P RO PA D / UFP E A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração The Regionality as a Research Track of Business Adminstration: A Case Study of a Master Business Administration Program Antonio Carlos Gil Universidade Municipal de São Caetano do Sul Eduardo de Camargo Oliva Universidade Municipal de São Caetano do Sul Marcos Antonio Gaspar Universidade Municipal de São Caetano do Sul Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração Resumo Nos últimos anos pôde-se verificar a valorização do local e do regional como contraponto ao fenômeno da globalização desenfreada. Dessa forma, a relevância de estudos em Administração voltados às questões regionais ganha cada vez mais evidência. Esta pesquisa exploratória, com características de um delineamento documental, tem como objetivo proporcionar maior conhecimento acerca do estudo de questões regionais promovido a partir de um Programa de Mestrado em Administração (PMA) recomendado pela CAPES. Através da coleta de dados secundários oriundos da análise dos documentos oficiais do programa, bem como dos resultados práticos alcançados, foi possível verificar a realidade vivenciada por esse PMA. Como resultado, fica evidente que a regionalidade é muito mais do que simplesmente um neologismo empregado para rotular a proposta do PMA em foco. Mais do que isso, a regionalidade constitui-se numa realidade possível que vem sendo colocada em prática de forma pioneira para a construção e expansão do conhecimento na ciência da Administração. Palavras-chave: Regionalidade; Administração; Programa de Mestrado em Administração Abstract In the last years we could verify the valorization of local and regional as a counterpoint of the uncontrolled globalization phenomenon. In this manner, the relevance of Business Administration studies about regional subjects have more and more evidence. This exploratory research, based on document sources, has as objective to provide more knowledge about the study of regional subjects promoted by a Master Business Administration Program certified by CAPES (the Brazilian Federal Agency for Master Degree Improvement). Through secondary data collection from the analysis of official documents of the Master Program, as well as the results obtained next to CAPES, it was possible to verify the reality faced by this aster Program. The results show that the regionality is much more than a simple neologism to designate the focused Master Program. More than that, the regionality is a possible reality that was placed in a pioneer way to build and expand the knowledge of the Business Administration science. Key words: Regionality; Business Administration; Master Business Administration Program Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração 1 Introdução Poucos tópicos têm sido tão intensamente apresentados como desafios aos administradores quanto a globalização. Com efeito, este processo constitui o mais importante fato a marcar a passagem do século. E não há como negar que tenha contribuído para propiciar uma sociedade com economia mais aberta e com maior liberdade para o intercâmbio de bens, idéias e conhecimentos. Mas, por outro lado, também não se pode esconder sua outra face: o desenvolvimento de relações econômicas fundamentadas nas exigências dos conglomerados transnacionais, a concentração da capacidade de informação dos detentores do poder, a organização de um sistema financeiro dominado pelos interesses dos países economicamente mais poderosos, a descaracterização das culturas locais e a retomada da força do liberalismo econômico como ideologia e prática. A globalização não trouxe, principalmente para os mais pobres da terra, o que prometeu. Ela não pode, portanto, continuar sem a definição de um novo contexto de valores, posturas éticas e normas para proteger os bens comuns da Humanidade. Tanto é que um número cada vez maior de vozes levanta-se contra seus efeitos perversos. Dentre elas, a de Joseph E. Stiglitz (2002), ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001 que, em seu livro A globalização e seus malefícios, afirmava que a globalização não traz benefícios aos pobres do mundo, não resolve os problemas ambientais e não contribui para a estabilidade da economia mundial. Stiglitz (2006) reafirma essas teses em sua mais recente obra Making globalization work, na qual compara o sucesso econômico dos países asiáticos, que mantiveram distância das recomendações do FMI, com a instabilidade crescente dos países