Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 O TEMPO LIVRE, O ÓCIO E A ANIMAÇÃO Dra. Susana Francisco Animadora Sociocultural Resumo São vários os factores que influenciam directamente na organização e vivência do tempo e do dia-a-dia. Desde o trabalho laboral até às tarefas familiares, tudo isto faz parte da rotina diária e dos afazeres de cada indivíduo. Na sociedade em que vivemos, vão surgindo novos fenómenos, dando origem à necessidade de ocupação do tempo desocupado. Ao mesmo tempo, esta ocupação vai -se modificando e, crescem também, diferentes condições e novas modalidades de utilização do tempo livre. “A redução do horário de trabalho foi, desde há mais de cem anos, uma das principais reivindicações do movimento operário…” (Jorge Leite, 2004:128). Alguns autores acreditam que o tempo desocupado está ligado ao bem-estar do ser humano, à qualidade de vida e à liberdade de cada um. Discípulo de Friedmann, Jean Dumazedier é, um dos autores contemporâneos da “sociedade do ócio”. Ele, foi um dos estudiosos do tempo livre e, da forma como ele se poderá organizar. Ao longo dos tempos, iniciou-se a valorização deste tempo e, começou a ser visto de forma diferente e independente, através da atribuição de vantagens e benefícios diferentes do trabalho laboral. Em nosso entender, o tempo livre pode ser um tempo de desenvolvimento pessoal (e o ócio será a melhor forma para o conseguir), através da participação independente e autónoma de cada um em diversas acções (realizadas com prazer e satisfação). Estas podem propiciar uma experiência de participação, criação, diversão e aprendizagem. 1 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 Acreditamos que a Animação Sociocultural e o Animador têm um papel activo e bastante importante relativamente a esta temática, às actividades que se podem desenvolver e às vantagens que estas podem trazer para cada pessoa que nelas participe. Estas podem ser de vários tipos, entre as quais de descanso, de diversão, de desenvolvimento, e de conhecimento pessoal. Entendemos que o ócio é uma maneira de fazer e de estar durante um determinado tempo. Também defendemos que ele depende da atitude da pessoa que o realiza, ou seja, a pessoa deve estar motivada e concentrada no que está a fazer. Esta síntese baseada na temática do ócio e da animação, desponta numa altura em que é cada vez mais comum ouvir-se falar, ou até mesmo participar, em diversas actividades durante o tempo liberto das ocupações diárias. 1- Tempo livre No que respeita ao tempo livre, de uma maneira geral, tempo livre é todo o tempo liberto de ocupações profissionais remuneradas, ou seja, o oposto ao trabalho. Aquele tempo em que cada um está isento das ocupações diárias. Ao defini-lo, os vários autores fazem referência, essencialmente, a seis aspectos: Significados atribuídos ao termo “tempo livre” O período em que não cumprimos as necessidades e as obrigações quotidianas; A ocasião em que cada um faz o que quer; A parte do tempo, fora do trabalho laboral, destinada ao desenvolvimento de diversas actividades; O período que vem depois do trabalho; 2 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 Após o cumprimento de todas as obrigações, o tempo livre realiza-se quando se quer; A ocasião em que se procura ficar informado; Figura 1 – Aspectos mencionados aquando a definição do termo “tempo livre”. “Jean Dumazedier, sociólogo francês que, nos anos 60 e 70 do século XX, conferiu um grande impulso aos estudos sociológicos das actividades de lazer, definiu o tempo livre como aquela parcela de tempo liberta do trabalho produtivo, salientando que é basicamente um tempo "social", propício à criação de novas relações sociais e de novos valores” (Infopédia, em linha, 2007). Vários autores, ao definir tempo livre fazem referência à liberdade de acção durante esse período (ver figura 1), assim como à participação não obrigatória nas actividades que se desenvolvem. Eis Weber, citado por Quintas e Castaño(1998:104), que o define como “… aquel tiempo que queda tras realizar el trabajo heterónomo, sobre todo en la forma de trabajo asalariado, así como después de restar los tiempos necesarios para dormir, ir al trabajo, comer y cuidar el propio cuerpo”. Uma definição semelhante é adoptada por Edgar Morin (citado por AnderEgg) ao afirmar que,“…es un tiempo liberador en cuanto se participa plenamente en un proyecto de liberación; un tiempo creativo, que nos permite luchar contra las impresiones/ sensaciones múltiples