CADERNO DO PROFESSOR 1 APRESENTAÇÃO Onde existiu e onde ainda existe o que restou da Mata Atlântica, vivem 80 milhões de brasileiros e centenas de espécies animais e vegetais. Tom Jobim foi um dos seus mais apaixonados defensores. Desse feliz casamento do mar e da montanha coberta de florestas tropicais veio a inspiração para sua poesia, para sua canção. Juntando a obra musical e poética do maestro Tom Jobim com um diagnóstico das questões ambientais da Mata Atlântica, e o que há de mais inovador nas formas de aprender e atuar na sociedade — interdisciplinaridade, uso de multimeios, metodologia de projetos, formação de parcerias, interatividade e avaliação continuada —, o Ministério da Cultura, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, o Instituto Antonio Carlos Jobim, a Fundação Roberto Marinho, Furnas Centrais Elétricas S.A. e as Secretarias Estaduais de Educação e de Meio Ambiente estão colocando nas mãos dos professores o projeto Tom da Mata. Com este projeto, pretende-se que seja atendida demanda claramente expressa nos novos Parâmetros Curriculares Nacionais, no que diz respeito ao tema transversal Educação Ambiental. O projeto Tom da Mata oferece ao professor instrumentos didáticos para a iniciação dos alunos de primeiro grau nos procedimentos da pesquisa científica – observação, experimentação e registro – e mostra, com exemplos concretos e adaptáveis às realidades locais, como planejar a implantação de projetos educativos e de alcance social na comunidade em que a escola está inserida. Para tanto, fazem parte deste conjunto de suportes: fitas de vídeos com fartas informações sobre a Mata Atlântica e situações concretas de Educação Ambiental; fita de áudio com músicas de Tom Jobim; Cancioneiro da Mata Atlântica com letras e partituras das músicas da fita; sementes selecionadas de espécies da Mata Atlântica; jogo educativo, com aventuras de RPG relacionadas à fauna, à flora, às cidades e às atividades econômicas da região; caderno de dados e propostas de atividades dirigido ao professor, com formulários para a avaliação da prática em sala de aula. Além disso, as escolas envolvidas no projeto através de convênios assinados com as Secretarias de Educação recebem apoio na capacitação para o uso do material. Mais que repassar a necessidade de preservarmos nosso patrimônio, o projeto Tom da Mata espera contribuir para despertar nos jovens alunos a responsabilidade individual em relação às questões ambientais locais e mobilizar escolas e comunidades para ações sociais relevantes. Furnas Centrais Elétricas Instituto Antonio Carlos Jobim Fundação Roberto Marinho EDUCAÇÃO AMBIENTAL A Educação Ambiental é hoje o instrumento mais eficaz para se conseguir criar e aplicar formas sustentáveis de interação sociedade-natureza. Este é o caminho para que cada indivíduo mude de hábitos e assuma novas atitudes que levem à diminuição da degradação ambiental, promovam a melhoria da qualidade de vida e reduzam a pressão sobre os recursos ambientais. Educação Ambiental na prática Caminhos para se mudar atitudes Cada vez mais, grande parte das soluções para os problemas ambientais depende do investimento que fizermos em Educação. Por isso, todas as recomendações, decisões e tratados internacionais colocam a Educação Ambiental em primeiro lugar para se conseguir criar e aplicar formas sustentáveis de interação sociedade-natureza. Por isso, os novos parâmetros curriculares nacionais incluíram a Educação Ambiental como um dos temas transversais. Este é o caminho para, por meio de ações individuais ou coletivas, se chegar a mudanças de hábitos e atitudes que levem à diminuição da degradação ambiental, promovam a melhoria da qualidade de vida e reduzam a pressão sobre os recursos ambientais. Educação ambiental O QUE É A Educação Ambiental foi a forma encontrada internacionalmente para promover mudanças de mentalidade, investindo na conscientização das pessoas para que adotem novas posturas, tanto de proteção à vida no planeta em geral, quanto de melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida das comunidades. Com o crescimento dos movimentos ambientalistas, a partir da década de 1970, a expressão Educação Ambiental passou a ser usada para designar as iniciativas de universidades, escolas, instituições governamentais e não-governamentais, que buscam essa consciência para as questões ambientais. Mas Educação Ambiental não se limita a organizar palestras e preleções, nem a passar informações e conceitos. Para que ela se dê concretamente e possamos ter resultados sociais mensuráveis, é preciso investir em atividades que levem a mudanças de atitudes, à formação de valores, de habilidades e procedimentos conseqüentes dentro de um determinado contexto. A educação que parte da relação entre o aluno e seu meio, sua comunidade, é uma proposta de ensino que está entre nós desde a década de 1960, quando Paulo Freire expôs e experimentou com grande sucesso aquele que viria ser o método que leva seu nome. Ou seja, o método em que o processo de ensino/aprendizagem se dá na própria relação com o meio. No entanto, somente na Constituição de 1988 os conteúdos e as metodologias do que chamamos de Educação Ambiental passaram a fazer parte do nosso sistema de ensino nas instâncias de governo federal, estadual e municipal (art. 225, § 1º , VI). Uma boa Educação Ambiental COMO FAZER A Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em Tbilisi (outubro/1977), foi promovida pela UNESCO e serviu de marco no estabelecimento dos princípios e recomendações a serem desenvolvidos em Educação Ambiental nas escolas. As resoluções quanto ao que deva ser Educação Ambiental no Brasil – que constam do documento do MEC, Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), editado em 1997 e distribuído a todas as escolas públicas do país – são, resumidamente, as seguintes: considerar o meio ambiente em sua totalidade: em seus aspectos natural e construído, tecnológicos e sociais (econômico, político, histórico, cultural, técnico, moral e estético); constituir um processo permanente e contínuo – desde o início da educação infantil – durante todas as fases do ensino formal; aplicar enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada área, de modo que se consiga uma perspectiva global da questão ambiental; examinar as principais questões ambientais do ponto de vista local, regional, nacional e internacional; concentrar-se nas questões ambientais atuais e naquelas que podem surgir, levando em conta uma perspectiva histórica; insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e internacional para prevenir os problemas ambientais; considerar de maneira explícita os problemas ambientais nos planos de desenvolvimento e crescimento; promover a participação dos alunos na organização de suas experiências de aprendizagem, dando-lhes a oportunidade de tomar decisões e aceitar suas conseqüências; estabelecer, para os alunos de todas as idades, uma relação entre a sensibilização ao meio ambiente, a aquisição de conhecimentos, a atitude para resolver os problemas e a clarificação de valores, procurando, principalmente, sensibilizar os mais jovens para os problemas ambientais existentes na sua própria comunidade; ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais; ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência, a necessidade de desenvolver o sentido crítico e as atitudes necessárias para resolvê-los; utilizar diversos ambientes com a finalidade educativa e uma ampla gama de métodos para transmitir e adquirir conhecimento sobre o meio ambiente, ressaltando principalmente as atividades práticas e as experiências pessoais. Aspectos Socioeconômicos, Políticos, Culturais e Históricos QUAIS SÃO O ser humano, - ao interagir com os elementos físico e biológico * cria um espaço sociocultural; - ao utilizar os elementos do seu ambiente * provoca modificações que se transformam com o passar do tempo (história); - ao transformar o ambiente * muda também sua própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive (cultura e economia). A forma como as pessoas se relacionam com o espaço físico onde vivem – de respeito ou dominação, de destruição ou preservação, de consumismo ou conservação – é determinante dos aspectos econômicos, culturais e políticos. As variedades dos modos de vida, de relações sociais e construções culturais se transformam diversamente e, às vezes, grupos sociais criam soluções diferentes para problemas semelhantes. O que os caracteriza é a criatividade, ilimitada nos seres humanos, fomentadora de diferentes formas de vida e de expressões culturais. As experiências brasileiras em Educação Ambiental são tão diversas quanto as realidades sócio-ambientais em que estão inseridas. É justamente essa diversidade física, social, cultural e histórica que cria as condições para que o trabalho seja rico e inovador. Devido à sua grande extensão territorial, o Brasil possui recursos naturais fundamentais para todo o planeta: * grande parte da água doce disponível para o consumo humano; * importantes ecossistemas – florestas equatorial e tropical, o pantanal, o cerrado, os mangues e as restingas. Além dessa diversidade, a interação entre os vários grupos étnicos que constituem a população brasileira – americanos, africanos, europeus, asiáticos – constrói a riqueza cultural. Os problemas ambientais na escola QUAIS SÃO A escola não está isenta de problemas ambientais. O que, em geral, acontece é que as pessoas não se dão conta dos problemas que estão a sua volta. O dia-a-dia e a acomodação fazem com que se deixe de perceber fatos e situações que afetam a qualidade do ambiente de trabalho e, por tabela, nossa qualidade de vida. Exemplo: Barulho Um barulho contínuo pode, por exemplo, a princípio, irritar as pessoas, mas acaba por ser incorporado ao cotidiano e se torna praticamente imperceptível. Dores de cabeça, irritações nervosas, náuseas... Será que nos damos conta das causas desses sintomas desagradáveis? Os centros urbanos estão cada vez mais barulhentos devido ao crescimento industrial e populacional mas, nosso aparelho auditivo, sem grandes modificações nos últimos cinqüenta mil anos, responde a esses estímulos com uma série de distúrbios não-adaptativos. “Vários estudos em todo o mundo têm demonstrado que os ruídos interferem nas atividades normais do homem, como dormir, descansar, ler, concentrar-se, comunicar-se etc. Ruídos elevados produzem constrição dos vasos sangüíneos, dilatação das pupilas, contração dos músculos, aumento dos batimentos cardíacos, estremecimento, espasmos estomacais, vertigens, redução da capacidade de visão, tensão emocional, alergias, úlceras, dificuldades respiratórias, estresse e surdez progressiva” (UNESCO/UNEP/IEEP EES 4, 1983, in Dias, Genebaldo Freire. Educação Ambiental – princípios e práticas. Gaia/Global, 1993) Toda a riqueza de soluções, de expressões culturais, de concepções de mundo, de vida em sociedade presentes nos milhares de povos contemporâneos, bem como em suas histórias, constitui-se igualmente num patrimônio que interessa a toda a humanidade conservar. Não no sentido de congelar, estancar. Mas no sentido de valorizar, respeitar e permitir a continuidade do processo histórico-cultural de cada povo, ao invés de aculturá-lo, impondo-lhe condições de vida que exijam o abandono dos meios de subsistência e de produção cultural que lhe são próprios. (PCN - Meio Ambiente / 1996) ALERTA O barulho no ambiente urbano é um dos fatores determinantes da qualidade de vida, por interferir na saúde e no conforto de seus habitantes. Botando a mão na massa Para criar uma consciência sobre o barulho, podemos desenvolver uma atividade simples para identificar, isolar e analisar ruídos do ambiente: Pedir que os alunos façam o máximo de silêncio durante 1 minuto e que estejam atentos para os ruídos que ouvem. Após esse tempo, relatam os sons que puderam identificar. na cidade certamente listarão barulhos provocados por carros, sirenes, aviões... na área rural, além de pássaros, insetos, também se pode ouvir máquinas da lavoura, serras cortando árvores, carros nas estradas... É, no mínimo, curioso perceber que, às vezes, o professor se desgasta com seus alunos quando boa parte do barulho produzido não vem deles. Em seguida, para que a observação tenha um sentido social efetivo: Listar as fontes de poluição sonora que afetam a escola e levantar formas de amenizá-las ou solucioná-las. Os alunos deverão ter acesso à legislação ambiental sobre o assunto. Outros problemas ambientais Além do barulho, outros fatores podem perturbar o ambiente escolar e, certamente, cada escola saberá listar seus problemas e, dentre eles, priorizará aqueles que necessitam solução urgente. qualidade do ar (poeira, cigarro, pó de giz) áreas cimentadas poucas áreas verdes ventilação e iluminação inadequadas poluição visual espaço individual restrito má qualidade da água más condições de higiene má qualidade do recreio problemas de relações humanas ACERTANDO O TOM A relação do homem com as aves, com os pássaros é diferente na terra e no mar: na terra é a ave que teme o homem (...) no mar é diferente, a gaivota é amiga do pescador (...) mostra para o pescador onde está o peixe. Projeto escolar para o lazer Quem já fez Novo recreio Esse projeto foi proposto numa escola onde o horário de recreio não estava sendo bem utilizado pelos alunos. As crianças apenas lanchavam e o resto do tempo era usado para correrias, o que fatalmente acarretava acidentes. O objetivo do Projeto Recreio era fazer com que os alunos aproveitassem esse horário de uma maneira mais agradável, com menos riscos de acidentes e que descobrissem novas brincadeiras e atividades. A primeira etapa para a implantação do projeto foi o levantamento de dados utilizando-se um questionário básico. 1. 2. 3. 4. 5. O que você tem achado do recreio? De que você costuma brincar na hora do recreio? Você tem brincado com colegas de outras turmas? Por quê? Que brincadeiras ou jogos você gostaria que tivesse no recreio? Você gostaria de aprender outras brincadeiras e jogos para a hora do recreio? A etapa seguinte foi procurar enriquecer o projeto, ampliando a pesquisa com algumas atividades bem simples. 1. Entrevista com pais ou avós levantando brincadeiras e jogos de outras épocas. 2. Levantamento (construção de tabelas) das brincadeiras mais conhecidas de outras épocas. 3. Aprendendo a brincar com as brincadeiras levantadas pela pesquisa. Convidar pais ou avós que possam estar presentes na hora do recreio para ensinar como se faz (confecção) ou como se brinca (regras). 4. Organizando o novo recreio – distribuição de tarefas para melhor organização das sugestões levantadas. 5. Registro oral e escrito de cantigas e refrões que por acaso façam parte das brincadeiras resgatadas (fitas cassete e/ou fitas de vídeo). 