EDUCAÇÃO DE ADULTOS E ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL: UM PERCURSO CRUZADO? OS TESTEMUNHOS DOS ANIMADORES SOCIOCULTURAIS RECÉM-FORMADOS Ana Maria SIMÕES I [email protected] INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA RESUMO Esta comunicação enquadra-se num projeto de investigação conducente à tese de Doutoramento da autora, no âmbito do Doutoramento em Educação, especialidade em Formação de Adultos, que tem como principal objetivo compreender o percurso de formação de alunos finalistas da licenciatura em Animação Sociocultural, de uma escola superior de educação pública, ao longo da sua formação inicial, na escola e nos contextos profissionais (estágios). Assim, esta comunicação pretende apresentar os testemunhos de um grupo de animadores socioculturais recém-formados numa escola superior de educação pública portuguesa, acerca das suas conceções e práticas relativas à Educação de Adultos e à Animação Sociocultural e de que forma estes dois campos do saber se cruzam (ou não). O quadro teórico de referência centra-se numa revisão de literatura sobre a Educação de Adultos, sobre a Animação Sociocultural, sobre o perfil dos animadores socioculturais, sobre a aprendizagem e formação experienciais e, por fim, sobre a identidade profissional. A metodologia utilizada, de natureza qualitativa, inclui a realização de entrevistas semi-estruturadas, aprofundadas e de explicitação a um grupo de animadores socioculturais recém-formados numa escola superior de educação pública e a subsequente análise de conteúdo. A análise destes resultados pretende promover a discussão pública e entre pares sobre a pertinência das políticas e das lógicas de ação da Educação de Jovens e Adultos, sobre a Animação Sociocultural enquanto um campo do saber e de ação fundamentais nas sociedades atuais e, também, sobre as conceções e as práticas que os animadores socioculturais recém-formados têm sobre a sua atividade profissional. PALAVRAS-CHAVE: educação de adultos, animação sociocultural, animadores socioculturais. 682 INTRODUÇÃO A Educação de Adultos (em Portugal e na maioria dos países europeus, a expressão de referência é “Educação e Formação de Adultos – EFA”, enquanto que no Brasil se utiliza a expressão “Educação de Jovens e Adultos – EJA”) tem sido uma das temáticas mais discutidas atualmente no mundo. Na Europa, a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) tem sido uma das organizações que tem contribuído, de forma marcante, para as questões relacionadas com a EFA., através da realização de diversas conferências internacionais, subordinadas a esta temática. A Agenda Europeia para a Educação de Adultos (2012-2014) afirma que esta deve ser “encarada como um contributo significativo para se alcançar os objetivos da Estratégia Europa 2020” (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, s/d) e define os seguintes objetivos para a Educação de Adultos em Portugal: “conciliar as temáticas da educação, da competitividade e da inclusão social; aumentar a participação dos adultos nas atividades de aprendizagem ao longo da vida; envolver uma maior diversidade de parceiros e a sociedade civil na concretização de respostas de qualificação ajustadas a todas as idades; valorizar a partilha e a troca de saberes e de experiências intergeracionais e estimular atitudes que promovam o envelhecimento ativo e a inclusão social “ (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, s/d). Na perspetiva de Osorio (2004: 238), a Animação Sociocultural (ASC), esteve sempre relacionada com “os âmbitos da educação permanente, a educação de adultos, a educação não formal, a educação popular, a educação para o ócio e para os tempos livres, a difusão cultural, a gestão cultural, a promoção social e o desenvolvimento comunitário”. Este estudo tem como principal objetivo analisar os testemunhos de um grupo de animadores socioculturais recém-formados numa escola superior de educação pública portuguesa acerca das suas conceções e práticas relativas à Educação de Adultos (EA) e à Animação Sociocultural (ASC) e de que forma estes dois campos do saber se cruzam (ou não). 