Gêneros textuais Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 ISSN 2316-8420 SEMINÁRIO 0 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa ANAIS 1 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processamento Técnico de Livros da Biblioteca Central da Unifal-MG. S471 Seminário processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa (1. : 2012 : Alfenas, MG) Anais do 1º Seminário processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa / organizado por Rosângela Rodrigues Borges, Fernanda Aparecida Ribeiro. - Alfenas, MG : Unifal-MG, 2012. 149 p. Bibliografia. ISSN 2316-8420 1. Professores - Formação. 2. Ensino. 3. Educação de base. 4. Seminários. I. Ribeiro, Fernanda Aparecida. II. Borges, Rosângela Rodrigues. III. Título. CDD: 370 2 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO Prof. Ms. Robson Santos de Carvalho Profª Dra. Fernanda Aparecida Ribeiro COMISSÃO ORGANIZADORA DOS ANAIS Profª Dra. Fernanda Aparecida Ribeiro Profª. Ms. Rosângela Rodrigues Borges COMISSÃO CIENTÍFICA Profª Ms. Geovania Lucia dos Santos Profª Dra. Helena Maria dos Santos Felício Prof. Ms. Italo Oscar Riccardi León Profª Ms. Kátia Aparecida da Silva Oliveira Profª Ms. Rosângela Rodrigues Borges SUBPROJETOS DO PRODOCÊNCIA/UNIFAL-MG- 2011-2012 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Prof. Ms. Robson Santos de Carvalho AVALIAÇÃO Prof. Ms. Robson Santos de Carvalho ESTUDOS DE CURRÍCULO Profª Dra. Helena Maria dos Santos Felício DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA: APORTES TEÓRICO- METODOLÓGICOS PARA O TRABALHO COM O PÚBLICO ESCOLAR Profª Ms. Geovania Lucia dos Santos 3 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 GÊNEROS TEXTUAIS Profª Ms. Rosângela Rodrigues Borges LÍNGUA, LITERATURA E CULTURA HISPÂNICAS Profª Dra. Fernanda Aparecida Ribeiro Profª Ms. Kátia Aparecida da Silva Oliveira NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS À EDUCAÇÃO Prof. Ms. Italo Oscar Riccardi León ORGANIZAÇÃO E REVISÃO LINGUÍSTICA DOS ANAIS PET- Letras Profª Ms. Rosângela Rodrigues Borges (tutora) Éberton Lopes de Aguino Hosana Aparecida Reis Kátia Aparecida Franco Santos Letícia Montini Franco Luciene Teixeira da Silva Maria Luiza Alves Priscila da Cruz Navarro Sabrina Gomes Verola Tariana Leal Falciroli DIAGRAMAÇÃO E EDITORAÇÃO DOS ANAIS Luciene Teixeira da Silva Priscila da Cruz Navarro Rosângela Rodrigues Borges CAPA Priscila da Cruz Navarro 4 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 APOIO Capes/MEC1 Reitoria Pró-Reitoria de Graduação Pró Reitoria de Extensão Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Desenvolvimento Institucional Instituto de Ciências Humanas e Letras Curso de Letras Curso de Pedagogia Universidade Federal de Alfenas Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 - Centro CEP 37130-000 – ALFENAS/MG Fone: (35) 3292-1415 Emeio: [email protected] Sítio: www.unifal-mg.edu.br 1 Esta publicação foi financiada pela Capes/MEC em apoio ao Programa de Consolidação das Licenciaturas da UNIFAL-MG. 5 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 SUMÁRIO 13 A CONSTRUÇÃO DO ESTILO NO DIÁLOGO ENTRE TEXTOS Beatriz Gaydeczka 18 FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA Éberton Lopes de Aguino Rosângela Rodrigues Borges 22 UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA: O GÊNERO TEXTUAL “LENDAS AFRICANAS”. Kátia Aparecida Franco Santos Rosângela Rodrigues Borges 25 FÓRUNS DE DISCUSSÃO ACERCA DA IMPLANTAÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA NO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO BLOG “ESPANHOL DO BRASIL” Letícia Montini Franco Rosângela Rodrigues Borges 29 O DIALOGISMO PRESENTE NOS GÊNEROS TEXTUAIS DISCURSIVOS ALIADO AO ENSINO DE LITERATURA E Luciene Teixeira da Silva Rosângela Rodrigues Borges 33 GÊNEROS TEXTUAIS, PRÁTICAS DE ESCRITA E AVA Maria Luiza Alves Rosângela Rodrigues Borges 36 SUPORTES DIGITAIS E O ENSINO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E LEITURA Priscila da Cruz Navarro Rosângela Rodrigues Borges 6 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 39 A RECONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DA CRIANÇA EM CONFLITO COM A LEI NO GÊNERO NOTÍCIA Sabrina Gomes Verola Rosângela Rodrigues Borges 42 O GÊNERO DISCURSIVO FREESTYLE NAS AULAS DE PORTUGUÊS Tariana Leal Falciroli Rosângela Rodrigues Borges 46 OS DIFERENTES TIPOS DE LEITURA DO QUIXOTE DE CERVANTES Ana Aparecida Teixeira da Cruz 50 ENSINO DE ESPANHOL E FORMAÇÃO CAMINHOS QUE SE ENTRECRUZAM DE PROFESSORES: Andreia Rezende Katia Aparecida da Silva Oliveira 54 A RELEITURA DO ENTRECHOQUE DE CULTURAS EUROPEIAS E INDÍGENAS PELAS LEYENDAS DE GUATEMALA, DE MIGUEL ÁNGEL ASTURIAS Gracieli Cristina de Oliveira Fernanda Aparecida Ribeiro 57 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E ENSINO DE ESPANHOL: UMA ANÁLISE DO CASO DOS PRONOMBRES SUJETO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ESPANHOL APROVADOS PELO PNLD 2012 PARA O ENSINO MÉDIO Luís Eduardo Oliveira Costa Kátia Aparecida da Silva Oliveira 61 OS CURSOS DE LETRAS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE E/LE: OBSERVANDO QUESTÕES RELATIVAS À DINÂMICA CURRICULAR Maria de los Angeles de Castro Ballesteros Kátia Aparecida da Silva Oliveira 65 DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: NOTAS SOBRE A REAÇÃO À POLÍTICA DE COTAS RACIAIS Aaron França Teófilo Geovania Lúcia dos Santos Luiz Carlos Felizardo Junior 7 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 69 LIMITES E POSSIBILIDADES DA PEDAGOGIA SOCIAL PARA A EDUCAÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS - NO CONTEXTO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA Adriana Fernandes Geovania Lúcia dos Santos 73 DESAFIOS E POTENCIALIDADES DAS TICS FRENTE AO FENÔMENO DE JUVENILIZAÇÃO DA EJA Beatriz Reneis Luiz Vinícius Arcanjo Monteiro Geovania Lúcia dos Santos Cristiane Fernanda Xavier 77 MODELO DE REPRESENTAÇÃO DE UMA CELA EM BRAILLE PARA APRENDIZAGEM DESTA GRAFIA POR TODOS OS ALUNOS INSERIDOS NA ESCOLA COMUM Cínthia das Dores Aguiar Geovania Lúcia dos Santos Débora Felício Faria 81 DISCUTINDO A DIVERSIDADE DO PÚBLICO ESCOLAR NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA EXECUÇÃO DE UMA ÁREA TEMÁTICA NO PRODOCÊNCIA Geovania Lúcia dos Santos Luiz Carlos Felizardo Junior 85 NOTAS SOBRE A PRODUÇÃO DA ÁREA TEMÁTICA DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Paulo Henrique de Queiroz Nogueira 88 RAÇA E DESEMPENHO ESCOLAR: COMPREENDENDO OS IMPACTOS DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA ESCOLARIZAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS Pricila Oliveira Silvério Geovania Lúcia dos Santos Luiz Carlos Felizardo Junior 92 ENTRE O CONVENCIMENTO E A MOBILIZAÇÃO SOCIAL: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL Thamires de Cássia Lima Geovania Lúcia dos Santos 8 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 96 A RELAÇÃO ENTRE CURRÍCULO E PEDAGÓGICO NO COTIDIANO ESCOLAR PROJETO POLÍTICO Lucélia Carla Silva dos Anjos Daniela Schiabel Nilton Luiz Souto Helena Maria dos Santos Felício 99 A CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR: O PLANEJAMENTO EM FOCO Amanda Chiaradia Magalhães Helena Maria dos Santos Felício Nilton Luiz Souto 103 A CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR: O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS EM FOCO Amanda da Silva Bernardes Janine Gabrielle dos Santos Helena Maria dos Santos Felício Nilton Luiz Souto 107 A RELAÇÃO ENTRE CURRÍCULO E AVALIAÇÃO: AS IMPRESSÕES DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Jéssica Faria Miguel Renata de Fátima Gonçalves Nilton Luiz Souto Helena Maria dos Santos Felício 111 MARCAS DA ORALIDADE EM PRODUÇÕES TEXTUAIS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: EVIDÊNCIAS DAS RELAÇÕES ENTRE ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E LEITURA? Aline Pereira de Roque Leoni Dutra Marinho Cabral Robson Santos de Carvalho 114 MÚSICA NOS PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE JOVENS E ADULTOS Susana B. de Andrade Robson Santos de Carvalho 117 PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: CAMINHOS E DESCAMINHOS Márcia Dantas de Morais Robson Santos de Carvalho 9 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 120 FORMAÇÃO DE ALUNOS LEITORES: ANÁLISE DE DESEMPENHO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM AVALIAÇÕES DE LEITURA Vanessa Araújo Maganhoto Matos Robson Santos de Carvalho 123 NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS À EDUCAÇÃO Italo Oscar Riccardi León 128 AS POSSIBILIDADES DIDÁTICAS DE SITES EDUCATIVOS LIVRES NA ÁREA DA GEOGRAFIA Felipe de Paula Rui Ítalo Oscar Riccardi León 133 A INTERNET COMO RECURSO DIDÁTICO TECNOLÓGICO FACILITADOR DE EXPERIÊNCIAS VIRTUAIS DE IMERSÃO CULTURAL NA ÁREA DE ESPANHOL, LÍNGUA ESTRANGEIRA (E/LE) Jacqueline Lopes Priscila Martins Ítalo Oscar Riccardi León 138 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA (ESPANHOL) POR MEIO DAS REDES SOCIAIS Andréia de Fátima Tomé Italo Oscar Riccardi León 144 RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA ÁREA DE ESPANHOL, LÍNGUA ESTRANGEIRA (E/LE), UTILIZANDO O DATA SHOW E SUAS POSSIBILIDADES DIDÁTICAS COMO RECURSO TECNOLÓGICO/INFORMÁTICO. Vinícius Oliveira Souza Italo Oscar Riccardi León 10 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 APRESENTAÇÃO O I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa teve como principal objetivo a socialização das atividades desenvolvidas em 2011 e 2012, em especial dos resultados dos projetos de Iniciação Científica desenvolvidos pelos discentes dos Cursos de Licenciaturas. O evento contou com a colaboração de avaliadores externos e de colaboradores que também envidaram esforços para o sucesso do Prodocência, na Universidade Federal de Alfenas. Ao concluir esta etapa e finalizarmos o projeto, entendemos como foram significativas as experiências vivenciadas ao longo destes quase dois anos. A oportunidade dada a cada um dos licenciados foi ímpar no sentido de que houve um pensar e um repensar acerca do exercício da docência, do papel do professor, da necessária reflexão acerca da autogestão do conhecimento, da relação entre universidade e escolas públicas de educação básica e da possibilidade de se assumir também como pesquisador da própria prática. Os resumos expandidos que compõem os Anais do evento representam os estudos, os resultados e as discussões que permearam todo o processo. Compõem ainda estes Anais as contribuições de professores de outras instituições que colaboraram durante todo o evento, atuando também como debatedores. Finalizamos esta apresentação agradecendo a todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram para o sucesso do Prodocência/UNIFAL-MG e do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Profª Dra. Fernanda Aparecida Ribeiro Profª Ms. Rosângela Rodrigues Borges Alfenas, MG Primavera de 2012 11 Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Beatriz Gaydeczka (UNIFAL-MG/PG-USP)2 A compreensão das diferenças entre enunciado e texto em Bakhtin é essencial para conceber as noções de interdiscursividade e intertextualidade. Embora enunciado e texto sejam abordados de modo diferente, eles mantêm, entre si, relações de implicação ou de dependência. Em princípio, neste trabalho, vamos elencar os vieses específicos entre cada um desses conceitos-chave. Enunciado e texto são dois modos diferentes de compreender um objeto enunciativo. Texto “é realidade imediata (realidade do pensamento e das vivências)”, é “qualquer conjunto coerente de signos” (BAKHTIN, 2010, p. 307). Por exemplo, ao falarmos de um fato vivido em nosso passado temos a ilusão de que o estamos revivendo, porém a possibilidade de revitalização da memória do fato somente se dá por meio da materialização discursiva dele, ou seja, por meio da construção de um texto, oral ou escrito, que traga, em um conjunto coerente de palavras, a sua atualização. Texto pressupõe um sistema estruturado e coerente de signos que materializam uma série de elementos técnicos, enquanto sistema de linguagem, isto é, tudo aquilo que pode ser repetido e reproduzido, conforme Bakhtin (2010). Considerar um texto como enunciado, segundo o estudioso, gera problemas de fronteira, porque enunciado envolve as funções do texto e dos gêneros do discurso, o que abarca os limites de sentido. O texto passa a ser visto como enunciado, na medida em que é concebido como unidade de interação, de relação dialógica. A diferença fundamental entre texto e enunciado está no posicionamento social do enunciador, cotejado, no texto concebido, como enunciado. O enunciado pressupõe a enunciação. Para que um texto seja considerado enunciado são necessárias “a sua ideia (intenção) e a realização dessa intenção” (BAKHTIN, 2010, p. 308). É preciso sua inserção em um dado campo, além de sua concatenação com todos os sentidos. Isso o torna um todo “acabado”, algo individual, único e singular, ao passo que o “uno” é “duplo”, do ponto de vista bakhtiniano. Levando em conta o caráter funcional dos textos escritos, por exemplo, por alunos, poder-se-ia perguntar qual a função de memórias literárias escritas por 2 Professora de Comunicação no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas. Doutora em Linguística (USP). E-mail: [email protected] 13 Gêneros textuais A CONSTRUÇÃO DO ESTILO NO DIÁLOGO ENTRE TEXTOS Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 estudantes na conjuntura de um concurso de texto, por exemplo. Uma delas seria a função documental: construir uma interpretação, uma versão da história de sujeitos e reescrever a relação do sujeito com o lugar onde vive. A outra seria oportunizar, ao outro, a possibilidade de relatar sua vida, o que é um ato ético: dar ao outro a oportunidade de conhecer o registro da história que o identifica. Se um enunciado é um todo de sentido, o sentido do enunciado é evocado na situação comunicativa. Esse enunciado está ligado à autoria e ao tom inerente, daí sua natureza irrepetível. O caráter dialógico, intrínseco ao funcionamento da relação com o outro, constitui o enunciado discursivo, porque o discurso é uma das identidades do enunciado. Desse modo, todos os enunciados possuem relações dialógicas com o seu outro. Esse outro pode ser entendido como o diálogo entre o autor e leitor, como o caráter responsivo do enunciado, como as vozes confrontadas no interior próprio enunciado, e, ainda, como a relação do enunciado com outros enunciados. A percepção de alguma dessas vozes distintas pondera o caráter interdiscursivo de todo enunciado. Fiorin (2010b) argumenta que todo enunciado é interdiscursivo e observa que a presença da noção de interdiscurso na obra bakhtiniana se dá sob o conceito de dialogismo. Ambos os conceitos, interdiscurso e dialogismo, remetem à realização do diálogo permeado no enunciado pelo discurso. Apontando as maneiras básicas de se incorporarem distintas vozes de outros enunciados no enunciado, Fiorin distingue duas possibilidades: a) uma, em que o discurso alheio é abertamente citado e nitidamente separado do discurso citante, é o que Bakhtin chama discurso objetivado. b) outra, em que o discurso é bivocal, internamente dialogizado, em que não há separação muito nítida do enunciado citante e do citado (FIORIN, 2006a, p. 33). Apresentando uma sistematização dos diferentes procedimentos para incorporar as distintas vozes no discurso citante, o que é retomado da obra bakhtiniana, Fiorin explica que o item “a” se refere a formas composicionais como discurso direto e o discurso indireto, as aspas, a negação. Nelas, temos estruturas referentes a tópicos que marcam o discurso do outro, abertamente citado. O segundo caso, referente ao item “b” presentificase em formas composicionais, tais como a paródia, a estilização, a polêmica clara e a velada e o discurso indireto livre, o que dá um caráter bivocal ao enunciado. A intertextualidade, nessa abordagem, passa a ser um tipo específico de interdiscurso (dialogismo). Ela se revela quando “[...] há o encontro de duas materialidades 14 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 linguísticas, de dois textos”, no interior de um texto e “[...] para que isso ocorra, é preciso que um texto tenha existência independente do texto que com ele dialoga” (FIORIN, 2006a, p. 53). O reconhecimento desse tipo de sistematização sobre as diferenças entre enunciado e texto, entre interdiscursividade e intertextualidade busca atingir a compreensão desses fenômenos e não apenas criar inúmeras categorias conceituais. De maneira geral, qualquer enunciado intertextual lida, basicamente, com a presença mostrada da voz do outro, seja ela negada, subvertida ou imitada. Tomando como base a semiótica de greimasiana, Discini (2003, p. 225, grifo da autora) desenvolveu o conceito de “[...] intertextualidade estilística observada em homologação à intertextualidade entre textos, esta considerada como ‘a retomada consciente, intencional, da palavra do outro, mostrada, mas não demarcada no discurso da variante’”. Conforme apresentamos na segunda seção, há diferentes modos de estabelecimento de diálogos entre estilos, a partir dos textos de fundação. Há o estilo de captação, o de subversão e o de negação. Fundação: um texto-base é um texto considerado fundador de um modo de organizar o discurso, por isso seu estilo passa a ser de referência. Aderir a um estilo de referência é instaurar, no novo discurso, traços formais do modo de dizer um tema e também um modo de realizar investimentos intertextuais. Captação é a adesão de modo convergente na direção do sentido e da forma. Reconhecer e apreender a maneira de organizar o discurso, de maneira a apresentar um ponto de vista próprio sobre o mundo narrado, é uma forma de estilizar. Corresponde a um modo equivalente de usar repetidas figuras e temas. Para a aprendizagem da produção textual escolar, por exemplo, a captação do estilo do gênero é responsável por fazer surgir novos textos de natureza discursiva afim. Trata-se, entretanto, de um fenômeno interdiscursivo, voltado para a adequação à estrutura composicional e ao conteúdo temático (bases de constituição do estilo de gênero). Subversão é um modo de imitar, que busca subverter (desqualificar, ridicularizar ou negar) o que é imitado, seja o imitado em um texto ou em um estilo de referência. Nela há uma oposição de valores declaradamente postos, uma vez que subverte as coerções genéricas fazendo uso, principalmente, da estrutura composicional e do conteúdo temático do próprio gênero subvertido o que desestabiliza enunciado e enunciação, enquanto distancia valorativamente o dito parodiador do texto-base. 15 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Negação é a divergência em relação ao modo de ser do texto de fundação. Há um movimento de negação do conteúdo e da expressão do texto de fundação que é polemizado, enquanto se confirma uma totalidade avessa ao texto de fundação. Em textos que apresentam fenômenos de subversão e de negação, há um modo próprio de dizer que intensifica os efeitos de intertextualidade e, por isso, percebe-se uma presença autoral “mais densa”. As relações que o enunciador estabelece com os textos de fundação são inevitavelmente polêmicas. Na subversão, o enunciador pode usufruir da estrutura ou da ideia de um texto-base para ironizá-lo ou parodiá-lo. Já na negação, o enunciador visa usar a base para mostrar que há muitas diferenças entre ela e o modo de dizer do enunciador que nega a base ou a fundação. Em ambas as modalidades enunciativas, a que subverte ou a que nega, o enunciador cria um efeito de maior liberdade para dizer e se dizer, revelando seu caráter autoral bem definido e delimitado, uma vez que pode usar um mesmo conteúdo para construir uma unidade temática diferente do textobase. Tal como Bakhtin (2000), consideramos cada enunciado como um elo da cadeia muito complexa de outros enunciados. Dessa forma, a noção de estilo pode ser integrada às teorias do discurso e tornada operacional na análise de textos. Destacamos, especificamente, as duas primeiras noções (de fundação e de captação), uma vez que elas “enfeixam uma relação de complementariedade, o que discursivamente reproduz a convergência para um mesmo modo de ser” (DISCINI, 2003, p. 268). Trazendo essa relação categorial para a problemática que envolve a aprendizagem da escrita de enunciados, podemos afirmar que a noção de complementariedade é reconhecida como legítima, porque é sobre ela que se assentará uma base para a “relativa estabilidade” dos gêneros do discurso. Aí está um modo de definir o estilo do gênero em seu conteúdo, material e forma. O encaminhamento para a construção de um modo de presença na produção de textos, por parte de alunos da educação básica, depende da manutenção de projetos enunciativos peculiares. A capacidade de produzir um gênero relaciona-se ao fazer autoral do aluno. A autoria é reconhecida e legitimada pela demonstração de um grau de liberdade, que, mesmo submetido às coerções do gênero, é capaz de demarcar o distanciamento entre as vozes, escrever de um modo inusitado, evitando dizeres recorrentes ou peculiares, aspectos que imprimem posicionamentos valorativos, por isso, autorais. 16 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Referências bibliográficas BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. ____________. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2000. DISCINI, N. O estilo nos textos: história em quadrinhos, mídia e literatura. São Paulo: Contexto, 2003. FIORIN, J. L. Interdiscursividade e intertextualidade. In: BRAIT, B. (Org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. 1. ed. 2. reimp. São Paulo: Contexto, 2010b. p. 161-194. ____________. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006a. 17 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO-APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA Éberton Lopes de Aguino (UNIFAL-MG)3 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)4 Ao ingressar na universidade, o licenciando crê que irá aprender gramática para poder ensinar gramática e que, no ensino básico, não adquiriu o conhecimento gramatical suficiente da normal culta padrão. Ademais, tem-se tornado comum que nos cursos de Letras não haja uma disciplina abordando exclusivamente gramática (normativa, descritiva, etc.) e sim a prioridade de se ensinar as análises e as reflexões linguísticas. No Projeto Pedagógico dos Cursos de Letras, percebe-se que todas as disciplinas e respectivas ementas são importantes, mas problematizamos: será que priorizando certas disciplinas e “excluindo” o estudo das gramáticas descritiva e normativa estará o graduando em Letras capacitado para trabalhar com o ensino de Língua Portuguesa (LP) na perspectiva funcionalista? Afirma-se na universidade que o professor de Língua Portuguesa (em formação inicial ou o professor que já atua) precisa saber gramática, mas que não se deve ensinar essa mesma gramática ao aluno da Educação Básica, visto que, o objeto de ensino neste nível é o texto e deve-se adotar uma abordagem de ensino funcional, mais voltada para o uso da língua. Considera-se que se esse professor em formação sequer possui um bom conhecimento de gramática e se no ensino superior não irá aprendê-la de forma sistematizada, como então esse mesmo professor poderá ensinar uma gramática funcional e seguir as orientações teórico-metodológicas dadas nos cursos de Letras da atualidade? Acreditamos que para os futuros professores de Língua Materna (neste trabalho usamos língua materna para nos referirmos à Língua Portuguesa) conseguirem trabalhar na perspectiva funcionalista, é necessário conhecer também, além das teorias linguísticas, as gramáticas descritiva e normativa, a fim de que possa fazer as intervenções necessárias no processo de ensino-aprendizagem conforme se preconiza nos Cursos de Letras. Diante da vontade de aprender gramática e da constatação de que no curso de Letras não se estuda a gramática em si, acreditamos que o professor em formação é levado 3 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET-Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 4 18 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 a ressignificar suas crenças em relação ao ensino de gramática, mas sente-se angustiado quando tem que lidar com o ensino de Língua Materna (LM), num cenário real de sala de aula, atuando como estagiário ou professor temporário. Assim, este trabalho objetiva identificar crenças acerca da formação inicial do professor de português no que se refere ao ensino-aprendizagem de gramática, gêneros e a pratica em sala de aula; investigar que efeitos essas crenças e as angústias produzem no processo de formação do licenciando. De acordo com as Diretrizes Curriculares do Curso de Letras (CNE/CES 492/2001), o docente “deverá ser identificado por múltiplas competências e habilidades adquiridas durante sua formação acadêmica convencional, teórica e prática, ou fora dela”. Essas competências juntamente com as habilidades adquiridas devem encaminhar os licenciandos para o domínio da Língua Portuguesa, na oralidade e na escrita. Com isso, percebemos que os cursos de Letras deveriam contemplar o estudo de todos os tipos de gramática a fim de tornar mais fácil a sua compreensão e de como e o que ensinar no ensino básico. Os pesquisadores estudados neste trabalho concordam que, no ensino de Língua Portuguesa, o professor deve dominar a língua, em especial a variante padrão, que ensina, conhecendo sua estrutura para, a partir daí, buscar desenvolver no aluno a competência comunicativa necessária (TRAVAGLIA; ARAÚJO; ALVIM, 2007, p. 28) para significar o mundo do qual participa. Entretanto, o ensino de LM deve ir além da concepção estruturalista. Esta pesquisa é de base qualitativa interpretativista. Esse tipo de pesquisa não busca enumerar ou medir eventos. Com isso, não empregaremos dados estatísticos para esta análise. O corpus é constituído por entrevistas semiestruturadas com dois licenciandos em formação inicial (LFI1 e LFI2) e dois licenciandos em formação final (LFF1 e LFF2). Os dois iniciantes são homens do primeiro período do curso com idades entre 19 e 21 anos e os estagiários são mulheres do sétimo período do curso com idades entre 21 e 50 anos. Todos os entrevistados estudam no noturno e apenas LFF2 possui outro curso superior. Foram analisadas as respostas dessas entrevistas que abordam as percepções desses licenciandos quanto ao ensino e à aprendizagem de gramática. LFF1 e LFF2 apresentaram, respectivamente, como justificativa o conceito do curso e a formação para a regência na educação básica para a escolha do curso de Letras. Pela análise dos dados, não é possível afirmar que se mantém a crença de que o 19 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 licenciando ingressa no Curso de Letras para aprender gramática, pois as respostas às nove questões não evidenciam esse desejo por parte dos ingressantes. Contudo, percebe-se a crença da necessidade de ensinar gramática normativa quando LFI1 diz que “o uso das gramáticas não evoluiu” e que o ensino se deu “da forma mais tradicional possível”. A análise evidencia LFF1 problematizando o ensino na educação básica, mas não deixa claro o que fazer em relação ao ensino de gramática, ao passo que LFF4 se apresenta mais consciente no que diz respeito ao ensino na universidade, ao pontuar ser necessário “desenvolver o senso crítico no futuro professor, novas formas de ensino, valorizando o texto como prática diária”. Pelos enunciados analisados, não é possível afirmar que os licenciandos, baseados em teorias linguísticas, conseguem perceber quais crenças estão se perpetuando ou de quais crenças estão se desligando. A análise mostrou, também, que nenhum licenciando faz referência a gêneros textuais, o que nos leva a uma nova e futura pergunta de pesquisa: será que ao assumir a função de professor de LP o professor em formação inicial de hoje irá perpetuar as práticas de ensino a que esteve exposto e desconsiderar as teorias linguísticas e as diretrizes dos PCN? Para concluir, pontuamos que a não referência à orientação dos PCN pode significar um desconhecimento dos licenciandos quanto às concepções de linguagem e à consideração da linguagem do texto como prática discursiva, como prática social, conforme preconizam os documentos oficiais. Se de um lado, reafirmamos a necessidade de o licenciando aprender/saber a gramática, em especial a gramática normativa, de outro ponderamos que há a necessidade de se repensar a formação do professor de Língua Portuguesa, pois se o licenciando não é levado a (re)pensar por que foi exposto a um ensino prescritivo e descritivo, com o ensino de gramática voltado para a própria gramática, na educação básica, correremos o risco de esse licenciando optar por esse mesmo tipo de ensino, não por não ter bases teóricas para orientá-lo na proposição de atividades de ensino de língua, mas por não ter aprendido a se apropriar delas para, então, fazer suas escolhas. 20 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Referências bibliográficas BRASIL, Diretrizes curriculares nacionais para o curso de letras. Brasília: CNE/CES, 492/2001. ______. Parâmetros curriculares nacionais. Língua Portuguesa. Brasília, MEC.1998. TRAVAGLIA, Luiz Carlos; ARAÚJO, Maria Helena Santos; ALVIM PINTO, Maria Teonila de Faria. Metodologia e prática de ensino da língua portuguesa. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. ______. Metodologia e prática de ensino de língua portuguesa. 4. ed. Uberlândia: EDUFU, 2007. 21 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA: O GÊNERO TEXTUAL “LENDAS AFRICANAS”. Kátia Aparecida Franco Santos (UNIFAL-MG)5 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)6 Este trabalho objetiva aproximar o ensino de história e cultura afro e afro-brasileira com o ensino de gêneros textuais e discursivos a fim de contribuir para o aprimoramento da competência leitora do aluno, atendendo ainda às recomendações da Lei nº 10.639/2003 que prevê a inserção dessa temática em sala de aula. Diante desse contexto de ensino, procura-se promover a interação do aluno com o mundo da criação literária, no intuito de contribuir com a formação intelectual - ou seja, compreender e assimilar questões que permeiam a produção linguística e semântica dos textos - e consequentemente a formação cidadã dos alunos. Gêneros textuais são “textos materializados que encontram e [tem] composição característica.” (MARCUSCHI, 2010, p. 23). Ainda segundo este autor, os gêneros textuais são inúmeros e cita como exemplos: resenha, telefonema, sermão, reunião de condomínio, horóscopo, dentre outros. (2010, p. 23-24). Elegemos como gênero para uma proposta de Sequência Didática (SD) “Lendas7 africanas”, presentes no dia a dia dos alunos, atendendo ainda à Lei 10.639/2003. Para Santos e Melo (2012, p. 97 apud DOLZ; SCHNEUWLY, 2004), SD pode ser definida como “um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito”. Segundo Meurer, “o gênero textual funciona como componente semiótico mediador das práticas sociais e [...] permite recuperar conexões entre a ação individual (incluindo as prescrições de papéis identitários) e as estruturas sociais, mais abstratas, em forma de regras e recursos”. (2011, p. 187) O gênero textual “Lendas africanas”, em sua essência, reflete a posição do homem negro na sociedade de sua enunciação. No ensino de língua, pautado em gênero textual, 5 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET-Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 6 7 Narrativa ou crendice acerca de seres maravilhosos e encantatórios, de origem humana ou não, existente no imaginário popular. Trata-se de história, também chamada legenda, cheia de mistério e fantasia, de origem no conto popular, que nasceu com o objetivo de explicar acontecimentos que teriam causas desconhecidas. (COSTA, 2009, p. 139) 22 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Baccin8 (2008, p. 5) diz que três aspectos devem ser considerados: “os conhecimentos existentes sobre gêneros textuais, as capacidades observadas dos aprendizes, e os objetivos de ensino que se pretende atingir.” Assim, levar o gênero “lendas africanas” para sala de aula pode possibilitar um maior envolvimento do aluno. Buscando compreender possibilidades de atividades pedagógicas, propomos uma SD para o trabalho com o gênero “lendas africanas”. De acordo com Dias et. al. (2012, p. 79), uma SD pode ser assim organizada: Etapa a) Definição da situação de comunicação b) Produção escrita inicial c) Módulos de ensino d) Produção final Procedimentos Estabelecer o contexto de produção do gênero adotado para a SD. Produção escrita dos alunos acerca do tema, demonstrando em que medida dominam o gênero. Focados em níveis distintos de problemas, atividades variadas e capitalização de aquisições. A partir dos critérios e atividades propostas, a produção em que os alunos irão (re)fazer o gênero com base em sua aprendizagem e domínio das competências linguísticas e contextuais do gênero. Como produto final dessa SD, a proposta é a elaboração de uma cartilha, na qual os alunos façam uma coletânea das “Lendas africanas” trabalhadas. As atividades da SD são baseadas no Livro Multiletramentos na escola (ROJO; MOURA, 2012) e estão dispostas do seguinte modo: (1) análise do contexto histórico e sociocultural das “Lendas africanas”. Uma investigação da raiz das palavras e da situação enunciativa. Discussão sobre o tema e o conhecimento de “Lendas” como presença da cultura africana. (2) produção escrita contemplando os elementos até agora trabalhados, dando início à compilação de ideias, particularidades e curiosidades do gênero “Lendas africanas” encontrados em pesquisas e debates. (3) a partir de dificuldades de escrita e transposição de ideias para o papel, trabalhar os “módulos” que contemplem: a) os gêneros textuais e discursivos e sua dinamicidade: da oralidade para a escrita; b) o agrupamento de ideias constituindo um sentido coeso e coerente e c) com base na necessidade e nível de desenvolvimento da série, contextualizar o ensino de língua portuguesa. (4) utilizando de outros recursos como internet e pesquisa em forma de 8 Baccin se apoia em Dolz, Noverraz e Schneuwly para fazer essa afirmação. 23 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 “entrevista”, conhecer em que medida as “Lendas africanas” são incorporadas à oralidade. Dados como versões regionais do gênero deverão ser coletados e analisados pelos alunos, com anotações. (5) comparando o contexto sociocultural e histórico das “Lendas africanas”, sua permanência na oralidade e sua representação identitária na sociedade, os alunos farão uma compilação na qual, com a efetiva participação de toda a turma, o projeto seja escrito em forma de memorial, ilustrado e que sirva de apoio a futuras pesquisas. Acreditamos que este tipo de trabalho contribuirá para a formação ética e cidadã do aluno, na medida que possibilita refletir sobre como se dá a interação do aluno com práticas linguísticas que se apresentam a ele nas mais diferentes situações de composição e com as quais se identifica. Referências bibliográficas BACCIN, E. J. Modelo didático de gênero e sequência didática: Gênero textual autobiografia. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2000-6.pdf> Acesso em: 05 set. 2012. COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte, MG. Autêntica Editora. 2. ed.2009. DIAS e et ali. Minicontos multimodais. In: ROJO, H.R; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012. p. 75-94. LOPES-ROSSI, Maria Aparecida Garcia. Gêneros discursivos no ensino de leitura e produção de textos. In: KARWOSKI, A.M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K.S. (Org.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 69-82. LORENZI, G.C. PÁDUA, T.W. Blog nos anos iniciais do fundamental I. In: ROJO, H.R; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012. p. 35-54. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (organizadoras). Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010, p. 19-38. MEC. Governo Federal. A Cor da cultura - Saberes e Fazeres - Modo de Ver. Fundação Roberto Marinho. Rio de Janeiro, 2006. MEURER, J.L. Integrando estudos de gêneros textuais ao contexto de cultura In: KARWOSKI, A.M; GAYDECZKA,B.;BRITO K.S.. Gêneros textuais: reflexão e ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2011. p. 175-196. SANTOS, M.C. MELO, M. F. A utilização da sequência didática para a construção da argumentação no artigo de opinião. 2012. Disponível em: <http://www2.capes.gov.br/rbpg/images/stories/downloads/RBPG/Vol.8_suplemento2/cap itulo11.pdf > Acesso em: 13 set. 2012. 24 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 FÓRUNS DE DISCUSSÃO ACERCA DA IMPLANTAÇÃO DA LÍNGUA ESPANHOLA NO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DO BLOG “ESPANHOL DO BRASIL” Leticia Montini Franco (UNIFAL-MG)9 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)10 Os gêneros textuais11 são encontrados no nosso cotidiano, ou seja, as pessoas se utilizam deles de acordo com a situação comunicativa na qual estão inseridas. Um diálogo ou uma carta, um bilhete, uma notícia de jornal ou uma resenha são exemplos da presença dos gêneros textuais na sociedade. Um aspecto que julgamos relevante, em especial para quem trabalha com ensino de língua, é o papel que os gêneros textuais e discursivos representam em uma sociedade letrada. Dentro desses gêneros, temos os gêneros emergentes do discurso eletrônico (MARCUSCHI; XAVIER, 2010), ou seja, o gênero textual digital, classificação na qual o Blog “Espanhol do Brasil” se enquadra perfeitamente. Segundo esses autores, os blogs são definidos como “diários pessoais na rede; uma escrita autobiográfica com observações diárias ou não, agendas, anotações, em geral muito praticados pelos adolescentes na forma de diários participativos.” (MARCUSCHI; XAVIER, 2010, p. 35). O termo pode também ser conceituado como “um diário eletrônico que as pessoas criam na internet” (SARTORI FILHO, 2003, p. 1 apud MARCUSCHI; XAVIER, 2010, p. 72). Devido a essa dinamicidade e à capacidade de atingir um público realmente interessado na temática, optamos pela análise do Blog “Espanhol do Brasil” a fim de refletir sobre as percepções de professores de espanhol acerca da implantação do ensino de espanhol no Ensino Médio e da problemática que envolve essa implantação. Acreditamos que, especialmente em Cursos de Letras, a utilização de gêneros digitais que abordam aspectos relativos à formação do professor dessa área seja relevante na medida em que permite o contato do licenciando com as mais diferentes opiniões e relatos que abordam esse tema. 9 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET-Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 11 Usaremos, indiferentemente, os termos “gêneros textuais” e gêneros discursivos”, o mesmo se dando com os termos “gêneros emergentes” ou “gêneros digitais”. 10 25 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Além de refletir sobre as percepções acerca da implementação do ensino do espanhol no Ensino Médio, optamos por esse gênero porque os gêneros textuais digitais estão lado a lado com as novas tecnologias digitais e ambientes virtuais, cujo acesso vem se ampliando a cada dia. Isso porque os ambientes virtuais tornaram-se extremamente versáteis e competem com outras atividades comunicativas. A internet, como esfera social, constitui-se um ambiente no qual as pessoas sentemse à vontade para expor seus textos. Devido a essa dinamicidade e ao fato de esse gênero/instrumento poder ser usado como ferramenta de ensino de língua, e considerando que o Blog “Espanhol do Brasil” aborda uma temática que deve ser problematizada nos Curso de Letras, optamos, neste trabalho, por fazer a análise desse gênero virtual que discute a implantação da Lei nº 11.161, de 2005. Antes das análises do Blog, fizemos um levantamento conciso da história da implantação do espanhol no Brasil, que, todavia, não se deu com a Lei nº 11.161/2005, pois, já em 1919, houve referência ao fato de a disciplina de língua espanhola ser implantada nas salas de aulas de escolas públicas. Somente em 1942, surgiu a primeira legislação que incluía o espanhol nas dinâmicas curriculares da escola pública como disciplina obrigatória, e adiante, surgiram outras leis que anularam a de 1942, para assim, em 2005, a Lei nº 11.161 ser aprovada. Portanto, essa é uma luta que vem sendo enfrentada desde o início do séc. XX (RODRIGUES, 2010). Para esta pesquisa, optamos pela pesquisa documental para a análise da legislação e documentos oficiais e pela pesquisa qualitativa (GODOY, 1995) para a análise dos fóruns e notícias coletados no Blog “Espanhol do Brasil”12. Para este trabalho, selecionamos duas notícias que causaram polêmica e indignação por parte dos usuários do Blog. A primeira tem como título: “Professores criticam acordo entre MEC e o Instituto Cervantes”, que foi publicada em 16 de agosto de 2009, no jornal online “Gazeta do Povo”, o que, de imediato, trouxe o estranhamento dos leitores. De acordo com a notícia, os professores manifestaram-se acerca do acordo assinado pelo MEC e pelo Instituto Cervantes, criticando de maneira a classificar o ensino do Instituto como insuficiente para formação de professores, pois usando uma metodologia de um outro país, sem encarar a realidade do Brasil, não poderiam formar bons profissionais de espanhol. A análise dos enunciados aponta que o ensino dessa língua ainda não está 12 Disponível em: <http://espanholdobrasil.wordpress.com> 26 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 efetivamente implantado e que faltam materiais e professores qualificados para tal. Tais considerações remetem à necessidade de as instituições de ensino superior fomentarem maiores discussões acerca dessa problemática e conscientizarem licenciandos em Letras acerca do seu papel como formadores. Os participantes do Blog usam o espaço virtual como um ambiente produtivo para a discussão dessa e de outras políticas públicas e afirmam efusivamente que o Instituto Cervantes é uma instituição estrangeira com fins lucrativos que desconhece a realidade do ensino público no Brasil. Nesse sentido, percebe-se que as instituições de ensino superior veem a educação e o ensino de língua como um processo integral, como parte da formação humana e cidadã do aluno e não apenas como um processo de instrumentalização do aluno, considerando, no caso, que o aprendizado dessa língua não possa ocorrer como se fosse apenas um curso de capacitação. Conclui-se que a falta de material necessário e de curso apropriado para a formação de professores de língua espanhola pode contribuir para que o ensino dessa língua seja precário trazendo maiores problemas no futuro. As discussões mediadas no Blog demonstram a relação dialógica que se estabelece entre os enunciadores na esfera social internet e também nas dimensões escola-universidade. A partir dessas considerações, concluímos que o Gênero digital Blog é bastante pertinente para o ensino de língua (tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior), que o Blog “Espanhol do Brasil” traz informações muito relevantes para o professor em formação inicial na área de Letras e que a discussão acerca de políticas linguísticas sobre o espanhol deve ser mais bem discutida no universo acadêmico, tendo em vista as implicações que essas políticas provocam. Referências bibliográficas BLOG ESPANHOL do Brasil. Blog de discussão sobre a implantação do Espanhol no Brasil. Disponível em: < http://espanholdobrasil.wordpress.com>. Acesso em: 03 out. 2011. BRASIL. Lei 11.16 de 05 de agosto de 2005. Dispõe sobre o ensino de língua espanhola no Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20042006/2005/Lei/L11161.htm>. Acesso em: 20 de Nov. de 2011. GODOY, Arilda S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. RAE – Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n.2, p.57-63, 1995. MARCUSCHI, L. A. XAVIER, A. C. Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de 27 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 construção de sentido. São Paulo: Cortez, 2010. RODRIGUES, Fernanda dos Santos C. Leis e Línguas: o lugar do espanhol na escola brasileira. In: BARROS, Cristiano S. COSTA, Elzimar G. M. Espanhol: ensino médio. Brasília – Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2010. p. 13-24. 28 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 O DIALOGISMO PRESENTE NOS GÊNEROS TEXTUAIS E DISCURSIVOS ALIADO AO ENSINO DE LITERATURA Luciene Teixeira da Silva (UNIFAL-MG)13 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)14 A experiência literária possibilita a ampliação de horizontes, a reflexão e o desenvolvimento da sensibilidade humana, caso não seja efetivada na escola, tal fato implica na má formação do aluno e resulta a atual crise das Literaturas em que vivemos. Muitas discussões existem sobre a inserção da leitura literária na escola, mas o grande desafio de tais reflexões ainda é fornecer subsídios teóricos e metodológicos para auxiliar a prática em sala de aula. Compreendendo que a formação de um leitor crítico é mediada no ambiente escolar pelo professor, amparada pelos discursos dos teóricos da área e pelos documentos oficiais, observamos que o ensino de Literatura se integra à área de leitura e de gêneros discursivos. Os próprios documentos oficiais defendem que seja trabalhada, em especial no Ensino Médio, a perspectiva do refinamento de habilidades de leitura e de escrita do aluno, uma vez que os estudos bakhtinianos, no Brasil, tiveram “influência direta sobre as diretrizes oficiais e, por conseguinte, a prática de sala de aula”. (BORGES, 2012, p. 122). Cabe à escola aprimorar ou apresentar gêneros mais complexos que normalmente não são do âmbito da experiência cotidiana do aluno, visando ampliar seu universo de conhecimentos, pois, segundo Bakhtin (2010, p. 263), “a linguagem da literatura, cuja composição é integrada pelos estilos da linguagem não literária, é um sistema ainda mais complexo e organizado em suas bases”. É importante, neste trabalho, levar o aluno a entender o seu funcionamento de forma que ele não apenas reconheça e identifique os já existentes, mas também que esteja apto a integrar nas suas práticas de produção e recepção novas modalidades discursivas. No entanto, quando se fala de Literatura aos jovens sem ponderar a grandeza do livro em questão, seu tema, seu autor, sua época, a beleza da composição, ou seja, quando não há entusiasmo por parte do professor, eles reagem com desprezo ou indiferença. Os estudantes sentem que a leitura é feita para a escola, para o cumprimento de normas, para o alcance das notas, e não para si próprios, “reforçando a ideia de que os livros são chatos, 13 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET-Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 14 29 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 difíceis e que não têm nada a ver, nada a ver com o que querem, necessitam, desejam ou gostam”. (BRAGA, 2006, p. 6). Concomitantemente a essa reflexão, sabemos que esse aluno convive permanentemente com fontes diversas de fabulação presentes em outros veículos e linguagens, como cinema, televisão e internet. O primeiro passo para a amenização da crise da Literatura se dá por meio de uma aproximação entre esses universos. A questão que se põe aqui é o nascimento de uma nova noção de texto e de ensino, pois os alunos também precisam entrar em contato com os gêneros produzidos na atualidade, o que vai ao encontro da teoria bakhtiniana e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Segundo as OCN, Bakhtin, ao desenvolver o conceito de polifonia, chamando a atenção para a dimensão dialógica do texto, apontou para sua pluralidade discursiva, que ultrapassa os limites da estrutura interna da obra, estendendo-se à leitura. (BRASIL, 2006, p. 19). Essas considerações apontam para uma dimensão importante para se levar em conta na prática pedagógica, pois pensando na formação de um aluno leitor, remetemos à Estética da Recepção, cujos pressupostos teóricos visam resgatar a importância da contextualização da obra e de seu autor, o momento histórico de sua aparição e o papel do leitor na concretização da obra. Tais postulações (cf. ZILBERMAN, 1989) contribuem para o esclarecimento do papel que o leitor desempenha frente ao texto literário. O leitor, condicionado pela sua relação dialógica com a obra, é aquele que completa a produção literária respondendo às lacunas deixadas pelo autor, entre o mesmo e a Literatura, de forma a produzir significados em um movimento cooperativo e consciente. Quando o professor consegue explicar que o autor direciona o seu leitor, mas que os espaços vazios serão preenchidos conforme a experiência de leitura que este possui, fica mais visível qual é a importância da leitura. Assim, no que concerne à relação desse perfil de aluno do século XXI com o letramento literário, estabelecido a partir da relação dialógica entre obra e autor, hoje, mais do que em qualquer outra época, proliferam gêneros novos dentro das novas tecnologias, particularmente na mídia digital, que podem auxiliar nessa tarefa. A informação sobre a vida e a obra de escritores nacionais e internacionais circula abundantemente na web. Muitos poetas e prosadores têm trabalhado e criado com os recursos diversos da Internet. É preciso estimular os alunos a usarem essas ferramentas 30 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 tecnológicas presentes no cotidiano, como espaço de formação e de entretenimento, para conhecer essa outra faceta do universo literário. Estratégias de ensino da Literatura que contemplem os referidos gêneros textuais emergentes - frutos das mídias digitais como aulas-pesquisa, fóruns e grupos literários, gravação de vídeos, e-portfólios, aplicativos de construção colaborativa - incentivam a leitura e possibilitam a construção de habilidades que podem levar o estudante à análise de grandes obras literárias, por meio do cruzamento com diferentes formas artísticas, modalidades culturais, meios de comunicação; enriquecendo seu conhecimento de mundo. O que fica dessa discussão é o fato de que a noção de texto está mudando, ou de que está surgindo outra ideia de texto e de escrita. Os próprios documentos oficiais apresentam forte influência de ensino sob uma perspectiva dialógica, mostrando que a relação do texto com o leitor favorece a integração entre o aluno e a disciplina lecionada, além da possibilidade de formular estratégias de ensino envolvendo os gêneros emergentes e as práticas de letramento literário. Entendendo que o conceito de letramento literário está intimamente relacionado ao leitor e ao seu repertório contextual, este trabalho teve a intenção de colaborar para a reflexão acerca do ensino de Literatura, não objetivando concluir o debate, mas abrindo possibilidades para outras discussões e ainda instigando a sugestão de abordagens metodológicas capazes de possibilitar um diálogo entre o aluno e diferentes gêneros do domínio discursivo literário. Referências bibliográficas BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. 5. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. p. 261-270. BRAGA. Patrícia Colavitti. O ensino de literatura na era dos extremos. Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura Letra Magna. Ano 03, n. 05, 2º semestre de 2006. Disponível em <http://www.letramagna.com/literatura.pdf>. Acesso em: 31 out. 2011. BORGES, Flávia Girado Botelho. Os gêneros textuais em cena: uma análise crítica de duas concepções de gêneros textuais e sua aceitabilidade na educação no Brasil. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 12. n. 1, p. 119-140, 2012. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: MEC, 2000. 31 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 ______. Ministério da Educação. Orientações curriculares para o ensino médio: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 2006. ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da Literatura. São Paulo: Editora Ática, 1989. 32 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 GÊNEROS TEXTUAIS, PRÁTICAS DE ESCRITA E AVA Maria Luiza Alves (UNIFAL-MG)15 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)16 Este trabalho tem como finalidade mostrar como os gêneros textuais, inseridos no Curso de Redação para o Enem, levaram a melhoria da produção de leitura e escrita dos participantes do referido curso. Este, no formato semipresencial, foi promovido pelo Grupo PET/Conexões de Saberes – Letras, da Universidade Federal de Alfenas – Minas Gerais, teve como cenário a plataforma Moodle17, um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)18 e contou com a participação de alunos da rede pública de ensino. A ideia do trabalho com gêneros no curso deu-se por três motivos: por apresentarem um diferencial em relação à utilização tradicional do texto; por os considerarmos como o meio em que o emprego da língua se efetua (BAKHTIN, 2003, p. 262) e pela percepção, apoiando-nos em Lopes-Rossi (2011, p. 69) de que a orientação discursiva dos PCN é baseada, em partes, na teoria bakhtiniana de gêneros do discurso, ou como comenta Rojo (2008, p. 77), dizendo que os gêneros aparecem nos currículos com a capacidade de desenvolver as “[...] competências e capacidades de leitura e escrita e de fala/escuta [...]”, não indicando o gênero como o próprio objeto de ensino, mas convocando seu conceito (ROJO, 2008, p. 78). Entendemos os gêneros na perspectiva bakhtiniana, como “[...] enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana” (BAKHTIN, 2003, p. 262), que surgem e se desenvolvem a fim de “ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia” (MARCUSCHI, 2010, p. 19). Acreditamos que nosso trabalho está apoiado nos multiletramentos. Seguindo a distinção feita por Rojo (2012, p. 13), consideramos, então, que as práticas escolares 15 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET-Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 17 Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment. 18 Consideramos o AVA como Design. Termo empregado pelo Grupo de Nova Londres (apud ROJO, 2010, p. 13), sendo “maneiras específicas de dizer/enunciar”, ou seja, textos multimodais e multiculturais, noção mais complexa/abrangente do que a de gênero do discurso. (ROJO, 2010, p.13.). 16 33 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 também devam “apontar para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade”, incluindo “a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela (referindo-se à sociedade)19 se informa e se comunica.” Nesta perspectiva escolhemos, para serem trabalhados no curso, os seguintes gêneros: carta, charge, conto, notícia e videoclipe. A escolha destes gêneros especificamente deu-se pelas suas funções em nossa sociedade e pela possível utilização dos alunos, no Enem, nas questões objetivas ou ainda na coletânea de textos motivadores para o feitio da redação. Aliado ao trabalho com os gêneros está o da utilização de um ambiente virtual de aprendizagem (o Moodle, no nosso caso) para trabalhar com práticas de leitura e escrita. A nossa escolha pelo Moodle foi pelo fato de ser um ambiente acessível, tanto para os professores quanto para os alunos, uma vez que a universidade nos oferece gratuitamente. A proposta feita aos alunos, no curso, difere-se das propostas de redação na escola. Nesta, geralmente, dedica-se pouco ao gênero “redação escolar”20 (AZEVEDO, 2006, p. 211) e quando isso acontece, perde-se a finalidade do ato de escrever, que passa a ser visto apenas como uma forma de avaliação, impedindo o aluno de desenvolver sua autonomia como autor daquilo que escreve, sendo o professor o único leitor de sua produção textual. Com a análise do curso, em uma plataforma virtual de aprendizagem, dos gêneros escolhidos e das produções dos alunos, percebemos que houve uma melhoria na produção de leitura e escrita dos participantes e que essa proposta de curso pode ser viável para o ensino de língua, inserindo o aluno no campo da linguagem e, com isso, tornando-o um sujeito mais crítico e consciente do papel daquela em sua vida, a de mediadora de suas atividades. Portanto, se os alunos, com a proposta de curso que apresentamos, aperfeiçoaram algumas habilidades necessárias para constituir-se pela linguagem e adquirir uma nota satisfatória na prova de redação para o Enem, percebemos que, talvez, seja necessário [re]pensar e [re]ver as práticas de ensino de língua que esses mesmos alunos são expostos na escola. Será que o estudo meramente gramatical, como ainda vemos em algumas escolas, na disciplina de Língua Portuguesa, se faz realmente necessário diante das poucas 19 Ênfase acrescentada. Consideramos a “redação escolar” como um evento de letramento e um gênero, este último conforme Azevedo (2006, p. 211). 20 34 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 inadequações percebidas nas práticas de escrita desses alunos? Será que nossas práticas de escrita não devem ser pensadas ressaltando o material linguístico-discursivo de cada uma delas? Será que o texto não deve ser o objeto de ensino, por meio do qual os alunos, ao praticarem sua escrita, se constituam como sujeitos, visto que é pela linguagem que isso ocorre? Este trabalho teve o objetivo de trazer algumas reflexões sobre o ensino de língua, pautando-se em práticas que envolvam os gêneros textuais a fim de que, assim como no Curso de Redação para o Enem, na escola, os alunos possam manifestar ou aperfeiçoar suas habilidades, não só de escrita, como também de leitura. Referências bibliográficas AZEVEDO, Adélia Maria Evangelista. “Procedimentos adequados” geram textos criativos – no subgênero redação de vestibular UFMS/inverno 2002? In: BERTOLDO, Ernesto Sergio; MUSSALIM, Fernanda. Análise do discurso: aspectos da discursividade no ensino. Goiânia: Trilhas Urbanas, 2006. p. 209-235. BAKHTIN, M. M. (1952-53/1979). Os gêneros do discurso. In: ______. (1979/2003). Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 261-270. BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Linguagens, códigos e tecnologias. Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. (Conhecimentos de Língua Portuguesa, p. 17, 45). Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf> Acesso em: 28 ago. 2012. DE PAULA, Luciane. STAFUZZA, Grenissa. (Orgs.) Círculo de Bakhtin: inter e intradiscursividade. Série Bakhtin – Inclassificável. Vol. 4. Campinas, SP: Mercado de Letras. 2010. LOPES-ROSSI, Maria Aparecida Garcia. Gêneros discursivos no ensino de leitura e produção de textos. In: KARWOSKI, Acir Mário; GAYDECZKA, Beatriz; BRITO, Karim Siebeneicher (Org.); MARCHUSCHI, Luiz Antônio et al. Gêneros textuais: reflexões e ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 69-82. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (organizadoras). Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010, p. 19-38. ROJO, Roxane Helena R. Gêneros de Discurso/Texto como objeto de ensino de línguas: um retorno ao Trivium? In: SIGNORINI, Inês (organizadora); Anna Christina Bentes... [et al.]. [Re]discutir texto, gênero e discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008, p. 73-108. ______. Pedagogia dos Multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In: ______; MOURA, Eduardo (orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. p. 11- 31. 35 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 SUPORTES DIGITAIS E O ENSINO DE PRODUÇÃO DE TEXTO E LEITURA Priscila da Cruz Navarro (UNIFAL-MG)21 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)22 Este trabalho busca investigar as possibilidades de uso de novas tecnologias, em especial, um Ambiente Virtual de Aprendizagem23 (AVA), no ensino de produção de leitura e de escrita, tendo como público-alvo alunos do Ensino Médio da rede pública. Talvez não seja conveniente chamá-las de ‘novas tecnologias’, já que grande parte delas é utilizada por muitas pessoas há algum tempo, porém são novas no ambiente escolar do ensino público brasileiro, visto que, muitas vezes, os alunos estão acostumados apenas com a lousa, o caderno, o livro didático e a aula expositiva do professor. Assim que, inserindo esse novo suporte no ensino, ou melhor, somando outras ferramentas como base de aprendizagem, as quais a maioria dos alunos tem certa familiaridade e afinidade, tem-se uma possibilidade de aliar ‘o útil ao agradável’. Neste caso, para os alunos, o útil seria a aprendizagem, e a forma como ela se daria, com o uso de tecnologias, o agradável. Para os professores seria como aliar ‘o útil ao útil’, já que há uma infinidade de materiais para apoio e consulta na internet, à disposição tanto dos professores quanto dos alunos. Em se tratando do ensino de Língua Portuguesa (LP), as aulas têm se pautado, sobretudo, na exposição de conteúdo e na realização de exercícios estruturais que visam, quase sempre, à memorização de regras gramaticais, assim como afirma Rojo, em “Letramento e capacidades de leitura para a cidadania”, quando explicita que As práticas didáticas de leitura no letramento escolar não desenvolvem senão uma pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas letradas exigidas pela sociedade abrangente: aquelas que interessam à leitura para o estudo na escola, entendido como um processo de repetir, de revozear falas e textos de autor(idade) – escolar, científica – que devem ser entendidos e memorizados para que o currículo se cumpra. (ROJO, 2004, p. 1) Diante disso, o aluno nem sempre tem a possibilidade de adentrar em um ambiente interativo de aprendizagem, com o qual poderia habituar-se a lidar e a exercer práticas 21 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET-Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 22 23 Moodle - Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment. 36 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 sociais de leitura e escrita condizentes com uma sociedade contemporânea, altamente tecnológica e grafocêntrica. Para compreendermos melhor essa inserção no ensino de Língua Materna (LM), delimitamos como objeto de pesquisa a análise de um AVA, por meio do qual foi ofertado um curso de redação, com foco no Enem, para alunos do Ensino Médio da rede pública, no segundo semestre de 2011. Trabalhamos com a hipótese de que os alunos anseiam por um (precisam de um) ensino com uma abordagem diferenciada. Supomos que um AVA pode oferecer aos alunos a flexibilidade e o tempo necessários para que possam ter um contato maior com gêneros textuais que lhes permitam perceber a leitura e a escrita, como práticas sociais, entendendo como gêneros textuais, eventos textuais maleáveis e dinâmicos, entidades sociodiscursivas e formas de ação cultural e social, como mostra Marcuschi, em ”Gêneros textuais e ensino”. (MARCUSCHI, 2010, p. 19). Por isso, este estudo pretende vislumbrar possibilidades de uso de um AVA que possa auxiliar na aprendizagem de alunos da Educação Básica. Acredita-se, que o meio eletrônico possa influenciar eficazmente os alunos a praticarem socialmente a leitura e a escrita, já que o ambiente permite que temas sejam trabalhados, com a utilização de ferramentas de interação e colaboração. Nesse sentido, Rojo (2010, p. 6), citando Chatier (1998), pontua que o novo suporte do texto [a tela do computador] permite usos, manuseios e intervenções do leitor infinitamente mais numerosos e mais livres do que qualquer uma das formas antigas do livro. Levando em consideração que o meio virtual, além de dispor textos, imagens, sons, vídeos etc., leva o usuário da web a escrever e a ler com mais constância, supõe-se que, num AVA, o aluno terá que ler mais, devido ao contexto em que está inserido – a web é rica em gêneros textuais, e, consequentemente, escreverá mais também. Além disso, refletindo sobre o ensino de língua com o uso de tecnologias e práticas sociais de letramento, Rojo (2010, p. 3) afirma que o problema que temos, hoje, no Brasil, diz respeito ao letramento e não à alfabetização. Logo, só pode ser minimizado se forem inseridos, no meio escolar, eventos de letramento que provoquem a inclusão dos alunos em práticas letradas da atualidade, para que, assim, possam desenvolver as competências e habilidades necessárias à produção de escrita e leitura. Pode-se dizer que a capacidade do programa de motivar o usuário a explorar o ambiente e a tarefa proposta, dando maior autonomia ao usuário/leitor/aluno e 37 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 proporcionando a possibilidade de que ele tenha um contato direto e ativo com uma “mistura das linguagens, modos, mídias e culturas”, foi atingida. A intenção não é passar a trabalhar um conteúdo em outro suporte (Livro-Computador), e sim buscar a transformação de práticas de leitura e escrita, com o intuito de compatibilizar e seguir, com o menor distanciamento possível, a evolução das ferramentas, processos e informações. Diante disso, percebe-se a relevância da inserção de novas tecnologias de comunicação e informação, principalmente no contexto atual. Como citado anteriormente, o convívio dos jovens com ferramentas, equipamentos tecnológicos e redes sociais influencia positivamente para que eles interajam entre si e com o ambiente, o que, consequentemente, acaba por inseri-los em diferentes práticas letradas. Assim, afirma-se que o uso de suportes digitais, em especial, de um ambiente interativo de aprendizagem, com todas as mídias e ferramentas que este proporciona, contribui para a inserção de metodologias no ensino, como também, para a inserção do aluno em práticas sociais de (multi)letramentos. Referências bibliográficas MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:DIONISIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora.Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.p. 19-38. ROJO, R. H. R. Alfabetismo(s), letramento(s), multiletramento(s): desafios contemporâneos à Educação de Adultos, 10/2010, Científico Nacional, 1º SEEJA Seminário de Educação de Jovens e Adultos, Vol. 1, pp.8-8, Rio de Janeiro, RJ, BRASIL, 2010. ROJO, R. H. R. Alfabetização e letramentos múltiplos: como alfabetizar letrando? In: RANGEL, E. O.; ROJO, R.H.R. (Orgs.). Língua Portuguesa no Ensino Fundamental de 9 anos e materiais didáticos. Coleção Explorando o Ensino. Brasília, DF,MEC: 2010. 38 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 A RECONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DA CRIANÇA EM CONFLITO COM A LEI NO GÊNERO NOTÍCIA Sabrina Gomes Verola (UNIFAL-MG)24 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)25 Gêneros textuais são textos materializados que se interagem em nosso cotidiano de forma diversa, podendo ser encontrados na sociedade de diferentes e dinâmicas maneiras. Os gêneros textuais podem ser encontrados em inúmeros modelos, porém os tipos textuais se restringem em seis apenas, sendo eles: dissertativo, narração, descrição, argumentação, exposição e injunção. Em observância a esses conceitos e voltando para o objeto de análise deste trabalho, uma entrevista e uma notícia veiculada no Portal Terra, observa-se que o enunciador do gênero notícia inseriu fragmentos de uma entrevista que abordava o mesmo tema. A importância de se estudar este gênero textual perpassa o papel de formadora que a escola vem assumindo. Daí ser necessário que a escola problematize em seu interior questões sociais, como a do adolescente e da criança em situação de risco social, a fim de contribuir para a formação cidadã de seus alunos. Considera-se criança até os 12 anos de idade incompletos e adolescente aqueles que tenham entre doze e dezoito anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (doravante ECA), legislação atinente a esse perfil a qual lhes resguarda direitos fundamentais. Assim, apoiando-nos na Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001) e no conceito de discurso (FOUCAULT, 1996), procura-se observar, no gênero notícia, a representação da criança e criminalidade por meio da análise de práticas discursivas presentes nesse gênero. Nesse sentido, objetiva-se, ainda, com este trabalho, mostrar a ideologia (ORLANDI, 2001) subjacente ao discurso daqueles que resguardam os direitos do adolescente, e como esse direito é apresentado à sociedade, analisando ainda que práticas sociais são naturalizadas na e pela mídia acerca da criança e do adolescente, isto é, do menor infrator. 24 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET—Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 25 39 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Com base na Constituição Federal de 1988, todos são considerados cidadãos, cada qual com direitos e deveres. Com a criança e o adolescente não é diferente, visto que ambos também são sujeitos de direitos e deveres. Volpi (2001) postula que, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, supera-se uma antiga visão baseada naquilo que ela não é (não é capaz, não é maior e não é responsável), funda-se naquilo que é: criança, adolescente, sujeito de direitos, pessoa humana em condição peculiar de desenvolvimento que deve ser tratada com prioridade absoluta. (VOLPI, 2001, p. 2-3) Com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), marca-se, no Brasil, uma nova trajetória fazendo da sociedade, do governo e demais esferas do poder, responsáveis pelas crianças e adolescentes, conforme preconiza o próprio ECA, no Art. 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990) A partir de práticas discursivas envolvendo a criança e criminalidade contrapondo a uma construção de identidade, nota-se que este cenário é alicerçado/naturalizado pelo que chamamos de discurso, como prática social (FAIRCLOUGH, 2001). A mídia, em especial, ao materializar tais discursos, na mídia digital ou televisiva, contribui para que uma parcela significativa da sociedade não compreenda a proposta do ECA e mais ainda, não assuma, como sociedade, a responsabilidade de deixar ou ter deixado crianças e adolescentes em situação de risco. Nesse sentido, há de se considerar a importância dos gêneros textuais e discursivos que materializam tais discursos, tais ideologias. Analisando e discutindo os dados observa-se que dentro do gênero estudado a criança é culpada por algo já naturalizado, isto é, é tida como delinquente infantil apenas e não como aquele que, sendo criança, necessita de cuidados. Esse discurso naturalizado (FAIRCLOUGH, 2001) provoca um apagamento na consciência de outros sujeitos da sociedade na medida em que culpados são sempre os outros, criando, assim, rótulos naqueles que merecem respeito e atenção, principalmente porque ainda estão em processo de formação. 40 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Por outro lado, a mídia, ao ressaltar a situação de crime, ao atribuir o aumento dos índices de criminalidade a crianças e adolescentes, constrói a identidade de criminoso, devendo, pois, receber o mesmo tratamento que um adulto receberia. Para isso, a mídia promove, ao mesmo tempo, o apagamento de discursos acerca do papel do Estado, do papel da sociedade, da família que não conseguem garantir as condições mínimas para o menor infrator: educação, saúde, moradia e lazer. Em se tratando do ensino de leitura e de produção de textos na escola, considera-se que o papel do professor da educação básica é de extrema relevância. Este deve trabalhar de forma que o aluno adquira uma competência leitora proficiente a fim de que possa analisar com mais propriedade o que se veicula na mídia. Ao fazer isso, o professor estará colaborando com a sociedade, formando pessoas cidadãs e mais comprometidas com a própria sociedade. Com isso, conclui-se que há a necessidade de problematizar conceitos pré-estabelecidos que diferenciem identidades construídas acerca da criança e criminalidade como forma de intervir na mesma sociedade que contribui para a existência de crianças na criminalidade. Referências bibliográficas CRIANÇAS NO CRIME: secretária nacional critica estruturas. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5313077-EI306,00Criancas+no+crime+secretaria+nacional+critica+estruturas.html>. Acesso em: 28 ago. 2011. FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Universidade de Brasília, 2001. FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996. ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2001. VOLPI, Mário. Crianças e adolescentes – de menores a sujeitos políticos. In: MÜLLER, R. V.; MORELLI, J. A. (Org.). Criança e adolescentes: a arte de sobreviver. Maringá: Eduem, 2001. p. 2-4. 41 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 O GÊNERO DISCURSIVO FREESTYLE NAS AULAS DE PORTUGUÊS Tariana Leal Falciroli (UNIFAL-MG)26 Rosângela Rodrigues Borges (UNIFAL-MG/PG-USP)27 O freestyle é uma manifestação artística cultural que tem sua tradução literal como estilo livre, mas define-se como uma modalidade do movimento Hip Hop, que consiste em batalhas de MC's (Mestres de Cerimônias) em que a rima e a improvisação são o foco dos enunciadores. Na disputa, isto é, no embate discursivo, entra em jogo a construção de enunciados dinâmicos inseridos numa tensão discursiva e produtiva, a relação dos participantes com o público, envolvendo escolhas e combinações lexicais, além do carisma e da análise constante do outro, incluindo aí os movimentos, as rimas, a interação da plateia com esse outro, o ritmo e a força argumentativa dos enunciados. Trabalhando na perspectiva da linguagem como interação e adotando a ideia de Bakhtin, em que “todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem.” (2003, p. 261), o freestyle, inserido numa prática discursiva situada e típica de uma determinada comunidade linguística, apresenta-se como um gênero discursivo relativamente estável, modificando-se a cada contexto em que se desenvolve. Em cada lugar e com diferentes enunciadores, produz enunciados diversificados. Numa relação dialógica, o freestyle é constituído dentro da comunidade linguística em que é produzido. Assim, saindo do que seria um gênero primário (um diálogo, por exemplo), conforme Bakhtin, a comunidade linguística transforma um diálogo em um jogo de palavras, em que os enunciadores fazem diversas réplicas, atendendo às exigências típicas da situação comunicativa em que está inserido. Entendemos que tal processo se relaciona à afirmação de Bakhtin que diz que “[...] cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis, os quais denominamos gêneros do discurso.” ( 2003, p. 262). O freestyle, que também pode ser considerado uma atividade artística, insere-se num domínio discursivo, constituindo-se, a nosso ver, um gênero discursivo presente na oralidade. Como apresenta Machado, “os gêneros discursivos incluem toda sorte de diálogos cotidianos bem como enunciações da vida pública, institucional, artística, científica e filosófica.” (2010, p. 155). 26 Discente do Curso de Letras, bolsista do Grupo PET-Letras. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Letras, tutora do Grupo PET-Letras, doutoranda em Letras (USP), Coordenadora do Subprojeto Gêneros Textuais/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 27 42 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 Considerando que é por meio da linguagem que o homem se constitui (FIORIN, 1997) e que o freestyle configura-se como uma manifestação linguístico-cultural, pois faz parte do dia a dia da sociedade, este trabalho o adota como possível objeto de ensino de Língua Materna28 na medida em que as escolhas e combinações lexicais, utilizadas pelos enunciadores dessa modalidade de Hip Hop, são textos orais que circulam em contextos nos quais muitos alunos da rede pública se inserem. Nesta arte, o participante, ao improvisar e elaborar rimas, materializa no seu discurso o seu conhecimento de mundo, dele se valendo para a elaboração de diferentes enunciados conforme percebe a resposta do seu interlocutor. Ao usar tal estratégia, o enunciador insere na batalha seu conhecimento a respeito da língua e seu conhecimento de mundo, sua historicidade, tendo em vista as condições de produção que determinam o seu dizer (BRANDÃO, 2004). Levar o freestyle para a sala de aula significa trabalhar com a diversidade linguística do e no Brasil, e com a multiplicidade de culturas que estão presentes na escola e que as constituem. Não se trata de trazer algo novo ou mesmo algo marginalizado (que não está na lista dos gêneros canônicos) para a escola, mas sim de trabalhar com uma cultura que ali está presente, mas que não é valorizada. O multiculturalismo está presente em todos os lugares, a escola é apenas mais um destes espaços. O cenário escolar pode ser um lugar para um trabalho de respeito ao diferente, respeito ao jeito de ser do outro, respeito a uma cultura, a uma variante linguística; o freestyle é mais uma das manifestações linguístico-culturais existentes em todo o território brasileiro. Levá-lo para a sala de aula é levar toda essa diversidade linguística e cultural para todos. Ora, se falamos que o ensino da língua envolve também as variantes linguísticas, então o freestyle se apresenta como uma forma alternativa, que vai além da concepção tradicional da língua, na medida em que trabalha a língua, envolvendo aspectos linguísticos e sociais, na perspectiva dos multiletramentos (COPE; KALANTIZ, 2009a). É nesse contexto que justificamos a utilização desse gênero discursivo como objeto de ensino de língua, conforme os PCNs preconizam ao indicarem que a língua é “um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade” (PCN, 1999, p. 23). Conclui-se que diversas manifestações linguísticas e culturais podem ser usadas como instrumentos para o ensino de Língua Materna, a partir da concepção de língua(gem) 28 Usamos, indiferentemente, Língua Materna e Língua Portuguesa. 43 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 como interação. Essas manifestações se constituem como textos orais ricos em arranjos linguístico-argumentativos no âmbito em que são produzidas. O Freestyle e outras manifestações culturais da sociedade podem motivar o aluno a aprender as diferentes possibilidades de uso da língua. Ademais, tal utilização poderá despertar o interesse desse aluno pelas aulas de Língua Materna, pois ele passará a olhar a escola como um lugar que também, em determinados momentos, compartilha com ele os diferentes saberes que o constituem. A prática de ensino por meio de manifestações linguísticas, como o Freestyle, pode constituir-se em uma prática de ensino mais dinâmica, por meio da qual um professor e um aluno, com olhares diferentes sobre a língua, podem construir uma outra forma de ensinoaprendizagem, um outro processo de formação de aluno – leitor e escritor. Esse gênero discursivo trabalhado na escola se apresenta como um meio de os alunos se afirmarem e se respeitarem como cidadãos, pois mostra a linguagem como um acontecimento real, que se faz num ambiente diferente. Além disso, é possível e interessante analisar as diferentes identidades das pessoas que participam desses eventos e o modo como, por meio da linguagem, reivindicam e/ou (des)constroem identidades. O estudo desse gênero envolve não só uma linguagem, mas toda uma questão política que pode ser trabalhada na escola abordando a questão do respeito às diferenças culturais e linguísticas de uma sociedade plural. Referências bibliográficas BATALHA DE MC’S FREESTYLE. Disponível em: <http://www.hiphop4elementos.com/2011/01/batalha-de-mcsfreestyle.html> . Acesso em: 06 out. 2010. MACHADO, Irene. Gêneros discursivos. In: BRAIT, Beth (Org.) Bakhtin – Conceitos Chave. 4. ed, São Paulo, Contexto, 2010. P. 151-166. BAKTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal. 4º ed - São Paulo: Martins Fontes, 2003. P. 261-306. BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. 2. ed. rev. Campinas, SP: Editora da Unicamp: 2004. COPE, B.; KALANTZIS, M. Multiliteracies: new literacies, new learning. Pedagogies: An International Journal, V. 4(3), 2009a, p. 164-195. Disponível em: <http://newlearningonline.com/kalantzisandcope/research-and-writing>. Acesso em: 03 dez. 2011. 44 Anais do I Seminário Processos de Formação Interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora da Unifal-MG, 2012. ISSN 2316-8420 BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio./ Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. _ Brasília: Ministério da Educação, 1999. FIORIN, José L. Linguagem e ideologia, 5. ed. São Paulo: Ática, 1997. 45 OS DIFERENTES TIPOS DE LEITURA DO QUIXOTE DE CERVANTES29 Ana Aparecida Teixeira da Cruz (PG-USP)30 O objetivo deste trabalho é o de promover uma breve reflexão a respeito dos diferentes tipos de leituras realizadas sobre o Quixote (1605/1615), do escritor espanhol Miguel de Cervantes, as quais foram feitas desde a sua publicação até as primeiras décadas do século XX. Para que se possa compreender como surgiram as diversas interpretações da obra cervantina, será de fundamental importância ter como referencial teórico-metodológico o estudo intitulado La concepción romántica del Quijote, do pesquisador britânico Anthony Close. Por intermédio desse trabalho, será possível elucidar que algumas abordagens seguem na linha do historicismo, uma vez que privilegiam o repertório cultural e social dos séculos XVI e XVII, bem como as coordenadas literárias vigentes na época, ao passo que outras caminham na linha interpretativa, baseadas apenas nos referenciais de seu próprio universo. São justamente as leituras que seguem nessa direção, isto é, a da livre interpretação, que afloraram com grande vigor em fins do século XIX e início do século XX, dando impulso à criação e, consequentemente, à difusão do mito quixotesco no imaginário coletivo de muitas culturas. No que diz respeito à linha do historicismo, pode-se dizer que esse tipo de leitura tende a reconstruir a época na qual o Quixote foi escrito, destacando os aspectos literários que o norteiam. Aqui, é possível reconhecer o diálogo que Cervantes estabelece com a Literatura Espanhola de seu tempo. Além disso, nota-se que ele teve em conta as preceptivas retóricas e poéticas vigentes no ambiente sociocultural seiscentista. Seguindo esse tipo de leitura, reconhecem-se os efeitos de sentidos que essa obra teria proporcionado aos leitores contemporâneos a Cervantes. Um deles é subentendido no prólogo do Quixote de 1605, quando ele revela ao público uma das proposições de sua obra: 29 O presente trabalho é fruto da Dissertação de Mestrado Dimensões da loucura nas obras de Miguel de Cervantes e Lima Barreto: Don Quijote de la Mancha e Triste Fim de Policarpo Quaresma (2009), a qual foi defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-02022010170141/pt-br.php 30 Bolsista de doutorado (Capes). E-mail: [email protected] 46 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Procurad también que, leyendo vuestra historia, el melancólico se mueva a risa, el risueño la acreciente, el simple no se enfade, el discreto se admire de la invención, el grave no la desprecie, ni el prudente deje de alabarla (CERVANTES, 2004, p. 14). Este fragmento põe em evidência que uma das intenções de Cervantes era a de que seu leitor pudesse ser contagiado pelo aspecto cômico e burlesco da narrativa, tendo como norte as peripécias de Dom Quixote e Sancho Pança. Outro intento era mostrar, sobretudo, aos mais letrados os artifícios de composição vigentes nos séculos XVI e XVII. Tendo em conta as reflexões de Anthony Close, percebe-se que, dependendo da perspectiva adotada, a dificuldade em compreender o Quixote pode ser maior ou menor. A leitura poderá ser mais complexa, quanto mais próxima estiver do contexto literário de Cervantes. De acordo com Jean Canavaggio (2005, p. 17), “Nosso olhar não é o dos leitores cultos do século XVII, que riam das extravagâncias de D. Quixote”. Com efeito, nosso olhar não é o mesmo dos leitores do século XVII, pois a leitura que é realizada a partir do Romantismo distancia-se muito da de um leitor do chamado Siglo de Oro, que tinha outra percepção de mundo. Ou seja, o homem do século XVII possuía outras referências para interpretar o Quixote, as quais, na maioria das vezes, não fazem parte do repertório do homem do século XX, como, a título de exemplo, as próprias novelas de cavalaria e, por sua vez, a paródia desses livros. É por meio da referência a esse universo literário que se pode realizar uma leitura de caráter histórico da obra de Cervantes. Seguindo essa perspectiva, observa-se que uma das dificuldades em entender o Quixote encontra-se justamente no reconhecimento de aspectos específicos da obra e, por este e por outros motivos, o leitor pós-romântico acaba adaptando, inconscientemente, a leitura do Quixote a seu tempo a partir de suas experiências de leitura e de seus conhecimentos literários. Dentro desta outra linha, a da livre interpretação, o Quixote acabou ganhando novos sentidos, os quais podem ser vistos, por exemplo, em fins do século XIX e início do século XX, especialmente em torno do ano de 1905, que foi dedicado às comemorações do terceiro centenário da publicação da primeira parte do Quixote. Observa-se que muitos romancistas e pensadores espanhóis – grande parte deles pertencente ao grupo de escritores da época da Generación de 98 – dedicaram-se a 47 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 escrever textos interpretativos – de caráter filosófico, político e literário – em homenagem ao cavaleiro manchego e, alguns, ao próprio Cervantes. Dentre os escritores que (re)visitaram o Quixote, desse período histórico, destacam-se Miguel de Unamuno (1864-1936), com seu trabalho intitulado Vida de Don Quijote y Sancho (1905); Azorín (1873-1967), representado por seu romance La ruta de Don Quijote (1905); e, finalmente, Santiago de Ramón y Cajal (1852-1934), acompanhado pelo discurso Psicología de Don Quijote y el Quijotismo (1905). Esses autores procuram destacar, a partir de parâmetros estabelecidos pelos românticos, uma leitura moderna e atualizada da obra de Cervantes. Unamuno resume bem essa ideia quando diz que “hoy ya es el Quijote de todos y de cada uno de sus lectores, y que puede y debe cada cual darle una interpretación, [...] como las que la Biblia suele darse” (1992, p. 133-134). É por meio dessa prática que esses romancistas e pensadores espanhóis escreveram, à sua maneira, o Quixote, adaptando-o ao seu contexto histórico, de modo a torná-lo “acessível” aos leitores de sua época. De acordo com Anthony Close (2005, p. 172), esses mesmos intelectuais da Generación de 98 compartilham de certas afinidades artísticas e intelectuais e, inclusive, de alguns anseios emocionais, os quais são frutos de um desejo de caráter patriótico que surgem com o propósito de apresentar possíveis soluções para o problema da Espanha. Problema este que se relaciona com as questões inerentes à decadência espanhola, fruto de uma derrota contra os Estados Unidos e da perda de Cuba, que era a última colônia espanhola em terras americanas. Devido às dificuldades enfrentadas pela Espanha, os noventayochistas se dedicaram a desenvolver diversos projetos de viés político e social, muitos deles encontrando no Quixote uma espécie de guia, que definia esse conjunto de intelectuais, considerando que, para a Generación de 98, a personagem Dom Quixote era o exemplo mais evidente da personalidade espanhola em sua história (CLOSE, 2005, p.173), servindo de fonte de inspiração para muitos escritores em suas composições artísticas. Referências bibliográficas CERVANTES, M. Don Quijote de La Mancha. Edição comemorativa do IV Centenário. Real Academia Española / Asociación de Academias de la Lengua Española. Edição e notas de Francisco Rico. São Paulo: Alfaguara, 2004. 48 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 CLOSE, A. La concepción romántica del Quijote. 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ISSN 2316-8420 ENSINO DE ESPANHOL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: CAMINHOS QUE SE ENTRECRUZAM Andreia Rezende (UNIFAL-MG)31 Katia Aparecida da Silva Oliveira (UNIFAL-MG)32 Após a aprovação da lei nº 11.161/2005 que determina a oferta da língua espanhola para o ensino médio, aumentaram os cursos de licenciatura em espanhol no país devido à demanda por profissionais aptos a atuar no ensino de língua espanhola nas escolas e cresceram, também, as discussões sobre a formação desses profissionais, pois boa parte dos professores que irá atuar nas escolas ainda está sendo formada. Deste modo se dedicará a analisar o que se espera do professor de espanhol e como está se dando a sua formação para corresponder às expectativas relacionadas ao estudo deste idioma no Brasil, o que pode ser uma maneira de garantir a qualidade do ensino de espanhol nas escolas. Visto que atualmente há poucas informações acerca da formação de professores de LE, e menos ainda sobre a formação de professores de espanhol, optou-se por recapitular a história do ensino de línguas no país, e a partir dos dados obtidos, organizar as informações acerca da formação de docentes, em especial de espanhol. Revendo a historia do ensino de LE no Brasil, podemos observar que a presença do espanhol no sistema educativo brasileiro foi bastante tímida. Ganhou algum destaque na Reforma Capanema de 1942, quando o espanhol compôs o currículo obrigatório da escola secundaria pela primeira vez e manteve uma presença minoritária, mas constante, nas décadas de quarenta e cinquenta. Depois, praticamente desapareceu com a promulgação da primeira LDB em 1961, como a maioria das LE, com exceção do inglês, e, em menor medida, do francês. Após alguns anos, mais precisamente a partir da década de 80, iniciou-se um lento processo de reaparição nas escolas, com destaque para o surgimento das associações de professores de espanhol, a criação do MERCOSUL e, por fim, a promulgação da lei nº 11.161/2005. 31 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Espanhol. Professora do Curso de Letras, Mestre em Letras (Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispanoamericana (USP), Coordenadora do PIBID/Espanhol, coordenadora do Subprojeto Língua, Literatura e Cultura Hispânicas/Prodocência/UNIFAL-MG. 32 50 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Analisando o histórico do ensino de LE no Brasil, percebe-se um problema relacionado tanto à valorização do ensino de línguas, quanto à formação de seus professores e pode-se inferir que o problema do ensino de LE no país não é apenas legal, pois mesmo nos anos de valorização do ensino de idiomas, a LE não tinha credibilidade em muitas escolas pela falta de capacitação de seus professores. Este parece ser um ponto a que se deva colocar atenção: aparentemente há uma histórica falta de cuidado com a formação de docentes de LE. As reformas que mais valorizaram o ensino de línguas no sistema educativo brasileiro foram a Reforma Francisco Campos, em 1931 e a Reforma Capanema, em 1942. Nestas reformas a lei apoiou o ensino de vários idiomas e deu instruções pedagógicas e metodológicas para que este ensino fosse de qualidade. No entanto segundo Leffa (1999, p. 11) o método de ensino proposto, que nas duas reformas foi baseado no método direto, não chegou a muitas salas de aula: “No caminho entre o Ministério e a escola, o método direto foi substituído por uma versão simplificada do método da leitura, usado nos Estados Unidos” devido ao pequeno numero de horas dedicadas ao estudo das línguas e “a carência absoluta de professores cuja formação linguística e pedagógica ensejasse o cumprimento de programa tão ‘avançado’” (CHAGAS, 1957, p. 92). Baseando-se nas palavras de Chagas (1957) é possível identificar a existência de problemas com a formação de professores de línguas no Brasil desde esse momento, pois, como o próprio autor diz, foi perceptível o fato de que esta lei gerou dificuldades no ensino de LE por sugerir o uso do método direto e, assim, estabelecer o ensino da língua no próprio idioma estudado, algo que exigiria dos docentes pelo menos a fluência na LE que deveria ensinar. O período de valorização do ensino de LE no Brasil entrou em declínio a partir da criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1961 e 1971. Picanço (2003, p. 46) diz que “por não ter uma política clara de investimentos na formação de professores, o MEC usou a precariedade do ensino de línguas estrangeiras como argumento para não torná-la obrigatória” (PICANÇO, 2003, p.45). A desvalorização do ensino de LE somada à falta de investimento na formação de professores, fez com que o ensino de línguas nas escolas públicas perdesse cada vez mais a credibilidade e que o espanhol praticamente desaparecesse das escolas 51 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 brasileiras, conservando-se, devido à grande influência do mercado norte-americano, apenas o inglês na maioria dos currículos. A atual LDB (lei nº 9394/96) recuperou de certa forma, a importância do ensino de LE na educação brasileira tornando obrigatório o ensino de no mínimo uma LE no ensino fundamental e duas LE no ensino médio: uma como disciplina obrigatória e outra em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. A escola de hoje espera que o professor de espanhol trabalhe os aspectos linguísticos, discursivos e culturais da língua e que tal docente esteja atento às pesquisas realizadas em sua área para manter-se atualizado e descobrir a cada dia um jeito novo de ensinar e aprender espanhol nas escolas. No entanto para que a escola e o ensino de língua espanhola possam cumprir com essa função é preciso que os professores sejam formados para tal atividade e este é um desafio intrinsecamente relacionado à formação inicial do professor, que muitas vezes é desvalorizada nas universidades. Ao longo do histórico, pode-se verificar uma desarticulação entre a orientação legal e teórica e a prática docente. A esse respeito seria possível dizer que ainda nos dias atuais - apesar de não haver muitas pesquisas que tratem da realidade do ensino de LE nas escolas - nos encontramos praticamente no mesmo lugar, pois muitas universidades parecem não se preocupar em manter-se atualizadas, formando assim, consequentemente, professores mal capacitados que continuam reproduzindo mais do mesmo que se produzia há décadas. Finalmente, pode-se pensar que o conhecimento do histórico da formação de professores de LE, em especial de espanhol, seria um meio de reconhecer problemas que se estendem, ao longo de anos, na formação desses profissionais e de desencadear discussões buscando desenvolver possibilidades de melhorias em cursos de formação inicial ou continuada de professores, a fim de contribuir com o panorama educacional em que estamos inseridos. Referências bibliográficas CHAGAS, R.V.C. (1957). Didática especial de línguas modernas. São Paulo: Companhia Editora Nacional. 52 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 LEFFA, V.J. (1999). O ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional. Contexturas, 223 p. APLIESP, n.4, p.13-24. Disponível em: <http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/oensle.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2012. PICANÇO, D. C. L. (2003). História, memória e ensino de espanhol (1942-1990). Curitiba: UFPR. 53 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 A RELEITURA DO ENTRECHOQUE DE CULTURAS EUROPEIAS E INDÍGENAS PELAS LEYENDAS DE GUATEMALA, DE MIGUEL ÁNGEL ASTURIAS Gracieli Cristina de Oliveira (UNIFAL-MG)33 Fernanda Aparecida Ribeiro (UNIFAL-MG)34 O período das invasões e colonização dos territórios americanos pelos espanhóis e portugueses marcaram histórico, político e socialmente o processo de formação dos povos latino-americanos e transformaram a cultura dos descendentes dos primeiros habitantes que viviam no Novo Mundo, os índios. O entrechoque das duas culturas marcou, consideravelmente, os povos em toda América e isso pode ser percebido na literatura desse povo. Em suas Leyendas de Guatemala (1930), o autor guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1899-1974) representa o entrechoque dos povos indígenas e europeus, demonstrando o quanto suas culturas estão imbricadas, utilizando técnicas das vanguardas, ao mesmo tempo em que recupera a tradição literária em seus textos. Ou melhor, recupera a tradição indígena descrita no Popol Vuh. Miguel Ángel Asturias é um exímio escritor dessa transculturação, pois sua origem guatemalteca o faz pensar na tradição indígena, que tem por base a tradição oral e o relacionamento íntimo com a natureza, mas seus contatos com André Breton (ensaísta e teórico do Surrealismo) leva-o a trabalhar em seus textos os conceitos de vanguardas vigentes em sua época. O escritor possui vários romances e outras narrativas que são exemplos da representação da mestiçagem cultural, mas para esse trabalho, optou-se por analisar algumas lendas do livro Leyendas de Guatemala, demonstrando como o autor constrói as narrativas, evidenciando o entrechoque cultural dos dois mundos que convivem na Guatemala. O escritor Miguel Ángel Asturias nasceu na cidade de Guatemala. Filho de Ernesto Asturias, advogado, e de María Rosales, de descendência maia. Entre quatro e sete anos de idade viveu na cidade de Salamá, pequeno povoado da província de Baja 33 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Espanhol. Professora do Curso de Letras, doutora em Letras/Literatura (UNESP-Assis), Coordenadora-adjunta do Prodocência/UNIFAL-MG, Coordenadora do Subprojeto Língua, Literatura e Cultura Hispânicas/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 34 54 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Verapaz, na qual teve seu primeiro contato direto com as tradições indígenas como ritos, lendas, curandeiros, bruxarias e crenças de seu povo. Com seu retorno à cidade de Guatemala, Asturias é educado em uma escola religiosa, baseada na doutrina cristã. Licenciado en Ciencias Jurídicas y Sociales pela Universidad Nacional de San Calos, onde se graduou com a tese intitulada El problema social del índio, um texto que apresenta, na visão de alguns críticos, um desprezo com relação aos índios. Nesta mesma universidade trabalhou como professor e teve uma vida política ativa. Foi exilado várias vezes. Fundou a Asociación de Estudiantes Unionistas e foi um dos fundadores da Universidad Popular de Guatemala. Em 1965 recebeu o prêmio Lenin da Paz e em 1967 o Nobel de Literatura. Depois de assistir às aulas de Georges Raynaud, diretor de um seminário sobre as Religiones de la América Precolombina en las Escuelas de Altos Estudios., E(e) de participar com Raynaud da tradução da versão francesa do Popol Vuh, encontra inspiração para escrever suas leyendas. Leyendas de Guatemala é uma obra indigenista, ou seja, um de seus temas é a defesa e valorização do índio como elemento constante. Na obra o escritor Ángel Asturias retoma sua própria origem e a identidade de seu país, tendo como inspiração e material o Popol Vuh. O autor trabalha sua narrativa baseada em técnicas surrealistas e encontra em seu país um campo fértil para seus trabalhos. Neste trabalho, serão analisadas “Leyenda del Sombrerón” e “Leyenda del tesoro del Lugar florido” como exemplos de textos, nos quais, a cultura indígena e a europeia estão imbricadas, num constante entrechoque. “Leyenda del Sombrerón” conta a história de um monge que renega as artes e que defende a religião em seu estado mais puro. Ele vive dentro de um monastério, enclausurado. Um dia uma pelota de hule entra em seu quarto pela janela e para em seus pés. O religioso fica deslumbrado com o objeto, mas tenta resistir à tentação que sempre volta para ele. “Leyenda del tesoro del Lugar Florido” relata um momento da conquista espanhola. Os índios estão comemorando o fim da guerra e à noite ocorre o comércio. Na manhã seguinte, as tropas do conquistador Pedro de Alvarado chegam à cidade sem dar tempo para o povo fugir. Contudo, todos foram mortos com a erupção de um vulcão que ficava ao lado da aldeia indígena. 55 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Referências bibliográficas ÁNGEL ASTURIAS, Miguel. Leyendas de Guatemala. Madrid: Alianza, 2005. ANONIMO. Popol Vuh. México: FCE, 2005. AZEVEDO, Érika; PONGE, Robert. André Breton e os primórdios do surrealismo. Revista Contigência. vol 3. n.2. nov 2008, p. 277-284. BARRERA, Trindad ( Coord). Historia de la literatura hispanoamericana. Tomo III. Siglo XX. Ediciones Cátedra, 2008. BELLINI, Giuseppe. Mundo mágico y mundo real: La narrativa de Miguel Ángel Asturias. 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Luís Eduardo Oliveira Costa (UNIFAL-MG)35 Kátia Aparecida da Silva Oliveira (UNIFAL-MG)36 Este trabalho se propõe a analisar a maneira como os pronombres sujeto são tratados nos livros didáticos de língua espanhola distribuídos pelo PNLD 2012 para o Ensino Médio, especialmente no que se refere à variação de uso desses pronomes nas diferentes regiões hispano-falantes e em diferentes situações comunicativas. De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM, 2006), o ensino de espanhol no EM deve se dar “de maneira plural e heterogênea” (p. 134), respeitando a diversidade da língua e das culturas que se manifestam por meio dela. Porém, muitas vezes os livros didáticos de espanhol abordam apenas uma variante da língua, que é normalmente a variante peninsular, ou um suposto “espanhol estândar”, que seria uma espécie de língua “neutra”, sem regionalismos e entendida por todos os falantes da mesma. Pensando nessa questão, esta pesquisa objetiva analisar se as três coleções de livros didáticos de espanhol aprovadas pelo PNLD 2012, a saber: “El Arte de Leer Español”, “Enlaces” e “Síntesis”, abordam a questão dos pronombres sujeto de acordo com o que dizem as OCNEM sobre o ensino das variantes linguísticas nas aulas de espanhol para o EM. Para sustentar a análise proposta, este trabalho conta com uma revisão bibliográfica acerca de como se dá o uso dos pronombres sujeto nos diferentes países hispano-falantes e de como os falantes de cada região encaram os conceitos de formalidade e informalidade ao usar esses pronomes. Após isso, serão consideradas as OCEM, tendo como foco o ensino das variantes linguísticas nas aulas de espanhol, para que se dê a conhecer como o ensino dessas variantes é tratado por um dos principais documentos que abordam os conteúdos a serem ensinados na disciplina “língua espanhola” no Ensino Médio. Em seguida, as três coleções referidas anteriormente serão 35 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Espanhol. Professora do Curso de Letras, Mestre em Letras (Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispanoamericana (USP), Coordenadora do PIBID/Espanhol, coordenadora do Subprojeto Língua, Literatura e Cultura Hispânicas/Prodocência/UNIFAL-MG. 36 57 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 analisadas individualmente, considerando os três volumes que cada uma delas apresenta. E num último momento será feita uma comparação entre a abordagem que cada uma dá às variantes linguísticas no que concerne aos pronombres sujeto. Os pronombres sujeto na língua espanhola são: yo, tú, vos, él, ella, usted, nosotros, nosotras, vosotros, vosotras, ellos, ellas e ustedes. No entanto, a variação no uso desses pronomes se concentra na segunda pessoa, do singular e do plural. Em conformidade com o que as OCEM dizem a respeito do ensino das variantes linguísticas nas aulas de espanhol, pode-se considerar que os livros didáticos do PNLD 2012 deveriam abordar todos os pronombres sujeto usados na língua espanhola, especialmente se consideramos que todos eles fazem parte de zonas de prestígio da língua (FANJUL, 2011, p. 299-331). Com relação às coleções analisadas, a primeira delas foi “Enlaces”, de Soraia Osman et al. Essa coleção não aborda o pronome vos em seus textos ou tabelas de conjugação de verbos, limitando-se a apenas citá-lo em alguns diálogos, sem uma explicação sobre tal fenômeno na língua espanhola. O pronome vosotros, apesar de ser abordado em toda coleção, não é explicado como específico da variante peninsular, e é usado nos diálogos e exercícios sem um maior detalhamento sobre seu uso. Porém, na página 34, há um texto tratando de uma realidade linguística que não costuma aparecer nos livros didáticos de espanhol: o uso de usted familiar em algumas regiões da Colômbia. Na página seguinte há também exercícios sobre tal variação linguística. Os enunciados dos exercícios tratam o leitor apenas por tú, e quando sugerem atividades em grupos tratam os leitores com o pronome ustedes. Sendo assim, em termos gerais é perceptível uma falta de identidade na variante que a coleção adota, parecendo que esta tenta aproximar-se a uma variante “estândar” do espanhol. Já a segunda coleção, “El Arte de Leer Español”, de Picanço e Villalba, tem como objetivo desenvolver a competência leitora dos estudantes, objetivando que estes saibam ler e interpretar textos em espanhol. A coleção não tem um capítulo específico para o uso dos pronombres sujeto, mas ao longo da coleção pode-se perceber que alguns textos contêm o uso do pronome vos, porém, sem uma explicação acerca dos seus usos e dos lugares que o utilizam. Apenas na página 33 há uma explanação dizendo que os pronomes tú e vos são usados em situações informais, e que usted é usado em situações formais, para o tratamento com pessoas desconhecidas (realidade que não se aplica a todos os países hispano-falantes), mais velhas e que são hierarquicamente superiores. 58 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Nas tabelas de conjugação de verbos, o pronome vos não aparece. O pronome vosotros, apesar de aparecer nas tabelas, também é pouco abordado ao longo da coleção e seu uso parece não ficar muito claro ao leitor. E por último, a coleção Síntesis, de Ivan Martin, em seu capítulo específico para tratamentos formais e informais, trata os pronomes tú, usted, vosotros (as) e ustedes durante todo o capítulo. Já o pronome vos é tratado separadamente, em um apartado chamado “Aprende un poco más”. Há nessa sessão uma explicação clara do que é o voseo, e alguns detalhes de conjugação de verbos no presente do indicativo com esse pronome. Já o pronome vosotros aparece como sendo específico da variante peninsular da língua, sendo pouco usado nos exercícios e nos textos ao longo da coleção. No entanto, nas tabelas de conjugações de verbos não se vê o pronome vos; apenas os pronomes usados nas variantes peninsulares da língua são colocados nessas tabelas, sendo vos um pronome que recebe um tratamento separado dos demais, em apenas alguns momentos do livro. A coleção também traz um texto tratando da inconsistência que os conceitos de formalidade e informalidade têm de acordo com os diferentes países hispano-falantes. Nele, pode-se observar que em países como a Espanha há uma tendência a se utilizar o tratamento informal mais facilmente do que em outros países, como a Colômbia e o Peru. Por meio das análises feitas, pode-se perceber que no geral as coleções selecionadas para este trabalho ainda parecem não dar conta de abordar todos os pronombres sujeto de maneira igualitária, respeitando as variantes linguísticas dos países que os usam, uma vez que o pronome vos, por exemplo, quase nunca aparece com o mesmo tratamento dado aos outros pronomes, além da extensão de uso do pronome vosotros, que é poucas vezes trabalhada. Outro aspecto que ainda é pouco trabalhado é a variação no conceito de formalidade e informalidade de acordo com as diferentes regiões hispano-falantes, que só é trabalhada na coleção “Síntesis”, enquanto que as outras duas coleções desconsideram essas variações e trabalham com uma única conceituação de formalidade e informalidade. Portanto, entre as três coleções analisadas, “Síntesis” é a que parece se aproximar mais do que as OCEM preconizam com relação ao tratamento das variantes linguísticas, ao menos no que se refere ao tratamento dado aos pronombres sujeto, enquanto que as coleções “Enlaces” e “El Arte de Leer Español” apresentam um menor aprofundamento com relação ao tratamento que dão às variantes dos pronombres sujeto, 59 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 uma vez que, como visto, alguns conceitos e explicações tendem a ser dados de forma simplista, ou não serem abordados, como é o caso do pronome vos na coleção Enlaces. Referências bibliográficas BRASIL – MEC-SEB. Orientações curriculares para o ensino médio. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006, volume 1. FANJUL, Adrián Pablo. “Policêntrico” e “pan-hispânico”: Deslocamentos na vida Política da Língua Espanhola. In Políticas da Norma e Conflitos Linguísticos. São Paulo: Ed. Parábola. 2011, pp. 299-331. MARTIN, I. Síntesis. São Paulo: Ática, 2010. OSMAN, S. et al. Enlaces. São Paulo: Macmillan, 2010. PICANÇO, D. C. L.; VILLALBA, T. K. B. El arte de leer español. Curitiba: Base Editorial, 2010. 60 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 OS CURSOS DE LETRAS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE E/LE: OBSERVANDO QUESTÕES RELATIVAS À DINÂMICA CURRICULAR Maria de los Angeles de Castro Ballesteros (UNIFAL-MG)37 Kátia Aparecida da Silva Oliveira (UNIFAL-MG)38 Os cursos de Licenciatura, como formadores de professores, têm sido alvo de críticas, discussões e pesquisas abundantes nas últimas décadas. Esses estudos se realizam sob os mais diversos enfoques: crenças e motivações; mudanças curriculares; articulação entre teoria e prática; abordagem de ensino e de aprendizagem, atestando a complexidade do assunto. No entanto, ainda que este amplo panorama de possibilidades de investigação esteja se desenvolvendo, segundo Shulman (apud MIZUKAMI, 2004) um aspecto central da vida da sala de aula tem sido pouco abordado: o conteúdo específico da disciplina que será lecionada. Mudanças substanciais nos paradigmas educacionais foram determinadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996 e, posteriormente, pelas Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (OCNEM), a partir de 2006, projetando o perfil almejado para o egresso do Ensino Básico. Atingir esse objetivo, por sua vez, requer, segundo recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, instituída pela Resolução CNE/CP nº1, de 18/02/2002, que o professor que chega à escola tenha sua formação baseada no desenvolvimento de competências que considerem os conteúdos como meio e suporte para a sua constituição, levando em conta coerência e articulação entre a teoria oferecida no curso e a prática esperada do futuro professor. Especificamente no que se refere à formação de professores de Língua Estrangeira (LE), torna-se evidente a necessidade de se repensar a dinâmica curricular e a oferta de conteúdos nos cursos de Letras que oferecem uma habilitação em LE a fim de estabelecer, além de um diálogo eficaz entre a formação adquirida no ensino superior e a prática que deverá ser levada à sala de aula, uma reflexão sobre seu “objeto de 37 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Espanhol. Professora do Curso de Letras, Mestre em Letras (Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispanoamericana (USP), Coordenadora do PIBID/Espanhol, coordenadora do Subprojeto Língua, Literatura e Cultura Hispânicas/Prodocência/UNIFAL-MG. 38 61 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 ensino”, de forma a romper com o ciclo vicioso que se instalou no sistema educacional, conforme afirma o professor Almeida Filho (1992). Paiva (2003, 2005) aponta para a influência dos “currículos mínimos”, extintos pela nova LDB (1996), na construção das dinâmicas curriculares das licenciaturas trazendo como herança uma arquitetura dos Projetos Políticos Pedagógicos de Curso que mantém ativo o modelo “3+1”. Almeida Filho (2001) recomenda que o enfoque da formação de docentes deva ser dado a um processo que busque desenvolver no futuro professor de LE sua capacidade para a comunicação, fazendo uso efetivo da língua alvo, mas, paralelamente, que esse desenvolvimento se realize de forma refletida. Nesse sentido, considerando todas as observações e conclusões trazidas pelos diversos pesquisadores consultados (ALMEIDA FILHO, 1992, 2001; MIZUKAMI, 2004; MOITA LOPES, 1996; PAIVA, 2003, 2005), é possível supor que a questão de formação de professores para o ensino de Espanhol como Língua Estrangeira (E/LE) tem um de seus principais problemas relacionado ao espaço dedicado ao estudo da língua nos currículos dos cursos de Letras. Diante desses relatos e observações, é inevitável questionar se os cursos de Letras, especificamente aqueles que se propõem à habilitação em Línguas Espanhola estão cumprindo seu papel de forma eficaz, visto haver lacunas importantes em suas dinâmicas curriculares relativas, não só ao desenvolvimento linguístico como, também, à formação didático-pedagógica específica para o ensino da língua alvo. Buscando elucidar essa questão, foram analisados os Cursos de Licenciatura em Letras, com Habilitação em Língua Espanhola, de quatro Universidades Federais que oferecem essa formação no estado de Minas Gerais. A escolha se deu por ser este um estado com grande oferta desse curso (sete IFES) e as instituições selecionadas foram aquelas às quais foi possível ter acesso aos Projetos Políticos pedagógicos (PPP) e às Dinâmicas Curriculares (DC) por meio de suas respectivas páginas na Internet. Uma análise comparativa entre a proposta pedagógica e o tempo dedicado à efetiva formação do futuro professor de E/LE, tendo como base a carga horária (CH) dedicada às disciplinas específicas da formação em espanhol com relação à CH de disciplinas oferecidas para a formação de outra habilitação ou do núcleo comum, buscou dimensionar o espaço dedicado ao estudo dos aspectos linguísticos, comunicativos e culturais, bem como à preparação específica para o ensino da língua 62 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 espanhola, em comparação com a CH de outras disciplinas obrigatórias componentes do curso. Os resultados dessa análise, ressaltando que duas das quatro universidades componentes do corpus deste trabalho oferecem habilitação única, permitem afirmar que o problema na formação dos futuros professores de E/LE não esteja, necessariamente, na habilitação dupla, como afirma Paiva (2003, 2005). A questão é mais preocupante, pois leva a crer que o problema é a formação de professores por si, independentemente de se tratar de formação para habilitações em LE ou não. Nas quatro universidades analisadas, os conteúdos pedagógicos parecem se desenvolver desvinculados de seu objeto de ensino, dificultando ao professor iniciante refletir sobre sua prática, o que leva à dependência de técnicas e “receitas” de como ensinar, seguindo dogmas estabelecidos pelo curso, como alerta Moita Lopes (1996). Quanto à formação linguística, constatou-se o pouco tempo dedicado à formação em LE, não só para o desenvolvimento de competências linguísticas e comunicativas, mas, principalmente, para o ensino da língua, nos cursos de Letras. Neste aspecto, confirmam-se, as afirmações de Paiva (2003) ao observar que de fato há um espaço privilegiado nas DC para os estudos de língua materna, mesmo quando oferecida a habilitação única em LE. Embora os PPP apresentem uma formação idealizada, em sintonia com as mudanças preconizadas pelos documentos oficiais, as DC demonstram que há ainda um longo caminho a ser percorrido para que tais mudanças sejam efetivamente postas em prática. Mesmo quando apresentam uma CH satisfatória para a formação linguística, os cursos de Letras com habilitação em Espanhol analisados parecem ter negligenciado a formação comunicativa e a articulação entre os conteúdos específicos. É essencial que se dedique um maior tempo para a formação de um indivíduo proficiente e seguro no uso da língua espanhola, capaz de refletir sobre seu objeto de estudo e de transformá-lo em objeto de ensino, oferecendo-lhe preparação para docência de forma específica, instrumentalizado de forma a atingir uma autonomia de aprendizagem e de ensino com base na reflexão sobre sua prática. ALMEIDA FILHO, J. C. P. O ensino de línguas no Brasil de 1978. E agora? Revista Brasileira de Lingüística Aplicada (1), Belo Horizonte, Faculdade de Letras da UFMG/ALAB, p. 15-29, 2001. 63 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 ______. O professor de língua estrangeira sabe a língua que ensina? A questão da instrumentalização lingüística. Contexturas, vol. 01, nº 01, p. 77-85, São Paulo: APLIESP, 1992. BRASIL. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Resolução n.1. Diretrizes para formação de professores da educação básica. Brasília, 18 de fevereiro de 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio - volume 1. Brasília: MEC/SEB, 2006. MIZUKAMI, M.G.N. Aprendizagem da docência: algumas contribuições de L. S. Shulman. Revista do Centro de Educação da UFSM. v. 29, n.02, p.33-49, 2004 MOITA LOPES, Luiz Paulo da. A formação teórico-crítica do professor de línguas: o professor-pesquisador. In: ______ Oficina de linguística aplicada: a natureza social e educacional dos processos de ensino/aprendizagem de línguas. Campinas: Mercado de Letras, 1996. PAIVA, V.L.M.O. A LDB e a legislação vigente sobre o ensino e a formação de professor de língua inglesa. In: STEVEN, C.M.T. e CUNHA, M.J. Caminhos e colheitas: ensino e pesquisa na área de inglês no Brasil. Brasília: UnB, 2003, p.5384. _______. O Novo perfil dos cursos de licenciatura em letras. In: TOMICH, et al (Orgs.). A interculturalidade no ensino de inglês. Florianópolis: UFSC, 2005. p. 345-363 (Advanced Research English Series). 64 Língua, literatura e cultura hispânicas Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: NOTAS SOBRE A REAÇÃO À POLÍTICA DE COTAS RACIAIS Aaron França Teófilo (UNIFAL-MG)39 Geovania Lúcia dos Santos (UNIFAL-MG/PG-UFMG)40 Luiz Carlos Felizardo Junior (UNIFAL-MG)41 Desde 2001, ao ser implementada a política de cotas raciais em universidades públicas brasileiras, estaduais e federais42, o debate acadêmico, político e jurídico entre os agentes sociais favoráveis e contrários a esta modalidade de ação afirmativa tem se afigurado muito intenso. No interior desta atmosfera calorosa de ponderação acerca das cotas raciais, nosso estudo teve como escopo compreender o fenômeno de reação à reserva de vagas universitárias destinadas ao segmento populacional autodeclarado negro, a partir da análise do discurso contrário ao instituto, proferido pelo então Senador e Presidente da Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça do Senado Federal, Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), durante sua participação na Audiência Pública sobre políticas de ação afirmativa de acesso ao ensino superior, realizada pelo Supremo Tribunal Federal em 2010. Buscando, portanto, compreender a lógica subjacente ao referido discurso, lançamos mão do instrumental teórico elaborado por Albert Hirschman em sua obra "A retórica da intransigência: perversidade, futilidade e ameaça", publicada em 1992, como ferramenta para dar inteligibilidade a este fenômeno. Ao selecionar e analisar alguns dos principais argumentos reativos a três momentos históricos de desenvolvimento dos direitos de cidadania43, este autor percebeu que os discursos "reacionários" são basicamente compostos por três tipos de raciocínio; e o desvelar desta tríade de raciocínios intransigentes - articuláveis entre si - permitiu que o cientista político 39 Discente do Curso de Pedagogia. Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG), Coordenadora do Subprojeto Diversidade na Educação Básica/Prodocência/UNIFAL-MG. Email: [email protected] 41 Mestre em Educação (UFMG), colaborador no Subprojeto Diversidade na educação básica/Prodocência/UNIFAL-MG e coorientador deste trabalho. E-mail: [email protected] 42 Como na UERJ, UNEB e UNB, conforme Piovesan (2006). 43 Para maiores detalhes ver o esquema tríplice do desenvolvimento da cidadania proposto pelo sociólogo inglês T. H. Marshall, que distinguiu três estágios seculares progressivos neste processo, a saber, a dimensão civil (século XVIII), a dimensão política (século XIX) e a dimensão social e econômica (século XX), sendo esta última entendida como complemento desejável e natural das dimensões civil e política da cidadania. 40 65 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 construísse o que denominou "três teses reacionárias", a saber, a tese da perversidade, a tese da futilidade e a tese da ameaça. Na tentativa de alcançarmos nosso objetivo, realizamos um trabalho de cotejamento entre as três teses de Albert Hirschman (1992) e o discurso do ex-senador Demóstenes Torres, cujos resultados evidenciaram que a retórica deste último acerca das cotas raciais em universidades públicas brasileiras afigura-se como uma retórica propriamente intransigente. Isto porque encontramos, nos argumentos do discurso destacados para nossa análise, as estruturas e os aspectos que nos permitiram associá-los aos três tipos de raciocínio que compõem as retóricas da intransigência delineadas por Hirschman, sendo relevante lembrar que estas ideias foram apresentadas com o objetivo de persuadir os ministros do STF a decidir pela inconstitucionalidade do sistema de cotas raciais, impedindo, assim, sua implementação. É pertinente ressaltar que, de modo geral, a posição defendida pelo parlamentar pode ser definida como uma reação duramente contrária ao sistema de reserva de vagas nas universidades públicas a partir do corte étnico-racial; sendo, contudo, favorável à adoção de ações afirmativas de corte social – as chamadas "cotas sociais", definidas pelo pertencimento socioeconômico dos pleiteantes, associada ou não, à trajetória de escolarização anterior em escolas públicas. Embora não tenhamos tido a oportunidade de aprofundar os estudos nesta direção, tendemos a acreditar na pertinência de afirmar que tais argumentos tendem a reduzir o problema racial, sistematicamente, a um problema de classe, segundo Roediger (2004), para quem “[...] o neoliberalismo e o neoconservadorismo afirmam, ambos, que a raça não é ou não deveria ser a ‘questão’, mas que o crescimento econômico (...) resolverá conflitos que têm apenas a aparência de girar em torno da raça.” (p. 49, grifo do autor). Contudo, ficou-nos claro que tais argumentos ora se baseiam em mitos, ora em estereótipos, ou seja, em noções que não deixam de dar alguma inteligibilidade às nossas relações étnico-raciais, mas que se revelam inconsistentes de acordo com o aporte teórico adotado neste estudo. Tratam-se, pois, de mitos, estereótipos e inconsistências que amiúde se encontram enraizados no imaginário dos que reagem de forma negativa ao sistema de cotas raciais. A partir da realização deste estudo, concluímos que argumentos como os do senador Demóstenes Torres contribuem primordialmente para a reprodução e a legitimação das condições de existência desiguais e muitas vezes precárias em que se 66 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 encontram a parcela negra da população brasileira, situação construída ao longo da construção histórico-social do Brasil, que se estende do período escravagista à contemporaneidade capitalista. A partir desse entendimento, nossa percepção inicial acerca da validade das cotas raciais para o processo de correção das distorções que marcam nossas relações étnico-raciais foi reafirmada, visto que tivemos a oportunidade de compreender que, dentre os objetivos desta política estão: a) promover, em curto prazo, a equalização das oportunidades de acesso ao ensino superior entre brancos e negros, ou seja, entre estabelecidos e outsiders (ELIAS; SCOTSON, 2000); b) favorecer a diversidade cultural no universo acadêmico; c) contribuir para a superação dos preconceitos e eliminação da discriminação infligida aos negros no Brasil. Contudo, entendemos que a política de cotas raciais não salvará a população afrobrasileira de todas as mazelas sociais que experimenta e, especialmente, as educacionais, como se se tratasse de uma entidade divina ou varinha de condão. É preciso, para que alcance seus desígnios, cruzá-la com outras medidas governamentais destinadas ou não aos afrodescendentes - por exemplo, as de caráter universalista, como a melhoria da qualidade do Ensino Básico. O fato da política de cotas raciais demandar uma especial sinergia de esforços em torno de outras ações de caráter afirmativo para os afrodescendentes não minimiza, contudo, sua pertinência neste país mui distante da tão propalada democracia racial. Por fim, resta apenas registrar que a ADPF 186 foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal (2012), que aprovou, por unanimidade, a constitucionalidade da matéria. Em decorrência desta decisão, tem havido uma interessante movimentação entre os gestores do ensino superior público, marcada por uma profusão de iniciativas, cuja implementação e resultados acompanharemos atentamente. Longe de minimizar a relevância de nosso estudo, este desfecho reafirma a necessidade de nos prepararmos para os embates que virão; preparo este que tem na compreensão das bases argumentativas daqueles que se opõem ao avanço dos direitos dos negros e seus descendentes uma dimensão importante, visto que nos municia para contribuir de alguma forma com o caloroso debate acadêmico em torno da política de cotas raciais. 67 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Referências bibliográficas ELIAS, Norbert e SCOTSON, John. L.; Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma comunidade; tradução Vera Ribeiro; tradução do posfácio à edição alemã, Pedro Süssekind – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. HIRSCHMAN, Albert O. A retórica da intransigência: perversidade, futilidade e ameaça. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. NOTAS TAQUIGRÁFICAS. Audiência pública sobre políticas de ação afirmativa de reserva de vagas no ensino superior. Brasília, 26 de fevereiro de 2010. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=processoAudienciaPublicaAca oAfirmativa>. Acesso em: 10 abr. 2011. PIOVESAN, Flavia. Ações afirmativas e direitos humanos. REVISTA USP, São Paulo, n.69, p. 36-43, março/maio 2006. ROEDIGER, David. R. Sobre autobiografia e teoria: uma introdução. In: WARE, Von (Org.) Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, Garamond, 2004, p. 41-62. 68 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 LIMITES E POSSIBILIDADES DA PEDAGOGIA SOCIAL PARA A EDUCAÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS - NO CONTEXTO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA Adriana Fernandes (UNIFAL-MG)44 Geovania Lúcia dos Santos (UNIFAL-MG/PG-UFMG)45 Considerando-se que o “pedagógico perpassa toda a sociedade [...] abrangendo esferas mais amplas da educação informal e não-formal” (LIBÂNEO, 1999, p. 3-5), constata-se, hoje, uma multiplicidade de formas, contextos e sentidos que a educação assume em oposição à centralidade da educação escolar. A percepção desta realidade nos coloca frente à necessidade de (re)pensar a Pedagogia, - entendida como um campo teórico-prático que desenvolve teorias sobre o fenômeno educativo, propõe princípios e normas quanto aos fins e meios da educação e orienta a prática educativa a partir de parâmetros construídos com base na investigação dessa mesma prática – a fim de compreender se e como a área tem acompanhado este movimento, e que aportes ela oferece para subsidiar as ações educativas que se desenrolam para além da escola. As práticas educativas dos movimentos sociais/populares – e de tantas outras formas organizativas da sociedade civil, tais como ONGs, associações, pastorais, colegiados, etc. – se inserem no contexto da educação não formal, que amplia o conceito de Educação para além da sua dimensão escolar – esta sim, formal –, sem a pretensão de com ela competir ou substituí-la. Nesta perspectiva, é possível afirmar que “os movimentos sociais têm sido educativos não tanto através da propagação de discursos e lições conscientizadoras, mas pelas formas como têm agregado e mobilizado em torno das lutas pela sobrevivência, pela terra ou pela inserção na cidade.” (ARROYO, 2003, p. 32). A partir deste entendimento do movimento social como espaço educativo e da atuação no projeto de extensão em interface com a pesquisa “Formação de agentes sociais e licenciandos para o tratamento das temáticas da diversidade étnico-racial e da identidade racial” - vulgo Interfaces -, propusemos a pesquisa “Limites e possibilidades da Pedagogia Social para a educação nos movimentos sociais - no contexto da extensão universitária”, a fim de tentar identificar, na análise dos pressupostos teórico44 Discente do Curso de Pedagogia. Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG), Coordenadora do Subprojeto Diversidade na Educação Básica/Prodocência/UNIFAL-MG. Email: [email protected] 45 69 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 metodológicos do projeto, elementos que o aproximavam da Pedagogia Social, tendo em vista o fato de esta área ser definida como [...] uma ciência pedagógica, de carácter teórico-prático, que se refere à socialização do sujeito, [...], assim como aos aspectos educativos do trabalho social. [...] O conceito de pedagogia social mais generalizado é o que faz referência à ciência da educação social das pessoas e grupos, por um lado, e, por outro, como ajuda, a partir de uma vertente educativa, às necessidades humanas [...]. (DÍAZ, 2006, p. 92) Nos limites de nossa análise, consideramos a relação pretendida, proposta e efetivada por iniciativa da universidade – entre ela e os agentes sociais/Núcleo de Consciência Negra de Alfenas-MG/NCNA –, como indicativa de uma dada concepção de extensão universitária, na qual é possível identificar a presença de pressupostos da Pedagogia Social. O reconhecimento da necessária horizontalidade das relações, a fim de instaurar um ambiente dialógico no qual a formação se desse na troca dos diferentes saberes, conhecimentos e formas de compreensão, é um dos aspectos que destacamos neste sentido. A expectativa de que a execução do projeto possibilitasse “a construção de práticas relacionais mutuamente acordadas entre os indivíduos” (mimeo, p. 5), foi outro aspecto por nós destacado como ponto de aproximação entre esta ação extensionista e a Pedagogia Social, dada à importância da presença e participação ativa de todos e de cada um dos diferentes sujeitos implicados na ação educativa; o que reforça seu caráter de construção coletiva e compartilhada de novas formas de compreensão dos temas desenvolvidos na formação. Das múltiplas dimensões abrangidas pela Pedagogia Social, percebemos que a interventora e formadora estavam presentes, e articuladas, na medida em que a transformação social pretendida – dimensão interventora – aparece como expectativa do resultado da realização desta, uma ação educativa. Ainda em relação à dimensão formadora, sua presença foi reafirmada na avaliação final da execução do Projeto, quando, a partir da fala de vários participantes, foi possível concluir pela satisfação dos objetivos propostos, o que significa termos contribuído para o desenvolvimento, nos participantes, de uma dada criticidade, a partir da qual se desencadeou um processo de (trans)formação das formas de compreender, culminando na (re)orientação das formas de intervenção em relação à temática em pauta. 70 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Por outro lado, ao colocar-se enquanto espaço de expressão para diferentes sujeitos e múltiplas questões, a universidade possibilita a seus docentes e discentes (re)conhecer as questões que afetam “trabalhar com eles, tendo em vista compreender o modo como se educam, como aprendem, como se socializam, “como se formam como sujeitos sociais, culturais, cognitivos, éticos, políticos que são” (ARROYO, 2003, p. 7). E isso, por fim, permite que olhemos para nossos modos de aprender, de nos socializar, de nos formar como sujeitos sociais, culturais, cognitivos, éticos, políticos que somos, com maiores e mais ricas possibilidades de nos aprimorar nesses processos a cada dia. Assim, o desenvolvimento deste estudo nos permitiu compreender que, apesar de a Pedagogia Social no Brasil ainda ser um campo em construção no plano formal, ações que contemplam seus princípios, seus meios e seus fins já ocorrem em diversos setores da sociedade, sendo a extensão universitária um tempo-espaço bastante apropriado para a sua implementação. Por outro lado, a análise dos fundamentos teórico-metodológicos do Interfaces nos mostrou as possibilidades que se abrem quando a extensão universitária é pautada por pressupostos da Pedagogia Social. No projeto Interfaces, a participação dos agentes sociais e dos estudantes de licenciatura contribuiu para a aproximação dos dois segmentos, oportunizando o aprendizado mútuo: no caso dos agentes sociais, a atuação junto aos estudantes potencializou a curiosidade acadêmica e estimulou a valorização do estudo como fonte para qualificar suas ações; no caso dos estudantes, o trabalho em parceria com os agentes sociais contribuiu para o fortalecimento de sua trajetória, formando-os como profissionais atentos, sensíveis e conhecedores de questões que, estando presentes no cotidiano das pessoas, certamente implicam o trabalho do educador, demandando sua intervenção. Assim, por meio da realização desta investigação, pudemos concluir que a Extensão Universitária, quando inspirada na Pedagogia Social, gera, ainda, outros ganhos significativos para a universidade, que tem a oportunidade de (re)conhecer a sociedade na qual está inserida e à qual deve atender e promover, o que amplia as possibilidades dessa instituição cumprir com sua função social, quando articula entre ensino, pesquisa e extensão. 71 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Referências bibliográficas ARROYO, M. G. Pedagogias em movimento – o que temos a aprender dos Movimentos Sociais? Currículo sem Fronteiras, v.3, n.1, p. 28-49, Jan./Jun. 2003. Disponível em: <http://www.curriculosemfronteiras.org/vol3iss1articles/arroyo.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2012. DÍAZ, A. S. Uma aproximação à pedagogia-educação social. Revista Lusófona de Educação, n.7, p. 91-104, 2006. LIBÂNEO, J. C. Pedagogias e pedagogos: inquietações e buscas. Educar, n. 17, p. 153-176. Curitiba: Editora da UFPR, 2001. PROJETO DE EXTENSÃO EM INTERFACE COM A PESQUISA: formação de agentes sociais e de licenciandos para o tratamento das temáticas da diversidade étnicoracial e da identidade racial. UNIFAL-MG. 2010-2011 (mimeo). 72 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 DESAFIOS E POTENCIALIDADES DAS TICS FRENTE AO FENÔMENO DE JUVENILIZAÇÃO DA EJA Beatriz Reneis Luiz (UNIFAL-MG)46 Vinícius Arcanjo Monteiro (UNIFAL-MG)47 Geovania Lúcia dos Santos (UNIFAL-MG/PG-UFMG)48 Cristiane Fernanda Xavier (UNIFAL-MG/PG-UFMG)49 As tecnologias informacionais têm desempenhado papéis importantes nas práticas cotidianas, e na educação não poderia ser diferente: uma observação rápida e mesmo desatenta do cenário educacional revela que pouco a pouco as tecnologias da informação e comunicação (TICs) têm se infiltrado no espaço escolar. Prova disto é o lançamento, pelo Ministério da Educação - MEC -, do Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO) no ano de 1997, visando à possibilidade de introduzir e/ou ampliar o uso e a acessibilidade às TICs na rede de educação básica, por meio da instalação de laboratórios de informática em escolas públicas. É certo que a informática e, mais especificamente as TICs, abrem importantes possibilidades educativas, podendo e devendo ser incorporadas como suporte técnico na educação escolar em geral. E no caso da EJA, tal incorporação demanda, do docente, a compreensão do modo como tal modalidade está configurada e tem sido ofertada contemporaneamente, bem como os desafios, limites e potencialidades que a compõem. Por meio desta compreensão, acreditamos que o docente possa identificar os meios que lhe permitam lidar de modo competente com estas novas ferramentas, possibilitando a estes sujeitos do direito a uma educação escolar de qualidade, ainda que tardiamente, de modo a contribuir para que eles desenvolvam a capacidade de utilizar o computador além do simples: ligar/desligar. Contudo, quando se fez algumas leituras iniciais sobre a EJA percebemos que o fato de se destinar a um público a partir dos quatorze anos e sem limite de idade, faz da heterogeneidade etária e geracional um elemento importante na configuração das turmas/salas de aula da modalidade. Vemos, então, que estas se apresentam, 46 Discente do Curso de Pedagogia. Discente do Curso de Pedagogia. 48 Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG), Coordenadora do Subprojeto Diversidade na Educação Básica/Prodocência/UNIFAL-MG. Email: [email protected] 49 Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG) e coorientadora deste trabalho. E-mail: [email protected] 47 73 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 potencialmente, como ambientes compostos por sujeitos que passaram ao largo da chamada revolução técnico-informacional, oriunda do processo de globalização, sem nenhum manejo das tecnologias digitais; e também por “nativos” da nova era digital adolescentes, jovens e jovens adultos que vivenciam todo esse processo de integração mundial das novas tecnologias da informação e estão minimamente adaptados a essa realidade; mesmo que em muitos casos o uso do computador, por eles, fique restrito pelo não acesso à rede. O conhecimento desta realidade nos levou à seguinte indagação: Que implicações a dimensão etária e geracional da Educação de Jovens e Adultos gera no processo de introdução das TICs, nesta modalidade, por meio da utilização do computador em práticas educativas? Como licenciandos e, portanto, futuros profissionais da educação básica (em suas diferentes modalidades de oferta), sabemos que na EJA o docente irá encontrar na sala de aula um público diverso, composto por sujeitos de idades variadas - a partir dos 14 anos -, portadores de experiências de mundo, escolaridade e habilidades cognitivas muito diversas; e têm a responsabilidade de realizar seu trabalho de forma a provocar, efetivamente, o aprendizado desses sujeitos. Na pesquisa realizada, para tentar responder a esta pergunta, seguimos o caminho investigativo de revisão bibliográfica da produção acadêmica publicada no último decênio no Grupo de Trabalho de Educação de Jovens e Adultos no site da ANPED50 (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação); buscando, por meio da análise desta produção, compreender a aplicação das TICs na educação, como elas estão sendo trabalhadas na EJA e, por fim, se a entrada de adolescentes e jovens com idade entre 14 e 29 anos interfere nos processos da aprendizagem informacional desta modalidade. No que se refere à produção acadêmica no período 2002- 2011, apresentada no GT 18 da ANPED, percebemos que: a) a maioria dos trabalhos resulta de investigação sobre práticas educativas e/ou ações diversas realizadas na EJA, sendo, portanto, o estudo de caso o procedimento metodológico privilegiado; b) são ainda poucos os estudos que discutem os processos de “juvenilização” da EJA; c) embora haja alguns 50 O site www.anped.org.br reúne uma grande quantidade de trabalhos publicados anualmente nas reuniões da associação, apresentando um importante panorama da produção acadêmica em torno da temática da EJA. 74 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 trabalhos discutindo a introdução das TIC na modalidade, é incipiente, ainda a produção que pensa este processo considerando a dimensão etária e geracional. Mesmo considerando que estas três características sejam relevantes para a compreensão de nosso objeto de estudo, chamamos especial atenção para a última na medida em que evidencia as poucas possibilidades que tivemos de avançar neste sentido, uma vez que tencionávamos compreender, por meio do estudo daquela produção, o modo como se tem lidado com a heterogeneidade etária e geracional característica da EJA nos contextos de aprendizagem informacional. Acreditamos que a dificuldade que sentimos em encontrar produções que discutam a introdução das TIC na EJA se deva, em parte, ao fato de estarmos lidando com um acervo teórico bem delimitado, como é o caso dos trabalhos apresentados na ANPED, no período recortado. Porém, essa limitação não explica totalmente os resultados a que chegamos, visto que se trata de uma importante associação científica para a qual convergem, certamente, as mais significativas pesquisas produzidas no campo educacional brasileiro a cada ano. Assim, tendemos a acreditar na possibilidade de avançarmos na compreensão de nosso objeto de pesquisa com uma futura ampliação do escopo da base bibliográfica analisada, sendo importante, contudo, ressaltar que esta primeira aproximação da produção teórica parece ter nos sinalizado a existência de uma lacuna na produção do conhecimento no que tange à questão que nos propusemos a compreender por meio da revisão da literatura. Por outro lado, por meio de nosso trabalho constatamos, também, que a utilização das TIC na educação escolar pública, ainda é incipiente, sendo a incipiência da discussão sobre esse processo ainda maior. E quando nos voltamos para pensar o desdobramento desta realidade na EJA vemos que muito frequentemente as conclusões da produção acadêmica fazem menção à ausência de políticas públicas nacionais de escolarização de jovens e adultos, havendo, na maioria deles, denúncia da desresponsabilização do Estado pela EJA, no bojo das reformas neoliberais, e a demonstração das fragilidades das medidas tomadas no período, nas três esferas de governo, com destaque para uma atuação positiva da sociedade civil e de alguns governos locais. Diante deste quadro, pensamos que se as políticas públicas educacionais não têm, ainda, dado conta de resolver questões básicas para a efetivação do princípio do direito à educação pública, gratuita e de qualidade, para todos, independente da idade, o 75 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 que se pode esperar, quando o assunto é a satisfação de uma necessidade de aprendizagem deste público e a ampliação da qualidade e adequação da educação daqueles para quem, segundo defendem alguns, o tempo já passou? Bem, pensamos que talvez isso ajude a explicar parte do fato de termos, ainda, poucas atenções voltadas para a compreensão de um tema, a nosso ver, de grande importância para quem defende e deseja uma educação de jovens e adultos capaz de responder, com qualidade, às demandas formativas do mundo contemporâneo, instrumentalizando mais adequadamente os que dela se servem, para melhorar a qualidade de sua inserção sócio, política econômica e cultural – como nós. 76 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 MODELO DE REPRESENTAÇÃO DE UMA CELA EM BRAILLE PARA APRENDIZAGEM DESTA GRAFIA POR TODOS OS ALUNOS INSERIDOS NA ESCOLA COMUM Cínthia das Dores Aguiar (UNIFAL-MG)51 Geovania Lúcia dos Santos (UNIFAL-MG/PG-UFMG)52 Débora Felício Faria (UNIFAL-MG/PG-UFF)53 O reconhecimento de que pessoas com deficiência podem compartilhar e se desenvolver no mesmo ambiente de estudo de alunos “ditos normais” tem ganhado atenção nas últimas décadas. Isso vem demonstrar que se faz necessário desenvolver a capacidade física, moral e intelectual do ser humano independente de suas dificuldades ou limitações, e a Constituição de 1988 foi um instrumento jurídico importante para o atual processo de implementação deste princípio na política educacional brasileira. Com a inclusão de alunos com deficiência nas classes comum de ensino, os profissionais da educação, têm valorizado a utilização de materiais adaptados em sala de aula para o atendimento destes alunos, buscando facilitar as relações entre professor/aluno e aluno/aluno para a aprendizagem. Esperam eles que estas ações ajudem a condições apropriadas para o aprendiz estudar e se constituindo como sujeito crítico nas relações sociais (SOUZA, 2010). Entendemos, contudo, que mais do que estar adaptados às necessidades dos alunos com necessidades educativas especiais, os materiais devem, também, ser passíveis de compreensão e utilização pelos demais alunos, sendo elemento um importante indicativo de processos educativos ou de ensino-aprendizagem inclusivos. Partindo desta premissa, desenvolvemos um estudo por meio do qual objetivamos contribuir para a identificação de alternativas didáticas capazes de contemplar a todos e a cada um dos alunos, no contexto da educação inclusiva. Em sala de aula são utilizados, com frequência, recursos didáticos como livros, imagens, e jogos, que são de grande importância para a promoção da aprendizagem. Entretanto, para que um processo inclusivo de ensino se efetive os professores devem trabalhar sinergicamente, pois, como afirma Mendes (2006), é comum que alunos com 51 Discente do Curso de Pedagogia. Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG), Coordenadora do Subprojeto Diversidade na Educação Básica/Prodocência/UNIFAL-MG. Email: [email protected] 53 Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFF) e coorientadora deste trabalho. E-mail: [email protected] 52 77 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 deficiência, quando inseridos no ensino comum, não recebem um tratamento apropriado, pela falta de profissionais qualificados ou recursos apropriados, que possam atendê-los em suas demandas e especificidades. A educação inclusiva tem por pressuposto o reconhecimento de que os alunos são diferentes entre si e, por isto, demandam atenção específica da escola e dos educadores, no sentido da criação das condições mínimas garantidoras do acesso, permanência e sucesso escolar de todos e de cada um. E embora haja um avanço na produção de materiais adaptados às necessidades destes alunos tais como dispositivos e ferramentas computacionais, o acesso a eles ainda é difícil acesso para a maioria das escolas públicas (SÁ, 2006). Assim, a confecção de materiais didáticos adaptados visando ao ensino e inclusão de alunos com de deficiência, vem se fortalecendo em diferentes áreas do conhecimento. Nesse sentido, destacamos a utilização de imagens adaptadas com legendas em Braille para alunos com deficiência visual no caso de cegueira e baixa visão, como área na qual tem havido significativos investimentos. Entretanto, a criação de materiais adaptados com legendas em Braille deve ser acompanhada também de instrumentos que favoreçam a aprendizagem da linguagem utilizada pelos indivíduos com deficiência visual, pelos alunos que não apresentem este tipo de deficiência; é importante que alunos (e, acreditamos, todas as pessoas) que não possuem quaisquer comprometimentos na visão conheçam como os ADVs se comunicam na escrita, pois este desconhecimento limita as possibilidades de interação entre os sujeitos. E, como já dito, não é possível pensar em inclusão quando os indivíduos não são capazes de relacionar e conhecer as necessidades de todos e cada um. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, realizada em três etapas: produção do material; submissão do material à avaliação (utilização de questionários); análise dos resultados da avaliação. A produção do material partiu do pressuposto de que a representação pictórica pode contribuir para compreensão e memorização dos pontos na cela Braille. Inicialmente foram produzidos seis tipos de materiais (Figuras I, II, III, IV, V, VI), todos construídos com a utilização de materiais recicláveis e de baixo custo. 78 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Figura I - Material nº 1 Figura IV - Material nº 4 Figura II – Material n° 2 Figura V - Material nº 5 Figura III – Material n° 3 Figura VI - Material nº 6 Pensando em um processo inclusivo, optamos por orientar nossa investigação no sentido da submissão de um material didático universal, produzido a partir da perspectiva de alunos com cegueira e/ou baixa visão e passível de utilização pelos alunos videntes, à avaliação de especialistas, a fim de aferir sobre sua adequabilidade, e a pertinência da sugestão de sua utilização para turmas comuns com todos os alunos. Ao avaliar os materiais, os três professores confirmaram sobre a adequabilidade do material I, II, III, IV e VI para a alfabetização da grafia Braille por todos os alunos, ressaltando que o tamanho e o formato dos materiais podem favorecer a identificação e memorização dos pontos em Braille. Já em relação às cores que foram utilizadas para produção dos materiais, ressaltou-se o cuidado com a escolha, pois a identificação das mesmas pode variar de acordo com o grau de acuidade visual do portador de baixa visão. Em relação o material n° V, os especialistas ressaltaram que estes se encontram aptos para utilização apenas de alunos videntes, devido à cor e textura. Os especialistas comentaram ainda a importância do material n° 6 (Caderno de texturas), pois para eles este pode ajudar a familiarizar os alunos com ADVs com diferentes tipos de texturas e sensibilizar a percepção tátil. Assim, chegamos ao final de nossa investigação com a sensação de termos atingido o objetivo de contribuir na criação de alternativas, em termos de materiais didáticos, para oferecer a todos os e a cada um dos alunos a oportunidade de participar ativamente do processo de ensino aprendizagem juntos, conhecendo e tendo condição 79 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 de lidar com as particularidades um do outro, visto que os materiais que confeccionamos - com exceção de apenas um -, obtiveram, de modo geral, uma avaliação positiva de sua adequabilidade para todos os alunos - com baixa visão, cegueira e videntes - pelos especialistas consultados. A partir deste resultado, inferimos que a utilização de materiais universais, produzidos a partir da perspectiva dos ADVs, poderá instaurar, nas salas de aula em que houver alunos com deficiência visual, um ambiente de ensino-aprendizagem de caráter inclusivo. Referências bibliográficas MENDES, E. G.. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação, n. 33, v. 11. 2006. SÁ, E. D. Acessibilidade: as pessoas cegas no itinerário da cidadania. Revista da Educação Especial/Secretaria da Educação Especial. v.1, n.1, p.13-18, 2006. SOUZA, L. F. N. I. Estratégias de aprendizagem e fatores motivacionais relacionados. Educar. Curitiba, n. 36, p. 95 – 107. 2010. 80 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 DISCUTINDO A DIVERSIDADE DO PÚBLICO ESCOLAR NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA EXECUÇÃO DE UMA ÁREA TEMÁTICA NO PRODOCÊNCIA Geovania Lúcia dos Santos (UNIFAL-MG/PG-UFMG)54 Luiz Carlos Felizardo Junior (UNIFAL-MG)55 A atuação, ao longo dos três últimos anos, na formação de professores da UNIFAL-MG, ministrando as disciplinas de Política Educacional e Gestão Escolar, associada ao estudo permanente destas temáticas e diálogos com outros profissionais da educação, estudantes e agentes sociais, tem favorecido a construção de algumas compreensões referidas às atuais orientações e configurações da educação pública brasileira, das quais se destacam: a) a ação do Estado no reconhecimento do caráter público da escola e de sua necessária democratização; b) a afirmação de que a efetivação do direito à educação, no Brasil, passa pela oferta de escola pública, que tem, dentre suas finalidades, a de contribuir para a superação das muitas desigualdades que marcam, indelevelmente, nossas relações sociais; c) o entendimento, expresso nas políticas educacionais, de que o atendimento ao direito educacional de todos os cidadãos implica no reconhecimento de que no interior deste todos há o cada um – aqui tomado como a expressão da singularidade e especificidade; d) diretrizes e normatizações que reconhecem a gestão dos sistemas educacionais, na forma democrática e participativa, como constitutivo fundamental da escola inclusiva; e) a percepção de que os docentes desempenham um papel decisivo neste processo. Assim vemos que na medida em que se consolida a democracia, a participação no mercado global e os direitos da cidadania “[...], mais se amplia o reconhecimento da importância da educação para a promoção do desenvolvimento sustentável e para a 54 Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG), Coordenadora do Subprojeto Diversidade na Educação Básica/Prodocência/UNIFAL-MG. Email: [email protected] 55 Mestre em Educação (UFMG), colaborador no Subprojeto Diversidade na educação básica/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 81 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 superação das desigualdades sociais”. (BRASIL, 2002, p. 4). Nesse contexto, cresce a necessidade de formação de docentes sensibilizados e reconhecedores da diversidade como “[...] elemento basilar para a construção de uma escola capaz de oferecer educação de qualidade, promovendo a todos e a cada um”. (TRINDADE, 2002, p. 14). Por outro lado e, em contraposição, temos no Ensino Superior um contexto no qual, na maioria dos cursos de licenciatura, prevalece um tipo de visão em que [...] é a atuação do físico, do historiador, do biólogo, por exemplo, que ganha importância, sendo que a atuação destes como “licenciados” torna-se residual e é vista, dentro dos muros da universidade, como “inferior”, em meio à complexidade dos conteúdos da “área”, passando muito mais como atividade “vocacional” ou que permitiria grande dose de improviso e autoformulação do “jeito de dar aula”. (BRASIL, 2002, p. 16, grifos do original). Neste contexto, contribuir para o fortalecimento da formação de professores por meio da participação em atividades, vivência de estudos em grupo e, em paralelo de realização de investigações sobre questões relativas à teoria e/ou prática educacional tal como previsto no Programa de Fortalecimento da Formação Docente/Prodocência mostrou-se, desde o início, como uma oportunidade de contribuir em favor da consolidação de uma escola e de uma educação democráticas e de qualidade. No que tange à discussão sobre a diversidade de público escolar e das questões que ele apresenta à escola, partimos de alguns pressupostos e constatações: I. Nosso país é excludente e a tônica das relações sociais é a negação das diferenças, e em paralelo à sua conversão em fontes de desigualdades; e a educação escolar está desafiada a enfrentar sua dificuldade de trabalhar pedagógica e afirmativamente com a diversidade de seu público; II. A compreensão da relação entre diversidade e educação básica implica delimitar um princípio radical da educação pública e democrática: a escola pública se tornará cada vez mais pública na medida em que compreender o direito à diversidade e o respeito às diferenças como um dos eixos norteadores da sua ação e das práticas pedagógicas; III. Na formação de professores, para o reconhecimento e tratamento da diversidade, o grande desafio está em desenvolver uma postura ética de não hierarquizar as diferenças e entender que nenhum grupo humano e social é melhor do que outro; 82 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 IV. A inserção da diversidade nas políticas educacionais, nos currículos, nas práticas pedagógicas e na formação docente implica compreender, pensar e agir de modo a superar nossas relações historicamente assimétricas, e as causas sócio, políticas, econômicas e culturais da desigualdade que marcam nosso povo; V. O reconhecimento e tratamento da diversidade do público escolar implica a adoção do princípio da inclusão, sob uma noção abrangente e politizada, que tem como eixo o direito ao trato, ao convívio democrático como enfrentamento a contextos marcados pela desigualdade e pela exclusão; VI. A efetivação do binômio inclusão e diversidade, como princípio orientador da educação pública, implica na superação de visões assistencialistas, e no reconhecimento da condição de sujeitos de direitos dos estudantes, reivindicando a adoção de políticas de promoção da igualdade e afirmativas, capazes de garantir que todos tenham condições de usufruir das oportunidades de acesso e permanência na escola e de obtenção de uma educação de qualidade. Dos desafios que emergiram a partir de nossa opção por trabalhar com base nestes pressupostos, o primeiro, e talvez mais importante, foi a necessidade de criar um ambiente favorável ao estudo da temática, por meio da proposição e execução dos minicursos e oficinas previstos como etapas iniciais do Prodocência. Como construir uma abordagem ampla o suficiente para dar conta de apresentar a temática da diversidade do público escolar sem, contudo, perder o foco da discussão? Na resposta a esta pergunta, duas decisões foram fundamentais: 1º. O reconhecimento da necessidade e importância de compartilhar a tarefa com um profissional da formação de professores sensível e atento à temática; capaz, portanto, de apresentá-la de forma a estimular nos licenciandos o desejo de melhor compreender algum aspecto a ela relacionado. 2º. A opção de acolher, para orientação, objetos de investigação propostos pelos próprios licenciandos, desde que convergentes com a área temática e passíveis de serem orientados por nós, considerando nossos conhecimentos prévios e/ou capacidade de dialogar e contribuir para a realização da pesquisa. Como resultado da combinação destes pressupostos, compreensões e opções, tivemos a oportunidade de vivenciar junto e com os licenciandos participantes desta 83 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 área temática uma experiência rica e desafiadora por meio da qual ousamos e dispusemo-nos a pensar a docência e a formação docente a partir da perspectiva dos que ingressam na escola pública, considerando que no interior da suposta homogeneidade, sob a qual a escola historicamente concebeu seu público, há o todos, no interior do qual está o cada um; cuja presença na escola se torna cada dia mais visível, permanente e desafiante. Os trabalhos produzidos na área temática, somados à satisfação de todos os envolvidos nesse processo com os resultados atingidos é o indicativo mais forte da importância de se privilegiar a articulação entre ensino e pesquisa na formação inicial docente, sobretudo para contemplar o estudo de temas que estão, como o nosso, na ordem do dia da educação. Referências bibliográficas BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP nº 001/2002. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena. TRINDADE, Azoilda Loreto da. Olhando com o coração e sentindo com o corpo inteiro no cotidiano escolar. In: _____. (Org.). Multiculturalismo: mil e uma faces da escola. 3. ed. Rio de Janeiro DP&A, 2002, p. 7-16. 84 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 NOTAS SOBRE A PRODUÇÃO DA ÁREA TEMÁTICA DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA Paulo Henrique de Queiroz Nogueira (DECAE/FAE/UFMG)56 O texto de apresentação dessa coletânea inicia sua conclusão com os seguintes dizeres: “Seis trabalhos, sete orientandos, um colaborador, três coorientadores e uma coordenadora-orientadora.” (SANTOS; FELIZARDO JUNIOR, 2012). Creio ser essa lista um bom indício, não apenas de uma contabilidade de encerramento de uma experiência que se demonstra exitosa, mas, com muito mais ênfase, um indiciário de caminhos percorridos e a percorrer, em que se evidenciam, nas várias mãos da tessitura dos textos, o interjogo das alianças tecidas entre parceiros expressos nos mais diferentes níveis de reconhecimento de autoria. São alianças que ultrapassam os muros da universidade e envolvem o seu entorno a trazer para ela novas relações de cumplicidade em que os temas tratados perpassam saberes e experiências diversos, num encadeamento em que pesquisa, ensino e extensão têm suas fronteiras mitigadas. E num movimento em que a autoria, ainda que centrada no rigor da produção acadêmica de professores e alunos, reconhece outros méritos nos saberes e práticas socialmente dispersos em questões que interpelam o conhecimento produzido academicamente. Aqui se somam aos autores outros parceiros nomeados pela escrita como agentes culturais, líderes comunitários, professores da rede pública, técnicos da universidade, entre outros, e a esses também se somam outros menos visíveis, mas que também acompanham a escrita como os anônimos sujeitos a quem muitas vezes nomeamos de portadores de deficiência, alunos da inclusão, atores socais ou ativistas dos movimentos sociais. Mas não nos enganemos, são esses anônimos que, imersos no aparente desconhecimento, sustentam a produção que por agora emerge e se apresenta ao público. É como se essa coletânea fosse um iceberg a mostrar um produto à vista em que o seu processo de argumentação permanece submerso e que só chegarão a conhecêlo os que se dedicarem a ler o que aqui se consolida como registro de uma memória do Professor Adjunto do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação – DECAE – da Faculdade de Educação – FAE – da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG -, convidado para ser mediador da área temática Diversidade na Educação Básica, lendo os textos, ouvindo as comunicações e comentando os resultados dos trabalhos. 56 85 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 já percorrido e também de um andaime com o qual se erguerá, com toda certeza, novas empreitadas. E é bom saber que o que aqui se fez e ora se apresenta também se encontra articulado com outros saberes e fazeres em que o produto final é um recorte de uma colcha maior, uma peça de um mosaico em que diferentes escritas urdidas por diferentes atores se entremeiam. Por isso não é de se estranhar que sejam saberes e práticas educacionais que aqui são mobilizados e postos em questão. A educação, por ter se mostrado um campo fértil e sensível a constituição do mundo social, expressa os dilemas e impasses da formação humana aqui incorporada pelos autores desses textos. Os professores e colaboradores, orientadores das pesquisas e intervenções, possuem uma solida inserção no campo educacional na polissemia que o termo educação assume ao conjugar conhecimentos científicos e saberes populares, práticas escolares e não-escolares, instituições com maior ou menor grau de complexidade organizacional, gestores públicos posicionados em diferentes níveis do sistema educacional. Ou seja, estamos falando de um rico e complexo campo de estudos e intervenção em que se somam e se interpenetram distintos sentidos do que se concebe por “educação”. Termo em que ressoa os contextos mais amplos da socialização em que se expressam o humano e por isso é urgente tratar de aspectos dessa problemática como as que tratam a publicação: a extensão universitária e a dinâmica social nos quais recursos e competências são aportados para pensar a intervenção comunitária; a educação/pedagogia social e os limites e possibilidades de mobilização social em uma experiência concreta de educação para a diversidade étnico-racial; a política de cotas no Ensino Superior brasileiro no discurso da reação durante o julgamento no Supremo Tribunal Federal; a diversidade étnico-racial na Educação Básica no que tange o impacto do racismo na escolarização de crianças negras; a inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular ao discutir a produção de material didático para o ensino-aprendizagem em braile; as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e seu uso em turmas de Educação de Jovens e Adultos no contexto de juvenilização de seu público. 86 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Questões que, sob o dístico da diversidade, rompem com a mesmice produzida por um olhar elitista e homogeneizador das diferenças e de suas explicações discriminatórias e culpabilizadoras ao dar voz aos diferentes até então subalternizados a uma normalização excludente. Só nos cabe, portanto, dar as boas-vindas a essa importante produção de professores e alunos da Universidade Federal de Alfenas/UNIFAL vinculados ao Departamento de Ciências Humanas do Instituto de Ciências Humanas e Letras dessa universidade. É bom ver que a formação de professores realizada pelos professores desse departamento está comprometida com essas dimensões tão importantes para a educação. É alvissareiro ver que o departamento, em que se abrigam os professores e professoras dos cursos de pedagogia e das demais disciplinas pedagógicas de outras licenciaturas, compreende a educação e a formação de professores em sua inerente relação constitutiva do humano. Sim, essa produção é de um conhecimento engajado, para não dizer militante. E propõe a formação de professores, em consonância ao Programa de Consolidação das Licenciaturas/Prodocência, como uma medida urgente para a garantia do reconhecimento do direito a uma educação de qualidades para todos e todas. Parabéns a todos os envolvidos na publicação, parabéns ao município de Alfenas e à UNIFAL-MG. Referências bibliográficas BRASIL, Programa de Consolidação das Licenciaturas PRODOCÊNCIA. Visualizado em 08 de setembro de 2012 em http://www.capes.gov.br/educacaobasica/prodocencia SANTOS, Geovania Lúcia; FELIZARDO JUNIOR, Luiz Carlos. Discutindo a diversidade do público escolar na formação inicial de professores: desafios e potencialidades da execução de uma área temática no Prodocência. Alfenas, 2012, 15p. (mimeo) 87 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 RAÇA E DESEMPENHO ESCOLAR: COMPREENDENDO OS IMPACTOS DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA ESCOLARIZAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS Pricila Oliveira Silvério (UNIFAL-MG)57 Geovania Lúcia dos Santos (UNIFAL-MG/PG-UFMG)58 Luiz Carlos Felizardo Junior (UNIFAL-MG)59 Historicamente o negro sofre com o racismo no Brasil, e quando se trata de crianças em fase escolar, infelizmente essa questão se torna ainda mais aparente, pois essa situação é manifestada na escola e se torna um elemento dificultador para o desenvolvimento das crianças negras. Embora ainda pouco discutido, principalmente nos cursos de formação de professores – inicial e/ou continuada –, o fenômeno da reprodução da discriminação racial na educação escolar e seus impactos no desempenho de crianças negras tem sido confirmado em uma série de investigações. Em estudo sobre evasão e repetência em âmbito nacional, Carvalho (2005), por exemplo, constatou que os índices são mais baixos para as crianças do sexo masculino, em especial alunos negros. Corroborando esta análise, Bento (2010) mostra que, no ensino fundamental, “temos a comprovação de que os meninos negros apresentam um baixo desempenho nesse nível escolar, em função da representação negativa com seus professores(ras) e, principalmente devido à arbitrariedade na avaliação docente.” (p. 6) Certamente, o fato de herdar a pior escola, o pior tratamento e as piores condições de escolarização, é potencialmente gerador de impactos negativos na trajetória de escolarização destes sujeitos. De modo geral, pode-se afirmar que, o racismo coloca s crianças na necessidade de superar vários obstáculos, a fim de obter aquilo que as demais obtêm fazendo um investimento escolar normal, ou até menor que o necessário (CARVALHO, 2004). De acordo com nossa investigação, apesar do rendimento escolar dos alunos negros ter melhorado durante a última década, quando comparado ao aluno branco, percebe-se haver, ainda, uma significativa distância que culmina em uma diferença em torno de 2,3 anos de estudos em favor dos alunos brancos. Assim, os resultados da comparação, apontam invariavelmente para uma significativa diferença entre o nível de 57 Discente do Curso de Pedagogia. Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG), Coordenadora do Subprojeto Diversidade na Educação Básica/Prodocência/UNIFAL-MG. Email: [email protected] 59 Mestre em Educação (UFMG), colaborador no Subprojeto Diversidade na educação básica/Prodocência/UNIFAL-MG e coorientador deste trabalho. E-mail: [email protected] 58 88 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 escolaridade dos jovens, quando analisados pelo viés da raça/etnia, sinalizando o modo como tantas trajetórias de insucesso dos estudantes negros terminam: precocemente, e alcançando níveis finais mais baixos que os demais alunos. Outro fator que nos leva a entender também o rendimento inferior do aluno negro, ao se comparar com o aluno branco, relaciona-se ao modo como os primeiros são tratados no ambiente escolar, fato que impacta, com igual gravidade sua autoestima. Dentre essas formas de tratamento, destacou-se, em nossa investigação, a prática de atribuir apelidos pejorativos relativos à pertença étnico-racial. Por outro lado, é também comum que alunos negros sofram diferentes tipos de constrangimentos, sentindo-se envergonhados e, podendo, inclusive ser alvo de violência física pelo fato de serem negros. A falta de apoio e defesa desses alunos na escola é outro elemento que se destacou em nossa análise, visto que o professor – figura na qual o aluno procuraria proteção para uma situação tão delicada – reproduz, em grande medida, esta forma discriminatória na relação que estabelece com os alunos negros. O fato de as professoras tenderem a clarear seus alunos, quando esses são considerados bons e obedientes, e a avaliar os alunos negros com mais rigor, principalmente se forem meninos, são dois aspectos que evidenciam esta realidade, conforme discutido por Alves (2012). Ainda no tocante à contribuição das relações interpessoais para a construção da baixa autoestima de alunos negros, é importante ressaltar que eles não têm em quem se espelhar na escola para a valorização de sua ascendência, pois, no geral, os professores tendem a ser brancos ou são tidos como tais – visto que o processo de clareamento em função da positividade da trajetória também os atinge –, salvo raras exceções nas quais encontramos professores negros, e com sua pertença étnico-racial autodeclarada. As mágoas, geradas na infância pelos alunos negros podem também surgir como consequência de aulas que não são bem dadas pelos professores, com abordagem inadequada de conteúdos, principalmente nas disciplinas de Geografia e História. Isto porque, a forma como os negros são (re)apresentados, nos conteúdos escolares aparece como mais um elemento a contribuir para a baixa autoestima destes estudantes. Fato que é bem evidente nos livros didáticos, que embora modificados com o passar dos anos, ainda não têm ajudado a transformar a visão que se constrói e dissemina na escola acerca dos negros. 89 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Nessas abordagens tradicionais, os alunos negros não têm referências a partir e com as quais se identificar positivamente no ambiente escolar, como, por exemplo, a um herói negro; geralmente, o que muitos professores enfatizam são os negros submissos e escravizados. Assim, a “ausência dos negros em livros didáticos, a inexistência de bonecas negras na escola, de cartazes, de filme da veiculação de imagens positivas do negro contribuem pra o processo de invisibilidade da criança negra no espaço escolar”. (ABRAMOVAY; CASTRO, 2006, p. 256). Para além da gravidade da situação em si, o que nos preocupa neste processo, não é só o modo como a discriminação é sofrida e o que ela gera na trajetória de escolarização destas crianças, mas o modo como ela é reproduzida, pelos que a sofrem, muitas vezes, também no plano étnico-racial, pois as próprias crianças negras, muitas vezes, atribuem estereótipos negativos a si mesmas e, por extensão, a colegas negros. Nesse sentido, são novamente as autoras Abramovay e Castro (2006) que nos auxiliam ao afirmar que “[...] embora os alunos negros pertençam a um mesmo grupo racial e sejam alvos das hostilidades, são raras as vezes que surgem manifestações de solidariedade entre esses alunos.” (p. 207) É importante, porém, reafirmar que tanto a discriminação dos brancos sobre os negros, quanto aquela que se verifica entre os próprios negros, se faz por meio da imposição, sobre o alvo do ato discriminatório, de estigmas, acusações, ofensas, enfim, diferentes formas de desqualificação acompanhadas pela “[...] tendência em culpar a vitima pelo estigma que lhe é imposto, [e que] retira de todos aqueles que a subjugam qualquer responsabilidade pela condição desfavorável imputada na relação com o restante da turma” (IDEM, p. 216) A atribuição da responsabilidade pela discriminação ao discriminado, serve, neste contexto, como um forte mecanismo de desvio da atenção do que de fato interessa: muitos querem, ainda, pôr a culpa nos alunos negros por serem o que e como são, responsabilizando-os pelos apelidos que recebem e demais agressões que sofrem; e quando eles reagem em defesa própria são considerados alunos problemáticos, alunos maus, maus alunos, indisciplinados, enfim, “abaixo das expectativas mínimas” principalmente por seus professores (ABRAMOVAY; CASTRO, 2006). Compreender essa realidade cuja superação segue sendo um grande desafio para a sociedade brasileira e conhecer alguns dos mecanismos por meio dos quais ela é reproduzida na escola, pode nos dar pistas para contribuir para a superação do racismo e 90 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 da discriminação racial neste ambiente e, por consequência, em outros ambientes da sociedade. Referências bibliográficas ABRAMOVAY, Mirian; CASTRO, Mary. Relações raciais na escola: reprodução de desigualdades em nome da igualdade. Brasília: UNESCO, INEP, Observatório de Violências nas Escolas, 2006.370p. ALVES, Aparecida Ferreira. Leituras do fracasso: considerações sobre gênero e raça no cotidiano escolar. 2012. p.1-10. Disponível em: <www.abrapso.org.br/.../605.%20leituras%20do%20fracasso.pdf>. Acesso em: 10 set. 2012. BENTO, Maria Aparecida. Proposta da série - Gestão/política pública/política de ação afirmativa e a Lei n. 10.639/03. In_____________ Gestão educacional para diversidade. ISSN 1982 – 0283, Ano XX Boletim 12 - Setembro 2010, p.5-12. CARVALHO, Marília. Quem é negro, quem é branco: desempenho escolar e classificação racial de alunos. 2012, p.77-95. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbedu/n28/a07n28.pdf.>. Acesso em: 10 set. 2012. CARVALHO, Marília. O fracasso escolar de meninos e meninas: articulações entre gênero e cor/raça. Cadernos Pagu (22) 2004: p.247-290. 91 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 ENTRE O CONVENCIMENTO E A MOBILIZAÇÃO SOCIAL: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL Thamires de Cássia Lima (UNIFAL-MG)60 Geovania Lúcia dos Santos (UNIFAL-MG/PG-UFMG)61 Partindo do reconhecimento de que as conquistas e avanços no âmbito formal, não se traduzem automaticamente em mudanças nas relações cotidianas, docentes do Departamento de Ciências Humanas do Instituto de Ciências Humanas e Letras – ICHL – da Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL–MG – firmaram parceira com uma entidade da sociedade civil comprometida com o enfrentamento das desigualdades étnico-raciais – o Núcleo de Consciência Negra de Alfenas - NCNA –, a fim de realizar uma ação articulada. Tal ação assumiu a forma de um projeto de extensão chamado “Formação de agentes sociais e de licenciandos para o tratamento das temáticas da diversidade étnico-racial e da identidade racial”. Em sua formulação original, previa-se executar as ações do projeto junto a um grupo de trinta e seis pessoas, sendo um terço de alunos da universidade e dois terços de agentes sociais. Tais números foram definidos a partir de informações dadas pela entidade parceira nos muitos diálogos realizados durante o planejamento da ação e desenho da proposta. Porém, durante o período de sua execução, percebemos um decréscimo gradual no número de agentes sociais participantes a cada atividade: dos vinte e quatro previstos inicialmente, o máximo de participantes deste segmento correspondeu a menos de um terço, decaindo consideravelmente de modo que, na última ação realizada, apenas três agentes sociais participaram. Tão logo fora detectada, essa situação chamou a atenção da equipe executora que concluiu pela dificuldade, por parte da entidade parceira, em mobilizar seus agentes para participar de uma ação de educação não-formal62 voltada para a discussão de 60 Discente do Curso de Pedagogia. Professora do Curso de Pedagogia e de outros Cursos da UNIFAL-MG, doutoranda em Educação (UFMG), Coordenadora do Subprojeto Diversidade na Educação Básica/Prodocência/UNIFAL-MG. Email: [email protected] 62 As ações de educação não -formal, como sugere Gohn, visam “[...] a formação do indivíduo para o mundo, abrindo janelas para novos conhecimentos, criando canais de aprendizagem que poderão levar os indivíduos à emancipação de formas de pensar e agir social” (2011, p. 12). Para os agentes sociais implicados, o projeto consistiu em uma ação de educação não - formal por se constituir como um processo educativo que não possui correspondência com qualquer nível da educação formal, muito embora tenha sido realizado no âmbito de uma instituição oficial de ensino. No caso de nossa investigação, pomos em relevo o fato de o projeto assumir este modelo para os agentes sociais pois 61 92 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 temáticas relacionadas a seu campo de atuação política, a fim de contribuir para o aprimoramento desta mesma atuação. O baixo potencial mobilizador da ação proposta levou-nos a tentar, por meio da realização de uma investigação teórica, compreender porque a maioria dos agentes sociais, mobilizados pelo NCNA para participar do projeto, em função de sua atuação junto à entidade, não se vincularam a ele. Neste percurso investigativo, construímos o entendimento de que a mobilização social pode ser pensada como o mecanismo por meio do qual se busca promover a adesão/participação dos sujeitos a/em uma causa; cujo sucesso depende diretamente da existência de uma identificação/vínculo dos sujeitos chamados com a causa em pauta. O fato de compartilhar um imaginário comum, conforme defendido por Henriques, Braga e Mafra (2002), é o elemento que faz com que os sujeitos se sintam parte importante para o sucesso da ação, o que favorecerá seu engajamento na mesma. Este entendimento fez emergir, aos poucos, novas perguntas: será que o problema, no nosso caso, se ligava ao para quê o chamado da mobilização destes sujeitos foi feito? O que este chamado anunciava? Por que razão estes agentes não se sentiram/reconheceram como essenciais para a realização, com êxito, da ação para qual estavam sendo mobilizados? A ação formativa para a qual os agentes sociais foram mobilizados teve no fortalecimento das ações empreendidas pelo NCNA e na formação inicial de professores um dos objetivos principais. Por suposto, a expectativa dos formuladores e proponentes da ação (docentes da universidade e as lideranças do Núcleo), era de que a questão racial representasse, para os agentes mobilizados, um importante apelo ao qual eles tenderiam a responder de modo quase automático. Contudo, este apelo “não colou”, levando-nos ao questionamento da forma como a questão da raça/etnia se faz presente na constituição da identidade política destes agentes e, por extensão, da própria aproximação/atuação dos mesmos na entidade parceira do projeto. Construída esta percepção, nos voltamos para tentar compreender porque o discurso étnico-racial não teve o potencial mobilizador que acreditávamos que teria? Em seu livro “Negritude sem Etnicidade”, Livio Sansone (2007) nos ofereceu algumas pistas interessantes a esse respeito. Segundo ele, o Brasil se caracteriza por ter reforça o indicativo, para eles, de não haver a possibilidade, de por meio desta participação, auferir ganhos mais significativos por se tratar de uma ação da e na universidade, tal como uma certificação “com maior valor agregado”, digamos assim. 