XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ ESCOLINHA DE ARTE DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM –ES: IDEAIS E ATITUDES DO MOVIMENTO ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL Myriam Fernandes Pestana Oliveira Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] lattes.cnpq.br/1833632706232255 RESUMO Este artigo tem por objetivo mostrar a Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim, que foi a primeira ramificação do Movimento Escolinha de Arte do Brasil. Por meio de pesquisa bibliográfica relata a iniciativa do professor e artista Augusto Rodrigues, no Rio de Janeiro e da professora Isabel da Rocha Braga no Espírito Santo. Influenciado pelas pesquisas do filósofo inglês Herbert Read, este movimento teve início em meados do século XX e foi considerado um marco na história da arte educação brasileira. Seu objetivo principal propiciar as crianças espaços/tempos para livre expressão, ou seja, condições para produções livres das cópias estereotipadas ou modelos pré determinados. Palavras-chaves: história – arte educação – livre expressão ABSTRACT This article aims to show the Little School of Art in Cachoeiro de Itapemirim city, which was the first branch of the Little School of Art Movement in Brazil. Through literature reports the initiative of teacher and artist Augusto Rodrigues, in Rio de Janeiro and teacher Isabel da Rocha Braga in the Cachoeiro de Itapemirim city . Influenced by the research of the English philosopher Herbert Read, this movement began in mid-twentieth century and was considered a milestone in the history of Brazilian art education. Its main objective foster children space / time to free expression, that´s means to find conditions for production of free copies stereotypical models or predetermined. Keywords: history - art education - free expression O Brasil, na condição de país colonizado, precisou buscar em Portugal os primeiros profissionais, como artistas, arquitetos, engenheiros, para introduzir seu o processo educativo. Isto porque, segundo Barbosa(1984, p.41) a arte foi o nosso primeiro elemento de auto identificação nacional referindo-se ao estilo barroco, que foi aqui __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ ensinado, pelos jesuítas e beneditinos, para suprir as necessidades das construções das igrejas, residências e palácios. Mudanças no contexto educacional brasileiro, só ocorreram com a vinda da família real. Atribui-se a chegada da Missão Artística Francesa, no século XIX, precisamente em 1816, com o propósito de implantar o ensino regular de artes (pintura, escultura, artes decorativas, plásticas, arquitetura) e ofícios( a serviço da manufatura).Tinha como objetivo melhorar a tradição colonial barroca nas produções artísticas e o aspecto urbano, na então sede do reinado, cidade do Rio de Janeiro. A referência que se tem do primeiro movimento de mudança na arte brasileira, é com a Semana de Arte Moderna, 1922. Um grupo de artistas brasileiros que inicia, ainda nas primeiras décadas do século XX, o rompimento de alguns cânones europeus, e prega o nacionalismo, através das correntes artísticas modernistas. Já no início da década de 1930, Theodoro Braga 1(1872-1953) dirigiu a Escola Brasileira de Arte, criada em São Paulo. Esta escola oferecia gratuitamente aulas de desenho, pintura e música, para crianças e adolescentes, faixa etária de 8 a 14 anos. Foi uma das primeiras iniciativas, que se tem notícias, de aulas de artes, como atividade extracurricular. Mário de Andrade(1893-1945) na Universidade do Distrito Federal, propôs a tentativa de romper com os métodos tradicionais, e, também de apresentar a modernidade em artigos e atividades de investigação sobre a arte da criança no Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Durante sua gestão, como diretor do referido Departamento, (1936-38) ele criou na Biblioteca Infantil Municipal, cursos de arte para crianças. Antecedeu esta atitude a iniciativa de Anita Malfatti, que desde 1930, mantinha em seu ateliê, curso para crianças. Ambos os cursos tiveram a preocupação de ofertar aulas com orientações baseadas na livre expressão e no espontaneísmo infantil. 