de nuestra sociedad, es un tiempo para el ocio, en cuanto es una reacción al tiempo de trabajo, es un tiempo sin tiempo, es un tiempo de comunicación interpessoal, grupal y con el medio físico; es un tiempo de compromiso social que implica la participación voluntaria en actividades con dimensiones sociales e integradoras”( Ander-Egg, 2001: 34). É através deste que se manifesta o ócio. O tempo livre é o tempo em que não se trabalha e se podem realizar diversas ocupações voluntárias. Nesta perspectiva o tempo livre é uma das condições ou dos requisitos necessários ao ócio, pois acreditamos que é imprescindível que se tenha algum tempo liberto dos afazeres e da rotina diária. A atitude da pessoa perante este 3 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 também parece ser também muito importante, uma vez que, a pessoa deve ter uma postura completamente voluntária e motivada. Por fim, as actividades que se realizam devem proporcionar descanso, diversão e desenvolvimento. Tendo por base a mesma fonte“… el tiempo libré, o mejor todavía, el conjunto de actividades que se desarrollan en ese tiempo, se ha transformado en un «espacio» de la lucha ideológica contemporánea. Su función principal es la perpetuar los valores del sistema mediante la modelación de los modos de comprender la realidad y la formación del gusto estético”. Podemos então concluir que o dia se divide em dos tipos de tempo: • Tempo de trabalho laboral – Aquele tempo em que trabalhamos e cumprimos as nossas tarefas laborais; • Tempo para além do trabalho laboral – este divide-se em dois: O tempo disponibilizado para realizar as actividades que fazem parte do quotidiano, as tarefas domésticas; O tempo livre; 1.1- Enquadramento Histórico do Tempo Livre Em 1820, durante a revolução industrial, o tempo livre foi suprimido porque o tempo de trabalho aumentou e, as pessoas começaram a ficar cada vez mais com o seu tempo ocupado. Mais tarde, começou a sentir-se a necessidade da existência de algum tempo para além do trabalho. “A dicotomia convencional entre o "tempo de trabalho" e o "tempo livre" dominou, também, o pensamento científico. O primeiro trabalho neste domínio deve-se a Thorstein Veblen, economista e sociólogo americano, autor da obra The Theory of the Leisure Class (1899). Veblen analisa o modo como as elites sociais americanas, de finais do século XIX, usam o "tempo livre" como forma de distinção social. Para as classes sociais mais abastadas da 4 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 época, o trabalho conspurcava e a manifestação de um estatuto social elevado baseava-se num "consumo improdutivo do tempo", dedicado a actividades de lazer” (Infopédia, em linha, 2007). A partir de meados dos anos 50 começaram a sentir-se algumas mudanças. “Por una parte, el aumento del tiempo libré y la consecuente preocupación por llenarlo de manera creativa; por otro lado, la situación de desarraigo, de marginalidad y de exclusión social que se produce en las grandes ciudades” (Ander-Egg, 2001: 28). O tempo livre aumentou progressivamente, os homens começaram a fazer menos horas de trabalho, houve uma diminuição dos dias de trabalho por semana, menos semanas de trabalho por ano e menos anos de trabalho durante a vida de cada pessoa. Estes foram ocupados com algumas tarefas e rotinas cuja finalidade era o bem-estar prevalecer sobre o trabalho. “Ora o desejo deste tempo vazio, …, suscitou paradoxalmente um outro tempo de lazer e de distracção, por sua vez previsto, organizado, cheio, agitado, baseado em novos valores: tempo – mercadoria dos primeiros clubes de férias que só difere do tempo inicial da modernidade pela ausência do trabalho” (Corbin, s.d: 6-12). Após o final da II Guerra Mundial, começaram-se a divulgar as folgas remuneradas e as férias do trabalho. Então procurou-se guardar, verificar, edificar e fomentar o tempo livre. Tendo em conta o mesmo autor, em França, por exemplo, “… a questão do tempo livre manteve-se durante muito tempo associada às lutas proletárias”. Em 1981 surgiu o Ministério do Tempo livre e durou cerca de dois anos. Na América este era considerado como um tempo benéfico em que não se trabalhava e se podia fazer o que se queria. Começando a haver cada vez mais a ideia de que durante a semana existe o tempo de trabalho patronal e o tempo particular. 