Arte texto Caroline Polle ([email protected]) educação ambiental como linguagem de educação ambiental Desastre, poesia, criação, conscientização. Projetos artísticos, instalações utilizando materiais naturais, protestando contra o desmatamento, criações com recuperação... por um lado expêriencias culturais, por outro lado uma linguagem de educação ambiental Uma poesia da natureza: por quê precisamos da natureza? Andy Goldsworthy faz parte do movimento de “Land Art” utilizando materiais e espaços naturais efêmeros. Land Art ou Arte da Terra, foi um movimento artístico nascido nos anos 60, e tem por característica usar a natureza como próprio suporte para a realização de suas obras. Os artistas do Land Art abandonaram os museus para intervirem nas paisagens naturais como, desertos, cânions, lagos e mares e também nas áreas urbanas. Muitos destes artistas trabalhavam a partir da questão de que a obra só poderia ser sentida se o espectador estivesse dentro dela. Andy Goldsworthy trabalha geralmente ao ar livre, onde coleta materiais ou objetos naturais (galhos, folhas, talos, pedras, flores, neve, etc.) para a confecção de seus trabalhos. Para seus trabalhos efêmeros, Goldsworthy usa geralmente outras ferramentas além das próprias mãos e dentes,ferramentas improvisadas e possivelmente um canivete. “O ser humano precisa reconhecer-se parte da natureza para atuar dentro dela sem destruí-la, sem destruir-se a si mesmo, e para poder assim desfrutar dos valores caracteristicamente humano que ela lhe oferece: o bem e a beleza, sobretudo, precisam ser recuperados e transmitidos para as gerações mais jovens”. (Horst Werting) Seguindo o exemplo de numerosos artistas da Arte da Terra, Andy Goldsworthy considera alguns de seus trabalhos como “arte efêmera”, que pode ser entendido como o tempo de degradação que pode variar de alguns segundos à vários anos. Esculturas de gelo que duram somente uma estação, esculturas de areia dez 2011 revista do meio ambiente Early morning calm/knotted stalks/pushed into the lake bottom, Cumbria, England, February 20, 1980 ©Andy Goldsworthy, Courtesy Galerie Lelong, New York em uma praia que desaparece na primeira maré, as construções de pedra ou metal que sofrem intempérie natural. A fotografia faz um papel crucial em sua arte. Goldsworthy guarda marcas dos seus trabalhos por meio de testes fotográficos em cor. Muitos são acompanhados com um título na forma de lengenda que explica a gênese do trabalho. De acordo com suas próprias condições, todo trabalho nasce, e com passar do tempo degrada-se. São componentes completos de um ciclo que o fotógrafo mostra. Há uma intensidade no apogeu de seus trabalhos que está expressada na imagem. A evolução e a decadência estão implícitas. A intenção dele não é anexar sua marca na paisagem mas trabalhar instintivamente com ela, de forma que o espetáculo de suas criações, se igualem brevemente, conforme o mundo natural. Ele está particularmente interessado no tempo da dinâmica da natureza. “Movimento, luz, crescimento e mudança são a alma da natureza, as energias em que eu tento fazer existir meu trabalho.” Assim, seu trabalho poético é também um instrumento de sensibilização sobre o valor e a fragilidade da natureza. A visão do desastre: um grito de revolta! Frans Krajcbcerg é um escultor que faz esculturas com madeiras queimadas para protestar contra o desmatamento. A natureza tornou-se a matériaprima essencial deste artista. A reflexão sobre as relações do homem com a natureza, a arte e o meio ambiente são temas que estão presentes na obra do artista plástico Frans Krajcberg. Aos 85 anos, o polonês naturalizado brasileiro, é reconhecido pelo seu engajamento na defesa do meio ambiente e por usar matéria-prima retirada diretamente dos locais onde a depredação se fez presente, como troncos de madeira queimada, galhos e cipós. Suas obras, esculturas, pinturas, gravuras e fotografias têm o intuito de despertar a indignação contra as ações devastadoras do homem. “Meus trabalhos são meu manifesto. O fogo é a morte, o abismo. Ele me acompanha