UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA TV DIGITAL NO BRASIL: ASPECTOS TECNOLÓGICOS E ECONÔMICOS RELATIVOS À SUA IMPLANTAÇÃO MARCELO BIASI CABRAL ABRIL 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA TV DIGITAL NO BRASIL: ASPECTOS TECNOLÓGICOS E ECONÔMICOS RELATIVOS À SUA IMPLANTAÇÃO Dissertação apresentada por Marcelo Biasi Cabral à Universidade Federal de Uberlândia - UFU, para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica, aprovada em 20/04/2005 pela seguinte banca examinadora: Antônio Cláudio Paschoarelli Veiga, Dr.– Orientador (Faculdade de Engenharia Elétrica - UFU) Gilberto Arantes Carrijo, Ph.D. (Faculdade de Engenharia Elétrica - UFU) Edna Lúcia Flores, Dra. (Faculdade de Engenharia Elétrica - UFU) Cláudio Afonso Fleury, Dr. (CEFET – UCG/GO) TV DIGITAL NO BRASIL: ASPECTOS TECNOLÓGICOS E ECONÔMICOS RELATIVOS À SUA IMPLANTAÇÃO MARCELO BIASI CABRAL Dissertação apresentada por Marcelo Biasi Cabral à Universidade Federal de Uberlândia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica. Antônio C. Paschoarelli Veiga, Dr. Orientador Gilberto Arantes Carrijo, Ph.D. Coordenador do Curso de Pós-graduação DEDICATÓRIA À Maria Inês, Pedro Júlio, Mariana e Alice pelo incentivo ao longo de mais esta trajetória na minha vida. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, o criador, por mais esta conquista em minha vida. Acreditar nele me confortou e me deu forças nas horas difíceis quando da realização deste trabalho. Ao CNPq, por ter concebido suporte financeiro ao longo de 24 meses, o qual foi fundamental na dedicação exclusiva deste trabalho. De maneira especial, apresento ao Professor Antonio C. Paschoarelli Veiga, meus sinceros agradecimentos pelo apoio, amizade, compreensão, incentivo, paciência e colaboração recebida durante os mais de 24 meses de realização do mestrado. Agradeço também, pelo apoio emocional e compreensão concebida quando das horas difíceis ocasionadas por problemas pessoais. A banca examinadora, que apesar dos deveres e compromissos, pode analisar previamente meu trabalho, e posteriormente pode comparecer a defesa, trazendo sua contribuição com o objetivo de aperfeiçoá-lo. Aos demais amigos, colegas, professores, funcionários e servidores, da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia, pelo incentivo e apoio que em muito contribuíam para a conclusão desta dissertação. As Universidade, Faculdades, Laboratórios, Centros de Pesquisas e Tecnologia, Escolas de Formação, Autores, Alunos, Professores, Pós-graduandos, Mestres, Doutores, Especialistas, Profissionais, Órgãos Governamentais, Órgãos de Pesquisa, Representantes, Fábricas, Industrias, Emissoras de TV, Associações, enfim a todos que disponibilizaram algum tipo de material sobre o tema, sem este material seria inviável a realização deste trabalho. RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar e analisar os diversos padrões de transmissão de TV Digital Terrestre, disponíveis atualmente no mercado mundial: ATSC, DVB-T, ISDB-T. É feita uma breve introdução dos sistemas já existentes, abordando os principais aspectos tecnológicos e econômicos, em vários países, que detém a tecnologia ou já fizeram escolha de seu padrão, com intenção de demonstrar qual seria a melhor opção para o Brasil, a implementação de um padrão nacional ou a adoção de um padrão já desenvolvido. Para efeito de estudo do mercado e o possível impacto ocasionado na escolha do padrão a ser adotado no Brasil, o trabalho trás consigo uma analise de toda a cadeia produtiva e dos possíveis cenários, bem como uma pesquisa de mercado e uma analise dos possíveis modelos de negócios, a serem implantados quando da definição do padrão. E por último, são apresentadas conclusões sobre a viabilidade técnica e econômica do processo de implantação da TV Digital no Brasil. ABSTRACT The objective of this work is to currently present and to analyze the diverse standards of transmission of Terrestrial Digital TV, available in the world-wide market: ATSC, DVB-T, ISDB-T. One brief introduction of the existing systems is made already, approaching the main aspects technological and economic, in some countries, that withhold the technology or already they had made choice of its standard, with intention to demonstrate which it would be the best option to Brazil, the implementation of a national standard or the adoption of a developed standard already. For effect of study of the market and the possible impact caused in the choice of the standard to be adopted in Brazil, the work backwards within one analyzes of all the productive chain and of the possible scenes, as well as a research of market and one it analyzes of the possible business-oriented models, to be implanted when the definition of the standard. E finally, the conclusions are presented on the viability economic technique and of the implantation's process of the Digital TV in Brazil. Sumário SUMÁRIO 1. 2. INTRODUÇÃO GERAL 02 1.1 Introdução 02 1.2 Organização da Dissertação 05 INTRODUÇÃO A TV DIGITAL 08 2.1 Conceitos Básicos 08 08 2.1.1 Tipos de modulação 2.1.1.1 VSB 08 2.1.1.2 OFDM 09 12 2.1.2 Codificação 2.1.2.1 Codificação do áudio 12 2.1.2.2 Codificação da imagem 12 2.1.2.3 Codificação de Vídeo 14 17 2.1.3 Áudio 2.1.3.1 Dolby AC-3 17 2.1.3.2 MPEG-1 18 2.1.3.3 MPEG-2 19 2.1.3.4 MPEG-2AAC 19 2.1.4 Vídeo 19 2.1.5 Transmissão 21 2.1.6 Sistemas analógicos 22 VII Sumário 2.1.6.1 NTSC 23 2.1.6.2 PAL 23 2.1.6.3 SECAM 24 2.1.7 Formato de tela e resolução 25 2.1.7.1 HDTV 27 2.1.7.1.1 MURSE 28 2.1.7.1.2 MAC 29 2.1.7.2 EDTV 29 2.1.7.3 SDTV 29 2.1.7.4 LDTV 29 2.1.8 API 30 2.2 A Evolução Digital No Brasil 30 2.3 Tecnologias Na Tv Digital 33 2.3.1 Transmissão digital 33 2.4 PADRÕES MUNDIAIS DE TV DIGITAL 2.4.1 Padrão Advanced Television System Comittee (ATSC) 36 36 2.4.1.1 Introdução 36 2.4.1.2 Histórico do padrão ATSC 37 2.4.1.3 Modelo de camadas do padrão ATSC 38 2.4.1.4 Sistema de radiodifusão terrestre ATSC 41 2.4.1.5 Degradação do sinal digital imposto pelo canal de transmissão 44 2.4.1.6 Relação portadora ruído (C/N) 45 2.4.1.7 Potência requerida 45 2.4.1.8 Modelos de receptores digitais ATSC 45 2.4.1.9 Política de mercado 47 2.4.2 Padrão Digital Video Broadcasting (DVB) 48 48 2.4.2.1 Introdução VIII Sumário 2.4.2.2 Histórico do padrão DVB 49 2.4.2.3 Modelo de camadas do padrão DVB 50 2.4.2.4 Sistema de radiodifusão terrestre DVB 51 2.4.2.5 Relação portadora ruído (C/N) 56 2.4.3 Padrão Digital Video Broadcasting (ISDB) 56 2.4.3.1 Introdução 56 2.4.3.2 Histórico do padrão ISDB 57 2.4.3.3 Modelo de camadas do padrão ISDB 58 2.4.3.4 Sistema de radiodifusão terrestre ISDB 60 2.4.3.5 Segmentação de banda 61 2.4.3.6 Transmissão hierárquica no ISDB 63 2.4.3.7 Serviços disponíveis no ISDB 65 2.4.3.8 Recepção móvel no ISDB 65 2.4.4 Padrão Digital Modulation Broadcasting (DMB) 66 2.4.4.1 Introdução 66 2.4.4.2 Histórico do DMB 66 2.4.4.3 Sistema de radiodifusão terrestre DMB 67 2.4.4.4 Modelo de negócio do DMB 68 69 2.4.5 Rede de freqüência única 2.5 Set-Top Boxes 70 2.5.1 Arquitetura de um set-top box 71 2.5.2 Interfaces adicionais 73 2.5.3 Sistema Operacional 74 2.6 Televisor Digital 75 2.6.1 Estrutura do televisor digital 75 75 2.7 Conclusões sobre o Capítulo IX Sumário 3. MODULAÇÃO EM SINAIS DE HDTV 78 3.1 Introdução 78 3.2 Conceitos Básicos 78 3.3 Transmissão Analógica X Digital 79 3.4 Modulação Quadrature Amplitude Modulation (QAM) 80 3.5 Modulação Offset Quadrature Amplitude Modulation (OQAM) 82 3.6 Modos Hierárquico E Não-Hierárquico 84 3.7 Modulações Hierárquicas 85 3.8 Eficiência Espectral 87 3.9 Degradação Suave Ou Abrupta 89 3.10 Modulação Vestigial Sideband (VSB) 90 3.10.1 Introdução 90 3.10.2 8 Level - Vestigial Side Band (8-VSB) 91 3.10.2.1 Processo de modulação 8-VSB 95 3.10.2.2 Análise da modulação VSB 97 3.10.2.3 Interferências no sistema ATSC 3.11 Modulação Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) 100 101 3.11.1 Introdução 101 3.11.2 Aplicações da modulação OFDM 102 3.11.3 Princípios básicos da modulação OFDM 106 3.11.4 Geração de um sinal OFDM 112 3.11.5 Característica do espectro de potência do sinal 116 3.11.6 Vantagens e desvantagens da modulação OFDM 119 3.12 Modulação 8-VSB X Modulação COFDM 122 3.12.1 Desempenho do transmissor 123 128 3.13 Conclusões Sobre o Capítulo X Sumário 4. IMPACTOS DA DEFINIÇÃO DO PADRÃO BRASILEIRO DE TV DIGITAL 130 4.1 Introdução 130 4.2 Indústria de Bens Eletrônicos de Consumo 131 4.2.1 Panorama mundial 131 4.2.2 O cenário brasileiro 133 4.2.3 Marcos institucionais relevantes da indústria de bens eletrônicos de consumo no Brasil 140 4.1.1.1 A Zona Franca de Manaus – ZFM 140 4.1.1.2 O Processo produtivo básico - PPB 142 4.3 Mercado Brasileiro de Televisores em Cores 142 4.3.1 Domicílios e televisores 142 4.3.2 Expectativa da queda de preços 143 4.4 TV Digital e a Realidade Brasileira 144 4.5 Políticas Estruturais De Definição E Implantação Do Modelo Nacional TV Digital Aberta 147 4.6 A Posição do Governo Brasileiro 148 4.7 O Panorama da TV Digital no Mundo 150 4.7.1 Estados Unidos 150 4.7.2 Canadá 150 4.7.3 México 150 4.7.4 Coréia do Sul, Taiwan e Argentina 152 4.7.5 Reino Unido 152 4.7.6 Alemanha 152 4.7.7 Espanha 153 4.7.8 Austrália 153 4.7.9 Índia, Nova Zelândia e Cingapura 154 4.7.10 Japão 154 4.7.11 China 155 XI Sumário 155 4.8 O Sistema Brasileiro de TV Digital 4.8.1 A escala de tempo da tv digital 4.9 Perspectivas para a Cadeia Nacional de Fabricação de Bens de Consumo de Televisores Digitais 158 4.9.1 A Cadeia produtiva da TV Digital 159 4.9.2 Metodologia de pesquisa 160 4.9.3 Identificação dos principais fabricantes 161 4.9.4 Análise das estratégias para a TV Digital 162 4.9.5 O padrão da TV Digital e a Questão do Middleware 162 4.9.6 Penetração da TV Digital 165 4.9.7 O Possível mercado de TV Digital 168 4.9.8 A estratégia das empresas fabricantes 168 4.9.9 Possíveis impactos na balança comercial 169 4.10 Análise de Cenário: Impactos Sociais Versus Impactos Financeiros 171 4.10.1 Descrições dos cenários 171 4.10.2 Análise de cenários 172 4.1.1.3 Cenário 1: padrão totalmente nacional 172 4.1.1.4 Cenário 2: padrão totalmente importado 173 4.1.1.5 Cenário 3: padrão intermediário com middleware nacional 175 4.11 Conclusões 177 178 4.11.1 Próximos Passos 5. 157 Receptores Para TV Digital 181 5.1 Analise dos Receptores de TV Digital 181 5.1.1 Introdução 181 5.1.2 Indústria e o mercado de televisores no Brasil 181 5.1.3 Produtos de TV Digital existentes no mundo 184 5.1.3.1 Estados Unidos com o ATSC 184 XII Sumário 5.1.3.2 A Europa com o DVB-T 185 5.1.3.3 A Austrália com o DVB-T/7MHz 186 5.1.3.4 O Japão com o ISDB-T 188 5.1.4 Definindo os produtos de TV Digital no Brasil 5.1.4.1 Arquiteturas do sistema de recepção 190 5.1.4.2 Set–Top Box - HD/SD 190 5.1.4.3 Monitor-SD 192 5.1.4.4 Monitor-HD 193 5.1.4.5 Televisor integrado SD 193 5.1.4.6 Televisor integrado HD 193 5.1.4.7 Outros produtos de consumo de TV Digital 194 195 5.2 Avaliação dos Televisores 6. 190 5.2.1 Introdução 195 5.2.2 Tela de plasma 195 5.2.3 Liquid crystal display (LCD) 197 5.2.4 Cathode ray tube (CRT) 198 5.2.5 Comparação/avaliação dos Modelos 201 5.2.6 Conclusões das avaliações 203 PESQUISA DE MERCADO 205 6.1 Introdução 205 6.2 Segmento Consumidores 206 6.2.1 Expectativas dos usuários brasileiros para a televisão do futuro 206 6.2.2 Melhor imagem, melhor som 209 6.2.3 Ajuda para deficientes físicos 210 6.2.4 Gravação de programas e near-video-on-demand 210 6.2.5 Vídeo adicional 211 6.2.6 Zooming 212 XIII Sumário 6.2.7 Múltiplos programas e vídeo sob demanda 212 6.2.8 Interatividade 213 6.2.8.1 Interação com o programa 215 6.2.8.2 Home shopping e merchandising 216 6.2.8.3 Influência na programação 217 6.2.9 Internet 217 6.2.10 Áudio adicional 218 6.2.11 Legenda adicional 219 6.2.12 Outras características 219 6.2.12.1 Periféricos 219 6.2.12.2 Controle ativado pela voz 219 6.2.12.3 Senha 220 6.2.12.4 Programas preferidos 220 6.2.12.5 Mecanismos de busca 220 6.2.12.6 Tela fina e portátil 220 6.2.12.7 No-break 221 6.2.12.8 Como utiliza - lá na educação? 221 6.2.12.9 Jogos interativos 222 6.2.12.10 Eletronic Programming (EPG) 223 6.2.13 Pesquisa quantitativa (síntese de dados encontrados) 223 6.2.14 Pesquisa business standard 225 6.3 Segmento Emissora 226 6.3.1 Produção digital 227 6.4 Segmento indústria 228 6.4.1 Transmissão digital e suas possibilidades 228 6.4.2 Percepção sobre os padrões 229 6.4.3 Prazos factíveis para produção de itens digitais, segundo o segmento industrial 229 XIV Sumário 6.4.4 Posicionamento sobre o mercado consumidor 229 6.4.5 Expectativas de investimentos para manufaturas 230 6.4.6 Dados descritivos do parque industrial no Brasil 231 6.4.7 Percepções sobre geração de empregos 232 6.4.8 Entrada de receptores digitais no mercado de consumo 232 6.4.9 Interferência do padrão no preço dos equipamentos 232 6.4.10 Percepções sobre exportação 233 234 6.5 Pesquisa com demonstração 6.5.1 Expectativas de investimentos para manufaturas 7. 235 6.6 Conclusão 235 MODELOS DE NEGÓCIO EM TV DIGITAL 237 7.1 Introdução 237 7.2 Características para modelos de negócio 238 7.3 Modelos de negócio para TV digital 241 7.3.1 Programas secundários de televisão 241 7.3.2 Diversidade de serviços e acesso a internet 242 7.3.3 Receptibilidade do sinal de televisão 243 244 7.4 Possíveis modelos de negócio 7.4.1 Modelo 1: HDTV 244 7.4.2 Modelo 2: HDTV com replicação de conteúdo 245 7.4.3 Modelo 3: HDTV e um segundo programa de LDTV ou SDTV 245 7.4.4 Modelo 4: HDTV e outros serviços de telecomunicações 246 7.4.5 Modelo 5: múltiplos programas em SDTV 246 7.4.6 Modelo 6: múltiplos programas em EDTV 247 7.4.7 Modelo 7: múltiplos programas SDTV com transmissão hierárquica 248 7.4.8 Modelo 8: múltiplos programas em EDTV com transmissão hierárquica 248 XV Sumário 7.4.9 Modelo 9: SDTV com outros serviços de comunicação 249 7.4.10 Modelo 10: EDTV com outros serviços de telecomunicações 249 7.4.11 Modelo 11: alternância de modos em diferentes horários 249 7.4.12 Modelo 12: alternância de modos em diferentes horários, transmissão hierárquica 8. com 250 7.5 Observações Acerca dos Modelos de Negócio 250 7.6 TABELA COMPARATIVA 252 7.7 Modelos de Negócio Adotados em Alguns Países 257 7.7.1 Estados Unidos 257 7.7.2 Europa 258 7.7.3 Japão 258 7.8 Conclusão 259 CONCLUSÕES, CONTRIBUIÇÕES DESTE TRABALHO E FUTUROS TRABALHOS 261 XVI Lista de Figuras LISTA DE FIGURAS Figura 2. 1 - Diagrama de blocos do processo de modulação VSB 09 Figura 2. 2 - Diagrama de blocos do processo de modulação COFDM 11 Figura 2. 3 - Representação das etapas de codificação de imagens 14 Figura 2. 4 - Predição temporal com compensação de movimento 15 Figura 2. 5 - Diagrama de sistema de predição com compensação de movimento 16 Figura 2. 6 - Quantificação não-linear 16 Figura 2. 7 - Processo de transmissão do sinal de áudio Dolby AC-3 17 Figura 2. 8 - Processo de recepção do sinal de áudio Dolby AC-3 18 Figura 2. 9 - Transmissão de quadros no sistema MPEG 20 Figura 2. 10 - Estrutura genérica de uma cadeia de transmissão de HDTV 22 Figura 2. 11 - Formato de tela: convencional (4:3) e HDTV (16:9) 28 Figura 2. 12 - Quadro funcional do API 30 Figura 2. 13 - Diagrama de blocos de um sistema de emissão digital 34 Figura 2. 14 - Modelo de camadas em serviços e plataformas de telecomunicações 35 Figura 2. 15 - Diagrama de bloco do sistema ATSC 39 Figura 2. 16 - Possibilidades de transmissão com o modelo ATSC 41 Figura 2. 17 - Diagrama de bloco do sistema de transmissão 8-VSB 41 Figura 2. 18 - Diagrama de bloco do transmissor 8-VSB 43 Figura 2. 19 - Diagrama de blocos do receptor 8-VSB 43 Figura 2. 20 - Diagrama de blocos do sistema DVB 50 Figura 2. 21 - Diagrama de blocos funcional do sistema DVB-T 53 XVII Lista de Figuras Figura 2. 22 - Diagrama de blocos de modulação hierárquica do sistema DVB-T 54 Figura 2. 23 - Diagrama em bloco do sistema ISDB 59 Figura 2. 24 - Agrupamento dos 13 segmentos de banda 62 Figura 2. 25 - Convívio faixa-larga/faixa-estreita no ISDB 63 Figura 2. 26 - Espectro do sinal OQAM 67 Figura 2. 27 – Exemplo de um sistema em SFN 70 Figura 2. 28 - Painel traseiro de um Set-Top Box para ligação a periféricos 73 Figura 2. 29 - Diagrama simplificado de um receptor de TV Digital 75 Figura 3. 1 - Constelação do sinal QPSK 81 Figura 3. 2 - Espectro do sinal OQAM 83 Figura 3. 3 - Diagrama de blocos funcional simplificado do sistema DVB-T 84 Figura 3. 4 - Constelação MR64-QAM 86 Figura 3. 5 - Diagrama de blocos do transmissor 8-VSB 91 Figura 3. 6 - Formato do pacote de transporte 92 Figura 3. 7 - Quadro de dados 8-VSB 92 Figura 3. 8 - Resposta do transmissor/receptor 8-VSB 95 Figura 3. 9 - Espectro de p(t) e r(t) 97 Figura 3. 10 - As componentes em fase e quadratura do sinal VSB 99 Figura 3. 11 - Diagrama de blocos do receptor 8-VSB 100 Figura 3. 12 - Diagrama de bloco simplificado de um sistema OFDM 103 Figura 3. 13 - Símbolos COFDM 104 Figura 3. 14 - Espectro de um sinal QAM não filtrado (a) e de um sinal OFDM(b) 106 Figura 3. 15 - Sinal OFDM 107 Figura 3. 16 - Como um caminho atrasado causa interferência Inter-Symbol (ISI) 109 Figura 3. 17 - A adição de um intervalo de guarda 109 Figura 3. 18 - Sinal OFDM usando intervalo de guarda na freqüência e no tempo 110 Figura 3. 19 - Representação simplificada de um sinal OFDM 112 Figura 3. 20 - Diagrama de blocos de geração de um sinal OFDM usando IFFT/FFT 114 XVIII Lista de Figuras Figura 3. 21 - Diagrama de blocos de um sistema OFDM 114 Figura 3. 22 - Diagrama de blocos de geração de sinal COFDM usando IFFT/FFT 116 Figura 3. 23 - Espectro de potência da portadora N 118 Figura 3. 24 - Espectro teórico do sinal OFDM para um intervalo de guarda ∆=1/4 119 Figura 3. 25 - Relação de potência de pico/potência média para um sinal 8—VSB 122 Figura 3. 26 - Estatística de recepção para ambientes fechados por estação (30 pés) 124 Figura 3. 27 - Estatística de recepção para ambientes fechados por estação (6 pés) 125 Figura 3. 28 - Estatística de recepção X distância (30 pés) 126 Figura 3. 29 - Estatística de recepção x distância (6 pés) 127 Figura 4. 1 - Mercado mundial de produtos eletrônicos, 2002 133 Figura 4. 2 - Market Share da TV a cores, 2001 135 Figura 4. 3 – Balança comercial de produtos eletroeletrônicos 138 Figura 4. 4 – Evolução das exportações 138 Figura 4. 5 - Evolução das importações 139 Figura 4. 6 - Atual situação da TV Aberta no Brasil 156 Figura 4. 7 - Cenário futuro da TV digital Aberta no Brasil 156 Figura 4. 8 - O Processo de implantação da TV Digital 158 Figura 4. 9 - Cadeia da TV Digital 160 Figura 4. 10 - Componentes de um padrão de TV Digital 163 Figura 4. 11 - Tecnologias dos padrões existentes 163 Figura 4. 12 - Penetração da TV Paga por classe de renda 166 Figura 4. 13 - Dimensões do sucesso da penetração da TV Digital 167 Figura 5. 1 - Televisor plasma display Sony 42” - WEGA KE-42X5910B 197 Figura 5. 2 - Televisor LCD Philips 15” - 15PF9936 198 Figura 5. 3 - Televisor CRT Philco 38” - DVS-34OWDFS 199 XIX Lista de Tabelas LISTA DE TABELAS Tabela 2. 1 - Parâmetros técnicos do sistema NTSC 23 Tabela 2. 2 - Parâmetros técnicos e subdivisões do sistema PAL 24 Tabela 2. 3 - Parâmetros técnicos e subdivisões do sistema SECAM 24 Tabela 2. 4 – Formatos e resoluções adotados pelas redes de TV Digital americanas 46 Tabela 2. 5 - Modos de operação COFDM para o padrão DVB 55 Tabela 2. 6 - Modos de operações COFDM do sistema ISDB-T 61 Tabela 3. 1 - Eficiência espectral para as modulações 88 Tabela 3. 2 - Parâmetros do modo de transmissão 8-VSB e 16-VSB 94 Tabela 3. 3 – Valores numéricos para os parâmetros OFDM do modo 2k e 8K 117 Tabela 3. 4 - Comparação do desempenho considerando a modulação 123 Tabela 3. 5 - Relação entre potência de pico e a potência média 123 Tabela 4. 1 - Composição do mercado de produtos eletrônicos e de bens eletrônicos de consumo 2002 132 Tabela 4. 2 - Balança comercial (2003) setor de imagem e som 136 Tabela 4. 3 - Balança comercial (2004) setor de imagem e som 137 Tabela 4. 4 – Distribuição de televisores por classes sociais 143 Tabela 4. 5 - Fabricantes de televisores presentes no Brasil 161 Tabela 4. 6 - Valor relativo dos componentes da TV 170 Tabela 4. 7 - Resumo da análise de cenários 176 Tabela 5. 1 - Comparação dos modelos da Sony, Philips e Philco 201 Tabela 5. 2 - Avaliação InfoLab (Revista InfoExame) 202 XX Lista de Tabelas Tabela 6. 1 - Importância dos atributos, pesquisa quantitativa 208 Tabela 6. 2 - Importância dos atributos, pesquisa quantitativa Shopping Centers 208 Tabela 6. 3 - Classes de sistemas interativos 214 Tabela 6. 4 - Tempo médio de compra de aparelhos de TV 224 Tabela 6. 5 - Tipos de antena utilizada 224 Tabela 6. 6 - Domicílios com TV por assinatura 224 Tabela 6. 7 - Notas atribuídas para as imagens das simulações das TVs 224 Tabela 6. 8 – Hierarquia dos serviços 224 Tabela 6. 9 - Dados da pesquisa realizado pela revista Business Standard 225 Tabela 6. 10 - Linha do tempo, segundo o segmento industrial 229 Tabela 6. 11 - Preços dos receptores digitais, segundo o segmento industrial 233 Tabela 7. 1 – Tabela Comparativa Modelo de Negócio 252 XXI Lista de Abreviaturas LISTA DE ABREVIATURAS 16-VSB Vestigial Sideband–16 Level 3G Terceira Geração 8-VSB Vestigial Side Band – 8 Level ABERT Associação Brasileira de Emiss oras de Rádio ABINEE Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica AC Alternated Current ADSL Asymmetric Digital Subscriber Line ALCA Área de Livre Comércio das Américas AM Amplitude Modulation AM-DSB Amplitude Modulation-Double Side Band AM-VSB Amplitude Modulation-Vestigial Side Band ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações API Application Programming Interface ASK Amplitude Shift Keying ATM Asynchronous Transfer Mode ATSC Advanced Television Standards Committee ATV Advanced Television AV Audio-Video BBC British Broadcasting Corporation BER Bit Error Rate Bps Bits por Segundo XXII Lista de Abreviaturas BSkyB TV Digital via Satélite BST-OFDM Band Segmented Transmission C/N Carrier to Noise Ratio CATV Cable TeleVision CCD Charge-Coupled Device CCI Co-Channel Interface CD Compact Disc CDMA Code Division Multiplex Access CODEC Coder/Decoder CODFM Codec Orthogonal Frequency Division Multiplexing CPqD Centro de Pesquisa e Desenvolvimento CRT Cathode Ray Tube CRTC Canadian Radio and Telecommunications Commissifon D/A Digital to Analogic DAB Digital Áudio Broadcasting dB Unidade de Potência DBS Direct Broadcasting Satellite DC Discrete Current DCT Discret Cosine Transform DF Domínio de Freqüência DIBEG´s Digital Broadcasting Experts Group DMB Digital Modulation Broadcast DSB Double Side Band DSB-SC Double Side Band–Suppressed Carrier DSP Digital Signal Processing DSS Digital Satellite Service DTH Direct-to-Home DTS Digital Theater Systems XXIII Lista de Abreviaturas DTTB Digital Terrestrial Television Broadcasting DV Digital Video DVB Digital Video Broadcasting DVB-C Digital Video Broadcasting-Cable DVB-S Digital Video Broadcasting–Satellite DVB-T Digital Video Broadcasting - Terrestrial DVD Digital Video Disc DVI Digital Voice Image e Entrelaçado EDTV Enhanced Definition Television EIRP Effective Isotropic Radiated Power ELETROS Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos EPG Eletronic Programming Guide ERP Potência Efetiva Irradiada ETSI European Telecommunications Standards Institute ETSI European Telecommunications Standards Institute FCC Federal Communications Commission FDM Frequency Division Multiplexing FEC Forward Error Correction FFT Fourier Fast Transform FFT Transformada Rápida de Fourier FI Freqüência Intermediária FM Frequency Modulation FSK Frequency Shift Keying FSS Fixed Service Satellite GHz Giga Hertz GPS Global Position System HDMI High Definition Multimedia Interface XXIV Lista de Abreviaturas HDTV High Definition TeleVision Hz Hertz (Unidade de Freqüência) HPA High Power Amplifier HTDV High Definition TV i Interlacing IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística IFFT Transformada Inversa Rápida de Fourier IPI Imposto sobre Produtos Industrializados ISDB –T Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial ISDN Integrated Services Digital Network ISI Inter-Symbol Interference ISO International Standard Organization iTV TV Digital Aberta do Reino Unido JEITA Associação da Indústria Eletrônica Japonesa JPEG Joint Photographic Experts Group JVC Japan Video Corporation Kbps Kilo Bits por Segundo km Mil Metros (Unidade de Quilômetro) Kw Kilo Watts LCD Liquid Crystal Display LDTV Low Definition Television LDTV Low Definition TV LMDS Local Multipoint Distribution System LW Long Waves m Metros MAC Multiplexed Analog Components Mbps Mega Bits por Segundo MHz Mega Hertz XXV Lista de Abreviaturas MMDS Multi-channel Multipoint Distribution System MODEM Modulador/Demodulador MP3 MPEG-1 Layer 3 MPEG Moving Pictures Experts Group MPEG-1 Moving Picture Experts Group-1 MPEG-2AAC Advanced Audio Coding MPEG-4 Moving Picture Experts Group-1 MUSE Multiple Sub-Nyquist Sampling Encoding MW Medium Wave NAB National Association of Broadcasters NHK Nippon Hoso Kyuokai NTSC National Television Standard Committee OFDM Orthogonal Frequency Division Multiplexing OQAM Offset Quadrature Amplitude Modulation OSD On Screen Display p Pixel p Progressive P&D Pesquisa e Desenvolvimento PAL Phase Alternating Line PAL-M Padrão Brasileiro de TV Analógica PC Personal Computer PCI Peripheral Component Interconnect PCM Pulse Code Modulation PDA Personal Digital Assistant PDI Plesiochronous Digital Hierarchies PDS Processamento Digital de Sinais PIP Picture-in-Picture PM Phase Modulation XXVI Lista de Abreviaturas PPB Processo Produtivo Básico PSK Phase Shift Keying q.p.s Quadros por Segundo QAM Quadrature Amplitude Modulation QPSK Quadrature Phase Shift Keying REDECOOP Núcleo de Pesquisa em Redes de Coop. e Gestão do Conhecimento RF Radio Frequency RGB Reed-Green-Blue RMS Root Mean Square RS Reed Solomon S/N Signal/Noise SAP Second Carrier Modulation SBTVD Sistema Brasileiro de TV Digital SCM Single Carrier Modulation SDDI Serial Digital Data Interface SDH Synchronous Digital Hierarchy SDTV Digital Standard Definition Television SDTV Standard Definition TV SECAM Seqüencial Couleur a Memórie SER Symbol Error Ratio SET Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão SFN Single Frequency Network SHF Super High Frequency SI Service Information Protocol SMPTE Society of Motion Picture and Television Engineers SSB Single Sideband SSB Single-Side Band SVGA Super Video Graphics Array XXVII Lista de Abreviaturas S-VHS Super-Video Home System S-Video Padrão de Vídeo SW Short Wave TCM Trellis Code Modulation TDM Time Division Multiplexing TDMA Time Division Multiple Access TEC Tarifa Externa Comum TMCC Transmission and Multiplexing Configuration Control TPS Transmission Parameter Signaling TVD Digital Television TVRO TV Reception Only UHF Ultra High Frequency URD Unidade Receptora Decodificadora VCI Válvula Captadora de Imagens VGA Video Graphics Array VHF Very High Frequency VLSI Desenvolvimento de Circuitos Integrados VSB Vestigial Side Band w Watts (Unidade de Potência) WFM Wave Form Monitor XXVIII Capítulo I Introdução Geral 2 Capítulo I – Introdução Geral 1. INTRODUÇÃO GERAL 1.1 Introdução Desde o Século XIX, os estudiosos pesquisavam a respeito de como fazer para transmitir imagens à distância. Sabe-se que os experimentos evoluíram de acordo com a possibilidade de cada época. Do surgimento da televisão na década de 30, com imagens monocromáticas, à introdução do sistema de cor nos anos 50, a televisão passaria a fazer parte do cotidiano das pessoas, contando histórias e narrando fatos. Quando o desenvolvimento tecnológico promove uma quebra de paradigmas, tal como foi o advento da TV à Cores, a sociedade passa a notá-lo como um todo. As mudanças passam a fazer parte da vida dos indivíduos, enquanto telespectadores, não só pelo fato da aquisição de novos aparelhos receptores e sim das possibilidades que eles proporcionam. Em pleno século XXI, está-se prestes a viver uma nova quebra de paradigmas com a introdução da tecnologia digital no serviço de televisão recebido pelo telespectador, isto é, o usuário final. O que se denomina TV Digital é a transmissão de sinais de TV em forma de dígitos binários – devido a isso daí o digital – que proporciona, entre outras vantagens, uma melhor qualidade da imagem, do som e interatividade com o telespectador. A televisão é o eletrodoméstico mais vendido no mundo e junto a isso se aproxima uma nova fase tecnológica e comportamental, ou seja, a televisão está deixando de ser um meio de comunicação passivo. A TV Digital proporciona a interativa traz ao telespectador a possibilidade de fazer compras, participar de enquetes, escolher o ângulo da câmera que deseja assistir, mandar e-mails, verificar saldo bancário, personalizar a programação, participar de uma aula e muito mais, através do seu controle remoto. Outro recurso oferecido é o T-Commerce, nome para o comércio eletrônico feito via TV interativa. Capítulo I – Introdução Geral 3 Além disto, a interatividade da televisão traz outros recursos de comunicação, formatos diferentes como o jornal, a revista e o rádio podem estar inseridos em mais uma opção dentro da programação. Em busca da Digitalização da TV, já no início dos anos 90 coincidindo com o começo da “era digital” americanos, europeus e japoneses se interessaram pela transmissão de HDTV no padrão digital, ou seja, a transmissão de televisão via sinais puramente digitais. Para isso grupos de trabalhos/comitês foram instituídos no intuito de definir as diretrizes de seus sistemas terrestres de difusão digital, culminando assim, na definição e normalização dos seguintes padrões: o americano Advanced Television System Committee (ATSC); o europeu Digital Video Broadcasting (DVB); japonês Integrated Service Digital Broadcasting (ISDB), e o padrão chinês Digital Multimedia Broadcast (DMB), o qual ainda está em fase de desenvolvimento. O Brasil seguiu a mesma tendência mundial, e em 1994 foi instituído um grupo de estudos constituído pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (ABERT), a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) e a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Padre Roberto Landell de Moura (CPqD), que até hoje trabalham em conjunto com o Governo Federal e seus Órgãos Governamentais, Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia e Agencia Nacional de Telecomunicações (ANATEL), na definição de um sistema de transmissão digital. Com a estruturação de um grupo de estudos. Em 1999, o Laboratório de TV Digital da Universidade Mackenzie, em associação com o grupo ABERT/SET e CPqD, realizou vários testes com os diversos padrões. Os resultados obtidos nos testes demonstraram que a modulação COFDM, utilizada pelos padrões europeu e japonês, apresentam melhor desempenho nas mais diversas condições de recepção, utilizando tanto antena interna quanto antena externa. O padrão japonês ISDB-T, apresentou melhor desempenho que o sistema europeu DVBT, pois possui maior robustez e flexibilidade quanto à mobilidade do receptor. O padrão americano ATSC apresentou deficiências de recepção doméstica utilizando antena 4 Capítulo I – Introdução Geral interna, ou seja, em canais cujos sinais sofrem desvanecimento por multipercurso onde não existe “visada direta”. O padrão americano ainda apresentou baixo desempenho em áreas de sombra e mostrou-se incapaz de utilizar a recepção móvel. Com isto, de posse das conclusões provenientes dos testes, o grupo acima citado, recomendou a utilização da modulação utilizada pelos padrões europeu e japonês, ou seja, a COFDM. Mas, infelizmente, inúmeras discussões entre fabricantes de televisores e componentes representados pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (ELETROS) e pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), emissoras de televisão (Grupo ABERT/SET), Governo (Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia e ANATEL) e Universidades e Laboratórios (USP, Instituto Genius, CPqD) acabaram atrasando a escolha do padrão, o que ainda não foi feito. A demora na escolha do padrão vem sendo desencadeada desde a gestão do governo Fernando Henrique, sendo que, na gestão do governo Lula o país evoluiu de um estado de letargia e absoluta ausência de estratégia de governo para uma situação de intensa vontade política em relação à implantação da TV Digital Aberta no Brasil. Atualmente especula-se a criação de um padrão brasileiro, um Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que possa ser inclusive adotado por outros países de forma a viabilizar exportações de componentes, equipamentos e aparelhos do Brasil para estes países. Alguns grupos defendem que o Brasil possui competência técnica, científica e industrial para desenvolver rapidamente qualquer padrão de TV Digital estabelecido a partir da nossa realidade com possibilidades concretas de exportação, como ocorreu na TV Analógica, porém, outros grupos defendem que seja tomado um dos padrões como base para então adaptá-lo às necessidades brasileiras, ou seja, o “padrão importado”. Mas o que se vê recentemente é que o governo Lula também está deixando o assunto em segundo plano, as redes de TV avaliam que o governo está perdendo tempo ao insistir em um Sistema Brasileiro de TV Digital, o SBTVD tinha até março de 2005, 5 Capítulo I – Introdução Geral para apresentar o relatório final com a definição do modelo a ser adotado pelo Brasil, sendo que o prazo foi adiado para o fim do ano. Sendo assim, a proposta desta dissertação é apresentar e analisar os diversos padrões de transmissão de TV Digital Terrestre, disponíveis atualmente no mercado mundial: ATSC, DVB-T, ISDB-T e DMB-T. Ao longo deste trabalho, será feita uma breve introdução dos sistemas já existentes, abordando os principais aspectos tecnológicos e econômicos, em vários países que detêm a tecnologia ou já fizeram escolha de seu padrão, com a intenção de demonstrar qual será a melhor opção para o Brasil, a implementação de um padrão nacional, SBTVD, ou a adoção de um padrão já desenvolvido, que é denominado neste trabalho como “padrão importado”. Vale salientar que esta dissertação, constitui uma analise econômica/mercadológica, e não tão técnica, a ponto de se preocupar em definir e demonstrar, todas as particularidades da tecnologia dos padrões existentes de TV Digital. Para efeito de estudo do mercado e o possível impacto ocasionado na escolha do padrão a ser adotado no Brasil, este trabalho trás consigo uma analise de toda a cadeia produtiva e dos cenários possíveis, bem como uma Pesquisa de Mercado e uma descrição dos possíveis Modelos de Negócios, a serem implantados quando da definição do padrão. 1.2 Organização da Dissertação Esta dissertação está dividida em oito Capítulos a fim de abordar os aspectos tecnológicos e econômicos relativos à implantação da TV Digital no Brasil. O Primeiro Capítulo se faz nesta introdução geral. O Segundo Capítulo tratará de conceitos básicos em relação à tecnologia da TV Digital, conceitos técnicos, porém breves, mas que ajudam a ter uma melhor visão dos padrões de transmissão de TV Digital utilizados no mundo. Capítulo I – Introdução Geral 6 O Terceiro Capítulo apresentará as técnicas de modulação em sinais utilizadas na TV Digital. Isso envolve as modulações adotadas nos sistemas americano-ATSC, europeu-DVB, japonês-ISDB e chinês-DMB. O Quarto Capítulo tem por objetivo analisar os vários aspectos relacionados ao processo de definição do padrão brasileiro de TV Digital e seus principais impactos na cadeia produtiva da indústria eletroeletrônica, sendo feita também uma analise de três possíveis cenários na adoção de um padrão de TV Digital. O Quinto Capítulo apresentará uma analise dos diversos receptores digitais, presentes no mercado, e que poderão ser desenvolvidos mediante a escolha do padrão, trazendo também no final um estudo dos principais televisores HTDV Ready, já presentes no mercado brasileiro. O Sexto Capítulo faz uma introdução da Pesquisa de Mercado encomendada pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) e realizada pelo CPqD, a qual tinha como objetivo avaliar o mercado brasileiro incluindo o parque industrial, distribuição de renda, concentração demográfica e demais dados necessários para subsidiar a ANATEL na escolha do padrão de TV Digital a ser adotado no Brasil. O Sétimo Capítulo faz uma descrição dos Modelos de Negócio em TV Digital, ou seja, a forma como os recursos tecnológicos e suas características são utilizadas para prover um determinado conjunto de programas e facilidades para os telespectadores. E por último, no Oitavo Capítulo, são apresentadas as conclusões sobre a viabilidade técnica e econômica do processo de implantação da TV Digital no Brasil. Capítulo II Introdução a TV Digital 8 Capítulo II – Introdução a TV Digital 2. INTRODUÇÃO A TV DIGITAL 2.1 Conceitos Básicos Neste tópico serão relacionados alguns conceitos importantes para o entendimento das estruturas tecnológicas utilizadas na implementação dos diferentes padrões mundiais: ATSC, DVB, ISDB e DMB de TV Digital. 2.1.1 Tipos de modulação Modulação é uma variação de amplitude, fase ou freqüência de um sinal denominado modulado, controlada pela informação que se deseja transmitir, denominada de sinal modulante. 2.1.1.1 Vestigial side band (VSB) A modulação Vestigial Side Band (VSB) é um sistema no qual a informação é transmitida de forma compacta, utilizando duas bandas simétricas junto com a freqüência da portadora, denominadas bandas laterais para a transmissão. Com isso, ela usufrui do Single Sideband (SSB) que é a utilização de somente uma das duas bandas simétricas para haver uma maior disponibilidade da largura de faixa do sinal. Deste modo consegue-se transmitir a informação com economia de largura de faixa. O modelo VSB possui uma vantagem de 2,0 a 2,5dB na relação de potência de pico média em relação ao sistema COFDM, isto é, o sistema VSB não necessita de uma potência de pico tão grande para transmitir a mesma potência média. Existem duas versões do VSB, a 8-VSB e a 16-VSB, onde a 8-VSB trabalha com 8 níveis e transmite 19,3Mbps por um canal de radiodifusão terrestre de 6MHz e o 16-VSB trabalha com 16 canais e transmite 38,6Mbps em um canal de 6 MHz [1]. Capítulo II – Introdução a TV Digital 9 A Figura 2. 1 mostra o diagrama de blocos do processo de modulação VSB, em que o sinal de video transformado, pelo do processo através do MPEG-2, sofre um embaralhamento espectral que tem como objetivo evitar a concentração de energia em alguns pontos e também evitar falha em outros pontos do espectro. Em seguida o sinal passa por um corretor de erros chamado Reed Solomon [1]. Figura 2. 1 - Diagrama de blocos do processo de modulação VSB. No terceiro bloco Figura 2. 1, existe o entrelaçamento temporal que tem por finalidade evitar que, quando um ruído impulsivo danificar parte do sinal, ele danifique um ou vários segmentos inteiros. Com isso tenta-se garantir uma boa imunidade do sistema a ruídos impulsivos. Após este entrelaçamento há um novo código corretor de erros em treliça, sendo cada dois bits convertidos para três e esse terceiro bit acrescenta a redundância a informação. No passo seguinte, há o sincronismo dos segmentos gerados, são 312 segmentos, mais um de sincronismo. Este conjunto recebe uma Corrente Contínua (DC), formando o sinal piloto do canal que está representado no sexto bloco. Por último o sinal é inserido em um modulador VSB e depois é feita a conversão de freqüência de operação da emissora [1]. 2.1.1.2 Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) A modulação Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM), consiste em transformar um sinal serial em vários sinais paralelos com a mesma taxa de bits, porém 10 Capítulo II – Introdução a TV Digital reduzida, cada uma modulando uma sub-portadora e constituindo um conjunto de funções ortogonais. A soma delas produz um único sinal modulado em OFDM, ou seja, existe um grande número de portadoras igualmente espaçadas em freqüência e moduladas por uma técnica digital. O espectro de cada portadora modulada é posicionado de forma a sobrepor, de maneira controlada e sem causar interferência, o espectro das portadoras vizinhas de tal forma que o conteúdo de informação de cada portadora seja mutuamente ortogonal, isto é, independente. A modulação OFDM possui um bom desempenho em situações de multipercurso pelo fato do período de bit de cada uma de suas múltiplas portadoras ser maior do que o atraso provocado por reflexões típicas [2]. O sinal OFDM recebido por uma antena é constituído pela soma do próprio sinal com ecos produzidos por superfícies refletoras. Quando estes são pequenos, produzem o chamado fading seletivo, que provoca um aumento de energia do sinal para determinadas sub-portadoras, e a perda de energia, podendo chegar até ao cancelamento para os sinais de outras. Isso pode ser solucionado a partir da inserção de blocos funcionais ao modulador que, utilizando algum tipo de redundância, poderão detectar e corrigir uma boa parte desses erros. Esses blocos acrescentam uma codificação ao sinal OFDM e com isso aumentam a robustez do sistema em termos da taxa de erro residual, passando a ser chamada de modulação Codec Orthogonal Frequency Division Multiplexing (COFDM) [2]. A COFDM é uma multiplexação por divisão de freqüências ortogonais e codificadas, sendo compatível com os padrões analógicos PAL, SECAM e NTSC. É utilizada em sistemas de transmissões que sofrem interferência devido ao desvanecimento por multipercurso em obstáculo como edifícios, pontes e montanhas, isso porque possui uma maior imunidade. A Figura 2. 2 ilustra o diagrama de blocos do processamento da modulação COFDM. 11 Capítulo II – Introdução a TV Digital Figura 2. 2 - Diagrama de blocos do processo de modulação COFDM. O processo inicia com o sinal vindo do multiplexador MPEG e no primeiro bloco é feito o embaralhamento para prover uma distribuição uniforme de energia. No segundo bloco tem-se um corretor de erros chamado Reed-Solomon que cria uma “assinatura digital” de cada bloco MPEG. No terceiro bloco existe o entrelaçamento externo onde os bytes de cada 12 blocos são entrelaçados entre si. Isso é feito para que, caso algum bloco não chegue até o receptor, haja a perda de poucos bits por bloco em vez de se perder um bloco inteiro. O próximo passo é a codificação interna que consiste em um código que gera bits adicionais para melhorar a redundância, com isso o sinal apresenta uma melhor relação sinal/ruído (S/N). No quinto bloco existe o entrelaçamento interno que funciona em nível de bits, também chamado de transposição temporal, e não em blocos como foi no entrelaçamento externo (terceiro bloco). Esse entrelaçamento interno é utilizado somente no padrão ISDB, no DVB só utiliza o entrelaçamento externo. Após esse passo, existe um mapeamento dos bits para compor os símbolos e os quadros da transmissão, essa composição está ligada diretamente ao tipo de modulação (QPSK, 16-QAM ou 64-QAM). A montagem dos símbolos e dosquadros depende do tipo de modulação, do número de portadoras e do intervalo de guarda que são parâmetros configuráveis para a formação de uma palavra de acordo com o agrupamento de bits. O Capítulo II – Introdução a TV Digital 12 conjunto dessas palavras é chamado símbolo COFDM, e cada conjunto de 68 símbolos forma o quadro COFDM. A inserção do intervalo de guarda tem como função evitar as interferências intersimbólicas e com isso proporciona uma boa imunidade a ecos (reflexões do sinal devido a prédios e obstáculos similares). Quanto pior o eco, maior deve ser o intervalo de guarda [1]. 2.1.2 Codificação 2.1.2.1 Codificação do áudio O áudio necessita de codificação para que só a informação relevante ao ouvido humano seja transmitida. Desta maneira pretende-se representar as fontes de informação de áudio com o menor número de bits possível, em que os possíveis erros que ocorrem não sejam audíveis pelos telespectadores. Isto se torna necessário em canais em que o espectro ou a capacidade de armazenamento são limitados. A resolução áudio varia atualmente entre os 16 bits (como no CD) e os 24 bits com freqüências de amostragem de 32, 44,1 ou 48kHz [3]. Atualmente o esquema de áudio abrange 5 canais mais um subwoofer (5.1) de maneira a aumentar a sensação de realismo por parte do telespectador. Os três canais frontais garantem uma melhoria da qualidade face ao som estereofônico. Os dois canais laterais dão a sensação de presença na ação e ambiente das imagens. O canal subwoofer é um canal de baixa freqüência responsável pela faixa compreendida entre 20Hz e 120Hz . A desvantagem de um maior número de canais de som reside no fato de ser necessário um maior ritmo de transmissão. A codificação do sinal de áudio permite uma redução do ritmo de informação de 768kbps para 100kbps (16bits a 48kHz) por canal, mantendo a mesma qualidade do som [3]. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.1.2.2 13 Codificação da imagem O principal objetivo da codificação de uma imagem é representá-la com o menor número possível de bits, preservando a qualidade e a inteligibilidade necessárias à sua aplicação. A codificação realiza uma compressão na imagem, facilitando sua transmissão e armazenamento. Existem dois métodos principais de compressão: • Compressão com perda: algum dado é perdido durante a compressão da imagem. Ex: fractal, JPEG, MPEG, etc.; • Compressão sem perda: nenhum dado é perdido durante o processo de compressão. Este método é denominado compressão com preservação da informação, pois, preserva as informações que permitirão a reconstrução exata da imagem. Ex: LZW, algoritmo de Huffman, etc. Os algoritmos codificadores são classificados em três categorias, dependendo de que aspecto da imagem eles codificam: • Codificadores de forma de onda: a intensidade da imagem, ou uma simples diferença de intensidade entre dois píxeis consecutivos, é codificada; • Codificadores por transformadas: a imagem é transformada para outro domínio (Transformada de Fourier ou Transformada co-seno) e os coeficientes transformadores são codificados; • Codificadores do modelo da imagem: a imagem, ou apenas uma porção dela, é modelada e os parâmetros modeladores são codificados. A Figura 2. 3 representa as etapas de codificação de uma imagem. 14 Capítulo II – Introdução a TV Digital Figura 2. 3 - Representação das etapas de codificação de imagens. A primeira etapa, denominada transformação, determina o que vai ser codificado. Para representar a imagem com um número finito de bits, as intensidades da imagem, os coeficientes das transformadas ou os parâmetros do modelo devem ser quantizados. A quantização estabelece níveis (valores), dentro de uma faixa determinada, para cada elemento da imagem. A terceira etapa, chamada declaração do código, é a responsável pela codificação da quantização. Cada nível de quantização possui o seu código e, ao reconstruir-se a imagem, este código é verificado para determinar que nível de reconstrução deverá ser utilizado. 2.1.2.3 Codificação de vídeo Para codificar uma seqüência de imagens, tem-se que levar em conta conceitos como a redundância temporal, a redundância espacial e a irrelevância, de maneira a reduzir ao mínimo a informação que é necessária transmitir. A redundância temporal está associada ao fato de, geralmente, 2 campos da imagem consecutivos serem muito parecidos, sendo apenas necessário transmitir os pixels diferentes relativamente ao campo da imagem precedente. Uma técnica usada freqüentemente em HDTV é a predição temporal com compensação de movimento. A predição temporal encarrega-se de transmitir apenas os pixels de um campo de imagem que mudaram relativamente ao precedente. É claro que os pixels que conservam as mesmas características entre campos consecutivos são redundantes e podem ser reconstruídos pela memória da imagem do 15 Capítulo II – Introdução a TV Digital receptor. Para reduzir ainda mais a informação a ser transmitida utiliza-se a compensação de movimento. A compensação de movimento é um poderoso método de redução da taxa de bit no qual transmite-se apenas um vetor de posição que indica o deslocamento de um macrobloco da imagem com 16 x 16 pixels, relativamente à posição ocupada no campo da imagem anterior. Para calcular esse vetor, procura-se no campo da imagem anterior, o macrobloco que mais se parece com o atual, comparando-o com os 16 x 16 blocos, nas posições vizinhas do macrobloco atual. O vetor de deslocamento é obtido pela diferença entre as posições dos dois blocos, como mostrado na Figura 2. 5 e Figura 2. 6 [1]. CAMPO DA IMAGEM n-1 AREA DE PROCURA DE BLOCOS CAMPO DA IMAGEM n Y DESLOCAMENTO X MACROBLOCO T Figura 2. 4 - Predição temporal com compensação de movimento. Figura 2. 5 - Diagrama de sistema de predição com compensação de movimento. 16 Capítulo II – Introdução a TV Digital A redundância espacial ocorre quando em uma determinada zona de uma imagem os pixels são todos muito parecidos. Trata-se, obviamente, de informação redundante dado que se repete no espaço. Para codificar eficientemente esta informação utiliza-se a Discrete Cosine Transform (DCT), transformada de coseno discreta. A DCT permite a transmissão terrestre de HDTV Digital, pois reduz muito a quantidade de informação redundante que seria transmitida. Além da quantificação em função da freqüência é utilizada a quantificação nãolinear em função da amplitude para descrever os coeficientes DCT, como na Figura 2. 6. Assim o comprimento do código é reduzido à saída do quantificador e todos os valores dentro da faixa morta vêm à zero. SAÍDA ENTRADA ZONA MORTA Figura 2. 6 - Quantificação não-linear. É obvio que a quantificação introduz perdas na imagem, mas estas perdas não são detectadas pelo telespectador (irrelevância). Consegue-se assim uma significativa redução do ritmo de informação a transmitir sem perda de qualidade da imagem. Estas técnicas combinadas são utilizadas na codificação MPEG e permitem uma taxa de compressão de informação de vídeo de 50:1 ou superior. Existem outras técnicas de 17 Capítulo II – Introdução a TV Digital codificação de vídeo como por exemplo: quantificação vetorial, codificação em sub-banda ou codificação por objetos, sendo a DCT a mais usada em HDTV Digital [3]. 2.1.3 Áudio 2.1.3.1 Dolby AC-3 A tecnologia de codificação digital de áudio AC-3, do sistema ATSC, foi desenvolvida na década de 90. Ela é um padrão proprietário da Dolby Laboratories Inc., capaz de codificar vários formatos de áudio, sendo o mesmo escolhido para a padronização de áudio nos DVDs. Isso porque possui uma taxa de compressão de 9,2:1. Este padrão emprega algoritmos de percepção psicoacústica de forma a comprimir oito canais, que são distribuídos da seguinte maneira: seis para o sistema chamado 5.1 que possui distribuição de três para os sons frontais da sala (frontal, frontal-esquerdo, frontal-direito), dois canais para parte de trás da sala (Surround esquerdo e Surround direito) e um sexto canal, chamado Subwoofer ativo (reproduz sinais de baixa freqüência destinados ao chão, para gerar os efeitos especiais). Os outros dois canais restantes podem ser utilizados para áudio estéreo convencional ou para um áudio em segundo MULTIPLEXADOR idioma [3]. Figura 2. 7 - Processo de transmissão do sinal de áudio Dolby AC-3. 18 Capítulo II – Introdução a TV Digital A Figura 2. 7 ilustra o processamento do sistema Dolby AC-3 com o áudio original, passando pelo banco de filtros, envelope de codificação, alocação de bits e a quantização exponencial, ocorrendo por último uma multiplexação, em que o sinal é enviado para o canal de transmissão. Já no receptor o sinal é demultiplexado e sofre o processo inverso até chegar ao televisor do telespectador conforme mostra a Figura 2. 8. Figura 2. 8 - Processo de recepção do sinal de áudio Dolby AC-3. 2.1.3.2 MPEG-1 O sistema de compactação de áudio Moving Picture Experts Group-1 (MPEG-1) adotado pelo sistema DVB, apresenta três camadas [1]: • Primeira: utiliza quadros de comprimento fixo, com taxas de compressão de 5,5:1 em 256kbps; • Segunda: também utiliza quadros de comprimento fixo, com taxas de compressão de 7,3:1 a 192kbps; • Terceira: possui quadros de comprimento compressão de 11:1 em 128kbps. variável, e com taxas de Capítulo II – Introdução a TV Digital 19 Pode-se notar que a terceira camada, possui uma maior complexidade e eficiência do algoritmo, porém é mais suscetível a erros de transmissão. Por esse motivo o padrão DVB adotou o sistema MPEG-1 utilizando as camadas 1 e 2 [1]. 2.1.3.3 MPEG-2 O sistema MPEG-2, também adotado pelo padrão DVB, apresenta compatibilidade com o sistema MPEG-1, e, além do áudio 5.1, utilizado no padrão Dolby AC-3, o MPEG-2 suporta até sete fluxos adicionais em qualidade de voz. Esses fluxos adicionais podem ser utilizados para transmissão simultânea em vários idiomas e/ou Closed Caption [1]. 2.1.3.4 MPEG-2AAC O Advanced Audio Coding (MPEG-2AAC) é o sistema adotado pelo padrão japonês ISDB. Uma das características desse sistema é a propriedade de análise da redundância da informação entre vários fluxos, isso não ocorre, por exemplo, no sistema MPEG-2 utilizado no padrão europeu DVB. MPEG-2AAC. Ele também permite acomodar até 48 fluxos de áudio e até 15 programas distintos [1]. 2.1.4 Vídeo O objetivo da codificação de uma imagem é enviá-la com o menor número de bits possível, mas sempre preservando a qualidade e a forma original da figura. A codificação faz uma compressão na imagem, diminuindo o seu tamanho em bits e assim, facilitando sua transmissão e armazenamento. Uma das formas de compressão que há é o MPEG Moving Picture Experts Group (MPEG), que é um sistema de codificação/decodificação de sinais digitais de vídeo no qual a compressão faz aumentar a eficiência dos espaços disponíveis na transmissão (largura de faixa). Capítulo II – Introdução a TV Digital 20 O sistema de compressão MPEG trabalha com seqüências de quadros, onde é feita a comparação entre o quadro atual e o próximo, fazendo assim com que somente o que for diferente entre eles seja armazenado, posteriormente efetuando a compressão dos dados. Esses quadros podem ser de três tipos [4]: • Tipo I (intra frames): são quadros completos, ou seja, possuem toda a informação e por isso são os de maior tamanho, sendo utilizados no início da transmissão; • Tipo P (predicted frames): estes quadros são baseados no anterior e possuem uma alta compressão, pois trazem as mudanças referentes ao último quadro, como necessita salvar as alterações com relação ao último quadro, ele pode ser utilizado como referência para o próximo quadro; • Tipo B (bi-direcional frames): possuem menos informações e por isso não podem ser usados como referência para o próximo quadro. Se for transmitida uma imagem com o fator de compressão N=15 e M=3 (onde N é o número de quadros e M o número de quadros tipo B que fica entre dois quadros tipo P), tem-se uma transmissão como mostrado na Figura 2. 