5 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 Segundo a mesma fonte, este tempo livre surgia como um tempo “apagado” e “… consagrado ao cumprimento do dever ritual. Religião, festas, divertimentos e restauração da força de trabalho continuavam estritamente ligados”. Esta ideia foi mudando e as pessoas começaram a não fazer nada neste tempo livre. 2- Ócio A palavra ócio deriva do latim otiu e significa “vagar; repouso; lazer; descanso…” (Gabinete de estudos e projectos de texto, 1995: 1044). Esta remetenos para uma ausência da rotina diária (das tarefas, obrigações familiares e pessoais) e do trabalho laboral. Orienta-nos para a disponibilidade pessoal, ou seja, o tempo em que a pessoa escolhe livremente as actividades que quer desenvolver, satisfazendo as suas necessidades pessoais, podendo optar por descansar, divertir-se ou aumentar os seus conhecimentos. Quanto à elaboração de uma única definição para designar esta palavra (após alguma pesquisa), parece-nos que surgiram algumas dificuldades. Desta forma, existem diversas definições que foram surgindo ao longo dos tempos. Algumas delas são muito diferentes entre si, relativamente a alguns aspectos. Mas, em geral, centram-se: Pareceres mencionados No tempo de ócio; Na atitude da pessoa durante este período; Nas actividades desenvolvidas; Figura 2 – Aspectos mencionados aquando a definição do termo “ócio”. Eis como o define Edgar Morin (Citado por Ander-Egg): “el ocio es una actividad, una inversión en nosotros mismos, en nuestra sensibilidad, en nuestro 6 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 afán de conocimiento, en nuestra búsqueda de perfección, en nuestra capacidad de disfrutar con lo que nos conmueve, nos cautiva o favorece nuestra realización” (Ander – Egg, 2001:34). O mesmo autor refere ainda que este é “…un valor que, adecuadamente desarrollado, posibilita la construcción de una personalidad fuerte y equilibrada, favoreciendo valores como la creatividad, la imaginación, la armonía psico-física, la autonomía, la capacidad de cooperación, la responsabilidad y la aceptación de uno mismo o de una misma, entre otros” (Ander – Egg, 2001:34). Sintetizando, as várias definições, parece-nos que elas têm várias características comuns, tais como: • O subjectivismo (estamos perante o ócio quando se vive alguma liberdade. Este depende da cada um de nós e não dos outros); • A autonomia (o tempo livre das pessoas acontece em tempo diferente); No ócio não nos é imposto nada. A pessoa deve ter uma atitude livre, criativa e satisfatória. Este requer uma decisão autónoma e vive-se através das actividades que se realizam. Acreditamos que ele nos pode trazer vantagens a quatro níveis: a nível biológico (repouso e diminuição do cansaço), nível psicológico, a nível espiritual (estimular a criatividade e a imaginação) e a nível social (participação na vida em sociedade). Nesta perspectiva este pode trazer vantagens no desenvolvimento humano e na sua qualidade de vida. A WLRA (Associação Mundial de Lazer e Recreação), citada por Cecilia Jaña Monsalve (2007:29), destaca oito pontos alusivos aos ócio e aos benefícios que este trás para a qualidade de vida. 1. El ocio se vincula a un ámbito de la experiencia humana como es el elegir libremente, el disfrute y el placer. 2. El ocio es un recurso importante para el desarrollo personal, social y económico y como se he mencionado anteriormente, es un aspecto 7 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 fundamental de la calidad de vida. Además al estar vinculado / relacionado con las industrias culturales, genera empleos, divisas e servicios. 3. El ocio potencia una buena salud general y bienestar, al ofrecer oportunidades que permiten a individuos y grupos elegir actividades y experiencias que se relacionen a sus intereses y experiencias… 4. El ocio es un derecho humano básico como la educación, el trabajo, y la salud y ningún ser humano debería ser privado de ello por razones tales como sexo, religión, etc. 5. Para poder desarrollar el ocio, se tiene que organizar las condiciones básicas de vida tales como alimentación, seguridad., etc. (…). 6. Para obtener un ocio de calidad, no puede desvincularse de otros ámbitos tales como bienestar físico, mental o social. 7. Para satisfacer el aumento de la insatisfacción, estrés, aburrimiento (…), potenciar el ocio permitiría optimizar las políticas públicas tanto de salud como cultural y educativa, pues disminuirían las tasas de problemas de salud mental, obesidad, seguridad ciudadana, entre otras. 