desde sempre. A destruição tem formas. Eu procuro imagens para meu grito de revolta. Com minha obra, exprimo a consciência revoltada do planeta”. (Frans Krajcberg) A preocupação com o meio ambiente permeou toda a sua trajetória artística. Krajcberg chegou ao Brasil em 1948 e iniciou sua carreira com a participação na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951. Entre 1958 e 1964 viveu entre Paris, Ibiza e Rio de Janeiro onde produziu seus primeiros trabalhos oriundos do contato direto com a natureza. Em 1964, executa suas primeiras esculturas com troncos de árvores mortas. Realizou diversas viagens à Amazônia e ao Pantanal Mato-Grossense, fotografando e documentando os desmatamentos, além de recolher materiais para suas obras, como raízes e troncos calcinados. Há mais de 30 anos vive em Nova Viçosa, no sul da Bahia, onde mantém seu atelier. Para criar, retira do mangue e da floresta os materiais com que trabalha. A obra de Krajcberg é uma maneira de conscientização da degradação ambiental. Suas esculturas falam da destruição. Os filmes Frans Krajcberg, Retrato de uma Revolta, realizado por Maurice Dubroca, e Krajcberg, o poeta dos vestígios (1987), realizado por Walter Salles, explicam muito bem a relação entre obra de arte e envolvimento político na proteção do meio ambiente. A criação artística não é neutra, não é decorativa. Produções artísticas podem verdadeiramente auxiliar na educação ambiental. Frans Krajcberg, Flor de mangue, 1973 © molda o tronco de uma árvore, onde registra a impressão de seu próprio corpo. Penone registra o corpo dele na natureza revelando os processos invisíveis em uma trama sutil de afinidades sensíveis com a natureza humana. A analogia entre um ser humano e as plantas é uma das máquinas de sua arte. As metáforas inseridas nos seus títulos: Onde a árvore se lembrará, A vértebra da árvore, a pele será folhas... A árvore, disse Penone, é um material fluido que pode ser modelado. O vetor principal é o tempo. “O homem é temporalmente diferente duma árvore. Em princípio, se nós agarrássemos uma árvore e tivéssemos a constância para não nos movermos durante anos, a pressão contínua exercitada pela mão modificaria a árvore.” Centro Pompidou, 2004. Assim, o artista tira uma fotografia de sua mão agarrando o tronco de uma árvore jovem. Então, para conservar este momento efêmero, ele realizou uma moldagem de bronze da sua mão O diálogo com a natureza: reflexão sobre a marca Giuseppe Penone faz parte do movimento de “Arte Povera” em Italia. O tema central do trabalho de Giuseppe Penone é uma exploração da relação entre o homem e a natureza. Nascido em 1947, ele cresceu em Garessio, uma comunidade rural no sul de Turin, e a empatia dele com a natureza se originou desta experiência. Para Penone, natureza representa a grande memória, o modelo de presente dos processos de mudança e crescimento que moldam a vida individual. A arte dele está frequentemente preocupada com a revelação e realização, na forma de escultura, de processos naturais que normalmente podem estar escondidos ou invisíveis. “Eu imprimo minha mão no barro. Eu removo meu braço da árvore para a qual adere. Eu sinto o empurrão da água que pula contra o fim de meus dedos. Eu me lembro da memória da lama, a ascensão lenta dos vapores da terra, o fluxo da água no porão, o empurrão vertical do material, a consciência do espaço onde nós pretendemos ressoar a massa de carne humana que verte, move e se torna volume indistinto, vapor, para o passeador que cruza, no tempo, na história da estratificação através de sedimentação.” (Giuseppe Penone, 1987). Fazendo um diálogo entre natureza humana e reino vegetal, Penone explora essa relação seguindo um equilíbrio, na escala humana. Estando interessado no crescimento de uma árvore, a intervenção da mão do artista Giuseppe Penone, Continuerà a crescere tranne che in quel punto, 1968, árvore, aço, foto feita em 1978, Alpi Marittime ©Archivio Penone revista do meio ambiente dez 2011 texto Caroline Polle ([email protected]) 10 educação ambiental Augustin Le Gall, Atelier