Análise de obras literárias memórias póstumas de brás cubas Joaquim maria machado de assis Rua General Celso de Mello Rezende, 301 – Tel.: (16) 3603·9700 CEP 14095-270 – Lagoinha – Ribeirão Preto-SP www.sistemacoc.com.br SumÁrio 1.Contexto social e HISTÓRICO..................................................... 7 2.Estilo literário da época............................................................ 9 3.O AUTOR.................................................................................................. 12 4. A OBRA..................................................................................................... 15 AOL-11 5.Exercícios............................................................................................ 20 memórias póstumas de brás cubas Joaquim maria machado de assis Memórias póstumas de Brás Cubas AOL-11 1. Contexto social e HISTÓRICO O movimento realista/ naturalista surgiu na segunda metade do século XIX quando, pela Europa, fervilhavam inúmeras transformações técnico-científicas e significativas mudanças no ambiente sociocultural: a civilização burguesa, industrial e mecânica começava a se firmar; o desenvolvimento científico avançava nas áreas da Física e da Química, e uma nova fase na Revolução Industrial, estava em curso, com a utilização do aço, do petróleo e da eletricidade. Havia também, diante do surgimento de grandes centros industriais, o inevitável aumento da massa operária e de uma população marginalizada e explorada. Em face dessas transformações, novas maneiras de interpretar a realidade manifestaram-se em variadas atitudes ideológicas científicas e filosóficas, as quais deixaram marcas visíveis no movimento literário que surgia naquela época: o Realismo o Naturalismo. O positivismo, de Augusto Comte, defendia o cientificismo, ou seja, a visão de que a realidade era concreta, objetiva e lógica e desvalorizava o espiritual; o niilismo, de Nietzsche (pensador alemão), negava os valores filosóficos e morais do homem e o determinismo, de Hippolyte Taine (pensador francês), explicava as ações humanas e a obra de arte pelo condicionamento do indivíduo a três fatores: meio, momento e raça (hereditariedade). Daí o pessimismo de Schoppenhauer (filósofo alemão), para quem a vida era a negação dos desejos e da felicidade, que nunca se realizavam ou se satisfaziam. Com a publicação de A origem das espécies, Charles Darwin expôs ideias evolucionistas que se opuseram à origem divina do homem e ao misticismo conferido ao ser humano no período romântico. 7 Joaquim Maria Machado de Assis Em Portugal, os ideais realistas/ naturalistas anunciam-se, em 1865, com a polêmica Questão Coimbrã (ou questão do bom senso e do bom gosto) e, em 1871, com as célebres Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense, tendo como distintos representantes os jovens de Coimbra: Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Teófilo Braga e outros. No Brasil, o impacto dos novos pensamentos europeus acelerou o fim da arte romântica, pois, já na poesia do final de 1860, muitos românticos (Castro Alves, Sousândrade, Tobias Barreto) apresentavam uma temática voltada para as críticas político-sociais. Na década de 70, o positivismo, de Augusto Comte, encontrou em Tobias Barreto (porta voz da chamada Escola de Recife) seu maior divulgador. O final do século XIX foi marcado por profundas alterações em muitos setores da sociedade brasileira. Com a abolição dos escravos, encerrou-se um longo período de mão de obra escrava e iniciou-se o trabalho assalariado, representado pelos imigrantes europeus. Desenvolveu-se uma economia voltada para o mercado externo, que impulsionou o surgimento da burguesia mercantil. Uma forte tendência ao ideal republicano se opôs ao descontentamento com o regime monárquico. Somaram-se ainda a esses fatos o avanço das técnicas de produção nas fazendas cafeeiras, o melhoramento dos portos, o aparecimento da luz elétrica etc. Foi diante desse panorama que as variadas posturas ideológicas europeias encontraram no Brasil um ambiente propício para se disseminarem. Os intelectuais da época entregaram-se aos ideais do positivismo, do darwinismo, do naturalismo e do cientificismo para poderem, através da arte, expressar a realidade. 