CADERNO DO PROFESSOR 3 FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS PRESIDENTE Dimas Fabiano Toledo CHEFE DE ASSESSORIA DE ARTICULAÇÃO COM A SOCIEDADE DA PRESIDÊNCIA André Spitz COORDENADORA DO PROJETO Gleyse Peiter INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM PRESIDENTE Paulo Hermanny Jobim DIRETORA Vanda Mangia Klabin CONSULTORES Antônio Adolpho e Guilherme Rondon FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO PRESIDENTE Roberto Marinho DIRETOR GERAL José Roberto Marinho SECRETÁRIO GERAL Hugo Barreto SUPERINTENDENTE EXECUTIVO Nelson Savioli GERENTE GERAL DE PATRIMÔNIO E MEIO AMBIENTE Sílvia Finguerut GERENTE DE PROJETO Lucia Basto COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Melissa Martins GERENTE GERAL DE EDUCAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E MOBILIZAÇÃO Vilma Guimarães GERENTE DE IMPLEMENTAÇÃO Maria Elisa Mostardeiro COORDENAÇÃO DE IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA Ricardo Pontes COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS Andrea Falcão APOIO TÉCNICO WWF – Brasil APOIO Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Governo do Estado do Amazonas, Governo do Distrito Federal, Governo do Estado de Goiás, Governo do Estado de Mato Grosso, Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Governo do Estado de São Paulo, Governo do Estado do Paraná, Governo do Estado de Tocantins CADERNO DO PROFESSOR SUMÁRIO LIVRO 2 1 GEO GR A F I A 6 2 A S Á GUA S DO PA N TA N A L 24 3 R E S E R VA DA BIOS FE R A 40 4 A FLOR A PA N TA N E IR A 56 5 A FAU N A PA N TA N E IR A 74 LIVRO 3 6 A PE S C A NO PA N TA N A L 6 7 ECOT U RIS MO 22 8 O PA N TA N A L E S UA HIST Ó RI A 38 9 A CU LT U R A PA N TA N E IR A 58 10 ECONOMI A 76 A PESCA NO PANTANAL 6 Rios, lagos, corixos, vazantes, baías. Muita água, muito peixe. Aqui, os peixes são a base de muitas cadeias alimentares. Pacus, dourados, piranhas, bagres, barrigudinhos, cará, acará-açu... Mais de 263 espécies de peixes. Desde a época dos índios Guatós, uns dos primeiros habitantes do Pantanal, excelentes pescadores, a pesca faz parte do cotidiano pantaneiro. Novas modalidades de pesca esportiva, como o pesque-e-solte, são um exemplo de adaptação às atuais restrições legais e à diminuição do volume de água que vem ocorrendo nos últimos anos. SINOPSE DO VÍDEO Léo, Dito e tio João saem, empolgados, para pescar, levando vara e anzol. Léo, Dito e tio João passam o dia inteiro pescando na beira do rio, dentro da canoa, em cima de árvore. Dito e tio João dão dicas para Léo, que, inexperiente, tem um monte de dúvidas e não conhece os macetes da pescaria. Tio João explica para os meninos sobre a piracema, a reprodução dos peixes, a importância da pesca no Pantanal e adverte para os cuidados a serem tomados na pescaria. Tio João pesca uma piranha. Mais tarde, tio João consegue pescar um grande e apetitoso pacu. Eles improvisam um fogo e cozinham o peixe. Léo está cheio de fome e o tio e o primo avisam logo que no Pantanal as coisas são mais “devagar”. Conversam, enquanto o pacu fica pronto. Tio João fala sobre Corumbá, considerada a capital da pesca no Pantanal porque 90% dos turistas vão lá para pescar. Léo tira algumas dúvidas sobre a pesca no Pantanal. A “comida” fica pronta. Tio João improvisa também uma colher com folhas e os três comem ali mesmo, na beira do rio. Tio João tira um cochilo na árvore. Léo, menino de cidade, não desistiu e ainda tenta pescar alguma coisa. E consegue! Só que não é um peixe dos grandes: é uma pequena sardinha. Os três se divertem com a “proeza” de Léo, que se decepciona, mas não perde o humor. 8 CONTEÚDOS DO VÍDEO Os pei xes do Pa nta na l A pesca no Pa nta na l a ntiga mente: os í ndios Ca ra j á s A bacia hidrog r á f ica do r io Pa rag ua i Os pei xes e a cadeia a l i menta r A pi racema e a dequada A pesca e o tu r i s mo A i mpor t â ncia da pesca na econom ia pa nta nei ra Lei s que reg u la menta m a pesca no Pa nta na l EXPLORANDO OS CONTEÚDOS Dourado, uma das principais espécies de peixe do Pantanal. OS PEIXES DO PANTAN AL Mais de 80% pertencem ao grupo denominado Otophysi. Eles possuem um conjunto de pequenos ossos modificados, que liga a bexiga natatória ao ouvido interno. Isso permite que esses peixes “escutem” melhor no ambiente de águas turvas em que vivem. PACU Faz parte dos peixes onívoros, isto é, daqueles que comem tanto os alimentos de origem vege- tal como animal. SARAPÓ Muito utilizado como isca viva para a pesca de grandes bagres e dourados. PIRAMBÓIA Com seus pulmões e respiração aérea, é considerado um fóssil vivo, do qual existem ape- nas quatro espécies no mundo, uma na América do Sul, duas na África e uma na Austrália. TUVIRA É insetívoro, alimenta-se de insetos. XINDORÉ Peixe detritívoro, que come detritos e lodo. CURIMBATÁ Herbívoro, se alimenta de plantas aquáticas. PIRANHA Peixe carnívoro, a piranha se alimenta de carne. DOURADO É considerado o rei dos rios pantaneiros e come os outros peixes menores. Pacu e Piranha OS PEIXES E O CICLO DA S ÁGUA S As águas comandam a vida no Pantanal. Os períodos das secas e das cheias também determinam os ciclos de vida dos peixes. A época das enchentes é marcada pela abundância de peixes. Quanto mais chuva, mais peixes. Nos ambientes inundados, os peixes encontram alimento e abrigo contra os predadores. Quando os ambientes aquáticos formados pela enchente começam a secar, observam-se grandes aglomerações de aves – cabeças-secas, tuiuiús e colhereiros – alimentando-se dos peixes que ficam presos nesses ambientes. 11 Os curimbatás e pacus são reconhecidos pelos roncos, sons que os machos produzem ao perseguirem as fêmeas durante o acasalamento. A PIRACEMA E A DEQUADA A PIRACEMA Muitos dos peixes do Pantanal são migratórios, isto é, em cada época do ano eles estão em uma região. As migrações rio acima para a reprodução são chamadas de PIRACEMAS. As piracemas mais bonitas e visíveis são formadas pelos curimbatás. Os peixes vão se reproduzir nas nascentes porque, ali, as águas são mais cristalinas e puras. Além disso, o deslocamento rio acima faz com que eles queimem muita gordura, estimulando a hipófise, uma glândula que tem papel importante em sua reprodução. Alguns peixes, como o dourado, chegam a nadar até 400 quilômetros. Muitas vezes, quando os cardumes estão subindo corredeiras, podem ser vistos saltando no ar, tentando vencer obstáculos. O CICLO DA PIRACEMA JULHO Os peixes se organizam em cardumes e começam a migrar em direção à cabeceira dos rios. OUTUBRO Eles chegam às cabeceiras. NOVEMBRO A FEVEREIRO Quando ocorrem as chuvas, eles se reproduzem. Após a desova, voltam rio abaixo. FEVEREIRO A MARÇO Chegam às partes baixas inundadas do Pantanal, na planície. ABRIL E MAIO Permanecem nas planícies se alimentando. JUNHO Retornam ao leito do rio, estão no máximo de sua condição, isto é, com acúmulo de gordura, que é gasta para executar nova migração rio acima para reprodução e para o desenvolvimento dos ovários e testículos. Larvas e alevinos também permanecem nessas áreas inundadas, onde encon- AT E N Ç ÃO ! tram abrigo e alimento. Infelizmente, por causa da pesca predatória e da degradação ambiental, a piracema está se tornando um espetáculo cada vez mais raro. O QUE ACONTECE COM AS ESPÉCIES QUE NÃO SÃO MIGRATÓRIAS? Peixes como a tuvira ou saparó permanecem na planície de inundação. Quando a enchente chega, se deslocam para o leito do rio onde se reproduzem. As piranhas também não migram e se reproduzem no auge da enchente, nos campos inundados, colocando os seus ovos nas raízes de aguapés e cuidando dos mesmos até a sua eclosão. Os carás se reproduzem na seca, geralmente escavando o fundo, onde depositam os ovos. Essas espécies cuidam do ninho e dos filhotes recém-nascidos. 12 A DEQUADA DEQUADA é um fenômeno que se repete todos os anos no Pantanal, em maior ou menor intensidade. É a mortandade natural de peixes que ocorre logo no início das enchentes, pela deterioração da qualidade da água. Geralmente o fenômeno é mais intenso quando o ano anterior foi muito seco e a enchente do ano seguinte vem com muita rapidez. POR QUE E COMO OCORRE? A vegetação que cresce no período seco, ao chegar a cheia, será inundada. Ao se afogar e apodrecer, essa vegetação morta consumirá uma enorme quantidade de oxigênio, presente na água, essencial à respiração dos peixes. O sinal de que o oxigênio dissolvido na água está chegando a zero é quando a água fica com cor de café fraco (ou chá preto forte), causando uma mortandade maciça de peixes. OS PEI XE S E A C ADEIA ALIMENTAR A abundância de aves como tuiuiús, cabeças-secas, garças, socós, biguás e taiamãs está diretamente relacionada à fartura de peixes que lhes servem de alimento. Quando os ambientes aquáticos formados pela enchente começam a secar, observam-se grandes aglomerações de cabeças-secas, tuiuiús e colhereiros alimentando-se dos peixes que se encontram presos. É também nessa época de abundância de peixes que ocorre a criação dos filhotes dessas aves. Grandes ninhais podem ser encontrados junto às matas ciliares de rios, corixos e baías. Os peixes também são alimento de jacarés, ariranhas e lontrinhas: na época da piracema é comum encontrar jacarés no meio do rio, durante o dia, alimentando-se de curimbatás que estão subindo o rio em cardumes para se reproduzir. Durante a noite, os jacarés chegam a produzir estrondos na beira do rio, quando atacam os cardumes estacionados nesses locais, para se alimentar. A IMPORTÂNCIA DA PESCA NA ECONOMIA PANTANEIRA O pintado, cachara e jaú são os mais valorizados em qualquer região pelo fato de sua carne não possuir espinhas. Em Cuiabá e Várzea Grande, no Mato Grosso, a piraputanga, conhecida localmente como “pera” é muito valorizada e consumida nos restaurantes. Ao prepará-la, seus espinhos não são sentidos. Outra tradição local é o consumo de pacu-peva, peixe de corpo alto e achatado, que assado ou cozido, geralmente não é muito Pintado apreciado em outras regiões do Pantanal. Já o caldo de piranha, conhecido como sendo afrodisíaco, e o pacu frito são muito apreciados em todas as regiões do Pantanal, particularmente em Corumbá, Mato Grosso do Sul. O dourado não é muito apreciado pelos pantaneiros, mas muito valorizado por pescadores esportivos provenientes de São Paulo e Minas Gerais. 13 A PESCA E O TURISMO Até o final dos anos 1980, predominava na região a pesca profissional. No início dos anos 1990, o turismo de pesca, ou pesca esportiva, teve um grande crescimento. Hoje, o turismo pesqueiro é a grande fonte de renda de municípios como Corumbá, Aquidauana, Miranda e Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, e Cá- Campeonato de pesca em Cáceres ceres, no Mato Grosso. Dois grandes campeonatos de pesca acontecem todo ano no Pantanal: na cidade de Cáceres, em Mato Grosso, e em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. COMO SE PESCA As redes de pesca e tarrafas são proibidas no Pantanal, porque são capazes de capturar grandes quantidades de peixes. Na Piracema, a pesca também é proibida. Apenas para os pescadores profissionais é permitido o uso de tarrafa de malha fina. E mesmo assim só para capturar as iscas. Nos dois últimos anos, em algumas regiões do Pantanal, como no baixo rio Negro, Abobral e rio Perdido é permitido apenas o pesque-e-solte. A pesca com linhada, anzol, vara de bambu, vara de fibras de carbono, molinete e carretilhas são modalidades permitidas. A pesca João bobo também é permitida. Latas de óleo vazias ou mesmo garrafas plásticas fechadas, são utilizadas como bóias, nas quais se prende uma linha com anzol e chumbada, de cerca de um metro de comprimento. Cada pescador solta na correnteza do rio cerca de 20 ou mais unidades desse tipo e vai de canoa acompanhando o deslocamento delas. Quando o pacu é fisgado, a bóia afunda e sobe. É o sinal para o pescador encostar e retirar o peixe. Grandes bagres como o pintado e o cachará podem também ser pescados com anzol de galho. Um anzol fisgado, com uma certa quantidade de linha reforçada, é preso aos galhos da vegetação ciliar ou mesmo em estacas colocadas na margem do rio, por onde os peixes se movimentam. Ao encontrarem as iscas, os peixes comem e ficam presos. A pesca de rodada é praticada por pescadores em canoas de madeira construídas de forma artesanal. O pescador solta a linha com anzol iscado no rio e vai acompanhando a correnteza no próprio barco, remando e movimentando um pouco a linha, “sondando” o peixe. Dessa forma se pescam os grandes bagres, pacus e até mesmo piranhas. 14 Pescador utilizando a técnica de anzol de galho. Uma forma tradicional de conservar o peixe pescado, que pode ser visto na região do baixo rio Cuiabá, nas proximidades de Porto Jofre, é guardá-lo em grandes jacás (cestos) de bambu até que o comprador venha buscar, ou o próprio índio leve para a cidade ao fim de uma temporada de pesca. O uso de jacás está ligado à dificuldade de se obter gelo no interior do Pantanal para a conservação dos peixes. O PROBLEMA DA PESCA PREDATÓRIA Apesar das restrições, muitos pescadores ainda praticam clandestinamente a pesca em algumas regiões. Estes pescadores soltam rojões, avisando aos demais quando percebem a presença da fiscalização. A fiscalização ambiental deveria ser uma forma de reprimir ou diminuir a pesca predatória, mas sua eficiência é reduzida pela imensidão territorial do Pantanal. PESCA SUSTENTÁVEL Existem algumas condições de pesca que estão colocadas em lei. Vamos conhecê-las: DEFESO A primeira condição para o uso sustentável dos recursos pesqueiros é que eles possam ser repos- tos. Por isso, existe o que se chama período de defeso de reprodução, que é a proibição da pesca no período de reprodução, de forma a assegurar que os peixes se reproduzam, repondo os que foram pescados. TAMANHO MÍNIMO A segunda condição refere-se ao tamanho mínimo de captura. Por quê? Porque os peixes necessitam alcançar um certo tamanho para se tornarem adultos e se reproduzirem, antes de serem pescados. COTAS DE PESCA Uma terceira condição é a definição de cotas de captura ou de pesca. Esta cota deve ser proporcional à capacidade do ambiente de produzir peixes e ao número de pescadores existentes. Quanto maior o número de pescadores, menor deverá ser a cota para cada pescador e vice-versa. Essas três condições são básicas para que se tenha uma pesca sustentável. Por último, o mais importante é a manutenção do ambiente em condições que propiciem a realização do ciclo de vida de cada uma das espécies de peixes. Peixes de piracema necessitam de áreas de cabeceira com matas ciliares bem cuidadas (onde ocorre a reprodução) e áreas de planície em boas condições (onde se alimentam e crescem). Acima de tudo, é necessário a manutenção da qualidade da água. É muito comum que os pescadores sejam responsabilizados pela redução dos estoques pesqueiros, mas o maior inimigo dos peixes é a degradação ambiental promovida pelo homem. Geralmente, as cidades costumam despejar seu lixo e esgoto sem tratamento nos rios em cujas margens se instalam. 15 TRABALHANDO COM O TEMA COMO VIMOS NO PROGRAMA e nos textos anteriores deste capitulo, a pesca está presente de diversas formas no nosso dia-a-dia, portanto necessita ser observada, percebida, entendida e estudada por diferentes ângulos, com a contribuição de muitos campos do conhecimento. Desta forma, poderemos ter compreensão da multiplicidade e da importância da pesca em nossas vidas. Um bom ponto de partida para desenvolver um projeto, uma aula ou uma atividade é elaborar perguntas, buscando incentivar a curiosidade e a necessidade de saber e pesquisar mais. Para isso é necessário formular questões sobre a realidade. Perguntas que permitam o exercício da reflexão, da observação do mundo, do questionamento e formulação de novas perguntas. A relação entre os elementos da Natureza se aprende observando o meio; e esta descoberta permite a construção de novos valores e atitudes. “Uma capacidade importante a ser desenvolvida nos alunos é a de, ao observar determinado fenômeno, perceber nele relações e fluxos, no espaço e no tempo.” 1 Ao refletir sobre a pesca, observar por exemplo o que o “tio João”, personagem do Almir Sater, fala para os meninos neste programa; O bom pescador conhece o rio, sabe onde está o peixe, o que ele come, em que época é mais abundante, qual o seu período de reprodução... é o exercício da observação. O peixe põe ovos, que se desenvolvem em alevinos, crescem até se tornarem peixes adultos, se reproduzem e põem mais ovos... ...e depois servem de alimento para outras espécies. 16 O que aconteceria se pescássemos muitos peixes durante sua época de reprodução? Com a interrupção do ciclo de reprodução, em pouco tempo, a espécie tende a desaparecer. E não só ela. Todos os outros animais que dependem diretamente daquela espécie também seriam afetados. É importante saber o habitat e os hábitos dos peixes. Não é só o pescador que tem que conhecê-los; todos os que buscam a preservação do Pantanal também. A preservação do Pantanal e a manutenção dos sistemas biológicos são fundamentais, sobretudo para o povo pantaneiro. Já imaginou quantas pessoas dependem da pesca? Que outros ciclos são apresentados no programa? Como o ser humano participa ou interfere nestes ciclos? Refletir sobre as conseqüências disto a longo e curto prazos. Correlacionar os assuntos do programa e, assim, perceber quão intricada é essa dinâmica, em que muitos ciclos se relacionam, e as conseqüências do rompimento deste equilíbrio. Esta prática tem como objetivo estimular a percepção dos inter-relacionamentos, criando espaços nos quais professores e alunos possam, como indivíduos, aprender através de experiências concretas. O processo de aprendizagem iniciado por essas perguntas fica mais rico quando pontuado por ações de registro e reflexão sobre o que se observou e descobriu. “Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder refleti-lo, pensá-lo e assim aprendê-lo, transformá-lo, construindo o conhecimento antes ignorado.”2 É importante, ao estimular o registro, incentivar a diversidade de formas de expressão e criar espaços para a socialização das descobertas, opiniões e propostas. Existem várias formas de se registrar utilizando diferentes linguagens (desenhos, maquetes, cartazes, redações, poemas, músicas...). As sugestões que levantaremos podem servir como provocadoras de idéias e caminhos; caberá a cada educador, junto com os alunos e a equipe de trabalho, construir e decidir sobre como conduzir projetos com o tema Pesca. 