trabalho é apresentada uma comparação entre o método de calibração convencional absoluto por reciprocidade da sensibilidade e resposta de transmissão utilizando três transdutores hidroacústicos, desenvolvido por Bobber (1970), e um método não convencional. Este último faz uso do princípio da reciprocidade e de uma técnica de geração de pulsos de excitação codificados com base em varredura de senos (chirps), conforme descrito detalhadamente em Martins (2013). 2. METODOLOGIA DE PESQUISA O método da reciprocidade para calibração de transdutores hidroacústicos gera valores absolutos de sensibilidade de transmissão em corrente (ou indiretamente em tensão elétrica) e sensibilidade de recepção. Não é necessário o uso de um transdutor hidroacústico calibrado. A faixa de frequências na qual o método pode ser utilizado varia entre poucas unidades de quilohertz (kHz) e 1 MHz, e as incertezas tipicamente obtidas estão na ordem de 1 dB, conforme a Norma IEC 60565 (2007). No método clássico da reciprocidade são utilizados três transdutores hidroacústicos e ao menos um deve ser recíproco, ou seja, pode ser utilizado tanto como hidrofone quanto como projetor hidroacústico. Utilizando um dos transdutores como projetor hidroacústico e o outro como hidrofone, mede-se a impedância elétrica de transferência (relação entre as excitações elétricas de entrada no projetor e saída no receptor) dentro da faixa prevista de frequência de calibração. Subsequentemente, são montadas mais duas combinações de pares de transdutores e, então, são obtidas as respectivas impedâncias de transferência. As grandezas elétricas medidas são utilizadas com o parâmetro de reciprocidade (relação entre a sensibilidade e a resposta de transmissão do transdutor recíproco) e os espaçamentos entre transdutores. A norma técnica IEC 60565 (2007) define como combinar essas grandezas e parâmetros a fim de se calcular a sensibilidade e a resposta de transmissão dos transdutores hidroacústicos. Neste experimento, o método de reciprocidade tradicional foi realizado empregando-se pulsos de curta duração. Dessa forma, assegura-se uma propagação acústica em campo livre em tanques com menores dimensões, sem necessidade de material absorvedor em suas paredes. O janelamento temporal do sinal permite tal aproximação. Essa técnica apresenta vasta aplicação entre fabricantes de transdutores hidroacústicos, institutos de pesquisa e metrologia. Por meio dela, procura-se eliminar (ou pelo menos limitar e controlar a interferência) os efeitos de ecos acústicos provenientes das múltiplas reflexões e reverberações indesejadas, como as provenientes das condições de contorno, por exemplo, as paredes e fundo do tanque, e superfície da água, e até mesmo as provenientes do próprio transdutor. As medições foram realizadas no Tanque de Testes Hidroacústicos do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), Rio de Janeiro, Brasil. Esse tanque não anecoico de água doce possui dimensões de 10 m de comprimento por 10 m de largura com 5 m de profundidade. Foram utilizados dois transdutores recíprocos modelo 1001 e um hidrofone modelo 1032, fabricados pela International Transducer Corporation (ITC, 2012). Os transdutores foram preparados a fim de garantir a | 115 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 114-117 Carlos Alfredo Orfão Martins, Sandro Aureliano Miqueleti, Carlos Eduardo Parente Ribeiro, Rodrigo Pereira Barretto da Costa-Félix Além do método convencional de calibração, foi experimentado um método alternativo no qual o sinal de excitação foi um sinal com modulação em frequência denominado Pulso de Excitação Codificado (PEC), apresentado por Costa-Félix (2005). O método alternativo de calibração faz uso de uma varredura de senos, ou chirp. No escopo deste trabalho, considerar-se-ão resultados suficientemente compatíveis àqueles que apresentarem erros entre os métodos inferiores a 1 dB. Considerações metrológicas mais refinadas não foram estudadas, tampouco foi calculada a incerteza do novo método proposto. Tabela 1. Fabricante e emprego dos transdutores hidroacústicos. Fabricante