1. EDUCAÇÃO DE ADULTOS: BREVE ABORDAGEM A Educação/Formação de Adultos é uma expressão relativamente recente se considerarmos a história da Educação de Adultos e da Educação Permanente. No entanto e de acordo com Canário (2008: 11), “sempre existiu educação de adultos.” Foi durante o século XIX e o início do século XX que este conceito nasceu e emergiu, através das iniciativas do Estado para a alfabetização dos adultos iletrados, associadas à formação profissional. Os movimentos populares e as iniciativas políticas sindicais e associativas levadas a cabo investiram na educação de adultos como um processo social de movimento de massas, aliada à educação popular. Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Educação de Adultos atinge o seu apogeu, ao ser encarada como uma educação cívica, promotora da democracia e de uma cultura comum, em que a esperança e o sentimento de pertença a uma comunidade imperam sobre uma Europa devastada pela Guerra. A partir dos anos sessenta e depois da Conferência Internacional de Educação de Adultos que decorreu em Montreal, no Canadá, esta tornou-se um factor de desenvolvimento económico e social, nacional e internacional. 683 Segundo Canário (2008: 13-14), a Educação de Adultos passa, a partir dos anos sessenta, a abranger um território de “práticas sociais” a que correspondem a Alfabetização, a Formação Profissional, a Animação Sociocultural e o Desenvolvimento Local. A Alfabetização assume-se como uma “oferta educativa de segunda oportunidade dirigida a adultos” (14) e que assume diferentes formas, de acordo com os contextos históricos, sociais e institucionais em que se insere. A Formação Profissional, enquanto formação contínua, orienta-se para a qualificação e requalificação da mão-de-obra, numa perspectiva de um acelerado desenvolvimento social e económico. O Desenvolvimento Local é encarado como uma prática social, pois que pretende articular a educação de adultos com a participação directa das populações implicadas no processo e pertencentes a uma determinada comunidade. Por fim, a Animação Sociocultural, enquanto actividade educativa e de resposta às mudanças sociais entretanto ocorridas, constitui-se uma forma de intervenção estratégica no que directamente se relaciona com o desenvolvimento social, cultural e local dos diferentes países centrais e semiperiféricos da Europa e do mundo. Ainda segundo o mesmo autor (Canário, 2008: 87-88), emerge, no início dos anos setenta, o movimento da Educação Permanente, encarado como “um processo contínuo que, desde o nascimento à morte se confunde com a existência e a construção da pessoa.” A Educação Permanente assume o papel de reorganização do sistema educativo, em que cada pessoa é considerada, ela própria, o sujeito da sua formação, assente nos pressupostos da continuidade, da diversidade e da globalidade. Contudo, a redução da Educação Permanente ao período pósescolar conduziu esta modalidade de educação ao sinónimo de Educação de Adultos. Lima (2008), afirma que a Educação de Adultos em Portugal, observada a partir da revolução de 1974, “revela-se um campo profundamente marcado por políticas educativas descontínuas” (31), pelo que urge mudar aquelas políticas educativas vigentes e investir na educação popular, na educação comunitária e no desenvolvimento local, como sinónimos de “compromisso social e de democratização das próprias políticas educativas” (Lima, 2008: 33). Mas, como refere o autor, a questão (…) reside em saber se a educação popular e de base de adultos, nas suas conexões privilegiadas com a educação comunitária, a educação cívica e para a cidadania democrática, com o desenvolvimento local, ainda mantém um potencial educativo e formativo reconhecido pelas políticas públicas e pelos grandes actores institucionais. (Lima, 2008:51) Sobre esta questão, Lima (2008), refere que as organizações de educação popular têm vindo a sofrer alterações, correndo o risco da sua origem e do seu significado poderem vir a ser extintos. Para Melo (2012: 490), a situação atual da Educação/Formação de Adultos pode caracterizarse por “ (…) referência a três vectores: Educação de Adultos, Cidadania e Trabalho”. O conceito de educação de Adultos está diretamente relacionado com (…) “ a formação de um cidadão culto e informado, (…) a formação da pessoa por via de mais conhecimento, de acesso à cultura, de valorização dos princípios da democracia e de uma vivência