SOCIOLOGIA - Profº Jorge Surgimento da Sociologia: do século XVIII para o século XIX O que é ser "científico"? A pergunta irá ajudá-lo a responder essa pergunta e a reforçar que a Sociologia também usa métodos científicos, tais como a busca por evidências empíricas passiveis de verificação e que serão analisadas logicamente. Assim, temos que “o conhecimento científico deve ser passível de verificação empírica através de técnicas e processos que garantam a objetividade”. (CARDOSO, Fernando Henrique, (Org.) Homem e sociedade: leituras básicas de sociologia geral.) “Qualquer conjunto de elementos padronizados constitui um sistema, seja na química, na física, na psicologia ou na sociologia –, e isto evidencia a existência de algo em comum na maneira pela qual as várias disciplinas científicas organizam teoricamente os dados específicos de seu conhecimento. Em outras palavras, evidencia a unidade da ciência enquanto método.” Todo mundo tem um pouco de sociologia Você sabe exatamente qual é a diferença entre conhecimento científico e senso comum? Todos nós possuímos respostas intuitivas às questões sobre a sociedade – o senso comum – ou seja, aquilo que ouvimos por todos os lados. Apesar de termos tanta opinião sobre as coisas da sociedade, devemos ter em mente que estas “coisas”, como dizia Durkheim, têm explicações mais complexas, mais elaboradas. Lembra-se daquele dito popular “nada é o que parece”? Então, vamos utilizá-lo aqui para dizer que os fenômenos sociais, apesar de conhecidos por nós em nossas práticas e experiências, podem carregar outros sentidos para além daquilo que percebemos cotidianamente. Trata-se de revelar (“tirar o véu”. Dicionário Aurélio, 2010) do senso comum presente em nosso dia a dia e verificar cientificamente, através da utilização de métodos que são próprios das ciências sociais, o que estava camuflado sob as aparências de um conhecimento meramente intuitivo. E ou deveria ser? "Podemos enfatizar o fato de a Sociologia pretender explicar o mundo social tal como ele é, e não como ele deveria ser". Augusto Comte e a fundação da sociologia Filósofo francês fundador do positivismo e considerado como um dos precursores da Sociologia. Podemos considera-lo responsável no processo de formação da Sociologia como ciência: o surgimento do nome Sociologia (do latim socius e do grego lógos, que significa estudo do social), antes chamada física social; a preocupação com o social não surge com Comte, mas sim a criação de uma ciência específica para tratar o tema; essa preocupação representa um projeto de modernidade, dentro de um âmbito evolucionista, de melhoria das condições sociais e materiais para a época. A Sociedade positivista foi criada em 1848 para debater e sugerir propostas políticas e sociais para a França. No “Discurso sobre o conjunto do positivismo”, indica como a Filosofia Positiva e a Sociologia poderiam ser aplicadas para solucionar os problemas sociais. Redigiu o “Sistema de política positiva” entre os anos de 1851 e 1854, no qual considerou a religião como uma situação de unidade humana constituída historicamente. Com base nisso, criou uma religião humana e sem deus: a Religião da Humanidade. Confusão terminológica: os “positivismos” Para evitar confusões terminológicas, aqui positivismo é exclusivamente o nome dado por Auguste Comte à sua filosofia e ao movimento político e social dela derivado. As ciências qualificadas como positivistas são aquelas que permitem a observação, experimentação e mensuração dos fenômenos estudados. As ciências que incorporam estas características com maior exatidão são as chamadas ciências « duras » ou exatas por permitirem a verificação de suas constatações por meio de experimentos. Entre 1851 e 1854, Comte redigiu sua obra mais importante, o Système de politique positive ( sistema de política positiva), em que desenvolveu a Sociologia de maneira mais sistemática. Nessa obra, considerou que a religião não é o mesmo que Teologia, mas é uma situação de unidade humana (individual e coletiva, objetiva e subjetiva), constituída historicamente. A partir