latino-americanos, que seguiram à risca as políticas do Consenso de Washington. Mas nem todas as reações à globalização são constituídas por críticas. Como reação, e em parte como conseqüência à globalização, constituem-se novas alianças, novos arranjos institucionais e principalmente novas idéias. Uma das mais visíveis respostas a esse estado de coisas é o movimento, já visível em muitos lugares do planeta, que preconiza a valorização do local e do regional. A ponto de já se cunhar o neologismo glocalização. Essa tendência vem contribuindo para que nos meios acadêmicos se discuta com ênfase cada vez maior questões de natureza conceitual e teórica relativas à região e conseqüentemente ao regionalismo. Dentre os programas interdisciplinares recomendados pela CAPES, constata-se que muitos deles voltam-se especificamente para as questões locais e regionais. É o caso dos vários programas de Desenvolvimento Local, Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Gestão e Desenvolvimento Regional, Gestão Integrada do Território, Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local e Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional. Muitos programas nas áreas de Geografia, Economia e Sociologia, por sua vez, vêm inserindo linhas de pesquisa relacionadas à atuação regional. E dentre os programas de mestrado em Economia um tem a denominação Desenvolvimento Regional e Gestão de Empreendimentos Locais e outro, Agronegócios e Desenvolvimento Regional. No campo da Administração não se verifica, ainda, uma significativa quantidade de cursos, publicações e eventos voltados às implicações do regional sobre o seu objeto de estudo. Mas em alguns Programas de Mestrado e Doutorado, sobretudo naqueles que apresentam linhas de Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração pesquisas contemplando o setor público e as organizações sem fins lucrativos, já se constata o incentivo aos trabalhos de pesquisa que enfatizam programas, projetos e ações regionais. É o caso do Mestrado em Administração da Universidade Federal da Bahia, que tem como uma de suas linhas de pesquisa Poderes Locais e Organizações, e do Mestrado Profissional da mesma universidade, que abriga a linha de pesquisa Desenvolvimento Local e do Terceiro Setor. Também a Universidade Salvador, sediada na capital de Bahia, tem como um de seus objetivos atualizar e capacitar profissionais para atuarem no planejamento e na gestão de organizações privadas, públicas e sociais, visando o desenvolvimento local e regional. No Estado de São Paulo salienta-se o Programa de Mestrado em Administração da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, que se constituiu fundamentado no princípio da regionalidade e que tem como área de concentração a Gestão da Regionalidade e das Organizações. Uma de suas linhas de pesquisa é Gestão para o Desenvolvimento da Regionalidade. O programa mantém também um Grupo de Pesquisa sobre Regionalidade e é responsável pelo periódico Gestão e Regionalidade, que está indexado na lista Qualis de Administração, Contabilidade e Turismo. Assim, foi realizada a presente pesquisa que tem como propósito analisar o Programa de Mestrado da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Trata-se, portanto, de um estudo de caso intrínseco, que tem como objetivos: a) analisar a proposta pedagógica do programa; b) analisar o contexto sócio-econômico, cultural e político em que se insere; c) analisar seu impacto na consolidação da regionalidade como área de atuação da Administração. 2 Referencial Teórico Historicamente as questões regionais têm sido discutidas no âmbito da Geografia. Mas graças ao seu desenvolvimento teórico, tendem a assumir características multidisciplinares. Assim, para conferir clareza, precisão e objetividade a estes estudos requer-se primeiramente o estabelecimento de um sistema conceitual que possibilite a definição dos conceitos utilizados, bem como sua fundamentação teórica. Dessa forma, procede-se à discussão dos conceitos de região, regionalismo e regionalidade. 