1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC/SEF, 1997, vol. Meio Ambiente, p. 59. As propostas que se seguem têm como objetivo a concretização do processo de pesquisa, debates e ela- 2 WEFFORT, M. F. "Importância e função boração de atividades, valorizando o fazer coletivo e a participação dos saberes comunitários. Elas do registro escrito, da reflexão". In: ganham um real valor quando incorporadas a um projeto de trabalho que estabeleça metas e objetivos pró- Observação, registro e reflexão, ins- prios. Na primeira proposta, apontamos algumas etapas possíveis de encadeamento do trabalho seguindo trumentos metodológicos. Espaço a metodologia apresentada na primeira parte do Caderno do Professor volume 1. O professor deve estar Pedagógico, São Paulo, 1996, p. 41. atento às necessidades e prioridades do grupo, podendo e devendo criar outras atividades e caminhos. (Série Seminários.) 17 E TA PA S A P Ó S A S SISTIR AO PRO GR A M A PESCARIA COLE TI VA COM JOGO DE PERGUNTA S Iniciar o trabalho perguntando aos alunos o que eles viram no programa, quais os temas abordados, suas dúvidas e colocações. Quem lembra das cenas do programa em que aparecem várias aves pescando? As aves pescam todas da mesma forma? Como estas aves pescam? Por que as aves pescam? Qual a relação entre a maneira de pescar e a estrutura física de cada animal? Como o ser humano pesca? Por que o homem pesca? Há semelhança entre os instrumentos e estratégias utilizados pelos animais e pelos homens para pescar? Que peixes encontramos no Pantanal? Quais as suas características? Em que época do ano é permitido pescar? Podemos pescar peixes de qualquer idade? Qual a importância da pescaria para o Pantanal? Quem se lembra da cena do padrinho pescando com os meninos? Eles podiam pescar qualquer peixe? Existiam regras para a pesca? Quais são os instrumentos de pesca proibidos no Pantanal? Por quê? Em que situações o pescador tem que devolver o peixe para a água? A partir das questões levantadas e outras que podem surgir espontaneamente dos alunos, propor à turma que realize um jogo de pescaria. Pedir que os alunos escolham um dos peixes apresentados no programa ou alguma outra espécie do Pantanal para realizarem uma pesquisa sobre algumas de suas características: nome da espécie, tamanho, formato, cor, peso... Do que ele se alimenta? Quem é seu predador? Qual seu período de reprodução? Onde podem ser encontrados? Quais são as regras para pescar no Pantanal? Além de informações gerais sobre a pesca. Em paralelo à pesquisa sobre as características do peixe escolhido, os alunos podem também pesquisar e trazer para a sala de aula materiais para a confecção dos peixes (papel, tinta, sementes, sucata variada, contas, lantejoulas, folhas, gravetos...) e de varas de pescar ( sucata, gravetos, linha, barbante, arame...). Depois que todos tiverem escolhido seus peixes, conversar sobre a maneira de confeccioná-los. O professor e os alunos precisam observar a resistência e adequação dos materiais para montar o seu projeto. É importante conversar sobre a estrutura básica dos peixes. Que material pode dar volume, como realçar as formas com recortes variados, acrescentar outros elementos criados a partir dos materiais pesquisados... 18 Durante a confecção dos peixes, é importante estar atento ao fato de que eles serão pescados pela turma. O que deve ser feito na montagem para que possam ser pescados? Como montar as varas de pescar? E o anzol? Colocar todo o material trazido pelos alunos no centro da sala. Eles deverão ser escolhidos na medida das necessidades trazidas pelo processo de construção. Montar os peixes. Na parte da frente tentar reproduzir as características físicas e no verso escrever três perguntas elaboradas a partir dos dados obtidos na pesquisa inicial. Pensar sobre o local e a maneira de colocar os peixes no “rio”. Eles podem ser colocados em uma caixa grande, com as laterais baixas para permitir uma melhor visualização. A caixa deve ter um pouco de areia, terra ou serragem no fundo para que os peixes possam ficar firmes. Dividir a turma em grupos de quatro ou cinco alunos. Decidir que grupo vai começar a brincadeira e qual o critério para definir os próximos grupos. Cada grupo escolhe o pescador da vez. O aluno com seu anzol tenta pescar um dos peixes na caixa. Com o peixe nas mãos ele vai ler as perguntas em voz alta, escolher uma delas, e o grupo vai responder. O autor do peixe confirmará se a resposta está correta. Em situação de dúvida, vai ser preciso recorrer à pesquisa original. Caso eles acertem, ficam com o peixe. Vencerá a brincadeira o grupo que tiver mais peixes. Se não souberem responder, o peixe deve ser colocado novamente na caixa. A turma poderá inventar outras formas de jogar. A pescaria pode ser feita também de maneira mais simples: colocando os peixes misturados em um saco ou caixa de papelão, o “pescador” de olhos fechados indo até o local e pegando o peixe. Para o desenvolvimento desta proposta precisamos trabalhar em conjunto com diferentes áreas do conhecimento e articular conceitos e conteúdos de diversas disciplinas. Escolhemos seguir o caminho da pescaria. O professor, junto com o seu grupo, pode escolher e desenvolver outros aspectos da temática. 19 OUTRA SUGESTÃO OUVIR E CONTAR HISTÓRIA S DE PE S C ARIA PERGUNTAR AOS ALUNOS Quem se lembra da cena em que o menino, que foi visitar o Pantanal, pesca uma sardinha e pede para ser fotografado com seu peixe? Por que será que ele quer uma foto deste momento? Para quem ele vai mostrar esta foto? Como ele vai contar para os amigos sua experiência no Pantanal? Quem já ouviu algum pescador contando histórias sobre um dia de pesca, e como era a história? Você já participou de alguma pescaria? Você conhece alguém que tenha histórias de pescaria para contar? Pesquisar em casa ou na comunidade histórias de pescador, histórias de pescaria. Perguntar: Aonde eles foram pescar? Como foi a pescaria? Quantos peixes foram pescados? O que aconteceu na viagem? Contar para a turma as histórias que foram ouvidas. Se algum aluno tiver um parente ou amigo pescador poderá convidá-lo para contar suas histórias na sala de aula. Também poderá ser feito um livro que registre histórias coletadas de pescadores ou imaginadas pelos alunos. Depois, cada aluno poderá escrever uma história imaginando-se um pescador. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIC A S ALMEIDA, F. M. de. Geologia do sudeste mato-grossense. Boletim da Divisão de Geografia - DNPM, Rio de Janeiro, 1945, n. 116, p.1-118 BRITSKI, H. A. Nomes científicos e vulgares dos peixes do Pantanal mato-grossense. Cuiabá, Departamento de Comunicação Rural, 1996, l6 p. (Empaer-MT, Documento, 16.) LUCENA, C.A.S. de. Lista comentada das espécies do gênero Roeboides Gunther, 1864, descritas para as bacias dos rios Amazonas, São Francisco e da Prata Characiformes, Characidae e Characinae). Comunicação do Museu de Ciências, PUC-RS, v. 1, n. 3, p.29-47, 1988. (Série Zoológica.) ORIOLI, A. L. ; AMARAL FILHO, Z. P. do. & OLIVEIRA A. B. de. Pedologia. Levantamento exploratório de solos. ln: BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Departamento Nacional de Produção Mineral. Projeto Radambrasil, Folha SE.21 Corumbá. Rio de Janeiro, 1982, p. 225-328. (Levantamento de Recursos Naturais, 27.) RIBEIRO, A. de M. Loricariidae, Caliichthyidae, Doradidae e Trichomycteridae. Comissão de Linhas Telegráphicas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas. Anexo 5, História Natural, Zoologia, 1912. p. l-31, RIBEIRO, P. de M. Alguns peixes do sul de Mato Grosso. O Campo, set. 1940, p. 60. STEFAN, E. R. O Pantanal mato-grossense. Revista Brasileira de Geografia, 1964, v. 26, n. 3, p. 77-190. VILA DA SILVA, S. Elementos fisiográficos para limitação do ecossistema Pantanal: discussão e proposta. ln: ESTEVES, F. A. (ed.). O ecologia Brasiliensis, estrutura, funcionamento e manejo de ecossistemas brasileiros. [s. l.], n. l, 1995, p. 439-458. 21 ECOTURISMO 7 O ecoturismo promove o desenvolvimento sustentável. É uma atividade importante para a economia, para a vida das comunidades e para o meio ambiente. No Pantanal, o ecoturismo está se tornando uma realidade. As riquezas ambientais e culturais do Pantanal atraem turistas de todo o país e do resto do mundo para visitar a maior planície de inundação do planeta. SINOPSE DO VÍDEO Léo e Dito estão na nascente de um rio com tio Haroldo e vão mergulhar. Eles estão em Bonito, fazendo um passeio. Tio João fala com eles através do rádio, via satélite, e Léo se impressiona com tanta tecnologia no meio do mato. Os três usam roupas de mergulho especiais com as quais flutuam com mais facilidade. Léo está encantado com a natureza, mas tem um pouco de medo também. Tio Haroldo explica que com essas roupas eles conseguem flutuar mais facilmente e assim não colocam o pé no chão, preservando mais o local. Explica, também, por que as águas de Bonito são tão claras. Eles vão à Fazenda Rio Negro, uma antiga fazenda transformada em hotel especializado em ecoturismo, e acompanham pesquisadores que estudam o local. Vão também até as salinas. Enquanto Dito vai andar a cavalo, Léo passeia com tio Haroldo e eles conseguem fotografar lontras. À noite, observam os jacarés, com seus olhos brilhantes no escuro. Ao final, os dois meninos e tio Haroldo fazem um sobrevôo pela Chapada dos Guimarães e pela Ilha do Bananal. Falam novamente com tio João pelo rádio. 24 CONTEÚDOS DO VÍDEO eco tu r i s mo O eco tu r i s mo no Pa nta na l A s pr i nci pa i s reg i õ es tu r í sticas Os objeti vos do eco tu r i s mo Os recu r sos do eco tu r i s mo A s reg ras b á s icas do eco tu r i s mo Recomendaç õ es pa ra u m tu r i s mo respons á vel no Pa nta na l P rojetos de conser vaç ã o das fazendas de eco tu r i s mo EXPLORANDO OS CONTEÚDOS O rappel é um dos esportes ligados ao ecoturismo no Pantanal. A planície do Pantanal, com cerca 140.000 km2 de área, dispõe de uma série de atrativos ambientais, Mas, afinal, O QUE É ECOTURISMO? é uma das regiões de maior potencial para o ecoturismo. “Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma O ecoturismo, no mundo atual, é uma das mais expressivas formas de aplicação dos conceitos de desustentável, o patrimônio natu- senvolvimento sustentável. ral e cultural, incentiva sua Ecoturismo é turismo praticado em harmonia com o meio ambiente e a comunidade. Turismo sem conservação e busca a formação agressões à natureza e muito menos aos valores culturais (e morais) das pessoas que vivem na re- de uma consciência ambientalis- gião visitada. ta através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-es- Para que o turismo atenda a estas condições, gerando recursos e benefícios para a comunidade sem tar das populações envolvidas.” maiores impactos negativos à vida da região, todos devem participar. Todos, quem? Todos os que es(BRASIL / EMBRATUR, 1994.) tejam envolvidos nos processos de decisão e de planejamento do turismo em uma determinada A natureza é a grande atração! localidade, do cidadão comum ao prefeito, da associação comercial ao grupo comunitário, sem esquecer o próprio turista. A atividade turística planejada dentro deste modelo, possui a característica de incrementar os ganhos em renda, produto, emprego, exportações e geração de impostos, determinando um significativo e benéfico impacto nas economias regionais e nacionais. Em regiões onde o ecoturismo está implantado há menos chance de vingarem projetos que ponham em risco o equilíbrio ecológico de áreas naturais e o bem-estar das comunidades. Vista geral do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, um dos pontos turísticos do Mato Grosso. OS OB JE TI VOS DO ECOTURISMO As atividades turísticas devem trazer benefícios diretos a curto, médio e longo prazos às regiões onde é praticado. É isso que chamamos de turismo sustentável. O ecoturismo, se bem planejado, pode ser uma forma de turismo sustentável. 27 TURISMO SUSTENTÁVEL “Um processo de adoção de estratégias, atividades e práticas de negócio am- bientalmente responsáveis que atendem às necessidades do negócio do turismo, os investidores e o mercado de viagens, enquanto protege, sustenta e valoriza os recursos humanos e naturais que serão necessários para as futuras gerações de empresários do turismo e de viajantes.” (MacGREGOR, 1996) AS REGRA S BÁSIC A S DO ECOTURISMO O visitante não deve poluir ou destruir áreas verdes. Não jogar lixo nas trilhas (levar sempre sacos plásticos para guardar o lixo, que deve ter destino adequado). Nunca levar nada (flores, mudas, pedras etc.). A única coisa que os turistas devem tirar de seus passeios são fotografias. Na volta à cidade de origem, também deve exercer essas práticas. OBSERVAÇÃO A comunidade deve ser envolvida desde o início em um projeto ecoturístico; desde a fase de planejamento, participando e auxiliando na tomada de decisões sobre o que deve ser desenvolvido, quais as suas necessidades e expectativas da população local sobre estas iniciativas. Caminhada de ecoturistas em uma das trilhas do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães - MT. 28 ECOTURISMO NO PANTAN AL AL O E R hotéis, pousadas e campings, fazendas e atrativos privados e diversos prestadores de serviços, entre lojas de equipamentos, transporte, alimentação, consultorias e serviços de apoio. Porém, há de se considerar que o ecoturismo praticado no Pantanal e no Brasil ainda é uma atividade desordenada, impulsionada, quase que exclusivamente, pela oportunidade mercadológica, deixando, a rigor, de gerar os benefícios socioeconômicos e ambientais esperados e comprometendo, não raro, o conceito de imagem do produto ecoturístico brasileiro nos mercados interno e externo. ! TA O ecoturismo já possui um mercado com certo dinamismo no Pantanal. São operadoras e agências, O ecoturismo surge como alternativa ao turismo “predatório” que já causou sérios problemas ambientais e sociais a alguns dos mais importantes ecossistemas brasileiros. Os municípios mato-grossenses de Cáceres e Poconé têm visto surgir cada vez mais serviços de ecoturismo (operadoras e pousadas), além da Estrada Transpantaneira, que já possui fluxos de visitantes regulares. Em Mato Grosso do Sul, os municípios de Miranda, Aquidauana, Ladário e Corumbá, incluindo a Estrada Parque, são aqueles em que as atividades de ecoturismo vêm se intensificando. No Pantanal há cavernas na região de Bonito (MS) e na Chapada dos Guimarães (MT). Em Bonito (MS), há também safári fotográfico, mergulho esportivo em baías pantaneiras de águas claras. Passeio a cavalo (a participação do visitante em comitivas de dois a três dias já vem sendo praticada em algumas fazendas). Observação astronômica, observação de pássaros, pesca recreativa (amadora ou esportiva), rafting (descida de rios com corredeiras e pequenas cachoeiras com botes infláveis super-reforçados). Gruta do Lago Azul em Bonito - MS 29 RECOMENDAÇÕES PARA UM TURISMO RE SPONSÁVEL NO PANTAN AL O turismo está crescendo acentuadamente com a oferta de produtos de empreendedores rurais que, com a oferta de equipamentos para fluxos de pequena escala, conseguem harmonizar as diferentes premissas do turismo sustentável de forma satisfatória. Estas iniciativas contemplam princípios de menos impacto socioambiental, de promoção do envolvimento das comunidades pantaneiras, do emprego de tecnologias locais e de respeito aos recursos naturais e culturais. Ou seja, impondo aos projetos a variável ecológica dentro das variáveis econômicas e inserindo os interesses de todos os atores envolvidos, procurando aproximar-se dos princípios do desenvolvimento sustentável (Tabela 1). A adoção de procedimentos responsáveis de planejamento e gerenciamento dos negócios do turismo será uma importante ferramenta de propaganda e marketing para um mercado cada vez mais crescente – o chamado consumidor verde. O ramo da hotelaria é o que mais tem contribuído para a prática do turismo sustentável. Sabe-se que os serviços de hospedagem são aqueles que mais geram resíduos poluentes dentro da indústria turística. Algumas grandes cadeias hoteleiras mundiais procuram organizar sua gestão de modo a orientar seus clientes para práticas de economia de materiais e energia. Assim, instalam chaves gerais na saída dos apartamentos, desligando todo e qualquer aparelho elétrico, ou sugerem períodos mais longos para troca dos jogos de cama e banho (economizando energia, materiais, água e reduzindo a descarga de resíduos). Pôr-do-sol no Pantanal 30 TABELA 1 DIRETRIZES SUSTENTÁVEIS NO PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS DURANTE O PLANEJAMENTO • Proteger as áreas de preservação permanente, como ninhais e beira de rios e lagos; • Identificar e implementar um zoneamento da área de visitação intensiva e áreas de proteção, procurando estabelecer reservas naturais próprias protegidas sob a forma de RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural; • Dedicar atenção especial ao uso de áreas extrativistas, recreativas e agrícolas da comunidade local e, principalmente, às áreas indígenas ou protegidas; • Planejar as construções para melhor aproveitamento das condições solar e eólica, de forma a propiciar conforto aos visitantes; • Envolver a comunidade local, tornando-se uma alternativa econômica local e/ou regional; • Ter inventários de flora e fauna e também dos recursos culturais atrativos; • Valorizar a cultura local / regional através da gastronomia, do artesanato, folclore, produtos de consumo etc. DURANTE A IMPLANTAÇÃO • Implantar equipamentos que tenham identidade com a arquitetura e estilos regionais e adotar práticas de mínimo impacto ambiental durante a construção de equipamentos, usando mão-de-obra local e tecnologias e materiais de fontes sustentáveis da região; • Implantar tratamento e sistema de lançamento adequado de efluentes líquidos; • Possuir tratamento de resíduos sólidos (coleta seletiva, reciclagem, disposição adequada, produção de composto orgânico etc.); • Possuir centro de interpretação ambiental da cultura e natureza regionais; • Proporcionar trilhas e equipamentos para atividades tais como: caminhadas, cavalgadas, observação de flora e fauna etc. DURANTE A GESTÃO • Buscar eficiência, conservação e administração de energia, usando fontes alternativas de produção (solar, eólica etc.); • Proteger a qualidade dos recursos de água doce e orientar os funcionários e clientes para a redução da demanda de água; • Reduzir, reutilizar e reciclar qualquer material possível evitando o desperdício; • Disponibilizar informações e recomendações ambientais aos clientes por meio de guias e cartilhas; • Treinar funcionários com atividades de educação ambiental; • Promover a integração e interação entre os visitantes e as comunidades locais receptoras; • Monitorar todas as atividades do empreendimento para controle de eventuais impactos ambientais e/ou culturais. A adoção destes procedimentos permitirá ao ecoturismo adquirir maior confiabilidade no mercado. 