M 0 ^ "& TERRA ROXA e outras terras // i-$i~ LVO inNDRINA.AGOSTO PE 1975"ANoZ -NUMERO v ELES SÃO 400 M/L NA REGIÃO.ELES SÃO OS BÓIAS-FRIAS, página § f O ÍNDIO DEVE MORRER.págma sta é uma revista do interior. Da terra roxa^da zona rural.Mas que,conforme a segmento do seu tituloinão i ide ser xenófoba, e que aspira a uma abertura total a outras terr , jxo Brasil e ao exterior. Como Mario de Andrade, em 1926, se rebeln sumariamente contra fatos ou procedimentos que negam a formação,a origem,o passado e abraçam as iyrftações estrangeiras.Assim, o nosso .critério máximo de valorização é o "brasileirÍ8mo",bem como a falha mais rigorosamente censurada é a imitação estrangeira. OFICIAL DO DCE Rua Anionina 1777- Londrina-Paraná TIRAGEM:200Ò EXEMPLARES Nenhum direito reservado Gestão Levanta Sacode a POEIRA e Dá a Volta por Cima A "1 I • ]| ESENTAÇÁO No Início,"Terra Roxa e outras terras" foi um Jornal crj_ ado pelos modernistas em São Paulo no ano de 1926, com seis edições. Em novembro de 1972,foi apenas "Terra Roxa", um Jornal de estudantes publicado pelo DCE da Fuel.Teve se te edições. Hoje,na terceira gestão,"Terra Roma e outras terras" res surge,quase 50 anos depois,na forma de revista,com um^espT rito semelhante ao dos modernistas de 26,conforme_vocês po derão ler no fac-símile da Ia. página da lá. edlção,pub1Icada em 20 de Janeiro de 1926, e que evoluiu através _da participação de Mário de Andrade em defesa da valorização das coisas brasileiras. A revista surge na região quando a cultura sistematizada começa a dar os primeiros passos.Torna-se,então,imprescindível uma revista de estudos e artigos que aprofundem a anâlise dos problemas regionais e também de outras terras , pois não podemos nos restringir a uma visão locailsta e^xe nófoba da nossa rea1Idade.Face ã quase completa inexistência de estudos sobre o Norte do Paraná,estes assumiram a qui um papel primordial. Pouco de nós compreendemos a origem,as implicações, o mecanismo econõmico-soc1 a 1 da região. E ê dentro desta complexa estrutura que vamos tentar atuar no futuro,como prof i ss lonai s .Vamos contribuir inconsciente^ mente para o agravamento dos problemas ou vamos procurar 'entende-1 os para poder part 1 c 1 par, Junto com as outras camadas da população para uma solução que beneficie a maioria? Neste primeiro número da revista,e oitavo do título, publicamos um estudo do bói a-f r I a ,elaborado pelo Grupo de Es^ tudos de Imprensa Estudantil do DCE, e que pretende desper_ tar a atenção dos colegas e professores para o problema que, pela sua 1mportincla,merece maior aprofundamento e outras abordagens. "Terra Roxa e outras terras" é uma revista aberta, no sentido de que será democrâtica.Uma revista em busca de leitores e, como não possuímos a equipe dos modernistas de 26, também em busca de colaboradores. 0 artigo "Essa gente presta",vai de exemplo de como os assuntos da terra roxa podem ser tratados com profundidade, sem erudição. 0 artigo "0 iVidioiaqueie que deve morrer" ,escr I to por bispos e missionários braslleiros,vai como outro exemplo de como os temas "de outras terras" podem ter igual tratamento. G.E . I .E . MOt-MOMEMN ■ IJüI mmWU 2® DE Hmm 1926 i terra roxa e outras terras larros P Antônio d« Alcônura Machado • Secrclãrio e a inoiíype Mergentl».^ e ímpreitf* na "Typ. PíUII.U", de JOSB NAPOLI * CIA. _ Rua A««embléa, 56-58 — S. 1 11 ilU ARREISEINTAÇÃO ! . iífreo» qu« atte Jornal^ ao nawj^r, «ia prova de uma cqpage^i (íígna do Anhanguéra: dostin^se a um público que não exltte. seu ograma ó Isso mesmo: ser feito 1 para o homem qu^ |é. A notsa teira fOKa, mercê de^tua fertilidade complexa e exagerada, lem «do éí fux tudo que á o sonho de uma ImacS^â0 ífJ?1^1 açuc!ir' ca^ *wha-céus, trens eléctrioos, lança^perfcmes^ «tírectôj-lií», políticos, omnlbu^ e até literatos* tMrfc Menos aH nesse baoco de jardim inglês, ou nessa ppfV*na de varanda de be)ngM<r3 ou nesse club* ^Me!.M rede.«f ^nda, ou4 nesíe^infnan da Paulista, a enUdade rara ejk^timável ^ue é^lwmem que lê. Poli ÍXSL eWe 52?^ ima9Jnário. Oir peto menos ainda in* cognlto comovi, #61 erp viajem de neereio, qu* decWlnSr t^SSi.^* |O0ar n0 mvnd0 ô -^RÂROXAI eloS Entre n^s, «fenômeno é singular: não é o leitor á prqçura de um loimil, mas o jornal á procura de um kjtor. Ensinemos êtaelfeíUir a lêr. Sem cartilha. Sem bolos, àem premío de fim ds ano, Trea desejos levam o homem çivilisado á leitura: o de se instruir, o de^ divertir, o de faíer bonito dfante de parentes, amigos auiconhecldos. TERRA ROXA fornecefá lei Uira para esses tr«s fln». Quem o lêr, com aquela rassldui«mde que sempí»e coínove as administrações jorfialíslicas, fípderá facilmente ap^jider, distrair se e^ cdmo se diz no nosso admirável léomaltalo-páubrasll, bancar o intelectual. Ao ente hlp^tétice e incei^o, ifara, quem compomos este qulnrenárioí oíerecemos, cqmo numa bandeja caipira, o>repasto variado, é sucufento que convém a um apetite virgem: cróntca M&rÁvf*, crónloa artística, crônica files<Sflca, crônica mUB^al 4» teatral, ensaios de crítica, ensaios de história, cre» íes de poetas, novelas, romances, todos os gêneros, mert^ esperemos em Deus, êsso gênero páu Ca^wyaiwfljw^ificás^ de que fus^m» com» da p>st» Os trabalhos public ados obedecerão a uma ífhha geráí chamada do espírito moderno, que não sabemos bem o que seja, mas que est* patentemente delineada pelas suas oxclufeões. Camarada leitor: muito praxer e muita honra em deéoobrli-o. "AOS HOMENS DE TRABALHO NO CAMPO CONSIDERAM UMA TURBA AMORFA.QUE , VAI DESAPARECER,BANDOS DE SERTANEJAS,DE JAGUNÇOS,CA IPIRAS.MATUTOS TABARÉUS,CABOCLOS,SEM A MENOR VALIA.E NAO LHES OCORRE,REPI TO,QUE ESSAS GENTES É QUE,COM OS EX-ESCRAVOS NELAS HOJE INCORPORADOS,CRI ARAM COM TODAS AS FALHAS,A FORTUNA,A RIQUEZA EXISTENTE NO PArs»."'' - Silvio Romero em "O Brasil Social",1907. bolas-irias: PRESTA 'yéHÚáR IGNORAR O BOlA-FRIA É IMPOSSÍVEL.O NOSSO SERTANEJO NAO ESTA MAIS ESCONDIDO NO MEIO DO S CAFEZAIS;ELE ESTA CIRCULANDO DIARIAMENTE P£ LAS RUAS E ESTRADAS, NUM INCANSÁVEL ÊXODO DAS CIDADES PARA 0 CAMPO E VICE-VERSA.MAS REC ONHECER A EXISTÊNCIA DO BÕIA-FRIA NAo S I GN I rj_ CA^/CONHECÉ-LO.ASSIM, QUASE TODAS AS REFERÊNCI AS FEITAS A ELE SAO í EM TOM DE DESPREZO,M ENOSPREZO,ÕDIO E,QUANDO MU I TO,COMPAIXAO. RARAMENTE É IDENTIFI CADO COMO TRABALHADOR E PRODUTOR DE RIQUEZA. «k» caingangues aos bóias-frias ^_ as s a ram- se ma i s de trê s secuPios desd e os pr i mi t i vos c a i n gangue s que vivi am Waímat as do £ tual N or te do Pa ranã quand o aqui chegar am os jesu T tas,a té a s cçnte rjas de mi 1 hares de bói a s-fr i as que pa decem nas fave 1 as e vilas de ma i s de cem c idades da reg i ao. Tav ares extermi nou ou es Raposo po sse i ros cravi z ou os índi os. Os as e sje s companhi encont rados pe 1 a z i mados foram di nhores de t erras 930 uma art i r de 1 ou exp u 1 sos . A p range ii ros e e.st massa de br asile ros em busc a de um pedaço de chio ocupou a terra roxa paranaense. Mas a expulsão cpn t i^nuqu : der rufada a mata saía o peão;plantado o café,o formador ; ar rançado o cafle, vêm saindo o porcen te i ro, o colcino e até o sitiante^Sai o homem,entram o boi e o trator. Mas este nio faz tudo sozinho.Se a utiliza çio intensa da máquina na nossa a gricultura- num transplante "mecã nico^da mecanizáçio realizada em outros países èm situações diversas- contribuiu para exilar o lavrador da zona rural,por outro ;l£ do,nio dispensou totalmente seus essa gente não presfa"(A,varoPano%:afa-"975ro'a° ■""■"' braços.Para aumentar a produtlvlda de da decadente agr I eu 1 tura , gastají do o mínimo e lucrando o maxímoT foi preciso negar ao trabalhador todos os direitos trabalhistas e humanos,joqando homens,ve1hos,mu lheres e crianças nas periferias das cidades e nas carrocerias dos cami nhões . // Quem ainda vem para o Paraná esperando encontrar o E1dorado,depara com um ambiente adverso. E se nio continuar viagem rumo ao Mato Grosso,Amazônia e Paraguai,com cer teza terá o mesmo destino errante, miserável e marginal do novo assalariado agrícoIa:tornar-se,"previso r lamente", bóia-fria,numa s i tuaçio ambígua que para muitos já dura mais de dez anos^epe 1 i dos pela terra e ao mesmo tempo imprescindí veis a ela.Vivendo nas cidades sem desfrutar dos seus confortos . Traba lhando na roça sem contar com suas poucas rega 1ias .Desprezados por to dos e,no entanto, sio aqueles que plantam o que comemos.// uma mutação degenerada ou "ai que saudades que eu tenho do tempo do colonato..." Saudosos da fase áurea do café, nio sio poucos os que hoje exal tam a figura do co1ono,traba1hador que se viu transformado em bóiafria.Fala-se da harmonia entio rej_ nante nas fazendas, da fartura de que desfrutariam os lavradores qu^ com seu trabalho árduo,diseip1inado e eficiente conseguiriam chegar a pequenos proprietários e até mes mo grandesrLunarde11i seria o exem pio.Terá o co1ono,entio,sido vítima de uma mutaçio,perdendo todo o seu va 1 or , vi rando pregu i coso , rebe_[_ de,ignorante,ou um coitado,só porque agora nio mora na fazenda,come comida fria e viaja feito gado? '/ Quem sabe o contato diário com i n seticidas e a poeira gue tomam na cara pelas estradas nao tenham pe- ) é uma cambada Iversitárío do tiorte do ParanãX de vagabundos^ (Un aò lornal Panorama-1975 ' netrad o nas suas ce lula s, provocan do uma mu ta çio g enê ti ca degenera tfva , ai teran cfo o car ater do lavrador? A comp rovaç ão dest a_ hí pótese cabe a os ge ne t i c fst as. Nós p refer_[_ mos te n ta r a exp Ifc açio . hlst õr i ca . 0 co 1 on o es t á p ratl camen te ext i n to na ag r i eu I tur a do Nort e , ido: Paraná • 0 a nse i o de mu ? tos f azende i ros de v oi ta r a ant i ga re 1 açio do co 1 ona to ê se me hant e ao dos se nhores de escravos após a abolI ^jâol sofrendo os prejuTzos resul tanTes da perda de seus escravos e obrigados a reorganizar a fazenda, a fim de adaptá-la ao trabalho semi-livre do parceiro (do qual o co lono foi uma evoluçio), passaram a exaltar o escravo, antes sempre ta xado de preguiçoso e rebe 1 de , trans^ ferindo esses atributos aos colo nos imigrantes, que não se subme tiam às duras condições aqui vigen tes . Entio, era comum ouvir da boca dos escravocratas: "os carcamanos nio chegam aos pés dos negros'.' Mas. com o passar do tempor ' a^. vantagens do trabalho "livre" foram aos poucos se evidenciando e, entio, passou-se a dizer; "um trabalhador livre produz mais que 30 escravos, Hoje, quando a lenta e contra''ditõria - mas inevitável - evolu çio da agricultura exige nova alte raçio na organização da fazenda,OJJ ve-se novamente o clamor daqueles que são refratários a qualquer mudança. Quando o bô i a-f r i a , ta 1 qual o parceiro do século passado, recusa-se a receber o mesmo oferecido ao "pé-de-ferro" (empregado que ainda mora na fazenda) e resol ve "queimar sola" (voltar para sua casa a pé) o colono, tal qual o ejs cravo, é lembrado com saudade. E a quele que antes era qualificado de capiau e mal agradecido, tem o de£ tino dos grandes homens: morto, abrem-se-lhe as portas negadas effl vida. E exaltado quando já está praticamente extinto. Querem a sua volta quando as circunstancias impedem. E passam a ma 1 d i zer o bôiafr i a, que é o colono expulso da fa zenda. por lhe terem oferecido condições de morte e não de vida. III t ■ um boia-frla produz mais que 30 cotonott algrado serem vistos como margj_ nais e não como trabalhadores, os bôias-frias constituem o maior contingente de trabalhadores agrícolas do Norte do Paraná- calculase que já tenham ultrapassado os 400 mil (50^ da mão de obra do no£ te do Estado).Em São Paulo eles to