Modelo/ No de série Emprego 3. RESULTADOS Os resultados obtidos foram plotados em curvas de sensibilidade e resposta de transmissão de um hidrofone e de um transdutor recíproco respectivamente como apresentado nas Figuras 2 e 3, em uma banda de frequência de 3 a 15 kHz, com intervalos de 1 kHz, e comparando-se o resultado obtido com valores similares aos fornecidos pelo fabricante ITC, considerando-se um erro de até 1 dB como sugerido pela Norma IEC 60565 (2007). Uma vez que foi constatada a viabilidade do método de calibração por reciprocidade, os resultados da sensibilidade de recepção foram comparados ao método não convencional de calibração empregando varredura de senos (chirp) -180 Similar Fabricante ITC 1032 Reciprocidade -1 dB -185 dB ref V/uPa precisão da calibração, estando suas superfícies limpas e livres de bolhas de ar, de modo que se assegura o perfeito acoplamento acústico entre o transdutor e o meio (água). A Tabela 1 abaixo apresenta a associação entre os transdutores e seu respectivo emprego nos experimentos: Para a calibração de transdutores hidroacústicos por reciprocidade, foram utilizados os instrumentos pertencentes ao Grupo de Sistemas Acústicos Submarinos (GSAS) do IPqM: (I) Bancada de Calibração por Pulsos (Scientific-Atlanta, USA) apresentada na Figura 1, com destaque para os principais equipamentos; (II)Analisador de Impedâncias 4294A (Agilent, USA); e (III)Osciloscópio DSO 6014A (Agilent, USA). -190 -195 -200 -205 -210 2 4 6 8 10 kHz 12 14 16 Figura 2. Sensibilidade do hidrofone ITC 1032 e curva do fabricante. 1001/SN: 888 Projetor International Transducer 1001/SN: 887 Transdutor recíproco Corporation (ITC) 1032/SN: 1248 Hidrofone 150 Multímetro Filtro Calibrador Pré-amplificador Osciloscópio Gerador de Funções Transformador de Corrente/ Tensão Elétrica Amplificador Figura 1. Bancada de calibração por pulsos do Tanque Hidroacústico do Instituto de Pesquisas da Marinha. dB ref uPa/V 145 140 135 130 Similar Fabricante ITC 1001 888 125 Reciprocidade -1 dB 120 115 2 4 6 8 10 kHz 12 14 16 Figura 3. Resposta de transmissão do Projetor ITC 1001 e curva do fabricante. | 116 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 114-117 Carlos Alfredo Orfão Martins, Sandro Aureliano Miqueleti, Carlos Eduardo Parente Ribeiro, Rodrigo Pereira Barretto da Costa-Félix como excitação dos projetores hidroacústicos. Os chirp foram construídos com duração de 2 ms, abrangendo a faixa de frequências de interesse. A Figura 4 apresenta um gráfico comparativo da sensibilidade do hidrofone ITC 1032 obtida por reciprocidade para valores de frequência de até 25 kHz e a mesma plotagem para uma calibração utilizando uma varredura de senos. assim como a automatização do processo,a fim de aprimorar a aquisição e o armazenamento dos sinais. O método não convencional de calibração por varredura de senos carece de aprimoramentos no que tange à instrumentação para a utilização de maior número de pontos, suavização das oscilações das respostas, assim como a elaboração de um processo que contemple apenas o sinal obtido em regime permanente. 4. DISCUSSÃO 5. CONCLUSÕES A calibração de transdutores hidroacústicos por reciprocidade requer diversas medições de sinais de recepção e transmissão, associadas às incertezas e análises estatísticas da repetibilidade das medições, assim como da instrumentação utilizada que não fizeram parte do escopo deste trabalho. O aprimoramento e a qualificação desse processo deverão englobar um rigor metrológico, Chirp -191 Reciprocidade Reciprocidade +1 dB dB ref V/uPa -192 Reciprocidade -1 dB -193 -194 -195 -196 -197 -198 -199 5 10 kHz 15 20 25 Figura 4. Sensibilidade do hidrofone por varredura de senos comparado ao método convencional de reciprocidade. A calibração de transdutores hidroacústicos por reciprocidade empregando o método convencional de calibração de transdutores hidroacústicos utilizando a Bancada de Calibração do IPqM apresentou resultados de respostas de transmissão e sensibilidade com erros inferiores a 1 dB entre os valores de sensibilidade e resposta de transmissão