8. Las sociedades contemporáneas están transformándose profundamente a nivel económico y social, lo que está generando cambios sustantivos en cantidad / calidad tanto en la demanda y oferta de bienes y servicios de ocio, tales como turismo cultural, industrias culturales, etc. Josué Llull (1987:428) atribuiu ao ócio as seguintes características: • Antitesis del trabajo, cuando este se limita solamente a su función económica; oposición que también puede convertirse en objeto de satisfacción para el ser humano cuando este trabajo le proporciona satisfacción y un sentido de realización personal. • Expectativa de ilusión y recuerdo agradable de la actividad ociosa. • Percepción psicológica de libertad. • Requiere un mínimo de obligaciones sociales. • Vinculado a los valores culturales de la sociedad. 8 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 • Posee una importância que va desde lo frívolo a lo transcendente. • La mayoria de las veces el ocio es caracterizado por una actividad de tipo lúdico. 2.2- Enquadramento Histórico do ócio Para ROVIRA e TRILLA (1987:20) este não é uma coisa recente, uma vez que está presente na história humana. Sendo assim: “… de una manera o de otra todas las sociedades han conocido el tiempo libré”. Conforme as sociedades foram evoluindo ele também foi alvo de alterações. A sua finalidade está em si próprio, ou seja, no direito de realizar a actividade que se quer, de livre vontade e, de realização livre. A pessoa deve de desfrutar dela e durante a sua realização deve de satisfazer as suas necessidades pessoais. Na Grécia antiga dava-se mais valor ao ócio do que ao trabalho, principalmente entre os atenienses, já que os espartanos eram guerreiros. “O cotidiano do povo grego acontecia fundamentalmente nos ginásios esportivos, nas termas, no fórum ou outros lugares de reunião. Interessante notar que a palavra ócio, em grego, é skole; de onde deriva a palavra escola em português, que em latim é schola e em castelhano, escuela. Quer dizer, os nomes dados aos lugares destinados à educação significavam ócio para os gregos. Assim, eles consideravam o ócio como algo a ser alcançado e desfrutado (Portal dos Professores de EJA, em linha, 2007). Em Roma inicialmente, este era sinónimo de desocupação e de diversão. Na Idade Média, as pessoas eram muito atarefadas. Então, procuravam-no como descanso e diversão no intervalo de suas diversas actividades. 2.3- Actividades de ócio As actividades de ócio são aquelas que o indivíduo desfruta do seu tempo livre e pode aumentar os seus conhecimentos pessoais. Elas dependem: 9 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 • Do tempo social em que se realizam; • Da atitude da pessoa enquanto as está a desenvolver; No que respeita à sua diversidade, os vários autores dividem-nas em diferentes categorias. Se Grushin as divide em dez, já Dumazedier divide-as em quatro grandes grupos: Autores Grushin – citado por Ander-Egg (2001:32) Dumazedier – citado por Rovira e Trilla (1987: 56) 1. La labor creadora activa (incluída la 1) Actividades com uma componente social). física (passeios, excursões, …). 2. El estudio, la capacitación individual. 2) Actividades práticas (bricolagem, 3. El consumo cultural (o espiritual) de jardinagem, trabalhos manuais, …). carácter individual (lectura de periódicos, 3) Actividades culturais (leitura, teatro, revistas, libros, audición de radio, música, …). televisión, etc.). 4) Actividades de carácter social ou 4. El consumo cultural (o espiritual) con colectivo (realizadas em associações e carácter de espectáculo público (cine, nas praças, …). teatro, conciertos, espectáculos deportivos, etc.). 5. Ejercicios físicos (deportes, excursiones, paseos). 6. Ocupaciones de aficionado tipo hobby. 7. Entretenimientos, juegos con los hijos. 8. Encuentros con amigos (en casa, en el café, en el restaurante, en el baile, etc.). 9. Descanso pasivo (no hacer nada). 10. Intervenciones del tiempo que poden calificarse, pese a cierta relatividad de los criterios, como fenómenos anticultura les (abuso alcohol, etc.) Figura 3 – Tipos de actividades realizadas durante o ócio. Pensamos que qualquer actividade pode ser considerada de ócio, se esta estiver fora das obrigações da pessoa e se ela desfrutar dela. Relativamente ao tempo dedicado às actividades associadas à religião e á política, há autores que defendem que este não é de ócio. Porém outros têm opiniões diferentes. 