93 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 [...] uma organização política relativamente fraca com base na ‘raça’ e na etnicidade, a despeito de uma longa história de discriminação racial. [...] em termos gerais, na América Latina, o que se considera negro é desvalorizado e traz conotações negativas [...]. Esse sistema de relações raciais possibilitou aos indivíduos manipularem sua identidade racial e funcionou contra a mobilização e a formação de grupos étnicos. (p.19-20, grifo nosso). A existência de um fraco sentimento de comunidade negra emerge, na análise desse autor, como um fator importante na explicação do fenômeno que investigávamos. De resto, segundo ele, sobretudo em se tratando de questões da esfera política, predomina a preferência por valorizar e aderir à identidade conferida aos sujeitos por sua situação socioeconômica. Em face a essas constatações, identificamos a fragilidade da identidade racial como um elemento importante para a compreensão da baixa participação/adesão de agentes sociais na ação formativa proposta pelo Núcleo de Consciência Negra de Alfenas, em parceria com a Universidade Federal do mesmo município. Entendemos, assim - ainda que provisoriamente -, que a ideia inicial, alimentada por estes parceiros, acerca da possível efetividade do “apelo à raça”, não se confirmou, exatamente por não haver, nos sujeitos mobilizados, o compartilhamento de uma identidade racial consolidada ao ponto de orientar suas ações; razão pela qual viram pouco sentido em sua participação. É importante ressaltar que as respostas encontradas, ainda que parciais e provisórias atenderam ao nosso objetivo na medida em que nos revelaram, por um lado, a complexidade que há por detrás da mobilização dos sujeitos para a participação de ações coletivas e, por outro lado, o “colorido” especial que esta complexidade traz quando o tema em pauta se relaciona à questão étnico-racial no Brasil. Referências bibliográficas GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011 (Questões da nossa época, v. 26). HENRIQUES, Márcio Simeone; BRAGA, Clara Soares; MAFRA, Rennan Lanna Martins. O planejamento da comunicação para mobilização social: em busca da co- 94 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 responsabilidade. In: HENRIQUES, Márcio Simeone (Org.). Comunicação e estratégias de mobilização social. Belo Horizonte: Dom Bosco, 2002. cap. 2. p. 27-49. SANSONE, Livio. Negritude sem etnicidade: o local e o global nas relações raciais e na produção cultural negra do Brasil. Salvador/Rio de Janeiro: Edufba; Pallas, 2007. 95 Diversidade na educação básica Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 A RELAÇÃO ENTRE CURRÍCULO E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO NO COTIDIANO ESCOLAR Lucélia Carla Silva dos Anjos (UNIFAL-MG)63 Daniela Schiabel (UNIFAL-MG)64 Nilton Luiz Souto (UNIFAL-MG)65 Helena Maria dos Santos Felício (UNIFAL-MG)66 A escola é uma criação humana. E como tal, foi responsabilizada pelo próprio contexto social para cumprir uma função específica: ensinar às novas gerações os elementos da cultura necessários à vida em sociedade. Dessa forma quando pensamos nos objetivos da educação escolarizada não podemos deixar de considerar que, segundo Castro (2001, p. 15), “a primeira peculiaridade do processo de ensinar seria sua intencionalidade, ou seja, pretender ajudar alguém a aprender”. Este caráter intencional da educação escolar evidencia a necessidade do ensino em produzir transformações no aprendiz de modo que o mesmo se torne melhor e mais capaz. Nesse sentido, é preciso definir, a priori, que “tipo” de sujeito uma sociedade almeja e, consequentemente, quais as aprendizagens que serão necessárias para que esse fim seja alcançado. A esse conjunto de definições sobre finalidades, objetivos, conteúdos, meios, relativos ao processo de ensino e de aprendizagem, bem como toda a experiência vivida pelos sujeitos envolvidos no processo educacional denomina-se “currículo”. Sua compreensão pode ser evidenciada em uma perspectiva mais restrita, limitada ao rol de conteúdos a serem ensinados na escola, ou pode ser compreendido de forma mais ampla. Ou seja, como um projeto que contempla todas as dimensões da vida do educando, que considera a experiência destes educandos, que os assume como sujeitos capazes de construírem conhecimentos, deixando de aparecer como um ser passivo, mas evidenciando-se como sujeitos ativos no próprio processo de aprendizagem. Como não é possível conceber o currículo fora de uma situação concreta de ensino e de aprendizagem, a escola se constitui como espaço socialmente institucionalizado que abriga tal situação concreta e, consequentemente, o seu Projeto 63 Discente do Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected] Discente do Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected] 65 Mestre em Educação (PUC-SP) e coorientador deste trabalho. E-mail: [email protected] 66 Professora do Curso de Pedagogia, Doutora em Educação (Currículo) (PUC-SP), Coordenadora Institucional do PIBID/UNIFAL-MG, orientadora deste trabalho, Coordenadora do Subprojeto Estudos de Currículo/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 64 96 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Político Pedagógico (PPP) se apresenta como um instrumento fundamental na construção do currículo no cotidiano escolar, por ser ele responsável por organizar o trabalho pedagógico na instituição escolar. Segundo Veiga (2002), PPP é fruto de reflexões e investigações em torno da realidade escolar e de seus atores, exigindo, portanto, uma “profunda reflexão sobre as finalidades da escola” (p. 9). Neste sentido, este trabalho tem por objetivo contribuir com essas reflexões, uma vez que o mesmo intenciona analisar a forma pelas quais os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental de uma microrregião do Sul de Minas Gerais compreendem a relação entre Currículo e PPP, no cotidiano escolar, sobretudo no desenvolvimento do seu exercício profissional que deve refletir, entre outras coisas, as opções curriculares feitas pela comunidade escolar da qual pertencem, que se mostram organizadas no PPP de tal instituição. A análise das relações entre o Currículo e PPP estabelecidas por professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, no desenvolvimento de suas atividades no cotidiano escolar, foi pautada, em um primeiro momento, na abordagem quantitativa. Contudo, não queremos enfatizar somente os dados numéricos, eles nos apontam para a necessidade de uma análise qualitativa, visto que o objeto em estudo nos remete à compreensão de uma determinada realidade. Para este estudo, utilizou-se o questionário, composto por questões fechadas, como procedimento metodológico para coleta de informações, uma vez que ele, ao se constituir em um conjunto de questões pré-elaboradas, sistemáticas e sequencialmente dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa (CHIZZOTTI, 2001, p. 55), permitiu alcançar rápida e simultaneamente um grande número de pessoas. Após a definição da população para a pesquisa constituída por uma amostra de dez professores de cada cidade que compõem uma microrregião do Sul de Minas Gerais, realizamos uma pesquisa piloto, com dez professores voluntários. O resultado do teste piloto contribuiu para que o questionário fosse readequado. Assim, a partir de um contato prévio com a Secretaria de Educação dos municípios que compõem a microrregião analisada, encaminhamos os questionários aos professores respondentes. Ao todo foram, 110 questionários disponibilizados e obtivemos o retorno de 97 questionários respondidos. 97 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 As informações recolhidas foram organizadas em tabelas, o que permitiu classificar, categorizar, descrever e analisar a concepção da realidade construída a partir do estudo bibliográfico realizado anteriormente. As respostas obtidas para um conjunto de questões que indicaram o conhecimento do PPP, sua elaboração e avaliação; a utilização do PPP na elaboração do planejamento das aulas; e a explicitação no PPP, do currículo que deve ser desenvolvido no cotidiano escolar, foram, por nós entendidas como elementos centrais para a compreensão da relação entre currículo e PPP. Por intermédio dos dados apresentados, constatamos que existem fragilidades no que se refere a essa compreensão, sobretudo, porque a participação coletiva na elaboração do PPP e na sua utilização como referencial para a elaboração das ações propostas no cotidiano escolar ainda não são totalmente alcançadas. Como o trabalho docente tem uma forte tendência de assumir certa individualidade, é comum percebermos que os objetivos traçados no PPP nem sempre são ecoados nas individuais de cada professor. Isso foi perceptível quando evidenciamos que um número reduzido de professores utiliza o PPP para nortear suas ações pedagógicas no cotidiano da escola, corroborando, assim, para que o PPP não seja assumido como um instrumento capaz de transformar a realidade em que estão inseridos. Desse modo, entendemos que seja pertinente a necessidade de se construir conhecimentos favorecedores de ações que contribuam no sentido de compreender, mais efetivamente, a relevância do PPP para determinar a finalidade de cada escola e explicitar o currículo que objetivam. Referências bibliográficas CASTRO, A. D.; CARVALHO, A. M. P. Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Thomson Learning Edições, 2001. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas. 5. ed. São Paulo: Cortez, Editora, 2001. VEIGA, I. P. A (Org.) Escola: espaço do projeto político-pedagógico. 6. ed. Campinas: Papirus, 2002. 98 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 A CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR: O PLANEJAMENTO EM FOCO Amanda Chiaradia Magalhães(UNIFAL-MG)67 Helena Maria dos Santos Felício(UNIFAL-MG)68 Nilton Luiz Souto(UNIFAL-MG)69 As reflexões das vivências como alunos nos diferentes segmentos de ensino e em especial as conversas formais e informais realizadas na sala de aula com os professores, nos possibilitaram, entre outras coisas, problematizar a importância do planejamento na prática pedagógica, alimentando o espiral da ação-reflexão-ação. Assim como o contato com o projeto pedagógico e a avaliação, o ato de planejar é um dos fatores evidenciados pelas literaturas, que possibilitam perceber as diferenças existentes na prática pedagógica frente à construção do currículo escolar. A relevância em compreender como o planejamento acontece nas instituições é significativa, por entendermos que, através deste fator, são reveladas as intenções e os objetivos que o professor pretende atingir. Entendendo o currículo como uma seleção de conteúdos, culturas e saberes, é no planejamento que estes se explicitam, e por meio dele que a prática do professor se concretiza. Isso leva-nos a considerar que não podemos desprezar a influência do planejamento no desenvolvimento de estratégias pedagógicas praticadas pelos professores, conforme afirmam Fusari (1990), Leal (2005), Santos (2009), etc. O objetivo deste estudo é, portanto, relacionar as teorias adquiridas no curso de graduação em Pedagogia e no I Ciclo de Estudos do Programa de Consolidação das Licenciaturas (PRODOCÊNCIA) com as práticas manifestadas pelos professores da micro região de Alfenas – MG na construção do Currículo Escolar, tendo como foco o planejamento de ensino. Para alcançarmos o objetivo deste trabalho, optamos pela pesquisa qualitativa (CHIZZOTTI, 1991), privilegiando a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, utilizando o questionário com perguntas fechadas e de múltipla escolha como instrumento para recolher os dados. O trabalho de campo foi desenvolvido com uma 67 Discente do Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected] 68 Professora do Curso de Pedagogia, Doutora em Educação (Currículo) (PUC-SP), Coordenadora Institucional do PIBID/UNIFAL-MG, orientadora deste trabalho, Coordenadora do Subprojeto Estudos de Currículo/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 69 Mestre em Educação (PUC-SP) e coorientador deste trabalho. E-mail: [email protected] 99 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 amostra aleatória de professores que atuam nos anos Iniciais do Ensino Fundamental. As informações foram organizadas em tabelas, o que permitiu categorizar e analisar a realidade. O professor necessita de uma série de habilidades e competências com vistas a obter bons resultados em suas ações. O ato de planejar é uma delas, devendo ser iniciado antes mesmo de o professor entrar em contato pela primeira vez com uma turma de alunos. Nesse sentido, o professor deve organizar sua disciplina após inteirarse das diretrizes curriculares do curso, com vistas a possibilitar que os alunos compreendam o significado daqueles conteúdos. Para a elaboração de um planejamento consistente, o seu processo de construção exige organização, sistematização, previsão, decisão, entre outros aspectos com a finalidade de garantir a eficiência e eficácia de uma ação (LEAL, 2005). É através do planejamento escolar que são selecionados os conteúdos a serem ministrados, a predileção por um tipo de conhecimento, de uma determinada identidade ou subjetividade a ser construída. Neste sentido, o currículo é “sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes” (SILVA, 1999, p. 15), tendo por trás sempre uma relação de poder. Outros aspectos relevantes relacionados ao planejamento da ação pedagógica referem-se ao ato de considerar a realidade, as expectativas, o conhecimento prévio e as condições econômicas e culturais dos alunos, além do contexto em que a escola está inserida. É fundamental que a escola encontre outras formas de construir o planejamento de ensino (para além do preenchimento de papéis), desencadeando um processo de repensar. A necessidade de compreender, como o planejamento, apresenta-se na prática pedagógica dos professores das séries iniciais do ensino fundamental da microrregião de Alfenas-MG, levou-nos, num primeiro momento, às reflexões de nossas experiências pré-profissionais, em especial, as socializações com alunos e professores durante o curso de graduação em Pedagogia. Um segundo momento, caracterizou-se pela pesquisa bibliográfica, a qual nos permitiu a busca de significados relacionados ao planejamento e um melhor entendimento e diferenciação entre plano e planejamento. A partir dessas reflexões, compreendemos que a construção do plano requer organização, previsão, decisão e reflexão, uma vez que ele é a referência da prática docente; superando a ideia restrita de 100 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 que planejamento é preencher papéis que devem ser entregues aos especialistas da escola. O professor é o sujeito que, respeitando os documentos curriculares oficiais, moldará e consequentemente selecionará o currículo e deixará explícita a metodologia assumida e o que privilegia por meio do seu plano de ensino. Depois do caminho de análise dos questionários que fizemos percebemos que os professores tem aliado sua prática ao planejamento e ao plano de ensino uma vez que estão se atualizando, profissionalmente e diariamente, na construção dos planos de aula. No que se refere ao planejamento os dados colhidos foram satisfatórios, no que diz respeito à metodologia assumida para construção da aprendizagem, os professores elegeram o livro didático e aulas expositivas como instrumentos importantes. Entretanto, os sujeitos pesquisados não se restringem a essas práticas, citando que trabalham com projetos e constroem os planejamentos em conjunto com todo corpo pedagógico. Nesse sentido, o plano de ensino vem assumindo um papel de destaque e importância na escola, sendo cada vez mais refletido, discutido e compartilhado pelos docentes. Outra constatação que requer atenção refere-se aos professores considerarem apenas os resultados das avaliações externas, desprezando outros fatores importantíssimos, como por exemplo, a valorização do contexto de vida dos alunos, que se levado em consideração, faz com que o plano esteja aliado ao lugar que será aplicado, fazendo com que as chances de sucesso na aprendizagem aumentem. Acreditamos que é possível atingir as metas exigidas através de trabalhos menos cansativos e repetitivos. Consolidar, refletir e desenvolver as orientações presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos Projetos Pedagógicos dos cursos não é uma tarefa simples, e entendemos que as orientações presentes nas Diretrizes permitem colocar em discussão aspectos fundamentais da prática docente, dentre os quais destacamos o preparo de um planejamento que possa de fato orientar o trabalho em sala de aula. A partir da análise dos dados percebemos também que há uma interação significativa entre os professores, compartilhando seus planos e planejamentos em reuniões, opondo-se ao individualismo docente. Esta pesquisa demonstrou como o planejamento apresenta-se na prática pedagógica de noventa e sete professores da microrregião estudada. Esperamos que as 101 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 reflexões presentes neste estudo possam oferecer alguma contribuição para a efetivação da prática docente. Referências bibliográficas CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1991. FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e tentativas de respostas. Disponível em: <http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/ espaco-praxispedagogicas/GEST%C3%83O/ o%20planejamento%20do% 20trabalho.pdf>. Acesso em: 10 maio 2012. LEAL, Regina Lucía Barros. Planejamento de ensino: peculiaridades significativas. Disponível em: <http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3197145> . Acesso em: 10 maio 2012. SANTOS, Lucíola. A construção do currículo: seleção do conhecimento escolar. – Salto para o Futuro. Currículo: Conhecimento e Cultura - Abril/2009 Disponível em: <http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/171510Curriculo.pdf>. Acesso em: 10 maio 2012. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 102 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 A CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR: O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS EM FOCO Amanda da Silva Bernardes (UNIFAL-MG)70 Janine Gabrielle dos Santos (UNIFAL-MG) 71 Helena Maria dos Santos Felício (UNIFAL-MG)72 Nilton Luiz Souto (UNIFAL-MG)73 As observações que o professor faz para identificar o desempenho dos alunos, as propostas de trabalhos interdisciplinares e a interação são alguns fatores evidenciados pelas literaturas que possibilitam perceber a prática pedagógica exercida pelos professores para a construção e desenvolvimento de competências. O objetivo deste estudo é relacionar as teorias adquiridas no curso de graduação em Pedagogia com as práticas manifestadas pelos professores de uma microrregião, localizada no Sul do Estado de Minas Gerais, na construção do Currículo Escolar, tendo como foco o desenvolvimento de competências nos alunos. Para alcançarmos o objetivo deste trabalho, optamos pela pesquisa qualitativa (FLICK, 1991) visto que ela nos possibilita refletir sobre as especificidades da docência. Considerando o objetivo desta pesquisa, optamos pela pesquisa bibliográfica e pela pesquisa de campo, privilegiando o questionário com perguntas fechadas e de múltipla escolha. O trabalho de campo foi desenvolvido com uma amostra aleatória de professores que atuam nos anos Iniciais do Ensino Fundamental em uma microrregião localizada no Sul do Estado de Minas Gerais. As informações foram organizadas em tabelas, o que permitiu categorizar e analisar a realidade. Documentos utilizados como referência, tais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) dos diversos segmentos de ensino, propõem o desenvolvimento de competências como eixo central. Neste cenário, a prática pedagógica exercida pelo professor adquire um papel relevante na concretização da construção e do desenvolvimento de competências por parte dos alunos. De acordo com a bibliografia estudada, verifica-se que não há um consenso sobre o conceito de competências, podendo assumir vários significados e amplitudes, de 70 Discente do Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected] Discente do Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected] 72 Professora do Curso de Pedagogia, Doutora em Educação (Currículo) (PUC-SP), Coordenadora Institucional do PIBID/UNIFAL-MG, orientadora deste trabalho, Coordenadora do Subprojeto Estudos de Currículo/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 73 Mestre em Educação (PUC-SP) e coorientador deste trabalho. E-mail: [email protected] 71 103 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 acordo com o ambiente em que a reflexão está inserida. A educação apropriou-se desse termo, o qual indica “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles.” (PERRENOUD, 1999, p. 7). Neste sentido, o currículo, numa abordagem por competências, seria capaz de adotar de significados os saberes escolares ao relacioná-los à vida e aos contextos dos estudantes. As práticas pedagógicas dos professores variam em função das diferentes abordagens, paradigmas ou orientações, influenciando de forma determinante na construção e no desenvolvimento de competências. Dessa forma, entendemos que a utilização das prescrições em sala de aula auxilia os professores a se organizarem a partir das competências que desejam desenvolver em seus alunos, fazendo com que o conhecimento não se torne inútil a ação. Vale ressaltar que as diferentes interpretações dos professores sobre as prescrições relacionadas às competências acabam por gerar diferentes práticas pedagógicas e em alguns casos chegam a representar uma barreira didática, visto que muitos docentes apresentam queixas relacionadas às dificuldades metodológicas em construir e desenvolver competências em seus alunos (SOUTO, 2011). Diante da bibliografia estudada podemos constatar diferentes entendimentos sobre a noção de competência, variando de acordo com o autor e com o meio que está sendo desenvolvida. A necessidade de compreender como as orientações relacionadas à construção e ao desenvolvimento de competências apresenta-se na prática pedagógica dos professores das séries iniciais do ensino fundamental de uma micro região localizada no Sul do Estado de Minas Gerais e levou-nos, num primeiro momento, à reflexão de nossas experiências pré-profissionais. Um segundo momento caracterizou-se pela pesquisa bibliográfica, a qual nos permitiu a busca de significados conceituais atribuídos ao termo competência, além da análise dos dados advindos dos questionários. As diretrizes curriculares em todos os níveis de ensino orientam as práticas pedagógicas para o desenvolvimento de competências, no entanto, a pesquisa possibilita considerar que tais orientações podem ser interpretadas de diferentes formas pelos sujeitos aqui pesquisados. As diferentes interpretações interferem no currículo praticado, visto que cada professor segue seu próprio ritmo e entendimento. 104 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 O curso de Pedagogia é o principal meio institucional para preparação de professores para atuar nas séries iniciais do Ensino Fundamental, assim, os dilemas evidenciados na análise dos questionários oferecem indícios da necessidade de uma melhor preparação pedagógica para as questões relacionadas à construção e ao desenvolvimento de competências nos alunos. Nesse sentido a pesquisa desenvolvida contribuiu para a nossa formação acadêmica e profissional, visto que um trabalho como este nos levará a refletir acerca de como estamos desenvolvendo as competências em nossos alunos no instante em que ingressarmos no meio escolar. Ao analisarmos e refletirmos sobre essas questões, podemos notar o quão importante é o trabalho com competências no Ensino Fundamental, pois ele norteia as ações que deverão ser praticadas e desenvolvidas pelos professores. Desta forma, acreditamos que o desenvolvimento de competências com os nossos futuros alunos será de forma prazerosa frente ao entendimento proporcionado pela pesquisa. Entendemos que a escola deva propiciar momentos de socialização dos professores, possibilitando refletirem sobre o currículo prescrito e o praticado, delineando, assim, a identidade da escola por meio dos processos de formação e discussão. São nestes encontros que a prática poderá ser socializada e revista, melhorando e adaptando a qualidade do ensino na instituição escolar. Entendemos que a possibilidade de se sentir parte de uma equipe de pessoas reforça a capacidade de comprometimento, de identificação com as metas que a escola assume em sua documentação e, consequentemente, com a construção e com o desenvolvimento de competências. Entender, como afirma Perrenoud (2002), que a noção de competências deve ser compreendida como o processo de mobilização de saberes e de recursos cognitivos de que um indivíduo dispõe, e que essa compreensão contribui para a atribuição de significados torna-se imprescindível, exigindo ações que conduzam ao debate e à reflexão. Esta pesquisa atendeu aos objetivos descritos inicialmente, demonstrando como o direcionamento para a construção e para o desenvolvimento de competências apresenta-se na prática pedagógica de noventa e sete professores que atuam nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Esperamos que as reflexões presentes neste estudo possam oferecer alguma contribuição para a prática docente. 105 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Referências bibliográficas COSTA, T. A. A noção de competências enquanto princípio da organização curricular. PUC: Minas Gerais, 2005. Dicionário Online de Português. Disponível em <http://www.dicio.com.br/competencia/> Acesso em: 07 jun. 2012. MALHEIROS, B. T. Metodologia da pesquisa em educação. Rio de Janeiro: LTC, 2011. PERRENOUD, Philippe. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002. __________. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000. __________. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999. SANDHOLTZ, J. H. Ensinando com as tecnologias: criando sala de aula centrada nos alunos. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. SILVA, M.N. Currículo e competências: a formação administrada. São Paulo: Cortez, 2008. SOUTO, N. L. Docência no ensino superior reflexões sobre práticas pedagógicas e competências. Dissertação de Mestrado - PUC, São Paulo, 2011. 106 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 A RELAÇÃO ENTRE CURRÍCULO E AVALIAÇÃO: AS IMPRESSÕES DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Jéssica Faria Miguel (UNIFAL-MG)74 Renata de Fátima Gonçalves (UNIFAL-MG)75 Nilton Luiz Souto (UNIFAL-MG)76 Helena Maria dos Santos Felício (UNIFAL-MG)77 No interior do projeto Estudos Curriculares, trabalhamos a relação entre currículo e avaliação estabelecida pelos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental na construção de suas atividades no cotidiano escolar. Os sujeitos envolvidos neste estudo foram os professores da microrregião de Alfenas (MG) que contribuíram, livremente, respondendo a um questionário organizado a partir do aprofundamento que tivemos nos minicursos, oficinas e ciclos de estudos. Diversos autores, ao longo das últimas décadas contribuíram para que o conceito de currículo fosse ampliado. Sacristán (2000) nos ajuda a compreender esta ampliação quando define currículo como práxis, ou seja, “uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição tem, que reagrupa em torno dele uma séria de práticas diversas, entre as quais a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares” (p. 15-16). Esta compreensão mais ampliada do currículo nos leva a considerar que todas as ações realizadas no cotidiano escolar contribuem, de certa forma, para a construção deste currículo enquanto processo que não pode ser entendido separadamente das condições reais do seu desenvolvimento e das determinações políticas para a prática escolar, sobretudo do controle de sua realização, como afirma Sacristán (2000, p. 23). Desta forma, tal controle, também entendido como avaliação, cuja realização está a cargo de diversas instâncias que compõem o sistema educacional, com competências mais ou menos definidas para diferentes sujeitos em cada contexto, contribui para a generalização, cada vez mais insistente, de uma “cultura de avaliação” 74 Discente do Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected] Discente do Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected] 76 Mestre em Educação (PUC-SP) e coorientador deste trabalho. E-mail: [email protected] 77 Professora do Curso de Pedagogia, Doutora em Educação (Currículo) (PUC-SP), Coordenadora Institucional do PIBID/UNIFAL-MG, orientadora deste trabalho, Coordenadora do Subprojeto Estudos de Currículo/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 75 107 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 no cotidiano escolar que legitimam, por assim dizer, as práticas curriculares construídas pelos professores. Segundo Gerard e Roegiers (2011), a avaliação é indissociável do desenvolvimento curricular, pois, se por um lado, os resultados das ações desenvolvidas pela primeira servem de subsídios para as opções realizadas pelo segundo, por outro, as opções realizadas pelo desenvolvimento curricular podem fundamentar um processo avaliativo nos quais os resultados servem para dimensionar os níveis de aprendizagens a partir de tais opções. Neste sentido, compreender como os professores dos anos iniciais estabelecem esta relação no cotidiano escolar é de fundamental importância, uma vez que o resultado deste processo acaba por indicar o direcionamento dado ao currículo, consequentemente, ao processo de ensino e de aprendizagem construídos na escola. No desenvolvimento deste trabalho, procuramos caracterizar e analisar a percepção dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental da microrregião de Alfenas (MG) quanto à construção do currículo, no cotidiano escolar, a partir da temática “Currículo e Avaliação”. Todos os professores entrevistados indicam em suas respostas que sempre, ou quase sempre, o currículo trabalhado no cotidiano escolar e o conteúdo “cobrado” nas avaliações externas são os mesmos, evidenciando a forte centralidade das políticas avaliativas e as de currículo, reforçando os mecanismos de acompanhamento externo sem considerar, muitas vezes, as vozes dos principais protagonistas (professores e alunos) da escola, que são por vezes silenciadas, como nos afirma Abramowicz (2006). No que se refere aos instrumentos de avaliação utilizados pelos professores no cotidiano escolar, a grande maioria apresenta a observação como principal critério avaliador, seguido da aplicação de provas escritas (dissertativas e objetivas). Todavia, sabemos que é necessário considerar os conhecimentos dos educandos por meio de múltiplos processos de aprendizagem. Neste sentido, é imprescindível que as formas e os instrumentos de avaliação sejam ajustados a essa multiplicidade de pessoas e de saberes. O que sabemos é que muitos professores esquecem tal multiplicidade e escolhem instrumentos avaliativos de acordo com o que lhe traga mais comodidade, seja para formular, para corrigir ou até mesmo para não ocupar muito do seu tempo com tal processo, não modificando e avaliando conforme a necessidade do aluno. 108 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Diante da realização de avaliações externas, que surgiram no cenário educacional como uma estratégia capaz de propiciar o alcance dos objetivos de melhoria da eficiência e da qualidade da educação, parte dos professores afirma que a escola em que trabalha interrompe o planejamento curricular e prioriza a preparação dos educandos com a realização de atividades parecidas com a da avaliação externa. Essas avaliações externas acabam tornando-se centrais diante da formulação e implementação de políticas educacionais, que através de testes padronizados visam identificar a proficiência dos educandos, considerando seus resultados como indicadores de qualidade. Vale ressaltar que, analisando os índices referentes à utilização que a escola faz dos resultados de tais avaliações, entendemos ser de fundamental importância propiciar momentos de reflexão coletiva com os professores, frente aos dados obtidos pela escola, visto que “a utilização das informações coletadas promove a melhoria do ensino” (ABRAMOWICZ, 2006, p. 243). Contudo, sobre como são utilizados os resultados das avaliações externas pela escola, a grande maioria dos professores indica que os resultados são, apenas, apresentados aos professores. Entretanto, poucos professores indicam que os resultados são analisados pelo coletivo e que tais resultados são utilizados para o planejamento de futuras atividades. De tal modo, torna-se evidente que os resultados das chamadas avaliações externas, quando analisados e discutidos durante o planejamento, podem propiciar um momento de reflexão sobre a ação, além de orientar o desenvolvimento do trabalho pedagógico. Compreende-se que ainda é imprescindível darmos relevância aos critérios avaliadores usados pelos professores, visto que grande parte utiliza a observação como principal critério, esquecendo-se que há uma multiplicidade de pessoas, de saberes e de processos de aprendizagem, e que as avaliações precisam ser reajustadas de acordo com as necessidades dos alunos, produzindo instrumentos de avaliação que contemplem não só os conteúdos presentes em livros didáticos ou em propostas oficiais, mas que evidenciem o que realmente se faz e se considera importante nas salas de aula. 109 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Referências bibliográficas ABRAMOWICZ, M. Perspectivas de Abordagem do Currículo no novo milênio. In: ALBUQUERQUE, T. S.; ABRAMOWICZ, M.; CARVALHO, M. H. C. Currículo e avaliação: uma articulação necessária. Recife: Centro Paulo Freire: Bagaço, 2006. GERARD, F. M. e ROEGIERS, X. Currículo e avaliação: ligações que nunca serão suficientemente fortes. In: ALVES, M. P. e KETELE, J. M. (Orgs). Do currículo à avaliação, da avaliação ao currículo. Porto: Porto Editora, 2011. SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 110 Currículo Escolar Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 MARCAS DA ORALIDADE EM PRODUÇÕES TEXTUAIS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: EVIDÊNCIAS DAS RELAÇÕES ENTRE ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E LEITURA? Aline Pereira de Roque (UNIFAL-MG)78 Leoni Dutra Marinho Cabral (UNIFAL-MG)79 Robson Santos de Carvalho (UNIFAL-MG/PG-UFMG)80 O presente trabalho de Pesquisa de Iniciação Científica Voluntária, inserido no âmbito do Programa de Consolidação das Licenciaturas – Prodocência, e vinculado ao Grupo de Pesquisa: Literatura, Linguagem e Outros Saberes, na linha de pesquisa Textualidade e Textualização em Língua Portuguesa, na Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG, busca estudar as possíveis relações entre alfabetização, letramento, leitura e produção textual de alguns alunos de Ensino Médio. Considerando que o ensino da língua deve ser baseado nos aspectos leitura, produção textual e compreensão linguística, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa (PCNs), pode-se perceber que ali a língua é entendida como atividade social. O corpus do presente trabalho é constituído por 28 produções textuais de alunos de primeiro e segundo ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dr. Emílio da Silveira, de Alfenas, MG, produzidas em dezembro de 2011 e janeiro de 2012 e mais 41 produções de alunos do 6º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Professor Viana, também de Alfenas-MG. Pretende-se analisar a relação entre as práticas de leitura e o (in) sucesso dos alunos na produção escrita escolar, evidenciada por marcas textuais presentes nesses textos, caracterizadoras da oralidade e que, no nosso entender, comprometem a competência na comunicação escrita desses alunos. Para Xavier (2009), as atividades de leitura garantem a aquisição do hábito pelo aluno. A competência linguística do aluno, manifestada na coesão e coerência de seus textos deve ser o objeto da avaliação, conforme sustenta Melo (2009). 