SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE TRABALHO E EDUCAÇÃO (www.ufpa.br/ce/gepte) AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: em busca de uma didática da educação profissional RELATÓRIO FINAL BELÉM – PARÁ 2010 DADOS GERAIS DO PROJETO E PESQUISADORES EDITAL: MCT/CNPq 15/2007 - Universal - Faixa B - De R$ 20.001,00 a R$ 50.000,00 ÁREA / SUB ÁREA DO PROJETO: Educação Nº DO PROCESSO: 477173/2007-1 TÍTULO DA PESQUISA: AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: em busca de uma didática da educação profissional COORDENADOR GERAL: Profº Dr. Ronaldo Marcos de Lima Araujo EQUIPE DE PESQUISA: Pesquisadores Profº Dr. Ronaldo Marcos de Lima Araujo – Coordenador – UFPA Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Profº Dr. Gilmar Pereira da Silva – Vice-Coordenador – UFPA Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Profº Dr. Justino de Souza Junior – pesquisador – UFC Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Doutorandos Doriedson do Socorro Rodrigues – doutorando - UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Elinilze Guedes Teodoro – doutoranda – PUC-RJ Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Maria Auxiliadora Maués de Lima Araujo – doutoranda – UFPA Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Orientador: Profª Terezinha Fátima Andrade Monteiro dos Santos Mestrandos Cristiane Silva de Almeida – mestranda – UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a agosto de 2008 Sônia de Fátima Rodrigues Santos – mestranda – UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a agosto de 2008 Raimunda do Socorro Rodrigues – mestranda – UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a agosto de 2008 Rosineide de Belém Lourinho dos Santos – mestranda – UFPA ii Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a setembro de 2008 Sandra Suely da Silva Gomes – mestranda – UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a agosto de 2009 Rejane do Socorro da Silva Carvalho – mestranda – UNB Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Elizabete Batista Ramos – mestranda – UNB Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a janeiro de 2010 Deusa de Nazaré Martins Lobato – mestranda - UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: março de 2008 a janeiro de 2010 Egídio Martins – mestrando – UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Adriana Maria Nazaré de Souza – mestranda – UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Heloisa Helena Barbosa Canali – mestranda – UFPA Orientador: Prof° Gilmar Pereira da Silva Período de vinculação à pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Ana Cristina Moraes – mestranda – UFPA Orientador: Prof° Gilmar Pereira da Silva Período de vinculação à pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Especializandos Jaqueline do N. Rodrigues – discente de especialização – UFPA Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Adriane S. R. do Nascimento – discente de especialização – UFPA Período de vinculação à Pesquisa: março 2009 a janeiro de 2010 Adriana Maria Nazaré de Souza – discente de especialização – IFPA Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a novembro de 2008 Frederico dos Remédios Correa – discente de especialização – IFPA Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a novembro de 2008 Bolsistas de iniciação científica (PIBIC/CNPq) Adriane S. R. do Nascimento – bolsista de iniciação científica / discente de especialização - UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a março de 2009 Jaqueline do N. Rodrigues – discente de especialização - UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo iii Período de vinculação à Pesquisa: janeiro de 2008 a março de 2008 Manuela Tavares Santos – bolsista PIBIC- UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: março de 2008 a março de 2009 Bruna de Moraes Damasceno – bolsista PIBIC- UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Lívia Fernanda Nascimento dos Santos – bolsista PIBIC- UFPA Orientador: Prof° Ronaldo Marcos de Lima Araujo Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Fred Júnior Costa Alfaia – Bolsista PIBIC/INTERIOR – UFPA Orientador: Prof° Gilmar Pereira da Silva Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a janeiro de 2010 Fábio Coelho Pinto – Bolsista PIBIC – UFPA Orientador: Prof° Gilmar Pereira da Silva Período de vinculação à Pesquisa: março de 2008 a março de 2009 Humberto de Jesus Caldas Ribeiro – Bolsista PIBIC/INTERIOR – UFPA Orientador: Prof° Gilmar Pereira da Silva Período de vinculação à Pesquisa: março de 2008 a março de 2009 Hundriana de Jesus Caldas Ribeiro – Bolsista PIBIC – UFPA Orientador: Prof° Gilmar Pereira da Silva Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a março de 2010 Adriana Viana Valente – Bolsista PIBIC – UFPA Orientador: Prof° Gilmar Pereira da Silva Período de vinculação à Pesquisa: março de 2009 a março de 2010 AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: em busca de uma didática da educação profissional SUMÁRIO Lista de Siglas Lista de quadros Apresentação --------------------------------------------------------------------------------- 1 Considerações iniciais--------------------------------------------------------------------- 1 Práticas formativas ou práticas pedagógicas? ---------------------------------3 Existe uma didática ou uma pedagogia da educação profissional? ------6 A didática da educação profissional paraense ---------------------------------8 Acerca da pesquisa qualitativa: um debate temporão? -------------------- 12 Sobre a base de dados da pesquisa documental --------------------------- 18 CAPÍTULO 1 – REFERÊNCIAS SOBRE PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: diferentes projetos em disputa ---------------- 24 Considerações inicias --------------------------------------------------------------- 24 1.1. O PROJETO DO CAPITAL -------------------------------------------------- 27 1.1.1. A institucionalização da educação profissional no Brasil: o sistema S e as séries metódicas ocupacionais ----------------------------------- 28 1.1.2. A renovação do velho: A Pedagogia das Competências -- 31 1.2. O PROJETO CONTRA-HEGEMÔNICO --------------------------------- 44 1.3. ESBOÇO DE ORIENTAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL---------------------------------------- 48 Considerações do capítulo -------------------------------------------------------- 50 CAPÍTULO 2. O QUE DIZEM OS PERIÓDICOS DE TRABALHO E EDUCAÇÃO SOBRE A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL?------- 53 Considerações iniciais do capítulo ---------------------------------------------- 53 2.1. A DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA REVISTA TRABALHO & EDUCAÇÃO DO NETE ------------------------------------------------ 54 2.1.1. Revista Trabalho & Educação – 1999/2000 -------------------- 57 2.1.2. Revista Trabalho & Educação – 2001---------------------------- 60 2.1.3. Revista Trabalho & Educação – 2002---------------------------- 65 2.1.4. Revista Trabalho & Educação – 2003---------------------------- 70 2.1.5. Revista Trabalho & Educação – 2004---------------------------- 74 2.1.6. Revista Trabalho & Educação – 2005---------------------------- 77 2.1.7. Revista Trabalho & Educação – 2006---------------------------- 82 2.1.8. Considerações sobre a produção da Revista Trabalho & Educação ----------------------------------------------------------------------------------- 85 2.2. A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BTS – BOLETIM TÉCNICO DO SENAC-------------------------------------------------------- 90 2.2.1. Boletim Técnico do SENAC – 2000 ------------------------------- 92 2.2.2. Boletim Técnico do SENAC – 2001 ------------------------------- 93 vi 2.2.3. Boletim Técnico do SENAC – 2002 ------------------------------- 95 2.2.4. Boletim Técnico do SENAC – 2003 ------------------------------- 97 2.2.5. Boletim Técnico do SENAC – 2004 ------------------------------- 98 2.2.6. Boletim Técnico do SENAC – 2005 ----------------------------- 101 2.2.7. Boletim Técnico do SENAC – 2006 ----------------------------- 103 2.2.8. Boletim Técnico do SENAC – 2007 ----------------------------- 105 2.2.9. Boletim Técnico do SENAC – 2008 ----------------------------- 107 2.2.10 Considerações sobre a produção do Boletim Técnico do SENAC 113 2.3. A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NOS ANAIS DO GT09 DA ANPED -------------------------------------------------------------------------- 118 2.3.1. A produção da ANPED --------------------------------------------- 120 2.3.2. Reunião Anual da ANPEd – 2000 ------------------------------- 122 2.3.3. Reunião Anual da ANPEd – 2001 ------------------------------- 124 2.3.4. Reunião Anual da ANPEd – 2002 ------------------------------- 132 2.3.5. Reunião Anual da ANPEd – 2003 ------------------------------- 135 2.3.6. Reunião Anual da ANPEd – 2004 ------------------------------- 140 2.3.7. Reunião Anual da ANPEd – 2005 ------------------------------- 143 2.3.8. Reunião Anual da ANPEd – 2006 ------------------------------- 147 2.3.9. Reunião Anual da ANPEd – 2007 ------------------------------- 148 2.3.10. Considerações sobre a produção do GT 09 (Trabalho e Educação) da ANPEd ----------------------------------------------------------------- 152 2.4. SÍNTESE PROVISÓRIA ACERCA DA DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA VISÃO DOS AUTORES DOS TRÊS VEÍCULOS ESTUDADOS ------------------------------------------------------------------------------- 160 3. A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARAENSE ------------ 167 3.1. IFPA – INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ – CAMPUS CASTANHAL ---------------------------- 167 3.1.1. Objetivos de ensino ------------------------------------------------ 170 3.1.2. Conteúdos de ensino ---------------------------------------------- 172 3.1.3. Métodos de ensino e de avaliação ----------------------------- 174 3.1.4. Considerações em processo sobre a didática no IFPA – Campus Castanhal --------------------------------------------------------------------- 176 3.2. ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL MAGALHÃES BARATA – ETEMB 176 3.2.1. Objetivos de ensino ------------------------------------------------ 179 3.2.2. Conteúdos de Ensino ---------------------------------------------- 181 3.2.3. Métodos de Ensino e de Avaliação ---------------------------- 183 3.2.4. Considerações em processo sobre a didática na ETEMB 186 3.3. ESCOLA BOSQUE PROFESSOR EIDORFE MOREIRA ------ 186 3.3.1. Objetivos de ensino ------------------------------------------------ 188 3.3.2. Conteúdos de ensino ---------------------------------------------- 190 vii 3.3.3. Métodos de ensino e de avaliação ----------------------------- 192 3.3.4. Considerações em processo sobre a didática na Escola Bosque 196 3.4. CESEP – CENTRO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS DO PARÁ 197 3.4.1. Objetivos de ensino ------------------------------------------------ 198 3.4.2. Conteúdos de ensino ---------------------------------------------- 200 3.4.3. Métodos de ensino e de avaliação ----------------------------- 202 3.4.4. Considerações em processo sobre a didática no CESEP 203 3.5. Outras experiências paraenses estudadas (SENAI e IFPA) --- 204 3.6. Considerações do capítulo: as práticas tradicionais e o desafio da integração ------------------------------------------------------------------------------------ 206 CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------ 208 Filosofia da Práxis e ensino integrado: também uma questão éticopolítica ---------------------------------------------------------------------------------------- 209 Pensar & fazer: prática pedagógica – atitude humana transformadora -------------------------------------------------------------------------- 213 Práxis: atitude humana transformadora – um arquétipo propositivo ----------------------------------------------------------------------------------------------- 215 Notas para um norte--------------------------------------------------------- 220 Referências bibliográficas ------------------------------------------------------------ 223 Descrição das despesas Produtos Anexos AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: em busca de uma didática da educação profissional – Relatório Final Lista de siglas • ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação • BTS – Boletim Técnico do SENAC • CEA – Centro de Educação de Adultos • CEETEPS – Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula e Souza • CEFETMG – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais • CESEP – Centro de Serviços Educacionais do Pará • CETEP – Centro de Estudos Técnicos do Pará • CIC – Centro Integrado de Controle • CNM – Confederação Nacional dos Metalúrgicos • CTT – Ciência – Tecnologia – Trabalho • CUT – Central Única dos Trabalhadores • EDUFORUM – Fórum de Coordenadores dos Programas de PósGraduação em Educação • EMJAT – Ensino Médio Para Jovens e Adultos Trabalhadores • ENEM – Exame nacional de Ensino Médio • ETEMB – Escola Técnica Estadual Magalhães Barata • FHC – Fernando Henrique Cardoso • FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz • FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho • GEPTE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Educação • GT – Grupo de Trabalho • IFPA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do ParáMST • INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária • Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia • ISSO – International Organization for Standardization • MEC – Ministério da Educação • MST – Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra • MTE – Ministério do Trabalho e Emprego • PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio • PCS – Programa Capacitação Solidária • Planfor – Plano Institucional de Formação de Quadros Docentes • PNQ – Prêmio Nacional de Qualidade • Proe – Programa de Complementação Educacional • Proep – Programa de Expansão da Educação Profissional • PROEJA – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação Jovens e Adultos • Profae – Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem • PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária 10 • • • • • • • • • • • PUC-MINAS – Pontifícia Universidade Católica de Minas REPAR – Refinaria Presidente Vargas SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial T & E – Revista Trabalho e Educação UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais UFC – Universidade Federal do Ceará UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFPA – Universidade Federal do Pará UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UNAMA – Universidade da Amazônia AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: em busca de uma didática da educação profissional – Relatório Final Lista de quadros Quadro 1 – ARTIGOS CONSULTADOS SOBRE PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Quadro 2 – QUADRO INSTITUCIONAL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM (1995 A 2004) Quadro 3 – ARTIGOS DA REVISTA TRABALHO E EDUCAÇÃO ANALISADOS Quadro 4 – A DIDÁTICA NA VISÃO DOS AUTORES DA REVISTA TRABALHO E EDUCAÇÃO Quadro 5 – ARTIGOS DO BOLETIM TÉCNICO DO SENAC ANALISADOS Quadro 6 – A DIDÁTICA NA VISÃO DOS AUTORES DA REVISTA TRABALHO E EDUCAÇÃO Quadro 7 - ARTIGOS DO GT09 DA ANPED ANALISADOS Quadro 8 – SÍNTESE DOS ELEMENTOS DIDÁTICOS NA VISÃO DOS AUTORES Quadro 8 – ENTREVISTAS DO IFPÁ – CASTANHAL Quadro 9 – EXCERTOS SOBRE OBJETIVOS DE ENSINO – IFPA/Castanhal Quadro 10 – EXCERTOS SOBRE CONTEÙDOS DE ENSINO – IFPA/Castanhal Quadro 11 – EXCERTOS SOBRE METODOS DE ENSINO – IFPA/Castanhal Quadro 12 – ENTREVISTADOS NA ETEMB Quadro 13 – EXCERTOS SOBRE OBJETIVOS DE ENSINO – ETEMB Quadro 14 – EXCERTOS SOBRE CONTEÚDOS DE ENSINO – ETEMB Quadro 15 – EXCERTOS SOBRE MÉTODOS DE ENSINO – ETEMB Quadro 16 – ENTREVISTADOS NA ESCOLA BOSQUE Quadro 17 – EXCERTOS SOBRE OBEJTIVOS DE ENSINO – Escola Bosque Quadro 18 – EXCERTOS SOBRE CONTEÙDOS DE ENSINO – Escola Bosque Quadro 19 – EXCERTOS SOBRE MÉTODOS DE ENSINO – Escola Bosque Quadro 20 – ENTREVISTADOS NO CESEP Quadro 21 – EXCERTOS SOBRE OBJETIVOS DE ENSINO – CESEP Quadro 22 – EXCERTOS SOBRE CONTEÚDOS DE ENSINO – CESEP Quadro 23 – EXCERTOS SOBRE MÉTODOS DE ENSINO – CESEP 19 20 54 86 88 112 117 156 163 166 168 170 174 176 179 181 184 185 188 191 195 196 198 199 AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: em busca de uma didática da educação profissional – Relatório Final RESUMO O presente relatório expõe resultados de 02 anos (2008-2009) de pesquisas concernentes ao projeto “Práticas Formativas em Educação Profissional no Estado do Pará: em busca de uma didática da educação profissional”. Metodologicamente, adotamos procedimentos próprios da pesquisa de cunho qualitativa tendo o materialismo dialético como marco teórico para a investigação empreendida e tomando as entrevistas semi-estruturadas, a pesquisa bibliográfica e a análise de conteúdo (técnica de categorização) como procedimentos para o levantamento, a organização e a análise dos dados. Do ponto de vista teórico, o Pragmatismo e a Filosofia da Práxis foram as duas referências basilares utilizadas para a organização e análise da produção bibliográfica e das práticas formativas em educação profissional, consideradas a partir de três categorias básicas da didática: (i) objetivos de ensino, (ii) conteúdos de ensino, e (iii) metodologia de ensino e de avaliação. Com foco nestas três categorias analisamos as produções de três veículos de comunicação da área de trabalho e educação em seus artigos que tratam de prática pedagógica: Revista Trabalho & Educação, Boletim Técnico do SENAC e Anais do GT09 da ANPED, bem como a fala de entrevistados de quatro instituições que, no Pará, ofertam educação profissional: Instituto Federal de Educação Tecnológica do Pará (IFPA), Escola Técnica Estadual Magalhães Barata (ETEMB), Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira e o Centro de Serviços Educacionais do Pará (CESEP). Nos periódicos, observamos que, reconhecendo o caráter dual da educação brasileira e a realidade social de luta de classes, a educação profissional é compreendida como campo de disputa, atualmente hegemonizada pela ótica empresarial de base pragmática que toma a noção de competência como principal referência pedagógica, compreendida como renovação de formas tradicionais de formação profissional, antes identificadas com práticas de treinamento. Formulações de um projeto de educação profissional identificados com a Filosofia da Práxis ainda são incipientes e este referencial tem servido muito mais para o estabelecimento de críticas ao instituído do que para proposições de práticas pedagógicas contra- 13 hegemônicas. Esta produção também revelou marcos distintivos entre projetos de educação profissional focados pela ótica dos trabalhadores e aqueles apoiados pelas demandas do capital. Observou-se que, no Pará, nas diferentes instituições analisadas, prevalece o tradicionalismo pedagógico que tem no mercado e nas competências as suas referências centrais, mesmo que outras também sejam reais. Quanto aos procedimentos metodológicos e às estratégias de organização curricular e de avaliação, verificamos que nas instituições elas assemelham-se, mesmo naquelas em que existam tentativas de efetivação de um ensino integrado, não sendo, portanto este o fator decisivo e distintivo de práticas orientadas pela lógica do mercado ou dos trabalhadores. Do ponto de vista das finalidades, contudo, ficaram claras a existências de diferenças essenciais. Estas diferenças ficaram evidentes e permitem considerar que mesmo as questões técnicas das práticas pedagógicas são definidas, explicadas e entendidas em função dos projetos político-filosóficos aos quais elas se assentam e se articulam. Como não se pode apartar a dimensão pedagógica da dimensão ético-política, compreende-se que um projeto de ensino integrador pressupõe a edificação de uma práxis revolucionária, não sendo esta uma questão curricular, mas fundamentalmente política e filosófica. Esse aspecto depende muito mais dos projetos institucionais e da postura ideológica que os profissionais da educação profissional assumem frente à realidade, do que dos procedimentos didáticocurriculares utilizados. Estes são necessários, mas não têm força estruturante de práticas formativas. PALAVRAS-CHAVE: Educação Profissional - Didática; Filosofia da Práxis Pragmatismo - Estado do Pará. 1 AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: em busca de uma didática da educação profissional – Relatório Final Apresentação O relatório final da pesquisa “As práticas formativas em educação profissional no Estado do Pará: em busca de uma didática da educação profissional”, financiada pelo CNPq, encontra-se distribuído em três capítulos que visam expor a trajetória dos esforços de investigação depreendidos em dois anos – 2008-2009, tanto no que se refere aos procedimentos teóricometodológicos quanto aos resultados obtidos. Estruturalmente, esses capítulos são constituídos de uma introdução e das considerações finais. Nas considerações iniciais, apresentamos o objeto de pesquisa – a didática da educação profissional –, os objetivos que nortearam a investigação e os pressupostos teórico-metodológicos, considerando a pedagogia fundamentada no Pragmatismo e a baseada na Filosofia da Práxis, como também a pesquisa qualitativa tendo o materialismo dialético como marco teórico. Na introdução, apresentamos o projeto de pesquisa e esclarecemos o objeto sobre o qual incide a investigação, as questões motivadoras do estudo, os procedimentos adotados e as referências teóricas assumidas. No primeiro capítulo, intitulado “REFERÊNCIAS SOBRE PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: diferentes projetos em disputa”, partimos da idéia de que a educação em geral e a educação profissional, em particular, constituem campos de disputa no qual predominam abordagens de dois tipos: aquelas que buscam a conformação dos homens à realidade dada e outras que buscam a transformação social, e que tais abordagens consubstanciam em nossa sociedade, prioritariamente, dois projetos antitéticos de formação de trabalhadores: uma pedagogia focada no trabalho e outra pedagogia focada no capital. A primeira, com base no materialismo histórico, busca identificar as referências que permitam a avaliação de práticas formativas em educação profissional articuladas ao projeto educacional do capital, de cunho pragmático, relacionadas com a segregação do desenvolvimento das capacidades de pensar e de fazer do 2 trabalhador e à acomodação social frente à realidade dada. A segunda busca identificar referências de práticas formativas em educação profissional que se articulem ao ideário da Filosofia da Práxis, tendo em vista, para além da simples negação, a formulação de estratégias que favoreçam a atividade humana auto-realizadora. Dessa forma, o primeiro capítulo encontra-se organizado com duas seções principais: uma que foca e problematiza o projeto de educação profissional do capital, de cunho pragmático, e outra que, com base nas formulações de autores marxistas, busca considerar a possibilidade de um projeto pedagógico de formação dos trabalhadores. No segundo capítulo, com o título “O QUE DIZEM OS PERIÓDICOS DE TRABALHO E EDUCAÇÃO SOBRE A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL?”, levantamos e sistematizamos as fontes bibliográficas, considerando artigos publicados na Revista Trabalho & Educação, no Boletim Técnico do SENAC e nos anais do GT09 da ANPED, que tratam sobre “didática da educação profissional”, por meio de análise interpretativa, no intuito de identificar as contribuições de diferentes autores a respeito dessa didática, considerando (i) objetivos de ensino, (ii) conteúdos de ensino, (iii) metodologia de ensino e de avaliação presentes nessa prática. A partir dos textos lidos, apresentamos elementos de diferentes projetos formativos que estão em disputa por hegemonizar as práticas formativas em educação profissional. No terceiro capítulo, com o título “A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARAENSE”, apresentamos elementos das práticas pedagógicas dos professores de quatro instituições de educação profissional – o Instituto Federal de Educação Tecnológica do Pará (IFPA), Escola Técnica Estadual Magalhães Barata (ETEMB), Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira e o Centro de Serviços Educacionais do Pará (CESEP) -, permitindonos uma caracterização inicial de uma didática da educação profissional. Nesse capítulo, as falas dos entrevistados estão organizadas em função das três categorias da didática elencadas para o desenvolvimento das análises. Nas considerações finais, expomos reflexões sobre a didática da educação profissional, tanto a partir da pesquisa empírica quanto bibliográfica, ressaltando-se que, questões técnicas da didática são definidas, explicadas e 3 entendidas em função dos projetos político-filosóficos aos quais elas se assentam e se articulam, não havendo forma de ver a dimensão pedagógica dissociada da dimensão política. Destacamos ainda que a compreensão de um projeto de ensino integrador pressupõe a edificação de uma práxis revolucionária, não sendo uma questão curricular, mas uma questão fundamentalmente política e filosófica, dependendo muito mais dos projetos institucionais e da postura que o profissional da educação assume frente à realidade do que aos procedimentos didáticos utilizados aos quais são necessários, mas não suficientes. Estruturalmente, as considerações finais apresentam uma reflexão inicial sintetizadora dos achados, para, em seguida, abordar o tópico a “Filosofia da práxis e ensino médio integrado: também uma questão de atitude”, com uma divisão em três momentos: (i) Pensar e fazer: prática pedagógica – atitude humana transformadora; (ii) Práxis: atitude humana transformadora – um arquétipo propositivo; (iii) Notas para um norte. Por último, apresentamos a descrição de despesas ocorridas na vigência do projeto, assim como produtos gerados pela pesquisa, com indicação de fontes de gastos, tais como eventos, publicações. 1 AS PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DO PARÁ: EM BUSCA DE UMA DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Considerações iniciais A história da educação brasileira, tal como afirma Saviani (1999), inclusive a profissional, é marcada pela disputa entre dois projetos principais: uma pedagogia pragmática, que busca subordinar a educação aos interesses imediatos da realidade dada, e uma pedagogia da práxis, que se orienta para um tipo de formação que se compromete com a construção de um futuro e que busca favorecer processos de ampla qualificação dos trabalhadores. Essas duas abordagens podem ser entendidas de diferentes maneiras e também são diferentes as formas como elas se apresentam nas estratégias formativas.Vinculadas a uma pedagogia pragmática podemos identificar as formulações do escolanovismo1, do tecnicismo educacional, das formulações orientadas pela Teoria do Capital Humano e, mais recentemente, pela chamada Pedagogia das Competências2. Também podem ser associadas a esta perspectiva propostas mais recentes (ou sofisticadas), que defendem uma certa Didática da Técnica para sustentar a maior valorização do saber técnico como síntese de saberes de outra ordem3. Vinculadas à Pedagogia da Práxis, podemos identificar as formulações críticas, sustentadas pelo materialismo histórico, que propugnam uma educação referenciada principalmente em conceitos marxistas e gramscianos, tais como escola unitária, politecnia, formação onilateral e escola desinteressada. O discurso da formação do cidadão produtivo4, da educação para a empregabilidade e da referência fundamental no mercado se coloca enquanto elemento discursivo sob a perspectiva pragmática, enquanto o homem amplamente desenvolvido serve como principal referência para uma pedagogia fundada na práxis. Nesta direção, cabe destacar a diferenciação que faz Silvia 1 Ver Dewey (1936). Sobre a Pedagogia das Competências ver Araújo (2001) e Ramos (2003). 3 Apud Barato (2004). 4 Ver Frigotto e Franco (2006). 2 2 Manfredi (2006) dos processos formativos focados no trabalho, na profissão e na ocupação, distinguindo estes conceitos em função do alargamento do foco e na consideração de que eles remetem a estratégias formativas que interessam mais ou menos aos trabalhadores. E como as estratégias de formação dos trabalhadores não podem ser dissociadas de projetos de desenvolvimento social, é necessário reconhecer que qualquer leitura que se faça acerca da educação profissional, inclusive de suas práticas pedagógicas, pressupõe uma opção política pautada no projeto de sociedade que se toma como referência. Os projetos educacionais em disputa, no fundamental, remetem ou à conformação da educação ao status quo, ou seja, procuram se ajustar à realidade instituída, ou se contrapõem ao estabelecido e se comprometem com outro modelo societário, no qual o ser humano seja o elemento balizador das decisões. Mas se por um lado ficam claras as diferenças de perspectiva entre estes dois projetos político-pedagógicos, por outro lado faltam experiências sistematizadas de formação profissional orientadas pela Filosofia da Práxis. Assim, buscamos, como primeiro objetivo, levantar, organizar e sistematizar um quadro de referências que permita a avaliação de práticas formativas de educação profissional, com base na Filosofia da Práxis. Especificamente interessa enfrentar o desafio de subsidiar uma didática da educação profissional pautada nos referenciais do materialismo-histórico. O segundo objetivo é o de, em continuidade a uma pesquisa anterior (ARAUJO, 2007), analisar as estratégias formativas dos trabalhadores efetivadas nas instituições de educação profissional sediadas no Estado do Pará, em particular àquelas da Região Metropolitana de Belém. Em relação a este segundo objetivo, interessanos, em particular, identificar elementos que permitam e/ou dificultem uma ação formativa contra-hegemônica. A consecução destes objetivos permitiria, de um lado, avançar na produção teórica da área de trabalho e educação que como afirma Bomfim (2006) ao analisar a produção do GT de Trabalho e Educação da ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação -, tem uma agenda que ainda precisa ser cumprida. Como item desta agenda destaca-se a organização de referências e indicações teórico-metodológicas para uma 3 didática de formação de trabalhadores pautada no princípio da formação unitária. Reconhece-se, assim, que um dos maiores desafios da área está na indicação de experiências alternativas e contra-hegemônicas. Assim sendo, esta pesquisa também foi motivada pela necessidade de aprofundamento do reconhecimento da realidade educacional paraense, em particular das práticas de formação em educação profissional, visando à construção de subsídios para a estruturação de propostas de formação profissional que interessassem aos movimentos sociais ou às instituições que têm seus objetivos comprometidos com a utopia da emancipação humana. Práticas formativas ou práticas pedagógicas? Toda prática formativa é uma prática social que se constitui num processo através do qual os sujeitos vão produzindo as condições materiais, espirituais e as relações sociais que garantem a sua existência; consiste num fenômeno social integrante das relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma determinada sociedade, cujas finalidades e meios do processo formativo se subordinam à estrutura e à dinâmica das relações entre as classes sociais, sendo, pois, socialmente determinado. Isto significa que além de ser constituída, é constituinte destas relações, e compõe-se, segundo Frigotto (1995), num campo de disputa hegemônica, em que as concepções, a organização dos processos e dos conteúdos, nas diversas esferas da vida social se dão em sintonia com os interesses de classes.. Do ponto de vista macrossocial, os processos formativos decorrem da organização política e econômica de uma sociedade, constituindo uma dinâmica de aprendizagem contínua e incidental que ocorre no meio social, em todas as instâncias e atividades sociais, de modo informal, permanente e não organizado, durante toda a vida de homens e mulheres. Dinâmica que proporciona o desenvolvimento de potencialidades e apropriação do saber social, num conjunto de conhecimentos e habilidades, atitudes e valores produzidos pelas classes no contexto histórico de relações sociais, de acordo com os interesses e necessidades de uma dada sociedade.. Ocorre, portanto, 4 na família, na comunidade, no ambiente de trabalho, na escola, nos espaços de lazer, em todas as redes da mídia social, seja por meio de impressões gráficas tradicionais, ou por meio de outros meios eletrônicos, digitais ou informatizados, que veiculam formas de desenvolvimento sociocultural para cada sujeito social, em forma de conhecimentos e valores, hábitos e atitudes. Em sentido estrito, as práticas formativas constituem um processo de formação que se dá vinculado a essa dimensão de forma intencional em instituições específicas, por meio de ações deliberadas, organizadas e planejadas, com finalidades explícitas. Refere-se à busca de conhecimentos e habilidades para compreensão da realidade considerando a capacidade de fazer valer os interesses econômicos, políticos e culturais da sociedade (FRIGOTTO, 1995; MACHADO, 2000; LIBÂNEO, 2006). A prática pedagógica é uma dimensão da prática social, situada na dimensão estrita da prática formativa, e que se desenvolve de forma sistemática, a partir das ações dos sujeitos sociais, de forma deliberada, orientando-se por meio de objetivos sociais, conhecimentos e finalidades que estão inseridos no contexto macro da prática social. É uma atividade teóricoprática, na qual estão contidas a objetividade e a subjetividade humana, o ideal e o real, a teoria e a prática. O seu aspecto teórico é representado por um conjunto de idéias e teorias pedagógicas, organizado a partir da prática pedagógica, e o aspecto prático é representado pela viabilização material desse conjunto, a fim de que as teorias pedagógicas sejam concretizadas,, renovadas ou negadas pela ação do professor. Ambos mantêm uma relação entre si, movimentando-se continuamente entre a dicotomização das relações e as tentativas de unificação da teoria com a prática. Trata-se de uma dialética em que, na relação dicotômica há um confronto entre teoria e prática, quando pode ocorrer: a) a predominância da teoria sobre a prática; b) a dissociação entre teoria e prática constituindo-se componentes opostos e isolados; c) a separação (mas não a oposição) e até a manutenção de uma justaposição de teoria e prática.. Já nas tentativas de unificação entre teoria e prática, ocorre uma relação de reciprocidade entre ambas: ao mesmo tempo em que apresentam autonomia, exprimem uma relação de interdependência mútua, sendo, pois, 5 indissociáveis. (VEIGA, 1992; CANDAU, 1995). Entende-se, portanto, que “[...] a prática não fala por si mesma. Existe uma relação teórica com ela. Nega-se, portanto, uma concepção empirista da prática. A prática não existe ‘sem um mínimo de ingredientes teóricos” (PIMENTA, 1995, p. 93). Segundo Veiga (1992), há duas perspectivas de prática pedagógica: a repetitiva e acrítica; a reflexiva e crítica. A primeira se caracteriza pela separação teoria e prática, entre sujeito e objeto, forma e conteúdo, real e ideal, particular e concreto, universal e abstrato. Nesta, não há interesse do professor em mudar o status quo, em produzir uma nova realidade. Baseado em leis e normas pré-estabelecidas, o docente realizaria ações mecânicas e burocratizadas, sem postura crítica, aderindo à prática utilitarista e pragmática, sem sentido social, subsumindo, pois, a finalidade social e histórica da educação de emancipação humana. Na outra perspectiva, há a indissociabilidade entre teoria e prática. A prática pedagógica se apresentaria em sintonia com os problemas postos pela prática social e as ações do professor exprimiriam um caráter criador, no sentido de voltar-se para formação de um novo homem, da transformação da realidade e da construção de uma nova sociedade, recolocando-se nesse sentido, na trajetória de volta, a prática social. Assim, podemos afirmar que a prática pedagógica não é neutra, refletindo interesses sociais, políticos, econômicos e culturais das classes que compõem a estrutura da sociedade. O homem, ao interferir em tais práticas, por meio das atividades de ensino, através dos conteúdos, objetivos e métodos, e na própria atuação do docente, caracteriza a prática formativa das escolas, pois a forma de ensinar, as atividades planejadas, os procedimentos e recursos específicos e as atividades desempenhadas pelos alunos expressam, segundo Veiga (1996), a especificidade de uma prática formativa. Segundo esta autora, a não-neutralidade da teoria e da prática articula a finalidade de educação ao modelo de sociedade por meio da atividade de quem ensina, de quem aprende, do como se ensina e dos meios utilizados, contribuindo para a manutenção ou superação de uma prática social mais ampla. Assim, a escola, por meio de sua prática social específica, desenvolve a compreensão, a concepção e a explicação de mundo por 6 intermédio de uma forma de organização, desenvolvimento e avaliação de sua prática pedagógica. A prática formativa constitui um elemento que caracteriza a identidade de uma instituição educativa e faz-se presente também no currículo oculto, ou seja, na forma de ensinar, no invólucro do conteúdo, nas formas de constituição da subjetividade do professor, na linguagem dos coordenadores dos cursos, enfim, nos elementos da prática pedagógica, ou vinculados a ela. (GUIMARÃES, 2004). Neste sentido, podemos afirmar que toda prática pedagógica é prática formativa, mas nem toda prática formativa é prática pedagógica. Existe uma didática ou uma pedagogia da educação profissional? Um quadro de questões orientador deste projeto o remeteu inicialmente, à discussão acerca da existência de uma didática específica da educação profissional. Partimos da consideração de que a didática pode ser entendida enquanto teoria geral do ensino5, sendo base essencial para as metodologias específicas e para uma didática geral. A didática deve ser entendida, pois, como uma verdadeira disciplina de integração que pressupõe a dialeticidade entre a teoria e a prática docente. Segundo Candau (1995), entretanto, esta integração tem sido pensada de diferentes maneiras: a) por justaposição, b) como subordinação de um elemento a outro (da prática sobre a teoria ou da teoria sobre a prática) e c) sob a perspectiva da unidade indissolúvel. Para esta pesquisadora a Didática tem sido entendida ora sob uma perspectiva dicotômica e ora sob a perspectiva da unidade. A visão dicotômica que separa teoria e prática se revela de duas formas: a) na perspectiva dissociativa, que separa mecanicamente os elementos, isolando-os e confrontando-os (percepção vulgar); e b) na perspectiva associativa (positivotecnológica), que separa os pólos sem oposição. A prática seria uma aplicação 5 Ver Klinberg (1972). 7 da teoria (percepção de uma relação mecânica de dependência). Desvinculase o saber do fazer. Na visão dicotômica (associativa), reduz-se a teoria à simples organização, sistemática e hierárquica das idéias e estabelece-se uma relação hierárquica autoritária de mando e obediência (a teoria determina a prática ou, inversamente, a prática exige e a teoria se faz útil). Essa visão predomina nas práticas de formação do educador, inclusive da educação profissional. Sob a ótica da unidade, a distinção entre teoria e prática se dá no seio de uma unicidade indissolúvel. Pressupõe uma relação de autonomia e dependência de um termo em relação ao outro. Na visão de unidade, a teoria nega a prática imediata para revelá-la como práxis social; a prática nega a teoria como um saber autônomo, como puro movimento de idéias e teoria e prática são tidas como dois elementos indissolúveis da “práxis”, definida como atividade teórico-prática. A separação entre teoria e prática, portanto, é só analítica. Algumas premissas da visão de unidade devem ser consideradas, ainda conforme Candau (1995): a prática é a fonte da teoria, a teoria é a antecipação ideal de uma prática que ainda não existe; a prática, como atividade que transforma a realidade natural e social, é o critério da verdade e a prática é entendida como atividade objetiva-subjetiva. Estas duas perspectivas de compreensão da didática, a visão dicotômica e a perspectiva de unidade, são reveladoras e materializam os dois projetos filosóficos com os quais trabalhamos como referências principais: a Filosofia da Práxis e o pragmatismo6. No atual debate acerca da educação profissional e, especificamente, acerca de uma didática da educação profissional, tem sido muito presente a visão dicotômica que pode ser entendida, por exemplo, na separação e distinção entre profissionalização e escolarização (visão dissociativa) ou como a “soma” da profissionalização com a escolarização. Esta visão dicotômica também se revela na separação entre as disciplinas teóricas e as disciplinas 6 Nereide Saviani dá uma contribuição importante a este debate com sua tese de Doutoramento na qual problematiza a desvinculação conteúdo/método revelada ora na subordinação dos conteúdos aos métodos e ora do método ao conteúdo. Ver N. Saviani (1988). 8 práticas, entre os saberes que desenvolveriam o pensar e outros que desenvolveriam as capacidades de fazer. Outra perspectiva, fundada na idéia de unidade, pressupõe a indissolubilidade entre teoria e prática. Considerando uma possível didática da educação profissional, a perspectiva da unidade pressupõe que: • A formação do homem em suas amplas capacidades (teóricopráticas) como principal referência pedagógica; • A teoria e a prática educativa constituiriam o núcleo articulador da formação profissional; • A teoria sendo sempre revigorada pela prática educativa; • A prática educacional sendo o ponto de partida e de chegada; • A ação docente se revelaria a partir da prática concreta e da realidade social; • O currículo assumiria características teórico-práticas. A partir destas premissas que remetem a uma ”Teoria Geral do Ensino” se colocariam novas questões acerca de como se configuraria uma “teoria específica do ensino profissional”. Compreendendo que o ensino se desenvolve na relação objetivoconteúdo-método-organização (KLINBERG, 1972, p. 135), trabalharemos em nossa pesquisa com estas categorias básicas da didática: objetivos, organização curricular e estratégias formativas e de avaliação. A didática da educação profissional paraense Outra ordem de questões refere-se à continuidade da pesquisa desenvolvida no GEPTE focada no quadro da Institucionalidade da Educação Profissional no Pará (ARAUJO, 2007), que buscava perceber os impactos das políticas de educação profissional implementadas na década de 1990, no Brasil. Nesta pesquisa, revelaram-se alterações quantitativas significativas no quadro da educação profissional paraense: Com base no quadro institucional da educação profissional em Belém podemos afirmar que, a partir da implementação de políticas como o 9 PLANFOR, o PROEP, PROFAE, o PCS e da reforma de educação profissional, fortemente impactadas pelo reconhecimento dos processos de reestruturação produtiva, pelas políticas educacionais de caráter neoliberal e pela emergência de novas demandas de formação identificadas com o modelo de competências, é perceptível a constituição de modificações no quadro institucional da educação profissional em Belém, com o surgimento de novos atores institucionais, mais do que triplicando o número de entidades existente em 1995. Tais políticas propiciaram uma efetiva modificação quantitativa no quadro da institucionalidade da educação profissional no Pará, com fortalecimento das entidades do setor privado, mas também àquelas vinculadas ao movimento sindical (ARAUJO, 2007, p. 135). Em relação aos aspectos relacionados às práticas formativas desenvolvidas no interior das instituições de educação profissional, observouse, no entanto, que: Do ponto de vista qualitativo, observamos uma lenta renovação da organização e, conseqüentemente, da execução dos cursos de educação profissional, tendo em vista a reforma na educação profissional, efetivada por meio de decreto federal nº 2.208 e da nova regulamentação dessa modalidade de ensino, em 2004. As instituições ainda estavam em processo de ajustamento para seguir as orientações da política nacional, quando se viram diante de uma nova necessidade de ajustamento às leis do país (ARAUJO, 2007, p. 135). Consta ainda que os profissionais das instituições pesquisadas que trabalham com educação profissional revelaram dificuldade em compreender o conteúdo pedagógico das políticas implementadas. As falas dos entrevistados revelam que esta é uma questão ainda muito recente e complexa. Por essa razão, a organização das aulas e principalmente as questões referentes à avaliação, parecem não estar compatíveis com os projetos escritos das instituições, mas sim ainda com um certo atrelamento a mecanismos característicos do modelo tradicional de educação profissional, como a ênfase na memorização e no trabalho especializado, orientada pela idéia de trabalho fragmentado (ARAUJO, 2007, p. 137). 10 As questões norteadoras daquele estudo (e que lá foram parcialmente respondidas) foram tomadas aqui como objeto de aprofundamentos. Ao optar-se por um objeto de pesquisa largo assumiu-se naquela pesquisa o risco de tratar apenas genericamente de algumas questões, mas o esforço em traçar um quadro panorâmico (inédito) da educação profissional paraense revelou-se necessário. A continuidade daquela pesquisa deve orientar uma avaliação mais aprofundada das possíveis mudanças qualitativas nas ações empreendidas pelas instituições, no sentido de reconhecer a sua didática. O desconhecimento sobre essa didática dificulta o planejamento racional das críticas e das proposições de ações de formação que visem à qualificação do trabalhador. Assim, em nossa pesquisa deveremos responder questões relativas aos processos de definição e aos conteúdos dos objetivos de ensino, da organização curricular e das estratégias formativas e de avaliação implementadas pelas instituições de educação profissional sediadas na Região Metropolitana de Belém. Buscamos neste estudo, portanto, analisar as práticas formativas propostas e experimentadas nas instituições de educação profissional sediadas no Estado do Pará, em particular na Região Metropolitana de Belém, a partir de um quadro de referências balizado no materialismo-histórico. Para tanto, consideramos, os diferentes processos de reformas da educação profissional implementadas nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva7, que buscaram produzir mudanças nas práticas formativas ora pautadas na Pedagogia das Competências, ora pautadas no ensino integrado ora na conformação de ambas as referências. Assim sendo, pautamos este estudo pelos seguintes objetivos: 7 A legislação produzida durante estes dois governos acerca da educação profissional técnica é reveladora das distinções, similitudes e limites de cada um dos governos: o Decreto nº 2.208/97 (Governo FHC) e o Decreto 5.154/04, (Governo Lula); do mesmo modo alguns dos programas planejados e executados por estes governos, tais como Planfor, Proep, Profae e PCS (Governo Fernando Henrique Cardoso) e Brasil Profissionalizado, Escola de Fábrica, PNQ (Governo Lula). 11 Levantar, organizar e sistematizar a produção brasileira da área de trabalho e educação que reflita sobre propostas e estratégias formativas em educação profissional; Buscar referências que auxiliem na construção de um quadro de referência sobre as práticas formativas em educação profissional; Analisar e organizar esta produção a partir do reconhecimento da existência de duas grandes matrizes, fundadas na Filosofia da Práxis ou no pragmatismo; Consolidar as formulações que permitam a definição de uma didática da educação profissional de base marxista; Caracterizar estratégias formativas desenvolvidas em instituições de educação profissional sediadas na Região Metropolitana de Belém; Analisar as estratégias formativas de trabalhadores efetivadas nas instituições sediadas na Região Metropolitana de Belém. Identificar elementos de contradição nas proposições e estratégias formativas desenvolvidas nas instituições de educação profissional sediadas em Belém. Os procedimentos utilizados na pesquisa, em sua primeira fase, foram relacionados à pesquisa documental-bibliográfica na forma como recomenda André (1982). Utilizamos como fontes dois dos mais importantes periódicos da área de trabalho e educação do Brasil, a Revista Trabalho & Educação, do Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação da UFMG, e o Boletim Técnico do SENAC, considerando as produções teóricas? dos últimos dez anos. Do mesmo modo, consideramos os anais do GT 09 – Trabalho e Educação da ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, por ser igualmente um importante canal de comunicações científicas acerca da área de trabalho e educação e, em particular, do ensino profissional. Consideramos que nestes veículos de comunicação científica é possível identificar tendências do conteúdo da produção científica brasileira na área de trabalho e educação e, em especial, de como é compreendida a educação profissional pelos intelectuais brasileiros. Buscamos, 12 especificamente, compreender as referências, os dilemas e as proposições acerca dos procedimentos didáticos próprios da educação profissional. Nestes veículos, buscamos também compreender as principais referências indicadas nas produções científicas de modo que fosse possível a construção do quadro de referências de uma didática da educação profissional com bases no materialismo histórico. A pesquisa bibliográfica consistiu na identificação, descrição e categorização da bibliografia pesquisada a partir de três eixos previamente definidos: finalidades do ensino profissional, métodos do ensino profissional e conteúdo do ensino profissional. Compreendendo estes eixos como categorias básicas do processo didático, buscamos identificar elementos de uma didática da educação profissional na produção bibliográfica brasileira. O procedimento básico para isso foi o levantamento bibliográfico dos artigos dos periódicos a partir da consulta dos sumários e resumos dos periódicos e anais, nos quais buscamos identificar a existência ou não de algumas daquelas categorias acima explicitadas. Posteriormente, fizemos as leituras dos textos selecionados e, confirmada a relevância dos dados necessários para a pesquisa, realizamos os registros de leitura por meio dos fichamentos conforme o modelo em anexo (anexo I). Estes fichamentos foram produzidos pelas bolsistas de iniciação científica vinculadas ao GEPTE e depois revisados pelos pesquisadores do Grupo. Acerca da pesquisa qualitativa: um debate temporão? Buscamos interpretar o nosso objeto visando chegar a alguns de seus elementos essenciais. Assumimos o materialismo dialético como principal referência para a nossa pesquisa, e metodologicamente utilizamos os procedimentos característicos da pesquisa qualitativa. Tem sido comum na produção científica brasileira a identificação do referencial teórico marxista com a pesquisa de tipo qualitativo. No entanto, a histórica tensão entre métodos quantitativos e qualitativos nas pesquisas em educação no Brasil, a questão está em ser capaz de selecionar os instrumentos de 13 pesquisa em consonância com os problemas que se deseja investigar (BRANDÃO, 2002). Para este autor, a opção por procedimentos típicos de pesquisa qualitativa (observação e entrevistas) tem gerado trabalhos desastrosos, fruto de quem não aprendeu a “olhar” e a “escutar”, ao ponto de Martins (2006) defender a tese da incompatibilidade entre o materialismo dialético e as abordagens qualitativas. Depois de identificar algumas características gerais do método da pesquisa qualitativa (com base em Bogdan e Biklen), Martins defende a tese segundo a qual as pesquisas qualitativas, em função das características gerais explicitadas, levariam a um tipo de pseudoconhecimento em função de se prenderem à pseudoconcreticidade dos fenômenos, ou seja, por se negarem a ir até as questões essenciais dos fenômenos, por prenderem-se na polarização subjetivo-objetiva e por desconsiderar a relação todo parte (a categoria totalidade). Afirma a autora que: O marxismo dispensa a adoção das abordagens qualitativas na legitimação da cientificidade de seus métodos de investigação, pois dispõe de uma epistemologia suficientemente elaborada para o fazer científico: a epistemologia materialista histórico dialética (MARTINS, 2006, p. 02). Mesmo assim, a autora reconhece que o termo “pesquisa qualitativa” é usado de modo bastante amplo, a partir da década de 1970, em contraposição aos métodos positivistas. Sob a rubrica de “pesquisa qualitativa”, ela considera que há diversos tipos de pesquisa que se apóiam em diferentes marcos teóricos, tais como a teoria sistêmica, a etnometodologia, a fenomenologia e o materialismo histórico. Martins chega, inclusive, a citar Godoy (1995) para caracterizar que a amplitude de tais abordagens não resulta numa descaracterização de modelo, uma vez que, apesar de abarcar diferentes matizes, preserva características essenciais comuns (MARTINS, 2006, p. 04). Sintetizando os limites dos métodos da pesquisa qualitativa a autora indica que: As abordagens qualitativas privilegiam as dimensões da realidade em suas definibilidades exteriores em 14 detrimento de seus fundamentos ontológico-históricos, incorrem num grande risco: caminhar da pseudoconcreticidade para um pseudoconhecimento, a ser, muito facilmente, capturado pelas ideologias dominantes e colocado a serviço da manutenção da ordem social que universaliza as relações sociais de alienação. (MARTINS, 2006) Do mesmo modo, concordamos que o uso de procedimentos associados ao método qualitativo não descaracteriza os marcos teóricos em uso pelos pesquisadores. No entanto, diferentemente do que avalia Martins (2006), consideramos que os limites apresentados pelos métodos qualitativos por ela apontados têm relação direta com os referencias a partir dos quais eles foram considerados e não com os procedimentos próprios daquele tipo de pesquisa. A fonte do problema, portanto, não estaria na descrição, mas na negação da análise, tampouco estaria no reconhecimento das dimensões qualitativas e quantitativas dos fenômenos, mas na sua polarização, assim como não estaria também no reconhecimento das questões locais (da parte), mas no localismo e na negação da relação entre parte e todo. Retomamos um texto clássico do marxismo para buscar compreender a questão que parece se situar na falsa polarização excludente entre qualidade-quantidade, ou, em outra expressão, na polarização entre objetividade-subjetividade. Schaff (1991), apesar de reconhecer a unidade entre objetividade e subjetividade, reconhece a ação humana como decisiva na relação entre sujeito que conhece e objeto do conhecimento. Schaff (1991), em texto filosófico escrito na década de 1970, mas que tem servido ainda hoje de referência para pesquisadores marxistas, tematiza a possibilidade de objetividade do conhecimento histórico considerando a relação entre sujeito que conhece e objeto do conhecimento (relação sujeito-objeto) e, a partir desta abordagem, procura considerar as possibilidades de conhecimento objetivo (verdadeiro) dos objetos históricos (da história), ou seja, da verdade histórica. Schaff (1991) faz críticas às insuficiências das teorias positivistas e idealistas que, de um lado (positivistas) negam a possibilidade da interferência 15 subjetiva na história científica e, de outro, (idealistas) negam a possibilidade de objetividade do conhecimento histórico, compreendendo este conhecimento sempre como construções subjetivas necessariamente correspondentes à realidade material. Schaff (1991) explica que para os positivistas o sujeito é um ser passivo, contemplativo e receptivo, que apenas registra estímulos vindos do exterior (espelho). Neste modelo, o objeto atuaria mecanicamente sobre o aparelho receptivo do sujeito e o conhecimento seria produto deste processo, como o reflexo do objeto na mente do sujeito. A este modelo Schaff denomina “Modelo mecanicista da teoria do reflexo”. Seria fruto, portanto, de um materialismo vulgar, mecanicista. Neste modelo predominaria o objeto na relação sujeito-objeto. O positivismo seria a base epistemológica das pesquisas que, no final das contas, se afirmando “objetivas”, supervalorizam o papel do objeto (dos dados) no processo de construção do conhecimento, negando a sua subjetividade. No segundo modelo analisado por Schaff (1991), denominado “idealista-ativista”, o sujeito seria o produtor do conhecimento, construindo a realidade na sua mente. Sob esta perspectiva idealista o objeto do conhecimento desapareceria como realidade e o conhecimento seria construção única do sujeito, um produto mental. Observa-se, portanto, que esta perspectiva centra no sujeito a quem se atribui o papel até de “criador” da realidade, que percebe o objeto do conhecimento como sua produção8. Esta perspectiva seria a base de algumas tendências em pesquisa que, se afirmando “qualitativas”, supervalorizam o papel do sujeito no processo de construção do conhecimento, negando a sua objetividade e a relevância dos dados. Schaff (1991), após demonstrar a insuficiência destas duas perspectivas, afirma o materialismo dialético como base para uma terceira perspectiva do processo de construção do conhecimento que compreende a 8 Para Schaff (1991) este modelo concretizou-se em diversas filosofias idealistas-subjetivistas e, no sentido puro, no solipsimo, que é a doutrina filosófica segundo a qual a única realidade no mundo é o EU. 16 unidade da relação entre sujeito e objeto. Para este autor marxista9, o sujeito do processo de conhecimento seria produto e produtor das relações sociais. Para Schaff, o objeto tem existência real, mas é o sujeito o termo principal da relação. Assim, o conhecimento seria uma atividade, pois o ser humano exerceria um papel ativo na relação cognitiva, introduzindo algo de si no conhecimento. Sob esta perspectiva o conhecimento teria um conteúdo objetivista-ativista. Esta perspectiva marxista se opõe e se integra aos modelos idealista-ativista e mecanicista, atribuindo um papel ativo ao sujeito, submetido a condicionantes sociais. Schaff (1991) constrói uma teoria do reflexo modificada, levando em consideração a prática e determinações sociais, reconhecendo a existência objetiva e real do sujeito e do objeto no processo de construção conhecimento, no qual um elemento age em relação ao outro. No Brasil, sob esta perspectiva, consolidou-se uma corrente de pesquisa que se autodenominou “quanti-qualitativa”, para afirmar essa dupla dimensão do conhecimento (objetivo e subjetivo) e se afirmar frente às pesquisas qualitativas (predominantemente subjetivistas) e quantitativas (predominantemente objetivistas). Também parece ter sido criado certo preconceito e mal-estar com as chamadas pesquisas qualitativas em função de sua identificação com o referencial subjetivista, desconsiderado o fato de que, como diz Schaff (1991), é sempre o elemento humano o termo principal. Do mesmo modo e reforçando este preconceito consolidou-se uma “certa” “pesquisa qualitativa” fortemente influenciada por Bogdan e Biklen (1994) (muito difundida por respeitáveis e sérios pesquisadores brasileiros, entre os quais se destaca Marli André) que, ao buscarem referências na antropologia, definem a pesquisa qualitativa a partir dos seguintes elementos: 1. Ambiente natural como fonte direta de obtenção de dados, assumindo o pesquisador o instrumento principal de recolha de informações; 2. Descrição como marca da investigação qualitativa; 9 Depois este autor faria a negação de seu referencial marxista sendo hoje identificado como um “convertido” neoliberal. 17 3. Interesse em maior escala pelo processo do que meramente pelos resultados ou produtos; 4. Prioridade da análise dos dados de forma indutiva; 5. Ênfase no significado que os informantes fornecem aos pesquisadores. Com clara base subjetivista, nega-se a essência do objeto e dá-se um caráter descritivo aos procedimentos de pesquisa. Contraditoriamente nega-se o protagonismo do sujeito ao excluir a análise como fundamento da ação de pesquisa. Este “tipo de pesquisa qualitativa” com certeza não é dialética ou marxista; e tomar toda pesquisa qualitativa por este viés é, tautologicamente dizendo, um enviesamento da pesquisa social. O fato de se reconhecer, tanto no modelo subjetivista quanto no materialismo dialético, uma predominância do sujeito, tem favorecido, sob estas duas referências bem diferentes, que as pesquisas chamadas qualitativas ora se identifiquem com referenciais marxistas, ora com a fenomenologia. De qualquer modo, tem sido usado indiscriminadamente o termo pesquisa qualitativa para se falar tudo e nada. Ora esta se apresenta com bases fenomenológicas, ora com bases no materialismo dialético, ora apenas para se afirmar uma oposição ao positivismo e ora em substituição ao não ter o que dizer, muitas vezes confundindo referenciais (marxistas e fenomenólogos). Podemos considerar que essa confusão existe como algo que faz parte das discussões científicas para que se possa adotar este ou aquele referencial para uma determinada investigação; mas que se defina toda (grifo nosso) pesquisa qualitativa como idealista, fenomenóloga, anti-marxista, etc., é um enviesamento, fruto de análises apressadas e sem preocupações com os refinamentos que se deve perseguir, no momento em que adotamos esta ou aquela perspectiva para focar um determinado objeto de investigação. Gramsci (1991), fazendo a crítica à racionalidade fordista americana que pressupunha uma produção mais “qualitativa”, destaca, entre outras observações, que qualidade é um elemento definidor do caráter humano do ser, portanto, a qualidade seria atributo dos homens. 18 Pode-se falar de “qualidade” apenas em relação às obras de arte individuais e não reproduzíveis; tudo o que pode ser reproduzido entra no domínio da “quantidade” e pode ser fabricado em série. (...) A qualidade deveria ser atribuída aos homens, e não às coisas, e a qualidade humana eleva-se e torna-se mais refinada na medida em que o homem satisfaz um número maior de necessidades, tornando-se independente (GRAMSCI, 1991, p. 402). Em pesquisa social, portanto, consideramos que não é proibitivo aos marxistas assumir procedimentos próprios do chamado “Método Qualitativo”, mas deve-se, sempre, em função da coerência pretendida, deixar clara a perspectiva a partir da qual se entende o termo “qualitativo(a)”, caracterizandoo adequadamente. Aqui utilizamos o termo pesquisa qualitativa sob o enfoque do materialismo-dialético. Sobre a base de dados da pesquisa documental Consideramos a produção bibliográfica brasileira sobre a educação profissional publicada em três dos maiores veículos de comunicações de pesquisa, o Periódico Trabalho & Educação, editado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Educação da Faculdade de Educação da UFMG, o Boletim Técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, e os anais do GT09 Trabalho e Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação10. Estes três veículos de comunicação de pesquisas têm importância e abrangência e nos permitem uma boa visão do “campo”. Fizemos os registros de leituras por meio de fichamentos, considerados não como registros fotográficos dos textos lidos, mas como um texto parcialmente novo o qual nem sempre pode corresponder ao que os autores queriam ou pretendiam dizer. Isso porque, mesmo considerando as indicações de Luiz Antonio Severino (1993) acerca da análise textual (a base do fichamento), a qual deve ser feita com o máximo de objetividade, “sem interferir no que o autor diz”, não se pode fugir a uma boa dose de subjetividade de autoria nos fichamentos produzidos. 10 Outros importantes veículos ficaram de fora tais como a Revista Trabalho, Educação e Saúde, da FIOCRUZ, e os anais do ENDIPE. 19 De acordo com este autor, a leitura analítica de textos acadêmicos pressupõe algumas fases que deve resultar em diferentes produtos. A primeira aproximação com o texto Severino (1993) denomina análise textual, que se caracteriza apenas com uma primeira aproximação com o texto e requer preparação do texto para a leitura, o estabelecimento de uma visão de conjunto, a busca por esclarecimentos acerca do vocabulário, das doutrinas tratadas, dos fatos e dos autores citados. O que resulta destes procedimentos é apenas uma esquematização do texto (que é onde a maioria dos estudantes de graduação e pós-graduação costuma chegar). Um nível mais aprofundado de leitura, a análise temática, requer a compreensão da mensagem do autor, identificando os elementos fundamentais do texto: a) tema; b) problema; c) tese; d) argumentos; e f) conclusões. Desta leitura, que se assemelha a um processo de desconstrução do texto, resulta um fichamento. Se o autor se propuser a reconstituir o texto, sem interferir na sua mensagem, ele construirá um resumo. De modo esquemático, o leitor de textos acadêmicos (ainda de acordo com Severino, 1993) deverá buscar fazer a interpretação da mensagem do autor. Na análise interpretativa o leitor dialoga com a obra, identificando a situação filosófica do texto, suas influências, seus pressupostos, associando e confrontando com outras idéias e estabelecendo uma crítica, “por dentro” e “por fora”. Deste procedimento resulta uma resenha. Em nossa pesquisa, no primeiro momento, listamos todos os textos dos veículos informados e, neles, procedemos uma análise textual de modo a identificar aqueles que tratavam de educação profissional. Em seguida, fizemos a análise temática dos textos que tratavam do objeto em tela, descartando os textos que poderiam dar menos contribuições à pesquisa. Num terceiro momento, fizemos a análise interpretativa dos textos buscando identificar a sua lógica interna e, em confronto uns com os outros, identificar algumas regularidades entre eles que permitissem observar as contribuições para o reconhecimento de uma didática da educação profissional. 20 Veja abaixo o quadro de artigos listados publicados no período (340), consultados (201), lidos preliminarmente (115) e fichados e analisados (71)11. Ano Quadro 1 – ARTIGOS CONSULTADOS SOBRE PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Números de artigos Números de Números de artigos Número de artigos consultados (lido o artigos lidos no período fichados/analisados resumo) (leitura preliminar) T&E BTS Anped T&E BTS Anped T&E BTS Anped T&E BTS Anped 2000 14 06 10 06 05 09 04 02 06 02 01 03 2001 16 17 16 04 07 16 04 03 09 02 01 07 2002 13 15 10 04 06 10 04 03 06 02 01 04 2003 20 10 16 05 04 16 05 02 09 03 01 05 2004 13 18 19 03 03 19 03 02 08 03 01 04 2005 11 13 19 08 05 19 06 02 09 04 02 04 2006 11 14 15 05 05 15 04 03 06 03 03 01 2007 12 5 17 -03 17 -03 06 -02 05 2008 -10 --07 --06 --06 -Sub110 108 122 35 45 121 30 26 59 19 18 33 totais Total 340 201 115 71 Legenda: T&E = Revista Trabalho & Educação; BTS = Boletim Técnico do SENAC; Anped = Anais do GT09 (Trabalho e Educação) da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Para a construção do quadro de referências, utilizamos as técnicas de análise documental, a partir das quais agrupamos as informações em função da incidência das referências didáticas buscadas, identificando características regulares, elegendo depois as mais representativas desses grupos para o aprofundamento de seu conteúdo, tal como sugere Franco (2003). Inicialmente este procedimento foi utilizado considerando a produção de cada um dos veículos inicialmente estudados e depois este mesmo procedimento foi utilizado para os textos em seu conjunto. A avaliação das regularidades foi feita segundo o critério da homogeneidade interna entre estes elementos regulares (lógica e coerência) e em confronto com os elementos irregulares encontrados, tal como sugere André (1982). 11 Estes fichamentos estão todos disponíveis no site do GEPTE, www.ufpa.br/ce/gepte, e constituem um catálogo público de fontes com formulações e experiências didáticas em educação profissional. 21 Esse procedimento foi procedido pela reavaliação das regularidades, buscando o aprofundamento da compreensão do quadro de referências de modo que se adquirisse consistência interna na leitura construída. Com este aprofundamento procuramos definir as formulações acerca da didática da educação profissional, com base no que dizem os autores estudados. Tivemos muitas dificuldades nesta fase em função da heterogeneidade dos objetos tratados pelos autores, dos enfoques e do tratamento dado, mesmo assim buscamos considerá-los a partir, inicialmente, de sua aproximação com os dois projetos político-pedagógicos principais, pautados na Filosofia da Práxis ou no Pragmatismo; posteriormente, buscamos, dentro de cada campo, identificar consensos e dissensos. Na segunda fase da pesquisa, foram observadas algumas entidades representativas do universo das instituições que ofertam educação profissional no estado do Pará, para comporem fontes de dados acerca das práticas pedagógicas de educação profissional. Em pesquisa anterior (Araujo, 2007), foi construído um quadro que nos permitiu a visualização da evolução das instituições que têm ofertado educação profissional no Município de Belém e, conseqüente, definir algumas representativas deste universo. 2004 1999 1995 Ano Quadro 2 – QUADRO INSTITUCIONAL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM (1995 A 2004) Nível / categoria Fed. Esta. Munic. ONGs Sist. S Sindic. Priv. S/inf. TOTAL Nível Técnico 1 13 - - - - - - 14 EP Livre - 1 1 4 4 - - 2 12 Total 1 14 1 4 4 - - 2 26 Nível Técnico 2 13 1 - - - 8 - 24 EP Livre - - - 34 6 12 55 4 111 Total 2 13 1 34 6 12 63 4 135 Nível Técnico 3 2 1 - - - 20 - 26 EP Livre 4 4 5 42 6 12 55 10 138 TOTAL 7 6 6 42 6 12 65 10 164 22 Fonte: Araujo et al, 2007. Assim, na seleção das instituições investigadas consideramos os seus diferentes níveis e a sua dependência administrativa. Deste modo foram coletados dados em 04 instituições de ensino técnico, sendo 01 privada (CESEP), 01 pública municipal (Escola Bosque), 01 pública estadual (ETEMB) e 01 pública federal, sendo uma focada nas atividades urbanas (IFPA – Campus Belém) e outra uma escola agrotécnica (IFPA – Campus Castanhal). Outras instituições poderiam ser consideradas em nossa pesquisa, com destaque para o Centro Técnico de Formação do SENAI-PA e o IFPA – Campus Belém, que são tradicionais e importantes centros de formação técnica do Estado do Pará, mas que não constituíram o nosso lócus de pesquisa em função de já terem sido objeto de pesquisa por mestrandos vinculados ao nosso grupo de pesquisa12. Os procedimentos de pesquisa utilizados foram entrevistas semiestruturadas com gestores, docentes, técnicos e alunos das instituições e a observação assistemática. Também foram utilizados os procedimentos de análise documental, principalmente para fins de complementação de dados. Os roteiros de pesquisa estavam estruturados em torno das categorias básicas da didática assumidas para este estudo: objetivos formativos, organização curricular e métodos de ensino e de avaliação. Entre as principais considerações, mesmo que provisórias, as quais conseguimos alcançar na pesquisa, destacam-se a similitude de recursos metodológicos utilizados nas diferentes instituições, a busca por currículos não disciplinares (modulares, por eixo, por temas ou por saberes de diferentes natureza) e a referência no mercado, mesmo que esta referência tivesse maior ou menor peso em cada uma das instituições pesquisadas. As nossas inferências apontam para o fato de que o determinante para a construção de práticas integradoras ou fragmentadoras do saber está mais relacionado ao posicionamento que as instituições e profissionais assumem frente à realidade. 