1 Pintor, educador, historiador, geógrafo e advogado, Theodoro José da Silva Braga formou-se bacharel pela Faculdade de Direito do Recife. Enquanto estudava Direito, tinha aulas particulares de pintura com Telles Júnior. Uma vez diplomado, viajou para o Rio de Janeiro onde foi aplicado aluno da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) na década final do século XIX. __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ [...] a valorização da arte infantil como produto estético, ou melhor o reconhecimento dos valores estéticos da arte infantil ligados ao seu expontaneismo somente teve lugar com a introdução da cultura brasileira às correntes expressionistas, futuristas e dadaístas da arte contemporânea, através da Semana de Arte Moderna de 1922.(AZEVEDO,1976, p.111-112) Tais atitudes propiciaram outras ações como as que ocorreram ao final dos anos 1940. Nesta ocasião são registradas iniciativas corajosas e inovadoras, de intelectuais que acreditavam na educação através da arte. Foi o caso do artista plástico Augusto Rodrigues(1913-1993) da artista gaúcha Lúcia Alencastro Valentim (1921) e da escultora norte-americana Margareth Spencer (1914)., que acreditaram e criaram uma escola de arte para crianças, a Escolinha de Arte do Brasil – EAB, em 1948, no Rio de Janeiro. A escola surgiu depois, do interesse enorme das crianças, que afluíram cada vez mais numerosas e bem vindas sempre. Foi com esse material humano — Augusto, Margaret e Lúcia como professores e um pequeno grupo de crianças — que nasceu a Escolinha de Arte do Brasil. Ainda não tinha nome. Era pouco mais que uma idéia. Mas o fato concreto de se reunir aquela gente, três, quatro vezes por semana, prova que já era muito mais que uma simples idéia. Era uma semente. Pequena, mas contendo em si toda a potencialidade do futuro (RODRIGUES, 1980, p.33). Esta Escolinha era um vasto campo de experiências, todos os envolvidos, crianças, professores, artistas, simpatizantes, tinham oportunidades de fazer seus experimentos, provocarem suas idéias, criarem, produzirem, participarem. As produções eram livres das cópias estereotipadas ou modelos pré determinados Apesar da educação brasileira, nesta época, estar embalada pela pedagogia Escola Nova, os modelos usados nas aulas de arte, carregavam o ranço da pedagogia tradicional. Foi na tentativa de abolir estas marcas, arraigadas no ensino de arte que a iniciativa, do grupo liderado por Augusto Rodrigues, foi tão bem aceita que logo difundiu-se pelo Brasil como Movimento Escolinha de Arte –MEA. Este grupo era seguidor das idéias de Herbert Read2(1893-1968) na Inglaterra e de John Dewey(1859-1952) e Viktor Lowenfeld(1903-1960), nos Estados Unidos, que defendiam a tendência livre expressão. Seus estudos mostravam a necessidade de 2 Herbert Read (1893-1968): poeta e crítico de arte e literatura britânico. Apologista da arte de vanguarda de seu tempo, foi um grande defensor da criatividade infantil, por ele relacionada a uma essência expressiva também presente na arte primitiva e na arte moderna. __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ respeitar o desenvolvimento da criatividade da criança, que precisa apenas de condições para se auto expressar. O papel da Escolinha de Arte do Brasil consiste não só sair na frente da escola formal, como também mostrar a necessidade da liberdade de expressão e tratar todos, os participantes, sem distinção aproveitando suas potencialidades. Além de ser um Movimento dinamizador do ensino da arte no Brasil, acessível a todos, não somente aqueles do ensino escolar, mas pelo ensino não escolar e interlocução arte-cultura. O Movimento Escolinha de Arte tinha como foco deixar fluir a espontaneidade e a livre expressão, principalmente da criança. Dar importância a produção livre, sem a censura do adulto. Mas, o que é livre expressão? Origina-se no expressionismo, a idéia de