Comissão de Articulação com Movimentos Sociais – CAMS Brasília, 15 de junho de 2010 AIDS e População Negra Cristina Possas Departamento de DST e Aids Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Ministério da Saúde Governo Federal A epidemia de Aids: Exclusão Social, Discriminação e a População Negra Afeta mais intensamente os grupos sociais historicamente excluídos, entre os quais a população mais pobre e a população negra A questão da discriminação social e cultural Condições de maior vulnerabilidade Piores condições sócio-econômicas Desafios para o SUS Maiores dificuldades de acesso aos serviços de saúde e às ações e insumos de prevenção, diagnóstico e tratamento. Níveis mais baixos de conhecimento sobre a transmissão do HIV. Percentuais mais baixos de uso do preservativo Estratégias do Ministério da Saúde, por meio do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais (I): Implementou, com outros Ministérios e Secretarias em políticas de inclusão social, ações afirmativas e estratégias de gestão participativa voltadas à redução das condições de vulnerabilidade Ação pioneira: o Projeto Afroatitude lançado em dezembro de 2004 Constituído como Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros (Brasil Afroatitude) foi constituído como uma parceria entre o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e Universidades que possuíam o Programa de Ação Afirmativa para negros, adotando o regime de cotas para acesso dessa população. Estratégias do Ministério da Saúde, por meio do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais (II): O objetivo foi de fortalecer a resposta setorial de combate à epidemia e das práticas de implementação de ações afirmativas inclusivas, sustentáveis e permanentes, por meio do apoio a ações diversas nos âmbitos acadêmico e assistencial, destinadas a estudantes universitários negros e cotistas, socialmente precarizados. Outros setores do governo integrantes do Programa SEDH - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República SEPPIR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República SESu/MEC - Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação CT-SPN - Comitê Técnico Saúde da População Negra do Ministério da Saúde Universidades envolvidas Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ Universidade Estadual da Bahia - UNEB Universidade Federal da Bahia - UFBA Universidade Estadual de Londrina - UEL Universidade Federal do Paraná - UFPR Universidade Federal de Alagoas - UFAL Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Universidade de Brasília - UNB Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG O Projeto Afroatitude: estratégias (I) O Projeto Afroatitude, ao longo de sua implantação, apontou para a necessidade de 3 estratégias básicas no âmbito do SUS: 1. MELHORIA DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO E MAIOR VISIBILIDADE DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA E HIV/AIDS AÇÃO: Inclusão do quesito raça cor nos indicadores epidemiológicos. Houve significativo investimento na melhoria da qualidade da informação epidemiológica desagregada por raça cor em HIV/AIDS, dando visibilidade à real situação epidemiológica da população negra no País. RESULTADO: REESTRUTURAÇAO DO BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO Estas informações passaram, após um esforço importante nesta direção, a constar do Boletim Epidemiológico do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais. O Projeto Afroatitude: estratégias (II) 2. PESQUISA: NOVOS REFERENCIAIS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS Investimento significativo (2 Editais Nacionais) na pesquisa sobre a população negra e HIV/AIDS, possibilitando novos referenciais teóricos e metodológicos para a compreensão das reais condições de vida e saúde desta população e de suas vulnerabilidades.Este esforço permitiu identificar as diferenças sociais, a heterogeneidade epidemiológica e seus determinantes. Rede de Pesquisa em População Negra e HIV/AIDS, estruturada e disponível há um ano na página web do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais www.aids.gov.br Primeiro produto desta rede: Suplemento especial da Revista Saúde e Sociedade da USP, no prelo. O Projeto Afroatitude: estratégias (III) 3· TRANSVERSALIDADE DA QUESTÃO RAÇA/COR NAS AÇÕES DE PROMOÇÃO, PREVENÇÃO, ASSISTÊNCIA E TRATAMENTO PARA ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES E DA DISCRIMINAÇÃO Tornar o enfrentamento das questões de exclusão social, discriminação e saúde que afetam a população negra uma ação transversal que atravessa todas as ações do