9, com a seqüência de quadros IBPBBBPBBBPBBBP. Figura 2. 9 - Transmissão de quadros no sistema MPEG. 21 Capítulo II – Introdução a TV Digital Existem alguns tipos de padrões de compressão MPEG, eles são: • MPEG-1: é uma técnica de compactação de vídeo digital que produz 30 quadros por segundo com taxa de compressão de 6 para 1, utiliza taxas de transmissão de áudio e vídeo de 1,5Mbps chegando a 5Mbps; • MPEG-2: foi desenvolvido em 1995, com a estrutura básica do MPEG-1, é o formato utilizado em TV Digital e DVD, com uma taxa de transmissão de vídeo de 3 a 100Mbps. Este é o formato utilizado na maioria dos padrões de transmissão digital. O MPEG-2 possui um algoritmo assimétrico, ou seja, o custo da codificação é maior do que o da decodificação. Essa característica traz benefícios para os telespectadores do sistemas de TV Digital, pois o alto custo do codificador fica sob responsabilidade da emissora, enquanto o receptor do telespectador requer um decodificador de baixo custo. Esse algoritmo também é flexível e escalonável, pois permite a codificação de imagens de diferentes níveis de qualidade e ainda permite arranjos dos sinais de áudio e vídeo [1]; • MPEG-4: é um padrão que considera informações multimídia como um conjunto de objetos apresentados, manipulados e transportados individualmente [8]. Esses objetos podem ser de origem natural ou sintética, isto é, podem ser gravados através de câmeras ou microfones, ou simplesmente gerados pelo computador. 2.1.5 Transmissão O sinal de vídeo de alta qualidade é aplicado ao codificador de fonte e multiplexado no tempo com os dados de áudio, de sincronismo e de controlo. O resultado é sujeito a codificação de canal com Forward Error Correction (FEC), após o qual se obtém um ritmo de bit de 30 a 40Mbps. Os dados codificados são modulados e encaixados em um canal com largura de faixa de 6, 7 ou 8MHz. Um misturador converte 22 Capítulo II – Introdução a TV Digital o sinal para rádio freqüência antes do sinal a ser enviado para o transmissor (VHF, UHF, cabo, satélite, etc.), Figura 2. 10. Figura 2. 10 - Estrutura genérica de uma cadeia de transmissão de HDTV. Na codificação de fonte são exploradas as características dos nossos olhos do ser humano e a estatística do sinal. A codificação do canal (FEC) é utilizada para proteger os dados em código fonte contra erros de transmissão. O grau de proteção para propriciar aos dados varia com o canal de transmissão a utilizar, considerando, em cada canal (cabo, satélite, atmosfera, etc.), a freqüência dos erros varia. Assim, geralmente, utilizam-se códigos Reed-Solomon (RS) para proteção contra erros. Em situações em que a probabilidade de erros de transmissão é muito elevada (por exemplo, quando o canal apresenta muitas distorções, por exemplo), é necessário usar também detecção de erros por Cyclic Redundancy Check CRC, muito usado na descompressão de arquivos informáticos. O CRC permite que os erros sejam eliminados durante a decodificação no receptor. Isto significa que, ao existirem pequenos intervalos de tempo em que o sinal tem erros, estes se torna-se imperceptíveis ao telespectador. Na recepção, o processamento do sinal é invertido [3]. 2.1.6 Sistemas analógicos Atualmente existem três sistemas analógicos de televisão no formato 4:3, eles são [5]: 23 Capítulo II – Introdução a TV Digital • National Television Systems Comittee (NTSC): é utilizado principalmente na América do Norte e no Japão; • Phase Alternate Line (PAL): é utilizada em grande parte da Europa, África, América do Sul e Ásia; • Sequential Couleurs Avec Memoire (SECAM): utilizado a França, na Rússia e alguns países da Ásia. 2.1.6.1 National Television Systems Comittee (NTSC) O sistema National Television Systems Comittee foi criado nos Estados Unidos por volta de 1954 e adotado pela FCC [6]. A codificação deste sistema baseia-se nas cores primárias verde, vermelho e azul através de tensões, chamadas tensões Red (R)-Green (G)-Blue (B), que são codificadas para formar a imagem final. Na Tabela 2. 1, tem-se os parâmetros técnicos de transmissão/recepção do sistema NTSC. Tabela 2. 1 - Parâmetros Técnicos do Sistema NTSC [7]. 2.1.6.2 Parâmetros Básicos NTSC Linha/Campo Freqüência horizontal Freqüência Vertical Freqüência Sub-portadora de Cor Freqüência de Faixa de Vídeo Sub-portadora de Áudio 525/60 15.734kHz 60Hz 3.579.545MHz 4.2MHz 4.5MHz Phase Alternate Line (PAL) O sistema Phase Alternate Line (PAL) foi criado na Alemanha para tentar solucionar alguns problemas que existiam no sistema americano NTSC. O PAL permite a correção dos erros de fase, que são erros introduzidos por reflexões do sinal recebido, ou seja, o 24 Capítulo II – Introdução a TV Digital sinal recebido pode ter influência por um outro sinal qualquer que seja refletido e com isso provoca distorções na imagem recebida [6]. Na Tabela 2. 2 tem-se os parâmetros de cada derivação do sistema PAL de acordo com modificações feitas pelas das características de cada país. O sistema PAL é dividido nos padrões M, utilizado no Brasil, padrão B e G, utilizado na Alemanha, padrão N, utilizado na Argentina. Tabela 2. 2 - Parâmetros técnicos e subdivisões do sistema PAL [7]. Parâmetros Básicos Linha/Campo Freq. horizontal (kHz) Freq.Vertical(Hz) Freq.Sub-portadora de Cor(MHz) Freq. da Faixa de Vídeo(MHz) Sub-portadora de Áudio(MHz) 2.1.6.3 PAL-B-G-H 625/50 15,625 50 4,433618 PAL-I 625/50 15,625 50 4,433618 PAL-D 625/50 15,625 50 4,433618 PAL-N 625/50 15,625 50 3,582056 PAL-M 525/60 15,625 60 3,575611 5,0 5,5 5,0 6,0 6,0 6,5 4,2 4,5 4,2 4,5 Sequential Couleur Avec Memoire (SECAM) O Sequential Couleur Avec Memoire (SECAM), desenvolvido na França nos anos 60, o qual utiliza à mesma largura de banda que o PAL, porém transmite a informação da cor de forma seqüencial [7]. Na Tabela 2. 3 têm-se as informações técnicas e as subdivisões do sistema SECAM. Tabela 2. 3 - Parâmetros técnicos e subdivisões do sistema SECAM [7]. Parâmetros Básicos SECAM B-G-H SECAM D-K-K1-L Linha/Campo Freqüência horizontal Freqüência Vertical Largura de Faixa de Vídeo Subportadora de Áudio 625/50 15,625kHz 50Hz 5MHz 5.5MHz 625/50 15,625 kHz 50 Hz 6.0 MHz 6.5 MHz O sistema SECAM é dividido em vários padrões: L, utilizado na França; D e K, utilizado na URSS e ainda nos padrões B e G. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.1.7 25 Formato de tela e resolução Outro grande ponto da TV Digital é o formato de tela, assim como a qualidade da imagem e a resolução. A resolução envolve dois componentes que são: • Resolução espacial: definida pelo número de pontos de imagem (pixels); • Resolução temporal: é definida pela quantidade da quadros por segundo. Esses atributos podem ser agrupados em quatro categorias que são: • High Definition Television (HDTV); • Enhanced Definition Television (EDTV); • Standard Definition Television (SDTV); • Low Definition Television (LDTV). Em se tratando de resolução espacial e temporal, existem vários formatos de resolução de imagem (pixel) e quantidade de quadros por segundo, são elas: • 480i: imagem com 704 x 480 pixels, 60 quadros entrelaçados por segundo (30 quadros completos/segundo); • 480p: imagem com 704 x 480 pixels, 60 quadros progressivos por segundo; • 720p: imagem com 1280 x 720 pixels, 60 quadros progressivos por segundo; • 1080i: imagem com 1920 x 1080 pixels, 60 quadros entrelaçados por segundo (30 quadros completos/segundo); • 1080p: imagem em 1920 x 1080 pixels, 60 quadros progressivos por segundo. Capítulo II – Introdução a TV Digital 26 O p e i significam progressivo e entrelaçado. No formato progressivo, a imagem muda completamente 60 vezes por segundo. No formato entrelaçado, a metade da imagem muda 60 vezes por segundo. Os formatos 480p e 480i são chamados Standard Definition (SD). Os formatos 720p – 1280 x 720; 1080i – 1920 x 1080; e 1080p – 1920 x 1080 são High Definition (HD), e estão relacionados à HDTV. A resolução vertical máxima indicada por um determinado sistema de TV é sempre maior do que a observada. Isto deve-se ao fato que durante a varredura da imagem um elemento de imagem (pixel) poder cair entre duas linhas consecutivas, durante a varredura da imagem. Existem dois tipos de varredura de imagem: o entrelaçado (i), que consiste em dividir a imagem em dois campos (o das linhas pares e o das linhas ímpares) e mostrá-los alternadamente; e o progressivo (p), em que a imagem é varrida linha por linha de cima para baixo. Para imagens não entrelaçadas, a resolução vertical efetiva é 70% (percentagem obtida dada pelo fator de Kell) da resolução máxima. Em imagens entrelaçadas, este valor situa-se entre os 70% e os 50%, conforme a imagem é mais ou menos estática, respectivamente. Em muitos receptores atuais o entrelaçamento deixou de ser necessário para compensar a cintilação da imagem, pois, com a introdução de memórias nos receptores, as linhas recebidas podem ser repetidas o número de vezes que se quiser de maneira a evitar a cintilação da imagem e o cansaço da vista. Assim, várias marcas introduzem, desde alguns anos, nos seus catálogos, modelos de receptores que apresentam como uma das principais características o repetição da imagem a freqüências da ordem dos 100Hz. Atualmente, o uso ou não de varredura entrelaçada é apenas uma opção entre a ocupação da menor faixa (possibilitando um número maior de canais) e uma maior qualidade da imagem. Esta escolha terá uma grande importância na definição de normas para uso dos sistemas de TV Digital, existindo desde já, pequenos conflitos entre as diversas estações emissoras. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.1.7.1 27 HDTV Com o surgimento dos televisores, na década de 30, a resolução de vídeo era de 240 linhas, com o passar do tempo e a evolução das tecnologias, foi se ganhando uma maior qualidade na imagem, já visto anteriormente, esta qualidade varia conforme o número de pontos na imagem (pixels) através de duas medidas, o número de linhas e o número de pixels por linha. Hoje as televisões analógicas de boa qualidade conseguem 525 linhas e 600 pixels por linha. Com a tecnologia da HDTV estes números aumentam para 1080 linhas e 1920 pixels por linha, aumentando assim a qualidade da imagem. O projeto de HDTV começou em 1964, quando o laboratório NHK iniciou os primeiros estudos, mas somente em 1970 que realmente iniciou o desenvolvimento da HDTV. Em 1984 surgiu o sistema Multiple Sub-Nyquist Sampling Encoding (MUSE), criado no Japão, país que em 1985 faz uma transmissão experimental na exposição de Ciências de Tsukuba, sendo que primeira transmissão experimental do sistema MUSE por satélite foi realizada em 1986. Tamanha a evolução do sistema, o mesmo iniciou em 1995, a operação de 11 horas de transmissão por dia. Em 2000 as imagens da terra são captadas em HDTV pelo ônibus espacial “Endeavor” e no final de 2000 iniciou as transmissões digitais HDTV [9]. A televisão de alta definição, High Definition Television, (HDTV) surgiu da idéia das telas largas “Wide-Screens” usadas nos cinemas, que junto com a evolução das tecnologias HDTV vem para aumentar a definição da imagem e do sinal de áudio na recepção do sinal dos televisores. A imagem reproduzida na televisão é composta por um determinado número de linhas de varredura, estas linhas são inversamente proporcionais à distância do indivíduo que assiste a um programa. Isto significa que se for aumentado o número de linhas pode-se diminuir esta distância. A HDTV, ao duplicar a definição da imagem, permitirá que essa distância seja reduzida também. Capítulo II – Introdução a TV Digital 28 Outra diferença do HDTV para os sistemas de televisão atuais é a forma de apresentação destas imagens, os sistemas analógicos atuais apresentam uma relação de largura/altura de 4:3 (quatro unidades de largura por três de altura), já o novo sistema apresenta esta mesma relação de 16:9 (dezesseis unidades de largura por nove de altura) com uma resolução de 1080 ou 720 linhas horizontais, conforme mostra o exemplo na Figura 2. 11. Figura 2. 11 - Formato de tela: convencional (4:3) e HDTV (16:9). Estas características vêm mostrar que as principais vantagens deste novo sistema são a maior nitidez da imagem e uma melhor cobertura do campo de visão. 2.1.7.1.1 Multiple Sub-Nyquist Sampling Encoding (MURSE) O Multiple Sub-Nyquist Sampling Encoding (MUSE) é um sistema de transmissão via satélite que codifica o sinal HDTV de 1125 linhas e 60 campos por segundo no formato 16:9. Ocupa uma largura de faixa de 20Mhz, porém como o sistema de transmissão via satélite só tem 8,15MHz disponível por canal, o sistema tem que realizar uma compressão dos dados para poder transmiti-los. Para esta compressão o sinal passa por alguns filtros e o resultado obtido é transformado em um sinal analógico com 8,1MHz de freqüência, sendo assim, possível de transmissão. Desta forma serão transmitidas somente as partes da imagem que sofreram modificações. Uma desvantagem deste sistema é que ele utiliza técnicas de modulação analógica [9]. Capítulo II – Introdução a TV Digital 29 2.1.7.1.2 MAC O Multiplexed Analog Components (MAC) foi desenvolvido a partir de 1986 pela comunidade Européia, partindo da digitalização e compressão independente de cada componente de croma e, como no MUSE, utilizava algumas técnicas analógicas para a composição final do sinal. Com o avanço deste trabalho, teve-se um maior número de pixels na operação, que recebeu o nome de HD-MAC [1]. 2.1.7.2 Enhanced Definition Television (EDTV) A definição estendida, Enhanced Definition Television (EDTV), é uma categoria intermediária entre o HDTV e o SDTV. É transmitido no formato 16:9 e apresenta resolução de 480 linhas e 720 pixels por linha. 2.1.7.3 Standard Definition Television (SDTV) A definição padrão definida como Standard Definition Television (SDTV), possui uma resolução espacial de 480 linhas e uma resolução temporal de 60 quadros por segundo. Trabalha semelhantemente ao sistema analógico que também utiliza 60 quadros por segundo, porém possui uma qualidade de imagem bem superior. Pode ser transmitida no formato 4:3 ou no formato 16:9 [1]. 2.1.7.4 Low Definition Television (LDTV) A (LDTV), é um sistema de baixa definição, inferior ao SDTV. Alguns softwares de computadores utilizam esta resolução em suas placas de vídeo. Também é utilizada nos videocassetes domésticos que apresentam uma resolução de 480 linhas e 330 pixels por linha [1]. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.1.8 30 (API) A Application Programming Interface (API) é uma interface entre as aplicações e o sistema operacional, conforme ilustra a Figura 2. 12 Isso facilita para que uma aplicação seja executada em um sistema operacional mesmo que ambos sejam de fabricantes diferentes. A camada do sistema operacional completa as funcionalidades da camada de hardware, esta ligação entre estas duas camadas é feita através de drivers específicos do sistema operacional e do hardware utilizado. A camada do hardware tem, entre outras funções, a decodificação das informações da camada de transmissão. Em algumas bibliografias API é mencionada também como Middleware [1]. Figura 2. 12 - Quadro funcional do API. 2.2 A Evolução Digital No Brasil A história da televisão brasileira inicia nos anos 50 com a TV Tupi-Difusora, em mais de 50 anos houve uma grande evolução das tecnologias de transmissão, dos aparelhos receptores e uma transformação nos conceitos dos telespectadores junto com uma evolução sócio-econômica e cultural do país. Podemos dividir a história da televisão brasileira em seis fases [10]: 31 Capítulo II – Introdução a TV Digital 1) Elitista (1950-1964): com o surgimento da televisão no Brasil somente as pessoas com maior poder aquisitivo tinham condições de ter um aparelho para receber o sinal; 2) Populista (1964-1975): a televisão era considerada um exemplo de modernidade e com as multinacionais instaladas no Brasil houve um grande crescimento da publicidade na televisão e juntamente com os programas de auditório fizeram aumentar o número de pessoas que assistiam à televisão. Nesta época, durante o regime militar, foi implantada a censura, com finalidade de controlar os programas que eram exibidos. Nesta fase , segundo o IBGE10 43% dos domicílios no país já possuíam televisores; 3) Do desenvolvimento tecnológico (1975-1985): nesta fase houve uma melhora na qualidade dos programas criados no Brasil, inclusive visando a exportação e um aumento no número de televisores nas casas da população; 4) Da transição e da expansão internacional (1985-1990): nesta fase houve uma maior competitividade entre as grandes redes no Brasil, isso fez com que houvesse um avanço e uma expansão no mercado internacional; 5) Da globalização e da TV paga (1990-2000): nesta época houve um crescimento das transmissões via cabo e surgiu uma tentativa de criar um programa interativo, chamado “você decide” no qual os telespectadores podiam votar, via telefone, para decidir o final da história; 6) Da convergência e da qualidade digital (2000-Dias de Hoje): inicia-se as transmissões digitais. A evolução digital no Brasil vem preparando-se para a transição da TV Analógica para a digital. A Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), já fez uma pesquisa para ouvir a sociedade e estabelecer qual será o padrão de TV Digital que o país irá adotar. Capítulo II – Introdução a TV Digital 32 Os aparelhos atuais analógicos não funcionam para o sistema de transmissão digital, e é por esse motivo que os dois modelos de aparelhos irão coexistir por muitos anos, para que as pessoas tenham acesso aos decodificadores ou novos aparelhos de TV Digital num processo de mudança gradual. Com o crescimento da mídia digital, é indubitável que as emissoras brasileiras evoluirão e poderão oferecer ao público uma televisão de alta qualidade e acessível em qualquer hora e lugar. Após a definição do padrão a ser usado, o tempo mínimo necessário para que a indústria e as emissoras brasileiras comecem a fornecer os novos serviços e programas, já em modo digital, deve ser de um ano e meio. Por meio dos decodificadores, semelhantes aos das TVs por assinatura, o telespectador já não mais encontrará falhas, chuviscos ou ruídos, mas sim, uma imagem perfeita, além de um acesso a conteúdos interativos, como informações sobre os programas que estão sendo exibidos. Os estudos para que todas as peças do grande quebra-cabeça da conversão para a TV Digital se encaixem perfeitamente vêm sendo realizados desde 1994 pelo Grupo ABERT/SET TV Digital. Este grupo formou-se justamente da necessidade de um planejamento técnico para facilitar e transição brasileira e está realizando; sob autorização da ANATEL, os testes dos três sistemas terrestres de televisão digital, no Brasil. Uma iniciativa da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), com a cooperação da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), o grupo técnico agrega representantes de todas as redes de televisão, engenheiros de empresas, fornecedoras, além de entidades de pesquisa. O Grupo ABERT/SET atualmente é composto de vários subgrupos dedicados a questões específicas; estúdio, medidas e testes, consumo e avaliação estratégica. Desde 1998, quando os estudos aceleraram o grupo começou a se preparar para a realização dos testes de laboratório e de campo dos padrões americano (ATSC), europeu (DVB-T) e japonês (ISDB-T). Capítulo II – Introdução a TV Digital 33 A primeira reunião do Subgrupo de Medidas e Testes ocorreu na sede da ABERT em São Paulo, em outubro de 1998, para definição das atividades, da metodologia de trabalho e da forma de ação. Participaram representantes de diversas emissoras: Bandeirantes, CBI, CNT, Cultura, EPTV, Globo, RBS, Record, Rede Mulher, Rede Vida e SBT. Ficando então definidos os tipos de testes e procedimentos necessários para as medições e as atividades que seriam necessárias para a realização dos testes, incluindo a montagem do laboratório, do local de transmissão e da unidade móvel. Entre 1999 e 2000, o grupo realizou durante oito meses, juntamente com a Universidade Mackenzie, milhares de horas de testes de campo e de laboratório para conhecer detalhadamente o desempenho técnico de cada um dos três padrões de TV Digital que existentes. Os resultados observados foram enviados para ANATEL em 2000 e estão servindo de uma importante ferramenta para ajudar a escolher a melhor opção. Por este grupo entender bastante sobre as principais questões econômicas e sociais envolvidas na implantação desta nova tecnologia, sobre os processos de fabricação de receptores e o preço final disso, é que se criou um respaldo sobre este assunto e uma sugestão para que o Brasil adote o sistema japonês ISDB. A TV Digital é uma das importantes revoluções dos últimos tempos, e a introdução dela no país se torna imprescindível para que a sociedade brasileira possa continuar tendo acesso ao seu meio mais importante de informação e entretenimento [4]. 2.3 Tecnologias Na Tv Digital 2.3.1 Transmissão digital No sistema digital além da melhora da qualidade, tanto pela representação precisa da informação analógica como pela eliminação de ruídos, tem-se ainda a possibilidade de armazenamento, processamento e a possibilidade de uma maior compressão das 34 Capítulo II – Introdução a TV Digital informações, apresentando assim qualidades de portabilidade, mobilidade e interatividade. Figura 2. 13 - Diagrama de blocos de um sistema de emissão digital [11]. No diagrama de blocos, mostrado na Figura 2. 13 o sistema de compressão é composto por codificadores e multiplexadores. Os codificadores são utilizados para digitalizar e comprimir vídeos e canais de dados possibilitando a transmissão de vários canais, onde antes era ocupado por apenas um canal analógico. Depois de codificado o sinal é enviado para o multiplexador que combina as saídas dos vários codificadores em uma única saída digital. Logo após o sinal vai para a modulação que adequa o sinal multiplexado ao canal do sinal de transmissão. Os principais tipos de modulação são [12]: Vestigial Side Band (8-VSB), Quadrature Amplitude Modulation (QAM), Quadrature Phase Shift Keying (QPSK), Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) e Codec Orthogonal Frequency Division Multiplexing (COFDM). No sistema de acesso condicional tem-se a segurança do sistema, que tem como objetivo controlar os serviços pagos na TV interativa, principalmente o T-Commerce, nesta etapa o sinal é criptografado para manter uma maior segurança nas transações. O gerenciamento da rede tem o objetivo de minimizar as interrupções de serviços aos assinantes, monitorar a disponibilidade dos Capítulo II – Introdução a TV Digital 35 dispositivos, colher dados estatísticos e acionam alarmes para assinalar possíveis problemas. Na última etapa, tecnologia de transmissão na rede, tem-se os tipos de tecnologias de transmissão da operadora até o cliente. Em alguns países as transmissões estão sendo feitas utilizando simulcasting, que é a transmissão simultânea do sinal digital com o analógico. A TV Digital é formada basicamente por três componentes. O primeiro é a geração e produção do programa dentro das emissoras, o segundo componente é a transmissão deste programa ou informação até o usuário final e o terceiro componente é o sistema de recepção que está na casa do usuário através de uma antena ou equipamento específico para isto. Assim como nas redes de computadores foi criado o modelo Open System Interconnection (OSI) de sete camadas para possibilitar a interligação de diferentes tipos de ambientes de softwares, no sistema de TV Digital foi criado um sistema de três camadas conforme mostrado na Figura 2. 14. Figura 2. 14 - Modelo de camadas em serviços e plataformas de telecomunicações. Na camada de aplicação são executadas as aplicações, como correio eletrônico, notícias, filmes, etc. Na camada de serviços de telecomunicações tem-se a televisão e a comunicação multimídia, e na camada das plataformas têm-se os padrões mundiais, como o ATSC, DVB, ISDB ou DMB. Capítulo II – Introdução a TV Digital 36 A TV Digital possui alguns padrões utilizados no mundo e que ainda estão em testes no Brasil. Estes estão sendo realizados pela ANATEL, para definir que padrão o Brasil irá adotar: o ATSC, o DVB ou o ISDB. 2.4 PADRÕES MUNDIAIS DE TV DIGITAL Existem atualmente no mundo três sistemas de TV Digital, definidos e oficialmente recomendados pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) para aplicação de radiodifusão terrestre, e um ainda em desenvolvimento na China. São eles [13, 14, 15, 16]: • Advanced Television System Committee (ATSC), definido pelos E.U.A; • Digital Video Broadcasting (DVB), definido pelos países Europeus; • Integrated Service Digital Broadcasting (ISDB), definido pelo Japão; • Digital Modulation Broadcast (DMB), em desenvolvimento na China. 2.4.1 Padrão Advanced Television System Comittee (ATSC) 2.4.1.1 Introdução O padrão ATSC Advanced Television System Comittee (ATSC), foi desenvolvido nos Estados Unidos por um grupo de empresas, entre elas a AT&T, Chicago´S General Instrument Corporation (GI), Massachusetts Institute of Technology (MIT), Philips Electronics North America Corporation, David Sarnoff Research Center, Thompson Consumer Electronics e Zenith Electronics Corporation [17]. Este padrão foi adotado pela Federal Communications Commission (FCC) na década de 90 e também é utilizado no México, Argentina, Taiwan, Coréia do Sul e Canadá, onde foi adotado o padrão digital em 1997 pela empresa Canadá DTV Inc. Capítulo II – Introdução a TV Digital 37 O padrão utiliza a técnica de modulação conhecida como Vestigial Side Band (8VSB)e é desenvolvido para operar com largura de faixa de canal de 6MHz, utilizando o sistema de áudio proprietário Dolby AC-3 e o padrão internacional de compressão de vídeoMPEG-2. 2.4.1.2 Histórico do padrão ATSC No intuito de desenvolver um sistema de TV avançado, que trouxesse maior definição da imagem (alta definição), interatividade e maior difusão em 1987 a FCC instituiu o ATSC, com a intenção de criar uma recomendação para a nova geração de serviços de TV avançados, dando priorizando aos serviços de TV em alta definição. Diante deste desafio inicialmente foram propostos vinte e três sistemas ao Comitê Consultivo, todos eles analógicos, porem o processo mudou fundamentalmente em 1990, quando a General Instrument (Motorola) propôs o primeiro sistema de TV em alta definição totalmente digital. Assim sendo,foram propostos no mesmo ano, três outros modelos de TV em alta definição (HDTV) totalmente digitais, sendo então realizados em 1991/1992 os primeiros testes com os quatros modelos propostos e dois outros sistemas analógicos propostos anteriormente aos digitais. Em maio de 1993, a General Instrument, o MIT, e AT&T, Zenith, Thomson, Philips e Sarnoff decidiram unir esforços e fundaram a Grand Alliance (GA) de TV de Alta Definição (HDTV). A aliança entre esses grupos teve como objetivo, somar esforços anteriores com vista ao desenvolvimento de um único sistema HDTV que resumisse os melhores elementos de cada sistema original. Assim, o padrão HDTV estabelecido por ela ficou conhecido como Padrão HDTV da Grande Aliança ou ATSC [18, 19, 20, 21, 22]. O Comitê Consultivo supervisionou todo esse processo, determinando importantes modificações a proposta da Grande Aliança, como também, realizando vários teste de laboratório e de campo. Durante esse período, os integrantes da Grande Aliança 38 Capítulo II – Introdução a TV Digital participaram da organização internacional de Normas International Standards Organization (ISO) a fim de desenvolver o padrão MPEG-2. Em 1995, os membros do ATSC aprovaram formalmente o Padrão de Televisão ATSC e o Comitê Consultivo recomendou-o a FCC para adoção com o novo padrão dos EUA para radiodifusão terrestre de televisão avançada. Sendo assim, em 1996, após um extenso processo de consulta e comentário público, a FCC adotou o padrão ATSC para radiodifusão terrestre no EUA, sendo em 1997 dissolvida a Grande Aliança [19]. 2.4.1.3 Modelo de camadas do padrão ATSC O padrão é organizado em quatro camadas interligadas. Na camada superior é formada a imagem, com os formatos específicos. A segunda camada é a camada de vídeo, onde é feita a compressão do sinal de vídeo pelo sistema MPEG-2. Estas duas primeiras camadas também trabalham com o sinal de áudio através do sistema Surround Sound Dolby AC-3 e juntas podem ser chamadas de camada de aplicação, pois definem aplicações específicas com HDTV ou SDTV. A terceira camada é a camada de transporte dos pacotes, chamada packetized transport layer, na qual são organizados os pacotes de forma separada, que podem ser: o vídeo, o programa, o áudio e os dados auxiliares. A quarta camada ou camada inferior é responsável pela transmissão, onde a modulação VSB trabalha. O protocolo utilizado nas transmissões terrestre e a cabo do padrão para proporcionar o vínculo entre o novo serviço digital e os serviços analógicos, é o PSIP Program and System Information Protocol for Terrestrial Broadcast and Cable (PSIP) [23]. Este protocolo utiliza o número do canal analógico existente como base para identidade da TV Digital, além disso, proporciona um método de seleção da programação da TV pelos receptores digitais, ou seja, o canal digital é acessado pelos telespectadores, como se fosse um acréscimo introduzido no canal analógico, por exemplo, onde antes havia o canal analógico número 7 (sete) com o sistema digital será mantido para o 39 Capítulo II – Introdução a TV Digital usuário o mesmo canal 7 (sete), porém haverá os canais 7-1, 7-2, 7-3, com programas simultâneos transmitidos pela mesma emissora. O PSIP também suporta os dados de um guia eletrônico de programação no qual a emissoras podem fornecer a sua programação da semana para o usuário consultar. A Figura 2. 15 mostra o diagrama de bloco do sistema ATSC, que tem as entradas de informações das aplicações (vídeo, áudio e dados). Na camada de codificação o sinal de vídeo é compactado pelo do sistema MPEG-2 e o sinal de áudio, pelo do sistema Dolby AC-3. Na camada de multiplexação esses sinais são unidos para se transformarem em um feixe de aproximadamente 19,39Mbps. Este feixe vai para a camada de transmissão onde passa por uma modulação de acordo com o meio a ser transmitido. Na radiodifusão é utilizada a modulação 8-VSB, na transmissão via cabo utiliza a modulação 64-QAM e na via satélite utiliza a modulação QPSK. CAMADA DE APLICAÇÃO CAMADA DE CODIFICAÇÃO DO SINAL-FONTE VÍDEO MPEG-2 VÍDEO ÁUDIO DOLBY AC-3 CAMADA DE MULTIPLEXAÇÃO CAMADA DE TRANSMISSÃO TERRESTRE 8-VSB SISTEMA MPEG-2 MULTIPLEX DADOS CABO QPSK SATÉLITE 64-QAM Figura 2. 15 - Diagrama de bloco do sistema ATSC. O padrão ATSC tem algumas limitações como à convergência com aparelhos como os celulares de Terceira Geração (3G), de modo que a utilização da TV móvel foi abandonada. Na defesa da adoção do ATSC, está o fabricante coreano LG. No Brasil testes realizados pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão/Sociedade de Engenharia de Televisão (ABERT/SET) mostram que o padrão ATSC apresenta problemas em distâncias grandes com recebimento do sinal de 80%, enquanto o ideal seria 100% [24]. Capítulo II – Introdução a TV Digital 40 Outro problema desse padrão ATSC é causado pelo efeito de refração, ou seja, as ondas transmitidas se refletem em um objeto próximo em movimento e retornam criando interferências. Como o sinal é digital, ou tem sinal ou não tem logo estas interferências podem retirar o sinal do ar. Testes realizados pela ABERT/SET com transmissões próximas a estações ferroviárias, constataram que toda vez quando o trem passava próximo a transmissão o sinal era cortado. O sistema americano visava inicialmente à veiculação da HDTV, embora permitisse também a transmissão de SDTV e de canais de dados para a implementação da interatividade. Entre os pontos positivos deste padrão está à característica de utilizar uma camada de software em interface aberta, o DTV Application Software Environment (DASE) permitindo que os serviços interativos sejam executados normalmente por qualquer receptor. Ele define uma camada de software, o middleware na qual os receptores de outros padrões conseguem ter acesso as informações e programações do padrão ATSC. Isso ajuda para que a interatividade deste padrão funcione com todas as marcas e modelos de receptores. O padrão DASE possui oito seções, que são: a introdução, os aplicativos declarativos, os aplicativos procedimentais, a interface de programação de aplicativos, recursos de fontes portáveis, segurança, transmissão de aplicativos e conformidade. Outra vantagem deste padrão em relação aos outros é a taxa de código do Forward Error Correction (FEC) que é utilizado. Esta taxa é inversamente proporcional a robustez do sistema, ou seja, quanto maior na taxa menor será a robustez do sistema. Essa robustez vem de uma maior parte da capacidade do canal que está disponível para corrigir erros. O sistema ATSC com a modulação VSB opera com uma taxa de código da FEC de 2/3, enquanto o sistema DVB com a modulação COFDM opera com uma taxa de 3/4. O padrão ATSC utiliza canais de 6MHz para os serviços de televisão, mesma freqüência utilizada no Brasil. Neste canal de largura de 6MHz podem ser transmitidos Capítulo II – Introdução a TV Digital 41 por exemplo: um canal de HDTV com alta qualidade (High Quality), mais um canal de dados; ou um canal de HDTV com média qualidade (EDTV), mais um canal de SDTV, mais um canal de dados; ou quatro canais de SDTV e mais um canal de dados, conforme mostrado na Figura 2. 16. Figura 2. 16 - Possibilidades de transmissão com o modelo ATSC. Segundo a própria ATSC [23], existe um grande mercado já instalado nos Estados Unidos, cerca de 64% dos telespectadores deste país utilizam a TV Digital com o padrão ATSC. 2.4.1.4 Sistema de radiodifusão terrestre ATSC Para difusão terrestre, o padrão ATSC utiliza a modulação (Vestigial Sideband - 8 níveis) 8-VSB, desenvolvido pela Zenith Electronics, a qual transmite 19,3Mbps em um canal de radiodifusão terrestre de 6MHz [25]. A Figura 2. 17 ilustra o diagrama em bloco do sistema de transmissão 8-VSB: Figura 2. 17 - Diagrama de bloco do sistema de transmissão 8-VSB. 42 Capítulo II – Introdução a TV Digital Inicialmente, o feixe de transporte MPEG-2 sofre um processo de embaralhamento. A seguir, submete-se a um código corretor de erros (Reed Solomon) que opera em nível de blocos, inserindo 20 bytes de paridade para cada bloco de 187 bytes. Esse conjunto de 207 bytes forma um segmento. O passo seguinte é o de entrelaçamento temporal, quando os bytes são espalhados ao longo de 52 segmentos. Esse espelhamento possui a finalidade de evitar que, quando um ruído impulsivo ou desvanecimento do sinal danificar parte do sinal, ele danifique um segmento (ou vários segmentos) inteiro(s). Com o espalhamento são danificados uns poucos bytes de vários segmentos, em vez de se danificar totalmente alguns segmentos específicos. Isso, aliado ao código corretor de erros, garante uma boa imunidade do sistema a ruídos impulsivos. Posteriormente, há um segundo código corretor de erros (Treliça ou Convolucional), operando em nível de bits. Cada 2 bits originais são convertidos para 3 bits, sendo então um código 2/3. Os 3 bits assim definidos são convertidos para um símbolo de 8 níveis. A carga útil de cada segmento é composta então por 828 símbolos de 8 níveis. No passo seguinte, cada segmento recebe alguns símbolos adicionais, que servem como elementos de sincronismo de segmento, trezentos e doze segmentos, mais um de sincronismo, formam um quadro. A esse conjunto adiciona-se um pequeno valor DC, que ao ser modulado, forma o sinal piloto do canal. Finalmente, esse conjunto é colocado num modulador VSB, na freqüência intermediária (FI). O sinal modulado em AM-VSB está pronto para ser transladado no conversor de freqüência para o canal de operação da emissora rádio freqüência (RF), filtrado, amplificado e pronto para ser transmitido. No Capítulo seguinte, Capítulo 3, é abordado mais a modulação 8-VSB. Devido a grande preocupação com a interferência de sinais de TV Analógicos NTSC, o projeto do sistema ATSC envolveu uma grande preocupação com tal fator, o que influenciou a estrutura de diversas partes do sistema. É importante dizer que no padrão ATSC, as duas camadas inferiores: as camadas de transporte e transmissão juntas, constituem uma capacidade de transmissão generalizada de dados. As duas camadas superiores definem aplicações especificas, tais Capítulo II – Introdução a TV Digital 43 como HDTV ou SDTV que rodam nessa capacidade generalizada de transmissão de dados. Já o subsistema de compressão e codificação de fonte envolve métodos de redução da taxa de bits, ou seja, compressão dos sinais de vídeo, áudio e dados. Esse subsistema, por sua vez pode ser dividido em subsistemas de áudio e vídeo, como apresentado na Figura 2. 18. Como já foi mencionado anteriormente neste Capítulo, o padrão americano utiliza o sistema Dolby AC-3 para o áudio [26] e o padrão MPEG-2 para compressão de vídeo [18, 27, 28]. A Figura 2. 18 e Figura 2. 19 mostram, respectivamente, o diagrama de blocos do transmissor e do receptor 8-VSB [27]. Figura 2. 18 - Diagrama de bloco do transmissor 8-VSB. Figura 2. 19 - Diagrama de blocos do receptor 8-VSB. Capítulo II – Introdução a TV Digital 44 Na etapa de multiplexação e transporte, o streams de áudio e vídeo codificados, juntamente com dados de controle e dados auxiliares, são agrupados em “pacotes” similares de informação. Esses pacotes são multiplexados segundo uma ordem de transmissão e enviados ao serviço de transporte. Nesta etapa, o ATSC utiliza a parte de sistemas do padrão MPEG-2 [25, 18]. Utiliza-se a codificação de canal como forma de combater os efeitos de ruídos e interferências presentes no canal de transmissão que afetam a qualidade do sinal transmitido. O sistema ATSC adota como técnica de codificação do canal a codificação de treliça e de Reed Solomon. O Reed Solomon é um codificador do tipo convolucional não binário, que é utilizado pelo sistema para a correção de uma longa seqüência de erros. Nesse caso, o código permite a correção de 10 bytes errados de informação através dos 20 bytes adicionais que são inseridos pelo codificador. Os bytes de entrada no codificador para esse caso provêm do data Randomizer, maiores detalhes serão vistos no Capítulo III deste trabalho. O padrão ATSC também contém também um modo 16-VSB de taxas de dados elevadas para uso em sistema de televisão a cabo que transmite 38,6Mbps em um canal de cabo de 6MHz. 2.4.1.5 Degradação do sinal digital imposto pelo canal de transmissão Para o padrão em questão ATSC, citam-se como possíveis degradações do sinal: a atenuação dos sinais, interferência, surtos, de ruídos e os fantasmas (multipercurso). No sistema analógico, tipo NTSC para uma relação sinal-ruído (S/N) igual ou inferior a 34dB, a qualidade da imagem é considerada apenas marginal, o ruído começa a sobrepor o sinal (imagem com chuvisco) dando margem a interferências, enquanto que o sistema ATSC com modulação 8-VSB, mantém a qualidade de imagem constante até Capítulo II – Introdução a TV Digital 45 uma S/N de 15dB. Essa robustez quanto ao ruído e a capacidade de compensação dos efeitos de multipercurso constituem, o grande diferencial do sistema 8-VSB. 2.4.1.6 Relação portadora ruído (C/N) O grupo ABERT/SET ao realizar testes com o padrão ATSC, obteve um valor 14,6 dB, para a relação portadora ruído (C/N) de limiar, ou seja, o máximo nível de ruído suportável em situações onde não existe interferências. Constituindo assim um ponto positivo para a adoção do padrão ATSC, já que este valor viabiliza a cobertura de regiões distantes do transmissor [29]. 2.4.1.7 Potência requerida Os 4dB de vantagem no limiar da relação portadora ruído (C/N) do ATSC/VSB. Sobre os sistemas DVB-ISDB/COFDM, exigem destes, maior potência do transmissor para conseguir a mesma área de cobertura da emissora. Assim, o sistema ATSC/VSB requer transmissores de menor potência, oferecendo às emissoras menores custos de energia. 2.4.1.8 Modelos de receptores digitais ATSC Como já mencionado anteriormente neste Capítulo, o padrão ATSC suporta uma variedade de formatos de vídeo em HDTV e SDTV. Mas, existem dois padrões fundamentais de HDTV um com 1.080 linhas verticais e outro com 720 linhas verticais. Todos os formatos do HDTV utilizam uma relação de aspecto tela larga de 16:9, enquanto que o SDTV pode usar a relação 16:9 ou uma relação 4:3 tradicional, a mesma usada em televisão analógica. Considerando-se essas relações de aspecto e as três diferentes taxas de quadro apoiadas pelo padrão (24, 30 e 60 quadros por segundo), 46 Capítulo II – Introdução a TV Digital existem, ao todo, 18 formatos no padrão de TV Digital ATSC, dos quais 14 usam Scanning Progressive e 4 usam Scanning e Interlaced Scanning. No ATSC, todos os formatos de 480 linhas são considerados SDTV, muito embora os formatos 480-progressivos (480p) ofereçam melhor resolução do que os formatos 480-entrelaçados (480i). Inicialmente, a FCC estabeleceu para o ATSC, uma grande flexibilidade em termos da resolução da imagem, esses formatos incluem HDTV (1080p, 1080i e 720p, 16:9). EDTV (480p, 16:9) e SDTV (480i, 16:9; 740x480 p/i, 4:3 e 640x480 p/i 4:3). Posteriormente, a FCC, devido aos fatores de ordem econômica e política, voltaram atrás e no momento está permitindo que as emissoras transmitam apenas um sinal de televisão aberta, no modo HDTV. A Tabela 2. 4 apresenta os formatos e resoluções adotados pelas grandes redes norte-americanas. Tabela 2. 4 – Formatos e resoluções adotados pelas redes de TV Digital americanas. Rede HDTV ABC CBS Fox NBC PBS 720p 1080i 720p 1080i 1080i SDTV e EDTV 480p 480i 480p 480p - Os modos SDTV e EDTV são utilizados somente para a complementação da programação, devido à inexistência de material HDTV para complementar toda a grade horária [15]. O modelo americano ATSC pode ser resumido como sendo baseado na oferta de um único programa de televisão aberta de alta definição (HDTV). O padrão ATSC também definiu formatos de entrada e características de seqüência de bit (bitstream) para os sistemas de televisão digital que operam em taxas de quadros de 25Hz e 50Hz, documentadas no padrão ATSC para a codificação de vídeo 25/50Hz (A/63) [19]. Capítulo II – Introdução a TV Digital 47 É indispensável, que todos os receptores ATSC tenham a capacidade de decodificar quaisquer dos formatos ATSC, de modo que um receptor não fique com a tela escura (sem imagem) quando encontrar qualquer desses formatos que uma emissora pode utilizar. A Consumer Electronics Association (CEA) emitiu definições destinadas a proporcionar maior clareza aos consumidores e comerciantes do varejo e conjuntamente com o ATSC desenvolveram um programa de conformidade e certificação, com a finalidade de assegurar que todos os receptores ATSC, com efeito, ofereçam essa capacidade de “decodificação universal de formatos” [28]. 2.4.1.9 Política de Mercado A FCC defende a adoção de um firme apoio das emissoras a HDTV, se caso não houver, os consumidores não se sentirão atraídos a adquirir um receptor de HDTV, que por enquanto devido à baixa demanda, apresentam preços elevados. Já no âmbito político, outros segmentos econômicos, contestam a opinião do FCC, com a argumentação de que as emissoras estariam pretendendo utilizar a faixa obtida gratuitamente, concedida para a transmissão simulcast, para a prestação de outros serviços de telecomunicações circunstância para o qual, normalmente, haveria um leilão de uso de freqüência. Como o padrão ATSC, conta atualmente com mais de 450 estações transmitindo TV Digital, em curto prazo, estima-se preços mais acessíveis para os receptores e das Unidades Retificadoras e Conversoras (URDs). Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.4.2 Padrão Digital Video Broadcasting (DVB) 2.4.2.1 Introdução 48 O padrão Digital Video Broadcasting (DVB) adotado na Europa reúne um conjunto de especificações para a radiodifusão digital incluindo: radiodifusão terrestre (DVB-T), cabo (DVB-C), satélite (DVB-S). Podendo ainda transmitir via radiodifusão terrestre via microondas operando na freqüência entre 2GHz até 10GHz (Microwave Multipoint Distribution System DVB-MMDS), ou acima de 10 GHz (Local Multipoint Distribution System DVB-LMDS). Está presente na União Européia, Austrália e Nova Zelândia. O padrão DVB possui a sua configuração hierárquica, na prática, isso significa que o telespectador pode assistir a um mesmo programa em dois diferentes níveis de resolução, mais baixa para recepção móvel (480 linhas em médias) e mais alta (1.028 linhas) para recepção fixa; ou dois programas completos diferentes. O DVB utiliza a técnica de modulação Codec Orthogonal Frequency Division Multiplexing (COFDM). Ele foi desenvolvido para operar com duas larguras de faixa do canal de 7MHz e 8MHz, mas também pode ser adaptado a canais de 6MHz. Em um canal de 8Mhz é possível transmitir, simultaneamente, quatro programas SDTV com boa qualidade de imagem, quatro programas analógicos, ou então apenas um com qualidade HDTV. Este padrão utiliza como principal sistema de áudio o DVB MPEG-2, considerado como um padrão aberto, que é utilizado também em DVDs. Atualmente, o país mais adiantado na sua implementação é a Inglaterra, mas os demais países como: Suécia, França, Alemanha, Espanha e Irlanda já estão realizando os testes para implementação. A Inglaterra é também, o país onde a TV interativa está mais avançada no mundo. Hoje, 30% da população já têm acesso à TV Digital e 23% utilizam os serviços interativos. O DVB tem ainda como característica técnica capacidade para recepção móvel. O sistema europeu privilegiou a multiplicidade de canais e a interatividade. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.4.2.2 49 Histórico do Padrão DVB Criado na Europa com o intuito de desenvolver um padrão de TV Digital (HDTV), o grupo Digital Video Broadcasting (DVB), formado por um consórcio de indústrias e governo, é uma organização composta de 301 membros de 36 países, todos interessados no desenvolvimento de um sistema padronizado para TV Digital na Europa. O padrão DVB, criado por esse consócio, assim como o ATSC, trata-se de um conjunto de especificações para difusão, as quais são as seguintes: • DVB-T: para radiodifusão terrestre; • DVB-C: para difusão a cabo; • DVB-S: para difusão via satélite; • DVB-MMDS: para difusão terrestre via microondas operando em freqüências de 2GHz a 10GHz, usando o sistema Microwave Multipoint Distribution System (MMDS); • DVB-LMDS: para difusão terrestre via microondas operando em freqüência acima de 10GHz, usando o sistema Local Multipoint Distribution System (LMDS). Através da estrutura do projeto europeu, foram especificadas as normas para os diversos meios de difusão mencionas acima, sendo que a normatização para o sistema de difusão a cabo (DVB-C) e satélite (DVB-S), MMDS (DVB-MMDS) e LMDS (DVB-LMDS) ocorram no final de 1994. O sistema de difusão DVB-S, possibilitou transmitir e retransmitir cerca de seis canais simultâneos, usando apenas um transponder, ampliando as possibilidades das difusões via satélite diretas para o usuário final, pelas das TVs por assinatura (Sky e Direct TV - DTH), permitindo transmitir mais de 80 canais a um custo reduzido de 50 Capítulo II – Introdução a TV Digital qualidade superior, ao contrário dos sistemas analógicos que estão limitados a um canal por transponder [15, 30]. O sistema DVB-T aprovado pela European Telecommunications Standards Institute (ETSI), só se deu após dois anos da normatização dos sistemas de difusão via cabo e satélite, isto, devido às dificuldades impostas pelo meio de difusão terrestre. Inicialmente, o padrão DVB-T vinha sendo utilizado principalmente para transmissões de vários canais de TV Digital SDTV, entretanto este modelo também contempla a transmissão de sinais HDTV. 2.4.2.3 Modelo de camadas do padrão DVB O padrão DVB utiliza para a codificação do sinal-fonte de vídeo e de áudio, o padrão MPEG-2, diferente do ATSC, que utiliza o padrão MPEG-2 para codificação de vídeo e o padrão Dolby AC-3 para codificação de áudio. Devido aos diferentes sistemas de difusão adotados pelo DVB (DVB-T, DVB-C, DVB-S, DVB-MMDS e DVB-LMDS), a camada de transmissão possui diversas especificações, uma para cada meio de transmissão/difusão. CAMADA DE TRANSMISSÃO CAMADA DE APLICAÇÃO CAMADA DE CODIFICAÇÃO DO SINAL-FONTE CAMADA DE MULTIPLEXAÇÃO TERRESTRE (DVB-T) COFDM CABO (DVB-C) QAM VÍDEO MPEG-2 VÍDEO ÁUDIO MPEG-2 ÁUDIO SISTEMA MPEG-2 MULTIPLEX SATÉLITE (DVB-S) QPSK MICROONDAS (DVB-MMDS) DADOS QAM MICROONDAS (DVB-LMDS) QPSK Figura 2. 20 - Diagrama de blocos do sistema DVB. Capítulo II – Introdução a TV Digital 51 Na Figura 2. 20 pode-se observar que o diagrama de blocos do sistema DVB, assim como no sistema ATSC, tem as entradas para as aplicações de vídeo, áudio e dados. Na camada de codificação o sistema MPEG-2 é utilizado tanto para o sinal de vídeo quanto para o sinal de áudio. Depois de passar pela camada de multiplexação o fluxo gerado vai para a camada de transmissão, que é modulado de acordo com o meio. Para difusão terrestre (DVB-T), é utilizada a modulação Codec Orthogonal Frequency Division Multiplexing (CODFM), que será detalhada no Capítulo 4 deste trabalho. Para redes de TV a cabo (DVB-C), a modulação proposta é a Quadrature Amplitude Modulation (QAM) nas constelações 16-QAM, 32-QAM, 64-QAM, 128-QAM e 256-QAM, levando em consideração as características da rede e do serviço desejado. Para a difusão via satélite, a modulação recomendada é a QPSK, podendo utilizar códigos convolucionais com taxas de código de 1/2, 2/3, 3/4, 5/6 e 7/8. Para difusão terrestre utilizando microondas, temos dois modos de modulação. Para o sistema Microwave Multipoint Distribution System (DVB-MMDS), que opera em freqüências entre 2GHz e 10GHz, é recomendada a utilização de modulação QAM, nas configurações 16-QAM, 32-QAM, 64-QAM. O MMDS exige a instalação de uma emissora especial, em cada cidade, que transmite, pelo ar, sinais codificados diretamente aos usuários. Para o sistema Local Multipoint Distribution System (DVB-LMDS), que opera nas freqüências acima de 10GHz, é recomendada a modulação QPSK, que é a mesma do satélite. O LMDS opera com pequenas antenas transmissoras de alta freqüência, cobrindo áreas de até 5km de raio. As especificações do sistema DVB permitem diversas configurações para a camada de transmissão. A utilização de códigos com alta compactação permite transportar uma maior carga útil de informações sem um determinado canal, por exemplo: 256-QAM com FEC 7/8. Por outro lado, códigos com mais redundância, utilizando, 256-QAM com FEC 1/2, são mais robustos contra ruídos e outras interferências. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.4.2.4 52 Sistema de radiodifusão terrestre DVB O padrão DVB-T, foi desenvolvido para tentar obter os seguintes requisitos [29]: • Garantir recepção fixa e móvel; • Apresentar imunidade relativa a mulipercursos e a outras adversidades, introduzidas pelo meio; • Permitir a implementação de redes de freqüência única (SFN); • Assegurar flexibilidade da configuração (hierárquicas de transmissão, etc.), de modo a satisfazer as diferentes necessidades de cada país; • Apresentar resistência a eventuais interferências provocadas pelos atuais serviços analógicos sem interferir nestes; • Permitir facilidade de transcodificação para outros meios de transmissão, como por exemplo: satélite, cabo e fibra ótica; • Dispor de possibilidade de produção de receptores a um preço não muito superior aos atuais. A modulação especificada OFDM [14, 18, 31, 32, 33] agregada a códigos concatenados para correção de erros, cumpri os requisitos mencionados anteriormente neste Capítulo, a qual o sistema permite vários níveis de modulação QAM e diferentes taxas de código para que seja possível estabelecer vários compromissos entre débito e robustez. O sistema permite ainda a utilização de modulações hierárquicas a dois níveis. Em um primeiro nível, os dados são modulados em QAM, sendo que, no segundo nível de modulação, cada umas dessas sub-portadoras é entregue a um modulador OFDM. Como no padrão DVB-T existe a codificação de canal antecedendo o processo de modulação, a modulação é chamada de CODFM. Tal codificação de canal é realizada no intuito de diminuir os erros introduzidos pelas imperfeições do canal de transmissão. No sistema DVB-T a codificação de canal envolve codificação de Reed Solomon (RS) e de treliça. Capítulo II – Introdução a TV Digital 53 OFDM é uma técnica de modulação que utiliza divisão em freqüência para transmitir blocos de dados. Cada símbolo do sinal é constituído por um conjunto de portadoras, cada um transportando informações independentes. No Padrão DVB-T, os dados de entrada do modulador são números complexos representando pontos de uma constelação, a quem pode ser QPSK, 16-QAM ou 64-QAM. O grupo DVB também estabeleceu padrões para a transmissão digital via satélite, e via cabo, através da European Telecommunications Standards Institute (ETSI) e depois completou o padrão da transmissão digital terrestre conhecido como DVB-T. A Figura 2. 21 apresenta o diagrama de blocos funcional de forma simplificada do processo de codificação e modulação correspondente ao sistema de difusão DVB-T. Figura 2. 21 - Diagrama de blocos funcional do sistema DVB-T [15, 30]. Na Figura 2. 