CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES
CURSO DESIGN
USO DA BIÔNICA COMO FERRAMENTA PARA A CRIAÇÃO DE UM
MÓVEL: ESTANTE BEEZU
Luiza Gelatti
Lajeado, novembro de 2014.
Luiza Gelatti
USO DA BIÔNICA COMO FERRAMENTA PARA A CRIAÇÃO DE UM
MÓVEL: ESTANTE BEEZU
Trabalho de Conclusão apresentado na
disciplina de Conclusão de Curso de Design do
Centro Universitário Univates, para aprovação
do semestre.
Orientadora:
Dapper
Profª.
Lajeado, novembro de 2014.
Silvia
Trein
Heimfarth
RESUMO
O objetivo deste trabalho é a criação de uma estante inspirada em elementos da
natureza, por meio da relação entre o design e a biônica. O levantamento de dados
envolveu a pesquisa sobre mobiliário em sua história e as características que podem
contribuir para o aperfeiçoamento do projeto. O estudo da biônica permitiu um maior
conhecimento sobre seu conceito e significado. Pela biônica é possível aproveitar a
experiência da natureza, utilizando as formas, estruturas ou habilidades do elemento
e implementá-los em projetos de produto, permitindo definir a biônica como uma
técnica criativa pelos ou para os designers. Os elementos naturais escolhidos para o
estudo da biônica deste trabalho foram a formiga cortadeira, um besouro rinoceronte
e um tatu-bola de jardim. Estes foram escolhidos por apresentarem características
de resistência e força. A partir da compreensão da estrutura morfológica destes
animais, e também com base em suas funções, foram efetuadas parametrizações
que serviram de base para a geração de alternativas de projetos. Após estudos,
desenvolveu-se uma estante baseada na pata do Besouro Rinoceronte, sua fonte de
força. Procurou-se captar características de sua forma e sua estrutura para suporte
de peso para servir de base na implementação da estante, gerando um produto
moderno e diferenciado dos demais.
Palavras-chave: Biônica. Estante. Design. Natureza.
ABSTRACT
The objective of completion in Design is the creation of a bookcase inspired by
elements of nature, through the relationship between design and biomimicry. Data
collection involved a survey of furniture in its history and characteristics that may
contribute to the improvement of the project. The study of bionics has allowed a
better understanding of its concept and meaning. The bionic is possible to enjoy the
experience of nature, using shapes, structures or skills element and implement them
in product designs, thus defining the bionics as a creative technique or by the
designers, as one of the examples presented, the table inspired by the praying
mantis, which conveys lightness and practicality of the insect. Natural elements
chosen for the study of bionics this work were the leaf-cutting ant, a rhino beetle and
three-banded armadillo garden. These were chosen because they present
characteristics of endurance and strength. From the understanding of the
morphological structure of these animals, and also based on their roles,
parameterizations that formed the basis for the generation of alternative designs
were conducted. After studies, it was decided by the bookcase project based on paw
Rhinoceros Beetle, his source of strength. Sought to capture features of its shape
and structure to support weight to underpin the implementation of the bookcase,
creating a modern and unique product of others.
Keywords: Bionics. Bookshelf. Design. Nature.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Pirâmide de Maslow . ................................................................................ 12
Figura 2 - Móvel em estilo Art Nouveau / Emile Gallé. .............................................. 19
Figura 3 - Ciclo de vida do sistema-produto. ............................................................. 21
Figura 4 - Produto inflável Ikea Air.. .......................................................................... 22
Figura 5 - Banco Sgabo. ........................................................................................... 23
Figura 6 - Sofá multifuncional. ................................................................................... 24
Figura 7 - Giro One - Estante modulada. .................................................................. 25
Figura 8 - Madeira MDF. ........................................................................................... 28
Figura 9 - Madeira compensada................................................................................ 29
Figura 10 - Madeira MDP. ......................................................................................... 29
Figura 11 - Mesa de jantar com madeira de demolição. ........................................... 30
Figura 12 - Móvel feito com bambu. .......................................................................... 31
Figura 13 - Polietileno Verde. .................................................................................... 34
Figura 14 - Aparador em aço inox. ............................................................................ 34
Figura 15 - Infográfico da Metodologia proposta por Kindlein. .................................. 38
Figura 16 - Invenção do Velcro.l................................................................................ 39
Figura 17 - Victória Régia. ......................................................................................... 40
Figura 18 - Algas. ..................................................................................................... 41
Figura 19 - Edifício Eastgate. .................................................................................... 42
Figura 20 - Cadeira folha. .......................................................................................... 43
Figura 21 - Mantis Table. .......................................................................................... 44
Figura 22 - Puff inspirado nas formas da Colmeia. ................................................... 45
Figura 23 - Poltrona Mácia. ....................................................................................... 45
Figura 24 - Demonstração dos encaixes da Poltrona Mácia. .................................... 46
Figura 25 - Poltrona Camboatá.. ............................................................................... 47
Figura 26 - Anatomia da Formiga. ............................................................................. 48
Figura 27 - Detalhe da pata da Formiga Cortadeira. ................................................. 49
Figura 28 - Músculos e garras das patas da formiga. ............................................... 49
Figura 29 - Detalhe do Abdômen da Formiga Cortadeira. ......................................... 50
Figura 30 - Gáster da formiga. .................................................................................. 50
Figura 31 - Besouro Rinoceronte. ............................................................................. 51
Figura 32 - Vista dorsal de um besouro com as asas esquerdas abertas. ................ 52
Figura 33 - Vista inferior do Besouro Rinoceronte..................................................... 53
Figura 34 - Antena do Besouro Rinoceronte.. ........................................................... 53
Figura 35 - Pata do Besouro.. ................................................................................... 54
Figura 36 - Chifre do Besouro Rinoceronte. .............................................................. 55
Figura 37 - Textura encontrada no corpo do Besouro Rinoceronte. .......................... 55
Figura 38 - Tatu-bola de Jardim.. .............................................................................. 56
Figura 39 - Anatomia do Tatu-bola de Jardim. .......................................................... 57
Figura 40 - Segmentos do Tatu-Bola de Jardim. ....................................................... 58
Figura 41 - Infográfico da metodologia. ..................................................................... 64
Figura 42 - Analogia da pata da formiga com estante.. ............................................. 66
Figura 43 - Analogia da mandíbula da formiga com estante ..................................... 66
Figura 44 - Analogia do casco do besouro rinoceronte.. ........................................... 68
Figura 45 - Analogia do chifre do besouro rinoceronte. ............................................. 68
Figura 46 - Analogia da pata do besouro rinoceronte.. ............................................. 69
Figura 47 - Analogia do Tatu-Bola de Jardim. ........................................................... 70
Figura 48 - Alternativas.. ........................................................................................... 79
Figura 49 - Estante fechada ...................................................................................... 80
Figura 50 - Estante aberta.. ....................................................................................... 81
Figura 51 - Estante modular. ..................................................................................... 82
Figura 52 - Partes da estante empilhadas. ................................................................ 84
Figura 53 - Embalagem. ............................................................................................ 84
Figura 54 - Estante BEEZU. ...................................................................................... 86
Figura 55 - Detalhe dos encaixes. ............................................................................. 86
Figura 56 - Estante BEEZU. ...................................................................................... 87
Figura 57 - Estante com encaixes. ............................................................................ 87
Figura 58 - Ergonomia da BEEZU. ............................................................................ 88
Figura 59 - Detalhe do encaixe da estante. ............................................................... 88
LISTA DE TABELAS
Tabela 01
Expectativa de vida do recurso-base para bens minerais
selecionados...............................................................................
14
LISTA DE QUADROS
Quadro 01
Comparação entre Metodologias................................................
61
Quadro 02
Parametrização...............................................................................
71
Quadro 03
Geração de Alternativas ................................................................
74
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.1 Problematização ................................................................................................ 11
1.1.1 Problema de pesquisa ................................................................................... 15
1.2 Objetivo Geral .................................................................................................... 15
1.2.1 Objetivos Específicos .................................................................................... 15
1.3 Justificativa........................................................................................................ 16
2 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 18
2.1 Referencial Teórico ........................................................................................... 18
2.1.1 Mobiliário ........................................................................................................ 18
2.1.1.1 Estantes ....................................................................................................... 25
2.1.2 Sustentabilidade e Materiais ......................................................................... 26
2.1.2.1 Madeira ......................................................................................................... 27
2.1.2.1.1 Acabamentos e Revestimentos para Madeira ....................................... 31
2.1.2.2 Polímeros ..................................................................................................... 33
2.1.2.3 Metais ........................................................................................................... 34
2.1.3 Biônica ............................................................................................................ 35
2.1.3.1 Biônica e Mobiliário..................................................................................... 42
2.1.3.2 Levantamento de Produtos Inspirados na Biônica .................................. 43
2.1.3.3 Elementos naturais possíveis para estudo visando projeto de mobiliário
.................................................................................................................................. 47
2.1.3.3.1 Formigas Cortadeiras .............................................................................. 48
2.1.3.3.2 Besouro-Rinoceronte ............................................................................... 51
2.1.3.3.3 Tatu-Bola de Jardim ................................................................................. 56
2.1.4 As Metodologias de Projetos de Produtos .................................................. 59
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 62
4 DESENVOLVIMENTO DA METODOLOGIA PROPOSTA .................................... 65
4.1 Analogia ............................................................................................................. 65
4.1.1 Análise da Formiga ........................................................................................ 65
4.1.2 Análise do Besouro Rinoceronte .................................................................. 67
4.1.3 Análise do Tatu-Bola de Jardim .................................................................... 69
4.1.4 Parametrização ............................................................................................... 70
4.2 Aplicação Projetual ........................................................................................... 73
4.2.1 Geração de Alternativas ................................................................................ 73
4.2.2 Definição da Alternativa ................................................................................. 79
4.2.3 Síntese............................................................................................................. 82
4.2.4 Desenho Técnico ............................................................................................ 85
4.2.5 Confecção do Modelo Funcional .................................................................. 85
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 90
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92
APÊNDICE A – Desenhos Técnicos ....................................................................... 98
10
1 INTRODUÇÃO
A biônica é uma ferramenta utilizada pelo Design, que estuda a natureza
buscando inspiração nas características de diferentes espécies naturais, para
solucionar problemas existentes no nosso ambiente através da criação de produtos
como, por exemplo, mobiliários, sistemas mecânicos, formas e texturas. Segundo
Ramos e Sell (1994), a biônica contribui para a obtenção da melhor forma do
produto, na solução de problemas para determinadas funções e nos materiais
necessários para o projeto otimizando também a quantidade necessária destes
materiais.
Conforme Ramos e Sell (1994) a formalização da biônica como uma ciência é
bastante recente, porém, o homem já estudava a vida a sua volta para criar algo que
necessitava, assim como Leonardo Da Vinci fez ao estudar o voo dos pássaros para
criar uma das primeiras máquinas voadoras.
Segundo Cândido et al. (2006, p. 2) a biônica é
“Ciência multidisciplinar que pesquisa nos sistemas naturais, princípios e/ou
propriedades (estruturas, processos, funções, organizações e relações) e
seus mecanismos com objetivo de aplicá-los na criação de novos produtos
ou para solucionar problemas técnicos existentes nos produtos já
concebidos”.
A natureza, seu modo de adaptação, movimento, mecanismos de defesa e
preservação, suas cores e formas, podem orientar a criação dos mais diversos
produtos e soluções, a fim de solucionar problemas técnicos existentes. Esta
natureza pode ser interpretada de várias maneiras, servindo como fonte de
inspiração e criatividade para o designer. E ainda, pode-se afirmar que o design e a
natureza estão interligados, pois ambas as áreas desenvolvem projetos, através de
11
planejamento, conceito e criatividade. Seus valores são um amplo campo a ser
explorado e transformado.
Dessa forma, este estudo destaca o papel do designer na indústria moveleira,
na qual sua inspiração surge através do estudo da natureza, tendo uma relação de
criatividade com a percepção visual diante dos consumidores.
Sendo assim, é proposto o desenvolvimento de uma pesquisa relacionando
aspectos da biônica e do mobiliário, que apresentará, por meios dos atributos
oferecidos pela natureza, como pode-se desenvolver um produto inovador,
sustentável, moderno e funcional.
Para isso, esse trabalho está organizado de forma a auxiliar no
desenvolvimento do projeto, apresentando no primeiro capítulo a definição do tema,
os objetivos, problematização e justificativa. Já no segundo capítulo é elaborado o
desenvolvimento do projeto, com a fundamentação teórica abordando os principais
pontos e análises e o levantamento de alguns elementos biológicos com
características passíveis de serem aplicadas em projetos de mobiliário. No terceiro
capítulo é apresentada uma síntese do novo projeto, bem como é descrita a
metodologia para a execução e desenvolvimento do produto. No último capítulo
consta o desenvolvimento da metodologia, ou seja, a concepção do produto.
1.1 Problematização
O homem evoluiu, expandiu e vem crescendo com a exploração de recursos
naturais, tendo como objetivo o lucro e o crescimento econômico e, com isso,
esquecendo que esses recursos podem se esgotar e afetar a qualidade de vida de
futuras gerações.
