Ficha técnica Organização Linha de Investigação “Estudos Luso-Brasileiros”, do CESEM, FCSH-Universidade Nova de Lisboa Caravelas – Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira Grupo de Pesquisa "Estudos Interdisciplinares em Ciências Musicais", sediado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Comissão coordenadora David Cranmer (coordenador geral), Alberto Pacheco, Ana Maria Liberal, Luiz Guilherme Goldberg, Mário Trilha Comissão científica Luiz Guilherme Goldberg (coordenador), Alberto Pacheco, Ana Maria Liberal, António Jorge Marques, Carlos Alberto Figueiredo, Cristina Fernandes, David Cranmer, Diósnio Machado Neto, Giorgio Monari, Luísa Cymbron, Mário Trilha, Paulo Castagna, Paulo Esteireiro, Ricardo Bernardes, Rosana Marreco Brescia Comissão organizadora Alberto Pacheco (webmaster), Ana Maria Liberal (resumos), Mário Trilha (concertos), Ozório Christovam (e-mails) Assistência durante o Congresso Francisco Pessoa, Júlia Durand, Patrícia Lopes, Rui Magno Pinto, Samuel Martins (fotógrafo) Agradecimentos aos nossos oradores convidados: Manuel Carlos de Brito (FCSH-Universidade Nova de Lisboa), Ricardo Tacuchian (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO), Zak Ozmo (L’avventura, London); ao Palácio Foz (GMCS) e à Igreja de São Luís dos Franceses pela cedência dos respetivos espaços para a realização dos concertos; a Beatriz Serrão, Secretária do CESEM; ao Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa (mpmp) pela cedência de exemplares da revista glosas. Quinta-feira dia 7 de novembro 08h0009h00 09h00 09h3010h30 Sala Multiusos 2 Sala Multiusos 3 INSCRIÇÕES Sala 06 PLENÁRIO: Sessão de abertura Comunicações I: Metodologias Moderador: David Cranmer Adriana Olinto Ballesté A questão terminológica no Museu de Instrumentos Musicais de Língua Portuguesa - - Comunicações 2: Pedagogia e didática Moderador: Luiz Guilherme Goldberg Luciano Candemil/Rodrigo Paiva Instrumentos de percussão dos grupos folclóricos açorianos de Santa Catarina: classificação organológica e elaboração de material didático Luiz Néri Pfützenreuter O uso da canção folclórica lusobrasileira na pedagogia do piano em grupo Comunicações 3: Língua, prosódia e canto Moderador: Alberto Pacheco Wladimir Mattos As contribuições da análise rítmico-prosódica para a interpretação da linha melódica em uma canção estrófica lusobrasileira Pablo Palácios Projeto de banco de dados para pesquisa musicológica em periódicos: um estudo de caso para os jornais das cidades de Rio Grande do Sul 11h0013h00 Comunicações 4: Rio de Janeiro e o séc. XIX Moderador: Maria José Artiaga Lutero Rodrigues Revelando segredos da Abertura em Ré, do Pe. José Maurício Árcripo Gomes Álvares Pinto, Um LusoBrasileiro “Mestiço” na Música da Capela Real Ana Maria Liberal Miguel Ângelo Pereira, “organista particular da Capela de S. M. o Imperador do Brasil” Caroline Caregnato A criação do Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro e a construção de uma identidade brasileira para o ensino de Música 13h0014h30 CAFÉ Comunicações 5: Heitor VillaLobos Moderador: Paulo Esteireiro Giorgio Monari Cantar Heitor Villa-Lobos: tradição, folclorismo e Modernismo Roberto Votta Missa de São Sebastião de Heitor Villa-Lobos, referências do cantochão ao candomblé Denise Hiromi Aoki O primeiro movimento do quarteto de cordas n.3 de Heitor Villa-Lobos: Aproximações estilísticas com o período clássico Camila Zerbinatti Efeitos Percussivos em Divagação, para piano, violoncelo e tambor ad libitum de Heitor Villa-Lobos ALMOÇO Lúcia Vasconcelos/Adriana Kayama João e Maria: uma análise do processo criativo de tradução Painel 1: A música como discurso: a análise pela música lusobrasileira Moderador: Cristina Fernandes Robson Dias Giuseppe Ottavio Pitoni "Maestro di Maestri", representante da música litúrgica no contesto europeu e sua influencia na música luso-brasileira Mítia D’Acol O decoro musical no universo litúrgico luso-brasileiro: um estudo de caso das interseções de canto solo no repertório da primeira metade do século XVIII Jonathan Almeida de Souza Possibilidades cadenciais em obras dos séculos XVIII e XIX: um estudo em curso Ágata Yozhiyoka Almeida Recorrências tópicas no “Introitus” da Missa de Requiem Op.23 de João Domingos Bomtempo 14h3015h30 PLENÁRIO (orador convidado) “Tempo que breve passaste”: Reconstructing 18th-century LusoBrazilian Modinhas Zak Ozmo (L’avventura London) 16h0017h30 Comunicações 6: Repertórios lusobrasileiros cantados Moderador: Edilson Rocha Marcos Magalhães A Oficina da Poesia – Modinha e poesia no contexto do entretenimento doméstico Alberto Pacheco A execução moderna de repertório ocasional: alguns exemplos e desafios Flávio Reis “Herói, Egrégio, Douto e Peregrino”: aspectos do discurso epidítico na Cantata Acadêmica e ária para José Mascarenhas de 1759 21h30 - - CAFÉ Comunicações 7: La belle époque Moderadora: Ana Maria Liberal Painel 2: André da Silva Gomes Moderador: Ricardo Bernardes Luiz Guilherme Goldberg Artemis: Psicanálise na belle époque musical brasileira Ruthe Zoboli Pocebon A música em manchete: tipologias jornalísticas Paulo Esteireiro Danças no Espaço Atlântico (1821-1930): o caso da Ilha da Madeira CONCERTO (Palácio Foz) Eliel Almeida Soares & Ronaldo Novaes Retórica Musical na obra de André da Silva Gomes Ozório Christovam Retórica e Partimento na música sacra de André da Silva Gomes Rafael Registro Ramos O ensino de contraponto de André da Silva Gomes: uma visita a Portugal Sexta-feira dia 8 de novembro 09h0010h30 11h0013h00 Sala Multiusos 2 Comunicações 8: Acompanhamentos e solfejos Moderador: Carlos Alberto Figueiredo Gustavo Ângelo Dias O acompanhamento segundo o Compendio Musico ou Arte Abreviada (1751), de Manoel de Moraes Pedroso Alexandre Roehl Os métodos de solfejo de Luis Álvares Pinto: Uma análise comparada da Arte de Solfejar e Muzico e Moderno Systema para Solfejar Mário Trilha Solfejos de Acompanhar de José Joaquim dos Santos Comunicações 11: Música sacra do período colonial Moderador: António Jorge Marques Rodrigo Teodoro de Paula As Matinas de Semana Santa de David Perez e Antonio Galassi presentes no Acervo da Sé de Braga - Portugal e seus reflexos nas questões editoriais Carlos Alberto Figueiredo Problemas estruturais nas fontes que transmitem o repertório sacro e religioso brasileiro dos séculos XVIII e XIX Clayton Júnior Dias A música sacra em Campinas: 1774 a 1870 Cristina Fernandes As últimas sonoridades do Absolutismo monárquico: a actividade musical na Patriarcal de Lisboa entre 1807 e 1834 13h0014h30 Sala Multiusos 3 Comunicações 9: Cantigas, cancioneiros e novas leituras Moderador: Luiz Guilherme Goldberg Maurício Matos “No mundo non me sey parelha” e o que mais adiante se verá... Sala 06 Comunicações 10: Aspetos da música popular Moderador: Giorgio Monari Dário Borim Paixão em Amália Rodrigues e Caetano Veloso: sina e esperança Manoel Aranha Correa do Lago Tradições portuguesas na música de Heitor Villa-Lobos Enrique Menezes Samba, síncopa, offbeat timing, prosódia Juciane Cavalheiro Nuno Fernandez Torneol segundo Renato Russo, releitura e recepção CAFÉ Comunicações 12: Música da época colonial Moderador: Diósnio Machado Neto Paula Valente A improvisação no choro – tendências contemporâneas Ricardo Bernardes Música no Teatro do Poder: a Aclamação de D. Maria I em 1777 Manuel Morais A divisão de escalas: estudo de caso do machete Andréa Teixeira A referência da cultura portuguesa nos teatros de Goiás Márcia Taborda As origens portuguesas da violaria carioca Suely Campos Franco A música da Semana Santa de São João del-Rei e de Braga: influências e trajetórias recíprocas Edilson Rocha António dos Santos Cunha: comparação de fragmentos musicais Marco Brescia Simão Fernandes Coutinho: um mestre organeiro galego na cidade invicta ALMOÇO Comunicações 13: Organologia Moderador: Mário Trilha Rodrigo dos Santos A introdução da sacabuxa em solo brasileiro 14h3015h30 PLENÁRIO (orador convidado) Modelos e contextos: o estilo italiano na música portuguesa e brasileira do século XVIII Manuel Carlos de Brito (FCSH-UNL) 16h0018h00 Comunicações 14: Música teatral da época colonial Moderadora: Rosana Marreco Brescia David Cranmer A noção de “ópera portuguesa” no espaço-luso brasileiro setecentista Márcio Páscoa Restaurar/interpretar Guerras do Alecrim e Mangerona: abordagens e contextos de musicologia e performance da ópera luso-brasileira Benjamin Prestes Reconstituição da ópera Belisário a partir dos manuscritos de Vila Viçosa Fábio Melo Demetrio, de David Perez: transformação e reforma da ópera séria no século XVIII no ambiente luso-brasileiro 18h0019h30 21h30 - CAFÉ Comunicações 15: A música em Portugal e no Brasil no séc. XX Moderador: Ana Maria Liberal Edward Abreu Ruy Coelho e o Brasil: as viagens de 1919 e 1922 Inês Rocha Tomás Borba e Heitor VillaLobos: educação musical e modernidade nas duas margens do oceano Luís M Santos A recepção dos concertos sinfónicos dirigidos por David de Sousa no Teatro Politeama em Lisboa (1913-1918) Cosimo Colazzo A Requiem for the victims of fascism. Sense of sacred, peasant traditions, secular religion of democracy. From Lopes-Graça to Brazil x - Painel 3: Uma ponte sobre o Atlântico: aspectos da vida teatral e da circulação de empresários, músicos e repertório entre Lisboa, Porto e Rio de Janeiro (18401900) Moderador: Paulo Kühl Luísa Cymbron Francisco de Sá Noronha (1820-1881): perfil de um músico português entre as duas margens do Atlântico Francesco Esposito A modernização da actividade concertística no século XIX: as tournées ibero-americanas de Sigismund Thalberg Isabel Novais Gonçalves De partida para o Brasil – a realidade musico-teatral lisboeta oitocentista em tempos de emigração Maria José Artiaga A opereta com texto em português no contexto lusobrasileiro: o caso do Teatro da Trindade REUNIÃO DE TRABALHO x ABERTO do Núcleo Caravelas CONCERTO (Igreja de S. Luís dos Franceses) Sábado dia 9 de novembro 09h0010h30 Sala Multiusos 2 Comunicações 16: Bandas Moderadora: Luísa Cymbron Alexandre Abreu Banda de música Luís de Camões e a disciplina de Foucault Inês Martins/ Sandoval Moreno Estudo de instrumentação comparada das fontes musicais do Arquivo da Banda da Polícia Militar do Ceará (1897-1932) Marcos Moreira /Alex. Andrade Mulheres em bandas de música: uma interlocução entre Brasil e Portugal 11h0013h00 Comunicações 18: Música e Teatro II Moderador: Márcio Páscoa Iskrena Yordanova O paradigma da obra de Pietro Metastásio na oratória em Portugal do sec. XVIII Sílvia Lima Proposta de edição crítica e análise de Gli eroi spartani de Antonio Leal Moreira (1758-1819) Rosana Marreco Brescia O Real Teatro de São João (1813): representação e poder na velha cidade de São Sebastião Paulo Kühl Gastão Fausto da Câmara Coutinho: Pensando a ópera, entre polêmicas e poéticas Sala Multiusos 3 Comunicações 17: Brasil no séc. XIX Moderadora: Francesco Esposito Luiz Costa-Lima Neto O universo sonoro das comédias de Luiz Carlos Martins Penna (1838-1846) Luciane Páscoa Imagens de Carlos Gomes e sua obra na decoração artística do Teatro Amazonas Fernando Silveira Clarinetistas portugueses no Brasil do século XIX: sua influência na consolidação do uso profissional e do ensino da clarineta no Brasil CAFÉ Comunicações 19: Música em Portugal e no Brasil na viragem do séc. XXI Moderador: Mário Trilha Marina Machado Gonçalves/ Adriana Giarola Kayama/ Maria José Carrasqueira de Moraes “Cantares para versos de Fernando Pessoa” de Estércio Marquez Cunha sob o ponto de vista de Stein/Spillman Erickinson Bezerra/André Muniz Oliveira Sinfonia em Quatro Movimentos by Danilo Guanais: An analytical study of their armorial aesthetic language Klênio Barros Três peças para trombone e piano de José Alberto Kaplan – aspectos técnicos e interpretativos Mª do Rosário Santana A obra musical de João Pedro Oliveira – uma perspectiva de evolução técnica, estílistica, estética e musical Sala 06 Painel 4: Entre teatros e salões, soam canções Moderadora: David Cranmer Vanda Freire/Ângela Portela Entre teatros e salões, soam canções - Rio de Janeiro e Lisboa (1860 -1930) Ana Guiomar Rêgo Souza Entre teatros e salões, soam canções: modinhas e árias emVila Boa de Goiás e Pirenópolis – GO (século XIX a década de 1930) Magda de Miranda Clímaco Do lundu canção de Caldas Barbosa ao lundu canção dos salões e palcos do séc. XIX: a trajetória híbrida de uma matriz cultural Comunicações 20: Viagens, viajantes e Manuel de Araújo Porto-alegre Moderadora: Alberto Pacheco Cristina Cota A viagem da música religiosa nos navios de carreira para o Brasil Elisa Lessa Representações musicais do velho mundo nos relatos de viagens pelo Brasil do século XVIII e princípios do século XIX Diósnio Machado Neto A música no espaço lusobrasileiro na visão de Manuel de Araújo Porto Alegre: o Nativismo Romântico definindo a música brasileira pela expressão espontânea da cultura popular António Jorge Marques Manuel de Araújo Porto-alegre e Marcos Portugal: caminhos cruzados no espaço lusobrasileiro 13h0014h30 14h3015h30 16h0017h30 ALMOÇO PLENÁRIO (Orador convidado) O Nacionalismo Musical Brasileiro dos anos 50, entre dois documentos contestatórios Ricardo Tacuchian (Unirio) - Mesa Redonda: “O resgate do património musical: prazeres e desafios” Moderador: David Cranmer Participantes: Carlos Alberto Figueiredo, Jorge Matta, Luísa Cymbron, Manuel Morais, Márcio Páscoa Sessão de encerramento - - - CAFÉ - JANTAR 19.30 Restaurante Santa Rita Rua de São Mamede 24C 1100-535 Lisboa (perto da Rua da Madalena ou da Sé Catedral de Lisboa) I Concerto 7 de novembro, 21h30 Sala dos Espelhos do Palácio Foz, Praça dos Restauradores, Lisboa Abertura de Augurio di Felicità (Estreia moderna) Academia dos Renascidos Piano: Andréa Teixeira Seus lindos olhos Marcos Portugal (1762-1830) Modinha portuguesa – arranjo de L. van Beethoven (1770-1827) Academia dos Renascidos Tenores: Alberto Pacheco, Ozório Christovam Piano: Mário Trilha Impressões Seresteiras Valsa da Dor Piano: Luiz Pfützenreuter Le Miracle de la Semance I – Le Semeur II – L’Ancien Tenor : Alberto Pacheco Piano : Guilherme Goldberg Heitor Villa-Lobos (1887-1959) Alberto Nepomuceno (1864-1920) texto de Jacques d’Avray (1869-1958) Sonatina para violoncelo e piano (1963) Violoncelo: Nuno Cardoso Piano: Duarte Pereira Martins Ricardo Tacuchian (1939-) Este verão eles chegaram (2013, Estreia absoluta) Os saguis As jacupembas Os camaleões As tartarugas Os quatis As lulas As capivaras Os bem-te-vis As garças Eduardo chegou Ricardo Tacuchian (1939-) Piano: intérprete a anunciar II Concerto 8 de novembro, 21h30 Igreja de São Luís dos Franceses, Beco de São Luís da Pena nº 34-34A, Lisboa João Pernambuco (1883-1947) Dilermando Reis (1916-1977) João Pernambuco (1883-1947) Brasileirinho Se ela perguntar Graúna Violão: Adriana Ballesté João Cordeiro da Silva(c. 1735-1808) XII Minuetos de João Cordeiro da Silva Cravo: Mário Trilha José Maurício [de Coimbra] (1752-1815) “Que fiz eu” Academia dos Renascidos: Tenor: Alberto Pacheco Cravo: Mario Trilha “Aceita, o Bela, um suspiro” de O Eunuco Academia dos Renascidos: Tenores: Alberto Pacheco, Ozório Christovam Flauta: Andrea Teixeira Cravo: David Cranmer António Rodil (c. 1730-1787) Sonata IV Flauta: Márcio Páscoa Cravo: Mário Trilha Variações para órgão “Ao prazer das damas” Prelúdio e fuga Órgão: David Cranmer Cateretê Fortunado Mazziotti (1782–1855) Anónimo (c. 1800) Alberto Nepomuceno (1864-1920) Manuel Joaquim Maria (1840-74) texto de Francisco Correia Vasques (1839-93) Academia dos Renascidos: Tenores: Alberto Pacheco, Ozório Christovam Flauta: Andrea Teixeira Cravo: Mario Trilha RESUMOS Participantes individuais A questão terminológica no Museu de Instrumentos Musicais de Língua Portuguesa ADRIANA OLINTO BALLESTÉ (IBICT) No Brasil, desde o ano do seu descobrimento, é notória a presença de instrumentos musicais trazidos da Europa pelos portugueses. Com a vinda da Corte Portuguesa, em 1808, para o Brasil, o cenário cultural se transforma e os ares das grandes cidades européias são sentidos nas terras de além mar. No final do século XIX, ainda num ambiente cultural efervescente é fundado o primeiro e único museu de instrumentos musicais no Brasil, o Museu Delgado de Carvalho com instrumentos provenientes de diversos países. Apesar do valor deste acervo, em 2008, o museu foi desativado e os instrumentos foram recolhidos. Com o intuito reorganizar o museu garantindo a preservação dos instrumentos musicais e tornar o acervo do museu acessível foi concebido um projeto, iniciado em 2012, com duas linhas básicas de atuação: o acondicionamento e organização do acervo original do Museu Delgado de Carvalho e a criação do Museu Virtual de Instrumentos Musicais. Na catalogação dos instrumentos musicais nos deparamos com problemas relacionados à terminologia. Percebemos que não existe ainda um sistema para o controle do uso dos termos musicais, como, por exemplo, um tesauro multilíngüe amplamente utilizado para a descrição de instrumentos musicais, tanto que o CIMCIM – Comité Internacional de Museos y Colecciones de Instrumentos Musicales, que tem como missão a promoção de padrões para o uso e a conservação de museus e coleções de instrumentos musicais, recomenda que, por não haver um sistema para o controle do uso dos termos de instrumentos, deve-se usar o The New Grove Dictionary of Musical Instruments. Nesse trabalho, pretendo apresentar aspectos do desenvolvimento do Museu de Instrumentos Musicais, especialmente aqueles relativos à terminologia e sua aplicação no Museu, buscando estabelecer um diálogo com pesquisadores do patrimônio musical luso-brasileiro. Palavras-chave: museu de instrumentos musicais – terminologia – língua portuguesa. ADRIANA OLINTO BALLESTÉ. Doutora em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro com a tese "Viola? Violão? Guitarra? Proposta de organização conceitual de instrumentos musicais de cordas dedilhadas luso-brasileiros no século XIX" e Mestre em Sistemas e Computação (M.Sc., IME/RJ, 1994). Estudou violão com Turíbio Santos na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Participou da Orquestra de Violões do Rio de Janeiro sob a direção de Turíbio Santos. Estudou com os violonistas Odair Assad e Leo Soares. Trabalhou na Fundação Biblioteca Nacional de 1995 a 2003, onde criou o primeiro site da Biblioteca e desenvolveu projetos de digitalização de acervo. Foi coordenadora na área de sistemas de informação dos projetos que visaram à elaboração de catálogos digitais de Radamés Gnattali, Alex Viany, Glauber Rocha, Guerra-Peixe e Paschoal Lemme. Atualmente coordena o projeto do Museu de Instrumentos Musicais da Escola de Música da UFRJ. É pesquisadora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e violonista do Quarteto Sol Brasil de Violões e da Orquestra de Violões da Associação de Violões do Rio de Janeiro. Recorrências tópicas no “Introitus” da Missa de Requiem Op.23 de João Domingos Bomtempo ÁGATA YOZHIYOKA ALMEIDA (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) * VER PAINEL 1 A execução moderna de repertório ocasional: alguns exemplos e desafios ALBERTO PACHECO (CESEM, FCSH-UNL) Durante o período monárquico português e brasileiro, boa parte do repertório musical foi composta para celebrar ocasiões específicas: um aniversário, um casamento, um batizado ou o dia onomástico de personagens importantes, sem esquecer outros festejos de caráter puramente político ou militar. Estas composições ocasionais vão desde um hino até uma ópera. No entanto, alguns gêneros musicais ocasionais profanos, como os elogios, serenatas, licenças e hinos, fazem uso de textos que se referem de forma direta à sua respectiva ocasião e, portanto, podem ser considerados os gêneros ocasionais por excelência. Apesar de terem estado bastante presentes nos palcos luso-brasileiros dos séculos XVIII e XIX, permanecem hoje em dia praticamente silenciados, com poucos exemplos de gravações e edições modernas – a exceção de alguns hinos “nacionais”. É possível demonstrar que esta realidade contemporânea é explicada mais por questões de foro ideológico e filosófico – claramente relacionadas com alguns ideais românticos como o da arte pela arte –, e menos por mérito da componente musical da obra. O que se pretende nesta comunicação é primeiramente descontruir os atuais preconceitos em relação ao repertório ocasional, com o intuito de justificar sua eventual inserção nos programas de concerto modernos. Isto feito, serão propostas soluções para uma série de desafios de ordem prática, com os quais este autor tem se deparado na sua experiência pessoal de edição, execução e escuta deste repertório. Palavras-chave: Música ocasional luso-brasileira – Performance historicamente orientada – Recepção – Edição. ALBERTO JOSÉ VIEIRA PACHECO. Doutor e Mestre em Música pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), com pesquisa voltada à performance vocal historicamente orientada. Do mestrado resultou o livro O Canto Antigo Italiano, editora Annablume (2006) e do doutorado o Catrati e outros virtuoses: a prática vocal carioca sob influência da corte de D. João VI, editora Annablume (2009). Atualmente realiza seu pós-doutoramento na Universidade Nova de Lisboa, CESEM, como bolsista da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal). Nesta mesma instituição é um dos membros fundadores do Caravelas, Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira. Recentemente fundou a Academia dos Renascidos, grupo musical que tem por objetivo executar o repertório vocal luso-brasileiro. É presidente do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa de Investigação em Música (SPIM). Banda de música Luís de Camões e a disciplina de Foucault ALEXANDRE JOSÉ DE ABREU (UNICAMP / UNESP) Dezenas de bandas de música atuaram na cidade de Campinas durante a segunda metade do século XIX, completando um panorama de rica atividade cultural e musical na cidade. A comunidade portuguesa participou deste momento constituindo a banda da Sociedade Musical Particular Luiz de Camões, sociedade esta que contava, igualmente, com uma escola de música. Uma vez posicionada no cruzamento entre as disciplinas escolar e militar, o presente estudo pretende analisar a trajetória da instituição à luz do conceito de disciplina que Michel Foucault elaborou em seu estudo sobre a dinâmica das relações de poder nas sociedades modernas. Palavras-chave: Bandas de música – Campinas – Sant’Anna Gomes – século XIX – musicologia histórica. ALEXANDRE JOSÉ DE ABREU. Bacharel em fagote pela USP (2006) e Mestre em Música pela UNICAMP (2010). Atualmente é doutorando em música pela UNESP, sob a orientação do professor Paulo Castagna e músico da orquestra da UNICAMP. Os métodos de solfejo de Luis Álvares Pinto: Uma análise comparada da “Arte de Solfejar” e “Muzico e Moderno Systema para Solfejar” ALEXANDRE RÖHL (PPG MÚSICA / INSTITUTO DE ARTES DA UNESP) São dois os métodos de solfejo escritos por Luís Álvares Pinto (1719-1789) que hoje se encontram disponíveis em arquivos brasileiros e portugueses, a “Arte de Solfejar”, de 1761, e “Muzico e Moderno Systema para Solfejar”, de 1776. Considerando o texto de Antônio Joaquim de Mello (1854), que menciona a existência de duas obras didáticas perdidas de L. A. Pinto, “Arte pequena para se aprender a música” e “Arte grande de solfejar”, o pesquisador Jaime Diniz (1969) acrescenta a “Arte de Solfejar” de 1761 como possivelmente sendo uma terceira obra teórica do compositor pernambucano. Naquele momento, a existência do “Muzico e Moderno Systema” permanecia ignorada e até a presente data seu conteúdo permanece pouco conhecido e carente de estudos. Além de menções breves em artigos e comunicações, somente parte dos exemplos de solfejos e os “Divertimentos Harmônicos” contidos no final do método foram objetos de edições e gravações, a partir de transcrição realizada pelo pesquisador e maestro Ernani Aguiar (1991). Incluindo a existência do “Muzico e Moderno Systemar” de 1776, novas hipóteses podem ser levantadas sobre quais seriam as obras teóricas de Luís Álvares Pinto. A primeira seria considerar o método de 1776 como sendo um quarto e novo texto do autor somando aos três anteriormente mencionados. A segunda hipótese seria relacioná-lo à “Arte grande de solfejar” mencionada por A. J. de Mello, isso devido ao método de 1776 ser consideravelmente mais completo e robusto que a “Arte de Solfejar” de 1761. A partir de uma análise comparada das obras conhecidas do autor, a presente comunicação procurará demonstrar que o “Muzico e Moderno Systema” é em realidade uma revisão ampliada e corrigida da “Arte de Solfejar” de 1761, levantando uma terceira hipótese de que ambos os métodos possam ser o mesmo mencionado por A. J. Mello. Palavras-chave: Luís Álvares Pinto – século XVIII – teoria musical – solfejo. ALEXANDRE CERQUEIRA DE OLIVEIRA RÖHL. Doutorando em Música no Instituto de Artes da UNESP, com o projeto “O solfejo heptacórdico de Luís Álvares Pinto e a teoria musical luso-brasileira no século XVIII”; desde o início de 2012 (bolsa Capes). Possui o título de Mestre em Música (2010), com o projeto “A fuga-dupla luso-brasileira nos séculos XVIII e XIX" (bolsa Capes) e Bacharelado em Composição e Regência (2005), ambos pelo Instituto de Artes da UNESP. Foi bolsista CNPq e Fapesp, de iniciação científica, durante sua graduação e bolsista de pós-graduação da Fundación Carolina para o “Curso en Musicología para la Protección y Difusión del Patrimonio Artístico Iberoamericano”, realizado pelo Real Conservatorio Superior de Musica de Madrid em conjunto com a Real Academia de Bellas Artes de San Fernando (2007). Atua como maestro e professor de música em projetos corais no estado de São Paulo. Entre teatros e salões, soam canções: modinhas e árias em Vila Boa de Goiás e Pirenópolis – GO (século XIX a década de 1930) ANA GUIOMAR REGO SOUZA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) * VER PAINEL 4 Miguel Ângelo Pereira, "organista particular da Capela de S. M. o Imperador do Brasil" ANA MARIA LIBERAL (CESEM, FCSH-UNL) A generalidade dos biógrafos de Miguel Ângelo Pereira é unânime em afirmar que ele foi nomeado organista da Capela Imperial do Rio de Janeiro pelo Imperador D. Pedro II aos 14 anos de idade, ou seja, em 1857. Todavia, a documentação constante no espólio documental daquela instituição brasileira contraria aquele pressuposto. Neste contexto, a presente comunicação propõe-se reconstituir a actividade de Miguel Ângelo Pereira como músico da Capela Imperial apresentando factos e elementos inéditos recolhidos no Arquivo Nacional da antiga capital do império brasileiro. Palavras-chave: Brasil – Capela Imperial – organistas – séc. XIX. ANA MARIA LIBERAL. Doutorada em História da Música, com distinção e louvor, pela Universidade de Santiago de Compostela, com a tese de doutoramento intitulada “A vida musical no Porto na segunda metade do século XIX: o pianista e compositor Miguel Ângelo Pereira (1843-1901)”. Entre 2007 e 2013 foi investigadora associada do CITAR – Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias das Artes do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa. Desde Outubro de 2013 é investigadora associada do CESEM. É, também, membro do grupo de investigação "Estudos Interdisciplinares em Ciências Musicais", sedeado na Universidade Federal de Pelotas (UPel). Em 2008 coordenou cientificamente o projecto "Levantamento, inventariação e catalogação do espólio do Orpheon Portuense" desenvolvido pelo CITAR em parceria com a Fundação Casa da Música. Efectuou a revisão musical das partituras Gradual de Eurico Tomás de Lima (2006) e Para os pequenos violoncelistas (2004) editadas pelo CESC – Centro de Estudos da Criança da Universidade do Minho. É autora do livro Club Portuense. Catálogo do Espólio Musical (Porto: Club Portuense, 2007) e co-autora, com Rui Pereira e Sérgio C. Andrade, dos três volumes de Casas da Música no Porto: para a história da cidade (Porto: Fundação Casa da Música em 2009-2011). Ana Maria Liberal colabora regularmente com a Fundação Casa da Música na realização de palestras préconcerto e concertos comentados, bem como na redacção de programas de sala. Desde Setembro de 2008, assina a rubrica "Estorias do Porto Musical” na revista O Tripeiro. Os seus interesses enquanto musicóloga privilegiam a historiografia musical portuguesa, em especial as relações musicais entre Portugal, a Europa e o Brasil nos sécs. XIX e primeira metade do séc. XX. A referência da cultura portuguesa nos teatros de Goiás ANDRÉA LUÍSA TEIXEIRA (CESEM, FCSH-UNL / UFG / PUC-GO) Goiás começou a se formar pelo lado de São Paulo, isto é, confins das terras paulistas, então conhecidas, para o interior que a coragem dos bandeirantes ia descobrindo e percorrendo (SILVA, C., 1935). A primeira região ocupada foi a região do Rio Vermelho. Fundou-se o Arraial de Sant´ana, que depois seria chamado Vila Boa, e mais tarde, Cidade de Goiás, sendo durante 200 anos, a capital do território. O século XVII é marcado pelo início da conquista do Brasil Central. À medida que iam avançando os bandeirantes (sertanistas que, a partir do século XVI, penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais, os descobrimentos iam se sucedendo. Passado o primeiro entusiasmo da mineração, se os interesses em mantê-los não eram extraordinários, abandonava-se pela metade o trabalho iniciado e descuidava-se, por completo. Começaria daí a grande crise da mineração. Vários Teatros foram construídos no auge do período aurífero, inclusive com apresentações de Óperas, e depois, completamente abandonados. Driblando as sucessivas crises nas Províncias, após vários anos, e com a chegada da Família Real ao Brasil em 1808, segundo Lyra (1994), o novo império anunciado com D. João VI, se colocava como elemento unificador das partes distintas do mundo português e o sentimento de pertencimento a nação lusa, e tentavam dessa forma, assegurar a criação de um sentimento de identidade entre os habitantes do “genérico Brasil”. O período joanino deixou como legado em Goiás, uma atenção voltada ao interior do Estado, visando interligação pelas rotas fluviais. Dentre estas cidades, que eram vistas com um futuro promissor sócio, político e cultural e que estavam providas com Teatros, citamos: Traíras, Pilar, Meia Ponte (Pirenópolis), Jaraguá, Corumbá, Vila Boa (Cidade de Goiás), Bonfim (Silvania). Segundo levantamentos feitos até o momento, a referência do gosto musical português influenciou bastante a vida cultural goiana. Palavras-chave: Teatro – Música – Luso-brasileiro – Romantismo. ANDRÉA LUÍSA TEIXEIRA. Doutoranda em Ciências Musicais pela UNL, pianista da Universidade Federal de Goiás e Pesquisadora da PUC/Go. Coordenadora do Projeto Sons do Cerrado, de mapeamento das manifestações culturais do bioma cerrado. Autora do Livro: A Densidade do Próprio na Folia de Reis: uma investigação acerca de tempo, mito, memória e sentido. (Ed. Kelps, 2009). Primeiro lugar no Concurso Nacional de Piano Villa-Lobos em São Paulo e terceiro lugar no Concurso Maryse Cheillan (França). Iniciou a série de Música Brasileira no Wereld Museum de Rotterdam e fez a abertura do Brazilian Music Festival (USA). Tem-se apresentado em vários Congressos de Musicologia nas 3 Américas e Europa. Parecerista do Prêmio Petrobrás Cultural (2009). Conselheira de Cultura da Cidade de Goiânia (Área de Música - 2002-2007). Manuel de Araújo Porto-alegre e Marcos Portugal: caminhos cruzados no espaço luso-brasileiro ANTÓNIO JORGE MARQUES (CESEM, FCSH-UNL) O escritor, jornalista, pintor, caricaturista, arquitecto, crítico, historiador de arte e professor Manuel de Araújo Porto-alegre, foi uma figura ímpar da cultura brasileira. Nascido em Rio Pardo (Rio Grande do Sul) em 1806, chegou ao Rio de Janeiro em inícios de 1827 e terminou a sua carreira como diplomata em Lisboa em 1879, cidade onde tinha sido nomeado cônsul do Brasil em 1867. Em 1874, Porto-alegre foi agraciado pelo imperador do Brasil D. Pedro II com o título nobiliárquico de barão de Santo Ângelo. Os seus percursos pessoal e profissional cruzaram-se com aqueles do luso-brasileiro Marcos Portugal, contribuindo para moldar a imagem deste junto das elites e público brasileiros. Além dos 3 anos em que conviveram na Corte Imperial, os seus caminhos continuaram a cruzar-se mesmo depois da morte do compositor, através de vários artigos e críticas produzidos por Porto-alegre, que o considerava um «grande brasileiro». Fontes já conhecidas e novas fontes serão utilizadas para analisar a trajectória crítica do historiador de arte brasileiro sobre a obra e sobre o homem, assim como o seu contributo para a preservação do património criado por Marcos Portugal, incluindo a Relação Autógrafa, a mais importante e abrangente fonte marciana. Palavras-chave: Manuel de Araújo Porto-alegre – Marcos Portugal – estudos culturais luso-brasileiros – crítica musical. ANTÓNIO JORGE MARQUES. Doutoramento em Ciências Musicais Históricas (UNL, 2010), Licenciatura em Ciências Musicais Históricas (UNL, 1999), Bacharelato em Flauta Transversal (Escola Superior de Música, Lisboa, 1992), Bacharelato em Informática e Estatística (Universidade do Natal, Durban, 1978). Foi o comissário da exposição Marcos Portugal (17621830): 250 anos do nascimento e coordenou o respectivo catálogo (Biblioteca Nacional de Portugal/CESEM/Fundação da Casa de Bragança, 2012). Tese de doutoramento intitulada Marcos António Portugal (1762-1830): catálogo temático, crítica de fontes e de texto, proposta de cronologia (BNP/CESEM, 2012; edição brasileira: EDUFBA, 2012). Edição crítica da Missa Grande de Marcos Portugal (Coro de Câmara de Lisboa, 2009). É membro do Coro de Câmara de Lisboa desde 1982, com o qual tem dado inúmeros concertos em Portugal e no estrangeiro e gravou vários CD. Com o mesmo grupo produziu a edição em CD da Missa Grande. Faz parte do Projecto Marcos Portugal (CESEM, UNL) que, com coordenação de David Cranmer, tem como objectivos principais o estudo, divulgação e edição da obra do luso-brasileiro Marcos Portugal, além da publicação do catálogo temático. Álvares Pinto, Um Luso-Brasileiro “Mestiço” na Música da Capela Real ÁRCRIPO FRANCISCO GOMES NEVES (UNICAMP) Segundo Jaime Cavalcanti Diniz (1924-1989), o compositor Colonial de Pernambuco – Brasil – mais expressivo é o recifense Luiz Álvares Pinto (1719-1789). Considerando seu contexto social, abordamos motivos pelos quais foi enviado a Portugal estudar com o contrapontista Henrique da Silva Esteves Negrão (+1787), tornando-se temporariamente músico da Capela Real. Desde a invasão holandesa à Capitania de Duarte Coelho (1630), tensões políticas, econômicas e principalmente religiosas se estabeleceram entre católicos e protestantes ali coabitantes. Os nativos e portugueses estabelecidos, em sua totalidade católicos, insurgiram-se contra o protestante Domínio Holandês que impunha seus dogmas e condições econômico-sociais. Esse “sentimento nativista” dos luso-brasileiros de Pernambuco promoveu o movimento que culminou com a Restauração Pernambucana, propulsora de ações voltadas para a reafirmação do catolicismo e do status dos nativos – ocorridas desde a expulsão holandesa (1654) até o século XVIII. Fatores significativos foram o desenvolvimento das artes sacras – segundo Marcílio Lins Reinaux (1975) – e a associação dos fiéis em irmandades com vistas a promoção da música nas igrejas. Assim, o financiamento dos estudos de Álvares Pinto em Portugal tem relação direta com a ação da Irmandade do Livramento custear – quando somente fidalgos estudavam na Europa – sua melhoria de educação, visando posterior aplicabilidade na comunidade. O que ocorreu após sua passagem por Lisboa, ao atuar na música das igrejas e da sociedade do Recife. Palavras-chave: Luiz Álvares Pinto – Música do Recife Colonial – Música Colonial Brasileira – Música Lusobrasileira. ÁRCRIPO FRANCISCO GOMES NEVES. Natural do Recife, Pernambuco, Brasil. Bacharel em Instrumento (1998) e Licenciado em Música (2002) pela Universidade Federal de Pernambuco. Em 2009/2010 foi professor do Departamento de Música da UFPE nas disciplinas Flauta Doce e Técnica Vocal. É professor de Flauta Doce do Conservatório Pernambucano de Música e do Centro de Educação Musical de Olinda. Possui Curso Regular de Canto do Conservatório Pernambucano. Teve aulas de canto com os professores: Jasmin Martorell (França), Ângelo Dias (Brasil) e Karine Serafin (França). Desenvolve trabalho de pesquisa e realização da música dos séculos XVII e XVIII com o grupo TRIO SONATA (atual GRUPPO SONATA) como diretor artístico. Realizou obras de compositores como J. S. Bach: BWV 1031 e 1038; G. Ph. Telemann: Trios-sonatas; A. Corelli: “La Folia”; e L.-N. Clérambault: Cantata “Pirâme et Tisbé”. Atualmente desenvolve a dissertação de mestrado "A música do Recife Colonial: Mottetos Inéditos de Luiz Álvares Pinto no Acervo de Diniz no Instituto Brennand", no programa de Pós-graduação em Música do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas – SP – UNICAMP, sob orientação do Prof. Dr. Edmundo Pacheco Hora. Reconstituição da ópera Belisário a partir dos manuscritos de Vila Viçosa BENJAMIN PRESTES (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) Dentre os principais títulos de literatura de cordel compartilhados entre Portugal e Brasil, encontra-se Belisário que teve a sua primeira publicação no ano de 1777. Trata-se de uma comédia de Carlo Goldoni que posteriormente foi traduzida para o português por Nicolau Luis. Neste contexto luso-brasileiro do século XVIII, a referida comédia foi encenada na Amazônia meridional, especificamente na cidade de Cuiabá no ano de 1786 num tablado montado ao ar livre. Existe manuscrito musical (G prática 117.20), referente a esta comédia, que faz parte do acervo do Paço Ducal de Vila Viçosa. Tal manuscrito está dividido em partes separadas, as instrumentais de Basso (baixo contínuo), violino 2 e violino 1, viola, oboés e trompas, e as partes vocais com letra e música designadas para cinco personagens: Belizario, Felipe, Narcete, Onória e Porcia. Essas partes cavas não combinam totalmente entre si. Com exceção das partes de viola, oboés e trompas, é possível obter um conjunto coerente de nove cantorias, que podem ser ordenadas de acordo com suas disposições no manuscrito. As partes de viola, dois oboés e duas trompas, que não correspondem musicalmente entre si, podem ser, provavelmente, partes que sobraram de outras cantorias que completariam a ópera ou que fazem compartilha com outras óperas. A respeito disso, verifica-se que a cantoria Irei armado eu mesmo, com exceção da letra, também está presente em outro manuscrito vizinho (G prática 117.30) referente à comédia A mulher Amorosa, que pertence assim como Belisário ao acervo de Vila Viçosa. A presente pesquisa tem por fim a reorganização e a reconstituição histórica desta ópera através do restauro do respectivo manuscrito, incluindo possível futura reconstrução das partes instrumentais de violas, trompas e oboés, além da contextualização da ópera no cenário musical luso-brasileiro. Palavras-chave: Manuscrito – reconstituição histórica – Belisário. BENJAMIN DA SANTA CRUZ PRESTES nasceu em Manaus no ano de 1991, é graduado com o título de Bacharel em Música com habilitação em violão pela Universidade do Estado do Amazonas. Participou de pesquisas com o trabalho de restauro de partituras vinculado ao Laboratório de Musicologia e História Cultural da UEA. Possui duas premiações (1°lugar e revelação) referentes ao concurso de violão Domingos Lima 2010/2011. Atualmente é aluno vinculado ao Programa de Pós-graduação em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas, orientando do professor Márcio Páscoa. É integrante da Orquestra de Violões do Amazonas (OVAM) e professor do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro. Também se dedica ao repertório de música antiga como alaudista da Orquestra Barroca do Amazonas (OBA). Efeitos Percussivos em Divagação, para piano, violoncelo e tambor ad libitum de Heitor Villa-Lobos CAMILA ZERBINATTI (UDESC- UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA) Villa-Lobos teve importantes conexões com o violoncelo: dedicou-se ao seu estudo, trabalhou como violoncelista e dedicou expressivo número de obras para este instrumento. A peça Divagação, para piano, violoncelo e tambor ad libitum (1946) apresenta inovações estilísticas e técnicas ao repertório violoncelístico. O presente artigo investiga os efeitos percussivos na obra e sua execução. Este estudo se insere na linha de pesquisa Música e Execução e integra pesquisa sobre os Efeitos Percussivos no repertório violoncelístico dos séculos XX e XXI. A metodologia de pesquisa inclui a análise dos elementos composicionais da obra, investigações sobre os efeitos percussivos utilizados, contextualização da obra na produção villalobiana e no repertório violoncelístico dos séculos XX e XXI e consulta à bibliografia específica: SALLES (2005), DUARTE (2009), NEVES (2008), PILGER (2010), PRESGRAVE (2009), FALLOWFIELD (2009) e UITTI (1999). Divagação foi escrita no mesmo ano de composição das Bachianas Brasileiras n. 6 e n. 7 e do Quarteto de Cordas n. 10. Nestas obras observamos o domínio técnico composicional de Villa-Lobos através da combinação entre grande estruturação formal, organização harmônica e as fusões com o chorinho, cantos tribais indígenas e elementos da música afro-brasileira. Os motivos melódicos utilizados em Divagação são eloquentes e sombrios, em linguagem visceral e agressiva, distantes dos tradicionais ‘cantabile’ dedicados ao violoncelo em composições precedentes. Os materiais musicais adotados na peça estão claramente ligados ao universo indígena. Observamos marcantes e repetitivas figuras rítmicas que imitam instrumentos percussivos no violoncelo. Este é um dos primeiros registros de sons percussivos na literatura violoncelística e, até o envio deste resumo, o próximo registro de efeitos percussivos para violoncelo encontrado em pesquisa data de 1966, na peça Nomus Alpha de Iannis Xenakis. Esta investigação aponta o papel de relevância que a peça da peça no repertório violoncelístico por contribuir com transformações estilísticas, idiomáticas técnicas. Palavras-Chave: Villa-Lobos – Violoncelo – Efeitos Percussivos – Técnicas Extendidas. CAMILA DURÃES ZERBINATTI é violoncelista, graduada em Licenciatura com Habilitação em Música pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo- USP. Concluiu em fevereiro de 2012 o curso de Pós-Graduação em Práticas Interpretativas dos Séculos XX e XXI na Escola de Música da UFRN com ênfase em violoncelo, sob orientação de Fábio Soren Presgrave. Em dezembro de 2012 pós-graduou-se neste curso, com ênfase em Música de Câmara, sob orientação de Elke Beatriz Riedel. Em 2013 ingressou no curso de Mestrado em Musicologia da UDESC sob orientação de Guilherme Saeurbronn. Integrou a OCAM- Orquestra de Câmara da USP, em São Paulo, a OSUFRN- Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Orquestra do SESI- Solar Bela Vista, em Natal.Desenvolve pesquisa sobre Técnicas Expandidas para Violoncelo: Efeitos Percussivos no Repertório Violoncelístico dos séculos XX e XXI. Apresentou o artigo “Violoncelo Expandido: efeitos percussivos em Lamento Quase Mudo de Silvio Ferraz” e um recital temático e palestra sobre a pesquisa. Teve dois artigos publicados na ABEM Nordeste- 2010 e recentemente, a aprovação do artigo “À Deriva, de Marisa Rezende: um Jogo de Escolhas Interpretativas“ na ANPPOM- 2012. Dedica-se às áreas de pesquisa: Musicologia, Análise e Performance/ Práticas Interpretativas. Problemas estruturais nas fontes que transmitem o repertório sacro e religioso brasileiro dos séculos XVIII e XIX e seus reflexos nas questões editoriais CARLOS ALBERTO FIGUEIREDO (UNIRIO) O texto musical escrito é constituído de lições e se organiza numa determinada estrutura. O conceito de lição é bem abrangente, podendo ser definido como qualquer porção ou segmento de um texto. Na música ocidental, os parâmetros altura e ritmo, pelo menos até o início do século XX, estabelecem a identidade básica de uma obra e constituem, por isso, os elementos essenciais que caracterizam as lições da obra musical. Outros exemplos de lição são os sinais de dinâmica e de articulação. Em obras vocais, os fragmentos do texto literário ou litúrgico também são lições. Estrutura, em oposição à lição, “é o conjunto de relações existentes entre todos os elementos semânticos de um texto” (SEGRE, 1989:157). Para Caraci Vela, é a organização interna de uma obra, bem como a ordem de sucessão de seus elementos constitutivos (1995:20), gerando um “encadeamento discursivo” (SEGRE, 1989:151). Podemos classificar as estruturas de uma obra musical multiseccional em dois tipos: pequenas e grandes estruturas. A pequena estrutura diz respeito às relações dentro de uma mesma seção e a grande estrutura diz respeito às relações entre as várias seções. A organização fraseológica e a existência de codas ou introduções são exemplos de pequenas estruturas, enquanto a sequência proposta das seções caracteriza uma grande estrutura. A organização tímbrica de uma obra musical, principalmente quando apenas instrumentada, e o plano tonal, ou seja, as relações tonais entre seções, são outros exemplos de grande estrutura. Nesta comunicação serão abordados os vários problemas trazidos pelas fontes manuscritas de época que transmitem o repertório sacro e religioso brasileiro dos séculos XVIII e XIX no que diz respeito às estruturas e a maneira como os editores brasileiros desse repertório têm se posicionado de forma diferenciada diante desses problemas. Palavras-chave: estruturas e lições – edições – música sacra brasileira dos séculos XVIII e XIX. CARLOS ALBERTO FIGUEIREDO. Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). É Doutor em Música pela UNIRIO com a Tese Editar José Maurício Nunes Garcia, agraciada com o Prêmio José Maria Neves da Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Música (ANPPOM), em 2005. Sua pesquisa é voltada para as questões gráficas em música, com destaque para as edições de música e a notação musical. Participou de vários projetos editorias brasileiros de relevo, com destaque para Acervo e Difusão de Partituras, onde atuou como coordenador editorial. Esse projeto editou, durante três anos, 51 obras brasileiras dos séculos XVIII e XIX, a partir de manuscritos existentes no Museu da Música de Mariana, Minas Gerais. Atuou também no projeto Patrimônio Arquivístico-Musical Mineiro. É autor do Catálogo de Publicações de Música Sacra e Religiosa Brasileira obras dos séculos XVIII e XIX (www.musicasacrabrasileira.com.br). Estudou Regência Coral com Frans Moonen, no Conservatório Real de Haia, Holanda. Fez cursos complementares na Fundação Kurt Thomas da Holanda, com Helmuth Rilling em Stuttgart e repertório barroco com Philippe Caillard, em Paris. É regente do Coro de Câmera Pro-Arte, conjunto com o qual vem divulgando a obra de José Maurício Nunes Garcia em concertos e CDs. A criação do Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro e a construção de uma identidade brasileira para o ensino de Música CAROLINE CAREGNATO (UNICAMP) O primeiro conservatório de música do Brasil – o Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro – foi criado em 1841, durante o período do Segundo Reinado. A criação do Conservatório implicou na transferência da responsabilidade sobre o ensino de música da Igreja para o Estado, levou a uma maior sistematização do ensino (que passou a ser dividido entre teoria e prática em função da influência do modelo conservatorial francês), e também levou à expansão do acesso à aprendizagem musical. Essas transformações no ensino de música da época são reflexos de ideais da elite imperial que permearam os primeiros anos do Segundo Reinado, e que visavam à consolidação do Estado brasileiro recentemente emancipado de Portugal, ao fortalecimento da soberania brasileira e à construção de uma nação organizada e civilizada. A fundação do Imperial Conservatório simbolizou um marco no ensino de música brasileiro, cujas influências podem ser notadas até a atualidade. O modelo conservatorial de ensino, introduzido em 1841 e baseado na dicotomia teoria/prática, ainda persiste nos conservatórios, escolas de música e até mesmo dentro da escola regular brasileira. Este trabalho tem como objetivo refletir acerca dos ideais de construção de uma identidade nacional que permearam a fundação do Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro. A partir dessa reflexão é possível tecer uma análise crítica acerca da absorção do modelo conservatorial originalmente francês – ainda em vigor nos dias atuais – como alternativa para a construção de uma identidade brasileira para o ensino de música. Frente à diversidade cultural e musical do país, dado o predomínio da prática sobre a teoria e da oralidade no ensino informal de música no Brasil, e passados mais de 170 anos da introdução do modelo conservatorial, é preciso que busquemos formas de ensinar música que contribuam de fato para a consolidação de uma identidade brasileira independente. Palavras-chave: Conservatório de Música do Rio de Janeiro – modelo de ensino conservatorial – história do ensino de música no Brasil. CAROLINE CAREGNATO, brasileira, é mestre em Música na área de Cognição e Educação Musical pela UFPR - Universidade Federal do Paraná e licenciada em Música pela EMBAP - Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Atualmente é aluna do curso de Doutorado em Música da UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas e desenvolve pesquisas sobre ensino de música e desenvolvimento musical. É professora de Canto Lírico do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí. A música sacra em Campinas: 1774 a 1870 CLAYTON JÚNIOR DIAS (UNICAMP) A literatura sobre a história da Música Sacra em Campinas no período que antecede a criação de sua segunda paróquia (1870) é praticamente inexistente. Os autores pesquisados insistem que, a partir da fundação da segunda paróquia, a configuração da musical religiosa em Campinas se transforma. Em nosso levantamento bibliográfico encontramos apenas relatos sobre a história da música sacra no período posterior. Cada paróquia da Arquidiocese, desde que foi criada, possui um Livro de Tombo que funciona como “diário” no qual os párocos anotam os principais acontecimentos eclesiásticos. Tais livros, sob a tutela da Chancelaria da Cúria Metropolitana de Campinas, são relatos detalhados do desenvolvimento das paróquias. Por vezes esses relatos trazem nomes dos músicos, nomes das peças executadas nas missas, ocasiões em que foram executadas, salários pagos aos músicos, etc. A pesquisa, até então inédita a esses Livros de Tombos revela importantes questões do nosso passado musical. Além da Cúria Metropolitana, outro importante centro de documentação sobre a história da Igreja é o Archivum Secretum Vaticanum (Arquivo Secreto Vaticano). Muitos documentos que se perderam da Cúria Arquidiocesana de Campinas nas suas diversas mudanças de gestão e de prédios, estão devidamente arquivados nesse Arquivo. A facilidade de nossa inserção na Arquidiocese de Campinas, através da Direção do seu Curso de Extensão em Música Litúrgica, contribui para as pesquisas nesses acervos, possibilitando o resgaste de um material inédito sobre o referido tema e que serve para os demais pesquisadores desta área. Palavras-chave: Música sacra – Igreja católica – História de Campinas. CLAYTON JÚNIOR DIAS é Técnico em Música com habilitação em Regência pela Escola de Artes Heitor Villa-Lobos (Ribeirão Preto/ SP), Bacharel em Música, modalidade Voz pela UNICAMP e Mestre em Música pela UNICAMP onde atualmente cursa o Doutorado em Música sob orientação da Dra. Adriana Giarola Kayama. Desenvolve intensa pesquisa voltada à Música Sacra tendo participado de cursos de formação em Portugal, na Itália (Pontifício Instituto de Música Sacra de Roma; Canto Gregoriano em Assis). Em Campinas, dirige o Curso de Extensão em Música Litúrgica da Arquidiocese de Campinas (CEMULC) e rege o Coro da Arquidiocese de Campinas Requiem for the victims of fascism. Sense of sacred, peasant traditions, secular religion of democracy. From Lopes-Graça to Brazil, COSIMO COLAZZO (CESEM, FCSH-UNL / CONSERVATÓRIO DE MÚSICA “F. A. BONPORTI”, TRENTO) Which is the relationship with religion by Fernando Lopes-Graça? His interest is conveyed by the study of peasant folk traditions of Portugal, where religion plays an evident role and influences the collection of traditional songs. Anyway, that world needs to be changed. Religion can not be something to undergo passively, a code to reproduce. It is something that is part of our identity and should be considered in a perspective and proactive way. Here comes into play the political sense of the artistic and music mission practice in Lopes-Graça. A civic and secular ethic considers the religious feeling as an historical and cultural construct. It is animated by a political vision which aims towards the great values of Freedom and Tolerance. The institutional Church has betrayed the Christian message. “Nós devemos comemorar o Homem-Deus. [La igreja católica] matou Cristo […] que pregou a Tolerancia, proclamou a Libertade”. After the Carnation Revolution, when Lopes-Graça builds a musical monument in favour of the victims of fascism, he uses the Latin Mass in a contemporary way: the sacred includes an historical project. In the Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal (1979) the sacred expressions are grafted with post-tonal languages and can be connected with the voices of Portugal rural culture. This vision of Lopes-Graça, of a historical and antropological perspective in laicism, influences a strict relationship with a group of intellectuals in Brazil. In the 50’s their aim was to tend to a contact with popular identity in the peculiarities of the Brazilian history. Inside a different way of feeling toward secularism and political engagement acquires a polemical approach importance in Brazil against the proponents of the twelve-tone music. Following this idea the serialism may convey to an international globalism and mythology in progress and development. In post-colonial dimension, an engagement is necessary: to study and investigate an historically local built identity. Keywords: Lopes-Graça – sacred – peasant culture – democracy – Brazil. COSIMO COLAZZO graduated in Piano, Composition, and Conducting. Furthermore he holds a Philosophy degree. His compositions have been featured at various Festivals and are performed in Italy, Europe, United States, South America and Japan. Colazzo operas are published by Rai Trade. As recognized talented pianist, Colazzo took successfully part in competitions. He performs piano recitals (Europe, United States, South America) whose programs consist of his own works as well as those by little known masters of the 20th century. He contributes to musicological and philosophical journals. Author of books and essays, he deals with articles and issues regarding composition, contemporary creativity and analysis of the relation between music and cinema. He has taken part to international congresses. Previously, he took part to meetings at Université de Lorraine de Nancy, Universidade Nova de Lisboa, Université de Pau et des Pays de l'Adour, California State University of Bakersfield. He is member of CESEM, Universidade Nova de Lisboa. Colazzo has taught in several various Conservatories and Universities in Italy and United States. At the present he is Professor of Composition at Trento Conservatory of Music and Faculty Member of Italian School of Middlebury College. From the years 2005 to 2011 he was head manager in Trento Conservatory. A viagem da música religiosa nos navios de carreira para o Brasil CRISTINA COTA (CESEM, FSCH-UNL) A tripulação de uma nau incluía, para além dos elementos ligados directamente à navegação, muitos outros viajantes que se aventuravam a uma nova vida nas novas terras descobertas. A vida religiosa desta pequena sociedade marítima era assegurada pelos padres e missionários que os acompanhavam no seu ardor de evangelização. É através dos relatos e crónicas de alguns destes religiosos, que se revela uma surpreendente prática musical religiosa acompanhada de instrumentos musicais, com o destino de fecundarem religiosa e musicalmente o Brasil. Palavras-chave: Ordens religiosas – Brasil – Missionação – Relatos de viagens – Musicologia Histórica. CRISTINA MARIA DE CARVALHO COTA, natural de Lisboa, iniciou os seus estudos de música aos sete anos de idade, concluindo o Curso Complementar de Violino na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciada em Ciências Geofísicas, decide-se pelas Ciências Musicais Históricas, defendendo, em 2007, tese de mestrado sobre a Música no Convento da Ordem de Cristo em Tomar. Actualmente, é doutoranda e bolseira de investigação da FCT. O seu tema de investigação versa a Ordem de Cristo e a Ordem Franciscana, no contexto da Expansão, Missionação e Música, com enfoque para as relações luso-brasileiras. Faz parte do corpo de investigadores do CESEM, FCSH-UNL (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa), e do CARAVELAS - Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira. As últimas sonoridades do Absolutismo monárquico:a actividade musical na Patriarcal de Lisboa entre 1807 e 1834 CRISTINA FERNANDES (INET-MD, FSCH-UNL) Habitualmente vistos como uma etapa de decadência ou como o ocaso do esplendor setecentista, os derradeiros capítulos da história e da actividade musical da Patriarcal e da Capela Real de Lisboa antes do colapso do Antigo Regime em 1834 não foram até agora objecto de análise e pesquisa sistemática. Os faustos da Patriarcal de D. João V no domínio da música e das artes visuais têm motivado diversos estudos; o sistema produtivo da música sacra na Capela Real e na Patriarcal de Lisboa entre 1750 e 1807 foi o tema da tese de doutoramento da presente autora; e sobre a Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro contamos com o contributo de André Cardoso, entre outros trabalhos. Mas a história do período final da Patriarcal, cujo percurso é indissociável da Capela Real, permanece por contar, ainda que alguns aspectos isolados tenham sido abordados por via indirecta noutras pesquisas. Com esta comunicação pretende-se preencher essa lacuna tendo em conta dois momentos bem distintos dessa última etapa: 1) O funcionamento da Patriarcal da Ajuda na ausência da corte (1807-1821), afectada por inúmeras dificuldades (que o Beneficiado António Pedro Garcia relata ao Príncipe Regente nas cartas que lhe escreve para o Brasil) mas continuando a motivar o espanto de viajantes estrangeiros como Samuel Broughton devido à teatralidade do cerimonial e ao brilho musical; 2) A música na Capela Real e Patriarcal entre o regresso de D. João VI em 1821 e o triunfo do Liberalismo em 1834, período conturbado em que a instituição foi abalada por vários avanços e recuos, bem como pelas tentativas de reforma do Real Seminário de Música da Patriarcal. Além do contexto histórico, social e político que vai determinar o fim do Absolutismo e a extinção da Patriarcal segundo o modelo do Antigo Regime, serão abordados aspectos relativos à sua derradeira actividade musical, aos quadros profissionais (compositores, cantores, organistas, etc.), ao cerimonial, aos repertórios, ao ensino e às práticas performativas. Palavras chave: Música Sacra – Patriarcal de Lisboa – Capela Real – final do Antigo Regime – Real Seminário de Música da Patriarcal. CRISTINA FERNANDES é doutorada em Música e Musicologia pela Universidade de Évora com a tese O sistema produtivo da música sacra em Portugal nos finais do Antigo Regime: a Capela Real e a Patriarcal entre 1750 e 1807, sendo actualmente investigadora integrada do INET-MD da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde desenvolve o programa de Pós-Doutoramento Música na Capela Real e Patriarcal (1716-1834): modelos, repertórios e práticas performativas, com uma bolsa da FCT. Natural da Guarda, fez o curso complementar de Piano no Conservatório de Música da Covilhã e a licenciatura e o mestrado em Ciências Musicais na FCSH-UNL. A sua dissertação de mestrado foi publicada em 2005 nas edições Colibri sob o título Devoção e Teatralidade: as Vésperas de João de Sousa Vasconcelos e prática litúrgico-musical no Portugal pombalino. Pertence à equipa do projecto “Estudos de Música Instrumental em Portugal (1755-1840)” da UnIMeM da Universidade de Évora e ao grupo de investigação “Música en España en la Edad Moderna: composición, recepción e interpretación” da Universidad de La Rioja (Logroño, Espanha). Leccionou em vários estabelecimentos de ensino, entre os quais a Escola das Artes da Universidade Católica (Porto), e é autora de numerosos textos no âmbito da musicologia história e da divulgação musical. Desde 1996 é crítica de música do jornal PÚBLICO. Paixão em Amália Rodrigues e Caetano Veloso: sina e esperança DÁRIO BORIM JR (UMASS DARTMOUTH) Amália Rodrigues (1920-1999), a mais famosa fadista portuguesa, morou, cantou e gravou por uns tempos no Brasil. Ela até mesmo se casou com um brasileiro em 1961. Seu extraordinário legado musical neste país foi de grande influência para Caetano Veloso (1942), cantor-compositor brasileiro que escreveu fados que já fazem parte do mais belo cancioneiro luso-brasileiro de todas as épocas. Na década de 1960 esses dois expoentes da música lusófona criaram pérolas poético-musicais que estabelecem um diálogo sobre a paixão, tema central deste ensaio. Há poucas dúvidas sobre a hipótese de que o termo grego que dá origem à palavra paixão seja pathos. Entretanto, a etimologia consensual de qualquer palavra não encerra nossa busca pela compreensão dos conceitos atribuídos, ao longo dos séculos, a um dado vocábulo do nosso léxico contemporâneo. O conceito de paixão – assim como foi o de pathos na Grécia antiga e na Grécia clássica – provavelmente para sempre será caracterizado por inúmeras e profundas contradições. Uma das ideias mais remotas acerca da paixão (isto é, de pathos) é a de passividade, de entrega do ser a uma força superior que o rege, que o subjuga. Inclinação ou tendência natural do ser (ou ethos, em grego), a paixão pode transformar-se em “força destrutiva por desmedida”, segundo a filósofa Marilena Chauí . Outro conceito dos tempos modernos é o de que a paixão pode ser a grande força motriz do ser humano. O filósofo francês Gérard Lebrun nos lembra que “paixão e razão são inseparáveis”, e que para o filósofo idealista alemão Georg Hegel (1870-1931) em Estética, “[n]ada de grande se faz sem paixão”. Com o intuito de comparar e contrastar esses vários conceitos de paixão, enfocaremos o dramático fado “Estranha forma de vida” (1962), de Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro, e a melancólica balada “Coração vagabundo” (1967), de Caetano Veloso. Key-Words: Amália Rodrigues – Caetano Veloso – Passion – Gérard Lebrun – Marilena Chauí. DÁRIO BORIM JR is associate professor of the Department of Portuguese at UMass Dartmouth, where he has been teaching undergraduate and graduate courses in Brazilian literature, music and culture since 2000. He is also translator, creative writer, concert producer, and Internet/radio programmer at WUMD. His books are Antonio Carlos Jobim: An Illuminated Man, translated from Helena Jobim's biography of her brother (Hal Leonard, 2011), Perplexidades: raça, sexo e outras questões sociopolíticas no discurso cultural brasileiro (Eduff, 2004), and Paisagens humanas: crônicas de Paraguaçu e desse mundo afora (Papiro, 2002). He is presently working on two critical works on Brazilian crônicas to be published by University Press of Florida and Lazuli. His essays and translations have appeared in prestigious volumes, such as Brava gente brasileira em terras estrangeiras, Bodies and Biases: Issues of Sexualities in Hispanic Cultures, Latin American Writers on Gay and Lesbian Themes, Music and Dictatorship in Europe and Latin America, Poéticas da diversidade, La palabra según Clarice Lispector: aproximaciones críticas, and Transition. His writings have been included in fifteen peer-reviewed periodicals from Brazil, France, Peru, and the United States. A noção de “ópera portuguesa” no espaço-luso brasileiro setecentista DAVID CRANMER (CESEM, FCSH-UNL) Em 1744 foram publicados os textos das oito óperas de António José da Silva (“O Judeu”), seguidos, dois anos mais tarde, por oito “óperas portuguesas”, que seguem o mesmo paradigma, incluindo duas adaptações de dramas de Pietro Metastasio. Para além destas 16 obras, existem textos de várias outras, quer impressos quer em manuscrito. Com base nos textos com a designação “ópera”, procura-se chegar à noção dos elementos que constituem a essência de uma “ópera portuguesa” setecentista, para depois alargar o leque para textos teatrais com outras designações de género mas com as mesmas características. Isso permitirá avaliar a escala deste fenómeno, em termos quer do número de obras que se pode considerar como “óperas portuguesas”, quer do período em que estavam em voga. Palavras-chave: ópera – teatro – cantoria – António José da Silva – Pietro Metastasio. DAVID CRANMER é docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa. É doutorado da Universidade de Londres, sendo atualmente investigador responsável pelo projeto Marcos Portugal, assim como pelo Caravelas – Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira. É autor de vários livros e numerosos artigos, assim como editor das coleções de ensaios: Mozart, Marcos Portugal e o seu tempo/and their time (2010) e Marcos Portugal: uma reavaliação (2012). O primeiro movimento do quarteto de cordas n.3 de Heitor Villa-Lobos: Aproximações estilísticas com o período clássico DENISE HIROMI AOKI (USP) O Quarteto de Cordas no.3 (1916) foi uma das obras camerísticas de Villa-Lobos executada durante a Semana de Arte Moderna de 1922, e é conhecido como o “quarteto das pipocas”, devido ao seu segundo movimento no qual os arcos dos quatro instrumentistas quase não intervêm. A influência estilística mais evidente nessa composição são os quartetos de cordas de Franck, Debussy e Ravel da escola francesa. Tal afirmação baseia-se tanto em referências bibliográficas a respeito da composição (ESTRELLA, 1970; KIEFER, 1981; MARIZ, 2005; SALLES, 2012c) quanto em evidências sonoras, como por exemplo o uso do tema cíclico baseado na escala pentatônica. No entanto, observamos na obra outros elementos que caracterizam a linguagem villalobiana, tais como elementos aos quais muito mais tarde se atribuiu algum caráter “nacional” às suas composições, bem como elementos estilísticos que nos remetem aos quartetos do período clássico, principalmente os do compositor Haydn (SALLES, 2012c). É com o intuito de conhecer tais influências que propomos neste artigo um primeiro passo em direção à sua compreensão que é investigar aspectos formais, rítmicos, timbrísticos e estruturais do primeiro movimento do Quarteto de Cordas no.3, procurando possíveis relações com período clássico, principalmente entre Haydn e Villa-Lobos. Embora a grande admiração de Villa-Lobos por Haydn tenha sido evidenciada de forma mais clara como influência composicional em quartetos posteriores como o Quarteto de Cordas no.7, podemos notar indícios dessa influência já no Quarteto no.3, não só devido a adoção de quatro movimentos na obra, estabilizada como padrão desde 1772, mas também devido a elementos da escrita contrapontística (BURKHOLDER, 2010: 542, 543; SALLES, 2012b; SALLES, 2012c). Conhecer as influências estilísticas e estabelecer as interrelações entre elas constitui um passo importante para que possamos compreender analiticamente o discurso villalobiano e, consequentemente, contribui para que possamos estabelecer uma avaliação cada vez mais criteriosa de sua obra. Palavras-chave: Análise musical – quarteto de cordas – Heitor Villa-Lobos – música brasileira – música do século XX. DENISE HIROMI AOKI. Graduanda em Licenciatura em Música pela Universidade de São Paulo; Graduada em Naturologia pela Universidade Anhembi Morumbi (2006); Atualmente desenvolve um projeto de iniciação científica intitulado Processos composicionais em Villa-Lobos: Quarteto de cordas número 3 financiado pela FAPESP. Atua em música nas áreas de análise e educação musical. A música no espaço luso-brasileiro na visão de Manuel de Araújo Porto Alegre: o Nativismo Romântico definindo a música brasileira pela expressão espontânea da cultura popular DIÓSNIO MACHADO NETO (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) Os discursos destinados à compreensão da razão humana e da sociedade levaram os escritos filosóficos e/ou históricos a uma senda de confrontação conceitual marcada pela diversidade das plataformas epistemológicas, com suas teorias e metodologias. É a relação direta dos sistemas explicativos com a indecibilidade inerente do ser e a transitoriedade dos padrões culturais que o sustenta que define o sistema interpretativo. Na tradição das lógicas das disciplinas, as narrativas sobre a condição humana transformaram-se em corpos teóricos que definem as fronteiras de análise, mas também, revelavam as ideologias das escolhas teórico-metodológicas e suas formas de representação dessa condição. A própria musicologia, apesar das especificidades de suas ferramentas de análise, dialoga com os quadros conceituais e ideológicos dispostos pela natural tangência de seu objeto de estudo com as ciências humanas. O objetivo dessa comunicação é discorrer como um programa de discurso sobre a música no Brasil colonial se formou e se projetou nos projetos de entendimento de sua identidade. Trata-se de Ideias sobre a Música, de Manuel de Araújo Porto Alegre, escrito em 1836. Tendo a Independência como marco histórico que impulsiona a leitura do que seria o Brasil, Porto Alegre se debruça sobre a música praticada e composta no Brasil tratando de defini-la. O texto tratará de demonstrar a apropriação dos princípios da Escola Eclética Francesa, principalmente por Victor Cousin, na formulação das teses de Porto Alegre, e como, dessa plataforma nativista, ela se projetou na construção da imagem histórica da música no Brasil. O trabalho faz parte de uma linha de pesquisa que analisa a formação discursiva da historiografia musical brasileira. Refletindo o jogo da dominância dos discursos, dos seus cânones e pontos de transição/ruptura, a pesquisa trata de desenvolver uma crítica dos enunciados a partir da consideração da historicidade dos postulados e suas formas de construções de sentido. Palavras-chave: Historiografia Musical Brasileira – Brasil Colonial – Análise de Discurso – Manuel de Araújo Porto Alegre. DIÓSNIO MACHADO NETO. Professor Livre-Docente do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo. Professor do programa de Pós-Graduação em Musicologia do Departamento de Música da ECA-USP. É coordenador do Laboratório de Musicologia (LAMUS), onde desenvolve estudos sobre “discursividade” e processos de hibridação, na música brasileira, com especialidade no período colonial. É membro do Italian and Ibero American Relationships Study Group (RIIA), sediado no IMLA-Veneza (Istituto per lo studio della musica latinoamericana durante il periodo coloniale) e do Núcleo Caravelas do CESEM/Universidade Nova de Lisboa, onde é membro do comitê científico. Foi Professor Visitante do programa Escuela Internacional do IMUC/PUC-Chile, em 2012. Membro dos comitês científicos da Revista Portuguesa de Musicologia e da Revista Música (USP). Recebeu Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese 2009 pela tese “Administrando a Festa: Música e Iluminismo no Brasil Colonial”. António dos Santos Cunha: comparação de fragmentos musicais EDILSON ROCHA (UFSJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI) Antônio dos Santos Cunha é um importante compositor da época do Ciclo do Ouro no Brasil, mas sabe-se muito pouco sobre ele. Especula-se que fosse branco e que viveu pelo menos até 1822, mas até o momento não há maiores informações sobre seu nascimento, origem, vida e morte. Apesar de seus manuscritos se encontrarem na cidade brasileira de São João del-Rei, MG, existe a possibilidade dele ter sido português, e esta suposição é alimentada por dados obtidos a partir da análise de sua obra. Este fato indica a importância do estudo de seu repertório, que não é extenso, mas apresenta características e qualidades musicais bem próprias. Enquanto não se encontram outros documentos, sua música é até o momento a fonte que pode trazer maiores pistas sobre o autor. Estudos preliminares em seus manuscritos conseguiram identificar passagens melódicas que se assemelham com passagens encontradas em obras de Liszt, Mascagni e de outros músicos. Esta comunicação pretende então, apresentar uma análise mais detalhada destes fragmentos musicais, comparar as versões dos autores e colaborar para que se apontem novos rumos em torno da pesquisa sobre Antônio dos Santos Cunha. Palavras-chave: Antônio dos Santos Cunha – musicologia histórica – São João del-Rei – música mineira. EDILSON ASSUNÇÃO ROCHA. É Doutor e Mestre em Regência pela Escola de Música da UFBA. Possui graduação em Regência e Canto pela Escola de Música da UFMG. Foi professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, e Conservatório Estadual Padre José Maria Xavier. Tem experiência na área de Artes/música, atuando principalmente nos seguintes temas: repertório histórico mineiro, metodologia de pesquisa, regência coral-sinfônica, e musicologia. Foi professor de oficinas de regência oferecidas pela FUNREI (atual UFSJ), UNIMONTES e UNESP, Madrigal da UFBA, Coral da FALE, Faculdade de Letras da UFMG, Orquestra de Câmara e Orquestra Sinfônica da UFBA, OSUFMG, Camerata do Conservatório Padre José Maria Xavier, Orquestra Sinfônica de Nova Lima e outros grupos. É atualmente professor adjunto na UFSJ, membro da Comissão de Pós-graduação e Pesquisa do Dmusi - UFSJ e coordenador do grupo de pesquisa Grupo de Musicologia da UFSJ. Ruy Coelho e o Brasil: as viagens de 1919 e 1922 EDWARD LUIZ AYRES D’ABREU (FSCH-UNL) Ruy Coelho (1889-1986) é, ao mesmo tempo, um dos compositores mais mitificados e mais desconhecidos da História da Música. Lembrado pela tradição acrítica como mera antítese radical de Lopes-Graça e principal artista afim do Estado Novo – se não mesmo “compositor do regime” –, é todavia esquecido quanto a tudo o resto. Note-se o facto singular de ter nascido em 1889, isto é: assistiu ao regicído, ao exílio de D. Manoel II, a toda a I República, a toda a II e a mais de uma década da III. Neste quase século de profundas transformações, que relações logrou desenvolver com o Brasil, e que Brasil caberia no seu imaginário? Os indícios de contacto, que se revelam nas suas memórias e em diversos textos esparsos, são aliciantes: em Berlim terá convivido com os jovens músicos brasileiros Guilherme Fontainha e Sá Pereira. Terá depois conhecido Villa-Lobos. Terá ainda sido convidado para ser professor no Brasil. E a sua quinta Symphonia Camoneana dedica o seu subtítulo – São Paulo – à metrópole brasileira... Mas uma curiosidade maior e intrigante se revela: as duas viagens a terras tupiniquins, em 1919 e 1922. Pensemos no que então se passava, artisticamente, em ambos os países: Coelho agitava o meio lisboeta com as suas polémicas e as suas obras ditas ultra-modernas, enquanto convivia com os mais altos representantes do dito modernismo (e futurismo) nas outras artes; já o Brasil viva não menos históricas agitações, como a Semana de Arte Moderna... Esta comunicação pretende, pois, debruçar-se no levantamento e no estudo das viagens de Coelho ao Brasil: que eventuais influências ou confluências?, que ideias ou ideais?, que “Portugal” e que “música portuguesa” – e que “música moderna” – terá Ruy levado, e que “Brasil” terá recebido? Um texto autógrafo recentemente encontrado, partituras e outros curiosos documentos não deixarão de despoletar a necessária reflexão. Palavras-chave: modernismo – nacionalismo – semana arte moderna. EDWARD LUIZ AYRES D’ABREU estudou Piano e Composição no Conservatório Nacional. Paralelamente, frequentou Artes Visuais, História da Arte e Arquitectura, interrompendo os estudos académicos nestas áreas para se dedicar ao curso de Composição da Escola Superior de Música de Lisboa, sob orientação de Sérgio Azevedo e António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequenta o Conservatório Nacional Superior de Paris, estudando com Gérard Pesson, dentre outros. Frequentou diversas masterclasses e conferências (Emmanuel Nunes, Marc-André Dalbavie, Ferneyhough, João Pedro Oliveira) e um curso de Gamelão de Java. Estudou com o compositor Faradzh Karaev no Conservatório de Moscovo, durante o Verão de 2009. Termina a licenciatura com nota máxima no exame final. Actualmente, prepara um mestrado sobre Ruy Coelho (1889-1986), sob orientação de Paulo Ferreira de Castro (FSCH, Univesidade Nova de Lisboa), e procede à inventariação do espólio do compositor na Biblioteca Nacional de Portugal. É fundador do MPMP, Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa, e director da revista Glosas, periódico quadrimestral cujo objectivo maior é a divulgação da música de tradição erudita ocidental de países lusófonos. Retórica Musical na obra de André da Silva Gomes ELIEL ALMEIDA SOARES , RONALDO NOVAES (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) * VER PAINEL 2 Representações musicais do velho mundo nos relatos de viagens pelo Brasil do século XVIII e princípios do século XIX ELISA LESSA (UNIVERSIDADE DO MINHO) As descrições dos viajantes em terras brasileiras dos séculos XVI a XIX constituem um enorme e peculiar acervo, constituindo um ponto de interesse para o conhecimento de aspectos importantes da vida social, política e cultural do Brasil. Henry Coster, narrador viandante, descreve na sua crónica de viagem Travels in Brazil (Londres,1816) o Nordeste do país. Por sua vez, o francês Louis François de Tollenare anotou no seu diário, entre os anos de 1816 e 1818, os usos e costumes, as festas populares, a escravidão, e tudo o que os seus olhos viram na sociedade da época. Na centúria anterior, outros viajantes deixaram-nos também relatos de viagens no novo mundo com inúmeras referências à música. Nesta comunicação serão apresentadas referências de interesse musicológico nos relatos de viagens de finais do século XVIII e princípios do século XIX no que concerne a recepção musical do Brasil na Europa e o próprio desenvolvimento histórico da música no país. Palavras-chave: relatos de viagens – recepção musical. ELISA MARIA MAIA DA SILVA LESSA é doutorada em Ciências Musicais pela Universidade Nova com a tese "Os Mosteiros Beneditinos Portugueses (séculos XVII a XIX): Centros de Ensino e Prática Musical, Mestre em Ciências Musicais, pela U. de Coimbra, e Lic. em Ciências Musicais pela Universidade Nova. É Professora Associada da Universidade do Minho. Foi Directora do Departamento de Música e do Curso de Licenciatura em Música de 2007 a 2011, Directora do curso de Mestrado em Estudos da Criança, especialização em Educação Musical (2000-2009) e Coordenadora de Investigação, área de Estudos Artísticos, Centro de Investigação em Estudos da Criança (2000-2009). De 2004 a 2007 foi Directora da Revista de Educação Musical e Presidente da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM). Como musicóloga é autora de diversos estudos sobre Música Portuguesa dos séculos XVIII a XX. Tem artigos científicos publicados em revistas especializadas portuguesas e estrangeiras e edição de obras de música portuguesa do século XVIII e de Música Portuguesa para a infância dos séculos XIX e XX . Desenvolve paralelamente uma intensa actividade artística, tendo sido fundadora e Directora Artística da Orquestra de Câmara do Minho e de inúmeros eventos artísticos. Integra o Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM) e o Núcleo Caravelas (CESEM). A síncopa consistente no samba ENRIQUE MENEZES (CMU – ECA/USP) Nessa comunicação pretendemos apontar uma importante passagem que a síncopa brasileira realiza no samba, em particular nos estilos “telecoteco” e do samba sincopado, criada em colaboração por compositores, intérpretes e instrumentistas. Utilizando categorias tradicionais da métrica prosódica e musical, pretendemos demonstrar como a síncopa brasileira explora um zona indiferenciada entre fala e música para criar suas formas, construíndo sobre essa zona sua íntima relação com o corpo e a dança em geral. Para demonstrar essa passagem analisaremos as composições “Lá no largo da Sé” (ca. 1834), de Cândido Inácio da Silva e “Bumba no Caneco” (ca. 1930), de Getúlio Marinho “amor” e Orlando Vieira. Através da comparação pretendemos demonstrar de que modo a síncopa brasileira se desenvolve no samba dito “sincopado”, chegando a construir padrões rítmicos muito próximos aos processos de offbeat timing da música africana. Palavras-chave: Samba – síncopa – offbeat timing – prosódia. ENRIQUE VALARELLI MENEZES. Graduado em composição pela Universidade de São Paulo, Enrique Menezes é flautista, arranjador e compositor. Realiza Pós-graduação na mesma instituição, onde dedica-se ao estudo do samba em geral e a João Gilberto em particular. Com esse estudo já acumula onze publicações em revistas especializadas e congressos. Atua ainda como flautista do grupo de música instrumental brasileira Cadeira de balanço, que em 2012 lança dois discos: um dedicado à música instrumental de compositores contemporâneos e outro acompanhando a cantora de samba Dona Inah. O grupo atua semanalmente no cenário musical brasileiro, tendo especializado-se no universo do samba e do choro. Mantém ainda o grupo Sintoma de dança-teatro, especializado em experimentações de cena e música, sendo responsável pela composição da trilha sonora. Sinfonia em Quatro Movimentos by Danilo Guanais: An analytical study of their armorial aesthetic language ERICKINSON BEZERRA (UNIVERSIDADE DE AVEIRO), ANDRÉ MUNIZ OLIVEIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE) The present work is the study of the Sinfonia em Quatro Movimentos by Danilo César Guanais, wrote in 2002. In it I intend to show that all of the musical decisions made by the composer, such as the mixture of the tonal and serial elements were made for the purpose of increasing the apprehension of the expressive content of the text that serves as a base for the conception of the Symphony. There is also an allusion to the use of modal and musical elements coming from the oral tradition of the Northeast of Brazil. As we see, Guanais has been working for a long time at the joining of the arts, notably music, poetry and theater in the formation of his artistic expression. In this sense, it is even more in the conception of a symphony, the text has fundamental importance in the structuring of musical expression. In this context, the symphony tries to extract the maximum of content and significant meaning of words like “water”, “garden”, “beginning”, “light”, “darkness” and “fall” among others. All the words previously cited received a musical treatment with the intention of reinforcing its picturesque or symbolic nature. In this meeting among text, music and scenic elements of illumination and the use of tonalities can be also referred to, as a series and a style. It is worthy of mentioning the association of scenes that express tension/conflict, where serial and scenic material is used that express the resolution of the conflict and consolation and has the tonal elements in its musical tradition. The use of modal material is directly associated to the poetry of Ariano Suassuna, and thus signifies the transposition of sound for the armorial aesthetic, so present in Guanais. Palavras-chave: Danilo Guanais – Armorial aesthetic – musical tradition – oral tradition. ANDRÉ LUIZ MUNIZ OLIVEIRA. Doutor em Musica (performance/regência orquestral ) Pela Universidade de MontrealCanadá. Possui mestrado em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (2002). Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área de Música, com ênfase em Regência, atuando principalmente nos seguintes temas: regência, Bach, interpretação, música e educação musical. Foi diretor da Escola de Música da UFRN no período 1999-2003.Diretor Artístico e regente Titular da Orquestra Sinfônica do RN no período 2007-2011. Atual Diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica da UFRN e Coordenador Operacional do Programa de Doutorado Interinstitucional, Convênio UNIRIO-UFRN. É membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRN. ERICKINSON BEZERRA DE LIMA. Possui pós-graduação em Regência Orquestral e Música de Câmara pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Graduado em Música - Licenciatura Plena pela referida instituição. Atuou como regente assistente da Orquestra Sinfônica da UFRN e, como Diretor Artístico da banda Filarmônica ECO. Atualmente é Mestrando em Regência Orquestral pela Universidade de Aveiro (PT). Possuí experiência na área de Artes, com ênfase em Regência Orquestral e Educação Musical. Demetrio, de David Perez: transformação e reforma da ópera séria no século XVIII no ambiente lusobrasileiro. FÁBIO AMORIM DE MELO (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) A pesquisa em torno do repertório de música vocal e teatral constituído, encenado e representado na segunda metade do século XVIII – sobretudo no reinado de D. José I e no ambiente brasileiro colonial – traz à tona importantes reflexões acerca do gosto volátil do público português e principalmente dos gêneros de música praticados neste período. Sabemos que a opera seria era o gênero de maior prestígio neste momento e que no mestre de Capela Real, David Perez (1711-1778), encontrava seu grande expoente. Contudo, nas últimas décadas de setecentos houve uma grande reforma no gênero, que desencadearia uma mudança na função educativa da ópera na sociedade burguesa de ideais iluministas e também no modelo de recepção e de público. É possível identificar em Demetrio, ópera de David Perez, o início deste processo de reorientação ideológica do dramma per musica através da análise de dois espécimes (Nc 401-41-42, Biblioteca de San Pietro a Majella e G PRATICA 85, Paço Ducal de Vila Viçosa), sobretudo quando comparados os intervalos de produção de ambos e ressaltando a possível realização do segundo espécime (em língua portuguesa) em solo brasileiro no teatro de Manuel Luis, no Rio de Janeiro. A investigação em torno deste material, além de nos revelar importantes antecedentes da música brasileira, reporta-nos um resgate do patrimônio histórico e cultural de ambos os países, revelando ainda características ímpares da recepção da obra musical no contexto ibérico. Palavras-chave: Opera Séria – David Perez – Mestastásio – Recepção. FÁBIO AMORIM DE MELO é graduado em Música – Licenciatura em Violino – pela Universidade do Estado do Amazonas, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes da mesma instituição e exerce também a cadeira de professor de artes na rede pública de ensino no Amazonas. Seu trabalho com o repertório de música luso-brasileira iniciou como performer e posteriormente como pesquisador no Laboratório de Musicologia e História Cultural da UEA no período de 2009 a 2011 sob a orientação do Prof. Dr. Márcio Leonel Farias Reis Páscoa – também orientador no mestrado. Atualmente é integrante do Trio Sarasate cuja formação de piano trio possui como foco o repertório do século XIX e XX de música europeia e brasileira. “Herói, Egrégio, Douto e Peregrino”: aspectos do discurso epidítico na Cantata Acadêmica e ária para José Mascarenhas de 1759 FLÁVIO REIS (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) Edmundo Hora, no artigo “Eloquência e afetos em Herói, Egrégio, Douto, peregrino. Salvador, 1759” aponta para os aspectos retóricos pressupostos na composição da cantata anônima, realizada no final do século XVIII, na cidade de Salvador. Nesse artigo, Hora analisa o “texto musical” da cantata setecentista. No caso da presente comunicação, propomos o estudo retórico-poético do texto, levando em conta os pressupostos de composição do discurso encomiástico nas representações letradas antigas. Ou seja, trata-se de analisar o texto da cantata, levando em conta os aspectos concernentes às preceptivas antigas do discurso epidítico, à história do gênero, aos fins e ao lugar do poema nas dinâmicas das academias setecentistas de letrados. Assim, conjugam-se as observações do “texto musical” apresentadas por Hora e os aspectos retóricopoéticos dramatizados no texto, demonstrando os modos de composição e recepção da obra. Ademais, preferindo não tratar dos objetos antigos por uma abordagem dedutiva de “estilo de época”, propomos analisálos segundo os seus pressupostos discursivos, isto é, levando em conta os gêneros antigos, os tratados poéticos conhecidos e as práticas letradas do “mecenato pombalino”, no dizer de Ivan Teixeira. Nesse sentido, desconhecem os chamados “barrocos” o termo pelo qual os universalizamos; por outro lado, praticam os preceitos do gênero encomiástico, os lugares de uso dessas peças e os fins a que elas se dirigem. No caso da Cantata Acadêmica e Ária dirigida a José de Mascarenhas, seu texto alude a fontes antigas, a modelos de invenção de obras congêneres e compõe-se num tempo de grande atividade dos letrados a serviço do estado, na condução do Marquês de Pombal, sob o patrocínio de D. José I. Palavras-Chave: Século XVIII – Retórica – Discurso Epidítico – Pombalismo – Cantata Acadêmica e ária para José de Marcarenhas. FLÁVIO ANTÔNIO FERNANDES REIS. Professor de Literatura Luso-Brasileira e História Literária do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, de Vitória da Conquista, na Bahia, é mestre e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Dedica-se ao estudo das representações letradas antigas em língua portuguesa, analisando as traduções quinhentistas de Duarte de Resende para o tratado moral Somnium Scipionis de Cícero, publicadas pela Editora Humanitas, da USP. No doutorado, investigou os aspectos retóricos e o ensinamento régio presente na narrativa de aventuras de João de Barros no Portugal quinhentista. Clarinetistas Portugueses no Brasil do Século XIX: sua influência na consolidação do uso profissional e do ensino da clarineta no Brasil FERNANDO JOSÉ SILVEIRA (INSTITUTO VILLA-LOBOS – UNIRIO) Este projeto de pesquisa tem como objetivo delinear o uso profissional e o ensino da clarineta no Rio de Janeiro na primeira metade do Século XIX a partir da influência dos clarinetistas portugueses. Para tal a metodologia de pesquisa prevê pesquisa bibliográfica, na Torre do Tombo em Lisboa e em outros lugares – caso necessário, para coleta de informações pertinentes aos objetivos. Tem-se por hipótese que os clarinetistas brasileiros foram influenciados pelos portugueses no que tange não só ao estilo de tocar, mas também na metodologia de ensino e escolha de material – tanto didático quanto instrumentos e repertório. A escolha, no Brasil, da escola francesa adotada até os dias de hoje foi bem posterior ao período estudado nesta pesquisa – já na segunda metade do século XIX. Porém, até que ponto houve, desde o início do Século XIX, a influência francesa na escola brasileira de clarineta? Acredita-se, como hipótese, que tanto metodológica quanto estilisticamente houve grande influência italiana e francesa. Confirmada esta hipótese, os movimentos que culminaram com escolhas pela escola francesa na segunda metade do Século XIX seriam melhores entendidos. Palavras-chave: clarinete – século XIX – musicologia histórica. FERNANDO JOSÉ SILVEIRA. Doutor em Música - Execução Musical/Clarineta pela UFBA, e Professor Associado de clarineta e música de câmara do Instituto Villa-Lobos da UNIRIO desde 1999. Aluno de José de Freitas e Joel Barbosa, participou de cursos com Wolfgang Meyer e Alain Damiens. É requisitado como solista, camerista e docente pelas Américas, Europa e Ásia. Nos últimos anos tem se destacado, também, como pesquisador sobre os temas relacionados à clarineta e às práticas interpretativas, publicando artigos nos principais veículos brasileiros, nos EUA e na Europa. Em 2009 recebeu o 1º Prêmio no International Clarinet Association Research Competition, sendo o primeiro pesquisador sulamericano a receber tal distinção. Em 2010, como um reconhecimento à sua carreira internacional, seu nome foi incluído no livro I Grandi Clarinettisti , que lista os mais destacados clarinetistas de todos os tempos. Em 2011 está lançando seu primeiro CD solo Fantasia di Concerto - em parceria com a pianista Lúcia Barrenechea, com música para clarineta tocada no Brasil do século XIX. A modernização da actividade concertística no século XIX:as tournées ibero-americanas de Sigismund Thalberg FRANCESCO ESPOSITO (CESEM, FCSH-UNL) * VER PAINEL 3 Cantar Heitor Villa-Lobos: tradição, folclorismo e Modernismo GIORGIO MONARI (SAPIENZA UNIVERSITÀ DI ROMA / PONTIFICIA UNIVERSITAS GREGORIANA) A linguagem da música vocal de Villa-Lobos já está relacionada com o folclore musical nas «Canções típicas brasileiras» de 1919, que aparecem depois de algumas composições vocais religiosas e líricas isoladas compostas nos anos anteriores. Além das « Canções » de 1919, o folclorismo reaparece várias vezes no repertório vocal villa-lobiano, nos « Três poemas indígenas » (1926), nas « Serestas » (1925-26), nas « Canções indígenas » (1930) e nos dois álbuns de « Modinhas e canções » (entre 1936 e 1943). Muitas dessas composições foram concebidas para canto e piano e em seguida foram transcritas para voz e orquestra e algumas delas para coro. Parece que as « Canções » tenham despertado certo interesse no exterior, sobretudo em Paris, e na Bienal de Veneza de 1932, Villa-Lobos foi representado por algumas destas composições na versão para canto e orquestra. Na apresentação musical do material folclórico dentro deste repertório, Villa-Lobos tem uma abordagem que ele mesmo define como ‘ambientação’, para se distinguir do ‘arranjo’ ou da ‘harmonização’: «ambientação» é «a trasformação […] adaptada à forma e ao estilo […] desviando-se algumas vezes das regras e teorias pragmáticas, porém, realizando um ambiente original que faz caracterizar, sonoramente, uma raça ou um povo». De fato Villa-Lobos não mexe nas melodias recolhidas mas o novo contexto harmônico e rítmico da ‘ambientação’ leva a reinterpretar o som e o sentido das músicas originais sem cancelar as suas origens. Assim o estatuto estético dessas obras se torna precário e difícil de se estabelecer, a não ser enquanto relação e/ou tensão entre tradição, ‘folclore’ e Modernidade. Palavras-chave: Heitor Villa-Lobos – modernismo – nacionalismo – música vocal – interpretação musical. GIORGIO MONARI. Pesquisador e músico, leciona História da música na Pontifícia Universidade Gregoriana e, de 2002 a 2011, na Sapienza Universidade de Roma, além de reger o Coro Diego Carpitella e Musica Sapienza Coro na Sapienza. É diretor artistico do Projeto Aquarela, desenvolvido pelo Centro Cultural Brasil-Itália em Roma. Pesquisou e publicou estudos nos âmbitos da estética da interpretação musical, da história dos conceitos musicais e da história da musica – os trovadores, a música portuguesa quinhentista, a música em Roma no século XIX, as relações entre música da Europa e do Brasil. Coordenou a publicação de Canto ‘popolare’ e canto corale (Feniarco, 2008); colaborou na enciclopédia Il Medioevo sob coordenação de Umberto Eco (2009) e na Storia dei concetti musicali sob coordenação de Gianmmario Borio (2009). Também é coordenador e curador do Prêmio Internacional de música ‘barroca’ e musicologia ‘Principe Francesco Maria Ruspoli’, que foi criado em 2009. Autor de estudos sobre a música do Brasil (Immaginario sonoro del Tropicalismo, 2007; Interpretar as peças folclóricas para voz de Heitor Villa-Lobos, 2009; A língua portuguesa em música no país do belcanto, 2012), é organizador de simpósios, festivais e concertos sobre música brasileira em Roma (Heitor Villa-Lobos e l’Europa, 2009; Aquarela: canzoni tra Italia e Brasile, 2010-2012). O acompanhamento segundo o Compendio Musico ou Arte Abreviada (1751), de Manoel de Moraes Pedroso GUSTAVO ANGELO DIAS (UNICAMP) O Compendio Musico, publicado no Porto em 1751, pode ser considerado uma obra relevante da teoria portuguesa do século XVIII, cujo alcance não se restringiu a Portugal, como aponta uma cópia parcial encontrada no Brasil, datada de 1790. Dividida em quatro partes (Tratado de Cantoria, Tratado do Acompanhamento, Tratado do Contraponto e Prática Para fazer huma Aria, Solo, Duetto, ou qualquer Concertado), a obra destina-se ao ensino de acompanhadores, compositores e músicos em geral, abarcando desde a teoria básica da música até o ensino do contraponto e da composição. Especificamente no caso do baixo contínuo, o texto de Pedroso se destaca, entre outros fatores, por ser o primeiro tratado lusitano que aborda abertamente o princípio da Regra de Oitava, sob o termo Regras Geraes da Armonia, o que representou uma renovação em termos de informação em língua portuguesa sobre o acompanhamento. Juntamente com a apresentação deste princípio, Pedroso apresenta uma série de indicações para situações não previstas pela Regra de Oitava em termos de progressão harmônica, o que acabou tornando-se recorrente nas obras posteriores sobre o acompanhamento publicadas em Portugal. Pode-se compreender estes adendos como um cuidado em representar a complexidade harmônica da música praticada em Portugal; além disso, as informações sobre progressões harmônicas e condução de vozes presentes na obra de Pedroso espelham a riqueza da influência de fontes e mestres italianos que circularam por Portugal à época do autor. Neste trabalho apresento uma investigação sobre o Tratado de Acompanhamento, o segundo capítulo do Compendio Musico, e sua insersão no contexto musical português. Serão apontados elementos como a influência italiana, a Regra de Oitava e suas complementações, tratamento de dissonâncias, aspectos de performance (como quantidade de vozes, uso de acciacaturas e diminuições, estilo de acompanhamento em árias e fugas) e a finalidade prática à qual o Compendio se destina. Palavras-chave: Baixo Contínuo – Barroco Português – Manoel de Moraes Pedroso – Performance Historicamente Informada. GUSTAVO ANGELO DIAS é doutorando Música - Fundamentos Teóricos pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestre em Musicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), e bacharel em Instrumento (cravo) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Foi professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e estagiário na Universidade Estadual do Paraná (UFPR). Atualmente pesquisa sobre a prática da música barroca, sobretudo a teoria do baixo contínuo e sua aplicação à peformance da Música Historicamente Informada. Paralelamente à pesquisa e às atividades musicais como camerista, atua como professor estagiário na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), ministrando disciplinas de Baixo Contínuo. Estudo de instrumentação comparada das fontes musicais do Arquivo da Banda da Polícia Militar do Ceará (1897-1932) INEZ MARTINS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS), SANDOVAL MORENO (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) A presente comunicação consiste na proposta de apresentação de um estudo sobre instrumentação e execução tendo as fontes musicais do arquivo da banda da Polícia Militar (PM) do Ceará como objeto de estudo. A importância desse trabalho fundamenta-se na divulgação da documentação musical localizada no arquivo da banda da PM, a mais antiga banda militar em funcionamento no estado do Ceará e ainda pouco conhecida da musicologia brasileira e portuguesa. O objetivo geral desse estudo é analisar as partituras catalogadas desse acervo no período de 1897 a 1932 sob a ótica da instrumentação e execução musical, compreendendo-as sob a perspectiva de um estudo comparado entre a instrumentação de época e atual, estudando as características instrumentais usadas nas partituras como nomenclatura, tessitura, extensão e a sugestão de possíveis adaptações para a execução nos instrumentos atuais. A questão de transcrição de instrumentos antigos para os novos é um aspecto desafiador para os que trabalham com banda de música. Afinal, as particularidades e transformações mecânicas sofridas nos instrumentos de metal de época como o oficleide, sax horn, helicon, clarins e tubas, foram muito mais radicais se compararmos com as modificações sofridas pelas cordas friccionadas. Muitos desses instrumentos elencados deixaram praticamente de serem usados na banda para serem substituídos por outros de uso atual. Como exemplo podemos citar o caso do oficleide que foi substituído pelo fagote, bombardino ou eufônio podendo a sua linha ser também executada por instrumentos graves como as tubas. Sendo assim, como fazer as adaptações ou transcrições dessas partes dos instrumentos disponíveis na composição mais padrão de formação instrumental das bandas de música? O referencial teórico tomará por base os livros de Cecil Forsyth Orchestration e Norman Del Mar - Anatomy of the Orchestra. Palavras-chave: Banda de música – Polícia Militar – Arquivo – Instrumentação – Transcrição. INEZ MARTINS é pianista pela Universidade Estadual do Ceará e Mestre em Artes pela Universidade de São Paulo. É professora efetiva da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Estudou regência coral, orquestra e banda com importantes regentes brasileiros a citar os maestros Eleazar de Carvalho, Roberto Duarte e Dario Sotelo. Regeu importantes grupos como a Orquestra de Sopros Brasileira, a Orquestra Sinfônica Jovem de Tatuí e a Banda José Siqueira. Fundou e regeu a Orquestra de Sopros da UECE. Como pesquisadora estuda o tema “banda de música” apresentando seus resultados em congressos e encontros de Música e História no Brasil. SANDOVAL MORENO é Bacharel em Música pela Universidade Federal Paraíba, Mestre em Música pela UFPB em Trombone e professor efetivo dessa universidade. É fundador e regente titular da Banda Sinfônica "José Siqueira" e do Quarteto de Trombones da Paraíba que, juntamente com o Brazilian Trombone Ensemble têm tocado em festivais de música no Brasil e no exterior como artista Weril. É trombonista da Orquestra Sanhauá e coordenador do curso de Regência de Bandas e Fanfarras da UFPB. Exerce uma constante atividade como professor convidado. Em 2012 participou do Congresso da Annpom e da 17ª Semana de Arte e Cultura da USP. Tomás Borba e Heitor Villa-Lobos: educação musical e modernidade nas duas margens do oceano INÊS DE ALMEIDA ROCHA (COLÉGIO PEDRO II / UNIRIO) O presente texto tem como temática a obra de dois músicos e educadores atuantes em seus países no século XX ― Tomás Borba, em Portugal e Heitor Villa-Lobos, no Brasil. O padre Tomás Borba, profícuo compositor de obras de diversos gêneros, é autor de textos e obras pedagógicas, dentre elas livros de solfejos e coletâneas de músicas para canto coral. Seus esforços no sentido da implantação do ensino de música nas escolas normais e do canto coral na escola primária são reconhecidos pela musicologia portuguesa que destaca a qualidade, o pioneirismo e o caráter inovador de sua pedagogia. Heitor Villa-Lobos, compositor da fase modernista, ampliou o ensino de música nas escolas públicas brasileiras, implantando um projeto do canto orfeônico e escrevendo textos pedagógicos, métodos e livros visando orientar professores na tarefa de educar musicalmente a juventude. A erudição e sólida formação acadêmica do padre Tomás Borba, contrasta, entretanto, com o autodidatismo e educação não formal de Villa-Lobos que consolidou seus conhecimentos musicais tocando, compondo com músicos populares e viajando pelo interior do Brasil. Tomás Borba e VillaLobos desenvolveram seus trabalhos sob a égide de regimes totalitários e demonstraram sensibilidade para questões da contemporaneidade. O comprometimento com a modernidade de suas propostas, todavia, apresentam pontos de aproximação e de distanciamento. Seria possível falar em modernidade com o mesmo significado para os dois projetos pedagógicos? A partir de fontes bibliográficas, catálogos de composições e partituras, tenho como objetivo analisar os fundamentos de ambas propostas de educação musical, observando aspectos convergentes e divergentes em suas obras e investigando como eles se relacionaram com esferas de poder. Para tanto recorro a autores como Bordieu (1974), Rosa (2008), Miceli (1979) e Gomes (2003). Assim, acredito poder ampliar a compreensão dos processos educativos nas duas margens do oceano. Palavras-chave: Tomás Borba – Heitor Villa-Lobos – Educação Musical – Canto Coral – História da Educação Musical. INÊS DE ALMEIDA ROCHA. Professora de Educação Musical do Colégio Pedro II, Doutora em Educação (UERJ), tem textos publicados no Brasil, Portugal e Espanha nas áreas de Educação Musical, História da Educação Musical, Musicologia, Educação, História da Educação, especialmente sobre Liddy Chiaffarelli Mignone, metodologias e práticas em Educação Musical na Educação Básica, manuais escolares de música e cartas pessoais de músicos e artistas. Juntamente com Ricardo Szpilman, é editora da Interlúdio: Revista do Departamento de Educação Musical do Colégio Pedro II. Associada à ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical), da qual faz parte da atual diretoria (2012-2013), à ANPPOM (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Música), ao FLADEM (Foro Latinoamericano de Educación Musical) e `a SBHE (Sociedade Brasileira de História da Educação). Atuou recentemente como pesquisadora bolsista da Biblioteca Nacional – Divisão de Música e Arquivo Sonoro com a pesquisa: Cartas em tom maior: redes de sociabilidade na correspondência entre músicos e artistas das décadas de 1930-1950. O livro Canções de Amigo: redes de sociabilidade na correspondência de Liddy Chiaffarelli Mignone para Mário de Andrade, publicado em 2012, é fruto de sua tese de doutorado. De partida para o Brasil – a realidade musico-teatral lisboeta oitocentista em tempos de emigração ISABEL NOVAIS GONÇALVES (CESEM, FCSH-UNL) * VER PAINEL 3 O paradigma da obra de Pietro Metastásio na Oratória em Portugal do sec. XVIII ISKRENA YORDANOVA (UNIMEM, UNIVERSIDADE DE ÉVORA) O trabalho poético de Pietro Trapassi- Metastasio teve uma importância crucial para o desenvolvimento do teatro em Portugal durante o séc. XVIII. Naquela época as suas obras eram estimadas, em muitos casos traduzidas para português, e repetidamente utilizadas para as representações de ópera, serenata e oratória na Corte Real e nos teatros públicos. Numa sociedade altamente “italianizada”, à maneira das outras cortes reais europeias, a presença da obra literária de Metastasio foi uma constante na vida musical e teatral da época. O género oratória não foi uma excepção desta regra e os textos dos dramas sacros do abade Trapassi tiveram grande predominância no panorama musical em Portugal do séc. XVIII. O presente estudo enquadra-se num projecto investigação mais extenso sobre a oratória em Portugal no âmbito de uma tese de doutoramento em curso. Visa abordar as questões relevantes ao desenvolvimento do género em Portugal durante o o Antigo Regime e pretende identificar e analisar os textos de Metastasio mais utilizados por parte dos compositores portugueses e italianos e as várias traduções em português, assim como discutir alguns casos de libretos e partituras manuscritas existentes. Palavras chave: oratória em Portugal – música no Antigo Regime – obra de Pietro Metastasio em Portugal. ISKRENA YORDANOVA. Terminou o seu mestrado na Academia Superior de Música de Sofia, Bulgária e desde 1996 integra o naipe dos primeiros violinos da Orquestra Sinfónica Portuguesa do TNSC. Aperfeiçoou a técnica e o repertório de violino barroco estudando com E. Onofri e C. Banchini, entre outros. Apresentou-se em recitais em Portugal, Espanha, França e Itália. Desde 2003 é concertino e membro-fundador da orquestra barroca Divino Sospiro. Com este ensemble trabalha regularmente como solista e sob a direcção de E. Onofri, C. Coin, R. Alessandrini, C. Banchini, M. Hantaï etc. em concertos e festivais em Portugal, França, Itália, Espanha, Polónia, Japão e Bulgária. Gravou para as etiquetas Nichion (Japão) e Dynamic. Colaborou com K. Weiss no Festival de Aix-en-Provence, C. Coin (Ensemble Baroque de Limoges), Académia 1750 e Il Giardino Armonico, com qual gravou os Concertos Grossos op.6 de Handel para DECCA. No campo de investigação tem feito pesquisa e edição de repertório português do séc. XVIII. Participou em várias conferencias de musicologia em Portugal e Itália. É doutoranda de musicologia na Universidade de Évora com uma tese sobre as oratórias de P.A. Avondano e integra os núcleos de investigação UnIMeM (Universidade de Évora) e Caravelas (Universidade Nova de Lisboa). Possibilidades cadenciais em obras dos séculos XVIII e XIX: um estudo em curso JONATHAN ALMEIDA DE SOUZA (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) * VER PAINEL 1 Nuno Fernandez Torneol segundo Renato Russo, releitura e recepção JUCIANE CAVALHEIRO (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) Renato Russo (1960-1996) é provavelmente o maior poeta brasileiro de sua geração. Líder da banda Legião Urbana (1985-1996), encontra no rock sua mais fértil fonte para a expressão. Assume o epíteto de Trovador Solitário, em meados de 1982, anos antes de vir a fundar a Legião Urbana. Ligado mais à cultura europeia que a brasileira, Russo evidencia esta característica em “Monte Castelo” – faixa do álbum As quatro estações, numa referência direta a Vivaldi –, onde uma inusitada síntese entre dois célebres textos do Ocidente (uma epístola de Paulo e um soneto de Camões) vem explicar que o “o fogo que arde sem se ver” é, na verdade, a caridade tão cara ao maior epistológrafo bíblico. O álbum seguinte, Legião Urbana V (1991), se inicia por uma faixaprólogo que se configura como uma inusitada contrafacta da cantiga de amor de Nuno Fernandez Torneol (ca. XIII), “Pois naci nunca vi amor” (Ajuda, 80; Biblioteca Nacional, 184), intitulada curiosamente “Love song” – literalmente a tradução para o inglês de cantiga de amor. Talvez seja neste momento, quase uma década depois, que o Trovador Solitário promova um inusitado encontro consigo mesmo, através de Torneol. Frequente em antologias coletivas, mas esquecido em cancioneiros individuais, Torneol, no refrão desta cantiga, revela um labirinto que parece ter duas saídas sem ter saída alguma. A coyta d`amor do eu-lírico encontra lugar apropriado na abertura de uma obra cujo autor convivia então já com o diagnóstico da AIDS. Desta forma, por que esta cantiga, “[...] e non outr[a]”; por que este trovador “[...] e non outro”? São estes dois dos “motes” sobre os quais a presente comunicação se pretende debruçar, no intuito duplo de iluminar a obra de Russo e analisar a recepção das cantigas galaico-portuguesas no Brasil da última década do século XX. Palavras-chave: cantiga galaico-portuguesa – Nuno Fernandez Torneol – Renato Russo –– rock brasileiro – recepção. JUCIANE DOS SANTOS CAVALHEIRO. Possui Graduação em Letras Habilitação Português (2003) e Mestrado em Linguística Aplicada (2005) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Fez Doutorado em Linguística (2009) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atualmente, coordena o Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes, assim como é professora do Curso de Letras e da Pós-Graduação em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas. Atua, principalmente, nos seguintes temas: enunciação, intersubjetividade, subjetividade, leitor, autor, obra e recepção. Desenvolve, atualmente, a pesquisa Leituras de Cervantes e releituras do Quixote, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas. Três peças para trombone e piano de José Alberto Kaplan – aspectos técnicos e interpretativos KLÊNIO BARROS (UNIVERSIDADE DE AVEIRO) Este artigo trata das Três peças para trombone e piano - “Humoresca, Noturno e Tarantela”, de José Alberto Kaplan (1935 – 2009), com ênfase nos aspectos técnicos e interpretativos. A justificativa desta pesquisa incide no fato de contribuir para a fomentação de referências da área, mais especificamente estudos e repertório para trombone, além de divulgar e resgatar a obra do compositor, a partir do qual podemos destacar a contribuição no diálogo permanente que se estabelece entre o compositor e o intérprete. Como metodologia, recorreu-se à pesquisa bibliográfica sobre o compositor em questão, fichamento de textos, estudos e técnicas do trombone, e análise musical, além do estudo prático das obras e ensaios com um pianista. Os resultados apontam as conclusões obtidas na análise musical e do conteúdo técnico de cada peça, considerações sobre a interpretação, e reflexão sobre as contribuições do estudo para a performance das peças. Palavras-chave: Trombone – Kaplan – performance – técnica – interpretação. KLÊNIO JONESSY DE MEDEIROS BARROS. Técnico em Música (2005), Bacharel em Música (2009) e Pós-graduação em Música – Práticas Interpretativas do século XX e XXI (2011), pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Mestrado em Trombone Performance (Universidade de Aveiro – em andamento). Atuou como Professor Substituto de Trombone e Tuba da Escola de Música da UFRN no período de 2010 a 2012. Ministrou oficinas de Trombone, Bombardino e prática de conjunto de Sopros no III Festival de Música na Ibiapaba, em Viçosa-CE, e em vários outros, no estado do Rio Grande do Norte. Atuou como músico convidado na Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte durante a temporada de 2007. Foi atração no Parque das Dunas (Natal-RN) em abril de 2008, com o seu primeiro show solo no projeto Som da Mata. Foi classificado e contemplado com a gravação do seu primeiro CD solo intitulado “SEGREDOS”, no concurso Prêmio Núbia Lafayete, promovido pela Fundação José Augusto. João e Maria: uma análise do processo criativo de tradução LÚCIA DE VASCONCELOS, ADRIANA KAYAMA (UNICAMP) O presente trabalho tem por objetivo fazer uma análise da ópera João e Maria/ Hansel und Gretel de Engelbert Humperdinck, traduzida para o português brasileiro pela autora. A tradução prima pela inteligibilidade e é voltada ao público infanto-juvenil, sendo o texto adaptado à realidade brasileira. Para tal adaptação e com o objetivo de se tornar um texto de fácil compreensão do público em geral, foram abordados aspectos sociológicos e linguísticos. Para a construção do texto, elementos do folclore brasileiro como parlendas e brincadeiras infantis foram cuidadosamente inseridas. Por outro lado, a escolha da corrente melopoética enquanto fio condutor nesse trabalho fornece uma percepção musical do texto, contribuindo para uma visão mais ampla da obra de arte. A melopoética, linha de estudo da nossa análise, é um ramo dos estudos comparados que, numa abordagem intersemiótica, investiga as possíveis interações entre a literatura e a música, as chamadas homologias. Essa linha de trabalho envolve a construção de um texto sob o ponto de vista musical. Ferramentas da linguística como métrica, acentos rítmicos, prosódia, rimas, assonâncias e aliterações e fenômenos de união e separação de palavras são criteriosamente estudados e aplicados na construção do libreto. Na comunicação também serão apresentados os resultados do trabalho na montagem da ópera. O objetivo desse estudo é defender a intercomunicação entre a análise linguística e musical, delimitando algumas ferramentas que auxiliem o processo de tradução de obras vocais, particularmente com textos poéticos. São utilizados autores da Linguística como Amorim de Carvalho, Fernando Cerqueira e Mário Laranjeira, assim como àqueles que em sua obra promovem uma ligação mais estreita entre texto e música como Debora Stein e Robert Spillman, e Norma Goldestein. Palavras-chave: Tradução – Ópera – Linguística – Melopoética. LÚCIA DE FÁTIMA RAMOS VASCONCELOS. Doutoranda em Música na área de Práticas Interpretativas em Canto Erudito na UNICAMP e bolsista FAPESP, sob a orientação da Professora Doutora Adriana Giarola Kayama. ADRIANA GIAROLA KAYAMA. Doutora em Canto Pela University of Washington, EUA. Professora Assistente na UNICAMP atuando nas áreas de canto, dicção, música de câmara, técnica vocal e fisiologia da voz. Membro de corpo editorial das principais revistas de música brasileiras como Música Hodie, OuvirOUver (Uberlândia) e Per Musi (UFMG). Foi Presidente da ANPPOM de 2003 a 2007. Imagens de Carlos Gomes e sua obra na decoração artística do Teatro Amazonas LUCIANE PÁSCOA (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) O Teatro Amazonas foi inaugurado em 31 de dezembro de 1896. Neste mesmo ano, o compositor Carlos Gomes falecia em Belém, recebendo várias homenagens. Existem três referências imagéticas ao compositor na decoração interna do Teatro Amazonas: um busto realizado por Domenico De Angelis e instalado no Salão Nobre, a pintura de um busto no arco do prosenion da sala de espetáculos, e indiretamente através do painel parietal Peri e Ceci. Havia clara intenção dos comitentes da decoração do Teatro Amazonas de homenagear o compositor. Localizado no Salão Nobre, o painel Peri e Ceci possui estreita relação com a ópera Il Guarany. O contrato realizado para a decoração do Salão Nobre assinalava que os painéis apresentassem cenas de paisagens amazônicas, exceto um deles, que deveria representar um assunto da ópera de Carlos Gomes. Neste painel, a proximidade da cena pictórica com a descrição literária pressupõe que os artistas italianos Domenico de Angelis e Giovanni Capranesi não utilizaram apenas o libreto da ópera como fonte, mas também o romance homônimo de José de Alencar. Il Guarany foi levada aos palcos líricos europeus a partir de 1870 com grande sucesso, tornandose numa das obras artísticas do século XIX que mais se identificou com o desejo nacionalista brasileiro. A repercussão e o sucesso da ópera de Carlos Gomes aconteceram em parte porque o autor tinha concebido uma obra artística que valorizava argumento extraído de assunto literário de criação brasileira e sobre a fundação do Brasil. As representações da imagem de Carlos Gomes e sua obra na decoração do Teatro Amazonas reforçam a idéia da recepção de sua obra e do culto à sua personalidade. Palavras-chave: Teatro Amazonas – Pintura – Decoração – Carlos Gomes – Ópera. LUCIANE VIANA BARROS PÁSCOA. Possui graduação em Artes Plásticas e em Música pela UNESP, mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997) e doutorado em História Cultural pela Universidade do Porto (2006). É professora da Universidade do Estado do Amazonas, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes, e no curso de Música, no qual ocupa as cadeiras de Estética e História da Arte e Filosofia da Arte. Ainda nesta instituição, realiza atividade de pesquisa no Laboratório de Musicologia e História Cultural, no qual coordena a área de projetos, dentre os quais se destacam patrocínios importantes junto a instituições de projeção nacional, como Petrobras, com o projeto Ópera na Amazônia no período da borracha (1850-1910). É líder do grupo de pesquisa Investigações sobre memória cultural em artes e literatura, do PPGLA da UEA. É autora do livro Artes Plásticas no Amazonas: o Clube da Madrugada, Editora Valer (2011) e do livro Álvaro Páscoa: o golpe fundo, Edua (2012). Atua principalmente nos seguintes temas: história da arte, Manaus, arte luso-brasileira, iconografia musical, iconografia da dança e do espetáculo, iconologia. Instrumentos de percussão dos grupos folclóricos açorianos de Santa Catarina: classificação organológica e elaboração de material didático LUCIANO CANDEMIL (UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ), RODRIGO PAIVA (UNIVALI / UNICAMP) O presente trabalho apresenta o processo de classificação organológica dos instrumentos de percussão dos grupos folclóricos açorianos do Estado de Santa Catarina, Brasil, e o processo de composição de peças musicais inspiradas a partir dos seus ritmos e instrumentos. Descreve também o percurso da pesquisa acadêmica desenvolvida desde o ano de 2010, que vem levantando, catalogando e organizando esses instrumentos, e que culminou na elaboração do livro Percussão Catarina, que contempla os conteúdos citados acima. Os estudos foram alicerçados em abordagens plurais de pesquisa, tendo como suporte materiais bibliográficos das áreas da Etnomusicologia e Educação Musical. Como o objeto de estudo são os instrumentos de percussão dos grupos folclóricos açorianos, para o trabalho de campo, seguiu-se as recomendações da Carta do Folclore Brasileiro (1995). Para a classificação organológica foi utilizado como referencial teórico a divisão clássica de Sachs e Hornbostel (1961), e outras bibliografias de apoio: Biancardi (2006) e Frungillo (2003). A respeito da Educação Musical foram contemplados materiais bibliográficos de autores como Queiroz (2010), Santos (2011) e Figueiredo (2002). Percussão Catarina é um material didático recentemente criado para professores de música, e de outras áreas. Atendendo a uma demanda gerada pela Lei nº 11.769/08 (BRASIL, 2008), que trata da obrigatoriedade do ensino de música no Brasil, objetivou-se criar um material de apoio para o ensino de música na Educação Básica. Além da classificação organológica, o livro traz uma seção com peças musicais, todas autorais, compostas ao longo da pesquisa, inspiradas nas células rítmicas dos instrumentos de percussão encontrados, e nas melodias dos cantos. Níveis técnicos diferenciados são abordados, possibilitando a prática para estudantes de nível iniciante, intermediário e avançado. Além disso, o livro Percussão Catarina pretende colaborar com a difusão da cultura catarinense, dando mais visibilidade aos grupos folclóricos açorianos e aos seus instrumentos de percussão. Palavras-chaves: Percussão – Grupos Folclóricos Açorianos de Santa Catarina – Material Didático em Música – Etnomusicologia – Educação Musical. LUCIANO DA SILVA CANDEMIL. Acadêmico dos cursos de Bacharelado e de Licenciatura em Música da UNIVALI em Itajaí/SC, Brasil. Na mesma instituição é bolsista de pesquisa em música, bolsista do programa CAPES/PIBID, monitor das disciplinas de Percussão e Percepção Rítmica, ministra aulas no programa de extensão, e atua como instrumentista e compositor do Grupo de Percussão de Itajaí. Tem artigos publicados nos Congressos da ANPPOM 2011 e 2012. Atua como percussionista em shows e gravações na área de música popular, produtor musical e compositor de canções premiadas em festivais. Na cidade de Brusque é professor de percussão da Orquestra de Câmara do CESCB. RODRIGO GUDIN PAIVA. Licenciado em Música pela UDESC, Mestre em Música pela UNICAMP, e Doutorando em Percussão na UNICAMP. Exerce suas atividades como professor nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Música da UNIVALI em Itajaí/SC, Brasil; e em oficinas, workshops e cursos de formação continuada para professores. Também atua como pesquisador em música e como instrumentista em shows e gravações nas áreas de música popular e erudita. Atualmente, coordena o Grupo de Percussão de Itajaí. Em 2010, lançou o livro "Bateria e Percussão Brasileira em Grupo: composições para prática de conjunto e aulas coletivas". A recepção dos concertos sinfónicos dirigidos por David de Sousa no Teatro Politeama em Lisboa (19131918) LUÍS MIGUEL SANTOS (CESEM, FCSH-UNL) Na década de 1910, após várias tentativas mais ou menos efémeras, a vida musical lisboeta assistiu à consolidação dos concertos sinfónicos. No final de 1911 iniciaram-se no Teatro da República os concertos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, que se manteriam em séries anuais sucessivas até 1928, dirigidos por Pedro Blanch (1877-1946). Em 1913, David de Sousa (1880-1918) instituiu no Teatro Politeama uma série paralela, por aquela que mais tarde ficaria conhecida como Orquestra Sinfónica de Lisboa. Trata-se de um episódio que assume uma importância central para a compreensão do ambiente cultural do período da I República, bem como para a história da música em Portugal, tendo em consideração o impulso que foi dado no sentido da actualização da vida musical portuguesa. De facto, estes concertos parecem ter desempenhado um papel importante na divulgação de um repertório orquestral bastante alargado e em grande parte ainda desconhecido do público lisboeta. Esta comunicação centra-se em torno dessa actividade sinfónica, particularmente sobre a série de concertos dirigida no Teatro Politeama entre 1913 e 1918 por David de Sousa, recorrendo à imprensa periódica da época com o objectivo de conhecer não só o repertório apresentado, mas também a recepção dos concertos por parte de críticos e intelectuais. O discurso crítico produzido a propósito do fenómeno dos concertos e dos repertórios em si é analisado no sentido de compreender as ideias sobre música que circulavam neste período. Alguns tópicos a ter em conta são o discurso sobre o repertório representativo de um cânone interpretativo de música sinfónica germânica, o discurso sobre obras representativas do modernismo musical introduzidas nessa ocasião, bem como o confronto entre ambas as tendências. Deve igualmente ter-se em consideração o modo como a questão do nacionalismo se reflecte neste contexto, seja no destaque dado a intérpretes e compositores portugueses, contemporâneos e do passado, seja na divulgação de música sinfónica de cunho nacionalista. Palavas-chave: música sinfónica – recepção – cânone – modernismo – nacionalismo. LUÍS MIGUEL SANTOS nasceu em Lisboa em 1985 e iniciou os seus estudos musicais no seio familiar aos cinco anos de idade. Estudou na Escola de Música do Conservatório Nacional, tendo