12 Sobre a experiência didática dos cursos técnicos do SENAI ver Carneiro (2007) e sobre a experiência curricular de um curso técnico do IFPA – Campus Belém ver Santos (2008). 23 Trata-se muito mais de um atitude, de uma postura filosófico-política frente à realidade, aos saberes e aos sujeitos, que de uma questão didática ou mais especificamente, uma questão curricular, como querem fazer crer as políticas educacionais contemporâneas. A análise dos dados não foi feita de forma exaustiva de modo a que chegássemos à saturação das categorias e dados ou ao sentido de integração das análises, considerando o quadro de referências construído na primeira fase da pesquisa. Por fim, consideramos que as inferências são ainda parciais, e que necessitam, portanto, serem avaliadas e confrontadas, por meio do diálogo, com outros pesquisadores. Esses procedimentos deverão permitir a avaliação qualitativa das práticas formativas implementadas nas instituições de educação profissional sediadas na região metropolitana de Belém. 24 CAPÍTULO 1 – REFERÊNCIAS SOBRE PRÁTICAS FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: DIFERENTES PROJETOS EM DISPUTA Considerações inicias O desafio é, pois, o de termos a capacidade coletiva de distinguir o projeto de educação profissional patrocinado pelos organismos internacionais – Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, etc. – aceito de forma subordinada pelo atual governo federal (Governo FHC), do projeto que se busca construir, em diferentes espaços de nossa sociedade, numa perspectiva de emancipação da classe trabalhadora (FRIGOTTO, 2001). O ponto de partida deste capítulo é a idéia de que a educação em geral e a educação profissional, em particular, constituem campos de disputa no qual predominam abordagens de dois tipos: aquelas que buscam a conformação dos homens à realidade dada e outras que buscam a transformação social. Tais abordagens consubstanciam em nossa sociedade, prioritariamente, dois projetos antitéticos de formação de trabalhadores: uma pedagogia focada no trabalho e outra pedagogia focada no capital. A partir deste pressuposto, buscamos nos apoiar no materialismo histórico para identificar as referências que permitam a avaliação de práticas formativas em educação profissional, problematizando as estratégias articuladas ao projeto educacional do capital, de cunho pragmático, que visam à segregação do desenvolvimento das capacidades de pensar e de fazer do trabalhador e à acomodação social frente à realidade dada. Em particular, focamos nas séries metódicas ocupacionais e nas formulações pautadas na noção de competência entendidas enquanto projetos de formação profissional que têm uma marca comum, substantivamente, ambos buscam articular as ações de ensino à lógica do capital, mas que se diferenciam e que podem ser compreendidos como expressões de dois momentos diferentes do capitalismo mundial, que passou da forma taylorista de gestão e de organização do trabalho para o modelo de acumulação flexível-toyotista. Esses dois projetos formativos, de objetivos comuns, ao buscarem o ajustamento da formação apenas à realidade imediata, legitimam a divisão técnica do trabalho e 25 cristalizam a dualidade da educação brasileira e da educação profissional em particular. Procuramos na literatura da área pontos de ancoragens a partir dos quais pudéssemos sistematizar a crítica aos projetos educacionais conformadores da acomodação social e também alguns elementos para um projeto de formação de trabalhadores orientado pelos interesses dos próprios trabalhadores. Compreendemos aqui que a origem da dualidade educacional indicada acima, que se manifesta na constituição de dois “sistemas” de formação de subjetividades e de duas redes diferentes de escola, não está na instituição escolar ou nas práticas dos professores, mas na divisão social do trabalho que separa o trabalho intelectual do trabalho corporal, impondo os limites ao desenvolvimento pleno das capacidades humanas. O reconhecimento da existência desses dois projetos antitéticos de formação de trabalhadores impõe que se faça uma opção entre eles, tal como sugere Frigotto na epígrafe deste texto. Não se trata apenas de uma opção entre duas pedagogias, é mesmo uma opção entre duas filosofias, duas leituras de mundo, de sua dinâmica e de seu futuro13. Para Marx (apud VASQUEZ, 1968) existem dois tipos de filosofia: aquelas que se propõem a explicar a realidade (filosofia como acomodação ao mundo) e aquelas que servem à transformação do mundo (filosofia como guia da transformação humana radical). Ou seja, quando encaramos a necessidade de renovação da educação profissional temos em mente que As diversas práticas pedagógicas de formação das capacidades de trabalho, de escolarização ou não, presenciais e à distância, incluindo-se as que ocorrem no contexto das relações de trabalho, têm como objetivo teleológico interferir nas condições de utilização do trabalho humano. Nem todas, porém, estão necessariamente comprometidas com as estratégias de valorização do poder de negociação dos trabalhadores (MACHADO, 1996, p. 31). 13 Não negamos, no entanto, a existência de um leque amplo e variado de formulações filosóficas e pedagógicas, mas partimos do reconhecimento da existência de dois campos teórico-políticos antagônicos, a partir dos quais se constrói uma miríade filosófica. 26 No momento, portanto, problematizaremos algumas referências de práticas formativas que, inspiradas em uma filosofia como aceitação do mundo, buscam promover a formação de trabalhadores ajustados à realidade dada. Reconhecemos as pertinências das considerações de Mészaros (2005), para quem a educação do capital, que forma para o mercado de trabalho e para a valorização do capital, é antagônica aos processos de valorização humana. Para esse importante intelectual contemporâneo, a educação não deve qualificar para o mercado, mas para a vida; para isso, [...] é necessário romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente [...]. Uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança (MÉSZAROS, 2005, p. 25 – grifo nosso). Ressalta Mészaros, entretanto, que “[...] no âmbito educacional as soluções não podem ser formais; elas devem ser essenciais. Em outras palavras, elas devem abarcar a totalidade das práticas educacionais da sociedade estabelecida”. Ele defende que a mera negação das práticas tradicionais não resolve. Segundo o autor, “Para o bem ou para o mal, o êxito depende de tornar consciente esse processo de aprendizagem, no sentido amplo e “paracelsiano” do termo, de forma a maximizar o melhor e a minimizar o pior” (MÉSZAROS, 2005, p. 45). Sob esta perspectiva é que estamos considerando a necessidade de compreensão das práticas formativas em educação profissional, problematizando aquelas que se articulam ao ideário pragmatista e buscando na Filosofia da Práxis14 a referência tendo em vista, para além da simples negação, a formulação de estratégias que favoreçam a atividade humana autorealizadora. Assim, sem necessariamente buscar levantar dados novos, tentamos identificar e sistematizar algumas referências que permitam estudos posteriores com possibilidade de colaborarem para a construção de projetos de 14 Aqui entendida como a filosofia de base marxista. 27 formação de trabalhadores articulados a um projeto de transformação radical da sociedade. Este texto está organizado com duas seções principais, um que foca e problematiza o projeto de educação profissional do capital, de cunho pragmático, e que analisa em especial o projeto de educação profissional do SENAI e a Pedagogia das Competências, e outra que, com base nas formulações de autores marxistas, busca considerar a possibilidade de um projeto pedagógico de formação dos trabalhadores. Procuramos privilegiar uma abordagem sobre as dimensões pedagógicas destes dois projetos, sem, no entanto, deixar de considerar as suas implicações políticas. Optamos por buscar identificar estes projetos considerando as categorias básicas dos processos pedagógicos: finalidades, conteúdos formativos e métodos de ensino. 1.1. O PROJETO DO CAPITAL Para Frigotto (2001), o projeto societário e educativo do capital apresenta como horizonte [...] a educação geral e, particularmente, a educação profissional vinculada a uma perspectiva de adestramento, acomodação, mesmo que se utilizem noções como as de educação polivalente e abstrata. Trata-se de conformar um cidadão mínimo, que pensa minimamente e que reaja minimamente. Trata-se de uma formação numa ótica individualista, fragmentária – que sequer habilite o cidadão e lhe dê direito a um emprego, a uma profissão, tornando-o apenas um mero “empregável” disponível ao mercado de trabalho sob os desígnios do capital em sua nova configuração (FRIGOTTO, 2001, p. 80). Não se trata, portanto, de uma formação capaz de promover qualificações amplas e duradouras entre os trabalhadores, pelo contrário, o ideário consiste em continuar perpetuando a divisão social e técnica do trabalho, essencial para a própria sobrevivência do capital, capaz de garantir uma mão-de-obra sempre disponível para os desígnios do capitalismo. Sob essa perspectiva tem se dado a configuração da escola brasileira destinada aos trabalhadores, à classe destituída dos meios e objetos de produção: uma 28 educação que lhe propicia tão somente os requisitos mínimos para “manusear os parafusos da fábrica”, alijando-os de uma formação integral que, no dizer de Gramsci (1978), propicie-lhes tanto os conhecimentos provenientes da societas rerum, de modo a garantir os saberes científicos necessários para dominar e transformar a natureza, quanto os da societas hominum, promovendo uma consciência sobre seus direitos e deveres, introduzindo-os na sociedade política e civil. 1.1.1. A institucionalização da educação profissional no Brasil: o sistema S e as séries metódicas ocupacionais Sem desconsiderar experiências anteriores de formação de trabalhadores, temos as décadas de 1930 e 1940 como período de institucionalização da educação profissional no Brasil, marcadamente pelo nascimento do SENAI e das leis orgânicas do ensino em 194215, que foram respostas do Estado e dos empresários à então nova demanda por formação de trabalhadores. O surgimento do SENAI e, mais tarde, do SENAC (1946) marcam a origem do Sistema S ao qual, posteriormente, veio se juntar o SENAR, o SENAT, o SEBRAE e a SESCOOP16. De acordo com Oliveira (2003), nesses anos nascem o pensamento e a ideologia do empresariado industrial no Brasil, de forma a requerer um ensino profissional que lhe atendesse e um sistema de ensino que o promovesse, sob seus cuidados. Este pesquisador desenvolve a tese de que os processos de industrialização fizeram surgir uma nova classe social, num contexto político que o requeria, para se fortalecer, como também requeria o 15 “Durante o Estado Novo (1937-1945) a regulamentação do ensino foi levada a efeito a partir de 1942, com a Reforma Capanema, sob o nome de Leis Orgânicas do Ensino, que estruturou o ensino industrial, reformou o ensino comercial e criou o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, como também trouxe mudanças no ensino secundário” (ANDREOTTI, 2008). Mais tarde foi normatizado o ensino primário, o normal e o agrícola. 16 As práticas formativas do SENAI serão tratadas com prioridade nesta seção por considerarmos que elas foram a expressão mais acabada do projeto de educação profissional do capital, hegemônico durante várias décadas. Outras experiências contemporâneas poderiam ser consideradas: a rede federal de educação profissional, as redes estaduais tal como o Centro Paula Souza, de São Paulo, e outras experiências pontuais, bem como algumas iniciativas de organizações de trabalhadores. 29 industrialismo, para tais fins. Assim, o momento em que nasce o empresariado industrial brasileiro nasce também uma ideologia para justificá-lo. Como marca da educação profissional nascente junto com o Sistema S, Cunha (2000) explicita que a incorporação das séries metódicas de ofício por essas instituições, especificamente pelo SENAI e pela rede federal de educação profissional, deu-se porque respondia aos anseios e às necessidades do setor produtivo emergente daquele momento, pois possibilitava o disciplinamento das condições de trabalho encontradas na empresa. De acordo com esse autor, essa metodologia de ensino, identificada como pedagogia da educação profissional por excelência, compreende quatro fases distintas que eram aplicáveis em qualquer situação de aprendizagem, privilegiando: 1) a individualidade do aluno; 2) o estudo do assunto; 3) a comprovação do conhecimento e 4) a aplicação, generalização ou transferência do conhecimento. No processo de ensino e aprendizagem, valorizava-se o método de instrução individual, tal qual Cunha descreve: Cada aluno deve ter a possibilidade de iniciar aprendizagem e terminá-la quando estiver preparado para isso, sem levar em conta o nível de adiantamento de seus colegas; o docente deve poder atender cada aluno individualmente e cuidar, ao mesmo tempo, do grupo todo, oferecendo-lhes estimulação e despertando o interesse; cada aluno deveria receber assistência que necessitar, sem interferir com o progresso dos demais colegas; cada aluno deveria progredir de acordo com suas aptidões, seus esforços e interesses, sem prejudicar ou ser prejudicado pelo progresso de seus companheiros de grupo (CUNHA, 2000, p. 23). A metodologia de ensino correspondia a um enquadramento intelectual que condicionava o aprendiz a limitar-se à reprodução dos conhecimentos já elaborados, além do que conduzia a uma acomodação ao status de operário e de conformismo à ordem social. Cabia à instituição de ensino profissional o papel de reproduzir política e ideologicamente as condições de trabalho da fábrica, indispensáveis à produção, onde alguém tinha o direito de mandar e o poder de fazer obedecer. 30 Assim, a institucionalização da educação profissional no Brasil foi pautada numa pedagogia tecnicista, de base pragmática, e organizada sob forte hierarquização das funções técnicas (e docentes) em conformidade com o modelo de acumulação taylorista-fordista. Objetivava a assimilação da realidade de trabalho dada, na organização do trabalho escolar fazia-se o uso de forte hierarquização das funções docentes e técnicas e de métodos de ensino programados, os quais priorizavam o treinamento e o disciplinamento do aluno por meio do controle das situações de aprendizagem. Os conteúdos eram organizados de forma seqüencial e hierárquica, por meio de disciplinas ou temas fragmentados. O conhecimento era compreendido numa lógica cartesiana e transmitido de maneira que o aluno o assimilasse e o reproduzisse. Pelo exposto, não se concebia o processo ensino-aprendizagem como a busca de condições para que o discente alcançasse a autonomia. Pelo contrário, o modelo descrito buscava a robotização do ser humano, tão ao gosto dos tempos modernos, quando as necessidades do capital supõem ao homem trabalhador somente o saber-fazer em detrimento de sua totalidade, dele requerendo, às vezes, a subjetividade, não em sua amplitude, mas somente aquela capaz de aumentar suas taxas de lucro (MACHADO apud ARANHA, 1997). A experiência pedagógica desenvolvida pelo SENAI, por meio das Séries Metódicas de Ofício, expressa um ideário pedagógico hegemônico até os anos 1980 no Brasil e que identificamos como a “velha institucionalidade da educação profissional brasileira”. Para o MTE/SPPE17 (apud CAMARGO, 2002), seriam vários os termos que configurariam uma “velha institucionalidade”. Expressões como: qualificação voltada para a habilidade, saber-fazer, disciplina, obediência, conformidade a normas, reação, memorização, execução, concentração, formação curta e individual; educação profissional dicotômica à educação geral, em redes e sistemas nacionais, com clientelas restritas, centralizadas, voltadas para homens brancos, centralizada, sob a gestão do governo e empresários, com foco na oferta de formação, assistencialista e sob a ótica do “operário padrão”. 17 Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do MTE. 31 Enfim, essa “velha institucionalidade”, conforme analisa Frigotto (1983) ao tratar das relações pedagógicas travadas nos cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), no fundo pretendeu continuar alijando o trabalhador de uma formação técnico-científica que lhe permitisse o domínio da totalidade das ações produtivas, objetivando, isto sim, “fazer, pelas mãos, a sua cabeça”, já que as relações de trabalho-aprendizagem, os valores, atitudes e hábitos disseminados por essa lógica educativa voltavam-se tão somente para a emergencialidade da produção (KUENZER, 1997), impondolhe o saber operativo em detrimento de uma formação que favorecesse a apropriação, em sua totalidade, do saber elaborado materialmente pela sociedade, para o que é necessária uma visão pedagógica que conceba os saberes desses trabalhadores como mediadores, marcas de classe social, para obtenção dos saberes historicamente legitimados pela sociedade, a fim de os mesmos implementarem uma hegemonia diferente da capitalista (FRIGOTTO, 2006). Por fim, parafraseando Frigotto, Kuenzer (1997, p. 57) destaca que as instituições educativas que buscaram a relação trabalho-educação como perspectiva pedagógica, como o SENAI, nasceram “[...] para desenvolver a pedagogia das relações capitalistas de trabalho [...], a partir das “[...] formas concretas que assume a divisão do trabalho enquanto resultado das novas formas de sociabilidade do capital”. Delas não se deve esperar uma educação voltada para o desenvolvimento da onilateralidade humana, portanto. 1.1.2. A renovação do velho: A Pedagogia das Competências A partir da noção de competências, um novo discurso sobre a formação humana apresenta-se, nas décadas de 1980 e 1990 no Brasil, prometendo ser capaz de responder às novas demandas do mercado de trabalho, sustentando um conjunto de idéias sobre como deve ser a formação do homem contemporâneo. Tal discurso, apesar de não homogêneo, colocouse como um elemento da realidade da sociedade capitalista pós-fordista e tinha a pretensão formal de responder às exigências desta nova realidade e de estabelecer novas práticas formativas e, com isso, contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e de homens plenamente desenvolvidos. 32 Parece haver um relativo consenso na literatura em torno da articulação de três dimensões para que se configure a competência envolvendo saberes (de diversas ordens, como saber-fazer, saber técnico, saber-deperícia, etc.), experiência (envolvendo habilidades e saber-tácito) e saber-ser (envolvendo qualidades pessoais, sócio-comunicativas, etc.). As competências são assim definidas a partir do trio “saberes”, “saber-fazer”, “saber-ser”. “Saberes”, entendidos como os conhecimentos profissionais de base explicitamente transmissíveis. A rubrica “savoir-faire” designa, antes, as noções adquiridas na prática (...) Quanto ao “saber-ser”, ele engloba uma série de qualidades pessoais (STROOBANTS, 1997, p. 142). Podemos apontar como novidades associadas à emergência do projeto educacional pautado na noção de competências os seguintes aspectos: a idéia de uma capacidade efetiva em oposição à idéia de capacidade potencial, o entendimento das capacidades profissionais em movimento e não mais fixadas em um posto de trabalho, a sua focalização no indivíduo e a sua associação a capacidades humanas amplas antes desvalorizadas e desestimuladas nos ambientes produtivos. A Pedagogia das Competências tem algumas referências que lhe configuram uma identidade político-pedagógica. 1.1.2.1. A referência racionalista Vários são os autores (TANGUY, 1997a; ROPÉ, 1997; STROOBANTS, 1997; MACHADO, 1998a; SCHWARTZ, 1990) que ressaltam a influência do racionalismo18 sobre o Modelo de Competências19. Para Stroobants (1997), foram as ciências cognitivas20 que, procurando tornar 18 O Racionalismo, assim como o Empirismo, considera a consciência individual como origem absoluta do conhecimento e da ação. O Racionalismo entende que a origem das idéias e ações reside nas idéias inatas, inteiramente independentes da experiência (cf. SAVIANI, 1999, p.173). 19 Uma discussão sobre Pedagogia das Competências, modelo de competências e lógica das competências pode ser vista em Araujo (2001). Ainda sobre o tema ver Ramos (2001). 20 A Ciência Cognitiva é uma área de investigação pluridisciplinar cuja finalidade é o estudo da natureza e dos mecanismos da mente e da cognição humanas. Para Bruner (1997), esta disciplina deslocou-se da busca inicial pelos processos de construção dos significados para o processamento de informações. O fator-chave desse deslocamento seria a introdução da computação como metáfora reinante e da informatização com um critério necessário para um modelo teórico (BRUNER, 1997, p. 17). Fez-se, assim, da computação o modelo de mente e, 33 visíveis as competências, redefiniram essa noção na forma como ela vem sendo usada pela sociologia do trabalho, descrevendo-a a partir do trio “saber, saber-fazer e saber-ser”. Para Stroobants (1997), sob a idéia de objetivação das competências, materializada nas tentativas de identificação e normalização das competências, está subjacente a tentativa de explicitação dos atos humanos, particularmente dos atos humanos no trabalho, numa seqüência lógica. Acredita-se na possibilidade de controle e autocontrole desta seqüência de modo a gerar performances e eficácia. A idéia de racionalização de processos formativos e de trabalho não é, porém, uma novidade. Desde Taylor, com sua proposta de administração científica, têm sido feitas tentativas de máxima racionalização da produção e da formação. A partir dele, outras perspectivas do racionalismo se apresentaram, como o Movimento de Relações Humanas, buscando, por um lado, alternativas administrativas para as empresas a fim de obterem maior eficiência e racionalidade e, por outro, diminuir as resistências ao trabalho de tipo taylorista (MACHADO, 1994). Tal como na esfera do trabalho, também nas escolas as iniciativas racionalistas vêm mostrando força. Na educação brasileira, o racionalismo se tornou mais evidente na década de 1970, com a corrente tecnicista da educação inspirada na Teoria do Capital Humano, e, na década de 1990, com o neotecnicismo, sob inspiração dos Círculos de Controle de Qualidade (SHIMIZU, 1996). Necessidades empresariais e de governos por informações mais objetivas que permitissem o melhor planejamento e controle dos processos formativos, de um lado, e o advento da informática e de novas tecnologias, de outro lado, foram elementos que contribuíram, apesar de não serem determinantes, para tentativas de racionalização dos processos formativos. O processo de decomposição de tarefas parece ter tornado “natural” a idéia de que a formação das competências caminha para um tipo de organização curricular modular como estratégia formativa mais adequada, em lugar do conceito de significado, passou-se a trabalhar com o conceito de “computabilidade” (computability). 34 de modo a permitir validações cumulativas, ou seja, um sistema de unidades capitalizáveis organizados de modo a resultar no “ser capaz de” (TANGUY, 1997a). A estratégia de organização modular também se mostra mais adequada à idéia de desenvolvimento da empregabilidade, por permitir ações pontuais, de curta duração, de formação focada em requerimentos emergenciais do mercado. É uma didática que se baseia na decomposição dos processos de aprendizagem em microprocedimentos intermediários cuja soma se supõe contribuir para o todo. A decomposição dos processos de aprendizagem, depois de “socializados” com os alunos, deveria possibilitar o controle consciente e deliberado das operações cognitivas, num esforço de hiperracionalização do ensino e da aprendizagem (ROPÉ, 1997). O racionalismo está subjacente também nas ações de formalização das competências, nas práticas que visam aos objetivos formativos comprometidos com a máxima eficiência dos sistemas educacionais tendo em vista o atendimento das demandas dos setores produtivos que objetivam maior rapidez nos processos de reprodução do capital. Na medida em que torna públicos os objetivos e os critérios de competência, essa orientação racionalista abre espaço para o controle das ações de auto-formação e autoavaliação dos indivíduos. A idéia de racionalização também vem inspirando práticas de avaliação que se propõem medir objetiva e rigorosamente as competências de alunos e trabalhadores. Em tais práticas, onde se empregam métodos e técnicas supostamente científicas, são utilizados procedimentos de objetivação, de classificação e de medida das competências requeridas, das competências adquiridas e do percurso profissional (TANGUY, 1997a). Tais procedimentos, segundo Tanguy, vêm sendo utilizados, na França, de maneira similar tanto nas empresas quanto nas escolas21. A avaliação de competências tem se revelado um dos elos mais frágeis desta perspectiva formativa, pois não se tem 21 Segundo Tanguy (1997c) a avaliação tem sido utilizada pela Pedagogia das Competências como estratégia de gestão e controle sobre o sistema educativo e, através da institucionalização de práticas de avaliação, o racionalismo vem impondo a noção de competência como referência aos processos escolares e às empresas francesas. 35 como atestar a aquisição de capacidades práticas (competências) necessárias em uma situação futura e, portanto, imprevisível. Ropé & Tanguy (1997a) questionam os esquemas de análise de racionalização das competências, elaborados com base nas ciências cognitivas. Segundo elas, tais esquemas não dão conta de apreender a dinâmica da realidade e nem oferecem os modelos para a operacionalização do “aprender a aprender” e da “transferência de capacidades”. Para Machado (1998a), este tipo de abordagem de inspiração racionalista desconhece que a competência é, antes de mais, [...] uma construção social, e como tal não pode ser desligada do contexto histórico e cultural e das relações sociais [...] quando se produz um catálogo de habilidades e capacidades, que hipoteticamente estariam sendo requeridas pela dinâmica dos processos de trabalho, tais poderes aparecem desligados de contextos sociais e culturais e adquirem uma identidade autônoma como se pudessem existir anteriormente aos sujeitos (MACHADO, 1998ª, p. 06). Machado (1998a) lembra que as estruturas de ação são construídas e reconstruídas permanentemente pelos sujeitos, que estes, mediante suas próprias referências e a partir da leitura que fazem do contexto e de seu papel, reinterpretam e reorganizam as prescrições e completam os elementos necessários à realização da atividade de trabalho. Esta autora conclui que não há, assim, um nível de análise pré-determinado capaz de tomar posse da competência (MACHADO, 1998ª, p. 07), ela deve ser, portanto, contextualizada e historicizada. A avaliação de cunho racionalista é questionada por Ropé (1997), porque quando essa avaliação se volta para a produção de instrumentos de gerenciamento do sistema de ensino, através da padronização e uniformização dos resultados, favorece a sua perda de sentido em benefício do cumprimento de instruções. Apesar de se questionar a validade dos procedimentos adotados, de inspiração racionalista, de decomposição das tarefas em busca da objetivação e padronização de comportamentos considerados competentes, não se pode concluir que eles não tenham efeitos sobre o imaginário e as práticas docentes, 36 nem se pode considerar que as práticas de avaliação sejam inócuas, embora seus maiores resultados talvez não estejam diretamente ligados aos seus objetivos anunciados. 1.1.2.2. A referência individualista Outra marca da Pedagogia das Competências, pode-se dizer, é a sua inspiração individualista, pois, apesar de permanecer vaga, na maioria das vezes a noção de competência é utilizada supondo-se individualização na formação, nas avaliações e nos balanços de competências (ROPÉ & TANGUY, 1997a). O individualismo pode ser identificado como uma doutrina segundo a qual o indivíduo constitui fundamento de toda a lei. Assim, uma pedagogia individualista promove um processo formativo no qual se valoriza o desenvolvimento de capacidades individuais, que sejam de caráter individual e não social. Desvaloriza-se, assim, a idéia de desenvolvimento de capacidades motoras, intelectuais e comportamentais comum a todos os indivíduos de um processo formativo. A posse das competências e o seu desenvolvimento têm sido colocados como uma construção pessoal. Assim, uma Pedagogia das Competências inscreve o aluno singular no centro do sistema educativo e instaura o princípio de cursos individualizados no lugar de habilitações mais ou menos padronizadas. As competências, no entanto, apesar de serem colocadas como atributos dos indivíduos, requerem a sua validação pela organização institucional (cf. ISAMBERT-JAMATI, 1997; TANGUY, 1997a; 1997b). A inspiração individualista é verificada nos processos formativos, no deslocamento de um ensino centrado sobre saberes para um sistema de aprendizagem focado no aluno. Nas empresas, essa tendência se explicita na substituição de um modelo de organização produtiva no seio da qual podia-se ou não desenvolver uma carreira para uma organização valorizante criadora de competências para o indivíduo assalariado (ROPÉ & TANGUY, 1997ª, p. 206). 37 Em ambos os casos, escolas e empresas francesas, verificou-se uma busca obstinada de individualização. Estas têm tem lançado mão de instrumentos como o contrato de aprendizagem e o contrato de parceria (ROPÉ & TANGUY, 1997a). O que parece estar em curso com essa individualização da formação não é a valorização do elemento humano, mas o contrário, o seu enfraquecimento enquanto coletivo, como diz Machado (1998b, p. 84): O reconhecimento e a avaliação das competências, fundamentados em processos de negociação individualizada, contribuem para moldar uma certa concepção de sujeito e de autonomia, voltada para o desenvolvimento da capacidade adaptativa e para enfraquecer a solidariedade informada pelos interesses coletivos como conseqüência do aumento da competição entre os indivíduos (MACHADO, 1998b, p. 84). Esta lógica individualizante, afirma a autora, não se choca, porém, com o tipo de solidariedade promovida pelo capital em favor do trabalho produtivo em equipe e é somente dentro desses marcos que ela re-estabelece o coletivo e re-valoriza os processos grupais de trabalho e as trocas intersubjetivas (MACHADO, 1998b, p. 84). Esta individualização tem o efeito de enfraquecer o coletivo dos trabalhadores, romper a sua solidariedade e entravar a expressão de interesses coletivos, pois se apóia sobre uma concepção unificada de necessidades dos trabalhadores e das empresas, mascarando os interesses contraditórios entre capital e trabalho (DUGUÉ, 1998). Para esta autora, degrada-se o ambiente de trabalho, principalmente, através de práticas de concorrência que levam os trabalhadores a se enfrentarem individualmente, ou em clãs. Além disso, para Tanguy (1997a), a individualização favorece a aceitação das diferenças salariais como resultado de propriedades e de ações individuais. 1.1.2.3. A referência neopragmatista A Pedagogia das Competências, além das bases racionalista e individualista também tem bases neopragmatistas. À primeira vista, parece que 38 a idéia de que a Pedagogia das Competências tem inspiração pragmatista revela-se invalidada pelas pesquisas de Stroobants (1997), Tanguy (1997a) e Ropé (1997) que enfatizam a inspiração racionalista nos processos de identificação, formação e de desenvolvimento de competências, pois o pragmatismo se apresenta como uma corrente anti-racionalista22. A Pedagogia das Competências combina o ideário racionalista e o pragmatista23. Do racionalismo, há um aproveitamento das tentativas de objetivação das competências tendo em vista o planejamento e o controle dos sistemas produtivos e de formação. Do pragmatismo, há um aproveitamento do utilitarismo, do imediatismo, da adaptabilidade, da busca por produzir aprendizagens úteis, aplicáveis e de ajustamento do indivíduo à realidade extremamente dinâmica e móvel. Dizendo de outra forma, o cognitivismo, ao promover a decomposição e objetivação das competências facilitou, também, o tratamento imediato e utilitário dado aos processos formativos. Uma coisa deve ser considerada: a Pedagogia das Competências tem seu procedimento básico centrado na atividade, que é, também, o procedimento básico do progressivismo24. Ao ver o ensino técnico e profissionalizante como referência da pedagogia por objetivos e como campo de experimentação de idéias e técnicas que inspiraram a Pedagogia das Competências, Tanguy o afirma como uma 22 Os pioneiros do pragmatismo foram Charles Peirce, William James e John Dewey. O pragmatismo, enquanto corrente filosófica, ganhou força com James e Dewey, no início do século passado, quando os EUA despontavam como economia capitalista hegemônica, como um tipo de democracia burguesa capaz de promover e garantir certos direitos políticos, sociais e civis, ou seja, quando o capitalismo norte-americano se apresentava como uma alternativa de possibilidade de modelo societal democrático. Enquanto estratégia de legitimação e perpetuação do modelo estadunidense, o pragmatismo aparece como corrente de pensamento capaz de justificar a democracia liberal americana, tomando-a como ponto de partida sobre o qual se deveria buscar o seu aperfeiçoamento. O pragmatismo e o neopragmatismo se colocam como irracionalistas na medida em que negam a possibilidade da verdade e do conhecimento sobre a realidade. James (1974) apresenta o pragmatismo concordando com tendências antiintelectuais que, contra o racionalismo, acha-se completamente armado e militante (1974, p. 13), para este filósofo do pragmatismo as realidades são somente o que sabemos delas (1974, p. 13). Também Rorty (1998) combate a procura por correspondências entre o pensamento e o mundo (o espelho da natureza), bem como a idéia de uma filosofia centrada na teoria da representação. 23 Esclarecemos, no entanto, que não advogamos a idéia de que as práticas pedagógicas são antecipadas, necessariamente, por formulações filosóficas, nas quais se buscaria sempre a coerência entre princípios e ações. 24 Como também é denominado o conjunto de idéias sobre educação do pragmático americano Jonh Dewey. 39 pedagogia de concepção eminentemente pragmática, que busca gerir as incertezas e a levar em conta mudanças técnicas e de organização do trabalho às quais deve se ajustar (TANGUY, 1997b, p. 46). Machado (1998b), ao analisar o parecer CEB 15/9825 e verificar a sua referência subliminar ao Modelo de Competências, identifica que A linha de argumentação em favor de sólida formação geral é, portanto, bem pragmática: o emprego passou a ser uma possibilidade rara; ao longo de suas vidas, as pessoas experimentarão diversas mudanças de atividades; forçosamente e por reiteradas vezes, terão que se submeter a processos de formação; assim, é preciso garantir que elas tenham uma boa base geral (MACHADO, 1998b, p. 85). Ou seja, a sólida formação geral para o ensino médio no Brasil se colocaria como necessária para os inevitáveis processos futuros de requalificação e reconversão profissional dos trabalhadores determinados pelas alterações nos contextos produtivos. Ora, a finalidade da educação pragmática é justamente promover processos de adaptação dos indivíduos. Dewey26 e Rorty27 não questionam a democracia burguesa e seus valores. Para estes representantes do pragmatismo e do neopragmatismo, respectivamente, a realidade dada deve ser o ponto de partida para as práticas pedagógicas que, no seu desenvolvimento, podem culminar no seu melhoramento, evitando, assim, comprometer os projetos pedagógicos com utopias políticas remotas28. 25 Parecer de Guiomar Namo de Melo que apresentava propostas de regulamentação da base curricular nacional e de organização do ensino médio no Brasil. 26 Dewey foi o mais importante filósofo pragmático que escreveu sobre educação. A proposta de escola por ele desenvolvida se colocava contra a escola tradicional baseada no disciplinamento mental e moral da criança, em métodos de instrução autoritários, no cultivo da submissão e da obediência, no mestre como monarca da sala de aula e no cultivo as “verdades” estabelecidas. Contra isso Dewey propunha uma educação que respeitasse as inclinações “naturais” das crianças, métodos ativos de aprendizagem e a mobilização de conhecimentos a partir da sua utilidade para a vida prática dos indivíduos. Ao invés de uma escola que tivesse como fim à preparação para a vida adulta, Dewey propunha uma educação que se centrasse nas peculiaridades das crianças (BRUBACHER, 1978). 27 Um dos mais influentes filósofos da atualidade e neopragmatista que tem se ocupado, também, do fenômeno educacional. Um continuador de Dewey, como se auto-define. 28 Para Ghiraldelli (1997), o que Rorty procura defender é a desvinculação da teoria com a utopia, diferente de como fizera Marx, Adorno e Habermas. Segundo Ghiraldelli, para Rorty a teoria não vem conseguindo cumprir sua promessa de colaborar intelectualmente com a utopia, para sua viabilização. No entendimento de Rorty é melhor para a utopia que descartemos a teoria e encontremos outro modo de argumentarmos por ela, uma maneira não defasada com a 40 Favorecem-se, deste modo, os processos de ajustamento dos indivíduos às diversas situações que estes têm que enfrentar durante suas vidas, não se aventando a possibilidade de transformação da realidade, mas apenas o seu aperfeiçoamento, através do diálogo e da compreensão. Ropé (1997), quando analisou a introdução da noção de competência na escola francesa, concluiu que as inovações promovidas representaram uma tentativa de substituição de um modelo cognitivo centrado nos saberes disciplinares por outro que partisse de situações específicas e de seus requerimentos de procedimentos e de saberes, os quais consubstanciariam os conteúdos formativos. Essas inovações tinham por preocupação a identificação dos conhecimentos com a ação a ser realizada, visando à justaposição entre atributos e situação. Tal como na perspectiva pragmática de educação, a preocupação era vincular os processos formativos com demandas imediatas. Dewey, ao negar uma teleologia da educação, tendo em vista a “impossibilidade de associação entre processos formativos com idéias de um futuro distante” (DEWEY, 1936), vinculou-a ao imediato, à “atividade atual”. Para tanto, propunha que os processos formativos fossem estruturados sobre os interesses e as realidades dos alunos, considerados individualmente. A pedagogia das competências, em sua faceta pragmática, pressupõe, pois, um projeto societário de manutenção do status quo de dominação, porque visa dispor cada ato educativo ao que seja útil ao mercado, destinando mais uma vez ao trabalhador uma educação fragmentada, porque lhe fornece como também lhe abstrai, tão somente o necessário para o atendimento das demandas mercadológicas: um saber-fazer e um saber-ser que promovam cada vez mais a obtenção da mais-valia. Não interessam, assim, os saberes reais dos trabalhadores na construção de uma proposta curricular voltada para a emancipação humana. Pelo contrário, cabem tão somente os conhecimentos que maximizem os lucros, a operacionalidade do modo capitalista de ser. Mais uma vez, por meio dessa lógica, encontra-se uma estratégia para a exploração do trabalho humano em todas as suas nuances, contemporaneidade (...) podemos expor, exaustivamente, não razões teóricas, mas narrativas, argumentos racionais e motivos emocionais de modo a convencer os outros a optarem pela nossa utopia porque ela lhes trará vantagens (GHIRALDELLI, 1997, p. 15). 41 desde a força física até os conhecimentos resultantes de sua materialidade histórica. Não menos importante está o fato de que também essa pedagogia busca impor ao trabalhador a culpa pela não entrada no mercado de trabalho, principalmente quando, escolarmente, projeta-lhe a tese de que sem o domínio de determinadas habilidades e competências não conseguirá empregabilidade, escamoteando a real situação de que o próprio capital é que vem destruindo os postos de trabalho (FRIGOTTO, 2006). Assim, conforme Machado (1998a), esse interesse pragmatista cria uma miragem de que sejam possíveis propostas de desenvolvimento de competências sem um investimento conceitual realmente inovador; implicando um risco de se pensar em propostas educacionais fora de uma visão prospectiva; não reconhece a importância da formação ampla dos trabalhadores, desconsidera [...] os fenômenos da mobilidade profissional, da heterogeneidade das estruturas do mercado de trabalho e os efeitos da distância que pode se instalar entre o momento de aquisição de conhecimentos e o da possibilidade de aplicá-los em atividades profissionais (MACHADO, 1998ª, p. 5); e Limita os conteúdos da educação profissional às demandas econômicas pontuais e imediatas do mercado e representa, cada vez mais, uma postura equivocada não só pela ausência da perspectiva de longo prazo, pela incompreensão de como o mundo do trabalho está se reorganizando, mas principalmente pela insensibilidade com relação aos direitos da plena expansão das potencialidades de desenvolvimento dos indivíduos (MACHADO, 1998ª, p. 15). A proposição de uma pedagogia balizada na noção de competência traz, nesse contexto, promessas como a possibilidades de promover progresso econômico, de elevar as capacidades humanas para o trabalho e para a vida em geral, contribuindo, assim, para a diminuição das desigualdades sociais. Tais promessas participam como elementos de um processo de ideologização 42 da educação constituído, entre outras coisas, pelas idéias de vinculação entre educação e desenvolvimento econômico e de possibilidade de requalificação dos trabalhadores. Assim, podemos afirmar que, para possibilitar a realização de suas promessas, a Pedagogia das Competências tem se pautado em referências de cunho racionalista, individualista e neopragmatista. Em primeiro lugar, porque advoga uma maior maximização das ações, o que significa negar o domínio de conhecimentos compreendidos em sua totalidade por aqueles que contribuam para resolução dos problemas imediatos de que o mercado demanda. Isso, não raras vezes, tem se configurado na redução de carga horária de cursos e implementação de um currículo voltado mais para o saber-fazer que para o desenvolvimento do homem em sua integralidade. Em segundo lugar, porque promove a supremacia do individualismo sobre ações coletivas, impondo entre os trabalhadores, como já advogamos, a busca de melhorias de qualidade de vida pelo esforço próprio, enfraquecendo, como isso, as lutas de classe, atenuando, em favor do capital, os conflitos entre dominantes e dominados. Por fim, porque descaracteriza a educação do princípio da totalidade, da compreensão histórica que fundamenta a construção do conhecimento, delegando à educação a tarefa de tão somente fornecer as orientações de como montar uma máquina, o que corresponde, em termos curriculares, por exemplo, negar ao trabalhador toda sorte de conhecimentos que não sejam necessários à emergencialidade do mercado. Todavia, a experiência revela que o projeto de renovação da educação profissional pautada na idéia de competências não se concretizou como esperado por seus divulgadores. Pesquisa recente (Araujo et al, 2007)29 revelou que, do ponto de vista das estratégias de organização e de construção das práticas formativas, ainda convivem, nas instituições, práticas tradicionais junto com novas outras pautadas na idéia de competências. A grande referência para as práticas formativas são as demandas identificadas com o mercado de trabalho, apesar de ser restrito o uso de 29 O projeto de renovação da institucionalidade da educação profissional brasileira foi estudado no estado do Pará pelo GEPTE-UFPA em pesquisa que buscava identificar os efeitos concretos das políticas educacionais dos anos 1990 sobre a institucionalidade da educação profissional paraense (Araujo et al, 2007). 43 estratégias de análise ocupacional. A preocupação com o homem revela-se secundária e impregnada por uma visão assistencialista e cristã. Paradoxalmente, as novas formas de fazer a educação profissional, pautadas na lógica das competências, parecem estar mais presentes em instituições tradicionais como o CEFET-PA e o SENAI, que seriam a expressão de uma “velha institucionalidade” (ARAUJO et al, 2007). O ideário da Pedagogia das Competências ganhou espaço nas instituições, mas não promoveu uma transformação nas suas práticas, como se propunha. A noção de competência ainda é pouco compreendida e coloca problemas reais nos momentos em que os professores se propõem a organizar os currículos, definir estratégias de ensino e proceder a avaliações. O resultado pedagógico mais efetivo do projeto da nova institucionalidade da educação profissional é o fortalecimento do ideário pragmatista, que se renova enquanto ideologia orientadora das práticas de organização e de gestão da formação de trabalhadores. Enfim, observou-se nas instituições que trabalham com educação profissional que, apesar de assumirem o discurso da lógica das competências, esta ainda é pouco compreendida pelos seus agentes. Por essa razão, a organização das aulas e principalmente das estratégias de avaliação parecem não estar compatíveis com os documentos das instituições pautados na noção de competência, mas sim com certo atrelamento a mecanismos característicos do modelo tradicional de educação profissional, como a ênfase na memorização e no trabalho especializado. Por fim, há de se considerar ainda que a Pedagogia das Competências como parâmetro de orientação da educação profissional é algo irrealizável, principalmente quando se considera que a sociedade do capital periodicamente se recicla, sempre demandando novas competências, novos saberes, novas habilidades, o que implicaria uma escola em eterna refacção das competências previstas em seus currículos, além do que a escola não possui condições técnicas para identificar as demandas da sociedade e, por conseguinte, elaborar, ciclicamente, em termos curriculares, as possíveis competências para serem ensinadas aos discentes. 44 A orientação pedagógica pragmática aqui tratada, tendo as idéias de Dewey, principalmente, como referência, verificada tanto no projeto de educação profissional contido nas séries metódicas de ofício quanto na Pedagogia das Competências, se expressa, em síntese, na definição de objetivos formativos referenciados em demandas específicas e imediatas dos empregadores; métodos formativos centrados nos alunos e nos meios, tidos como uma segurança de eficácia; no trato utilitário que estabelece com os conteúdos de ensino, colocando-os como insumos diretamente relacionados com a necessidade de formar capacidades imediatas; e na promoção de processos de adaptação dos indivíduos aos seus ambientes de trabalho. Outro mundo é possível? No moldes gramscianos, a possibilidade é uma educação profissional fundamentada no trabalho como princípio educativo, com uma formação voltada para a onilateralidade humana, como vem se assumindo nas entrelinhas do presente trabalho e, mais especificamente, na sessão a seguir. 1.2. O PROJETO CONTRA-HEGEMÔNICO Marx (1975) deixou claras as limitações e impossibilidades de o Estado, erguido sobre o solo da sociedade burguesa, assegurar o pleno desenvolvimento cultural do trabalhador. Para este pensador uma concepção de educação de base socialista deveria, pelo menos, ter reclamado escolas técnicas (teóricas e práticas) em ligação com a escola primária. A associação, portanto, entre trabalho intelectual e trabalho produtivo é a essência de sua “proposta” de educação. E, quando ele ressalta a necessidade de aulas teóricas e práticas nas escolas técnicas, fica-nos a indicação da necessidade de os alunos desenvolverem o hábito do manejo das ferramentas [a técnica], junto com a aquisição do conhecimento dos fundamentos dessas técnicas [a ciência]. Marx considerava tão importante a associação entre trabalho intelectual e trabalho produtivo que propõe como absolutamente necessária a indicação do limite de idade para o trabalho infantil, mas, trata como reacionária a proibição geral do trabalho da criança. Resguardando a proteção 45 para elas, [...] a ligação precoce do trabalho produtivo com a instrução é um dos mais poderosos meios de transformação da sociedade hodierna (MARX, 1975), o que implica, pois, o reconhecimento da necessária ativa-ação de aprender do sujeito que apreende, de modo que a criança possa, desde cedo, ir articulando o fazer ao pensar, numa sempre unidade teoria-prática. Não se trata, pois, de uma educação voltada tão somente para o domínio de conteúdos, mas do mergulho no fazer científico pelo contato com atividades produtivas, ou seja, com as práticas materiais que foram possibilitando a produção de determinado conhecimento. A integração entre trabalho e educação é também inferida nas formulações do educador russo Pistrak (2005), para quem a educação destinada aos trabalhadores exige uma interação entre trabalho e atividades culturais e políticas que possibilitem ao educando uma formação dinâmica, voltada para a luta de classes, permitindo-lhe, por conseguinte, a capacidade de se inserir nas relações sociais por meio dos conhecimentos advindos dessa interação. Trata-se, então, de uma reflexão que considera a importância dos conhecimentos oriundos da materialidade humana, via trabalho, que garantam ao aprendiz condições de tornar-se também dirigente na sociedade. Pistrak (2005) defende, pois, também uma escola permeada pelo trabalho, de modo que os aprendizes atinjam não somente o ato de estudar a realidade atual, mas por ela se deixem impregnar, numa alusão possível à tese gramsciana de que a educação se dá pelo conteúdo e pelo método, entendidos como os conhecimentos oriundos do trabalho humano e a capacidade de se aprender a se apropriar desse conhecimento pela disciplina e auto-gestão. Na mesma linha de raciocínio encontra-se Gramsci (1978), para quem a articulação trabalho e educação prescinde de uma [...] escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre equanimemente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual (GRAMSCI, 1978, p. 118). Para o filósofo italiano Gramsci, assim como em Marx, o trabalho é, pois, o elemento constitutivo do ensino, havendo a partir desse autor a 46 integração do trabalho como momento educativo no processo totalmente autônomo e primário do ensino. E, como já expusemos, o trabalho se inseriria no ensino pelo conteúdo (a cultura – a ciência) e pelo método (métodos ativos) (GRAMSCI, 1978, p. 135). É a cultura, pois, produto do trabalho humano, e é o seu domínio de modo ativo que permite formar o dirigente onilateralmente. Nunca é demais enfatizar, entretanto, que a inserção do trabalho no ensino se daria pelo processo educativo e com a evolução da técnica. Nunca esse autor falou, todavia, de inserção de crianças na fábrica, como uma leitura de Marx poderia sugerir. Assim, segundo Manacorda (1991, p. 137), “Gramsci não fala de trabalho industrial, de inserção de crianças na fábrica, mas sim de desenvolver nelas a “capacidade de trabalhar” industrialmente, num processo escolar coordenado com a fábrica, mas dela autônomo”. Gramsci, assim, desenvolve a tese marxiana de articulação entre trabalho e educação. Alguns princípios orientadores de uma perspectiva gramsciana de educação, a partir de MANACORDA (1991), podem ser entendidos como: a idéia de que a educação deve promover o desenvolvimento integral dos indivíduos (omnilateralidade), que seria buscado por meio da articulação entre trabalho e ensino que deveria servir para formar homens onilaterais, ou seja, promover um equilíbrio harmonioso de todas as faculdades intelectuais e práticas, e somente depois a especialização. Gramsci também criticava o espontaneísmo e o individualismo. Este pensador italiano debateu com as pedagogias libertárias, em cujo individualismo vê comprometida toda possibilidade de desenvolvimento integral (MANACORDA, 1991, p. 141). Não basta, pois, deixar tão somente a criança exposta ao ambiente para haver aprendizagem, é preciso que sejam coordenadas as ações de aprendizagem. Gramsci também debate com o progressivismo. Não concorda que a criança seja um novelo, a partir do que o ensino vá apenas desenrolando suas características inatas. Pelo contrário, postula o homem como produto histórico e, portanto, passível de ir construindo seus conhecimentos na interação com outros homens, no fazer coletivo. Assim sistematiza sua crítica e defesa da escola: 47 a) Crítica ao espontaneísmo. Ao fazer uma análise da natureza histórica do homem, critica o espontaneísmo como meio de conformação. Defende a escola ativa e com objetivos articulados com a solidariedade social e com o desenvolvimento individual e social. b) Defesa da educação de bases científicas: Gramsci defendia uma educação que se apoiasse em bases científicas, de modo a enfrentar as concepções mágicas e folclóricas (MANACORDA, 1991, p. 145). Em conformidade com as linhas de pensamento aqui identificadas com o marxismo, Saviani (2007) também advoga a integração entre as capacidades de pensar e de produzir como imprescindível para se instaurar uma lógica educativa interessante aos trabalhadores. Essa seria uma estratégia de enfrentamento à dualidade educacional brasileira, segundo a qual, de um lado, têm-se uma educação voltada para o saber-fazer, destinada aos trabalhadores, e de outro lado, uma educação voltada para o saber-pensar, destinada às elites econômicas e políticas. De um modo geral, essa dualidade corresponde à divisão técnica do trabalho que aparta os trabalhadores de funções operativas dos demais com funções de concepção e gerência dos processos. Em artigo recente, Saviani (2006) destaca que no modo de produção comunal os “[...] homens se apropriavam coletivamente dos meios de produção da existência e nesse processo se educavam e educavam as novas gerações”, não havendo aí divisão em classes, sendo tudo feito em comum. Entretanto, como já destacamos, a divisão social em classes provocou uma divisão também na educação, produzindo-lhe a cisão em sua unidade, antes “[...] identificada plenamente com o próprio processo de trabalho”. Com o escravismo, por exemplo, destaca o autor, passou-se a ter duas modalidades bem díspares de educação, como já frisamos: [...] uma para a classe proprietária, identificada como a educação dos homens livres e outra para a classe não proprietária, identificada como a educação dos escravos e serviçais. A primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho (SAVIANI, 2006). 48 Além do mais, é essa separação entre escola e produção que vem refletindo, segundo Saviani, “[...] a divisão que foi se processando ao longo da história entre trabalho manual e trabalho intelectual”. Isto posto, Saviani destaca também que essa cisão acabou por promover a busca da burguesia para atrelar a educação, por meio da escola, às necessidades de produção, instaurando-se as dicotomias entre escolas profissionalizantes para os trabalhadores e escolas das ciências para a classe dirigente: “[...] o impacto da Revolução Industrial pôs em questão a separação entre instrução e trabalho produtivo, forçando a escola a se ligar, de alguma maneira, ao mundo da produção”. E conclui: No entanto, a educação que a burguesia concebeu e realizou sobre a base do ensino primário comum não passou, nas suas formas mais avançadas, da divisão dos homens em dois grandes campos: aquele das profissões manuais para as quais se requeria uma formação prática limitada à execução de tarefas mais ou menos delimitadas, dispensando-se o domínio dos respectivos fundamentos teóricos; e aquele das profissões intelectuais para as quais se requeria domínio teórico amplo a fim de preparar as elites dirigentes para atuar nos diferentes setores da sociedade. A referida separação teve uma dupla manifestação: a proposta dualista de escolas profissionais para os trabalhadores e “escolas de ciências e humanidades” para os futuros dirigentes; e a proposta de escola única diferenciada que efetuava internamente a distribuição dos educandos segundo as funções sociais para as quais se os destinavam em consonância com as características que decorriam de sua origem social (SAVIANI, 2006). É em oposição a essa concepção dualista de educação que se insurgem Marx, Gramsci, Pistrak e Saviani, buscando-se uma posição contrahegemônica que retoma o trabalho como princípio educativo para a definição de políticas e estratégias de educação para os trabalhadores. 1.3. ESBOÇO DE ORIENTAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Para além da questão terminológica, é importante observar que, do ponto de vista pedagógico, o desafio para a construção de uma educação 49 profissional focada nos interesses da classe trabalhadora está em promover a integração entre formação intelectual-política e trabalho produtivo, considerando a realidade concreta da classe. Lombardi (2005), inspirado nos ensinamentos de Suchodolski, Manacorda e Makarenko, identifica três direções que deve assumir a formação profissional sob uma perspectiva marxista: i. A crítica à educação, ao ensino e à qualificação profissional burguesa; ii. A afirmação da relação do proletariado com a ciência, a cultura e a educação. iii. A educação comunista e a formação integral do homem – a educação como articuladora do fazer e do pensar – a superação da monotecnia pela politecnia (LOMBARDI, 2005). Sob esta perspectiva, este autor afirma o conteúdo classista da formação profissional, orientando-se para a ampliação, sem limites, das capacidades filosóficas, científicas, artísticas, morais e físicas do trabalhador. Também Frigotto (2001), ao propor bases para uma educação profissional emancipadora, na mesma direção indica cinco aspectos que devem orientar um projeto de formação de trabalhadores: a) Articular-se a um projeto societário contra-hegemônico. “Um movimento de crítica ao projeto societário dominante centrado na lógica do mercado e a afirmação dos valores centrados na democracia efetiva, na igualdade e solidariedade entre os seres humanos” (2001, p. 82). b) No campo educativo, orientar-se por projeto de educação “omnilateral, tecnológica ou politécnica formadora de sujeitos autônomos e protagonistas de cidadania ativa e articulada a um projeto de Estado radicalmente democrático e a um projeto de desenvolvimento ‘sustentável’” (Idem). c) “formação técnico-profissional desenvolvimento “sustentável”, articulada a um porém, nunca projeto de separada da educação básica e da dimensão ético-política da formação de sujeitos autônomos e construtores de processos sociais radicalmente democráticos, solidários e iqualitários” (Ibidem, p. 83). 50 d) A premissa de que a educação profissional não pode ser compreendida como política focalizada de geração de emprego e renda. e) Articulação com a luta política por um Estado que governe com as organizações da sociedade pelas maiorias. Nesta direção, reconhece-se que a dimensão pedagógica das estratégias de formação de trabalhadores revela e é revelada no projeto político ao qual ela está associada; assim, um desenho de educação profissional que se compromete com a qualificação e a valorização dos trabalhadores visa, também, o fortalecimento político desta classe. Os projetos de qualificação efetiva dos trabalhadores se articulam, necessariamente, com o projeto político de emancipação social fundado nas idéias socialistas. Do ponto de vista pedagógico, este projeto requer uma formação de bases científicas, que permita o reconhecimento das leis da natureza e das leis da sociedade, e práticas formativas orientadas pela idéia de práxis, reconhecendo a necessidade de desenvolver as capacidades de pensar, de produzir e de transformar a realidade em benefício da humanização. Esta é a teleologia de uma pedagogia transformadora. Considerações do capítulo Outras possibilidades de educação profissional têm sido colocadas, tal como a proposta de uma educação profissional centrada no saber técnico30. Estas propostas precisam ser melhor estudadas. Deve-se ainda estudar melhor e sistematizar diferentes experiências que podem ter ensinamentos preciosos para a construção de uma proposta pedagógica de educação profissional que sirva aos interesses dos trabalhadores e de um projeto de sociedade radicalmente democrático. Entre estas destacamos as experiências de movimentos sociais organizados, tais 30 Barato (2004) parte de uma crítica à bipolaridade teoria/prática e do reconhecimento da existência de uma epistemologia do saber técnico (compreendido como uma forma particular de saber) que constituiria uma didática centrada no saber técnico. 51 como a CUT31 e o MST, bem como outras, de iniciativa de governos, em especial articuladas ao projeto de ensino médio integrado e, em particular, ao PROEJA32, que têm procurado se orientar, conceitualmente, por referências próprias da Filosofia da Práxis. De modo específico, deve-se buscar reconhecer a necessidade de se articular os projetos de educação profissional a diferentes estratégias de escolarização, de modo a buscar a superação de estratégias fragmentadas e instrumentais de formação. Do mesmo modo, é necessária a definição de estratégias, de formação inicial e continuada articulada à idéia de itinerários formativos. De qualquer modo, um projeto democrático de educação profissional deve pressupor um posicionamento frente à histórica dualidade da educação profissional brasileira, sendo necessária uma nova postura frente aos saberes, às práticas de ensinar e de aprender, aos procedimentos de organização curricular, aos procedimentos de avaliação, às estratégias de gestão e à organização dos tempos e espaços orientados pelas necessidades de ampliação, sem fim, das diferentes capacidades humanas, inclusive as de trabalho, de modo a promover a autonomia frente aos processos de trabalho e o projeto de uma sociedade democrática. Deve-se reconhecer, no entanto, que a condição para a construção de uma educação profissional qualitativamente nova passa pela sua emancipação em relação ao controle exercido pelas condições materiais de reposição dos pressupostos da dominação do capital, e com isso a superação do referencial pragmatista e utilitarista que a vem subsidiando e legitimando. Sob uma perspectiva marxista, podemos afirmar que o desenvolvimento da cultura e da sociedade nunca pode ser superior ao da configuração econômica, o que supõe a incondicional correspondência entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento cultural. Nesse sentido, tem limites o desenvolvimento humano, tanto do ponto de vista econômico quanto 31 Nesta Coletânea consta um artigo do Professor Gilmar P. da Silva no qual este pesquisador faz uma análise da experiência de um projeto de qualificação profissional construído e implementado pela CUT-Norte. 32 Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. 52 cultural, nos marcos do capitalismo e somente o florescimento de uma sociedade estruturalmente igual pode permitir o pleno crescimento da riqueza e da cultura. Numa fase superior da sociedade comunista, depois de ter desaparecido a servil subordinação dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, também a oposição entre trabalho espiritual e corporal (alienação); depois de o trabalho se ter tornado, não só meio de vida, mas, ele próprio, a primeira necessidade vital; depois de o desenvolvimento omnilateral dos indivíduos, as forças produtivas terão também crescido e todas as fontes manantes de riqueza co-operativa jorrarem com abundância [...] (MARX, 1975, 166). O que principalmente resulta das considerações acima feitas é que, como diz Mészaros (2005), uma educação para além do capital pressupõe, em última análise, a própria derrocada do capital. A educação que toma o trabalho como princípio educativo já é um passo nessa direção. 53 CAPÍTULO 2. O QUE DIZEM OS PERIÓDICOS DE TRABALHO E EDUCAÇÃO SOBRE A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL? Considerações iniciais do capítulo Buscamos levantar e sistematizar as fontes bibliográficas que tratam sobre “didática da educação profissional”, por meio de levantamento e seleção de artigos, leitura, fichamento e análise documental, no intuito de identificar as contribuições de diferentes autores, encontradas nos periódicos com os quais trabalhamos. A leitura e a seleção dos artigos foram organizadas a partir da premissa de que os textos abordassem a questão das práticas pedagógicas desenvolvidas na educação profissional. A partir desta observação, partiu-se para as análises interpretativas que resultaram na produção dos fichamentos dos artigos lidos. Além de itens de identificação dos textos, buscamos organizar as anotações de leitura em torno das três categorias básicas da didática (objetivos, conteúdos, métodos de ensino/avaliação) consideradas aqui. Buscamos, a partir dos textos lidos, desvelar elementos de diferentes projetos formativos que estão em disputa por hegemonizar as práticas formativas em educação profissional. Para tanto procedemos sistematização dos artigos publicados na Revista Trabalho & Educação, no Boletim Técnico do SENAC e nos anais do GT09 (Trabalho e Educação) da ANPED. 54 2.1. A DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO TRABALHO & EDUCAÇÃO DO NETE33 PROFISSIONAL NA REVISTA O Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação (NETE) foi fundado em 1995, quando um grupo de pesquisadores do Programa de PósGraduação em Educação da UFMG se aglutinou, formando-o. Atualmente congrega professores principalmente da UFMG, da PUC-MINAS, do CEFETMG e da UEMG, além de alunos de pós-graduação e graduandos, bolsistas de pesquisas, das referidas instituições, que se dedicam ao estudo e à investigação em Trabalho e Educação. De acordo com Fidalgo (2005), a relação entre Trabalho e Educação se constituiu como objeto central de investigação desse grupo, que passou a tratar de questões tais como: capacitação profissional; (des) centralização do trabalho; desemprego; desenvolvimento da cidadania; educação de adultos; flexibilização da educação profissional; formação profissional; mercado de trabalho; mundo do trabalho; pedagogia capitalista; políticas de investimentos em educação; proletarização do trabalho docente; qualidade total; qualificação social; reestruturação produtiva; reforma curricular; relações de saber e poder; sociedade tecnológica; trabalho como princípio educativo; trabalho real; transformações tecnológicas; entre outros. O NETE, que vem se consolidando como importante referência na área, tanto internamente à UFMG quanto nos âmbitos nacional e internacional, edita a Revista Trabalho & Educação, que se constitui como relevante espaço de divulgação de pesquisas ligadas ao campo do Trabalho e da Educação. É responsável, também, pela publicação de uma Revista “on-line”, intitulada “Trabalho e Educação em Perspectiva”, que é indexada e visa publicar trabalhos de alunos de graduação. A Revista Trabalho & Educação é um periódico temático, de abrangência internacional, de periodicidade semestral, que se apresenta com o seguinte objetivo: divulgar as pesquisas e trabalhos, nacionais e internacionais, produzidos no campo de pesquisa Trabalho & Educação; favorecer o intercâmbio entre os diversos pesquisadores desse eixo temático, em âmbito 33 Esta seção tem por base o relatório de pesquisa da Bolsista PIBIC-UFPA Adriane Suely Rodrigues do Nascimento. 55 nacional e internacional; estimular os vínculos entre o NETE e a sociedade civil, particularmente alunos e professores das diversas áreas de ensino, trabalhadores e movimento sindical34. Este periódico do NETE vem há mais de dez anos discutindo, refletindo, problematizando e propondo questões relacionadas à área de trabalho e educação, que: É um objeto complexo, pois congrega um conjunto de elementos que tem relações entre si e que formam uma unidade. Tem características universais porque diz respeito à reprodução do homem, do meio material e cultural, ao caráter das condições de vida cotidiana, que determinam o modo de produção. Tem também particularidades específicas, que influem retroativamente sobre o desenvolvimento da economia, da política, da cultura e da sociedade (MACHADO, 2005, p. 135). De acordo com Tumolo (2005), no Brasil a temática sobre trabalho e educação tem sua origem a partir da década de 1980, quando predominavam as discussões que buscavam articular a educação com os interesses históricos da classe trabalhadora, ou seja, a estratégia de transformação revolucionária, por meio da fundamentação no marxismo, com clara prevalência, na produção teórico-política, do filósofo italiano Antonio Gramsci. Constituiu-se, na última década, como referência nacional para as publicações de artigos sobre este campo da educação e como fonte de referência para o desenvolvimento de novas pesquisas. E, na especificidade da educação profissional, atua canalizando diferentes temáticas: aspectos históricos da relação entre trabalho e educação, impactos da globalização e novas tecnologias sobre a educação e a escola, questões conceituais relativos à articulação trabalho-educação, ao debate em torno da concepção politécnica de ensino e reforma da educação profissional dos anos 1990. No levantamento da Revista Trabalho & Educação encontramos 110 artigos no período pesquisado, tendo sido inicialmente lidos em seus resumos 35, dos quais 30 foram lidos na íntegra, sendo objetos de análise temática 34 Ver www.fae.ufmg.br/nete. 56 apenas 20, os quais constituíram objeto de uma análise interpretativa por darem contribuições mais relevantes para a pesquisa, a saber: ANO 1999/2 000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Quadro 3 – ARTIGOS DA REVISTA TRABALHO E EDUCAÇÃO ANALISADOS TÍTULO AUTOR Formação profissional na sociedade tecnológica Gilberto Lacerda Santos Mudanças na ocupação e a formação profissional Márcio Pochmann Escolarização na empresa: contradições que possibilitam Mariana Veríssimo novos sentidos e significações Teoria da Competência: categorias analíticas e ideologia Noela Invernizzi na compreensão dos novos processos de trabalho Mediações na articulação trabalho-educação. Luiz Antônio Cunha. Trabalho, formação profissional e políticas públicas: Raissa Pimenta Pires; Maria possibilidades de novas articulações? Laetitia Corrêa e Silvia M. Pires Certificação de competências: um olhar sobre a Fernando Fidalgo e Neide Elisa experiência de alguns países Porte dos Santos Relação entre conhecimento escolar e conhecimento produzido no trabalho: dilemas na educação do Antônia Vitória Soares Aranha trabalhador A reforma do ensino médio profissional sob um olhar de uma agente formadora – Centro Federal de Educação Aloysio P. da Silva Tecnológica – CEFET-SP. As práticas pedagógicas em ampliação da escolaridade e a produção das novas qualificações da forma de trabalho Moacir Fernando Viegas no ambiente da produção Reestruturação capitalista: educação e escola Oder José dos Santos Considerações sobre a disseminação do conhecimento científico e tecnológico e sobre a formação para o Gilberto Lacerda Santos trabalho na sociedade emergente. Trabalho-Educação numa perspectiva de classe: Marlene Ribeiro apontamentos à educação dos trabalhadores A complexidade da avaliação formativa na educação de Ana Paula Leite Castilho e jovens e adultos trabalhadores. Antônia V. Soares dos Santos O modelo curricular por competência e os desafios à Guacira Ribeiro de Abreu e prática docente Wânia Regina Gonzales Trabalho-Educação como objeto de investigação Lucília Regina de S. Machado Ergonomia e práticas educacionais: o modelo Paulo Renata A. R. Custódio e Freire para uma educação conscientizadora no trabalho. Bernadette V. C. Fonseca O trabalho humano na sociedade da informação: Rosângela Maria de Almeida Leal desfazendo alguns equívocos Educação e trabalho nas políticas de educação Beatriz Pinheiro e Neide Deluiz. profissional: um estudo das ONGs, no Rio de Janeiro A formação humana entre o conceito e a experiência do Daisy Moreira Cunha e Yves trabalho: elementos para uma pedagogia da atividade Schwartz A partir do estudo realizado, apresentaremos uma análise acerca dos textos lidos na Revista Trabalho & Educação, revelando algumas contribuições destes autores sobre as práticas formativas na Educação Profissional, enfatizando as categorias eleitas para a investigação. 