Mohammed Abounacer, Essaouira, Marocco 2009 © e fixou na árvore no mesmo lugar. A vida natural procura seu curso, além do lugar onde a intervanção aconteceu. A ferida que a mão de bronze deixou, sublinha de contraste o ciclo vital que não pára ao redor dela. Esta mão cortada de seu corpo na segunda fotografia depois de anos, é uma presença sombria e inquietante que propõe uma reflexão sobre a marca ecológica dos homens no ambiente. Enquanto responde uma simple ideia, Penone obtém um resultado estranho, evocando modificações irreversíveis na natureza. Arte de recuperação: uma outra olhada sobre consumação? Mohammed Abounacer é um escultor “ferrailleurs” trabalhando com ferro, que faz parte do movimento de “Arte Ingênua” trabalhando com recuperação. Certos artistas em particular na influência da Arte Ingênua usam objetos da sociedade de consumo que são reciclados em obras de arte. A Arte Singular é um movimento artístico contemporâneo francês composto de criadores autodidatas que estabeleceram voluntariamente um distanciamento da arte oficial e seus matérias. Ele está conectado com uma esfera vasta de influência “post Arte ingênuo”, o qual nós pudemos também chamar de vários modos: arte à margem, arte crua, criação franca, arte fora-das-normas, etc. Esse movimento tem sido recusado pela sociedade de consumo devido a fabricação de esculturas com materiais de reciclagem. Eles gostam de transformar, reciclar e recuperar, criando assim uma poesia visual alternativa à acumulação materialista da economia capitalista. com o envolvimento do estado na organização da triagem. Ele demostra que problemas ambientais, têm soluções sociais. Em reunião realizada no dia 12 maio de 2011 na Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), no Centro do Rio de Janeiro, foram apresentados os planos de reurbanização do bairro Jardim Gramacho. O principal pedido dos catadores de lixo obteve resposta: serão alugados quatro galpões de depósito de material reciclável até que um pólo de reciclagem seja construído. Experiências culturais podem ser, além de uma linguagem de educação ambiental, uma maneira de conscientização da degradação ambiental. Quer seja a Arte da Terra em relação à dinâmica da natureza de Andy Golworthy, ou as instalações de Franz Kracjberg, para mostrar as ações devastadoras do homem. Produções artísticas podem verdadeiramente auxiliar na educação ambiental. A Arte propõe uma reflexão que relaciona o homem e a natureza e suscita indagações sobre a marca ecológica dos homens no ambiente, como no trabalho do Guiseppe Penone. Objetos da sociedade de consumo que são reciclados nas obras de arte ingênua propõe uma poesia visual alternativa à acumulação materialista da economia capitalista. As fotos de Vik Muniz do lixo, demonstra a urgência da triagem e da reciclagem do lixo e mostram que problemas ambientais podem ter soluções sociais. Agradecimentos: Giuseppe Penone, Vik Muniz, Andy Goldworthy, Frans Kracjberg, Mohamed Abounacer, Augustin Le Gall, Carmen Silvia L.M. Machado, Augusto Giaretta de Oliveira, Isabelle Rivoire, Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Museu de Arte Contemporânea de Niteroi. Reciclagem: arte, meio ambiente e solução social Vik Muniz realizou um projeto participativo de retratos fotográficos em relevo com os catadores do depósito de lixo de Jardim Gramacho no Rio de Janeiro O artista paulistano Vik Muniz tem obras nos principais museus de arte contemporânea do planeta além de colecionadores ávidos por suas fotos, que reproduzem meticulosos desenhos feitos a partir do lixo. Seu trabalho é baseado no aterro de Gramacho, onde trabalham catadores em condições insuportáveis e desfavoráveis. O assunto central é a gestão do lixo e a urgência da triagem e da reciclagem já feitos por catadores. Seu trabalho faz a relação entre arte, problemas ambientais e sociais. Ele mostra que, organizando o trabalho dos catadores de uma maneira decente, o problema do lixo pode ser resolvido apenas dez 2011 revista do meio ambiente Vik Muniz, Atlas (Carlão), Pictures of Garbage, 2008 ©