Ministério da Saúde e dos demais Ministérios 4. APOIO A AÇÕES AFIRMATIVAS, GESTÃO PARTICIPATIVA E DIREITOS HUMANOS – PARCERIAS COM OUTROS MINISTÉRIOS E SECRETARIAS I. MELHORIA DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO A situação epidemiológica Situação da AIDS no País Estimativa de infectados pelo HIV (2006): 630.000 Prevalência da infecção pelo HIV entre 15 e 49 anos: 0,61% (sexo feminino 0,41% e sexo masculino 0,82%) Casos acumulados de aids (1980 a junho de 2009): 544.846 Casos novos de aids em 2008: 34.480 Taxa de incidência de aids (por 100.000 habitantes) em 2008: 18,2 Número de óbitos por aids (1980 a 2008): 217.091 Número de óbitos por aids em 2008: 11.523 Coeficiente de mortalidade por aids (por 100.000 habitantes) em 2008: 6,1 Casos de aids segundo raça/cor: preta e parda Relativa estabilidade da epidemia no Brasil mas... Tendência de crescimento na população negra e sobretudo na população auto-referida como parda Sexo masculino: 1.157 casos ao ano em pretos (2008) – 10,5% dos casos (constante) 3.924 casos ao ano em pardos(2008) –35,6% dos casos (aumento expressivo Sexo feminino: 851casos ao ano em pretas (2008) – 13% dos casos (tendência de aumento) 2376 casos ao ano em pardas(2008) –36,3% dos casos - aumento expressivo Evolução da razão brancos/negros nos casos de AIDS Queda na razão branco/negros Entre homens, caiu de 1,7:1 em 2001 para 1,1:1 em 2008 Entre mulheres, caiu de 1,6:1 em 2001 para 1,0:1 em 2008 Tendência de aumento do HIV/AIDS na população negra: como interpretar? Embora existam indicativos de crescimento da participação da população negra na epidemia de HIV/AIDS, que motivou em 2004 o lançamento do Projeto Afroatitude, a interpretação desses dados deve ser feita com o necessário cuidado e rigor, considerando: A pauperização e interiorização da epidemia, que se deslocou para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País onde há maior concentração da população negra e parda As limitações da informação disponível em razão do percentual de casos de AIDS e de óbitos classificados como “ignorados”, que vem diminuindo gradativamente Distribuição percentual dos casos de aids em indivíduos da raça/cor preta e parda por região de residência. Brasil, 2009* 8,3% 9,8% 11,8% 22,5% 47,7% Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste FONTE: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais *Casos notificados no SINAN até 30/06/2009. Dados preliminares. Percentual de casos de aids em homens da raça/cor preta e parda com 13 anos de idade ou mais, segundo categoria de exposição por ano de diagnóstico. Brasil, 2000 a 2008* 100% 80% 60% 40% 20% 0% 2000 HSH 2001 Heterossexual UDI 2002 2003 Hemofílico 2004 Transfusão 2005 2006 2007 Transmissão vertical 2008 Ignorado FONTE: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais *Casos notificados no SINAN até 30/06/2009. Dados preliminares. Percentual de casos de aids em indivíduos da raça/cor preta e parda, segundo segundo faixa etária. Brasil, 2008* 22,4 19,5 20 17,4 16,6 15 8,8 10 5 1,7 0,9 7,8 2,4 2,2 0,1 ignorado 60 e mais 50 a 59 40 a 49 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 13 a 19 05 a 12 0 < 05 anos Percentual 25 Faixa etária FONTE: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais *Casos notificados no SINAN até 30/06/2009. Dados preliminares. Gestantes HIV+ Proporção de casos de gestantes HIV+ segundo raça/cor. Brasil, 2009* 0,3 0,9 31,1 51,5 Total de casos: 47.705** 16,3 branca preta parda amarela indígena Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais *Casos notificados no SINAN até 30/06/2009. Dados preliminares **IGNORADA: 11,3% Sífilis na gestação Proporção de casos de sífilis em gestantes segundo raça/cor. Brasil, 2009* 2,3 1,1 33,2 51,0 Total de casos: 19.608** 12,5 branca preta parda amarela indígena Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais *Casos notificados no SINAN até 30/06/2009. Dados preliminares IGNORADA: 11,7% II. PESQUISA: NOVOS REFERENCIAIS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS A importância da evidência científica Governança do conhecimento para orientar e fortalecer o SUS é fundamental para a melhoria da qualidade das ações e dos serviços Conquistas em 2005-2010 Criação da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico no final de 2004; Recursos – Ampliação considerável do orçamento para P&D - AIDS III: 14,5 milhões de dólares. Resultado: hoje a UPDT já responde por cerca de 75% do financiamento à pesquisa em DST/HIV/AIDS no Brasil e 95% à pesquisa e DT em vacina anti-HIV; Conquistas em 2005-2009 Lançamento de editais públicos – 14 Chamadas nacionais