57 2.1.1. Revista Trabalho & Educação – 1999/2000 Na produção da Revista Trabalho & Educação dos anos 1999/2000 foram destacados dois artigos principais que tratavam de temas relacionados mais diretamente à educação profissional : “Formação profissional na sociedade tecnológica” (SANTOS, 1999/2000) e “Mudanças na ocupação e a formação profissional” (POCHMANN, 1999/2000). Utilizando uma abordagem qualitativa, por meio de uma enquete realizada com o emprego da Técnica do Grupo Nominal, a análise do primeiro trabaldo de Santos (1999/2000) mostra que o autor identificou as principais representações de alunos e professores do ensino técnico acerca das competências para assegurar a empregabilidade na sociedade tecnológica. A pesquisa foi feita com um grupo de 12 alunos e 09 professores de escolas técnicas no Ceará e no Distrito Federal em meados de 1996. Para o autor, no âmbito do processo de formação profissional, a introdução das novas tecnologias se manifesta segundo duas vertentes distintas, em torno da inter-relação entre formação, cidadania e sociedade: a primeira, ligada a uma formação mais ampla, daria ao trabalhador uma necessidade de auto-formação continuada, condição esta para manter-se de modo autônomo no emprego; a outra proporcionaria uma qualificação da força de trabalho que faz parte e apóia a manutenção do modelo de produção que preserva o fetichismo da mercadoria e da alienação. Santos (1999/2000) afirma que não há nenhum indício de que a sociedade tecnológica emergente será mais justa, democrática ou igualitária, uma vez que a intervenção do indivíduo enquanto cidadão participativo e determinante em seu meio social continuará dependendo de sua posição no sistema de produção. Portanto, o avanço tecnológico e suas implicações sobre o modo de funcionamento do mercado de trabalho estariam conduzindo a sociedade a uma intensificação da exploração do trabalhador, favorecendo a proliferação do trabalho terceirizado, parcial e precário, sub-remunerado e sem direitos, fortalecendo o mercado dual de trabalho (DAMIANI apud SANTOS, 1999/2000). 58 Neste artigo foi possível observar, para a categoria de objetivos de ensino, que o autor, ao se reportar a Michael Apple, postula que uma necessária “alfabetização social” que permitirá às pessoas compreenderem com seriedade o impacto da ciência e da tecnologia sobre o trabalho, assim com os seus efeitos sociais mais amplos, deveria ser privilegiada em detrimento de uma formação mais específica, restrita, verticalizada e curta. Nesta perspectiva, que privilegia uma formação mais ampla para a classe trabalhadora, evidenciam-se diferentes funções atribuídas à formação profissional que se constituiriam nos seus conteúdos de ensino como: desenvolver habilidades e conhecimentos de resolução de problemas, relacionados à concepção e à criação; fornecer uma alfabetização social, cultural, científica e tecnológica de qualidade; favorecer a compreensão da própria formação através do desenvolvimento de uma reflexão aprofundada sobre os conteúdos, sua extensão, seus limites e objetivos; favorecer o domínio através de um conhecimento adequado, dos objetivos técnicos e tecnológicos; instrumentar o indivíduo para enfrentar a evolução de sua área de formação quanto ao avanço científico (SANTOS, 1999/2000, p. 116). Os métodos de ensino, no referido artigo, são relacionados à função docente que deve se voltar para a valorização do indivíduo, enquanto ser autônomo, crítico e responsável, apto a operar no seio da coletividade, avançando no sentido de abolir, tanto da prática de sala de aula como de sua reprodução na sociedade, a padronização, a parcelarização, a especialização, a sincronização, a concentração e a maximização, palavras-chave da era industrial que são categoricamente repudiadas no contexto da sociedade tecnológica (Ibid., p. 121). Santos (1999/2000) conclui neste artigo que os alunos do ensino profissional almejam muito além do que aprendizagens restritas aos saberes específicos e coletivos relacionados com o funcionamento de objetos técnicos e tecnológicos: [...] o aluno da escola profissional quer também ter uma atitudes crítica, perseverante, ética e responsável face à sua profissão e ao meio em que está inserido. Ele quer e sabe o quanto é importante - ter em si desenvolvido o gosto pela leitura e pelos conhecimentos gerais, pela busca de novos conhecimentos e de outras perspectivas, 59 diferentes das que lhe são apresentadas em sala de aula (p.120). O autor também chama a atenção para a questão da formação do profissional docente que, segundo ele, é o mediador de conhecimentos e diretamente responsável pela inserção sócio-profissional dos alunos. No entanto, este docente não teve uma formação adequada ou capaz de responder às demandas da sociedade, atribuindo-se, não raras vezes, aos professores à responsabilidade maior dos resultados nefastos da educação. Portanto, o autor afirma que os atores do sistema de formação profissional estão cientes de que mesmo uma formação profissional ampla e privilegiando a aquisição de conhecimentos mais gerais não constitui condição suficiente para acesso ao emprego na sociedade tecnológica emergente (Ibid., p. 122). No outro artigo selecionado, Pochmann (1999/2000) trata da formação profissional para as novas ocupações no contexto das novas formas de organização do trabalho decorrentes de uma mudança econômica estrutural. No cenário de fim de século, o mundo do trabalho tenderia a refletir as mutações técnico-produtivas, marcadas pela maior insegurança no emprego e elevada concorrência na população ativa. De certa forma novos conhecimentos científicos e tecnológicos estariam associados às exigências empresariais de contratação de empregados com polivalência multifuncional, maior capacidade motivadora e habilidades laborais adicionais no exercício do trabalho. Os novos requisitos profissionais, indispensáveis ao ingresso e à permanência no mercado de trabalho em transformação, seriam passíveis do atendimento somente através de um maior nível educacional dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a formação e o constante treinamento profissional se transformariam em uma das poucas alternativas passíveis de ação do Estado para conter o avanço do desemprego e da precarização no uso da força de trabalho. Nesse contexto, os objetivos de ensino estariam sendo articulados aos processos de formação profissional tidos como condição adicional de 60 competitividade e de produtividade. Assim, o compromisso da formação profissional estaria se adequando às exigências de preparar o trabalhador ao longo de sua vida ativa para competir por um posto de trabalho, mais que especificamente qualificar para uma função específica e estável de longa duração, pelo menos na fase de instabilidade tecnológica (POCHMANN, 1999/2000, p. 61). Para os conteúdos de ensino estariam sendo indicados: a polivalência multifuncional, maior capacidade motivadora e habilidades laborais adicionais no exercício do trabalho; capacidade do trabalhador em dominar o conjunto de tarefas que configuram uma determinada função; maior envolvimento do trabalhador com as metas e resultados da empresa; maior interesse na ocupação de postos de trabalho menos monótonos e com funções e movimentos menos repetitivos, bem como com menores riscos de acidentes de trabalho. Quanto às estratégias formativas dá-se ênfase à educação continuada, voltada para a transferência tecnológica e para a multidisciplinaridade dos programas de qualificação. A conclusão do autor acerca do novo modelo técnico-produtivo é de que apesar de demandar conhecimentos educacionais mais amplos ao trabalhador, continuam sendo criadas ocupações de baixa qualificação. E para isso, o sistema de formação profissional é colocado como alternativa para resolver os problemas da falta de ocupações. Defende, portanto, que seja necessário repensar e reformular as bases de institucionalização e operacionalização do modelo atual de formação profissional. 2.1.2. Revista Trabalho & Educação – 2001 Do ano 2001, destacamos os artigos de Veríssimo (2001) - que traz o título “Escolarização na empresa: contradições que possibilitam novos sentidos e significados”, e o texto de Invernizzi (2001), intitulado “Teoria da Competência categorias analíticas e ideologia na compreensão dos novos processos de trabalho”. No primeiro artigo, a autora apresenta sinteticamente algumas conclusões da sua dissertação de mestrado, a qual tem como objeto de 61 pesquisa a escolarização de trabalhadores na empresa. A autora problematiza as contradições vividas por trabalhadores que estudam na escola da empresa onde trabalham e afirma que essas contradições são superadas ao serem perpassadas por sentidos pessoais e significações sociais35. Nesse sentido, a autora analisa que os trabalhadores buscam a escolarização em função das exigências externas, mas encontram nesta atividade sentido pessoal ao relacioná-la a outras coisas da vida. Embora a escolarização tenha, inicialmente, a significação social relacionada à garantia do emprego, o resultado é bem maior, pois eles passam a se sentir mais prestigiados e recuperam a auto-estima. Eles encontram a relevância da educação para suas vidas no desenvolvimento da experiência de escolarização na empresa. A experiência de escolarização vivenciada na empresa prova que o trabalho é um espaço contraditório onde se movem seres humanos, também contraditórios. Esta compreensão da autora mostra que existem duas visões antagônicas acerca dos objetivos propostos para a formação desses trabalhadores na empresa: uma a partir da ótica da empresa; e outra a partir da ótica do trabalhador. A primeira visa aumentar a produtividade, a concorrência e a capacidade de competir no mercado, bem como ter um maior controle do trabalho e do processo produtivo, além de se melhorar as formas de interação entre trabalhadores e chefias, etc. A segunda busca possibilitar o desenvolvimento de potencialidades que capacitem os trabalhadores para a emancipação; visa a um maior domínio do trabalhador sobre o processo produtivo e outros conhecimentos que possibilitem, entre outras coisas, melhorar o relacionamento pessoal/familiar, ajudando os filhos nas tarefas escolares; busca também melhorar o relacionamento interpessoal e desenvolver a consciência coletiva. Acerca dos conteúdos, a autora revela que os trabalhadores descobrem a possibilidade de realização nos estudos não em função da manutenção do emprego, mas porque realizam o desejo de saber coisas 35 A autora utiliza essas duas categorias, com base nos estudos de Leontiev, para analisar seu objeto de pesquisa. 62 novas, o prazer na leitura e na escrita e, ainda, a possibilidade de se relacionar com os outros e consigo mesmo de novas formas. Embora os trabalhadores não possam optar entre estudar ou não estudar na escola da empresa, cuja atividade adquire a significação social de cumprimento de mais uma obrigação, os trabalhadores, num primeiro momento, se submetem a estudar por um motivo exterior. Entretanto, paulatinamente, os sentidos pessoais atribuídos à experiência de escolarização os capacitam para superarem as contradições e se apropriarem das ferramentas da educação, tais como: a leitura, a escrita, o conhecimento sistematizado e reconhecido pela sociedade capitalista fundamentais na luta por uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária (VERÌSSIMO, 2001, p. 108). Com relação aos métodos de ensino, a autora nos revela que a escolarização realizada na empresa por um lado promove a formalização dos saberes produzidos no trabalho, favorecendo ao maior domínio do capital sobre o processo de trabalho. Por outro lado, fomenta um novo momento de expressão da união do saber ao fazer, levando o capitalismo a vivenciar a mais “fantástica” de suas contradições, na medida em que encontra dificuldade em manter a divisão entre o pensar e o executar. Assim, a autora demonstra a sua perspectiva de formação dos trabalhadores: Ao se formarem para o mercado, sob as determinações das relações sociais de exclusão ou, de dentro destas relações, postas como realidade, os trabalhadores podem, a partir da experiência de escolarização na empresa, vir a vislumbrar e lutar por uma relação humana omnilateral no chão-de-fábrica, espaço de domínio do capital e, contraditoriamente, de afirmação do trabalhador (Idem, p.109). Embora seja necessário considerar que se trata de uma escolarização sob o domínio da empresa, é também verdade que esta não determina tudo, porque alguma coisa lhe escapa e este é o espaço, utilizado pelo trabalhador, de realização e recriação da vida. 63 Nesta pesquisa, evidencia-se ao mesmo tempo a contradição que a empresa enfrenta para se tornar competitiva internacionalmente e as contradições que os trabalhadores vivenciam frente à possibilidade de estudar. Entretanto, uma experiência potencialmente frustrante, torna-se emancipadora porque os trabalhadores se encontram mais preparados frente à luta pela transformação social. Dessa forma, a autora conclui que: O ato de estudar não é, para os trabalhadores, uma ação, apenas, ou seja, um processo cujo motivo não coincide com o seu fim, pois o fim da escolarização é possibilitar a apropriação do conhecimento acumulado e este fim imediato mantém uma relação determinada com o motivo da atividade que, mais do que se preparar para o mercado de trabalho, é garantir o crescimento pessoal (Ibid, p.110). No segundo artigo analisado, Invernizzi (2001) aborda duas questões problemáticas da Teoria da Competência: a primeira, pela permanente mescla entre os planos normativos e analíticos; e a segunda, pela pretendida neutralidade com que esse enfoque discute as mudanças recentes no trabalho. Para o autor, esta teoria reflete e, ao mesmo tempo, realimenta, quando se torna normativa, o crescente individualismo que caracteriza as relações capital-trabalho e intertrabalhadores na produção flexível. Os atributos comportamentais exigidos aos trabalhadores pelo processo produtivo, como o conceito de “saber ser”, colocado no centro da discussão, mostra a não neutralidade e a necessidade de explorar o que se esconde por trás das atitudes de envolvimento e cooperação exigidos à força de trabalho. Analisando tal teoria, Invernizzi (idem) apresenta os objetivos de uma formação que seja baseada por essa perspectiva, estando eles vinculados aos aspectos atitudinais, quais sejam o “saber” envolvendo as dimensões práticas, técnicas e científicas, adquiridos formalmente ou através da experiência profissional; o “saber fazer”, que implica a capacidade de transpor os conhecimentos para situações concretas, tomada de decisões, resolução de problemas, enfrentamento de situações novas; e o “saber ser”, que inclui traços de personalidade e caráter adequados aos comportamentos requeridos nas 64 relações sociais de trabalho, tais como envolvimento, responsabilidade, disponibilidade para a inovação e a mudança, assimilação de novos valores de qualidade, produtividade, competitividade, etc. Na visão do autor, essas atitudes têm finalidades diferenciadas, sendo que algumas se relacionam com as capacidades técnicas relacionadas ao processo produtivo, enquanto outras se vinculam apenas às forças e aos mecanismos de controle capitalista do trabalho. Dessa forma, atitudes como cooperação e envolvimento com as finalidades da empresa e os sentimentos de pertença também não se relacionam diretamente aos conhecimentos envolvidos no processo de trabalho, embora sejam um complemento importante dos mecanismos objetivos que asseguram a subordinação do trabalho ao capital. A Teoria da Competência, segundo Ivernizzi (ibidem), prega que nos novos arranjos produtivos, marcados pela imprevisibilidade, não bastariam ao operário. Mesmo possuindo conhecimentos e habilidades técnicas específicos, e até gerais e dinâmicos, seria imprescindível mobilizar também sua subjetividade. Assim, para o mesmo autor, enquanto os processos formativos em sentido amplo, que ocorrem, por exemplo, na família e também na escola ou àqueles especificamente voltados para o trabalho dentro e fora da empresa, envolvem, ao mesmo tempo, aspectos técnicos e comportamentais, outros mecanismos e práticas como o estímulo à concorrência intertrabalhadores, o fomento do individualismo em detrimento do coletivismo ou a coerção exercida por um mercado de trabalho adverso, tão importantes para moldar as novas atitudes, nada acrescentam ao conhecimento da produção pelos trabalhadores. A respeito dos métodos de ensino, conforme Invernizzi (id. ibidem) a Teoria da Competência privilegia a construção ou aquisição das competências, seja em seu aspecto técnico ou comportamental, de forma individualizada, pois esta teoria reflete uma tendência objetiva à individualização crescente nas relações capital e trabalho, produto de múltiplos fatores, mais especialmente do balanço de forças desfavoráveis ao trabalho que se verifica como decorrência da crise capitalista. 65 Ao assumir uma postura normativa, essa teoria legitima a individualização, justificando-a nas necessidades de concorrência, e a reforça, ao propor formas de obtenção e avaliação das competências individualizadas e individualizantes. Da mesma forma, o Modelo da Competência oportuniza e legitima práticas de gestão da força de trabalho sustentadas na incorporação individualizada, diferenciada e fragmentada do coletivo de trabalhadores. O autor conclui seu texto afirmando que a Teoria da Competência manifesta-se por um caráter fortemente ideológico, tanto da mescla entre os planos analítico e normativo, quanto da neutralidade com que pretende tratar processos permeados pela contradição capital-trabalho. Embora esta Teoria consiga captar mudanças importantes ocorridas nas duas últimas décadas no âmbito do trabalho, o faz de forma limitada, pois nunca ultrapassa a barreira ideológica dos interesses do setor empresarial no qual surgiu. 2.1.3. Revista Trabalho & Educação – 2002 Dentre os artigos do ano 2002, selecionamos dois textos: “Mediações na articulação trabalho-educação”, de Cunha (2002), tratando do tema articulação entre trabalho e educação, que, na visão do autor, tem sido desconsiderada pelos estudiosos da temática, sendo tratada de maneira “limitada”, “economicista”; e o artigo “Trabalho, formação profissional e políticas públicas: possibilidades de novas articulações?” de Raissa Pires, Maria Laeetitia Corrêa e Silvia Menezes (2002),. No primeiro artigo, Cunha (2002) defende a tese de que, mais do que linhas de transmissão entre as dimensões trabalho-educação, as mediações têm sua própria lógica (onde aquele não é determinante deste). Para sustentar a sua tese, o artigo discute os requisitos educacionais para as ocupações e os impulsos internos dos sistemas educacionais. Cunha (2002) considera que as mudanças ocorridas nos processos de educação profissional decorrem, sobretudo, de mudanças sobre a idéia de trabalho e não somente mudanças no trabalho. Essas influem diretamente nas transformações das políticas de educação profissional. 66 Tanto quanto – ou, talvez, mais ainda – do que as mudanças efetivas no trabalho, entendo que são as idéias sobre como ele é feito, por quem, que mudanças está sofrendo, em qual direção, que levam a tomada de decisões políticas em matéria de educação profissional, tanto pelo Estado quanto por entidades da sociedade civil. Se essas idéias forem assumidas por quem detém o poder, elas acabam se tornando uma profecia autocumprida (CUNHA, 2002, p.11). Ainda para o autor, existem controles monopolistas sobre setores muito importantes do mercado de trabalho. A regulamentação profissional que é feita “de cima”, isto é, dos conselhos profissionais, constituídos, justamente, pelos diplomados em nível superior, define o que os técnicos podem e não podem fazer. A elevação dos requisitos educacionais para os trabalhadores pode ser o resultado do controle monopolista do “mercado de trabalho”, e não apenas de exigências técnicas de produção. Os conselhos profissionais exercem um forte poder de delimitação dos indivíduos que podem exercer certas atividades, excluindo os demais, contando, inclusive, com o poder de fiscalização garantido pelo Estado, que se encarrega da punição dos transgressores (Ibid., p.15). Analisando os objetivos de ensino da formação profissional, Cunha (2002) exemplifica esses objetivos e conteúdos para o curso de eletrotécnico: este pode, legalmente, projetar e dirigir instalações elétricas com demanda de energia de até 800 kVA. Acima desse valor a responsabilidade do projeto deve ser de um engenheiro eletricista. Considerando o técnico em edificações: este pode dirigir construções até 80 m quadrados de área, que não constituam conjuntos residenciais, bem como realizar reformas que não impliquem em estruturas de concreto, armado ou metálico. Para o autor, mais do que um limite técnico, estabelecido com critérios técnicos, esse é um limite definido politicamente, como expressão dos engenheiros na manutenção e ampliação de suas oportunidades de trabalho – aliás, são os engenheiros que definem tal limite, pois deles é o poder do sistema por meio do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA e do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA. 67 O autor utiliza como exemplo uma dissertação de mestrado, orientada por ele, de Anita Handfas (2001), que procurou compreender a nova metodologia do ensino profissional adotada pelo Departamento Regional do SENAI no Rio de Janeiro, constatando o seguinte: A nova metodologia de ensino tinha, como um de seus pontos mais importantes, o abandono das Séries Metódicas Ocupacionais, que considerava ultrapassadas, pois somente seriam compatíveis com o “modelo fordista” de organização da produção. A restruturação produtiva em curso exigiria um trabalhador multiqualificado, polivalente, que deveria exercer, por causa da automação, funções mais abstratas, implicando cada vez menos trabalho manual e cada vez mais habilidades intelectuais. Projetadas para a fabricação de produtos mediante o parcelamento de tarefas, as Séries Metódicas seriam um arcaísmo que precisaria ser substituído por conteúdos curriculares mais gerais, na formação do aprendiz, bem como exigiria a modularização dos conteúdos específicos, centrados na noção de competência (Ibid., p.16). Entretanto, No estudo de campo, foi constatado que as Séries Metódicas continuavam a ser usadas nos cursos de aprendizagem, sem esse nome, e de uma forma meio clandestina. Foi o bom senso dos instrutores que deu a essa metodologia uma sobrevida. Eles defendiam que as Séries Metódicas propiciavam a incorporação simultânea e articulada das informações teóricas e práticas mediante as “folhas de instrução”, para o que não se dispunha de alternativa. Anita Handfas constatou, também, que a despeito de todo o discurso pedagógico sobre o novo tipo de trabalhador, o SENAI-RJ havia dividido o curso de aprendizagem de ferramentaria em dois: um com esse mesmo nome, e o de matrizaria, atribuindo a fragmentação à necessidade do processo de divisão do trabalho nas empresas, contrariando, em tudo, o princípio da polivalência (Ibid., p.17). O autor procurou mostrar com seus argumentos a existência de mediações sociais entre trabalho e educação, independentemente de determinações técnicas ou econômicas. Ou seja, mostrou que as idéias sobre trabalho são mais importantes que o próprio trabalho. 68 Dessa forma, focaliza as mediações que muitas vezes têm sua própria lógica. Mesmo que tenham recebido um impulso externo em algum momento do passado, as mediações podem gerar um impulso endógeno na articulação entre trabalho e educação. Para a compreensão dessas mediações, tem-se a Sociologia, Ciência Política e História contrapondo-se à Economia, disciplina acadêmica que tem favorecido a percepção equivocada de uma determinação unívoca e direta das mudanças. No segundo artigo de 2002 analisado, “Trabalho, formação profissional e políticas públicas: possibilidades de novas articulações?”, as autoras Raissa Pires, Maria Laeetitia Corrêa e Silvia Menezes (2002),tratam das políticas públicas para a educação profissional adotadas no Brasil que tentam adequar a instituição escolar ao mundo globalizado. Na visão das autoras, as reformas educacionais não guardam continuidade e nem atendem adequadamente às demandas da sociedade. De acordo com as autoras, as mudanças na formação profissional demandam transformações ocorridas no mundo do trabalho, sendo a educação profissional considerada fator estratégico de competitividade e de desenvolvimento. A partir desse ponto de vista, elas apresentam dois eixos de análise para a compreensão desse fenômeno. O primeiro referente às estratégias adotadas pelo sistema empresarial no sentido de redirecionar conhecimentos, habilidades e atitudes do coletivo dos trabalhadores diretamente vinculados às necessidades dos processos produtivos, tecnológicos e sociais que se reconstroem no cotidiano organizacional. O segundo relaciona-se com a educação no plano formal e institucional, na articulação básica entre trabalho e educação, elementos fundamentais da estruturação das relações sociais que fundamentam a sociedade contemporânea. Acerca de objetivos para a educação profissional observamos na afirmação das autoras o seguinte: No contexto de elevação do nível de exigência de qualificação da força de trabalho, a educação é vista: como o processo que tem condições de desenvolver as novas capacidades que o setor produtivo vem requerendo do trabalhador. A demanda do setor produtivo exige uma formação mais sofisticada e 69 complexa, que privilegie o desenvolvimento do raciocínio lógico do trabalhador, de sua capacidade de aprender, de sua iniciativa para resolver problemas. Assim o processo de reestruturação produtiva vem pressionando os sistemas de formação a se modificarem, em especial as do ensino profissionalizante (p. 51). Assim, o novo modelo de gestão empresarial influenciaria diretamente a organização dos sistemas de formação para que estes tivessem como prioridade alcançar o maior engajamento dos trabalhadores com os objetivos empresariais e com o aumento de sua qualificação e capacitação. Outro ponto importante é a necessidade que se atribui ao envolvimento do trabalhador, inclusive, no que diz respeito à mobilização de sua subjetividade: é a integralidade do sujeito que se torna necessário mobilizar, ao contrário do modelo de gestão anterior (taylorista-fordista), que demandava a mobilização e utilização de gestos, conhecimentos e habilidades parciais. Espera-se desse trabalhador: ser cada vez mais comprometido, polivalente, envolvido, participante, multifuncional, capaz de desenvolver pensamento teórico e abstrato, flexível, criativo, analítico, cooperativo, para atender as novas necessidades do mercado e, principalmente, estar preparado para mudanças em sua carreira, sempre sujeito à incerteza e à precarização. A política atual de educação técnica profissional tem como objetivos: formar técnicos de nível médio e tecnólogos de nível superior para os diferentes setores da economia; especializar e aperfeiçoar conhecimentos tecnológicos; qualificar, requalificar e treinar jovens e adultos com qualquer nível de escolaridade. Referente aos conteúdos de ensino, as autoras revelam que tem sido permanente, no quadro de instabilidade das políticas educacionais no Brasil, a falta de clareza e de discussões teóricas sobre os conteúdos e o tipo de concepção formativa para orientar o ensino técnico. Enquanto o parâmetro que orienta o ensino de formação geral é o preparo para a cidadania, o ensino profissional tem como referência o mercado de trabalho. Por outro lado, o mercado de trabalho, pela sua mobilidade de objetivos, não parece ser o paradigma mais adequado para orientar a formação oferecida pela escola, cujas preocupações, consideram as autoras, ultrapassam as demandas mais imediatas e pontuais do mercado de trabalho. 70 As autoras, finalmente avaliam que os métodos de ensino se pautam em modelos pedagógicos que, por sua vez, se constituem a partir das mudanças no mundo do trabalho. Então a formação profissional vem sendo realizada fundada no atendimento à lógica mercantil e não como uma articulação social e estratégia capaz de promover a satisfação das expectativas de direitos individuais e coletivos de acesso à cultura, à ciência e a tecnologia. 2.1.4. Revista Trabalho & Educação – 2003 Do ano 2003, selecionamos os trabalhos “Certificação de competências: um olhar sobre a experiência de alguns países” (FIDALGO, 2003), “Relação entre conhecimento escolar e o conhecimento produzido no trabalho: dilemas na educação do trabalhador” (ARANHA, 2003) e “A reforma do ensino médio profissional sob um olhar de um agente formador – Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-SP” (SILVA, 2003). O artigo de Fidalgo (2003) trata do Sistema de Certificação de Competências – SCC, mais especificamente do processo de (re)institucionalização da formação dos trabalhadores a partir da construção do sistema de certificação de competências na França, Canadá, Reino Unido, México e Chile. Os países selecionados teriam (re) institucionalizado a formação dos trabalhadores a partir da construção do Sistema de Certificação de Competências, com o objetivo de adequarem a formação dos trabalhadores às necessidades do setor produtivo. A institucionalidade de uma “nova” educação profissional, tendo como elemento norteador a noção de competência, reflete nos países selecionados às mudanças na base da educação profissional. No processo de (re) institucionalização da formação profissional os objetivos de ensino se refeririam a transferência de habilidades e conhecimentos às novas situações de trabalho, articulando o mundo do trabalho e a formação escolar e ainda ao exercício concreto de uma atividade profissional, mobilizando seus conhecimentos, seu saber-fazer e suas qualidades pessoais. Como conteúdos de ensino destacam-se a capacidade de leitura e escrita, bem como a de como lidar com tecnologia. Espera-se do indivíduo uma 71 atitude necessária ao desempenho de uma função produtiva em diferentes contextos e com base nos requerimentos de qualidade esperados pelo setor produtivo; e ainda, que desenvolva um conjunto de comportamentos sócioafetivos e habilidades cognitivas, sensoriais e motoras que permitam o desempenho de papéis, funções, atividades ou tarefas. Os métodos de ensino seguiriam uma estrutura modular e normas de competência por ramo de atividade, com uma organização curricular que favorecesse a integração escola-empresa. A avaliação se consubstanciaria na verificação de conhecimentos e habilidades, independente da forma como foram adquiridos. Esse novo quadro da institucionalidade da educação profissional, que tem como referência a noção de competência, apresenta uma diversificação dos programas de orientação profissional, que passam a ser balizados com vistas ao atendimento das demandas do setor produtivo. Há uma valorização da certificação e da competência dos trabalhadores, e os conceitos utilizados e as próprias definições adotadas constituem evidências de que o capital tem buscado uma força de trabalho com características bem diferenciadas do trabalhador fordista, procurando desenvolver entre esses sujeitos qualidades “economicamente úteis”. O que está em jogo na construção dos sistemas de certificação é a consonância entre a formação inicial (que pode ser entendida como escolarização), formação continuada e as demandas do setor produtivo. Para o autor, embora esse sistema tenha características semelhantes, torna-se necessário ler as entrelinhas das proposições dos diferentes interlocutores, a fim de se compreender os reais interesses e identificar seus reais condicionantes, tendo-se em vista a antagônica relação entre capital e trabalho. Já no texto de Aranha (2003), a autora problematiza a relação entre conhecimento produzido no trabalho e o conhecimento escolar em experiência de escolarização no programa de formação profissional do PROFAE. Dessa forma, a autora se propõe a desvelar como o conhecimento tácito é produzido pelo trabalhador, como é constituído, construído e adquirido pelos mesmos e de que forma se relacionam com os conhecimentos escolares, sendo ele parte integrante e importante da qualificação do trabalhador 72 Os objetivos de ensino do Programa são formulados para: contribuir com o trabalhador no processo de trabalho; utilizar experiências e conhecimentos prévios, adquiridos no mundo do trabalho, para que as novas aprendizagens adquiridas no curso superior ganhem sentido e significado para os trabalhadores/educandos; desenvolver a auto-estima dos alunos, a sua sensibilidade ética e estética; desenvolver a capacidade de comunicação (oralidade); proporcionar o saber lidar com o corpo, por meio de oficinas, projetos e atividades cotidianas. O processo de trabalho como unidades temáticas, tais como saúde e cidadania, globalização e novas tecnologias, racismo e discriminação, etc., define os conteúdos que devem ser trabalhados nesse Programa. Quanto aos métodos de ensino e avaliação, são realizados por meio de execução de oficinas, projetos e atividades cotidianas, havendo um processo de interação com o conhecimento e a própria formação. A avaliação é qualitativa e processual. O trabalho é fonte de aquisição de conhecimento, de formação de valores e condutas, nem sempre reforçando a autonomia do trabalhador, mas influenciando decisivamente na sua constituição enquanto cidadão e sujeito histórico-sócio-cultural. O conhecimento advindo do trabalho, portanto, é eivado de contradições e deve ser compreendido no contexto histórico mais amplo onde foi gerado: Trata-se de, no ato de seu reconhecimento, problematizálo, estabelecer um diálogo entre os dois conhecimentos e, nesse processo, permitir ao educando e educadores até mesmo a construção de novos conhecimentos, inclusive um conhecimento que possa contribuir para a superação dos aspectos deformadores do trabalho (Ibid.). O terceiro trabalho analisado desenvolvido por Silva (2003) aborda a questão da reforma do ensino médio e profissional instituída pelo Decreto 2.208/97. O autor busca entender os desdobramentos e repercussões da nova política pedagógica imposta pela reforma ao CEFET-SP e a atitude dos atores envolvidos no processo diante dessa imposição. 73 Para o autor, a reação dos atores à implantação da reforma foi consubstanciada numa rejeição aos seus pressupostos teórico-metodológicos, e em uma crítica aos primeiros resultados de sua implantação. No artigo, podemos evidenciar duas posições acerca dos objetivos para a formação profissional: uma que o autor aponta como aquela contida nos documentos da reforma, que busca propiciar a formação do trabalhador com foco no desenvolvimento de novas competências, tornando-o empregável. E outra que o próprio autor defende: a de uma formação profissional (e não meramente técnica), que requer uma ação sincronizada e conjugada com os demais elementos que compõem as várias áreas do conhecimento. Para os conteúdos de ensino, o autor aponta como conhecimentos privilegiados no teor da reforma os valores e competências construídos de forma “articulada”, cujo conhecimento é construído, ao mesmo tempo, por partes autônomas e fragmentadas, unidas por junções de elementos independentes. Já na visão do autor, os conhecimentos que devem ser determinantes na formação profissional são a ética, a moral, a cidadania, etc., para estabelecer um entrelaçamento com a ecologia, a mecânica, as ciências da terra e outras, numa ação educacional que articule concretamente teoria e prática. O conhecimento e a formação do ser social pelo processo educacional têm que ser construídos a partir de uma práxis social, segundo uma relação dialética entre as categorias construídas. Com relação aos métodos de ensino, percebemos a crítica feita pelo autor à metodologia de ensino atribuída pela reforma ao ensino profissional. Nesta, o importante é o acúmulo de conhecimento e de informação, por meio de uma formação fragmentada, realizada em cursos modulares. Esses cursos são baseados na matriz curricular, instrumento que tem como finalidade definir as competências técnicas que constarão de um currículo definidas pelas demandas do setor produtivo. A estrutura da matriz curricular é, “per si”, um agente que induz mais acentuadamente a fragmentação do técnico, porque ela é concebida em dois níveis, o técnico por função e o técnico por atividade. A função é aqui entendida como fases de um sistema que executará uma tarefa ou um processo de trabalho mais amplo. 74 Essa função envolve planejamento, execução e manutenção de tarefas As atividades seriam os vários estágios necessários para executar cada fase. Silva (2003) conclui afirmando que as leis complementares que determinam as práticas de ensino vão de encontro com os objetivos da reforma, causando a desintegração do ensino profissional (formação geral x formação profissional). A organização curricular em módulos inviabiliza a contextualidade e a interdisciplinaridade contidas nas propostas da reforma. O contexto (a base) da reforma é de perspectiva neoliberal (visam ao descomprometimento do Estado com a educação e o “desmantelamento” das instituições públicas, transformando-as em organizações sociais) e o CEFET-SP, considerado uma escola de excelência, teria revelado práticas pedagógicas singulares e uma visão abrangente em relação às conseqüências da reforma, levando os sujeitos a rejeitar as privatizações, o enfraquecimento do ensino público e o desmonte das instituições públicas. 2.1.5. Revista Trabalho & Educação – 2004 Do ano 2004, selecionamos os seguintes artigos: “Práticas pedagógicas e qualificação profissional” (VIEGAS, 2004); “Educação e escola no processo de reestruturação capitalista” (SANTOS, O., 2004) e “Formação para o trabalho na sociedade emergente” (SANTOS,G., 2004). O texto de Viegas (2004) decorre de uma pesquisa sobre os processos de qualificação dos trabalhadores desenvolvidos nas práticas de ampliação da escolaridade em dez empresas do estado do Rio Grande do Sul. O autor problematiza a existência de mudanças significativas ocorridas nas concepções e práticas sobre a qualificação dos trabalhadores, decorrentes dos processos de produção para uma economia baseada na informação. Conclui que o conjunto de práticas pedagógicas implementadas pelas empresas objetiva criar um compromisso maior da força de trabalho com o processo de produção. Dessa forma, os objetivos para a educação profissional buscam formar o trabalhador para o saber-fazer no local de trabalho. Objetiva-se criar um maior entendimento, por parte dos trabalhadores, do processo de produção que realizam, a fim de formar a força de trabalho para um maior e permanente 75 comprometimento de suas capacidades intelectuais com a produção, gerando uma maior identificação com os objetivos da empresa. Os conteúdos estão relacionados à assimilação das idéias, valores e emoções da empresa; maior participação dos trabalhadores na vida da empresa. E os métodos de ensino e avaliação aparecem nas práticas de ampliação da escolaridade, dando ênfase ao trabalho em equipe, no aproveitamento do conhecimento técnico que os trabalhadores possuem e na avaliação da iniciativa dos trabalhadores. De acordo com o autor, as práticas pedagógicas formam a força de trabalho para um maior e permanente comprometimento de suas capacidades intelectuais com a produção. Elas cumprem a função de “liberar energias” dos trabalhadores para maior fluidez da informação no processo de trabalho. A ampliação da escolaridade é colocada como necessária ao processo produtivo – maior qualificação implica realização de trabalhos mais complexos e mais intensos e, com isso, o aumento da exploração da força de trabalho. No segundo texto analisado, Santos (2004) aborda em seu artigo os processos educativos e escolares no processo de reestruturação produtiva. A educação e a escola constituiriam, para o autor, uma das principais condições gerais de produção e reprodução da força de trabalho. Assim, a formação do trabalhador não só é funcional, desde o início, ao sistema capitalista de produção como também é encarada como qualquer bem ou serviço. Ao se reestruturar, o capitalismo foi obrigado a adotar novas formas de gestão empresarial, fundamentando-as no aproveitamento da competência organizativa dos trabalhadores, mas, sobretudo, na inteligência, iniciativa e capacidade de eles raciocinarem no processo de trabalho. Dessa forma, mudase a problemática da produção, da distribuição do conhecimento e alteram-se os papéis atribuídos à educação e à escola para se adequarem às exigências do mercado de trabalho. A formação profissional, nesse contexto, objetiva uma formação geral que sirva de base para as atividades específicas; a capacidade de exercer várias funções diferentes (polivalência); de o indivíduo possuir condições psíquicas para suportar as novas formas de controle. Para isso são exigidos do trabalhador novos tipos de virtudes e disposições, a fim de criar 76 novos tipos de relacionamento interpessoal com o intuito de aumentar as iniciativas individuais e as motivações para o trabalho. Para os conteúdos dessa formação são requeridas competências e habilidades, disposições e virtudes direcionadas à inserção no mercado de trabalho. Execução de raciocínios e gestos necessários à produção e conhecimento de novas tecnologias também fazem parte destes. Os métodos são evidenciados nas práticas educativas que têm como referência o critério de produtividade capitalista. São adotados os mesmos instrumentos de trabalho e métodos organizacionais: eficiência, competência ou produtividade. A avaliação é externa, sendo importante o controle dos resultados, e não dos procedimentos (avaliação consistente e adequada à lógica do capitalismo). A avaliação é realizada por meio da fixação de conteúdos mínimos e testes padronizados, aplicados de forma sistemática. Atualmente, o princípio que decorre da reestruturação produtiva, no que diz respeito aos processos educativos, é o do período da educação transnacional com possibilidades de estabelecimento de padrões de qualidade internacionais. Assim como o desenvolvimento do capitalismo provoca processos de internacionalização, gera também processos antagônicos, em que os movimentos sociais da classe trabalhadora encontram-se fragmentados e confinados às fronteiras nacionais diferentemente do que ocorre com as mercadorias e os capitais, que têm garantido a sua livre circulação, afirma Santos (2004). Por último, o artigo de Gilberto Lacerda Santos (2004) aborda a questão da relação entre acesso a conhecimento científico e tecnológico e formação para o trabalho, tendo em vista o contexto social que emerge no início do século XXI. O autor afirma que os conceitos de alfabetização científica e tecnológica (ACT) e ciência-tecnologia-trabalho (CTT), vistos sob uma perspectiva de formação escolar, podem potencializar o indivíduo e assegurarlhe poder de participação na sociedade, por meio do exercício do trabalho. Os objetivos para o ensino profissional deveriam ser expostos para assegurar que decisões de natureza tecnológica e científica, as quais têm repercussões sociais importantes, possam ser controladas democraticamente; para conduzir cada cidadão a inteirar-se da cultura científica e tecnológica 77 produzida pela humanidade, a compreender sua dimensão histórica, epistemológica, estética, ética e cultural, bem como os impactos sobre o exercício de atividades profissionais; e para compreender o seu papel no contexto das decisões a serem tomadas acerca dos rumos da ciência e da tecnologia. Os conteúdos a serem priorizados deveriam ser os conhecimentos necessários para o exercício da cidadania por meio do trabalho. O autor aponta para um distanciamento cada vez maior entre a execução de tarefas de natureza técnicas e a compreensão de sua fundamentação científica. Assim, propõe que os sistemas escolares de todo o mundo, e especialmente nos países em desenvolvimento, tanto de formação geral quanto de formação profissional, precisam concretizar estratégias de ensino que contribuam efetivamente para o acesso à alfabetização científica e tecnológica. Enquanto motor da alfabetização científica e tecnológica, o movimento CTT tem como principal característica o estudo sobre ciência e tecnologia, o que deve estar intimamente relacionado ao COMO, ao AONDE, ao QUANDO, ao POR QUÊ e ao PARA QUÊ do empreendimento científico e tecnológico. Tal concepção holística opõe-se ao descomprometimento do indivíduo com valores e atitudes que não protegem o ser humano do uso irrefletido da ciência e da tecnologia. Seria justamente esse desafio que a sociedade tecnológica nos estaria propondo: aprender como fazer distinções entre o conhecimento de que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho daquele que não precisamos, especialmente daquele que não podemos controlar. 2.1.6. Revista Trabalho & Educação – 2005 Entre os artigos publicados em 2005, destacamos para este estudo o de Abreu e Gonzales (2005), o qual trata da prática docente no ensino técnico; o de Custódio e Fonseca (2005), tratando sobre Ergonomia e práticas educacionais; o texto de Castilho e Aranha (2005), abordando a educação de jovens e adultos trabalhadores; e o artigo de Ribeiro (2005) fazendo uma avaliação classista de parte da produção bibliográfica do GT 09 da ANPEd sobre a temática Trabalho e Educação. 78 O artigo de Abreu e Gonzáles (2005) aborda a prática pedagógica dos professores do ensino técnico, sob a influência do modelo por competências, problematizando a dificuldade encontrada para a implementação do modelo curricular por competência na prática pedagógica dos professores do SENAI. As autoras defendem a idéia de que os professores ainda não se encontram em condições de desenvolver uma prática docente voltada para uma gestão por competências. Os objetivos de ensino da formação, sob a lógica do modelo por competências, referem-se a: ser um trabalhador polivalente, eficiente e eficaz; ter sintonia com as propostas de melhorias de qualidade de produção. Além do saber-fazer, que seja também capaz de decidir, de atuar em equipe, de exercer sua autonomia. Outros objetivos são evidenciados pela ótica dos docentes, tais como, mobilizar o raciocínio para enfrentar os problemas do cotidiano no trabalho; formar um profissional de senso-crítico, que, segundo as autoras, vai de encontro com a concepção do Parecer nº 16/9936; e criar competências comunicativas e de relações interpessoais. Os conteúdos de ensino, observados pelas autoras na fala dos entrevistados, são os seguintes: qualidade total; eficiência da produção; conhecimentos técnicos; conhecimentos sobre resolução de situaçõesproblema; composição dos perfis profissionais elaborados por segmentos do mundo produtivo e da área educacional; competências profissionais específicas. Os métodos observados na fala dos entrevistados requereriam a articulação teoria/ prática (para tornar concreto o assunto); interação de saberes originários da prática cotidiana com os saberes técnicos; atividades que façam o aluno experimentar situações profissionais (práticas sociais); aulas expositivas mediadas, trabalhos individuais e em grupos, prática em laboratório; avaliação tradicional (provas escritas e práticas). A partir da noção de competências, delineia-se o planejamento sistemático das atividades pedagógicas pelos docentes, em termos de atividades, desafios ou projetos para o exercício das competências pretendidas; avaliação formativa através de simulação de situações reais de 36 Parecer que institui as Diretrizes Curriculares para a Educação Profissional de Nível Técnico. 79 trabalho, observação, entrevista, grupo focal, provas escritas e práticas de portfólio. As autoras concluem que, apesar de quase dez anos de vigência da lei que instituiu a reforma do ensino e adotou o currículo por competência, esse modelo ainda é novidade para parte dos docentes e desconhecida para outros. No contexto dessas reformas político-educacionais, afirma-se que houve resistência políticas e ideológicas por parte dos docentes, principalmente com a aprovação do Decreto nº 2.208/97 que impôs uma filosofia neoliberal e autoritária às instituições de educação profissional, adotando orientações estabelecidas pelo Banco Mundial. As respostas dos professores sobre a concepção do ensino por competências, detectadas nas entrevistas, convergem para uma dimensão econômica pautada num mercado de trabalho que foca na produtividade e na competitividade empresarial. Assim, os docentes se encontram numa busca de entendimento e construção metodológica das situações-problema e dos projetos de trabalho. O segundo artigo examinado de Custódio e Fonseca (2005) trata dos processos de capacitação/ formação profissional na empresa, problematizando a capacitação de trabalhadores capazes de atender às novas exigências do mercado e capazes de acompanhar o crescente avanço científico-tecnológico. Na ótica dos autores do artigo, o pensamento educacional de Paulo Freire e os conceitos da Ergonomia, numa relação interdisciplinar, podem contribuir para melhorar os processos de capacitação/formação dos trabalhadores, no sentido de oferecer uma educação com mais qualidade e mais humanização nas empresas e, como conseqüência, gerar um aumento na produtividade. Quanto aos objetivos, nota-se que formar um trabalhador para atender as exigências do mercado; acompanhar o crescente avanço científicotecnológico; ter o domínio da atividade de trabalho; compreender a aquisição de competências (saber-fazer; saber-prático e saber-ser); tornar o trabalho o mais próximo do ideal se configuram como nortes para a educação profissional. 80 Nestes termos, os conteúdos se desdobram em mecanismos utilizados para efetuar a tarefa; descrever habilidades, regras e conhecimentos necessários de um posto de trabalho. Já os métodos se desenvolvem pela transmissão e assimilação de conhecimento. O professor é o mediador entre as necessidades que o mercado solicita e o desenvolvimento da autonomia dos educandos; para isso, deve adequar a aprendizagem ao contexto. De acordo com o artigo, no contexto atual, em que a gestão de pessoas consiste na verificação de resultados, faz-se necessário aliar estudos ergonômicos a modelos educacionais para se descobrir que tipo de aprendizagem é melhor para que os trabalhadores dominem sua tarefa, compreendam o mecanismo da produção ao qual se submetem e possam assim desenvolver uma relação que favoreça o desenvolvimento de suas competências. Já o texto de Castilho e Aranha (2005) decorre de uma análise da avaliação formativa na EJA - Educação de Jovens e Adultos trabalhadores, tendo como campo de pesquisa um projeto de EJA de uma escola pública de Belo Horizonte. As autoras problematizam o mundo de trabalho como espaço de formação privilegiado dos alunos da EJA. Para os autores, a articulação entre EJA, trabalho e avaliação deveria considerar os saberes dos alunos que são adquiridos/ produzidos no trabalho, pois torna possível a valorização da subjetividade do trabalhador. Os objetivos de ensino devem abranger uma leitura crítica do mundo e de si mesmo, devendo o indivíduo ser inserido em diversos espaços de uma maneira mais atuante, a fim de se possa efetivamente contribuir para a formação dos trabalhadores enquanto sujeitos sócio-culturais-políticas. Os saberes dos alunos que não são adquiridos/produzidos no trabalho e os conhecimentos trazidos do espaço formativo trabalho devem ser admitidos para a composição de seus conteúdos. E nesse sentido, propõe uma avaliação formativa, com maior participação dos alunos nos processos avaliativos. Para as autoras, a avaliação identificada neste estudo está caminhando para um modelo qualitativo, o que representa a atual tendência educacional, que busca um olhar mais amplo voltado aos alunos. Os desafios 81 encontrados são muitos, principalmente no que se refere à concepção de avaliação e às práticas formais de avaliação, que precisam de instrumentos mais dinâmicos e que contemplem os saberes não formais. O terceiro trabalho examinado, de Marlene Ribeiro (2005), traz a discussão sobre o tema “Trabalho-Educação numa perspectiva de classe: apontamentos à educação dos trabalhadores”. O texto apresenta a produção de conhecimento em Trabalho-Educação no período de 1994-2004, do Grupo de Trabalho e Educação da ANPED. São criticados pela autora os objetivos de ensino que buscam educar para a subordinação e manutenção do status quo; formar um trabalhador para uma profissão determinada pelo mercado; preparar os indivíduos formando-os para as competências necessárias à condição de desempregados, deficiente, mãe solteira, etc. No entanto, ela propõe que se busque uma formação omnilateral: formação geral e tecnológica condizente com as descobertas científicas e tecnológicas atuais. A autora também critica os métodos de ensino, quando estes reduzem a capacidade de aprendizagem a um desenvolvimento intelectual descontextualizado dos elementos econômicos, políticos, sociais e culturais que constituem o mundo concreto em que se efetua a escolarização, o que redunda numa compreensão abstrata e despolitizada da educação. Avaliando o Sistema Nacional de Certificação de Profissional, defende que este reafirma a fragmentação da formação do trabalhador, afastando-se de uma perspectiva de educação omnilateral, que considere os saberes tácitos, mas que apenas parta deles para oferecer uma formação geral e tecnológica condizente com as descobertas científicas e tecnológicas atuais. Ribeiro (2005) propõe que a certificação poderia ser uma conquista se pudesse garantir, além do reconhecimento da experiência profissional, a oportunidade de continuidade dos estudos de modo a incorporar o conhecimento científico e tecnológico necessários à qualificação daquela experiência; articulação entre as dimensões formativas, científicas, tecnológicas e críticas. Se o trabalho é princípio educativo da formação humana e numa relação contraditória, de formação da classe que 82 vive do seu trabalho, é nos movimentos sociais e organizações populares de luta pelo trabalho como criador de bens, de cultura e de linguagens, e pela terra de vida e de trabalho, que se desenha o “novo” na relação Trabalho-Educação. Nessa luta por novas formas de organização da produção e das relações sociais se forjam, naqueles movimentos e organizações, com todas as contradições peculiares à luta de classes, novas práticas e concepções pedagógicas (RIBEIRO, 2005, p. 120). Para a autora há mais questões a responder e desafios a enfrentar do que respostas que nos indiquem que direção tomar. A autora se questiona, entretanto, o fato de a escola não se deixar penetrar pela relação TrabalhoEducação nem pelas alternativas produzidas pelos movimentos sociais e organizações populares, porque, enquanto intelectuais orgânicos de classe, não nos aproximamos desses movimentos e organizações para tentar compartilhar nossos saberes e conhecimento. 2.1.7. Revista Trabalho & Educação – 2006 Dentre os artigos publicados na Revista Trabalho & Educação em 2006, selecionamos como relevantes para o nosso estudo os artigos “O trabalho humano na sociedade da informação: desfazendo alguns equívocos”, de Rosângela Leal, e “Educação e Trabalho nas Políticas de Educação profissional: um estudo das ONGs, no Rio de Janeiro”, de Beatriz Pinheiro e Neide Deluiz. O artigo de Rosângela Leal trata da questão do trabalho humano nos sistemas produtivos automatizados e informatizados. A autora questiona o fim do trabalho humano frente à nova base tecnológica da produção e afirma que, nos sistemas produtivos e automatizados, apesar da implantação das novas tecnologias, ainda é o saber do trabalhador que dinamiza a produção. Os objetivos de formação para o ensino profissional na atual sociedade evidenciados pela autora desdobram-se em conduzir o comportamento das pessoas na direção que interessa à empresa, ou seja, a adequação de novos atributos qualificacionais exigidos pelas empresas na formação; exigência de novas competências dos trabalhadores não somente 83 de um saber técnico, mas agora de um saber relacional entendido como a capacidade de participar, de trabalhar em grupo, de flexibilidade, etc., e o ajustamento do homem aos sistemas produtivos. Os conteúdos são apontados pela autora e referenciados por Lima (1998), que afirma: os conteúdos parecem ser definidos a partir dos modelos cognitivos e comunicacionais impostos pela informática. Apresentam-se, na direção de gestão dos sistemas complexos, valores mercantis e idéia de globalização. Na aprendizagem também são contemplados: saber dividir o tempo global de trabalho entre tempo de ação e tempo de reflexão sobre a ação. Como contribuição, é proposto pela autora que a aprendizagem deva ser resultado do contexto e da cultura especifica do trabalhador. Os métodos devem ter como referência os processos cognitivos dos trabalhadores: a motivação, relações intersubjetivas, traços de personalidade para assimilação de novos valores e objetivos da empresa. As transformações nos sistemas produtivos trouxeram mudanças na forma de organizar e gerenciar o trabalho e a produção, o que não significa a extinção do trabalho humano, mas mudanças no modo de trabalhar e produzir. Embora sejam significativos os avanços científicos e tecnológicos e as tentativas dos empresários em reduzir ao máximo a intervenção humana direta, no que se refere à dependência diante do trabalho vivo, observa-se que, à medida que se tenta transferir parte do saber dos trabalhadores para os sistemas técnicos e codificá-lo em regras operatórias, a automatização absoluta é impossível. A autora propõe como contribuição que os sistemas técnicos deveriam ser entendidos como instrumentos de apoio à decisão do trabalhador diante das dificuldades práticas encontradas na realização de sua atividade em sistemas automatizados/informatizados. Já no texto de Pinheiro e Deluiz (2006), as autoras analisam as relações entre educação e mercado de trabalho dentro da atuação das ONGs nas políticas de educação profissional. Abordam as reformas realizadas no campo da educação e da educação profissional, que fazem do mercado o centro definidor de suas políticas, do investimento em educação, bem como o critério para estabelecer os modelos pedagógicos e curriculares. 84 Dessa forma, as autoras afirmam que os programas sociais de cunho neoliberal são implementados como estratégias para formar mão-deobra com características necessárias ao atendimento das novas exigências do sistema produtivo. Os objetivos de ensino se direcionam a: dinamizar o mercado de trabalho; formar indivíduos passivos, que aceitem a realidade desse mercado; formar mão-de-obra com características necessárias ao entendimento das novas tecnologias; qualificar o trabalhador para uma atuação competitiva na esfera econômica. Os conteúdos têm como referencial o mercado de trabalho (formal ou informal); capacidade técnica; a atividade produtiva; capacidades e vantagens competitivas adquiridas individualmente. Para as autoras, os conteúdos de dimensão política são submetidos à esfera do mercado, o que acarreta uma redução do conceito de cidadania. Quanto aos métodos, as autoras avaliam que estes refletem-se no ensino e treinamento e nas propostas de auto-gestão, sem deixar, porém, de discutir a necessidade de articulação entre sistema de ensino formal e o sistema produtivo. Em termos gerais, com a pesquisa, as autoras constataram que: As ONGs não são chamadas a participar de modo efetivo da formulação de políticas de educação profissional, nem há discussão ou controle público sobre as ações e serviços prestados por estas organizações, que atuam apenas no sentido de executar os serviços educacionais demandados pela SETRAB-RJ, sem contribuir para ampliar as discussões e a reflexão sobre os destinos e finalidades das políticas de educação profissional. Na medida em que formam indivíduos que aceitam a realidade do mercado de trabalho como imutável, as ONGs contribuem também para difundir uma ideologia de passividade, uma vez que as dificuldades de inserção no mercado são vividas como fracasso pessoal, resultante da incapacidade dos indivíduos de negociarem as competências adquiridas nos processos educativos. Não há compromisso com a formação de cidadãos conscientes de seu direito à renda, ao trabalho e ao emprego, que são capazes de lutar pela transformação das relações que produzem a exclusão (PINHEIRO; DELUIZ, 2006, p.55). 85 Dessa forma, ainda é o mercado de trabalho o foco da atuação das ações de educação profissional implementadas pelas ONGs com a finalidade central é na empregabilidade. Ao atuarem como parceiras do Estado na autoresponsabilização dos setores mais carentes pelo desenvolvimento de respostas aos problemas de geração e trabalho e renda, acabam por legitimar a própria desresponsabildade do estado neoliberal na intervenção social (Ibid., p. 56). 2.1.8. Considerações sobre a produção da Revista Trabalho & Educação A produção bibliográfica que trata de práticas formativas em educação profissional, veiculada na revista Trabalho & Educação, apresenta como características gerais o tratamento da educação profissional como objeto social em disputa, fundamentalmente no cenário contemporâneo pós-fordista. Seus artigos são formulados a partir das pesquisas que se fazem nessa linha. Neles, podemos distinguir os dois projetos principais em disputa a partir da qual se constroem referências e se analisam experiências: um que foca o trabalhador, orientando-se pela idéia da formação ampla e duradoura para o trabalho, confrontando-se com as relações sociais capitalistas produtoras da alienação, e outro, que foca o mercado de trabalho, orientandose pela idéia de formação adequada às demandas específicas e imediatas das empresas, adequando-se às relações sociais existentes. No conjunto das produções, há mais indicações sobre as finalidades e os conteúdos de ensino do que sobre os métodos de ensino. Do mesmo modo, há mais indicações sobre como se faz ou se quer fazer a “Pedagogia do Capital” do que sobre como construir a “Pedagogia do Trabalho”. Os objetivos de ensino apresentados nas produções da Revista Trabalho e Educação apontam para a preponderância de uma formação que visa a preparar os indivíduos para adequação de novos atributos de qualificação exigidos pelo modo de produção vigente, o que significa conduzir o comportamento dos trabalhadores em formação, na direção que interessa à empresa. 86 Nesta, seriam exigidas dos trabalhadores novas competências, para as quais seriam formulados objetivos de ensino para a formação profissional visando, não apenas a construção de conhecimentos técnicos, mas o desenvolvimento de um saber relacional. Nesse sentido, também seria valorizado o saber tácito do trabalhador, que, segundo Leal (2006), é a capacidade de apreensão e identificação que o trabalhador adquiriu pela vivência, dos estados de normalidade ou anormalidade do processo de produção podendo intervir neste, de forma autônoma com vistas à resolução de problemas. Os objetivos da educação profissional estariam assim hegemonizados pela lógica do mercado, porque esta lógica seria o centro definidor de sua formalização, o fim utilizado como critério para a definição de projetos, de práticas pedagógicas e curriculares do ensino profissional, seja no local da formação no trabalho na própria empresa, nas escolas técnicas ou nas ONGs. Nessas formulações, está presente aparece como objetivo de preparação profissional a noção de empregabilidade que atribui ao indivíduo a responsabilidade de sua inserção no mercado de trabalho; justamente a empregabilidade amplamente criticada por autores vinculados à Pedagogia do Trabalho (que são a maioria), por postular que maior escolaridade e maior capacitação corresponderiam, no plano individual, a melhores oportunidades para a competição individual no mercado. Dessa forma, a educação teria a finalidade principal de aumentar as chances do indivíduo em ter um trabalho remunerado ou de se manter nesse processo de constante mutação. Novamente demonstra-se que a formação está vinculada aos parâmetros indicados pelo mundo empresarial, como afirmam Maués e Lima (2005). Esses parâmetros estão afinados com as preocupações de formar pessoas capazes de seguir a flexibilização do mercado, que sejam polivalentes e que tenham a sua subjetividade trabalhada para incorporar essa nova fase do capitalismo como algo normal e inevitável. Os conteúdos da formação profissional delineiam a aprendizagem que valorizam o processo de aquisição das chamadas competências e habilidades. Essas capacidades são, no contexto da reestruturação capitalista, 87 disposições e virtudes direcionadas à inserção do trabalhador no mercado de trabalho. Assim, a atribuição dada à formação dos trabalhadores é entendida sob o aspecto da capacidade técnica para o desempenho de uma atividade produtiva, sendo questionada se estes são os conhecimentos de que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho. No capitalismo, mudaram-se as formas de acumulação da riqueza e, por conseguinte, as formas de organização do trabalho. Diante desse quadro, exige-se hoje um novo tipo de trabalhador, que suporte os aumentos da intensidade do trabalho e aumente a sua qualificação. No entanto, o que predomina nas referências é o estímulo que se dá à maior participação dos trabalhadores na vida da empresa. Decorrente dessa formulação resulta o aparecimento de novos sentidos ou significados aos valores, categorias, conceitos, princípios e parâmetros que passam a nortear as práticas sociais, obrigando-as a tomarem, como referência, o critério de produtividade capitalista. A educação profissional, da forma com vem sendo conceituada e problematizada pelos autores, revela-se na concretização de conteúdos que valorizam a apreensão de competências específicas ao mercado de trabalho, com forte direcionamento ao desenvolvimento das atitudes do trabalhador. Os autores aqui estudados apresentam críticas veementes ao modelo que rege as práticas formativas da educação profissional. Tais práticas evidenciam um aprendizado, cujos conhecimentos estão dispostos a fornecer ao indivíduo a possibilidade de desenvolver um conjunto de comportamentos sócio-afetivos e habilidades cognitivas, sensoriais e motoras que permita o desempenho de papéis, funções, atividades ou tarefas com base nos requerimentos de qualidade esperados pelo setor produtivo. Acerca dos métodos desenvolvidos, observamos que a sistematização atual segue as orientações de uma organização modular do currículo, que compreende a interação entre o local da formação e o ambiente de trabalho, neste caso, a escola e a empresa. As práticas desenvolvidas no ensino profissional são na maioria referenciadas pelo critério da produtividade capitalista. 88 Nesta perspectiva, o que se colocou foi um distanciamento entre as atividades que compreendem a fundamentação científica e a execução de tarefas técnicas. A aprendizagem é vista como mediação que o professor exerce entre o mercado de trabalho e o aluno. Nesse processo é evidenciado o estímulo ao trabalhador para desenvolver a capacidade de participar, de trabalhar em grupo pela flexibilidade e pela capacidade de se colocar no lugar do outro, e, principalmente, de assimilar os valores e objetivos da empresa. De um modo geral, as pesquisas revelam que o avanço tecnológico não é garantia de maior qualificação aos trabalhadores. Tem sido defendido que a “sociedade tecnológica” ou “sociedade do conhecimento” precisa ser compreendida no contexto da luta de classes e, portanto, que as novas tecnologias em uso nos ambientes de trabalho e de estudo podem servir tanto à formação para o capital como para o trabalho. A partir dos artigos analisados na Revista Trabalho & Educação utilizados durante a pesquisa, construímos um quadro síntese, com finalidade de proporcionar uma visualização das práticas formativas em educação profissional37. Estas foram evidenciadas nos artigos após a identificação e categorização dos objetivos, conteúdos e métodos de ensino e avaliação. Quadro 4 – A DIDÁTICA NA VISÃO DOS AUTORES DA REVISTA TRABALHO E EDUCAÇÃO PEDAGOGIA DO CAPITAL PEDAGOGIA DO TRABALHO 37 Mesmo reconhecendo que todo quadro-síntese implica algum tipo de emprobecimento ou enviesamento dos dados da bibliografia levantada. 89 OBJETIVOS DE ENSINO • • • • • • • CONTEÚDOS DE ENSINO • • • • • • • • • Ajustar a formação dos trabalhadores para atender as demandas do sistema produtivo; Desenvolver um saber relacional; Criar competências comunicativas e de relações interpessoais; Mobilizar o raciocínio dos alunos para enfrentar os problemas do cotidiano do trabalho; Formar para a empregabilidade com o intuito de apenas dinamizar o mercado de trabalho; Criar uma qualificação especial: a capacidade de estar comprometido permanentemente com a produção, criando uma maior identificação às questões da empresa; Formar a capacidade de o trabalhador exercer várias funções diferentes – polivalência. • • Competências e habilidades, disposição e virtudes direcionadas a inserção no mercado de trabalho; Maior participação dos trabalhadores na vida das empresas; Atitude do indivíduo necessária ao desempenho das atividades produtivas; Conjunto de comportamentos sócioafetivos e habilidades cognitivas, sensoriais e motoras que permitam o melhor desempenho; Eficiência na produção; Execução de raciocínios e gestos necessários à produção; Conhecimentos sobre resolução de situações-problemas; O processo de trabalho; Capacidade técnica para exercer uma atividade produtiva. • Os conhecimentos de que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho; • A ética, a moral, a cidadania, etc., entrelaçadas à ecologia, à mecânica, às ciências da terra e à outras ciências, numa ação educacional que articule concretamente teoria e prática. • • • • Formar cidadãos-trabalhadores; Formar profissionais com senso crítico acerca da realidade social e do seu trabalho. Orientar-se para uma formação ampla, omnilateral; Conduzir cada cidadão a inteirar-se da cultura científica e tecnológica, proporcionando os fundamentos científicos dos fenômenos naturais e sociais Compreender seu papel no contexto das decisões a serem tomadas acerca dos rumos da ciência e da tecnologia; A formação profissional deve ter uma ação sincronizada e conjugada com os demais elementos que compõem as várias áreas do conhecimento. 90 MÉTODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO • • • • • • • Organização curricular em módulos, que favoreça a interação escola-empresa; As práticas educativas tendo como referência o critério de produtividade capitalista; O distanciamento cada vez maior entre a execução de tarefas de naturezas técnica e a compreensão de sua fundamentação científica Estrutura modular e normas de competência por ramo de atividade; O professor como mediador entre as necessidades que o mercado solicita e o desenvolvimento da autonomia dos educadores; Avaliação externa, o importante é o controle dos resultados, e não dos procedimentos; Avaliação como verificação de conhecimentos e habilidades independente da forma como foram adquiridos; • • • • • • Processo de interação com o conhecimento e a própria formação; Articulação entre as dimensões formativas, científicas, tecnológica e críticas; Estratégias de ensino que contribuam efetivamente para o acesso à alfabetização científica e tecnológica; Maior participação dos alunos nos processos avaliativos; Carência de instrumentos mais dinâmicos nas práticas formais de avaliação; Avaliação qualitativa processual. 