6. Feira de brincadeiras. Projeto escolar para o lixo Combatendo o desperdício A coleta seletiva de lixo é fundamental para o trabalho de reciclagem, promovendo economia de dinheiro e diminuindo a pressão sobre os recursos ambientais. Compreensão Já é comum encontrarmos escolas públicas e particulares que promovem, com a ajuda de empresas privadas, uma coleta racional de lixo. Essas empresas, em troca do lixo inorgânico – latas de cervejas, refrigerantes, papel – fornecem computadores ou outros materiais que ajudam a melhorar a qualidade do ensino. É preciso cuidar, no entanto, para que o aluno compreenda de fato o que está fazendo, conheça os processos produtivos da reciclagem, que suas atitudes não se transformem apenas em atos mecânicos. Classificação O primeiro passo para um trabalho sobre o lixo produzido na escola é descrever suas categorias, isto é, que tipo de lixo é encontrado, ao final de um período de aula, dentro de uma lata de lixo. Os grupos ficam encarregados de separar o lixo orgânico (sobras de alimentos, por exemplo) do lixo inorgânico (papel, vidro, metais), relacionar o conteúdo encontrado e determinar a sua quantidade. A partir daí pode-se estimar o lixo produzido na escola em um dia, um mês ou ano. O ideal é que a escola consiga dois recipientes de cores diferentes – um para o lixo orgânico e outro para o lixo inorgânico. Análise Identificar o montante do desperdício e de resíduos produzidos. Os dados obtidos ajudam a formular propostas de redução da quantidade de lixo produzido. Por exemplo, que se use as duas faces das folhas de papel ofício ou transforme o lixo orgânico da merenda em adubo para a horta, vasos ou jardim. Vale lembrar que os resíduos sólidos permanentes, como os plásticos e o isopor, são capazes de permanecer por até 400 anos poluindo o ambiente. Uma garrafa reciclada equivale a uma economia de energia suficiente para acender uma lâmpada de 100 watts por quatro horas (The Earthworks Group, p. 23, in Genebaldo Freire Dias, obra citada). Garrafas plásticas e objetos de isopor podem ser utilizados na confecção de jogos e brinquedos. Se possível, outra estratégia bastante rica seria a visita a uma unidade de reciclagem da empresa coletora de lixo da cidade ou de indústrias que fazem reciclagem de materiais, como alumínio, plástico ou papel. Projeto Escolar sobre energia Compreensão Boa parte dos povos do mundo depende hoje das fontes de energia. Se as diferentes formas de energia não forem usadas de maneira sustentada, utilizando-se – de forma racional – os recursos ambientais de que dispomos, viveremos momentos críticos de crise de energia, que poderão levar ao caos social. Exemplo do que poderá ocorrer em proporções maiores ainda é quando, por algum motivo, o fornecimento de energia elétrica é interrompido nas grandes cidades: trânsito caótico, hospitais afetados, pessoas presas em elevadores, praticamente todas as atividades suspensas. Diagnóstico Pedir que os alunos verifiquem os aparelhos domésticos de suas casas e façam duas listas: uma com os aparelhos que utilizam eletricidade para funcionar e outra daqueles que não precisam. Objetivo: identificar o nível de dependência em relação à energia elétrica. Outro diagnóstico que os alunos podem fazer em casa é identificar as formas de consumo e as atitudes que revertem em economia de eletricidade em suas residências. Objetivo: elaborar propostas de ampliação das formas econômicas do uso de energia. O diagnóstico pode ser enriquecido verificando-se, na escola ou em casa, mês a mês, lendo os dados da conta de luz: consumo em KWH e o preço pago no total e por unidade de energia. Aplicação Fazer um diagnóstico já é interessante em si mesmo, pois coloca os alunos em contato com dados concretos da realidade que, no cotidiano, passam despercebidos. Mas esse tipo de excercício escolar pode crescer para um interessante exercício de cidadania se, a partir dos dados, eles puderem elaborar propostas de mudanças em procedimentos, na sala de aula ou na esocla como um todo, visando à economia de energia. Por exemplo, eles podem propor que se apague as lâmpadas das salas de aula quando não estiverem sendo usadas. Projeto escolar sobre a água Compreensão O hábito de deixar a torneira aberta quando não estamos utilizando a água, por exemplo no banho, ensaboando roupa ou louça ou escovando os dentes, causa um aumento razoável de consumo. Um banho demorado pode consumir (e desperdiçar) de 95 a 180 litros de água potável. Experimentação Pedir que os alunos deixem uma torneira pingando – na escola ou em casa – e determinem o tempo gasto para encher um litro d’água (ou o volume ocupado depois de uma hora de goteira pingando). A partir daí pode-se extrapolar o desperdício que ocorre com uma goteira durante um dia ou um mês. ALERTA Todos que manipulam algum tipo de lixo devem usar luvas protetoras e pequenas máscaras – dessas que se usa nos hospitais. Bate-bola pedagógico O papel do elemento lúdico nas atividades de Educação Ambiental A Educação Ambiental busca a construção da consciência de que precisamos viver em um mundo diferente, transformador, harmônico, eqüitativo. As informações, os dados, as análises são importantes, mas na prática de sala de aula, o trabalho não deve se limitar ao puro raciocínio lógico formal, nem à transmissão dos conteúdos programáticos. Experiências, observações, pesquisas, todos esses instrumentos podem ser – sem perder o rigor – muito melhor recebidos pelos alunos se estiverem mergulhados em um clima lúdico. O trabalho não precisa ser feito de forma sisuda e normativa para ser levado a sério. Todas as qualidades que se agrupam em redor da seriedade – trabalho, zelo, esforço, aplicação – podem ser encontradas no lúdico. “A seriedade procura excluir o jogo, ao passo que o jogo pode muito bem incluir a seriedade.” (Huizinga) A brincadeira Alguns teóricos vêm se dedicando ao estudo da atividade lúdica e é consenso afirmar que não só a criança, mas também o adulto precisa da brincadeira e de alguma forma de jogo para viver. No adulto, criatividade e humor expressam a forma lúdica de lidar com seus próprios pensamentos; nas crianças, a brincadeira expressa a forma como elas interagem com o mundo que as cerca, organizando, destruindo e reconstruindo, buscando compreender o mundo dos adultos e construindo seus conhecimentos a partir das experiências que vive. Também pelo jogo é capaz de expressar suas fantasias, desejos, sentimentos e medos. Geralmente se relaciona o brincar apenas à obtenção de prazer; mas as atividades lúdicas não se restringem a isso. Brincar pressupõe imaginação e regras. A imaginação é uma atividade mental que propicia a interação entre a realidade e os interesses e as necessidades da criança. Nenhuma brincadeira prescinde de regras e elas são levadas muito a sério. As regras desempenham o papel de determinar aquilo que vale no faz-de-conta. Brincando a criança representa o que lhe é externo e interioriza, construindo seu próprio pensamento. O estético Assim como o lúdico, o estético também merece ser incorporado às atividades. A música, por exemplo, possui as mesmas características formais do jogo propriamente dito: é uma atividade que se inicia e termina dentro dos limites estipulados de tempo e de lugar; é passível de repetição, possui regras próprias (ordem, ritmo e alternância); transporta tanto o público como os intérpretes para fora da vida cotidiana, para uma região de alegria, serenidade e prazer. (Huizinga) As sugestões As sugestões apresentadas no projeto Tom da Mata procuram associar a leveza do lúdico a informações corretas, evitando tanto a superficialidade como o excesso de informações. Nos capítulos seguintes, são apresentados os temas centrais sobre o meio ambiente e, em cada um deles, há sugestões de atividades que, tanto sensibilizam a turma para o tema, como dão oportunidade de construir os conceitos e definir as atitudes que se quer consolidar com a Educação Ambiental. Algumas dessas atividades exigem materiais concretos para que possam ser realizadas. Mas as possibilidades de trabalho com Educação Ambiental, na escola, são inúmeras e a matéria-prima essencial a todas elas é a criatividade e o espírito empreendedor. Em seguida, indicamos algumas atividades lúdicas que podem ser adaptadas a cada projeto específico. E, depois, apresentamos algumas atividades-modelo em detalhes: exposições maquetes júris simulados jogos dramatizações oficinas experimentais fabricação de instrumentos musicais com materiais da natureza gravação de sons do ambiente criação de uma bandinha com sucatas concurso culinário com aproveitamento de sobras concurso de músicas concurso de poesias com o tema meio ambiente Atividades-modelo Melhorando a escola Propor a construção de uma maquete da escola. Através dela será diagnosticada a qualidade ambiental, constatando-se o que existe e o que falta: áreas verdes, horta escolar, espaço físico individual, quadra esportiva, poluição visual, o ar ... Espaço físico individual Numa determinada escola, o refeitório não comportava o número de alunos na hora da merenda. Com auxílio do professor de matemática, os alunos determinaram a área do refeitório, dividiram pelo número de alunos e determinaram o espaço físico individual. Foi constatado que os 30 centímetros eram insuficientes e levantaram soluções para a questão. Uma das soluções propostas – a que foi adotada – foi o rodízio no horário de utilização do refeitório. Poluição visual Os murais escolares muitas vezes pecam pela falta ou excesso. Se um mural vazio nada acrescenta, um mural entupido de gravuras, pesquisas, mapas, calendários e tudo o mais que o professor insiste em colocar, acreditando no benefício pelo acúmulo de informações, pode estar sendo desperdiçado. Nosso aparato perceptivo é limitado. Temos de estar convencidos disto, propondo atividades que levantem a questão da limitação da nossa capacidade perceptiva. Para tanto, pedir – por exemplo – que cada aluno recorte de revistas ou jornais três gravuras de objetos. No mural é afixada uma folha grande e é feita uma montagem com tudo que foi recortado. Depois de pronto o material, solicitar que se encontre, por exemplo, três relógios que estavam no meio dos recortes. Eles certamente terão dificuldade em achálos. O entorno escolar Mobilização da escola e comunidade para a criação de uma área de proteção ambiental. (Proposta de projeto) Sugerir uma excursão ao local que gostariam de ver protegido. Fazer, em grupos, um levantamento de dados sobre a área: sua história, animais que lá vivem, variedades da flora, se existe alguma nascente e em que condições ela se encontra. Divulgar na escola as informações obtidas. Promover com a comunidade visitas guiadas ao local – os alunos servindo de guias e divulgando as informações levantadas. Organizar todo o material, anexar as assinaturas de todas as pessoas da comunidade que tenham se envolvido com o projeto. Encaminhar o material às autoridades competentes solicitando a proteção da área. Outras atividades relacionadas: Mutirão de limpeza da área selecionada. Estabelecer parceria com a prefeitura para manter os alunos como guias do local. Visita a indústrias limpas Identificar as indústrias e empresas que apresentam, em sua linha de produção, cuidados com o meio ambiente. Agendar visitas com os proprietários (não restringir a atividade aos alunos da escola, ampliá-la à comunidade). Propor atividades que registrem o que foi visto (relatórios, fotos, desenhos, jornalzinho...). Divulgar amplamente as soluções adotadas, em atendimento à legislação ambiental, para que outras empresas da comunidade possam seguir o exemplo. Convocando e informando os poluidores Identificar na localidade as fontes poluidoras da natureza: indústrias, matadouros, extração de minerais com uso de mercúrio, agricultura com uso abusivo de agrotóxicos; Promover na escola debates e pesquisas sobre formas alternativas que poderiam evitar a poluição dos rios, do ar ou do solo; Convidar os proprietários ou responsáveis pelos setores de produção que estão agredindo o ambiente, juntamente com representantes do governo, para participarem dos debates e conhecerem as sugestões da comunidade. Conversa com o professor Professor, Mesmo antes da Educação Ambiental se tornar um dos temas transversais incluídos nos Parâmetros Curriculares Nacionais distribuídos às escolas públicas em 97/98, muitas organizações não-governamentais, escolas e Secretarias de Educação estabeleceram parcerias mais ou menos formais e puseram em prática projetos pioneiros que têm servido de inspiração para trabalhos que se renovam a cada ano. A partir dos anos 60, a questão ambiental provocou debates mundiais: naquele momento, povos e governos se deram conta da gravidade dos problemas que enfrentavam e que só aumentariam se nada fosse feito. Vários encontros mundiais trataram do tema e se constatou a necessidade de um trabalho de esclarecimento à opinião pública, apontando para a “responsabilidade com relação à proteção e à melhoria do ambiente, em toda sua dimensão humana.” (Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano – 1972). De início, essas recomendações vieram de forma vaga, mas logo depois indicavam o caminho: a educação. Não encarada como a solução suficiente para as mudanças de rumo do planeta, mas como agente transformador das mentalidades. Em 1975, o documento da conferência de Estocolmo, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) registrava: ...devem ser lançadas bases para um programa mundial de Educação Ambiental que possa tornar possível o desenvolvimento de nossos conhecimentos e habilidades, valores e atitudes, visando à melhoria da qualidade ambiental e, efetivamente, à elevação da qualidade de vida para as gerações futuras. A partir dessa data, alguns países passaram a adotar programas de Educação Ambiental e essa prática se difunde ainda mais depois da Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, promovida pela UNESCO e pelo Programa da ONU para o ambiente (PNUMA). No Brasil, a Educação Ambiental foi assumida como obrigação nacional pela Constituição de 1988: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (...) 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) VI - promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente... Durante a Conferência Internacional Rio/92, o comprometimento internacional com a educação se deu por meio de documentos firmados entre mais de 170 países, reconhecendo seu papel para a construção de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado, que implica a responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário. A atual lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), no Capítulo II, que trata da Educação Básica, orienta: Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática. Mais direcionada ainda é a inclusão do meio ambiente nos Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados pela Secretaria do Ensino Fundamental-SEF/Ministério da Educação e do Desporto (1996). Portanto, as leis brasileiras e os pressupostos da educação estão em sintonia com as proposições assumidas internacionalmente no que diz respeito ao investimento numa nova mentalidade que gere novas posturas frente aos dilemas colocados em todas aquelas reuniões. O que se espera com a Educação Ambiental? 1. Rever hábitos e atitudes adotando comportamentos que promovam melhoria na qualidade de vida. 2. Adotar comportamentos que contribuam para diminuir a degradação ambiental. 