Revista da FAPERN 22 ANO 6 - nov/dez/2011 jan/2012 Pesquisas apoiadas pelo PPSUS no Rio Grande do Norte apresentam resultados positivos Expediente Editorial GOVERNO DO ESTADO Esta edição da revista Ciência Sempre é dedicada à apresentação de alguns resultados obtidos através das pesquisas apoiadas pelo Programa de Pesquisa para o SUS, executado pela FAPERN em parceria com os Ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação. Com características gerais, definidas pelo Ministério da Saúde, o PPSUS é aplicado em cada estado da Federação, de acordo com as particularidades e necessidades específicas do sistema único de saúde. Este é o objetivo primordial do programa: detectar os problemas relacionados à saúde pública das populações e desenvolver as soluções que possam ser aplicadas nas demais localidades onde ocorrem. Na sessão FAPERN em Foco, a coordenadora de análises e projetos da Fundação, Gláucia Fernandes, em entrevista, fala do PPSUS e como ele é feito no Rio Grande do Norte. Responsável pela condução do programa no âmbito da FAPERN, a servidora dá sua opinião. A sessão Artigos Científicos traz os artigos com as conclusões das pesquisas. Os artigos A efetividade do Plano Diretor de Regionalização do SUS no Rio Grande do Norte, A atuação do psicólogo na atenção básica e a Avaliação da efetivação do controle social sobre os mecanismos de planejamento, previsão orçamentária e prestação de contas da saúde abordam questões de planejamento do Sistema Único de Saúde. O atendimento à população de idosos é tratado em três artigos, de pesquisas que avaliaram o uso de medicamentos, a carga alostática e a utilização do Programa Saúde da Família por aquela população. Outros dois artigos discutem o impacto causado Pelos vírus - Staphylococcus aureus e papilomavírus humano (HPV). A saúde mental foi tema de dois artigos, com a abordagem sobre a classificação de riscos e no outro, o atendimento dos pacientes com transtornos mentais na rede de atenção integral. Completam a lista os artigos sobre Síndrome dos ovários policísticos e Dados preliminares da imunofenotipagem por citometria de fluxo em pacientes com leucemia mieloblástica agudas atendidos no Hemocentro Dalton Cunha. Com a divulgação dos resultados aqui expostos, a FAPERN pretende contribuir ainda mais para o alcance de melhores resultados pelo Sistema Único de Saúde. A todos, uma boa leitura. DO RIO GRANDE DO NORTE Governadora Rosalba Ciarlini Rosado Secretário de Desenvolvimento Econômico Benito Gama FAPERN Diretora Presidente Maria Bernardete Cordeiro de Sousa Diretor Científico George Dantas de Azevedo Diretora de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Susie Alves Silva de Macedo Diretor Administrativo-Financeiro Odair Lopes Garcia Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte – FAPERN BR 101 - KM 94, Bloco Sedec/Sejuc Centro Administrativo, s/n - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59064-901 Tel: (84) 3232.0328 - Fax: (84) 3232.1731 www.fapern.rn.gov.br - [email protected] Ciência Sempre 22 Edição e reportagens Mônica Costa Foto capa Giovani Sérgio/Assecom-RN Diagramação GR Design Editorial www.grdesigeditorial.com.br PPSUS-RN Coordenadora do PPSUS no RN Gláucia Maria Fernandes Mônica Costa Editora Ciência Sempre 22 • 3 21 59 Hana Dourado Sumário 05 Palavra da Governadora 06 FAPERN em Foco 20 Artigos Científicos Maria Célia de Carvalho Formiga Nilma Dias Leão Costa Kalline Fabiana Silveira Paulo César Formiga Ramos 66 A efetividade do Plano Diretor de Regionalização do SUS no Rio Grande do Norte Aline do Nascimento Falcão Freire Conhecendo o Staphylococcus aureus resistente à meticilina isolado de infecções comunitárias (CA-MRSA) 36 Ermeton Duarte do Nascimento Gerlane Coelho Bernardo Guerra Maria Celeste Nunes de Melo 31 Dados preliminares da imunofenotipagem por citometria de fluxo em pacientes com leucemia mieloblástica agudas atendidos no Hemocentro Dalton Cunha Aurigena Antunes de Araújo Ingrid Ribeiro Tavares Karina Lopes Morais Ana Ester Pereira Peixoto Juliana Chagas Caldas 42 Aldair de Souza Paiva, Rosana Lucena T. de Sá Leitão, Erica Aires Gil, Gabriela Vasconcelos de A. Alves, Valéria Soraya de Farias Sales, Sarah Dantas Viana Medeiros, Sylara Silvério Mariana Cela Nívia Lúcia de Andrade Oliveira Érica Cristina de Sales Vaz Marília Noronha Ana Celly Souza dos Santos Rafaela Lopes Araújo Nayara Perreira Soares Thamires Pinto George Dantas Azevedo Candida Maria Bezerra Dantas Victor Cezar Tavares de Sá Leitão, Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior. 47 Telma Maria Araújo Moura Lemos Papilomavírus humano (HPV) e sua relação com o câncer José Veríssimo Fernandes 53 Rede de atenção integral à crise e estratégias de acolhimento com classificação de risco em saúde mental Magda Dimenstein 4 • Ciência Sempre 22 73 Avaliação do índice LAP e intolerância a glicose na Síndrome dos Ovários Policísticos Oswaldo Hajime Yamamoto Andrea Luciana A. da C. Fernandes, Dany Geraldo Kramer C. e Silva, A atuação do psicólogo na atenção básica: novos desafios e perspectivas Isabel Fernandes de Oliveira Juliana Mendonça Freire, Telma Maria de Araújo M. Lemos, Perfil epidemiológico e fatores associados à utilização de medicamentos em idosos atendidos pelo SUS em área urbana do Nordeste do Brasil-Natal/RN Sylara Silvério 26 Fragilidade e carga alostática em idosos Ricardo Oliveira Guerra Aldo Dantas Luciana da Costa Feitosa Perfil multidimensional de idosos atendidos por equipes de Saúde da Família em Natal-RN 78 Avaliação da efetivação do controle social sobre os mecanismos de planejamento, revisão orçamentária e prestação de contas da saúde no Estado do Rio Grande do Norte Valéria Rodrigues Leite Maria Dalva Horácio da Costa Anailson Marcio Gomes palavra da GOVERNADORA Avanços e desafios da Saúde no Rio Grande do Norte “Garantir saúde de qualidade para todos os potiguares é uma das prioridades do Governo do Estado.” Garantir saúde de qualidade para todos os potiguares é uma das prioridades do Governo do Estado. Fomos, entre os estados nordestinos, o que mais investiu na Saúde (13,1%) e temos o segundo maior investimento per capita da região. Cerca de 70% das despesas de custeio são pagas pelo Governo e nos últimos dois anos convocamos 1.017 novos servidores como forma de melhorar, em todas as frentes, o serviço oferecido. Avanços aconteceram e é preciso que todos fiquem sabendo. Entre os fatos mais importantes na melhoria dessa área tão crítica em todo o Brasil citamos o esvaziamento dos corredores de Politrauma do Walfredo Gurgel, uma velha cena que tanto envergonhou o nosso Estado, depois de realizar mutirões de ortopedia que beneficiaram mais de 700 pessoas. O RN está entre os primeiros lugares em captação de órgãos do país e aumentamos o número de transplantes. O SAMU RN passou de 42% para 75% de cobertura e chegaremos a 85% até a metade do ano. Conseguimos o aumento do repasse do teto MAC, para viabilizar a abertura das UPA´s da Região Metropolitana e Mossoró, estando com duas dessas já em funcionamento. Retomamos a obstetrícia de São José de Mipibu, que faz em média de 150 partos ao mês. O HMWG foi incluído no SOS Emergência, garantindo 660 mil reais de custeio por mês e obtivemos benefícios semelhantes para o Deoclécio Marques, Maria Alice e Hospital da Mulher. Concluímos as obras do Giselda Trigueiro e Rafael Fernandes, referências em doenças infecto-contagiosas, além do Complexo de Estadual de Regulação para o qual viabilizamos 950 mil reais em equipamentos para interligação com as unidades hospitalares. Recentemente, assinamos com o Ministério Público e Tribuna de Contas do Estado, o Termo de Ajuste de Gestão que permitirá concluir as reformas já em andamento. Medidas estruturantes como o ordenamento dos hospitais permitiram definir a missão de cada unidade. Há décadas vinhamos fazendo o que deveria ser de responsabilidade dos municípios. A União deixa de investir 130 bilhões/ano no SUS. É preciso equilibrar responsabilidades e despesas dos entes federados. Estamos negociando pactuações entre todos e esperamos consolidar as políticas de Saúde. Com a reestruturação da gestão de Recursos Humanos, implantamos o Ponto Eletrônico e garantimos a presença dos profissionais nas unidades, maior justiça aos servidores dedicados e mais resolutividade. Habilitamos, junto ao Ministério da Saúde, mais de 100 leitos de UTI e, no último quadrimestre, abrimos mais 31 entre pediátricos, neonatal e adulto. Fortalecemos os hospitais universitários, com a abertura de leitos co-financiados. Trabalharemos para a conclusão das reformas dos hospitais, implantação das Centrais Regionais de Regulação, continuidade da expansão do SAMU RN, a abertura de leitos, o fortalecimento da atenção básica, entre outros. Temos consciência de que é preciso fazer mais, a cada dia, para garantir esse que é um direito de todos e dever do Estado. Rosalba Ciarlini Rosado Governadora do RN Ciência Sempre 22 • 5 FAPERN em foco Pesquisa para melhorar a saúde da população Sylara Silvério Com execução no período compreendido entre 30/12/2008 e 24/04/2013, o Programa de Apoio à Pesquisa (edital PPSUS III 011/2009) tem por objetivo apoiar financeiramente o desenvolvimento de pesquisas que busquem a solução dos problemas prioritários de saúde da população brasileira e o fortalecimento da gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). Idealizado pelo Ministério da Saúde, do Departamento de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em 2004, o PPUS é uma modalidade de fomento com característica de gestão compartilhada, através da integração de instâncias estaduais de saúde e de ciência e tecnologia, ampliando o desenvolvimento científico e tecnológico em saúde. No Rio Grande do Norte, a execução do programa é de responsabilidade da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte (FAPERN). Nesta edição, foram investidos recursos no valor de um milhão de Reais oriundos do Ministério da Saúde/CNPq e da FAPERN, na proporção de 60% e 40% respectivamente em 31 dos 32 projetos aprovado (houve uma desistência e devolução dos recursos por parte do coordenador de um projeto). A seleção dos projetos teve como parâmetro as definições das Oficinas de Prioridades realizadas antes da publicação do edital. Essas oficinas, que buscam atender a demandas em saúde e fomentar pesquisas em sintonia com a necessidade da população, tiveram como base documentos como a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde e a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. 6 • Ciência Sempre 22 Glaucia Maria Fernandes “É muito bom ter a parceria do DECIT na execução do PPSUS” Sylara Silvério nos dá segurança”, afirma, acrescentando que a parceria com o Ministério da Saúde é extremamente vantajosa para o estado. Trâmites Desde 2007, a operacionalização do Programa de Apoio à Pesquisa para o SUS no Rio Grande do Norte está sob a coordenação da bióloga Glaucia Maria Fernandes, que ocupa o cargo de Coordenadora de Estudos e Análises de Projetos na FAPERN. No percurso burocrático do PPSUS, Gláucia conta com a parceria do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde e do CNPq, em âmbito federal e da Secretaria de Saúde Pública. Para a servidora, que coordena ainda outros programas de fomento a pesquisas, o PPSUS é o de melhor execução. “Nosso trabalho tem um acompanhamento do Decit muito próximo e isso Antes do lançamento do edital, são realizadas oficinas para a detecção dos problemas que geram maior impacto na saúde pública no estado e, a partir deste quadro, são definidas as linhas prioritárias que as pesquisas devem seguir para serem apoiadas. Com base nos pareceres técnicos concedidos por julgadores ad hoc convidados pela FAPERN e CNPq, o Comitê Gestor formado pelas instituições parceiras decide apoiar integralmente, apoiar parcialmente ou não apoiar os projetos submetidos ao edital. Antes da entrega dos relatórios finais, os projetos passam por avaliações parciais onde são identificados o alcance ou não dos objetivos propostos inicialmente e suas causas. Gláucia adianta que a próxima edição do PPSUS deve ser lançada em breve pela FAPERN. Serão aportados R$ 1,6 milhão em projetos que apresentem produtos e ou processos que tenham aplicabilidade direta e cujos resultados possam beneficiar a sociedade em curto espaço de tempo. Os números que revelam o PPSUS Nas propostas aprovadas e contratadas foram abrangidas as seguintes áreas do conhecimento: Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Economia, Enfermagem, Estatística, Farmácia, Fisioterapia, Geografia, Ginecologia, Genética, Odontologia, Psicologia e Saúde coletiva. Nas próximas páginas poderão ser acompanhados todos os indicadores referentes ao PPSUS III no Rio Grande do Norte. Ciência Sempre 22 • 7 Projetos aprovados e contratados COORDENADOR Adriana Augusto de Rezende ÁREA TÍTULO Estudo de novos marcadores para o diagnóstico precoce da nefropatia diabética Ciências da Saúde Saúde e território usado a efetividade do Plano Diretor de Regionalização do SUS no RN: os fluxos funcionais face a dinâmica dos lugares Geografia Ana Cristina Pinheiro Fernandes de Araujo Estudo clínico-laboratorial e do risco cardiovascular em mulheres acometidas por pré-eclâmpsia,avaliadas após cinco anos, em população do Rio Grande do Norte Ginecologia Cícero Flávio Soares Aragão Qual a qualidade dos medicamentos utilizados no SUS/RN? Farmácia Elizabethe Cristina Fagundes de Souza Atenção à saúde bucal no SUS/RN: um estudo na perspectiva da integralidade do cuidado e da regionalização das redes de serviços Odontologia Aldo Aloisio Dantas da Silva Ermeton Duarte do Nascimento Caracterização epidemiológica e molecular de Staphylococcus aureus resistente à meticilina isolados de infecções na comunidade (ca-mrsa) no Hospital Giselda Trigueiro na cidade do NATAL-RN Fátima Raquel Rosado Morais Análise do programa de humanização do parto e nascimento na perspectiva dos profissionais e usuários da maternidade Almeida Castro, Mossoró-RN Fernando Augusto Lavezzo Dias Prevalência de sinais e sintomas de doença arterial periférica e de neuropatia e capacidade de exercício em pacientes diabéticos atendidos pelo sistema único de saúde no município de Natal George Dantas de Azevedo Promoção da saúde e avaliação dos efeitos de diferentes programas de exercício físico sobre os fatores de risco relacionados com a síndrome metabólica e qualidade de vida de mulheres jovens Ciências Biológicas Enfermagem Fisioterapia Ginecologia Biologia Celular Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior Avaliação de marcadores celulares e moleculares nas leucemias agudas: uma abordagem da citometria de fluxo. Gerlane Coelho Bernardo Perfil epidemiológico e fatores associados à utilização de medicamentos em idosos atendidos pelo SUS em área urbana do nordeste do Brasil-Natal/RN Farmácia Gilson de Vasconcelos Torres Diagnóstico e protocolo de assistência aos portadores de úlceras venosas atendidos em um hospital de referência no Estado do Rio Grande do Norte Enfermagem Hébel Cavalcanti Galvão Avaliação clínica e radiográfica bucal como estratégia preventiva de infecções em pacientes nefropatas em fase pré-transplante Odontologia Isabel Maria Farias Fernandes de Oliveira A atuação do psicólogo na atenção básica: novos desafios e perspectivas Psicologia José Brandão Neto Influência do zinco na performance muscular em jovens e idosos Ciências da Saúde José Veríssimo Fernandes 8 • Ciência Sempre 22 Prevalência da infecção por HPV, Chlamydia trachomatis e HSV2 em adolescentes atendidas na Maternidade Januário Cicco Ciências Biológicas COORDENADOR ÁREA TÍTULO Jovanka Bittencout Leite de Carvalho Uso das informações em saúde nos processos decisórios e de planejamento nas gestões Municipais do SUS/RN Ciências da Saúde Luciana Fernandes de Medeiros Azevedo O sofrimento psicológico na atenção básica – incidência e práticas de cuidado Psicologia Magda Dimenstein Rede de atenção integral à crise e estratégias de acolhimento com classificação de risco em saúde mental Psicologia Marcos Romualdo Costa Terapias celulares para o tratamento de acidente vascular cerebral: análise de eficácia e pesquisa de estratégias para melhorar a diferenciação e sobrevivência neuronal Ciências Biológicas Maria Celeste Nunes de Melo Prevalência e perfil epidemiológico das infecções causadas por Staphylococcus epidermidis resistente à meticilina (MRSE) no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) e avaliação quanto à susceptibilidade aos antimicrobianos e a antissépticos e desinfetantes. Microbiologia Maria Célia de Carvalho Formiga Perfil Multidimensional da População Idosa Atendida nas Unidades de Saúde da Família do Distrito Oeste do Município de Natal: uma contribuição para a Atenção Básica de Saúde Estatística Maria Cleide Ribeiro Dantas de Carvalho Análise das ações judiciais para o fornecimento de medicamentos no estado do Rio Grande do Norte Maria de Lourdes Silva de Arruda Morais Nível de contaminação da água de abastecimento e a morbimortalidade por câncer de boca no idoso, no município Cruzeta/RN. Ciências da Saúde Percepção de puérperas portadoras de pré-eclampsia sobre a assistência recebida durante o pré-Natal nas unidades de saúde pública Ciências da Saúde Nilba Lima de Sousa Ricardo Oliveira Guerra Estudo sobre a carga alostática,fragilidade e funcionalidade em uma amostra populacional de idosos do Rio Grande do Norte - uma contribuição da epidemiologia do envelhecimentopara o SUS Farmácia Fisioterapia Técia Maria de Oliveira Maranhão Avaliação funcional da musculatura do assoalho pélvico em mulheres na pré e pós menopausa Ginecologia Telma Maria Araujo Moura Lemos Obesidade: Estudo Epidemiológico, Bioquímico e Molecular no Estado do RN Ciências Biológicas Tereza Maria Dantas de Medeiros Prevalência de talassemia alfa+ (DELEÇÃO -Α3.7) na população do Estado do Rio Grande do Norte Farmácia Tirzah Braz Petta Lajus Estudo da freqüência de tumores de mama caracterizados como triplo negativo entre mulheres jovens e menopausadas no Estado do Rio Grande do Norte. Ciências Biológicas Valéria Rodrigues Leite Avaliação da efetivação do controle social sobre os mecanismos de planejamento, previsão orçamentária e prestação de contas da saúde no Estado do Rio Grande do Norte. Economia Viviane Souza do Amaral Avaliação genotóxica da água do açude de lucrécia:Um enfoque na relação ambiente e saúde Genética Ciência Sempre 22 • 9 Publicações: produção científica 1. Artigos publicados ou aceitos Adriana Augusto de Rezende IL-B and TNF- A Genes may be associated with Microalbuminuria Onset in TDM pediatric From Brazil. Course annual meeting: Abstract session. 2012. Cícero Flávio Soares Aragão Termogravimétrico para determinação do teor de ampicilina em comprimidos. XXII CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2011. Estudo comparativo entre CLAE e CLUE para análise de tuberculostáticos. XXII CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2011. Determinação das Curvas de Pressão de Vapor do Itraconazol por Termogravimetria. XXII CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2011. Determinação das Curvas de Pressão de Vapor da Nicotinamida por Termogravimetria.XXII CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2011. Avaliação da interação da mistura binária através da análise témica diferencial de hidroquinona e ácido retinóico. XXII CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2011. Avaliação da estabilidade de medicamento adaptado para uso por sonda em pacientes de um hospital universitário. XXII CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2011. Avaliação da compatibilidade do trissoralen e do estearato de magnésio através da termogravimetria (tga). XXII CIC Congresso de Iniciação Científica Natal. 2011. Application of differential thermal analysis (dta) to determine of trioxsalen-excipient compatibility. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences, 2011, Natal. Ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - Natal. 2011. Compatibility study of vitamin d3 and mannitol in physical mixtures. II international symposium on pharmaceutical sciences - Natal. 2011. 10 • Ciência Sempre 22 Preliminary study for thermal characterization of bioidentical hormone estradiol. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - Natal. 2011. Linearity in dta method: a comparison of two quantification strategies of bioidentical hormone. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL.2011 Characterization of thermal events of hydroquinone depigmentant by dta. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL. 2011. Compatibility study of tretinoin and emulsifying agent in physical mixtures. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL. 2011. Ozawa calculation applied to the kinetic study of decomposition of fluconazole by thermogravimetry. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL. 2011. Kinetic studies for itraconazole using ozawa model by dynamic thermogravimetry. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL. 2011. Parameters kinetics by ozawa model for nicotinamide by dynamic tg. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL. 2011. Caracterization of rifampicin and their degradation products by chemical stress. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL. 2011. Comparison study of two analyticals methods of 4-fdc using a single column. In: ii international symposium on pharmaceutical sciences. II international symposium on pharmaceutical sciences - NATAL. 2011. Avaliação da estabilidade de captopril adaptado para uso via sonda em um hospital universitário. VIII Congresso Brasileiro de Farmácia Hospitalar Salvador. 2011. Aplicação da cromatografia em camada delgada bidimencional na análise de produtos de degradação da rifampicina. XXI CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2010. Modelagem experimental de liodisponibilidade de produtos contendo mebendazol e metronidazol. XXI CIC Congresso de Iniciação Científica - Natal. 2010. Estudo de liodisponibilidade de mebendazol. 62ª Reunião Anual da SBPC - Natal. 2010. Avaliação da qualidade de comprimidos de mebendazol consumidos no municipio de Natal/RN. 62ª Reunião Anual da SBPC - Natal. 2010. Fernando Augusto Lavezzo Dias Impairment of Physical function in Type 2 Diabetes mellitus patients with abnormal ankle – Brachial Index. Arteriosclerosis, thrombosis ans vascular biology. 2011. Scientific session Hilton/ Chicago e Illinois. 2011. Physical Activity level and body Composition in DM2 patients treated by the unifled health system in Natal, Brazil. Arteriosclerosis, thrombosis ans vascular biology. 2011. Scientific session Hilton/ Chicago e Illinois. 2011. Variabilidade da frequência cardíaca em pacientes diabéticos durante o teste da caminhada de 6 min. ASSOBRAFIR CIÊNCIA ISSN 2177-9333. 2011. Atividade física em pacientes diabéticos com sinais de DAOP utilizando o questionário de BAECKE. ASSOBRAFIR CIÊNCIA ISSN 2177-9333. 2011. Ensaios in vivo e In Vitro Utilizados na Avaliação de Medicamentos Homeopáticos Obtidos a partir de Plantas Medicinais. XXI Simposio de Plantas Medicinais do Brasil - João Pessoa. 2010. Investigação e prevenção das principais comorbidades associadas ao diabetes mellitus.II CNEU. 2010. Avaliação da Qualidade de Produtos contendo Nimodipino utilizados no SUS RN. 62ª Reunião Anual da SBPC - Natal. 2010. Lower extremity peripheral artery disease:implications for physiotherapy. Journal of respiratory and cardiovascular physical therapy. 2012. Avaliação da Uniformidade e da Resistência Mecânica de Comprimidos de Baclofeno Utilizado no SUS / RN. 62ª Reunião Anual da SBPC - Natal. 2010. Prevalência de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) e alterações sensoriais em pacientes diabéticos tipo II: impacto da DAOP sobre a qualidade de vida, nível de atividade física e composição corporal. Dissertação de mestrado. 2012. Aplicação do planejamento fatorial na validação de método de quantificação de comprimidos. In: XX congresso de iniciação científica da UFRN – NATAL.2009 Avaliação da qualidade de comprimidos de pentoxifilina 400 MG de uso hospitalar. XX congresso de iniciação cientifica da UFRN - NATAL. 2009. Controle de Qualidade de Formas Farmacêuticas Sólidas em Farmácias comerciais de Natal. XX congresso de iniciação científica da UFRN NATAL. 2009. Otimização experimental para avaliação de geis por refratometria. Congresso de iniciação cientifica da UFRN – NATAL. 2009. George Dantas de Azevedo. Anthropometric indices of central obesity how discriminators of metabolic syndrome in Brazilian women with polycystic ovary syndrome. Gynecological Endocrinology. 2012. Defining exercise prescription in lifestyle modification programs for overweight/obese polycystic ovary syndrome women. Fertility and Sterility. 2011. Níveis pressóricos elevados em mulheres com síndrome dos ovários policísticos: prevalência e fatores de risco associados. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Impresso). 2011. Ciência Sempre 22 • 11 Índices de obesidade central e fatores de risco cardiovascular na síndrome dos ovários policísticos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia (Impresso). 2011. Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior Imunofenotipagem para leucemias agudas em pacientes atendidos no Hemocentro do Rio Grande do Norte - Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular- HEMO 2012, 2012, Rio de Janeiro-RJ - Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de Janeiro-RJ: ABHH, 2012. v. 34. p. 246-246. 2012. Avaliação da expressão da Glicoproteina P e da Proteína Relacionada à Resistência a Multiplas Drogas nas leucemias agudas no Hemocentro do Rio Grande do Norte - Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia.Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia CelularHEMO2012 - Rio de Janeiro – RJ - Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de Janeiro-RJ: ABHH, 2012. v. 34. p. 245-246. 2012. Perfil imunofenotípico das doenças linfoproliferativas em pacientes atendidos no HEMONORTE no período de 2009-2011. In: Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia.Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia-HEMO2011, 2011, São Paulo-SP. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de JaneiroRJ: Associação Brasielira de Hematologia e Hemoterapia- ABHH, 2011. v. 33. p. 181-182. 2011. Investigação da imunofenotipagem em pacientes com leucemia mieloblástica aguda por citometria de fluxo atendidos no Hemonorte no perído de 2010.Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia-HEMO 2011, 2011, São Paulo-SP. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de Janeiro-RJ: Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia-ABHH, 2011. v. 33. p. 188-188. 2010. Emprego da citometria de fluxo no diagnóstico diferencial das leucemias agudas em pacientes encaminhados ao Hemonorte no período de 2009-2010.Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia- HEMO 2010, Brasilia-CF. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de Janeiro-RJ: Sociedade Brasileira 12 • Ciência Sempre 22 de Hematologia e Hemoterapia- SBHH, 2010. v. 32. p. 103-103. 2010. Avaliação dos marcadores celulares por citometria de fluxo em pacientes com leucemia mielóide aguda.Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia- HEMO 2010, 2010, Brasília - DF. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de Janeiro-RJ: Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia- ABHH, 2010. v. 32. p. 100-100. 2010. Emprego da citometria de fluxo na avaliação do perfil imunofenotípico de pacientes com leucemia linfocítica crônica.Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia - HEMO 2010, BrasíliaDF. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de Janeiro-RJ: Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia- ABHH, 2010. v. 32. p. 158-158. 2010. Emprego da Citometria de fluxo no diagnóstico diferencial das doenças linfoproliferativas crônicas em pacientes encaminhados ao HEMONORTE no período de 2009-2010.Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia- HEMO 2010, Brasília-DF. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia; Suplemento 4; Abstract nº 405. Rio de Janeiro-RJ: Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia- ABHH, 2010. v. 32. p. 158-159. 2010. Dados preliminares da imunoenotipagem por citometria de fluxo no diagnóstico laboratorial do Mieloma Multiplo em pacientes encaminhados ao Hemonorte.Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia- HEMO 2010, Brasília - DF. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (Impresso). Rio de Janeiro-RJ: Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia- ABHH, 2010. v. 4. p. 177-177. 2010. Gilson de Vasconcelos Torres. ANGÉLICO, Rane Cristina Pereira; OLIVEIRA, Aminna Kelly Almeida de; SILVA, Daliane Deborah Negreiros da; VASCONCELOS, Quinidia Lúcia Duarte de Almeida Quithé de; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Socio-demographic profile, clinical and health of people with venous ulcers treated at a university hospital. Revista de enfermagem UFPE on line, v. 6, p. 62-8, 2012. PIROPO, Thiago Gonçalves do Nascimento; GOMES,Veloso Gomes; AZOUBEL, Roberta; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Autocuidado de Portadores de Úlcera Venosa Crônica em Ambiente Domiciliar. Revista Saúde.com, v. 8, p. 2-11, 2012. SOUSA, A. J. C. Q.; MENDONÇA, Ana Elza Oliveira de; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Atuação do enfermeiro no pré-Natal de baixo risco em uma unidade básica de saúde. Carpe Diem: Revista Cultural e Científica, v. 10, p. 1-15, 2012. 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Atuação dos profissionais de saúde da estratégia saúde da familia no programa saúde do escolar em Natal/RN: relato de experiênciai. In: 64 Congresso Brasileiro de Enfermagem, 2012, Porto Alegre. Anais do 64 Congresso Brasileiro de Enfermagem, 2012. 14 • Ciência Sempre 22 venosa atendidos em um hospital universitário sobre o direito à saúde. In: VI Simpósio Internacional de Enfermagem, 2012, São Paulo. Anais do VI Simpósio Internacional de Enfermagem, 2012. SILVA, Micheline da Fonseca; GOMES, Andréa Tayse de Lima; DIAS, Thalyne Yuri de Araújo Farias; MELO, Marjorie Dantas Melo; DANTAS, Daniele Vieira; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Protocolo para assistência aos portadores de úlceras venosas: revisão de literatura. In: VI Simpósio Internacional de Enfermagem, 2012, São Paulo. Anais do VI Simpósio Internacional de Enfermagem, 2012. 