O Homem - principais visões sobre a origem humana: 1.1 o evolucionismo e o criacionismo. Neste item o aluno deve ter uma visão geral sobre o evolucionismo como explicação cientifica para as origens humanas, confrontando com as visões tradicionais do senso-comum e religiosas, que foram reforçadas com o surgimento do “criacionismo”. O debate principal entre evolucionismo e criacionismo gira em torno da aceitação ou não de dogmas como fatores explicativos do humano. Bibliografia: GUERRIERO, Silas (Org.). As origens do antropos, in Antropos e Psique - O outro e sua subjetividade. São Paulo: Ed. Olho D’água, 2000. LARAIA, Roque de Barros. Idéia sobre a origem da cultura, in CULTURA - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 2002. Para uma pesquisa complementar sobre o tema, recomendamos a leitura dos endereços eletrônicos a seguir. WEBGRAFIA: http://www.assis.unesp.br/~egalhard/evolucao.htm http://www.assis.unesp.br/~egalhard/humanev3.htm http://infonet.com.br/biologia/biologia.htm http://sti.br.inter.net/rafaas/biologia-ar/introducao.htm http://brazil.skepdic.com/criacionismo.html http://www.comciencia.br/200407/reportagens/16.shtml http://www.jornalinfinito.com.br/materias.asp?cod=130 http://www.jornalinfinito.com.br/series.asp?cod=112 http://www.geocities.com/gilson_medufpr/aims.html http://www.fortunecity.com/campus/biology/752/evol6.htm A EVOLUÇÃO HUMANA: http://www.assis.unesp.br/~egalhard/evolucao.htm http://www.assis.unesp.br/~egalhard/humanev2b.htm http://www.assis.unesp.br/~egalhard/humanev3.htm http://infonet.com.br/biologia/biologia.htm http://sti.br.inter.net/rafaas/biologia-ar/introducao.htm www.becominghuman.org (site em inglês, com filme) http://www.aultimaarcadenoe.com/biologia2d.htm CULTURA: Cultura – verbete da enciclopédia eletrônica Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura CONCEPÇÕES DE CULTURA – Ricardo HONÓRIO http://antropologia.com.br/divu/colab/d12-rhonorio.pdf O DEBATE “BIOLOGIA VERSUS CULTURA” NA DEFINIÇÃO DE SER HUMANO “Biologicamente cultural” – BUSSAB, Vera S. Raad; Fernando Leite RIBEIRO. http://pet.vet.br/puc/vera%20bussab.pdf Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 1 “Transição para a humanidade” – Clifford GEERTZ http://www.arq.ufsc.br/urbanismoV/artigos/artigos_gc.pdf CONTEÚDO DO 1º BIMESTRE (PROVA B-1) O HOMEM 1.1- Principais visões sobre a origem humana: o evolucionismo e o debate das determinações biológicas versus processo cultural. Textos básicos: “As origens do antropos”, in GUERRIERO, Silas (Org.). ANTROPOS E PSIQUE. O outro e sua subjetividade. São Paulo: Ed. Olho D’água, 5ª. Ed., 2004. “O determinismo biológico”; “O determinismo geográfico”; “Idéia sobre a origem da cultura”, “Antecedentes históricos do conceito de cultura”, in LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 17ª ed., 2005. pp 17-29; 53-63. Objetivos: neste item o objetivo é relacionar evolução biológica com comportamento cultural. O debate atual na Antropologia reforça a tese segundo a qual nossa espécie apenas evoluiu para as características biológicas atuais como o uso da inteligência, a postura ereta e as habilidades para fabricar instrumentos, SOB INFLUÊNCIA DIRETA de um comportamento cultural baseado em regras e na capacidade de simbolização. Ou seja, nossa evolução física foi influenciada pelo comportamento de nossos ancestrais, e vice-versa, até chegarmos ao que somos hoje. Se cultura é importante para compreender quem e como somos enquanto espécie, é importante você saber que o conceito de cultura sofreu mudanças históricas em sua interpretação. Essas mudanças são fundamentais para uma abordagem em que você possa distinguir visões consideradas cientificamente superadas, que, entretanto, fazem parte de noções comuns e muito presentes atualmente em defesas carregadas de preconceitos infundados e errôneos. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 2 Você está convidado a uma nova compreensão de ser humano, na qual o nosso aparato biológico tão fantástico (pensamos e fabricamos coisas) precisa do comportamento cultural para se realizar. Então, biologia e cultura se complementam. Vamos lá? Obs.: os textos indicados na bibliografia são fundamentais para o seu aprendizado, mas você pode dispor também de sugestões que estão disponíveis na Web. Lembre que esse material eletrônico é complementar, e não deve ser utilizado como única fonte de estudos. Sugestão de textos para estudos complementares disponíveis na Web: A EVOLUÇÃO HUMANA: http://sti.br.inter.net/rafaas/biologia-ar/introducao.htm http://biociencia.org (este sítio é especializado em biociência, portanto aproveite apenas o que é importante para a disciplina, acesse o “Projeto Evoluindo” e seus sub-tópicos) CULTURA: Cultura – consultar o verbete da enciclopédia eletrônica Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura Antropologia e o desenvolvimento do conceito de cultura – consultar o verbete da enciclopédia eletrônica Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia Há também uma comunidade virtual de Antropologia no Brasil, onde você pode consultar textos e entrevistas. www.antropologia.com.br/ DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO PRINCIPAIS VISÕES SOBRE A ORIGEM HUMANA: O EVOLUCIONISMO E O DEBATE DAS DETERMINAÇÕES BIOLÓGICAS VERSUS PROCESSO CULTURAL. Neste conteúdo são abordados temas e idéias como: - a teoria evolucionista e a explicação da biologia para a origem e evolução do ser humano; - a colaboração da teoria antropológica sobre a visão da biologia e do evolucionismo; a antropologia defende que a explicação puramente biológica é apenas uma parte de nossa complexa evolução – o papel do comportamento cultural também foi determinante para surgimento de nossa espécie como é hoje. - a antropologia afirma que é falsa a afirmação que o ser humano é determinado pelo clima ou pela herança genética; sim, as populações se adaptam a Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 3 diferentes meio ambientes para sobreviver, mas não é o meio ambiente que determina nosso comportamento; sim, cada indivíduo é resultado de uma herança genética, o que não significa que é “escravo” dessa herança. Voltar às origens da cultura é também voltar à origem da humanidade. Ter costumes e hábitos aprendidos é um comportamento relacionado com a nossa sobrevivência e evolução enquanto espécie. O tema possibilita uma abordagem que ressalta a importância da compreensão do ser humano como um ser bio-psico-social, ou seja, somos seres cujo comportamento é determinado ao mesmo tempo: BIO - por nossas características orgânicas (o tipo de aparelho físico que temos e como podemos utilizá-lo); PSICO - por nossas experiências pessoais racionais e afetivas de mundo e; SOCIAL - pelo meio social onde vivemos. Parece a você que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence desde o nascimento) certos comportamentos como preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e ainda se comunicar através desta ou daquela língua? Pois a Antropologia, junto com outras ciências como a Arqueologia, a Paleontologia e a História, tem explorado profundamente essa questão sobre a diferença do Homem em relação ao resto do mundo animal que nos cerca. Até o momento puderam concluir que nosso comportamento é fruto de um processo histórico no qual BIOLOGIA e CULTURA modelaram nossos ancestrais. Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biológico e a cultura foram responsáveis por tamanhas mudanças em nossa espécie, que hoje achamos um fato “natural” não necessitarmos entrar na “luta pela sobrevivência”, na “lei da selva”. Quem começou a inventar palavras para dar nomes às coisas, ou saber que alimentos são comestíveis e como devemos prepará-los? Quem inventou o primeiro tipo de Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 4 calçado, ou descobriu como fabricar o vidro? Enfim, como surgiu a cultura? Que importância decifrar esse fato pode ter para nossa compreensão de ser humano? Essas questões devem ser respondidas ao longo desse tema. No séc. XIX Charles Darwin (biólogo), afirmou que todas as espécies vivas resultam de uma EVOLUÇÃO ao longo do tempo. Isso significa, que se retornássemos em nosso planeta há milhões de anos atrás não encontraríamos as espécies conforme as vemos hoje. Cada ser vivo, para chegar até hoje, passou por sucessivas e pequenas transformações que possibilitaram sua sobrevivência; esse processo de mudanças orgânicas ocorre por necessidade de ADAPTAÇÃO AO MEIO. Consideremos que as condições do meio como clima, quantidade na oferta de alimentos e todas as questões relacionadas às condições ambientais, estão em constante mudança. Pois bem, as formas de vida existentes precisam acompanhar essas mudanças, estando sujeitas – segundo Darwin – a dois destinos: a) podem se adaptar e ao longo de muitas gerações apresentarem mudanças visíveis; b) não conseguem se adaptar, entrando em extinção. Quais são as espécies que conseguem se adaptar? São as que possuem alguns indivíduos do grupo dotados de características tais que o permitem sobreviver e gerar uma prole (conjunto de filhos/as) que dá continuidade a essas características. Os outros indivíduos de sua mesma espécie que não possuam tais características, não conseguindo “lutar” pela sobrevivência, têm mais chances de morrer sem deixarem descendentes. Assim, após muitas gerações, temos uma espécie que já não se parece com seu primeiro exemplar. A possibilidade da geração de uma prole com características que permitam a adaptação ao meio é, para os evolucionistas, chamada de “seleção natural” – sobrevivem apenas aqueles indivíduos com traços que os permitam a sobrevivência. Ao lado da seleção natural, as mutações aleatórias também são responsáveis pelas modificações de um organismo ao longo do tempo. Uma das dificuldades do senso-comum em aceitar as idéias evolucionistas, está no fato que não podemos “ver” a evolução acontecendo – apesar de ela estar sempre acontecendo -, isto é, não testemunhamos alterações expressivas, pois as mudanças são muito sutis e ao longo de períodos de tempo muito longos do ponto de vista do ser humano. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 5 As alterações podem ser consideradas em intervalos de tempo não inferiores a cem ou duzentos mil anos. Portanto, muito além de qualquer evento que possamos acompanhar. Mas podemos acompanhar sim a luta pela sobrevivência e a mudança de hábitos em muitas espécies, como os pombos que povoam as cidades, mas não estão tão concentrados demograficamente nos campos. Essa espécie encontrou um ambiente ótimo nas cidades construídas pelos seres humanos, aprendendo rapidamente como obter abrigo e alimento, com a vantagem de estar livre de predadores como nas florestas e campos. Faz parte de sua evolução esse novo ambiente. Assim entendemos que a evolução biológica de todas as espécies vivas não acontece sem influencia de muitos fatores, não acontece de forma “mágica” e independente do tipo de meio e hábitos que podemos observar. Hoje em dia o darwinismo está com uma nova roupagem e temos teorias como o pós-darwinismo ou neo-darwinismo, que são conseqüência do desenvolvimento de nossa tecnologia de pesquisa, e do próprio conhecimento cujas portas foram abertas por Charles Darwin para seus sucessores. "O APARECIMENTO DO HOMO SAPIENS- uma espécie que trabalha" "DETERMINAÇÕES BIOLÓGICAS E PROCESSO CULTURAL" O homem descende do macaco. Essa foi a afirmação polêmica de Darwin na segunda metade do séc. XIX e que dividiu opiniões na sociedade moderna. Essa polêmica permanece até hoje, pois encontrou como opositor o ponto de vista de uma prática humana muito mais antiga que a teoria da evolução: a religião. Não conhecemos nenhuma crença, em nenhuma cultura que coincida e concorde totalmente com a afirmação de Darwin. Da perspectiva das crenças, a criação da vida é atribuída a um “ser criador”, a algo externo e superior a toda a vida existente. Ao conjunto de teorias e explicações que partem desse tipo de raciocínio, denominamos “criacionismo”. Pois bem, para pensar como Darwin e a maior parte dos cientistas até hoje, esqueça suas crenças. A ciência não reconhece como possível a existência de seres superiores que tenham dado origem à vida, e muito menos entende que o ser humano é uma espécie “privilegiada” ou “superior”, seja pela capacidade de raciocínio, seja pela capacidade de criar crenças. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 6 Para os evolucionistas, todas as espécies vivas foram surgindo das transformações de outras já existentes, dando origem a novas espécies, enquanto outras se extinguiram. Os primeiros humanos, chamados cientificamente de hominídeos, surgiram das transformações de algumas famílias de símios que fazem parte dos chimpanzés. Nossa espécie surgiu devido a mudanças biológicas e ao surgimento da cultura. Que mudanças biológicas são essas que nos diferenciam dos símios? O aumento da caixa craniana que nos dotou de um volume cerebral muitas vezes maior que o de um macaco. A postura ereta, que possibilita utilizarmos apenas os membros inferiores para nos locomover. E o surgimento do polegar opositor, que possibilita a nossa espécie da capacidade do chamado “movimento de pinça”. É a partir dessas três características básicas que desenvolvemos inúmeras outras características fascinantes como a capacidade da fala ou ainda a de fabricar instrumentos para nossa sobrevivência. Mas essas características como inteligência, fala e indústria não teriam surgido em nossos ancestrais se não fosse a presença de um tipo de comportamento que ajudou a modelar o corpo de nossos ancestrais, que é o comportamento baseado na CULTURA. Ou seja, a necessidade de comunicação, cooperação e divisão de tarefas facilitou o desenvolvimento dessas características BIOLÓGICAS. Características biológicas: forma, funcionamento e estrutura do corpo. É a nossa anatomia, características herdadas biologicamente e que não são resultado da nossa escolha pessoal. Características culturais: todo comportamento que não é baseado nos instintos, mas nas regras de comportamento em grupo que nos permite transformar a natureza para a sobrevivência (trabalho), e nos permite atribuir significados e sentidos ao mundo através dos símbolos (a cor branco simboliza a paz, ou o tipo de vestimenta simboliza status). Durante muito tempo pensou-se que o ser humano já teria surgido plenamente dotado dessas características em conjunto. Hoje sabemos que nossa cultura foi determinante para modelar nossas características biológicas ao longo do tempo, e vice-versa. Nossos ancestrais foram lentamente se transformando em humanos, e essa espécie que somos Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 7 agora, foi aos poucos sofrendo pequenas transformações que ao longo de milhões de anos nos diferenciaram totalmente de qualquer ancestral símio. No início da história humana, nossos ancestrais eram muito semelhantes a um macaco. Tinham mais pelos pelo corpo, o cérebro era menor e a mandíbula maior. A postura não era totalmente ereta, e as mãos não tinham muita habilidade, pois o polegar ficava mais próximo dos outros dedos. O tamanho do cérebro foi aumentando muito devagar, como também a postura ereta surgiu gradualmente, e igualmente o polegar opositor não surgiu repentinamente. A cada geração, mudanças muito sutis transformaram a espécie, e nesse processo a cultura teve um papel fundamental, pois possibilitou ou exigiu que nosso ancestral desenvolvesse comportamentos capazes de mudar nossa estrutura biológica. Um exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relação com duas características que são a posição da laringe resultante da postura ereta e a utilização das mãos para trabalhos de fabricação de instrumentos. Ao fabricar os chamados instrumentos de “pedra lascada”, nosso ancestral permitiu operações mais complexas e passou a utilizar