de transdutores hidroacústicos modelo ITC 1001/1032 e dados fornecidos pelo fabricante para dispositivos similares como sugerido pela norma IEC 60565:2007. A obtenção de resultados dentro de uma barra de erros de 1 dB a partir dos resultados obtidos pela metodologia convencional de reciprocidade indica a viabilidade técnica da implementação da varredura de senos na calibração de transdutores hidroacústicos por meio de uma metodologia não convencional. Vale destacar as vantagens dessa técnica, como a obtenção de resultados em limites inferiores de frequência não contemplados em técnicas convencionais por exigência dos sinais de resposta do sistema em campo livre, a calibração em apenas um conjunto de medições, e todo o processo ter sido realizado em um tempo de execução significativamente menor, ou seja, sem a necessidade da medição dos parâmetros hidroacústicos a cada valor de frequência (stepped-sine). REFERÊNCIAS BOBBER, R.J. Underwater Electroacoustic Measurements. 1ed. Washington: Naval Research Laboratory, 1970. COSTA-FÉLIX, empregado R.P.B. em Aplicações Engenharia metrológicas Biomédica range 0,01 Hz to 1 MHz. International Eletrotechnical Comission, Geneva, Switzerland, 2007. do utilizando ultra-som varreduras de senos (CHIRPS). 2005. Tese (Doutorado em Ciências em Engenharia Biomédica) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. INTERNATIONAL TRANSDUCER CORPORATION. Transducers. Disponível em: <http://www.itc-transducers.com>. Acesso em: 01 mar 2012. MARTINS, C.A.O. Calibração de transdutores hidroacústicos pelo método da reciprocidade empregando salvas de sinais de excitação monotônicos e de frequência modulada. Tese (Mestrado em Engenharia Oceânica) – IEC 60565 (2007). Underwater acoustics calibration in the frequency Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. | 117 | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. 114-117 NORMAS PARA SUBMISSÃO E PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA PESQUISA NAVAL 1 . OBJETIVO A Revista Pesquisa Naval (RPN) é um periódico científico de publicação anual que apresenta à comunidade científica uma coletânea de estudos desenvolvidos por pesquisadores das áreas científica, tecnológica e de inovação, cujos temas sejam pertinentes às áreas de interesse da Marinha do Brasil (MB). O periódico é publicado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha (SecCTM) e avaliado pelo Sistema de Classificação de Periódicos, Anais, Revistas e Jornais (QUALIS) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) nas seguintes categorias: “B4”, nas áreas de avaliação Engenharia II, Engenharia III e Interdisciplinar; “B5”, nas áreas de avaliação Engenharia IV e Geociências; e “C”, nas áreas de Química e Administração. 2. CORPO EDITORIAL A administração da RPN será conduzida pelo Corpo Editorial composto pelo Editor-Chefe, Editores-Adjuntos, Conselho Editorial e pela Comissão Editorial, sendo: Editor-Chefe: Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha. Editores-Adjuntos: Diretor do Centro de Análise e Sistemas Navais – CASNAV ; Diretor do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira – IEAPM; Diretor do Instituto de Pesquisa da Marinha – IPqM. Conselho Editorial (com os seguintes elementos organizacionais da SecCTM): Presidente: Assessor de Relações Institucionais (SecCTM-30). Membros: Assessor Jurídico (SecCTM-08); Encarregado da Divisão de Parcerias Estratégicas (SecCTM-31); Encarregado da Divisão de Tecnologia Industrial Básica (SecCTM-32); Encarregado da Divisão de Planejamento e Controle de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica (“OFFSET”) (SecCTM-33); Encarregado da Divisão de Propriedade Intelectual (SecCTM-41); Encarregado da Divisão de Capacitação de Recursos Humanos de CT&I (SecCTM-63); Encarregado da Divisão de Planejamento de Recursos Humanos de CT&I (SecCTM-64); Ajudante da Divisão de Parcerias Estratégicas (SecCTM-3101); e Auxiliar da Divisão de Parcerias Estratégicas (SecCTM-3102). Comissão Editorial: Membros da comunidade científica, requisitados “ad hoc”, que farão a avaliação dos artigos