DIAGNÓSTICO DAS EMISSÕES ATMOSFÉRICAS DE ORIGEM VEICULAR POR MEIO DE ANALISADOR PORTÁTIL DE GASES NO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO-PR E ANÁLISE DOS SEUS EFEITOS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO Bruno Maiolli Razera1; Paulo Giovani Basane2; Renan Vinicius Serbay Rodrigues3; José Hilton Bernardino de Araújo 1. Aluno do 2º. ano do Curso Técnico Informática da UTFPR, Campus Campo Mourão, [email protected] 2. Aluno do 2º. ano do Curso Técnico Informática da UTFPR, Campus Campo Mourão, [email protected] 3. Aluno do 2º. ano do Curso Técnico Informática da UTFPR, Campus Campo Mourão, [email protected] 4. Orientador, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Campus Campo Mourão [email protected] 1 Introdução Devido ao intenso processo de urbanização ocorrido nas ultimas décadas, a população vem sofrendo conseqüências de ordem social e ambiental que surgiram, aspectos como o lançamento de poluentes no ar, solo e água estão sendo estudados como agentes degradantes da qualidade ambiental e da qualidade de vida da população citadina. Entre as formas de degradação ambiental está a poluição atmosférica, que vem piorando significantemente a qualidade de vida, e causando transtornos à saúde pública, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 3 (três) milhões de pessoas morrem anualmente devido aos efeitos da poluição atmosférica. O presente estudo foi realizado na cidade de Campo Mourão, município com população inferior a 100 mil habitantes, sendo assim, faz-se necessários estudos que contemplem a qualidade do ar como as emissões veiculares nestas áreas, com o intuito de auxiliar no controle da poluição e na elaboração de medidas de manejo urbano, para reduzir eventuais impactos que podem prejudicar a saúde humana e dos animais, bem como problemas ambientais que incorrem em danos materiais e à vegetação. 2 Objetivos Diagnosticar a poluição atmosférica de origem veicular em cinco pontos estratégicos na cidade de Campo Mourão, Paraná, utilizando analisador portátil de gases, comparando os valores obtidos nas medições com os padrões pertinentes a resolução CONAMA nº 3 de 28 de junho de 1990, e também analisar os efeitos da poluição à saúde da população. 3 Material e Métodos Este trabalho foi desenvolvido na cidade de Campo Mourão, Paraná, que apresenta uma população de 87.194 habitantes (IBGE, 2010). As medições foram feitas de 18 de junho a 06 de julho de 2012 em cinco locais (pontos) distintos na área urbana da cidade, designados Ponto A, Ponto B, Ponto C, Ponto D e Ponto E (Figura 1). Foram realizadas aferições três vezes ao dia com duração de uma hora cada, sendo três dias para cada ponto em três semanas seguidas. Os pontos foram selecionados na cidade por contemplarem diferentes situações em relação à circulação de veículos e pedestres. Figura 1 – Pontos de amostragens em Campo Mourão – PR (Fonte Google maps) As coletas de dados foram realizadas durante os horários de picos, de 7:00 às 8:00, 12:00 às 13:00 e 17:00 às 18:00 horas. Os veículos que trafegavam nesses locais eram contabilizados em uma planilha e classificados em: motocicletas, veículos leves (automóveis e utilitários de pequeno porte), veículos médios (utilitários, camionetas, caminhonetes cabine simples e dupla, veículos SUV - Sport Utility Vehicles), e veículos pesados (ônibus, caminhões, bitrens, etc.). Para detectar e quantificar as concentrações dos gases poluentes utilizou-se o equipamento detector de gás portátil, modelo Gas Alert MAX XT II, fabricado por BW Technologies, que registra a concentração dos seguintes poluentes: H2S (ppm), CO (ppm), O2 (%) e gases combustíveis (%). O equipamento ficou a uma altura (distância do solo) de aproximadamente 1,5 metros nos pontos e períodos de medição. Paralelamente às medições, também foram realizados levantamentos do número de óbitos e internamentos ocorridos no município de Campo Mourão durante o período de 1980 a 2010, por faixa etária e sexo, e quantos óbitos causados por problemas respiratórios, para verificarmos se existia relação entre a elevação do número de mortes e o aumento do número de veículos. Com esses dados é possível traçar um plano de melhoria do sistema rodoviário da cidade, para reduzir os efeitos da poluição, principalmente nos pontos abordados, além de sugestões para reduzir o fluxo nos horários de pico ou na realização de campanhas de transito para o uso de transportes coletivos, melhoria dos carros, renovação da frota, uso de meios de transporte menos poluentes, entre outros. 