31 TRABALHANDO COM O TEMA COMO VIMOS NO PROGRAMA e nos textos anteriores deste capítulo, o turismo está presente de diversas formas no nosso dia-a-dia, portanto necessita ser observado, percebido, entendido e estudado por diferentes ângulos, com a contribuição de muitos campos do conhecimento. Desta forma, poderemos ter compreensão da multiplicidade e da importância do ecoturismo em nossas vidas. Um bom ponto de partida para desenvolver um projeto, uma aula ou uma atividade é elaborar perguntas, buscando incentivar a curiosidade e a necessidade de saber e pesquisar mais. Para isso é necessário formular questões sobre a realidade. Perguntas que permitam o exercício da reflexão, da observação do mundo, do questionamento e formulação de novas perguntas. A relação entre os elementos da Natureza se aprende observando o meio; e esta descoberta permite a construção de novos valores e atitudes. “Uma capacidade importante a ser desenvolvida nos alunos é a de, ao observar determinado fenômeno, perceber nele relações e fluxos, no espaço e no tempo.”1 Por exemplo, ao observar os turistas que visitam o Pantanal no programa, perguntar-se: de onde eles vêm? Por que eles escolhem o Pantanal? O turista vem de todas as partes do mundo para ver as riquezas do Pantanal: as paisagens, a rica flora, a fauna exuberante... Mantendo as características da região preservadas, mais turistas virão. O ecoturismo ajuda a preservar a natureza e as tradições culturais. O Pantanal, hoje, depende do ecoturismo para sua conservação. Vocês repararam na cena em que os meninos estão mergulhando, quando o Léo diz para o primo que o mais importante é nunca colocar o pé no chão? Por que ele disse isso? Que impactos pode causar 32 uma simples “caminhada” pelo leito do rio? E cinqüenta pessoas passando todos os dias no mesmo local? Ouvimos falar muito sobre preservação nesse programa. Vamos observar mais atentamente a relação de interdependência entre os pantaneiros e o ambiente onde vivem: Seis em cada dez moradores hoje dependem do turismo. Para atrair turistas é necessário que o Pantanal esteja preservado. A preservação do Pantanal é importante tanto para os visitantes, como para os visitados. Refletir sobre as conseqüências do ecoturismo a longo e curto prazos. Correlacionar os assuntos do programa e, assim, perceber quão intricada é essa dinâmica, em que muitos ciclos se relacionam, e as conseqüências do rompimento deste equilíbrio. Esta prática tem como objetivo estimular a percepção dos inter-relacionamentos, criando espaços nos quais professores e alunos possam, como indivíduos, aprender através de experiências concretas. O processo de aprendizagem iniciado por essas perguntas fica mais rico quando pontuado por ações de registro e reflexão sobre o que se observou e descobriu. “Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder refleti-lo, pensá-lo e assim aprendê-lo, transformá-lo, construindo o conhecimento antes ignorado.”2 É importante, ao estimular o registro, incentivar a diversidade de formas de expressão e criar espaços para a socialização das descobertas, opiniões e propostas. Existem várias formas de se registrar utilizando diferentes linguagens (desenhos, maquetes, cartazes, redações, poemas, músicas...). As sugestões que levantaremos podem servir como provocadoras de idéias e caminhos, caberá a cada educador, junto com os alunos e a equipe de trabalho, construir e decidir sobre como conduzir projetos com o tema ecoturismo. 1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC/SEF, 1997, vol. Meio Ambiente, p. 59. As propostas que se seguem têm como objetivo a concretização do processo de pesquisa, debates e ela- 2 WEFFORT, M. F. "Importância e função boração de atividades, valorizando o fazer coletivo e a participação dos saberes comunitários. Elas do registro escrito, da reflexão". In: ganham um real valor quando incorporadas a um projeto de trabalho que estabeleça metas e objetivos pró- Observação, registro e reflexão, ins- prios. Na primeira proposta, apontamos algumas etapas possíveis de encadeamento do trabalho seguindo trumentos metodológicos. Espaço a metodologia apresentada na primeira parte do Caderno do Professor volume 1. O professor deve estar Pedagógico, São Paulo, 1996, p. 41. atento às necessidades e prioridades do grupo, podendo e devendo criar outras atividades e caminhos. (Série Seminários.) 33 E TA PA S A P Ó S A S SISTIR AO PRO GR A M A CONFECÇÃO DE C AR TÕE S -P OSTAIS DE VIAGEM Iniciar o trabalho perguntando aos alunos o que eles viram no programa, quais os temas abordados, suas dúvidas e colocações. O professor pode enriquecer o debate com questões tais como: O ecoturismo está presente na nossa vida de que forma? (Escrever no quadro-negro, cartolina ou papel pardo as idéias dos alunos.) Vocês lembram da seqüência do programa em que os meninos estão visitando Bonito? Pedir aos alunos que fechem os olhos, deitando no chão ou descansando a cabeça na carteira. O professor pode colocar uma música suave que possibilite o relaxamento. É preferível usar uma música sem letra para que os pensamentos não se detenham nas palavras e imagens da música. Propor que eles façam uma viagem imaginária. A voz do professor deve ser suave. O professor poderá ir conduzindo a visualização passo a passo, oferecendo itens para serem imaginados. Como está a sua respiração? Sinta o seu corpo todo respirar. Permita que ele vá relaxando. Aos poucos, vá inspirando de maneira mais profunda e suave. Sinta o ar entrando e saindo do seu corpo. Imagine que você está se arrumando para uma viagem ao Pantanal. O que você está colocando na mala? O que você está levando com você? Tem mais alguém indo com você? Que local você vai visitar? Como você vai para o Pantanal? Imagine que agora você chegou. Como está o tempo? Como é a paisagem? Tem muitas árvores? Você está vendo algum animal diferente? De repente, você começa a escutar um som de água. Vá ao encontro. Como é o caminho? Uma nova paisagem surge à sua frente. Como é este local? De onde vem esta água? É possível tomar banho? Como está a água? Existem animais morando nela? Existe alguma coisa diferente neste local? Tem correnteza? É possível nadar nestas águas? Imagine que você está andando pelas margens. O que você está vendo? Deixe que a sua curiosidade o conduza até um novo local. Que lugar é este? Você acabou de encontrar um guia local com um grupo de ecoturistas. Como são estas pessoas? O que eles estão fazendo? Para onde estão indo? O guia oferece para você seguir com eles para conhecer um local muito especial. Como elas se comportam na caminhada? Como é o local aonde vocês chegam? Um dos turistas pede para você tirar uma foto do grupo. Você também tira as suas. No final do passeio você é convidado para jantar com o grupo. Depois do jantar você está deitado na rede lembrando de tudo 34 o que aconteceu naquele dia e pensando em quantas histórias você tem para contar. Respire profundamente. Aos poucos, vá voltando para a sala de aula. Devagar, vá se espreguiçando e abrindo os olhos. Propor que cada aluno escolha um local ou uma situação da sua viagem para contar em um cartãopostal. Cada aluno fará dois postais. Um para ser enviado a um colega de sala, outro para ser enviado para a turma. O que você tem vontade de contar para um amigo sobre a viagem? O que você gostaria de contar para a turma? Cada aluno poderá trazer de casa postais variados. A partir deste material, observar o espaço destinado para o remetente, as notícias, as imagens etc. PARA CONFECCIONAR OS POSTAIS Que formato você dará aos seus cartões? Que papel irá utilizar? O que irá ilustrar o postal? Como você fará as imagens? Canetinha hidrocor, lápis-cera, colagem, nanquim, tinta, outros? Ao confeccionar os cartões, pensar em: Como falar sobre o Pantanal? O que falar sobre o Pantanal? Quais foram suas impressões sobre o turismo na região? E sobre o comportamento dos turistas? Você observou se havia algum tipo de orientação específica? Os cartões individuais serão distribuídos aos destinatários e os coletivos serão lidos pelo remetente para toda a turma. Caso seja possível, pedir que eles façam outros cartões e enviem para seus familiares contando o que aprenderam sobre o Pantanal. Para o desenvolvimento desta proposta precisamos trabalhar em conjunto com diferentes áreas do conhecimento e articular conceitos e conteúdos de diversas disciplinas. Escolhemos seguir o caminho de uma visita turística ao Pantanal. Cada grupo poderia desenvolver um dos outros aspectos citados pelos alunos como resposta à primeira pergunta: “O ecoturismo está presente em nossa vida de que forma?” Lembrar que os produtos finais devem estar ligados ao tema. 35 OUTRA SUGESTÃO MONTAGEM DE UM MANUAL E GUIA PARA VISITAÇÃO DO PANTAN AL PERGUNTAR Quem lembra da cena do programa onde tio Haroldo aparece conversando com Orlando Rondon, antigo proprietário da Fazenda Rio Negro? Eles estão conversando sobre a importância do ecoturismo para a preservação do Pantanal. Orlando Rondon diz que: “Aqui no Pantanal a gente aprendeu desde o tempo do meu avô a preservar... nunca houve devastação nesta região. A gente sempre respeitou muito...” O que é respeitar o meio ambiente? Por que é importante respeitar? Por que eles acreditam que o ecoturismo é uma solução para a preservação do Pantanal? Por que o programa diz que o turismo é a atividade econômica que produz menos impacto? O que é impacto? Como conseguimos diminuir os impactos? “O equilíbrio perfeito depende principalmente da educação dos visitantes e do empenho dos visitados.” O que o locutor quer dizer quando faz esta afirmação? Lembrar da importância da roupa de borracha flutuante usada pelos visitantes de Bonito. Como isto contribui para a preservação do local? Quem é responsável pela preservação desses lugares? Por que é importante o empenho da população local? Como eles podem contribuir para a educação dos visitantes? Propor que os alunos reflitam sobre o tema e desenvolvam um manual e guia para visitação do Pantanal. Quais os itens que devem ser tratados no guia? Que orientações devem ser dadas aos turistas? Que informações podem contribuir para sensibilizar o turista para a importância da preservação? O que eles deveriam saber sobre o Pantanal? Que locais visitar? Qual a importância destes locais? Qual a sua história? Que espécies de animais e vegetais poderão ser observados? Conhece-se algum animal ou espécie botânica que só exista neste local? Quais são as suas características? Qual o melhor período para sua observação? Existe alguma restrição para a observação? O que devemos levar para o passeio? Como chegar ao local desejado? Qual a importância de um guia local? Quais as dicas que vocês dariam para o turista aproveitar melhor a viagem? O que este local oferece? Quais os cuidados específicos? Qual o período do ano permitido para visitação? Quantas pessoas podem visitar o local ao mesmo tempo? O que os visitantes devem levar? O que os visitantes não podem fazer? Por quê? Que cuidados este local exige? Pensar na forma que terá o manual, a linguagem a ser utilizada, as imagens mais significativas para ilustrar o trabalho (desenho, colagem, ilustrações, fotografias...) 36 REFERÊNCIA S BIBLIOGRÁFIC A S BARRETO, M. Planejamento e organização em turismo. Campinas, Papirus, 1991. (Col. Turismo.) _______. Manual de iniciação ao turismo. Campinas, Papirus, 1991. (Col. Turismo.) BRASIL, Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal. Ibama. Diretrizes de Pesquisa Aplicada ao Planejamento e Gestão Ambiental. Brasília, Ibama, 1994. MAMIGONIAN, A. Inserção de Mato Grosso no mercado nacional e a gênese de Corumbá. Geosul, Florianópolis, Ed da UFSC, 1986, a.1, n.1, 1º semestre. Mato Grosso procura despertar interesse turístico. Folha da Tarde, São Paulo, 18 fev. 1972, p.1. RUSCHMANN, D. v. de M. Impactos ambientais do turismo no Brasil. Turismo em análise. São Paulo, ECA/USP, v. 4, n.1, maio, 1993, p. 56-58. 37 O PANTAN AL E SUA HISTÓRIA 8 Ao falar do homem e de algum lugar, temos que falar das sociedades, das distintas sociedades humanas que, por fatores históricos múltiplos, se organizaram sobre um determinado espaço, fazendo-o seu lugar, tornando-se seus habitantes. No Pantanal não é diferente. Ao tratarmos o homem e o Pantanal teremos em conta as muitas sociedades que, em diferentes tempos, se organizaram e habitaram este ambiente tão singular, construindo aí suas formas de sobrevivência e suas culturas. SINOPSE DO VÍDEO Nosso trio – Dito, Léo e João – sai para pescar. Léo está sonolento, mas Dito diz que no Pantanal se acorda cedo, antes dos peixes. Tio João aproveita a pescaria para contar um pouco da história do Pantanal e falar sobre as tribos indígenas que por lá moraram. Fala sobre a origem dos índios Carajás, dos Guatós, os Paiaguás, os Guaikurus e sobre a fauna e a flora de tempos atrás. Léo não consegue pescar nada, está impaciente. Tio João fala dos colonizadores, os europeus, dos aventureiros e exploradores das riquezas locais. Ficamos conhecendo os conflitos por terra entre Portugal e Espanha, os tratados, a construção de fortes e o extermínio dos índios. Aprendemos também sobre os bravos cavalos pantaneiros, sobre a Guerra do Paraguai e sobre os ciclos econômicos da região. Depois, Léo e Dito vão almoçar com amigos na fazendo de tio Abílio. Ele, fazendeiro e escritor, ajuda a contar um pouco mais do passado da região. Ele fala sobre a importância do boi, o grande colonizador do Pantanal. Ao final do dia, Léo se comunica por e-mail com seu pai, que lhe dá informações sobre a figura do Marechal Rondon. Ele responde falando da hospitalidade pantaneira. 