RESTAURAÇÃO DO MURAL CERÂMICO BATALHA DOS GUARARAPES LOCALIZADO NO CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE DO RECIFE Ana Elizabete Marques da Silva, Coordenadora Técnica (*) Antonio Carlos Duarte Montenegro, Coordenador Geral (*) (*) Laboratório de Análise, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte da Fundação Joaquim Nabuco Introdução O mural cerâmico está localizado na Rua das Flores, Bairro de São José, centro do Recife. Como é comum a muitos centros de grandes cidades, o centro do Recife vive um acelerado processo de degradação. O bairro de São José é o local onde, talvez, este processo seja mais visível. O bairro do Recife, vizinho ao de São José, provavelmente, apresente sinais de degradação mais antigos e veementes, entretanto, já há alguns anos, vem sendo objeto de projetos de revitalização, tendo recebido investimentos e equipamentos urbanos novos. O bairro de São José, pelo contrário, está entregue ao dramático aceleramento do processo de degradação. Por essas razões, achamos importante relatar uma intervenção que, embora pequena e localizada, pode servir de exemplo e de incentivo a que outras empresas ali localizadas se animem em investir no patrimônio artístico e histórico do local. O painel cerâmico Batalha dos Guararapes (72,50m²-2,23x32,50m) foi realizado por Francisco Brennand entre 1960 e 1961. A técnica de cerâmica em alta temperatura é utilizada pelo autor em diversas outras obras. O tema é muito caro para a cultura e para a história de Pernambuco e do Brasil: a interpretação artística das batalhas, ocorridas em Pernambuco no Séc. XVI, que expulsaram os invasores holandeses. O mural apresentava sujidade generalizada devido à poluição atmosférica e à ação do homem. Em razão de uma grave infiltração de água poluída por ácidos e sais provenientes de urina humana – ascendente por capilaridade – as três fileiras inferiores do mural encontram-se esbranquiçadas, principalmente no lado direito da obra, a pintura encontrava-se esmaecida e ilegível. Foram registradas, também, inúmeras perdas da camada vitrificada e do substrato de suporte em áreas diversas ao longo do Mural. Na área leste do mural – próxima à Av. Dantas Barreto – o painel estava impregnado de óleo proveniente dos vendedores ambulantes localizados próximos. Materiais e Métodos Foram realizadas limpezas profundas nas pedras e nos rejuntes do Mural através de processos físicos (fig 1) e químicos. Em seguida foram feitos refixações e preenchimentos de lacunas com resinas especiais. Para tanto, realizou-se pesquisas e testes para definição dos materiais de preenchimento, nivelamento e retoques finais. Em resumo, os materiais utilizados foram: resinas epossídicas EXA-55 e EXB-Acel acrescidas de carga de areia de quartzo para preenchimento de lacunas e a HXTAL para o preenchimento de lacunas superficiais e reintegração cromática, retoques e camada final de proteção. Fig.1 Painel cerâmico Batalha dos Guararapes de Francisco Brennand sendo resturado. Resultados Paralelamente aos trabalhos de restauração, foi instalada na área do Mural cobertura em policarbonato translúcido além de grades de ferro protetoras o que deverá promover melhores condições de conservação da obra. O Mural encontra-se restaurado e pronto para ser usufruído pela população. Pelo seu tema, qualidade estética e localização, adquire importância notável entre as obras de arte públicas da cidade, sendo louvável a iniciativa do seu atual proprietário – o ABN Anro Real Bank – em patrocinar os serviços. Conclusões Os bons resultados obtidos com a restauração do Mural Batalha dos Guararapes leva-nos a crer que a utilização de resinas e materiais de última geração garante maior qualidade e durabilidade nas intervenções em peças cerâmicas expostas às agressões de ambientes de grande concentração urbana. Referências (1) HxTal NYL – Instructions. www.talasonline.com E-Mails dos Autores [email protected] [email protected] ARC • Revista Brasileira de Arqueometria Restauração Conservação • Edição Especial • Nº 1 • MARÇO 2006 • AERPA Editora Resumos do III Simpósio de Técnicas Avançadas em Conservação de Bens Culturais - Olinda 2006 105