Vive-se em uma sociedade em que o consumo é tratado como uma
necessidade básica, em que é necessário comprar tudo que esteja a nossa volta,
mesmo que não seja útil. É possível relacionar essa vontade de consumir com a
Teoria das Necessidades de Abraham Maslow, a qual define que o homem é
motivado pelas suas necessidades. Como apresentado na Figura 1, Maslow define
12
que as necessidades são divididas em níveis, assim, dependendo do nível em que a
pessoa se encontra, sua necessidade de consumo e sua preocupação para com o
meio ambiente serão diferentes.
Figura 1 - Pirâmide de Maslow – Teoria das Necessidades.
Fonte: Modificado de Hoffmann, Miguel e Pedroso (2011).
No primeiro e segundo nível encontram-se as necessidades fisiológicas e de
segurança, que são as iniciais e estão relacionadas ao organismo, como
alimentação, sono, abrigo, água, entre outros. No nível mais alto está as realizações
pessoais, que incluem as amizades, a socialização, a autoconfiança, o respeito dos
outros, a confiança, a criatividade, o prestígio e outros (FERREIRA; DEMUTTI;
GIMENEZ, 2010). Cada necessidade humana influencia na motivação e na
realização do indivíduo que o faz prosseguir para outras necessidades. Alguém que
esteja em um nível mais baixo, onde o consumismo se encontra, que conforme
Marques (2009, p.4) cita: “uma pessoa dominada por esta necessidade tende a se
focar apenas naqueles estímulos que visam satisfazê-la, tornando inclusive a visão
de presente ou futuro limitado ou determinado por tal necessidade.” Marques (2009)
ainda observa que o consumismo evolui após suprimir suas necessidades básicas
de se proteger do clima para suas motivações de estima que compreendem as
necessidades sociais. Assim, uma pessoa preocupada com estas necessidades não
estará tão comprometida com o seu bem-estar e a conservação da natureza quanto
13
com uma pessoa em um nível superior, assim "uma pessoa motivada, ela estará
também entusiasmada a conservar e manter a natureza saudável, fazendo com que
entenda quais são suas necessidades, de acordo com uma hierarquia que já
definida naturalmente (HOFFMANN; MIGUEL; PEDROSO, 2011, p.76)”.
O consumismo deliberado vem produzindo uma enorme quantidade de lixo,
como as embalagens de alimentos, aparelhos celulares que são facilmente
descartados, entre outros produtos que demoram anos ou até séculos para se
decompor na natureza. Até mesmo eletroeletrônicos ou móveis que ainda que
cumpram suas funções previstas, mas já ficaram obsoletos e não satisfazem suas
expectativas e tornando-se ultrapassados, são descartados. Muitas vezes, segundo
Hennemann (2008, p. 33), "o produto descartado pode ser abandonado ao
deterioramento ou iniciar um novo ciclo de uso, caso seja capaz de responder às
necessidades de outro usuário, estabelecendo um novo vínculo”, mas essa
realidade não ocorre tão frequentemente quanto deveria visando a preservação do
planeta.
Este comportamento humano contraria as advertências de pesquisas sobre a
disponibilidade dos recursos naturais. Por exemplo, ao visualizar a Tabela 1, de
Suslick, Machado e Ferreira (2005) que apresenta as expectativas de disponibilidade
de recursos base para diversos bens minerais encontrados na crosta terrestre,
percebe que alguns recursos, como a bauxita (matéria-prima do alumínio,
amplamente utilizado pelo homem nos bens de consumo como as latas de
refrigerante e em material estrutural para o transporte) tem tido uma elevada taxa de
produção, ou seja, um consumo alto comparado a sua expectativa de disponibilidade
que, conforme a taxa de crescimento anual de produção entre 1975-99 (2,9%) está
estimado em menos de 1065 anos. Por mais que pareça um número razoável, é
pouco tempo comparado à existência dos Homo sapiens na Terra (mais de 150 mil
anos). Portanto, é aconselhável adotar medidas de recuperação das áreas
exploradas para retirar o recurso-base a fim de corrigir impactos ambientais, como
também o uso racional dos recursos para que sejam preservados e não se esgotem
em poucas gerações.
14
Tabela 1 - Expectativa de vida do recurso-base para bens minerais selecionados.
Mineral
a
commodity
Carvão
b
Petróleo
b
Gás
b
Natural
Recurso
base
(toneladas
a
métricas)
2%
5%
n/a
n/a
n/a
1,1
9
n/a
n/a
n/a
0,8
12
n/a
n/a
n/a
2,9
1.065
444
2,9
736
313
3,4
9
886
373
0,5
6
607
261
-0,5
6
526
229
1,6
n/d
4.561,3x10
n/d
23,7x10
n/d
80,5x10
2,0x10
18
123,7x10
Cobre
1,5x10
15
12,1x10
Ferro
1,4x10
18
559,5x10
290,0x10
12
89,3x10
6
3.070,0x10
12
1.133x10
Prata
1,8x10
12
16,1x10
Estanho
40,8x10
Zinco
2,2x10
6
2,5x10
3
3
9,4x10
1,8x10
3
3
207,7x10
7.753,3x10
9
124,3x10
6
2,1x10
15
6
6
Níquel
12
Taxas de
crescimento anual
na produção (%)
1975-99
0%
Bauxita
Chumbo
Expectativa de vida em anos, em
três taxas de crescimento da
b
produção primária
1997-99
Produção
primária
média
anual
3
111,8x10
6
731
311
3,0
196,5x10
6
759
322
-0,5
283,7x10
6
778
329
1,9
a
Recurso base para o bem commodity é calculado pela multiplicação da sua abundância medida
18
em gramas por toneladas métricas pelo peso total (24x10 ) em toneladas métricas da crosta da
Terra. Essa medida reflete a quantidade do material encontrado na crosta.
b
Estimativas do recurso base para carvão, petróleo cru e gás natural não foram incluídas. As
diferentes entidades (US Geological Survey etc.) fornecem estimativas somente dos recursos
recuperáveis finais. Apesar de serem utilizadas como recurso base, essas medidas não refletem as
quantidades reais disponíveis de carvão, petróleo e gás natural disponíveis na crosta terrestre.
Fonte: Modificado de ERICKSON (1973, LEE e YAO (1979) TILTON (2002) apud SUSLICK;
MACHADO; FERREIRA (2005, p. 97).
As pessoas tendem a se preocupar apenas em consumir, adquirir, e não com
a vida ao redor. Mas, com a desolação que o planeta vem seguindo ao longo dos
anos, está surgindo um novo paradigma, uma “pegada ecológica” que faz com que
as pessoas comecem a mudar seu modo de vida, de consumo e de produção,
adotando um desenvolvimento mais sustentável. O design possui um papel
fundamental para essa mudança, quando projeta, visando contribuir para a
sustentabilidade ambiental, através da escolha de materiais mais adequados, bens
15
mais duráveis, estruturas mais resistentes, com elementos de junção, encaixes,
entre outros.
1.1.1 Problema de pesquisa
Qual elemento natural da fauna pode apresentar estrutura interessante para o
desenvolvimento de mobiliário com ênfase em sustentabilidade?
1.2 Objetivo Geral
O objetivo geral desta pesquisa consiste em aplicar as ferramentas da biônica
em projeto de um móvel, visando criar relação análoga das propriedades do
elemento natural com as funções do produto, buscando o desenvolvimento de um
produto diferenciado, resistente a esforços mecânicos e selecionar materiais
ambientalmente responsáveis.
1.2.1 Objetivos Específicos

Pesquisar e aplicar conhecimentos referentes à biônica no design de
mobiliário;

Compreender a relação do homem com o mobiliário;

Analisar produtos encontrados atualmente no mercado que aplicam o
conceito da biônica como ferramenta;

Analisar insetos específicos para o desenvolvimento de um mobiliário;

Determinar qual elemento natural é mais interessante para um projeto de
mobiliário;

Aplicar conceitos de sustentabilidade aos matérias utilizados no produto.
16
1.3 Justificativa
O aumento da preocupação ambiental e o consumismo alterado das pessoas
tem tido grande destaque na busca pela redução dos diversos impactos ao meio
ambiente.
O designer tem a responsabilidade de pensar e desenvolver projetos
ambientalmente responsáveis, assumindo para si o compromisso da busca de
materiais que não agridam tanto os ecossistemas. Há a preocupação do projetista
com o processo de fabricação, onde o método escolhido influencia diretamente no
consumo energético e na matéria prima para o desenvolvimento do projeto. A
escolha da matéria prima é de suma importância e deve ser definida analisando qual
é a melhor escolha para determinado produto, preocupando-se também em optar
por um determinado material que tenha baixo impacto ambiental.
Também é primordial atentar-se com a quantidade de resíduos gerados e a
otimização da vida útil dos produtos, projetando itens que durem e que possam ter o
reaproveitamento de componentes ou serem reciclados, garantindo uma vida útil
maior para seus materiais ou descartados em local apropriado. A facilidade de
desmontagem, manutenção, embalagem e transporte são casos que também
envolvem o designer.
Assim sendo, tende-se a projetar objetos com mais durabilidade, com pouca
variedade de materiais, sua estrutura sendo menos complexa e com mais encaixes,
de fácil manuseio pelo usuário, além dos princípios de utilidade, funcionalidade e
durabilidade maior para assim reduzir o impacto negativo no meio ambiente.
A natureza evoluiu e se manteve sustentável, utilizando o mínimo necessário
para sua sustentação, por isso serve como fonte de inspiração para o projeto de
produtos que possuem essa preocupação ambiental. Neste sentido, tais relações
foram a inspiração para o estudo e projeto que visou uma eficiência funcional,
estética e de originalidade para o usuário, bem como a apropriação da natureza
como fonte de inspiração. Assim este projeto tem como objetivo contribuir no
aprimoramento do uso da biônica como uma ferramenta em novos projetos
17
inovadores e sustentáveis, como também na criação de um novo produto para o
mercado.
18
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Referencial Teórico
2.1.1 Mobiliário
Os móveis foram criados a partir da necessidade humana de procurar
comodidade em seu dia-a-dia, fazendo parte das vidas das pessoas desde milhares
de anos atrás, estando no ambiente familiar e de trabalho. Durante toda a sua
evolução, o mobiliário vem mudando de conceitos e estruturas juntamente com a
evolução da espécie humana. Sua estética e conceito podem ser compreendidos
pelo homem através da sua época de criação, pois refletem o seu uso, sua utilidade,
sua inspiração. Nieto (2007, p. 3) afirma que “o mobiliário é um dos fundamentos
mais importantes para a reconstrução dos interiores, parte fundamental dos espaços
sociais, ao longo de diferentes períodos históricos”.
“A história do mobiliário evolui paralelamente à história da humanidade e
consequentemente da cultura através dos tempos. Mais do que simples
objetos que integram a decoração, ou refletem preferências e estilos, os
móveis podem servir como narrativas de períodos, movimentos e
sociedades.” (CABAÇAS, 2011, p.83).
Com o passar do tempo cada estilo foi tomando sua forma, caracterizado pelo
período que foi criado. Cada móvel ganhou a identidade da cultura e a capacidade
de cada região. Por exemplo, no Egito Antigo os móveis costumavam ser feitos para
os nobres representando riqueza, repletos de detalhes e elegância. Com a
Revolução Industrial, a partir do século XIX, a classe média passou a ter um poder
19
aquisitivo maior, assim, se deu a necessidade de uma produção em larga escala de
produtos, incluindo os mobiliários, com novos materiais. Com isso, deu-se a
necessidade da criação de uma nova profissão, o desenhista industrial, que com a
produção em série de produtos surgiu a necessidade de um artista que
desenvolvesse os móveis (MAZZINI et al., 2011).
No estilo Art Nouveau, movimento criado na década do século XIX, os móveis
apresentaram o individualismo de artistas, com inspiração na natureza nas curvas e
na funcionalidade, atendendo às necessidades das pessoas, conforme visualizado
na Figura 2. Mazzini et al. (2011, p. 5) afirma sobre esse período que “entalhes,
acabamentos requintados, incrustações de pedras, pinturas e marchetaria foram
muito comuns dentro do estilo, mantendo a funcionalidade e utilidade”.
Figura 2 - Móvel em estilo Art Nouveau / Emile Gallé.
Fonte: Art Finding (2011).
Após o Art Nouveau, deu-se o período do Art Decó, movimento internacional
de design ocorrido entre os anos de 1925 até 1939. Os móveis eram pensados para
a máquina, ou seja, na grande escala de produção e no desenho industrial. As
curvas foram substituídas por linhas retas, mais geométricas. Neste estilo também
foi inicializado a utilização de materiais mais caros e resistentes como mármores,
cerâmicas, porcelanas, madeiras nobres, pedras preciosas. Assim, com esse
movimento, o designer de móveis passou a ter uma profissão reconhecida. Sobre o
movimento Art Decó, Mazzini et. al. (2011, p. 7), discorre:
20
“A aparência de formas abstratas, o triunfo dos ornamentos, através do
emprego do desenho de interiores, a reinterpretação e recriação, alguns
com densidade e ironia ao rococó e ao classicismo, outros com a
simplificação, geometrização e estilização das formas, ganharam solidez,
planos retilíneos e ângulos arredondados”.