2.2. A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BTS – BOLETIM TÉCNICO DO SENAC38 O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) foi criado em 10 de janeiro de 1946, por meio do decreto presidencial nº 8.621, mas sua gestão é de responsabilidade da Confederação Nacional do Comércio. Tem como objetivo formar para o trabalho em atividades de comércio de bens, serviços e turismo. Há mais de 63 anos vem oferecendo uma vasta programação de cursos e atividades em três tipos de ensino e em 15 áreas de atuação. O SENAC é considerado uma das referências nacionais em educação profissional e, junto com o SENAI, é importante difusor de uma cultura de educação profissional focada no mercado, servindo muito para isso as suas publicações entre as quais se destaca o Boletim Técnico do SENAC. O periódico Boletim Técnico do SENAC, publicado desde 1974 pelo Departamento Nacional do SENAC, apresenta-se com o objetivo de estimular a reflexão e a produção intelectual no domínio das relações entre educação e trabalho. Editada quadrimestralmente, abriga artigos discutindo, refletindo, 38 Esta seção tem por base os relatórios de pesquisa das Bolsistas PIBIC-UFPA Livia Fernanda nascimento dos Santos e Bruna de Moraes Damasceno. 91 problematizando e propondo questões relacionadas à educação profissional, constituindo referência nacional para as publicações de artigos na área de educação e especificamente sobre a Educação profissional. No levantamento dos Periódicos do Boletim Técnico do SENAC, encontramos 45 artigos que, de alguma forma, tratavam do tema sobre práticas formativas em educação profissional, dos quais 18 artigos foram objeto de análise interpretativa, sendo fichados em torno das categorias eleitas para o nosso trabalho. Os textos foram os seguintes: ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Quadro 5 – ARTIGOS DO BOLETIM TÉCNICO DO SENAC ANALISADOS TÍTULO AUTOR Maria da Conceição Calmon Qualificação versus Competência Arruda O modelo das competências profissionais no mundo do Neise Deluiz trabalho e na educação: implicações para o currículo Conhecimento e Competências no Trabalho e na Acácia Zeneida Kuenzer Escola. Suzana Barros Corrêa Saraiva e Competências, Qualificação, Avaliação: Observações Máximo Augusto Campos sobre Práticas Pedagógicas e Educação Profissional. Mansson. Em busca de uma didática para o saber técnico. Jarbas Novelino Barato Educação Formal nas Empresas: Um Desafio para os Rosa Elisa Mirra Barone e Maria Diferentes Atores. Rita Aprile O Professor da Educação Profissional: Que Perfil Cleunice M. Rehem Corresponde aos Desafios Contemporâneos? Educação Profissional no Brasil e opções Maria Rita Aprile; Rosa Elisa metodológicas de pesquisa: elementos para o debate. Mirra Barone Alternativas Metodológicas para a Identificação de Allan Claudius Queiroz Barbosa e Competências. Marco Aurélio Rodrigues A Questão da Função Social da Educação no Novo Vânia Cardoso da Motta Milênio Cursos Superiores de Tecnologia: Um Estudo do Sandra R. Uliano Smaniotto e Impacto Provocado em seus Estudantes. Elizabeth Conhecimento, trabalho e obra: uma proposta Jarbas Novelino Barato metodológica para educação profissional. Currículo Analógico em um mundo digital: considerações sobre a dissociação entre a formação no Lucidio Bianchetti e Valéria Batio. ensino superior e as exigências do mercado de trabalho. Maria Teresa Andrade de Promovendo o aprendizado organizacional por meio de Gouvêa; Cláudia Paranhos; comunidades de prática. Claudia Lage Rebello da Motta Daizy Valmorbida Stepansky e Trabalho e Vida Pessoal: O Equilíbrio Necessário Lucia França Surfando na Sociedade da Informação e do Mirian Maia do Amaral e Lúcia Conhecimento: a questão das competências docentes Regina Goulart Vilarinho Qualificação Profissional de Jovens e Adultos Carlos Soares Barbosa e Neise Trabalhadores: O Programa Nacional de Estímulo ao Deluiz Primeiro Emprego em Discussão. 92 2.2.1. Boletim Técnico do SENAC – 2000 Do ano de 2000, destacamos o artigo “Qualificação versus Competência” (ARRUDA, 2000), no qual a autora aborda a questão da qualificação profissional, defendendo a tese de que a nova conformação do mundo do trabalho inibe a mobilidade social e restringe a capacidade de atuação coletiva dos trabalhadores. Além disso, observa um redimensionamento das qualificações no interior dos processos de trabalho, que passam a privilegiar as atividades simbólicas e de abstração em detrimento das atividades ditas concretas e passíveis de codificação. A autora defende a idéia de que a qualificação é um processo histórico e, como tal, não pode ser analisada desvinculada dos fatores que concorrem para sua construção. É resultante de um processo de interatividade que não pode ser construído solitariamente, depende do acesso efetivo a informações e processos referentes à qualificação desejada. Nesse sentido, a possibilidade de um indivíduo se qualificar está mais próxima da sua história de vida e de suas relações materiais de acesso do que de um desejo individual. No decorrer do novo modelo de qualificação profissional, esta se apresenta não só rompida com o paradigma de qualificação anterior, que privilegiava a especialização, como também com o modelo comportamental requerido ao trabalhador. A partir desta nova situação o setor produtivo vem solicitando à área educacional um modelo de educação que contemple a nova conformação do mundo do trabalho. O novo modelo da competência representaria a superação do paradigma da polarização das qualificações39, à medida que estas deixam de ser o elemento definidor dos postos de trabalho e dos salários. O coletivo cede lugar ao individual e a competência emerge como tradutora da eficiência e produtividade do indivíduo, um instrumento absorvido e identificado com os objetivos empresariais. Enquanto a qualificação estaria atrelada a um sistema de classificação de cargos e de remuneração que privilegiaria o trabalhador, a 39 Ver Paiva (1991). 93 competência estaria ligada aos objetivos, às metas da organização e à capacidade do indivíduo em responder adequadamente a esses objetivos. Os objetivos de ensino visariam capacitar os indivíduos para lidarem com os novos parâmetros tecnológicos e a prepará-los para o mercado de trabalho e/ ou para o desenvolvimento de alguma atividade que lhes possibilite subsistência. Os conteúdos de ensino são direcionados a partir do novo modelo de competência profissional que rompe não só com o paradigma de qualificação anterior ao privilegiar a especialização, como também com o modelo comportamental requerido ao trabalhador. O silêncio e a fragmentação de tarefas dão lugar à comunicação e à interatividade. Os métodos de ensino estão direcionados ao novo padrão produtivo, o qual privilegia, no recrutamento e seleção, saberes vinculados à biografia do indivíduo e à capacidade deste em transferi-los com eficiência para a organização. A demanda do setor produtivo por uma força de trabalho mais educada poderia trazer embutido um ganho para o conjunto da sociedade, podendo ser traduzido pelo aumento da qualificação média dos trabalhadores, o qual poderia abrir espaço para uma reflexão crítica sobre o modelo econômico atual e para a articulação de alternativas, pois apesar da importância atribuída pelo setor produtivo ao conhecimento, a hierarquização e a verticalização (capitalistas) ainda se fazem presentes. Dentro dessa dinâmica, a autonomia, a mobilidade e a flexibilidade parecem ter traduções diversas e diversificadas, que não são automaticamente congruentes ou interrelacionais. O grande desafio parece residir na identificação e valorização de articulações que resultem em ganhos que abarquem todos os atores sociais. 2.2.2. Boletim Técnico do SENAC – 2001 Do ano de 2001, selecionamos o artigo “O modelo das competências profissionais no mundo do trabalho e na educação: implicações para o currículo” (DELUIZ, 2000). Nele, a autora analisa o modelo das competências profissionais, discutindo diferentes enfoques das competências. Ela afirma que a matriz crítico-emancipatória tem seus fundamentos teóricos no pensamento 94 crítico-dialético, pretendendo não só ressignificar a noção de competência, atribuindo-lhe um sentido que atenda aos interesses dos trabalhadores, mas apontar princípios orientadores para a investigação dos processos de trabalho, para a organização do currículo e para uma proposta de educação profissional ampliada. Para a autora, a identificação, definição e construção de competências profissionais não se pauta pelas necessidades e demandas estritas do mercado, na ótica do capital, mas leva em conta a dinâmica e as contradições do mundo do trabalho, os contextos macroeconômicos e políticos, as transformações técnicas e organizacionais, os impactos socioambientais, os saberes do trabalho, os laços coletivos e de solidariedade, os valores e as lutas dos trabalhadores. Desta forma, investiga as competências no mundo do trabalho a partir dos que vivem as situações de trabalho, ou seja, dos próprios trabalhadores, identificando os seus saberes formais e informais, as suas formas de cultura e o patrimônio de recursos por eles acumulados (aprendizados multidimensionais, transferências, reutilizações) nas atividades de trabalho. Os objetivos de formação para o ensino profissional, sob esta ótica, seria desenvolver uma formação integral e ampliada, articulando sua dimensão profissional com a dimensão sócio-política. Os conteúdos de ensino referem-se à aprendizagem aprendizagem dos dos saberes saberes disciplinares, gerados nas sendo acompanhada atividades de da trabalho: conhecimentos, valores, histórias e saberes da experiência. Em relação aos métodos de ensino, são direcionados a construir competências para uma ação autônoma e capaz nos espaços produtivos, mas igualmente voltada para o desenvolvimento de princípios universalistas - igualdade de direitos, justiça social, solidariedade e ética no mundo do trabalho e cidadania. A autora finaliza seu artigo afirmando que se torna imprescindível enfrentar o desafio de propor alternativas ao modelo de educação profissional vigente, calcado na noção de competências concebida de forma não-crítica, que enfrentem e dêem respostas à dinâmica e às transformações do mundo do trabalho, na perspectiva dos interesses dos protagonistas sociais: os trabalhadores. A ressignificação da noção de competências é, portanto, uma tarefa válida e urgente. 95 2.2.3. Boletim Técnico do SENAC – 2002 Dentre os artigos publicados em 2002, privilegiamos “Conhecimento e Competências no Trabalho e na Escola" (KUENZER, 2002). Nele, a pesquisadora paranaense problematiza os processos formativos focados no desenvolvimento de competências colocados como necessários em função das mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Afirma a impossibilidade de a escola desenvolver outras competências que não àquelas relativas ao domínio teórico. Afirma ainda o caráter parcial do novo conceito de competência, uma vez que, embora apresentado como universal, inclusive no discurso pedagógico oficial, refere-se a uma modalidade específica de trabalho: o reestruturado, que demanda forte articulação entre as dimensões psicomotora, cognitiva e afetiva (fazer, saber e ser), para o que o domínio dos conhecimentos científico-tecnológicos e sócio-históricos, adquiridos através de extensa, continuada e bem qualificada escolaridade, é fundamental. Neste artigo, a pretensão é bem delimitada: apresentar para a discussão uma forma de compreender a relação entre conhecimento e competências, a partir da pesquisa de campo realizada na Refinaria Presidente Getúlio Vargas – REPAR, da Petrobras, iniciada em agosto de 2001, envolvendo operadores, técnicos, supervisores e gerentes, segundo a exigência corporativa de certificação de competências no nível operacional. A partir desta discussão, propõe, pois, a questionar as possibilidades do desenvolvimento de competências no espaço escolar, tal como o proposto nas políticas educacionais vigentes. Assim, os processos educativos escolares, seja em espaço de educação geral, profissional ou ambas, configuram-se como momentos de articulação com o conhecimento socialmente produzido, enquanto produtos, e como espaços de apreensão das categorias de produção deste conhecimento, enquanto processos metodológicos. São, por excelência, espaços da produção teórica, do trabalho intelectual, sempre que possível articulado à práxis, mas sempre incapaz de reproduzi-la em seu movimento e em sua complexidade. Não são, portanto, espaços de desenvolvimento de competências, o que só 96 poderá ocorrer através dos processos sociais e produtivos. Não que a prática teórica e o desenvolvimento das competências cognitivas superiores não sejam de fundamental importância para o desenvolvimento de competências; mas por si sós, são insuficientes. A importância do trabalho teórico para o desenvolvimento de competências torna-se mais evidente quanto mais os processos sociais e produtivos sejam mediados por ciência e tecnologia, nos quais o saber tácito assume um novo significado que precisa ser mais bem pesquisado em função das mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Mesmo assim, a posse do saber teórico, embora necessária, não é suficiente para produzir transformações na realidade; é preciso que ele se transforme em ação, através de um ato de vontade, através de uma atitude transformadora Desconsiderar que o espaço para o desenvolvimento de competências é a prática social e produtiva, atribuindo à escola esta responsabilidade, como propugnam as políticas deste Governo, é prestar um desserviço aos trabalhadores, por se constituir uma tarefa que não é da sua natureza. A escola é o lugar de aprender a interpretar o mundo para poder transformá-lo, a partir do domínio das categorias de método e de conteúdo que inspirem e que se transformem em práticas de emancipação humana numa sociedade cada vez mais mediada pelo conhecimento. O lugar de desenvolver competências, que, por sua vez, mobilizam conhecimentos, mas que com eles não se confundem, é a prática social e produtiva. Confundir estes dois espaços, proclamando a escola como responsável pelo desenvolvimento de competências, resulta em mais uma forma, sutil, mas extremamente perversa, de exclusão dos que vivem do trabalho, uma vez que os filhos da burguesia desenvolvem suas capacidades apesar da escola, que para muitos passa a ser apenas uma instituição certificadora; para os trabalhadores, a escola se constitui o único espaço de relação intencional e sistematizada com o conhecimento. Cabe às escolas, portanto, desempenhar com qualidade seu papel na criação de situações de aprendizagem que permitam ao aluno desenvolver as capacidades cognitivas, afetivas e psicomotoras relativas ao trabalho 97 intelectual, sempre articulado, e não reduzido, ao mundo do trabalho e das relações sociais, com o que certamente estarão dando a sua melhor contribuição para o desenvolvimento de competências na prática social e produtiva. Atribuir à escola a função de desenvolver competências é desconhecer sua natureza e especificidade enquanto espaço de apropriação do conhecimento socialmente produzido e, portanto, de trabalho intelectual com referência à prática social, com o que, mais uma vez, busca-se esvaziar sua finalidade, com particular prejuízo para os que vivem do trabalho. 2.2.4. Boletim Técnico do SENAC – 2003 Do ano de 2003, selecionamos o artigo “Competências, Qualificação e Avaliação: Observações sobre Práticas Pedagógicas e Educação Profissional” (SARAIVA e MANSSON, 2003). Neste artigo, os autores trabalham buscando considerar “os novos paradigmas na educação profissional”, problematizando o formalismo de uma pedagogia centrada em conteúdo. Destacam a avaliação com elemento estratégico para a democratização dos processos educacionais e sociais. A avaliação empregada em seu sentido de democratização do acesso ao conhecimento deve permitir que seja detectada a progressiva ampliação da compreensão das temáticas estudadas pelos educandos, a fim de que sejam identificadas suas possíveis insuficiências. Um instrumento de importância expressiva, embora ainda não devidamente utilizado pelos educadores em toda a sua potencialidade, vem a ser o portfólio. Por fim, na prática da avaliação é preciso levar em conta que o cenário em que é realizada, e mais ainda no contexto da educação profissional, não escapa ao que Bourdieu denominou de contradições entre os aparelhos econômicos e os sistemas de ensino, contradições que nos permitem também considerar que se a cultura dominante é a "dos compradores de força de trabalho", cuja hegemonia, lembrar- nos- ia Gramsci, é construída nas relações sociais presentes no "chão da fábrica" (e hoje, mais do que nunca, nos pisos dos cursos de formação), e a partir da qual também se compreendem as perspectivas contra-hegemônicas dadas sempre pelas relações sociais e não pela forma deste ou daquele modelo pedagógico. 98 O objetivo de ensino, nesta perspectiva, é o de se assumir a principal via de acesso ao mercado de trabalho, importante elemento de equalização das condições sociais de vida numa ordem agora profundamente marcada pela instabilidade e insegurança frente ao futuro imediato. O conteúdo de ensino que vem sendo trabalhado na educação profissional a partir da “Pedagogia das Competências”, se constitui, não só, muitas vezes, em instrumentos de submissão dos detentores da força de trabalho, como também pode ser um instrumento de luta contra-hegemônica, pois reconhece a importância da experiência existencial dos agentes sociais como elemento de todo processo de apreensão do conhecimento. O método de ensino enfatizado pela autora na “Pedagogia das Competências” requer transmissão e apreensão dos conhecimentos, mas que devam necessariamente ser “relidos” pelos sujeitos que os aprendem. 2.2.5. Boletim Técnico do SENAC – 2004 Na produção dos periódicos do Boletim Técnico do SENAC do ano de 2004, destacamos 02 artigos principais: “Em busca de uma Didática para o Saber Técnico” (BARATO, 2004) e “A Educação e o Trabalho num Tempo de Crise” (SALGADO, 2004). O artigo de Salgado (2004) trata da relação entre Educação e Trabalho, questionando até que ponto se pode limitar o processo educacional a respostas ao mundo da produção quando o próprio valor do trabalho está sendo fragilizado perante a sociedade. Afirma a tese segundo a qual o processo educativo, enquanto veículo social através do qual se pretende desenvolver o homem em todas as suas dimensões e potencialidades, não deve ser estreitado aos parâmetros limitadores da atividade produtiva, tampouco pode ser visto como manancial que responde aos apelos nitidamente econômicos da sociedade. A autora destaca em seu texto que a profissionalização ou a preparação para o trabalho deve ser objeto de escolha consciente dos indivíduos e não como vem acontecendo, de forma compensatória oferecida aos evadidos do sistema de educação geral e que buscam, na ocupação, um 99 recurso de sobrevivência num mercado a cada dia menos receptivo e mais exigente. Ressalta ainda que qualquer mudança mais efetiva nos rumos da formação profissional e das instituições que a ela se dedicam implicaria que a própria formação profissional estivesse melhor contextualizada na sociedade brasileira e que o trabalho ganhasse maior significância e organicidade no sistema produtivo. Para isso é indispensável se dar ao trabalhador a consciência clara de seu importante papel na sociedade. O conteúdo de ensino deveria permitir a estruturação de cursos e outras iniciativas de treinamento e aperfeiçoamento de trabalhadores não apenas em termos técnicos e operacionais, mas com conteúdos básicos e instrumentais. Esses conhecimentos deveriam compor a grade curricular permitindo uma formação mais sólida e mais fundamentada nas teorias científicas do conhecimento. Os métodos de ensino deveriam promover a educação regular e humanista como uma conquista de toda a sociedade, promovida desde os primeiros anos da infância até a vida adulta. Por eles se promove o nível de consciência das pessoas e situa-se o indivíduo em seu meio e no seu tempo e se desenvolvem potenciais e competências físicas, psicológicas e emotivas Já o artigo do Barato (2004) critica as abordagens tradicionais das técnicas nos meios educacionais. A seu ver, a observação de Hutchins nos ajudaria a superar o absurdo subjacente no julgamento de que o fazer pode ser reduzido ao simples adestramento. Ao que tudo indica, as aprendizagens que demandam execução engajam os aprendizes em modos de pensar necessários para que se constitua um conhecimento que represente o fazer. A técnica é uma forma de saber, exigindo por essa razão um tratamento didático específico. O autor propõe uma didática que considere as atividades de trabalho como um saber. Ele afirma que o fazer demanda um conhecimento específico, próprio; em vez de ser aplicação de um conhecimento que dele pode ser desvinculado, é preciso contar com uma explicação que acomode satisfatoriamente saber fazer, saber falar e todos os outros saberes próprios da espécie humana. 100 O conhecimento é constituído por estruturas profundas, não verbais e, num certo sentido, inconscientes. Nessa direção, o saber final não é palavroso ou, mais do que isso, não é representado por um conjunto de proposições. Por sua própria natureza, processos ou técnicas exigem demonstração e explicitação em termos de ensino-aprendizagem. Mas como o discurso não é a mediação mais importante no caso, podem ocorrer situações como a do velho trabalhador referendado no início do texto, com sua experiência de engarrafar o leite, considerando esta atividade de trabalho como saber. Isso quer dizer que a atividade técnica seria uma forma particular de saber. Em trabalhos com docentes de diversas áreas, o autor observou que na demonstração, muitas vezes, a fala tratava de assuntos que nada tinham a ver com a execução. Mesmo docentes capazes de falar enquanto demonstram não seriam, necessariamente, peritos que conseguem produzir um discurso que descreve seu conhecimento processual. O artigo expõe que, no campo da educação profissional, há o uso de uma didática que foi produzida para a educação geral. Boa parte da produção didática existente pode acomodar com certo sucesso o ensino de fatos, conceitos e princípios. Mas, quase nada existe sobre ensino de processos. E o autor conclui seu artigo dando um exemplo de que as tendências contemporâneas de reorganização da educação profissional estariam valorizando sobremaneira os itens de educação geral - fatos, conceitos e princípios. Estariam, de outro modo, deixando a técnica de lado ou opinando que ela não é tão importante dada a velocidade das mudanças a que estamos assistindo na organização do trabalho e no avanço tecnológico. Teme o autor que esse modo de pensar esconda uma tendência de esvaziar, cada vez mais, o trabalho de conteúdo e conclui propondo a discussão da questão. Um repertório sólido de conhecimentos técnicos, acompanhando uma educação geral consistente, talvez fosse uma saída mais justa e inteligente, afirma o autor. 101 2.2.6. Boletim Técnico do SENAC – 2005 Dentre os periódicos do Boletim Técnico do SENAC publicados no ano de 2005, selecionamos 02 artigos principais: “Educação Formal nas Empresas: um desafio para os diferentes atores” (BARONE e APRILE,2005) e “O Professor da Educação Profissional: que perfil corresponde aos desafios contemporâneos?” (REHEM, 2005). O artigo de Barone e Aprile (2005) verifica o tratamento que as empresas vêm dando a ações educativas formais considerando que a escolarização teria passado a ser um dos fatores referenciais para o planejamento e a reformulação da carreira, estando intimamente relacionada aos indicadores de empregabilidade. As autoras afirmam que para as empresas a articulação entre escolaridade e trabalho é necessária para o aumento da suas produtividade e problematizam os muitos projetos governamentais desenvolvidos em diferentes níveis, mas que estariam desarticulados devido a inexistência de uma política global de educação. As autoras colocam esta situação como justificativa para que um número crescente de empresas buscassem assumir para si a tarefa de promover a escolarização de seus trabalhadores, levando a escola para o chão da fábrica. Boa parte dos programas de educação formal desenvolvidos no âmbito das empresas, muito mais que formar ou escolarizar os indivíduos, para as autoras, estariam desenvolvendo ações educativas com ganhos que poderiam reverter tanto para esses indivíduos no que diz respeito a sua empregabilidade quanto para a sociedade de um modo geral. Barone e Aprile (idem) mostram que um dos ganhos deste movimento seria o necessário estabelecimento dos limites entre o que diz respeito efetivamente à ampliação do nível educacional e o que se refere a um maior treinamento para as tarefas e atividades próprias do trabalho a ser realizado, sem delas abrir mão. Dessa forma, para elas, o conteúdo de ensino deveria estar direcionado mais que o “saber fazer”, considerando que o momento atual lhe exige, entre outras qualificações, lidar com operações que permitam a 102 transformação de símbolos em ações de máquinas; interagir com o “cérebro” dos equipamentos para que possam proceder à leitura de instruções e transformá-las em ações. O método de ensino nesse sentido poderia ser o treinamento para as tarefas e atividades próprias do trabalho a ser realizado, em situação de escolarização. As práticas educativas desenvolvidas internamente nas empresas teriam mão dupla: poderiam reiterar e reforçar a histórica relação capital/trabalho presente na produção capitalista. E poderiam, ainda que de modo tênue, reverberar no questionamento desta relação e na emergência de um padrão diferenciado no relacionamento entre capital e trabalho que pudesse contribuir para a construção da qualificação de trabalhadores que, atentos ao seu papel histórico, interviessem na sociedade concreta. Ademais, tais práticas deveriam proporcionar às empresas melhores condições de sobrevivência dentro da nova ordem mundial. No segundo artigo de 2005, Cleunice M.. Rehem (2005) trata da educação profissional, partindo da indagação “Qual o perfil demandado ao formador de profissionais na sociedade Contemporânea?” A autora defende a tese de que transformar a concepção de educação como produto acabado e finito para um processo contínuo, na relação educando/educador, requer um novo professor, mais mediador, assessor, orientador, conselheiro, arquiteto e artista, do que palestrante de “aulas magistrais”, o tradicional ‘dador’ de aulas ou ‘ensinador’. Essa é a arte necessária para o formador de profissionais: conduzir os processos educacionais na contemporaneidade, adotando naturalmente a simetria de processos entre educação e “modernidade líquida”: ensinar nesse escopo requer autonomia, ultrapassar limites, independência, imaginação, autenticidade, identidade cultural, quebra de preconceitos, prazer, alegria, leveza, ousadia, coragem, inovação, crença em valores afirmativos. Ingredientes estes que integram a arte. O objetivo de ensino é formar seres com autonomia intelectual e moral, que desenvolvam esquemas e operações mentais facilitadoras da mobilização de conhecimentos, de habilidades, valores, emoções e atitudes 103 que os tornem capazes de assumir responsabilidade plena por sua carreira, por suas relações e por suas ações. Os conteúdos de ensino deverão oportunizar o desenvolvimento de esquemas e operações mentais que capacitem o educando como um ser criativo, que saiba pensar, analisar, criticar, avaliar, fazer, conviver a partir de um quadro referencial de valores que garanta a vida com melhor qualidade para todos, que assegure a participação consciente e permanente na sociedade e no setor produtivo. A autora conclui o texto afirmando que o novo professor sinaliza a necessidade de uma formação docente, também renovada, que oportunize aos intelectuais transformadores a construção - pela mediação em processos socioconstrutivistas - das competências, dos saberes que alicercem seu trabalho formativo. A arte de fazer aprender num mundo imprevisível, cuja certeza maior é a mudança permanente e veloz, estaria em processo de aprendizagem pelos próprios educadores, que talvez possam dominá-la, quando o mundo estiver vivenciando uma possível e já vislumbrada “modernidade gasosa”. 2.2.7. Boletim Técnico do SENAC – 2006 Da produção dos periódicos do Boletim Técnico do SENAC no ano de 2006, selecionamos 02 artigos: “Alternativas metodológicas para identificação de Competências” (BARBOSA, 2006) e “Educação Profissional no Brasil e Opções Metodológicas de Pesquisa: elementos para o debate” (APRILE e BARONE, 2006). O artigo de Barbosa e Rodrigues (2006) traz uma análise acerca das competências, problematizando a validade de sua utilização. A autora afirma que a adoção das competências, tanto no plano teórico quanto no plano concreto das práticas de gerenciamento, pode representar uma extraordinária revitalização do campo da “organização e gestão do trabalho”. Para os autores, a noção de competência ainda se encontra em construção, tendo sido amplamente submetida a uma ação operacional no âmbito das empresas, com diferentes resultados e impactos e sofre uma gama variada de interpretações quanto ao seu escopo. 104 Na perspectiva apontada, os objetivos de ensino deveriam ser formulados para formar o trabalhador e para atender os interesses das empresas. Os conteúdos de ensino, no referido artigo, são compreendidos relacionados ao modelo de competência merecendo serem amplamente submetidos a uma ação operacional no âmbito da empresa. No outro artigo de 2006 selecionado, Aprile e Barone (2006) tratam da educação profissional, partindo da problemática das formas de abordagem metodológicas nas pesquisas sobre o tema, realizadas sobre os múltiplos aspectos reveladores da abrangência e da complexidade da educação profissional. Os autores sustentam que qualquer investigação que se empreenda hoje sobre a educação profissional exige o reconhecimento do chamado discurso oficial, bem como de aspectos que lhes são subjacentes, nem sempre explícitos em suas manifestações habituais. Destacam a importância do percurso realizado em cada uma das abordagens, que não é neutro. Ao optar por um ou outro tipo de abordagem, cada pesquisador traz implícita a sua “leitura” de mundo e os valores que a orientam. Isso significa que o critério metodológico adotado se manifesta diretamente na formulação de perguntas, no encontro de respostas para a seleção, percepção e apresentação dos fatos, bem como nas diferentes interpretações, nas possibilidades e limites do conhecimento, da verdade e da objetividade do investigador. Os autores finalizam o texto destacando que se torna imperioso ao pesquisador analisar o nexo inseparável existente entre a forma e o conteúdo da educação profissional, uma vez que uma posição contrária possivelmente o levará a uma falsa abordagem da questão. Em relação à forma, é fundamental investigar o discurso expresso pela legislação vigente e as representações que lhes são atribuídas pelos vários segmentos da população. Da mesma maneira, é importante verificar a sua localização no sistema educacional, as fontes de financiamento, os cursos priorizados, a oferta de vagas, entre outros aspectos. Já em relação ao conteúdo, deve levar em conta os valores intrínsecos às propostas curriculares, os conteúdos definidos, as capacidades 105 cognoscitivas e operacionais valorizadas e, especialmente, a relação efetiva entre essas propostas e a apropriação de conhecimentos científicos e tecnológicos, bem como a articulação entre teoria e prática; conteúdos e métodos; ciência e tecnologia. Consideram que, o objetivo de ensino deveria ser preparar profissionais que ocuparão posições diferenciadas na divisão no trabalho. 2.2.8. Boletim Técnico do SENAC – 2007 Da produção dos periódicos do Boletim Técnico do SENAC no ano de 2007, privilegiamos 02 artigos: “A questão da função social da educação no novo milênio” (MOTTA, 2007) e “Cursos superiores de tecnologia: um estudo do impacto provocado em seus estudantes” (SMANIOTTO, 2007). O artigo de Motta (2007) problematiza a educação enquanto atividade social subordinada à lógica do capital, exercendo funções de reprodução alienada da força de trabalho e de conformação com a realidade. Em contraposição, a autora propõe o trabalho como princípio educativo. A autora resgata a idéia marxista segundo a qual o modo pelo qual o homem produz sua existência (modo de produção) é constituído pelas relações sociais estabelecidas entre os homens no processo de produção de sua existência (relações de produção) mais a capacidade de produção, que são as forças produtivas (os instrumentos, as técnicas, as máquinas, a força de trabalho). No entanto, o modo de produção não pode ser compreendido simplesmente como a reprodução material da existência humana. O modo de produção, que é constituído de relações de produção mais força de trabalho é, também, uma forma pela qual o homem expressa o seu modo de vida. O que produz e como produz expressam o modo como vive. A natureza do indivíduo dependeria das condições materiais de sua produção, incluindo nessas condições as idéias, as instituições, ideologias que são produzidas e reproduzidas ao longo de sua vida. Ela finaliza seu texto afirmando que a mundialização, sob a égide das grandes corporações, da hipertrofia financeira e de seus mecanismos de reestruturação produtiva, apresenta-se problemática pelo alto custo social, não 106 só, mas principalmente, nos países dependentes. Além do aumento da pobreza, da desigualdade social e do desemprego estrutural, as determinações de políticas macroeconômicas neoliberais resultariam na precarização do trabalho, com o aumento do subemprego e perdas dos direitos sociais, no enfraquecimento das forças trabalhistas, pondo em risco a própria existência humana. Outro segundo artigo selecionado foi de Smaniotto (2007), que trata dos cursos superiores de tecnologia. O autor problematiza a dicotomia que pode atribuir à figura do intelectual, o que pode levar à distorção sobre a finalidade do ensino profissionalizante e ao direcionamento de uma expectativa de que a preocupação desses cursos seja apenas fornecer técnicas que serão utilizadas na prática profissional dos alunos, sem se preocupar com a formação do ser humano e cidadão. Os objetivos de ensino desvelados neste texto são formar o trabalhador para atender à demanda empresarial com capacidade de exercer varias funções no trabalho. Em relação ao conteúdo de ensino, a formação deveria estar voltada não só para a expansão do conhecimento e capacidade intelectual, como também para a aquisição e para as mudanças em atitudes e valores, e para melhoria no desempenho dos vários papéis que o indivíduo deve assumir na sociedade, trabalho e vida familiar. Ou seja, uma formação que ultrapasse os aspectos exclusivos da preparação profissional, estendendo-se para os domínios acadêmico, pessoal e social. Quanto aos métodos de ensino destacam-se no texto o conhecimento fatual, a habilidade cognitiva e a competência de articular a teoria com a prática. Os autores finalizam o texto afirmando que as mudanças provocadas pela vivência no ensino superior parecem não depender da categoria de organização acadêmica e da idade do aluno; são, porém, relacionadas à oportunidade de sair da rotina através da exposição a novos problemas e desafios e do relacionamento com pessoas que possuem visão de mundo, opiniões e idéias diferentes. Neste trabalho, ficou evidenciada uma similaridade qualitativa das mudanças observadas, porém ainda se faz 107 necessário o aprofundamento na análise do grau em que elas ocorrem, quando se consideram estudantes dessas diferentes modalidades de ensino superior. 2.2.9. Boletim Técnico do SENAC – 2008 Da produção dos periódicos do Boletim Técnico do SENAC no ano de 2008, destacamos 06 artigos sobre práticas pedagógicas em educação profissional: “Conhecimento, trabalho e obra: uma proposta metodológica para educação profissional” (BARATO, 2008), “Currículo analógico em um mundo digital: considerações sobre a dissociação entre a formação no ensino superior e as exigências do mercado de trabalho” (MATTOS, BIANCHETTI, 2008), “Trabalho e vida pessoal: o equilíbrio necessário” (STEPANSKY e FRANÇA, 2008), “Surfando na sociedade da informação e do conhecimento: a questão das competências docentes” (AMARAL e VILARINHO, 2008), “Qualificação profissional de jovens e adultos trabalhadores: o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego em discussão” (BARBOSA e DELUIZ, 2008) e “Promovendo o aprendizado organizacional por meio de comunidades de prática” (GOUVÊA, 2008). O artigo de Barato trata do sentido da obra na formação profissional, pois, para o autor, existiria uma desvalorização dos saberes constituídos no e pelo trabalho como elemento constitutivo de uma metodologia da educação profissional. O autor defende as atividades produtivas como indicadoras de saberes que se constroem no e pelo trabalho. No campo da didática pedagógica há uma distinção da teoria e prática, o que caracterizaria o engano de subordinar o saber técnico (saber como) ao saber teórico (saber que). Caso houvesse o abandono desse quadro dicotômico, poderia haver mudanças nos modos de ver a educação profissional, além de surgir um novo modo de se perceber os sabres que se constituem no e pelo trabalho. Toda essa mudança requer novas maneiras de ensino no campo da formação profissional. Acredita o autor que a metodologia que utilize a obra como princípio orientador nesta direção pode ser uma saída interessante. A obra, assim, não é apenas um produto que resulta de processos de produção, mas seria um alvo que mobilizaria o sujeito em busca da 108 satisfação de certa necessidade, passando por saberes socialmente construídos, uso de ferramentas e divisão do trabalho, bem como por efetivação de intenções, julgamentos, valores. A organização de ambientes de aprendizagem de modo a utilizar saberes construídos no e pelo trabalho necessita operar uma mudança radical. E uma possibilidade nessa direção seria considerar a obra como princípio organizador das atividades de aprendizagem em programas de formação profissional. Nessa perspectiva, não partiríamos dos conhecimentos e das habilidades que o trabalhador precisa dominar, mas da pergunta de que obras são valorizadas pelas comunidades de prática onde se desenvolve o trabalho do profissional que pretende formar. Não cabem obras executadas apenas para o efeito pedagógico, mas sim que o aprendiz possa estar integrado desde início nas atividades produtivas. Essa providência garantiria ao educando a possibilidade de experimentar a construção social do conhecimento. Nesse artigo, os métodos são demonstrados na obra como princípio organizador das atividades de aprendizagem em programas de formação profissional e a avaliação da aprendizagem aconteceria como julgamento efetuados tanto por aprendizes como pelo mestre - de operações no processo e na apreciação da obra pronta. No texto de Mattos e Bianchetti (2008), “Currículo analógico em um mundo digital: considerações sobre a dissociação entre a formação no ensino superior e as exigências do mercado de trabalho”, os autores problematizam o descompasso do currículo educacional (analógico) e o currículo implementado no mundo do trabalho (digital). Dessa forma, afirmam que é na lógica do sistema capitalista, e não em uma das suas manifestações, no caso as diferentes tecnologias, que está a explicação do desemprego e das dificuldades de inclusão, seja na escola, seja no trabalho. O desemprego, citando Marx, seria parte constitutiva do capital, ou melhor, sua cara metade. À luz da teoria marxiana, sustentam que a solução do desemprego não depende de boa vontade ou de uma mudança brusca nos currículos educacionais e nem será alcançada se no lugar da tecnologia analógica todos forem incluídos ou aderirem à digital. 109 Enquanto tivermos sobre o primado do capital, o desemprego ascendente e a precariedade manifestam-se nas condições de inserção no mundo do trabalho e, de modo mais abrangente, na manutenção das necessidades básicas. Estas persistiriam como marcas distintivas da reprodução da vida social sob o atual padrão de acumulação, independente das medidas reparatórias do estado, do grau de escolarização da população e da inserção de novas tecnologias. As questões curriculares precisariam ser contextualizadas diante da mundialização do capital e do novo complexo de reestruturação produtiva do capital. Com toda certeza, a escola/universidade, no seu planejamento e atuação, não poderia simplesmente vincular-se ao mercado, com sua tendência a tudo digitalizar e acelerar. Ao mesmo tempo, no entanto, a instituição não pode desconhecer a complexidade que está implodindo todos os parâmetros que até há pouco tempo davam segurança à atuação dos professores e faziam das instituições educacionais, baseadas em seus currículos, por excelência, importantes norte para acessar um mercado de trabalho menos complexo, menos disputado e com perspectiva de nele permanecer até aposentar-se. Stepansky e França (2008) no artigo “Trabalho e vida pessoal: o equilíbrio necessário” tratam da globalização e suas implicações no processo de trabalho. Problematizam o desequilíbrio no tempo de vida pessoal e vida de trabalho. Afirmam que o equilíbrio de tempo, trabalho e vida, associado a uma compensação salarial digna, permitiria ao trabalhador o usufruto do bem-estar, a assistência familiar e a promoção da saúde, resultados naturalmente esperados pela sua dedicação ao trabalho e à organização. Numa época em que se prioriza no país o crescimento acelerado da economia, definindo metas de crescimento econômico, é fundamental que seja lembrada a importância do desenvolvimento paralelo dos indicadores sociais e da qualidade de vida dos indivíduos participantes do processo de trabalho. As organizações devem considerar que não é o grande consumo de tempo do trabalhador que leva à produtividade, mas que, ao contrário, é o ambiente organizacional saudável que deve apoiar o trabalhador. A flexibilização de tempo oferece o equilíbrio entre as responsabilidades de trabalho e as 110 necessidades individuais e familiares, produzindo uma diferença efetiva na qualidade de vida para todos. A oferta de condições para o desenvolvimento pessoal, para a criatividade e para a participação positiva no trabalho são fatores significativos na atualidade das organizações. É uma nova revolução no mundo do trabalho, com a absorção de novas formas de responsabilidade, de empregabilidade e de sustentabilidade, em que o processo produtivo contribuirá para o desenvolvimento humano e para a melhoria das condições de vida da sociedade. Amaral e Vilarinho (2008) em “Surfando na sociedade da informação e do conhecimento: a questão das competências docentes” tratam da competência docente na sociedade da Informação. Partindo da consideração acerca da velocidade com que, hoje, as competências desaparecem, transformam-se e se renovam, consideram relevante discutir o papel do professor no desenvolvimento de suas atividades profissionais, seja em ambientes de aprendizagens virtuais, semipresenciais ou presenciais. Perguntam sobre quais seriam as competências necessárias para a atuação do professor, no ambiente em que exerce suas atividades, em consonância às finalidades e estratégias organizacionais. Considerando que grande parte dos conhecimentos, habilidades, valores e atitudes adquiridos por uma pessoa no início de sua trajetória profissional tornar-se-iam obsoletos antes mesmo do final de suas atividades, consideram que o professor tem o desafio de educar na cibercultura, o que requer desenvolver sua imaginação criadora para atender às demandas da aprendizagem interativa. Isso implica investimento educacional desde a formação básica, estendendo-se, como um continuum, ao longo de vida profissional; ou seja, uma educação continuada, que propicie o desenvolvimento de competências para atuar num mundo marcado por mudanças e incertezas. O melhor modelo de competência é aquele que reflete a cultura vigente na organização, ou seja, o que se alinha às competências organizacionais. A rapidez com que os conhecimentos evoluem, aliada às mudanças requeridas pela sociedade, exigiriam do professor contemporâneo 111 uma aprendizagem permanente individual e colaborativa, o que se traduziria em desenvolvimento de novas competências e na reconfiguração de outras. Esta “atualização” das suas competências, necessária para que o professor possa atuar no contexto moderno, deve considerar a tecnologia como parte integrante do processo ensino-aprendizagem. A resposta aos desafios da sociedade do conhecimento, portanto, requereria reflexão sobre a prática profissional e atualização constante das competências, que devem estar conectadas às exigências do mercado de trabalho. Defendem que o conteúdo dos processos formativos de professores conectados com o mercado de trabalho pressupõe elementos necessários aos processos de cooperação, colaboração, interatividade e dialogicidade, tendo em vista a construção do conhecimento; as competências/saberes (sabersaber, saber-fazer e saber ser); o desenvolvimento da capacidade de pensar, sentir e agir na busca para soluções para os problemas do cotidiano. As autoras concluem que educar na cibercultura implica docência interativa, presencial ou online, e pressupõe participação colaborativa, intervenção na mensagem, bidirecionalidade e dialogicidade e, ainda, conexões em teias abertas de relacionamentos. Isso requer não apenas abertura para as mudanças, mas também redimensionamento das competências e solidez acadêmica com vistas à autonomia profissional. Tais competências/saberes devem estar relacionados a diferentes dimensões, sejam elas profissionais, didáticas, pessoais, sociais, lingüísticas, éticas, políticas, pedagógicas. Devem, fundamentalmente, preparar o sujeito para enfrentar os desafios da vida, e não para as circunstâncias do momento. O artigo de Barbosa e Deluiz (2008), “Qualificação profissional de jovens e adultos trabalhadores: o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego em discussão”, aborda a qualificação Profissional de Jovens e Adultos, propondo políticas públicas voltadas para o aumento da escolaridade do jovem, a qualificação profissional, a participação social e a garantia do primeiro emprego, a fim de proporcionar-lhe experiência profissional, além de uma política integrada de proteção social. Reconhecendo o emprego juvenil como um dos principais desafios do Governo Lula, o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro 112 Emprego/Consórcio Social da Juventude tem como foco “o fomento à geração de postos de trabalho formais e a preparação para o primeiro emprego”. A inserção no mercado de trabalho formal seria uma das principais dificuldades apontadas pelos coordenadores das entidades pesquisadas, principalmente dos jovens que possuem baixa escolaridade e não têm experiência profissional. Essas dificuldades foram ressaltadas por Mesquita (2006) quando aponta que o PNPE estimulou 38 mil empregos desde 2003, enquanto o universo no país é de quatro milhões de jovens desempregados. Segundo o autor, os contemplados pelo Programa trabalhariam por um ano e ainda assim encontrariam dificuldades de inserção no mercado, pois não haveria uma política de continuidade. Os objetivos de ensino do Programa são formulados para formar o trabalhador para atender as exigências do mercado, com domínio nas atividades do trabalho e com aquisição de competências (saber-fazer; saberprático e saber-ser). O conteúdo formativo do referido Programa deve estar relacionado à atividade de trabalho; ao saber-fazer, saber-prático, saber do corpo, saber ser para poder agir; mecanismos utilizados para efetuar a tarefa e a desenvolver habilidades, apreender regras e os conhecimentos necessários à atividade de trabalho. Os autores concluem afirmando que, apesar do discurso das entidades investigadas que trabalham na perspectiva da construção do sujeito crítico e se preocupam com a formação política dos jovens, a pesquisa constatou que as ações de educação profissional não propiciam a formação política dos sujeitos individuais e coletivos no sentido da sua participação na esfera pública, haja vista a existência de cursos de curta duração, aligeirados e fragmentados que não proporcionam uma qualificação profissional e social de forma decente. O artigo de Gouvêa (2008), “Promovendo o aprendizado organizacional por meio de comunidades de prática”, trata da aprendizagem organizacional. O autor enfrenta a pouca participação de trabalhadores no registro de informações relevantes para o grupo em discussões sobre determinado problema ou na busca por suas soluções. Do mesmo modo, 113 buscar considerar a participação como forma de aproveitamento do conhecimento gerado na organização, fazendo o trabalhador compartilhar seus conhecimentos. Daí o interesse em desenvolver comunidades de prática para promover a colaboração, aumentar a interação social, aumentar a produtividade e melhorar a aprendizagem organizacional. A comunidade da prática vem ao encontro da abordagem da gestão do conhecimento, contribuindo para a existência de uma cultura favorável ao compartilhamento de experiências, conhecimentos e melhores práticas nas organizações, tornando-se um atraente para a aprendizagem colaborativa. A autora finaliza destacando cinco estratégias que as empresas precisam para solucionar ou minimizar o pouco envolvimento dos trabalhadores, a saber: divulgar a importância desse tipo de atividade nos valores da companhia, promover e compartilhar os resultados práticos alcançados pela comunidade, valorizar a participação e a iniciativa individual, bem como criar uma infra-estrutrura tecnológica e pessoal para apoiar a comunidade. 2.2.10 Considerações sobre a produção do Boletim Técnico do SENAC Na produção veiculada no Boletim Técnico do SENAC, destacamos o debate sobre as competências, o modelo de competências e/ou a Pedagogia das Competências, ora denunciando o seu caráter liberal, ora afirmando a sua possibilidade de servir ao projeto pedagógico contra-hegemônico, ou mesmo anunciado-a de modo neutro. Nestes artigos, as noções de cidadania e democracia são largamente citadas como referências importantes, mas são utilizadas à vontade por diferentes autores que têm diferentes projetos pedagógicos e políticos, assumindo, portanto, diferentes conteúdos. Os artigos publicados no BTS nem sempre são bem posicionados do ponto de vista político-ideológico e neles alguns autores se aventuram a articular projetos (do capital, e dos trabalhadores, em nome dos interesses da sociedade), referenciais (competências) e pedagogias (das competências, das técnicas, etc). 114 Outra característica geral é o fato de os textos serem mais propositivos, indicando-se caminhos e estratégias pedagógicas, ao invés da crítica que marca as produções nos outros veículos estudados. O debate está muito demarcado em torno da questão das competências, uns defendendo-as, outros criticando-as e ainda aqueles que lhes propõem uma ressignificação. A partir dos artigos analisados no Boletim Técnico do SENAC analisados durante a pesquisa, construímos um quadro-síntese, com finalidade de proporcionar uma visualização das práticas formativas em educação profissional. Estas foram evidenciadas nos artigos após a identificação e categorização dos objetivos, conteúdos e métodos de ensino e avaliação. Quadro 6 – A DIDÁTICA NA VISÃO DOS AUTORES DA REVISTA TRABALHO E EDUCAÇÃO Pedagogia do Capital Pedagogia do Trabalho • Um modelo de educação que contemple a • A qualificação é um processo nova conformação do mundo do trabalho. histórico, e como tal, não pode ser O novo modelo da competência analisado desvinculado dos fatores que concorrem para sua • A competência emerge como tradutora da construção. eficiência e produtividade do indivíduo, um • É resultante de um processo instrumento absorvido e identificado com os de interatividade que não pode ser objetivos empresariais. construído solitariamente, • Os objetivos de ensino visam a capacitar os depende do acesso efetivo a indivíduos para lidarem com os novos informações e processos parâmetros tecnológicos e prepará-los para referentes à qualificação o mercado de trabalho e/ou para o desejada. Nesse sentido, a desenvolvimento de alguma atividade que possibilidade de um indivíduo se lhes possibilite subsistência. qualificar está mais próxima da • A função da educação é assumir a sua história de vida e de suas principal via de acesso ao mercado de relações materiais de acesso do trabalho, importante elemento de que de um desejo individual. Finalidades equalização das condições sociais de vida • A matriz críticonuma ordem agora profundamente emancipatória, a qual tem seus marcada pela instabilidade e insegurança fundamentos teóricos no frente ao futuro imediato. pensamento crítico-dialético, e • Um número crescente de empresas pretende não só ressignificar a buscam assumir para si a tarefa de noção de competência, atribuindopromover a escolarização de seus lhe um sentido que atenda aos trabalhadores levando a escola para o chão interesses dos trabalhadores, mas da fábrica. apontar princípios orientadores • Para as autoras, um dos ganhos deste para a investigação dos processos movimento seria o necessário de trabalho, para a organização estabelecimento dos limites entre o que diz do currículo e para uma proposta respeito efetivamente à ampliação do nível de educação profissional educacional e o que se refere a um maior ampliada. treinamento para as tarefas e atividades • O objetivo de ensino é próprias do trabalho a ser realizado, sem desenvolver as capacidades delas abrir mão. 115 • O objetivo de ensino é formar seres com autonomia intelectual e moral, que desenvolvam esquemas e operações mentais facilitadoras da mobilização de conhecimentos, de habilidades, valores, emoções e atitudes que os tornem capazes de assumir responsabilidade plena por suas carreiras, por suas relações e por suas ações. • Os objetivos de ensino deveriam ser formulados para formar o trabalhador e para atender os interesses das empresas. • Os objetivos de ensino do Programa são formulados para formar o trabalhador para atender as exigências do mercado, com domínio nas atividades do trabalho e com aquisição de competências (saber-fazer; saber-prático e saber-ser). • Daí o interesse em desenvolver comunidades de prática para promover a colaboração, a participação, aumentar a interação social, aumentar a produtividade e melhorar a aprendizagem organizacional. Conteúdos Privilegiar as atividades simbólicas e de abstração em detrimento das atividades ditas concretas e passíveis de codificação. O silêncio e a fragmentação de tarefas dão lugar à comunicação e à interatividade. A autonomia, a mobilidade e a flexibilidade cognitivas, afetivas e psicomotoras relativas ao trabalho intelectual, sempre articulado, mas não reduzido, ao mundo do trabalho e das relações sociais • Problematiza a educação enquanto atividade social subordinada à lógica do capital, exercendo funções de reprodução alienada da força de trabalho e de conformação com a realidade. Em contraposição, ela propõe o trabalho como principio educativo. • Considerar a obra como princípio organizador das atividades de aprendizagem em programas de formação profissional. • Não se partitirá dos conhecimentos e das habilidades que o trabalhador precisa dominar, mas da pergunta de que obras são valorizadas pelas comunidades de prática onde se desenvolve o trabalho do profissional que pretende formar. • É na lógica do sistema capitalista, e não em uma das suas manifestações, no caso as diferentes tecnologias, que está a explicação do desemprego e das dificuldades de inclusão, seja na escola, seja no trabalho. • A solução do desemprego não depende de boa vontade ou de uma mudança brusca nos currículos educacionais e nem será alcançada se no lugar da tecnologia analógica todos forem incluídos ou aderirem à digital. • O conteúdo formativo do referido Programa deve estar relacionado à atividade de trabalho; saber-fazer; saberprático, saber do corpo, saber ser para poder agir; mecanismos utilizados para efetuar a tarefa e a desenvolver habilidades, apreender regras e os conhecimentos necessários à atividade de trabalho. A identificação, definição e construção de competências profissionais não se pauta pelas necessidades e demandas estritas do mercado, na ótica do capital, mas leva em conta a dinâmica e as 116 parecem ter traduções diversas e diversificadas, que não são automaticamente congruentes ou interrelacionais. Saberes vinculados à biografia do indivíduo e à capacidade deste em transferi-los com eficiência para a organização. O processo educativo, enquanto veículo social através do qual se pretende desenvolver o homem em todas as suas dimensões e potencialidades, não deve ser estreitado aos parâmetros limitadores da atividade produtiva e não pode ser visto como manancial que responde aos apelos nitidamente econômicos da sociedade. O conteúdo de ensino deve permitir a estruturação de cursos e outras iniciativas de treinamento e aperfeiçoamento de trabalhadores, não apenas em termos técnicos e operacionais, mas com conteúdos básicos e instrumentais. Esses conhecimentos devem compor a grade curricular permitindo uma formação mais sólida e mais fundamentada nas teorias cientificas do conhecimento. Pelos métodos se promove o nível de consciência das pessoas e se situa o indivíduo em seu meio e no seu tempo e se desenvolvem potenciais e competências físicas, psicológicas e emotivas. As autoras afirmam que para as empresas a relação entre escolaridade e trabalho é necessária para o aumento da produtividade daquelas, sendo muitos os projetos governamentais que articulariam a escolarização com a formação para o trabalho, em diferentes níveis. Promover a simetria de processos entre educação e “modernidade líquida”. A adoção das CPTs, tanto no plano teórico quanto no plano concreto das práticas de gerenciamento, pode representar uma extraordinária revitalização do campo da “organização e gestão do trabalho”. Nesta perspectiva, os objetivos de ensino deveriam ser formulados para formar o trabalhador e para atender os interesses das empresas. Os conteúdos de ensino, no referido artigo, são relacionados ao modelo de competência merecendo serem amplamente submetidos a uma ação operacional no âmbito da empresa. O professor tem o desafio de educar na cibercultura, o que requer desenvolver sua imaginação criadora para atender às demandas da aprendizagem interativa. O melhor modelo de competência é aquele que reflete a cultura vigente na organização; ou seja, o que se alinha às competências organizacionais. A resposta aos desafios da sociedade do contradições do mundo do trabalho, os contextos macroeconômicos e políticos, as transformações técnicas e organizacionais, os impactos socioambientais, os saberes do trabalho, os laços coletivos e de solidariedade, os valores e as lutas dos trabalhadores. Os conteúdos de ensino que se referem à aprendizagem dos saberes disciplinares é acompanhada da aprendizagem dos saberes gerados nas atividades de trabalho: conhecimentos, valores, histórias e saberes da experiência. A ressignificação da noção de competências é, portanto, uma tarefa válida e urgente. A competência tem caráter parcial, uma vez que, embora apresentado como universal, inclusive no discurso pedagógico oficial, refere-se a uma modalidade específica de trabalho: o reestruturado, que demanda forte articulação entre as dimensões psicomotora, cognitiva e afetiva (fazer, saber e ser), para o que, o domínio dos conhecimentos científico-tecnológicos e sóciohistóricos, adquiridos através de extensa, continuada e bem qualificada escolaridade, é fundamental. A importância do trabalho teórico para o desenvolvimento de competências torna-se mais evidente quanto mais este trabalho for mediado por ciência e tecnologia nos pórprios processos sociais e produtivos, tomando o saber tácito um novo significado que precisa ser mais bem pesquisado em função das mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Um repertório sólido de conhecimentos técnicos, acompanhando uma educação geral consistente, talvez seja uma saída mais justa e inteligente (ou PC?). As questões curriculares precisam ser contextualizadas diante da mundialização do capital e do novo complexo de reestruturação produtiva do capital. Com toda certeza a escola/universidade, no seu planejamento e atuação, não pode simplesmente vincular-se ao mercado, com sua tendência a tudo digitalizar e acelerar. 117 conhecimento, portanto, requer reflexão sobre a prática profissional e atualização constante das competências, que devem estar conectadas às exigências do mercado de trabalho. O conteúdo formativo do referido Programa devem estar relacionados à atividade de trabalho; saber-fazer; saber-prático, saber do corpo, saber se para poder agir; mecanismos utilizados para efetuar a tarefa e a desenvolver habilidades, apreender regras e os conhecimentos necessários à atividade de trabalho. A participação como forma de aproveitamento do conhecimento gerado pela comunidade – exemplo de conteúdo que quer o capital Métodos de ensino O grande desafio parece residir na identificação e valorização de articulações que resultem em ganhos que abarquem todos os atores sociais. Os métodos de ensino estão direcionados ao novo padrão produtivo Um instrumento de avaliação de importância expressiva, embora ainda não devidamente utilizado pelos educadores em toda a sua potencialidade, vem a ser o portfólio Qualquer mudança mais efetiva nos rumos da formação profissional e das instituições que a ela se dedicam implicaria que o trabalho ganhasse maior significância e organicidade no sistema produtivo. . A autora conclui o seu texto afirmando que o novo professor sinaliza para a necessidade de uma formação docente, também renovada, que oportunize aos intelectuais transformadores a construção - pela mediação em processos socioconstrutivistas das competências, dos saberes que alicercem seu trabalho formativo. A arte de fazer aprender num mundo imprevisível, cuja certeza maior é a mudança permanente e veloz, estaria em processo de aprendizagem pelos próprios educadores, que talvez possam dominá-la, quando o mundo estiver vivenciando uma possível e já vislumbrada “modernidade gasosa”. A autora finaliza destacando cinco estratégias que as empresas precisam para solucionar ou minimizar o pouco envolvimento dos trabalhadores, a saber: divulgar a importância desse tipo de atividade nos valores da companhia, promover e compartilhar os resultados práticos alcançados pela comunidade, valorizar a participação e iniciativa individual, bem como criar uma infra-estrutrura tecnológica e pessoal para apoiar a comunidade. Os métodos de ensino são direcionados a construir competências para uma ação autônoma e capaz nos espaços produtivos mas deve ser igualmente voltada para o desenvolvimento de princípios universalistas- igualdade de direitos, justiça social, solidariedade e ética no mundo do trabalho e cidadania. Os espaços escolares são sempre espaços de produção teórica, do trabalho intelectual, sempre que possível articulado à práxis, mas sempre incapaz de reproduzi-la em seu movimento e em sua complexidade. Os espaços de desenvolvimento de competências são os processos sociais e produtivos. A posse do saber teórico, embora necessária, não é suficiente para produzir transformações na realidade; é preciso que ele se transforme em ação, através de um ato de vontade. – QUESTÃO DE ATITUDE A escola é o lugar de aprender a interpretar o mundo para poder transformá-lo, a partir do domínio das categorias de método e de conteúdo que inspirem e que se transformem em práticas de emancipação humana em uma sociedade cada vez mais mediada pelo conhecimento. Barato (2002) questiona uma didática da educação profissional produzida para a educação geral, com base na retórica (que serve para fatos, conceitos e princípios), e sugere uma didática com base no saber técnico, baseada no ensino de processos e no saber técnico e no fazer. 118 Torna-se imperioso ao pesquisador analisar o nexo inseparável existente entre a forma e o conteúdo da educação profissional, uma vez que uma posição contrária possivelmente o levará a uma falsa abordagem da questão. A metodologia que utilize a obra como princípio orientado nesta direção pode ser uma saída interessante. A obra, assim, não é apenas um produto que resulta de processos de produção, ela seria um alvo que mobilizaria o sujeito em busca da satisfação de certa necessidade. A resposta aos desafios da sociedade do conhecimento, portanto, requereria reflexão sobre a prática profissional e atualização constante das competências dos professores, que devem estar conectadas às exigências do mercado de trabalho. As autoras concluem que educar na cibercultura implica docência interativa, presencial ou online, e pressupõe participação colaborativa, intervenção na mensagem, bidirecionalidade e dialogicidade e, ainda, conexões em teias abertas de relacionamentos. 2.3. A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NOS ANAIS DO GT09 DA ANPED40 A pesquisa bibliográfica realizada nos Anais do GT 09 – Trabalho e Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd, buscou o alargamento do campo. Os textos que selecionamos para análise correspondem ao período de 2000 a 2007, os quais somam 122 artigos. Dentre eles, foram desconsiderados 89, visto que depois de uma breve leitura constatamos que não apresentavam relação direta com a temática tratada e/ou com as categorias pesquisadas. Os demais 33 objeto de análise interpretativa foram fichados em modelo próprio, tendo em vista as categorias prévias da pesquisa: objetivos de ensino, conteúdos, metodologias 40 Esta seção tem por base o relatório de pesquisa da Bolsista PIBIC-UFPA Jaqueline do Nascimento Rodrigues. 119 de ensino e de avaliação. É importante destacar que nenhum artigo tinha como tema a didática da educação profissional, mas mesmo assim selecionamos os textos que deixaram perceber algumas características da didática e desenvolvemos a análise a partir deses elementos. Segue a relação dos artigos fichados e analisados nos anais do GT09 (Trabalho e Educação) da ANPEd. ANO 2000 2001 2002 2003 Quadro 7 - ARTIGOS DO GT09 DA ANPED ANALISADOS TÍTULO AUTOR Qualificação e novas formas de controle da força de trabalho Noela INVERNIZZI no processo de reestruturação da indústria brasileira: tendências dos últimos vinte anos. O trabalhador frente ao terceiro milênio Graziela MAIA Novas competências no mundo do trabalho e suas Werner MARKERT contribuições para a formação do trabalhador. Reestruturação produtiva, Estado e educação no Brasil de Flávio Anício ANDRADE hoje. Aquisição da qualificação: a multidimensionalidade de um Vera Lúcia Bueno FARTES processo contínuo. Ensino médio e educação profissional: reformas Ramon OLIVEIRA excludentes. O ethos empresarial na educação escolar: novos Maria Vieira SILVA dispositivos, novas subjetividades. A formação do “total trabalhador Sadia”: estratégias de Dulcinéia CRUZ & Lucídio qualificação de trabalhadores em uma empresa BIANCHETTI agroindustrial. Trajetórias de bancários: a qualificação profissional como Ivanise MANFREDINI construção social. O novo ensino médio agora é para a vida: neoliberalismo, racionalidade instrumental e a relação trabalho-educação na reforma do ensino secundário. Competência ou qualificação profissional: noções que se opõem ou se complementam? A fábrica como espaço de aprendizagem, a escolarização como perspectiva de emprego. Letramento e Transformações tecnológicas do mundo do trabalho. A qualificação profissional do ponto de vista de trabalhadores da indústria. Os significados do trabalho segundo técnicos de nível médio. Formação e destinação profissional: trajetórias de alunos do curso de mestria da Escola industrial de São Carlos. A formação integral do trabalhador como ponto de partida para sua qualificação profissional – A experiência do programa Integrar da Confederação Nacional dos Metalúrgicos – CNM/CUT. Os impactos da reestruturação do mundo do trabalho no profissional técnico em química. Trabalho e Educação no “Novo ensino Médio”: Instrumentalização da estética da sensibilidade, da política Aparecida de Tiradentes SANTOS Fátima Erika ALANIZ Nilson M. D. GARCIA Vilma F. BUENO Claudia M. KOBER Suzana BURNIER Ana M. F. CORRÊA João B, LAUDARES & Adilene G. QUARESMA Luciane T. J MATSUMOTO,& Izaura KUWABARA Aparecida SANTOS 120 da igualdade e da ética da identidade na lógica do capital. A pedagogia da escola do trabalho e a formação integral do trabalhador. A centralidade da certificação de competências no Brasil. 2004 2005 2006 2007 Ensinando a ser trabalhador: um estudo das representações no Telecurso 2000. Ensino Profissionalizante na cidade de São Paulo: um estudo sobre o currículo da "Escola Profissional Feminina" nas décadas de 1910, 1920 e 1930. A pedagogia de competências na reforma da educação profissional no Brasil: entre a teoria e a prática escolar. (Des)continuidades e contradições do ensino técnico no CEFET/SC – Unidade de Jaraguá do Sul. Projeto Escola de Fábrica – atendendo a “pobres e desvalidos da sorte” do século XXI. Os papéis da família e da escola na constituição dos sujeitos: implicações na formação dos trabalhadores. A politecnia como princípio pedagógico em Moçambique: limites de uma educação socialista (1983-1992). A EJA integrada a educação profissional no Cefet: avanços e contradições. Educação básica e educação profissional: dualidade histórica e perspectivas de integração. Possibilidades do Ensino médio integrado diante do financiamento público da educação. A formação do trabalhador em instituições tecnológicas: diferentes propostas de um mesmo caminho. O ensino técnico por competências: algumas contradições existentes entre os documentos de uma instituição do sistema S e a prática pedagógica Adilene Gonçalves QUARESMA Neide Elisa Portes SANTOS & Fernando FIDALGO Tatiana da Silva WENDORFF Giseli NOVELLI Carlos A. B. FIRMINO & Ana M. de O. CUNHA FLORIANI, Eliane S. Sônia M. RUMMERT Ademir V. SANTOS Antônio C. P. GONÇALVES Eliza FERREIRA; Desirré RAGGI, Desirré; Maria RESENDE Dante Henrique MOURA Ramon OLIVEIRA Luciene PIRES Guacira. ABREU Gonzalez & Wania 2.3.1. A produção da ANPED A ANPEd — Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação — é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1976 com o apoio de alguns Programas de Pós-Graduação da Área da Educação. Em 1979, a Associação consolidou-se como sociedade civil independente, admitindo sócios institucionais (os Programas de Pós-Graduação em Educação) e sócios individuais (professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação em educação) (ANPEd, 2010). A finalidade da Associação é a busca do desenvolvimento e da consolidação do ensino de pós-graduação e da pesquisa na área da Educação no Brasil. Ao longo dos anos, tem se projetado no país e fora dele como um importante fórum de debates das questões científicas e políticas da área, tendo 121 se tornado referência para acompanhamento da produção brasileira no campo educacional. As atividades da ANPEd estruturam-se em dois campos. Os Programas de Pós-Graduação em Educação, stricto sensu, são representados no Fórum de Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Educação — EDUFORUM. Os Grupos de Trabalho — GTs — congregam pesquisadores interessados em áreas de conhecimento especializado da educação. Para serem constituídos, os GTs precisam ter funcionado durante 2 anos no formato de Grupos de Estudo, com aprovação prévia da Assembléia Geral. Durante as reuniões anuais da ANPEd são feitas as comunicações de pesquisa e apresentação de pôsteres em cada um dos 26 GTs existentes, depois de um qualificado processo de avaliação. Segundo Trein e Ciavatta (2003), o GT Trabalho e Educação funciona como fórum de debates em torno de uma temática comum: as relações que se estabelecem entre o mundo do trabalho e a educação, nelas cabendo formação profissional, formação sindical, reestruturação produtiva, organização e gestão do trabalho, trabalho e escolaridade, subjetividade e trabalho etc. O GT Trabalho e Educação da ANPEd tem sua base teórica pautada no materialismo histórico, segundo Trein & Franco (2003): [...] Essa base teórica pautada no materialismo histórico segundo Marx traz consigo outro traço distintivo do GT: a visão política centrada no compromisso com a transformação das formas de exploração e amesquinhamento do ser humano, geradas pela produção e pela sociabilidade do capital (TREIN e FRANCO, 2003, p. 141). Esse compromisso com a transformação das formas de exploração e amesquinhamento do ser humano está presente nos anais de 2000 a 2007, cujos recortes desta pesquisa bibliográfica, foram sendo discutidos por Graziela Maia, Dulcinéia Cruz e Lucídio Bianchetti, Maria Vieira Silva, entre outros. Da leitura dos artigos apresentados e discutidos no GT Trabalho e Educação, selecionando aqueles que trazem em seu texto referências da didática da educação profissional, destacaram-se os seguintes temas: 122 formação e qualificação do trabalhador, reformas do ensino médio e da educação profissional, tecnologias, reestruturação produtiva, politecnia, competências e empregabilidade. Os autores apresentam como problema as implicações das reformas educacionais da formação, mudanças das qualificações no capitalismo do trabalhador, impactos da reestruturação produtiva, a dualidade estrutural presente no sistema de ensino. Nas seções seguintes buscaremos caracterizar a didática da educação profissional mediante as referências apresentadas nas categorias: objetivos de ensino, conteúdos de ensino, metodologia de ensino e de avaliação. 