XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito
29 de outubro à 02 de novembro de 2012
Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista
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ESCOLINHA DE ARTE DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM –ES: IDEAIS E
ATITUDES DO MOVIMENTO ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL
Myriam Fernandes Pestana Oliveira
Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected]
lattes.cnpq.br/1833632706232255
RESUMO
Este artigo tem por objetivo mostrar a Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim, que foi
a primeira ramificação do Movimento Escolinha de Arte do Brasil. Por meio de pesquisa
bibliográfica relata a iniciativa do professor e artista Augusto Rodrigues, no Rio de Janeiro e
da professora Isabel da Rocha Braga no Espírito Santo. Influenciado pelas pesquisas do
filósofo inglês Herbert Read, este movimento teve início em meados do século XX e foi
considerado um marco na história da arte educação brasileira. Seu objetivo principal
propiciar as crianças espaços/tempos para livre expressão, ou seja, condições para
produções livres das cópias estereotipadas ou modelos pré determinados.
Palavras-chaves: história – arte educação – livre expressão
ABSTRACT
This article aims to show the Little School of Art in Cachoeiro de Itapemirim city, which was
the first branch of the Little School of Art Movement in Brazil. Through literature reports the
initiative of teacher and artist Augusto Rodrigues, in Rio de Janeiro and teacher Isabel da
Rocha Braga in the Cachoeiro de Itapemirim city . Influenced by the research of the English
philosopher Herbert Read, this movement began in mid-twentieth century and was
considered a milestone in the history of Brazilian art education. Its main objective foster
children space / time to free expression, that´s means to find conditions for production of
free
copies
stereotypical
models
or
predetermined.
Keywords: history - art education - free expression
O Brasil, na condição de país colonizado, precisou buscar em Portugal os primeiros
profissionais, como artistas, arquitetos, engenheiros, para introduzir seu o processo
educativo. Isto porque, segundo Barbosa(1984, p.41) a arte foi o nosso primeiro
elemento de auto identificação nacional referindo-se ao estilo barroco, que foi aqui
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ensinado, pelos jesuítas e beneditinos, para suprir as necessidades das construções
das igrejas, residências e palácios.
Mudanças no contexto educacional brasileiro, só ocorreram com a vinda da família
real. Atribui-se a chegada da Missão Artística Francesa, no século XIX,
precisamente em 1816, com o propósito de implantar o ensino regular de artes
(pintura, escultura, artes decorativas, plásticas, arquitetura) e ofícios( a serviço da
manufatura).Tinha como objetivo melhorar a tradição colonial barroca nas produções
artísticas e o aspecto urbano, na então sede do reinado, cidade do Rio de Janeiro.
A referência que se tem do primeiro movimento de mudança na arte brasileira, é
com a Semana de Arte Moderna, 1922. Um grupo de artistas brasileiros que inicia,
ainda nas primeiras décadas do século XX, o rompimento de alguns cânones
europeus, e prega o nacionalismo, através das correntes artísticas modernistas.
Já no início da década de 1930, Theodoro Braga 1(1872-1953) dirigiu a Escola
Brasileira de Arte, criada em São Paulo. Esta escola oferecia gratuitamente aulas de
desenho, pintura e música, para crianças e adolescentes, faixa etária de 8 a 14
anos. Foi uma das primeiras iniciativas, que se tem notícias, de aulas de artes, como
atividade extracurricular.
Mário de Andrade(1893-1945) na Universidade do Distrito Federal, propôs a
tentativa de romper com os métodos tradicionais, e, também de apresentar a
modernidade em artigos e atividades de investigação sobre a arte da criança no
Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Durante sua gestão, como
diretor do referido Departamento, (1936-38) ele criou na Biblioteca Infantil Municipal,
cursos de arte para crianças.
Antecedeu esta atitude a iniciativa de Anita Malfatti, que desde 1930, mantinha em
seu ateliê, curso para crianças. Ambos os cursos tiveram a preocupação de ofertar
aulas com orientações baseadas na livre expressão e no espontaneísmo infantil.