21 considera-se a existência de várias fontes de sinal: vídeo, áudio, e dados. Tais sinais serão codificados segundo a norma MPEG-2, tendo como objetivo, a compressão e a conseqüente diminuição do volume de dados a transmitir. Após essa fase de codificação/compressão, procede-se a multiplexação de cada um dos sinais codificados de modo a constituir um stream do programa. Em seguida, todos os possíveis streams do programa são multiplexados sem um stream de transporte MPEG-2. Se houver a necessidade de empregar um sistema que utilize modulações hierárquicas, o stream de transporte será separado em dois fluxos de informação no separador stream partitioner conforme o priority breakpoint (PBP), que pode ser ajustado no começo de cada bloco do stream baseado na ocupação/ociosidade dos dois buffers de 54 Capítulo II – Introdução a TV Digital saída. Os fluxos de stream são separados em high priority e low Priority, passando por um corretor de erro Forward Error Correction (FEC). Tal designação está relacionada com o fato do stream de high priority estarem associados a esquemas de codificação/modulação mais robustos do que os que estão associados ao stream de low priority, ou seja, o stream de high priority é transmitido mais robustamente. A Figura 2. 22 ilustra o diagrama de blocos do modulação hierárquica do sistema DVB-T: LOW PRIORITY VIDEO STREAM STREAM PARTITIONER FEC MODULADOR SAÍDA FEC HIGH PRIORITY Figura 2. 22 - Diagrama de blocos de modulação hierárquica do sistema DVB-T. Voltando a Figura 2. 22, na seqüência os streams de transporte passam por um scramber para garantir que o sinal passará a ter um número adequada de transições binárias. Após esta etapa, passa-se ao subsistema responsável pela de correção de erros, através da implementação de um codificador Reed Solomon (RS) (codificador externo) seguido de um entrelaçador convolucional (entrelaçador externo). Este conjunto formado pelo codificador RS e pelo entrelaçador é comum nos sistemas de difusão o cabo e por satélite. O sinal gerado pelo entrelaçador externo é entregue a um codificador convolucional, que permite a implementação de códigos convolucionais perfurados com taxas de 1/2, 2/3, 3/4, 5/6 e 7/8 e é compatível com o que está definido pela norma de difusão por satélite [1]. O bloco seguinte é constituído por um entrelaçador com dois estágios. No primeiro estágio faz-se um entrelaçamento a nível do bit, enquanto que no estágio de saída faz-se um entrelaçamento a nível de símbolo. A estrutura deste entrelaçador já depende da modulação intermediária a ser utilizada (QPSK, 16-QAM, 64-QAM, MR-16-QAM ou MR64-QAM). A partir da modulação intermediária definida faz-se o mapeamento dos símbolos no plano complexo. 55 Capítulo II – Introdução a TV Digital Em seguida, introduzem-se sinais de controle e portadoras pilotos, para facilitar a tarefa de recepção. Após o primeiro nível de modulação e da introdução da informação de controle, ao sinal resultante é aplicada a modulação OFDM. A norma prevê dois modos possíveis, 2k (que utiliza 1.705 portadoras) e 8k (6.817 portadoras), sendo transmitidas cerca de 2.000 e de 8.000 subportadoras por cada símbolo, respectivamente. Uma das grandes vantagens da divisão do sinal em um grande número de portadoras é a maior imunidade a ruído, em particular ecos resultantes de multipercurso. A Tabela 2. 5 apresenta as principais características desses dois modos de operação. Tabela 2. 5 - Modos de operação COFDM para o padrão DVB [1]. Parâmetros Número de Portadoras Espaçamento entre as Portadoras Comprimento do Símbolo Intervalo entre os Símbolos Clock Principal (Sistema 6MHz) Modo 8K Modo 2K 6817 (0 a 6816) 1705 (0 a 1704) 0,837 kHz 3,348 Hz 1194 us 298 us 37 a 298 us 9 a 74 us 6,85 MHz O número de portadoras, mostrado na Tabela 2. 5 funciona como se fosse um sistema de compartilhamento em freqüência, ou seja, cada portadora transporta uma fração da informação total. Com a modulação COFDM as interferências entre as portadoras que possam existir são evitadas por condições de ortogonalidade entre as portadoras. A ortogonalidade deste sistema ocorre quando o espaçamento entre as portadoras é exatamente inverso ao período sem que o receptor fará a operação de modulação [1]. Algumas destas portadoras são utilizadas como sinal piloto. A primeira e a última são utilizadas para este fim, ou seja, no sistema 2k as portadoras, número 0 (zero) e 1704 são utilizadas como sinal piloto e no sistema 8k as portadoras número 0 (zero) e 6816. Este modelo tem como limitação também não ser compatível com os aparelhos de terceira geração. Outra limitação apresentada é o alto custo dos aparelhos de Capítulo II – Introdução a TV Digital 56 decodificação. Estudos realizados na Alemanha [34] mostram que a população está disposta a adquirir o equipamento desde que seja por um valor aceitável. Um dos principais fabricantes que utiliza esse padrão é a Philips. Após a inserção dos sinais de controle, introduz-se um intervalo de guarda entre cada dois símbolos OFDM de modo que o atraso dos ecos provenientes do multipercurso efetuado pelo sinal emitido seja inferior à duração do intervalo de guarda, evitando a interferência inter-simbólica. Finalmente, o sinal é entregue aos subsistemas de rádio freqüência (RF) e de potência para ser transmitido. A modulação e a codificação dos sinais aqui referidos serão detalhadas no Capítulo 3 deste trabalho. A transmissão de sinais HDTV em COFDM do padrão DVB-T, pode ser feita por um conjunto de repetidoras sincronizadas no tempo e na freqüência com um transmissor principal em Rede de Freqüência Única - Single Network Frequency (SFN). Através deste método pode-se cobrir uma extensa área utilizando-se uma única freqüência. A redução do retardo de propagação pode ser feita distribuindo o sinal do transmissor as repetidoras por enlaces por satélite, microondas ou fibras ópticas. 2.4.2.5 Relação portadora ruído (C/N) Nos testes efetuados pelo grupo ABERT/SET a relação portadora ruído (C/N) de limiar, ou seja, o máximo nível de ruído suportável em situações onde não há interferências foi medido e constatado em 19,0dB. 2.4.3 Padrão Integrated Services Digital Broadcasting (ISDB) 2.4.3.1 Introdução O Padrão Integrated Services Digital Broadcasting (ISDB) adotado pelo Japão, o ISDB, começou a ser desenvolvido em 1983, e seus principais conceitos são: Capítulo II – Introdução a TV Digital 57 flexibilidade, propriedades em comum (Commonality) e a expansibilidade. A estrutura de funcionamento é semelhante ao modelo europeu, contudo, mais avançada. É o único modelo que permiti a TV Digital seja utilizada com todas as suas aplicações, inclusive a convergência com os aparelhos terceira geração (3G). Além disso, é o mais indicado para as regiões metropolitanas (que apresentam muitos prédios altos). É o único padrão a não possuir apenas uma antena transmissora e sim, uma rede de transmissoras de pequena potência. O modelo ISDB é defendido pela maioria das emissoras brasileiras e pela ABERT/SET, onde testes realizados mostram que este modelo apresenta melhor desempenho em situações de multipercurso intenso, além de apresentar recepção em 100% dos pontos dentro da área com grande concentração populacional. Ainda nos testes realizados pela ABERT/SET concluiu-se que o padrão ISDB-T, apresenta um desempenho superior aos demais modelos no que se refere à imunidade a ruídos impulsivos, é também na apresentação de maior grau de flexibilidade para as possíveis aplicações de serviço de radiodifusão de sons e imagens. 2.4.3.2 Histórico do padrão ISDB O padrão ISDB, serviços integrados digitais de Broadcasting, foi desenvolvido pelo grupo Japonês Digital Broadcasting Experts Group (DIBEG´s) nas décadas de 70 e 80 porém somente na década de 90 que ele começou a entrar no mercado. Existem três formas de transmissão do padrão ISDB, sendo que todos os três dispõem do mesmo processamento digital: • ISDB-T: para radiodifusão terrestre; • ISDB-C: para difusão a cabo, e; • ISDB-S: para difusão via satélite. Capítulo II – Introdução a TV Digital 58 No ISDB-T o sinal é transmitido via terrestre, sem ajuda de um satélite. Ele é bastante usado na recepção móvel, pois mesmo em um carro em movimento pode-se receber o sinal de TV em boa qualidade e sem interferências. O ISDB-C utiliza as transmissões via cabo, em que existe um cabeamento desde a transmissora do sinal até o receptor na casa do telespectador. A dificuldade deste modelo está na cobertura desse cabeamento, que o deixa, no início, com um custo elevado. O ISDB-S utiliza o satélite como meio de transmissão e com isso ganha na capacidade de transmissão do sinal, juntamente com os métodos que não são suscetíveis a atenuações de chuvas, ou seja, durante chuvas fortes, a intensidade do sinal de RF começa a diminuir e, para evitar esta atenuação, o sistema utiliza uma transmissão hierárquica. A transmissão hierárquica é a forma de transmitir os bits de maneira a dividir em grupos, e cada grupo pode ter um grau de robustez diferente. Com ela é possível fazer com que partes dos sinais sejam fortes o suficiente para ser recebido nas áreas mais afastadas, ou seja, permite que parte dos sinais sejam transmitidos com um grau de robustez maior do que o restante do sinal. Na transmissão via satélite pode-se transmitir dois programas em HDTV, ou um programa em HDTV e mais três programas em SDTV, ou ainda seis programas SDTV em um mesmo canal de 52Mbps. 2.4.3.3 Modelo de camadas do padrão ISDB A Figura 2. 23 mostra o diagrama de blocos do padrão ISDB. Como o processamento é igual para os três meios de comunicação, só existem diferenças na correção de erro e na modulação final antes da transmissão propriamente dita, de acordo com o meio (satélite, cabo ou terrestre). Assim como nos outros padrões, o ISDB utiliza MPEG-2 para a codificação de vídeo, porém o padrão adotado para o áudio é o MPEG-2 AAC. Capítulo II – Introdução a TV Digital 59 Figura 2. 23 - Diagrama de bloco do sistema ISDB. Para radiodifusão terrestre, o ISDB-T utiliza o sistema CODFM, com portadoras moduladas em 16-QAM, 64-QAM, QPSK ou, adicionalmente, Differential Quadrature Phase Shift Keying (DQPSK). O ISDB-C pode receber e posteriormente retransmitir o sinal de forma terrestre ou via satélite. O ISDB-S possui maior capacidade de transmissão, pois apresenta uma capacidade de transmissão de 52Mbps, podendo oferecer múltiplos serviços em HDTV e SDTV em um só canal transponder. Por exemplo, o ISDB-S possibilita dois tipos de programa HDTV em um transponder comum, ou um programa em HDTV e mais três programas em SDTV, ou seis programas SDTV e mais três programas em SDTV, ou seis programas SDTV em um mesmo canal de transponder. O ISDB-S adota um método que não é susceptível a atenuação por chuva. Por exemplo, durante chuvas fortes, a intensidade do sinal de RF começa a diminuir, comum na banda Ku, e para cobrir esta atenuação utiliza-se a modulação hierárquica. Esquemas múltiplos/hierárquicos de modulação suportam três diferentes métodos de modulação: 8PSK, QPSK e BPSK, podendo ser selecionado um, dois ou três deles, simultaneamente, sendo que, o programa é recebido sem qualquer prejuízo dos sinais que chegam do satélite. 60 Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.4.3.4 Sistema de radiodifusão terrestre ISDB Para radiodifusão terrestre, o ISDB-T utiliza o sistema CODFM, com portadoras moduladas em 16-QAM, 64-QAM, QPSK ou, adicionalmente, DQPSK. É um sistema com parâmetros configuráveis (pela emissora), permitindo obter diferentes níveis de robustez com as respectivas capacidades de transporte. O ISDB-T apresenta três modos de operação, ou seja, de número de portadoras, existindo um modo intermediário chamado 4k, em relação ao sistema DVB-T. Tais modos de operação apresentam características importantes, como a viabilidade para transmissão em alta definição HDTV, recepção móvel, data broadcasting e combinação com telefonia móvel celular. Testes realizados no Brasil pela ABERT/SET, demonstraram que o sistema ISDB-T é superior em relação a difusão terrestre dos padrões americano ATSC e europeu DVB quanto à imunidade ao ruído impulsivo e a mulipercursos. O padrão ISDB-T em questão, oferece o recurso tecnológico de time interleaving que é a chave para a recepção móvel e para lidar com a degradação provocada pelo ruído impulsivo, este recurso possibilita adicionalmente a utilização de 4000 portadoras, permitindo que programas de rádio e TV possam ser multiplexados e transmitidos em um canal, multiplexação que possibilita assistir e ouvir programas de HDTV de alta qualidade em um mesmo receptor. Na modulação COFDM, utilizada no padrão ISDB, existem três modos de operação, 2k, o 4k e o 8k. A Tabela 2. 6 mostra as principais características destes três modos. O sistema ISDB é bastante semelhante ao sistema DVB e ao comparar os valores da Tabela 2. 5 com os valores Tabela 2. 6 do modelo DVB, percebe-se que há um modo intermediário 4k, e que o número de portadoras no ISDB é inferior em cada modo comparado ao DVB. Por outro lado o padrão ISDB utiliza um clock mais rápido. A Tabela 2. 6 apresenta as principais características dos modos de operação do padrão ISDB-T: 61 Capítulo II – Introdução a TV Digital Tabela 2. 6 - Modos de Operações COFDM do Sistema ISDB-T. Parâmetro Número de Portadoras Portadoras por Segmento Espaçamento entre Portadoras Comprimento do Símbolo Intervalo entre os Símbolos Clock Principal Modo 2k 1.405 108 3.968kHz 252us 7,8-63us Modo 4k Modo 8k 2.809 5.617 216 432 1.984kHz 0,992kHz 504us 1.008us 15,75-126us 31,5-252us 8.127MHz (512/63) Além das informações contidas na Tabela 2. 6 existem também a distribuição de um número de portadoras que transportam informação sobre a configuração do transmissor, também chamado de Transmission and Multiplexing Configuration Control (TMCC) que são 5 por segmento no modo 2k, 10 no modo 4k e 20 no modo 8k. Outra distribuição das portadoras é para o canal auxiliar, que é utilizado para o transporte de dados, no qual nos modo 2k são 6 portadoras, nos modo 4k são 13 portadoras e para o modo 8k são 27 portadoras por segmento [1]. A API utilizada neste modelo é a ARIB21-STD-B24, é a Associação de Indústrias e Negócios de Rádio (ARIB) formada por alguns fabricantes japoneses, e os principais fabricantes que apóiam este modelo são: Panasonic, Toshiba, NEC, Sony, Mitsubishi, Pionner, Sharp, Sanyo e Fujitsu. 2.4.3.5 O Segmentação de Banda ISDB-T foi desenvolvido para permitir flexibilidade, expansibilidade e comunicabilidade para serviços multimídia utilizando redes terrestres. O padrão adotou o esquema Band Segmented Transmission (BST-OFDM), que consiste em uma série de blocos de freqüências chamados segmentos OFDM. O próprio nome indica, é uma plataforma concebida para múltiplas aplicações, e não apenas para o serviço de TV Digital. Em telecomunicação as companhias telefônicas conceberam uma plataforma multi-aplicações chamada Integrated Services Digital Network (ISDN) ou RDSI, sendo a Capítulo II – Introdução a TV Digital 62 sigla ISDB muito semelhante a ISDN. Não só uma mera coincidência, mas a principal idéia é que o ISDB seja o equivalente para o ambiente de radiodifusão. Tendo em vista tal principio, nessa tecnologia, as portadoras são agrupadas em 13 segmentos, denominados data segment. Em tese, um canal de 6MHz poderia ser dividido em 13 serviços ou emissoras diferentes, embora, como será mostrado mais adiante, para o serviço de televisão, os segmentos são agrupados em camadas, podendo-se ter no máximo três camadas. O sistema ISDB usa um sistema de segmentação espectral que viabiliza a alocação flexível de serviços de rádio, SDTV, HDTV e TV móvel. Utiliza o método de transmissão COFDM, que trabalha com um feixe de transporte encaixado em um grande número de pequenas portadoras. Este número pode variar de 1.400 a 6.800 miniportadoras, e cada uma leva um fragmento da informação. Estas mini-portadoras podem ser agrupadas em até 13 segmentos (numerados de 0 a 12, conforme ilustra a Figura 2. 24) e esses, por sua vez, podem ser juntados livremente para formar as camadas de transmissão hierárquica que este modelo também suporta [35]. Em um sistema de 6 MHz, cada segmento destes tem uma largura de 429 KHz. Figura 2. 24 - Agrupamento dos 13 segmentos de banda. Igualmente ao padrão DVB, O padrão ISDB utiliza sinais piloto de controle, porém com uma distribuição diferente. Ao contrário do DVB, o ISDB utiliza apenas 13 pilotos Capítulo II – Introdução a TV Digital 63 contínuos – um para cada segmento. Quanto aos pilotos espalhados, a quantidade e o padrão de espalhamento são idênticos ao DVB. O padrão IDSB além da configuração de transmissão convencional (não hierárquica) admite duas outras formas de utilização: convívio faixa-larga/faixa-estreita e o modo hierárquico. No convívio faixa-larga/faixa-estreita, é possível a um receptor de faixa-estreita receber parte do sinal faixa-larga, como indicado na Figura 2. 25. Porém, apenas o segmento central (de número 0) é passível de recepção pelo receptor de faixa estreita. Essa facilidade é prevista, por exemplo, para que receptores de rádio digital possam reproduzir o áudio dos canais de televisão. Figura 2. 25 - Convívio faixa-larga/faixa-estreita no ISDB. 2.4.3.6 Transmissão Hierárquica no ISDB O padrão ISDB admite a transmissão hierárquica, ou seja, que parte dos sinais sejam transmitidos com um grau de robustez maior que o restante do sinal. No caso do padrão ISDB-T, os sinais podem ser agrupados em três diferentes camadas de robustez, as quais são: 64 Capítulo II – Introdução a TV Digital • Camada A: formada pelo segmento central da faixa segmentada (número 0); • Camada B: formada por um número qualquer de segmentos operando com modulação coerente; • Camada C: formada pelos segmentos remanescentes, operando com modulação coerente; O padrão em questão, ISDB-T, pode prover serviços para receptores fixos e móveis simultaneamente, porque o esquema Band Segmented Transmission (BSTOFDM), utiliza um conjunto de segmentos OFDM com diferentes parâmetros de transmissão para que seja possível a transmissão hierárquica. O padrão ISDB utiliza adicionalmente um segundo embaralhamento, a transposição temporal, ou seja, grupos de bits têm a sua posição temporal permutada segundo uma determinada seqüência. A transposição temporal melhora a recepção portátil e móvel, por isso ela é fundamental na recepção móvel, considerando que a intensidade de campo do sinal pode ser alterada com o deslocamento do receptor móvel. Entretanto, na recepção móvel, existem canais com características de erros em rajadas (burst). Um método eficiente, utilizado pelo ISDB-T para lidar com canais que contenham erros (burst), é fazer a transposição do feixe de dados codificado de maneira a transformar um canal de características de erros em rajadas em um canal que tenha erros aleatórios. Tal procedimento é feito da seguinte forma: antes da transmissão, elementos de dados adjacentes são afastados em até 0,5s através da transposição temporal, e no receptor um erro (burst) é convertido para erro aleatório após a operação inversa à transposição temporal tornando-se corrigível pelo sistema de correção de erros [15, 36]. 65 Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.4.3.7 Serviços disponíveis no ISDB Entre os serviços disponíveis, no ISDB é possível obter informações relacionadas ao programa, closed-caption, guia de programação eletrônica, acesso fácil a programação a qualquer hora e com guia de programas selecionados, previsão do tempo, além de permitir o acompanhamento das últimas notícias, a qualquer momento, pois o receptor possui um servidor de vídeo para o usuário final, que pode gravar automaticamente os programas solicitados. 2.4.3.8 Recepção móvel no ISDB Na recepção móvel, como citado anteriormente, neste Capítulo, existem canais com características de erros em rajada (burst), sendo que um método eficiente para lidar com esses erros é fazer a transposição temporal do feixe de dados codificado, de maneira a transformar em um canal que contenha erros de forma aleatória. Em um receptor móvel, como a intensidade de campo do sinal recebido pode ser alterada com o deslocamento do mesmo, em baixas velocidades, o desvanecimento e a flutuação (flutter) causam reduções do sinal de longa duração resultando em erro (burst). Para minimizar esses efeitos, adota-se o seguinte procedimento: antes da transmissão, elementos de dados adjacentes são afastados em até 0,5s, pela transposição temporal, assim, no receptor um erro (burst) é convertido sem erro aleatório após a operação inversa à transposição temporal e torna-se corrigível pelo sistema de correção de erros adotado pelo receptor. Com isto, o padrão ISDB-T possibilita a transmissão para receptores móveis, diferenciando dos padrões americano ATSC e europeu DVB, sendo este um dos principais ponto, que a ABERT/SET defende para adoção do sistema no Brasil. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.4.4 Padrão Digital Modulation Broadcasting (DMB) 2.4.4.1 Introdução 66 A China, maior densidade demográfica do mundo, grande mercado em ascensão mundial, com maior taxa de crescimento do planeta, optou por desenvolver seu próprio sistema de transmissão terrestre o Digital Multimedia Broadcasting Terrestrial (DMB-T), o que permite mobilidade e interação com tecnologia 3G. Já no que se refere a transmissão a Cabo e Satélite, seguiram os passos do sistema europeu-DVB. 2.4.4.2 Histórico do DMB A China iniciou estudos acerca da implementação da TV Digital em seu território em 1996. Analisaram-se os experimentos dos três sistemas digitais já existentes, chegando à conclusão de que poderiam desenvolver um sistema próprio, melhor do que qualquer outro e que contemplasse transmissão de multimídia, HDTV, SDTV, Internet, Datacast, etc.; para recepção fixa, móvel e portátil, integração com celulares de última geração GSM e que tivesse algum canal de retorno, tendo em vista o tamanho do mercado e o domínio da tecnologia. Enfim, a decisão de criação de um padrão próprio foi tomada para garantir independência política e econômica. Assim, desde 2001, a China vem trabalhando em um conjunto de especificações que constituirão o Digital Multimedia Broadcast (DMB). Os testes da tecnologia chinesa prosseguiram de outubro de 2001 até abril de 2002. No sistema existem duas variantes do DMB-T, diferentes entre si apenas no que se refere à modulação, sendo que testes móveis realizados em Xangai, uma área urbana muito densa, com várias construções de grande porte, foram bem sucedidos. No que se refere às transmissões via Cabo, os chineses irão adotar o padrão DVB-C, europeu. Segundo os testes, o DMB supera o padrão europeu na maioria das categorias, como a Capítulo II – Introdução a TV Digital 67 recepção em celulares. Se o padrão chinês for implementado com sucesso e for incorporado o UIT, poderá ganhar credibilidade e começar a ser considerado pelos outros paises. 2.4.4.3 Sistema de radiodifusão terrestre DMB O DMB permiti recepção fixa, móvel nos padrões HDTV, SDTV e um canal de dados. O sistema permite uma mistura dos três tipos de transmissão, redes de freqüência única, com ótimo desempenho indoor e com recepção móvel. É um sistema único, sendo mais uma alternativa para implantação de um sistema de radiodifusão de TV Digital. O padrão DMB inclui três modos de transmissão utilizando modulação OQAM. Como o sistema foi projetado para um canal de 8MHz, estima-se que as taxas para um canal de 6MHz, caso do Brasil, serão de 18,93Mbps para a recepção fixa, 9,465Mbps para recepção móvel e 4,733Mbps para o canal de dados. A taxa de 18,93Mbps é menor que a taxa de 19,39Mbps estipulada para transmissão de HDTV. O sinal OQAM possui o espectro mostrado na Figura 2. 26. Figura 2. 26 - Espectro do sinal OQAM. A largura de faixa total é de 8MHz, com faixa útil de 7,14MHz. Existem 0,43MHz de banda de guarda em cada lado da faixa. A banda de guarda é de 12%. Existindo um tom piloto no centro de cada banda de guarda. As principais características do sistema são: Capítulo II – Introdução a TV Digital • 68 os receptores podem ajustar o modo de recepção apropriado dependendo das condições de recepção; • os tons pilotos fornecem diversidade e permitem uma recuperação confiável e rápida da portadora e do relógio de dados; • o sistema possui alta eficiência espectral e alta taxa de bits; • o sistema pode ser facilmente convertido para trabalhar em canais com largura de faixa de 6MHz ou 7MHz; • esquemas avançados de equalização e estimação do canal permitem ao equalizador seguir melhor as variações da resposta impulsiva do canal, fornecendo recepção móvel e indoor; • confiável; • segmentos de sincronismo e de quadro permitem uma sincronização rápida e confiável e uma precisa estimação do canal sobre diversas condições de transmissão; • a baixa razão entre a potência de pico e a potência média maximiza a área de cobertura e reduz a interferência em serviços existentes de televisão analógica. 2.4.4.4 Modelo de negócio do DMB O modelo de negócio pretendido visa oferecer televisão, telefone e internet pela mesma plataforma, admitindo transmissões em HDTV e SDTV. Com 92,5% de sua população com acesso à televisão, a introdução da TV Digital na China demandará a produção de cerca de 350 milhões de unidades receptoras, num mercado que conta hoje com 300 milhões de aparelhos de TV, com crescimento anual da base instalada entre 20 e 30 milhões. Estima-se que as unidades conversoras digital analógico para TV Digital (Set-Top Boxes) convencionais deverão custar US$200, enquanto aqueles com acesso Capítulo II – Introdução a TV Digital 69 aos sinais de telefone e Internet, US$500, valores altos para um país cuja renda per capta é baixa. A expectativa é que, em 2005, as transmissões digitais sejam lançadas, sendo que os jogos olímpicos de Pequim em 2008 serão transmitidos em HDTV. Prevê-se que em 2010 as principais cidades terão apenas transmissões digitais, para em 2015 haver o término do simulcast em todo o país [37]. Deve-se ressaltar que o padrão em questão, chinês-DMB, ainda não padronizado internacionalmente, não é objeto de estudo desta dissertação, por isso só foi feito uma breve introdução. Na escolha desse padrão de implementação, o Brasil irá basear-se nos sistemas internacionais já padronizados e definidos pelos comitês internacionais: ATSC, DVB e ISDB. 2.4.5 Rede de freqüência única Um dos motivos pelos quais os comitês europeus e japoneses escolheram a modulação CODFM, é a possibilidade de implementação de Redes de Freqüência Única – Single Frequency Network (SFN). A utilização de uma SFN resulta em um ganho de canal, ou seja, para uma mesma faixa espectral é possível aumentar o número de canais utilizados efetivamente, neste caso, ao em vez de se ter uma única antena transmissora de grande potência cobrindo uma vasta região, pode-se ter uma rede de transmissoras (ou retransmissoras) de pequena potência, operando no mesmo canal, transmitindo sincronizadamente o mesmo conteúdo. Também pode ser utilizada uma SFN na cobertura de áreas de sombra em que é utilizado um repetidor, que transmite o sinal na mesma faixa de freqüência recebida por ele, sendo que a distribuição das programações entre as retransmissoras sincronizadas pode ser feita através de qualquer meio, como por exemplo, através de uma rede pública Asynchronous Transfer Mode (ATM), Synchronous Digital Hierarchy (SDH) ou mesmo 70 Capítulo II – Introdução a TV Digital Plesiochronous Digital Hierarchies (PDI). A sincronização da transmissão das antenas é obtida com o empacotamento das informações em mega quadros e o uso de rótulos de tempo para sincronizar o início de transmissão dos mesmos. Os relógios dos transmissores em rede de freqüência única operam sincronizados, através de um satélite. Já do lado da recepção, os sinais provenientes das diferentes antenas transmissoras provavelmente chegarão com uma pequena defasagem entre si e com diferentes amplitudes, ou seja, como se fosse o eco de outro. A modulação COFDM, como será visto posteriormente, é capaz de lidar com os ecos usando o recurso do intervalo de guarda e, permitindo a recepção de sinais de uma rede SFN. A Figura 2. 27 ilustra um sistema Single Frequency Network (SFN): COFDM MODULADOR V-CAST DVB MULTIPLEXADOR SFN ADAPTADOR V-SFN PRIMARY DISTRIBUTION NETWORK COFDM MODULADOR TEST RECEPTOR V-CAST V-TER DECODIFICADOR COFDM MODULADOR V-CAST Figura 2. 27 – Exemplo de um sistema em SFN. 2.5 Set-top Boxes O conceito de Set-Top Boxes Digital ou Unidade Receptora-Decodificadora (URD) nasceu como uma plataforma para aplicações multimídias para redes de serviços digitais bidirecionais. Os primeiros projetos utilizavam um microcomputador PC conectado a uma rede, executando programas de descompressão de vídeo e áudio digital em tempo real, recebendo dados de outras plataformas normalmente em padrões de mídia como o Capítulo II – Introdução a TV Digital 71 MPEG-1 e MPEG-2 [38]. Na televisão digital estes equipamentos têm a função de converter rádio-freqüência em sinais de vídeo e áudio. Os Set-Top Boxes são aparelhos eletrônicos constituídos por hardware e software, e são responsáveis pela recepção para HDTV e outras imagens de TV Digital e também para permitir que imagens digitais sejam exibidas nos televisores analógicos existentes. As principais funções deste equipamento são a decodificação do sinal digital recebido, verificação dos direitos de acesso e níveis de segurança, além de ser um dos principais elementos na interatividade da TV. Entre as principais características que devem apresentar os Set-Top Boxes, estão: o suporte a televisão de alta definição (HDTV); comunicação de dados digitais bidirecionais, principalmente para haver a interatividade entre ambos os lados; suporte a aplicações multimídia distribuídas, para o envio de vídeos sob demanda e jogos eletrônicos; independência da interface de comunicação; consiga mostrar segurança nas transações eletrônicas, para transações utilizadas no comércio eletrônico; descompressão de áudio e vídeo; decodificação de programas criptografados; gravação de programas, hospedagem de aplicativos e processamento das instruções em programas interativos. 2.5.1 Arquitetura de um set-top box O Set-Top Box utiliza uma estrutura física semelhante a um computador comum, abaixo e citado esta estrutura com uma descrição das funções de cada parte. • System Board: é por aqui que passam todas as informações referentes à TV Digital, esta informação é partilhada pelos demais componentes; • Sintonizadores: trabalha com a recepção dos sinais das as redes digitais baseadas nas modulações existentes (QAM, COFDM, QPSK, VSB); • Modulador e Demodulador: nesta etapa é verificada a existências de possíveis erros e depois passado para o demultiplexador; 72 Capítulo II – Introdução a TV Digital • Demultiplexador e Descriptor: é um circuito integrado que identifica os pacotes com formato de dados particulares como vídeo, áudio ou serviços interativos. Também é responsável por descriptografar informações recebidas criptografadas e depois ela são enviadas para o decodificador; • Decodificadores: separa para converter os bits recebidos num formato que pode ser ouvido e visto, exemplo disso é um decodificador de vídeo que transforma os pacotes de vídeo recebidos numa seqüência de imagens, formatando estas para diferentes tipos de resoluções. Depois que os dados foram interpretados são enviados para o processador do equipamento; • CPU: trata-se da parte mais importante do Set-Top Box, já que é onde se encontra o chip do processador, suas principais funções são: inicialização dos vários componentes da Set-Top Box, processamento de aplicações da Internet e da TV interativa, monitorização e administração das interrupções de hardware, retirada de dados e interrupções da memória, execução de vários programas. Os principais chips da CPU pertencem às seguintes famílias: ARM, MPIS, PowerPC, SparcRISC, STx0, SH-4 Series, X86; • Configuração da Memória: utilizada para armazenar e manipular informações, também para trabalhar com vídeos que exigem uma maior resolução; • Recursos de Armazenamento: na primeira geração dos Set-Top Box, existia apenas uma memória volátil chamada flash, porém hoje já há winchesters ligados com uma grande capacidade de armazenamento. Nestes discos podese armazenar documentos, e-mails, além disso, podem ser usados para gravações de vídeos digitais e outras informações. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.5.2 73 Interfaces adicionais Assim como em um computador, no Set-top Box, é possível acrescentar outras interfaces adicionais, tais como modems (moduladores-demoduladores), interfaces multimídias de alta velocidade, teclado entre outras. Os modems facilitam a implementação de serviços interativos de duas vias, ou seja, quando o usuário retorna uma informação para a operadora ou ainda para enviar pedidos aos servidores de Internet, atualização de arquivos e envio de e-mails. Existem também a possibilidade de comunicar o Set-top Box com aparelhos como: câmara de vídeo, DVD, teclado, etc., utilizando interfaces do tipo IEEE-1284, USB, IEEE-1394, 10 Base-T e interface serial RS-232. A Figura 2. 28 mostra o painel traseiro de um Set-top Box para ligação a periféricos. Figura 2. 28 - Painel traseiro de um Set-top Box para ligação a periféricos [11]. Outro recurso são os Smart Cards, que podem ser usados como um “cartão de crédito eletrônico”, ou como “dinheiro eletrônico” para efetuar compras e pagamentos através da TV interativa. Este periférico pode ser inserido em um leitor de Smart Cards Capítulo II – Introdução a TV Digital 74 do Set-top Box e funciona com um processador interno, memória e uma interface de comunicação com Set-Top Box. Estes cartões requerem um alto grau de segurança, por isso, passam por três etapas que são a autenticação, a autorização, e a criptografia. A autenticação é o elemento na segurança onde o usuário se identifica, ou seja, o usuário deseja acessar um serviço interativo particular e para isso necessita fazer a sua identificação mediante o sistema para ter acesso ao mesmo. Após a autenticação iniciase o processo de autorização, que determina quem pode ter acesso a determinados serviços. Outro elemento da segurança é a criptografia, em que todos os dados, tanto da autenticação quanto da autorização, são criptografados através de algoritmos simétricos ou assimétricos [11]. Entre os fornecedores de Set-Top Box estão a Motorola, a Scientific-Atlanta, a Thomson Multimedia e a Hughes Network Systens entre outros. 2.5.3 Sistema Operacional A estrutura do Set-Top Box necessita de um sistema operacional para funcionar, nesta arquitetura o sistema operacional deve ser robusto e confiável, devendo ser também multitarefa para processar a chegada do sinal e para validar mensagens de segurança. Alguns exemplos de sistema operacional em estudos para o Set-Top Box são o JavaOS da Sun, o Linux e o SO Microsoft Windows CE da empresa Microsoft [11]. Capítulo II – Introdução a TV Digital 2.6 Televisor Digital 2.6.1 Estrutura do televisor digital 75 Um receptor digital tem a possibilidade de receber programação em High Definition (HD), Standard Definition (SD) ou em outras definições de padrões inferiores, equipados com processadores digitais, memória, conforme ilustra Figura 2. 29. Figura 2. 29 - Diagrama simplificado de um receptor de TV Digital. 2.7 Conclusões sobre o Capítulo Analisando do ponto de vista técnico, tem-se que mencionar que a nova tecnologia de TV Digital e seus padrões, traz as seguintes preocupações: • O padrão ATSC: - Apresenta problemas para recepção com antena interna, não melhora as imagens “fantasmas”, e não foi projetado para proporcionar recepção móvel; 76 Capítulo II – Introdução a TV Digital - Apresenta melhor cobertura, devido a vantagem de 4dB no limiar da relação sinal-ruído, que resulta em uma menor potência do transmissor e como conseqüência, um menor custo de energia; • Os padrões DVB/ISDB: - Apresentam melhor desempenho nas recepções com antena interna, se adaptam-se melhor ao ambientes hostis, possibilitando o funcionamento com rede de freqüência única (SFN), além de possibilitar a recepção móvel portátil; - Requerem maior potência do transmissor, exigindo maior investimento inicial, além de apresentar maior consumo de energia; - A possibilidade de implantação utilizando rede de freqüência única, permite instalações de estações reforçadas de sinais para atender os pontos de recepção crítica, merece ser enfatizada, com os altos custos de implantação e manutenção dessas estações (edificações, equipamentos, torres adicionais, etc.), além de causar alta poluição visual nos grandes centros; - Considerando que para haver uma cobertura de sinais da TV Digital, equivalente o da TV Analógica, várias estações retransmissoras terão que ser instaladas, para amenizar as “áreas de sombra” dentro de um perímetro urbano, estimando-se altos custos de instalação e manutenção das mesmas; - As vantagens e as desvantagens de uma configuração em rede de freqüência única (SFN) ainda não estão totalmente exploradas. Como pontos favoráveis, verifica-se a necessidade de menor potência localizada, compensando a desvantagem dos sistemas modulados em CODFM em relação aos modulados em 8-VSB. Capítulo III Modulação em Sinais de HDTV Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 3. MODULAÇÃO EM SINAIS DE HDTV 3.1 Introdução 78 O padrão americano-ATSC utiliza para a transmissão terrestre a modulação Vestigial Side Band (VSB) 8-VSB e 16-VSB para a transmissão por cabo, em conjunto com os codificadores de treliça e Reed Solomon, os padrões europeu-DVB e japonêsISDB utilizam à modulação Orthogonal Frequency Division Multiplex (OFDM) e o padrão chinês-DMB utiliza para transmissão terrestre a modulação Offset Quadrature Amplitude Modulation (OQAM)e DVB para transmissão via Cabo. 3.2 Conceitos Básicos A Transmissão Digital Terrestre de Televisão Digita (DTTB) - Digital Television Terrestrial Broadcasting vêm se desenvolvendo por mais de 12 anos. A finalidade é substituir o sistema de televisão analógica convencional por um sistema digital, com qualidade de imagem igual ao padrão atual ou de alta definição, empregando as tecnologias desenvolvidas nesses 50 anos de existência da televisão analógica. Na última década surgiram sistemas que podem ser agrupados em duas correntes, quanto à técnica de modulação digital a ser utilizada [39]: • • Sistemas com Portadora Única: - o sistema americano 8-VSB/ATSC, e; - o sistema chinês OQAM/DMB. Sistemas com Múltiplas Portadoras: - o sistema europeu COFDM/DVB-T, e; - o sistema japonês COFDM/ISDB-T. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 79 Cada sistema possui seus méritos e limitações devido a escolha feita, levando em conta fatores técnicos, econômicos e a aplicabilidade. Para que a televisão digital alcance sucesso é necessário que represente um avanço significativo (e bastante visível) da qualidade geral da imagem e do som. Entretanto, qualquer que seja o sistema adotado de televisão digital, o desempenho frente ao ruído, a interferência, ao fantasma, etc., não podem ser inferiores ao da televisão analógica, sob pena de frustrar as expectativas do público e, também, para justificar o esforço técnico e econômico na atualização do sistema. A existência de mais de um sistema causa uma concorrência natural e comparações tornam-se inevitáveis. Neste Capítulo o foco principal é apresentar as técnicas relacionadas com a interface de transmissão, que constitui a diferença crucial entre os vários sistemas; os componentes comuns a todos os sistemas que também contribuem para o desempenho final, como códigos corretores de erros, entrelaçadores e aleatorizadores, que não serão tratados com profundidade nesta dissertação, pois o foco principal desta são os aspectos tecnológicos, econômicos culturais e sociais, que vêem sendo avaliados ao longo deste trabalho [39]. 3.3 Transmissão Analógica X Digital No início da implementação da televisão analógica, o espectro de freqüências estava quase que totalmente livre, principalmente nas freqüências acima de 50MHz, onde se instalou os canais das emissoras de televisão. Com este panorama, a escolha da largura do canal, faixas de guardas podiam ser feitas de uma maneira generosa. Atualmente, a situação é completamente diferente, o espectro está totalmente ocupado por diversos tipos de serviços de comunicação e com o desenvolvimento da TV Digital, surgiram preocupações relacionadas a escassez de faixa no espectro de freqüência. Tal questão se deve ao fato que, em um sinal analógico, como exemplo, NTSC/PAL a digitalização produz aproximadamente 100Mbps, enquanto que em um sinal 80 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV de televisão de alta definição HDTV a digitalização exige uma taxa inicial de aproximadamente 1Gbps. O sistema de transmissão da Grande Aliança utiliza a modulação (Amplitude Modulation - Vestigial Side Band (AM-VSB) para a televisão digital terrestre, a qual optou por utilizar uma faixa de 6MHz, assim, mantendo a largura de faixa utilizada na televisão convencional. A motivação para o uso de Amplitude Modulation (AM) é a necessidade de uma alta eficiência espectral, já que é preciso transmitir da ordem de 20MBps por um canal de 6MHz a 8MHz [39]. Os sistemas europeu DVB e japonês-ISDB utilizam múltiplas portadoras moduladas em fase (QPSK, 16-QAM e 64-QAM), sendo que as portadoras do sistema japonês também podem ser moduladas em DQPSK. Já o sistema chinês-DMB utiliza modulação 4, 16 ou 64-OQAM (Offset Quadrature Amplitude Modulation). Os europeus projetaram o sistema DVB para operar em um canal de 8MHz, sendo possível adaptar este sistema para um canal de 6MHz; os japoneses possuem padrões para 6, 7 e 8MHz, e os chineses projetaram o sistema para 8MHz, mas facilmente modificado para trabalhar em canais com 6MHz. A acomodação de um canal de HDTV em uma faixa de apenas 6MHz exige técnicas eficientes de compressão de imagem (fator de 55 vezes com codificação MPEG2) e técnicas de modulação de RF com múltiplos níveis (8-VSB ou 16-QAM) [39]. Com isto, se resolve a escassez no espectro de freqüência, pois não teremos redução no número de canais disponíveis para a televisão aberta, tanto em VHF como em UHF. 3.4 Modulação Quadrature Amplitude Modulation (QAM) A modulação que utiliza deslocamento de fase e amplitude é chamada de QAM. Constelações de sinais QAM não estão restritas a terem pontos de sinalização permitidos somente em um círculo. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 81 A QAM é utilizada em modems analógicos e rádios digitais de alta velocidade. O sinal 4-QAM codifica 2 bits por símbolo, significando que sua velocidade de transmissão é duas vezes maior do que a da modulação. E um sinal 16-QAM codifica quatro bits por símbolo, significando que sua velocidade de transmissão e quatro vezes maior do que a da modulação. Assim, um rádio digital que transmita 34Mbps no formato 16-QAM, precisará modular na velocidade de 8,5Mbaud, resultando em uma redução significativa da largura de faixa ocupada. A Modulação por Chaveamento de Deslocamento de Fase em Quadratura (QPSK) pode ser considerada como um caso particular da modulação QAM. Modular em QPSK é alterar a fase da portadora, em graus diferentes, conforme o bit de dados seja “0” ou “1”, mantendo a amplitude constante. O modulador QPSK permite o envio de dois bits toda vez que ele modula. Assim, sua velocidade de transmissão é igual ao dobro da velocidade de modulação. A Figura 3. 1 mostra a constelação do sinal QPSK ou 4-PSK [40]. Figura 3. 1 - Constelação do sinal QPSK [40]. Na modulação 4-QAM, atribuem-se pares de bits a uma determinada posição sem uma constelação previamente definida, conforme mostra a Figura 3. 1. As combinações de bits possíveis são: 00, 01, 10 e 11. No padrão DVB-T é utilizado o código Gray, o qual tem a vantagem de colocar símbolos que apenas diferem de um bit em pontos adjacentes da constelação, como se Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 82 pode verificar pela Figura 3. 1. Essa modulação comporta dois bits de informação por cada símbolo. A utilização de modulações com mais níveis torna o sistema de transmissão ainda mais eficiente, pois pode-se passar a ter 4 ou 6 bits por símbolo se usar 16-QAM ou 64QAM, respectivamente. No entanto, considerando que se usa a mesma potência de transmissão, a robustez do sistema contra ruído e as interferências fica diminuída a medida que se aumenta o número de níveis [41]. Portanto, a utilização de uma constelação mais densa faz com que o sinal 16-QAM seja mais suscetível a ruídos do que os sinais já examinados, como o 8-PSK. 3.5 Modulação Offset Quadrature Amplitude Modulation (OQAM) Embora não seja objeto do estudo desta dissertação, é feita uma breve introdução do sistema OQAM, modulação adotada pelo padrão chinês-DMB, para radiodifusão de televisão digital. O sistema QAM permitira recepção fixa, móvel nos padrões HDTV, SDTV e um canal de dados. O sistema permite uma mistura dos três tipos de transmissão, redes de freqüência única, com ótimo desempenho indoor e com recepção móvel. E um sistema único, sendo mais uma alternativa para implantação de um sistema de radiodifusão de TV Digital. O sistema inclui três modos de transmissão utilizando modulação OQAM. Como o sistema foi projetado para um canal de 8MHz, estima-se que as taxas para um canal de 6MHz, caso do Brasil, serão de 18,93Mbps para a recepção fixa, 9,465Mbps para recepção móvel e 4,733Mbps para o canal de dados. A taxa de 18,93Mbps é menor que a taxa de 19,39Mbps estipulada para transmissão de HDTV [39]. O sinal OQAM possui o espectro mostrado na Figura 3. 2. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 83 Figura 3. 2 - Espectro do sinal OQAM. A largura total de faixa é de 8MHz, com faixa útil de 7,14MHz. Existem 0,43MHz de faixa de guarda em cada lado da faixa. Existindo um tom piloto no centro de cada faixa de guarda. As principais características do sistema são [39]: • os receptores podem ajustar o modo de recepção apropriado dependendo des condições de recepção; • os tons pilotos fornecem diversidade e permitem uma recuperação confiável e rápida da portadora e do relógio de dados; • o sistema possui alta eficiência espectral e alta taxa de bit; • o sistema pode ser facilmente convertido para trabalhar em canais com largura de faixa de 6MHz ou 7MHz; • esquemas avançados de equalização e estimação do canal permitem ao equalizador seguir melhor as variações da resposta impulsiva do canal, fornecendo recepção móvel e indoor; • confiável; • os segmentos de sincronismo e de quadro permitem uma sincronização rápida e confiável e uma precisa estimação do canal sobre diversas condições de transmissão; • a baixa razão entre a potência de pico e a potência média maximiza a área de cobertura e reduz a interferência em serviços existentes de televisão analógica. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 3.6 84 Modos Hierárquico e Não-Hierárquico Entre os diversos modos suportados, pode-se destacar dois modos: modo hierárquico e não-hierárquico. A possibilidade de escolha entre estes modos está representada na Figura 3. 3, que representa um diagrama de blocos funcional muito simplificado de um sistema DVB-T. Figura 3. 3 - Diagrama em blocos funcional simplificado do sistema DVB-T [41]. • Modo Não-Hierárquico: o modo não-hierárquico requer que o sinal apenas seja processado pelos blocos representados em traços contínuos da Figura 3. 3. Neste modo, um (emissões mono-programa) ou vários programas (emissões multi-programa) podem ser difundidos no mesmo stream de transporte MPEG, desde que o débito disponível para o modo escolhido não seja excedido. A escolha do número de programas a difundir está dependente da qualidade da imagem e da área de cobertura pretendidos. Como todos os pacotes do stream de transporte MPEG são processados de forma igual, todos os programas terão a mesma robustez face aos erros; • Modo Hierárquico: para transmissão no modo hierárquico, o sistema deverá ser expandido para formar os blocos tracejados representados na Figura 3. 3. Assim, os streams de alta e baixa prioridade são obtidos através do bloco Stream Splitter, a partir do stream de transporte MPEG de entrada no sistema. Naquilo que diz respeito à hierarquia, o sistema DVB-T restringe-se a modulação e a codificação de canais hierárquicos, já que a norma não prevê meios para implementar a codificação de fonte hierárquica, permitindo o Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 85 projeto de receptores de uma forma econômica. Existem duas possibilidades de transmissão desse modo: difusão multi-programa e simulcast. Enquanto que na primeira, diferentes programas são difundidos em cada um dos streams, na segunda são difundidas duas versões de um ou mais programas: uma com maior robustez, mas de baixa qualidade (baixa taxa de transmissão) e outra de menor robustez, mas de qualidade superior. A opção simulcast não deve ser interpretada como uma abordagem de degradação “suave”, já que por razões de economia do receptor, este não pode comutar entre os streams HPS e LPS enquanto simultaneamente decodifica e apresenta as imagens e som (é necessária uma pausa para a escolha do stream adequado). Cabe ao operador de difusão optar pelo conjunto de modos de operação do sistema que lhe garanta melhores compromissos entre as taxas de transmissão disponíveis e graus de robustez (diretamente traduzível em área de cobertura) [41]. 3.7 Modulações Hierárquicas Uma das características interessantes da norma ETS 300 744 é a possibilidade de suportar modulações hierárquicas ou multi-resolucão. Esta possibilidade foi introduzida na norma porque enquanto os sistemas analógicos apresentam uma degradação suave da qualidade do áudio e do vídeo, os sistemas digitais apresentam uma degradação abrupta à medida que as condições de transmissão se tornam progressivamente piores. Para amenizar o problema do limiar abrupto inerente aos sistemas de transmissão digitais, os dados são separados em duas partes. A primeira fornece os serviços de televisão com uma taxa de informação relativamente reduzida e com elevada proteção contra erros. A segunda parte do fluxo de dados pode ser utilizada para transmitir serviços adicionais com uma taxa de transmissão superior e menor proteção contra os Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 86 erros. Em geral, existem duas possibilidades para a utilização do segundo fluxo de dados [41]: • a transmissão de um ou mais programas adicionais; • o aumento da qualidade do serviço básico, melhorando a resolução espacial da imagem e/ou adicionando canais de audio, por exemplo. Em cada fluxo de dados, o nível de proteção contra erros pode ser ajustado pela da escolha da taxa do código interno. A idéia básica de uma modulação hierárquica consiste em agrupar pontos de uma determinada constelação em sub-constelações ou “nuvens”. Se pretender que o sistema tenha mais níveis de resolução terá que se proceder a um novo reagrupamento, definindo novas “nuvens” de uma forma hierárquica e sucessiva, de acordo com o número de níveis pretendidos. Cada ponto de uma “nuvem” passará a ser designado por satélite, conforme mostra a Figura 3. 4 [41]. Entretanto, a norma européia prevê modulações hierárquicas com dois níveis, possibilitando a escolha de dois graus relativos de proteção em função dos parâmetros. A Figura 3. 4 apresenta constelações MR-64-QAM. Figura 3. 4 - Constelação MR64-QAM [41]. 87 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Na constelação MR-64-QAM, os pontos foram agrupados em quatro “nuvens” constituídas por 16 satélites pontos. Cada “nuvem” e uma sub-constelação 16-QAM. Após a codificação de fonte, os dados modulados em QAM são convertidos de série para paralelo e agrupados em N números complexos (símbolos QAM) por bloco. Cada bloco será processado pelo modulador OFDM (IFFT) cuja saída forma o símbolo OFDM. Este é convertido novamente para o formato série de modo a ser transmitido. O fato de utilizar uma constelação mais densa faz com que o sinal 64-QAM seja mais suscetível a ruídos do que os sinais já examinados [41]. A modulação QAM tem aplicação na transmissão de dados de alta velocidade e também nos sistemas de difusão da TV Digital. 3.8 Eficiência Espectral A eficiência espectral, εQAM , da modulação m-QAM, onde m=nxn, com m níveis é obtida pela Equação (3. 1) [39]: ε QAM=2 ⋅ log2 n (bps/Hz) (3. 2) onde: • εQAM é a eficiência espectral, em bps/Hz; • n é o número de níveis em uma dimensão. A eficiência espectral, ε VSB , da modulação VSB com n níveis é obtida pela Equação (3. 3) [39]: ε VSB =2 ⋅ log2 n (bps/Hz) (3. 4) 88 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV onde: • ε VSB é a eficiência espectral, em bps/Hz; • n é o número de níveis. A modulação AM-VSB é uma espécie de Amplitude Modulation - Single Side Band (AM-SSB) modificada para uso com sinais moduladores cujo espectro se estende ate Direct Current (DC). De uma certa forma, a modulação VSB consegue combinar a capacidade da modulação Amplitude Modulation - Double Side Band (AM-DSB) de operar até DC com a eficiência espectral da modulação AM-SSB. O sucesso na aplicação de VSB na televisão analógica e a simplicidade inerente de uma modulação unidimensional, explicam, em parte, a sua escolha para o padrão da televisão digital da Grande Aliança. A Tabela 3. 1 mostra a eficiência espectral para alguns casos de modulação VSB e QAM. O valor Rs é a taxa de bits por segundo e W é a largura de faixa em Hz. A eficiência espectral das modulações m-QAM e n-VSB é a mesma, onde m=nxn. Tabela 3. 1 - Eficiência espectral para as modulações [39]. Esquema de Modulação 2-VSB Rs/W 4-QAM (=QPSK) 2 16-QAM 4 8-VSB 32-QAM 64-QAM 5 6 16-VSB 256-QAM 8 32-VSB 1024-QAM 10 4-VSB Devido à necessidade de se estabelecer uma faixa de guarda entre os canais de comunicação, um canal de 6MHz de largura de faixa tem uma faixa útil de apenas 5 a 5,5MHz. Assim, a transmissão de 20Mbps exigiria uma eficiência de pelo menos 4 bps/Hz. Da Tabela 3. 1, os tipos de modulação que fornecem tal valor é a modulação 16QAM e a modulação 4-VSB. Aumentando o número de níveis, fica mais susceptível ao ruído, interferência entre símbolos, o que reduz o desempenho do sistema quanto a BER [39]. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 3.9 89 Degradação Suave Ou Abrupta Uma característica particularmente difícil de incorporar aos sistemas digitais é a degradação suave do desempenho frente a situações não ideais, característica que é típica dos sistemas analógicos. Os sistemas digitais tendem a se comportar da forma “tudo-ou-nada”, isto é, para perturbações moderadas o desempenho é perfeito, porém se a perturbação ultrapassar um certo limiar, a informação degrada-se rapidamente, ou até se perde completamente [39]. Considere o caso de um receptor que está na borda da região de cobertura de uma emissora. Na transmissão analógica, o receptor trabalha com uma baixa relação sinal-ruído e a imagem na tela apresenta “chuvisco” e tem uma baixa qualidade geral. Na transmissão digital, se a relação sinal-ruído é baixa, porém, está acima de um certo limiar, a imagem na tela é perfeita, o que demonstra neste aspecto a superioridade da transmissão digital. Porém, nas condições reais, a relação sinal-ruído não é constante, variando dia a dia, de acordo com as condições de propagação. A variação da relação sinal-ruído na transmissão analógica fará com que a qualidade da imagem recebida flutue entre pobre, medíocre e razoável. No caso da transmissão digital, a imagem recebida nas bordas da região de cobertura será recebida de forma intermitente, ou seja, irá flutuar entre as condições de nenhuma perfeita, ou entre congelada perfeita. Isto tem um efeito subjetivo devastador, porque haverá intervalos, mais ou menos longos, em que o telespectador perderá informação. Certamente é muito mais aceitável uma imagem de qualidade medíocre, com uma relação sinal-ruído de 30dB, do que uma imagem perfeita, mas que desaparece ou fica congelada 2 segundos a cada minuto. Com um nível de potência adequado, o melhor que se consegue é deslocar esta “zona proibida” para além des regiões densamente habitadas. Infelizmente, o efeito “tudo ou nada” da transmissão digital pode ocorrer até mesmo para receptores próximos das antena de transmissão. Se, por exemplo, os efeitos dos múltiplos percursos (fantasmas) não forem adequadamente tratados. Os problemas Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 90 causados por múltiplos percursos são de difícil tratamento, especialmente quando os ecos são dinâmicos, isto é, variáveis com o tempo. Múltiplos percursos dinâmicos podem destruir até mesmo a recepção com alta relação sinal-ruído [39]. 3.10 Modulação Vestigial Sideband (VSB) 3.10.1 Introdução Após a realização de vários testes no intuito de padronizar o sistema de modulação para difusão de HDTV, a Grande Aliança dos Estados Unidos propôs o sistema Vestigial Sideband–8 Level (8-VSB), para transmissão terrestre e Vestigial Sideband–16 Level (16-VSB) para transmissão de TV a Cabo. Na adoção do sistema de televisão de alta definição HDTV proposto pela Grande Aliança, optou-se por utilizar uma faixa de 6MHz, mantendo a mesma largura de faixa ocupada pela televisão convencional. Além disso, propôs a utilização do sistema simulcast. Abaixo pode-se citar alguns fatores que influenciaram na adoção da modulação VSB: • Reduzida taxa de erro de bits; • Eficiência espectral da modulação VSB na utilização do canal, mantendo a largura de faixa utilizada no canal convencional, e; • Redução da potência de transmissão (ERP) dos sinais digitais em comparação com os sinais analógicos. O sucesso na aplicação de VSB na televisão analógica e a simplicidade inerente de uma modulação unidimensional explicam também, em parte, a sua escolha para o padrão da televisão digital da Grande Aliança. 91 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 3.10.2 8 Level - vestigial side band (8-VSB) O sistema 8-VSB com transmissão por radiodifusão, é projetado para suportar, uma taxa de 19,28Mbps em um canal de 6MHz da largura de faixa. No diagrama em blocos da Figura 3. 5 é detalhado as partes do transmissor ATSC. PACOTES MPEG-2 19,39 Mbps DATA RAMDOMIZER CÓDIGO REED-SOLOMON INTERCALADOR CODIFICADOR DE TRELIÇA ANTENA SINCRONISMO DE SEGMENTO SINCRONISMO DE CAMPO INSERÇÃO DE PILOTO FILTRO PRÉEQUALIZADOR MODULADOR 8-VSB CONVERSOR E EXCITADOR DE RF Figura 3. 5 - Diagrama de blocos do transmissor 8-VSB. O primeiro bloco do sistema de transmissão 8-16-VSB está constituído pelo Embaralhador de Dados (Data Randomizer). Esse sistema consiste de um circuito digital de registradores de deslocamento com 16 Flip-Flops que geram uma seqüência de bits que, mediante funções XORs fazem o embaralhamento dos dados de entrada constituídos pelos pacotes de transporte MPEG-Compatível (188 bytes). Esta operação tem como objetivo dispersar a energia do sinal de transmissão através de todo o espectro de forma quase uniforme. Dessa maneira, reduz-se o efeito da interferência dos canais adjacentes. A entrada do sub-sistema de transmissão são os dados montados pelo subsistema de transporte em uma taxa de 19,392658Mbps. Estes dados consistem em pacotes de 188 bytes MPEG-Compatível, 184 bytes do carga útil e 4 bytes de cabeçalho, a Figura 3. 6 ilustra o formato do pacote de transporte. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 92 Figura 3. 6 - Formato do pacote de transporte. Existe um byte de sincronismo e 187 bytes de dados que representam uma taxa efetiva total de dados de 19,28Mbps. Os pacotes de 188 bytes, junto com os bits introduzidos para correção de erros Foward Error Coerreclion (FEC), serão convertidos em segmentos de 832 símbolos (4 símbolos de sincronismo e 828 símbolos de dados) com 8 níveis possíveis. O critério de organização destes segmentos para a transmissão é detalhado na Figura 3. 7. A cada conjunto de 312 segmentos de dados é acrescido um segmento de sincronismo de campo, que contém uma seqüência de treinamento do equalizador do receptor. Um campo de dados é composto por 313 segmentos. Figura 3. 7 - Quadro de dados 8-VSB [42]. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 93 Os quatro primeiros símbolos de cada segmento são transmitidos na forma binária (níveis ± 5). Estes 4 símbolos correspondem ao primeiro byte do pacote MPEGcompatível de 188 bytes enviados pelo sub-sistema de transporte. O codificador Reed Solomon utilizado no sistema VSB é do tipo t=10, onde t indica o número máximo de erros que se pode corrigir através das palavras código geradas pelo codificador. Cada pacote MPEG-Compatível possui 187 bytes efetivos mais 1 byte de sincronismo, que após o decodificador Reed-Solomon, será somado a mais 20 bytes resultando em um pacote de 207 bytes efetivos. Logo este pacote na saída do decodificador Reed-Solomon terá [42]: 187+20=207 bytes efetivos 207 bytes ⋅ 8 bits/byte=1656 bits efetivos O codificador em treliça irá associar 1 símbolo de 8 níveis a cada 2 bits de forma que cada pacote de 187 bytes resultará em: 1656/2=828 símbolos Estes 828 símbolos, mais os 4 símbolos binários de sincronismo, compõe um segmento de 832 símbolos, e estes ocorrerão a uma taxa de: Sr = 4,5MHz ⋅ 684 =10,76Mhz 286 Em termos de freqüência de varredura horizontal da TV no padrão NTSC e PAL-M (Brasil), fica: fh= 4,5 MHz=15,734kHz 286 94 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Sr =fh ⋅ 684=10,76MHz A freqüência em que ocorrem os segmentos por: fseg= Sr =12.953,38 segmentos/s 832 A freqüência em que ocorrem os quadros obtida por: fquadro = fseg 626 =20,663 quadros/s A taxa efetiva de bits gerada pelo sub-sistema de transporte será dada por: taxa efetivade bits=Sr ⋅ 312 188 ⋅ ⋅ 2=19,3926 Mbit/s 313 208 onde: • 312 → a cada 312 segmentos de dados acrescenta-se um segmento de sincronismo 313 de campo; • 188 → 20 bytes acrescidos do Reed Solomon a cada pacote de 188 bytes; 208 • 2 → codificador em treliça, cada 2 bits resulta em um símbolo de 8 níveis. Tabela 3. 2 - Parâmetros do modo de transmissão 8-VSB e 16-VSB [42]. Parâmetro Largura de Faixa do Canal Excesso da Largura da Faixa Taxa de Símbolos Bits por Símbolo TCM Modo Terrestre 6MHz 11,5% 10,76MSímbolos/s 3 2/3 taxa Modo Cabo 6MHz 11,5% 10,76MSímbolos/s 4 Mão Utilizada 95 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Reed-Solomon FEC Comprimento de Segmento Sincronismo de Segmento Sincronismo de Quadro Taxa de Dados Filtro de Rejeição co-canal NTSC Contribuição de Potência do Piloto C/N threshold t=10(207,187) 832 símbolos 4 símbolos 1 por 313 segmentos 19,28Mbps Sim 0,3dB 14,9dB t=10( 207,187) 832 símbolos 4 símbolos 1 por 313 segmentos 38,57Mbps Não 0,3dB 28,3dB A Tabela 3. 2 apresenta os parâmetros utilizados para transmissão VSB nos dois modos: radiodifusão terrestre e cabo de alta taxa de dados. Os símbolos com 8 níveis combinados com os dados de sincronismo de segmento e os dados de sincronismo de campo serão utilizados para modular uma portadora simples com portadora suprimida caracterizando uma modulação VSB. É interessante que o espectro do sinal possua uma resposta o mais plana possível dentro da faixa do canal, e a característica global do transmissor e do receptor seja do tipo cosseno levantado, em ambas as extremidades. Assim a resposta é dividida igualmente entre o transmissor e o receptor, de modo que o transmissor possua uma resposta do tipo raiz quadrada de um coseno levantado, conforme a Figura 3. 8. Também é adicionado um tom piloto com potência adequada ao sinal, 310kHz a partir do limite inferior do espectro. Figura 3. 8 - Resposta do transmissor/receptor 8-VSB [43]. 3.10.2.1 Processo de modulação 8-VSB Os níveis nominais de entrada do modulador VSB em radiodifusão terrestre para televisão digital, obtidos após o mapeamento da saída do codificador em treliça 96 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV mostrados na Figura 3. 8, são dados por -7, -5, -3, -1, +1, +3, +5, +7. Os níveis de sincronismo de segmento e sincronismo de campo são representados por -5 e +5. Um valor de 1,25 também deve ser adicionado a cada nível nominal com a função de criar um tom piloto de pequena amplitude. Antes da adição do nível DC de 1,25 para geração do tom piloto, o sinal enviado ao modulador VSB é obtido por [43]: xp (t)= ∞ ∑ n=-∞ (3. 3) anp(t-nT) onde: • αn é o nível nominal (-7, -5, -3, -1, +1, +3, +5, +7) do pulso p(t). T= 1 1 = =92,917ηs Sr 10,762MHz A potência média é obtida por <xp(t)2>P/T, onde P é a energia de p(t). O acréscimo deste tom piloto transforma xp(t) em: xp (t)= ∞ ∑ n=-∞ [an+1,25]p(t-nT) (3. 4) Considerando quem possui média zero, x(t) terá uma potência média igual a <x(t)2+(1,25)2 > P/T , assim a potência média aumentará por um fator de: (72 +52 +32 +12 )/4+(1,25)2 (72 +52+32 +12 )/4 =1,0744 PotdB =10 ⋅ log(1,0744)=0,311659997dB 97 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Ocorrendo assim um pequeno aumento de 0,31dB na potência transmitida. A relação entre a potência do tom piloto e a potência anterior de x(t) é representada por: (1,25)2 (72 +52 +32 +12 )/4 =0,0744 → -11,28dB O tom piloto é utilizado pelo receptor para a recuperação da portadora. 3.10.2.2 Análise da modulação VSB É realizado agora uma resumida análise no processo de modulação VSB. Considere que a seqüência de símbolos digitais que saem do codificador em treliça seja representado por [42]: S={an }, onde an={±7,±5,±3,±1} (3. 5) A modulação VSB com múltiplos níveis consiste em transformar cada termo da seqüência de dados, em pulsos RF denominados de Rf(t). Devido a simetria espectral, os pulsos Rf(t) podem ser considerados como resultado da modulação de uma portadora em uma freqüência (fo +Sr /4) por pulsos banda base, chamados de p(t). Sua representação espectral está mostrada na Figura 3. 9 [42]. Figura 3. 9 - Espectro de p(t) e r(t) [42]. 98 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV No domínio temporal, o pulso é representado por: R f (t)=p(t)*cos[2π (f0 +Sr /4)t] (3. 6) onde: • fo é a freqüência da portadora de RF; • p(t) o pulso do tipo cosseno levantado representado por [42]: p(t)= sin(2π ∆ft) cos(2πα ∆ft) ⋅ 2π ∆ft 1-(4α ∆ft)2 (3. 7) onde: • ∆f=Sr /4=2,690MHz é o fator de roll-off com valor; • α=0,31MHz/2,690MHz=0,11524. Substituindo a Equação 3. 7 na Equação 3. 6, e desenvolvendo para encontrar Rf(t), obter-se como resultado, conforme é demonstrada em [42]: R f (t)=rI (t)cos(2 π fo t)-rQ (t)sin(2 π fo t) rI= sin(4π ∆ft) cos(2πα ∆ft) ⋅ 4π ∆ft 1-(4α ∆ft)2 r = Q sin(2π ∆ft) cos(2πα ∆ft) ⋅ 2π ∆ft 1-(4α ∆ft)2 (3. 8) (3. 8) (3. 9) A Figura 3. 10 mostra o gráfico das componentes em fase e quadratura do sinal VSB. 99 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Figura 3. 10 - As componentes em fase e quadratura do sinal VSB [42]. As componentes em fase e quadratura modulam as respectivas portadoras defasadas de 900, gerando faixas laterais que só cancelam, completa ou parcialmente, de modo a gerar o espectro da Figura 3. 10. A Equação para uma seqüência de símbolos, mais a componente do tom piloto é obtida por [42]: xp (t)= ∞ ∑ n=-∞ an[rI (t)cos(2π fo t)-rQ (t)sin(2π fo t)]+1,5cos(2π fo t) (3. 10) A equalização pode ser feita apenas sobre o canal I, já que o sinal do canal Q serve apenas para cancelamento das faixas laterais, ele é ignorado pelo receptor. A Figura 3. 11 mostra o diagrama de blocos do receptor 8-VSB, a complexidade do diagrama é devido ao fato que o receptor deve realizar um processo relativamente complexo, para recuperar os dados originais, especialmente no que se refere ao sistema de equalização. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 100 Figura 3. 11 - Diagrama de blocos do receptor 8-VSB [42]. 3.10.2.3 Interferências no Sistema ATSC No sistema americano ATSC, os transmissores de TV Digital ocupam os chamados canais “tabus”, que são deixados vagos em cada localidade. Nesse esquema, a possível interferência entre transmissores próximos é somente quando operam em canais adjacentes. A susceptibilidade a interferência entre canais adjacentes depende de uma série de fatores como: distância entre os transmissores, potências relativas, posição do receptor, direcionalidade da antena de recepção e, destacadamente, a seletividade do filtro de recepção [42]. Nos EUA, país que desenvolveu o padrão ATSC, que adota a modulação VSB, inicialmente definiu-se uma distância entre os transmissores de 155milhas, garantindo para cada emissora um raio de cobertura de 57milhas. Mais tarde, com a introdução da TV Digital, análises práticas levaram a Federal Commission Communications (FCC)a reduzir a distância entre transmissores para 100milhas, redução que viabilizou um número maior de canais no plano básico de canalização de cada estado (ou cidade). O tipo de interferência mais difícil de combater é a interferência de transmissões co-canal, pois o mesmo não depende da seletividade do filtro do receptor. Com a implementação da TV Digital paralelamente as transmissões da TV Analógica, foram estabelecida uma convivência entre os dois sistemas, que passará por Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 101 uma transição não muito rápida, ocasionando assim interferências co-canal entre os sistemas, como [42]: • TV Digital sobre TV Digital: esta interferência tem importância menor se comparada com as outras interferências: TV Digital sobre TV Analógica ou TV Analógica sobre TV Digital, pois o sinal digital transmitido possui uma característica semelhante ao ruído branco; • TV Digital sobre TV Analógica: esta interferência é controlada utilizando-se um nível de potência de transmissão digital significativamente abaixo do nível de potência da TV Analógica durante o período de transição, que deve durar cerca de 15 anos. A interferência que um transmissor digital produz sobre um sinal analógico é de um tipo relativamente benígno, mas é preciso considerar esse fato com alguma cautela; • TV Analógica sobre TV Digital: último caso de interferência co-canal, é mais difícil de se controlar porque o sinal da TV Analógica produz um espectro interferente com potência altamente concentrada nas raias das portadoras de vídeo, cor e de áudio, a televisão analógica exige uma relação sinal-ruído bem maior (S/N ≥ 40dB), comparada à relação sinal-ruído da televisão digital (S/N ≥ 15dB). 3.11 Modulação Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) 3.11.1 Introdução A OFDM é uma forma de modulação multi-portadora, cujo conceito foi introduzido há mais de três décadas. Devido a sua complexidade de implementação, as aplicações comerciais da OFDM eram incomuns até meados dos anos 80. Recentes avanços em 102 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Processamento Digital de Sinais (PDS) e Desenvolvimento de Circuitos Integrados (VLSI) contribuíram para a implementação da modulação OFDM. 3.11.2 Aplicações da modulação OFDM Dentre as principais aplicações comerciais da modulação OFDM, podemos relacionar as seguintes aplicações em difusão de áudio e vídeo, adotadas na difusão de HDTV [44]: • Digital Audio Broadcasting (DAB): padrão europeu de radiodifusão de áudio digital; • Digital Video Broadcasting-Terrestrial (DVB-T): padrão europeu de radiodifusão terrestre de TV Digital; • Integrated Services Digital Broadcasting-Terrestrial (ISDB-T): padrão japonês de radiodifusão terrestre de TV Digital. A OFDM também é utilizada nas seguintes aplicações: Redes de Comunicação de Dados e Linhas Digitais de Assinantes (ADSL), e tecnologia selecionada para a transmissão de sinais digitais de vídeo comprimidos através das linhas telefônicas dos assinantes, não objetos desta dissertação [44]. A modulação OFDM caracteriza-se pela utilização de um grande número de portadoras moduladas digitalmente onde cada uma delas é ortogonal a outra. É uma técnica de transmissão multi-portadora baseada na Transformada Discreta de Fourier DFT. A Figura 3. 12 apresenta um diagrama de bloco de um sistema modulado em OFDM [45]. 103 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Figura 3. 12 - Diagrama de bloco simplificado de um sistema OFDM [45]. A idéia básica do OFDM é transformar um sinal serial em várias seqüências de sinais paralelos com a mesma taxa de bits, porém reduzida, cada uma modulando uma subportadora e constituindo um conjunto de funções ortogonais. A soma delas produz um único sinal modulado em OFDM. Já o princípio básico da modulação OFDM desenvolvido para a transmissão de sinais HDTV, consiste em dividir a seqüência de dados principal em várias “subseqüências” paralelas, moduladas de acordo com o esquema m-QAM definido. Cada uma dessas subportadoras ocupa uma pequena porção do espectro disponível e o espaçamento entre elas, é de modo a que essas sub-portadoras sejam ortogonais entre si, não se interferindo. Assim, um símbolo OFDM é constituído por n sub-portadoras mQAM. Na Europa e no Japão, para transmissões digitais de TV terrestre, DVB-T (Europa) e ISDB-T (Japão), foi adotado o OFDM com codificações adicionais, que é denominada de Multiplexação por Divisão de Freqüência Ortogonal Codificada (COFDM). A COFDM é um sistema OFDM com codificadores adicionais para a correção de possíveis erros de transmissão. A COFDM é baseado na utilização de diversas pequenas portadoras justapostas dentro de um canal de 6, 7 ou 8MHz. Na prática, é como se fosse um sistema com compartilhamento em freqüência Multiplexação por Divisão de Freqüência (FDM), onde cada pequena portadora transporta apenas uma fração da informação total. A interferência entre essas portadoras é evitada por condições de ortogonalidade entre as mesmas. Tal ortogonalidade ocorre quando o espaçamento entre as portadoras, fS, é exatamente o inverso do período Ts sobre o qual o receptor fará a 104 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV operação de demodulação do sinal. Por último, para melhorar a imunidade a interferências externas, é utilizada uma série de técnicas de codificação (o “C” do COFDM), que inclui uma permuta pseudo-aleatória da carga útil entre as diversas portadoras. Para uma determinada configuração (tipo de modulação, número de portadoras e intervalo de guarda), os bits são agrupados para formarem uma palavra. Cada palavra irá modular uma portadora, durante um período Ts. O conjunto de palavras de todas as portadoras em um determinado intervalo Ts é chamado de símbolo COFDM. Cada conjunto de 68 símbolos COFDM forma um quadro COFDM. Cada símbolo tem duração Ts, sendo que esse intervalo é dividido em duas partes: uma parte útil de duração Tu e um TE MP O FR EQ ÜÊ N CI A intervalo de guarda de duração ∆, conforme ilustra a Figura 3. 13. Figura 3. 13 - Símbolos COFDM [15]. Algumas portadoras são utilizadas como sinal piloto. Essas portadoras são chamadas de “piloto contínuo” elas são utilizadas para sincronismo e controle de fase. Adicionalmente, nas demais portadoras, algumas palavras são utilizadas dentro de uma seqüência pré-definida para também atuarem como sinais-piloto, chamados de “pilotos dispersos”. Tais pilotos são utilizados para estimar as características de transmissão dessa portadora e das portadoras adjacentes. Algumas portadoras são utilizadas para transportar um sinal de controle chamado Transmission Parameter Signaling (TPS), Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 105 especialmente modulado em BPSK. O receptor utiliza essa informação para identificar os parâmetros de transmissão que estão sendo utilizados naquele canal, tais como o tipo de modulação, número de portadoras, etc. No modo 2k, só são utilizadas 17 portadoras com essa finalidade; no modo 8k, são utilizadas 68 portadoras [15]. Inicialmente, se comparar com os sistemas analógicos, a utilização de milhares de portadoras pode levar a incorreta suposição de que são necessários milhares de filtros e de moduladores independentes no receptor, mas não, a demodulação de um sinal COFDM é feita utilizando-se técnicas digitais, em particular Transformada Rápida de Fourier (FFT), a qual é feita por um único processador. O espalhamento da informação (carga útil) ao longo das diversas portadoras faz com que, se uma determinada fonte de ruído estiver afetando uma freqüência específica, apenas a portadora daquela freqüência será afetada. Adicionalmente, devido às etapas de espalhamento e a mudança periódica na utilização das portadoras, as interferências localizadas afetam apenas uma pequena fração de cada bloco de informação, permitindo que os códigos corretores de erro (FEC) recuperem a informação danificada. O intervalo de guarda, concebido para evitar as interferências inter-símbolos (IST), fornece ao COFDM uma boa imunidade a ecos (reflexões do sinal devido a prédios e obstáculos similares). Quanto pior (mais demorado) o eco, maior deve ser o intervalo de guarda. Como o tempo de guarda é uma fração (inteira) do comprimento do símbolo, quanto mais comprido o símbolo, maior pode ser o intervalo de guarda. O modo 8k descrito no Capítulo II desta dissertação, utiliza mais portadoras e, por conseguinte, possibilita um maior intervalo de guarda. Um maior número de portadoras tem um impacto negativo na complexidade do receptor e na maior fragilidade de fase face ao ruído branco [15]. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 3.11.3 106 Princípios básicos da modulação OFDM Em um sistema convencional de transmissão de dados série, os símbolos de informação são enviados sequencialmente, de tal forma que o espectro de freqüências de cada símbolo ocupa toda a largura de faixa disponível. A Figura 3. 14 (a) apresenta o espectro de um sinal m-QAM não filtrado. O espectro apresentado tem a forma original de sen(x)/x, com pontos de passagem por zero múltiplos de 1/Ts, onde Ts é a duração do símbolo período m-QAM. O princípio da modulação OFDM é de transmitir os dados em sub-portadoras moduladas em m-QAM, usando FDM. O espaçamento entre as portadoras deve ser cuidadosamente selecionado de modo que cada sub-portadora esteja localizada nos zeros do espectro das outras sub-portadoras. Apesar de existir sobreposição espectral entre as sub-portadoras, elas não se interferem entre si se forem amostradas nos instantes adequados, isto é, a ortogonalidade espectral é preservada. A Figura 3. 14 (b) apresenta o espectro de um sinal OFDM [41]. Figura 3. 14 - Espectro de um sinal QAM não filtrado (a) e de um sinal OFDM(b). A modulação OFDM utiliza divisão de freqüência para transmitir blocos de dados. Cada símbolo do sinal é constituído por um conjunto de portadoras, cada uma transportando informações independentes. Isto pode ser visto na Figura 3. 15, onde a Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 107 ortogonalidade entre duas portadoras vizinhas no espectro é assegurada desde que as portadoras estejam separadamente espaçadas de 1/Ts. Apesar do aumento da eficiência de largura de faixa pela superposição das bandas, essa eficiência é diminuída pelo fato de existir a necessidade de inserção de um período de guarda entre os períodos de sinalização. Além disso, a OFDM exige sincronização bastante precisa e apresenta também variações significativas na relação potência de pico/potência média [44]. No padrão DVB-T, os dados de entrada do modulador são números complexos representando pontos de uma constelação. A constelação utilizada pode ser QPSK, 16 ou 64-QAM [41]. Além dos dados complexos (pontos de constelação), também são transmitidas portadoras piloto e portadoras TPS de parâmetros de sinalização. As portadoras piloto podem ser utilizadas para sincronização de quadro, de freqüência e de tempo, estimação de canal e ainda para transmitir parâmetros do sistema (por exemplo tamanho do intervalo de guarda, constelação utilizada, etc.). Figura 3. 15 - Sinal OFDM [44]. Os sistemas mais empregados na modulação de cada portadora são: 8-QAM, 16QAM e DPSK. Assim, os dados digitais seriais provenientes do sistema de transporte e da mulitplexagem são agrupados em dois, três ou quatro símbolos dependendo do tipo de modulação. No caso de se utilizar modulação 16-QAM, os dados são agrupados em 108 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV grupos de quatro bits enquanto que para os sistemas 8-QAM e DPSK, são agrupados em grupos de três e dois bits respectivamente. Cada grupo de bits origina a uma constelação de sinais que é modulada uma única portadora, para formar finalmente um sinal multiplexado por divisão de freqüência. A expressão matemática que representa a k-ésima portadora pode ser escrita como: ψk (t)=e jkωnt (3. 11) onde: cada símbolo tem duração Ts, sendo que esse intervalo é dividido em duas partes: • uma parte útil de duração Tu e um intervalo de guarda de duração ∆. Este intervalo tem como objetivo reduzir a interferência inter-simbólica e consiste de uma repetição cíclica de uma parte final do sinal útil Tu inserida no início do símbolo. ωu= 2π f = 2π /Tu e Tu é o período dos símbolos úteis sobre o qual o receptor integra • os sinais demodulados. A condição de ortogonalidade que satisfaz a portadora é fornecida pela expressão [44]: ∆+tu ∫∆ ψk (t) ⋅ ψ1 *(t)dt=0, k ≠1 (3. 12) ∆+tu ∫∆ ψk (t) ⋅ ψ1 *(t)dt=Tu , k=1 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 109 Na prática, as portadoras são moduladas pelos números complexos que mudam de símbolo para símbolo. Se o período de integração estende dois símbolos (como os caminhos de atraso apresentados na Figura 3. 16, não ocorrerá só ISI, mais também interferência inter-portadora (ICI). Isto acontece porque os “beat tones” das outras portadoras poderiam não mais tender a zero, se elas mudarem em fase e/ou amplitude durante o período. Evita-se isso, adicionando um intervalo de guarda, que assegura toda a informação vinda do mesmo símbolo. A Figura 3. 16 mostra esse acréscimo do intervalo de guarda [44]. Figura 3. 16 - Como um caminho atrasado causa interferência Inter-Symbol (ISI) [44]. Figura 3. 17 - A adição de um intervalo de guarda [44]. O período do símbolo é estendido tanto que ele excede o período de integração na recepção (Tu). Visto que todas as portadoras são cíclicas com períodos (Tu), isso também é válido para todo sinal modulado. Assim, o segmento adicionado no início do símbolo para formar o intervalo de guarda é idêntico ao segmento, de mesmo comprimento, no final do símbolo. Já que o atraso (delay) de qualquer caminho com respeito ao caminho Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 110 principal (mais curto) é menor do que o intervalo de integração vindo do mesmo símbolo, o critério de ortogonalidade está satisfeito. A interferência inter-portadora (ICI) e a interferência inter-símbolo (ISI) ocorrerão somente quando o atraso relativo exceder o intervalo de guarda. O comprimento do intervalo de guarda é escolhido de acordo com o nível de multi-percurso (multipath) esperado. O intervalo de guarda ∆, não deverá tornase tão intenso quanto a uma fração de Tu [44]. Figura 3. 18 - Sinal OFDM usando intervalo de guarda na freqüência e no tempo [46]. Entre cada símbolo OFDM é inserido um intervalo de guarda por extensão periódica do próprio símbolo, conforme mostra Figura 3. 18, com o objetivo de eliminar a interferência inter-símbolo (ISI) causada pelos muiti-percursos [43]. O ajuste criterioso da duração do intervalo de guarda permite o funcionamento desses sistemas em redes de freqüência única Single Frequency Networks (SFN). Apesar de, por razões de eficiência, o intervalo de guarda estar ilimitado a valores relativamente Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 111 baixos, estes são geralmente suficientes para combater ecos dentro da área de cobertura do transmissor. Para a formação dos grupos de constelações, a seqüência serial de bits é transformada de série a paralelo (S/P), onde cada símbolo gerado ocupa uma faixa menor do espectro devido ao fato de que a duração dos mesmos torna-se maior do que a duração de cada digito binário. Cada símbolo é modulado paralelamente pela sua respectiva portadora para que finalmente seja gerado o sinal OFDM pela soma de cada um deles. À medida que o número de portadoras cresce, o espectro do sinal resultante torna-se cada vez mais plano, conforme ilustra a Figura 3. 19., que mostra a geração de um sinal OFDM com várias portadoras. O grande número de portadoras utilizado para a geração de um sinal OFDM exige a utilização de um banco de osciladores senóidais coerentes exatamente calibrados, com a finalidade de evitar que a ortogonalidade do sinal resultante seja afetada por um desvio em relação aos valores exatos das portadoras. O número de osciladores a ser usado dependerá do número de portadoras utilizadas para a geração do sinal. Isso torna a implementação do sistema OFDM extremamente complexa, exigindo um novo método que pudesse diminuir tal complexidade [43]. Isto pode ser visto na Figura 3. 19 onde a ortogonalidade entre duas portadoras no espectro SOFDM(f) é assegurada desde que às portadoras sejam separadamente espaçadas de 1/Ts. Como mostrado na Figura 3. 19, onde são usados 5 bits para descrever o processo, n-bits de duração TBIT são colecionados para formar um grupo de bits com a duração Ts=n*TBIT contribuindo para a formação do símbolo COFDM. 112 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Figura 3. 19 - Representação simplificada de um sinal OFDM [42]. 3.11.4 Geração de um sinal OFDM Considerando que um sinal OFDM consiste de um conjunto de sub-portadoras QAM paralelas, a expressão matemática deste sinal é obtida pela Equação 3. 13: N-1 x(t)= ∑ (ancosωnt+bnsinωnt) n=0 0 ≤ t ≤ Ts (3. 13) onde: • an e bn são os termos em fase e em quadratura do sinal QAM, e ωn=2π f , é a freqüência da sub-portadora; • N representa o número de sub-portadoras. 113 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Ao observar a Equação 3. 13, nota-se que a forma de expressão do sinal OFDM é igual a parte real da Inversa da Transformada Discreta de Fourier Inversa (IDFT) da informação original, Cn=an+jbn conforme equação a seguir: - jωnt ⎫ ⎪⎧ N-1 ⎪ x(t)=Re ⎨ ∑ Cne ⎬ ⎪⎩n=0 ⎪⎭ (3. 5) ⎪⎧ N-1 ⎪⎫ x(t)=Re ⎨ ∑ (an+jbn ) ⋅ (ancosωnt-bnsinωnt)⎬ ⎪⎩n=0 ⎪⎭ (3. 6) N-1 x(t)= ∑ (ancosωnt+bnsinωnt) (3. 7) n=0 onde: • cada valor de Cn representa um número complexo. Isso constitui uma característica importante devido a possibilidade da implementação ser feita por de um algoritmo que gere um sinal multiplexado em freqüência, com as mesmas características que as da Equação 3. 13. Assim, a geração do sinal OFDM é feita por algoritmos computacionalmente eficientes tal como a Inversa da Transformada Inversa Rápida de Fourier (IFFT) [41]. Para a formação dos grupos de constelações, a seqüência serial de bits é transformada de série para paralelo (S/P), onde cada símbolo gerado ocupa uma faixa menor do espectro devido ao fato de que a duração dos mesmos torna-se maior do que a duração de cada digito binário. Cada símbolo é modulado paralelamente através da sua respectiva portadora para que finalmente seja gerado o sinal OFDM pela da soma de cada um deles. À medida que o número de portadoras cresce, o espectro do sinal resultante torna-se cada vez mais plano, conforme mostra a Figura 3. 19. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 114 A Figura 3. 20, apresenta o diagrama de blocos de geração do espectro de um sinal OFDM simplificado [41, 43] mediante a utilização da IFFT/FFT. Nota-se que na recepção as operações são inversas às usadas na geração do sinal. Os blocos conversores de freqüência Up/Down (conversão para cima/baixo) fazem o deslocamento do espectro do sinal resultante de acordo com a faixa designada para a transmissão de um determinado sinal de televisão. Figura 3. 20 - Diagrama em blocos de geração de um sinal OFDM usando IFFT/FFT [47]. A Figura 3. 21 apresenta o mesmo diagrama de biocos da Figura 3. 20, com maior detalhamento sobre o sistema OFDM. Após a codificação de fonte, os dados modulados em QAM são convertidos de série para paralelo e agrupados em N números complexos (símbolos QAM) por bloco. Cada bloco será processado pelo modulador OFDM (IFFT) cuja saída forma o símbolo OFDM. Este é convertido novamente para o formato série de modo a ser transmitido. Figura 3. 21 - Diagrama de blocos de um sistema OFDM [47]. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 115 Os símbolos discretos (já em série) são convertidos para o domínio analógico e filtrados, sendo finalmente processados pelo sistema de RF para a sua difusão. O receptor efetua o processamento inverso do transmissor. Usualmente, é empregue um mapeamento do sinal de um coeficiente para cada sub-portadora de forma a corrigir a distorção do canal [47]. O número de portadoras a ser utilizado depende da largura de faixa do canal, da taxa de dados e da duração efetiva dos símbolos. Além disso, é preferível que o número de portadoras seja sempre múltiplo de dois quando é utilizada a IFFT/FFT para geração e a recepção do sinal OFDM. Os valores mais utilizados são 512, 1024, 2048 e assim por diante [43]. O uso de várias portadoras na geração de um sinal OFDM permite mudar o espectro do mesmo com desvanecimento seletivo, em pequenas sub-faixas de freqüências com desvanecimento não seletivo em cada uma delas. O desvanecimento é uma forma de distorção apresentado no sinal devido a uma mudança da função de transferência do canal que afeta certas componentes de freqüência. O desvanecimento do tipo seletivo aparece quando a distorção afeta de forma desigual todo o espectro, enquanto o desenvolvimento do tipo não seletivo apresenta-se quando todas as componentes do espectro ou de uma determinada faixa são afetadas uniformemente. A modulação OFDM divide o espectro do sinal de televisão em pequenas subfaixas de freqüências que apresentam um desvanecimento não seletivo. Isso torna o sinal apropriado para aplicação da codificação em treliça em cada sub-faixa [43]. Após a formação dos grupos de k-bits é inserido um codificador de treliça que gera palavras código de k + 1 bits por cada grupo. O codificador de treliça permite corrigir possíveis erros na transmissão de uma determinada faixa do espectro. O sinal resultante é denominado como sinal COFDM. A Figura 3. 22 apresenta o diagrama de blocos do sistema COFDM, incluindo o codificador de treliça na parte de codificação da Figura 3. 20. 116 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Figura 3. 22 - Diagrama em blocos de geração de sinal COFDM usando IFFT/FFT [47]. 3.11.5 Característica do espectro de potência do sinal O símbolo OFDM é constituído por um conjunto de N portadoras ortogonais uniformemente espaçadas. Se o tempo de duração de um símbolo fosse infinito (o que não teria sentido prático), o espectro do sinal seria um trem de impulsos, pois o sinal é composto de um símbolo, é finito então o espectro de cada portadora sendo dado por uma função sinc ao quadrado. Dessa forma, a densidade de potência espectral Pn(f) de cada portadora fn, é definida peia expressão [47]: ⎡ sin ⎡⎣π (f-fn )Ts ⎤⎦ ⎤ Pn(f)= ⎢ ⎥ ⎣⎢ π (f-fn )Ts ⎦⎥ fn=fc + 2 n-(Nmax +Nmin )/2 , Tu (3. 87) Nmin ≤ n ≤ Nmax onde: • n é o número da portadora; • N o número de portadoras transmitidas; • fc é a freqüência central do sinal RF. (3. 18) 117 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Tabela 3. 3 – Valores numéricos para os parâmetros OFDM do modo 2k e 8K [47]. Modo Parâmetros 2k 8k Número de Portadoras N Nmim Nmax Tu 1.705 0 1.704 224 µs 6.817 0 6.816 896 µs Espaçamento entre as portadoras 1/Tu 4.464 Hz 1.116 Hz Espaçamento entre as portadoras Nmim e Nmax 7,61MHz 7,61MHz *Os valores em negrito são valores aproximados. Para canais de largura de faixa de 7MHz, N e 6,66MHz. A Equação 3. 14, também pode ser na forma [47]: x(t)= Nmax ∑ n=Nmin j2π Cne n' t Tu , 0 ≤ t ≤ Ts (3. 9) x(t)=0, caso contrário Como Nmin=0 e n'=n-(Nmax +Nmin )/2, tem se: x(t)=e N - jπ max t Tu ⋅ Nmax ∑ n=0 j2π Cne n t Tu , (3. 10) 0 ≤ t ≤ Ts (3. 11) x(t)=0, caso contrário A Equação 3. 21 é semelhante à equação da Transformada Discreta de Fourier Inversa (IDFT), a saber: 1 N-1 x(t)= ∑ Cne N n=0 j 2π nt N (3. 12) Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 118 Essa semelhança sugere a utilização da IDFT para síntese do sinal COFDM, pois a utilização de um oscilador para cada portadora torna a implementação desse sistema excessivamente complexa e cara. Além disso, a IDFT pode ser calculada por meio de algoritmos rápidos. Se o número de sub-portadoras (N) fosse pequeno, poderia ser viável a utilização de um banco de filtros digitais onde cada filtro implementaria um oscilador. Entretanto, para um número de portadoras grande (N > 32), como é o caso do sistema de modulação dos padrões DVB-T e ISDB-T, a utilização da DFT é mais eficiente [47]. Figura 3. 23, apresenta a potência espectral, Pn(f), de uma portadora. Figura 3. 23 - Espectro de potência da portadora N [47]. A amplitude e a fase de cada portadora poderão variar dependendo do valor Cn a ela associado. A densidade espectral de potência do sinal OFDM é a soma das densidades espectrais de potência de todas as portadoras moduladas. A Figura 3. 24 apresenta o espectro teórico do sinal OFDM para um intervalo de guarda ∆=1/4 [39]. 119 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV dB 10 0 -10 -20 -30 MODO 2K -40 MODO 8K -50 -60 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 MHz FREQÜÊNCIA RELATIVA A FREQÜÊNCIA CENTRAL fc Figura 3. 24 - Espectro teórico do sinal OFDM para um intervalo de guarda ∆=1/4 [39]. 3.11.6 Vantagens e desvantagens da modulação OFDM Abaixo são relacionadas às vantagens e as desvantagens do sistema de modulação Orthogonal Frequency Division Modulation (OFDM). • Vantagens da modulação OFDM: - devido a faixa estreita ocupada por cada uma das sub-portadoras, a resposta do canal é aproximadamente plana nessa faixa, o que facilita a equalização do sinal; - como a faixa ocupada por cada uma das “sub-seqüências” é relativamente pequena, a sua duração (temporal) é superior, o que aumenta a sua imunidade contra os ecos multipercurso; Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV - 120 os desvanecimentos seletivos em freqüência, dispersam-se por várias portadoras, provocando apenas a distorção de alguns símbolos em vez da sua completa destruição; - uma modulação muito flexível adaptando-se a vários requisitos de projeto, tais como eficiência da largura de faixa, contorno espectral (spectrum shaping), possibilidade de uso de estações em SFN, desempenho e sensibilidade a fatores adversos ao sistema (multipercurso, ruídos e interferências); - como técnica de transmissão paralela, a modulação OFDM é menos sensível a desvios do instante de amostragem quando comparada com técnicas de transmissão série; - a eficiência de largura de faixa de um sistema OFDM é melhorada com o aumento do tamanho da FFT; - não requer adaptação a variações instantâneas do canal e é robusto a interferências do tipo ruído impulsivo; - um sistema OFDM devidamente codificado e entrelaçado pode exceder o desempenho, em termos de taxas de erro, especialmente tratando-se de recepção móvel de faixa larga, onde estão presentes ecos fortes e variáveis no tempo; - o sistema OFDM codificado (COFDM) é mais imune ao ruído impulsivo do que os sistemas com uma portadora (mono-portadora) devido a longa duração dos símbolos [41, 47]; - o conjunto de portadoras pode ser modulado de acordo com os diferentes tipos de modulação digital disponíveis, tornando o sistema mais flexível; 121 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV - a emissão de um sinal COFDM em sistemas HDTV pode ser feita da seguinte maneira: Através de um conjunto de repetidoras sincronizadas no tempo e na freqüência com um transmissor principal, denominado de Rede de Freqüência Única (SFN). Através dessa SFN pode-se cobrir uma extensa área utilizando-se uma única freqüência. A redução do retardo de propagação pode ser feita distribuindo o sinal do transmissor as repetidoras através de enlaces, via satélite, ou via repetidoras terrestre em microondas ou em fibras ópticas. • Desvantagens da modulação OFDM - a modulação OFDM, como técnica de transmissão paralela, é mais sensível a desvios de freqüência das portadoras e a interferências provocadas por sinais com picos espectrais; - exige uma potência de transmissão maior em comparação com os sistemas mono-portadoras (8-VSB) porque a razão entre as potências de pico e potência média de um sistema OFDM é superior a de um sistema monoportadora [42], e; - o Padrão DVB-T prevê a utilização de uma modulação intermediária do tipo QAM com m níveis (m-QAM), onde m pode tomar os seguintes valores: 4, 16 ou 64. Se o sistema considerar modulações multi-resolução, passa-se a ter modulações MR-m-QAM com m=16 ou m=64. Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 3.12 122 Modulação 8-VSB X Modulação COFDM Nesta última parte des Capítulo, é apresentada uma comparação do desempenho dos dois sistemas de transmissão estudados neste Capítulo: o COFDM europeu, adaptado em 6MHz e o 8-VSB adotado pelo ATSC. Uma das características indesejáveis dos métodos de modulação utilizados pelos sistemas de televisão digital é a relação desfavorável entre a potência de pico e a portadora média do sinal irradiado. Como os transmissores são limitados pela potência média de pico, uma alta relação potência de pico/Potência média implica sem uma baixa potência média, o que implica sem uma baixa relação sinal-ruído. O sistema ATSC utiliza a modulação 8-VSB, com um roll-off de 11,5%, produzindo um sinal com uma característica de potência conforme mostra a Figura 3. 25. Observa-se por esta da Figura 3. 5, que o sinal pode atingir picos de até 8dB (6,3 vezes) acima do nível da potência média. Porém, em 99,9% do tempo, a potência está abaixo de 7dB (5 vezes). Estudos mostram que esse valor para o sistema europeu DVB e cerca de 2,5dB maior do que o ATSC (para 99,99% do tempo). O sistema DVB requer um transmissor com potência superior ao do ATSC de 2,5dB ou 1,8 vezes [42]. Figura 3. 25 - Relação de potência de pico/potência média para um Sinal 8—VSB [42]. 123 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Nos testes de laboratório, conforme mostra a Tabela 3. 1 o sistema americano ATSC, com modulação VSB, foi avaliado na única configuração possível (8-VSB). O sistema europeu, DVB-T e o japonês ISDB-T que empregam modulação COFDM, foram testados em várias configurações, todas, porém com uma “payload” aproximado de 19Mbps, o mesmo utilizado pelo sistema americano ATSC, com a finalidade de comparação do desempenho com as taxas de bits semelhantes [47]. Tabela 3. 4 - Comparação do desempenho considerando a modulação. 3.12.1 Parâmetro Modulação Payload ATSC 8-VSB 19,30Mbps Receptores Zenith Chip A Chip B DVB-T OFDM 18,06Mbps 19,75Mbps DVB 1ª Geração 2ª Geração ISDB-T COFDM 19,3Mbps Protótipo DIBEG Desempenho do transmissor Os resultados mostram a relação entre a potência de pico dos transmissores e a potência média utilizada como referência na transmissão digital e indicam que, para irradiar uma mesma potência, o transmissor que utiliza a modulação COFDM precisará ter uma potência cerca de 2dB maior do que a necessária para a modulação 8-VSB [47]. Nos Estados Unidos, foram divulgados resultados conclusivos de testes comparativos de cobertura entre os sistemas 8-VSB e COFDM realizados no período de agosto-dezembro de 2000 nas cidades de Washington, Baltimore e Cleveland, utilizando canais de UHF e de VHF. Tabela 3. 5 - Relação entre potência de pico e a potência média. ATSC 6,66dB DVB 8,28dB ISDB 8,54dB 124 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV A meta do projeto 8-VSB/COFDM foi a de criar fatos completos, imparciais e científicos sobre os dois sistemas de modulação utilizados na implantação da TV Digital no mundo. O propósito do projeto foi testar e comparar o desempenho dos sistemas de modulação 8-VSB (PAM)/COFDM para recepção ao ar livre com antenas externas e internas, em recinto fechado, para receptores portátil e móvel. Os dados destes testes comparativos entre os dois tipos de modulação: 8-VSB (19.39Mbps) e COFDM (19,76Mbps), revelaram ser o sistema 8-VSB mais confiável que o sistema COFDM para condição de recepção com antena externa a 30 pés de altura, mas ambos os sistemas inadequados para condição de recepção com antenas a 6 pés e em ambientes fechados (antena interna) [49, 50], conforme as figuras analisadas a seguir: A Figura 3. 26 apresenta o percentual estatístico de recepção em ambientes fechados e incluindo todos os ambientes por estação (30 pés), nos canais de UHF, para as quatro estações: WBAL-DT (canal 59), WRC-DT (canal 48), WUSA-DT (canal 34) e WETA-DT (canal 27) [50]: Estatística de Recepção para Ambientes Fechados por Estação (30 pés). 8-VSB COFDM 100% 93% 86% 84% 77% % Of Successful Sites 75% 74% 71% 57% 52% 50% 31% 25% 12% 0% All Sites WBAL-DT WRC-DT WUSA-DT WETA-DT Station (UHF) Figura 3. 26 - Estatística de recepção para ambientes fechados por estação (30 pés). 125 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV A Figura 3. 27 apresenta o percentual estatístico de recepção em ambientes fechados e incluindo todos os ambientes por estação (6 pés) nos mesmos canais de UHF e estações da Figura 3. 26 [50]: Estatística de Recepção para Ambientes Fechados por Estação (6 pés). 8-VSB COFDM 75% 68% % Of Successful Sites 55% 57% 50% 44% 41% 38% 37% 37% 25% 17% 10% 0% All Sites WBAL-DT WRC-DT WUSA-DT WETA-DT Station (UHF) Figura 3. 27 - Estatística de recepção para ambientes fechados por estação (6 pés). A Figura 3. 26 mostra que para ambientes fechados a 30 pés a modulação 8-VSB apresenta vantagens significativas sobre a modulação OFDM e a Figura 3. 27, mostra que para o mesmo ambiente a 6 pés, a modulação OFDM apresenta acentuada vantagem, mas deve ficar claro que nessa situação, os dois sistemas de modulação não atingiram o percentual de 70%. 126 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV As Figura 3. 28 e Figura 3. 29 apresentam os resultados dos testes para a estação WRC-T, para análise dos percentuais de recepção versus distância, no canal 48: Estatística de Recepção x Distância (30 pés). 8-VSB 100% 94% 89% 86% % Of Successful Sites 75% COFDM 83% 73% 76% 66% 61% 50% 39% 25% 17% 0% 0-10 10-20 20-30 30-40 40-50 Distance in Miles Figura 3. 28 - Estatística de recepção X distância (30 pés). Na Figura 3. 28, observa-se que para a recepção até 10milhas, nas proximidades da estação transmissora, o percentual de recepção com sucesso, não atingiu os 90%. Porém, para distância até 30milhas, a diferença varia entre 13% e 23%. Para distância entre 30-40milhas da estação transmissora, a diferença entre os dois sistemas de modulação 8-VSB/COFDM, atinge o percentual de 44%. 127 Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV Estatística de Recepção x Distância (30 pés). 8-VSB % Of Successful Sites 75% C OFDM 70% 50% 50% 50% 46% 43% 41% 34% 25% 20% 22% 17% 0% 0-10 10-20 20-30 30-40 40-50 Distance in Miles Figura 3. 29 - Estatística de recepção x distância (6 pés). Na Figura 3. 29, observa-se que para a distância de 0-10milhas, nas proximidades da Estação Transmissora, o percentual de recepção do sistema 8-VSB cai para 34% e existe um melhor desempenho dos sistemas modulados em COFDM, atingindo uma diferença de 36%. Para a recepção entre 10-30milhas o desempenho dos dois sistemas se equipara, não ultrapassando os 50%. O percentual de recepção piora significativamente para os dois sistemas de modulação, para distância superior a 30milhas. 3.13 Conclusões Sobre o Capítulo Pelos resultados dos testes de laboratório e de campo dos três padrões recomendados pela UIT, verificou-se após as analises, que tecnicamente, os padrões que Capítulo III – Modulação em Sinais de HDTV 128 adotam a modulação COFDM, apresentam melhor desempenho quanto aos sinais fantasmas (multipercurso), principalmente nas proximidades da torre de transmissão da emissora, além de oferecer outras opções, tais como: operação em rede de freqüência única (SFN) e o uso de receptores móveis e portáteis. Os testes realizados no Brasil pelo grupo SET/ABERT, que será apresentado no Capítulo IV desta dissertação, comprovam os resultados desses testes, com a vantagem de contar com o padrão ISDB-T japonês, baseado também na modulação COFDM, mas usando outros recursos, que possibilitaram aos padrões que utilizam essa modulação, maiores vantagens. Acredita-se com o desenvolvimento de novas tecnologias e a contribuição do corpo técnico das emissoras de Televisão, que outras melhorias surgirão, para os três padrões, com as experiências e acertos que serão incorporados ao(s) padrão que melhor aceitação tiver durante o período de transição. Essa história, os radiodifusores do Brasil conhecem bem, basta lembrar as vantagens iniciais que o padrão PAL oferecia sobre o padrão NTSC, que levaram ao grupo técnico da Escola Politécnica da USP, a sugerir na época, pela escolha do padrão PAL, futuramente denominado como padrão oficial para o Brasil de PAL-M. Conclui-se, portanto, que a modulação 8-VSB foi projetada para atender a TV a Cabo e também na difusão por satélite nos Estados Unidos. E que a modulação COFDM, com as modificações introduzidas pelo padrão ISDB, atende a TV a Cabo, difusão por satélite, difusão terrestre, incluindo as comunicações móveis e portáteis. Capítulo IV Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 130 4. IMPACTOS DA DEFINIÇÃO DO PADRÃO BRASILEIRO DE TV DIGITAL 4.1 Introdução Este Capítulo tem por objetivo analisar os vários aspectos relacionados ao processo de definição do padrão brasileiro de TV Digital e seus principais impactos na cadeia produtiva da indústria eletroeletrônica. De fato, a definição de um padrão brasileiro de TV Digital deverá representar uma série de impactos em toda a cadeia produtiva da indústria eletrônica, incluindo a indústria de bens eletrônicos de consumo (televisores e equipamentos de recepção e demais acessórios), os fornecedores (fabricantes de peças, componentes, equipamentos, instalações e demais insumos) e serviços técnicos especializados (assistência técnica, requalificação e treinamento profissional), além de outros impactos decorrentes da estratégia, modelo de mercado a serem implementados. Apenas a título de ilustração da importância que tal fato representa para o futuro da indústria no Brasil, os negócios envolvendo a TV Digital correspondem a um montante de US$10 bilhões de investimentos dos fabricantes nos próximos dez anos, além de US$1,7 bilhões das emissoras, sem contar o mercado de serviços interativos que seja disponibilizado [51]. Dentro deste contexto, é realizado neste Capítulo uma análise estratégica das indústrias do segmento, aprofundando questões de suma importância para a viabilização da TV Digital, como aspectos mercadológicos e produtivos. Para isto, foi utilizada como fonte principal, o estudo realizado pela Núcleo de Pesquisa em Redes de Cooperação e Gestão do Conhecimento (REDECOOP) do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica – USP, o mais abrangente sobre o assunto já realizado até hoje no Brasil, o qual vem de encontro à proposta desta dissertação. Inicialmente será feito um panorama mundial e nacional da indústria de bens eletrônicos de consumo, diante do complexo eletroeletrônico. Posteriormente será feito Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 131 um breve panorama da adoção da TV Digital em outros países, e em seguida, o estudo se voltará para o mercado brasileiro de televisores, apresentando dados do mercado, como evolução da produção e da utilização da capacidade produtiva, e da balança comercial, além de apresentar um histórico dos fabricantes de televisores no país. Para tanto, o REDECOOP realizou uma pesquisa de campo junto aos fabricantes de televisores, e com o auxílio de um questionário elaborado exclusivamente para esta etapa da pesquisa, possibilitou a aquisição de uma grande quantidade de informações. Paralelamente, o REDECOOP iniciou um estudo sobre o impacto na balança comercial na adoção de um padrão de TV Digital, parte esta de elevada relevância se considerado que o complexo eletroeletrônico apresenta um déficit muito grande em sua balança. A indústria de componentes é uma das maiores responsáveis por este déficit, enquanto que os segmentos de imagem e áudio são superavitários, o que faz com que qualquer análise na balança comercial deva ser feita com um nível de detalhe mais aprofundado. Nesta análise, serão abordados três cenários distintos, cada qual com seu índice de nacionalização do produto verificando para cada um deles, como a balança comercial será afetada. Da mesma forma, em cada cenário será feito um estudo do impacto social no país, de forma a analisar o trade-off existente entre o impacto social e o impacto na balança comercial. Por fim, serão propostos os novos passos a seguir com o objetivo de analisar os impactos da definição do padrão em toda a extensão da cadeia produtiva. 4.2 Indústria de Bens Eletrônicos de Consumo 4.2.1 Panorama mundial Uma das características marcantes na economia mundial nas últimas décadas foi o crescimento expressivo do consumo de bens eletrônicos, resultado dos expressivos avanços tecnológicos por que passou o setor. Esse fenômeno se intensificou desde Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 132 meados dos anos 90, quando o fenômeno da globalização popularizou o consumo de bens eletrônicos sofisticados, antes restritos às parcelas mais abastadas da população, por meio das expressivas reduções dos custos decorrentes do aumento da especialização produtiva, e da forte elevação das escalas de produção. No início dos anos 20, a produção de bens eletrônicos no mundo, restrita a rádios e fonógrafos, respondia por cerca de US$20 bilhões. Após décadas de desenvolvimento tecnológico, o complexo eletrônico foi diversificado, e com isso houve a expansão do mercado, a Tabela 4. 