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Anais do III Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas / 4º Congreso Ibero-latinoamericano sobre Úlceras y Heridas / III Encontro Brasil-África em Feridas. Rio de Janeiro/RJ: Sociedade Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estética (SOBENFeE), 2011. v. III. MACEDO, Eurides Araújo Bezerra de; TORRES, Sandra Maria da Solidade Gomes Simões de Oliveira; TORRES, Gilson de Vasconcelos; SILVA, Daliane Deborah Negreiros da; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; MELO, Gabriela de Sousa Martins. Custo-efetividade da terapia compressiva em portadores de úlceras venosas. In: XII Coloquio Panamericano de Investigación en Enfermería, 2010, Florianópolis. XII Coloquio Panamericano de Investigación en Enfermería, 2010. NÓBREGA, Walkíria Gomes da; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; TORRES, Gilson de Vasconcelos; MACEDO, Eurides Araújo Bezerra Ciência Sempre 22 • 15 de; FONSECA, Patrícia de Cássia Bezerra; MENDES, Felismina Rosa Parreira. Diagnósticos de enfermagem verificados nas alterações na qualidade de vida de portadores de uv. In: XII Coloquio Panamericano de Investigación en Enfermería, 2010, Florianópolis. XII Coloquio Panamericano de Investigación en Enfermería, 2010. DANTAS, Daniele Vieira; DANTAS, Rodrigo Assis Neves; MENDONÇA, Ana Elza Oliveira de; TORRES, Gilson de Vasconcelos; DANTAS, Anna Lívia de Medeiros; FERREIRA, Patricia Cabral; RIBEIRO, Kátia Regina Barros; DINIZ, Kessya Dantas. Utilização de protocolos na assistência a portadores de úlceras venosas: uma revisão sistemática. In: XII Congresso Brasileiro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar, 2010, Recife / Olinda PE. Anais do XII Congresso Brasileiro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar, 2010. COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; MENDES, Cristina Katya Teixaira; DIAS, Thalyne Yuri de Araújo Farias; GOMES, Andréa Tayse de Lima; SILVA, Micheline da Fonseca; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Estudo do Modo Psicossocial do Modelo Adaptativo de Roy de Pessoas com Úlcera Venosa. In: Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012, Salvador. Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012. MELO, Wanderson dos Santos Nunes de; BATISTA, Kadydja Russel de Araújo; ARAUJO, Priscila Dayanne dos Santos; TIBURCIO, Manuela Pinto; NASCIMENTO, Maria Mônica Paulino; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Complicações Neuropáticas e Classificação de Risco para Pé Diabético em Unidade de Saúde da Família. In: Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012, Salvador. Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012. DIAS, Thalyne Yuri de Araújo Farias; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; MENDES, Cristina Katya Teixaira; LIBERATO, Samilly Márjore Dantas; SOUZA, Amanda Jéssica Gomes; TORRES, Gilson de Vasconcelos. A Influência da Assistência à Saúde na Qualidade de Vida das Pessoas com Úlcera Venosa. In: Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012, Salvador. Anais do Congresso 16 • Ciência Sempre 22 Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012. DIAS, Thalyne Yuri de Araújo Farias; MENDES, Cristina Katya Teixaira; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; MELO, Gabriela de Sousa Martins; TIBURCIO, Manuela Pinto; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Caracterização da Assistência de Pessoas com Úlcera Venosa Atendidas em um Hospital Universitário. In: Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012, Salvador. Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012. BATISTA, Kadydja Russel de Araújo; NOGUEIRA, Maria Izabel dos Santos; MELO, Wanderson dos Santos Nunes de; ARAÚJO, Rhayssa de Oliveira e; MELO, Gabriela de Sousa Martins; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Conhecimento dos Profissionais de Enfermagem Sobre Tratamento de Feridas e Educação Permanente de Feridas e Educação Permanente. In: Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia, 2012, Salvador. 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MEDEIROS, Lays Pinheiro; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; FARIAS, Thalyne Yuri de Araújo; FREITAS, Camylla Cavalcante Soares; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Aspectos clínicos das lesões dos portadores de UV atendidos no hospital universitário onofre lopes. In: 15º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem, 2012, Fortaleza. Anais do 15º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem, 2012. OLIVEIRA, Érico Lucas; GARRIDO, Renackson Jordelino; CLEMENTE, Evelyn Morais; TRINDADE, Thaisy Raquel Oliveira; NUNES, Renan Flávio de França; PRADO, Nanete Caroline Costa; OLIVEIRA, Kamila Brena Almeida de; MEDEIROS, Candice Simões Pimenta; NOBRE, Thaiza Teixeira Xavier; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; NUNES, Jussara de Paiva; NEO, Maria Eliane Mendes de Freitas; TORRES, Gilson de Vasconcelos; SILVA, Richardson Augusto Rosendo da. Caracterização dos pacientes acompanhados pelo programa HiperDia em uma Unidade de Saúde da Família em Natal/RN. In: XVI Congresso Norteriograndense de Cardiologia, 2011, Natal/RN. XVI Congresso Norteriograndense de Cardiologia, 2011. ONOFRE, Mileny Souza; TORRES, Gilson de Vasconcelos; DANTAS, Daniele Vieira; BEZERRA, Moiziara Xavier; RODRIGUES, Elaine Duarte. Produção científica sobre condutas terapêuticas no cuidado a pessoa com úlcera venosa: revisão de literatura. In: 14º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem, 2011, Curitiba/PR. Anais do 14º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem. Curitiba/PR: Conselho Federal de Enfermagem, 2011. OLIVEIRA, Aminna Kelly Almeida de; MEDEIROS, R. K. S.; LIBERATO, Samilly Marjore Dantas; TIBURCIO, Manuela Pinto; ANGÉLICO, Rane Cristina Pereira; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Caracterização da asistência à saúde prestada a idosos portadores de úlceras venosas. In: I Simpósio Norteriograndense de Geriatria e Gerontologia, 2011, Natal/RN. Anais do I Simpósio Norteriograndense de Geriatria e Gerontologia, 2011. OLIVEIRA, Aminna Kelly Almeida de; MEDEIROS, R. K. S.; BALDUINO, Lívia Sêmele Câmara; DANTAS, Rodrigo Assis Neves; DANTAS, Daniele Vieira; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Caracterização de Idosos Internados uma Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Público de Natal/RN. In: I Simpósio Norteriograndense de Geriatria e Gerontologia, 2011, Natal/RN. Anais do I Simpósio Norteriograndense de Geriatria e Gerontologia, 2011. BALDUINO, Lívia Sêmele Câmara; OLIVEIRA, A. K. A.; MEDEIROS, R. K. S.; MELO, Gabriela de Sousa Martins; SOUZA, Amanda Jéssica Gomes; ANGÉLICO, Rane Cristina Pereira;TORRES, Gilson de Vasconcelos. Conhecimento de Idosos Portadores de Úlcera Venosa Sobre o seus Direitos à Saúde. In: I Simpósio Norteriograndense de Geriatria e Gerontologia, 2011, Natal/RN. Anais do I Simpósio Norteriograndense de Geriatria e Gerontologia, 2011. EVENTOS IV Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas. IV Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia. VI Simpósio Internacional de Enfermagem. II Encontro Nacional SOBEST/SOBENDE sobre feridas. XII Coloquio Panamericano de Investigación en Enfermería. 64 Congresso Brasileiro de Enfermagem. Isabel Maria Farias Fernandes de Oliveira. Perfil profissional dos psicólogos do NASF no Rio Grande do Norte. XXII CIC Congresso de Iniciação Científica da UFRN. 2011. Ciência Sempre 22 • 17 A prática do psicólogo nos dispositivos de Atenção Básica: os NASF em discussão. XXIII CIC Congresso de Iniciação Científica. 2012. Perfil profissional dos psicólogos que atuam em NASF no RN. 7º Congresso Norte Nordeste de Psicologia – CONPSI. 2011. José Brandão Neto Influence of basal energy expenditure and body composition on bone mineral density in postmenopausal women. Int J Gen Med. 2012. Jovanka Bittencout Leite de Carvalho Os compromissos dos gestores municipais no pacto pela saúde. 10 Congresso Brasileiro de saúde Coletiva. 2012 ABRASCO. As gestões municipais e o uso das informações no pacto pela saúde no Estado do Rio Grande do Norte.Holos, Natal online. 2012. Luciana Fernandes de Medeiros Azevedo Um Estudo Sobre a “Doença dos Nervos” Para Além de um Sofrimento Incorporado. Revista Interinstitucional de Psicologia ISSN: 1983-8220 Vol. 05 – ano: 02 p. 223-235. 2012. “De mãos atadas”: o cotidiano dos trabalhadores da atenção básica. Revista: Saúde em Debate ISSN: 0103-1104 Vol. 34 p. 726-733. 2012. O sofrimento psicológico na atenção básica: incidência e práticas de cuidado. II Congresso Fapern de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio Grande do Norte. 2012. Incidência de queixas psicológicas em centros de saúde do município de Natal / RN / Brasil. XXXIII Congreso Interamericano de Psicologia (Sociedad Interamericana de Psicologia. Medellin/2011 Incidência de sofrimento psicológico na atenção básica: um estudo em Natal/RN. VII Congresso Norte Nordeste de Psicologia. UFBA/Salvador/ BA/2011. Sofrimento psicológico na atenção básica: incidência e práticas de cuidado. Instituição promotora. VII ENEX FACEX. 2010. 18 • Ciência Sempre 22 O processo de trabalho em saúde sob a ótica da etnografia institucional. V Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde. ABRASCO/2011 A etnografia institucional como ferramenta metodológica para explorar as práticas de saúde mental na atenção básica. IV Congresso IberoAmericano de Pesquisa Qualitativa em Saúde. 2010. Magda Dimenstein Configuración de la Red de Atención a la Crisis Psiquiátrica em Natal/RN. X Congreso Internacional de Salud Mental y Derechos Humanos. Córdoba, Argentina, 2011. Red de atención psiquiátrica crisis en Natal (RN). IV Conferencia Internacional de Psicología Comunitaria. Barcelona, Espanha, em junho de 2012. Atenção à crise psiquiátrica na rede de saúde mental potiguar: critérios, práticas e recursos para intervenção. XVI Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social. 2011 em Recife/PE. Configuração da Rede de Atenção à Crise Psiquiátrica em Natal/RN. XVI Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social. Atenção à crise psiquiátrica em Natal/RN: rede, desafios e estratégias. III Congresso Brasileiro de Saúde Mental. 2012/ CE. Participação da Rede Hospitalar na Atenção à Crise Psiquiátrica no município de Natal.III Congresso Brasileiro de Saúde Mental. JUN 2012. A Rede de Atenção à Crise Psiquiátrica em Natal(RN) – BRASIL. V Congresso Ibero-Americano de Pesquisa Qualitativa em Saúde. OUT/2012. Marcos Romualdo Costa Cell therapy for stroke: use of local astrocytes. Frontiers in cellular neuroscience. 2012. Maria Cleide Ribeiro Dantas de Carvalho II Congresso da FAPERN. 2012. 65º Reunião anual da SBPC. 2010. V Congresso Ibero americano Farmaceuticas. de Ciências Nilba Lima de Sousa Importância do preenchimento do cartão da gestante na assistência pré-Natal de alto risco e as implicações na assistência. Trabalhos de conclusão de curso de graduação e Iniciação científica. 2012. Percepção de mulheres com pré-eclampsia sobre assistência pré-Natal e o encaminhamento ao serviço de alto risco. Trabalhos de conclusão de curso de graduação e Iniciação científica. 2012. Ricardo Oliveira Guerra O projeto resultou na preparação de material de divulgação sobre melhoria da mobilidade em idosos e material de avaliação geriátrica por parte dos profissionais de saúde SUS. Telma Maria Araujo Moura Lemos Medidas antropométricas e avaliação do perfil lipídico e hormonal de indivíduos obesos e com sobrepeso residentes no estado do RN. Desenvolvimento de uma dissertação de mestrado - UFRN. Em andamento. Tereza Maria Dantas de Medeiros Prevalência da talassemia alfa (-alfa 3.7) na população adulta do estado do Rio Grande do Norte. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas). 2011. Tirzah Braz Petta Lajus Trabalho: Estudo da freqüência de tumores de mama caracterizados como triplo negativo entre mulheres jovens e menopausadas no Estado do RN. II Congresso FAPERN. 2012. II Congresso da Liga. Biologia Molecular no diagnóstico do câncer. II Congresso da Liga. 2011. Genética do câncer de mama e projeto de aconselhamento genético na Liga. III Simpósio Internacional de Genética Clínica da UFRN. 2011. Identificação de fatores genéticos e preditivos do câncer de mama. I Natal Breast Cancer Conference – Congresso. 2010. Projeto- Em busca de novos talentos para a ciência: uma intervenção no Ensino Público. Engenharia genética e Biotecnologia: manipulando o DNA, modificando o futuro.Simpósio. 2011. Genética do câncer de mama e projeto de aconselhamento genético na Liga. III Simpósio Internacional de Genética Clínica da UFRN. 2011. Viviane Souza do Amaral Avaliação genotoxica da água do açúde de Lucrécia: Um enfoque na relação ambiente e saúde. Journal environment Monitoring. 2012. 2. Livros e capítulos de livros publicados Luciana Fernandes de Medeiros Azevedo Práticas de cuidado em saúde mental: uma perspectiva da psicologia social e comunitária. ISBN: 978-85-8042-531-4 EDITORA CRV. 2011. CURSO DE CURTA-DURAÇÃO MINISTRADO TÍTULO: Práticas psicológicas na atenção básica em saúde mental. VII Congresso Norte Nordeste de Psicologia (UFBA/Salvador/BA/2011). 3. Artigos submetidos à aprovação Telma Maria Araujo Moura Lemos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. Outubro/2010 - Volume 54 - nº 7. Nilba Lima de Sousa Trajetória assistencial de gestantes com síndrome hipertensiva em serviços de saúde pública.Revista Enfermagem da UERJ Preenchimento do cartão da gestante na assistência pré-Natal e as implicações na assistência de alto risco.Revista de pesquisa: Cuidado é Fundamental Percepção de mulheres com pré-eclâmpsia sobre a assistência pré-Natal e o serviço de alto risco. Revista de Enfermagem da UFPE. Curso sobre técnicas para estudar instabilidade genética em células humanas. 57° Congresso Brasileiro de Genética. 2011. Ciência Sempre 22 • 19 Hana Dourado Artigos Científicos A Efetividade do Plano Diretor de Regionalização do SUS no Rio Grande do Norte O dilema entre fluxos funcionais e a dinâmicas dos lugares Sylara Silvério Aldo Dantas Luciana da Costa Feitosa A regionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecida no artigo 198 da Constituição Federal e regulamentada pelo Decreto n° 7. 508, de 28 de junho de 2011, é a principal estratégia da política do Ministério da Saúde para garantir resolutividade às demandas do sistema em seus diversos níveis de complexidade. O Plano Diretor de Regionalização (PDR) surge como o principal documento que orienta a conformação das regiões de saúde nos estados da federação, o que faz da regionalização uma ferramenta de planejamento a serviço do Estado imprescindível para organizar no território a distribuição das unidades e a acessibilidade da população à rede de serviços do SUS. No Rio Grande do Norte, a partir do Plano Diretor de Regionalização implantado no ano de 2008 (visualizado no mapa na página 22), foram instituídas oito regiões de saúde sob este modelo que buscam dar maior resolutividade às demandas do sistema. Sendo assim, o objetivo da nossa pesquisa foi analisar a efetividade do Plano Diretor de Regionalização do SUS no estado do Rio Grande do Norte a partir dos fluxos funcionais instituídos e sua relação com a dinâmica dos lugares. Para tal análise, consideramos as materialidades “esse componente imprescindível do espaço geográfico, que é, ao mesmo tempo, uma condição para a ação; uma estrutura de controle, um limite à ação; um convite à ação” (SANTOS, [1996] 2008, p. 321), como a principal variável de estruturação das regiões de saúde no território, pois “nada fazemos hoje que não seja a partir dos objetos que nos cercam” (SANTOS, [1996] 2008, p. 321). Ciência Sempre 22 • 21 Partimos da ideia de que “as regiões são subdivisões do espaço: do espaço total, do espaço nacional e mesmo do espaço local; são espaços de conveniência, lugares funcionais do todo, um produto social” (SANTOS, 1994, p. 1). Portanto, carregam em sua gênese a coerência entre os lugares que a compõem em virtude das condições locais de ordem técnica (equipamentos, infraestrutura, acessibilidade) e organizacional (leis locais, impostos, relações trabalhistas). Os processos que configuram a estrutura organizacional do Sistema Único de Saúde no Rio Grande do Norte não se explicam por si e em si, mas fazem parte de uma teia de relações que envolvem diversos níveis escalares. Para GUIMARÃES (2009, p. 31), considerar o município isolado de seu contexto regional tem gerado dificuldades por parte das instâncias centrais para formular políticas públicas mais globais. Como as unidades da federação devem obedecer, necessariamente, a divisão jurídico-administrativa do país, esta condição impõe um limite que é, não raras vezes, artificial. Afinal, os processos de adoecer e morrer se assemelham ou se diferenciam independente dos cidadãos viverem em um município ou em outro, assim como as respostas que os serviços de saúde oferecem a cada uma das situações de saúde exigem fluxos e ações que podem extrapolar fronteiras até mesmo entre estados. 22 • Ciência Sempre 22 Se o SUS deve ser único no território nacional, assegurando os mesmos princípios e diretrizes a toda a população, ele não se realiza da mesma forma em todos os lugares, devido às diferentes heranças e heterogeneidades territoriais. A localização geográfica dos equipamentos tem efeito expressivo na acessibilidade e utilização dos serviços de saúde, comprometendo os ideais de universalidade e equidade no atendimento. Portanto, sabendo que o Decreto n° 7.508 regulamenta a regionalização como a principal diretriz de organização dos serviços de saúde no território nacional e que a Portaria n° 2.479 estabelece as Redes de Atenção à Saúde como estratégia para aperfeiçoar o funcionamento do SUS, pudemos analisar a viabilidade dessas normas a partir da estrutura física de cada uma das regiões de saúde instituídas pelo PDR, uma vez que sua principal atribuição é garantir a oferta necessária de serviços e equipamentos de saúde à população que compõe o referido recorte. Quisemos mostrar a capacidade instalada e os níveis de assistência à saúde que o SUS viabiliza no estado do Rio Grande do Norte. Para isso, fizemos uma análise da distribuição populacional do estado nas regiões de saúde e resgatamos a estrutura das RAS (Redes de Atenção a Saúde) nos seus componentes “Rede de Atenção Básica”, “Rede de Atenção às Urgências” e “Rede de Atenção Ambulatorial e Hospitalar” com a finalidade de descobrirmos em que medida essas linhas de cuidado se conectam e são resolutivas. O Ministério da Saúde define a RAS como “arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado”. (BRASIL, 2010, p. 89). É uma proposta que visa estabelecer conexões entre os diferentes tipos de atenção à saúde, desde o nível mais básico até o nível mais especializado. A organização da RAS depende da definição das regiões de saúde e do rol de ações e serviços que serão estabelecidos em cada região. Entre os seus atributos, os principais para a operacionalização da gestão em redes são: 1) população e territórios definidos com amplo conhecimento de suas necessidades; 2) extensa gama de estabelecimentos de saúde e 3) Atenção Primária em Saúde (APS) estruturada como primeiro nível de atenção e porta de entrada do sistema. Adotamos a Atenção Básica como rede estrutural para a organização e funcionamento do SUS em função de ser uma das estratégias do Ministério da Saúde para reverter o quadro de dependência dos municípios sem ou com poucos estabelecimentos de Média e Alta complexidade aos de maior porte. Além disso, a universalização e consolidação da rede de atenção básica através da Estratégia Saúde da Família é obrigatória a todos os municípios do Brasil desde 1998, uma vez que a eficácia no atendimento neste primeiro nível de atenção resolve entre 80% e 90% dos problemas de saúde da população. Do ponto de vista estrutural o Rio Grande do Norte apresenta cobertura satisfatória da rede de atenção básica, pois dos 167 municípios do estado, 147 apresentam cobertura na Estratégia Saúde da Família igual ou superior a 70% de sua população. Entretanto, desde 2006 não houve continuidade sistemática do processo, pois boa parte dos municípios do estado parou de cadastrar ou não informou cadastramentos de pessoas na ESF, conforme dados obtidos no Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) para o ano de 2012. Além disso, conforme dados obtidos no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde no ano de 2012, dos 167 municípios do estado do Rio Grande do Norte 60 não possuem equipes completas nas unidades de saúde da família, o que fere o princípio organizativo da rede de atenção básica instituído na Política Nacional de Atenção Básica. Embora seja o nível de atenção mais capilarizado do território e o que tem o dever de chegar até o domicílio do cidadão, a Rede de Atenção Básica norte-rio-grandense não se completa em sua estrutura organizativa conforme emanam os preceitos da legislação do SUS, pois ao não garantir cobertura populacional a todos os municípios do estado e, além disso, ao não instituir um processo de trabalho com todos os profissionais que compõem a Estratégia Saúde da Família, a “Rede de Atenção Básica” não se faz resolutiva, comprometendo os pontos de conexão entre as redes. O mesmo acontece no componente “Rede de Atenção às Urgências”, que tem no Serviço Móvel de Atendimento às Urgências (SAMU-192) o seu principal componente. O SAMU 192 é um serviço que objetiva chegar precocemente à vítima após ter ocorrido um agravo à sua saúde, sendo necessário garantir atendimento e/ou transporte adequado para um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao SUS. Até o ano de 2009 o estado do Rio Grande do Norte contava com apenas 03 bases de atendimento do SAMU, com as Centrais de Regulação Médica das Urgências em Natal, (SAMU-Natal), em Mossoró, (SAMU-Mossoró) e no município de Macaíba, (SAMU-Metropolitano). Apenas este último era um Serviço regional que atendia a 08 municípios da região metropolitana de Natal (Ceará Mirim, Extremoz, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Parnamirim, São José de Mipibú, Nísia Floresta e Monte Alegre), que estão divididos em 03 regiões de saúde do estado (Região de Saúde de João Câmara, Região de Saúde Metropolitana e Região de Saúde de São José do Mipibú). Apesar do projeto de regionalização do SAMU192 que foi instituído ainda no mesmo ano pela equipe técnica da SESAP/RN, até o ano de 2012 somente a Região de Saúde de João Câmara, Região de Saúde Metropolitana, Região de Saúde de São José do Mipibu e Região de Saúde de Mossoró dispunham de bases em suas jurisdições administrativas, deixando todo o resto do estado com um vazio assistencial no componente Serviço de Atendimento Móvel às Urgências. Ciência Sempre 22 • 23 A falta de resolutividade das regiões do PDR do Rio Grande do Norte abrange todos os níveis do SUS, chegando inclusive no componente hospitalar, a estrutura de nível mais complexa e hierarquizada do sistema de saúde. Em função de ainda não haver uma regulação específica para este tipo de componente considerando-se a sua função na organização das RAS, tramita nos gabinetes do Ministério da Saúde a implementação da “Política Nacional de Atenção Hospitalar”, que tem como objetivo geral estabelecer as diretrizes para a reorganização da Atenção Hospitalar no SUS. Segundo a Consulta Pública n° 19, de 1° de novembro de 2012, que vigorou até janeiro de 2013 para opiniões e sugestões acerca das regras que serão estabelecidas na nova Política ministerial, considerou-se que, para serem funcionais, “os hospitais devem ter densidade tecnológica, estrutura física, processos organizativos e profissionais adequados ao seu perfil assistencial e contar com, no mínimo, 50 (cinqüenta) leitos” (BRASIL, 2012, grifos nosso). Sendo assim, analisamos a capacidade de leitos em cada um dos 23 hospitais estaduais de gestão da SESAP/RN, mais o Hospital Universitário Onofre Lopes (com gestão dupla: federal e estadual) para sabermos até que ponto tais estruturas 24 • Ciência Sempre 22 responderiam às recomendações do Ministério da Saúde caso a Política Nacional de Atenção Hospitalar já estivesse em vigor. Portanto, considerando-se os 23 hospitais estaduais do estado do Rio Grande do Norte, 10 possuem menos de 50 leitos em suas capacidades instaladas, comprometendo a organização do sistema de saúde. As estruturas materiais condicionam o comportamento dos agentes no território sendo, portanto, imprescindíveis para a análise e formulação de políticas territoriais. Sendo assim, na busca por apreendermos a real dinâmica entre os lugares na busca por atendimento de saúde do SUS no estado cruzamos as informações de prestações de atendimento intermunicipal pactuadas entre os gestores de saúde por meio da PPI Ambulatorial e PPI Hospitalar para o ano de 2012 e os dados obtidos no DATASUS (através da ferramenta Tabwin), no período de 2011 (entre janeiro e dezembro). A partir daí, pudemos sobrepor ao desenho das regiões de saúde o fluxo de deslocamento pactuado com o fluxo de deslocamento real, no intuito de verificarmos se a pactuação que ocorre no nível da gestão é coerente com os deslocamentos do cidadão no território. Para essa análise nos valemos de alguns componentes de prestações de serviços que são estruturantes na política do Ministério da Saúde BIBLIOGRAFIA BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto n° 7. 508, de 28 de junho de 2011. ______. Departamento de Apoio à Descentralização. 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Tais componentes foram: encaminhamentos para Parto, mamografias, cirurgias da mama, consultas para ginecologista e obstetrícia, cirurgia obstétrica, cirurgia cardiovascular, encaminhamentos para ortopedia e cirurgia de politraumatismo. Levando-se em consideração apenas o componente “Parto” chegou-se aos seguintes resultados (que podem ser observados nos mapas e na explicação ao lado e acima): A PPI praticamente não estabelece pactuação para este tipo de assistência, pois se acredita que os municípios sejam capazes de ofertar a assistência pré-natal e o serviço de parto nas maternidades municipais. Todavia, quando sobrepomos a pactuação com o fluxo real da população vemos que majoritariamente o serviço dá-se no município de Natal, que presta atendimento inclusive para a população da Região de Saúde de Pau dos Ferros. Fora a capital, outro município que se destaca no atendimento é Mossoró, que possui um raio de abrangência para a Região de Saúde de Pau dos Ferros e Região de Saúde de Assu. Ora, imaginar um deslocamento de mais de 500km no território, que é a distância entre Natal e os municípios da Região de Pau dos Ferros, para a prestação de um serviço que deve ser, majoritariamente, realizado na esfera municipal ou encaminhado para o município mais próximo, vai contra os princípios organizativos do Sistema Único de Saúde. Se as regiões foram instituídas para garantir resolutividade às demandas dos municípios que estão sob suas jurisdições administrativas e, para isso, devem ofertar os serviços essenciais à população de referência, é impraticável que um único município concentre boa parte da prestação de serviços no estado. Sendo assim, concluímos que embora a diretriz da regionalização tenha tentado organizar a assistência à saúde em seus diversos componentes, a distribuição regional do aparato infraestrutural da saúde no estado do Rio Grande do Norte é desigual, conseqüentemente o exercício das atividades cotidianas desenvolvidas no âmbito do SUS é afetado por tal circunstância. Logo, há um descompasso entre a política de regionalização estabelecida pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte e a realidade da assistência à saúde que se dá nos lugares. Para ser efetiva, a federalização do sistema de saúde demanda o preenchimento da forma (entes federativos) com os conteúdos do território usado. Estes fatores interferem diretamente na forma como as políticas de saúde se territorializam, por isso o processo de regionalização não pode, obrigatoriamente, obedecer à delimitação e hierarquização de áreas no território, mas, sim, atuar em acordos políticos embasados por informações coerentes com a dinâmica dos lugares. Sobre os autores Aldo Dantas é professor associado do Departamento de Geografia da UFRN Luciana da Costa Feitosa é mestra em Geografia pela UFRN Ciência Sempre 22 • 25 Conhecendo o Staphylococcus aureus resistente à meticilina isolado de infecções comunitárias (CA-MRSA) Ermeton Duarte do Nascimento Maria Celeste Nunes de Melo Sylara Silvério Antes da descoberta dos antibióticos, o Staphylococcus aureus era responsável por altas taxas de mortalidade em infecções adquiridas no ambiente hospitalar, atingindo 82%. Após a descoberta, em meados de 1910, e a introdução da benzilpenicilina no início da década de 1940, praticamente todos os S. aureus eram susceptíveis a esta droga. Entretanto, quatro anos após a introdução da penicilina na terapêutica clínica, 80% dos S. aureus isolados já mostravam alto nível de resistência a este medicamento, em decorrência da produção de uma enzima com ação hidrolítica no anel beta-lactâmico da penicilina, conhecida como penicilinase. Em meados dos anos 50, este fármaco foi considerado ineficaz para o tratamento de doenças causadas por este microrganismo e observou-se um novo aumento do número de casos de infecção por S. aureus. Em 1960, a meticilina, uma penicilina semi-sintética, surgiu como opção de tratamento aos S. aureus produtores de penicilinase (beta-lactamases). Porém, após um ano, foram detectadas as primeiras cepas de S. aureus resistentes a 26 • Ciência Sempre 22 meticilina, através de um novo mecanismo de resistência: a aquisição de um gene (mecA), que codifica uma nova Proteína Ligadora de Penicilina – PBP (do inglês: Penicilin Binding Protein). E em 1963 foi descrito o primeiro surto nosocomial de S. aureus resistente a meticilina, surgindo então a sigla MRSA (Methicilin-Resistant Staphylococcus aureus). Os beta-lactâmicos pertencem ao grupo dos antimicrobianos clinicamente mais importantes. Seus efeitos são evidenciados ao interagirem com as PBP’s. Estas enzimas estão ancoradas na membrana citoplasmática e possuem papel fundamental nas últimas fases de biogênese do peptidoglicano da parede celular. A resistência a essa classe de antibióticos surgiu devido à aquisição do gene mecA pelo S. aureus. Esse gene codifica uma nova proteína de ligação à penicilina, designada PBP2a ou PBP2’, a qual, diferentemente do intrínseco grupo de PBP’s do S. aureus, possui, consideravelmente, uma reduzida afinidade de ligação aos antibióticos β-lactâmicos. Por causa dessa característica, essa nova PBP se liga fracamente às penicilinas e a outros beta-lactâmicos, atuando como uma transpeptidase substituta na formação das pontes transversas entre os peptidoglicanos durante a síntese da parede celular bacteriana, quando as PBPs normais se encontram bloqueadas pela ligação covalente com o beta-lactâmico. O gene mecA já foi clonado e sequenciado e comparações entre sequencias gênicas sugerem que esse gene surgiu pela fusão de uma região regulatória do gene, que codifica para a beta-lactamase com um gene estrutural de PBP de baixa afinidade. Essa sequencia é um segmento de DNA de 2,1 Kb, que não é nativo do , e encontra-se inserido em um grande bloco de DNA exógeno, conhecido como cassete cromossômico estafilocócico mec (SCCmec). O SCCmec é um elemento genético móvel, integrado ao cromossomo dos MRSA, e está flanqueado por sequencias diretas e repetidas. Este segmento de DNA varia de 21-67 Kb de tamanho e é composto por dois complexos gênicos essenciais, o complexo gene mec e o complexo gene ccr. A estrutura e a sequência nucleotídica desses complexos são usados para definir o tipo de SCCmec. O complexo gene mec corresponde à região onde estão localizados os genes reguladores da expressão do gene mecA (mecR1 e mecI). E o complexo gene