2.3.2. Reunião Anual da ANPEd – 2000 Nos 03 artigos selecionados do ano de 2000 são postos em evidência temas sobre formação profissional nos artigos “Qualificação da força de trabalho” (INVERNIZZI, 2000), “Reformas educacionais” (MAIA, 2000) e “Novas competências no mundo do trabalho e suas contribuições para a formação do trabalhador” (MARKERT, 2000). Invernizzi (2000) analisou em seu artigo “Qualificação da força de trabalho” pesquisas realizadas durante as décadas de 1980 e 1990, em seis indústrias de ramos diversos: automobilísticos, o de eletrodomésticos de linha branca, o complexo químico-petroquímico, o de equipamento para telecomunicações, o têxtil e o de calçados. Segundo Invernizzi (2000), o desenvolvimento de um novo perfil de qualificação associa-se a uma nova estrutura de controle da força de trabalho, que vai assegurar a subordinação do trabalho ao capital no contexto da chamada produção flexível e que difere daquela associada aos regimes fabris tayloristas-fordistas. No artigo, é apontado como objetivos de ensino nestas indústrias, o acesso privilegiado ao conhecimento científico da realidade produtiva e a manutenção pelos trabalhadores das máquinas em contínuo funcionamento. Os conteúdos de ensino identificados são as habilidades de leitura, escrita, 123 comunicação oral e cálculo, para trabalhar com ferramentas de qualidade, preencher fichas com dados sobre a produção, participar em programas de sugestões, lidarem com informações escritas, demandado pela reestruturação produtiva. Os métodos de ensino e de avaliação, segundo a autora, são os que as indústrias oferecem como cursos supletivos e treinamentos técnicos para elevar o nível de escolaridade dos seus trabalhadores. As máquinas têm a capacidade de registrar as intervenções dos operários, de modo que é possível avaliar individualmente se essas intervenções foram corretas, se os problemas foram resolvidos no tempo certo, se ocorreram “tempos mortos41”. O artigo “Reformas educacionais”, de Maia (2000), trata das reformas educacionais, tendo como referencial teórico Saviani, Machado, Ferretti e Braverman. A pesquisa da autora resulta de revisão bibliográfica e de elementos obtidos de sua pesquisa acerca dos desdobramentos diretos sobre a escola mantida pela empresa Nestlé. Ao tratar das reformas educacionais, Maia (2000) diz que a manutenção da escola para trabalhadores adultos por uma empresa capitalista está intimamente ligada ao interesse do capitalista na reprodução do capital. Entretanto, há uma outra lógica presente no processo: a dos profissionais implicados na educação. E continua afirmando que o interesse do empresário pode ser divergente do interesse do trabalhador e do profissional que reflete sobre questões que não sejam a produtividade, porém, há uma pretensão em comum: todos se preocupam com a educação. Maia (2000) apresenta como objetivos de ensino, baseada na escola mantida pela empresa Nestlé, que o trabalhador veterano deve aprender a trabalhar em grupo, estar atento à produção com qualidade e estar apto a solucionar imprevistos. Para o trabalhador se integrar à sociedade moderna, ele tem que, como requisitos de conteúdos de ensino, saber ler, interpretar a realidade, saber se expressar, trabalhar em equipe, participar nas tomadas de decisão. E como métodos de ensino e avaliação revelam-se os treinamentos e o desenvolvimento do trabalho coletivo. 41 Tempos mortos são considerados pelas empresas o tempo em que não houve produção. 124 Markert (2000), no artigo “Novas competências no mundo do trabalho e suas contribuições para a formação do trabalhador” identifica as categorias centrais do conceito integral de competências: a competência técnica (trabalho), voltada para o domínio do processo de trabalho, e a competência comunicativa, direcionada para as relações humanas sem restrições. Afirma como referencial teórico o materialismo histórico e o idealismo filosófico. No artigo, o autor faz uma análise do “modelo de competência” diante das mudanças ocorridas e ainda em pleno desenvolvimento no mundo do trabalho no âmbito internacional e as contribuições para a formação do trabalhador. Afirma que o ponto crucial das novas competências deverá manifestar-se na capacidade e disposição do trabalhador de assumir a gestão autônoma e coletiva do processo de produção e da vida. O autor não apresentou dados concretos que apontassem para uma experiência, mas indicou fundamentos. Para objetivos de ensino recortamos a idéia de que a formação do “homem integral” precisa do progresso do capitalismo, mas o capitalismo só pode ser superado pela associação de homens autoconscientes. Como conteúdos de ensino, destacamos, segundo Market (2000), que o processo pedagógico - político orientava-se nas experiências concretas dos alunos – trabalhadores, buscando motivá-los para a participação nos cursos políticos e tentando vincular a consciência empírica com a análise teórica das estruturas do capitalismo. Como métodos de ensino e de avaliação, identificamos a experiência como categoria central para a educação e aprendizagem dos homens. Experiências que, para Market (2000), significam as formas de compreender a realidade e a reação ativa às condições da realidade. 2.3.3. Reunião Anual da ANPEd – 2001 Os 07 artigos selecionados do ano de 2001 colocam em evidência temas como a introdução de novas tecnologias e de novas formas de organização do trabalho (ANDRADE, 2001), a aquisição da qualificação de 125 trabalhadores (FARTES, 2001), as reformas dos ensinos médio e profissional (OLIVEIRA, 2001), a intervenção do setor empresarial na gestão da escola pública (SILVA, 2001), as estratégias de qualificação dos trabalhadores (CRUZ; BIANCHETTI, 2001) e a reflexão sobre reforma do ensino médio (SANTOS, 2001). No artigo “Reestruturação produtiva, estado e educação no Brasil de hoje”, Andrade (2001 trabalha a introdução de novas tecnologias e de novas formas de organização do trabalho no Brasil no interior do setor industrial brasileiro e tem como referencial teórico Antônio Gramsci e Lúcia Maria Wanderley Neves. O autor afirma que as principais entidades de representação e organização da burguesia industrial voltaram sua atenção para a questão dos baixos níveis de escolarização do trabalhador, passando a se ocupar com a formulação de uma proposta de entendimento acerca de qual deveria ser o perfil comportamental e os requisitos cognitivos necessários pelo futuro trabalhador correspondente ao patamar de produção contemporâneo. As entidades apresentam como objetivos de ensino a formação de um trabalhador adequado à nova dinâmica dos processos de trabalho e de produção. O que elas buscam seria a adequação dos objetivos educacionais às novas exigências do mercado internacional e interno e, em especial, à consolidação do processo democrático no que concerne à formação do cidadão-produtivo. Como conteúdos de ensino, as entidades dizem que tanto as iniciativas de reformulação dos conteúdos curriculares dos vários níveis e modalidades de ensino no Brasil (materializadas, por exemplo, na elaboração de Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Básico, nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio e no Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Profissional – PROEP) quanto o estabelecimento de mecanismos institucionais de avaliação da aprendizagem dos alunos dos diferentes graus de ensino (Sistema de Avaliação do Ensino Básico – SAEB; Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM; Exame Nacional de cursos - “provão”) devem se pautar pela necessidade de atendimento das demandas apresentadas pelo 126 setor empresarial no que se refere ao perfil de formação dos egressos do sistema escolar nacional. As entidades empresariais afirmam a necessidade de utilização de metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias de verificação e comprovação de hipóteses na construção do conhecimento, a construção de argumentação capaz de controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações propostas. Já Fartes (2001), no artigo “Aquisição da Qualificação: a multidimensionalidade de um processo contínuo”, realizou um estudo de caso em três unidades de produção de uma refinaria de petróleo e, baseando-se no pensamento de Dewey, Vygostsky e Habermas, para compreender o processo de construção da qualificação. A autora trouxe em seu artigo a idéia de que a aquisição da qualificação é um processo contínuo que resulta da inserção individual em distintos contextos sócio-institucionais, os quais podem ser melhores compreendidos quando se analisam as interações que os sujeitos constroem ao longo de sua trajetória de vida, seja nas experiências familiares, seja nas escolares, seja nas profissionais. Revela que, na refinaria, cabe ao operador controlar as reações físico-químicas não manuseando a matéria-prima e que, por isso mesmo, dele se exige um forte componente de abstração e de representação mental do processo de trabalho. Os conteúdos de ensino na dimensão formal42 da aquisição da qualificação são os da rede de ensino regular. Os da dimensão não-formal43 são representados pelos cursos e treinamentos organizados e 42 Trata-se do processo educacional que ocorre no âmbito da instrução e do ensino formalizados por leis específicas. Ocorre sob a responsabilidade de estabelecimentos de ensino autorizados (MENEZES, 2000). 43 Processo educacional que ocorre de maneira organizada e sistemática, porém fora do sistema formal de ensino. Compreende atividades, desenvolvidas por diversos tipos de entidades e instituições da sociedade civil ou do Estado, que têm por objetivo o desenvolvimento humano. Os espaços onde se desenvolvem as atividades da educação não formal são múltiplos: associações de bairro, igrejas, sindicatos, organizações nãogovernamentais, etc. (MENEZES, 2000). 127 estruturados pela refinaria. O conteúdo da dimensão informal44 é a aprendizagem no exercício do trabalho. Para que os operadores pudessem abstrair e representar mentalmente o processo de trabalho, a refinaria de petróleo utilizava os seguintes métodos de ensino e de avaliação: 1. Treinamento e qualificação sistemática – durante um mês retirava-se um operador para estudar em um turno, aplicava-se toda semana uma prova e, dependendo dos resultados, o operador voltava para a refinaria ou continuava no curso. Procedimentos esses que estavam atrelados a ISO45 9.002, que verifica os resultados obtidos após cada curso, através de avaliação dentro de determinados prazos. 2. CIC (Centro Integrado de Controle) – Consiste no ensinar e aprender mútuos entre os operadores. Os saberes que os trabalhadores adquirem implicitamente, no decorrer de suas experiências profissionais, são socializadas entre si. 3. Delega aos funcionários mais experientes da operação a função de treinar os iniciantes na carreira. Isso reforça a relação educativa entre eles, na medida em que, ao ensinar o colega, ao interagir com o outro em situação de trabalho /ensino /aprendizagem, novos conhecimentos e atitudes são construídos. No artigo “Ensino Médio e Educação Profissional: reformas excludentes” Ramon de Oliveira (2001) fez uma análise documental das reformas do ensino médio e educação profissional propostas pelo MEC. Teve como referencial teórico Bueno, Castro, Kuenzer e Saviani, resgatando na sua 44 Compreende os processos formativos do meio sócio-cultural, ocorrendo de modo nãoorganizado e não institucionalizado. A educação transcorrida na família, no convívio com amigos, nas atividades culturais, recreativas e associativas é considerada como informal. O que diferencia a educação não-formal da informal é que na primeira existe ação organizada e intencional de agentes pedagógicos (MENEZES, 2000). 45 É uma organização internacional, com sede em Genebra, na Suíça, responsável pela elaboração de normas de produção, de produtos, de serviços e de pessoal, tendo em vista estabelecer padrões que orientem as empresas a melhorar a qualidade dos seus processos e resultados. Com base nessas referências, instituições autorizadas, no caso do Brasil, o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia), verificam se uma dada empresa está em conformidade e se pode estar habilitada a receber uma certificação (VERISSIMO, 2000). 128 abordagem o problema da dualidade entre educação profissional e educação geral. Para o autor, a reforma dos ensinos médio e profissional objetivava adequá-los a uma nova realidade na qual o domínio do “conhecimento” e a capacidade de competição seriam fatores fundamentais para a competitividade econômica de uma nação, sendo a educação básica o elemento fundamental a ser fortalecido no âmbito das políticas de governo. Afirma o autor que, na proposta de reforma do ensino médio e profissional do MEC, é atribuído um papel a cada modalidade de ensino. Para o ensino médio é atribuído o papel de desenvolvimento de competências46 fundamentais ao exercício da cidadania e à inserção no mercado de trabalho, enquanto o ensino profissional é concebido como espaço preparatório para o mercado de trabalho. O autor cita como objetivos de ensino para a educação profissional, de acordo com o Parecer 16/99: (...) a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos produtivos; (...) visa à preparação básica para o trabalho e à cidadania do educando; (...) o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; (...) flexibilidade às novas condições de trabalho ou às exigências de aperfeiçoamentos posteriores (OLIVEIRA, 2001, p. 244-245). Como conteúdos de ensino, Oliveira (2001) afirma que a estrutura curricular do ensino médio parece apontar para o fim de uma concepção livresca do ensino, valorizando mais a participação do aluno e a realidade na qual ele está inserido. O autor faz a crítica à reforma implementada no sistema de educação profissional, que, ao retirar do seu interior o ensino acadêmico, não só mantém a dualidade histórica no sistema educacional, como, ao mesmo tempo, torna cada vez mais distante para os setores populares a concretização de um modelo educacional que articule teoria e prática, objetivando formar o homem na sua dimensão omnilateral. 46 Competência é a demonstração, dentro de situações reais, de domínio de conhecimentos e habilidades, de condições do agir com eficácia. De uma forma geral, designa a capacidade mobilizada pelos indivíduos ao buscar a realização de uma atividade ou resoluções de problemas (ARAUJO, 2000, p. 56 – 57). 129 No próximo artigo analisado, “O Ethos Empresarial na Educação Escolar: novos dispositivos, novas subjetividades”, Maria Vieira Silva (2001) discute a intervenção do setor empresarial na gestão da escola pública. Afirma que captar as nuances contidas nas proposições do empresariado para a escola mediante a percepção dos sujeitos envolvidos diretamente no processo significa uma tentativa de compreender como a escola poderia incorporar, reproduzir ou negar as práticas culturais desenvolvidas pela dinâmica empresarial no processo de estabilização do seu poder cultural e político. Seu objetivo foi mapear algumas ações que possibilitassem a legitimação da lógica da empresa em consonância com a lógica do capital. Para a autora o empresariado tem como objetivos de ensino formar vencedores numa perspectiva meritocrática. Como conteúdos de ensino são difundidos conceitos abstratos, genéricos e maquiados por uma retórica espiritualista, tais como: coragem, motivação, missão, auto-imagem, autoestima etc., para a produção da nova subjetividade do (futuro) trabalhador ao se estabelecer nexos entre o mundo do trabalho e a escola. Para este intento são utilizadas as palestras com “profissionais modelos” que pretendem ajudar alunos “problemáticos” ou “desajustados”. Na escola são utilizadas estratégias de estímulo e premiação. A avaliação é pelo desempenho individual, que poderá ser reduzido ou resolvido com a motivação. No outro artigo “A Formação do Total Trabalhador Sadia: estratégias de qualificação de trabalhadores em uma empresa agroindustrial”, Dulcinéia Cruz e Lucídio Bianchetti (2001) verificam como as transformações tecnológicas e de gerenciamento mais gerais e as estratégias de qualificação requeridas aos trabalhadores se manifestam na empresa Sadia S.A., bem como suas repercussões e desafios para a educação. Como aumentaram as exigências de qualificação profissional foi exigida também a ampliação da base educacional, a criação da “Escola da Sadia”, em Chapecó, em 1993, sendo uma das estratégias utilizadas para a qualificação dos trabalhadores possibilitar a todos os trabalhadores a formação escolar do ensino fundamental completo até o ano de 2001. 130 A “Escola da Sadia” objetiva a formação do trabalhador com base na ênfase em conceitos como cidadania, participação e integração. Tais aspirações assumem significados distintos conforme o contexto em que estão inseridas, dependendo das instituições conveniadas: Prefeitura, Centro de Educação de Adultos (CEA) e Fundação Bradesco. O exemplo dado pelos autores foi sobre o trabalho com o conceito de cidadania. A cidadania defendida pela proposta da Prefeitura (cidadania plena, de conquista de direitos) difere da pretendida na proposta da Fundação Bradesco (cidadania voltada para a competitividade). Os conteúdos de ensino também dependem da instituição conveniada. Os conteúdos na Prefeitura envolvem a realidade sócio-política, econômica e cultural do trabalhador; na CEA, os conteúdos são os mesmos do ensino regular e praticamente não são respeitadas as especificidades de uma demanda composta por trabalhadores que, na maioria dos casos, há muito tempo deixou de estudar; e na Fundação Bradesco os conteúdos das aulas são as do Telecurso 2000 – Fundação Roberto Marinho e também estão organizados em módulos. Assim como os objetivos, os conteúdos, as metodologias de ensino e de avaliação também são diferenciadas conforme a instituição. Na Prefeitura, os assuntos da realidade são trabalhados na forma de tema gerador, mas enfatizados os conteúdos mínimos necessários para o acompanhamento da etapa seguinte, que é o ensino individualizado. No CEA, todo o processo de ensino-aprendizagem é direcionado para o estudo individualizado. O professor tem como atribuição orientar o processo pedagógico e o aluno-trabalhador tem a responsabilidade de estudar sozinho, buscando meios para superar as dificuldades e avançar no processo. A interação professor-aluno acontece em um encontro semanal, mediada pelo estudo prévio do módulo. Normalmente, o aluno busca explicações do conteúdo antes de fazer as provas. Na Fundação Bradesco são utilizadas fitas de vídeo contendo as aulas do Telecurso 2000 – Fundação Roberto Marinho. O monitor, atuando no papel do professor, organiza a reprodução da aula gravada e propõe atividades de fixação que são realizadas paralelamente ao estudo do assunto. 131 No artigo “Trajetórias de bancários: a qualificação profissional como construção social” Ivanise Manfredini (2001) teve como objetivo de estudo analisar a qualificação profissional em uma instituição financeira estatal. A autora analisa a qualificação profissional num banco estatal, tomando-a não como determinada naturalmente pelas tecnologias implantadas pelas empresas em reestruturação, mas antes como a resultante de um “campo de forças antagonistas ou complementares no qual, em função dos interesses associados às diferentes posições e do habitus dos seus ocupantes”, definemse continuamente na luta. A autora busca aprofundar a análise particular de cada sujeito, ao falar da escolaridade dos trabalhadores, sobre a representação do trabalho no habitus e, diante do contexto apresentado, busca compreender até que ponto a história de formação do trabalhador bancário representava a base para que pudesse exercer um contra-poder e não apenas adaptar-se às demandas do processo de reestruturação. Os conteúdos de ensino dependiam das trajetórias familiares, escolares e profissionais de cada sujeito. A empresa investe na configuração de um novo habitus, ou seja, na construção de um determinado conhecimento e categorizações relacionadas com o mundo do trabalho que passam a nortear as percepções e representações comuns a respeito do trabalho e das qualificações a ele relacionadas. A autora diz que com a reestruturação da empresa, imprime-se o critério quantitativo como padrão de relacionamento do bancário com o cliente. A utilização das tecnologias da informação, que fazem mais transações a um custo muito menor, assim como os relatórios de rentabilidade da agência, são os parâmetros de construção dessa base rentista do trabalho bancário. O relacionamento pessoal, caracterizado pela incerteza, inclusive quanto aos resultados, é desqualificado. A empresa é um instrumento da construção da sua própria rentabilidade. Isto é o que apresenta como lógica também a orientar os processos formativos. No artigo de Aparecida Santos (2001), “O Ensino Médio agora é para a vida” faz uma análise do caráter ideológico da reforma do ensino médio, com base em uma fonte-símbolo desse programa: a revista O Novo Ensino 132 Médio: a revolução do conhecimento chega às escolas brasileiras, publicação produzida pelo MEC e utilizada para divulgação da reforma entre os alunos, professores e comunidade, nos fins do ano de 2000. Segundo a autora, a reforma do Ensino Médio traz como objetivos de ensino a preparação para o mercado de trabalho e a profissionalização dos jovens. Em conteúdos de ensino, a autora, embasada pela reforma, diz que o desprezo aos conteúdos assemelha-se às estratégias medievais ou próprias do escravismo para evitar que os subalternos tivessem acesso aos saberes “proibidos”. Considera que o conhecimento deve ser “experimentado” pelo aluno, e não apenas recebido por ele; e que, em vez de fórmulas decoradas, é necessária a compreensão do que é ensinado e a possibilidade de usar o aprendizado na vida prática. Para metodologias de ensino e de avaliação, segundo a autora, o ponto de partida para uma educação significativa tem de ser a realidade do aluno. Quanto à avaliação, a autora faz críticas ao fenômeno da avaliação proposta na revista, que sugere um modelo padronizado e até mesmo o uso de material didático único, já para os que vão prestar vestibular a pontuação utilizada será a do ENEM, que, realizado uma vez por ano, daria referências sobre o estudante em relação às competências e poderá servir para que as universidades selecionem seus novos alunos. 2.3.4. Reunião Anual da ANPEd – 2002 Nos 04 artigos da ANPED, que selecionamos entre aqueles publicados no ano de 2002, são evidenciados os seguintes temas: noção de competência (ALANIZ, 2007), a fábrica como espaço de circulação de conhecimento e a escolarização no contexto da empregabilidade (GARCIA, 2007), concepções de leitura e de escrita presentes no mundo do trabalho (BUENO, 2007) e noção de empregabilidade (KOBER, 2007). No artigo “Competência ou Qualificação Profissional: noções que se opõem ou se complementam?”, Érika Alaniz (2007) aborda três aspectos da noção de competência: a competência articulada à noção de qualificação profissional, o saber-ser como um conceito peculiar da noção de competência e o estabelecimento de consensos entre os diferentes atores nas tomadas de decisões. 133 Segundo a autora, a lógica empresarial tem como objetivos de ensino buscar ações integrativas dos trabalhadores aos interesses da indústria. As empresas capitalistas pensam suas estratégias de formação em termos de competência. Privilegiam como conteúdos de ensino características como responsabilidade e iniciativa para tomar decisões e interferir de maneira adequada no equipamento. O desenvolvimento dessas atitudes está potencializando a aquisição de um conhecimento técnico que possibilita ao indivíduo maior domínio sobre o processo de trabalho. Ao adotar o modelo competências, avaliam-se os trabalhadores individualmente e conforme os comportamentos requeridos por essa lógica. Nilson Garcia (2007), no artigo “A fábrica como espaço de aprendizagem, a escolarização como perspectiva de emprego”, realizou uma pesquisa de campo em uma indústria de eletrodomésticos de linha branca (freezers e geladeiras), entre 1998 e 2000. Foram aplicados questionários e realizadas entrevistas com alguns funcionários, gerentes e supervisores e técnicos, funcionários da manutenção e operadores de máquinas. O autor tenta identificar em seu artigo os assuntos escolares de Física presentes no processo produtivo investigado, assim como a forma pelas quais os entrevistados a eles tiveram acesso, quer seja pela escola ou no interior da indústria pesquisada. No artigo, afirma que foi possível verificar a existência de uma relação entre a escolaridade e a posição hierárquica dos trabalhadores na fábrica. Apesar de todos os participantes terem no mínimo escolarização equivalente ao Ensino Médio, somente os portadores de certificados de segundo grau propedêutico ou supletivo operavam máquinas. Todos os trabalhadores investigados tiveram acesso, na escola, a um conjunto de assuntos escolares que podiam ser considerados básicos e que foram desenvolvidos, em sua maior parte, sem que fossem abordados seus aspectos práticos. Por serem em geral propostos e desenvolvidos de forma fragmentada e desvinculados de aplicações, esses conhecimentos, particularmente da Física, não estão mais dando conta de ajudar a explicar as máquinas de hoje. A indústria apresentaria como objetivos de ensino o desempenho no processo produtivo, especialmente na operação de máquinas e equipamentos 134 que incorporam alta tecnologia no seu funcionamento. Os conteúdos de ensino exigidos como requisitos abrangiam a escolaridade em geral e, em particular, os conhecimentos de Física que eram de responsabilidade da escola. Os métodos de ensino e de avaliação nesta indústria são os treinamentos acompanhados de palestras e visitas aos setores da fábrica, cursos técnicos e o “padrinho”47. Os treinamentos de ambientação objetivam proporcionar conhecimento da estrutura da Empresa e ocorrem logo após a contratação. Para aqueles ligados especificamente à produção são organizados cursos de caráter mais técnico visando à preparação dos funcionários para o exercício ótimo de suas funções. Para apresentar o artigo “Letramento e Transformações Tecnológicas do Mundo do Trabalho”, Vilma Bueno (2007) realizou pesquisa de campo em cinco empresas que representam três categorias gerais marcantes na sociedade: serviços de transporte coletivo, produção de tecnologia e de informação, localizadas na Microrregião da cidade de Florianópolis. A pesquisa desenvolveu-se dentro da perspectiva qualitativa de tipo etnográfica. A autora tinha como objetivo investigar as concepções de leitura e de escrita presentes no mundo do trabalho e em que medida as transformações tecnológicas interferem nas concepções de letramento dos empresários. Para isso indicou como objeto de estudo a alfabetização, que constitui a principal preocupação da escola, enfadando-a como processo de aquisição individual de habilidades requeridas para a leitura e a escrita, ou ainda, o processo de representação de objetos diversos, de naturezas diferentes. Os conteúdos de ensino, conseqüentemente, são a leitura e a escrita que deveriam direcionar-se para bons desempenhos de atribuição de sentidos aos textos lidos e escritos.. Como estratégia operacional a autora identificou que as empresas realizam cursos e que os empresários valorizam a educação e o domínio de habilidades de leitura e escrita, criticando a escola e valorizando a educação continuada nas empresas. Revelam certo formalismo com relação à correção ortográfica da escrita, mas quanto à leitura têm uma visão funcional. 47 O padrinho atuava como instrutor e repassava sua experiência e conhecimento do processo industrial para os novos trabalhadores. 135 Claúdia Kober (2007), no artigo “A qualificação profissional do ponto de vista de trabalhadores da indústria”, realizou uma pesquisa de campo utilizando entrevistas semi-estruturadas com dois grupos de trabalhadores: o primeiro, formado por sete trabalhadores que cursavam o supletivo do ensino fundamental em uma escola municipal e que trabalhavam em diversas empresas, nenhuma das quais havia passado por um processo de reestruturação produtiva. O segundo grupo tinha oito trabalhadores que cursavam o supletivo de ensino médio dentro da indústria em que trabalhavam, naturalmente reestruturada para esses fins, Kober (2007) recorreu ao conceito de habitus de Bourdieu para compreender a articulação entre espaço social, a construção social das trajetórias dos entrevistados e as suas decisões e pontos de vista quanto à qualificação. A autora tinha como objetivo contribuir para a compreensão do modo como se estrutura a qualificação profissional do ponto de vista do trabalhador e como ele articula sua história de vida, educação, trabalho e mercado de trabalho nas decisões e iniciativas quanto à qualificação e requalificação. Do ponto de vista dos trabalhadores entrevistados, como objetivos de ensino, a empresa requer que eles, além de saberem “fazer”, sejam capazes de pensar, de ter iniciativa e crítica e de trabalhar em equipe. Quanto aos conteúdos de ensino, é estipulado que eles dominem conhecimentos gerais relacionados ou não ao seu trabalho, sejam capazes de interpretar textos, gráficos e tabelas e adquiram conhecimentos na área de computação. Como métodos de ensino, foram apresentados os treinamentos e ações das empresas na área de segurança. 2.3.5. Reunião Anual da ANPEd – 2003 Entre os 05 artigos publicados no ano de 2003, são postos em evidência temas como as recentes mudanças na sociedade e no mundo do trabalho (BURNIER, 2003), formação e destinação profissional (CORRÊA, 2003), formação e qualificação do trabalhador (LAUDARES; QUARESMA, 136 2003), reestruturação produtiva (MATSUMOTO; KUWABARA, 2003) e a reforma do Ensino Médio (SANTOS, 2003). Suzana Burnier (2003), no artigo “Os significados do trabalho segundo técnicos de nível médio”, realizou uma pesquisa de campo, tendo optado por entrevistar seus sujeitos de pesquisa nas suas residências, obtendo seus endereços a partir de uma escola de educação profissional. Dessa escola, selecionou 03 cursos: Mecânica, Eletrônica e Eletrotécnica, a partir dos quais entrevistou 18 sujeitos ali formados, nos anos de 1996 e 1986. Estes sujeitos foram acompanhados ao longo de 03 anos (entre 2001 e 2003), sendo estabelecidos contatos com eles por meio de entrevistas, telefonemas e emails. A autora traz o olhar dos técnicos de nível médio sobre as situações vividas no mercado de trabalho. E esse olhar mostra que os técnicos rejeitam os ritmos impostos pelas empresas, não só através da aceleração da produção, da definição de prazos cada vez mais reduzidos e de metas cada vez mais ambiciosas, como também pela utilização bastante generalizada da produção em sistema de turnos e letras, em que as empresas funcionam 24 horas por dia, 07 dias na semana. Segundo a autora, pelo olhar dos técnicos o que a empresa espera deles é a capacitação para as tarefas, de modo a apresentarem capacidade de relacionamento interpessoal para diminuir conflitos, autocontrole e noções básicas de matemática. Como estratégias formativas, utilizam os trabalhadores mais experientes para repassarem no ambiente de trabalho os conhecimentos sobre os equipamentos de cada empresa. Já Ana Corrêa (2003), no artigo “Formação e destinação profissional: trajetórias de alunos do curso de mestria da Escola industrial de São Carlos”, fruto de um estudo de caso realizado na Escola profissional Secundária Mista da cidade de São Carlos, no Estado de São Paulo, depois de realizar 46 entrevistas com ex-alunos do curso de mestria, buscou comprovar a correspondência entre os cursos e as profissões exercidas. 137 Seu artigo sobre formação e destinação profissional48 tem como objeto o vínculo entre a educação e o trabalho, o ensino e a profissionalização, através da análise da formação profissional ministrada no interior de uma escola representativa da educação profissional. O curso de Mestria tem como objetivos de ensino a iniciação profissional. Para conteúdos de ensino a programação curricular foi agilizada com a introdução de cursos, devidamente diferenciados para as seções masculina e feminina, enquanto garantia-se a convivência dos estudos teóricos e dos práticos na composição das disciplinas de cultura geral e de cultura técnica, devidamente dispostas em um tronco comum de disciplinas teóricas e técnicas comuns aos vários cursos: português, matemática, história e geografia do Brasil e ciências físicas e naturais, e desenho técnico, tecnologia e oficina Quanto às metodologias de ensino e de avaliação, as práticas educativas para os homens consistiam em Orfeão e Educação Física. O ensino, limitado quanto aos estudos teóricos, tinha o mérito de integrar as áreas de estudo, afastando a fragmentação dos conhecimentos e habilidades necessárias às várias etapas operacionais do processo de fabricação dos artefatos produzidos na Escola, expostos e vendidos nas exposições anuais. Integravam-se os estudos no ambiente escolar e a prática do estágio obrigatório, realizado nas indústrias locais, devidamente supervisionados e avaliados em função do desempenho do estagiário. Cabia ao Serviço de Psicotécnica estudar e aplicar meios de desenvolvimento das aptidões dos alunos, garantindo a aprendizagem e a produtividade da futura profissão. Ainda da Anped (2003) João Laudares e Adilene Quaresma (2003) no artigo “A formação integral do trabalhador como ponto de partida para sua qualificação profissional – A experiência do programa Integrar da Confederação Nacional dos Metalúrgicos – CNM/CUT“ apresentam um recorte de uma pesquisa bibliográfica da produção acadêmica da temática formação e qualificação e, em particular, nos documentos gerados sobre a proposta político-pedagógica e de implementação do Programa INTEGRAR da CNM/CUT. Os autores utilizaram Frigotto, para entender os dilemas e 48 Neste artigo a destinação profissional é assumida como conceito paralelo ao sentido de vocação. 138 impasses do campo educativo; Ramos, para discutir a noção de competência na Reforma da Educação Brasileira; e Machado para discutir a noção de qualificação. A base teórico- pedagógica do programa Integrar encontra-se nas contribuições de Piaget, Wallon e Vygotsky. Os autores trazem a concepção pedagógica da proposta de formação integral do trabalhador, a partir da experiência do Programa Integrar da Confederação Nacional dos Metalúrgicos - CNM, incorporada pela Central Única dos Trabalhadores – CUT. A articulação da formação geral com a formação profissional, na perspectiva da formação integral do trabalhador, é condicionante da sua inserção no mercado de trabalho, com participação ativa, reflexiva e crítica, não mais reduzida à capacitação técnica, mas ao entendimento de seu espaço social, político e econômico, com possibilidade da práxis como intervenção. No item ‘objetivos de ensino’, o processo educativo defendido pelo Programa Integrar visa desenvolver a dimensão política, a dimensão cognitiva e a dimensão técnica. O programa visa, além da formação do trabalhador eficiente, polivalente, a sua adaptação às novas tecnologias, à formação de cidadãos conscientes de seu potencial e de seu papel na sociedade. Quanto aos conteúdos de ensino, a estrutura curricular do programa ‘Integrar para Desempregados’ é Trabalho e Tecnologia; Gestão e planejamento; Leitura e interpretação de desenho; Informática e Matemática. Já a ‘Formação de Dirigentes’ tem como temática curricular: “a formação da sociedade brasileira e a construção de um projeto de sociedade” (LAUDARES, QUARESMA, 2003, p.09) a partir da qual toda a construção do processo pedagógico se orienta. A estrutura curricular para o Ensino Médio é a seguinte: Desigualdades na sociedade brasileira; Cultura e identidade nacional; Transformações no mundo do trabalho; Saúde e cidadania; Ciência e liberdade. O conteúdo de matemática é desenvolvido separadamente, mas articulado aos temas. Os métodos de ensino são vários. As atividades para o programa ‘Integrar Desempregados’ compreendem: Curso regular, laboratórios de aprendizagem e oficinas pedagógicas. As atividades para ‘Dirigentes Sindicais’ compreendem: 02 círculos de estudo (por mês) com formador e 02 círculos 139 sem formador, 02 estudos orientados, quando os educandos estudam sem a presença do educador, mas com um roteiro de estudo já definido. Há uma atividade mensal que compreende um encontro de todos os educandos. O conteúdo do Ensino Médio é dividido em módulos e cada módulo tem a duração de 01 mês. Quanto à avaliação, esta é compreendida como um processo contínuo que considera a participação do educando a partir da auto-avaliação, da avaliação do grupo e de todo o processo pedagógico. Luciane Matsumoto e Izaura Kuwabara (2003) trazem em seu artigo “Os impactos da reestruturação do mundo do trabalho no profissional técnico em química“ os impactos da reestruturação produtiva sofridos pelo Técnico em Química no mercado de trabalho, por meio da obtenção de informações a respeito desses profissionais, a partir do contato com as empresas nas quais eles se encontram atuando. O profissional Técnico em Química, assim como possivelmente outros trabalhadores, encontra-se profissionalmente descaracterizado em virtude da sobrecarga de funções e responsabilidades, e da não existência da possibilidade de seguir carreira, evidências da precarização que leva à desprofissionalização e às dificuldades crescentes na construção de sua carreira e manutenção da identidade profissional. Segundo as autoras, os profissionais que se encontram realizando a formação profissional atualmente buscam na formação, em primeiro lugar, a certificação e, em segundo lugar, o conhecimento como fundamentação teórica para as novas tecnologias, sendo estes os objetivos de ensino. Como conteúdos de ensino, as empresas oferecem cursos de relacionamento interpessoal, primeiros socorros, produtos químicos e metrologia. Para metodologias de ensino e de avaliação, a maioria das empresas oferece treinamentos, cursos periódicos seguidos de cursos específicos. Aparecida Santos (2003) discute a reforma do Ensino Médio no conjunto das reformas neoliberais no artigo “Trabalho e Educação no “Novo ensino Médio”: Instrumentalização da estética da sensibilidade, da política da igualdade e da ética da identidade na lógica do capital”. Afirma que a educação 140 profissional da classe trabalhadora não se destina exatamente à formação para o trabalho em suas formas mais sofisticadas, mas ao subemprego, às formas precarizadas e degradantes e a relações profundamente desiguais, à acentuação da assimetria capital-trabalho nas relações de produção. Segundo os PCNEM, para objetivos de ensino prioriza-se a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. Em conteúdos de ensino os PCNEM orientam a organização curricular. Um dos princípios mais caros é o da autonomia, em nome do qual, considerando inadequado estabelecer-se uma grade curricular mínima que permita a definição de base comum de acesso aos saberes socialmente valorizados, os PCNEM optam por delegar à escola a responsabilidade de definir sua grade. A autora não deixou claro uma metodologia de ensino recomendada pelos pelo PCNEM, mas indicou que os sistemas de avaliação devem acompanhar permanentemente os resultados tomando como referência as competências básicas a serem alcançadas por todos os alunos. 2.3.6. Reunião Anual da ANPEd – 2004 Do ano de 2004, nos 04 artigos que selecionamos, são postos em evidência temas como a pedagogia da escola do trabalho, em : “A pedagogia da escola do trabalho e a formação integral do trabalhador”,(QUARESMA, 2004), a certificação de competências em “A centralidade da certificação de competências no Brasil”,(SANTOS; FIDALGO, 2004), o trabalhador representado no Telecurso 2000, em “Ensinando a ser trabalhador: um estudo das representações no Telecurso 2000”, (WENDORFF, 2004) e a profissionalização feminina em “Ensino Profissionalizante na cidade de São Paulo: um estudo sobre o currículo da "Escola Profissional Feminina" nas décadas de 1910, 1920 e 1930”,(NOVELLI, 2004). Adilene Quaresma (2004), no artigo “A pedagogia da escola do trabalho e a formação integral do trabalhador”, fez uma revisão bibliográfica sobre as questões pedagógicas da Escola do Trabalho. Quaresma (2004) traz a idéia de que a concepção de formação integral Marxiana toma a superação da divisão do trabalho, a união do trabalho 141 manual ao trabalho intelectual e o processo histórico-concreto de construção da sociedade como condição, sob a qual a formação integral se constrói. Segundo a autora, a Escola do Trabalho constitui-se como a primeira experiência de Formação Integral do Trabalhador e se orienta no materialismo histórico – dialético para guiar uma prática pedagógica que vise à educação do trabalhador com condições de intervir tecnicamente e politicamente nos processos produtivos e sociais. A autora se baseia em Pistrak para dizer que os princípios básicos na escola do trabalho são a relação com a realidade e a auto-organização dos educandos. Afirma que, a partir do estudo da realidade atual, busca-se a construção do novo e o objetivo da escola é formar trabalhadores completos, a partir de uma formação tecnológica e social. Com base ainda em Pistrak, a autora diz que a base para os conteúdos de ensino são a realidade do trabalho e da sociedade, na qual o trabalho constitui atividade social útil e a ciência força produtiva dependente do trabalho, não para servir ao capital, mas para as necessidades variáveis do trabalho em função das necessidades variáveis do homem. Quanto aos métodos de ensino e avaliação, a autora afirma que, em relação à teoria e à prática, a teoria marxista precisa ser adotada como princípio para garantir a transformação da escola e dar condições ao educador de criar um bom método. Já no artigo “A centralidade da certificação de competências no Brasil”, Neide Santos e Fernando Fidalgo (2004) analisaram as propostas e experiências governamentais, patronais e sindicais. Os autores tinham como objetivo central evidenciar como a certificação de competências ganha centralidade nos discursos e ações dos diversos interlocutores políticos e sociais. Segundo os autores, o processo de formação e de certificação de competências tem estado subsumido à lógica mercantil, enfraquecendo o poder de negociação dos trabalhadores tanto das competências a serem certificadas como do valor da força de trabalho. Para os autores, a busca pela melhoria no padrão de qualidade dos serviços prestados nos diversos setores constitui a motivação principal para o desenvolvimento de experiências de certificação de pessoas. 142 Ainda segundo os autores, uma análise apressada em torno do processo de certificação de competências pode encobrir as contradições reais do processo, pois o reconhecimento dos saberes adquiridos fora do processo de educação formal e a valorização dos saberes demonstrados no processo de trabalho podem, aparentemente, soar como um elemento constitutivo de uma autonomia do trabalhador, ou mesmo, como uma diminuição do fosso existente entre trabalho real e trabalho prescrito. Tatiana Wendorff (2004), no artigo “Ensinando a ser trabalhador: um estudo das representações no Telecurso 2000” observou e analisou 10 teleaulas de matemática e 10 teleaulas de história do Brasil, além de ter examinado documentos do Telecurso 2000. Analisou também o documento do SENAI: Manual do orientador de aprendizagem e Capacitação de orientadores de aprendizagens. A autora trata do perfil do trabalhador representado no Telecurso 2000 e configura de que modo os adultos trabalhadores participantes desse projeto de educação à distância se viam representados nas teleaulas. Wendorff (2004) revela que, segundo o documento do SENAI/RS, espera-se que o aluno tenha acesso aos conhecimentos básicos e profissionalizantes que o ajudarão compreender a sociedade e dela participar – exercendo seus direitos e deveres de cidadão – e atuar de modo competente e produtivo. Como conteúdo formativo, a proposta básica do Telecurso 2000 é a formação para o trabalho. No entanto, essa formação para o trabalho não deve ser dissociada da realidade, os conhecimentos adquiridos devem contribuir para uma participação na sociedade e para uma atuação profissional mais produtiva. Gisele Novelli (2004) no artigo “Ensino Profissionalizante na cidade de São Paulo: um estudo sobre o currículo da "Escola Profissional Feminina" nas décadas de 1910, 1920 e 1930”, investigou a história da organização curricular da Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, pertencente à rede de escolas técnicas do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), nas primeiras três décadas de seu funcionamento – 1910, 1920 e 143 1930. A autora fez uma análise da organização das leis e regulamentos que formataram o currículo da Escola Profissional Feminina. A autora teve como objetivo revelar quais os conhecimentos, quais os valores e quais as habilidades eram considerados legítimos nos primeiros anos de profissionalização feminina na cidade de São Paulo. O objetivo da escola profissional feminina era o de buscar no ensino profissionalizante conhecimentos que tivessem valor no mercado e sua conseqüente remuneração. Em relação aos conteúdos de ensino, o currículo era composto de aulas de português, aritmética, geografia e desenho geométrico, entre outras disciplinas, além de atividades práticas exercidas nas oficinas. Os cursos organizavam-se em três anos nesta escola, sendo uma parte do currículo com aulas teóricas e outra parte com aulas práticas realizadas em oficinas. 2.3.7. Reunião Anual da ANPEd – 2005 Nos 04 artigos selecionados do ano de 2005, observamos que são postos em evidências, temáticas como a reforma da educação profissional, tendo como referência a pedagogia de competências no artigo: “A pedagogia de competências na reforma da educação profissional no Brasil: entre a teoria e a prática escolar”, (FIRMINO; CUNHA, 2005); a reforma da educação profissional em “(Des)continuidades e contradições do ensino técnico no CEFET/SC – Unidade de Jaraguá do Sul”, (FLORIANI, 2005), as políticas públicas concretizadas no Projeto Escola de Fábrica, em “Projeto Escola de Fábrica – atendendo a ’pobres e desvalidos da sorte‘ do século XXI”, (RUMMERT, 2005) e os papéis que a família e a escola exercem no processo formativo humano, em “Os papéis da família e da escola na constituição dos sujeitos: implicações na formação dos trabalhadores”, (SANTOS, 2005). Carlos Firmino e Ana Cunha (2005), no artigo “A pedagogia de competências na reforma da educação profissional no Brasil: entre a teoria e a prática escolar”, realizaram uma pesquisa em quatro escolas de ensino agrícola da rede federal de educação tecnológica localizadas no Estado de 144 Minas Gerais. A pesquisa foi organizada dentro dos parâmetros da pesquisa qualitativa na modalidade estudo de caso, com uso de entrevistas. Os autores afirmam em seu artigo que, quando a reforma da educação profissional começou no ano de 1996, mais de 90% das escolas agrotécnicas federais ofereciam apenas um curso técnico que funcionava integrado ao ensino médio: o técnico agrícola com habilitação em agropecuária, no qual apontavam que os alunos passavam mais tempo trabalhando nas escolas como “peões melhorados” do que sendo preparados para se tornarem técnicos capazes de interpretar as mudanças e transformar o mundo produtivo. A noção de competência surge então pela necessidade de desenvolvimento de novos perfis de trabalhadores requeridos pela crise do fordismo, em que predominavam as tarefas simples, rotineiras e prescritas, com intensa divisão técnica do trabalho e com forte vinculo à posse do diploma. De acordo com os autores, a reforma assumia o objetivo de construir um ensino técnico contextualizado com a vivência dos alunos e mais ajustado à realidade do mundo produtivo, garantindo a sua flexibilidade e empregabilidade. Os conteúdos repassados deveriam pautar-se em pesquisas no mundo produtivo, implicando a elaboração de planos de curso nas respectivas áreas profissionais. Os professores das escolas pesquisadas disseram que havia um direcionamento para aula prática demonstrativa, com foco no treinamento, na aprendizagem por repetição e a conseqüente reprodução, pelos alunos, das ações mostradas. Na concepção de avaliação dos professores foi percebida uma perspectiva (neo) pragmática de conhecimento. A pesquisa de Eliane Floriani (2005), comunicada no artigo “(Des) continuidades e contradições do ensino técnico no CEFET/SC – Unidade de Jaraguá do Sul”, tem como foco os cursos técnicos Têxtil e Eletromecânica no CEFET/SC – JS. A autora problematiza o imediatismo indicado nos objetivos educacionais do decreto nº 2.208/1997 e da portaria nº 646/1997, uma vez que esta legislação revela uma concepção economicista de educação. A educação profissional apresentava-se meramente como um treinamento para o 145 trabalhador competir por oportunidades de trabalho, o que descartava praticamente os elementos da formação integral. Nesta escola, os cursos eram organizados e identificados de duas formas diferentes: os cursos técnicos integrados e os cursos técnicos modularizados. Estes compreenderiam o uso de procedimentos, conceitos e princípios novos, mais compatíveis com a trabalhabilidade. Os cursos técnicos integrados, além das atividades “normais” de sala de aula, também se desenvolviam por meio de atividades extras, como: show de talentos, desfiles, varal da poesia, jogos internos, semana do técnico, coral, palestras proferidas pelos próprios alunos, visitas técnicas. Tais atividades constituíam um conteúdo paralelo que fortaleceria as possibilidades de desenvolvimento nas várias áreas de ensino-aprendizagem. Nos cursos técnicos modularizados, os currículos não eram mais concentrados em conteúdos ou necessariamente traduzidos em grades de disciplinas. A ênfase dos conteúdos transferia-se para as competências a serem construídas pelo sujeito que iria aprender. Os planos de disciplina dos curso técnicos Têxtil e Eletromecânica dos cursos integrados apresentaram diversas estratégias para o desenvolvimento de conteúdos, como: aulas expositivas e dialogadas; aulas práticas nas oficinas e laboratórios; apresentação de trabalhos individuais e em equipes; desenvolvimento de projetos de pesquisa; projetos de conclusão de curso; visitas técnicas, participação em feiras, palestras. A avaliação era feita, principalmente, por meio de provas. Também constavam outras formas de avaliação, como: apresentação de trabalho; relatório de aulas práticas e de visitas técnicas; participação; interesse demonstrado; assiduidade; responsabilidade. Atribuíam-se notas de zero a dez. Nos cursos técnicos modularizados, os planos pedagógicos sugeriam atividades como: estudos de caso; conhecimento de mercado e das empresas; projetos interdisciplinares; pesquisas individuais e em equipe. A metodologia previa a interdisciplinaridade como promotora de atividade ou projetos de estudos, pesquisa e ação. 146 A avaliação era registrada por meio de conceitos. O acompanhamento era realizado por eixo temático, registrado em fichas com as competências, habilidades e atitudes profissionais. O artigo “Projeto Escola de Fábrica – atendendo a ’pobres e desvalidos da sorte‘ do século XXI”, de Sônia Rummert (2005), resulta de uma pesquisa que vinha sendo empreendida com o objetivo de analisar as políticas públicas destinadas à educação da classe trabalhadora, implementadas pelo MEC, no período de 2003 a 2006. A autora informa que o projeto Escola de Fábrica caminha em direção oposta àquela que considera a educação pública o espaço potencialmente democrático e privilegiado para propiciar à classe trabalhadora a formação integral. Ao contrário, contribui para a conformação à ordem do sistema capital. O projeto Escola de Fábrica objetiva possibilitar que jovens, com idade de 15 a 21 anos, pertencentes a famílias com renda per capita menor ou igual a um salário mínimo, fossem incluídos socialmente, por meio da formação profissional e ampliação das possibilidades de inserção no mundo do trabalho. A carga horária de 600 horas seria destinada tanto à formação profissional quanto à formação cidadã, por meio de temas transversais como cidadania, inserção social, comunicação interpessoal, sociabilidade, meio ambiente, saúde coletiva, dentre outros. Na Escola de Fábrica a formação profissional de tais jovens se dava, predominantemente, a partir da atuação de funcionários voluntários, treinados por dois meses para atuarem como instrutores. Ademir Santos (2005), no artigo “Os papéis da família e da escola na constituição dos sujeitos: implicações na formação dos trabalhadores”, resgata a discussão sobre os papéis que a família e a escola exercem no processo formativo humano. Realizou também uma investigação em uma grande empresa do setor têxtil, no ano de 2001, enfatizando o olhar dos próprios trabalhadores sobre suas trajetórias formativas. O autor traz o olhar dos(as) próprios(as) trabalhadores(as) sobre suas trajetórias formativas nestas instituições: família e escola. A educação para o trabalho se fazia presente nas experiências escolares, e, à medida que 147 trabalho e educação fossem entendidos como práticas históricas situadas no interior de relações sociais particulares, seria possível que se aprendesse a dinâmica do real. Segundo os trabalhadores, sujeitos da pesquisa, a estrutura escolar é atualmente entendida como formadora para o trabalho. Ao mesmo tempo, essa formação institucional visaria qualificação para o trabalho, que é princípio também da legislação vigente. Consideraram que o que mais se requisita do trabalhador é ter respeito, ter higiene, saber cumprir horário e ter responsabilidade. Para métodos de ensino e de avaliação, o autor diz que a exigência de atenção para com os conteúdos, habilidades e regras inseridas nos percursos escolares individuais e coletivos acostumam os sentidos à vigilância. Ao mesmo tempo, são normalmente associados à possibilidade de assunção responsável de tarefas que os sujeitos deverão estar aptos a executar, no presente ou num (in) certo futuro de inserção no trabalho. 2.3.8. Reunião Anual da ANPEd – 2006 No único artigo selecionado do ano de 2006 foi evidenciado o tema politecnia 49 como princípio pedagógico (GONÇALVES, 2007). No artigo “A politecnia como princípio pedagógico em Moçambique: limites de uma educação socialista (1983-1992)”, Antônio Gonçalves (2007) realizou uma pesquisa teórica revisando a bibliografia sobre o conceito de politecnia presente no projeto socialista para a educação Moçambicana. Também foram consultados documentos oficiais, artigos, livros e resultados de pesquisa sobre a educação "socialista" moçambicana. Realizaram-se entrevistas, na cidade de Maputo, com intelectuais que estiveram envolvidos com a educação moçambicana no período de 1983-1992. O autor revela que era exigida do trabalhador a aquisição de habilidades, conhecimentos gerais e técnicos e que a escola popular se restringia ao ensino de leitura, escrita e princípios de religião e não estava 49 Refere-se a um conceito central do pensamento pedagógico que toma o trabalho como princípio educativo. Ele compreende uma avaliação crítica da visão pragmática e instrumentalista das relações entre educação e trabalho e do ensino geral/acadêmico e ensino profissional que seriam expressões da divisão social do trabalho (ARANHA; MACHADO, 2000). 148 preparada para treinar profissionalmente os trabalhadores para a grande indústria. Gonçalves (2006) indica que, o princípio da politecnia se expressava em um ensino prático. Este, unido ao ensino teórico e à ginástica, contribuiria para produzir seres humanos plenamente desenvolvidos – a ominilateralidade. 2.3.9. Reunião Anual da ANPEd – 2007 Nos 04 artigos selecionados do ano de 2007 são postos em evidência temas como a educação de jovens e adultos (FERREIRA; RAGGI; RESENDE, 2007), a dualidade estrutural entre educação profissional e educação básica (MOURA, 2007), ensino médio integrado (OLIVEIRA, 2007), a formação do trabalhador (PIRES, 2007) e modelo de competências (ABREU; GONZALEZ, 2007). As autoras Eliza Ferreira, Desirré Raggi e Maria Resende (2007) no artigo “A EJA integrada à educação profissional no Cefet: avanços e contradições” trazem como objeto o curso de Ensino Médio Para Jovens e Adultos Trabalhadores (EMJAT), o qual veio dando lugar ao denominado Programa de Integração da Educação Profissional Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA). Os dados apresentados foram coletados de documentos do CEFET, tais como: matrícula de alunos do EMJAT/PROEJA, relatos de experiência de professores e planejamento interno dos cursos. O EMJAT apresentava como seus objetivos a formação de cidadãos conscientes do seu papel social, capazes de promover melhorias nas próprias vidas e de contribuírem para o crescimento da sociedade em que vivem. Para tanto, o curso do EMJAT buscava proporcionar aos jovens e adultos trabalhadores, excluídos do processo educacional na “faixa etária regular”, a conclusão do Ensino Médio e o ingresso opcional em um curso técnico do CEFET. Os professores do EMJAT organizaram os conteúdos mínimos necessários numa perspectiva de conteúdo significativo, contextualizado e integrado. Como procedimentos de ensino os professores priorizavam aulas expositivo-dialogadas, pesquisas em variadas fontes escritas, trabalhos de 149 campo e de grupos, entrevistas, aulas em laboratórios, atividades individuais e outras. Considerando o paradigma avaliativo do EMJAT, as atividades passaram a ser, diariamente, registradas pelos professores e, no final do módulo, era apresentado um trabalho realizado em equipe, o qual resultou na confecção de uma maquete de uma casa popular e na apresentação de conceitos, saberes, conhecimentos e informações que os alunos do primeiro módulo apropriaram durante todo o trabalho escolar relacionados ao eixo gerador. Dante Moura (2007), no artigo “Educação Básica e Educação Profissional: dualidade histórica e perspectivas de integração”, analisa as possibilidades de articulação entre as esferas educacionais: educação profissional e educação básica, com foco em uma proposta que visa à integração entre o ensino médio (EM) e os cursos técnicos de nível médio com o fim de contribuir para o rompimento dessa dualidade estrutural histórica. Realiza uma revisão bibliográfica e análise documental. O autor avalia a concepção curricular emanada da Lei nº 5.692/71 que empobrecia a formação geral em favor de uma profissionalização instrumental para o mercado de trabalho, sob a alegação da importância da relação entre teoria e prática para a formação integral do cidadão. Moura (2007) apresenta a discussão de que, ao invés de se ampliar a duração do 2º grau para nele incluir os conteúdos da formação profissional de forma integrada à educação geral, reduziram-se os últimos em favor dos primeiros. Esses assumiram um caráter instrumental, pois, dentre outros aspectos, não havia a base científica que permitisse caminhar na direção de conhecimentos mais complexos inerentes ao mundo do trabalho. E isso não ocorreu por acaso, fazia parte da própria concepção de desenvolvimento do País e da reforma em questão. Ramon de Oliveira (2007), no artigo “Possibilidades do Ensino médio Integrado Diante do Financiamento Público da Educação”, refaz a trajetória do ensino médio brasileiro nos últimos 15 anos, destacando os limites do financiamento público para edificar, de fato, o Ensino Médio Integrado nas escolas que atendem aos sujeitos oriundos da classe trabalhadora. 150 O autor argumenta que o Ensino Médio Integrado não deve ser palco para o desenvolvimento de competências ou de habilidades preconizadas no discurso empresarial. Essa etapa da educação básica não pode e não deve estar voltada para o aumento da produtividade tão em voga no momento atual. O Ensino Médio Integrado deve ser considerado um espaço/tempo de superação, no plano formativo, da fragmentação imposta pela divisão social do trabalho. Oliveira (2007) defende que a formação integral dos educando deve, antes de tudo, romper com a fragmentação que historicamente tem sido imposta aos estudantes oriundos da classe trabalhadora. O autor afirma que a forma como o Estado vem se responsabilizando pelo ensino médio, tanto no que diz respeito à concepção quanto ao financiamento, são obstáculos à efetivação de um projeto educativo no qual seja garantido não só o acesso aos saberes indispensáveis à formação técnica strictu sensu, mas também à apropriação de conhecimentos e à vivência de práticas que contribuam para a atuação na sociedade. Não foram identificados métodos de ensino e de avaliação. Luciene Pires (2007), no artigo “A formação do trabalhador em instituições tecnológicas: diferentes propostas de um mesmo caminho”, analisa o processo de reestruturação na formação do trabalhador, entrecortado por políticas de reestruturação das instituições federais de educação tecnológica como processo resultante das políticas de diversificação e diferenciação institucional, desencadeadas a partir da segunda metade da década de 1990. Optou por pesquisar o período compreendido entre 1997, ano de implementação da LDB 9.394/96, e 2005, ano em que tramitaram os primeiros projetos de criação de universidades tecnológicas no Brasil, como o que criou a Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A autora ressalta que o nível de formação proposto em Gramsci deve ser o ideal e argumenta que leis são elaboradas, modificadas, revogadas sem que a concepção de educação profissional atinja o que é proposto por aquele filósofo italiano. A busca pela implantação de uma educação que atendesse aos interesses da classe trabalhadora e que, efetivamente, formasse o cidadão para a emancipação não se consolidou, independente da 151 estrutura reformista, vivenciada no governo FHC (1995-2002) e continuada no governo Lula (a partir de 2003). As autoras Guacira Abreu e Wania Gonzalez (2007), no artigo “O ensino técnico por competências: algumas contradições existentes entre os documentos de uma instituição do sistema S e a prática pedagógica”, analisaram as diretrizes pedagógicas pautadas no modelo de competências que orientam o curso técnico em eletrônica de uma instituição do Sistema S50. As autoras dizem que a proposta do curso é educar o aluno com uma forte base de conhecimentos tecnológicos, habilidades e atitudes necessárias para a formação do novo profissional com visão abrangente da empresa e do processo de trabalho, domínio amplo de conhecimentos, com capacidades de resolver problemas com conhecimentos em métodos de trabalho, em gestão de recursos humanos e ambiental, capaz de atuar de forma crítica, criativa e construtiva no mercado de trabalho em constante mutação. Quanto aos conteúdos de ensino, conforme o que foi apresentado pelo curso, foram consideradas as máquinas elétricas, desenho técnico, desenho assistido por computador/CAD, física aplicada, matemática aplicada, instalações elétricas e projetos elétricos. O curso apresenta uma organização curricular modularizada, possibilitando ao aluno traçar seu itinerário formativo em módulo com terminalidades que proporcionam qualificações profissionais de nível técnico, com entradas e saídas intermediárias, o que favoreceria o aproveitamento e continuidade de estudos, seja na habilitação profissional em foco, seja em cursos afins. 50 Refere-se ao conjunto das instituições assistenciais e educacionais, de caráter nãogovernamental, administradas pelas entidades patronais dos setores da indústria, do comércio, transporte e agricultura. O Sistema “S” desenvolve atividades de formação profissional, educação formal, ação social e cultural (EVANGELISTA, 2000). 152 2.3.10. Considerações sobre a produção do GT 09 (Trabalho e Educação) da ANPEd Pode-se perceber nos Anuários da ANPEd, do período de 2000 à 2007, que predominaram nos artigos dos anos de 2000 a 2005 as críticas ao projeto educacional capitalista em decorrência de a educação estar voltada às demandas da lógica empresarial, limitando as possibilidades de desenvolvimento do trabalhador. Talvez isto seja explicado pela conjuntura política do GT 09 – Trabalho e Educação da ANPEd, já que o período destacado representava o 1º mandato do Governo Lula (2003 a 2006), mas no final deste mandato e no começo do 2º mandato (anos de 2006 e 2007), os artigos tomaram uma feição mais propositiva. O GT de Trabalho e Educação saiu do plano das críticas para entrar no de proposições, reafirmando antigos referenciais de um projeto educacional dos trabalhadores, tendo em vista também que neste período houve a promulgação do Decreto nº 5.154 em 23 de julho de 2004, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional. O decreto 5.154 traz as premissas de que a educação profissional terá: I – Organização, por áreas profissionais, em função da estrutura sócioocupacional e tecnológica; II – Articulação de esforços das áreas da educação, do trabalho e emprego, e da ciência e tecnologia (BRASIL, 2004, p. 01). Na verdade, não tínhamos estudo no âmbito da escola, do currículo e da mediação espaço em que se coloca a didática. 2.3.10.1. A didática da educação profissional e os objetivos de ensino Os objetivos educacionais, segundo Libâneo (1991), têm que estar com as suas intenções explícitas, voltadas para o desenvolvimento das qualidades humanas que os indivíduos precisam adquirir para manifestarem capacidades teórico-práticas que lhes permitam construir uma possível transformação, mas as comunicações do GT09 da ANPEd revelam que a educação profissional brasileira tem buscado, principalmente, focar a educação profissional nas necessidades dos setores empresariais atendendo às 153 demandas do capitalismo como forma de promover a flexibilidade dos trabalhadores em nome de sua empregabilidade. Invernizzi (2000) diz que as indústrias querem que seus trabalhadores tenham acesso privilegiado ao conhecimento científico da realidade produtiva e que os trabalhadores mantenham as máquinas em contínuo funcionamento. Onde foi experimentada, a instrução politécnica foi reduzida à simples preparação para o trabalho, segundo a exigência da industrialização do país (GONÇALVES, 2007). O conceito de politecnia, referência central neste GT, ficou entendido como profissionalização, com a justificativa de que ela se faz sobre a base da união entre a teoria e a prática, entre o trabalho manual e intelectual. A maioria dos processos formativos relatados acontecia dentro da própria empresa, a exemplo da Sadia S/A – Chapecó e Nestlé que tinham as suas escolas voltadas para a educação do trabalhador. Na “Escola da Sadia”, pretende-se a formação do trabalhador em que aspirações como cidadania, participação e integração são enfatizadas (CRUZ e BIANCHETTI, 2002). Já na empresa Nestlé, o interesse é que o trabalhador veterano aprenda a trabalhar em grupo, esteja atento à produção e apto a solucionar imprevistos (MAIA, 2000). Referindo-se às escolas mantidas por empresas, Maia (2000) diz que: [...] A manutenção da escola para trabalhadores adultos por uma empresa capitalista está intimamente ligada ao interesse do capitalismo na reprodução do capital (MAIA, 2000, p. 144). Sobre isso Araujo (2001) faz as seguintes considerações: [...] ao vincular a formação com as referências demandadas pelas empresas e limitar-se ao atendimento destas, pode-se inviabilizar uma formação mais ampla dos trabalhadores, capaz de lhes propiciar a capacidade para lidar com o imprevisto. Desta forma, ficam nítidom o instrumentalismo e o utilitarismo que passam a marcar a definição dos objetivos dos processos de formação profissional e escolar, construídos sob o emblema da noção de competência (ARAUJO, 2001, p. 48). 154 São poucos os autores que demonstram em seus artigos uma educação voltada para os trabalhadores e não somente para os interesses dos empresários. Laudares e Quaresma (2003), por exemplo, ponderam que: [...] O processo educativo defendido pelo Programa Integrar visa desenvolver a dimensão política, a dimensão cognitiva e a dimensão técnica. (...) O programa visa, além da formação do trabalhador eficiente, polivalente, que saiba se adaptar às novas tecnologias, a formação de cidadãos conscientes de seu potencial e de seu papel na sociedade (LAUDARES e QUARESMA, 2003, p. 07 - 08). O objetivo de ensino que superou os demais foi o de formação para o trabalho, no sentido de emprego, demonstrando que ainda não há uma preocupação, por parte das empresas, com a formação do trabalhador. A formação somente para o trabalho leva o trabalhador à conformação e, consequentemente, à alienação, ao status quo. Araujo (2001) argumenta que [...] idéias pragmatistas estão presentes na definição de objetivos da Pedagogia das Competências, favorecendo processos de ajustamento dos indivíduos às diversas situações que estes têm que enfrentar durante suas vidas, processos que não põem em xeque a realidade dada, mas que objetivam apenas o seu aperfeiçoamento, que não estão comprometidos com o desenvolvimento da emancipação do trabalhador, mas somente com a valorização do capital (ARAUJO, 2001, p. 48). Também foi citada como objetivo de ensino a formação integral do trabalhador. Segundo Markert (2000, p. 39), [...] a formação do “homem integral” precisa do progresso do capitalismo, mas o capitalismo só pode ser superado pela associação de homens autoconscientes. Quaresma (2004) diz que a Escola do Trabalho constitui-se como a primeira experiência de Formação Integral do Trabalho e visa à educação do trabalhador com condições de intervir tecnica e politicamente nos processos produtivos e sociais. A busca pela melhoria no padrão de qualidade dos serviços prestados nos diversos setores, segundo Santos e Fidalgo (2004), constitui a motivação principal para a certificação de pessoas culminando para a melhoria do processo de trabalho. 