ta 1 i zam 25% de'toda a força ^mpj-eg"ãda em at i vTdádes Fura i s , sendo também conhecidos pelos nomes_ d£ preciativos de "birol os","pilões", "paus-de-arara","avulsos" e outros, Vy* Ém todo o Brasil os lavradores que vivem nas cidades - os rurbanos - estão na casa do milhão.E se a estes somarmos os bôias-frias do campo (os peões, volantes e sit1a£ tes pobres que trabalham fora em cer.tas épocas - todos trabalhadores temporários) encontraremos 5 milhões de famílias. Elas se esp£ lham por todo o paTs,des1ocando se diária òu per 1odIcamente,a pé ou ^de cami nhao, pa ra as d i s f"arrtes lavouras do café, do a 1godão,canade-açúcar, para o desmatamento, e plantio de capim, sem saber onde ■estarão no dia de amanha. Snio, por_ tantoj criações típicas^las regi ões bras11 eiras onde o desenvolvimentõ~da agriculturif atingiu a mecanização e cuja economia se asser^ ta num produto geralmente de exportação . Por conseguinte, sob o ponto de vis^ta da economia, o bõla^?ria nao põefe ser considerado, de forma alguma um marginal. Os produtos agricolas de exportação ainda são e hoje mais do que fundamenta i s para a economia brasllel nunca Se quem planta e colhe esses ra 7 produtos é, sobretudo, o bóia-fria, como poderá ele estar â margem como produtor? Como consumidor, sim, ele está à margem: sobrevive com menos de um salário mínimo. /^ Quanto ã produtividade, ê possível fazer entre o colono e o bóia-fria a mesma comparação feita entre o eácravo e o trabalhador li vre? Talvez a diferença nao_seja na mesma proporção - de um para trinta - mas sabe-se que a produti vidade no sul do país, que é ondese concentra o maior número de assalariados, principalmente bóias frias, ê 500 por cento maior do que no nordeste, onde se mantêm as relações de produção mais atrasadas, ao passo que os salários pagos no sul são apenas 90 por cento ma i s altos do que os do nordeste // da enxada e oa roca para a favela e a marginalização g^e, enquanto na roça, eles são ^*fundamentaís para a economia , 9l/a"do regressam"aos seus barracos a noite, transformam-se em marqf nais para a sociedade. São analfabetos, desnutridos, mortos-vivos 8 sem organização, sem segurança . Os mínimos direitos, já adquiridos por outras categorias profissionais, lhes sao negados; ass i s tência me d í c ^~p r é vTlíeTrc ia social, fé rias, descanso remunerado, contrato de t rabaIho , etc . 0_unico e maior bem que poss u e m -"q ü e já c o meçam a valor í z a r é a liberdade de trabalhar onde quiserem, sem nenhum vínculo de de pendência a prendê-los a um pã» trão. Apesar de invejarem a roci-- • nha do "pê-de-ferro", começam a re conhecê-la uma faca de dois gumesT em troca do direito de plantar para si, o colono fica preso ao patrão, submetendo-se a situações aviltantes, raramente vendo a cor do dinheiro» Ainda hoje os trabalhadores não-remunerados no campo, em todo o Paraná, chegam a ^OOmi 1 .// Mas a cada dia essa cifra diminui, e dezenas de famílias vão inchando as cidades do Norte do Estado. [I ^ Tendo que enfrentar tantos o\>%_ táculos, perigos e rudezas para po derem sobreviver, ê de se admirara resistência dos bôias-frlas ao atrativo da mendicância, da crimina 1 idade JB—-da. ^prost i tui çã^. E, no entanto. são chamados de vaqabundos... bóia-fria é palavrâo,,vxtra'do de um poema) f f meu patrão brigou comigo me chamou de bóia-fria não bati na cara deie para não perder o dia..-" " mssim começa a modinha cantada ^*nos programas sertanejos das rádios e repetida pelos próprios bóias-frias durante o trabalho.Es^ ta ê uma das formas subliminares de promover a sua auto-desva1orizaçio.Tenta-se convenci-los de su a "inferioridade" pela repetição insistente de que sio incapazes, que nio prestam,que não podem ter vez.E para isso contribui não ape nas ^a atitude de desprezo como"" também a de compaixão.Ao dizermos^ e únicos brasileiros, a a 1 ma e o "coitados dos bóias-frias" ou "ebraço do povo".Assim como a"turba les são uns pobres coitados,abanamorfa" não desapareceu, não desa donados pela sorte", e que precipareceram até hoje as literatices sam da nossa caridade,estamos, na daqueles p.ara quem o desprezo perealidade, alimentando uma falsa lo sertanejo é quase uma segunda caridade, que se nutre da situanatureza-. ção injusta e i nf er i or i zan te ào // Por outro lado, temos grandes.e. "assistido", colocado na posição' xemplos de valorização do homem de incapaz de reagir e superar su do campo.Euc1ides da Cunha já cha a a tua 1 cond i ção . ~ mava a atenção para "as massas abandonadas do interior,que só apa a herança do bota .fria é a esperança recém no cenário nacional nos mo"1 mentos de crise e transformaçãot J^carga pejorativa do nome "bói£ 1 fria" atribui a este trabalhador algo além da pecha de preguiçoso e ignorante que vem perseguindo, como um pecado original, o nosso sertanejo, a partir do índio,quan do este recusou ser escravizado. Bóia-fria é sinônimo também de imundo, instável, enfim é um palavrão . sy SJJ_v^Lx> _Roniero_ j á assinalava que os maiores obstáculos para a compreensão realista do valor do homem do campo são "as literatices dos escritores e políticos que julgam, eles, esses desfrutadores de empregos púb1icos,posições e prof i ssões liberais, os genuínos revolucionária,revelando aspectos trágicos da nossa formação".Coube aoautor de "Os Sertóes" acordar a inteligência brasi1eira,voltada durante k séculos para a Europa , culpando-a por haver acentuado o c .£-11raste entre o nosso modo de viver e o daqueles rudes patrfcT1" os,mais estrangeiros nesta terra do que os imigrantes da Europa. Porque não no-los separa um mar se PJram~no-loLtrês séculos ... " Do bóia"-f riã" aindlT nòs separam quase três séculosrele evoluiu do medievalismo do século XVI euro peu -representado aqui,com as devidas modifÍcaçóes,pelo colonato- nas carrocerias dos caminhões para o início da revoluçio industrial^no século XVI II .Naque1 a epo ca o êxodo rural começou a ganhar intensidade na Europa, com o atra tivo exercido pelas manufaturas e melhores condições de vida nas ei dades.A peculiaridade da terra ro xa paranaense é agravante:aqui aT indústrias rareiam, as cidades crescem pelo menos cinco vezes ma is que as européias de entio, e a agricultura depende basicamente do~1mercado externo, sendo que ambos padecem dé^ uma crise Tnsolú vei.Assim, o nosso migrante não vai engrossar as fileiras do prole tariad_o_urbanOj_com o ocorreu alem-mar, mas sim do proletariado rural de rTõyõ tTp o. x. Entretanto, apesar de evolufdo, o bóia-fria herdou muitos dos pro blemas, misérias e qualidades dos seus antepassados sertanejos. Herdou a esperança do reti rante de Graciliano Ramos e do jagunço de Guimarães Rosa,que,em "Grande SertãorVeredas" sonhava:"Ah ,este Norte em remanência:progresso for te, fartura para todos, a alegria naciona1 1 . ..A gente tem que sair do sertãol Mas só se sai do sertão é tomando conta dele a den_ tro..." E, em 1975, o bóia-fria não pe_r deu a espe rança: "eu acho que dev_i_ a ponhar uma lei mandando o? fazendeiros que não deixassem plantar tudo, dividir a terra deles com os outros^Pegava uma fairn 'Z lia, tem dez pessoas? toma ^ ai queires de terra.Tem 8?Toma 3 alr queíres de terra" - extraído do jornal Panorama de 8.3.75. Herdou também as contradições de Macuna'ma,de Mario de Andrade, que vai do campo para a cidade"" e 3es ta de novo para o campo, anfr^ b í o. sem raízes e ainda IsolaJo: "aqui é cada um por st e Deus con tra".Assim Macunaíma foi recebido na cidade. E assim o bóia-fria.en contra a cidade hoje: "Eu não sei como estão as col - 10 sas por outras bandas , mas bola fria aqui anda mais perdido do que cego no melo de tiroteio" Folha de Londr1 na,25.7.7^. y Multas outras influências veiji sofrendo o bóia-fria.No Norte do Paraná,ta1 vez mais do que em qual quer lugar do Brasil,vêm se mistiJ rando pessoas vindas de todo o país e de quase todo o mundo, num caldeirão soeia 1,racia 1 e cultu ra1 peculiar.Ao mesmo tempo que \\ sua ebulição vem produzindo, em termos materiais, das maiores ri quezas nacionaIs,tem sido um cal do de cultura fertrlísslmo para os mais dramáticos problemas sociais,cujo produto mais típico e recente é o bó1 a-frI a.Tão típico que já é usado no resto do Brasil para identificar o Norte do Paraná, ao lado do símbolo tradlcio nal da terra roxa e no lugar do ca fé . eles perseguem um (irfuro melhor é a alma • o JBaaça Ia periferia de Londrina coexl£ tem,lado a lado, o campus universitário e o maior bairro de bólas-frlas, o Novo Bandeirantes. Sio duas culturas diferentes e". duas épocas de uma mesma cultura. No campus vive-se a vida das cj[ dàdes, mais perto de Sio Paulo^ que das vilas que o cercam.Nas vj_ Ias os bôlas-frlas vivem a vida do campo, mais próximos dos jagun ^os de Canudos e do Contestado que dos estudantes com quem cru zam nas estradas da Cidade Uníve£ s i tiri a. Onde estar»© os "genuínos e unj^ cos brasileiros, a alma e o braço do povo7,, No Campus ou na VI la?^ Para responder a essa indagaçio é necessário que nos dispamos de toda a arrogância, sem procurar escapar de uma realidade que possa nos ofender e cujo reconheci mento pode até mesmo nos ameaçar. // Se partirmos do princípio de que a crlaçio cultural é obra de homens seletos, de uma elite prj_ vilegiada, de donos da verdade e do saber, para guem todos os que estão de fora sao "essa gente","u ma cambada","uns coitados",cuja presença e participação na cultu" ra e na história é sintoma de sua deterioração,a resposta será uma. Se,pelo contrário,partirmos do princípio de que a^cultura letra da,sistematIzada,não sobrevive e do ê estéril sem a participação povo, aonde deve ser buscada a o Inspiração para a literatura, do objetivo da ciência, a llnha^ pensamento, a diretriz da ação, a resposta será outra._ Conciliar as duas épocas e as duas culturas é a tarefa que se Impõe.Os bólas-frlas, como seres lru»a-pâ© Fruta-pãotÔ fruta-pão quem 0 que mais furta o pão? 0 bóia-fria ou o patrão? Mas que pergunta obaeena, extravagante,enjoada, "bóia-fria" nem existe ê uma palavra inventada... -Mas tem gente que jã viu, "bóia-fria",diz que tem jeito de homem usa ehapelão de palha correntes nos pés e vive cavalgando as rodovias montado num aabo de enxada... -Tem outras gentes que juram que "bóia-fria" ê mulher oom duas brasas nos olhos os cabelos encharcados de sangue dando de mamar a uma criança que uiva em vez de chorar... -Qual o que,isso é lenda, e invenção, "bóia-fria"não existe é uma palavra inventada... -Não existe? , üêlEntão quem colhe o café da Fazenda S.José? o algodão,o milho e o feijão das propriedades rurais de seu doutor Benedito doutor Milton e doutor Brás? Quem capina? Quem arrua? e carrega o café colhido pra secar no terreirão? E rastela e amontoa e mais uma vez carrega o café e põe na tulha? -Fruta-pão,ô fruta-pão quem ê que mais furta o pão? 0 bóia-fria ou o patrão? -Mas que pergunta enjoada extravagante,obscena, "bóia-fria" nem existe ê uma palavra inventada... -Começa na madrugada e acaba no por do sol. MARIA LEOPOLDINA RESENDE i s humanos, são históricos, evoluem. Ao descobrirem seu valor, sua fo£ ça, seus reais anseios , estario a um passo de sua redençio .Assim,t£ rio ainda em vida o destino que os colonos só tiveram depois de extintos- serem va1orizados.Mas , no caso dos bõias-frias,va1orizados pelo que eles têm de humano,e nio de bestas de carga.AT, entio, seu nome, inventado para humilhálo,perderá seu atual significado. A história já se encarregou de transformar o caráter pejorativo do nome "tiradentes" no símbolo do herói naciona1 , apontando quem foram aqueles que o chamaram de "bandido","inconfidente" (sem fidelidade), e o enviaram ã forca. A história destruiu o "título" que lhe atribuíram e reconheceu , finalmente, o valor da sua atitude . Nio está longe o tempo do reconhecimento do bóia-fria.Apesar de tênues,já notam-se alguns sinto mas.Em Arapongas,estudantes criaram um jornal que tem o seu nome. Jornalistas têm testemunhado com fidelidade a sua vida.Poetas e e£ critores tentam retratar o seu drama . Po 1 í t i cos lembram-se de mer\_ cioná-los nos pa r 1 amen tos . C i en t i s_ tas sociais procuram ententer a sua situaçio.Educadores,médicos , advogados,economistas e outros preocupam-se ante a ineficiência de sua açio e compaixão para solu^ cionar o problema dos bóias-frias. E estes, montados nas carrocerias dos caminhões,continuam perseguin 12 do um futuro melhor, despercebi dos e desprezados por uma multi dio de cegos que passam por eles nos caminhos, bebem o café colhido por eles, quase lhe esbarram nas ruas: "No outro dia, na Avenida Paraná, eu vi a figura que mais mexeu comigo nesta cidade. Um bóia-fria, vermelho de terra,sandá1ias de borracha, enxada ao ombro, sg mexendo entre o povo passante.Só conseguia enxergar a ele,única fi gura destacada, na calçada cheia. A enxada nas costas era levada co mo uma arma, leve e eficiente;eF¥ admirável a destreza, a leveza co mo ele se mexia entre as pessoas, imundo, tostado de sol e também pardacento, esguio,1igeiro.E1e mais deslizava que andava na calçada e ao atravessar a rua, teve um íntimo conhecimento,quase fami liar, do trânsito - nio esbarrava em nada.Nem nas pessoas,nem nos veículos.Era rápido,calmo e,apesar de andrajoso,compôs to,ereto, inteiriço.A partir dessa cena,pareceu-me que nio tinha mais nada a ver na vida urbana de Londrina". Quem escreveu esta cena foi Joio Antonio,escritor,e um dos poucos que têm olho, numa terra de cegos. Artigo escrito pelo GEIE- Grupo ie Estudos de Imprensa Estudantil, do DCE da FUEL3a partir de debates3pesquisas nos jornais locais e livros ("Grande Sertão: Veredas" e "Os Sertões"). O HMDIO AQUELE QUE DEVE MORRER (documento de urgência de bispos e missionários) Ji antes de \(>k2,a I greja , a traves do Papa Urbano , reconhec i a que o índio tem a 1 ma.É gente.Apesar disto e dos esforços de alguns homens , o indigena continua nio sendo considerado.como tal.Tem suas terras In vadidas pelos brancos,a lém^dej1 ver a extinção de sua raça em consequen cia das mais variadas violências. Tal como o bóia-fria, nio é considerado gente.E sinônimo de margi na 1 ,vagabundo, gentinha. 13 NO VIOESIMO dUlHTO ANIVEBSAmo DA DECLARACÍO umvFIKli 0 o D s F, Dos E EL í"N«" í^! n ^fn ; "" ^COXK" íi 0 SSA M,ss ^..«rw^ ^O Ç PELO CHOQUE DA REALIDADE QUE lin«: FE D U C S B E A ?í:í3 ?:S,6íNAS"«S ;I!AS?L" »«-"-?AE?opNEsíçNjis-0„Err 2 , ■ . . 5 DÊ DEZEMBRO DE 1973 M. Dom Max mo Blennes,Bispo de Câcercs,MT Dom Mel Io Campos,Bispo de Viana,NA Dom ? ?? d%fve"«r,Blspo de Marabá,PA Dom Peíír?,í;rí Pedro Casaldallga,Bispo de São Fêllx,MT Dom Temas Balduíno,BIspo de Golas,60 Dom Agostinho José SartorI,BIspo de Palmas,PR Frei Gomes Leitao,MIsslonârlo de Marabá,PA 0 10 a , M,Ss4onir,0 de F^rní;? " i ?' Diamantino,MT Frei Domingos Mala LeIte,MIsslonârlo de Conceição do ,. Araguaia,PA Padrl LIITAM ^""^'«'"íonirío de São Fêlíx,MT Padre Leonlldo BrustolIn,Mlsslonârlo de Palmai,PR Padre Tomas LIsboa,MIsslonârlo de Dlamantlno^MT P.^.- * . Qs Bispos da região Extremo Oes *^te declararam a 12.11.71:" As"3 slstlmos em todo o pafs â Invasão e gradativo esbulho das terras dos índios. Praticamente não são reconhecidos os seus direitos humanos, o que os leva paulatlnamen te a morte cultural e também biológica, como Jâ sucedeu a multas tribos brasllelras"(l). 0 documento firmado por 80 homens de ciência em Curitiba dizia: "Os que assinam o presente, ligados ao problema do índio por razões de atividade profissional ou por vlnculação de sentido puramen te humanístlco, sentem-se no dever de dlrlglr-se, de público, âs autoridades do país e a própria consciência nacional, com o propô sito de despertar o Interesse e a atenção para as ameaças que se re novam contra os direitos mais ele mentares das populações Indígenas brasllelras"(2) . Para avaliar o alcance da afir- mação dos Bispos e dos cientistas acima citados e para verificar que não hâ apenas ameaças mas reais vUlações dos direitos das populações Indígenas,apresentamos algumas notícias publicadas em Jornais e revistas somente nos Gl tlmos dois anos, a partir do Iní"1" cio da construção das estradas na AmazonI a. "Respondendo às críticas dos Ir mãos VI lias Boas ã construção dã BR-80, disse o presidente da Funal,General Bandeira de Mello que a estrada não vai criar problema para os índIos"(3). Não criar problemas para os índios significa não violar o seu direito ã terra, não levar eles â morte pelas enfermidades e pelos confUtos violentos,não oa díspar sar,não destruir enfim sua cultur ra, Entretanto um antropólogo,asses der do próprio presldence da Fu" J»aj ,afl rmou; "Todos sabem que uma cf estrada, cortando reservas indígenas,ê um veículo que traz enormes problemas para os índios e consequentemente para a FunafíM. Referindo-se â BR-80 assim falou o sertanista Orlando Villas Boas:"Não tem levado para a regiio senio cachaça, prostituição, aventureiros e depredadores da n£ tureza"(5). No princípio deste ano, os jornais noticiavam:"0s três funcio nários da Funai do subposto de Alalau (Roraima) foram assassina dos por vingança pelos indios WaJ_ mlris-Atroaris que,em junho de 1972 haviam sido desrespeitados por mateiros contratados para apoiar os trabalhadores da estrada Manaus-Caracaraí"(6)._ A mesma coisa poderá acontecer em outras áreas,como afirmou o professor Eduardo Galvão do Museu l, Goeldi de Belém, ao prever ch£ quês entre as populações indígenas e o elemento colonizador na rodovia perimetral Norte"(7). Nessa perimetral, além das mortes violentas,há ainda, como em todos os casos de contato dos indios com as frentes de penetraçio, a morte causada pelas enfermida^ des:"!^ índios Waimiris-Atroari , vítimas da gripe fogo" (8) . A respeito da situação dos índios de Roraima, dizia um jornal de Manaus:"0 índio foi e continua sendo sempre a vítima indefesa. Suas terras são invadidas,suas r£ servas roubadas, suas mulheres ultrajadas. A polícia de Boa Vista sabe disso...a Funai também o sa- Eles perdem suas terras, e ganham cachaça,próstituicão,doenças e mortes. 15 "Quanto e que as companhias (agro-pecuárias) pagaram ao Pai do Céu de vocês para ele dar as terras dos Índios?" indio Tupirapé. be...sõ nós nio sabemos porque o índio deve continuar a ser exterTninado sob o olhar tutelar da Funai . .."(9) . A BR-80 que dividiu a tribo Tukarramie provocou toda uma reação em cadela."Como conseqüência daquela reação em cadê 1 a , outros pro^ blemas virão e,quando forem consta tados , mu i tos índios ja terão morrido"(10).lsto,infelÍ2mente,jâ está acontecendo:"4 mortos, 20 doentes em perigo de vida e 70 \n ternados são o resultado do surto de sarampo que atingiu os Índios Tukarramãe, numa das mais graves crises de doenças do Parque Nacio nal do Xingu,agora cortado pela rodovia BR-80"(1 1) . Essa ca 1amidade,porém,se justifica dentro da visão do sistema "pois o Parque Nacional do Xingu não pode impedir o progresso do país",como afirmou o presidente da Funai,Genera 1 Bandeira de Me 1Io.(12).A resposta a isto já foi dada antecipadamente pelo poeta: "... chame-1he progresso quem do extermínio secular se ufana:eu,mo desto cantor do povo extinto chorarei nos vastíssimos sepulcros que vão do mar aos Andes e do Pr£ ta ao largo e doce mar das Amazonas"(l3) . Tal violação dos direitos dos índios não constitui problema para a Fanai que,na opinião do Depu tado Jeronimo Santana , "perdeu o sentido da mensagem do Marechal Rondon-morrer se for preciso, matar nunca-e hoje em dia,para de fender seus interesses,o que o 5£ gão leva menos em conta ê o pró prio índio"(li») . A linguagem do General Bandeira de Mello parece menos a do presidente do órgão criado para defender os direitos dos índios,que o eco das palavras dos latifundiá rios da Amazônia:"Referindo-se às diretrizes da Funai para l9722vo^ tou a ressaltar que o índio não pode deter o desenvolvimento"(15) . A simples construção de uma estrada em área indígena constitui uma violação do direito que os Í£ dios têm sobre suas terras.No dj_ zer de quem é autoridade no assu£ to,Gonzalo Rúb i o , Di re tor do lnstj_ tuto Indigenista 1nteramericano: "A ação dos aventureiros e exploradores de ontem, contra os Indígenas,se somam hoje os elementos novos,as estradas e as forças prc) gresso- os quais,mesmo sem Intenção de produzir danos,atrapa 1ham inegavelmente a vida dos grupos, que ainda res tam" ( 1 6) .Ta 1 assertj_ va encontra eloqüente comprovação no que disse o engenheiro Cláudio Pontes, da Empresa industrial e Técnica,uma das que vio construir a Perimetral Norte:"Em momento a_l_ qum o trabalho será interrompido, mesmo que surjam problemas com IJI dios"(l7). Os conflitos surgem inevitavelmente : "Traba 1 hadores e engenhei ros da COTERRA - companhia de te£ raplenagem que constrói a BR-80 foram recebidos.a bala,quando te£ taram se aproximar da aldeia dos índios Tuk.a r ramãe . . . " ( 1 8) "Um ultimato,um furto e um tiro telo,com a agravante da tensão na área,provaram, há duas semanas, que os índios do Xingu não acei tam ainda a estrada"(19) . Resumindo:1^ Transamazônica e outras estradas em construção no Norte do país estão formando o cerco em volta de 80 mil índios brasileiros, condenando-os â ex tinção"(20). Aliás a Amazônia é tida como terra de ninguém e o triste exemplo de desrespeito aos direitos de seus legítimos ocupantes lamen^ tavelmente vem de ei ma:"Quando se quer fazer alguma coisa na Amazônia,não se deve pedir licença:fa£ se",afirma o Coronel Carlos Aloíseo Weber (21) . Que outros órgãos do governo, » responsáveis pelos bens materiais da Amazônia, sejam omissos,jâ é iin tolerável pois constitui,na .expressão do General Olímpio Mourão Fllho:"um absurdo o que se faz atualmente na Amazônia.Acabaremos transformando a selva num deserto" (22).Ultrapassa,portanto,o absurdo que o órgão nato para a defesa dos direitos dos índios seja "o^ grande ausente nos sertões amazônicos",como teve oportunidade de confirmar,em sua segunda viagem ao Norte,o General Frederico Rondon(23). A Imagem que temos da Amazônia, essa vastidão plena de mistérios e de desafios, que oferece tanto espaço para o mito da "conquista" pode facilmente atenuar ou enco brlr a responsabilidade da FUMAI. Se,porém,passarmos para o extremo sul do país,encontramos melancólj_ cos depoimentos como este de Carlos de Araújo Moreira Neto:"Em re lação ao problema que vem sendo especificamente díscutido,Isto é, a situação atual dos índios Kalngang do Rio Grande do Sul,principalmente no que se refere às su cesslvas Invasões de Nonoãi por intrusos.a posição da Funal e de outros setores oficiais lnteress£ dos,é característicamente cautelo sa e dilatorla o que leva ao fo£ talecimento do "status-quo".Neste sentido não há diferença entre a ação da Funal e a do SPI,ambos iji capazes de uma modificação significativa no sistema geral de expo Ilação e aviltamento a que esteve (e está) submeti do"(2M . Ainda a propósito dos índios do sul,podemos citar a opinião de ou^ tro antropólogo»o professor Sil > vlo Coelho dos Santos,dlretor do Museu de Antropologia da UnlversJ[ dade Federal de Santa Catarina: "...conheço a situação dos índios nos Estados do Paraná,Santa Catarina e Rio Grande do Sul, pois de senvolvl extenso projeto de pes - quisa nessa área.A situação não é boa