3. Buscar soluções individuais ou coletivas para reduzir a pressão sobre os recursos ambientais. Glossário básico PROTEÇÃO Defesa do que está ameaçado. Preservação e conservação seriam formas de proteção. PRESERVAÇÃO É a ação de proteger contra a destruição, e qualquer forma de dano ou degradação, um ecossistema, uma área geográfica, espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção, adotando-se medidas preventivas e de vigilância. Na legislação ambiental, significa não permitir a intervenção humana. CONSERVAÇÃO É a utilização racional de um recurso qualquer, de modo a se obter rendimento e garantir, ao mesmo tempo, sua renovação. Para a legislação ambiental, conservar implica manejar, usar com cuidado, manter. RECUPERAÇÃO É o ato de recobrar o perdido. Em meio ambiente é restabelecer as características do ambiente original. REABILITAÇÃO É o ato de recobrar parte do que foi perdido, quando é impossível se voltar à condição original. O ambiente pode ser reabilitado para diversos fins. DEGRADAÇÃO É o ato de alterar e desequilibrar de tal forma o meio ambiente a ponto de atingir os processos vitais ali existentes. A degradação pode se dar por causas naturais ou pela intervenção do homem – o que os ambientalistas chamam de ação antrópica. CAPACITAÇÃO Breve histórico da Educação Ambiental nas escolas Quando a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi, 1977) recomendou que as escolas passassem a cuidar também da Educação Ambiental, a primera impressão foi que seria criada mais uma disciplina. Ou, quando muito, que fosse absorvida como uma tarefa dos professores de Ciências – afinal, não seria uma disciplina para tratar da salvação dos bichos e das plantas? Ou dos professores de Geografia – caso fôssemos pensar nos rios, nos mares e nas montanhas. No início, é verdade, a escola oscilou entre dois extremos: – ignorar a proposta, deixando a responsabilidade de abordar as questões do meio ambiente por conta dos professores de Ciências ou Geografia; – investir esporadicamente em atividades de sensibilização para as questões ambientais como hortas, por exemplo – algumas com muito sucesso de público –, mas sem garantias de acompanhamento e avaliação dos resultados em termos daquilo que é fundamental – a mudança de atitudes. Levou um bom tempo para que se entendesse que a idéia de educar para o meio ambiente deveria ir além, mas muito além mesmo, das campanhas e movimentos sociais em favor desta ou daquela questão. Desde 1977 já se discutia a necessidade do tema ser tratado interdisciplinarmente. Mas as escolas não estavam habituadas, em sua maioria, a lidar com essa questão metodológica. Até que, vinte anos depois de Tbilisi, o MEC apresentou formalmente o que entendia e o que esperava da Educação Ambiental, consolidando nos Parâmetros Curriculares Nacionais tudo que já havia sido experimentado com sucesso nas redes de ensino, mesmo que não tivesse se caracterizado como uma política pedagógica. O quadro que resultou dessa breve história não podia ser outro: • a visão que se tem do que seja Educação Ambiental ainda é pouco definida entre a maioria dos professores; • faltam projetos escolares de Educação Ambiental; • falta uma prática maior do que chamamos de interdisciplinaridade; • falta integração da escola com a comunidade a que atende; Mas, ao mesmo tempo: • já existe uma tradição do que seja Educação Ambiental entre as organizações não-governamentais; • algumas escolas, isoladamente, desenvolvem trabalhos sistemáticos nesse sentido; • algumas redes de ensino têm propostas avançadas de Educação Ambiental. A Pedagogia da Eduçação Ambiental Questões básicas Diante do quadro heterogêneo das práticas de Educação Ambiental, ao colocar nas mãos do professor o material do Tom da Mata, sentimos a necessidade de organizar algumas questões. Elas são fundamentais para que tiremos o máximo destes textos, canções e imagens, qualquer que seja o projeto de Educação Ambiental no qual a escola esteja envolvida. • interdisciplinaridade • inovações pedagógicas • participação • metodologia de projetos Interdisciplinaridade A Educação Ambiental tem o propósito fundamental de mostrar as interdependências entre os aspectos biológicos e físicos – por se constituírem a base do meio onde vivemos – e as dimensões socioculturais, econômicas e éticas da nossa vida. E, em linhas gerais, busca abrir caminho para que o homem possa utilizar melhor – e de forma menos predatória – os recursos da natureza. Mas, para que a Educação Ambiental ocorra realmente, é necessária “uma reorientação e articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que facilitem a percepção integrada do meio ambiente, tornando possível uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades sociais”. (Genebaldo Freire Dias) Embora as temáticas da Educação Ambiental sejam mais facilmente reconhecíveis nas disciplinas de Ciências, Geografia ou História, elas podem ser tratadas nas várias disciplinas sob diferentes perspectivas. Como a abordagem das questões ambientais se pretende globalizante, a Educação Ambiental não deve constituir uma disciplina – ela entrará no currículo tecendo uma rede de relações entre todas as disciplinas: ela é interdisciplinar. Essa inte-ração se fará na forma de tema transversal, estabelecendo uma visão abrangente da questão ambiental. Exemplo Para que a noção de interdisciplinaridade seja melhor compreendida e possamos ver como ela pode ser posta em prática, utilizando-se o material educativo que compõe o projeto Tom da Mata, tomaremos, como exemplo, o tema água, apresentado nos vídeos. Ciências O currículo prevê que se trabalhe a água como fonte de vida ou como disseminadora de doenças; a distribuição da água nas cidades e as estações de tratamento. Artes Nas artes plásticas, poderá ser incentivada a criação de maquetes de estações de tratamento. Em música, o trabalho pode ser desenvolvido com a utilização de canções que se refiram ao tema, ou aos diversos sons que a água é capaz de produzir (água da chuva, do rio, da cachoeira...) Língua portuguesa Notícias de jornal, interpretações ou produção de textos podem versar sobre o assunto, assim como pode ser explorada a redação de documentos, projetos, abaixo-assinados, cartas aos jornais, enfim – textos que tenham uma função social efetiva. ambiente o entorno físico e também os aspectos sociais, cultu-rais, econômicos e políticos interrelacionados temas transversais são os temas atuais que perpassam as diversas áreas de conhecimento, integrando disciplinas e práticas. Professor Repare que em cada vídeo e a cada capítulo deste caderno são sugeridos trabalhos que podem ser desenvolvidos com os alunos. Algumas sugestões são, inclusive, bastante detalhadas, quase um passo a passo. Mas nenhuma delas deve ser tomada como receita universal e sim como inspiração ou exemplo. Você – mais do que ninguém – terá condições de avaliar o que deve ou não ser utilizado e/ou as adaptações que precisam ser feitas. Planeje, juntamente com seus colegas, a melhor forma de abordagem, já que cada professor conhece o perfil ambiental da comunidade onde vocês atuam. ACERTANDO O TOM Já está na hora da gente plantar mato, reconstruir um pouco da nossa floresta Atlântica, que é a coisa mais linda do mundo, o lugar que tem mais variedade de bicho, de planta, de remédio, de tudo Inovações pedagógicas A grande inovação pedagógica trazida pela Educação Ambiental é a ênfase na ação e na busca de soluções para os problemas que afetam o meio ambiente. A Educação Ambiental é uma área recente no ensino, mas a divulgação de trabalhos realizados em determinadas escolas tem fornecido subsídios para novos projetos em outras escolas. De posse dos princípios que orientam a Educação Ambiental, estabelecendo parcerias com os alunos, outros professores, funcionários, responsáveis, a comunidade, órgãos do governo e da sociedade civil, podemos ampliar estudos e práticas. Os vídeos temáticos que constam do projeto Tom da Mata não substituem a atuação do professor. O material deve funcionar como instrumento facilitador de sua prática. Para que se atinja o nível da participação almejado – estabelecido pelo professor de acordo com o que conhece da turma – quatro etapas precisam ser percorridas: • Apropriação dos conteúdos • Construção dos conceitos • Mudanças de atitudes • Práticas de cidadania O material pedagógico do projeto permite que todas essas etapas sejam vivenciadas. Ao final de um determinado período, espera-se que o aluno: adquira consciência do meio ambiente global e esteja sensível para tais questões; adquira conhecimento em uma diversidade de experiências que permitam a compreensão do meio ambiente e dos problemas a ele relacionados; comprometa-se com a melhoria e a proteção do meio ambiente; adquira habilidades necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais; participe ativamente nas tarefas que têm por objetivo resolver os problemas ambientais. Nas sugestões de trabalhos para os alunos (e professores) foram utilizadas diversas estratégias de ensino buscando a real participação dos envolvidos e a leveza sempre encontrada no espírito lúdico. Algumas dessas estratégias – sugeridas pela UNESCO/UNEP/IEEP para a prática da Educação Ambiental – são bem conhecidas do professorado. Estratégias didáticas Discussão toda a turma é envolvida e cada aluno contribui informalmente (grupão). Discussão em grupo envolve toda a turma, organizada em pequenos grupos e o professor atua como supervisor. Brainstorm envolve todo o grupo e se pede para apresentar soluções possíveis para um dado problema, sem se preocupar com análises críticas. Todas as sugestões são anotadas. (O tempo limite é de 10-15 minutos). O termo importado do inglês é do jargão dos núcleos de criação da publicidade e quer dizer ao pé da letra tempestade de cérebro. Trabalho em grupo envolve a participação de grupos de 4-8 componentes que se tornam responsáveis pela execução de uma tarefa. Júri simulado requer a participação de dois grupos de 3-4 componentes para apresentar idéias e argumentos de pontos de vista opostos aos demais colegas de classe, que podem formar um grupo de avaliação. Questionário desenvolvimento de um conjunto de questões ordenadas a ser submetido a um determinado público para coleta de amostragem de opinião. Esse instrumento ajuda a definir a extensão de um problema ou o impacto de uma questão. Oficina de mídia produzir campanhas publicitárias, dos jornais, dos programas de rádio e TV, e filmes. Solução de problemas busca de soluções para problemas identificados na realidade e apresentação de propostas concretas na escola e na comunidade. Jogos de simulação os participantes vivenciam com jogos, as diversas situações de um tema, sempre ligados a sua realidade. Exploração do ambiente local prevê a utilização/exploração dos recursos locais próximos para estudos, observações etc. Participação As questões ambientais induzem a que se tenha posturas e valores perante a vida. Não é à toa que se fala tanto em ética e cidadania toda vez que se fala de Educação Ambiental. Uma das suas finalidades, como já vimos, é que os indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, assumam novas formas de conduta a respeito do meio ambiente. É praticamente consenso, hoje, nos meios educacionais, que não interessa somente formar pessoas preocupadas em conhecer o seu ambiente, mas também torná-las cidadãs conscientes, sabedoras de que sua prática pode interferir em seu meio. Espera-se que ocorram mudanças de atitude e que as decisões e ações dos indivíduos, no futuro imediato, estejam de acordo com essa nova ética. Essas mudanças devem ocorrer, inclusive, nas atitudes dos governantes, de maneira que reorientem as políticas públicas no mesmo rumo da Educação Ambiental. Nesse sentido, todo professor comprometido com este tipo de questões, seja de que disciplina for, estará apto para trabalhar com Educação Ambiental. Quantas vezes ouvimos críticas de que os programas de ensino estão desvinculados da realidade do aluno? E que esta seria uma das causas da evasão escolar. Por que, então, não partimos de um levantamento das necessidades da comunidade onde a escola está inserida? Conhecendo o ambiente é possível interpretá-lo e atuar sobre ele Existe água canalizada na sua escola? Os alunos e suas famílias sabem que procedimentos devem adotar para que a água possa ser usada de maneira saudável? Como divulgar para a comunidade o que foi aprendido de importante? Como os moradores da região podem ser incluídos nesse trabalho? A que órgão de governo devem se dirigir e cobrar a melhoria do sistema de abastecimento local? Essas e outras questões são pertinentes ao trabalho que se pretende desenvolver, tendo a crença no aluno como multiplicador de valores e atitudes. Por esta razão, as atividades propostas têm firmes pés na realidade. Os textos têm função social e as pesquisas são feitas em cima da realidade social em que a escola está situada. Dessa forma, pretende-se que o aluno – ao mesmo tempo em que se apropria de conteúdos e constrói conceitos – experimente, nas ações de cidadania, o papel de sujeito real dessas ações, não se limitando a ensaios, simulações ou simulacros, embora estes também sejam uma estratégia num determinado momento do aprendizado. Metodologia de Projetos O material pedagógico do projeto Tom da Mata pode ser explorado com o uso da metodologia de projetos. Etapas da metodologia de projetos Primeiro passo definir o tema a ser trabalhado. Essa definição deverá ser feita entre alunos e professores, partindo de necessidades reais da comunidade, que podem ser aferidas por questionários e por amostragens de respostas. Certamente, nesse momento, surgirão muitas dúvidas e perguntas, fundamentais para o desenvolvimento do mesmo. Segundo passo estabelecer objetivos, elaborar as atividades que farão parte do projeto e providenciar a distribuição das tarefas. Terceiro passo verificar se é possível integrar as diversas disciplinas e práticas nas atividades escolhidas. Quarto passo definir, no universo interdisciplinar, no conjunto de professores que participarão do projeto, quais serão os mecanismos e instrumentos de acompanhamento e avaliação. Registro deve-se registrar tudo o que for feito, pois é importante para, ao final, além do prazer de ver resultados concretos, poder avaliar e reformular o que for preciso. Há o registro que deve acompanhar todo o desenrolar do tema por vários meios (jornais, dramatizações, músicas, fotografias, filmes etc) e linguagens (escrita, plástica, corporal, rítmica, fotográfica etc...). E há o registro que sistematiza o que foi feito, definindo a relação entre os objetivos, as etapas, enumerando as dificuldades e os resultados. A esse registro se dá o nome de relatório, diário ou memorial do projeto e deve ser documentado com a produção dos alunos. Professor Com relação ao planejamento do projeto, vale notar que é no seu desenrolar que ele vai tomando forma, se ampliando ou mesmo se desviando do que foi previamente traçado, na busca do que é mais significativo para as pessoas envolvidas no trabalho. A escolha dos temas COMO FAZER Os grandes temas ambientais enfocam questões de caráter local, regional e global. Reconhecíveis ou não com facilidade, geram graus diferenciados de preocupação. Que relação imediata pode estabelecer um morador da cidade entre o mal aproveitamento dos recursos pesqueiros do planeta e o seu modo de vida? Como fazer essa ponte, ligando coisas aparentemente distantes, se ele nem sempre é capaz de perceber a poluição sonora que está presente no seu cotidiano? Como fazê-lo perceber que a pesca predatória, assim como o barulho excessivo não são inevitáveis? Uma das finalidades da Educação Ambiental é, justamente, como se viu, sensibilizar o indivíduo para que identifique, no ambiente onde vive, potenciais, riquezas e problemas que requeiram soluções, e saber atuar sobre eles – primeiramente no contexto local, para que perceba e reconheça sua importância e, em seguida, no contexto global. Este princípio abre bastante o leque das possibilidades de trabalho em sala de aula. O enfoque do trabalho de Educação Ambiental que adotamos é, portanto, o enfoque ambiental total, que considera todos os aspectos ligados à vida: desde a falta de saúde da população provocada pela falta de saneamento básico à preservação de espécies. Evitando-se a linguagem catastrófica, é preciso abordar essas questões para que o aluno construa uma visão integrada de mundo e adote posturas construtivas para consigo e com seu meio, colaborando para que a sociedade seja ambientalmente sustentável e socialmente justa. No conjunto dos vídeos são abordadas algumas dessas temáticas, sempre integradas ao tema gerador que é a Mata Atlântica. No caderno do professor, as temáticas recebem outro tratamento, trazendo dados de conteúdo, informações para enriquecer as discussões, indicações de fontes. Temas locais ou globais? Pense globalmente, aja localmente é um dos famosos lemas da Educação Ambiental. A Educação Ambiental por tratar de questões sociais, econômicas e políticas, aponta tanto para o que é próximo quanto para o macro, já que, por mais localizada que seja uma questão, ela interessa direta ou indiretamente ao planeta como um todo. A escola pode trabalhar com seus alunos tanto a questão da higiene pessoal como problemas específicos daquela comunidade. Ambos são significativos por estarem próximos da realidade do aluno. Mas existem, também, questões globais, que afetam todo o planeta e, é claro, os alunos desta escola. Todos sabemos a importância de se trabalhar conteúdos significativos para o aluno, isto é, trabalhar conteúdos que permitam ao aluno reconhecer e valorizar o seu cotidiano e estabelecer vínculos com o que a escola lhe apresenta. Essas ligações facilitam que se faça a aplicação desse conhecimento para outras situações, ampliando-o. Temas ambientais regionais Durante a preparação da Conferência ECO 92 – que estabeleceu a Agenda 21 –, foi elaborado um documento chamado Nossa Própria Agenda sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente. Ele trata dos problemas ambientais específicos da América Latina e Caribe, resultantes da sua forma de colonização e de todo o processo histórico que se sucedeu. Nossa realidade ambiental não é conseqüência do desenvolvimento, mas da forma descontrolada com que foram e ainda são extraídos os recursos renováveis ou não, que se tornam cada vez mais escassos. Com base nesse documento, foram escolhidos alguns temas de caráter regional presentes no material do Tom da Mata: Uso da terra Ambiente urbano Recursos hídricos Ecossistemas e patrimônio biológico Recursos florestais Recursos marítimos e costeiros Energia Recursos minerais Questões ambientais de âmbito