Capítulo 13 O RENASCIMENTO E AS REFORMAS RELIGIOSAS TÓPICOS DO CAPÍTULO 1. O Renascimento Pág. 03 2. O Desenvolvimento científico Pág. 05 3. As reformas religiosas Pág. 05 4. Martinho Lutero: a justificação pela fé Pág. 07 5. João Calvino: a predestinação absoluta 6. A Reforma Anglicana: catolicismo sem Roma Pág. 09 Pág. 09 7. A contraofensiva católica Pág. 10 8. O preço da fé Pág. 11 Texto Complementar Pág. 12 Exercícios Pág. 13 www.colegiopraxiseduc.com.br 1 La Gioconda (Monalisa), de Leonardo da Vinci, pintura feita entre 1503 e 1506 Estudo sobre ombros feito por Leonardo da Vinci (cerca de 1510). O TALENTO DE LEONARDO DA VINCI Leonardo da Vinci (1452-1519), autor das obras desta página, foi arquiteto, pintor, matemático, poeta e engenheiro militar. Autor de vários projetos em diversos campos da ciência, demonstrou evidências de que a Terra girava ao redor de seu eixo de rotação, ideia que não era aceita em sua época. Baseado nos estudos de Arquimedes, criou uma bomba hidráulica para elevar água — a primeira do gênero —, uma ponte parabólica e vários modelos de barco, incluindo um movido a rodas de pás, como os navios a vapor de trezentos anos depois. Um dos maiores gênios de todos os tempos, Leonardo é considerado por muitos um homem universal. A sua extraordinária versatilidade o tornou um autêntico representante do Renascimento. Esse movimento cultural iniciado na Península Itálica é fruto das mudanças socioeconômicas pelas quais passou a Europa durante a Baixa Idade Média e provocou uma série de mudanças no pensamento da época, principalmente nos campos das artes e da ciência. A difusão deste conhecimento suscitou também, posteriormente, questionamentos à Igreja Católica, iniciando um movimento de reforma que deu origem a várias outras igrejas cristãs: a Reforma Protestante. 2 1. O RENASCIMENTO Desde meados do século XI, uma série de transformações políticas, econômicas e sociais vinha ocorrendo na Europa. Iniciou-se uma era de inquietude, na qual os valores, a cultura e as técnicas até então existentes não forneciam respostas para as questões que inquietavam os homens desse período. Na primeira metade do século XIV, iniciou-se na Península Itálica um movimento conhecido como Renascimento, caracterizado por uma grande renovação nos campos da ciência, das artes plásticas e da política. Também foi na Península Itálica que surgiu o humanismo, corrente de pensamento que valorizava a ação, a liberdade, o espírito crítico, o talento e a capacidade humana de conduzir o próprio destino. Os humanistas buscavam uma linguagem universal entre os homens, recuperando modelos e formas da arte grega e romana. Os humanistas viam o período medieval como uma "idade das trevas", em que os sentidos haviam sido obscurecidos por uma fé cega. Eles não viam uma continuidade entre o saber produzido por eles e a cultura medieval. Esses homens propunham uma renovação profunda, herdeira das tradições clássicas, capaz de alterar os rumos de toda a população europeia. O pioneirismo da Península Itálica Foi no norte da Península Itálica, nas cidades de Gênova, Florença e Veneza, que o Renascimento floresceu. A existência na península de um grande número de unidades políticas independentes impediu a formação de uma monarquia centralizada como a francesa, a inglesa ou a espanhola. Homens ricos e poderosos adquiriam títulos como os de conde, marquês e duque. Sob o comando deles, essas cidades alcançaram grande desenvolvimento econômico, manufatureiro e cultural. Florença e Veneza eram as cidades-república mais ricas e de maior poder político e militar da Península Itálica. Alguns dos maiores pensadores e artistas desse período provinham dessas duas cidades. Além disso, existia na região uma tradição clássica muito forte, já que a península foi o centro do Império Romano e, posteriormente, sofreu a influência da cultura bizantina, pois muitos habitantes do Império do Oriente migraram para as cidades italianas fugindo das invasões turcas. Soma-se a isso o papel dos mecenas, atores fundamentais no desenvolvimento da cultura italiana dos séculos XV e XVI. As famílias ricas e poderosas, como os Sforza e os Visconti, de Milão, e os Medici, de Florença, exerciam grande influência no governo e, também, na produção artística dessas cidades, atuando como mecenas de vários artistas. A FAMÍLIA MEDICI Os Medici eram ricos comerciantes e banqueiros florentinos. Cosmo de Medici tornou-se o primeiro membro da família a administrar Florença. Com habilidade, conseguiu neutralizar seus adversários e controlar as magistraturas públicas. Grande admirador da arte em geral, Cosmo financiou obras do arquiteto Brunelleschi e dos artistas Era Angelico e Donatello. Seu neto, Lourenço de Medici, também se destacou como administrador e mecenas. Durante seu governo, Florença viveu um período de paz, prosperidade e desenvolvimento das artes e do conhecimento. Lourenço foi protetor de, entre outros artistas, Leonardo da Vinci e Michelangelo. Cúpula da Catedral Santa Maria dei Fiore, em Florença, projeto de Filippo Brunelleschi. Itália, abril de 2011. 3 Características gerais do Renascimento Entre as principais características do Renascimento destacam-se o naturalismo, o racionalismo, o classicismo, o hedonismo e o antropocentrismo. O naturalismo pode ser definido como o interesse dos artistas em retrataras homens e os animais, o cuidado rigoroso em mostrar a natureza como de fato ela é. A valorização do retrato fiel estimulou o estudo da anatomia humana, das plantas e dos animais, a fim de transportar para a arte o conhecimento obtido na investigação científica. O racionalismo consistia na busca da verdade por meio da investigação e da experiência, e não mais com base em princípios religiosos e explicações sem fundamento científico. O classicismo manifestou-se sobretudo nas artes plásticas, no ideal de serenidade e harmonia, mas esteve presente em todas as esferas da criação renascentista. O classicismo expressava a intenção dos artistas, literatos e pensadores do período em revalorizar a cultura e as tradições grecoromanas, vistas como modelo de equilíbrio, clareza e perfeição. Procurando romper com a cultura medieval, voltada para a exaltação de Deus e a salvação da alma, os renascentistas foram buscar na cultura clássica inspiração para valorizar a natureza, o homem e as suas conquistas. Um exemplo dessa valorização dos feitos humanos foi a celebração das conquistas ultramarinas portuguesas na literatura de Luís de Camões (1527-1580). O mar é um elemento-chave em Os lusíadas, a epopeia camoniana e uma das expressões supremas do Renascimento em Portugal. Além de Camões, destacam-se o florentino Dante Alighieri (1265-1321), autor da obra Comédia (posteriormente conhecida como A divina comédia, poema que narra a viagem de Dante pelo inferno, purgatório e paraíso, guiado pelo poeta romano Virgílio); e o espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de Dom Quixote (na qual Cervantes ironiza particularmente o ideal de bravura, defesa da honra e da lealdade, valores típicos da cavalaria medieval). O hedonismo renascentista, por sua vez, consistia na valorização do corpo, dos prazeres terrenos e espirituais, no culto do belo e da perfeição. Giovanni Boccaccio (1313-1375), François Rabelais (1494-1553) e William Shakespeare (1564-1616) são exemplos de autores renascentistas cujas obras personificam o intenso amor pelas coisas humanas e terrestres. O antropocentrismo, ao contrário do teocentrismo medieval, reservava ao ser humano o papel de centro do Universo. A partir dessa concepção, cabia ao homem a capacidade de descobrir verdades por conta própria e de crescer, material e espiritualmente, a fim de deixar sua marca no mundo. Em certa medida, porém, essa atitude gerou conflitos com as concepções religiosas, pois os pensadores renascentistas questionavam não só o conservadorismo da Igreja, mas também formulavam novos princípios. O Renascimento, nesse sentido, deve ser visto como parte do contexto de mudanças que marcaram a Europa na Baixa Idade Média, que impulsionaram, entre outros acontecimentos, a centralização do poder real e a Reforma Protestante. Davi, de Michelangelo, escultura em mármore feita em 1504. A obra é um exemplo da valorização das formas humanas, uma das características do Renascimento. 4 A Escola de Atenas (1508-1511), afresco de Rafael Sanzio. É possível observar na obra o uso da perspectiva, técnica que cria a ilusão de volume e profundidade das imagens num plano bidimensional. 2. O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO Com base no estudo do homem e da natureza fundamentado no espírito crítico, o Renascentismo contribuiu em larga medida para o desenvolvimento científico. Em especial, os campos da astronomia, da matemática, da física e da medicina tiveram importantes avanços. O grande feito da astronomia foi a comprovação da teoria heliocêntrica, que se contrapôs à teoria geocêntrica de Ptolomeu. Enquanto os geocentristas defendiam a ideia de que o Sol girava em torno da Terra, os heliocentristas defendiam a ideia de que a Terra girava em torno do Sol. A teoria geocêntrica foi refutada abertamente pela primeira vez por Nicolau de Cusa (1401-1464). Posteriormente, o polonês Nicolau Copérnico (1473- 1543), estudioso de direito civil e canônico que frequentou importantes universidades na Itália, interessou-se pela astronomia. Com base em cálculos matemáticos e sugestões de alguns importantes cientistas italianos, concluiu que os planetas giravam em torno do Sol. Galileu Gatilei (1S64-1642), um dos mais renomados cientistas italianos, comprovou a teoria heliocêntrica de Copérnico. De posse de um telescópio, Galileu descobriu os anéis de Saturno, os satélites de Júpiter e as manchas do Sol. Além disso, Galileu concluiu que a Via Láctea era uma aglomeração de corpos celestes independentes do nosso sistema solar. O dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) e o alemão Johannes Kepler (1571-1630) também se notabilizaram como astrônomos, pois aprimoraram a teoria de Copérnico ao comprovar que os planetas se movimentavam em torno do Sol em uma órbita elíptica, e não circular. No campo das ciências médicas, merecem destaque Mundinus (c. 1270-1326), que introduziu a prática da dissecação de cadáveres; Falópio (1523-1562), descobridor dos ovidutos humanos; e Paracelso (1493-1541), que escreveu o primeiro manual de cirurgia. 