em nenhum dos postos que conhecemos,mas é sempre pior quando os indígenas estão em contato com ' os brancos"(25). "Bêbados,maltrapi1hos e famin tos,escondi dos no mato ou vagando pelas estradas a esmolar,os pou cos milhares de Índios das reservas do Rio Grande do Sul,passam quase ignorados durante os últi mos meses de farto noticiário acerca de seus Irmãosde raça"(26) "0 engenheiro Moisés Westpbblen, professor universitário e grande estudioso do problema indígena aflrmou:"0 governo gaúcho sempre participou da expoliação da terra dos Índios e a Funal é uma mortaviva.O que estãokfazendo com os Índios no Rio Grande do Sul é um genocídio,porque eles não podem viver sem terra"(27). Seguindo o roteiro da miséria e da fome do índio b ras i 1 e i ro , encon^ tramo-los também em S.Paulo onde "passam o dia mendigando,dormindo sob as pontes e bebendo a cachaça que podem comprar ou que os moradores de outros barracos lhes of£ recém.Vestem-se de farrapos e perambulam pelos bairros próximos, de Santo Amaro(28). No Mato Grosso,os Xavantes es tão "em pé de guerra e dispostos a reagir a qualquer invasão de^ suas reservas"(23).Os Tapirapés foram recentemente ameaçados de serem retirados de suas terras pe Ia Funal, que desejava "transferT los para a Ilha do Banana 1 •, cedendo ãs pressões da Companhia Colonlzadora Taplraguaia(30). "Os Índios Galera e Sararé do grupo Nhambiquara,que a Funal está transferindo para uma reserva 1ndigena,encontram-se em estado de saúde tão precário que,há poucos meses,um surto de gripe,deco_r rente do contato com os brancos , dizimou toda a população tribal na faixa dos 15 anos"(3l).A trans ferência dos índios Nambikuara se prende ã necessidade de ceder suas terras a poderosos grupos e' 17 "Nos/índios^omds como a plantação: Quando mudada de lugar, se não morre, pelo menos se ressente multo." índio Pataxo' crianças que morrem antes de completar um ano de Idade,assim vi vem os Índios Qu1rIrIs,tr1bo em decadência atua 1 mente,loca 1Izada na Vila de Mlrandelo a 293 kms de Salvador"(35) • Os Índios Pataxós,como alias to dos os outros,nos planos oficiais, valem até menos que a flora e a fauna:"A proteção deles deveria u dilr-se ou mesmo sobrepor-se a defesa da flora e da fauna do lugar" (36). E se sua transferência for concretizada,"decretará" o fim do último direito que a tribo ainda (33) . tem de viver na terra onde nasceu" A respeito dos Índios Karajá da (37).0 protesto dos índios Pata,Ilha do Bananal.Estado de Gojâs, xós é patético:"Nôs,índios, somo» lemos depoimentos como e8te:"\/e como a plantação que,quando mudaJam.os civilizados construíram ada de lugar,se não morre pelo mequi os seus hotéis para assistir nos se ressente muito.Nio aceitaa decadência de outra civilização. mos sair daqui porque muitos anos Ê uma barbárie".A barbárie a que antes de existir o parque,a gente se refere o oficial da FAB e o e£ já estava nestaterra que,boa ou petáculo visto da varanda do horuim,é nossa e é onde nasceram,se tel Kennedy naquela I1ha:"0s índj_ crlaram,morreram e estão enterraos carajás voltando bêbados da cj_ dos nossos pais e avos"(38K dade matogrossense de S.Felix. Os No Pará,"os Indlps (Gaviões) aÍndios atravessam o rio soltando , cabaram sendo removidos para oulongos uivos dentro da nolte"(3 «). tra área pela Funai. Mas esta Ainda sobre os Karajâs:chegou-nos vam tão transtornados que as muao conhecimento uma carta de LucJ[ lheres chegaram a praticar abor ara,no dia do Indlo,(19.^.73),astos para que não nascessem criansinada por 125 moradores daquele ças,pois os bebês ,segundo elas,dj_ lugarejo e endereçada ao Diretor flcultavam a locomoção da tribo . do Parque Indígena do Araguaia,1E a tribo estava sempre mudando Iha do Bananal .Entre outras coUde lugar, fugindo dos brancos"(39) .sas,dizla:"Pedlmos em favor deles Um grupo deles "maltrapilho e fa(índios Karajás em Luciara)uma ur_ minto,chegou a Fortaleza para pegente Intervençio da FunaI .Alguns dir ajuda" e na sua linguagem sim gravemente doentes (tuberculose)e pies fizeram a denúncia contra a todos absolutamente abandonados , Funai porque ela é dirigida por precisam de uma assistincla exce£ um homem civilizado e homem civlcional e permanente". 1 1 I zado engana índio"( »0) . Na Bahia,nio obstante o reduzi0 mesmo drama do índio pode ser do número de índios lã existentes presenciado no Nordeste onde "Xuencontramos a mesma vlolaçio dos curus",Fulniôs,Pankararus e Hamuseus direi tos,com todas as conseés . . .sobrevi vem apesar de confinai qüências que daí der Ivam:"Homens dos em parcelas de seus antigos entregues ã beb1 da,mulheres tran£ um formadas em empregadas domésticas. territórios e "perambulam" de conômlcos. Notícias provenientes de Cuiabá dio conta de que os Kaiabi foram solicitar armas à Funai "para enfrentar alguns fazendeiros da localidade de Porto dos Gaúchos que Continuam Invadindo suas terras (32). Em Goiás informa-se que "250 iji dlo;s, Xerentes tentam assumir ,. o controle do município de Tocatlnj_ as,tendo Já saqueado algumas fa kendas.Os Índios reclamam a pro prledade das terras em que vivem" 18 lado para outro,sempre escorraçados"(/»l). "Em Rondônia,a ocupação afeta índio e eco 1ogía"(42) .Surgem mortes de parte a parte e os responsáveis são "os gr i 1 ei ros ,gar impej_ ros e seringueiros,que invadem as terras dos Índios" éo que se vê o brigado a reconhecer o próprio presidente da Funai(^B).Mas a ver dadeira responsabilidade recai so bre a Funai porque "tem dado^permissão a empresas de mineração p£ ra explorarem minério na área indígena",como foi afirmado na Cirna ra dos Deputados em Brás T 1 i a (M) . Nesta rápida amostragem da situ ação dos Índios,ficou bem c^aro que "o Índio brasileiro está sendo extermi nado.Com o avanço da cj_ vilização branca tem havido cho quês e sempre o Índio brasileiro leva a pior.Esse extermínio não se faz através de armas mais podje rosas,mas também por causas biolo gicas introduzidas pelos brancos , como afirmou o professor Newton Freire Mala,Diretor do Departameji to de Genética da Universidade do Paraná(^5)• Não obstante a criação do novo órgão para atender às populações indígenas,a situação destas contj_ nua a mesma senão pior que a descrita pelo Grupo de Trabalho cons^ tituído por decreto pres1denc1aj , em maio de 1968:"Em que pese à forte legislação que,desde o pe ríodo colonial procura amparar o nosso 1nd1 o,cont1 nua o desrespeito pelo sllvícola.As dificuldades para o cumprimento dessas leis e a morosidade do rito processual^ nos casos de invasão ou posse,são incentivos para a continuação da espoliação de suas terras.Sempre de maneira 11egftima,por fraude ou violência,foram as terras tiradas a seu dono .E , não_raro,para "legltlmar"o esbulho,há a acobertá-lo um decreto,uma lei ou um ato administrativo qua1 quer (^ô) .F£ nal.SPI, mesma coisa', exclamava um chefe Karajá... "Os VI lias Boas protestam"faz a manchete da notícia da verdadeira trama contra o Parque Indígena do Xi ngu, pat roc 1 nada pela Funai e de_ fendida pelo General Ismarth de Araújo,super 1ntendente do órgão, sob pretexto de 1ntegração:"índio 1ntegrado,segundo os boletins do órgão,é aquele que ée converte em mão de obra".Para os sertanistas, é um mal.Essa política caracterizou-se pela opressão"(If7) .0 pro blema de fundo continua o mesmo, em que pese a explicação posterior do superintendente que persiste em defender a "1ntegração",mesmo que a qualifique de "lenta e harmoniosa" (48) . Para encerrar esse levantamento de dados,passemos a palavra a um dos mais sensíveis poetas atuais: "Homens esquecidos do arco-e-flexa/deixam-se consumir em nome/ da integração que desintegra/a raiz do ser e do vi ver./"Vocês têm o brigação de usar ca 1ça/camisa;paletó^sapato e lenço/enquanto no Leblon nos despedimos/de toda a convenção e viva a natureza".../ Noel, tu o disseste:/a civiliza ção que sacrifica povos e cultu ras ahtiquíssimas/é uma farsa amo 19 »jste sucinto e incompleto levan ^™tamento das nossas populações" indigenas já teria sentido para nos se,com e1e,conseguíssemos alertar a consciência de todos os brasi1eiros,correspondendo ao ape Io do General Antônio Coutinho,De" legado da Funai:"Se a igreja não botar a boca no mundo,os Índios., vãoser sempre massacrados"(50) . Sinajs de um despertar da consciência se vislumbram ao^ in 'di osmas , diante da sombria rea 1 i da" de,não conseguem vencer uma "enorme sensação de remorso",porque "no fundo,no fundo,o que a gente faz ê um crime",como me 1anco1icamente confessava o sértanista Antônio Co trim Neto(51) . Cumpre reconhecer que tem sido farto o noticiário dos jornais so bre os indios,mas esbarra na indiferença do nosso povo que tem uma visão er rônea , supe r f i c i a 1 e tendejn ciosa a respeito das populações ir^ digenas.Para a maioria,© indio não passa de um selvagem ou de uma figura de museu. Para alertar e melhor interpre tar essa problemática que,queira mos ou não,é também nossa,apresentamos algumas pistas para a análise das causas que produzem essa morte lenta das populações indigenas . populações indigenas são \/\t\_ **mas de todas as injustiças. A própria política indigenista,por ser ma[s política do que indigenis^ ta,está merecendo as mais severas criticas,a ponto de ser considerada "carente de qualquer mérito e um amontoado de contradições"(52). "A reformulação urgente dos métodos adotados pela Funai é a uni ca maneira de evitar que os Índios brasileiros sejam destruídos pela civi 1 ização",afi r mo*u o s e r t a n i s ta Cotr i m (53). Antes dos próprios métodos,há algo bem mais profundo a ser re formu1ado:"A única solução para o problema dos Índios brasileiros será a total reformulação da atual política adotada pela Funai, disse o General Frederico Rondon ii (5^4) . "Aparentemente a Funai é instituição muito dinâmica,à qual o país deveria inestimáveis servi ços.Rara^é a semana em que a im ~ prensa nao registra declaração de seu presidente sobre os projetos da entidade e as complexas tare fas realizadas por seus funcionários . í nfe 1 i zmen te essa imagem idí 1ica da Fundação Nacional do In ~ dio não passa de um mito"(55). Dos altos escalões ã simples equipes de a tração,ressalvando uns poucos e heróicos sertanistas, o que caracteriza a Funai é o des preparo para a missão que foi cha mada a desempenhar.E1 a se trans ~ formou numa enorme máquina buro crática centralizada em Brasília e"cuja8 opções são alheias ao bem estar da comunidade indígena" segundo ressaltou o Dr.Amaury Sa J»S O Dr.Sadock era o único dos altos funcionários da Funai que entendia de índio,mas teve que se demitir,dadas as irregularidades existentes no õrgio que, na opi niio do General Bandeira de Mello "atingem a quase todos os setores da Funai,envolvendo inclusive a nossa prestaçio de contas" (57). É impossível reformular uma autêntica política indigenista sem á redeflniçio de princípios e con_ celtos e sem situã-la no conjunto da política nacional.Nem mesmo o conteúdo antropo 1ógico ^e certas palavras como "aculturaçio" e "i£ tegraçio" tem sido respeitado no Jogo de prestidlgltaçio de cer tos conferenc1stas que a Funai tem enviado ao estrangeiro, na sua preocupação com a "boa ima gem".A própria Convenção n?107 da Organização Internacional do Trabalho ê utilizada dentro de outro esquema menta1,dentro de £ ma realidade diferente e com outros obje ti vos . "Declarações atribuídas a ai tos dirigentes da Fundação Nacio nal do Indio...vieram aumentar a distancia que separa os que têm interesse no indio sob o ponto de vista teórico mas que não podem nem devem deixar de olha -Io também como ser humano"(58).A re formulação da política indigenis^ ta urge mais atê porquese tor nou uma "política contrária aos princípios que ela defendia quan^ do foi criada"(59). A doença que se manifesta em um órgão só poderá ser convenier^ temente diagnosticada se o exame se estender ao corpo inteiro.Será que não teremos mais elemen tos e mais esclarecedores se estendermos nosso exame â política g1obaI? . a política do «modelo brasileiro» f^s dirigentes políticos braslOleiros,no afã do "desenvolvimento",promovem os interesses economlcos de grupos Internado nais e de uma minoria de brasi leiros a eles Integrada.Só podem fazer e de fato só fazem uma política economieista,sobrepondo o produto aos produtores,a renda nacional â capacidade aquisitiva da população,o lucro ao trabalho a afirmação da grandeza nacional ã vida dos brasileiros^ pretensão de hegemonia sobre a América Latlna ao crescimento harmônico do Contlnente.Jâ está mais do que provado e disto as nossas a_u torldades não fazem segredo, que foi aceito o caminho do "capitalismo Integrado e dependente" pai ra o nosso "progresso" .Mais provado ainda está que o "modelo brasileiro" visa um "desenvolvimento" que é só um enrIquecImen- to e conomico de uma pequena mino ria. Este enriquecimento da minoria será fruto da concentração plan ejada da riqueza nacional o que, em termos mais simples,é roub o do resultado do trabalho e do s ofrimento da quase totalidade d a população que progressivament e se i rá empobrecendo (60). Es sa opção equ i vocamen te deseji volv mentista tem.como conseque£ cia a crescente margina 1ização do p ovo brasileIro,seja operário, sub- operar Io, seja pequeno proprJ_ etár Io da cidade ou do campo,sejaa rrendatârlo,posse!ro,meIeIro, peão ,sub-empregado ou desemprega do.M ais grave ainda é que se abprof unda a dependência do país em r elação a outros países mais rico s e fortes , 1 mped I ndo uma ejK perl êncla de desenvolvimento naclon al,definido e assumido elos próp rios brasI1eIros. 21 Em funçio dessa opção "desen volvimentista" assim caracteriza da ê que se constituem os orga nismos admi n i s t rat i vos ,como a Fu^ nai.Muito a propósito vêm as recentes palavras do etnôlogo Carlos Moreira Neto,do Conselho Nacional de Pesquisas:"0 Brasil passa por uma febre desenvolvi mentista que pode estar influenciando ma 1eficamente a Funai"(6l) Todos os setores da administra çio devem colaborar para alcan çar os mesmos objetivos.Por tanto todos estão dependendo das diretivas econômicas e a elas devem servir.Tendo estas uma linha anti-nacional e antipopu!ar , ê ne cessãrio que estes órgãos admi nistrativos amorteçam e contró lem as tensões sociais que apare çam.No nosso caso "quando o ter- 22 ritório onde vivem apenas índios começa a receber co1onos,madereiros e grupos exploradores de mine rios,as autoridades resolvem o inevitâvel conflito entre indios e brancos-quando ainda restam indios- transfer i ndo o grupo indígena para outro local mais afastado da civilização e ãs vezes jâ povo ados por tribos inimigas das que chegam"(62) .Nisto se reflete o fe nômeno geral:o que importa não se rã promover algo mas, " i n tegra r " a população que puder ser integrada ao sistema adotado,servindo ao"mo de Io bras ile i ro" . Todos percebem que^com uma mentia lidade e programa assim desenvolvj_ mentistas qq,e tem presente "somente orendimento econômico,caminhar£ mos fatalmente para a extinção total das populações indígenas, por mais belas sejam as nossas inten ções, estatutos e leis"(63).0 exdiretor do SPI e experiente indige nista.Gama Malcher afirmou que "a política definida como de "prote ção ao indio",na realidade trans forma o silvicola em justificativa para a existência de um aparato bjj rocrãtico que relega os interesses dos indígenas a um segundo plano £ fim de atender prioritariamente as pressões e interesses de lattfundj[_ ãrios"(6i4) .Com energia,© deputado Jerônimo Santana denuncia:"A Funal se transformou num órgão de que os grupos se valem para explorar os recursos naturais das reservas onde os índios vivem.Hoje o indio ê o que menos importa.0 indio é uma coisa e a política posta em prática pela Funai o prova"(65)."As palavras "progresso" e "desenvolvi mento" servem de escudo para a dejs truição do ambiente natural brasileiro e para o extermínio dos ind_i_ genas" ê a conclusão a que chega a equipe do "0 Estado de S. Paulo" que fez uma alentada pesquisa so bre o indígena no Brasil (66). Para o povo pobre do Brasil o fu turo que o sistema oferece ê uma margina 1ização cada dia maior. Para os Índios, o futuro oferecido ê a morte.0 insuspeito "Osservatore delia Demenica" do Vaticano comenta:"esse progresso (do Brasil) no entanto tem um preço ecológico: a extinção dos indios"(67). 0a política global de desenvolv_i_ mento econômico do governo faz pajr te a "ocupação da Amazônia" (e do território nacional) mesmo que seja feita por companhias estrangeiras ou multinacionais que ali en contram grandes oportunidades de investimentos altamente lucrativos na exploração de minérios e de madeiras ou na organização de "empre sas agro-oecuãrias". Se para isso é necessário continuar, os métodos importados e tradj^ cionais de depredação da natureza, não 1mporta."Dlz-se que é preciso abrir estradas para povoar,fixar o homem na Amazônla .Agora que as estradas estão abertas verlflca-se que o deserto de homens permanece. Derrubam-se as matas não só para a_ brlr estradas mas também para In troduzlr o bol.Garante-se que só^ com a pata do boi a Amazônia será conquistada...Em nome disso,expu1 * sam-se os índios de suas reservas, mutila-se fortemente nosso equilíbrio ecolõgico",dlz severamente Cláudio Vi 1 Ias Boas(68) . Se para isso é necessário abrir grandes rodovl as , sej am abertas mes^ mo que os "males sejam grandes",se: gundo Orlando Vlllas Boas que a propósito da BR-80 frlsa:"Estrada política e não de interlorlzação" (69).Se é necessário expulsar os posseiros ali radicados hâ anos; que,depois dos Índios,foram os únj_ cos defensores daquelas riquezas , sejam expulsos a qualquer custo_ , conforme a vigorosa denúncia ate hoje 1rrejpondlda do Prelado de São Fellx do Araguala (70) .Se n£ cessar Io ma tar,mata-se . ,, .J E se ali encontra rem. os índlos?£ les não podem Impedir a marcha do "desenvolvimento" e devem ser "Integrados", "acul tu rados" para colaborar no crescimento naclonaK" 0 des-envo 1 v l mento da Amazônia não p£ ra por causa dos índios" é o título das declarações do Ministro Co^ ta Cavalcanti que exclama patética mente:"E por que eles hão de ficar sempre 1nd i os"?(71) . Se os índios ali estão mas não produzem segundo os critérios do capitalismo Integrado e dependente, se não possuem propriedade legal da terra,se não são proprletá rios de empresas agríco1 as , então devem dar lugar aos novos "ban delrantes",devem retirar-se destas terras que nunca lhes perten_ ceram e que só agora a "civiliz£ ção" dâ ou vende aqueles que vão desenvolver o país'. Podem estes últimos explorar (ou roubar) no£ sas riquezas naturais que vão au méntar as riquezas dos países rj_ cos...deles é o direito a apro prlação daquelas terras.Se os iin dlos assim provocados e expollados do seu direito reconhecido teoricamente e do seu modo natu- 23 ral de viver.morrerem, pois que morramlSe reagirem,sejam enfrentados como se fossem eles os invasores dessas terras! 0 Marechal Rondon.em trágica profecia,jâ em 1916 dizÍa:"Mais tarde ou mais cedo,conforme lhes soprar o vento dos interesses pessoais,esses proprietários-coram Deum soboles (ante a face de Deus)-expe1irio dali os índios que,por uma inver sio monstruosa dos fatos,da* ra "zio e da moral,serio considerados e tratados como se fossem eles os intrusos,sa1teadores e ladrões" (72). Fazendo eco ã profecia do Marechal Rondon,diz o Xavante Juruna: "...a terra ê a única riqueza que o índio tem na vida.Sem ela,ele vira um bicho,um cachorro que está sempre triste . . .E1 es (os Kra nhacacores)precísam saber que o branco quer sempre enganar para ficar com as terras"(73).Não falta razão aos Irmios Vi lias Boas quando c1 amam:"Nossos Índios es tio mor rendo,desaparecendo numa paisagem em que o boi e o capim vio expulsando definitivamente o homem.Agora,diante do processo de ocupaçio da Amazônia,vemos o in dio ao largo do desenvolvimento como mera paisagem"(74). 24 Se apresentamos aqui a atual po lítica indígenísta como a causa mais próxima da sítuaçio em que vivem (ou morrem) nossos índios , temos clara consciência de que ""a causa real e verdadeira está na própria formulação global da polí tica do "modelo brasí1eiro".E se dizemos que é necessário modifi car profundamente a política da Funai,afirmamos que isto somente será possível com uma modifícaçio radical de toda a política brasileira.Sem esta modificação global nao poderá a Funai ou outro organismo passar dos limites de um as s i s tenc í a 1 í smo barato e farisaict) aos condenados à morte,para camuflar o inconfessado apoio aos grandes proprietários e explorado res das riquezas nacionais . Neste contexto,o decantado Estatuto do índio não passará de uma publicidade oportunista ou uma homenagem póstuma. De nada adiantaria reformular a Funai se a psicose desenvolvi menti sta ,mot i vada por exclusivos cri terios econômicos e por um falso prestígio naclona 1,continuasse a dominar a política global do pa.ís. Seria o mesmo que reformar um dos vagões,não modificando o trilho sistema que está estragadoro de sastre é inevitável'. Depois desta sumária análise das causas da situação das_populações indigenas, a conclusão _i_ 'mediatista seria que não existe solução para o prob1 ema.Sertanistas/funeionários e missionários , que atraem novos rjrupos de Índios sentem-se angustiados pela cons ciência de que o resultado de seu trabalho foi apenas atrasar (oua_ celerar?) em alguns anos a extinção de tais grupos . "Ê com tristeza,diz Apoena de Meireles, que tentamos atraí-los, sabendo-se que um futuro sem pers_ pectivas os águarda"(75)• Esta mesma nostalgia se encon.tra em declarações de outros co nhecidos sertanistas.Or1 ando Vi1Ias Boas,em setembro deste ano_, voltando de uma frente de atração "parecia preocupado com o destino dos indios,que chama de tragédia" (76).Mas já em f ever e í r o, a s s i m de_ sabafava:"E quantos de nós, por força de miseráveis e desgraçadas circunstâncias os estamos traindo naquele exato momento do aperto de mão,do abraço,do sorrir,do ges_ to enfim de afeição.Desgraçados que somos,é a ve rdade " ( 77 ) . Seu ir_ mão Cláudio comenta com meIancolJ_ a:"Levamo-1hes (aos indios) nos sas doenças ; into 1erancia e muitas vezes o extermínio c r i m i noso , as s u_ m i do , proc 1 amado-" ( 73) . No mesmo tom,falava Antônio Cotrim Neto:"Não pretendo contribuir para o enriquecimento de gru pos econômicos ã custa da extin ção das culturas primitivas.(.. .) A política indigenista desenvolvj_ da,aceita a tese de que as culturas primitivas são quistos ao desenvolvimento nacional,Já estou cansado de ser coveiro de Índio : transformei-me em administrador de cemitérios indigenas"(79). Muitos missionários fariam suas as enérgicas palavras do missioná^ rio jesuita , Padre Tomas de Aquino Lisboa no Simpósio sobre o futuro dos indios Cinta-Larga,em março deste ano:"0 Parque Ãrlpuanã será cortado como o foi o Parque do Xingu.0 trabalho já está iniciado. Eu,como responsável pela atração desse grupo Cinta-Larga,não estou mais animado a faze-la,a não ser que as regras do jogo sejam obed£ ei das:respeitar os Indios,inter.romper os trabalhos da estrada fite que se consiga falar com os \t\_ dios para orientá-los nos seus f£ turos contatos com os brancos. Pois é melhor que o índio morra lutando pelo que é seu do que viver marginalizado e mendigando o que sempre foi dele"(80). Será q.ue os Indios constituiriam "um povo com os dias contados" (8l),ou como afirma Cláudio Vil Ias Boas, "os indios não terão propriamente um destino?" (82).Ou ainda , na me 1hor das hIpóteses,segundo o falecido Francisco Meireles "o índio só tem um destino: a marginalização?"