1 mostra a evolução desse setor, em que a produção mundial do complexo eletrônico alcançou US$1,2 trilhões no ano de 2002, patamares bem superiores à década de 20 [53]. Tabela 4. 1 - Composição do mercado de produtos eletrônicos e de bens eletrônicos de consumo 2002 [53]. País EUA Japão China Alemanha Reino Unido Coréia do Sul França Canadá Itália México Taiwan Brasil Cingapura Total Bens Eletrônicos de Consumo US$ 26.798 11.656 9.171 4.879 5.516 2.210 3.158 2.735 2.394 1.743 646 2.181 1.056 95.167 Total Complexo Eletrônico US$ 380.004 194.005 105.064 59.649 59.547 39.713 38.605 28.854 27.792 27.777 22.950 22.303 21.889 1.253.059 % 7,1 6,0 8,7 8,2 9,3 5,6 8,2 9,5 8,6 6,3 2,8 9,8 4,8 7,6 Na Tabela 4. 1 pode-se verificar que o maior mercado consumidor é os EUA, cujo consumo alcançou em 2002 a cifra de US$26,8 bilhões, seguido do Japão com US$11,7 bilhões e China com US$ 9,2 bilhões, sendo o Brasil o 12o maior mercado consumidor, com um consumo total de US$ 2,2 bilhões em 2002 [53]. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 133 A Figura 4. 1 monstra a participação no mercado mundial, dos produtos que compõem o complexo eletrônico. Entende-se por complexo eletrônico, o conjunto de produtos e equipamentos, os quais são: componentes eletrônicos; bens eletrônicos de consumo; equipamentos para processamento de dados, para comunicação, para telecomunicações, para controle e instrumentação, médicos e de escritórios. Figura 4. 1 - Mercado mundial de produtos eletrônicos, 2002 [53]. Dentre a cifra total do complexo eletrônico, a indústria de bens eletrônicos de consumo alcançou US$95,2 bilhões em 2002, o que corresponde a 7,6% da produção do complexo eletrônico, na Figura 4. 1. A participação da indústria de bens eletrônicos de consumo já foi bastante superior aos patamares atuais, mas o crescimento dos mercados de equipamentos para processamento de dados, de componentes eletrônicos e de equipamentos para comunicações, especialmente a partir da década de 90, determinou a perda da posição relativa desse segmento. 4.2.2 O cenário brasileiro No Brasil, o mercado de bens eletrônicos de consumo, segundo Sá [53], alcançou em 2002 a cifra de US$2,2 bilhões, o que representa cerca de 10% do mercado de Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 134 produtos do complexo eletrônico no país. Todavia, esses dados contrastam fortemente com as informações da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (ELETROS), entidade patronal que representa as empresas do setor, que apontou um mercado interno de bens eletrônicos de consumo da ordem de US$5,3 bilhões, em 2001 com potencial para um salto de US$8 bilhões em 2008 [54]. Dados relativos aos anos 90, mostram um incremento das vendas internas de bens eletrônicos de consumo, sobretudo a partir do Plano Real em 1994, até 1996. Tal fato é devido às vendas de televisores, que até 1993 situavam-se na casa dos 2 milhões de unidades, subindo para 3,7 milhões em 1996. Já a partir deste ano, as vendas dos bens eletrônicos de consumo recuaram, recuperando apenas no ano 2000, em grande parte em virtude do lançamento dos aparelhos DVD, que somente no 1o semestre de 2002 foram vendidos 450 mil unidades. Ainda nos anos 90, as empresas empreenderam processos expressivos de reestruturação produtiva, através da racionalização do processo manufatureiro, flexibilização das linhas de produção e aumento da automação, o que permitiu a redução dos custos e o aumento da qualidade dos produtos. Como resultado, pode-se observar uma redução significativa dos preços desses produtos, da ordem de 40% entre os televisores, 50% dos videocassetes e 30% dos sistemas de som [54]. Já a partir de 1996, a crise impeliu as empresas a intensificarem os esforços de reestruturação, mas a retração do faturamento foi inevitável, em virtude inclusive da dificuldade de aumentar as exportações, devido o contexto de valorização cambial (até janeiro de 1999) e as restrições tarifárias da Zona Franca de Manaus. No que se refere aos produtores, o mercado brasileiro é bastante concentrado, já que as quatro maiores empresas (Philips, Itautec-Philco, LG e Semp-Toshiba), respondem por cerca de 2/3 do faturamento de todo o setor. Essas empresas importam os componentes eletrônicos discretos, particularmente os Surface Mounting Technology (SMT), e montam os bens finais no Brasil, a partir de bases produtivas na Zona Franca de Manaus. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 135 A Figura 4. 2 mostra as participações no mercado das principais empresas do segmento de televisores à cores. Figura 4. 2 - Market Share da TV a cores, 2001 [54]. Uma característica da indústria brasileira de bens eletrônicos de consumo é sua baixa inserção internacional, já que os investimentos realizados pelas empresas no Brasil foram direcionados ao atendimento do mercado doméstico. Uma análise mais detalhada da balança comercial do setor, que inclui além dos bens finais as partes e as peças, mostra que não se trata de um segmento largamente deficitário, pois apresentou em 2002 um déficit de US$130 milhões, pequeno se for comparada com o déficit total do complexo eletrônico que foi de US$3,1 bilhões, já que o coeficiente de exportações da indústria de bens eletrônicos de consumo é de apenas 13% do quociente das exportações sobre o consumo aparente [55]. A partir de 1999, nota-se uma tendência à redução das importações, que ultrapassaram a casa de US$1 bilhão no período de 1996/97, mas que reduziu para algo em torno de US$400 milhões a partir do ano 2000. Parte importante dessas compras externas refere-se às partes e peças, que respondem por cerca de 1/4 das importações da indústria de bens eletrônicos de consumo [55]. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 136 No Brasil, os dois itens mais importantes de exportações são televisores e autorádios, que respondem cada um por cerca de 45% das vendas externas totais. Somente as vendas de Televisores atingiram em 2002 um total exportado de US$124 milhões, ao passo que se importou US$8 milhões, o que revela um amplo saldo positivo de aproximadamente US$116 milhões. Esse superávit na balança dos televisores é resultado de dois fenômenos: a retração da demanda doméstica e as estratégias das empresas no Brasil de atender a América do Sul a partir de suas bases produtivas no Brasil. Tal fato se deve ao expressivo superávit no comércio bilateral com a Argentina, cujo saldo positivo ultrapassou o patamar de US$100 milhões em toda a indústria de bens eletrônicos de consumo, mesmo com as restrições comerciais impostas às empresas localizadas na Zona Franca de Manaus. Mas, por outro lado, o Brasil ainda apresenta déficits expressivos em relação aos países asiáticos, como Coréia do Sul (US$220 milhões), Japão (US$132 milhões), China (US$106 milhões), Malásia (US$80 milhões) e Hong Kong (US$75 milhões) [55]. A Tabela 4. 2 mostra os dados referentes à balança comercial de 2003, que aponta um superávit de US$111 milhões, isto devido em grande parte a estagnação econômica, a política de incentivo as exportações, e a alta do dólar ocorridos no primeiro ano do Governo Lula, 2003, como também, ao salto registrado no segmento de rádios e auto-rádios. Tabela 4. 2 - Balança comercial (2003) setor de imagem e som [56]. Imagem e Som Exportações US$ Importações US$ Saldo US$ Rádios-Gravadores Rádios e Auto-Rádios Sistemas de Som Compact Disc Players TV em Cores Videocassete Digital Vídeo Disco (DVD) TVC de Projeção Camcorders Total 3.651.757 126.788.644 636.586 606.152 77.818.591 252.602 1.385.275 13.764 0 211.153.371 41.765.274 31.716.985 4.380.644 6.105.038 2.770.211 651.023 8.434.862 4.127.628 0 99.951.665 -38.113.517 95.071.659 -3.744.058 -5.498.886 75.048.380 -398.421 -7.049.587 -4.113.864 0 111.201.706 Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 137 A Tabela 4. 3 mostra os dados referentes à balança comercial de 2004, bens eletrônicos de consumo final, em particular o setor de Imagem e Som, pode-se notar que o ano 2004 seguiu a mesma tendência dos anos anteriores a 2003, ou seja, um déficit acumulado no setor de aproximadamente US$13 milhões. Este déficit é ocasionado principalmente, pelos segmentos de rádios-gravadores, sistemas de som, cd player, TVC de projeção e DVD Players, sendo que no seguimento de Rádios, Auto-Rádios e TV em Cores ocorre um superávit considerável. É importante dizer que o DVD Player, no ano de 2004, aumentou consideravelmente o seu volume de importação com relação ao ano de 2003, pois passou a ser o principal objeto de consumo das classes menos favorecidas, isto resultou em uma queda nos preços, tornando o bem mais accessível e popular entre os bens eletrônicos de consumo. Tabela 4. 3 - Balança comercial (2004) setor de imagem e som [56]. Imagem e Som Exportações US$ Importações US$ Saldo US$ Rádios-Gravadores Rádios e Auto-Rádios Sistemas de Som Compact Disc Players TV em Cores Videocassete Digital Vídeo Disco (DVD) TVC de Projeção Camcorders Total 6.670.373 86.101.135 717.031 72.029 99.580.672 1.078.776 4.801.006 60.893 0 199.081.915 81.690.335 34.508.722 5.901.762 4.248.009 10.618.989 120.532 72.707.644 2.335.145 0 212.131.138 -75.019.962 51.592.413 -5.184.731 -4.175.980 88.961.683 958.244 -67.906.638 -2.274.252 0 -13.049.223 No que se refere a balança comercial do complexo eletrônico, que inclui os bens eletrônicos de consumo, a mesma apontou um déficit de US$6,70 bilhões no valor acumulado entre janeiro e novembro de 2004, resultado 39,3% superior ao apontado em igual período de 2003, quando o saldo negativo atingiu US$4,81 bilhões. Este resultado desfavorável, foi conseqüência do incremento de 25,2% das importações e de 9,8% das exportações. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 138 Figura 4. 3 – Balança comercial de produtos eletroeletrônicos [57]. As exportações de produtos do setor atingiram US$512,1 milhões no mês de novembro de 2004, apontando o segundo maior resultado mensal registrado nos últimos três anos, ficando abaixo apenas do mês de outubro/2004, período em que as vendas externas totalizaram US$550,4 milhões, como mostra a Figura 4. 4. Figura 4. 4 – Evolução das exportações [57]. Já as importações do mês de novembro 2004 foram as maiores dos últimos 3 anos, atingindo US$1,27 bilhão, como mostra Figura 4. 5. Se comparadas com as ocorridas no mês período de 2003, as importações cresceram 25,9%. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 139 Figura 4. 5 - Evolução das importações [57]. Quando se fala em importação do setor eletroeletrônico é importante esclarecer que esses dados referem-se ao complexo eletroeletrônico como um todo, o que inclui importação de insumos realizada pelos setores de informática, telecomunicações, eletrônica de consumo, automação industrial e outros componentes. Neste sentido, é fundamental ressaltar que o grande déficit comercial registrado no complexo eletroeletrônico não diz respeito aos bens de consumo eletroeletrônico. Apesar disso, de forma insistente e repetida, diversos setores, e inclusive o governo apontam o setor de eletroeletrônica de consumo como o principal responsável pelo grande volume de importação do complexo eletroeletrônico e, conseqüentemente, pelo déficit comercial do mesmo. Portanto, é fundamental que seja lembrada e ressaltada a diferença entre o complexo eletroeletrônico como um todo, e o setor eletroeletrônico de consumo. Tanto é que existe, inclusive, duas entidades distintas a representar esses setores, de fabricantes de componentes, que reúne fornecedores de insumos e componentes, está agrupado, empresarialmente na Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (ABINEE). Já os fabricantes de eletroeletrônicos de consumo, que inclui todos os segmentos de produtos desta categoria vendidos para os consumidores, tais como televisores, aparelhos de som, DVDs, geladeiras, lavadoras de roupa e de louça, fogões, batedeiras liquidificadores, ferros de passar e inúmeros outros bens que estão presentes nos lares brasileiros, Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 140 agrupam-se na Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (ELETROS). 4.2.3 Marcos institucionais relevantes da indústria de bens eletrônicos de consumo no Brasil A indústria de bens eletrônicos de consumo no Brasil mostra ao menos dois marcos institucionais muito importantes, distintos, porém complementares, para organização de sua estrutura produtiva: a Zona Franca de Manaus e o Processo Produtivo Básico (PPB). Esses dois marcos institucionais influenciam fortemente a estrutura produtiva da indústria brasileira, exercendo efeitos importantes sobre sua dinâmica. 4.2.3.1 A Zona Franca de Manaus (ZFM) A compreensão da forma de organização da indústria de bens eletrônicos de consumo no Brasil não pode prescindir de uma discussão sobre a Zona Franca de Manaus, já que desde 1967 existe uma regulamentação específica de estímulo para as indústrias de material elétrico, eletrônico e de comunicações (Decreto-Lei no. 288/67, alterado pelo Decreto- Lei 1.435/75 e depois pela Lei 8.387/91). Tal iniciativa esteve vinculada a objetivos geopolíticos e da redução das disparidades regionais a partir de um conjunto de incentivos fiscais para as empresas lá estabelecidas. A Zona Franca de Manaus permite o livre comércio de importação e exportação no seu interior, além de incentivos fiscais como se segue [54]: • Isenção do imposto sobre produtos Industrializados (IPI); • Redução do imposto de importação incidente sobre insumos utilizados na fabricação local de produtos destinados ao resto do país; Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital • 141 Equiparação à exportação, para efeitos fiscais, da venda de mercadorias do restante do país para a ZFM, compreendendo isenção do IPI e do ICMS sobre as compras das empresas da ZFM; • Isenção do IPI e do ICMS sobre as vendas de produtos da ZFM no exterior e no restante do país, e; • Redução de 25% para 10% no IOF sobre as operações de câmbio relativas às importações. Esse conjunto de incentivos foi sendo renovado até a Constituição de 1988, que assegura às empresas a manutenção desses incentivos até 2013, quando em tese deverão ser extintos. Vale apontar que as vendas de produtos fabricados na ZFM não gozam dos benefícios do acordo comercial no âmbito do Mercosul, já que foi decidido que as Zonas Francas (assim como ocorre no caso argentino da Patagônia) devem pagar a Tarifa Externa Comum (TEC), como se fossem países fora do Mercosul. Outro ponto a ser notado é que os incentivos para a instalação de empresas na ZFM não se restringem ao complexo eletrônico. Todas as empresas industriais podem estabelecer unidades produtivas na região e gozar dos benefícios da lei. Tanto é que existem empresas de outras indústrias atuando na região, como materiais de transporte (motocicletas) e higiene pessoal e de cosméticos. No caso da indústria brasileira de bens eletrônicos de consumo, 14 empresas montadoras se concentram na ZFM – a única exceção entre as empresas de grande porte é a planta da Ford, localizada em Guarulhos, estado de São Paulo. Os bens eletrônicos representam 84% do faturamento da ZFM, que movimenta cerca de R$20 bilhões e gera 46 mil empregos. A renúncia fiscal é avaliada em algo em torno de R$3 bilhões [54]. Até 1993, esses incentivos estavam condicionados ao índice mínimo de nacionalização, que exigia a nacionalização de parte das operações que eram realizadas Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 142 pela empresa. Desde 1993, o índice mínimo de nacionalização foi substituído pelo Processo Produtivo Básico (PPB), que é discutido na próxima seção deste Capítulo. 4.2.3.2 O Processo produtivo básico (PPB) O chamado PPB foi criado em 1993 (Lei 8387/91 e Decreto 783/93) em substituição ao antigo índice mínimo de nacionalização. Ele é definido como o conjunto mínimo de operações manufatureiras, no estabelecimento fabril, a serem realizadas no país, para cada produto ou família do produto, que caracteriza sua efetiva industrialização, utilizando como critério a agregação de valor local. O PPB incide sobre quatro das operações tradicionais de manufatura: transformação, beneficiamento, montagem e recondicionamento [54]. Quando da instauração, o PPB tinha como objetivo adotar formas de intervenção mais moderadas, em comparação com a antiga reserva de mercado. O responsável pela sua aferição é o Governo Federal, por meio do Ministério da Ciência e da Tecnologia, do Ministério da Fazenda e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Todavia embora o PPB tenha tido um papel importante no estabelecimento e na manutenção de plantas montadoras de produtos finais no Brasil, a reestruturação do complexo eletrônico e a abertura comercial nos anos 90, tornaram-no pouco eficaz para garantir níveis expressivos de agregação local de valor. 4.3 Mercado Brasileiro de Televisores em Cores 4.3.1 Domicílios e televisores O Brasil possui cerca de 45 milhões de domicílios. Destes, aproximadamente 85% contam com pelo menos um televisor, perfazendo um universo de 38 milhões de lares com receptor de televisão. A distribuição de televisores não é uniforme, estando Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 143 concentrada nos lares com maior poder aquisitivo. A maioria dos domicílios das classes sócio-econômicas A e B contam com mais de um receptor, conforme mostrada na Tabela 4. 4. Tabela 4. 4 – Distribuição de televisores por classes sociais. (fonte: IBOPE – Março/2001) TVs por Domicílio 1 2 3 ou 4 5 ou mais TOTAL Classe Sócio-Econômica A 2% 20 % 62 % 16 % 100% B 17% 45 % 36 % 2% 100% C 52% 40 % 7% 0% 99% D 81% 12 % 1% 0% 94% E 55% 2% 0% 0% 57% Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (ELETROS), entre o início e meados da década de 90, os aparelhos de 14 e 20 polegadas respondiam por 95% das vendas mas, desde então, vem ocorrendo uma acentuada migração para as telas acima de 25 polegadas. A estimativa de alguns fabricantes do setor é que, por volta de 2002, esses produtos deverão responder por 25% das vendas. 4.3.2 Expectativa da queda de preços Toda tecnologia, quando introduzida no mercado, apresenta preços elevados. Posteriormente, com a produção em grande escala, os preços caem até atingir um patamar de equilíbrio. Quando a televisão a cores foi introduzida no Brasil, no começo da década de 70, seus preços eram elevados para a maioria da população. Hoje, a televisão é um bem de consumo durável com preços bastante acessíveis a todos. Verifica-se que a queda de preços dos televisores a cores de 20 polegadas, entre 1975 e 2001 está na proporção de 4:1, em dólares. Entretanto, isso não justifica o aparente custo proibitivo que a televisão a cores tinha quando de sua introdução. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 4.4 144 TV Digital e a Realidade Brasileira A televisão faz parte do cotidiano da sociedade, desde seu advento, em meados da década de 20, tendo desde então uma forte penetração em todas as camadas da população mundial. No Brasil onde a penetração da TV Analógica chega a 89,9% dos domicílios, índice maior até que o de abastecimento de água 82,0% [52], a TV constitui em um verdadeiro instrumento de integração nacional. Mesmo com tantas diferenças culturais, sociais e econômicas, consegue-se unir o país através dos serviços de informação e entretenimento prestados pela TV, transmitidos por sinais analógicos em um país de grandes dimensões continentais, difundindo assim, o patrimônio cultural, artístico e histórico. Atualmente, algumas décadas depois do advento do televisor, o Brasil se vê diante de um novo salto tecnológico na qualidade da TV, ou seja, a definição do novo padrão de TV Digital, a exemplo de outros países como EUA, Europa, Japão, etc., que já definiram e adotaram padrões de alta definição, que serão relatados neste artigo. A TV Digital de Alta Definição Definition Television (HDTV) surgiu no início da década de 80 no Japão, que apresentou ao mundo um sistema analógico de alta definição denominado Multiple Sub-Nyquist Sampling Encoding (MUSE). Tal sistema, embora complexo e dispendioso, foi comercialmente implementado no Japão, obtendo algum sucesso, mas apenas para transmissão via Satélite, pois o mesmo requer uma largura de faixa de aproximadamente 30MHz, inviabilizando a transmissão do sinal analógico de alta definição. No início dos anos 90, coincidindo com o começo da “era digital”, americanos, europeus e japoneses interessaram pela transmissão de HDTV no padrão digital, ou seja, a transmissão de televisão via sinais puramente digitais. Para isso grupos de trabalhos/comitês foram instituídos, no intuito de definir as diretrizes dos sistemas terrestres de difusão digital, culminando assim, na definição e na normalização dos Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 145 seguintes padrões: americano Advanced Television System Committee (ATSC); europeuDigital Video Broadcasting (DVB); japonês Integrated Service Digital Broadcasting (ISDB), e o padrão chinês Digital Multimedia Broadcast (DMB), o qual ainda está em fase de desenvolvimento [58]. O Brasil seguiu a mesma tendência mundial, e em 1994 foi instituído um grupo de estudos, constituído pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Associação Brasileira de Rádio e Televisão (ABERT), Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) e a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Padre Roberto Landell de Moura (CPqD), que até hoje trabalham em conjunto com o Governo Federal e seus Órgãos Governamentais, Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), na definição de um sistema de transmissão digital [58]. Em 1999, o Laboratório de TV Digital da Universidade Mackenzie, em associação com o grupo ABERT/SET e CPqD, realizou os seguintes testes em cada um dos três padrões ATSC, DVB-T e ISDB-T [59]: • interferência entre sinais analógicos e digitais, que tem o objetivo de determinar qual á tolerância do sistema digital a interferências provocadas pelos canais analógicos; • cobertura do sinal transmitido, visando determinar a área de cobertura de cada padrão, utilizando a mesma potência de transmissão, como também, analisar o desempenho dos receptores em áreas de sombra e nas fronteiras de cobertura; • condições domésticas de recepção, que analisa a qualidade de recepção em diversos ambientes domésticos utilizando antenas internas e externas, determinando o desempenho do receptor em canais normalmente encontrados pelo receptor, e; • qualidade de recepção móvel, determina a viabilidade e a tolerância do sistema a mobilidade do receptor. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 146 Os resultados obtidos nos testes demonstraram que a modulação COFDM, utilizada pelos padrões europeu e japonês, apresenta melhor desempenho nas mais diversas condições de recepção, utilizando tanto antena interna quanto antena externa. O padrão japonês ISDB-T, apresentou melhor desempenho que o sistema europeu DVBT, pois possui maior robustez e flexibilidade quanto à mobilidade do receptor. O padrão americano ATSC apresentou deficiências de recepção doméstica utilizando antena interna, ou seja, em canais de multipercurso onde não existe “visada direta”. O padrão americano ainda apresentou baixo desempenho em áreas de sombra e mostrou-se incapaz de utilizar a recepção móvel. Com isto, de posse das conclusões provenientes dos testes, o grupo citado acima, recomendou a utilização da modulação utilizada pelos padrões europeu e japonês. Mas, infelizmente, inúmeras discussões entre fabricantes de televisores e componentes representados pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (ELETROS) e pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), emissoras de televisão (Grupo ABERT/SET), Governo (Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia e ANATEL) e Universidades e Laboratórios (USP, Instituto Genius, CPqD) acabaram atrasando a escolha do padrão, o que ainda não foi feito. A “novela” da escolha do padrão vem sendo desencadeada desde a gestão do Governo Fernando Henrique, sendo que na gestão do Governo Lula, o país evoluiu de um estado de letargia e absoluta ausência de estratégia de Governo para uma situação de intensa vontade política em relação à implantação da TV Digital Aberta no Brasil. Atualmente, especula-se a criação de um padrão brasileiro, que possa ser inclusive adotado por outros países, de forma a viabilizar as exportações de componentes, equipamentos e aparelhos do Brasil para esses países. Alguns grupos defendem que o Brasil possui competência técnica, científica e industrial para desenvolver rapidamente qualquer padrão de TV Digital estabelecido a partir de sua realidade, com possibilidades concretas de exportação, como ocorreu na TV Analógica, mas, porém, outros grupos Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 147 defendem que seja tomado um dos padrões como base para então adaptá-lo às necessidades brasileiras, ou seja, o “padrão importado” [59]. 4.5 Políticas Estruturais de Definição e Implantação do Modelo Nacional Tv Digital Aberta No Brasil, a implantação do sistema de TV Digital, deve ocorrer de maneira organizada, para que a sociedade em geral não seja prejudicada e para que as emissoras de TV e fabricantes não tenham prejuízos, já que os investimentos demandados na digitalização são altos. Em função da estratégia adotada, uma série de políticas públicas deve ser estabelecida. Cita-se aqui alguns exemplos [16]: • política de transmissão simultânea do analógico e digital, já que os dois sistemas coexistirão ao longo da transição analógica para digital; • cronograma de digitalização dos canais, baseadas no espectro dos canais analógicos já disponíveis; • fomento a novas redes puramente digitais, ou seja, disponibilidade de novos canais digitais, além da digitalização dos canais existentes; • oferta de serviços de utilidade pública interativos, com a oferta de serviços interativos de interesse do estado e da população; • fortalecimento das TVs Educativas, que tiveram um papel fundamental na implantação da TV Analógica; • política de inclusão digital, adoções de políticas governamentais para promover a inclusão da população que não possui acesso á informação de conteúdo digital, como a Internet; Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital • 148 estabelecimento de estações piloto de TV Digital, que poderão servir como verdadeiros laboratórios experimentais de testes e avaliações nas etapas iniciais de implantação da TV Digital; • estabelecimento de uma política industrial no setor eletroeletrônico, exigindo além do alto grau de nacionalização, a valorização da propriedade intelectual, constituindo-se sem uma oportunidade real de fomentar indústrias nacionais de semicondutores; • exigência de plataformas de terminal de acesso abertas para fomento à indústria de software, propiciando o desenvolvimento do segmento de pequenas e médias empresas, voltadas para o desenvolvimento de software e para aplicações da TV Digital e dos serviços interativos; • estabelecimento de um sistema de ensino e formação em TV Digital, para formação de técnicos e engenheiros que atuaram no novo sistema; • desenvolvimento do padrão nacional, para o desenvolvimento do mercado interno, visando a exportação e o não pagamentos de patentes e royalties aos detentores dos padrões já desenvolvidos. 4.6 A Posição do Governo Brasileiro Quando uma decisão afeta de forma tão intensa um produto que está presente em 90% de 51,6 milhões [52] de lares brasileiros, o governo certamente deve ter uma grande participação nas discussões a seu respeito. A TV Digital, em especial, envolve a participação de diversos Ministérios, como o Ministério das Comunicações e o Ministério da Ciência e Tecnologia, devido às regulamentações que cabem a eles desenvolverem, e o Ministério da Indústria e Comércio, pois a balança comercial tem sido um item de suma importância para a manutenção da estabilidade econômica nos governos pós-real. Além disso, a ANATEL, que regula todo o espectro de freqüências dentro do território brasileiro. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 149 De acordo com os agentes ligados à implantação da TV Digital, as negociações com as principais partes envolvidas começaram ainda no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, mas vêm se estendendo até os dias de hoje. Após os testes realizados, a ANATEL tinha dado por encerrada a discussão técnica sobre o assunto, colocando que a partir dali seriam feitas as discussões sobre o “Modelo de Negócio” a ser adotado, envolvendo os benefícios esperados da TV Digital, além das discussões acerca do espectro de freqüência no Brasil. Porém, ao longo das discussões, foi-se percebendo que o impacto na balança comercial poderia ser grande caso os aparelhos e equipamentos da TV Digital fossem fabricados no exterior. Isso levou à sugestão de um padrão estritamente nacional, com o intuito de minimizar este impacto. Com o decreto do então Ministro das Comunicações Miro Teixeira, que instituía o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), foi criado o Comitê de Desenvolvimento do SBTVD, que tem como objetivos principais a definição do modelo de negócio da TV Digital terrestre no Brasil, a definição do padrão a ser adotado e a forma de exploração do serviço, como a concessão do espectro de freqüência às emissoras e a definições sobre o período de transição do sistema analógico para o sistema digital, garantindo que o usuário possa aderir ao sistema quando o desejar, a um custo compatível com a sua renda. As principais diretrizes deste comitê devem ser aquelas propostas pela ANATEL, que são: • promover a inclusão digital; • atualizar e revitalizar o setor de radiodifusão e a indústria eletrônica nacional; • otimizar o uso do espectro de radiofreqüências; • melhorar a qualidade de áudio e de vídeo; • contribuir para a convergência dos serviços de telecomunicações; • baixo custo e robustez na recepção (voltado às classes mais baixas), e; • flexibilidade e capacidade de evolução (para a classe alta). Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 150 Através do desenvolvimento do SBTVD, o governo também espera estimular o desenvolvimento tecnológico e a indústria nacional através da formação de pesquisadores, da capacitação da indústria instalada e do estímulo ao comércio exterior, resultando em saldos comerciais favoráveis. Alguns destes objetivos poderiam ser alcançados caso fosse favorecida a adoção do mesmo padrão por países latinoamericanos, integrando centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). A questão da inclusão digital está diretamente ligada à inclusão social, grande preocupação do governo atual. A idéia básica é que com mais informação e instrução, os trabalhadores tenham sua produtividade aumentada e, conseqüentemente, possam receber salários mais elevados. Com o intuito de auxiliar o Comitê de Desenvolvimento do SBTVD, foi criado em maio de 2004 o Comitê Consultivo, formado por pesquisadores de universidades, entidades da indústria e representantes dos próprios Ministérios ligados à TV Digital. 4.7 O Panorama da TV Digital no Mundo Muitos são os países que já iniciaram transmissões no sistema digital. Aqui será mostrado um panorama da situação nestes países que será útil para uma comparação posterior com o Brasil. 4.7.1 Estados Unidos Os Estados Unidos foi o primeiro país a pesquisar a TV Digital. No final dos anos 80, foi iniciada a discussão sobre “televisão avançada”, mais precisamente HDTV. Em 1987, a Comissão Federal de Comunicações dos EUA criou um comitê para elaborar um plano político e técnico sobre “televisão avançada”. Em 1993, o comitê já havia descartado 23 propostas de sistemas de “televisão avançada”, quando foi formada a Grande Aliança, que veio a divulgar o ATSC em 1996. Hoje, o ATSC é uma organização Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 151 composta por 140 membros (entre empresas, universidades e centros tecnológicos) e é encarregada da normatização a utilização do padrão, inclusive por outros países. No final de 1998 as emissoras americanas começaram a transmitir alguns programas em HDTV. Mas nos Estados Unidos o sistema ATSC ainda não fez sucesso. As previsões iniciais apontavam uma transição total para o sistema digital até 2006, mas o que se registrou foi à baixa adesão do serviço, principalmente devido à boa qualidade das transmissões a Cabo e Satélite, que possuem mais de 80% de penetração nos lares; à baixa oferta de serviços adicionais da TV Digital, e o preço elevado dos aparelhos de HDTV Standard (U$4.000,00) e Set-Top Box (U$400,00). Hoje, a penetração da TV Digital nos EUA é de menos de 40% (incluindo as transmissões via Cabo e Satélite), e há previsões de que no final de 2005 ela estará em 50%. Cabe lembrar, porém, que a grande maioria desses lares com recepção digital possui o Set-Top Box e não o televisor integrado [59]. 4.7.2 Canadá No Canadá, o Canadian Radio and Telecommunications Commissifon (CRTC) apontou o ano 2004, desde a implementação do padrão ATSC em novembro de 1997, como o ano de maior crescimento do mercado de TV Digital no país. A baixa adesão, no Canadá, deve principalmente pela alta penetração da TV a Cabo, cerca de 70% dos domicílios, sendo que 30% destes já possuem TV Digital a Cabo [60]. 4.7.3 México O México anunciou a adoção do padrão ATSC em julho de 2004, e até 31 de dezembro de 2006 implantará a transmissão digital terrestre em suas principais cidades, como: Cidade do México, Guadalajara e Monterrey, que fazem fronteira com EUA. A Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 152 decisão do país vai de encontro aos interesses dos EUA, na formação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) [61]. 4.7.4 Coréia do Sul, Taiwan e Argentina A Coréia do Sul já transmite para Seul com o padrão ATSC, mas a expansão do serviço foi cancelada para estudar a adoção do DVB-T, Taiwan já admite uma possível revisão do padrão ATSC adotado e a Argentina chegou a divulgar em outubro de 1998, a adoção do padrão ATSC, mas revogou a decisão, aguardando maior definição do cenário internacional [62]. 4.7.5 Reino Unido Na Inglaterra, as transmissões em TV Digital Aberta no sistema DVB, começaram já em 1998 com a empresa iTV, porém, com baixa adesão pelo fato de já distribuir TV Digital Paga, fato que levou a empresa à falência. Hoje, porém, com aproximadamente 45% de penetração, somando-se todos os meios de transmissão, o Reino Unido mostra o mercado mais avançado em termos de TV Digital. Mesmo assim, três das quatro operadoras de TV Digital encontram-se em dificuldades financeiras. Interessante é o fato de que a BSkyB, operadora de TV Digital via Satélite, ao contrário das terrestre, está incrementando cada vez mais o número de assinantes [59]. 4.7.6 Alemanha A Alemanha, pais que adotou o DVB, destaca-se entre todos os países que já transmitem TV Digital por ter sido o único país que radicalmente aboliu a transmissão analógica em uma de suas regiões, a região da grande Berlim, Brandenburgo. Desde agosto de 2003, existem apenas transmissões digitais nesta região, uma das mais populosas do país. Na época, a quantidade de aparelhos com recepção digital (TV Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 153 integrada ou Set-Top Box) era de 88%, ou seja, 12% da população acabou sendo obrigada a comprar um receptor digital para não ficar sem recepção. A política governamental é que esta experiência se repita em outras regiões do país, mas sempre analisando qual a porcentagem da população local que possui aparelhos com recepção digital. Atualmente, a penetração nacional da TV Digital na Alemanha é de apenas 11%, com expectativa de superar 20% em 2005. Cabe destacar aqui que as operadoras de TV Digital na Alemanha também são pagas, e algumas delas, inclusive, não são terrestres, mas via Cabo, já que a penetração da TV Analógica a Cabo no país é de quase 60% [59]. 4.7.7 Espanha A Espanha possui transmissões digitais desde 1999. Apesar de possuir hoje cobertura de 85% de seu território com antenas, apenas 21% da população possui receptores digitais. Além disso, a primeira operadora de transmissões digitais, a TV Quiero, acabou indo a falência, assim como a iTV no Reino Unido. O fato de ser um serviço tão caro quanto comparado à transmissão a Cabo, e ainda oferecer menos canais, definitivamente contribuiu para sua falência. Comparando com as outras operadores na Europa, as empresas espanholas são as que acumulam mais prejuízo no setor [59]. 4.7.8 Austrália Adotando uma variação do padrão europeu-DVB, que adaptava a faixa de onda do canal de 8MHz para 7MHz (o padrão local), a Austrália iniciou suas transmissões em 2001, através de um decreto governamental que obrigava as emissoras a disponibilizar 20 horas de conteúdo por semana em transmissões digitais de alta definição (HD) ao mesmo tempo em que não podia deixar de transmitir em baixa definição (SD). Essa ação Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 154 mostrou-se inapropriada, acarretando uma implementação mal-sucedida do modelo. A penetração da TV Digital na Austrália, até o momento, é inferior a 5% [59]. 4.7.9 Índia, Nova Zelândia e Cingapura Após 18 intensos meses de pesquisas e testes a Índia adotou o sistema DVB em julho de 1999, e em 2002 realizou os primeiros testes na cidade de Delhi [63]. A Nova Zelândia já escolheu seu padrão digital, o DVB. Atualmente, os desenvolvimentos estão voltados para a transmissão digital via Satélite, sendo que ainda não foi determinada a introdução dos serviços digitais terrestres [63]. Cingapura aderiu ao padrão DVB em 1999, e a empresa Terrestrial Broadcaster MediaCorp, já tem planos para iniciar as transmissões digitais terrestres em 2005 [63]. 4.7.10 Japão As pesquisas com HDTV iniciaram no Japão no começo da década de 80, e já no começo dos anos 90 estava disponível à população a HDTV analógica. Formalmente, as pesquisas com TV Digital iniciaram em 1994 e em meados de 1999 foi apresentado o ISDB-T, o padrão japonês para a TV Digital. Até hoje, os testes feitos com os três padrões existentes revelaram que tecnicamente o padrão japonês é aquele que apresenta as melhores performances. Obviamente, a questão do pagamento de royalties deve ser avaliada na eventual escolha de um dos três padrões existentes. A penetração da TV Digital no país também não acompanha o esperado, mesmo sendo a população japonesa ávida por novas tecnologias. Por outro lado, entretanto, a HDTV Analógica já oferece uma qualidade de imagem bem superior ao padrão mundial dos televisores analógicos e existe no país há mais de uma década. As previsões apontavam uma penetração de 50% até 2006, o que pode ser conseguido com a ajuda de eventos esportivos, como a Copa do Mundo de Futebol na Alemanha em 2006 [59]. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 4.7.11 155 China Assim como o Brasil, a China estuda o desenvolvimento de um padrão próprio, que deve ficar pronto ainda em 2005. Apesar disso, já ocorreram transmissões digitais no país, desde 1999, utilizando experimentalmente, tanto um padrão muito próximo ao americano, como um padrão muito similar ao europeu. Como metas, o governo chinês planeja que em 2008 haverá uma enorme procura por televisores digitais ou Set-Top Box devido às Olimpíadas de Pequim, que serão transmitidas diversas modalidades simultaneamente. Nesse país a previsão do fim das transmissões analógicas é mais realista do que a previsão de outros países e está planejada para 2015. O mercado de televisores chinês é o maior do mundo com aproximadamente 350 milhões de televisores, sendo que o crescimento esperado para os próximos anos é de 20 milhões de aparelhos por ano, bem maior do que no mercado brasileiro. Esses números espantosos mostram o tamanho do mercado chinês: espera-se que o Set-Top Box chegue ao mercado custando aproximadamente US$200,00 o que resultaria, apenas a compra de aparelhos para os televisores já existentes, em um mercado de US$70 bilhões. Se fosse considerado o crescimento anual e as taxas pagas pelos serviços da TV Digital, esse mercado seria muito maior. No passado o Brasil cogitou desenvolver um padrão em conjunto com a China, mas a possibilidade de se desenvolver já parece bastante remota, visto que atrasaria ainda mais a introdução essa TV Digital nos dois países, apesar dos governos de ambos os países afirmarem que seria uma ótima oportunidade. A China pode muito bem se tornar um parceiro no desenvolvimento de produtos para a TV Digital, mas dificilmente os padrões brasileiro e chinês seriam iguais [59]. 4.8 O Sistema Brasileiro de TV Digital O processo de digitalização da TV consiste basicamente em um único aspecto fundamental: a digitalização de canais de TV atualmente existentes, ou seja, ao invés da Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 156 transmissão ser puramente analógica, a produção, transmissão e recepção dos sinais por bits de informação, permitindo não só a transmissão de sinais de vídeo, mas também a troca de informações diversas. A Figura 4. 6 apresenta a atual situação da TV Aberta no Brasil. Observe que as emissoras já possuem estúdios digitais. Entretanto, o grande problema são os investimentos necessários à digitalização da infra-estrutura de transmissão frente a um modelo de negócios estagnado. O atual padrão de modulação analógico e a atual política de concessões de exploração de sinal, ambos obsoletos, levam as emissoras a um modelo estagnado, gerando a grave crise do setor. EMISSORA DE TV ANALÓGICA ABERTA PRODUÇÃO DIGITAL TRANSMISSÃO ANALÓGICA RECEPÇÃO ANALÓGICA Figura 4. 6 - Atual situação da TV Aberta no Brasil [16]. Figura 4. 7 - Cenário futuro da TV Digital Aberta no Brasil [16]. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 4.8.1 157 A escala de tempo da TV Digital Com base no desenvolvimento da TV Digital em outros países, é possível representar o processo de implantação da mesma em fases e estimar o tempo necessário para cada fase. As principais fases identificadas são as seguintes: • Estudos iniciais: basicamente quando um país começa a considerar a transmissão da TV Digital; • Testes de tecnologias: teste dos padrões e modulações existentes. Pode-se decidir adotar um padrão existente, com algumas adaptações, ou desenvolver um novo padrão, o que resulta em um maior período de implantação da TV Digital; • Definição de políticas e regulamentações: compreende toda a discussão política sobre a criação de agências reguladoras e mesmo políticas de implantação, além do processo de adoção do padrão, conforme definido nos testes de tecnologias. A definição do padrão (sistema) não depende somente de quesitos tecnológicos. Outros fatores como facilidades de exportação, desenvolvimento de competências nacionais e compatibilidade com as características do país também são levados em consideração no momento da escolha do padrão. É possível que esta fase confunda-se com a fase anterior; • Introdução do sistema digital em caráter experimental: o período inicial de transmissões em TV Digital, adotado até que se atinja cerca de 15% dos lares; • Transição: período de coexistência da TV Digital com a TV Analógica; • Consolidação: período em que a TV Digital já possui mais de 90% de penetração e o sinal analógico já está quase extinto. A Figura 4. 8 ilustra a duração estimada de cada fase descrita acima. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 158 O desenvolvimento e a total implantação da TV Digital até o desligamento do sinal analógico está previsto para durar entre 15 e 25 anos. Esta estimativa está baseada na experiência dos países mais avançados neste quesito e nas previsões de diversas fontes ligadas ao assunto. É interessante também que as previsões iniciais diziam que o desligamento do sinal analógico em alguns países poderia ocorrer já em 2006, mas esta data já foi revista e muitos já acreditam que mesmo os países mais avançados só vão completar a transição após 2010. Figura 4. 8 - O processo de implantação da TV Digital [59]. 4.9 Perspectivas para a Cadeia Nacional de Fabricação de Bens de Consumo de Televisores Digitais Como principal tarefa deste Capítulo, tem-se a identificação da cadeia produtiva da TV Digital e o estudo do principal elo da mesma: os fabricantes de televisores. A pesquisa de campo realizada pela equipe da REDECOOP estava preocupada justamente nesse ponto-chave da cadeia e buscou investigar quais seriam os fornecedores destas empresas, ou seja, um elo à montante na cadeia. Como principal dado a ser conseguido, tem-se quais componentes são importados e quais são fabricados no Brasil, o que Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 159 habilitaria uma futura análise dos impactos na balança comercial deste setor e do futuro mercado da TV Digital. 4.9.1 A Cadeia produtiva da TV Digital A TV Digital abrange diversos setores da economia e não somente as emissoras e os fabricantes de televisão. O conceito de cadeia produtiva envolve justamente todos os setores que são “tocados” por algum ramo da TV Digital, seja em maior ou em menor grau. Dessa forma, é possível desmembrar a cadeia dessa TV Digital, sob uma perspectiva mais superficial, em três grandes blocos, que seriam geração, transmissão, recepção: • Geração: aprofundando este elo, envolve a produção do conteúdo, englobando a fabricação dos equipamentos para tal e toda a cadeia de fabricação dos mesmos, além de toda a rede de serviço das emissoras; • Transmissão: engloba a fabricação dos equipamentos de transmissão e também das antenas, além das chamadas retransmissoras de sinais, que possuem normalmente uma pequena infra-estrutura instalada além da antena; • Recepção: envolve a fabricação dos equipamentos que têm como destino o usuário final do produto “televisão” e a distribuição dos mesmos, sejam eles de recepção fixa ou móvel. Além disso, abrange a futura oferta de serviços que virão com a TV Digital e toda a cadeia por trás destes serviços. O foco deste estudo é justamente a fabricação dos equipamentos de recepção, sendo que este elo da cadeia pode ser subdividido em três itens: projeto, manufatura e distribuição. O projeto envolve tanto o projeto dos equipamentos em si (hardware), como o projeto dos programas controladores dos sistemas internos desses equipamentos (softwares). Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 160 A manufatura consiste em toda a fabricação dos componentes e ainda na montagem do produto final. A distribuição envolve basicamente os revendedores de produtos ou “dealers”, que são os responsáveis diretos por fazer os aparelhos chegarem ao consumidor. Aprofundando ainda mais este estudo na cadeia, foi definido que o principal item a ser estudado seria a manufatura, embora que ainda sejam feitas considerações sobre as etapas de projeto e de distribuição. A Figura 4. 9 mostra toda a cadeia da TV Digital e o aprofundamento feito por este estudo, para a definição do foco do relatório, além de algumas características dos elos mais importantes para o mesmo. Figura 4. 9 - Cadeia da TV Digital [59]. 4.9.2 Metodologia de pesquisa A metodologia de pesquisa utilizada pela REDECOOP foi elaborada da seguinte forma: primeiramente foi feita à definição dos objetos de estudo, realizada em conjunto com os clientes, onde se definiu que os fabricantes de televisores, associações de fabricantes e os institutos e laboratórios ligados ao desenvolvimento do sistema brasileiro de TV Digital seriam os alvos desta investigação. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 161 Para tal, foi definido que seriam feitas entrevistas com o auxílio de questionários, com o intuito de buscar informações referentes à capacitação da indústria nacional, importação de componentes e estratégias para a TV Digital. Dessa forma, acreditou-se ser possível conseguir dados suficientes para a elaboração de análises que dimensionariam o impacto da definição do sistema brasileiro de TV Digital. Paralelamente à pesquisa de campo, foi realizada uma ampla pesquisa em documentos buscando dados que sustentassem hipóteses e mesmo que evidenciassem quaisquer informações que as empresas não disponibilizassem seja por sigilo ou por outra razão [59]. 4.9.3 Identificação dos principais fabricantes Além dos fabricantes nacionais, os maiores players mundiais deste segmento da indústria também estão presentes no Brasil. Atualmente, estão instalados no país os fabricantes apresentados na Tabela 4. 5. Tabela 4. 5 - Fabricantes de televisores presentes no Brasil [59]. Empresa Gradiente Sony Philips LG Eletronics Semp-Toshiba Panasonic Itautec-Philco JVC Sharp Evadin (Mitsubishi) CCE Origem do Capital Brasil Japão Holanda Coréia do Sul Japão/Brasil Japão Brasil Japão/EUA Japão Japão/Brasil Brasil Atuação Possui Fábrica Possui Fábrica Possui Fábrica Possui Fábrica Possui Fábrica Possui Fábrica Possui Fábrica Apenas Importação Apenas Importação Possui Fábrica Possui Fábrica A investigação dos fabricantes relacionados acima, é de extrema importância visto que eles seriam os players mais lógicos de um futuro mercado da TV Digital. Outras empresas ligadas a setores de alta tecnologia também poderiam desenvolver produtos ou Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 162 componentes/softwares, como IBM, Microsoft, Intel e Motorola, mas essas empresas não entrarão nesta fase de investigação. 4.9.4 Análise das estratégias para a TV Digital Através do questionário elaborado pela REDECOOP, diversas informações foram coletadas e desta forma foi possível fazer uma compilação das principais estratégias dos futuros players do mercado de TV Digital. Vale ressaltar que antes, porém, existe o problema da definição do padrão (sistema), que inevitavelmente causará impactos diferentes na indústria, dependendo do que for definido. A expectativa das indústrias é a de que o padrão brasileiro seja realmente adotado, mas que ele seja um pouco diferente do que se divulga na mídia. 4.9.5 O padrão da TV Digital e a Questão do Middleware Na definição do padrão da TV Digital brasileiro, existe a possibilidade de ser feita uma junção das melhores características dos padrões existentes (ATSC, DVB e ISDB) e a incorporação de um middleware nacional, Também chamada de Application Program Interface (API), o middleware é quem traduz os dados do sinal da TV digital e transforma isso em informações que são exibidas na tela de TV. A grosso modo, o middleware/API funciona com uma linguagem de programação, onde é possível juntar som, vídeo e imagens, para a criação das aplicações de datacasting e interatividade da TV Digital. Cada um dos padrões (ATSC, DVB e ISDB) tem suas middleware/APIs específicas. Isso implicaria o não pagamento dos royalties totais ao proprietário do padrão, mas somente aqueles devido ao uso de modulações e padrões de compressão (MPEG-2, por exemplo). Esta decisão reduziria drasticamente o preço a ser pago em um Set-Top Box pelo padrão, especialmente se o governo financiasse o desenvolvimento do middleware, orçado em R$ 15 milhões [64]. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 163 Por outro lado, outras fontes de informação apontam para requisitos de investimentos de valores bem superiores, podendo até atingir o patamar de U$100 milhões, como no caso da experiência do desenvolvimento do middleware do sistema ISDB-T (Japão) e do ATSC (EUA, Canadá e Coréia). As Figura 4. 10 e Figura 4. 11 ilustram os componentes dos padrões atuais e da estrutura de um padrão brasileiro. Figura 4. 10 - Componentes de um padrão de TV Digital. (fonte: Instituto Genius, 2004). Figura 4. 11 - Tecnologias dos padrões existentes. (fonte: Instituto Genius, 2004). Com o desenvolvimento do middleware, e tendo ele um código fonte aberto, a indústria de aplicativos (software) poderia se desenvolver de uma forma muito melhor do que se tivesse que pagar royalties para empresas estrangeiras. Na realidade, a indústria de software no Brasil é muito promissora, pois apesar de exportar apenas US$100 milhões, possui um mercado interno de US$7,7 bilhões, tamanho este semelhante à China, embora o mercado brasileiro exporte quatro vezes menos. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 164 Durante a pesquisa, verificou-se que é possível encontrar basicamente três middlewares predominantes no mercado. O preço (royalties a serem pagos pelos fabricantes) do primeiro gira em torno de US$10,00 por aparelho, enquanto o do segundo está em torno de US$1,00 por aparelho. Fontes confidenciais afirmam que os Set-Top Boxes mais baratos têm um custo de aproximadamente US$50,00 sem o middleware, o que significa que este item pode ser responsável por quase 20% do custo de um Set-Top Box. Analisando o custo de desenvolvimento de um middleware nacional (estipulado em R$15 milhões), verifica-se que a venda de 1.500.000 unidades contendo um middleware nacional compensaria o desenvolvimento do mesmo. Caso fosse considerado o valor de US$1,00, este número subiria para cerca de 15.000.000 unidades, valor este ainda justificável se for considerado o tamanho do mercado brasileiro de televisores (aproximadamente 50 milhões de televisores). Apesar dos números apontarem à viabilidade econômica do projeto de desenvolvimento de um middleware nacional, resta à questão da qualidade e da aplicabilidade. Os middlewares estrangeiros, por mais que apresentem a questão dos royalties como um ponto negativo, são tecnologias já aprovadas pelo mercado internacional. Eles já passaram por diversos testes de implementação e difusão e já estão maduros o suficiente para serem adotados no Brasil. No caso do desenvolvimento de um produto nacional, deve-se considerar também que o tempo necessário para que ele prove ser utilizável na prática pode comprometer toda a implementação da TV Digital no País. Outro dado importante diz respeito à definição por HDTV (alta definição) ou SDTV (definição padrão). Segundo especialistas de Engenharia Elétrica da Universidade de São Paulo, a imagem em uma HDTV é 13 vezes superior à imagem atual, enquanto a imagem em SDTV é somente 2 vezes superior, semelhante ao que é visto hoje quando um DVD é reproduzido em um televisor. Porém, estes mesmos especialistas afirmam que o olho humano só é capaz de perceber diferenças até 4 vezes a imagem atual, e argumentam Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 165 que a qualidade real da HDTV só é percebida em laboratório. Isso significa que, na opinião dos especialistas, uma escolha por HDTV não seria tão justificável pelo argumento de qualidade de imagem superior. Além disso, segundo dados da Eletros, tal opção encareceria demasiadamente os novos produtos, pois precisaria ser importada uma quantidade maior de componentes. O Grupo ABERT/SET tem posição contrária, em função das diversas pesquisas que já realizou em suas demonstrações de HDTV no Brasil, acredita-se que a qualidade do HDTV é o principal atributo percebido pelo telespectador, e que o HDTV evoluirá com o passar do tempo para níveis de qualidade ainda maiores do que está disponível hoje. Além disso, o Grupo julga de vital importância que o HDTV esteja disponível desde os primeiros dias da implantação da TV Digital brasileira, e que, todos os receptores vendidos no Brasil sejam pelo menos capazes de decodificar os sinais em alta definição, mesmo que apenas apresentem o sinal em definição Standard. Portanto, é esperado que se defina o padrão da TV Digital como sendo primeira e prioritariamente SDTV (semelhante aos países europeus e à Austrália), para posteriormente incrementar para HDTV, mas já considerando a possibilidade de decodificação dos sinais de alta definição já em um primeiro momento [59]. 