XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
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RESGATANDO O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DOS BANGALÔS DO INÍCIO DO SÉCULO XX:
INFLUÊNCIA EUROPÉIA NO BRASIL
A. Fontana(1), K. Santos(2), G. Ghirardello(3)
Universidade Paulista (UNIP), Curso de Arquitetura e Urbanismo, Campus Bauru,
Rua Luiz Levorato 2-140, Chácaras Bauruenses, Rodovia Marechal Rondon Km 335, Bauru, SP, Brasil
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ÁREA TEMÁTICA: ESTUDOS, METODOLOGIAS E DIAGNÓSTICOS PARA A CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DO
PATRIMÔNIO CULTURAL. INOVAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS À DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
DO PATRIMÔNIO CULTURAL.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é estudar e revelar os exemplares
significativos da forma de morar na evolução arquitetônica
da cidade de Bauru (estado de São Paulo), identificados
pelos “bangalôs” edificados no momento de transição da
arquitetura marcada no início do século XX. Assim, serão
identificadas as diferentes tendências arquitetônicas
apontadas no percurso de possíveis caminhos para esta
forma de morar: o ecletismo, o art déco e o estilo missões.
Bauru, destacada dentre muitas cidades fundadas no
século XIX no interior paulista, manifesta-se como cidade
de passagem, de forasteiros, sem muito tradicionalismo e
raízes. Deste modo, a cidade não apresentava os típicos
palacetes do café do início do século XX, e sim
manifestações arquitetônicas que foram utilizadas
principalmente para mostrar progresso e estabilidade
econômica, numa cidade que se desenvolveu em função
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da ferrovia. Estes estilos incorporam à sua maneira os
debates teóricos e os avanços tecnológicos da época com
certa dose de autodidatismo, adotando uma atitude
pragmática, manifestações imbuídas de um espírito
modernizador a época e inseridas na transformação da
cidade.
Esta diversidade de linguagens expressa pelos bangalôs
resgata parte de um repertorio arquitetônico ainda
sobrevivente no cenário de Bauru e revela edificações que
reafirmam sua história urbana através das diferentes
linguagens da forma de morar.
Ao estabelecer um juízo sobre estes exemplares, pretendese revelar parte de uma produção histórica voltada para a
moradia e apresentar o estado de conservação deste
significativo patrimônio construído.
Deste modo, esta pesquisa acadêmica procura
primeiramente expor os diagnósticos obtidos para que haja
a valorização desse significativo patrimônio construído. Por
fim, ao propor a recuperação destes exemplares, é
revelado tanto a história da cidade, como os estilos
ecletismo, art déco e missões, representantes da forte
influência européia no Brasil, principalmente devido à
colonização que fora realizada pelos Portugueses.
PALAVRAS-CHAVE: Bangalô; Patrimônio; Ecletismo; Art
déco; Missões
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1. A ARQUITETURA DOS BANGALÔS
Este trabalho retrata um tipo de moradia1 vernacular, os
bangalôs, termo utilizado no início do século XX como uma
tipologia da habitação construída, identificada no cenário
da cidade de Bauru como patrimônio arquitetônico. O
bangalô refere-se a qualquer residência pertencente a uma
só família, típica das classes médias urbanas e, tanto na
América do Norte quanto no Brasil, são casas
caracterizadas por varandas.
1 Moradia é elemento da organização social que ao longo
do tempo incorpora significados diversos, conforme coloca
Correia (2004) em seu livro “A Construção do Habitat
Moderno no Brasil, 1870-1950".
É importante ressaltar que a cultura da habitação do
bangalô chegou ao Brasil através de revistas da época,
conforme estudo revelado por Atique (2007) em sua tese
de doutorado: “Arquitetando a boa vizinhança: a sociedade
urbana do Brasil e a recepção do mundo norte-americano
1876 -1945”.
Assim, a cidade de Bauru é objeto de investigação dentro
desta temática apresentada, trazendo esta “nova maneira
de morar” dos subúrbios de São Paulo que se repercute
nas cidades do interior paulista. A cidade não propiciou a
constituição de uma forte sociedade agrária, portanto, ao
invés de palacetes do café, estabeleceu em seu solo
arenoso diferenciadas manifestações arquitetônicas, tais
como os bangalôs em estudo, sinônimo de progresso e
estabilidade econômica. Bauru foi marcada pela
implantação das ferrovias, Sorocabana, Noroeste e
Paulista, decorrente do amplo espaço existente em Bauru,
por não ser uma cidade fortemente agrária.
Esses bangalôs, no início do século XX, possuem
tendências arquitetônicas como: o ecletismo que constitui a
arquitetura do liberalismo das aspirações européias, o art
déco cosmopolita que denota novas formas urbanas e o
estilo missões, de caráter nacionalista, que procura
resgatar as origens. Estas tendências arquitetônicas foram
apontadas como possíveis caminhos na arquitetura dos
bangalôs, dentro do espírito de vanguarda da época.