livre expressão, que consiste em viabilizar meios, como espaço, materiais diversos, que proporcione condições para o aluno se auto expressar, sem amarrar, sem estar atrelado a cópias, ou retoques, porém com orientações técnicas do professor. A origem da auto expressão é atribuída a vários fatores, dentre eles as idéias de Freud, as pesquisas da psicologia, a teoria da estética expressiva. Herbert Read, desde os anos 40, ressalta a idéia da arte como expressão, quando publica, em 1943, o livro A Educação pela Arte, e afirma que ―a arte deve ser a base da educação‖, e instaura um dos movimentos mais significativos da educação artística – A Educação Através da Arte. ―O objetivo da educação é ajudar a criança nesse processo de aprendizagem e maturação, e a questão reside em sabermos se os nossos métodos educacionais são próprios e adequados a esse objetivo‖. (READ,1986 p.75) Esta publicação de Read, baseada nas suas experiências e pesquisas, influenciaram muitos educadores brasileiros, em especial, Augusto Rodrigues, criador da Escolinha de Arte no Brasil, por acreditar na função que a arte pode ter no crescimento social do indivíduo. Um movimento de valorização da arte infantil, como maneira de liberação emocional, perdurou no período do Estado Novo. Influenciado pelos movimentos pós-guerra que dominavam a Europa (neo-expressionismo) e os Estados Unidos (action__________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ painting) simultaneamente foi atuante no Brasil. Uma nova concepção de ensino de arte que tinha como alicerce a liberdade individual e a livre expressão, que fomentasse amenizar as tristezas oriundas do período de guerra, na Europa, e assim fortalecesse a democratização do indivíduo.Este movimento influenciou, a partir de 1947, o surgimento de espaços, destinados a atender crianças, geralmente orientadas por artistas e professores, que acreditavam na manifestação de livre expressão infantil sem interferência do adulto, mas com sua necessária orientação. No Brasil, somente em 1945, depois da queda de Vargas ressurgem os movimentos modernistas em favor da valorização da Arte/ Educação e do desenvolvimento criativo da criança, tendo novamente os ideais da Escola Nova como princípio. Entende-se então essa pedagogia mais democrática que a tradicional, por acreditar que a relação entre as pessoas, pode ser mais justa e sem hierarquias. Neste sentido o aporte teórico se dá em Bakthin com o vocabulário da praça pública e o conceito de carnavalização na obra de Rabelais. O autor russo mostra, por intermédio de seus escritos, possibilidades de um outro mundo além do que está estabelecido. Quando Bakhtin se refere ao sentido carnavalesco da vida, citado a obra de Rabelais(1999), em seu livro ―A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais‖, está questionando um poder que na época era exercido pela igreja e pela burguesia e praticamente regia a sociedade. O que Rabelais propõe é um outro modelo ou modo de viver. Ele mostra o anormal dentro do normal e que a linguagem da praça pública tem identidade . Ao verificar o contexto histórico como é oferecido o ensino da arte em nossas escolas, e visualizar a perspectiva bakhtiniana, vislumbra-se a necessidade de oportunizar, aos envolvidos no processo ensino/aprendizagem em arte, condições de diálogos e vivências com a contemporaneidade artística. O ensino da arte não ser reduzido a monólogos e restrito aos cânones hegemônicos dos modelos ditados pelos europeus. __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ A ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL O Movimento Escolinha Arte do Brasil-MEAB teve inicio no Rio de Janeiro e logo espalhou pelo Brasil, o seu funcionamento não seguia a rigidez do espaço formal da escola, atendia as crianças, no contra-turno do horário escolar A Escolinha de Arte do Brasil não é um objeto histórico a ser examinado como peça de museu. È uma realidade viva e mutante que busca hoje novos caminhos para concretizar no tempo e no espaço brasileiro, a sua idéia-matriz: unir arte e educação num mesmo movimento [...], garantir o respeito integral à livre expressão das crianças(de todas as crianças) e nestes processos transformar os professores e a própria educação.