(83). Não obstante esta trágica perspectiva ou exatamente por isso, é preciso salvar os povos indígenas, ameaçados de desaparecer . E1 es mais do que patrimônio-arquívo da humanidade,são humanidade viva. 25 êr t 26 4( Estou cansado de ser covéiro de índios" ANTÔNIO COTRIN NETO Eis por que se justifica que so mente pessoas ou entidades cons cientes,competentes e desinteres- % sadas sejam mobilizadas para equ£ cionar este problema. Não i possível que se continue a dizer,em alto e bom tom^OsJndios estão cansados de serem indj_ os.Eles querem beneficiar-se com os programas do Governo" (81») . Se já é estranho que assim fale o mj_ nistro Mario Andreazza,mais estranho é que o General Frederico Rondon afirme que se "deve promover a integração total mediante a absorção da mao de obra indígena" (85) e o General Bandeira de Mello,diretor da Funai,proclame que a "assistência ao Índio deve ser a mais comp1eta possíve1 mas nao pode obstruir o desenvolvimento da Amazônia"(86) .Nesse contexto, não é de estranhar a fanfarronice do Deputado Gastão Muller:Se os fazendeiros quisessem,poderiam ter partido para uma luta armada e seria muito fácil vencer os indios"(87) . Afirmações como estas,orquestr£ das por tantos fatos lamentáveis, confirmam as denúncias de genocídio... Em que pese as reiteradas afirmações do Ministro do Interior de que o "problema dos Índios e um problema do Brasil^SS) e "os outros países não tem o menor conhe cimento do problema do Índio brasil e i ro" (89) , t ra ta-se de um pro blema da humanidade,ta1 vez melhor conhecido,em suas causas e motiva^ ções,nos países onde existe 1ibe£ dade de informações e de debate.A final são milhões de seres huma nos nas Américas e alguns milha res no Brasil,que há quatro séculos vêm sofrendo as maiores injus^ tiças por parte de uma "raça" que se pretende superior. sertanista Se o grau de consciência da humanidade correspondesse ao volume das 1nformações,já não se toleraria mais tal situação inígua.É com os olhos fitos no veredito da história,tradução do julgamento de Deus,que o Brasil deve solucio nar o problema do indígena,não co mo questão de segurança nacional e economia,mas como imperativo da dignidade humana e da honra do p£ vo bra s1 1e i ro . Somente assim seria legitimo que uma política indigenista brasileira se apoiasse num documento 1nternaci onal (90) . Evidentemente o problema indígena brasileiro não se equaciona e menos ainda se resolve_ se nao for situado em sua dimensão inte£ nacional. Mas também é evidente que não encontrará solução adequa_ da, separado de seu contexto nacj_ onal, levando em conta que os Índios constituem apenas alguns milhares dentro da esmagadora maioria de milhões de brasileiros maj^ glnalizados. Todos hão de concordar que "em nome de uma política de integração, que não Integrou nem mesmo os civilizados, nao se pode violentar uma cultura que,em bora pr 1 mi 11 va ,* tem garantido a subsistência secular desses povos. A sociedade civilizada sôterã o direito de falar em integração do índio no dia em que,em seu meio, , .não houver ninguém morrendo de fc> .'me"(9l) . "Há séculos - afirmam os l_r mãos Vlllas Boas sobre osindiossobrevivem graças ã caça,ã pesca_ e a uma rudimentar agrI eu 1 tura . Sã o felizes com suas crenças e seus rituais be1íssimos.Por que então destruir essa cultura secular?Ape nas para impor nosso sistema de vida aos IndI os?CIv11Izar para «£ PRECISO RESPEITAR O INDÍGENA COM SUAS CRENÇAS E SEU ÜIÓDÒ DE VIDA» PADRES CATÓLICOS que? Destruir a organização tri fba 1 existente e depois deixar os ■índios marginalizados na nossa so cledade?"(92) . Sempre na perspectiva de uma mudança profunda da política glojba 1 do atual modelo bras i 1 e i ro , i m por-se-ia ainda a.organização de um grupo diversificado do qual participassem Índios, antropõlo J gos è outros'c t ent i st as,ser tan i stas e missionãrios , para promover ío autêntico diálogo i n tercu 1 tura 1 e a harmônica convivência e colaboração dos nossos diferentes povos . Deyemojí reconhecer que freque£ temente faltou esta visão e cons'ciência sócIo-polTtica às entidades cristãs,preocupadas mais em "prestar assistência" aos Indròs. Em conseqüência, sob equívocos pretextos de uma caridade alienada, não raro traíram sua missão e vangêlica de defendê-los tenazmen te da morte física e cultural ou" de respeitar sua liberdade e dignidade de pessoa humana. "Os próprios padres católicosé afirmado em recente artigo da imprensa-apõs mais de AOO anos de catequese,viram-se obrigados a mu dar de tat1ca.pois se continuas sem nomesmo propósito de Anchieta e Nóbrega (sic) o que iriam conseguir não seria mais do que a desagregação,margina 11zação,des truição e morte do que resta dos grupos indígenas bras i 1 e I ros . E ejs sa mudança de tática foi justamen te no sentido de respeitar o indi gena com suas crenças e seu modo de vida,valorIzar a sua cultura £ o Invés de procurar Impor a cultu k» dos cUI I lzados"(93) . A visão de uma nova política indlgenlsta deveria ser posslblll tada e favorecida pela transforrna ção das missões religiosas. Exigindo que só pessoas devida^ mente qualificadas e com uma prájtlca conseqüente. Interfiram na 'solução do problema I nd I gena , pen^ samos na formação adequada que de vem ter os mlssIonãrios,pols seu trabalho de_,eyangel i zaçãosempre 'va\ atingir o coração,o núcleo central das culturas i nd i gena.s .To car no coração sem a ciência e a perícia de uma equipe de cardi ologistas seria causar fatalmen" te a morte àquele a quem desejamos fazer o bem. Gravíssima responsabilidade é a do charlatão em medicina e mal or ainda no camp^ da aculturação onde se pode causar a morte não apenas a um que outro indivíduo, mas a um povo todo e à sua cultu ra. "" Além disto, para que este trai balho seja efIc1ente,torna-se ne cessaria uma espécie de as.sepsí^ não no sentido de total ISolamen to, mas no sentido de preparar " as populações envolventes. Com e feito, para os índios, todos oT "brancos" ou "civilizados" repre sentam de certo modo o "cristla-" 'nismo" de que os missionários se reclamam e portanto também a men sagem que estes querem transmi tir. Faz-se pois necessário que medidas análogas sejam tomadas em relação aos evange1lzadores dessas populações envolventes. Ensina o mlssionárIo-antropólogo Adalberto Holanda Pere I ra : "0 indlo é apenas diferente de nós e com o direito de continuar a sua vida ao lado da nossa.Dentro da maior simetria entre os sistemas de l nteração,transmitamos ao Indlo os traços culturais que ele deseja receber e recebemos dele os que nos possa transmltlr"(92t) . Iesmo percebendo sinais pos i tj_ vos,como sejam uma nova ment£ lidade missionária, a criação do CIMI, encontros ecumênicos,não estamos sat!sfeitos com o nosso trabalho e não podemos esquecer a d ramaticidade da situação, de£ crita na lancinante "Carta dos Caciques de Votouro"(R.G.S.),da qual vamos reproduzir um pequeno trecho,segundo cópia do original; s "Queria ver os senhores de ou tra origemJnão sendo o indio.Que_ ria ver o português cassar a "0£< aa passada sem ninguém por ele e' outro lado de origem italiana sem ter aquilo que traz o ensino:suas mãos presa^ seus olhos ae_ go para o ensino,seus ouvido eur do para ouvir as enduaação,sem direito sociedade nenhuma, sem di^ reito a um palmo de terra3sem dt reito educar os filhos.. ,0^ nosso plano de todos nossos irmãos de terra mundial nós acreditamos ' que somos iguais que nosaos irmãos ycorre sangue dos pés a cabe ça,carne humana,iguais como quaT quer um de 'nóa"(9S). Aí está uma interpelação que suscita uma indispensável pergu£ ta,em sentido contrário:0 que se ria o Brasil,se contasse positivamente com o indio?Ê bem possível que muitas autoridades e br£ slleiros de mentalidade capita lista e imperialista tremam dian^ te desta pergunta,o que mostra que,consciente ou inconsciente mente,apoiam a extinção dessas populações que constituem, por seus valores positivos, uma contestação viva do sistema capitalista assim como dos tais "valo- res" de,pretensa "civilização , crista". Diante de outra pergunta: o. que seria a nossa Igreja,se contasse positivamente com o indio? Talvez a atitude de muitos Í£# mãos de fé seria igualmente de embaraço.Se olhássemos positivamente para os valores vividos pe los Índios criticarem nossos valores , f i car ia evidente um incômo do j u1gamento. Tanto para a sociedade brasileira quanto para a Igreja,o mes, mo aconteceria se perguntássemos o que seria o Brasil ou nossa Igreja,se contássemos posItivame£ te com os valores do povo marginalizado das cidades ou dos campos . . . Por 1sso , convidando a todos para assumirem conosco este compromisso,nós nos propomos,em prj_ meiro lugar,a continuar uma esp£ rançosa luta pelos direitos dos"" povos indigenas.Mesmo que todos os fatos nos incitem ao desânimo ou ao desespero,fazemos nossa a .vontade dos nossos irmãos Índios' de viver e de lutar pela preservação de sua cultura.Não traba 1hamos por uma causa perdida,por que se trata de uma causa profun damente humana,pe1 a qual vale a' pena ate morrer,se preciso for. Seria trair a nossa missão, se ; nos resignássemos a ser ministros de um Batimo "in articulo morti s" . Em segundo lugar,não aceitare ;mos ser instrumentos do sistema"" Icapitalista bras i I e i ro . Nada faremos em colaboração com aqueles que visatr. "a t ra I r " , "pac í f l car" e "acalmar" os índios para favorecerem o avanço dos latifundiários e dos exploradores de minérios ou outras riquezas.Ao contrário,tal procedimento será objeto de nossa denúncia corajosa ao l£ do dos próprios Índios.Com eles, nio aceitaremos um tipo de "inte gração" que venha apenas trans formá-los em mio de obra barata, avolumando ainda mais as classes marginalizadas que,no func[ona mento do sistema de produção,enriquecem somente aos que já são ricos.Menos ainda,por ser mais humilhante e criminoso,colaboraremos com um trabalho que vise transformar o indio em um ser hu^ mano necessitado de tutela,pois ele não é um menor nem um inválj_ do,e sua maioridade de indivíduo ou de povo, ga ran t i da pela prôpr_i_ a lei na Natureza e por Deus,Senhor das consciências e fiador dos direitos humanos,não pode f\_ car condicionada a critérios de uma suposta "integração". Em terceiro lugar,o objetivo do nosso trabalho não será "c i v_^ lizar" os indios.Estamos convenw cidos,como o grande precursor Bartolomeu de Las Casas que "muj_ tas lições eles nos podem dar não só para a vida monástica mas também para a vida econômica ou política e poderiam até ensinarnos os bons costumes"(96) . Seria trair o Evange1ho,reduzí-1 o a instrumento de uma sociedade que "se desumaniza - como diz da cidade Cláudio Villas Boas - tor nando o relacionamento entre as pessoas cada vez mais difícil,ca da vez mais distante.Tenho pressa em voltar ao Xingu,uma pressa agôníca,existencia] . Lá , creio que poderei entendê-los melhor. Em sintesernão estando no proce£ so de afogamento,compreenderei melhor o que se está afogando"(9 7) . Por outrvo 1 ado , Compromet i dos com os povos indigenas,afirmamos: Há entre eles valores vitais que os constituem como povos e J consequentemente,os fazem sujeitos de direitos que não podem ser espezinhados."Como ser humano - proclama Apoena - nio pode (o