2.1 Região O termo região, do ponto de vista acadêmico, durante muito tempo foi utilizado principalmente no âmbito da Geografia, dando origem, inclusive, a uma de suas principais subdivisões, que é a Geografia Regional. Mas contemporaneamente é utilizado por estudiosos de muitas outras áreas, como Economia, Sociologia, Ciência Política e Urbanismo. Assim, o conceito de região não pode mais ser entendido como referente a uma estrutura rígida, uma vez que seus limites não são necessariamente fixados em termos geográficos ou jurisdicionais. De acordo com Gil, Klink e Santos (2004), a região vem sendo entendida em função de múltiplos aspectos, tais como: fatores produtivos predominantes, fuga de fatores regionais de produção, demandas locais, articulações sociais, empreendimentos comuns, desafios competitivos e negociações com instâncias supra-regionais. O que significa que regiões não podem mais ser vistas como entidades Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração eminentemente geográficas. Sua construção passa a requerer elementos de ordem econômica, política, social, cultural e mesmo psicológica, já que as regiões podem ser entendidas de forma abstrata, também como representações mentais (VÄYRYNEN, 2003). Em virtude dessas novas acepções, a região não se define apenas por uma homogeneidade de condições naturais. Para Frémont (1976), ela é mais do que isso: é um espaço sentido e vivido pelos seus habitantes. De forma complementar, Boisier (1999) sustenta que a região é um fato histórico e cultural, bem como uma construção social. Não é apenas a condição de uniformidade do espaço que a define, mas, acima de tudo, a consciência coletiva desse espaço. A região passa a ser vista como uma totalidade humano-espacial. Essa complexidade inerente ao conceito de região é abordada por Santos (2002), ao argumentar que o estudo de uma região implica penetrar num mar de relações, formas, funções, organizações, estruturas, etc., o que obrigatoriamente desdobra-se ainda em diferentes níveis de interação e contradição. 2.2 Regionalismo Do conceito de região deriva o conceito de regionalismo, que pode ser definido de várias formas. Pode ser utilizado para indicar o sentimento de apego individual ou coletivo à região à qual se pertence por nascimento ou vivência. Pode ser entendido como uma doutrina política que defende a distinção de uma região dentro de um estado sem, no entanto, reclamar a completa independência. Pode ainda, também, ser definido como a identificação consciente, cultural, política e sentimental que grandes grupos de pessoas desenvolvem com o espaço regional. Mas todas essas definições implicam o uso político da identidade regional. Com efeito, toda região tem uma identidade política que gira ao redor de interesses, de obrigações e de necessidades. O regionalismo está no uso dessa identidade para disputar espaços de poder. Na definição de regionalismo levam-se em consideração tanto fatores sócio-culturais internos quanto fatores políticos externos à região. Cantori e Spiegel (1970) enfatizam os critérios de proximidade geográfica: a interação, os vínculos étnicos, lingüísticos, culturais, sociais e históricos e também um senso de identidade, que é algumas vezes acentuado pelas ações e atitudes de estados exteriores à região. Já Russet (1968) define cinco parâmetros em que se fundamenta o regionalismo: homogeneidade social e cultural; atitudes políticas ou comportamento externo; instituições políticas; interdependência econômica e proximidade geográfica. Cabe ressaltar, no entanto, que na última década do século XX difundiu-se a idéia de um “novo regionalismo”, que surge em larga medida como resposta à dinâmica homogeneizadora da globalização e que se distingue do velho sob vários aspectos. Por exemplo, enquanto o velho regionalismo fundamentava-se no governo, enfatizando a inserção de um novo nível na hierarquia das relações entre o Estado e o governo local; o novo regionalismo fundamenta-se na governança, ou seja, no estabelecimento de objetivos e na formulação de políticas para alcançá-los (WALLIS, 2003). Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração 2.3 Regionalidade A regionalidade pode ser compreendida como o conjunto das propriedades e circunstâncias econômicas e históricas que distinguem uma região, permitindo sua comparação com as demais regiões. Assim, a regionalidade constitui uma espécie de consciência coletiva que une os habitantes de uma determinada região em torno de sua cultura, sentimentos e problemas, tornando possível um esforço solidário pelo seu desenvolvimento (GIL, KLINK, SANTOS, 2004). O conceito de regionalidade, num primeiro momento, pode confundir-se com o de regionalismo. Mas a regionalidade vincula-se com a reorganização do estado local a partir de novas formas de parceria que emergem para guiar e promover o desenvolvimento de recursos locais. Assim, só se pode falar em regionalidade quando