3. AS REFORMAS RELIGIOSAS Durante a Idade Média, a Igreja Católica teve o seu período de apogeu. Representando a única forma de poder centralizado em meio aos fragmentados poderes locais, ela exercia enorme influência na sociedade europeia. Enquanto a maior parte da população tinha vida simples, o alto clero medieval vivia na ostentação, cercado pelo luxo. Os cargos eclesiásticos podiam ser comprados e representavam 5 poder e renda — obtida por meio dos tributos — àqueles que os adquiriam. Disso resultava o enorme despreparo de parte dos clérigos, que muitas vezes atuavam na esfera religiosa sem nenhuma instrução. O aumento das heresias na Baixa Idade Média demonstrou a incapacidade do catolicismo em atender às necessidades espirituais e materiais de largos setores da população. Muitos grupos considerados heréticos pela Igreja denunciavam a corrupção do clero e propunham uma vida simples e igualitária, semelhante à dos primeiros cristãos. Com isso, criticavam também os privilégios e o luxo da nobreza, que se uniu aos eclesiásticos para reprimir a esses movimentos. Várias heresias foram combatidas e seus partidários condenados à morte. Mas suas ideias contribuíram, séculos depois, para a reforma religiosa. A formação das monarquias modernas foi outro fator que colaborou para o nascimento do movimento reformista, uma vez que o conflito entre o poder temporal, representado pelo rei, e o poder espiritual, representado pelo papa, constituía um obstáculo ao fortalecimento da autoridade central. Além disso, os dízimos transferidos para Roma prejudicavam as finanças dos Estados. E as extensas propriedades da Igreja em cada reino eram cobiçadas pelos reis e pela nobreza. Os precursores da Reforma Alguns intelectuais dos séculos XIV e XV podem ser considerados precursores do movimento reformista. Entre eles está o inglês John Wycliffe (c. 1330-1384), professor em Oxford, que denunciou a corrupção do clero e desafiou a autoridade da Igreja ao afirmar que qualquer um que tivesse fé poderia conseguir a salvação eterna. Suas ideias sobre a salvação pela fé e não pela prática de "boas obras", como a compra de indulgências, serviram de inspiração para as 95 teses que marcaram a ruptura de Martinho Lutero com a Igreja Católica em 1517. Jan Huss sendo queimado na fogueira, gravura da obra A crônica de Ulrich von Reíchental, século XV Outro precursor da Reforma foi o padre jan Huss, natural da Boêmia (região que hoje integra a República Tcheca), que morreu queimado na fogueira em 1415. Profundo conhecedor dos textos bíblicos e do pensamento de Wycliffe, Huss pregava a obediência estrita às Escrituras e denunciava a corrupção e o luxo do clero. Ele traduziu textos sagrados para a língua do seu povo. No nível mais geral, a reforma religiosa deve ser vista no contexto de florescimento do mundo urbano e dos valores burgueses, que não admitia a autoridade inquestionável da Igreja. No nível mais espefícico, a Reforma foi motivada também pelas práticas da Igreja Católica: a venda de indulgências 6 para o perdão dos pecados, as negociatas em torno dos cargos religiosos e o despreparo intelectual e a vida desregrada de muitos sacerdotes. 4. MARTINHO LUTERO: A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ Monge agostiniano e doutor em teologia pela Universidade de Wittenberg, na Alemanha, Martinho Lutero deu início ao movimento religioso que ficou conhecido como Reforma Protestante. Ele aceitava as ideias de jan Huss principalmente no que dizia respeito à liberdade de culto e de consciência individual. Divergindo das orientações de Roma, Lutero acreditava que a salvação da alma resultava da fé e não das boas obras. A partir dessas ideias, Lutero condenou a venda de indulgências como passaporte para o reino dos céus. As condições políticas e econômicas do Sacro Império Romano Germânico, que abrangia boa parte dos territórios alemães, favoreceram a difusão das concepções de Lutero. O império era formado por diversos principados independentes, governados por nobres que elegiam o imperador. Além disso, muitos feudos eram controlados pelo clero, que conseguia grandes lucros com o arrendamento dessas terras. Outras fontes de renda da Igreja provinham da arrecadação do dízimo e do comércio de indulgências. O poderio econômico e os abusos cometidos pelos sacerdotes criaram um sentimento hostil à Igreja e favorável à reforma religiosa. Em 1517, uma bula do papa Leão X estabeleceu a venda de indulgências para a construção da Catedral de São Pedro, em Roma. Para efetivar o "negócio", Leão X propôs acordos com a França e a Inglaterra e também com os banqueiros alemães. No mesmo ano, denunciando a venda de indulgências e a doutrina da salvação pelas obras, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, onde era sacerdote, um documento que continha 95 críticas ao papado, conhecido como as 95 Teses de Lutero. A publicação das 95 Teses deu início ao confronto entre Roma e o monge. O papa Leão X exigiu que Lutero se retratasse, sob pena de ser considerado herético. Lutero respondeu à ordem papal queimando publicamente o documento que continha a intimação vinda de Roma. Excomungado pela Igreja, recebeu a proteção da nobreza alemã, que o manteve escondido em um castelo. Gravura atribuída a Lutero que, em um jogo visual, demoniza o papa Alexandre VI (1431-1503 7 AS 95 TESES DE LUTERO “Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero”. [...] Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém. 1. Ao dizer: 'Fazei penitência' [...], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência. 2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental, isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes. [...] 20. Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs. 21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa. 22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida. [...] 24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena. [...] 36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão plena de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência. [...] LUTERO, Martinho. 95 Teses. Revista Espaço Acadêmico. QUESTÕES 1) De acordo com o pensamento de Lutero, estabeleça uma relação entre o papa e a questão das indulgências. 2) Para Lutero, corno os cristãos conseguiriam obter o verdadeiro perdão? Reforma e rebelião Entre 1523 e 1525 começaram a acontecer as mobilizações do campesinato alemão. Os camponeses eram liderados pelo pregador Thomas Münzer, um dos seguidores mais radicais de Lutero. Percebendo que as propostas luteranas beneficiavam prioritariamente a aristocracia, Münzer rompeu com Lutero e estabeleceu sua própria doutrina, que pregava o fim da propriedade privada. Seus adeptos, principalmente camponeses e aprendizes das cidades, revoltaram-se contra o domínio da nobreza, dos sacerdotes e dos cidadãos mais ricos. Na Alemanha central, o movimento exigiu a abolição da servidão e a posse comunitária da terra. Lutero manifestou-se contrário ao movimento popular, condenando-o publicamente. Tropas financiadas pela nobreza reprimiram o movimento camponês. O saldo da rebelião foi a morte de milhares de pessoas, entre as quais Thomas Münzer, que morreu decapitado. Reforma e conciliação Em 1530, Lutero redigiu um documento que fundamentava sua doutrina. Nele, afirmava que a fé constituía a única e verdadeira fonte da salvação e que o dogma absoluto da Igreja reformada era o texto das Escrituras. Lutero defendia a livre interpretação da Bíblia e sua tradução nas línguas nacionais; ele próprio traduziu a Bíblia para o alemão. A doutrina criada por Lutero aboliu a hierarquia eclesiástica e a figura de uma autoridade superior, como representava o papa para a Igreja Católica. Em vez de uma igreja universal, haveria igrejas nacionais. Haveria apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. Lutero também negou o ato da transubstanciação (transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo), sugerindo que o ato religioso fosse visto como a bênção sagrada no pão e no vinho, que ele chamou de consubstanciação. Em 1555, na tentativa de promover a conciliação com o poder imperial, a nobreza luterana firmou um acordo conhecido como Paz de Augsburgo. O acordo determinou que cada príncipe alemão tinha o direito de escolher a sua igreja, assim como a de seus súditos. 8 5. JOÃO CALVINO: A PREDESTINAÇÃO ABSOLUTA A Reforma Protestante na Suíça representou, antes de tudo, uma necessidade burguesa. O país estava dividido em cidades-república, como Zurique, Basileia, Berna e Genebra, todas elas importantes centros comerciais. O poder político nessas cidades estava nas mãos de uma burguesia nascente, impedida de expandir seus negócios devido às fortes barreiras impostas pela Igreja Católica. O clero combatia a liberdade econômica e o crescente lucro dos setores mercantis. A burguesia necessitava, desse modo, de novos parâmetros morais, econômicos e religiosos que legitimassem a obtenção do lucro por meio do comércio e da exploração do trabalho assalariado. Huldrych Zwingli, ardente defensor das ideias de Lutero, foi o iniciador da reforma religiosa na Suíça. De formação humanista, ordenou-se padre em 1517, mostrando-se sempre muito crítico em relação aos dogmas da Igreja Católica. Em 1531, quando tentava levar seus ensinamentos a grupos mais conservadores, teve início uma guerra civil que provocou a morte em combate do reformador. As revoltas religiosas estenderam-se até Genebra, região submetida a um duplo poder político, dividido entre o bispo católico local e os duques de Savoia. Os habitantes de Genebra enfrentaram esse duplo poder e tornaram-se independentes. A cidade de Genebra foi o cenário para a atuação de um dos maiores impulsionadores da Reforma Protestante, o teólogo francês João Calvino (1509-1564). Valorizando a disciplina, o trabalho e o acúmulo de riquezas, Calvino ofereceu aos setores burgueses uma