OS BONDES FIZERAM COPACABANA
Com efeito, desde 12 de março de1856, quando, pelo decreto no. 1733 se
conferiu a primeira linha de carris urbanos puxados à burros ao Conselheiro Cândido
Baptista (1801-1865) e seu filho Luiz Plínio; e a segunda, de uma linha para a Tijuca,
dada dias depois pelo decreto no. 1742, de 29 de março, ao médico homeopata escocês
Thomás Cochrane (1805-1872), sogro de José de Alencar (1829-1877), ninguém podia
imaginar a revolução que tais veículos acarretariam à cidade.
A linha de Cochrane, partindo do centro para a Tijuca, começou a funcionar em
1859, mudando para tração à vapor em 1862. Não deu certo por causa da má
conservação e faliu em 1865, dando prejuízo de 700 contos a seus diretores. Já Cândido
Baptista desinteressou-se de sua concessão, haja vista que em 11 de outubro de 1859
foi indicado “Presidente do Banco do Brasil”. Repassou então sua concessão por
quarenta contos de réis pelo decreto no. 2927, de 21 de maio de 1862 ao amigo, o
banqueiro Ireneu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá (1813-1889). Mauá,
receoso com o investimento, haja vista o que acontecera à linha da Tijuca, cedeu a
concessão por cem contos de réis, formalizada pelo decreto no. 3738, de 21 de
novembro de 1866 ao engenheiro americano Charles B. Greenough (1825-1880). Partiu
Greenough para os Estados Unidos, onde conseguiu verbas para sua linha que
percorreria a Zona Sul da Cidade, organizando uma companhia dois anos depois. Logo
eram assentados os trilhos do Centro ao Catete.
Em 09 de outubro de 1868, começou a funcionar a “Botanical Garden Rail Road
Company”, com sua primeira linha, da rua Gonçalves Dias até o Largo do Machado. O
impacto sobre a cidade logo se fez sentir. Regiões que ficavam desertas, por falta de
acesso logo se valorizaram e foram ocupadas. Bairros dominados por extensas
chácaras, como Botafogo, logo foram repovoados. Em breve, não se vendia mais terreno
algum na cidade sem antes o comprador fazer a pergunta: “...o bonde passa lá?”
Já em 1o. de janeiro de 1871 chegava o bonde ao Jardim Botânico e Gávea,
tornando tais arrabaldes muito populares desde então. Em 1o. de abril de 1873, o bonde
já atingia a “Olaria”, hoje “Campus da PUC”, na Rua Marquês de São Vicente, e outro
ramal, saindo do Largo do Machado atingia a “Bica da Rainha”, no Cosme Velho. Logo
se vislumbrou na mente de homens progressistas que o bonde era a maneira mais
eficiente de se chegar à Copacabana, Ipanema e Leblon.
Entretanto, o primeiro transporte coletivo que chegou às praias da zona sul não
foram os bondes, e sim as diligências do Dr. Francisco Bento Alexandre de Figueiredo de
Magalhães, Conde de Figueiredo Magalhães (181?-1898), médico cirurgião formado em
Lisboa, cujos serviços foram iniciados a 1o. de dezembro de 1878. Partiam as diligências
da Praia de Botafogo, canto da rua São Clemente, chegando à Praia de Copacabana
pela Ladeira do Leme. O Dr. Magalhães montara em Copacabana uma casa de saúde
para convalescentes, com cômodos para banhistas e um hotel anexo. As diligências
trafegavam de hora em hora, das 07:00h às 10:00h da manhã, e das 17:00h às 20:00h.
A primeira tentativa para se levar uma linha de bondes até a Praia de Copacabana
data de 1874, quando a 4 de novembro, foi concedido ao Sr. Ale xandre Vieira de
Carvalho, Conde de Lages, Mordomo dos Príncipes Conde e Condessa D`Eu, e ao seu
sócio, Dr. Francisco Teixeira de Magalhães, a necessária autorização para sua
construção, uso e gozo, durante cinqüenta anos, de uma linha de carris para
Copacabana. Chegou a ser fundada a “Empresa Ferro Carril Copacabana”, cujo principal
dono era o empresário alemão Alexandre Wagner, que adquirira a concessão dos
herdeiros do Conde de Lages e estava comprando todos os terrenos disponíveis em
Copacabana, do Leme até a “Pedra do Inhangá”. A obra foi até iniciada, mas muito
combatida na justiça pela “Botanical Garden”, que alegava ter privilégio concedido
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contratualmente para exploração de linhas de carris na Zona Sul da cidade. A batalha
judicial terminou em vitória para a “Botanical Garden”, caducando a concessão rival a 21
de fevereiro de 1880.
Ano seguinte, a 13 de julho de 1881, o Ministro da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas colocou em concorrência pública a abertura de uma linha de carris urbanos para
Copacabana. A “Jardim Botânico” protestou, alegando privilégio de área, sugerindo em
ve z rediscutir seu contrato original e realizar a linha, mas o Govêrno fez “ouvidos de
mercador” e a concorrência foi realizada. A coisa não foi adiante, tendo todas as
concessões caducado.
Em 05 de outubro de 1882, um grupo de vereadores apresentou à Ilma. Câmara
Municipal um projeto de extensão das linhas de bondes da “Companhia Ferro Carril
Jardim Botânico” (nome que tomou a “Botanical Garden”, após sua nacionalização em
1883), de Botafogo, para os bairros de Copacabana, Vila Ipanema e Leblon. A coisa não
saiu de imediato.
Outros planos e concessões vieram e caducaram.
Um deles, apresentado ao Govêrno Imperial em 1883, era o de Duvivier & Cia.
Seus autores eram Theodoro Duvivier (1848-1924) e Otto Simon, genros de Alexandre
Wagner. Igualmente caducou.
Um dos planos mais interessantes foi o que propôs a 10 de fevereiro de 1886 o
engenheiro João Dantas ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, de
uma ferrovia à vapor que, partindo de Botafogo, da estação da Companhia Jardim
Botânico, no Largo dos Leões, chegaria por um túnel à Copacabana, Ipanema, Leblon,
Barra da Tijuca, Mangaratiba, Sepetiba indo até Angra dos Reis, numa extensão de
193km. Foi constituída em 1890 a “Companhia Estrada de Ferro Sapucaí”, que
pretendia, dentre outras obras, fazer um prado de corridas de cavalos no Leblon, nas
terras da chácara do português José de Guimarães Seixas, colado ao “Morro dos Dois
Irmãos” (é onde hoje existe o “Clube Municipal”). O decreto no. 587, de 10 de outubro
de 1891, emitido pelo Governo Federal, autorizou a mesma empresa a estender os
trilhos até Guaratiba. Em 1891 essa concessão caducou, quando já se havia escavado
uma estrada de quase um quilômetro pela encosta do “Morro Dois Irmãos”, estrada esta
que, depois de muito ampliada em outubro de 1916 seria inaugurada como av.
Niemeyer.
No mesmo mês de fevereiro de 1886, a “Companhia Jardim Botânico” fez uma
contraproposta ao “Plano Dantas”, sugerindo uma linha ferroviária à vapor cortando
Copacabana, Ipanema e Leblon, saindo da estação do Largo dos Leões, em Botafogo e
indo até “Pena”, em Jacarepaguá. Propunha também um prado de corridas no “Morro
Dois Irmãos” . Em vez de um prado de corridas no Leblon, o engenheiro André
Rebouças sugeriu um cemitério naquelas plagas, idéia logo enterrada. Igualmente não
foi adiante. Ainda em 1886, por sua vez, a “Companhia” propôs ao Ministro da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas uma linha de bondes para Copacabana, o que
se comprometeu por contrato assinado já na República, a 30 de agôsto de 1890 com o
dito ministério.
Somente dois anos depois, em maio de 1892, é que pôde ser escavado um túnel e,
finalmente, a 06 de julho de 1892, depois de oito meses de obras, sendo dois de
escavações na rocha, o Gerente da “Jardim Botânico”, o engenheiro pernambucano
José Cupertino Coelho Cintra (1843-1939) inaugurou o “Túnel Velho” (hoje Alaôr Prata),
ligando a rua Vila Rica, em Botafogo, ao areal de Copacabana. Na ocasião, o Barão de
Ipanema arrendou terras para construção de uma estação onde hoje é a av. N. Sra. de
Copacabana.
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JOSÉ DE CUPERTINO COELHO CINTRA - DADOS BIOGRÁFICOS
Engenheiro inovador, nasceu em Pernambuco a 18 de setembro de 1843.
Bacharelou-se em matemáticas e ciências físicas e naturais, em 1865, pela Escola
Central, hoje Faculdade Nacional de Engenharia. Seu primeiro cargo foi o de Ajudante
da Fiscalização da Companhia City Improvements. Exerceu vários cargos pertinentes à
profissão, quase todos no estado do Espírito Santo. Como ajudante da Inspetoria de
Imigração, apaziguou diversas rebeliões de imigrantes naquele estado e no Rio Grande
do Sul. Fundou diversos núcleos coloniais nos referidos estados e em São Paulo.
Sua lisura, capacidade e inteligente ação valeram-lhe as distinções recebidas:
sócio Benfeitor da Sociedade Propagadora das Belas Artes; da Caixa de Socorros D.
Pedro V; membro da Sociedade de Geografia desta Capital; sócio honorário da
Sociedade de Artes Mecânicas e Liberais de Pernambuco; sócio dos Centros Carioca e
Pernambucano e do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco.
Em 1889, passou a dirigir, como gerente, a Companhia Ferro Carril do Jardim
Botânico. Projetou e executou, em apenas seis dias, a duplicação da linha de bondes
de Botafogo à Escola Militar da Praia Vermelha. Estendeu as linhas de bonde até
Copacabana, o que foi possível com a abertura do 1o. túnel para aquele bairro, a 06 de
julho de 1892, ligando a rua Real Grandeza, em Botafogo, à rua Barroso, atual Siqueira
Campos (Túnel Velho, ou Túnel Alaôr Prata). Esta linha ia até a Praça Malvino Reis,
atual Serzedêlo Correia, e é considerada a certidão de batismo do futuroso bairro de
Copacabana. Prosseguindo, atingiu a Lagoa Rodrigo de Freitas até a praça Piassava,
onde hoje se ergue a estátua de Quintino Bocaiúva. Instalou a primeira corrente elétrica
contínua na América do Sul, com tração elétrica dos bondes, nesta Capital. Apesar da
forte oposição por parte dos rotineiros, pôde realizar tão ousado cometimento,
inaugurado em 1892, pelo Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto.
Coelho Cintra foi ainda deputado por Pernambuco, prefeito da cidade do Recife,
oficial de gabinete do Ministro Francisco Sá e autor de cartas corográficas e geográficas
do Espírito Santo. Aposentou-se aos 78 anos de idade, pobre, mas digno do
acatamento de seus concidadãos.
O engenheiro Coelho Cintra é hoje credor de nossa gratidão; sendo perpetuado
em estátua de bronze em Copacabana, onde, como bandeirante que foi, recebeu as
merecidas homenagens de sua população.
Faleceu Coelho Cintra no Rio de Janeiro, a 12 de agosto de 1939.
COPACABANA
Copacabana é conhecida internacionalmente como um dos símbolos do Rio de
Janeiro. Quem nunca ouviu os versos de João de Barro (conhecido como Braguinha)?
“Copacab ana, princesinha do mar
Pelas manhãs tu és a vida a cantar
E à tardinha o sol poente
Deixa sempre uma saudade na gente”.
Originalmente a região de Copacabana era denominada, na língua tupi-guarani,
como Sacopenapã, que significa “caminho batido pelas socós ( ave pernalta da família
das garças ).
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A nomenclatura Copacabana é originária da língua quíchua (língua que era falada
pelos incas) e que significa “Mirante azul”. Esta era a nomenclatura de uma península
entre a Bolívia e o Peru, às margens do Lago Titicaca, onde os incas haviam construído
um templo aos seus deuses. No século XVI os espanhóis destruíram o antigo santuário,
edificando no local um templo em devoção à N. Sra. das Candeias ou Candelária. Como
passou a ser adorada na península de Copacabana, a santa passou a receber a
denominação de N. Sra. de Copacabana.
Não se sabe ao certo como uma imagem desta santa foi deixada em Sacopenapã.
Supõe-se que peruleiros (traficantes de prata da Bolívia e Peru) tenham deixado a
imagem no local. A imagem foi levada para a hoje Igreja de N. Sra. de Bonsucesso da
Santa Casa de Misericórdia, onde em 1638 já era cultuada. Ainda no século XVII a
imagem foi transferida para uma ermida (templo) no promontório onde hoje se localiza o
Forte de Copacabana.
O templo original foi sucessivamente reconstruído até a edificação do Forte de
Copacabana (inaugurado em 1914). A igrejinha manteve-se na área do forte até 1918,
quando a Mitra vendeu seu terreno à Fazenda Federal, a fim de que no local fosse
construído alojamento da guarnição. A imagem da santa foi recolhida pela família do
Barão de Teffé, que a levou para seu castelo em Correias, Petrópolis.
Em 1918 uma nova imagem de N. Sra. de Copacabana chegou da Bolívia, sendo
colocada na então Igreja de N. Sr. do Bonfim, hoje Matriz de N. Sra. de Copacabana.
O bairro de Copacabana surgiu em 6 de julho de 1892 com a abertura do Túnel
Alaôr Prata (Túnel Velho). Este túnel foi aberto para passagem de bondes. Até então, o
acesso para Copacabana era feito através de caminhadas pelos morros que cercam a
região.
O Túnel Engenheiro Coelho Cintra (Túnel Novo) foi aberto em 1906, sendo situado
do lado esquerdo de quem vai para Copacabana. Em 1949 foi inaugurada sua
duplicação, denominada Túnel Marques Porto (situado do lado direito de quem vai para
Copacabana).
Copacabana foi ocupada lentamente pela população até 1940; desta década
ocorreu um aumento populacional no bairro de 74,35%. A partir desta década
Copacabana se torna um dos bairros mais populosos da cidade.
Copacabana é separada do Oceano Atlântico pela Avenida Atlântica, conhecida
mundialmente. Esta foi inaugurada em 1906, com 6 metros de largura e 4 Km de
extensão. Em 1919 o Prefeito Paulo de Frontim realizou o alargamento desta via para
17m. Nesta Avenida situa-se um dos prédios mais belos da cidade : o Hotel Copacabana
Pálace. Inaugurado em outubro de 1923, funcionou até abril de 1946 como cassino. O
hotel teve como hóspedes ilustres nomes como: Nat king cole, Clark Gab le, Eisenhower,
Santos Dumont, Elizab eth II.
Num apartamento do prédio n° 2856 desta avenida, onde residia Nara Leão,
surgiu a Bossa Nova , em 1956. Estilo musical conhecido internacionalmente teve como
compositores importantes Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Billy Blanco, Roberto
Menescal, Ronaldo Bôscoli, entre outros.
AVENIDA PRINCESA ISABEL - LEME - COPACABANA
Foi aberta em 1901, nos terrenos de Alexandre Wagner, que em fins do século
XIX havia comprado todos os terrenos do Leme e arruado a região em 16 de abril de
1894. Era denominada de rua Salvador Correia, em honra ao Governador do Rio de
Janeiro Salvador Correia de Sá, que administrou a cidade por duas vezes, de 1568 a 71
e de 1578 a 98. Em 1904 o Prefeito Francisco Pereira Passos abriu o túnel do Leme,
inaugurado dois anos depois. Pelo Decreto Municipal no. 6.305, de 1o. de outubro de
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1938, mudou de nome para Avenida Princesa Isabel, em comemoração aos cinqüenta
anos da assinatura da Lei Áurea, que libertou os escravos no Brasil.
O engenheiro José de Oliveira Reis duplicou o túnel do Leme (ou Túnel Novo,
como também era conhecido), de 1943 a 1946, quando então se duplicou a rua,
tornando-se avenida, demolindo-se todo um correr de prédios. O último a ir abaixo foi o
velho Hotel Vogue, na avenida Atlântica, em fins dos anos 50, quando então ganhou este
logradouro as dimensões largas que possui atualmente. O atual canteiro central foi
resultado das obras do Rio Cidade, em 1994/96, quando então se removeu do seu eixo a
estátua do Visconde do Rio Branco, hoje na Praça Demétrio Ribeiro. Esta estátua tinha
sido removida da Glória para Copacabana em 1938. Quando abriram seus alicerces,
acharam uma caixa de chumbo cheia de moedas, doadas depois ao Museu do Itamaraty.
Hoje, o Túnel do Leme possui denominação oficial, aliás, duas: Coelho Cintra, na
boca mais antiga, ao lado da Igreja de Santa Terezinha, e Marques Pôrto, na boca
situada ao lado da Rua Carlos Peixoto.
MONUMENTO À PRINCESA ISABEL – AVENIDA PRINCESA ISABEL – LEME
Na década de 60 existiu um monumento em memória à princesa Isabel Redentora
na avenida que a homenageia, no Leme. Junto com a estátua do Visconde do Rio
Branco, eram assim eternizados numa única via pública os dois maiores responsáveis
pela emancipação dos negros no Brasil. Entretanto, na década de 70, por causa de uma
obra, demoliram a estátua da Princesa, a qual não foi mais reconstruída depois.
Atendendo aos rogos dos moradores locais, o Prefeito César Maia ordenou a fatura de
uma nova estátua, a qual foi inaugurada às 10h do dia 13 de maio de 2.003, na hora e
dia em que foi assinada por aquela titular a Lei Áurea.
A estátua em bronze representa a Princesa Isabel em pé, sobre um pedestal,
tendo na mão esquerda a pena de escrever. Tem 2,50m de altura e é obra do escultor
Edgard Duvivier Filho. Custou 80 mil reais e foi providenciada pela Fundação de Parques
e Jardins.
TEATRO VILLA-LOBOS - AV. PRINCESA ISABEL, 440 - COPACABANA
Iniciativa da Funterj-Fundação de Teatros do Estado do Rio de Janeiro, este
empreendimento de 1977 se implantou em terreno doado pelo governo do Estado
durante a gestão Faria Lima. Dadas as limitações físicas, o programa foi resolvido pelo
arquiteto Raphael Matheus Peres em patamares: a partir do nível da rua amplas
escadarias conduzem às bilheterias, destas ao foyer e daí à platéia, que comporta 500
pessoas. No subsolo, cujo nível foi determinado pela existência de instalações
subterrâneas, foi implantada a escola de balé, que compreende espaços para ensaio e
aquecimento, vestiários, camarins, serviço médico e administração. Para atender aos
artistas, o teatro dispõe ainda de um bloco de quatro pavimentos com camarins
individuais e coletivos, salas de ensaios e preparação e cantina. Durante a execução da
obra, foi incorporado um pequeno terreno anexo para o qual o arquiteto projetou um
teatro de marionetes, integrado ao conjunto por pequenos arcos que acompanham o
ritmo da fachada principal.
HOTEL MERIDIEN - AV. ATLÂNTICA, 1020/AV PRINCESA ISABEL - LEME
O projeto dos arquitetos Paulo Casé e Luís Acioli, de 1973, beneficiou-se da
legislação especial surgida na época que, sob alegação de incentivo ao turismo, liberou o
gabarito de edificações destinadas a instalações hoteleiras. Assim, numa faixa litorânea
de gabarito máximo fixado em 12 pavimentos foi inserido um edifício três vezes mais
alto. Este hotel de alto padrão compreende 535 unidades e 33.500m2 de área
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construída. Os acessos foram localizados em função das características das vias que
circundam o terreno, com entradas independentes para o público em geral, hóspedes,
banhistas e serviço. A torre de apartamentos foi projetada e localizada de modo a
atender à necessária concentração de serviços e liberar a maior parte do terreno para
piscina e restaurantes, situados no embasamento. A implantação da piscina na esquina
das avenidas Atlântica e Princesa Isabel favorece a visão global da praia e permite
insolação durante a maior parte do dia. A exiguidade do terreno determinou a construção
de um edifício-garagem privativo a 100m do hotel. Devido à limitação de altura, a caixa
d`água superior foi substituída por uma cisterna, que comporta 1,5 milhão de litros,
estudada volumetricamente para dar estabilidade à estrutura do prédio. As fachadas
reafirmam a verticalidade do edifício, valorizando os elementos estruturais, revestidos de
mármore, que se destacam sobre as superfícies envidraçadas. Apesar de não serem
permitidas por lei, as aberturas na divisa lateral foram liberadas por serem fixas e
indevassáveis. Também levou-se em consideração ser esta solução mais apropriada que
a tradicional, que seria “colar” o prédio no vizinho.
AVENIDA ATLÂNTICA - COPACABANA
A primitiva avenida foi traçada como reles rua de serviço em 1904/06 pelo Prefeito
Pereira Passos. Só possuía quatro metros de largura, servindo apenas para pedestres.
Com o crescimento do trânsito pela orla e o surgimento da moda dos banhos de mar, se
tornou pequena, sendo ampliada para 19 metros de largura em 1910/11 pelo Prefeito
Bento Ribeiro. O Prefeito Paulo de Frontin a melhorou em 1918/19, quando foi toda
refeita. Logo depois, uma ressaca a destruiu, exigindo ser reconstruída em 1921/22. Foi
novamente atingida por outra ressaca e refeita em 1924. De 1969 a 1971 foi duplicada
pelo Governador Negrão de Lima, segundo sugestão do arquiteto Lúcio Costa e projeto
do engenheiro Raimundo de Paula Soares. Na ocasião, colocou-se sob o calçadão
central o Interceptor Oceânico da Zona Sul, a maior obra de esgotos até então efetuada
na cidade.