ccr, corresponde à região onde se encontram os genes das recombinases, as quais são responsáveis pela mobilidade do SCCmec. Além desses genes, outros elementos genéticos também podem estar presentes. O SCCmec encontra-se integrado em um sítio específico, localizado próximo à origem de replicação dos S. aureus. Devido a todas essas características, este elemento pode ser definido como uma ilha de resistência do S. aureus. Alguns pesquisadores descreveram quatro tipos existentes de SCCmec, os quais variam entre si, cada um possuindo uma combinação característica dos complexos gene ccr e mec e dos demais elementos inseridos e determinantes de resistência. O SCCmec tipo I é encontrado nas cepas de MRSA que predominavam nos anos 60 e não contém nenhum gene de resistência, com exceção do mecA. O tipo II e o tipo III carreiam múltiplos genes de resistência e são associados às cepas que começaram a predominar na década de 80. Esses três tipos de SCCmec têm sido, frequentemente, isolados em cepas de MRSA associados às infecções hospitalares (HA-MRSA). O SCCmec tipo IV não apresenta nenhum gene de resistência além do mecA e possui uma nova combinação dos complexos ccr e mec. Esse tipo foi encontrado, predominantemente, em algumas raras cepas de MRSA que vêm emergindo em infecções na comunidade. Variantes desses quatro tipos principais de SCCmec têm sido descritas. Em adição, no ano de 2004, foi classificado um novo tipo de SCCmec. O SCCmec tipo V foi encontrado em uma cepa Australiana de MRSA na comunidade. Esse novo tipo é similar ao tipo IV, é pequeno em tamanho, não contém genes de resistência antimicrobiana além do mecA, porém apresenta um novo arranjo do complexo ccr e mec diferente dos arranjos do SCCmec tipo IV. Em vários países do mundo estão disseminadas cepas de MRSA geneticamente muito semelhantes, ou mesmo iguais. Desta forma, poucos clones de HA-MRSA são responsáveis pela grande maioria das infecções hospitalares que ocorrem no mundo e pelos prejuízos sociais e econômicos decorrentes dessas infecções. A frequente associação dessas cepas com infecções hospitalares garantem a esta bactéria um reconhecimento como sendo um sério problema global de saúde pública. Os principais clones encontrados causando infecções nosocomiais são: o clone ibérico (CI), o clone pediátrico (CP), o clone Nova Iorque/japonês (CNI/J) e o clone epidêmico brasileiro (CEB)/húngaro (CH). Amplamente disseminado no Brasil, o CEB Ciência Sempre 22 • 27 foi inicialmente descrito em hospitais de Manaus a Porto Alegre. Porém, estudos posteriores demonstraram que este clone também está disseminado em hospitais de vários países incluindo a Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Portugal, Itália e República Tcheca. Segundo algumas pesquisas, quando o CEB se instala em um hospital, parece ser capaz de substituir o clone anteriormente predominante. Isso foi observado em Portugal onde o CEB superou em incidência o clone Ibérico, anteriormente dominante nos hospitais daquele país. Considerando que a grande maioria dos clones de MRSA, internacionalmente disseminados nos hospitais, apresenta, freqüentemente, um perfil de multirresistência, o antibiótico de escolha para o tratamento das infecções causadas por esses microrganismos tem sido a vancomicina. O uso desse medicamento, por ser utilizado de forma intravenosa, requer a internação hospitalar do paciente. Entretanto, em junho de 2002, foi isolada em Michigan uma cepa de S. aureus resistente à vancomicina (VRSA). Apenas dois meses depois foi identificada uma segunda cepa VRSA, desta vez na Pensilvânia. O terceiro caso de VRSA foi descrito em março de 2004, em Nova Iorque. Entre 1980 e 1990, a prevalência dos MRSA em infecções hospitalares aumentou em vários países do mundo. Só nos EUA, todos os anos são estimadas 292.000 hospitalizações devido à infecções por S. aureus, e mais de 40% destas infecções são causadas por MRSA. Logo, nas últimas décadas, o MRSA tem causado um grande impacto devido a sua multirresistência aos antimicrobianos e, inclusive, pela sua resistência aos antissépticos e desinfetantes. Entretanto, apesar da multirresistência, em 1999 quatro crianças de Minnesota e Dakota do Norte (EUA) morreram por infecções causadas por cepas MRSA resistentes apenas a beta-lactâmicos. Estes casos foram alarmantes, inusitados e intrigantes, uma vez que as crianças eram previamente sadias e não tinham nenhum fator de risco conhecido para aquisição de MRSA que, até esse momento, era considerado como um patógeno hospitalar oportunista. As amostras desses casos pertenciam a um único SCCmec, o tipo IV. Esses MRSA, então, foram denominados Staphylococcus aureus resistentes à meticilina adquiridos na comunidade ou CA-MRSA. Este relato concedeu evidências de que o MRSA estava se adaptando a ambos os ambientes, o hospi28 • Ciência Sempre 22 talar e o comunitário. Considerando-se que as pressões seletivas são diferentes nestes dois espaços, no hospital o uso contínuo de uma variedade de antibióticos pode fazer com que um MRSA multirresistente possuidor de um SCCmec complexo, como o tipo III, torne-se ainda mais adaptado. Por outro lado, um crescimento rápido e a habilidade de colonização aumentada podem ser mais importantes para esse patógeno na comunidade, pois capacita-o a competir melhor com a microbiota de indivíduos saudáveis. Uma característica importante do CA-MRSA é a sua sensibilidade aumentada aos antimicrobianos. Esta característica é conferida pela sua reduzida e simplificada estrutura de SCCmec do tipo-IV. Ela não possui nenhum gene de resistência além do mecA. Seu tamanho reduzido pode facilitar também a disseminação gênica entre células de S. aureus por meio da transdução mediada por bacteriófago, mecanismo responsável pela transferência do complexo mec entre cepas de S. aureus. Recentemente, infecções comunitárias por MRSA em pacientes que não apresentavam os riscos clássicos descritos para infecções nosocomiais têm sido relatadas, principalmente, nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. Essas cepas de CA-MRSA geralmente causam infecções envolvendo a pele e tecidos moles, porém infecções mais graves, como bacteremias e pneumonias letais em pacientes pediátricos, já foram relatadas. Recentes estudos descrevem um aumento da proporção de CA-MRSA isolados comparado ao HA-MRSA (MRSA hospitalar). Nos EUA, um estudo epidemiológico em crianças revelou um aumento na proporção de casos de MRSA, sendo que destes, 77% foram CA-MRSA com infecção de pele e tecidos moles. Essa principal forma de apresentação da infecção do CA-MRSA, assim como também a pneumonia necrotizante, está possivelmente interligada à uma característica peculiar do MRSA de comunidade: a produção de uma proteína tóxica aos leucócitos chamada leucocidina Panton-Valentine (PVL), que é codificada pelos genes lukS-lukF. A genotipagem de CA-MRSA do tipo SCCmec IV, indicou que 75% destas carreiam os genes lukS-lukF, ressaltando a associação da infecção com essa proteína. Adicionalmente, cepas de CA-MRSA apresentam outras características também peculiares que as diferem do HA-MRSA, como a produção de diferentes enterotoxinas e hemolisinas; e a presença BIBLIOGRAFIA CDC (Centers for Disease Control and Prevention). Four pediatric deaths from community-acquired methicillin-resistant Staphylococcus aureus—Minnesota and North Dakota, 1997–1999. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. v. 48, p. 707– 710, 1999. DIEP, B. A., SENSABAUGH, G. F., SOMBOONA, N. S., CARLETON, H. A., PERDREAU-REMINGTON, F. 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É importante ressaltar que os HA-MRSA frequentemente apresentam uma SCCmec tipo II ou III, fragmentos de DNA maiores, que carreiam vários genes de resistência e, por isso, devem ter sido selecionadas pelo intenso “bombardeio” de antimicrobianos nos hospitais. Por possuírem uma inserção de um grande bloco de DNA em seu cromossomo, essas cepas hospitalares demandam um elevado gasto energético, apresentando, devido a isso, um aumento acentuado da fase lag e, consequentemente, uma taxa de crescimento menor que a de uma cepa de S. aureus sensível à meticilina (MSSA). Assim, as cepas de HA-MRSA só apresentam vantagens em relação a uma cepa de MSSA na presença de antimicrobianos para os quais apresentam genes de resistência. Porém, na ausência da pressão seletiva antimicrobiana, as cepas de MSSA apresentam um maior sucesso. Provavelmente, por este motivo, indivíduos sadios colonizados por HA-MRSA, que não estejam recebendo terapia antimicrobiana, se descolonizam rapidamente, em poucos dias após a colonização. Assim, dificilmente veremos na comunidade cepas de HA-MRSA colonizando ou infectando indivíduos sãos, que não apresentam os riscos clássicos para as infecções nosocomiais. strains. Antimicrob Agents Chemother., v. 46, p. 1147-1152, 2002. MONGKOLRATTANOTHAI, K., BOYLE, S., KAHANA, M. D., DAUM, R. S. Severe Staphylococcus aureus infections caused by clonally related community-acquired methicillin-susceptible and methicillinresistant isolates. Clin Infect Dis., v. 37, p.1050-1058, 2003. OTTO. M. Basis of Virulence in Community-Associated MethicillinResistant Staphylococcus aureus. Annu. Rev. Microbiol. 64:143–62. 2010. RIBEIRO, A., DIAS, C., SILVACARVALHO, M. C., BERQUÓ, L., FERREIRA, F. A., SANTOS, R. N. S., FERREIRA-CARVALHO, B. T., FIGUEIREDO, A. M. 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Essa característica dos CA-MRSA lhe confere um fenótipo de resistência heterogênea à meticilina, em que parte da população é resistente e parte é sensível à mesma droga, e, em consequência, podem não ser identificadas como MRSA quando são utilizados os testes laboratoriais recomendados internacionalmente. A emergência e disseminação de cepas de S. aureus multirresistentes, nos hospitais ou nas comunidades, são reflexos de uma evolução bacteriana acelerada, induzida, em grande parte, pela pressão seletiva decorrente da imensa quantidade de agentes antimicrobianos utilizada no ambiente global. Devido a esse e outros fatores, como o avanço das técnicas médicas terapêuticas e diagnósticas, às características intrínsecas aos pacientes (incluindo o aumento de uma população apresentando extremos de idade ou formada por pacientes portadores de imunossupressão ou outras doenças de base) e ainda devido aos fatores de virulência desses microrganismos, como a produção de biofilme em polímeros sintéticos, os MRSA tornaram-se o principal patógeno hospitalar, principalmente em termos de incidência e gravidade das infecções, uma vez que esses microrganismos são importantes agentes etiológicos de pneumonias e bacteremias nosoco- Nesse contexto, uma das hipóteses que os pesquisadores mais temiam, com relação aos MRSA, era a possibilidade da emergência de cepas de MRSA na comunidade, extremamente bem adaptadas para causar doença. Tal fato parece provável, devido ao índice elevado de cepas de Staphylococcus epidermidis portadoras do gene mecA em indivíduos saudáveis da comunidade. O século XXI, como previam e temiam os cientistas, está sendo marcado pela emergência de um novo patógeno comunitário: as cepas de MRSA altamente adaptadas (condicionadas) para causarem infecções na comunidade (CA-MRSA). O mais surpreendente foi que surtos causados por cepas de CA-MRSA em atletas saudáveis dos EUA foram observados em mais de um clube. Assim, tais cepas de CA-MRSA podem não ter nenhuma relação com serviços de saúde e afetar pacientes saudáveis da comunidade que não apresentam os riscos hospitalares clássicos. Geralmente, cepas de CA-MRSA apresentam certas características que lhe são peculiares como: (a) aquisição do SCCmec tipo IV, por isso apresentam resistência apenas aos antibióticos beta-lactâmicos e, às vezes, também à eritromicina; (b) produção da leucocidina de Panton-Valentine; e (c) não são geneticamente relacionadas às HA-MRSA. Sugere-se que a combinação da aquisição do SCCmec tipo IV e dos genes lukS-lukF, que codificam para a leucocidina de Panton-Valentine, uma citotoxina potente associada à patogênese de infecções na pele, como furúnculos, poderiam ser alguns dos fatores evolutivos determinantes para a adaptação do MRSA, de forma a se tornar um patógeno de sucesso em infecções associadas a indivíduos saudáveis da comunidade. Apesar dos relatos descritos na literatura científica sobre a presença de CA-MRSA, é importante que os médicos estejam atentos para a emergência dessa linhagem de MRSA na comunidade, uma vez que os antibióticos beta-lactâmicos são amplamente utilizados no tratamento empírico dessas infecções. Alguns estudos sugerem que essas cepas de CA-MRSA são altamente transmissíveis, elevando a necessidade de maior atenção a esse agente. A presença dessas cepas de CA-MRSA foi detectada pela primeira vez na América do Sul, na cidade de Porto Alegre/RS, Brasil, em 2005 e na cidade do Rio de Janeiro/RJ em 2007. Tais cepas MRSA estavam causando infecções comunitárias na pele e em tecidos moles, como furúnculos, e ainda um 30 • Ciência Sempre 22 caso de artrite séptica, em 5 pacientes, com idades variando de, aproximadamente, 20 a 50 anos e também 1 caso de choque séptico numa criança de 10 anos de idade. Nenhum desses pacientes apresentava os riscos clássicos de infecções nosocomiais. Essas cepas de CA-MRSA possuíam os genes codificadores da leucocidina de Panton-Valentine, SCCmec tipo IV, assim como um cluster de genes, designado lócus egc, que codificam as enterotoxinas G, I, M, N e O e ainda um gene que codifica uma beta-hemolisina variante. Além de todas essas características, essas cepas apresentaram um padrão de pulsed-field que lembra os padrões de cepas de CA-MRSA presentes em infecções comunitárias descritas inicialmente na Gamoa do Oeste, Austrália, e posteriormente em São Francisco, CA, USA. Outro relato ainda mais recente nos EUA foi descrito em julho de 2009: uma criança de 7 anos de idade que apresentou sepse por CA-MRSA de SCCmec do tipo IV. A conduta terapêutica das infecções causadas pelo CA-MRSA ainda não foi adequadamente estudada e, portanto, não está estabelecida. Este agente é habitualmente sensível a uma ampla variedade de antibióticos não-beta-lactâmicos. Assim, diversas opções terapêuticas estão disponíveis sem, no entanto, estarem devidamente padronizadas. A relação dos antimicrobianos potencialmente utilizáveis é: clindamicina, doxiciclina, sulfametoxazol/ trimetoprima, quinolonas (questionáveis) e rifampicina (sempre em associação). Para as formas clínicas potencialmente graves, relacionam-se a vancomicina, a linezolida, a associação quinupristina/dalfopristina e a daptomicina, esta última já aprovada pelo CDC. Assim, fica claro que um alerta global deve ser emitido com relação às tais infecções comunitárias e estudos visando o rastreamento, determinação da susceptibilidade e caracterização molecular desses microrganismos, se fazem urgentes em nosso país, de forma que o médico possa ser devidamente informado sobre como tratar corretamente seus pacientes e para que medidas de controle da disseminação desses microrganismos sejam implementadas, imediatamente, em nosso meio. Logo, é necessário que as autoridades responsáveis pelo fomento à pesquisa em nosso país estejam cientes da gravidade de tal fato, uma vez que os CA-MRSA tendem a causar surtos em indivíduos sadios e que a epidemiologia e seus possíveis fatores de risco ainda não foram elucidados. SOBRE OS AUTORES Ermeton Duarte do Nascimento é professor do Departamento de Microbiologia e Parasitologia/UFRN, doutorando pelo DDMA/UFRN e Mestre em Ciências Biológicas/ UFRN. É o coordenador da pesquisa. Maria Celeste Nunes de Melo é professora do Departamento de Microbiologia e Parasitologia/ UFRN e Doutora em Microbiologia/UFRJ Aldair de Souza Paiva, Juliana Mendonça Freire, Andrea Luciana Araújo da Cunha Fernandes, Victor Cezar Tavares de Sá Leitão, Rosana Lucena Tavares de Sá Leitão, Erica Aires Gil, Gabriela Vasconcelos de Andrade Alves, Valéria Soraya de Farias Sales, Sarah Dantas Viana Medeiros, Telma Maria de Araújo Moura Lemos, Dany Geraldo Kramer Cavalcanti e Silva, Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior. Ciência Sempre 22 • 31 Sylara Silvério Dados preliminares da imunofenotipagem por citometria de fluxo em pacientes com leucemia mieloblástica agudas atendidos no Hemocentro Dalton Cunha INTRODUÇÃO A leucemia mieloblástica aguda (LMA) é um grupo heterogêneo de doenças clonais do tecido hematopoético, que se caracteriza pela proliferação anormal de células progenitoras da linhagem mielóide (mioblastos) na medula óssea (MO), podendo na maioria dos casos, as células leucêmicas extravasam para o sangue periférico (SP) podendo também essas células também podem infiltrar o fígado, baço, linfonodos e outros tecidos (1-2). Os primeiros sistemas de classificação das leucemias agudas (LA) foram baseados em investigações citomorfológicas suplementadas por colorações citoquímicas, possibilitando inicialmente distinguir a LMA da leucemia linfoblástica aguda (LLA) (1-4). O grupo French American British (FAB) padronizou a classificação morfológica das LMA em 9 grupos de acordo com as características citomorfológicas das células leucêmicas obtidas de aspirado de medula óssea e sangue periférico: i) M0 – LMA sem diferenciação morfológica; ii) M1 – LMA com diferenciação morfológica mínima; iii) M2 – LMA com diferenciação (componente monocítico < 20%); vi) M3 – LMA promielocíticas, subdivididas em hipergranular e hipogranular; v) M4 – LMA mielomonocítica (células monocíticas > 20%); vi) M5a – LMA monoblástica (com monoblastos sem diferenciação > 80%); vii) M5b – LMA monocítica (pro-monócitos); viii) M6 – eritroleucemia e ix) M7 – LMA megacarioblástica.(4-7). Atualmente esse sistema ainda representa um modelo central para a classificação das leucemias agudas, sendo, no entanto incorporadas em sistemas de classificações atuais como a imunofenotipagem por citometria de fluxo realizada por meio de anticorpos monoclonais (AcMo) marcados com fluorocromos, que reconhecem epítopos específicos de antígenos celulares, possibilitando um delineamento mais preciso da linhagem das células envolvidas na leucemogênese (8-12). A citometria de fluxo é realizada com maior frequência para distinção entre as leucemias mielóides (LMA) e linfoide (LLA), sendo também de crucial importância na monitorização pós-tratamento dessas entidades, visando à detecção da doença residual mínima (9, 14). Na LMA, a imunofenotipagem tem importância conjuntamente com a classificação FAB na identificação de células leucêmicas com pouca nenhuma diferenciação celular (8-14). Visando este objetivo, 32 • Ciência Sempre 22 vários AcMo são utilizados na caracterização destas leucemias, tais como o CD33, CD13 e CD117, além de AcMo anti-mieloperoxidase (MPO). A expressão simultânea de dois ou antígenos mieloides caracteriza a linhagem mieloide sob ponto de vista imunológico (9, 14). A importância da imunofenotipagem reside, principalmente, no diagnóstico das LMA de difícil caracterização pelas análises citomorfológicas (LMA-M0 e M7), mas também em alguns casos de LMA-M5a, além de auxiliar no diagnóstico das LMA-M3 (especialmente a forma variante hipogranular), caracterizada pela forte expressão do CD13, CD33 e CD117 associados a ausência de expressão do CD34 e HLA-Dr (9, 14-15). Para a caracterização dos demais subtipos FAB das LMAs a IF/CF é menos importante, porém corrobora com os achados citomorfológicos na definição de diagnóstico como na diferenciação entre os subtipos M1/M2 (6, 9 - 14). A expressão de antígenos monocitários como o CD14, CD16 e CD11b mostram-se presentes na população monocitária, caracterizando a leucemias monocíticas (M4 e M5) e finalmente, a eritroleucemia (LMA-M6) se caracteriza pela expressão da glicoforina alfa (CD235) (9, 14). Este trabalho teve o objetivo de investigar um grupo de pacientes com LMA, baseado em critérios morfológicos e IF/CF, procurando também correlacionar estes dados com dados demográficos e parâmetros clínicos e hematológicos. METODOLOGIA A) CASUÍSTICA: Foram analisadas amostras de SP e MO provenientes de 38 pacientes de ambos os sexos recém diagnosticadas dom LMA (LMA de novo), levando-se em conta a presença de sinais clínicos e parâmetros hematológicos frequentemente associados essa leucemia. B ) MÉTODOS: Exames Hematológicos: Para o diagnóstico laboratorial das LMA seguiu-se o critério de observação da presença de mais que 20% de células blásticas na MO, cuja avaliação morfológica seguiu os critérios da classificação FAB (4-7). Sylara Silvério Amostras de SP dos pacientes foram coletadas em frascos do tipo “vacutainer” com EDTA potássico para hemograma rotineiro que foi realizado em um analisador hematológico (Cell Dyn 300, Abbot, USA). A contagem diferencial de leucócitos foi realizada em distensões de SP após coloração pelo Leishmann (Figura 1). Imunofenotipagem por citometria de fluxo: Para realização da imunofenotipagem, amostras de aspirado de MO ou SP foram coletadas em tubo contendo anticoagulante EDTA. As imunofenotipagens foram realizadas com um painel de AcMo conjugados diretamente conjugados à fluorocromos e específico para diagnostico das LA segundo os critérios do Grupo EGIL (9), constituído por antígenos associados a linfócitos T: (CD1a, CD2, CD3, CD4, CD5, CD7 e CD8), células B: (CD10, CD19, CD20, CD22, CD79a, IgM), células mielóides: (CD11b, CD13, CD14, CD15, CD16, CD33, CD117, CD41, CD61 e MPO) e linhagem não espefífica: (CD45, CD34, HLA-Dr). Todos os MoAbs foram procedentes da Becton Dickinson (Becton Dickinson Immunocytometry Systems, San Jose, CA, EUA). A reação de imunofluorescência de antígenos de superfície foi realizada em 100 microlitros (μL) de suspensão da amostra de MO ou SP previamente homogeneizadas, as quais foram incubadas com 20 μL de AcMo específico por 30 minutos ao abrigo da luz e à temperatura ambiente. Após este período, a suspensão foi homogeneizada e acrescentada à mesma cerca de 2 mililitros (mL) de solução de lise (Lysing Solution - Becton Dickinson Immunocytometry Systems, San Jose, CA, EUA), havendo nova incubação por mais 15 minutos no escuro à temperatura ambiente. Após este período, a suspensão celular foi centrifugada por 5 minutos a 1.500 rotações por minutos (RPM), o sobrenadante desprezado e o sedimento resuspenso em solução salina tamponada com fosfatos (PBS) e novamente centrifugado a 1.500 RPM por 5 minutos, sendo esta última etapa realizada mais 2 vezes consecutivas. Ao fim deste período, o sedimento foi então ressuspenso em 1 mL de solução de formaldeído a 1% em PBS (13, 16). Nos ensaios para marcação de antígenos intracitoplasmáticos (cit) e nucleares (n) (nTdT, citCD3, citCD13, citCD22, citCD79a, cadeia pesada da imuCiência Sempre 22 • 33 Sylara Silvério noglobulina IgM citoplsmatica e AcMo anti MPO), as amostras foram inicialmente incubadas durante 10 minutos com 500 μl de solução de lise (Lysing Solution - Becton Dickinson Immunocytometry Systems, San Jose, CA, EUA). Em seguida, centrifugadas durante 5 min a 1.500 RPM. Após esse período, o sobrenadante foi descartado e o sedimento de células ressuspendido em PBS frio, e lavado mais duas vezes por centrifugação durante 5 minutos a 1.500 RPM. Após essa etapa, o sedimento celular foi então ressuspendido em 1 mL de PBS frio contendo 1% de formaldeído, e mantidos no escuro a 4° C até análise de citometria de fluxo. Para cada ensaio (superfície e análise citoplasmático), um MoAb isotipo foi usado como controlo negativo.(13, 16). Um total de 20.000 eventos por tubo foram adquirido no citometro de fluxo (FACScan, San Jose, CA, EUA) com a Quest Software celular (Software QuestTM celular, Becton Dickinson Immunocytometry Systems, San Jose, CA, EUA). Foram considerados os seguintes parâmetros: dispersão frontal (FSC) para avaliar o tamanho celular, dispersão lateral (SSC) para avaliar a complexidade celular e análise da expressão de marcadores de células com análise de fluorescência por FL1 (verde), FL2 (laranja), e FL3 (vermelho ) em escala logarítmica, as quais representam a reação antigenio-anticorpo conjugado com isotiocianato de fluoresceína (FICT), ficoeritrina (PE), e peridin proteína clorofila (PerCP) respectivamente (13, 16). As imunofenotipagens foram consideradas positivas quando ocorreram mais que 20% de células blásticas positivas aos AcMo. Os resultados foram fornecidos na forma de histogramas em percentagens da população celular com reação positiva ou negativa e intensidade de fluorescência (Figura 2). RESULTADOS Dos pacientes estudados, 23 (60,5%) eram do sexo masculino e 15 (39,5%) do sexo feminino. A idade do grupo analisado variou de 11 a 82 anos. As faixas etárias mais acometidas pela doença foi a do grupo com idade superior a 50 anos com 18 casos (47,4%), seguido pela faixa etária compreendida entre 30 a 40 anos com oito casos (21%) (Tabela 1). Sinais clínicos relacionados com a doença estiveram presentes na maioria dos casos. Destes, a esplenomegalia predominou no grupo analisado com 24 casos (63,2%), seguida pela hepatomegalia e hipertrofia gengival com 15 (39,5%) e 5 (13,2%) dos casos respectivamente (Tabela 1) 34 • Ciência Sempre 22 Na tabela 02 encontram-se resumidas os principais dados laboratoriais dos pacientes, tais como: contagem de plaquetas, leucograma e dosagem de hemoglobina. Vinte e sete indivíduos (71,1%) apresentaram contagem elevada de leucócitos no momento do diagnóstico, com contagens variarado entre 14.000 a 299.000/mm3, 10 casos (26,3%) apresentaram leucometria dentro dos limites de normalidade (5.000 a 10.000/mm3) e 1 caso (2,6%) apresentou leucopênia com contagem de leucócitos de 900mm3. A anemia (dosagem de hemoglobina menor que 12,0 g/dL) foi observada em 30 casos (78.9%) e a plaquetopenia (contagem de plaquetas abaixo e 150.000/mm3) em 24 casos (63,1%) sendo mais acentuadas nos casos de leucemias promielocíticas (LMA-M3), que apresentaram fenômenos hemorrágicos mais evidentes na ocasião do diagnóstico. Conforme demonstrado na tabela 3, a IF/CF demonstrou um perfil imunológico característico de LMA, com a expressão de antígenos pan- mielóides CD13, CD33 em todos os casos diagnosticados. A expressão dos marcadores para células progenitoras (CD34 e CD117) mostrou-se presentes na maioria dos casos, caracterizando a presença de células blásticas com pouca diferenciação celular, estando este perfil mais presente casos de LMA-M1 e M2. As LMA-M3 apresentaram um padrão característico: CD13+, CD33+, MPO+, CD117+ associado a negatividade ao CD34 e HLA-Dr. Nas LMA com componente monocitário, observou-se a expressão de antígenos relacionados a esta linhagem (CD14, CD16 e CD11b), associados a marcadores mielóides, sugerindo uma LMA com diferenciação monocitária (M4 e M5). A eritroleucemia foi identificada pela expressão da glicoforina alfa e a LMA- M7 pela forte expressão do CD41 e CD61. BIBLIOGRAFIA 1. HAFERLACH, T. et al. Genetic classification of acute myeloid leukemia (AML). Ann Hematol, 83 (1): 97-100, 2004. 2. IOVINO, C.S.; CAMACHO, L.H. Acute myeloid leukemia: a classification and treatment update. Clin J Oncol Nurs, v. 7, n. 5, p. 535-40, 2003. 3. BENNET, J.M. et al. Proposal for the Classification of the acute leukemias. Bri J Haemat. 33: 451458, 1976. 4. BRUNN I.N.G et al. Classification of acute leukemias. Semin Diagn Pathol, 20 (3): 142-153, 2003. 5. BENNET, J.M. et al. The morphological classification of acute lymphoblastic leukaemia: concordance among observers and clinical correlations. British Journal of Haematology. 47: 553-561, 1981. 6. BENNET, J.M. et al. Criteria for the diagnosis of acute leukemia of megakaryocyte lineage (M7) .Ann Int Med, 103: 460-462, 1985. 7. BENNET, J.M. et al. Proposed revised criteria for the classification of acute myeloid leukemia. Annals of Internal Medicine, 103: 620-629, 1990. 8. BAIN, B.J. et al. Revised guideline on immunophenotyping in acute leukaemias and chronic lymphoproliferative disorders. Clin Lab Haem, 24: 1-13, 2002. 9. BENE, M.C. et al. Proposals for the immunological classification of acute leukemias: European Group for the Immunological Characterization of Leukemias (EGIL). Leukemia, 9: .1783-1790, 1995. DISCUSSÃO Embora o diagnóstico e classificação das LMA ainda estejam baseados em critérios morfológicos. Atualmente a imunofenotipagem por citometria de fluxo tem sido introduzida na rotina laboratorial visando uma melhor precisão diagnóstica (9). Na classificação imunofenotípica das LMA é importante destacar a inclusão dos subtipos M0 e M7 (9). O subtipo FAB-M0 não apresenta a enzima MPO detectável pela citoquímica convencional, não expressa antígenos linfóides, sendo geralmente CD33 e CD13 positivas, além de expressarem MPO intracitoplasmática (9, 14). A LMA-M7 por sua vez, não possui critério morfológico bem definido, sendo identificável por AcMo direcionado contra glicoproteínas plaquetárias tais como o CD41 e CD61 (6, 9, 14). As LMA monociticas têm padrão imunofenotípico próprio com reatividade a antígenos monócitos relacionado como o CD14 e CD16, fato este observado neste trabalho (9, 14). O HLA-Dr mostra-se expresso na maioria dos casos de LMA, com exceção dos casos de LMA-M3, fato este constatado neste estudo (9, 14, 15). No tocante a correlação dos resultados da análise citomorfológica e da citometria de fluxo, observou-se uma correlação direta da classificação FAB e imunofenotipagem em todas casos investigados, corroborando nossos resultados com os dados da literatura os quais relacionam diretamente a IF/CF com a classificação FAB nas LMA (9). Finalmente é importante destacar a importância da expressão aberrante de antígenos linfóides (CD19, CD2 e CD7) em alguns casos de LMA, havendo relatos da correlação destes achados com anormalidades citogenéticas específicas tais como a expressão do CD19 na LMA-M2 com t(8,21) e o CD2 que pode se expressar na LMA-M4 que apresentam a inversão do cromossomo 16 (c/inv 16) (17). Neste estudo, entretanto constatou-se a apenas a expressão anormal do CD7 em cinco casos, os quais também expressavam fortemente o CD34, caracterizando, portanto LMA muito imaturas. O CD7 é uma glicoproteína de peso molecular de 40 Kda e representa antígeno de membrana associado a células T. Nestas células, sua expressão precede o rearranjo dos genes do receptor de células T, mostrando que pode ser um antígeno presente em células progenitoras. Embora sua função como molécula de adesão ainda não esteja bem esclarecida, acredita-se que ela desempenhe um papel importante na adesão e ativação das células T. Alguns autores, entretanto acreditam que a expressão deste antígeno em células progenitoras estaria relacionada na mediação da migração destas células da medula óssea ao timo. Recentemente este antígeno foi identificado em células progenitoras que podem dar origem a outras linhagens celulares, podendo desta forma ser observada em algumas LMA muito imaturas, fato este constatado neste trabalho (9, 14, 17). Em conclusão, é importante ressaltar a importância da determinação do perfil imunofenotípicos no diagnóstico diferencial das LMA, relacionando-as com eventos fisiopatológicos. Assim, Os resultados aqui apresentados sugerem que imunofenotipagem é crucial para diagnóstico e monitoramento do tratamento dessas neoplasias. Agradecimentos Fundação de Apoio a Pesquisa do Rio Grande do Norte (FAPERN), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Pro-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Hemocentro Dalton Barbosa Cunha (HEMONORTE). 