global Há temas ambientais que afetam a todos os povos, em qualquer parte do planeta. Eles são denominados na Nossa Própria Agenda de Temas Ambientais Internacionais. Eles não se restringem aos limites geopolíticos das fronteiras, têm efeitos globalizados e afetam toda a humanidade. São problemas ambientais globais: Educação Áreas públicas de lazer Pobreza Desnutrição Aumento populacional Escassez de recursos Desmatamento Bacias e ecossistemas compartilhados Chuvas ácidas Destino dos resíduos sólidos Segurança ecológica Extinção de espécies vegetais e animais Alterações do clima Má utilização dos recursos não-renováveis Produção de armas nucleares Usinas atômicas Saúde pública Guerras Como trabalhar Ligando o local e o global no Tom da Mata O fio condutor do projeto Tom da Mata é a Mata Atlântica, enfocada sob a perspectiva da sustentabilidade ecológica, isto é, “melhorar a qualidade da vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas” (PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Ela inclui o elemento humano, as dimensões geográficas, históricas, sociais, políticas, econômicas, culturais e estéticas. Na grade temática estão listados os conteúdos que foram desenvolvidos em cada vídeo. Eles procuram estar de acordo com os conteúdos trabalhados no segundo segmento da educação básica – ensino fundamental de 5a. à 8a. série – sem que estejam presos ao modelo serial. Cada vídeo, por explorar um tema, pode concentrar conteúdos de uma determinada disciplina, mas sua utilização não precisará se limitar a ela – o projeto ambiental se propõe a ser interdisciplinar. Neles também serão reconhecíveis, pela forma de abordagem, os princípios que norteiam a Educação Ambiental. Os temas foram orientados para: A perspectiva do desenvolvimento sustentável. Enfocar o homem como um animal que faz parte dos ecossistemas e que é o prin-cipal agente transformador destes ecossistemas. Destacar a relação necessária e transformadora do homem com a natureza e a sociedade. Partir do já conhecido para a posterior ampliação do tema abordado. Utilizar uma perspectiva de abordagem multidisciplinar, facilitadora da interdisciplinaridade. Cabe ao professor papel fundamental na utilização do material audiovisual. Sua metodologia pode seguir as seguintes diretrizes: * Instigar seus alunos para o estabelecimento das articulações entre os conceitos já construídos e as novas informações. * Favorecer o movimento de dar um novo significado ao que eles sabem intuitivamente. * Fazer o levantamento das dúvidas e questões que merecem ser pesquisadas e aprofundadas. * Sensibilizar para a realização de um projeto ambiental que envolva professores de outras disciplinas, profissionais que trabalhem na escola ou outros, que possam, com a sua participação, vir a enriquecer o trabalho. * Envolver a família e a comunidade no planejamento de ações voltadas para a melhoria da realidade sócio-ambiental onde a escola esteja inserida. * Registrar as etapas do projeto. * Avaliar e propor alterações para a melhoria do desenvolvimento do projeto. * Divulgar a experiência. Sugestões para atividades Local preferido: cada pessoa se identifica positivamente com certos locais do seu ambiente. Cada professor identifica o seu. Estratégia: visualizar esse local e representá-lo utilizando a linguagem plástica. Para promover o relaxamento que facilite a criatividade, deve ser usada música de fundo. Qualidade de vida: perceber o que é para si e para os outros; despertar para o significado que possui na comunidade; sugerir formas de atuação para a melhoria da qualidade de vida na comunidade. Estratégia: brainstorm e discussão. O dinamizador pedirá que cada professor diga o que é para ele qualidade de vida. O que for dito deverá ser anotado e servirá de apoio para uma reflexão sobre as diferentes concepções que se possa ter. O que se pretende é que esta seja uma das maneiras de sensibilizar os professores na busca de um mundo melhor para se viver. Professor Na utilização do material pedagógico é preciso levar em conta, além do enfoque interdisciplinar, as diferenças socioeconômicas, culturais e a faixa etária do grupo de alunos com que se vai trabalhar. Ficha de Identificação . Quantas turmas, de que séries e quantos alunos participaram das atividades? professores e de que disciplinas? Quantos . Quantos alunos freqüentam sua escola? . Onde sua escola está situada e qual é o perfil social dos alunos? . Você já havia participado de algum projeto de Educação Ambiental? Qual? Avaliação do projeto O material colocado à disposição dos professores pelo Tom da Mata: . Atendeu às necessidades da Educação Ambiental? Sim Não Por que? . Os suportes estão adequados? Sim Não Por que? . A linguagem está adequada? Sim Não Por que? . As atividades estão bem explicadas? Sim Não Por que? . A seu ver, o que faltou no projeto para atender melhor sua escola e sua comunidade? Avaliação das Atividades Assinale a unidade que está sendo avaliada: água mata solo fauna usos da mata o homem e a mata flora cidades biodiversidade parques e reservas 1. Enumere os conteúdos curriculares efetivamente trabalhados com a (s) turma (s). ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... 2. Enumere os conceitos que despertaram mais a atenção dos alunos. ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... 3. Enumere os conceitos que ofereceram as maiores dificuldades de entendimento. ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... 4. Observando o comportamento de todos que participaram da atividade proposta nesta unidade, enumere mudanças de atitude que já podem ser percebidas. ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... 6. Resuma em no máximo dez linhas qual foi o projeto, adaptado ou não, desenvolvido nesta unidade, suas principais dificuldades e que ganhos ele trouxe para a comunidade (professores, alunos, funcionários, familiares e vizinhos). ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... ......................................................................................................................................... Professor Sua avaliação sobre o material pedagógico do Tom da Mata é muito importante para todos que estão empenhados na Educação Ambiental e na preservação do nosso patrimônio natural e cultural. Por favor, responda às questões do quadro ao lado, reúna as avaliações de cada uma das dez unidades de conteúdo (Mata Atlântica, Solo, Água, Fauna, Flora, Usos da Mata, O Homem e a Mata, Cidades, Parques e Reservas, e Biodiversidade), os diários dos projetos desenvolvidos e outros materiais produzidos por seus alunos durante as atividades, e envie para: Fundação Roberto Marinho Projeto Tom da Mata Gerência de Ciência e Ecologia Av. Paulo de Frontin, 568 CEP 20 261- 243 Rio de Janeiro – RJ Professor Tire dez cópias da ficha ao lado, uma para cada unidade e não esqueça de anexar os relatórios e materiais produzidos pelos alunos. O JOGO O que é Role Playing Game? RPG é a sigla de Role Playing Game e significa Jogo de Representação. Surgiu nos Estados Unidos, em 1974, e espalhou-se pelo mundo muito rapidamente. Criado originalmente para diversão, logo despertou o interesse de educadores, por ser um instrumento capaz de simular a realidade, tendo a imaginação como meio, a partir da leitura de misteriosos e cativantes textos de aventura. De uma sessão de RPG participam o mestre e os jogadores. A função do mestre é apresentar ao grupo de jogadores uma história, uma aventura, que contenha enigmas, charadas, situações que exigirão escolhas por parte dos jogadores. Estes, por sua vez, controlam personagens que viverão a aventura, discutindo entre si as escolhas que farão e as soluções que darão aos enigmas que surgirem. As características principais do RPG QUAIS SÃO Toda a ação da aventura se passa na imaginação Pode-se usar mapas, tabuleiros, tabelas, dependendo da aventura escolhida, mas freqüentemente nenhum material é necessário. Como não há limites para a imaginação, podem ser criadas histórias em que os personagens sejam super-heróis, políticos, artistas ou até seres de outros planetas, com características e poderes diferentes de um ser humano. A aventura pode acontecer no passado remoto, na época dos dinossauros, por exemplo, ou num futuro imaginário, daqui a 3.000 anos. Pode ainda desenvolver-se num universo fantástico, mágico, com fadas, gnomos ou seres incorpóreos. O jogador é um participante ativo Como ator, o jogador representa um papel e, como roteirista, escolhe caminhos e toma decisões nem sempre previstas pelo mestre, contribuindo na recriação da aventura. A base do RPG é a criatividade Ao preparar uma aventura, o mestre pode basear-se em aventuras já prontas ou criar novas, usando sua imaginação e pesquisas em livros de ficção, filmes, peças de teatro. O jogador elabora seu personagem a partir de regras adequadas ao tipo de aventura a ser vivida e dirige suas ações durante o jogo. Esta flexibilidade traz possibilidades ilimitadas à história. O RPG não é competitivo A diversão não está em vencer ou derrotar os outros jogadores, mas em utilizar a inteligência e a imaginação para, em cooperação com os demais participantes, buscar alternativas que permitam encontrar as melhores respostas para as situações propostas pela aventura. É um exercício de diálogo, de decisão em grupo, de consenso. O RPG desperta o interesse pela leitura e pesquisa Após participar de algumas aventuras, a maioria dos jogadores sente o desejo de criar suas próprias histórias, ocupando o papel de mestre do jogo. Para isso, deverá pesquisar sistemas de jogos, roteiros e informações que complementem sua história. É comum os mestres estarem às voltas com livros e endereços eletrônicos em busca de dados da história, geografia ou ficção, buscando dados para suas próximas aventuras. Mesmo o jogador, nas aventuras pedagógicas, pode ser incentivado a fazer pesquisas para se municiar de informações e aumentar suas chances de trazer contribuições para a próxima aventura. O RPG pode ser usado como um método para criar histórias Nos EUA, freqüentemente, os jogadores escrevem a aventura vivida e a transformam em livro de ficção. Uma das dificuldades que o professor enfrenta com seus alunos é despertar o interesse por conteúdos que não parecem ter aplicação imediata em suas vidas. O aluno, então, estuda por estudar, para atender a uma obrigação, para ser aprovado ao final do ano letivo e não para desenvolver seus conhecimentos e capacidades que permitirão maior liberdade de escolha e satisfação em sua vida. O RPG, nesses casos, permite evidenciar a aplicabilidade do conteúdo, de forma imediata e simples, no ambiente da sala de aula. É necessário apenas usar a imaginação. O professor não precisa necessariamente criar material especial "Mestrar" uma aventura é bem mais fácil do que pode parecer à primeira vista. O professor não precisa ser artista para atrair a atenção e o interesse dos alunos. Isso passa a ser tarefa da aventura, da história. Quanto mais envolvente, enigmática, misteriosa, mais a imaginação e a criatividade serão despertadas. ACERTANDO O TOM Tico marcou bem o lugar e desceu o espigão (...) e logo chegou no rancho das uricanas. Convocou os companheiros, o cozinheiro, o mateiro e lá se foram serra acima (...) o espanto foi geral, onça morta no pio do macuco ... O jogo na sala de aula COMO USAR As aventuras que acompanham o projeto Tom da Mata são adequadas para mestres iniciantes e podem ser jogadas por até 40 alunos simultaneamente. É fundamental que, antes da aplicação, se considere a necessidade de adequar termos e situações às características culturais, idade e nível de compreensão dos alunos. É importante também considerar a região em que vivem, fazendo com que a aventura se desenrole num ambiente familiar ao grupo. Se algumas aventuras apresentarem problemas que não ocorram necessariamente no ambiente dos alunos como, por exemplo, poluição sonora, será melhor modificar ou mesmo retirar o problema da aventura. As aventuras foram desenhadas para serem jogadas num tempo normal de aula, mas algumas podem ser estendidas conforme o desejo e a disponibilidade do professor. O RPG é, por natureza, multidisciplinar. Em geral as aventuras envolvem várias áreas do conhecimento humano e poderão ser utilizadas, eficazmente, por professores de diversas disciplinas. Aventuras que envolvem cálculos podem ser aproveitadas pelo professor de Matemática. Aventuras que envolvem elaboração de relatórios podem ser usadas pelo professor de Língua Portuguesa. Em cada aventura o professor terá elementos para, se desejar, incluir a participação de outros professores, de outras turmas e até da escola toda. As aventuras propostas pelo projeto Tom da Mata contêm todas as informações necessárias para serem aplicadas e possibilitam que sejam abordados os conteúdos do currículo. Sem fugir do planejamento, sem se tornar um intervalo ou uma interrupção forçada das aulas, o jogo pode ser um facilitador na escolha das atividades. Um jogo de RPG COMO COMEÇAR O conteúdo do item HISTÓRIA deverá ser lido para os alunos, iniciando assim a aventura. O item INFORMAÇÕES PRIVATIVAS DO MESTRE não deverá ser lido para os alunos e traz referências exclusivas para o mestre. O item ALTERNATIVAS, existente em algumas aventuras, apresenta modificações que permitem enriquecê-las ou adequá-las a situações específicas. Algumas aventuras possuem uma relação de EVENTOS, que poderão ser apresentados aos jogadores durante o desenrolar da ação. O professor poderá incluir novos eventos ou até mesmo não utilizá-los. A aventura O RPG na Sala de Aula - A Cidade se Mobiliza, que consta do livro, é voltada para a preparação de professores para a utilização do material educativo do projeto e deverá ser aplicada aos educadores que participarão do projeto Tom da Mata em sua escola. Como, provavelmente, será a primeira aventura que o professor irá mestrar, ela traz informações mais detalhadas. Vejamos um exemplo: O mestre inicia o jogo contando uma história aos personagens. Vocês estavam num cruzeiro marítimo, mas uma tempestade afundou o navio. Vocês conseguiram alcançar uma ilha e descobriram que está deserta. Não puderam salvar nada do navio e estão apenas com a roupa do corpo. A ilha é tropical e tem cerca de 20 quilômetros de diâmetro. Não há nenhuma outra terra à vista. Esta simples introdução já é suficiente para situar a aventura. Os participantes assumem seus personagens. Serão "náufragos numa ilha deserta", e deverão usar seus conhecimentos e criatividade para conseguir sobreviver e até sair dela. O desenrolar da história dependerá dos objetivos do mestre com a aventura. O professor de Biologia poderia desejar que seus alunos fossem capazes de encontrar alimento e ervas medicinais. Ele diria: Vocês estão com fome. Os personagens tentariam resolver este problema usando os recursos de uma ilha tropical. Após algum debate diriam algo como: Vamos procurar frutas na mata. O mestre responderia: Vocês encontram frutas e comem, mas descobrem que não há tanta variedade nem quantidade na ilha. Se tiverem que permanecer aqui por muito tempo, terão que encontrar alternativas. E, assim, levaria o grupo a pescar, a caçar e até mesmo a começar uma plantação. O professor de Educação Artística teria objetivos diferentes e poderia dizer, de início, que a ilha tem alimento e água à vontade. Os personagens não precisariam buscar soluções para isso. Mas na ilha chove muito e há necessidade urgente de abrigo. Os personagens deveriam dizer como construiriam o abrigo e, depois, reproduzi-lo em maquetes reais. Quando desejassem construir um barco para saírem da ilha, deveriam reproduzi-lo com desenhos ou modelos em madeira. Se um personagem quisesse construir um planador e sair voando da ilha, caberia ao mestre avaliar se essa hipótese seria viável, baseando-se no desenho que fizera da situação. Como numa ilha real não há material adequado para isto, provavelmente o mestre diria que é impossível. Os personagens teriam que buscar outras soluções. Muitos mestres iniciantes temem não encontrar respostas adequadas para as alternativas imprevisíveis, geradas pelos personagens. Isto, em geral, não é problema. O mestre conhece o universo que desenhou e é fácil para ele saber se tal alternativa é coerente e válida ou não. De frente para o imprevisto Há também a possibilidade de deixar a sorte definir a validade da alternativa. Mais que um simples jogo de dados, a sorte aqui faz a vez do imprevisto e testa a capacidade dos participantes em tomar decisões. Justamente uma das habilidades mais requisitadas para o mercado de trabalho que se desenha para o século XXI. No RPG são usados dados, como o de 6 faces, para avaliar alternativas. Há dados com variado número de faces. Os de 4, 6, 8, 10, 12 e 20 são os mais usados. No início do jogo, o mestre pode estabelecer que se estiver em dúvida jogará uma vez o dado de 10 faces. Se o resultado for 5 ou mais, a alternativa é válida e pode ser usada. Dizemos que ele jogará 1D10 (uma vez um dado de 10 faces). O mestre ficou em dúvida quanto à possibilidade de construção de um planador. Joga 1D10. O resultado é 7. O planador foi construído. Um personagem decide pilotar um avião. O mestre joga 1D10 para saber se conseguiu decolar. O resultado é 3. Não conseguiu. O mestre joga 1D4 para saber o dano que o aparelho sofreu. O resultado é 3 que, no seu critério, impede novos vôos. Poderá jogar 1D4 para saber quais danos foram sofridos pelo piloto. 