As calçadas em mosaico de pedras portuguesas foram desenhadas por Roberto
Burle Marx, que se utilizou de pedras de três cores, preta, branca e vermelha,
representando os povos que formaram nossa etnia. O desenho foi imaginado para ser
percebido de avião, à exceção do da orla, que reproduz o antigo mosaico ondulado
imitado de Portugal. Em 1988 foram plantados coqueiros pela administração Saturnino
Braga, na areia para suavizar a paisagem e, finalmente, em 1992, foi refeita a orla pelo
Prefeito Marcelo Alencar, com a proibição de estacionamentos, a construção de uma
ciclovia e a colocação de quiosques de alimentação.
POSTOS DE SALVAMENTO – AVENIDAS ATLÂNTICA/VIEIRA SOUTO/DELFIM
MOREIRA – COPACABANA/IPANEMA/LEBLON
Em 1924, o Prefeito Alaôr Prata mandou edificar postos de salvamento na orla
marítima da cidade, principalmente nas praias oceânicas. Colocados em intervalos
regulares de 900 metros, acabaram por demarcar áreas específicas das praias, além, é
claro, de cumprirem suas funções originais. Os banhistas marcavam encontros usando
os postos como balizas. Em 1975, esses postos, em estilo art-déco, estavam já
tecnologicamente superados e muito danificados, o que impôs sua substituição. Os
novos postos foram projetados em 1976 pelo arquiteto Sérgio Wladimir Bernardes, e
foram colocados em toda a orla oceânica, inclusive nas novas praias da Barra da Tijuca
e Recreio dos Bandeirantes. Mantendo o mesmo espaçamento, são de formato
aerodinâmico, em concreto aparente, possuindo sanitários e chuveiros para banhistas,
além das instalações para salva vidas.
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POSTOS DE ABASTECIMENTO DA AV. ATLÂNTICA - COPACABANA
Concebido pela mesma equipe de arquitetos e na mesma época em que foi
realizado o Posto Catacumba (1968, Dilson Gestal Pereira, Waldyr A . Figueiredo, Paulo
Roberto M. de Souza e Alfredo Lemos), este projeto segue a intenção promocional do
anterior. Planejado em quatro pontos ao longo do canteiro central da av. Atlântica,
segundo idéia do Governo do Estado da Guanabara, de viabilizar as obras de
alargamento da avenida através da venda dos terrenos à Petrobrás Distribuidora S.A .
Extremamente polêmico, devido a sua situação particular, o projeto procurou se integrar
à paisagem minimizando o atrito visual. A solução encontrada demonstra a preocupação
dos arquitetos em amenizar o contraste com a paisagem, mantendo em destaque a praia
de Copacabana, cartão postal do Rio de Janeiro. Novamente a cobertura domina a
composição. Seu desenho surgiu da idéia de um cálice, ou uma papoula, e evoluiu para
quatro pétalas em fibra de vidro que, ao se tocarem, dão rigidez à estrutura. O encontro
dessas pétalas é marcado por uma cúpula de vidro translúcido. A continuidade visual foi
assegurada pela solução para áreas de escritório e vendas, localizada numa caixa de
vidro transparente, e as dependências de depósito e serviço, num pavimento enterrado,
com iluminação zenital.
HOTEL INTERNACIONAL RIO - AV. ATLÂNTICA, 1500 - COPACABANA
O hotel foi construído em terreno reduzido de 400m2, num projeto de 1986
elaborado por Cláudio Fortes e Roberto Victor. Projetado inicialmente como hotelresidência, foi modificado para uso hoteleiro, o que incentivou os arquitetos a lhe conferir
uma personalidade marcante que caracterizasse sua nova função, destacando a
edificação do conjunto de prédios da av. Atlântica. O volume é composto por um corpo
de 13 pavimentos sobre embasamento e recebeu tratamento em vidos bronze e
esquadrias pintadas de vermelho em composição com os pilares cilíndricos externos ao
edifício revestidos em granito marrom-avermelhado. Em vista da proposta, inédita no Rio,
de dar atenção especial aos executivos em viagens de negócios, foram criadas
condições especiais para garantir funcionalidade no atendimento e na prestação de
serviços extras. Além de restaurante, bares, piscina, sauna e garagem, o hotel tem
salões de convenções, serviço de secretária bilíngüe, escritórios para hóspedes e todo
apoio tecnológico mais avançado.
O PALÁCIO DO MAR - HOTEL COPACABANA PÁLACE
No dia 28 de outubro de 2.003, o SINDEGTUR/RJ, por intermédio de sua Diretoria
de Capacitação, efetivou mais um evento de seu projeto cultural “Andando pelo Rio”,
realizando importante visita técnica de Guias de Turismo às belas instalações do
Copacabana Pálace Hotel. Aqui, nesse pequeno espaço, tento traçar apenas alguns
dados curiosos de sua história.
Em 1920 o Presidente da República, Epitácio Pessoa, convocou o empresário do
setor de hotelaria Octávio Guinle e fez-lhe a proposta para construção de um grande
hotel de turismo no Rio de Janeiro. A iniciativa visava atender ao grande fluxo de
visitantes previstos para a Exposição Internacional comemorativa do Centenário da
Independência do Brasil, que se realizaria em 1922, no Castelo. Seriam concedidos
benefícios fiscais, bem como a licença para nele funcionar um cassino, este último uma
exigência dos Guinle. A proposta foi aceita e essa é a origem do Hotel Copacabana
Pálace.
Octávio Guinle adquiriu então um alqueire de terras na Praia de Copacabana, que
naquela época ainda era ocupada escassamente por algumas casas. O terreno dava
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frente para a Avenida Atlântica, alargada em 1919 por Paulo de Frontin. Contratou-se o
afamado arquiteto francês Joseph Gire, o qual projetou um estabelecimento bastante
calcado nos modelos dos hotéis Negresco e Carlton, de Nice, na Côte D`Azur. Foi
entregue a construção ao engenheiro brasileiro César Mello e Cunha. Dificuldades de
importação de materiais de construção, quase todos vindos da França, bem como o
transporte dos mesmos para o Brasil e para Copacabana, assim como também os
profundos alicerces de 14m exigidos e para a confecção dos quais ainda não tínhamos
tecnologia, atrasaram de muito a obra, somente possível de ser inaugurada em 13 de
agosto de 1923, quase um ano após o encerramento da dita Exposição Internacional. Na
noite de estréia, deveria ocorrer um show com a artista francesa Mistinguett, mas seu
contrato com o Teatro Lírico a proibiu.
O Presidente Arthur Bernardes, sucessor de Epitácio Pessoa, tentou em 1924
cassar a licença para nele funcionar um cassino, haja vista que a construção do mesmo
ultrapassara o prazo estipulado pelo Governo. Depois de longa pendência judicial, a
família Guinle obteve ganho de causa em 1934. A visão de Octávio Guinle mostrou-se
correta e logo se tornou o Copacabana Pálace lugar de encontro da sociedade brasileira
e de celebridades internacionais, ultrapassando de muito a tímida visão espalhada pela
crítica da época de que ninguém se hospedaria em hotel tão distante do centro. Nesses
primeiros dez anos de vida, o Copacabana Pálace foi palco de eventos históricos e
dramáticos. Ainda em construção, sofreu violenta ressaca em 1922, que lhe destruiu toda
a avenida Atlântica e causou-lhe danos nos pavimentos inferiores. Em 1925 hospedou a
primeira personalidade mundial, na figura do cientista Albert Einstein. Em 1928, num de
seus salões, foi alvejado por uma bala o Presidente Washington Luís, num tiro dado por
sua amante francesa durante um arrufo. O Presidente foi socorrido pelo médico
Francisco de Castro e o episódio abafado. No mesmo ano, em dezembro, hospedou-se
no Copacabana, em profunda crise de depressão, o inventor Alberto Santos Dumont, já
com a mente bastante debilitada e muito triste ao presenciar, na sua chegada ao Brasil,
um horrível acidente aéreo, quando o avião que jogaria pétalas de flores em seu barco
bateu na água, na Baía de Guanabara e explodiu, matando seus doze ocupantes.
Em 1933 o Copacabana Pálace seria conhecido internacionalmente por um filme
realizado em Hollywood, “Flying down to Rio”, com Dolores Del Rio, Fred Astaire e
Ginger Roger, ambientado no hotel, mas todo realizado em estúdios nos Estados Unidos,
com cenários pintados do Rio de Janeiro e a praia de Malibu “dublando” Copacabana. O
filme foi um sucesso e tornou o hotel famoso mundialmente da noite para o dia. Em
1934, foi construída a piscina do hotel, em projeto de César Mello e Cunha, depois
ampliada em 1949. Em 1938 inaugurou-se o “Golden Room”, com show de Maurice
Chevalier.
O Príncipe Edward de Gales, futuro Rei Edward VIII da Inglaterra, bem como seu
irmão Jorge, igualmente futuro monarca britânico, se hospedaram no Copa em 1931,
tendo Edward protagonizado um rumoroso episódio constrangedor para a Família Real
Britânica ao se apaixonar por uma senhora brasileira, Negra Bernardez, desquitada e
mãe de dois filhos, a qual ele queria levar de todo o jeito para a Inglaterra e com ela se
casar. Em seus arroubos, chegou a intentar um vôo num avião experimental trazido
desmontado em seu navio para impressionar sua amada, jogando-lhe flores do alto
sobre sua casa, no que foi dissuadido do ato por seus assessores. Não se refez do
episódio, tomando “homérico” porre e jogando-se todo fardado na piscina do Country
Club de Ipanema. Anos depois, Edward, já Rei da Inglaterra, renunciaria ao trono para
casar com a desquitada americana Lady Simpson, com quem viveu o amor de sua vida.
Quanto à Negra Bernardez, a mulher que recusou ser rainha da Inglaterra, era mãe do
afamado colunista social Manuel Bernardez Müller (Maneco Müller).
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A Segunda Guerra Mundial tornou o Copacabana Pálace o único hotel de turismo
de porte capaz de hospedar a elite internacional sem sofrer do perigo de um bombardeio.
Foram os anos áureos do hotel. A política de boa vizinhança para com os Estados
Unidos, estabelecida em 1942, fez com que grandes personalidades daquele país nos
visitassem e se hospedassem no Copa. Praticamente todos os grandes atores de
Hollywood nele tiveram pouso: Clark Gable, Edward G. Robinson, Fred Astaire, Dolores
Del Rio (finalmente no Copa!), Katerine Hepburn, Lana Turner, Marlene Dietrich (que
realizou show memorável em 1959), Orson Welles (que “morou” seis meses no hotel em
1942, e que num acesso de fúria jogou os móveis de seu quarto na piscina...), Walt
Disney (que nele esboçou o personagem “Zé Carioca”), Josephine Baker (que manteve
encontro furtivo com Le Corbusier), e muitos outros.
Após a guerra, com a proibição do jogo em abril de 1946, passou o Copacabana
Pálace por ampla reforma, que lhe aumentou a capacidade, acrescentando dois andares
ao prédio principal, mais a pérgula lateral, que se tornou ponto de encontro da sociedade
brasileira e estrangeira, e ergueu-se o anexo nos fundos, inaugurado em 1949. No antigo
cassino foi instalado o teatro Copacabana, responsável pelo lançamento de muitos
talentos da dramaturgia nacional. Fez a reforma do Copa o arquiteto Wladimir Alves de
Sousa, que soube preservar a ambiência antiga do hotel. O anexo tornou-se logo lugar
não só para residência de hóspedes ilustres, como também para encontros furtivos
importantes, pois existia uma elaborada passagem subterrânea, por detrás do salão de
cabeleireiro, que conduzia quem não quisesse ser visto daquele lugar até o anexo.
Devem ter sido encontros extremamente apaixonados, pois pelo menos dois amantes
morreram do coração, um deles importante senador da República por São Paulo e outro
um respeitável banqueiro carioca...
Quem quase morreu no Copa, mas de coração partido, foi a grande cantora
nacional Carmem Miranda, frustrada pelo fracasso de seu casamento. Carmem trancouse em seu quarto em dezembro de 1954 e pensou seriamente em se matar, desistindo
após olhar a bela paisagem da orla de Copacabana da janela de sua suíte. Carmem,
aliás, seria muito mais lembrada pela alegria que exarava em seus shows no Golden
Room que por este episódio, que com o tempo lhe levaria à morte em agosto de 1955.
Os anos cinqüenta foram o canto-do-cisne da fase áurea do Copacabana Pálace,
que entra em lenta decadência após a transferência da capital para Brasília em 1960.
Continuou como um importante hotel da cidade, servindo de pouso a visitantes ilustres
do Rio de Janeiro (como os astronautas da Apolo 11), palco da vida social da cidade,
onde famosos cronistas sociais iam buscar matérias para suas colunas, até ser superado
por hotéis mais modernos na década de setenta. Em 1985, quando intentaram sua
demolição, foi tombado pelas três esferas: IPHAN (Federal), INEPAC (Estadual) e DGPC
(Municipal). Em fins da década de oitenta a família Guinle, na figura de seu herdeiro e
presidente José Eduardo Guinle, vendeu-o em 1989 ao grupo “Orient Express”, que o
reabilitou, modernizando velhas instalações sem descaracterizá-las.
Presentemente é o Hotel Copacabana Pálace um dos mais importantes
estabelecimentos hoteleiros da cidade, com modernas 236 acomodações palacianas e
dos mais queridos bens culturais do Rio de Janeiro, local de confluência de vários
episódios importantes do século XX, sendo preciosa lembrança de uma época de fastígio
e esplendor, único bem deste gênero sobrevivente na cidade.
HOTEL RIO OTHON PALACE - AV. ATLÂNTICA, 3.264 - COPACABANA
A liberação do gabarito para edificações destinadas a serviços de hotelaria
favoreceu a implantação desse edifício na av. Atlântica. O anteprojeto, elaborado por
Arthur Lício Pontual, vencedor de concurso privado em 1968, foi retomado no período
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1971-72, após sua morte, por uma equipe de arquitetos encabeçada por seu irmão
Davino Pontual. Dadas as dimensões exíguas do terreno, de 1.600m2, o partido adotado
foi o de uma torre de 28 pavimentos afastada das divisas; sobre embasamento com sete
pavimentos, onde estão serviços gerais e garagem, com ocupação integral do lote. A
disposição do pavimento-tipo em “U”, abraçando a garagem vertical, possibilitou a
liberação de três subsolos, construídos simultaneamente com a superestrutura, para
instalação de todos os equipamentos e serviços de apoio. No térreo, a criação de uma
rua interna facilita a circulação de hóspedes e visitantes. Externamente, o edifício
harmoniza o emprego de elementos estruturais em concreto aparente com um jogo
volumétrico de sacadas e superfícies brancas.
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR – AVENIDA ATLÂNTICA, 3.804 – COPACABANA
Erguida em 1927 sob projeto em estilo art-déco do arquiteto Júlio de Abreu Júnior,
foi uma obra pioneira dentro da arquitetura moderna no Rio de Janeiro. É uma das
últimas residências da orla de Copacabana.
EDIFÍCIO J USTUS WALLERSTEIN – AVENIDA ATLÂNTICA, 3.958 – COPACABANA
Projeto moderno de Sérgio Bernardes, datado de 1960. houve especial cuidado do
arquiteto com desenho dos elementos pré-fabricados.
EDIFÍCIO IMPERADOR – AVENIDA ATLÂNTICA – ESQUINA DE RUA JOAQUIM
NABUCO – POSTO VI – COPACABANA
Grande edifício multifamiliar com acentuada volumetria e ângulos abaulados ou
em curva, construído em 1938 por Cápua & Cápua engenheiros e arquitetos. Um dos
ícones do estilo art-déco no bairro.
MUSEU HISTÓRICO DO EXÉRCITO E FORTE DE COPACABANA – PRAÇA
CORONEL EUGÊNIO FRANCO, NO. 1 - POSTO VI - COPACABANA
O Vice-Rei Marquês de Lavradio mandou erguer em 1776 um pequeno forte em
alvenaria onde era a antiga ponta da Igrejinha, na praia de Sacopenapan. Sua função
era prevenir ataques dos espanhóis, que no ano seguinte, realmente, invadiram o
território nacional e atingiram a Capitania de Santa Catarina. O forte nunca foi terminado
e somente foi artilhado em 1823, quando se temia um ataque português às nossas
costas. Em 1831, foi mandado desarmar pela Regência provisória. Quando da Revolta
da Armada, em 1893, voltou a ser artilhado, mas sua ancianidade já estava patente:
nada pôde fazer para impedir a saída dos navios revoltosos da Baía de Guanabara. Anos
depois, uma ameaça de guerra contra a República Argentina fez com que o Estado Maior
do Exército encomendasse em 1898 o projeto de uma nova fortificação ao major
engenheiro Augusto Tasso Fragoso, que elaborou um anteprojeto da Fortaleza de
Copacabana, com seis canhões de longo alcance. A solução de uma grave questão de
fronteira com aquela República foi resolvida diplomaticamente pelo Barão do Rio Branco,
fazendo com que o projeto da citada fortificação fosse engavetado.
Tendo as relações entre a Argentina e o Brasil novamente piorado na primeira
década do século XX, decidiu-se pela construção da fortificação, tendo sido enviado o
projeto de Tasso Fragoso à Casa Krupp, de Essen, na Alemanha, para ser atualizado e
orçado. Foi a obra toda recalculada para ser executada em peças de concreto prémoldadas na Alemanha, sendo os canhões adaptados aos novos calibres surgidos. Fez
as alterações o major engenheiro Otto Kuhn. Em 1908, sendo Presidente da República
Afonso Augusto Moreira Penna e Ministro da Guerra o Marechal Hermes Rodrigues da
Fonseca, foi dado início à obra da fortificação, que veio quase toda desmontada da
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Alemanha em 5.000 caixotes, desembarcados num cais construído especialmente para
isso ao lado da ponta de Copacabana. Coordenou a obra o Major Arnaldo Paes de
Andrade. Foi, finalmente inaugurado o Forte de Copacabana a 28 de setembro de 1914,
sendo classificada na ocasião de fortificação de 1a. Classe. Era dotada de seis canhões
Krupp de longo alcance: dois de 240mm; dois de 180mm e dois de 75mm. O alcance
máximo atingia 28km. O útil, 21Km. Os quatro primeiros podiam girar 360o. Os dois
últimos somente 180o. Na época não existia nada que a superasse na América Latina.
Em 1918, foi ampliada, tendo o Exército adquirido a rua de acesso e comprado à Mitra a
igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana, erguida ai por volta de 1715, e demolida em
1918-19 por ficar na linha de fogo dos quatro maiores canhões. Na mesma ocasião foi
construído o quartel de paz e ampliadas as instalações elétricas, fornecidas pela firma
AEG, de Berlin, tão poderosas que podiam fornecer energia elétrica a todo o bairro de
Copacabana. O artístico portal da Praça Coronel Eugênio Franco, bem como a magnífica
entrada da Praça d`Armas, foi projeto do major engenheiro Volmér da Silveira.
Em princípio de julho de 1922, depois de longos atritos entre o Governo Epitácio
Pessoa e o Exército, foi ordenada a prisão do Marechal Hermes da Fonseca, por
insubordinação. Comandava o Forte de Copacabana, na ocasião, o Capitão Euclides
Hermes da Fonseca, que intentou um plano para derrubar o Governo pela força das
armas. A rebelião foi marcada para cinco de julho, mas o Governo se antecipou e trocou
os principais comandos das guarnições das fortificações da cidade, tendo em
consequência disso que apenas os Fortes de Copacabana e Leme, este último
desarmado; e a Escola Militar, aderiram ao movimento, sendo que os dois últimos foram
logo debelados. O Forte de Copacabana fez vários disparos contra o Quartel General do
Exército, no Campo de Santana; o Ministério da Marinha, na Praça Barão de Ladário; a
Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói; e o Forte de São João, na Urca; atingindo somente
o primeiro, no segundo tiro. O Capitão Euclides Hermes saiu da fortificação para
negociar e foi preso em Laranjeiras. Assumiu, então, a chefia do movimento, o Tenente
Antônio de Siqueira Campos, que verificou a total impossibilidade de resistência, bem
como o sacrifício que tal atitude estava custando à população da cidade, com as balas
atingindo alvos civis. Também observou que os canhões haviam sido sabotados, e agora
o Forte era bombardeado pelo Encouraçado São Paulo, e por aviões militares. Resolveu
então abrir o Forte, permitindo que os desejosos de rendição assim o procedessem.
Trezentos se renderam, ficando fiéis ao movimento apenas 28 homens. Resolveu-se
então marchar até o Catete, num ato de protesto suicida. Às 13:00h do dia 06 de julho,
iniciaram a marcha, juntando-se a eles o engenheiro civil Otá vio Correia, amigo de
Siqueira Campos. Um número até hoje não especificado de integrantes se rendeu ou
desertou, ficando ao final apenas 11 ou 13 do grupo original. Na altura da rua Barroso,
atual Siqueira campos, foram obstaculizados por uma força legalista, iniciando-se um
tiroteio que durou uns trinta minutos. Ao final, foram capturados, muito feridos, o Tenente
Siqueira Campos, com um tiro no abdômem; o Capitão Eduardo Gomes, com um tiro na
virilha; e dois soldados. Os outros morreram na ocasião ou no hospital, em consequência
dos ferimentos recebidos.