10 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 2.4- Acções realizadas No dia 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia das Nações Unidas criou o artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este faz referência ao direito ao tempo livre, à duração do trabalho e às férias pagas para toda a gente. Actualmente, o artigo em questão ainda faz parte da actual Declaração. A WLRA (Associação Mundial de Lazer e Recreação) realizou cinco Congressos Mundiais alusivos ao lazer. O primeiro congresso foi realizado na sede da WLRA (em Maio de 1988), o segundo teve lugar na Austrália (Julho de 1991), o terceiro na Índia (em Dezembro de 1993), O quarto foi efectuado no País de Gales (em Julho de 1996) e o quinto congresso realizou-se em São Paulo (em Outubro de 1998). Neste último congresso, estiveram presentes especialistas de diversas áreas. Os efeitos da globalização e a questão das actividades a realizar durante o tempo livre, formaram os pontos principais a debater. Esta mesma Associação, através da Carta Internacional para a Educação do Ócio (aprovada em 1993), procurou sensibilizar as pessoas, no sentido de promover e desenvolver diversas actividades que deveriam ser acessíveis a todos os sectores da população, para que o tempo livre se transformasse num tempo de ócio. Relativamente ao horário de trabalho em Portugal, “antes da I Republica nenhum diploma legal regulava a duração do trabalho…” (Leite, 2004:130). Só após este período é que se começou a fazer referência à necessidade de tempo livre e aos seus benefícios. Actualmente, continua a fazer-se referência, na Constituição Portuguesa, ao horário de trabalho. Pode verificar-se a referência às necessidades de ordem familiar, social e cultural. Faz-se referência a uma necessidade “… da limitação do tempo de trabalho para protecção do equilíbrio físio – psíquico do trabalhador, do direito ao repouso e aos lazeres e do direito à auto – disponibilidade” (Leite, 2004:130). 11 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 3 - A animação, o tempo livre e o ócio ” … Ao olharmos para o tempo em que vivemos, constatamos que os ventos não são favoráveis à concepção do ócio como factor de desenvolvimento humano, embora a retórica dos discursos enalteça as boas práticas da educação/animação. É que a realidade é distinta: cultura da indiferença, desesperança, aparência, ostentação, competitividade, consumo, guerra e violência. Infelizmente nos tempos que correm, imperam, ainda, os interesses do poder económico, as preferências em patrocinar a cultura do betão, do asfalto e da difusão cultural, sem se criarem condições para o exercício da cidadania activa? Cultura de participação e democratização cultural? Condições imprescindíveis para uma verdadeira animação dos tempos livres. Em nossa opinião, fica claro que a animação do ócio deve centrar-se na educação/formação, diversão e descanso, antípodas do consumismo, aborrecimento e da ociosidade, lutando com valentia cívica mais pelo ser do que pelo ter” (A Página da Educação, em linha, 2007). Acreditamos que todas as pessoas precisam de: • Desfrutar de certas formas de recreio, • Conhecer jogos de interior e de ar livre, • Usufruir da aquisição de certos hábitos culturais, • Manter num ponto elevado a sua auto – estima, • Adquirir afectos através das quais se sintam realizados, • Realizar actividades de ócio. “A Animação Sociocultural, também designada Animação Comunitária, emerge historicamente a partir da conjugação de vários factores: o aumento do tempo livre e a preocupação com o preenchimento criativo do lazer e do ócio; a necessidade de educação e de formação permanente ao longo da vida, numa sociedade crescentemente baseada no domínio do conhecimento e da inovação 12 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 técnica; o aumento do fosso cultural entre as classes sociais como consequência das diferentes condições de acesso aos bens culturais; o surgimento das indústrias culturais, através de um processo de fabrico, reprodução, difusão e venda em grande escala de bens e serviços” (Infopédia, em linha, 2007. Consideramos que o tempo desocupado deve ser cada vez mais importante na vida das crianças, dos jovens e dos adultos. Este pode ser aproveitado da melhor forma e na nossa opinião, nós Animadores podemos, neste âmbito, dar o nosso contributo. Somos da opinião que não chega querer participar. É preciso ter tempo para isso e saber o que fazer com ele, ou seja, deixar que este seja vazio e sem sentido, para o transformar em algo benéfico e proveitoso para a pessoa. Entendemos que o Animador poderá promover mais a participação nos projectos