155 2.3.10.2. A didática da educação profissional e os conteúdos de ensino Os conteúdos de ensino para Libâneo (1991) constituem-se do conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Para obter certificações tais como as da ISO, as empresas tinham como meta escolarizar seus trabalhadores, muitos com escolarização apenas no ensino fundamental incompleto ou completo, e poucos com o ensino médio completo.. Ofertavam cursos dentro da própria empresa, obrigando os trabalhadores a ficarem depois da sua extensa jornada de trabalho de oito horas diárias para se “qualificarem”, como forma de permanência no emprego. O que era exigido do trabalhador eram habilidades básicas. Maia (2000) afirma que: [...] Para o trabalhador se integrar na sociedade moderna, ele tem que, no mínimo, saber ler, interpretar a realidade, saber se expressar, trabalhar em equipe, participar nas tomadas de decisão. Atualmente, ele tem que “aprender a aprender” para poder acompanhar as mudanças e avanços que caracterizam o acelerado ritmo da nossa época (MAIA, 2000, p. 143). O teor dos conteúdos era relacionado à produção, ao funcionamento da empresa, à operacionalização das máquinas, relacionamento interpessoal para diminuir conflitos, noções de matemática e informática. Garcia (2007) esclarece que os treinamentos de ambientação: [...] são estendido a todos os contratados e que ocorrem logo após a sua contratação. Objetivam proporcionar conhecimento da estrutura da empresa. (...) Outros cursos, de caráter mais técnico, são organizados visando à preparação dos funcionários recém contratados ou mesmo antigos, para o exercício ótimo de suas funções (GARCIA, 2007, p 04). Além disso, segundo Silva (2002), na lógica empresarial: 156 [...] são difundidos conceitos abstratos, genéricos e maquiados por uma retórica espiritualista, tais como: coragem, sinergia, motivação, missão, auto-imagem, auto-estima etc. para a produção da nova subjetividade do (futuro) trabalhador ao se estabelecer nexos entre o mundo do trabalho e a escola (SILVA, 2002, p. 197). Santos (2005) considera que o que mais se requisita do trabalhador é ter respeito, ter higiene, saber cumprir horário e ter responsabilidade. As empresas introduziam esses conceitos para que o trabalhador tivesse o sentimento de ter uma missão dentro da empresa, motivava o mesmo a vestir a “camisa da empresa”. Esse quadro para Araujo (2001) se configura da seguinte forma: [...] a idéia de conteúdos ganha um sentido largo, constituindo-se não somente nos conhecimentos teóricos formalizados nas matérias e disciplinas, mas de atitudes, comportamentos, hábitos, posturas, elementos que possam compor uma capacidade de trabalho (ARAUJO, 2001, p. 50). É na realidade do trabalho e da sociedade, segundo Quaresma (2004), que o trabalho constitui-se como atividade social útil e a ciência, a força produtiva dependente do trabalho, não para servir ao capital, mas para as necessidades variáveis do trabalho em função das necessidades variáveis do homem. Os itens de conteúdos solicitados pelo grupo empresarial, em evidência, são habilidades de leitura, escrita, comunicação oral, cálculo e tomada de decisões. Isto revela que habilidades que deveriam ser imprescindíveis e consideradas básicas na formação de qualquer cidadão estão sendo demandadas como as mais importantes, não se cobrando conhecimentos gerais, culturais ou outra coisa muito além. O que se pôde observar também é a presença de experiências de formações, conteúdos que, na verdade, são práticas, o trabalhador tendo como conteúdo suas tarefas, aprendendo fazendo, tendo também ajuda dos trabalhadores mais experientes, os chamados “padrinhos” dentro das empresas. 157 No último anuário pesquisado, o cenário foi modificando e a temática do ensino médio integrado se afirmou no ano de 2007. O discurso agora passou a ser sobre uma educação capaz de superar a fragmentação imposta pela divisão social do trabalho. 2.3.10.3. A didática da educação profissional e os métodos de ensino e de avaliação Os métodos de ensino na concepção de Libâneo (1991) são as ações do professor e do aluno, no processo de ensino-aprendizagem, as quais têm de favorecer a construção do conhecimento pelo aluno. Os resultados alcançados vão ser as avaliações deste trabalho. Nem todos os autores deixavam claro essa categoria nos seus artigos, tendo que ser, então, inferidas dos textos. O principal método de ensino explicitado é o treinamento, que talvez fosse o mais viável para suprir as necessidades da lógica empresarial. Sobre treinamento Fartes (2002) diz que: [...] Para gerenciar a qualificação profissional em contextos tão variados, a Refinaria mantém uma política de treinamento e qualificação sistemática. Até o início dos anos 90, a escala de treinamento era organizada pelo chefe da Divisão de Recursos humanos, juntamente com os trabalhadores. No início da carreira, quando o operador era ainda estagiário, o aprendizado se fazia durante todo o tempo de trabalho (FARTES, 2002, p. 122). Além dos treinamentos, são tidos como métodos, cursos técnicos, aulas práticas nas oficinas e laboratórios, aulas expositivas e dialogadas, visitas técnicas, palestras e o sistema de “apadrinhamento”, no qual o instrutor atuava, repassando sua experiência e conhecimento do processo industrial para os novos trabalhadores (GARCIA, 2007). Era comum as empresas utilizarem os funcionários antigos com experiência no manuseio das máquinas e compreensão do processo industrial para acompanharem os funcionários novatos, passando a sua experiência, o que era favorável para a circulação de conhecimentos entre os funcionários. Segundo Araujo (2001), quanto aos métodos de ensino 158 [...] são valorizadas as práticas de trabalho em grupo, dramatizações e seminários voltados para o desenvolvimento das capacidades desejadas, recursos que possibilitariam estimular a autonomia e a capacidade de trabalhar sem que se tenham definidos os passos a serem seguidos (ARAUJO, 2001, p. 55). Cabe aos métodos a dinamização das condições e modos de realização do ensino, podendo influenciar na reformulação ou modificação dos objetivos e conteúdos. Segundo Araujo (2001) há uma recusa na [...] formalização prévia dos conteúdos, que devem ser definidos a partir de demandas específicas, e recomendase a sua utilização parcelarizada e organizada em módulos, revelando despreocupação com respeito à lógica e à coerência que caracterizam a organicidade de uma disciplina (ARAUJO, 1991, p. 51). Quanto à avaliação, pode-se deduzir que não existia uma prática determinada;.na verdade, a avaliação se dava pelo manuseio da máquina pelo trabalhador. Havia máquinas que até registravam o desempenho do mesmo, segundo Invernizzi (2000): [...] As máquinas têm a capacidade de registrar as intervenções dos operários, de modo que é possível avaliar individualmente se essas intervenções foram corretas, se os problemas foram resolvidos no tempo certo, se ocorreram “tempos mortos” (INVERNIZZI, 2000, p. 53). Nos processos formativos, as práticas avaliativas variavam entre prova, relatórios, visitas técnicas, responsabilidade, comportamentos requeridos e desempenho individual. Claro que não existia só a avaliação do trabalhador em função das máquinas. Floriani (2005) afirma que o acompanhamento é realizado por eixo temático, registrado em fichas com as competências, habilidades e atitudes profissionais, assim como Laudares & Quaresma (2003) afirmam que a avaliação é compreendida como um processo contínuo, considerando a participação do educando a partir da auto-avaliação, da avaliação do grupo e de todo o processo pedagógico. A intenção da avaliação acaba sendo possibilitar a desenvolver capacidades e habilidades. 159 Sobre avaliação, assim se manifesta Araujo (2001): [...] Que são as demandas específicas das empresas que também passam a determinar a avaliação das competências adquiridas, pois estas devem ser consideradas como propriedades instáveis que devem ser validadas nos momentos, de exercício do trabalho para serem reconhecidas. São marcadas, portanto, pela incerteza e temporariedade. A avaliação, assim, não se baliza mais em saberes disciplinares, mas sobre os saberes operacionais aplicados em dada situação (ARAUJO, 2001, p. 58). 2.3.10.4. Afinal, qual é a didática da educação profissional? Nosso objetivo nesta seção foi caracterizar a didática da educação profissional a partir dos artigos publicados nos anais da ANPEd. Não existe até o momento uma teoria didática específica da formação dos trabalhadores, mas pelas regularidades de práticas estudadas, fundamentos e proposições podemos construir uma síntese no âmbito deste trabalho. Os objetivos de ensino estão voltados para a realidade produtiva. Isso pode ser justificado tendo em vista que os processos formativos estão se dando no interior de processos de trabalho. O trabalhador tem que estar primordialmente atento ao trabalho, além disso, tem de saber se relacionar em grupo, saber ler, saber escrever, saber se comunicar. Não há espaços para trabalhador individual, sem interesse e sem disposição. Os conteúdos de ensino referenciados estão numa dimensão de experiências concretas dos trabalhadores, já que é no trabalho que eles aprendem as suas tarefas. O que chamou atenção foram as práticas de empresas utilizando os funcionários antigos, os chamados “padrinhos”, para repassar sua experiência (conteúdo) para os novos trabalhadores. No geral, os conteúdos foram marcados por saberes práticos, aqueles que são requisitados dos trabalhadores no seu cotidiano. Os métodos de ensino e de avaliação, além do padrinho como recurso para ensinar os novatos, estão voltados para o treinamento, aulas práticas e visitas técnicas. A concepção que se tem é que é, na prática, que o 160 trabalhador vai aprender suas tarefas, e será ela que irá prevalecer. A capacitação é somente para a realização de tarefas. Quanto à avaliação, apesar de não ser muito enunciada nos artigos, apresentam-se relacionadas ao manuseio da máquina pelo trabalhador. É no processo de trabalho que é avaliado o desempenho do trabalhador: há máquinas que registram tal desempenho, se houve tempo desperdiçado, se houve agilidade na resolução de problemas. A solicitação de relatórios e visitas técnicas são comuns. Esta didática revelada pode ser fruto do contexto apresentado de uma visão econômica da educação. Nos últimos anuários houve apontamentos para uma outra perspectiva, a de emancipação, de uma formação integral do trabalhador, não sendo a que prevaleceu, mas já demonstrando que o cenário educacional está se transformando. 2.4. SÍNTESE PROVISÓRIA ACERCA DA DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA VISÃO DOS AUTORES DOS TRÊS VEÍCULOS ESTUDADOS A produção analisada é grande e requer tempo para uma análise aprofundada. Por isso nossas considerações são efetivamente provisórias. A história da educação brasileira é marcada por um caráter dual - o ensino propedêutico para os mais “aptos” e o ensino profissional aos trabalhadores - e essa dualidade é evidenciada na luta de classes. Percebemos, com a leitura dos textos, a presença de questionamentos em meio a essa problemática, uma vez que os autores, em suas pesquisas, constatam, sob a ótica empresarial, a exigência de uma formação designada aos trabalhadores como capacidades produtivas e se opõem a essa perspectiva na defesa de uma proposta de qualificação da formação profissional que têm seus objetivos comprometidos com a formação amplamente humana dos trabalhadores. A partir dos referenciais teóricos utilizados durante a pesquisa, construímos um quadro síntese, com finalidade de proporcionar uma visualização das práticas formativas em educação profissional. Estas foram evidenciadas nos artigos, após a identificação e a categorização dos objetivos, conteúdos e métodos de ensino e avaliação. 161 Quadro 8 – SÍNTESE DOS ELEMENTOS DIDÁTICOS NA VISÃO DOS AUTORES Pedagogia do Capital Pedagogia do Trabalho • OBJETIVOS DE ENSINO • • • • • • • CONTEÚDOS DE ENSINO • • • • • • • • Ajustar a formação dos trabalhadores para atender as demandas do sistema produtivo; Desenvolver um saber relacional; Criar competências comunicativas e de relações interpessoais; Mobilizar o raciocínio dos alunos para enfrentar os problemas do cotidiano do trabalho; Formar para a empregabilidade com o intuito de apenas dinamizar o mercado de trabalho; Criar uma qualificação especial: a capacidade de estar comprometido permanentemente com a produção, criando uma maior identificação às questões da empresa; Formar a capacidade de o trabalhador exercer várias funções diferentes – polivalência. Competências e habilidades, disposição e virtudes direcionadas a inserção no mercado de trabalho; Maior participação dos trabalhadores na vida empresas; Atitude do indivíduo necessária ao desempenho das atividades produtivas; Conjunto de comportamentos sócioafetivos e habilidades cognitivas, sensoriais e motoras que permitam o melhor desempenho; Eficiência na produção; Execução de raciocínios e gestos necessários à produção; Conhecimentos sobre resolução de situações-problemas; O processo de trabalho; Capacidade técnica para exercer uma atividade produtiva. • • • • • • Formar cidadãos-trabalhadores; Formar um profissional de senso crítico; Ter uma formação omnilateral; Conduzir cada cidadão a inteirar-se da cultura científica e tecnológica, Compreender seu papel no contexto das decisões a serem tomadas acerca dos rumos da ciência e da tecnologia; A formação profissional deve ter uma ação sincronizada e conjugada com os demais elementos que compõem as várias áreas do conhecimento. • Os conhecimentos de que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho; • A ética, a moral, a cidadania, etc. devem estabelecer um entrelaçamento com a ecologia, a mecânica, as ciências da terra e outras, numa ação educacional que articule concretamente teoria e prática. MÉTODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO 162 • • • • • • • Organização curricular em módulos, que favoreça a interação escola-empresa; As práticas educativas tendo como referência o critério de produtividade capitalista; O distanciamento cada vez maior entre a execução de tarefas de naturezas técnica e a compreensão de sua fundamentação científica Estrutura modular e normas de competência por ramo de atividade; O professor é o mediador entre as necessidades que o mercado solicita e o desenvolvimento da autonomia dos educadores; Avaliação externa, o importante é o controle dos resultados, e não dos procedimentos; Avaliação como verificação de conhecimentos e habilidades independente da forma como foram adquiridos; • • • • • • Processo de interação com o conhecimento e a própria formação; Articulação entre as dimensões formativas, científicas, tecnológica e críticas; Estratégicas de ensino que contribuam efetivamente para o acesso à alfabetização científica e tecnológica; Maior participação dos alunos nos processos avaliativos; As práticas formais de avaliação ainda carecem de instrumentos mais dinâmicos; Avaliação qualitativa processual. Os objetivos de ensino apresentados nas discussões da Revista Trabalho & Educação apontam para uma formação que visa preparar os indivíduos para adequação de novos atributos qualificacionais exigidos pelo modo de produção vigente, o que significa conduzir o comportamento dos trabalhadores, em formação, na direção que interessa à empresa. São exigidas desses trabalhadores novas competências, cujos objetivos de ensino da formação profissional visam, além da construção de conhecimentos técnicos, o desenvolvimento de um saber relacional, passandose a valorizar o saber tácito do trabalhador, que, segundo Leal (2006), é a capacidade de apreensão e identificação, que o trabalhador adquiriu pela vivência, dos estados de normalidade ou anormalidade do processo de produção, podendo intervir neste de forma autônoma com vistas à resolução de problemas. Podemos afirmar que os objetivos da educação profissional estão postos à lógica da dinamização do mercado de trabalho, tendo este como o centro definidor de sua formalização, sendo o fim utilizado como critério para estabelecer os modelos pedagógicos e curriculares do ensino profissional, seja o local da formação na empresa, nas escolas técnicas, nas ONGs, etc. 163 Nessas formulações, está presente a noção de empregabilidade que atribui ao indivíduo a responsabilidade de sua inserção no mercado de trabalho. A empregabilidade, que aparece como objetivo de preparação profissional, é criticada pelos autores por postular a crença de que maior escolaridade e maior capacitação correspondem, no plano individual, a melhores oportunidades para competir no mercado. Dessa forma, a educação tem a finalidade apenas de aumentar as chances do indivíduo em ter um trabalho remunerado ou de se manter nesse processo de constante mutação. Novamente demonstra-se que a formação está vinculada aos parâmetros indicados pelo mundo empresarial, como afirmam Maués e Lima (2005), os quais estão afinados com as preocupações de formar pessoas capazes de seguir a flexibilização do mercado, que seja polivalente e que tenha a sua subjetividade trabalhada para incorporar essa nova fase do capitalismo como algo normal e inevitável. Os conteúdos da formação profissional delineiam a aprendizagem que valorizam o processo de aquisição das chamadas competências e habilidades. Essas capacidades são, no contexto da reestruturação capitalista, disposições e virtudes direcionadas à inserção do trabalhador no mercado de trabalho. Assim, a atribuição dada à formação dos trabalhadores é entendida sob o aspecto da capacidade técnica para o desempenho de uma atividade produtiva, sendo questionada se estes são os conhecimentos de que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho. No capitalismo, mudaram-se as formas de acumulação da riqueza e, por conseguinte, as formas de organização do trabalho. Diante desse quadro, exige-se hoje um novo tipo de trabalhador: um trabalhador que suporte os aumentos da intensidade do trabalho e aumente a sua qualificação. No entanto, o que predomina nas referências é o estímulo que se dá a maior participação dos trabalhadores na vida da empresa. Decorrente dessa formulação resulta o aparecimento de novos sentidos ou significados aos valores, categorias, conceitos, princípios e parâmetros que passam a nortear as práticas sociais, obrigando-as a tomarem, como referência, o critério de produtividade capitalista. 164 A educação profissional, da forma com vem sendo conceituada e problematizada pelos autores, revela-se na concretização de conteúdos que valorizam a apreensão de competências específicas ao mercado de trabalho, com forte direcionamento ao desenvolvimento das atitudes do trabalhador. Os autores aqui estudados apresentam fortes críticas ao modelo que rege as práticas formativas da educação profissional. Tais práticas evidenciam um aprendizado, cujos conhecimentos estão dispostos a fornecer ao indivíduo a possibilidade de desenvolver um conjunto de comportamentos sócio-afetivos e habilidades cognitivas, sensoriais e motoras que permitem o desempenho de papéis, funções, atividades ou tarefas com base nos requerimentos de qualidade esperados pelo setor produtivo. Acerca dos métodos desenvolvidos, observamos que a sistematização atual segue as orientações de uma organização modular do currículo, que compreende a interação entre o local da formação e o ambiente de trabalho, neste caso a escola e a empresa. As práticas desenvolvidas no ensino profissional são na maioria referenciadas pelo critério da produtividade capitalista. Nesta perspectiva, o que se tem presenciado é um distanciamento entre as atividades que compreendem a fundamentação científica e a execução de tarefas técnicas. A aprendizagem é vista como mediação que o professor exerce entre o mercado de trabalho e o aluno. Nesse processo, é evidenciado o estímulo ao trabalhador para desenvolver a capacidade de participar, de trabalhar em grupo pela flexibilidade e pela capacidade de se colocar no lugar do outro, e, principalmente, de assimilar os valores e objetivos da empresa. Em relação aos periódicos do Boletim Técnico do SENAC, analisamos a presença de duas perspectivas de formação em educação profissional, uma orientada pela filosofia pragmática e outra pela Filosofia da Práxis. Estas perspectivas são reveladas na definição que dão as categorias básicas dos processos didáticos: objetivo de ensino, conteúdo de ensino e métodos de ensino. Na categoria objetivo de ensino, na ótica pragmática, foi destacado o desenvolvimento de uma pratica pedagógica que tem por objetivos criar 165 condições para o trabalhador estar conectado às exigências do mercado de trabalho. E na ótica da práxis a pretensão de desenvolvimento de todas as dimensões e potencialidades, não se estreitando aos parâmetros da atividade produtiva. Em relação aos conteúdos de ensino, o que se destaca na ótica pragmática é o direcionamento a uma ação operacional no âmbito da empresa, compreendido pelo modelo de competência, enquanto que na ótica da práxis: A formação deveria estar voltada não só para a expansão do conhecimento e capacidade intelectual, como também para a aquisição e as mudanças em atitudes e valores, e para melhoria no desempenho dos vários papéis que o indivíduo deve assumir na sociedade, trabalho e vida familiar. Ou seja, uma formação que ultrapassa os aspectos exclusivos da preparação profissional, estendendo-se para os domínios acadêmico, pessoal e social. (SMANIOTTO, 2007). No método de ensino, apresentado na perspectiva da ótica pragmática foi mencionado o treinamento, como atividade para tarefas próprias do trabalho a ser realizado, e na ótica da práxis: A escola é o lugar de aprender a interpretar o mundo para poder transformá-lo, a partir do domínio das categorias de método e conteúdo que inspirem e que se transformem em práticas de emancipação humana em uma sociedade cada vez mais mediada pelo conhecimento (KUENZER, 2002, p. ????). Logo, mediante a análise feita, obtivemos como resultados duas perspectivas de formação em educação profissional presentes nos periódicos do Boletim Técnico do SENAC, prevalecendo, porém, a perspectiva de formação que se orienta pela lógica pragmática, responsável pelo foco na formação nas demandas específicas do mercado de trabalho. Contudo, consideramos que a educação do trabalhador não pode se restringir àquilo que corresponde às necessidades imediatas do capital, ao adestramento, à simples adaptação dos indivíduos a uma prática utilitarista. Para além disso, é necessário que haja uma articulação com os processos de escolarização deste trabalhados, que possa assegurar o reconhecimento do contexto histórico-social em que o trabalho se realiza. É necessário, assim, uma educação que se volte para a ampliação dos horizontes de 166 conhecimentos, atentando para os determinantes sociais, econômicos e políticos das situações de vida (ARAUJO, 2007). Portanto, essas são algumas inferências iniciais acerca da produção científica sobre práticas formativas em educação profissional, presente nos periódicos de comunicação de pesquisa priorizados neste estudo.. 167 3. A DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARAENSE Considerações iniciais Nesta pesquisa, procuramos identificar, na realidade paraense, elementos das práticas pedagógicas dos professores de diferentes instituições de educação profissional que permitissem uma caracterização (e posterior análise) acerca de uma didática da educação profissional. Procuramos organizar as falas dos entrevistados em função das categorias da didática com as quais estamos trabalhando (objetivos de ensino, métodos de ensino e conteúdos de ensino). Os dados foram apenas inicialmente organizados, tratados e analisados, devendo ser objetos de procedimentos de análise melhor estruturados. Os dados não estão esgotados em sua possibilidade de informar sobre as práticas pedagógicas dos sujeitos e das diferentes instituições de educação profissional. As seções a seguir são constituídas de algumas inferências iniciais acerca dos dados coletados nas instituições a partir, principalmente, das entrevistas com professores e coordenadores pedagógicos. Considerando que as análises não estão concluídas, segue também quadros com excertos das entrevistas naquilo que fazem referências às categorias eleitas. 3.1. IFPA – INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA TECNOLOGIA DO PARÁ – CAMPUS CASTANHAL51 E O Instituto Federal de Educação Tecnológica do Pará, criado em dezembro de 2008, agrega 12 campi em todo o Estado do Pará. Na sua maioria estes já existiam ligados ao extinto CEFET-PA, que se somaram às também extintas Escolas Agrotécnica Federal de Marabá e Agrotécnica Federal de Castanhal-Pa. Esta última teve origem no Município de Belém, Distrito de Icoaraci, na Ilha de Caratateua, fundada como Patronato Agrícola “Manoel Barata”, em Dezembro de 1921. 51 Esta seção tem por base o relatório de pesquisa da Bolsista PIBIC-UFPA Bruna de Moraes Damasceno. 168 Apesar de seu vínculo com o IFPA, esta unidade mantém identidade própria, tendo especificidades históricas, sociais e geográficas construídas ao longo de seus 90 anos de existência formando para o trabalho na zona rural paraense. Hoje, a Escola enfrenta dificuldades próprias da reorganização institucional, em função desta nova realidade político-jurídica, assumindo explicitamente o desafio de organizar-se pedagogicamente em torno do Projeto de Ensino Médio Integrado. A Escola oferta cursos técnicos na forma subsequente e integrado. Esta é a mais antiga e importante instituição de educação profissional voltada para a área rural existente no Estado do Pará e isto, junto com a sua especificidade sócio-histórica, revela a importância de se conhecer mais sobre o seu projeto e a sua prática formativa. A Instituição passa por um processo de reformulação curricular, o qual foi iniciado em 1999, acompanhado de um movimento de avaliação e reflexão sobre o seu fazer pedagógico e de sua construção curricular, visando à construção de uma nova etapa de sua História, antes pautada em modelos de ensino correcional, acrítico e tecnicista. Este é um desafio explicitamente assumido pela Escola52. Os dados obtidos para a análise que apresentaremos a seguir, foram gerados com 05 professores da IFPA – Campus Castanhal, cuja informações em termos de formação e ação educativa seguem no quadro abaixo: Quadro 8 – ENTREVISTAS DO IFPÁ - CASTANHAL Professor (Sexo) Formação Acadêmica/Técnica Exp. EP IFPACASTANHAL P1-M Geógrafo - 3 anos PRONERA/ Geografia P2-M Engenheiro agrônomo - 8 meses Técnico em Agricultura/ Extensão Rural . P3-M Bacharel em 17 anos 17 anos Técnico em Agricultura/ 52 Curso que ministra/disciplinas Para conhecer mais sobre esta instituição, ver Dissertação de Mestrado defendida por Oliveira (2007). 169 Metereologia/Especialista em Educação Profissional – PROEJA/CEFET P4-M Licenciado Pleno em Ciências Agrícolas Especialista em Educação Ambiental Mestre em Solos e Nutrição 17 anos de Plantas Doutor em Sistemas Agroflorestais Desenho técnico 17 anos Técnico em Agricultura/ Climatologia A fala dos entrevistados sobre a referência do ensino integrado assumido pela instituição foi organizada função das categorias da didática com as quais estamos trabalhando (objetivos de ensino, métodos de ensino e conteúdos de ensino). Os dados foram apenas categorizados e tratados ainda de forma exploratória, devendo ser objetos de procedimentos de análise melhor estruturados. Em seguida, apresentamos algumas das falas mais significativas dos entrevistados acerca da temática, suas concepções, entendimentos, bem como esclarecimento das questões relacionadas à didática desenvolvida no IFPA- Castanhal. Após essa apresentação, faremos algumas considerações sobre os dados gerados e sobre o que eles representam para didática da educação profissional. 170 3.1.1. Objetivos de ensino Destacamos na fala dos professores do IFPA – Castanhal o reconhecimento acerca de diferentes e contraditórias referências para a formação dos alunos. A vida, o agronegócio, a agricultura familiar e a extensão rural revelam ser direções diferentes que implicam processos e conteúdos formativos também diferenciados. Se não há unidade em torno destas direções, que indicariam projetos político-pedagógicos diferenciados e antagônicos em alguns casos, consideramos salutar a existência das diferenças, o que pode significar o surgimento de debates. A fala de um mesmo entrevistado revela a confusão de dois referenciais diferentes e antagônicos: Não estamos formando só técnicos agrícolas, estamos formando pessoas, cidadãos (...) quem manda é o agronegócio. Deve-se esclarecer a importância que tem para este debate a oferta do curso de extensão em convênio com o Programa Saberes da Terra, que visa à escolarização de jovens agricultores familiares, entre 18 a 29 anos, de diferentes estados e regiões do país, no que se refere ao Ensino Fundamental na modalidade de educação de Jovens e Adultos, integrando-os à qualificação profissional e social. Saberes da Terra é uma especialização... é um aperfeiçoamento, é uma extensão, é um curso (construído) por natureza, onde nesse cursos o ensino é Integrado (P4-A). A oferta deste curso, que demandou a discussão de sua organização com representantes do INCRA e do MST, explicitamente assumindo a defesa de uma Pedagogia da Terra, exigiu que a instituição buscasse considerar um outro formato de curso, referenciado nas considerações de uma das mais poderosas organizações de trabalhadores do Brasil – o MST. Esse pode ser um fator positivo para a renovação das práticas pedagógicas na instituição. De qualquer modo, o vínculo com a realidade revelou ser uma preocupação geral, embora alguns a entendam apenas em sua dimensão 171 imediata (para o agronegócio e para o emprego) e outros a vinculem ao futuro (formar para a vida e para o mundo), embora o passado (as origens) e as questões regionais também apareçam como referências importantes. Os alunos que ingressam no IFPA-Castanhal vêm de diferentes regiões do estado, boa parte oriunda de pequenas comunidades agrícolas, sendo que a posição que eles possam vir a tomar, frente a sua comunidade de origem, também assume importância. Mais do que a possibilidade do retorno destes, qualificados, à sua comunidade de origem, está em jogo a valorização/conservação/contestação da sua cultura originária. As diferenças entre as finalidades da formação não significam a existência de projetos pedagógicos stricto sensu diferenciados. Para que isto exista é necessário que se revele a articulação destes fins com as práticas pedagógicas e com a organização curricular. Não basta, assim, anunciar o compromisso com um ensino focado nas necessidades vitais (apesar de isto ser necessário), é preciso que este fim se articule com metas e estratégias coerentes. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos mais significativo acerca dos objetivos de ensino. Quadro 9 – EXCERTOS SOBRE OBJETIVOS DE ENSINO – IFPA/Castanhal Professores P1-A P2-A P3-A Objetivos de ensino “A gente busca fazer um tipo de ensino e educação que não seja um ensino e educação única ou exclusivamente voltados pra preparar os jovens pra ingressar no mercado de trabalho. Então a gente busca na verdade deixar preparados minimamente possível para que eles possam, na verdade, se deparar com a realidade da vida como um todo e não sair daqui pra prestar simplesmente, trabalhos numa fazenda ou fazer concurso público e etc. Não apenas isso, também isso, porque é uma realidade que todos nós necessitamos, estamos inseridos, mas então a gente tem a concepção que a gente deve formar para a vida. O que seria formar para a vida? É fazer com que cada um desses jovens se descubra de fato enquanto seres humanos, e a partir daí passar a valorizar e a respeitar as diferenças que existe dentro de cada um ser humano” “Você está formando pessoal pra tá na ponta lá, trabalhando na área rural, então assim é bem fabuloso mesmo.” “Os nossos alunos saem daqui muito bem preparados para fazer a questão da extensão rural, que tem desenvolvido esse trabalho dessa natureza, através das ONGs, organizações políticas e aí é muito importante porque vem a questão das concepções, os dois projetos discutem bem aí: a agricultura familiar, o agronegócio”. “Não estamos formando só técnicos agrícolas, estamos formando pessoas, cidadãos’. 172 “Quem manda é o agronegócio”. P4-A “O objetivo do curso é formar técnico em agropecuária pra retornar às suas origens porque no caso aqui nós trabalhamos com aproximadamente oitenta municípios, hoje nós temos mais de oitenta municípios.” 3.1.2. Conteúdos de ensino A Instituição atualmente vivencia três experiências de Projetos que se orientam pela idéia de integração, sendo os Saberes da Terra uma especialização que envolve alunos, professores pedagogos. Além dessa experiência, há o PRONERA (Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária) e o PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação Jovens e Adultos). Estas experiências têm exigido da escola a discussão de referências e de formas de organização pedagógica adequadas a tais propostas, o que é positivo. A instituição tem buscado organizar seus currículos por eixos temáticos, considerando os saberes que os alunos trabalhadores trazem de suas diferentes comunidades. Semelhante à relação com seus referenciais, prevalece, no entanto, diferentes formas de compreensão da organização curricular e dos conteúdos formativos. Verifica-se uma suposta valorização do ensino integrado e, ao mesmo tempo, certa desvalorização da teoria e a compreensão dela como instrumental à prática. Voltando aos conteúdos de ensino, o que pode também ser destacado na fala de um professor é: “o nordeste paraense é uma questão, a região das ilhas é outro, no sul do Pará é outro” (P ???). Ou seja, os conteúdos são sistematizados considerando as especificidades regionais, as quais são representadas pelos alunos de vários municípios. Parece que buscam articular saberes assistematizados próprios das diferentes comunidades dos estudantes com os saberes que permitam a compreensão destas diferentes situações. De qualquer modo, a questão local parece ser definidora dos conteúdos trabalhados nos cursos do IFPA – Castanhal. 173 No geral, os conteúdos são trabalhados pelos docentes a partir de Eixos Temáticos, os quais foram construídos por professores e alunos, e, posteriormente, definidos para cada série. Esses Eixos Temáticos são uma forma de integrar diferentes conteúdos curriculares, com base na interdisciplinaridade das áreas do conhecimento. Especificamente, além dos conteúdos técnicos é informada pelos docentes a importância de se promover aspectos atitudinais necessários ao desempenho das funções técnicas, tais como responsabilidade e iniciativa. Do mesmo modo, são valorizadas as aprendizagens de direitos e deveres, das regras, dos códigos e a esta aprendizagem associa-se a aprendizagem para a cidadania. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos mais revelador acerca dos conteúdos de ensino. Quadro 10 – EXCERTOS SOBRE CONTEÙDOS DE ENSINO – IFPA/Castanhal Professores P1-A P2-A P3-A P4-A CONTEÚDOS DE ENSINO “Os saberes que são colocados pelo Projeto dos Saberes da Terra e a partir daí a gente busca construir outros saberes aqui, nós unidos professores, a gente busca ver e a tentar observar essas realidades nossa do ( ). Então pela última pesquisa que nos fizemos, é nós atendemos jovens de setenta e dois municípios no estado todo, então você sabe que no estado e muito diverso então essa diversidade cultural e econômica exige um repensar da nossa prática educativa, da nossa prática, mas também de ensino em sala de aula é por esse motivo que a gente, então vem neste ano de 2009 trabalhando com os Eixos Temáticos e esses Eixos Temáticos não foram construídos por nós professores apenas, mas também construídos junto com os alunos.” “Quando eu entrei já estavam definidos os conteúdos, só que esbandalhei, em função da minha experiência e prática. E também assim na minha visão já que tinha pontos que eu achei que tinham que ser adaptados, eu adaptei ele pra prática. Muitos assim estavam longos e teóricos, e os alunos e, eles são do interior, são pessoas que não tão amarrados muito assim na questão teórica e (...). Então, a idéia era fazer essa interação entre teoria, um pouco passar isso pra eles, mas fazermos essa interação com a prática.” “O nordeste paraense é uma questão, a região das ilhas é outro, no sul do Pará é outro. Nós temos aqui 65 municípios representados pelos alunos, que a partir de uma intervenção que praticamente (...) a proposta direcionada para o vestibular. Hoje em dia não, hoje em dia a proposta da escola é (...). No IFPA- Campus Castanhal o campo piloto para reestruturar a educação do campo, a referência em educação no campo, pelo seu propósito que já foi e o que quer. Todas as dificuldades tocantes na questão financeiro-estrutural, mas é um projeto que é reconhecido pela sociedade.” “Hoje, qualquer atividade ela não acontece isoladamente, ela tem uma conotação. Um projeto, por exemplo, criação de galinhas, não é só a criação de galinhas isoladamente, pra criar galinha tem que ter alimento, o alimento vem da agricultura, pra produzir alimento da agricultura tem toda uma formatação de várias ciências para produzir, por exemplo, o milho, pra 174 produzir milho tem todo um sistema envolvido, você vai pegando o produto da produção na indústria e entra em todas as áreas do conhecimento do ensino médio, tem química no meio, pra trabalhar a alimentação tem química, tem biologia, pra trabalhar doenças tem biologia, tem física, têm vários outros elementos, e as coisas não acontecem isoladamente” 3.1.3. Métodos de ensino e de avaliação Na fala dos professores, são destacadas estratégias formativas que valorizam a participação ativa dos estudantes, até mesmo para que eles possam, ao mesmo tempo, desenvolver os conteúdos e as atitudes necessárias às funções técnicas. Para isso são utilizadas diferentes estratégias, tais como seminários, debates, júri simulado, projetos (que se colocam apenas como uma alternativa metodológica), que seriam mais adequadas à articulação da teoria com a prática, esta voltada à realidade dos alunos. Há também a contextualização e interdisciplinaridade do assunto com a aplicabilidade do dia-a-dia profissional. As visitas técnicas têm sido incentivadas pela instituição como estratégia de se trabalhar o ensino Integrado, o qual vem orientando a sua organização curricular. Nessas visitas, procura-se desenvolver atividades com professores de diferentes áreas, integrando os diferentes conteúdos em torno das situações locais, de projetos e de problemas específicos. A tradição pareceu estar nas estratégias de avaliação, compreendendo, basicamente, provas (objetivas de múltipla escolha ou analítico-discursivas). Tal como nas práticas pautadas na competência, a avaliação parece ser um grande problema a desafiar estratégias de ensino integradoras. Registre-se, porém, que foi citada pelos professores a utilização de relatórios como procedimento de avaliação. A respeito de avaliação, é interessante destacar o que um professor diz a respeito da aplicação de provas: A gente teve no encontro pedagógico uma discussão muito séria sobre avaliação, porque a gente tá tentando romper com essa questão de se fazer provas tradicionais, que nós continuamos fazendo, não tem como. Infelizmente a gente ainda não descobriu uma saída pra 175 substituir esse modelo tradicional de realização de prova (P1-A). Ainda sobre a avaliação, destacamos a busca por avaliar aspectos atitudinais da qualificação dos trabalhadores, tais como a pontualidade e o interesse dos alunos. No entanto, uma das dificuldades de inovação nessas práticas tem a ver com a necessidade burocrática do estabelecimento de notas ou conceitos no final do curso, disciplina ou módulo. Isso é dito por um dos entrevistados, que busca valorizar a pesquisa como procedimento de aprendizagem: “a gente tem pouca liberdade com esse tipo de avaliação”. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos mais significativo acerca dos métodos de ensino no IFPA – Campus Castanhal. Quadro 11 – EXCERTOS SOBRE METODOS DE ENSINO – IFPA/Castanhal Professor P1-A P2-A P3-A MÉTODOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO “Eu particularmente trabalho com a realização de provas, além de provas eu trabalho com a realização que eu começo amanhã de júri simulado, eu dou um tema pra eles defenderem e eles se organizam, elaboram, pesquisam sobre o assunto e também realização de seminário sobre temas que eu deixo já especificado pra eles darem uma lida. Eu tenho aula hoje, com algumas turmas, então eu marco com eles, eu dou alguns temas pra eles estudarem e daqui a duas semanas começar a apresentação, então algumas turmas estão nesse processo agora estão quer dizer, eles que vão falar, eles começam a falar em espécie de seminário, é um processo avaliativo que eu faço. E outras turmas de segundo ano eu já estou trabalhando com o júrisimulado e o terceiro ano, eu to trabalhando com a elaboração de projetos, mas de campo, observação e todas elas sem nenhuma exceção eu aplico atividades em forma de provas, que são as provas objetivas e as provas também além de múltipla escolha, também que a gente chama de analítico-discursiva e um pouco mais de análise deles, seria isso, mas eu te garanto que todos os colegas trabalham com provas.” “E basicamente eu trabalho em quatro pontos. O primeiro ponto é um trabalho de pesquisa nosso, fundamental no inicio da escala, buscar o conhecimento e o outro são os relatórios das visitas técnicas que eu acho que é aí que é postura de investigar, que ocorre entre teoria e prática. Uma prova, e aí mesmo tem que ser tecnicista mesmo, tem que ter uma prova de pontuação e o qualitativo mesmo que a gente observa a questão da pontualidade e a questão se o aluno está se interessando, sabe? A gente vê que o aluno está animado pra aprender. E a minha avaliação também elas são de consulta sabe... deixa o aluno à vontade... Inclusive eu passo a prova de questão única, tipo assim refletir, analisar, colocar em prática aquilo que você pensa, aprendeu.” “A gente tenta passar pra eles, a gente tenta fazer debates em sala de aula, seminários, pra que o aluno perceba que ele é um cidadão, tem direitos e deveres, que ele não tá na atuação profissional, que tem regras, que tem código civil, código penal, que tem responsabilidade profissional e nesse momento dos seminários, mesmo que seja pequeno ele sai com essa visão” 176 P4-A “As avaliações elas são feitas em dois momentos: as avaliações das ações, as avaliações dos trabalhos coletivos que são os trabalhos integrados, e tem também as avaliações individuais. No caso do pessoal do saberes da terra, no último dia de cada tempo-escola são feito um processo de avaliação e aí esse processo de avaliação eles fazem uma avaliação da infra-estrutura da escola, faz um processo da coordenação, auto-avaliação e avaliação da equipe de professores daquele momento que foi trabalhado”. 3.1.4. Considerações em processo sobre a didática no IFPA – Campus Castanhal Os dados gerados nas entrevistas e observações possibilitaram a breve descrição de alguns elementos das práticas formativas que estão sendo desenvolvidas no IFPA-Castanhal. É importante destacar que atualmente a instituição vem passando pelo processo de mudança na sua estrutura, que passou de Escola Agrotécnica Federal de Castanhal (EAFC-PA) para Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará- Campus Castanhal (IFPACastanhal). Há mudanças ainda em relação ao processo de implementação do currículo Integrado, em particular em cursos articulados ao Programa Saberes da Terra, no qual está sendo um grande desafio trabalhar a integração dos diferentes conteúdos disciplinares. O debate pedagógico sobre as referências no mercado, no emprego e no agronegócio, de um lado, e na vida e no mundo do trabalho, de outro, parece ser uma marca desta escola o que revela ser a instituição um local de busca de construção e reconstrução de seus rumos pedagógicos. Este é um elemento interessante para ampliarmos nossa discussão, num próximo momento, já que no decorrer da pesquisa se mostrou freqüente. Consideramos assim uma boa indicação da necessidade de pesquisas que procurem considerar as diferentes experiências pedagógicas vividas sob o emblema da implantação do ensino Ensino Médio Integrado. 3.2. ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL MAGALHÃES BARATA – ETEMB53 Fundada em 1952, como Escola Industrial de Belém, já em 1968 esta instituição de educação profissional se transformou no ensino técnico de 53 Esta seção tem por base o relatório de pesquisa da Bolsista PIBIC-UFPA Manuela Tavares dos Santos. 177 nível secundário, equivalente ao científico, denominando-se de Escola Técnica Superior do Pará. A Escola Técnica abrigava na sua sede onze cursos profissionalizantes de grande importância para o mercado de trabalho. A Escola Técnica Estadual do Pará, a partir de 1989, com a junção da Escola "Magalhães Barata" e do Centro Interescolar "Maria da Silva Nunes", passou a oferecer os cursos de Eletrônica, Eletrotécnica, Mecânica, Edificações e Processamento de Dados. Em 27 de Fevereiro de 2002, por meio do Decreto de número 5.166, foi criada, pelo Governo do Estado do Pará, através da Secretaria Especial de Promoção Social – SEPROS e da Secretaria Executiva de Educação do Pará – SEDUC, a Organização Social Escola de Trabalho e Produção do Pará- OSETPP, sendo uma sociedade civil, com personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didática e disciplinar. A Sociedade assumiu como missão promover a educação profissional de qualidade, exercendo atividades de ensino, pesquisa e extensão, atendendo à demanda da sociedade em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do estado do Pará. Em seu projeto inicial, estavam previstas 18 escolas, mas as que chegaram a funcionar foram somente 10 em todo o estado, oferecendo cursos básicos, que fornecem habilitação imediata e cursos técnicos com maior carga horária. Nesse contexto, as Escolas de Nível Médio e Técnico da rede estadual foram incorporadas pela OS-ETPP; em Belém foram duas: a Escola Técnica Estadual Magalhães Barata e a Escola Estadual Francisco Silva Nunes, as quais se propuseram a desenvolver a empregabilidade dos trabalhadores. Hoje, a ETEMB oferta as Habilitações Técnico de Nível Médio: Técnico em Informática, Técnico em Edificações, Técnico em Eletrônica, Técnico em Eletrotécnica e Técnico em Mecânica. Todas as habilitações técnicas são autorizadas pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e reconhecidas pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Pará (CREA), nos turnos da manhã, tarde e noite54. 54 Está em fase de conclusão uma tese de doutoramento, de pesquisadora vinculada ao GEPTE, a ser defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia 178 Quadro 12 – ENTREVISTADOS NA ETEMB Professor (Sexo) Professor P1-B P2-B Formação Acadêmica/Técnica Exp. EP ETEMB Curso que ministra/disciplinas Biologia 18 ANOS 3 ANOS Cursos de Edificações e de Mecânica Licenciatura Plena em Língua Inglesa 2 meses 2 meses Cursos de Informática e Inglês Técnico Engenharia Mecânica 3 anos 2 anos Curso de Mecânica, Eletrônica e Informática/Manutenção de computadores, Automação pneumática em mecânica, em informática e eletrônica 16 anos Curso de Eletrônica/ eletrônica digital, Desenho eletrônico, Projeto de rede eletrônico interno, Projeto eletrônico externo, Organização do trabalho e Gestão de qualidade. P3-B Engenharia Elétrica P4-B Engenharia Mecânica e Licenciatura Plena em Matemática. 4 anos 4 anos P5-B Processamento de Dados e Especialista em Análise de Sistemas 17 anos 17 anos 27 anos 27 anos 14 anos 14 anos ???? ???? P6-B P7-B P8-B Licenciatura Plena em Construção Civil no Ceará Engenharia Mecânica e Licenciatura Plena em Matemática ???? 16 anos Mecânica, Eletrotécnica/ Curso de Mecânica/ Máquinas e Sistemas hidráulicos, Mecânica técnica, Máquina e Sistema hidráulicos Curso técnico em Informática/ Fundamentos de programação, Linguagem de programação e Técnicas de programação e Banco de dados. Curso Técnico de Edificações/ Planejamento e gerenciamento de canteiro de obras Curso de Mecânica /Manutenção industrial ???? Procuraremos, primeiramente, expor o que foi gerado nas entrevistas, sendo destacadas as perspectivas e concepções dos docentes, explicitadas em suas falas, sistematizadas nos quadros abaixo, de acordo com cada categoria de análise: Universidade Católica do Rio de Janeiro, que tem o foco na história da ETEMB, de autoria de Elinilze Guedes Teodoro. 179 3.2.1. Objetivos de ensino Nesta instituição, a construção do projeto pedagógico parece ter sido fruto do trabalho de uma equipe composta por alguns docentes e a coordenação, do qual alguns docentes têm pouco conhecimento. Teria cabido a esta equipe a definição do desenho curricular e da formulação dos objetivos de ensino, que constituiriam os planos de cursos. Em alguns casos, foram ouvidos representantes do “mercado”, ou seja, algumas empresas como intuito de adequar os projetos com as exigências do mercado. Apesar de os projetos pedagógicos dos cursos serem pouco conhecidos, de os objetivos não serem definidos coletivamente ou avaliados regularmente, prevalece a idéia de que cabe ao mercado a regulação dos cursos, seus objetivos, seu desenho curricular e formas de organização didática. Para a maioria dos docentes, a escola estará cumprindo seu papel caso alcance o objetivo de formar técnicos para o que querem as empresas,, consequentemente, qualificando os profissionais para o mercado de trabalho. Em relação aos objetivos de ensino, foi possível constatar que os docentes da instituição pesquisada estão preocupados em formar seus alunos para atender ao mercado, esta é sua principal referência, isto foi recorrente e ficou claro na fala de vários professores, como nesta: “Os nossos objetivos são formulados em cima do que as empresas estão precisando” (P8-B). Ou seja, a preocupação maior da escola seria formar técnicos para o mercado de trabalho, atendendo às demandas do capital. Para tanto, noções como competência e habilidades são as mais citadas como referência para organização das práticas formativas. Um professor destacou em sua fala que: “Eles (os trabalhadores) precisam ter não só competências, mas habilidades, essa é a grande importância da gente formular pra que eles consigam ter um trabalho (P8-B)”. Do mesmo modo, a adoção de novas tecnologias pelo mercado foi apontada como outra importante referência adotada para a regulação dos projetos e processos de formação. 180 Nesta escola, não foi feita nenhuma referência ao ensino integrado e pouco se percebeu a preocupação com a articulação entre teoria e prática. Os conteúdos formativos, nesta escola, parecem ser considerados na medida e na qualidade das necessidades do desempenho de tarefas e do exercício de funções técnicas. O seu uso requer o crivo das empresas e uma utilização “em doses homeopáticas”. Por fim, os docentes desta escola, de um modo geral, tomam o mercado como validador de suas ações formativas, em particular no momento em que absorve a mão-de-obra egressa desta instituição, havendo um retorno positivo ou negativo, por parte dos trabalhadores, para a empresa. O conservadorismo político se destaca na fala dos professores desta escola, conforme se pode observar no quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos mais significativo acerca dos objetivos de ensino na ETEMB. Quadro 13 – EXCERTOS SOBRE OBJETIVOS DE ENSINO – ETEMB Professor P1-B P2-B P3-B OBJETIVOS DE ENSINO “Que ele possa desenvolver atividades que visem preservar a integridade física do trabalhador. Que ele tenha conhecimento da legislação trabalhista, da origem do trabalho. Fazem parte de um desenho curricular do plano de curso e a avaliação, na verdade, a gente não tem uma avaliação dos nossos objetivos, na verdade nós não temos um acompanhamento pedagógico”. “O inglês técnico é assim: ele não precisa falar, não precisa escrever. No final da disciplina eu quero que ele compreenda. Como é que é trabalhar o inglês básico no qual o aluno (...) a gente trabalha também um pouquinho de gramática na compreensão do texto. No primeiro módulo, já é mais trabalhada a linguagem sempre com o texto. Ele sabendo compreender ele vai conseguir desenvolver.” Isso é conteúdo “O objetivo das disciplinas pneumática e eletropneumátic ,é a parte de ar comprimido, a parte de válvulas direcionais, arpoadores lineares. Passo uma prova teórica e uma prova prática. Na parte de eletrônica básica eles têm base de eletrônica analógica e noções básicas de eletrônica analógica, resistor, fonte de alimentação, transistor, na parte de informática voltados para instalação elétrica para computador, o que é um estabilizador, o que é um nobreak. São avaliados com provas teóricas e provas práticas porque não adianta nada o técnico saber a teoria e não saber a parte prática. A gente mostra como utilizar o instrumento, um amperímetro, um voltímetro, essa é a idéia. A base na indústria, a parte de informática, tem que saber para instalar um computador. É uma ferramenta importantíssima”. 181 P4-B P5-B P6-B P7-B P8-B “Primeiro o aluno vai se formar em técnico, o técnico com 90% eles vão ser aproveitados no mercado de trabalho para manutenção, então ele tem que conhecer a manutenção completa, ou seja, não tem negócio de 5, 6, ou é 0 ou é 10. O cara tem que saber. Esse que é o nosso processo de avaliação. O aluno faz quantas provas for necessária. Só passa e é considerado apto à matéria só se ele souber completamente a matéria. Se não fica pela metade. O aluno conhecer pelo menos 40% das matérias para poder fazer cursos fora. Aqui o cara só aprende 40%, fora é que ele aprende os 60%. Ele vai estar apto a trabalhar em qualquer nível de trabalho de eletrônica, como técnico em eletrônica”. “Que os alunos consigam identificar os componentes hidráulicos e como eles devem ser utilizados. Na verdade, quem formula esses objetivos não sou eu. Eles foram formulados por uma equipe que definiu o plano do curso de mecânica. Então, quando eu cheguei aqui eles já estavam definidos. Olha, é muito importante, porque se eles forem atingidos isso significa que a escola cumpriu seu papel e aí vai se formar profissionais capacitados para o mercado de trabalho”. “O objetivo da disciplina aqui é fazer com que a pessoa tenha noção e saiba montar, a nível de sistema de análise, mas a nível de programação sim, a parte de montagem,, de programação. Esse é o objetivo da disciplina. Esses objetivos de ensino são avaliados de forma teórica e as duas últimas avaliações são avaliações práticas, de acordo com as diretrizes que o curso possui, porque o curso daqui abrange não só a parte de programação, mas a parte de manutenção de computadores, redes de computadores. Então essa parte na qual ele está inserido, a parte de programação, é um dos itens que abrange o curso como um todo. É porque, digamos assim, a parte da informática em si ela tem várias vertentes. Uma vertente auxilia a outra em determinados campos. Na parte que eu trabalho, ela é importante porque ela abre o leque do raciocínio lógico, que a gente trabalha muito na parte de programação e isso aí vai surgir nas demais disciplinas”. “Formula primeiro um desenho curricular. A nossa área de indústria é a indústria da construção civil. A gente entra em contato, porque nós temos aqui uma coordenação de estágio, então, nossos alunos, já no último semestre de estágio, além de entrarem em contato com a obra, entram em contato com os engenheiros e arquitetos para sabermos qual o desempenho dos nossos alunos, o que aquela empresa tá querendo, porque a grade curricular pode mudar, ir se ajustando de acordo com as novas tecnologias. Vamos formular o conteúdo para a realidade que a empresa quer.” O objetivo da disciplina é que a pessoa tenha uma habilidade, não só competência. Os nossos objetivos são formulados em cima do que as empresas estão precisando; nossos objetivos se formulam a partir disso. Eles precisam ter não só competências, mas habilidade, essa é a grande importância da gente formular pra que eles consigam ter um trabalho. 3.2.2. Conteúdos de Ensino Mercado, ciência, tecnologia, empregabilidade e competência são as noções mais indicadas como referências para a organização curricular na instituição. No entanto, os docentes revelam no decorrer das entrevistas que os conteúdos de ensino são formulados de acordo com o que o mercado de 182 trabalho exige, esta é a maior referência visível na fala de diferentes docentes. Sendo assim, pode-se perceber que a preocupação dos docentes desta instituição é adequar seus alunos ao mercado de trabalho e este acaba por funcionar como fonte de informações para a organização curricular, como mecanismo de regulação da quantidade e da qualidade dos conteúdos trabalhados e como validador da formação oferecida. Os currículos são organizados por temas e sub-temas, com ênfase na dimensão prática dos mesmos. Pouco aparece a referência aos fundamentos destes saberes práticos. Os conteúdos teóricos são sempre considerados de modo instrumental e vinculados às necessidades de execução de alguma tarefa prática. Em relação aos desenhos curriculares, estes são construídos por um grupo de professores, mas esta participação parece ser limitada, já que alguns docentes afirmavam que: “os conteúdos foram definidos a partir de uma equipe que montou o plano” (P5-B). Para elaboração dos desenhos curriculares, além das referências já citadas acima, são consideradas as orientações oficiais existentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais, bem como o conjunto da legislação existente. No geral, os conteúdos são avaliados de acordo com a evolução do mercado de trabalho e do avanço tecnológico, pois tais conteúdos vão se adaptando de acordo com o que o mercado está solicitando, ou seja, não há um programa fechado, mas sim flexível, já que se ajusta a partir do que o mercado de trabalho requer. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos mais significativo acerca dos conteúdos de ensino na ETEMB. Quadro 14 – EXCERTOS SOBRE CONTEÚDOS DE ENSINO – ETEMB Entrevistado (F/M) P1-B P2-B P3-B CONTEÚDOS DE ENSINO O conteúdo é definido voltado para o mercado de trabalho, com vista a empregabilidade, ao que o mercado tem em relação às novas tecnologias. Quem formula agora sou eu. Os alunos respondem a prova em português?, não em inglês. A gente utiliza muito a parte prática. No caso, eu tenho utilizado catálogos da 183 P4-B P5-B P6-B P7-B P8-B área, e assim formulo os temas, os conteúdos. Passo exercícios práticos também. A reunião de todos os professores junto com os empresários. São avaliados pela necessidade das indústrias em implantação no Pará e também das firmas de manutenção instaladas no Estado do Pará. Como eu já te disse, os conteúdos foram definidos a partir de uma equipe que montou o plano. Então quando eu cheguei aqui já estava montado. Para a nova turma que entrou agora, eu participei do processo, houve uma reformulação. A ciência e a tecnologia vão avançando e assim também o processo de trabalho vai avançando. Faz isso aí pelo menos de 3 em 3 anos. Quando eu entrei aqui tinha um em vigor, que é a turma que está se formando agora. Discussão com todos os professore. Vê o que tem de novo no mercado. Os conteúdos são avaliados de acordo com a evolução do mercado de trabalho e do mercado tecnológico, mais disciplinas, mais assuntos. Esse conteúdo da disciplina é definido num plano diretor que se faz, que é levado até o MEC. Ele aprova esse plano e aí então o curso vigora de acordo com a exigência do MEC. Os conteúdos trabalhados são lógica, raciocínio lógico, programação e técnicas de programação em si, que é um refinamento da programação. Eles são trabalhados com conceitos e recursos práticos e então depois o aluno faz aplicações. O conteúdo é decidido em reunião com os professores do curso. A gente se reúne e, como a maioria daqui são engenheiros, arquitetos, licenciados na área específica, nós temos o conhecimento do campo de trabalho. A gente faz essa adequação das disciplinas. Parâmetros Curriculares de acordo com o Conselho Nacional de Educação, o MEC, a gente vê o quê que o mercado quer, inclusive a gente não chama mais disciplinas, a gente chama temas. Por exemplo, no módulo I nós temos 19 disciplinas, 19 temas curriculares. Esses objetivos são criados através da realidade do campo de trabalho. Tem 2 maneiras de avaliação dos objetivos: tem pela parte docente, que tem um acompanhamento de uma orientadora que faz esse planejamento, esse desenho curricular. De acordo com o desenho nós montamos os temas. Em cima dos temas, montamos os sub-temas e aí a gente apresenta à coordenação um grupo de professores de Edificações, na parte interna que é a orientadora. Tudo isso aí a gente envia ao Conselho Estadual de Educação. Na parte interna através de nossos alunos e na externa através das empresas. Quem define é o grupo de mecânica, que reúne e define o que é que o mercado ta precisando. São sempre formulados pela exigência do mercado. A nossa avaliação, acho que você percebeu naquela nossa aula, a avaliação é contínua: o aluno, a nossa metodologia e se os conteúdos estão atendendo a exigência do mercado. 3.2.3. Métodos de Ensino e de Avaliação A partir da análise feita nos dados gerados nas entrevistas e observações, foi possível visualizarmos que os professores utilizam como método de ensino, principalmente, diferentes procedimentos de práticas expositivas (aula expositiva, com uso de recursos didáticos diferentes) seguidas de experimentações em laboratórios ou ambientes de trabalho. O uso de textos e de práticas de pesquisa se associa a estes procedimentos. 184 O que é uma constante na didática da educação profissional são as aulas práticas, justificadas pelos professores como uma preparação para a atuação profissional do aluno. Alguns mencionaram aula-passeio como método de ensino, que consiste em visitas às empresas do ramo de atividade pertencentes. Percebemos, na ação pedagógica de uma docente, uma preocupação com a formação ampla do trabalhador e para isso ela utiliza em suas aulas textos de conhecimentos gerais, socializando com os alunos outros conhecimentos também importantes, não só para sua vida profissional, mas também para a sua vida social. Um desses exemplos diferenciais é abordar a questão da Aids, de importância para toda a população. Neste exercício de docência, verifiquei um diferencial em relação aos demais docentes entrevistados e observados, já que a maioria possuía a mesma prática formativa e, também, o mesmo discurso, voltado às exigências do mercado de trabalho. Como avaliação, os professores afirmam fazer provas teóricas e práticas, pesquisas e, também, apresentação de seminários (novamente aqui as inovações quase não são tentadas). Nas entrevistas, também foi destacada a idéia de que quem faz a avaliação é o próprio mercado de trabalho, quando ocorre o feedback da empresa em relação ao desempenho do trabalhador. Em relação à didática, não é possível verificarmos inovações significativas, já que esta prática assemelha-se muito, em algumas situações, ao que é praticado no ensino médio regular, no que diz respeito principalmente às aulas e às avaliações. Os procedimentos de avaliação utilizados pelos professores, geralmente, são provas, teóricas e práticas, e também seminários, para obter, ao final, um conceito de rendimento. Alguns professores defendem a utilização da prova teórica como um dos métodos de avaliação mais importante. Outros ressaltam a prova prática, já que o aluno deve sair da instituição “sabendo fazer”, e, através desta constante metodologia de avaliação, ele sairia apto à inserção no mercado de trabalho. 185 Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos mais reveladoras acerca dos métodos de ensino na ETEMB. Quadro 15 – EXCERTOS SOBRE MÉTODOS DE ENSINO – ETEMB Entrevistado (F/M) P1-B P2-B P3-B P4-B P5-B P6-B P7-B P8-B MÉTODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO “Exposição, utilização de recursos de mídia, avaliação do aluno, até porque a gente se reúne bastante, a gente ainda vive muito a questão do tecnicismo, das novas tecnologias, da práxis, só que às vezes, se dá tanta importância pra prática que acaba ficando a prática pela prática”. “O método é basicamente assim: ensino a outra forma, não só os alunos a pegarem o texto. Eu faço essa avaliação através do feedback dos alunos, das respostas dos alunos.” “Utilizo tanto livros como apostilas. Faço tanto trabalhos para fazer pesquisa ou aula prática e também visitas técnicas às empresas”. “São todos os métodos existentes, principalmente os métodos práticos. O conhecimento total do aluno sobre os métodos. Executar serviços. Geralmente a gente manda fazer trabalhos como avaliação do aluno, a prova é mais pra ginásio. Não faço prova não. Aqui quase não tem prova”. “Olha, eu utilizo muito a aula com data-show, quadro magnético, eu passo trabalho, faço provas tradicionais, provas escritas, então são várias situações. Por exemplo, agora mesmo eu pedi uma pesquisa e mais uma lista de exercícios.” “A metodologia que nós utilizamos são as metodologias padrões em função de seminários, trabalhos práticos, em função de provas teóricas, através desses trabalhos práticos, porque a própria disciplina já tem o conteúdo programático. Não somos nós quem determina os conteúdos daquela disciplina. Então, de acordo com os módulos a gente passa as avaliações em função delas.” “Bem, na maneira interna, que são nas aulas com recursos didáticos normais, como eu lhe falei, e também laboratórios, e também temos pesquisas. Relacionado a parte externa, nós temos visitas às obras. Falando assim grosseiramente, no caso do tijolo, aqui na escola nós abrimos um calendário, relacionado a tema e a sub-temas, por exemplo, o sub-tema da disciplina matérias de construção que é o tema produtos cerâmicos, no caso do tijolo é um tema, então fazemos nossa aula-passeio, que esse é um dos métodos.” “Cada conteúdo é um método. Vai depender de conteúdo que a gente tá trabalhando. A nossa avaliação quem faz não somos nós, é o mercado de trabalho, porque no momento que a gente põe esse aluno dentro da empresa a gente tem o feedback dentro da empresa. Se ele foi bem sucedido ou não tem que ver se tem algum problema, tem que ver onde é par tentar contornar, é o próprio retorno que nos avalia.” 186 3.2.4. Considerações em processo sobre a didática na ETEMB Nossas considerações iniciais sobre os objetos priorizados nesta pesquisa nas práticas formativas na ETEMB apontam para um conservadorismo pedagógico como marca das. Escolas. Nelas se verifica a permanência de ações educativas tradicionais, focadas quase que exclusivamente no mercado de trabalho e no uso de novas tecnologias pelas empresas, na organização curricular hierarquizada e no uso de procedimentos já consolidados. As referências pedagógicas principais são o mercado, o que faz com que as demandas das empresas e as noções como competência e empregabilidade sejam chaves para a definição dos projetos pedagógicos e das práticas docentes locais. O debate sobre ensino integrado parece não existir nesta escola. O “mercado” apresenta-se com uma força tal capaz de orientar a construção dos projetos pedagógicos, referenciar práticas pedagógicas e validar conteúdos e procedimentos pedagógicos e mesmo a própria instituição. 3.3. ESCOLA BOSQUE PROFESSOR EIDORFE MOREIRA55 Considerações iniciais A Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira é centro de referência em educação ambiental. Situada na ilha de Caratateua, distrito de Outeiro, na cidade de Belém, é uma das instituições que oferece educação profissional de nível técnico no Estado do Pará. A escola bosque foi fundada em abril de 1996 e a sua criação foi realizada por mobilização e iniciativa da própria comunidade do entorno, tendo como prática educativa a proposta ambiental com a finalidade de formar profissionais ligados à área de estudos sobre o meio 55 Os dados referentes a esta escola foram coletados e tratados pela bolsista de iniciação científica Lívia Fernanda Nascimento dos Santos, no ano de 2009, e é parte integrante de seu relatório parcial de pesquisa. 187 ambiente e a implementação de projetos e ações educacionais voltados para a sua preservação56. A instituição atualmente oferta Educação Infantil, Ensino Fundamental e o Ensino Médio nas modalidades da Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional, sendo a única escola do município que oferta o ensino médio vinculado à educação profissional, justamente pelo projeto da instituição ter como objetivo a oferta de uma trajetória escolar que seria iniciada na educação infantil e finalizada com um diploma de técnico em educação ambiental, já que esta é seu eixo norteador. A princípio, a instituição não oferecia integralmente o curso Técnico em Meio Ambiente, sendo sua oferta, inicialmente, realizada por meio de três qualificações básicas - manejo de fauna, manejo de flora e ecoturismo. No ano de 2003, foi reestruturado o projeto da escola, sendo criado esse curso técnico. Já em 2007, o curso passou por uma nova reformulação da grade curricular que alterou algumas de suas disciplinas.57. A Instituição apresenta uma proposta pedagógica de preparação de profissionais sob a perspectiva crítica, a fim de que estes desenvolvam projetos de iniciativa própria, respondendo a novos desafios da sociedade, de forma criativa, inovadora e principalmente empreendedora. Dessa forma, volta-se para a formação de profissionais para atuarem no mundo do trabalho, nas questões ambientais e na implementação de projetos e ações educacionais voltados para a preservação ecológica. Além das entrevistas com professores e o coordenador do curso , realizamos uma análise dos documentos referentes aos planos de curso e de ensino. Segue abaixo um quadro com informações sobre os entrevistados da Escola Bosque. Quadro 16 – ENTREVISTADOS DA ESCOLA BOSQUE Professor P1-C Formação Acadêmica/Técnica Exp. EP Escola Bosque Curso que ministra/disciplinas Licenciatura em Biologia/ Especialização em Gestão _ 1 ano e 3 meses Curso Técnico em Meio Ambiente/ Biologia, Biodiversidade, Meio Ambiente 56 Conforme http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/mre000040.pdf. Acesso em 02/03/2010. 57 Conforme http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/mre000040.pdf. Acesso em 02/03/2010. 188 Ambiental/ Mestrado em Biologia Ambiental e Saúde Humana, Ecologia e Poluição ambiental P2-C Engenharia de Pesca/ Licenciatura em Matemática _ Curso Técnico em Meio Ambiente/ 1 ano e 2 Recursos Hídricos, Biodiversidade, meses Sociodiversidade, Técnicas de Estudos e Pesquisa P3-C Bacharel em Turismo/ Especialização em Ecoturismo _ 1 ano e 4 meses Curso Técnico em Meio Ambiente/ Educação Ambiental e Ecoturismo P4-C Bacharelado em Agronomia/ Especialização em Gestão Ambiental _ 5 anos Curso Técnico em Meio Ambiente/ Poluição Ambiental, Manejo Conservação de Solo P5-C Licenciatura em Química/ Especialização Química Ambiental _ 10 meses Química C6-C Licenciatura em Ciências Sociais/ Especialização em Produção Familiar Rural/ Especialização Ciências Sociais _ 10 anos Curso Técnico em Meio Ambiente/ Elaboração de Projeto e TCC 3.3.1. Objetivos de ensino Na Escola Bosque, o meio ambiente e problemas ambientais constituem a principal referência para a organização didática da escola. Provavelmente isto tenha a ver com o fato de o curso técnico ter se originado depois de já haver uma escola construída dentro de um bosque, projetada desde o início para as questões ambientais. Merece destaque também o fato de a escola ter um foco importante em questões locais, revelando um vínculo grande com problemas locais da Ilha de Caratateua e do Município de Belém. Mesmo assim, é forte a referência no mercado de trabalho. Vários foram os docentes que destacaram a importância “do que quer o mercado”, seja do ecoturismo, seja o “mercado” de projetos ambientais ou o empreendedorismo. Entretanto, mesmo sendo forte essa referência, a cidadania também foi colocada como uma referência importante em contraposição ao mercado assim como a formação para o “mundo do trabalho” foi posta em oposição a uma formação focada no “emprego”. 189 Uma dessas concretizações é o fato de percebemos que o Curso Técnico em Meio Ambiente visa também a formar gestores ambientais, ampliando a possibilidade de trabalho considerando somente o mercado existente. Para isso, a Escola coloca como necessária a posse de atitudes adequadas e da polivalência, pois as empresas contratariam profissionais para determinados cargos nos quais eles precisariam realizar múltiplas funções, conforme a proposta político pedagógica da escola para 2009 (ESCOLA BOSQUE, 2009). Diferente das outras instituições, as noções de competência e habilidades apareceram com pouca força nesta escola, mesmo que a legislação nacional e, em particular, o Catálogo Nacional de Cursos, sejam referências adotadas na escola e claramente citadas nas entrevistas.. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos relevante acerca dos objetivos de ensino da Escola Bosque Quadro 17 – EXCERTOS SOBRE OBEJTIVOS DE ENSINO – Escola Bosque Professor P1-C P2-C OBJETIVOS DE ENSINO “O curso pretende formar agentes ambientais para que eles possam trabalhar essencialmente aqui na ilha que ele foi criado justamente para atender as necessidades da ilha então o objetivo e conseguir melhorias nas questões ambientais na ilha”. “As habilidades e competências que venham trabalhar o técnico em meio ambiente, mas não é só o técnico, não é só o profissional, mas a gente desenvolve muita a cidadania, para eles terem essa percepção do ambiente, dos problemas ambientais e que ele faz parte do ambiente em que ele é integrado, e em relação ao profissional ele tem que ter habilidades, tem que saber identificar quais os problemas ambientais em todos os níveis do ambiente e tentar trazer algumas soluções para sanar ou diminuir essas alterações no ambiente, e as referencias que serviram para construir esse perfil foi os catálogos do curso técnicos brasileiros”. “As finalidades do projeto é inserir o aluno no ensino profissional aqui do técnico, a relação ensino e aprendizagem é inserir ele na realidade profissional que está acontecendo ai fora, no caso curso meio ambiente com metodologia baseada em projeto construção e desconstrução respeitando a multiculturalidade do aluno”. “O curso técnico quer formar profissionais que tenha capacidade, que ele tenha compromisso com a profissão, nós avisamos sempre aos alunos que o mercado está muito exigente, não e só você se formar como técnico você tem que ter atitude, você tem que ser polivalente. As empresas contratam para um determinado cargo, mas você acaba fazendo múltiplas função e às vezes o salário não é compensador, esse perfil tem como referência o mercado de trabalho, a legislação ambiental”. “Então ele tem que ter um perfil acirrado, não só como técnico, mas como cidadão. Também crítico onde estar inserido e de repente não só ser um empregado, mas ele também pode ser um empreendedor, pegar seu 190 P3-C P4-C P5-C C6-C 3.3.2. conhecimento e montar seu próprio negócio, então ele tem que ter um perfil ante de tudo crítico e não só técnico, acirrado, com responsabilidade onde ele possa se encaixar em uma empresa e se adaptar ao sistema”. “Técnico em meio ambiente estamos preparando os alunos para que a formação deles seja realmente para eles atuarem no meio ambiente, tem alguns que vão entrar em projetos, em empresas, tendo um leque, por que vão trabalhar a parte da fauna, de flora , de ecoturismos, a parte de solo e eles têm uma formação que eu acho que vocês já tiveram a possibilidade de verificar a grade curricular deles e uma grade curricular bem extensa e bem ampla então a atuação deles e no mercado geralmente”. “O técnico em meio ambiente tem que ser um gestor, o curso na escola visa à formação de técnico para gestor, o curso em si ele estar mais eclético nos temos veterinária, agrônomos, têm biólogos, então ele estar bem alicerçado, hoje o aluno sai daqui, ele já vai sair realmente formado em técnico em meio ambiente, ele vai ter condições de olhar e discernir a problemática ambiental ou saber pelo menos que solução tomar de acordo com cada ação, o curso tem uma íntima relação com a comunidade que é para onde eles vão se estender quando sair daqui”. “Técnico em meio ambiente seria mais a questão assim de resolver os problemas ambientais. O que o mercado quer é prática e se você sair daqui com muita teoria e sem prática não vai passar muito tempo. O curso tem o objetivo de formar profissional na área prática, mas não esquecendo também na área teórica. Eu noto uma preocupação muito forte dos professores na questão de preparar mesmo para criar trabalhos técnicos, artigos científicos”. “E importante o aluno sair com uma profissão, mas é claro que o objetivo principal não é formar para o mercado de trabalho mais especificamente, mas para uma educação tanto para o mundo do trabalho, quanto para a questão do emprego mesmo propriamente dita para ter uma profissão, mas também para uma educação mais geral, uma formação integral tanto para a educação profissional ou para a formação mais geral”, “O perfil do aluno que se quer formar esse perfil já vem mais ou menos estruturado a partir das orientações do catálogo do curso técnico, então o que nós estamos fazendo diferente em relação e que estamos dando ênfase para a questão do ecoturismo é algo que não vai ver nas orientações gerais, tem uma parte também de pesca e aquicultura, Uma parte de biodiversidade”. Conteúdos de ensino Para a organização curricular, as noções de competência e de habilidade aparecem com força, além da tentativa de um trabalho multidisciplinar ou interdisciplinar. As competências são entendidas assim: “as competências seriam o conhecimento e as habilidades seriam as aplicações desses conhecimentos” (C6-C). Na escola a organização curricular por eixos assim definidos: (i) ciências básicas, (ii) biodiversidade, que vai estar relacionada com a biologia, com ecossistema e o organismo, e a (iii) sociodiversidade. Nesta articulação, alguns “tipos de saberes” são considerados: saberes, habilidades, bases científicas e tecnológicas. 191 A forma como estes eixos e saberes se articulam pode ser compreendida a partir da fala do informante abaixo: As disciplinas mais específicas nós tentamos reformular, readequar com as bases cientificas tecnológicas que eles chamam desses conteúdos, por exemplo, o que fazia parte de manejo de flora e fauna nós verificamos que tinha muitas coisas que se repetiam e que compreendíamos que não eram necessárias ter nessa formação de meio ambiente. Retiramos também e tentamos enxugar e isso foi transformando na disciplina biodiversidade, que ela tem uma carga horária maior e algumas outras disciplinas que não estavam com disciplinas e sim com módulos então nos conseguimos dividir essas bases tecnológicas de conteúdos. (C6-C). Este processo de reorganização curricular foi feito tendo como base a idéia de interdisciplinaridade, que teria o seguinte entendimento prático: Eles escolheram as disciplinas que dentro do planejamento já tinha uma visão de quais as disciplinas iam ser pautadas, e eles começaram a delegar pra cada um, e eles aceitaram e começou a ocorrer uma interdisciplinaridade para que uma disciplina encaixa-se imediatamente na outra e não ficasse solta (P5-C). Como se pode observar, apesar de haver registro da existência de autonomia docente e de participação, foi recorrente a idéia de que a definição do desenho curricular é feita com participação restrita dos docentes. De um modo geral, no que pudemos observar na Escola Bosque, prevalece a busca pela melhor articulação entre teoria e prática, mas tendo a prática como aplicação da teoria e, de modo bem pragmático, necessária na medida de sua utilidade prática. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados considerando os aspectos mais relevantes sobre os objetivos de ensino na Escola Bosque. Quadro 18 – EXCERTOS SOBRE CONTEÙDOS DE ENSINO – Escola Bosque Professor P1-C CONTEÚDOS DE ENSINO “Os conteúdos são compostos por competência, habilidade e base tecnológicas, o que ele precisa saber o que ele precisa conhecer e o que ele precisa saber fazer, ter noção da disciplina, para ele no caso a base tecnológica que é o conteúdo propriamente dito e isso estar explícito no projeto. Os conteúdos são organizados de forma multidisciplinar, em aspas. Só o no técnico e alguns professores do 192 P2-C P3-C P4-C P5-C C6-C médio acabam participando, mas não são todos”. “A definição dos conteúdos de ensino é realizada através de reuniões, nos sempre fazemos reuniões e distribuirmos para cada professor o que ele precisa dar de termos de conteúdo, então o conteúdo ele fica distribuído proporcionalmente ao que o professor domina mais do que o outro. Os conteúdos têm três vertentes: ciências básicas, depois vem biodiversidade que vai estar relacionado com a biologia, com ecossistema e o organismo, e a ultima vertente é a sociodiversidade”. “O que compõem os conteúdos são exatamente habilidades, atitudes, desenvolver, e aplicar toda essa parte teórica que eles aprendem em sala de aula no seu dia-a-dia e tornar esses alunos multiplicadores desses conhecimentos, levar para o seu dia-adia, se estendendo nas comunidades”. “Cada um profissional define o seu conteúdo, pertinente à disciplina. As disciplinas foram também encaixadas e selecionadas de acordo com o catalogo nacional, a partir daí a engenheira ambiental vê dentro da gestão ambiental, da legislação os conteúdos que compõem saberes e habilidades”. “Em relação a minha disciplina aqui nós temos muita autonomia para estabelecer os conteúdos a serem trabalhados, sempre tive uma orientação para interdisciplinaridade, tivemos essa liberdade para fazer, mas não foi de maneira individual aqui no técnico, eles escolheram as disciplinas que dentro do planejamento já tinha uma visão de quais as disciplinas iam ser pautadas, e eles começaram a delegar pra cada um, e eles aceitaram e começou a ocorrer uma interdisciplinaridade para que uma disciplina encaixe-se imediatamente na outra e não ficasse solta”. “Os conteúdos compõem saberes, habilidades, bases cientificas e tecnológicas, na qual, no final do curso, o aluno possa saber aplicar minimamente os saberes apreendidos na disciplina, sendo que as competências seriam o conhecimento e as habilidades seriam as aplicações desses conhecimentos, que prática é a parte mais palpável, vamos dizer assim, e não mais o concreto. É nesse contexto que o professor vai tá mediando essa aprendizagem, essa construção dessas competências e habilidades”. “As disciplinas mais específicas nós tentamos reformular, readequar com as bases cientificas tecnológicas que eles chamam desses conteúdos, por exemplo, o que fazia parte de manejo de flora e fauna nós verificamos que tinha muitas coisas que se repetiam e que compreendíamos que não eram necessárias ter nessa formação de meio ambiente. Retiramos também e tentamos enxugar e isso foi transformando na disciplina biodiversidade, que ela tem uma carga horária maior e algumas outras disciplinas que não estavam com disciplinas e sim com módulos então nos conseguimos dividir essas bases tecnológicas de conteúdos”. 3.3.3. Métodos de ensino e de avaliação Em relação a procedimentos de ensino utilizados na Escola Bosque, destacamos a preocupação com as “aulas práticas”, entendidas em contraposição à teoria ou como aplicação desta. Estas “aplicações” se realizam principalmente em empresas ou na própria comunidade. Assim, um professor e o coordenador explicam a relação entre teoria e prática: A metodologia que uso é justamente tentar mostrar na prática o que eles vejam lá na teoria (P4-C). 193 Aqui os alunos gostam de aulas mais práticas. Não existe uma metodologia especifica fica muito a critério do professor, mas infelizmente acabam naquela aula expositiva temos aqui iniciativas muito interessante, diferenciadas (C6-C). Os trabalhos de campo são compreendidos desta maneira: “Tentamos levar o aluno para campo. Sempre fazer teoria em sala de aula e a prática no campo” (P1-C). As aulas são realizadas de modo, principalmente, expositivo, fazendo uso dos recursos didáticos disponíveis (principalmente o data-show). A realização de trabalhos de pesquisa também é enfatizada, segundo uma metodologia que a instituição afirma desenvolver de motivação para que o aluno identifique problemas ambientais locais, construa projetos que busquem conhecer como se dá essa problemática e aaponte soluções para sanar ou diminuir essas alterações no ambiente. Dessa forma a idéia do aprender a fazer fazendo seria também valorizada. Quanto aos procedimentos de avaliação mais citados pelos professores entrevistados, estão as provas teóricas e práticas, apesar de muitos falarem de outras práticas avaliativas que envolvem seminários, estágios, trabalhos individuais e em grupo, apresentação de relatório de campo. Do mesmo modo que nas instituições anteriormente citadas, é na avaliação que se percebe com evidência a falta de renovação da educação profissional paraense, como podemos identificar na seguinte fala do professor: Eu gosto mais de fazer prova eu não gosto de fazer trabalho, não é que eu não goste e que a minha preocupação é a saída deles daqui, como é que eles vão sair daqui, e que mundo eles vão enfrentar lá fora, então geralmente eu coloco para eles vocês vão sair daqui e enfrentar prova, é preciso que você de adequem a isso ou saiba pelo menos pegar uma questão e interpretar, o objetivo maior e esse da interpretação e não tanto saber a nota, então a prova é importante para que eles comecem a ter essa modificação [...] (P4-C). Poucos professores utilizam métodos diferentes, retendo-se muitas vezes as provas como método avaliativo. O coordenador/ Professor do Curso Técnico afirma que a instituição deveria realizar: 194 A avaliação processual, contínua e o professor pode estar vendo os instrumentos de avaliação, devem ser variáveis não pode ser só a prova, estamos fazendo algumas mudanças no sentido de mesclar a avaliação qualitativa e quantitativa, então nós estamos a trabalhar com esse sistema de nota que se transforma em uma média geral e uma média aritmética, e que essa média e transformada em um conceito, é o conceito de cada disciplina; a idéia é justamente o professor trabalhar com instrumentos diversificados e não trabalhar só com a prova, ou só com seminário, mas ter estratégias diversificadas de avaliar o aluno processo de aprendizagem, mas o que a gente percebe e que eles acabam realizando provas (Coord./ P6). O processo avaliativo da instituição se manifesta, principalmente, na verificação de conhecimentos e habilidades, independente da forma como foram adquiridos. Assim, percebemos que as práticas avaliativas da educação profissional se reduzem à avaliação por meio de provas teóricas e práticas em que o importante é o controle dos resultados e não dos procedimentos. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados com o que consideramos mais importante no que diz respeito aos métodos de ensino na Escola Bosque. Quadro 19 – EXCERTOS SOBRE MÉTODOS DE ENSINO – Escola Bosque Professor P1-C P2-C METODOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO “A metodologia ela é aberta, mas o que a gente sempre utiliza aula teórica, utiliza alguns instrumentos como datashow que a escola disponibiliza, e tentar levar o aluno para campo. Sempre fazer teoria em sala de aula e a pratica no campo, teórica e essas visitas monitoradas, palestras de pesquisadores de fora, tem a semana da iniciação cientifica, tem a semana cultural, e estar fazendo um link com outras instituições, por exemplo, a EMBRAPA e nós utilizamos esse método campo, teoria com todos os instrumentos que a escola oferece”. “Vamos avaliar o sistema de nota, que a gente chama de culminância e são no mínimo quatro notas, sendo que essas notas não se restringem a prova, e sim a fazer prontuário, prestar relatório, preparar um banner, apresentar uma atividade de campo então são varias as formas”. “A minha metodologia é aprender fazer fazendo com as mãos para valorizar seu trabalho, o meu projeto tem três vertentes o ensino que é altamente importante, a pesquisa que está relacionada com o projeto e a extensão que eles vão vivenciar a comunidade. Assim eles estão inseridos em contexto de realidade de uma ilha, eu posso levar eles a uma empresa de pesca, mas o mais importante é a comunidade por que é uma região de ilha e eles têm que vivenciar isso e já estão vivenciando o meu projeto já está sendo contextualizado”. “Trabalho com três tipos de avaliações: a avaliação diagnóstica onde você vai verificar no primeiro momento e é difícil o perfil do aluno o que 195 P3-C P4-C P5-C C6-C eles querem? Por que estão aqui? E a avaliação formativa e aquela que, ao longo do tempo, você vai fazendo, você dar uma aula expositiva e depois faz uma avaliação dessa aula, você faz uma dinâmica de grupo, com relação a visita técnica, você pode relatar a visita técnica, uma dinâmica de grupo no campo onde você vai ver a interação, aquela que você faz continuamente e a somativa e aquela que você faz no final pode ser até oral mesmo, pode ser escrita, pode ser objetiva, subjetiva, pode ser de grupo ou individual, essas três vertentes cada um professor tem uma maneira de fazer”. “Vocês sabem que a gente trabalha com Projeto Político Pedagógico, então a gente já tem todo um plano de curso montado, mesmo que as nossas estratégias vêm toda elencadas no nosso projeto, mas como todo planejamento precisa ser flexível nas medidas das aulas, por exemplo, março eu vou trabalhar reciclagem com os alunos, só que você vai ver que a reciclagem naquela aula não deu para passar todas aquelas informações que você queria repassar, e percebe que essa metodologia não funcionou do jeito que você gostaria que funcionasse, a gente vai e procura fazer uma outra atividade por exemplo como uma aula prática”. “Com relação à avaliação a gente está trabalhando com a quantitativa e principalmente a qualitativa. Os critérios que utilizo para avaliar a qualitativa são os conteúdos, a exposição das idéias, por que às vezes até que o aluno tem discernimento dos assuntos, eles entendem diretinho, mas na hora de escrever ele tem outras limitações, só que é com a parte da gramática, de coesão, coerência eu procuro já não avaliar porque acho que não faz parte da minha disciplina”. “Sempre tento fazer a parte teórica geralmente os exemplos que uso na teoria está relacionado com o cotidiano dele e levar para a prática, as práticas são algumas aqui na própria ilha pra ver a situação ambiental da ilha, outras são fora da ilha, como a situação de fauna, o treinamento e fora daqui, então a metodologia que uso é justamente tentar mostrar na prática o que eles vejam lá na teoria, ou pelo menos um pouco do que eles vejam lá na teoria, por que é mais teoria do que prática, principalmente tentando buscar mostrar para eles essa correlação, fazendo essa relação da teoria com cotidiano, com relação com que eles têm aqui na ilha ou na ilha adjacente”. “Eu gosto mais de fazer prova eu não gosto de fazer trabalho, não é que eu não goste é que a minha preocupação é com a saída deles daqui, como é que eles vão sair daqui, e que mundo eles vão enfrentar lá fora, então geralmente eu coloco para eles vocês vão sair daqui e enfrentar prova, é preciso que você de adeque a isso ou saiba pelo menos pegar uma questão e interpretar, o objetivo maior e esse da interpretação e não tanto saber a nota, então a prova é importante para que eles comecem a ter essa modificação, porque quando eles estão em uma situação difícil a primeira coisa que eles pedem é para fazer trabalho, porque eles vieram de um sistema que sempre era realizado trabalho, quem fazia o trabalho não era retido”. “Em relação à definição das metodologias os professores têm liberdade, temos recursos pedagógicos, tem a disposição datashow que é uma coisa interessante de você ouvir e você ver, você ouvir e ver se completa e eles têm esse recurso. A metodologia não está muito definida no meu plano, pois eu fiz o plano sem conhecer a escola, então algumas coisas que não estão encaixando é essa questão da falta de laboratório, porque eu vi o laboratório de química, mas também quando cheguei aqui pediram logo o plano, apenas montei ele todo e entreguei mas uma das etapas foi para que o aluno percebesse através da prática algumas evoluções e conceitos determinados em sala de aula, mas isso não está sendo possível pela falta de laboratório, a prática o nome já está dizendo é complicado não ter ela efetivada em algumas situações em sala de aula”. “As estratégias de ensino dependem muito da formação, da criatividade 196 do professor, então eu diria que nós temos professores que conseguem promover uma aprendizagem de que os alunos gostem e eles dão aquela aula com prazer, mas infelizmente nós temos outros que não têm essa mesma facilidade, eu percebo que aqui os alunos gostam de aulas mais práticas. Não existe uma metodologia específica fica muito a critério do professor, mas infelizmente acabam naquela aula expositiva temos aqui iniciativas muito interessante, diferenciadas”. “A avaliação é processual, contínua e aí o professor pode estar vendo os instrumentos de avaliação, devem ser variáveis não pode ser só a prova, estando fazendo algumas mudanças no sentido de mesclar a avaliação qualitativa e quantitativa, então nós estamos a trabalhar com esse sistema de nota que se transforma em uma média geral e uma média aritmética, e que essa média é transformada em um conceito, é o conceito de cada disciplina e a idéia é justamente o professor trabalhar com instrumentos diversificados e não trabalhar só com a prova, ou só com seminário, mas ter estratégias diversificadas de avaliar o aluno processo de aprendizagem, mas o que a gente percebe e que eles acabam realizando provas”. 3.3.4. Considerações em processo sobre a didática na Escola Bosque Os fatores mais evidentes de identidade da Escola Bosque são os fortes vínculos com a temática do único curso técnico nela desenvolvido, a educação ambiental, a relação estabelecida com a comunidade, e a sua preocupação com o mercado. Quanto ao métodos de ensino, destacamos como características, a definição de um desenho curricular construído a partir de eixos, a pouca participação docente na sua definição e a compreensão da prática como aplicação da teoria. Assim também, o uso das aulas expositivas e de aulas práticas (em empresas ou na comunidade), tomando estes momentos como de aplicação da teoria, que só deve ser mobilizada na medida da sua utilidade, caracterizam os métodos de ensino da Escola Bosque. São poucas as indicações de métodos de avaliação focados no saber-fazer, apesar de ser esta uma referência curricular importante na Escola, o que faz com que as, práticas de avaliação de ferramentas tradicionais, com provas de verificação de conhecimentos e habilidades, em geral, sejam as mais utilizadas pelos docentes 197 3.4. CESEP – CENTRO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS DO PARÁ58 O Centro de Serviços Educacionais do Pará – CESEP, situado na cidade de Belém, é uma das instituições que oferece educação profissional de nível técnico no Estado do Pará. Foi fundado em 1997, mas tem 30 anos de experiência, considerando a sua denominação anterior como CETEP – Centro de Estudos Técnicos do Pará para formar profissionais técnicos em diversas áreas. Enquanto CETEP era uma entidade de ensino básico (fundamental e médio) que também oferecia educação superior. Foi a primeira entidade no Brasil, juntamente com outros de outros Estados, que absorveu a incumbência da Fundacentro - MTE de formar o profissional técnico na área de Segurança do Trabalho. Depois que se transformou em UNAMA, transferiu os cursos técnicos para a esfera do CESEP (colégio regular de ensino fundamental e médio). O CESEP é um estabelecimento particular de ensino, com finalidade lucrativa, mantido pelo Centro de Educação Técnica do Estado do Pará, entidade civil. A instituição mantém os cursos de Educação Básica sob forma regular nos níveis de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, nas modalidades de Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional. A Instituição oferece a educação profissional de nível técnico, com projetos pedagógicos elaborados segundo a natureza e especificidade de cada curso, obedecidas às exigências legais e pertinentes. A concepção pela qual o CESEP implementa seus cursos está baseada em um currículo por competências, ou seja, abrangendo saberes, valores, capacidade de expressão, resolução de problemas, realização de projetos, sobretudo por metodologia que integrem a vivência e a prática profissional, tendo como referência uma perspectiva utilitarista da educação: ”saber fazer para ser mais”, para que possa viver a vida sendo útil à sociedade, nela facilmente se engajando. 58 Os dados referentes a esta escola foram coletados e tratados pela bolsista de iniciação científica Adriane Suely Rodrigues do Nascimento, no ano de 2008, e fazem parte de seu relatório final de pesquisa. 198 Portanto, há 27 anos o CESEP vem formando o Técnico em Segurança do Trabalho, sendo-lhe acrescentados outros cursos de formação técnica, como o Técnico em Informática, Técnico em Estética e o Técnico em Patologia Clínica (agora Técnico em Biodiagnóstico). No quadro abaixo apresentamos uma caracterização dos professores com os quais geramos dados por meio de entrevistas. Quadro 20 – ENTREVISTADOS NO CESEP Professor (Sexo) Formação Acadêmica/Técnica Exp. EP CESEP Curso que ministra/disciplinas P1-D Biomédica / Msc. Biomedicina 2 anos 3 meses Biodiagnóstico/ Bacteriologia P2-D Médico Esp. Medicina do Trabalho 27 anos 27 anos Segurança do Trabalho/ Higiene e medicina do trabalho; administração e legislação aplicada. P3-D Psicólogo/ Esp. Psicopadagogia 28 anos 5 anos Segurança do Trabalho/ Gestão da qualidade total P4-D Técnica em Estética/ Graduando de Letras 10 anos 3 anos Estética/ Terapia capilar; eletroterapia; depilação; tratamentos faciais,etc. Além das entrevistas com os professores de diferentes cursos oferecidos pela Instituição, fizemos observações na sala de aula, também de cursos variados. Posteriormente, fizemos a transcrição das entrevistas e o relatório das observações. Após a geração e organização dos dados, fizemos a análise das informações coletadas, relacionando-as com os conhecimentos relacionados na pesquisa bibliográfica matriz deste projeto de pesquisa. 3.4.1. Objetivos de ensino A preocupação com o ser humano foi um elemento que destacamos nas falas dos entrevistados do CESEP, mesmo que este “ser humano” seja considerado na perspectiva do cliente ou paciente. Essas referências são perceptíveis na exposição dos objetivos de ensino de um professor entrevistado que ministra aula para o curso Técnico de Segurança no Trabalho, quando ele afirma: 199 Não basta o aluno ter conhecimento de normas, leis e técnicas, isso é importante, mas ele precisa sensibilizar as pessoas para que elas adotem isso na sua prática, ele precisa criar parcerias, por exemplo, para formar grupos de uma comissão interna, prevenção de acidentes. Eles precisam conscientizar as pessoas sobre a necessidade de a empresa ter na sua rotina um diálogo diário de segurança, ou um diálogo semanal de segurança. Então ele começa a perceber que embora ele saiba tudo que precisa ser feito, ele não tem a habilidade de sensibilizar as pessoas, de conscientizar as pessoas, de criar parcerias, de envolver as pessoas para desenvolver esse trabalho (P3-D). Mais uma vez as competências e habilidades são as referências pedagógicas mais recorrentes na fala dos entrevistados, como pudemos observar in loco. Na observação realizada no dia nove de junho de 2008, na aula da turma do curso Técnico de Segurança no Trabalho, cujo tema da aula era “Tipos de Inspeção de Segurança”, o professor destaca para os alunos que o profissional para se manter no mercado deve se qualificar fazendo treinamentos de inspeção; deve ser habilitado (certificado) tendo feito cursos no CESEP, SENAI, SESI, etc.; deve fazer cursos de reciclagem para se atualizar; deve ter um currículo mínimo de treinamento, ou seja, currículo de conhecimentos básicos para a formação. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados mostrando os aspectos que consideramos mais significativo acerca dos objetivos de ensino no CESEP. Quadro 21 – EXCERTOS SOBRE OBJETIVOS DE ENSINO – CESEP Professor P1-D P2-D OBJETIVOS DE ENSINO “Pelo menos na minha disciplina, os alunos têm que sair daqui sabendo coletar, fazer coleta em laboratórios, em hospitais; realizar exames manuais em várias áreas, tanto de bacteriologia, infectologia, hematologia, urinária, etc. A formação que eu dou pra eles é focar nessa parte pra quando eles saírem (muitos deles já estão estagiando), pra eles aplicarem o que aprenderam em sala de aula no laboratório ou no hospital. É a formação deles mesmos”. “Além de tudo a gente direciona o aluno para saber lidar com o ser humano, tem que ser educado, ter um cuidado com as pessoas (com as pessoas doentes). Em qualquer profissão tem que saber lidar com os outros”. “Nós professores precisamos estar articulados pra fazer com que ao final de cada 200 eixo temático, o aluno ganhe a competência para desenvolver as habilidades dentro daquele conteúdo”. “Nós temos que acompanhar até que ponto ele adquiriu aquela competência para que quando ele chegue no mercado de trabalho ele possa desenvolver aquilo que ele aprendeu no curso”. P3-D “Um profissional de segurança vai precisar gerir certos processos na sua linha de ação. E pra você fazer gestão é preciso você saber lidar principalmente com as pessoas. Porque ao contrário do que muita gente pensa, o gestor gere pessoas e esta gestão é preciso ser feita com qualidade. Então, o objetivo é preparar o profissional de segurança para desempenhar o papel do gestor”. “Não basta ele ter conhecimento de Normas, Leis e técnicas, isso é importante, mas ele precisa sensibilizar as pessoas para que elas adotem isso na sua prática, ele precisa criar parcerias, por exemplo, para formar grupos de uma comissão interna, prevenção de acidentes. Eles precisam conscientizar as pessoas sobre a necessidade de a empresa ter na sua rotina um diálogo diário de segurança, ou um diálogo semanal de segurança. Então ele começa a perceber que embora ele saiba tudo que precisa ser feito, ele não tem a habilidade de sensibilizar as pessoas, de conscientizar as pessoas, de criar parcerias, de envolver as pessoas para desenvolver esse trabalho”. P4-D “O que a gente pretende é formar profissionais realmente habilitados para exercer bem essa profissão de estética”. 3.4.2. Conteúdos de ensino O CESEP utiliza a organização curricular por módulos, deixando claro a referência às competências e habilidades e o seu ajustamento à legislação em vigor. A busca pela articulação entre teoria e prática também é algo evidente entre os professores da instituição, apesar de, como nas demais entidades, a prática ser compreendida como aplicação da teoria, sendo o primeiro termo muito mais valorizado que o segundo. Além de habilidades práticas, destacamos, na fala dos professores, a preocupação com atitudes adequadas ao trabalho, como se pode observar no excerto da fala abaixo transcrita: Vocês devem buscar sempre pelo conhecimento, buscar o entendimento das coisas, não se contentar ou se conformar com algo dito e não aceitar imposições sem ter certeza que é necessário, sem procurar mais explicações, em serem críticos e reflexivos nos seus próprios atos, em respeitar o próximo e valorizar mais as pessoas, em não se calar diante do que está errado, e tomar atitude para mudar algo em que acredita (P2-D). Além das competências, o mercado (as empresas) é indicado como outra referência capaz de orientar a definição dos conteúdos de ensino. 201 Destacamos também a referência que um professor faz à necessária fundamentação teórica das práticas e dos saberes. Prevalece nesta instituição a pouca discussão, ficando evidente a existência de forte hierarquia e da racionalização do trabalho, estando a ação docente regulada por estas noções. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados mostrando aspectos que consideramos reolevantes acerca dos conteúdos de ensino no CESEP. Quadro 22 – EXCERTOS SOBRE CONTEÚDOS DE ENSINO – CESEP Professor CONTEÚDOS DE ENSINO (Fala dos professores) P1-D “Em Bacteriologia o aluno tem que sair daqui sabendo colocar em prática o que aprendeu: coleta de sangue, de várias secreções, realizar exames, principalmente no laboratório ou dentro do hospital. E eu tento também passar pra eles não só a parte prática, só a parte mecânica. Eu tento passar mais para eles saberem o por quê eles estão fazendo aquilo, por exemplo, o por quê daquele exame, qual o propósito, a finalidade daquilo que ele está fazendo. Eu acho bom o aluno saber essas coisas pra ele ter uma noção do que serve, não só fazer por fazer”. P2-D “Nós iniciamos todo o nosso curso com a parte de 'metodologia de projetos'... Ela não está na grade oficial, mas nós a introduzimos porque o aluno não pode formular um projeto para que ele possa apresentar na empresa que ele for trabalhar se ele não sabe metodologia de projetos. E aí a gente entra com o aspecto da psicologia, do desenho técnico, da higiene, da segurança no trabalho, da ergonomia, os aspectos dos primeiros socorros, a prevenção contra as doenças, e assim a gente vai desenvolvendo. Mas existe um comando, uma direção que é uniformizada, e, cada instituição desenvolve seu conteúdo”. P3-D “Eu costumo trazer muito para os meus alunos a minha história profissional. E eu trabalho especificamente com esses processos de gestão da qualidade total”. P4-D “O curso todo engloba, na prática: tratamentos faciais, corporais, depilação, terapia capilar e maquiagem”. “No dia-a-dia, tanto na ficha de matrícula como num outro papel que tem, além desse plano, eu tenho que especificar tudo o que eu dei, eu tenho que especificar a parte teórica (são quatro horas de teoria sobre depilação das pernas , prática das axilas, etc)”. “Esse planejamento (da prática) eu elaboro 3 meses antes deles irem para a prática”. 202 3.4.3. Métodos de ensino e de avaliação O CESEP é a instituição em que se registrou um leque mais variado de métodos, principalmente aulas expositivas (com uso de diferentes recursos: apostilas, vídeos, filmes), mas também o estudo dirigido e as dinâmicas de grupo. As aulas práticas, apesar de serem citadas, não pareceram ser a maior preocupação dos professores, o que é diferente das demais instituições. Uma preocupação patente é com o cumprimento do programa previamente planejado, com a preparação docente em relação aos conteúdos definidos e com a apreensão dos conteúdos previamente definidos. Parece prevalecer um certo tecnicismo na lógica da organização.. Nos métodos de avaliação, destacaram-se as práticas tradicionais de verificação da aprendizagem, com uso de provas escritas e práticas. Importante também é a valorização da avaliação de diferentes atitudes necessárias aos ofícios, como destaca um docente: “Então eu não avalio só a sua prática, é o seu interesse, sua freqüência, sua participação” (P4-D). Para estas avaliações também são citadas a avaliação de desenvolvimento de projetos e a realização de seminários. Segue abaixo um quadro com excertos das falas dos entrevistados naquilo que consideramos de mais significativo acerca dos métodos de ensino no CESEP. Quadro 23 – EXCERTOS SOBRE MÉTODOS DE ENSINO – CESEP Professor MÉTODOS DE ENSINO/ AVALIAÇÃO P1-D “Acho que o professor tem que saber passar o conteúdo direitinho tem que tentar ajudar o aluno, mas também não dar tudo de 'mão beijada'... Eu sou adepta de passar a prova pra ver realmente se o aluno está absorvendo aquilo. E, de prática, quando é possível ter uma prática”. “Gosto de dar as minhas aulas com o data-show, não tem como você não prestar atenção, é uma boa tática pra prender a atenção do aluno. Além disso, eu sempre trago uma apostila pra eles acompanharem a minha aula”. P2-D “Nós desenvolvemos nosso conteúdo através de estudo dirigido porque a gente trabalha muito com legislação”. “A gente faz aula expositiva também, a gente utiliza muito recursos audiovisuais porque nós temos uma gama enorme de filmes, principalmente, filmes que mostram a realidade do dia-a-dia do trabalhador e em cima desses filmes a gente vai mostrando onde é que estão os riscos, qual é a possibilidade de adoecimento. E usamos também, assim, um pouco bem elementar na área a questão das doenças funcionais, nós trazemos lâminas mostrando quais são as doenças causadas em função do trabalho”. “Nós fazemos a avaliação no dia-a-dia, inclusive uma coisa que a gente conta 203 muito é a presença do aluno”. “Nós fazemos a avaliação tradicional com perguntas e respostas, mas basicamente nós fazemos a avaliação do que eles podem fazer dentro da empresa, através de um projeto. Todos os professores, obrigatoriamente, deverão fazer a avaliação pelo projeto”. “E um aspecto que a gente leva muito em consideração é fato de o aluno se posicionar diante da empresa”. “E no final do curso, eles fazem um seminário”. P3-D Eu costumo usar, predominantemente, a exposição-dialogada, onde com a apresentação de slides e expondo e dialogando aquilo que vai sendo passado. Paralelamente, eu costumo usar vídeos, eu gosto muito de usar vídeos, tantos vídeos institucionais, como filmes do dia-a-dia, extraindo trechos de alguns filmes para dar alguns exemplos, principalmente de aspectos comportamentais. E eu costumo fazer muitos trabalhos, independente de uma prova, porque a prova é normalmente uma exigência da instituição. Eu costumo fazer muitos trabalhos, que vai desde a interpretação de um vídeo até a construção gradativa de um conceito. Então, eu costumo utilizar dinâmicas de grupo. E todos esses trabalhos, todos esses momentos eu avalio, eu pontuo, todos eles eu valorizo. Então não existe nenhum trabalho que você participe por participar, no mínimo você é pontuado só por ter participado daquele trabalho. P4-D “Eu dou aula através da apostila, elaboro uma apostila que eu dou pra eles, e falo item por item sobre aquela apostila, se for preciso eu explico alguma coisa no quadro”. “E na prática, eu faço primeiro a depilação, no caso da depilação, e depois mando elas fazerem, depois fazem umas nas outras e eu supervisionando, contanto que todas façam”. “Na avaliação tem uma prova escrita e tem a avaliação prática”. “Então eu não avalio só a sua prática, é o seu interesse, sua freqüência, sua participação. Eu também posso passar um trabalho para pesquisar na Interne ou na biblioteca”. 3.4.4. Considerações em processo sobre a didática no CESEP Destacamos em nossa análise um certo tecnicismo na organização didática do CESEP, verificado, em particular, na forte racionalização do trabalho pedagógico, na clara hierarquização das funções docentes, técnicas e de gestão e na preocupação com o cumprimento das metas e objetivos previamente definidos fazendo com que todos os procedimentos sejam também previamente definidos. Nesta instituição, podemos apontar o mercado, as competências e o foco no ser humano - compreendido como cliente ou paciente - como principais referências para a organização pedagógica. Na organização curricular, materializada no currículo por módulos, valorizam-se as competências e as habilidades, mas ganha destaque a 204 preocupação com a formação daquilo que Offe (1990) denomina como qualidades e comportamentos economicamente úteis. Do ponto de vista das avaliações, assim como nas demais instituições, pouco há de renovação didática nesta instituição. 3.5. Outras experiências paraenses estudadas (SENAI e IFPA) Em sua dissertação de mestrado, Verônica Lima Carneiro (Carneiro, 2007) busca compreender como se relacionam os saberes próprios da escola média e os conhecimentos próprios dos cursos técnicos na organização didática do Curso Técnico em Manutenção de Mecânica Automotiva, do Centro de Formação Getulio Vargas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI-PA, localizado na cidade de Belém. A geração e análise dos dados foram realizadas com foco em três grandes eixos, a partir dos quais foram organizadas as falas dos entrevistados: “a articulação entre escola média e escola profissional de nível técnico no contexto da formação para o trabalho”, “a formação profissional e mercado de trabalho” e “a relação teoria-prática como componente da formação profissional”. O desenvolvimento da investigação possibilitou identificar que o processo formativo no SENAI-PA tem como principais referências o mercado, a empregabilidade e a competividade, tendo na pedagogia das competências seu norte de formação profissional, a qual está voltada para atender a um mercado de trabalho cada vez mais mutante e estável. Constatou que a articulação mantida entre escola média e a escola profissional é instrumental, ficando a escolarização subordinada à profissionalização, sem preocupação específica da Instituição com uma formação mais abrangente desse trabalhador. A autora conclui que a formação profissional desenvolvida pelo SENAI-PA tem bases em um modelo utilitário, pragmático e fragmentado, que foca na ampliação das habilidades e atitudes específicas para o atendimento unilateral do mercado de trabalho, o que está definitivamente na contramão do projeto de implementação de um modelo de ensino integrado que venha a favorecer uma ampla e abrangente formação do trabalhador. 205 SANTOS (2008), na sua dissertação de mestrado, traz dados de uma pesquisa empírica realizada no Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará – CEFET/PA, tendo como investigação a interação curricular entre ensinos médio e técnico na forma integrada do curso de Mecânica. Sua hipótese de trabalho é a idéia de que a adoção da forma integrada legislada pelo Decreto nº. 5.154/2004 apresenta potencialidades, mas não garante o desenvolvimento do Ensino Integrado (EI). Segundo a autora, o curso técnico integrado de Mecânica continua sob a influência do pragmatismo e distanciou educação profissional (EP) e ensino médio (EM), ao dar mais importância às disciplinas técnicas e ao buscar utilizar certas disciplinas do ensino médio como instrumentalizadoras para formação técnica enquanto outras, tidas como distantes desta, foram isoladas. Seguindo esse raciocínio, para Santos (idem), a forma integrada foi bem recebida no CEFET-PA devido a uma compreensão inicial de retomada dos cursos profissionalizantes que focavam a área técnica, e que eram ministrados no período considerado áureo para quem dele participou. E em conjunto com a vinda da forma integrada, o Centro mudou de gestores prótêmpores para um diretor eleito e, a seguir, parou de ter cursos em concomitância interna, forma com diversos complicadores para a permanência em dois turnos dos alunos na instituição. Na forma integrada, houve indicações pelos entrevistados da diminuição de evasão e melhor desempenho acadêmico dos alunos na área de educação profissional, considerado por eles resultado da vinculação obrigatória entre as certificações de conclusão de ensino médio e à técnica. A autora destaca que, no processo de construção dos programas das disciplinas da forma integrada no CEFET-PA, não houve uma discussão conjunta dos profissionais em busca da integração instrínseca à forma integrada. Os docentes tinham dificuldades de efetivar a integração em função de, entre outros fatores, não contar com apoio institucional e não ter formação adequada para tal, redundando muito mais, nessa experiência do IFPA, a adaptação do ensino médio ao ensino técnico do que a construção de um projeto de educação integrada. Assim, o curso de Mecânica integrado ao 206 ensino médio do CEFET-PA, até o momento, sofreu um processo que priorizou a área técnica, no qual os profissionais das disciplinas que, em estrito senso, vinculam-se à profissionalização, assumiram a posição de elaboradores que decidiam os programas, a carga horária das disciplinas, sua distribuição durante os anos de curso, os objetivos de formação e demais elementos curriculares do curso, inclusive das disciplinas de formação geral. SANTOS (2008) destaca que o planejamento dividido por coordenação, estabelecido em dois grupos: coordenação dos cursos técnicos e coordenação de disciplinas do Ensino Médio, com os professores restritos a seu campo de atuação, mantiveram distantes tanto as disciplinas quanto as grandes áreas no desenvolvimento das atividades educativas e caminhou em direção contrária ao que se buscava com o EI. A autora sublinha também, que apesar de considerar que a forma integrada do curso de Mecânica do CEFET-PA não desenvolveu suas potencialidades para o Ensino Integrado, conforme indicam sua análise, havia pistas de melhoria no desempenho escolar dos alunos deste curso apresentadas no discurso dos entrevistados. Finaliza, afirmando que, mesmo de maneira truncada, a implantação da forma integrada para o curso de Mecânica do Instituto trouxe a perspectiva de um novo projeto pedagógico. Ambas as dissertações revelam os limites dos projetos e práticas educacionais de duas instituições que mantêm referências velhas e práticas formativas não renovadas, mesmo que se considere que o IFPA tenha assumido o desafio da construção do ensino integrado em um de seus cursos. 3.6. Considerações do capítulo: as práticas tradicionais e o desafio da integração Várias são as considerações que poderíamos fazer acerca dos dados levantados. Não temos a pretensão aqui de sintetizar as diferentes experiências de educação profissional no Estado do Pará já neste relatório. Aliás, este relatório é marcado pelo seu inacabamento, tendo em vista a impossibilidade de os dados serem minuciosamente analisados.. No entanto, cabem algumas observações gerais acerca do quadro geral levantado.. 207 As mudanças e transformações nas práticas educativas na educação profissional paraense são muito lentas e a realidade ainda está fortemente marcada por estratégias tradicionais baseadas na exposiçãoexperimentação, valorizando a prática e buscando-se acrescentar as competências (sempre mal compreendidas) neste processo. O mercado e as competências são as grandes referências para a organização didática das instituições e o debate acerca do ensino integrado ainda se encontra muito localizado em uma das instituições pesquisadas. De modo concreto, são pouquíssimas as tentativas nesta direção e, quando muito, a articulação entre teoria e prática é compreendida como “prática aplicação da teoria”. A área de curso acaba sendo um importante elemento definidor do perfil do curso. Na Escola Bosque, por exemplo, questões ambientais e locais são referências importantes. No CESEP, a preocupação com o ser humano foi mais evidente, mesmo que este seja compreendido como cliente. As mudanças, quando verificadas, são muito lentas, pontuais e graduais. De um modo geral, os procedimentos metodológicos e as estratégias de organização curricular e de avaliação se assemelham muito nas diferentes experiências. Não parece ser este o fator decisivo e distintivo de práticas orientadas pela lógica do mercado ou dos trabalhadores; outros são os fatores que estão ao mesmo tempo na base e na superfície dessas experiências. O quadro carece de reflexões mais aprofundadas, como a que apontaremos nas considerações finais, tópico seguinte deste trabalho, que não esgotam o assunto, mas apontam vetores importantes para a compreensão do estado da arte da educação profissional no estado do Pará e servem como subsídios para a proposta de elementos norteadores para possíveis ações coerentes com as orientações teóricas das pesquisas que tenham como foco o trabalho como princípio educativo. 208 CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o processo de pesquisa, perguntávamos se houve mudança qualitativa nas práticas pedagógicas das instituições de educação profissional paraense, seja considerando as competências como referência seja na adoção do projeto de ensino integrado. Buscávamos realizar uma avaliação mais aprofundada das possíveis mudanças qualitativas nas ações empreendidas pelas instituições, de modo a reconhecer a sua didática, compreendida a partir das suas três categorias básicas: objetivos de ensino, conteúdos de ensino e métodos de ensino/avaliação. Observamos na realidade paraense que, nas diferentes instituições, prevalece um certo tradicionalismo pedagógico. Prevalece também o mercado e as competências como referências centrais, mesmo que outros referenciais também se façam presentes.. O debate acerca do ensino integrado parece existir efetivamente em uma instituição apenas no sentido de que os profissionais parecem reconhecer que existem referências político-pedagógicas diferentes que levam a processos formativos também diferenciados. De um modo geral, os procedimentos metodológicos e as estratégias de organização curricular e de avaliação assemelham-se muito nas diferentes experiências, mesmo naquelas em que exista a tentativa de efetivação de um ensino integrado. Não nos pareceu ser este o fator decisivo e distintivo de práticas orientadas pela lógica do mercado ou dos trabalhadores. Do ponto de vista das finalidades, entretanto, ficaram claras as distinções. São várias as referências apontadas pelos entrevistados, algumas antagônicas entre si e estas parecem relacionar-se com a compreensão e a postura de cada sujeito ou com a trajetória teórico-prática vivencida em cada instituição. Isso nos faz considerar que mesmo questões técnicas da didática são definidas, explicadas e entendidas em função dos projetos políticofilosóficos aos quais elas se assentam e se articulam. Não há forma de ver a dimensão pedagógica dissociada da dimensão política. 209 Isso significa que a compreensão de um projeto de ensino integrador pressupõe a edificação de uma práxis revolucionária. Não é uma apenas curricular, de reestruturação dos programas e projetos de ensino, mas uma questão fundamentalmente política e filosófica. Depende muito mais do posicionamento que o profissional da educação assume frente à realidade do que aos procedimentos didáticos que são pautados pela organização do curso e que serão por ele utilizados. Estes são necessários, mas não suficientes para que as práticas dicursivas sobre uma educação crítica e transformadora passem a ser, de fato, convertidas em ações educativas. Filosofia da Práxis e ensino integrado: também uma questão ético-política A práxis é ativa, é atividade que se produz historicamente – quer dizer, que se renova continuamente e se constitui praticamente –, unidade do homem e do mundo, da matéria e do espírito, de sujeito e objeto, do produto e da produtividade (KOSIK, 2002). O trabalho como princípio educativo, inspirado principalmente em Marx e Gramsci, tem norteado reflexões sobre a educação destinada aos trabalhadores (ARRUDA, 2002), que buscam caracterizar-se em função de seu compromisso com um projeto de sociedade futura comprometida com osa interesses dos trabalhadores, opondo-se a concepções pedagógicas de cunho pragmático. Esta concepções, em essência, buscam condicionar o trabalho somente ao domínio dos procedimentos técnicos necessários ao seu desempenho profissional e à consequente reprodução do capital, reduzindo a imersão dos trabalhadores no interior das relações político-sociais que permeiam o mundo do trabalho, da ciência, da cultura, do desporto, restringindo a possibilidade de que esses sujeitos se tornem indivíduos autônomos do ponto de vista intelectual-político-profissional. Sob essa lógica, amparam-se modelos de educação que fragmentam a sociedade em homo sapiens de um lado e homo faber de outro. Ou seja, formam-se homens para o pensar, dominar outros sujeitos, e homens para o fazer, objetos de domínio dos primeiros, inviabilizando propostas 210 educativas que objetivem o homem para a ominilateralidade (MANACORDA, 1991), a fim de se romper com esse caráter dual que, invariavelmente, vem caracterizando a educação ofertada nas sociedades capitalistas. Foi nessa perspectiva dualista que se instaurou na educação brasileira ao longo de sua história, por exemplo, a cisão entre ensino médio de um lado e profissionalizante de outro, permitindo-se desenvolver o discurso liberal-meritocrático de que nas mãos dos trabalhadores encontrava-se a liberdade de escolha pela sua formação: uma mais condensada, técnica (com o saber-fazer como tônica nos processos de didatização em sala de aula), objetivando, em tese, o imediato exercício no trabalho remunerado; outra mais propedêutica, voltada para o ingresso no curso superior. Escamoteou-se, assim, o fato de que as contradições pelas quais vivem os homens não resultam tão somente de suas práticas individuais de escolhas, uma vez que, nas sociedades em que prevalece a divisão social do trabalho também prevalece a dicotomia homem-sociedade, pois com a divisão do trabalho divorcia-se o homem de suas condições de existência. Isso quer dizer, em acordo com Sève (1989), que somente numa sociedade de iguais poderia desenvolver-se a individualidade humana (que pressupõe a existência de indivíduo autônomo) e, portanto, a efetiva prática da liberdade, que se efetiva também na possibilidade real de escolhas. Por outro lado, a partir da perspectiva da classe trabalhadora tem se postulado outra concepção de educação, tomando a ominilateralidade como referência básica para a formação, de modo que o trabalhador tenha acesso a amplos domínios do conhecimento humano resultantes do trabalho que, nesse contexto, assume caráter educativo. Foi nesta perspectiva que se buscaram construir algumas propostas de organização do ensino médio no Brasil, na década de 2000, em particular as experiências (abortadas ou não) de estados como Paraná (PARANÁ, 2008; FERREIRA, 2005; ANGELY, 2010; CÊA, 2007), Espírito Santo (FERREIRA, 2005) Mato Grosso (ver KUENZER, 2007) e PARÁ/SEDUC (2008), pautadas no projeto de Ensino Médio Integrado, visando enfrentar a estrutura dualista de educação consignada aos trabalhadores, como o que se propôs a Secretaria de Educação do Estado do Pará: 211 [...] fez-se a opção de construir uma educação que possibilitasse aos sujeitos a construção de saberes necessários para a vida em sociedade, tanto para o mundo do trabalho quanto para as relações sociais, que se baseasse na integração entre educação, trabalho, ciência, cultura e desporto, um dos princípios que regem o Ensino Médio Integrado enquanto concepção de ensino (PARÁ/SEDUC, 2008, p. 77). Assim, o Ensino Médio, agora especificado pelo adjetivo integrado, pressupõe a articulação entre o saber propedêutico e o instrumental, as atividades manuais com as intelectuais. Muito mais que um jogo de palavras, trata-se de um posicionamento político que toma a educação pelo princípio marxiano da totalidade, onde prática e teoria se constituem unidade que permite aos homens domínio “[...] teórico-prático do processo produtivo [...] para além do adestramento e da formação de trabalhadores polivalentes, mas de trabalhadores politécnicos [...]” (SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO PARÁ, 2008, p. 79). Compreende-se então o Ensino Médio enquanto práxis, “[...] atitude humana transformadora da natureza e da sociedade [...]” (VÁZQUEZ, 1968, p. 117). Enquanto projeto político e pedagógico, a efetiva materialização desta integração requer não apenas um redimensionamento curricular e a “formação docente” adequada para tal, como tem sido proposto pelo Ministério da Educação, mas a qualificação da estrutura física dos espaços formativos, de modo que os alunos possuam espaços para o desenvolvimento da experimentação e das práticas de estudo e investigação, compreendido como meio eficaz de aprendizagem, articulador do fazer com o pensar. Também tem sido arrolado o imperativo de um desenho curricular que dê conta de amalgamar saberes técnicos e saberes propedêuticos enquanto unidades de ensino. Do mesmo modo, é importante, mas não suficiente, o investimento em processos efetivos de valorização e qualificação docente, que implique um compromisso com a melhoria das condições materiais e imateriais de realização do trabalho docente. Sob esse ponto de vista, defendemos neste texto que, práticas educativas integradoras requerem uma atitude diferenciada dos professores e instituições, requerem sim a construção de uma nova cultura que se revele em uma atitude integradora. Como abordado anteriormente, a 212 pesquisa desenvolvida por Santos (2008)59 revelou uma experiência de implementação de ensino médio integrado (compreendido como forma), mas que não teve maiores repercussões efetivas na prática escolar. Já se observam, assim, ações propositivas para que o Ensino Médio Integrado se materialize enquanto política de ensino para a Educação Básica, mas estas enfatizam principalmente o redimensionamento curricular e/ou a formação docente, o que pode ter um efeito constrangedor aos processos de formação ampla dos trabalhadores, além de desgastar mais uma bandeira dos profissionais da educação comprometidos com a emancipação humana. Entre os estudiosos do assunto, Franco (2005) destaca alguns pressupostos para orientar um projeto de ensino integrado que, partindo de um compromisso com uma sociedade não dualista e tomando a lei como um condicionante necessário, requereria a necessidade de adesão dos gestores e professores responsáveis pela formação geral e específica, a articulação da instituição com os alunos e as famílias, o exercício da experiência da democracia, o resgate da escola como lugar de memória e a garantia de investimentos na educação. Defendemos, aqui, que este conjunto de pressupostos deve implicar a construção de um novo projeto cultural que se revele na atitude docente integradora frente aos processos de construção e de difusão (ensino) dos conhecimentos, independente da forma de curso no qual se está trabalhando60. Isso significa uma atitude docente diferente em relação ao próprio cotidiano do ensino médio, no sentido de se desenvolver um fazer pedagógico em que o fazer e o pensar sejam um todo orgânico, quer se trate de aulas de Mecânica de automóveis ou de Linguagem, Matemática ou Física, por exemplo. A questão, então, não se encontra no domínio tão somente de fragmentos de conhecimentos das diversas disciplinas que perfazem o desenho curricular do Ensino Médio Integrado, de modo a permitir que o 59 Trata-se de dissertação intitulada “Esboço de Leonardos: a experiência da forma integrada de ensino profissional do CEFET-PA”. 60 Está em construção no Programa de Pós-Graduação em Educação uma dissertação da mestranda Adriana Maria de Nazaré Souza que parte da hipótese da possibilidade de ensino integrado (conteúdo) ser desenvolvido no ensino técnico subseqüente. 213 docente integre-os no exercício da disciplina que em dado momento esteja a desenvolver no ambiente escolar. Pelo contrário, a dualidade se quebra quando o docente incorpora em seu fazer pedagógico a atitude de quem busca articular o pensar e o fazer enquanto práticas dialógicas que possibilitam compreender e transformar a realidade que se vivencia cotidianamente. É preciso, então, vivenciar uma práxis educativa enquanto atitude transformadora, o que signifique incorporar o pensar e o fazer enquanto unidade pedagógica. Pensar & fazer: transformadora prática pedagógica – atitude humana Vázquez (1968, p. 122)¸ refletindo sobre a concepção marxiana de práxis, postula que não se pode compreendê-la como uma crítica do real “[...] que por si só transforma o real [...]”, tampouco como uma “[...] filosofia da ação, entendida como uma teoria que traça os objetivos que a prática deve aplicar e atingir [...]”. Pelo contrário, práxis é “[...] atitude humana transformadora da natureza e da sociedade [...]” (ibidem, p. 117), emersa do envolvimento do homem com a realidade numa relação cíclica e unitária de fazer-pensar. Tratase, então, de concebê-la como atividade de transformação de posicionamento do educador para a construção e reconstrução cotidiana do conhecimento Transformação e atitude são termos chaves na definição de práxis defendida por Vázquez. Segundo Fernandes et al (1996, s/p), o termo atitude pode significar historicamente “[...] maneira, norma de procedimentos que uma pessoa mantém em determinadas conjunturas [...]”, enquanto que transformação implicaria, por meio do verbo transformar, “tornar diferente do que era; mudar a forma de [...]”. Note-se que a atitude por si só pode acarretar acomodação diante da realidade, mas especificada pelo termo transformadora assume um posicionamento político de quem, diante da realidade, se inquieta e se propõe a modificá-la. Sève (1989) toma as atitudes como dimensão mais superficial da individualidade humana, reveladora da sua história de vida (do que o homem fez de sua vida e o que a vida fez do homem), portanto em permanente processo de construção. Em termos marxianos, essa postura 214 significa a possibilidade de construção das condições subjetivas para a derrocada do modo de produção capitalista, para o quê a educação, por meio das interações e ações pedagógicas desenvolvidas pelos diferentes sujeitos das práticas formativas, principalmente docentes, pode muito contribuir, principalmente quando se promove a integração entre o fazer e o pensar num todo orgânico frente à realidade por eles vivenciadas.. Práxis, nos moldes propostos por Vázquez (1968), não se refere, então, a uma atitude contemplativa diante da realidade. Pelo contrário, referese a uma posição política que defende a transformação, o mergulho dos homens tanto na esfera material como social, a fim de atender necessidades revolucionárias. Em termos pedagógicos, essa concepção de práxis choca-se com posturas pedagógicas que dicotomizam a unidade teoria-prática, porque colocam o sujeito frente ao conhecimento como mero receptor de informações, onde o mestre inscreve um fazer ou um saber dissociado de uma atitude crítica diante do próprio conhecimento. No dizer de Semeraro (2006), há necessidade de intelectuais, na linha gramsciana, que promovam uma “nova inteligência social”, capaz de pensar a realidade político-social na perspectiva da classe trabalhadora. E isso se faz com atitudes pedagógicas de quem compreende seu papel como dinamizador de (re)descobertas de conhecimentos, fomentador de sujeitos ativos diante do conhecimento e da realidade perante a qual se constitui ou não a verdade tal como a concebe Vázquéz (1991) como o “caráter terreno” do pensamento.. O “novo intelectual” (que não é apenas um indivíduo, mas é também constituído por diversos sujeitos políticos organizados), enquanto analisa criticamente e trabalha para “desorganizar” os projetos dominantes, se dedica a promover uma “nova inteligência social”, capaz de pensar a produção, a ciência, a cultura, a sociedade na óptica da classe subjugada à qual pertence (SEMERARO, 2006, p. 19). Atitude humana transformadora implica postura docente que transcende o simples exercício do cotidiano escolar, portanto, incorporando-se em um projeto político que almeja a transformação da sociedade, para o quê a formação ominilateral do homem é condição indispensável, porque lhe garante tanto os saberes científicos, como os saberes relacionados a direitos e 215 deveres, necessários para que todo cidadão possa tornar-se dirigente (MANACORDA, 1991). Nesse sentido, a atitude docente frente à realidade educativa também necessita se adequar a esse projeto de sociedade, desempenhando importante papel o educador que articula em suas atividades a unidade teórico-prática, sem o que mudanças curriculares tornam-se vazias de sentido revolucionário. Sem essa atitude humana transformadora de que nos fala Vázquez, corre-se o risco de as ações pedagógicas desempenhadas pelos docentes caírem ou na pretensa crença de que os conhecimentos por si só transformam a realidade ou que a questão deva se centrar no domínio de um saber que vai nortear as ações no trabalho, na família, nas demais esferas sociais. Para Vázquez, práxis implica articulação entre teoria e prática, no qual o envolver do homem com a realidade vai produzindo saberes que se emolduram à medida que se vão gestando no cotidiano dos sujeitos. Em termos pedagógicos, trata-se da postura docente que propicia um ensino em que pensar e fazer se encontram integrados no cotidiano escolar de qualquer disciplina, seja ligada às artes, ao desporto, ao domínio específico de uma especialização da esfera do trabalho, independente, inclusive, do desenho curricular em que se esteja trabalhando (não que isso não seja importante). Práxis: atitude humana transformadora – um arquétipo propositivo Se somente a formação docente, aliada à qualificação de espaços de aprendizagem e a mudanças curriculares não se constituem em ações suficientes para que o Ensino Médio Integrado se efetive no cotidiano escolar, é porque carece antes de tudo de uma cultura institucional e social integradora revelada nas práticas dos sujeitos que nelas estejam envolvidos e que deveriam assumir uma atitude humana transformadora, tomando, para tanto, a unidade teórico-prática como metodologia de intervenção pedagógica, visando munir a classe trabalhadora de condições para intervir integralmente na sociedade. Manacorda (1991), comentando as reflexões gramscianas sobre o trabalho como princípio educativo, tem muito a nos esclarecer nesse sentido. 216 Segundo esse autor, o trabalho se manifesta no ensino por meio do conteúdo e do método. Em termos de método, advoga-se a unidade teórico-prática como forte elemento a possibilitar que os sujeitos (re)descubram os conhecimentos, por meio do exame da realidade, do refazer experiências, analisando práticas já estabelecidas para, a partir delas, projetar outras formas de compreender a realidade que se materializa cotidianamente. Em termos de conteúdo, convida os docentes, por exemplo, a tomarem a atitude revolucionária de envolverem os discentes nos diversos conhecimentos resultantes do trabalho humano, o que implica formação integral, politécnica. Nessa perspectiva, um projeto pedagógico integrador, inclusive o projeto do Ensino Médio Integrado, implica atitude política que viabilize o ensino fundado no conhecimento, no que resulta atitude voltada para uma metodologia em que os ensinantes e aprendizes sejam sujeitos ativos do processo pedagógico. Sem essas atitudes corporificadas conscientemente nas práticas pedagógicas, mudanças curriculares podem cair num amálgama de conhecimentos que, na pretensa crença de se integrarem, resultam ainda mais em fragmentações, porque carecem de uma tomada de consciência sobre o próprio papel pedagógico a ser desenvolvido no interior dos ambientes escolares. A questão, então, não se encontra numa docência em sala de aula em que se fala de tudo um pouco, mas que no domínio de conhecimentos a serem desenvolvidos pelos sujeitos haja o compromisso de se forjar a dinâmica de se entender os objetos de aprendizagem em sua totalidade, observandolhes as situações de uso social, suas estruturas, a refacção dos caminhos que resultaram no conhecimento objeto de estudo. Nos moldes propostos por Vázquez (1968), vai-se então tornando consciente a relação entre teoria e práxis, com conseqüências revolucionárias, porque ela possibilita aos sujeitos a capacidade de agirem sobre a realidade, pensando-a e fazendo-a ciclicamente, objetivando transformá-la, a fim de atender aos seus interesses. Já não se trata, assim, de os sujeitos se sujeitarem aos objetos de ensino, mas de esses últimos tornarem-se moldáveis pelas mãos dos homens em processo de aprendizagem. 217 A passagem da concepção de Ensino Médio Integrado a uma prática efetiva em sala de aula requer, tal qual a Filosofia da Práxis descrita por Vázquez (1968), a mediação de homens e mulheres que assumam a unidade teórico-prática como método de ensino, tomando as práticas sociais humanas que produzem conhecimentos, via trabalho, como elementos de ensino. Tratase de homens e mulheres concretos “[...] que, uma vez que fazem sua a crítica, a convertem em ação, em práxis revolucionária” (VÁZQUEZ, 1968, p. 127-128). Essa atitude humana transformadora de que nos fala Vázquez (1968) implica ainda novas posturas frente aos conhecimentos objetos de ensino no interior do Ensino Médio Integrado. Nessa perspectiva já não cabem posturas à moda de Feuerbach, para quem a realidade se transforma pela simples tomada de consciência de sua existência. Em moldes marxianos, o conhecimento resulta de um “[...] conhecer objetos que se integram na relação entre o homem e o mundo, ou entre o homem e a natureza, relação que se estabelece graças à atividade prática humana” (VÁZQUEZ, 1968, p. 153), entendida como unidade teoria-prática. Essa integração implica, então, atitudes pedagógicas que promovam a imersão dos sujeitos com os objetos de conhecimento, fugindo-se, entretanto, a modelos de escolarização voltados para o inatismo e para o individualismo (MANACORDA, 1991), onde a figura do docente esvai-se no método de relacionar tão somente os aprendizes a objetos de aprendizagem, deixando-os à mercê de um pretenso conhecimento pré-existente que se abrirá ao mundo quando as condições ideais para sua manifestação se fizerem acontecer. No dizer de Gramsci (apud MANACORDA, 1991, p. 143): “A participação realmente ativa do aluno na escola – observa – somente pode existir se a escola estiver ligada à vida”; e completa Manacorda: “[...] para ele, a relação educativa não se dá entre indivíduos singulares, mas sempre entre indivíduos que representam “todo o complexo social”” (MANACORDA, 1991, p. 143). Esta condição é, inclusive, um limite para o pleno desenvolvimento da individualidade humana que, na sociedade capitalista, a rigor, não existe, pois nela não existe indivíduo autônomo. A subjetividade humana, sob o capitalismo, sendo regulada e coagida pelas relações sociais antagônicas entre 218 capital e trabalho, fica sempre limitada em função do caráter desigual da sociedade. Note-se, então, que o assumir o Ensino Médio em sua concepção Integrado, implica acolher paradigmas que tomam os conhecimentos como resultantes da imersão dos homens na realidade, perscrutando-a, analisandoa, indagando-a, bem como valorizar a produção coletiva desses conhecimentos, o que acarreta um tratamento diferente para o que seja verdadeiro, no sentido de se propiciar condições para que os aprendizes mergulhem na realidade social, a fim de (re)descobrirem os objetos de aprendizagem. Mais uma vez reforça-se o postulado de se entender o Ensino Médio Integrado como práxis, atitude humana que transforma a realidade, no sentido de formar sujeitos que articulem as verdades ao exame da realidade. Combatem-se, assim, modelos de ensino conteudistas, em que os conhecimentos são postos como verdadeiros, sem que os aprendizes tenhamnos observados no cotidiano de suas práticas. Esclarecedores são, nesse sentido, os comentários de Vázquez (1991, p. 155-156) sobre a práxis como critério de verdade: Se a práxis é fundamento do conhecimento; isto é, se o homem só conhece um mundo que é objeto ou produto de sua atividade, e se, além disso, só o conhece porque atua praticamente, e graças a sua atividade real, transformadora, isso significa que o problema da verdade objetiva, ou seja, se nosso pensamento concorda com as coisas que existem antes dele, não é um problema que se possa resolver teoricamente, em mero confronto teórico de nosso conceito com o objeto, ou de meu pensamento com outros pensamentos. O que significa que a verdade de um pensamento não pode fundamentar se não sair da própria esfera do pensamento. Para mostrar sua verdade, tem que sair de si mesmo, plasmarse, adquirir corpo na própria realidade, sob a forma de atividade prática. Só então, situando-o em relação com a práxis enquanto esta se encontra impregnada por ele, e o pensamento, a seu turno, é, na práxis, um pensamento plasmado, realizado, podemos falar de sua verdade ou falsidade. É na prática que se prova e se demonstra a verdade, o “caráter terreno” do pensamento. Fora dela, não é verdadeiro nem falso, pois a verdade não existe em si, no puro reino do pensamento, mas sim na prática. 