40 CONTEÚDOS DO VÍDEO Os í ndios do Pa nta na l. A chegada do h omem bra nco e a ex ploraç ã o do Pa nta na l. De quem é o Pa nta na l ? O Tratado de Tordes i l has. Os ba ndei ra ntes do s é cu lo X V I. A Guer ra do Pa rag ua i. A i mpor t â ncia do boi na colon izaç ã o do Pa nta na l. EXPLORANDO OS CONTEÚDOS Hábitos indígenas (Caçada de onça – Viagem Pitoresca Através do Brasil, João Maurício Rugendas) PRIMEIROS HABITANTE S Não se sabe ao certo quem foram os primeiros habitantes do Pantanal. O registro mais antigo data do século XVI, quando chegaram os primeiros exploradores e colonizadores espanhóis. Através de seus relatos de viagem, ficamos sabendo que a região era habitada por povos indígenas que falavam línguas diferentes – os Guaranis, os Xarayes, os Guanás, os Guatós, os Payaguás, os Guaikurús. Alguns deles, como os Payaguás e os Guaikurús eram nômades, caçadores e coletores; outros, como os Xarayes e os Guanás, praticavam a agricultura e tinham aldeias fixas. Quase todos sabiam fazer vasilhas de barro e, alguns, como os Guanás, já construíam teares nos quais elaboravam vestimentas. Os habitantes do Pantanal adquiriram, ao longo de gerações, conhecimentos sobre o ambiente e viviam de forma integrada à natureza. A integração dos índios com o ambiente, especialmente com o ciclo das águas, era tão evidente que o explorador espanhol Cabeza de Vaca, em seus escritos sobre a expedição que comandou no inicio do século XVI, incluía os povos indígenas como parte integrante da paisagem pantaneira. Para o explorador, os “naturais do rio”, como ele os chamava, continuariam indefinidamente a habitar a planície inundada. Contudo, muitos dos povos indígenas já não existem mais. Os europeus, além de os enfrentarem diretamente, trouxeram doenças e provocaram muitas mudanças ambientais que, ao longo dos séculos, foram destruindo ou modificando os saberes e as culturas destes povos. A CHEGADA DO HOMEM BRANCO AO PANTAN AL OS ESPANHÓIS No início do século XVI, a paisagem pantaneira passou a receber homens brancos que, com suas bo- ADELANTADO (DE MAR) Título dado tas, armaduras, espadas e cavalos adentraram em grandes embarcações nas águas da bacia do rio pelo rei da Espanha a quem coman- Paraguai. Estes conquistadores moviam-se em busca de riquezas, principalmente metais preciosos. dava uma expedição marítima, na época das grandes navegações, Quem deu a partida nessa corrida pelo ouro foi o conceituado cosmógrafo e primeiro piloto do rei de Espacom direito de tornar-se governador nha, Juan Díaz de Solís, em 1515. Sua expedição pelos rios pantaneiros foi atacada, na volta, pelos Guaranis. das terras descobertas. Um dos sobreviventes desta primeira tentativa, o português Aleixo Garcia, organizou uma segunda expedição que chegou perto dos Andes. De lá trouxe muitas peças de ouro e prata. Contudo, no regresso, também foi morto por indígenas. Apesar disso, as notícias sobre a sua viagem chegaram a Santa Catarina. Depois, veio o navegador Sebastian Caboto, que chegou até o rio Paraguai. Aliado aos Guaranis, teve de enfrentar os temíveis Payaguás, os índios senhores das águas. Com armas modernas, não teve maiores problemas em dominar os combates. Em 1534, saiu da Espanha a primeira e mais bem montada expedição espanhola rumo a América do Sul: no comando estava Dom Pedro de Mendoza. Este nobre cavalheiro vinha à América com o título de Adelantado, para governar as terras do rio da Prata. Sua fabulosa expedição era composta por 14 navios e 2.650 soldados. Trazia 72 cavalos, os primeiros a chegar à bacia do rio da Prata, considerados os ancestrais do “cavalo pantaneiro”. 43 No início do seu governo, Mendonza quis que se descobrisse de onde vinham as riquezas. Expedições passaram a percorrer os rios e ao longo dos seus cursos foram fundando núcleos de povoamento como Buenos Aires e Assunção. E foi justamente de Assunção que saiu a expedição comandada por Domingo Martinez de Irala que, em janeiro de 1543, chegou à região do Pantanal. Outro “adelantado” foi Alvar Núñez Cabeza de Vaca que, em novembro de 1543, em nome da Sua Majestade Real, Carlos I, rei da Espanha, assumiu o governo da região, que passou oficialmente a pertencer à Espanha. Isso tornou seus moradores vassalos da Coroa espanhola. Alguns anos após, Domingo de Irala voltou ao Pantanal e, à frente de um bravo exército, atravessou a área inundável e finalmente alcançou as sonhadas riquezas andinas. Quando finalmente chegou ao Império Inca, ao invés da alegria da conquista, teve uma grande decepção. Outro espanhol, Francisco Pizarro, já havia chegado à região. Por outros caminhos, havia chegado anos antes ao Peru, e todas as ricas e noticiadas terras já estavam sob o domínio da coroa de Castela. Com o tempo, as terras e os rios pantaneiros começam a perder importância. Pouco a pouco a colonização castelhana vai restringindo-se aos arredores de Assunção, porque, naquele momento, os espanhóis não tinham interesse em estabelecer uma política de exploração na área. A conquista dos antigos impérios do México e do Peru era mais lucrativa. Os portugueses também não demonstraram qualquer interesse pelas terras pantaneiras. No entanto, tendo em vista a beleza e fartura de recursos da região do Itatim, a Coroa da Espanha e Castela decide implantar ali a primeira cidade castelhana na bacia do Alto Paraguai para iniciar a colonização: Santiago de Jerez, fundada em 1593. A cidade não prosperou. Em 1605 contava apenas com quinze homens capazes de pegar em armas. As crônicas coloniais falam que havia tanta miséria que seus habitantes sobreviviam alimentando-se apenas de folhas e raízes. Esta precariedade deve-se, entre outras coisas, à inexistência de comércio regular, à difícil comunicação com Assunção e aos constantes ataques de Payaguás e Guaikurús. Em vista disto, o próprio governo de Assunção solicitou que Santiago de Jerez fosse despovoada. Em 1632, sua existência foi definitivamente selada, quando os bandeirantes a tomaram. Coincidentemente, foi neste mesmo ano de 1632 que os jesuítas estabeleceram suas missões no Itatim. Também chamadas de “reduções”, as missões eram agrupamentos onde religiosos reuniam povos indígenas para catequizá-los na fé cristã e ensinar-lhes ofícios com o objetivo de fazê-los produtivos para a sociedade colonial. Entre 1647 e 1648, os bandeirantes paulistas também invadiram e atacaram as reduções. Estas terras, então, vão receber os Guaikurús, que tornaram-se quase invencíveis quando conseguiram domar e montar cavalos. Foi, assim, que na segunda metade do século XVII, os guaikurús chegaram à região do Itatim logo depois que as missões foram atacadas pelos bandeirantes. Apossaram-se, então, daquelas terras e de todo o gado deixado pelos missionários. Durante quase dois séculos esses índios cavaleiros dominaram o território pantaneiro. 44 CONHEÇA ALGUNS DOS P OVOS INDÍGEN A S DO PANTAN AL . GUAIKURÚS Índios guerreiros que se tornaram grandes cavaleiros impondo-se sobre as demais nações pantaneiras assim como sobre espanhóis e portugueses. Também dominaram a região sul do Pantanal, desde a serra da Bodoquena até Porto Murtinho. Com o fracasso das primeiras tentativas de colonização dos espanhóis, eles voltaram a dominar a região. Depois, dificultaram muito a vida dos bandeirantes que chegavam ao Pantanal para caçar e escravizar índios. Os Guaikurús atacavam os acampamentos com grandes lanças e laços de couro muito compridos. Quando se aliaram aos Payaguás, imbatíveis em combates na água, tornaram praticamente impossível para os brancos atravessar o Pantanal. A aliança acabou interferindo na comunicação e no comércio das minas de Cuiabá com São Paulo. A reação do governo foi violenta a ponto de exterminar essas tribos. Confronto dos índios com Bandeirantes (Guerrilhas – Viagem Pitoresca Através do Brasil, João Maurício Rugendas). PAYAGUÁS Índios canoeiros, bons pescadores e ótimos nadadores, viviam nos rios Miranda, Negro e Taquari, em Mato Grosso do Sul. Apoderavam-se de alimentos e mercadorias dos grupos agricultores. No relato do jesuíta alemão Martin Dobrizhoffer, transcrito a seguir, de meados do século XVIII, podemos fazer uma idéia de como eles impressionavam os forasteiros: Podia vir abaixo montanhas de água, umas sobre outras, bramar tempestades até o cansaço, que o payaguá de pé sobre a ponta extrema de sua embarcação, prosseguirá remando completamente impávido frente a elas. Perseguidos, desapareceram no início de século XIX. 45 K ADIVÉUS Estas tribos roubaram os cavalos dos brancos e os introduziram na região pantaneira. Com estes cavalos pantaneiros, movimentavam-se por toda a região, onde eram temidos pelas tribos vizinhas. Os Kadivéus tiveram importante participação na Guerra do Paraguai, lutando do lado brasileiro. Hoje se concentram em uma reserva na serra da Bodoquena. GUATÓS Eram nômades, habitavam a margem direita do rio Paraguai e se deslocavam por toda a extensão do Pantanal, só permanecendo em cabanas durante a estação das águas. Tornaram-se respeitados caçadores pelo uso certeiro do arco e da flecha, mas, como eram poucos, acabaram sendo dominados pelos Payaguás e pelos Guaikurús. O QUE FICOU Com o domínio dos bandeirantes, os índios pantaneiros tiveram suas terras invadidas. Algumas tribos foram simplesmente dizimadas. Outras se incorporaram aos novos tempos. Muitos Payaguás, por exemplo, tornaram-se peões boiadeiros. Em algumas regiões do Pantanal, existem, ainda hoje, reservas indígenas como a dos Kadivéus na serra da Bodoquena. Eles criam gado e cavalos, praticam agricultura de subsistência e produzem cerâmica. Mesmo as tribos que desapareceram deixaram como herança aos homens e mulheres pantaneiros algumas características como agilidade física, respeito à natureza e traços fisionômicos. POR QUE O RIO PARAGUAI TEM ESSE NOME As águas deste rio eram defendidas por índios canoeiros, cujo chefe chamava-se Payaguás e, por causa disso, os Guaranis, seus inimigos, chamavam a todos os demais pelo nome do chefe; eram os Payaguás. Por sua vez, o rio no qual os Payaguás viviam era chamado pelos Guaranis de Payaguás Y, que em língua Guarani significa o “rio dos Payaguá”. Os espanhóis, que tiveram os guaranis como guia, foram acomodando a palavra ao seu jeito de falar e transformaram Payaguá Y em Paraguay; em português, hoje nós o denominamos rio Paraguai. Da mesma forma, por influência hispânico-guarani, conhecemos o povo canoeiro que vivia sobre as águas do Paraguai como Payaguás. OS BANDEIRANTES Em meados do século XVII, os bandeirantes – em busca de mão-de-obra escrava índigena e metais preciosos – começaram a penetrar na região. No século XVII, a economia da América portuguesa estava centrada na monocultura da cana-deaçúcar, com base no trabalho escravo dos negros africanos. Pernambuco e Bahia eram o eixo produtor desta cultura, que ali mesmo – também pela força do braço africano – era transformada em açúcar, rapadura e aguardente. Outras regiões, como a da capitania de São Vicente – São Pau- 46 lo –, que não dispunham de capital, tiveram de buscar alternativas para mão-de-obra; assim, passaram a capturar índios no interior e escravizá-los. Estas excursões eram patrocinadas pelo governo (Entradas), por fazendeiros paulistas ou por aventureiros (Bandeiras). As Entradas, em geral, partiam do Nordeste e iam mapear o território ou dominar tribos hostis. As Bandeiras saíam de São Paulo visando capturar índio e/ ou descobrir metais preciosos. No século XVIII as terras pantaneiras estavam, de fato, pouco a pouco deixando de pertencer à Espanha. Em 1719 a Bandeira chefiada por Pascoal Moreira Cabral encontrou índios e ouro às margens do rio Coxipó e fundou o Arraial de Forquilha, dando início à colonização portuguesa do estado de Mato Grosso. Em 1722, outro bandeirante, Miguel Sutil, encontrou ouro numa região que ficou conhecida como “Minas do Cuiabá”, depois (em 1727) Vila Real de Bom Jesus do Cuiabá. Em 1748, Portugal mandou fundar Vila Bela da Santíssima Trindade, para ser a capital da recém-criada capitania de Mato Grosso e Cuiabá. Tudo isso em terras espanholas. A ocupação do Pantanal ajudou a mudar o mapa do Brasil, desrespeitando o Tratado de Tordesilhas Em meados do século XVIII, Portugal e Espanha resolveram redefinir a divisão das terras que então possuíam, não só na América, mas em todo o mundo. E, após muitas negociações, em 1750 assina- Encontro dos índios com Bandeirantes (Encontro de índios com viajantes europeus – Viagem Pitoresca Através do Brasil, João Maurício Rugendas). 47 ram o Tratado de Madri, que logo depois, em 1761, foi anulado, seguindo-se o Tratado de Santo Ildefonso, assinado em 1777. Nestes tratados, as duas coroas ibéricas acertaram que cada uma das partes envolvidas ficaria de posse daqueles territórios que ao longo dos tempos tivessem efetivamente ocupado. Assim sendo, as terras nas quais os portugueses tivessem alguma forma de comprovar a sua efetiva presença, passava, de direito, a pertencer a Portugal. O mesmo acontecia com a Espanha. Para os portugueses, em alguns lugares, como a Vila Real do Bom Jesus do Cuiabá, provar sua presença não era problema. Porém, no caso da grande área pantaneira – território essencial para o percurso das Monções –, isso era diferente. Ali eram poucos os lugares onde, de fato, os bandeirantes haviam formado povoações. A Coroa portuguesa passou então a estimular a ocupação do interior, criando inúmeros povoados, dedicados ao plantio da cana e à pecuária. Estes povoados foram decisivos na expansão das fronteiras do Brasil e se tornariam provas definitivas da predominância portuguesa nas terras pantaneiras e amazônicas. Em 1800, as fronteiras estavam praticamente demarcadas. As águas e terras da bacia do alto rio Paraguai com o Pantanal passaram a fazer parte do território português na América, logo depois convertido em brasileiro. AS MONÇÕES As monções eram expedições fluviais que partiam de São Paulo, pelo rio Tietê, para abastecer as Minas do Cuiabá. Foi assim que os rios pantaneiros começaram a ser transformados em verdadeiras estradas. As monções transportavam negociantes e mineradores. Mas, para isso, tinham que vencer cachoeiras e corredeiras, febres, mosquitos e índios. O trajeto de ida durava em média seis meses. Os monçoeiros carregavam alimentos, animais domésticos, tecidos, medicamentos, instrumentos cortantes e tudo o mais necessário para o funcionamento das minas e dos povoados. No retorno, eles iam rio abaixo, consumindo menos da metade deste tempo. A GUERRA DO PARAGUAI OU GUERRA DA T R Í P L I C E A L I A N Ç A (1875 -1878) Durante o início do século XVIII, os rios foram o principal caminho para chegar à região. Apenas uma estrada de terra foi aberta ligando Cuiabá à Goiás. Essas eram as únicas vias de acesso ao restante do Império. O que dificultava muito o desenvolvimento da região. O rio Paraguai, com suas águas calmas, era uma alternativa de navegação para levar desenvolvimento à região. Mas, para isso, os brasileiros deveriam navegar em terras paraguaias. 48 FORTE COIMBRA Estratégico e quase invulnerável. Fundado pelo governador Luís de Melo e construído em 1775 num terreno mais alto, de onde dava para controlar todo o trânsito de navios no rio Paraguai, o Forte Coimbra foi local estratégico de muitas guerras e disputas, saindo quase sempre vitorioso. A única derrota importante foi em 1864, durante a Guerra do Paraguai, quando caiu sem muita resistência em mãos inimigas. O Forte, que fica há umas duas horas de Corumbá (MS), está hoje todo restaurado e aberto a visitas, constituindo-se num significativo patrimônio da história pantaneira. Em 1857, o governo paraguaio cedeu às pressões diplomáticas e consentiu em franquear o rio Paraguai às embarcações de bandeira brasileira. Mas, no final de 1864, o novo presidente do Paraguai, Francisco Solano Lopez, rompeu o acordo. Começava a guerra. Os paraguaios avançaram rapidamente, pois tinham um exército mais armado e melhor treinado. As forças de Solano Lopez avançaram e tomaram Corumbá, o “Campo de Vacaria” – onde o gado era criado solto – e só não se apoderaram de Cuiabá porque a época era de seca e impediu o avanço pelo rio. Os índios – principalmente os Kadiwéus e os Terenas – começaram a lutar do lado brasileiro. A guerra só foi vencida quando Argentina, Uruguai e Brasil se uniram no Tratado da Tríplice Aliança contra o Paraguai. O RIO E A COLONIZ AÇÃO Passado o conflito, foi novamente permitida a navegação de navios brasileiros no rio Paraguai. Nesta época já existiam, nas margens de rios, usinas de cana e indústrias de carne bovina da região. Estas indústrias, chamadas charqueadas ou saladeiros, aproveitavam o rebanho pantaneiro para a produção de charque, mantas de carne salgada. A produção de Corumbá, Cuiabá e Cáceres era escoada pelo rio por barcos a vapor que iam do Mato Grosso ao porto de Buenos Aires. Podendo contar com este canal de escoamento, as usinas de cana se desenvolveram. O cultivo da cana e a fabricação de açúcar, rapadura e aguardente eram conhecidos na região desde meados do século XVIII. Mas eram praticadas de forma rudimentar. No século XIX, as usinas prosperaram e estes produtos passaram a abastecer também os países do rio da Prata. Apesar de modernas, essas fazendas, em pleno século XIX, baseavam-se ainda no modelo colonial com mão-de-obra escrava. Durante a Primeira República (1889 – 1930), seus proprietários, os chamados coronéis usineiros, tiveram nas mãos o domínio político do estado. 