que desenvolve. “Para a animação sócio-cultural, é de suma importância criar os âmbitos apropriados e as propostas adequadas para que o ócio/consumo/passivo (de ordinário unido à comercialização do mesmo), seja substituído por um ócio/cultura/actividade” (Ander – Egg, 1999: 55). Através da proposta e da realização de diversas actividades, dirigidas aos diversos grupos etários, acreditamos que se pode melhorar a vida em sociedade e a sua qualidade. Também se poderão verificar benefícios a nível individual, tais como: o desenvolvimento da personalidade, a auto – estima, a autoconfiança e a promoção da participação voluntária nas diferentes actividades. Consideramos importante que cada um ocupe o seu tempo de uma maneira criativa, participando na vida associativa e da própria comunidade. São várias as acções que se podem realizar (por exemplo, a criação de oficinas e de organizações que ofereçam instrumentos para viabilizar o conceito de tempo livre no dia-a-dia de cada um), facultando aos seus destinatários a sua produção cultural e a sua maior contribuição na sociedade em que está inserido. “Entendemos que o futuro da Animação Sociocultural exige responder aos inúmeros desafios da desertificação rural, grande densidade urbana, focos de marginalidade, grupos com necessidades educativas especiais, animação do tempo livre e do tempo de ócio de crianças, jovens, adultos, terceira idade; uma 13 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 animação que responda, ainda, à articulação dos espaços educativos formais, não formais e informais. Uma Animação Sociocultural que leve o ser humano a libertarse e a descobrir o seu próprio caminho e sem ninguém lhe dizer vem por aqui” (Iberoamericana, em linha, 2007). Acreditamos que esta pode ser um momento privilegiado “de acesso à cultura e à educação, entre os momentos sociais de dificuldades e os momentos sociais empenhados, uma actividad entre produção e obrigações sociais” (AUGUSTIN, 2000: 10). Ficam estas breves reflexões e algumas sugestões para que cada um de nós possa continuar a reflectir, exprimir e a agir em proveito do ócio, do tempo livre e da Animação Sociocultural. Bibliografia ANDER-EGG, E. (2001), Metodología e Práctica de la Animación Sociocultural, Madrid: Editorial CCS. ANDER-EGG, E. (1999), O Léxico do Animador, Amarante: Edições ANASC. AUGUSTIN, J. - P. & GILLET, J., Cl (2000), L’animation professionnelle. Histoire, acteurs, enjeux, colecção Débats Jeunesses, Paris: Editions Harmattan. CORBIN, A. (s.d), História dos tempos livres. O advento do lazer, Lisboa: Editorial Teorema. GABINETE DE ESTUDOS E PROJECTOS DE TEXTO; TEXTO EDITORA (1995) - Dicionário Universal da Língua Portuguesa. Lisboa: Texto Editora. LEITE, J. (2004), Direito do trabalho Vol. II, Coimbra: Serviços de Acção Social da U.C., Serviço de Textos. 14 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 LLUL P. J. (1999), Teoría y práctica de la educación en el tiempo libre, Madrid: Editorial CCS. LOPES, M. S. (2006), Animação Sociocultural em Portugal, Chaves: Editora Intervenção. MONSALVE, J. C. (2007), Animación sociocultural y el rescate del ocio perdido, Serie Bibliotecología y Gestión de Información nº 24, pp7- 38. QUINTAS S. F & CASTAÑO Mª. A. S. (1998), Animación Sociocultural. Nuevos enfoques, Salamanca: Amarú Editores. ROVIRA, J M. ª P & TRILLA, J. (1987) La Pedagogia del ócio, (s. l.) Editorial Alertes. Páginas da Internet A educação e a animação dos tempos livres – A Página da Educação [em linha]. [Consult. 2007- 12- 22]. Disponível em http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=3201. A história do lazer – Portal dos Professores de EJA [em linha]. Consult. 2007-1222]. Disponível em http://www.webartigos.com/articles/2231/1/Lazer-e- Trabalho/Pagina1.html. Animação Sociocultural – Infopédia [Em linha]. [Consult. 2007-12-22]. Disponível em www: <URL: http://www.infopedia.pt/$animacao-sociocultural>. Animador Sociocultural – Revista Iberoamericana [em linha]. N.1 vol.1, (out.2006/fev.2007). [Consult. 2006-11-25]. Disponível em http://www.rianimacion.org/. 15 http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com Revista “Práticas de Animação” Ano 2 – Número 1, Outubro de 2008 5º Congresso do Lazer [em linha]. Consult. 2007-12-22]. Disponível em http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/congressolazer/leisurecongress/Portugues/ Frame_Prog.htm Tempos livres – Infopédia [Em linha]. 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