A atitude de protesto contra o Governo da República Velha fôra debelada, mas o
exemplo frutificou, originando o dito “Movimento Tenentista” e a legenda dos “Dezoito do
Forte”(termo cunhado pela imprensa, que desconhecia o número real de participantes),
os quais representavam uma atitude de protesto da classe média à oligarquia que nos
governava. Dois anos depois, na mesma data, estourava movimento similar em São
Paulo, e de 1925 a 27 o país foi palmilhado pela Coluna Prestes, com idêntico objetivo. A
vitória dos tenentes deu-se na Revolução de 1930, com a queda do Governo e a
ascensão de Vargas. A 24 de outubro de 1930, o Forte de Copacabana serviu de
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presídio ao presidente deposto, Dr. Washington Luís Pereira de Sousa, bem como ao
Prefeito do Distrito Federal, Antônio Prado Júnior. Partiram ambos em exílio, direto dali
para a Europa.
O Forte de Copacabana teve atuação discreta durante a Segunda Guerra Mundial,
tendo dado seus últimos disparos efetivos em novembro de 1955, contra o Cruzador
Tamandaré, que se rebelara e fugira para São Paulo, levando a bordo o presidente
deposto, o Sr. Carlos Luz, bem como parte de seu ministério e aliados. Foram feitos doze
disparos durante vinte minutos, sem, no entanto, atingir a embarcação, que estava
desarmada e só com uma hélice funcionando. Em 1964, o Forte não aderiu ao
movimento militar de 1o. de abril, tendo sido tomado pela força de terra enviada pelo
Coronel Cézar Montagna, ocorrendo então o famoso “episódio da bofetada”, quando o
dito Coronel derrubou a sentinela da entrada com um golpe de mão, invadindo e
tomando a fortificação, sem o uso de armas. Durante o regime militar, serviu o Forte de
Copacabana de presídio político.
Desativado totalmente em 1986, foi reaberto no ano seguinte como Museu
Histórico do Exército e Forte de Copacabana, muito ampliado em meados da década de
noventa por ordem do Ministro do Exército Zenildo de Lucena, sendo suas instalações
equipadas com os mais modernos processos museológicos, tornando-se importante bem
cultural da cidade e repositório de elevadas tradições militares. A área de entorno, cujos
terrenos chegam ao Arpoador, igualmente tornou-se notável área de lazer para a
população carioca, sendo palco de eventos marcantes, particularmente no Reveillon,
onde há artística queima de fogos e disputada recepção.
MONUMENTO AO POETA CARLOS DRUMMOND – AVENIDA ATLÂNTICA – POSTO
VI – COPACABANA
Interessante monumento interativo inaugurado a 31 de outubro de 2.002 em
homenagem ao centenário de nascimento do poeta mineiro Carlos Drummond de
Andrade. Representa o homenageado em tamanho natural, sentado num banco de praia,
de costas para o mar e mirando os prédios, atitude que era seu costume. Aliás,
Drummond residia nas proximidades, na Avenida Rainha Elizabeth. Dois dias após a
data de inauguração, a estátua foi pichada por vândalos. Vinte e três dias depois, outro
desocupado a atacou com uma pedra, quebrando o aro dos óculos. Em ambos os casos,
foi restaurada e agora é bem vigiada.
Estátua sedestre em liga de bronze, linda concepção naturalista do artista Léo
Santana.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE – DADOS BIOGRÁFICOS
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de
outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de
Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi
expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de
escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do
incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia
na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar
da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou
no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de
gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a
trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em
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1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de
1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de
Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a
descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do
autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente,
contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num
presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do
transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto
ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto,
entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de
ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo,
em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do
mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond
lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando,
solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais
íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obrasprimas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano,
alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas
décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também
publicado diversos livros em prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les
Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782;
As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña
Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François
Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies
de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Al vo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como
escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de
agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta
Drummond de Andrade.
PALACETE PIRATININGA – AVENIDA RAINHA ELIZABETH, 152 – POSTO VI –
COPACABANA
Prédio em estilo art-déco, erguido na década de 1930, muito simples, onde
devemos notar as janelas dos saguões de cada andar com interessante desenho de
vidro e ferro, o movimentado desenho das grades e no pátio a esbelta escada.
EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR – AVENIDA RAINHA ELIZABETH, 729 – POSTO VI –
COPACABANA
Grande edifício multifamiliar em estilo art-déco, projetado em 1937 pelo arquiteto
austríaco Arnaldo Gladosh, inspirado em construções similares feitas à época em seu
país de origem.
BAIRRO DO PEIXOTO – COPACABANA
O Comendador Paulo Felisberto Peixoto da Fonseca nasceu a 14 de dezembro
de 1864, em Portugal, vindo para o Rio de Janeiro com 11 anos. Dedicou-se ao
comércio de secos e molhados, onde prosperou muito. Após alguns anos adquiriram
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uma mercearia. Depois de 1898 passou também a administrar bens imobiliários de
lusitanos no Brasil, quando então adquiriu imensa chácara no areal de Copacabana,
entre as ruas Figueiredo Magalhães e Santa Clara. Viúvo em 1929 de Da. Orminda
Cunha, brasileira; e sem filhos, passou a se dedicar a obras de caridade. Ainda em vida
doou todos os seus principais bens para instituições beneficentes lusitanas, sendo que
os terrenos de Copacabana foram repartidos entre várias entidades de assistência
social e hospitalar de Portugal e do Brasil, principalmente à Caixa de Socorros D. Pedro
V. Esta última, solicitou à Prefeitura em 1939 o loteamento das terras de Copacabana,
tendo o engenheiro José de Oliveira Reis projetado as ruas Henrique Oswald, Maestro
Francisco Braga, Décio Vilares e Praça Edmundo Bittencourt, surgindo então o que se
chamou Bairro do Peixoto.
Ao contrário do resto de Copacabana, somente foram autorizadas construções de
poucos pavimentos ou unifamiliares, evitando assim a verticalização do bairro. A única
exceção, o edifício São Luiz Rei, desabou fragorosamente em 1951, poucos dias antes
de sua inauguração. O Comendador Peixoto faleceu no Brasil a 3 de novembro de
1947. Hoje, seu bairro é denominado de “oásis de Copacabana”, pela tranqüilidade que
apresenta em relação às barulhentas ruas vizinhas. O jornalista Arthur Xe xéo, morador
do bairro, sempre que pode, elogia-o pela sua familiaridade em sua coluna no jornal O
Globo.
BECO DO JOGA-A-CHAVE-MEU-AMOR – RUA CARVALHO DE MENDONÇA –
COPACABANA
Em verdade, esse beco nem chega a ser beco, e sim uma pequena rua, a
Carvalho de Mendonça, que liga as ruas Duvivier e Rodolfo Dantas. Ladeada por dois
edifícios apenas, ambos com muitos e minúsculos apartamentos, autênticas cabeçasde-porco modernas. Nos anos 50, tais apartamentos eram muito alugados por
respeitáveis figuras para abrigarem seus encontros amorosos, ou alguma amante de
plantão. O apelido surgiu de uma história dessa época. Conta-se que numa noite, um
rapaz bêbado, bem apessoado, esqueceu a chave da portaria e cometeu a temeridade
de ir para o meio da rua e gritar para o alto: “Joga a chave, meu amor.”
A mulherada chegou à janela e jogou tantas chaves, que um molhe mais pesado
lhe bateu na cabeça, nocauteando-o, forçando sua ida a um hospital para ganhar uns
pontos. A notícia se espalhou, sendo que o compositor popular João Roberto Kelly
compôs uma alegre marchinha carnavalesca que foi um grande sucesso no carnaval de
1965.
No Beco do Joga-a-chave-meu-amor os problemas foram muitos. Ali alguns bares
tiveram pretensões a reviver a velha Lapa, abrigando mulheres de trottoir e traficantes
de entorpecentes. Foram fechados pela polícia, reabertos por novos proprietários e,
mais cedo ou mais tarde, tornados fora da lei. E assim foram vivendo.
Outros bares do mesmo local, permaneceram alheios a esses problemas, como
acontecia com o Manhattan, de vida mais calma, ou o Kilt Club, o único bar da Zona Sul
que exigia o uso de paletó, para os seus freqüentadores. E, como é raro se andar por
Copacabana de paletó, o porteiro se incumbia de arranjar algum para quem quisesse
entrar. O bar era elegante, mas os fregueses, nem sempre. Ali nunca houve o caso de
um freguês pagar a conta, botar a carteira no bolso do paletó e depois devolve-lo à
saída, com a carteira dentro. Donde se conclui que os bêbados do Kilt Club não eram
tão bêbados assim.
Hoje, nada mais disso existe. Desde os anos 80 a rua é só de pedestres, os
bares viraram brechós, os cubículos viraram lares familiares e as prostitutas foram
substituídas por homossexuais e travestis, que passaram a reinar de noite.
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BECO DAS GARRAFAS – RUA DUVIVIER – COPACABANA
Famoso logradouro de Copacabana, sito na Rua Duvivier, entre as avenidas
Atlântica e Copacabana, o qual não consta de qualquer catálogo de indicação, pois é
alcunha de origem popular. Tem seu nome desde os anos 50, pelo fato de ser
localizado num agrupamento de pequenos bares, boites e “inferninhos”, cujos
freqüentadores provocavam tanta algazarra de madrugada, que os moradores da
vi zinhança protestavam, jogando garrafas, sem a maior cerimônia, que vez por outra,
atingiam um dos perturbadores da ordem. Não é só a boemia que freqüenta esse beco;
a ambulância também, de vez em quando entra ali, para socorrer os que falam alto sem
se valerem da proteção que lhes dá as marquises dos edifícios.
No Beco das Garrafas enfileiravam-se vários bares: Ma Griffe, Bottle`s, Baccará e
Little Club. Eles tinham características diferentes: o primeiro é meio “inferninho”, o
segundo é a catedral da Bossa Nova, o terceiro é o responsável pelo lançamento de
muitos cantores (dali saíram para o sucesso a falecida Dolores Duran, Helena de Lima,
etc.) e o quarto foi um dos pioneiros do show de bolso, tendo apresentado bailarinos,
cantores, músicos e cômicos, sempre com êxito.
O mais famoso produtor de shows no Beco das Garrafas foi Luís Carlos Miéle,
que promoveu ali, dentre outros, notáveis espetáculos de Luís Carlos Vinhas, Marisa
Gata Mansa (Baccará) e Tito Madi (Little Club). O beco foi berço da cantora Nara Leão,
ícone da Bossa Nova.
Desde fins da década de 60 o local entrou em decadência e hoje não apresenta
nada de notável, abrigando bares e boites vulgares.
A ESQUINA DAS COBRAS
Em 1958, os músicos mais mal comportados se reuniam numa esquina de
Copacabana. A turma do rock fazia um alarido infernal no Snack Bar, um boteco bem na
esquina das ruas Raul Pompéia e Francisco Sá, no Posto 6. Sempre era um ensaio ou
algo parecido, do grupo The Snakes, criado pelos freqüentadores do local, um antro
visitado a toda hora pela polícia atrás dos jovens delinqüentes. Barra pesada.
Olha o barulho! – grita um dos moradores do prédio onde o Snack está instalado.
Um desses moradores, mais impaciente, não se dava ao trabalho de emitir os
gritos. Partia logo para a guerra. Começava a jogar cabeças-de-negro na garotada. É
uma daquelas cenas que nem o maior ficcionista poderia imaginar, mas aconteceu
mesmo e, quase cinqüenta anos depois, ainda é manchete. O conjunto que ensaiava no
meio das lambretas roncantes era formado por Roberto Carlos e Tim Maia, jovens
suburbanos da distante Tijuca. O morador desesperado que atirava as bombas era
Lúcio Alves, um cantor sofisticadíssimo, que tinha a acompanhá-lo na ação belicosa o
seu visitante, um jovem baiano que estava no apartamento justamente para mostrar ao
mestre o seu primeiro 78 rotações: João Gilberto. Corria o mês de julho. O disco estava
quentinho. Aquele som, sim, aquilo era uma verdadeira cabeça-de-negro no ringue da
música.
Os roqueiros do Snack acabaram fugindo do bombardeio e Lúcio pôde finalmente
ouvir o disco. De um lado, Chega de Saudade, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de
Morais. Do outro, Bim-bom, do próprio João Gilberto. Eram seis minutos de música, mas
Lúcio teve a mesma impressão óbvia de todos os que correriam atrás do disco naqueles
dias: a música brasileira nunca mais seria a mesma. O violão pulava de um jeito inédito,
o cantor sussurrava. A primeira impressão podia ser um desencontro absoluto. E ali, no
entanto, oito andares acima do Snack, estava rodando um novo país. Nunca mais se
morreria de mal de amor nas canções.
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CONGREGAÇÃO RELIGIOSA ISRAELITA SINAGOGA BETH-EL – RUA BARATA
RIBEIRO, 489 – COPACABANA
No ano de 1921, um grupo de judeus sefarditas fundou uma sinagoga numa casa
de sobrado comum, na Avenida Mem de Sá, 181. Crescendo a comunidade, esta se
transferiu alguns anos depois para a Rua Conselheiro Josino, 14. Com o pomposo nome
de Centro Israelita Brasileiro Bené-Herzl, a sinagoga estava instalada um belo sobrado
eclético, com dois andares e um terraço. Se tivesse sido preservado seria um importante
bem cultural da cidade, mas o êxodo dos membros para a Copacabana, em fins da
década de 50, levou a transferência das instalações da congregação para o novo bairro
praiano. A velha sinagoga acabou depois demolida.
Adquirida uma bela casa na Rua Barata Ribeiro, 489, lá existia um salão para
práticas religiosas, além de área de lazer e desportos.
Havendo necessidade de um espaço maior para as práticas religiosas, entre
1966/7 foi construída a nova sinagoga Beth-El num terreno anexo ao casarão, um
projeto muito sóbrio e discreto. Projetada pelo arquiteto Mauro Kleimann, a sinagoga é
em arquitetura moderna, desprovida de qualquer luxo, exceto pelos revestimentos
externo e interno em mármore branco imaculado. Internamente, os únicos elementos
decorativos se resumem a uma tapeçaria moderna com o tema das Tábuas da Lei e um
moderno Menorah em bronze.
Obedece, como já foi citado, ao rito Sefaradi.
EDIFÍCIO MMM ROBERTO – AVENIDA NOSSA SENHORA DE COPACABANA, 1.267
– COPACABANA
A característica fundamental deste edifício de apartamentos é a preocupação –
constante na obra dos irmãos Roberto – com controle da insolação. O inventivo sistema
de proteção contra o sol foi projetado para atender a ângulos de incidência solar
variáveis durante o dia. As esquadrias são divididas em três partes, articuladas num
quadriculado de concreto. Persianas ajustáveis, empregadas na face externa do vidro,
protegem as partes superior e inferior. A parte central é sombreada no período de sol a
pino pela disposição de treliças horizontais fixas em concreto, e a insolação da tarde é
amenizada por um quadro móvel de persianas, também em concreto, estudado de
forma a não prejudicar a visão da rua. Como curiosidade, vale ressaltar que este edifício
foi erguido em 1945 onde existiu a casa da família e nasceram os três arquitetos.
EDIFÍCIO ITAHY – AVENIDA NOSSA SENHORA DE COPACABANA, 252 – ESQUINA
DE RUA RONALD DE CARVALHO - COPACABANA
Edifício em estilo art-déco erguido em c. 1938 por Arnaldo Gladosh, arquiteto. O
ritmo linear das verticais formadas pelas peças de majólica, cria uma moldura muito
elegante para o ingresso, coroado por uma estupenda escultura de sereia que surge do
mar entre peixes e estrelas do mar. O artista executor era o marido da poetisa Cecília
Meirelles.
No corredor de ingresso, muito rico, pilastras da mesma majólica, que repetem o
ritmo vertical da porta de ingresso, e nos lados da porta, duas placas com cenas do
fundo do mar. Interessante balaústre de ferro na escada do fundo. A porta com
interessante desenho que parece abstração de algas.
EDIFÍCIO ITAÓCA – RUA DUVIVIER, 43 – ESQUINA DE AVENIDA NOSSA
SENHORA DE COPACABANA – COPACABANA
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Na esquina do Itahy, o estupendo Itaóca projetado em 1938 por Robert R.
Prentice e Anton Floderer, autores de sucesso de numerosas residências e edifícios de
apartamentos. O Itaóca se levanta imponente com seus claros volumes cúbicos e
parece guardar todos os prédios art-déco das redondezas. Notar o desenho em bandas
horizontais do primeiro e último andar, os desenhos verdes triangulares que, como
reminiscências quase aztecas, enfeitam cada andar na fachada principal, as grades com
desenho geométrico de módulo triangular, e sobretudo, a entrada do vestíbulo revestida
com majólicas verdes no gênero das que empregara o arquiteto Buddeus no seu bonito
prédio da Rua da Alfândega, no. 48 (hoje muito descaracterizado).
EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 123 –
COPACABANA
Observar desenhos art-déco na fachada e portas com grades onde sobressai o
desenho de losangos superpostos. Foi construído na década de 1930.
EDIFÍCIO CAXIAS – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 116 – COPACABANA
A fachada fortemente marcada pelas verticais que criam um jogo muito
interessante, pleno de força e criatividade. Em estilo art-déco. Erguido na década de
1930.
EDIFÍCIO AMÉRICA – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 110 –
COPACABANA
Muito simples, em estilo art-déco, com hall de ingresso em mármore rosa com
listras em rosa escuro. Erguido na década de 1930. No fundo do prédio sobrevivem
cinco grandes árvores: um oitizeiro, duas amendoeiras e dois algodoeiros do Pará.
As cinco árvores existentes nos fundos são tombadas pela Municipalidade desde
1991.
EDIFÍCIO TUYUTI – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 100 – COPACABANA
Muito simples, com porta interessante onde são notáveis os agradáveis conjuntos
de flores tipicamente art-déco no seu geometrismo.
EDIFÍCIO GUAHY - RUA RONALD DE CARVALHO, 181 – ESQUINA DE RUA
MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO – COPACABANA
Edifício em forte estilo art-déco, com interessante trabalho de relevo que
acompanha o arco da porta, e movimentada fachada, graças ao zig-zag criado pela
saliência das sacadas.
O Edifício Guahy é tombado pela Municipalidade desde 1990.
EDIFÍCIO OPHIR – RUA RONALD DE CARVALHO, 154 – ESQUINA DE RUA
MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO – COPACABANA
Sem dúvida o prédio mais coerente deste grupo. Nele toda a decoração em estilo
art-déco repete o mesmo desenho de ângulos retos ascendente até o centro, seja nas
grades, como no corte dos mármores do corredor de ingresso, seja nos arcos. Tudo
chegando à sua realização mais rica na porta de cristal bizotado, onde as linhas que
descem dos ângulos terminam em delicadas espirais.
FAVELA DO CHAPÉU MANGUEIRA - LEME
Desde os primeiros tempos da colonização portuguesa que a orla correspondente
à Copacabana e Leme já era ocupada ou tinha dono. Não contando os índios tamoios,
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que ocupavam as praias desde o século VI, os primeiros sesmeiros portugueses vieram
com a fundação da cidade em 1565.
Estácio de Sá em 1565 doou parte da orla marítima a André de Leão. Seguiramse em rápida sucessão Bartolomeu de Seixas Rabelo e Francisco Caldas, ambos com
engenhos de cana na Lagoa de Sacopenapã (hoje Rodrigo de Freitas). Suas indústrias
não prosperaram. Em 1606, toda a praia passava às mãos do casal Afonso Fernandes e
Domingas Mendes. Três anos depois, Da. Domingas, já viúva, repassa essas terras ao
Governador Martim de Sá. Êste não esquenta com elas e, em 1611, passa-as ao
sesmeiro Sebastião Fagundes Varela, dono do Engenho de Nossa Senhora da
Conceição da Lagoa. Sua bisneta e herdeira, Da. Petronilha Fagundes, uma respeitável
balzaquiana de trinta e um anos, casou-se em 1702 com o Capitão de Cavalos Rodrigo
de Freitas Castro, êle com 16 anos. Em 1717, com a morte de Da. Petronilha, Rodrigo
de Freitas herdou tudo e bandeou-se para Portugal, onde morreu em 1748 na sua
Quinta de Suariba, no Minho.
Com a morte de Rodrigo de Freitas, seus herdeiros desfazem-se de algumas
terras, dentre elas, as correspondentes à Praia do Leme, que foi vendida em meados do
século XVIII a Manuel Antunes Suzano, que assim ficou proprietário de terras que iam
da Praia Vermelha à Pedra do Inhangá.
Surgiu a “Fazenda do Leme”, que durou até fins do século XIX. Sua sede era
uma casa térrea que ainda existia nos anos trinta, na base do morro do Chapéu
Mangueira. Em meados do século XIX, a família Suzano vendeu grande parte desses
chãos ao Comendador João Cornélio dos Santos, que, entretanto, nada fez com eles.
Entretanto, Suzano não era o único ocupante de suas terras. Desde 1714 o
governo havia construído um posto semafórico no Morro da Babilônia, que naquele
trecho passou a ser conhecido como “Vigia do Leme”. Tinha a função de avisar por meio
de bandeiras ou fogos de artifício a aproximação de navios da Baía de Guanabara, e se
eram amistosos ou não. A casa do posto semafórico era exatamente onde hoje se
encontra a favela do Chapéu Mangueira, e ainda existiam suas ruínas em 1920.