1
Pintor, educador, historiador, geógrafo e advogado, Theodoro José da Silva Braga formou-se bacharel
pela Faculdade de Direito do Recife. Enquanto estudava Direito, tinha aulas particulares de pintura com Telles
Júnior. Uma vez diplomado, viajou para o Rio de Janeiro onde foi aplicado aluno da Escola Nacional de Belas
Artes (ENBA) na década final do século XIX.
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[...] a valorização da arte infantil como produto estético, ou melhor o
reconhecimento dos valores estéticos da arte infantil ligados ao seu
expontaneismo somente teve lugar com a introdução da cultura brasileira às
correntes expressionistas, futuristas e dadaístas da arte contemporânea,
através da Semana de Arte Moderna de 1922.(AZEVEDO,1976, p.111-112)
Tais atitudes propiciaram outras ações como as que ocorreram ao final dos anos
1940. Nesta ocasião são registradas iniciativas corajosas e inovadoras, de
intelectuais que acreditavam na educação através da arte. Foi o caso do artista
plástico Augusto Rodrigues(1913-1993) da artista gaúcha Lúcia Alencastro Valentim
(1921) e da escultora norte-americana Margareth Spencer (1914)., que acreditaram
e criaram uma escola de arte para crianças, a Escolinha de Arte do Brasil – EAB, em
1948, no Rio de Janeiro.
A escola surgiu depois, do interesse enorme das crianças, que afluíram
cada vez mais numerosas e bem vindas sempre. Foi com esse material
humano — Augusto, Margaret e Lúcia como professores e um
pequeno grupo de crianças — que nasceu a Escolinha de Arte do Brasil.
Ainda não tinha nome. Era pouco mais que uma idéia. Mas o fato concreto
de se reunir aquela gente, três, quatro vezes por semana, prova que já era
muito mais que uma simples idéia. Era uma semente. Pequena, mas
contendo em si toda a potencialidade do futuro (RODRIGUES, 1980, p.33).
Esta Escolinha era um vasto campo de experiências, todos os envolvidos, crianças,
professores,
artistas,
simpatizantes,
tinham
oportunidades
de
fazer
seus
experimentos, provocarem suas idéias, criarem, produzirem, participarem.
As produções eram livres das cópias estereotipadas ou modelos pré determinados
Apesar da educação brasileira, nesta época, estar embalada pela pedagogia Escola
Nova, os modelos usados nas aulas de arte, carregavam o ranço da pedagogia
tradicional. Foi na tentativa de abolir estas marcas, arraigadas no ensino de arte que
a iniciativa, do grupo liderado por Augusto Rodrigues, foi tão bem aceita que logo
difundiu-se pelo Brasil como Movimento Escolinha de Arte –MEA.
Este grupo era seguidor das idéias de Herbert Read2(1893-1968) na Inglaterra e de
John Dewey(1859-1952) e Viktor Lowenfeld(1903-1960), nos Estados Unidos, que
defendiam a tendência livre expressão. Seus estudos mostravam a necessidade de
2
Herbert Read (1893-1968): poeta e crítico de arte e literatura britânico. Apologista da arte de vanguarda de seu
tempo, foi um grande defensor da criatividade infantil, por ele relacionada a uma essência expressiva também
presente na arte primitiva e na arte moderna.
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respeitar o desenvolvimento da criatividade da criança, que precisa apenas de
condições para se auto expressar.
O papel da Escolinha de Arte do Brasil consiste não só sair na frente da escola
formal, como também mostrar a necessidade da liberdade de expressão e tratar
todos, os participantes, sem distinção aproveitando suas potencialidades. Além de
ser um Movimento dinamizador do ensino da arte no Brasil, acessível a todos, não
somente aqueles do ensino escolar, mas pelo ensino não escolar e interlocução
arte-cultura.
O Movimento Escolinha de Arte tinha como foco deixar fluir a espontaneidade e a
livre expressão, principalmente da criança. Dar importância a produção livre, sem a
censura do adulto. Mas, o que é livre expressão? Origina-se no expressionismo, a
idéia de livre expressão, que consiste em viabilizar meios, como espaço, materiais
diversos, que proporcione condições para o aluno se auto expressar, sem amarrar,
sem estar atrelado a cópias, ou retoques, porém com orientações técnicas do
professor. A origem da auto expressão é atribuída a vários fatores, dentre eles as
idéias de Freud, as pesquisas da psicologia, a teoria da estética expressiva.