(INEP.1980,p.12) Estas Escolinhas ofereciam cursos nas cidades, onde foram fundadas, sob o cuidado e orientação do criador, Augusto Rodrigues, e sua equipe. Este grupo orientava, tirava dúvidas; promovia intercâmbio e exposições, fornecia material e dava suporte didático, sempre estava oferecendo curso para professores nas férias, fortalecendo assim o ensino da arte. Apesar da iniciativa da criação da Escolinha de Arte do Brasil ser atribuída apenas ao professor Augusto Rodrigues, Dona Noemia Varela, afirma ser a conquista de um grupo de educadores, artistas, intelectuais, os envolvidos na causa da arte educação. Foi marcante a colaboração e apoio de pessoas como Nise da Silveira 3 e Helena Antipoff4, que eram ligadas ao campo de educação especial, por meio da Sociedade Pestalozzi e a APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. Esse contato auxiliou o engajamento da Escolinha em outras áreas que não somente a da educação. 3 Nise da Silveira (1905 -1999) foi uma renomada médica psiquiatra, aluna de Carl Jung 4 Helena WladimirnaAntipoff (1892 —1974) foi uma psicóloga e pedagoga de origem russa que depois de obter formação universitária na Rússia, Paris e Genebra, se fixou no Brasil a partir de 1929, a convite do governo do estado de Minas Gerais. __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ Eram profissionais das áreas da saúde, e da educação, a maioria já trabalhava em hospitais psiquiátricos e com crianças com necessidades educativas especiais. No grupo também estavam professores e artistas que se interessavam; e acreditavam na educação através da arte. Estes profissionais impulsionaram, colaboraram e fizeram parte da concretização do MEAB. Nós precisávamos de comprovação pela experiência, de algo como o pensamento de Herbert Read em seu livro A Educação através da Arte. Se, por um lado, ele não tinha experiência direta com as crianças, por outro, era necessário que houvesse campo para teste de suas idéias. (RODRIGUES,1980,p.84) As idéias de Read (1942) eram as mais presentes nas aulas da Escolinha. A livre expressão, o respeito a criação, não intromissão no trabalho infantil, eram pontos que necessariamente precisavam ser mantidos. As crianças precisavam de espaço para, livremente, criar suas histórias, desenhar seus personagens, escrever seus contos. A ESCOLINHA DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM Em 1950 foi criada a Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim pela professora Isabel da Rocha Braga com a mesma inspiração teórico-metodológica da Escolinha de Arte do Brasil, sediada na capital do Rio de Janeiro, então cidade da Guanabara. Tinha como objetivo principal: estimular a auto-expressão da criança, através de atividades artísticas e recreativas, respeitando a individualidade e preservando a espontaneidade da infância. A professora e artista ficou conhecendo a Escolinha, através de notícias veiculadas na imprensa, quando passava férias no Rio de Janeiro, o que era comum na época, pois o contato dos moradores das cidades do sul do estado era maior com o Rio de Janeiro, do que com a capital Vitória. Procurou conhecer melhor as idéias, resolveu __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ proporcionar a seus filhos e a outras crianças da comunidade onde morava, a mesma oportunidade que estavam recebendo as crianças cariocas. Como aqui no estado, não havia maiores informações, nem espaços como museus e galerias dedicados as artes plásticas, nem fácil acesso à exposições realizadas em outros estados, o que acontecia relacionado à arte no mundo era desconhecido pela maioria, devido aos precários meios de comunicação. Segundo relato da própria Isabel, no Espírito Santo em meados dos século XX, raramente acontecia algum movimento artístico, ela própria não pegava em um lápis para desenhar; Mesmo