10. BENE, M.C. et al. Impact of immunophenotyping on management of acute leukemias. Haematologica, 84 (11): 1024-1034, 1999. 11. BROWN, M.; WITTEWER, C. Flow cytomety: principles and clinical applications in hematology. Clin Chem, 46 (8B): 1221-9, 2000. 12. WEIR, E.G.; BOROWITZ, M.J. Flow cytometry in the diagnosis of acute leukemia. Semin Hematol, v. 38, n. 2, p. 124-38, 2001. 13. KALEEM, Z. et al. Flow cytometric analysis of acute leukemias: diagnostic utility and critical analysis of data. Arch Pathol Lab Med, v. 127, p. 42-8, 2003. 14. MARTINS, S.L.R.; FALCÃO, R.T. A importância da imunofenotipagem na leucemia mielóide aguda. Rev Assoc Med Bras, v. 46, n. 1, p. 57-62, 2000. 15. DOUER, D. The epidemiology of acute promyelocytic leukaemia. Best Pract Res Clin Haematol,16 (3): 357-367, 2003. 16. ALVES, G.V.A. et al;. Flow cytometry immunophenotyping evaluation in acute lymphoblastic leukemia: Correlation to factors affecting clinic outcome. J Clin Lab Anal, 26: 431-440, 2012. 17. LEFTEROVA, P; SHIMIDTWOLF, I.G.H. Coexpression of lymphoid and myeloid markers on cell surfaces. Leuk Lymphoma, v. 26, p. 27-33, 1996. Hana Dourado Marcadores linfóides empregados neste estudo, tais como o CD10, CD22 CD3, CD8, CD19 e sIgM estiveram ausentes em todos os casos analisados, ocorrendo reatividade ao CD7 e ao CD4 em alguns casos. Ciência Sempre 22 • 35 Perfil epidemiológico e fatores associados à utilização de medicamentos em idosos atendidos pelo SUS em área urbana do Nordeste do Brasil-Natal/RN Gerlane Coelho Bernardo Guerra Aurigena Antunes de Araújo Ingrid Ribeiro Tavares Karina Lopes Morais Ana Ester Pereira Peixoto Juliana Chagas Caldas INTRODUÇÃO Sylara Silvério A Organização Mundial de Saúde considera o medicamento como um bem social, defendendo, entretanto, o uso racional. A OMS afirma que pacientes devem receber medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. No entanto, se observa que aproximadamente 35% dos medicamentos consumidos no Brasil são através da prática da automedicação, e que 27% das intoxicações ocorrem por uso de medicamentos, com 16% de óbitos. Por outro lado, órgãos responsáveis pela aprovação de medicamentos disponibilizam uma grande variedade à população, facilitando a automedicação e, por sua vez, a ocorrência de efeitos adversos nos usuários. Em relação aos efeitos adversos provocados pelos medicamentos, a população idosa (devido à alteração na função renal e hepática, presença de múltiplas doenças crônicas e polifarmácia) é considerada de alto risco, estando susceptível até sete vezes mais à incidência destas reações comparada aos jovens. 36 • Ciência Sempre 22 Sylara Silvério Dessa forma, há necessidade de uma investigação ampla e aprofundada sobre a utilização de medicamentos pelos idosos, que confira conhecimento e que seja adequada à realidade local, visto que a literatura sobre a temática é escassa. Assim, este trabalho avaliou o perfil epidemiológico dos idosos atendidos nas unidades de saúde do SUS e analisou o consumo de medicamentos por esses idosos, a fim de descrever o padrão de utilização de medicamentos, identificar a polifarmácia e compreender os fatores que interferem no uso de medicamentos na população em estudo. METODOLOGIA Foi realizado um estudo analítico e transversal nas diversas unidades de saúde vinculadas ao SUS e pertencentes ao centro urbano de Natal-RN. A população foi composta por homens e mulheres com idade igual ou superior a 60 anos, residentes na zona urbana de Natal, cadastrados no SUS e que procuraram atendimento nas unidades de saúde no período de julho de 2011 a julho de 2012. Foram excluídos do estudo os idosos incapacitados de comunicação verbal, e os que não aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram coletados por meio de entrevista individual, utilizando um questionário com variáveis sócio-demográficas, informações sobre a percepção de saúde, os hábitos de vida e sobre a forma e a quantidade de medicamentos utilizados para os vários sinais e sintomas do idoso. O estudo não considerou como medicamento as suplementações alimentares, as vacinas, os compostos homeopáticos, os chás e outras preparações fitoterápicas. Os medicamentos mencionados contendo dois princípios ativos foram divididos em seus respectivos compostos químicos. As associações que contiveram mais de dois princípios ativos, assim como os medicamentos dos quais o idoso não recordaram do nome, foram realocadas para a categoria outros. Fármacos com diversas ações farmacológicas foram qualificados tendo por base a condição primordial para a qual foram prescritos ou utilizados. RESULTADOS Foram entrevistados 430 idosos, com predominância do sexo feminino (67.7%) e na faixa etária de 60 a 74 anos (69.3%). A maioria composta por aposentados (84.2%) e com renda mensal de até 960 reais (60.7%). A Tabela 01 descreve o perfil sócio-demográfico dos participantes. Ciência Sempre 22 • 37 TABELA 1. VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS FREQUÊNCIA ABSOLUTA (N) FREQUÊNCIA RELATIVA (%) 60 a 64 anos 98 22.8 IDADE 65 a 69 anos 101 23.5 (faixa etária em anos) 70 a 74 anos 99 23.0 VARIÁVEIS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS GÊNERO ESTADO CIVIL ESCOLARIDADE QUANTIDADE DE CONSULTA MÉDICA AO ANO APOSENTADO 75 a 79 anos 67 15.6 80 anos ou mais 65 15.1 Masculino 139 32.3 Feminino 291 67.7 Solteiro 61 14.2 Casado 218 50.7 Divorciado 27 6.3 Viúvo 124 28.8 Nunca Estudou 124 28.8 Ensino Fundamental Incompleto 194 45.1 Ensino Fundamental Completo 46 10.7 Ensino Médio Incompleto 30 7.0 Ensino Médio Completo 25 5.8 Ensino Superior 11 2.6 01 64 14.9 02 53 12.3 03 34 7.9 04 ou mais 279 64.9 Sim 362 84.2 Não 68 15.8 TRABALHO REMUNERADO Sim 47 10.9 ATUALMENTE Não 381 88.6 Sem Renda 29 6.7 470 a 960 372 86.5 RENDA MENSAL (valores em reais) Em relação às variáveis de saúde, 51.6% consideraram sua saúde regular e uma grande parcela (19,3%) avaliaram sua saúde com ruim. Além disso, não houve influência da variável sexo na distribuição dos resultados, de forma que os homens e as mulheres apresentaram resultados semelhantes. A média de consultas médicas anuais nas unidades foi alta, com a maior parte dos pacientes (64.9%) referindo quatro ou mais visitas ao médico por ano. Maior procura foi observada 38 • Ciência Sempre 22 961 a 1600 20 4.7 1601 a 2400 5 1.2 Mais de 2400 4 0.9 para o sexo feminino, diferença essa que mostrou significância estatística. A análise da utilização de medicamentos sob prescrição médica mostrou que a classe dos anti-hipertensivos foi a mais prescrita, com destaque para o grupo dos inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA), utilizado por 42.6% dos idosos, o qual foi seguido pelos diuréticos (36.7%) e pelos betabloqueadores (12.8%). A segunda classe de drogas mais utilizada foi a dos protetores gástricos (22%), predominando os bloqueadores do receptor H2 de histamina (14.4%) sobre os inibidores da bomba de prótons. Outros grupos usados por grande percentual de idosos incluíram biguanidas (16.0%), anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) (13.5%), e hipnóticos, se- dativos e ansiolíticos (12.6%), como mostra a tabela 2. Com relação ao número de medicamentos sob prescrição médica, 89.1% usavam pelo menos um medicamento, predominando um total de 5 ou mais fármacos por pessoa, sendo maior no sexo masculino. TABELA 2. MEDICAMENTOS MEDICAMENTOS ANTI-HIPERTENSIVOS FREQUÊNCIA ABSOLUTA (N) FREQUÊNCIA RELATIVA (%) iECA 183 42.6 DIURÉTICOS 158 36.7 BETABLOQUEADORES 55 12.8 BRA 39 9.1 ACC 43 BLOQUEADORES DO RECEPTOR PROTETORES GÁSTRICOS 10 14.4 H2 DE HISTAMINA INIBIDORES DE BOMBA DE PRÓTONS BIGUANIDAS 69 16 SULFONIUREIAS 50 11.6 INSULINA 11 2.6 AINES 58 13.5 HIPNÓTICOS, SEDATIVOS E ANSIOLÍTICOS 54 12.6 AAS 48 11.2 HIPOGLICEMIANTES Parcela considerável da amostra referiu já ter tido algum tipo de orientação profissional a respeito da não utilização de medicamentos sem prescrição médica (72.3%). Contrastando com esta informação, foi alto o percentual de idosos que fazem uso constante de fármacos por conta própria (59.8%), dentre os quais mais da metade (67.2%) corresponde aos analgésicos comuns. A análise multivariada incluiu variáveis socioeconômicas e de saúde em relação ao aumento do número de medicamentos utilizados pela população estudada. Assim, as variáveis que contribuíram para este desfecho e que foram significativas incluem sexo feminino (0.001) e estado civil, divorciados ou viúvos (0.006). Além do sexo e estado civil, também foram significativas as associações com baixa renda pessoal mensal (0.018), maior número de consultas médicas anuais (quatro ou mais) (0.001), assim como relato de má percepção da saúde (0.001). DISCUSSÃO Os resultados revelaram que os fatores sociodemográficos como sexo (feminino), estado civil (divorciado e viúvo), baixa renda mensal pessoal (R$ 960,00), número de consultas médicas (4 ou mais por ano) e má percepção de saúde apresentaram significância estatística para o aumento do consumo de medicamentos. Tais dados são compatíveis com os estudos realizados no âmbito nacional, com exceção de algumas pesquisas que não evidenciaram relação entre estado civil e aumento no consumo de fármacos. Nos trabalhos internacionais, a variável escolaridade se relacionou com o maior consumo de medicamentos, contrastando com o presente trabalho, que não mostrou essa relação. Em concordância com os resultados descritos, que evidenciaram grande número de medicamentos utilizados pelos idosos, um estudo realizado nos Estados Unidos com 3500 indivíduos entre 57 e 85 BIBLIOGRAFIA 1.Bates DW. Drugs and adverse drug reactions: how worried should we be? JAMA. 1998;279:1216-1 2. Loyola Filho AI et al . Estudo de base populacional sobre o consumo de medicamentos entre idosos: projeto Bambuí. Cad. Saúde Pública. 2005;21(2):545-53. 3. Barros, Marilisa Bertil de Azevedo. Saúde e classe social: um estudo sobre morbidade e consumo de medicamentos / Health and social classes: a study about morbity and medicament consumption. Fonte: s.l; s.n; 1983. 190 p. ilus 4. Rozenfeld S. Prevalence, associated factors, and misuse of medication in the elderly: a review. Cad. Saúde Pública. 2003; 19(3):717-24. Ciência Sempre 22 • 39 Hana Dourado 5. Arrais PSD, Brito LL, Barreto ML, Coelho HLL. Prevalência e fatores determinantes do consumo de medicamentos no Município de Fortaleza, Ceará, Brasil. Cad.Saúde Pública. 2007; 23(4):927-37. 6. Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base populacional sobre uso de medicamentos entre idosos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública. 2006;22(12):2657-67. 7. Bertoldi AD, Barros AJD, Hallal PC, Lima RC. Utilização de medicamentos em adultos: prevalência e determinantes individuais. Revista de Saúde Pública. 2004; 38:228-38. 8. Figueiras A, Caamaño F, Gestal-Otero JJ. Sociodemographic factors related to self-medication in Spain. Eur J Epidemiol. 2000; 16:19-26. 9. Mestanza F, Pamo O. Estudio muestral del consume de medicamentos y automedicación em Lima metrópole. Rev Med Hered. 1992; 3:101-8. 10. Veras RP. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/UERJ; 1994 anos de idade também revelou taxas significativas: 81% dos sujeitos estudados usavam pelo menos um medicamento sob prescrição médica, 42% usavam no mínimo 1 medicamento em superdosagem e 49% usavam suplemento alimentar. Além disso, 29% usavam pelo menos cinco medicamentos prescritos concomitantemente, sendo esta taxa mais alta para homens e mulheres de 75 a 85 anos. Já outros estudos como o de Garfinkel et al mostraram que pacientes residentes em lares ou departamentos de enfermagem utilizavam uma média de 6 a 9,7 medicamentos por dia, e mais de 20% recebiam 10 ou mais medicamentos. Além disso, um estudo realizado na Áustria revelou uma média de 7,5 +/- 3,8 medicamentos por paciente, com maior taxa observada nas mulheres (7,8 vs. 6,8, p=0,013). Ademais, 58,4% dos pacientes usavam mais de 6 fármacos. O uso excessivo de medicamentos, prescrição inapropriada e efeitos adversos 40 • Ciência Sempre 22 foram bastante prevalentes nesse estudo. Em estudos nacionais os valores obtidos para uso de 6 ou mais drogas por paciente oscilaram entre 67,2% e 86,1% sendo 67,2% em Fortaleza-CE, 72,1% em Belo Horizonte-MG e 86,1% em Bambuí-MG. A importância de estudar o número de drogas consumidas advém das consequências desastrosas da polifarmácia para seus usuários, gerando efeitos adversos cumulativos, além de aumentar a probabilidade de interações medicamentosas. Por sua vez, as reações adversas têm sido implicadas na admissão hospitalar de pacientes idosos, e estão relacionadas a um aumento da permanência hospitalar e da morbimortalidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, 20% dessas reações resultaram em morte ou internamento hospitalar. Um estudo realizado com mulheres idosas mostrou que a maioria das usuárias de ß-bloqueadores estava susceptível a alguma interação medicamento- 11. Coelho JM, Marcopito LF, Castelo A. Perfil de utilização de medicamentos por idosos em área urbana do Noroeste do Brasil. Rev Saúde Pública. 2004; 38:557-64. 12. Alves LS, Rodrigues RN. Determinantes da autopercepção de saúde entre idosos do Município de São Paulo, Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2005;17(5/6):333–41. 13. Pinheiro, RS; Viacava F; Travassos C; Brito AS. Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, 2002 . 14. Silva TR, Menezes PR. Autopercepção de saúde: um estudo com idosos de baixa renda de São Paulo. Rev Med (São Paulo). 2007;86(1):28-38. disso, é importante enfatizar que a autopercepção da saúde é um indicador de morbidade e mortalidade, o que explica sua influência direta tanto no maior número de comorbidades, sejam físicas ou mentais, como, consequentemente, no maior consumo de drogas. Conclusão Em vista do que foi exposto, observa-se que inúmeros fatores estão implicados no aumento do número de medicamentos utilizados pelos idosos, dentre os quais se destacaram o sexo feminino, estado civil, baixa renda pessoal mensal, maior número de consultas médicas anuais e autopercepção ruim da saúde. O conhecimento desses fatores pode auxiliar na criação de medidas educativas com o intuito de evitar a polifarmácia e suas consequências danosas, além de reduzir a utilização de medicamentos não prescritos por profissionais habilitados. Em conjunto, essas medidas proporcionam melhora da assistência à saúde do idoso, o que secundariamente promove aprimoramento de sua qualidade de vida, nos aspectos físicos, cognitivos e emocionais. Afinal, um envelhecimento saudável depende da interação multidimensional de múltiplas variáveis. Sobre as autoras Gerlane Coelho Bernardo Guerra é professora do Departamento de Biofísica e Farmacologia- UFRN. Aurigena Antunes de Araújo é professora do Departamento de Biofísica e Farmacologia- UFRN. Ingrid Ribeiro Tavares é graduada em Medicina. Karina Lopes Morais é graduada em Medicina. Ana Ester Pereira Peixoto é graduada em Medicina. Juliana Chagas Caldas é graduada em Medicina. Hana Dourado sa relacionada a esse grupo de fármacos. Situações semelhantes ocorrem com vários outros medicamentos. Por exemplo, 49,3% das mulheres que utilizavam IECA, 11,8% das que usavam diuréticos e 44,4% das que consumiam antidepressivos sofriam algum tipo de reação adversa devido a uma interação. Outra pesquisa, nos Estados Unidos, observou a maior prevalência do uso de medicamentos em indivíduos do sexo feminino e acima de 65 anos, dos quais 94% haviam tomado pelo menos um medicamento, 57% tomou 5 ou mais e 12% tomou 10 ou mais. Predominaram fármacos com prescrição médica. Neste estudo, o aumento da prevalência esteve intimamente relacionado com o aumento da idade. Com relação aos fármacos mais utilizados, a classe dos anti-hipertensivos foi a mais prescrita, seguida dos protetores gástricos, antidiabéticos orais, AINEs e medicamentos de ação sobre o sistema nervoso central. Tais resultados foram semelhantes aos encontrados na literatura nacional. Em concordância, outros estudos feitos no Brasil mostraram que, as classes farmacológicas mais usadas pelos idosos são as que atuam sobre o aparelho cardiovascular, sobre o sistema nervoso central, sobre os aparelhos respiratório e digestivo, além das vitaminas e dos antianêmicos. Entre os idosos, existem diferenças no padrão de consumo de medicamentos prescritos e não prescritos, sendo os prescritos mais consumidos. Um estudo realizado em Quebec, Canadá, apontou que a maioria das prescrições foi para fármacos de ação cardiovascular, seguido por AINEs e por medicamentos psicotrópicos. Trabalhos nacionais mostraram que grande parcela dos idosos utilizam medicamentos sem prescrição médica, sendo os analgésicos comuns os mais consumidos, em semelhança à pesquisa em questão. Chamou atenção no nosso estudo a influência significativa da má percepção da saúde no aumento do consumo de fármacos. Esses resultados foram semelhantes para ambos os sexos, discordando de outros trabalhos, que evidenciaram uma pior percepção pelos idosos do sexo feminino. Uma possível explicação poderia ser o fato de a autopercepção da saúde ser diretamente associada ao uso de serviço médico, o que já infere uma pior percepção pelos homens selecionados nesta pesquisa, pois somente foram entrevistados aqueles que procuraram espontaneamente as unidades de saúde. Além Ciência Sempre 22 • 41 Isabel Fernandes de Oliveira Oswaldo Hajime Yamamoto Candida Maria Bezerra Dantas Mariana Cela Nívia Lúcia de Andrade Oliveira Marília Noronha Rafaela Lopes Araújo Thamires Pinto A Psicologia é uma das profissões que mais reflete sobre seus rumos. Isso se deve possivelmente a sua evolução histórica, que traçou uma trajetória bastante variada para o campo, com diferentes nuanças, objetos de trabalho, campos, e, mais, objetivos bem peculiares. Desde o final da década de 1970, estudos sobre a profissão de psicólogo questionam a hegemonia de um modelo elitista e privatista de atendimento, predominante na prática profissional. As críticas a apontam como uma atividade que não atende as necessidades da maioria da população brasileira e interrogam sobre quais os rumos que a profissão deve seguir em direção ao atendimento das camadas mais pobres da população brasileira, defendendo um protagonismo da categoria em prol de um compromisso com a transformação ampla da sociedade. 42 • Ciência Sempre 22 Sylara Silvério A atuação do psicólogo na atenção básica: novos desafios e perspectivas Sylara Silvério Ao problematizar a adequação entre as bases de sustentabilidade da ciência psicológica e a atuação no campo do Bem-Estar Social, Yamamoto (2003) afirma que as mudanças que direcionaram a Psicologia para a política social se deveram a três fatores: contingências específicas do mercado de trabalho - caracterizadas pela falência do modelo de profissional autônomo em decorrência da diminuição do poder aquisitivo da classe média (grande consumidora dos serviços psicológicos), resultado da “falência do milagre econômico”; abertura do campo de atuação profissional por meio da redefinição do setor de Bem-Estar Social no primeiro momento da transição democrática; e, por último, os embates teórico-ideológicos, com destaque para o papel do Conselho Federal de Psicologia, que nutrem uma redefinição dos rumos da Psicologia. Essas discussões prosseguem e se particularizam quando a inserção maciça de psicólogos em setores da política social assume tal proporção que esse campo passa a ser o maior empregador desses profissionais. Destaca-se, nesse momento, a criação de postos de trabalho na rede de saúde pública, ainda na década de 1980, mas que crescem exponencialmente com a regulamentação do Sistema Único de Saúde e com a ampliação da atenção básica de atendimento, trazendo mudanças significativas para a profissão. Os avanços proporcionados pela reorganização do modelo de assistência à saúde provocaram um reordenamento na gestão das políticas públicas para o setor que contemplavam, entre outros aspectos, um novo conceito de saúde (Noronha, 2001). Nesta nova perspectiva, o cuidado em saúde deveria enfatizar as ações de prevenção e promoção de saúde, realizadas por uma equipe multiprofissional. Princípios como equidade e justiça distributiva serviram como base para a idealização de uma rede de assistência e de cuidado na qual a doença deixaria de figurar como alvo de atenção, e o homem surge como objeto de uma intervenção social em saúde (Teixeira, 2005). É essa nova vertente, concatenada às discussões sobre a reforma psiquiátrica, que subsidia o ingresso significativo de psicólogos no campo (Rosa, 2003). Contudo, a ocupação de postos na saúde pública não foi feita sem embates. Um dos principais se refletiu nas discussões sobre o tipo de ação desejada para esse campo e sobre a formação necessária para o trabalho na saúde em sua vertente institucional (Carvalho & Yamamoto, 1999). A repercussão do movimento em Natal, por exemplo, enseja a contratação de psicólogos para fazer parte do novo desenho da rede que, com a criação da Secretaria Municipal de Saúde, em 1986, ficou sob gestão municipal (Natal, 2003). Desde então, psicólogos vem ocupando diferentes espaços em todo o estado do Rio Grande do Norte, tanto em unidades básicas de saúde, como centros de atenção psicossociais, hospitais regionais, bem como cargos de gestão. Mais recentemente, como proposta de fortalecimento da atenção básica e, principalmente, da Estratégia Saúde da Família, são criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), a partir da Portaria nº 154 de 24 de Janeiro de 2008, que tem por objetivo ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, com ênfase no processo de territorialização e de regionalização das ações em saúde. Os NASF, dispositivos intermediários em complexidade e com o claro objetivo de fornecer suporte, se organizam em torno de nove áreas estratégicas de trabalho, dentre as quais figura a saúde mental. Sendo assim, o psicólogo constitui um profissional importante na estruturação das equipes, fato que configura nova ampliação da sua inserção profissional, mas recoloca as questões em torno da adequação do trabalho (Oliveira, et al., 2004; Oliveira et al., 2005; Oliveira, Solon, Amorim, & Dantas, 2011; Oliveira & Amorim, 2012). Tendo como base as discussões sobre a atuação do psicólogo no setor do Bem-Estar Social, a pesquisa ora apresentada objetivou, num recorte do campo mais amplo da política social, analisar a prática psicológica em NASFs do Rio Grande do Norte. Tal investigação é relevante, visto que é necessário avançar no conhecimento já produzido acerca da atuação do psicólogo no campo da saúCiência Sempre 22 • 43 de pública, considerando os novos desafios postos pela construção de um modelo de saúde/saúde mental na atenção básica e os questionamentos acerca da adequação dos referenciais teóricos, técnicos e políticos que norteiam as práticas, especialmente num contexto que busca mudar os padrões de acesso, atenção e participação popular, como é o caso do SUS. Pretendeu-se, dessa forma, contribuir para a capacitação dos profissionais que atuam na saúde pública, bem como fomentar as discussões sobre a formação e prática dos psicólogos, e sua adequação as demandas e necessidades da população brasileira. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2010 e 2012 em municípios escolhidos intencionalmente de forma a contemplar oito das nove regiões de saúde do Rio Grande do Norte, excetuando-se a região da capital do estado que, no momento da coleta de dados, não possuía NASF funcionando. Além disso, buscou-se o dispositivo mais antigo, que contava com psicólogo trabalhando há mais tempo. À época do estudo havia 49 dispositivos no RN, com 39 psicólogos trabalhando. Desses, 18 participaram da pesquisa (lotados em 16 NASF) por meio de uma entrevista semiestruturada contendo informações sobre formação acadêmica, motivações para o trabalho, atividades realizadas pelo NASF e as realizadas pelos psicólogos, dificuldades e desafios para o campo, entre outras informações. Em seguida apresentamos as principais discussões por blocos temáticos. Entrada nos NASF Os psicólogos entraram no serviço via análise curricular ou indicação política. Apenas três dos 18 eram concursados. Isso revela uma precariedade de vínculo de trabalho, característica da inserção desse profissional no campo da política social, e também o quanto a política partidária interfere na organização dos serviços públicos nos municípios. Daí decorrem as dificuldades de planejamento e de realização de um trabalho de longa duração, sem falar na total captura de qualquer postura contrária ao gestor. Já existem algumas iniciativas para a realização de concursos públicos na área da saúde, mas elas ainda são incipientes. O que tem ocorrido é que, muitas vezes um profissional já pertencente ao quadro das secretarias municipais ou do estado ocupa dupla função, ou, como visto nos dados aqui apresentados, os psicólogos são contratados temporariamente. 44 • Ciência Sempre 22 Formação para o trabalho De forma geral, os psicólogos adentram no trabalho da saúde pública sem preparo. E mais, sem ter absoluta noção das discussões travadas por ocasião da implementação de um novo dispositivo, como é o caso dos NASF. Apenas quatro profissionais referiram terem recebido capacitações em saúde e destacam importância do espaço formativo, mas avaliaram as capacitações como insuficientes. Oito psicólogos declararam não ter recebido formação alguma para o trabalho no NASF e 13 informaram que a formação que os subsidia é alguma vertente da Psicologia clínica. Depreende-se desses dados que não há um padrão de treinamento dos profissionais que compõem os NASF, que eles findam por basear sua atuação em referenciais que não estão conectados com as discussões sobre a atuação com comunidades, com prevenção e promoção de saúde, e outros referenciais que têm norteado as práticas nesses novos contextos. Como espaço novo, que propõe um trabalho essencialmente distinto do modelo interventivo reinante na história da saúde brasileira, é compreensível que os espaços formativos sejam ainda superficiais e mais informativos que formativos. Entretanto, tais espaços, quando estruturados, podem ser instrumentos potentes na proposição de um reordenamento das práticas em saúde, de forma que essas se voltem para o que está disposto nas determinações mais gerais da política de saúde. Ressalta-se, daí, tanto a necessidade de as entidades representativas da Psicologia continuarem a problematizar a atividade profissional do psicólogo, e proporem novos caminhos para a atuação, como também é preciso que os gestores dos serviços, sejam do estado ou dos municípios, promovam espaços permanentes de capacitação e de reflexão da prática de seus profissionais. Isso possivelmente evitará uma atuação construída “no dia a dia”, como referiu um dos entrevistados. Ações NASF e atividades dos psicólogos Para facilitar a compreensão, a tabela 1 apresenta a distribuição das atividades ofertadas pelos NASF alvo da pesquisa e as ações em que os psicólogos se envolvem. Tabela 1: Atividades NASF e ações dos psicólogos BIBLIOGRAFIA NASF Psicólogos Registro de atividades e planejamento 16 16 Atendimento clínico/ambulatorial 14 15 Grupos socioeducativos 16 12 Palestras 12 12 Visita domiciliar 15 11 Ações de apoio matricial 16 11 Programa Saúde na Escola 13 10 Visita a instituições 12 8 Visita às ESF (para atendimento) 8 6 Grupos terapêuticos 7 7 Brevemente, identifica-se que os NASF realizam atividades de matriciamento, grupos socioeducativos e visitas domiciliares. Quase todos os NASF realizam tais ações e elas, de fato, são preconizadas para o serviço, com destaque para o apoio matricial. Por outro lado, esses mesmos dispositivos (14 dos 16) oferecem atendimento clínico/ambulatorial. Tal atividade também é prevista, mas, de acordo com o que preconiza os documentos que regem os NASF, seu foco deve ser um trabalho fora de seus muros, com a comunidade e, principalmente, com as equipes de saúde da família. Apesar disso, é possível inferir que os NASF têm caminhado na direção da construção de um trabalho de suporte à atenção básica e às equipes de saúde da família, mas ainda há um longo percurso para que se transforme a visão de saúde e de assistência que marcam a história da saúde pública no Brasil. Do leque de atividades realizadas pelos NASF, os psicólogos se envolvem em todas elas, mas destacam-se o planejamento e os atendimentos clínicos. O planejamento é realizado em todos os NASF e todos os psicólogos entrevistados participam dele. A questão que merece uma discussão mais cuidadosa diz respeito aos atendimentos clínicos realizados de forma maciça pelos psicólogos e com o aval do restante da equipe (já que há um planejamento das atividades). Este tipo de ação é permitido, entretanto, ações previstas para os profissionais dos NASF realizarem, tornam necessária uma definição clara do foco que o ser- viço deve ter, e que não é o de um ambulatório de especialidades. O matriciamento, as ações de articulação, as visitas, as atividades educativas, entre outras, são tão ou mais importantes em termos de amplitude e objetivo do trabalho do que os atendimentos clínicos. Esse tema é alvo de discussão há bastante tempo, seja por parte do Conselho Federal de Psicologia, ao discutir o trabalho nas políticas públicas, seja por pesquisadores da área. Os estudos têm em comum a constatação de que a Psicologia ainda não conseguiu produzir amplamente e com qualidade um arsenal teórico-técnico que seja eficaz no trato aos determinantes macroestruturais da saúde. Assim, resta aos nossos profissionais psi o conhecimento que eles acreditam ser o que melhor dominam, que são os relativos à Psicologia clínica em sua vertente individual. Se considerarmos as inovações da política de saúde que pouco a pouco tenta incorporar os avanços alcançados em torno da redefinição do conceito de saúde, de saúde mental, de promoção, prevenção e de assistência, e as práticas realizadas pelos psicólogos, muito ainda é necessário avançar quando se trata especialmente desses últimos. Exemplo disso é que dos 18 psicólogos entrevistados, 11 se envolvem no apoio matricial e nas visitas domiciliares; e apenas oito visitam instituições para a realização de articulações. Curiosamente, essas são as atividades que exigem uma mobilização do profissional, uma saída do espaço institucional do NASF. Natal. Secretaria Municipal de Saúde. Departamento de Planejamento e Informação. Plano Municipal de Saúde. 2003 [Mimeografado]. Noronha, J. C. (2001). A Política de Saúde no Brasil nos anos 90. Ciência & Saúde Coletiva, 6(2), 445-450 Oliveira, I. F., Dantas, C. M. B., Costa, A. L. F., Silva, F. L., Alverga, A. R., Carvalho, D. B., & Yamamoto, O. H. 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Questão social e políticas públicas: revendo o compromisso da Psicologia. In A. M. B. Bock (Org.), Psicologia e o compromisso social (pp. 37-54). São Paulo: Cortez. Yamamoto, O. H., & Oliveira, I. F. (2010). Política social e Psicologia: uma trajetória de 25 anos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26, n. espec. 