e regionais, lançadas em 4 anos (cerca de 3 Chamadas ao ano); 2 Chamadas de Pesquisa Nacionais em População Negra e HIV/AIDS Transparência: comitês externos e independentes de avaliação apoiados por pareceres ad hoc. Projetos Aprovados na Chamada População Negra e HIV/Aids – Convocatória 643/2005 TÍTULO DO PROJETO EXECUTORA VALOR Comparação dos perfis e percepções de vulnerabilidade Centro de Desenvolvimento e de mulheres negras e brancas ao HIV/AIDS em Belo Planejamento Regional Horizonte e Recife CEDEPLAR Conhecer para incluir: sensibilidade e potencialidades das Centro de Estudos de Saúde organizações do movimento negro para a promoção da Coletiva da Faculdade de saúde e prevenção às DST/AIDS Medicina do ABC Estudo sobre as vulnerabilidades da população negra ao Universidade Federal de HIV/AIDS e a busca por ações de prevenção em Alagoas - UFAL comunidades remanescentes de quilombos, em Alagoas Aspectos sócio-epidemiológicos e clínicos da população Faculdade de Ciências negra/parda com HIV/AIDS acompanhada em serviço Médicas da UNICAMP público de referência para HIV/AIDS - Hospital das Clínicas Saúde reprodutiva de mulheres negras: vulnerabilidade, Universidade Federal da percepções de saúde e tratamento às gestantes da Paraíba grande João Pessoa, Paraíba Acesso ao diagnóstico e tratamento de infecção pelo HIV e AIDS na população negra em Porto Alegre Associação Cultural de Mulheres Negras Entidades de Movimento Negro no Brasil: Alianças para o enfrentamento da epidemia de HIV/AIDS Hospital Escola São Francisco de Assis Vulnerabilidade ao HIV nas mulheres negras: um estudo Fundação Educacional Serra de determinantes sócio-culturais e fatores predisponentes dos Órgãos na região serrana de estado do Rio de Janeiro Estudo sobre o potencial de adesão de entidades do Associação Cultural de movimento negro ao enfrentamento da epidemia de Mulheres Negras HIV/AIDS na região Sul do Brasil Estudo sobre as condições de acesso da população Fundação de Estudos e negra autodeclarada sexualmente ativa ao diagnóstico e Pesquisas em Administração tratamento do HIV/AIDS Valor Total 146.256,00 97.900,00 71.486,74 149.991,70 99.943,76 122.959,00 95.831,62 102.000,00 89.331,00 99.986,03 R$ 1.075.685,85 Projetos Aprovados na Chamada População Negra e HIV/Aids – Convocatória 323/2005 TÍTULO DO PROJETO EXECUTORA VALOR Estudo das representações sociais de saúde e doença de adolescentes femininas afrodescententes sobre DST/AIDS Universidade do Estado do Rio de Janeiro 143.559,88 Fundação Universidade Federal do Maranhão 127.204,17 Universidade Federal de Santa Catarina 67.924,52 Fundação Oswaldo Cruz 150.000,00 UCS - Fundação Universidade de Caxias do Sul 143.180,00 Estudo sobre as vulnerabilidades de negros e não negros Centro Brasileiro de Análise e ao HIV/AIDS Planejamento - CEBRAP 149.865,00 Acesso ao diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS entre a população negra no município do Rio de Janeiro 119.004,14 Acolhimento e acesso ao diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS para a população negra, em dois SAEs de São Luís/MA Variáveis psicossociais associadas à vulnerabilidade ao HIV/AIDS: Estudo comparativo da população negra com a população branca Caracterização étnica/geográfica da população de Salvador e de portadores do HIV-1 e a correlação entre o índice de ancestralidade africana e vulnerabilidade a Aderência à terapia antirretroviral na população negra Hospital Escola São Francisco de Assis Valor Total R$ 900.737,71 Ministério da Saúde Governo Federal III. TRANSVERSALIDADE DA QUESTÃO RAÇA/COR NAS AÇÕES DE PROMOÇÃO, PREVENÇÃO, ASSISTÊNCIA E TRATAMENTO NO SUS PARA ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES E DA DISCRIMINAÇÃO TRANSVERSALIDADE: CONQUISTAS Um avanço importante é que a questão raça cor já atravessa hoje boa parte das ações do Ministério da Saúde e dos demais Ministérios no SUS No caso do HIV/AIDS, esta estratégia beneficiou-se da internacionalmente reconhecida política brasileira de acesso universal e gratuito a todas as ações de promoção, prevenção, assistência e tratamento antiretroviral, fundada na perspectiva dos direitos humanos e com importante participação das organizações da sociedade civil IV. FORTALECER O APOIO ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS E À GESTÃO PARTICIPATIVA, NA PERSPECTIVA DE REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES E DOS DIREITOS HUMANOS Desafio: avaliação crítica É essencial que realizemos uma avaliação crítica do que foi feito até aqui para que possamos avançar. Este Seminário certamente será uma importante contribuição nesta direção!