PERFIL O REI DO CAMAROTE por DANIEL KENY FOTO AGÊNCIA GAVETAS M UITA GENTE SONHA EM FAZER PARTE DO MEIO ARTÍSTICO. ALÉM DO PRÊMIO EM DINHEIRO, QUAL OUTRO MOTIVO, SENÃO O DESEJO INSACIÁVEL PELOS MINUTOS DE FAMA, LEVA UMA PESSOA A EXPOR-SE EM UM REALITY SHOW, POR EXEMPLO? QUEM ESTÁ ALI QUER SER VISTO E BUSCA A CHANCE DE FAZER PARTE DE UM MUNDO CHEIO DE GLAMOUR, FESTAS, ARTISTAS E GENTE BONITA. MAS O ENTREVISTADO DA RAÇA QUE VOCÊ IRÁ CONHECER – OU RECONHECER – ESTÁ NO TIME DE QUEM FAZ ESSE MUNDO TÃO ATRAENTE AOS OLHOS ALHEIOS. EVERTON NEGUINHO É PROMOTOR DE EVENTOS DE UMA DAS MAIORES CASAS DE MÚSICA SERTANEJA DE SÃO PAULO E TAMBÉM TRABALHA COM RODEIOS EM CAJAMAR, OSASCO, BARRETOS, JANDIRA, ITANHAÉM, NUPORANGA E CERQUILHO, LOCAIS ONDE A FESTA É BASTANTE POPULAR. 18 | RAÇA BRASIL perfil-190.indd 18 24/4/2014 06:48:38 MORAVA EM UM BARRACO DE MADEIRA COM A MINHA MÃE E FREQUENTEMENTE, QUANDO ÍAMOS FAZER COMPRA NO MERCADO, NÃO CONSEGUÍAMOS LEVAR PRA CASA TUDO O QUE PRECISÁVAMOS. AQUILO ME MARCOU, MAS ME MOTIVOU TAMBÉM” WWW.RACABRASIL.COM.BR perfil-190.indd 19 FOTO TATIANA M. Com apenas 26 anos de idade, o promoter é figura conhecida dos artistas sertanejos contemporâneos e também dos frequentadores das baladas e shows. O curioso é que, no caso de Everton Neguinho, a noite é sinônimo de trabalho, conforme ele próprio faz questão de afirmar. E nem parece justo questionálo, porque sua história de vida prova que dedicação e amor ao que se faz é uma combinação efetiva para o sucesso profissional. No caso dele, alicerçou uma carreira que ainda se desenvolve, mas onde a fama é consequência de um trabalho bem feito. Há dez anos, Everton era um garoto humilde que buscava o seu primeiro emprego. A primeira oportunidade que lhe apareceu foi para coletar latinhas e fazer limpeza em uma casa noturna de Osasco. Diante da situação da família, a oferta foi irrecusável. “Para mim, a proposta era ótima, porque o salário era semanal. Mudei até o horário da escola para conciliar com o trabalho. Morava em um barraco de madeira com a minha mãe e frequentemente, quando íamos fazer compra no mercado, não conseguíamos levar pra casa tudo o que precisávamos. Aquilo me marcou, mas me motivou também”, recorda. Dez anos se passaram desde que aquele jovem garoto conseguiu o seu primeiro emprego. Hoje, pai de um filho e à espera do nascimento do segundo, Everton Neguinho é um dos promotores de eventos mais conhecidos da música sertaneja, ajudado também pelo aumento da popularidade do gênero nos últimos tempos. Em nosso bate-papo, ele rapidamente demonstrou as qualidades que fazem a sua carreira na noite crescer: carisma, foco, competência e ambição. Confira a seguir! Como foi a sua infância? Nasci em Osasco, fui criado no bairro Jardim Novo Osasco e estudei a vida inteira em escola pública. Aproveitei muito quando era criança, joguei bola, brinquei de carrinho, mas comecei a trabalhar muito cedo também. Qual a sua relação com a família? Quando minha mãe me adotou, era muito novinho, mas fui criado com muito amor. Desde criança sempre soube que era adotivo e até tenho contato com meus pais biológicos, que por coincidência fazem parte da família pela qual fui adotado. Minha mãe já me adotou com certa idade, hoje ela tem 77 anos. Morei com ela até 2011, ano em que me casei. Quantos anos você tem? Tenho 26 anos, um filho de dois anos e outro que está por vir, aliás aguardo com ansiedade! Ser pai me ajudou muito, pois tudo que me faltou na infância tento dar ao meu filho. A começar pelo amor, o papel de pai, coisa que não tive. Trabalho muito por eles, pra dar uma boa escola, futuramente uma boa faculdade. Mas quero ensiná-los a correr atrás dos objetivos, quero que tenham determinação. Quando começou a trabalhar? O que fazia? Em meados de 2004, fazia parte da Guarda Mirim de Osasco, mas procurava um emprego. Foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar em uma casa noturna da cidade, os proprietários precisavam de alguém para ajudar na coleta de latinhas e na limpeza geral. Para mim, a proposta era ótima, porque o salário era semanal. Mudei até o horário da escola para conciliar com o trabalho. Morava em um barraco de madeira com a minha mãe e frequentemente, quando íamos fazer compra no mercado, não conseguíamos