XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
DIFERENCIAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRA DO
SUL – RS
SUELEN DE LEAL RODRIGUES; RAQUEL BREITENBACH; PEDRO SELVINO
NEUMANN.
UFSM, SANTA MARIA, RS, BRASIL.
[email protected]
APRESENTAÇÃO ORAL
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E RURALIDADE
DIFERENCIAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRA DO
SUL – RS
Grupo de Pesquisa: 11 - Desenvolvimento territorial e ruralidade.
Resumo
O entendimento da diferenciação do espaço agrário assume um papel importante na
elaboração de estratégias de desenvolvimento local, pois cada lugar possui sua dinâmica e
suas peculiaridades. Portanto, a análise espacial deve destacar as singularidades locais, com a
finalidade de melhor atender suas necessidades. Assim, o objetivo do presente artigo é de
estabelecer uma tipologia da diferenciação do espaço agrário abrangido pelo município de
Cachoeira da Sul, localizado na Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul. A pergunta
central do estudo refere-se às atuais diferenças de ocupação e utilização do solo, às condições
agro-ecológicas, às características culturais e às características dos diferentes atores sociais
presentes no espaço agrário em questão. A pesquisa seguiu as orientações gerais do método
conhecido como da análise e diagnóstico de sistemas agrários. A identificação de espaços
agrários homogêneos ocorreu em dois momentos. O primeiro abrangeu a delimitação de
regiões fisiográficas homogêneas e o segundo o estabelecimento zonas homogêneas de acordo
as condições agrícolas e sócio econômicas. Na primeira etapa da zonificação, utilizou-se a
técnica de sobreposição de mapas temáticos. A segunda etapa objetivou testar a coerência da
classificação estabelecida e, também, verificar a existência de outras regiões homogêneas,
conforme as características agrícolas e sócio econômicas. As técnicas utilizadas na segunda
etapa foram as entrevistas a informantes qualificados e a análise de paisagem através de
percorridas no terreno. O estudo identificou quatro zonas peculiares no espaço rural de
Cachoeira do Sul: a Zona I de expansão da agricultura familiar européia, Zona II definida
como zona de atividades agrícolas com características empresariais, Zona III área de produção
agrícola tradicional, e por fim a Zona IV de pecuária com sistema de criação extensivo. A
identificação das diferentes áreas agrícolas do município demonstrou a importância da
elaboração de diagnósticos criteriosos, para analisar a complexidade do espaço rural, pois no
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caso estudado ficaram nítidas as diferenças de cada área, sendo impossível a elaboração de
estratégias globais de desenvolvimento, em um espaço que abriga tantas peculiaridades.
Palavras Chaves: espaço agrário, sistemas de produção, zonas agroecológicas
Abstract
The understanding of the differentiation of the agrarian space assumes an important paper in
the elaboration of strategies of local development, because each place has its dynamics and
peculiarities. Therefore, the space analysis should detach the local singularities, with the best
purpose to assist the needs of each place. Hence the objective of the present article is of
establishing a typology of the differentiation of the agrarian space included by the municipal
district of Cachoeira do Sul, located in the southern region of the State of Rio Grande do Sul.
The central question of the study refers to the current occupation differences and use of the
soil, to the agriculture-ecological conditions, to the cultural characteristics and the different
social actors' characteristics present in the agrarian space in subject. The research was in
general oriented by the known method of the analysis and diagnosis of agrarian systems. The
identification of homogeneous agrarian spaces happened in two moments. The first included
the delimitation of homogeneous physiographic areas and the second there were the
establishment of homogeneous areas in agreement with the agricultural and socio-economical
conditions. The technique of embedding of thematic maps was used in the first stage of the
zone selection. The second stage aimed at to test the coherence of the established
classification and also to verify the existence of other homogeneous areas according to the
agricultural and socio-economical characteristics. The techniques in use in the second stage
were the interviews to qualified informers and the landscape analysis that was made during
the passage across the land. The study identified four peculiar areas in the rural space of
Cachoeira do Sul: the Area I of expansion of the European family agriculture, Area II defined
as area of agricultural activities with business characteristics, Area III area of traditional
agricultural production, and finally the Area IV of livestock with extensive raising system.
The identification of the different agricultural areas of the municipal district demonstrated the
importance of the elaboration of discerning diagnoses, to analyze the complexity of the rural
space, because in the studied case they were clear the differences of each area being
impossible the elaboration of global strategies of development, in a space which encloses so
many peculiarities.
Keywords: Agrarian Space, Production Systems, Agro-ecological.
1. INTRODUÇÃO
O entendimento dos diferentes sistemas de produção presentes no espaço rural, assume
um papel importante na elaboração de estratégias de desenvolvimento local, pois cada lugar
possui sua dinâmica, ou seja, uma peculiaridade. O entendimento de desenvolvimento rural na
visão de Marc Dufumier (1996) seria “um encadeamento de transformações técnicas,
ecológicas, econômicas e sociais. Convém entender a sua dinâmica passada e as suas
contradições presentes para prever as tendências futuras”.
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Portanto, a análise espacial seja ela no meio rural ou urbano deve destacar as
singularidades locais, com a finalidade de melhor atender as necessidades de cada lugar, no
caso do meio rural, a identificação e caracterização das diferenças no espaço agrário e de
sistemas produtivos, consiste em uma eficiente ferramenta para construção de projetos que
visem um desenvolvimento rural eqüitativo.
A partir do momento que são identificadas as peculiares espaciais, ou seja, a
compreensão das razões bem como a lógica da organização socioeconômica de uma
população e o seu lugar, as chances de eficiência de um projeto de desenvolvimento são
maiores, surgindo assim a importância da elaboração de um diagnóstico da área que se quer
desenvolver.