democrática” (Melo, 2012: 491). No que respeita ao vetor da Cidadania, o autor defende que esta tem sido 684 encarada como a “ (…) intervenção na sociedade com o fim de a transformar, de a melhorar” (491), fazendo referência à educação popular como uma das iniciativas exemplificativas de Educação de Adultos. Quanto ao vetor do Trabalho, este surge na sequência dos processos de industrialização e urbanização e da necessidade de se assegurar uma mão-de-obra mais qualificada, com maior escolaridade e com mais conhecimentos técnicos, em que os próprios trabalhadores procuram uma formação profissional especializada (Melo, 2012). Loureiro, Cristovão e Caria (2013) abordam o conhecimento dos profissionais de educação de adultos em Portugal e fazem referência a alguns estudos sobre estes profissionais: Most studies about adult education workers (…) have been made around such issues as the profession, professionalization procedures and professional development. The debate about the existence (or not) of adult education professionals and the necessary requirements to be a professional (academic degree, basic theoretical competencies, codes of ethics, regulations to define and access the profession, among other issues), has been enriched by different authors in the last two or three decades (Loureiro, Cristovão & Caria, 2013: 66). 1.1. ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL EM PORTUGAL: PERPSPETIVA HISTÓRICA A história da ASC em Portugal é, segundo Lopes (2008) uma história que nos remete para os anos sessenta. O autor considera que a ASC “é uma forma de intervenção relativamente nova. A designação é originária dos países francófonos e é explicitada nos anos 60” (95). No entanto e de acordo com o mesmo, os antecedentes da ASC remontam ao período da 1ª República (1910-1926), estendendo-se pela ditadura militar e pelo Estado Novo (1926-1974), até chegar e acompanhar a revolução do 25 de Abril de 1974. Ainda antes e durante o início da 1ª República, Lopes (2008) faz referência às iniciativas de educação e cultura popular e às acções de combate ao analfabetismo existente na época. O aparecimento das Universidades Populares, “movimento filosófico-literário que emergiu no contexto da 1ª república e que se constituiu num dos seus principais marcos culturais, (...) promoveram conferências, cursos livres ao ar livre nos jardins públicos, e desenvolveram a sua acção em ligação com associações profissionais” (Lopes, 2008: 97). Segundo o mesmo autor, as Universidades Populares promoveram uma “formação educativa não formal, enquadrada numa metodologia de intervenção similar à da Animação” (98). A dinamização sócio-educativa na 1ª República leva a que a escola primária seja encarada como uma instituição que se adequa ao desenvolvimento das transformações sociais e de mudanças colectivas. As próprias práticas pedagógicas possuem um espírito inovador, flexível e aberto, no qual o respeito pela educação integral da criança é tido em consideração. Contudo, a atenção centrada na criança parece “esquecer” um grupo significativo de adultos, analfabetos, e a quem a frequência da escola não era imposta; assim, urge a necessidade de dar resposta a este “problema social” e implementar medidas, promotoras da inclusão social destes adultos. Deste modo, reforçam-se o movimento e os objectivos das então chamadas “escolas móveis”, com o propósito de serem estas a ir ao encontro da população analfabeta e/ou iletrada. O analfabetismo torna-se, então, uma prioridade, por parte do Governo, a ser resolvido ou, até mesmo erradicado. Por seu lado, os movimentos sociais e associativos tornam-se os geradores de práticas sociais e criam as “sociedades de cultura e recreio”: estas e de acordo com Lopes (2008: 102) visam proporcionar “aos seus associados, recreio, convívio e instrução, (...) associados à conquista de tempo livre dos trabalhadores e à necessidade destes se valorizarem pessoalmente.” No entanto, este espírito de associativismo apresenta uma 685 fraca expansão, devido ao horário prolongado das jornadas de trabalho que se registavam durante a 1ª República (doze a dezasseis horas de trabalho diário). Não obstante, são estes movimentos sociais que, na óptica de Lopes (2008), antecedem a valorização da ASC; com o objectivo de “servir” os seus associados, proporcionam o desenvolvimento pessoal, social e cultural dos mesmos, através da implementação de actividades culturais, sociais e de lazer. De acordo com Lopes (2008: 106), com a chegada da ditadura militar e do Estado Novo (19261974) e baseados na tríade “Deus, Pátria e Família”, a sociedade portuguesa, controlada de forma “autoritária e totalitária”, sofre uma nova mudança social: o povo é “colocado na situação passiva diante dos acontecimentos culturais” (107) e a ASC fica “ao serviço de uma estratégia política de doutrinação colectiva nos valores ideológicos do regime” Lopes (2008: 106). Deste modo, a participação, a autonomia e a auto-organização ficam amplamente comprometidas. Não obstante, dá-se visibilidade à Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho que valoriza diversas acções e actividades tais como as “colónias de férias”, os “passeios e as excursões”, as “demonstrações desportivas”, as “conferências”, o “teatro do trabalhador” e as “sessões de cinema educativo”. Os anos sessenta em Portugal correspondem, na óptica de Lopes (2008), a uma época de procura de mudança social, cultural e de libertação mas, também, de inovação; a par da luta política conduzida por ideais como o Marxismo e o Leninismo, por exemplo, de correntes ideológicas anarquistas e de movimentos políticos democráticos, irrompem movimentos de contestação juvenil, como a “crise académica de 1962.” Com a abertura do regime salazarista – a “Primavera Marcelista (1970-1974) ”, a Animação Sociocultural (ASC) vê-se contemplada com legislação própria, que lhe confere alguma visão e reconhecimento; assiste-se e de acordo com Lopes (2008: 129-131) a uma “Política para a Juventude”, se bem que somente no plano das intenções; a sua aplicabilidade carecia, ainda, de um factor determinante para a sua implementação: a Democracia, a “substância da Animação” (131). No entanto, é com o 25 de Abril de 1974 que, para Lopes (2008), a ASC se exprime verdadeiramente, com o renascer dos movimentos associativos, da educação popular e dos princípios da liberdade de expressão e de associação, da igualdade de oportunidades, numa perspectiva cívica, de cidadania, participação, cooperação, solidariedade e de participação activa na vida dos grupos e das comunidades. A ASC, enquanto meio de mobilização popular, implica-se nas lutas pela dignificação dos direitos humanos, pelo movimento associativo e pela participação activa das populações na vida social, cultural e económica da sociedade portuguesa. A luta pelo direito ao tempo livre (tempo de não trabalho), ao lazer e à cultura intensifica-se e a ASC ganha, assim, um maior terreno, sentido e intencionalidade para a sua acção com as comunidades. Vive-se um tempo marcado pelo “envolvimento participativo” permitido e praticado nos espaços públicos (ruas, jardins, praças) e um tempo de “expressão colectiva”, em que as pessoas se animavam e animavam os espaços colectivos (Lopes, 2008: 153-154). No que se relaciona com o perfil do animador sociocultural, Larrazábal (2004) é uma das autoras que apresenta esta figura: segundo a autora, o animador situa-se entre o educador e o agente social: educador, porque “tenta estimular a acção, o que supõe uma educação na mudança de atitudes”; agente social, porque exerce uma acção educativa “com pessoas e com grupos ou colectivos mais amplos” (124). Depois, a autora (2004) apresenta uma outra 686 característica inerente ao Animador Sociocultural: a de “relacionador”, pois que deverá “ser capaz de estabelecer uma comunicação positiva entre pessoas, grupos e comunidades e de todos eles com as instituições sociais e com os organismos públicos” (125). Para Lopes (2008: 525), o Animador é um trabalhador social que, “a partir duma vocação profissional, dum compromisso político ou duma crença religiosa, tenta mudar a sociedade trabalhando com o homem da rua, com os marginalizados, com os grupos, com a comunidade e com os demais carenciados”. Fonte (2012) considera que não existe um perfil único de animador sociocultural: este deverá ser, além de um educador, de um relacionador e de um agente social, um mediador social e um dinamizador intercultural. 