levar pra casa tudo o que precisávamos. Aquilo me marcou, mas me motivou também. RAÇA BRASIL | 19 24/4/2014 06:48:46 Como se desenvolveu a sua carreira na promoção de eventos? Os proprietários da casa, Alicio e Terezinha Lezo, na época o Rancho Musical, me colocaram em muitas funções: serviços gerais, chapelaria, copa, barman, caixa... Chegava ser engraçado, pois eu conversava muito, fazia amizade rápido com os clientes e acabava não fazendo o meu serviço direito. Eles me mudavam de posto, me davam bronca, mas não me mandavam embora. Acreditaram em mim porque perceberam que eu lidava bem com o público. Foi quando me passaram para a promoção, para trabalhar junto com os filhos deles, que são meus amigos até hoje. Comecei a aprender o trabalho e com o tempo passaram a me chamar de Neguinho. Quando o Rancho fechou, consegui trabalhos em outras casas de Osasco. Ia de ônibus, pegava os panfletos e passava na porta das baladas para distribuir. Em certo momento, não conseguia mais dar conta, então passei a chamar algumas amigas pra me ajudar. Acabei terceirizando o trabalho. O próximo passo foi fazer do meu aniversário um evento, a “Festa do Everton Neguinho”. Também realizei campeonatos de dança country e etapas da Queima do Alho, que é uma competição entre comitivas de comidas típicas. Também passei a organizar eventos em parceria com as casas de show, sempre vinculando o meu nome. Foi o pulo do gato: meu nome passou a ser conhecido a ponto de eu não ir mais atrás de casas, elas começaram a entrar em contato comigo. Em 2006 ou 2007, já estava selecionando as duplas sertanejas para eventos e rodeios, a pedido do empresário Marcos Pacheco. Foi muito por acaso. Fui ganhando experiência e pegando a confiança das pessoas, ao ponto de hoje ter a liberdade de divulgar os rodeios na principal casa onde trabalho, o Villa Country, e vice-versa. FOTO ARQUIVO PESSOAL O que veio primeiro: o gosto pelo sertanejo ou o trabalho com música sertaneja? Aos domingos, minha mãe costumava colocar discos de Gilberto e Gilmar, Chitãozinho e Xororó, Rionegro e Solimões, Milionário e José Rico, Joaquim e Manoel, entre outros. Cresci ouvindo sertanejo faço isso até hoje. A música sertaneja sempre esteve dentro de casa. Everton com a dupla Rio Negro e Solimões FOTO ARQUIVO PESSOAL PERFIL Everton com a sua família Dos artistas com quem já trabalhou nos eventos, quais você mais admira? Apesar de gostar dos sertanejos mais antigos, eu admiro duplas novas também. Fernando e Sorocaba, Thaeme e Thiago, Marcos e Belutti, Michel Teló e outros mais novos ainda, como Matheus Minas e Leandro, Joice e Fabiano, Som Lima, que é um cantor de Roraima, Andreza, Diego Martins, Ricardo e João Fernando, Trio Bravana. Maria Cecilia e Rodolfo são muito simpáticos. Guilherme e Santiago são demais, os admiro muito e sempre nos encontramos. Você é ainda muito jovem. De que forma pretende desenvolver a carreira daqui pra frente? Hoje divulgo casas noturnas e novos artistas, prestos serviços a rodeios, expos e prefeituras. Tenho clientes que se tornaram amigos, me conhecem desde o início e isso ajuda muito nas oportunidades que tenho. O sucesso do meu trabalho também se deve às pessoas que frequentam os eventos e as casas com as quais estou envolvido, pois são elas que fazem voluntariamente a divulgação do meu nome. Eu frequento a noite, penso em tudo que vai rolar como se fosse para mim, ouço as pessoas. Com o tempo tive de aprender a receber ligações de famosos querendo “vips” para shows. Dependo de todos, público, artistas e contratantes, sem eles meu trabalho não existe. Como você lida com o interesse? Eu lido da forma mais natural possível. Até porque alguns amigos que tenho se aproximaram de mim por conta do trabalho, mas depois a amizade se desenvolveu. Em casos exagerados, eu apenas me afasto. Eu vim debaixo, sei quando querem tirar vantagem. O que você mais gosta no meio artístico? Como é o dia a dia nos bastidores dos rodeios? Tive que aprender a lidar com artistas para saber diferenciar que, mesmo alguns ligando pessoalmente para mim, em primeiro lugar vem o profissionalismo. Claro que sempre tive vontade de conhecer alguns, e meu trabalho me proporciona isso. Hoje, entre um show e outro as amizades acontecem. Mas a verdade é que meu