Um mobiliário, além de sua estética também é caracterizado por sua
funcionalidade, como os assentos, descansos, guarda-objetos, entre outros,
adquirindo assim características e referências de estilo que se adequam para cada
uma dessas funções, tendo uma importância no cotidiano. Para sua construção, é
preciso um estudo no intuito de entender o processo de produção e seus materiais.
Para Gorini (2000, p. 10), “a área moveleira é caracterizada pela junção de diversos
processos de produção, envolvendo diferentes matérias-primas e uma diversidade
de produtos finais”. Tramontano apud Gondim (2010) complementa que:
“O mobiliário como bem móvel tem a finalidade auxiliar as pessoas nas suas
atividades cotidianas como dormir, estudar, entre outras. Sua evolução vem
acompanhando transformações culturais, artísticas e tecnológicas da
sociedade através das quais emergem novos hábitos, necessidades e
demandas de produtos.”
Gorini (2000, p. 55) comenta que “a competividade da indústria moveleira
depende não somente da eficiência dos processos produtivos, mas também da
qualidade, do conforto, da facilidade de montagem e, sobretudo, do design do
mobiliário”. Uma das únicas diferenciações nesse mercado é obtida pelo design,
que, propõem uma diferenciação para com os demais e proporciona uma
concorrência mais acirrada (COUTINHO; et. al., 2001).
O design é mais que uma moldura ou aspecto estético de um mobiliário, é a
qualidade e eficiência na sua fabricação, prevendo cuidados no processo e na
aplicação de materiais, não prejudicando o meio ambiente, como também,
realizando estudos para diminuir o número de componentes de um produto,
ponderando, assim, os custos de produção (GORINI, 2000).
Com o passar dos anos as pessoas foram se tornando cada vez mais
consumistas, adquirindo produtos sem se importar com sua procedência, ou quais
os materiais utilizados para sua fabricação, recorrendo aos recursos da natureza
sem pensar em sua reposição. Com uma crise ambiental aparente, o homem
começou a pensar em meios para criá-los, respeitando a natureza, ou seja, criando
21
produtos ambientalmente sustentáveis, e o designer assumindo o objetivo de
desenvolvê-los para que não prejudiquem o meio ambiente.
“A ideia de integrar a consciência ecológica nas práticas de design é cada
vez mais uma preocupação e uma necessidade. Os designers
desempenham um papel fundamental no avanço destas práticas, pois são
eles os responsáveis por tomar decisões de produção para novos produtos
de consumo. Os designers não são apenas criadores de novos estilos
inovadores, desempenham, também, um grande papel na solução de
inúmeros problemas (CABAÇAS, 2011, p. 90)”.
Cada produto possui um ciclo de vida, em que é contada desde a extração de
recursos, como minérios, até o descarte, ilustrado na Figura 3. Para Manzini e
Vezzoli (2002) esse processo tem as seguintes fases: 1 – Pré-produção: onde os
materiais são obtidos e preparados; 2 – Produção: os materiais são transformados
no produto e tem-se o acabamento; 3 – Distribuição: os produtos são embalados e
transportados para o local de sua armazenagem; 4 – Uso: onde os consumidores
usufruem dos produtos; e 5 – Descarte: os produtos podem ser descartados sem
mais nenhuma finalidade, reutilizá-los com outra finalidade ou recuperar sua
funcionalidade e ainda ser reciclado. Assim, "dizer que um sistema ou processo é
sustentável é dizer que ele pode ser mantido indefinidamente" (CABAÇAS, 2011, p.
91).
Figura 3 - Ciclo de vida do sistema-produto.
Fonte: Modificado de Manzini e Vezzoli (2002).
22
Para tudo isso, Manzini e Vezzoli (2002) procuram explicar que é necessário
pensar no processo de fabricação, procurando reduzir o número de materiais
usados, a quantidade de perdas e o consumo de energia. Como exemplo, tem-se a
cadeira IKEA Air, com câmeras de ar no plástico poliolefínico e revestidas, podendo
ser infladas com um secador, conforme mostrado na Figura 4. Esse objeto, segundo
Manzini e Vezzoli (2002, p. 120) reduz “a quantidade de material empregado a
somente 15% do normalmente utilizado em poltronas convencionais”.
Figura 4 - Produto inflável Ikea Air. A – Montagem da Ikea Air. B – Poltrona montada
e revestida.
Fonte: Modificado de KEDB PLM (2010).
Para criar um mobiliário sustentável é necessário pensar, também, no seu
material, onde tem sido procurado e desenvolvido novos materiais mais resistentes,
preocupando-se com suas propriedades, para assim, entender seu funcionamento e
como ele pode ser utilizado (MANZINI E VEZZOLI, 2002).
No processo de criação de um produto novo, o designer parte de uma
necessidade de mercado ou uma ideia de algo completamente diferente, uma ideia
inovadora, em que após o processo de criação do projeto, tem-se a pesquisa, em
que, numa gama de opções de materiais, o designer considera o qual acredita ser
mais produtivo para tal produto, considerando a sua funcionalidade, sua carga de
peso, qual seu ambiente. Assim, cada estrutura é analisada individualmente para
23
maximizar seu uso e desempenho, para assim ir para o desenvolvimento final do
produto (ASHBY E JOHNSON, 2011).
O designer tende a aperfeiçoar seus projetos para atender os desejos dos
consumidores. Eles devem estar alerta às novas tecnologias e novos materiais,
procurar ter função utilidade e personalidade, tendo o cuidado para não impactar
com o meio ambiente. Deste modo, os materiais tem um papel muito importante na
etapa de criação de um novo projeto, pois, para Ashby e Johnson (2011, p. 05) “os
materiais possuem dois papéis que se sobrepõem: o de proporcionar funcionalidade
técnica e o de criar personalidade para o produto”.
Os mobiliários criados para os dias de hoje tendem a ser mais minimalistas,
possuindo poucos materiais em sua concepção. Tendem a passar criatividade e
originalidade, ao mesmo tempo em que se preocupam com a ergonomia, ou seja,
como o homem usa os produtos e qual a melhor forma dele utilizá-los.
Alguns móveis têm como conceito a simplicidade, minimalistas, mas com
peças funcionais, como exemplo a Figura 5, que apresenta o Sgabo, um banco
dobrável criado por Alessandro Di Prisco, que utiliza pouco espaço para ser
guardado com a possibilidade de ser levado para qualquer ambiente da casa. Assim,
Sala7Design (2013) afirma que “o legal desse banco, é que além de ser pequeno,
compacto, e produzido em madeira laqueada, ele possui quatro furos que servem
como alça para quando você for carregá-lo para outro lugar”.
Figura 5 - Banco Sgabo.
Fonte: Sala7Design (2013).
24
Na Figura 6, o móvel, criado por Freddy Van Camp junto a German, é
adequado para pessoas que têm um dia-a-dia agitado, que nunca param. É um sofá
multifuncional, adequando-se aos objetivos dos novos usuários, que tendem a fazer
mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Para ABC Design (2009), o sofá representa
“um estofado, sofá ou poltrona, modulado que permite a adição de braços e outros
“periféricos” específicos como pranchetas, mesas ou bandejas, apoio para copos e
outros acessórios, podendo acoplar tomadas e luminárias”.
Figura 6 - Sofá multifuncional.
Fonte: ABC Design (2009).
Há também projetos que são mais elaborados e flexíveis, podendo ser
definidos e colocados conforme o gosto do usuário, tendo um melhor
aproveitamento do espaço. A Figura 7 mostra uma estante modulada de acordo com
o gosto do proprietário. Juil Kim (2011), criadora da estante Giro One, preocupou-se
com a usabilidade e praticidade de seu projeto e os materiais utilizados.
25
Figura 7 - Giro One - Estante modulada.
Fonte: Juil Kim - Design Joo (2011).
Entre todos os móveis possíveis, será relatada uma breve história das
estantes, projeto a ser desenvolvido, para assim criar uma referencia sobre elas.
2.1.1.1 Estantes
Arbore (2010) aborda que uma estante tem a função de armazenar objetos
cotidianos ou não, de decorar o ambiente, dar suporte a equipamentos eletrônicos,
mas não necessariamente precisa atender a todas as funções simultaneamente. A
estante possui ainda a capacidade de se adequar a qualquer ambiente, modificandose pelo seu tamanho, formato, estrutura ou função. Geralmente são apoiadas ao
piso e/ou encostadas na parede, costumam apresentar prateleiras horizontais que
apoiam os objetos, como também apoios verticais para a sustentação. É produzida
geralmente por madeira, aço, vidro plástico, ou a combinação de alguns destes
componentes.
26
Para residências com área cada vez mais reduzida, maximizar as
possibilidades de nichos e espaços é uma opção para organização de objetos e
decoração.
A criação de estantes, prateleiras e nichos são uma alternativa para facilitar a
organização dos objetos e ao mesmo tempo criar elementos de decoração de
ambientes, através de peças de destaque.
Para a criação destas, é preciso estar a par sobre os possíveis materiais e
processos da sua construção, assim o próximo capítulo aborda alguns materiais e
processos que englobam a sustentabilidade.
2.1.2 Sustentabilidade e Materiais
Lima (2006) afirma que os designers devem desenvolver uma estratégia
voltada para o ecodesign, causando um menor impacto ao meio ambiente através
de soluções criativas.
A preocupação envolve a busca por diferentes ferramentas de materiais,
processos, manufatura e descarte que colaboram para que o design seja
sustentável. Lima (2006) ainda aponta recomendações para a construção de um
produto sustentável, como reduzir a quantidade de material empregado, sua
quantidade de componentes, facilitar a desmontagem, procurar manter sua
integridade estrutural para sua separação após o uso, procurar usar materiais e
processos menos poluentes, atentar para a quantidade de luz e água utilizada nos
processos de construção, utilizar fontes renováveis, procurar utilizar materiais que
sejam absorvidos com facilidade pela natureza quando estes forem descartados.
Segundo Venzke e Nascimento (2002), quando se projeta um produto, é
necessário considerar que quanto mais puros forem os materiais, mais fácil será a
sua reciclagem, a redução no consumo de matéria-prima, além de economia,
significa também redução na quantidade de resíduos gerados.
Morris (2010, p. 112) aponta que "entender as propriedades básicas dos
materiais permite uma compreensão melhor do processo de seleção". Ainda aborda
27
que para a confecção de um produto deve-se levantar questões de propriedade dos
materiais que exigem uma natureza mecânica com dureza, força, resistência e
maleabilidade.
Cabaças (2011) aponta que o material utilizado possui um grande impacto
sobre o desempenho ambiental de um produto, influenciando a sua eficiência
energética na fabricação e utilização. Para ele “considerar materiais com baixo
impacto ambiental, como também fontes renováveis, não tóxicos e de fácil
reciclagem, são escolhas inteligentes” (Cabaças, p. 101, 2011).
Cabaças (2011) afirma que se deve optar por utilizar matérias-primas
renováveis substituindo as não-renováveis. São materiais como o bambu, as tintas
de origem vegetal (substituindo as químicas), as madeiras de reflorestamento, os
plásticos reciclados etc.
Sendo assim, esse trabalho especifica alguns materiais que podem ser
utilizados na fabricação de móveis, tendo como ponto principal a sustentabilidade.
2.1.2.1 Madeira
A madeira é um dos mais importantes e versáteis materiais de construção
sendo uma fonte renovável. Conforme Lima (2006) aborda, são bons isolantes
térmicos e elétricos, são resistentes à flexão, à tração e ao impacto e ainda há uma
grande diversidade de texturas, cores e desenhos de madeiras. O autor aponta que
por sua fácil obtenção e por ter características que permitem seu trabalho, torna-se
um material apropriado para o desenvolvimento de produtos se usado de forma
consciente, ou seja, renovação de suas reservas.
Cabaças (2011) declara que deve-se procurar escolher materiais em que sua
procedência é conhecida, oriundos de áreas certificadas onde a madeira foi
explorada através de técnicas de manejo sustentável e que foram aplicadas
localmente as leis ambientais e trabalhistas, reduzindo o impacto ambiental. Para
Ramos (2013), deve-se procurar também a opção de madeira de reflorestamento
28
que substituem as madeiras retiradas da mata nativa, ou seja, a cada derrubada de
árvores, novas são plantadas em seu lugar.
A madeira, como por exemplo, o pinus e o eucalipto (introduzidos no Brasil),
são alternativas para a produção de móveis, sendo que seu crescimento é mais
rápido e têm um baixo custo comparado às madeiras nativas, porém a sua
resistência é bem menor que as madeiras de lei, necessitando de alguns
tratamentos contra pragas e a umidade (RAMOS, 2013). Um contraponto da
utilização dessas madeiras de árvores introduzidas é a modificação do ecossistema,
já que suas características para o crescimento, incluindo consumo de água,
liberação do CO² e as propriedades do solo, possuem propriedades diferentes das
nativas.
Para Morris (2010), a madeira possui um ponto fraco que é a presença de nós
e fissuras que podem comprometer sua consistência, mas o MDF (chapas de fibras
coladas) e as madeiras compensadas resolvem essa questão com o aglutinamento
de suas fibras e partículas. Mas o autor ainda aborda que assim surge outro
problema, a química usada nas colas e resinas para prendê-las, podendo estas
prejudicar o meio ambiente e as pessoas que as usam.