Assim, o objetivo do presente artigo é de estabelecer uma tipologia da diferenciação
do espaço agrário abrangido pelo município de Cachoeira da Sul, localizado na Metade Sul do
Estado do Rio Grande do Sul. A pergunta central do estudo refere-se às atuais diferenças de
ocupação e utilização do solo, às condições agro-ecológicas, às características culturais e às
características dos diferentes atores sociais presentes no espaço agrário em questão.
A pesquisa seguiu as orientações gerais do método conhecido como da análise e
diagnóstico de sistemas agrários (Dufumier, 1996; INCRA/FAO, 1999; Roudart & Mazoyer,
2001; Neumann, 2003; Silva Neto & Basso, 2005) A identificação de espaços agrários
homogêneos ocorreu em dois momentos. O primeiro abrangeu a delimitação de regiões
fisiográficas homogêneas e o segundo o estabelecimento zonas homogêneas de acordo as
condições agrícolas e sócio econômicas. Na primeira etapa da zonificação, utilizou-se a
técnica de sobreposição de mapas temáticos e a análise de dados secundários referentes à
evolução histórica, socioeconômica e ambiental em nível regional e municipal.
A segunda etapa objetivou testar a coerência da classificação estabelecida e, também,
verificar a existência de outras regiões homogêneas, conforme as características agrícolas e
sócio econômicas. As técnicas utilizadas na segunda etapa foram as entrevistas a informantes
qualificados, que identificaram e caracterizaram aspectos de ordem ambiental social e
econômica dos diferentes espaços rurais do município e a análise de paisagem través de
percorridas no terreno.
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DE CACHOEIRA DO SUL
Para caracterizar a etapa histórica dos sistemas produtivos de Cachoeira retornamos ao
período colonial no início da ocupação ibérica, onde os índios que ali existiam desenvolviam
agricultura para sua subsistência através do plantio de mandioca, milho, moranga, batata doce,
feijão e fumo.
O território onde hoje está o município de Cachoeira do Sul pertencia a Estância de
São Luiz Gonzaga formadora dos Sete Povos, portanto, no século XVI com a colonização dos
jesuítas da companhia de Jesus, foi implantado um sistema de produção baseado na mão–deobra indígena utilizada na criação de gado e extração da erva-mate.
A ocupação do território Meridional do Brasil foi marcada por uma árdua disputa entre
as Coroas de Espanha e Portugal e entre os vários acordos firmados entre estes países destacase o Tratado de Madri de 1750, em que ficaram demarcadas as terras pertencentes a cada país,
é a partir deste acordo que se efetiva o povoamento ibérico. É mediante esta perspectiva que
ocorre a primeira divisão das terras na região que corresponde ao atual município de
Cachoeira do Sul.
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Num primeiro momento houve a divisão de terras em sesmarias, as quais foram
doadas a soldados militares, oriundos de São Paulo, com o intuito de povoar e guarnecer
fronteiras. Essas sesmarias correspondiam a grandes extensões de terras (uma sesmaria =
13.000 hectares), as quais possuíam remanescentes do sistema de produção anterior, isto é,
gado “xucro” e índios, assim, formou-se o latifúndio pastoril sul-rio-grandense. Dando origem
as primeiras estâncias de criação de gado nas áreas em que predomina a vegetação de campos,
em grandes propriedades. Porém com uma população inexpressiva para a extensão da área.
Nestes primeiros tempos em que o sistema de produção era baseado na criação de
gado em estâncias e agricultura de subsistência, há a formação do comércio e
conseqüentemente das aglomerações que deram origem aos centros urbanos, impulsionados
pela passagem das tropas de animais e viajantes que comercializavam alimentos e animais
com a região sudeste. À medida que há a conformação do comércio e a expansão dos centros
urbanos, os donos das sesmarias passam a residir na área urbana.
Em meados do século XVIII, foi confiado à demarcação do limite sul ao domínio
lusitano, através do legionário Gomes Freire de Andrade que formou no Passo do Fandango
um núcleo de povoamento conhecido de Povo Novo. Em abril de 1819, Dom João VI, por
alvará resolve elevá-lo a categoria de vila, com o nome de Vila Nova de São João da
Cachoeira. Esse mesmo documento a desmembrava da Vila de Rio Pardo, passando assim a
ser sede de um novo município, o quinto na História do território Gaúcho, cujos limites
abarcavam áreas atualmente ocupadas pelos municípios de Alegrete, Santa Maria, Caçapava
do Sul, São Gabriel e Santana do Livramento.
No entanto, o povoamento ainda era bastante disperso e incipiente, geralmente isso
ocorre em virtude do próprio sistema de produção pastoril que não demanda um grande
contingente de mão-de-obra.
É da perspectiva de reforçar o povoamento e incrementar a economia que se incentiva
a vinda de imigrantes alemães em 1857, e mais tarde em 1877 a vinda de famílias italianas.
Os alemães ocuparam a Colônia denominada de Santo Ângelo, que atualmente corresponde
ao município de Agudo, seu sistema de produção baseava-se na agricultura familiar, com
produção destinada a subsistência, juntamente com o cultivo de arroz.
Posteriormente com o avanço econômico das áreas de agricultura colonial, mediante a
compra dos lotes, o sistema produtivo da agricultura familiar colonial avança naturalmente
para as áreas onde hoje corresponde a porção Norte do município de Cachoeira do Sul
principalmente nas áreas de floresta e a várzea do rio Jacuí.
Cachoeira do Sul foi o quinto município que surgiu no Rio Grande do Sul, tendo três
momentos distintos em sua ocupação. Primeiramente com a imigração portuguesa, e a
atividade de pecuária extensiva em grandes propriedades, e
m um segundo momento, a introdução do arroz pelos imigrantes alemães a partir de
1890 nas várzeas do rio Jacuí, e por fim a chegada do imigrante italiano ao norte de Cachoeira
do Sul, tendo sua atividade ligada a diversificação da produção com a agricultura familiar em
pequenas propriedades, nas franjas das fazendas, nas áreas margeadoras ou (rebordo) do
planalto meridional, áreas que apresentam uma topografia com declividades maiores.
