FOBIA SOCIAL
Terapia Cognitivo Comportamental
Psicóloga Patrícia Zocchi
Identificação do Paciente
Nome: C.T.R (Masculino)
 Idade: 21 anos
 Estado Civil: Solteiro
 Escolaridade: Segundo Grau Completo
 Cargo: Ajudante Geral

Queixa Inicial
Forte timidez em diversas situações, dificuldade
ao interagir com outras pessoas, medo do
julgamento que possam fazer.
Identificação do Problema Central

Desde a infância C. já apresentava sintomas de desconforto perante as
pessoas em geral. Relata que sua escolarização foi sempre difícil, pois
apesar de não possuir dificuldades quanto ao conteúdo escolar, sempre se
sentiu desconfortável no meio dos “amiguinhos”. Aos 7 anos de idade não
estudou, chorava ao entrar, permanecia calado, isolado, sentia medo das
situações e das pessoas e sua mãe dizia que ele não gostava de estudar.

Descreve sua família como tímidos também, com poucos recursos para
entender suas dificuldades ou de serem facilitadores em situações de
desconforto. Acredita que todos estão se desenvolvendo, melhorando,
menos ele.

Sente-se inferior aos outros, não consegue olhar nos olhos das pessoas e
ser assertivo em uma conversação. Evita situações sociais até mesmo com
pessoas conhecidas.

Quando em situação de desconforto, apresenta sintomas ansiosos como:
sudorese, vermelhidão no rosto, tremor em todo o corpo, taquicardia e falta
de ar.
DIAGNÓSTICO

Transtorno de Ansiedade Social
DSM IV – Eixo I
“Caracteriza-se pelo medo que a pessoa tem de uma variedade de
situações nas quais outras pessoas possam estar observando ou
formando uma opinião ou julgamento sobre elas. A ansiedade não se
restringe apenas às situações sociais, mas também ao desempenho”
(Tito Paes, 2000)”
“O medo persistente de situações de desempenho
social, interação verbal ou potencial avaliação por
outras pessoas é a característica que identifica e
diferencia o grupo dos fóbicos sociais dos demais
transtornos mentais e de ansiedade (Rapee e
Heimberg, 1997).
Problemas e Funcionamento Atual

Atualmente C. sente que sua “timidez” o atrapalhou muito. Relata que se
sente muito mal quando há situações que acredita ser incapaz de enfrentar.
Não consegue falar com um profissional hierarquicamente superior, sente
um grande desconforto quando alguém comenta algo sobre ele, mesmo
quando o comentário é positivo, não consegue expressar suas opiniões e
quando há um número maior de pessoas em sua volta, quase não
consegue falar. Tudo que é novidade ou sai da rotina lhe gera grande
ansiedade.

C. percebe que tem capacidade intelectual para ser melhor, mas seu
desconforto o bloqueia. Corta diálogos, sem falar o que tem vontade,
quando conversa, sente que os outros percebem o seu desconforto que
conseqüentemente aumenta. Nunca participa de encontros sociais, evita
diversas situações.

Relata que quando tem confiança em alguém, conversa mais livremente,
porém não consegue olhar nos olhos. Tem colegas, mas amigos acredita
que nunca teve.

Sente que suas dificuldades o impedem de sonhar e crescer.
Problemas e Funcionamento Atual

Em alguns momentos, C. consegue pensar que nos últimos
anos ele melhorou muito e fez coisas que achava impossível
conseguir fazê-lo: conseguiu dois empregos, começou a
namorar, encontrou “uma pessoa que o quer” (sic); procurou
ajuda profissional; e comprou um livro sobre timidez, que a
muito tempo queria, mas tinha medo de pedir ajuda para
atendente da livraria, por se tratar deste tema.

Se sente humilhado quando chega à casa de alguém e tem
que cumprimentar todos, ou quando esta conversando com
alguém e percebe que a pessoa lhe olha fixamente. Pedir
favores é difícil, falar em tom de voz alto não consegue, evita
ter que explicar ou contar um fato longo, ouvir criticas ou
elogios e ouvir ou ter que falar um não.
Perfil de Desenvolvimento

A. Historia (familiar,
psiquiátrica, vocacional)
social,
educacional,
médica,
C. é o quarto de 6 filhos (4 homens e 2 mulheres).
Sua vida social é bastante limitada, não se sente capaz de ter
amigos, acredita que possui poucos colegas e que nunca teve
amigos. Acredita que ninguém vai se interessar por ele.
Conseguiu terminar o segundo grau, porém apesar do desejo
que possui, evita pensar em continuar seus estudos, temendo
não suportar situações que sinta constrangimento.
Nenhum problema médico importante, nenhuma história
psiquiátrica.
Perfil de Desenvolvimento