4 pode significar sua morte. O resultado 2 significa que ele quebrou as pernas. O grupo terá que encontrar soluções para curar o piloto. Não é necessário, é até impossível, prever antecipadamente todas as situações que podem surgir. O mestre decide na hora o que não foi previsto. Como, por exemplo, que o resultado igual a 2 significa "pernas quebradas". O mestre poderá permitir ou não que o planador seja novamente construído e estabelecer que podem ser feitas 3 tentativas, por exemplo. Os participantes do RPG QUAIS SÃO * O PERSONAGEM JOGADOR (PC) PC é sigla de Player Character – personagem jogador, em inglês. É a mais usada pelos jogadores de RPG. Os PCs são os participantes da aventura. No exemplo anterior, serão os náufragos. Os PCs podem ter características especiais, conhecimentos, habilidades, recursos. O mestre pode determinar que dois PCs possuem conhecimento técnico para construírem planadores. Outro PC traz consigo uma caixa de ferramentas com serras, martelos e pregos. Os jogadores, com estas informações, diriam: "Vamos usar as ferramentas e o conhecimento técnico disponível para construir um planador". O mestre não precisaria jogar 1D10 para saber se foi construído. Os PCs somente podem usar recursos que forem estabelecidos como parte do universo da aventura. Não podem criar uma caixa de ferramentas do nada. * O PERSONAGEM NÃO JOGADOR (NPC) NPC é sigla de Non Player Character – personagem não jogador, em inglês. É a mais usada pelos jogadores de RPG. Os NPCs são representados pelo mestre. O comandante de um navio que passa próximo à ilha seria um NPC. O mestre, representando-o, faria o resgate dos PCs. Numa aula de inglês, o comandante deixaria os PCs numa ilha habitada por falantes desta língua. O mestre também representaria os habitantes da ilha (NPCs) e os PCs deveriam comunicar-se com eles somente em inglês. * O PAPEL DO MESTRE O mestre de RPG detém poder total sobre a aventura. É um tipo de "deus", figura onipresente, onisciente e onipotente. Sua palavra é lei. Longe de ser uma figura ditatorial, o mestre é responsável por manter o clima lúdico do jogo e estabelecer limites para as escolhas dos jogadores. Na vida real, a própria realidade estabelece limites para nossas escolhas. Se estou diante de uma parede sólida, as leis da física me impedem de atravessá-la. Na imaginação, posso atravessá-la sem nenhuma dificuldade. Se o personagem que represento for uma pessoa sem poderes especiais, cabe ao mestre impedir que eu simplesmente atravesse a parede segundo minha vontade. Terei que procurar uma porta que poderá, claro, estar trancada. Terei que usar minha criatividade e conhecimentos para encontrar uma forma de sair. Sem o mestre para estabelecer limites, a aventura se tornaria caótica porque tudo seria possível. Como o mestre tem conhecimento total sobre a aventura, ou até foi ele mesmo quem a criou, ele domina as regras, os limites e, assim, pode manter a ação de forma coerente durante o jogo. Apesar de onipotente, o mestre não pode fugir das regras da aventura nem, em hipótese alguma, agir com desonestidade. Mesmo que quisesse – no exemplo acima – não poderia permitir que o personagem atravessasse a parede. Todos esperamos contar com um "deus" caridoso, coerente e de bom senso, até mesmo numa aventura de fantasia. * MAIS INFORMAÇÕES No Brasil há muito material disponível sobre o RPG, mas somente voltado para a diversão. Para a aplicação pedagógica há o livro Saindo do quadro, de Alfeu Marcatto, responsável pela elaboração das aventuras do projeto Tom da Mata. O livro mostra como transformar qualquer conteúdo didático em simulações baseadas no RPG. É voltado para professores do 1º ao 3º. grau, professores de línguas e cursos de atualização de professores. Alfeu Marcatto Av. São João Batista, 197 - conj. 22 CEP 09736-490 – São Bernardo do Campo – SP Fone: (11) 7684-1065 E-mail: [email protected] Site: http://www.hitnet.com.br/alfmarc EDUCAÇÃO MUSICAL Escuta o mato crescendo em paz Escuta o mato crescendo Escuta o mato, Escuta, Escuta, Escuta o vento cantando no arvoredo ... (Borzeguim) O Tom da Mata POR QUE Harmonias irretocáveis e melodias eternas. Assim o compositor Toquinho sintetiza a obra musical de Tom Jobim, o maestro considerado um dos maiores expoentes da MPB. Mas, o que significam as músicas de Tom Jobim? O que significa a Bossa Nova na MPB? No final da década de 1950, Tom e João Gilberto se encontraram e, misturando suas raízes musicais – o jeito Pixinguinha, a bossa de Noel Rosa (que já unira o samba do morro à poesia e ao humor da classe média), ao suingue do jazz, criaram uma bossa diferente – uma bossa nova – que marcou para sempre a música popular brasileira. A Bossa Nova mostrou uma nova poesia, nova harmonia e balanço e contribuiu para o processo de construção da identidade brasileira. A Bossa Nova abriu espaços no mercado da música norte-americana e se estabeleceu, possibilitando uma nova visão da nossa música e, portanto, do Brasil, nos Estados Unidos e, em conseqüência, em outros países, principalmente da Europa. Em 1967, o disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim ganhou o prêmio Grammy como melhor álbum vocal e foi sucesso de público, só perdendo para um álbum dos Beatles. No 3º Festival Internacional da Canção, o público fez de Caminhando (Pra não dizer que não falei das Flores, de Geraldo Vandré) um hino de protesto, vaiando a música vencedora da etapa brasileira, Sabiá (parceria com Chico Buarque de Holanda). A letra foi julgada alienada, para a época. Mas Sabiá acabou se tornando a Canção do Exílio* dos artistas brasileiros que, por causa do AI-5, tiveram que deixar o país. Sucesso internacional, já na década de 1960, as músicas e o estilo de Tom Jobim foram incentivo, inspiração e caminho a ser descoberto por toda uma geração de compositores que lhe seguiram. Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Toquinho, João Bosco, Djavan e muitos outros. Garota de Ipanema tem mais de 180 gravações diferentes, e centenas de vozes já a interpretaram. Antonio Carlos Jobim, como artista e homem ligado ao seu tempo, à sua cultura e às questões sociais de sua época, não podia deixar de ser um defensor da Natureza. Se tantas de suas música falam de amor, outras tantas exultam a beleza desta nossa natureza. As praias, as montanhas, as matas, os sons que delas ressoam, estão presentes em suas melodias, em suas letras, em suas harmonias. Por isso, neste projeto, o professor vai encontrar o livro das canções de Tom Jobim, com letras e pautas musicais e algumas dicas sobre teoria musical. Uma coleção de canções em que a natureza está sempre presente, com suas cores e seu mundo de sons. Viver num mundo sonoro COMO É Entre os gregos, o termo Sinfonia era usado para se referir a consonâncias perfeitas. O termo sinfonia, em sentido figurado, significa, no senso comum, um conjunto variado e harmônico de elementos. Por exemplo, quando falamos sinfonia de cores. Nesse sentido – conjunto variado e harmônico –, podemos dizer que há uma sinfonia na Natureza. Os sons da natureza O canto tão afinado e diferenciado dos pássaros – pequenas melodias que podem ser transcritas. O eterno movimento das ondas, tal qual um cânone . O ritmo marcado dos grilos e sapos – vozes do brejo com suas ressonâncias e timbres variados. O canto-lamento longo e agudo da cigarra com seus ciclos e conversas povoados de notas e sons harmônicos. Os pios breves e graves da coruja. Os ventos simultâneos com seus sons longos e brisas leves e breves – respirações e suspiros do ar que nos cerca. O farfalhar das árvores ao vento. A paz ruidosa e forte em seus timbres, sons e cores do entardecer e do amanhecer, marcada pela beleza e força de seus diversos tibres, sons e cores. As singelas melodias e contrapontos que acontecem entre galos, sapos, rãs, grilos e pássaros. Os estranhos zumbidos dos insetos e o suave farfalhar individual de suas asas. O piscar de vagalumes em seus pulsos regulares e, portanto, previsíveis. Tudo isto acontece de forma espontânea, sem que nenhum dos personagens tenha cursado escolas de música ou dança. Mas acontece de forma tão integrada! Basta irmos para uma montanha, para o meio do mato, do campo, para uma praia ou à beira de um pequeno riacho, para constatarmos e vivenciarmos o “silêncio” destes espaços, repletos de sons que se articulam e se harmonizam neste todo a que chamamos Natureza. canône forma de composição muito utilizada no século XVI, na qual o tema é iniciado por uma voz e imitado por outras vozes sucessivas, em intervalos de tempo regulares timbre som que é próprio e de acordo com as características peculiares da estrutura mecânica, acústica e anatômica de cada instrumento. Cada voz, cada som também tem o seu timbre. É o timbre que nos permite identificar qual a fonte sonora. Viver num universo rítmico O ritmo se encontra na origem da própria vida. Tudo tem ritmo: A pulsação vital. Os batimentos cardíacos (eletrocardiograma). A respiração. As ondas cerebrais (eletroencefalograma). Os ciclos hormonais. O andar. A fala. Os movimentos das águas dos rios e do mar, do vento nas campinas e no deserto. O movimento do bater das asas, do arrastar-se, do andar ou correr dos animais. As fases da lua. Os movimentos da Terra (rotação e translação – os dias e as noites, as estações do ano). Os movimentos dos planetas. Tudo no universo possui uma pulsação. Vida é movimento. O movimento obedece ao que lhe é inerente: o ritmo. Como diz um ditado sânscrito, a tonalidade é a mãe da natureza, mas o ritmo é seu pai. Em todas as culturas e em todos os grupos musicais, a “afinação no tempo” é fundamental. Seja nos rituais e danças indígenas ou africanas, com o seu bater de pés e com seus tambores, seja nas orquestras ou grupos de câmara, seja nos conjuntos de jazz que contam o tempo indicando o compasso antes de começarem a tocar, todos os que vivenciam a música sabem da importância de acertarem o andamento; sabem da importância de se afinarem em relação ao pulso e, portanto, ao ciclo de base antes de tocarem, dançarem ou participarem de uma vivência musical. sânscrito uma das mais antigas línguas clássicas da Índia, da família indo-européia. grupos musicais bandas, corais, orquestras, conjuntos regionais, qualquer grupo de pessoas que toquem ou cantem juntas. O que é ? afinação no tempo tocar ou cantar mantendo o pulso, o andamento da música. andamento velocidade em que a música será executada. pulsos intervalos regulares de tempo. compasso unidade métrica utilizada em música, constituído de tempos com a mesma duração. compasso binário quando o tempo é marcado de dois em dois, como nas marchas. compasso ternário quando é marcado de três em três, como nas valsas. compasso quaternário quando é marcado de quatro em quatro, como nos hinos. A busca da interação rítmica, que acontece a partir do compartilhar o pulso, os tempos, os ciclos, as frases rítmicas, é fundamental para qualquer execução musical da mais simples à mais complexa, e põe em ação uma periodicidade que propicia os ritmos compartilhados, o sincronismo das vozes, o entrelaçamento harmonioso dos instrumentos, o entrosamento e a comunicação na dança, nas conversas, nos relacionamentos, enfim, na vida. Nós somos seres rítmicos-sonoros. É interessante como certos instrumentos, principalmente alguns de percussão, tanto pelo seu timbre como por sua função na execução, atuam como pulsos quase que orgânicos. É o caso do zabumba nas músicas do Nordeste e do surdo no samba. sincronismo das vozes vozes cantando ao mesmo tempo em perfeita conjugação, em entrosamento umas com as outras. zabumba tambor de grande diâmetro, mas não muito largo, comum nos conjuntos regionais nordestinos. surdo espécie de tambor grande, usado em escolas de samba. Vamos ouvir PARA QUE O homem é uma interação pulsatória – batimentos cardíacos, respiração, fluxo sangüíneo, movimentos corporais, ondas cerebrais. Cada uma de nossas partes vibra e, portanto, produz um som. Som é vibração. O fato de não serem percebidas não significa que elas não existam ou que não estejam atuando. A nossa adaptação ecológica determina qual o sentido a ser mais utilizado. No nosso diaa-dia de cidade, dependemos muito da visão – para atravessar a rua, para ver televisão, ler, escrever. É claro que também ouvimos, mas nossa audição, nosso ouvir, não está acostumado, não está atento para detalhes, até como uma defesa contra a poluição sonora. Isto, por exemplo, não acontece com um homem que viva nas matas. Precisamos ouvir para nos orientar, nos comunicar, para sobreviver. O quanto é importante ouvir-se, ouvir o outro, ouvir o ambiente. Ouvir é enxergar no escuro. Permitir este contato sonoro consigo, com o outro, com o meio ambiente é buscar a harmonização, a tonalização – estar num mesmo tom, mesmo que sujeito a constantes modulações. Esta prática nos conduz naturalmente a “lieds” (canções) de empatia e ressonância. Ouvir está relacionado à capacidade de entrega, recepção e cooperação. Escutar com atenção uma fonte sonora promove a interação rítmica, a afinação e a harmonia com o ambiente. Amplia, portanto, a consciência. Vamos medir sons COMO Nosso vocabulário corrente para descrever sons, mesmo entre adultos com formação universitária, é confuso. É comum as pessoas utilizarem os termos fino e grosso para se referirem a sons agudos e graves. Altura é um dos parâmetros sonoros, uma das qualidades dos sons que se refere à definição da freqüência dos mesmos, podendo ser graves (com poucas vibrações por segundo) ou agudos (com vibrações mais freqüentes). É claro que, em instrumentos de cordas, por exemplo, as cordas mais grossas têm um menor número de vibrações por segundo e, portanto, emitem sons mais graves. Acontece o oposto com cordas mais finas. Já que nos aparelhos de som existe o termo volume, somos levados a definir os sons como altos e baixos – confundindo ainda mais o conceito de altura dos sons. Entretanto, existe o parâmetro intensidade que é a qualidade do som que se refere à sua força de emissão, podendo ser fortíssimo, forte, meio forte ou meio piano, piano, ou pianíssimo, se referindo aos sons que são emitidos em diferentes intensidades. O que é ? altura qualidade dos sons que se refere ao número de vibrações que um som tem por segundo. Os sons podem ter altura aguda ou grave. volume termo comumente usado para se referir à intensidade dos sons. fortíssimo, forte, meio forte, piano, pianíssimo nomenclatura para as diferentes intensidades que um som pode ter. Os sons e nós Várias pesquisas comprovam que os sons e a música podem influir na pressão sangüínea, no ritmo cardíaco (músicas com andamentos rápidos), podendo até mesmo modificar um eletrocardiograma. Os ruídos interferem em atividades como dormir, descansar, ler, concentrar-se, comunicar-se. Ruídos elevados produzem constrição dos vasos sanguíneos, dilatação das pupilas, contração dos músculos, aumento dos batimentos cardíacos, estremecimento, espasmos estomacais, vertigens, redução da capacidade de visão, tensão emocional, alergias, úlceras, dificuldades respiratórias, estresse, desequilíbrio psíquico e, como não poderia deixar de ser, surdez progressiva. Acima de 80 dB (decibéis), os sons provocam queda da produtividade, aumento do índice de acidentes e