Herbert Read, desde os anos 40, ressalta a idéia da arte como expressão, quando
publica, em 1943, o livro A Educação pela Arte, e afirma que ―a arte deve ser a base
da educação‖, e instaura um dos movimentos mais significativos da educação
artística – A Educação Através da Arte. ―O objetivo da educação é ajudar a criança
nesse processo de aprendizagem e maturação, e a questão reside em sabermos se
os nossos métodos educacionais são próprios e adequados a esse objetivo‖.
(READ,1986 p.75)
Esta publicação de Read, baseada nas suas experiências e pesquisas,
influenciaram muitos educadores brasileiros, em especial, Augusto Rodrigues,
criador da Escolinha de Arte no Brasil, por acreditar na função que a arte pode ter no
crescimento social do indivíduo.
Um movimento de valorização da arte infantil, como maneira de liberação emocional,
perdurou no período do Estado Novo. Influenciado pelos movimentos pós-guerra
que dominavam a Europa (neo-expressionismo) e os Estados Unidos (action__________________________________________________________________
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painting) simultaneamente foi atuante no Brasil. Uma nova concepção de ensino de
arte que tinha como alicerce a liberdade individual e a livre expressão, que
fomentasse amenizar as tristezas oriundas do período de guerra, na Europa, e
assim fortalecesse a democratização do indivíduo.Este movimento influenciou, a
partir de 1947, o surgimento de espaços, destinados a atender crianças, geralmente
orientadas por artistas e professores, que acreditavam na manifestação de livre
expressão infantil sem interferência do adulto, mas com sua necessária orientação.
No Brasil, somente em 1945, depois da queda de Vargas ressurgem os movimentos
modernistas em favor da valorização da Arte/ Educação e do desenvolvimento
criativo da criança, tendo novamente os ideais da Escola Nova como princípio.
Entende-se então essa pedagogia mais democrática que a tradicional, por acreditar
que a relação entre as pessoas, pode ser mais justa e sem hierarquias. Neste
sentido o aporte teórico se dá em Bakthin com o vocabulário da praça pública e o
conceito de carnavalização na obra de Rabelais. O autor russo mostra, por
intermédio de seus escritos, possibilidades de um outro mundo além do que está
estabelecido.
Quando Bakhtin se refere ao sentido carnavalesco da vida, citado a obra de
Rabelais(1999), em seu livro ―A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento:
o contexto de François Rabelais‖, está questionando um poder que na época era
exercido pela igreja e pela burguesia e praticamente regia a sociedade. O que
Rabelais propõe é um outro modelo ou modo de viver. Ele mostra o anormal dentro
do normal e que a linguagem da praça pública tem identidade .
Ao verificar o contexto histórico como é oferecido o ensino da arte em nossas
escolas, e visualizar a perspectiva bakhtiniana, vislumbra-se a necessidade de
oportunizar, aos envolvidos no processo ensino/aprendizagem em arte, condições
de diálogos e vivências com a contemporaneidade artística. O ensino da arte não
ser reduzido a monólogos e restrito aos cânones hegemônicos dos modelos ditados
pelos europeus.
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A ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL
O Movimento Escolinha Arte do Brasil-MEAB teve inicio no Rio de Janeiro e logo
espalhou pelo Brasil, o seu funcionamento não seguia a rigidez do espaço formal da
escola, atendia as crianças, no contra-turno do horário escolar
A Escolinha de Arte do Brasil não é um objeto histórico a ser examinado
como peça de museu. È uma realidade viva e mutante que busca hoje
novos caminhos para concretizar no tempo e no espaço brasileiro, a sua
idéia-matriz: unir arte e educação num mesmo movimento [...], garantir o
respeito integral à livre expressão das crianças(de todas as crianças) e
nestes
processos
transformar
os
professores
e
a
própria
educação.(INEP.1980,p.12)
Estas Escolinhas ofereciam cursos nas cidades, onde foram fundadas, sob o
cuidado e orientação do criador, Augusto Rodrigues, e sua equipe. Este grupo
orientava, tirava dúvidas; promovia intercâmbio e exposições, fornecia material e
dava suporte didático, sempre estava oferecendo curso para professores nas férias,
fortalecendo assim o ensino da arte.