deslumbre é pela produção dos shows. Nos rodeios, além da divulgação e de contratar as recepcionistas dos camarotes, cuido dos palcos alternativos, os famosos 20 | RAÇA BRASIL perfil-190.indd 20 24/4/2014 06:48:53 FOTO ARQUIVO PESSOAL “Bailões”, tenho uma missão muito importante que é a de dar oportunidade a novos cantores, isso é o máximo, pois posso estar ajudando um novo Michel Teló a surgir. Sendo negro e jovem, você é a favor das cotas para universitários negros? Fiz alguns cursos técnicos, um deles foi o de eventos, para me especializar. Acho importante o sistema de cota para nossa juventude, talvez a distribuição dela tenha uma divulgação equivocada. Mas sou a favor das cotas aos negros sim, apesar de não ter precisado recorrer a ela. Como a presença dos negros é vista nas casas de shows, onde predomina a classe média branca? No segmento em que atuo, não há diferença entre negros e bancos no sertanejo. Hoje, grandes locutores e peões de rodeios são negros. Em uma das casas em que presto serviços, por exemplo, um dos gerentes é negro e comanda muitos funcionários. Antigamente se falava que sertanejo era música de caipira e de fazendeiros, e o samba dos negros. Se isso era regra, acredito que quebramos com o tempo, porque grandes grupos de samba são compostos por integrantes de pele branca e no sertanejo há muitos cowboys e cowgirls negros, que particularmente são os que mais fazem sucesso. FOTO ARQUIVO PESSOAL Antes de começar a entrevista, você comentava sobre política. Pensa em se tornar político? Muita gente pergunta se eu tenho vontade, dizem que tenho o perfil. Sou filiado ao PRB já há uns 8 anos, onde sou coordenador do PRB Jovem. Pela vontade de ajudar as pessoas, a política é um caminho, mas fui aprendendo que eu podia ajudar sem ser político. Tenho um trabalho filantrópico em Osasco, contatos com prefeituras para organizar eventos. Mas eu gosto, apoio candidatos que defendem os meus ideais. Por enquanto, não tenho pretensões de me candidatar a nada. Quem sabe no futuro. WWW.RACABRASIL.COM.BR perfil-190.indd 21 Everton com a sua esposa e o cantor Michel Teló Com a dupla Gian e Giovani Como muita gente no Brasil, você começou por baixo e buscou o seu espaço. O que você diria para alguém que sonha em trabalhar com eventos? Quem sou eu para dar conselhos (risos), sou apenas uma semente no meio de grandes árvores como Marcos Pacheco, Fabio Polezer, Guilherme Rigo, Marco Tobal, entre tantos que me ajudam tanto e a quem devo gratidão. Acredito que Deus nunca abandona seus filhos, por mais forte que seja a tempestade. Portanto, acreditem nele e tratem todos com igualdade. Qual o papel da religião em sua vida? Sou cristão, mas tenho uma história curiosa. Certa vez, uma amiga me disse que ia tomar um passe. Eu repudiei, mas aí ela disse: “você sabe o quanto isso me faz bem?”. Naquele dia minha mente se abriu. Quem sou eu pra criticar? O que faz bem deve ser respeitado. Ano passado, fui convidado a fazer o momento de oração da “Queima do Alho” do rodeio de Barretos, isso me deixou muito feliz. Quando faço a oração, seja em casa ou no trabalho, faço de verdade. Leio a mensagem com todo o meu coração. Você é bem ativo no Facebook e faz uso profissional e pessoal da sua página. Como enxerga a rede social? Tenho Facebook há bastante tempo e fui aprendendo a usar. Posto orações e frases que considero inspiradoras. Gosto das mensagens do padre Reginaldo Manzotti, acompanho o Momento de Fé, do padre Marcelo Rossi e vejo vídeos do André Valadão. Acompanho bastante o Silas Malafaia também. Enfim, é legal você postar e ver as pessoas comentando que precisavam ouvir aquilo, agradecendo. Saber que está ajudando é muito bom. Falando deste assunto, também destaco o meu site, o www.evertonneguinho.com.br. É nele que faço listas VIP para baladas, divulgo novos artistas, casas noturnas e rodeios. E quais os planos para 2014? Vou ser sincero, não sou de fazer planos. Quando comecei, meu objetivo era poder ir ao mercado e fazer compras com minha mãe sem ter que voltar nenhum produto para trás, coisa que acontecia muito. Gostaria de transformar todos os serviços que oferecemos em uma agência e quem sabe empregar muitas pessoas. Para concretizar, basta a oportunidade. RAÇA BRASIL | 21 24/4/2014 06:48:58