8 Memórias póstumas de Brás Cubas AOL-11 2.Estilo literário da época 9 Joaquim Maria Machado de Assis A literatura realista e naturalista surgiu na França com Madame Bovary, em 1857, de Gustave Flaubert, e com o romance de “tese” de Émile Zola (1840-1902). Ideias cientificistas e materialistas tornam-se filtros da realidade, revelando na prosa desses escritores o interesse pela observação impessoal, racional e objetiva dos fatos humanos e da vida. Além dessas doutrinas, o Realismo/Naturalismo ainda sofreu influências das novas formas de pensamento que surgiram na Europa, como o positivismo, de Augusto Comte; o niilismo, de Nietzsche (pensador alemão); o determinismo, de Hippolyte Taine (pensador francês); e o pessimismo, de Schoppenhauer (filósofo alemão). No Brasil, foi em um momento de conturbada mudança histórica (abolicionismo, ideais republicanos, crise na monarquia) que o Realismo/Naturalismo se estabeleceu. Mais especificamente, esse movimento foi inaugurado no ano de 1881, com a publicação de dois romances fundamentais: O Mulato de Aluísio Azevedo, considerada a primeira obra naturalista brasileira, e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o primeiro romance realista do Brasil. Ainda que as obras realistas e naturalistas continuassem se manifestando pelos anos seguintes, considerou-se como marco final do Realismo e início do Simbolismo a publicação, em 1893, de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Souza. A manifestação poética do Realismo é chamada de Parnasianismo. Essa nova estética é marcada por uma postura antirromântica (versos livres e brancos) e como traço característico prega o culto da forma (a “arte pela arte”) com versos bem trabalhados e ricos em rimas raras e perfeitas. Esse movimento manifesta-se a partir de 1870 e tem em Raimundo Correia, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac seus maiores representantes. Embora percorram caminhos diferentes, o Realismo e o Naturalismo apresentam alguns pontos em comum, já que ambos se orientam em suas narrativas pelo cientificismo e pelo materialismo, além de apresentarem temas que se opõem ao movimento romântico e às instituições julgadas decadentes como a burguesia, o clero e a monarquia. Como características individuais, a corrente realista apresenta interesse pela descrição cruel e desencantada da sociedade, enquanto que a corrente naturalista defende a ideia de que o destino do homem é resultado de sua natureza e hereditariedade. Nos romances sob a tendência realista-naturalista, tornou-se clara a imagem cética que os escritores tinham dos valores sociais e morais daquela época. Destacam-se em suas obras posições ideológicas antimonárquicas, anticlericais e antiburguesas. São comuns críticas ao clero (padres corruptos) e à família, nos diversos casos de adultério, como ocorre em D. Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. Além dessas características, revelam-se ainda a valorização do coletivo que focaliza grupos humanos marginalizados, a análise 10 Memórias póstumas de Brás Cubas AOL-11 psicológica das personagens, a onisciência do narrador, que observa as cenas diretamente ou através de algumas personagens, e uma linguagem simples, coloquial e contemporânea. São representantes do Realismo/Naturalismo no Brasil: Aluísio Azevedo, Raul Pompeia e Machado de Assis. Machado foi quem melhor cultivou o romance realista. Na elaboração de seus textos, utilizou-se constantemente da ironia e do sarcasmo, de recursos como as digressões (fruto das lembranças que surgiam inesperadamente na mente das personagens ou narradores), as alusões e paródias às grandes obras europeias (intertextualidade) e às correntes filosóficas da moda, além de constante e reveladora análise psicológica das personagens. Ademais, ainda rompeu, em algumas narrativas, com a tradição da narração linear, cronológica. Sua notoriedade se deve à habilidade revolucionária com que lidou com esses recursos, revelando em suas obras novas maneiras de criação literária. 