49 O PANTAN AL E A REPÚBLIC A NOVA A partir dos anos 1930, o Brasil começa a viver intensas mudanças políticas e sociais. Esse novo estado de coisas repercute no Pantanal. A navegação começa a refluir, o açúcar mato-grossense vai perdendo mercado, os saladeiros passam a sofrer concorrência da indústria frigorífica de São Paulo. Estradas de rodagens começam a ser abertas na região e a tomar o lugar do transporte pelos rios. É construída a ferrovia Noroeste do Brasil, oferecendo uma nova opção de escoamento para os produtos da região sul-mato-grossense, estimulando o aparecimento de grandes propriedades voltadas para a criação extensiva de gado. As cidades portuárias da bacia do rio Paraguai passam a ter uma atividade econômica dinâmica e promovem grandes reformas nos sistemas de serviços urbanos. O BOI COMO COLONIZ ADOR Ao longo de toda essa história o gado teve importante papel. O boi chegou ao Pantanal com os espanhóis ainda no século XVI. Mas é com os jesuítas, quando tentaram catequizar os Guaranis nas suas missões do Itatim, que de fato se dá início à criação de bovinos. Com o abandono das missões, os guerreiros Guaikurús apoderaram-se dos rebanhos deixados pelos jesuítas, criando-os livremente. Anos depois, os bandeirantes paulistas passaram a cruzar as terras, hoje pertencentes ao estado de Mato Grosso do Sul. Lá encontraram rezes bravias e chamaram o local de “Campo de Vacaria”. Quanto às fazendas de gado, depois que o ouro do Cuiabá começou a ser explorado e as monções passaram a fazer os rios pantaneiros de caminhos, os primeiros bois foram levados para Cuiabá, em 1739. Fazenda de gado no Pantanal 50 AS FAZENDA S A criação de gado teve grande importância também na implantação de fazendas no Pantanal. Estas grandes propriedades foram, a princípio, sesmarias concedidas pelo Estado português a colonos que se comprometessem em fazê-las produtivas. A primeira fazenda a se estabelecer ao sul da capitania de Mato Grosso e Cuiabá foi a Fazenda Pública de Camapuã, fundada em 1727, no antigo pouso monçoeiro de Camapuã. A Fazenda Jacobina, a mais importante fazenda pantaneira, fundada em 1771, localizava-se ao norte da bacia do alto rio Paraguai. Foi desta fazenda que, no início do século XIX, partiram os povoadores que, em gerações sucessivas de famílias, foram se estabelecendo nas fazendas pantaneiras. COMO SE ESTRUTURAVAM AS GRANDES PROPRIEDADES DO PANTANAL • O sesmeiro podia tornar-se fazendeiro. • As fazendas da capitania de Mato Grosso e Cuiabá eram grandes latifúndios: plantavam-se gêneros de subsistência como mandioca, feijão, cereais e hortaliça e mais a cana-de-açúcar. Criava-se gado bovino leiteiro e de corte. • Possuíam engenhos e casas de farinha para processar a cana e a mandioca. “A tecnologia colonial” utilizada nestas casas-de-farinha persiste ainda hoje em propriedades localizadas às margens do rio Cuiabá, assim como os rudimentares engenhos continuam fazendo parte do dia-a-dia de muitas comunidades ribeirinhas em toda a orla da bacia alto-paraguaia. Na segunda metade do século XIX, porém, a Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai) esvaziou as fazendas, levando os moradores a se refugiarem em Cuiabá. Quando os criadores de gado do Pantanal começaram a retornar à região, reorganizaram suas fazendas de modo industrial. Eram as chamadas charqueadas ou saladeiros, indústrias de carne bovina. Quase todas às margens do rio Paraguai, próximo à região de Cáceres. A ocupação mais recente está relacionada à Fazenda Descalvado, que remonta à segunda metade do século XIX. É formada por um grande conjunto de edificações diversas envolvendo casa-sede, igreja, escritórios, hotel (pensão), habitações de funcionários e demais estruturas ligadas à atividade produtiva (galpões, abatedouro, casas de couros, oficina, caldeira etc.). SÍTIO ARQUEOLÓGICO E HISTÓRICO DESCALVADO Importante testemunho da passagem e atividade européia e norte-americana no Pantanal, a partir da segunda metade do século XIX. 51 TRABALHANDO COM O TEMA COMO VIMOS NO PROGRAMA e nos textos anteriores deste capítulo, a história está presente de diversas formas no nosso dia-a-dia, portanto necessita ser observada, percebida, entendida e estudada por diferentes ângulos, com a contribuição de muitos campos do conhecimento. Desta forma, poderemos ter compreensão da multiplicidade e da importância da história em nossas vidas. Um bom ponto de partida para desenvolver um projeto, uma aula ou uma atividade é elaborar perguntas, buscando incentivar a curiosidade e a necessidade de saber e pesquisar mais. Para isso é necessário formular questões sobre a realidade. Perguntas que permitam o exercício da reflexão, da observação do mundo, do questionamento e formulação de novas perguntas. A relação entre os elementos da Natureza se aprende observando o meio; e esta descoberta permite a construção de novos valores e atitudes. “Uma capacidade importante a ser desenvolvida nos alunos é a de, ao observar determinado fenômeno, perceber nele relações e fluxos, no espaço e no tempo.” 1 Por exemplo, ao observar no vídeo os meninos pedirem tantas vezes aos mais velhos para contarem como era o Pantanal e qual a sua história, perguntar-se: qual a importância de conhecermos nossa história, nossas origens e tradições? Os índios foram os primeiros habitantes. Portugueses e espanhóis conquistaram estas terras. Os bandeirantes desbravaram o Pantanal atrás de riquezas. Índios, espanhóis e portugueses. A história do Pantanal é fruto do encontro destes povos e suas culturas. E de outros que foram atraídos por suas riquezas. A história pantaneira foi formada pelo encontro de índios, espanhóis e portugueses. Perguntar-se: Como se deu o processo de formação dos hábitos e costumes atuais? Quem eram? Como viviam cada 52 um desses povos? Quais os seus interesses econômicos e políticos? Que elementos indígenas estão presentes na história local atual? Bandeirantes, portugueses e espanhóis, que influência tiveram sobre a história do Pantanal? Que acontecimentos ocorreram na história do Pantanal e que influenciaram a cultura do povo pantaneiro? História, cultura e economia são elementos indissociáveis e fundamentais para entendermos a vida, o povo e a história de um lugar. Refletir sobre as conseqüências da interação entre as diversas culturas a longo e curto prazos. Correlacionar os assuntos do programa e, assim, perceber quão intricada é essa dinâmica, onde muitas culturas se relacionam. Esta prática tem como objetivo estimular a percepção dos inter-relacionamentos, criando espaços nos quais professores e alunos possam, como indivíduos, aprender através de experiências concretas. O processo de aprendizagem iniciado por essas perguntas fica mais rico quando pontuado por ações de registro e reflexão sobre o que se observou e descobriu. “Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder refleti-lo, pensá-lo e assim aprendê-lo, transformá-lo, construindo o conhecimento antes ignorado.”2 É importante, ao estimular o registro, incentivar a diversidade de formas de expressão e criar espaços para a socialização das descobertas, opiniões e propostas. Existem várias formas de se registrar utilizando diferentes linguagens (desenhos, maquetes, cartazes, redações, poemas, músicas...). As sugestões que levantaremos podem servir como provocadoras de idéias e caminhos, caberá a cada educador, junto com os alunos e a equipe de trabalho, construir e decidir sobre como conduzir projetos com o tema O Pantanal e sua História. 1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC/SEF, 1997, vol. Meio Ambiente, p. 59. As propostas que se seguem têm como objetivo a concretização do processo de pesquisa, debates e ela- 2 WEFFORT, M. F. "Importância e função boração de atividades, valorizando o fazer coletivo e a participação dos saberes comunitários. Elas do registro escrito, da reflexão". In: ganham um real valor quando incorporadas a um projeto de trabalho que estabeleça metas e objetivos pró- Observação, registro e reflexão, ins- prios. Na primeira proposta, apontamos algumas etapas possíveis de encadeamento do trabalho seguindo trumentos metodológicos. Espaço a metodologia apresentada na primeira parte do Caderno do Professor volume 1. O professor deve estar Pedagógico, São Paulo, 1996, p. 41. atento às necessidades e prioridades do grupo, podendo e devendo criar outras atividades e caminhos. (Série Seminários.) 53 E TA PA S A P Ó S A S SISTIR AO PRO GR A M A MUSEU DA TURMA Iniciar o trabalho perguntando aos alunos o que eles viram no programa, quais os temas abordados, suas dúvidas e colocações. O professor pode enriquecer o debate com questões tais como: A história está presente na nossa vida de que forma? (Escrever no quadro-negro, cartolina ou papel pardo as idéias dos alunos.) Quem se lembra da seqüência do programa em que o locutor diz que “a história da América foi escrita a partir da chegada do homem branco. Desde a época do descobrimento, o Pantanal foi descrito na Europa como uma região de riquezas e tesouros.” Antes da chegada do homem branco também havia história? Será que existe alguma versão da história que não foi registrada pelo homem branco? Os portugueses e espanhóis, primeiros habitantes brancos do Pantanal, registraram através de cartas e diários como era a nova terra. Como os índios faziam esses registros? Como as tribos indígenas pantaneiras transmitiram o conhecimento através das gerações? Quais as tribos indígenas encontradas no Pantanal na época do descobrimento? Quais as tribos indígenas encontradas no Pantanal hoje? Quem tem origem indígena na sala? De qual tribo? A sua família ainda mantém algum dos rituais e costumes de seus antepassados? Como eles foram passados de pai para filho? Como a chegada do homem branco no Pantanal interferiu nos costumes dos índios? Como os costumes dos índios interferiram na cultura do homem branco? Quem tem origem espanhola? E portuguesa? Montar um painel em que cada aluno possa mapear sua ascendência. Cada aluno poderá criar uma forma de expressar graficamente sua árvore genealógica. Observar como somos formados a partir de muitos indivíduos que vieram antes de nós. Propor à turma que os alunos entrevistem seus familiares em busca da origem de seus pais, avós, bisavós, tataravós... Perguntar quais eram os hábitos e costumes dessas gerações. Como viviam? Onde moravam? O que comiam? Como se vestiam? Como era o dia-a-dia? Quais seus ofícios? Quais as suas crenças? Como eram suas festas? O que comemoravam? Como se divertiam? Observar também as práticas cotidianas, as diversidades culturais, as formas de expressões artísticas, os hábitos de lazer, os meios de locomoção, os meios de comunicação... 54 Dividir a turma em duplas e pedir que, a partir das informações pesquisadas no item anterior, um aluno entreviste o outro e escreva um texto sobre a história de vida do colega. É interessante que as entrevistas sejam capazes de responder às seguintes questões: Qual seu nome? De onde vem? Quem são seus pais? E seus avós, bisavós e tataravós? Quais são seus hábitos e costumes? Quais as suas crenças? Pedir que cada aluno traga objetos, utensílios, fotografias ou textos que poderão retratar seus hábitos e costumes e o de seus antepassados. Refletir com os alunos sobre como guardar e apresentar estes objetos e informações. Quais os locais destinados a guardar os objetos e dados importantes para a preservação de nossa memória? O que é um museu? Qual a importância de um museu? Como são formados os museus? Quais suas funções? Observar o museu como um espaço institucional que reúne objetos e informações, como local de pesquisa e preservação de nossa memória. Propor aos alunos a montagem de um museu da turma com os trabalhos produzidos anteriormente; a árvore genealógica, os textos com a história de cada aluno, e os objetos selecionados. Preparar fichas descritivas que contem a história de cada um dos objetos trazidos pelos alunos. Produzir um cartaz de divulgação com os horários de funcionamento do museu. Selecionar os alunos que têm interesse em ser os guias/monitores do museu da turma. Preparar o roteiro para a visitação. Pensar com os alunos que outras atividades podem ser realizadas para tornar o museu um espaço mais interessante. Caso seja de interesse dos alunos ampliar a experiência, propor a montagem do museu em um espaço comum da escola em que os trabalhos poderão ser vistos por um número maior de pessoas. Expor na escola todo o material produzido pelos alunos. Convidar parentes e amigos. Para o desenvolvimento desta proposta precisamos trabalhar em conjunto com diferentes áreas do conhecimento e articular conceitos e conteúdos de diversas disciplinas. Escolhemos seguir um caminho, o da montagem de um museu; cada grupo poderia desenvolver um dos outros aspectos citados pelos alunos como resposta à primeira pergunta: “A História está presente em nossa vida de que forma? Lembrar que os produtos finais devem estar ligados ao tema.” 55 OUTRA SUGESTÃO CONSTRUIR J O G O S E B R I N C A D E I R A S C O M E L E M E N T O S D A C U LT U R A L O C A L PERGUNTAR : Como você brinca? De que se brinca? Qual a importância das brincadeiras em nossas vi- das? Como as brincadeiras são passadas de geração em geração? De onde vêm os brinquedos e jogos que nos divertem e ensinam? Muito da nossa história pode ser descoberta a partir da pesquisa e observação sobre nossos jogos e brincadeiras. Propor uma pesquisa com os familiares e a comunidade sobre os jogos que fizeram parte da vida deles. Quem se lembra de ter visto seus pais jogando ou brincando? Jogavam o quê? Como? Alguém já conhecia esse jogo? Que outros jogos eram jogados por seus familiares? Que jogos poderiam ser recriados a partir de elementos da cultura local (jogo-da-velha, dominó, escravo de Jó etc.)? Produzir os jogos e as regras, incluindo o registro escrito das músicas ou cantigas que fazem parte das brincadeiras resgatadas. Organizar um dia inteiro ou vários dias, durante os recreios, momentos nos quais a escola vivencie essas brincadeiras (distribuir as regras realizadas pelos alunos). Observar de que maneira as brincadeiras e jogos nos revelam os valores de determinada comunidade e sua cultura. DICA : Procure sempre que possível chamar a atenção para os aspectos sonoros durante o proces- so de trabalho. No Caderno de Iniciação Musical o professor poderá encontrar várias sugestões e idéias. 56 REFERÊNCIA S BIBLIOGRÁFIC A S COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente. O Pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo, Estação Liberdade / Kosmos Editora, 1999. CORREA FILHO, V. A. Pantanais matogrossenses: Devastação e ocupação. Rio de Janeiro, IBGE, 1946. FIGUEIREDO, A. A propósito do boi. Cuiabá, Editora da UFMT, 1994. FONSECA, J. S. da. Viagem ao redor do Brasil. 1875-1878. Rio de Janeiro, Tipografia de Pinheiro, 1880. FLORENCE, H. Viagem fluvial do Tieté ao Amazonas. 1825-1829. São Paulo, Cultrix / USP, 1977. GADELHA, R. As Missões jesuíticas do Itatim: Estruturas socioeconômicas do Paraguai colonial. Séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. PÓVOAS, L. C. O ciclo do açúcar e a política de Mato Grosso. São Paulo, Resenha Tributária, s.d. ROOSEVELT, T. Nas selvas do Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia / São Paulo, USP, 1976. 57 A C U LT U R A P A N T A N E I R A 9 A música pulsa rasqueada no terreiro, destacandose da paisagem sonora de aves e águas. O cheiro da comida, quase pronta, invade o ambiente. Alguém lá fora ensaia uns passos de dança; a criançada se esbalda com as brincadeiras tradicionais. É dia de festa no Pantanal. Logo, logo chega a noite com seus mistérios e suas figuras encantadas. “Quem sabe uma figura dessas chega aí para a festa?”, admite o peão caprichando no sotaque pantaneiro. “Quem sabe?”, concorda o violeiro... SINOPSE DO VÍDEO Léo conta num e-mail para seus pais, que estão no Rio de Janeiro, que está adorando o Pantanal, apesar de morrer de saudade. Conta da festa que houve na véspera, organizada pelo tio João para comemorar o seu aniversário e o do primo Dito. De dia, eles saíram para convidar os amigos. Encontraram até um antigo peão que ainda faz laço à mão. Léo pediu que ele desse um depoimento para sua câmera. Estava impressionado como no Pantanal as pessoas falam de boi o tempo todo. Tio João explicou que o boi é a base da economia da região. Os primos observaram quadros que retratam a cultura pantaneira e fazem uma espécie de “desafio” entre eles. Dito mostrou uma obra de Conceição Bugres para Léo. Em casa, almoçaram alguns pratos típicos e ainda ajudaram a preparar o churrasco de chão. De tarde, houve uma carreirada de peão. Tio João alertou sobre a diferença entre as carreiras e as cavalhadas de Poconé. De noite, viola, churrasco e danças típicas do Pantanal. Tio João falou sobre a viola-de-cocho e sobre o poeta Manoel de Barros. Ao final do programa, Léo termina seu e-mail e conta para os pais que ganhou um presente dos peões, mas que só vai revelar o que é quando chegar em casa. E vai acordar o primo Dito com o tal presente: um berrante que ele, por enquanto, ainda toca muito mal. 60 CONTEÚDOS DOS VÍDEOS O a r tes a nato pa nta nei ro Cu l i n á r ia pa nta nei ra A s festas e tradi ç õ es pa nta nei ras M ú s icas e da nç as t í picas Mitos, lendas e hi st ó r ias: Os bich os d ’ á g ua O po eta Ma no el de Ba r ros e a fa la pa nta nei ra EXPLORANDO OS CONTEÚDOS “O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore. Depois lagartixas. Apareceu um homem na beira do rio. Apareceu uma ave na beira do rio. Apareceu a concha. E o mar estava na concha. A pedra foi descoberta por um índio. O índio fez fósforo da pedra e inventou o fogo pra gente fazer bóia. Um menino escutava o verme de uma planta, que era pardo. Sonhava-se muito com pererecas e com mulheres. As moscas davam flor em março. Depois encontramos com a alma da chuva que vinha do lado da Bolívia – e demos no pé.” (Rogaciano era índio Guató e me contou essa cosmologia.) Manoel de Barros - Livro das ignorãnças O Q U E É C U LT U R A Consultando os dicionários brasileiros, encontraremos que a raiz da palavra “cultura” está no “cultivo”, tradicionalmente percebido como uma técnica agrícola. Por isso, falamos da cultura do feijão, da cultura do milho, e assim por diante. Esta origem deve-se à mudança estrutural dos seres humanos, que viviam da caça e eram nômades e, em determinado período, passam a cultivar seus alimentos, tornando-se agricultores e se fixando num local. Além de cultivar seus alimentos, começam a cultiUma CULTURA é a maior expressão var padrões de comportamento, modos de expressão, crenças, valores religiosos, organizações de uma sociedade. É ela que dá sociais, dinâmicas ecológicas e, também, de educação. identidade a seus membros. Cultura é tudo o que a gente cria, cultiva e que permanece no tempo e no espaço muito antes e muito depois de nós. Um poema, uma receita, um jeito de falar. A sociedade se expressa de muitas formas e vai criando uma identidade tão forte a ponto de ser reconhecida em seu conjunto. O POETA MANOEL DE BARROS E A FALA PANTANEIRA Quando lemos um poema de Manoel de Barros – poeta pantaneiro cheio dos saberes – identificamos não só o universo a que ele nos remete, como, no poema com que iniciamos a exploração do conteúdo, mas também às “lagartixas, rio, concha, índio, pedra,chuva, perereca, Bolívia e cosmologia”. Ele expressa sua cultura pelo jeito como organiza essas palavras, imagens e sonoridades próprias da sua cultura e, também, pelos espaços vazios, ou silenciosos, que preenchemos com nossa imaginação, alternando cheias e vazantes. Dessa forma a poesia que ele faz repete o dualismo da dinâmica das águas pantaneiras e, por tudo isso, expressa e dá continuidade à sua cultura. Há diversas formas de identidades culturais, tanto as regionais cartográficas (paulistas, mato-grossenses, gaúchos, baianos, acreanos, etc.), como as de cunho social. Uma cultura de redes pode ser compreendida como uma forma de buscar meios para conviver coletivamente com outras pessoas. Uma pessoa culta pode ser identificada pelos conhecimentos acumulados, já uma comunidade indígena tem um nível de organização mais integrado (mitos, valores e ecologia) e, finalmente, uma cultura regional quer expressar seus valores, suas danças, suas lendas, comida ou vestuário típicos em suas mais variadas expressões artísticas – eruditas ou populares. O conhecimento e utilização dos poderes medicinais de plantas e ervas, o entendimento de sinais da natureza como indícios meteorológicos e a leitura mítica do mundo são saberes populares originados e produzidos nas comunidades tradicionais e indígenas e têm o mesmo valor que os conhecimentos produzidos em outros lugares, às vezes mais eruditos e sofisticados. Os estudos da cultura e folclore em nosso país tiveram início a partir de 1870, como uma maneira de buscar a identidade nacional dos movimentos abolicionista e republicano. Cantos, literatura oral, danças, artesanatos, mitos e símbolos são repassados de geração a geração, permitindo que a identidade de um grupo não se acabe. 