1.1.1. METODOLOGIA: UM ESTUDO PRELIMINAR Quando se tomaram as tomaram as opções metodológicas para a elaboração deste trabalho de investigação, optou-se por uma abordagem de natureza qualitativa, em que se procedeu à realização de entrevistas semiestruturadas, aprofundadas e de explicitação (Vermersch, 2000) e à respetiva análise de conteúdo, a um pequeno grupo de animadoras socioculturais recém-formadas numa escola superior de educação pública portuguesa. Os dados que se apresentam, de natureza preliminar, resultam da realização de cinco entrevistas a cinco animadoras socioculturais recém-formadas. Complementarmente, procedeu-se à técnica da análise de conteúdo das transcrições das entrevistas semi-estruturadas, um processo que Bardin (2009: 90) identifica como a forma de “tirar partido de um material dito “qualitativo” em que o “analista confronta-se com um conjunto de “x” entrevistas, e o seu objectivo final é poder inferir algo, (…) a propósito de uma realidade (…) representativa de uma população de indivíduos ou de um grupo social”. A tabela que se apresenta de seguida pretende apresentar as características dos entrevistados no que se refere ao género, à idade e aos seus percursos profissionais. Tabela 1 - Caracterização das entrevistadas Entrevistada E1 Género Feminino Idade (anos) 36-40 E2 Feminino 31-35 E3 E4 Feminino Feminino 36-40 Mais de 40 E5 Feminino Mais de 40 Percurso profissional (trajetórias) Monitora de Atividades de Tempos Livres (ATL); Contabilista; Secretária no atual local de trabalho Lojas (operadora de caixas); supervisora, administrativa Administrativa Alfabetização de Adultos (coordenadora das equipas de terreno); Coordenadora de cursos de formação: montagem de um centro de tempos livres Administrativa (sempre dentro da mesma categoria, de 1997 a 2001, na área da juventude e dos idosos); Formação de Agentes Locais; desde maio de 2009 Fonte: própria. Ao analisar-se a informação apresentada, constata-se que: no que respeita ao género, todas as respondentes são do género feminino; apenas duas das cinco entrevistadas já tinham exercido a sua atividade profissional no campo da ASC. 687 A tabela que se segue sintetiza a informação referente à situação profissional atual das entrevistadas e as opções tomadas pelas mesmas relativamente ao curso de ASC e às razões/motivações para essas opções. Tabela 2 – Percursos das entrevistadas Entrevistada Situação profissional atual E1 Equipa do Serviço Educativo de uma câmara municipal no distrito de Lisboa Administrativa numa instituição de reabilitação de saúde mental E2 E3 Administrativa E4 Assistente Técnica de Biblioteca (Secção Infantil) E5 Assistente Técnica no mesmo local do seu percurso profissional Curso de ASC: 1ª escolha? Razões/motivações Sim. Percurso ligado às crianças, a ATL e à Animação Não. Formação de professores (variante de EVT) Curso ligado à educação não formal; com saída profissional; em que se trabalha com pessoas Sim. Ligação com o plano de estudo dos curso, com o projeto formativo e com as saídas profissionais possíveis Sim. Curso com relação direta com o percurso profissional anterior, alargamento do conhecimento no campo da ASC, ambiente de uma ESE (Ensino Politécnico) diferente da Universidade Sim. Para ter conhecimento real do território (saberes técnicos da ASC); progressão na carreira Fonte: própria. No que se relaciona com as opções tomadas relativamente ao curso da Licenciatura em ASC e às razões/motivações para essas opções, apenas uma (E2) refere que a ASC não foi a sua primeira opção, dado que frequentou anteriormente a Licenciatura em Professores do Ensino Básico (variante de Educação Visual e Tecnológica). Seguidamente, far-se-á uma análise das respostas das entrevistadas no que concerne à formação e identidade profissional, bem como às representações que têm sobre a atividade do animador sociocultural (Cf. página seguinte). Tabela 3 – Formação e Identidade Entrevistada E1 E2 Formação e Identidade Formação superior; formação na área profissional, contacto com professores e colegas, metodologias de trabalho (individual e em grupo), partilha de saberes e de experiências Possibilidade de trabalhar com diferentes públicos-alvo, em diferentes contextos e vertentes/áreas; ajudar o outro na sua própria transformação; desenvolver, emancipar, sentir-se 688 Representações sobre a profissão Profissional