justificativa religiosa sólida e bem elaborada para suas atividades. Ao contrário do que afirmava a doutrina católica, o lucro passaria a ser visto como sinônimo de salvação. A santificação do trabalho, da poupança e do lucro contribuiu para que a doutrina calvinista ganhasse adeptos nas principais cidades da Suíça e se espalhasse posteriormente por outros núcleos urbanos europeus, impulsionando as atividades mercantis e manufatureiras. Assim, na Inglaterra (puritanos), na Escócia (presbiterianos), na França (huguenotes) e em muitas outras regiões surgiram adeptos da fé e da ética calvinista. Calvino retratado em gravura de autoria desconhecida, s.d. 6. A REFORMA ANGLICANA: CATOLICISMO SEM ROMA A penetração das ideias de Lutero, e mais tarde de Calvino, nas camadas sociais como a gentry, pequena nobreza envolvida com as questões comerciais e nos setores mercantis e profissionais, teve repercussões importantes para a história do protestantismo na Inglaterra. O início da reforma religiosa inglesa deu-se por iniciativa do rei Henrique VIII, que encontrou apoio em seus súditos para organizar a Igreja Anglicana. Em 1527, Henrique VIII solicitou ao papa Clemente VII que anulasse seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão para casar-se com Ana Bolena. Mas o papa evitava intervir nessa questão, uma vez que Catarina era tia do imperador Carlos V, que auxiliava a Igreja no combate aos luteranos. Os sucessivos adiamentos do papa levaram Henrique VIII a tomar a iniciativa em 1531, obrigando o Parlamento a votar uma série de leis que submeteram a Igreja inglesa ao controle do Estado. Em 1534, o Ato de Supremacia proclamou o rei chefe supremo da Igreja Anglicana, podendo nomear os eclesiásticos e determinar os dogmas religiosos. A partir de 1536, as terras do clero foram expropriadas e vendidas a nobres, comerciantes e fazendeiros, que passaram a ser o sustentáculo político da Igreja Anglicana. 9 7. A CONTRAOFENSIVA CATÓLICA A Reforma Católica ou Contrarreforma foi o movimento realizado pela Igreja Católica com o objetivo de combater o avanço do protestantismo e disciplinar o clero católico na atividade religiosa. Para isso tomou um conjunto de medidas, entre elas a reorganização do Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como Inquisição. Durante a Idade Média, a Inquisição tinha por objetivo combater as heresias e as seitas contrárias aos dogmas do catolicismo. Muitas mulheres, consideradas pela Igreja como bruxas ou feiticeiras, foram queimadas vivas ou enforcadas em cerimônias públicas chamadas Autos de fé. A Inquisição moderna, por sua vez, estabeleceu-se com mais força em Portugal, na Espanha e na Itália a partir do século XV. Seu principal alvo eram os cristãos-novos, que estavam envolvidos nas atividades administrativas e comerciais dos reinos ibéricos. A influência desse grupo gerava conflitos com os cristãos-velhos, principalmente entre os membros da nobreza e do clero. Eles também eram vistos como uma ameaça à centralização política, uma vez que os soberanos tentavam unificar as leis, o território e a religião em seus domínios. A Inquisição também perseguiu os adeptos das igrejas reformadas. A INQUISIÇÃO E OS PROTESTANTES "A perseguição inquisitorial contra os protestantes só se desenvolveu de urna forma sistemática durante as décadas de 1540 e de 1550, tanto na Espanha e em Portugal como na Itália. Essa conjuntura repressiva, que se prolonga até as décadas de 1560 e de 1570 (e mesmo na de 1580, na Itália), para se estabilizar em seguida, nunca atingiu, no caso hispânico, o nível de violência observado em face dos cristãos-novos. Devemos destacar, contudo, certas execuções de grupos de protestantes, sobretudo no ano de 1559 em Sevilha e em Valladolid, que tiveram urna grande repercussão na Europa [...]. Como resultado dessa ação, mais ou menos sincronizada nos vários Estados onde a Inquisição exercia sua jurisdição, houve um considerável fluxo de refugiados, provenientes sobretudo da Itália e da Espanha, para as regiões protestantes da Suíça, da Alemanha e, mais tarde, dos Países Baixos. [...] As primeiras narrativas protestantes sobre a Inquisição são estruturadas pela ideia de tirania. Trata-se, desse ponto de vista, de um poder ilegítimo de inquérito sobre as consciências e os comportamentos religiosos, fundado sobre uma tradição construída fora das Escrituras e contra os ensinamentos da Igreja primitiva. A contestação visava não apenas ao poder de inquirir, mas também ao poder de julgar: os inquisidores concluíam os processos distribuindo penas, que podiam ir da penitência espiritual até a entrega ao braço secular, um eufemismo para a condenação à morte." BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália: séculos XV-XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 344-346. Além disso, por iniciativa do papa Paulo III, a Igreja Católica realizou um dos encontros mais importantes de sua história: o Concílio de Trent°. O Concílio ocorreu entre 1545 e 1563, com algumas interrupções, e teve como objetivo principal posicionar-se diante das doutrinas criadas pelas novas igrejas. Entre as decisões tomadas em Trento, destacaram-se a reafirmação dos dogmas católicos, a manutenção dos sacramentos e a confirmação da transubstanciação, da hierarquia do clero e do celibato clerical. Concílio de Trento: encontro do sínodo realizado na Catedral de Trento, gravura de autor desconhecido, de 1565. 10 O Concílio de Trento também formulou normas para coibir abusos, como a venda de indulgências, e aprovou propostas para a fundação de seminários de teologia, destinados a melhorar a formação do clero. Por último, estabeleceu o Index Librorum Prohibitorum, uma lista dos livros cuja leitura era proibida aos católicos. Obras como O elogio da loucura, do humanista católico Erasmo de Rotterdam; Decamerão e todas as novelas de Boccaccio; e o Livro de la oración, do respeitado teólogo Frei Luís de Granada, constavam da lista proibitiva. O índex, constantemente revisto, foi abandonado apenas em 1966. O movimento católico foi ainda reforçado pela estruturação de ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola em 1540. Os jesuítas, como ficaram conhecidos seus integrantes, organizaram-se como um verdadeiro exército para a contraofensiva católica. Responsáveis por expandir e fortalecer o catolicismo em muitas regiões, transformaram-se em educadores e desempenharam papel fundamental na catequese dos povos nativos das colônias portuguesas e espanholas na América. 8. O PREÇO DA FÉ A reforma religiosa impulsionada por Lutero e Calvino contribuiu decisivamente para a desestruturação das relações sociais predominantes no feudalismo. Em um primeiro momento porque, ao criar uma moral econômico-religiosa, contribuiu para reposicionar a burguesia na sociedade, legitimando os seus negócios e atribuindo-lhe uma nova imagem. Em seguida, porque provocou a ruptura da cristandade na Europa Ocidental, abalando o prestígio e a autoridade do papa, um dos sustentáculos do mundo feudal. Os efeitos mais contundentes da Reforma Protestante foram a divisão da cristandade na Europa Ocidental, ocidental em diversas tendências hostis entre si. A liberdade de culto, a livre interpretação das Escrituras e a substituição do latim pelas línguas locais nas cerimônias religiosas foram elementos importantes trazidos pela Reforma. Eles contribuíram para a gênese de uma nova maneira de o indivíduo se relacionar com a religião. Entretanto, a liberdade de culto propagada pelo protestantismo não significou, a princípio, liberdade religiosa. A intolerância e a perseguição aos adversários também fizeram parte da ortodoxia protestante. LEMBRE-SE Renascimento foi um conjunto de mudanças que repercutiu nas artes, na ciência e na política. O movimento teve sua origem na Península Itálica, no século XIV, e espalhou-se para outras regiões da Europa. O humanismo valorizava a liberdade, a capacidade de ação do homem, a criatividade e o espírito crítico. As artes plásticas do Renascimento caracterizaram-se, sobretudo, pelo naturalismo. Imagens humanas, paisagens e animais eram exaustivamente estudados antes de serem representados nas obras de arte. A Reforma Protestante, ocorrida no século XVI, foi liderada pelo monge Martinho Lutero. O movimento teve início na Alemanha e depois se espalhou por outros locais da Europa. Na Suíça, as ideias religiosas do teólogo francês João Calvino deram origem à doutrina calvinista, que tem como ponto principal a teoria da predestinação. O rei Henrique VIII foi o responsável pela reforma religiosa ocorrida na Inglaterra. O monarca tornou-se o líder supremo da chamada Igreja Anglicana, A Contrarreforma foi um conjunto de ações tomadas pela Igreja Católica com objetivo de disciplinar o clero católico, reafirmar os dogmas da Igreja e conter o avanço do protestantismo 11 TEXTO COMPLEMENTAR A REVOLUÇÃO PERMANENTE DA IMPRESSÃO GRÁFICA A imprensa, uma das grandes invenções do período renascentista, foi um instrumento fundamental para o desenvolvimento da Reforma Protestante. "Se a cidade-Estado italiana foi o ambiente onde se desenvolveu o Renascimento, sua correspondente alemã, a 'cidade livre', como Nuremberg ou Estrasburgo [...] foi o centro da Reforma. Martinho Lutero (-1483-1546), favorável a um envolvimento mais direto de leigos com as atividades religiosas, [...] incentivou a leitura da Bíblia e a liturgia em vernáculo - o que envolveu novas traduções. Ele justificava esse envolvimento pelo que chamou de 'sacerdócio de todos os crentes', a ideia de que cada um tivesse acesso direto a Deus sem necessidade de mediação dos clérigos. [...] O envolvimento do povo na Reforma foi tanto causa quanto consequência da participação da mídia. A invenção da impressão gráfica solapou o que foi descrito, com certo exagero, como monopólio de informação da Igreja medieval, e algumas pessoas tinham consciência disso na época. O protestante inglês John Foxe, por exemplo, pregava que 'o papa deve abolir o conhecimento e a impressão gráfica, ou esta, a longo prazo, vai acabar com ele'. Como vimos, os papas parecem ter concordado com Foxe, e foi por essa razão que se criou o Index de livros proibidos. Depois que as igrejas protestantes se estabeleceram, [...] elas começaram a transmitir suas tradições por intermédio da educação das crianças. Peças, pinturas e impressos agora eram rejeitados em favor da palavra, fosse ela escrita ou falada, Bíblia ou sermão. Por outro lado, na primeira geração [...] décadas de 1520 e 1530, os protestantes se baseavam no que pode ser chamado de 'ofensiva da mídia', não somente para comunicar suas próprias mensagens, mas também para enfraquecer a Igreja Católica, ridicularizando-a, usando o repertório tradicional do humor popular para destruir o inimigo pelo riso. [...] Um dos principais objetivos dos reformadores era se comunicar com todos os cristãos. [...] Nesse sentido, a impressão gráfica converteu a Reforma em uma revolução permanente. [...] Para o desenvolvimento do protestantismo a longo prazo, a tradução da Bíblia de Lutei-o foi ainda mais importante do que seus panfletos. [...] Mais de 80% dos livros em alemão publicados no ano de 1532 [...] tratavam da reforma da Igreja. [...] Eles foram descritos, com algum exagero, como um 'meio de comunicação de massa'. [...] Como somente uma minoria da população sabia ler, e menos ainda escrever, presume-se que a comunicação oral deva ter continuado a predominar na chamada era da impressão gráfica. Ela teve muitas formas distintas em diferentes contextos, indo de sermões e conferências em igrejas e universidades a rumores e boatos nos mercados e tabernas." BURKE, Peter; BRIGGS, Asa. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Jorge. Zahar, 2004. p. 83-86. Vernáculo: Língua própria de um país ou de uma região. Compreendendo o texto 1) Quais as estratégias defendidas e empregadas por Martinho Lutero para conquistar fiéis? 2) De que modo a impressão gráfica representou uma ameaça à Igreja Católica na Idade Moderna? 3) O texto registra a importância da mídia escrita para a propagação dos ideais dos reformadores cristãos. Para as igrejas, a mídia continua sendo um instrumento primordial no trabalho de evangelização? Argumente dando exemplos. 12 EXERCÍCIOS 1. Você estudou que o movimento renascentista 5. Explique a teoria da predestinação desenvolrevigorou alguns valores que faziam parte da vida por Calvino e relacione-a com o desenvoltradição da Antiguidade clássica. Em todos os vimento do capitalismo a partir do século XVI. campos do saber emergiu uma vitalidade cultural que contrariava os valores e padrões da socie- 6. O teólogo Martinho Lutero foi o primeiro a dade medieval. organizar um movimento bem-sucedido contra o a) Conceitue Renascimento. clero católico. b) Cite e explique duas características do Renas- a) Cite as principais críticas de Lutero contra a cimento. Igreja Católica. b) Apresente as propostas que fundamentaram 2. O Renascimento teve início na Península Itáa doutrina luterana. lica, numa época em que, na região, já havia c) Analise a posição de Lutero diante da revolta uma economia próspera, em que os burgueses dos camponeses na Alemanha, liderada por tinham interesses e recursos para investir na Thomas Münzer. cultura. a) Que fatores contribuíram para o pioneirismo 7. Caracterize o Concílio de Trento e cite as da Península Itálica no movimento renascen- principais decisões estabelecidas nele. tista? b) Identifique o papel dos mecenas nesse pro- 8. Que características do Renascimento obsercesso. vamos nas obras de Leonardo da Vinci, na página 170? 3. Os renascentistas consideravam o meio urbano o local ideal para o florescimento das artes. 9. Releia o texto A Inquisição e os protestantes, Nos séculos XV e XVI, as regiões mais urbani- na página 178, e responda. zadas da Europa Ocidental localizavam-se na a) A Inquisição limitou-se à perseguição dos Península Itálica e nos Países Baixos. cristãos-novos? Justifique sua resposta. a) Explique as razões de o ambiente urbano ser b) Durante a Idade Moderna, a Inquisição conmais propício para o desenvolvimento da arte trapunha católicos aos adeptos de outras e da cultura renascentista. crenças, principalmente judeus e protestanb) Por que as regiões mencionadas no texto tes. Hoje, a intolerância religiosa continua a eram as mais urbanizadas da Europa Ocicausar uma série de conflitos. Você tem codental daquela época? nhecimento de algum conflito recente envolvendo essa questão? 4. Nas diversas transformações ligadas ao ad- , vento do mundo moderno, destaca-se um fe- 10. O gráfico apresenta o perfil das religiões no nômeno que pode ser chamado de Revolução Brasil em 1991 e 2000. Após analisar os dados, Científica. Tal processo, relacionado aos estudos enumere três informações que você conseguiu de Copérnico, Galileu, Brahe e Kepler, entre ou- extrair. tros, levou a profundas mudanças nas concepções acerca da construção do saber. As religiões no Brasil (1991 e 2000) a) Explique o sentido do termo Revolução Científica. b) Escolha um dos cientistas apresentados no texto e faça urna pesquisa sobre a sua vida e obra. Com base nas informações obtidas, monte uma ficha biográfica do autor. c) Procure juntar ao seu trabalho imagens e curiosidades sobre esse personagem. d) Com seus colegas, organize um mural para expor os trabalhos da turma. Fonte: Censo 2000. (IBGE) 13 Capítulo 14 A EXPANSÃO ULTRAMARINA EUROPEIA E O MERCANTILISMO TÓPICOS DO CAPÍTULO 1. Em busca de novos territórios Pág. 03 2. O grande apelo do desconhecido Pág. 03 3. O expansionismo Ibérico Pág. 05 4. O encontro entre europeus e americanos Pág. 07 5. O mercantilismo Texto Complementar Pág. 09 Pág. 13 Exercícios Pág. 14 Questões de vestibulares e do Enem Pág. 15 www.colegiopraxiseduc.com.br 1 Imagem criada a partir de software de computador pela equipe do projeto Mars500 com o protótipo do Simulador de pressão Rover, veículo que possibilitaria a locomoção dos astronautas em solo marciano. Foto de 8 de abril de 2011. O projeto, realizado pela Agência Espacial Europeia (ESA), isolou seis voluntários em um instituto de pesquisas localizado em Moscou, Rússia, entre junho de 2010 e novembro de 2011 A CONQUISTA DO ESPAÇO “Pálidos, mas sorridentes, os participantes de urna experiência que simulou urna viagem a Marte receberam nesta sexta-feira aplausos e luz do sol, após 520 dias confinados em minúsculos espaços sem janelas. A experiência Mars500, que custou 15 milhões de dólares, se dispôs a elucidar urna das grandes incógnitas das viagens espaciais: se as pessoas conseguiriam permanecer saudáveis e equilibradas durante os mais de seis meses de trajeto até o Planeta Vermelho. Os seis voluntários, todos homens, se submeteram a condições muito próximas de urna viagem real [...]. Eles ocuparam um espaço de 550 metros quadrados em um instituto moscovita de pesquisas. [...] 'É realmente ótimo ver vocês todos outra vez, bem reconfortante', disse o ítalo- colombiano Diego Urbina 'Nesta missão alcançamos o mais longo isolamento, de modo que a humanidade pode ir para um planeta distante, mas alcançável', acrescentou. [...] Especialistas dizem que ainda faltam várias décadas para que seja possível realizar a viagem real - o que exige proteger os astronautas da radiação cósmica, fazê-los pousar a pelo menos 56 milhões de quilômetros e então trazê-los de volta à Terra." CARBONNEL, Alissa de. Após 520 dias, voluntários concluem simulação de ida a Marte. Reuters Brasil, 4 nov. 2011. 2 1. EM BUSCA DE NOVOS TERRITÓRIOS No início da Idade Moderna, o homem se aventurou pelos oceanos em busca de riquezas e de novas terras. Um grande volume de capital foi investido pelos Estados modernos no desenvolvimento de tecnologias que possibilitassem viagens tão distantes e incertas. O medo de tudo o que era desconhecido, como o de poder cruzar a linha do Equador sem morrer queimado, as doenças que acometiam a tripulação ou o risco de ser atacado por monstros marinhos não impediram as grandes expedições marítimas de acontecer. Que relação podemos estabelecer entre as grandes navegações do século XV e os projetos que visam conquistar o espaço? Que interesses comuns ligam a ESA, a Agência Espacial Europeia, ao financiar um projeto espacial como a viagem a Marte, e os Estados modernos que financiaram as expedições marítimas? E, por último, por que o homem estaria interessado em projetos tão arriscados como as viagens ultramarinas, no século XV, e a conquista do espaço, no século XXI? Apesar da multiplicidade de respostas para essas questões, uma coisa é certa: os impulsos para uma aventura espacial ou uma aventura marítima não são, e não foram, apenas comerciais. 2. O GRANDE APELO DO DESCONHECIDO Quando falamos de expansão ultramarina europeia, devemos considerar a coragem e o espírito de aventura dos homens envolvidos nessa empreitada. Se o ser humano não fosse curioso, arrojado e criativo, os ousados projetos de exploração do além-mar não teriam tido resultado. No caso da expansão ultramarina eram várias as motivações europeias. Entre elas, o desejo de conhecer "as maravilhas" narradas pelos poucos homens que puderam viajar para o Oriente naquela época. Os relatos de viagens e os textos dos pesquisadores mesclavam realidade e fantasia. O Livro das maravilhas, do italiano Marco Polo, e as histórias do francês Jean de Mandeville são bons exemplos da união entre o real e o imaginário. Os mitos que cercavam o homem moderno, e que estiveram presentes no movimento ultramarino dos séculos XV e XVI, tinham suas origens na mentalidade medieval, que relacionava o mito e a busca pelo paraíso com motivações religiosas e a procura de riquezas. Essa tradição mítica medieval foi fertilizada na modernidade pelo imaginário que cercava a aventura do além-mar. Elefante, burro selvagem, unicórnio e urso, animais que Marco Polo descreveu ter visto na índia, mesclando o real e o imaginário em seu relato. Essa iluminura faz parte da edição francesa do Livro das maravilhas, c. 1412. MARAVILHAS DE MARCO POLO “Fez construir, num vale, entre duas montanhas, o mais belo jardim que jamais se viu. Havia neste vale os melhores frutos da terra. No meio do parque foram edificadas as mais suntuosas moradias e palácios que Os homens já viram; eram dourados e pintados com maravilhosas cores. No centro do jardim