em submissão, observados os critérios de avaliação elaborados pelo Conselho Editorial e aprovados pelo Editor-Chefe da RPN. 3. NORMAS EDITORIAIS 3.1 – Características Gerais 3.1.1. A submissão de artigos é aberta a pesquisadores, pertencentes ou não à Marinha do Brasil (MB), que apresentem trabalhos inéditos sobre os seus estudos, isto é, não publicados em quaisquer revistas ou periódicos, e cujos temas sejam, prioritariamente, pertinentes às áreas de interesse do Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha (SCTMB), abaixo discriminadas: (I) Área de Sistemas de Armas e Munições: Compreende a capacitação para pesquisar, projetar, desenvolver protótipos e avaliar sistemas de armas e seus componentes (hardware), controle de armas (software), armamento de pequeno e médio calibre e munições, necessários às Operações Navais. (II) Área do Ambiente Operacional: Compreende a capacitação para pesquisar, projetar, desenvolver e inovar modelos, métodos, sistemas, equipamentos, materiais e técnicas que permitam a produção de informações e a ampliação do conhecimento sobre os ambientes oceânico, costeiro, fluvial e lacustre, necessários às Operações Navais. (III) Área de Processos Decisórios: Compreende a capacitação para pesquisar, projetar, desenvolver protótipos e inovar modelos, métodos, sistemas e técnicas que permitam a produção de informações e a ampliação do conhecimento sobre os processos decisórios, estratégicos, operacionais, gerenciais e de apoio, necessários às Operações Navais. (IV) Área de Sensores, Guerra Eletrônica e Guerra Acústica: Compreende a capacitação para estudar, pesquisar, projetar, desenvolver protótipos e inovar sistemas de detecção, de discrição e de contramedidas necessários às Operações Navais. (V) Área de Desempenho Humano e Saúde: Compreende a capacitação de estudar, pesquisar, modelar, projetar e desenvolver protótipos, ampliando o conhecimento biomédico, farmacotécnico, psicológico, da bioengenharia e da ergonomia, visando a aumentar a capacidade de desempenho, de resistência a situações de pressão e de proteção da saúde do homem quando em combate e dos recursos de treinamento por simuladores, de interesse da Marinha. (VI) Área de Materiais Especiais: Compreende a capacitação de estudar, pesquisar, projetar e desenvolver protótipos e experimentos de materiais para dificultar a detecção de plataformas, para absorção de energia e proteção e detecção NBQR, para processos especiais de soldagem, para emprego na área nuclear, materiais resistentes à abrasão, ao impacto balístico e de materiais energéticos, ou ainda, materiais que possuam outras características físico-químicas especiais que sejam de interesse da Marinha. (VII) Área de Energia: Compreende a capacitação de estudar, pesquisar, modelar, projetar e desenvolver protótipos e experimentos envolvendo sistemas de geração, exceto nuclear, de acumulação e de distribuição de energia e sistemas de propulsão de interesse da Marinha. | II | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. II-V (VIII) Área de Arquitetura Naval e Plataformas: Compreende a capacitação de estudar, pesquisar, projetar, simular e desenvolver protótipos, modelos e experimentos de plataformas navais, anfíbias, terrestres e aéreas, visando à previsão do seu comportamento nas diversas condições do meio ambiente onde atuarão, da configuração de seus sensores e armas e da configuração de seus sistemas de propulsão e governo, necessários às Operações Navais. (IX) Área de Cibernética (Tecnologia da Informação) e Comunicações: Esta área compreende dois segmentos: a cibernética (tecnologia da informação) e a tecnologia das comunicações, antes tratadas de forma isolada e atualmente abordadas de forma integrada, considerando a convergência de suas respectivas tecnologias. O segmento da cibernética, com ênfase na tecnologia da informação, compreende a capacitação de estudar, pesquisar, projetar, simular e desenvolver protótipos, modelos e experimentos, visando ao desenvolvimento e à qualidade do software, à topologia das redes de computadores, à criptologia e às medidas