Em 1776, o Vice Rei D. Manuel de Portugal, Marquês de Lavradio (1769-79),
achando que era pouco apenas um posto de sinalização na entrada da barra, mandou
erguer um forte no morro do Leme, assim chamado por sua semelhança com os lemes
dos navios. Êsse fortim nunca foi artilhado no período colonial e foi abandonado
inconcluso pelo Vice Rei D. José Luiz de Castro, Conde de Rezende (1790-1801), que o
considerou inútil. Após a Independência, foi artilhado com cinco canhões em 1823, mas
a Regência novamente o desartilhou em 1831.
As coisas estavam nesse pé quando em 1873 surgiu a figura do alemão
Alexandre Wagner, capitalista e grileiro. Wagner comprou a 07 de maio de 1873 todas
as terras da família Suzano e de seu vizinho, o Comendador João Cornélio dos Santos,
tornando-se único proprietário dos chãos que iam do morro do Leme até a Pedra do
Inhangá.
Wagner abriu diversas ruas em suas terras, doando-as à municipalidade em
1874, mas o isolamento de Copacabana impediu qualquer loteamento sério na região.
Em 1881, seus dois genros e procuradores Theodoro Duvivier e Otto Simon fundaram a
empresa Duvivier & Cia. Levando avante a abertura das referidas ruas e desenvolveram
o seu loteamento. Entretanto, poucos foram lá morar.
Copacabana começou a tornar-se uma realidade quando em julho de 1892 foi
inaugurado o túnel ligando a rua Real Grandeza, em Botafogo, à Rua Barroso (atual
Siqueira Campos), por iniciativa da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico, quando
gerenciada pelo inteligente engenheiro José Cupertino Coelho Cintra. O bonde ia até a
estação, localizada na Praça Malvino Reis (atual Serzedelo Correia) e foi um grande
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avanço para a efetiva ocupação do bairro. Dois anos depois, o Prefeito Coronel
Henrique Valadares inaugurou dois novos ramais, Leme e Igrejinha (atual Posto VI),
sendo as novas linhas inauguradas a 15 de abril. Onze dias depois, era lançado ao
público o novo loteamento do bairro do Leme, com várias ruas já cordeadas. Em 1904 a
Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico inaugurou sua nova estação e restaurante
anexo, logo arrendado à Cervejaria Brahma.
Dentre os primeiros moradores do bairro do Leme estava o Sr. William Marx,
alemão, neto do filósofo Karl Marx. William era casado com a pernambucana Da. Cecília
Burle e pai de vários filhos, dentre eles Roberto Burle Marx, nascido em São Paulo em
julho de 1909. O Sr. William Marx inicialmente adquiriu um terreno na nova Avenida
Atlântica, aberta em 1904 pelo Prefeito Francisco Pereira Passos, mas foi dissuadido
por seu médico particular, que afirmava ser o ar salitrado altamente nocivo à saúde de
um de seus filhos, Haroldo, que sofria dos pulmões. William vendeu o lote praiano e
adquiriu a casa da fazenda do Suzano, um bonito casarão térreo cercado de varandas
na nova rua Araújo Gondim, hoje General Ribeiro da Costa. Seu terreno de fundo
abrangia todo o morro da Babilônia, exatamente onde hoje se encontra a favela do
Chapéu Mangueira.
Após estudar canto na Alemanha, Roberto Burle Marx voltou ao Rio de Janeiro
em 1926, onde matriculou-se no Curso de Pintura da Escola Nacional de Belas Artes,
formando-se em 1930. Roberto utilizava os terrenos do morro para suas experiências
com plantas exóticas e vegetais, sua verdadeira paixão e que o perseguiu por toda a
vida. Pode-se dizer que aquele morro foi a primeira versão do “Sítio Burle Marx”, que ele
fundaria em Guaratiba vinte anos depois.
Por essa época ou pouco antes, uma fábrica de chapéus no morro da Mangueira,
no subúrbio da Leopoldina, montou um enorme cartaz no topo do morro do Telégrafo.
Era um out-door colorido, com duas pessoas experimentando um Chapéu-do-Chile, que
era de um tecido tão leve e fino que podia ser dobrado e colocado no bolso. Já em fins
dos anos vinte todos chamavam aquele trecho do morro da Babilônia de “Chapéu
Mangueira”. O nome pegou.
O crescimento de Copacabana e Leme e a febre de construções que dominou o
bairro até os anos sessenta ajudou na formação das primeiras favelas, formadas em
grande parte por lavradores empobrecidos que migravam do interior para o Rio à busca
de trabalho na construção civil.
William e seu filho Roberto, fiéis ao ideário socialista, não se incomodaram com a
invasão do morro por famílias pobres e, pode-se dizer, até a estimularam com pequenas
doações. Já em 1920 existiam 73 moradias no morro da Babilônia, com
aproximadamente trezentos moradores. Em 1929, com a queda dos preços do café,
mais lavradores migram para o Rio. Assim sendo, já em 1933 eram 73 moradias, com
quase quatrocentos moradores. Na década de quarenta, Roberto Burle Marx doou para
seu amigo particular, o radialista e compositor Ari Barroso uma parte de suas terras
onde passou a residir, originando daí a Ladeira Ari Barroso, legitimada por decreto do
Prefeito Marcos Tamoyo em 1975, e ainda hoje o melhor acesso à favela. Anos depois,
em 1949, Burle Marx mudou-se para Guaratiba e vendeu sua velha casa, que foi logo
demolida e substituída por um arranha-céu moderno que tapou boa parte da vista da
favela.
Aliás, falando em favela, esta não parava de crescer. Pudera. Em 1948 o Prefeito
Marechal Ângelo Mendes de Morais quadruplicou os gabaritos da orla marítima.
Rapidamente os antigos casarões são vendidos e demolidos, o que gerou corrida
imobiliária e uma febre de construções no bairro que varou os anos sessenta. Em 1950
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moravam no morro da Babilônia(aí se incluindo Chapéu Mangueira), 2.617 favelados,
sendo 1.313 homens e 1.304 mulheres.
Depois de 1960, iniciou o Governo do novo Estado da Guanabara (1960-75)
intensa campanha de erradicação de favelas, estando Babilônia na lista das que
deveriam ser removidas de imediato. Cessaram todos os recenseamentos e pesquisas
oficiais, de modo que não se tem idéia de como a favela cresceu nesses complicados
anos. Não é difícil imaginar. O empobrecimento geral da população brasileira levou à
favelização dos grandes centros. Esses núcleos abandonados pelo poder público à
própria sorte, aprenderam que unidos resistiriam mais eficientemente às investidas
contra sua permanência. Chapéu Mangueira resistiu aos Governos Lacerda e Negrão de
Lima e, com o empobrecimento geral do estado nos anos setenta, atitude agravado pela
fusão da Guanabara com o Rio de Janeiro em março de 1975, foram os favelados
deixados em paz.
Em 1977, o Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro, executado
sob ordem do Prefeito Marcos Tamoyo, não definia o que fazer com Chapéu Mangueira.
Simplesmente o mapa de intervenções pintava de amarelo a favela e informava “área a
ser urbanizada”. Em 1979, o Prefeito Israel Klabin declarou serem as favelas
irremovíveis. Nessa mesma época, a Pastoral da Favelas, criada pela Arquidiocese do
Rio de Janeiro iniciou os primeiros levantamentos em vinte anos da população das
favelas da zona sul, com vistas à sua legalização perante a Prefeitura.
Graças a este levantamento, ficamos sabendo que o morro da Babilônia possuía
290 casas, com 1.450 moradores, ocupando a favela uma área de 37.640m2, sendo sua
vi zinha, a favela do Chapéu Mangueira com menor área, possuindo 27.000m2, mas com
maior população, contando 339 casas e 1.695 moradores.
Nas eleições de 1982, ocorre o inédito fato de uma moradora do morro Chapéu
Mangueira sagrar-se vereadora. A Sra. Benedita da Silva foi eleita para a Câmara
Municipal, sagrando-se, posteriormente, Deputada, Senadora, e Vice-Governadora, já
tendo sido candidata à Prefeitura uma vez, perdendo de pouco.
E, ao que consta, novamente tentará em 2000.
MONUMENTO A ARI BARROSO – LEME
Situado próximo à antiga Cantina Fiorentina, na Av. Atlântica, Leme, foi
inaugurado na sexta feira, dia 19 de dezembro de 2.003. O compositor passou os
últimos 40 anos no Leme, daí a localização da homenagem. Monumento em bronze e
de caráter interativo, retrata Ari Barroso em escala real, sentado numa cadeira, como se
estivesse numa mesa da dita cantina. O povo pode sentar na cadeia ao Aldo, como se
estivesse a dividir o espaço com Ari. Concepção do artista Léo Santana, o mesmo que
fez a estátua de Carlos Drummond de Andrade.
ARI EVANGELISTA BARROSO – DADOS BIOGRÁFICOS
Compositor e cantor popular, nasceu em Ubá, Minas Gerais, a 7 de novembro de
1903. Anos depois, seguindo um conselho de um amigo numerólogo, retirou o
“Evangelista” do nome. Em sua opinião, não dava certo. Com certeza foi o primeiro
compositor popular a assim proceder. Perdeu os pais aos sete anos. Foi criado por sua
tia Rita, que o obrigava a estudar por três horas a fio, todo o dia.
Estudou na cidade natal e veio para o Rio de Janeiro em 1920, com uma herança
de 40 contos de réis, legada por um tio. Gastou tudo em dois anos, com farras. Dedicouse à música e começou tocando piano no Cinema Ideal, na Rua da Carioca. Por ve zes
tocava no Cine Íris, em frente. Formou-se em direito após nove anos de curso, mas sua
vida já estava dedicada ao samba. Popularizou-se como compositor, radialista de
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sucesso, com dois dos mais disputados programas de calouros, lançando muitos
talentos, como Elizeth Cardoso e Elza Soares; e afamado locutor esportivo, torcendo
acintosamente sempre para o Flamengo. Quando seu time fazia gol, ele tocava uma
gaita pelo microfone. Quando perdia, ficava de costas e se negava a transmitir. Foi
também vereador pela UDN, em 1946, o mais votado da Câmara pelo antigo Distrito
Federal. Como vereador, bateu-se pelo Direito Autoral, pela construção do estádio do
Maracanã e pela implantação da coleta seletiva de lixo.
Compôs sua primeira música, Cateretê, aos 15 anos de idade. Escreveu para o
teatro com êxito e dessas revistas surgiram o samba Faceira e a marcha Dá Nela
(1930), sendo que esta última o salvou da inadimplência. Seguiram-se sucessos
nacionais: No Rancho Fundo, Mimi, Vou à Penha, Quando Eu Penso na Bahia, Maria
(1832), Na Batucada da Vida (1934), Na Baixa do Sapateiro (1938), Boneca de Piche
(1938), Terra Seca, Aquarela do Brasil (1930), No Tabuleiro da Baiana (1937), Rancho
das Namoradas (1962), Os Quindins de Iaiá, etc.. Esteve nos Estados Unidos em 1944,
tendo executado a trilha sonora da parte brasileira do filme de Walt Disney: Você Já Foi
à Bahia? (1944). Convidado a lá permanecer, recusou-se, afirmando que lá não existia o
Flamengo. Participou dos filmes nacionais: Alô, Alô Brasil e Favela dos Meus Amores.
Lutou muito para ordenar o direito autoral no Brasil, contra a politicagem do rádio
e dos editores, que o boicotaram sem dó. A partir desse período (1946/52), só
conseguiu romper a barreira da política musical com o esplêndido Risque (1952). Ari fe z
o samba dar um passo à frente, dando-lhe toque cívico grandioso. Aquarela do Brasil
chegou a ser proposta para segundo hino nacional. Ainda hoje é a segunda música
brasileira mais executada no exterior, só perdendo para Garota de Ipanema, de Ton
Jobim e Vinícius de Morais.
Imprimiu novo impulso à orquestra na música popular pela utilização de conjuntos
instrumentais mais amplos, em contraste com a singeleza de Noel Rosa e Sinhô. Ao fim
da vida apadrinhou a Bossa Nova, ficando amigo de Tom, Vinícius e João Gilberto, os
quais, aliás, o consideravam um ícone. Enquanto viveu, combateu seu arqui-rival, o
compositor Antônio Maria, contra quem combatia as músicas, na imprensa.
Ari Barroso morava no Leme, em terreno situado no morro do Chapéu Mangueira,
onde hoje se abre a ladeira com seu nome, lote doado por seu amigo, o paisagista
Roberto Burle Marx. Sua casa ainda existe e está bem preservada.
O compositor faleceu de cirrose hepática, no Rio de Janeiro, a 9 de fevereiro de
1964, num domingo de carnaval, exatamente quando a Escola de Samba Império
Serrano entrava na avenida com o samba Aquarela Brasileira, feito em sua
homenagem.
FORTE DUQUE DE CAXIAS - PRAÇA JÚLIO DE NORONHA - LEME
Em princípios do século XVIII, o morro e praia do Leme era um lugar ermo,
habitado apenas por palhoças de pescadores e caiçaras. O nome Leme era devido ao
formato do morro, que, com seus 124m de altura, lembrava o “leme” das embarcações
de então. Logo após a invasão francesa de 1711, foi instalado em seu topo um posto de
vigia com bandeiras e fogos de artifício, para anunciar a aproximação de navios
estranhos da barra da Baía de Guanabara. Durante muitos anos o morro ganhou o
apelido de “do Vigia”, assim sendo citado nos documentos setecentistas. Em 1776, o
Marquês de Lavradio, Vice-Rei do Brasil, ordenou a construção de um forte no lugar do
posto semafórico, o que foi feito antes de 1779. Em 1791, o Vice-Rei Conde de
Resende mandou retirar dali toda a guarnição, por motivos de economia. Reza um
documento antigo que o Alferes Joaquim José da Silva Xa vier, o Tiradentes, serviu em
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1785-89 como oficial de ligação entre este forte e os de São João, na Urca e
Copacabana, na ponta da Igrejinha.
Após a Independência, o forte foi artilhado com cinco canhões de ferro em
1823(dois quais três ainda existem na entrada), para oito anos depois ser novamente
abandonado por ordem da Regência Trina, sendo que, desta vez, o abandono perdurou
noventa anos.
Em 1913, estando o Brasil em severa crise diplomática com a República
Argentina, resolveu o Presidente Hermes da Fonseca erguer no local um moderno forte
para defesa da entrada da barra. Fez o projeto o Coronel engenheiro Augusto Tasso
Fragoso, do Estado Maior do Exército, coordenando os trabalhos o Major Arnaldo Paes
de Andrade. O projeto foi levado à Alemanha, para ser detalhado pela casa Krupp, de
Essen, que o reprojetou em blocos pré-moldados de concreto armado. Como
armamento, foram projetados quatro obuseiros gigantes Krupp de 120mm, fabricados
especialmente para esta fortificação, sendo a parte elétrica executada pela firma AEG,
de Berlin. Dificuldades no transporte de materiais para o topo do morro, atrasaram de
muito o cronograma da obra, que só pode ser entregue ao uso em maio de 1917. Três
meses depois, declaramos guerra ao Império Alemão em consequência do
torpedeamento de navios brasileiros durante a 1a. Guerra Mundial, tendo sido expulsos
do Brasil todos os técnicos daquela nacionalidade que trabalhavam na fortificação, sem
no entanto, nos ensinar como usar aqueles armamentos, o que fez o Forte do Leme ter
uma atuação passiva durante aquele conflito.
Durante a construção, em 07 de setembro de 1915, foram instalados holofotes no
morro do Leme, tendo se simulado um ataque noturno da esquadra brasileira, fazendose passar pela marinha Argentina, ao Rio de Janeiro. Na hora da exibição, com a
presença do Presidente da República, ministros e autoridades, falhou a instalação
elétrica e os holofotes ficaram às escuras. O assunto repercutiu muito na imprensa
Argentina e houve militar portenho que viu nisso uma oportunidade perdida de se atacar
o Brasil.
Quando ocorreu a revolta do Forte de Copacabana, em 05 de julho de 1922, o
Forte do Leme aderiu ao movimento, tendo toda a guarnição abandonado a fortificação
e seqüestrado um bonde urbano, que partiu apinhado de soldados para o vizinho
revoltado. Foi o Forte do Leme depois acertado por dois disparos, um deles destruiu
parte do muro inferior e a casa da guarda, tendo o segundo, no dia 06 de julho, acertado
a cantina e produzido diversas vítimas fatais. Dois anos depois, em julho de 1924
estourou outra revolta, desta vez no Encouraçado São Paulo, da Marinha do Brasil, que
zarpou com a guarnição amotinada do Rio de Janeiro em destino ao sul. Resolveram os
oficiais do Forte do Leme disparar contra o encouraçado, mesmo não se podendo
calcular onde a bala ia cair. O disparo passou longe do navio, mas o impacto da
detonação fez lavrar furioso incêndio nas instalações do forte, que a custo foi debelado.
No mesmo ano foram estabelecidos os cálculos necessários para a mira dos obuses,
fazendo-se um teste num alvo móvel em abril de 1925, com sucesso completo, tendo,
no entanto, os disparos causado danos no próprio forte, haja vista o enorme
deslocamento de ar, que feriu os soldados e derrubou uma parede da fortificação.
Em 24 de outubro de 1930, durante a Revolução de 30, ocorreu a queda do
Presidente Washington Luís, tendo assumido provisoriamente o poder uma junta militar,
que ordenou o fechamento do porto do Rio de Janeiro até o país se normalizar. O navio
alemão misto de carga e passageiros “Baden” não obedeceu a ordem e zarpou do porto
do Rio de Janeiro sem permissão. O Forte do Leme fez-lhe três disparos de advertência,
sem resposta. No quarto, a bala atingiu o mastro principal e matou oito tripulantes,
havendo o navio retornado ao Rio de Janeiro para ser acareado.
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Na década de trinta, serviu o forte de menagem a alguns presos políticos. O mais
famoso foi o ex-presidente Arthur Bernardes, que nele esteve recolhido em 1932. Em
1935, o forte foi rebatizado para Duque de Caxias, em homenagem ao Patrono do
Exército Brasileiro. Durante a Segunda Guerra Mundial, manteve o Forte Duque de
Caxias posição de atalaia vigilante, tendo ocorrido episódio pitoresco na ocasião. Em
fevereiro de 1943, um vigia da fortificação deu o alarme de que vários submarinos
alemães estavam próximos da entrada da barra. O Capitão Sadock de Sá, ordenou fogo
e começou intenso tiroteio, que contou com o concurso do Forte de Copacabana e das
Fortalezas de Santa Cruz e São João. Depois de algum tempo, verificou-se que os tais
submarinos eram baleias, felizmente não atingidas pela chuva de petardos. O
comandante foi submetido a Conselho de Guerra, sendo absolvido, haja vista que não
se possuía no Brasil radares, sonares ou outros detetores que pudessem diferenciar
uma baleia de um submarino.
Em novembro de 1955, o Forte Duque de Caxias deu seu último disparo efetivo
contra o Cruzador Tamandaré, que fugiu barra afora levando o presidente deposto, Dr.
Carlos Luz, ministros e aliados. O navio foi alvejado por vinte minutos sem ser atingido,
apesar de só estar com metade das máquinas em funcionamento. Nove anos depois, o
Forte Duque de Caxias foi desativado, para ser convertido em 1965 no Centro de
Estudos de Pessoal do Exército, importante instituição de ensino superior comportando
diversos cursos de pós-graduação em áreas técnico-administrativas, abertos à classe
civil, mas voltados principalmente ao aprimoramento da oficialidade das Forças
Armadas, tanto do Brasil quanto do estrangeiro.
Permanece, hoje, no alto do morro do Leme, o velho forte, desativado,
preservado como relíquia histórica militar, inserido em importante contexto paisagístico e
ecológico, rigorosamente intactos e mantidos com muito zelo pelo Exército Brasileiro.
CENTRO DE ESTUDOS DE PESSOAL – PRAÇA ALMIRANTE JÚLIO DE NORONHA
– FORTE DUQUE DE CAXIAS – LEME
Estabelecimento de ensino do Exército Brasileiro, fundado em 1965 e desde
então instalado no antigo Forte Duque de Caxias, no Leme. É voltado para o estudo e a
pesquisa na área do comportamento humano.
O Centro de Estudos de Pessoal está subordinado à Diretoria de Pesquisa e
Estudos de Pessoal (DPEP), que funciona na Fortaleza de São João, na Urca.
O CEP tem como missão: desenvolver recursos humanos, particularmente nas
áreas de psicologia, educação, comunicação social, gestão de informações, informática
e idiomas. Desenvolver pesquisas nos campos acima mencionados e contribuir para o
aperfeiçoamento da doutrina pedagógica aplicável ao ensino e à instrução militar.
Para cumprir sua missão, o CEP ministra cursos, gerencia projetos e realiza
estudos. Essas atividades estão, em grande parte, abertas também ao público não
militar.
OURO NO LEME – MENTIRA CARIOCA
O Jornal Última Hora, de terça feira, 11 de março de 1958, estampava em sua
primeira página uma notícia fenomenal: “Ouro no Leme!”