63 PANTAN AL E C U LT U R A A região pantaneira guarda variadas contribuições culturais – comidas, danças, histórias, lendas, sotaque e tantas outras. Começa com a cultura indígena e chega à cultura de massa dos nossos dias, passando pelos mitos e lendas, danças, artesanatos e comidas típicas. FALA E FISIONOMIA Como definir um perfil do homem pantaneiro e da mulher pantaneira? Podemos começar por dois aspectos – a fala e os seus traços fisionômicos. Nos dois casos, percebemos a influência direta dos índios, primeiros habitantes da região. O linguajar do pantaneiro é muito característico. Não são apenas as palavras, expressões e gírias que só quem é da terra sabe o que significam. Até o jeito como o pantaneiro fala é muito próprio. Um dos aspectos mais marcantes do falar pantaneiro está na transformação dos sons das consoantes /x/, /ch/ que passam a /tch/: O peixe é petche, Coxipó é Cotchipó, chuva é tchuva ....E por aí vai. Outra particularidade do linguajar de homens e mulheres do Pantanal é que não se forma o feminino dos adjetivos, usados sempre no masculino como se fossem advérbios. Uma mulher pode dizer: “Ah, dona! Hoje tô demais de fraco. Nem num sei o que me deu.” Ou, também dizer: “A rapadura ficou demais de bom.” A entonação da voz também diz muito. Alonga-se ou se diminui a intensidade da sílaba tônica do vocábulo, conferindo-lhe valor aumentativo ou diminutivo, respectivamente: “Mora looonge daqui.” “Tem um guri piquininnnho.” 64 Embora ainda muito presente, esse linguajar, que faz parte da riqueza cultural do homem e da mulher do Pantanal, está, aos poucos, desaparecendo com a expansão e influência dos meios de comunicação. MITOS , LENDA S E HISTÓRIA S: OS BICHOS D’ÁGUA A dinâmica das águas influencia diretamente os mitos e lendas pantaneiras. Na relação cotidiana com a paisagem a população estabelece uma percepção de mundo onde natureza, comunidade, cultura, mitos e lendas são percebidos como faces de um mesmo universo. Os chamados mitos d’água espalham-se e tornam-se reais no Pantanal. Há horários proibidos, há locais perigosos, espaços que pertencem aos mitos. Vamos conhecer alguns deles: MÃE D’ÁGUA É parente da sereia, só que não tem rabo de peixe! É sempre vista em cima de uma grande pedra, se penteando. Mas quando percebe que foi vista, mergulha de volta nas águas. Dia que pescador não pega peixe, é certo: Mãe d’água benzeu com seus longos cabelos loiros o anzol. Sua presença protetora dos peixes a torna um mito ecológico. NEGRINHO D’ÁGUA Em outras regiões do Brasil, é conhecido como Caboclo d’água. O Negrinho é o Saci-Pererê do rio: um moleque negro que brinca com os pescadores. Vira canoas e barcos, enrola e emaranha linhas e anzóis embaixo d’água. Dá susto nos tripulantes quando aparece na proa ou popa das canoas. São muitos, andam em bandos e, no fundo dos rios, há a cidade dos negrinhos d’água. De vez em quando, eles pegam um pescador e o levam para o fundo do rio e lhe dão surras! Quando o negrinho encanta uma pessoa, ela também se transforma num Negrinho d’água. MINHOCÃO OU MINHOCUÇU É um dos muitos bichos aquáticos. O Minhocão também “habita” as margens do rio São Francisco, em Minas Gerais. É um grande monstro em forma de serpente, que perambula pelos rios e águas do Pantanal virando canoas, devorando pescadores, levantando grandes ondas e desmoronando barrancos dos rios. Na cidade de Cáceres, dizem, não se pode reformar ou restaurar a igreja matriz porque o bicho encontra-se preso pelos fios de cabelo de Nossa Senhora. Se mexerem na igreja os fios de cabelo arrebentarão e o Minhocão estará solto. E salve-se quem puder! FUÇA-FUÇA Outro bicho de água, que fuça nas partes mais rasas do rio. Quando as areias sob a água se agitam, ele está por perto! Como reconhecê-lo? Tem cara de porco. MÃE DO OURO Uma bola de fogo que brota da água ou da terra. É indicação de que neste lugar há um enterro. Não é um funeral, enterro é o nome que se dá quando há dinheiro ou ouro enterrado por alguém que morreu. Por isso é que Mãe do Ouro só aparece em regiões de mineração. 65 BAÍA DE CHACORORÉ Baía no Pantanal Norte que, segundo os pantaneiros, é encantada. Fica brava, levantando grandes ondas. Isso acontece quando um pescador ou um banhista faz barulho. Passando pela baía, é melhor não falar alto, muito menos assobiar. Gritar? Nem pensar! Porque a Baía de Chacororé faz surgir seres encantados. BARCO FANTASMA Um barco que afundou na Baía de Chacororé no fim do século XIX. Todos que estavam a bordo – fiéis – morreram afogados. Até hoje o barco aparece nas águas de Chacororé: surge das águas, em meio às ondas e ao som do hino do Divino, misturado a vozes de conversas e risos. BAÍA DE SIÁ (CHÁ) MARIANA Existem duas histórias. Alguns dizem que a baía leva esse nome porque Mariana, uma bela morena, apaixonou-se por um usineiro da região. Eles se enamoraram, mas depois ela acabou abandonada. Cheia de desgosto, ela se jogou nas águas escuras da baía que leva o seu nome. Ao anoitecer, pode levar as pessoas enfeitiçadas para o fundo da baía. A outra história conta que Mariana era uma escrava do barão de Melgaço, que por ela se apaixonou. A esposa do barão descobriu e passou a perseguir a escrava. O barão, então, levou Mariana para um morro que circunda a baía que hoje tem seu nome. Morro onde Mariana viveu a salvo dos perigos do mundo, e onde nenhuma cheia alcança. MÚSICA E DANÇAS TÍPICAS A música é a arte que toca mais diretamente o lado emocional e simbólico das pessoas, por isso muita gente diz que a música reflete a alma de um povo. Há muito o que discutir sobre esse assunto, o que é indiscutível é que a música pantaneira é tão original quanto a natureza da região. A tendência melódica das canções e a tendência assimétrica dos estilos musicais do pantanal são características que representam perfeitamente a cultura pantaneira influenciada pelo espírito caboclo e pela proximidade com outras culturas (andina, amazônica, chaquenha etc.). Siriri - dança tradicional do Pantanal 66 VIOLA-DE-COCHO Instrumento musical cacterístico do Pantanal. De origem persa era, antigamente, feita de madeira do sarã, da manga ou da ximbuva. As cordas eram feitas com tripas de macaco. Hoje, a viola-de-cocho tem cordas de náilon ou fibras do tucum. A sonoridade foi se modificando com o tempo, mas ainda é forte expressão cultural dos caboclos. O SIRIRI O siriri é uma dança folclórica pantaneira. Para alguns pesquisadores, o nome siriri vem do siri, o crustáceo. Para outros, se refere ao siriri, nome do cupim na fase em que ele tem asas e voa em enxames atrás de luz. A dança do siriri acontece entre julho e fim de agosto. Há muitas variedades da dança: o siriri de roda, o siriri de galope e outros. Os instrumentos musicais usados são: violas-de-cocho, matraca, sanfona e percussões. Algumas músicas: Marrequinha da Lagoa, Tuiuiú do Pantaná, Marrequinha pega-peixe, Tuiuiú já-vem-tomá. CURURU Dança que é bailada tradicionalmente apenas pelos homens. Sua origem está numa dança dos índios bororós. Tem repentes e desafios, como a folia dos reis. É uma dança circular que percorre as ruas das cidades, com citações bíblicas de esperança e palavras de conforto espiritual. Mas também com alegria, risos e brincadeiras. A ciranda do cururu percorre as ruas e referenda a Igreja durante a festa do Carnaval. O embaixador do grupo solicita permissão aos residentes das casas para a entrada do grupo musical – que é sempre bem recebido com festa e muitos doces. Os “cururueiros” debocham, são irônicos e malandros. AS FE STA S E TRADIÇÕE S PANTANEIRA S As CAVALHADAS POCONIANAS (da cidade de Poconé) são uma mistura da herança da dança dos mouros com as touradas portuguesas. É um teatro alegórico em praça pública; uma dança mágica que dura oito horas, na qual se disputa o amor de uma jovem rainha. 67 A festa é pomposa. Todos os cavaleiros são ricamente trajados. O colorido das roupas e o branco das bandeiras olímpicas dão o clima da festa junto com a música. A única personagem feminina, a rainha cristã, é raptada pelos mouros e colocada no alto de um castelo. Mas se apaixona loucamente por um dos mouros. A festa evolui entre batalhas pela rainha – aproximadamente 25 – e negociações diplomáticas cantadas em ricos versos alexandrinos. Mas o amor acaba por triunfar nesta peleja medieval. As batalhas são diversas, representadas por diferentes jogos (argolas, tiro ao alvo, corridas e outras brincadeiras). Mas o mais importante, talvez, seja a corrida de resistência dos cavalos pantaneiros, que literalmente ficam na luta do corre-corre durante as oito horas da festa. O vencedor certamente ficará com a rainha. A PEREGRINAÇÃO DAS BANDEIRAS – É outra festa tradicional. Tem origem em antigos rituais rurais. É um momento de união e confraternização entre pessoas e grupos. A peregrinação das bandeiras, suas entradas e suas saídas vêm desde o tempo em que a região pantaneira representava um pastoreio coletivo, sem muros, cercas ou fronteiras de propriedades. As festas, assim realizadas, ampliavam-se em espaços contínuos, sons e calor humano. A bandeira representava esperança, bons fluidos e boa sorte. Era passada de mãos em mãos, com honra, pelos moradores e moradoras do Pantanal. Um símbolo de paz e solidariedade, na construção coletiva de um espaço cívico comum. Mas. esta tradição está se perdendo em função dos novos hábitos adquiridos pela modernidade, com ausência de diálogo entre as pessoas e a construção de cercas nas habitações e propriedades, potencializando uma mudança rápida nos valores individuais e na cultura local. Artesanato típico da região pantaneira. 68 AR TE S AN ATO A arte não está presente somente nas festas, mas expressa-se também através das tecelagens e das cerâmicas. Antigamente eram atividades utilitárias. Hoje, a produção destas peças tem finalidade decorativa e de preservação do patrimônio cultural. Limpo Grande e Capão Redondo são dois municípios que ainda mantêm a cultura da tecelagem. A técnica é indígena, provavelmente da nação Guaná. Além de vestuário, conta-se que servia também como forro do local para dormir ou como coberta. As armações e modelos de madeira são tipicamente indígenas e é uma atividade marcadamente feminina. Os desenhos da rede são em sistemas de cruzamentos dos fios verticais e horizontais, demonstrando a herança portuguesa mesclada com a indígena, com cores vermelhas e desenhos da lufada com peixes dourados. Além das redes, há caminhos de mesa e tapetes também ricamente tecidos. As cerâmicas têm força em São Gonçalo. Em Poconé, também encontramos a cerâmica branca, uma argila especial que se mantém clara mesmo depois de ir ao forno. Diferente da cerâmica típica de São Gonçalo, a de Poconé é pintada. CULINÁRIA PANTANEIRA O forte da culinária da região são os pratos à base de peixe – pintado, cachara, pacu ou piraputanga. Assado, cozido, frito ou até cru, como o sashimi japonês, a culinária pantaneira tem opções para todos os gostos. E tem muito mais. Uma quentinha maria-isabel, por exemplo, prato feito com Arroz maria-isabel e Mugica de Pintado. arroz e carne seca, acompanhado de farofa com banana, é uma iguaria surpreendente e também marca registrada da região pantaneira. Outra boa pedida é uma galinhada, preparada em panela de barro. Para beber, mais opções: vinhos de caju e jabuticaba são as grandes pedidas, ao lado dos mais variados licores de pequi, caju, jenipapo, lima ou laranja. Entre os doces, os mais característicos são: o furrundu, mamão ralado com rapadura; o doce de caju em calda , feito com a casca do caju; o doce de leite; o bolo de arroz doce; as compotas de manga ou o fransquito, um bolo de polvilho regado com queijo. 69 TRABALHANDO COM O TEMA COMO VIMOS NO PROGRAMA e nos textos anteriores deste capítulo, a cultura pantaneira está presente de diversas formas no nosso dia-a-dia, portanto necessita ser observada, percebida, entendida e estudada por diferentes ângulos, com a contribuição de muitos campos do conhecimento. Desta forma, poderemos ter compreensão da multiplicidade e da importância da cultura pantaneira em nossas vidas. Um bom ponto de partida para desenvolver um projeto, uma aula ou uma atividade é elaborar perguntas, buscando incentivar a curiosidade e a necessidade de saber e pesquisar mais. Para isso é necessário formular questões sobre a realidade. Perguntas que permitam o exercício da reflexão, da observação do mundo, do questionamento e formulação de novas perguntas. A relação entre os elementos da Natureza se aprende observando o meio; e esta descoberta permite a construção de novos valores e atitudes. “Uma capacidade importante a ser desenvolvida nos alunos é a de, ao observar determinado fenômeno, perceber nele relações e fluxos, no espaço e no tempo.” 1 Por exemplo, ao observar os ritmos e as danças pantaneiras apresentadas no vídeo, perguntar-se de onde vêm, por quem foram trazidas e como se transformaram. A música pantaneira tem origem indígena, incorporou sons e instrumentos trazidos pelos bandeirantes, os lamentos dos negros escravos africanos, o espanhol dos paraguaios, a gaita dos gaúchos. A música pantaneira possui características próprias? No programa vimos que até mesmo os materiais usados na construção da viola-de-cocho mudaram. As cordas eram feitas de tripas de macaco. E agora como são feitas? Quais são as madeiras utilizadas em sua confecção? Será que isso alterou o som do instrumento? Que elementos a música pantaneira absorveu de cada um dos povos que pas- 70 saram a fazer parte de sua cultura? E as danças? Será que as danças mostradas seguem as originais? Será que todos os passos são iguais? E as festas? E a culinária? Como um grupo cultural pode se adaptar a uma região diferente da sua original? Como podemos fazer uma receita sem os ingredientes com os quais ela foi criada? As adaptações levam tempo. História, cultura e economia são elementos indissociáveis e fundamentais para entendermos a vida e o povo de um lugar. Refletir sobre as conseqüências da interação entre as diversas culturas a longo e curto prazos. Correlacionar os assuntos do programa e, assim, perceber quão intricada é essa dinâmica, em que muitas culturas se relacionam. Esta prática tem como objetivo estimular a percepção dos inter-relacionamentos, criando espaços nos quais professores e alunos possam, como indivíduos, aprender através de experiências concretas. O processo de aprendizagem iniciado por essas perguntas fica mais rico quando pontuado por ações de registro e reflexão sobre o que se observou e descobriu. “Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder refleti-lo, pensá-lo e assim aprendê-lo, transformá-lo, construindo o conhecimento antes ignorado.”2 É importante, ao estimular o registro, incentivar a diversidade de formas de expressão e criar espaços para a socialização das descobertas, opiniões e propostas. Existem várias formas de se registrar utilizando diferentes linguagens (desenhos, maquetes, cartazes, redações, poemas, músicas...). As sugestões que levantaremos podem servir como provocadoras de idéias e caminhos, caberá a cada educador, junto com os alunos e a equipe de trabalho, construir e decidir sobre como conduzir projetos com o tema Cultura pantaneira. 