Apesar da iniciativa da criação da Escolinha de Arte do Brasil ser atribuída apenas
ao professor Augusto Rodrigues, Dona Noemia Varela, afirma ser a conquista de
um grupo de educadores, artistas, intelectuais, os envolvidos na causa da arte
educação.
Foi marcante a colaboração e apoio de pessoas como Nise da Silveira 3 e Helena
Antipoff4, que eram ligadas ao campo de educação especial, por meio da Sociedade
Pestalozzi e a APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. Esse
contato auxiliou o engajamento da Escolinha em outras áreas que não somente a da
educação.
3
Nise da Silveira (1905 -1999) foi uma renomada médica psiquiatra, aluna de Carl Jung
4
Helena WladimirnaAntipoff (1892 —1974) foi uma psicóloga e pedagoga de origem russa que depois de obter
formação universitária na Rússia, Paris e Genebra, se fixou no Brasil a partir de 1929, a convite do governo do
estado de Minas Gerais.
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Eram profissionais das áreas da saúde, e da educação, a maioria já trabalhava em
hospitais psiquiátricos e com crianças com necessidades educativas especiais. No
grupo também estavam professores e artistas que se interessavam; e acreditavam
na educação através da arte. Estes profissionais impulsionaram, colaboraram e
fizeram parte da concretização do MEAB.
Nós precisávamos de comprovação pela experiência, de algo como o
pensamento de Herbert Read em seu livro A Educação através da Arte. Se,
por um lado, ele não tinha experiência direta com as crianças, por outro, era
necessário que houvesse campo para teste de suas idéias.
(RODRIGUES,1980,p.84)
As idéias de Read (1942) eram as mais presentes nas aulas da Escolinha. A livre
expressão, o respeito a criação, não intromissão no trabalho infantil, eram pontos
que necessariamente precisavam ser mantidos. As crianças precisavam de espaço
para, livremente, criar suas histórias, desenhar seus personagens, escrever seus
contos.
A ESCOLINHA DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
Em 1950 foi criada a Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim pela professora
Isabel da Rocha Braga com a mesma inspiração teórico-metodológica da Escolinha
de Arte do Brasil, sediada na capital do Rio de Janeiro, então cidade da Guanabara.
Tinha como objetivo principal: estimular a auto-expressão da criança, através de
atividades artísticas e recreativas, respeitando a individualidade e preservando a
espontaneidade da infância.
A professora e artista ficou conhecendo a Escolinha, através de notícias veiculadas
na imprensa, quando passava férias no Rio de Janeiro, o que era comum na época,
pois o contato dos moradores das cidades do sul do estado era maior com o Rio de
Janeiro, do que com a capital Vitória. Procurou conhecer melhor as idéias, resolveu
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proporcionar a seus filhos e a outras crianças da comunidade onde morava, a
mesma oportunidade que estavam recebendo as crianças cariocas.
Como aqui no estado, não havia maiores informações, nem espaços como museus
e galerias dedicados as artes plásticas, nem fácil acesso à exposições realizadas
em outros estados, o que acontecia relacionado à arte no mundo era desconhecido
pela maioria, devido aos precários meios de comunicação.
Segundo relato da própria Isabel, no Espírito Santo em meados dos século XX,
raramente acontecia algum movimento artístico, ela própria não pegava em um lápis
para desenhar; Mesmo assim, desde cedo, a arte começou a fazer parte de sua
vida.Ela ousou e ultrapassou os limites impostos à mulher de sua época. Iniciou
seus estudos musicais, enquanto fazia seus estudos básicos, ministrou aulas de
arte. Criou uma companhia de teatro amador, buscou novas formas de expressão
artísticas, oportunidade em que compôs peças musicais. Usava a música, e o teatro
de fantoches para animar festinhas de crianças.