9-24. Ciência Sempre 22 • 45 Sylara Silvério Já os grupos socioeducativos, realizados na própria instituição, recebem frequência maior dos psicólogos. Parece haver uma dificuldade de os profissionais de Psicologia realizarem seu trabalho num espaço sem limites territoriais, como é o caso das comunidades. Não é fato novo que esses mesmos profissionais, desde que adentraram o campo da saúde pública, buscam reproduzir, na medida do possível, seus settings terapêuticos. Com isso, a reprodução do ideário do consultório privado nos NASF se repete mais uma vez, tal como ocorreu ainda na década de 1980 com as unidades básicas de saúde. Há de se reconhecer que muito ainda precisa ser feito no campo das políticas sociais e não é só com relação à Psicologia. Vários são os entraves em vários níveis (gestão, financiamento, intersetorialidade, capacitação dos servidores, entre outros), que são determinantes de certa indefinição dos rumos da política de saúde. Esta última precisa ser garantida como uma política de Estado, e não de governo, de forma que seu acesso seja, realmente, um direito, e que se caminhe para a sua efetivação. 46 • Ciência Sempre 22 Para isso, é preciso reconhecer a responsabilidade do estado (leia-se, um estado burguês) que gera as condições de vida da população que padece em uma situação de saúde precária, e cuja assistência é fragmentada, interventiva e pouco eficiente. Para a Psicologia, o trabalho na saúde pública exige, como um primeiro passo, um reconhecimento de que há limites claros na ciência psicológica produzida até hoje e que é necessário avançar. As inovações já existem, a exemplo da clínica ampliada, dos trabalhos educativos em grupos, das oficinas, dentre vários outros que vêm sendo desenvolvidos sob as bases teóricas e técnicas da Saúde Coletiva. Contudo, são necessárias novas produções, em diferentes níveis, que levem os psicólogos a conhecer aspectos do cotidiano das pessoas que estão fora do escopo do que tradicionalmente pertence à Psicologia. Esses avanços requerem a apropriação de saberes de outros campos e um trabalho efetivamente em parceria com outras profissões; requerem a invenção de novos conhecimentos. Essas mudanças deverão refletir uma postura diferente da que marca historicamente a atuação dos psicólogos. Sobre Os autorEs Isabel Fernandes de Oliveira é doutora Oswaldo Hajime Yamamoto é doutor Candida Maria Bezerra Dantas é doutoranda Mariana Cela é mestranda Nívia Lúcia de Andrade Oliveira é mestranda Marília Noronha é mestranda. Durante a vigência do projeto ora apresentado, foi bolsista Iniciação Científica do PROPESQ/UFRN) Rafaela Lopes Araújo é mestranda. Durante a vigência do projeto, foi bolsista Iniciação Científica PROPESQ/UFRN e, após o término desta, foi Bolsista FAPERN/CNPq) Thamires Pinto (Bolsista FAPERN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte Sylara Silvério Papilomavírus humano (HPV) e sua relação com o câncer José Veríssimo Fernandes O papilomavírus humano (HPV) é uma das causas mais comuns de infecções sexualmente transmisíveis entre homens e mulheres de todo o mundo, especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Em virtude da alta frequência com que esse vírus circula nas populações humanas, considera-se que a maioria dos indivíduos sexualmente ativos vai adquirir a infecção por este patógeno em alguma fase de sua vida. Ciência Sempre 22 • 47 O HPV é um vírus epiteliotrópico, com genoma de DNA de cadeia dupla circular, protegido por um capsídeo com simetria icosaedra, sem a presença de envelope, formando uma partícula com cerca de 55 nm. O genoma do HPV contém aproximadamente 8000 pares de bases e oito genes, e está dividido em três regiões: uma sequência não codificante, a região longa de controle (LCR), que tem função reguladora da transcrição dos genes virais; uma região precoce (E) composta pelos E1, E2, E4, E5, E6 e E7, que condificam proteínas não estruturais envolvidas com replicação, persistência e imortalização da célula; e uma região tardia (L), composta pelos genes L1 e L2 que codificam, respectivamente, as proteínas estuturais L1 e L2, que juntas formam o capsídio viral. Os produtos dos genes da região precoce são as proteínas E1, E2, E4, E5, E6 e E7. As proteínas E6 e E7 têm papéis críticos no processo de carcinogênes que leva ao desenvolvimento dos cânceres associados ao HPV. Os HPVs são classificados com base na identidade das sequências de nucleótidos do gene L1, nas características filogenéticas e potencial patogênico, sendo enumerados pela ordem de descoberta. Existem atualmente mais de 150 tipos de HPVs catalogados, dos quais cerca de 40 podem infectar as mucosas do corpo humano, especialmente a do trato anogenital, e por isso são conhecidos como HPVs genitais. Os HPVs genitais podem ser ainda classificados como de baixo ou de alto risco, de acordo com seu potencial carcinogênico. O grupo de baixo risco abrange os HPVs dos tipos: 6; 11; 13; 40; 42; 43; 44; 54; 61;70; 72; 81 e 89, os quais possuem baixo potencial carcinogênico e estão associados com lesões benignas conhecidas como verrugas anogenitais, e apresentam tendência muito reduzida de progressão para lesão maligna. Neste grupo destacam-se os HPVs 6 e 11 por serem os mais frequentes em verrugas anogenitais em qualquer parte do mundo. O grupo de alto risco é composto pelos HPVs dos tipos 16; 18; 31; 33; 35; 39; 45; 51; 52; 56; 58; e 59. São considerados como provavelmente de alto risco os HPVs dos tipos 26; 53; 66; 68; 73 e HPV 82. Além disso, existem outros tipos de HPVs genitais cujo potencial carcinogênico ainda não foi estabelecido, os quais são referidos com de risco indeterminado. Os HPVs de alto risco estão fortemente associados a lesões pré-malignas e malignas da cérvice 48 • Ciência Sempre 22 uterina, com destaque para os HPVs 16 e 18, que juntos são responsáveis pela maioria dos casos de câncer de colo do útero (CCU), estando também associados, em menor proporção, com outros tipos de cânceres, tais como: o de pênis, de ânus, vulva, de cabeça e pescoço, e contribuir com cerca de 40% dos cânceres orais. A distribuição geográfica dos diferentes tipos de HPVs apresenta variações nas taxas de prevalência para cada tipo, conforme fatores geográficos, demográficos, clínico-patológicos, e com o método usado para detecção e tipagem. Contudo, o HPV16 é o tipo mais frequente em qualquer parte do mundo, embora se apresente com taxas de prevalências variáveis. Hoje não existem mais dúvidas de que a infecção por HPVs de alto risco é causa necessária, embora não suficiente, do CCU, um dos maiores problemas de saúde pública em todo o mundo, notadamente nas regiões menos desenvolvidas, onde a incidência é duas vezes maior que nas regiões industrializadas. O CCU é o terceiro tipo mais comum, excluindo-se o câncer de pele não-melanoma, e a quarta causa de morte por câncer entre mulheres de todo o mundo. Estima-se que cerca de 500.000 novos casos de CCU são notificados a cada ano, com cerca de 230.000 mortes, a maioria nas regiões mais pobres. No Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o CCU é o segundo tipo de câncer mais comum em mulheres, excluindo-se o câncer de pele não melanoma. As taxas brutas de incidência por 100.000 mulheres estimadas para o ano de 2012 foram de 17 para o país como um todo, 18 para a região Nordeste e 14 para o Estado do Rio Grande do Norte. A doença tem início a partir dos 20 anos de idade, e o risco aumenta gradualmente com a idade, atingindo o seu pico nas mulherers com idade entre 50 e 60 anos. A história natural do CCU mostra que, do ponto de vista epidemiológico, ele se comporta como uma doença sexualmente transmissível, apresentando inclusive, os mesmos fatores de risco. Apesar da alta incidência, o CCU se destaca como uma das neoplasias malignas que apresentam maior potencial de prevenção e cura. Isso se deve à sua natureza infecciosa, o que permite fazer a prevenção primária por meio da vacinação. Além disso, a sua evolução lenta, passando por vários estágios, facilita a prevenção secundária pelo diagnóstico precoce e tratamento das lesões precursoras antes que elas progridam para a forma maligna. Sylara Silvério A forma mais simples e viável de se fazer o rastreamento para o controle do CCU é a análise periódica de um esfregaço de células descamadas do epitélio da cérvice uterina corado pelo método de Papanicolaou. Este exame permite visualizar alterações celulares causadas pelo HPV e, por ser um procedimento indolor, de fácil execução e baixo custo, permite a sua realização em larga escala, sendo o método mais indicado na prevenção do CCU nos países menos desenvolvidos. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que as mulheres na faixa etária de 25-64 anos façam este exame anualmente, ou pelo menos uma vez a cada três anos nas mulheres que tiveram dois exames consecutivos com resultados normais, realizados com intervalo de um ano. Contudo, a cobertura do exame citológico de Papanicolaou não tem alcançado os índices desejados (um mínimo de 80%). Estima-se que cerca de 40% das mulheres brasileiras nunca fizeram o exame ou o fizeram, mas não com a frequência recomendada. Isto se deve a vários fatores, dentre os quais se destaca a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Contudo, a falta de conhecimento sobre o CCU e os benefícios do exame para a saúde da mulher, contribui para a baixa adesão ao programa de rastreamento da doença no nosso país. A história natural da infecção pelo HPV mostra que ela é mais prevalente em adolescentes e adultos jovens, nos quais a atividade sexual é mais intensa, observando-se uma redução nas taxas de prevalência com o aumento da idade, provavelmente devido ao desenvolvimento de uma resposta imune contra o vírus e/ou a redução da atividade sexual. Estudos mostram que adolescentes do sexo feminino se constituem um grupo vulnerável às infecções por agentes sexualmente transmissíveis, incluindo o HPV. As constantes mudanças no epitélio da cérviCiência Sempre 22 • 49 Sylara Silvério ce uterina parece aumentar a vulnerabilidade para ruptura da integridade da barreira epitelial, facilitando a invasão por patógenos. Estas conversões metaplásicas do epitélio são influenciadas pela acidificação do pH vaginal e por traumas causados pela atividade sexual. Acredita-se que o epitélio metaplásico esteja associado com uma produção desregulada de receptores, moléculas de adesão e mediadores solúveis da resposta inflamatória, tais como citocinas, quimiocinas, prostaglandinas e fatores de crescimento. Essas moléculas podem não apenas exercer influência na diferenciação epitelial, mas pode também alterar a resposta imune antiviral local, favorecendo o estabelecimento do HPV. Entre os fatores que podem aumentar o risco de infecção pelo HPV, inclui-se a dinâmica da atividade da zona de transformação do epitélio da cérvice uterina, que se encontra com sua fisiologia alterada devido a metaplasia escamosa ativa. A pequena espessura do epitélio colunar nas adolescentes parece torná-las mais vulneráveis, porque permite o acesso do vírus às células da camada basal através 50 • Ciência Sempre 22 de uma ferida ou abrasão. Esta imaturidade relativa do epitélio do trato genital aumenta a sua propensão a traumas e inflamação, o que provavelmente facilita a infecção. Além das mudanças físicas, biológicas, emocionais e psicológicas experimentadas pelas mulheres adolescentes, também existem os comportamentos de risco para a sua saúde. As maiores taxas de prevalência e incidência da infecção pelo HPV nas adolescentes sexalmente ativas se devem, provavelmente, ao comportamento sexual e vulnerabilidade biológica. Os riscos são maiores durante os primeiros três anos de vida sexual ativa, ocorrendo muitas vezes a aquisição da infecção nos primeiros 18 meses após a menarca. Os comportamentos de risco e/ou vulnerabilidade biológica, tornam as adolescentes mais vulneráveis não apenas a infecção pelo HPV, mas também para a ocorrência da persistência viral. Contudo, ao mesmo tempo em que estão sob maior risco de adquirir a infecção pelo HPV, as adolescentes apresentam maior facilidade para se curar dessas infecções. Estudos longitudinais mostraram que quase todos os casos de infecção por HPV de baixo risco e dois terços das infecções por HPV de alto risco em adolescentes foram erradicadas no período de 24 meses, comprovado por meio de testes repetidamente negativos para HPV. Foi visto ainda que 92% dos casos de lesões de baixo grau em adolescentes regrediram no prazo de 36 meses sem qualquer tratamento, e apenas 3% dos casos evoluíram para lesões de alto grau. Considerando-se que a maioria das mulheres jovens que tiveram testes positivos para HPV por vários anos não desenvolveram lesões de alto grau, é provável que outros fatores, além da de persistência viral, sejam importantes para a progressão das lesões. O HPV infecta inicialmente as células estaminais do epitélio da cévice uterina, as quais ao se dividirem, passam uma cópia do genoma viral para as células filhas e estas, ao iniciarem o processo de diferenciação, ativam a expressão dos genes do vírus e inicia a replicação viral, que é dependente do grau de diferenciação celular. Deste modo, a montagem das partículas virais e liberação dos vírions só vão ocorrer nas camadas superiores do epitélio, onde as células atingiram o grau máximo de diferenciação. Como ao completar o processo de diferenciação as células do epitélio da cérvice uterina sofrem descamação, os vírus produzidos são eliminados juntamente elas. Assim, se a pessoa possui uma resposta imune capaz de eliminar a célula basal que está infectada, ocorre a cura. Se, no entanto, a resposta imune apresentar alguma falha e essa célula não for eliminada até no período máximo de dois anos, a cura não ocorre mais, e este individuo desenvolve a infecção persistente. Durante a fase aguda da infecção pelo HPV, o vírus se replica ativamente no epitélio da cérvice uterina, podendo provocar lesões caracterizadas como neoplasias intraepiteliais cervicais (NICs) de grau leve (NIC-1), ou moderado (NIC-2) que, na maioria das vezes, regridem espontaneamente, havendo resolução completa e eliminação do vírus. Assim, na maioria dos casos, a infecção pelo HPV é transitória, de pouca expressão clínica, e cura sem qualquer tratamento. Contudo, em uma parcela dos indivíduos as lesões regridem, mas o vírus permanece latente em algumas células da camada basal do epitélio, o que caracteriza a infecção persistente. Na infecção persistente por HPVs de alto risco, o vírus pode se manter em estado de latência por um longo período, sem apresentar qualquer lesão ou manifestação de sintomas. Eventualmente, o vírus é reativado e volta ao ciclo produtivo. A retomada da replicação viral no epitélio da cérvice uterina leva ao desenvolvemento de lesões, inicialmente, NIC-1 e NIC-2, que ainda podem regredir sem tratamento. No entanto, em algumas mulheres com NIC-2 a lesão progride para neoplasia intraepitelial cervical severa (NIC-3) que, se não for tratada, evolui para câncer invasivo. Essa progressão se dá nos casos em que, durante o estágio de NIC-2, ocorre a integração do DNA do vírus ao genoma da célula, que representa o evento chave da progressão para as lesões graves, incluindo as malignas. Após a integração do vírus ao DNA célula, não haverá mais produção de vírus, mas ocorre a perda do controle da expressão dos genes virais. Isso leva a uma superexpressão dos genes E5, E6 e E7, cujos produtos irão desencadear alterações nas células infectadas, ativando mecanismos que resultam em descontrole do ciclo celular. Isso acarreta instabilidade genômica na célula, o que aumenta o risco de ocorrência e acúmulo de mutações e, por consequência, de sofrer transformação maligna . Desde o ano de 2004, nosso grupo se dedica a estudar a prevalência do HPV em mulheres do Estado do Rio Grande do Norte, visando compreender a dinâmica da infecção por esse patógeno na população feminina local, no sentido de contribuir para a definição de políticas públicas voltadas para a sua prevenção. Analisamos casos da infecção genital pelo HPV em mulheres com citologia normal e com lesões da cérvice uterina de diferentes graus, incluindo câncer. Foram encontradas taxas globais de prevalência da infecção pelo HPV de 24,5% em mulheres com citologia normal, 58,5% naquelas com lesões de baixo grau, 77,6% nas que tinham lesões de alto grau, e de 87.8% nas mulheres com câncer. A maioria das mulheres infectadas que apresentava citologia normal ou lesão de baixo grau tinha menos de 35 anos. Dentre as mulheres com lesão de alto grau, a maioria tinha mais de 35 anos de idade. As maiores taxas de prevalência da infecção pelo HPV foram observadas nas mulheres solteiras, tanto naquelas com citologia normal, quanto nas que tinham lesões de baixo ou de alto grau. Além disso, o HPV16 foi o tipo mais Ciência Sempre 22 • 51 prevalente, independentemente da existência ou não de lesão e do grau em que elas se apresentavam, seguido dos HPVs 18 e 58. Foi observada, ainda, uma associação significativa entre HPV58 e lesões de baixo grau e entre HPVs 16 e 18 e lesões de alto grau. A ocorrência de lesões de alto grau mostrou-se associada, também, com a idade mais avançada, o início precoce da atividade sexual, o relacionamento sexual com múltiplos parceiros e tabagismo. Quando se comparou mulheres com citologia normal com aquelas que tinham alguma alteração da cérvice uterina atribuída ao HPV, mas sem especificar o tipo de lesão, constatou-se que a infecção por HPVs de alto risco aumentou quatro vezes o risco de ocorrência de lesão. O HPV16 foi o tipo mais prevalente e o que apresentou maior risco de lesão, seguido pelo HPV58. A ocorrência de lesões induzidas pelo HPV foi maior entre as mulheres solteiras e naquelas que tiveram múltiplos parceiros sexuais ao longo da vida. A infecção simultânea por mais de um tipo de HPV foi encontrada com maior frequência nas mulheres que apresentavam alterações citológicas, e a combinação mais frequente foi entre o HPV56 + HPV57. Comparando-se mulheres com citologia normal e com CCU, observou-se que a maioria das mulheres com citologia normal que se apresentaram infectada pelo HPV tinha até 30 anos de idade, era de etnia branca, casada, teve apenas um parceiro sexual e era não fumante. Entre as mulheres com câncer, a maioria tinha mais de 40 anos, era de etnia não branca, casada, teve múltiplos parceiros sexuais ao longo da vida e era fumante. A presença de HPVs de alto risco foi fortemente associada ao CCU. Constatou-se, ainda, que o risco de CCU era maior nas mulheres com mais de 50 anos, de etnia não branca, e que tiveram o primeiro intercurso sexual e a primeira gestação com idade entre 14 e 17 anos. Foi observado, também, que os HPVs dos tipos 16, 18 e 58 apresentaram associação significativa com a ocorrência de CCU. A infecção simultânia por HPV16 + HPV58 também aumentou o risco para a doença. A distribuição dos tipos de HPVs de alto risco, por ordem decrescente de prevalência foi HPV16 (58,5%), HPV58 (14,15), HPV18 (10,1%), HPV31 (5,8%), HPV45 (5,1%), HPV56 (4,3%) e HPV33 (3,6%). Estudos mostram que as taxas de prevalência dos diferentes tipos de HPVs variam de acordo com a localização geográfica, características 52 • Ciência Sempre 22 sócio-demográficas da população, gravidade das lesões e com o método utilizado para detecção e tipagem. Contudo, o HPV16 é o tipo mais prevalente, em qualquer parte do mundo, independentemente dessas variáveis. Para os outros tipos de HPVs, variações significativas são encontradas nos perfis de distribuição por ordem de prevalência nas diferentes populações e localizações geográficas. O conhecimento dos tipos de HPVs mais prevalentes em uma deterninada região é de fundamental importância para a análise do custo benefício da implantação de programas de vacinação contra HPV, bem como para estimar o impacto esperado em termos de redução da incidência das doenças associadas ao HPV na população após a vacinação. Atualmente estão disponíveis duas vacinas contra HPV. Uma bivalente para HPV16 e 18, que são os tipos mais comuns nos casos de câncer, e uma quadrivalente para os HPVs 6, 11, 16 e 18 que contempla os dois tipos mais comuns, em verrugas anogenitais, e os dois mais comuns no CCU. Considerando-se que os HPVs 16 e 18 juntos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de CCU, deduz-se que embora seja muito eficiente, a vacina bivalente não protege contra todos cânceres associado ao HPV. O mesmo raciocínio vale para a vacina quadrivalente, mas com uma diferença: ela também induz proteção para a maioria dos casos de verrugas anogenitais. Portanto, nenhuma das duas vacinas induz proteção total contra as doenças associadas ao HPV. Além disso, essas vacinas não oferecem proteção contra a reativação do vírus nas pessoas que já tinham sido infectadas antes de ser vacinada e são portadoras do vírus na forma persistente. Vale salientar que, embora as vacinas contra HPV sejam capazes de induzir imunidade protetora contra os tipos do vírus que entram na sua composição em virtualmente todos os indivíduos vacinados, essa proteção é limitada para os tipos de HPVs que não estão incluídos. Diante disso, é importante enfatizar que, mesmo se sabendo da eficiência das vacinas, é importante que as mulheres vacinadas continuem fazendo o teste de rastreamento do CCU. Por outro lado, as altas taxas de prevalência do HPV58 encontradas em vários estados do Brasil indicam que seria importante a inclusão desse tipo de HPV na composição de futuras vacinas, especialmente aquelas direcionadas para as mulheres brasileiras. BIBLIOGRAFIA 1. de Sanjosé S, Diaz M, Castellsagué X, et al. Worldwide prevalence and genotype distribution of cervical human papillomavirus DNA in women with normal cytology: a meta-analysis. Lancet Infec Dis. 2007;7(7):453–459. 2. Fernandes JV, Araújo JMG, Fernandes TAAM. Biology and natural history of human papillomavirus infection. Open Access Journal of Clinical Trials;5: 1–12, 2013. 3. Fernandes JV, Meissner RV, Carvalho MGF, Fernandes TAAM, Azevedo PRM, Azevedo JWV, Araújo JMG. Human papillomavirus prevalence in women with normal cytology and with cervical cancer in Natal, Brazil. Molecular Medicine Reports; 4: 1321-1326, 2011 4. Fernandes JV, Meissner RV, Carvalho MGF, Fernandes TAAM, Azevedo PRM, Sobrinho JS, Prado JCM, Villa LL. Prevalence of human papillomavirus in archival samples obtained from patients with cervical pre-malignant and malignant lesions from Northeast Brazil. BMC Research Notes; 3:96, 2010. 5. Fernandes TAAM, Meissner RV,Bezerra LF, Azevedo PRM, Fernandes JV. Human papillomavirus infection in women attended at a cervical cancer screening service in Natal, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology; 39:573-578,2008. Sobre O autorE José Veríssimo Fernandes é doutor em Microbiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; professor associado do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenador da pesquisa. Magda Dimenstein 1. Pesquisa aprovada pelo CEP/ HUOL (protocolo 330/09) e financiada pelas agências de fomento CNPq (Edital Ciências Humanas e Sociais/2010) e FAPERN (PPSUS III). Introdução O presente trabalho versa sobre a pesquisa Rede de Atenção Integral à Crise e Estratégias de Acolhimento com Classificação de Risco em Saúde Mental 1 desenvolvida nas instituições de saúde do município de Natal. No Brasil, o desafio posto atualmente está não só na desconstrução do paradigma manicomial que sustenta as práticas de atenção em saúde mental, mas especialmente, na reorganização de uma rede de cuidados a partir de uma articulação da rede SUS como um todo e, nesse sentido, o CAPS III, os hospitais gerais e de emergência, bem como o Serviço de Atenção Móvel de Urgência/SAMU e Pronto-Atendimentos/UPAs, têm lugar de destaque. A Organização Mundial da Saúde/OMS, na 65a Assembleia Mundial de Saúde, ocorrida em maio de 2012, reconheceu que além dos danos à saúde provocados pelas doenças crônicas não transmissíveis, como os transtornos mentais, há consequências sociais e econômicas de longo alcance. Nesse contexto, a atenção à crise psiquiátrica ganha bastante relevo. Diversos países têm se preocupado em elaborar propostas Ciência Sempre 22 • 53 Sylara Silvério Rede de atenção integral à crise e estratégias de acolhimento com classificação de risco em saúde mental de intervenção para esses momentos críticos por considerar que a rapidez da atenção e a forma de manejo dessas situações são decisivas para dar uma resposta eficaz e assim evitar hospitalizações, sofrimento e, por consequência, cronificação. Dessa forma, o tipo de abordagem dirigida à crise pode ser um fator de proteção se “ayudar al paciente a estabilizar y reajustar su situación psicopatológica y a posibilitar la recuperación de su nivel de funcionamento” (s/n) 2. Conforme a Política Nacional de Saúde Mental move-se em direção ao fornecimento de cuidados integrais a usuários em sofrimento psíquico agudo, tornam-se necessários a ampliação dos entendimentos acerca da crise psiquiátrica e a elaboração de formas eficazes para seu manejo nos hospitais gerais e de emergência, ProntoAtendimentos, CAPS III e SAMU. Nesse sentido, ETAPAS DA COLETA DE DADOS realizamos uma pesquisa com o intuito de investigar a configuração e funcionamento da rede assistencial de atenção à crise psiquiátrica em Natal. Tal estudo buscou identificar os fatores associados às barreiras em termos de implantação e expansão dessa rede que envolve CAPS III, SAMU, ProntoAtendimentos, Leitos de atenção integral em saúde mental em hospitais gerais e de emergência, bem como a relação desses dispositivos com o Hospital Psiquiátrico João Machado. Além disso, identificar os modos de acolhimento atuais dados ao paciente psiquiátrico nos diversos serviços que compõem a rede local. Participaram da investigação 137 profissionais de saúde (16 gestores e 121 técnicos) vinculados aos CAPS, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Unidades de ProntoAtendimento (UPA), Hospitais Gerais e Hospital Psiquiátrico, assim distribuídos: SERVIÇOS PESQUISADOS ENTREVISTAS REALIZADAS (n = 137) ETAPA I (n = 63) Serviços da rede substitutiva de saúde mental 01 CAPS III, 01 CAPS II/Oeste 01 CAPS ad/Norte 01 CAPS ad/Leste 27 13 12 11 ETAPA II (n = 41) Rede de Pronto-Atendimento 3 e SAMU UPA- Pajuçara UPA- Mãe Luísa UPA- Satélite SAMU 12 11 12 06 ETAPA III (n = 33) Rede hospitalar de urgência e emergência e Hospital psiquiátrico Hosp. Universitário Onofre Lopes/HUOL Hosp. Pedro Bezerra/Santa Catarina Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel Hosp. Psiquiát. Dr. João Machado/HJM 09 10 05 09 PERFIL DOS técnicos E GESTORES de saúde participantes da investigação A maioria dos nossos participantes é de mulheres, jovens, com média de idade entre 33 e 40 anos, concursada e com vários vínculos empregatícios. Estudos nacionais 4 demonstram que a saúde pública tem se tornado um espaço de concentração de trabalho feminino e assalariado 5. Ou seja, temos observado no país uma feminização do cuidado em saúde, bem como o fato do trabalho assalariado se constituir a 54 • Ciência Sempre 22 principal forma de inserção de muitas categorias, dentre as quais destacamos a enfermagem e a psicologia, tradicionalmente femininas. Esses estudos também mostram que pelo fato da precariedade ter sempre estado associada ao trabalho feminino, nota-se que questões como remuneração, condições de trabalho, dentre outras, apresentam-se problemáticas quando se trata da saúde pública. Em função disso, observase a busca por mais de um vínculo de trabalho, de forma a garantir uma remuneração considerada justa e adequada às necessidades. 2. Plan de Atención Social a personas con enfermedad mental grave y crónica. Comunidad de Madrid. http://www.madrid.org/cs/ Satellite?blobcol=urldata&blobh eader=application%2Fpdf&blob headername1=Content-Disposit ion&blobheadervalue1=filename %3DPresent + Resumen + EVA LUACION+FINAL+PLAN+AT+ SOC+2003+2007.pdf&blobkey =id&blobtable=MungoBlobs&bl obwhere=1271763073967&ssbi nary=true 3. UPA – Unidade de Pronto Atendimento: são estruturas intermediárias entre atenção primária e hospitais em municípios maiores. 4. Brito, Jussara Cruz de. (2000). Enfoque de gênero e relação saúde/trabalho no contexto de reestruturação produtiva e precarização do trabalho. Cadernos de Saúde Pública, 16(1), 195-204. Recuperado em 16 de setembro de 2012, de http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-311X2000 000100020&lng=pt&tlng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2000000100020. Silva, Amanda Aparecida, Rotenberg, Lúcia, & Fischer, Frida Marina. (2011). Jornadas de trabalho na enfermagem: entre necessidades individuais e condições de trabalho. Revista de Saúde Pública, 45(6), 11171126. Recuperado em 16 de setembro de 2012, de http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-89102011000600014&lng=pt&tl ng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/ S0034-89102011000600014. LUIZ, Ronir Raggio; BAHIA, Lígia. Renda e inserção profissional dos médicos brasileiros após instituição do Sistema Único de Saúde. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 43, n. 4, ago. 2009. Disponível em <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-89102009000400016&lng=p t&nrm=iso>. acessos em 16 set. 2012. Epub 17-Jul-2009. http://dx.doi.org/10.1590/S003489102009005000045. 