de apoio à guerra cibernética de interesse da Marinha. O segmento da tecnologia da comunicação compreende a capacitação de estudar, pesquisar, projetar, simular e desenvolver protótipos, modelos e experimentos visando à comunicação de dados e/ ou voz e à avaliação de desempenho das comunicações. (X) Área de Nanotecnologia: Compreende a capacitação de estudar, pesquisar, projetar, modelar, simular e desenvolver protótipos e experimentos envolvendo a engenharia do átomo, que leve à criação de elementos, substâncias e materiais inexistentes na natureza e que atendam a necessidades específicas de interesse da Marinha. (XI) Área Nuclear: Compreende a capacitação de estudar, pesquisar, projetar, modelar, simular e desenvolver protótipos e experimentos envolvendo as atividades afetas ao ciclo do combustível nuclear e a geração de energia nuclear para propulsão naval de interesse da Marinha. 3.1.2. Os artigos em submissão serão encaminhados ao Conselho Editorial da RPN, por e-mail endereçado à caixa-postal pesquisa. [email protected] em formato, digital devidamente assinado(s) pelo(s) autor(es), de acordo com o e nos termos das presentes Normas. 3.1.3. Quando da submissão, será solicitado ao autor que enquadre o artigo em uma das áreas de interesse do SCTMB, discriminadas no item 3.1.1. O Conselho Editorial, sempre que julgar necessário, poderá alterar essa indicação. 3.1.4. Os autores dos artigos em submissão deverão acompanhar o andamento do processo de seleção e efetuar as solicitações indicadas, por e-mail endereçado à caixa-postal [email protected]. 3.1.5. O Português é o idioma oficial da RPN. Em caráter excepcional, por decisão do Conselho Editorial, poderão ser aceitos trabalhos em outro idioma. 3.1.6. O artigo em submissão deverá ser inédito e não poderá ser submetido para publicação em outras revistas, simultaneamente com a RPN, implicando em cancelamento da submissão. Em caráter excepcional, por decisão do conselho editorial, poderão ser aceitos trabalhos não inéditos. 3.1.7. O número de artigos para publicação, por edição, será limitado a um por autor. 3.1.8. Os artigos originais serão submetidos à avaliação da Comissão Editorial, sem qualquer identificação de autoria, garantindo que sejam preservados o critério de sigilo do autor e a isenção na submissão para avaliação por pares. 3.1.9. O Conselho Editorial da RPN selecionará os artigos a serem publicados, avaliando o cumprimento das Normas para Submissão de Artigos Científicos à RPN, bem como os pareceres apresentados pela Comissão Editorial. 3.1.10. No caso de haver número de artigos maior do que o comportado pela edição, os excedentes poderão ser reservados para publicação nas edições subsequentes, mediante autorização formal dos autores. 3.1.11. Após aprovação do artigo em submissão, os autores serão comunicados formalmente e encaminharão ao Conselho Editorial a “Declaração de Responsabilidade e Cessão dos Direitos de Autor para Publicação de artigo na RPN”, conforme anexo. No caso de autoria múltipla, a declaração poderá ser assinada apenas pelo autor responsável pela submissão do artigo, o qual se responsabilizará pelos demais. 3.1.12. A revisão gramatical e a obediência às normas de referência, citadas no item 3.2.14, deverão ser obrigatoriamente providenciadas pelo autor do trabalho, antes de sua submissão. Entretanto, no intuito de zelar pelo padrão culto da língua portuguesa, o Conselho Editorial da RPN se reserva ao direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, respeitando, porém, o estilo dos autores. As provas finais serão enviadas aos autores para a devida ratificação. 3.1.13. A versão final do artigo será adequada ao padrão de formatação gráfico da revista. Não serão fornecidas separatas. Os artigos estarão disponíveis, no formato “pdf ”, no endereço eletrônico da revista, bem como o previsto no item 4.2. 3.1.14. Os autores dos artigos publicados não perceberão qualquer tipo de remuneração ou pró-labore. 