A4
CIDADE & REGIÃO
População de Rio Paranaíba aumentou
7% com a chegada de cerca de 900
universitários de outras cidades
CORREIO DE UBERLÂNDIA • DOMINGO • 18/4/2010
TAMARA SILVA | ESTUDANTE DE CIÊNCIAS
DE ALIMENTOS, É DE PATOS DE MINAS
INDÚSTRIA DO CONHECIMENTO
FOTOS: PAULO AUGUSTO
UNIDADE DA
UFV OFERECE
10 CURSOS
PARA 1,2 MIL
ESTUDANTES
MUNICÍPIO de 13 mil habitantes, no Alto Paranaíba, abriga desde 2007 unidade da UFV, o que gerou oportunidades para o comércio e para o setor de construção civil e ainda aumentou a arrecadação
CRESCIMENTO
CIDADE É A MENOR DO BRASIL A CONTAR COM UMA UNIVERSIDADE FEDERAL
CAMPUS UNIVERSITÁRIO
transforma Rio Paranaíba
ARTHUR FERNANDES | EDITOR
[email protected]
M
enor cidade do
Brasil a abrigar
um campus de
uma instituição federal de ensino superior, Rio Paranaíba, que fica
a 305 quilômetros de Uberlândia, no Alto Paranaíba,
e os seus aproximadamente
13 mil habitantes tiveram
a rotina alterada drasticamente depois da instalação
do campus avançado da
Universidade Federal de
Viçosa (UFV) na cidade, em
2007.
Três anos ou seis períodos depois, prestes a formar
as primeiras turmas de Administração de Empresas e
Agronomia, Rio Paranaíba
tenta acompanhar as mudanças provocadas com a
chegada dos universitários
em quantidade equivalente
a quase 10% da sua população.
Hoje são cerca de 1,2
mil alunos do campus Rio
Paranaíba (CRP/UFV). Destes, cerca de 900 são de
fora e estão na cidade em
busca do diploma de uma
das universidades federais
mais bem conceituadas do
Brasil, sobretudo, na área
das ciências agrárias. Em
2012, a previsão é de que
o número de estudantes na
cidade chegue a 2,5 mil.
Os 10 cursos superiores
oferecidos atualmente (leia
na página ao lado) e a leva
de jovens que chegam à cidade a cada vestibular mudaram a dinâmica do município, que ainda adapta a
parte de infraestrutura para
acompanhar a transformação. Construções são vistas
por todos os lados da cidade,
os valores de aluguéis dobraram e são equivalentes
aos praticados em cidades
de médio e grande porte.
A perspectiva de retorno praticamente certo de
novos investimentos mexe
com a cabeça dos moradores acostumados ao cotidia-
no pacato de uma cidade
com a economia baseada
na atividade rural, principalmente, café, grãos, cenoura, batata e alho.
Está em andamento a
construção de um novo
campus, com cerca de 70
mil metros quadrados de
área, em um terreno de 90
hectares (90 mil m² de área
bruta). A primeira etapa
está prevista para ser concluída até o segundo semestre deste ano. A atual instituição funciona em um
prédio fora da cidade, a 13
quilômetros do perímetro
urbano, que originalmente
abrigaria uma escola agrotécnica.
QUATRO NOVOS BAIRROS
Após a chegada do campus da UFV a Rio Paranaíba,
quatro novos bairros foram
abertos pela prefeitura com
infraestrutura urbana para
300 lotes, que estão à venda, a partir de R$ 25 mil. A
iniciativa privada também
tem cerca de mil lotes à
venda, segundo a administração municipal.
Com a procura maior que
a oferta de moradia para
os estudantes, o preço do
aluguel disparou em Rio
Paranaíba. O valor médio
dobrou depois da instalação do campus da UFV. “O
aluguel praticado antes era
80% a 100% do salário mí-
nimo. Hoje, tem casa alugada por R$ 1,8 mil. É preço
de casa em Belo Horizonte.
Temos centenas de construções numa cidade desse
tamanho”, afirmou o prefeito João Gutembergue de
Castro.
“Pagava R$ 400 de
aluguel antes da universidade. Agora estou pagando R$ 800. Não dá para
aguentar, comprei um terreno e estou construindo”,
disse o gerente administrativo Alaer Barbosa, que
se mudou para a cidade há
10 anos para trabalhar na
maior empresa de agronegócios de Rio Paranaíba.