assim, desde cedo, a arte começou a fazer parte de sua vida.Ela ousou e ultrapassou os limites impostos à mulher de sua época. Iniciou seus estudos musicais, enquanto fazia seus estudos básicos, ministrou aulas de arte. Criou uma companhia de teatro amador, buscou novas formas de expressão artísticas, oportunidade em que compôs peças musicais. Usava a música, e o teatro de fantoches para animar festinhas de crianças. Isabel Curcio da Rocha nasceu em Muqui ES, em 08 de dezembro de 1914,e faleceu no Rio de Janeiro em 1987, primeira filha do casal Vincentina Curcio da Rocha e Emílio Coelho da Rocha. Estudou dos 10 aos 17 anos, no Colégio do Carmo, em Vitória, em regime de internato. Em 1932 mudou-se para Cachoeiro de Itapemirim, lecionou música e artes aplicadas no Colégio Estadual de Muniz Freire. Em 1937 casou-se com o poeta e jornalista Newton Braga, irmão do escritor Rubem Braga, com quem teve três filhos: Edson, Marília e Rachel. Sabia que o ensino da arte, nas escolas primárias e secundárias, era restrito a aulas de trabalhos manuais, como bordados, crochê, e desenho a partir de cópias.. Os melhores alunos, ou eram os que levavam jeito para produção manual, ou os melhores desenhistas. Isabel, ao saber da experiência do professor Augusto, em 1950, iniciou sua primeira experiência na área, que chamou de Clube de Arte Recreativa Cachoeiro de __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ Itapemirim. O alunado inicial, se restringiu aos seus filhos e amigos deles, fez propaganda através de panfletagens e anúncios em jornal. Outra estratégia para incrementar a criação do espaço para livre expressão das crianças, foi também avisar à Escolinha de Arte do Brasil, que se interessou pelo trabalho.Levou ao Rio, no início de 1951, os trabalhos realizados pelas crianças para serem conhecidos por Augusto Rodrigues. Sentiu que agradou, mas percebeu também que suas condições, eram muito precárias para continuar o trabalho. Resolveu dar um tempo para procurar patrocínio. Procurou a Escolinha de Arte do Brasil, encontrou cursos de desenho, de Xilogravura em metal e silk-screen. O professor Augusto Rodrigues, em 1951, a convidou para participar de todos os cursos, de modo intensivo, num período de três meses. E a ajudou chegar até o Ministro da Educação, Simões Filho, para pedir auxilio para a sua Escolinha. De volta a Cachoeiro, graças à verba recebida do Ministério da Educação, anunciou a reabertura da escola, agora com o nome de Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim, com salas adequadas, e arejadas instalações, funcionando em dois turnos. Oferecia cursos de desenho, pintura, modelagem, trabalhos manuais e música, contava também com a biblioteca infantil ―Monteiro Lobato‖, devidamente registrada no instituto do livro do Ministério da Educação, franqueada a todas as crianças das cidades. Além da ajuda do referido Ministério, Isabel conseguiu parceria com a Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim e a Associação de Proteção à Maternidade da cidade em troca de bolsas de estudo para crianças carentes. De acordo com Isabel (1973), em relato apresentado no Seminário Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro: Alguns pais foram pessoalmente matricular os filhos, pagando mensalidade(...) Além dos bolsistas, matriculei gratuitamente os filhos da lavadeira e do pedreiro que construiu nossa casa. Esses alunos foram os maiores incentivadores do nosso trabalho, pela assiduidade entusiasmos com que freqüentavam as aulas, trazendo os companheiros da escola e vizinhos do bairro onde moravam. (BRAGA,1973,p.04) __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ A escola funcionava em dois turnos (matutino e vespertino), em regime particular, os usuários pagavam a mensalidade e tinham aulas de duas horas de duração. A Pintura e a Xilogravura eram as técnicas mais escolhidas pelas crianças. Era comum ouvi-las conversar seus assuntos enquanto produziam. O grupo era alegre e unido, não costumava haver desavenças ou brigas. Uma experiência