MUNDO MISSIONÁRIO
De “olhares de medo” para “olhar
Apenas 54 por cento dos franceses acha
que a prática da religião muçulmana é
compatível com a sociedade francesa. A
percentagem sobe para 82, quando se
refere a católicos e para 72 em relação
aos hebreus. Em França vivem cinco milhões de muçulmanos. Neste contexto,
o bispo francês de Creteil, dos arredores
de Paris, afirma que “em nome do Evangelho” é preciso transformar os “olhares
de medo”, em relação aos muçulmanos
a residir em França, em “olhares de estima”. Falando aos delegados das dioceses de França para as relações com os
África continente da esperança
Prémio Pessoa distingue
Bispo do Porto
O presidente da Comissão Episcopal
da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais da Igreja católica
recebeu com surpresa a notícia da
atribuição do Prémio Pessoa 2009.
Manuel Clemente confessa: “Nunca
me passou pela cabeça”. Reconhecido
pela distinção, declara: “Tomo como
um encargo e uma responsabilização, porque sou um homem de Igreja
e tento ser um homem da Cultura e
da Sociedade”. A iniciativa distingue
a personalidade nacional que mais se
destacou na cultura durante o ano.
Os elogios à atribuição do prémio
ao Bispo do Porto vêm dos mais variados quadrantes e são unânimes
em reconhecer o mérito do galardoado: “É uma referência para a sociedade portuguesa”; “desenvolve
uma intensa actividade cultural de
estudo e debate público”; “em tempos difíceis como os que vivemos
[…] é uma referência ética”; “de
mérito indiscutível, muito atento,
com os olhos no futuro”; “tem-se
destacado por uma postura humanística de defesa do diálogo e da
tolerância, do combate à exclusão
e da intervenção social da Igreja”;
“homem bom, de causas e extraor­
dinariamente culto”; “tem ainda
muito a dar a Portugal”; “grande
figura ética para todos os portugueses”; “grande figura da Igreja, é
uma pessoa relevante para o nosso
país e um grande português”.
Em 22 anos, o Prémio Pessoa é atribuído pela primeira vez a uma pessoa da Igreja católica. Licenciado em
História e doutorado em Teologia
Histórica, Manuel Clemente já publicou várias dezenas de estudos e obras
relacionadas com a sua paixão pela
história. São frequentes as suas intervenções na rádio e na televisão.
Entre os distinguidos encontram-se o
historiador José Mattoso, a pianista
Maria João Pires, o escritor José Cardoso Pires, o arquitecto Souto Moura,
o investigador Sobrinho Simões e o
constitucionalista Gomes Canotilho.
FÁTIMA MISSIONÁRIA
0
JANEIRO 2010
“Através das actividades missionárias,
a África pode tornar-se o continente
da esperança”. Quem o afirma é o queniano Celestino Bundi, director nacional das Obras Missionárias Pontifícias
do Quénia. “Agradecemos a Deus pelo
dom dos missionários, homens e mulheres, que, movidos pelo amor, deixaram os seus países e vieram ser­vir-nos,
suportando os sofrimentos do corpo,
os desafios culturais, as dificuldades
climáticas e as barreiras linguísticas”.
O sacerdote queniano lembra o testemunho dos missionários que evangelizaram a África, doando as suas vidas,
e estão sepultados em solo africano:
“No meio de nós, são sinais visíveis do
seu compromisso pela evangelização”.
O sacerdote conclui: “A África não é o
continente da miséria, da pobreza, das
guerras e da corrupção. Pode tornar-se
o continente da esperança com as vocações missionárias, as iniciativas de paz
e a vida comunitária”.
MUNDO MISSIONÁRIO
es de confiança” acerca de muçulmanos em França
Tobias Oliveira,
de NAIROBI
muçulmanos, o bispo Michel Santier,
afirmou que o evangelho exige “amor
pelos estrangeiros, pelos pobres e por
aqueles que são diferentes de nós. Exige
que ultrapassemos as tensões, os confli-
tos até ao perdão”. O espírito evangélico
deve “favorecer o encontro”, para que
“os preconceitos recíprocos desapareçam e se possam estabelecer relações de
confiança na verdade”.