5. Lopes, Marta Júlia Marques, & Leal, Sandra Maria Cezar. (2005). A feminização persistente na qualificação profissional da enfermagem brasileira. Cadernos Pagu, PRINCIPAIS ACHADOS DA INVESTIGAÇÃO 1. Configuração e Funcionamento da Rede de Atenção à Crise Psiquiátrica Há na capital potiguar uma concentração dos componentes que compõem a rede de atenção à crise em uma área determinada da capital: zona leste. Essa área é a menos populosa de Natal, a que apresenta melhores condições de infraestrutura urbana, transporte, de saneamento básico, índices epidemiológicos, serviços de saúde público e privados, ou seja, é a que é ocupada pelas classes média-alta e alta de Natal. Isso tem consequências importantes. A modelagem das redes de atenção à saúde, segundo Mendes (2007)6, precisa levar em consideração alguns elementos. Em primeiro lugar, deve-se ter clara a população usuária, em seguida, os serviços disponíveis e, por fim, o modelo de atenção à saúde que articula pessoas e equipamentos. Para esse autor, é necessário utilizar variáveis como perfil demográfico e epidemiológico da população para a definição do modelo de atenção e para a estruturação das redes de atenção à saúde. A configuração observada em Natal demonstra alguns pontos de estrangulamento. Em primeiro lugar, há um reduzido número de serviços que prestam atenção à crise psiquiátrica. Segundo, a estruturação da rede não levou em conta o perfil demográfico e epidemiológico da população para a abertura dos serviços substitutivos em saúde mental e das UPAS. Assim, a localização geográfica de quase todos os serviços dificulta o acesso para a maioria dos usuários que frequenta os serviços de saúde mental do SUS, os quais são oriundos, principalmente, da zona norte da cidade. Isso significa que se trabalha por oferta e não de acordo com as necessidades da população, aspecto que vai totalmente de encontro ao princípio de construir redes integradas, solidárias, responsivas e resolutivas. Em terceiro lugar, não existem de unidades de saúde tipo CAPS III nas demais regiões da cidade, deixando essa população sem retaguarda, obrigada a recorrer ao hospital psiquiátrico, que é o centro de comunicação da rede e concentra as demandas de todas as áreas da cidade. Mesmo com a existência de um hospital geral e uma UPA na zona norte, esses serviços não atendem situações de crise psiquiátrica como deveriam operar, redirecionando os casos para o HJM. A função de atendimento dos casos graves e das crises pelos CAPS II, ainda não foi incorporada ou não tem o consenso em muitos locais e serviços. Se as redes são constituídas para produzir resultados sanitários, funcionando de acordo com um sistema lógico, com a situação demográfica e epidemiológica, nota-se que o desenho em curso em Natal, tem produzido resultados insatisfatórios. Outro aspecto identificado é que há problemas com relação às definições das demandas atendidas por cada um, sobretudo no tocante à diferenciação entre “dependência química” e “transtorno mental”, bem como em relação à territorialidade no sentido puramente geográfico. Identificamos, portanto, três grandes problemas na articulação entre esses serviços: 1) Falta de acordos no sentido do que deve ou não ser encaminhado pelo SAMU para o CAPS III; 2) Falta de acordos acerca do encaminhamento do usuário que não possui informações, contato ou presença de familiares; 3) Equívocos em relação ao aspecto territorial. Tais questões implicam em restrição da demanda e consequente fragmentação das respostas. Detectamos propostas terapêuticas desconectadas entre si e não eficazes no acolhimento e sustentação da crise. Quais as consequências disso? O CAPS III, único em Natal, não atende a cidade como um todo, apenas os distritos leste e sul, além dos usuários do CAPS Oeste. Assim, não há atendimento de urgência para residentes do Distrito Norte, parte da população que mais busca os serviços de atenção à crise. Para eles resta o atendimento na Unidade de Pronto-atendimento deste distrito e o próprio Hospital Psiquiátrico. Além disso, os casos de abuso de álcool e outras drogas são encaminhados para o CAPSad, em função da diferenciação entre esses casos e os de transtornos mentais graves e persistentes. Nota-se, dessa forma, que há no CAPS III uma restrição importante em relação à demanda que pode ser atendida. Logo, o lugar que a crise psiquiátrica ocupa na assistência revela uma crise nela própria no sentido de confrontar o limite de cada serviço em responder de forma resolutiva e eficiente a algo que demanda a criação de uma complexidade de instrumentos e ações por parte das equipes. Em outras palavras, observamos que o Hospital Psiquiátrico é o ponto de atenção mais requisitado da rede. Ele recebe casos oriundos de todos os outros serviços, na maior parte das vezes através do SAMU. O CAPS III, que deveria estar fortalecido nessa rede, ainda não tem conseguido atender uma demanda considerável de casos de urgência e produzir uma assistência (24), 105-125. Recuperado em 16 de setembro de 2012. http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-83332005000100006&lng=pt& tlng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/S010483332005000100006. 6. Mendes, E.V. (2007). Modelagem das redes de atenção à saúde. Belo Horizonte: secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. http://www.saude.es.gov.br/ download/A_MODELAGEM_DAS_ REDES_DE_ATENCAO_A_SAUDE.pdf Ciência Sempre 22 • 55 diferenciada, com curta internação e continuidade de cuidados. Atuar como principal porta de entrada para casos de crise e diminuir o número de internações, iniciando um processo paulatino de substituição do hospital psiquiátrico, ainda não é uma realidade no município de Natal. O CAPS III tem conseguido, no máximo, ser uma estrutura acoplada ao hospital psiquiátrico, diminuindo sua superlotação e, portanto, colaborando na disponibilização de vagas. “Convivem com a internação, sem substituí-la, e acabam por confirmar sua necessidade” (Costa, 2007, p.97). Em relação ao cuidado prestado pelo SAMU, observamos que há uma enorme resistência em atender os casos de pessoas em sofrimento mental agudo e, atrelado a isto, há em geral a utilização corrente de procedimentos que trazem a marca dos métodos clássicos empregados costumeiramente pelos hospitais psiquiátricos, bastante semelhantes à tortura, como a imobilização mecânica usada como punição. Em Natal, para atender urgências psiquiátricas, foi criada uma equipe específica para atender casos de saúde mental, ao invés de qualificar a equipe já existente no SAMU. Entretanto, funciona em horário (apenas à noite e em finais de semana) e em condições restritas (número reduzido de ambulâncias). 2. Formas de acolhimento e cuidado ao usuário em crise Em relação ao acolhimento ao usuário em crise psiquiátrica confirmamos a ausência de condutas claras e distribuição de responsabilidades na rede, contrariando todas as diretrizes internacionais. Percebemos diferenças no modo de conceber e realizar o acolhimento à crise psiquiátrica nos diferentes serviços pesquisados, seja em função do perfil do serviço, seja em função do papel que este desempenha na rede de saúde local. Nos CAPS II, o discurso da crise como uma situação que necessita de cuidados médicos intensivos justifica a conduta de não receber usuários em crise principalmente se ainda não é usuário do serviço. Tanto nos pronto-atendimentos quanto nos hospitais gerais, os usuários em crise psiquiátrica são sempre vistos como aqueles que geram tumulto no ambiente e na própria equipe, precisam de mais atenção, gerando a necessidade de um profissional para uma observação mais 56 • Ciência Sempre 22 constante. Predomina o discurso de que o pronto-atendimento não é o local ideal para o atendimento da crise psiquiátrica por não contar com um especialista dessa área, dispor de poucos medicamentos injetáveis e de local adequado para o atendimento. A conduta é baseada, sobretudo, na contenção e sedação para estabilizar a pessoa de forma imediata para posterior encaminhamento. Os vários serviços de urgência de hoje herdaram a herança manicomial dos hospitais psiquiátricos, especialmente no que diz respeito à organização do trabalho e das condutas terapêuticas centradas na figura do psiquiatra. Assim como nas unidades de pronto-atendimento, nos hospitais gerais não há atendimento apropriado à crise psiquiátrica. O fato dos hospitais não se responsabilizarem pelo manejo da crise aponta para problemas da rede assistencial local em relação às propostas da Política Nacional de Saúde Mental, embora não destoem da realidade nacional. A escassez de estudos acerca de modalidades de atenção às urgências/emergências psiquiátricas denota uma histórica negligência que o processo de reorientação da assistência designou aos usuários em situação de crise (Barros et al, 2010). Não houve, no caso específico das emergências, uma preocupação em formar equipes e espaços de atendimento agregados a serviços de saúde pública e consoantes aos princípios da reforma, tampouco integrados aos serviços extra hospitalares, relegando os usuários em crise às unidades de emergência localizadas em hospitais psiquiátricos. Já os hospitais gerais, que deveriam atender urgência das mais variadas especialidades, não o fazem porque primeiramente não possuem estrutura mínima que garanta o suporte à crise. Em segundo lugar, porque há o entendimento pelos profissionais de que tais recursos não devem se destinar ao acolhimento integral e intensivo de crise. Por fim, não há na política de saúde mental local um planejamento de rede que reoriente as urgências psiquiátricas para esses lugares, os quais deveriam ser dotados de Leitos de Atenção Integral específicos para a saúde mental. 3. Critérios diagnósticos para a crise psiquiátrica Não há, dentre os profissionais dos hospitais investigados, concordância quanto à definição de crise. Observa-se que os modos de reconhecimento dos quadros de urgência psiquiátrica derivam das diferentes definições de crise assumidas na prática de cada profissional. Apresentar grave sintomatologia psiquiátrica foi o ponto destacado pelos profissionais como critério de definição da crise psiquiátrica, concepção que redunda em formas de acolhimento que visem à atenuação de episódios agressivos e de agitação psicomotora. Observou-se a ausência nos serviços investigados de protocolos organizados de atenção à crise. Há poucas concordâncias nas respostas obtidas quanto às formas de acolhimento, os critérios diagnósticos para identificação dos quadros de agudização do sofrimento psíquico e a aferição dos riscos apresentados pelos usuários com transtornos mentais. Além disso, a maioria dos entrevistados relata a necessidade do médico como figura essencial para fazer a avaliação da crise psiquiátrica e decidir quais condutas serão realizadas, indicando a presença de referências próprias ao modelo asilar em que o médico é o protagonista da atenção em detrimento da atenção em equipe interdisciplinar. De modo geral, também fica evidente a resposta padronizada diante da crise tão distinta em cada usuário e a cada momento, sem que esteja explicita a existência de um protocolo específico para a conduta. 4. dificuldades apontadas pelos profissionais • Serviços substitutivos: falta de capacitação continuada e de supervisão. Além disso, muitos profissionais são contratados sem qualquer contato prévio com a saúde mental. • Nas UPAs, a chegada do usuário em crise psiquiátrica gera tumulto no ambiente e na própria equipe. Há carência de recursos materiais, os quais contemplam desde leitos que permitam contenção até medicamentos psicotrópicos. • Em relação ao HJM, a quantidade de internações realizadas ultrapassa a capacidade de atendimento do hospital, produzindo um descompasso, que vem se ampliando continuamente, na adequação dos recursos humanos e materiais às crescentes solicitações de internação. As insalubres condições de tratamento que daí decorrem são apontadas por todos os entrevistados: pacientes são internados em leitos-chão e na ausência de equipamento apropriado, utilizam-se lençóis rasgados na contenção; no pronto-socorro o número de técnicos é desproporcional ao de pacientes (cabendo a 3 ou 4 profissionais o cuidado de 70 pessoas em intensa fragilidade subjetiva); os leitos não contam com aparelhagem requerida aos demais hospitais para o atendimento emergencial de intercorrências clínicas; inexiste local para a acomodação dos acompanhantes, e o pouco e desorganizado espaço dificulta a circulação. • Os hospitais gerais indicam a falta de recursos e condições de segurança requeridas ao tratamento e à realização dos procedimentos emergenciais de contenção. • Em toda a rede falta capacitação e treinamento profissional para qualificar o trabalho frente aos casos de crise psiquiátrica. Há dificuldades no emprego adequado das técnicas de contenção e na condução emergencial em termos farmacológico. Não há conhecimento acerca dos critérios clínicos para o diagnóstico e caracterização dos quadros psicopatológicos, bem como sobre etiologia, disfunções decorrentes, possíveis efeitos comórbidos e prognósticos. Considerações Finais O cenário atual da assistência em saúde mental no país, de forma geral, revela os seguintes problemas: (1) dificuldades na integração social da população com transtornos mentais graves e crônicos; (2) sobrecarga de atribuições, acompanhada da consequente deterioração dos vínculos de cuidado produzida nas famílias que deveriam receber os egressos pela falta de preparo prévio e suporte comunitário; (3) insuficiente repasse de recursos financeiros, humanos e materiais para o desenvolvimento satisfatório da rede substitutiva e dos leitos de atenção integral em hospitais gerais, somado à falta de capacitação das equipes de saúde e à baixa interação dos serviços comunitários e hospitalares de assistência com os setores culturais, políticos e educacionais da sociedade. Tais fatos vêm produzindo espaços lacunares na atenção ao usuário em crise, vazios para os quais a principal resposta da rede de saúde, especialmente em Natal, tem sido o encaminhamento ao hospital psiquiátrico. As dificuldades de fechamento de hospitais psiquiátricos no país devem-se, em grande parte, à ineficiência de serviços que deem suporte à crise. Assim, os manicômios continuam ocupando um lugar central em função na inexistência desses dispositivos e tendo sua existência justificada socialmente. Ciência Sempre 22 • 57 58 • Ciência Sempre 22 rante e após episódio de crise e hospitalização. Portanto, a precariedade e desarticulação da rede assistencial em saúde mental no município são uma evidência e um problema com o qual precisamos nos preocupar e investir na formulação de estratégias visando à efetivação dos princípios da integralidade, resolutividade, a intersetorialidade das políticas e uma atuação territorial. Isso nos leva a concluir que Natal não apresenta, no momento, “capacidade de responder às situações de crise e demandas emergenciais - dependente de uma boa articulação da SM com os demais serviços de saúde, especialmente de urgência e emergência e a presença efetiva de leitos de atenção integral em saúde mental (LAISM – CAPS III, HG, emergência em HG) - além de integração eficaz com rede de suporte social” (MS, 2009, p.25)8. 7. Estratégia de Saúde da Família e Núcleo de Apoio à Estratégia de Saúde da Família 8. Brasil. Ministério da Saúde (2009). Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde mental no SUS: acesso, eqüidade, qualidade. Desafios para consolidar a mudança do modelo. Relatório de gestão 2008. Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool & Outras Drogas. Brasília, janeiro de 2009 (versão preliminar 1, fechada em 09/01/2009). 58p. http://portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/relatorio_gestao_ sas_2008.pdf Sobre a autora Magda Dimenstein é professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia/UFRN, orientando alunos de Mestrado e Doutorado. Bolsista 1B do CNPq. É membro do GT/ANPEPP - Políticas de Subjetivação e Invenção do Cotidiano. Sylara Silvério Hoje, em Natal, dispomos de uma Rede de Atenção Psicossocial/RAPS claramente precarizada. A pesquisa mostrou que há diversos pontos de estrangulamento na rede local, a saber: a. Número limitado de serviços que atendem urgências psiquiátricas; b. Número restrito de leitos de atenção integral nos hospitais gerais; c. A estruturação da rede local não levou em conta o perfil demográfico e epidemiológico da população para a abertura dos serviços substitutivos em saúde mental e das UPAS; d. Há concentração de serviços no Distrito Sanitário Leste da cidade; e. A rede local de atenção à crise está constituída fundamentalmente pelo CAPS III, SAMU e Hospital Psiquiátrico. Apesar da expansão observada na cobertura do CAPS III fica evidente que o HJM é o polo mais forte, reforçando a atual configuração hospital-centrada. Esse quadro se agrava pela falta de co responsabilização dos CAPS II, CAPSad e UPAs que trabalham na lógica do encaminhamento para o HJM via SAMU ou familiares; f. A função de atendimento dos casos graves e das crises pelos CAPS II ainda não foi incorporada ou não tem o consenso por parte das equipes em muitos locais e serviços; g. Nos Hospitais Gerais não há leitos adequados para o atendimento à crise, além de escassez de psicofármacos, falta de clareza quanto aos critérios clínicos de diagnóstico e desarticulação com a rede de saúde; h. Observou-se fragmentação do processo de trabalho com centralidade do médico na construção das propostas de cuidado e manejo terapêutico da crise e encaminhamento sistemático dos pacientes para o HJM; i. Falta de comunicação entre equipes dos diferentes serviços que compõem essa rede impedindo o acompanhamento do paciente na rede; j. São precárias as ações de matriciamento com a atenção primária (ESF e NASF17); k. Não há diretrizes claras visando orientar as equipes quanto ao acolhimento, transporte adequado, critérios de hospitalização voluntária e involuntária, procedimentos durante a internação, orientação para contenção mecânica e farmacológica, critérios de alta, orientação à família du- Perfil Multidimensional de Idosos Atendidos por Equipes de Saúde da Família em Natal-RN Maria Célia de Carvalho Formiga Nilma Dias Leão Costa Kalline Fabiana Silveira Paulo César Formiga Ramos INTRODUÇÃO Sylara Silvério O envelhecimento populacional é uma conquista das novas gerações brasileiras nas últimas décadas, ocorrida como consequência do chamado processo de transição demográfica. Tal processo consiste numa recomposição etária da população pela redução dos grupos etários jovens (menores de 15 anos de idade) em decorrência da queda da fecundidade e aumento relativo do grupo mais idoso (60 anos e mais de idade). Um efeito positivo e inquestionável da transição demográfica é a redução no nível da mortalidade infantil e elevação na expectativa de vida ao nascer. Porém, o fator que mais contribui com o processo de envelhecimento da população é a queda da fecundidade (ALVES, 2002, 2008; WONG e CARVALHO, 2005). Ciência Sempre 22 • 59 Sylara Silvério A população brasileira de 60 anos ou mais, aumentou de 5,1%, em 1970, para 10,8%, em 2010. Tal percentual, segundo critério da OMS, a classifica como população envelhecida (superior a 7%). FORMIGA et al ( 2012), analisando a concentração de idosos segundo UF da região Nordeste, observa que é o estado da Paraíba que mais concentra pessoas idosas, 12,0% do total da UF, seguido pelos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Pernambuco e Bahia, com os valores percentuais de 10,8%, 10,8%, 10,6%, 10,6% e 10,3%, respectivamente. Esse rápido processo de envelhecimento tem gerado uma importante demanda para o sistema de saúde, configurando-se em grande desafio para as autoridades sanitárias, particularmente para a implantação de novos modelos e métodos de enfrentamento do problema (WONG e CARVALHO, 2006, GUEDES, 2006; BANDEIRA et al., 2006; CAMARANO, SMU/IPP/SMS, 2008; NASRI, 2008; MOSER, 2010; Brasil, 2010). Em vez de processos agudos que se resolvem pela cura ou pelo óbito, o que acontece é a predominância de doenças crônicas, acarretando custos elevados. Uma das mais importantes consequências do envelhecimento é a limitação na capacidade funcional da pessoa idosa, ou seja, na condição do indivíduo realizar com autonomia e/ou independência as tarefas diárias, condições estas fundamentais para o bem-estar do idoso (SANTOS et al., 2008). O envelhecimento bem sucedido, aquele com saúde geral, bem estar e autonomia preservada, tem se tornado um objetivo perseguido pela população (HELUANY, 2007). O Ministério da Saúde recentemente incluiu a saúde do idoso como item prioritário na agenda de saúde do país, promulgando uma nova política nacional de saúde da pessoa idosa, baseada no paradigma da capacidade funcional, que é abordada de maneira multidimensional (VERAS, 2009). Essa política objetiva, no âmbito do SUS, garantir atenção integral à saúde da população idosa, enfatizando o envelhecimento saudável e ativo e fortalecendo o protagonismo das pessoas idosas no Brasil (BRASIL, 2006). Cabe à gestão municipal da saúde desenvolver ações que objetivem a construção de uma atenção integral à saúde dos idosos. É fundamental organizar as equipes de Saúde da Família e a atenção básica, incluindo a população idosa em suas ações (por exemplo: atividades de grupo, promoção da saúde, hipertensão arterial e 60 • Ciência Sempre 22 diabetes mellitus, sexualidade, DST/AIDS). Seus profissionais devem estar sensibilizados e capacitados a identificar e atender às necessidades de saúde dessa população. O envelhecimento ativo e saudável compreende ações que promovem modos de viver favoráveis à saúde e à qualidade de vida, orientados pelo desenvolvimento de hábitos como alimentação adequada e balanceada, prática regular de exercícios físicos, convivência social estimulante, busca de atividades prazerosas e/ou que atenuem o estresse, redução dos danos decorrentes do consumo de álcool e tabaco e diminuição significativa da automedicação. Muitos destes pontos são abordados neste estudo, que teve por objetivo estabelecer um perfil multidimensional da população idosa atendida por equipes de saúde da família (ESF) em Natal-RN, estabelecendo associação entre variáveis sociodemográficas, epidemiológicas e as atividades da vida diária, mensuradas pela escala de avaliação funcional de Lawton, conforme apresentado a seguir. MATERIAL E MÉTODO A fonte de dados deste estudo foi oriunda da pesquisa “Perfil multidimensional da população idosa atendida nas unidades de saúde da família do distrito Oeste do município de Natal: uma contribuição para a atenção básica de saúde”, realizada em janeiro e fevereiro de 2011, em Natal-RN. A coordenação da pesquisa foi realizada por docente do Departamento de Estatística, pesquisadores do Grupo de Estudos Demográficos da UFRN e docente do Deptamento de Saúde Coletiva, atuante no do município de Natal, região Nordeste do Brasil. A entrevista foi realizada usando um questionário de múltiplas respostas, abrangendo variáveis sociodemográficas, socioeconômicas, hábitos de vida, dados relativos ao estado de saúde geral, nível de independência do idoso, avaliação cognitiva e testes de equilíbrio e marcha, utilizando escalas reconhecidas nacionalmente e indicadas no “Caderno de Atenção Básica – Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa”, disponibilizado pelo Ministério da Saúde (2006). Este questionário incorporou o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, exigido pelo Comitê de Ética. O nível de independência do idoso foi avaliado através das escalas de Katz e Lawton, averiguando as atividades básicas e instrumentais da vida diária, respectivamente. Para identificação dos sinais de deficiência ou falência de memória, utilizou-se testes cognitivos que constam do mini exame do estado mental e da escala de depressão geriátrica abreviada. A avaliação do equilíbrio e da marcha foi realizada através de testes de equilíbrio ao caminhar. Foram analisadas, também, as medidas antropométricas relativas ao peso e à altura e aferição da pressão arterial. Os dados foram submetidos à uma análise descritiva exploratória, empregando-se testes de Hana Dourado PET/Saúde/UFRN. A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética da UFRN e recebeu financiamento através do edital pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em saúde – PPSUS III MS/CNPq/FAPERN/SESAP – Nº 011/2009. Trata-se de um estudo transversal de base populacional, que incluiu, em sua área geográfica de abrangência, idosos atendidos em Unidades de Saúde da Família (USF) dos distritos Oeste, Norte e Leste. Contou com uma amostra não probabilística, totalizando 1068 idosos, dimensionada proporcionalmente ao total de idosos atendidos em cada uma das USF de cada distrito. Os idosos foram entrevistados em sua própria residência, por estudantes bolsistas (regulares e voluntários) da área da saúde, devidamente treinados. Usou-se como fatores de inclusão o fato dos idosos terem 60 anos ou mais, serem inscritos nas áreas de abrangência das Unidades de Saúde da Família localizadas nos distritos especificados (Oeste - Cidade Nova, Nova Cidade, Nazaré, Felipe Camarão II, Felipe Camarão III e Guarapes; Norte -: Santarém, Vale Dourado, Cidade Praia e Leste: Aparecida), desde que fossem moradores do bairro há mais de um ano e que tivessem sob acompanhamento dos profissionais de saúde das Unidades Básica de Saúde (UBS), com atuação do PET-Saúde Ciência Sempre 22 • 61 associação de qui-quadrado de Pearson, com um nível de significância de 5%. A variável dependente ou desfecho foi a escala de avaliação funcional de Lawton (classificada em duas categorias: Dependente ou Independente), investigando-se sua associação com as variáveis que formararam o perfil sociodemográfico e epidemiológico, quais sejam: perfil sociodemográfico (sexo, idade - idosos Jovens: 60-69, idosos Médios: 70-79 anos e idosos Velhos: 80 anos e mais), estado civil (casado/unido, viúvo, solteiro, separado), escolaridade (alfabetizado ou não alfabetizado), cor da pele (branca, preta ou parda); perfil epidemiológico: sinais de depressão (sim ou não), distúrbios visuais (sim ou não), doença crônica (sim ou não), risco de queda (sim ou não), fumo (sim, não, parou), bebida. RESULTADOS E DISCUSSÃO O perfil sócio demográfico dos 1068 idosos entrevistados mostrou que 70% eram do sexo feminino, proporção expressiva, explicada pela mortalidade diferencial por sexo, contribuindo para o aumento da expectativa de vida ao nascer da população feminina. Resultado esperado, levando-se em consideração que a razão de sexo idosa, no município de Natal, é em torno de 60%, fato explicado pela prevalência de mulheres ter se tornado mais expressiva ao longo das décadas (CAMARANO, 2004). Quanto à idade, percebeu-se que 53,3% dos idosos entrevistados são considerados idosos jovens, mostrando uma distribuição etária rejuvenescida para esses idosos, predominando as idosas do sexo feminino em todos os grupos etários (Gráfico 1). Gráfico 1 Distribuição dos idosos entrevistados, segundo faixa etária e sexo, 2010. Masc Fem 73,4% 71,6% 28,4% 60 - 70 67,1% 32,9% 26,6% 71 - 80 81 e mais Fonte: Pesquisa Grupo PET-Saúde/UFRN, GED/DEST/UFRN Com relação à raça/cor dos entrevistados, 37% se declararam como brancos, 50% pardos e o restante negros, mostrando que a população atendida pelas ESF de Natal apresenta maior número de pardos, que pode ser explicado pelo fato de a população que utiliza esse tipo de serviço ser mais carente, 62 • Ciência Sempre 22 característica que sofre grande influência da raça/cor. Com respeito à escolaridade, percebeu-se que a maioria dos idosos (34,7%) tem entre 2-4 anos de estudo e 16% menos de um ano, mostrando um baixo índice de escolaridade entre esses idosos, uma vez que 50,7% são considerados analfabetos Sylara Silvério BIBLIOGRAFIA ALVES, J.E.D. A Polêmica Malthus versus Condorcet reavaliada à luz da transição demográfica. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Ciências Estatísticas-ENCE, 2002. 56 p. (Textos para discussão. ENCE, ISSN 1677-7093; n.4) ALVES, J.E.D. 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Quando se trata da existência de alguma doença crônica que tenha durado ou vai durar mais de 1 ano, 88% responderam que possuem ou já tiveram alguma, 11% disseram que não e o restante respondeu que não sabe ou não lembram. Corroborando com WU et al, 2003, que mostra que grande parte dos idosos apresenta, pelo menos, uma doença crônica, embora isso não signifique limitação ou dependência. A presença de doenças crônicas, seu controle e inúmeros fatores podem ser determinantes da qualidade de vida. Dentre os entrevistados, as principais queixas de doenças foram hipertensão (76%), dor nas costas (47%), colesterol elevado (35%), catarata (32%) e diabetes (31%). A pesquisa mostrou que, quanto ao fumo, o total dos que assumem que fumam é relativamente baixo entre os entrevistados (17,9%) e 38% disseram que fumavam, mas pararam. A grande maioria dos idosos afirma que não fi- zeram uso de bebida alcoólica (64,4%), enquanto que os que afirmaram que bebiam, mas pararam de beber corresponde a 23,7%, sendo 11,3% o total dos que se assumiram usuários do álcool. Estudos apontam que os riscos do consumo do álcool no organismo são diversos, desde perda de massa muscular, prejuízos ao cérebro, hipertensão, comprometimento do fígado, predispondo o indivíduo a importantes alterações na capacidade visual e cognitiva, causando sofrimento pessoal, familiar e alto custo social (SENGER et. al., 2009). Além disso, exacerbam as doenças crônicas mais comuns no idoso, como problemas no coração, diabetes, artrite e câncer. (LEITE, 2010). A Escala de Lawton (EL) é um instrumento de avaliação das Atividades Instrumentais da Vida Diária/AIVD, que analisa a capacidade funcional da pessoa idosa, enquanto indicador de saúde e bem-estar, sendo possível determinar se o indivíduo pode viver sozinho. Neste estudo, o idoso foi considerado independente quando o valor da escala foi maior ou igual a 22. A mediana do grupo ficou em 26, mostrando que os idosos entrevistados apresentavam independência na realização de atividades cotidianas, pois o valor máximo da escala é 27. Um total de 648 idosos responderam o questionário avaliativo da EL - 75% desses apresentando independência, fato muito positivo para os idosos entrevistados, uma vez que a mobilidade é muito importante para a manutenção e autonomia do idoso e influencia diretamente em sua qualidade de vida. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde do Idoso. [Online] Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Portaria nº 2.528/GM de 19 de outubro de 2006. Diário Oficial da União, 2006. Disponível em: http:// portal.saude.gov.br/portal/saude/ visualizar_texto.cfm?idtxt=26466. [Acesso em: 06.07.2009]. CAMARANO, A. A., MEDEIROS, M. Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: Ipea, 1999. Cap. 1, p. 25-76. 2004. 