uma área do cérebro, que é a mesma que nos permite falar. É importante compreender que nossa espécie não é fruto de coisas inexplicáveis, mas resulta de um longo e lento processo de evolução, que significa mudanças ao longo do tempo. Essas mudanças por sua vez, são fruto de uma dura luta por parte de nossos ancestrais para sobreviver em condições pouco favoráveis e convivendo com espécies mais fortes e predadores mais bem preparados fisicamente para tal. Nossos ancestrais não tinham a mesma caixa craniana que temos hoje, e não eram tão inteligentes; não tinham a postura totalmente ereta, e não viviam em cidades. Eram mais uma espécie entre tantas outras, e o pouco que puderam fazer então determinou sua sobrevivência, e mais que isso, determinou COMO somos hoje. Sobreviveram lascando uma pedra na outra para conseguir objetos pontiagudos e cortantes que serviam como arma de caça, como raspador de alimentos ou qualquer utilidade para a vida humana. Dormiam em cavernas, ao invés de fabricar abrigos. Durante muito tempo o domínio do fogo era um mistério, portanto não comiam muitos alimentos cozidos. Nessa época não havia escrita, e os únicos vestígios de comunicação encontrados são as pinturas em cavernas (arte rupestre) e pequenas estatuetas representando figuras Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 8 femininas. Eram organizados em bandos que praticavam caça e coleta, por isso dependiam de deslocamentos constantes em busca de alimento. Durante quase quatro milhões de anos sobreviveram dessa forma, e nesse período de tempo nossa forma física foi se alterando, até que no chamado período “neolítico”, houve uma revolução. A “revolução neolítica” foi um período marcante em nossa evolução, durante o qual o ser humano desenvolveu técnicas determinantes para a história de nossa espécie: a agricultura e a domesticação de animais, que permitiram o sedentarismo (começamos a construir abrigos e povoados ao invés de habitar em abrigos naturais). A agricultura e a domesticação de animais significaram a garantia de alimentação dos grupos humanos, independente do sucesso na caça e coleta. Isso permitiu à nossa espécie se fixar por períodos prolongados em determinados lugares, formando aldeias e também colaborou para o crescimento demográfico. É nesse momento que o ser humano começa a TRABALHAR, e não mais viver da caça/coleta que o tornava dependente dos recursos nos territórios habitados. A introdução do trabalho como estratégia de sobrevivência, segue um padrão estabelecido em nossa evolução para obter resultados: a divisão de tarefas; a cooperação com o grupo; e a especialização. Essas características são importantes uma vez que possibilita que cada um de nós realize apenas um tipo de tarefa. Não é possível produzir sozinho tudo que necessitamos em nossa vida. Se não tivessem desenvolvido a capacidade de trabalho, baseado nos princípios acima, provavelmente, nossos ancestrais não teriam tido sucesso em sua evolução, e nenhum de nós estaria aqui hoje, compartilhando a condição se HUMANOS. Até hoje utilizamos essas habilidades de trabalho em grupo para viabilizar nossa existência social. A capacidade de dividir tarefas, cooperar e se especializar permite atingir objetivos com resultados mais efetivos e também possibilita um conjunto social com melhor qualidade de vida. O conjunto de tudo que o grupo social produz torna viável uma existência cultural, nos libertando da “lei da selva”. O trabalho humano se fundamenta em Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 9 características básicas como comunicação e cooperação. Fixando-se em um lugar, inaugurando o sedentarismo, o ser humano passa a viver em uma sociedade organizada. Mais alimentos disponíveis, mais segurança com as casas fabricadas, maior permanência do grupo, isso tudo levou a uma maior reprodução da espécie. Tais condições permitiram aos nossos ancestrais uma organização social mais complexa baseada na SOCIEDADE, e não mais em bandos. A comunicação também sofre uma revolução que foi o surgimento da ESCRITA. A partir da escrita e do surgimento das grandes civilizações da Antiguidade como Egito, Grécia e China, conhecemos exatamente como a humanidade se desenvolveu. Mas para chegar até esse ponto, nossos ancestrais percorreram um longo caminho. Ele é o resultado de um processo muito longo no tempo, e para os quais foram determinantes: a postura ereta, a capacidade craniana, o polegar opositor e a aquisição da fala. Entretanto, nenhuma dessas características nos valeria muita coisa se não tivéssemos desenvolvido um tipo de comportamento baseado em regras de convivência social, divisão de grupos em parentesco, divisão do trabalho e uma mente dotada de raciocínio lógico e abstrato ligado à criatividade e imaginação. Foram nossas capacidades de ORGANIZAÇÃO e COMUNICAÇÃO que definiram tal resultado, afastando nossa espécie do comportamento instintivo e determinando essa longa e rica viagem chamada HUMANIDADE. “Clifford GEERTZ – como a Antropologia evidencia a importância da cultura na evolução da espécie humana.” Silas GUERRIERO afirma na pg. 24 do texto “A origem do antropos”, indicado na bibliografia: “Como Geertz, podemos afirmar que a cultura é produto do humano, mas o humano é também produto da cultura. Não fosse essa extraordinária capacidade de articulação e fabricação de símbolos, provavelmente não teríamos sobrevivido e, se o tivéssemos conseguido, não teríamos diferenças anatômicas tão marcantes frente a nossos parentes mais próximos. Em outras palavras, não estaríamos aqui contando essa história.” Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 10 E Roque de Barros LARAIA, na pg. 58 do texto “Idéia sobre a origem da cultura” no livro “CULTURA – UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO”: “A cultura desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio equipamento biológico e é, por isso mesmo, compreendida como uma das características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume cerebral.” A leitura desses textos desenvolve a compreensão predominante atualmente na Antropologia, que o ser humano não teve uma evolução puramente biológica para nos capacitar de inteligência e postura ereta, mas antes, essa evolução BIOLÓGICA não foi independente de sua “parceira”, a CULTURA humana. - R. de Barros LARAIA discute se somos DETERMINADOS ou não pelo meio ambiente e pela herança genética : Da perspectiva biológica, o ser humano é uma única espécie. Somos todos partes de uma mesma família que foi dividida ao longo do tempo por sucessivas migrações. Esse movimento de populações resultou em aparências distintas para cada grupo populacional, popularmente conhecida como “raças humanas”. Vamos esclarecer alguns aspectos importantes. Cada indivíduo possui um fenótipo, que corresponde à aparência física. Entretanto somos portadores de genótipos, que são os genes que carregamos e podem ser determinantes nos resultados de nossa reprodução. Um indivíduo com o fenótipo “pele clara e olhos azuis” carrega genes com essa informação, mas também é portador de informações genéticas outras. Assim, cada indivíduo vai resultar de uma combinação genética de seus antepassados, formando um fenótipo próprio. Durante muito tempo a sociedade em geral, e a ciência, debateram sobre essa questão. Acreditava-se que a cada raça correspondia uma cultura. Dessa perspectiva ultrapassada, surgiram as teorias deterministas. O determinismo biológico defendia que a herança genética seria a responsável pelo comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 11 Bem, é importante ressaltar que esse tipo de afirmação logo encontrou “furos”, pois nem sempre a totalidade dos herdeiros de genes “brancos” ou “negros” apresentavam comportamentos semelhantes entre si. Multiplicavam-se os exemplos de comportamentos diferentes para pessoas da mesma “raça”. Assim, somou-se a esse equívoco científico um outro, que pretendia ser complementar