que trabalha nas vertentes cultural, social e educativa; pessoa que dinamiza, que anima outras pessoas, grupos e comunidades; difusor de conhecimento e de cultura Polivalente, abrangente, apoiante, multifacetado transformador, útil E3 Identificação com a profissão e o perfil do animador Identificação com a profissão e o perfil do animador; desenvolvimento profissional; divulgação cultural, reconhecimento social da atividade profissional que desenvolve Continuidade do trabalho que desenvolve; desenvolvimento pessoal e profissional E4 E5 Concebe projetos de ASC; intervém com todo o tipo de público Promove o desenvolvimento comunitário; difusor de conhecimento cultural e social Promove as interações entre as pessoas; dinamiza atividades de animação para todos os tipos de público Fonte: própria. No que se relaciona com a formação e a identidade profissional, a E1 refere que pretendeu fazer uma “formação superior, formação essa na área profissional”, o que lhe permitiu “ter contacto com professores e colegas, conhecer diferentes metodologias de trabalho (individual e em grupo), partilhar saberes e experiências”; a E2 afirma que o curso lhe permitiu ter a “possibilidade de trabalhar com diferentes públicos-alvo, em diferentes contextos e vertentes/áreas; ajudar o outro na sua própria transformação; desenvolver, emancipar, sentirse útil.” A E3 afirma que sentiu uma “identificação com a profissão e o perfil do animador”; bem como a E4 que acrescenta que o curso lhe permitiu o “desenvolvimento profissional; a divulgação cultural, o reconhecimento social da atividade profissional que desenvolve”. Finalmente, a E5 refere-se à “continuidade do trabalho que desenvolve, para além do desenvolvimento pessoal e profissional.” Quando questionadas acerca das representações que têm sobre a atividade do animador sociocultural, a E1 respondeu: “é o profissional que trabalha nas vertentes cultural, social e educativa; pessoa que dinamiza, que anima outras pessoas, grupos e comunidades; difusor de conhecimento e de cultura”; a E2 refere-se ao animador sociocultural como alguém que é “polivalente, abrangente, transformador, apoiante, multifacetado”; a E3 afirma que o animador sociocultural é o profissional que “concebe projetos de ASC; intervém com todo o tipo de público”; a E4 defende que esse profissional “promove o desenvolvimento comunitário; difusor de conhecimento cultural e social”; a E5 afirma que o animador sociocultural “promove as interações entre as pessoas; dinamiza atividades de animação para todos os tipos de público.” Poder-se-á concluir que, nas questões relacionadas com a identidade profissional e a formação das entrevistadas, existe um leque variado e distinto de respostas mas, com alguns pontos convergentes: o desenvolvimento pessoal e profissional e a possibilidade de trabalhar com diferentes públicos-alvo. Tabela 4 – Projetos profissionais Entrevistada E1 Projetos profissionais Continuar a investir na ASC, principalmente na área cultural; conceber, desenvolver e avaliar projetos de animação e intervenção comunitária 689 E2 E3 E4 E5 Exercer a atividade profissional de ASC; conceber novos projetos socioculturais, melhorar o nível de vida através de uma melhoria de emprego Mudar de atividade profissional (ascensão na carreira); contribuir, de forma mais ativa e significativa, para a sua entidade empregadora; desenvolver e coordenar projetos de animação Dar continuidade ao trabalho que desenvolve, de forma mais consistente (ferramentas, métodos e técnicas específicas de ASC) Dar continuidade ao trabalho que desenvolve, de forma mais consistente (ferramentas, métodos e técnicas específicas de ASC); integrar e coordenar equipas multidisciplinares Fonte: própria. Ao serem interpeladas sobre os seus projetos profissionais de futuro, as entrevistadas responderam o seguinte: “Continuar a investir na ASC, principalmente na área cultural; conceber, desenvolver e avaliar projetos de animação e intervenção comunitária” (E1); “Exercer a atividade profissional de ASC; conceber novos projetos socioculturais; melhorar o nível de vida através de uma melhoria de emprego” (E2); “Mudar de atividade profissional (ascensão na carreira); contribuir, de forma mais ativa e significativa, para a minha entidade empregadora; desenvolver