219 A concepção marxiana de práxis pressupõe, então, um laço entre filosofia e realidade (VÁZQUEZ, 1968), de modo que o mergulho nesta última vai configurando um conhecimento-saber (teórico, portanto) que se molda, à medida que o real também vai se modificando pela ação do homem, a fim de contribuir para a transformação do real que, na perspectiva da práxis, pressupõe a humanização do homem face ao fetichismo da mercadoria que lhe foi imputado pelo capitalismo. No dizer de Semeraro (2006, p. 17), ao comentar a perspectiva gramsciana de apreensão do real: [...] é no campo das experiências concretas, na interlocução crítica com a cultura e no embate com os projetos políticos existentes no movimento real da história que, para Gramsci, se chega progressivamente à compreensão de si mesmo, à elaboração de uma própria concepção de mundo, de uma teoria do conhecimento [...] Não menos importante encontra-se o fato de o Ensino Médio Integrado pressupor educadores que também se assumam como aprendizes, no sentido marxiano de que: “Na tarefa da transformação social, os homens não podem dividir-se em ativos e passivos”, em educadores e educandos, como que se os primeiros fossem os sujeitos da história e os segundos “[...] uma matéria passiva que eles devem modelar [...]” (VÁZQUEZ, 1968, p. 159). Desse postulado, percebe-se a necessidade de se assumir uma postura diferente no interior da dinâmica escolar, de modo que tanto docente como discente se vejam como sujeitos produtores e desbravadores de conhecimentos, projetando-se entre os mesmos a percepção de “[...] seu papel ativo em relação ao meio [...]” (ibidem, 1968, p. 159). Do amálgama das reflexões aqui reunidas, destaca-se como marca importantíssima a necessidade de os projetos educacionais integradores pressuporem engajamento político-social com as mudanças estruturais e culturais da sociedade, na perspectiva da emancipação da classe trabalhadora, e, consequentemente, com a promoção de atitudes docentes e discentes integradoras, que reflitam uma compreensão dos fenômenos físicos e sociais sob o prisma da sua relação com a totalidade social. Do contrário, mudanças 220 curriculares continuarão expressando o grande fosso entre a realidade vivida pelos educandos e a propugnada nos ambientes escolares. Sem esse engajamento, que segundo Gramsci (1968) é um definidor da identidade dos intelectuais orgânicos a serviço da transformação social, propostas de formação docente que articulem diferentes conhecimentos a serem dominados, numa tentativa de se forjar um educador multidisciplinar (ou interdisciplinar, transdisciplinar, etc.), tornar-se-ão, mais uma vez,,exemplos de fragmentação da unidade teórico-prática, com sujeitos ministrando múltiplos conhecimentos, mas sem desenvolver uma atitude instigadora frente a seu aprendizado; sem torná-los objetos de aprendizagem que resultam da articulação metodológica entre o fazer e o pensar realizados concomitantemente. Em moldes gramscianos, é importante que o educador inserido no Ensino Médio Integrado assuma-o como etapa da educação básica imprescindível para que os trabalhadores conquistem conhecimentos críticos, autônomos e criativos, conforme Semeraro (2006), que lhes possibilitem as ferramentas para luta por sua emancipação, como sujeito coletivo, e a afirmação de projetos políticos atrelados à sua perspectiva de sociedade. Notas para um norteamento Políticas têm sido construídas em nome de projetos educacionais integradores, projetos têm sido propostos e implementados, mas a experiência tem revelado muitos de seus limites e da dificuldade de promoverem as mudanças necessárias nas práticas formativas, entre outras coisas, em função da falta de vontade política, da insuficiência dos investimentos e do direcionamento de seu foco para dimensões específicas e pontuais, necessárias, mas não suficientemente fortes para promover ações docentes integradoras, reflexos da compreensão da inserção dos fenômenos físicosociais inseridos na totalidade social. A compreensão das atitudes, inclusive docentes, como elementos mais imediatamente reveladores da individualidade, que estão na superfície da personalidade humana, revela uma perspectiva histórica da ação humana, 221 objeto das contradições entre capital e trabalho e, portanto, objeto das disputas entre os projetos hegemônicos da sociedade capitalista em seu estágio atua. Já afirmávamos anteriormente que Como a história biográfica dos homens e o mundo social são categorias dinâmicas, as atitudes não podem ser consideradas inatas. São, portanto, passíveis de aprendizado consciente ou incidental no meio social. Revelam, em parte, a capacidade de um indivíduo para enfrentar as condições gerais de vida (ARAUJO, 1996: p. 01). O Ensino Médio Integrado, enquanto concepção de ensino, constitui já um grande avanço no que diz respeito à quebra da visão dualista que tem imperado entre ensino médio de um lado e profissionalizante de outro, mas este avanço não assegura, per se, a conquista de um uma nova cultura pedagógica. Contudo, sua efetiva materialização no seio das práticas pedagógicas desencadeadas nos ambientes escolares pressupõe, a princípio, muito mais que mudanças curriculares que articulem novos campos de conhecimentos como objetos de ensino, uma nova atitude frente ao próprio ato de ensinar, no sentido de se tomar a apropriação do conhecimento como resultante de ações didáticas em torno da unidade teoria-prática, em que as verdades resultem da imersão dos sujeitos no trato com a realidade. Não menos importante encontra-se o fato de que essa nova atitude frente ao próprio conhecimento implica engajamento político-social tanto de docentes como discentes, no sentido de, por meio do domínio de diferentes esferas de conhecimentos resultantes do trabalho humano, irem se criando as condições não só para se participar com qualidade social nas esferas do trabalho produtivo, como também culturais, familiares, desportivas, sociais, por exemplo, mas também de se ir forjando quadros dirigentes, na perspectiva da classe trabalhadora, que possam ir construindo a emancipação humana, o que, em linhas gerais, implica transformação radical da sociedade. Do exposto, não se trata de sujeitos com novos currículos a implementar, mas sem compromisso político com a classe trabalhadora. Pelo contrário, trata-se de sujeitos que assumem uma postura revolucionária em seu 222 fazer educativo, primando pela (re)elaboração do conhecimento por meio da unidade teórico-prática e que, por conseguinte, favorecendo um ensino em que os envolvidos nele tornam-se sujeitos de sua história, à medida que saem da passividade de aulas conteudistas para um mergulho no exame de verdades à luz da realidade. 223 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, G. R. de; GONZALES, W. R. C. O modelo curricular por competência e os desafios e os desafios à prática docente. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 14, n. 1, p. 61-73, jan/jun. 2005. __________________________. O ensino técnico por competências: algumas contradições existentes entre os documentos de uma instituição do sistema S e a prática pedagógica. Anais da 30ª reunião anual da ANPEd. Disponível em: <http: //www.anped.org.br>. Acesso em: 03 nov. 2007. ALANIZ, E. Competência ou qualificação profissional: noções que se opõem ou se complementam? 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Escola e Democracia: teoria da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989. __________. Trabalho e Educação: fundamentos ontológicos e históricos. Anais da 29ª Reunião anual da ANPEd. Caxambu, 2006. SAVIANI, N. Saber escolar, currículo e didática: problemas da unidade conteúdo/método no processo pedagógico. São Paulo, Autores Associados, 1998. SCHAFF, A. A relação cognitiva – o processo do conhecimento – a verdade. In: História e Verdade. São Paulo, Martins Fontes, 1991. P. 65-98. SCHWARTZ, Y. De la “qualification” à la “competence”. Société Française, Paris, n. 37, octobre/novembre/décembre 1990. P. 65-90. SEMERARO, G. Gramsci e os novos embates da filosofia da práxis. São Paulo: Idéias & Letras, 2006. SÈVE, L. A Personalidade em Gestação. In: SILVEIRA, P.; DORAY, B. Elementos para uma Teoria Marxista da Subjetividade. São Paulo, Vértice, 1989, p. 147-178. SEVERINO, A. J. 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Permitiram o desenvolvimento de diferentes atividades de coleta de dados, de triangulação e análise dos dados e de construção do relatório. Um elemento que muito dificultou a execução financeira da pesquisa foi a impossibilidade de contar com um talão de cheque específico do Banco do Brasil que, diferentes vezes, negou esta possibilidade por estar o CNPq, supostamente, no cadastro de inadimplentes do Serasa. Isso exigiu que os recursos fossem sacados diretamente nos caixas bancários de modo a serem utilizados conforme os gastos fossem se efetivando. O gasto com material de consumo foi imprescindível para a realização das atividades diárias da pesquisa (papel, toner, envelopes, pastas, clips, grampos, canetas, etc.), bem como a constante manutenção dos computadores e da impressora. A despesa com livros foi necessária para alimentar o acervo bibliográfico referente à área de Trabalho e Educação e Pesquisa Educacional do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Educação - GEPTE da UFPA. Registre-se sobre isto que conseguimos reunir na sala do grupo um razoável acervo de livros, revistas, anais e documentos acerca da temática Trabalho e Educação e, em particular, sobre a educação profissional, contando com doações e com o acervo adquirido com os recursos do CNPq que tem sido muito utilizado pelos estudantes vinculados ao GEPTE e por outros pesquisadores que mantêm diálogo com o Grupo (fotos anexas). Desde o início da organização do espaço de leitura foram feitos 311 empréstimos sem qualquer registro de não devolução O pagamento com serviços prestados foram referentes à manutenção de banco de dados mantidos pelo GEPTE, a saber: 1) quadro das entidades executoras de educação profissional sediadas no Estado do Pará e 2) catálogo de fontes bibliográficas em didática de educação profissional. Também foram necessários serviços de catalogação de um grande número de livros, revistas e documentos que compõem o acervo bibliográfico do GEPTE; 236 serviços de atualização do site do GEPTE, disponibilizando informações referentes aos projetos executados ou em execução: banco de dados, relatórios de pesquisa, eventos, publicações, etc. Recursos utilizados com passagens aéreas e diárias permitiram a realização de eventos de socialização dos resultados da pesquisa, a triangulação de dados e a ação integrada com grupos de pesquisas de outras instituições e grupos de pesquisa consolidados. A participação de integrantes do GEPTE em eventos em outros estados se deu apenas com trabalhos aprovados para apresentação e publicação em anais. Com equipamentos e material permanente foi necessária a compra de 02 computadores Notebook e 02 aparelhos Projetor, bem como aquisição de uma tela de projeção, sendo que 01 notebook e 01 projetor foram furtados, em ocasião já justificados ao CNPq (segue anexo o registro da ocorrência). É importante destacar a relevância das atividades organizadas pelo GEPTE, em torno dos métodos e resultados de pesquisa, que também foram objeto de despesas realizadas, pois eles proporcionam à universidade, entre outras coisas, a contribuição com a formação dos pesquisadores; promoção do diálogo entre pesquisadores e estudantes do campo de trabalho e educação; socialização junto à comunidade acadêmica dos resultados do projeto e dos sub-projetos vinculados, executados pelos membros da equipe de pesquisa. PRINCIPAIS PRODUTOS DA PESQUISA E FONTES DE GASTOS Eventos realizados e principais gastos: IV SEMINÁRIO SOBRE TRABALHO E EDUCAÇÃO: A Pedagogia da Práxis e a Didática da Educação Profissional (11 e 12 de setembro de 2008). Este evento teve como despesas o gasto com gasolina para divulgação do evento em diversas Instituições localizadas na cidade de Belém e compra de material para o mesmo (material de divulgação – cartazes e folders - pastas, canetas, papel, etiquetas, crachás, material de ornamentação do local do evento, utensílios e descartáveis, etc.), bem como para locomoção dos convidados que proferiram as conferências. 237 Pagamento de serviço prestado para realização de conferência para: • Dra. Marise Ramos (UERJ) • Dra. Maria Rita de Oliveira (CEFET-MG) • Dr. Justino de Souza Junior (UFMG), com passagem aérea. Este evento teve como foco a discussão das referências teóricas necessárias para a problematização e a análise dos dados levantados. Um dos produtos deste evento é a publicação, sem custos, de um livro em fase de impressão pela Editora Autores Associados. I COLÓQUIO: A Pesquisa em Trabalho, Educação e Políticas Educacionais (15 e 16 de abril de 2009) Neste evento, as despesas são referentes ao gasto com gasolina para divulgação do evento em diversas Instituições localizadas na cidade de Belém e compras de material para o mesmo (material de divulgação: cartazes e folders), bem como para locomoção dos convidados que proferiram as conferências. Recursos também foram gastos com serviço de sonorização e gravação do evento. Pagamento de serviço prestado para realização de conferência para: • Dra. Ana Walesca (PUC-RJ) • Dra. Eneida Shiroma (UFSC) • Dr. Fernando Fidalgo (UFMG) • Dr. José Correa (Universidade do Porto), passagem aérea paga com recursos da CAPES. • Dra. Maria Ciavatta Franco (UFF) • Dra. Olinda Evangelista (UFSC) • Dr. Paolo Nosella (UFSCAR / Uninove) • Dr. Ramon de Oliveira (UFPE) Este evento teve como foco a discussão das referências metodológicas necessárias para o levantamento e a análise dos dados levantados. Um dos produtos deste evento é a publicação, sem custos, de um livro em fase de impressão pela Editora Autêntica. 238 V SEMINÁRIO SOBRE TRABALHO E EDUCAÇÃO: Práxis e Educação Profissional na Amazônia (19 e 20 de novembro de 2009). Pagamento de serviço prestado para realização de conferência para: • Dr. Justino de Souza Junior (UFMG) Este evento teve como foco a apresentação preliminar de alguns dados de pesquisa e a sua triangulação. Principais resultados: Foram concluídas 28 orientações vinculadas ao projeto, dentre elas: 07 de mestrado; 07 monografias de especialização;10 trabalhos de conclusão de curso e 04 relatórios de iniciação científica. Estão em andamento 11 orientações, dentre as quais 02 teses de doutorado; 05 dissertações de mestrado; 02 monografias de especialização e 02 orientações de iniciação científica. 239 PRODUTOS ORIENTAÇÕES: Foram concluídas 28 orientações vinculadas ao projeto, dentre elas: 07 de mestrado; 07 monografias de especialização, 10 trabalhos de conclusão de curso e 04 relatórios de iniciação científica. Estão em andamento 15 orientações, dentre as quais 02 teses de doutorado; 09 dissertações de mestrado; 02 monografias de especialização e 02 orientações de iniciação científica. Estão divididas da seguinte forma: ORIENTAÇÕES CONCLUÍDAS: (24) 1. MESTRADO (7): • Sandra Suely da Silva Gomes. Políticas Educacionais para a Educação Tecnológica: a proposta do curso superior de tecnologia em gestão de recursos humanos da FAP e o histórico dualismo na educação brasileira (UFPA-2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Rosineide de Belém Lourinho dos Santos. Esboço de Leonardos: a experiência da forma integrada de ensino profissional do CEFET/PA (UFPA2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Cristiane Silva de Almeida. A Gestão da Educação Profissional no CEFET/PA. (UFPA-2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Sônia de Fátima Rodrigues Santos. O Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador: formulação, implementação e as práticas pedagógicas dos professores do CEFET/PA. (UFPA-2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Raimunda do Socorro Rodrigues. A proposta de qualificação profissional da CUT/PA na perspectiva da educação integral: a experiência do Projeto Estadual "Pororoca". (UFPA-2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • José do Egypto Soares Filho. Política de Educação profissional no Pará: o olhar dos egressos do SENAI (UFPA-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) • Verônica Lima Carneiro. Políticas de Formação Profissional no SENAI: um estudo da relação entre educação geral e educação profissional nos cursos de aprendizagem industrial no Pará (UFPA-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) 240 2. ESPECIALIZAÇÃO (7): • Frederico dos Remédios Corrêa /Adriana Maria Nazaré de Souza. Ensino Médio integrado à Educação Profissional: a formação do trabalhador pelo PROEJA a partir do currículo integrado (CEFET-2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Aldenora Martins de Lima & Sabrina Conde Koury. A representação docente sobre a relação teoria e prática. (CEFET-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) • Ana Paula Palheta Santana & Laura Helena Barros da Silva. O trabalho como princípio educativo: o caminho da EJA. (CEFET-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) • Deusa de Nazaré Martins Lobato. PROEJA: caminhos e perspectivas(CEFET-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) 3. TCC (10): • Jaqueline do Nascimento Rodrigues. A Didática da Educação Profissional: a produção no GT Trabalho e Educação da ANPED (2000 – 2007) (UFPA2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Manuela Tavares Santos. A Didática da Educação Profissional da ETEMB (UFPA-2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Adriane Suely Rodrigues do Nascimento. A Didática da Educação Profissional na Revista Trabalho e Educação do NETE-UFMG. (UFPA2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Giorgiane de Assis Machado. A ressignificação da noção de competência. (UFPA-2007) • Adriana Maria Nazaré de Souza. O oócio criativo: por uma pedagogia do ócio. (UFPA-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) • Viviane Guimarães da Silva. A educação profissional livre na cidade de Belém: um estudo de caso da Escola Salesiana do Trabalho (UFPA-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) • Verena Cristina de Queiróz Lopes & Joana D'Arc Gonçalvez. A Pedagogia das Competências nos documentos da reforma da educação profissional: do Governo FHC ao primeiro Governo Lula. (UFPA-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) 241 • Tatiana Ribeiro dos Reis. Pedagogia empresarial versus Pedagogia do Trabalho: a atuação do pedagogo em foco (UFPA-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) • Rute Costa Galvão. Os impactos das mutações do mundo do trabalho sobre a formação profissional do sistema S na cidade de Belém (UFPA-2007. Orientador: Ronaldo Araujo) 4. INICIAÇÃO CIENTÍFICA (2): • Jaqueline do Nascimento Rodrigues. A didática da Educação Profissional de Nível Técnico na produção da ANPEd. (UFPA: 2007-2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Adriane Suely Rodrigues do Nascimento. A didática da educação profissional desvelada na Revista Trabalho e Educação do NETE/UFMG. (UFPA - Início: 2007-2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Adriane Suely Rodrigues do Nascimento. A Didática da Educação Profissional: Práticas Formativas Propostas e Experimentadas no Centro de Serviços Educacionais do Pará - CESEP (UFPA - Início: 2008-2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Manuela Tavares Santos. A didática da Educação Profissional de Nível Técnico na Escola Técnica Estadual Magalhães Barata. (UFPA - Início: 2008-2009. Orientador: Ronaldo Araujo) ORIENTAÇÕES EM ANDAMENTO: (15) 5. DOUTORADO (2): • Doriedson do Socorro Rodrigues. Da unidade Trabalho, Educação e Saberes Sociais à Consciência de classe e políticas de empoderamento da Colônia de Pescadores Artesanais Z16 - Cametá/Pará (UFPA - Início: 2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Elinilze Guedes Teodoro. De Escola Técnica Estadual do Pará (ETEPA) a Escola Técnica Estadual Magalhães barata (ETEMB): as políticas de educação profissional no Pará. (PUC-RJ - Início: 2006. Co-orientador: Ronaldo Araujo) 242 6. MESTRADO (9): • Egídio Martins. Educação do Campo e Movimentos Sociais: um estudo das experiências educacionais na Colônia dos Pescadores no município de Cametá. (UFPA - Início: 2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Adriana Maria Nazaré de Souza. O Ensino Integrado para além da forma integrada: A Educação Profissional subseqüente proposta pela Escola de Educação Tecnológica do Pará Magalhães Barata (ETEMB) para o curso de Edificações (UFPA - Início: 2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Ana Cristina Pereira Teixeira de Moraes. Juventude, Trabalho e Educação: a qualificação profissional do Programa Bolsa Trabalho em questão. (UFPA – Início: 2009. Orientador: Gilmar Silva) • Érbio dos Santos Silva. SENAC: A formação profissional sob novos olhares ma Amazônia. (UFPA – Início: 2009. Orientador: Gilmar Silva) • Heloisa Helena Meireles Bahia. Um estudo acerca do Movimento de Mulheres no bairro do Bengui, no município de Belém/PA e suas reivindicações para a Educação. (UFPA – Início: 2009. Orientador: Gilmar Silva) • Deusa de Nazaré Martins Lobato. Didática da Educação profissional. (UFPA - Início: 2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Heloisa Helena Barbosa Canali. Trabalho e Educação profissional: o papel da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará como certificadora da qualificação profissional na Amazônia Paraense (UFPA – Início: 2009. Orientador: Gilmar Silva) • Rejane do Socorro da Silva Carvalho. Cursos superiores de tecnologia: resgatando a experiência da educação profissional no Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará. (UNB - Início 2008. Orientador: Ronaldo Araujo) • Elizabete Batista Ramos. Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará: diagnosticando a memória da gestão da educação escolar - desafios para a melhoria da educação no Ensino Profissional Técnico de Nível Médio ao Ensino Médio. (UNB - Início 2008. Orientador: Ronaldo Araujo) 243 7. ESPECIALIZAÇÃO (2): • Jaqueline do Nascimento Rodrigues. Os impactos do Programa Brasil Profissionalizado no financiamento da educação profissional no Estado do Pará. (UFPA - Início: 2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Adriane Suely Rodrigues do Nascimento. Financiamento da educação profissional no governo FHC: uma análise do Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP) (UFPA - Início: 2009. Orientador: Ronaldo Araujo) 8. INICIAÇÃO CIENTÍFICA (2): • Bruna de Moraes Damasceno. As Práticas Formativas em Educação Profissional na Escola Agrotécnica Federal de Castanhal: experiências didáticas. (UFPA - Início: 2009. Orientador: Ronaldo Araujo) • Lívia Fernanda Nascimento dos Santos. As práticas formativas em educação profissional na Escola a Bosque Professor Eidorfe Moreira: experiências didáticas. (UFPA - Início: 2009. Orientador: Ronaldo Araujo) PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA DOS INTEGRANTES DO GEPTE Foram realizadas 45 publicações, sendo que 06 foram de artigos publicados em periódicos; 04 foram de publicações e/ou organizações de livros; 03 capítulos de livros; 21 foram de trabalhos completos publicados em anais de congresso e 11 resumos expandidos publicados em anais de congresso. Além destes, serão publicados 02 livros que estão em processo de impressão. PUBLICAÇÃOES DE LIVRO A SEREM LANÇADOS EM 2010 • ARAUJO, R. M. L.; RODRIGUES, D. S. (Orgs.). Filosofia da práxis e didática da educação profissional. SP: Autores Associados, 2010. • ARAUJO, R. M. L.; RODRIGUES, D. S. (Orgs.). A pesquisa em Trabalho, Educação e Políticas Educacionais. Campinas: Editora Alínea, 2010. 244 ARTIGOS COMPLETOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS (6): • ARAUJO, Ronaldo M. L.; GALVÃO, Rute. C. A Formação Profissional do Sistema S no contexto paraense. Revista Científica da UFPA, v. 06, p. 0115, 2007 • ARAUJO, Ronaldo M. L.; RODRIGUES, Doriedson. A nova demanda do capital por escolaridade: uma análise do discurso de trabalhadores. Margens (UFPA), v. 4, p. 215-238, 2008. • ARAUJO, Ronaldo M. L. Formação de Docentes para a Educação Profissional e Tecnológica: por uma pedagogia integradora da educação profissional. Trabalho & Educação (UFMG), v. 17, p. 53-64, 2008. • ARAUJO, Ronaldo M. L.; RODRIGUES, Doriedson S. A nova demanda do capital por escolaridade: uma análise do discurso de trabalhadores. Margens (UFPA), v. 4, p. 215-238, 2008. • RODRIGUES, Doriedson S. Escola & Classe: o urbano e o rural no município de Cametá traços linguageiros de subjetividade do homem e da mulher. Observatório Educação do Campo, v. 001, p. 01-200, 2008. • SILVA, Gilmar P. da; ARAUJO, Ronaldo M. de L.; CANALI, Heloisa. H. B. Pesquisa em educação: uma tentativa de construir um breve estado da arte, tendo como referência a certificação da educação do trabalhador do campo, em assentamento na Amazônia. Margens (UFPA), v. 1, p. 001-0010, 2009 LIVROS PUBLICADOS E/OU ORGANIZADOS (4): • ARAUJO, Ronaldo M. L.; TEODORO, Elinilze G.; SOUZA JUNIOR, Justino de; SILVA, Gilmar P. da; LIMA, Aldenora M. de; GALVÃO, Rute C.; CARNEIRO, Verônica L.; KOURY, Sabrina C.; GUIMARÃES, Viviane; RAMOS, A. P. C.; LOBATO, Deusa. M.; SOARES, José do E. A educação profissional do Pará. 1. ed. Belém: EDUFPA, 2007. v. 1. 192p. • ARAUJO, Ronaldo. M. L.; ROSÁRIO, Maria. J. A. (Org.). Políticas Públicas Educacionais. Campinas - SP: Editora Alínea, 2008. v. 1. 156 p. • TEODORO, Elinilze G. (Org.); SANTOS, Sonia de F. R. (Org.); ALMEIDA, Cristiane S. (Org.); ARAÚJO, Ádria M. N. M. (Org.). O Curso de Especialização do PROEJA no CEFET/PA em Debate: experiências, 245 estudos e propostas. Belém: 2008. 284 p. • ARAUJO, Ronaldo M. L.; PORTO, Adriana; TEODORO, Elinilze G. (Org.). O Ensino Médio Integrado no Pará como política pública. Belem: 2009. 183 p. CAPÍTULOS DE LIVROS PUBLICADOS (3): • ARAUJO, Ronaldo M. L. Trabalho, Educação, Didática da educação profissional e formação docente. In: Adelayde Alves Dias; Charlinton Machado; Maria Lúcia Nunes. (Org.). Educação, Direitos Humanos e Inclusão Social: currículo, formação docente e diversidades socioculturais. 1 ed. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009, v. 1, p. 153-172. • ARAUJO, Ronaldo. M. L. Formação de Docentes para a Educação Profissional e Tecnológica: por uma pedagogia integradora da educação profissional. In: ROSÁRIO, M. J. A; ARAUJO, R. M. L. (Org.). Políticas Públicas Educacionais. 1 ed. Campinas - SP: Editora Alínea, 2008, v. 1, p. 21-35. • TEODORO, Elinilze G.; Nosella, Paolo. O Trabalho como principio pedagógico em Marx, Lênin e Gramsci e sua problemática na atualidade. In: ROSÁRIO, Maria J. A; ARAUJO, Ronaldo M. L. (Org.). Políticas Públicas Educacionais. 1a ed.: Alínea Editora, 2008. TRABALHOS COMPLETOS PUBLICADOS EM ANAIS DE EVENTOS (21): • ARAUJO, Ronaldo M. L. Os desafios da qualificação dos profissionais servidores. In: XIX Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste, 2009, João pessoa. XIX Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste. João Pessoa: Editora universitária da UFPB, 2009. v. 1. p. 01-08 • ARAUJO, Ronaldo M. L.; ARAUJO, Maria. A. M. L. Trabalho Docente precarizado versus discurso qualificante no ProJovem de Belém-PA. In: VII Seminário de La Red de Estudios sobre Trabajo Docente, 2008, Buenos Aires / Argentina. Nuevas regulaciones en América Latina. Buenos Aires: Agencia, 2008. v. 1. p. 99-99. 246 • ARAUJO, Ronaldo M. L. Instituições de Formação Profissional História e Perspectivas: o projeto da nova institucionalidade da educação profissional brasileira dos anos 1990. In: V Colóquio de Pesquisa Sobre Instituições Escolares: Entre o Individual e o Coletivo, 2008, São Paulo. V Colóquio de Pesquisa Sobre Instituições Escolares: Entre o Individual e o Coletivo (anais). São Paulo: Editora da Uninove, 2008. v. 1. p. 01-17. • LOBATO, Deusa N. M. A. A educação do trabalhador: entre os interesses do capital e os da classe trabalhadora. In: VIII Seminário Nacional de Políticas Educacionais e Currículo: Ética e regulação no currículo e nas políticas educacionais. 2009, Belém. Avaliação da Pós-Graduação em Educação. Belém : Editora Universitária UFPA, 2009. • LOBATO, Deusa N. M. A Construção do Pensamento Educacional Crítico no Brasil sob as Bases do Materialismo Histórico e Dialético. In: V Simpósio sobre Trabalho e Educação: Homenagem aos 150 anos da publicação da Introdução à Critica da Economia Política, 2009, Belo Horizonte. Marx, Teoria e Interlocução com a Educação. Belo Horizonte, 2009. • LOBATO, Deusa N. M. O Trabalho como Matéria e Meio de Ensino na Construção de uma Revolução Cultural. In: XI Encontro Nacional da ABET, 2009, Campinas- SP. A Crise Mundial e os Dilemas do Trabalho, 2009. • MORAES, Ana C. P. T. de. A re-organização das práticas educativas e sua articulação com a preparação para o trabalho: desafios atuais para a atividade docente In: VIII Seminário Nacional de Políticas Educacionais e Currículo: Ética e regulação no currículo e nas políticas educacionais. 2009, Belém. Avaliação da Pós-Graduação em Educação. Belém: Editora Universitária UFPA, 2009. • NASCIMENTO, Adriane S. R. Práticas formativas em educação profissional: um olhar sobre o conteúdo da revista Trabalho & Educação do NETE. In: VIII Seminário Nacional de Políticas Educacionais e Currículo: Ética e regulação no currículo e nas políticas educacionais. 2009, Belém. Avaliação da Pós-Graduação em Educação. Belém: Editora Universitária UFPA, 2009. 247 • NASCIMENTO, Adriane S. R.; ARAUJO, Ronaldo M. L. A Didática da Educação Profissional: Práticas Formativas Propostas e Experimentadas no Centro de Serviços Educacionais do Pará - CESEP. IN: XIX Seminário de Iniciação Científica da UFPA. 2008. Belém. XIX Seminário de Iniciação Científica da UFPA. Belém: EDUFPA, 2008. • RODRIGUES, Doriedson S. Trabalhadores e capital e o acesso, permanência e sucesso escolar. In: VIII Seminário Nacional de Políticas Educacionais e Currículo: Ética e regulação no currículo e nas políticas educacionais. 2009, Belém. Avaliação da Pós-Graduação em Educação. Belém: Editora Universitária UFPA, 2009. • RODRIGUES, Doriedson S. Escola e Capital: uma reflexão sobre humanização e objetivação. In: 19º EPENN, 2009. João Pessoa. 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In: VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2008, Porto - Portugal. Cultura Escolar, migrações e cidadania. Porto: Porto Editora, 2008. RESUMOS EXPANDIDOS PUBLICADOS EM ANAIS DE EVENTOS (11): 249 • ARAUJO, Ronaldo. M. L.; RODRIGUES, Jaqueline. N. A Didática da Educação Profissional: a produção do GT Trabalho e Educação da ANPED. In: XIX Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste, 2009, João Pessoa. XIX Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009. v. 1. p. 01-08. • ARAUJO, Ronaldo M. L.; NASCIMENTO, Adriane S. R. Práticas Formativas na Educação Profissional: Perspectivas de um Estudo Na Revista Trabalho & Educação do NETE/UFMG. In: I Seminário Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, 2008, Belo Horizonte. I Seminário Nacional de Educação Profissional e Tecnológica - Anais ON-LINE, 2008. • ARAUJO, Ronaldo M. L.; RODRIGUES, Jaqueline N.; A didática da educação profissional na produção da ANPED. 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Resumos do XX Seminário de Iniciação Científica a UFPA, Belém: EDUFPA, 2009. • ARAUJO, Ronaldo M. L.; DAMASCENO, Bruna de M. As Práticas Formativas em Educação Profissional na Escola Técnica Estadual Magalhães Barata – ETEMB. In: Seminário de Iniciação Científica a UFPA. Resumos do XX Seminário de Iniciação Científica a UFPA, Belém: EDUFPA, 2009. 250 • SANTOS, Manuela. T. A Avaliação Educacional em Educação Profissional na Escola Técnica Estadual Magalhães Barata – ETEMB In: VIII Seminário Nacional de Políticas Educacionais e Currículo: Ética e regulação no currículo e nas políticas educacionais. 2009, Belém. Avaliação da Pós-Graduação em Educação. Belém: Editora Universitária UFPA, 2009. • SANTOS. Lívia F. N. dos; DAMASCENO, Bruna de M. As Práticas Formativa da Educação Profissional desveladas nos periódicos do Boletim Técnico do SENAC In: VIII Seminário Nacional de Pol íticas Educacionais e Currículo: Ética e regulação no currículo e nas políticas educacionais. 2009, Belém. Avaliação da Pós-Graduação em Educação. Belém : Editora Universitária UFPA, 2009. • SILVA, Gilmar P. da. Trabalhadores e Educação: a experiência da CUT na Amazônia. In: V Simpósio sobre Trabalho e Educação, 2009. Belo Horizonte - MG. V simpósio sobre trabalho e educação. Minas Gerais: Anais do evento, 2009. V. 1. P. 1-300 • SILVA, Gilmar P. da; COSTA, A. P.; MARTINS, E. ; ALFAIA, F J C. Educação do Trabalhador do campo: um estudo das experiências educacionais da colônia dos pescadores z-16 de Cametá - PA. In: Encontro Nacional de Educação, Cultura e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, 2008, Bragança-PA. Encontro Nacional de Educação, Cultura e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, 2008. v. 1. p. 1-223. PREMIAÇÃO • SANTOS, LIVIA F. N. dos. As Práticas Formativas em Educação Profissional no Centro de Serviços Educacionais do Pará – CESEP. Premiação de melhor trabalho de Iniciação Científica na área de educação da Universidade Federal do Pará. PIBIC/CNPQ, UFPA. Apresentado no XX Seminário de Iniciação Científica a UFPA, 2009. 251 ANEXOS Anexo I – Modelo de fichamento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTODE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE TRABALHO E EDUCAÇÃO GEPTE FICHAMENTO IDENTIFICAÇÃO: TEMA: OBJETO: PROBLEMA: TESE: ARGUMENTOS: BASE METODOLÓGICA: REFERENCIAL TEÓRICO: CONCLUSÕES: DEFINIÇÃO DE... OBJETIVOS DE ENSINO CONTEÚDO DE ENSINO MÉTODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO 252 Anexo II – Acervo bibliográfico do GEPTE, catalogado, adquirido com recursos do CNPq e outras fontes AUTORES EDITORA 1. COD 0.01001 Educação e Pesquisa: Diferentes percursos, diferentes contextos TITULO ABRAMOWICZ, Anete; SILVA, Ademar da; BITTAR, Marisa (org) RIMA 2. 0.01002 Desafios e perspectivas das práticas em educação e da formação de professores. ABRAMOWICZ, A.; OLIVEIRA, R. M.M. A PEDRO & JOÃO EDITORES 3. 0.01003 O Ensino Médio e a reforma da educação básica AGUIAR, Márcia Ângela da S. PLANO EDITORA 4. 0.01004 Alternativas no Ensino de Didática ANDRÉ, Marli E. D. A.; OLIVEIRA, Maria PAPIRUS Rita Neto Sales de. (orgs.) 5. 0.01005 Trabalho Coletivo e Educação: um estudo das práticas cooperativas do PCE- ANDRIOLI, Antônio Inácio Programa de Cooperativismo nas Escolas- na região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Ed. Unijuí 6. 0.01006 Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho ANTUNES, Ricardo CORTEZ 7. 0.01007 Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho ANTUNES, Ricardo CORTEZ 8. 0.01008 Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho ANTUNES, Ricardo BOITEMPO 9. 0.01009 Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil ANTUNES, Ricardo BOITEMPO 10. 0.01010 Pesquisa em Educação no Pará ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima (org.) EDUFPA 11. 0.01011 Educação, Pesquisa e Desenvolvimento Social ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima et al EDUFPA 12. 0.01012 A Educação Profissional no Pará ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima et al EDUFPA 13. 0.01013 O Ensino Médio Integrado no Pará como Política Pública ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima; PORTO, Adriana Maria Nazaré de Souza; TEODORO, Elinilze Guedes SEDUC 14. 0.01014 Políticas Públicas Educacionais ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima; ROSÁRIO, Maria José Aviz do. ALÍNEA 253 15. 0.01015 Educação e Modernização Conservadora ARRAIS NETO, Enéas - 16. 0.01016 Trabalho e Conhecimento: dilemas na educação do trabalhador ARROYO, Miguel et al - 17. 0.01017 Traços do Trabalho Coletivo AUED, Bernardete Wrublevski - 18. 0.02001 A Periferia do Capital na Cadeia Produtiva de Eletroeletrônicos BAÇAL, Selma EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO 19. 0.02002 Escritos sobre Tecnologia educacional & Educação profissional BARATO, Jarbas Novelino EDITORA SENAC SÃO PAULO 20. 0.02003 Educação Profissional: saberes do ócio ou saberes do trabalho? BARATO, Jarbas Novelino EDITORA SENAC SÃO PAULO 21. 0.02004 Experiências de educação integral da CUT: práticas em construção BARBARA, Maristela Miranda DP&A 22. 0.02005 Trabalhadores do comércio no movimento sindical paraense: um estudo sobre os 80 anos do sindicato dos empregados no Comércio do Pará (19262006). Coleção Leitura popular Vol. II BARROS, J.H. Gráfica e Editora Prelazia 23. 0.02006 Educação à Distância e o Universo do Trabalho BARROS, Daniela Melaré Vieira EDUSC 24. 0.02008 João Batista mártir na luta pela reforma agrária: violência e impunidade no Pará. BATISTA, Pedro César EXPRESSÃO POPULAR 25. 0.02009 Teoria da Didática BECCHI, Egle et al CORTEZ 26. 0.02010 Da chave de fenda ao laptop: Tecnologia digital e novas qualificações: desafios à educação BIANCHETTI, Lucídio. VOZES 27. 0.02011 Formação do Educador e avaliação educacional: organização da escola e trabalho pedagógico. BICUDO, Maria Aparecida Viggiani; SILVA JÚNIOR, Celestino Alves da. - 28. 0.02012 Estudos em Fundamentos da Educação BITTAR, Marisa; LOPES, R. E. PEDRO & JOÃO EDITORES 29. 0.02013 Cultura de massa e cultura popular: leitura de operárias BOSI, Ecléa. - 30. 0.02014 A Reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino BOURDIEU, Pierre; PASSERON, JeanClaude - 31. 0.02015 Análise do Conteúdo BARDIN, Laurence - 254 32. 0.03001 Políticas para a Educação Superior no Brasil: velhos temas e novos desafios CABRAL NETO, Antônio; CHAVES, Vera XAMÃ Lúcia Jacob; NASCIMENTO, Ilma Vieira 33. 0.03002 Desvio Social e Delinqüência Juvenil: teorias e fundamentos da exclusão social. CALIMAN, Geraldo UNIVERSA 34. 0.03003 Experiências inovadoras de educação profissional: memória em construção de experiências inovadoras na qualificação do trabalhador CAMARGO, Célia Reis EDITORA UNESP 35. 0.03004 Experiências inovadoras de educação profissional: memória em construção de experiências inovadoras na qualificação do trabalhador CAMARGO, Célia Reis EDITORA UNESP 36. 0.03005 A Ideologia do Trabalho CARMO, Paulo Sérgio do MODERNA 37. 0.03006 Educação e Formação Profissional - trabalho e tempo livre CARVALHO, Olgamir Francisco de PLANO EDITORA 38. 0.03007 Educação e Empregabilidade: novos caminhos do mundo do trabalho CASALI, Alípio et al EDUC 39. 0.03008 Trabalho e Autonomia CATTANI, Antônio David VOZES 40. 0.03009 Trabalho e Tecnologia: Dicionário Crítico CATTANI, Antônio David (Org.) VOZES 41. 0.03010 Dicionário de Trabalho e Tecnologia CATTANI, Antônio David; HOLZMANN, Lorena ED. DA UFRGS 42. 0.03011 Memória e temporalidade do trabalho e da Educação CIAVATTA, Maria (org.) FAPERY 43. 0.03012 O Mundo do Trabalho em Imagens: a Fotografia como Fonte Histórica. CIAVATTA, Maria (org.) DP&A 44. 0.03013 A Experiência do Trabalho e a Educação Básica CIAVATTA, Maria (org.) DP&A 45. 0.03014 Indivíduo, trabalho e sofrimento: uma abordagem interdisciplinar CODO, Wanderley et al VOZES 46. 0.03015 Educação:carinho e trabalho CODO, Wanderley - 47. 0.03016 A Estrela de Várias Pontas: o debate inicial sobre as políticas sociais no Pará COELHO, Maria do Socorro da Costa Paka-Tatu 48. 0.03017 Políticas Educacionais, Reformas Curriculares e Formação de Professores nas produções científicas dos pós-graduandos em educação da UFPA CORRÊA, Paulo Sérgio Almeida EDUFPA 49. 0.03018 Estatística Aplicada à Pesquisa em Educação COSTA, Sérgio Francisco PLANO EDITORA 50. 0.03019 Anônimas odisséias : a dupla destituição do direito à educação e ao trabalho COSTA, Áurea de Castro na infância e na vida adulta ANNABLUME 51. 0.03020 Educação Integral e Sistema de certificação educacional e profissional - COSTA, Hélio; CONCEIÇÃO, Martinho 255 da. 52. 0.03021 O Ensino de Ofícios Artesanais e Manufatureiros no Brasil escravocrata CUNHA, Luiz Antônio EDITORA UNESP 53. 0.03022 O Ensino de Ofícios nos Primórdios da Industrialização CUNHA, Luiz Antônio EDITORA UNESP 54. 0.03023 Projeto de Educação de Trabalhadores: pontos, vírgulas e reticências-um olhar de alguns elementos da EJA através dos ensimentos do PET CUNHA, Charles Moreira; NUNES, Adrilene Marize Muradas. - 55. 0.03024 Ensino e Formação Docente: propostas, reflexões e práticas CUNHA, Emanuel Ribeiro (org.) - 56. 0.03025 O Imperial Collegio de Pedro II e o ensino secundário da boa sociedade brasileira. CUNHA JR, Carlos Fernando Ferreira da APICURI 57. 0.03026 Trabalho, Educação Profissional e Empregabilidade COSTA, Maria José Jackson (org.) EDUFPA 58. 0.03027 Instituto Federal do Pará: 100 anos de Educação Profissional COSTA, Lairson (org.) GTR GRÁFICA E EDITORA 59. 0.03028 Instituto Federal do Pará: 100 anos de Educação Profissional COSTA, Lairson (org.) GTR Gráfica e Editora 60. 0.03029 Formação do Pesquisador em educação: profisisonalização docente, políticas públicas, trabalho e pesquisa CAVALCANTE, Maria Auxiliadora da Silva; MERCADO, Luis Paulo Leopoldo - 61. 0.03030 O Estado da Arte da Formação do Trabalhador no Brasil CONTERNO, Solange de Fátima Reis et al. 62. 0.04001 Instrumentos de apoio ao setor produtivo: onde buscar apoio para o seu empreendimento DANTAS, José Guaraci SDP 63. 0.04002 Recursos Humanos e subjetividade DAVEL, Eduardo Paes Barreto (org.) VOZES 64. 0.04003 Formação do Trabalhador: produtividade & cidadania DELUIZ, Neise. - 65. 0.04004 Educação, Direitos Humanos e Inclusão Social: currículo, formação docente e diversidades socioculturais DIAS, Adelaide Alves; MACHADO, Charliton José dos Santos; NUNES, Maria Lúcia da Silva (orgs.) - 66. 0.04005 Educação, Direitos Humanos e Inclusão Social: currículo, formação docente e diversidades socioculturais DIAS, Adelaide Alves; MACHADO, Charliton José dos Santos; NUNES, Maria Lúcia da Silva (orgs) - 67. 0.04006 Negociação e contratação coletiva da qualificação Socioprofissional nas DOMINGUES, Marta Regina; - 256 Relações capital-trabalho LADOWSKY, Mário Henrique; TEXEIRA, Marilane 68. 0.04007 De caminhoneira a professora do Paraguai à Amazônia DUTRA. Loreni Bruch - 69. 0.05001 A origem da família, da propriedade privada e do Estado ENGELS, Friedrich GLOBAL 70. 0.05002 O papel do trabalhador na transformação do macaco em homem ENGELS, Friedrich GLOBAL 71. 0.05003 Trabalho, escola e ideologia: Marx e a crítica da educação ENGUITA, Mariano Fernández ARTES MÉDICAS 72. 0.05004 Como se faz uma tese ECO, Umberto. - 73. 0.06001 Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo críticocomparativo da teoria do professor reflexivo, construtivismo e da psicologia vigotskiana. FACCI, Marilda Gonçalves Dias AUTORES ASSOCIADOS 74. 0.06002 Política Educacional no Brasil: introdução histórica. FARIAS, Isabel Maria Sabino de; VIEIRA, Sofia Lerche Líber Livro Editora 75. 0.06003 Planejando com foco na demanda do mercado de trabalho: apoio à FAUSTO, Ayton; GARCIA, Cid; elaboração dos Planos Estaduais de Qualificação Profissional - PEQs (1999- ACKERMANN, Werner. (Orgs) 2002) EDITORA UNESP 76. 0.06004 Políticas Públicas e Gestão da Educação: polêmicas, fundamentos e análises FERREIRA, Naura Syria Carapeto LIBER LIVRO EDITORA 77. 0.06005 Uma nova proposta de orientação profissional FERRETI, Celso João CORTEZ 78. 0.06006 Opção: Trabalho: Trajetórias ocupacionais de trabalhadores das classes subalternas FERRETI, Celso João CORTEZ 79. 0.06007 Trabalho, formação e currículo: para onde vai a escola? FERRETI, Celso João; SILVA JUNIOR,Joao dos Reis; OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales de. XAMÃ 80. 0.06008 Dicionário da Educação Profissional FIDALGO, Fernando; MACHADO, Lucília NETE 81. 0.06009 Controle de qualidade total: uma nova pedagogia do capital FIDALGO, Fernando; MACHADO, Lucília MOVIMENTO DE CULTURA MARXISTA 82. 0.06010 Educação Profissional e a Lógica das Competências FIDALGO, Fernando VOZES 83. 0.06011 Estratégias empresariais e formação de competências: um quebra-cabeça FLEURY, Afonso ATLAS 257 caleidoscópio da indústria brasileira 84. 0.06012 A escola do trabalho e o trabalho da escola FRANCO, Luiz Antonio de Carvalho CORTEZ 85. 0.06013 Analise do conteúdo FRANCO, Maria Laura P. Barbosa PLANO EDITORA 86. 0.06014 A educação do Trabalho FREINET, Célestin Martins Fontes 87. 0.06015 Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século FRIGOTTO, Gaudêncio (org.) VOZES 88. 0.06016 Ensino médio: ciência, cultura e trabalho FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA,Maria.(Orgs) SEMTEC 89. 0.06017 A formação do cidadão produtivo: a cultura de mercado no ensino médio técnico FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA,Maria.(orgs) INEP 90. 0.06018 A produtividade da escola improdutiva FRIGOTTO, Gaudêncio - 91. 0.06019 Educação e a crise do capitalismo real FRIGOTTO, Gaudêncio - 92. 0.06020 A Reinvenção do Futuro: trabalho, educação, política na globalização do capitalismo. FREITAS, Marcos Cezar. - 93. 0.06021 Trabalho por quê? Sistematização da experiência do programa geração de trabalho FERREIRA, Tânia; SANTOS, Eloísa Helena. - 94. 0.06022 A formação profissional negociada: França e Brasil, anos 90 FIDALGO, Fernando. - 95. 0.07000 Avaliação na escola de 2º grau GAMA, Zacarias Jaerge PAPIRUS 96. 0.07001 Currículo: pensar, sentir e diferir GARCIA, Regina Leite DT&A 97. 0.07002 Uma Didática para a Pedagogia histórico-crítica GASPARIN, João Luiz AUTORES ASSOCIADOS 98. 0.07003 A construção da pesquisa em educação no Brasil GATTI, Bernardete A. PLANO EDITORA 99. 0.07004 Políticas públicas educacionais: o governo Lula em questão. GEMAQUE, Rosana Maria Oliveira; LIMA, Rosângela Novaes CEJUP 100.0.07005 Neoliberalismo. Qualidade total e educação: visões críticas' GENTILLI, Pablo A. A.; SILVA, Tomaz Tadeu da VOZES 101.0.07006 O trabalho no século XXI: considerações para o futuro do trabalho GOMES, Álvaro (org.) ANITA GARIBALDI 258 102.0.07007 A Ação Docente na Educação Profissional GOMES, Heloisa Maria EDITORA SENAC SÃO PAULO 103.0.07008 Lazer, Trabalho e Educação: relações históricas, questões contemporâneas GOMES, Christianne Luce EDITORA UFMG 104.0.07009 Currículo e Políticas Públicas GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira AUTÊNTICA 105.0.07010 Educação a distância na formação de professores: viabilidades, potencialidades e limites. GOUVÊA, Guaracira; OLIVEIRA, Carmen Irene - 106.0.07011 Educação como exercício de diversidade: estudos em campos de desigualdades sócio-educacionais-vol 1 GRACINDO, Regina Vinhaes (org) et al Líber Livro Editora 107.0.07012 Educação como exercício de diversidade: estudos em campos de desigualdades sócio-educacionais-vol 2 GRACINDO, Regina Vinhaes (org) et al Líber Livro Editora 108.0.07013 Os Intelectuais e a Organização da Cultura GRAMSCI, Antonio CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A. 109.0.07014 Cadernos do Cárcere. Vol 01 GRAMSCI, Antonio CIVIILZAÇÃO BRASILEIRA 110.0.07015 Cadernos do Cárcere. Vol 02 GRAMSCI, Antonio CIVIILZAÇÃO BRASILEIRA 111.0.07016 Cadernos do Cárcere. Vol 03 GRAMSCI, Antonio CIVIILZAÇÃO BRASILEIRA 112.0.07017 Cadernos do Cárcere. Vol 04 GRAMSCI, Antonio AUTORES ASSOCIADOS 113.0.07018 Cadernos do Cárcere. Vol 05 GRAMSCI, Antonio CIVIILZAÇÃO BRASILEIRA 114.0.07019 Escritos Políticos.Vol 01 GRAMSCI, Antonio CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A. 115.0.07020 Escritos Políticos.Vol 02 GRAMSCI, Antonio CIVIILZAÇÃO BRASILEIRA 116.0.07021 Cartas do Cárcere.Vol 01: 1926-1930 GRAMSCI, Antonio CIVIILZAÇÃO 259 BRASILEIRA 117.0.07022 Cartas do Cárcere.Vol 02: 1931-1937 GRAMSCI, Antonio CIVIILZAÇÃO BRASILEIRA 118.0.07023 Atlas da nova estratificação social no Brasil: classe média , desenvolvimento GUERRA, Alexandre e crise. CORTEZ 119.0.07024 Pesquisa Educacional: quantidade-qualidade GAMBOA,Silvio Sánchez; SANTOS FILHO, José Camilo dos. - 120.0.07025 Dimensões e horizontes da Educação no Brasil GOULART, Cecília (org) et al - 121.0.08001 Educação do campo na Amazônia: retratos de realidade das escolas multisseriadas no Pará HAGE, Salomão Mufarrej. GRÁFICA E EDITORA GUTENBERG 122.0.08002 Condição Pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural HARVEY, David LOYOLA 123.0.08003 Sobre o "modelo" japonês: automatização, novas formas de organização e de relações de trabalho HIRATA, Helena S. (org.) EDUSP 124.0.09001 Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever. HIRATA, Helena Sumiko (org.) - 125.0.10001 Mestrado em Educação: experiências interinstitucionais na região Sul JANTSH, Ari Paulo (org) Editora Uniplac 126.0.11001 Desenvolvimento regional e trabalho no Brasil KON, Anita ABET 127.0.11002 Pedagogia da fábrica: as relações de produção e a educação do trabalhador KUENZER, Acácia Zeneida CORTEZ 128.0.11003 O Ensino Médio e Profissional: as políticas do Estado neoliberal CORTEZ KUENZER, Acácia Zeneida 129.0.11004 Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do trabalho. KUENZER, Acácia Zeneida CORTEZ 130.0.11005 Ensino de 2º Grau: o trabalho como princípio educativo KUENZER, Acácia Zeneida - 131.0.11006 Trabalho e Educação KUENZER, Acácia Zeneida et al - 132.0.11007 Orientação profissional: um diagnóstico emancipador KAWASHITA, Nobuco; PIMENTA, Selma Garrido. 133.0.12001 O Futuro do trabalho: novas tecnologias e subjetividade operária LEITE, Márcia de Paula EDITORA PÁGINA ABERTA 134.0.12002 O Trabalho em movimento: reestruturação produtiva e sindicatos no Brasil. LEITE, Márcia de Paula PAPIRUS 260 135.0.12003 Os Equívocos da Excelência LIMA, Maria Elizabeth Antunes VOZES 136.0.12004 Educação Popular na Amazônia: as experiências da CUT em qualificação profissional. LIMA, Antônio Almerico Biondi (org.) EDITORA GRÁFICA IMEDIATA 137.0.12005 Educação e contemporaneidade: desafios para a pesquisa e a pósgraduação LIMA JÚNIOR, A. S; HETKOWSKI, T. M. QUARTET (Orgs) 138.0.12006 Qualidade da produção, produção dos homens: aspectos sociais, culturais e subjetivos da qualidade da produtividade LIMA, Francisco de Paula Antunes; NORMAND, Juracy Elizabeth. UFMG/DEP 139.0.12007 Capitalismo, Trabalho e Educação. LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Demerval; SANFELICE, J.L. AUTORES ASSOCIADOS 140.0.12008 Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições LUCKESI; Cipriano Carlos CORTEZ 141.0.12009 Planejamento de pesquisa: uma introdução LUNA, Sérgio Vasconcelos de. EDUC 142.0.12010 Didática LIBÂNEO, José Carlos. - 143.0.12011 Capitalismo, Trabalho e Educação LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Demerval; SANFELICE, J.L. - 144.0.12012 Marxismo e Educação: debates contemporâneos LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Demerval. - 145.0.13001 Educação e divisão social do trabalho: contribuição para o estudo do ensino técnico industria MACHADO, Lucília Regina de Souza CORTEZ 146.0.13002 Politecnia, Escola Unitária e Trabalho MACHADO, Lucília Regina de Souza CORTEZ 147.0.13003 Memórias quase póstumas de um ex-torturador MAIA, João Bosco IAP 148.0.13004 Olhai por nós MAIA, João Bosco GTR Gráfica e Editora 149.0.13005 O Princípio Educativo em Gramsci MANACORDA, Mario ARTES MÉDICAS 150.0.13006 Trabalho, qualificação e politecnia MARKET, Werner PAPIRUS 151.0.13007 Trabalho, comunicação e competência: contribuições para a construção crítica de um conceito para a formação do profissional transformativo MARKET, Werner AUTORES ASSOCIADOS 152.0.13008 Manuscritos econômicos – filosóficos MARX, Karl. EDIÇÕES 70 261 153.0.13009 A ideologia alemã (1º capítulo): seguido das "TESES SOBRE FEUERBACH" MARX, Karl; ENGELS, Friedrich EDIÇÕES AVANTE 154.0.13010 O ócio criativo / Domenico de Mais: entrevista a Maria Serena Palieri tradução de Lea Manzi MASI, Domenico de. SEXTANTE 155.0.13011 A Desordem do Trabalho MATTOSO, Jorge EDITORA PÁGINA ABERTA 156.0.13012 A lógica das competências na formação docente MAUÉS, Olgaíses; ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima. EDUFPA 157.0.13013 Gramsci, Freire e a Educação de adultos: possibilidades para uma ação transformadora. MAYO, Peter ARTMED 158.0.13014 Negociação coletiva e relações de trabalho: o debate atual. MELO, M. C. O. L; CARVALHO NETO, A. M. (Orgs) ABET 159.0.13015 A mundialização da educação: consolidação do projeto neoliberal na América MELO, Adriana Almeida Sales de. Latina. EDUFAL 160.0.13016 O olho da barbárie MENEGAT, Marildo EXPRESSÃO POPULAR 161.0.13017 A Educação para além do Capital MÉSZÀROS, István BOITEMPO 162.0.13018 Estrutura social e formas de consciência: a determinação social do método MÉSZÀROS, István BOITEMPO 163.0.13019 Educação para o trabalho: sondagens de aptidões e iniciação profissional. MINICUCCI, Agostinho EDITORA CENTAURO 164.0.13020 Enciclopédia de Pedagogia Universitária - vol 2. MOROSINI, Marilia Costa INEP 165.0.13021 A origem e as transformações do Estado MORAES, Emanuel - 166.0.13022 Educação Profissional no Brasil MANFREDI, Silvia Maria - 167.0.13023 Marx e a Pedagogia Moderna MANACORDA, Mario - 168.0.13024 Em busca da teoria: Políticas de Assistência Pública MENEZES, Maria Thereza C. G. de. - 169.0.14001 A Educação e o trabalho do adolescente NASCIMENTO, Grasiele Augusta Ferreira JURUÁ 170.0.14002 Educação, saber, produção em Marx e Engels NOGUEIRA, Maria Alice CORTEZ 262 171.0.14003 O trabalho duplicado: a divisão sexual no trabalho e na reprodução: um estudo das trabalhadoras do telemarketing NOGUEIRA, Claudia Mazzei EXPRESSÃO POPULAR 172.0.14004 Ideologia, Trabalho e Educação NORONHA, Olinda Maria EDITORA ALÍNEA 173.0.14005 A Escola de Gramsci NOSELLA, Paolo. ARTES MÉDICAS SUL 174.0.14006 Qual compromisso político? : ensaios sobre a educação brasileira pósditadura NOSELLA, Paolo. EDUSF 175.0.14007 Escola & Dependência: o ensino secundário e a manutenção da ordem. NUNES, C ACHIAMÉ 176.0.15001 Problemas estruturais do Estado OFFE, Claus TEMPO BRASILEIRO 177.0.15002 Capitalismo desorganizado OFFE, Claus EDITORA PÁGINA ABERTA 178.0.15003 A reconstrução da didática: elementos teóricos-metodológicos OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales de. PAPIRUS 179.0.15004 Políticas Públicas para o ensino profissional: o processo de desmantelamento dos CEFETS OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro PAPIRUS 180.0.15005 Agências Multinacionais e a Educação Profissional Brasileira OLIVEIRA, Ramon de EDITORA ALÍNEA 181.0.15006 A (des)qualificação da educação profissional brasileira OLIVEIRA, Ramon de. - 182.0.15007 Toyotismo no Brasil: desencantamento da fábrica, envolvimento e resistência OLIVEIRA, Eurenice de. - 183.0.15008 Efetividade em treinamentos: como dar treinamentos, fazer palestras e atuar ONOFRE, Nair. com grupos, de forma agradável, dinâmica e produtiva - 184.0.15009 O debate sobre a centralidade do trabalho ORGANISTA, José Henrique Carvalho - 185.0.16001 O Poder das Organizações PAGÉS, Max ATLAS 186.0.16002 Ensino Médio e Ensino Técnico no Brasil e em Portugal: raízes históricas e panorama atual PARDAL, Luís; VENTURA, Alexandre; DIAS, Carlos. - 187.0.16003 As mudanças no mundo do trabalho: leituras de sociologia do trabalho PASTORE, José LTR 188.0.16004 Educação e Mercado de trabalho: análise crítica dos cursos de tecnologia PETEROSSI, Helena Gemignani LOYOLA 263 189.0.16005 Orientação vocacional e decisão: estudo crítico da situação no Brasil PIMENTA, Selma Garrido LOYOLA 190.0.16006 Lukács e a atualidade do marxismo PINASSI, Maria Orlanda; LESSA, Sérgio BOITEMPO 191.0.16007 Sete lições sobre educação de adultos PINTO, Alvaro Vieira CORTEZ 192.0.16008 O Conceito de Tecnologia-Vol 1 PINTO, Alvaro Vieira CONTRAPONTO 193.0.16009 O Conceito de Tecnologia Vol 2 PINTO, Alvaro Vieira CONTRAPONTO 194.0.16010 A Organização do Trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e toyotismo PINTO, Geraldo Augusto Pinto EXPRESSÃO POPULAR 195.0.16011 Fundamentos da Escola do Trabalho PISTRAK EXPRESSÃO POPULAR 196.0.16012 O emprego na globalização: a nova divisão internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu POCHMANN, Marcio BOITEMPO 197.0.16013 Outra cidade é possível: alternativas de inclusão social em São Paulo POCHMANN, Marcio CORTEZ 198.0.17001 Educação corporativa: mundo do trabalho e do conhecimento: aproximações QUARTIERO, Elisa Maria; BIANCHETTI, CORTEZ Lucídio 199.0.18001 Excelência na educação: a escola de qualidade total RAMOS, Cosete QUALITYMARK 200.0.18002 A Pedagogia das Competências: autonomia ou adaptação? RAMOS, Marise Nogueira CORTEZ 201.0.18003 Introdução ao Microcrédito REZENDE, Valéria et al (org.) - 202.0.18004 Epistemologia Qualitativa y subjetividade REY, Fernando Gonzalez Editora Pueblo y Educacion 203.0.18005 Educação Inclusiva: Tecendo Gênero e Diversidade Sexual nas Redes de Proteção RIBEIRO, Cláudia Maria; SOUZA, Ila Maria Silva de. ED. UFLA 204.0.18006 30 anos de pós-graduação na UFSCar: multiplicando conhecimento ROCHA FILHO, Romeo C.; KIMINAMI, Claudio Shyinti; PEZZO, Mariana R EDUFSCar 205.0.18007 Saberes e competências: o uso de tais noções na escola e na empresa ROPÉ, Françoise - 206.0.18008 Trabalho, subjetividade e poder ROSA, Maria Inês - 207.0.18009 Capitalismo e Educação: contribuição ao estudo crítico da economia ROSSI, Wagner Gonçalves - 208.0.18010 Pedagogia do Trabalho: caminho da educação socialista ROSSI, Wagner Gonçalves. - 209.0.18011 As políticas de Educação Básica na Espanha Democrática RUIZ, Antonio Ibãnez. - 264 210.0.18012 La personalidad su educacion y desarrollo REY, F. González; MARTÍNEZ, A. Mitjáns. - 211.0.18013 Avaliação de Políticas Sociais: uma questão em debate RICO, Elizabeth Melo. - 212.0.19001 Escravo nem pensar!Como abordar o tem do trabalho escravo na sala de aula e na comunidade SAKAMOTO, Leandro Gráfica IGIL 213.0.19002 O curso de especialização do PROEJA no CEFET/PA em debate: experiências, estudos e propostas SANTOS, Sonia de Fátima Rodrigues et CEFET-PA al. 214.0.19003 Memória e História da Vila de Alacilândia SANTOS, Raimundo Nonato M Gráfica Carajás 215.0.19004 Memória e História no Rio Vermelho SANTOS, Raimundo Nonato M Gráfica Araguaia 216.0.19005 Globalização e interdisplinaridade: o currículo integrado. SANTOMÉ, Jurjo Torres ARTES MÉDICAS SUL 217.0.19006 Trabalho por que? Sistematização da experiência do programa geração de trabalho SANTOS, Eloísa Helena (org.) SEGRAC 218.0.19007 Educação:territórios em contato SANTOS, Alexandre Nunes dos et al. - 219.0.19008 Reforma agrária e geração de emprego e renda no meio rural. SAUER, Sérgio ABET 220.0.19009 Saber escolar, currículo e didática: problemas da unidade conteúdo / método SAVIANI, Nereide no processo pedagógico AUTORES ASSOCIADOS 221.0.19010 Da nova LDB ao FUNDEB: por uma outra política educacional SAVIANI, Demerval AUTORES ASSOCIADOS 222.0.19011 Escola e Democracia SAVIANI, Demerval AUTORES ASSOCIADOS 223.0.19012 Educação Brasileira: estrutura e sistema SAVIANI, Demerval AUTORES ASSOCIADOS 224.0.19013 O Legado Educacional do Século XIX SAVIANI, Demerval AUTORES ASSOCIADOS 225.0.19014 O que é trabalho? SAVTCHENKO, P. EDIÇÕES PROGRESSO 226.0.19015 Trabalho e desenvolvimento na Amazônia: as experiências formativas da CUT SCALABRIN, Rosemeire (org.) ABG GRÁFICA EDITORA 265 227.0.19016 A sociedade informática: as conseqüências sociais da segunda revolução industrial. SCHAFF, Adam. BRASILIENSE 228.0.19017 Automação, competitividade e trabalho: a experiência internacional. SCHMITZ, Hubert ; CARVALHO, Ruy Quadros de. EDITORA HUCITEC 229.0.19018 Novos paradigmas, cultura e subjetividade SCHNITMAN, Dora Fried (org.) ARTES MÉDICAS 230.0.19019 Metodologia do trabalho científico SEVERINO, Antônio Joaquim CORTEZ 231.0.19020 Formação e trabalho: uma abordagem ontológica da sociabilidade SILVA JÚNIOR, João dos Reis da. XAMÃ 232.0.19021 Pragmatismo e populismo na educação superior: nos governos FHC e Lula SILVA JÚNIOR, João dos Reis da. XAMÃ 233.0.19022 O Institucional, a Organização e a Cultura da escola. SILVA JÚNIOR, João dos Reis da; FERRETI, Celso João. XAMÃ 234.0.19023 O pragmatismo como fundamentos das reformas educacionais no Brasil. SILVA JÚNIOR, João dos Reis da. EDITORA ALÍNEA 235.0.19024 Elementos para uma teoria marxista da subjetividade SILVA, Paulo; DORAY, Bernardo. Editora Revista dos Tribunais 236.0.19025 O Trabalhador estudante: um perfil do aluno do curso superior noturno. SPÓSITO, Marília Pontes. LOYOLA 237.0.19026 Avaliação do Rendimento escolar SOUSA, Clarilza Prado de. PAPIRUS 238.0.19027 Educação profissional: análise contextualizada SOUSA, Antonia de A; OLIVEIRA Elenice G de. (orgs.) CEFET-CE 239.0.19028 Educação profissional na esfera municipal SOUZA, Donaldo Bello de. XAMÃ 240.0.19029 Trabalho, educação e sindicalismo no Brasil: anos 90. SOUZA, José dos Santos. AUTORES ASSOCIADOS 241.0.19030 A Pedagogia e as grandes correntes filosóficas: a pedagogia da essência e a SUCHODOLSKI, Bogdan. pedagogia da existência CENTAURO 242.0.19031 A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva SZYMANSKI, Heloisa. (Org.) PLANO EDITORA 243.0.19032 Trabalho intensificado nas federais: pós-graduação e produtivismo acadêmico. SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JÚNIOR, João dos Reis da. XAMÃ 244.0.19033 História e História da Educação: o debate teórico-metodológico atual SAVIANI, Demerval; LOMBARDI, José AUTORES 266 Claudinei; SANFELICE, José Luís (orgs.) ASSOCIADOS 245.0.19034 A Pedagogia no Brasil: história e teoria SAVIANI, Demerval AUTORES ASSOCIADOS 246.0.19035 História das Idéias Pedagógicas no Brasil SAVIANI, Demerval. - 247.0.19036 Pedagogia histórico-crítica SAVIANI, Demerval - 248.0.19037 Avaliação Emancipatória: desafio à teoria e à prática de avaliação e reformulação de currículo. SAUL, Ana Maria. - 249.0.19038 História e Verdade SCHAFF, Adam. - 250.0.19039 Educação do Campo na Amazônia: uma experiência SILVA, Gilmar Pereira da et al. - 251.0.20001 Pequena Introdução à filosofia da educação: a escola progressiva ou a transformação da escola TEIXEIRA, Anísio Spínola Editora UFRJ 252.0.20002 Subjetividade e Trabalho: a experiência no trabalho e sua expressão na vida TITTONI, Jaqueline. do trabalhador fora da fábrica ORTIZ 253.0.20003 Reflexões sobre o socialismo TRAGTENBERG, Maurício. - 254.0.21001 O Capitalismo pós-moderno: elementos para uma crítica sociológica. VAKALOULIS, Michel. CAMPO DA COMUNICAÇÃO 255.0.21002 O Trabalho atípico e a precariedade VASAPOLLO, Luciano. EXPRESSÃO POPULAR 256.0.21003 Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. VASCONCELOS, Celso dos Santos - 257.0.21004 História da educação no nordeste brasileiro. VASCONCELOS, J. G; NASCIMENTO, J. C. (Orgs) EDIÇÕES UFC 258.0.21005 Filosofia da Práxis VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez EXPRESSÃO POPULAR 259.0.21006 Técnicas de ensino: por que não? VEIGA, Ilma Passos A. (Org.) PAPIRUS 260.0.21007 Terra, trabalho e educação: experiências sócio-educativas em assentamentos do MST VENDRAMINI, Célia Regina UNIJUI 261.0.21008 A Droga, a Escola e a Prevenção VIZZOLTO, Salete Maria - 262.0.21009 Políticas públicas de trabalho e renda e controle democrático: a qualificação dos conselheiros estaduais de trabalho no Brasil VOGEL, Arno.; YANNOULAS, Silvia C. (orgs.) - 267 263.0.21010 Trabalhando com diversidade no Planfor: raça/cor, gênero e pessoas portadoras de necessidades especiais. VOGEL, Arno (org.) - 264.0.22001 O Método Dialético da Didática WACHOWICZ, Lilian Anna PAPIRUS 268 Anexo III –Resumo da Movimentação Financeira Movimentação Financeira - Processo 477173/2007-1 Dados do Coordenador Nome: Ronaldo Marcos de Lima Araujo CPF: 235.586.282-68 Tipo de Despesa: Custeio Natureza de Despesa Favorecido Estrangeiro ? CPF / CNPJ Material de consumo N 83.383.950/000170 Material de consumo N 83.383.950/000170 Custeio (Total) N 83.383.950/000170 Custeio (Total) N 05.666.454/000110 Custeio (Total) N 05.666.454/000110 Terceiros N 04.696.308/0001- Favorecido Computer Store Comércio Ltda. Computer Store Comércio Ltda. Computer Store Comércio Ltda. Livraria Didática C. R. Nascimento Mangas Livraria Didática C. R. Nascimento Mangas Cartório Fatura Cheque Nro. Nota Fiscal Data Comercial Nro. / Fatura Emissão (Invoice) Especificação Valor Total (R$) 001 048417 03/04/2008 Fone de ouvido microfone/Web Cam 294,14 002 054181 26/05/2008 Toner (02)/Papel A4 (1)/Case anti choque notebook 499,56 004 054629 14/07/2008 HD IDE 160 GB 210,00 005 01403 30/07/2008 (12) Livros 458,10 006 01404 30/07/2008 (04) Livros 126,90 007 00097 04/08/2008 Serviço de Autenticação 10,80 269 (Pessoa jurídica) 74 Custeio (Total) N 05.666.454/000110 Material de consumo N 08.537.555/000189 Material de consumo N 83.383.950/000170 Material de consumo N 05.458.851/000104 Material de consumo N 02.835.414/000166 Material de consumo Material de consumo Terceiros (Pessoa jurídica) Passagens Terceiros (Pessoa física) Terceiros (Pessoa N N 84.145.283/000150 84.145.283/000150 N 05.641.235/000186 N 07.575.651/000159 N 829.778.607-20 N 443.192.153-20 Queiroz Santos Livraria Didática C. R. Nascimento Mangas Meg@ink Cartuchos e Toner Computer Store Comércio Ltda. Formosa Belém Importados Ltda Braz Braz Distribuidora Braz Braz Distribuidora Gráfica e Editora Prelazia Gol Linhas Aéreas S.A. Marise Nogueira Ramos Justino de Souza Junior 008 557 05/08/2008 (10) Livros 400,00 009 0056 06/08/2008 Regarca de toner e cartuchos/ manut. impressora 500,00 010 062571 18/08/2008 Papel A4 (10 pac) 155,00 011 292759 28/08/2008 Gasolina para apoio ao IV Seminário do GEPTE 111,47 012 409491 29/08/2008 Material para evento 110,76 013 87636 29/08/2008 Caneta / Papel Verge / etiquetas / crachá 71,20 014 87822 04/09/2008 Pasta / crachá / canetas / papel verge 299,00 015 295 08/09/2008 Confecção de Cartazes e Folderes p/ o Seminário 150,00 016 077752495 10/09/2008 Passagem para Justino de Souza Junior 658,62 017 477173/2007-1 11/09/2008 Conferencia no IV Seminário Trabalho e Educação 300,00 018 477173/2007-1 11/09/2008 Conferencia no IV Seminário Trabalho e Educação 600,00 270 física) Terceiros (Pessoa física) N 110.399.906-06 Material de consumo N 83.383.950/000170 Material de consumo N 01.155.227/000179 Custeio (Total) N 05.666.454/000110 Custeio (Total) N 05.666.454/000110 Custeio (Total) N 05.666.454/000110 Custeio (Total) N 05.666.454/000110 Terceiros (Pessoa física) N 930.532.822-91 Maria Rita Neto Sales de Oliveira Computer Store Comércio Ltda. Foto Keuffer Ltda. Livraria Didática C. R. Nascimento Mangas Livraria Didática C. R. Nascimento Mangas Livraria Didática C. R. Nascimento Mangas Livrária Didática C. R. Nascimento Mangas Adriane Suely Rodrigues do Nascimento 019 477173/2007-1 11/09/2008 Conferência no IV Seminário Trabalho e Educação 600,00 020 075635 24/01/2009 Cartão de memória para filmadora 179,90 021 63069 29/01/2009 Bolsa TBA para filmadora 45,00 022 0704 09/02/2009 (14) Livros 676,80 023 0705 09/02/2009 (14) Livros 383,40 024 0706 09/02/2009 (15) Livros 503,10 025 0707 09/02/2009 (7) Livros 221,40 Manutenção de banco de dados 300,00 026 477173/2007-1 20/02/2009 271 Material de consumo N Passagens N Custeio (Total) N Material de consumo Material de consumo Material de consumo Terceiros (Pessoa física) Terceiros (Pessoa física) Terceiros (Pessoa física) N N 10.265.620/000106 02.012.862/000160 34.104.257/000105 03.486.544/000101 05.452.754/000104 Peaulista Center Tam Linhas Aéreas Sebo Brandão e Ltda. Artec Artigos Tip Eletrônica Norte Revendedora Ltda. 027 028 000290 24/03/2009 95723613930593 01/04/2009 Gravador Panasonic 315,00 Passagem para Jose Alberto Correia 899,12 029 10824 02/04/2009 (01) Livro 142,00 030 4826 09/04/2009 Envelopes 40,00 031 033750 11/04/2009 Cabos para internet 30,00 032 021993 15/04/2009 Gasolina para deslocamento do Paolo Nosella 50,00 N 04.657.250/000150 N 071.644.458-50 Eneida Oto Shiroma 033 477173/2007-1 15/04/2009 Conferencia no I Colóquio Trabalho e Educação 300,00 N 678.908.148-87 Olinda Evangelista 034 477173/2007-1 15/04/2009 Conferencia no I Colóquio Trabalho e Educação 300,00 N 678.908.148-87 Paolo Nosella 035 477173/2007-1 15/04/2009 Conferencia no I Colóquio Trabalho e Educação 450,00 036 477173/2007-1 15/04/2009 Conferencia no I Colóquio Trabalho e Educação 300,00 037 477173/2007-1 15/04/2009 Conferência no I Colóquio Trabalho e Educação 300,00 Terceiros (Pessoa física) N 090.195.027-00 Terceiros (Pessoa física) N 101.583.167-20 Material de N 04.657.250/0001- Ana Waleska Pollo Campos Mendonça Maria Aparecida Ciavatta Pantoja Franco Norte Re 038 022025 16/04/2009 Gasolina (apoio I Colóquio Trab. e Educ.) 20,00 272 consumo Terceiros (Pessoa física) Terceiros (Pessoa física) Terceiros (Pessoa jurídica) Terceiros (Pessoa jurídica) 50 N 039.617.702-63 N 841.756.302-44 N 08.439.292/000175 N 83.268.573/000128 Passagens N 11.960.325/000132 Terceiros (Pessoa jurídica) N 83.268.573/000128 Passagens N Passagens N Material de consumo N Material de consumo Material de consumo Custeio N N N 02.012.862/000160 07.575.651/000159 83.383.950/000170 63.864.771/000147 83.349.563/000117 00.817.951/0001- vendedora Ltda Pedro Jorge Mescouto Carvalho Waldinor Printes Batista Junior 039 477173/2007-1 16/04/2009 Serviço Prestado de sonorização do evento 040 477173/2007-1 16/04/2009 250,00 Serviço Prestado de apoio ao evento 80,00 138,00 041 001/2009 17/04/2009 Locação de automóvel para apoio ao evento 042 28900421 24/04/2009 Carta registrada 043 1170 06/05/2009 Passagem para Ana Waleska Pollo Mendonça 680,00 044 401985157 20/05/2009 Sedex convencional 68,20 045 95723608989 27/05/2009 Passagem para Cláudio Roberto Gurgel 599,50 046 092439805 29/05/2009 Passagem para Cláudio Roberto Gurgel 838,62 047 087644 15/08/2009 toner/etiqueta/canetas marca texto/pilhas/etc Formosa 048 084304 15/08/2009 clipe/pastas/fitas adesivas/grampos Portugal Ltda 049 335096 17/08/2009 William 050 001319 Premium Rent a car Emp. Bras. Correios e telegrafos Mirella Turismo Emp. Bras. Correios e telegrafos Tam Linhas Aéreas Gol Linhas Aéreas Computer Store Comércio Ltda. Pasta arquivo/carregador/copos/caneta/apontador/ 28/08/2009 (06) Livros 3,60 1.037,63 98,06 162,63 320,00 273 (Total) 58 Material de consumo N 03.486.544/000101 Diárias N 235.586.282-68 Passagens N 004.204.252-68 Diárias N 305.423.592-00 Diárias N 905.379.712-20 Diárias N 046.161.542-87 Diárias N 800.093.102-82 Terceiros (Pessoa jurídica) N 83.268.573/000128 Terceiros (Pessoa jurídica) N 83.268.573/000128 Livros Ltda. Artec Artigos Tec. e Proj. Visual Ronaldo Marcos de Lima Araujo Terezinha Fátima A. M. dos Santos Deusa de Nazaré Martins Lobato Jaqueline do Nascimento Rodrigues Heloisa Helena Barbosa Canali Adriana Maria Nazaré de Souza Porto ECT - Emp. Bras. Correios e Telegráfos ECT - Emp. Bras. Correios e Telegráfos 051 052 053 4914 29/08/2009 477173/2007-1 31/08/2009 246401 31/08/2009 Portas Arquivos/ lápis 37,50 03 Diárias 657,40 02 passagem (Terezinha Santos e Ronaldo 2.762,48 Araujo) 054 477173/2007-1 01/09/2009 Participação no V Simpósio do NETE em MG 281,74 055 477173/2007-1 01/09/2009 Participação no V Simpósio do NETE em MG 281,74 056 477173/2007-1 01/09/2009 Participação no V Simpósio do NETE em MG 281,74 057 477173/2007-1 01/09/2009 Participação no V Simpósio do NETE em MG 281,74 058 0018 21/10/2009 Carta registrada 16,50 059 0032 05/11/2009 SEDEX 32,50 274 Terceiros (Pessoa jurídica) Material de consumo Material de consumo Terceiros (Pessoa física) Terceiros (Pessoa física) N N N 63.800.890/000136 84.145.283/000150 84.145.283/000150 N 443.192.153-20 N 883.839.202-10 N 05.666.454/000110 N 931.569.795-20 N 519.059.492-00 Terceiros (Pessoa física) N 884.889.692-87 Material de consumo N 34.624.379/000122 Terceiros (Pessoa N 278.650.022-20 Custeio (Total) Terceiros (Pessoa física) Terceiros (Pessoa física) Minicópia Ltda 060 29994 06/11/2009 Impressões coloridas 510,00 Brazz Brazz 061 065551 18/11/2009 Canetas / Papel / Envelopes 67,70 Brazz Brazz 062 020560 20/11/2009 Papel VG 5,70 Justino de Souza Junior 063 477173/2007-1 20/11/2009 Conferência no V Seminário sobre Trabalho e Educaç 064 477173/2007-1 18/12/2009 Catalogação de 1500 livros Manuela Tavares Santos Livraria Didática C.R do Nascimento Mangas Carmem Lúcia Santos Eliza Marione Tourinho da Silva Alves Pedro Henrique Guedes Nascimento Sol Informática Ltda Edimilson Miranda 065 066 067 068 0850 16/12/2009 Livros 450,00 2.157,00 411,00 477173/2007-1 23/12/2009 Atualização do site e org. do catálogo online 1.200,00 62582 29/12/2009 447173/2007-1 31/12/2009 Serviços de xerografia 360,00 Manutenção de microcomputadores do GEPTE 600,00 478,00 069 000000100 04/01/2010 Toner Lexmark E120 003 5614 05/06/2008 Serviço de manutenção de 02 armários 1.920,00 275 física) Foram encontrados 69 registros. 28.080,25 Sub-Total Custeio: (R$) Tipo de Despesa: Capital Natureza de Despesa Favorecido Estrangeiro ? Equipamentos e Material N permanente Equipamentos e Material N permanente Equipamentos e Material N permanente Foram encontrados 3 registros. Sub-Total Capital: (R$) Total pago pelo CNPq (R$) Total das despesas (R$) Saldo (R$) CPF / CNPJ Favorecido Computer Store Comércio Ltda Sol 34.624.379/0001Informática 22 Ltda Computer 83.383.950/0001Store 70 Comércio Ltda 83.383.950/000170 Cheque Nro. Fatura Comercial (Invoice) Nro. Nota Fiscal / Fatura Data Emissão Especificação 01 045935 Notebook / 10/03/2008 Projetor / proteção de notebook 02 0216364 28/07/2008 03 068673 24/10/2008 Valor QTDE Unitário (R$) 1 5.617,50 Notebook/ MS Office 2007 1 2.958,00 Projetor/ Tela de Projeção 1 2.945,00 11.520,50 39.948,00 39.600,75 347,25 276 Anexo IV – Imagem com o registro das ocorrências de furto dos equipamentos adquiridos com recursos do Projeto. 277 278 279 280 281 282 283