78 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Português. E-mail: [email protected] Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Português. E-mail: [email protected] 80 Professor do Curso de Letras, doutorando em Linguística (UFMG), Supervisor do PIBID/Português, Coordenador-geral do Prodocência/UNIFAL-MG, Coordenador do Subprojeto Alfabetização e Letramento/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 79 111 Alfabetização e letramento Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 É fundamental, então, descobrir a natureza das dificuldades textuais dos alunos, presentes nos textos pesquisados, e tentar determinar se são consequência de temas alheios à sua realidade ou se tais alunos ainda não adquiriram as habilidades, na leitura e na escrita, necessárias a tais produções textuais. A presente pesquisa encontra-se em fase de análise de dados e espera-se que os resultados contribuam com estudos futuros no campo da Linguística Aplicada. As produções textuais de alunos do Ensino Médio, geralmente, apresentam grande número de desvios gramaticais em relação à norma culta da LP. É comum encontrarmos diversos estudos que apresentam um levantamento estatístico deste fenômeno. Em nossa pesquisa interessa-nos particularmente as marcas da oralidade, não como desvio propriamente dito, mas como uma característica inerente a esse tipo de aluno. Consideremos aqui, que desvio linguístico é o que equivocadamente se chama de erro. Ocorre comumente nas produções escritas, nas quais devem ser usadas as regras da norma culta da língua materna. Apesar de professores de LP sempre verem esses desvios como algo ruim e tentarem eliminá-lo de qualquer forma, isso pode ser usado como medidor da aprendizagem, da aplicação da teoria da norma culta, na prática da escrita, e como alerta às transformações que ocorrem naturalmente na língua (FERREIRA, 2010). A fala é diferente da escrita sob muitos aspectos; cada uma dessas modalidades tem características próprias, mas uma influencia a outra, especialmente a fala na escrita. Segundo os gramáticos, a oralidade é mais fácil, mais usada em nosso dia-a-dia, permite-se alguns ‘erros’, enquanto a escrita é mais complexa, rígida, rebuscada. A oralidade, talvez por ser mais usada, deixa, muitas vezes, suas marcas em textos escritos (LÚZIO; RODRIGUES, 2004, p. 7). Podemos considerar, então, que marcas da oralidade na escrita são as palavras e expressões que normalmente usamos na fala e que são transportadas para o que escrevemos, tais como: né, daí, aí, já, então, certo, com o objetivo de chamar a atenção do nosso interlocutor. Além dessas, certas estruturas sintáticas ou marcações próprias da escrita na Norma Culta ou são abandonadas ou revestidas de aspectos peculiares à fala. Assim sendo, por que muitos alunos do Ensino Médio apresentam tantas marcas de oralidade na escrita? Haverá relação entre leitura e produção textual, alfabetização e letramento? 112 Alfabetização e letramento Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Com dados para um estudo contrastivo, nosso objetivo é testar as hipóteses levantadas com relação às produções escritas por alunos do Ensino Médio e, principalmente, para fornecer subsídios à resposta que se espera quanto às relações entre alfabetização, letramento, leitura e produção textual. Espera-se, assim, encontrar evidências do que leva os alunos a cometerem tais equívocos e assim permitir levantar hipóteses sobre o que pode ser feito para essas ocorrências diminuírem. Com os resultados, pretendemos ter subsídios para verificar em estudos futuros se a forma como a escola ensina a norma culta é a melhor e mais eficiente; o motivo que leva os alunos a não conseguirem separar a linguagem que usam em seu dia a dia da que deve ser usada em suas produções textuais escolares solicitadas em norma culta. Referências bibliográficas BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: ciência e senso comum na educação em língua materna. Revista Presença Pedagógica, 2006. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília, 1997. FERREIRA, Rosiane Socorro Figueiredo. Desvio linguístico x norma padrão. 2010. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2010. LEAL, Leiva de Figueiredo Viana. A formação do produtor de texto escrito na escola: uma análise das relações entre os processos interlocutivos e os processos de ensino. In: ROCHA, Gladys; COSTA VAL, Maria da Graça (Org.) Reflexões sobre práticas escolares de produção de texto: o sujeito-autor. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2005. LÚZIO, Ellen Regina Camargo. RODRIGUES, Marlon Leal. Marcas da oralidade em textos escritos. Disponível em <http://www.cepad.net.br/linguisticaelinguagem> MARCUSCHI, Luís Antônio. Da Fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2004. 113 Alfabetização e letramento Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 MÚSICA NOS PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE JOVENS E ADULTOS Susana B. de Andrade (UNIFAL-MG)81 Robson Santos de Carvalho (UNIFAL-MG/PG-UFMG)82 O presente Trabalho de Pesquisa de Iniciação Científica Voluntária, inserido no âmbito do Programa de Consolidação das Licenciaturas – Prodocência, e vinculado ao Grupo de Pesquisa: Literatura, Linguagem e Outros Saberes, na linha de pesquisa Textualidade e Textualização em Língua Portuguesa, da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG, busca investigar a aplicação de estratégias metodológicas que incorporem a música aos processos de alfabetização e letramento de jovens e adultos, desde músicas presentes no cotidiano dos alunos até os mais diversos estilos musicais já que esta é uma forma de expressão cultural e é significativa para as pessoas (MARTINS, 2007). O corpus deste estudo constitui-se dos relatos escritos de uma professora sobre a aplicação de atividades em uma classe de Alfabetização de Jovens e Adultos (EJA). Utilizar a música nos processos de alfabetização e letramento é uma proposta que se baseia na flexibilidade pedagógica que deve fundamentar o processo de ensinoaprendizagem. Uma proposta que não exclui os métodos tradicionais que surtem efeitos significativos, mas coloca sempre o aluno como sujeito, centro do processo, propondo uma inovação com abrangência de horizonte cultural, valorização e enriquecimento da diversidade (FERREIRO, 2010). Quando a língua escrita passa a ser vista como instrumento de ação, sendo introduzida com alegria, entusiasmo, e a sala de aula como um espaço de descontração, diálogo, em que as opiniões são ouvidas e respeitadas, sem preconceitos ou constrangimentos, as chances de sucesso no emprego de um determinado método de alfabetização são bem maiores. No trabalho em questão, busca-se verificar a eficácia de estratégias pedagógicas inovadoras, cujo propósito é otimizar a aplicação dos métodos existentes, utilizados na EJA. Nossa hipótese é que tais estratégias, em especial a utilização da música, 81 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Português. E-mail: [email protected] Professor do Curso de Letras, doutorando em Linguística (UFMG), Supervisor do PIBID/Português, Coordenador-geral do Prodocência/UNIFAL-MG, Coordenador do Subprojeto Alfabetização e Letramento/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 82 114 Alfabetização e letramento Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 proporcionariam um rendimento mais satisfatório dos alunos frente ao método aplicado pelo professor. Espera-se que a aplicação da proposta tenha como resultado uma boa recepção pelos alunos, ou seja, que as atividades pedagógicas em questão despertem maior interesse pela alfabetização e, desse modo, contribuam para que o aluno consiga aprender e apreender melhor tanto habilidades de leitura e escrita quanto conhecimentos culturais, sociais. O trabalho em questão busca descobrir como a introdução da música, canções em geral, pode contribuir para os processos de alfabetização e letramento em classes de jovens e adultos (EJA). Como pode servir de complemento aos métodos já existentes e eficazes e principalmente como pode ser uma estratégia pedagógica inovadora de auxílio ao professor e agradável aos alunos. A partir da análise dos relatos escritos da professora, relativos à aplicação de tais procedimentos, poderemos investigar o impacto de tais estratégias pedagógicas no avanço dos alunos na aquisição das habilidades básicas da leitura e da escrita: a Alfabetização. A introdução da música nos processos de alfabetização e letramento além de poder otimizar os métodos já existentes e proporcionar aulas mais agradáveis, dinâmicas, descontraídas e inclusivas tende a valorizar a cultura nacional. A língua é um instrumento cultural na sociedade e a música é uma forma de expressão da cultura de um povo. E com isso pode-se tentar contornar o quadro com o qual temos nos deparado, de exacerbada preocupação e deslumbre frente ao que nos é distante, desprezo com o que está a nossa volta. Estudamos a aplicação de estratégias metodológicas que incorporem a música aos processos de alfabetização e letramento de jovens e adultos, desde músicas presentes no cotidiano dos alunos até os mais diversos estilos musicais, já que esta é uma forma de expressão cultural e é significativa para as pessoas (MARTINS, 2007). A pesquisa em questão está baseada em análise documental dos relatos escritos de uma professora de EJA, bem como os resultados por ela descritos sobre a sua tentativa de incluir música às aulas de alfabetização. Tais relatos contêm as propostas dessa professora para as aulas, seus objetivos e seus resultados em um período de aproximadamente 5 meses. A base da pesquisa é qualitativa e analisa-se a receptividade 115 Alfabetização e letramento Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 dos alunos e a eficácia do método empregado juntos às estratégias de inserção da música. Espera-se encontrar evidências de que a introdução da música na alfabetização e letramento de jovens e adultos, como uma estratégia pedagógica inovadora, otimize a aplicação dos métodos eficazes existentes. Espera-se contribuir com a comunidade escolar, no sentido de apresentar e defender uma ideia simples e útil que ainda é pouco trabalhada. Referências bibliográficas ALVES, M. R. N. R. Educação de jovens e adultos. São Paulo: Parábola, 2008. (Ensinar leitura e escrita no ensino fundamental) CARVALHO, Robson S. de. Raciocínio e memória no ensino de português: concepções e práticas docentes – um estudo descritivo. 1999. 111 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. FERRAREZI Jr., Celso. Curso de formação de alfabetizadores de adultos: fundamentos teóricos. Universidade Federal de Rondônia, s/d. FERREIRA, Martins. Como usar música na sala de aula. São Paulo, Contexto, 2007. 7. ed. FERREIRO, E. Com todas as letras. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2010. GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO, SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, SUPERINTENDÊNCIA DE ENSINO E CURRÍCULO. Educação de Jovens e Adultos. 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ISSN 2316-8420 PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: CAMINHOS E DESCAMINHOS Márcia Dantas de Morais (UNIFAL-MG)83 Robson Santos de Carvalho (UNIFAL-MG/PG-UFMG)84 O presente trabalho de Pesquisa de Iniciação Científica Voluntária, inserido no âmbito do Programa de Consolidação das Licenciaturas – Prodocência, e vinculado ao Grupo de Pesquisa: Literatura, Linguagem e Outros Saberes, na linha de pesquisa Textualidade e Textualização em Língua Portuguesa, na Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG, busca estudar a avaliação da aprendizagem da perspectiva das habilidades de leitura, contrariando a avaliação do conteúdo, praticada nas escolas brasileiras, e que tradicionalmente é chamada de “prova”. Uma avaliação mal elaborada pode prejudicar um aluno que aprendeu o conteúdo, ou então favorecer àquele que não o domina, não nos mostrando a real situação de aprendizado. Neste trabalho, buscamos desvendar um modelo de avaliação que seja justa e capaz de aferir o verdadeiro grau de aprendizagem da leitura. Nesta pesquisa busca-se compreender como a avaliação pode cumprir a função de verificar a aquisição de habilidades de leitura, e assim fornecer parâmetros para uma intervenção pedagógica no ato avaliativo. Nosso corpus é composto por 4 avaliações aplicadas em 105 alunos da 7ª série (8º ano) de uma escola estadual, e os gráficos de aproveitamento desses alunos nessas avaliações. A partir da análise de dados de avaliações diagnósticas de leitura, o presente estudo busca descobrir quais seriam as bases (ou quais os componentes) da formulação dessas avaliações que garantiriam ao professor acesso ao processo de aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, buscam-se evidências que possam colocar a avaliação diagnóstica de habilidades de leitura no status de modelo de avaliação alternativo ao tradicional. Acredita-se assim que este estudo poderá fornecer subsídios para a substituição do 83 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Português. Professor do Curso de Letras, doutorando em Linguística (UFMG), Supervisor do PIBID/Português, Coordenador-geral do Prodocência/UNIFAL-MG, Coordenador do Subprojeto Avaliação/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 84 117 Avaliação Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 modelo tradicional por um modelo de avaliação diagnóstica em que os resultados em relação ao processo ensino-aprendizagem sejam mais efetivos. Tradicionalmente, um processo avaliativo tem-se baseado em questões conteudistas, em que o aluno que obtém boa nota, é considerado um bom aluno, é o que talvez tenha a capacidade de reter melhor o conteúdo dado, mas, não necessariamente, aquele que tem domínio sobre as habilidades de leitura. Neste trabalho, pretende-se compreender a avaliação diagnóstica de habilidades de leitura, descrever seus elementos constituintes capazes de fornecer informações sobre o processo de aprendizagem do aluno, e apresentá-la como um modelo à praxis educacional. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997: 93) explicam qual deve ser a função de uma avaliação: A avaliação deve ser compreendida como conjunto de ações organizadas com a finalidade de obter informações sobre o que o aluno aprendeu, de que forma e em quais condições. Para tanto, é preciso elaborar um conjunto de procedimentos investigativos que possibilitem o ajuste e a orientação da intervenção pedagógica para tornar possível o ensino e a aprendizagem de melhor qualidade. Deve funcionar, por um lado, como instrumento que possibilite ao professor analisar criticamente sua prática educativa; e, por outro, como instrumento que apresente ao aluno a possibilidade de saber sobre seus avanços, dificuldades e possibilidades. Nesse sentido, deve ocorrer durante todo o processo de ensino e aprendizagem, e não apenas em momentos específicos caracterizados como fechamento de grandes etapas de trabalho. Os dados desta pesquisa constituem-se de Avaliações Diagnósticas aplicadas na Escola Estadual Gabriel Penha, situada em Varginha-MG. Essa avaliação foi elaborada pelos professores da escola, com base na Matriz de Referência das Habilidades de Leitura do SIMAVE. Foram avaliados 105 alunos, distribuídos em 4 turmas da 7ª série (8º ano) do Ensino Fundamental II. Esta pesquisa, de base qualitativa, observa, nas avaliações selecionadas, evidências de como as habilidades leitoras estão sendo trabalhadas. Portanto, utiliza-se das Matrizes de Referência – SIMAVE para o Ensino Fundamental. Os itens das habilidades e seus descritores que nos interessam, particularmente, são voltados para compreensão global, produção de inferências e identificação de elementos encadeadores do sentido entre partes do texto. Pretende-se assim, mapear quais os descritores são mais utilizados e como isso favorece o diagnóstico das principais falhas na construção da competência leitora. 118 Avaliação Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Espera-se encontrar evidências da eficácia na utilização de modelo avaliativos baseado nas Matrizes de Referência para Avaliação SIMAVE e a Avaliação Diagnóstica, que comprovem a necessidade por parte das escolas e professores na realização de mudanças, essenciais para a evolução da relação ensino-aprendizagem. Referências bibliográficas BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Brasília, 1997. CARVALHO, Robson Santos de. Avaliação da aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental: construindo a competência leitora. In: BORGES, R. R.; BALLESTEROS, M. L. A.; LEON, I. O. R. (Orgs.) Formação continuada para professores da educação básica: contribuições para a prática docente. Alfenas, MG: Unifal-MG, 2011. CASTILLO ARREDONDO, SANTIAGO; Diago, Jesús Cabrerizo. Avaliação educacional e promoção escolar. Editora: Ibpex, 2009. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. "Avaliação diagnóstica" (verbete). Dicionário interativo da educação brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=77>. Acesso em: 29 mar. 2012. 119 Avaliação Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 FORMAÇÃO DE ALUNOS LEITORES: ANÁLISE DE DESEMPENHO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM AVALIAÇÕES DE LEITURA Vanessa Araújo Maganhoto Matos (UNIFAL-MG)85 Robson Santos de Carvalho (UNIFAL-MG/PG-UFMG)86 O presente Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica Voluntária, inserido no âmbito do Programa de Consolidação das Licenciaturas – Prodocência, e vinculado ao Grupo de Pesquisa: Literatura, Linguagem e Outros Saberes, na linha de pesquisa Textualidade e Textualização em Língua Portuguesa, na Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG, busca avaliar a competência leitora dos alunos de primeiro ano do Ensino Médio, a partir do seu desempenho em uma avaliação de leitura de textos variados. O corpus deste trabalho é composto por uma avaliação diagnóstica de leitura, aplicada em duas turmas de primeiro ano do Ensino Médio, da Escola Estadual Ismael Brasil Correa, em Alfenas/MG e pelas tabelas e gráficos relativos ao desempenho desses alunos. A avaliação da aprendizagem aplicada é interdisciplinar e foi elaborada por professores dessa escola como trabalho final de um curso de capacitação docente. Nossa pesquisa tem como foco a análise do desempenho dos alunos com rendimento igual ou inferior a cinquenta por cento do total da avaliação, composta de vinte itens de habilidades de leitura. Serão analisadas as habilidades deficitárias em um aluno, e se estas são recorrentes em outros alunos e assim sucessivamente. Dessa forma, pretende-se detectar se as habilidades deficitárias diagnosticadas no rendimento geral da turma correspondem às habilidades não adquiridas por esses alunos e se, neste caso, seriam reveladoras da competência leitora construída por tais estudantes. Esta pesquisa busca identificar a raiz da dificuldade dos alunos em compreender textos de certos gêneros. A análise consistirá obter elementos que possam explicar porque os alunos estão errando determinados itens em avaliação de leitura, bem como as habilidades que demonstram ter domínio e as que parecem ter mais dificuldades nesse 85 Discente do Curso de Letras, bolsista do PIBID/Português. E-mail: [email protected] Professor do Curso de Letras, doutorando em Linguística (UFMG), Supervisor do PIBID/Português, Coordenador-geral do Prodocência/UNIFAL-MG, Coordenador do Subprojeto Avaliação/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 86 120 Avaliação Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 processo de leitura e compreensão. Também é pertinente ser observado se o fato de ter dificuldades em determinadas habilidades de leitura é sinal de que o aluno não tem a chamada competência leitora. Fundamental é discutir o conceito de avaliação e, tal como Arredondo e Diago (2009) alertam, há muitas abordagens diferentes: O conceito de avaliação não é uniforme, e bem poderia ser considerado como a soma de muitos fatores diversos e, às vezes, diferentes entre si, que pretendem configurar um elemento ou conceito comum. É por isso que tentar definir o conceito de avaliação não é fácil, fato pelo qual podemos encontrar diversas definições e de todas elas poderíamos extrair algum elemento válido para chegar a uma definição que resultasse completa e operativa, levando em conta ao fazê-lo, as diversas conotações que o termo avalição adquire. (p.33) Contudo, o escopo deste estudo limitar-se-á ao conceito de avaliação da aprendizagem, restringindo-se à avaliação de habilidades de leitura. Essa perspectiva rejeita o modelo de avaliação tradicional, tal como elucida Arredondo e Diago (2009): a avaliação em educação vem sendo aplicada quase exclusivamente ao rendimento de alunos e mais especificamente aos conhecimentos adquiridos. Foi a partir da década de 1970 que a avaliação se estendeu, em nosso pais, ao sistema operacional: os programas escolares, as escolas, a eficácia dos professores, os materiais didáticos, as técnicas e procedimentos, os hábitos intelectuais dos alunos, o sistema educacional em seu conjunto e até a própria avaliação. (p. 52) Os dados, objeto deste estudo, constituem-se de uma avaliação de leitura aplicada a duas turmas do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Ismael Brasil Correa, no ano de 2007. A avaliação aplicada tem caráter interdisciplinar e foi elaborada por vários professores da escola e foi uma tarefa conclusiva de um curso de capacitação docente frequentado por esses professores. Constituem ainda os dados desta pesquisa, o relatório de resultados em que se pode visualizar o desempenho dos alunos organizado em tabelas e gráficos estatísticos, indicando o aproveitamento geral das duas turmas, o de cada turma separadamente e, por conseguinte, de cada aluno individualmente. Os resultados individuais de aluno por aluno são visíveis também questão a questão, facilitando o trabalho de coleta e análise dos registros. Desse modo, teremos acesso aos alunos de melhor desempenho, de um lado e daqueles de desempenho mais baixo, de outro. Poderemos analisar ainda cada item e verificar qual deles foi de mais baixo desempenho, por exemplo. 121 Avaliação Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Espera-se encontrar evidências da natureza das dificuldades dos alunos em compreender os textos da avaliação, diagnosticando quais são as habilidades mais deficientes dos alunos que tiveram desempenho global abaixo de cinquenta por cento, uma vez que o déficit em uma determinada habilidade mostrada no desempenho geral da sala não reflete, necessariamente, a dificuldade de um grupo de alunos com desempenhos semelhantes. Desse modo, acredita-se oferecer uma contribuição, ainda que modesta, aos estudos linguísticos, especialmente àqueles voltados para o ensino e aprendizagem da leitura e também àqueles relacionados à formação de professores de língua materna. Referências bibliográficas CARVALHO, Robson. Avaliação da aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental: construindo a competência leitora. In: BORGES, R. R.; BALLESTEROS, M. L. A.; LEON, I. O. R. (Orgs.) Formação continuada para professores da educação básica: contribuições para a prática docente. Alfenas, MG: Unifal-MG, 2011. CASTILLO ARREDONDO, SANTIAGO; Diago, Jesús Cabrerizo. Avaliação educacional e promoção escolar. Editora: Ibpex, 2009. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011. 122 Avaliação Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS À EDUCAÇÃO Italo Oscar Riccardi León (UNIFAL-MG/PG-UFMG)87 Introdução Torna-se quase impossível imaginar ou pensar uma sociedade atual sem a presença e uso das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC). Estas tecnologias trouxeram consigo uma nova maneira de (re)organizar a atividade humana nas mais diversas áreas do conhecimento, provocando uma significativa mudança no modo de conhecer do homem contemporâneo ou homo digitalis, termo cunhado por Negroponte (1995) para referir-se ao homem de nossa época que interage, conhece e aprende através do uso do computador e suas redes informáticas. A utilização e múltiplas aplicações do computador permitiram que ele se transformasse num recurso de extraordinária capacidade, para promover e facilitar as atividades humanas nas mais diversas áreas do conhecimento humano. O computador veio funcionar como uma espécie de um “gerenciador central” que, graças à sua enorme capacidade para registrar, armazenar, selecionar, processar e transmitir informações possibilitou uma nova forma de veicular e adquirir conhecimentos nas diversas áreas do conhecimento, e também um campo novo e propício para o desenvolvimento de processos de ensino/aprendizagem na área da educação. Se a Revolução Industrial no passado aumentou com maquinarias e ferramentas o poder e força muscular do homem, a presença do computador hoje veio representar um meio tecnológico extraordinário que aumentou as potencialidades e extensão das atividades humanas. Com o advento da Internet e sua incorporação definitiva nos processos de comunicação, os ambientes mediados pelas novas tecnologias se constituíram em modernos espaços de aprendizagem e de interação virtual que, ao serem utilizados e/ou aplicados em diversas áreas das atividades humanas, provocaram mudanças significativas na maneira de ensinar, aprender e interagir com o conhecimento humano. Segundo Kenski (2003), o ambiente educacional virtual não suprime o espaço 87 Professor do Curso de Letras, doutorando em Estudos Literários (UFMG), Coordenado do Subprojeto Novas Tecnologias Aplicadas à Educação/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 123 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 educacional presencial; ao contrário, ele o amplia, criando novas possibilidades de comunicação e agregação e também novas oportunidades para o avanço na ação e na formação do sujeito aprendiz. Nas práticas de ensino/aprendizagem mediadas pela utilização das novas tecnologias aplicadas à educação, a figura do professor não está mais representada por uma espécie de “dono do conhecimento”, senão por uma espécie de “mediador” ou facilitador de conhecimentos. O presente trabalho insere-se no campo da prática pedagógica mediada pelos recursos tecnológicos, mais especificamente pela utilização das novas tecnologias aplicadas à área da educação. Sendo o computador um recurso multimídia por excelência das NTIC, ele oferece ótimas condições para o desenvolvimento de atividades curriculares e formativas entre os professores e os alunos nos ambientes escolares mediados por elas. A utilização das NTIC permite que se possa contar com uma valiosa ferramenta cheia de múltiplas possibilidades inovadoras para desenvolver competências, habilidades e/ou destrezas que visam à construção do conhecimento num mundo em transformação. Objetivos Este trabalho tem como objetivo chave reflexionar sobre a utilização das NTIC aplicadas na área da educação, visando desenvolver uma pesquisa de caráter bibliográfica e exploratória sobre o assunto ou tema em questão. Também pretende constituir o embasamento teórico básico que possibilitou o desenvolvimento das diversas atividades, práticas de uso, análise e ações que foram desenvolvidas pelos discentes de áreas diferentes, que integraram o Prodocência e tiveram interesse por se aproximar e conhecer à temática voltada às novas tecnologias aplicadas à educação. Metodologia Pelo tipo de pesquisa desenvolvido, a metodologia utilizada foi de caráter virtual e interativa onde foram empregados sites de referência, páginas web de consulta, Internet, uso de recursos audiovisuais e material de consulta bibliográfica sobre o assunto adquirido pelo Prodocência, além de materiais como DVDs, seguindo alguns referenciais teóricos propostos pela SEED/PROINF/MEC (2000), Parâmetros 124 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Curriculares Nacionais (PCN, 1999), Negroponte (1995), Kenski (2003), Lévy (1993) e Moran (2001), entre alguns dos autores de destaque. Discussão A introdução da informática em larga escala em todos os setores da sociedade trouxe consigo o desafio de se redefinir o papel dos recursos tecnológicos aplicados à educação nas instituições educativas. A partir do marco da Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI (1998), que ressaltou em um dos seus artigos o potencial e desafio da tecnologia, iniciou uma série de ações técnico-educativas, visando principalmente à divulgação, formação e implantação de recursos tecnológicos no sistema de ensino no novo milênio ou século XXI, o que significou, também, a possibilidade de refletir e inserir novas práticas educativas na formação dos discentes dos Cursos de Licenciatura (Graduação), ou seja, na formação dos futuros professores, um processo ainda não acabado, porém em permanente transformação, onde o Prodocência serve de um espaço educativo interdisciplinar de formação docente muito significativo. Conclusões Os resultados evidenciados pelas anotações e reflexões dos discentes envolvidos com a área temática sobre as novas tecnologias, mostraram-se bastante satisfatórios no que se refere à familiarização com o uso das tecnologias e seus ambientes virtuais, aspectos que permitem evidenciar como favorável a utilização das novas tecnologias aplicadas à educação como recursos tecnológicos de apoio ou complemento do ensino presencial que precisam ser ainda fomentados, maiormente, no ensino e cotidiano do professor que atua nas escolas, principalmente as públicas e municipais. Apesar de ainda não se conhecerem muito bem os resultados do ensino/aprendizagem mediado pelas tecnologias, pode-se afirmar que se torna uma área muito propícia para o desenvolvimento de outras atividades curriculares do conhecimento, o que evidencia seu caráter inter e multidisciplinar. As novas tecnologias propiciam atividades integradoras, participativas, flexíveis e interativas, considerando que num só formato ou suporte digital como CD-ROM, DVD, Internet, uso das redes 125 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 sociais, etc., se podem reunir várias linguagens e interagir com elas, assim como textos, sonidos, animações, vozes, imagens fixas e em movimento, e também possibilitar diversos acessos a sites ou páginas de referência de conteúdos e informações que estimula os sentidos e motivação do aprendiz/aluno, permitindo que se possam apresentar respostas significativas provocadas pela própria interação que vão incidir diretamente no seu conhecimento e formação de acordo aos seus interesses e/ou ao planejamento prévio feito pelo professor. Se considerarmos o homem como um “processador ativo de informação”, se pode afirmar que sua principal atividade será receber e elaborar informação, o que significa que ele atuará de acordo com ela, ou seja, o homem aprenderá processando sua experiência – incluindo também sua experiência linguística e de linguagem – mediante um complexo sistema onde a informação é recebida, transformada, acumulada, recuperada e utilizada. Dependendo da programação, as novas tecnologias oferecem várias alternativas ou possibilidades metodológicas para se interagir com conteúdos ou assuntos propostos como uma dimensão interativa chave na relação/interação humana com o computador. Referências bibliográficas ALMEIDA, M.E. de. Informática e formação de professores. Brasília: Ministério da Educação, Seed, Proinf, v.1. II. Série. 2000 ______________. Informática e formação de professores. Brasília: Ministério da Educação, Seed, Proinf, v.2. II. Série. 2000. BATTRO, A.M. y DENHAM, P. J. La educación digital. 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ISSN 2316-8420 AS POSSIBILIDADES DIDÁTICAS DE SITES EDUCATIVOS LIVRES NA ÁREA DA GEOGRAFIA Felipe de Paula Rui (UNIFAL-MG/PG-UFMG)88 Ítalo Oscar Riccardi León (UNIFAL-MG/PG-UFMG)89 Introdução Há décadas atrás, os recursos das pesquisas escolares eram baseados em livros, jornais, revistas, enciclopédias, etc., dentro de uma diversidade de materiais didáticos. Atualmente, essas fontes ainda coexistem, mas com outras, consideradas de maior interatividade e cada vez mais numerosas, disponíveis e de fácil acesso pela Internet. Na grande rede é possível deparar-se com diversos portais educacionais livres, que disponibilizam conteúdos das disciplinas do currículo escolar do ensino fundamental. Sem levar em conta a facilidade com que os conteúdos podem ser encontrados, percebe-se que, num primeiro olhar, muitos destes recursos se caracterizam por publicar textos informativos, geralmente bem resumidos, porém sem um tratamento devido quanto à qualidade da informação e/ou dos conteúdos. Dentro dessa abordagem, a Internet se transforma numa poderosa ferramenta tecnológica de trabalho educativo que possibilita o acesso a materiais pedagógicos diferentes dos convencionais, utilizados normalmente em sala de aula - como os livros didáticos e apostilas impressas -, o que vem diversificar as possibilidades de pesquisa e de acesso à informação, e permite uma maior interação entre o professor e o aluno. Sabe-se que essa facilidade de acesso às informações e conteúdos disponíveis por meio de sites na Internet, também pode ter um caráter prejudicial, levando em conta que não existe nenhuma barreira que impeça os indivíduos de publicar conteúdos inadequados e/ou inexatos, levando seus usuários a utilizar informações enganosas. Pensando na Internet como uma poderosa ferramenta ou rede de interação e de ensino/aprendizagem, o presente trabalho pretende selecionar e analisar de forma explorativa alguns sites educacionais livres, disponíveis na Internet em língua 88 Discente do Curso de Geografia. E-mail: [email protected] Professor do Curso de Letras, doutorando em Estudos Literários (UFMG), Coordenado do Subprojeto Novas Tecnologias Aplicadas à Educação/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 89 128 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 portuguesa, que apresentam assuntos ou conteúdos de interesse e consulta confiável na área da Geografia, complementando e enriquecendo de forma interativa e qualitativa o processo regular de ensino/aprendizagem nesta área do conhecimento. Objetivos Este trabalho tem como objetivo reflexionar sobre a utilização das NTIC aplicadas na área da educação, visando o desenvolvimento de uma pesquisa de caráter exploratória e descritiva por meio de um levantamento, estudo e análise de sites educacionais livres, que apresentam e disponibilizam conteúdos diversos de Geografia através de materiais variados como vídeos, jogos, sons, imagens, além de textos informativos da área. O trabalho também objetiva selecionar e assinalar aqueles que mais potencializam e complementam de forma interativa e digital o processo de ensino/aprendizagem de conteúdos na área da Geografia. Metodologia Por meio do buscador do Google pesquisamos sobre alguns conteúdos da Geografia. Os endereços dos portais obtidos como resultados dessa busca foram listados e, quando se tornaram repetitivos, finalizamos o levantamento dos portais. A navegação nos sites listados foi realizada com a intenção de estabelecer os que apresentam materiais diferentes e/ou complementam com interatividade própria das NTIC os conteúdos dos textos encontrados em materiais convencionais, tais como livros, textos, vídeos, músicas, animação, etc. Depois de explorados esses sites, estes foram selecionados e analisados seguindo alguns indicadores de qualidade propostos por Carvalho (2006), porém adaptados ao perfil do trabalho. Os indicadores utilizados foram: a identidade, a usabilidade, a rapidez de acesso, os níveis de interatividade, a informação e as atividades propostas. Terminada essa análise explorativa, foram selecionados os sites considerados de maior aproveitamento didático, qualitativo e conteudístico, para posterior descrição e recomendação do seu uso pelos professores e alunos. 