4.9.6 Penetração da TV Digital No tocante à penetração da TV Digital no Brasil, existe muita preocupação por parte das entidades ligadas à mesma. Parece claro, porém, que a população muito dificilmente compraria um Set-Top Box ou um televisor digital apenas para obter uma qualidade de imagem melhor. Segundo a Eletros, ainda, a sociedade está muito satisfeita com a qualidade atual, pela qual não é necessário nenhum pagamento adicional, ponto reforçado pela baixa adesão à televisão a cabo, que atinge penetração considerável apenas na classe A, como mostra o gráfico da Figura 4. 12. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 166 Figura 4. 12 - Penetração da TV Paga por classe de renda (fonte: IBGE/PTS, 2002). O gráfico Figura 4. 12 indica as classes socioeconômicas (D/E: 3-5 saláriosmínimos; C: 5-10; B: 10-20 e A maior do que 20 salários-mínimos), o número total de residências em cada classe, seu percentual em relação ao total e o percentual dos que são usuários de TV por assinatura. Chama atenção o fato de que a penetração na classe A pode ser considerada boa, mas que a aceitação nas classes B e C deixa muito a desejar. O que é argumentado, por diversos especialistas do setor, é que com uma grande oferta de serviços seria muito mais provável de haver uma penetração maior da TV Digital. Seguindo os próprios picos de vendas de televisores analógicos, também é esperado que um ano de copa do mundo de futebol possa alavancar as vendas. Segundo o Instituto Genius, existem 4 dimensões de sucesso para a TV Digital, ilustradas na Figura 4. 13. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 167 Figura 4. 13 - Dimensões do sucesso da penetração da TV Digital. (fonte: Instituto Genius, 2004). E A Figura 4. 13 mostra que além do conteúdo, questões como usabilidade e custo também são determinantes do sucesso. A usabilidade é um fator chave, e um dado importante é o de que na Inglaterra, foi constatado que 7% da população seria incapaz de utilizar um receptor Set-Top Box (Electronics Weekly, 01/10/2003), número este que seria visivelmente maior no Brasil. O custo também é um fator decisivo, principalmente se for considerado o fato de mais de 70% das famílias brasileiras terem uma renda mensal inferior a R$1.000,00 (ANATEL, 2000). Ao olhar este número é possível perceber que um Set-Top Box de US$300,00, preço atualmente encontrado nos EUA (Fonte: HDTV Guide, 2003), seria totalmente inviável no Brasil, reduzindo fortemente a penetração da TV Digital. Na verdade, a questão do preço de venda do Set-Top Box é função direta do seu custo de produção, que por sua vez depende das funcionalidades do dispositivo. Quanto mais funções são incorporadas ao aparelho, mais caro ele torna-se. Assim, o preço do receptor vai variar em um intervalo de valores definido pelas suas especificações mínimas e máximas (descrição dos componentes utilizados nas versões básica e completa do Set-Top Box) [59]. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 4.9.7 168 O Possível mercado de TV Digital No tocante ao tamanho do televisor, dificilmente os televisores digitais terão telas pequenas, sendo, inicialmente, de no mínimo 29 polegadas em formato convencional de tela, ou 28 polegadas em formato widescreen. Isso aconteceria principalmente porque, segundo especialistas de Engenharia Elétrica da Universidade de São Paulo, as diferenças em televisores menores seriam pouco significativas. Entretanto, é esperado que se defina um padrão de televisores menores (possivelmente entre 17 e 25 polegadas) para introdução posterior no mercado. É certo que existem pesquisas para a produção nacional de monitores LCD de 17 polegadas, e este pode vir a ser o novo padrão de televisores pequenos (que hoje é de 14 polegadas). A principal questão neste item, porém, é a fabricação dos cinescópios (ou tubo de imagem), pois no Brasil existem atualmente apenas duas empresas fabricantes de cinescópios (LG/Philips Displays e Samsung Display Devices), e visto que 85% do mercado nacional corresponde a televisores de 14 e 20 polegadas, não se fabrica cinescópios maiores do que 29 polegadas no Brasil. Isso significa que para os primeiros televisores digitais, o tubo de imagem deverá ser importado, o que encarecerá o produto. A expectativa é de que dificilmente o preço inicial de um televisor digital integrado ficará abaixo de R$ 4.000,00 (fonte: Eletros) [59]. 4.9.8 A estratégia das empresas fabricantes Como falado anteriormente, a Eletros, representante dos fabricantes de bens de eletrônica de consumo foi, de certa forma, deixada de fora das negociações envolvendo a definição do padrão da TV Digital. No entanto, as empresas se mobilizaram e, assim como as universidades, já estão desenvolvendo seus próprios projetos sobre a TV Digital. O ponto mais importante quanto à estratégia das empresas industriais é justamente o mais simples de todos: se as empresas pretendem ou não ingressar neste Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 169 novo mercado. Aparentemente, dos 11 fabricantes presentes no país, entre 6 e 8 já traçariam estratégias para entrar no mercado imediatamente após a definição do padrão, seja desenvolvendo seus próprios produtos ou importando, apesar desta decisão depender ainda da escolha do padrão. No entanto, segundo os próprios fabricantes, após a definição do padrão haveria um atraso (ou delay) de aproximadamente 1 ano e meio até a introdução de novos produtos, caso seja um padrão nacional ou híbrido. Este prazo justifica-se, também, por causa da disponibilizarão de conteúdo por parte das emissoras de televisão, o que não ocorreria imediatamente após a definição do padrão. Os fabricantes, de modo geral, estão se preparando para seguir os passos da TV Digital no país, quaisquer que sejam eles. Para isso, as empresas estão realizando investimentos em P&D nessa área, em projetos de desenvolvimento de soluções tecnológicas digitais e em estimativas das adaptações necessárias nas atuais plantas existentes para o início da produção da linha digital. De acordo com representantes das empresas, espera-se que o preço inicial do Set-Top Box no Brasil varie de US$100 a US$250 [59]. 4.9.9 Possíveis impactos na balança comercial Dos televisores fabricados hoje, estima-se que não mais que 25% de seu conteúdo seja importado. Segundo os próprios fabricantes, as partes importadas são principalmente a placa PCI (que contém os decodificadores de áudio e vídeo) e, às vezes, o fly-back. Por sua vez, o cinescópio, a “caixa” (envoltória e as partes mecânicas) e normalmente também o fly-back são fabricados no Brasil, em muitos casos pelo próprio fabricante. A Tabela 4. 6 mostra a relação das macro-partes de um televisor, com sua porcentagem relativa de custo e se é nacional ou importado. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 170 Tabela 4. 6 - Valor relativo dos componentes da TV. Macro-bloco Placa PCI Fly-back Cinescópio Caixa Valor Relativo(%) 20-25 20-25 ~50 5-20 Nacional/Importado IMP NAC/IMP NAC NAC Os valores Tabela 4. 6, porém, só são válidos ao considerar televisores de 14 a 29 polegadas. Televisores maiores (34 polegadas e acima) ou widescreen já possuem seus cinescópios importados, o que eleva o custo percentual do cinescópio e também o custo final do produto. Quando se trata de um Set-Top Box, porém, o valor percentual da placa PCI sobe para quase 80%, desconsiderando o valor do middleware. Isso mostra que o impacto na balança comercial será muito grande, o que seria um estímulo para, por exemplo, uma produção nacional de alguns componentes. A principal questão passa a ser, então, quais componentes poderiam ser nacionalizados e quanto isso reduziria o custo do Set-Top Box. Componentes como memórias e tuners poderiam ser fabricadas no Brasil, pois já existe uma base instalada para tal (Itaucom, por exemplo, poderia readaptar seu mix de produtos para incluir estas memórias). É fato, porém, que os fabricantes internacionais de componentes são conhecidos por venderem a chamada Bag-of-Parts (sacola de peças), que seria um “kit” com todos os componentes da placa PCI. Dessa forma, eles conseguem barganhar seus preços de forma que o preço de um componente individual quase se tão alto quanto à bag-of-parts. Isso significaria que, em um caso extremo, os fabricantes precisariam importar apenas os processadores (dois para cada Set-Top Box), pois estes dificilmente seriam fabricados no país, mas a importação dos processadores custaria tanto ou mais do que a bag-of-parts. Para combater essa tática, estuda-se a possibilidade de que se desenvolva o projeto dos processadores no Brasil e então se leve estes projetos para os fabricantes internacionais. Como o valor do desenvolvimento do projeto está diluído no preço final dos produtos, a nacionalização desta etapa poderia reduzir o preço dos mesmos, além de Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 171 servir como um incremento no poder de barganha dos fabricantes nacionais de Set-Top Boxes. A exportação de aparelhos ou componentes, ou ainda de projetos, será tratada na análise dos cenários a seguir, sendo assim discriminada de acordo com a definição do padrão brasileiro da TV Digital [59]. 4.10 Análise de Cenário: Impactos Sociais Versus Impactos Financeiros Como ainda não foi definido o padrão da TV Digital, muito menos seu Modelo de negócio ou estratégia de introdução, foi realizada uma análise com três cenários possíveis, com a finalidade de que se pudesse estudar, ou mesmo recomendar, algum tipo de estratégia referente à TV Digital. Os cenários foram definidos em conjunto com o cliente, mas todo o detalhamento dos mesmos ficou a cargo da equipe da REDECOOP. Cabe colocar aqui que devido à extrema dificuldade da realização de entrevistas com a equipe da REDECOOP, foram poucos os dados quantitativos obtidos até o presente momento. Isso significa que, para efeitos deste trabalho, será feita uma análise muito mais qualitativa do que quantitativa. 4.10.1 Descrições dos cenários Os cenários descritos a seguir foram definidos com a variável básica sendo o padrão (sistema) de TV Digital a ser adotado pelo Brasil. Isso porque, diante da indefinição do mesmo, buscou-se vislumbrar possíveis desdobramentos da adoção de três tipos diferentes de padrão, basicamente diferenciando entre a nacionalização ou a internacionalização do mesmo [59]. • Cenário 1: o primeiro cenário considera a adoção de um sistema totalmente nacional de TV Digital. Isso significa que com este padrão, todos os Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital componentes seriam específicos para o padrão nacional 172 (e, conseqüentemente, tanto o projeto como a manufatura dos mesmos). A idéia por trás deste cenário (extremo) é priorizar a ausência de pagamento de qualquer tipo de royalties e possibilitar a exportação de componentes para países que eventualmente adotassem o padrão brasileiro; • Cenário 2: oposto a este cenário (1), temo-se o extremo internacional do padrão de TV Digital, que seria a adoção imediata de um padrão já existente (americano, europeu ou japonês), que minimizasse o tempo de introdução dos novos produtos e serviços, sem qualquer preocupação com pagamento de royalties; • Cenário 3: finalmente, o terceiro cenário posiciona-se entre estes dois, e conforme definido em conjunto com o cliente, consiste em um padrão internacional adaptado para o Brasil, com a opção de utilizar até um middleware nacional. 4.10.2 Análise de cenários 4.10.2.1 Cenário 1: padrão totalmente nacional Até o presente momento (julho/2004) este cenário demonstra ser praticamente inviável. Para haver ausência total de pagamento de royalties, deve-se desenvolver inclusive um novo padrão de compressão de áudio e vídeo, uma vez que o MPEG-2 cobra royalties para a sua utilização (US$ 2,50/device). Tal desenvolvimento levaria muitos anos para ocorrer, o que atrasaria demasiadamente a introdução da TV Digital. Quando isso ocorresse, já existiriam padrões muito mais avançados dos que os que estariam sendo introduzidos no mercado brasileiro, devido ao fato de que a fronteira tecnológica nesse segmento da indústria move-se muito rapidamente. Além disso, pode-se destacar ainda que: Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital • 173 o custo de desenvolvimento deste padrão nacional seria altíssimo, e embora o custo dos royalties fosse nulo, tal diferença poderia não compensar; • o custo dos componentes seria alto, pois o desenvolvimento total de novos componentes requereria altos investimentos, que teriam de ser diluídos no custo final dos mesmos; • a capacitação de recursos humanos, porém, seria alta, pois tudo seria desenvolvido no Brasil, desde o projeto até a manufatura; • o atraso tecnológico seria imenso, devido ao tempo necessário para o desenvolvimento de todos os componentes do padrão; • a exportação de qualquer produto final seria dificílima, pois os produtos desenvolvidos estariam já obsoletos e não teriam lugar no mercado internacional. 4.10.2.2 Cenário 2: padrão totalmente importado Conforme a descrição anterior, neste cenário simplesmente seria adotado um dos padrões já existentes no mercado internacional. Isso significa que os fabricantes de SetTop Boxes e televisores digitais já poderiam colocar produtos no mercado nacional, importando-os de outros países: • neste cenário, no curto prazo, o Set-Top Box custaria ao consumidor final a mesma quantia que em outros países (US$ 300 os mais baratos nos EUA, por exemplo). Mesmo o longuíssimo prazo, esses produtos não poderiam ser completamente fabricados no Brasil, pois o mercado interno não fornece escala suficiente para a produção de certos componentes. Além disso, a redução de custo advinda da produção interna não seria suficiente, mesmo porque os investimentos necessários para tal seriam muito volumosos. Ainda pode-se lembrar que o projeto do produto seria externo e o middleware 174 Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital requereria o pagamento de royalties integrais, ainda que esse valor não seja tão expressivo; • quanto ao padrão da TV Digital, não haveria qualquer custo de desenvolvimento. Na verdade, poderia haver até mesmo investimentos das organizações detentoras dos padrões de forma a estimular a adoção de um padrão específico. No entanto, o custo final ao consumidor seria mais alto, pois seria necessário o pagamento integral dos royalties pela utilização do padrão, mesmo por parte das emissoras. Na verdade, os representantes do padrão japonês de TV Digital já ofereceram a utilização do seu sistema ao Brasil livre da cobrança de royalties. Nesse caso, incorre-se apenas nos custos de royalties de codificação de áudio e vídeo, assim como nos outros padrões; • outro aspecto, que refere-se à capacitação de recursos humanos, não seria contemplado, já que não haveria necessidade de nenhum investimento nacional no padrão. Em termos de produto, o investimento seria integralmente no exterior, mesmo que existam adaptações pontuais a serem feitas, e; • as possibilidades de exportação também seriam muito baixas, uma vez que dificilmente haveria uma produção nacional de aparelhos. Mesmo que houvesse, seria muito difícil concorrer nessa área com países como a China, onde a mão-de-obra é muito barata e já existem plantas de larga escala que possibilitam um custo reduzido. O máximo que se pode abstrair em termos de ganhos oriundos de exportação ocorreria, caso fosse adotado o mesmo padrão internacional por países da América do Sul, potencialmente com o Mercosul; os produtos aqui montados poderiam ser exportados para esses mercados, concentrando-se a produção no território nacional. Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 4.10.2.3 175 Cenário 3: padrão intermediário com middleware nacional O cenário 3, que na atual situação parece ser o mais provável, apresenta as seguintes características: • o Padrão adotado contaria, no mínimo, com os royalties de compressão (para o MPEG-2 seriam cerca de US$2,50/aparelho para todos os padrões) e de transmissão (cerca de US$5,00 para o VSB ou US$0,75 para o COFDM e zero para o padrão japonês); • em relação ao middleware, as opções seriam investir no desenvolvimento de um nacional ou adaptar os que estão disponíveis no mercado internacional (incorrendo em custos ainda que reduzidos); • o custo de desenvolvimento deste padrão tenderia a ser relativamente baixo (somente do middleware, se fosse o caso); • o desenvolvimento de um middleware nacional pode representar uma economia de até US$10,00 por aparelho (Instituto Genius), porém no caso de uma negociação em que se consiga eliminar o pagamento de royalties, tal vantagem tende a desaparecer; • o custo de componentes variaria de acordo com a política de implementação: caso o projeto fosse importado e a produção totalmente internacional, seria bem mais elevado do que se o projeto fosse nacional. Porém no segundo caso deve-se considerar o custo de desenvolvimento do projeto; • pelo lado dos desafios colocados no sentido de se desenvolver a capacitação de recursos humanos nas áreas de conhecimento afins (microeletrônica, principalmente), tal capacitação poderia ocorrer, prioritariamente nos casos de projetos de componentes e de softwares (projeto de middleware); 176 Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital • grande possibilidade de desenvolvimento da indústria de software (aplicativos), no caso de adoção de um middleware nacional de código-fonte aberto, e; • tal opção abriria novas possibilidades de exportação em software e projetos de componentes. Tal possibilidade seria pequena, mas existente de exportação do middleware. O Tabela 4. 7 resume de forma sucinta as principais conseqüências da adoção de cada um dos padrões analisados. Tabela 4. 7 - Resumo da análise de cenários. PADRÃO IMPORTADO (ATSC, DVB-T OU ISDB-T) PADRÃO NACIONAL PADRÃO INTERMEDIÁRIO (MIDDLEWARE NACIONAL) Zero Muito Alto Baixo Alto Alto Médio Alto Baixo a Longo Prazo Alto ou Baixo Nenhum Muito Grande Médio Nenhuma Em Projeto e Manufatura Em Projeto Possibilidade de Exportação Baixa Muito Baixa, Devido ao Atraso Razoável, em Projeto e Aplicativos Pagamento de Royalties Muito Alto Zero Baixo Impactos na Balança Comercial Negativo a Curto e Longo Prazo Positivo Somente a Longuíssimo Prazo Negativo a Curto Prazo Positivo a Longo Prazo CARACTERÍSTICAS Custo de Desenvolvimento do Padrão Custo Final ao Consumidor – Padrão Custo Final ao Consumidor – Componentes Atraso Tecnológico Capacitação de Recursos Humanos Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 4.11 177 Conclusões Com base nas pesquisas desenvolvidas até o momento e na análise do atual contexto que envolve todo o debate acerca do advento da TV Digital no Brasil e de seus possíveis impactos sociais econômicos e culturais, pode-se apontar para algumas conclusões, que precisam ainda de um maior aprofundamento, à luz dos desdobramentos dos fatos: • somente o mercado interno não é capaz de suprir uma indústria de componentes para os produtos da TV Digital, notadamente processadores; • estima-se que um televisor integrado não custará, inicialmente, menos do que R$ 4.000,00 (preço ref. Junho/2004, segundo a ELETROS). Por televisor integrado entende-se um aparelho de televisão com um receptor digital incluído. Além disso, influi neste preço o tamanho da tela; • o delay (ou gap) entre a definição do padrão e a introdução no mercado de produtos fabricados no Brasil será de aproximadamente um ano e meio; • inicialmente, estima-se que o maior volume de vendas deverá ser de receptores SD ou Standard Defintion (STB), mas o modelo deverá prever a evolução para High Definition (HD); • a indústria fabricante de aparelhos de TV não requer aportes de capital significativos para a produção/montagem de produtos para a TV Digital; os investimentos de pequeno montante deverão ocorrer somente visando reorganizações em âmbito interno; • o pagamento de royalties não deverá ser tão significativo, quando se pensa em televisores integrados e até mesmo na perspectiva de custo de um SetTop Box; • os componentes importados não excedem em nenhum caso a 25% do custo de um televisor comum (14 a 29 polegadas), mas pode chegar a 75% no caso Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 178 de televisores de tela grande (34 polegadas e acima), devido à ausência de produção de cinescópios maiores no Brasil (mercado muito limitado para fabricação nacional); • através da análise de cenários mostrou-se que a definição do padrão (sistema) não afeta a exportação de aparelhos, sendo esta muito difícil em todos os cenários analisados, porém no cenário intermediário pode haver a exportação de projetos de aparelhos/componentes/aplicativos, e; • a análise de cenários mostra que a definição do padrão afeta indiretamente a indústria pela da influência no preço final do produto, do delay de introdução no mercado, e do grau de capacitação dos recursos humanos. 4.11.1 Próximos Passos Em função da atual realidade dos fatos, existe uma série de questões a serem aprofundadas para um melhor entendimento das perspectivas que cercam o futuro da TV Digital no Brasil. Dentre elas podem-se destacar: • maior detalhamento da cadeia produtiva da TV Digital e de seus elos mais importantes – geração/transmissão/recepção móvel e projeto/comercialização da recepção fixa, além da efetiva participação da indústria e dos centros de pesquisa brasileiros no desenvolvimento e na fabricação de novos produtos e tecnologias; • análise das estratégias dos principais agentes componentes destes elos à montante da cadeia produtiva da TV Digital; • acompanhamento e análise detalhada do papel regulatório do governo na definição do sistema a ser implementado no Brasil; • análise das possibilidades de acordos de adoção do mesmo sistema tecnológico (padrão) em países da América Latina, tendo em vista o aumento Capítulo IV – Impactos da Definição do Padrão Brasileiro de TV Digital 179 do poder de barganha internacional e conseqüentemente possibilidade de exportação de equipamentos e tecnologias (softwares) para tais países; • análise do potencial de interatividade que esta nova mídia vai proporcionar (e suas implicações sobre a indústria de software, por exemplo), principalmente do ponto de vista dos grandes desafios de inclusão social, que é uma das principais marcas do atual governo; • análise das vantagens competitivas oferecidas pelos detentores da tecnologia pela adoção da mesma e pelas facilidades de implementação; • pesquisa de preço dos receptores para o consumidor e sua expectativa de queda; • prosseguir a pesquisa de campo, com estudo de outras empresas fabricantes de televisores e de componentes mais estratégicos (cinescópios, por exemplo); • expansão de um elo à montante da cadeia, buscando informações junto aos fornecedores destes fabricantes; • detalhamento do custo dos componentes do Set-Top Box para a verificação junto aos fabricantes de televisores e de componentes se existe a possibilidade de se nacionalizar algumas partes do Set-Top Box; • estimativa da penetração da TV Digital, relacionando na penetração da televisão a cores (série histórica), poder aquisitivo da população, preço final estimado do produto e disponibilizarão de conteúdo por parte das emissoras, e; • utilização dos dados quantitativos mais refinados e da estimativa de penetração da TV Digital para cálculo do impacto na balança comercial de: - importação dos componentes nas condições atuais; - redução de importações em componentes passíveis de produção interna. Capítulo V Receptores Para TV Digital Capítulo V – Receptores Para TV Digital 5. Receptores Para TV Digital 5.1 Analise dos Receptores de TV Digital 5.1.1 Introdução 181 A inclusão deste Capítulo faz-se necessária nesta dissertação, porque, após os estudos realizados, concluiu-se que a definição do sistema digital para a TV brasileira vai influenciar e determinar novos processos para a produção de TV. Assim sendo, tanto os profissionais atuantes na área, quantos estudantes dos cursos de rádio e TV, além de cinema, audiovisual, programação visual, publicidade, jornalismo, entre outros, sofrerão influência direta do futuro sistema a ser definido pela ANATEL. 5.1.2 Indústria e o mercado de televisores no Brasil Após a correta escolha do padrão, os receptores serão o fator mais decisivo para a implantação bem sucedida da TV Digital no Brasil. Todas as condições abaixo são absolutamente necessárias para que o Brasil não repita os insucessos da TV Digital de outros países do mundo [65]: • disponibilidade de receptores que, pela sua funcionalidade, sejam atraentes e assim levem os consumidores a querer receber TV Digital; • funcionalidades, como compatibilidade com todos os formatos de transmissão SD e HD, imagem de definição e qualidade elevadas, áudio de alta qualidade com Surround, facilidade de instalação, simplicidade de operação através de um único controle remoto, guia eletrônico de programação, datacasting, interatividade, mobilidade e portabilidade, além de multiplicidade de conteúdo; 182 Capítulo V – Receptores Para TV Digital • preço inicial acessível a uma considerável camada da população, de forma que assegure, desde logo, massa crítica para um crescimento rápido e sustentado do número de telespectadores. Este crescimento será auto realimentado, em função da sistemática redução de preços e do aumento das ofertas de programação em HD, e; • disponibilidades coordenadas de receptores e de transmissão digital. Manaus é o local onde se fabrica quase que totalidade dos televisores vendidos no Brasil, em decorrência dos benefícios fiscais. A indústria teve, em 1999, uma produção de menos de 4 milhões de unidades, bastante abaixo do recorde de 8,5 milhões registrado em 1996. Por outro lado, no ano de 2000 iniciou-se uma recuperação com a produção excedendo a 5,2 milhões de aparelhos. O crescimento no primeiro quadrimestre de 2001 em relação a igual período de 2000 foi de 25,3%, (segundo dados da ANATEL, fornecidos pela Zona Franca de Manaus (AM) mas existem notícias de que houve retração após o mês de maio, em decorrência da crise energética. Existem indicações de que os modelos de 14 a 20/21 polegadas são responsáveis por quase 90% da produção, em termos da quantidade de unidades. Estes televisores têm, no Brasil, preços similares aos praticados nos Estados Unidos. Os televisores de "tela grande", tipicamente de 29, 32, 34 e 38 polegadas, constituem o complemento do mercado, ou seja, pouco mais de 10% das vendas, em quantidade. Por outro lado, esta participação vem crescendo rapidamente. Os reprodutores de DVD vêm também tendo um crescimento de vendas acelerado: em 2000, foram vendidos quase 200 mil aparelhos, contra 23 mil em 1999. No primeiro quadrimestre de 2001 foram vendidas 126 mil unidades. O DVD é um impulsionador das vendas de aparelhos de TV de “tela grande”. Os preços dos televisores de “tela grande” e dos DVDs, no Brasil, são, de forma geral, maiores do que os praticados nos EUA, em média 25% mais altos. Esta diferença Capítulo V – Receptores Para TV Digital 183 tem, entre outras, duas possíveis causas: a menor taxa de nacionalização destes produtos e os baixos volumes de produção. É importante salientar que existe uma diferença na maneira de especificar o tamanho das telas entre os Estados Unidos e o Brasil. Enquanto que nos EUA, é indicada a dimensão da diagonal útil da tela, isto é, fósforo visível, no Brasil, indica-se a dimensão total externa do vidro. Assim, o televisor brasileiro de 29" corresponde ao americano de 27", o 34" ao 32" e o 38"ao 36". Assim como em todos os mercados onde está sendo introduzida a TV Digital, no Brasil os fabricantes têm grande preocupação de assegurar uma boa condução do lançamento da nova tecnologia. A confusão dos consumidores, causada pela eventual má condução mercadológica do processo, certamente teria um impacto negativo nas vendas de televisores analógicos da linha de “tela grande”, a de maior interesse daqueles consumidores que, tipicamente, serão os primeiros candidatos a produtos de HDTV. A exportação de televisores ainda é feita em escala relativamente baixa pelo Brasil. Em 2000, o saldo de importação/exportação de televisores a cores foi positivo em 90 milhões de dólares (estes números referem-se apenas os produtos acabados e não consideram a importação de componentes). Naturalmente, uma unificação de padrões digitais na América do Sul serviria de grande impulso para as exportações de aparelhos de TV Digital. A possibilidade de desenvolver modelos de aparelhos de TV Digital padronizados para toda a América do Sul propiciaria [65]: • eliminação de duplicidade dos investimentos na adaptação de produtos, e; • ganhos de escala de produção e, conseqüentemente, preços mais atraentes para o público e, portanto , uma penetração mais rápida. Existem a necessidade que considerar que o padrão de vídeo de 50 quadros por segundo (q/s) é adotado para a TV Analógica (PAL-N) na Argentina, no Uruguai, no Capítulo V – Receptores Para TV Digital 184 Paraguai e na Bolívia. Assim, mesmo sendo alcançado o padrão único de transmissão de TV Digital na America do Sul, muito provavelmente em 60 quadros/segundo, ainda existe a necessidade dos produtos padrão "América do Sul" acomodarem 50 e 60 quadros/s e os diversos padrões de TV Analógica (PAL-M, PAL-N e NTSC). Em suma, além das adaptações para a acomodação do padrão digital a ser adotado, as seguintes adaptações deverão ser feitas nos produtos para o nosso mercado brasileiro [65]: • decodificação analógica nos padrões analógicos PAL-M, PAL-N e NTSC; • varredura vertical em 50 e 60 Hz para os sinais analógicos atuais; • operação em 127 e 220 Volts, com amplas faixas de tolerância de tensão (100~240V), e em 50 e 60 Hz; • mensagens de texto na tela On Screen Display (OSD), em português, espanhol e inglês. Na realidade, a adaptação de produtos mundiais às características acima eem umeradas (exceto o padrão digital) é trivial e certamente dominada pela nossa indústria brasileira, pois é um tipo de trabalho que vem sendo rotineiramente desenvolvido desde 1972, desde o surgimento da TV a cores no Brasil [65]. 5.1.3 Produtos de TV Digital existentes no mundo 5.1.3.1 Estados Unidos com o ATSC O mercado dos EUA tem uma demanda anual de 25 milhões de televisores novos. O comércio varejista americano de televisores mais sofisticado oferece diversos produtos para TV Digital, inclusive uma ampla linha de televisores com capacidade de display em alta definição. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 185 Nos EUA, é possível comprar televisores digitais integrados de HDTV. Este tipo de aparelho, contido em um único gabinete, é composto, basicamente, de: um display, um receptor para as transmissões digitais em ATSC e um segundo receptor para as transmissões analógicas convencionais em NTSC. No ano de 2000, a indústria americana vendeu 650 mil dispositivos de HDTV, incluindo monitores, receptores digitais integrados e Set–Top Box. Contudo, apenas cerca de 10% destas unidades incluía a capacidade de recepção e decodificação dos sinais ATSC. Um dos fatores que estão aumentando a venda de monitores HDTV é o considerável interesse dos consumidores no seu uso com reprodutores de DVD. Segundo o Relatório Integrador [67], pelo menos um fabricante americano (RCA) fornece como brinde um Reprodutor DVD com saída progressiva aos compradores de monitores de HDTV. O baixo volume de vendas de receptores de TV Digital, muito inferior ao das expectativas iniciais, está freqüentemente associado aos graves problemas de recepção do sinal digital que ocorrem nos Estados Unidos e que vêm sendo divulgados na imprensa. Aliás, os resultados dos testes no Brasil apontaram que o padrão norteamericano não conta com uma boa transmissão terrestre. Outro ponto importante é a alta penetração da TV a Cabo nos EUA, fazendo com que a esmagadora maioria dos domicílios não tenha antena de TV. Os receptores digitais americanos oferecem Guia de Programação Eletrônico (EPG) [65]. 5.1.3.2 A Europa com o DVB-T O padrão DVB-T está em operação em alguns países europeus. No momento, a maior base instalada é a da Grã-Bretanha, onde são oferecidos serviços digitais terrestres de broadcast gratuito e de TV por assinatura. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 186 A principal diferença do enfoque da Europa para o do Brasil é a total falta de interesse dos europeus pela TV de Alta Definição. Eles vêem na TV Digital (DTV) terrestre um meio de fornecer uma melhor qualidade de TV na resolução convencional, a chamada “Standard Definition” ou SDTV, e a transmissão simultânea de diversos programas em cada canal. Existem produtos de consumo disponíveis para o público entre Set–Top Box e Televisores Digitais Integrados. Existe, na Europa, ampla oferta de televisores 16:9, com varredura de 625 linhas e, em diversos casos, varredura vertical dobrada para 100Hz, de forma a evitar a cintilação característica da TV de 50 campos por segundo. Na Inglaterra, os Set–Top Box são fortemente subsidiados pelo operador de TV por assinatura, ficando o preço de venda para o consumidor em aproximadamente 150 dólares, desde que associado a uma assinatura. Os receptores digitais oferecem Guia de Programação Eletrônico (EPG) [65]. 5.1.3.3 A Austrália com o DVB-T/7MHz A Austrália é, até o momento, o único país que adotou o sistema DVB-T com largura de faixa do canal de 7 MHz, diferente daquela para a qual ele foi desenvolvido originalmente (8 MHz). O projeto de TV Digital australiano tem como foco a TV de alta definição (HDTV), ao contrário de todos os outros países DVB-T que operam exclusivamente em definição convencional (SDTV). Adicionalmente, é também o primeiro projeto de “Broadcast” em HDTV com 50 campos/s. Outros países interessados em HDTV e com distribuição de energia em 50Hz, como a Argentina, decidiram que as transmissões de TV Digital seriam feitas em 60 campos/s, de forma a tirar proveito da escala de produção de displays e equipamentos de produção HD dos EUA e do Japão. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 187 A Austrália resolveu também utilizar a codificação de áudio Dolby AC3, diferentemente de todos os outros países DVB-T, que usam simplesmente a codificação de áudio MPEG. A adoção opcional do AC3 exigiu a revisão da norma DVB-T. O país tem uma população que não chega a 20 milhões de habitantes, mas caracterizada por alto poder econômico. Dos 6,9 milhões de domicílios, 60% têm 2 ou mais televisores [65]. Existe apenas uma indústria montadora de televisores na Austrália, a Sharp, e a demanda atual de televisores novos é de apenas 1 milhão de aparelhos por ano. O início das transmissões ocorreu em primeiro de janeiro de 2001. E embora o plano inicial fosse o HDTV, até o momento as transmissões estão limitadas apenas ao SDTV nos formatos 4:3 e 16:9, devido à falta de receptores que suportem HDTV. Atualmente existe apenas um modelo de Set–Top Box disponível na Austrália. O aparelho decodifica apenas transmissões feitas em SDTV, tem áudio limitado ao MPEG (não decodifica AC3) e é fabricado pela Thompson. O motivo de todos estes problemas parece estar ligado ao desinteresse dos fabricantes de TVs em produzir receptores de TV Digital específicos para um mercado de volume tão limitado. Os fabricantes exerceram forte pressão junto ao governo australiano, no sentido de poder importar os seus Set–Top Boxes da Europa, com as modificações limitadas somente à largura de faixa do canal para 7MHz [65]. Embora na Austrália não haja, até o momento, TVs Digitais Integrados, há oferta de monitores (Televisores Analógicos) com tela de formato largo 16:9 (widescreen), similares aos produtos europeus. Os radiodifusores australianos têm elevado interesse em possibilitar a recepção móvel. Contudo, em decorrência das limitações do DVB-T na acomodação simultânea de recepção móvel e fixa no mesmo canal, com programação diferenciada, essa aplicação é ainda incerta. 188 Capítulo V – Receptores Para TV Digital No caso da ANATEL cogitar na adoção do sistema DVB-T para o Brasil, é fundamental que tome todas providências e proceda a todas as negociações prévias necessárias, de modo a assegurar a disponibilidade de receptores digitais no Brasil. Isto para não correr o risco de ver configurar-se uma situação similar à que, lamentavelmente, observa-se hoje na Austrália [65]. 5.1.3.4 O Japão com o ISDB-T O mercado japonês tem uma demanda anual de 10 milhões de televisores novos. Destes, mais de 4 milhões são de “tela grande” (acima de 22”). Os televisores de tela 16:9 (widescreen) foram em 2000 mais de 1,3 milhões. Os dados acima estão nas estatísticas oficiais da Associação da Indústria Eletrônica Japonesa (JEITA). O padrão japonês, embora utilize faixas de freqüências um pouco diferente das brasileiras, tem também canais de 6MHz de largura. A atenção japonesa para a TV Digital está principalmente no HDTV, como o radiodifusor brasileiro. Na realidade, o Japão vem oferecendo aos seus consumidores transmissões de alta definição em formato analógico, por satélite, já há alguns anos, embora com limitada programação e uma penetração de 800 mil receptores apenas. O Japão iniciou os serviços de transmissão digital de HDTV no final do ano 2000, mas utilizando, inicialmente, a sua distribuição por satélite de radiodifusão diretamente ao telespectador ou através de sua posterior distribuição por cabo. Devido ao enorme congestionamento do espectro eletromagnético no território Japonês, foram necessárias modificações em sua utilização para disponibilizar a faixa necessária para a transmissão terrestre de TV Digital (ISDB-T). Existe, no momento, 11 estações experimentais de ISDB-T em funcionamento no Japão. Diversos modelos de televisores digitais integrados, Set–Top Box e monitores HD digitais estão sendo vendidos com sucesso no Japão desde Setembro de 2000. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 189 A meta da indústria pretendia vender 10 milhões de receptores nos mil primeiros dias. Segundo estatística da Associação da Indústria Eletrônica Japonesa (JEITA), no primeiro quadrimestre de 2001 foram vendidos [65]: • 52 mil Televisores Digitais Integrados para ISDB-T; • 188 mil Set-Top Boxes para ISDB-T. Com isto a base instalada de receptores de TV Digital no Japão já totaliza: • mais de 200 mil Televisores Digitais Integrados (HD); • mais de 400 mil Set-Top Boxes (HD). Contudo, os “front-ends” (sintonizador e demodulador) das TVs Digitais Integrada e Set–Top Boxes Japoneses são, até o momento, apenas adequados à recepção do sinal de satélite. Espera-se a disponibilidade de receptores digitais de consumo com “front-ends” adequados à recepção do sinal terrestre em um espaço de tempo relativamente curto. Inclusive de modelos universais, que possibilitem a recepção de sinais terrestres, de satélite ou de cabo. Na realidade, os monitores HD já são um produto maduro no Japão, contando com uma base instalada de 800 000 unidades até o final do ano 2000, recebendo as transmissões analógicas de HDTV por satélite. Estes, progressivamente, migrarão para o novo serviço digital pelo de Set–Top Boxes [65]. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 5.1.4 Definindo os produtos de TV Digital no Brasil 5.1.4.1 Arquiteturas do sistema de recepção 190 Pode-se definir os tipos de produtos de TV Digital que certamente serão oferecidos no Brasil nos dois primeiros anos da TV Digital. Estas definições permitirão uma melhor análise das possibilidades de usar produtos mundiais já existentes como projetos base para adaptação ao mercado e a produção no Brasil. A configuração possível é composta de dois aparelhos: • Set–Top Box: contém fundamentalmente um bloco receptor digital terrestre; • Monitor: contém o bloco display e o bloco receptor analógico. Com as considerações acima, pode-se agora definir mais precisamente os produtos básicos possíveis, para efeito de análise [65]. 5.1.4.2 Set–Top Box - HD/SD O Set–Top Box contém, basicamente, o bloco Receptor Digital. Ele recebe a transmissão de TV Digital em qualquer formato SD/HD de 60Hz (480i, 480p, 720p, 1080i) e, possivelmente SD de 50Hz (576i, 576p). Opcionalmente, este tipo de Set–Top Box poderá incorporar também: um receptor analógico PAL-M/NTSC/PAL-N, um receptor de Direct To Home (DTH) e entradas de sinais externos. Estas funcionalidades adicionais simplificam os sistemas domésticos de recepção e tornam a operação fácil por de um único controle remoto, ficando transparente para o telespectador o meio pelo qual o programa chega à sua residência. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 191 Independentemente do formato do sinal que está sendo recebido, o Set–Top Box HD/SD, através do conversor interno e das interfaces adequadas, oferece tipicamente os seguintes formatos de saída [65]: • SDTV: em interfaces analógicas de diversos padrões físicos (RF/antena, vídeo, PAL-M/NTSC/PAL-N/áudio), componentes analógicas Y/R-Y/B-Y ou RGB e SVideo), de forma a exibir o programa em um televisor analógico convencional em SD ou em um monitor-SD em 480i/60 ou 576i/50. O Set–Top Box tem tipicamente capacidade de escalar a imagem de modo a produzir os diversos formatos de exibição, tal como o letterbox, por exemplo; • HDTV: em componentes analógicas de faixa larga Y/R- Y/B-Y e R/G/B que permitam a exibição do programa digital em um Monitor-HD, em 480p/60 ou 576p/50 ou 1080i/60 ou 1080i/50. As transmissões digitais recebidas em SDTV poderão ser processadas por um conversor dobrador de linhas e fornecidas nas interfaces HD em 480p/60Hz, 540p/60 ou 576p/50Hz, formatos normalmente denominados de EDTV. No que se refere ao áudio, o Set–Top Box poderá decodificar apenas o par estéreo básico ou oferecer saída para os 5.1 canais que serão provavelmente previstos no padrão brasileiro. A saída dos 5.1 canais poderá ser analógica (6 plugs RCA de áudio) ou digital codificada (coaxial ou óptica), para decodificação externa em um home theater, por exemplo. Neste último caso, a codificação AAC adotada pelo ISDB, trará um complicador adicional, pois os aparelhos de home theater atuais são compatíveis somente com AC3. O Set–Top Box deve oferecer uma API que permita a execução de aplicativos de interatividade. O guia eletrônico de programação deverá ser uma funcionalidade padrão de todo Set–Top Box. 192 Capítulo V – Receptores Para TV Digital Um modem poderá equipar também o Set–Top Box para prover um canal de transações que permita interatividade na sua forma mais ampla. Outra funcionalidade que poderá se incorporada ao Set–Top Box é um “slot” para cartões de acesso condicional, especialmente naqueles que também incorporam receptor para DTH. Naturalmente, poderá haver Set–Top Boxes com diferentes graus de funcionalidade e preços, desde que sejam universais quanto à compatibilidade com todos os formatos de transmissão de vídeo (SD/HD) e de áudio, assegurando ao telespectador a recepção de toda a programação, qualquer que seja o seu formato de transmissão [65]. 5.1.4.3 Monitor-SD O monitor-SD contém os blocos de display e de Receptor Analógico. Neste caso, o display está limitado à exibição em “Standard Definition” (SDTV) de alta qualidade, com capacidade de exibir nos aspectos 16:9 e 4:3, podendo ter a tela nos formatos físicos 16:9 (imagem 4:3 com colunas laterais) ou 4:3 (imagem 16:9 em "letterbox"). Os sinais exibidos são os do receptor analógico interno e da interface para receber sinais externos de um Set–Top Box HD/SD ou outros aparelhos como: VCR, DVD, Set– Top Box de DTH e de TV a Cabo. Basicamente, este produto é um televisor analógico convencional, podendo ter processamento digital de vídeo que permita escalar a imagem de forma a gerar os diversos formatos de exibição, embora o próprio Set–Top Box, de modo geral, já ofereça estes recursos [65]. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 5.1.4.4 193 Monitor-HD O monitor-HD contém os blocos de display e de receptor analógico. Neste caso, o display de imagem tem capacidade de exibir em alta definição e nas relações de aspecto 16:9 e 4:3. Os sinais exibidos são os do receptor analógico interno e da interface para receber sinais externos de um Set–Top Box HD/SD ou outros aparelhos como: VCR, DVD, Set– Top Box de DTH e TV a Cabo. Tipicamente, o monitor-HD deve suportar varreduras 480p/60 ou 540p/60, 576p/50, 1080i/60 ou 720p/60. Ele incorpora um dobrador digital de linhas para converter sinais analógicos recebidos em 480i/60 ou 576i/50 para 480p/60 ou 540p/60 e 576p/60, respectivamente. No caso dos DVDs com saída progressiva, a interconexão de vídeo poderá ser também 480p/60 ou 576p/50 [65]. 5.1.4.5 Televisor integrado SD O televisor integrado SD incorpora três blocos: display,receptor analógico e receptor digital em um só aparelho, que tem funcionalidade equivalente ao conjunto formado por um Set–Top Box SD/HD e um Monitor-SD [65]. 5.1.4.6 Televisor integrado HD O televisor integrado HD incorpora três blocos: display, receptor analógico e receptor digital em um só aparelho, que tem funcionalidade equivalente ao conjunto formado por um Set–Top Box SD/HD e um Monitor-HD [65]. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 5.1.4.7 194 Outros produtos de consumo de TV Digital Os produtos que foram caracterizados até agora são os convencionais que estarão presentes no mercado brasileiro a partir do início das transmissões digitais. Mas existem dois outros grupos de produtos de TV Digital de grande interesse. O primeiro grupo é o dos produtos que já existem, mas ainda não atingiram escala significativa devido ao seu atual custo elevado. Estes produtos sofrerão, provavelmente, uma constante redução de preços com o progresso da tecnologia e, em um futuro não muito distante, se tornarão muito populares. Entre estes estão os projetores de HDTV e os displays de Plasma. É importante ressaltar que a TV de alta definição (HDTV) é fantástica em uma tela de 32”, contudo a experiência de HDTV revela-se muito mais dramaticamente em telas ainda maiores que só são possíveis com projetores ou displays de plasma. Assim, é evidente que as super telas serão o sonho de consumo dos próximos anos para muitos telespectadores. Outro exemplo deste primeiro grupo de produtos é o gravador digital inteligente de TV. Esse produto, geralmente baseado na tecnologia de unidades de discos magnéticos rígidos, pode ser uma unidade autônoma ou estar incorporado em um Set– Top Box. No segundo grupo, estão produtos em fase de desenvolvimento no momento e que também dependem do estabelecimento de transmissões para suportá-los. Os quais se enquadram: os receptores veiculares de TV Digital, os telefones Celulares compatíveis com a recepção de TV Digital, os receptores de TV Digital em Palm Top (PDA) e as redes integradas domésticas. Naturalmente, cada um dos produtos citados neste item merece um estudo detalhado, tão logo seja conhecido o Padrão e o cronograma de implantação da TV Digital no Brasil [65]. 195 Capítulo V – Receptores Para TV Digital 5.2 Avaliação dos Televisores 5.2.1 Introdução Antecipadamente à definição do padrão de difusão, que será implantado no Brasil, os principais fabricantes de televisores brasileiros estão revolucionam o conceito dos novos produtos. Os televisores estão entrando em uma fase de transformação radical, engolfados pelas tecnologias digitais. Neste tópico será feita a comparação entre três produtos de três diferentes tecnologias (Plasma, LCD e CRT), que já estão disponíveis no mercado brasileiro, são eles [66]: • Televisor plasma display Sony 42” - WEGA KE-42X5910B; • Televisor LCD Philips 15” - 15PF9936; • Televisor CRT Philco 38” - DVS-34OWDFS. 5.2.2 Tela de plasma Na cesta básica dos artigos de luxo, as telas de plasma cabem tão bem quanto o caviar, o champagne, os relógios Bulgari ou as bolsas Channel. São irresistíveis e obscenamente caros. Telas baseadas nessa tecnologia estão disponíveis em tamanhos que passam de 50 polegadas, mas com uma espessura tão reduzida que podem se penduradas na parede como quadros. Os aparelhos de plasma são elegantes e cheios de recursos. Telas de plasma já eram usadas em monitores há mais de 20 anos, mas só recentemente chegaram aos televisores. São formadas por minúsculas células preenchidas com gás. Um campo elétrico é aplicado à célula que ioniza o gás, acendendo um pixel da tela. Essas telas como as de cristais líquidos, têm uma resolução fixa. Quando a resolução da imagem a ser exibida é diferente dela, um processamento digital Capítulo V – Receptores Para TV Digital 196 é feito para alterar o número de pixels de modo que fique compatível com a tela. Em comparação a um aparelho de raios catódicos – CRT compatível com HDTV revela que a tela de plasma possui tendência a ter um nível de contraste mais baixo, imagens mais escuras e tons de preto levemente acinzentados. Essa leve desvantagem só vai fazer diferença em locais fortemente iluminados. De modo geral, a sensação de assistir aos filmes em um televisor de plasma – grande e de ótima definição – é muito agradável. Um outro ponto em que as telas de plasma perdem para as demais é na durabilidade. Elas estão mais sujeitas a ficar marcadas por imagens estáticas. Coisas como logotipos de emissoras e contadores de pontuação de jogos podem deixar manchas permanentes na tela. Convém notar que a garantia dos fabricantes não cobre esse tipo de problema. A tela de plasma também tende a escurecer com o tempo. Os fabricantes estimam que, depois de 30 mil horas de uso, a luminosidade terá caído pela metade. Esse período equivale a 27 meses com o aparelho ligado continuamente. Em uma situação mais comum, em que o televisor seja usado durante três horas por dia vai demorar 27 anos para que essa perda de luminosidade aconteça. Atualmente existem vários modelos de tela de plasma compatíveis com HDTV, dentre eles pode-se citar a Sony WEGA KE-42X5910B, como mostra a Figura 5. 1 . Com design impecável, tela de 42 polegadas, é um televisor completo, com muitos conectores de áudio e vídeo e ótima qualidade de som e imagem, sendo considerado pelo testes da INFOLAB da Revista InfoExame o modelo mais completo disponível no mercado. Sua resolução nativa é de 1.024 x 1.04 pixels. Embora isso não seja suficiente para exibir HDTV na máxima definição, é uma resolução bastante satisfatória para esse tamanho de tela, quando acopla-se um aparelho DVD, como também, uma TV a Cabo Digital. O aparelho tem uma tomada para woofer, o que permite reforçar os graves instalando uma caixa externa. Além disso, tem uma saída estereofônica que pode ser ligada a um receiver de home theater. A tela traz, na parte traseira, duas entradas do tipo video componente para DVD Player, que também podem ser usadas para receber sinais de HDTV. Fica faltando uma entrada DVI ou HDMI para vídeo digital. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 197 Figura 5. 1 - Televisor plasma display Sony 42” - WEGA KE-42X5910B. 5.2.3 Liquid crystal display (LCD) Fininhos, recheados de alta tecnologia, com imagem arrasadora, eles brilham no design e ocupam pouquíssimo espaço na mesa, no rack na estante. Tudo indica que o futuro das TVs Digitais vai por aí. Mas, porém possui algumas desvantagens, com o tempo podem aparecer alguns pontos mortos na tela e o tom do preto tende a ser um pouco cinzento. Nesses aparelhos, a imagem perde qualidade quando vista de um ângulo obliquo à tela. O preço também é um fator que pesa na hora de escolher o tamanho da tela. Como exemplo de LCD pode-se citar o televisor da Philips 15PF9936, o capricho do visual chega a pequenos detalhes nele LCD. Para os conectores laterais não ficarem aparentes, foram colocados tampas removíveis sobre eles. A tela movimenta-se alguns graus para cima e para baixa e pode ser ajustada de acordo com a posição do usuário, pesando 5kg, na estante ou na mesa, a área ocupada pelo LCD é de 6,5cm de profundidade, 30,7cm de altura e 48,1cm de largura. Nas conexões o LCD da Philips esbanja opções de conectividade. Para DVD player, videocassete e câmera filmadora, existe no painel principal entradas HDTV, video Capítulo V – Receptores Para TV Digital 198 componente AV (áudio-vídeo). Para TV a Cabo ou antena, existe uma entrada coaxial. Para plugar o PC, a opção é a entrada D-Sub. Não possui conexão DVI. As laterais esquerda e direita trazem duas entradas S-vídeo e duas AV, mais as saídas para fone de ouvido subwoofer e AV. A qualidade da imagem, o aparelho possui recurso progressive scan, que dobra a resolução do video. A imagem fica irrepreensível com DVD e TV a Cabo Digital. A tela tem resolução de 1.024 x 768 pixels e, nessa configuração a taxa de atualização é de 60Hz. A relação de contraste é de 4000:1. O formato do visor é 4:3, mas é possível assistir a filmes em 16:9 (Widescreen), entretanto parte da tela fica desativada nessa configuração. No som, os dois alto-falantes embutidos no painel do televisor têm potência total de 12W. Além do som dos programas assistidos pela TV, ele reproduz o das estações sintonizadas pelo rádio FM interno do equipamento. Se preferir assistir à TV com o som de um mini-system também pode – a conexão é fácil [66]. Figura 5. 