3.1.15. A RPN fica autorizada, em caráter de exclusividade, a publicar os artigos indicados na “Declaração de Responsabilidade e Cessão dos Direitos de Autor para Publicação de artigo na Revista Pesquisa Naval”, encaminhado de acordo com o item 3.1.11, pelo prazo e nas condições ali estabelecidas. 3.1.16. Os trabalhos publicados passam a ser propriedade da RPN, sendo permitida a reprodução parcial ou total dos trabalhos, desde que a fonte seja citada. 3.1.17. Os artigos publicados, bem como as opiniões emitidas nesses artigos, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). 3.2. Características Técnicas 3.2.1. Os artigos serão submetidos ao Conselho Editorial, conforme item 3.1.2, em arquivo eletrônico gravado na extensão “RTF” (Rich Text Format) e com tamanho máximo de 2MB. Formato: (I) margens: superior e esquerda 3 cm; direita e inferior de 2 cm e (II) papel A4 (21cm X 29,7cm). 3.2.2. A estrutura dos artigos conterá as seguintes seções, na sequência indicada: (1) Título (português e inglês); (2) Identificação dos Autores; (3) Resumo; | III | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. III-V (4) Palavras-chave; (5) Abstract; (6) Keywords; (7) Introdução; (8) Metodologia de Pesquisa; (9) Resultados; (10) Discussão; (11) Conclusões e (12) Referências. Todas as seções e subseções, a partir da Introdução, serão numeradas com algarismos arábicos. Permite-se a omissão da Seção (8) e a fusão das Seções (9) e (10), quando a natureza do trabalho assim o recomendar. 3.2.3. Tamanho: a extensão máxima do artigo será de 20 laudas, incluindo os elementos pré-textuais, texto e pós-textuais. Uma lauda é uma página com 1.250 caracteres. 3.2.4. Título: será breve e suficientemente específico e descritivo, contendo as palavras-chave que representem o conteúdo do texto, acompanhado de sua tradução para o idioma inglês. Formato: fonte Times New Roman, tamanho 14, em negrito, letras maiúsculas e minúsculas e parágrafo centralizado, com efeito itálico para o título em inglês. 3.2.5. Identificação dos autores: deverá constar o nome completo de cada autor, seguido do título profissional e titulação acadêmica, informação completa sobre a afiliação do autor (incluindo instituição de origem, vínculo funcional, cidade, estado e país) e o endereço eletrônico para contato. Formato: espaçamento entre linhas simples, fonte Times New Roman, tamanho 10, letras maiúsculas e minúsculas e parágrafo centralizado. Aplicar o efeito negrito somente para o nome do autor. 3.2.6. Resumo/Abstract: o resumo elaborado será de caráter informativo, de acordo com a NBR 6028 da ABNT, com o máximo de 250 palavras, ressaltando o objetivo, o método, os resultados e as conclusões. O abstract será a tradução integral do resumo para o inglês. Formato: espaçamento entre linhas simples, fonte Times New Roman, tamanho 12, com efeito itálico para o Abstract, e parágrafo justificado. 3.2.7. Palavras-chave/Keywords: as palavras-chave deverão ser separadas por ponto. As keywords serão a tradução integral das palavras-chave para o inglês. Formato: espaçamento entre linhas simples, fonte Times New Roman, tamanho 12, com efeito itálico para as keywords, letras maiúsculas e minúsculas e parágrafo justificado. 3.2.8. Introdução: Parte inicial do artigo, onde deve constar a delimitação do assunto tratado. Os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do artigo. 3.2.9. Desenvolvimento: Parte inicial do artigo, que contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto tratado. Divide-se em seções e subseções, conforme a NBR-6024 da ABNT, que variam em funções da abordagem do tema e do método. 3.2.10. Conclusão: Parte Final do artigo, na qual se apresentam as conclusões correspondentes aos objetivos e hipóteses. 3.2.11. Agradecimentos: se for o caso, deverão ser mencionados no final do trabalho, antecedendo as referências. Formato: espaçamento entre linhas de 1,5, fonte Times New Roman, tamanho 12, letras maiúsculas e minúsculas e parágrafo justificado. 3.2.12. Referências: serão apresentadas em ordem alfabética no final do artigo, de acordo com a norma da NBR-6023 da ABNT. Todas as referências deverão ser citadas no texto de acordo com o sistema alfabético (autor-data). Formato: espaçamento entre linhas simples, fonte Times New Roman, tamanho 12 e parágrafo justificado. 