11 Joaquim Maria Machado de Assis 3.O AUTOR Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um pintor de paredes (Francisco José de Assis) e de uma portuguesa (Maria Leopoldina), era mulato, gago e epilético. Ficou órfão de mãe, sendo criado, carinhosamente, por sua madrasta (Maria Inês), lavadeira e doceira. Não demorou muito e seu pai também morreu. Sua infância no Morro do Livramento foi marcada por uma vida humilde e sofrida. Mesmo com pouca idade e a fim de ajudar no sustento da família, vendia, nas ruas, as balas que sua madrasta fazia. Teve sua vida marcada pelo comedimento, pela timidez e pela introspecção. Aos dezesseis anos, com a ajuda de Paula Brito (dona de uma tipografia), estreou literariamente com o poema Ela (1855), publicado na revista Marmota Fluminense. Em 1856, trabalhou como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional e posteriormente se transferiu para a tipografia de Paula Brito. Nessa época, conheceu Manuel Antônio de Almeida (autor de Memórias de um sargento de milícias) e outros intelectuais daquele tempo. Seu nome tornou-se conhecido na imprensa carioca e passou a ser requisitado por jornais e revistas, publicando crônicas, contos e fazendo críticas de teatro e literatura. No ano de 1867, ingressou no funcionalismo público, chegando a desempenhar funções de prestígio nos mais altos postos da carreira. 12 Memórias póstumas de Brás Cubas Casou-se, em 1869, com Carolina Augusta Xavier de Novais. Nesse período, Machado de Assis desenvolveu uma intensa e sólida atividade literária. Os títulos se sucederam de forma ininterrupta, paralelamente à sua ascensão à burocracia (chefe da Diretoria do Comércio, do Ministério da Agricultura (1892), secretário do Ministro da Viação (1898), diretor-geral da contabilidade do Ministério (1902)) e a um progressivo alívio financeiro. Sua obra abrange os seguintes gêneros literários: Romances 1872 – Ressurreição 1874 – A mão e a luva 1876 – Helena 1878 – Iaiá Garcia 1881 – Memórias póstumas de Brás Cubas 1891 – Quincas Borba 1899 – Dom Casmurro 1904 – Esaú e Jacó 1908 – Memorial de Aires Conto 1870 – Contos fluminenses 1873 – Histórias da meia-noite 1882 – Papéis avulsos 1896 – Várias histórias 1899 – Páginas recolhidas 1906 – Relíquias da casa velha Teatro 1861– Queda que as mulheres têm pelos tolos 1861 – Desencantos 1863 – Teatro 1866 – Os deuses de casaca Crônica 1914 – A Semana AOL-11 Crítica 1910 – A Crítica 13 Joaquim Maria Machado de Assis A maturidade literária de Machado de Assis acontece com a publicação, em 1881, do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, considerado um marco na história da literatura brasileira. Sua obra é dividida em duas fases: uma romântica (caracterizada por certa ingenuidade diante de instituições e pessoas) e outra realista (a mais importante). Em 1896, juntamente com outros escritores, fundou a Academia Brasileira de Letras e, em 1897, recebeu o título de presidente perpétuo dessa instituição. Após a morte de sua esposa em 1904, o romancista teve sua saúde agravada pela epilepsia e por problemas nervosos, sendo que, em 29 de setembro de 1908, falece em sua casa do Cosme Velho, consagrado e rodeado de amigos. 14 Memórias póstumas de Brás Cubas AOL-11 4.A OBRA 15 Joaquim Maria Machado de Assis Memórias póstumas de Brás Cubas foi publicado pela primeira vez em folhetim, na Revista Brasileira, do Rio de Janeiro e, em volume, apareceu, em 1881, impresso pela Tipografia Nacional. É considerada uma obra inovadora e de ruptura com o estilo tradicional: apresenta, além de um narrador já falecido (um defunto autor), uma estrutura narrativa fragmentada que rompe com a linearidade dos fatos cronológicos. A partir da análise de Memórias póstumas de Brás Cubas, observa-se que sua importância não se limita ao seu enredo, mas sim à inovação da temática, da estrutura e da linguagem. Dedicatória do livro: Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico com saudosa lembrança estas Memórias