As transformações socioeconômicas atingem os diversos setores da economia
municipal de Cachoeira do Sul . No setor rural o arroz plantado que inicialmente era de
sequeiro, passa a ser de banhado e, por último o sistema passa ser por irrigação é uma
demonstração de tais transformações. Desse modo tem se a instalação de engenho para
processar o arroz, a construção da ferrovia e do porto no Rio Jacuí que facilita a circulação
dos produtos regionais, bem como indústrias ligadas à infra-estrutura para produção local e
bancos para circulação financeira, portanto, o núcleo urbano municipal ficou concentrado nas
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margens do rio Jacuí, onde antes as estruturas produtivas do arroz geraram um auge período
de riquezas, pois o município já foi intitulado como a capital nacional do arroz, as
áreas marginais ao núcleo urbano, neste caso pode-se associar as áreas periféricas a
fértil várzea do rio Jacuí, continuaram com uma atividade pastoril expressiva.
Cachoeira do Sul ainda mantêm sua base econômica centrada no setor primário, porém
o arroz cede espaço a cultivares mais valorizados no mercado como no caso da soja, inclusive
com a ocupação de antigas estruturas da lavoura arrozeira para do beneficiamento da soja na
produção de óleo e farelo. Já nas áreas onde havia o predomínio da pecuária extensiva, esta
começa a perder espaço para atividades ligadas ao florestamento.
3. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO AGROECOLÓGICA DE CACHOEIRA
DO SUL.
Cachoeira do Sul está situada entre as coordenadas 52º45’00 “a 53º15’00” de
longitude W e 30º00’00”a 30º30’00” de Latitude Sul, delimitada ao norte pelo município de
Novo Cabrais a Noroeste com Paraíso do Sul, Nordeste com Candelária, a Leste com Rio
Pardo, Sudeste com Encruzilhada do Sul ao Sul com Santana da Boa Vista, Sudoeste com
Caçapava do Sul e a Oeste com Restinga Seca, possui um território de 3.735 km², com uma
população segundo IBGE de 89.395, sendo 77.214 na área urbana e 11.906 na área rural do
município.
O município está localizado na região do Jacuí-Centro, fisiograficamente denominada
Depressão Central. No contexto geopolítico nacional, insere-se na Mesorregião da Metade Sul
do Rio Grande do Sul, na Região do Conselho Regional de Desenvolvimento Jacuí Centro
(COREDE:Jacuí-Centro/RS) conforme Figura 01
Figura - 1: Localização de Cachoeira
Fonte: Atlas Socioeconômico: Estado do Rio Grande do Sul, 2002.
Montagem: Suelen de Leal Rodrigues, Vinicius Silva Moreira
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Os Conselhos Regionais de Desenvolvimento - COREDEs, foram criados oficialmente
pela Lei 10.283 de 17 de outubro de 1994, são fóruns de discussão e decisão a respeito de
políticas e ações que visam o desenvolvimento regional. (Atlas Socioeconômico: Estado do
Rio Grande do Sul, 2005).
O COREDE Jacuí-Centro foi criado no ano de 2003 tendo como municípios
integrantes Cachoeira do Sul, Cerro Branco, Novo Cabrais, Paraíso do Sul, Restinga Seca,
São Sepé e Vila Nova do Sul.
3.1 Caracterização agroecológica de Cachoeira do Sul
Nesta etapa do trabalho foram analisados os dados secundários da região e do
município, através da sobreposição de mapas temáticos. Dentro da caracterização
agroecológica municipal, foram descritos dados ligados a geomorlogia, pedologia, vegetação,
clima e hidrografia.
Referentes aos aspectos geomorfológicos, o Estado do Rio Grande do Sul é
tradicionalmente dividido em quatro províncias geomorfológicas, no entanto, a classificação
geomorfológica de MÜLLER Fº (1970), individualiza o Rio Grande do Sul em cinco
unidades geomorfológicas: o Escudo, a Depressão Periférica, o Planalto basáltico, a Cuesta de
Haedo e a Planície Litorânea conforme Figura 02.
A particularização da Cuesta de Haedo como unidade geomorfológica no conjunto
geomorfológico do Rio Grande do Sul baseia-se nas diferenças altimétricas, estruturais e de
drenagem, embora haja similitude litológica entre essa unidade e o Planalto basáltico, as
diferenças permitem detectar uma configuração regional de relevo individualizado para o
sudoeste do Estado. (Suertegaray 1998)
Figura - 02: Macrozoneamento Ambiental do Estado
Fonte: Atlas Socioeconômico: Estado do Rio Grande do Sul, 2002.
Montagem: Suelen de Leal Rodrigues.
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O município de Cachoeira possui a maior parte de seu território na Depressão Central,
ou Depressão Periférica, no entanto, apresenta relevo ondulado a suave ondulado no Norte e
no Sul.
A Depressão Central é caracterizada por rochas sedimentares do Carbonífero e
Triássico (300-200 milhões de anos) é constituída por depósitos aluviais que formam extensas
várzeas, como por exemplo a Várzea do Rio Jacuí que atravessa o município de Cachoeira do
Sul . Portanto, o relevo é suave constituindo uma região plana onde a amplitude hipsométrica
varia de 0 a 100 metros.
No Norte do município aparece alguma formação basáltica em ocorrência isolada, o
que corresponde a uma área de contato com o rebordo do Planalto Meridional, onde os índices
hipsométricos variam entre 100 e 200 metros.
Na porção Sul do município ocorre a presença de rochas biogênicas como o calcário,
caulim e carvão, que evidenciam reservas de grandes volumes destas riquezas minerais. Da
mesma forma, rochas ígneas e metamórficas também ocorrem no Sul do município, como
parte do Escudo Cristalino do RS, e contribuem para uma diversidade mineral, como a
presença de granitos e cianitos, que constituem-se em rochas de grande valor comercial, as
formações de relevo nessas áreas possuem altitudes que variam de 400 a 600 metros
O relevo, formado à partir de distintas composições geológicas trás
características marcadas da diversidade do material de origem, configurando assim
distintos ambientes que vão desde os solos de conformação litólica até os depósitos
aluviais de arenitos, siltitos e argilitos, em camadas distintas.