2 - Televisor LCD Philips 15” - 15PF9936. 5.2.4 Cathode ray tube (CRT) Não é preciso ter um caríssimo televisor de plasma para apreciar a televisão de alta definição. Os modelos de raios catódicos com tela larga compatíveis com HDTV Capítulo V – Receptores Para TV Digital 199 possuem excelente imagem, uma ampla lista de conectores para a montagem de home theater e recursos avançados, dentre eles podemos citar o televisor CRT DVS-34OWDFS, da Philco, de 32 polegadas [66], mostrado na Figura 5. 3. Figura 5. 3 - Televisor CRT Philco 38” - DVS-34OWDFS. Além do preço, telas de raios catódicos têm outros atrativos. Para começar, são as mais duráveis. A Consumer Electronics Association, entidade americana estima que um típico televisor CRT atual pode ficar ligado continuamente por mais de 12 anos sem que haja degradação da qualidade da imagem. Esses aparelhos também são os mais luminosos. Por Isso, são bastante adequados para locais fortemente iluminados. A desvantagem mais obvia dessa tecnologia está no tamanho avantajado do cinescópio, que acaba fazendo com que esses aparelhos sejam volumosos e pesados. Isso praticamente inviabiliza a fabricação de modelos de raios catódicos de mais de 38 polegadas. Uma outra característica negativa desses televisores é a sensibilidade a campos magnéticos. Isso faz com que seja necessário ter cuidado ao posicionar, perto deles, caixas acústicas e outros dispositivos que possuam imãs ou bobinas. Existe no mercado caixas de som blindadas que não causam problemas, mesmo que coladas ao aparelho de TV, mas outras, sem blindagem, podem fazer estragos. Campos magnéticos fortes podem manchar a tela e causar distorções na imagem. O DVS-340WDFS, da Philco, é compatível com HDTV. Sua resolução máxima é de 848 por 480 pixels com varredura progressiva. É o padrão conhecido como WVGA no Capítulo V – Receptores Para TV Digital 200 mundo dos computadores e como EDTV ou 480p no dos televisores. Uma característica muito bem vinda do seu sistema de controle de imagem é que os ajustes são armazenados em configurações separadas para cada entrada. Assim, uma vez calibrado o televisor, não é preciso refazer os ajustes ao mudar, por exemplo, do videocassete para o DVD. O televisor possui dois sintonizadores e pode mostrar duas imagens lado a lado ou uma dentro da outra, no estilo Picture-in-Picture (PIP). O usuário pode ver, por exemplo, um programa de TV e, ao mesmo tempo, a imagem de uma câmera de vigilância instalada em circuito fechado. O aparelho também possibilita congelar uma imagem. Ela é exibida fixa em metade da tela enquanto o programa prossegue na outra metade. O seletor de canais do DVS-340WDFS oferece uma função de bloqueio parental que impede o acesso a determinados canais até que seja digitada uma senha. Existe também a opção de programar o desligamento ou uma mudança de canal para um horário determinado. O usuário pode, ainda, registrar seus canais favoritos em uma lista para acesso rápido. Naturalmente, esses recursos do seletor de canais não têm utilidade quando existe sintonia no dispositivo externo, como um decodificador por cabo ou via satélite. Os alto-falantes do televisor da Philco são básicos, mas produzem um som bastante razoável que possibilita ajustar o som de acordo com as características do ambiente. Na parte das conexões, o DVS-340WDFS é um aparelho completo. Tem nada menos que dez entradas de áudio e vídeo, incluindo duas para HDTV e um conjunto na parte frontal para facilitar a conexão de cinemas e outros dispositivos portáteis. Um detalhe interessante desse televisor é que ele, segundo a Itautec Philco, deverá custar 40% menos que o DVS-340WDF, um modelo da empresa com características semelhantes atualmente à venda. Essa redução de preço é resultado do aumento da escala de produção e do grau de integração dos componentes. É também um reflexo do que acontece no mercado internacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, o preço médio dos televisores de alta definição caiu 40% desde o final do ano passado. 201 Capítulo V – Receptores Para TV Digital Pode-se prever que a queda de preços vai continuar, popularizando cada vez mais esses aparelhos [66]. 5.2.5 Comparação/avaliação dos modelos A Tabela 5. 1 mostra a comparação entres os três modelos descritos anteriormente, com vários aspectos como: imagem, video, conexões, design, recursos, etc. Tabela 5. 1 - Comparação dos modelos da Sony, Philips e Philco. (segundo manual dos fabricantes). TELEVISOR Sony Wega KE-42X5910B Plasma Display Sistema de Cor NTSC Recepção Analógica HDTV Recepção Digital Resolução Máxima VHF/UHF/Cable TV Sim Philips 15PF9936/78 LCD Flat TV PAL-M/PAL-N/NTSC PAL B/G Playback VHF/UHF/Cable TV Sim Set–Top Box Set–Top Box Set–Top Box 1.024 x 1024 1.024 x 768 848 x 480 Formato de Apresentação Visor 4:3 Normal 16:9 Normal 4:3-16:9 Wide Mode(Twin View) 4:3-16:9 Wide Zoom 4:3-16:9 Full 4:3-16:9 Zoom 4:3 Normal 4:3 Expand 4:3 - 16:9 Compress 4:3 Normal 16:9 Normal 4:3-16:9 Wide 4:3-16:9 Zoom Outros Recursos 2 Imagens lado-lado Congelamento Progressive Scan Durabilidade Potencia Total (W RMS) 30.000h - 2 Imagens lado-lado Congelamento Door Vision 12 anos 30 12 10 Efeitos Surround Função SAP Sim Entradas de Vídeo Traseiras 1 DVI-HDTV 2 V. Componente 3 S-Video 2 Vídeo Composto 2 RF CONEXÕE S ÁUDIO IMAGEM Fabricante Modelo Tecnologia Incredible Surround Rádio FM Sim 1 VGA (PC) 1 HDTV 1 V. Componente 1 S-Video 1 Vídeo Composto 3 RF Philco 340WDFS CRT PAL-M/PAL-N/NTSC VHF/UHF/Cable TV Sim (SDTV) Equalizador Gráfico Sim 1 VGA (PC) 2 HDTV 1 V. Componente 2 S-Video 2 V. Composto 1 RF 202 Capítulo V – Receptores Para TV Digital Entradas de Vídeo Laterais Entradas de Áudio 1 V. Composto 1 Memory Stick 1 D-Sub 2 S-Video 3 AV 6 Estéreo 8 Estéreo Alimentação DESIGN Consumo Diagonal (polegadas) Tamanho (cm) LxAxP Peso (kg) Preços (R$) 10 Estéreo 120V/AC 60Hz 430W 2.8W Standby 1 Estéreo 1 Subwoofer 1 Fone de Ouvido 95~264V/AC 50/60Hz 50W 1W Standby 90~240V/AC 50~60Hz 230W 6,3W 42 15 32 123 x 75 x 29 48,1 x 30,7 x 6,5 88 x 57 x 57 cm 45 5 55 26.999,00 3.599,00 3.899,00 1 Estéreo 1 Woofer Saídas de Áudio 1 V. Composto 2 Estéreo O Laboratório da Revista InfoExame (InfoLab) na sua edição de dezembro 2004, avaliou vários modelos de televisores de diferentes fabricantes, dentre eles os três modelos descritos anteriormente. Tal avaliação levou em consideração as características técnicas essências dos televisores, como: imagem, áudio, conexões, design, características técnicas e custo benefício. A Tabela 5. 2 apresenta os resultados obtidos pela avaliação feita pelo InfoLab: Tabela 5. 2 - Avaliação da InfoLab (Revista InfoExame) [66]. TELEVISOR Fabricante Modelo Sony Wega KE-42X5910B Philips 15PF9936/78 Philco 340WDFS Imagem Áudio Conexões Design Avaliação Técnica Custo/Benefício 8,9 8,4 8,5 9,2 8,8 5,7 8,5 7,8 8,8 8,9 7,9 6,9 9,0 7,0 9,5 7,1 8,2 8,3 Na avaliação geral o InfoLab, considerou o televisor CRT Philco 38” - DVS34OWDFS, como a melhor relação imagem custo benefício, e o que mais se adequada a realidade do mercado brasileiro. Capítulo V – Receptores Para TV Digital 5.2.6 203 Conclusões das avaliações As telas de plasma, finas e de design moderno, proporcionam uma imagem ampla e de boa qualidade. Mas, porém, tendem a ficarem marcadas por imagens fixas, que permaneçam muito tempo na tela, sua vida útil é bem menor se comparada aos televisores de CRT e LCD e seu custo extremamente alto torna praticamente inviável sua aquisição. Os televisores de LCD, são leves, possuem tela fina, design moderno e uma boa qualidade de imagem, são compatíveis com os PCs (entrada/saída VGA). Mas podem aparecer alguns pontos mortos na tela, sendo que o tom de preto tende a ser um pouco acinzentado, de durabilidade maior que os de Plasma, mas inferior ao de CRT, possui boa durabilidade. Não possuem boa visibilidade quando visto de um ângulo oblíquo e seu custo é relativamente alto. Já os CRT's, são econômicos e duráveis, se compatíveis com a tecnologia digital (HDTV ou SDTV), proporcionam boa resolução de imagens, com formato 4:3 e 16:9 Widescreen. Alguns são compatíveis com PC's (entrada/saída VGA), as telas podem ser vistas de ângulos variáveis mesmo em ambientes fortemente iluminados, tendo um custo baixo, sendo mais acessível. Porém possuem uma desvantagem obvia: são grandes e pesados, não são 100% planos, o tubo de raio catódico possui grande profundidade impossibilitando a fabricação de modelos com dimensões de telas superiores a 38’’. Capítulo VI Pesquisa de Mercado 205 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6. PESQUISA DE MERCADO 6.1 Introdução A administração brasileira vem se preparando para a implantação das transmissões digitais de sinais de televisão no Brasil. Entre as muitas tarefas que estão sendo desenvolvidas com este objetivo, pode-se ressaltar a pesquisa de mercado encomendada pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) e realizada pelo CPqD. A referida pesquisa tinha com objetivo avaliar o mercado brasileiro incluindo o parque industrial, distribuição de renda, concentração demográfica e demais dados necessários que pudessem subsidiar a ANATEL na escolha do padrão de TV Digital a ser adotado no Brasil. Com isto a ANATEL solicitou uma investigação pública envolvendo os três seguimentos: • consumidores finais; • emissoras de radiodifusão; • Indústrias de receptores de sinais de televisão. Para o segmento consumidores foram utilizadas duas pesquisas: uma pesquisa qualitativa com grupos focais e uma pesquisa quantitativa por meio de questionários estruturado. Para os segmentos emissoras e indústrias foi utilizada a técnica de entrevistas em profundidade (pesquisa qualitativa). 206 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.2 Segmento Consumidores As novas tecnologias abrem um grande leque de opções para a evolução do modelo atual de negócio da televisão. Mesmo em um cenário mais conservador, com a televisão restrita apenas ao transporte de sinais de áudio e de vídeo, a introdução da tecnologia digital possibilitará melhorar a qualidade dos sinais recebidos, assim como permitirá que mais canais e programas sejam disponibilizados aos telespectadores. Por outro lado, mais abrangente, o negócio de televisão seria enriquecido pelo acréscimo de novos recursos, pela execução de outros serviços de telecomunicações e de valor adicionado usando a mesma plataforma tecnológica de transmissão, com o telespectador sendo atendido pelos de terminais que, mais do que meros reprodutores de sons e imagens, fossem terminais integrados. Entretanto, para que todos esses recursos possam ser aproveitados de uma forma otimizada e, sobretudo, atendendo às expectativas dos usuários, é necessário compreender a respeito do quê eles esperam e como a introdução da tecnologia digital pode vir a satisfazer a tais anseios. Neste capítulo, serão apresentados alguns resultados das pesquisas de mercado efetuadas junto aos consumidores brasileiros. Os dados dessas pesquisas fazem parte do Relatório Integrador dos Aspectos Técnicos e Mercadológicos da TV Digital, realizado através do Convênio Técnico da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) e a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) [67]. 6.2.1 Expectativas dos usuários brasileiros para a televisão do futuro Entre 1999 e o primeiro semestre de 2000, a ANATEL promoveu três séries de pesquisas de opinião junto ao público, para descobrir os desejos e tentar formular o conceito do que seria a televisão do futuro de acordo com as expectativas do mesmo. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 207 A primeira série foi uma pesquisa qualitativa, onde foram ouvidos consumidores, gerentes de Indústrias de equipamentos e de emissoras de televisão. Nessa pesquisa, os consumidores ouvidos expuseram livremente o que esperavam de uma televisão do futuro. No segmento de consumidores, ela foi realizada com a técnica de grupos focais nas cidades de Porto Alegre (RS), Campinas (SP) e Recife (PE). Nestes estudos, tal pesquisa é referida como “pesquisa qualitativa (Grupo Focal)”. A segunda série foi uma pesquisa quantitativa, elaborada a partir da primeira, onde foram ouvidas três mil pessoas de 55 cidades distribuídas nas cinco macroregiões geo-econômicas (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste). Tanto a escolha das cidades quanto a escolha das pessoas entrevistadas na íntegra foram feitas procurando reproduzir o perfil sócio-econômico do Brasil e das respectivas regiões. Tal pesquisa é referida como “pesquisa quantitativa”. Finalmente, uma terceira série foi realizada junto ao público freqüentador de Shopping Centers, quando foram ouvidas 4.700 pessoas em sete grandes centros metropolitanos. Esta pesquisa teve por objetivo avaliar o público que, supostamente, seria o primeiro a adquirir um aparelho de TV Digital, quando o mesmo estivesse disponível. Para a realização desta pesquisa, foi feita uma demonstração com um televisor de alta definição, que não pode ser feita nas pesquisas anteriores, apresentando uma partida de futebol. Essa pesquisa é referida como “pesquisa quantitativa Shopping Centers”. O resultado dessas pesquisas permitiu delinear o que o público espera da televisão do futuro. As Tabelas 6. 1 e 6. 2, apresentam a opinião do público consultado na segunda e na terceira série de pesquisas. Os valores apresentados referem-se à importância considerando pelos entrevistados para o atributo, sendo que um valor mais alto corresponde a uma maior importância, em uma escala de zero a dez. 208 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado Tabela 6. 1 - Importância dos atributos, pesquisa quantitativa. (fonte: ANATEL/2001) [67]. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Atributos Ajuda para Deficientes Físicos Gravação de Programas Imagem em Alta Definição Múltiplos Programas Informativos Programas Defasados Interatividade Vídeo Adicional Áudio Adicional Legenda Adicional Hipermídia Áudio Digital Pontuação 8,12 7,48 6,94 5,91 5,79 5,51 5,48 4,78 4,37 4,28 4,10 3,33 Tabela 6. 2 - Importância dos atributos, pesquisa quantitativa Shopping Centers. (fonte: ANATEL/2001) [67]. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Atributos Imagem em Alta Definição Múltiplos Programas Gravação de Programas Hipermídia Programas Defasados Interatividade Ajuda para Deficientes Físicos Vídeo Adicional Áudio Adicional Legenda Adicional Áudio Digital Informativos Pontuação 9,26 7,53 7,47 6,62 6,57 6,21 6,17 6,06 5,76 5,62 5,39 5,38 As pesquisas abordaram também questões mais imediatas, tal como o preço que a pessoa estaria disposta a pagar pelo aparelho receptor. Para melhor compreensão, as características desta “televisão do futuro” foram agrupadas por atributos. Como poderá ser notado, alguns dos atributos referem-se ao sistema como um todo, enquanto outros dizem respeito apenas à implementação do aparelho receptor. Entretanto, visando fornecer um quadro completo, serão apresentadas todas as expectativas, mesmo aquelas que não dizem respeito diretamente à tecnologia da televisão [67]. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.2.2 209 Melhor imagem, melhor som O principal atributo da televisão do futuro é que ela deve ter uma melhor imagem e um melhor som. Na pesquisa qualitativa, a HDTV foi mencionada como um atributo importante pelos segmentos entrevistados. Na pesquisa quantitativa, a alta definição aparece em terceiro lugar, enquanto que na pesquisa quantitativa Shopping Centers foi o quesito mais solicitado. Todavia, melhor imagem e melhor som não se restringem ao aspecto “alta definição”. Eles significam, de uma forma mais abrangente, uma imagem de boa qualidade, sem fantasmas, sem tremores, sem chuvisco, limpa e com uma boa definição de cores. A comprovação dessa tese, segundo o CPqD, foi pelas pesquisas quando algumas pessoas afirmaram que um dos fatores que as levam a ter preferência por determinado canal é a qualidade de sua imagem. Quanto ao melhor som, as expectativas referem-se não apenas à qualidade (som de CD), mas também a outros atributos tais como os sons envolventes (Surround), possibilidade de controle tonal (equalizador gráfico), visualização opcional de leds indicadores de nível (VU-METER), atributos que referem-se ao aparelho receptor. Entretanto, pelo menos um atributo sonoro está é relacionado ao sistema: a possibilidade de se ouvir, por exemplo, em uma orquestra, instrumentos individuais (o que implica na transmissão simultânea de vários fluxos elementares de áudio). Outra expectativa está relacionada não tanto com a qualidade do som, mas com o seu nível: os usuários esperam que haja certa padronização do nível de áudio, sendo que, no caso analógico, o desnível entre os canais percebido ao se mudar de canal é apontado como um grande incômodo. O mesmo desnível verifica-se nos intervalos comerciais. Assim sendo, é importante ressaltar que todos esses conteúdos somente poderão ser totalmente usufruídos em alta definição [67]. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.2.3 210 Ajuda para deficientes físicos A pesquisa quantitativa indica a importância da ajuda aos deficientes físicos. Tal importância é igualmente destacada em todas as macrorregiões geo-econômicas. Essa ajuda vai desde uma legenda textual ou através da exibição de uma pessoa empregando a linguagem de surdos-mudos sem uma pequena janela PIP (Picture-inPicture), e também através de uma descrição textual da cena, para pessoas com deficiências auditivas (Closed Caption). As informações que compõem os mecanismos de ajuda são transmitidas por fluxos complementares, e a sua exibição/ativação é controlada pelo usuário. No caso de legenda (texto), o usuário pode selecionar a cor, o tamanho das letras e a localização do texto na tela [67]. 6.2.4 Gravação de programas e near-video-on-demand A gravação de programas, outro atributo tido como importante na pesquisa qualitativa, aparece como o segundo atributo mais importante na pesquisa quantitativa e em terceiro na quantitativa Shopping Centers. Para o usuário, a gravação de programas tem três tipos de finalidade: as duas primeiras compreendem a possibilidade de gravar um programa para assisti-lo em um horário mais conveniente (tal como o papel exercido pelo videocassete) além da possibilidade de transmissão do mesmo programa em horários defasados. Conhecida como near-video-on-demand, (que aparece em sexto lugar na pesquisa quantitativa e em quinto na quantitativa Shopping Centers), pode-se compreender que a possibilidade do usuário assistir a um programa sem ficar rigidamente amarrado ao horário de transmissão do mesmo é visto como um grande benefício. O terceiro tipo de finalidade é o uso do armazenamento local como uma memória buffer de tempo limitado. Neste caso, o usuário tem a possibilidade de “apertar um Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 211 botão” e rever uma cena que acabou de passar (enquanto o resto do programa é automaticamente gravado para ser visto em seguida). Para efeitos comparativos, pode-se dizer que o armazenamento local é como o que se feito com arquivos de Internet em programas como Real Player. Ao escolher uma música on-line, por exemplo, o programa “carrega” as informações (armazena) e depois executa. Isto difere do download de arquivos, já que neste existe a possibilidade de arquivamento em disco flexível ou rígido. Apesar desses atributos serem mais pertinentes ao aparelho receptor, o uso de rótulos identificadores nos programas (Program Identifier) poderá vir a ajudar a satisfazer tais tipos de anseios, ao possibilitar com precisão o início e o término da gravação de programas ou segmentos, e também ao criar a possibilidade de que tais acionamentos possam ser feitos remotamente, seja pelo próprio usuário, seja pelo provedor do programa [67]. 6.2.5 Vídeo adicional O vídeo adicional refere-se à transmissão simultânea de fluxos de vídeo complementares, por exemplo, possibilitando que uma mesma cena possa ser vista de diferentes ângulos. Se for pensado em um jogo de futebol, o mesmo poderia ser visto de cima (visão geral do campo) ou ser acompanhado por de uma câmera colocada próxima ao gol do time adversário. Além do futebol, pode-se assistir a diferentes finais de uma telenovela, por exemplo. Segundo as pesquisas, alguns consumidores esperam que a televisão do futuro seja tridimensional. Outros disseram que gostariam de “poder rodar a imagem”, ou seja, de poder deslocar o ângulo de visão. Deve-se observar que, de um sistema que permita ao usuário escolher entre duas a quatro tomadas de cena distintas (o que será possível na TV digital) para um sistema interativo onde o usuário possa escolher, livre e 212 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado linearmente, o ângulo de visão, ainda existe uma distância técnica considerável a ser percorrida, o que exigirá maior estrutura para captação de imagens. Como exemplo, pode-se citar o sistema de TV via Satélite DirecTV, que tem transmitido eventos com câmeras diferentes em canais diferentes [67]. 6.2.6 Zooming Um atributo próximo à expectativa anterior é a possibilidade do usuário poder controlar o nível de “zoom” sobre um detalhe da cena. Esta expectativa foi detectada na pesquisa qualitativa. O Zooming pode ser realizado, dentro de certas limitações, pelo próprio aparelho receptor. É claro que qualquer efeito de Zooming a partir de um volume finito de dados acabaria por degradar a qualidade da imagem ampliada, gerando uma solução de compromisso entre a ampliação tecnicamente possível e a percepção do usuário (em função do tamanho e da resolução do monitor e da percepção visual do usuário). A transmissão em alta definição favorece este atributo, ao enviar uma maior quantidade de informações da mesma imagem [67]. 6.2.7 Múltiplos programas e vídeo sob demanda O atributo “múltiplos programas” aparece em quarto lugar na pesquisa quantitativa. Trata-se da oferta de diversos conteúdos distintos, ou seja, da transmissão simultânea de diversos programas SDTV (ou EDTV) for de um mesmo canal. O motivo por tal interesse é que os consumidores desejam mais opções de programação (nesse sentido, a TV a Cabo é sempre tida como uma referência). Mas não se trata de um mero aumento quantitativo dos canais: a pesquisa indica que os consumidores gostariam de ter “alternativas” em relação aos programas padrão, ou seja, programas com diferentes temas e, provável segmentação da audiência. A pesquisa Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 213 indica também o anseio por conteúdos mais informativos, com menos violência, menos agressão verbal e mais enquadrados a os padrões morais. Aparentemente, de nada adiantará ter mais canais (programações), se os conteúdos ou as abordagens forem semelhantes. Adicionalmente, existe uma preocupação de que tais programas adicionais sejam de acesso gratuito ou, pelo menos, caso seja por assinatura, disponíveis por um preço razoável para a grande massa da população. Aparentemente, dois fatores têm contribuído para isso. O primeiro é o custo da televisão por assinatura, não acessível ou não compensador para parte da população. O segundo é a própria programação – embora a TV por assinatura ofereça uma grande quantidade de canais, não raras vezes os usuários ficam sem poder desfrutar de determinado programa, principalmente devido ao problema de horário de transmissão. Dessa forma, a TV Digital poderá vir a equacionar esse problema de duas formas. Uma, pelo uso do mecanismo de armazenamento local, facilitado pelo uso de identificadores de programa, que lhe conferiria uma independência à vinculação temporal entre a transmissão e assistir o programa. E a outra forma, pela efetiva oferta de vídeo sob demanda utilizando-se dos recursos de interatividade, a transmissão utilizando faixa remanescente disponível e o acesso condicional [67]. 6.2.8 Interatividade Desde o surgimento da televisão, na década de 30, até os dias de hoje o aparelho de televisão tem sido apenas um instrumento de recepção de um determinado sinal, com a TV Digital este procedimento vai mudar. Com o auxílio de uma linha telefônica acoplada ao aparelho ou por um sistema de transmissão do próprio aparelho receptor será possível o telespectador, dentro de sua casa, ter uma interatividade com o programa que está sendo assistido. 214 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado Existe uma certa confusão quanto ao significado do termo “interatividade”. As pessoas mais ligadas à tecnologia entendem como interatividade a interação do usuário com o programa, como ocorre, por exemplo, em um sistema hipermídia. Já outra parcela da população interpreta a interatividade como a possibilidade de influir na programação das emissoras, não apenas em programas do tipo “Você Decide”, mas na escolha efetiva, do que deve ou não, ser transmitido ao público. Esta interatividade vai trazer alguns benefícios, como a realização de compras enquanto se assiste a um programa, podendo o pagamento destas compras serem efetivadas com o cartão de crédito, a possibilidade do usuário responder as perguntas feitas no programa ou até mesmo fazer perguntas para um artista que está sendo entrevistado. Todas estas possibilidades de interatividade já estão disponíveis no uso da Internet nos computadores, o que a TV Digital quer é juntar estes recursos em um único meio, que é a televisão. A Tabela 6. 3 relaciona as classes de interatividade, que se associa-se ao tipo de classe com a realização desta interatividade. Tabela 6. 3 - Classes de sistemas interativos [62]. Classe de Interatividade 1) Interação Forte: Transmissão bidirecional, simétrica. 2) Interação Forte: Transmissão bidirecional assimétrica de retorno solicitado pelo usuário. 3) Interação Média: Transmissão assimétrica bidirecional, com retorno solicitado pelo provedor de informação. 4) Interação Fraca: transmissão assimétrica bidirecional, com canal de retorno off-line 5) Interação sem Canal de Retorno: Transmissão unidirecional, sendo o terminal um servidor de aplicações. Meio Redes de Comunicação de Dados Sistema de Radiodifusão Sistema de Radiodifusão Sistema de Radiodifusão Sistema de Radiodifusão Sistema de Radiodifusão A interação forte com transmissão dos dados simétrica caracteriza-se pelas taxas de transmissão semelhantes nos canais de retorno (upstream) e de ida (downstream), trafegando aplicações de comunicação de dados. Normalmente existe nas transmissões Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 215 de TV a Cabo que utilizam canais de interação simétricos para dados. Já a classe interação forte, utilizando o sistema de radiodifusão, faz o compartilhamento do canal de retorno entre os usuários (usando controle de acesso ao meio do tipo TDMA, FDMA ou CDMA). A interação média é usada na forma de “coleta” através de algumas opções fornecidas aos usuários. A interação fraca, do tipo off-line faz com que o usuário envie informações para um provedor sem possibilidades de mudança na programação que está recebendo. Por último a interação sem canal de retorno, que o sinal é transmitido pela emissora com todas as opções já inclusas e é armazenado na memória. O telespectador pensa estar interagindo, mas na verdade está somente escolhendo uma opção entre tantas que o seu receptor já recebeu [62]. A interatividade, incluindo ambas as interpretações, foi o sétimo atributo mais votado na pesquisa quantitativa e sexto na pesquisa quantitativa Shopping Centers. Analisa-se a seguir cada uma dessas possibilidades [67]. 6.2.8.1 Interação com o programa O aspecto mais notável da convergência tecnológica é a possibilidade da TV digital vir a ser um sistema totalmente interativo. O usuário teria um teclado ou dispositivo apontador (mouse) remoto, e as imagens seriam compostas por objetos “clicáveis” com a finalidade de trazer informações complementares, possibilitar serviços como o homeshopping, a busca de outros programas correlatos ou a navegação hipermídia. Nas emissoras, segundo a pesquisa, os representantes entrevistados consideram que a introdução desses novos serviços ou facilidades é um atributo muito importante. Por outro lado, a baixa receptividade obtida por uma tal tecnologia, na pesquisa de mercado realizada junto ao público consumidor, pode ser devida ao uso que as pessoas fazem atualmente da televisão. A maioria das pessoas assiste passivamente à TV. Outras utilizam a ela como uma companhia para amenizar a solidão, ou para ser um “som” enquanto faz outras atividades (significando, via de regra, que sequer prestam 216 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado atenção ao que é veiculado). Entretanto, existe uma grande chance de que esse cenário venha a ser alterado com o tempo, pois as crianças crescidas na “era da Internet” tendem a utilizar os aparelhos de forma muito mais interativa. O reflexo dessa tendência é a aquisição, pelas classes mais abastadas, do “segundo microcomputador” para as crianças, como ocorrera com a “segunda TV” anos atrás. Nessa nova cultura, quando as pessoas estiverem acostumadas a utilizar a televisão de forma ativa, a interatividade poderia ser não apenas local, mas possibilitar a participação dos telespectadores “ao vivo” nos programas, seja de forma restrita (votações), seja com o uso de Web-Cams ou recursos similares capazes de capturar a imagem e a voz das pessoas que passariam a participar efetivamente dos programas. Devido a isso surgirá a preocupação em como manter o telespectador de frente ao seu aparelho receptor durante mais tempo. 6.2.8.2 Home shopping e merchandising A pesquisa qualitativa indicou um resultado que, embora seja um pouco contraditória, mostra o potencial do home-shopping. Basicamente, os usuários dizem não gostar dos canais totalmente dedicados a vendas, ao mesmo tempo em que existe bastante tolerância ao merchandising implícito ou explícito dos programas, sendo inclusive preferido esse mecanismo mais que os intervalos comerciais (que os usuários geralmente ignoram mudando de canal). O home-shopping proporcionado pela hipermídia é bastante próximo ao merchandising, explícito ou implícito. Na forma explícita, um apresentador faria a apresentação de um produto, seguido de um “clique aqui para adquirir já”. Na forma implícita, não haveria tal empurrão – o “objeto do desejo” estaria presente, em forma de um hiperlink, em um determinado cenário, à espera dos interessados na sua aquisição. O que ocorre hoje, é que em uma determinada novela ou minissérie, por exemplo, os objetos de uso das personagens encontram-se à venda através dos sites oficiais das Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 217 mesmas. A rede Globo iniciou esse tipo de comércio virtual durante a novela “Laços de Família” (2000). Porém, a finalização da compra do produto acontece dentro do site do canal de vendas Shoptime.com (do grupo de canais por assinatura Globosat). Isto fornece a impressão de que a emissora já vem se preparando para quando, através do controle remoto, o próprio telespectador fará suas compras sem sair de casa – e pelo televisor. 6.2.8.3 Influência na programação O desejo da população em influir na programação denota, pelos depoimentos colhidos e relatados nas pesquisas, um descontentamento em relação ao nível e enfoque dos programas veiculados. Nesse sentido, um sistema interativo viria a ajudar, de acordo com os entrevistados, pelo retorno imediato que as emissoras teriam quanto aos índices de audiência, fornecendo um claro parâmetro sobre o que a população deseja e não deseja ver veiculado na televisão. Embora a definição da programação seja uma prerrogativa das emissoras, a TV Digital poderá vir a auxiliar esse atributo indiretamente, se vier a ser implementado algum mecanismo de aferição remota e instantânea dos índices de audiência. 6.2.9 Internet Além da possibilidade de utilizar o aparelho de televisão como terminal de acesso à Internet, a pesquisa de mercado indica pelo menos um uso inusitado para a TV digital nessa área: o uso como interface de caixa-postal para deixar “recados”. Dessa forma, as pessoas que convivem na mesma casa poderiam deixar recados umas às outras. Os emails (também formas de recados), sejam eles locais ou enviados via Internet, poderão ser em forma apenas textual, ou uma gravação sonora, ou mesmo audiovisual, aproveitando-se dos recursos multimídia do televisor. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 218 Nesse sentido, comparado com ao microcomputador, a TV Digital apresenta as seguintes vantagens: a) é um aparelho, em tese, mais simples de operar, e mais abrangente (ou seja, mais pessoas o utilizam); b) é suposto que a pessoa vai assistir a TV, enquanto é menos garantido que ela vá ligar o micro – isto permitiria as pessoas lerem os recados assim que ligasse a TV; c) acoplada a outras funcionalidades, como por exemplo, o relógio, pode ser utilizada como despertador, a mensagem seria exibida assim que a TV se ligasse. Visualiza-se também serviços de informação (por assinatura), onde provedores enviariam boletins com notícias sobre determinado assunto (cada mensagem poderia ser não só um texto, mas um videoclip ou seja, um arquivo multimídia contendo uma reportagem). 6.2.10 Áudio adicional O áudio adicional, nono lugar na pesquisa quantitativa, tem utilização prevista principalmente para transportar informações em diversos idiomas. Poderá ser também utilizado, por exemplo, para transmitir sinais de vários microfones (ou instrumentos) no caso de shows e concertos. Além dessa utilização, o áudio adicional poderá colaborar para a transmissão de informação complementar para as pessoas com deficiência visual. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.2.11 219 Legenda adicional Da mesma forma que o áudio adicional, a principal utilidade da legenda adicional será a possibilidade de ter legendas em diferentes idiomas, à escolha do usuário. Diferentemente dos sistemas atuais, a TV Digital deverá possibilitar ao usuário escolher o idioma, o tamanho e a cor da letra. 6.2.12 Outras características A pesquisa de mercado detectou outros atributos desejáveis para a TV do futuro. Embora não diretamente relacionados ao sistema, e sim ao aparelho receptor, optou-se por registrá-los aqui, pois completam o quadro das expectativas dos usuários. 6.2.12.1 Periféricos A pesquisa qualitativa detectou um grupo de pessoas com o desejo de poder conectar uma impressora ao receptor de televisão. A impressora teria a finalidade de imprimir o que estivesse sendo exibido na tela (por exemplo, o rosto de um artista favorito). Outra aplicação seria por exemplo imprimir textos de receitas culinárias cuja elaboração estivesse sendo transmitida, ou imprimir textos que pessoas entrevistadas quisessem disponibilizar ao público de forma geral (informações, dicas, orações). 6.2.12.2 Controle ativado pela voz A televisão do futuro seria controlada vocalmente, e não mais por meio de um controle remoto com inúmeras teclas. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.2.12.3 220 Senha A TV do futuro teria uma senha para a sua ativação. Inicialmente concebida para minimizar risco de roubo, poderia ser utilizada para controle de acesso a programas adultos. 6.2.12.4 Programas preferidos A TV poderia ter um mecanismo tal que permitisse ao usuário definir os tipos de programas preferidos. O sistema automaticamente passaria a avisar o usuário sobre os horários dos programas que atendam ao perfil especificado. 6.2.12.5 Mecanismos de Busca Item complementar ao anterior, a televisão poderia ter um mecanismo de busca baseado em palavras-chave, para facilitar a localização de um programa (ou tipo de programa) dentro de uma grande gama de canais (como ocorre por exemplo na TV por assinatura). 6.2.12.6 Tela fina e portátil A tela da TV do futuro deverá ser fina, ou seja, de cristal líquido ou de plasma (ou até mesmo de outro material que venha a ser desenvolvido futuramente). Mais que isso, os usuários mais avançados esperam que ela possa ser fixada em qualquer lugar, tal qual um quadro. Tecnicamente, isso significa que a TV deveria ser desmembrável em duas unidades: uma unidade receptora-decodificadora (URD) contendo todos os circuitos de recepção e processamento dos sinais e uma outra unidade, que seria apenas a tela e os circuitos imediatamente necessários. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.2.12.7 221 No-break Outra expectativa dos usuários é a existência de um no-break na TV. Pelos depoimentos, não existe nada mais deprimente que acabar a eletricidade e ficar sem ter o que fazer (e pior, perdendo a programação da TV). 6.2.12.8 Como utiliza - lá na educação? Novas formas de comunicação têm sido implementadas para facilitar e tornar mais interessante o ato de aprender; a TV interativa é um destes elementos que pode trazer benefícios para o ensino. Imagine o uso que pode ter de programas como Telecurso ou ainda cursos profissionalizantes como os do SEBRAE e SENAC, em que, além do aluno assistir à aula, ele pode interagir com os professores e até com outros colegas através de perguntas e respostas. Sabe-se que antes deste tipo de mídia estar no mercado é necessário uma alfabetização digital, que proporcione a aquisição de habilidades básicas desses recursos para que as pessoas consigam a utilização em favor de suas necessidades e interesses. Uma experiência nesta situação tem a WISH TV (TV americana) que conecta pessoas simples da periferia dos estados como Califórnia e Louisiana, via cabo, com a escola, pela TV Interativa. Neste projeto, pais, alunos e professores comunicam-se pela TV, pais fazem algumas atividades escolares com os filhos via TV e professores e pais trocam informações a respeito da vida escolar do filho. O resultado é a diminuição da exclusão digital, aceitação simples desta mídia pelos pais e maior rendimento dos filhos na escola pelo simples fato dos pais estarem presentes. Antes de se ter um processo de interatividade entre alunos e professores através da televisão é necessário despertar o interesse dos professores para uma comunicação mais aberta e participativa com os alunos. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 222 Muitos softwares, programas de TV e, até mesmo, escolas divulgam cursos virtuais com interatividade para o aluno, porém, normalmente estes cursos possuem uma estrutura fechada e a única interatividade é o envio de e-mails. Para realmente existir uma interatividade é necessário que o usuário possa, através de um programa aberto, manipular e modificar a situação, onde esta situação oferece um leque de possibilidades dentro do programa e que a mensagem possa ser recomposta, reorganizada e modificada através das intervenções do receptor e não somente do emissor. Existem quatro maneiras para promover uma interatividade em uma aula, que são: • Primeiro: pressupor a participação e na intervenção dos alunos, sabendo que participar é atuar na construção do conhecimento e da comunicação e não somente responder “sim” ou “ não” ou escolher uma opção determinada; • Segundo: garantir a bidirecionalidade da emissão e dar recepção, sabendo que a produção deve ser um trabalho conjunto entre professor e alunos, e; • Terceiro: propor sempre mensagens abertas com informações que o receptor tenha ampla liberdade de associações, e por último que haja cooperação, já que a comunicação não se constrói em um trabalho solitário [62]. 6.2.12.9 Jogos interativos Outros recursos possíveis, com a interatividade da televisão, são os jogos interativos, onde o telespectador pode participar do jogo através do controle remoto ou pelo telefone. Um dos pioneiros neste assunto no Brasil foi o programa “Hugo” da rede CNT/TV Gazeta, no qual as crianças telefonavam e interagiam jogando pela TV, o usuário utilizava os botões do telefone para mover o personagem “Hugo” através dos obstáculos. O programa teve um sucesso tão grande que o sistema de telefonia de São Paulo não Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 223 suportou o grande número de ligações. Este programa veio da Dinamarca onde foi criado em 1990 [62]. 6.2.12.10 Eletronic Programming (EPG) O EPG é uma ferramenta que facilitará a navegação do usuário nas programações das emissoras, em que os EPGs poderão enviar informações de até sete dias de programação antecipada, facilitando para o usuário a escolha de programas para o decorrer da semana. Fazendo uma analogia com a Internet, os EPGs seriam os portais da Internet. O EPG é baseado no Service Information Protocol (SI) que informa os programas disponíveis, em que canais os mesmos se encontram e fornece informações sobre eventos de um determinado programa. Vale salientar que outros recursos poderão serem desenvolvidos na medida que for sendo desenvolvida a tecnologia de TV Digital. 6.2.13 Pesquisa quantitativa (síntese de dados encontrados) A pesquisa quantitativa, feita através de uma questionário, com quarenta perguntas, previamente estruturado, objetivou mensurar as tendências encontradas nos grupos focais e quantificar outros atributos considerados importantes. As Tabelas 6. 4, 6. 5, 6. 6, 6. 7 e 6. 8, exemplificam os dados encontrados na pesquisa quantitativa, vale ressaltar que embora a realização desta pesquisa foi feita em 2000, ela ainda evidência de forma eficaz a tendência do mercado brasileiro na implantação da TV Digital, isto se deve ao fato de não se ter ainda uma definição e uma política concreta de implementação. 224 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado Tabela 6. 4 - Tempo médio de compra de aparelhos de TV [67]. Região Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Norte Tempo Médio em Meses 47 meses 44 meses 49 meses 45 meses 39 meses Tabela 6. 5 - Tipos de antena utilizada [67]. Região Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Norte Externa (Convencional) 47% 44,3% 53,9% 37,3% 40,9% Interna Parabólica 25,3% 28,3% 15,8% 28,5% 12,7% 22% 21,0% 19,3% 30% 41,2% Por Assinatura 5,7% 4,8% 11% 4,2% 5,2% Tabela 6. 6 - Domicílios com TV por assinatura [67]. Região Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Norte % Domicílios com TV por Assinatura 6% 5% 12% 5% 5% Tabela 6. 7 - Notas atribuídas para as imagens das simulações das TVs [67]. Região Notas para Imagem da TV Atual Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Norte 3,9 3,8 4,0 4,4 3,8 Notas para Imagem da TV Atual com Conversor 6,8 6,6 6,9 6,8 6,5 Notas para Imagem da TV Digital 9,4 9,3 9,5 9,2 9,1 Tabela 6. 8 - Hierarquia dos serviços [67]. Região CentroOeste 1º Ajuda para Deficientes Gravação de Programas Diretamente da TV Ordem de importância 2º HDTV 3º Programas com Defasagem de Horários Informativos 225 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado Sul Sudeste Gravação de Programas Diretamente da TV Ajuda para Deficientes Ajuda para Deficientes Gravação de Programas Diretamente da TV HDTV Nordeste Ajuda para Deficientes Norte Ajuda para Deficientes 6.2.14 Programas com Múltiplos Defasagem Programas de Horários Gravação de Programas Diretamente da TV Gravação de HDTV Programas Diretamente da TV Informativos HDTV Informativos Múltiplos Programas HDTV Informativos Pesquisa business standard Na pesquisa realizada pela revista business standard (Março/2002) mostra que o primeiro item lembrado quando se fala em serviços sob demanda é o planejamento de suas programações, um filme ou um programa específico a ser assistido. Isto mostra uma preocupação do usuário em relação ao que se vai assistir na TV. Outro serviço bastante lembrado é o de se ter à facilidade de pagar contas sem sair de casa através da TV, conforme mostra a Tabela 6. 9 [62]. Tabela 6. 9 - Dados da pesquisa realizado pela revista business standard [62]. Demanda Qual dos Serviços Você Acredita que Trará mais Benefícios ao seu dia-a-dia? Programar filmes e outras atrações para serem assistidos em horários 41% de seu interesse Pagar suas contas pela TV ao mesmo tempo em que continua 17% assistindo ao seu programa predileto Fazer cursos on-line. 15% Assistir a comerciais e comprar os produtos que estão sendo oferecidos 11% on-line. Enviar e receber e-mail pela TV Digital 11% Selecionar os segmentos comerciais de seu interesse para as propagandas televisivas Jogar videogame pela TV com pessoas que estão em outros lugares 3% 2% 226 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.3 Segmento Emissora No que se refere ao segmento de emissoras, este trabalho objetivou evidenciar as percepções das emissoras sobre o processo de implantação do sistema de transmissão digital no Brasil. As maiores emissoras já estão com aproximadamente 40% de sua rede de transmissão operando digitalmente. Segundo as emissoras, o mercado consumidor representaria o elo fundamental para a concretização de seus anseios. A atenção para esse elemento deveria ser priorizada no sentido de tornar possível o acesso à tecnologia digital, através dos receptores digitais. Segundo os entrevistados, o mercado brasileiro teria características que favoreceriam a receptividade aos produtos em HDTV. Sendo assim, os esforços das emissoras seriam direcionados para a produção em alta definição. Como os negócios do segmento de emissoras giram em torno de veiculação de anúncios, a preocupação é de que os receptores HDTV deveriam atingir um nível de preços convidativos (próximo aos que se têm hoje). Caso contrário, o consumidor não se interessaria pelos receptores digitais. Sem audiência no canal digital, não haveria anunciantes. Sem anúncios, não haveria garantias do retorno financeiro aos investimentos em HDTV realizados pelas emissoras. Se a decisão sobre a transmissão digital fosse orientada para o SDTV, o consumidor poderia não identificar uma diferença significativa na mudança (do analógico para o SDTV) e, portanto, não seria movido a comprar novos receptores. As emissoras reconhecem que os preços iniciais dos receptores seriam elevados e restritos aos consumidores das classes A e B. Somente com a queda dos preços a valores mais acessíveis é que as classes C e D poderiam ter acesso aos receptores digitais. Antecipando o futuro à operadora de TV via Satélite Sky, e as operadoras de TV via Cabo TVA e NET, já estão transmitindo seus conteúdos em sinais digitais, fornecendo também interatividade aos seus usuários. Aproveitando a indefinição do padrão de TV Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 227 Digital, essas empresas anteciparam-se ao mercado, e apesar de serem pagas, acreditam que poderão competir com a transmissão digital terrestre, oferecendo alta qualidade na imagem, interatividade e serviços adicionais [69]. Atualmente as emissoras de TV Aberta já estão em um bom nível de digitalização de seus conteúdos, boa parte delas já possui ilhas de edição digital para realização dos programas. Esta antecipação se deve principalmente à facilidade da capitação e edição dos conteúdos em formatos digitais e a retransmissão via Satélite para as afiladas (repetidoras). Mas, por outro lado, as emissoras terão que ter acesso a linhas de financiamento ao longo prazo para migraram para TV Digital, caso contrário à nova tecnologia ficará restrita apenas as classes sociais mais altas. Estudo interno da Globo, maior emissora de TV Aberta do Brasil, prevê investimentos de US$300 milhões para a transmissão digital simultaneamente em todo o país [70]. Empresas do setor de telecomunicações, operadoras e fabricantes, esperam ansiosas pela definição do padrão, pois a adoção de um sistema que permite a mobilidade proporcionará a exploração de um mercado promissor, de serviços como à transmissão de vídeo em tempo real seja ela nos meios de transporte ou em receptores pessoais portáteis. O setor vive uma boa fase, já que em 2004 o número de celulares no Brasil chegou a 65,6 milhões com um acréscimo de 19,2 milhões de aparelhos em relação a dezembro de 2003, e o crescimento no período foi de 41,4% [68]. 6.3.1 Produção digital A produção digital em SDTV já faz parte da rotina produtiva das emissoras de TV. A produção em alta definição é objetivo de todas as empresas de televisão. A primeira programação em HDTV, certamente, seria composta pelos grandes espetáculos, principalmente futebol e carnaval, e filmes. Outros programas como jornalismo e entrevistas não seriam inicialmente produzidos em alta definição, pois não justificariam uma imagem altamente definida. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 228 Finalmente, identificou-se que cada emissora implantaria ações para a produção em HDTV segundo suas possibilidades financeiras. Dados apontam o telespectador brasileiro como um dos maiores consumidores de TV do mundo, em 2004 cada telespectador consumiu em média 4 horas, 53 minutos e 22 segundos de TV Aberta por dia, já a média diária de consumo de TV Aberta por domicílio foi de 8 horas e 31 minutos durante o mesmo período. Outro dado curioso é que em média o assinante de TV Paga passou 60% do tempo que dedicou ao televisor assistindo a canais abertos, ou seja, só viu a TV que realmente paga em 40% do tempo total [70]. 6.4 Segmento indústria No que se refere ao segmento industrial, este trabalho objetivou evidenciar as percepções do segmento de fornecedores de receptores digitais sobre o processo de implantação do sistema de transmissão de sinais digitais de TV no Brasil. A abordagem desta pesquisa procurou identificar os principais parâmetros envolvidos na implementação da TV Digital no Brasil. Sendo assim, neste segmento a pesquisa abordou os seguintes temas [67]: 6.4.1 Transmissão digital e suas possibilidades Os fabricantes teriam interesse que está tecnologia fosse adotada rapidamente, vislumbrando um aquecimento na produção diante do grande mercado que a implantação proporcionará. Para eles existe um ponto comum, o grande interesse dos consumidores seriam o HDTV, a transmissão em alta definição irá motivar o consumidor a adquirir um novo receptor, sendo que os demais serviços de natureza interativa terão um alto grau de importância para o consumidor. 229 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.4.2 Percepção sobre os padrões Segundo os fabricantes a escolha do padrão de transmissão não representa preocupações tecnológicas para as empresas fabricantes, porque elas já encontram-se preparadas para a produção de itens digitais, independente do padrão escolhido. As percepções indicam que as empresas que detém tecnologia própria provavelmente iniciarão o abastecimento do mercado, e as que não desenvolvem tecnologia firmarão acordos tecnológicos e entrarão um pouco mais tarde no mercado. 6.4.3 Prazos factíveis para produção de itens digitais, segundo o segmento industrial Esta pesquisa mostra a expectativa das empresas, muitas delas mencionaram que todo o portfolio de produtos poderia ser disponibilizado entre seis e vinte e quatro meses, após a definição do padrão pela ANATEL. As empresas têm a expectativa que em dez anos o processo de transição já esteja consolidado no Brasil. Tabela 6. 10 - Linha do tempo, segundo o segmento industrial. (dados fornecidos pelos fabricantes) [67]. Período de Transição de 10 anos (Coexistência de Transmissões Analógica e Digital) Data inicial Start ANATEL Início 6.4.4 Set-Top Box e TV Digital (Portfolio Reduzido) 6 meses Vasto Portfolio de Produtos 24 meses 10 anos Posicionamento sobre o mercado consumidor Existe a preocupação com os elevados preços iniciais, quando apenas um percentual pequeno dos consumidores (classes A e B) estaria motivado a adquirir tais 230 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado produtos, desde que plenamente estimulados pelos benefícios da transmissão digital, principalmente o HDTV. Segundo os entrevistados, o receptor digital inicialmente seria adquirido por consumidores mais favorecidos financeiramente e o Set-Top Box atingiria o segmento mais popular, que não teria todos os benefícios da transmissão digital, como o HDTV. Os fornecedores acreditam que em um prazo de dez anos os consumidores teriam trocado seus aparelhos analógicos pelos televisores digitais. 6.4.5 Expectativas de investimentos para manufaturas A maioria das Indústrias diz que o investimento seria muito grande, independentemente do padrão adotado. Uma linha de montagem moderna teria um custo entre três ou quatro milhões de dólares. Em alguns depoimentos, sugeriu-se o montante entre dez e quinze milhões de dólares, considerando recursos já existentes e investimentos anteriores. Tais recursos futuros estariam direcionados a: • capacitar e treinar funcionários; • investir em máquinas, equipamentos e novas linhas de montagem, e; • investir em novo espaço físico no parque industrial atual que mantivesse, mesmo que por um período transitório de alguns anos, as duas naturezas de produção: analógica e digital; Outra questão mencionada, seria a preocupação com royalties que seriam cobrados do Brasil, e que emissoras e fabricantes teriam que pagar ao detentor do padrão adotado. A preocupação não se refere ao montante de investimento, mas à velocidade e à garantia do retorno dos investimentos. Diante dessa complexidade, resultante da Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 231 mudança do sistema de transmissão, as empresas pretenderiam minimizar o risco do investimento buscando, em cada padrão de transmissão, indicadores que possibilitassem projeções das empresas, tanto em termos produtivos como comerciais. 6.4.6 Dados descritivos do parque industrial no Brasil As indústrias fabricantes convergem para uma mesma idéia, de que o parque industrial brasileiro seria incrementado com funções de manufatura de produtos digitais desde que existisse demanda de mercado para tais produtos. Sendo que, durante o período de transição, as linhas de produção dos equipamentos analógicos iriam conviver com as novas linhas de produtos digitais. Todas as empresas multinacionais, com exceção de uma, mantém centros de desenvolvimento de tecnologia tanto ATSC quanto DVB. Todos esses centros de desenvolvimento estão localizados fora do Brasil. As empresas nacionais, embora não mantenham centros de desenvolvimento firmariam acordos para ter acesso às tecnologias disponíveis. Alguns dos dados descritivos estão listados abaixo: • Localização das Plantas Produtivas: a maioria das Indústrias mantêm fábricas em Manaus, com exceção de algumas que também mantêm instalações em outras cidades brasileiras; • Número de Funcionários: as indústrias consultadas estimam empregar hoje cerca de 25.000 funcionários, sendo 30% desse valor o número de funcionários trabalhando com produtos de recepção de sinal de TV; • Faturamento Anual: A maioria das indústrias preferiu não responder por considerar como dado estratégico da empresa. 