ao anterior e preencher as lacunas explicativas. Trata-se do determinismo geográfico, que defendia que a ecologia (o meio ambiente) no qual essa ou aquela população se desenvolveu, também seria um fator DETERMINANTE para a cultura ali desenvolvida. Portanto, populações de lugares com clima muito quente, ou muito frio teriam sofrido influências que, somadas ao fator biológico, explicariam costumes, mentalidade, valores e tradições. Mesmo tendo sido totalmente desacreditadas pela ciência, esses determinismos ainda hoje permeiam a visão de mundo do senso comum. É fácil encontrarmos pessoas que atribuem ao clima, à vegetação, aos animais circundantes, e ao fenótipo de cada população a explicação sobre “porque essas pessoas desse lugar agem de tal forma”. Você mesmo deve estar se lembrando de muitos exemplos que condizem com esse esquema explicativo. Entretanto, é fundamental que você conheça os pressupostos com os quais a ciência humana contemporânea trabalha. TODOS OS SERES HUMANOS EXISTENTES HOJE DESCENDEM DE UM ÚNICO GRUPO HUMANO ORIGINÁRIO DO CONTINENTE AFRICANO. Essa é uma afirmação resultante de um século e meio de pesquisas, cujo material arqueológico foi mais recentemente reforçado pelo conhecimento genético. Não há como refutar que qualquer indivíduo humano, seja ele um esquimó, um indiano, um escocês, um dinamarquês, um japonês e assim por diante são descendentes de grupos oriundos da África. Sim, todos os indivíduos carregam genes desses primeiros agrupamentos humanos, apesar de terem fenótipos diferentes. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 12 Portanto, somos uma mesma família, que foi desenvolvendo aparências distintas como resposta adaptativa ao meio. A geografia desempenhou um importante papel para a diversidade de tipos humanos? Sem dúvida! Ao longo do processo evolutivo, mudanças importantes ocorreram para permitir a sobrevivência de nossa espécie em diferentes meios. A quantidade de melanina na pele e a dimensão do aparelho nasal foram sendo modelados para permitir nossa sobrevivência. Como a grande família humana foi seguindo rumos diferentes, os grupos que migravam para esse ou aquele lugar, carregavam um conjunto genético que foi se estabilizando ao longo de séculos e séculos. Isso foi criando fenótipos próprios a cada população humana, que viveram praticamente isoladas umas das outras durante tempo suficiente para que fosse surgindo um tipo de “padrão” que chamamos etnia. Mas, até que ponto a essa herança biológica e essa influência do meio têm relação com a diversidade cultural? Leia novamente a questão. De fato, há um LIMITE para tal influência, e nem biologia, nem ecologia são isolados ou em conjunto a única explicação para o comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura. Portanto, NÃO EXISTE UMA DETERMINAÇÃO BIOLÓGICA / GEOGRÁFICA que sustente a explicação sobre a diversidade cultural. O que se aceita hoje é que esses são fatores importantes na relação do ser humano com o meio, seja para sobreviver, seja para se relacionarem uns com os outros. Mas não são determinantes. Vamos a exemplos? Tomemos o caso da “facilidade” de indivíduos afrodescendentes para o desempenho em alguns esportes, como o basquete ou atletismo e que é popularmente divulgado. Não há dúvidas sobre a base biológica que fundamenta essa associação. Mas vamos refletir melhor sobre o comportamento humano, e não apenas sobre seu legado biológico. Desculpe, mas vou formular a seguinte questão sem qualquer preocupação científica ou política. O que o senso comum diria a esse respeito: “Um indivíduo Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 13 descendente de brancos pode se desempenhar tão bem quanto um descendente de negros nesses esportes?” A resposta óbvia, para a qual há inúmeros exemplos é: Sim! Entretanto, vamos considerar o que se segue. O ser humano depende de desejos, estímulos e condições para chegar a objetivos. Concorda? Um indivíduo descendente de brancos que se determine a ser “exemplar” no basquete ou no atletismo pode atingir esse objetivo perfeitamente. Ele não necessita dos genes para ser isso ou aquilo. Basta que se dedique a aperfeiçoar o que deseja ser. O que ocorre é que um indivíduo com facilidades genéticas chega ao mesmo resultado com mais facilidades. Aquele que tem a genética “contra si”, precisa se dedicar mais para atingir igual resultado. Isso para qualquer coisa que você possa pensar. A genética e a geografia são elementos na relação do homem com o meio, e não fatores determinantes. Os genes podem ser facilitadores para certas coisas, mas acima de tudo está a determinação, os desejos e o investimento social que cada indivíduo pode dispor para desenvolver certas características de seu comportamento. O que explica a diversidade cultural, se não há determinismos? O ser humano é uma espécie moldável e criativa. Em cada grupo social, as respostas às necessidades e a qualidade dos vínculos sociais resultam de uma história que é única àquele grupo. Portadores das marcas da história, das experiências coletivamente vividas, das soluções criadas, cada grupo vai construindo um conjunto absolutamente único que é sua cultura. Vamos supor que você tome uma parcela da população norte-americana de hoje e os coloque para viver durante um longo período de tempo em um outro local, com características ambientais muitos semelhantes às quais estão acostumados. Daqui a algumas gerações, se você for analisar esse grupo e o grupo de origem, poderá ver que existem características que os diferenciam. E assim se dá, quanto mais o tempo passa. Qualquer coletividade está sujeita a um destino próprio. E a cultura é o resultado, a cada momento, Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 14 dessa experiência de vida que não se repete exatamente com os mesmos eventos, da mesma forma em todos os lugares. A diversidade cultural é inerente ao ser humano. Onde quer que se forme um grupo social, o resultado será sempre o mesmo: uma cultura própria. - Para iniciar os exercícios propostos, leia os capítulos sugeridos na bibliografia deste conteúdo! Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 15 Questões aula 01 Exercícios obrigatórios 1) Assinale a alternativa correta. De acordo com as descobertas da arqueologia e da paleontologia, o homo sapiens-sapiens se desenvolveu: A) A partir da criação de uma espécie dotada de capacidades especiais, reproduzidas à imagem e semelhança de formas superiores e sobrenaturais, tendo permanecido estável e imutável através dos tempos com o destino de povoar e dominar o planeta. B) Como a forma mais sofisticada de evolução, sendo, portanto o resultado de um processo contínuo de progresso das espécies em direção a uma forma definitiva e superior de vida biológica, podendo ser tomada como modelo do projeto evolutivo pelo qual todas as espécies devem passar. C) A partir de transformações anatômicas sucessivas e formas de adaptação ao meio e às demais espécies, pertencendo a um grupo de espécies que desenvolveram uma capacidade simbólica como instrumento adaptativo e de organização das relações com o ambiente e com os demais indivíduos da espécie. D) A partir da evolução casual e súbita de uma família de símios que começou a gerar uma prole com cérebro avantajado e a postura ereta. E) Como resultado de uma evolução prevista, pois nenhuma outra espécie teria tido capacidade de desenvolver raciocínio, postura ereta e comportamento modelável pela cultura. 2) Entre as características de comportamento que estão associadas à nossa evolução para o humano, é ERRADO afirmar que foram determinantes: A) A capacidade de cooperar, a linguagem e a transformação da natureza. B) A acumulação de conhecimentos e a plasticidade de comportamento. C) A aquisição da postura ereta, o polegar opositor que capacita habilidades manuais e a caixa craniana em aumento progressivo. D) A sociabilidade, a socialização e a simbolização. E) Os instintos, a dificuldade de adaptação a novos meios, uma prole biologicamente evoluída. 