Ramos (2013) comenta que uma opção para a fabricação de móveis são os
painéis em MDF, visualizado na Figura 8, que são chapas de fibras de madeira com
densidade média. Sua consistência e algumas características mecânicas fazem que
o aproxime da madeira maciça. O autor ainda relata que são utilizadas madeiras de
cultivos florestais sustentáveis de Pinus e Eucaliptus, tornando esses painéis
ecologicamente corretos.
Figura 8 - Madeira MDF.
Fonte: Mo Arte (2013).
29
O compensado, um dos tipos de painéis utilizados para a fabricação de
móveis, visualizado na Figura 9, conforme Ramos (2013) explica, é um produto
obtido pela colagem de lâminas de madeira sobrepostas que tem boas
características mecânicas, grandes dimensões e variedade de tipos adaptáveis a
cada uso. Ele pode ser laminado, feito com lâminas de madeira, coladas e
prensadas para formar chapas ou sarrafeado onde as lâminas internas são coladas
em um sentido e a chapa externa é prensada em sentido diferente, o que deixa a
placa mais resistente.
Figura 9 - Madeira compensada.
Fonte: Colégio de Arquitetos (2009).
Já o MDP, visualizado na Figura 10, Ramos (2013) aponta que são placas
prensadas de forma contínua com características de melhor resistência ao retirar os
parafusos, menor absorção de umidade e empenamento. O baixo custo deste
painel, por ter um maior aproveitamento da madeira, o faz ser um dos mais utilizados
em todo mundo.
Figura 10 - Madeira MDP.
Fonte: Mo Arte. (2013).
30
Há também a madeira de demolição, que é um material utilizado em antigas
construções, e está sendo reaproveitado para a produção de móveis e outras peças
de decoração atuais (Figura 11). Ela é um material de alta durabilidade, porém é
necessário ficar atento e não utilizar produtos que causem manchas ou alguma
reação na madeira.
Figura 11 - Mesa de jantar com madeira de demolição.
Fonte: Revista Pense Imóveis (2009).
Outra opção de madeira atualmente muito utilizada é o bambu. Cortado em
lâminas, se torna um bom material para construções e fabricação de móveis
(FIGURA 12), sem perder na beleza. O bambu tornou-se uma madeira sustentável,
pela sua disponibilidade em várias localidades. Moizés (2007) aborda que é
produzido com a mesma “tecnologia dos compensados de madeira, com a
distribuição e colagem lateral de ripas na direção longitudinal, utilizando adesivos à
base de água”. Possui resistência e versatilidade, sendo muito usado tanto para
formas planas como para curvas.
31
Figura 12 - Móvel feito com bambu.
Fonte: Ecori (2012).
2.1.2.1.1 Acabamentos e Revestimentos para Madeira
Atualmente, o mercado de revestimento para madeira e derivados de madeira
possui um número variado de opções com colagens práticas. Os processos de
acabamento para móveis em madeira têm, além de ser decorativa, a função de
proteger o material da ação do tempo, praga, umidade, entre outros (LIMA, 2006).
Ramos (2013) destaca que todos os móveis em madeira, mesmo estando abrigados
de condições adversas, precisam de aplicação de produtos de acabamento, naturais
ou sintéticos, para sua proteção.
Nas madeiras maciças e em painéis é comum usar pinturas para o seu
acabamento, que consiste na aplicação de camadas finas na superfície da peça.
Para Ramos (2013) os processos de pintura mais utilizados são:
 Verniz: protege o móvel de riscos e umidade, confere brilho e sedosidade
ao móvel. Rosa e Gonçalves (2010) salienta que para não agredir o meio
ambiente existe o verniz à base de água, sem solventes e que não possuem
odor e prejudicam menos a saúde humana;
32
 Laqueação: efeito decorativo que apresenta um aspecto esmaltado em
diversas cores;
 Goffrato: laca com textura, também conhecida como fórmica líquida,
texturizado de aspecto final fosco.
 Pintura à base de solvente: cor, textura, revestimento mais macio, proteção
contra corrosão. Custo mais barato, mas prejudica o meio ambiente com a
evaporação do solvente;
 Pintura à base de água: cor, textura, proteção contra corrosão, fungos e
desgaste. Tinta com mistura em água e secam por evaporação desta. Em
questão ao meio ambiente seu uso é mais aconselhável por não possuir
solvente e não representam riscos de incêndio. (ASHBY e JOHNSON, 2011)
Para painéis de madeiras os usos mais comuns de revestimentos, conforme
Ramos (2013) ressalta que os laminados podem ser:
 Laminado tipo Finish Foil (FF) ou Lâmina Ecológica (LE): a lâmina
celulósica especialmente envernizada é laminada sobre o MDP, por meio de
processo de temperatura e pressão. A superfície do revestimento FF é pouco
resistente à abrasão e mais suscetível a riscos, sendo recomendado apenas
para ambientes internos e secos, em superfícies verticais;
 Laminado de Baixa Pressão (BP): o BP é papel impregnado com resina
melamínica que com alta temperatura e pressão é fundida aos painéis de
madeira, resultando em um painel pronto para uso. Os painéis podem ser
lisos ou com texturas, com cores sólidas, madeiradas ou fantasia. O BP
apresenta um fechamento de alta resistência a riscos e manchas nas
superfícies e reduz a proliferação de micro organismos.
 Laminado de Alta Pressão (AP): conhecido como Fórmica, os papéis
utilizados cobertura são três, a base composta de papel tipo kraft; a capa
intermediária, que dá a cor e a textura; e a capa superficial, que protege a
anterior. É prensado com temperatura e pressão superior.
33
 Lamina de madeira: usa-se uma lamina finíssima de madeira de verdade.
Sobre esse acabamento ainda se pode tingir a lamina, escovar, envernizar.
 Laminado de Polímero: fabricado com materiais plásticos como o PVC
(policloreto
de
vinila)
e
o
PET
(polietileno
tereftal
ato). Possuem
características ideais para altos e baixos relevos. Tem boa proteção contra
umidade e gorduras e baixa resistência à abrasão.
 Laminado de Bambu: Moizés (2007) aponta que este laminados ou folhas
de bambu são usadas principalmente para revestimentos, como folheados ou
em painéis montados e colados, ou composto com outras folhas mais
espessas. É fabricada pressionando folhas finas de bambu cortado e após,
fixadas. Posteriormente, pode-se dar o acabamento final com verniz ou bases
seladoras.
2.1.2.2 Polímeros
Para Morris (2010), há uma grande disposição de polímeros, ou plásticos
como são popularmente chamados. Eles possuem grande flexibilidade e cores,
podem ser ajustados com facilidade e moldados em diferentes formatos.
O polímero é muito usado no setor de móveis graças ao tempo de vida útil do
produto, mas Morris (2010) mostra que uma desvantagem é sua degradação com o
tempo e a reciclagem em certos polímeros, sendo que com o avanço tecnológico o
processo de reciclar ficou mais fácil, tanto pelo uso de ferramentas que facilitem a
separação de materiais dos polímeros como o uso de polímeros verdes ou
biopolímeros, feitos a partir de plantas.
Segundo Morris (2013), os polímeros verdes são polímeros produzidos com
matérias primas provenientes de fontes renováveis naturais, tais como: milho,
batata, trigo, beterraba, cana-de-açúcar, celulose, etc. Produzem menor impacto
ambiental que os polímeros convencionais. O polietileno verde (PE), visualizado na
Figura 13, é um exemplo bem comum de polímeros verdes, ou biopolímero, e tem
ganhado espaço na indústria dos polímeros.
34
Figura 13 - Polietileno Verde.
Fonte: Valor Mercado (2013).
2.1.2.3 Metais
Os principais metais usados hoje, conforme Morris (2010) aborda, são o ferro,
o alumínio, o cobre, o zinco e o magnésio, que são materiais duros, fortes, densos e
duráveis, podendo ser moldados, cortados ou fundidos em formatos variados.
Morris (2010) afirma que os metais podem ser reciclados, como exemplo
aponta que no Reino Unido cerca de 40% do aço é feito de metal reciclado.
Na Figura 14 é possível visualizar um móvel com aço inox, onde o aparador
com bandeja de madeira e espelhos tem sua base em aço inox polido.
Figura 14 - Aparador em aço inox.
Fonte: Bel Metais (2013).
35
A grande quantidade de materiais disponíveis para a aplicação em projetos de
mobiliários permite que o designer tenha liberdade para inovar quanto às formas
deste produto. Assim posto, a inspiração para uma estante sustentável pode vir de
diversas fontes, como a natureza. Para Ashby e Johnson (2011, p. 44), “a natureza
como estímulo para o design industrial é igualmente poderosa: formas orgânicas,
acabamentos naturais [...] todos são meios de criar associações e o caráter
percebido e emocional do produto”. Sendo assim, o subcapítulo a seguir apresentará
uma revisão sobre a biônica: a inspiração na natureza para a resolução de
problemas projetuais.
2.1.3 Biônica
Com milhões de anos de experiência, a natureza foi se aperfeiçoando e
adequando às condições de vida existentes, através da seleção natural e processo
evolutivo, sendo que, apenas os organismos mais adaptados às condições do meio
tiveram chances de sobreviver. O ser humano busca aproveitar essa experiência da
natureza, usando-a como fonte de inspiração desde os tempos mais primitivos, para
a criação, a começar de modelos de habitação, como as ocas que se assemelhavam
com o ninho de pássaros, até aos produtos como a ponta do arpão, usado desde a
idade da pedra, semelhante ao ferrão dos insetos e aos espinhos de algumas
plantas (RAMOS, 1994).
A biônica trata da análise e entendimento do funcionamento e morfologia da
natureza, e utiliza esse conhecimento e aprendizado para criação de produtos e
resolução de problemas, através da observação e inspiração na natureza como um
todo ou na essência de suas características.
A natureza oferece exemplos e estímulos de como melhorar e revolucionar os
produtos e a vida das pessoas, e a biomimética está inclusa nesse contexto. A
biomimética é descrita, por Dapper (2013, p. 27) como, "uma área da ciência que
tem por objetivo a análise e o entendimento das estruturas biológicas, suas funções,
propriedades, mecanismos e processos, visando à aplicação no desenvolvimento
das criações humanas".
36
Para a cientista Janine M. Benyus, a solução de um problema pode ser
encontrada a nossa volta, ou seja, em cada estrutura e morfologia do mundo natural.
No livro de sua autoria, 'Biomimética – Inovação Inspirada pela Natureza' (2003),
Benyus apresenta uma série de cientistas e pesquisadores que inovaram com base
em estudos de elementos naturais, aproveitando-a para ajudar na cura de doenças,
na sustentabilidade do planeta, dentre outros. Assim, a natureza não seria usada
como um todo, e sim, seria uma fonte de inspiração. Segundo Benyus (2003), se
está em uma era em que não se pode extrair nada do meio ambiente, deve-se
aprender com ela e modificar como as pessoas sobrevivem no mundo. É uma nova
forma de visualizar a nossa volta, não apenas com o objetivo de lucrar em cima de
sua extração ou matança, mas através do conhecimento que se adquire com seu
estudo e observação, no quanto podemos melhorar nossos produtos e vida se
seguirmos a ordem da natureza.
Dapper (2013) explica que “a biônica vem a ser uma ferramenta de grande
importância para a solução de problemas projetuais, como uma solução de
abordagem para o aperfeiçoamento do design convencional”. A biônica contribui
para estimular nossa criatividade e, também, buscar soluções para problemas
envolvendo a área de desenvolvimento de produtos. Segundo Ramos (1994), a
biônica contribui para a determinação da melhor forma de solucionar problemas para
determinadas funções e também nos materiais aplicados, diminuindo o volume e a
massa.
Benyus (2003) afirma que a biomimética utiliza a natureza de três maneiras:
como modelo – estudando a natureza e imitando-os para resolver problemas; como
medida – a natureza após bilhões de anos aprendeu o que funciona, o que é
apropriado e o que dura, assim utiliza-se esse padrão para corrigir as invenções; e
como mentora – deve-se aprender com ela e não extraí-la, deve-se ver e valorizar o
que ela tem a nos propiciar. Portanto com ela poderemos nos beneficiar das
melhores propriedades da natureza sem prejudicá-la e aprimorando nossos
conhecimentos.
Kindlein et al. (2002, p. 2) afirma que para a biônica ter um resultado eficiente,
o designer precisa seguir uma metodologia para orientar e capacitar esse estudo.
Desta forma “a inserção da metodologia na Biônica permite a organização de etapas
37
fundamentais que facilitam o andamento do estudo, proporcionando uma maneira
lógica de agir”. Consequentemente os autores sugerem que sete etapas sejam
adotadas para estudos biônicos, tendo como as principais a seleção de amostra,
que consiste na identificação da necessidade, na preparação do problema, no
selecionamento de amostras e nas fontes de informação. A coleta de amostras onde
há a busca de amostras e a identificação da mesma. Sua observação, onde o
material colhido vai ser observado para entender o funcionamento, morfologia,
estrutura, função da amostra. Com a ajuda de um microscópio, as amostras podem
ser ampliadas para a visualização de detalhes que não seriam visíveis a outro
equipamento. Após terá a analogia com o produto e a amostra coletada onde será
preciso entender a função, a morfologia e a estrutura do elemento como também a
viabilidade de aplicação de seu produto Concluindo essas etapas o produto será
projetado (KINDLEIN et al, 2002). Para melhor explicar, segue na Figura 15 um
infográfico detalhando as etapas de Kindlein.