Segundo Lemos (1999), o ecletismo talvez fosse conhecido
somente pelos letrados, e seu significado, ligado à
tolerância ou a coexistência de mais um estilo
arquitetônico, certamente não era do pensamento ou do
linguajar do povo em geral. Sendo uma manifestação
atrelada ao café, cujo dinheiro proporcionou à classe alta
as novidades e confortos trazidos pelo avanço tecnológico,
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o novo gosto denominado ecletismo, alcançou até mesmo
o mobiliário, os tecidos, dentre outros “delírios
ornamentais”. Ou seja, ecletismo seria uma somatória de
criações individuais e estilos já existentes.
Já no Brasil, o ecletismo foi fortemente manifestado no
início do século XX, por conta da continuidade de
influências européias que perduram devido a colonização
do país feita pelos portugueses. Este era um momento de
renovação. Outra tendência estilística que se revelou nas
habitações mais como uma manifestação decorativa do
que construtiva, foi a expressão popularmente chamada de
art déco. Que adotou uma tipologia de fachada futurista,
menos rebuscada, com linhas estilizadas e geométricas,
utilizado principalmente para mostrar modernidade à
cidade. Segundo Segawa (1999), o art déco foi o suporte
formal para inúmeras tipologias arquitetônicas que se
afirmavam a partir dos anos de 1930. O art déco pode ser
compreendido como uma estrutura para o moderno e isto é
exposto pelo autor Hugo Segawa em seu livro “Arquiteturas
no Brasil 1900-1990” e reafirma a característica de uma
arquitetura de vanguarda demonstrando o estilo
modernizador à época. E, no que diz respeito à cidade de
Bauru, esta tendência estilística foi fortemente expressa
pelo Edifício Sede da Noroeste do Brasil influenciando os
demais edifícios da época. Diferente dos estilos eclético e
art déco que tiveram sua origem na Europa, o estilo
chamado estilo missões foi criado na costa oeste dos
Estados Unidos por volta de 1870 e, com caráter
nacionalista, buscava resgatar as origens da colonização
daquela região. Conforme Atique (2007), o estilo missões
teve significante preponderância na arquitetura brasileira
depois da década de 1920, porque representava as últimas
tendências ecléticas e antecede o estilo neocolonial. O
estilo missões tem suas características marcadas
principalmente por arcos plenos, balaústres, estas as mais
presentes nos bangalôs analisados. Essas características
foram descritas por Silvia Wolf em seu livro Jardim
América: O primeiro bairro de São Paulo e sua Arquitetura.
“[...] tinha um grande arco único no terraço [...], afirma Wolf
(2000, p.228).
Dentro destas tendências e a partir dos dados e dos
documentos obtidos, o trabalho ressalta as linguagens
adotadas na arquitetura, representações materiais e
simbólicas na cidade para preservar e diagnosticar as
tipologias vindas com a ferrovia. Assim, os bangalôs ainda
existentes, representam a história de Bauru, uma cidade
marcada pela implantação das ferrovias Sorocabana,
Noroeste e Paulista. E, por não ser uma fortemente agrária,
a cidade estabeleceu em seu solo arenoso diferenciadas
manifestações arquitetônicas, tais como os
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bangalôs em estudo, sinônimo de progresso e estabilidade
econômica.
1.1 A importância da conservação deste patrimônio
Assim como no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
(1988), patrimônio significa herança paterna e bens de
família, este conceito é trazido no âmbito acadêmico na
visão de Choay (2006) ao tratar do patrimônio como um
bem que é transmitido dos pais aos seus filhos.
A importância dos bangalôs em estudo testemunham o
passado. Como parte de um relato desta cidade, esta
moradia é herança do início do século XX, uma forma de
morar necessária para esta demanda trazida pela ferrovia.
O trem mudou as características e as feições do local,
inclusive dentro da temática da moradia, revelando
tipologias em busca de modernidade, como os bangalôs
em estudo, construídos principalmente para atender a
classe média urbana.
Figura 1. Exemplar de um bangalô eclético, projeto da
década de 1920, autoria de João Cacciola.
Fonte. Fontana, 2003.
Neste contexto, segue abaixo o comparativo de um projeto
de um exemplar típico da época e o seu estado atual de
conservação.
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Figura 2. Compartaivo do projeto da década de 1930 com
o estado atual do edifício.
As partes circuladas na imagem à direita mostram os
vestígios ainda existentes do bangalô original,
exemplificando as alterações desordenadas.
Fonte. A. Fontana, 2003 e K. Santos, 2012
2. METODOLOGIAS E DIAGNÓSTICOS
Para preservar este patrimônio dos bangalôs, com o
objetivo de torná-lo um patrimônio cultural, a metodologia
para esta pesquisa partiu do
referencial
teórico.