3) A respeito do evolucionismo, podemos afirmar que: A) Os evolucionistas e antropólogos encaram a espécie humana como um exemplo especial da evolução uma vez que as outras espécies vivas evoluem muito mais lentamente pelo fato de não terem desenvolvido um cérebro equivalente ao nosso. Isso permitiu que nossa espécie sofresse modificações que dificilmente serão igualadas por qualquer outro ser vivo. B) Segundo o evolucionismo, todas as espécies conseguem evoluir, portanto não existe possibilidade de mudança na quantidade de espécies existente, e sim na sua condição biológica que sofre alteração a cada passo da evolução. C) A busca de restos humanos pré-históricos nos obrigou a considerar a evolução da espécie humana como um outro animal qualquer. Além disso, segundo essa teoria todas as espécies vivas são fruto de uma longa e lenta evolução, não apenas o ser humano. Devemos então compreender que o processo da vida é evolutivo, inacabado e sem um objetivo ou plano pré-definido. D) Para os evolucionistas, todo organismo EVOLUI. Evolução para eles significa que todas as espécies que evoluem se tornam necessariamente melhores, mais fortes e com organismos superiores aos que tinham há milhares de anos atrás. E) Segundo o evolucionismo, apenas as espécies superiores evoluem, enquanto as inferiores acabem sofrendo extinção. 4) Há muitas teorias que tentam sustentar a idéia de que a capacidade de agir culturalmente não faz parte de uma evolução, mas de uma prova de superioridade da espécie humana. Uma dessas teorias é a do “Ponto Crítico”, ou seja, que teria acontecido um “momento mágico” e não como conseqüência de uma evolução. Então, a partir desse momento teríamos sido subitamente capazes de pensar, falar, articular idéias e memória, enfim, adquirido todas as nossas habilidades humanas. Segundo LARAIA, Roque de Barros no capítulo “Idéia sobre a origem da cultura”, in CULTURA Um Conceito Antropológico, a “Teoria do Ponto Crítico” pode ser: Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 16 A) considerada errada, pois trata-se de uma tentativa de nos diferenciar dos macacos através da idéia segundo a qual o ponto critico foi uma exclusividade de nossos antepassados, que não seriam da mesma família que os símios. B) considerada errada, pois trata-se de uma impossibilidade científica, dado o fato que os vestígios da evolução demonstram que a natureza não age por saltos, e sim através de um longo e lento processo de pequenas modificações. C) considerada correta, uma vez que é a única forma de darmos uma explicação para o fato de que os macacos não evoluíram, e tendo passado pelo ponto crítico, o ser humano adquiriu habilidades superiores de uso dos membros e do cérebro. D) considerada correta, pois é comprovada cientificamente através de provas arqueológicas; foram descobertas duas gerações sucessivas de restos humanos, em que a mais antiga se assemelha mais a um macaco, e a geração seguinte já possui a nossa estrutura anatômica atual; portanto não houve evolução. Nossa espécie “surgiu” assim. E) considerada ultrapassada, pois hoje já sabemos que não houve apenas um ponto critico, mas vários momentos críticos; primeiro aquele em que fomos capazes de andar na postura ereta, e usar as mãos com habilidade, depois o momento em que adquirimos a capacidade da fala e da comunicação, e finalmente o momento em que passamos a viver em grupos com diferentes culturas. 5) Entre as características que definem e marcam as especificidades da espécie humana em comparação com as outras que nos cercam, podemos apontar: A) Organiza agrupamentos de indivíduos que definem formas coletivas e ordenadas de práticas, pensamento, comportamento, convivência e sobrevivência. B) É uma espécie que dependeu das características biológicas para definir a Humanidade. A única diferença entre o Humano e as outras espécies, pode ser resumida à evolução biológica de um cérebro capaz de efetuar operações complexas. C) Define-se coletivamente dentro de grupos que seguem a mesma história e que não se importam com as diferenças entre as diversas sociedades e culturas existentes. D) Trata-se de uma espécie que tem garantido em sua carga genética a capacidade de aprendizado e socialização, reproduzindo através do tempo sempre as mesmas respostas às mesmas necessidades. E) Enquanto as outras espécies tiveram pouca evolução cultural, a espécie humana teve pouca evolução biológica. Isso nos faz uma espécie diferente das outras. 6) Ao afirmar que “a cultura é produto do humano mas o humano é também produto da cultura”, GEERTZ citado no texto de Guerriero, S. “As origens do humano”, procura defender as seguintes idéias: A) Reflete sobre as diferenças entre ser humano e natureza; propõe que o humano produz cultura porque não evoluiu naturalmente. B) Propõe pensar que a cultura é produzida pelo ser humano, o que nos torna uma espécie diferente das outras; ao produzir cultura é que nos tornamos humanos. C) Defende a idéia de que não produzimos nada sem uma razão, portanto para existir cultura teve que se produzir o ser humano. D) A evolução é um processo contínuo, linear, cujo nível de complexidade caminha do mais simples ao mais elaborado, portanto ao produzir cultura o ser humano adquire uma posição superior em relação às outras espécies animais, incapazes de atingir essa evolução. E) Que nossa espécie produz cultura humana, enquanto outras produzem tipos de cultura diferentes; ao longo da evolução a produção da sobrevivência capacitou cada espécie para se diferenciar dos seres humanos. 7) Segundo a teoria evolucionista é correto afirmar: A) a espécie humana é uma das mais antigas existentes no planeta, tendo surgido praticamente no momento em que o nosso planeta resfriou o suficiente para permitir a existência de uma imensa diversidade biológica. B) nossa espécie é um exemplo de evolução; nenhuma outra espécie foi capaz de evoluir tanto quanto a nossa, por isso encontramos humanos que habitam em todas as partes do planeta, enquanto as outras espécies se restringem a territórios específicos. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 17 C) a espécie humana evoluiu de antepassados que foram adquirindo lentamente capacidades que os diferenciavam de um ancestral comum aos macacos, e nessa cadeia evolutiva podemos encontrar as famílias de Australopitecus, os Homo Habilis e os Homo Erectus. D) evoluir é uma medida da superioridade de uma espécie; assim, todas as espécies que sobreviveram à extinção podem ser consideradas melhores que seus antepassados. O melhor exemplo disso é o ser humano. E) cada espécie surgiu em um determinado momento, de acordo com a maior capacidade de sobreviver naquele ambiente; assim, nossos antepassados humanos tiveram que conviver com mamíferos como os dinossauros, pois ambos necessitam do mesmo tipo de condição climática e ambiental. 8) A cultura humana possui como características fundamentais que a diferencia dos hábitos e comportamentos que as demais espécies desenvolvem. Entre essas características é correto apontar: A) a flexibilidade perante o mundo; os grupos humanos mais evoluídos dominam a natureza e os outros grupos humanos dependem dos instintos. B) a imobilidade de seus elementos; uma vez que certo comportamento cultural é estabelecido não pode ser transformado, com risco de barrar a evolução humana. C) a capacidade de simbolizar o mundo através da linguagem; a troca de experiências e idéias; o pensamento abstrato e o aprendizado. D) a possibilidade de dominar uns aos outros, organizando grupos com uma hierarquia rígida; isto é o que nos permite evoluir. E) a vantagem do comportamento que elimina a necessidade de sobrevivência baseada nos instintos, e em seu lugar coloca a necessidade de sobrevivência baseada na evolução de nossa espécie. 