se verificar a efetiva cooperação entre as instâncias de governo regional e os vários segmentos da sociedade civil com o propósito de promover o desenvolvimento regional. Para Hettne (1999), esse processo evolui, de modo geral, em cinco etapas, de acordo com as características observadas na região: 1) região como unidade geográfica, delimitada em maior ou menor grau pelas barreiras físicas e marcada por características ecológicas; 2) região como sistema social, com relações de várias naturezas entre grupos em diferentes localidades; 3) região como organização formal para cooperação em alguns campos culturais, econômicos, políticos e militares; 4) região como sociedade civil, que toma forma quando o arcabouço organizacional promove a comunicação social e a convergência de valores por toda a região; 5) região como formação histórica com identidade própria que pode ser expressa na formação de uma microregião com auto-determinação e autoridade que é obtida do Estado que a inclui. Essa consciência regional proporcionada pela regionalidade passa necessariamente pelo processo de construção histórica de uma base territorial que segue quatro etapas sucessivas: 1) definição da abrangência territorial; 2) formação de uma imagem conceitual e simbólica; 3) desenvolvimento de instituições regionais e 4) estabelecimento da região como parte de um sistema de regiões, com papel administrativo definido e associada à consciência regional da comunidade. Neste último estágio é que se consolida a existência de uma identidade regional referente tanto à base física e material da região quanto à esfera mental, através da fixação de uma imagem da região tanto em seus habitantes quanto entre os de outras regiões (PAASI, 2000). 3 Metodologia A presente pesquisa pode ser definida como um estudo de caso exploratório, já que tem como propósito ampliar o conhecimento acerca do tema com vistas a estimular a reflexão para o desenvolvimento de novos estudos. Trata-se de um estudo de caso intrínseco, já que o caso – Programa de Mestrado da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – constitui o próprio objeto da pesquisa. Dessa forma, não há o objetivo de generalização dos resultados encontrados. Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração Para garantir a profundidade requerida por um delineamento dessa natureza, procedeu-se à utilização de múltiplas fontes de evidência: 1) dados de natureza documental, constituídos por: planos de ensino; atas de reuniões e relatórios enviados à CAPES; artigos publicados no periódico do programa; 2) entrevistas com o Coordenador do Programa e Editor do Periódico; e 3) observação de reuniões do corpo docente. 4 Análise e Discussão dos Resultados 4.1 O Contexto Histórico do Programa de Mestrado em Administração O programa de mestrado analisado está sediado num dos sete municípios que compõem o chamado Grande ABC Paulista. Foi constituído em 1998, num momento tão expressivo quanto dramático para a região. O Grande ABC, provavelmente mais do que qualquer outro grande conglomerado urbano brasileiro, sentiu os efeitos negativos dos processos de mudança nas plantas industriais que caracterizaram a última década do século XX. A sociedade local passou a conviver com fatos com os quais não estava acostumada: fuga de empresas, diminuição de postos de trabalho, desemprego e necessidade de readaptação às novas realidades. Essa situação contribuiu para mobilizar agentes públicos, empresários, pesquisadores sociais, sindicalistas, jornalistas e lideranças da sociedade civil. Mobilização essa que contribuiu para a constituição de expressivos arranjos institucionais, como o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, a Câmara Regional do Grande ABC, o Fórum da Cidadania e mais tarde a Agência do Desenvolvimento Econômico do ABC. A Universidade também passou a se manifestar. Algumas instituições de ensino superior se abriram para o debate das questões regionais, que conduziriam à Criação do Fórum das Universidades. Mas a manifestação mais expressiva foi provavelmente a constituição do Programa de Mestrado em Administração da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, que se constituiu em local privilegiado para o debate e a pesquisa sobre os problemas da região. 