póstumas. A obra apresenta, logo no início, um narrador já falecido, chamado Brás Cubas. Sob a forma de um epitáfio, a dedicatória do livro mostra ao leitor que Brás Cubas está morto e que, assim, está livre (não deve satisfações a ninguém) para falar sem preconceito de sua vida e da vida das pessoas com quem conviveu. Falo sem temer mais nada, diz o morto. A estrutura de Memórias póstumas de Brás Cubas é digressiva e fragmentária. Não existe no livro um fator cronológico que lhe dê um encadeamento linear e um ritmo ágil. Ao contrário, sua sequência narrativa é interrompida por reflexões, longas digressões, explicações de cenas e definições de termos. É o fluir do pensamento de Brás Cubas, que relata tudo quanto vem à consciência, que dita o ritmo da narração. O foco narrativo é em 1ª pessoa e pode ser chamado de “confessional”: o narrador (Brás Cubas) dá sua visão dos fatos, dos seus pensamentos e experiências. Ao leitor, confessa com humor e sem nenhum pudor seus defeitos e desejos, tendo consciência da vida que levou, sem objetivos e sem realizações (sociais ou afetivas). Machado de Assis também, por intermédio de seu narrador, interrompe a narrativa (metalinguagem) para dialogar diretamente com o leitor. Brás Cubas, por exemplo, no cap. LXXI: O senão do livro, explica a estrutura intercalada da narrativa. ...porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... Em Memórias, Machado se distancia ainda mais do estilo e de valores românticos que permearam a primeira fase de suas obras. O enfoque psicológico e a reflexão filosófica, traços característicos da segunda fase (realista) das obras 16 Memórias póstumas de Brás Cubas machadianas, resultam em um enredo carente de paisagens e descrições. Em vez de enfatizar os espaços externos, o autor se preocupa com a caracterização psicológica de seus personagens. Os personagens, retratados sem nenhuma idealização romântica, revelam em suas atitudes a hipocrisia, a vaidade e o caráter relativo da moral humana. O relacionamento entre Brás Cubas e Marcela, uma prostituta de elite, resume-se, por exemplo, a um amor que durou “quinze meses e onze contos de réis”. Contrapondo-se ao romantismo dos casamentos perfeitos, há a relação extraconjugal de Brás Cubas e Virgília (casada com Lobo Neves por interesse social). Outro traço marcante da obra de Machado é o uso da ironia. Em Memórias, esse recurso é utilizado a todo o momento e tem por fim despertar no leitor a desconfiança de tudo que o narrador declara. Ao leitor, sugere-se, pela ironia, um sentido diferente para aquilo que é dito. No primeiro capítulo, tem-se, como exemplo, o comentário sarcástico que Brás Cubas tece sobre o discurso que um colega lhe dedica no momento de seu sepultamento. Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. Ao denunciar a sociedade, por meio da ironia e do humor, Machado deixa transparecer a visão desencantada que tem da vida e do homem. A influência de Schoppenhauer (pessimismo) se faz presente na obra de Machado, principalmente em Memórias, ao apresentar personagens que facilmente se rendem ao egoísmo e ao cinismo das convenções sociais por causa da fixação em ter sucesso e felicidade demais. São pessoas infelizes que se escondem por trás de uma máscara social. Dentre elas, destaca-se Brás Cubas, que apresenta em seus atos e pensamentos o sentimento pessimista que permeia toda a obra machadiana. Brás Cubas fala da sua vida, expõe erros e defeitos seus e dos outros, mas, por não acreditar em nada (nihilismo “nil” = nada), não se arrepende do que fez, de modo geral. Mesmo com a morte, seu caráter continua igual ao que demonstrava em vida. AOL-11 O capítulo CLX: Das negativas é bastante elucidativo: Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. 