Geomorfologicamente o município de Cachoeira do Sul possui três padrões distintos,
ou seja, parte norte área de contato com o Planalto Meridional, porção Sul área de contato
como Escudo e área central inserida na Depressão Periférica que corresponde a maior a maior
parte do município, isso acarreta em diferentes formações pedológicas que de certo modo
propiciam ou limitam o desenvolvimento de determinadas atividades, pois na Região Norte
do município as atividades giram em torno da agricultura familiar e do arroz, na porção
central, existe uma associação do plantio de arroz nas várzeas de rios, com soja e pecuária
bovina e ovina, já na porção sul praticamente é encontrada apenas a atividade pecuarista
extensiva, e hoje o florestamento.
Portanto, referente aos aspectos pedológicos Cachoeira do Sul possui solos
classificados como Alissolo localizado na parte central do município próximo a várzea do
Jacuí, Argissolo são solos que podem apresentar limitações químicas devido à baixa
fertilidade natural, e suscetibilidade à erosão e degradação, foi identificado na porção noroeste
do município, próximo às áreas de contato com o Planalto Meridional, e também na porção
Sudoeste próximo as áreas de contato como Escudo, áreas utilizadas pela pecuária no
município.
O Chemossolo, é encontrado nas várzeas dos rios apresentam maior potencial para
culturas anuais, especialmente com arroz irrigado. No caso de Cachoeira do Sul este solo foi
identificado na porção Norte do município área de contato com o Planalto, o latossolo são
solos profundos, bem drenados, ácidos e de baixa fertilidade, no município de Cachoeira do
Sul ocorrem na porção Sul do município com o aparecimento de Afloramentos rochosos.
O Neossolos são solos pouco desenvolvidos e normalmente rasos, de formação muito
recente, seu uso é restrito exigindo práticas conservacionistas severas. Em geral as áreas de
relevo suave ondulado e ondulado podem ser utilizadas para pastagens permanentes e nas
regiões de relevo forte ondulado para reflorestamento e fruticultura. As áreas muito íngremes
devem ser reservadas para preservação permanente. No caso de Cachoeira do Sul este tipo de
solo aparece na parte Sul e Sudeste com afloramentos rochosos isso devido o ao fato de ser
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uma área de contato com o Escudo, justamente nas áreas de ocorrência desse tipo de solo,
consistem em áreas de vegetação de campos onde se desenvolve a pecuária extensiva de
bovinos e ovinos, e a atividade de florestamento.
O Planossolos e´o quinto tipo identificado no município são solos aptos para o cultivo
de arroz irrigado e, com sistemas de drenagem eficientes, também podem ser cultivados com
milho, soja e pastagens. No município de Cachoeira este solo está presente nas proximidades
das margens do rio Jacuí e seus principais afluentes, onde o cultivo de arroz é mais intenso.
Referente a vegetação Cachoeira do Sul por possuir maior parte de seu território na
Depressão Central apresenta uma vegetação predominante de campos limpos com tapetes
herbáceos baixos e densos com a presença de matas galerias remanescente, constituí uma
zona agrícola de uso intensivo no verão com a predominância do cultivo de arroz, na porção
Sul do Município por ser uma área de contato com o Escudo a vegetação é de campos
subarbustivos com cobertura de gramíneas com ou sem áreas agrícolas intercaladas.
O município está inserido na Bacia Hidrográfica do Guaíba, que é formada por nove
Bacias, onde Cachoeira do Sul pertence a Bacia do Baixo Jacuí, tendo como rio principal o
Jacuí, que segundo (Atlas Sócio Econômico do Rio Grande do Sul 2002) possui uma vazão
média de 632 m³/s e uma largura média de 150m.
Além do domínio principal, hidrográfico, ser o rio Jacuí, a contribuição de seus
afluentes é bastante expressiva e podemos salientar, como sub-bacias de contribuição, no
território do município, o Rio Vacacaí, Arroio Capané, São Nicolau e Irui/Piquirí, bem como
na margem esquerda o rio Botucaraí, Arroios Amorin, Passo da Areia, Ferreira e Taboão.
O clima do Rio Grande do Sul é temperado do tipo subtropical, classificado como
mesotérmico úmido. As temperaturas apresentam grande variação sazonal, com verões
quentes e invernos bastante rigorosos, com a ocorrência de geada e precipitação eventual de
neve. As temperaturas médias variam entre 15 e 18°C, com mínimas de até -10°C e máximas
de 40°C, Segundo o (Atlas Sócio Econômico do Rio Grande do Sul 2005).
Cachoeira do Sul apresenta uma temperatura média anual que varia entre 18º e 20º
graus, no verão a temperatura oscila entre 21º e 23º graus, no inverno entre 14º e 16º graus, na
primavera entre 17º e 22º graus, no outono 16º e 18º graus.Com relação às precipitações,
segundo (Atlas Sócio Econômico do Rio Grande do Sul 2002) o Estado apresenta uma
distribuição relativamente equilibrada das chuvas ao longo de todo o ano, em decorrência das
massas de ar oceânicas que penetram no Estado.
O volume de chuvas, no entanto, é diferenciado, ao sul do Estado a precipitação média
situa-se entre 1.299 e 1.500mm e ao norte a média está entre 1.500 e 1.800mm, com
intensidade maior de chuvas à nordeste do Estado, especialmente na encosta do planalto, local
com maior precipitação no Estado, em Cachoeira do Sul a média dos índices pluviométricos
variam entre 1600 e 1700mm, no entanto, as áreas mais úmidas do município, ou seja, onde a
pluviometria é maior devido as condições do relevo estão concentradas na porção norte do
município em áreas do rebordo do Planalto Meridional.