Explica-se: o garimpeiro belga René Schutter encontrava-se no Brasil há apenas
quatro meses quando resolveu dar um passeio no costão do Morro do Leme. Próximo à
gruta dos Meros, no costão da pedra do Leme batido pelo mar, avistou um brilho
amarelo refulgindo ao sol. Conhecedor do vil metal, identificou-o de imediato. Schutter,
curiosamente, não comunicou autoridade alguma sobre o assunto e, segundo o dito
jornal, a notícia só transpirou por ele tê-la contado a alguns amigos. Justificando tal
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dificuldade pela alegação de que seria quase impossível de ali se escavar, por ser uma
pedreira alcantilada batida pelo mar. Schutter conduziu um grupo de dois jornalistas ao
sítio, onde, com muita dificuldade e alguns canivetes, tentaram raspar alguma coisa. O
mar os expulsou. Munidos de algumas fotografias, foram em seguida à Divisão de
Geologia do Ministério da Agricultura, onde o geólogo Evaristo Scorza argumentou que
as formações antigas do litoral são cortadas por veios de quartzo, da Era Arqueozóica,
onde, em alguns lugares se pode encontrar pirita e ouro, mas em quantidades ínfimas.
José Cardoso da Silva, funcionário da Divisão de Zoologia e Mineralogia da mesma
repartição, argumentou que o solo do Rio é uma terra própria para formação de minerais
preciosos.
A “No va Califórnia” do Rio de Janeiro revelou-se, no entanto, um blefe. Depois de
algumas análises, constatou-se que aqueles minerais não tinham valor algum e a
história morreu, indo-se juntar a tantas outras lendas cariocas.
RESUMO HISTÓRICO DE IPANEMA
A restinga hoje ocupada pelos bairros de Ipanema e Leblon já era habitada desde
priscas eras. Com efeito, há provas que os primeiros agrupamentos indígenas
assentaram naquela região por volta do século VI.
Um mapa francês de 1558 situa duas aldeias tamoias naquelas plagas, uma em
Ipanema (aldeia “Jaboracyá”) e outra no Leblon (aldeia “Kariané”). Ambas sobreviveram
aos primeiros anos da cidade, mas foram eliminadas em 1575 pelo “Governador da
Parte Sul do Brasil”, Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586).
Desejoso daquelas terras, Salema, em seu mandato de três anos (1575-1578)
mandou colocar roupas de doentes nas matas da região, eliminando os índios por
contágio. Na parte onde hoje está o Jardim Botânico, mandou erigir um engenho de
cana, ao qual denominou “D`El Rei”. O engenho não deu certo de início e em 1584 foi
sugerida sua venda. Quatorze anos depois, ele foi vendido ao Vereador Diogo de
Amorim Soares, vindo da Bahia (1558?-1609?), que o rebatizou de “Engenho de Nossa
Senhora da Conceição da Lagoa”. Soares, retirando-se da cidade em 1609, revendeu
as terras no ano anterior a seu genro, Sebastião Fagundes Varela, natural de Viana do
Castelo (1563-1639), casado com sua filha Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676).
Fagundes logo ampliou as instalações do engenho e, para tal, cobiçou para sua
empresa os terrenos de marinha.
Os primeiros proprietários das praias da zona sul carioca, afora os índios
tamoios, foram poucos portugueses. Em 1603 Antônio Pacheco Calheiros (1569?-1634),
vereador em 1619, casado com Da. Inês de Leão, obteve enfiteuse de terras que iam do
engenho de Diogo de Amorim Soares (Lagoa) até a “costa brava” (Leblon), correndo até
a Gávea (Vidigal). Em 1606, Afonso Fernandes e sua esposa, Da. Domingas Mendes
obtiveram carta de sesmaria da câmara que lhes davam o aforamento de “300 braças
começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a Praia de João de
Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava, tudo o que houvesse”. Eram todos os
terrenos de marinha do Leme ao atual Leblon, incluindo-se aí, é claro, a futura Ipanema.
Pagavam foro de 1000 réis.
Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassa esse aforamento a Martim de Sá
(1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08, e 1623/32), filho do então exGovernador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos (1542-1631, governou em
1568/72 e 78/98) para benefício do engenho que o mesmo possuía na Lagoa. Esse
engenho, denominado de “Nossa Senhora das Cabeças”, não foi adiante, haja vista que
Martim estava erguendo outro maior em terras que obtivera na aldeia de “Guaraguassú
Mirim” (atual Barra da Tijuca). O aforamento então foi sendo aos poucos repassado,
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sucessivamente em 22 de junho de1609, das terras que iam desde o Pão de Açúcar até
a “Praia Brava” (Leblon); em 23 de setembro de 1611 (mais terras); em 19 de julho de
1617 (para aumento de pastos); e em 1619 ao dono do “Engenho de Nossa Senhora da
Conceição da Lagoa”, Sebastião Fagundes Varela. O aforamento era por 9 anos e tinha
mais 400 braças para o sertão, permitindo a Varela explorar para pasto e extração de
madeiras para seu engenho.
Varela ficou assim, aos poucos, dono de todas as terras que iam do Humaitá ao
Leblon. A e xtensão de suas posses abrangiam 1700 braças de testada e 4.500.000
braças de área, que englobava a atual Lagoa Rodrigo de Freitas. Os terrenos pagavam
foro de 6$400 réis ao “Senado da Câmara”. Esse latifundiário criava gado nessas praias,
onde suas vacas pastavam entre cajueiros, ananases e pitangueiras.
Em 1702, a herdeira de Varela, sua bisneta, Da. Petronilha Fagundes (16711717), era uma solteirona de trinta e um anos, numa época em que as mulheres
casavam com doze, ou até menos idade. Petronilha casou-se com um jovem oficial de
cavalaria, Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba, Freguesia de
Sam Payo de Visella, Têrmo da Vila de Guimarães. Ele com dezesseis anos. Alguns
anos depois, em 1717, Rodrigo de Freitas, já viúvo, voltou para Portugal, onde passou a
residir em sua quinta de Suariba. Lá morreu viúvo em 1748. Sua enorme fazenda, que
englobava a Lagoa que lhe acabou por herdar o nome (e, igualmente, eternizar na
topografia carioca o “golpista do baú” mais bem sucedido em nossa cidade...), será
arrendada a particulares, ficando decadente até princípios do século XIX.
Nada existia edificado. Ainda em 1645, o Governador Duarte Corrêa Vasqueanes
proibira aos pescadores que edificassem suas casas na praia, com medo de um
desembarque holandês para tomar o Rio de Janeiro.
Em 1808 o Príncipe D. João manda desapropriar o engenho da Lagoa por
decreto de 13 de junho, com o fito de alí instalar uma fábrica de pólvora, aproveitandose os terrenos circundantes para neles criar o Real Horto Botânico, origem do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro. Ele visitou essas terras em janeiro de 1809, sendo mal
recebido pelos escravos e feitor do engenho, que abaixaram as calças à sua passagem.
D. João ordenou depois a prisão dos escravos e a perda de todas as mercês e
benesses ao feitor e proprietários daqueles chãos.
Era herdeira daquelas terras Da. Maria Leonor de Freitas Mello e Castro (1773183?), filha de Rodrigo de Freitas Mello e Castro (1740-1803), e bisneta do primeiro
Rodrigo de Freitas. Procedeu-se a avaliação da propriedade e a indenização. Julgada a
adjudicação por sentença de 30 de janeiro de 1810, foi estipulada a quantia, sendo as
terras incorporadas aos próprios nacionais, com as formalidades da lei de 28 de
setembro de 1835. Da. Maria Leonor recebeu por estas terras R$: 42:193$430 contos
de réis, pagos após a Independência em 1826. Os terrenos de marinha, que não
interessavam aos propósitos do Jardim Botânico, foram repassados.
FAZENDA DE COPACABANA (IPANEMA)
Toda a orla marítima da zona sul, possuía então o nome de “Fazenda de
Copacabana”, e foi adquirida em 1808 por Da. Aldonsa da Silva Rosa, uma chacareira.
Da. Aldonsa não ficou muito tempo com ela, tendo-a revendido em 1810 ao português
Manoel dos Santos Passos, que, ao morrer, legou em testamento para seu sobrinho
Antônio da Costa Passos, ficando com elas até 1819. Antônio, assim como seu tio,
legou as terras em testamento para seu filho, João da Costa Passos. João era, em
1827, administrador da Capela de Nossa Senhora de Copacabana, na Ponta da
“Igrejinha”, erguida antes de 1746 (provavelmente em 1732) e depois demolida. João
não ficou, entretanto, muito tempo com suas terras de Ipanema, vendendo-as em 1820
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para Inácio da Silva Melo. Inácio, ao morrer em 1843, deixou tudo para dois sobrinhos,
Francisco da Silva Melo e Francisco Nascimento de Almeida Gonzaga e eles logo
depois venderam tudo em 1844 para Bernardino José Ribeiro. Ano seguinte, Bernardino
vende tudo ao empresário francês Carlos Leblon (ele assinava assim, Carlos, e não
Charles, como muitos afirmam) o qual instalou no final da praia sua fazenda e empresa
de pesca de baleias, a “Aliança”.
O negócio ia bem, pois das baleias “espermacetes” do gênero “cachalote”,
abundantes em nossos mares, extraía-se o famoso óleo, que era usado não só como
“concreto” em nossa construção civil, muito estimulada pelo crescimento da cidade no
Segundo Império, como igualmente servia como combustível para iluminação, atividade
incrementada por D. Pedro II, que mandou ampliar a iluminação pública das ruas do Rio
por lampiões de óleo de baleia, principalmente depois de sua ascensão ao trono em
1841.
A pesca fazia-se não só de barcas baleeiras, apelidadas de “Alabamas” por
provirem tais naves deste estado americano, como também do alto das pedras da praia,
que por este motivo apelidou-se “Arpoador” (lá pelos idos de 1964, eu mesmo cheguei a
ver baleias perto do Arpoador).
Em 1851, Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá (18131889), iniciou as obras para poder proceder à iluminação à gaz no Rio de Janeiro, com
os primeiros postes na rua Direita, atual Primeiro de Março. Em 25 de março de 1854 foi
inaugurado este serviço, atingindo outros bairros além do Centro.
Com isso, caiu o negócio da pesca de baleias no Rio, tendo Carlos Leblon
vendido suas terras da “Fazenda Copacabana” em 1857 ao tabelião e empresário
Francisco José Fialho (1820?-1885), que adquiriu a parte que ia da atual rua Barão de
Ipanema, em Copacabana, até o pico dos Dois Irmãos. Fialho, envolvido em vários
negócios (dentre eles a restauração do “Passeio Público”), vendeu suas terras em 1878,
divididas em dois grandes lotes.
A área do lote um, correspondendo ao atual bairro do Leblon foi retalhada em três
grandes chácaras, vendidas a particulares, um deles o português José de Guimarães
Seixas, famoso por manter um quilombo em sua chácara no “Morro Dois Irmãos”, onde
hoje está o Clube Federal.
O lote dois, que era o maior, e ia desde a atual Rua Barão de Ipanema ao que é
hoje o Canal do Jardim de Alah, abrangendo desde o atual posto V em Copacabana até
toda Ipanema, foi adquirida pelo fazendeiro e Comendador José Antônio Moreira Filho,
carioca, 2o. Barão com Grandeza de Ipanema (1830-1899). Empreendedor, José
Antônio logo pensou em criar alí um novo bairro, que batizou de “Vila Ipanema”, em
homenagem a seu pai, o 1o. Barão e Conde de Ipanema, José Antônio Moreira (17971879), que era paulista.
Vale aqui ressaltar que até então a praia era conhecida desde o século XVIII
como “Copacabana”, ou “Praia Grande de Fora”, sendo o nome indígena “Ipanema”
(literalmente “água ruim”, em tupi), tirado de uma das propriedades do Conde em Minas
Gerais.
Em 1878 todo o local era a morada predileta dos socós, preás e tatus;
abundavam cajueiros, pitangueiras, araçazeiros e ananases. Era tudo um imenso areal,
com pobres choupanas de pescadores.
As restingas do Leblon e de Ipanema eram desertas, pois não havia água
potável. Um par de casas com a indicação de ser a chácara de Paulino Antônio
Andrade, dado como sendo talvez o primeiro morador do bairro. Um levantamento de
1879 atestava que existiam na “Praia Grande da Restinga” apenas sete casas, das
quais só uma era de construção perene. Nesse mesmo ano, sua vizinha, a restinga do
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Leblon, já era mais animada: existiam 49 casas residenciais (duas de sobrado) na rua
do “Sapê” (atual Dias Ferreira), rua do “Pau” (atual Conde de Bernadotte) e “Praia do
Pinto”.
Verdade seja dita, a Praia do Leblon propriamente dita era deserta. No mesmo
ano Copacabana contava 58 residências, sendo uma de sobrado.
Um dos motivos da baixa procura da “Praia da Restinga” para moradia eram as
freqüentes enchentes provocadas pelas chuvas na Lagoa Rodrigo de Freitas, que, só
possuindo um vazadouro para o oceano, alagava os terrenos circundantes, destruindo
as casas. Para resolver esse problema, apresentou o Barão de Ipanema um plano ao
Govêrno Imperial para o saneamento da Lagoa. Pretendia o Barão captar as águas da
Lagoa por enorme cano com um metro de diâmetro e conduzi-las por duto até a altura
de Copacabana, onde desaguariam no Atlântico. O plano não foi adiante e é bem difícil
que resolvesse alguma coisa, pois para dal deságüe precisar-se-ía de duto muito maior.
Só em 1920 foram realizados os canais que resolveram o problema.
Os limites do futuroso bairro, à época eram: a “Praia Grande”, cortada de ponta a
ponta em 1893 por um “boulevard”, origem da avenida Vieira Souto; o “Morro da
Caieira”, depois rebatizado para “Cantagalo”; parte das areias de Copacabana; a “Praia
de Fora”, hoje Praia de Ipanema; o bolsão entre Leblon e Ipanema, hoje canal do
“Jardim de Alah”, que era o canal natural de descarga da Lagoa; a “Ponta do Pau
Comprido”, hoje ilha do “Clube dos Caiçaras”; e a “Praia Saneada”, hoje é a av. Epitácio
Pessôa.
Existia apenas meia dúzia de simples trilhas por todo o areal, usadas pelos
pescadores, trilhas essas que cortavam até a Praia de Fora. As principais vinham de
onde hoje está a rua Aníbal de Mendonça (ex-rua Dário Silva, ex-rua Jangadeiros,
reconhecida em 1922) até a rua Prudente de Morais (sempre teve essa denominação,
reconhecida em 1917); da atual rua Garcia D`Ávila (ex-rua Pedro Silva, reconhecida em
1922) até a Barão da Torre (ex-rua 28 de agosto, reconhecida em 1917) e Praça
General Osório (ex-praça Ferreira Viana, ex-praça Floriano Peixoto, reconhecida em
1922). Desta prossegue por caminhos onde hoje estão as ruas Saint-Romain e
Francisco Sá, derivando por uma picada até a “Pedra do Arpoador”. Outras picadas
davam em um descampado, onde hoje é a Praça N. Sra. da Paz (antiga Praça Coronel
Henrique Valadares e Praça Souza Ferreira, reconhecida em 1917).
No ano de 1888 surgia a primeira rua com nome, a “Rua 20 de Novembro”, atual
Visconde de Pirajá, batizada em homenagem às datas do aniversário e casamento da
Baronesa de Ipanema, Da. Luiza Rudge, nascida a 20 de novembro de 1838, e casada
nessa mesma data vinte anos depois. A Baronesa faleceu em 1891, sem ver o bairro
desenvolver-se. Deixou cinco filhos: Luísa de Ipanema Moreira, José Jorge Moreira,
Sofia Emília Moreira, Laurinda de Ipanema e Carlos de Ipanema. Quanto à “Rua 20 de
Novembro”, o caminho primitivo já existia desde 1809. Era a rua interna da “Fazenda
Copacabana”.
A empresa de urbanização do novo bairro foi formada em 1883 pelo Barão
(titulado de “Ipanema” por decreto de 13 de março de 1885, ampliado para “Com Honras
e Grandeza”, por decreto de 05 de julho de 1888) e por seu sócio, o Coronel Antônio
José Silva (que não tinha título algum). Projetou as ruas o engenheiro da prefeitura e
economista Luís Raphael Vieira Souto (1849-1922), que acabou sendo homenageado
dando seu nome à via que margeava a praia. Antes teve o nome de av. “Meridional”. A
av. foi duplicada em 1915/1916, quando ganhou arborização central. Na obra,
trabalharam mendigos e desocupados recolhidos pela Prefeitura das ruas. Só tomou a
denominação atual em 1917. Na época, não era a via mais importante.
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Não se poderia reconstituir a história de Ipanema sem antes falar dos meios de
transportes urbanos que tornaram possível a ocupação de tão longínquo arrabalde. E
quando se fala em transportes urbanos que possibilitassem tal proeza em fins do
Império, está se falando de bondes.
BONDES PARA IPANEMA
A 27 de abril de 1893, o Prefeito Dr. Cândido Barata Ribeiro (1847-1910) fez uma
excursão de inspeção à Copacabana, Leme e Ipanema. Como não estavam prontas as
últimas duas linhas, o Prefeito saltou na estação de Copacabana, fazendo o resto do
percurso à cavalo. Chegando à “Igrejinha” (era a Igreja de Nossa Sra. de Copacabana,
fundada antes de 1746 e demolida em 1918. Hoje lá existe o “Campo de Marte” do
“Forte de Copacabana”), embarcou o prefeito num bonde provisório alí assentado pelo
Coronel José Silva, sócio do Barão, percorrendo então as obras de arruamento pelo
Arpoador.
Curiosamente, o Coronel Silva mantinha uma atividade paralela de “peixeiro”,
tendo solicitado permissão, em maio de 1893 ao Gerente Coelho Cintra, para atrelar um
reboque com carregamento de peixes aos bondes da “Companhia Jardim Botânico”,
com o fito de vendê-los na cidade. Desde 1869 era arrendatário por nove anos do
“Mercado do Largo do Paço”, erguido em 1842 onde hoje está o prédio da “Bolsa de
Valores”. O Coronel era também, desde 1896, Provedor da “Capela de Nossa Senhora
de Copacabana”, sendo Vice-Provedor o médico João Ribeiro de Almeida, Barão
Ribeiro de Almeida (1827-1908), Presidente da “Companhia Jardim Botânico”, ficando
como Mesário o Barão de Ipanema. A permissão do transporte foi concedida e os
“bondes peixeiros” rodaram por algum tempo, no que não deve ter agradado muito aos
usuários. Uma prova disso é que em junho de 1899, o “Conselho Municipal” tentou
proibir por lei os “bondes peixeiros”, mas o prefeito vetou a medida.
A 19 de janeiro de 1894, o Presidente da “Companhia Jardim Botânico”,
engenheiro Malvino da Silva Reis (1830?-1896), que igualmente era vereador e Coronel
da Guarda Nacional, assina um contrato com o engenheiro Prefeito Coronel Henrique
Valladares, piauiense, visando levar as linhas de bondes para o Leme e “Igrejinha”(atual
Posto VI). Quatro meses de frenéticas obras tornaram-na uma realidade.
INAUGURAÇÃO DE IPANEMA
A “Vila Ipanema” foi inaugurada a 15 de abril de 1894 pelo Prefeito Henrique
Valladares, amigo do Barão e do Coronel Silva, que no mesmo dia estava também
inaugurando a ampliação das linhas de bonde da empresa de “Ferro Carril do Jardim
Botânico”, da Praça Malvino Reis(atual Serzedelo Correia), até a ponta da “Igrejinha”,
próximo à rua Francisco Otaviano.
A e xcursão oficial percorreu toda a linha de bondes, do Centro à Copacabana,
indo primeiro ao Leme, depois à “Igrejinha”. Ao chegar neste ponto, houve a cerimônia
oficial de inauguração e um banquete, tendo o Prefeito percorrido Ipanema por uma
linha provisória de bondes puxados à burro por trilhos de madeira, que iam até o final do
Arpoador, onde a “Sociedade Copacabana Sport” havia adquirido terras para alí erguer
um grande estabelecimento de banhos. A iniciativa dessa linha provisória foi do Coronel
Antônio José Silva, que foi estendendo os trilhos conforme os lotes eram vendidos. Esta
primitiva linha de bondes sobreviveu até 1903.
Apesar da festa de inauguração ter sido no dia 15, só no dia 26 de abril de 1894
é que foi assinada por todos a ata de fundação definitiva do bairro “Villa Ipanema”. Em
virtude disso, até hoje Ipanema comemora seu natalício em 26 de abril, e não a 15,
como seria o lógico.
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Vale ressaltar que o então Presidente da “Companhia Ferro Carril do Jardim
Botânico”, Dr. Alfredo Camilo de Valdetaro, havia pedido em fevereiro sua demissão, por
achar o empreendimento de levar as linhas de bonde a terras tão distantes um fiasco.
Não fosse a prévia assinatura por seu antecessor, o Coronel Malvino da Silva Reis, de
um contrato entre a “Companhia” e a Prefeitura para extensão da linha, tão cedo o
bonde não chegaria à Ipanema. Na mesma época, a “Companhia Jardim Botânico”
começou a promover o novo arrabalde, e colocou um cartaz em suas estações, dizendo
o seguinte: “Bondes em quantidade para as Praias do Leme e Ipanema. O luar é
encantador, sendo as noites muito frescas, graças aos ares do alto mar”. Como se
percebe, possuía a “Companhia” muito interêsse na prosperidade dos novos arrabaldes.
Já em 1896, o “Conselho Municipal” cogitava de outra linha para o Leblon, haja
vista o sucesso da concessão anterior.