3.2.13. Notas explicativas: deverão ser evitadas. Quando possível, os textos com essas características serão incorporados aos elementos textuais. 3.2.14. As figuras, tabelas ou ilustrações devem conter legendas, créditos ou fonte de consulta. Caso haja figuras e tabelas importadas de outros programas, como Excel e Power Point, serão enviados, também, o arquivo de origem com resolução mínima de 200 DPI. As legendas, créditos ou fonte de consulta estarão em fonte Times New Roman - tamanho 10. 3.2.15. Com o propósito de atender ao item 3.1.5, os elementos textuais do artigo não poderão conter qualquer forma de identificação do(s) autor(es). 3.2.16. Para aspectos gerais de apresentação, referências bibliográficas, citações, notas e demais detalhes, serão observadas as seguintes normas: • ABNT – NBR-6021 – publicação periódica científica impressa; • ABNT – NBR-6022 – artigo em publicação periódica científica impressa; • ABNT – NBR-6023 – referências; • ABNT – NBR-6024 – numeração progressiva; • ABNT – NBR-6027 – sumário; • ABNT – NBR-6028 – resumo; • ABNT – NBR-10520 – citações; e • Apresentação tabular do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 4.1. Os autores dos artigos em submissão ao respectivo processo de seleção serão oportunamente informados sobre o seu andamento, por e-mail, até a publicação da RPN. 4.2. Os autores o receberão dois exemplares da edição que consta a publicação de seus artigos, considerando que ela também será disponibilizada na versão digital no sitio eletrônica da RPN. Caberá ao Conselho Editorial da RPN a responsabilidade pelo envio das revistas aos autores. 4.3. Quaisquer solicitações de informações adicionais deverão ser encaminhadas à: Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha Assessoria de Relações Institucionais Conselho Editorial da Revista Pesquisa Naval Esplanada dos Ministérios, Bloco “N”, 4º andar CEP: 70055-900 – Brasília/DF e-mail: [email protected] Tel/Fax: (61) 3429-1948. | IV | Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. III-V ANEXO DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E DE CESSÃO DOS DIREITOS DE AUTOR PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGO NA REVISTA PESQUISA NAVAL Ao Presidente do Conselho Editorial da Revista Pesquisa Naval Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha Esplanada dos Ministérios – Bloco “N” – 4º andar 70055-900 – Brasília – DF Assunto: Declaração de Responsabilidade e de Cessão dos Direitos de Autor para publicação de artigo na Revista Pesquisa Naval. Declaro(amos) que o artigo intitulado “___________________________________”, enviado à Revista Pesquisa Naval, periódico científico da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha, é um artigo inédito e o seu conteúdo não está sendo considerado para publicação em outras revistas, seja no formato impresso seja no eletrônico. Certifico(amos) que participei(amos) suficientemente da elaboração do artigo para tornar pública minha (nossa) responsabilidade pelo seu conteúdo. Cedo(emos), com exclusividade, a título gratuito e pelo período de dois anos, os direitos autorais patrimoniais do artigo supracitado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha, para publicação na ____ª edição da Revista Pesquisa Naval, a qual poderá ser em formato impresso ou em formato eletrônico, neste último caso para disponibilização na página Internet da RPN. Aceito(amos) as condições deste termo. (todos os autores) Local, em _______de ______de 20__. Assinatura do(s) autor(es) (nome completo, CPF, RG/Órgão Expedidor, cargo/profissão, instituição onde trabalha, endereço funcional) |V| Revista Pesquisa Naval, Brasília - DF, n. 26, 2014, p. III-V PRODUÇÃO EDITORIAL Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César – São Paulo/SP - CEP 01415-000 Zeppelini – Tel: 55 11 2978-6686 – www.zeppelini.com.br Instituto Filantropia – Tel: 55 11 2626-4019 – www.institutofilantropia.org.br Número 26 – 2014 Revista Pesquisa Naval ISSN 2179-0655 NÚMERO 26 – 2014