Portanto, a primeira classificação elaborada através de dados secundários, identificou
três grandes áreas fisiograficamente homogêneas no espaço rural de Cachoeira do Sul
conforme Figura 03.
O município seria composto por uma área definida como zona I, de contato com o
Planalto Meridional, onde o sistema produtivo seria baseado na agricultura familiar de origem
colonial, ou seja, do avanço das colônias sobre o território pecuário, zona II, definida como
uma área ligada a pecuária bovina com a presença dos cultivos intenso de arroz e soja, o tipo
social dessa região pela evolução histórica do município seria de descendência portuguesa, e
uma terceira área denominada Zona III, que economicamente seria a região mais problemática
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com restrições físicas e pedológicas a prática agrícola, por ser uma área de contato com o
Escudo Sul Riograndense. A atividade pecuarista tem domínio sobre esta área pela hegemonia
histórica da atividade e pela presença de campos propícios aos criatórios. O tipo social desta
zona seria de descendência portuguesa.
A partir desta divisão do espaço rural de Cachoeira do Sul, é realizada a segunda etapa
do trabalho que tem como finalidade testar a coerência da classificação estabelecida e,
também, verificar a existência de outras regiões homogêneas, conforme as características
agrícolas e sócio econômicas.
Figura 03: Zonas fisiográficas homogêneas do município de
Cachoeira do Sul.
Fonte: Elaborado com base nas cartas topográficas do DSG (Diretoria do Serviço
Geográfico ano1972)
Montagem: Suelen de Leal Rodrigues
.
4. PECULIARIDADES DO ESPAÇO RURAL DE CACHOEIRA.
Para realização desta fase foram realizadas entrevistas com informantes qualificados,
indicados pela população local, entre esses informantes, pessoas ligadas aos órgãos
administrativos do município como o secretário municipal de agricultura, agentes de saúde do
município, técnicos da Emater local e o presidente do Sindicado Rural, também foi realizado
um reconhecimento do local através do percurso de determinas áreas no município.
A partir da realização das entrevistas que enfatizaram fatores de ordem ambiental
social e econômica e do processo dae leitura da paisagem, o estudo identificou quatro grandes
áreas homogêneas no espaço rural de Cachoeira do Sul, conforme Figura 04. O estudo
identificou quatro zonas peculiares no espaço rural de Cachoeira do Sul: a Zona I de expansão
da agricultura familiar européia, Zona II definida como zona de atividades agrícolas com
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características empresariais, Zona III área de produção agrícola tradicional, e por fim a Zona
IV de pecuária com sistema de criação extensivo. A identificação das diferentes áreas
agrícolas do município demonstrou a importância da elaboração de diagnósticos criteriosos,
para analisar a complexidade do espaço rural, pois no caso estudado ficaram nítidas as
diferenças de cada área sendo impossível a elaboração de estratégias globais de
desenvolvimento, em um espaço que abriga tantas peculiaridades.
Figura 04: Zonas Agroecológicas, do município de Cachoeira do Sul.
Fonte: Elaborado com base nas cartas topográficas do DSG (Diretoria do Serviço Geográfico ano1972)
Montagem: Suelen de Leal Rodrigues
4.1 – A zona de expansão das colônias européias.
A Zona I definida como a zona de expansão da agricultura familiar européia,
identificada ao norte na figura 04, situa-se no Norte do Município e vai até as margens do rio
Jacuí, o tipo social característico desta região é de descendência alemã e italiana isso devido à
penetração de imigrantes que procederam de áreas coloniais próximas. Agricultor desta zona
é definido como mais flexível às inovações tecnológicas e usa praticamente apenas a mão-deobra familiar, pois a maior parte das atividades econômicas desenvolvidas na sua propriedade
é para o sustento como a pecuária Leiteira e Horticultura, com exceção do fumo cultivado
para comercialização. O tamanho das propriedades não ultrapassam 500ha, sendo que mais de
70% das propriedades estão abaixo de 15ha, oscilando entre 15 e 20ha. As maiores
propriedades estão concentradas próximas as Várzeas do Jacuí devido ao plantio de Arroz e
de soja, consistem em áreas mais próximas à sede municipal.
Referente aos aspectos ambientais a Zona I geomorfologicamente possui uma região
bem ao Norte com altitudes entre 100 e 200 metros, por ser uma zona de contato com o
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Planalto Meridional, as áreas dobradas apresentam problemas de erosão devido ao manejo
inadequado do solo, o qual permanece descoberto pelo fato do solo não ser preparado pelo
sistema de plantio direto, método que poderia diminuir esse tipo de problema. Quando a
erosão atinge um grau mais alarmante, os agricultores optam por deixar que o pasto nativo se
desenvolva e destinam a área para a criação de bovinos destinados a subsistência. Nestas áreas
estão concentradas as menores propriedades, onde o solo é intensamente explorado.
Na porção Sul da zona I corresponde a áreas margeadoras do Jacuí a topografia
apresenta altimetria mais suave entre 0 e 100 metros isso porque corresponde a província
geomorfológica da Depressão Central. A vegetação desta zona é rasteira de campos com solos
como o Chemossolo, Argissolo e Planossolos este último próximo às margens do Jacuí
propício para o plantio de arroz, nesta área estão presentes as maiores propriedades dedicadas
ao plantio de soja e arroz.
Referente aos aspectos hídricos da zona I os informantes, relataram o aumento da
incidência de secas e problemas com o abastecimento hídrico, os principais canais hídricos
que abastecem a área é o rio Jacuí, seguido dos rios Butucaraí e Jaquí.
A preservação dos recursos naturais é pouco evidenciada na zona I, pois não se
observa significativa presença de mata nativa, e a mata ciliar apresenta um quadro de
devastação, causando o desbarrancamento das margens dos rios em alguns locais. A esse
respeito os entrevistados colocam ter observado a ocorrência de desmatamento em massa a
mais de cinqüenta anos atrás, tendo, alguns deles, participação ativa no desmatamento na
intenção de aumentar as áreas agricultáveis. A principal vegetação é a de campos e atualmente
a inserção de florestamento de eucalipto, presente na maioria das propriedades, com o
objetivo de fornecer lenha para os fornos de fumo, moirões para as propriedades e matériaprima para as carvoeiras.