doenças (dores de cabeça, náuseas), sem falar do estado de humor (irritabilidade, cansaço, agitação). De forma imperceptível, mas cruel e profunda, a poluição sonora altera nossos ritmos internos, influi nas ondas e processos cerebrais e no nosso estado de ânimo e humor. Gerando tensão, nossas reações, a princípio inconscientes, tendem para a irritação, a agressividade e o estresse. A música na escola Fazer música, não importa em que sociedade, é um acontecimento complexo. Os sons, estruturados desta ou daquela forma, são uma parte integrante e importante de um todo. Não é sem razão que a música está sempre presente em cerimônias religiosas e cívicas. Todas as nações têm seu hino. Se efetivamente quisermos analisar um evento musical, uma música, será preciso analisarmos como um acontecimento total, perguntando não somente o que foi feito, mas também, “onde”, “como”, “quando”, “por quem”, “para quem”, “por que”, “quais as intenções” (conscientes e até, se possível, as inconscientes). A música, seja ela folclórica, popular ou erudita é um dos instrumentos culturais que nos mostra e pode nos ensinar sobre diferentes momentos históricos e realidades ambientais e sociais. Na nossa sociedade, vivemos uma contradição: embora as condições de comunicação e de troca de informação tenham se desenvolvido tecnologicamente e nunca tenham sido tão sofisticadas, os gostos tendem a ser impostos pelo mercado. Mais do que nunca, portanto, o papel da escola se torna fundamental. Cabe à escola propiciar a ampliação do horizonte musical dos alunos, para que possam descobrir outros sons, outras ressonâncias, outras harmonias, outros ritmos e, portanto, ampliar sua visão e audição, seu senso crítico, seu conceito de cultura e do ser humano. E quem sabe, descobrir novos gostos musicais, tanto de forma mais crítica e objetiva, como também de forma mais emocional e subjetiva. ACERTANDO O TOM Ouvindo as obras de Villa Lobos sou capaz de dizer que passarinho ele está imitando com a orquestra. Ele, como eu, usava muito o matita-perê, um cuco listrado, rabudo, grandinho, que bota o ovo no ninho do outro, que é pro outro criar o filhote. ANTES DE OUVIR AS CANÇÕES Entrar em contato com diferentes estilos de música pressupõe abrir ouvidos e mentes para o novo, para o nem sempre perceptível. Requer curiosidade e coragem. Por isso, requer uma certa afinidade com os sons. Antes de ouvir a fita com as canções de Tom Jobim, o professor pode fazer alguns exercícios com os seus alunos. Os objetivos dessa aula podem se resumir a: . Aprender a escutar os sons da natureza . Ampliar o universo musical . Ampliar a consciência da poluição sonora em que vivemos Inicialmente o professor pode sugerir os seguintes exercícios: Ouvir um som desaparecer Soar uma batida no triângulo ou em outro objeto de metal, ou numa taça de cristal. Exercitar o estar atento ao som. O objetivo é levar o aluno a perceber que os sons – por serem ondas – duram muito mais tempo do que supomos e vão muito mais longe do que imaginamos. Ouvindo o que não se ouve Bater o diapasão no osso da mão e colocá-lo no osso do lado de fora do pavilhão auditivo. Esperar o som desaparecer. Depois, colocá-lo no ouvido. Bater novamente e colocar no osso do cotovelo. As ondas que formam o som atravessam o corpo e podem ser sentidas. Converse com os alunos sobre essas sensações e explore a relação deste fato com a poluição sonora. APÓS A AUDIÇÃO DAS CANÇÕES Botando a mão na massa Na temática musical, além do professor de Música, que se deterá sobre o conteúdo curricular de acordo com o projeto e o planejamento escolar, podem trabalhar também os outros professores – inclusive porque há escolas que não oferecem esta disciplina. Todos, porém, podem explorar exercícios que apuram o ouvido para os sons ambientes apuram a percepção do que pode afetar nossa qualidade de vida abrem a sensibilidade para o que é diferente incentivam a produção musical E ainda, valendo-se do caderno de canções e da fita cassete que fazem parte do projeto Tom da Mata, as turmas poderão organizar atividades musicais criativas. Como nos demais segmentos do projeto, também na Educação Musical é importante que os alunos passem pela etapa de observação e, depois, pela experimentação. Observação Ouvir a natureza A turma aproveita um dos passeios na floresta, campo, plantação, rio, praia. Em alguns momentos o professor pode sugerir que se coloquem abertos e receptivos para ouvir os sons do ambiente. Depois de um tempo, devem escolher um dos sons e procurar imitá-lo e/ou interagir com o mesmo. Se quiserem, podem levar lápis para escrever ou para desenhar. Peça aos alunos que registrem, depois de algum tempo, o que sentiram, que emoções o som provocou. Ouvir a própria voz A turma pode ser convidada a ouvir a própria voz, que é o principal som do instrumento humano. Sentados em suas carteiras, os alunos podem falar para si mesmos e pensar no que ouvem quando falam. Também podem emitir sons, como o balbuciar de bebês, sons graves, sons agudos, mais longos, mais curtos. Este exercício resgata um pouco a caminhada da criança até a fala completa. Se houver um gravador, é importante que as crianças gravem e ouçam a própria voz. Ouvir os sons ambientes Propor à turma que exercite essa atividade fora da escola, individualmente. Em silêncio, prestar atenção aos sons do ambiente no ônibus, na sala de aula, no recreio, em casa (de manhã, à tarde, à noite, depois de deitar-se), na rua, numa festa, durante um jogo. Por um minuto, o aluno deve colocar-se nesta atitude: postura de entrega / recebimento destes sons. Na escola, anotar no caderno: Quais os sons que lhe fazem bem? Quais os que lhe provocam tensão? Experimentação Depois destes exercícios, a turma já pode incluir a música propriamente dita nas suas atividades. O professor deve escolher cinco tipos de músicas: pode ser um rock, um samba, uma música de Tom Jobim, uma música regional de sua preferência e uma música orquestral (pode ser de um filme – a do ET, ou do Caçador de Andróides, ou de algum compositor como Villa-Lobos, Bach, Vivaldi, Mozart). Pedir que a turma fique em silêncio e tocar cada dia uma das músicas escolhidas, começando com a intensidade bem forte (volume no máximo!). Aos poucos, ir reduzindo, abaixando o volume do aparelho de som, até que fique quase no mínimo. Os alunos não devem acompanhar com qualquer tipo de som. Depois de ouvir, devem registrar no caderno o que pareceu semelhante, o que é diferente, enfim, todas as sensações. Emitindo as vogais Pedir que a turma inspire o ar (cuidado, não é para encher o peito de ar; neste tipo de inspiração, na verdade você não aproveita toda a capacidade de seus pulmões. Oriente-os para que façam uma respiração, onde o diafragma se estenda – um sinal é quando as costelas flutuantes se ampliam). Inspirar lentamente, prender um pouquinho e soltar devagar, procurando soltar num tempo maior do que o que foi utilizado para inspirar. Repetir, mas quando soltar o ar, emitir o som de uma das vogais. Oriente os alunos para que procurem perceber onde ressoa o som dentro deles. Por exemplo, a vogal i, geralmente é mais aguda e vai ressoar na cabeça. O exercício deve ser feito em grupo e gravado. Depois, a turma pode improvisar sons e melodias com as vogais. Caminhando no tempo Marcar um tempo e começar a caminhar, podendo ser no mesmo lugar. Procurar uma afinação do tempo, das respirações. Primeiro em dois tempos. Direito- esquerdo (acentuando o direito), depois em 4 tempos, DIREITO-esquerdo-direitoesquerdo (sendo que o DIREITO será mais marcado). Depois em 3 tempos (ora o acento cai no pé direito, ora no esquerdo). Uma proposta de trabalho O professor de Música ou os professores envolvidos no projeto de Educação Ambiental podem propor que os alunos desenvolvam um projeto de Coleta e registro de músicas que falem da natureza. Podem ser músicas folclóricas ou da MPB. Pedir sugestões aos pais e avós sobre músicas mais antigas. A seguir, damos um modelo de projeto e alguns exemplos práticos. ETAPAS DO PROJETO 1. Organização do material necessário - caderno de notas - gravador cassete e fitas 2. Divisão da turma em grupos De acordo com o material disponível. Se a escola só tiver um gravador, os alunos devem se organizar em rodízio para coletar as gravações. 3. Pesquisa e coleta 4. Organização e catalogação do acervo gravado 5. Pesquisa complementar sobre origem e variação das canções coletadas. Obs.: Podem ser feitas pesquisas com a mesma metodologia gravando sons ambientes nas cidades, na mata, nas feiras. Gravações desse tipo podem servir para uma brincadeira de adivinhar. Professor Não deixe de registrar o andamento de cada projeto no diário e selecionar as produções dos alunos. Cada escola deve decidir se enviará apenas um relatório ou um de cada turma, junto com as fichas de avaliação. A MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica cobre a região onde mais chove no Brasil. Lá estão os mananciais que abastecem as cidades, irrigam as plantações e sustentam as hidroelétricas. Lá também vivem espécies animais e vegetais, muitas delas ameaçadas de extinção. Lá estão os solos que sustentaram a nossa agricultura. Lá está a biodiversidade cantada pelo maestro Tom Jobim. Faça-se as flores é primavera, faça-se amores sonhos e quimera, faça-se o dia pro passarinho cantar deixa a mata verde se espalhar... Cadê a floresta,a Serra do Mar O paraíso pra gente se amar Vamos tentar nossa terra salvar...(Sempre verde) A Mata Atlântica • sua história • seus problemas • suas riquezas áreas afins • colonização (História do Brasil) • industrialização/urbanização(Geografia/História) • populações indígenas (História do Brasil) • biodiversidade/poluição (Ciências/Educação Ambiental) A Mata Atlântica ERA UMA VEZ... Em 1500, quando uma árvore foi cortada para montar a cruz da primeira missa rezada no Brasil, começou também o processo de destruição da Mata Atlântica. Os colonizadores, a princípio, se estabeleceram na faixa litorânea, mas logo – seduzidos pelos relatos muitas vezes fantasiosos das expedições ao interior –, penetraram a mata, expandindo as fronteiras da colônia. Desmataram em busca de ouro, pedras preciosas e do valioso pau-brasil, que fornecia matéria-prima para fabricação de tinta para escrever, além de pigmento usado para tingir tecidos. Ergueram vilas e, para atender a própria subsistência, introduziram a criação de gado e uma lavoura ainda incipiente. Para melhor administrar a terra recém-descoberta e tranquilizar o governo da colônia, a Coroa portuguesa implantou o sistema de sesmarias. Essas glebas nunca tiveram um limite rígido e os sesmeiros perceberam a oportunidade de aumentar seus domínios. As propriedades, então, avançaram sobre as matas. sesmarias lotes que eram doados a colonizadores para cultivo ou criação de animais A ação do homem O desmatamento para a formação de pastos e o empobrecimento dos solos pela sistemática prática de queimadas na agricultura foram terrivelmente destrutivos. Nos primeiros 100 anos de colonização, uma grande parte da Mata Atlântica já tinha sido desfigurada. A cultura do café, da cana-de-açúcar e do algodão, assim como a extração do ouro – os famosos ciclos econômicos do Brasil Colônia – continuaram a devastação, poluindo rios, lagos e mananciais. Na metade do século XX, o cerco à Mata Atlântica se fechara. Produtivas áreas agrícolas, grandes criatórios e os maiores centros urbanos do país ocupam hoje o que ontem foi Mata Atlântica. Além disso, a mineração do ouro, granito, calcário e areia também deram e continuam dando sua contribuição à degradação da Mata Atlântica: poluem grandes áreas, provocam desmoronamentos, assoreiam os rios, canais e estuários. Durante 20 anos, entre as décadas de 1940 e 1960, 75% do parque industrial brasileiro foi alimentado com lenha, produzida pela mata. O mundo vivia o racionamento do petróleo, em consequência da Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que o Brasil investia na industrialização, para substituir as importações, já que os outros produtores estavam concentrados no esforço de guerra e na recuperação do pós-guerra. A produção de aço, no estado do Rio de Janeiro (Volta Redonda) e de papel e celulose, no Espírito Santo e São Paulo, ainda se vale da madeira para fazer carvão e papel. Para isso, reflorestam com espécies únicas grandes extensões, sem respeitar a biodiversidade. Apesar de sofrer todo tipo de agressão, ainda restam alguns remanescentes da Mata Atlântica, que conferem ao Brasil o título de país de maior biodiversidade do planeta. É tão crucial para a saúde do nosso planeta preservar o que sobrou, que o Brasil, na Constituição de 1988, declarou a Mata Atlântica, Patrimônio Nacional e a Unesco, em 1993, a reconheceu como Reserva da Biosfera, dentro do Programa Homem/Biosfera. O êxito do Programa Homem/Biosfera, no que se refere à Mata Atlântica, depende da preservação dos seus remanescentes e ecossistemas associados. As quase trezentas Unidades de Conservação criadas abrangem uma área de 2 milhões de hectares e têm como objetivo a conservação da biodiversidade do ecossistema, preservando a flora e a fauna, recuperando as áreas destruídas, implementando técnicas e pesquisas adequadas ao desenvolvimento sustentado da região e ao melhor aproveitamento dos recursos naturais. As Unidades de Conservação abrigam uma pequena parcela dos remanescentes da Mata Atlântica que, em sua maior parte, estão em propriedades particulares. O homem e a mata Quando uma área é desmatada pelo homem, desequilibra todas as outras áreas a ela associadas. Os animais e os insetos que ali viviam, sem alimento e sem seus predadores naturais, atacam as lavouras e a criação. O solo destruído retém menos água, diminuindo a quantidade de água dos rios, lagos e riachos que formam as bacias hidrográficas essenciais à vida. O mesmo acontece quando se agride qualquer outro ecossistema, como os mangues, por exemplo, responsáveis pela sobrevivência de milhares de animais marinhos e que, muitas vezes, são aterrados e transformados em loteamentos ilegais. A agressão ao meio ambiente está destruindo a biodiversidade e a diversidade genética. Ecossistemas Urbanos Poucas cidades no mundo foram planejadas para absorver o aumento constante da população urbana. Apesar dos investimentos para a melhoria dos serviços básicos e moradia, é quase impossível para os governos reverterem completamente essa situação. O gigantismo das cidades interfere no ecossistema local e na biosfera como um todo. Por exemplo, podemos pensar que, onde havia uma casa antes, com uma família, hoje, há um prédio abrigando dezenas de famílias. A população brasileira em 1970 era de 90 milhões. Hoje, passados menos de 30 anos, quase duplicou – já somos 160 milhões – dos quais mais de 50% vivem nas cidades. A concentração humana nos centros urbanos traz graves problemas ao meio ambiente e aumenta perigosamente a demanda pelos serviços básicos como água, esgoto, alimentação, saúde, educação, transporte e habitação. Mas as cidades, apesar de todos os problemas, não param de crescer. Segundo a ONU, a população do planeta chegará, em 2050, a 7,8 bilhões, sendo que mais da metade estará concentrada nas cidades. biosfera porção da Terra onde se encontram os seres vivos O laboratório paulista No Brasil, a cidade de São Paulo pode ser vista como um imenso laboratório, onde os limites da adaptabilidade humana estão sendo duramente testados. Uma das maiores cidades do mundo, e que abriga, em sua periferia, o mais poderoso complexo industrial da América Latina, São Paulo tem, também, nada menos que 1.257 favelas. São milhares de famílias que sobrevivem precariamente, expostas a toda sorte de fatores ambientais adversos, desde a falta de saneamento até a violência. Uma densa neblina amarelada envolve a cidade. É o resultado dos 4 milhões de veículos circulando, emitindo gases, poluindo a atmosfera. Mas se a cidade é o laboratório do que de pior pode nos acontecer em grandes centros urbanos, também é o espaço onde as medidas saneadoras e preventivas podem ser testadas. A gravidade do problema do ar em São Paulo – traduzido pelo alto índice de doenças pulmonares, sobretudo em crianças e, principalmente, nos meses de inverno – levou as autoridades a adotarem medidas extremas. 