17 Joaquim Maria Machado de Assis Os capítulos XXXI, XXXII e XXXIII documentam nitidamente a reflexão irônico-pessimista em torno da condição humana e são relativos à borboleta preta, a qual Brás Cubas matou com um golpe dado com a toalha, e à condição física de Eugênia (coxa). Machado revela cinismo crítico e contemplativo ao concluir que a seleção natural (Darwin) premia os mais fortes, afinal a borboleta fora morta porque era negra, e não azul, e Eugênia era bonita, mas coxa. Memórias póstumas de Brás Cubas é classificado como um romance de sátira carnavalesca ou menipeia (de Meníopo, cômico da Antiguidade). Essa classificação se deve ao acúmulo de temas e assuntos diversos abordados, à miscelânea de riso e melancolia e à mescla do realístico com o fantasmagórico. Parte dessa miscelânea se deve também às constantes intersecções literárias que o texto machadiano faz com outras obras anteriores (Homero, Moliere, Wordsworth, Shakespeare Virgílio etc.), caracterizando a chamada intertextualidade. Ela se dá sob a forma de alusão, citação e referência, que rompem com a linearidade do enredo e impõem ao leitor associações que o ajudam a esclarecer o significado da narrativa. Por exemplo, em O emplasto (cap. II) há a citação da frase Decifra-me ou devoro-te que se refere aos enigmas propostos pela esfinge (monstro da mitologia grega) aos passantes, que são devorados quando não conseguem decifrá-la. Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te. O reencontro de Brás Cubas com Quincas Borba (amigo de colégio) é marcado pela conversão de Brás Cubas à doutrina filosófica defendida pelo amigo. Mendigo, cleptomaníaco (rouba o relógio de Brás Cubas) e filósofo, Quincas Borba é o criador das ideias do Humanitismo, cuja síntese está na frase: “Ao vencedor, as batatas”. Brás Cubas é bastante influenciado pela doutrina do Humanismo, pois nela encontra a justificativa para a sua existência vazia e para a busca inútil da felicidade. Machado se vale dessa doutrina para parodiar e ironizar o positivismo e o cientificismo dominantes na época. Caracterização das personagens Brás Cubas: personagem que relata sua própria história, fragmentadamente, sem ordem cronológica. É uma pessoa sem objetivos, que vive de rendas 18 Memórias póstumas de Brás Cubas (típico burguês do século XIX) e não alcança qualquer realização marcante. Possui personalidade leviana e mesquinha e tira proveito e vantagem das situações sempre que pode. Bom observador da vida e da sociedade, sobre as quais faz reflexões inteligentes. Quincas Borba: amigo de infância de Brás Cubas e criador da teoria do Humanitismo. Ora é rico ora é mendigo e vai enlouquecendo progressivamente. Encontra em Brás Cubas um seguidor de sua teoria humanitista que explicaria, entre outras coisas, a razão da existência vazia e sem sentido de Cubas. Marcela: uma prostituta de elite, cujas atitudes são norteadas pelos mais levianos interesses: seu amor por Brás Cubas teria durado “quinze meses e onze contos de réis”. É o segundo grande amor de Cubas. Virgília: filha do Conselheiro Dutra. Casa-se com Lobo Neves por interesse e torna-se amante de Brás Cubas. É uma mulher bonita, de razoável sensualidade, interesseira e de pouca responsabilidade, traços que lhe conferem certa leviandade. D. Plácida: empregada de Virgília que acoberta os encontros amorosos do casal Virgília e Brás Cubas. De forma constante, sente-se moralmente agredida pelo papel de alcoviteira que lhe foi imposto pelo casal. Lobo Neves: casado com Virgília. Elege-se deputado e entrega-se totalmente à política. Interessado apenas em poder, é mansamente traído pela esposa, consequência quase natural da personalidade de ambos e do tipo de casamento que “estruturaram”. Eugênia: moça bonita, mas “coxa”, que mantém um romance passageiro com Brás Cubas. É filha de Eusébia e Vilaça. Nhá-Loló: pretendente de Brás Cubas. Moça simplória que falece durante uma epidemia de febre amarela. AOL-11 Cotrim: casado com Sabina (irmã de Brás Cubas). Ambos revelam-se interesseiros. Queriam enganar Brás Cubas na partilha da herança. 