A Ortogonalidade como Base de uma Orthoarquitetura Elizabete Rodrigues de Campos Martins Professora Associada do Departamento de Projetos; Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Documentação - NPD e Colaboradora da Pós-Graduação em Arquitetura –PROARQ, da FAU – UFRJ. E-mail [email protected] Mauro Neves Nogueira Professor Adjunto do Departamento de Projeto e Membro Pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Documentação – NPD da FAU – UFRJ. E-mail: [email protected] Resumo A idéia exposta por Giulio Cesar Argan interessou-nos a fim de estabelecer a analogia entre um arquétipo de uma estruturação urbana originada na antiguidade e sua reinterpretação na modernidade como um “reinterpretação” da arte. Quer dizer, ela é uma das inspirações para se compreender o modo de reutilização de uma estrutura urbana antiga, da década de sessenta do século passado, em um conjunto residencial no Humaitá, no Rio de Janeiro, concebido pelo arquiteto Sérgio Bernardes. Abstract The idea exposed by Giulio Cesar Argan interested us in order to establish the analogy between an archetype of an urban structure originated in antiquity and its reinterpretation in modernity as a "reinterpretation" of art. That is to, she is one of the inspirations for understanding how to reuse an old urban structure, the sixties of the last century, in a residential complex in Humaita in Rio de Janeiro, designed by architect Sergio Bernardes. 1 A Ortogonalidade como Base de uma Orthoarquitetura1 Elizabete Rodrigues de Campos Martins e Mauro Neves Nogueira “O retorno ao antigo é retorno a um modelo, um arquétipo; não há ato artístico, nem nas culturas avançadas, nem nas primitivas, que não se origine de um modelo. (...). Não se faz história, a não ser dos fenômenos que continuam; entender um fenômeno significa reconstruir a serie dos fenômenos que o precedem e o motivam. (...). A força da arte está em atingir com um interesse atual um ponto do passado e torná-lo presente. O que se poderia tornar presente, se não o passado? Na arte, poder-se-ia dizer, nada se cria, tudo renasce.”2 A idéia exposta por Giulio Cesar Argan interessou-nos a fim de estabelecer a analogia entre um arquétipo de uma estruturação urbana originada na antiguidade e sua reinterpretação na modernidade como um “reinterpretação” da arte. Quer dizer, ela é uma das inspirações para se compreender o modo de reutilização de uma estrutura urbana antiga, da década de sessenta do século passado, em um conjunto residencial no Humaitá, no Rio de Janeiro, concebido pelo arquiteto Sérgio Bernardes. Bruno Contardi diz que “O espaço urbano é espaço de objetos [quer dizer], de coisas produzidas; e entre o objeto e a obra de arte existe uma diferença hierárquica (ou seja, uma diferença qualitativa, de valor), mas, ainda assim, sempre no interior da mesma categoria, de uma mesma série.”3. E é justamente essa diferença de valor qualitativo o fio condutor da análise da estrutura urbana reticulada ou tabuleiro de xadrez, utilizada na implantação em aclive e em “anfiteatro parcial”, parafraseando o autor do projeto do conjunto residencial Parque Maria Pareto, arquiteto Sergio Bernardes. Essa proposição requer justamente a explicação sobre o que se entende por estrutura urbana e, sobretudo a malha ortogonal, a fim de compreendermos sua “re-apropriação” moderna no conjunto residencial em questão. O Reticulado como Estrutura No léxico a estrutura urbana “refere-se a uma ordem que controla o todo e suas partes. É, portanto, algo que define a disposição dessas partes de modo a formar uma integridade, referese à composição que rege um complexo de coisas”4. Essa ordem nas cidades agrupa, justamente, as vias, praças, largos, espaços abertos, parques, arquiteturas entre outros. Elementos urbanos, 2 que Carlos Nelson Ferreira dos Santos compreende como pertencentes “a sintaxe espacial da Cidade”5. Uma das estruturas mais conhecida e utilizada é o traçado reticulado ou hipodâmico, uma estrutura urbana que se originou destinada a resolver, do modo mais rápido possível, “o problema do alojamento para operários qualificados (...), por outro lado, o numeroso exército de operários ordinários tinha que conformar-se com coberturas rudimentares”6. Esse mesmo autor ainda explica que um traçado ortogonal não surge de modo espontâneo, em contraste direto com o crescimento orgânico, é determinado conscientemente e aplicado no lugar eleito. Foi um traçado originado na índia pela cultura Harappa por volta de 2150 a. C. Ao longo da história a