índio) ficar sempre sendo a vítima das decisões muitas vezes arbitrárias dos que pretendem d_i^ rigir-lhes o destino" (98) .A única atitude válida será respeitálos como povos e,num diálogo real e positivo,progredirmos jun tos como humanIdade.Qua1 quer tipo de intervenção que vise ensinar-lhes costumes e padrões de nossa cultura será ou dominação direta ou caridade farisaica. Só um diálogo assentado no reconhecimento de seus valores e d i rej_ tos será autêntico e positivo p_a ra os dois 1ados. Sem assumir a visão idílica de Rousseau,sentimos a urgente necessidade de reconhecer e publicar certos valores que são rna is humanos e,assim, mais evangélicos do que os nossos "civiliza^ dos" e constituem uma verdadeira contestação â nossa sociedade: 19 - Os povos indigenas}em ge_ vai, têm um sistema de uso da terva^haseado no social,não no ■particular, em profunda consonância com todo o ensinamento bibli^ ao,não só no Antigo mas no Novo Testamento,sobre a posse -e o uso da terra (99$.Corta-se assim pela raiz a possibilidade de dominação de uns sobre os outros ã base da exploração particular de meios de produção.Nota Antônio Cotrim Neto que "com a chegada do branco, estabelece-se o concei_ to de propriedade particular,sur_ gindo os conflitos na aldeia"(lO 2Q - Toda a produção, fruto do trabalho ou do aproveitamento das riquezas da natureza e por tanto toda a economia é baseada nas necessidades dó povo,não no lucro ."Produz-se para viver e não se explora o trabalho para lu arçLr."0 indio não se preocupa com acumular bens de qualquer na tureza - ensina o jesuita Adal - berto Pereira - nem possui o ee* ttmulo econômico no sentido _ de adquirir prestígio ou elevação do "s tatus" social.Não conh'ece competição econômica e nem atitu des de ambição .Vive jo sistema cq_ munitãrio de produção e consumo, com divisão de trabalho segundo o sexo". (101) . SÇ - A organização social tem como única finalidade garantir a sobrevivência e os direitos de todos,não os privilégios de ai guns.O comunitário prevalece 8j>bre o individual.To da expressão cultural visa celebrar e aprofun_ dar este senso de comunidade.Eis a fonte da paz e da harmonia de que tem saudades os sertanistas: "nossos irmãos da selva - diz Cláudio Villas Boas - sem possui rem toda esta sofisticação teano_ lógica,são plenos e felizes,vi vendo uma vida equilibrada e har_ moniosa (102).Francisco Meireles sonha-."Intimamente gostaria que eles pudessem ser mantidos em su_ as aldeias e que nós,civilizados, ao invés de incutir-lhes nossos padrões culturais,aprendêssemos com os indios que ^sempre vivem ^ em harmonia não só no grupo tribal mas com a própria natureza. (203). 49-0 processo de educação caracteriza-se pelo exercício da liberdade. "Aprendem a ser livres desde a infância - diz Luiz Salgado Ribeiro - pois um pai nunca obriga o filho a fazer o que. ele não quer.Um pai nunca bate no fi_ lho,por maior que tenha sidoa sua travessura". (...) "0 indio é acima de tudo um hom em livre.Não depende de ninguém p ara o susten to de sua família - eie mesmo ca_ ça e pesca enquanto sua mulher cuida da pequena lav oura de subsistência - e isso l he dá oondições de não dever fa vor ou obrigação a ninguém.Nem a seu pai, nem ao chefe da trib o" - (104). 59 - A organizaçã o do poder não é despótica masc ompartilhada. "Assim o chefe não ê aquele qup 31 manda}mas sim o sãbio que aaonse .lha o que deve ser feito...Se os indijos seguem ou não seus conselhos,o problema não é do chefe.E le apenas é um líder que aconselharão um patrão que determina o que tem de ser feito.Mesmo no caso de uma guerra,o chefe nunca poderá determinar que todos os homens participem da luta"(105). Isto significa que, entre eles,a autoridade é realmente um serviço a comunidade,não dominação. Claro que nestas condições não há lugar para instituições de po - liciamento e coerção. 69 - As populações indígenas vivem em harmonia com a natureza e seus fenômenos,em contraposiçã o a nossa "integraçãocom as difê rentes poluições, destroços de u ma natureza arrazada e substitui da pelo habitat em que vivemos:~ "Os indios, ao contrário dos brancos, sempre conviveram em peje feita harmonia com a natureza, não havendo casos de tribos que tenham destruído a fauna ou a flora de qualquer região por e Ias habitada.Esta e a posição di" antropólogos e especialistas em indigenismo"(106). 79 - A descoberta, evolução e vivência do sexo entram no ritmo normal da vida do indio,num clima de respeito,sem as caracteres ticas de tabu ou de ídolo que si" manifestam em nossa sociedade e tanto a condicionam. Essa enumeração de valores ni, o pretende ser exaustiva nem e ^ les se realizam uniformemente, mesmo porque cada grupo indigena constitui um povo, com suas ca racterísticas pecu1iares,cuja ex pressão maior ê a língua.Não ig" noramos que também no homem indí gena há sinais da sombra do peca" do que,sob formas diferentes dõ egoismo comum,embaraçam a plena realização e autêntica integra ção desses valores humanos. Mas esses valores existem e devem ser respeitados ,e promovidos.0 trabalho à ser feito será decidido com os indios e nunca O chefe; não é aquele que manda, mas sim o sélpio que aconselha o que deve ser feito... Se os índios seguem ou nao os seus conselhos o problema não é do chefe Ele apenas e um líder que aconselha não um patrão que determina o que tem de ser fe/to"» (O Estado de São Paulo)' "Um pai nunca obriga o filho a fazer o que ale não quer. Um pai nunca bate num filho, por maior gue tenha ado a sua travessara?' Luiz Salgado Ribeiro. S para os índios.EJes mesmo desenvolverão seus valores e suas téc nicas e decidirão o que aceitam de nossa cultura e com Isso realizarão seu caminho original,colaborando com o verdadeiro desejn volvimento Integral do Brasil e da Humanidade. Neste ano em que celebramos o 25? aniversário da Declaração dos Direitos Humanos,se cotejássemos esses direitos com a nossa realidade civilizada e com a re£ lidade Indigena,ta1 vez tivéssemos a surpresa de descobrir que os índios mais os vivem e respej^ tam do que as najões que afiança ram sua formulação. Se tivéssemos a corajosa hummildade de aprender com os Indl? os,talvez fossemos levados a ti transformar nossa mentalidade Ini dtvtdualtsta e as correspondentes estruturas econôml cas , pol rtj_ cas,sociais e religiosas para que,em algum lugar da dominação de uns sobre os outros,pudesse'»* mos construir o mundo solidário da colaboração. Se como Igreja ou como pessoas que se pretendem cristãs continuarmos nos apresentando aos índios com belas palavras con tradltadas por nossas Iniciatl vas capItaIIstas,permanente e m£ Is profundo será o escândalo para esses povos.Bem o mostra a ■ pergunta de um índio Tupirapé ao mlssionârIo:"Quanto é que as Com panhlas (agro-pecuárIas)pagaram ao Pai do Céu de vocês para ele dar as terras dos Índios"? íO c r i s t a o " s 5 será slfilTl u h I Versaí' da salvação e revelador do amor do Pai do Céu,em toda parte,e em particular,para os po vos Indígenas,se for uma presença respeitosa e paciente e esperançosa que possa perceber,assu- 'mír,~viver e r«ye'».t.jos 'egítlmò* valores desses povos^em que sé • exprime a milenar ação de Deus em sua vlda.Els o que seria uma pratIca correta"da continàidade da Encarnação de Cristo. Ele mesmo o fez, antes de I njj ciar sua atividade pública de profecla,"despojando-se de sua divindade" (Fl 1 .2, 7) ,para situar^ se nos limites de um chão humano onde,homem,aprendeu com os ho mens, a linguagem do diálogo e o gesto da comunhão,faz abrir os caminhos de uma real libertação. ê preciso o despojamento da cultura para entender o indlo, nosso Irmão.Se a comunhão com o próximo,o amor,é o núcleo da mer[ sagem evangélica, antes de qualquer proclamação verbal,deve ser, atitude de vida.Só através de um processo de encarnação no selo dos povos Indl genas ,assumi ndo su^ a cultura,seu estilo de viver e de pensar,poderá ser demonstrada de modo convincente,a transcèn dência do Evangelho tão afirmada teoricamente e tão negada na prá tlca,pelas {■posições de um rígT do lega 11smo. Transmitir o Evangelho é Instaurar um processo de revelação libertadora e, antes de tudo,vivê-lo no seu d Inaralsno.Hui tos a-1 pelos da presença e da ação.do senhor,sementes do Evangelho,hâ de receber o evangel I zador' qoe real e lealmente se encarne no mundo dos I ndlos.SentIr e decl frar tais apelos será condição preliminar da missão. Juntamente com os índios,é preciso Identlf^ car.na vida deles,os rastros de um Deus solícito que percorre e orienta os caminhos de todos os homens,ontem como hoje,para a ; plenitude dos tempos que é Jeass Cristo,o Homem Novo,cuja ressurreição radicaliza na história o CHEGOU O MOMENTO DE ANUNCIAR: AQUELE QUE DEVERIA MORRER É AQUELE QUE DEVE VIVER pioneiro da transformaçio da Human i dade . ' A Ressurreição do Senhor quebra os limites do tempo e do espaço,abrindo os horizontes de uma Nova Humanidade, enquanto autentica os valores pelos quais o Cristo morreu,os valores da Verdade,da Justiça, da Liberdade.e do Amor,essenciais para se construir uma sociedadehumana fra terna,sacramento,anúncio e revelação de que Deus ê o Pai Nosso. A Ressurreição do Senhor nao permite que sua mensagem fique sepultada nos quadros de uma cuj_ tura,mesmo que essa cultura se intitule "cristã". A Ressurreição do Senhor não permite que seus arautos fiquem reduzidos a pioneiros de um sistema desumano, apaziguadores de conflitos a serviço dos podero sos,a anestesistas de povos chamados primitivos ou selvagens pa ra mortíferos transplantes cult£ ra i s . A Ressurreição do Senhor,prova de seu poder soberano,não ê compatível com qualquer atitude de desânimo ou desa1ento,porque é a demonstração da lógica divina que, na execução do Reino, se arma da força dos fracos e da sa bedoria dos incultos. A esta altura,hão de acusar nos de ter levantado problemas e não'trazer soluções.As soluções só serão encontradas na realidade onde nos precede a ação do E^ pírito.Não haverá so1ução,enquan to não mudarmos nossos critérios e continuarmos desenvolvendo uma açio Inconsciente e irresponsável,por falta de uma visão lúcida. A luz da fé não anula nem atenua,nem substitui,mas antes £ centua,aclara e exige uma analise objetiva e portanto global da nossa rea 1 i dade . Neste esforço de assumir nossa existência em todas as suas dimensões,sentimo-nos solidários com tudo o que existe no mundo , especialmente na América Latina, em favor da libertação do homem e dos povos,em particular dos po vos indígenas. Enfim,sentimo-nos ligados a toda luta pela configuração de u ma solidária experiência nacionnal,o que não significa um nacio nalismo estatalista nem tolera qualquer internaciona1ismo imper i a 1 Ls ta . «j — ' '' Vivemos sob o signo da morte ressurreição do Senhor . Nossas populações indígenas,ao longo do tempo,já pagaram a morte o seu doloroso tributo. Chegou o momento de anunciar, na esperança,que aquele que deve ria morrer, ver . é aquele que deve vj_ —-o dia 21 de dezembro p.p. poIMdiam-se ler nos jornais man chetes como esta do Estado de_S. Pau Io:"Médici veta participação religiosa junto aos indios" ou, no Jornal do Brasil,"Estatuto dos índios é Sancionado com Ve tos",esc 1 a recendo loqo na segunda alTnea:"0s vetos se referem ã participação de missões religiosas ou científicas na assistênc_i_ a ãs comunidades indígenas e a realização de contatos comindios". Foi vetado o. Parágrafo Onico do Art.2? a&sim formulado:"É reconhecido ãs missões religiosas e científicas o direito de prestar ao indio ,/e ãs comunidades in dígenas serviços de natureza assistência 1 , respe i tadas a legisla_ ção