e coordenar projetos de animação” (E3); “Dar continuidade ao trabalho que desenvolvo, de forma mais consistente (ferramentas, métodos e técnicas específicas de ASC)” (E4); “Dar continuidade ao trabalho que desenvolvo, de forma mais consistente (ferramentas, métodos e técnicas específicas de ASC); integrar e coordenar equipas multidisciplinares” (E5). EDUCAÇÃO DE ADULTOS E ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL: UM PERCURSO CRUZADO? NOTAS CONCLUSIVAS E QUESTÕES EMERGENTES Depois de se ter realizado uma revisão de literatura no âmbito da Educação de Adultos, da Animação Sociocultural, do perfil expectável para o Animador Sociocultural, e das aprendizagem e formação experienciais, construiu-se um quadro teórico ancorado em autores de referência, portugueses e internacionais, para que fosse possível apresentar uma reflexão sobre a eventual relação existente entre a Educação de Adultos e a Animação Sociocultural, a partir dos testemunhos de um grupo de animadoras socioculturais recém-formadas. Segundo Osorio (2004: 238-239), a “transição da democratização cultural” é um dos âmbitos da Animação Sociocultural mais próximo da Educação de Adultos, porquanto é o acesso aos bens culturais e à cultura um dos referentes mais importantes para os adultos.” As animadoras socioculturais entrevistadas referem que o Animador Sociocultural é o “profissional que trabalha nas vertentes cultural, social e educativa; pessoa que dinamiza, que anima outras pessoas, grupos e comunidades; é um difusor de conhecimento e de cultura.” (E1) e que “promove o desenvolvimento comunitário; é um difusor de conhecimento cultural e social” (E4). Montenegro (2003: 57) reflete e discute sobre o conceito de “ecoformação de Adultos”; segundo a autora, a autoformação atribui “uma acção formativa na relação que o sujeito mantém com o mundo das coisas, e o conceito de heteroformação, atribuindo uma acção 690 formativa na relação que o sujeito mantém com os outros.” A autora defende “o conceito de ecoformação, enquanto espaço integrado de relação interdependente e retransformador entre o envolvimento físico (as coisas) e o envolvimento social (os outros)” (Montenegro, 2003: 58). A este propósito, as entrevistadas referiram-se, no âmbito dos seus percursos de formação, sobre a importância do “contacto com professores e colegas, metodologias de trabalho (individual e em grupo), partilha de saberes e de experiências” (E1); sobre “ajudar o outro na sua própria transformação; desenvolver, emancipar, sentir-se útil” (E2); sobre o “desenvolvimento pessoal e profissional” (E5) Ao discutir os conceitos de aprendizagem e formação experienciais, Cavaco (2002:27) defende que “a capacidade de aprender através da experiência reveste-se de uma importância capital (…), surgindo assim a valorização das modalidades educativas não formal e informal, como complementares da educação formal.” Por seu lado e, de acordo com a autora, as expressões “aprendizagem experiencial” e “formação experiencial” “reflectem duas concepções distintas da experiência: a primeira, de origem anglo-americana, refere-se à aprendizagem experiencial; a segunda, de origem alemã, remete para a “formação pelas experiências de vida” (Finger, 1989, cit. in Cavaco, 2002: 28). Com efeito, se a “aprendizagem experiencial” corresponde a uma experimentação por parte do indivíduo, a “formação experiencial”, por sua vez, “representa a ligação entre a pessoa e a cultura” (Finger, 1989, cit. in Cavaco, 2002: 28). ALGUMAS QUESTÕES EMERGENTES… Que relação entre a Educação de Adultos e a Animação Sociocultural? Será que se está a verificar, efetivamente, uma mudança nas conceções e nas práticas da Educação de Adultos, a partir da crescente evolução e presença significativa da Animação Sociocultural? Poder-se-ão associar os Animadores Socioculturais aos Educadores de Adultos? De que forma? Porque não existe uma única resposta a todas estas questões (porque discutíveis num quadro mais alargado e abrangente), considera-se pertinente e adequado discutir estas e outras questões relacionadas com a Educação de Adultos, entre pares e com aqueles que, em todo o mundo, se dedicam à reflexão, à discussão e à investigação em torno desta problemática. 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