4 Resultados e Discussão Na Tabela 1 podemos verificar a proporção percentual dos grupos de veículos que transitaram nos pontos de amostragem. Os pontos A, B e C são semelhantes quanto aos grupos de veículos que trafegam apesar da quantidade dos mesmos ser diferentes nos respectivos pontos. A diferença na quantidade de veículos pesados que transitaram nos Pontos A, B e C comparados aos Pontos D e E, é devido à restrição de trânsito de veículos pesados em alguns locais da área central do município. Tabela1: Valores percentuais da quantidade e classe de veículos nos pontos monitorados. Motos Veículos Leves Veículos Médios Veículos Pesados Ponto A 18% 73% 8% 1% Ponto B 15% 74% 8% 3% Ponto C 19% 71% 8% 2% Ponto D 23% 59% 7% 11% Ponto E 22% 67% 7% 4% Total 19% 68% 8% 5% Como se pôde observar, a quantidade de veículos leves encontrada foi maior que a registrada pelo município. Isto ocorreu, pois não foi levado em consideração o emplacamento de cada veículo, sendo que desta forma, vários veículos emplacados em outros municípios fizeram parte da pesquisa. Como o município de Campo Mourão está localizado de forma estratégica no Estado do Paraná, é comum que vários veículos de outras cidades, e estados trafeguem por suas ruas. A Figura 2 ilustra a semelhança entre as porcentagens dos veículos contabilizados nas amostragens em todos os pontos, com a quantidade de veículos registrados no município (Detran, junho 2012). (A) (B) Figura 2: Comparação dos dados do DETRAN/PR com o coletado no trabalho. (A) Figura que demonstra os dados obtidos no trabalho. (B) Figura que demonstra os dados obtidos pelo DETRAN/PR em junho de 2012. Ao monitorar os níveis de monóxido de carbono, pode-se constatar um maior numero de detecções no período da manhã, o que pode ser devido as ações climáticas que tem efeito direto na dispersão de poluentes, nesse período do dia pode ocorrer a chamada inversão térmica, formando uma camada de ar frio, mais densa, em cima da camada de ar quente, menos densa, impedindo que os poluentes se dissipem. As condições meteorológicas, de tempo e clima, nos períodos monitorados foram diferentes nas três semanas de aferições. A primeira semana de aferições apresentou uma condição climática chuvosa, com pancadas de chuva frequentes e temperaturas de 14ºC e não ultrapassando 21ºC, já na segunda semana, a chuva cessou, porém o tempo estava nublado e com baixas temperaturas pela manhã e amenas ao fim da tarde, chegando a 11ºC pela manhã e 24ºC à tarde. Já na terceira semana, o tempo estava seco, sem nuvens, sem probabilidade de chuvas e temperaturas amenas, típico do outono, porém veio a ter uma pancada de chuva no horário da aferição das 17:00 horas no dia 06/07/12. Segundo boletins meteorológicos, a umidade relativa do ar variou de 54 a 96% (Climatempo) e a temperatura aferida nos locais variou de 11ºC a 30ºC ao longo do dia nas datas monitoradas. A emissão de monóxido de carbono pelos veículos se dá por meio de reações químicas contendo matéria carbonada, entre elas a (combustão incompleta 2C + O2 → 2CO), (combustão completa 2C + O2 → 2CO2) e por dissociação (CO2 → CO + O), entre as reações citadas, a combustão incompleta é a principal responsável pelas deste poluente. Com o aumento da poluição atmosférica, os problemas respiratórios tem tido certa elevação quanto ao número de ocorrências, principalmente as faixas etárias mais vulneráveis (crianças e idosos), que tal elevação pode ter influencia da poluição atmosférica, com o aumento da frota veicular, emitindo uma maior quantidade de Monóxido de carbono, assim provocando mais problemas respiratórios, podendo levar até ao óbito. Durante as medições, os picos de concentração de monóxido de carbono acima do permitido pela legislação, ou seja, concentração de CO igual ou superior a 35 ppm (partícula por milhão) para o período de uma hora, foram verificados nos seguintes dias de aferição: O Ponto A no dia 18/06/12 não apresentou nenhum valor de CO acima do permitido, e o valor máximo detectado foi de 13 ppm de CO de um total de 10 detecções, já no dia 25/06/12 foram 13 detecções e nenhum acima do permitido pela legislação. No dia 02/07/12 registramos cinco valores de CO com variações de 37 a 77 ppm de um total de 36 detecções. O Ponto B em 19/06/12 apresentou 2 picos acima do permitido, com o valor máximo de 42 ppm de CO, de um total de 30 detecções. No dia 26/06/12 se teve 2 valores acima do permitido, sendo igual a 75 ppm, enquanto o dia 03/07/12 apresentou 7 valores acima do máximo permitido (com variação de 39 a 100 ppm de CO) de um total 51 detecções. No Ponto C, no dia 20/06/12 tivemos 50 detecções e nenhuma acima do limite de 35 ppm. No dia 29/06/12 tivemos um total de 15 detecções e com um pico de 86 ppm de CO, e no dia 04/07/12 não se teve nenhum valor acima do permitido para 10 detecções. Já no Ponto D, em 21/06/12 se obteve 39 detecções e nenhum pico acima de 35ppm de CO, e em 27/06/12 foram registrados 2 picos, um de 37 ppm e outro de 46 ppm de CO, de um total de 35 detecções, já em 05/07/12 não se teve nenhum