havia uma fonte, com muitas bicas, de onde jorravam o vinho, o leite, o mel e ainda a água. Havia nesse jardim as donzelas mais belas do mundo; estas sabiam tocar todos os instrumentos e can- 3 tavam como os anjos, e o Velho fazia acreditar aos seus súditos que aquele reino era o paraíso. E todos acreditavam no que ele dizia, porque Maomé deixou escrito que aqueles que fossem para o céu teriam todas as mulheres formosas que quisessem ter, e encontrariam ali fontes preciosas, donde sairia água, mel, vinho e leite." POLO, Marco. Livro das maravilhas. Porto Alegre: L&PM, 1996. p. 69. Bússola de bolso alemã, século XV. e Astrolábio de ouro feito por Johannes Stoeffler (1452-1531), século XVI O TRATADO DE TORDESILHAS A expansão marítima portuguesa e espanhola foi seguida por inúmeras petições (pedidos ou solicitações dentro das formalidades Legais) à Igreja com o objetivo de proteger o acesso aos metais preciosos, às especiarias orientais e às oportunidades missionárias do Oriente. A Igreja respondeu às petições espanholas e portuguesas decretando uma série de bulas papais que lhes concediam o monopólio sobre determinados territórios. Em 1493, o rei lusitano opôs-se aos termos estabelecidos pelo papa e exigiu novas negociações. Um acordo foi alcançado no ano seguinte, por meio do Tratado de Tordesilhas. O documento, assinado entre os dois governos na cidade de Tordesilhas, na Espanha, traçava uma linha imaginária 370 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde. As terras localizadas a leste dessa linha pertenciam a Portugal e as encontradas a oeste pertenciam à Espanha. Pode-se dizer que tal tratado amenizou a disputa entre os países ibéricos. Mas, quando outros países entraram na corrida colonial, não houve acordo que os detivesse. Contestando a partilha estabelecida no tratado, o rei da França Franciscol teria dito: "Gostaria de conhecer a cláusula do testamento de Adão que dividiu o mundo dessa forma". 4 As grandes viagens de exploração que se iniciaram no século XV foram possibilitadas pelo avanço da cartografia e da tecnologia marítima, com a invenção da caravela e o aperfeiçoamento dos mapas e de instrumentos como a bússola e o astrolábio. O conhecimento cartográfico, a partir do século XV, passou a significar poder e múltiplas vantagens para os Estados modernos, como no caso dos portugueses, que no final do século XV lideravam a confecção de mapas. O Estado detinha o monopólio do conhecimento cartográfico sob a forma de manuais de navegação, os portulanos. Esse domínio se manteve até o momento em que navegadores e cartógrafos começaram a ser contratados por reinos e companhias de navegação rivais. O Tratado de Tordesilhas (1494) 3. O EXPANSIONISMO BÉRICO Os projetos de expansão marítima dos portugueses e espanhóis atendiam aos interesses de diversos grupos sociais e instituições que compunham a sociedade ibérica. As grandes navegações receberam apoio financeiro da nobreza e da burguesia, interessadas na exploração de outras terras e no alargamento do comércio; e também dos reis, ansiosos por encontrar novas fontes de renda. A Igreja, por sua vez, sonhava em conquistar novos fiéis e em empreender seu trabalho de catequese em territórios virgens, ideais que não se chocavam com a descoberta e a posse de novas terras e riquezas. Como escreveu Colombo numa carta, o ouro tinha a virtude de enviar almas ao paraíso. A verdade é que a Europa do século XV sofria as consequências da escassez de metais preciosos para a cunhagem de moedas. A formação das monarquias modernas e a expansão do comércio, que em parte encontrava barreiras devido ao monopólio muçulmano, exigiam o aumento da circulação monetária, insuficiente para atender às demandas criadas por uma economia e uma população em crescimento. As narrativas lendárias a respeito da existência de tesouros no além-mar, principalmente ouro e especiarias, aumentavam a cobiça dos europeus, que pretendiam buscá-los a qualquer custo. O aumento dos preços das especiarias motivou os europeus a buscarem esses produtos diretamente nos seus locais de origem, burlando o monopólio dos muçulmanos das cidades de Gênova e Veneza. Portugueses e espanhóis precisavam encontrar o caminho marítimo para as índias, pois isso lhes permitiria eliminar os intermediários e aumentar os lucros no comércio de artigos orientais. Os portugueses foram os primeiros a chegar à Ásia navegando pelo Oceano Atlântico. O pioneirismo português pode ser explicado pelos seguintes fatores: consolidação precoce da monarquia centralizada; relativa escassez de recursos naturais; existência de um grupo mercantil forte e enriquecido; liderança em tecnologia náutica; desejo de conversão dos pagãos. A primeira conquista dos portugueses no continente africano foi a cidade marroquina de Ceuta, em 1415. A seguir, atingiram a Ilha da Madeira (1419) e, entre 1427 e 1431, o Arquipélago dos Açores. Em 1440, as explorações ganharam um importante apoio tecnológico com o desenvolvimento das caravelas, mais leves e manejáveis. Utilizando caravelas, os portugueses atingiram o Arquipélago de Cabo Verde em 1445 e continuaram a explorar a costa africana. Monumento aos descobrimentos, em Lisboa, Portugal. Fotografia de agosto de 2009. A obra, inaugurada em 1960, é uma homenagem aos navegadores portugueses. 5 Viagens marítimas (séculos XV a XVI) O projeto de exploração marítima recebeu novo impulso no reinado de d. João II. Em 1482, Diogo Cão chegou à foz do Rio Congo e, nos três anos seguintes, conduziu seus navios mais para o sul. Depois foi a vez de Bartolomeu Dias, que, entre 1487 e 1488, conseguiu chegar ao extremo sul do continente africano, que passou a ser chamado de Cabo da Boa Esperança. Em 1497, Vasco da Gama partiu de Portugal à frente de uma expedição que, no ano seguinte, atingiu Calicute, descobrindo o caminho marítimo para as Índias. Em 1500, o nobre português Pedro Álvares Cabral viajou para as Índias como enviado especial de d. Manuel, encarregado de estabelecer contatos diplomáticos com os reis daquela região. Pouco mais de quarenta dias depois, Cabral aportou na Ilha de Vera Cruz, primeiro nome dado ao Brasil, e depois seguiu viagem até a Índia. Ao regressar com a notícia de que havia tomado posse das terras do Novo Mundo, ampliando as possessões lusitanas, recebeu várias homenagens. Na tentativa de descobrir o caminho marítimo para as Índias, diferentemente dos portugueses, os espanhóis optaram por outra rota: a do poente (oeste). Cristóvão Colombo, genovês financiado pela Coroa espanhola, chegou à América em 1492 — que ele julgava ser parte das Índias. As expedições subsequentes ao Novo Mundo acirraram as disputas entre Espanha e Portugal. A rota ocidental para o Oriente foi retomada em 1519, com a expedição de Fernão de Magalhães, navegador português financiado pela Espanha. Com cinco navios, Magalhães dirigiu-se ao Atlântico sul, atingiu o Oceano Pacífico utilizando a passagem hoje conhecida como Estreito de Magalhães, seguiu viagem e, em 1521, chegou às Filipinas, onde foi morto num conflito com os nativos. A viagem prosseguiu e, no ano seguinte, sobreviventes da tripulação retornaram à Espanha, concluindo a primeira viagem de circum-navegação. Outros Estados, como Inglaterra e França, seguiram os passos dos ibéricos. Assim, foi a serviço da Inglaterra que o italiano João Caboto realizou duas viagens ao Canadá, em 1497 e 1498. Em meados do século XVII, os habitantes de todos esses países já haviam tido contato com a América de alguma forma. Essas viagens modificaram profundamente o conhecimento que os homens tinham do mundo e de si mesmos, abrindo caminho para novos interesses e maneiras de pensar. A viagem de Cabral Os romanos detinham um conhecimento relativamente extenso da Ásia e da África e alguma noção sobre a existência de um continente além-mar. Esse conhecimento chegou aos árabes e, por ocasião do domínio mouro na Península Ibérica, eruditos portugueses tiveram acesso a essas informações. Esses dados teriam ajudado Portugal a reivindicar a ampliação, a leste, da linha imaginária traçada pela bula papal. Esse tema é bastante controverso. Alguns historiadores não acreditam que, ao estabelecer o Tratado de Tordesilhas, Portugal estaria preocupado com a obtenção de terras. O interesse dos portu- 6 gueses residiria na manutenção do monopólio das rotas de navegação do Atlântico sul, que acreditavam ser essenciais para o comércio com as Índias. Documentos importantes mostram que Cabral não teria sido o primeiro explorador a serviço de Portugal a desembarcar em terras americanas, Antes dele, a Coroa portuguesa teria enviado à América o navegador português Duarte Pacheco Pereira, em 1498, feito relatado na obra Esmeraldo de situ orbis, ou O tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte, escrito entre 1505 e 1508. “Bem abenturado principe temos sabido e visto como no terceiro anno de vosso reynado do hano de nosso senhor de mil quatrocentros nouenta e oito dondo nos vossa alteza mandou descobrir ha parte oucidental passando alem ha grandeza do mar ociano honde he hachada e nauegaada huma tarn grande terra firme com muitas e grandes ilhas ajacentes a ella." CARVALHO, Joaquím Barradas de. Esmeralclo de situ oihis de Duarte Pacheco Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991. p. 182. A missão de Pereira ficou em sigilo porque ele teria aportado numa área de possessão espanhola, na fronteira do Maranhão com o Pará. Dois anos depois, Cabral foi enviado pelo rei à América para reconhecer as terras e estabelecer um ponto de apoio português para a chegada às Índias. Os portugueses acreditavam que a distância entre a costa africana e a americana fosse menor. Desfeito o engano, Portugal perdeu o interesse pelas terras. A ideia de que Cabral teria aportado acidentalmente no Brasil é contestada por importantes historiadores portugueses e brasileiros. Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 7500, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1922 . 