Do têrmo de fundação consta a abertura de dezenove ruas e duas praças. Os
critérios para escolha dos nomes dos logradouros foram os seguintes: 1o. homenagear
parentes e datas alusivas à família do Barão; 2o. homenagear parentes e amigos do
Coronel; 3o. homenagear personalidades e políticos envolvidos com a empresa.
A prefeitura reconheceu essas ruas em 1917, mas mudou o nome de algumas.
Logo depois, em 1922, o Prefeito Carlos Sampaio (1920-1922) mudou o nome de outras
para homenagear vários heróis da “Independência do Brasil”, particularmente da Bahia.
A 27 de agôsto de 1901 a Companhia Jardim Botânico assinou outro contrato
com o engenheiro Prefeito João Felipe Pereira, cearense, comprometendo-se a levar os
bondes até a Vila Ipanema, conquanto a “Companhia Urbanizadora” se comprometesse
a abrir as ruas. No dia seguinte, foi inaugurado mais um trecho da linha da “Igrejinha”,
chegando os bondes até a altura da atual rua Bulhões de Carvalho, antiga rua “Divisa”.
Em 1898 o Prefeito Luiz Van Erven, engenheiro e acionista da “Jardim Botânico”,
isentou de qualquer imposto as construções do novo bairro, benefício que foi ampliado
em 1902 para dez anos.
Em 1905 o Prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913) voltou atrás e revogou
tal decreto, submetendo Ipanema aos mesmos impostos de outros bairros da zona sul.
Com a revogação de tal benefício, foi no ano de 1905 constituída uma empresa de
urbanização para continuar os trabalhos do Barão de Ipanema e do Coronel Silva, que
haviam falecido. Era dirigida por Raul Kennedy de Lemos e Octávio da Rocha Miranda
(1884-1954). Raul Kennedy foi um dos maiores “grileiros” do Rio de Janeiro, tendo,
durante muitos anos, demandado na justiça contra Otto Simon pela posse das terras de
Copacabana, do Lido até a rua Paula Freitas.
RESUMO HISTÓRICO DAS RUAS DE IPANEMA
No ano de 1894, um relatório do engenheiro Malvino Reis informava existir no
bairro uma ou outra casa boa de moradia, sendo as demais choupanas de pescadores,
ou seja, pouco mudara desde as sete casinhas recenseadas em 1879. Já em 1902
existiam cinqüenta casas próximas ao Arpoador, com, aproximadamente, quinhentos
moradores. Em 1906 já residiam em Ipanema 1.006 moradores, em 118 residências.
Quatro anos depois, em 1910, eram 175 residências. No ano de 1920, o excelente
recenseamento geral realizado pelo Governo Epitácio Pessôa acusou as seguintes
construções:
Av. Vieira Souto possuía 45 edificações, sendo 10 térreas, 32 sobrados, três em
construção. Dos prédios da Vieira Souto, todos eram residenciais exceto dois: um era
uma repartição municipal e o outro um clube, o “Country”. No ano de 1922 surgiria nela
o “Colégio São Paulo”.
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Na Prudente de Morais, assim batizada em 1917,homenageando ao primeiro
Presidente Civil da República(1894-1898), o paulista Prudente José de Morais e
Barro(1841/1902); existiam 51 edificações, sendo 15 térreas e 33 sobrados, mais três
em construção. Todas eram residenciais.
Na Vinte de Novembro, reconhecida em 1917, rebatizada em 1922 para Visconde
de Pirajá, em homenagem ao baiano, Coronel Joaquim Pires de Carvalho e
Albuquerque, 1o. Visconde com Grandeza de Pirajá(1788-1848), o qual, de quebra, era
irmão do Visconde da Tôrre e do Barão de Jaguaripe; existiam 94 edificações, sendo 43
térreas e 46 sobrados, mais cinco em construção. Todos eram residenciais exceto sete,
eram casas de negócios (Bar Vinte, Padaria Ipanema, etc.) e uma agência dos correios.
Na 28 de Agôsto, data do aniversário do Barão de Ipanema, mudou de nome em
1922 para Barão da Tôrre, em homenagem ao baiano, Coronel Antônio Joaquim Pires
de Carvalho e Albuquerque, último senhor e administrador da Casa da Tôrre de Garcia
D`Ávila, na Bahia, e que, em verdade, foi Barão e Visconde com Grandeza de Garcia
D`Ávila(1774-1852); existiam noventa edificações, sendo 72 térreas e seis sobrados,
mais duas em construção. Todas residenciais menos quatro. Uma escola, duas casas
de negócios e um “centro espírita”, no 85.
Na Nascimento Silva, em homenagem ao engenheiro da antiga Prefeitura, Dr.
Carlos Augusto Nascimento Silva, 1o. Diretor da Diretoria de Engenharia na República e
Diretor da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico; só existiam dezenove edificações
térreas residenciais.
Na Alberto de Campos, reconhecida em 1917, sempre teve esse nome, que foi
de um genro do Barão de Ipanema; só três edificações térreas residenciais.
Na 16 de Novembro, que mudou de nome em 1922 para Jangadeiros, em
homenagem a um grupo de pescadores do nordeste que fez um raid de jangada pela
costa brasileira, do Ceará ao Rio de Janeiro; cinco edificações, sendo uma térrea, três
sobrados e um prédio não residencial.
Na Farme de Amoedo, batizada assim em 1917, homenageando o médico da
antiga Prefeitura; eram 51 edificações, sendo 49 térreas e dois sobrados. Destes, um
era casa de negócios e outro era não residencial.
Na Montenegro, homenagem a um dos genros do Barão, Manuel Pinto de
Miranda Montenegro, casado com sua filha Sofia Moreira. Desde 1983 rebatizaram-na a
rua para Vinícius de Moraes; eram só seis casas, sendo quatro térreas, um sobrado e
um em construção, todos residenciais.
Na Oscar Silva, que era o nome de um dos filhos do Coronel Antônio José Silva,
mudou em 1922 para Joana Angélica, freira baiana, mártir e heroína na luta pela
Independência na Bahia(1761/1822); eram cinco casas, sendo duas térreas e três
sobrados, todos residenciais.
Na Otávio Silva, outro filho do Coronel, mudou de nome em 1922 para Maria
Quitéria, a “mulher soldado do Brasil” baiana, outra heroína nas lutas na Bahia(17921835); não existia construção alguma.
Na Pedro Silva, mais um filho do Coronel, mudou em 1922 para Garcia D`Ávila,
em homenagem ao desbravador da Bahia Colonial, Senhor da Casa da Tôrre, D. Luís
de Brito de Almeida de Garcia de Ávila(1520?-1609); só existia uma casa em
construção.
Na Dário Silva, idem, idem, hoje batizada em homenagem ao Almirante Aníbal de
Mendonça, herói do Tenentismo; eram sete edificações, sendo duas térreas, quatro
sobrados e uma em construção.
Na Henrique Dumont, sempre teve esse nome, dado em 1919, em memória do
engenheiro Henrique Dumont(1832-1892), pai de Alberto Santos Dumont (1871-1932),
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inventor do avião; nada havia sido erguido. Pudera, era o limite do bairro, dando direto
para o canal da Lagoa Rodrigo de Freitas, ainda sujeito a inundações. As ruas
posteriores só surgiriam depois de 1938.
Na Teixeira de Melo, homenageando o escritor e educador José Alexandre
Teixeira de Melo (1833-1907), Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e
Membro da Academia Brasileira de Letras; eram 28 edificações residenciais, sendo
quinze térreas e doze sobrados, e uma em construção.
Na Gomes Carneiro, batizada em homenagem ao General Antônio Ernesto
Gomes Carneiro (1846-1894), herói do “Cerco da Lapa”; eram 13 edificações
residenciais, sendo cinco térreas, sete sobrados e uma em construção.
Na Praia do Arpoador, existiam 18 construções residenciais. Essa também
mudou de nome em 1921 para Francisco Bhering, engenheiro e professor da “Escola
Politécnica”, e pioneiro da radiotelegrafia no Brasil.
As praças não possuíam numeração própria.
Todas as outras ruas surgiram entre 1922 e 1948.
A Barão de Jaguaripe, antiga rua 31, surgiu em 1921/1922. Era uma
homenagem a Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque, Barão de Jaguaripe
(1787-1856).
A Redentor, antiga rua 30, aberta em 1921/1922, foi rebatizada em 1928 em
homenagem ao Cristo Redentor.
A Almirante Sadock de Sá, antiga rua 32, aberta em 1921/1922, foi rebatizada em
1933 homenageando ao herói do Tenentismo.
A Antônio Parreiras, aberta em 1948, batizada em homenagem ao pintor
paisagista niteroiense Antônio Diogo da Silva Parreiras (1860-1937).
A Gorceix, aberta em 1933, batizada em homenagem a Henry Gorceix,
engenheiro fundador da Escola de Minas.
A Paul Redfern, aberta em 1928, homenageando o aviador americano falecido
em 1927 de acidente aéreo na costa do Brasil.
A a v. Epitácio Pessoa, assim batizada em homenagem ao paraibano, Presidente
Epitácio da Silva Pessôa (1865-1942); no trecho de Ipanema, teve de 1919 a 1922 o
nome de av. Ipanema. Os morros não eram habitados.
Quanto ao Leblon, existiam em 1920 apenas 195 prédios, sendo uma casa de
negócios e quatro pensões. As casas se subdividiam pela Dias Ferreira (108), rua do
“Pau”(29), “Praia do Pinto”(54) e “Pedra do Baiano”(4).
A restinga do Leblon, sua orla e praia, estavam desertas como no século anterior.
Tudo isso totalizavam mais de 433 edificações em todo o bairro de Ipanema, (não
incluindo aqui as tais 195 do Leblon) sendo onze casas de negócio, um clube, uma
repartição federal (correio), uma municipal, uma escola particular e duas construções
diversas não residenciais (uma era a estação dos bondes). A população beirava os
4.000 moradores.
A Firma Kennedy/Miranda fechou as portas em 1927. Não existiam mais terrenos
disponíveis. Em princípio, a via mais procurada era a “Rua 20” e suas vizinhas, no
trecho mais próximo ao Arpoador, haja vista que a água potável só chegava por canos
vindos do “Posto VI”.
BONDES ELÉTRICOS EM IPANEMA
Prefeito Joaquim Xavier da Silveira mandou instalar a luz elétrica no bairro em
1901, sendo oficialmente inaugurada em 20 de janeiro de 1902, quando ainda se
contavam suas casas nos dedos das mãos. A lu z ainda era fornecida pela “Societé
Anonimé du Gaz”, cuja concessão era privilegiada. A “Light” só começaria a funcionar
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em 1907, quando inaugurou sua represa em “Ribeirão das Lages”. Só então começou a
existir iluminação domiciliar, antes impossível.
Com luz elétrica no bairro, mesmo precária, pôde a “Companhia Jardim Botânico”
estender sua linha de bondes elétricos até Ipanema em 1902, sendo o serviço
inaugurado oficialmente pelo Prefeito Pereira Passos a 14 de junho de 1903 (naquela
época, instalava-se o serviço primeiro, deixava-se funcionar por algum tempo, e aí sim
depois inaugurava-se oficialmente). A solenidade de inauguração da tração elétrica nos
bondes foi muito concorrida, participando da mesma importantes personalidades. Dentre
elas, merece destaque o Sr. Joaquim José Moreira Filho, representando seu irmão, o
finado Barão de Ipanema.
Os bondes percorriam os doze quilômetros desde o Largo da Carioca até
Ipanema em 80 minutos, com ponto final na “Praça Marechal Floriano Peixoto”(hoje
General Osório), sendo que em 1903, foi a Praça oficialmente inaugurada pelo Prefeito
Passos. Ele mesmo inaugurou a nova estação, na esquina da “Rua 20” com a praça
(vale aqui o que já foi dito anteriormente. A dita estação já funcionava desde 02 de
junho de 1902, mas só foi oficialmente inaugurada ano seguinte). Essa estação foi
abaixo nos anos 60, sendo a construção antiga substituída por um prédio residencial
moderno projetado por Oscar Niemeyer (n.1907).
Ressalte-se que no mesmo dia era inaugurada a eletrificação do ramal do Leme.
O Prefeito passos foi saudado por festas e muitos fogos de artifício e até explosivos de
dinamite. Logo após as festas, sapecou uma multa de 50$000 na “Firma
Kennedy/Miranda”, pois pouco antes editara postura proibindo fogos de artifício na
cidade. Aparte a “gafe”, a inauguração foi um sucesso.
Esta “Praça Marechal Floriano Peixoto”, surgida em 1894, e que era mais
importante do bairro de Ipanema, foi aterrada em 1905 com atêrro do Morro do Castelo
e das demolições no Centro resultantes da abertura da Av. Central. Recebeu em 1914
seu monumento mais antigo até hoje. O velho “Chafariz das Saracuras”, erguido por
Mestre Valentim da Fonseca e Silva(1745-1813) em 1791 no pátio interno do Convento
da Ajuda, no Centro, e dalí removido quando da demolição do dito convento em outubro
de 1911. Esse chafariz andou um pouco. Em 1911 foi colocado na “Praça Malvino Reis”
e, três anos depois, levado para Ipanema.
No mesmo ano de 1914, a “Companhia Jardim Botânico” estendeu a linha de
bondes até o “Bar 20”, no final de Ipanema, quando a rua ainda se chamava “20 de
Novembro”. A “virada do bonde” era na “Praça 20 de Novembro”, hoje rebatizada para
“Alcazar de Toledo (sic!)”. Em 1938 prolongaram a Visconde de Pirajá, que por meio de
ponte passou a cruzar o canal da Lagoa, conduzindo os bondes ao Leblon sem precisar
fazer o contorno pela praia.
Já o tal “Bar 20”, era na atual Visconde de Pirajá, quase esquina de rua Henrique
Dumont. Fundado em 1903, durou até meados de 1950.
Em 02 de dezembro de 1913 a “Companhia Jardim Botânico” obteve permissão
da Prefeitura para estender suas linhas de bonde de Ipanema por Leblon e Gávea, mas
a obra demorou muito. Como já foi dito, só ano seguinte a linha atingiu os limites do
bairro.
Em 1918 chegou ao Leblon, que ainda não possuía prédios na praia e muito
depois à Gávea. Com isso a Delfim Moreira começa a ser valorizada.
Em 1912 faziam a linha de Ipanema 45 bondes, durando o percurso 47 minutos
desde o Centro. Os intervalos entre os veículos era de 10 minutos e, por dia, corriam
235 viagens.
Em 1916 usavam-se 49 bondes, levando o percurso do Centro à Ipanema 56
minutos. O intervalo de tempo entre as composições ainda era de 10 minutos, e o
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número de viagens ainda era 235 por dia. Para estimular a ocupação do bairro, a
Prefeitura fez um acordo em 1916 com a “Companhia Jardim Botânico” para baixar o
preço das passagens.
Como já foi dito atrás, até 1918 Ipanema era bairro final de linha. O bonde vinha
de Copacabana pela Francisco Otaviano, ia até a praia de Ipanema e entrava na
Teixeira de Melo, onde na esquina com rua Visconde de Pirajá ficava a estação.
Em 1914 o bonde passou a correr toda a Visconde de Pirajá, até a altura de
Henrique Dumont, onde fazia a volta. Somente em 1918 seria construída uma ponte de
concreto sobre o canal da Lagoa Rodrigo de Freitas, ligando a Vieira Souto à Av. Delfim
Moreira, aberta também em 1918, mas só inaugurada ano seguinte pelo Prefeito Paulo
de Frontin(1860-1933). Então o bonde passou a descer pela Henrique Dumont até a
praia, aí pegava a nova ponte sobre o canal e entrava na Delfim Moreira (ainda sem
construções). Lá entrava pela Afrânio de Mello Franco (idem) e dobrava na Ataulfo de
Paiva(idem), por ela percorrendo todo o Leblon.
Em 1920/22 essa ponte seria melhorada pelo Prefeito Carlos Sampaio, com
projeto do engenheiro Francisco Saturnino de Brito (1864-1929) cujo filho, o também
engenheiro Fernando Saturnino de Brito (1914-196?) era morador da Barão da Tôrre,
698; e, até 1938, foi a única ligação de Ipanema com Leblon. Quando era dia de
ressaca, o Leblon ficava isolado.
O dito bairro do Leblon só surgiria em princípios dos anos vinte, por intermédio da
“Empresa Industrial da Gávea”, dos engenheiros Adolfo José Del Vecchio, José Ludolf e
Miguel Braga. Só à partir de 1918 ganhou bondes e benefícios urbanos e pôde então
sediar belas casas na praia.
Diga-se a verdade, o Engenheiro Del Vecchio era o grande “remendão” das
praias da zona sul, haja vista que ele reconstruiu as avenidas Atlântica, Vieira Souto e
Delfim Moreira, após as três grandes ressacas que destruíram-nas em 1918, 1921 e
1923.
No ano de 1931, apenas doze bondes faziam a linha de Ipanema. Apesar de
serem menos veículos, eram mais eficientes, pois o número de viagens/dia continuou
sendo 235, o tempo entre as composições continuou a ser dez minutos, e o número de
passageiros aumentou, já que os novos bondes eram maiores e mais rápidos.
Nos anos 30, a “Light” fez uma casa de força para o serviço dos bondes elétricos,
na Teixeira de Melo, 57. Graças à isso, em 1938, fez-se a conexão da linha dos bondes
elétricos do Leblon com os da Gávea. Eram então quatro linhas de bondes passando
pelo bairro.
À partir de 1909, foi arrendada por contrato parte da “Companhia Ferro Carril
Jardim Botânico” à “Light”, entretanto, continuou como companhia independente até
1946, quando foi incorporada definitivamente e passou a pertencer à “Light”. Depois da
2a. Guerra, em 1950, desinteressou-se a “Light” pelos bondes, já que a legislação da
época dificultava a importação de peças. Ao mesmo tempo, a “Light” estava investindo
em ônibus à diesel, considerado o transporte coletivo mais eficiente naquele momento.
Com a criação do “Estado da Guanabara” em 1960, iniciou o governo estadual guerra à
“Light”, pois era objetivo político a “estadualização” dos transportes coletivos. Em 1962 o
Governador Carlos Lacerda (1914-1976) extinguiu os bondes de Ipanema, tomando os
motorneiros “porre” de despedida no “Bar Zeppelim”.
ÔNIBUS PARA A ZONA SUL
A primeira linha de ônibus para a Zona Sul da cidade surgiu em 1908, por
iniciativa de Octávio da Rocha Miranda, com ônibus saindo do Centro para a Urca. Sua
intenção era levar uma linha para Ipanema, mas a “Companhia Jardim Botânico” fez
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muita oposição. Só depois que a “Light” encampou a Companhia em 1916 é que
surgiram as primeiras linhas de ônibus para Copacabana.
A linha de ônibus para Ipanema surgiu em 1923, ligando o Centro à Ipanema e
Leblon. A iniciativa coube ao português Manoel Lopes Ferreira (1873-1931), que criou
uma companhia para tal finalidade. Posteriormente, a própria “Light” criaria sua empresa
de ônibus, a “Excelsior”, com várias linhas para Copacabana, Ipanema e Leblon.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a crise de combustíveis fez com que diminuísse
muito o número de ônibus em circulação, deixando o maior encargo dos transportes
para os bondes, que não davam conta do recado.
Em conseqüência disso, surgiram os “lotações”, veículos “piratas” que
transportavam passageiros. O mais famoso, e que fazia a linha de Ipanema foi o célere
“Lagosta”, que era um carro de passeio adaptado, expandido com outra carroceria para
receber até doze passageiros. Era todo pintado de abóbora, daí o apelido. Eu ainda
cheguei a vê-lo, estacionado no Humaitá, em meados de 1960, ainda com a cor original.
Funcionava então como veículo turístico. Foi o antepassado das nossas “vans”.
PRIMEIROS MORADORES DE IPANEMA
Foram os primeiros moradores de Ipanema alguns dos homens mais importantes
do Brasil naquela época.
Um foi o Senador João Leopoldo de Modesto Leal, Conde de Modesto Leal pela
Santa Sé (1860?-1936), e que tendo começado na vida como vendedor de sucatas,
chegou a ser o homem mais rico da “República Velha”. Basta dizer que ele era o maior
contribuinte do Imposto Predial da Capital da República, de 1902 a 1918. Era também
Diretor da “Companhia Jardim Botânico” e grande acionista de outras empresas de
bonde. Foi um dos fundadores do “Clube de Engenharia” em 1884. Foi dos primeiros
“aventureiros” de Ipanema. Além dessa morada, possuía imensa chácara de veraneio
em Paquetá, na “Praia Grossa”, comprada em 1930 de Henrique Lage, bem como trinta
fazendas de café no “Vale do Paraíba”. Dizia-se que podia ir do Rio às Minas Gerais só
percorrendo suas terras. Depois mudou-se para Laranjeiras, onde até hoje existe seu
imenso palacete.
Outro foi o banqueiro e Comendador José de Chaves Faria (1848-1915), que
gostava de praia, pois foi também o primeiro morador do bairro do Leme. Chaves Faria
era igualmente grande acionista da “Companhia Jardim Botânico”, e vereador,
conseguindo que a Câmara aprovasse rapidamente o projeto de loteamento da “Villa
Ipanema”. Não é de hoje que vereadores legislam em causa própria...;
Também montaram casa em Ipanema a Família Barreiros Vianna; a família do
advogado e Senador Antônio Ferreira Vianna (1840?-1903), que foi Presidente da
Câmara de Vereadores em 1869/73, e Ministro da Justiça em 1888/89, e do Império em
1889. Ferreira Viana foi de 1896 a 1903 advogado da “Companhia Jardim Botânico”.
Outro pioneiro foi o médico oftalmologista Dr. José Cardoso de Moura
Brasil(1845-1928), grande benfeitor do “Liceu de Artes e Ofícios” e pioneiro da
oftalmologia no Brasil.