B. Relacionamentos (pais, irmãos, amigos, figuras de
autoridade e outros)
Sua comunicação com a família é bastante limitada, fala somente o
necessário, temendo dar oportunidade ou liberdade para que o
coloquem em situação de constrangimento. Não fala absolutamente
nada com um irmão, que mora na mesma casa, há 3 anos por este
motivo.
Namora há 3 anos, relata que sua namorada parece não perceber o
seu desconforto perante as pessoas, ninguém da família sabe que
faz terapia, inclusive a namorada, acredita que as pessoas não
entenderão e o acharão tolo. Vê a namorada como uma pessoa
limitada, que não quis terminar o segundo grau, não deseja crescer,
é sem ambições e não o leva a sério. Já falou para ela varias vezes
que gostaria de terminar o namoro, mas ela pede para voltar e ele
não consegue dizer um não definitivo, pois fica em dúvida se é o
melhor a fazer e se encontrará novamente alguém que goste dele
como ela gosta.
Perfil de Desenvolvimento

C. Eventos significativos e traumas
Sempre se sentiu fisicamente diferente dos irmãos, pois é o
único com traços orientais (olhos puxados), apesar de serem
todos nascidos no norte do Brasil. Os traços orientais são
percebidos claramente e foram por vezes motivo de
chacotas, sendo que até hoje algumas pessoas o chamam de
“Japonês”.
Nasceu no dia 29 de fevereiro e por este motivo, diz nunca
ter comemorado seu aniversário e este fato o faz ainda mais
se sentir diferente perante os outros e motivo de piadas
muitas vezes.
Na 1ª. e 2ª. série do ensino fundamental, o pai o tirava a
força da cama para ir a escola. Lembra o pai dizer: “Esse
menino é um tapado, não presta para nada, tem medo dos
outros comerem ele na rua”. Acredita que passou muitas
vergonhas e constrangimentos.
Perfil Cognitivo

A. Problemas / situações problemáticas atuais
típicas
Retração Social.
Dificuldade de comunicação com membros
da família.
Dificuldade expor sentimentos e desejos à
namorada.
Falta de assertividade com colegas de
trabalho e superior hierárquico.
Sentimento de incapacidade para continuar
seus estudos.
Perfil Cognitivo

B. Pensamentos automáticos que o faz sentir alto grau de
ansiedade e evitar situações, reforçando seu “viés
confirmatório”
Eu não consigo falar com um superior, ele é melhor do que eu;
Eu não vou pedir um favor porque vou ouvir um não;
Eu não posso ir a qualquer evento, pois não conseguirei falar;
Eu sou diferente e sou incapaz de interessar os outros;
Eu não posso crescer em nenhum sentido;
Eu não consigo falar nem o necessário;
Eu não consigo expressar minhas opiniões;
Eu sou incapaz de fazer amizades verdadeiras;
Eu não poderei ter uma profissão superior;
Eu não serei capaz de casar, ter filhos, educá-los;
Eu não consigo conversar com uma pessoa me olhando;
Não posso tirar carteira de habilitação, pois todos vão me olhar;
Eu não posso visitar alguém;
Não posso aprender inglês.
Perfil Cognitivo

C. Crenças centrais
Eu sou incapaz / incompetente
Eu não sou amado / querido pelos outros

D. Crenças condicionais
Se eu não fosse tímido, eu seria livre para fazer qualquer coisa.
Se eu fosse autoconfiante, seria capaz de tudo.

E. Regras
Tenho que evitar falar muito ou evitar algumas pessoas, pois vão olhar no meu
rosto e perceber o meu nervosismo.
Tenho que ficar quieto, pois sou tímido.
Eu devo não chamar a atenção, senão todos vão olhar para mim e me julgar.
Devo simplesmente sair de casa calado, ir calado ao trabalho e voltar calado.
Deveria me conformar em ser assim.
Integração e conceituação de perfis
cognitivos e desenvolvimentais

A. Formulação de autoconceito e conceito de
outros
C. se vê inferior aos outros, incapaz de se comunicar
de forma assertiva.
Eleva a capacidade dos outros e diminui a sua.
Acredita que todos estarão sempre o julgando.

B. Integração de eventos de vida e
vulnerabilidade cognitivas
Desde pequeno tornou-se vulnerável ao se ver
diferente fisicamente dos outros membros da família.
As chacotas e piadas quanto a sua aparência, sua
data de aniversário e o comportamento do pai
perante seus medos, reforçaram as suas crenças de
desamor e incompetência.
Integração e conceituação de perfis
cognitivos e desenvolvimentais

C. Estratégias compensatórias e de enfrentamento
Procurar fazer tudo sempre certo. Esforça-se ao máximo para não
receber crítica negativa.
Busca leituras relacionadas às suas dificuldades.

D. Desenvolvimento e manutenção do transtorno atual
O transtorno fez com que C. evitasse situações como: estar em
convívio social ou familiar, continuar seus estudos, ter amigos,
um relacionamento saudável e se candidatar para outras
oportunidades de trabalho.
Ao evitar situações acima descritas, C. fortalece sua retração
social, pois reforça suas crenças centrais – promovendo assim, o
viés confirmatório.
Motivação do paciente, metas e
expectativas para a terapia
Muito motivado apesar de suas expectativas serem baixas,
pois suas crenças dizem que não será capaz de mudar.
Concorda com o modelo de Terapia Cognitiva
Comportamental, bem como em ser agente de seu
processo de mudança.