pico acima de 35ppm de 25 detecções no período. No Ponto E, em 22/06/12, ocorreram 29 detecções e um pico de 86 ppm de CO, em 28/06/12, tivemos 27 detecções e nenhum valor acima do máximo, e em 06/07/2012 foram 24 detecções e também nenhum valor acima do permitido foi detectado. Com os métodos utilizados no trabalho foi possível perceber que a concentração do monóxido de carbono no ar não é determinada pela quantidade de veículos que trafegam, mas sim, pelo estado de manutenção desses meios de transporte. Constatou-se também que a maior parte dos picos acima do valor máximo permitido pela legislação ocorreu quando os veículos de modelos antigos, principalmente os com mais de 15 anos de uso transitavam pelo local de amostragem, além disso, muitos valores acima do permitido foram verificados na parte da manhã e na parte central da cidade, que apresenta muitas construções que não favorecem a dispersão dos poluentes na atmosfera O tipo de combustível influencia na quantidade de poluentes emitidos, entre eles, os fósseis são os mais poluentes, por ser decomposição de matéria carbonada. Esses poluentes podem prejudicar a saúde da população e dos animais, os poluentes em concentração acima de 4 ppm (partículas por milhão) oferecem riscos a saúde, dependendo do tempo de exposição. A concentração tem influencia a poluição atmosférica, onde a tal, ao prejudicar a saúde da população, prejudica principalmente o sistema respiratório. O sistema respiratório tem sido o principal atingindo pela poluição atmosférica, onde junto com o gás oxigênio (O2) é inalado outros gases, tais podem ser: monóxido de carbono (CO), dióxido carbônico (CO2), metano (CH4), dióxido de enxofre (SO2), hidrocarbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NO e NO2), e às vezes com presença de gotículas no ar sugerindo a presença de aerossóis, que podem ser prejudiciais à saúde e até mesmo podendo levar a óbito (Figura 3). Figura 3: Total de Mortes por Problemas Respiratórios no município de Campo Mourão. Com o aumento da poluição atmosférica, os problemas respiratórios tem tido certa elevação quanto ao número de ocorrências, principalmente as faixas etárias mais vulneráveis (crianças e idosos), tal resultado pode ser confirmado no município analisado, onde dados de percentuais por faixas etárias da população foram coletados na Secretaria Municipal de Saúde do município (Figura 4). Figura 4: Mortes por faixas etárias devido a problemas respiratórios em Campo Mourão. 5 Conclusão Nesse trabalho pode-se verificar que a poluição atmosférica tem efeitos a saúde da população e animais, de tal forma que o número de óbitos devido a problemas respiratórios só vem aumentado. Com os métodos utilizados no trabalho foi possível perceber que a concentração do monóxido de carbono no ar não é determinada pela quantidade de veículos que trafegam, mas sim, pelo estado de manutenção desses meios de transporte. Constatou-se também que a maior parte dos picos acima do valor máximo permitido pela legislação ocorreu quando os veículos antigos, principalmente os com mais de 15 anos de uso transitavam pelo local de amostragem, Os veículos mais novos, tanto leves quanto os pesados, agregaram tecnologias que reduzem a emissão de poluentes, como o uso de novos catalisadores, em conformidade com a Resolução CONAMA nº 18, de 06 de junho de 1986, que dispõe sobre a criação do Programa de Controle de Poluição do Ar por veículos Automotores – PROCONVE. Em conjunto com as medidas propostas pela resolução citada acima, também podem ser implantadas medidas como: incentivar a renovação da frota de veículos, para tirar de circulação os veículos mais antigos e mais poluentes; a construção de ciclovias para incentivar o uso de meios de transporte não poluentes, como a bicicleta, que além de não emitir gases poluentes, proporcionaria aos usuários uma forma de exercício físico, que é de suma importância como forma de prevenção e tratamento de doenças. Os fatores temperatura e condição climática podem provocar fenômenos naturais que dificultam a dispersão dos poluentes, como o fenômeno chamado inversão térmica. Conforme a temperatura se elevava ao longo do dia, o movimento de convecção da atmosfera auxilia a sua dispersão, demonstrado pela constatação de menor quantidade picos no período das 12:00 às 13:00h. A poluição atmosférica interfere no agravamento de problemas respiratórios principalmente em pessoas idosas e crianças, ocasionando elevação do número de mortes por esse tipo de problema. 6 Referências BRASIL, Resolução CONAMA nº 003 de 28 de junho de 1990. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 22 ago. 1990. BRASIL, Resolução CONAMA nº 018 de 06 de junho de 1986. PROCONVE. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 17 jun. 1986. Agência de Fomento - CNPQ