38
Figura 15 - Infográfico da Metodologia proposta por Kindlein.
Fonte: Kindlein et al. (2002)
39
Para Soares (2008), a biônica pode ser classificada em cinco categorias
principais que são: mimetismo total – uma estrutura material do objeto que seja
indistinguível do produto natural; mimetismo parcial – uma versão modificada do
produto natural; analogia não-biológica – mimetismo funcional, por exemplo, planos
modernos e usos das superfícies de sustentação; abstração – o uso de um
mecanismo isolado, por exemplo, reforço da fibra dos compostos; inspiração –
propulsora para a criatividade, por exemplo, design de construções arquitetônicas e
de engenharia semelhantes a plantas, animais e insetos.
Muitos produtos até hoje criados se baseiam nessas etapas, como por
exemplo, a criação do Velcro, detalhado na Figura 16, por George de Mestral, em
1948 com base no funcionamento dos carrapichos. Vasconcelos apud Amaral,
Guanabara
e
Kindlein
(2002)
comenta
que
com
as
análises
do
fruto
Acanthospermum sp com o microscópio foi possível a verificação da existência de
ganchos nas extremidades que têm a função de agarrar no que é encostado, criando
assim o mesmo sistema para o Velcro.
Figura 16 - Invenção do Velcro. A - Observação do carrapicho grudado ao tecido. B Carrapicho no tecido algodão, observado no MEV. C - Observação do carrapicho
através de Microscópio. D - Criação do produto análogo. E - Produto Final.
Fonte: A (RUTGERS, 2013 apud DAPPER, 2013); B (Amaral, Guanabara e Kindlein (2002); C (Anon.,
2012 apud DAPPER, 2013); D (Proyecto Pofundiza, 2012 apud DAPPER, 2013); E (Anon., s.d. apud
DAPPER, 2013).
A biônica também é fonte de inspiração para projetos na arquitetura, onde as
formas, estruturas e até alguma habilidade da natureza são aplicados em projetos,
40
como o Palácio de Cristal em 1850, exibido na Figura 17, insinua as curvas na
Vitória Régia, uma planta aquática que tem suas folhas com nervuras que
conseguem sustentar todo seu peso. “É extremamente resistente, rígida, podendo
suportar o peso de uma criança de oito anos de idade. Suas raízes situam-se por
baixo da água e seu tronco espinhoso cresce até chegar à superfície da água”
(STEIGLEDER, 2010). Criado por Joseph Paxton, que utilizou a ideia das nervuras
estruturais para criar o Palácio. Ramos (1994), afirma que "este projeto teve uma
influência significativa nos conceitos de espaço e luz na arquitetura e foi também o
percursor dos modernos métodos de construção e montagem pré-fabricadas”.
Figura 17 - Victória Régia. A - Folhas da Victória Régia. B - Parte inferior da planta
Victória Régia, com nervuras radiais. C - Palácio de Cristal de Londres, inspirado nas
nervuras da Victória Régia.
Fonte: VASCONCELOS (2000) apud STEIGLEDER (2010).
A biônica também é utilizada para a criação do design de superfícies, onde
são encontrados diferentes tipos de padrões para determinados produtos, como nos
módulos construídos por Ronan Bouroullec e Erwan Bouroullec em 2004, ilustrado
41
na Figura 18, que para o site Design Gallerist (2012) são inspirados nas algas.
Através de conectores existentes nas extremidades desses módulos, é possível
elaborar superfícies das mais variadas formas, atuando como parede móvel,
divisórias e até mesmo escultura.
Figura 18 - Algas. A – Módulo. B – Módulo aplicado.
Fonte: Adaptado de Floornature (2012).
Em questões como a sustentabilidade ambiental, a biônica auxilia na busca
por respostas na natureza para um melhoramento do planeta, como o Edifício
Eastgate, no Zimbábue, que possui a mesma estrutura de um cupinzeiro, fazendo
com que a temperatura do ambiente interno se mantenha estável. Segundo a
Revista Super Interessante (2010) esta construção, mostrada na Figura 19 “utiliza
90% menos energia no sistema de ventilação em relação aos edifícios tradicionais e
já economizou R$3,5 milhões de dólares em custos com ar condicionado”.
42
Figura 19 - Edifício Eastgate. A – Foto interna do Edifício Eastgate. B – Cupinzeiro.
Fonte: Adaptado de Inhabitat (2012).
A natureza possui inúmeras soluções que podem ser aplicadas ao nosso
meio, sendo um desses meios a indústria de moveleira. Assim sendo, no item
2.1.3.1 será apresentada uma relação entre a biônica e a criação de móveis.
2.1.3.1 Biônica e Mobiliário
Para Salvador (2003, p. 9), “o novo estilo de vida da sociedade moderna, que
passou a priorizar uma maior funcionalidade e conforto, introduziu novos conceitos
ao projeto do produto.” Assim, a natureza, com suas formas, texturas e propriedades
funcionais tem sido utilizada para o desenvolvimento de novos projetos de
mobiliário, como também na melhoria de produtos, pois além de ter propriedades
específicas que as ajudam a sobreviver no meio ambiente, configuram produtos com
mais harmonia e eficiência, podendo ser otimizados em questão ao seu custo,
matéria-prima e sustentabilidade.
43
“A biônica insere-se nesse cenário como uma ferramenta alternativa para o
designer, pois é uma ciência multidisciplinar que pesquisa, nos sistemas
naturais, princípios, propriedades e seus mecanismos com o objetivo de
aplicá-los no desenvolvimento de novos produtos ou para solucionar
problemas técnicos existentes na projeção.” (KINDLEIN et al., 2002)
Assim, para o setor do mobiliário pode-se criar produtos observando as
estruturas das plantas e animais, texturas de répteis, peixes e plantas, podendo
representar soluções práticas para o desenvolvimento de um produto diferenciado,
destacando-se no mercado.
2.1.3.2 Levantamento de Produtos Inspirados na Biônica
Ao longo da história, muitos móveis foram inspirados nos elementos da
natureza, em alguns há referência direta do seu componente natural, em outros não.
Nesse trabalho são mostrados exemplos que apresentam a relação entre móveis e
elementos da natureza, como Debiagi et al. (2010), mostra o desenvolvimento de
uma cadeira de praia, criado pelo designer holandês Frank Lightart, inspirado na
beleza das curvas de uma folha, apresentada na Figura 20. Segundo o site
Arquitetando na Net (2009), as peças criadas são “projetadas para uso externo e
possuem algodão macio que confere confortável caimento para o corpo humano,
uma vez que também foi estudada a anatomia humana”.
Figura 20 - Cadeira folha.
Fonte: Debiagi et al. (2010).
44
Também foi criada uma mesa inspirada nas pernas do Louva-Deus que,
segundo o site Inhabitat (2010), a base da mesa tem a intenção de “imitar as
pequenas e delicadas pernas de um louva-deus, que são anguladas exclusivamente
para apoiar o corpo desproporcionalmente longo e pesado do inseto” (tradução
nossa). Conforme o Inhabitat (2010), a mesa é composta de três pernas de alumínio
coberta com um vidro colorido cinza que são facilmente recicláveis. Ilustrada na
Figura 21, com o nome de Mantis Table, foi desenvolvida pelo estudante de Design,
Alvaro Uribe, da Pratt Institute, e transmite a leveza e praticidade dos insetos.
Figura 21 - Mantis Table. A – Imagem de um Louva-Deus. B - Mantis Table é
composta de três pernas. C – Vista lateral da Mantis Table.
Fonte: Modificado de Inhabitat (2010).
O site Clorofila Design ilustra o trabalho do Estúdio Aisslinger, um Puff que
utiliza as formas das colmeias e que é capaz de suportar o peso de um adulto,
apresentado na Figura 22. “O material utilizado é o feltro, recortado e costurado de
45
forma a permitir uma estrutura firme e rígida”, garantindo com esse formato leveza,
resistência e conforto num mesmo produto (CLOROFILA DESIGN, 2009).
Figura 22 - Puff inspirado nas formas da Colmeia.
Fonte: Clorofila Design (2009).
Há produtos que são inspirados em componentes minúsculos, inclusive do
corpo do ser humano, como as células que originaram uma poltrona Mácia (FIGURA
23), que busca por proporcionar conforto, versatilidade e que se adequa ao tipo de
vida do usuário.
Figura 23 - Poltrona Mácia.
Fonte: Clorofila Design (2012).
46
A poltrona é produzida com material polimérico, tendo durabilidade e
resistência, sendo também de fácil montagem e encaixável, conforme demonstrado
na Figura 24. O site Clorofila Design (2009) aborda que o processo de transporte e
locomoção também foi planejado, sendo uma poltrona resistente, com encaixes e de
fácil desmontagem, tornando-se prática e utilizando-se de poucos materiais em seu
processo produtivo. É possível identificar a semelhança entre a poltrona Mácia e as
hemácias, células que inspiraram tanto na cor, como no formato e textura de sua
concepção.
Figura 24 - Demonstração dos encaixes da Poltrona Mácia.
Fonte: Clorofila Design (publicado em agosto de 2012).
Muitos projetos estão apenas em fase inicial de desenvolvimento, onde
designers desenvolvem estudos experimentais, em seus trabalhos de curso, ou em
pesquisas artigos, como o trabalho de Debiagi et al. (2010), onde foi pesquisado e
desenvolvido uma poltrona inspirada no fruto Camboatá. Debiagi et al. (2010)
acredita que “a Poltrona Camboatá tem como principal analogia a forma e a
resistência do fruto do Camboatá, com a possibilidade de desenvolver um sistema
de sentar” que é visualizado na Figura 25.
47
Figura 25 - Poltrona Camboatá. A - Representação gráfica da Poltrona Camboatá. B
- Mock-up com acabamento final.
Fonte: Debiagi et al. (2010).
A biônica tornou-se uma metodologia para encontrar respostas para questões
do design e sustentabilidade. Ao observar-se é possível encontrar características
que podem idealizar o desenvolvimento de um projeto. Assim, no próximo capítulo,
serão explorados elementos naturais para o desenvolvimento de um mobiliário.
2.1.3.3 Elementos naturais possíveis para estudo visando projeto de mobiliário
Para esse projeto foram avaliados elementos naturais que indicam resistência
a esforços mecânicos, como por exemplo, a facilidade em carregar peso excessivo,
resistência a pressão de terceiros, mecanismos de proteção, entre outros. Foram
realizadas análises morfológicas desses elementos, por meio de microscópios
estereoscópios (lupa) no Laboratório de Luparia do Centro Universitário Univates,
com o auxílio de uma câmera fotográfica Sony HX100V.
Estes elementos podem ser encontrados tanto no reino dos vertebrados,
invertebrados e plantas, mas para este estudo em específico foi escolhida a
utilização de animais de pequeno porte que tenham as adequações anteriormente
citadas.
48
2.1.3.3.1 Formigas Cortadeiras
As formigas são um dos insetos mais populares e mais abundantes da Terra,
sendo encontradas em todos os tipos de habitats, com exceção de regiões polares,
e costumam viver em uma sociedade organizada. É pertencente da ordem dos
Himenópteros, mesmo grupo em que se encontram as vespas e abelhas, e à família
Formicidae (BORROR; DELONG, 1988), sendo esta última dividida em cinco
Subfamílias: Ponerinae, Doryçinae, Myrmicinae, Dolichoderinae e Formicinae. O
foco deste estudo será a Subfamília Myrmicinae, onde se encontram as formigas
cortadeiras, que são conhecidas por carregar folhas de peso muito superior ao seu,
característica interessante para o projeto de móvel, na sua sustentação, já que
recebem esforços diários que sobrecarregam sua estrutura.
Uma das distinções das formigas são os nódulos (um ou dois), que ligam seu
abdômen ao tórax, o pecíolo. Essa ordem também é conhecida por ser ovípara, ter
antenas, uma mandíbula grande com trituradores, conforme ilustrado na Figura 26
(CARRERA, 1963).
Figura 26 - Anatomia da Formiga.
Fonte: Adaptado de Guanabara, Amaral e Kindlein (2001).
Borror e Delong (1988) afirmam que as formigas têm suas colônias divididas
em castas: as rainhas, os machos e as operárias, sendo estas últimas as únicas que
não possuem asas. Cada uma dessas castas possui uma função na colônia, cada
tarefa é dividida entre elas. Os formigueiros costumam ser bem elaborados e com
49
vários túneis, cada formiga tem um trabalho especifico, sendo umas responsáveis
pela segurança, outras pela escavação e outras pela busca de alimento.
A alimentação das formigas cortadeiras é a base de um fungo que criam em
seus ninhos. Para este proliferar, é preciso ter um ambiente adequado, papel este
das formigas cortadeiras, as saúvas (Atta), que são responsáveis por cortar e
carregar folhas para seu ninho, por isso conseguem carregar um peso muito maior
que o seu próprio (CARRERA, 1963).
As patas das formigas são longas e fortes para a sustentação e agilidade de
suas longas caminhadas, conforme visualizado na Figura 27 (CARRERA, 1963).