4. O ENCONTRO ENTRE EUROPEUS E AMERICANOS As conquistas ultramarinas produziram grandes transformações tanto na Europa como nas Américas. O mundo conhecido pelos europeus ampliou-se enormemente. O comércio tornou-se mundial, deslocando o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico. Os italianos perderam de vez o monopólio comercial, e o declínio das repúblicas italianas acentuou-se. Portugal, Espanha, Inglaterra e França passaram a ocupar papéis de destaque na economia da modernidade. Na Europa, o grande afluxo de metais provenientes das colônias americanas provocou uma verdadeira revolução nos preços dos produtos. Os europeus introduziram na América uma série de animais e plantas até então desconhecidos pelos nativos. Do mesmo modo, as instituições políticas, o cristianismo e as doenças acompanharam os conquistadores pelo Novo Mundo. EPIDEMIAS NA AMÉRICA “Naquele tempo, não havia doenças, nem febres, nem doenças dos ossos ou de cabeça [...]. Naquele tempo, tudo estava em ordem. Os estrangeiros mudaram tudo quando chegaram. 'De fato, por 7 mais saudosismo que possa expressar esse lamento, parece mesmo que as doenças do Velho Mundo foram mais frequentemente mortais nas Américas do que na Europa. Um missionário alemão chegou inclusive a escrever, no finalzinho do século XVIII, que 'os índios morrem tão facilmente que só a visão ou o cheiro de um espanhol Os fazem passar deste para o outro mundo'. Umas quinze epidemias dizimaram a população do México e do Peru." FERRO, Marc. História das colonizações: das conquistas às independências — séculos XIII a XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 219-220. Nativos Americanos tentando tratar pessoas contaminadas com doenças trazidas pelos europeus, como sífilis e catapora. Gravura de Theodore de Bry, c. 1590, colorizada posteriormente. PORTUGUESES E INDÍGENAS “Esses índios são de cor baça e cabelo corredio; têm o rosto amassado e algumas feições dele à maneira de chins. Pela maior parte são bem-dispostos, rijos e de boa estatura; gente muito esforçada e que estima pouco morrer, temerária na guerra e de muito pouca consideração. São [...] mui desumanos e cruéis, inclinados a pelejar e vingativos em extremo [...]. São muito desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se neles não houvera razão de homens, ainda que todavia em seu ajuntamento os machos com as fêmeas têm o devido resguardo, e nisto mostram ter alguma vergonha. A língua de que usam, por toda a costa, é uma [...]. Não adoram coisa alguma, nem têm para si que há depois da morte glória para os bons e pena para os maus." GANDAVO, Pero de Magalhães de. A primeira história do Brasil. A história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004. p. 97-99. (Coleção Sete-estrelo) QUESTÕES 1) Como o português Pero de Magalhães Cândavo descreveu os indígenas que viviam no Brasil no século XVI? 2) Que sentimento em relação aos povos indígenas predomina na descrição feita por ele? Justifique. 3) De que forma o fervor religioso dos portugueses aparece no texto? Como podemos relacioná-lo à expansão ultramarina? 4) Na sua opinião, há ainda hoje visões preconceituosas em relação a culturas diferentes? Dê exemplos. O olhar europeu sobre o desconhecido Quando ocorreu o encontro dos europeus com os povos nativos do continente americano, no final do século XV, parece que a reação foi de espanto geral. As características observadas no outro eram bem diversas das que as pessoas estavam acostumadas a ver nos seus iguais. 8 A leitura cristã feita do encontro dos europeus com os habitantes da América tinha forte conotação maniqueísta. De um lado, estava o "bem", simbolizado por Deus e pela busca do paraíso; de outro, o "mal", representado pelo Diabo e o inferno. A ideia da conquista de novas terras vinha acompanhada do objetivo de levar a palavra de Deus para as "criaturas demonizadas" do Novo Mundo, por meio da catequese. A crença na existência de uma humanidade inferior nas terras ultramarinas, sustentada pelas considerações imprecisas de alguns viajantes, reforçava a lógica de identificação desses povos com o demônio. Em torno desse tema, articulou-se uma sucessão de representações fantásticas que se transformaram em perfeitas epopeias. O pensamento cristão havia se adaptado à política expansionista, e a propagação da fé vinculava-se à empresa marítima. O próprio "descobrimento" do Brasil recebeu uma explicação teológica. Para os religiosos portugueses, entre as diversas nações do planeta, Portugal teria sido escolhido por Deus para levar a mensagem cristã a todos os povos do planeta. 5. O MERCANTILISMO A chegada dos europeus ao Novo Mundo foi decisiva para a sistematização da política econômica característica da Idade Moderna: o mercantilismo. Também conhecido como capitalismo comercial ou capitalismo mercantil, o mercantilismo é um conjunto de princípios e práticas econômicas adotadas pelos Estados europeus durante esse período. A expansão marítima possibilitou que o Oriente e as Américas, até então isolados, se integrassem à economia europeia. Essa integração, auxiliada pelo aperfeiçoamento dos transportes com o uso de novas tecnologias, iniciou a expansão do comércio em escala mundial. Diante desse quadro, pensadores de vários reinos europeus desenvolveram teorias com o objetivo de ampliar o potencial do comércio como fonte geradora de riquezas para o Estado nacional. A partir dessas teorias traçaram-se diferentes políticas econômicas, destinadas a orientar os governos na condução dos negócios do país, com o objetivo de fortalecer a Coroa e enriquecer o reino. Sobre o mercantilismo, o historiador Francisco José Calazans Falcon afirma que: “[...] o mercantilismo deve ser entendido como o conjunto de ideias e práticas econômicas que caracterizam a história econômica europeia e, principalmente, a política econômica dos Estados modernos europeus durante o período situado entre os séculos XV, XVI e XVIII." FALCON, Francisco J. C. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 11. As práticas mercantilistas adotadas pelos Estados modernos tinham como meta a manutenção da balança comercial favorável, isto é, o superávit comercial, obtido com o aumento das exportações e a redução das importações. Para que a balança comercial permanecesse positiva, algumas práticas foram adotadas por esses Estados. Apesar das diferenças de Estado para Estado, todas essas práticas visavam garantir o superávit da balança comercial. Partida de Lisboa para o Brasil, para as índias e para a América, gravura de Theodore de Bry, 1592. Na imagem, o artista representou a grande movimentação comercial do porto de Lisboa. 9 As práticas mercantilistas As práticas mercantilistas variaram no tempo e no espaço, ou seja, não foram as mesmas para todos os Estados nem foram adotadas em conjunto no mesmo período. Mesmo assim, elas apresentaram, no geral, características comuns, como a intervenção do Estado na economia (com o objetivo de regulamentá-la), a busca da balança comercial favorável, o metalismo e o protecionismo alfandegário visando o fortalecimento do Estado e a riqueza nacional. Os governos que adotaram o colonialismo tinham como preocupação incorporar extensas regiões da África, do Oriente e da América à economia europeia. Para isso, estabeleceram o chamado pacto colonial ou exclusivo comercial metropolitano. Pelo pacto colonial, a colônia existia em função da metrópole, ou seja, a produção colonial deveria possibilitar lucros elevados aos comerciantes e à Coroa metropolitanos, que monopolizavam as importações e as exportações. A atividade econômica das colônias deveria complementar as necessidades da economia metropolitana, sem jamais concorrer com ela. Essa política restritiva foi adotada principalmente pelas coroas portuguesa e espanhola. O mercantilismo na França O Estado francês adotou o industrialismo ou colbertismo, termo derivado do nome de JeanBaptiste Colbert (1619-1683), ministro das finanças durante o reinado de Luís XIV. As medidas mercantilistas adotadas por Colbert visavam compensar os altos gastos do Estado francês, obrigado a sustentar o luxo da nobreza cortesã e frequentemente envolvido em guerras dispendiosas. Especialmente durante o século XVII, a França incentivou o comércio e a produção manufatureira.Tecidos de luxo, malharia, tapeçaria, porcelana, objetos de vidro, armas e papéis passaram a fazer parte da pauta de exportações francesas. A exploração das colônias americanas cumpriu papel importante no fornecimento de matérias-primas para as manufaturas francesas. Os embaixadores franceses, pintura de Hans Holbein, 1533. Observe a variedade de tipos de II ianufaturas que aparecem representados na obra: tecelagem, tapeçaria, bordados, joias, mosaicos, marcenaria, alfaiataria, artes em couro etc 10 O mercantilismo na Península Ibérica O metalismo foi uma característica central do mercantilismo dos países ibéricos, principalmente a Espanha. Segundo esse princípio, a riqueza estava diretamente relacionada à capacidade de acumular o máximo de ouro e prata no reino. Entre os séculos XVI e XVII, a descoberta de metais preciosos na América espanhola levou os espanhóis a adotarem uma política de entesouramento dos metais, sem a preocupação de investir as riquezas obtidas com a mineração no desenvolvimento das manufaturas. Estima-se que 18 mil toneladas de prata e 200 toneladas de ouro tenham sido levadas da América para a Espanha entre os séculos XVI e XVII. Embora a extração de metais preciosos da América fosse a base do sistema colonial espanhol, o comércio de escravos negros, a pilhagem, a agricultura e a pecuária, especialmente a criaMoedas de ouro espanholas do século ção de gado bovino, também se converteram em valiosas fontes de XV. riqueza. Já Portugal procurou promover o superávit de sua balança comercial, num primeiro momento, através do comércio de especiarias orientais. Mais tarde, passou a enfatizar a exploração colonial, principalmente em suas terras americanas. A produção de açúcar no Nordeste brasileiro e a exploração aurífera na região das Minas nos séculos XVII e XVIII são exemplos de práticas mercantilistas adotadas pela Coroa portuguesa. O mercantilismo na Inglaterra Os ingleses optaram pelo comercialismo, baseado no estímulo à produção manufatureira, especialmente de artigos têxteis. Também houve incentivo