4.2 A Regionalidade como Foco de Pesquisa do PMA A principal motivação para criação do Programa de Mestrado em Administração foi a de buscar respostas aos desafios da Região do Grande ABC. Mas, em virtude dos requisitos definidos pela CAPES para a criação de cursos novos, o programa definiu como Área de Concentração a Gestão de Regionalidade e das Organizações. Buscou, desta forma, conciliar os reclamos regionais com os interesses de candidatos a programas de mestrado acadêmico em Administração. Assim, o programa foi estruturado com o propósito de fornecer respostas a dois grandes desafios no campo da Administração: a inovação organizacional e a inserção do global no contexto regional. Assim estruturado, o programa procura inserir-se no contexto da globalização, incentivando ainda a inovação, que constitui atualmente no mais importante recurso de que pode se valer uma Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração organização para enfrentar os múltiplos desafios propostos por uma sociedade global. Mas procura igualmente valorizar o enfoque regional, já que esta ênfase constitui-se reação e ao mesmo tempo conseqüência do processo de globalização. Desta forma, este programa de mestrado propõe a preparação de pesquisadores e profissionais de Administração para o desenvolvimento de competências para pensar globalmente e inovar regionalmente. Com vistas a conciliar estas propostas, o programa assim define os seus objetivos: Desenvolver produção científica para o debate acadêmico sobre temas próprios da Regionalidade e da Gestão e Inovação Organizacional; Formar docentes e pesquisadores para a produção de conhecimento acadêmico em torno de dois eixos estruturantes: Regionalidade e Gestão e Inovação Organizacional; Analisar e criticar metodologias de avaliação de projetos sociais focados em temas próprios da Regionalidade e da Gestão e Inovação Organizacional; Estimular o processo de abertura da Universidade para promover discussões teóricas sobre temas de Regionalidade e Gestão e Inovação Organizacional com os diversos agentes da sociedade civil, política, econômica, de modo que se possa sistematizar e registrar conhecimentos e experiências; Fomentar a criação de uma "consciência regional" e de uma "identidade regional". Fica claro que neste programa tudo gravita em torno da regionalidade. Assim, pode-se dizer que a criação da consciência e da identidade regional – em suma, o desenvolvimento da regionalidade - constitui propriamente a sua missão. O que na prática significa a articulação de esforços conjuntos das autoridades públicas, dos empresários, dos representantes de segmentos da sociedade civil e dos representantes de outras organizações, no espaço da região que pode ser geográfico, administrativo, econômico, político, social e cultural. Em seu sentido mais amplo, já que não se trata de um programa de Administração de Empresas, de administração pública ou de administração de um setor específico. 4.3 Linhas de Pesquisa Para aglutinar as ações didáticas e os projetos de pesquisa foram definidas duas linhas de pesquisa: “L1: Gestão para o Desenvolvimento da Regionalidade” e “L2: Gestão e Inovação Organizacional”. A primeira reúne pesquisas sobre a gestão para o desenvolvimento da regionalidade focando instituições públicas, empresas, segmentos da sociedade civil e outras organizações. Já a segunda linha reúne pesquisas sobre a gestão e a inovação organizacional, focando as organizações e suas articulações com o desenvolvimento da regionalidade. Embora a segunda linha não inclua o termo regionalidade em seu título, as pesquisas a ela relacionadas convergem para a regionalidade, mediante a consideração de aspectos regionais relativos às organizações. Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração 4.4 Disciplinas, Planos de Ensino, Ementas e Conteúdos Programáticos As disciplinas oferecidas pelo PMA, com exceção daquelas que apresentam conteúdos metodológicos, vinculam-se a uma das duas linhas de pesquisa do Programa, como indica o Quadro 1: Quadro 1 – Disciplinas do PMA Disciplinas vinculadas à linha de pesquisa “Gestão Disciplinas vinculadas à linha de para o Desenvolvimento da Regionalidade” pesquisa “Gestão e Inovação Organizacional” - Cidade, Política e Memória; Economia e Sociedade Regional; Gestão Contemporânea e da Regionalidade; Gestão de Processos Regionais para a Comunicação e Cultura; - Inovação e Trabalho na Economia Regional; - Internacionalização de Produtos e Empresas Regionais; - Redes de Empresas; - Sociologia Urbana e Regional; - Perspectivas do Ensino de Administração para o Desenvolvimento Regional. Fonte: Dados da pesquisa. - Administração Estratégica; Comportamento do Consumidor; Comportamento