Como também é através de seus músculos que provém a força necessária para a
sustentação de um peso maior que o do seu corpo (GUANABARA, 2009).
Figura 27 - Detalhe da pata da Formiga Cortadeira.
Fonte: Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V com aumento de 4 vezes.
Inthurn (2010) aborda que as patas possuem quatro segmentos compostos
pela coxa, fêmur, tíbia e segmentos após esta chamados de tarso e, além disso, o
tarso contém um par de garras que permite a adaptação em qualquer superfície,
conforme visualizado na Figura 28.
Figura 28 - Músculos e garras das patas da formiga.
Fonte: Adaptado de Inthurn (2010) – Foto MEV NdSM
50
As cortadeiras têm seus olhos bem desenvolvidos, um aparelho bucal para
mastigar, um par de antenas geniculadas e um abdômen identificado como gáster,
diferenciado do resto do corpo conforme Carrera (1963) aborda e que pode ser
visualizado na Figura 29.
Figura 29 - Detalhe do Abdômen da Formiga Cortadeira.
Fonte: Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V com aumento de 4 vezes
Guanabara (2009) aponta que o abdômen da formiga tem no máximo 10
segmentos e sua superfície é revestida por um exoesqueleto que, além de dar
estrutura à formiga, tem a função de proteger, sendo que esta é a área mais frágil,
contendo os órgãos internos. O autor ainda afirma que estas formigas apresentam
placas separadas por suturas (áreas membranosas) na superfície do gáster,
permitindo seu movimento e a maleabilidade, podendo ser visualizadas na Figura
30.
Figura 30 - Gáster da formiga.
Fonte: Adaptado de Guanabara (2009) – Foto MEV NdSM
51
Assim, as cortadeiras tornam-se um excelente elemento natural para inspirar
na criação de produtos. Sua capacidade de suportar grandes pesos é uma
característica importante para desenvolver produtos resistentes, podendo ser
caracterizados por sua aparência, estrutura ou sistema de agarre das patas.
2.1.3.3.2 Besouro-Rinoceronte
Os besouros pertencem à ordem dos Coleópteros, com mais de 250.000
espécies. Para Borror e Delong (1988), essa é a ordem que possui o maior número
de espécies dentre todos os insetos, por conseguinte é a que possui a maior
diversidade de espécies, tanto no tamanho, quanto nas cores e aparência
(diversidade morfológica).
O besouro estudado para este trabalho pertence à Subfamíla Dynastìnae da
Família Scarabaeidae, também conhecido como Besouro Rinoceronte, ilustrado na
Figura 31, conforme relatado por Borror e Delong (1988).
Figura 31 - Besouro Rinoceronte.
Fonte: Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V.
52
Borror e Delong (1988) afirmam que este besouro tem características próprias
como: coxas anteriores alongadas lateralmente, corpo com forma oval ou
arredondada, cor predominante preta, sendo na maioria das vezes brilhosa.
Seu nome é de origem grega, que significa asas em forma de estojo, ou seja,
possui uma carapaça que esconde as asas protegendo-as. Esse estojo é conhecido
como élitros e são as chamadas asas anteriores do besouro que tem uma estrutura
rígida e brilhante, visualizada na Figura 32. Para Carrera (1963, p. 161) essas asas
“não são usadas para voo, que são realizados pelas asas posteriores membranosas,
mas servem para proteger o abdômen e as próprias asas membranosas que se
dobram por baixo dos élitros”.
Figura 32 - Vista dorsal de um besouro com as asas esquerdas abertas.
Fonte: Modificado de Borror e Delong (1988).
Algumas das características predominantes dos besouros, segundo Borror e
Delong (1988), é uma mandíbula bem desenvolvida e forte, usadas como
mastigador. Outra característica são suas pernas fortes, desenvolvidas para correr,
conforme visualizado na Figura 33.
53
Figura 33 - Vista inferior do Besouro Rinoceronte.
Fonte: Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V.
Carrera (1963) ressalta que as antenas dos besouros rinocerontes são
laterais e no seu último segmento tende a formar um arredondamento em sua ponta,
com terminais expandidos, visualizado na Figura 34.
Figura 34 - Antena do Besouro Rinoceronte. A – Antena. B – Detalhe aumentado da
antena.
Fonte: Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V com aumento de 4 vezes.
54
O besouro rinoceronte possui 5 segmentos tarsais, identificados na Figura 35,
que são estruturas presentes na extremidade de todas as patas com a função de
segurar,
assim
como
as
garras
tarsais
que
costumam
ser
denteadas
(CARRERA,1963).
Figura 35 - Pata do Besouro. A – Detalhe dos segmentos tarsais do Besouro
Rinoceronte. B – Garras tarsais.
Fonte: Imagens obtidas pela autora com uma câmera Sony HX100V com aumento de 4 vezes.
Os besouros apresentam prolongamentos em formas de chifres com aspecto
metalizado e brilhante no protórax, que são utilizados durante as disputas entre
machos por acasalamento, conforme visualizado na Figura 36. As fêmeas não
possuem chifres e são bem menos vistosas que os machos, além de possuírem
tamanhos bem menores que o dos machos. O besouro-rinoceronte possui grandes
chifres (apêndices cefálicos e torácicos).
55
Figura 36 - Chifre do Besouro Rinoceronte. A – Detalhes do chifre. B – Vista superior
dos chifres.
Fonte: Imagens obtidas pela autora com uma câmera Sony HX100V.
Na Figura 37 é possível identificar uma textura e coloração vibrante no corpo
do besouro, sendo visível também a olho nu.
Figura 37 - Textura encontrada no corpo do Besouro Rinoceronte.
Fonte: Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V com aumento de 4 vezes.
O besouro-rinoceronte pode ser uma fonte de inspiração na criação de
produtos diferenciados, pois possuem uma força extraordinária mesmo sendo muito
pequenos comparados a outros, também possuem uma carapaça forte e protetora e
56
uma textura em seu corpo podendo ser criado um mobiliário a partir da
parametrização de suas curvas. Outra diferenciação desses besouros é o formato de
seus chifres, antenas e patas que podem contribuir na concepção de um novo
produto.
2.1.3.3.3 Tatu-Bola de Jardim
Os Tatus-Bolas de Jardim, bichos-de-conta, tatuzinhos, tatu-bola e tatuzinhosde-jardim, são isópodos terrestres, são pequenos crustáceos, membros do filo
Artrópode, na classe dos Malacostráceos e na ordem Isópoda. São os únicos
crustáceos que conseguiram sobreviver plenamente fora da água, vivendo em
lugares onde não pegam muita incidência solar. De acordo com Ihering (1987), os
isópodos costumam ser muito pequenos, tendo poucos centímetros de comprimento
e são de corpo achatado, olhos compostos na lateral da cabeça e não possuem
carapaças conforme visualizado na Figura 38. Seu corpo é formado por 21
segmentos, sendo 6 da cabeça, 8 do tórax e o abdômen contem 7 segmentos.
Figura 38 - Tatu-bola de Jardim. A – Vista externa do Tatu-bola de Jardim. B –
Anatomia do Tatu-Bola de Jardim.
Fonte: A - Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V. B – Modificado de Villee,
Walker e Barnes (1984).
57
Os isótopos possuem oito pares de patas, sendo que para Villee, Walker e
Barnes (1984, p. 474), “o primeiro par é modificado em maxilípede para manipulação
do alimento; os outros sete são patas”, ou seja, um par dos apêndices torácicos
serve para auxiliar na captura dos alimentos, e costumam encontrar-se logo após a
boca. Seu último segmento abdominal não possui apêndice e é chamado de télson,
possuem antenas conforme visualizado na Figura 39.
Figura 39 - Anatomia do Tatu-bola de Jardim. A – Vista inferior do Tatu-bola de
Jardim. B – Detalhes da cabeça e antena Tatu-Bola de Jardim. C – Detalhe do
télson e interior do Tatu-Bola de Jardim.
Fonte: Imagens obtidas pela autora através da luparia com câmera Sony HX100V com aumento de 4
vezes.
Sua respiração é por meio de troca de gases, mas continuam apresentando
as brânquias, que vêm de seus familiares. A excreção ocorre em forma de amônia
em estado gasoso, e é realizada pela superfície do seu corpo (VILLEE, WALKER E
BARNES, 1984).
58
A capacidade que os Tatus-Bolas de Jardim têm de enrolar-se veio como um
modo de proteção contra possíveis predadores, como também para evitar o
ressecamento da superfície ventral que não possui uma carcaça (VILLEE, WALKER
E BARNES, 1984). Esse detalhe de sua carapaça e seu modo de proteção pode ser
visualizado na Figura 40, mostrando a anatomia de seus segmentos, como também
sua textura.
Figura 40 - Segmentos do Tatu-Bola de Jardim. A – Vista superior do Tatu-bola de
Jardim. B – Detalhes da carapaça do Tatu-Bola de Jardim. C – Tatu-Bola de Jardim
enrolado.
Fonte: A e B - Imagens obtidas pela autora através da luparia com uma câmera Sony HX100V com
aumento de 4 vezes. C – Modificado de Sarzedo Ecologia (2013).
O mecanismo mais interessante do tatu-bola de jardim é sua capacidade de
enrolar-se para se defender e seu corpo separado por segmentos que facilitam sua
movimentação e sua estrutura externa fortificada para não quebrarem com qualquer
impacto (VILLEE, WALKER E BARNES, 1984). Sendo estes atributos viáveis para
ser desenvolvido um produto, transformando uma característica natural em um
projeto novo, durável, bem elaborado, com capacidade de versatilidade modular.
59
2.1.4 As Metodologias de Projetos de Produtos
Para o desenvolvimento de produtos, há uma vasta quantidade de métodos e
técnicas que visam resolver os problemas e questões que tendem a facilitar a
construção de um novo projeto, mas não se pode dizer que há um método ou
técnica únicos que atendam a todas as situações possíveis. Cada designer se
identifica com um método e/ou técnica que se encaixa melhor com as características
e processos do seu produto.
Como existem inúmeras metodologias para o desenvolvimento de produto,
abordou-se apenas quatro autores: Baxter, Löbach, Bonsieppe e Platcheck. Esse
estudo possibilita a compreensão dos métodos e auxilia na escolha das melhores
etapas para a obtenção do sucesso deste trabalho em específico.
Baxter apresenta uma metodologia de design desenvolvida por pesquisadores
da Universidade de Brunel, Inglaterra, a partir de produtos desenvolvidos para
empresas de pequeno e médio porte no Reino Unido. Segundo Baxter (2000, p. 1),
“a inovação é um ingrediente vital para o sucesso dos negócios” gerando uma
competição entre as empresas e as fazem procurar desenvolver novos produtos
para continuar na disputa no mercado. Dapper (2010) ressalta que o livro de Baxter
apresenta um processo de desenvolvimento de projeto de produto que engloba os
aspectos visuais, projeto de fabricação, as necessidades do mercado, redução de
custos, confiança e preocupação ecológica. Ainda para Baxter é necessário
estabelecer metas, verificar se o produto será bem aceito pelo consumidor, se irá
satisfazer seus propósitos e se seu preço será acessível. Assim, para Dapper
(2010), os métodos de Baxter são voltados para o mercado, atribuindo pesquisas de
marketing para a criação de modelos que atendam diretamente o desejo e a
satisfação do consumidor, para a obtenção de resultados mais satisfatórios de
comercialização, fazendo uma aproximação entre os meios científicos e a fabricação
de produtos.
A metodologia de projeto de produto desenvolvida por Bonsiepe fornece uma
orientação para o processo projetual apresentando técnicas e métodos para o
desenvolvimento de produtos, através de projetos experimentais (BONSIEPE, 1983).
60
Bonsiepe (p. 2,1983) afirma que a metodologia é “uma ajuda no processo da
concepção do produto, dando uma orientação no procedimento do processo e
oferecendo técnicas e métodos que podem ser usados”, dessa forma ele diz que o
designer tem o controle sobre qual é a melhor decisão para o produto. Dapper
(2010) aborda que Bonsiepe defende que o designer tem que ter uma liberdade para
poder criar as alternativas de seu produto. Ele apenas propõe uma linha guia para o
desenvolvimento
deste
projeto.
Bonsiepe
desenvolveu
seus
métodos
de
desenvolvimento de produtos de forma a aperfeiçoar o desempenho profissional,
descrevendo técnicas e processos de criação de produto a fim de resolver
problemas existentes.
A metodologia adotada por Bernd Löbach (2001) definiu o processo de design
como um processo criativo e de solução de problemas ao mesmo tempo. O trabalho
consiste em encontrar uma solução do problema, concretizada em um projeto de
produto industrial, incorporando as características que possam satisfazer as
necessidades humanas, de forma duradoura (LÖBACH 2001). Por meio do processo
prático de desenvolvimento de um objeto, torna-se impossível separar essas fases,
elas misturam-se em um procedimento de crescimentos e atrasos, mas, ainda
assim, não deixam de ser de extrema importância para a pesquisa. Para Löbach
(2001), o designer precisa ser espontâneo para poder inventar, e assim ter
segurança psicológica e poder suportar as ansiedades e tensões na criação de um
novo projeto.
Elizabeth Regina Platcheck apresentou uma nova proposta de metodologia
para o desenvolvimento de produtos direcionados para as problemáticas ambientais.