disso, criou uma religião humana e sem deus, a Religião da humanidade. Estas são regras básicas do positivismo: rejeitar a Teologia (o recurso a vontades sobrenaturais como causas das ações humanas); recusar a Metafísica (o uso de abstrações puras em que a “natureza”, o “espírito absoluto”, a “morte”, a “vida”, etc., teriam vontades próprias). Deve-se conhecer cientificamente a realidade, o que se dá por meio da descoberta das leis naturais que regulam o funcionamento da sociedade. Sociologia Comtiana A sociologia de Auguste Comte considerava que a sociedade deveria ser estudada usando procedimentos gerais que estavam próximos dos que as demais ciências utilizavam para explicar o mundo natural. Ou seja: rejeitar a Teologia e recusar o que Comte chamava de metafísica para compreender a realidade. Em seu lugar, buscam-se as leis naturais para explicar e predizer os fenômenos sociais, permitindo em seguida a intervenção prática. Esses princípios são gerais, isto é, comuns a todas as ciências: mas cada ciência deve aplicá-los a cada tipo de fenômeno especifico e elaborar seus procedimentos particulares. O relativismo, para Comte, tem vários significados. Por um lado, indica que o conhecimento o qual o ser humano pode obter é sempre parcial e condicionado pelos sentidos sensoriais e pela nossa capacidade de articular ideias. Além disso, o conhecimento também se modifica de acordo com o ambiente social e, portanto, com o período histórico considerado. Por fim, em virtude das características anteriores, o relativismo quer dizer que o ser humano não pode obter um conhecimento absoluto, independente de qualquer consideração ou referencia: as concepções humanas são sempre limitadas. Sendo assim “O único princípio absoluto é que tudo é relativo”. O holismo indica que o ponto de partida para o estudo da sociologia deve ser a sociedade como um todo: verificado sua lógica específica, seus elementos componentes e a forma como eles se relacionam entre si, cada um desses elementos é estudado separadamente. Dessa forma, a sociedade é uma realidade maior que a soma dos elementos parciais que a compõem. Por esse motivo, o indivíduo não é um elemento sociológico, embora deva ser estudado pela Sociologia. A historicidade a visão de conjunto não pode se restringir a um único momento no tempo, devendo abarcar também o conjunto da história humana. Para Comte, não se pode recriminar uma sociedade por ela não ser como gostaríamos que fosse, mas deve-se compreender que cada sociedade tem suas próprias particularidades, que correspondem ao seu momento histórico e a sua organização específica. Lei dos três estados e classificação das ciências A partir dos princípios expostos, Comte elabora as duas primeiras leis sociológicas. Ambas baseiam-se na interpretação dos acontecimentos históricos: 1. Lei dos três estados. 2. Lei da classificação das ciências A lei dos três estados. “Toda concepção humana passa por três fases: teológica, metafísica e positiva, com uma velocidade proporcional à generalidade dos fenômenos correspondentes”. Isso quer dizer que o ser humano, ao longo da história, percebeu a realidade e explicou-a de três modos diferentes e sucessivos. A primeira explicação tinha por base às vontades sobrenaturais e arbitrárias dos deuses – é a explicação da Teologia. Depois, usando abstrações puras ( a “natureza”, o “espírito absoluto”, a “morte”, a “vida”, etc.) que teriam vontades próprias. “Tanto no caso da Teologia quanto no da metafísica, o ser humano busca o absoluto ao perguntar “por que” as coisas acontecem, em especial “ de onde viemos” e “ para onde vamos”. Na fase positiva, o ser humano busca as leis naturais, isto é, as relações que podem ser observadas entre os fenômenos: de sucessão ou coexistência. Adotando uma perspectiva humanista e imanentista, busca-se pesquisar “ como “ as coisas acontecem. Quais são os mecanismos específicos entre os fenômenos? Na fase positiva, então não importa mais o “porquê”. Com base na complicação crescente dos tipos de fenômenos estudados, Comte estabeleceu uma classificação das ciências.