Organizacional; Marketing Empresarial; Gestão da Responsabilidade Social; Personalidade, Inovação e Competitividade Organizacional. Também aqui percebe-se a relevância da Regionalidade como fio condutor do delineamento do curso oferecido pelo PMA. Grande parte das disciplinas versa sobre esse tema, desenvolvendo seus conteúdos programáticos de forma a atender diretamente essa diretriz do curso. Através da leitura atenta dos Planos de Ensino das disciplinas, foi possível diagnosticar que o termo regionalidade não é apenas um elemento figurativo em suas ementas. Muito mais do que isso, os tópicos constantes nos Conteúdos Programáticos (e desenvolvidos nas disciplinas) são profundamente voltados a essa temática. De forma complementar, mesmo as disciplinas voltadas à linha de pesquisa “Gestão e Inovação Organizacional” também canalizam seus enfoques para a questão da regionalidade. Tal direcionamento pode ser percebido pelo suporte que essas disciplinas oferecem aos alunos no desenvolvimento de suas competências e capacitações. A maioria das disciplinas que integram a Linha 1 tem no próprio título a palavra regional ou regionalidade. Mas isto não significa que as disciplinas da Linha 2 não se vinculem às questões regionais. A rigor, essas disciplinas correspondem às áreas tradicionais da Administração, mas são ministradas sob o enfoque da regionalidade. Cabe considerar ainda que os estudos referentes ao Regionalismo, Desenvolvimento Regional e Regionalidade são multidisciplinares, não tornando-os, portanto, estranhos à um curso de Administração, uma vez que a própria Administração é uma disciplina de natureza multidisciplinar. Assim, os estudos sobre regionalidade num curso de Administração requerem a contribuição de diferentes disciplinas, tais como (GIL, OLIVA e SILVA, 2007): • Fundamentos Epistemológicos dos Estudos Regionais – Natureza do conhecimento científico, objetividade e subjetividade,perspectivas positivista, fenomenológica e dialética; Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração • Geografia Urbana e Regional – As redes geográficas, espaço urbano, a questão regional e a gestão do território, organização regional do espaço brasileiro; • Economia Urbana e Regional – O processo de urbanização, espaço, redes e territórios econômicos, Mercado fundiário e de habitação, renda urbana, crescimento e as funções da cidade, desequilíbrios regionais, captação de recursos, contabilidade regional; • Gestão de Políticas, Programas e Projetos Regionais – Teoria do planejamento, planejamento participativo, políticas, programas e projetos regionais, avaliação de resultados e de impactos; • Marketing Regional – Marketing de serviços, marketing social, estratégias de Marketing regional, relacionamento com atores regionais; • Liderança – Autoridade, poder e liderança, movimentos sociais, liderança nas empresas, no serviço público e nas organizações não-governamentais, características do empreendedor regional; • Ética e Regionalidade desenvolvimento – A econômico ética e da política, desigualdade cultura social, cívica e ética, cidadania, inclusão e exclusão social, responsabilidade social do gestor regional. Com efeito, o que se constata mediante a análise dos planos de ensino é que as diferentes disciplinas do Programa incorporam os conteúdos citados acima, com vistas a garantir o enfoque na Regionalidade. 4.5 Grupos de Pesquisa A criação do PMA determinou mudanças significativas na orientação geral das ações da Universidade. Assim, a regionalidade passou a ser um dos principais eixos orientadores de pesquisa não apenas no âmbito do programa, mas da própria universidade. Tanto é que a Comissão de Pesquisas da Universidade (órgão interno responsável pela análise de propostas para apoio a projetos de pesquisa) confere peso significativo à Regionalidade. O que passou a influenciar também a criação de grupos de pesquisa vinculados aos novos programas de mestrado propostos pela Universidade, nas áreas de Comunicação e de Saúde Coletiva. Os Grupos de Pesquisa constituídos no âmbito do PMA e cadastrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 2007), também indicam forte comprometimento com a Regionalidade. O Quadro 2 exibe tal direcionamento dos Grupos de Pesquisa. Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração Quadro 2– Grupos de Pesquisa do PMA Grupos de pesquisa vinculados Grupos de pesquisa vinculados à linha de à linha de pesquisa “Gestão para o pesquisa “Gestão e Inovação Desenvolvimento da Regionalidade” Organizacional” – Estudos de Regionalidade; – Trabalho, Inovação e Desenvolvimento Regional; – Gestão para o Desenvolvimento Sócio-político e Cultural das Cidades ou Regiões; – Estudos Estratégicos sobre Competitividade Empresarial e Atratividade Setorial; – Gestão de Negócios Internacionais de Empresas Regionais; – Gestão de Negócios no Mercado de Produtos Populares. Fonte: Dados da pesquisa. – Comportamento Organizacional; – Comportamento do Consumidor do ABC e Outras Regiões; – Aplicações Não-Convencionais e Modernas Práticas de Marketing; – Núcleo de Pesquisas Sobre Diversidade Psicológica; – Planejamento Estratégico e Empreendedorismo. 4.6. Produção Intelectual do Corpo Docente A partir dos dados disponíveis nos Relatórios Coleta CAPES do triênio 2004-2006 foi possível estabelecer alguns parâmetros para um melhor entendimento da repercussão da produção intelectual do PMA analisado, conforme exibe o Quadro 3 abaixo: Quadro 3 – Produção Intelectual do PMA Informada nos Relatórios Coleta CAPES 2004 2005 Quantidade de produção intelectual técnica 20 47 Quantidade de produção intelectual bibliográfica 58 80 Fonte: Dados da pesquisa. 2006 74 78 É possível visualizar uma evolução da performance do PMA em relação aos critérios requeridos pela respectiva área de avaliação da CAPES para a avaliação de programas de mestrado relativamente ao quesito Produção Intelectual. Tal fato se dá tanto em relação à quantidade quanto à qualidade de produção intelectual elaborada pelos docentes e discentes. No período analisado constatou-se a publicação de artigos em periódicos com classificação Qualis Nacional A e B, além de inúmeros trabalhos apresentados em importantes eventos com classificação similar na área de Administração, Contabilidade e Turismo. Nesse sentido, o PMA também vem promovendo e participando de eventos nacionais e internacionais que envolvem especificamente o estudo de questões regionais. Prova disso são as apresentações de trabalhos de seus pesquisadores em eventos de caráter internacional como os Colóquios Internacionais sobre o Poder Local e os Seminários Internacionais sobre Desenvolvimento Regional. 4.7 Editoria de Periódicos O PMA edita dois periódicos com a finalidade de promover estudos sobre a Regionalidade na Administração: Cadernos de Pesquisa e Revista Gestão & Regionalidade. Este último constitui Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração atualmente um importante espaço para o debate de questões de natureza administrativa sob o enfoque da Regionalidade e vem recebendo contribuições de autores de diferentes pontos do país. A Revista Gestão & Regionalidade foi originariamente lançada em 1983 com outra denominação, servindo de veículo para divulgação de trabalhos em diferentes áreas da Administração. A partir de 2005, no entanto, quando foi adotado o título atual, passou a privilegiar a publicação de trabalhos de pesquisa que tratam de questões regionais no campo da Administração. Por constituir-se no único periódico classificado na lista Qualis da área de Administração, Contabilidade e Turismo que trata especificamente de temas de Administração sob o enfoque regional, vem conseguindo atrair a atenção de pesquisadores interessados nessas questões. 4.8 Dissertações Concluídas O mais expressivo indicador do enfoque dos programas de pós-graduação stricto sensu é constituído por suas dissertações. Como estas efetivamente se constituem no produto final da atividade de seus alunos, acabam por gerar tanto comunicações em eventos como publicações em periódicos científicos. Assim, a análise de seus conteúdos contribui significativamente para identificar de forma objetiva o enfoque dado pelo Programa. Objetivando proporcionar uma rápida visão sobre a produção de dissertações do PMA, são expostos alguns títulos de dissertações defendidas no programa que expressam a convergência das pesquisas para o campo da regionalidade, quais sejam: “As fábricas do ABC no olho do furacão: a indústria de autopeças e a reestruturação da cadeia produtiva automotiva nos anos 90”; “A contribuição do Programa Brasil Empreendedor para o fortalecimento das micro e pequenas empresas industriais da Região Metropolitana da Grande São Paulo”; “Gênero e poder: a questão de gênero e as esferas do poder executivo e legislativo na Região do Grande ABC”; “O protagonismo comunitário em Paranapiacaba: o impacto das ações governamentais no desenvolvimento sócio-econômico-comunitário da Vila de Paranapicaba no período de 2001 a 2004”; “Avaliação de uma iniciativa de gestão regional: o caso do movimento de alfabetização de jovens e adultos do Grande ABC”; “Desafios à gestão de ONGs: OSCIPS do Grande ABC”; “O fórum da cidadania do Grande ABC: uma experiência de governance regional”; “Consciência regional no Grande ABC sob a ótica da grounded theory”; “O legislativo local e a perspectiva de gênero nas políticas públicas da Região do Grande ABC”; “Aplicação do marketing social ao planejamento, elaboração e implementação de políticas públicas de saúde na região do Grande ABC” e “Clientecidadão: desafio das administrações públicas do Grande ABC”. 