232 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.4.7 Percepções sobre geração de empregos Seriam necessários empregar novos funcionários, porém esse número não chegaria a ser expressivo, devido à robotização das fábricas e ao reaproveitamento da mão-de-obra destinada à produção atual de equipamentos analógicos. A tendência é que a implantação de um sistema de transmissão totalmente novo exija mão-de-obra especializada para prestar serviços de assistência e atendimento ao consumidor. 6.4.8 Entrada de receptores digitais no mercado de consumo As empresas prevêem que a produção dos itens digitais ocorreria, na grande maioria, em seus parques localizados em Manaus. Entretanto, para atender a pequena demanda inicial para itens digitais, algumas empresas poderiam importar o produto pronto até que fosse justificável elas dependeriam do que as emissoras de TV estivessem dispostas a transmitir. Inicialmente, estariam sendo oferecidos dois produtos: • Set-Top Box, para adaptar a TV analógica convencional 4:3 à recepção de sinal digital; • 6.4.9 aparelho de TV Digital com atributo de alta definição (HDTV) ou não (SDTV). Interferência do padrão no preço dos equipamentos Alguns fabricantes mencionaram que os preços dos produtos seriam independentes do padrão adotado. Inicialmente, o preço seria elevado e que poucos consumidores teriam acesso. Nesse sentido, existe uma preocupação do segmento de fabricantes em subsidiar essa 233 Capítulo VI – Pesquisa de Mercado questão, tornando o receptor mais acessível. Os preços, considerados acessíveis, estão na Tabela 6. 11. Tabela 6. 11 - Preços dos receptores digitais, segundo o segmento industrial [67]. Receptores Digitais Set-Top Box TV Digital de alta definição (HDTV) 6.4.10 Preços US$ 200.00 a US$ 700.00 US$ 2,500.00 a US$ 3,000.00 Percepções sobre exportação As empresas multinacionais tem alto interesse na exportação de produtos manufaturados, principalmente para os países do Mercosul e da América Latina. Alguns fabricantes estariam preocupados com o tempo que o processo de adoção do padrão no Brasil pudesse levar, retardando investimentos e anulando oportunidades de negócios no pioneirismo brasileiro na produção de receptores digitais na América do Sul. A indústria assim como as emissoras, valorizam a importância da apresentação de credibilidade do processo, mediante a garantia de prazos associada ao: • estabelecimento de cronograma, para cumprimento dos prazos; • estabelecimento de normas de padronização, e; • implementação de políticas industrial e de exportação eficientes para o Brasil. Se as indústrias de componentes fossem atraídas, o grande resultado seria a constituição de um pólo industrial exportador, inclusive com desenvolvimento de tecnologia. Com isso, as condições de exportação seriam ampliadas. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.5 234 Pesquisa com demonstração No sentido de avaliar mais o mercado consumidor a ANATEL, com a colaboração das emissoras de radiodifusão, efetuou pesquisas em diversos Shoppings nacionais, onde foi feita uma demonstração comparativa entre uma TV Digital de alta definição e uma TV analógica. A ANATEL considerou que para avaliar a opinião real do mercado seria mais significativo levar a TV Digital às ruas e mostrá-la à população, definindo então uma nova fase de pesquisas de campo. O primeiro passo foi estabelecer as questões relevantes e reduzir o questionário anterior, de forma a permitir que a abordagem fosse direta ao transeunte, sem necessidade de combinar horário com os entrevistados, e treinar pessoal para aplicar esses questionários. O resultado deste passo foi um questionário de 15 perguntas, avaliando única e diretamente a impressão do consumidor com relação ao exibido nos televisores no momento do preenchimento do questionário e 6 pessoas treinadas para instruir quanto ao seu preenchimento. A seguir, foi feita a escolha dos locais de avaliação. Uma vez que essa pesquisa requer um considerável trabalho e algum investimento, foram consultados inicialmente os Escritórios Regionais da ANATEL que poderiam oferecer suporte em suas cidades. Desta consulta, foram definidas como alvo as cidades de Belo Horizonte, Manaus e São Paulo. Definidas as cidades, passou-se à procura dos locais. Tal busca concentrou-se em Shopping Centers, que oferecem, ao mesmo tempo, segurança, infra-estrutura e público. O último passo foi à negociação do empréstimo dos equipamentos das emissoras de radiodifusão e o projeto do quiosque. Capítulo VI – Pesquisa de Mercado 6.5.1 235 Expectativas de investimentos para manufaturas A pesquisa em Belo Horizonte, a única ocorrida até o momento, revelou-se um sucesso. Mais de 400 questionários foram respondidos, e os intervalos entre as sessões foram os mínimos realizáveis. Com o evidente sucesso da pesquisa, alguns objetivos foram remodelados, e as cidades almejadas passaram a ser, além de São Paulo e Manaus previstas inicialmente, Porto Alegre, Fortaleza e Brasília [67]. 6.6 Conclusão Vale ressaltar que a pesquisa de mercado relatada neste Capítulo, que faz parte do relatório integrador dos aspectos técnicos e mercadológicos da TV Digital, realizado através do Convênio Técnico da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) e a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), e foi realizado entre 1999 e o primeiro semestre de 2000, demonstra claramente a tendência atual para o processo de implementação da TV Digital no Brasil, e devido a indefinição do sistema/padrão de TV Digital que será adotado no Brasil tal pesquisa ainda é válida. O impasse do governo na definição faz com que estes dados permaneçam ainda atuais, pois a ausência de uma política objetiva e concreta impossibilita a tomada de decisões, isso faz com que a inovação da TV convencional, não seja perceptível ao consumidor final. O que pode-se notar é que adiantando a decisão do governo, os grandes fabricantes de televisores já estão lançando modelos HDTV Ready, que somente proporciona uma melhora na qualidade da imagem, quando utilizado em conjunto com um DVD Player, ou um canal pago de transmissão via Cabo/Satélite digital, como exemplo o Sky Digital Plus. Capítulo VII Modelos de Negócio em TV Digital 237 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 7. MODELOS DE NEGÓCIO EM TV DIGITAL 7.1 Introdução Ao contrário da TV Analógica, que possui um modelo de negócio bem definido e pouco flexível, a TV Digital apresenta diversas alternativas possíveis para a conformação do modelo. Se, por um lado, tal diversidade de opções cria um cenário bastante atraente, pode, por outro, facilmente induzir a alternativas enganosas. Enquanto algumas opções são, infelizmente, mutuamente excludentes, outras podem coexistir, mas a um custo bastante elevado. E, finalmente, existem as opções que, mesmo tendo um custo aparentemente significativo, podem trazer um volume de ganhos que compensem os investimentos necessários. As dificuldades são de natureza técnica, econômica e algumas vezes legal. Para efeitos destes estudos, entende-se como modelo de negócio em TV Digital “a forma como os recursos tecnológicos e suas características são utilizadas para prover um determinado conjunto de programas e facilidades para os telespectadores”. As alternativas referem-se a: • diferentes características de receptibilidade do sinal, com o conseqüente atendimento de diferentes segmentos de mercado; • utilização da capacidade de transporte de bits e sua distribuição entre diferentes tipos de programas televisivos e outros serviços de telecomunicações, e; • diferentes formas de se implementar os programas aplicativos que complementam os programas de televisão. Dessa forma, a radiodifusão brasileira, com uma acirrada competição entre as emissoras e com um elevado número de redes, sugere a necessidade de uma Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 238 flexibilidade que permita a cada uma delas enfrentar o desafio da introdução da nova tecnologia, com todos os investimentos que serão necessários. Obviamente, por atingirem parcelas diferentes de público, as soluções estratégicas de negócio não serão as mesmas para todas as emissoras. Assim, no início da implementação da TV Digital, as emissoras trabalharão na sondagem dos anseios do público, mediante o oferecimento das alternativas possíveis, com posterior avaliação da resposta do público e, se for o caso, direcionamento da estratégia. Não se pode esquecer que a TV Digital vem substituir uma tecnologia estabelecida há 50 anos e que ela será utilizada, provavelmente, pelos próximos 30 anos. Ela a televisão do futuro. O presente Capítulo analisa as alternativas existentes de Características para modelos de negócio e o próprio modelo de negócio que poderá vir a ser adotado, além de suas possibilidades. Além da melhor qualidade da imagem e do som, a tecnologia digital disponibilizará à televisão um conjunto de facilidades impensáveis no ambiente analógico, como interatividade, informação hipermídia e uma flexibilidade na adição e na utilização de novas aplicações, tais como o comércio eletrônico, a troca de mensagens ou os jogos eletrônicos. 7.2 Características para modelos de negócio Conforme já abordado anteriormente, neste Capítulo, as características para Modelos de Negócio seriam [65]: • Resolução, Qualidade de Imagem e Formato de Tela: uma questão central para a definição do modelo de negócio é a escolha da resolução desejada para a imagem da TV Digital. A resolução e o modelo de negócio são parcialmente interdependentes, definido um deles, tem-se poucas opções de escolha para o segundo. Como já foi visto anteriormente da resolução e do formato de tela, Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 239 podem ser agrupados em quatro categorias, correspondendo a quatro diferentes níveis de qualidade de imagem e som: HDTV, EDTV, SDTV e LDTV; • Conversão do Formatos da Tela: os programas transmitidos em formato 16:9 devem poder ser usufruídos por telespectadores que disponham de monitores 4:3 e vice-versa; • Diversidade de Programação: não existe restrições para a composição dos programas, mas deve-se observar que, por exemplo, não é possível ter-se um modelo de múltiplos programas em HDTV. Uma alternativa possível é a adoção de diferentes modelos em função do horário, como por exemplo a transmissão em HDTV no horário nobre (filmes) ou em eventos especiais (jogos, corrida de automóveis) e a transmissão de múltiplos programas em SDTV em horários em que existe maior probabilidade de audiência segmentada (por exemplo, durante o dia); • Otimização de Cobertura: a flexibilidade com que algumas plataformas permitem ajustar os parâmetros de transmissão, possibilita à emissora ampliar a capacidade de transporte (em detrimento da robustez do sinal), ou fornecer uma maior robustez à transmissão (em detrimento da capacidade de transporte). Essa flexibilidade poderia ser empregada para se otimizar a cobertura, porque existe no país regiões com condições geográficas bastante diversas, requerendo, em algumas delas, sinais mais robustos do que em outras. Cada emissora poderia ajustar os seus parâmetros de transmissão de modo a obter a máxima capacidade de transporte para a condição geográfica local; • Transmissão Hierárquica: consiste na transmissão de parte dos bits com um grau de robustez maior do que o dos demais. Com isso, criam-se dois tipos (ou camadas) de sinais: um, mais robusto, destinado a ser captado por todos os usuários, mesmo em situações bastante adversas; e o outro, menos 240 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital robusto, destinado a ser captado pela maioria dos usuários que utilizam antenas externas ou que estejam em locais de recepção não hostil; • Multimídia e Hipermídia: multimídia é a apresentação de informações utilizando-se das diversas formas possíveis de comunicação: sons, imagens, textos e sensação tátil. Já a hipermídia refere-se à possibilidade das pessoas “navegarem” pelas informações, ou seja, de obterem informações adicionais através de interações com um programa (de computador) que reage de acordo com os comandos recebidos; • Interatividade e Canal de Retorno: a hipermídia disponibiliza à TV Digital um de seus principais atributos: a interatividade. Entretanto, para que esta seja completa, é necessário considerar-se a questão do canal de retorno. Sob esse aspecto, existem três graus possíveis: - Interatividade Local: ocorre quando toda a informação necessária é inicialmente transmitida pela emissora e armazenada no receptor do usuário; - Interatividade com Canal de Retorno Não-dedicado: neste caso, pode-se ter aplicações transacionais, aplicações em que existe uma troca de mensagens entre o receptor do usuário e alguma máquina servidora localizada remotamente; - Interatividade de Retorno de Canal Dedicado: este é um estágio posterior de desenvolvimento, em que o sistema de televisão teria um meio específico para a função do canal do retorno. • Datacasting: refere-se à transmissão de fluxos de dados que serão armazenados e processados pelo receptor. Tais dados podem estar vinculados a programas, com a finalidade de permitir a interatividade local; podem se referir a informações auxiliares, como por exemplo o guia eletrônico de Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 241 programação (EPG); ou ainda podem constituir-se em programas completos, como por exemplo, boletins meteorológicos; • Application Programming Interface (API):, é a interface entre o sistema operacional da URD e as aplicações criadas para o usuário, tais como jogos, comércio eletrônico, guia de programação, entre outros. Pode-se dizer que é o equivalente ao API dos sistemas operacionais de computadores, que fazem com que estes possam executar diferentes programas e aplicativos, como planilhas eletrônicas e processadores de textos que foram criados por terceiros a partir de padrões bem conhecidos e estabelecidos. 7.3 Modelos de Negócio para TV Digital 7.3.1 Programas secundários de televisão Programas secundários referem-se a conjuntos de informações que podem ou não estar vinculados aos programas de televisão. Alguns exemplos são [65]: • Guia Eletrônico de Programação (EPG): na TV Analógica é o equivalente aos guias de horários de televisão publicados nos jornais. Já na TV Digital, onde o usuário deve escolher um programa e não mais um canal (que é conhecido por um número fixo), fazem-se necessárias novas formas de busca. O Eletronic Programming Guide (EPG) é um menu que possibilita ao usuário efetuar tal busca. Tecnicamente, ele é um fluxo de dados que é transmitido junto com os demais fluxos de informação (áudio, vídeo), podendo existir um em cada canal ou um único agregando as informações de todos os canais; • Compras Eletrônicas e Outras Aplicações Vinculadas a um Programa: tratamse de recursos que possibilitam a um telespectador, por exemplo, clicar em um ícone na tela e obter informações ou mesmo efetuar a compra de um 242 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital produto que esteja sendo exibido naquele momento. Isso é realizado com a inserção de hiperlinks na imagem e com a transmissão de fluxos de dados que possibilitam ao usuário obter as informações ou as interações que deseja. Denomina-se de aplicações vinculadas ao programa pois tais fluxos de dados são mapeados junto ao programa que irá utilizá-los; • Boletins Informativos e Aplicações não Vinculadas a Programas: são programas independentes, porém que não exibem conteúdo de vídeo convencional baseado em cenas dinâmicas. São, por exemplo, boletins de tempo, cotações e outros informativos que são exibidos em forma de textos ou gráficos, acompanhados ou não de um fundo musical. Esses programas são compostos por fluxos elementares de dados e talvez áudio (mas não vídeo), o que significa que eles ocupam uma taxa de bits bastante pequena. 7.3.2 Diversidade de serviços e acesso a internet Ao mesmo tempo a transmissão de sinais de televisão sob a forma de radiodifusão, a plataforma poderá ser utilizada também para a transmissão de sinais de outros serviços de telecomunicações ou de valor adicionado. Um exemplo típico é o serviço de televisão por assinatura, onde os programas são oferecidos apenas a seus assinantes. Um segundo exemplo é o de acesso à Internet, quando a capacidade de transporte da plataforma é utilizada para o grande tráfego de informações no sentido descendente e o retorno é realizado por meio da rede telefônica convencional. Esses serviços podem coexistir com os programas de televisão dentro de um canal, ou podem ser providos mediante o uso de canais específicos. No futuro, com a convergência tecnológica, um mesmo terminal, fixo ou portátil, poderá ser utilizado para assistir aos programas televisivos, aos programas secundários, realizar acesso à Internet, ou ainda, de uma forma mais abrangente, acessar programas multimídia (compostos de sons, vídeo, texto e gráficos) e hipermídia (que possuem links Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 243 para uma livre navegação do usuário pelas informações e seqüências de imagem e som). O sinal de retorno, nesse caso, poderia fluir tanto por meio da rede de telefonia celular (discada) como por meio de uma rede IP via rádio (dedicada) [65]. 7.3.3 Receptibilidade do sinal de televisão A receptibilidade refere-se à possibilidade de tipos variados de terminais, localizados em pontos diversos e sujeitos a diferentes condições técnicas, receberem os sinais de televisão com o grau de qualidade adequado. Quando examinado pela ótica da emissora, refere-se à cobertura alcançada por esse sinal. Nos sistemas de TV Analógica, uma vez estabelecida a localização da antena transmissora, a sua altura e a potência irradiada, as características de cobertura estão definidas. A partir daí, a recepção ou não do sinal depende apenas da localização do usuário e do tipo de antena utilizado por ele. No caso da TV Digital, outros parâmetros podem ser considerados. O emprego de diferentes parâmetros de transmissão ou o uso da transmissão hierárquica, quando a plataforma apresenta tais flexibilidades, permite à emissora ampliar o universo da possível audiência, ou alternativamente, aumentar a capacidade de transporte e, conseqüentemente, as opções de programas, sacrificando talvez a recepção sob condições mais severas. Para a cobertura de áreas de recepção mais críticas, ou zonas de sombra, poderão ser empregados reforçadores de sinais ou redes de antenas operando sincronamente à mesma freqüência (rede de freqüência única). Do lado do usuário, este poderá desejar desfrutar os programas por meio de receptores fixos, utilizando antenas externas ou internas, por meio de receptores instalados em veículos (recepção móvel), ou ainda por de terminais portáteis [65]. Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 7.4 244 Possíveis modelos de negócio O modelo de negócio a ser adotado será o maior desafio para a TV Digital brasileira, pois o que interessa para as emissoras é “segurar” o espectador por mais tempo em frente à tela da TV. Dessa forma, a partir dos principais atributos da TV Digital apresentados nas seções anteriores neste Capítulo, pode compor diferentes modelos de negócio. Apresenta-se a seguir os principais modelos possíveis para a situação brasileira, porém não se deve esquecer que estes somente serão válidos a partir da escolha da plataforma (ou padrão) para a transmissão digital dos sinais de TV [67]. 7.4.1 Modelo 1: HDTV O modelo é caracterizado pela transmissão de um único programa televisivo, na melhor resolução possível (HDTV). Podem ser transmitidos, além disso, o guia eletrônico de programação (EPG) e dados vinculados ao programa, além de programas secundários como boletins informativos, até o limite em que os mesmos não prejudiquem a qualidade do vídeo/áudio do programa principal. Fundamentado na oferta de uma excelente qualidade de imagem e som, o HDTV tem como vantagem o fato de ser um modelo simples. Como desvantagem, o custo dos equipamentos é maior (tanto para o telespectador quanto para as emissoras), tal como qualquer produto no início de uma nova tecnologia. Dessa forma, será inicialmente adquirido apenas por pessoas de alto poder aquisitivo, mas com o tempo é possível que existam novas alternativas e isso tornará a tecnologia mais acessível aos demais consumidores. O que deveria acontecer era existir uma URD universal, dotada sempre de recepção que inclua HDTV, de modo que os indivíduos pudessem comprar este produto uma única vez e ir evoluindo nos complementos, na medida de suas possibilidades [67]. 245 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 7.4.2 Modelo 2: HDTV com replicação de conteúdo No modelo 2, aplicável somente para plataformas que permitem transmissão hierárquica (DVB-T e ISDB-T), é transmitido um programa em HDTV em uma configuração de menor robustez, e o mesmo programa (conteúdo) é replicado em LDTV (ou eventualmente SDTV) em uma camada de maior robustez, para possibilitar que pessoas com terminais móveis, portáteis, ou sujeitos a condições hostis de recepção possam captar o programa. Neste caso, informações de EPG e de boletins, seriam transmitidas na camada mais robusta. Este modelo enfatiza a transmissão de imagem de alta definição, ao mesmo tempo em que se preocupa com o atendimento de todos os usuários (cobertura). Ele será necessário se a transmissão de sinais de HDTV com uma robustez padrão se mostrar insuficiente (eventualmente para incluindo atender os a terminais todos os móveis). usuários Tem ou como tipos de vantagem receptor a maior receptibilidade e, como desvantagem, o custo da replicação do mesmo conteúdo em dois programas digitais distintos [67]. 7.4.3 Modelo 3: HDTV e um segundo programa de LDTV ou SDTV No modelo 3, é transmitido um programa principal em HDTV e um segundo programa, com conteúdo diferente, em LDTV ou SDTV, conforme a capacidade de transporte do sistema. Este é um modelo diferente do anterior. Neste caso, existe ainda uma certa ênfase na transmissão de um programa de elevada qualidade (HDTV), ao mesmo tempo em que procura-se atender a uma necessidade de informação de uma audiência segmentada. A emissora atenderia a um segmento de audiência principal (por exemplo, jogo de futebol ou filme) em HDTV e outro secundário (por exemplo, notícias) em SDTV. Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 246 Este modelo tem como vantagem a preservação da alta qualidade da imagem (pelo menos em um dos programas) aliada a certa diversificação de informações. Para plataformas com robustez configurável, pode-se ter emissoras em diferentes locais no país transmitindo com diferentes graus de robustez, embora a transmissão em um modo mais robusto possa inviabilizar o segundo programa em SDTV [67]. 7.4.4 Modelo 4: HDTV e outros serviços de telecomunicações O modelo 4, é transmitido um programa em HDTV. A capacidade remanescente de transporte é utilizada para a prestação de um outro serviço, tal como a televisão por assinatura ou o acesso à Internet. Em relação a disponibilização de novos serviços para os usuários, este modelo tem a vantagem de propiciar à emissora uma fonte de receita adicional, que poderá ser crítica durante a fase de transição do analógico para o digital. Como desvantagem, essa capacidade remanescente é bastante limitada, não apresentando flexibilidade para crescimento se houver aumento da demanda. Esse modelo não contempla o atendimento sob condições severas de recepção. Para plataformas com robustez configurável, pode-se ter emissoras em diferentes locais no país transmitindo com diferentes graus de robustez. Porém, a transmissão em modo mais robusto é feita sacrificando parte do sinal não-televisivo, ou seja, a televisão por assinatura seria em LDTV ou, no caso do acesso à Internet, a taxa de bits disponível seria menor [67]. 7.4.5 Modelo 5: múltiplos programas em SDTV O modelo 5, a capacidade do canal é utilizada para a oferta de múltiplos programas em SDTV (tipicamente quatro por canal). Cada programa teria os seus Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 247 próprios dados vinculados. Além dos programas televisivos, haveriam os boletins e outras aplicações não-televisivas. Do ponto de vista estratégico, este modelo é caracterizado pelo foco no aumento da oferta de programações. Apresenta como vantagens a diversificação da informações, o custo relativamente mais baixo para os equipamentos de estúdio e monitor do usuário, uma qualidade de imagem e som melhores que a recebida por meio analógico e, no caso do usuário estar utilizando uma URD combinada a um televisor analógico como monitor, não haver perda significativa da qualidade da imagem, exceto nas transmissões 16:9. Como desvantagem, não existe o efeito da alta definição, para aqueles que contam com tal expectativa. Como uma alternativa de uso do modelo 5, da capacidade de transporte pode ser utilizada para a transmissão de vários fluxos de vídeo referentes a diferentes ângulos de visão de um mesmo programa. Uma segunda alternativa refere-se à transmissão do mesmo conteúdo em horários defasados (ver Near-Video-on-Demand). Tal alternativa somente faz sentido enquanto a maioria dos usuários não possuir uma URD com dispositivo de memória. Em qualquer desses casos, com o emprego de plataformas com robustez configurável, pode-se ter emissoras em diferentes locais no país transmitindo com diferentes graus de robustez. É provável que a adoção de um grau de robustez maior implique em uma redução do número de programas disponibilizados ao público [67]. 7.4.6 Modelo 6: múltiplos programas em EDTV Tecnicamente, o modelo 6 é similar ao modelo 5, exceto que, em vez de se ter programas com resolução (qualidade) SDTV, tem-se com resolução EDTV. O modelo 6 privilegia uma melhor qualidade da imagem, procurando atender ao quesito de múltiplos programas. O aumento na qualidade da imagem sacrifica a quantidade de programas disponíveis, que seria de dois ou três por canal, no caso Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 248 brasileiro. Um telespectador que utilizasse uma URD acoplada a um televisor analógico veria uma boa imagem, porém não tão boa quanto aquele que possuir um monitor EDTV. Mas a imagem ainda seria melhor do que aquela que é vista nos receptores analógicos atuais. O modelo 6 tem, em relação aos que empregam HDTV, um custo mais baixo tanto para os equipamentos da emissora quanto do usuário, e uma maior oferta de programação. Em relação à SDTV, ele apresenta a vantagem de uma melhor qualidade de imagem, com perda no número de programações possível [67]. 7.4.7 Modelo 7: múltiplos programas SDTV com transmissão hierárquica No modelo 7, aplicável somente para plataformas com capacidade de transmissão hierárquica, o programa principal (em SDTV) e o guia eletrônico de programação (EPG) são transmitidos na camada mais robusta. O restante dos programas é transmitido em modo menos robusto. Este modelo privilegia o aspecto da cobertura. A sua vantagem é a de garantir que pelo menos o programa principal seja captável por todos os usuários da área de cobertura. Como desvantagem, é esperado que os equipamentos para transmissão e recepção hierárquica tenham um custo um pouco mais elevado do que a transmissão não-hierárquica [67]. 7.4.8 Modelo 8: múltiplos programas em EDTV com transmissão hierárquica O modelo 8 é similar ao modelo 7, exceto que ele é composto por programas em EDTV. Apresenta como vantagens, em relação ao modelo 7, uma melhor qualidade da imagem e, em relação ao modelo 6, a ênfase na melhor cobertura. É esperado que o custo desse modelo seja mais elevado do que o dos modelos 6 e 7 [67]. Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 7.4.9 249 Modelo 9: SDTV com outros serviços de comunicação O modelo 9, é transmitido um programa televisivo em SDTV e o restante da capacidade de transporte do canal é utilizada para a prestação de outros serviços, tais como o de televisão por assinatura ou o acesso à Internet. Para o consumidor, ele apresenta a vantagem da disponibilidade de acesso a outros serviços de telecomunicações ou os de valor adicionado. Para a emissora, apresenta a vantagem de uma fonte adicional de receita, podendo contribuir para facilitar a migração do sistema analógico para o digital, por exemplo através do fornecimento, pela emissora, de uma URD com o custo já debitado no valor da assinatura. Uma desvantagem é que limita o acesso das camadas de menor poder aquisitivo a esses serviços [67]. 7.4.10 Modelo 10: EDTV com outros serviços de telecomunicações O modelo 10 similar ao modelo 9, exceto que o programa televisivo é transmitido em EDTV. Tem como vantagem uma melhor qualidade da imagem e como desvantagem o menor número de opções de programas [67]. 7.4.11 Modelo 11: alternância de modos em diferentes horários No modelo 11, a emissora pode transmitir programas em HDTV, SDTV ou EDTV em diferentes horários. Tem como vantagem a grande flexibilidade para atender a diferentes expectativas do público, alternando entre imagens de alta qualidade (em filmes, esportes ou shows) e oferta de conteúdo diversificado. Como desvantagens, para o telespectador, é reduzido o Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 250 número de programas veiculados em alta definição, enquanto o custo do terminal é idêntico ao dos casos com HDTV [67]. 7.4.12 Modelo 12: alternância de modos em diferentes horários, com transmissão hierárquica O modelo 12 é similar ao modelo 11 anterior, exceto que inclui a facilidade de se realizar a transmissão hierárquica. Em determinados horários, seria transmitido um programa HDTV com replicação de conteúdo como no modelo 2. Nos demais horários, seriam transmitidos múltiplos programas em SDTV ou EDTV com robustez diferenciada, como nos modelos 7 e 8. Comparando o modelo 12 com modelo 11, ele tem a vantagem de apresentar uma melhor cobertura do sinal. Como desvantagem, a transmissão hierárquica pode implicar em um custo mais elevado para os equipamentos de transmissão e recepção [67]. 7.5 Observações Acerca dos Modelos de Negócio Os modelos de negócio apresentados na seção 7.4 deste Capítulo, são os mais ilustrativos. Outras configurações intermediárias são possíveis e, portanto, as seguintes considerações são feitas [65]: a) A análise dos modelos, particularmente de 1 a 10, considera que todas as emissoras do país adotarão o mesmo modelo. Caso isto não se verifique, deve-se considerar que o custo do receptor (em particular o monitor) será determinado pelo maior grau de resolução (p. ex., HDTV) adotado por uma das emissoras, mesmo que as demais transmitam apenas em SDTV. Além disso, a adoção de diferentes modelos de negócio pode elevar o custo da URD, devido ao fator de escala ou à complexidade do receptor; Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 251 b) Verifica-se atualmente uma certa polarização na definição do modelo de negócio, ou privilegiando a elevada qualidade da imagem (HDTV) ou diversificando ao máximo a programação (em SDTV). É necessário esclarecer que existem alternativas intermediárias e que, mesmo a SDTV, apresenta uma qualidade da imagem e som melhores do que a TV Analógica convencional; c) Embora programas em HDTV sejam captáveis com o uso de URD e possam ser desfrutados mesmo em televisores analógicos, deve-se observar que isso suprime o seu principal atributo – a grande qualidade da imagem. Uma imagem HDTV reproduzida em um televisor convencional terá a qualidade da imagem limitada pela resolução e formato da tela do mesmo. No caso de televisores analógicos, mesmo os mais recentes, tal resolução é tipicamente de 400 linhas e 440 pixels/linha e formato 4:3. Televisores para aplicação home-theater, podem apresentar resolução de 720 ou 1080 linhas, embora ainda mantenham o formato 4:3; d) A alternativa de se transmitir programas HDTV em horário reduzido e múltiplos programas nos demais horários, embora tenha a vantagem de atender a um mercado segmentado durante os múltiplos programas, penaliza o consumidor que adquire um receptor HDTV e somente pode desfrutar de programas em alta definição em alguns horários Em um monitor de HDTV, (devido a sua alta resolução), defeitos na imagem que não apareceriam em outras modalidades acabam tornando-se visíveis. Além disso, as imagens de DTV, para serem exibidas em um monitor HDTV, têm cada uma de suas linhas duplicadas, o que gera uma imagem mais pobre que a HDTV “autêntica”; e) Para os modelos de múltiplos programas, não é conveniente misturar programas em SDTV e em EDTV, pelos mesmos motivos do item anterior (d), eles penalizam o telespectador ao transmitir alguns programas com uma qualidade inferior à esperada. Particularmente, não é conveniente permitir uma proliferação simultânea de programas com formatos 4:3 e 16:9, 252 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital devendo-se adotar uma das linhas e a outra ser utilizada somente como exceção; f) A disponibilização dos serviços por assinatura pode ser uma fonte de receita adicional para as emissoras. Entretanto, isso requer a implantação de um sistema de acesso condicional, uma eventual negociação com outros provedores de serviços por assinatura para o uso integrado desse sistema e o gerenciamento dos custos operacionais associados. A TV Digital propicia, para as emissoras, formas alternativas de receita mesmo sem a adoção do serviço por assinatura, como o comércio eletrônico realizado por meio de hiperlinks; g) A adoção de diferentes configurações de robustez por diferentes emissoras de uma mesma rede poderá causar uma não-uniformidade na programação transmitida, prejudicando os telespectadores situados naquelas áreas com veiculação de programação mais restrita. Por tal motivo, esta opção deve ser adotada somente onde as alternativas como a maior potência ou o uso de reforçadores de sinal não possam ser adotadas ou sejam insuficientes; 7.6 Tabela Comparativa O relatório integrador [67] produzido pelo CPqD, submetido à consulta pública pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), apresenta 12 alternativas de modelo de serviço expostas na Tabela 7. 1. Esta listagem não esgota todas as possibilidades dos composição de programas, incluindo serviços de transmissão de dados em caráter complementar, assim como serviços adicionais de telecomunicações. Tabela 7. 1 – Tabela comparativa modelo de negócio [67]. Configuração Sugerida Modelo 1 - Um programa Resolução (Linhas) e Formato de Tela 1080 ou 720 linhas Capacidade de Transmissão Vantagens Apresentadas Desvantagens Apresentadas Um programa televisivo, com Excelente qualidade da Custo elevado dos 253 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital HDTV com formato 16:9 resolução HDTV e serviços informativos de acordo com a capacidade de transmissão remanescente. equipamentos de transmissão e recepção. Usuários necessitam de receptor com capacidade para desfrutar toda a qualidade da imagem HDTV. O mesmo programa transmitido em resolução HDTV é também transmitido em resoluções menores (SDTV ou LDTV) para possibilitar a recepção em aparelhos receptores móveis ou portáteis ou em condições difíceis de recepção. Necessita de tecnologia para transmissão hierárquica só disponível nas plataformas DVB e ISDB. Excelente qualidade de imagem e som, especialmente na resolução HDTV. Maior cobertura do sinal e melhor receptibilidade com as resoluções SDTV ou LDTV. Custo elevado dos equipamentos de transmissão e recepção na resolução HDTV. Custo de duplicação da mesma programação com duas transmissões simultâneas. Excelente qualidade da imagem e som, na resolução HDTV. Possibilita gerar outra programação para audiência segmentada. Custo elevado dos equipamentos de transmissão e recepção na resolução HDTV. Custo de geração da segundo programa com transmissão simultânea. Fonte de receita adicional à emissora proveniente dos serviços de televisão por assinatura ou de telecomunicaçã o. Capacidade remanescente limitada, o que reduz o desempenho dos demais serviços sem flexibilidade de expansão no caso de aumento da demanda. Os serviços adicionais podem ser Modelo 2 - Um programa HDTV com replicação do mesmo conteúdo em SDTV ou LDTV 1080 ou 720 linhas com formato 16:9 (HDTV) e 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 (SDTV) ou 240 linhas com formato 4:3 (LDTV) Modelo 3 - Um programa HDTV e um segundo programa diferente em SDTV ou LDTV 1080 ou 720 linhas com formato 16:9 (HDTV), 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 (SDTV) ou 240 linhas com formato 4:3 (LDTV) Um programa em HDTV transmitido como principal e outro programa, com conteúdo diferente em SDTV ou LDTV 1080 ou 720 linhas com formato 16:9 Um programa em HDTV e, simultaneamente, outros programas exclusivos de TV para assinantes com resolução SDTV ou LDTV ou ainda outros serviços de telecomunicações (como serviços informativos ou mesmo acesso à Modelo 4 - Um programa HDTV e outros programas de televisão por assinatura ou de telecomunicaç ões imagem e som. Modelo simples. 254 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital Modelo 5 - Até quatro diferentes programas SDTV Modelo 6 - Até três diferentes programas EDTV Modelo 7 - Até quatro diferentes programas SDTV com diferentes capacidades de cobertura da área de transmissão internet) de acordo com a capacidade de transmissão remanescente. Capacidade de transmissão de até quatro diferentes programas em resolução SDTV por um mesmo canal. O restante da capacidade de transmissão pode ser ocupado com boletins e outras aplicações nãotelevisivas. Como alternativa podem ser transmitidos diferentes ângulos de um mesmo programa ou a repetição de um mesmo programa em horários defasados. comprometidos em condições severas de recepção. Maior oferta da programação. Diversificação de informações. Custo relativamente mais baixo para os equipamentos de estúdio e monitor do usuário. Qualidade de imagem e som acima da tecnologia analógica. Não existe a alta definição de imagem esperada por muitos usuários. 480 linhas com formato 16:9 Capacidade de transmissão de até três diferentes programas por um mesmo canal. Como alternativa podem ser transmitidos diferentes ângulos de um mesmo programa ou a repetição de um mesmo programa em horários defasados. Melhoria de imagem em relação ao modelo semelhante com transmissões em resolução SDTV. Custo mais baixo para equipamentos de transmissão e recepção, em relação à resolução HDTV. Redução do número de programas em relação ao modelo semelhante com transmissões em resolução SDTV. 480 linhas com formato 16:9 Um programa principal seria transmitido em resolução SDTV com capacidade de recepção por aparelhos receptores móveis ou portáteis ou em condições difíceis de recepção. Este seria acompanhado de até outros três diferentes programas com transmissões em resolução SDTV menos robustas. Para isso necessita de Maior cobertura do sinal e melhor receptibilidade, assegurada para o programa principal. Custo do transmissor que permite transmissão hierárquica é um pouco mais elevado. 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 255 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital Modelo 8 - Até três diferentes programas EDTV com diferentes capacidades de cobertura da área de transmissão 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 tecnologia para transmissão hierárquica só disponível nas plataformas DVB e ISDB. Um programa principal seria transmitido em resolução EDTV com capacidade de recepção por aparelhos receptores móveis ou portáteis ou em condições difíceis de recepção. Este seria acompanhado de até outros dois diferentes programas com transmissões na resolução EDTV menos robustas. Para isso necessita de tecnologia para Transmissão Hierárquica só disponível nas plataformas DVB e ISDB. Modelo 9 - Um programa SDTV e outros serviços de televisão por assinatura ou de telecomunicaç ão 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 (SDTV) e 240 linhas com formato 4:3 (LDTV) Um programa aberto transmitido na resolução SDTV e, simultaneamente, outros programas exclusivos de TV para assinantes com resolução SDTV ou LDTV ou ainda outros serviços de telecomunicação (como serviços informativos ou mesmo de acesso à internet) de acordo com a capacidade de transmissão remanescente. Modelo 10 Um programa 480 linhas com Um programa aberto transmitido com Maior cobertura do sinal e melhor receptibilidade, assegurada para o programa principal, com melhor qualidade do que o modelo semelhante com transmissões em resolução SDTV. Maior capacidade de oferta de serviços de telecomunicaçã o ou de valor adicionado. Fonte de receita adicional para gerar recursos capazes da facilitar a migração da tecnologia analógica para a digital, com possibilidade de fornecimento a assinantes de conversores (Set-Top Box) gratuitos ou com custo reduzido. Melhor qualidade da Redução de programas em relação ao modelo semelhante com transmissões na resolução SDTV. Custo do transmissor que permite transmissão hierárquica é um pouco mais elevado. Limita acesso das camadas de menor poder aquisitivo da população aos serviços complementares e de telecomunicações . Menor opção de programas 256 Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital EDTV e outros serviços de televisão por assinatura ou de telecomunicaç ão Modelo 11 – Programas HDTV, EDTV, SDTV ou LDTV transmitidos em diferentes horários Modelo 12 – Programas HDTV, EDTV, SDTV ou LDTV transmitidos em diferentes horários com diferentes capacidades de cobertura da área de transmissão formato 16:9 (EDTV) e 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 (SDTV) ou 240 linhas com formato 4:3 (LDTV) 1080 ou 720 linhas com formato 16:9 (HDTV), 480 linhas com formato 16:9 (EDTV), 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 (SDTV) ou 240 linhas com formato 4:3 (LDTV) 1080 ou 720 linhas com formato 16:9 (HDTV), 480 linhas com formato 16:9 (EDTV), 480 linhas com formato 16:9 ou 4:3 (SDTV) ou 240 linhas com formato 4:3 (LDTV) resolução EDTV e, simultaneamente, outros serviços como programas exclusivos de TV para assinantes com resolução EDTV, SDTV ou LDTV ou outros serviços de telecomunicações (como serviços informativos ou mesmo de acesso à internet) de acordo com a capacidade de transmissão remanescente. Capacidade de transmissão de programas nas resoluções HDTV, SDTV, EDTV ou LDTV em horários diversos. Programas escolhidos com determinadas resoluções seriam transmitidos com capacidade de recepção por aparelhos receptores móveis ou portáteis ou em condições difíceis de recepção. Estes seriam acompanhados por outros diferentes programas, em horários distintos com transmissões menos robustas. Para isso necessita de tecnologia para Transmissão Hierárquica só imagem, em relação ao modelo semelhante com transmissão do programa em SDTV. televisivos ou de serviços de telecomunicações em relação às transmissões de programas abertos em SDTV. Flexibilidade para atender a diversas demandas do público alternando alta qualidade com oferta de conteúdo diversificado. Número reduzido de programas em alta definição. Custo do receptor é mais elevado para atingir a maior resolução (HDTV). Melhor cobertura do sinal em relação ao modelo semelhante sem transmissão hierárquica. Número reduzido de programas em alta definição. Custo do receptor é mais alto para atingir a maior resolução (HDTV). Transmissão hierárquica implica em custo mais elevado para equipamentos transmissores e receptores. Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 257 disponível nas plataformas DVB e ISDB. 7.7 Modelos de Negócio Adotados em Alguns Países Alguns países já definiram suas plataformas e, portanto, adotaram modelos de negócio de acordo com o padrão. A seguir, são apresentados os modelos de negócio adotados nos Estados Unidos, Europa e Japão [65]. 7.7.1 Estados Unidos Inicialmente, os Estados Unidos estabeleceram uma grande flexibilidade em termos de resolução da imagem, já que incluem os formatos de HDTV (1080p, 1080e e 720p), EDTV (480p 16:9) e SDTV (480e 16:9, 704x480, p/e, 4:3, e 640x480, p/e, 4:3). Entretanto, a FCC voltou atrás e permitiu que as emissoras transmitam apenas um sinal de televisão aberta, no modo HDTV. Essa reconsideração foi devido a fatores de ordem econômica e política. A motivação econômica é que a FCC acredita que, se não houver um firme apoio das emissoras à HDTV (ou seja, a uma maciça transmissão de programas desse tipo), os consumidores não se sentirão atraídos a adquirir um receptor de HDTV que, por enquanto, apresentam preços bastante elevados. Por outro lado, a inexistência de uma grande massa de consumidores com terminais de alta definição poderia inibir a produção desses programas, devido ao seu alto custo. O fator político é que existiram protestos de outros segmentos econômicos, com a argumentação de que as emissoras estariam pretendendo utilizar a faixa obtida gratuitamente (concedida para a transmissão simulcast) para a prestação de outros serviços de telecomunicações – circunstância para a qual, normalmente, haveria um “leilão” de uso de freqüência. Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 258 Com isso, o modelo norte-americano pode ser resumido como sendo baseado na oferta de um único programa de televisão aberta de altíssima qualidade (HDTV). 7.7.2 Europa O padrão DVB divide os receptores em quatro grupos: os destinados para uso com freqüências de 25/50Hz e os de freqüências 30/60Hz; e, dentro de cada tipo, os que operam apenas com nível SDTV e os que operam com nível HDTV. Para o nível HDTV, tanto os sistemas de 25/50 Hz quanto os de 30/60Hz deverão trabalhar com a resolução de 1080 linhas e 1920 pixels/linha. Para o nível SDTV, os sistemas de 25/50 Hz podem adotar vários níveis de resolução, mas sempre operando com 576 linhas ou 288 linhas (esta última seria uma LDTV). Os sistemas de 30/60 Hz igualmente podem adotar vários níveis de resolução, mas tendo como referência 480 linhas ou 240 linhas (LDTV). O DVB faz ainda uma distinção entre a SDTV e a EDTV baseado no sistema de áudio: a SDTV tem um som estéreo (2/0), utilizando MPEG-1/ camada2, enquanto que a EDTV teria áudio 5/1, portanto com MPEG-2/camada2. Opcionalmente, um sistema DVB pode utilizar áudio Dolby AC-3. 7.7.3 Japão O Japão prevê utilizar quatro níveis de resolução. Porém, deve-se observar que lá existem sistemas de 50 e de 60 Hz (na metade norte e metade sul do país , respectivamente). Embora o modelo de negócio no Japão ainda não esteja claramente estabelecido, a plataforma ISDB foi projetada para ser aplicável a diversas configurações de negócio, e não apenas para o transporte do sinal de televisão. Dessa forma, o ISDB tem as seguintes facilidades: Capítulo VII – Modelos de Negócio em TV Digital 259 a) Um receptor faixa estreita é capaz de receber e decodificar um segmento do sinal completo faixa larga. Ou seja, um receptor não-televisivo (rádio ou notebook dotado de antena) pode receber e reproduzir as informações de faixa estreita do canal; b) O feixe de bits pode ser “empacotado” em dois grupos de bits distintos, para programas ou aplicações distintas, com diferentes níveis de robustez. Esses grupos de bits podem assumir qualquer valor que seja uma fração duodecimal do feixe total; Determinadas às características da plataforma, é esperado que o modelo de negócio japonês tenda para um modelo bastante flexível, aglutinando ao serviço de televisão diversas outras aplicações, de modo a torná-lo algo mais parecido a um serviço de acesso a informações Multimídia. 7.8 Conclusão Para a definição de um modelo de negócio adequado à realidade brasileira, será necessário primeiramente a definição de um padrão de transmissão digital, pois na definição do sistema seja ele, ATSC, DVB, ISDB, ou nacional, algumas funcionalidades poderão estar presentes, como transmissão hierárquica, rede de freqüência única e portabilidade, que proporcionarão diversas aplicações e funcionalidades para alguns Modelos de Negócio como já citados anteriormente neste Capítulo. Capítulo VIII Conclusões, Contribuições deste Trabalho e Futuros Trabalhos 261 Capítulo VIII – Conclusão do Trabalho 8. CONCLUSÕES, CONTRIBUIÇÕES DESTE TRABALHO E FUTUROS TRABALHOS No estudo apresentado neste trabalho, procurou-se fornecer uma maior ênfase a analise dos aspectos tecnológicos e econômicos relativos à implementação da TV Digital no Brasil. De posse de uma vasta bibliografia, e do Relatório Integrador divulgado pela ANATEL, foi feito uma breve comparação entre os vários padrões digitais existentes: americano-ATSC, europeu-DVB e japonês-ISDB. No que se refere à comparação tecnológica dos padrões de TV Digital, já existentes, os resultados obtidos nos testes realizados pelo ANATEL, demonstraram que a modulação COFDM, utilizadas pelos padrões europeu e japonês, apresentam melhor desempenho nas mais diversas condições de recepção, utilizando tanto antena interna quanto antena externa. O padrão japonês ISDB-T, apresentou melhor desempenho que o sistema europeu DVB-T, pois possui maior robustez e flexibilidade quanto à mobilidade do receptor. O padrão americano ATSC apresentou deficiências de recepção doméstica utilizando antena interna, ou seja, em canais cujos sinais sofrem desvanecimento por multipercurso onde não existe “visada direta”. Ele ainda apresentou baixo desempenho em áreas de sombra e se mostrou incapaz de utilizar a recepção móvel. Com isto, de posse das conclusões provenientes dos testes, pode-se concluir que a utilização da modulação adotada pelos padrões europeu e japonês, ou seja, a COFDM constitui a melhor opção no caso de adoção de um "padrão importado". Na implementação da TV Digital, dever-se-á buscar, com ela, atingir praticamente toda a sociedade, a exemplo do que ocorreu com a TV aberta analógica. Para tanto, é necessário o estabelecimento, ela por órgão regulador, de metas de cobertura, tempos – e talvez indicativos de grade – de programação e introdução de alguns novos serviços interativos. A qualidade da recepção, por sua vez, é fator decisivo na opção do consumidor pela nova tecnologia, o que obrigará a uma adequada combinação da ampliação do Capítulo VIII – Conclusão do Trabalho 262 número de canais com a melhoria da qualidade da imagem. Tudo isso poderá ser definido quando da adoção de um padrão e modelo de negócio adequado ao mesmo. Para que haja uma efetiva disseminação da TV digital no Brasil, é necessário que a oferta de programação pelas operadoras esteja também perfeitamente sincronizada com a oferta de televisores pela indústria de consumo. Isto porque somente o crescimento da demanda possibilitará a redução dos custos e dos preços dos receptores e Set-Top Boxes. Os preços dos receptores são fortemente dependentes da existência de componentes específicos no mercado mundial, uma vez que não há alterações básicas no processo de montagem dos produtos finais. Estes, a nível de circuitos, diferem pouco dos equipamentos analógicos, porém tal diferença está consolidada em um conjunto de componentes integrados (chip set) específico, produto direto da escala internacional demandante. É a escala que determina a maior integração de circuitos em componentes e, portanto, a redução dos custos. A articulação com outros países da América Latina é fundamental para garantir uma maior demanda, principalmente para os receptores de TV digital. Neste sentido, o governo brasileiro deve ter postura ativa, seja através dos ministérios envolvidos, seja através da ANATEL. Note-se que, a não ser em uma pequena escala na Argentina, não existe uma indústria latino-americana de bens finais expressiva em nenhum país da América do Sul. As pressões da TV Digital sobre o déficit da balança comercial não dependem do padrão de modulação a ser adotado e, mantidas as condições atuais, envolverão um aumento da importação de equipamentos e componentes, principalmente as telas grandes e especiais. Entretanto, é possível aproveitar o momento da descontinuidade tecnológica como oportunidade para uma maior participação brasileira no cenário internacional. Desta forma, o processo de escolha do padrão de TV Digital a ser adotado pelo Brasil deverá objetivar, não apenas as melhores condições tecnológicas, mas combiná– las com a atração de vantagens competitivas para o país, nomeadamente o adensamento Capítulo VIII – Conclusão do Trabalho 263 da cadeia produtiva e melhores resultados na balança comercial do complexo eletrônico. Isto inclui a participação ativa no desenvolvimento tecnológico do padrão, na produção de equipamentos e componentes, no projeto de produtos – transmissores e receptores e no desenvolvimento do software. O Brasil, nos próximos meses, será um dos últimos grandes mercados a enfrentar a questão da digitalização de seu sistema aberto de televisão. A digitalização da TV é inexorável. A TV Digital já é uma realidade e está cada vez mais presente no dia a dia dos países desenvolvidos. A adoção de um padrão seja nacional ou “importado", deverá ser exaustivamente estudado e calculado, pois se forem tomadas atitudes errôneas forem tomadas, a sociedade como um todo sofrerá as conseqüências. Caberá ao governo federal organizar esse processo, estabelecendo um conjunto de políticas públicas estruturais adequadas. A implantação da TV Digital criará uma imensa possibilidade de inclusão social pela inclusão digital, propiciando a população pobre o acesso a informação. Vale ressaltar que, se caso o Brasil opte por desenvolver um padrão nacional, o sucesso desta iniciativa poderá exercer forte influência sobre os países que ainda não definiram suas políticas públicas em TV Digital, incluindo os países da América Latina. Esta iniciativa promoverá a geração de empregos nas indústrias de eletroeletrônicos brasileiras, criando oportunidades de exportação, que poderão favorecer a balança comercial. E por último, espera-se uma definição rápida do padrão de TV Digital a ser adotado, pois só assim, poderá ser adotada uma estratégia de mercado que viabilize a digitalização da TV. Bibliografia 264 BIBLIOGRAFIA [1] Takashi, T. et al. Relatório Integrador dos Aspectos Técnicos e Mercadológicos da TV Digital. Versão 1.0. CPqD, 169p, Março/2001. [2] Elias, J. R. Modulação Digital. Revista Engenharia de Televisão, nº. 23, Dezembro/1994. [3] MPEG-4. 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