Um dos mais lindos palacetes ecléticos da “rua 20” era o do Sr. Antônio Van
Erven, vulgo “Libra Esterlina”, projetado pelo arquiteto espanhol Adolfo Morales de Los
Rios.
Um irmão de Antônio, Luís Van Erven, era “Diretor Geral de Obras e Viação da
Prefeitura”, Prefeito do Rio de Janeiro em 1898 e Diretor do “Clube de Engenharia”, e
um de seus fundadores em 1884. Ele muito facilitou a edificação de novos prédios em
Ipanema.
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Contudo, foi o Cônsul Geral da Suécia, Dr. Johan Edward Jansson quem ergueu
em 1904 a mais pitoresca residência no Arpoador, batizada de “Castelinho”, que ficava
na esquina de Vieira Souto com Rainha Elizabeth, onde existia a famosa casa que era,
efetivamente, um castelo neo-mourisco com sua famosa torre panorâmica. Anos depois
o castelinho foi vendido à Família Catão, sendo tal a permanência desse nome, que em
1966, muitos anos depois de demolida a residência dos Catão, perto dela surgiu o bar
“Castelinho”, na Av. Vieira Souto no. 100, de grande fama e ponto de encontro da
juventude, demolido em fins dos anos 70.
AS PRIMEIRAS CASAS COMERCIAIS DE IPANEMA
Ao lado, na confluência da Praia de Ipanema com Rainha Elizabeth, no
quarteirão chamado “ferro de engomar”, surgiu o bar “Mau Cheiro”, freqüentado por
motoristas de ônibus e motorneiros. Tinha esse nome porque os pescadores limpavam o
peixe na porta. Tornou-se depois a boite “Barril 1800”, na Av. Vieira Souto no. 104,
depois 110.
Até 1896 só existiam algumas vendas em Copacabana. Nenhum açougue ou
padaria existia em Copacabana e Ipanema, forçando os moradores a se abastecerem
em Botafogo. Uma das casas comerciais pioneiras foi a “Padaria e Confeitaria
Ipanema”, fundada em c.1896 na “rua 20”, depois Visconde de Pirajá, 325; e que
chegou aos cem anos. Ao lado, no 321, surgiu anos depois famoso botequim, onde
sempre corria uma saudável “porrada” entre os valentões da Zona Sul, origem depois do
pacato restaurante “Chaika”, ainda no mesmo endereço. O Bar “Bofetada”, na rua
Farme de Amoedo no. 87, considerado hoje um dos melhores do Rio, surgiu em 1934
com o nome de “Nova Lisboa”.
Segundo a abalizada opinião do ipanemense, o Senador Arthur da Távola, nos
anos 50 os melhores pastéis, empadas e sonhos de Ipanema eram os da “Confeitaria
Pirajá”, fundada nos anos 30, e da “Padaria Brasil”, ambas na Visconde de Pirajá,
respectivamente nos. 152-A e 162. Já a primeira casa noturna de Ipanema custou a
aparecer, surgida nos idos de 1960. Foi a extinta Boite “Y-Panema”, que era na Garcia
D`Ávila, 85.
BANHOS DE MAR
Em 1900/1910 ninguém de família ia à praia tomar banho, que era lugar de
despejo, ou então local de tratamento de doentes por hidroterapia(o que seria hoje a
hidroginástica). O hábito de banhos de mar só toma vulto por volta de 1910, por
influência dos hábitos franceses congêneres na “Côte D`Azur”. Prefeitos os mais
diversos tentaram nas décadas de 10 e 20 normalizar os banhos de mar, estabelecendo
horários para os mesmos, tanto no inverno quanto no verão, com severas disposições
quanto aos trajes, particularmente os femininos.
A mais famosa legislação foi a do Prefeito Álvaro Al vim em 1917. O horário dos
banhos era limitado. De 01 de abril a 30 de novembro era das 06:00h às 09:00h, e das
16:00 às 18:00. De 01 de dezembro a 31 de março, era das 05:00h às 08:00h, e das
17:00h às 19:00h. Nos domingos e feriados havia uma tolerância de 01:00h a mais. Era
exigido dos banhistas um vestuário apropriado e necessária decência. Eram igualmente
proibidos ruídos e vozerio. A multa por infringir tais posturas era de 20$000 réis ou 05
dias de prisão.
Nada disso adiantou. A praia demoliu essas pretensões, firmando-se como
território livre, característica que nem o Regime Militar conseguiu restringir. A praia era o
território sem barreiras do Rio, onde não existiam diferenças sociais e todos andavam
quase despidos.
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Nos anos 70, o banho de mar havia se tornado tal especialidade dos
ipanemenses que, em 1970, surge nas praias de Ipanema a famosa “Tanga”, inspirada
no vestuário sumário das índias brasileiras. As primeiras a usar foram as atrizes Leila
Diniz e Tânia Scher, numa peça intitulada “Tem Banana na Banda”, estreada em janeiro
no teatro “Poeira”.
CLUBES E VIDA SOCIAL EM IPANEMA
Se o banho de mar, de início não teve muita fama, Ipanema sempre possuiu vida
social agitada.
Em 1916, um grupo de ingleses e americanos, a maior parte deles funcionários
da “Light” e da “Botanical Garden” fundaram na Prudente de Morais no. 1597 o “The Rio
de Janeiro Country Club”, o mais fechado do Rio, no dizer de Ibrahim Sued. Aliás, o
próprio Ibrahim foi barrado como sócio, bem como JK e uma nora de Roberto Marinho.
Entretanto, o Príncipe de Gales, quando visitou o Rio de Janeiro em 1929, não deixou
de conhecê-lo. E seu comportamento no clube não foi nada exemplar. O futuro Rei
Eduardo VIII apaixonou-se de tal forma por uma senhora da sociedade brasileira, jovem
e desquitada, que a convidou para acompanhá-lo à Inglaterra. A jovem se negou(era
Da. Leda de Almeida, mãe do futuro colunista Jacinto de Thormes). Chateado, o
príncipe tomou um “porre” majestático no “Country” e jogou-se, todo vestido, na piscina
do clube. Seu segurança o rescaldou incólume. Anos depois, o já Rei Eduardo VIII
renunciou ao trono para casar-se com a divorciada americana Lady Simpson, com quem
vi veu seu grande amor até a morte.
Somente em 1938 surgiria um segundo clube no bairro, o “Lagoa”, na
Nascimento Silva. Nesse ano surgiu na Visconde de Pirajá, 172 o “Velo Sportivo
Helênico”, dedicado ao ciclismo.
Por sua vez, nas areias de Ipanema ocorreu o mais famoso duelo da belle
époque, travado em 1903 pelo General e Senador gaúcho José Gomes Pinheiro
Machado (1852-1915), contra o também gaúcho jornalista Edmundo Bittencourt (18661943), dono do jornal “Correio da Manhã”, e que injuriara Pinheiro Machado em suas
páginas. Venceu Pinheiro, tendo sido ferido o jornalista por um tiro de pistola, sem maior
gravidade. Pinheiro, aliás, seria homenageado em 1931 com um grande monumento em
bronze na Praça N. Sra. da Paz, obra do artista Hildegardo Leão Veloso (1899-1966).
IGREJ A MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA PAZ - IPANEMA
A Igreja de Nossa Senhora da Paz foi construída em 1918/21, com projeto do
engenheiro e arquiteto Gastão da Cunha Bahiana (1874-1959), em estilo neo-bizantino.
A iniciativa partiu do vigário de Copacabana, Monsenhor Cônego Joaquim Soares de
Oliveira Al vim, que obteve o dinheiro com a venda por oitenta contos de réis da Igreja de
Nossa Senhora de Copacabana, no Promontório da Igrejinha ao Exército, para nele
ampliar as instalações do “Forte de Copacabana”. O Cônego destinou 5$000 réis para
construir um altar na Igreja Matriz do Bonfim, na Praça Serzedelo Correia, destinando o
restante 75$000 para o novo templete católico de Ipanema.
O novo templo foi elevado à Matriz da Paróquia de Ipanema em 1920, sendo sua
administração confiada aos frades franciscanos, que ergueram bonito convento e escola
ao lado. Em 1930 os frades pintaram o interior do templo, com pinturas murais ingênuas,
o que fez o arquiteto Gastão Bahiana furioso, tendo exigido da mitra sua caiação. Foram
restauradas em 1999.
O convento, ao lado, foi demolido em 1953 para alí surgir o “Cine Pax”, bonito
prédio art-déco. Em 1979 demoliram o velho “Pax” e em seu lugar subiu um shopping
center, o “Fórum de Ipanema”.
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A igreja, por sua vez, foi a primeira na América do Sul a ter ar condicionado, isso
ainda em 1958, por iniciativa do Padre Marcos. Quando foi criticado pelos que se
opunham à novidade, sob alegação que ar condicionado era coisa de boite, e que
atrairiam desocupados para as missas, Padre Marcos, furibundo, fez célere sermão que
terminava: “...quem gosta de lugar quente é o Diabo no Inferno!”
A Praça de Nossa Senhora da Paz, antiga “Praça Coronel Henrique Valladares”,
ex-prefeito e amigo do Barão de Ipanema, foi a primeira do Brasil a ganhar iluminação
em vapor de mercúrio, ainda em 1966.
CINEMAS E TEATROS EM IPANEMA
Entretanto, foi na Praça General Osório onde se instalou o primeiro e por anos o
único cinema do bairro, o “Cine Ipanema”, inaugurado em 1936 na Visconde de Pirajá
no. 86. Era um prédio art-déco, com 1.808 lugares, projetado por Raphael Galvão (18941964), demolido nos anos 80. Dois anos depois surgiu o “Pirajá”, no 303 da mesma rua,
com 1.629 lugares. Nos anos 40 surgiu o “Astória”, na Visconde de Pirajá, 595;
posteriormente convertido em 1959 no estúdio da “TV Excelsior, Canal 2”. A Visconde
ganharia mais dois cinemas: o “Pax”, no 351, em 1953, que durou até 1979. Nos idos de
1960 viria o “Roma-Bruni”, no 371. O Leblon teve dois cinemas: Leblon e Miramar”, e
por muitos anos foram os únicos.
ARQUITETURA MODERNA EM IPANEMA
A primeira casa em arquitetura moderna do bairro foi uma residência erguida em
1935 pelos arquitetos Affonso Eduardo Reidy (1908-1964) e Gérson Pompeu Pinheiro.
Logo depois surgiu em 1936 uma casa moderna projetada por Adalberto Szilard.
Nenhuma das duas hoje sobrevivem. O primeiro prédio com mais de dois andares foi o
“Edifício Issa”, erguido em 1935 na Visconde de Pirajá. Já o primeiro arranha-céu de
Ipanema foi o feio “Edifício Aquino”, prédio art-déco de oito andares, construído em
1935 perto do canal. Ambos não mais existem.
A arquitetura moderna de Ipanema é de uma monotonia não condizente com o
bairro. Dos muitos prédios modernos, merecem distinção os edifícios “Estrela de
Ipanema”, erguido em 1967 na Prudente de Morais, 765, obra do arquiteto carioca Paulo
Hamilton Casé (1931); e o “Atlântica Boavista”, erguido em 1978 na Prudente de Morais,
630, esquina de Vinícius, obra dos arquitetos Luiz Paulo Fernandez Conde (1934),
depois Prefeito do Rio de Janeiro; e Mauro Neves Nogueira.
Em 1969, por decreto do Governador Negrão de Lima, o gabarito da orla pulou de
seis para onze andares. Resultado: em 1980 a população saltara para 65.000
moradores, sessenta e cinco vezes mais que 1906!
A primeira grande escola foi o “Colégio São Paulo”, fundado em 1922 na Vieira
Souto. Depois surgiu o “Notre Dame”, fundado em 1933 numa casa e desde 1939 em
sede própria, na Barão da Tôrre, 308. Ano seguinte, em 1934, surgia o “Colégio Rio de
Janeiro”, na Nascimento Silva, 556. Em 1938 surgia a “Escola Brasileira”, hoje “Colégio
Brasileiro de Almeida”.
A garotada não tinha do que reclamar, pois em 1938 surgia a primeira sorveteria
no bairro, a “Mercearia Moraes”, depois “Sorveteria Moraes”, com os imbatíveis sorvetes
de Da. Maria de Moraes.
Já as meninas não precisavam ficar sem flores. A “Rainha das Flores”, foi
inaugurada em 1938 na Visconde de Pirajá, 124. Também tinham onde se aprontar,
pois em 38 surgiu na Visconde no. 106-A, a “Casa Dalva”, cabeleireiro e manicure.
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Sem cartas ou notícias não ficariam, pois desde 1920 funcionava na Visconde de
Pirajá, 296(depois p/ 111, loja 3) uma agência postal/ telefônica. Nos idos de 1930 a
central telefônica passou para a Visconde de Pirajá, 54.
Da parte relativa à saúde, o primeiro consultório pediátrico foi o do Dr. Massilon
Sabóia, na av. Vieira Souto, 680. Nos anos quarenta, foi montado um consultório
dentário no convento franciscano da Praça N. Sra. da Paz para atendimento de pessoas
carentes, iniciativa de Da. Rosa de Assis.
Já a primeira sociedade beneficente antecede essas de muitos anos. Em 1907 foi
fundada na “Rua 28 de Agosto”, no. 85(atual Barão da Tôrre), a “Sociedade Espírita
Beneficente Santo Antônio de Lisboa”, com 37 associados em 1912 e atendendo, na
mesma época, 1400 necessitados.
POLÍTICA NO BAIRRO PRAIANO
Aliás, foi na rua Barão da Tôrre, no. 636, que se instalou em apartamento
alugado o refúgio e quartel general do líder comunista Luís Carlos Prestes. Dali ele
comandou o movimento de 27 de novembro de 1935, a famosa “Intentona Comunista”,
cujo centro foi o quartel do 3o. Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha. Quem diria,
uma “revolução comunista” com sede em Ipanema...
Por sua vez, na rua Paul Redfern, 33, era o refúgio de outro líder comunista, o
jornalista alemão Harry Berger, que dali saiu preso no mesmo ano de 1935, acusado de
ser um dos cabeças da Intentona de 27 de novembro, morrendo de câncer ósseo na
prisão.
CULTURA NOS BARES DE IPANEMA
Ipanema sempre foi um grande ponto de reunião de intelectuais, não tendo rival
na zona sul à exceção do bairro da Lapa, este quase no Centro.
O “Bar Jangadeiros”, fundado em 1935 na Visconde de Pirajá, 80 com o nome de
“Café Rhenânia”, e rebatizado depois da declaração de guerra à Alemanha, sendo
transferido já com o nome atual para rua Teixeira de Melo, 20(ainda existe, todo
modificado) era, nos anos 50, ponto de encontro dos jornalistas da “Revista Manchete”.
Seus membros eram conhecidos como o “Bando de Ipanema”: Rubem Braga, capixaba,
jornalista e cronista (1913-198?), Fernando Sabino, mineiro, idem (1923-198?), morava
na rua Canning; Paulo Mendes Campos, idem, idem (1902-198?); Elsie Lessa, cronista
e colunista; aos quais juntavam-se o carioca Gláucio Gil, ator(1932-1965); Eneida de
Moraes, paraense, jornalista(1900-1969), morava no Leme; Aldary Henriques Toledo,
carioca, arquiteto (1915-1994), morava em Copacabana; Carlos de Aze vedo Leão,
carioca, arquiteto e desenhista(1906-1983), morava na Nascimento Silva, 66; Carlos
Thiré e seu filho Cécil (seu nome verdadeiro era Carlos Aldary Thiré, ator), Millôr
Fernandes, carioca, jornalista (1924), Vinícius de Moraes, carioca, poeta, diplomata e
compositor (1913-1983), morava na Frederico Eyer, na Gávea; o futuro arquiteto Paulo
Hamilton Casé (1931), morava em Copacabana e hoje na Lagoa; Hugo Bidet, chargista;
Caio Mourão, idem; Samuel Wainer, jornalista, etc.
Em fins dos anos 50, era o “Bar Jangadeiros” que possuía a maior serpentina de
chope do Rio, o que tornava-o ponto da boemia na Zona Sul.
O bar era o único do mundo a ter um coelho como mascote, que aparecia
incidentalmente perambulando entre os freqüentadores. Algumas vezes, um ou outro
freguês não habitual berrava de susto por achar que estava com “delirium tremens” pois,
por causa da bebida, achava que estava até vendo coelho andando no bar... . Uma
dessas vítimas foi o jornalista mineiro Alberto Deodato, que depois de vê-lo saiu às
pressas do balcão e foi para seu hotel tomar banho de água fria na banheira, berrando a
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todos que estava enlouquecendo, que havia visto um coelho balançando o focinho,
achando que estava com alucinações.
Ficou famosa a história ocorrida em c.1964, da bonita mocinha que bebeu
demais, viu o coelho e quase desmaiou. Atendida pelos fregueses, que a avisaram ser o
coelho não uma alucinação e sim a mascote do dono, ela respondeu nervosamente
perguntando “que mascote era aquela, que convidara-a para uma noitada?” .
A musa do “Bando de Ipanema” era a jovem atriz Maria Antonieta Porto Carrero
(1922), mais conhecida como “Mariinha”, para os íntimos, e como Tônia Carrero, para o
teatro. Pouca gente sabe, mas Tônia foi, portanto, das primeiras “musas de Ipanema”,
antecedendo em vinte anos a Helô Pinheiro e outras.
Entretanto, se quisermos ser corretos com a história, a primeira “Miss” de
Ipanema foi a Srta. Orminda Ovalle, finalista do concurso de beleza feminina brasileiro
em 1922/23 (perdeu o primeiro lugar para uma paulista, Zezé de Leone). Bem antes
disso, arrebatava corações ipanemenses nos idos de 1910 a Srta. Laura Barros Moreira,
neta do Barão de Ipanema, e que por um tempo namorou o futuro industrial Raymundo
Ottoni de Castro Maia, dono da “Empresa Coqueiro”(1894-1968).
POETAS E CANTORES DAS GAROTAS
Se a Bossa Nova surgiu pelo violão de João Gilberto em 1958 na vizinha
Copacabana, no prédio do “Snack Bar”, no “Posto Seis”; será em Ipanema onde
ganhará foros de maioridade. Encontravam-se com freqüência no bairro, ora no
“Jangadeiros”, ora no “Zeppelim”, fundado em 1937 na Visconde de Pirajá, 499, pelo
velho Moraes, boteco feio e sujo, até ser comprado por Ricardo Amaral em 1969 e
reformado com gosto; ora no “Lagoa” (ex-“Berlin”), fundado em 1934, na Epitácio
Pessoa, no. 1674, rebatizado em 1944; mas, principalmente, no “Veloso”, hoje “Garota
de Ipanema” fundado em 1945 com o nome de “Bar e Mercearia Montenegro”, na ex-rua
Montenegro e hoje Vinícius de Moraes no. 49A; o grupo denominado “Bossa Nova de
Ipanema”. Formado quase todos por moradores da Gávea: Vinícius de Moraes, já
citado; João Roberto Kelly, carioca (1938); Roberto Menescal, capixaba (1937); Antônio
Carlos Jobin (1927-1994), nasceu na Tijuca, mas morou a vida toda na Nascimento
Silva; Carlos Lyra, carioca (1933); Joaquim Pedro de Andrade, carioca (1932), que não
era compositor, mas cineasta. Entretanto, era figura obrigatória no grupo; o arquiteto
Sabino Barroso (1934); etc. O baiano João Gilberto (1931) não morava na Gávea, mas
na “fronteira” de Ipanema, ou seja, no “Jardim de Alah”, para o lado do Leblon; e outros
mais.
Do grupo dos cantores ipanemenses, além dos acima citados, deve-se destacar a
“Divina” Elizeth Cardoso, carioca (1918-1988), que durante uma época namorou JK..., e
que morava na Nascimento Silva 107, no mesmo prédio de Tom Jobin; e a baiana Gal
Costa, em princípio de carreira. O Tropicalismo na música, surgido em 1966, encontrou
guarita em Ipanema. Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso e Gal Costa
reuniam-se no “Bar Lagoa”. Gal chegou a batizar uma duna de Ipanema com seu nome,
onde a juventude dos anos 70 fumava maconha.
A duna, vizinha à outra, a do “barato”, paraíso dos “chincheiros”, era próxima ao
velho píer do emissário submarino, o píer foi erguido em 1969 e desmontado em 1974.
Era feio, mas era um “point”.
A REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DE IPANEMA
A “República de Ipanema” era realmente habitada por figurões importantes da
política nacional dos anos 50 e 60: Almirante Carlos Pena Bôto, carioca, Ministro da
Marinha (1892-196?); Filinto Strübling Müller, Senador da ARENA, falecido em 1972;
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Marechal Henrique Duffles Teixeira Lott, carioca, Ministro da Guerra de Juscelino,
morava na Vieira Souto, (1894- 1994); O próprio mineiro Juscelino Kubitschek (19021976), morava no Arpoador, depois mudou-se para uma cobertura na av. Atlântica, em
Copacabana, Presidente da República em 1956/1960; Hélio de Almeida, ministro;
Marechal Eurico Gaspar Dutra, mato-grossense (1885-1980), Presidente da República
em 1946/51; Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, cearense (1900-1967),
Presidente da República em 1964/67, morava na Nascimento Silva, donde saiu em 1964
para Brasília; e outros.