retícula foi habitualmente relacionada à forma urbana fruto do planejamento. Ainda que se tenha desejado atribuir um significado religioso as primeiras retículas —a cruz como símbolo do ato de assentamento, entre outros— o papel essencial da reticula tem se limitado, na opinião de Morris, ao da oportunidade imobiliária, e somente em circunstâncias excepcionais se elevaria ao nível de planejamento urbano7. Apesar dessa observação, desde o século V a.C, os urbanistas gregos empregaram a reticula sistematicamente como um método para a organização básica da estrutura de cidades. Além dos gregos e outros povos, os romanos também o empregaram na construção das novas cidades que foram fundando, em diferentes localidades de seu território, derivadas dos acampamentos militares e orientadas pelos seus eixos principais: cardus —norte/sul— e decumanus —leste/oeste. É exatamente essa antiga e tão utilizada ordenação urbana, que Bernardes utilizou como estrutura de conformação espacial e formal do complexo residencial Parque Maria Cândido Pareto de uma maneira engenhosa, como uma machine-à-habiter corbusiana, mas, ao contrário desta, não contida em uma unité d’habitation arquitetônica —seria aquela que não foi construída—e sim, distendida superficialmente, numa parte de cidade. Honestidade e Coerência no Pensamento Arquitetônico de Sérgio Bernardes A análise da Proposta de Bernardes para um complexo de casas e apartamentos deve ser analisada como uma idéia feita para um determinado tempo, cerca 1965, e um determinado lugar, Humaitá, Rio de Janeiro. Ela contém tanto os elementos temporais quanto aqueles do lugar. Entretanto se pode extrair dela aquelas ideias que são atemporais e que possam ser descontextualizadas para que sirvam de base projetual para os arquitetos. Outro dado significativo, que se deve ressaltar, é a trajetória profissional de Sérgio Bernardes. Ele, ao contrário de muitos arquitetos, não teve um iter projetual marcado pela ênfase da forma —o assim chamado Formalismo, tão enraizado na cultura arquitetônica, principalmente, brasileira—, nunca se prendeu a um ‘ismo’ como um tour de force e nem esteve sempre ao sabor do estilo predominante. Trata-se de um arquiteto de difícil codificação. Diríamos que se trata de 3 um profissional do ‘cada caso é um caso’, onde as respostas específicas aos programas e lugares seguiam sempre uma maneira coerente de pensar, mas com resultados diferentes, principalmente se visto somente do ponto de vista formal, o que não se deveria fazer. Se fizermos uma comparação para melhor compreensão dessa atitude projetual, poderíamos associá-lo, guardadas as devidas proporções, ao finlandês Eero Saarinen. Um grande arquiteto, que teve curto tempo de vida, mas o suficiente para dar aulas de arquitetura através de suas obras variadas e de grande valor qualitativo, seja na resposta ao lugar e ao cliente, seja na sua qualidade arquitetônica, como um todo. Tanto Bernardes quanto Saarinen tinha o pensamento arquitetônico estruturado a partir de um sistema espacial com a sua forma ad hoc, conforme uma clara maneira de como construí-la. Pode-se criticá-los pelo ‘Expressionismo Estrutural’, mas não por ‘desonestidade ou o ilógico estrutural’, muito menos por um ato falso ou pretensioso. Bernardes tinha, além da honestidade intelectual, uma correção e uma coerência no interior do seu pensamento arquitetônico. Seu Pensamento sobre a Resolução do Problema da Habitação Assim como em sua origem indiana o reticulado também foi utilizado para resolver um problema habitacional neste caso do Rio de Janeiro. A ideia para sua aplicação origina-se em 1957, quando Sergio Bernardes preocupa-se em estudar propostas para a resolução dos Bairros Operários, locais de moradia dos menos favorecidos. É interessante lembrar que nas décadas de 1950 e 1960, Sergio Bernardes destacava-se como o principal arquiteto de residências no Rio de Janeiro. Como ele próprio nos conta, no documentário Bernardes8, num mês fez vinte e cinco casas “quase uma por dia”; um número expressivo, mas sem detrimento da qualidade arquitetônica, pois se tratavam das melhores residências construídas no período. Essa experiência lhe conferiu não apenas destreza no projetar, mas também parâmetros do viver entre duas classes sociais tão distintas. Sergio Bernardes então elabora o plano para o “Desenvolvimento de Projeções Horizontais Coletivas nos morros com aproveitamento urbano das reservas florestais, com base no equilíbrio entre dispersão e concentração”9; a origem da solução