concluído o Curso Complementar de Piano (2006), e obteve a Licenciatura em Ciências Musicais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2007). Em 2010 concluiu, na mesma universidade, o curso de Mestrado em Musicologia Histórica, com uma tese intitulada A ideologia do progresso no discurso de Ernesto Vieira e Júlio Neuparth (1880-1919), sob orientação do Prof. Dr. Paulo Ferreira de Castro. Entre 2007 e 2010 foi também bolseiro de investigação do projecto “O Teatro de S. Carlos: as artes do espectáculo em Portugal”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM-FCSH-UNL), onde actualmente é Membro Integrado. Em 2012 iniciou na FCSH-UNL o curso de Doutoramento em Ciências Musicais Históricas, usufruindo de uma Bolsa de Doutoramento concedida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Colabora ainda regularmente com a Fundação Calouste Gulbenkian, entre outras instituições, na redacção de notas de programa. Francisco de Sá Noronha (1820-1881): perfil de um músico português entre as duas margens do Atlântico LUÍSA CYMBRON (CESEM, FCSH-UNL) * VER PAINEL 3 O Universo Sonoro das comédias de Luiz Carlos Martins Penna (1838-1846) LUIZ COSTA-LIMA NETO (UNIRIO) Comunicação sobre a utilização em cena de recursos musicais, menções musicais incluídas no texto e efeitos sonoros de nove comédias de Luiz Carlos Martins Penna (Rio de Janeiro, 1815 – Lisboa, 1848). A maioria das comédias do autor foi apresentada no Teatro de São Pedro de Alcântara, entre 1838 e 1846. Com exceção das duas primeiras, encenadas pela Companhia do ator brasileiro João Caetano, as demais comédias de Penna foram representadas pela Companhia Dramática que D. Pedro I mandara buscar em 1829, em Portugal, integrada por artistas de tragédias, comédias e entremezes. A construção de narrativas fundadoras de identidades nacionais enfatiza aspectos que nem sempre suportam o escrutínio de um retorno às fontes primárias. Neste sentido, apesar ser considerado o iniciador da tradição da comédia brasileira, Martins Penna deixou anotadas nos textos de suas comédias menções musicais que revelam um repertório transnacional; luso-afro-brasileiro, hispânico, italiano e belga. Nas três primeiras comédias constam músicas de tradição oral, que circulavam no Brasil e em Portugal; uma cantiga ligada aos dotes matrimoniais, uma Loa do Divino Espírito Santo e uma cantata da Folia de Reis. Acompanhavam a cantiga uma tirana tocada na viola e um fado “bem rasgadinho”, enquanto à Loa do Divino se somava o lundu tocado por banda de músicos barbeiros e uma marcha à Folia de Reis. Nas três comédias seguintes, Penna parodia a ópera italiana Norma, de Vincenzo Bellini, inclui a modinha anônima “Astuciosos os homens são”, publicada em 1840, no Rio de Janeiro (e na Inglaterra, em 1860) e ironiza a composição do belga Charles-Auguste de Bériot, intitulada Capricho para violino Le Trêmolo, sobre um tema de Beethoven, Op. 30. As três comédias finais apresentam efeitos como apitos, bombas e rojões, além de paródias e ladainhas irônicas que, somadas à sátira social, motivaram a censura do Conservatório Dramático. Palavras-chave: Martins Penna – teatro oitocentista – música teatral – comédia brasileira. LUIZ COSTA-LIMA NETO é bacharel em Composição Musical pelas Universidades Integradas Estácio de Sá, licenciado em Educação Artística com habilitação em Música pelo Conservatório Brasileiro de Música e Mestre em Musicologia pela Universidade Federal do Rio De Janeiro – UNIRIO, com a dissertação intitulada “A Música Experimental de Hermeto Pascoal e Grupo (1981-1993): concepção e linguagem”, a partir da qual escreveu artigos publicados no Brasil e no exterior. Atualmente conclui a pesquisa de doutorado na UNIRIO: “O Universo Sonoro das Comédias de Luiz Carlos Martins Penna (1833-1846): gênero, raça e poder”. É professor de música na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna/FAETEC, na Graduação em Música Popular na UNIRIO e na pós-graduação em ArteTerapia da Clínica Pomar/ISEPE. Participou como compositor em Bienais e Panoramas de música brasileira contemporânea e recebeu prêmios de melhor trilha sonora original de peças teatrais. Artemis: Psicanálise na Belle Epoque musical brasileira LUIZ GUILHERME GOLDBERG (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) Uma das obras mais emblemáticas para o simbolismo musical no Brasil é o episódio lírico Artêmis (1898), cujo libreto de Coelho Neto foi posto em música por Alberto Nepomuceno. Conforme crônica publicada no Jornal do Commercio, sua estreia causou grande surpresa ao público, não só pela filiação wagneriana, mas também em função de sua densidade dramática e conteúdo simbólico. Tal conteúdo, que parte do mito grego de Artêmis, uma deusa virgem e indomável, torna possível o vislumbre de uma alegoria erótica e coloca-nos frente a uma leitura psicanalítica de seu sentido simbólico. Se considerarmos que, de acordo com a psicanálise, Artêmis é um arquétipo feminino e trouxermos a análise psicanalítica à música, será possível desvendar o conteúdo subjacente a essa composição. Desta forma, pretende-se uma abordagem interdisciplinar do entendimento musical ao aproximar música e psicanálise. Resumidamente, colocar a música no divã. Palavras-chave: música e psicanálise – episódio lírico – Artemis – Alberto Nepomuceno – Belle-Époque musical. LUIZ GUILHERME GOLDBERG é graduado em Piano pela Universidade Federal de Pelotas (1986), e possui mestrado em Música, com ênfase em Práticas Interpretativas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000), onde também concluiu seu doutorado em Música - Musicologia (2007). A tese aí desenvolvida (Um Garatuja entre Wotan e o Fauno: Alberto Nepomuceno e o modernismo musical no Brasil) foi distinguida com menção honrosa no Prêmio Capes de Teses 2008. Atualmente é professor adjunto no Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas, onde coordena o grupo de pesquisa Estudos Interdisciplinares em Ciências Musicais. A ênfase de seu trabalho investigativo é a Música Brasileira na Primeira República, atuando principalmente nos seguintes temas: modernismo musical na Primeira República, música de Alberto Nepomuceno e edição de partituras. O uso da canção folclórica luso-brasileira na pedagogia do piano em grupo LUIZ NÉRI PFÜTZENREUTER (UNICAMP / UNESPAR / EMBAP) Utilizando-se do material temático do cancioneiro folclórico luso-brasileiro, o presente trabalho apresenta uma sugestão pedagógica realizada nas turmas de piano em grupo da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (UNESPAR/EMBAP). Além da experiência de tocar em conjunto, os alunos são motivados a executar suas próprias composições em público. O presente artigo nasceu da necessidade do autor em trabalhar com alunos dos cursos de Composição e Regência, Licenciatura em Música e Bacharelado em Instrumento, para o desenvolvimento das habilidades funcionais nas aulas de piano em grupo. Tais habilidades, como a leitura simultânea de claves, leitura à primeira vista, princípios de harmonização, transposição e improvisação, serão úteis tanto ao jovem compositor quanto ao futuro professor de música. Tendo em vista a necessidade de sistematização do conhecimento em atividades que desenvolvam as habilidades funcionais, o autor apresenta uma proposta de atividade que contempla o tema do exercício da composição em grupo. A partir do material folclórico luso-brasileiro, são criadas composições para piano em grupo, onde a técnica pianística básica é abordada gradativa e concomitantemente ao desenvolvimento das habilidades funcionais. O exercício de criação, num primeiro momento é realizado pelos alunos, que poderá ser adaptado pelo professor com a intenção de atender às necessidades particulares de cada turma. Num segundo momento, aproveitando o material criativo dos alunos, o professor pode apresentar novos exercícios e desafios, a fim de explorar o conteúdo técnico e musical a serem trabalhados. Entre alguns autores citados nesse artigo estão Cerqueira (2009), Chueke (2006), Costa (2003), Daldegan (2011), Gainza (1988), Lauria (2010), Montandon (2005), Paz (2012) e Swanwick (2003). O uso de material folclórico tem se mostrado como uma importante ferramenta no ensino, uma vez que já fazem parte do inconsciente coletivo de um povo, o processo de leitura, escuta e assimilação ocorre mais natural e eficientemente. Palavras-chave: canção folclórica luso-brasileira – piano em grupo – pedagogia do piano – habilidades funcionais. LUIZ NÉRI PFÜTZENREUTER PACHECO DOS REIS. Doutorando em Música na área de Práticas Interpretativas em Piano na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sob orientação do Prof. Dr. Mauricy Martin. Entre os anos de 2002 e 2004 foi professor de piano na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é professor de piano na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (UNESPAR/EMBAP). Revelando segredos da Abertura em Ré, do Pe. José Maurício LUTERO RODRIGUES (UNESP) Das poucas obras puramente instrumentais que chegaram até nós, compostas pelo Pe. José Maurício Nunes Garcia, a abertura Zemira despertou o interesse de Miguez e Nepomuceno, ao final do século XIX, e a Sinfonia Fúnebre – por sua datação precoce e conteúdo expressivo – dos pesquisadores mais atuais. A frivolidade aparente da Abertura em Ré, associada à completa ausência de referências a seu respeito, tornaram-na uma obra quase esquecida. Da mesma maneira que a mente fértil e imaginosa dos estudiosos do século XIX viram em Zemira um parentesco com a abertura Coriolano, de Beethoven, a Profa. Cleofe Person de Mattos, descobridora dos manuscritos da Abertura em Ré, no acervo do Museu Carlos Gomes, de Campinas, associou-a ao classicismo vienense, disseminando essa conclusão, novamente precipitada e irreal, por toda a musicologia histórica brasileira. Através da pesquisa, análise e comparação estilística, pretendemos demonstrar que haveria mais razões para associá-la ao universo ítalo-português que vienense, que sua datação seria posterior à vinda da Família Real e que a obra mereceria maior interesse dos estudiosos, sobretudo por sua engenhosidade estrutural. Por fim, a somatória envolvendo os elementos já mencionados, o caráter da obra e a possível semelhança com procedimentos retóricos e/ou simbólicos previamente utilizados pelo compositor, facultar-nosiam uma suposição sobre a origem, finalidade e verdadeira identidade da obra. Palavras-chave: Padre José Maurício – música luso-brasileira – música orquestral – ópera. LUTERO RODRIGUES. Nascido em 1950, estudou música no Brasil e Alemanha. Tem Mestrado (UNESP) e Doutorado (USP) em Musicologia. Tese de Doutorado: Carlos Gomes, um tema em questão: a ótica modernista e a visão de Mário de Andrade (Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música – 2010); foi editada, em 2011, pela Editora da UNESP. Atuou longos anos como regente de diversas orquestras, com destaque para a Sinfonia Cultura – Orquestra da Rádio e TV Cultura (São Paulo), dando prioridade ao repertório brasileiro. Realizou numerosas gravações. Dirigiu vários cursos e festivais de música, destacando-se o Festival de Inverno de Campos do Jordão (1987-1990). Desde 2003, é membro da Academia Brasileira de Música (Cadeira n° 36). Desde 2010, é Professor do Departamento de Música do Instituto de Artes da UNESP, em São Paulo. Do lundu canção de Caldas Barbosa ao lundu canção dos salões e palcos do séc. XIX:a trajectória hibrida de uma matriz cultural MAGDA DE MIRANDA CLÍMACO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) * VER PAINEL 4 Tradições portuguesas na música de Heitor Villa-Lobos MANOEL ARANHA CORRÊA DO LAGO (ACADEMIA BRASILEIRA DE MÚSICA) Serão examinados, nessa comunicação, alguns aspectos da música de Villa-Lobos que são vinculados de maneira particularmente forte a tradições musicais portuguesas: a) suas composições que fazem referência explícita a Portugal, entre as quais podem ser destacadas: Vira; o 1º movimento da Suíte para piano e orquestra com o subtítulo “A Espanha e Portugal”; a primeira das quatro suítes orquestrais que compõem o Descobrimento do Brasil. b) a parcela da sua produção na qual a presença portuguesa se faz sentir de maneira particularmente forte, que se nutre do rico Cancioneiro infantil luso-brasileiro. Representada pelo Guia prático para educação musical (1936), pelas obras sinfônicas Caixinha de Boas Festas (1931) e Saudades da Juventude (1941), pelo 5º Quarteto de Cordas (1932), e por suas coleções para piano Brinquedo de Roda (1912), Prole do Bebê I (1918), Prole do Bebê II (1922) e Cirandas (1926). Nessas obras, o ouvinte português reencontrará temas e títulos que lhe são familiares, e que remetem às cantigas de roda e de ninar, ou mesmo ao romanceiro medieval: Ciranda, Machadinha, Viuvinha, Carrasquinha, Senhora Condessa, Senhora Dona Sancha etc. Pelo fato do Cancioneiro Infantil ocupar uma posição tão importante e definidora na obra do compositor, numa época1 em que as características insulares permaneciam tão fortes, fazem dessas obras do catálogo de Villa-Lobos um patrimônio comum ao Brasil e a Portugal. Palavras-chave: Patrimônio musical luso-brasileiro – Cancioneiro luso-brasileiro – Heitor Villa-Lobos. MANOEL ARANHA CORRÊA DO LAGO. Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Mestre em Administração Pública ("M.P.A. Master in Public Affairs") pela Woodrow Wilson School of Public and International Affairs da Universidade de Princeton; Doutor em Musicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); Pós-Doutoramento no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP). Ocupa a Cadeira n.15 (Patrono: Carlos Gomes) da Academia Brasileira de Música. Suas pesquisas na área de Musicologia tem se centrado em questões ligadas ao Modernismo Musical Brasileiro na 1ª metade do século XX, com foco em temas tais como: Vera Janacopoulos, Darius Milhaud e Heitor Villa-Lobos. A divisão das escalas: estudo de caso do Machete MANUEL MORAIS (C.H.A.I.A. / UÉVORA) Frei Domingos de S. José Varela é o primeiro teórico português a abordar a questão da divisão das escalas dos cordofones no seu tratado, Compendio de musica, Porto, 1806. O sistema de divisão aplicado às escalas dos cordofones de mão remonta ao séc. XVI, sendo designado por “1/8 comma meantone temperament”. Este procedimento é praticado pelos instrumentos de corda com braço, onde se encontra incluído o machete madeirense oitocentista.2 O machete é um pequeno cordofone montado com quatro cordas simples de tripa cujas características morfológicas são: caixa em forma de oito; tampo e fundo, chato ou ligeiramente abaulado; braço longo que termina num cravelhal em forma de oito, inclinado para trás, ou também em forma de “bengala” ou em “ponto de interrogação”, com quatro cravelhas dorsais; escala em ressalto sobre o tampo, dividida por 12 a 17 trastes; cavalete fixo colado no tampo, rematado por bigodes retorcidos ou em redondo; a boca é ornamentada com embutidos de fios concêntricos; na base do tampo são embutidos motivos florais. O tiro de corda varia entre os 250 mm e os 345 mm e o comprimento total do instrumento entre os 335 mm e os 538 mm. De entre os violeiros madeirenses oitocentistas destacamos, Octaviano João Nunes, Matheus Januário da Silva, António Quintal Júnior, Vicente Menezes, Augusto Costa e Manuel Pereira dos Santos. Foi sobre este corpus de cordofones, que estudámos e verificámos o modo da divisão das suas escalas. Os violeiros madeirenses praticam o temperamento mezatónico de 1/8, embora a partir do VIII traste até ao XII cada construtor aplique uma compensação na divisão, que tenta corrigir os erros que se vão acumulando, permitindo assim identificar um grande número de machetes que não têm rótulos, ou que lhe foram arrancados por incautos restauradores no séc. XX. Nos anos de formação do jovem Villa-Lobos, no início do século XX, o Rio de Janeiro contava com um contingente de mais de 130 mil portugueses, que correspondiam a 20% da população total e que faziam do Rio a terceira maior cidade portuguesa do mundo. 2 Ainda que no Continente este cordofone também seja conhecido por machete, a sua designação mais usual é a de cavaco ou cavaquinho. O termo machete é também usado no Brasil oitocentista, para designar este cordofone de mão; cavaquinho aparece por volta de 1900. Cf. Machado de Assis, “O machete”, in: Jornal das Famílias, 1878; Lindolfo Gomes, “Os cavalos mágicos”, in: Contos populares brasileiros, 1931. 1 MANUEL MORAIS estudou no C.N.L. com Emílio Pujol, Santiago Kastner e Constança Capdeville. Como bolseiro da F.C.G. especializou-se na Suíça, na S. C. Basiliensis, com E. Dombois e Musicologia com R. Meylan (Universidade de Zurique). Fundou em 1972 os Segréis de Lisboa com o qual realizou concertos na Europa, E.U.A., Brasil, Bolívia, China e Índia. Gravou para Sassetti, Philips, Erato, EMI-Valentim de Carvalho, Movieplay e Portugaler. Na Madeira procedeu a uma exaustiva investigação sobre o seu património musical, tendo publicado a primeira obra então conhecida para o machete madeirense oitocentista de Cândido Drumond de Vasconcelos. Foi responsável pela coordenação do livro A Madeira e a Música. Estudos, onde incluiu um artigo sobre “Os Instrumentos Populares de Corda Dedilhada na Madeira”. Em 2010 criou o Quinteto Drumond de Vasconcelos. A 19 de Fevereiro último, foi homenageado no Funchal, pelo Secretário de Educação e Cultura, pelos trabalhos realizados em prol da música na Região Autónoma da Madeira. Entre 1972 e 1998 foi Professor do C.N.L. sendo actualmente Professor Associado Jubilado da Universidade de Évora e Investigador do C.H.A.I.A./Universidade de Évora. Em Março de 2006 o Presidente Jorge Sampaio atribuiu-lhe a Comenda da Ordem do Infante por serviços prestados ao estudo e divulgação da Música Antiga Portuguesa. As origens portuguesas da Violaria Carioca MARCIA E. TABORDA (UFRJ) Não são poucos os testemunhos acerca da presença e da importância da viola na cultura portuguesa. As mais antigas referências ao instrumento encontram-se nas iluminuras do Cancioneiro da Ajuda, manuscrito datado de 1280 no qual violas de mão aparecem representadas em oito dentre as dezesseis imagens que o códice contém. A enorme expansão e popularidade da viola – mesmo com todo o exagero dos números - está na perdurável tradição de que teriam sido encontradas dez mil guitarras- as conhecidas violas da época – abandonadas pelos portugueses nos destroçados campos de Alcácer Quibir. Despindo-se a fantasia da monumental serenata, o que sobrevive nesse relato é o testemunho de quão difundido era o instrumento em Portugal. Para que se pudesse tocar violas era necessário antes de tudo, construí-las. A arte da violaria encontrou em terras portuguesas solo fértil para desenvolvimento e datam do século XV primeiras referências a mestres violeiros (nome usado para designar o ofício) como Martim Vasques Coelho. Os emigrantes portugueses que se transferiram para o Brasil, trouxeram tradições e costumes; seus hábitos de vida, práticas de diversão, festas, e naturalmente a viola. A enxada de cantar tinha para eles lugar certo “o meio da cama de estado ou então aconchegada num saco de boca fechada e cadarço” como nos conta Manuel Ferreira. Propõe-se investigar as origens portuguesas do ofício de violeiros que atuaram no Rio de Janeiro a partir do século XVIII, artesãos que desempenharam papel fundamental na difusão dos instrumentos de cordas e como não poderia deixar de ser dos gêneros de música popular aos quais o instrumento deu suporte. Pretende-se compreender o momento cultural e econômico que permitiu o estabelecimento de artesãos no centro da cidade e, sobretudo, indagar o lugar social ocupado por esses violeiros no ambiente cultural da cidade do Rio de Janeiro. Palavras-chave: viola – violeiro – música popular – Rio de Janeiro. MARCIA ERMELINDO TABORDA. Doutora em História Social e mestre em violão pela UFRJ, publicou pela editora Civilização Brasileira o livro “Violão e identidade nacional” obra contemplada com o Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música (2010). Gravou para a Acari Records o CD “Choros de Paulinho da Viola” com a obra do compositor escrita para violão e para o selo ABM Digital o CD “Musica Humana”, com obras do repertório brasileiro contemporâneo. Integra como cantora convidada o Conjunto Quadro Cervantes, dos mais atuantes conjuntos de música antiga do Brasil. Restaurar/interpretar Guerras do Alecrim e Mangerona: abordagens e contextos de musicologia e performance da ópera luso-brasileira MARCIO PÁSCOA (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS / CONSULTOR DA FAPEAM) O manuscrito intitulado Alecrim e Mangerona, pertencente ao acervo do Paço Ducal de Vila Viçosa, atribuído na carátula da parte do baixo instrumental como sendo autoria musical de Antonio Teixeira, revela não só a composição daquela que no momento é a ópera mais antiga em língua portuguesa de que se conhece a música, como também um processo complexo de elaboração do espetáculo, em que um pretenso original aparece na fonte alentejana fundido aos registros – quer por acréscimos ou lacunas - de reprises diversas ao longo do século XVIII, e talvez XIX, informações ironicamente acumuladas de par com a ausência de algumas partes vocais. Sem entrar no mérito da existência de um «original» desta obra, discussão que parece ser infértil e ultrapassada, a restauração deste manuscrito com vistas a uma nova reposição cênica não é possível sem levar em consideração as questões de performance inerentes a cada época que abordou a composição, alterando-a de modo a estabelecer um contato entre contextos diversos e mante-la viva. Para incrementar ainda mais a discussão sobre tais fontes, não se pode deixar de lado numa abordagem que prevê a junção da musicologia histórica com a práxis interpretativa, a experiência contemporânea de Filipe de Sousa, estreada em 1972, com reprise posterior de Manuel Ivo Cruz, em 1979, que motivaram retomadas pontuais nas décadas seguintes. Na tentativa de considerar todas estas experiências em contextos tão dinâmicos quanto intrincados, a estréia moderna de Guerras do Alecrim e Mangerona, no Brasil (Festival Amazonas de Ópera, 2010) propôs um aproveitamento de diversas abordagens históricas desta ópera, na tentativa de valorizar a essência de uma obra de arte entendida mais como processo, menos como objeto monolítico cristalizado. Palavras-chave: Ópera – Língua portuguesa – Antonio Teixeira – Performance – Musicologia. MÁRCIO PÁSCOA é graduado em música (instrumentos antigos: flauta transversal barroca e flauta doce) e mestrado pelo Instituto de Artes da UNESP, São Paulo, com doutorado em Ciências Musicais pela Universidade de Coimbra. Atualmente é docente da Universidade do Estado do Amazonas, tanto na Graduação em Música quanto no Mestrado em Letras e Artes. Conselheiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas, obteve subvenção de diversos projetos pela Petrobras, Eletrobras, SESC, dentre outros organismos governamentais e privados do Brasil e do exterior. Com cinco livros publicados, cinco óperas restauradas publicadas, e outras tantas à espera de publicar, participa ativamente da movimentação de recuperação patrimonial e musical luso-brasileira, também na condição de intérprete, seja dirigindo ou tocando em agrupamentos diversos do Brasil e do exterior. Em 2010 dirigiu a primeira montagem contemporânea no Brasil de Guerras do Alecrim e Mangerona, durante Festival Amazonas de Ópera, à frente da Orquestra Barroca do Amazonas. Simão Fernandes Coutinho: um mestre organeiro galego na cidade invicta MARCO BRESCIA (UNIVERSITÉ SORBONNE-PARIS IV / UNIVERSIDAD AUTÓNOMA DE BARCELONA / CESEM, FCSH-UNL) As primeiras referências documentais sobre a actividade de Simão Fernandes Coutinho, mestre organeiro natural da Galiza, na margem portuguesa do Minho remontam aos anos 1750, circunscrevendo-se, em um primeiro momento, à cidade de Braga. Em 1760, o artífice passa contrato para a renovação/reconstrução de dois órgãos bracarenses: o instrumento construído em 1742 pelo igualmente galego Miguel Mosquera para a Igreja de Santa Cruz e aquele erigido em 1736 no Convento do Salvador pelo padre português Manuel Lourenço da Conceição. Estabelecido no Porto - primeiramente à Rua do Bonjardim e, definitivamente, à de Entreparedes , o organeiro é contratado em 1782 para dotar o Convento de São João da Pesqueira (Viseu) de um novo instrumento, sendo encarregado em 1785 da construção de um órgão para a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Vila de São José do Rio das Mortes (actual cidade de Tiradentes, Brasil). O instrumento, revestido por opulenta caixa de execução autóctone a partir de traça de estruturação arquitectónica típica do Minho-Douro, seria instalado na Matriz de Santo António em 1788. Embora o órgão de Tiradentes seja o único instrumento integral e exclusivamente saído das mãos de Fernandes Coutinho preservado na actualidade, alguns contratos notariais custodiados pelo Arquivo Distrital de Braga revelam, igualmente, importantes dados técnicos que nos permitem estabelecer uma ideia bastante precisa acerca de sua concepção organária. A presente comunicação pretende discutir a actividade de Fernandes Coutinho à luz da expansão de organeiros galegos a Portugal, congregados em torno ao frei Franciscano compostelano Simón de Fontanes na empresa de construção dos órgãos da Sé Primaz lusa (1737-1739), principais responsáveis pela introdução no país das inovações técnicas advindas da célebre escola Echevarría, que não parecem ter sido plena e sistematicamente incorporadas à produção instrumental daquele que ficou conhecido no panorama da cidade de Porto como o “organeiro de entreparedes”. Palavras-chave: Simão Fernandes Coutinho – escola Echevarría – organaria no Porto – órgão luso-brasileiro – órgão de Tiradentes. MARCO AURÉLIO BRESCIA. Doutorando em Ciências Musicais Históricas pelas universidades Sorbonne- IV e Nova de Lisboa (L’école Echevarría en Galice et son rayonnement au Portugal), bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal. Investigador colaborador interno do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical – Universidade Nova de Lisboa. Mestrando em alta interpretação da Música Antiga, especialidade “órgão histórico”, Escuela Superior de Música de Cataluña / Universidad Autónoma de Barcelona. Mestre em Historia da Arte pela Universidade Sorbonne-Paris IV (Catalogue des orgues baroques au Brésil: Architecture et Décoration). Organista da Basílica Pontificia de San Miguel – Nunciatura Apostólica, Madrid (órgão Gerhard Grenzing). Coordenador técnico do projecto de restauro do órgão histórico Lobo de Mesquita/Almeida e Silva (1787) da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo de Diamantina, Brasil - Ministério da Cultura, Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional, Mitra Arquidiocesana de Diamantina, Ateliê de Organaria Hermanos Desmottes (Cuenca, Espanha). A Oficina da Poesia – Modinha e poesia no contexto do entretenimento doméstico MARCOS MAGALHÃES (CESEM, FCSH-UNL) Os muitos exemplares de Modinhas, Lunduns e géneros associados que chegaram até nós demonstram a grande implantação destas formas musicais na sociedade portuguesa da segunda metade do século XVIII a inícios do XIX. O seu contexto de implantação era bastante alargado e ia do teatro ao entretenimento doméstico, do Porto ao Rio de Janeiro. Várias descrições coevas comprovam como estas canções profanas se constituíam como uma das peças mais importantes em qualquer serão e convívio social. Outro item comum em encontros festivos era a poesia, sobretudo num registo improvisado: o chamado glosar de motes. Este cultivo quase quotidiano da poesia, notado por vários viajantes estrangeiros (Ruders, Costigan), era uma característica expressiva da sociedade portuguesa da época. A este fenómeno podem ligar-se fontes históricas como sejam os folhetos de cordel, sonetos comemorativos, tratados de versificação (muitos incluindo dicionários de rimas) e edições ou manuscritos de poesia propriamente dita. Com a presente comunicação pretendemos reconstituir o que seria a perspectiva da época em relação à poesia, o seu estatuto, o seu uso, a extensão social da sua prática e posteriormente estabelecer relações com a criação de Modinhas, sobretudo no que toca à parte poética. De facto, a quantidade de Modinhas com poema anónimo e o seu teor funcional e efémero fazem supor uma ligação intima entre a Modinha e um cultivo disseminado da poesia. Palavras-chave: Modinha - poesia - tratados de metrificação – glosa. MARCOS MAGALHÃES. Nasceu em Lisboa, estudou cravo na Escola Superior de Música de Lisboa e no CNSM de Paris com Ch. Rousset, K. Gilbert, K. Haugsand, C. Rosado Fernandes e K Weiss. Em 2007 editou o disco “Sementes do Fado” juntamente com Ana Quintans e Ricardo Rocha. Dirigiu no CCB “Os Músicos do Tejo” nas óperas “La Spinalba” de F. A. de Almeida em 2009 e “Lo Frate Nnamorato” de G.B Pergolesi. Dirigiu, em 2010, a parte musical do espectáculo Sonho de Uma Noite de Verão do Teatro Praga com música da ópera “Fairy Queen” de Purcell no grande auditório do CCB. Também em 2010 editou o CD “As Árias de Luísa Todi”. Em Maio de 2011 dirigiu no CCB a ópera “Le Carnaval et la Folie” de A.C. Destouches e em Janeiro de 2013 a serenata de F. A. de Almeida Il Trionfo d'Amore. No outono de 2012 foi editado pela Naxos a gravação da ópera La Spinalba de F. A. de Almeida que dirigiu. Está neste momento a realizar, na Universidade Nova, doutoramento orientado por David Cranmer em torno das Modinhas Luso-Brasileiras. É bolseiro da F.C.T. Mulheres em bandas de música: uma interlocução entre Brasil e Portugal MARCOS MOREIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS), ALEXANDRE ANDRADE (ISEIT - INSTITUTO PIAGET, VISEU) Esta comunicação oral pretende apresentar uma pesquisa quali-quantitativa sobre a participação feminina nas filarmônicas do nordeste brasileiro e do norte de Portugal, resultante da pesquisa de Doutorado a ser defendida neste ano de 2013 na Universidade Federal da Bahia. Assim percorremos milhares de quilômetros pelo nordeste brasileiro e por Portugal em buscas de respostas que justificassem a escassez de trabalhos científicos sobre o tema e o hiato temporal da presença feminina nestas agremiações. O método Survey somado as relações humanas encontradas aproxima de um resultado satisfatório apresentado. Além das Bandas escolhidas em numero de seis, sendo três agremiações de cada país, para um foco mais específico, foi acrescentado um censo no recorte de investigação de 119 filarmônicas no total. Portanto o estudo procurou propor uma analise através de conceitos da relação da música com as ciências sociais e como estas relações de poder se perpetuaram por tantas décadas impedindo a entrada das mulheres por muitos anos nos quadros filarmônicos. Analisar as questões musicológicas e educacionais e mescla-lo com as ciências sociais no que é concernente a questões como feminismo, a política, patriarcado, econômicas, afetivas, entre outras e conecta-las com números quantitativos desta partipação, fazem a ótica deste trabalho. O ambiente recluso da presença feminina inicialmente em muitas bandas de música em ambos os países seja um dos motivos da complexa ponte e comportamento sociopolítico, modificados beneficamente na segunda metade e final do século XX, criando tal abertura hodiernamente. A abertura política nos dois países no século XX, o acesso à informação cada vez mais evidente na sociedade, principalmente no início dos anos 90, uma melhor formação técnica e humana entre as mulheres musicistas nas últimas décadas foram pontos preponderantes para esta possível aproximação qualitativa e quantitativa na correlação da igualdade participativa nas filarmônicas do Brasil e Portugal. Palavras-Chave: Banda de Música – Gênero – Mulheres e Musicologia. MARCOS DOS SANTOS MOREIRA. É Mestre em Educação Musical pela Universidade Federal da Bahia-Brasil, onde também obteve o diploma de Licenciatura em Música, e Especialista em Gestão Escolar pela Faculdade Montenegro. Em Alagoas, é Professor Assistente e mantém o Grupo de Pesquisa Metodologia e concepção social no ensino coletivo na UFALUniversidade Federal de Alagoas. É Membro da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música (SPIM), Docente convidado e membro do grupo de Pesquisa musical do Instituto Piaget, Viseu-Portugal. Na Bahia, atualmente cursa Doutorado em Educação Musical na Universidade Federal da Bahia, sob orientação do Prof. Dr. Joel Barbosa e coorientação do Prof. Dr. Alexandre Andrade (Portugal). É autor no Brasil de diversos artigos publicados em congressos sobre Bandas Música e Educação Musical, em periódicos acadêmico-científicos, entre os quais, ICTUS (UFBA-2010), OPUS (UFMG 2010) e ETD-UNICAMP-Educação Temática Digital (2009 e 2008), entre outras. Tem apresentado trabalhos em diversos Congressos realizados em muitos Estados Brasileiros e no Exterior a exemplo de Portugal e Chile. Já atuou como Pianista em diversos eventos na Bahia e Sergipe entre as décadas de 90 e 2000. ALEXANDRE ALBERTO DA SILVA ANDRADE. É licenciado e profissionalizado em Ensino de Música (flauta transversal) pela Universidade de Aveiro, mestre pelo Waterford Institute of Technology — Irlanda (Master of Arts in Music Performance) e doutor em Música pela Universidade de Aveiro — Departamento de Comunicação e Arte, em 2005. Utiliza um repertório cronologicamente vasto, onde se destaca uma especial incidência na Música Portuguesa dos séc. XVIII e XIX para flauta. Tem desenvolvido trabalho crítico e de investigação nos campos da interpretação e performance, organologia e musicologia, pedagogia e didática da música, sendo ainda importante salientar a música para Orquestra de Sopros e Banda e seu desenvolvimento, em Portugal e Nordeste do Brasil. Atualmente, está a iniciar o seu projeto de Pós-Doutoramento "Instrumentos da família Haupt em Portugal e no Mundo" na Universidade de Aveiro. É diretor artístico, flautista e fundador da Orquestra de Câmara Piaget Viseu, desde 2005 e Professor Auxiliar do Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares, em Viseu, e coordenador dos Mestrados em Música: Ensino de Música e Direção no Campus Universitário de Viseu do Instituto Piaget, e professor de Flauta no Conservatório de Música da JOBRA (Albergaria-a-Velha). A opereta com texto em português no contexto luso-brasileiro: o caso do Teatro da Trindade MARIA JOSÉ ARTIAGA (CESEM, FCSH-UNL) * VER PAINEL 3 A obra musical de João Pedro Oliveira – uma perspectiva de evolução técnica, estílistica, estética e musical MARIA DO ROSÁRIO SANTANA (ESECD – INSTITUTO POLITÉCNICO DA GUARDA) Característico de João Pedro Oliveira revela-se a presença constante de um imaginário, de um universo e de uma temática bíblicos na produção do universo imagético e musical de muitas das suas obras. Obras diferentes resultam da expansão destes elementos em objectos de som e arte construidos através da manifestação de diversos arquétipos. O uso da electrónica permite-lhe o acesso a vastos campos de acção e transformação, revelando-se, por isso, necessário ao seu trabalho de criação. Esta característica é transversal a toda a sua produção, seja ela instrumental, electrónica, electroacustica ou mista pois para João Pedro Oliveira a interacção entre os universos instrumental e electrónico, criando uma linguagem própria, revela-se um dos objectivos da sua criação. Este facto ressalta do seu interesse pela interacção e a ligação que se manifesta possível entre estes universos de som. Como o compositor afirma: “Nos últimos anos tenho essencialmente composto música mista [...]