1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC/SEF, 1997, vol. Meio Ambiente, p. 59. As propostas que se seguem têm como objetivo a concretização do processo de pesquisa, debates e 2 WEFFORT, M. F. "Importância e função elaboração de atividades, valorizando o fazer coletivo e a participação dos saberes comunitários. Elas do registro escrito, da reflexão". In: ganham um real valor quando incorporadas a um projeto de trabalho que estabeleça metas e objetivos Observação, registro e reflexão, ins- próprios. Na primeira proposta, apontamos algumas etapas possíveis de encadeamento do trabalho trumentos metodológicos. Espaço seguindo a metodologia apresentada na primeira parte do Caderno do Professor volume 1. O professor Pedagógico, São Paulo, 1996, p. 41. deve estar atento às necessidades e prioridades do grupo, podendo e devendo criar outras atividades (Série Seminários.) e caminhos. 71 E TA PA S A P Ó S A S SISTIR AO PRO GR A M A SARAU DE LENDAS Iniciar o trabalho perguntando aos alunos o que eles viram no programa, quais os temas abordados, suas dúvidas e colocações. O professor pode enriquecer o debate com questões tais como: Quem lembra da cena do programa em que o locutor explica que “um aspecto marcante da cultura pantaneira está nas lendas, nos mitos, nas histórias, nos ‘causos’ relacionados com a água – o símbolo mais forte da região. A lenda do Minhocão ou Minhocuçu é o mito mais forte da região”. Vamos tentar lembrar da história. (Escrever no quadro-negro, cartolina ou papel pardo as idéias dos alunos.) Qual era a forma do Minhocuçu? Onde ele vive? O que ele faz? Quem já ouviu falar no Saci? E no Lobisomem? Que outros seres fantásticos vocês conhecem? Quem lembra da cena do programa em que o menino pantaneiro fala sobre a lenda do Caboclo d’água? Como é a lenda? Quem já ouviu falar no Caboclo d’água? Por que o menino lembrou da lenda quando viu a ariranha? Por que será que o menino diz que ela é parecida com a lenda da Mãe d’água? Vocês conhecem outras lendas com personagens que vivem nas águas? Quem conhece outras histórias com personagens fantásticos? Será que em outros lugares do Brasil existem outras lendas? Como poderíamos conhecer estas lendas? Como estas lendas estão presentes em nossas vidas? Propor à turma que cada aluno entreviste familiares, amigos, pessoas idosas, trabalhadores da região, pedindo que contem histórias que tragam esses seres, fenômenos e situações de estranhamento. Pedir que tragam as lendas colhidas para a sala e as apresentem de maneira informal para os colegas. Cada aluno escolhe uma lenda e prepara uma performance para apresentar a história para a turma. Caso haja mais de um aluno falando sobre a mesma lenda, é importante valorizar as diferenças entre as versões. As performances podem variar em grau de complexidade, dependendo da disponibilidade e interesse do grupo. Os alunos podem escrever a história em uma folha de papel e ler para o grupo. Ensaiar e de- 72 corar o texto e recitá-lo. Escolher um dos personagens da história e elaborar um figurino para a apresentação. Escolher uma música para compor a trilha sonora. E diversos outros recursos a serem pensados pelo professor e alunos. Organizar um libreto com as histórias a serem apresentadas. O libreto funciona como um programa resumido da apresentação. Nele deve constar a ordem de apresentação dos alunos, os títulos da performance, um resumo das histórias, nome dos participantes, data e local da apresentação. Para fazer o libreto, a turma, junto com o professor, deverá explorar vários formatos para a montagem de livros artesanais, como juntar as páginas – através de perfurações, costura, colagem... Valorizar as várias possibilidades e reforçar a importância do acabamento. Os alunos podem fazer desenhos que ilustrem as histórias. Pensar na estética do libreto, nas cores das páginas, se cada página tem moldura e como fazê-la, se o fundo da página é liso, se o desenho aparece sozinho numa página ou junto ao texto etc. Fazer a capa do libreto. Que tipo de papel usar e que ilustração fazer para o tema geral: lendas. Organizar a apresentação do sarau. Definir o local da apresentação, o horário, convidados (entrevistados, outras turmas, funcionários da escola, familiares...). Para o desenvolvimento desta proposta precisamos trabalhar em conjunto com diferentes áreas do conhecimento e articular conceitos e conteúdos de diversas disciplinas. Escolhemos seguir um caminho, o das lendas. Cada grupo poderia desenvolver um dos outros aspectos ligados ao tema do programa. Lembrar que os produtos finais devem estar ligados ao tema. 73 OUTRA SUGESTÃO TROVADORE S Perguntar: Quem se lembra da cena do programa onde os meninos fazem uma trova a partir das pinturas que estão vendo? O menino do Pantanal propõe ao primo que eles façam uma trova, como de costume na região. “Eu digo uma frase e você diz outra.” A trova deles ficou assim: Pantanal, festa da bicharada. Menos quando tem boiada. Os homens também festejam o casamento até o dia amanhecer no porto de Corumbá. O rio é margeado de peixes. Terra de muita pesca. De paisagens com canoa. E coisas do chão. Refletir com eles quais são os elementos da cultura pantaneira. Os elementos da cultura pantaneira são apenas aqueles produzidos no Pantanal? Que elementos de outras regiões fazem parte da cultura pantaneira? Os hábitos pantaneiros são influenciados por hábitos de outras regiões? De que forma os objetos e hábitos de uma cultura são apropriados e transformados quando levados para outras regiões? O que acontece quando duas culturas se encontram? De que maneira uma cultura pode influenciar outra? Como os elementos naturais influenciam determinadas transformações culturais? Propor aos alunos que cada um traga um elemento que esteja relacionado à cultura pantaneira. Distribuir estes objetos no chão, dividir a turma em grupos e pedir para eles improvisarem uma trova. Depois os grupos poderão montar um recital para apresentar as trovas para os outros alunos. Durante os ensaios, dirigir a atenção para o ritmo comum, as pausas, a intenção emotiva etc. Os alunos podem definir o momento em que cada um falará seu verso e os momentos em que eles falarão juntos, sem quebrar a unidade da trova. 74 REFERÊNCIA S BIBLIOGRÁFIC A S CÂNDIDO, A. Os parceiros do rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos meios de vida. Rio de Janeiro, José Olympio, 1964. (Coleção Documentos Brasileiros, 118.) CORRÊA FILHO, V. História de Mato Grosso. Rio de Janeiro, INL, 1960. DA SILVA, C. J. Nota Prévia sobre o significado dos termos usados no Pantanal Mato-grossense. In: Revista da Universidade Federal de Mato Grosso ("Batume" e "Diquada"), Cuiabá, 1984, p. 30-36. MALDI, D. Culturas indígenas - Socioeconomia de Mato Grosso. In: Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai. Brasília, PNMA/MMA, 1997, v. II, t. VI, cap. 6, p. 385-476, MIGLIÁCIO, M. C. Relatório de viagem pelo rio Paraguai: Ação para preservação do patrimônio arqueo- lógico pantaneiro. Manuscrito da 18ª SR-II do IBPC, Cuiabá, mar. 1994. SATO, M. "Apaixonadamente pesquisadora em educação ambiental". In Anais do Encontro de Pesquisas em Educação Ambiental - Tendências E Perspectivas. Anais..., & Revista de Educação da Unesp. Rio Claro, Unesp / USP / UFSCar, 2001. _______. & PASSOS, L. A. Biorregionalismo: Identidade histórica e caminhos para a cidadania. In LAYARGUES, P. & CASTRO, R. (orgs.) Sociedade e Meio Ambiente: a construção da cidadania na educação ambiental. São Paulo, Cortez, 2001 (no prelo). _______. & SANTOS, J. E. Tendências nas pesquisas em educação ambiental. In: BARCELOS, V.; NOAL, F. & REIGOTA, M. (orgs.) Caminhos da Educação Ambiental no Brasil. Santa Cruz do Sul, Edunisc, 2001 (no prelo). _______. Educação Ambiental. São Carlos, PPG-ERN / UFSCar, 1995. SILVA, M. V. da. Mitos e verdades sobre a pesca no Pantanal sul mato-grossense. Campo Grande, FiplanMS, 1986. 75 ECONOMIA 10 Os bandeirantes chegaram atrás de índios. Encontraram ouro. Isso foi há quase trezentos anos. O ouro escasseou e a cana-de-açúcar tomou seu lugar. O gado se tornou a principal atividade econômica, posição que ocupa até hoje. Depois veio a pesca e, agora, o ecoturismo que, além de desenvolver o potencial econômico do Pantanal, ajuda a conservar o meio ambiente. SINOPSE DO VÍDEO Léo escreve um e-mail para os pais contando a aventura que viveu com o tio e o primo. Léo e Dito acordam cedo. Eles vão acompanhar, junto com tio João, uma comitiva. Léo carrega sua câmera para não perder nada do passeio. Eles vão aprendendo com os peões e os outros trabalhadores como funciona a comitiva e o papel de cada um nesta viagem: o cozinheiro, o ponteiro, o tocador de berrante, o tocador de relho, o peão de culatra. Nas fazendas, também ocorre a divisão de funções: o fazendeiro, o capataz, o peão, a cozinheira, o praieiro... Léo estranha que só haja homens na fazenda. Dito explica que o trabalho nas fazendas é duro demais para as mulheres. É hora da bóia! Tio João ensina a Léo como se deve comer em comitivas. João fala para a câmera de Léo sobre a economia da região, sobre os ciclos econômicos do Pantanal: o ciclo do ouro, do açúcar, da charqueada e o da pecuária, o mais importante de todos. Ele explica o “mal da vaca louca” e o gado orgânico. Os primos vivenciam todos os detalhes da comitiva: a roda de viola, o arroz-de-carreteiro, o churrasco pantaneiro e até os mosquitos. Léo reclama da falta de estradas no Pantanal. Tio João explica que no Pantanal não há estradas, há caminhos; e fala dos trens, dos garimpos, das jazidas. Exaustos, os meninos vão dormir. No dia seguinte eles comentam que adoraram a viagem, mas Léo, embora disfarce, ficou todo assado de tanto andar a cavalo. 78 CONTEÚDOS DO VÍDEO A com iti va e a fazenda O gado no Pa nta na l Os ciclos da econom ia pa nta nei ra A i mpor t â ncia da ca r ne or g â n ica O ga r i mpo e as jazidas de fer ro e ma nga n ê s I mpactos no meio a m biente EXPLORANDO OS CONTEÚDOS Tocador de berrante de uma comitiva. A história da economia do Pantanal pode ser dividida em quatro ciclos. Vamos conhecê-los? CICLO DO OURO Este ciclo teve início no século XVIII e durou mais de cem anos, com os achados de diversas jazidas, como as de Vila Bela, Poconé, Livramento e outras de menores reservas. As minas eram propriedades do Governo, que estabeleceu impostos rigorosos, dificultando a vida de MONÇÕES Eram as expedições todos; tudo vinha de São Paulo; os preços das mercadorias eram muito altos; o abastecimento era di- com negociantes e mineradores fícil por causa dos assaltos praticados pelos índios Payaguás contra as monções. Com poucas que navegavam pelo Pantanal. alternativas, o jeito era produzir os gêneros básicos. Plantaram e comercializaram milho, feijão, arroz e, especialmente, a cana-de-açúcar. Estas atividades contribuíram, de modo decisivo, para a fixação do homem à terra. CICLO DO AÇÚCAR A cultura canavieira às margens do rio Cuiabá teve início em meados do século XIX e se expandiu com facilidade por mais um século. O solo fértil e a facilidade de transporte pelos rios era o que os produtores precisavam. Implantaram-se usinas e eram produzidos açúcar, álcool e aguardente (cachaça). Os canaviais se estendiam por mais de 150 mil hectares. A produção de açúcar no Pantanal, no início do século XX, chegou a ultrapassar 1.500 toneladas/ano; a de álcool chegou a 200 mil litros/ano e a de aguardente a de 800 mil litros/ano. Mato Grosso se tornou o segundo maior produtor de açúcar do Brasil, superado apenas pelos estados nordestinos. A indústria do açúcar prosperou por mais de um século e contribuiu como elemento importante para a economia mato-grossense. Mas o avanço tecnológico na indústria do açúcar, em outros países, fez baixar seu preço no mercado mundial. Uma a uma, as usinas de açúcar do Pantanal foram fechando. CICLO DAS CHARQUEADAS A indústria da carne foi, inicialmente, desenvolvida como atividade de apoio às usinas de açúcar. Nas entressafras da cana, havia produção de carne seca e outros derivados. No fim do ciclo do açúcar esta atividade começou a crescer. Fazendas iniciaram o processo de industrialização da carne e preparo do couro através da salga e secagem. Por isso este período ficou conhecido como ciclo das charqueadas. Este ciclo teve início em l880 e se estendeu até por volta de 1970. CICLO DA PECUÁRIA Não é possível precisar a época certa da chegada do boi ao Pantanal. Não se sabe ao certo se vieram trazidos pelos espanhóis de Assunção ou pelos portugueses de São Vicente. 81 O que se sabe é que os bovinos se adaptaram facilmente às abundantes pastagens naturais do Pantanal, espalhando-se pela imensidão dos campos e se adaptando ao regime das águas. O ciclo da pecuária começou com os bandeirantes e continua até o presente como o mais importante elemento da economia do Pantanal. AS PROFISSÕES ENCONTRADAS NO PANTAN AL As profissões nas planícies pantaneiras sofreram muitas transformações, acompanhando seus ciclos econômicos. Assim, com o desaparecimento dos ciclos das charqueadas e das usinas de açúcar, muitas especialidades profissionais deixaram de existir. Eis aqui a situação de algumas profissões encontradas até hoje nestas regiões: NO GARIMPO Os garimpeiros de ouro – chamados de bateadores – ainda existem, mas são poucos. Ho- je a extração da mineração de ferro e manganês se faz com alta tecnologia. NAS FAZENDAS Os proprietários, muitas vezes, não moram mais nas fazendas. Isso acabou reduzindo a mão-de-obra local. Mas, para administrar uma grande fazenda, existem gerentes, capatazes e peões. Os praieiros são os trabalhadores das sedes, e ainda existem tratoristas, cozinheiros e roceiros (que cuidam das roças de subsistência). Existem também os autônomos, que trabalham por empreitada. NAS COMITIVAS Condutores, peões, cozinheiros e tropeiros levam os rebanhos pelo Pantanal. Ao pas- sar pelos rios, as comitivas são complementadas por canoeiros e pescadores. NO TURISMO Pescadores de iscas vivas, piloteiros (que conduzem os turistas em barcos pequenos para o local da pesca), proprietários e empregados de pousadas, guias de turismo. Festival Internacional de Pesca de Cáceres. 82 A ECONOMIA PANTANEIRA HO JE A PECUÁRIA A planície dos pantanais condiciona elementos naturais da maior importância para a criação extensiva de gado bovino. Ocupa uma área de 139.111km2, em território brasileiro, o equivalente à soma das superfícies da Bélgica, Dinamarca, Holanda e Suíça. Abriga mais de 4.500 estabelecimentos agropecuários, com absorção de mão-de-obra de mais de trinta mil pessoas das mais diversas especialidades. No período compreendido entre a fase de expansão e a atual ocorreu um acúmulo de experiência e cultura por parte dos fazendeiros, na luta pelo domínio dos campos e do gado. Toda tecnologia empírica nasceu do confronto com as dificuldades espelhadas pela natureza. Eles tiveram tempo para entender os fenômenos da natureza: o vaivém das águas; o sobe-e-desce das pastagens, ora afogadas pelas águas, ora murchadas pelas secas. Esse conhecimento alicerçou projetos importantes que, a cada espaço de tempo, introduziu novas estruturas nas fazendas, que possibilitaram melhorias consideráveis com rendimentos cada vez maiores na produção. Cercar as propriedades e dividi-las em áreas menores (invernadas) por meio de cercas de arame, colocação de reservatórios de água (piletas) nas invernadas, para o abastecimento do gado nos períodos de longa estiagem, de cochos para depósito de sal nos campos, a modernização dos currais divididos e equipados com bretes (corredor estreito, construído de tábuas grossas, com dispositivo de imobilização do animal permitindo a marcação de orelhas, marca com ferro, vacinação, castração, separação etc.), a introdução do trator, a melhoria do rebanho com o gado zebu (especialmente o nelore), pastagens cultivadas, foram modernizações que vieram facilitar, em muito, o trabalho da pecuária, reduzindo os custos e aumentando os lucros. No Pantanal, o fazendeiro necessita de três hectares e seiscentos metros quadrados para criar uma rês (3,6 ha/cabeça). A área total do Pantanal é de 14 milhões de hectares e, portanto, pode abrigar uma população de 3.800 mil bovinos, o que coloca a pecuária como principal atividade econômica. A MINERAÇÃO A atividade garimpeira faz parte da história dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul desde os primórdios do século XVIII, tendo sido um dos principais fatores de colonização de algumas regiões. Atualmente a atividade está em declínio, em conseqüência, principalmente, da elevação dos custos de exploração e das restrições impostas pela legislação. A mineração, na planície pantaneira, está praticamente restrita à coleta do ouro nos garimpos de Livramento, Várzea Grande e Poconé, sendo este último um dos maiores exemplos de devastação ambiental. Ainda com relação aos minerais, é importante fazer referência à indústria de cimento, instalada nesta mesma região há mais de 50 anos, com vantajoso aproveitamento das jazidas de calcário nela existentes. AGRICULTURA A agricultura, com exceção da cana-de-açúcar, nunca saiu do âmbito da subsistência. Mesmo com produção suficiente para o abastecimento de grandes fazendas, com populações de alguns milhares de habitantes, como a Fazenda Jacobina, nunca atingiu porte econômico de relevância. 