ao desenvolvimento da marinha mercante e às atividades dos piratas, que pilhavam os galeões espanhóis carregados de metais preciosos. A política mercantilista inglesa dos séculos XVI e XVII coincidiu com a expansão marítima e colonial. A Companhia Inglesa das Índias Orientais, organizada em 1600, estabeleceu entrepostos na Índia e na Indonésia. Posteriormente os ingleses se instalaram na Pérsia (atual Irã), em Bombaim (Índia) e na América, tanto nas Antilhas quanto no continente, onde fundaram as Treze Colônias. O resultado dessa política expansionista refletiu-se no desenvolvimento do comércio exterior e na marinha mercante britânica. Alágien, papel e, principalmente, artigos têxteis passaram a ser exportados com regularidade pelos ingleses. Os Atos de Navegação tiveram enorme importância para o desenvolvimento da marinha mercante britânica no período mercantilista. O primeiro, promulgado em 1651 por Oliver Crornwell, estabelecia que as mercadorias que entrassem na Inglaterra só poderiam ser transportadas em navios ingleses ou em navios de seu país de origem. O segundo ato, promulgado em 1660, especificava que o capitão e pelo menos três quartos da tripulação dos navios deveriam ser britânicos. ATO DE NAVEGAÇÃO DE 1660 “ Não mais será lícito doravante carregar num navio, cujo proprietário ou proprietários são, no todo ou em parte, estrangeiros, e cuja equipagem não é inglesa pelo menos em três quartos, mercadorias, peixes, mantimentos, enviados de um porto ou de um embarcadouro da Inglaterra, da Irlanda ou cio País de Gales com destino a um outro porto destes países e reinos da Inglaterra, Irlanda e País de Gales, sob pena de confisco das mercadorias e do navio..." O Ato de Navegação inglês de 1660. In: DEYON, Pierre. O mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 1973. p. 94. Os dois Atos de Navegação foram estabelecidos durante o processo revolucionário chamado de Revolução Puritana, uma guerra civil que resultou no fim do absolutismo na Inglaterra e na instituição de um modelo de Estado voltado aos interesses da burguesia inglesa. 11 As medidas tomadas no período mostraram-se cruciais para o enriquecimento do Estado inglês, para a expansão colonial do país e para a vitória sobre seus concorrentes, sobretudo a Holanda, principal potência marítima da época. O mercantilismo nos Estados germânicos Os Estados germânicos — fragmentados em centenas de unidades, com diferentes tamanhos e graus de soberania — adotaram um modelo de política econômica mercantilista totalmente diferente dos de outras nações europeias, e que ficou conhecido como cameralismo. Essa expressão origina-se do termo kammer (tesouro real) e serve para designar as medidas que pretendiam combater os efeitos da divisão territorial excessiva. A política econômica adotada pelos cameralistas tinha como objetivo aumentar a riqueza tributável, isto é, a arrecadação de impostos, e como consequência promover o crescimento da renda dos Estados. Por meio de regulamentações, os príncipes dos Estados politicamente mais fortes, sobretudo a Áustria, assumiram o controle e a organização da produção agrícola e manufatureira. As exportações de matérias-primas e as importações de produtos manufaturados foram proibidas. As práticas adotadas pelos Estados germânicos sobreviveram por quase três séculos e contribuíram para que estes se aproximassem da autossuficiência econômica no século XIX, quando, liderados pela Prússia e sem a participação da Áustria, foram unificados em uma nova entidade política, a Alemanha imperial. O mercantilismo na Holanda Na Holanda, uma ativa burguesia mercantil e bancária desenvolveu uma política mercantilista apoiada em três sólidos pilares: a Companhia das Índias Orientais e a das Índias Ocidentais, encarregadas de dirigir o comércio holandês em terras coloniais (compras, remessas de ouro, venda das mercadorias recebidas) e de explorar os recursos de territórios ultramarinos; o Banco de Amsterdã, responsável pelo fornecimento de crédito e de moedas de todos os países aos mercadores, para que estes pudessem comprar mercadorias de qualquer origem; e uma frota mercante capacitada a transportar cargas pesadas ao longo das rotas marítimas. Os holandeses desenvolveram ainda várias atividades de transformação. Dentre elas destacaram-se a indústria de lanifícios e tecidos, o tingimento e a tecelagem da seda, o acabamento de tecidos ingleses, o corte de diamantes, a cervejaria, a destilaria, a preparação de sal, tabaco e cacau, o trabalho de chumbo, o polimento de lentes ópticas, a fabricação de microscópios, pêndulos e instrumentos de navegação e a impressão de mapas (terrestres e marítimos) e de livros em diversas línguas. LEMBRE-SE A expansão marítima europeia foi impulsionada pelo interesse em encontrar um caminho marítimo para as Índias, descobrir novas fontes de riquezas e expandir a fé cristã, além de ser motivada pelo espírito de aventura e pela curiosidade dos homens. Portugal foi pioneiro na aventura marítima graças à centralização precoce do poder real, à escassez de riquezas naturais em seu território e à existência de um poderoso grupo mercantil interessado em investir nas navegações. A descoberta de novos caminhos e novas terras alterou o cenário do comércio mundial. Nesse período, muitos Estados europeus sistematizaram novas práticas econômicas, conhecidas como mercantilismo. A intervenção do Estado na economia, o metalismo, a balança comercial favorável e o protecionismo alfandegário são algumas características do mercantilismo. 12 TEXTO COMPLEMENTAR O COTIDIANO DAS VIAGENS MARÍTIMAS Uma viagem oceânica nos séculos XV e XVI era um empreendimento arriscado. Os portugueses enfrentavam a fome, as doenças, os perigos e a incerteza. Veja no texto a seguir. “Quando a viagem transcorria sem incidentes, a comida mal bastava para as necessidades dos embarcados, mas, se um longo período de calmaria, a imperícia do piloto ou qualquer outra ocorrência provocassem o alongamento da viagem, a fome atingia o navio de modo implacável. [...] Embora mais frequentes nas longas viagens para a Índia, crises agudas de fome também aconteciam em outras rotas, como se pode ler no livro de Jean de Léry, que ao deixar o Brasil de volta para a Europa viveu o problema em seu navio: [...] 'tivemos que cozinhar camundongos na água do mar, com intestinos e tripas'. [...] Quando as situações não eram de exceção, o principal alimento a bordo era o biscoito. [...] A ração diária de cada tripulante era de quatrocentos gramas ou pouco mais. Entretanto, a qualidade do biscoito servido - o que pode ser estendido aos outros alimentos - deixava muito a desejar, havendo problemas em sua conservação durante as viagens, pois eram 'armazenados em paióis pouco (ou nada) arejados, sujeitos pelo menos duas vezes a climas equatoriais, quentes e úmidos'. [...] A água, para beber e cozinhar, também era distribuída à razão de uma canada por dia, sendo armazenada em tonéis ou grandes tanques nem sempre apropriados, acumulando bactérias e provocando a ocorrência de infecções e diarreias. [...] Em meio a tudo isso, proliferavam ratos e baratas, disputando aos homens o alimento escasso e comprometendo as sempre precárias condições de higiene a bordo do navio. Dentre as práticas condenáveis - além da prostituição, do jogo e da leitura profana - destacavam-se as blasfémias e pragas que a tradição, agora em correspondência com os registros do cotidiano de bordo, sempre pôs na boca dos marinheiros. Mais uma tarefa dos padres embarcados. [...] Para cobrir as blasfémias dos marinheiros, as vozes dos padres de bordo levantavam-se em ladainhas e orações, e as procissões solenes percorriam o convés, na tentativa de combater as dores e dificuldades que alimentavam o medo coletivo. [...] As procissões quase sempre eram feitas depois do pôr do sol, dando-se três voltas pelo convés." MICELI, Paulo. O ponto onde estamos: viagens e viajantes na história da expansão e da conquista (Portugal, séculos XV e XVI). São Paulo/Campinas: Página Aberta/Editora da Unicamp, 1994. p. 151-168. Canada: Unidade de medida de líquido utilizada em Portugal no século XVI. Uma canada equivale a 2,66 litros. Compreendendo o texto 1) Descreva as condições sanitárias de um navio português dos séculos XV e XVI. 2) Identifique quais eram, de acordo com o texto, as dificuldades de uma viagem atlântica nos séculos XV e XVI. 3) De que forma esses homens combatiam os temores da viagem? 4) Comente a relação que pode ser estabelecida entre o cristianismo e as viagens ultramarinas. 5) Na sua opinião, quais tecnologias desenvolvidas posteriormente facilitaram as longas viagens marítimas? 13 EXERCÍCIOS 1. O projeto expansionista europeu atendeu a Rotas comerciais européias no fim da Idade múltiplos interesses. Redija um texto sobre os Média grupos envolvidos na expansão ultramarina e seus respectivos interesses. 2. Você estudou que a conquista de novas terras estimulava a imaginação das pessoas e, ao mesmo tempo, alimentava o medo do desconhecido. a) O que causava mais temor nos viajantes? b) Os navios da época ofereciam segurança para os navegadores? Justifique sua resposta. c) O que estimulou os viajantes a participarem das Grandes Navegações? 3. Cite duas consequências da expansão ultramarina para as sociedades europeias e duas consequências para as sociedades americanas. 4. Leia o texto e faça o que se pede. 7. Leia o texto e responda às questões a seguir. "O mercantilismo não é, efetivamente, uma política econômica que vise ao bem-estar social, Nasa lança sondas para preparar o retorno como se diria hoje; visa ao desenvolvimento nado homem à Lua cional a todo custo. Toda forma de estímulos é legitimada, a intervenção do Estado deve criar "A Nasa lançou nesta quinta-feira, 18, a todas as condições de lucratividade para as em- bordo de um único foguete Atlas 5, as sondas presas poderem exportar excedentes ao máxi- LRO e Leross, que estudarão a Lua em busca mo." de sinais de gelo e de locais para um futuro deNOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). 