9) Sobre as teses do determinismo biológico e geográfico, é correto afirmar: A) Ambas teses são verdadeiras, pois é perceptível que o comportamento humano é moldado conforme as características herdadas geneticamente e também às imposições do meio ambiente como o clima. B) Ambas teses são verdadeiras, quando o que está sendo considerado é a diversidade cultural. C) Ambas teses são falsas, uma vez que podemos perceber que em alguns casos somos determinados geograficamente, em outros casos, nosso comportamento é determinado biologicamente. D) Essas teses foram verdadeiras durante nossa evolução, mas depois que nos transformamos em humanos, elas perderam a importância. E) Ambas teses são falsas, pois o ser humano é também produto do meio social no qual se desenvolve, não sendo determinado biológica ou geograficamente. 10) "A população européia tem por característica a frieza nas relações sociais, enquanto no Brasil a população é conhecida pelo seu calor humano. Esta divergência cultural entre as populações européias e os brasileiros pode ser explicada pelas diferenças climáticas: as regiões frias determinam pessoas mais sérias e rígidas, enquanto o clima tropical favorece a alegria, a sensualidade e a descontração de nosso povo." Nestes fragmentos de afirmações podemos identificar idéias provenientes do: A) determinismo geográfico B) determinismo biológico C) determinismo cultural D) determinismo histórico E) determinismo psicológico Sugestão questão 10: Lembre-se de aplicar o seguinte raciocínio: podemos encontrar vários tipos de DETERMINISMOS: - O PSICOLÓGICO que tenta justificar todo e qualquer tipo de comportamento humano APENAS pelos fatores do psiquismo humano; - O ECONÔMICO que tenta justificar todo e qualquer tipo de comportamento humano APENAS pelos fatores de aproveitamento dos recursos e geração de riqueza; - O HISTÓRICO que tenta justificar todo e qualquer tipo de comportamento humano APENAS pelos fatores dos eventos passados e vividos por um povo; Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 18 - e assim por diante. O fato é que encontramos muitos pensamentos DETERMINISTAS em nossa sociedade. Para identificar corretamente os que estão em debate neste momento, associe os elementos presentes com sua origem. Sempre que os fatores presentes em cada explicação são clima, ambiente ou ecologia, trata-se do determinismo geográfico. Sempre que os fatores presentes em cada explicação são herança genética, sexo biológico, ou qualquer realidade orgânica de uma população, trata-se do determinismo biológico. 11) Analise os exemplos abaixo. Escolha os exemplos que CARACTERIZEM AS IDÉIAS DO DETERMINISMO BIOLÓGICO, muito presente em nosso dia-a-dia: I. Há algumas profissões que são exclusivamente masculinas já que as mulheres não possuem força física para executá-las como, por exemplo, ser peão de fazenda; II. A amamentação é tipicamente feminina, em nenhum lugar do mundo isto ocorre de outra maneira. Esta função é feminina e intransferível; III. As crianças e adolescentes com dificuldades escolares não aprendem porque são imaturas psicologicamente; IV. A maioria dos homens tem relações heterossexuais por uma questão educacional, religiosa, isto é, por questões histórico-culturais, e não em função do aparelho reprodutor masculino ou por questões hormonais; V. Em climas frios, os indivíduos são mais produtivos. A) As frases I, II e IV B) As frases II, III e IV C) As frases I e II D) As frases I, III e V E) As frases III, IV e V 12) Leia o texto abaixo, que se encontra incompleto, contendo três lacunas: Desde a Antigüidade os homens preocupam-se com a diversidade de modos de comportamento existentes entre os diferentes povos e tentam explicar tais diferenças, a partir das diferenças genéticas, hereditárias, raciais e também a partir das variações dos ambientes físicos. Porém as diferenças de comportamento entre os homens não podem ser explicadas pelas diversidades biológicas ou geográficas: tanto o ___________________ como o ___________________ são incapazes de explicar as diferenças entre os homens. Segundo a Antropologia, o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado que se realiza desde a infância, na cultura a que estão inseridos - um processo denominado ________________. Quais são os termos que completam na seqüência o parágrafo acima de modo correto? A) antropólogo; sociólogo; etnocentrismo B) determinismo biológico; determinismo geográfico; endoculturação. C) social; cultural; antropologia. D) determinismo biológico; etnocentrismo; cultura. E) estruturalismo; etnocentrismo; relativismo 13) Um menino e uma menina agem diferentemente em função de seus hormônios, e não em decorrência de uma educação diferenciada. A esse tipo de afirmação está corretamente associado o que se segue: A) Determinismo biológico B) Endoculturação (que é a educação dentro de uma cultura) C) Evolucionismo D) Determinismo Geográfico E) Etnocentrismo 14) Um menino e uma menina agem diferentemente em decorrência de uma educação diferenciada juntamente com seus hormônios, e não apenas em função dos hormônios; ou seja, de sua própria natureza. A esse tipo de afirmação está corretamente associado o que se segue: A) Determinismo biológico B) Endoculturação (que é a educação dentro de uma cultura) Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 19 C) Evolucionismo D) Determinismo Geográfico E) Etnocentrismo 15) Entre as características responsáveis por nos tornar diferentes das demais espécies vivas, Fritjot CAPRA (citado em GUERRIERO, Silas As origens do antropos, in Antropos e Psique - O outro e sua subjetividade), ressalta: A) a comunicação teve o papel mais importante para que pudéssemos criar o mundo da cultura; comparada às outras características, de nada valeriam se não nos comunicássemos. B) o tamanho do cérebro foi o fator mais importante e que garantiu as características humanas – viver em grupo, estabelecer regras e papéis e criar hábitos. C) o desenvolvimento das habilidades manuais para a fabricação de instrumentos capazes de transformar a natureza foi o ponto determinante. D) nenhuma das habilidades humanas faz sentido sem a capacidade de cooperação, pois de nada adiantaria nos comunicarmos sem agirmos coletivamente. E) segundo esse autor, a espécie humana não é diferente de todas as outras, pois todos os seres vivos modificam a natureza. 16) A explicação evolucionista mais aceita sobre a origem geográfica do ser humano afirma que: A) nossa espécie teve origem de algumas famílias de macacos da África, e só mais tarde surgiram os primeiros hominídeos no Norte (Europa) e Oriente Médio. B) o ser humano teria surgido ao mesmo tempo em dois pontos do globo – África e Europa – tendo se dispersado pelo resto do mundo a partir das eras glaciais. C) somos originários da Europa, por isso durante muito tempo ela foi chamada de o “velho continente”; dali partiram as correntes migratórias para o resto do globo. D) nossa espécie teve origem indeterminada geograficamente; as evidências fósseis são bastante confusas e não possibilita afirmarmos de onde viemos. E) o ser humano teve origem de algumas famílias de hominídeos africanos, que se dispersaram pelo globo em busca de alimento, adquirindo características locais em conseqüência da adaptação a diferentes ambientes. 17) Sabemos que o DNA dos humanos difere do DNA de um chimpanzé em apenas 1,6%, ou seja, somos 98,4% geneticamente idênticos. Mas, não há como negar que somos radicalmente diferentes desde a aparência até todas as realizações que nos faz reconhecermos por formar a HUMANIDADE. Qual a razão disto? A) Uma das razões é o fato de sermos fruto de um processo de evolução; já os símios (família dos macacos) não tiveram evolução. B) A razão de sermos tão diferentes está na origem de nossa espécie, que desde o início se diferenciou dos símios fisicamente e pelo uso da inteligência. C) O que nos diferenciou foi o desenvolvimento da capacidade de simbolização, ou seja, de adquirir cultura, que foi gradual, lento e contínuo durante um longo período de tempo, favorecido, e ao mesmo tempo favorecendo o crescimento cortical, a postura ereta, a visão bipolar a cores e o desenvolvimento da laringe. D) Nossa grande diferença física e anatômica, ou seja, as transformações corporais que tanto nos afastam dos grandes símios foram provocadas num “momento mágico” em que nossos ancestrais subitamente geraram filhos inteligentes e com aparência física diferente dos símios. E) Toda diferença entre os humanos e qualquer outra espécie é resultado da vontade divina. 