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Tours, 2005 64 • Ciência Sempre 22 Tabela 1 Distribuição dos idosos por grau de independência na escala de Lawton, segundo variável sociodemográficas e de avaliação funcional, Natal, 2011. DEPENDENTE INDEPENDENTE TOTAL N % N % N % Sexo 161 100,0 484 100,0 645 100,0 Masculino 40 24,8 149 30,8 189 29,3 Feminino 121 75,2 335 69,2 456 70,7 Raça 162 100,0 486 100,0 648 100,0 Branco 68 42,0 193 39,7 261 40,3 Pardo 77 47,5 215 44,2 292 45,1 Preto 17 10,5 78 16,0 95 14,7 Situação Conjugal 162 100,0 486 100,0 648 100,0 Casado 64 39,5 251 51,6 315 48,6 Viuvo 70 43,2 129 26,5 199 30,7 Separado 16 9,9 49 10,1 65 10,0 Solteiro 9 5,6 47 9,7 56 8,6 Amasiado 3 1,9 10 2,1 13 2,0 Alfabetização 162 100,0 483 100,0 645 100,0 Alfabetizado 60 37,0 290 60,0 350 54,3 Não alfabetizado 102 63,0 193 40,0 295 45,7 Idade 156 100,0 475 100,0 631 100,0 Idoso jovem 46 29,5 281 59,2 327 51,8 Idoso velho 110 70,5 194 40,8 304 48,2 Status Depressivo 160 100,0 484 100,0 644 100,0 Depressão 67 41,9 125 25,8 192 29,8 Não depressão 93 58,1 359 74,2 452 70,2 Doença Crônica 162 100,0 481 100,0 643 100,0 Sim 150 92,6 420 87,3 570 88,6 Não 12 7,4 53 11,0 65 10,1 Não sabe/não lembra 0 0,0 8 1,7 8 1,2 Problema de visão 160 100,0 641 100,0 641 100,0 Sim 73 45,6 232 36,2 305 47,6 Não 87 54,4 249 38,8 336 52,4 Queda 157 100,0 465 100,0 622 100,0 Sim 56 35,7 167 35,9 223 35,9 Não 101 64,3 298 64,1 399 64,1 Fumo 162 100,0 477 100,0 639 100,0 Sim 39 24,1 77 16,1 116 18,2 Não 72 44,4 210 44,0 282 44,1 Parou 51 31,5 190 39,8 241 37,7 Bebiba 161 100,0 483 100,0 644 100,0 Sim 18 11,2 51 10,6 69 10,7 Não 102 63,4 322 66,7 424 65,8 Parou 41 25,5 110 22,8 151 23,4 p-valor 0,15142 0,22262 0,00186 0,00000 0,00000 0,00012 0,09837 0,56721 0,95583 0,07934 0,73425 Fonte: Pesquisa Grupo PET-Saúde/UFRN, GED/DEST/UFRN Hana Dourado A existência de associação entre as variáveis sociodemográficas e epidemiológicas, foi medida através de um teste qui-quadrado. Os resultados apontaram para uma associação entre a variável funcional, que mede a autonomia do idoso nas atividades da vida diária – AVDs, condição de dependência ou independência, pela escala de Lawton e algumas variáveis sociodemográficas e de avaliação funcional (Tabela 1). As associações estatisticamente significantes (p-valor<5%) ocorreram para as variáveis Idade (p-valor< 0,0001), Estado Civil (p-valor=0,0019), Alfabetização (p-valor<0,0001) e Depressão (p-valor=0,0001). Resumindo, o fato de ser um idoso jovem (menor de 70 anos), alfabetizado e não depressivo mostrou proteção contra a dependência funcional. Ser casado também apresentou associação, o que pode refletir a existência de um suporte familiar para o alcance dessa condição. Idosos com sinais de depressão apresentaram chance quase duas vezes maior de dependência funcional do que aqueles não depressivos, conforme mostrado por SILVEIRA et al (2012) trabalhando esses mesmos dados com ajuste de um modelo logístico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebeu-se que os idosos entrevistados são, em sua maioria, do sexo feminino, considerados idosas jovens (menor de 70 anos de idade), que são casadas, de raça/cor parda e são alfabetizadas, sabendo ler e escrever. No que se refere ao quadro epidemiológico e funcional, constatou-se que, em sua maioria, os idosos não apresentaram quadro de depressão. Porém, a grande maioria apresentou doenças crônicas, necessitando de maiores investimentos em saúde, a grande maioria alega não ter o hábito de beber e de fumar. Os resultados mostraram algumas condições esperadas, como uma maior autonomia funcional nas AVDs para os idosos jovens, alfabetizados e não tendo sinais de depressão, assim como o fato de ser casado também mostrou uma associação significante com a Escala de Lawton, na condição de maior grau de independência, o que pode refletir a existência de um suporte familiar para o alcance dessa condição. Sinais de depressão, apesar de haver sido referido para um menor número de idosos, demandam atenção especializada, a fim de propiciar melhor qualidade de vida a esse grupo populacional. As doenças crônicas, comuns na velhice, também precisam de orientação adequada para minimizar os efeitos danosos à saúde dos idosos. Por fim, espera-se que os resultados dessa pesquisa possam ser aproveitados para potencializar os benefícios de uma velhice saudável, através de um acompanhamento eficaz pela ESF dos distritos sanitários de residência desses idosos, trazendo uma política de saúde preventiva e que os subsídios apontados com esses resultados contribuam para a implementação de melhor qualidade nos serviços da atenção em saúde dos idosos, com profissionais mais preparados, humanizados e conhecedores do processo da velhice. Também como sugestão fica a ampliação desse estudo para os acamados e ou aqueles mais debilitados, para que, dessa forma, a UBS possa trabalhar com mais realismo para melhoria da condição de saúde de sua população idosa. WU, JH; HAAN, MN; LIANG, J; GHOSH, D; GONZALEZ, HM; HERMAN, WH. Impact of antidiabetic medications on physical and cognitive functioning of older Mexican Americans with diabetes mellitus: a population-based cohort study. Ann Epidemiol, v.13(5), p.369-76. 2003. Sobre os autores Maria Célia de Carvalho Formiga é professora-doutora do Programa de Pós-Graduação em Demografia – Programa de pós Graduação em Demografia do Centro de Ciências Extas e da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Nilma Dias Leão Costa é professora-doutora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Kalline Fabiana Silveira é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Demografia do Centro de Ciências Extas e da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Paulo César Formiga Ramos é professor-doutor do Programa de Pós-Graduação em Demografia do Centro de Ciências Extas e da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Ciência Sempre 22 • 65 Ricardo Oliveira Guerra Aline do Nascimento Falcão Freire Fragilidade em Idosos: conceito e considerações de importância para a prática clínica O termo Fragilidade foi comumente utilizado na prática clínica em geriatria com diferentes e complexos significados, sendo inicialmente confundida com incapacidade, comorbidade e idade avançada. Devido a sua complexidade e a falta de definição, fragilidade tornou-se alvo de crescentes pesquisas nos últimos 30 anos. Atualmente o termo Fragilidade tem sido usado para caracterizar um estado de fraqueza e vulnerabilidade aos estressores em idosos. Na tentativa de descrever esse fenômeno, diferentes conceitos e definições foram propostos incluindo uma variedade de domínios tais como: funções e características físicas, funções cognitivas, características psicológicas e fatores psicossociais. 66 • Ciência Sempre 22 Sylara Silvério Fragilidade e Carga Alostática em Idosos AVALIAÇÃO DA SÍNDROME DE FRAGILIDADE: Perda de Peso no Último Ano; Exaustão / Fadiga; Fraqueza Muscular; Baixo Nível da Atividade Física; Em 2004, a American Geriatrics Society e o National Institute on Aging (AGS/NIA) realizaram uma conferência em pesquisas sobre a Fragilidade, com o objetivo de investigar a etiologia e novas modalidades de tratamento. A partir do consenso alcançado no referido encontro de pesquisadores, a fragilidade é identificada atualmente apenas por características que estão diretamente relacionadas à função física, e que são ao mesmo tempo conseqüências de acúmulos de condições subclínicas, doenças agudas e crônicas e fatores de risco comportamentais e sociais. A associação entre fragilidade, idade avançada, sexo feminino, dependência funcional e doenças crônicas está bem definida. Porém, o entendimento do modo como a fragilidade se desenvolve ainda não está claro. No envelhecimento humano, a redução nos hormônios sexuais e de crescimento está associada ao aumento nos níveis de proteínas inflamatórias, criando uma condição de inflamação crônica que pode contribuir para o aumento de morbidade e mortalidade com o avançar da idade. Indivíduos considerados frágeis apresentam funcionalidade precária e aumento do risco de morte. Assim, a associação entre inflamação e incapacidade e risco de mortalidade suportaria a relação existente entre inflamação e fragilidade. Considerando que a Fragilidade é definida clinicamente através dos cinco critérios que compõem seu fenótipo, evidências sugerem que suas manifestações clínicas possuem associações e podem ser organizadas em um ciclo de eventos que progridem naturalmente. Desse modo, na gênese do ciclo de fragilidade está à fraqueza muscular, a perda de peso e exaustão, sendo expressa num ciclo de desregulação energética, que inclui sarcopenia, estresse oxidativo, desregulação de citocinas inflamatórias e hormônios, má nutrição e inatividade física. Hana Dourado Em 2001, Fried et al. definiu Fragilidade como uma síndrome biológica de diminuição da reserva e resistência aos estressores, resultando de declínio acumulativo em múltiplos sistemas fisiológicos e causando vulnerabilidade a desfechos adversos. A partir desse conceito, foi proposto um conjunto de marcadores para definir um fenótipo, o qual inclui múltiplos componentes que se relacionam clinicamente para constituir a Fragilidade. A operacionalização desse fenótipo inclui cinco critérios, os quais são: 1) Perda de peso não-intencional, no último ano, igual ou superior 4,5 kg (equivalente a ≥ 5% do peso corporal); 2) Fraqueza muscular mensurada através da força de preensão palmar com dinamômetro de preensão; 3) Fadiga/Exaustão indicada por duas questões da Center for Epidemiological Studies- Depression (CES-D); 4) Lentidão da marcha medida pelo tempo de execução da caminhada de uma distancia de 4,6m; 5) Baixo nível de atividade física, indicada pelo dispêndio semanal de energia em kilocalorias (medido com base no auto-relato das atividades e exercícios físicos realizados, através do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire). Lenta Velocidade da Marcha. Desde modo, aqueles indivíduos com três ou mais critérios positivos são considerados frágeis; com um ou dois critérios positivos como intermediários ou pré-frágeis; e aqueles com nenhum critério positivo considerado não-frágil ou robusto. Esses cinco critérios foram identificados como preditores do risco de desfechos clínicos como quedas, incapacidade, hospitalização e mortalidade. Ciência Sempre 22 • 67 Evidências Clínicas da Síndrome de Fragilidade em Idosos Estado de Alta Vulnerabilidade para resultados adversos Declínio no Metabolismo Energético, ocasionando deterioração em múltiplos sistemas Diminuição do Funcionamento Musculoesquelético e Neurológico Estado de Inflamação crônica Baixa Atividade Imuno-Endócrina Aumento IL-6 e Cortisol Diurno (FRIED, 2001; WALTSON, atal., LENG, 2002; PEREIRE, 2005; VARADHAN, 2008) Carga Alostática em idosos: conceito e considerações para a pesquisa em Gerontologia A habilidade para alcançar estabilidade após mudanças é crítica para sobrevivência. Esta habilidade em respostas a situações de estresse é conhecida como alostasia. Nela há ativação de múltiplos sistemas fisiológicos para proteger o corpo em resposta a situações de estresse interno ou externo. Porém, o preço dessa acomodação em resposta a mudanças pode nem sempre proteger o corpo, mas também causar danos influenciando a patogênese de doenças. O efeito em longo prazo dessas respostas fisiológicas pode ser referido como Carga Alostática, que leva a uma superativação crônica dos Sistemas Alostáticos. Assim, a Carga Alostática representa um desgaste experimentado pelo corpo quando repetidas respostas alostáticas são ativadas em situações de estresse. Dois fatores determinam as respostas individuais a eventos potencialmente estressantes: o modo como a pessoa percebe a situação e o estado de saúde físico geral, o qual é determinado não somente por fatores genéticos, mas também comportamentais e de estilos de vida. Quando o cérebro percebe uma situação como estressante, respostas fisiológicas e comportamentais são iniciadas, levando a alostasia e adaptação. Com o tempo, a Carga 68 • Ciência Sempre 22 Alostática pode se acumular, e a superexposição aos mediadores neurais, endócrinos e imunes do estresse, pode ter efeitos adversos em vários órgãos do corpo possibilitando o surgimento de doenças. O conceito de alostasia parece muito similar a homeostasia. Na homeostasia, o mecanismo de feedback objetiva a redução na variabilidade e a manutenção da constância dos sistemas corporais. Já na alostasia, que se refere a um processo dinâmico, mais variabilidade é favorável, pois isto significa que o ambiente interno, ou seja, o organismo tem a capacidade de se adaptar as demandas do ambiente para suportar os sistemas corporais. O conceito de alostasia e Carga Alostática prevê uma cascata de causa e efeito (Figura 1) que inicia com os mediadores primários do estresse, como as catecolaminas e o cortisol, que levam a respostas secundárias como aumento da pressão sanguínea, alterações nos níveis de hemoglobina glicada e nos níveis de colesterol HDL (lipoproteína de alta-densidade) e LDL (lipoproteína de baixa densidade), obesidade abdominal, culminando com respostas terciárias como surgimento de doenças cardiovasculares e outras. Com isso, a superexposição aos mediadores do estresse que são regulados via eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) e Sistema Nervoso Simpático (SNS) culminam com respostas adversas em múltiplos sistemas do organismo, resultando em doenças. MEDIDAS DE CARGA ALOSTÁTICA Biomarcadores Neuroendocrinos mediadores primários Biomarcadores Imunológicos mediadores SECUNDários DESFECHOS TERCIÁRIOS Biomarcadores Metabólicos Medidas cardiovasculares e antropométricas Cortisol DHEA-S (Dehidroepiandosterona) Epinefrina Norepinefrina IL-6 TNF Proteína - Creatina Colesterol HDL Colesterol LDL Triglicerídeos Hemoglobina glicada Creatina Albumina Pressão Arterial IMC Relação Cintura-quadril Figura 1. Medidas de Carga alostática Carga Alostática em idosos: novas perspectivas metodologias na Epidemiologia do Envelhecimento Humano A ideia de que níveis acumulativos de estresse podem ter efeitos deletérios na saúde e longevidade, com consequências patológicas de excessiva ativação fisiológica, tem levado pesquisadores a discutirem diferenças individuais de acúmulo de Carga Alostática sobre a temática do Curso de Vida. Desse modo, tem se discutido a influência de fatores ambientais, relações interpessoais, sociais, psicológicas e estilo de vida no modo como a pessoa percebe as situações como potencialmente estressantes e desafiadoras. Pessoas de baixo status socioeconômico experimentam ao longo do curso de vida mais situações de estresse agudo e crônico que levam a respostas autonômicas e neuroendócrinas, com elevação crônica nos níveis de cortisol. Desde modo, vários trabalhos têm investigado a relação entre baixo status socioeconômico a vários fatores de risco de doenças cardiovasculares como pressão sanguínea, relação cintura-quadril e marcadores neuroendócrinos de estresse. Há um consenso da literatura que baixo status socioeconômico, medido através da renda, educação, e outros indicadores, está associado ao aumento na morbidade e mortalidade. Desta forma, a Carga Alostática como uma expressão do desgaste experimentado pelo organismo diante das situações estressoras, vivenciadas ao longo do curso da vida, têm merecido destaque nas pesquisas mais recentes. Há um crescente interesse no envolvimento da desregulação multisistêmica na saúde e longevidade de populações idosas. Sabe-se que a liberação dos biomarcadores do estresse está relacionada a desfechos adversos de saúde como hipertensão, obesidade abdominal, diabetes, depressão, dentre outros problemas de saúde. Trabalhos anteriores têm mostrado que aspectos da Carga Alostática estão relacionados à fragilidade, incapacidade e maior mortalidade, que tem implicações na saúde física de populações geriátricas. No entanto, muitos trabalhos têm mostrado a associação entre a Carga Alostática e seus componentes com fatores individuais, ambientais e sociais sob a perspectiva do curso de vida. Porém essas relações não estão bem estabelecidas. Além disso, nenhum estudo tem observado o comportamento dos biomarcadores do estresse e Carga Alostática no contexto populacional de idosos brasileiros residentes na comunidade, bem como se essas relações mostram-se diferenciadas entre homens e mulheres. Ciência Sempre 22 • 69 Sylara Silvério Desta forma, pelo exposto na literatura, apresentamos como hipótese de trabalho a proposição de que a Carga Alostática, como uma expressão fisiológica do acúmulo de experiências estressoras vivenciadas ao longo do curso de vida, estaria relacionada com a Síndrome da Fragilidade. Consideramos ainda que as mulheres mostram níveis mais elevados de fragilidade que os homens com o mesmo nível de Carga Alostática. Fragilidade e Carga Alostática em Idosos da Cidade do Natal-RN Através do financiamento pelo Programa PPS III-FAPERN, foi desenvolvido o projeto de pesquisa Carga alostática e Fragilidade em idosos em uma amostra de idosos residentes na cidade do Natal-RN. A coleta de dados foi realizada em três etapas. A primeira etapa constituiu-se da entrevista, realizada pelo entrevistador no domicílio do participante, através da qual o mesmo respondeu ao ques- tionário sobre informações sócio-demográficas, clinicas e dados antropométricos. Na segunda visita ao domicilio do participante o entrevistador fornecia as instruções para realização do protocolo para coleta de saliva, urina e sangue. O participante recebia os coletores para coleta de urina (um coletor de 1,6 L para a coleta de 12 horas de urina noturna e um coletor de 10 mL para a amostra isolada de urina diurna) e cinco SALIVETES® para coleta de saliva. A terceira etapa da coleta constitui-se na coleta dos biomarcadores, que era realizada no 6º ou 7ª dia após a primeira visita do entrevistador. O participante iniciava a coleta da saliva usando os SALIVETES®. A saliva foi coletada em cinco momentos do dia: ao acordar; 30 minutos após acordar; 60 minutos após acordar; às 15 horas; e antes de dormir. Nesse mesmo dia o participante coletava a urina. A amostra isolada foi coleta durante o dia, próximo ao meio-dia, e a coleta das 12 horas de urina noturna foi iniciada às 18 horas até às 6 horas da manhã do dia seguinte. 3º - 5º dia: instruções para os procedimentos da coleta dos biomarcadores Figura 3: Procedimentos da coleta de dados 70 • Ciência Sempre 22 Dowd, J. B., A. M. Simanek, et al. (2009). "Socio-economic status, cortisol and allostatic load: a review of the literature." Int J Epidemiol 38(5): 1297-309. Ensrud, K. E., S. K. Ewing, et al. (2009). "A comparison of frailty indexes for the prediction of falls, disability, fractures, and mortality in older men." J Am Geriatr Soc 57(3): 492-8. Fried, L. P., C. M. Tangen, et al. (2001). "Frailty in older adults: evidence for a phenotype." J Gerontol A Biol Sci Med Sci 56(3): M146-56. Hubbard, R. E. and K. W. Woodhouse "Frailty, inflammation and the elderly." Biogerontology 11(5): 635-41. Juster, R. P., B. S. McEwen, et al. (2009). "Allostatic load biomarkers of chronic stress and impact on health and cognition." Neurosci Biobehav Rev 35(1): 2-16. Rockwood, K. and A. Mitnitski (2007). "Frailty in relation to the accumulation of deficits." J Gerontol A Biol Sci Med Sci 62(7): 722-7. Total idosos > 65 ans = 1.056 Amostra (n = 279) 1º dia: Aplicação do Questionário, medidas antropométricas e SPPB. BIBLIOGRAFIA Diminuição do Funcionamento Musculoesquelético e Neurológico Sarkisian, C. A., T. L. Gruenewald, et al. (2008). "Preliminary evidence for subdimensions of geriatric frailty: the MacArthur study of successful aging." J Am Geriatr Soc 56(12): 2292-7. Seeman, T., E. Epel, et al. (2010). "Socio-economic differentials in peripheral biology: cumulative allostatic load." Ann N Y Acad Sci 1186: 223-39. Sylara Silvério Resultados Foram avaliados 313 idosos, dos quais 57 foram excluídos, pois não completaram todas as fases da pesquisa, ficando nossa amostra final constituída de 256 idosos, sendo 88 homens e 168 mulheres. A maioria dos homens (79,5%) eram casados, enquanto que a maioria das mulheres eram viúvas (41,7%). Quanto ao arranjo familiar, tanto os homens quanto as mulheres viviam com cônjuge ou algum parente, sendo que apenas cinco homens e dez mulheres viviam sozinhos. Em relação à renda mensal, a maior parte da amostra recebiam entre 1 e 3 salários mínimos, consideraram sua renda insuficiente para suas necessidades e tinha como fonte de renda a aposentadoria, sendo que as mulheres possuíam renda inferior a dos homens. Quanto à escolaridade, observamos também que os homens tinham mais anos de estudos que as mulheres. A Tabela 1 mostra a distribuição dos Critérios de Fragilidade na amostra estudada. Apenas o critério fadiga/exaustão mostrou diferença significativa entre homens e mulheres. Tabela 1. Distribuição dos Critérios de Fragilidade na Amostra Estudada Walston, J., E. C. Hadley, et al. (2006). "Research agenda for frailty in older adults: toward a better understanding of physiology and etiology: summary from the American Geriatrics Society/National Institute on Aging Research Conference on Frailty in Older Adults." J Am Geriatr Soc 54(6): 991-1001. Critérios Fragilidade Total (n=256) n (%) Homens (n=88) n (%) Mulheres (n=168) n (%) p-valor Perda de Peso 81 (31,6) 25 (28,4) 56 (33,3) p=0,42 Fadiga/Exaustão 96 (37,5) 25 (28,4) 71 (42,3) p=0,03 Fraqueza Muscular 80 (31,3) 30 (34,1) 50 (29,8) p=0,47 Lentidão na Marcha 57 (23,2) 16 (18,2) 41 (25,2) p=0,30 Baixo Nível de Atividade Física 64 (25,0) 18 (20,5) 46 (27,4) p=0,22 Não-frágil 51 (19,9) 24 (27,3) 27 (16,1) Xue, Q. L., K. Bandeen-Roche, et al. (2008). "Initial manifestations of frailty criteria and the development of frailty phenotype in the Women's Health and Aging Study II." J Gerontol A Biol Sci Med Sci 63(9): 984-90. Pré-frágil 158(61,7) 48 (54,5) 110(65,5) Sobre os autores Frágil 47 (18,4) 16 (18,2) 31 (18,5) Ricardo Oliveira Guerra é professor-doutor do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte na maioria dos biomarcadores da Carga Alostática, com exceção da Relação Cintura-Quadril e do Colesterol HDL, bem como quanto ao Índice Total da Carga Alostática. Aline do Nascimento Falcão Freire é doutora em Ciências da Saúde pelo Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Na tabela 2 estão apresentados os dados sobre os itens que compõem os critérios de avaliação da Fragilidade em idosos. Foi observado que não houve diferença significativa quanto ao sexo/gênero Ciência Sempre 22 • 71 Tabela 2. Distribuição dos Biomarcadores da Carga Alostática na Amostra Estudada Variáveis Biomarcadores Total (n=256) n (%) Homens (n=88) n (%) Mulheres (n=168) n (%) p-valor Pressão Arterial Sistólica, mmHg 66 (25,8) 22 (25) 44 (26,2) 0,83 Pressão Arterial Diastólica, mmHg 65 (25,4) 24 (27,3) 41 (24,4) 0,61 Colesterol HDL, mg/dL 62 (24,2) 31 (35,2) 31 (18,5) 0,003 Colesterol total/HDL 66 (25,8) 24 (27,3) 42 (25,0) 0,69 Hemoglobina Glicada,% 62 (24,2) 18 (20,5) 44 (26,2) 0,83 Relação cintura-quadril 70 (27,3) 34 (38,6) 36 (21,4) 0,003 DHEA-S salivar, ug/dL 5 (2,0) 1 (1,1) 4 (2,4) 0,49 Cortisol salivar, ug/dL 65 (25,4) 22 (25,0) 43 (25,6) 0,49 Epinefrina urinária, ug/12h 66 (25,8) 24 (27,3) 42 (25,0) 0,69 Norepinefrina urinária, ug/12h 64 (25,0) 18 (20,5) 46 (27,4) 0,22 Média (DP) Média (DP) Média (DP) p-valor 2,30 (1,68) 2,47 (1,67) 2,22 (1,68) 0,24 O Índice de Carga Alostática observado, de forma geral, mostrou-se baixo comparado aos demais estudos com populações de idosos. O Índice de Carga Alostática (0-10) foi 2,30 (±1,68) sem diferença significativa entre os gêneros, sendo apenas número de doenças crônicas associado aos níveis de Carga Alostática. Os perfis diferenciados encontrados na amostra dos Índices de Carga Alostática podem estar sendo influenciados por outras variáveis tais como redes de apoio familiar e social. A influência de fatores sociais e comportamentais estaria mediando as respostas dos Sistemas Alostáticos mediante situações potencialmente estressoras em sociedades com características sociais distintas. Diversos fatores contribuem nas diferenças nos níveis de Carga Alostática entre diferentes sociedades e entre o gênero. Fatores psicosociais, como suporte emocional, relações familiares positivas e relações harmoniosas em idosos foram relacionados à baixa Carga Alostática em homens. Estudos já mostraram um impacto positivo que fatores emocionais, espirituais e recursos pessoais podem ter na saúde, bem-estar e na resiliência aos estressores e carga alostática. Considerando o contexto social evidenciado pela população de idosos que vivem no nordeste brasileiro, embora sejam esses de uma classe social baixa, onde a grande maioria dos idosos recebe de 1 a 3 salários mínimos, tem pouca escolaridade, 72 • Ciência Sempre 22 as redes de apoio social, o estado civil e o arranjo familiar podem exercer influencias positivas sobre a saúde desta população. Em nossa amostra, a grande maioria dos homens é casado, apenas 6% da amostra total (homens e mulheres) moram sozinhos, onde os demais vivem com parentes e/ ou amigos. Deve-se também levar em consideração que as características dos idosos residentes nessa comunidade são de idosos que fixaram residência neste bairro e vivem lá há muitos anos. Assim, embora o conceito de Carga Alostática como um índice que representa o desgaste vivenciado mediante situações estressoras tenha sido observado em populações idosas em países desenvolvidos, como fator preditor a desfechos adversos de saúde, dentre eles a Fragilidade, pode haver fatores que dependendo do contexto social e cultural agiriam como protetores, levando a menor perfis de risco com baixos níveis de Carga Alostática. Sylara Silvério Índice Carga Alostática (0-10) Érica Cristina de Sales Vaz Ana Celly Souza dos Santos Nayara Perreira Soares George Dantas Azevedo Telma Maria Araújo Moura Lemos INTRODUÇÃO A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um distúrbio endócrino complexo de etiologia ainda desconhecida que atinge 8 a 12% das mulheres em idade fértil (1). Segundo o consenso de Rotterdam ESHRE/ASRM-Sponsored PCOS Consensus Workshop Group, realizado em 2003, para diagnóstico de SOP as pacientes devem apresentar pelo menos dois dos três seguintes critérios: (a) oligo e/ ou anovulação, (b) sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo e (c) ovários policísticos na ultrassonografia, além da exclusão de outras causas de irregularidade menstrual e hiperandrogenismo (2,3). Ciência Sempre 22 • 73 Sylara Silvério Avaliação do Índice Lap e Intolerância a Glicose na Síndrome dos Ovários Policísticos Em associação com estas características, observa-se ainda a ocorrência de distúrbios metabólicos como, intolerância à glicose (IG), dislipidemia, resistência à insulina (RI), hiperinsulinemia compensatória e obesidade, principalmente central, que contribuiem diretamente para a presença do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e das doenças cardiovasculares na SOP (4,5). A RI atua como um importante agente de integração entre estas anormalidades metabólicas e androgênicas, sendo, portanto, um elemento extremamente relevante na fisiopatologia da síndrome (6). Descrito pela primeira vez por Kahn (7), o índice LAP (lipid accumulation product) é um importante indicador para avaliação do risco cardiovascular, pois ele determina a acumulação de lipídios em adultos e tem como base a relação entre uma medida antropométrica, a circunferência da cintura, e um parâmetro bioquímico, os níveis de triglicerídeos de jejum (8). Alterações no índice LAP, também estão associadas ao DM2 e ao aumento da mortalidade por insuficiência cardíaca. Wiltgen e cols. relataram a associação do índice LAP com o modelo de avaliação homeostática da RI (HOMA -IR) em uma pequena população de mulheres com SOP (9). No entanto, a associação deste índice com a tolerância à glicose diminuída, que é comum na SOP, foi pouco investigada. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi investigar a correlação entre o índice LAP e os níveis de glicemia durante o teste de tolerância à glicose oral (TTGO) em pacientes com SOP em diferentes estados nutricionais. CASUÍSTICA E METODOLOGIA Casuística A população em estudo foi composta por 50 mulheres, apresentando média etária de 26,68 ± 5,88 anos, recrutadas no ambulatório de Ginecologia e Endocrinologia da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal-RN. Foram incluídas as pacientes que receberam o diagnóstico de SOP de acordo com os critérios definidos pelo consenso de Rotterdam, em 2003 (2), e excluídas aquelas que apresentaram outras causas de hiperandrogenismo e de irregularidades menstruais, que simulem o quadro clínico da SOP, como hiperprolactinemia, falência ovariana prematura, hipotireoidismo primário, grávidas, diabéticas e mulheres que faziam o uso 74 • Ciência Sempre 22 crônico de alguns medicamentos, dentre eles contraceptivos orais, agentes sensibilizadores da insulina, antilipêmicos e qualquer outro agente hormonal nos últimos três meses. Para análise comparativa as pacientes foram divididas em dois grupos: Grupo I (SOP não obesas- n = 19) e Grupo II (SOP obesas - n = 31). A categorização dos grupos foi realizada de acordo com o índice de massa corpórea (IMC), estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (10), cujo valor é obtido pela razão peso/estatura². Foram classificadas como não obesas as que possuíam IMC entre 18,5- 29,9 kg/m² e como obesas as que possuíam IMC ≥ 30 kg/m². O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN com número de protocolo 400/09, e todas as participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). METODOLOGIA Avaliação Antropométrica As pacientes foram submetidas a exame clínico constando de medida da massa corporal (kg), estatura (m) e circunferência da cintura (cm). O peso das voluntárias foi aferido com estas utilizando roupas leves e estando descalças, foram utilizadas balanças eletrônicas da marca Kratos®, com capacidade de 150Kg e precisão de 50g. A voluntária permaneceu reta, no centro da balança e imóvel. A medida da estatura foi realizada numa superfície plana com o auxílio de uma fita métrica de escala de 0,1 centímetro, fixa verticalmente em uma parede, onde as voluntárias ficaram na posição vertical, respirando profundamente, eretas, com os pés e calcanhares paralelos, ombros e nádegas encostados na parede, na forma recomendada (11). As medidas de peso e estatura foram realizadas três vezes seguidas, e o resultado final foi obtido pela média dos três valores. A medida da circunferência da cintura foi mensurada no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca, onde foi solicitado que a paciente levantasse a blusa e estirasse os braços sobre o corpo. Da mesma forma que as medidas de peso e estatura, foi feita uma média de três medições. O índice de massa corpórea (IMC) foi determinado pela divisão do peso (quilogramas) pela altura (metros) ao quadrado e a classificação foi realizada através dos critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (10). BIBLIOGRAFIA 1. DELIGEOROGLOU E, VRACHNIS N,N ATHANASOPOULOS, et al. Mediators of chronic inflammation in polycystic ovarian syndrome. Gynecol Endocrinol. May 4. 2012. 2. The Rotterdan ESHRE/ASRMsponsored PCOS consensus workshop group. Revised 2003 consensus on diagnostic criteria and long-term health risks related to polycystic ovary syndrome (PCOS) Hum. Reprod. 19:41-47, 2004. 3. LEGRO RICHARD S, SILVA A. ARSLANIAN, DAVID A. EHRMANN, KATHLEEN M. HOEGER, M. HASSAN MURAD, RENATO PASQUALI, AND CORRINE K. WELT. Diagnosis and Treatment of Polycystic Ovary Syndrome: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab; doc: 10.1210/jc.2013-2350, 2013. 4. GROOT PC, DEKKERS OM, ROMIJN JA, DIEBEN SW, HELMERHORST. PCOS, coronary heart disease, stroke and the influence of obesity: a systematic review and meta-analysis. Hum Reprod Update. 17(4):495-500, 2011. 5. WU B, FUKUO K, SUZUKI K, YOSHINO G, KAZUMI T. Relationships of systemic oxidative stress to body fat distribution, adipokines and inflammatory markers in healthy middle-aged women. Endocr J.; 56(6):773-82, 2009. 6. TEEDE HJ, HUTCHISON S, ZOUNGAS S, MEYER C. Insulin resistance, the metabolic syndrome, diabetes, and cardiovascular disease risk in women with PCOS. Endocrine.; 30(1):45-53, 2006. 7. KAHN, HS. The “lipid accumulation product” performs better than the body mass index for recognizing cardiovascular risk: a population-based comparison. BMC Cardiovasc Disord 5:26, 2005. 