2. ed. São Paulo: Hucitec, sembarque de astronautas. O plano de explora1981. p. 61. ção espacial da Nasa, que se encontra em revisão, atualmente prevê o retorno de seres humaExplique a ideia central do texto, relacionando-a nos à Lua em 2019, a bordo de urna nova geraàs práticas mercantilistas estudadas neste capí- ção de naves, que começou a ser desenvolvida após o desastre do ônibus espacial Columbia, tulo. em 2003. A busca por gelo é parte da prospecção de 5. Releia o texto do boxe O Tratado de Tordesium terreno para urna futura base lunar. Ele seria lhas, na página 04, e anote em seu caderno: um recurso precioso, fornecendo não só água, a) os países que participaram do tratado. b) os fatores que motivaram a assinatura desse mas também combustível e oxigênio aos astronautas e reduzindo, assim, a massa total de insu documento. mos que teria de ser lançada da Terra para susc) o que ele estabelecia. tentar os habitantes de um posto lunar." ORSI, Carlos. Nasa lança sondas para preparar o retorno 6. Observe o mapa da expansão comercial eudo homem à Lua. O Estado de S. Paulo, 18 jun. 2009. ropeia no fim da Idade Média e responda. a) Cite quatro centros comerciais que faziam Que relações podemos estabelecer entre esses parte das rotas terrestres da época. b) Cite quatro centros que estavam vinculados cientistas e os grandes navegadores dos séculos XV e XVI? Que interesses comuns você conseàs rotas comerciais marítimas. gue identificar entre a conquista da Lua na atuac) Quais eram as zonas industriais mais desenlidade e a colonização da América no passado? volvidas na Europa no fim da Idade Média? Anote as suas conclusões e depois debata o tema com seus colegas. 14 QUESTÕES DE VESTIBULARES E DO ENEM 1. (UFPA) Para o historiador Jacques Le Goff: “Os homens da Idade Média entram em contato com a realidade física por intermédio de abstrações místicas e pseudocientíficas." LE GOFF, Jacques. A civiliza çào do Ocidente medieval. Bauru: Eduse, 2005. p. 131. Isto quer dizer que o misticismo e o cristianismo dos homens medievais interferiam na sua forma de entender o mundo que os cercava e a natureza. Sobre a forma medieval de conceber o mundo natural, é correto afirmar que aqueles homens: a) eram incapazes de entender a natureza e as leis que a governavam, decretando assim o atraso da época medieval em relação aos tempos de hoje. b) tinham uma interpretação simbólica do mundo natural, pela qual a fauna e a flora valiam pelo que significavam, não pelo que podemos apurar pela experiência científica. c) eram herdeiros do mundo grego fundado na primazia de um Deus onipotente e onipresente, o que marcava a percepção medieval sobre o ambiente, tido como uma manifestação do poder de Deus. d) tinham uma concepção mecanicista da natureza, entendida como uma máquina perfeita, governada por leis e iluminada por Deus. e) desenvolveram o processo de matematização da realidade natural, fundamento da ciência moderna e exata. 2. (UFJF-MG) O islamismo, religião fundada por Maomé e de grande importância na unidade árabe, tem como fundamento: a) o monoteísmo, influência do cristianismo e do judaísmo, observado por Maomé entre povos que seguiam essas religiões. b) o culto dos santos e profetas através de imagens e ídolos. c) o politeísmo, isto é, a crença em muitos deuses, dos quais o principal é Alá. d) o princípio da aceitação dos desígnios de Alá em vida e a negação de uma vida pós- -morte. e) a concepção do islamismo vinculado exclusivamente aos árabes, não podendo ser professado pelos povos inferiores. 15 3. (PUC/Campinas-SP) O Império Bizantino, ao longo de sua história, apresentou um governo que se caracterizou por: a) proporcionar condições sociais que possibilitaram eliminar, desde suas origens, o problema da escravidão. b) procurar eliminar suas origens romanas e por restringir o poder dos soberanos, que era bastante limitado. c) apresentar um caráter despótico associado à grande influência religiosa, dando-lhe uma feição teocrática. d) controlar, chegando a eliminar completamente, o poder da burocracia no Estado. 4. (UEL-PR) "[...] o aumento demográfico, ocorrido do século XI ao XVI, permitiu uma multiplicação da nobreza cada vez mais parasitária. Seus hábitos de consumo tornaram-se mais exigentes e maiores, o que determinava urna necessidade de renda cada vez mais elevada. Segue-se, pois, uma superexploração do trabalho dos servos, exigindo-se destes um maior tempo de trabalho [...]”. O texto descreve uma das causas, na Europa, da: a) formação do modo de produção asiático. b) consolidação do despotismo esclarecido. c) decadência do comércio que produziu a ruralização. d) crise que levou à desintegração do feudalismo. e) prosperidade que provocou o processo de industrialização. 5. (UFV-MG) A formação dos Estados nacionais da Europa Ocidental, durante a Época Moderna (século XV ao XVIII), embora tenha seguido uma dinâmica própria em cada país, apresentou semelhanças em seu processo de constituição. Sobre essas semelhanças, é incorreto afirmar que: a) politicamente, o regime instituído é a monarquia absoluta, do qual a França é o modelo clássico. b) o clero e a nobreza tinham posição e prestígio assegurados pela posse de terras e estavam sempre juntos na defesa de seus interesses. c) em termos sociais, esse período se caracteriza pela lenta afirmação da burguesia, que estava à frente de quase todos os grandes empreendimentos da época. d) para fortalecer o Estado, os reis adotaram um vontade e interesse. conjunto de medidas para acumular riquezas e)os estudiosos do período buscaram apoio na e desenvolver a economia nacional, denomiobservação, no método experimental e na renado mercantilismo. flexão racional, valorizando a natureza e o e) a centralização do poder político na Itália ocorser humano. reu devido à crescente influência da burguesia mercantil de Gênova e Veneza. 8. (Unifesp) O Renascimento cultural se iniciou na Itália, no século XIV, e se expandiu para ou6. (Fuvest-SP) Nicolau Maquiavel, em 1513, na tras partes da Europa nos séculos seguintes. Itália renascentista, escreveu: "Um príncipe não Uma de suas características é a pode observar todas as coisas a que são obriga- a) adoção de ternas religiosos, com o objetivo dos os homens considerados bons, sendo frede auxiliar o trabalho de catequese. quentemente forçado, para manter o governo, a b) pesquisa técnica e tecnológica, na busca de agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a novas formas de representação. religião. [...] O príncipe não precisa possuir todas c) recusa dos valores da nobreza e a defesa da as qualidades (ser piedoso, fiel, humano, íntegro cultura popular urbana e rural. e religioso), bastando que aparente possuí-las. d) manutenção de padrões culturais medievais, Um príncipe, se possível, não deve se afastar do na busca da imitação da natureza. bem, mas deve saber entrar para o mal, se a e) rejeição da tradição clássica e de seu princíisso estiver obrigado". pio antropocêntrico. Adaptado de Nicolau Maquiavel. O príncipe. Copie em seu caderno a afirmação claramente expressa no texto. a) Os homens considerados bons são os únicos aptos a governar. b) O príncipe deve observar os preceitos da moral cristã medieval. c) Fidelidade, humanidade, integridade e religiosidade são qualidades indispensáveis ao governante. d) O príncipe deve sempre fazer o mal, para manter o governo. e) A aparência de ter qualidades é mais útil ao governante do que possuí-las. 7. (UEL-PR) O Renascimento, amplo movimento artístico, literário e científico, expandiu-se da Península Itálica por quase toda a Europa, provocando transformações na sociedade. Sobre o tema é correto afirmar: a) o racionalismo renascentista reforçou o princípio de autoridade da ciência teológica e da tradição medieval. b) houve o resgate, pelos intelectuais renascentistas, dos ideais medievais ligados aos dogmas do catolicismo, sobretudo da concepção teocêntrica de mundo. c) nesse período, reafirmou-se a ideia de homem cidadão, que terminou por enfraquecer os sentimentos de identidade nacional e cultural, os quais contribuíram para o fim das monarquias absolutas. d) o humanismo pregou a determinação das ações humanas pelo divino e negou que o homem tivesse a capacidade de agir sobre o mundo, transformando-o de acordo com sua 16 9. (UFRN) No século XVI surgiu, na Europa, um movimento de caráter religioso, político e econômico que deu origem à Reforma Protestante, iniciada como uma reação: a) ao progresso do capitalismo comercial, que preconizava o lucro e estimulava o desenvolvimento das atividades mercantis, condenados pela Igreja Católica. b) à crise da Igreja Católica, que se manifestava através da vida desregrada, do luxo do alto clero, da venda de cargos eclesiásticos e de relíquias sagradas. c) à teoria religiosa católica, que estava alicerçada na predestinação absoluta, na salvação pela fé e no livre exame da Bíblia. d) ao fortalecimento do Estado nacional absolutista, cuja consolidação representava o apoio à teoria da supremacia e do universalismo do poder papal. 10. (UFMG) Leia o texto. “[...] é a vida profissional do homem que lhe dá certo treino moral, uma prova de seu estado de graça para a sua consciência, que se expressa no zelo e no método, fazendo com que ele consiga cumprir a sua vocação. Não é trabalho em si, mas um trabalho racional, uma vocação, que é pedida por Deus." A concepção sobre o trabalho descrita nessa passagem é a defendida pelo: a) anglicanismo, religião cristã originada na Inglaterra, na Reforma ocorrida no século XVI. b) calvinismo, religião cristã originada das concepções de João Calvino, no século XVI. c)catolicismo, religião cristã, com sede em Roma e obediente à autoridade do papa. d)islamismo ou religião muçulmana, originada na Arábia Ocidental, no século VII. 11. (UFMG) O mercantilismo foi um sistema de política econômica, em vigor entre os séculos XV e XVIII, no qual os meios econômicos conduziam a fins de natureza política. Esses fins se resumiam: a) na tomada do poder político pela nobreza. b) na centralização e no fortalecimento do Estado nacional. c) na defesa de entidades supranacionais como o papado. d) no expansionismo europeu, incorporando novas áreas. e) no estímulo à livre competição e à livre iniciativa. 17