18) Leia a seguinte frase de Roque de B. LARAIA, em seu livro “Cultura – um conceito antropológico”: “As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares. Sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura.” (LARAIA, p. 24) Nesta frase o autor explica o que segue: A) que concorda com a tese do determinismo geográfico. B) que concorda que a evolução humana resultou em nossa incapacidade de adaptação a novos meios. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 20 C) que discorda que houve evolução humana, mas apenas adaptação a novos meios. D) que discorda da tese do determinismo geográfico. E) que concorda parcialmente com a tese da evolução baseada na seleção dos mais aptos a sobreviver em climas extremos. 19) ENADE 2008 – Prova de FORMAÇÃO GERAL para todos os cursos (QUESTÃO 2) “ Quando o homem não trata bem a natureza, a natureza não trata bem o homem.” Essa afirmativa reitera a necessária interação das diferentes espécies, representadas na imagem a seguir. Depreende-se dessa imagem a A) atuação do homem na clonagem de animais pré-históricos. B) exclusão do homem na ameaça efetiva à sobrevivência do planeta. C) ingerência do homem na reprodução de espécies em cativeiro. D) mutação das espécies pela ação predatória do homem. E) responsabilidade do homem na manutenção da biodiversidade. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 21 CONTEÚDO DO 1º BIMESTRE (PROVA B-1) 2. A CULTURA 2.1 - O conceito de cultura através da história. O significado do termo cultura: senso comum e científico; a simbolização da vida social, a diversidade cultural e as culturas nacionais. A Antropologia e o estudo da cultura. Textos básicos: “O desenvolvimento do conceito de cultura”, “Teorias modernas sobre a cultura”, in LARAIA, R.B. CULTURA - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 17ª ed., 2005. pp 30-52; 59-64. “Primeiros movimentos”, “O Passaporte”, in ROCHA, Everardo. O QUE É ETNOCENTRISMO, São Paulo: Brasiliense, 19ª ed., 2004, pp. 23-55. “Os pais fundadores da etnografia – Boas e Malinowski”, in LAPLANTINE, F. APRENDER ANTROPOLOGIA, SP: Brasiliense, 2007. PP. 75-92 Objetivos: neste item o aluno deve ser capaz de confrontar as noções de cultura do sensocomum, que remetem a hierarquias sociais de educação e formação de valores, com a visão científica que universaliza a condição cultural humana. Identificar a importância da cultura como mediadora das relações humanas e nossa capacidade de comunicação através dos símbolos. Identificar a pesquisa antropológica como instrumento de aproximação entre diferentes universos culturais. DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 22 A antropologia propõe que a cultura é a base de nossa forma de encarar o mundo à nossa volta e dar formas e significados a ele. Vamos considerar que grande parte das coisas que realizamos em nosso dia-adia, incluindo planos pessoais e organização de regras de convivência, é resultado de um modelo coletivo de pensar como devemos ser? Isto significa que aprendemos a estar no mundo, e não simplesmente somos “jogados” nele. Desde a língua que falamos para nos comunicar, até os símbolos que associamos a crenças, sonhos e mensagens, são criados de acordo com uma mentalidade coletiva comum. Esse “modelo” para nos comunicar e dar sentido ao que pensamos, é dado pela nossa cultura. E em cada uma das culturas humanas, aquilo que nos faz rir, chorar ou sonhar varia imensamente. “O CONCEITO DE CULTURA ATRAVÉS DA HISTÓRIA” A antropologia social tem como conceito central o conceito de CULTURA. Para refletir sobre a complexidade desse conceito, vamos começar tomando exemplos de como podemos encontrar o uso da palavra cultura em situações cotidianas. Normalmente as pessoas utilizam essa palavra em frases como: ”O brasileiro precisa valorizar mais sua própria cultura”; “Fulano é uma pessoa que tem muita cultura”; “A cultura desse lugar é muito atrasada”; “A cultura oriental é muito antiga”. Nesses exemplos já é possível percebermos a complexidade e a multiplicidade do uso que fazemos desse conceito. Precisamos começar a diferenciar quais são utilizações do chamado senso-comum e, por outro lado, como a ciência antropológica compreende e define cultura. De acordo com o uso popular, percebemos que existe uma concepção segundo qual cultura é uma questão de status e está muito relacionada com a aquisição de conhecimento letrado. Na frase “fulano é uma pessoa que tem muita cultura”, o sentido atribuído a esse conceito é que se trata de uma coisa possível de ser acumulada e que Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 23 distingue um indivíduo dos demais. A sociedade em geral pensa cultura como relacionada ao acesso a estudos clássicos e letrados. O conhecimento letrado é aquele que não faz parte da “escola da vida”, mas que se acumula no conhecimento transmitido por livros, autores, autoridades em cada assunto. Já numa outra situação como na frase ”o brasileiro precisa valorizar mais sua própria cultura”, há a preocupação em situar o conjunto da produção cultural e da história de nosso país. Comparam-se assim as chamadas “culturas nacionais”, e somos capazes de perceber que de uma sociedade para outra mudam regras, valores, arte, religião, folclore, culinária e assim por diante. Assim podemos ver que os limites políticos e geográficos que são as nações, podem compreender também culturas próprias. Vamos a outro de nossos exemplos. Na frase “a cultura desse lugar é muito atrasada”, existe uma nítida noção popular segundo a qual deve existir uma hierarquia entre as diferentes culturas, que vão das mais “atrasadas” às mais “avançadas”. Normalmente as pessoas se referem ao comportamento coletivo, à qualidade da vida social. Elas querem expressar a existência de culturas que permitem às necessidades sociais serem mais bem solucionadas, seja pelo nível de desenvolvimento tecnológico, ou pela chamada “educação do povo”, que nesse caso, nada mais significa que o acesso a informações e à cultura letrada. Finalmente, na frase “a cultura oriental é muito antiga”, surge a noção que cultura é algo que se acumula e se mantém (ou se perde) ao longo do tempo. Nesse caso, há a preocupação em pensar cultura como um conjunto de coisas (denominados “elementos da cultura”) que podem se transformar tradições, pois são mantidas ao longo do tempo; já outros elementos se transformam, dando a idéia de passagem do tempo. Para compreender essa multiplicidade de usos do conceito de cultura, é importante resgatar o processo histórico que transformou seu uso. É o que você poderá perceber com o texto que segue e utilizando a bibliografia indicada. ETIMOLOGIA DA PALAVRA CULTURA Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 24 * Até séc. XVIII, a palavra cultura existia APENAS com o registro de “agricultura”. * Em sua origem, o conceito de cultura demonstra já uma relação entre HABILIDADES HUMANAS e o domínio da natureza circundante. Agricultura é uma habilidade em observar o desenvolvimento das espécies vegetais e aperfeiçoar as condições para o bom desenvolvimento e o cultivo em larga escala. * Os diversos comportamentos culturais humanos, nesse registro demonstrariam nossa capacidade de manipular, aperfeiçoar, utilizar, consumir. Isso tudo aplicado ao UNIVERSO humano das coisas e idéias que nos cercam. COMO A PARTIR DO SÉC. XVIII A DEFINIÇÃO DA PALAVRA CULTURA SOFRE UMA GRANDE TRANSFORMAÇÃO A partir desse momento histórico, a