83 Mesmo na atualidade a agricultura do Pantanal é inexpressiva em termos empresariais, estando reduzida a mais ou menos 5.000 hectares de cultura irrigada de arroz, nos municípios de Aquidauana e Miranda. AL E R ! EROSÃO Os eixos rodoviários se multiplicaram e a agricultura se intensificou a partir de 1970, nos pla- TA naltos do leste do Pantanal (bacia do alto Taquari). A ocupação desordenada e do solo ocorreu sem qualquer preocupação com o seu estudo, suas características, seu potencial de produção, enfim, sua conservação. Essa decisão de ocupação, desordenada e sem qualquer preocupação com manejos de pastagens e conservação do solo, deu origem a processos erosivos de grande monta, com comprometimento da sustentabilidade da atividade agropecuária da região da bacia do Taquari. O aumento assustador das descargas de sedimento no Pantanal aumentaram as áreas de alagação, com prejuízos para a economia regional. A ação do homem na implantação dos projetos agropecuários nas cabeceiras do rio Taquari e seus afluentes têm funcionado como fator modificador da constante de aceleração de sedimentação da planície pantaneira. A erosão dos planaltos da bacia do alto rio Paraguai, causada pela ocupação desordenada ou sem estudo prévio, sem pesquisas, é a responsável pelo assoreamento dos rios do Pantanal. A HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ – A HIDROVIA DO MERCOSUL Os rios foram as vias de acesso para se penetrar nesta região: de leste para oeste, pelos caminhos Tietê-Paraná-Paraguai, chegaram os bandeirantes, e de sul para norte – Prata-Paraná-Paraguai – chegaram os espanhóis. Depois da conquista e posse das terras auríferas de Cuiabá, do domínio dos pantanais após a fundação do Forte de Coimbra, o rio Paraguai se estabeleceu como principal via de comunicação e transporte para o abastecimento e escoamento da produção regional, iniciando uma economia de futuro promissor. Durante mais de 25 anos a hidrovia teve seu movimento de transporte reduzido a pequenas cargas de cimento (Cuiabá e Cáceres) e transporte de gado para o terminal ferroviário de Ladário. A partir da segunda metade dos anos 1970 ocorreu um amplo programa de desenvolviVista geral do porto de Cáceres. mento agrícola no Centro-Oeste do Brasil e oriente boliviano, com grande produção de 84 grãos, especialmente a soja. Também ocorreu uma retomada da produção mineral (ferro, manganês) nas minas do Urucum (Brasil) e Mutum (Bolívia). As negociações da compra de gás natural da Bolívia pelo Brasil vinham em marcha acelerada, o mesmo acontecendo com a criação do Mercosul. Todos estes acontecimentos despertaram o interesse de grandes empresas nos setores de mineração e transporte hidroviário. A hidrovia Paraguai-Paraná-Prata compreende os rios Paraguai e Paraná, desde Cáceres(MT/Brasil) até Nueva Palmira (Uruguai). Sua extensão é de 3.442km, permitindo tráfego ininterrupto durante quase todo o ano. – É situada numa área de 700.000km. – Envolve ao longo do seu traçado uma população de 25 milhões de habitantes. Tem estruturas portuárias no Brasil (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com cinco portos), Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Os principais produtos transportados pela hidrovia são: GRÃOS, decorrentes do desenvolvimento agrícola, nos últimos 25 anos, das regiões de Cáceres em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia, Paraná e Paraguai e MINÉRIOS DE FERRO E MANGANÊS . CUIDADOS COM A HIDROVIA AL Como qualquer outro tipo de estrada, a hidrovia necessita de cuidados constantes, tais como sinalização, balizamento, bóias de ancoragem e dragagem de manutenção nos pontos obstruídos E R ! TA por bancos de areia. Tudo isso, claro, procurando preservar o meio ambiente! Pôr-do-sol no rio Paraguai. 85 TRABALHANDO COM O TEMA COMO VIMOS NO PROGRAMA e nos textos anteriores deste capítulo, a economia está presente de diversas formas no nosso dia-a-dia, portanto necessita ser observada, percebida, entendida e estudada por diferentes ângulos, com a contribuição de muitos campos do conhecimento. Desta forma, poderemos ter compreensão da multiplicidade e da importância da economia em nossas vidas. Um bom ponto de partida para desenvolver um projeto, uma aula ou uma atividade é elaborar perguntas, buscando incentivar a curiosidade e a necessidade de saber e pesquisar mais. Para isso é necessário formular questões sobre a realidade. Perguntas que permitam o exercício da reflexão, da observação do mundo, do questionamento e formulação de novas perguntas. A relação entre os elementos da Natureza se aprende observando o meio; esta descoberta permite a construção de novos valores e atitudes. “Uma capacidade importante a ser desenvolvida nos alunos é a de, ao observar determinado fenômeno, perceber nele relações e fluxos, no espaço e no tempo.”1 Por exemplo, ao observar os ciclos econômicos do Pantanal, mencionados no vídeo, perguntar-se: como eles se relacionam? Os índios, primeiros habitantes do Pantanal, praticavam pesca e agricultura de subsistência, os bandeirantes chegaram em busca de escravos e riquezas minerais, os que ficaram daqueles tempos investiram na cana-de-açúcar, com o declínio do açúcar, teve início o ciclo das charqueadas, que foi substituído pela criação de gado. A pecuária é, hoje, o elemento mais importante da economia pantaneira. A economia pantaneira é reflexo de todos os ciclos do passado, que, aliado ao ecoturismo, forma hoje um novo ciclo. Como vimos, a economia pantaneira incorporou elementos das diversas culturas que chegaram ao Pantanal. O que determina o crescimento de uma atividade econômica? Quais os fatores que contribuíram para o desenvolvimento dos ciclos econômicos do Pantanal? Por que as atividades econômicas principais de cada ciclo foram substituídas? Quais os fatores que determinaram o declí- 86 nio de cada um dos ciclos? A pecuária da região do Pantanal já chegou a representar 90% de toda a carne consumida no Brasil, e hoje não passa de 6%. Que impacto isso representou para a região? Hoje, o ecoturismo é uma importante alternativa para a economia pantaneira. Muita gente depende dessa nova atividade econômica. Como está sendo a adaptação a essa atividade? O ecoturismo alia desenvolvimento econômico à preservação do meio ambiente, permitindo que a população local encontre opções para a sobrevivência. História, cultura e economia são elementos indissociáveis e fundamentais para entendermos a vida e o povo de um lugar. Refletir sobre as conseqüências da interação entre os diversos ciclos econômicos a longo e curto prazos. Correlacionar os assuntos do programa e, assim, perceber quão intricada é essa dinâmica, em que muitos ciclos e economias se relacionam. Esta prática tem como objetivo estimular a percepção dos inter-relacionamentos, criando espaços nos quais professores e alunos possam, como indivíduos, aprender através de experiências concretas. O processo de aprendizagem iniciado por essas perguntas fica mais rico quando pontuado por ações de registro e reflexão sobre o que se observou e descobriu. “Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder refleti-lo, pensá-lo e assim aprendê-lo, transformá-lo, construindo o conhecimento antes ignorado.”2 É importante, ao estimular o registro, incentivar a diversidade de formas de expressão e criar espaços para a socialização das descobertas, opiniões e propostas. Existem várias formas de se registrar utilizando diferentes linguagens (desenhos, maquetes, cartazes, redações, poemas, músicas...). As sugestões que levantaremos podem servir como provocadoras de idéias e caminhos, caberá a cada educador, junto com os alunos e a equipe de trabalho, construir e decidir sobre como conduzir projetos com o tema economia. 1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC/SEF, 1997, vol. Meio Ambiente, p. 59. As propostas que seguem têm como objetivo a concretização do processo de pesquisa, debates 2 WEFFORT, M. F. "Importância e função e elaboração de atividades, valorizando o fazer coletivo e a participação dos saberes comunitá- do registro escrito, da reflexão". In: rios. Elas ganham um real valor quando incorporadas a um projeto de trabalho que estabeleça Observação, registro e reflexão, ins- metas e objetivos próprios. Na primeira proposta, apontamos algumas etapas possíveis de enca- trumentos metodológicos. Espaço deamento do trabalho seguindo a metodologia apresentada na primeira parte do Caderno do Pedagógico, São Paulo, 1996, p. 41. Professor volume1. O professor deve estar atento às necessidades e prioridades do grupo, poden- (Série Seminários.) do e devendo criar outras atividades e caminhos. 87 E TA PA S A P Ó S A S SISTIR AO PRO GR A M A BAZAR C U LT U R A L INICIAR O TRABALHO PERGUNTANDO aos alunos o que eles viram no programa, quais os temas aborda- dos, suas dúvidas e colocações. O professor pode enriquecer o debate com questões tais como: A economia está presente na nossa vida? De que forma? (Escrever no quadro-negro, cartolina ou papel pardo as idéias dos alunos.) Quem se lembra da comitiva que apareceu no programa? Quais são os vários papéis nesta comitiva? E numa fazenda, como são divididos esses papéis? Quais as inter-relações nos papéis e responsabilidades assumidos pelas pessoas que freqüentam a sua escola? E na sua família? Que ofícios existiam na sua família ou na sua região e por que alguns destes ofícios não existem mais? E no trabalho de seus pais? Qual a função de seus pais no trabalho? Eles produzem algo em casa? Estes produtos são comercializados? Como é a feitura? Qual a matéria-prima utilizada? Para que são feitos? Para onde vão os produtos? Qual o retorno? Se for um produto produzido no trabalho, como este retorno é distribuído? Propor à turma a montagem de um bazar com várias barracas temáticas. Perguntar à turma o que é um bazar. Quem já participou de um bazar? Pedir que alguns alunos descrevam um bazar que tenham visitado ou participado como comerciante. Como são os comerciantes de um bazar? E os visitantes? A partir das pesquisas trazidas pelos alunos, discutir que temas podem ser escolhidos para as barracas do bazar, lembrando dos sistemas de papéis de uma fazenda, comitiva ou determinados ofícios etc. Outras possibilidades de temas são os ofícios de hoje e de ontem, os produtos produzidos pelos pais e familiares e a possibilidade de também os alunos fabricarem e venderem alguns produtos ensinados pelos pais – como doces, brinquedos, roupas, objetos artísticos etc. Os temas escolhidos poderão ser representados através de formas diversas como livros, álbuns fotográficos, produtos feitos pelos pais, produtos feitos pelos alunos etc. Dividir a turma em grupos que se responsabilizem pelas barracas temáticas. Estudar a estrutura do bazar. Como cada barraca será construída? Qual será a sua forma? Que materiais serão utilizados e como poderão utilizá-los? Neste momento, o aluno poderá convidar um parente ou amigo que trabalhe com madeira. Também podem pesquisar outros materiais, como caixas de papelão sobrepostas em uma estrutura rígida e firme etc. 88 A turma deverá pensar na plasticidade das barracas. Como enfeitá-las? Neste momento, alguns familiares podem ser convidados para ensinar à turma a fazer bandeirolas, flores de papel, lanternas etc. Se algum familiar for violeiro ou tocar algum outro instrumento, este poderá ser um momento para convidá-lo para realizar uma apresentação aos visitantes do bazar. Caso haja mais de um músico, os alunos deverão estruturar um horário para cada um ou ensaiar uma dupla, trio ou até mesmo um grupo musical de familiares de alunos. Para animar o bazar, os alunos poderão fazer uma dramatização curta que ilustre uma situação para alguns desses ofícios pesquisados em várias épocas. O grupo que se responsabilizar pela dramatização deverá pensar em situações curtas que ilustrem cada ofício tratado e as diferenças entre várias épocas. Depois de escrever os textos, estes deverão ser reescritos através de diálogos entre os personagens. Então os alunos dividirão os personagens e ensaiarão as cenas. É interessante pensar no figurino usado, na caracterização para que os alunos pareçam ter o tipo físico do personagem, na voz, na postura corporal, na relação com o espaço, em algum elemento cênico que seja necessário etc. Criar um convite para enviar aos amigos e familiares chamando para a grande festa que será realizada na escola através de um bazar cultural. A arrecadação feita com a venda dos produtos poderá ser utilizada para que seja atendida alguma necessidade dos alunos na escola. Para o desenvolvimento desta proposta precisamos trabalhar em conjunto com diferentes áreas do conhecimento e articular conceitos e conteúdos de diversas disciplinas. Escolhemos seguir um caminho, o da feitura de um bazar. Cada grupo poderia desenvolver um dos outros aspectos citados pelos alunos como resposta à primeira pergunta: “A economia está presente em nossa vida de que forma? Lembrar que os produtos finais devem estar ligados ao tema.” 89 OUTRA SUGESTÃO CAÇA AO TESOURO PERGUNTAR Quem lembra da cena do programa em que se fala que os bandeirantes foram para o Pan- tanal em busca de riquezas? Que riquezas eram estas? O que são riquezas? Quais as riquezas do Pantanal? É preciso entender que riquezas não são apenas os bens materiais, que têm valor de troca, como ouro, pedras preciosas... Mas, também, todos os bens naturais, a água pura de um rio, as aves, os peixes, o ar... Quais as suas riquezas? O que é importante e tem valor para você? O que é um tesouro? O que você guardaria como um tesouro? Propor à turma que cada aluno construa seu tesouro. Os alunos poderão desenhar ou construir miniaturas de objetos, animais, plantas e o que mais a imaginação desejar. É importante refletir com os alunos que existem qualidades e atitudes que também são tesouros; a amizade, o companheirismo, o cuidado, a atenção, a paz. Para representar estes valores, fazer cartões, ou escrever estas palavras e recortá-las. Depois de todos os tesouros construídos, pedir que cada aluno fale sobre suas riquezas. Fazer um grande baú para guardar o tesouro da turma. Dividir a turma em grupos e propor que eles brinquem de caça ao tesouro. Pedir que façam um mapa e escondam o tesouro. O outro grupo terá que achar o baú. Este mapa poderá ser feito utilizando os espaços comuns da escola. É importante que todos os alunos participem juntos, um ajudando o outro. [1] Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretária de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. Vol. Meio Ambiente, p. [2] WEFFORT, Madalena Freire. Importância e Função do Registro escrito, da Reflexão, in: Observação Registro Reflexão Instrumentos Metodológicos I. Espaço Pedagógico, Série seminários, São Paulo, 1996, p.41. 90 REFERÊNCIA S BIBLIOGRÁFIC A S Ab’Saber, A N., "O Pantanal mato-grossense e a Teoria dos Refúgios". Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, 50, número especial, tomo 2, 1988. ADESG. Hidrovia Paraguai_–Paraná: A Hidrovia do Mercosul, IV CEPE, Ciclo de Estudos de Política e Estratégia, Corumbá, 2001. AMARAL, M. dos R. "Pantanal ou planícies e pantanais mato-grossenses", Pub. Profeta do Pantanal, Edição Comemorativa dos 25 anos da Cidade de dom Bosco, Corumbá, 1988. AMARAL, M. dos R. "A população do Pantanal como fator de desenvolvimento", Assoamex, Palestra, 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira, 1991. COMASTRI FILHO, J. A. Pastagens cultivadas. Tecnologia e Informação para a Pecuária no Pantanal, Embrapa-Pantanal, 1997. CORRÊA, L. S. "Corumbá: um núcleo comercial na fronteira de Mato Grosso, de 1870-1920". Tese de mestrado, USP,1981. PÓVOAS, L. 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Embrapa Pantanal (inédito). 91 AGRADECIMENTOS PREFEITURAS E SECRETARIAS Secretaria de Turismo de Rio Verde de Mato Grosso do Sul Prefeitura Municipal de Poconé e Secretaria de Turismo e Meio Ambiente Prefeitura Municipal de Aquidauana e Secretaria Municipal de Turismo Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Cáceres Prefeitura Municipal de Ladário Gisella de Mello Carla Mendes CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS PÁG. 6, 62, 68, 69 – José Medeiros / Agência Phocus PÁG. 10, 11, 13, 80, 85 – Haroldo Palo Jr. PÁG. 14 – Joab Barbalho - Prefeitura Municipal de Cáceres e Secretaria de Meio Ambiente e Turismo PÁG. 15, 50, 58, 67, 76 – Marcos Bergamasco / Agência Phocus PÁG. 22 – EMBRATUR PÁG. 27, 28, 29, 30 – Marcelo de Paula PÁG. 49 – Gilberto Quintanilha PÁG. 51 – WALM Tecnologia Ambiental / Ambiental Engenharia e Consultoria Ltda. PÁG. 66, 82, 84 – Mário Friedländer – Prefeitura Municipal de Cáceres e Secretaria de Meio Ambiente e Turismo PÁG. 64 – Hugo Zecchin COORDENAÇÃO DE CONTEÚDO TAIAMÃ CONSULTORIA AMBIENTAL LTDA. – Marcia Panno CONSULTORIA ESPECIALIZADA Adriana Rodrigues MÚSICA Arnildo Pott FLORA Bernadete Lange RESERVA DA BIOSFERA Emiko de Resende PESCA Heitor Medeiros CULTURA Isabel Noemi EDUCAÇÃO Luiz Carlos Ribeiro CULTURA Maria de Fátima Costa HISTÓRIA Mário Cezar Silva Leite CULTURA Mário Dantas GEOGRAFIA / ÁGUAS Michèle Sato CULTURA Moisés Amaral ECONOMIA Rodney Mauro FAUNA Sérgio Salazar Salvati ECOTURISMO CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE Vilma Guimarães e Sílvia Finguerut COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Lucia Basto PROJETO EDITORIAL E METODOLOGIA DO CADERNO DO PROFESSOR Andréa Falcão Ricardo Pontes Daniel Buss CONSULTOR DE EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE Helena Jacobina CONSULTORA DE EDUCAÇÃO REDAÇÃO E EDIÇÃO DE MATERIAIS IMPRESSOS SALA PRODUÇÕES – Ronaldo Tapajós e Giovanna Hallack PRODUÇÃO E PESQUISA SALA PRODUÇÕES – Tetê Sá, Guida Oliveira e Nina Quirogaus REVISÃO FINAL Sonia Cardoso PROJETO GRÁFICO 19 DESIGN – Heloisa Faria e Hugo Rafael EDITORAÇÃO ELETRÔNICA 19 design – Hugo Rafael e Valéria Boelter FOTOLITO Rainer Fotolitos IMPRESSÃO Takano Editora Gráfica Este Caderno do Professor faz parte do kit do Projeto Tom do Pantanal, desenvolvido em conjunto por Furnas Centrais Elétricas, Instituto Antonio Carlos Jobim e Fundação Roberto Marinho. 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