Isabel Curcio da Rocha nasceu em Muqui ES, em 08 de dezembro de 1914,e
faleceu no Rio de Janeiro em 1987, primeira filha do casal Vincentina Curcio da
Rocha e Emílio Coelho da Rocha. Estudou dos 10 aos 17 anos, no Colégio do
Carmo, em Vitória, em regime de internato. Em 1932 mudou-se para Cachoeiro de
Itapemirim, lecionou música e artes aplicadas no Colégio Estadual de Muniz Freire.
Em 1937 casou-se com o poeta e jornalista Newton Braga, irmão do escritor Rubem
Braga, com quem teve três filhos: Edson, Marília e Rachel.
Sabia que o ensino da arte, nas escolas primárias e secundárias, era restrito a aulas
de trabalhos manuais, como bordados, crochê, e desenho a partir de cópias.. Os
melhores alunos, ou eram os que levavam jeito para produção manual, ou os
melhores desenhistas.
Isabel, ao saber da experiência do professor Augusto, em 1950, iniciou sua primeira
experiência na área, que chamou de Clube de Arte Recreativa Cachoeiro de
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Itapemirim. O alunado inicial, se restringiu aos seus filhos e amigos deles, fez
propaganda através de panfletagens e anúncios em jornal.
Outra estratégia para incrementar a criação do espaço para livre expressão das
crianças, foi também avisar à Escolinha de Arte do Brasil, que se interessou pelo
trabalho.Levou ao Rio, no início de 1951, os trabalhos realizados pelas crianças para
serem conhecidos por Augusto Rodrigues. Sentiu que agradou, mas percebeu
também que suas condições, eram muito precárias para continuar o trabalho.
Resolveu dar um tempo para procurar patrocínio.
Procurou a Escolinha de Arte do Brasil, encontrou cursos de desenho, de
Xilogravura em metal e silk-screen. O professor Augusto Rodrigues, em 1951, a
convidou para participar de todos os cursos, de modo intensivo, num período de três
meses. E a ajudou chegar até o Ministro da Educação, Simões Filho, para pedir
auxilio para a sua Escolinha.
De volta a Cachoeiro, graças à verba recebida do Ministério da Educação, anunciou
a reabertura da escola, agora com o nome de Escolinha de Arte de Cachoeiro de
Itapemirim, com salas adequadas, e arejadas instalações, funcionando em dois
turnos. Oferecia cursos de desenho, pintura, modelagem, trabalhos manuais e
música, contava também com a biblioteca infantil ―Monteiro Lobato‖, devidamente
registrada no instituto do livro do Ministério da Educação, franqueada a todas as
crianças das cidades.
Além da ajuda do referido Ministério, Isabel conseguiu parceria com a Prefeitura de
Cachoeiro de Itapemirim e a Associação de Proteção à Maternidade da cidade em
troca de bolsas de estudo para crianças carentes. De acordo com Isabel (1973), em
relato apresentado no Seminário Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro:
Alguns pais foram pessoalmente matricular os filhos, pagando
mensalidade(...) Além dos bolsistas, matriculei gratuitamente os filhos da
lavadeira e do pedreiro que construiu nossa casa. Esses alunos foram os
maiores incentivadores do nosso trabalho, pela assiduidade entusiasmos
com que freqüentavam as aulas, trazendo os companheiros da escola e
vizinhos do bairro onde moravam. (BRAGA,1973,p.04)
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A escola funcionava em dois turnos (matutino e vespertino), em regime particular, os
usuários pagavam a mensalidade e tinham aulas de duas horas de duração. A
Pintura e a Xilogravura eram as técnicas mais escolhidas pelas crianças. Era comum
ouvi-las conversar seus assuntos enquanto produziam. O grupo era alegre e unido,
não costumava haver desavenças ou brigas.