ATORES, CINEASTAS E TEATRÓLOGOS DE IPANEMA
A “Hollywood de Ipanema” era formada pelos cineastas Gláuber Rocha, baiano
(1939-1981); Walter Lima Júnior, niteroiense (1938); Paulo César Sarraceni, carioca
(1933),por sinal, um dos fundadores da “Banda de Ipanema”; Maurício Gomes Leitão;
Suzana de Moraes, filha de Vinícius; o já citado Joaquim Pedro de Andrade, dentre
outros.
Muita gente de televisão e teatro freqüentava ou morava em Ipanema. Alguns já
foram citados, como Tônia Carrero e seu filho Cécil Thiré; Paulo Autran, carioca (1922),
que morava na Joaquim Nabuco; o cearense José Wilker, que morava num prédio
antigo; Gláucio Gil, que abriu no bairro seu primeiro teatro, o “Gláucio Gil”, na Visconde
de Pirajá; Aurimar Rocha, grande animador do bairro; e Maria Clara Machado, mineira
(1921), a pioneira do teatro infantil no Brasil. Além de, é claro, Leila Diniz, atri z (19501972), que inspirou uma música e comportamento de toda uma geração até sua morte
em 1972. O grupo teatral “Asdrúbal Trouxe o Trombone”, foi outra criação ipanemense
dos anos 70. Outra atriz, essa mais de comédias, foi a americana naturalizada Kate
Lyra, e x-esposa de Carlos Lyra.
Teatros não faltaram em Ipanema. Além do já citado “Gláucio Gil”, que depois
mudou-se para a Praça Cardeal Arcoverde, s/no, em Copacabana; surgira antes, na
Visconde de Pirajá, 22 o “Teatro Santa Rosa”, do “Grupo Bloch”, onde, nos anos setenta
instalou-se a “Discoteca New York City”, de efêmera existência; o “Teatro da Praça”, na
General Osório; o “Teatro de Bôlso”, fundado pelo carioca Silveira Sampaio (19141964), na Jangadeiros, 28-A, e que depois mudou-se nos anos 70 para a Av. Ataulfo de
Paiva, 269, Leblon; antes já mudara seu nome para “Cine Teatro Poeira”, já citado.
ARTES PLÁSTICAS E MUSEUS EM IPANEMA
As artes plásticas em Ipanema formam um “primo pobre do bairro”, que por
muitos anos não possuiu museu algum ou centro cultural. Entretanto, tudo mudou
quando em princípios de 1960 surgiu a primeira galeria de arte, a “Petite Galerie”, na
Praça General Osório, 53. O acêrvo, que, por ser uma loja variava muito, nem por isso
deixava de ser de primeira. Lá podiam se ver obras de Alfredo Volpi, o concretista ítalobrasileiro, pintor das bandeirinhas (1896-1977); Emiliano Di Cavalcanti, o carioca pintor
de coloridas mulatas (1897-1976); Franz Krajberg, polonês, pintor, gravador e escultor
(1921); Genaro de Carvalho, o baiano dos tapetes (1926); Glauco Rodrigues, gaúcho,
pintor e gravador hiper-realista(1929); Alberto da Veiga Guignard, fluminense, pintor
colorista (1896-1962); Marcelo Grassmann, paulista, pintor e gravador surrealista (19251974); Maria Leontina, paulista, pintora (1917-198?); Milton Dacosta, fluminense, pintor
e gravador cubista (1915-198?); Ruben Valentim, baiano, pintor e escultor (1922); Hélio
Oitica, carioca, pintor e escultor neo-concretista (1937-1981); e outros.
Nos anos 80 foram inaugurados três museus em Ipanema. Um, na Vieira Souto,
176, é a “Casa de Cultura Laura Alvim”, fundada em lembrança à sua instituidora, a
“locomotiva social” Laura Alvim, filha e neta de artistas (era neta do famoso chargista do
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Império, Ângelo Agostini), e que transformou sua residência em ponto de encontros de
intelectuais nos anos vinte, numa época em que eram raros os museus e centros de
cultura no Rio. Outro museu foi o da “H. Stern Joalheiros”, em na Visconde de Pirajá,
490, dedicado às pedras preciosas e à joalheria, foi fundado por seu mantenedor, Dr.
Hans Stern, considerado por muitos o maior joalheiro do mundo. Ao lado, surgiu o
terceiro, o “Museu de Minerais e Jóias da Amsterdam Sauer”, fundado para dar apoio à
loja de jóias, como o anterior.
Dentre os artistas ditos “menores”, não podemos esquecer os caricaturistas e
chargistas de um porte como: Borjalo Lopes, mineiro (1925); Ziraldo Alves Pinto, mineiro
(1932); Jaguar, carioca (1932); que depois abandonou Ipanema pelo Leblon, alegando
terem acabado os bares de lá; Millôr Fernandes, carioca, morador do Méier (1924);
Hugo Bidet, chargista, já citado; dentre outros. Eram responsáveis pela crítica social nos
pesados “Anos de Chumbo” (1964-1985). Leila Diniz, que já foi citada acima, não era
chargista, mas atriz. Entretanto foi, com seu comportamento, uma das maiores
contestadoras da sociedade burguesa, sendo eleita a primeira “Musa de Ipanema”.
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS URBANAS EM IPANEMA
imagem completamente oposta à de Leila Diniz era a da socialite Beki Klabin,
dona da cobertura de um milhão de cruzeiros, a mais cara na Vieira Souto dos anos 70,
mas que, por sua vez, foi a primeira figura da sociedade a desfilar fantasiada numa
escola de samba, a Portela, em 1969, lançando moda que pegou. Beki mudou-se
depois para o “Largo do Boticário”, no Cosme Velho, onde teve tempestuoso romance
com o cirurgião plástico Hosmany Ramos.
Outro pólo cultural do bairro foi a “esquerda festiva”, com sua “sede própria” no
“Bar Zeppelim”, onde nasceu a idéia do mais corrosivo jornal da década, “O Pasquim”,
fundado em 1968 e extinto em 1980. Criação de Ziraldo (Ziraldo Alves Pinto, “...o que
nunca brochou!”); Jaguar (pseudônimo de Hélio Jaguaribe, funcionário do Banco do
Brasil “...intelectual não vai à praia, intelectual bebe!”); Millôr (Millôr Fernandes, “...o
melhor humorista do Méier!”); e, acredite se quiser, Paulo Francis (em verdade, seu
nome era Franz Paulo Tranin Heilborn, jornalista da Manchete e Diário de Notícias
...“Waal!”)! O Pasquim era a crítica social da época do Regime Militar.
Outra importante manifestação cultural foi a “Banda de Ipanema”, a qual, por
incrível que pareça, foi fundada em Ubá, Minas Gerais em 1957, por Ferdy Carneiro,
Albino Pinheiro (falecido em 1999), Paulo César Sarraceni e outros. Radicou-se cinco
anos depois definitivamente em Ipanema e ainda hoje firme, é um dos símbolos do
bairro. Alguns integrantes da Banda de Ipanema começaram a vender produtos
artesanais em 1962, na Praça General Osório, origem da feira “Hippie”, legalizada pelo
Governador Francisco Negrão de Lima (n. 1901) em 1969.
Em 1985 surgiu o primeiro bloco carnavalesco de Ipanema, o “Simpatia é quase
Amor”, cuja sede fica no Arpoador.
Outro artesão, o arquiteto e designer carioca Sérgio Rodrigues (1927-1997);
lançou em 1958 em Ipanema, na sua “Galeria Oca”, na Jangadeiros, 14-C; a famosa
“poltrona mole”, peça primorosa de designer mobiliário que arrebatou todos os prêmios
do setor, no Brasil e no exterior.
A moda brasileira será revolucionada por uma estilista ipanemense, Marília Valls
(1930-1997), com sua loja “Blu-Blu”, numa casa pequena da rua Montenegro, fundada
em 1972. Marília, que residia na Prudente de Morais, foi uma das melhores estilistas do
Brasil. Depois surgiram a “Jo and Co”; a “Glorinha Pires Rebêlo”; a “Gregório Faganello”,
na Barão da Tôrre, 422; bem como a lendária “Company”, fundada por Mauro
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Taubmann(já falecido) na Garcia D`Ávila, 56. A “Company” foi a primeira griffe a
patrocinar desportistas no Brasil, moda que, felizmente, pegou.
ESPORTES EM IPANEMA
Falando em esportes, o surf surgiu na “Praia do Arpoador”, nos princípios de
1964. Depois mudou-se para a “Praia do Diabo” e “Macumba”. Seu primeiro campeão
internacional foi o célebre “Rico”. O “Body Boarding” também teve origem idêntica,
chamada naqueles anos inocentemente de “jacaré”. Em 1989 foram tombadas pela
prefeitura as pedras e praia do Arpoador, sendo dotadas de possante iluminação,
possibilitando a prática do surf noturno.
Por sua vez, Millôr Fernandes e seu irmão Hélio inventariam em 1958 igualmente
na Praia do Arpoador um esporte original, o “Frescobol”, única modalidade desportiva no
mundo sem vencedores ou vencidos.
POETAS(MAIS SÉRIOS) DE IPANEMA
Jorge Murad, foi, por muitos anos, o maior poeta de Ipanema, mas perdeu feio o
posto para o “gaviano” Vinícius de Moraes, que eternizou o bairro e suas mulheres na
poesia e na música. Dentre suas musas, sobressaiu-se Helô Pinheiro, que inspirou a
cançoneta “Garota de Ipanema”, literalmente um hino extra-oficial do bairro(e da
cidade). O mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) morava na fronteira de
Copacabana com Ipanema, ou seja, no meio da Rainha Elizabeth, na pracinha Rei
Alberto. O poeta maranhense neo-concretista Ferreira Gullar(1930) era outro morador
da Praça General Osório. Gullar, que trabalhava como jornalista no Centro, lembra com
saudades do velho ônibus “Gosório”. Em verdade, o título na tabuleta do teto do veículo
era G. Osório, mas grafados de maneira tão junta que logo originou o neologismo para
os coletivos que iam do Centro para Zona Sul. Esses ônibus, que circularam nos anos
50/60, também eram alcunhados de “Camões”, por possuírem somente cabine
proeminente na parte do motorista, dando a impressão de veículos “caolhos”, daí a
associação com o poeta português. Outro que morava em Ipanema, era poeta, mas em
verdade ficou muito mais conhecido pela luta em prol da preservação do patrimônio
histórico nacional foi o mineiro Rodrigo Mello Franco de Andrade, Diretor do IPHAN por
trinta anos até 1967(1898-1969). Era morador da rua Nascimento Silva.
Uma das figuras populares mais conhecidas de Ipanema nos anos 60 foi o
“Chita”, apelido do mímico José Conceição(1925-198?), ex-combatente da FEB, tipo de
rua que imitava com graça a famosa macaca do Tarzan. Fez muito sucesso entre a
garotada da Praia do Arpoador.
JARDIM DE ALAH
O “Jardim de Alah”, possui, em verdade nome oficial. Aliás, três: Praças Grécia,
Paul Claudel e Saldanha da Gama. O apelido “Jardim de Alah” proveio do fato de que
quando inauguraram as obras executadas pelo Prefeito Dodsworth(1895-1977) no canal
da Lagoa, em 1938, fazia sucesso nos cinemas do Rio o filme “Jardim de Alah”, com
Marlene Dietrich.
Aliás, esse canal, outrora natural, entupia com freqüência por assoreamento. Até
1893 a União era responsável por sua manutenção. Em 1893, esse serviço passou para
a municipalidade, que o terceirizou em 1896 para a empresa “Companhia de
Melhoramentos da Lagoa e Botafogo”, que logo se mostrou ineficaz. Em consequência
disso, as enchentes e a mortandade de peixes infernizavam os bairros circundantes da
Lagoa. O canal só foi perenizado em 1920/22 pelo engenheiro Saturnino de Brito por
ordem do Prefeito Carlos Sampaio para manter limpa e salgada as águas da Lagoa
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Rodrigo de Freitas, comunicando-as com as do oceano. Só ganhou o famoso jardim,
desenhado pelo paisagista da Prefeitura David Xa vier de Azambuja durante a
administração do Prefeito Henrique Dodsworth, que almejava transformar o feio canal
em lugar romântico, com cais e gôndolas para os namorados passearem na Lagoa. Não
deu certo, mais os cais de atracação ainda estão lá esperando as tais gôndolas.
O único marinheiro que atracou no “Jardim de Alah” até hoje foi o Almirante
campista Luís Felipe de Saldanha da Gama(1846-1895), um dos líderes da Revolta da
Armada (1893/94), falecido na “Batalha de Campo Osório”. Seu monumento foi
inaugurado no jardim em 1946, obra do artista Antônio Caringi.
Alí perto da boca do canal, em 1922, surgiu uma ilha na Lagoa, ampliada com
aterro pelo engenheiro Saturnino de Brito, onde em 1930 foi fundado o “Prant Club”,
hoje rebatizado para “Clube Caiçaras”. Em 1966, o arquiteto Sérgio Bernardes projetou
uma grande marina para iates, a ser erguida na entrada do canal, na praia entre
Ipanema e Leblon. Não foi adiante, haja vista o reboliço que causaria no trânsito.
Em 1933 surgiu em frente ao Caiçaras enorme favela, a da “Praia do Pinto”, que
chegou a ter 7.142 moradores em 1950, mas foi removida em 1954 por iniciativa do
Bispo D. Hélder Câmara(1909-1999) para a “Cruzada São Sebastião”, um conjunto
habitacional erguido no princípio do Leblon, na antiga “Pedra do Baiano”, sob projeto de
Oscar Niemeyer(n. 1907). Onde era a favela pôde então ser feita a ligação entre as
Avenidas Epitácio Pessôa e Borges de Medeiros, e de ambas com Vieira Souto e Delfim
Moreira. Já no Leblon, nos terrenos recuperados se ergueram ainda nos anos cinqüenta
o “Clube Monte Líbano” e a “Associação Atlética do Banco do Brasil”.
BRIZOLÃO DE IPANEMA
No início da década de sessenta, um grupo de empresários lançou a idéia de um
grande estabelecimento hoteleiro em Ipanema, no morro do Cantagalo. Era o
“Panorama Pálace Hotel”, que teve até festa de inauguração em 1964, mas fracassando
o empreendimento, tornar-se-ía a ruína mais famosa do bairro por vinte anos, até ser
transformada num CIEP, pelo Governador Brizola. No ano do centenário do bairro,
existiam sete hotéis importantes em Ipanema, sendo dois de cinco estrelas, um de
quatro, e um três estrelas. Os outros eram de duas apenas.
ARPOADOR
A “Praça Garota de Ipanema”, com saídas para o Arpoador e a rua Francisco
Otaviano, foi feita em terras que foram do “Forte de Copacabana”, urbanizadas em
1978/80 pelo Prefeito Marcos Tito Tamoyo da Silva(morador do Leblon). Foi o último
grande espaço verde criado no bairro.
O Arpoador, por sua vez, teve, nos idos de 1937, uma piscina pública, inaugurada
pelo Prefeito Dodsworth(que inaugurou outra no Leblon, no princípio da av. Niemeyer),
as quais duraram pouco.
Afinal, quem é que iria a uma piscina em frente à Praia de Ipanema?...
Por sua vez, foi instalado no Arpoador em 1982 o “Circo Voador”, iniciativa
cultural de Perfeito Fortuna, que revelou muitos grupos de música jovem. Alí ficou cinco
anos até ser transferido para a rua dos Arcos.
Em 1924, as praias da Zona Sul ganharam postos de salvamento. Seis em
Copacabana, três em Ipanema e três no Leblon. Foram substituídos por outros mais
modernos em 1978, projetados por Sérgio Bernardes. Tais postos acabaram balizando a
praia e, até a construção de quiosques na orla em 1992, o povo marcava encontro na
areia pelos postos. O sete, no Arpoador, era o das famílias, surfistas e sambistas, da
turma do bloco “Simpatia é quase Amor”, etc. O no ve era do pessoal de vanguarda,
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intelectuais, artistas, maconheiros e também onde se lançava moda: biquíni fio dental
(1975); brincos para homens(1978); tanga de crochê(1979), e, até “topless”(1981), Moda
que voltou no verão de 2.000.
PARQUE GAROTA DE IPANEMA - PRAIA DO ARPOADOR
O parque, junto à Pedra do Arpoador, é tombado pelo Município. Seu nome é
homenagem a uma das mais famosas músicas de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Essa ligação com a música popular brasileira levou o local a se tornar ponto de
realização de shows musicais.
Com 28 mil e 270m2, o Parque Garota de Ipanema possui local com pistas de
skate e um mirante de onde se pode admirar a Praia do Arpoador, famosa por seus
surfistas e por ser o local de onde se vê o mais belo pôr-do-sol da cidade, as praias de
Ipanema, Leblon, o Morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea.
BARES ATUAIS DE IPANEMA
Apesar da crítica de Jaguar, afirmando terem acabado os bares de Ipanema, isso
não é lá bem verdade. Em 1994, no ano do centenário do bairro, dos restaurantes mais
badalados de toda a cidade, os dez mais freqüentados e na moda estavam em
Ipanema: “Casa da Feijoada”, na Prudente de Morais, 10. “Le Streghe”, na Prudente de
Morais, 129. “Satiricon”, na Barão da Tôrre, 192. “Grottamare”, na Gomes Carneiro, 132.
“Natural”, na Barão da Tôrre, 171. “Mediterrâneo”, na Prudente de Morais, 1810.
“Mariu`s”, na Francisco Otaviano, 96. “Churrascaria Porcão”, na Barão da Tôrre, 218.
“Lagoa Charlie`s”, na Maria Quitéria, 136. e “Mistura Fina”, na Garcia D`Ávila, 15. Dos
bares do Rio, seis dos mais famosos localizam-se no bairro: “Alberico”, na Vieira Souto,
236. “Barril 1800”, na Vieira Souto, 110. “Garota de Ipanema”, na Vinícius de Morais, 49A. “The Lord Jim Pub”, na Paul Redfern, 63. “Polis Sucos”, na Maria Quitéria, 70. E o
“Bofetada”, na Farme de Amoedo 87-A. Nem se inclui aí o já falado “Bar Lagoa”, hoje
monumento tombado pelo Município.
O “PIRULITO” DE IPANEMA
O Prefeito César Epitácio Maia iniciou em 1994 seu famoso projeto “Rio-Cidade”,
objetivando melhorar a qualidade de vida do pedestre carioca.
Particularmente, Ipanema foi beneficiada de muito pelas obras, ganhando mobiliário
urbano de primeiro mundo, monumentos e benefícios que precisava há mais de vinte
anos. Entretanto, nem tudo foi bem sucedido. O arquiteto Paulo Casé, morador da
Lagoa, mas ex-integrante do “Bando de Ipanema” , colocaria por obra e graça do
prefeito o monumento mais polêmico do bairro: o “pirulito” e, de quebra, um arco(expassarela), na Praça Alcazar de Toledo, arranjo até hoje muito questionado pela
população.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA SOBRE IPANEMA
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PRIMÓRDIOS DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS
Um mapa francês antigo indicava que até 1575, existiam cinco aldeias de índios
tamoios em volta da Lagoa. Elas já ocupavam essa região pelo menos desde o século
VI da Era Cristã. Uma era aldeia "Kariané", onde hoje está o bairro do Leblon, uma
outra, a "Jaboracyá", era na base do Corcovado e as outras três, "Pepim", "Earumyri" e
"Paná-Ucú", margeavam a Lagoa propriamente dita. Os índios tamoios chamavam a
Lagoa de "Piraguá" ("Água parada", em tupi), ou "Sacopenapan/ Socopenapan"
("Caminho onde andam as Socós"), que era uma avezinha pernalta, da família das
garças, a qual se alimentava de peixe podre, quando havia mortandade deles na Lagoa.
Os primeiros sesmeiros portugueses na região não quebraram esse equilíbrio
entre as aldeias, até porque, crê-se, não chegaram a ocupar com grandes culturas as
terras que receberam. O primeiro deles foi o Capitão de Infantaria Manuel de Brito
Pereira, Fidalgo da Casa D`El Rei, nascido em Beja (1542?-1602), e que participou da
fundação do Rio de Janeiro. Ele solicitou e obteve de Estácio de Sá a 25 de abril de
1566 uma sesmaria de 1000 braças de largo e 1500 de comprido no caminho "Aquém
da Gávea" (seria na atual Barra da Tijuca?). A 03 de dezembro de 1566, o vicentino
André de Leão (1540?-1610?), Vereador, obteve sesmaria de 200 braças ao longo do
mar e 500 braças para o sertão. Geralmente os historiadores estão de acordo que suas
terras correspondem à atual Gávea e Marquês de São Vicente. André, que era versado
na linguagem dos tamoios, obteve outra sesmaria da Câmara a 19 de janeiro de 1592,
acrescentando 300 braças às suas posses. A 25 de setembro de 1567, foi a vez do
fidalgo português Antônio Preto (1542?-1601), morador em São Vicente, obter seu
quinhão. Prêto recebeu 1000 braças de largo e 1500 braças para o sertão "Aquém da
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