19 Joaquim Maria Machado de Assis 5. Exercícios 1. CEFET-MG O .................se tingirá de ........., no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das “leis naturais” que a ciência da época julgava ter codificado; ou se dirá ..........., na poesia, à medida que se esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito. No texto acima, preenchem-se as lacunas, respectivamente, com: a) Realismo – Naturalismo – Parnasianismo b) Romantismo – Naturalismo – Parnasianismo c) Realismo – Naturalismo – Simbolismo d)Romantismo – Modernismo – Parnasianismo e) Romantismo – Modernismo – Simbolismo 2. UFSCar-SP O que sobressai na atividade criadora de Machado de Assis é: a) a minuciosa busca de soluções aperfeiçoadoras, o que só conseguiu após inúmeros e continuados exercícios. b) a grande capacidade de inspiração, uma vez que a quantidade de romances que escreveu foi facilitada pela improvisação. c)o equilíbrio entre o improvisador, o inspirado e o artista, que é demonstrado pelas obras de valor desigual, que ocorrem no decorrer de sua produção literária. d)a sinceridade com que manifesta, por linguagem desprovida de metáforas em cada romance que escreveu, as várias fases de sua biografia. e)ter iniciado a carreira escrevendo romances realistas, convertendo-se, mais tarde, ao Naturalismo. 3. UCSal-Ba O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhorial; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. Assinale a alternativa cujas propostas, preenchendo as lacunas abaixo, completariam uma análise adequada do texto apresentado inicialmente. 20 Memórias póstumas de Brás Cubas No excerto transcrito, o narrador, que é o protagonista da história, questiona-se porque se sente dividido: ele percebe o mundo de modo....................., mas aspiraria a que ele fosse organizado de acordo com princípios ....................... a) romântico – modernos d) moderno – realistas b) realista – modernos e) romântico – realistas c) realista – românticos 4. AEEA–GO Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, adotei diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. O autor deste trecho é: a) Machado de Assis. b) Oswald de Andrade. c) José de Alencar. d) Rachel de Queirós. e) n.d.a. 5. UM-SP Sobre o romance Memórias póstumas de Brás Cubas, não é correto afirmar que: a) é uma obra inovadora do processo narrativo, que introduz o Realismo no Brasil. b) Brás Cubas atua como defunto narrador, capaz de alterar a sequência do tempo cronológico. c) o memoralismo exacerbado acaba por conferir à obra um caráter de crônica. d)constitui um romance de crítica ao Romantismo, deixando entrever muita ironia em vários momentos da narrativa. e) revela crítica intensa aos valores da sociedade e ao próprio público leitor da época. AOL-11 6. Fuvest-SP Complete: Em 1881, dois romances fixam o início do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira. São eles respectivamente: ....................... e ....................... Seus autores são respectivamente ..................... e ........................ . 7. USF-SP Pode-se entender o Naturalismo como uma particularização do Realismo que: a) se volta para a natureza a fim de analisar-lhe os processo cíclicos de renovação. b) pretende expressar com naturalidade a vida simples dos homens rústicos nas comunidades primitivas. 21 Joaquim Maria Machado de Assis c) defende a arte pela arte, isto é, desvinculada de compromissos com a realidade social. d)analisa as perversões sexuais, condenando-as em nome da moral religiosa. e) estabelece um nexo de causa e efeito entre alguns fatores sociológicos e biológicos e a conduta dos personagens. 8. UFPA Os personagens realistas-naturalistas têm seus destinos marcados pelo determinismo. Identifica-se esse determinismo: a) pela preocupação dos autores em criar personagens perfeitos, sem defeitos físicos ou morais. b) pelas forças atávicas e/ou sociais que condicionam a conduta dessas criaturas. c) por ser fruto, especificamente, da imaginação e da fantasia dos autores. d)por se notar a preocupação dos autores de voltar para o passado ou para o futuro, ao criarem seus personagens. e) por representar a tentativa dos autores nacionais de reabilitar uma faculdade perdida do homem: o senso do mistério. GABARITO 1. A 2. A 4. A 5.C 3. C 6. Respostas: Memórias póstumas de Brás Cubas e O Mulato; Machado de Assis e Aluísio Azevedo. 7.E 8.B 22