Metas do Paciente: Melhorar a comunicação com a
família; Participar de qualquer evento sem ter medo de
falar; Falar calmamente num grupo de pessoas;
Conhecer pessoas novas; Cumprimentar afetivamente;
Fazer amigos; Falar confiantemente com superiores;
Olhar nos olhos das pessoas; Aumentar o tom de voz;
Expressar sentimentos, desejos e pensamentos.
Metas do Terapeuta






Diminuir a ansiedade antecipatória das
situações sociais temidas;
Reduzir os sintomas fisiológicos de ansiedade
associados;
Diminuir as cognições de auto-avaliação
negativa e de avaliação pelos outros;
Diminuir as evitações sociais;
Diminuir as limitações de C. e melhorar sua
qualidade de vida;
Ensinar ferramentas cognitivas, como RPD,
solução de problemas e seta descendente;
Técnicas Utilizadas
- dessensibilização sistemática;
 - exposição;
 - reestruturação cognitiva;
 - treino de habilidades sociais;
 - automonitoramento;
 - psicoeducação;
 - experimento comportamental;
 - avaliação objetiva.

Outros recursos utilizados

Treino de respiração
diafragmática
–
abdominal

Meditação – concentrada na respiração

Relaxamento – muscular progressivo

Metáfora – “O Elefante Acorrentado”


ou
Treino de Perspectiva – Dinâmica: “Dez anos
se passaram”
QUATI
(Questionário de Avaliação Tipológica)
– Autoconceito
Resultados Avaliação Objetiva
Instrumento
BDI*
BDA**
2ª. Sessão
13ª.Sessão
9
7
(Mínimo 0-11)
(Mínimo 0-11)
39
24
(Grave 31-63)
(Moderado 20-30)
*BDI (Beck Depression Inventory) – Inventário de Depressão de Beck
*BAI (Beck Anxiety Inventory) – Inventário de Ansiedade de Beck
8ª. Sessão – Trecho do seu caderno de
anotações.........
“Fico boa parte do dia pensando neste momento novo de minha vida. Hoje
tentei cumprimentar mais pessoas na rua, conversei com o cabeleireiro.
No trabalho tentei falar e cumprimentar o maior número de pessoas do
que normalmente.
Troquei algumas palavras com um funcionário novo e também, não sei se
foi coincidência, um rapaz que praticamente nunca havia falado comigo,
hoje me dirigiu a palavra.Tentei olhar mais para as pessoas.
Pedi um favor para um rapaz. Falei um pouco mais com alguns colegas
que quase nunca conversei.
Às vezes pequenos momentos positivos acontecem. Mas parece que
sempre eu olhei e dei atenção a pensamentos e situações negativas.
Agora estou tentando ver o que há de positivo.
Hoje uma senhora pediu uma pequena informação e eu respondi bastante
calmo.
Evitei no jantar sentar sozinho ou com as mesmas pessoas de sempre.
Troquei algumas palavras com uma funcionário nova.
Voltando do trabalho, no ônibus, uma mulher puxou uma conversa e eu me
senti calmo”.
C.T.R
Fechamento
Numero
de sessões previstas
30 Sessões
Numero
de sessões realizadas
22 Sessões
Metáfora: O Elefante Acorrentado
Você já observou elefante no circo? Durante o espetáculo, o enorme animal faz
demonstrações de força descomunais. Mas, antes de entrar em cena,
permanece preso, quieto, contido somente por uma corrente que aprisiona uma
de suas patas a uma pequena estaca cravada no solo. A estaca é só um
pequeno pedaço de madeira. E, ainda que a corrente fosse grossa, parece
óbvio que ele, capaz de derrubar uma árvore com sua própria força, poderia,
com facilidade, arrancá-la do solo e fugir.
Que mistério! Por que o elefante não foge?
Há alguns anos descobri que, por sorte minha, alguém havia sido bastante
sábio para encontrar a resposta: o elefante do circo não escapa porque foi
preso à estaca ainda muito pequeno. Fechei os olhos e imaginei o pequeno
recém-nascido preso: naquele momento, o elefantinho puxou, forçou, tentando
se soltar. E, apesar de todo o esforço, não pôde sair. A estaca era muito
pesada para ele. E o elefantinho tentava, tentava e nada. Até que um dia,
cansado, aceitou o seu destino: ficar amarrado na estaca, balançando o corpo
de lá para cá, eternamente, esperando a hora de entrar no espetáculo.
Então, aquele elefante enorme não se solta porque acredita que não pode.
Para que ele consiga quebrar os grilhões é necessário que ocorra algo fora do
comum, como um incêndio por exemplo. O medo do fogo faria com que o
elefante em desespero quebrasse a corrente e fugisse.
Autor Desconhecido
FIM
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