Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil Os primeiros grupos punks no Brasil surgem na região do ABC, no Estado de São Paulo, na década de 1980. Como explicar isso? Fatores a considerar: conjuntura econômica e política de 1980; Condições de existência dos jovens; Emergência de grupos de jovens articulados em torno de um estilo compartilhado. Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil Os punks foram os primeiros grupos juvenis (baseados em torno do estilo) a surgirem no espaço urbano brasileiro. Eles constroem seu próprio estilo (“do it yourself”), criam seus próprios bens culturais (músicas e roupas), buscando escapar ao tédio da massificação e da imposição da indústria da moda. Eram grupos de jovens descontentes com o estado geral das coisas, das alternativas de lazer às perspectivas profissionais, às normas sociais, à situação do país, etc. A adoção do punk por esses jovens fundou-se numa identificação com os garotos ingleses que experimentavam a mesma situação de desemprego, pobreza e violência, a mesma insatisfação com a falta de locais de diversão e de uma música que canalizasse sua vontade de agitação. Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil O som punk das bandas de São Paulo denunciam a situação da classe trabalhadora explorada pelo sistema, tematizam os jovens oprimidos pelo desemprego, pela miséria e pela repressão policial. Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil Os punks investem sobre si próprios a percepção negativa cristalizada na sociedade a respeito dos jovens pobres, buscando tornar explícita sua condição e, ao mesmo tempo, o caráter do preconceito: “Sim, somos pobres, feios, sem chances, perigosos.” Não querem disfarçar sua condição, mas, ao contrário, querem acentuá-la, produzindo a denúncia de sua exclusão, da desigualdade, do preconceito. Os punks insistem na inferioridade e na negatividade (nomes das bandas: Garotos Podres, Ratos de Porão, Cólera, Psykose). Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil Essa construção da própria imagem tem o intuito de produzir uma acusação, por meio do espelhamento: a realidade que é indigente, a sociedade que está podre, é ela que impossibilita o futuro. Os punks usam esses sinais negativos como uma forma de afirmação através da reinversão dos valores dominantes: o feio passa a constituir o ideal estético; a indigência é vista como matéria de criação; a ausência de conhecimento e o virtuosismo musical como possibilidade de criar um estilo musical autêntico. Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil O estilo punk se constrói contra os conceitos dominantes na moda. Acentua o feio, a desarmonia. Eles se colocam contra aqueles que querem apagar os sinais de sua origem social adotando a moda dos shopping centers e buscando aceitação. A construção do estilo punk pode ser vista como uma crítica à imposição da moda, à valorização das roupas como sinal de status. Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil A destruição é uma idéia básica, que toma forma em um comportamento violento, numa forma de dançar que distribui cotoveladas, pernadas e braçadas, as detonações dos lugares freqüentados, provocadas por brigas e vontade de destruir. Essa violência é uma postura cultivada pelos punks: expressa uma carregada insatisfação com a ordem, um cólera, um desejo de destruir. Cenas juvenis: o caso dos punks no Brasil