8. WEHR E, PILZ S, BOEHMBO, MARZ W,OBERMAYER-PIETSCH B. The lipid accumulation product is associated with increased mortality in normal weight postmenopausal women. Obesity (Silver Spring) 10.1038/oby, 2011. Avaliação Bioquímica e Calculo do Índice LAP Após jejum prévio de no mínimo 8 e no máximo 12 horas, a coleta de amostra de sangue periférico sem anticoagulante foi realizada nas pacientes, para a determinação das concentrações séricas de glicose de jejum e pós teste de tolerância à glicose oral (TTGO) de duas horas e triglicerídeos, que foram realizadas por ensaios enzimático-colorimétricos e os resultados foram expressos em mg/dL. O teste de tolerância à glicose oral (TTGO) foi realizado com 75 gramas de glicose anidra, sem restrição calórica, por via oral, dissolvida em 300 mL de água, onde a solução foi ingerida em um tempo máximo de cinco minutos. Amostras de sangue para dosagem de glicemia foram obtidas antes e após 30, 60, 90 e 120 minutos da ingestão de glicose por via oral. De acordo com os critérios do World Health Organization (WHO) (12), a intolerância à glicose é caracterizada pela glicemia plasmática aos 120 minutos ≥140 e <200 mg/dL. As dosagens foram realizadas com kits comerciais (Labtest Diagnóstica-SA®) no equipamento Bio 2000 (Bioplus®, Barueri/SP). O índice LAP foi determinado pela equação descrita por Kahn: (circunferência da cintura [cm] – 58) x (triglicerídeos [mmol/L]) (7). Wiltgen et al avaliaram este índice em mulheres com SOP e determinaram o valor do ponto de corte de 34,5 cm.mmol/L (9). Análise estatística dos resultados A distribuição de dados foi avaliada pelo teste de Kolmogorov - Smirnov e estatística descritiva foi realizada para observação das medidas de tendência central e de dispersão como média, desvio padrão, mediana, e valores mínimos e máximos. Também foi aplicado o teste t de Student para amostras independentes para avaliar diferenças entre as médias nos dois grupos, SOP não obeso e SOP obeso. As correlações entre os parâmetros avaliados foram analisadas utilizando o teste de correlação de Pearson. O pacote estatístico SPSS ® versão 17.0 para Windows (SPSS, Inc., Chicago IL) foi utilizado para esses fins. Em todos os casos, foi considerado estatisticamente significativo um valor de p < 0,05. RESULTADOS A tabela 1 apresenta as características antropométricas e bioquímicas dos grupos I (SOP não obesas) e II (SOP obesas), no que se refere à idade, IMC, triglicerídeos, índice LAP e valores de glicemia obtidos no TTGO. O grupo II apresentou valores significativamente superiores para as variáveis IMC, triglicerídeos, índice LAP e glicemia de 120 minutos. Tabela 1. Parâmetros antropométricos e bioquímicos das pacientes com SOP obesas e não obesas. SOP Variáveis Grupo I Não Obesas (n=19) Grupo II Obesas (n=31) Idade 25,7 ± 5,57 27,33 ± 6,08 IMC 25,93 ± 2,74 34,60 ± 3,08 0,0001* Triglicerídeos 84,58 ± 36,72 153,03 ± 72,86 0,0001* LAP 23,62 ± 14,91 71,76 ± 40,04 0,0001* GLIC.J 72,63 ± 6,78 77,90 ± 12,35 0,095 GLIC30 122,95 ± 29,52 126,16 ± 31,14 0,720 GLIC60 126,89 ± 39,87 133,36 ± 34,70 0,555 GLIC90 111,63 ± 30,29 126,06 ± 35,64 0,148 GLIC120 99,42 ± 23,57 119,58 ± 32,95 0,024* p-valor Valores expressos em média ± desvio padrão; *p<0,05 comparando grupo SOP obesas X grupo SOP não obesas pelo teste T Student para amostras independentes. 9. WILTGEN D, BENEDETTO IG, MASTELLA LS, SPRITZER PM. Lipid accumulation product index: a reliable marker of cardiovascular risk in polycystic ovary syndrome. Hum Reprod 24:1726–1731, 2009. 10. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO consultation on obesity.Geneva. 3-5 June, 1997. 11. NHLBI - National Heart, Lung and Blood Institute. The practical guide: identification, evaluation and treatment of overweight and obesity in adults. [S. l.]: NIH Publication, 2000. 88p. Disponível em: < http://www.nhlbi.nih.gov/ guidelines/obesity/prctgd_c.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2013. 12. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diabetes mellitus. Report of WHO Study Group. Geneva: WHO; 1985. 13. WEHR E, GRUBER HJ, GIULIANI A, MÖLLER R, PIEBER TR, OBERMAYER-PIETSCH B. The lipid accumulation product is associated with impaired glucose tolerance in PCOS women. J Clin Endocrinol Metab. 96(6):E986-90, 2011. 14. COSTA, EDUARDO CALDAS et al.Avaliação do risco cardiovascular por meio do índice LAP em pacientes não obesas com síndrome dos ovários policísticos. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. vol.54, n.7, pp. 630-635, 2010. 15. KAHN HS. The lipid accumulation product is better than BMI for identifying diabetes: a population-based comparison. Diabetes Care. 29(1):151-3, 2006. 16. IOACHIMESCU AG, BRENNAN DM, HOAR BM, HOOGWERF BJ. The lipid accumulation product and all-cause mortality in patients at high cardiovascular risk: a PreCIS database study. Obesity (Silver Spring).18:1836-44, 2010. 17. SALLEY KE, WICKHAM EP, CHEANG KI, ESSAH PA, KARJAN ENW, NESTLER JE. Glucose intolerance in polycystic ovary syndrome: a posi- tion statement of the Androgen Excess Society. J Clin Endocrinol Metab 92:4546–4556, 2007. Ciência Sempre 22 • 75 A figura 1 demonstra a prevalência de alteração do índice LAP nas pacientes com SOP estratificadas por IMC. Observa-se que nas pacientes obesas houve uma maior porcentagem de alteração no índice LAP (90,3%), quando comparada as não obesas (21,1%). obesas não obesas 9,7% 21,1% 78,9% 90,3% LAP Normal LAP Alterado LAP Normal LAP Alterado Figura 1. Gráfico da prevalência do índice LAP alterado nas SOP obesas e não obesas. A figura 2 apresenta o resultado do TTGO realizado nas pacientes com SOP obesas e não obesas. Considerando que a intolerância à glicose é determinada pela glicemia plasmática ≥140 e < 200 mg/dL aos 120 minutos, 78,9% das pacientes não obesas apresentaram TTGO normal e 21,1% apresentaram IG. Dentre as pacientes obesas, 64,5% apresentaram TTGO normal e 35,5% são intolerantes a glicose. Glic. Jej GLIC30 GLIC60 GLIC90 GLIC120 250 200 18. VAN PELT RE, EVANS EM, SCHECHTMAN KB, EHSANI AA, KOHRT WM. Contributions of total and regional fat mass to risk for cardiovasculardiseaseinolderwomen.AmJPhysiolEndocrinolMetab 282:E1023–E1028; 2002. 19. GABIR MM, HANSON RL, DABELEA D, IMPERATORE G, ROUMAIN J, BENNETT PH, KNOWLER WC. The 1997 American Diabetes As- sociation and 1999 World Health Organization criteria for hyperglycemia in the diagnosis and prediction of diabetes. Diabetes Care 23:1108–1112, 2000. 20. LEGRO RS, KUNSELMAN AR, DODSON WC, DUNAIF A. Prevalence and predictors of risk for type 2 diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in polycystic ovary syndrome: a prospective, controlled study in 254 affected women. J Clin Endocrinol Metab 84: 165–169, 1999. 21. PONTES, ANA GABRIELA et al.A importância do teste de tolerância à glicose oral no diagnóstico da intolerância à glicose e diabetes mellitus do tipo 2 em mulheres com síndrome dos ovários policísticos. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [online]. vol.34, n.3, pp. 128-132, 2012. 22. EVERHART J, KNOWLER WC, BENNETT PH. Incidence and risk factors for non-insulin-dependent diabetes. In: National Diabetes Data Group. Diabetes in America. Bethesda: National Institute of Health. p. 1-35, 1985. 23. CASCELLA T, PALOMBA S, DE SIO I, MANGUSO F, GIALLAURIA F, DE SIMONE B, et al. Visceral fat is associated with cardiovascular risk in women with polycystic ovary syndrome. Hum Reprod. 23(1):153-9, 2008. 150 24. CARMINA E, BUCCHIERI S, ESPOSITO A, DEL PUENTE A, MANSUETO P, ORIO F, et al. Abdominal fat quantity and distribution in women with polycystic ovary syndrome and extent of its relation to insulin resistance. J Clin Endocrinol Metab. 92(7):2500-5, 2007. 100 50 Não obesos GRUPOS Obesos Figura 2. Box-plot do teste de tolerância à glicose oral em pacientes com SOP obesas e não obesas. 76 • Ciência Sempre 22 25. DIAMANTI-KANDARAKIS E. Role of obesity and adiposity in polycystic ovary syndrome. Int J Obes (Lond). 2007;31(Suppl. 2):S8-S13 Chapman MJ, Sposito A tabela 2 demonstra a correlação existente entre o índice LAP e os valores de glicemia apresentados durante o TTGO, sendo significativas na glicemia de jejum, 60 e 120 minutos. AC. Hypertension and dyslipidaemia in obesity and insulin resistance: pathophysiology, impact on atherosclerotic disease and pharmacotherapy. Pharmacol Ther. 117(3):354-73, 2008. Tabela 2. Correlação entre o índice LAP e o TTGO em paciente com SOP GLIC.J GLIC30 GLIC60 GLIC90 GLIC120 Correlação de Pearson 0,338* 0,271 0,285* 0,245 0,302* Significância 0,016 0,059 0,045 0,086 0,033 N 50 50 50 50 50 LAP 26. CHAPMAN MJ, SPOSITO AC. Hypertension and dyslipidaemia in obesity and insulin resistance: pathophysiology, impact on atherosclerotic disease and pharmacotherapy. Pharmacol Ther. 117(3):354-73, 2008. *Correlação de Pearson é significante ao nível de 0,05. O índice LAP, além de ser um parâmetro importante para a avaliação do risco cardiovascular, simples e de baixo custo (14), também é um indicador relevante para RI, DM2 e mortalidade por insuficiência cardíaca em mulheres com peso normal (7,9,15,16). A alta sensibilidade e especificidade deste índice indicam que o mesmo pode ser um marcador útil para prever a IG na SOP (17,18). Wehr et al demonstraram pela primeira vez que níveis elevados de LAP estão associados a um aumento significativo da prevalência de IG, bem como a ocorrência de distúrbios metabólicos na SOP (13), achado semelhante ao de nosso estudo, que mostra uma correlação significativa entre o índice LAP e os valores de glicemia de jejum, 60 e 120 minutos nas pacientes com SOP avaliadas, independente do estado nutricional das mesmas. Alguns estudos sugerem que a glicemia de jejum não é um parâmetro confiável para o diagnóstico da IG na SOP (19). De acordo com Legro e cols. a maioria das mulheres com SOP e intolerantes à glicose apresentam glicemia de jejum normal (20), esta afirmação corrobora os nossos achados, pois todas as pacientes avaliadas apresentaram-se nesta condição. No entanto, algumas ainda apresentaram intolerância a glicose, o que comprova a ineficiência da glicemia de jejum para a caracterização desta alteração. A obesidade é um elemento importante no desenvolvimento de intolerância à glicose, decorrente da intensificação da resistência à insulina que predispõe ao aparecimento das anormalidades do metabolismo da glicose (21; 22). Nesse estudo, as pacientes obesas e não obesas apresentaram porcentagem de IG distintas, 35,5% e, 21,1%, respectivamente. Esses resultados indicam que, pro- vavelmente, a obesidade influencia para uma maior prevalência de intolerância à glicose, porém o papel da SOP nas alterações metabólicas também pode ser observado quando consideramos que houve a presença de uma porcentagem considerável de IG nas pacientes não obesas. As mulheres com SOP apresentam maior quantidade de gordura abdominal e perfil lipídico alterado (23,29), e o grupo II possui mais um agravante, a obesidade. Portanto, é de se esperar que estas pacientes apresentem valores superiores para o índice LAP, glicemia, IMC e triglicerídeos. Algumas pacientes do grupo I (21,1%) também apresentaram índice LAP elevado, que evidencia o papel da SOP nesta alteração. A correlação existente entre o índice LAP e os valores de glicemia de jejum, 60 e 120 minutos possivelmente indica que este índice pode ser um importante método de rastreio para identificar a intolerância à glicose na SOP, independente do estado nutricional, sendo mais um parâmetro para a definição de estratégias de prevenção e tratamento, como hábitos alimentares saudáveis e práticas de exercícios físicos regulamente, que devem ser adotados pelas pacientes na tentativa de adquirir uma melhor qualidade de vida e, consequentemente, reduzir o risco de doença cardiovascular no futuro. 28. MARTINS WP, SOARES GM, VIEIRA CS, REIS RM, SILVA DE SÁ MF, FERRIANI RA. Resistência à insulina em mulheres com síndrome dos ovários policísticos modifica fatores de risco cardiovascular. Rev Bras Ginecol Obstet. 31(3):111-6, 2009. 29. ESCOBAR-MORREALE HF, SAN MILLÁN JL. Abdominal obesity and the polycystic ovary syndrome. Trends Endocrinol Metab. 18(7):266-72, 2007. Sobre os autores Sylara Silvério DISCUSSÃO 27. PREMOLI, ANA CRISTINA GOMES et al. Perfil Lipídico em Pacientes Portadoras da Síndrome dos Ovários Policísticos. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., vol.22, no.2, p.8994. ISSN 0100-7203, Mar 2000. Érica Cristina de Sales Vaz é graduanda no Departamento de Análises Clinicas e Toxicológicas, Centro de Biociências, UFRN, Ana Celly Souza dos Santos é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas – CCS da UFRN, Nayara Perreira Soares é doutoranda no Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos- PPDITM (UFRN), George Dantas Azevedo é pós doutorando no Departamento de Morfologia, no Centro de Biociências e no Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde, ambos na UFRN, Telma Maria Araújo Moura Lemos é pós doutorando no Departamento de Análises Clinicas e Toxicológicas, Centro de Biociências, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas – CCS e Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos- PPDITM da UFRN Ciência Sempre 22 • 77 Valéria Rodrigues Leite Maria Dalva Horácio da Costa Anailson Marcio Gomes INTRODUÇÃO O Sistema Único de Saúde (SUS) é constituído pelo conjunto de ações e dos serviços de saúde sob gestão pública. Está organizado em redes regionalizadas e hierarquizada e atua em todo o território nacional, com direção única em cada esfera de governo (PEREIRA et al, 2004). De acordo com Silva et al (2007), esta participação adquiriu a característica de controle social na medida em que foi sendo exercida por setores progressista da sociedade. Ou seja, a participação em saúde não se deu somente como ações de colaboração e cooperação, mas pelo exercício do controle por parte dos seguimentos organizados da sociedade sobre as ações do Estado; no sentido deste, cada vez mais, atender aos interesses da maioria da população. 78 • Ciência Sempre 22 Sylara Silvério Avaliação da efetivação do controle social sobre os mecanismos de planejamento, previsão orçamentária e prestação de contas da saúde no Estado do Rio Grande do Norte Com o intuito de regulamentar o controle social do SUS, foi criado a Lei nº 8.142/90 que define o papel da sociedade na gestão do serviço de saúde onde os sujeitos ou atores sociais participam ativamente, por meios democráticos, da formulação das políticas públicas de saúde. Neste sentido, o usuário do serviço passa a ter o direito, bem como o dever de deliberar sobre o planejamento, formulação, execução e fiscalização das ações de saúde, assim como da gestão financeira e administrativa do SUS. Nessa perspectiva, é possível entender a participação popular como decorrente da participação efetiva da população organizada. A participação somente é efetiva quando pretende ou consegue modificar o orçamento e investimentos estatais, de modo a oferecer os serviços básicos de qualidade para a população (VALLA, 1992). Determinada pela Constituição e pela Lei complementar nº 8.142/1990, a participação popular busca instituir na gestão do SUS realismo, transparência, comprometimento coletivo e efetividade de resultados. Entretanto, esta participação está diretamente relacionada com o grau de educação política e de organização da própria sociedade civil (PEREIRA et al, 2004). Assim, mesmo que nos textos legais esteja garantida a participação da população, denominada controle social, através da integração em órgãos colegiados deliberativos, como os Conselhos de Saúde, ou de outros espaços institucionalizados, como as Conferencias de Saúde, ainda falta muito para uma prática participativa eficiente, comprometida e isenta (VÁZQUEZ et al, 2003). No campo da saúde e na conjuntura da transição à democracia, essa noção indicava uma nova modalidade de relacionamento da sociedade com o Estado. O controle social foi concebido como a fiscalização direta da sociedade civil nos processos de gestão da coisa pública e consistiria na apropriação, pela sociedade organizada, dos meios e instrumentos de planejamento, fiscalização e análise das ações e serviços de saúde (BERGMA, 1992 apud CORREIA, 2000). Os mecanismos de controle social seriam, ao mesmo tempo, resultado do processo de democratização do país e pressupostos para a consolidação dessa democracia. O fortalecimento do exercício do controle social sobre o Estado contribuiria, assim, para o alargamento da esfera pública. Neste sentido, a viabilidade do controle social seria condicionada à existência de uma democracia participativa e à institucionalização dos canais de participação em Conselhos setoriais. Dessa forma, esse estudo se propõe a contribuir com essa discussão, tendo como objetivo geral colaborar com o fortalecimento da atuação dos conselhos municipais no processo de gestão da saúde, no Estado do Rio Grande do Norte-RN, e como objetivos específicos: a) avaliar o nível de controle social exercido pelos conselhos municipais de saúde no que se refere ao fiel cumprimento da legislação brasileira dos instrumentos de planejamento, orçamento e gestão da saúde, b) verificar o processo de tramitação e deliberações acerca dos Planos Anual e Plurinaual de Saúde, Previsão e Programação Orçamentária, Prestação de Contas e Relatórios de Gestão; c) Oferecer subsídios para que o poder executivo e os conselhos de saúde conheçam melhor as questões que envolvem o processo de formulação do plano de saúde, a previsão orçamentária, prestação de contas e a elaboração e apreciação dos relatórios de gestão, enquanto instrumentos de aperfeiçoamento da gestão pública da política de saúde no Estado; e d) identificar o nível de articulação entre os principais atores e instituições na área da saúde. JUSTIFICATIVA Um dos principais problemas vivenciados no processo de implantação e consolidação do SUS no RN tem sido a capacidade de apreensão e utilização das ferramentas de gestão e avaliação da política de saúde prevista na legislação vigente, especialmente no Plano Plurianual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na Lei Orçamentária Anual, por parte dos gestores e conselheiros de saúde. Nesse sentido, este estudo se justifica pela necessidade de apresentar subsídios referentes aos instrumentos de planejamento, gestão e orçamento dos recursos aplicados nos programas de saúde, verificando a relação das metas com os resultados, e consequentemente o fortalecimento dos conselhos municipais de saúde. METÓDOS A amostra foi constituída por municípios das macrorregiões de saúde previstas no Plano de Desenvolvimento Regional-PDR da Secretaria Estadual de Saúde do RN (SESAP-RN), dentre os quais foram escolhidos 02 (dois), o maior e o menor. Dessa forCiência Sempre 22 • 79 condução da política de saúde dos municípios. f) Identificar a compatibilidade entre os três instrumentos do processo orçamentário (PPA, LDO e LOA), tendo como referência a LRF como precondição para a disciplina fiscal. g) Realizar uma análise da gestão dos recursos do Fundo de Saúde, verificando os demonstrativos orçamentário-financeiros e a sua compatibilidade com a prestação de contas. A pesquisa combinou dois recursos metodológicos: a pesquisa de campo, realizada no primeiro semestre de 2012, e a aplicação de um questionário no momento da reunião. O questionário contemplou questões abertas e fechadas, na perspectiva de identificar o cumprimento da legislação do SUS relativa à participação dos conselhos no processo de formulação do Plano Municipal de Saúde, e o processo de tramitação e apreciação da previsão orçamentária, prestação de contas e relatórios de gestão. A análise dos dados envolveu uma combinação de reflexões acerca dos dados coletados no questionário e na observação realizada no momento da reunião com os representantes dos conselhos durante as visitas aos 12 (doze) municípios selecionados. A partir dos resultados, foi realizada uma análise dos dados articulando teoria, métodos e técnicas na perspectiva de apreensão da totalidade da realidade sócio-institucional em que circunscreve o exercício do controle social do SUS. Sylara Silvério ma, os municípios selecionados foram Caíco, Timbaúba dos Batistas, Viçosa, Pau dos Ferros, Tibau, Extremoz, João Câmara, Pedra Preta, Lagoa dos Velhos, Santa Cruz, Mossoró e Natal. Realizou-se uma pesquisa de campo qualitativa, exploratória e descritiva, junto aos representantes dos Conselhos Municipais de Saúde, acerca da efetivação do controle social sobre os principais mecanismos de gestão, especialmente os instrumentos de planejamento, orçamento e gestão, do período de 2005 a 2009, conforme o seguinte roteiro de procedimentos: a) Verificar na Agenda de Prioridades de Saúde, destacando-se os eixos prioritários de intervenção, seus objetivos e metas da política de saúde; b) Analisar os Planos de Saúde identificando as prioridades e metas da política de saúde, e sua relação com o diagnóstico, as estratégias, programas de atuação, objetivos e indicadores de avaliação, considerando que o PPA e Plano Anual (PA) de saúde devem conter o Quadro de Metas inspirado na Agenda de Saúde. Esse Quadro de Metas se transforma na principal referência para orientar a elaboração da gestão. c) Examinar a coerência entre Plano de Saúde, Previsão Orçamentária e Relatórios de Gestão; d) Verificar se os Planos de Saúde, anual e plurianual, bem como os Relatórios de Gestão constituíram a base para a elaboração dos instrumentos do processo orçamentário — PPA, LDO e LOA . e) Investigar o PPA como instrumento central na 80 • Ciência Sempre 22 Sylara Silvério RESULTADOS ANÁLISE DOS DADOS Na dinâmica de funcionamento dos conselhos, percebe-se uma frustração dos resultados obtidos (a resolutividade de suas atividades) diante da ausência do envio, por parte das secretarias municipais, dos principais instrumentos de planejamento e gestão. Não se trata apenas de atrasos, mas sim do envio para que os conselheiros possam analisar e se posicionar. Na verdade, no atual cenário apresenta-se um descaso maior, uma vez que ocorre o descumprimento dos órgãos gestores com relação à lei que determina que o gestor municipal deva prestar contas perante o Conselho Municipal de Saúde e em audiência pública na Câmara Municipal a cada trimestre, independentemente da prestação de contas prevista no § 2º do artigo 31 da Constituição Federal. Com relação ao processo de deliberação dos conselhos, cabe mencionar a inexistência de câmaras ou comissões técnicas e permanentes, que elaboram pareceres para instruir a tomada de posição pela plenária e que poderão ampliar este processo. Nos encaminhamentos das deliberações realizadas nas reuniões do conselho ficou bastante claro, a partir da análise das atas e das entrevistas realizadas com os conselheiros, que nem sempre houve encaminhamento das deliberações; e, nos momentos em que ocorreu, não se observou uma avaliação de sua resolutividade e homologação pelos órgãos competentes. Essa deficiência é percebida pelos conselheiros através de suas críticas quanto ao caráter puramente formal e instrumental do conselho. Alguns deles admitem que participam pouco e que não têm preocupação com o retorno das deliberações. Além disso, como vimos, há conselheiros que desconhecem as bases das políticas públicas, o regimento interno do Conselho Municipal de Saúde e mesmo o papel de representante no conselho. Praticamente inexiste uma discussão mais profunda sobre o que é o Conselho, sobre suas atribuições e limites, temas estes que possibilitariam aos conselheiros uma atuação mais consciente e eficaz. Ressalta-se que a atuação dos Conselhos de Saúde como órgãos deliberativos, tanto no que diz respeito ao planejamento quanto à execução das ações do SUS, mostra-se de fundamental importância no dimensionamento das dificuldades e possibilidades de efetivação das políticas de saúde voltadas para a cidadania, sobretudo nos momentos em que se discute a ampliação da participação social nas instâncias de governo. No entanto, os Conselhos não estão contribuindo para um processo de reestruturação do sistema de saúde e promovendo um sistema de saúde mais eficiente. As bases do controle social e da gestão participativa ainda são frágeis, mas não meras ilusões, já que sempre há possibilidade de renovação, pois, a qualquer momento, poderão surgir novos padrões de interação e comunicação. Nesse sentido o resultado possibilitou constatar que: 1) 100% dos municípios enviaram o Plano Municipal de Saúde ao respectivo conselho de saúde, elaborado para deliberação, não incorporando os conselheiros no processo de sua formulação; 2) 90% dos municípios não realiza prestação de contas trimestral ou quadrimestral; 3) 100% dos municípios encaminharam relatórios de gestão trimestral e anual para a Câmara de Vereadores sem ter enviado para o conselho de saúde; 4) 100% dos conselhos de saúde não tiveram acesso aos extratos do Fundo Municipal de Saúde e efetivamente não exercem o controle sobre a aplicação dos recursos. Dentre os 12 municípios, apenas o Conselho Municipal de Saúde de Natal informa ter solicitado o extrato e a gestão ignorou a solicitação. 5) Onze municípios enviaram um resumo da prestação de contas dentro do relatório de gestão, no entanto não realizam prestação de contas trimestral ou anual ao conselho de saúde. Apenas a Secretaria Municipal de Saúde/Natal, em função de exigências formais do CMS/Natal, realizou prestação de contas anual nos exercícios 2005 a 2009. Havendo registros no referido conselho de que por várias vezes acionou o Ministério Público requisitando auditorias externas para averiguar irregularidades na aplicação dos recursos no período de 2005 a 2009; 6) Dos doze municípios pesquisados, apenas o CMS/Natal deliberou exclusivamente sobre presCiência Sempre 22 • 81 tação de contas, solicitou e examinou contratos, privilegiando a investigação nos contratos com maior volume de recursos envolvidos e maior número de denúncias. Não houve, inclusive, aprovação da prestação de contas dos exercícios 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009, solicitando as providências cabíveis junto ao Ministério Público Federal e Estadual, DENASUS e Tribunais de Contas. A pesquisa documental privilegiou a análise comparativa entre as metas previstas nos Planos Municipais de Saúde e as metas alcançadas ou não nos Relatórios de Gestão Anual. Constatando-se o seguinte: 1) Em geral, os Relatórios de Gestão apresentam uma descrição quantitativa do número de procedimentos realizados. 2) Três municípios mencionam alguma meta prevista no plano. 3) Três só mencionam alguma meta prevista no plano de saúde quando apresentam um bom desempenho, ou seja quando alcançam aproximadamente 100%. Assim, não mencionam a maioria das metas previstas nos planos e sequer explicam as dificuldades encontradas que concorreram para que não tenham conseguido alcançá-las. Nesse sentido não apontam caminhos para superar os problemas. 4) Um município (Paus dos Ferros) buscou assessoria no processo de elaboração dos relatórios de gestão e consegue tornar transparente a realidade do município, de modo que o referido documento realmente constitui-se em um instrumento de gestão capaz de subsidiar o planejamento em saúde do exercício seguinte. 5) Apenas um conselho de saúde (CMS/Natal) relata em suas atas que solicita documentos e informações complementares, com vistas a averiguar a veracidade das informações contidas nos Relatórios de Gestão, realiza visitas de fiscalização e produz relatórios acerca da realidade como mecanismos para coletar subsídios sua análise e parecer sobre os relatórios de gestão e prestação de contas; 6) No período examinado, apenas o CMS/Natal buscou articulação intersetorial e com movimentos sociais e populares no processo de discussão do PMS (2005-2009) e na análise dos relatórios de gestão, havendo registro de resoluções com vistas a articular saúde e assistência social, reuniões com promotoria da saúde, promotoria do idoso, movimentos de mulheres, ONGs que combatem a AIDS e movimentos comunitários. 82 • Ciência Sempre 22 No geral, a análise dos dados da pesquisa de campo e pesquisa documental revelam que, com exceção do CMS/Natal, os demais Conselhos de Saúde, tanto dos maiores quanto dos menores municípios de cada região, encontram-se em situação semelhante, apresentando enormes dificuldades de exercer o seu papel. Eles têm sido desrespeitados em várias de suas prerrogativas, tais como participar do processo de formulação do plano de saúde, controle do fundo municipal de saúde inclusive tendo ficado evidente que a maioria ainda desconhecia os prazos de tramitação da LDO e LOA, bem como dos relatórios de gestão e prestação de contas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise aqui empreendida sugere que os Conselhos encontram dificuldades para exercer suas atribuições, definidas e garantidas pela legislação. A restrição à participação tem afastado os conselhos do seu projeto inicial, qual seja o de se tornar um espaço de negociação e discussão entre grupos de interesse, com a promessa de tornar as políticas de saúde mais responsivas aos interesses dos usuários. No entanto, ao mesmo tempo, os conselhos continuam sendo um espaço onde se encontram atores que, antes, estavam totalmente excluídos do processo de tomada de decisão. E, mesmo se burocratizando, os conselhos não têm esgotado seu potencial de promover controle social sobre a gestão do SUS e de tomar decisões legitimadas pela consonância com o discurso do SUS. Entretanto, o conselho não se efetiva quando se encontra desarticulado com gestores. As dificuldades para que os Conselhos de Saúde exerçam suas atribuições, definidas e garantidas pela legislação, têm sido ressaltadas e debatidas por organizações governamentais, não-governamentais e pelos próprios Conselhos de Saúde. Essas iniciativas resultam no desenvolvimento de experiências que contribuem para a atuação na formulação de estratégias, de diretrizes, no controle da execução das políticas e nas deliberações acatadas pelo gestor. Nesse sentido, é oportuno desencadear processos de educação permanente para o controle social no SUS envolvendo conselheiros, gestores, parlamentares, movimentos sociais, sindicais e populares, que possibilitem à sociedade, além da compreensão da estrutura e funcionamento do SUS, compreender também o processo de construção do modelo assistencial voltado aos seus princípios e diretrizes. BIBLIOGRAFIA CORREIA, M. V. C. Que controle social? Os conselhos de saúde como instrumento. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. PEREIRA, A. L. et al. O SUS no seu município: garantindo saúde para todos. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/ dad/cartilha/cartilha.pdf >. Acesso: 06 maio 2007. SILVA, A. O. Organizações participativas e a deliberação da política pública de saúde: um estudo comparativo de conselhos de saúde em Porto Alegre (Brasil) e Montevidéu (Uruguai). Disponível em: <http://nutep.ea.ufrgs.br/pesquisas/ORGANIZACAO_PARTICIPATIVAS_SEMEAD.doc>. Acesso: 28 abr. 2007. VALLA, V. V. Educação, saúde e cidadania: investigação cientifica e assessoria popular. Caderno de Saúde Pública, v. 8, n. 1, p. 30-40, 1992. VÁZQUEZ, M. L. et al. Participação social nos serviços de saúde: concepções dos usuários e líderes comunitários em dois municípios do Nordeste do Brasil. Caderno de Saúde Pública, v. 19, n. 2, p. 579591, 2003. WENDHAUSEN, Á.; CAPONI, S. O diálogo e a participação em um conselho de saúde em Santa Catarina, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, p. 1621-1628, 2002. Sobre os autores: Valéria Rodrigues Leite é professora-doutora do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É coordenadora da pesquisa. Maria Dalva Horácio da Costa é professora-doutora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Anailson Marcio Gomes é professor-doutor do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Encontrado em zonas costeiras do Oceano Atlântico, o manguezal é um ecossistema de transição entre os ambientes terrestre e marinho. É berço e habitat sazonal de diversas espécies de animais como peixes, crustáceos, moluscos e aves, entre outros. Em Natal/RN, podem ser observados manguezais margeando o Estuário do Rio Potengi. Foto de Karl Leite e texto de Samira Silva, tecnóloga em Gestão Ambiental pelo IFRN.