em vigor e a orientação do órgão federal competente". Na justificação do veto.e alegado que "pela prõpria natureza da assistência ou tutela a ser prestada ao indigena.cumpre se preserve a unidade de ação e co£ trole sobre as áreas ocupadas De_ los silvícolas. A outorga a entj_ dades privadas do direito de pa£ ticipar dessa tarefa criará,não obstante os seus altos propósi tos,grave embaraço ao exercício da competência assistencial que é incumbida ã Nação". Logicamente foi também vetado o artigo 6^ e seu parágrafo,nos quais se autoriza e disciplina a prestação de serviços aos indios, sem fins 1ucrativos,por entida des re 1 i g i osas , c i en t í f i ca s ou fj_ lantrópicas. -.' Foi igualmente vetado o Parágrafo Segundo do Art.l8:"E vedado a terceiros contratar com indios a prática por estes de quaj_ quer das atividades previstas no parágrafo anterior" isto é,"a prática de caça,pesca ou coleta de frutos,assim como de atividades agropecuárias ou extrativa". Da justificação,destacamos a seguinte frase:". . . cria esse pr£ ceito obstáculos ainda ao cumpr_i_ mento dos objetivos cardeais do Estatuto,que consistem precisa mente na rápida ç salutar inte'gração do indio na civilização (Jornal do Brasi 1 ,21/12/73) . Quando da aprovação da emenda do Senado sobre as missões religiosas e científicas,eis o nue dizia o P.Vicente César, presl dente do Conselho Indigenista Missionário,no dia 23 de novem bro p.p.:"0s missionários defendem os indios há séculos e um di reito secularmente respeitado na_ o pode ser transformado súbita mente num simples consentimento de acao,sem desprimor para nossa Historia" ( 0 Estado de S.Paulo). Seria supérfluo qualquer comen^ tário,a esta altura,sobre esses vetos que apenas vêm ilustrar tu do o que já foi exposto:a redu çáo dos indios â condição de pobres tutelados,o comportamento do governo que trata não somente as suas terras,mas suas próprias pessoas como objeto de apropriação e toda a iniqüidade da tal integração de que tanto se fala. Se os missionários podem invocar um direito que lhes é conferido pelo Evange 1 ho , portanto pelo próprio Deus,em termos de um imprescritível manda to,podem os cientistas invocar a outorga de seu direito da própria humanidade a cujo serviço se colocam. Este adendo , imposto pelo caráter recente dos fatos,pretende simplesmente servir como confirmação de todo este docume n to I-JUCA PIRAMA (ADENDO N'2) HHOtlvos alheios â vontade dos ^^■autores fizeram com que este documento só venha ã luz da pu blicidade três meses após a data para o qual fo| preparado. Nas atuais circunstâncias em que vive mo s,não será difícil ao "Te i to r .i dentificar o tipo de obstáculos"" que sua publlcaçio encontrou .Pou^ pamos-1he,por isso,o relato de toda essa penosa história que já vale por um tributo pago à defesa dos nossos Índios. As notícias divulgadas pelos mais sérios jornais do pafs.após a data em que deveria ter vindo a público este documentofconfirmam a análise da situação em que se encontram os índios e as críticas ã FUNAI . "A I nda há pouco,os jornais estampavam o triste doc_u mento fotográfico de índios Kreen-akarores mendigando na rota Cuiabá-Santarem.Os atritos entre tribos e colonos que lhes cobi Çam as terras são fatos comuns.I gualmente rotineiras são as notT cias de a 1coolIsmo,próstitu Ição, tuberculose e outras doenças cor^ traídas por tribos que o homem civilizado pretende resgatar à vida primitiva"(Jornal do Brasil de \2/^i"7,*) . Os Kreen-akarores,menos de um ano depois de a t ra ídos , f oram I nj_ ciados em aberrações,por um funcionário da FUNAI."0 presidente da FUNAI,genera1 Bandeira de Melo,mandou instaurar inquérito p£ ra apurar as responsabilidades do sertanista(...) acusado de prá tica homossexua1ista,envolvendo índios Kreen-akarores (0 Popular de Goiin^a.S/l/?1*. A propósito desse lamentável fato,o missionário jesuíta Antorvlo lasi Jun i or , comentava : "Os In 36 dios estão sempre levando a pior, nossa luta em defesa de seus interesses chega a assumir caract£ risticas,de quando em quando, de tarefa Insuportável.Sinceramente, não sei por que é que existe tar^ ta I nsensibi1idade,tanto egoísmo e tanta podridão entre os que se dizem,alto e bom som,como defensores dos IndIos"(\/oz do Paraná, 14/1/74) . Novos pronunciamentos foram ou vidos nas Câmaras,como o do depju tado Juarez Bernardes,criticando as atividades da FUNAI e classificando-as como "um desastre social" (Jornal_do Brás I1,13/3/74) . As declarações de Rangel Reis, atual ministro do Interior, an tes da posse,não deixaram de cho car a todos que se Interessam pie Io problema dos índios."Novo Ministro quer fim das reservas indígenas" deu manchete de jornal (Jornal do B ras i 1 , 9/3/74) e mere ceram destaque na Ia.página suas opiniões sobre a "absorção dos índios brasileiros na sociedade civil e o abandono - tão rápido quanto possível - da idéia de rie servas indígenas,pois "o problema do índio será tratado dentro da nova ótica,sem romantIsmos".. ( JB , id). Igua1 mente,deve-se par tir para uma política realista e' honesta".(0 G1obo,9/3/74).0 novo presidente da FUNAI tentou um "arranjo" para encobrir a nota dissonante de tal declaração,dizendo que "as declarações recentes do Ministro do Interior do novo governo,Sr.Range 1 Rèis,fo ram mal interpretadas"(Jornal do Brasi 1 ,12/3/74K Mas a confusão continua pois enquanto o Ministro diz que se deve partir "para uma política realista e hone sta ,o presl dente da FUNAI , genera 1 Is marth de Araú jo.diz:'^ ave rã con t i nu i dade na po1't i ca i nd!ge nf st a oficia ti (Jornal d o Brás IM 2/3/71») . 0 ma i s acerta do s er i a diz er com o Pre s i dent e do Cl Ml :"A po!_[. t i ca da F UNA! ê vac Ilante"( 0 Estado de S .Paulo .13/ B/M) -El a deve irão sabor da p o 1't i ca d e*s e£ vo1v i men t i s ta d o pa T s,pa ra a qua1 o In d i o ê vi s t o como u m es torvo ao progre sso nacional .En tre tan to "a que s tão do i nd i o -co mo af i rma o an t ropõ logo Rob er to da Mata,D i retor de Ant ropol ogia do Museu Nac i on ál - deve se r colocada de ou t ra man e i ra,ou sej a: como o de senvo1 v i me nto bras i 1 e i ro poderá benef icia r os gru pos tribais q ue v i v em e m ter r i t õr i o 1 nac ional? "(0 Gl obo, 17/3/7 ») NOTAS 4 < 1 - Comunicado mensal da CNBB,n9 231 - Dezembro,1971 e I/Os -\ servatore Romano - Ed.Em Por tuguês,30/1/72. 2 - O Estado de S. Paulo - 15/6/ 1971. 3 - O Estado de S. Paulo 4 - O Estado de S. Paulo - 31/3/ 1973. 5 - Jornal do Brasil - 16/11/73. 6 - O Estado de sJPaulo - 2/2/73 -18/8/ 7 - O Estado de S.Paulo 1973. 8 - O Estado de S.Paulo - 29/7/ 1973. 9 - A Notícia (Manaus) - 10/1/71 10- O Globo - 19/7/1971. 4 11- Jornal do Brasil - 15/ll/73# 12- Visão - 25/4/1971. 13- Gonçalves Dias,Antônio - Os Tymbiras,canto III. 14- Jornal da Tarde - 8/12/1971. 15- O Estado de S.Paulo - 26/10/ 1971. JLG- O Estado de S.Paulo - 8/8/72 17- O Estado de S.Paulo - 15/8/ 1973. 18- O Estado de S.Paulo - 16/11/ 1971. 19- Jornal do Brasil - 28-29/11/ 1971. 20- O Estado de S.Paulo - 12/3/ 1971. 21- Realidade - Outubro de 1971. 22- Realidade - Outubro de 1971. 23- O Estado de S.Paulo - 5/11/ 1973. 2 4- Carlos de Araújo Moreira Neto in "La Situación dei Indí gena en América Del Sur" Montevideo - üruguay - 1972pâg.404. 25- O Estado de S.Paulo - 9/5/71 26- Veja - 28/2/1973. 27- O Estado de S.Paulo - 28/3/ 1972. 28- O Estado de S.Paulo - 19/4/ 1971. 29- Jornal do Brasil - 8/7/1972. 30- O Estado de S. Paulo - 4/4/ 1972. 31- O Estado de S.Paulo -31/5/ 1972. 32- Jornal do Brasil - 25/10/ 1973. 33- O Estado de S.Paulo -3/9/71. 34- O Estado de S.Paulo -31/3/ 1972. 35- O Estado de S.Paulo - 1/1971 36- Jornal do Brasil - 24/12/72. 37- O Estado de S. Paulo - 27/2/ 1972. 38- Jornal do Brasil - 20-21/2/ 1972. 39- O Estado de S.Paulo - 25/5/ 1972. 40- O Estado de S.Paulo - 15/12/ 1971. 41- O Jornal - Rio - 29/4/1973. 42- O Estado de S.Paulo - 22/5/ 1973. 43- O Estado de S.Paulo - 3/12/ 1971. 44- Correio Brasiliense - 8/12/ 1971. 45- Veja - 5/4/1972. 46- O Estado de S.Paulo - 3/10/ 1971. 47- O Estado de S.Paulo - 20/11/ 1973. 48- O Estado de S.Paulo - 21/11/ - 1973. 49- Jornal do Brasil - 15/2/1973 - Carlos Drummond de Andrade. 50- Correio Brasiliense - 1/9/73 51- O Estado de S.Paulo - 5/11/ 1972. 52- O Estado de S.Paulo - 13/5/ 1971. 53- 0 Estado de S.Paulo - 20/4/ 1973. 54- 0 Estado de S.Paulo - 26/4/ 1972. 55- O Estado de S.Paulo - 30/3/ 1972. 56- O Estado de S.Paulo - 9/8/ 1973 57- O Estado de S.Paulo - 22/8/ 1973. 58- Silvio Coelho dos Santos .índios e Brancos no Sul do Brasil" - Florianópolis,1973 - pág.21-22. 59- O Estado de S.Paulo - 15/5/ 1971. 60- Eu Ouvi o Clamor do Meu Povo -Documento de Bispos e Superiores Religiosos_do Nordeste - Marginalização de um Po vo,Grito das Igrejas - Documento de Bispos do Centro-Oeste. 61- O Popular - Goiânia - 22/11/ 1973. 62x O Estado de S.Paulo -7/11/72 6 3- O Estado de S.Paulo -15/4/71 64- O Estado de S.Paulo - 5/11/ 1972. 65- O Estado de S.Paulo - 19/1/ 1972. 66- O Estado de S.Paulo - 8/11/ 1972. 67- O Estado de S.Paulo - 10/8/ 1972. 68- Jornal do Brasil - 21/4/73. 69- O Estado de S.Paulo - 20/11/ 70- Casaídâliga,Pedro - ym *' greja contra o latifúndio na Amazônia" - 1971. ,„.-.__ 71- jornal do Brasil - 18/9/73 72- O Estado de S.Paulo - 10/8/ 73- O Estado de S.Paulo -22/// 1973. „«/*/ 74- O Estado de S.Paulo - 29/4/ 1973. 38 75- Correio da Manhã - 19/9/72. 76- O Estado de S.Paulo - 19/9/ 1973. 77- Jornal do Brasil - 14/2/73. 78- Jornal do Brasil - 21/4/73. 79- O Estado de S.Paulo - 8/2/73 80 - Atas do Simpósio sobre o fu turo dos Cinta-Largas - Uni versidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá - Março de 19*73. 81 - Anuârio da Companhia de Jesus - Roma,1971/72. 82-0 Estado de S.Paulo - 14/11/ 1972. 83 - Realidade - Outubro,1971 84 - Diário de Pernambuco - 22/7 1973. 85 - Jornal do Brasil - 24/5/72. 86-0 Estado de S.Paulo - 22/5/ .1971. 87 - 0 Estado de S.Paulo - 2/9/ 1973. . ' 88-0 Estado de S.Paulo - 25/3/ 1972. 89-0 Estado de S.Paulo - 9/11/ 1973. 90 - Convenção n9107 da Organiza ção Internacional do Trabalho, Genebra. . 91-0 Popular - Goiânia - 22/11 1973. 92-0 Estado de S.Paulo - 7/11/ 1972. 93-0 Popular - Goiânia - 22/11 1973. 94 - Adalberto Holanda Pereira "Questões de Aculturação" in Essa Onça - Universidade Fe deral do Mato Grosso - § 12 (1973). 95 - Carta dos Caciques de Votou ro,página 13. 96 - Marianne Mahn-Lot - "Barthe lémy de Las Casas" - I/Evan gile et La Force - Ed.Du Cerf,Paris,1964 - pág.102. 97 -"0 Estado de S.Paulo - 29/4/ 1973. 98-0 Estado de S.Paulo ^ 26/6/ 1973. 99 - Dom Franzoni - "La Terra è di Dio". i i 1 I 100- O Estado de S.Paulo - 20/8/ .1972. _ 101- Adalberto Holanda Pereira "Questões de Aculturação"in Essa Onça - Universidade Fe deral do Mato Grosso - 1971 §18. 102- O Estado de S.Paulo - 29/4/ 1973. 103- O Estado de S.Paulo - 26/6/ 1973. 104- A Voz do Paraná - 3-9/9 e 6/10/1973. 105- O Estado de S.Paulo -5/3/72 106" O Estado de S.Paulo. ^mOram imigrantes italianos fixados no Estado • ^Fde São Paulo que, involuntariamente^introduzi^ ram em nossa lingua a denominação errada para os mais férteis solos brasileiros:terra roxa. Trabalhando nos àafezais3vieram a conhecer as vantagens deste tipo de 8olo3óhamando-o ^de "ter_ ra rossa",isto és terra vermelha.Coube ã'nossa gente do campo transformar a expressão em "terPa rvxa".Na verdade,sua cor ê avermelhada}oom variações de tonalidade (vermelho c^laro,vermelho escuro).Éesultam de decomposição de rochas vulcânicasyd-ustinguindo-se em dois tipos :a ter•ra roxa legítima,mais fértil e a terra roxa misturada,na qual os neenitos também estão pre-' sentes. I 4 39