5 Conclusões e Sugestões Os resultados obtidos permitem considerar o Programa de Mestrado em Administração desta instituição como representativo de um centro de estudos e pesquisas que contribui para a consolidação da Regionalidade como novo campo da Administração. Fica claro, com base na análise das linhas de pesquisa do programa, das repercussões de seus grupos de pesquisa, do conteúdo de Revista Gestão.Org – Número Especial I ENEPQ – Novembro 2008 – p 11-24. A Regionalidade como Área de Estudo da Administração: Um Estudo de Caso de um Programa de Mestrado em Administração suas publicações e, sobretudo, de suas dissertações; que a Gestão para o Desenvolvimento da Regionalidade, a despeito de seu caráter emergente, constitui-se num tema passível de verificação empírica, de fundamentação teórica e de ensino sistemático. De maneira muito especial, as dissertações defendidas indicam o quão abrangente é o tema da regionalidade, como seus conceitos se aplicam no entendimento de múltiplas questões administrativas e como podem contribuir para a consolidação de ações voltadas ao desenvolvimento regional. Portanto, recomenda-se aos pesquisadores da Administração que prossigam na realização de estudos e pesquisas nas mais diversas subáreas dessa ciência (Finanças, Marketing, Recursos Humanos, Produção, etc.), levando em consideração os múltiplos condicionamentos regionais. E que considerem ainda a região não apenas em termos de continuidade de um território sob o ponto de vista de sua paisagem natural e seus componentes sócio-culturais, mas como uma espécie de consciência coletiva que une os habitantes de determinado território em torno de seus problemas, expectativas e aspirações. O que significa considerar regiões como entidades socialmente construídas. Desta forma é que poderão não apenas entender, mas promover o desenvolvimento da regionalidade. Aconselha-se ainda aos pesquisadores a utilização de delineamentos adequados. Embora os levantamentos e estudos documentais sejam imprescindíveis ao conhecimento objetivo das realidades regionais, há que se privilegiar a utilização de pesquisas de cunho interpretativista, que adotam o enfoque etnográfico, fenomenológico e da grounded theory. São pesquisas deste tipo que possibilitam captar a realidade social do ponto de vista de seus atores, possibilitando assim o entendimento da região como uma realidade socialmente constituída. Também recomenda-se a instalação de fóruns para discussão da Gestão para o Desenvolvimento da Regionalidade em encontros nacionais e internacionais. A partir da apresentação de resultados de pesquisas, será possível contribuir decisivamente para a análise crítica e consolidação desse novo campo da Administração. Nesse sentido, há que se considerarem os encontros anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – ANPAD, como fórum privilegiado. Sobretudo porque a partir de 2007 definiu-se como área de estudo da divisão acadêmica “Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade – EPQ”, a subárea “Estudos Reflexivos e de Campo” como nova possibilidade para submissão de artigos científicos. Esta subárea destina-se aos pesquisadores que desejam olhar além de suas práticas correntes e das questões de sua especialidade ou áreas de vinculação básica, visando assim problematizar o grande campo como um todo ou em relação aos campos conexos. Referências BOISIER, Sergio. Post-scriptum sobre desenvolvimento regional: modelos reais e modelos mentais. Planejamento e políticas públicas. n. 19, jun. 1999. CANTORI, Louis J., SPIEGEL, Steven L. (Eds.). The international politics of regions: a comparative approach. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1970. CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. Brasília: CNPq, 2007. 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