Platcheck (2003, p. 70) desenvolveu a proposta para o desenvolvimento de produto
com a finalidade de "produzir mudanças relevantes de ordem ambiental, social e
econômica onde os esforços sejam bem sucedidos". Platcheck sentiu a necessidade
de criar uma metodologia que levantasse aspectos importantes para o meio
ambiente, contribuindo para o desenvolvimento de produtos com características
ecossustentáveis e para Dapper (2010) a metodologia “sugere a inserção de
variáveis ambientais em todas as etapas de desenvolvimento de produto”.
61
Sendo assim foi possível fazer uma comparação, conforme visualizado no
Quadro 1, na qual é possível visualizar as principais características de cada
metodologia para assim definir uma melhor proposta para este projeto.
Quadro 1 - Comparação entre Metodologias.
METODOLOGIAS
Baxter
- Identificação de
uma oportunidade
- Análise dos
produtos
concorrentes
- Pesquisa das
necessidades de
mercado:
- Proposta do novo
produto:
- Configuração do
Projeto
Bonsiepe
Löbach
Platcheck
- Problematização
- Análise do problema
- Identificação do cliente
- Análises
- Análise das
informações
- Definição dos
problemas
- Geração de
alternativas
- Metas a serem
atingidas
- Avaliação das
alternativas
- Restrições
- Definição do
problema
- Anteprojeto e
geração de
alternativas
- Avaliação, decisão
e escolha
- Realização da solução
do problema
- Projeto
- Desenvolvimento
- Cronogramas
- Programa de trabalho
- Custos do projeto
- Análise dos similares e
de mercado
- Especificação do
Projeto
- Síntese
- Projeto para
fabricação
- Geração de alternativas
preliminares
- Geração de alternativas
- Desenhos técnicos
- Recomendações
ergonômicas
- Confecção do modelo
funcional
Não contempla os
conceitos do
desenvolvimento
sustentável
Preocupação com
processo de criação,
porém não
contempla os
conceitos do
desenvolvimento
sustentável.
Consiste em encontrar
uma solução do
problema.
Metodologia para o
desenvolvimento de
produtos direcionados
para as problemáticas
ambientais.
Fonte: Elaborado pela autora.
Com a pesquisa de diferentes metodologias foi possível verificar qual melhor
se encaixa para o projeto deste trabalho, identificada no capítulo 3.
62
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizada a metodologia de
projeto de Platcheck (2003), por abordar quesitos de sustentabilidade em seu
desenvolvimento, juntamente com a metodologia biônica de Kindlein et al.
(2002), que define uma metodologia que "permite a organização de etapas
fundamentais que facilitam o andamento do estudo, proporcionando uma
maneira lógica de agir (KINDLEIN et al., 2002, p. 2)".
O projeto está dividido em duas etapas, sendo que na primeira foi
realizada a proposta de trabalho, que consiste na definição do assunto, onde
foi delimitado e justificado o tema, definido o problema e os objetivos do
projeto. Nessa etapa também foi realizado o levantamento de dados sobre a
biônica e mobiliário, produtos já desenvolvidos com essa base e também
analisados possíveis elementos naturais para o desenvolvimento do produto.
A segunda etapa consiste na parametrização onde, segundo a
metodologia de Kindlein et al. (2002), foi realizada uma parametrização a partir
das imagens obtidas, ou seja, a simplificação das formas e detalhes de
interesse do elemento observado.
Após, foi feito uma analogia entre as parametrizações criadas e a
amostra pesquisada, obtendo uma relação entre sua morfologia, seu
funcionamento, sua estrutura e a viabilidade da concepção deste produto que,
conforme Kindlein et al. (2002, p. 5), “é necessário entender a função, a
morfologia e a estrutura do elemento natural analisado e também avaliar a
viabilidade de sua aplicação”.
63
No final foi realizada a aplicação projetual, que consiste na concepção
do produto, usando aqui a metodologia de projeto desenvolvida por Platcheck,
que sugere uma maneira de projetar produtos baseados no mercado,
crescimento econômico, qualidade ambiental e igualdade social (PLATCHECK,
2003). O que tange a fase do detalhamento, a mais explorada, é sua divisão
em seis etapas que são: síntese, geração de alternativas preliminares, seleção
de três alternativas e revisão dos pré-requisitos, escolha da melhor alternativa,
desenho técnico, recomendações ergonômicas e confecção do modelo
funcional.
Na síntese do projeto foram detalhados seus parâmetros, como o
material escolhido, sua embalagem, seu transporte, seu ciclo de vida,
reutilização, entre outros, ou seja, todo o processo do produto. Também foram
especificados as recomendações ergonômicas para o fácil manuseio e uso do
produto.
Na geração de alternativas preliminares realizou-se uma gama de
modelos de mobiliários de forma livre que contemplem seu elemento natural e
suas características. Dentre essas alternativas preliminares foi realizada uma
seleção com as que melhor contemplem o objetivo do projeto, e sendo
necessário, será feita uma nova geração de alternativas, até ser escolhida a
melhor alternativa para o mobiliário em questão.
Na etapa do desenho técnico, foi projetado cada peça, cortes e
perspectivas para sua montagem, juntamente com as especificações do
mobiliário.
Na última etapa desenvolveu-se uma maquete do móvel para testes de
sua estrutura, fabricação e funcionamento, bem como a apresentação do
projeto, conforme visualizado na Figura 41, na qual visualizamos todas as
etapas da metodologia que serão aplicadas.
64
Figura 41 - Infográfico da metodologia.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
65
4 DESENVOLVIMENTO DA METODOLOGIA PROPOSTA
4.1 Analogia
Assim como materiais e estruturas naturais podem ser utilizados como
fonte de inspiração para a criação e o desenvolvimento de novos produtos,
funções como armazenar, conter, estruturar e proteger, encontradas em
diferentes animais e plantas, podem promover o surgimento de analogias e de
soluções baseadas na biônica.
Portanto, na análise dos elementos naturais pesquisados foi realizada
uma relação entre sua morfologia, seu funcionamento, sua estrutura e a
viabilidade da criação do produto.
4.1.1 Análise da Formiga
Em primeiro lugar, a aplicação da análise funcional da Formiga
Cortadeira constatou-se que sua principal função é o carregamento das folhas
para o ninho, sendo necessário para isso ter força para suportar.
Na análise morfológica entendeu-se que a formiga possui seu corpo
separado em gomos para poder proporcionar uma base que consegue suportar
o peso, distribuindo-o em partes iguais para assim conseguir carregar um peso
elevado. Seu abdômen é composto por camadas que se envolvem entre si, e é
onde encontra-se o ferrão da formiga.
66
A estrutura da formiga preocupa-se com a organização das partes do
elemento natural que a ajudam a suportar os pesos, sua arquitetura. Sendo
assim, conforme visto anteriormente, no caso da Formiga Cortadeira, é a partir
dos músculos de suas patas que elas conseguem suportar o peso, sendo este
muitas vezes superior ao seu próprio peso.
Portanto, é interessante analisar a parametrização das patas destas
formigas, pois estas podem servir de inspiração em um projeto de estante. Na
Figura 42 pode-se ver que a pata da formiga é comparada com os pés de uma
estante. .
Figura 42 - Analogia da pata da formiga com estante. A – Formato da pata. B –
Estante com pés.
Fonte: Em A – Altonia (2014). Em B - Neomobilia (2014).
Outro ponto interessante para o estudo é a mandíbula da formiga, que
necessita ter força e precisão para cortar as folhas e carregá-las, como
também o sistema de abertura e fechamento para o corte, conforme
visualizado na Figura 43, onde em A demonstra a mandíbula da formiga
cortadeira e em B há um exemplo que apresenta uma estante possui o sistema
de fechamento diferenciado.
Figura 43 - Analogia da mandíbula da formiga com estante. A – Formato da
mandíbula. B – Estante de livros dobrável.
Fonte: Em A – Altonia (2014). Em B – Papo de Estante (2012).
67
Foi possível verificar estruturas interessantes da formiga para a
parametrização destas, desde a parte funcional até estrutural, e conseguir, a
partir delas, o desenvolvimento de uma estante.
4.1.2 Análise do Besouro Rinoceronte
O Besouro Rinoceronte tem como principal função a força o que o
possibilita carregar inúmeras vezes o seu peso, como também tem a
funcionalidade de proteger seu corpo através da carapaça rígida.
A forma do seu corpo é oval e coberto por uma capa fortificada que
esconde suas asas. Possui quatro patas com coxas mais sobressalentes que
sustentam seu corpo, como também olhos compostos e antenas que podem
ser visualizadas a olho nu.
Sua capacidade de sustentar pesos vem de sua estrutura, possuindo
como se fosse uma capa fortificada envolta de todo seu corpo, protegendo-o e
embalando-o. Seu casco se move quando o besouro necessita usar suas asas.
A partir destas análises conclui-se que a estrutura do seu corpo,
envolvendo o élitro que protege as asas pode ser uma boa opção para
parametrização, já que pode-se usar esta funcionalidade como critério para
uma estante, conforme visualizado na Figura 44, onde em B detalha uma
estante com sistema de fechamento, e em A o detalhe do élitro aberto com a
asa do Besouro Rinoceronte.
68
Figura 44 - Analogia do casco do besouro rinoceronte. A – Formato do élitro e
asa. B – Estante de livros.
Fonte: Em A – Imagem obtida pela autora com uma câmera Sony HX100V. Em B – Clara
Castilho (2014).
Pode-se também realizar uma analogia com os chifres, já que estes têm
a função de defender e mostrar sua força. A Figura 45 apresenta uma analogia
do formato do chifre com uma estante arredondada e vazada, exemplificando
que uma estante redonda pode ser forte e resistente como o chifre.
Figura 45 - Analogia do chifre do besouro rinoceronte. A – Formato do chifre. B
– Estante de livros arredondada.
Fonte: Em A - Imagem obtida pela Autora com uma Câmera Sony HX100V. Em B – Deborando
(2012).
Outra opção para parametrização são as patas, já que estas são
encarregadas pela sustentação do corpo e do peso que carregam. A inspiração
pode vir tanto pelo seu formato como pela função, como exemplo tem a Figura
46 em que no A tem-se o formato da pata e no B uma estante inspirada no
69
formato do caule de uma árvore mostrando que é possível obter sustentação e
equilíbrio mesmo que sua base seja mais fina.
Figura 46 - Analogia da pata do besouro rinoceronte. A – Formato da pata. B –
Estante de livros árvore.
Fonte: Em A - Imagem obtida pela Autora com uma Câmera Sony HX100V. Em B – Clara
Castilho (2014).
Com a analogia foi possível verificar que há inúmeras possibilidades do
elemento para inspirar uma estante de livros.
4.1.3 Análise do Tatu-Bola de Jardim
O Tatu-Bola de Jardim tem como função principal a proteção. Por ser um
elemento minúsculo comparado a outros do mesmo ambiente, ele usa seu
corpo para enrolar-se e passar despercebido quando nota a presença de um
possível predador.
Seu corpo é oval, formado por segmentos que cobrem toda a parte
superior. Estes segmentos têm a capacidade de dobrar-se, virando uma bola
rígida. A parte inferior da carapaça protege seus órgãos, e é nesta área que os
pares de patas dão suporte para caminhar e na sua alimentação e suas
antenas detectam o perigo.
70
Quando sente que há perigo, enrola-se e fica nessa pose até sentir-se
seguro. A bolinha que forma-se é resistente, necessitando de força para
quebrá-la.
Na analogia é possível verificar que uma das partes mais interessante
deste elemento é a função de enrolar-se, conforme visto na Figura 47, que em
A mostra o Tatu-Bola de Jardim enrolado e em B uma estante modular que
possui a função de diminuir seu tamanho.
Figura 47 - Analogia do Tatu-Bola de Jardim. A – Tatu-Bola de Jardim
enrolado. B – Estante modular.
Fonte: Em A – Imagem obtida pela Autora com uma Câmera Sony HX100V. Em B – Guia da
casa (2012).
Foi possível verificar estruturas interessantes do Tatu-Bola de Jardim
para a parametrização, desde pela parte funcional até a estrutural, e conseguir
a partir delas a parametrização e desenvolvimento de um móvel.
4.1.4 Parametrização
A parametrização dos elementos naturais analisados constitui na
simplificação, das formas e detalhes das imagens obtidas. Estas foram obtidas
com o auxilio do software da Adobe Illustrator CS5.
No Quadro 2 consta a parte do elemento natural a ser parametrizado e
sua parametrização.
71
Quadro 2 – Parametrização.
Parte do elemento natural estudado
Parametrização
72
73
Fonte: Imagens obtidas pela autora com uma Câmera Sony HX100V.
A partir da parametrização, deu-se início ao desenvolvimento das
gerações de alternativas de estantes para livros.
4.2 Aplicação Projetual
A etapa da projetação do produto é o momento onde todos os dados
levantados e analisados são utilizados para a criação do novo produto, a fim de
viabilizar a sua produção.
4.2.1 Geração de Alternativas
Para a geração de alternativas deste projeto, foi utilizada a técnica de
braimstorming, conforme constatado no Quadro 3.
74
Quadro 3 – Geração de Alternativas.
Nº
Desenho da Alternativa
Descrição
- Estante fechada
inspirada no élitro do
Besouro Rinoceronte;
1
- Parte interna com
prateleiras na forma das
nervuras da asa;
- Madeira em cor preta.