1. A Cetesb – Companhia de Tecnologia e Saneamento Básico decreta anualmente o rodízio de automóveis, por número da placa, de maio a setembro, das 7 às 20 horas – 13 horas por dia, em toda a cidade. Exceto aos sábados, domingos e feriados. O rodízio atinge também os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Mauá, Diadema, Ferraz de Vasconcelos, Taboão da Serra, Guarulhos e Osasco. 2. No restante do ano, a prefeitura se encarrega de fiscalizar outro rodízio, diário, também pelos finais de placas, em dois horários considerados de pico de movimento – das 7 às 10 horas e das 17 às 20 horas – para as áreas conhecidas como centro expandido – o antigo centro da cidade mais as áreas circunvizinhas, até o encontro das marginais do Tietê e do Pinheiros. Esse esquema funciona de fevereiro a dezembro, exceto no período do rodízio da Cetesb e nos fins de semana e feriados. Mas os caminhões que circulam nas avenidas Marginais e no Mini Anel Viário, que delimitam o centro expandido, estão liberados. Outros focos • A cidade de Cubatão, na Baixada Santista, o mais importante pólo petroquímico do país, já foi considerada a mais poluída do mundo. As indústrias da região contaminaram as águas, o solo e o ar. A população sofre de anemia, bronquite e pneumonia. E são registradas graves alterações genéticas nas crianças geradas nas favelas e alagados. • A cidade do Rio de Janeiro, espremida entre o mar e a serra, não tendo para onde crescer, teve suas encostas desmatadas para atender à ambiciosa especulação imobiliária e, mais recentemente, dar lugar a 500 favelas, onde vivem 1 milhão e 200 mil pessoas. Somente na Rocinha são 170 mil, mais ou menos a população do estado de Roraima. As pontes, os viadutos e os loteamentos irregulares cariocas são moradia para 1 milhão de marginalizados. • Todos os anos, em conseqüência das chuvas de verão, a população de nossas cidades, principalmente do Rio, São Paulo e Belo Horizonte, sofre perdas irreparáveis ocasionadas por enchentes e desabamentos. Povos da Mata Atlântica No século XVI, quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia cerca de 5 milhões de índios. Hoje, segundo a Funai, são apenas 250 mil. As tribos que habitavam o litoral foram as primeiras a sofrerem com a chegada dos colonizadores. Os brancos, além de disseminarem doenças, usaram os índios nas guerras contra os invasores e como escravos. No interior, os indígenas foram vítimas das entradas, principalmente onde é hoje o estado de São Paulo. No processo de catequese e aculturação, muito da cultura indígena se perdeu, embora os missionários muitas vezes defendessem os índios, como aconteceu na colônia de Sacramento. Em 1550, já havia 13 missões instaladas pelos jesuítas. O contato entre o colono e o índio deixou como herança o caiçara, que em língua tupi quer dizer “armadilha de galhos”. O caiçara vive entre o mar e a floresta, ocupa os mangues e as restingas.Vive da pesca e do plantio da mandioca. Assim como as florestas e os índios que foram dizimados, também a população caiçara está perdendo sua identidade e sua cultura, sendo explorada pelo turismo predatório e pela especulação imobiliária. entradas grupos armados que saíam de vários pontos da costa e penetravam a mata em busca de índios para trabalho escravo, do séc. XVI ao séc. XIX. ACERTANDO O TOM O nome do Brasil é o nome de uma madeira, o pau-brasil, madeira cor de brasa vermelha.(...) Mas é preciso ter pau-brasil, porque o sujeito pergunta: Brasil, o que é que é? É o nome de uma madeira que não existe mais. BANCO DE DADOS Poluição mata A poluição do ar matou 4 mil pessoas em Londres, em 1952. As águas poluídas são responsáveis, anualmente, por 3 milhões de mortos e 1 bilhão de doentes em todo o mundo. Tribos Tamoios, na região da baía de Guanabara; Temininós, no Espírito Santo; Tupiniquins, na Bahia; Caetés, na região entre o rio São Francisco e Itamaracá; Tabajaras, no rio Paraíba de Norte e Potiguaras, nos arredores do rio Jaguaribe; Patachós, no Monte Pascoal, são algumas das tribos indígenas da região da Mata Atlântica. Erosão A erosão pode levar à perda de 10 toneladas de solo por hectare. A recuperação do solo é feita ao ritmo de 1 tonelada/ano por hectare. Notícias muito boas força do mercado De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), há 50 empresas no Brasil que já conquistaram o ISO 14.000 – o certificado que atesta a segurança para o ambiente. Essas empresas investirão US$ 108 milhões em tecnologia ambiental. A corrida tem uma explicação forte: os importadores estrangeiros estão exigindo o ISO para fechar negócios com os empresários brasileiros. nada de inseticidas Uma vespa de meio milímetro chegou ao Brasil em 1998 com uma missão: eliminar o cancro cítrico. A Ageniaspis citricola, como é conhecida a vespa australiana, põe ovos microscópicos dentro dos ovos do inseto – uma lagarta – que destrói os laranjais abrindo caminho para a bactéria do cancro cítrico. A heróica vespinha foi aclimatada e reproduzida pela Embrapa e pode substituir – como já fez em outros países – os inseticidas contra pragas. mil e uma utilidades Segundo o Instituto Agronômico de Campinas, o bambu – planta existente em todo o mundo – pode ser um grande aliado para conter erosão do terreno. Ele também tem a vantagem de se dar bem em qualquer lugar, não ser vulnerável nem a pragas, nem a doenças. Dele podem ser retirados álcool, papel e celulose, além de material para cestos, móveis e artesanatos. Além disso, o broto do bambu serve de alimento e no Brasil ele dá duas safras por ano. ANTES DE EXIBIR A FITA A partir deste item, estaremos mergulhando na questão das atividades curriculares e dos dados de realidade sobre a Mata Atlântica. Nesta caminhada, cujas portas nos foram abertas pela paixão e pelas palavras do maestro Tom Jobim, vamos conhecer de perto os problemas que temos que enfrentar se quisermos preservar esse tesouro. Para tanto, precisamos conhecer esse tesouro. Por isso, antes mesmo de seguir passo a passo desvendando a mata e seus habitantes, podemos passar os olhos pelos capítulos seguintes, deixando que a vista pare aqui e ali, estabelecendo esse primeiro contato – pelos sentidos – com as riquezas da Mata Atlântica. Depois, podemos ir colecionando materiais: livros, revistas, artigos, jornais, referências enfim, que possam ser úteis nessa descoberta. O mesmo pode ser sugerido aos alunos. Sem estabelecer nenhum tema fechado, nem indicar procedimentos, deixar que os estudantes sigam a intuição, procurando formar um acervo, mesmo desorganizado, de referências à Mata Atlântica, ou mesmo às matas em geral e ao maestro Tom Jobim. Essa atividade, por parte dos professores e dos alunos, faz com que – no momento de exibição da fita – estejam todos impregnados pelo tema. APÓS EXIBIÇÃO DA FITA As atividades que podem ser propostas à turma buscam fazer com que os alunos vivenciem algumas situações mencionadas na aula ou vistas nas fitas. Tanto podem estar relacionadas à observação como à experimentação. Seguindo este modelo, ou adaptando-o à sua forma de trabalhar, o professor deve direcioná-lo para os seguintes objetivos: • Apropriação de conteúdos • Construção dos conceitos • Mudanças de atitudes • Práticas de cidadania Observação Neste item – a Mata Atlântica – e idéia seria trabalhar, de início, apenas com a observação. Podemos organizar com a turma uma excursão de curta distância, procurando uma primeira aproximação com áreas florestais. Isso pode ser feito num parque próximo à escola, um jardim botânico, uma fazenda, uma chácara, ou mesmo um bosque. Mesmo em cidades muito grandes há áreas assim. Em São Paulo, por exemplo, há o bosque da Universidade de São Paulo, o Horto Florestal, o Parque do Morumbi, o Parque da Aclimação, o Parque da Água Funda, a Serra da Cantareira, as matas de Parelheiros etc. No Rio de Janeiro, há o Jardim Botânico, a Floresta da Tijuca, o Parque da Cidade. E nas cidades menores as oportunidades são ainda melhores. Nessas caminhadas, o professor deve incentivar os alunos a perceberem tudo que os cerca, mas sem exigir nenhum trabalho sistemático de registro. Nos itens seguintes, as tarefas crescerão em complexidade e serão percorridos os passos da investigação, registro e análise a seu tempo. Botando a mão na massa Na temática mata, além dos conteúdos curriculares história da colonização, da industrialização, o professor tem a oportunidade de trabalhar a construção dos conceitos de: urbanismo, crescimento demográfico E, ainda, buscar motivação para a questão e a impregnação pelo tema, visando a uma maior consciência dos problemas que o homem causou à mata e ao equilíbrio dos ecossistemas. Uma proposta de trabalho O professor pode propor que os alunos se organizem em grupos e elaborem um Projeto de Acervo sobre o Meio Ambiente e a Mata Atlântica, reunindo livros, revistas, artigos, fotos, filmes, referências, endereços, tudo enfim que puder trazer informações sobre meio ambiente, ecologia, recursos naturais, poluição e a mata. A seguir, damos um modelo de projeto e exemplos práticos. Etapas do projeto 1. Definir a área de interesse O professor e os alunos, em conjunto, devem estabelecer os itens e sub-itens de acervo. Por exemplo: 1. Meio Ambiente a. Denúncias de danos b. Problemas e soluções c. Informações úteis 2. As florestas a. As matas no mundo b. As matas brasileiras c. A Mata Atlântica 2. Divisão de tarefa O professor pode dividir a turma em grupos e cada grupo se encarregar de reunir os dados, materiais, recortes, livros de cada tema. Um grupo pode ficar encarregado de definir a área de armazenagem e como os materiais serão arquivados: caixas, pastas com etiquetas, fichas de referências. Este grupo, em especial, estará desempenhando uma tarefa de arquivista, para a qual deverá consultar a bibliotecária da escola ou da biblioteca do bairro. Tudo que o grupo aprender sobre essa atividade deverá ser registrado e, depois, transformado em um pequeno manual ou ficha de orientação para os futuros usuários do acervo. Dependendo da turma e das condições de segurança da escola, o próprio material do Tom da Mata pode fazer parte do acervo. 3. Classificação dos materiais Ainda sob a orientação da pessoa de biblioteca, os alunos passarão a classificar os materiais, etiquetando e registrando em um fichário central, seguindo as normas internacionais de referências bibliográficas. Este exercício, embora pareça mecânico, é essencial para que eles aprendam a lidar com os arquivos das grandes bibliotecas e até mesmo a fazer buscas na internet, porque mostra o caminho inverso das chaves de busca. 4. Inauguração A turma pode se mobilizar para produzir uma cerimônia ou festa de inauguração do acervo com tudo que é de praxe: descerramento de placa, cortar a fita, discursos, redação e distribuição de um panfleto ou pequeno boletim, cartazes. A festa pode culminar com a exibição da fita da Mata Atlântica, e todo o evento pode ser embalado pelo som da fita das músicas do Tom Jobim. O acervo, dependendo da escola, poderá ficar na própria sala ou ser abrigado no espaço da biblioteca ou da sala de leitura. Avaliando Todas as etapas do projeto – definição das áreas, distribuição de tarefas, classificação, inauguração – devem ser registradas. Um diário ou caderno de notas, individual ou em grupo, facilitará a avaliação do projeto, não só como produto final, mas como acompanhamento de todo o processo. Esse registro poderá servir de base para novas propostas de trabalho. O envolvimento do aluno, sua participação e mesmo a do professor podem ser discutidos em vários momentos, servindo para a reformulação do que não for satisfatório. Professor Não deixe de registrar o andamento de cada projeto no diário e selecionar as produções dos alunos. Cada escola deve decidir se enviará apenas um relatório ou um de cada turma, junto com as fichas de avaliação. SOLOS Na barranceira do rio, o ingá se debruçou e a fruta que era madura a correnteza levou... (Correnteza) O solo e a Mata Atlântica • sua formação • sua riqueza • sua importância áreas afins • colonização (História do Brasil) • relevo/flora (Geografia) • minerais (Ciências/Física) O ciclo vital do solo COMO É Folhas, galhos, plantas que encerraram seu ciclo vital, ao se depositarem sobre o solo e se decomporem, ano após ano, formam uma camada de material orgânico, rica em nutrientes e microorganismos. É desse material – chamado serapilheira – que a mata se alimenta. Se a serapilheira for – por qualquer motivo – removida, ou deixarem de existir os microorganismos que entram na decomposição dos restos vegetais, a primeira camada do solo se tornará cada vez mais estéril e a floresta, depois de um certo tempo, morrerá. Quem olha de longe o que restou da Mata Atlântica tem a visão perfeita da abundância, sobretudo nas regiões serranas. Mas a remoção da serapilheira deu origem a um solo pobre e, por isso mesmo, infértil. O desmoronamento das encostas A cobertura vegetal protege o solo dos agentes erosivos de várias formas: 1) amortece o impacto da chuva, pois as folhas funcionam como dissipadores de energia (ou seja, dispersam a força das águas), diminuindo a velocidade das torrentes; 2) as raízes dos vegetais dão estrutura e sustentação ao solo, principalmente, em encostas íngremes; 3) a serapilheira diminui a velocidade da água que escorre pelas encostas. As encostas das montanhas são as que mais sofrem com o desmatamento, porque a declividade dessas áreas já facilita a tendência de perder sedimentos para as terras planas e baixas. Sem a cobertura vegetal, a perda se acentua, as encostas desmoronam, alterando o ecossistema mais ainda e, muitas vezes, provocando desastres nas áreas vizinhas. ALERTA O processo de formação do elenco de espécies da Mata Atlântica está concluído. Não surgirão novas espécies, nem haverá adaptações. Por isso, dizemos que ela é um ecossistema em climax – ela está no último estágio da sucessão natural. Em ambientes desse tipo o homem deve interferir o mínimo possível, para evitar os desequilíbrios. Desmatamentos aceleram a erosão Quando o homem retira da floresta, de uma forma desordenada e predatória, a madeira para construir – devemos lembrar que toda construção civil, no Brasil pelo menos, começa com as estruturas em madeira, depois jogadas fora – ou abre espaço a fim de expandir a fronteira pecuária ou agrícola, está retirando a vegetação que protege o solo dos agentes erosivos, como as chuvas e os ventos. Em ambos os casos, a interferência do homem sela o destino do solo – pois altera os mecanismos naturais de renovação da vida – e, por tabela, sela o destino das matas – pois ao alterar o mecanismo de renovação, o desmatamento resulta em falta de vegetação e, portanto, dos restos vegetais que fertilizam o solo. fronteira pecuária ou agrícola é a expressão que se usa para designar os limites da área usada para o plantio ou criação de gado. Técnicas agrícolas matam microorganismos As técnicas agrícolas, embora necessárias, em muitos casos, para que o homem produza seus alimentos, também contribuem para o empobrecimento do solo, se forem empregadas de forma inadequada. * A utilização de máquinas pesadas de aragem aliada ao uso intensivo do solo acaba por matar os microorganismos, porque não suportam o contato direto com o sol. * As máquinas utilizadas na agricultura muitas vezes abrem veias na terra e, quando chove, a água corre por esses sulcos criando ravinas ou vossorocas. * Fertilizantes e agrotóxicos poluem o solo e os recursos hídricos, matando animais, plantas e prejudicando a saúde humana. * As queimadas, usadas para limpeza do solo antes do plantio e renovação de pastagens, eliminam parte da biomassa que protege o solo, ocorrendo perda de nutrientes. vossoroca é a forma de erosão do solo em que se conjugam os efeitos da água subterrânea e da água superficial. Os solos perdem a capacidade de reter a chuva e acumulam muita água nas profundidades, provocando os deslocamentos de blocos que podem ter 30 metros de profundidade e centenas de comprimento.