UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – I
Curso de Pós-Graduação em Gestão do Trânsito
ANA CRISTINA BLANCO REGUEIRA
EDUCAÇÃO EMOCIONAL NO TRÂNSITO: O MEDO E A RAIVA DOS
CONDUTORES
Salvador/BA,
2012
ANA CRISTINA BLANCO REGUEIRA
EDUCAÇÃO EMOCIONAL NO TRÂNSITO: O MEDO E A RAIVA DOS
CONDUTORES
Resenha critica apresentado ao Curso de PósGraduação em Gestão do Trânsito, da Universidade do
Estado da Bahia (UNEB), como requisito parcial para
obtenção de grau de Especialista em Gestão do
Trânsito.
Orientador (a): Profa Msc. Leila Menezes
Salvador/BA,
2012
RAMALHO, Rodrigo. Educação Emocional no Trânsito: O Medo e a Raiva dos
Condutores. Salvador (BA): Gráfica Idéia no Papel, 2011.
O autor da obra em questão é bacharel em Administração de
marketing, especialista em educação, legislação, inteligência emocional no
trânsito e segurança viária. O livro começa com uma apresentação onde expõe
dados e sua opinião, que considero importante para uma melhor compreensão do
tema. Ele relata que nas últimas décadas, os acidentes de trânsito se
transformaram em problemas de saúde pública - mais de 1,2 milhões de pessoas
morrem por ano, números que ultrapassam o de uma guerra – e que a principal
causa de acidentes é de natureza humana. Pensando assim, os problemas mal
resolvidos em casa, no ambiente de trabalho estão sendo levados para o trânsito,
como se ali fosse um local onde pudéssemos colocar nossos medos e raiva
expostos, causando assim, um efeito dominó em que uma pessoa vai
contagiando a outra. Passando para a parte prática, Rodrigo afirma que o
governo gasta milhões em campanhas de educação e arrecadam outros muitos
com multas que punem os infratores no trânsito, no entanto, estas medidas
parecem não criar ressonância. Concordo em parte quando ele diz que alguma
coisa está errada, e ao invés de se gastar com campanhas que não vão surtir o
efeito esperado, deveriam investir na reeducação social e psicológica do
condutor, fazendo-os retornar à sala de aula a cada renovação de CNH (Carteira
Nacional de Habilitação) e a cada infração cometida, permitindo assim, um
monitoramento continuo, além de contribuir para uma reflexão de atos que a
sociedade condena. Porém o investimento destinado a campanhas educativas
nas escolas desde a sua mais tenra idade, traz a percepção que num futuro bem
próximo teremos condutores mais conscientes porque ele foi orientado e cobra
dos pais um cumprimento das normas que por vezes não dão a devida
importância e a criança se sente co-responsável pelo descumprimento do que lhe
foi ensinado. Concluindo sua apresentação Ramalho afirma que no trânsito o que
nos move é a emoção e a partir do capítulo l “Teoria da emoção” que defenderá
essa tese. Neste capítulo ele trás uma abordagem e tem como objetivo dar
conhecimento ao leitor do que seja a emoção, analisando os conceitos,
características, funções adaptativas, apresentando conceitos funcionais e
biológicos que envolvem a emoção e a educação no trânsito. Trazendo um breve
histórico que contempla filósofos e pensadores do conhecimento humano como:
Confúcio, Aristóteles, Jesus Cristo, René Descartes, David Hume, Charles
Darwin, ele expõe os diferentes pontos de vista destes grandes sábios, nos
fazendo refletir e construir uma visão crítica acerca do comportamento humano.
Com séculos de estudos, pesquisas e vivências particulares, as emoções foram
alvos de inúmeras discussões e debates em toda a comunidade cientifica
trazendo com isso novas descobertas e aperfeiçoando teorias.
No decorrer do capítulo o autor trata da parte fisiológica e biológica
de forma vasta e detalhada em que achei desnecessário, visto que, pessoas
leigas no assunto não entenderiam já que a linguagem científica não está inclusa
no dia-a-dia da sociedade. Agora pensando do ponto de vista científico é de
grande valia. Continuando o capítulo, o autor descreve as emoções básicas do
ser humano começando pela raiva onde ele diz que é uma das emoções mais
devastadora de que se tem conhecimento, pois é através dela que toda a história
da humanidade foi manchada de sangue, sobretudo da raiva programada,
resultado do ódio e intolerância que se apresentam em diversas civilizações.
Acho interessante esta colocação, visto que presenciamos diariamente muitos
desentendimentos e mortes no trânsito por conta deste sentimento. Uma pessoa
com raiva é incontrolável, pois age por impulso, ou seja, parte para o ataque sem
medir as consequências. Agora falando do medo, o autor diz que é uma emoção
negativa, mais é fundamental para a sobrevivência, pois diante de um perigo real
o corpo prepara condutas adequadas para a fuga ou até mesmo para a luta.
Nesta colocação senti falta da cautela, pois o medo nos torna mais prudentes e
cuidadosos. A tristeza é descrita por ele como uma emoção que nos afasta e
isola de todos a nossa volta, gera um comportamento de paralisação. O que no
trânsito é muito perigoso, pois este afastamento e isolamento paralisam as
funções dinâmicas do corpo, fazendo com que não tenhamos reflexos adequados
para qualquer sinal de perigo. Já o afeto é descrito como uma emoção positiva
que causa bem estar. Sendo assim, uma pessoa bem resolvida afetivamente tem
maiores chances de ser um bom condutor do ponto de vista psicológico e
perceptivo. Da mesma forma que o afeto, ele fala que o sexo é positivo e
proporciona bem estar, mas com base em Accioly e Athayde (1996) afirma que
pode existir sexo entre duas pessoas com ou sem afeto – É o princípio da
preservação e perpetuação da espécie -. A alegria segundo Ramalho é a emoção
que nos induz a movimentos de aproximação ou movimentos “não finalisticos”, ou
seja, sem causa definida. No trânsito, pessoas alegres que por ventura vier a
passar por algum desconforto terão mais equilíbrio na solução dos problemas.
Fechando o capitulo, o autor fala sobre o riso, essa expressão que é
usada para representar emoções. Sendo assim, Rodrigo quer dizer que o sorriso
é o espelho da alma e que com as expressões faciais é possível perceber as
emoções do outro naquele momento. A leitura deste capítulo me fez direcionar
um olhar mais cuidadoso ao ser humano, percebendo que ele não é só matéria e
sim um ser biopsicosocial, em que as emoções têm um papel fundamental para o
equilíbrio mental e social. Para nós que trabalhamos com o trânsito vivemos
durante muito tempo pensando num ser apenas habilidoso e esquecemos que a
parte psicológica interfere de forma crucial no seu rendimento e percepção do
que está a sua volta e a prova disto são os profissionais que se envolvem em
acidentes e justificam tal desempenho como algo natural já que estão no trânsito
por muito tempo, mas na realidade as suas atividades profissionais passaram a
ser automatizadas gerando assim uma confiança no seu fazer e esquecendo que
ao conduzir não o fazemos só para nós mesmos e sim para todos os usuários da
via. Levar vivências e emoções para o trânsito precisa ser pensado, analisado,
trabalhado e compartilhado, pois no momento em que se usa o trânsito como
válvula de escape para solução dos problemas significa que estamos deixando
de lado valores que são importantes para a vida em sociedade e transformando
um momento que deveria ser de prazer em um momento de tortura já que o
escolhemos como arena, ringue. Esta resenha destina-se a todos que atuam no
cenário do trânsito. Espero também, que este livro seja lido e sirva como reflexão
para os futuros educadores do trânsito.
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