- Inspirado na função de
fechamento do Tatu-Bola
de Jardim;
2
- Formada por
segmentos em forma
triangular que na parte
superior possui
almofadas para sentar;
- Pode ser enrolada
formando um circulo;
- Sistema de travamento
por um gancho;
- Estante em polímero
verde.
75
- Módulos com as formas
encontradas no Tatu
Bola de Jardim;
- Módulos vazados;
3
- Feito com Polímero
verde;
- Pode ser montado
conforme gosto.
- Formas encontradas no
corpo do Besouro
Rinoceronte;
4
- Estante em Madeira,
com textura em cor
preta;
- Forma encontrada no
corpo do Tatu Bola de
Jardim;
- Estante sem fundo;
5
- Opções de colocar
utensílios na lateral;
- Feito em madeira;
- Diversas opções de
cores
76
- Forma da pata do
Besouro Rinoceronte;
- Estante vazada;
6
- Opções de colocar
utensílios na lateral;
- Feito em madeira;
- Diversas opções de
cores
- Forma da pata do
Besouro Rinoceronte;
7
- Opções de colocar
utensílios apenas nas
laterais;
- Feito em polímero;
- Diversas opções de
cores
77
- Forma da pata do
Besouro Rinoceronte;
- Opções de colocar
utensílios apenas nas
laterais;
8
- Feito em polímero;
- Diversas opções de
cores
- Forma do chifre do
Besouro Rinoceronte;
LUZ
- Estante vazada com
prateleiras;
- Madeira, com textura
em cor preta;
9
ACOLCHOAMENTO
- Acolchoamento em seu
centro para poder sentar;
- Luz no parte superior
do chifre.
78
- Forma do chifre do
Besouro Rinoceronte;
10
- Estante vazada com
prateleiras;
- Madeira, com textura
em cor preta.
- Forma do chifre do
Besouro Rinoceronte;
11
- Módulos vazados para
montar conforme gosto;
- Polímero em diversas
cores.
79
- Forma encontrada no
corpo do Besouro
Rinoceronte;
- Estante vazada com
formas diferentes;
12
- Opções com portas nas
prateleiras;
- Madeira, com textura
em cor preta.
Fonte: Imagens obtidas pela autora.
4.2.2 Definição da Alternativa
Com base na produção de esboços, chegou-se a um resultado final que,
da melhor forma, incorporou as características esperadas para a estante.
Sendo que as melhores alternativas que condizem com a função do elemento
natural foram as opções de número 01 e 06.
Figura 48 - Alternativas. A - Alternativa 01. B – Alternativa 06.
Fonte: Imagem obtida pela Autora.
80
A partir do melhoramento das alternativas é possível compreender
melhor o funcionamento destas para decidir a melhor para o projeto em
especifico.
Na alternativa 01, a estante utilizou a função das asas e élitro do
besouro para sua criação. Com duas portas que protegem a parte interna da
estante, visualizadas na Figura 49, imitam o élitro, possuem puxadores que
deslizam a porta para os lados no mais leve movimento. Na parte interna suas
prateleiras foram inspiradas nas nervuras das asas.
Figura 49 - Estante fechada. A – Vista da estante fechada. B – Besouro com
élitro fechado.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
Quando aberta, as separações dos módulos formam a estrutura das
asas em formas geométricas, visualizado na Figura 50.
81
Figura 50 - Estante aberta. A – Estante com as portas abertas. B – Besouro
com élitro aberto e detalhe da asa.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
Já a estante de opção 06 demonstra o sistema da pata do besouro
rinoceronte, em que possui módulos em formas geométricas e, nas laterais,
bases para apoio que imitam os espinhos do besouro, conforme visualizado na
Figura 51.
82
Figura 51 - Estante modular. A – Estante. B – Pata do besouro.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
Após analisar as duas alternativas, a autora optou pela alternativa de
número 06 – Estante modular, pois avalia que esta se adequa melhor com a
proposta do projeto.
4.2.3 Síntese
A estante será nomeada como BEEZU, referenciando ao barulho do
besouro, e terá como propósito a organização de livros e pertences diários,
sendo de fácil uso e manuseio. Seu conceito é a praticidade e a modularidade
presente nas suas prateleiras que possuem encaixes e suas ramificações
externas, podendo ser usada em qualquer ambiente e por todo tipo de
usuários.
Foi proposto uma estante com formato geométrico onde a forma da pata
do
Besouro
Rinoceronte
não
fica
evidente,
porém
funcionalidade, que é a resistência da pata, está implícita.
a
sua
principal
83
Dentre os materiais levantados para a fabricação da estante BEEZU, a
alternativa escolhida é pelo processo de laminação do painel de bambu
cortadas em formas de chapas, por apresentar características mais
sustentáveis, por ser uma matéria-prima fácil de encontrar e de reposição e por
não apresentar um alto custo de produção. O compensado e MDP foram
descartados por possuírem uma qualidade inferior ao MDF, diminuindo a vida
útil da estante. Já a madeira de demolição não será utilizada, pois são
encontradas, na maioria das vezes, de tamanho menor que as propostas e por
não seguir os conceitos de modernidade da estante.
Terá uma pintura preta com verniz à base de água, já que este agride
menos o meio ambiente, e proporciona brilho e proteção contra umidade,
sendo um impermeabilizante o que evita a penetração de sujeiras e pinturas
constantes. Tal estratégia valoriza a estrutura e as relações espaciais do
produto.
As chapas de bambu são formadas pelo colmo do bambu (roliço)
processado em lâminas, lascas, ripas e partículas de bambu, unidas por meio
de adesivos.
Pinto (2007) ressalta que para produção do bambu laminado colado
(BLC), o primeiro passo é a obtenção das ripas laminadas, que pode ocorrer
pela técnica por corte (folheado) ou por serragem onde estas são passadas por
tratamentos preservativos, que incluem imersão prolongada na água para
prevenir o ataque de bactérias e a fermentação do material e um tratamento
químico com solução de “Osmose CCB” (produto a base de Borato de Cobre
Cromatado - CCB). Realizado o tratamento preservativo dos colmos, os
mesmos são empilhados para secagem e após são cortadas as lâminas dos
bambus. Com a técnica de corte é possível obter lâminas, ou folhas de bambu,
extremamente finas. Assim, são coladas umas nas outras através de adesivos
ou colas e com chapas de compensado especial como suporte superior e
inferior, pode receber várias camadas de laminados ao mesmo tempo e
permite a produção de dois tamanhos de laminados.
84
A estante será entregue ao cliente desmontada (FIGURA 52), tendo
cada componente separado. As prateleiras serão encaixáveis e apenas duas
serão fixadas para permitir o suporte estrutural. A sua estrutura externa será
aparafusada.
Figura 52 - Partes da estante empilhadas.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
Embalada em papelão, visualizada na Figura 53, para proteger cada
componente da estante, juntamente com os parafusos e cola para fixar e
também adesivos da cor da estante para esconder os parafusos. Sendo esta
uma embalagem de fácil manuseio e transporte.
Figura 53 - Embalagem.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
85
4.2.4 Desenho Técnico
O desenho técnico é uma forma de facilitar, descrever e representar uma
ideia por meio de regras e procedimentos.
Os desenhos técnicos, baseados nas medidas aproximadas propostas
pelo croqui feito à mão, foram elaborados após a modelagem da estante no
software Solidworks 2013. Nas pranchas de desenho, é possível observar a
vista explodida do produto, as vistas ortogonais e perspectivas de conjunto e
de cada componente.
Os desenhos técnicos deste projeto encontram-se no Apêndice A.
4.2.5 Confecção do Modelo Funcional
Para este projeto, os modelos em 3D foram realizados através do
software Solidworks 2013, juntamente com o Keyshot para a renderização. O
rendering é a etapa do projeto para a realização de uma visualização final do
produto com alta qualidade e precisão de demonstração de materiais. A Figura
54 apresenta a estante montada enquanto a Figura 55 apresenta a mesma
com uma de suas prateleiras sendo retiradas para detalhar a opção de encaixe
delas.
86
Figura 54 - Estante BEEZU.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
Figura 55 - Detalhe dos encaixes.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
Já a Figura 56 mostra outra opção de como a estante pode ficar ao
retirar algumas de suas prateleiras.
87
Figura 56 - Estante BEEZU.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
A Figura 57 ilustra a estante com livros e objetos decorativos.
Figura 57 - Estante com encaixes.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
88
Quanto às recomendações ergonômicas para o fácil manuseio e uso do
produto, teve-se o cuidar de desenvolver uma estante que seja de fácil alcance,
tendo 1,90 metros de altura, onde uma pessoa não precisa se esticar para
pegar os objetos na prateleira superior (FIGURA 58).
Figura 58 - Ergonomia da BEEZU.
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
As prateleiras são de fácil encaixe para que o usuário consiga retirá-las
sem precisar exercer muita força, que seja segura para não deslizar com
qualquer movimento (FIGURA 59). Apenas duas prateleiras serão fixas com
parafusos para manter a estrutura da estante.
Figura 59 - Detalhe do encaixe da estante.
encaixe
encaixe
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
89
Sua montagem foi desenvolvida para ser o mais fácil possível,
possuindo apenas parafusos em cada borda da área externa da estante para
sustentar o peso dos livros.
90
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se, por esta pesquisa que, após leituras e análises foi possível
obter uma série de novas ideias interessantes e importantes relacionadas ao
design de produto inspirado no meio ambiente.
A pesquisa realizada relaciona o design e a biônica no intuito de
aprimorar a criação de um móvel. Constatou-se que a natureza, após anos de
evolução, se adaptou conforme as circunstâncias que lhe foram apresentadas,
e essas soluções podem ser aplicadas na criação de um mobiliário, visando à
solução de problemas projetuais.
Com a criação da estante BEEZZU em 3D, foi adquirido conhecimento
da biônica e sua efetiva aplicação para a criação de móveis. Também foram
abordados tópicos essenciais como a sustentabilidade, cuidando para reduzir
os impactos no meio ambiente. Com este projeto propõe-se a repensar como a
natureza, com seus métodos e objetivos, pode contribuir no processo de
design, na criação de novos projetos, como também na conscientização que
parte de designers em desempenhar um papel fundamental na transição para
uma sociedade mais sustentável.
Os objetivos transcritos foram atendidos, e o resultado final, a estante
BEEZU, mostrou inovação por utilizar um Besouro Rinoceronte como
inspiração, diferenciando-se dos outros produtos à venda. Ao observar as
ilustrações finais, entende-se qual a sua funcionalidade e torna-se claro que a
natureza e o designer foram fundamentais para esse processo.
91
Como sugestão para trabalhos futuros, pode-se citar a realização de um
estudo mais aprofundado sobre os materiais de junção e também a execução
de testes da estrutura da estante ao receber peso, para garantir que a mesma
seja resistente.
Para finalizar, é possível obter um resultado final com características
inovadoras e sustentáveis, baseando-se nos ensinamentos obtidos ao analisar
as soluções que a natureza encontra para seus problemas, apresentando
projetos com diferenciações e contribuindo com a preservação do meio
ambiente e considerando também o bem-estar, conforto e as necessidades do
usuário.
92
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97
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98
APÊNDICE A – DESENHOS TÉCNICOS
842
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Luiza Gelatti
Desenho Técnico da estante completa
Escala:
1:12
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 1 / 22
10
18
09
09
21
17
19
07
08
16
20
06
20
06
15
05
20
05
13
14
12
03
20
04
20
20
11
02
02
QTDE
N°
NOME DA ESTRUTURA
01
Estante - chapa estrutura 1
2
02
Estante - chapa estrutura 2
2
03
Estante - chapa estrutura 3
1
04
Estante - chapa estrutura 3 - lado direito
1
05
Estante - chapa estrutura 4
2
06
Estante - chapa estrutura 5
2
07
Estante - chapa estrutura 6
1
08
Estante - chapa estrutura 6 - lado direito
1
09
Estante - chapa estrutura 7
2
10
Estante - chapa estrutura 8
1
11
Estante - prateleira 1
1
12
Estante - prateleira 2
1
13
Estante - prateleira 3
1
14
Estante - prateleira 4
1
15
Estante - prateleira 5
1
16
Estante - prateleira 6
1
17
Estante - prateleira 7
1
18
Estante - prateleira 8
1
19
Estante - prateleira 9
1
20
Estante - ramificações
6
21
Parafusos
60
01
01
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Luiza Gelatti
Vista Explodida
Escala:
1:10
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 2 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 1
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 3 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 2
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 4 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 3
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 5 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 3 - lado direito
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 6 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 4
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 7 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 5
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 8 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 6
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 9 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 6 - lado direito
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 10 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 7
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 11 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - chapa estrutura 8
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 12 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 1
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 13 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 2
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 14 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 3
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 15 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 4
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 16 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 5
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 17 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 6
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 18 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 7
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 19 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 8
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 20 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - prateleira 9
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 21 / 22
Centro Universitário Univates
Data: 25/11/2014
Título:
Estante - ramificações
Escala:
1:6
Luiza Gelatti
ESTANTE BEEZU
Unidade: mm
Folha: 22 / 22
Download

uso da biônica como ferramenta para a criação de um