A respeito da demografia da zona I, consiste nas áreas rurais de maior concentração
populacional, no entanto, ao longo do tempo a população local está diminuindo, devido a
venda de algumas propriedades familiares para as patronais e a saída dos jovens do campo,
que buscam na cidade, alternativas de emprego que ofereçam melhores condições de vida,
além de buscar maior acesso à educação, também foi identificado um aumento do número de
residências de lazer e as destinadas somente para moradia, configurando ao espaço rural
novas estruturas que não desenvolvem atividades agrícolas, mas, presentes no espaço rural.
Os aspectos de ordem estrutural apresentam problemas ligados ao acesso a educação e
as condições das estradas, que se encontram em situações precárias, sendo uma reclamações
constante dos agricultores.
A respeito das condições de vida hoje, os agricultores colocam que melhorou
significativamente, principalmente por terem acesso a luz e água. Já a perspectivas são de que
as grandes propriedades absorvam parte das pequenas e que nas áreas mais próximas a sede
da cidade se forme uma “vila”, composta basicamente de apenas moradias e chácaras de lazer.
Os principais limitantes para o desenvolvimento da zona I indicados pelos agricultores
é a falta de mercado, principalmente para os hortigranjeiros, que acabam estragando nas
lavouras por falta de ter locais de comercialização, a baixa valorização da produção e a falta
de políticas de incentivo à produção como prejudiciais ao bom desempenho das Unidades
produtivas.
O tamanho das propriedades também é indicado pelos agricultores como o elemento
que determina a diferenciação dos agricultores, bem como o acesso ao crédito, políticas
diferenciadas, e a falta de colaboração das instituições locais.
4.2 – A zona de agricultura empresarial intensiva
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A segunda zona foi definida como Zona de atividades agrícolas com características
empresariais. Esta área está compreendida ao Norte pela Margem direita do rio Jacuí, a oeste
pelo rio Irapuá ao Sul pela BR 290, e a leste pelo Município de Rio Pardo. A população desta
zona em sua maioria é de descendência espanhola ou portuguesa, por corresponder a um
território tradicionalmente ocupado por portugueses espanhóis.
As principais atividades agrícolas desenvolvidas estão ligadas à pecuária bovina do
tipo empresarial onde o gado tem melhor qualidade, o cultivo de arroz e soja próximo aos
canais hídricos e em última instância a pecuária ovina para a subsistência. A maioria das
propriedades está acima de 50 ha, sendo que a média das propriedades é em torno de 500ha.
Nesta região na sua porção leste e na porção sul nas áreas de limite com a Br 290, são
encontradas populações marginais com pequenos extratos de terras que desenvolvem pecuária
e cultivares para subsistência, no entanto, muitas dessas áreas são insuficientes para
reprodução social e econômica do núcleo familiar gerando um quadro difícil de pobreza.
A atividade pecuarista desta zona é identificada pelos entrevistados como do tipo
empresarial, ou seja, mais estruturada aos moldes e exigências dos mercados consumidores,
com um rebanho de boa genética e constante preservação das estruturas da fazenda.
Um dos núcleos populacionais expressivos da zona II é o Capané com
aproximadamente cem famílias, uma das principais atividades desenvolvidas é o cultivo de
arroz, com mão-de-obra familiar nas várzeas do Capané, onde cerca de 30% destas possuem
áreas menores que 100 ha e o restante 70% se enquadram em propriedades com até 150ha,
sendo que 20% destas propriedades utilizam também mão-de-obra contratada.
Atualmente o cultivo de soja toma os espaços pertencentes ao cultivo do arroz, por ser
uma cultura que está tendo um lucro econômico maior, inclusive hoje no município as antigas
estruturas utilizadas para o beneficiamento do arroz localizadas no porto de Cachoeira do Sul
no Km 228, na margem esquerda do rio Jacuí, foi vendida para a Granol Indústria, Comércio
e Exportação com sede na cidade de São Paulo, a empresa vai reativar e expandir a planta
industrial da Centralsul, desativada há mais de 20 anos, para processar soja e produzir óleo e
farelo.
No que tange aos aspectos hidrológicos o principal rio é o Jacuí seguido pelo Piquiri e
o Capané, Geomorfologicamente a zona está inserida totalmente na Depressão Central,
portanto, com um relevo que não ultrapassa a altitude de 100m, com vegetação de campos, e
solos como Alissolos e Planossolos, nas proximidades da várzea do Jacuí, propícios para o
plantio de Arroz.
As principais deficiências apontadas pela população dizem respeito, ao descaso do
poder público a insuficiente assistência técnica, o difícil acesso ao crédito, a precariedade das
estradas, deficiente atendimento dos recursos da saúde e educação.
As peculiaridades presentes na Zona II foi o fator que denominou a definição de Zona
II definida como zona de atividades agrícolas com características empresariais, ou seja, a
maior parte do território desta área está enquadrado em atividades definidas pelos moldes
empresarias, porém com a presença de áreas marginais com sérios problemas estruturais,
diferentemente do que é observado na porção oeste do município, onde é desenvolvida a
pecuária bovina, os cultivos de arroz e soja, porém com um sistema menos intensivo.
4.3 – A Zona de produção agropecuária tradicional.
A Zona III foi chamada de área de produção agroprecuária tradicional, tem como
limites ao Norte a Margem do Jacuí ao Sul a BR 290, ao leste tem como divisa o Rio Irapuá e
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a Oeste o município de Encruzilhada do Sul, uma dos principais distritos dessa zona é o de
Barro Vermelho, seguido da localidade de Durasnal.