. Uma vez que me interessa muito ligar ambos os universos sonoros, por um lado, o instrumento (real, físico, presente, humano, sujeito a variações e hesitações) e, por outro, o som electroacústico (virtual, frio, précomposto, sempre idêntico), o percurso tem sido de aproximação entre ambos. O resultado reflecte-se nas duas componentes: na parte electroacústica, tenho tentado compor de uma forma “instrumental”, [...]; no trabalho com os instrumentos, as sonoridades têm-se aproximado cada vez mais da electroacústica, quer através do gesto, quer através da utilização de novas técnicas de execução”. Revelando-se uma característica de estilo, pretendemos mostrar como uma emerge e potencia a eclosão da outra. Através de um conjunto vasto de obras do autor – A Cidade Eterna (1988), Pirâmides de Cristal (1993), Peregrinação (1995), A Escada Estreita (1999), Labirinto (2001), Espiral de Luz (2005) e Vox Sum Vitae (2011)-, pretendemos mostrar a progressiva dissolução da fronteira entre a música electroacústica, a música mista e a música instrumental na produção do compositor, bem como as diversas técnicas discursivas e compositivas que aí expõe. As temáticas nelas expressas, bem como os arquétipos nelas utilizados serão alvo da nossa análise para que possamos mostrar como estas obras se tornam exemplos de como o poético se faz musical. MARIA DO ROSÁRIO SANTANA estudou Composição Musical na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto. Em 1998 obteve o grau de Docteur na Universidade de Paris-Sorbonne (Paris IV) defendendo a dissertação intitulada - “Elliott Carter: le rapport avec la musique européenne dans les domaines du rythme et du temps”. Desde 1999, desempenha as funções de Professora Coordenadora na Escola Superior de Educação Comunicação e Desporto do Instituto Politécnico da Guarda, leccionando diversas disciplinas nos cursos de Formação Inicial e pós-graduação. Pertence à Unidade de Investigação e Desenvolvimento do Interior da mesma instituição, sendo co-autora do livro (semi)- BREVES. Notas sobre música do século XX, publicado pela Universidade de Aveiro, e autora da sua tese de doutoramento Elliott Carter: le rapport avec la musique européenne dans les domains du rythme et du temps, publicada pelas Presses Universitaires du Septentrion, Villeneuve D’Ascq, França. A sua investigação traduz-se ainda na publicação de diversos artigos sobre música contemporânea, análise musical, e sobre as artes na educação. “Cantares para versos de Fernando Pessoa” de Estércio Marquez Cunha sob o ponto de vista de St/Spillman MARINA GONÇALVES (UNICAMP/ INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS – IFG), ADRIANA KAYAMA, MARIA JOSÉ MORAES (UNICAMP) Estércio Marquez Cunha (Goiatuba-GO, 1941)é um compositor contemporâneo brasileiro bastante ativo, com uma produção musical relativamente extensa e variada (escreveu obras para piano, teatro, orquestra, banda, música de câmara, entre outras). Até o momento compôs, para o gênero canto e piano, quatorze peças, sendo que “Cantares” e “Quatro Estações” são ciclos de obras formadas por três e quatro peças, respectivamente. A obra “Cantares para versos de Fernando Pessoa” de Estércio Marquez Cunha é um ciclo de três canções formadas pelos poemas “Depois da Feira”, “Qualquer Música” e “Plenilúnio”. Estes poemas foram retirados da obra “Mensagem” (Pessoa, Ática: 1981), do capítulo denominado “Cancioneiro”; resultando, possivelmente daí o titulo do ciclo: “Cantares”. Foram organizados pelo compositor nesta ordem, apesar de terem sido concebidos em momentos distintos. O “Plenilúnio” foi a primeira obra a ser composta, em julho de 1986. A seguir, vieram “Depois da Feira” e “Qualquer Música”, ambas de outubro de 1988. O tema principal das três poesias gira em torno de música: “cantando sem razão” (Depois da Feira), “qualquer música, ah, qualquer” (Qualquer Música) e “uma flauta que delira” (Plenilúnio). As obras foram analisadas a partir do referencial teórico de Stein/Spillman (1996). A escolha deste referencial teórico se deu em função da sua visão da interpretação do Lied alemão, na qual os autores propõem um estudo histórico, literário (análise da forma poética), textural, elementos de interpretação (dinâmica, timbre, métrica, conceitos de pessoas poéticas), linguagem musical (harmonia, tonalidade, melodia, motivo musical, rítmica, métrica, forma) e musicalização de poesias (comparações entre diferentes melodias sobre o mesmo texto feitas por compositores diversos). Entendemos que, apesar da distinção dos repertórios tratados por Stein/Spillman e do conjunto de obras aqui descrito, os parâmetros analíticos - poéticos e musicais - utilizados pelos autores são pertinentes à discussão das canções de Cunha. Palavras-chave: canção brasileira – Estércio Marquez Cunha – canto e piano – Stein/Spilmann. MARINA MACHADO GONÇALVES. Doutoranda em Música pela UNICAMP, Mestre em Música e Bacharel pela UFG. É professora do IFG, atuando nas áreas de piano, música de câmara, teoria e linguagem musical. ADRIANA GIAROLA KAYAMA. Doutora em Canto Pela University of Washington, EUA. Professora Assistente na UNICAMP atuando nas áreas de canto, dicção, música de câmara, técnica vocal e fisiologia da voz. Membro de corpo editorial das principais revistas de música brasileiras como Música Hodie, OuvirOUver (Uberlândia) e Per Musi (UFMG). Foi Presidente da ANPPOM de 2003 a 2007. MARIA JOSÉ DIAS CARRASQUEIRA DE MORAES. Doutora em Artes pela Universidade de São Paulo. Professora na UNICAMP atuando nas áreas de Instrumento (Piano) e Música de Câmara, junto aos departamentos de Graduação e PósGraduação. Editora dos livros “O Melhor de Pixinguinha” (Choro) e “O Livro de Pattápio Silva” (flauta e piano). Apresenta-se regularmente como solista, camerista, professora convidada e palestrante no Brasil, USA, America Latina e Europa. Solfejos de Acompanhar. José Joaquim dos Santos. MÁRIO MARQUES TRILHA (CESEM, FCSH-UNL) O florescimento do material teórico relacionado ao baixo contínuo em Portugal: regras de acompanhar, partimentos e solfejos com acompanhamento ocorreu quando a italianização da vida cultural portuguesa já se encontrava consolidada. No contexto desta produção destaca-se O Solfejos de Acompanhar de José Joaquim dos Santos (1747-1801) que é um método português de partimentos nos quais o texto explicativo das regras de acompanhar não está presente. Esta obra inscreve-se entre as melhores deste género produzidas em toda Europa na segunda metade do século XVIII. Na organização dos seus partimentos, Joaquim dos Santos subdividiu o método em sessenta e cinco partimentos de nível fácil e médio, nos quais apenas a voz do baixo é dada, e uma segunda parte, com quarenta partimentos de nível superior, onde outras vozes são indicadas. O método de Joaquim dos Santos apresenta uma organização didáctica de grande excelência, pois após os usuais exercícios iniciais, são progressivamente introduzidos partimentos em forma sonata, ou dança, e na segunda parte do método a imitação polifónica com partimentos-fuga de grande complexidade. As cópias manuscritas conhecidas dos partimentos de José Joaquim dos Santos actualmente encontram-se depositadas na Biblioteca Nacional de Lisboa e Biblioteca do Palácio Ducal de Vila Viçosa. O objectivo desta comunicação é destacar a organização progressiva da aprendizagem do baixo contínuo, forma, improvisação e contraponto através deste método, e ressaltar as suas semelhanças e particularidades com o material análogo utilizado em Portugal, tanto o de proveniência napolitana, quanto o produzido no país. Palavras chave: baixo contínuo, partimento, contraponto, improvisação, harmonia. MÁRIO MARQUES TRILHA, cravista, graduado em música na Universidade de Rio de Janiero (UNIRIO), prosseguiu os seus estudos nos Conservatoire de Rueil-Malmaison e Claude Debussy (Paris), Escola Superior de Música de Karlsruhe (mestrado em cravo), Schola Cantorum Basiliensis (mestrado em teoria da música antiga) e concluiu em 2011 o seu doutoramento em Música na Universidade de Aveiro sobre a Teoria e Prática do Baixo-Contínuo em Portugal, com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Actualmente é Investigador Integrado pós-doutorado no CESEM/ Universidade Nova de Lisboa com apoio da FCT, e é membro do conselho científico do núcleo de estudos da história da música luso-brasileira Caravelas. No mundo non me sey parelha e o que mais adiante se verá... MAURICIO MATOS (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) Segundo a proposta de dividir os trovadores galaico-portugueses por épocas com o objetivo de compreender mais apuradamente as transformações pelas quais passaram as cantigas medievais desde sua origem, provavelmente situada na passagem do reinado de Afonso Henriques para o de Sancho I, até seu ocaso durante o governo de Pedro I de Portugal, pude elencar – através de conexões, referências, locais e posições nos cancioneiros – o expressivo número de 35 trovadores como pertencentes ao que convencionei chamar de primeira geração, dentre os quais figura o nome de Paay Soárez de Taveyrós, autor de um cancioneiro individual composto por quinze cantigas, sendo três destas tenções. Dentro deste cancioneiro individual, figura a notória cantiga “No mundo non me sey parelha”, durante cerca de um século considerada, por Carolina Michaëlis de Vasconcelos e aceita quase por unanimidade, como a primeira cantiga datável dentro do universo trovadoresco. Analisando as cantigas de Paay Soárez de Taveyrós, com o intuito de lhes dar uma ordem lógica para edição, pude notar que as mesmas poderiam ser distribuídas de várias maneiras. Das doze cantigas de atribuição exclusiva a este trovador, percebi que quatro delas, organizadas de modo parcialmente diverso dos cancioneiros que as contém, formavam um grupo cuja singularidade era a de ter um encadeamento temático sequencial dramático. Desta forma, na presente comunicação, pretendo descrever os caminhos que me possibilitaram chegar a esta conclusão, com o objetivo de que a possibilidade dramático-musical das cantigas possa ser considerada para além deste trovador, a auxiliar na divisão temporal dos autores das cantigas medievais, como estilo de época, ou, por outro lado, assumir características universais dentro de todo período trovadoresco. Palavras-chave: Paay Soárez de Taveyrós – trovadorismo – cancioneiros medievais. MAURICIO MATOS. Professor do Programa de Pós Graduação em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas (PPGLA-UEA), é Doutor em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio, 2004). Foi pesquisador de Pós-Doutorado do CNPq (2006-2007 e 2007-2008) e da Fundação Calouste Gulbenkian (2009-2010) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Autor de Investigações camonianas (Manaus: EUA Edições, 2012), organizou, com Cleonice Barardinelli, edição de Mensagem de Fernando Pessoa, com Jorge Fernandes da Silveira, a antologia 19 Recantos e outros poemas de Luiza Neto Jorge (ambos, Rio de Janeiro: 7Letras, 2008), e, com Helder Macedo, Obras de Bernardim Ribeiro (Lisboa: Presença, 2010). O decoro musical no universo litúrgico luso-brasileiro: um estudo de caso das interseções de canto solo no repertório da primeira metade do século XVIII MÍTIA D’ACOL (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) * VER PAINEL 1 Retórica e Partimento na música sacra de André da Silva Gomes OZÓRIO CHRISTOVAM (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) * VER PAINEL 2 Projeto de banco de dados para pesquisas musicológicas em periódicos: um estudo de caso para os jornais da cidade de Rio Grande PABLO PALÁCIOS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) A pesquisa “A música na visão dos jornais de Rio Grande”, iniciada em 2010, tinha como um de seus objetivos levantar as dinâmicas musicais presentes na cidade de Rio Grande – em Rio Grande do Sul, Brasil – na década de 1920 através da análise de periódicos publicados neste mesmo período. Além disso, a pesquisa também tem como objetivo formar e disponibilizar um banco de dados para futuras pesquisas. O método utilizado poderia ser divido em três etapas principais, o rastreio de notícias sobre música, a organização e sistematização das notícias encontradas e por fim a análise das mesmas. Destas etapas, devido a grande quantidade de notícias encontradas na primeira parte do trabalho e das dificuldades no processo de classificação das notícias3, nos encontramos agora em um processo de reorganização e reclassificação dos dados. Sendo assim, apresentamos com este trabalho um projeto de modelo de banco de dados, bem como um sistema para análise dos dados e sua divulgação. Para tanto, utilizamos o processo de Figura 1 - Relação de modelos de objetos e suas características 3 Ver http://www.ufpel.edu.br/cic/2011/anais/pdf/LA/LA_01234.pdf, visitado em 30/03/2013. mapeamento de planilhas de dados em objetos através de scripts em Python para a framework Django. Neste processo, cada linha de tabela (que correspondia a uma notícia) foi mapeada nas seguintes classes: Jornal, Notícia e Tipologia conforme a Figura 1. A partir disso a framework Django nos possibilita fazer listas de notícias através de consultas por termos de interesse em cima de qualquer atributo da classe, facilitando pesquisas diversas para o futuro, independendo das classificações tipológicas feitas por nós. Figura 2 - Exemplo de consulta de notícias que tenham a palavra piano em junho de 1927 no jornal O Tempo Além disso, através das facilidades disponibilizadas pela framework, o sistema e os dados podem ser publicados em formato de sítios para a internet4. Por fim, este trabalho tem como por objetivo apresentar as tecnologias empregadas neste processo, discutir o projeto de banco de dados para pesquisas em periódicos e apresentar os resultados obtidos até o momento com os jornais de Rio Grande. Palavras-chave: história da música no Rio Grande do Sul – pesquisa em periódicos – projeto de banco de dados – linguagem de programação python – web framework django. PABLO PALÁCIOS é aluno do curso de Bacharelado em Música com Habilitação em Ciências Musicais pela Universidade Federal de Pelotas (Brasil). Não somente, também é aluno do curso a distância de Programação em Python pela O'Reilly School of Technology (EUA). Sua principal frente de trabalho envolve o uso de tecnologias como ferramentas assistivas em pesquisas musicológicas. 4 Uma prévia do sistema pode ser visto em http://jrs.sleepy.com.br/admin (login: convidado, senha: 123mudar). A Improvisação no choro: Tendências contemporâneas PAULA VALENTE (USP) Esta apresentação tem como objetivo principal refletir sobre a história da improvisação no choro, importante gênero da música popular brasileira. Faremos um panorama de como este procedimento se apresentou desde o surgimento das primeiras gravações do gênero, no começo do século XX, até os dias atuais. Apesar de várias pesquisas feitas sobre o choro exaltarem a improvisação como elemento essencial do gênero, raramente ouvimos gravações com improvisações. Os primeiros passos para uma maior importância do improviso aconteceram com as gravações de Pixinguinha e Benedito Lacerda em 1947, nas quais Pixinguinha improvisava sobre a harmonia, criando linhas melódicas paralelas à melodia. A linguagem utilizada por ele derivava das linhas dos violões de sete cordas, ou mesmo dos instrumentos graves de sopro das bandas do começo do século. Ele inaugurou um novo modo de se improvisar, transpondo estas conduções harmônicas para o instrumento de sopro. Com pouco mais de um século de existência, observamos, neste momento, que o choro passa por um importante processo de transformação. Entendemos que o atual movimento merece um estudo mais aprofundado, principalmente sobre as questões musicais. Pelos nossos estudos, observamos que, a improvisação está transformando, em larga extensão, as atuais performances do choro, tendo em vista a complexidade dos arranjos dos grupos atuais que a utilizam de um modo mais efetivo. Entendemos que, seguindo uma tendência da contemporaneidade, a improvisação é um dos principais elementos de transformação do choro atual. Palavras-chave: Improvisação – Música Popular Brasileira – Choro. PAULA VENEZIANO VALENTE. Graduada em Bacharelado em Composição e Regência pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP). Em 2009 concluiu o mestrado na USP (Universidade de São Paulo), com sua dissertação: “Horizontalidade e Verticalidade: Dois Modelos de improvisação no Choro Brasileiro”. No mesmo ano ingressou no doutorado, suas pesquisas versam sobre a improvisação e o choro contemporâneo, comparando estilos e investigando os novos rumos da linguagem musical brasileira, principalmente a relacionada ao improviso. Artigos publicados: “Horizontalidade e Verticalidade: os modelos de improvisação de Pixinguinha”- Revista Per Musi (UFMG -2011). “A improvisação no choro- História e reflexão”- Revista DAPesquisa- 2010. Artigos em Anais de Congressos: “Pixinguinha e o Modelo Vertical de Improvisação do Choro Brasileiro”- SIMPOM 2010. “A Coerência na Improvisação Idiomática” – XXI Congresso da Anppom 2011. “O Renascimento do choro da década de 70”- ABET 2012. “CHORO- Gênero e Estilo: conceitos e reflexões”- XXII Congresso da Anppom 2012. Desde sua fundação em 1990, é saxofonista e flautista da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo e professora de saxofone na EMESP Tom Jobim- (Escola de música do Estado de SP) desde sua fundação em 1990 e coordena a área de sopros populares. Danças no Espaço Atlântico (1821-1930): o caso da Ilha da Madeira PAULO ESTEIREIRO (CESEM, FCSH-UNL / SECRETARIA REGIONAL DA EDUCAÇÃO E RECURSOS HUMANOS– DIREÇÃO DE SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E MULTIMÉDIA DA MADEIRA) Em investigações recentes realizadas sobre a música instrumental na Madeira foi possível observar que as danças ocuparam um lugar de destaque no repertório musical do século XIX. O repertório encontrado é influenciado maioritariamente pelas danças europeias, mas começam igualmente a surgir danças de origem americana, embora nem sempre seja fácil de concluir se estas influências vieram directamente da América ou se vieram via Europa. O que é certo é que muitos dos tipos de danças observados são comuns a outras regiões e países do espaço atlântico, tais como os Açores, Cabo Verde ou Brasil. As danças que chegaram até aos nossos dias são compostas e arranjadas musicalmente para diferentes instrumentos e constituições instrumentais – piano, machete (espécie de cavaquinho), viola, agrupamentos de bandolins, bandas e pequenas orquestras de salão –, sendo possível encontrar um repertório variado constituído por valsas, polcas, quadrilhas, mazurcas, contradanças, danças com indicações geográficas (africana, espanhola, turca, pastoril, etc.), one steps, maxixes, tangos, entre outros. A enorme proporção de danças no contexto do repertório encontrado permite concluir que este tipo de música instrumental era a mais executada nos convívios sociais e privados do Funchal. A sua importância tornouse tão central que passou a fazer parte da educação da sociedade urbana madeirense, sendo frequente encontrar referência a colégios que ensinavam as crianças e jovens a dançar. Parte deste repertório foi recuperado recentemente e executado no âmbito da Coleção Madeira Música. Palavras-chave: Danças – Madeira – Educação – Convívios Sociais – Música Instrumental. PAULO ESTEIREIRO é Chefe da Divisão de Investigação e Multimédia da Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia. É licenciado, mestre e doutorado em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa. Tem colaborado como divulgador e crítico musical em vários periódicos, tais como a revista espanhola Ópera Actual (20002012), o Jornal de Letras, Artes e Ideias (2000-2007), o Diário de Notícias da Madeira (2005-2010) e o Jornal da Madeira (20102013). Foi autor e coordenador da série documental Músicos Madeirenses para a RTP-Madeira (12 documentários). Entre as suas publicações destacam-se Músicos Interpretam Camões, 50 Histórias de Músicos na Madeira e Regionalização do Currículo de Educação Musical. É coordenador da Colecção Madeira Música, série editorial que publicou sete CD-Rom com obras musicais históricas madeirenses. Tem escrito artigos para várias revistas científicas e participado com comunicações em encontros especializados em Portugal, Polónia, Brasil, Estónia, Itália e Escócia. Foi assistente da ESE de Setúbal (2008-2012) e da ESE de Bragança (2002-2005), sendo atualmente professor adjunto do ISCE. Leccionou na Escola Profissional de Música de Almada e foi Director Pedagógico da Academia Musical da Ilha Graciosa. Foi professor de guitarra na Academia Musical LAQ, na Foco Musical e no Gabinete Coordenador de Educação Artística. Gastão Fausto da Câmara Coutinho: Pensando a ópera, entre polêmicas e poéticas PAULO M. KÜHL (UNICAMP) Apesar da grande relevância dos espetáculos de ópera na vida cultural do Rio de Janeiro, no início do século XIX, são poucos os debates críticos e teóricos sobre o assunto. No entanto, logo após a inauguração do Teatro S. João em 1813, surge uma pequena polêmica entre Gastão Fausto da Câmara Coutinho, autor d’O Juramento dos Numes (apresentado na inauguração do teatro) e Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, redator do jornal O Patriota. Disputa belicosa de caráter literário, a polêmica revela alguns dos pressupostos teóricos evocados por ambas partes, os quais mostram o conhecimento que os autores tinham de um debate que já vinha acontecendo na Europa desde o início do século XVIII. Câmara Coutinho, personagem curioso e ainda pouco estudado, esteve diretamente envolvido em outras questões literárias e teatrais, no Brasil e em Portugal. A proposta do presente artigo é examinar os pressupostos teóricos da disputa, com o intuito de mostrar os parâmetros usados para pensar a ópera e demais espetáculos de música naquele período. Além disso, serão analisados outros textos de Câmara Coutinho que tratam de temas relacionados ao teatro e à ópera. Palavras-chave: Teatro S. João – G. F. da Câmara Coutinho – Poética – ópera. PAULO M. KÜHL é professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas desde 1995. Possui graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1987), mestrado em História da Arte pela UNICAMP (1992), doutorado em História pela Universidade de São Paulo (1998), Pós-doutorado pela New York University (2008) e Livre-Docência pela UNICAMP (2012). Atua nas áreas de História da Ópera e História da Arte, principalmente nos seguintes temas: ópera, libretos e poética; arte brasileira do século XIX. Atualmente desenvolve uma pesquisa sobre Joachim Le Breton, os Ideólogos e as propostas artísticas para o Brasil no início do século XIX. O ensino de contraponto de André da Silva Gomes: uma visita a Portugal RAFAEL REGISTRO RAMOS (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) * VER PAINEL 2 Música no Teatro do Poder: a Aclamação de D. Maria I em 1777 RICARDO BERNARDES (CESEM, FCSH-UNL) A encenação do poder no âmbito do “Antigo Regime” em Portugal, passa a ter especial importância desde o retorno do poder aos portugueses em 1640, com a aclamação de D. João IV. A afirmação do poder régio a partir de um tratamento teatral de sua representatividade, passa a ter um lugar preponderante nas celebrações públicas do calendário relativo à família real, como nascimentos, batizados e casamentos reais. Neste âmbito, não poderia haver cerimônia mais simbólica da manutenção do poder e da dinastia que a da Aclamação pública do soberano, em que as sistematizações hierárquicas e de obediência são relembradas e reforçadas por meio de uma portentosa celebração. Neste contexto, a simbologia sonora e musical tem um papel fundamental, desde os toques dos sinos e salvas de tiros de canhões vindos do castelo de São Jorge, à atuação dos "ministres" ou "charamela real", até a música executada na Real Capela por cantores e instrumentistas profissionais. Esta comunicação perfaz uma trajetória dos usos dos códigos sonoros nas aclamações em Portugal, desde a cerimônia para Filipe II em 1583 em Tomar à de D. Maria I em 1777, ao Terreiro do Paço conforme a tradição vista desde o tempo de D. João IV. A aclamação de D. Maria I foi a mais bem documentada destes eventos em Lisboa nos séculos XVII e XVIII, e cujas referências musicais citam obras e compositores executados, o que possibilita um panorama analítico mais apurado dos usos e importância das atividades sonoro-musicais nestas cerimônias singulares de representação do poder. Palavras-chave: aclamação – D. Maria I – Portugal – música – poder. RICARDO BERNARDES é Mestre em Artes pela Universidade de São Paulo – USP, e Doutor em Musicologia pela Universidade do Texas em Austin. Foi editor da coleção Música no Brasil – séculos XVIII e XIX pela Funarte e da revista Textos do Brasil, em seu número inititulado “Música Erudita Brasileira”, editado pelo Ministério das Relações Exteriores. Desde 2005 mantém intensa atividade musical como maestro e diretor musical do Americantiga Early Music Ensemble, dedicado à execução e gravação do repertório luso-brasileiro dos séculos 17 a 19. Seus concertos no Brasil, Estados Unidos da América, Argentina e Portugal tiveram, em grande parte, apoio das respectivas embaixadas brasileiras. Missa de São Sebastião de Heitor Villa-Lobos, referências do cantochão ao candomblé ROBERTO VOTTA (USP) Heitor Villa-Lobos (1887-1959) compôs a missa de São Sebastião entre dezembro de 1936 e janeiro de 1937. A partitura é dedicada ao Frei Pedro Sinzig (1876-1952), importante clérigo franciscano, que também atuou como compositor, musicólogo, jornalista e editor. Trata-se de uma missa escrita a 3 (três) vozes, a cappella, em homenagem ao Santo padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião. Villa-Lobos respeitou a estrutura tradicional da missa e incluiu as partes que compõem o ordinário litúrgico: Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei. Antes de cada uma das partes, o compositor acrescentou pequenos recitativos, exaltando São Sebastião, e anotou no manuscrito: "recitativos que devem preceder as seis partes desta Missa, quando cantada como oratório"5. Musicalmente, os recitativos anunciam o modo e o caráter da música que vem em seguida. A Missa é predominantemente modal e mistura melodias e construções rítmicas que lembram o cantochão dos primórdios da liturgia cristã e referências oriundas das culturas afrodescendentes do Brasil, em especial o candomblé. O próprio compositor comenta que “no Credo as palavras Et Sepultus Est, a melodia inspirase em motivos do candomblé” e “a melodia principal do Sanctus é escrita intencionalmente no estilo lírico das musicas religiosas [...]”6. Sobre esta perspectiva, a comunicação oral aqui proposta tem como objetivo analisar e descrever os materiais musicais trabalhados por Villa-Lobos na missa e demonstrar como o compositor forja relações entre referências distintas em uma música coesa e funcional, dentro da perspectiva litúrgica. Esta análise visa fornecer subsídios para a maior compreensão da obra, contribuindo para aspectos ligados a interpretação e a técnica composicional de Villa-Lobos. Palavras-chave: Villa-Lobos – Missa – São Sebastião – Análise. ROBERTO VOTTA. Doutorando em Musicologia pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com pesquisa sobre a obra serial do compositor Luigi Dallapiccola, sob orientação do Prof. Dr. Paulo de Tarso Salles. Mestre em Artes na área de Processos de Criação Musical pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, SP, Brasil em 2012. Bacharel em Composição Musical pela Faculdade Santa Marcelina de São Paulo, SP, Brasil em 2008. Vencedor do prêmio FUNARTE de Composição Clássica 2010, com a estreia da peça Active Mirrros para Orquestra de Cordas e Violoncelo Solo na XIX Bienal de Música Brasileira Contemporânea no Rio de Janeiro em 2011. Coordenador Editorial e Consultor Musical da Editora Irmãos Vitale entre 2009 e 2013, onde editou mais de 30 títulos entre livros, métodos e partituras musicais, incluindo a edição Urtext da “Prole do Bebê Nº 1” de Heitor Villa-Lobos (ISBN 978-85-7407250-0). Apresentou comunicações orais e publicações nos anais (ISSN 1983-5973) dos XX e XXI Congressos ANPPOM em 2010 e 2011, respectivamente, sobre a obra serial de Stravinsky. Apresentou comunicação oral e publicação nos anais do Simpósio Internacional Villa-Lobos em 2009, sobre a edição Urtext da “Prole do Bebê Nº 1” de Heitor Villa-Lobos. Giuseppe Ottavio Pitoni "Maestro di Maestri", representante da música litúrgica no contesto europeu e sua influencia na música luso-brasileira ROBSON DIAS (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) * VER PAINEL 1 5 6 VILLA-LOBOS, Heitor. Missa São Sebastião. São Paulo: Editora Irmãos Vitale, 1979. HORTA, Luiz Paulo. Villa-Lobos; uma introdução. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1987, p. 108. A Introdução da Sacabuxa em Solo Brasileiro RODRIGO SANTOS (UNICAMP) Este texto se refere ao inicio de nossa pesquisa, que tem como foco observar os fatos acerca da prática do trombone no Brasil do século XIX. Este foi um período muito relevante para a música e também foi quando, aparentemente, se intensificou a prática do trombone em solo brasileiro. Observando-se o período anterior ao foco pesquisa, nota-se que as características físicas e o gosto musical restringiram a utilização do trombone na Europa do século XVIII. A posição geográfica e as características do repertório praticado majoritariamente em Portugal, também não favoreciam a utilização deste instrumento. Como então foi possível o trombone se tornar bem sucedido na colônia em um período posterior? Os fatos históricos são parte importante na busca de respostas para esta pergunta e a condição ímpar que a presença da Família Real Portuguesa proporcionou para a história do Brasil pode ser a chave nesta investigação. A chegada de músicos trazidos de Viena pela D. Leopoldina, em 1817, a imposição da presença do trombone nas bandas militares e o intercâmbio com músicos como S. Neukomm (1778-1858), músico austríaco que viveu no Brasil por cinco anos por uma missão diplomática, são fatos que delinearam um caminho positivo para a sobrevivência do trombone. Além dos fatos históricos, um ponto importante é a observação das condições musicais que permitiram a disseminação da prática do trombone. As transformações sofridas na escrita para trombone no repertório das corporações musicais ao longo do século XIX e a comparação deste com o crescente uso do naipe de trombone no repertório orquestral brasileiro apresenta-se como um importante objeto para esta pesquisa. Palavras chave: Musicologia Histórica, Trombone, Música Brasileira. RODRIGO ALEXANDRE SOARES SANTOS é trombonista e possui os títulos de bacharel e mestre concedidos pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Orientado pela Profa. Dra Helena Jank, produziu a dissertação Sacabuxa: Panorama Histórico e Reflexão sobre a Adaptação do Músico Atual ao Instrumento de Época. Atua na área pedagógica como professor de trombone no Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” de Tatuí e como tutor virtual do Curso de Educação Musical a Distância da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente, no curso de doutorado, iniciou a pesquisa sobre a introdução e desenvolvimento do uso do trombone no Brasil do século XIX. No âmbito prático, atua tanto na área de música erudita, tocando trombone e sacabuxa, quanto na área de música popular. As Matinas de Semana Santa de David Peres e Antonio Galassi presentes no Acervo da Sé de Braga Portugal RODRIGO TEODORO DE PAULA (CESEM, FCSH-UNL) Em 1778 foram celebradas, em Lisboa, solenes exéquias pela morte do compositor napolitano David Peres (1711-1778) que gozou de grande prestígio junto a Corte e músicos portugueses. A influência de sua obra provocou ecos não só na produção musical em Portugal mas também nas obras de compositores da América Portuguesa onde encontram-se, em arquivos históricos, cópias de algumas de suas composições entre elas o popular Mattutino dei Morti. Também em 1778 dá-se a primeira notícia sobre a presença de António Galassi (c.1745-1814) em Portugal, compositor italiano que exerceu as funções de Mestre de Capela da Sé Primaz de Braga, até o ano de 1792, sob a protecção do Arcebispo D. Gaspar de Bragança, filho natural de D. João V. Ainda pouco estudada, uma pequena parte da obra religiosa de Galassi encontra-se no Arquivo da Sé de Braga, onde encontramos alguns responsórios de sua autoria inseridos nas Matinas de 5o e 6o feira para 4 vozes concertatas, de David Peres. Propomos assim uma primeira análise destes manuscritos na intenção de identificar a funcionalidade deste repertório e entender a manutenção de uma memória através da utilização de diferentes obras na composição de uma Unidade Cerimonial. Palavras-chave: David Peres, António Galassi, Sé de Braga, Matinas, Semana Santa RODRIGO TEODORO DE PAULA é maestro licenciado pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em Estudo das Práticas Musicais – Música e Sociedade pela mesma universidade. Bolsista da Fundação para a Ciência e a Tecnologia - FCT, atualmente é doutorando em Ciências Musicais - Musicologia Histórica pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Nesta mesma instituição é investigador do Centro de Estudos da Estética e Sociologia da Musica e membro da coordenação do Núcleo de Estudos da História da Música Luso-brasileira – Caravelas. O Real Teatro de São João (1813): representação e poder na velha cidade de São Sebastião ROSANA MARRECO BRESCIA (CESEM, FCSH-UNL) A transferência da corte portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808, como é de notório conhecimento, acarretou uma série de mudanças económicas, políticas, culturais, urbanísticas e artísticas no panorama da nova capital do Império Luso, dentre cujos instrumentos mais significativos de representação do poder da coroa não poderiam deixar de figurar os edifícios teatrais, que, apesar de numerosos e activos há quase um século por todo território luso-americano, não alcançavam as dimensões e o grau de propriedade exigidos pelo aparato régio. A Ópera Nova de Manoel Luís Ferreira, não obstante os diversos melhoramentos empreendidos pelo seu proprietário, tornou-se logo modesta e acanhada para acolher uma nobreza acostumada ao esplendor do Teatro de São Carlos de Lisboa. Nesse sentido, a 28 de Maio de 1810, um decreto do Príncipe Regente D. João autorizava a construção de um novo edifício teatral “digno de seu nome”. A transformação dos espaços dedicados às representações cénicas na cidade do Rio de Janeiro não passou desapercebida aos viajantes europeus que visitavam a cidade, surpresos pelo facto de uma urbe americana ostentar “um teatro como o de Milão, e maior que a Opéra de Paris”, segundo o relato de Ferdinand Denis. A presente comunicação pretende analisar o projecto arquitectónico do Real Teatro de São João do Rio de Janeiro comparando-o com os demais teatros públicos em actividade na América Portuguesa na altura da chegada da corte ao Brasil, sublinhando as principais inovações trazidas pela equipa do arquitecto José da Costa e Silva e suas implicações directas no que tange à praxis e actividade musical. Palavras-chave: Arquitectura Teatral na América Portuguesa – Real Teatro de São João – Ópera Nova de Manuel Luís Ferreira – cenografia e música na corte dos trópicos. ROSANA MARRECO BRESCIA é doutora em História Moderna e Contemporânea pela Université Sorbonne – Paris IV e em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa, Mestre em canto lírico pela Manhattan School of Music de Nova York e em canto barroco pelo Conservatorio di San Pietro a Majella de Nápoles, pós-graduada em canto lírico pela Royal Academy of Music de Londres. Autora do livro É lá que se representa a comédia: a Casa da Ópera de Vila Rica (1770-1822) (Paco Editorial, 2012), é actualmente investigadora integrada do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa, onde desenvolve investigações de pós-doutoramento sobre a cenografia teatral de influência italiana em Portugal ao longo do século XVIII. Rosana Marreco Brescia é bolseira de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal desde 2011. A música em manchete: tipologias jornalísticas. RUTHE ZOBOLI POCEBON, LUIZ GUILHERME GOLDBERG (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) A utilização de jornais para qualificar a dinâmica musical de uma cidade em um período histórico que não o atual demonstra um sério problema metodológico. É o que se observa na utilização de três periódicos que circulavam na cidade do Rio Grande (RS), Brasil, na década de 1920, período final da Belle Époque no país, no qual a utilização de tipologias para a classificação do assunto principal de cada notícia necessitou ser criticamente avaliada. Atualmente, as notícias estão sistematizadas em 28 tipologias, que, por sua vez, são agrupadas nos seguintes grupos temáticos: Artistas; Formações musicais; Sociedades; Opiniões; Espaços musicais; Escolas de Música; Eventos musicais; e Outros. Tal organização foi estabelecida a partir da necessidade da definição das tipologias observadas, já que algumas apresentavam diferenças de significação conceitual, se comparadas com o entendimento atual. A proposta deste trabalho é, portanto, apresentar um recorte da investigação realizada ao tratar da tipologia Músicos Populares, pertencente ao grupo temático Artistas. Trata-se de uma das tipologias que apresenta maiores dificuldades no entendimento de seu conceito a partir das notícias. Além dela, as tipologias Espaços Musicais e Repertórios serão discutidas, pois a ela relacionam-se diretamente, embora pertençam a grupos temáticos distintos. Como fontes conceituais, utilizou-se, entre outros, o Dictionnaire de Musique, de Hugo Riemann (1913), e trabalhos atuais como Da música folclórica à música mecânica: uma história do conceito de música popular por intermédio de Mário de Andrade (1893-1945), de Juliana P. González (2012), além das próprias notícias dos periódicos. Desta forma, pretende-se obter uma visão mais realista das práticas musicais da cidade do Rio Grande à época em estudo. Palavras-chave: Periódicos – Notícias – Tipologias – Músicos Populares – Rio Grande. RUTHE ZOBOLI POCEBON é estudante do quinto semestre do curso Bacharelado em Música – Ciências Musicais na Universidade Federal de Pelotas (Brasil); membro integrante do Grupo de Pesquisa “Estudos Interdisciplinares em Ciências Musicais”. LUIZ GUILHERME GOLDBERG é graduado em Piano pela Universidade Federal de Pelotas (1986), e possui mestrado em Música, com ênfase em Práticas Interpretativas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000), onde também concluiu seu doutorado em Música - Musicologia (2007). A tese aí desenvolvida (Um Garatuja entre Wotan e o Fauno: Alberto Nepomuceno e o modernismo musical no Brasil) foi distinguida com menção honrosa no Prêmio Capes de Teses 2008. Atualmente é professor adjunto no Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas, onde coordena o grupo de pesquisa Estudos Interdisciplinares em Ciências Musicais. A ênfase de seu trabalho investigativo é a Música Brasileira na Primeira República, atuando principalmente nos seguintes temas: modernismo musical na Primeira República, música de Alberto Nepomuceno e edição de partituras. Proposta de edição crítica e análise de Gli Eroi Spartani de Antonio Leal Moreira (1758-1819) SILVIA R. DE SOUZA LIMA (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) Antonio Leal Moreira (1758-1819) é, de acordo com as fontes sobreviventes, o segundo compositor a escrever ópera com texto em português, depois de Antonio Teixeira (1707-1774). Antes disso, entretanto, desenvolveu diversas obras congêneres em italiano. Dentre suas muitas composições encontra-se a serenata Gli Eroi Spartani, terminada em 1788, que teve sua estréia no Palácio da Ribeira, no dia 21 de Agosto do mesmo ano. Esta obra é considerada serenata devido às suas dimensões e contexto. Durante a época da composição, as serenatas serviam às comemorações externas dos nobres da corte, geralmente para elogiar o caráter de uma pessoa específica; neste caso, Gli Eroi Spartani foi composta para comemorar o aniversário de Dom José, Príncipe do Brasil (20/08/1716 –11/09/1788). A música de Antonio Leal Moreira foi bastante copiada no Brasil Colonial, servindo de fonte para jovens compositores ou aos músicos práticos que montavam repertório. Sua obra dramática envolve diversas escolhas, de formato e idioma, tendo sido também destinada a públicos diversos, uma vez que ele se dividia entre suas funções na Corte, na Real Patriarcal e na direção do Teatro da Rua dos Condes. A pesquisa agora em curso envolve uma abordagem analítica de Gli Eroi Spartani de Antonio Leal Moreira com vistas a contextualizar uma edição crítica e de performance. Palavras-chave: Gli Eroi Spartani – Antônio Leal Moreira – Serenata – Análise. SILVIA RAQUEL DE SOUZA LIMA, licenciada em 2012 pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), é mestranda em Letras e Artes pela mesma instituição. Foi integrante de diversas orquestras e professora do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro. Atualmente é professora de violino no Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas e violinista na Orquestra Barroca do Amazonas. A música da Semana Santa de São João del-Rei e de Braga: influências e trajetórias recíprocas SUELY CAMPOS FRANCO (UFRJ) No contexto de nosso estudo sobre a Semana Santa de São João del-Rei e de Braga realizado para fins de Doutoramento na Universidade Paris 3 Sorbonne Nouvelle, constatamos a relevância e o lugar de destaque da música nas cerimônias religiosas que acontecem neste período do ano. A presença e a atuação das instituições católicas e o aspecto devoto das populações de Braga e de São João del-Rei ao longo da história estão relacionados e foram responsáveis por nomeá-las a “Roma portuguesa” e a “Roma Brasileira” respectivamente. O vasto acervo de música sacra existente nestas duas cidades e, somados a isso, a força atual da música executada há mais de três séculos, especialmente na cidade de São João del-Rei, incita-nos a uma análise que busca revelar permanências e transformações desse repertório ao longo dos séculos, bem como a investigar a circulação e as influências musicais e culturais entre as cidades de São João del-Rei e de Braga. Para além da importância formal e estrutural deste repertório, nossa análise toma a perspectiva da musicologia histórica e da antropologia e se interessa pela funcionalidade desta música no culto católico e pelo papel que representa na identidade sonora destas cidades. Constatamos que as motivações dessas transformações apresentam repercussões na vida social e musical dessas cidades e nas cerimônias remanescentes do século XVIII. Palavras-chave: música sacra – Semana Santa – Braga – São João del-Rei. SUELY CAMPOS FRANCO. Doutora em Études Lusophonne (Paris 3 - Sorbonne Nouvelle), Mestre em Memória Social e Documentos pela UNIRIO, realizou especialização em Cultura e Arte Barroca pela Universidade Federal de Ouro Preto. Membro do CREPAL-Centre de Recherches sur les pays lusophones (France). Atuou como Produtora Cultural na UFSJ - Universidade Federal de São João del-Rei em atividades de extensão (com destaque para a organização e curadoria do festival anual de artes - Inverno Cultural) e como pesquisadora do Departamento de Ciências Sociais. Foi gestora de projetos e pesquisadora do Centro de Referência Musicológica José Maria Neves em São João del-Rei (2010-2012), com o qual continua colaborando. Tem experiência como documentarista, fotógrafa e docente nas áreas de antropologia e história, com ênfase em antropologia cultural e visual, atuando principalmente nos seguintes temas: patrimônio imaterial, religiosidade, festas, barroco, música colonial e história de Minas Gerais e das relações luso-brasileiras. Desenvolve pesquisas sobre práticas devocionais remanescentes do século XVIII nas cidades de São João del-Rei (Brasil) e Braga (Portugal), música colonial e história das relações luso-brasileiras. Atualmente é Produtora Cultural da UFRJ (Escola de Música). Entre teatros e salões, soam canções: Rio de Janeiro e Lisboa (1860 -1930) VANDA BELLARD FREIRE E ÂNGELA CELIS H. PORTELA (UFRJ) * VER PAINEL 4 As contribuições da análise rítmico-prosódica para a interpretação da linha melódica em uma canção estrófica luso-brasileira. WLADIMIR MATTOS (UNESP) A emissão do legato – um dos mais importantes atributos do tipo de produção vocal que caracteriza a performance do repertório erudito – está relacionada, entre outros fatores, ao equilíbrio dos componentes verbal e musical na realização da linha melódica do canto. Este equilíbrio que podemos considerar como directamente relacionado aos níveis de inteligibilidade da “letra” e da “música”, na execução vocal de uma melodia, bem como da maior ou menor eficiência das possibilidades expressivas do cantor em situação de performance, tem como uma de suas bases a compreensão da estrutura rítmico-prosódica subjacente à obra musical em questão. Alguns repertórios, entre eles, os das modinhas estróficas da tradição luso-brasileira, chegam-nos na forma de documentos que trazem à tona um contexto melódico no qual o grau de indeterminação, imprecisão e ou abertura interpretativa das relações texto-música exigem do intérprete grande atenção e informação. É no contexto destas informações preliminares que estabelecemos o presente trabalho, como uma proposta aplicativa sobre as contribuições que a análise rítmicoprosódica pode oferecer aos cantores, regentes, instrumentistas, analistas e musicólogos, quanto ao tratamento das conjunções e disjunções entre os componentes verbais e musicais da melodia e, consequentemente, quanto ao estabelecimento de possíveis linhas de interpretação. Como referência para esta aplicação, tomamos os procedimentos analíticos desenvolvidos em “Análise RítmicoProsódica como Ferramenta para a Performance da Canção” (Mattos, 2006), por sua vez, referenciada pelos trabalhos de Fernando José Carvalhaes Duarte (Duarte 1994, 1999) e pelos pressupostos da Fonologia Prosódica (Nespor e Vogel, 1986). Finalmente, como objeto de análise, tomamos a modinha estrófica Tempo que breve passaste, da autoria de António da Silva Leite, junto às importantes considerações de Alberto José Vieira Pacheco sobre os critérios editoriais e interpretativos na abordagem de obras musicais deste gênero (Pacheco, 2013). Palavras-chave: Prosódia musical – canção – interpretação – performance – canto. WLADIMIR MATTOS é bacharel em Canto pela UNESP - Universidade Estadual Paulista, onde obteve também o título de mestre e, atualmente, conclui pesquisa de doutorado com ênfase em temas relacionados às áreas de Canto, Prosódia Musical e Dicção lírica e suas interfaces com às áreas de Musicologia, Performance e Aprendizagem Musical. É professor das disciplinas de Dicção, Prosódia, Fisiologia da Voz e Técnica Vocal, que integram os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Música do Instituto de Artes da UNESP. É criador e atual vice-líder do EVPM – Grupo de Estudos da Expressão Vocal na Performance Musical, vinculado à UNESP e ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, através dos quais tem promovido uma série de eventos científicos e artísticos de repercussão internacional, entre eles, PB Cantado – Português Brasileiro Cantado (2005) e o VOX:IA – Encontro Internacional Sobre a Expressão Vocal na Performance Musical (2011). PAINÉIS PAINEL 1: A música como discurso: a análise pela música luso-brasileira DIÓSNIO MACHADO NETO (COORD.), ROBSON DIAS, MÍTIA D’ACOL, JONATHAN ALMEIDA DE SOUSA, ÁGATA YOZHIYOKA ALMEIDA O LAMUS-DM/FFCLRP tem como objetivo geral desenvolver conceitos e materiais para o aprimoramento do conhecimento sobre a música brasileira, principalmente do período colonial paulista. Especificamente as linhas de pesquisa concentram (1) estudos dos processos receptivos da teoria musical; (2) estes processos dentro de uma rede de análise ideológica da recepção da música, considerando o espaço lusobrasileiro; (3) e sua própria discursividade como teoria musicológica, por estudo da historiografia musical sobre a música brasileira. O presente painel pretendente mostrar alguns dos estudos sobre os processos discursivos (estruturas retóricas e tópicas) da música religiosa circulante no período colonial brasileiro, considerando este integrante do sistema cultural português. Especificamente a pesquisa visa mapear padrões e especificidades que possam delinear os alinhamentos com a música dos grandes centros europeus, assim como os usos locais. O mapeamento dessas formas discursivas da música luso-brasileira, além de auxiliar na observação dos vínculos estilísticos e os processos de recepção teórica, visa estabelecer os padrões de representação das estruturas ideológicas e culturais através das recorrências dos usos discursivos, através das análises de suas especificidades/territorialidades. O objetivo dessa introdução é discorrer como os programas de pesquisa musicológicos no Brasil, e sua historiografia, definiram suas plataformas teóricas e metodológicas em relação às condições histórico-ideológicas do conhecimento científico-social de cada época, assim como dos padrões de recepção teórica no Brasil. Para tanto se fará um recorte da produção posterior a 1990, quando a musicologia já dispunha de arcabouço teórico para perscrutar a análise musical desde sua condição histórica do pensável, em termos teóricos. A ideia é apresentar os cânones e rupturas discursivas, por uma análise da historiografia musical brasileira, dedicada ao período colonial. É também um discurso de autocrítica diante da tradição, tratando de responder a um desafio que é justificar e fundamentar a atividade musicológica do presente, nas atividades do LAMUS-DM/FFCLRP. Giuseppe Ottavio Pitoni "Maestro di Maestri", representante da música litúrgica no contesto europeu e sua influencia na música luso-brasileira ROBSON DIAS (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) Giuseppe Otávio Pitoni é um compositor, teórico e pedagogo que marcou a música litúrgica de seu tempo. Transfere-se definitivamente para Roma em 1677 e em 1719 sucede Domênico Scarlati como maestro da Capela Giulia in San Pietro. Segundo Padre Martini (Piero Mioli, 2006), “Pitoni, além de ser juntamente com Benevoli o sucessor de Palestrina na escola romana, foi também um importante teórico. Em seu exemplar “Saggio fondamentale pratico di contrappunto” (1774-75), Padre Martini utilizou como modelo um tratado escrito por Pitoni intitulado “Guida Armônica” . Este tratado teórico de Pitoni é um conjunto de 41 volumes, 1300 folhas que se encontra na Bibliotéca Apostótica Vaticana. Gmeinwieser (2008) acredita que “tal obra deve ser definida como um tratado de composição e exemplos musicais redigido segundo critérios históricos”. Ainda segundo o musicólogo alemão, Pitoni ao escrever este tratado tinha uma intencionalidade que pode ser aclarada se observarmos algumas anotações presentes na obra : “Dove si contiene il metodo di bon comporre in Musica in tutte le Sorti di Stili, con mostrate tutti i passi facili e difficili siccome anco buoni e cattivi”, em outra momento: “Dove si contiene la prattica universale dela Musica(...)”. Na tentativa de reconhecer o alcance das proposições de Giuseppe Otávio Pitoni, um dos maiores representante da musica sacra de seu tempo, este texto objetiva traçar linhas de influencias reconhecíveis entre as práticas musicais liturgicas na Itália de Pitoni relacionando-as com seus símiles em Portugal e por consequência no Brasil onde foram encontradas um conjunto de obras na cidade de Mogi das Cruzes intituladas “Os Papeis de Mogi” que possuem inequívocas similaridades composicionais com as obras do “Maestro di Maestri”. Palavras-chave: Guida Armonica – Giuseppe Otávio Pitoni – Papeis de Mogi – Musica Colonial Brasileira – Musica Sacra. ROBSON DIAS. Mestrando em Musicologia pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Robson Dias atua como investigador sobre o tema Giuseppe Otávio Pitoni e sua influência na música luso-brasileira. Possui título de graduação em música habilitação em Regência pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), pós graduação em Docência do ensino superior pela UGF (Universidade Gama Filho - Rio de Janeiro). É integrante do Laboratório de Musicologia (LAMUS) – grupo de estudos sobre as estruturas discursivas na música sacra luso-brasileira do século XVII e XVIII –, coordenado pelo Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. Na área da performance, atua como maestro especialista em música colonial brasileira e cantor, realizando espetáculos com a orquestra sinfônica (maestro) e coro de câmara (contratenor) da Universidade Federal de Minas Gerais participando ativamente nos congressos sobre música antiga ocorridos nos anos de 2007, 2009 e 2011 promovidos pela UFMG. O decoro musical no universo litúrgico luso-brasileiro: um estudo de caso das intersecções de canto solo no repertório da primeira metade do séc. XVIII MÍTIA D’ACOL (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) É evidente que na prática musical do século XVIII, diversos paradigmas de significado musical encontravam-se vinculados aos aspectos sociais da corte europeia. Tal fato é verificável na diversa gama de tratados musicais do período e a persistência destes em adequar e sistematizar os valores simbólicos e estilísticos da composição musical. Desta forma, o decoro - a correta aplicação estilística a um determinado sujeito - é de suma importância para a composição da música religiosa, visto que muito provavelmente os compositores formados no âmbito religioso da Patriarcal estariam cientes de suas aplicações no trato vocal e estilístico de suas obras escritas para a igreja. Tais estilos podem ser observados em diversos tratadistas dos séculos XVII e XVIII como Scacchi, Kircher, Brossard, Bernhard, Mattheson e Tosi. Este último, Tosi, aponta em seu tratado Opinioni de’ cantori antichi, e moderni o sieno osservazioni sopra il canto figurato a importância da correta utilização dos três estilos (teatral, eclesiástico, e camerístico) não só na composição mas também na interpretação musical. Apresenta-se então uma problemática no pensamento musical deste cantor do século XVIII na Europa: os estilos de cada manifestação deveriam ser mantidos apesar da forte influência operística nos outros âmbitos da composição musical. Desta forma, pretendemos realizar uma análise comparativa do trato musical das interseções de canto solo na música litúrgica destes compositores, visando elucidar possíveis estruturas discursivas do decoro musical pertinente (ou não) aos tratados de composição supracitados. Palavras-chave: Decoro – estilo musical – música litúrgica – retórica. MÍTIA D’ACOL. Mestrando em Musicologia pela ECA/USP, foi bolsista de iniciação científica do Santander orientado pelo Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. No ano de 2008 participou, com o apoio do Pro-Int da USP, do CMS/Juilliard Institute for Music History Pedagogy que ocorreu na Julliard Scholl em Nova York. Publicou em 2008 e 2011, em parceria com Rafael Registro Ramos, artigos nos anais do VIII SEMPEM (Seminário Nacional de Pesquisa em Música) na Universidade Federal de Goiânia e do 1o Congresso Brasileiro de Iconografia Musical na UFBA. Participou da comissão organizadora do “III Encontro de Musicologia de Ribeirão Preto” e do “I Simpósio para a pedagogia da história da música”. Em 2012 e 2013 apresentou comunicações na artigo V Jornadas de Jóvenes Musicólogos y Estudiantes de Musicologia da Universidade Autônoma de Madri e no VII Congresso Chileno de Musicología na Universidade de Concepción. Faz parte atualmente do Laboratório de Musicologia do Departamento de Música da USP, e atua como cantor na Cia. Minaz e maestro do Madrigal Minaz. Possibilidades cadenciais em obras dos séculos XVIII e XIX: um estudo em curso JONATHAN ALMEIDA DE SOUZA (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) Diante das práticas analíticas da música dos séculos XVIII e XIX, há uma evidência atual na musicologia de tratar sua abordagem na perspectiva histórica de suas teorias originais. Ao olhar a produção musical destes períodos, observa-se uma busca no que se usa denominar discursividade. Nessa mesma senda, percebemos que tais análises flexibilizam as perspectivas da Formenlehre. Pelos estudos teóricos desenvolvidos atualmente por William E. Caplin (1998; 2012) vemos a aplicabilidade da análise discursiva, mediado na estrutura formal tradicional. A análise das estruturas cadências é parte significativa desses estudos. Com a aquisição de outras ferramentas de análise que nos permitem observar o pensamento instrucional do compositor, como a análise tópica, podemos conferir outros sentidos composicionais às estruturas tradicionais. Portanto, reconhecer os estudos das teorias musicais da época nos fornecem factíveis respostas que se justificam com a temporalidade e com isso nos revelam possibilidades especulativas que se fundamentam dentro dos estudos dos modelos précomposicionais desenvolvidos nas escolas europeias do século XVIII. Sendo assim, buscaremos enriquecer o conhecimento destas dimensões analíticas que delineiam, dentro das condições do pensamento possível dos autores destes dois séculos, as formas de como se transita e articula o pensamento estrutural do compositor. Por fim, apresentaremos através de observação das estruturas cadenciais a manifestação de cadências desenvolvidas nas teorias dos partimentos (GJERDINGEN, 2007; SANGUINETTI, 2012) e nas teorias das figuras de retóricas (BARTEL, 1997) em composições sacro luso-brasileiros, principalmente nas partes fixas da missa de Réquiem Op. 23 de João Domingos Bomtempo. Palavras-chave: Teoria Musical – Análise Musical – Partimento – Formenlehre. JONATHAN ALMEIDA DE SOUZA. Graduando em licenciatura em música pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Atualmente é bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), com o projeto Análise tópica comparativa da missa de Réquiem de João Domingos Bomtempo e os cânones da música europeia dos séculos XVIII e XIX, orientado pelo Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. Atualmente integra como aluno pesquisador no Laboratório de Musicologia (LAMUS) da FFCLRP e é membro do Grupo de Pesquisa em Estudos Musicológicos coordenado pelo professor supracitado. Recorrências tópicas no “Introitus” da Missa de Requiem Op.23 de João Domingos Bomtempo ÁGATA YOZHIYOKA ALMEIDA (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) A