proposta para a favela de Irajá e do “Plano Diretor das Favelas com Relação ao Desenvolvimento Global” de 1960 e outros estudos como o esboço, embora mais tímido, daquele realizado no conjunto residencial do Humaitá10. Bernardes advogava que a solução para o problema habitacional não podia, “portanto, ser encontrado visando o indivíduo, através da “casa própria”, com a padronização da arquitetura que desumaniza o homem e paradoxalmente dissocia o grupo, dificultando a luta por aqueles interesses comuns que só podem ser satisfeitos em comum “11. E defende o que entende por “arquitetura natural”: “tudo que vai contra a vida está fadado a morrer. A arquitetura também. (...) A arquitetura aqui é tanto mais criadora quanto mais capaz de respeitar a liberdade. (...) As construções obedeceram à estrutura de anfiteatro (...). Além do acesso pelos caminhos e ruas 4 que acompanham as curvas de nível, haverá escadas entrecortadas de patamares, ligando um nível ao outro”12. As Respostas ao Lugar e Tempo Todos sabem que o Rio de Janeiro tem alguns importantes landmarks naturais, que lhe caracterizam e que seus habitantes se relacionam. Um deles é a montanha do Corcovado que é encimada pela estátua do Christus Redemptoris, ícone máximo da religião católica. Ora, em qualquer lugar do Rio que se possa ver esse conjunto —montanha e estátua—, a possibilidade desta visão é fundamental na análise do lugar. O mesmo acontece em outro conjunto carioca de origem, mas irradiado em todo o país: o morro e o assentamento de casas e pequenas construções. As assim chamadas favelas, uma apropriação com, principalmente, moradias por parte das pessoas de poucas posses dos vazios urbanos e naturais. Sérgio Bernardes, como carioca, sabia dessa relação afetiva dos cariocas com a montanha e Cristo, assim como, conhecia bem esse modelo de assentamento popular, através da autoconstrução. Respondeu bem a essas premissas ao implantar uma seqüência de residências que sobem o morro, com todas tendo vista frontal à rua, mas vendo o Corcovado à esquerda, num ângulo aproximado de 45º com a direção norte. Figura I – Paisagem do lugar Figura II – Desenho Mauro Nogueira 5 Figura III – Desenho Mauro Nogueira É lógico que a solução parece natural e única, mas não é tão fácil assim, pois outros tipos arquitetônicos, como a Casa Geminada e a Casa em Fita, poderiam ter sido adotados, mas ele preferiu a Casa Pátio. Este tipo proporciona mais flexibilidade de composição e privacidade para os moradores, ao utilizar o espaço externo do Pátio —um vazio—como estruturador da composição, filtro climático e dispersor de ruídos, através do uso de vegetação. Em seguida criou o sistema distributivo do complexo habitacional, segundo uma tessitura de percursos que abrange todas as habitações através de uma hierarquia bem definida. No sentido longitudinal o percurso primário, através de um plano inclinado e escadas13, e naquele transversal as vielas de acesso às casas. O sistema distributivo configura um sistema espacial contínuo ‘público’ —pertencente ao condomínio— com uma variedade de formas que enfatizam os seus uso, como na promenade architectural corbusiana: espaços que se dilatam e se contraem, espaços lineares, espaços que se cobrem alternadamente (o segundo pavimento das casas começam sobre a viela), espaços que se espraiam para a convivência, espaços de encontro para interação social e esportiva etc. Uma estrutura de espaços de gênese estrutural reticulada, que se deformam segundo às necessidades de uso e possibilidades da superfície. Vista em sua integridade, faz lembrar a estrutura ‘reticulada informal’ de um assentamento popular 6 não projetado, como existia logo ao lado deste terreno, na Favela que subia pela Rua Macedo Sobrinho, que depois foi removida nos anos de 1960. Figuras IV e V – Desenhos Mauro Nogueira Deve-se destacar que a proposta para acesso às moradias sobre morros, através de plano inclinado e funivias tem sido adotada nos últimos anos pelos arquitetos para resolver e melhorar o acesso das pessoas aos morros. O Rio já possuía planos inclinados, como o das Igrejas do Outeiro da Glória e da Penha, mas para acesso às habitações era quase que uma novidade, embora já existisse em Santa Teresa, a Vila Jardim Santa Cecília, um veículo à gás — 7 um jeep triciclo que percorre cerca de 500m—para acessar a vinte casas e o plano inclinado do Condomínio Equitativa. Outra coisa que se deve salientar é a ideia da convivência, no mesmo lugar, do tipo Torre com a Habitação Unifamiliar. Ideia adotada