O agricultor desta zona é de descendência luso-brasileira, por ser uma área
tradicionalmente ocupada pelo processo de doação de sesmarias da Coroa de Portugal,
portanto, nesta região existem propriedades com mais de 1000ha correspondendo
aproximadamente a 10% das propriedades, bem como propriedades com 5 ha encontradas em
Durasnal, ou seja, uma área de grande concentração territorial configurando regiões marginais
dentro do município como o caso do Quilombo Cambará. As atividades agrícolas que
caracterizam esta zona é o predomínio da associação arroz - pecuária bovina de corte e o
cultivo de soja.
Referente aos padrões físicos o relevo não ultrapassa 100m por ser uma zona inserida
na depressão Central, a vegetação é de campos, os aspectos pedológicos remetem a solos do
tipo Argissolos que são solos mais sensíveis e não tão férteis localizados no sentido sudoeste
nas áreas de contato como o Escudo, Planossolos, solos localizados nas margens do rio Irapuá
e Jacuí solos propícios para o cultivo de arroz e Alissolos solos de baixa fertilidade química
que ocorrem na Depressão Central.
A zona III possui algumas características semelhantes a Zona IV de pecuária com
sistema de criação extensivo, pode-se dizer que as áreas margeadoras da BR 290 no sentido
sul da Zona III é onde pode ser encontradas áreas marginais como o Quilombo Cambará. O
fator que discerne as regiões é o caráter exclusivamente pecuarista da Zona IV, e no momento
a inserção de florestamento.
Sendo uma Zona de concentração fundiária, marcada pela história da doação de
sesmarias pela Coroa portuguesa, não é espantoso a ocorrência de áreas marginais de
pequenas propriedades que produzem para subsistência e agrupamentos Quilombolas, no
momento que no sistema pecuarista do Estancieiro a mão-de-obra utilizada na lida do campo
era o negro. Portanto, com a fuga ou após a Abolição da escravatura muitos descendentes de
escravos ficaram pela região se instalando em pequenas porções de terras, ainda hoje não
reconhecidas por direito pertencentes a esta população.
Os principais problemas indicados pelos entrevistados são de ordem estrutural, com
precárias estradas, difícil acesso aos serviços de saúde, abastecimento hídrico tanto para
lavoura quanto para o consumo, a insuficiente assistência técnica, e a falta ações específicas
por parte dos órgãos administrativos.
4.4 – Zona da Pecuária Extensiva
A quarta Zona, denominada de pecuária com sistema de criação extensivo, está
localizada na parte Sul do município, tendo como limites ao Norte a BR 290, ao Sul o
município de Santana da Boa Vista, a oeste o município de Caçapava do Sul e a Leste o
município de Encruzilhada do Sul.
O tipo social formador desta região é de descendência portuguesa, devido ao fato de
constituir um território tradicional de doações de grandes sesmarias, as famílias até hoje
citadas como representativas dessa região são os Peixoto, Pedroso e Machado, fato que até
hoje está pressente na estrutura fundiária da região, pois nesta zona podem ser encontradas
propriedades de até 1000 ha., que correspondem a menor parte das propriedades, no entanto,
as menores propriedades possuem no mínimo 200ha isso devido ao fato de ao longo do tempo
ocorreram várias estratificações de terra em decorrência da regularização das mesmas ou
partilhas familiares.
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Referente aos padrões pedológicos é encontrado nesta região solos como o Argissolos
com a baixa fertilidade, que ocorre em áreas mais onduladas em contato com o Escudo, no
caso desta região na sua porção noroeste em direção a Caçapava do Sul, ou seja, áreas que
possuem contato com o Escudo e proximidades da BR 290, Latossolos estão presentes mais
nas áreas centrais da Zona IV são solos com boa aptidão agrícola, no entanto, nesta área eles
se apresentam associados a afloramentos rochosos, e por fim os Neossolos que ocupam
parcela significativa da Zona IV são solos poucos desenvolvidos e rasos, com a presença de
afloramento rochoso estão concentrados na parte centro e leste da Zona.
O agricultor desta zona é identificado como mais tradicional e menos flexível às
inovações, a economia dessa zona é predominantemente a pecuária bovina extensiva, onde a
maioria não investe em melhoramento do rebanho, a carne é vendida para o frigorífico
Mercosul, e o coro é vendido in natura.
Já a pecuária Ovina é destinada na sua maior parte para o consumo familiar, sendo que
a carne é comercializada localmente e a lã pouco valorizada é vendida para atravessadores de
Pelotas e Bagé.
O arroz é cultivado nas margens dos canais hídricos como Piquiri e Capané, e a soja é
cultivada nas proximidades da BR 290 no sentido oeste, na divisa com a Região III.
Outra atividade que hoje ganha expressão dentro do território da Zona IV e o processo
de florestamento1 presente à cerca de mais ou menos trinta anos no município e que hoje
conta com aproximadamente cinqüenta mil hectares plantados, entre as espécies plantadas
encontramos o eucalipto, acácia e pinos.
A Zona IV é classificada como a região mais pobre do município, com vários
problemas ligados ao abastecimento de água, e ao acesso aos serviços de saúde. As atividades
agrícolas tradicionais estão basicamente voltadas para o consumo, e o que é comercializado
em muitos casos não possui uma boa remuneração em decorrência da baixa qualidade do
rebanho, portanto, hoje muitos pecuaristas estão vendendo ou arrendando suas terras para
impressas de celulose como a Aracruz, a Carraro e a Trevisan do setor moveleiro.
As principais localidades dessa Zona são o Piquiri, Iruí, Capanezinho e Irapuá. A
localidade de Piquiri conta com uma população estimada em torno de duzentas famílias, onde
cinqüenta por cento da população é aposentada e desenvolve pecuária bovina e ovina
destinada ao consumo familiar, Iruí que possui uma população aproximada de quarenta
famílias, Capanezinho localizado no Sentido sul após BR 290 com aproximadamente trinta
famílias, nessas comunidades a atividade principal também é a pecuária bovina e ovina.