Uma experiência que Isabel relatava com muito entusiasmo era o trabalho
desenvolvido com cerâmica. Ela procurou um ceramista da cidade para ensinar a
trabalhar com torno, e as crianças da vizinhança logo apareceram e se interessaram
pelos tornos que ficavam desocupados. Então, ela mandou fazer um torno e levou
para a Escola e o manuseio foi surpreendente.
Em relação a escola tradicional, não houve impacto, porque os professores não
absorveram o movimento da Escolinha e nem atrapalharam. Alguns professores da
escola tradicional, chegaram a visitar, outros só perguntavam por notícias. Já a
imprensa colaborou, divulgando notas, e ressaltando as exposições dos trabalhos
das crianças, que aconteciam sempre em ocasião dos festejos das cidades ou
comemorações de datas importantes.
Em novembro de 1955, a exposição aconteceu em Roma na Itália ―La mostra delle
Escolinhas de Artes do Brasil‖ com apresentação de Augusto Rodrigues,
organização das professoras brasileiras Lúcia Alencastro, Noêmia Varela, Isabel da
Rocha Braga, diretoras das Escolinhas de Arte do Rio de Janeiro, Recife e
Cachoeiro de Itapemirim e participação especial de Oswaldo Goeldi e Vera
Tormenta.
A segunda Escolinha do Brasil foi um sucesso, mas a falta de recursos financeiros
para ampliá-la, a falta de remuneração pessoal, as obrigações com a casa, a família
e os filhos crescidos levaram Isabel extinguir as atividades da escola.
A Escolinha não nasceu planejada no papel, não teve fundação festiva, com
solenidades e discursos, não teve anúncios nem chamou muita atenção.
Nasceu como uma pequena experiência viva, fruto da inquietação de um
grupo de artistas e educadores liderados por Augusto Rodrigues. {...} Como
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faltava uma escola aberta livre, que desse oportunidade de criação e
expressão – um lugar onde as crianças ficassem e fossem felizes – a
Escolinha foi criada.(RODRIGUES,1980 p.33-34)
Augusto Rodrigues, Isabel Braga, Noêmia Varela, pessoas que ousaram,
acreditaram e inovaram. Deixaram o exemplo e o caminho, para continuar ser
pesquisado e vivenciado pelos que acreditam no processo criativo. Estes pioneiros
do ensino da arte no Brasil, insistiram e conseguiram mostrar que as crianças só
precisam de condições e oportunidades, para suas produções livres e sinceras, não
interessa suas limitações.
REFERÊNCIAS:
AZEVEDO, Fernando A.G. Movimento Escolinhas de Arte: em cena Noêmia Varela e
Ana Mae Barbosa, ECA/USP, 2001
_________ Sobre Augusto Rodrigues e o Movimento Escolinhas de Arte
[www.funarte.gov.br/vsa/download/down05/Fernando_Azevedo.doc] acesso 04 junho 2011
BARBOSA, Ana Mae. Arte e Educação no Brasil: Das Origens ao Modernismo São
Paulo: Perspectiva, 1978
__________ Arte-educação: conflitos e acertos, SP: Max Limonad, 1984
BAKHTIN, Mikhail M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1999.
FERRAZ,M H C, FUZARI,M F R, Arte na Educação Escolar, São Paulo, Editora Cortez,
1993
FRANGE, Lucimar Bello Pereira. Noêmia Varela e a arte. Belo Horizonte: Editora Com Arte.
2001 INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Escolinha de Arte
do Brasil – Ministério da Educação e Cultura, Brasília,DF. 1980.
READ , Hebert A educação pela arte – Martins Fontes Editora, São Paulo.1958
RODRIGUES, Augusto. O Movimento Escolinha de Arte e suas perspectivas,
In: Jornal Arte e Educação, Rio de Janeiro, Escolinha de Arte do Brasil, Ano 1, n°
12, julho, 1972
___________(coord)Escolinha de Arte do Brasil, Ministério da educação e cultura, Instituto
Nacional Pesquisa Educacional – Brasília, 1980.
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Mestranda na Universidade Federal do Espírito Santo na linha de Linguagem Visual e
Verbal, tutora a distância no curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito
Santo e professora de Arte na Educação Básica da Prefeitura Municipal de Vitória.
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