\ Todas essas técnicas provocam impactos no meio ambiente, em especial no solo, fazendo com que a sua produtividade diminua. Impermeabilização dos solos nas cidades O asfalto, que reveste as ruas das cidades, é um indicador de melhor qualidade de vida. Mas ele impede que a terra absorva água e outros nutrientes. Quando cobre todo o espaço urbano público, além de empobrecer o solo, essa impermeabilização provoca enchentes e enxurradas, já que a água escorre com mais facilidade para as vias pluviais. Deixam de ser alimentados, também, os poços e lençóis subterrâneos, de onde nascem os mananciais que abastecem as cidades. mananciais nascentes das águas que alimentam os rios. Desmatar áreas de nascentes, também seca os mananciais. ALERTA Para cuidar bem do solo Não é aconselhável cimentar quintais e jardins. Se você mora em casa, coloque grama ao invés de concreto. Proteja o solo com vegetação, para que as chuvas não levem os nutrientes. Na hora de jogar o lixo fora, veja se ele está bem acondicionado para não contaminar o solo. BANCO DE DADOS Erosão No Estado de São Paulo são perdidos, anualmente, 200 milhões de toneladas de solo por erosão agrícola. Perdas A produtividade agrícola média brasileira em 1952 era de 2,97 toneladas/hectare, passando para 1,49 tonelada/hectare em 1992. Em 40 anos perdeu-se a metade da produtividade. Desmatamento Entre 1985 e 1990, cortou-se cerca de 1 bilhão e 200 milhões de árvores na Mata Atlântica. Desabamentos Durante as chuvas de verão de 1996, terra e restos vegetais desceram do maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro, e deixaram centenas de desabrigados. Cicatrizes Quando uma encosta sofre processos de deslizamentos, na época das chuvas, podem aparecer fendas – verdadeiras cicatrizes – enormes. Calcula-se que as cicatrizes deixadas no bairro de Jacarepaguá, em 1996, equivalham a 73 campos de futebol. Causas Depois da tragédia daquele verão, descobriu-se que cerca de 85% da área que deslizou sobre as residências cariocas estava coberto apenas por capim ou uma floresta rala e já muito degradada. E nada menos que 18 mil hectares em outras encostas estão carentes de cobertura vegetal. O que está sendo feito para recuperar o solo da Mata Atlântica Conversa com o professor Professor, Você vai conhecer aqui alguns projetos de manejo de técnicas adequadas à preservação do solo. São projetos patrocinados pelo governo e organizações não-governamentais, que estão em andamento em todo o país. Estância Demétria Fundada em 1974, na cidade de Botucatu (SP), pode ser considerada pioneira no manejo ecológico dos solos. A estância é formada por uma fazenda, quatro sítios, uma chácara experimental, um instituto de pesquisa, um centro de estudos e um laticínio. A chácara experimental possui 20 hectares de hortaliças, que abastecem Botucatu, Ribeirão Preto e a cidade de São Paulo. E 20 hectares de ervas medicinais (matéria-prima para a indústria farmacêutica). Toda a produção é realizada com esterco de gado e sem agrotóxicos. A chácara e o instituto de pesquisa oferecem cursos e instruções básicas para técnicos, professores e pequenos criadores, orientando-os sobre os métodos de cultivo sem química e sobre agricultura ecológica. Reflorestamento dos Morros da Cidade do Rio de Janeiro A Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e o Instituto Estadual de Florestas vêm realizando, desde 1987, o reflorestamento das áreas de encostas degradadas pela ocupação desordenada. São plantadas mudas nativas da Mata Atlântica, cultivadas em viveiros, por técnicos da própria prefeitura do Rio de Janeiro. Por ano, são produzidas em torno de 600 mil mudas. Nesses dez anos de trabalho, foram reflorestados cerca de 660 hectares (cerca de 660 campos de futebol), protegendo 65 encostas de morros em todo o município. Os resultados têm sido positivos: na primeira área reflorestada, o Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca, zona norte da cidade, os deslizamentos foram controlados. Recuperação da Serra do Mar O projeto, coordenado pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), visa recuperar a região de Mata Atlântica, destruída pela poluição, no trecho da Serra do Mar, em Cubatão. Foram espalhadas nessa região sementes de espécies nativas da Mata Atlântica, abrangendo uma área de 60km2. A primeira semeadura aconteceu nos anos de 1988 e 1989. Foram lançados 750 milhões de sementes em 15km2. O restante da área foi semeado em 1990, com 1,5 bilhão de sementes de espécies nativas. No momento, não existe uma avaliação quantitativa dos resultados. Mas pode-se constatar que todas as áreas semeadas estão cobertas com vegetação arbórea densa, com alturas superiores a 2 metros. A estimativa é de que, no prazo de 50 anos, essa área se transforme numa floresta recuperada, com estrutura e composição de espécies semelhantes às da floresta original. Estação Experimental de Macaé Localizada no estado do Rio de Janeiro, a Estação pertencente à Pesagro – Empresa de Pesquisa Agropecuária, possui uma área de 90 hectares, dos quais 15 são utilizados para experimentos. Lá, são desenvolvidas pesquisas para o tratamento de pragas e doenças com produtos à base de elementos naturais, que não poluam o meio ambiente. A proposta é diminuir a utilização de produtos químicos (herbicidas, inseticidas e agrotóxicos). Para isso, além de suas pesquisas, vende mudas e presta assistência aos interessados. ANTES DE EXIBIR A FITA Qualquer trabalho com a TV na sala de aula deve ser precedido de uma preparação da turma com pelo menos uma atividade de sensibilização para o tema que será tratado na aula. Os alunos podem, por exemplo, pesquisar – até mesmo nos livros didáticos que estão utilizando ou indo à biblioteca – algumas informações básicas sobre o solo em geral e a história da exploração da Mata Atlântica. A seguir o texto sobre a nossa história aponta algumas pistas para as pesquisas. Como se formam os solos A camada superficial do planeta é formada por rochas, que constituem o manto rochoso. Quando elas sofrem a ação do intemperismo (ou meteorização), se desagregam e formam o solo. Esse fenômeno ocorre a partir de processos físicos – nos quais as raízes das plantas rompem e penetram as rochas – e químicos – em que ocorre a decomposição da matéria orgânica, mudando a composição química do solo. Os organismos vivos atuam tanto em um, quanto no outro. É importante que os alunos percebam a interação solo-planta, já que o primeiro define o tipo de vegetação e esta, por sua vez, altera as características do solo através da incorporação de matéria orgânica. intemperismo destruição física e decomposição química dos mi-nerais da rocha, devido à ação de agentes atmosféricos e biológicos. Milhares de anos em camadas O nome vai parecer estranho para os seus alunos – pedogênese, de pedo, solo e gênese, formação – e designa um processo de milhões de anos. O processo pelo qual se formam as distintas camadas, que são chamadas de horizontes. A seqüência de horizontes, da superfície para baixo, é chamada de perfil do solo. O solo – até o limite da rocha-mãe – é composto de quatro horizontes: horizonte A – Conhecido como serapilheira, contém infiltração de húmus (matéria orgânica decomposta) na matéria mineral e é onde ocorre intensa vida bacteriana. Ele está sujeito à ação direta do clima. Como a maioria dos organismos decompositores (saprófitos) vive nele, é fundamental que se conheçam suas relações com o meio (ecologia) já que sua eliminação pode interromper o ciclo da matéria orgânica; horizonte B – É a faixa mais compacta devido à acumulação de material, trazido do horizonte A. Esse material inclui sais nutrientes, trazidos pela água percolante – a água que se infiltra por gravidade para os horizontes inferiores; horizonte C – Consiste na rocha alterada, mas ainda conserva sua estrutura original (composição); horizonte D – É a própria rocha matriz (rocha-mãe) que deu origem ao solo. serapilheira primeira camada do solo, rica em nutrientes e muito vulnerável à erosão. História O solo da Mata Atlântica foi o primeiro a sofrer os efeitos da empresa colonial. A mata sofreu intenso processo de exploração, ocupação e conseqüente devastação. Os recursos naturais, como o pau-brasil, eram retirados da mata sem nenhum critério senão o lucro imediato obtido nas vendas no mercado da Europa. Depois da coleta pura e simples, os colonizadores portugueses investiram na plantação da cana-de-açúcar e, com ela, se foi boa parte da Mata Atlântica, deixando para trás o solo nu e vulnerável. Ao mesmo tempo, desenvolvia-se uma cultura predatória e aparentemente contraditória: enquanto enalteciam a riqueza e a exuberância da terra, os colonizadores não tinham consciência da destruição que deixavam por onde passavam. Pau-brasiL a primeira coleta O primeiro recurso a ser explorado pelos portugueses foi o pau-brasil. Sua madeira, de cor vermelha intensa, era utilizada para a construção e como tintura (corante vermelho para tingir tecidos). Cana-de açúcar a primeira cultura Durante o ciclo da cana-de-açúcar, derrubava-se as matas para implantar os engenhos e as lavouras. Como era necessário alimentar a população que ali trabalhava e cultivar pastos para o gado de tração, foi preciso derrubar quilômetros de Mata Atlântica. Começava o desmatamento que desnudou o solo e praticamente extingüiu a serapilheira. CafÉ a grande marcha para o interior O ciclo do ouro – simultâneo em parte à exploração da cana – e o do café interiorizaram a ação do homem sobre as florestas nativas. Nas regiões do interior do Rio de Janeiro, entrando pelo vale do Paraíba, em São Paulo, até as barrancas do Paraná, o café – perseguindo os férteis solos de terra roxa do interior – deixou atrás de si os morros nus e os solos esgotados. A devastação continua A exploração desordenada da Mata Atlântica e do solo da região, iniciada no Brasil Colônia, continua até hoje. O modelo monocultor confirmou sua vocação predatória. Vastas áreas se dedicaram à criação de gado e, posteriormente, ao novo ciclo da cana. A retirada de carvão e de madeira para a indústria do aço no estado do Rio de Janeiro e a exploração da mata na indústria de papel e celulose, no Espírito Santo e São Paulo, também atingiram a mata. Em muitos lugares foram feitos plantios, mas quase sempre de espécies únicas e de outras regiões, como o pinheiro, típico de climas mais frios. ACERTANDO O TOM O Rio de Janeiro é uma cidade feliz por ter uma jóia dessas, que jóia a floresta da Tijuca! Essas cores, essa bruma linda, esse pastel que dá nas árvores. Esse bege, pau-linheiro, pau de andrade, esse tom é fantástico! APÓS EXIBIÇÃO DA FITA As atividades que podem ser propostas à turma buscam fazer com que os alunos vivenciem algumas situações mencionadas na aula ou vistas nas fitas. Tanto podem estar relacionadas à observação como à experimentação. Seguindo este modelo, ou adaptando à sua forma de trabalhar, o professor deve direcioná-lo para os seguintes objetivos: • Apropriação dos conteúdos • Construção dos conceitos • Mudanças de atitudes • Práticas de cidadania Observação Numa excursão, buscar em sua cidade ou bairro, um terreno baldio em que possa observar o corte vertical da terra. Numa escavação de alicerces para a construção de edifícios, por exemplo, ou às margens de um rio ou um barranco, os alunos podem observar o perfil do solo com suas diferentes camadas e, principalmente, a pequena camada serapilheira (matéria orgânica + microorganismos). Experimentação Fazer chuva artificial pode ser uma atividade simples e muito rica ao mesmo tempo. Material necessário: - uma mangueira ou esguicho de água - bloco de notas e caneta/lápis - e/ou máquina fotográfica. Os alunos podem ajudar o professor a encontrar dois tipos de encostas, que podem ser pequenos barrancos, no próprio terreno da escola ou nas vizinhanças: um totalmente sem plantas, outro com vegetação rasteira. Mas que estejam a uma distância pequena de uma torneira. Num primeiro momento, os alunos esguicham a água, num jato aberto e constante, por cinco minutos, sobre o terreno sem cobertura vegetal. No segundo momento, repetem o gesto no terreno coberto com plantas. Eles devem anotar e/ou registrar fotograficamente o estado dos terrenos antes da “chuva” e depois dela. Mais tarde, na sala de aula, as mudanças devem ser discutidas, analisadas e as conclusões apresentadas na forma de relatório, descrevendo os três momentos: antes, durante e depois da “chuva”, e as implicações das mudanças causadas naquela paisagem. O objetivo desta experimentação é fazer com que os alunos percebam claramente a conseqüência do desmatamento sobre o solo, como as chuvas levam as primeiras camadas, o que fica e o que acontece nos locais para onde a lama escorre. Tudo comparado com os resultados da mesma chuva no terreno com vegetação. Após realizar experimentos simples como estes, tarefas mais complexas podem ser programadas para sistematizar o assunto. Botando a mão na massa Na temática solo, além dos conteúdos curriculares: solo, ecologia, microorganismo, ciclos econômicos, técnicas agrícolas, o professor tem a oportunidade de trabalhar a construção dos conceitos de: solo fértil, desmatamento, impermeabilização e interação entre os seres vivos. E, ainda, buscar sensibilizar as pessoas envolvidas, visando a um reexame de suas atitudes e práticas sociais, levando à noção de responsabilidade social de cada um de nós o valor da legislação e das iniciativas individuais e comunitárias. UMA PROPOSTA DE TRABALHO O professor pode propor que os alunos se organizem em grupos e elaborem um Plano de Preservação do Solo da escola, da rua ou até mesmo do bairro onde a escola está situada. É importante que as tarefas tenham uma função social concreta e não sejam apenas simulações. Para tanto, a turma faz um levantamento de uma determinada área pré-escolhida e identifica um terreno, uma praça, ou mesmo uma parte do pátio da escola que está sendo destruída pelas chuvas, pelo desmatamento ou afins. A seguir, damos um exemplo de projeto e exemplos práticos. ETAPAS DO PROJETO: 1. Diagnóstico da situação Cada grupo se encarrega de elaborar de 3 a 5 perguntas que permitam identificar o quadro a ser estudado. O resultado deve ser transformado em um relatório único, por grupo, entregue por escrito, obedecendo-se a modelo de relatórios de pesquisa feito pelo professor. 2. Proposta de ação Depois de avaliar e discutir os diferentes relatórios em reuniões plenárias, os grupos elaboram propostas e colocam em votação. A proposta final deve cobrir as seguintes questões: • o que fazer • como fazer • material necessário • custos • tarefas de cada um • prazos • apresentação de resultados. EXEMPLO Os alunos de uma escola ou de uma única turma avaliam as condições de conservação do solo do pátio da escola, com base no que viram na fita e leram nas pesquisas orientadas pelo professor. Com isso fazem o diagnóstico e o relatório. A questão é como atuar naquele solo específico. Valendo-se do diagnóstico, dos argumentos pró e contra impermeabilização do solo, os grupos elaboram as propostas detalhadas de preservação auto-sustentável: hortas, jardins ou terrários, por exemplo. Cada grupo apresenta a sua forma de atuar, fundamentada com argumentos da pesquisa e, numa plenária, é escolhida a proposta que melhor se encaixa naquela situação. Os alunos discutem e votam. A melhor proposta incorpora as sugestões da plenária e faz a redação final do projeto. Em seguida, encaminham para a direção da escola e se responsabilizam pelo gerenciamento do projeto escolhido, do qual todos os alunos participam. Professores de todas as áreas devem se integrar ao projeto, funcionando como consultores de conteúdos específicos, ou recorrendo a outras pessoas da comunidade – técnicos de órgãos públicos, pessoas atuantes em ONGs etc. – que possam colaborar, orientando e elucidando as questões que venham a surgir. Deve-se estabelecer um tempo determinado para que o projeto se desenvolva (valendo-se do tempo de maturação de sementes, por exemplo, ou levando em conta o destino dado ao que for colhido, dependendo do projeto). AVALIANDO Todas as etapas do projeto – observações, acontecimentos, decisões – devem ser registrados. Um diário ou caderno de notas, individual ou em grupo, facilitará a avaliação do projeto, não só como produto final, mas como acompanhamento de todo o processo. Esse registro poderá servir de base para novas propostas de trabalho. O envolvimento do aluno, sua participação e mesmo a do professor podem ser discutidos em vários momentos, servindo para a reformulação do que não for satisfatório. Professor Não deixe de registrar o andamento de cada projeto no diário e selecionar as produções dos alunos. Cada escola deve decidir se enviará apenas um relatório ou um de cada turma, junto com as fichas de avaliação.