por Lúcio Costa, posteriormente no Plano Piloto para a Urbanização da Baixada Compreendida entre a Barra da Tijuca, o Pontal de Sernambetiba e Jacarepaguá, de 1969. Uma ideia discutível, pois os tipos têm uma difícil convivência, principalmente quando a torre tem muitos pavimentos. Um dos Estudos de Bernardes apresenta o desmembramento em dois lotes e a proposição de uma Torre, junto à Rua Visconde Silva, que não foi realizado como habitação, mas posteriormente ocupado verticalmente, mas não tão alto como previa Bernardes, por uma sede administrativa de um órgão público: IBAM. A criação dos dois lotes, na parte frontal do terreno, foi feita para convencer Szlona Goldfeld, proprietário da construtora solicitante do projeto, que a torre residencial teria a mesma densidade populacional do conjunto de residências que, se localizariam no restante posterior do terreno e para mostrá-lo a diferença qualitativa entre as duas propostas: a de um ‘canino’ 14 despontando irregularmente na frente do lote e rompendo com a geografia existente em oposição a um grupo de unidades sobre patamares seguindo o terreno, como na construção de um teatro, tendo como foco dos moradores o panorama da Serra da Carioca e do Cristo Redentor: esta solução convence-o! Figura VI – Croqui Sérgio Bernardes, Acervo UFRJ/NPD/FAU 8 Figura VII – Croqui Sérgio Bernardes, Acervo UFRJ/NPD/FAU Neste lugar poderia ter-se configurado uma espécie de ‘museu da habitação’ ao vivo15, com exemplares de seus dois extremos. Bernardes projetou tão bem tanto um quanto o outro. Suas casas e seus skyscrappers folly, como diria Frank Lloyd Wrigth, são modelares como forma, espaço e construção. As Casas, sua Construção e a Estrutura Arbórea. O espaço do Átrio do Condomínio, definido por brancas paredes, é marcado por uma grande e escultural escada helicoidal negra, que preenche o vazio e conduz as pessoas para o plano superior onde estão localizados o Estacionamento, os espaços coletivos e o início dos percursos mecânicos e escadas. Para a construção das casas, Bernardes utilizou-se de um sistema construtivo bastante simples, através de paredes portantes de tijolos e vigas de concreto armado, ambos à vista, e cobertura de telhas de cimento amianto. Um sistema bastante normal, no sentido de que eram muito comercializados esses materiais na época, que permanece por serem de baixo custo e fácil de encontrar. A sua proposta oferece duas proposições: como ocupar com habitações um morro e como construí-las. Ambas estão diretamente relacionadas a uma maneira simples, lógica e racional como a própria vida. A permanência da estrutura formal e das matérias pelos moradores16 demonstra a qualidade, boa e duradoura, do que Bernardes propôs. A construção do condomínio, segundo entrevista com seus moradores mais antigos, não foi fácil, pois passou por diversos períodos de instabilidade econômica durante sua construção. Objetivando firmemente sua conclusão, vários artifícios foram empregados pelos empreendedores, como por exemplo, a pequena firma fornecedora do parquet recebeu como pagamento uma das unidades, bem como a fornecedora das esquadrias entre outras. O resultado foi que na conclusão das obras o condomínio foi ocupado por uma população bastante eclética, 9 na época caracterizada como de classe média. Quer dizer, não eram residências para abastados, como as realizadas na década de 1950 e 1960 por Sérgio Bernardes, tampouco para os menos favorecidos, aqueles constituintes do foco de suas preocupações. A arborização do complexo habitacional tem um papel muito importante, pois é responsável pelo difícil equilíbrio entre o construído e os vazios dos Pátios e vielas, que também são construídos sobre o terreno, isto é, elevados, como se toda a superfície do terreno fosse reconstruída. Nos Pátios a vegetação é de arbustos e vasos de plantas, pois os moradores utilizam totalmente a pavimentação de seus Pátios para ampliar o seu espaço de vivência. Nas vielas, jardineira elevadas criam faixas intermitentes de vegetação no máximo arbustiva, que reduzem a percepção linear —cerca de 70m— dos percursos transversais. Nas escadarias ela aparece em todo espaço que não é transitável, sobre superfície de terra ou galgando os muros divisórios. O grande clímax de todo o complexo dá-se no final do percurso longitudinal, perto da cota 90m acima do nível do mar. Ali, a Mata Atlântica do Morro da Saudade integra-se à propriedade condominial, e espaços de flaneur e convivência permitem a relação direta com o verde das árvores e a visão