Por fim uma última localidade que seria a área de Mineração Irapuá, uma área de
mineração de calcário, hoje desativada, localizada na porção Sul da Zona IV em direção ao
município de Caçapava do Sul, que conta com uma população aproximada de quarenta
famílias e as principais atividades agrícolas é a pecuária bovina e de caprinos, constitui em
uma das localidades mais distantes da sede municipal e uma das mais pobres dentro da Zona
IV.
A atividade de florestamento hoje representa uma nova alternativa econômica parra
esse território, no entanto, muito pouco do lucro dessa produção retorna para o município,
nesse tipo de atividade, por exemplo, o emprego da mão–de-obra é necessário apenas no
plantio e colheita.
1
Esta atividade hoje ganha muita força na região devido a valorização do preço das terras, pois nos lugares onde
o solo é mais fértil, o hectare está sendo valorizado a cerca de oito mil reais e nas áreas menos favorecidas em
torno de quatro mil.
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A zona IV atualmente está sendo praticamente transformada em uma área de
florestamento pelas empresas atuantes na região, o problema atual consiste na busca de
alternativas para população que ainda mora nesta zona e que deseja continuar com o seu
criatório, hoje a região segundo declaração dos entrevistados está se transformando em um
“deserto verde” construído sobre o território da pecuária bovina. Além disso, foi identificada
certa preocupação pelos entrevistados em relação aos problemas relacionados á escassez dos
recursos hídricos, identificados após o inicio das atividades de florestamento.
Os principais problemas apontados pelos entrevistados foi a falta de orientação técnica
e incentivos ao incremento e melhoramento dos criatórios, que acabam por agregar pouco
valor a produção, diminuindo a margem de lucro do pecuarista, que é praticamente obrigado a
vender suas terras.
Após a realização desta etapa do estudo foi constatado a presença de quatro grandes
áreas homogêneas, contrastando com a primeira hipótese que identificou três grandes zonas
homogenias, a Zona II do primeiro levantamento seria uma área fisiograficamente igual com
padrões ambientais, sociais e econômicos semelhantes no entanto, na segunda etapa, foi
identificada diferença nos sistemas produtivos, neste caso a porção oeste da Zona era marcada
por uma atividade tradicional menos intensiva, e a porção leste era caracterizada por um
sistema produtivo caracterizado como empresarial.
5. CONCLUSÃO
O estudo identificou quatro grandes áreas peculiares no espaço rural de Cachoeira do
Sul. Com distintos sistemas produtivos, as áreas foram definidas como Zona I de expansão da
agricultura familiar européia, com o predomínio de agricultores familiares, Zona II definida
como zona de atividades agrícolas com características empresariais, com o predomínio da
pecuária bovina e cultivos de arroz, e soja, Zona III área de produção agrícola tradicional,
com a presença da pecuária bovina, cultivo de soja e arroz, porém de forma menos intensiva e
por fim a Zona IV de pecuária com sistema de criação extensivo.
Cada zona identificada e caracterizada apresenta diversas realidades, as quais não
podem deixar de serem observadas nos planos municipais de desenvolvimento rural, no caso
da Zona I de expansão da agricultura familiar européia, uma das importantes carências
identificadas foi a falta de apóio a comercialização de hortigranjeiros, ou seja, de ações que
privilegiem a produção dos pequenos produtores da região.
Já na Zona II, definida como zona de atividades agrícolas com características
empresariais, os principais problemas indicados pela população dizem respeito, ao descaso do
poder público em relação a pequena produção, a insuficiente assistência técnica, o difícil
acesso ao crédito, a precariedade das estradas para o escoamento da produção, e o precário
atendimento dos recursos da saúde e educação.
Na Zona III área de produção agrícola tradicional, por ser uma Zona caracterizada por
atividades pecuaristas e associação dos cultivos do arroz e da soja, nesta área a carência maior
estaria centrada em ações voltadas ao aperfeiçoamento e incremento das atividades agrícolas
voltada a pecuária e a lavoura de grãos, visto que são exploradas de forma tradicional e menos
intensivas que na Zona III. Outro aspecto importante é a observação para ações que visem
também às áreas marginais da Zona III dedicadas a agricultura de subsistência.
A Zona IV de pecuária com sistema de criação extensivo, consiste na área mais crítica
do município, onde atualmente os desprovidos de capital, que não podem investir na atividade
pecuária, estão forçosamente vendendo suas terras para o florestamento e migrando para
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cidade. Outro problema identificado nas preocupações dos entrevistados diz respeito a
escassez dos recursos hídricos, identificado após a inserção dos monocultivos florestais.
Portanto, nesta zona são importantes as ações que visem a revitalização da população local.
Alguns problemas podem ser indicados como gerais, ou seja, ocorreram em todas as
áreas caracterizadas, entre eles o descaso com as áreas marginais do município baseadas nos
sistemas produtivos familiares, os problemas de infra-estrutura, como a precariedade das
estradas, difícil acesso ou até mesmo inexistência de serviços básicos de saúde e educação,
problemas de cunho ambiental como a questão do abastecimento de água tanto para os
cultivos e criatórios, quanto para o consumo familiar.
Mas o objetivo do trabalho foi o de chamar a atenção para as peculiaridades existentes
entre os diferentes espaços agrários identificados no município. Assim, por exemplo, os
problemas dos produtores descapitalizados da Zona I, são muito distintos dos problemas dos
pecuaristas ou produtores da Zona IV, os problemas dos cultivos desenvolvidos na Zona III
são também distintos dos problemas da Zona II
A identificação das diferentes áreas ou zonas agrícolas do município demonstrou a
importância da elaboração de diagnósticos criteriosos, para analisar a complexidade do espaço
rural, pois no caso estudado ficaram nítidas as diferenças de cada área sendo impossível a
elaboração de estratégias globais de desenvolvimento para um espaço que abriga tantas
peculiaridades.
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