O
método
empregado foi buscar as fontes
bibliográficas tendo em vista melhor
embasamento teórico para o estudo
e
conhecimento
de
trabalhos
correlatos. Nesta etapa, os materiais
utilizados foram livros, jornais,
dissertações e teses. Os dados
encontrados foram pesquisados em
diversas bibliotecas e nos demais
acervos públicos e/ou particulares
existentes na cidade de Bauru.
Já a procura de fontes primárias foi realizada
principalmente na Secretaria do Planejamento Público, com
o objetivo de obter dados históricos sobre as edificações
estudadas. Estes dados foram arquivados em fichas
cadastrais, para facilitar o manuseio das informações e
selecionar os exemplares do período em estudo, e estas
foram digitalizadas para a elaboração da pesquisa. Outros
bangalôs foram pesquisados no mestrado “Marcas do
Moderno na Arquitetura de Bauru” de Artemis Rodrigues
Fontana.
Após estas pesquisas nas fontes teórica e primárias, foram
feitos gráficos no programa Excel para facilitar a leitura dos
dados coletados. Os bangalôs se totalizaram, até este
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primeiro momento, em 34 projetos.
A pesquisa de campo, em andamento, revela os bangalôs
que ainda permanecem no cenário da cidade, revelando o
estado atual de conservação ou descaracterização dos
projetos originais, assim como dos que já foram demolidos.
Assim, com esse levantamento, é possível obter um
diagnóstico sobre o patrimônio existente, possibilitando a
valorização de um “cenário” que se encontra
descaracterizado e degradado.
3. FOTOS
As fotos apresentadas representam o resultado da
pesquisa em campo que revela os bangalôs com suas
tendências: ecletismo, art déco, missões.
Estes exemplares passaram por modificações no decorrer
do tempo, e além delas eles sofrem constantemente atos
de vandalismo como pichações, além do acréscimo de
calhas e gradis.
Conclusões
Os diferentes estilos de bangalôs presentes na cidade de
Bauru durante a década de 1920 até meados de 1940
representavam as influências e a economia da época.
Em relação aos estilos, a análise geral obtida é feita em
relação ao total de bangalôs pesquisados e sua
representatividade dentro do eclético, art déco e estilo
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missões. Assim, o estilo mais encontrado foi o ecletismo,
que no Brasil representava uma retomada da arquitetura já
existente na Europa em épocas anteriores.
De acordo com o gráfico revelado através da pesquisa
acadêmica, a data em que cada bangalô foi projetado
revela um percentual dos estilos predominantes em cada
década. A década de 1920 demonstra que há a maior
concentração do ecletismo, sendo essa a maior influência
arquitetônica vinda da Europa, passando por São Paulo e
se dissipando até o interior, chegando a Bauru. O estilo art
déco este geometrizado e sem ornamentações não esteve
presente, em 1920, isto mostra que o estilo chegou e teve
seu auge só na década de 1930, antes só havia vestígios
em edifícios ecléticos nas linhas mais retificadas e na
diminuição de ornamentos. O estilo missões se mantém em
uma média até a última década analisada, a de 1940, por
ser um estilo mais nacionalista do oeste dos Estados
Unidos se repercutiu, em Bauru de forma mais singela.
Portanto, é de suma importância que estes bangalôs; que
remetem a história de um país colonizado por europeus,
sejam preservados para que continuem representando toda
essa história e também as situações as quais foram
enfrentadas por Bauru ao longo do tempo: a cidade de
passagem que se torna um berço para ferrovias enfatizado
sua característica de cidade sem tradicionalismo,
demonstrada
pelas
manifestações
arquitetônicas
representadas pelos bangalôs.
Referências
[1] F. Atique, “Arquitetando a boa vizinhança: a sociedade
urbana do Brasil e a recepção do mundo norte-americano
1876 -1945”. 2007. 468 folhas. Tese - Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2007.
[2] F. Choay, “Alegoria do Patrimônio”. São Paulo: Estação
Liberdade/Unesp, 2001.
[3] T. Correia, “A Construção do Habitat Moderno no Brasil
– 1870-1950”, São Carlos, 2004.
[4] A. Fontana, “Marcas do Moderno na Arquitetura de
Bauru”. 2003. 517 folhas . Dissertação - Mestrado em
Arquitetura e Planejamento – Universidade de São Paulo,
São Carlos, 2003.
[5] N. Ghirardello, “Aspectos do direcionamento urbano da
cidade de Bauru”. 1992. 185 folhas. Dissertação - Mestrado
em Arquitetura e Planejamento – Universidade de São
Paulo, São Carlos, 1992.
[6] C. Lemos, “Casa Paulista”. São Paulo: Edusp, 1999.
[7] H. Segawa, “Arquiteturas no Brasil 1900-1990”. 2ª ed.
São Paulo, Edusp, 1999.
[8] S. Wolff. “Jardim América: O primeiro bairro de São
Paulo e sua Arquitetura”. São Paulo: Edusp, 2001.
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