completa e panóptica da montanha do Corcovado e do vale de Botafogo. O toitterrasse corbusiano aparece com toda sua exuberância, em vários planos, inimagináveis num jardim da cobertura de um edifício, em que pese os exercícios de Le Corbusier de torná-los complexos e variados com pequenas construções, escadas, solário, piscina etc. O lugar, pela sua posição geográfica e potencial arbóreo, carece de uma maior apropriação pelos moradores. Percebe-se, provavelmente pela diminuição dos recursos econômicos para a construção, que o projeto foi incompleto. Figura VIII – Reserva Florestal do Condomínio 10 Notas e Referências Bibliográficas 1 A palavra Orthoarquitetura coloca juntas as palavras gregas, orthos, cujo sentido utilizado é o de certo, correto, e arquitetura. No título está contido o significado de que a estrutura ortogonal, hipodâmica, é capaz de resistir no tempo, principalmente, quando existe uma correttezza entre a estrutura e o proposto. Assim Orthoarquitetura tem o sentido de arquitetura correta, baseada nos seus próprios códigos e numa linguagem construtiva que pertença à arquitetura, como preconizava Angelo Mangiarotti (p.15 in MANGIAROTTI, Angelo et alli. In nome dell’architettura. Milano, Jaca Book, 1987. 120p.). 2 ARGAN, Giulio Carlo, História da arte como história da cidade, São Paulo: Martins Fontes, 1995, p.37. 3 CONTARDI, Bruno, Prefácio do livro: ARGAN, Giulio Carlo, História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p.1. Grifo nosso. 4 Dicionário Antonio Houaiss, apud LOPES, Elizabeth Sá Barreto, Tradição e Modernidade na Quadra Multifamiliar: Copacabana e Brasília, dissertação defendida em 2002, PROURB-FAU-UFRJ, p.12 5 FERREIRA DOS SANTOS, Carlos Nelson, A cidade como um jogo de cartas. Niterói: Universidade Federal Fluminense: EDUFF; São Paulo: Projeto Editores, 1988, p.67. 6 MORRIS, A. E. J., Historia de la forma urbana. Desde sus Orígenes hasta la Revolución Industrial. Barcelona: Gustavo Gilli, 1979, p.27. 7 idem ibidem, p. 33. 8 Documentário Bernardes dirigido por Gustavo Gama Rodrigues e Paulo de Barros, lançado em 26 de junho de 2014. 9 Informação contida em um antigo currículo do arquiteto: Kykah Bernardes via e-mail em setembro de 2012. 10 Todas as informações e referencias históricas desse artigo encontram-se no texto: MARTINS, Elizabete Rodrigues de Campos, Desenho de uma paisagem carioca no traço de Sergio Bernardes, Rio de Janeiro: 11 BERNARDES Kykah e CAVALCANTI, Lauro (org.), Sergio Bernardes, Rio de Janeiro: ARTEVIVA, 2010, p 146 12 idem, op. cit., p.151. 13 É importante destacar que num Estudo, Bernardes propôs de um lado a escadaria e do outro o plano inclinado. Solução ruim por ter um só equipamento mecânico para vencer um desnível de 60m de altura, que corresponde a circa de 20 andares. No Brasil diz-se que “ter um só é não ter nada”, devido ao custo e dificuldades de manutenção. Em outro Estudo a solução foi pior, pois se aumentava a escadaria, nos dois flancos, e mantinha-se uma só funicolare, mas pelo meio. Esta estaria equidistante das casas, mas rompendo a estrutura de cheios e vazios e a alternância entre o construído e o não construído. Inteligentemente, Bernardes fez no final a melhor solução: duplicidade do percurso mecânico, acompanhado daquele pietonale. 14 Sérgio Bernardes era muito espirituoso; entretanto a referencia ao “canino deve-se a uma crítica do arquiteto Marcos Vasconcellos sobre a construção dos hotéis Othon e Meridien na orla de Copacabana: “são dois caninos mal sãos na dentadura sadia da praia”. 15 A Rua Visconde Silva tem-se configurado como uma seqüência de Torres e Lâminas de Habitação Multifamiliar convivendo com o Casario pré-existente. Os bairros de Botafogo e Humaitá transformaram-se, ao longo do tempo em um ‘zoológico arquitetônico’, onde coexiste uma variedade de tipos arquitetônicos. Esta difícil coexistência faz parte de sua história, embora, quando de sua formação — Chácaras com suas Ville— e evolução urbana —Casas Geminadas e Palacetes—, os tipos fossem em menor número. 16 As modificações introduzidas pelos moradores são poucas e sem expressão: alguns alpendres de telha de cerâmica, pérgulas de madeira, acréscimos de terraço etc. O motivo maior deve ser o fato de existir pouco espaço de expansão, mas se deve considerar que os moradores percebem e se sentem num ‘lugar especial’ com cada família com o espaço de sua individualidade definido, portanto procuram manter a integridade de todo o conjunto, que lhes dá um sentido de lugar e valorizam a propriedade. 11