129 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Resultados preliminares Após o levantamento dos portais por meio do Google, selecionamos e listamos uma quantidade de 23, até que os resultados se tornaram repetitivos. Organizamos uma tabela para apresentá-los. Os denominados Sites Comuns, isto é, aqueles que ao apresentar o conteúdo, só divulgam textos, o que os tornam algo parecido com os livros didáticos. Os sites que apresentaram materiais interativos complementares como vídeos, jogos, músicas, imagens, dentre outros, foram classificados como Sites Diferenciados, ou seja, oferecem outras condições de interação no ambiente digital, o que permite uma aplicação diferenciada dos indicadores de qualidade discriminados anteriormente e também originam uma outra fase no desenvolvimento da pesquisa. Sites comuns Sites com materiais diferenciados http://geografia.aprendendodireito.com.br http://www.algosobre.com.br/geografia/ http://www.alunosonline.com.br/geografia/ http://www.brasilescola.com/geografia/ http://www.bussolaescolar.com.br/geografia.htm http://www.clickeducacao.com.br http://www.coladaweb.com/geografia/?url=geografia http://www.geomundo.com.br http://www.grupoescolar.com/geografia http://www.ibge.gov.br/ibgeteen http://www.infoescola.com/geografia/ http://www.miniweb.com.br/Geografia/SitesdeGeografia.html http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/ http://www.mundosites.net/geografia http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/geografia http://www.suapesquisa.com/geografia/ http://educacao.uol.com.br/geografia/ http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/geografia/ http://www.atividadeseducativas.com.br/index.php?lista=geografia http://www.colegioweb.com.br/geografia http://www.geografiaparatodos.com.br http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/capas/geografia/geografia.php http://www.sogeografia.com.br Quadro 1: Sites listados no levantamento pelo Google. 130 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Conclusões Considerando as referências apresentadas e a aplicação da Tabela de Avaliação, verifica-se que nenhum deles é capaz de atender a todos os indicadores de qualidade listados. Lembramos que a navegação pelos portais e suas análises podem ter sido falhas. Por mais que tenhamos feito uma exploração e descrição intensa em cada um deles, não garantimos que todo o conteúdo foi visitado, pois se trata de sites com muita informação. Classificando-os quantitativamente a partir do atendimento dos indicadores de qualidade, temos a seguinte ordem: 1º - Atividades educativas, 2º - Só Geografia e UOL, 4º - Guia do Estudante, 5º - Geografia para todos, 6º - Colégio WEB e 7º - Portal São Francisco. Percebemos com essa pesquisa que, atualmente não podemos considerar nenhum site como o ideal para a utilização no processo de ensino aprendizagem, mas destacamos como possíveis ferramentas deste processo os sete Sites classificados por este estudo como Sites com Materiais Diferenciados, por apresentarem materiais variados em formato de textos, jogos, vídeos, áudios, imagens, etc., cada um com suas especificidades. Verificou-se que quando a apresentação do conteúdo é feita por textos, geralmente são bem resumidos, sem se aprofundar no assunto. Sugerimos que todos os sites fizessem indicação de livros, filmes e outras fontes mais completas referentes aos assuntos. Referências bibliográficas BRASIL MEC. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, 1999. CARVALHO, Ana Amélia A. Indicadores de qualidade de sites educativos. 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ISSN 2316-8420 A INTERNET COMO RECURSO DIDÁTICO TECNOLÓGICO FACILITADOR DE EXPERIÊNCIAS VIRTUAIS DE IMERSÃO CULTURAL NA ÁREA DE ESPANHOL, LÍNGUA ESTRANGEIRA (E/LE) Jacqueline Lopes (UNIFAL-MG)90 Priscila Martins (UNIFAL-MG)91 Ítalo Oscar Riccardi León (UNIFAL-MG/PG-UFMG)92 Introdução A internet, entendida como um poderoso recurso tecnológico do século XXI caracteriza-se por facilitar o acesso a infinitas possibilidades de informações, permitindo ao indivíduo interagir de maneira conectiva e autônoma cujas vivências acontecem no ciberespaço. As experiências pessoais e coletivas vividas no ciberespaço quando captadas e trazidas para a realidade do sujeito apresentam-se como uma possibilidade para suprir necessidades decorrentes do processo ensino-aprendizagem. A principal característica da web é a busca e as chances de o aluno agir como um investigador curioso, buscando assuntos e áreas de seu interesse, além de poder contatar-se com ideologias, pensamentos e diferentes manifestações culturais advindas de grupos sociais falantes de língua meta, para assim imergir em um contexto distinto ao seu. A internet é um recurso que conecta milhares de pessoas em novos espaços, nos quais se destaca uma realidade interativa e multicultural, transformada em bytes digitais. Ela se tornou uma ferramenta que, mediadora de diferentes contextos sociais, e tem possibilitado a criação de um espaço virtual desterritorializado, que dá novas dimensões à linguagem e à informação e é composta de meios caracterizados pelo total envolvimento dos sentidos e pela criatividade. Como ferramenta tecnológica, a internet é capaz de oferecer ao aluno inúmeras maneiras de conectar-se com o conhecimento, seja ele artístico, cultural, social, literário, gastronômico, tecnológico entre outros, bem como proporcionar novas experiências, 90 Discente do Curso de Letras. E-mail: [email protected] Discente do Curso de Letras. 92 Professor do Curso de Letras, doutorando em Estudos Literários (UFMG), Coordenado do Subprojeto Novas Tecnologias Aplicadas à Educação/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 91 133 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 possibilitando encarar o desconhecido e desbravar esse território, aventurando-se e buscando aprimoramentos. Por meio de sites, o aluno de E/LE pratica e expande seu aprendizado de língua, pois se sabe que a leitura é fundamental tanto para conhecimentos linguísticos quanto para treinar a compreensão e reflexão dos assuntos abordados. O presente artigo visa destacar o papel da internet como recurso didático facilitador de experiências virtuais significativas de imersão cultural na área de espanhol como língua estrangeira. Para isso, tomam-se como base teórica os textos de autores como negroponte (1995), Kenski (2012), Solíz (2012). Objetivos O seguinte trabalho tem como objetivo reflexionar sobre a utilização das NTIC aplicadas na área da educação visando a utilização da internet como um recurso tecnológico que desempenha um papel importante no contexto educacional e no ensino de línguas estrangeiras. Como ferramenta tecnológica, a internet tem facilitado aos professores e alunos o acesso a um mundo virtual, permitindo explorar diferentes realidades por meio da busca de informações, conexões a sites de interesse, simulações de experiências e interações virtuais diversas, etc., permitindo a ambos, professores e alunos, o acesso a experiências curriculares significativas. Entre estas experiências, o trabalho insere-se numa pesquisa de caráter exploratória que visa enfatizar a imersão virtual de caráter cultural, isto é, uma imersão que não tem por finalidade um deslocamento a um determinado espaço físico, e sim o desenvolvimento de uma atividade sensitiva e mental que, pelo acesso à internet, torna possível a “imersão” cultural virtual em algo também representativo e significativo. Nesse sentido, o seguinte estudo de caráter exploratório objetiva abordar e refletir o uso da internet como recurso didático de imersão virtual que oferece ao aluno interessado pelo conhecimento do espanhol como língua estrangeira (e/le) uma aproximação linguística e cultural a novas realidades mediadas por contextos virtuais diversos disponibilizados e/ou acessíveis na língua meta. 134 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Metodologia Pelo tipo de pesquisa desenvolvido, a metodologia utilizada foi de caráter bibliográfica, virtual e explorativa que considerou a internet como um recurso tecnológico que permite uma imersão de caráter virtual, que pode contribuir significativamente com o processo de ensino-aprendizagem de um estudante de língua estrangeira (E/LE), e que poderá ter, assim, a oportunidade de chegar, pela aplicação do recurso, a lugares que oferecem condições de explorar e vivenciar experiências sem o atrito das barreiras geográficas. Ao acessar diferentes contextos virtuais e reunir infinitas informações, a internet apresenta-se como um recurso didático tecnológico de mediação virtual que permite uma aproximação a processos linguísticos na área de línguas estrangeiras. Essa mediação também implica o fomento da diversidade cultural na qual estão contidas variadas maneiras de expressão, de agir, de comportar-se, de pensar, de comunicar-se, pois aprender uma língua estrangeira também significa conhecer seu entorno cultural virtual. Discussão A realidade tecnológica da atual era da comunicação e da informação tem impulsionado alterações significativas nas relações humanas e nos processos de acessos ao conhecimento. Seu desenvolvimento tem proporcionado à sociedade novas expectativas e necessidades e tem provocado mudanças que já se estendem a todos os níveis socioculturais. Por outra parte, os recursos da web têm a capacidade de envolver o aprendiz em uma representação da realidade que lhe permite, ao utilizar a internet, uma viagem ao passado, ao mundo presente e até mesmo ao futuro em um tempo real. Ao acessar um vídeo no youtube e falar sobre os incas, por exemplo, a internet apresenta em tempo presente ou relê uma história, costumes, filosofia de vida, características de espaço geográfico e todo o conhecimento de uma cultura. Uma viagem em 3d a machu picchu, mesmo que sem sair do lugar, possibilita por meio dos sentidos uma imersão a um contexto cultural desconhecido e fascinante que provoca emoções, sentimentos de alegria, tristeza entre outros e torna-se uma experiência concreta inteligível. 135 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Pelo uso da internet, o aluno de E/LE poderá responder suas dúvidas, aguçando sua curiosidade e impulsionando sua vontade de investigar, refletir e compreender. E no espaço virtual que lhe é oferecido, ele poderá estar envolvido com realidades diferentes da que vive, e assim poderá ver outras vidas, outros lugares; o aluno, então, não estará mais limitado: por meio da internet como recurso didático tecnológico de imersão cultural virtual poderá adquirir (novas) vivências e experiências através de um simples “clique”. Conclusões Atrelada à globalização e ao progresso das novas tecnologias, afirma-se a necessidade de conhecer uma língua estrangeira e de compreender a interculturalidade, reconhecendo a pluralidade social, humana e linguística. Diante dessa realidade, o ensino de línguas estrangeiras não deve ficar engessado nos padrões tradicionais de sala de aula, mas deve atualizar-se com avanços tecnológicos de maneira que contribua na formação de sujeitos conhecedores de si mesmos e da humanidade, bem como na formação de sua criticidade, reflexão e autonomia. Tendo em vista a relevância do ensino da língua espanhola nas escolas e suas dificuldades atuais, a internet pode amparar e promover um aprendizado de qualidade, pois apresenta um leque de possibilidades de práticas linguístico-culturais. A conectividade produz um mergulho, uma imersão que irá auxiliar o processo de ensino-aprendizagem de e/le, não apenas na produção de conhecimento da língua como instrumento, mas se estendendo à interdisplinariedade. Uma imersão a diversas áreas do conhecimento e ao mundo. A internet é um fator de motivação para os estudantes porque é um recurso envolvente e pode funcionar beneficamente como ferramenta didática. Por isso, a importância de se destacar sua contribuição no aprendizado de E/LE. Referências bibliográficas BAIRON, S. Multimídia. São Paulo: Global, 1995. BATTRO, A.M. Y DENHAM, P. J. La educación digital. Buenos aires: emecé, 1997. 136 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 BELLO, P. et alii. Didáctica de las segundas lenguas - estrategias y recursos básicos. Madrid: aula xxi, Santillana, 1990. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, 1999. CARABELA. Nuevas tecnologías aplicadas a la enseñanza del e/le, n. 42, Madrid, Sgel, 1997. CEBRIÁN, J.L. A rede. São Paulo: summus, 1999. COLLINS, H; Ferreira, A. (Orgs.) Relatos de experiência de ensino e aprendizagem de línguas na internet. Campinas: Mercado de Letras, 2004. JOHNSON, S. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar. Rio de janeiro: Zahar, 2001. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, Papirus, 2012. LÉVY, P. 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Revista Nebrija de Lingüística Aplicada 11 (6), 174-192, 2012. 137 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA (ESPANHOL) POR MEIO DAS REDES SOCIAIS Andréia de Fátima Tomé (UNIFAL-MG)93 Italo Oscar Riccardi León (UNIFAL-MG/ PG-UFMG)94 Introdução O momento em que se vive sugere uma revisão da educação e em especial dos objetivos que queremos de seu papel e alcance. Repensar a práxis e o perfil do profissional da educação se tornam pertinentes e dentre os focos de discussão, mais recentes, surgem as novas tecnologias numa perspectiva de ensino mais dinâmica e interativa que faz com que o aluno seja também responsável pela aquisição e fortalecimento de seu conhecimento. Entretanto, faz-se necessário ressaltar que o emprego das tecnologias vai além do simples uso em sala de aula. Para que sua utilidade seja efetivada com sucesso é preciso ter um planejamento consistente e bem estruturado que tenha claros os objetivos que se pretende alcançar. As tecnologias testam a capacidade organizacional e intelectual do educando e do professor, não bastando a si mesmas, mas a um objetivo claro e específico. Segundo Leite (2011), o aluno se torna responsável pela aquisição de seu conhecimento, mas é preciso discernir formação de informação. Nesse sentido, o professor deverá orientá-lo, instruindo-o e incentivando-o a enveredar por outros caminhos que não sejam apenas o pessoal, mas que envolva também a sua condição de aluno e, portanto, aprendiz. Isto é, agir indicando-lhe os mecanismos que deve utilizar, seja por meio de links, novos sítios, vídeos interessantes que além de adequados à faixa etária, também respondam aos conteúdos que deverão ser trabalhados com a disciplina que farão parte da sua formação enquanto aluno. Desenvolver um trabalho que se opõe a realidade subversiva com a qual lidamos no espaço escolar na atualidade, não é tarefa fácil. Principalmente quando o mundo se apresenta de maneira mais atraente que o giz e o quadro negro, o qual faz parte da realidade da maioria das escolas brasileiras. Este trabalho buscará verificar as 93 Discente do Curso de Letras. E-mail: [email protected] Professor do Curso de Letras, doutorando em Estudos Literários (UFMG), Coordenado do Subprojeto Novas Tecnologias Aplicadas à Educação/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 94 138 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 possibilidades de uso das redes sociais nos contextos da sala de aula dando um maior enfoque para o ensino de línguas estrangeiras, no caso o espanhol, que vem ganhando seu espaço no cenário linguístico nacional. Objetivos O desenvolvimento deste trabalho é uma proposta de reflexão em torno dos desafios que a escola enfrenta diante das tecnologias bem como a formação e atualização de seus professores. Com base exploratória em bibliografias relevantes ao assunto, busca-se, por meio do uso das redes sociais, despertar o interesse dos educandos para a aproximação de uma língua estrangeira (espanhol) e aquisição/aprendizagem de conhecimentos básicos no idioma. Metodologia Pelo tipo de pesquisa desenvolvido, a metodologia utilizada foi de caráter bibliográfico, virtual e exploratório, que considerou a rede social como uma construção virtual na qual pessoas podem se conectar e estabelecer diferentes tipos de relações podendo ou não partilhar valores e objetivos em comum, sem a interferência de nenhuma ligação hierárquica. Foram listadas, conceituadas e apresentadas algumas das redes mais conhecidas e acessadas pelos brasileiros desde 2006 e que de determinada maneira podem auxiliar no desenvolvimento de atividades linguísticas na língua estrangeira escolhida, no caso o espanhol; elas foram: livemocha, facebook e twitter. Uma importante vantagem das redes sociais é a promoção de comunicação entre as pessoas que tem o mesmo objetivo, que fortalece a troca de informações e a permanente colaboração entre elas. E é neste contexto que se daria o aproveitamento feito pelas escolas para a junção do universo do educando com os conteúdos ministrados em aula, oportunizando uma aprendizagem significativa e muito mais dinâmica e atraente aos olhos dos alunos. Isso é possível porque, por meio dos serviços presentes no perfil dos usuários podem-se disponibilizar informações, vídeos, links para blogs e outras páginas permitindo que os visualizadores naveguem identificando as informações que se deseja com apenas um clique. 139 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Discussão É impossível pensar em escola no século XXI sem destacar a importância na formação não só dos educandos, bem como dos educadores por meio das tecnologias da informação e comunicação (TICS). Embora saibamos de suas contribuições, muitos educadores se mantêm alheios quanto a isso e ainda se mantém presos ao uso do quadro negro e giz. Entretanto, esta não é uma boa ação, pois se eles se mantêm alheios, o mesmo não acontece com os alunos. Estes por sua vez, e com mais frequência tem acesso às inúmeras tecnologias recebendo e trocando informações constantemente. É preciso um olhar cuidadoso diante do emprego e uso de novas tecnologias: nem tudo que é novidade para o professor será para o aluno (LEITE, 2011). Cabe ao professor o papel principal do processo ensino/aprendizagem que é o de mediar e levar o aluno a construir seu conhecimento por meio da interação que ele fará com as ferramentas tecnológicas, com os colegas e com o próprio professor. Ao atuar como mediador no processo de integração das tecnologias em sala de aula, o educador estará colaborando para que aqueles alunos que apresentam alguns problemas e dificuldades de aprendizagem se interessem mais pelos conteúdos ensinados e interaja mais com o professor e com os colegas buscando aprender. É preciso dar relevância ao contexto social no qual os educandos estão inseridos e ao invés de tirar o aluno da escola, por que não trazer o mundo do aluno para a sala de aula? Estabelecer o elo entre tecnologias, conhecimento e aluno é tarefa do professor. Para isso, porém, é preciso romper com velhos paradigmas na educação. O uso das tecnologias exige uma mudança de postura, tanto do educador quanto do educando, e isso só acontecerá com o fortalecimento do compromisso com uma educação de qualidade para todos fazendo com que, desse modo, as aulas expositivas tão comuns nos contextos escolares se tornem mais dinâmicas e interessantes e que o conhecimento adquirido se torne mais suscetível. A rápida expansão e popularidade das redes sociais na sociedade moderna vêm tomando grandes e interessantes proporções. São milhões de usuários que trafegam diariamente pelas redes e em diferentes momentos. Para Sousa (2008), as redes sociais podem ser definidas “como locais virtuais de segmentação de interesses, onde cada indivíduo participa dos grupos de discussão que lhe forem convenientes” não sendo levadas em conta, muitas vezes, questões como barreiras geográficas, econômicas, 140 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 culturais e sexuais, uma vez que a interação entre os membros e o interesse comum é mais evidenciado. As redes sociais, ao mesmo passo que são um desafio para qualquer setor da sociedade, observando-se aqui o objetivo que resultará seu uso, são também uma fonte de possibilidades dado o seu potencial interativo. Na educação, por exemplo, poderiam funcionar como porta para o desenvolvimento de atividades de pesquisa e por que não na aquisição de um idioma. Entretanto, faz-se necessário ressaltar que elas em si não bastariam, pois constituem o ponto de partida e o caminho pelo qual o educando ficará conhecendo aspectos de determinada cultura, variantes linguísticas, e ainda por meio da interação com nativos do idioma praticar a fala e a escrita. No contexto atual da língua espanhola no cenário brasileiro, as tecnologias de comunicação e informação podem criar um novo espaço para a troca de conhecimento. A integração de mídias audiovisuais e redes sociais podem ser um aliado na formação do aluno de língua estrangeira. Primeiro, porque por meio das TICS é possível ampliar a visão cultural do aluno e em segundo plano, permitir a comunicação entre nativos e estudantes do idioma. Faz-se necessário relembrar que o papel do professor nas interações feitas entre alunos e mídias e redes sociais, num primeiro momento se faz imprescindível, pois é ele quem mediará às atividades realizadas pelos alunos, sugerindo links de vídeos, blogs, redes sociais, além de orientar sobre os contatos feitos pelos alunos, indicando-lhes as melhores opções de uso dessas redes. Conclusões No decorrer da pesquisa surgiram inúmeras questões relacionadas à práxis por meio das redes sociais que por um motivo ou outro deixaram de ser citadas. Discutimos aquelas que consideramos mais relevantes sem o objetivo de esgotá-las, já que o tema nos remete a inúmeras reflexões e novos recortes. Entender o funcionamento das redes sociais e o impacto que elas exercem dentro da sociedade moderna, é começo da mudança que o contexto escolar necessita. Considera-se aqui uma compreensão mais profunda dos decursos e objetivos que se pretende com o ensino do espanhol como língua estrangeira por meio dos recursos disponíveis na web. Tendo tal conhecimento, os envolvidos no processo sentir-se-ão 141 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 comprometidos com a causa e buscarão maneiras para que os objetivos se concretizem com qualidade e eficiência. Promover projetos e atividades de incentivo ao bom uso das redes sociais é imprescindível, mas também é preciso considerar a realidade em que a escola está inserida. É fundamental conhecer a realidade dos alunos para se empregar o uso das TICs, uma vez que nem todos poderão ter acesso a uma rede de qualidade ou mesmo ter um computador em casa. O ideal seria que na escola houvesse um laboratório com boas condições de funcionamento e que permitisse o acesso de todos. Acredita-se, portanto, que o emprego das redes sociais no espaço de ensinoaprendizagem pode mudar as formas das práxis atuais, fazendo com que a aquisição do conhecimento de uma nova língua seja algo muito mais prazeroso, interessante e eficiente, uma vez que o conhecimento de pelo menos uma língua estrangeira é um dos determinantes de inclusão social da atualidade. Mas acima de tudo o uso das mesmas poderá facilitar a inserção do aluno na realidade do contexto social que vivemos. Referências bibliográficas BRASIL MEC. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/Semt, 1999. CHAGAS, R. Valmir C. Didática especial de línguas modernas. São Paulo, Companhia das Letras, 1957. FACEBOOK. Site oficial Facebook. Disponível em: <http://facebook.com/>. Acesso em: 20 abr. 2012. FREIRE, P. Educação e mudança. 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No cotidiano escolar a maioria das vezes o professor dispõe só de um quadro negro e giz que em algumas oportunidades pode ser até colorido. É possível proibir todas estas tecnologias em sala de aula? Ou ter que reconhecer que estes alunos fazem parte de uma nova geração? Para eles a tecnologia já faz parte de seu cotidiano e da sua vida. Como utilizar todos esses recursos tecnológicos a favor de ações que possam trazer benefícios educativos em termos de ensino/aprendizagem na área do ensino de espanhol como língua estrangeira (E/LE)? O trabalho a seguir, apresenta o relato de uma experiência de ensino/aprendizagem de espanhol que foi desenvolvida em uma escola do município de Campos Gerais – MG, envolvendo alunos do Ensino Fundamental e Médio. O relato descreve passo a passo uma ação educativa com a utilização de recursos tecnológicos, tais como o uso do data show, computador e inclusive o celular. Com o auxílio das novas tecnologias foi possível preparar aulas interativas, diversificadas e com exemplos “reais” que contribuíram para os resultados obtidos. Esse relato de experiência estará fundamentado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) voltados ao ensino/aprendizagem de Língua Estrangeira; pelas novas Orientações Curriculares Nacionais de Língua Espanhola (2006), e também pelas 95 Discente do Curso de Letras. E-mail: [email protected] Professor do Curso de Letras, doutorando em Estudos Literários (UFMG), Coordenado do Subprojeto Novas Tecnologias Aplicadas à Educação/Prodocência/UNIFAL-MG. E-mail: [email protected] 96 144 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 contribuições de Nussbaum (2001) para quem as línguas estrangeiras constituem um valor inestimável como pré-requisito imprescindível para o desenvolvimento profissional e o futuro laboral dos jovens. Objetivos O presente trabalho insere-se na área de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, especificamente do ensino de espanhol, língua estrangeira (E/LE) no Brasil. Tem como objetivo chave relatar uma experiência do ensino/aprendizagem de espanhol, utilizando as novas tecnologias como um recurso didático de complementação ao uso do material didático empregado nas aulas. Também o artigo visa refletir acerca da utilização dos recursos audiovisuais e tecnológicos no Ensino Fundamental e Médio, como facilitadores do processo ensino/aprendizagem de atividades e experiências linguísticas desenvolvidas em sala de aula. Os relatos encontrados permitem considerar que essas ferramentas potencializam os dispositivos metodológicos convencionais, principalmente por permitirem a utilização de textos, imagens, músicas e animações, etc., articulando e compatibilizando, criativamente, conteúdos teórico-práticos com os usos da linguagem em contextos diversos de ensino/aprendizagem de língua estrangeira (espanhol). Metodologia Pelo tipo de pesquisa desenvolvido, a metodologia utilizada foi o relato de uma experiência docente de ensino/aprendizagem de espanhol numa escola pública mineira mediada pelo uso das novas tecnologias, tendo como foco principal observações e aplicações de alguns recursos tecnológicos que foram desenvolvidos em caráter exploratório e pesquisados com a utilização da bibliografia que faz parte dos materiais bibliográficos adquiridos pelo Prodocência. A disciplina de espanhol foi oferecida em caráter optativo, ou seja, somente os alunos que manifestaram interesse poderiam participar das aulas que foram ministradas no período da tarde, duas vezes por semana, com carga horária de 50 minutos/aula. Os alunos tiveram que apresentar uma autorização assinada por seus pais ou responsáveis legais, a fim de regularizarem sua participação nas aulas de espanhol. 145 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Por se tratar de uma disciplina optativa de caráter experimental, as aulas foram marcadas nos últimos horários, o que fez com que os alunos se encontrassem sempre cansados e com pouco ânimo. Com o sexto e sétimo anos foi ainda pior, pois as aulas de espanhol eram depois da Educação Física. Assim, os alunos depois de uma hora de atividades físicas entravam em sala de aula cansados, suados, muito agitados e demoravam a se acalmar, o que sempre provocava uma perda de dez a quinze minutos de aula. Como fazer com que esses alunos prestassem atenção? Como fazer com que pudessem compreender os conteúdos da disciplina? Como cativar estes alunos? O que fazer para que o projeto de ensino de espanhol não terminasse sem êxito ou as aulas de língua estrangeira fossem destinadas ao fracasso? Sem dúvida muitos desafios, mas o uso das novas tecnologias e algumas estratégias curriculares, num contexto como o descrito, possibilitou um interesse dos alunos pelo ensino da língua espanhola. Alguns dos recursos, tecnologias empregadas, não foram novidades para eles. Embora muitos não soubessem montar, adequadamente, um data show ou preparar slides por meio do PowerPoint, a maioria sabia se conectar à Internet e desenvolver buscas pelo Google, o que despertou interesses diversos pelo aprendizado de espanhol nas distintas turmas e também de relatar esta experiência docente utilizando as novas tecnologias como recursos facilitadores de ensino/aprendizagem de espanhol como língua estrangeira (E/LE). Discussão Como toda atividade linguística, ensinar uma língua estrangeira em contexto escolar, ocasiona múltiplos desafios tanto para os alunos como para os professores em função de sua complexidade e dos diversos aspectos que acompanham o processo de ensino/aprendizagem e suas interações. Tendo como referência o emprego de alguns livros didáticos foi possível planejar “aulas interativas”; isto é, os alunos não ficavam somente com a leitura do livro didático. Também foi possível visualizar outras imagens, ver pequenos vídeos originais baixados pelo YouTube, um site que permite que seus usuários compartilhem vídeos em formato digital, e puderam, não somente “ver”, como também ouvir nativos hispanoamericanos conversando nas mais diversas situações, sem a necessidade de escrever 146 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 respostas estruturais no quadro negro ou simplesmente ter que passar lições do material didático adotado. O uso desses recursos tecnológicos foi fundamental para desenvolver atividades gratificantes de ensino/aprendizagem de espanhol. Houve mudanças no desenvolvimento das aulas e os conteúdos foram elaborados em slides e projetados com o auxílio do PowerPoint. O quadro negro foi utilizado somente em caso de dúvidas e pequenas anotações. As “imagens reais!” de Tulun (México), La Habana (Cuba), Cordillera de los Andes (Chile), Machu Picchu (Perú), Madrid (Espanha), nas primeiras aulas, fez com que os alunos se interessassem pela disciplina e se entusiasmassem em participar frequentemente das aulas. O resultado foi tão satisfatório que no segundo dia de aula, os alunos chegaram comentando que haviam procurado no Google novas imagens, histórias sobre as cidades e o melhor, despertaram o interesse até por realizar uma futura viagem. Conclusões Promover a aprendizagem de uma língua estrangeira num contexto educativo escolar é um grande desafio para os educadores responsáveis pelo desenvolvimento deste processo. Um aspecto deste desafio consiste em que o educador atue de forma a também preparar-se a si mesmo. Estamos diante de inúmeros meios tecnológicos que evoluem a cada dia. Não somos capazes de acompanhar o ritmo acelerado do conhecimento. Não podemos impedir o uso de novas tecnologias em sala de aula. O novo aluno do século XXI, já nasceu envolvido neste meio mediado pelas novas tecnologias. O que nos resta fazer é nos aproximar, entender, aprender e utilizar todas essas informações a favor de uma aula mais dinâmica, motivadora e com bons resultados em termos de ensino/aprendizagem de línguas. Não esquecer que o professor, nos tempos de hoje, tem muito a ensinar, porém também muito para aprender. Aprender espanhol na escola é importante porque oferece novas oportunidades de conhecimento aos alunos de caráter formativo, cognitivo e cultural. O aprendiz de língua estrangeira com o aprendizado de uma nova língua, sem ser a sua materna, amplifica a visão de mundo e estabelece novas relações de aprendizagem em termos de um cidadão que respeite o diferente, sendo este respeito pela língua uma mediação para a compreensão da cultura de um povo e do respeito pela individualidade de cada um. 147 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420 Assim, o ensino de língua estrangeira na escola tem o seu valor social como também de formação profissional, ou seja, além de contribuir para construir um cidadão e seus valores sociais, também propicia ao aluno um conhecimento que pode trazer oportunidades de um estudo avançado na área ou até de um trabalho. Devido às novas tendências do mundo atual e a globalização, o ensino de uma língua torna-se também uma importante e útil ferramenta para o desenvolvimento dos tempos atuais. A comunicação com o mundo, com outros países tornou-se possível, e mais ainda, quando mediado pelas novas tecnologias. Afinal, a língua é o canal que possibilita a comunicação com diferentes países. Sem o auxílio desses recursos tecnológicos, provavelmente, não teria sido possível atingir resultados satisfatórios que foram reconhecidos pela diretoria e pelos pais dos alunos. Por outra parte, observa-se o despreparo dos professores para o manuseio desses recursos, o que permite afirmar que há necessidade de capacitação para a adequada utilização dos mesmos. Assim, torna-se importante que os gestores das instituições de Ensino Fundamental e Médio invistam em programas de capacitação e educação continuada direcionada aos docentes, tornando-os melhor preparados para os desafios e vantagens curriculares que possibilitam as novas tecnologias, e, consequentemente, uma melhoria na qualidade do ensino brasileiro. Referências bibliográficas ALONSO, E. A. Cómo ser profesor/a y querer seguir siéndolo. Madrid, Edelsa, 1994. BELLO, P. et alii. Didáctica de las segundas lenguas - estrategias y recursos básicos. Madrid: Aula XXI, Santillana, 1990. BRASIL (País). Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, 1999. BRASIL (País). Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio; vol. 1. Brasília: MEC/SEB, 2006. COLLINS, H.; FERREIRA, A. Relatos de experiências de ensino e aprendizagem de línguas na Internet. Campinas: Mercado de Letras, 2004. CRUZ-PIÑOL, M. 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ISSN 2316-8420 Universidade Federal de Alfenas Paulo Márcio de Faria e Silva Reitor Edmêr Silvestre Pereira Júnior Vice-Reitor Vera Lúcia de Carvalho Rosa Pró-Reitora de Administração e Finanças Marcos Roberto de Faria Pró-Reitor de Assuntos Comunitários e Estudantis Maria de Fátima Sant`Anna Pró-Reitora de Extensão Júlio César Barbosa Pró-Reitor de Gestão de Pessoas Lana Ermelinda da Silva dos Santos Pró-Reitora de Graduação Antônio Carlos Doriguetto Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Tomás Dias Sant`Ana Pró-Reitor de Planejamento, Orçamento e Desenvolvimento Institucional Paulo Denisar Vasconcelos Fraga Diretor do Instituto de Ciências Humanas e Letras Sandro Amadeu Serqueira Vice-diretor do Instituto de Ciências Humanas e Letras 108 Novas tecnologias Anais do I Seminário Processos de formação interdisciplinar: diálogos entre docência e pesquisa. Volume 1, Número 1. Alfenas: Editora, 2012. ISSN 2316-8420