que Isabel relatava com muito entusiasmo era o trabalho desenvolvido com cerâmica. Ela procurou um ceramista da cidade para ensinar a trabalhar com torno, e as crianças da vizinhança logo apareceram e se interessaram pelos tornos que ficavam desocupados. Então, ela mandou fazer um torno e levou para a Escola e o manuseio foi surpreendente. Em relação a escola tradicional, não houve impacto, porque os professores não absorveram o movimento da Escolinha e nem atrapalharam. Alguns professores da escola tradicional, chegaram a visitar, outros só perguntavam por notícias. Já a imprensa colaborou, divulgando notas, e ressaltando as exposições dos trabalhos das crianças, que aconteciam sempre em ocasião dos festejos das cidades ou comemorações de datas importantes. Em novembro de 1955, a exposição aconteceu em Roma na Itália ―La mostra delle Escolinhas de Artes do Brasil‖ com apresentação de Augusto Rodrigues, organização das professoras brasileiras Lúcia Alencastro, Noêmia Varela, Isabel da Rocha Braga, diretoras das Escolinhas de Arte do Rio de Janeiro, Recife e Cachoeiro de Itapemirim e participação especial de Oswaldo Goeldi e Vera Tormenta. A segunda Escolinha do Brasil foi um sucesso, mas a falta de recursos financeiros para ampliá-la, a falta de remuneração pessoal, as obrigações com a casa, a família e os filhos crescidos levaram Isabel extinguir as atividades da escola. A Escolinha não nasceu planejada no papel, não teve fundação festiva, com solenidades e discursos, não teve anúncios nem chamou muita atenção. Nasceu como uma pequena experiência viva, fruto da inquietação de um grupo de artistas e educadores liderados por Augusto Rodrigues. {...} Como __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ faltava uma escola aberta livre, que desse oportunidade de criação e expressão – um lugar onde as crianças ficassem e fossem felizes – a Escolinha foi criada.(RODRIGUES,1980 p.33-34) Augusto Rodrigues, Isabel Braga, Noêmia Varela, pessoas que ousaram, acreditaram e inovaram. Deixaram o exemplo e o caminho, para continuar ser pesquisado e vivenciado pelos que acreditam no processo criativo. Estes pioneiros do ensino da arte no Brasil, insistiram e conseguiram mostrar que as crianças só precisam de condições e oportunidades, para suas produções livres e sinceras, não interessa suas limitações. REFERÊNCIAS: AZEVEDO, Fernando A.G. Movimento Escolinhas de Arte: em cena Noêmia Varela e Ana Mae Barbosa, ECA/USP, 2001 _________ Sobre Augusto Rodrigues e o Movimento Escolinhas de Arte [www.funarte.gov.br/vsa/download/down05/Fernando_Azevedo.doc] acesso 04 junho 2011 BARBOSA, Ana Mae. Arte e Educação no Brasil: Das Origens ao Modernismo São Paulo: Perspectiva, 1978 __________ Arte-educação: conflitos e acertos, SP: Max Limonad, 1984 BAKHTIN, Mikhail M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1999. FERRAZ,M H C, FUZARI,M F R, Arte na Educação Escolar, São Paulo, Editora Cortez, 1993 FRANGE, Lucimar Bello Pereira. Noêmia Varela e a arte. Belo Horizonte: Editora Com Arte. 2001 INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Escolinha de Arte do Brasil – Ministério da Educação e Cultura, Brasília,DF. 1980. READ , Hebert A educação pela arte – Martins Fontes Editora, São Paulo.1958 RODRIGUES, Augusto. O Movimento Escolinha de Arte e suas perspectivas, In: Jornal Arte e Educação, Rio de Janeiro, Escolinha de Arte do Brasil, Ano 1, n° 12, julho, 1972 ___________(coord)Escolinha de Arte do Brasil, Ministério da educação e cultura, Instituto Nacional Pesquisa Educacional – Brasília, 1980. __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected] XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ Myriam Fernandes Pestana Oliveira Mestranda na Universidade Federal do Espírito Santo na linha de Linguagem Visual e Verbal, tutora a distância no curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo e professora de Arte na Educação Básica da Prefeitura Municipal de Vitória. __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ -e-mail: [email protected]