segunda metade do século XX foi marcada pela eclosão de teorias que buscavam abordar as questões da significação e discursividade da música europeia dos séculos XVIII e XIX. De Leonard G. Ratner (1980) a Kofi Agawu (2009), autores se basearam nas obras de grandes cânones, como Haydn, Mozart e Beethoven, para compreender a organicidade do discurso musical, utilizando ferramentas analíticas da semiótica, da retórica e da tópica musical, proporcionando uma nova perspectiva analítica para a musicologia universal. Ao observar as metodologias analíticas da historiografia musical brasileira, notamos que os únicos parâmetros de análise utilizados partiram das estruturas harmônicas e formais. Havia o desenvolvimento de uma musicologia calcada nos fatos documentais e/ou na análise da obra musical como entidade autônoma para se alcançar uma interpretação musical. No entanto, alinhado à tendência internacional, a análise da organização do discurso engendrou o universo analítico das obras luso-brasileiras. Esta comunicação tratará de apresentar uma das vertentes da pesquisa sobre o discurso musical, baseado principalmente nas estruturas tópicas. O objeto de análise será o Introitus da Missa de Requiem Op.23 de João Domingos Bomtempo, onde serão apresentadas possíveis recorrências de padrões tópicos abordados por autores como Leonard G. Ratner, Raymond Monelle (2000; 2006), Robert S. Hatten (2004) e Kofi Agawu. Através do mapeamento das estruturas tópicas no discurso musical dos Introitus de obras fúnebres europeias e brasileiras, buscaremos certos padrões recorrentes do processo composicional dos séculos XVIII e XIX, para que possamos traçar caminhos para a observação de um significado semântico musical, assim como uma compreensão das transformações dos processos e relações sociais humanas na obra de Bomtempo. Palavras-chave: Análise Discursiva – Teoria Tópica – João Domingos Bomtempo – Requiem ÁGATA YOZHIYOKA ALMEIDA. Aluna do curso de graduação de Licenciatura em Música do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP). Atualmente é bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), desenvolvendo uma pesquisa sobre o estudo das tópicas na Missa de Requiem Op. 23 de João Domingos Bomtempo. Está vinculada ao Grupo de Pesquisa em Estudos Musicológicos e participa das atividades realizadas pelo Laboratório de Musicologia do Departamento de Música (LAMUS/FFCLRP), coordenados pelo Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. PAINEL 2: André da Silva Gomes DIÓSNIO MACHADO NETO (COORD.), ELIEL ALMEIDA SOARES, RONALDO NOVAES, OZÓRIO CHRISTOVAM, RAFAEL REGISTRO GOMES Retórica Musical na obra de André da Silva Gomes ELIEL ALMEIDA SOARES , RONALDO NOVAES (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) A inter-relação entre música e retórica tem sido o fundamento de toda a produção musical durante longo período histórico, não apenas na Alemanha dos séculos XVI e XVII onde houve um florescimento da música instrumental, mas por toda a Europa; consubstanciando no discurso musical os mesmos processos de estruturação empregados na construção literária, tal como seus recursos de linguagem: metáforas, alegorias, figuras e elementos retóricos. Desde as primeiras investigações de George J. Buelow, Dietrich Bartel e Leonard G. Ratner, a musicologia contemporânea tem demonstrado rico interesse sobre a retórica musical por ser uma ferramenta ideal para a base do conhecimento analítico acerca daquele período. Entretanto, a maioria das publicações é direcionada ao âmbito dos compositores europeus. Neste contexto, nossa pesquisa se insere pela necessidade de se lançar um olhar sobre a utilização dos recursos retóricos nos processos composicionais da música no universo luso-brasileiro, tendo como força motriz a obra do compositor André da Silva Gomes que, sendo formado no Seminário Patriarcal de Lisboa, era detentor de profundos conhecimentos da Retórica, como se pode observar em sua Arte explicada do contraponto e pelo fato de ter assumido o cargo de professor régio de Gramática Latina em 1797. Corroborando essa afirmativa, apresentaremos alguns exemplos de aplicação retórica nos Ofertórios do compositor luso-brasileiro que, mesmo distante dos centros musicais europeus, era dotado de conhecimento acerca da Arte da Eloquência como uma persuasiva ferramenta de comunicação através da música. Sabemos que os estudos sobre Retórica na música brasileira ainda são incipientes, o que justifica a necessidade da inserção deste trabalho dentro das pesquisas já existentes. Palavras-chave: Retórica – Análise Musical – André da Silva Gomes – Música Colonial Brasileira. ELIEL SOARES DE ALMEIDA. É graduado em Licenciatura em Música (2008), pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (Departamento de Música de Ribeirão Preto- SP), Mestre em Musicologia (2012), pela Universidade de São Paulo, tendo como orientador Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. Atualmente está no doutoramento, no Programa de Pós Graduação em Musicologia, na mesma instituição. Desenvolve pesquisa sobre música e retórica em André da Silva Gomes. RONALDO NOVAES. Graduado Música pela Universidade de São Paulo - USP. Durante a graduação foi bolsista na área de Musicologia, desenvolvendo pesquisa sob a orientação do Prof. Dr. Diósnio Machado Neto sobre Retórica na Música Colonial Brasileira. Atualmente é integrante do Laboratório de Musicologia de Ribeirão Preto e desenvolve pesquisa na mesma área. Possui experiência profissional como educador musical (musicalização infantil e de adultos), professor de instrumento (violão, guitarra, contrabaixo elétrico, percussão e teclado), teoria musical e história da música. Realizou projetos na área de Educação Musical - Oficina da Cultura do Estado de São Paulo (Oficina Cândido Portinari, Ribeirão Preto/SP). Realizou trabalhos de Regência Coral em projetos sociais na região de Ribeirão Preto/SP. Retórica e Partimento na música sacra de André da Silva Gomes OZÓRIO CHRISTOVAM (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) Durante o século XVIII, tanto a música como outras expressões artísticas se alinhavam com as perspectivas comunicacionais do universo protocolar da sociedade. Nessa perspectiva, os compositores se utilizavam de modelos pré-composicionais reconhecíveis pela audiência, buscando alcançar uma carga expressiva desejada e, assim, ativar um processo comunicativo. Essa pesquisa visa exemplificar a consciência de dois modelos pré-composicionais do século XVIII dentro da música do compositor luso-brasileiro André da Silva Gomes: a Retórica e o Partimento. Enquanto a primeira era essencial para a construção de um discurso musical belo e eficiente; a segunda oferecia o manuseio de expectativas auditivas de coerência tonal e consonância/dissonância, encaminhamento de vozes, cadências, Regra da Oitava, suspensões, movimentos específicos do da linha do baixo e mudanças de escala. Silva Gomes chega ao Brasil em 1774 com o Bispo Frei Manuel da Ressurreição para assumir o cargo de mestre de capela da Sé de São Paulo; contudo, toda a sua instrução é feita em Lisboa, e sob a tutela de José Joaquim dos Santos, mestre e compositor do Seminário da Patriarcal. A escolha das duas plataformas é justificada, por um lado, pela declaração de próprio punho de Silva Gomes da importância da consciência retórica a todos os compositores e, por outro, pela quantidade de compêndios de partimenti disponíveis na atual Seção de Música da Biblioteca Nacional de Portugal, acervo este pertencente ao Seminário da Patriarcal, sendo que um destes compêndios é atribuído a José Joaquim dos Santos. Palavras-chave: Retórica – Partimento – Música Sacra – André da Silva Gomes – século XVIII. OZÓRIO BIMBATO PEREIRA CHRISTOVAM. Graduado em Música e atual mestrando do Programa de Pós-Graduação em Musicologia da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Ozório Christovam concentra suas atividades nas pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Musicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto USP, coordenado por Diósnio Machado Neto, em torno da música sacra luso-brasileira do século XVIII, principalmente levantando perspectivas teóricas da obra de André da Silva Gomes, e dos trânsitos da ópera de 1870 a 1930 no Estado de São Paulo, com resultados apresentados no 13th International RIdIM Conference (Salvador-BA, 2011), no 19th Congress of International Musicological Society (Roma, 2012), e no I Simpósio Internacional de Musicologia (Brasília-DF, 2012). O ensino de contraponto de André da Silva Gomes: uma visita a Portugal RAFAEL REGISTRO RAMOS (LAMUS-DM/FFCLRP-USP) As práticas musicais europeias, no século XVIII, compartilhavam sonoridades em comum, fundamentadas sobre protocolos diversos que atuavam enquanto padrões de comunicação. Isso se dava especialmente nos círculos cultos, pois esses modelos comunicacionais representavam também uma forma de distinção social. Desde pelo menos a década de 1980, com Leonard Ratner, a musicologia se mostra atenta a essas questões, sofrendo atualizações teóricas e metodológicas cujas perspectivas lidam com as estruturas musicais enquanto estruturas discursivas. Novas teorias emergiram com isso, como o estudo das tópicas e a questão da retórica musical, por exemplo. No âmbito do ensino musical, no qual a manutenção dessa tradição se firmava, uma das mais importantes considerações refere-se ao ensino do contraponto. Além de sua presença óbvia em tratados intitulados “de contraponto”, ou então referidos como “documento harmônico”, “música prática”, seu ensino encontrava-se também em tratados sobre “regras de acompanhar” e manuscritos musicais, quase sem a presença de texto escrito, dedicados ao ensino dos partimenti. Através desse ensino, os discípulos aprendiam e absorviam as fórmulas protocolares da composição musical. Nesse contexto, este texto pretende estabelecer um vínculo entre o tratado de contraponto Arte Explicada de Contraponto (c. 1800), do lisboeta André da Silva Gomes (1752-1844), residente no Brasil desde 1774, e a tradição pedagógica do contraponto vigente em Portugal, parcialmente herdeira de modelos didáticos italianos. Mais especificamente, compara-se o tratado brasileiro com as plataformas teóricas fundamentadas sobre os escritos teóricos de autores portugueses como Manuel Nunes da Silva, Manuel Pedroso da Silva e Francisco Ignácio Solano e autores italianos como Francesco Gasparini e Fedele Fenaroli. Palavras-chave: Contraponto – Regras de Acompanhar – Partimenti – André da Silva Gomes – século XVIII. RAFAEL REGISTRO RAMOS. Mestrando em Musicologia pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Rafael Ramos atua como investigador sobre o tema Discursos e Conceitos no Tratado de Contraponto de André da Silva Gomes, com apoio financeiro da CAPES. Possui título de graduação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP, onde integra o Laboratório de Musicologia (LAMUS) – grupo de estudos sobre as estruturas discursivas na música sacra luso-brasileira do século XVIII –, coordenado pelo Prof. Dr. Diósnio Machado Neto. Na área da performance, atua como contrabaixista e cantor pela Cia MINAZ, tendo participado da montagem de óperas como Il Barbiere di Siviglia, de Rossini, e Dido and Aeneas, de Purcell. Pelo LAMUS tem se concentrado nas questões sobre a recepção teórico-musical no Brasil durante o período colonial, apresentando-se em congressos de cunho nacional e internacional como o 13th International RIdIM Conference (Salvador-BA, 2011), as V Jornadas de Jóvenes Musicólogos y Estudiantes de Musicología (Madrid, 2012) e VII Congreso Chileno de Musicología (Santiago, 2013). PAINEL 3: Uma ponte sobre o Atlântico: aspectos da vida teatral e da circulação de empresários, músicos e repertório entre Lisboa, Porto e Rio de Janeiro (1840-1900) LUÍZA CYMBRON (COORD.), FRANCESCO ESPOSITO, ISABEL NOVAIS GONÇALVES E MARIA JOSÉ ARTIAGA O Teatro de S. João foi o primeiro grande teatro do Rio de Janeiro, erguido em 1813 para dar resposta às necessidades sócio-artísticas de uma cidade que agora albergava uma corte. No entanto, foram várias as vicissitudes da sua existência e a sua actividade tem de ser vista não como algo isolado, mas antes integrando uma rede de teatros do Rio e seus arredores, de outras cidades do Brasil e de Portugal. No período pósindependência, mau grado as tensões existentes, a presença de profissionais de teatro portugueses contribuiu para o estabelecimento e sucesso da companhia do grande actor brasileiro João Caetano dos Santos. Nesses anos, uma parcela importante dos meios produtivos eram portugueses e muitos deles permaneceram toda a vida no Brasil ou circularam amiúde, criando laços profundos tanto a nível cultural como familiar nas duas margens do Atlântico. O acentuar da emigração portuguesa e o crescimento económico do Brasil, durante o segundo reinado, criaram o terreno propício a uma significativa intensificação deste fenómeno. Em paralelo, devemos olhar para os teatros como os eixos centrais da vida social e artística de qualquer cidade neste período, albergando um leque abrangente de manifestações, que iam da ópera e do teatro declamado ao concerto, do vaudeville e da opereta à mágica, passando pelos bailes de carnaval e pelas grandes solenidades ligadas à representação do Estado ou à celebração de uma memoria colectiva, como foram os vários centenários. Este painel pretende explorar a ideia de rede teatral e levantar questões sobre a vida teatral e a circulação de empresários, músicos e repertório entre as duas principais cidades portuguesas e o Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Palavras chave: espaço Luso-Brasileiro, teatros, circulação, géneros músico-teatrais, virtuosismo instrumental. Francisco de Sá Noronha (1820-1881): perfil de um músico português entre as duas margens do Atlântico LUÍSA CYMBRON (CESEM, FCSH-UNL) Violinista e compositor, nascido e educado no Minho, Sá Noronha partiu aos 18 anos para o Brasil, sem ter ainda verdadeiramente encetado uma carreira profissional. Era mais um dos jovens letrados sem fortuna que procuravam do outro lado do Atlântico um futuro que os acanhados meios portugueses tinham dificuldade em propiciar, e cujos retratos encontramos em alguns romances de Camilo. A sua afirmação no meio musical e teatral do Rio de Janeiro deu-se em paralelo com a de João Caetano, apostando em explorar os seus vários talentos, para públicos diversificados, quer através de exibições como violinista nos intervalos de espectáculos dos teatros de S. João, S. Francisco, S. Januário e Santa Teresa, quer escrevendo música para adaptações de vaudevilles ou outras peças. Ao longo da sua vida cruzou o Atlântico pelo menos quatro vezes, tendo trabalhado com inúmeras companhias teatrais, sobretudo no Rio de Janeiro e no Porto. Acabaria por morrer no Rio, num momento em que, em colaboração com Artur Azevedo, atingira sucesso como compositor de operetas, no Teatro Fénix Dramática. Esta comunicação pretende analisar o perfil de um músico cuja carreira ilustra, de forma paradigmática, as relações teatrais e musicais entre os dois países na segunda metade do século XIX. LUÍSA CYMBRON. Ensina no Departamento de Ciências Musicais da UNL e é membro do CESEM, tendo integrado a equipa de vários projectos de investigação. As suas áreas de investigação centram-se nos compositores portugueses de ópera do século XIX e na recepção do repertório italiano e francês em Portugal, durante o mesmo período. É autora, em colaboração com Manuel Carlos de Brito, de História da Música em Portugal (Universidade Aberta, 1992), editou um volume da Revista Portuguesa de Musicologia dedicado ao século XIX (nº 10, 2000) e o catálogo da exposição Verdi em Portugal 18432001 organizada pela Biblioteca Nacional de Portugal e o Teatro Nacional de S. Carlos aquando do centenário da morte do compositor. Publicou recentemente o volume Olhares sobre a Música em Portugal no Século XIX (Colibri, 2012). A modernização da actividade concertística no século XIX: as tournées ibero-americanas de Sigismund Thalberg FRANCESCO ESPOSITO (CESEM, FCSH-UNL) A profunda transformação do concertismo oitocentista não passou despercebida aos cronistas do tempo que, entre as suas causas, identificaram o grande desenvolvimento dos meios de transporte (ferroviários e marítimos) e de comunicação (telégrafo e imprensa musical). Estes permitiram uma modernização da sociedade que, também em relação ao mercado musical, começaria a mostrar traços do que hoje chamamos as dinâmicas típicas da cultura de massa. A presente comunicação pretende analisar este fenómeno a partir da figura de Sigismund Thalberg – que nas suas viagens à conquista do mercado sul-americano fez mais de uma paragem na Península Ibérica – e está sem dúvida entre os primeiros e mais famosos intérpretes desta mudança epocal na forma de interpretar a actividade concertística. FRANCESCO ESPOSITO. Licenciou-se em Nápoles e doutorou-se em Musicologia na Universidade Nova de Lisboa, com uma tese sobre o concertismo e a actividade associativa na Lisboa do período liberal. É actualmente investigador do CESEM e bolseiro de pós-doutoramento da FCT, tendo integrado vários projectos de investigação e publicado ensaios em revistas nacionais e estrangeiras. Em 2011 ganhou por unanimidade a V edição do Prémio Liszt da Fondazione Istituto Liszt de Bologna, com o ensaio "Liszt al rovescio": la difficile relazione del pianismo portoghese di metà Ottocento con i modelli stranieri. De partida para o Brasil – a realidade musico-teatral lisboeta oitocentista em tempos de emigração ISABEL NOVAIS GONÇALVES (CESEM, FCSH-UNL) Basta folhear com algum detalhe a Carteira do Artista ou o Dicionário do Teatro Português de Sousa Bastos para compreender que a manutenção do teatro musical lisboeta oitocentista fez-se muito também de incursões periódicas nas principais metrópoles brasileiras. Com caracter temporário, ou em muitos caso, definitivo, foi assim que muitas carreiras ligadas ao teatro – atores, empresários, dramaturgos e compositores - garantiram o desenvolvimento do seu metier, quando não da sua própria sobrevivência, enfrentando no meio cultural e social brasileiro uma realidade e identidade próprias com que tinham de interagir. Importa, no entanto, ao discutir as diversas facetas de que se revestia esta rica experiência dos profissionais portugueses no Brasil, saber, no que levavam consigo, de que experiência teatral partiam. O objetivo desta comunicação não é, portanto, o de observar o estado da arte na sua chegada, mas o repertório de partida, numa tentativa de sintetizar algumas das características e práticas que o teatro musical lisboeta desta época, em si mesmo, comportava. ISABEL NOVAIS GONÇALVES. Tem o curso geral de piano pelo Conservatório do Porto, é licenciada em Ensino da Música pela ESE do Instituto Politécnico do Porto e em Ciências Musicais pela FSCH da Universidade Nova de Lisboa. É doutorada em Ciências Musicais – especialidade Ciências Musicais Históricas com a tese A música teatral na Lisboa de Oitocentos: uma abordagem através da obra de Joaquim Casimiro Júnior (1808-1862). É membro do CESEM, onde integra o projeto de investigação “Teatro para Rir: a comédia musical em teatros de língua portuguesa (1849-1900).” É musicóloga na CML – Serviço de Fonoteca da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, onde presta serviço de referência e desenvolve atividades educativas e culturais na área da música. A opereta com texto em português no contexto luso-brasileiro: o caso do Teatro da Trindade MARIA JOSÉ ARTIAGA (CESEM, FCSH-UNL) O Teatro da Trindade veio contribuir para uma nova época da vida teatral portuguesa. Inaugurada em 30 de Novembro de 1867, esta sala de espectáculos resultou da iniciativa particular de uma sociedade de accionistas cujo principal promotor foi Francisco Palha de Faria Lacerda, um homem das letras que, desde cedo, se manteria em contacto com os mais recentes êxitos do boulevard parisiense. A primeira opereta estreada no Teatro da Trindade foi o Barba Azul, de Offenbach, em 13 de Junho de 1868. A popularidade que esta obra obteve provocou uma mudança radical de paradigma na programação desta sala, tendo a opereta, daí em diante, passado a predominar no gosto do público. Nesta comunicação propomo-nos discutir a vontade de criação deste género em português, a prova de ensaio que a sala do Trindade constituíu para os compositores portugueses e a mais-valia que representou para os actores do Trindade nas suas tournées ao Brasil durante na década de 1880. MARIA JOSÉ ARTIAGA. Doutorou-se em Musicologia no Royal Holloway da Universidade de Londres com a tese “Continuity and Change in Three Decades of Portuguese Musical Life 1870 – 1900”. É investigadora no CESEM, publicou ensaios em Portugal e no estrangeiro e integra, actualmente, as equipas de investigação dos projectos Teatro para Rir: A comédia musical em teatros de língua portuguesa (1849-1900) e “ ‘A música no meio’”: o canto em coro no contexto do orfeonismo (1880-2012)". As suas áreas de investigação centram-se na vida concertística portuguesa na segunda metade do século XIX e no Ensino da Música no período entre 1870-1974. PAINEL 4: Entre teatros e salões, soam canções VANDA BELLARD FREIRE (COORD.), ÂNGELA CELIS H. PORTELA, ANA GUIOMAR REGO SOUZA, MAGDA DE MIRANDA CLÍMACO Entre teatros e salões, soam canções: Rio de Janeiro e Lisboa (1860 -1930) VANDA BELLARD FREIRE E ÂNGELA CELIS H. PORTELA (UFRJ) A presente pesquisa, em andamento, tem por objetivos: 1) levantar canções derivadas de óperas em português e de mágicas; 2) analisar exemplos dessas canções que contenham personagens femininas, interpretando significados sociais subjacentes; 3) gerar coletânea (partituras e gravação) de canções analisadas. Sob o olhar da história da cultura e da fenomenologia aplicada à música, utiliza-se abordagem intertextual (musical, literária e cênica), enfatizando os seguintes aspectos quanto à função da música: 1) similaridade de caráter com o personagem ou a cena, sublinhando características ou acrescentando, por alusão, elementos não explícitos; 2) contraste de caráter com o personagem ou a cena, acentuando características, por contradição; 3) sem vinculação expressiva com o caráter da cena ou do personagem, atuando como pano de fundo, elemento de ligação ou dando o tempo da ação. As principais fontes primárias são libretos, partituras e periódicos (arquivos do Rio de Janeiro e de Lisboa). O levantamento de canções e a análise preliminar estão em andamento. As informações estão sendo sistematizadas, gerando listagem de canções (no momento, mas de 100 canções de diferentes gêneros, em versão para canto e piano). Exemplificando: Balada da ópera cômica O Rouxinol das Salas, de Ângelo Frondoni, Romance da Rosa, da mágica Vênus, de Augusto Machado (ambas portuguesas); Tango dos Frades, da mágica A Borboleta de Ouro, de Assis Pacheco e Romance, da ópera Edmea, de João Gomes de Araújo (brasileiras). A leitura preliminar de canções revela, nas personagens femininas, a presença tardia de resíduos românticos, sobrepostos a significados da atualidade da época. Busca-se, no momento, ampliar os dados, reconstruir o processo de trocas entre teatros e salões cariocas e lisboetas e interpretar significados ligados às personagens femininas. A pesquisa, ainda inconclusa, terá suas conclusões aprofundadas, mas já inicia o descortinar do universo das canções originárias do teatro, em que mulheres habitam como personagens. Palavras-chave: teatro musical – canções – óperas – mágicas – personagens femininas. VANDA L. BELLARD FREIRE. Integra como Professora Associada efetiva o corpo docente da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde leciona e orienta trabalhos de pesquisa e extensão nas áreas de Musicologia Histórica e Educação Musical (Graduação e Pós-Graduação), tendo publicado diversos trabalho em ambas as áreas. É Doutora em Educação Brasileira pela UFRJ. Concluiu, em 2005, Pós-Doutoramento na Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, na área de Musicologia Histórica, em interação com o Dr. Mário Vieira de Carvalho. Presidiu a Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) no período 1996/2001. Tem realizado trabalhos técnicos e consultorias diversas ligadas à área de música e educação. Foi Conselheira, de 1997 a 2006, do Conselho Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC / Ministério da Cultura / Brasil), representando a área de Música. Coordena, atualmente, o Centro de Estudos de Musicologia e Educação Musical da UFRJ. ANGELA PORTELA é Bacharel em Piano pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesta mesma Universidade, em 2005, obteve o título de Mestre em Música (Musicologia Histórica), defendendo a dissertação intitulada “Mulheres Pianistas e Compositoras nos Salões Aristocráticos do Rio de Janeiro de 1870 a 1910”, sob orientação da Profa. Dra. Vanda Freire. Durante os anos de 2009 a 2011, foi professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. A partir de 2011, tem lecionado na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem se dedicado ao estudo histórico-sociológico da atuação de mulheres musicistas no Brasil, no período do século XIX ao início do século XX. Recentemente, iniciou um projeto de investigação sobre o desenvolvimento da música no estado do Rio Grande do Norte e sua ligação com a história da Escola de Música da UFRN, recebendo apoio do Governo Federal Brasileiro para a sua execução em 2013. Entre teatros e salões, soam canções: modinhas e árias em Vila Boa de Goiás e Pirenópolis – GO (século XIX a década de 1930) ANA GUIOMAR REGO SOUZA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) A presente pesquisa tem por objetivos: a) levantar repertório de modinhas e árias cantadas nos salões e espaços cênicos de Vila Boa de Goiás, atual cidade de Goiás, antiga capital do Estado brasileiro homônimo, e na cidade goiana de Pirenópolis; b) analisar canções buscando identificar na inter-relação entre letra, música e cenários histórico-social, representações identitárias. É visão corrente, na atualidade, que o relato sobre o passado é sempre “contaminado por uma cadeia de intermediários”: atores sociais que selecionam, registram e interpretam os acontecimentos a partir de valores, crenças e de seus lugares na sociedade. (BURKE, 2004) Essa intermediação torna impossível apresentar os fatos “como eles realmente aconteceram”, tal qual pretendido por uma historiografia dita positivista. Com a emergência da História Nova, a ideia de “fontes” passa a ser avaliada como suporte material portador de indícios do passado no presente. Indícios não mais restritos a documentos escritos de natureza oficial, mas ampliando-se para abarcar a vida em sua complexidade, o que pressupõe a inclusão de manuscritos diversos, impressos de qualquer natureza, diferentes tipos de imagens, literatura, manuscritos, partituras, artefatos sonoros. No caso da presente pesquisa os vestígios se encontram espalhados por uma extensa gama de fontes, exigindo um esforço de garimpagem que resulta, muitas vezes, em um único ou poucos fragmentos. Mas, constituir tais vestígios em “evidência aceitável” só é possível a partir do trabalho relacional, procedendo ao que Walter Benjamim chamou de método de montagem: “(...) quebra-cabeças capaz de produzir sentido, com as peças se articulando em composição ou justaposição, de modo a revelar analogias e relações de significado, ou se combinam por contraste, a expor oposições ou discrepâncias.” (PESSAVENTO, 2003, p.54). No presente estágio da pesquisa, a documentação localizada permitiu o esboço do espaço da performance, do cenário histórico social, de um repertório preliminar e a análise de algumas canções. Palavras-chave: salões e teatros – modinhas e árias – Cidade de Goiás, Pirenópolis/GO. ANA GUIOMAR RÊGO SOUZA. Mestra em Música pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutora em História Cultural pela Universidade de Brasília (UnB). Professora Adjunta da UFG, lecionando na Graduação e no Programa de Pós-Graduação em Música desta da Escola de Música e Artes Cênicas. Ocupa atualmente o cargo de Diretora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC). Lidera o grupo de pesquisa Arte, Educação, Cultura do Diretório de Pesquisa do CNPq e coordena o Núcleo de Estudos Musicológicos da EMAC/UFG. Atua como pesquisadora nas linhas “Música, Cultura e Sociedade” e “Musicologia: Identidades, Representações e Processos Interdisciplinares”, tendo publicado em livros, revistas científicas e anais de , tanto na área de Música como na área de História Cultural. Do lundu canção de Caldas Barbosa ao lundu canção dos salões e palcos do séc. XIX:a trajectória hibrida de uma matriz cultural MAGDA DE MIRANDA CLÍMACO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) A presente pesquisa tem como objetivo buscar a trajetória que levou do lundu canção de Domingos Caldas Barbosa do final do século XVIII ao lundu dos salões e palcos do século XIX, visando os diálogos e processos de hibridação cultural que se configuraram nesses dois tempos, a polifonia de vozes que esteve na base dessas duas “atualizações” que o gênero efetivou e as características contextuais e individuais dali resultantes, segundo fundamentação em Bakhtin (2003). O “quente lundu”, segundo Tinhorão (1998), surgiu no cenário colonial brasileiro se distinguindo do “vil batuque” nas diferenças estilísticas introduzidas pela presença do colonizador branco nas rodas de escravos que compreendiam, basicamente, dança e canto, palmas e estalar de dedos. Já Caldas Barbosa se sobressaiu na corte portuguesa no final do século XVIII cantando modinhas e lundus que apresentaram predominância de ritmo contramétrico e letras “ousadas” que incluíam comentários das relações sinhazinha/escravo. Nessa trajetória não pode deixar de ser lembrado que em meados do século XIX aconteceu o diálogo do lundu com as danças de salão europeias que chegaram ao país, o que levou ao maxixe dançado e, depois cantado, e que o lundu canção ganhou os salões da elite e os palcos do Teatro de Revista no transcorrer desse século. Tendo em vista esse primeiro panorama, a metodologia abordada nessa pesquisa em andamento tem investido no levantamento bibliográfico e de partituras, e na análise e interpretação de dois lundus de Caldas Barbosa na sua relação com dois lundus canção de meados e/ou final do século XIX. Essa análise prevê a relação da organização sonora (partituras) com elementos colhidos na “audição aberta” (FERRARA, 1984) de lundus gravados em CDs e através do estudo do cenário sócio-cultural relacionado a cada categoria analisada, visando chegar a características de estilo de índole contextual (do gênero) e individual (da “atualização” abordada). Palavras-chave: Lundú canção – Caldas Barbosa – salões do século XIX – matriz cultural – trajetória híbrida. MAGDA DE MIRANDA CLÍMACO é Doutora em História Cultural pela Universidade de Brasília (UnB) e Mestre em Música pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atualmente é professora na Graduação e na Pós-Graduação da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, Coordenadora do Núcleo de Estudos Musicológicos e membro da Comissão de Pesquisa dessa instituição. Como pesquisadora faz parte ainda do grupo de pesquisa do CNPq "Arte, Educação, Cultura", atuando nas seguintes linhas: "Musicologia: Identidades, Representações e Processos Interdisciplinares"; "Música Cultura e Sociedade".