Um terço da humanidade vive às escuras
A falta de acesso à energia eléctrica é
causa de pobreza para um terço dos
habitantes do nosso planeta. Um relatório do PNUD, organismo das Nações
Unidas para o desenvolvimento, revela
que 80 por cento destas pessoas vivem
na África a sul do Sara. Mais de 1.500
milhões de pessoas não têm acesso à
electricidade e 3.000 milhões dependem de combustíveis sólidos, como o
carvão e a biomassa, para cozinhar e
aquecer-se. As consequências para a
saúde e para o inquinamento do planeta
são graves. Nenhum dos países em vias
de desenvolvimento conseguirá atingir
os chamados Objectivos do Milénio,
até 2015. Só menos de três por cento da
população do Burundi, Chade e Libéria
dispõe de electricidade; menos de cinco
por cento no Ruanda, República Centro
Africana e Serra Leoa; e no Afeganistão
e Birmânia menos de 13 por cento. Os
mais países pobres precisam do apoio
dos ricos para desenvolverem fontes de
energia renováveis e não poluentes.
Apelo a respeitar e agir em defesa dos direitos dos migrantes
“O acolhimento e a solidariedade para
com o estrangeiro, sobretudo quando
se trata de crianças, torna-se anúncio
do Evangelho da solidariedade”, escre­
ve Bento XVI na sua mensagem para o
Dia Mundial do Migrante e Refugiado,
que se celebra a 17 de Janeiro. A Igreja
tem o dever de proclamar e agir “para
que se­jam respeitados os direitos dos
migrantes e refugiados, estimulando os
responsáveis das nações, dos organismos e das instituições internacionais
pa­ra que promovam iniciativas oportu­
nas em favor deles”. O Papa chama a
atenção para a situação delicada em que
vivem os filhos dos migrantes e as crianças nascidas nos países de acolhimento.
Deste modo explica o tema da celebra-
ção: “Migrantes e refugiados me­n­ores,
menos capazes de fazer ouvir a sua voz”.
FÁTIMA MISSIONÁRIA
0 JANEIRO 2010
Namugongo
Passei em Dezembro alguns dias
no Uganda em serviço missionário.
Aproveitei para visitar o santuário de
Namugongo, nos arredores de Kampala, onde a 3 de Junho de 1886 foram queimados vivos por ordem do
rei Mwanga, o Kabaka dos Baganda,
vários jovens católicos. Entre eles,
conta-se o jovem adolescente de 13
anos, baptizado na véspera da condenação, chamado Kizito.
A Igreja Católica do Uganda, cujos
inícios foram dramáticos, conta hoje
com 19 dioceses e quase metade da
população do país é católica. Os missionários entraram no reino em 1879
e cedo conseguiram alguns adeptos
entre os pajens da corte de Kabaka,
que descobriu nos cristãos uma grande determinação em se manterem fiéis
a Cristo. O que mais o enfureceu foi
que, tendo adquirido hábitos de pedófilo, os seus pajens lhe negassem os
favores que deles exigia. Decidiu limpar o reino dessa nova fé que sancionava a desobediência ao rei e para tal
recorreu aos seus poderes de monarca absoluto. A perseguição foi violenta e durou três anos, culminando com
a expulsão dos missionários. Quando
estes puderam regressar, depois da
sua morte, encontraram quinhentos
católicos e mil catecúmenos, que ansiosamente os esperavam.
Os primeiros frutos da fé cristã no
Uganda foram fecundados pelo sangue destes 22 mártires, canonizados
pelo Papa Paulo VI em 1964. O seu
exemplo continua a produzir abundante colheita. Os Missionários da
Consolata entraram no Uganda em
1985, centenário dos primeiros martírios. Hoje contam com 19 missionários de origem ugandesa.
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