CONSTRUÇÃO CIVIL
DEMANDA POR MORADIAS GARANTE OCUPAÇÃO DE PRÉDIOS
Quem tem condições de
investir na construção civil
está confiante na perspectiva de aumento da quantidade
de alunos na universidade e o
consequente crescimento de
Rio Paranaíba. Os prédios já
construídos para os estudantes têm 100% de ocupação.
Muitos com repúblicas com
cinco, seis integrantes.
Proprietário de um posto
de combustíveis, o empresário rio-paranaibano Arley
Silva Resende é dono de um
prédio com apartamentos
de 140 metros quadrados
alugados para estudantes,
como as universitárias do
curso de Engenharia Civil
Táfilla Chayene Paula Faria
e Marina Milla Assunção de
Araújo, ambas da cidade de
Patrocínio. “É o primeiro prédio da cidade com elevador”,
afirmou.
As estudantes pagam R$
1.050 pelo aluguel. Por este
valor, em Uberlândia daria
para alugar um imóvel na zona
sul de três quartos e com mais
de 100 m² de área. “O aluguel
era muito barato. Hoje equivale a pouco mais de 0,5% do
valor do imóvel. O ideal seria
1%”, disse o empresário.
PREFEITO João Gutembergue diz que cidade tem centenas de construções
OPORTUNIDADE
RECLAMAÇÃO
COMERCIANTE INVESTE EM APARTAMENTOS
De olho nas oportunidades de ganhar dinheiro com a
chegada de centenas de universitários a cada semestre,
o comerciante João Batista,
dono de uma loja de materiais
de construção, está construindo um prédio residencial nos
pavimentos superiores do estabelecimento. São 12 apartamentos com dois quartos e 68
metros quadrados.
“Por enquanto está bom,
mas ainda tenho medo, porque a gente não sabe direito se
esse pessoal [os estudantes]
vem mesmo para cá”, disse o
comerciante, que ampliou o número de funcionários da loja de
12 para 15.
O comerciante Farlem Rocha lucra duplamente com a
chegada da universidade. Ele é
dono de um supermercado e de
um prédio com mais da metade
dos apartamentos ocupada por
estudantes. “O movimento aumentou uns 20%. Estou expandindo o supermercado.”
O município também tem
dividendos com a movimentação no setor de construção
civil. Antes quase insignificante,
a arrecadação com o ISS (Imposto Sobre Serviços) hoje se
aproxima de R$ 20 mil, por mês.
CAMINHO INVERSO
JOVENS TROCAM CIDADES MAIORES PELA MENOR
EMPREENDEDOR João Batista é dono de loja de materiais de construção
Com a instalação do campus
da UFV na região do Alto Paranaíba, estudantes de cidade maiores fazem um caminho inverso
do que normalmente acontece.
Tamara Lúcia Silva saiu de Patos
de Minas para morar em Rio Paranaíba, a cerca de 85 quilômetros de casa, e estudar Ciências
de Alimentos. “Em Patos só tem
faculdade particular. Aqui estudo
em uma federal.”
A colega de curso Tatiane
Nogueira Caixeta também é
de Patos, mas se mudou com
a família para Rio Paranaíba. O
ensino com ênfase na aplicação
prática da teoria também atrai
alunos de outros estados, como
o paulista de Sorocaba, Aislann
de Oliveira Rosa. Estudante do
terceiro período de Agronomia,
ele quer seguir carreira na esfera acadêmica. “É um curso que
abrange muitas áreas.”
Para a estudante de Engenharia Civil Táfilla Chayene
Paula Faria, que também passou no vestibular para o curso
da Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM), em
Uberaba, há outra vantagem
em se matricular na universidade de Viçosa, campus Rio
Paranaíba. “O curso aqui já é
aprovado pelo MEC.”
ESTUDANTES
DIZEM HAVER
ESPECULAÇÃO
O valor dos aluguéis em Rio
Paranaíba foi motivo de reclamação por parte de todos os
estudantes entrevistados pela
reportagem do CORREIO de
Uberlândia. “A especulação
aqui está muito grande”, afirmou Luiz Felipe Sales, aluno
do segundo período de Engenharia Civil. Natural de Juiz de
Fora, ele e um colega de curso
dividem uma casa na cidade.
“Pagamos 90% de um salário
mínimo. Está barato para os padrões daqui.”
A falta de opções de lazer e
a escassez de produtos no comércio também foram citadas
pelos alunos. “Os supermercados têm pequena variedade de
produtos”, disse Luiz Sales. As
festas nas repúblicas, no entanto, suprem a falta do que fazer
nas horas vagas. “A diversão da
cidade é a gente que faz”, disse
o universitário.
Download

CAMPUS UNIVERSITÁRIO - DTI