palavra cultura adquire uma MULTIPLICIDADE de sentidos. Além de agricultura, hoje ela é associada a conhecimento, educação, costumes e tradições. Como se deu essa mudança? * Revoluções anteriores – séculos XV, XVI e XVII: * RENASCIMENTO * GRANDES NAVEGAÇÕES E A ENTRADA DO “NOVO MUNDO” NO MAPA MUNDI. * A mentalidade européia vem de um impacto e de profundas alterações econômicas e sociais (os lucros com as Colônias, o contato com outros povos); * Nesse contexto, o contato com outros povos prepara o momento seguinte, quando o conceito de cultura começa a ser associado a comportamento coletivo de um povo. Veja abaixo. Após isso, na FRANÇA E ALEMANHA surgem duas diferentes definições de cultura (séculos XVIII e XIX) * ALEMANHA – (cultura = “kultur”), idéia de que um povo cultiva suas tradições * FRANÇA – (cultura = “civilization”), preocupados em diferenciar pessoas/povos que cultivam a educação refinada (burguesa) Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 25 * Nos sécs. XVIII e XIX estavam em processo de criação os Estados nacionais, os países como conhecemos hoje. Era necessária a discussão sobre cultura, pois a classe dominante precisava algum apoio ideológico para convencer diferentes povos que a partir de então eles fariam parte de uma mesma “nação”. * Perceba como é nesse momento que a palavra cultura amplia seu significado, sendo associada TAMBÉM à idéia de COMO UM POVO CULTIVA SEU COMPORTAMENTO COLETIVO. Como observamos, dominamos e orientamos a conduta e o cultivo das relações sociais (registro alemão da palavra). * Também é nesse momento que a palavra cultura passa a ser associada com DISTINÇÃO SOCIAL, pessoas “civilizadas” e “cultas” e pessoas “atrasadas” e “incultas” (registro francês da palavra). Vale lembrar que o registro que o senso-comum tem hoje da palavra cultura, está bem próximo da forma como na França se desenvolveu esse conceito, você pode perceber isso? Pois bem, vamos retomar a definição de Antropologia, agora concentrados no conceito de cultura. Antropologia é uma ciência dedicada ao estudo do Homem. O radical latino “anthropos” significa Homem (Ser Humano), e “logia” é o estudo. Surge no séc. XIX empenhada em aprofundar o conhecimento científico sobre as chamadas “sociedades primitivas”, como eram chamadas as tribos e povos não-europeus, os nativos das Américas, Austrália e África. Para explicar a grande diferença de comportamento entre esses povos e os povos europeus, a Antropologia acabou se concentrando no conceito de cultura. Hoje, essa ciência não estuda apenas as tribos ou pequenas comunidades distantes dos centros desenvolvidos, mas qualquer ambiente social. Isso ocorreu, pois ficou comprovado que a diversidade cultural não gira apenas em torno de “povos primitivos” e Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 26 “povos civilizados”, mas está em toda parte onde haja contato entre dois povos que cultivam costumes e valores diferentes. E recentemente, em nossa história, com o início da chamada “globalização”, o contato entre pessoas e organizações com diferentes referenciais de mundo, ou seja diferentes culturas, intensificou-se num ritmo frenético. Por isso compreender o conceito científico de cultura é tão importante. EDWARD TYLOR no final do século XIX, definiu cultura como "um conjunto complexo que inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a lei, a moral, os costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade". A essa definição, seguiram-se muitas outras, e hoje podemos encontrar centenas de formas diferentes para se referir ao mesmo conceito. Mas, por que essa falta de consenso na Antropologia? Vamos passar por alguns dos principais autores para compreender a complexidade do tema. A seguir, vários autores mostram sua definição para o conceito de cultura: Franz Boas (1930) - “A cultura inclui todas as manifestações dos hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo na medida em que são afetadas pelos costumes do grupo em que vive, e os produtos das atividades humanas na medida em que são determinados por tais costumes”. Perceba como, na visão desse autor, o principal aspecto no conceito de cultura é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Ou seja, “as reações do indivíduo na medida em que são afetadas pelos costumes do grupo em que vive” e mesmo tudo que o ser humano PRODUZ é influenciado pelos costumes, portanto, os COSTUMES fazem uma cultura. Para ele, os costumes (que são coletivamente construídos) influenciam os indivíduos e suas obras. Portanto, para Boas, tudo que um povo produz, seja essa produção material ou imaterial é resultado dos costumes que se formam nele. B. Malinoswski (1931) - “Esta herança social é o conceito central da antropologia cultural (...). Normalmente é chamada de cultura na moderna antropologia e nas ciências sociais. (...) A cultura inclui os artefatos, bens, procedimentos técnicos, idéias, hábitos e valores Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 27 herdados. Não se pode compreender verdadeiramente a organização social senão como uma parte da cultura”. Perceba como, na visão desse autor, a cultura é a TOTALIDADE do que um grupo social produz, ou seja, idéias, hábitos, valores e bens entre outras coisas. Para ele, a organização de uma sociedade (instituições, economia, religião) são uma parte da cultura. Portanto a política, as leis, enfim, o conjunto das obras humanas são todos elementos constituintes de uma cultura. W.H. Goodenough (1957) - “A cultura de uma sociedade consiste em tudo aquilo que se conhece ou acredita para influenciar de uma maneira aceitável os seus membros. A cultura não é um fenômeno material: não consiste em coisas, pessoas, condutas ou emoções. É melhor, uma organização de tudo isso. É a forma das coisas que as pessoas têm em sua mente, seus modelos de percebê-las, de relacioná-las ou de interpretá-las.” Perceba como, na visão desse autor, a cultura não CONSISTE EM COISAS (bens materiais), mas a cultura é um MODELO MENTAL, uma certa forma de interpretar o mundo. Clifford Geertz (1966) - “Se compreende melhor a cultura não como complexos de esquemas concretos de conduta – costumes, usos, tradições, conjuntos de hábitos – mas sim como planos, receitas, fórmulas, regras, instruções (o que os engenheiros de computação chamam de ‘programas’) e que governam a conduta”. Desenvolvendo ainda mais a mesma idéia do autor acima (Goodenough), Geertz indica que a cultura é um conjunto de planos e receitas que GOVERNAM A NOSSA CONDUTA. Traduzindo, todas as nossas atitudes, sejam elas de ordem prática ou de ordem afetiva seriam organizadas em nossa mente através da receita proporcionada pela nossa cultura. Para ele, a cultura é como um código, um conjunto de símbolos, que para conseguirmos interpretar precisamos ter o “segredo”, a “chave” para a interpretação. O Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 28 mundo é um grande código, um conjunto de símbolos “embaralhados” e a nossa cultura proporciona um entendimento desse mundo. Clifford Geertz, (1973) - “Cultura é um sistema simbólico, característica fundamental e comum da humanidade de atribuir, de forma sistemática, racional e estruturada, significados e sentidos às coisas do mundo”. Mais uma frase do mesmo autor acima, Geertz, que nos chama atenção para o fato que o pensamento simbólico é EXCLUSIVAMENTE HUMANO. A capacidade de interpretar símbolos é a base de nosso pensamento. Associamos símbolos a coisas, e organizamos o mundo em nossas mentes. Por exemplo, o animal “cão”. Para pensar no cão, criamos um símbolo que é o som da palavra cão, e ao pensar através de palavras, estamos pensando simbolicamente. Para Geertz, não existe nada no mundo que o ser humano deixe de atribuir um significado. Isso é o que explica a cultura humana. M. Harris (1981) – “A cultura se refere a um corpo de tradições sociais adquiridas que aparecem de forma rudimentar entre os mamíferos, especialmente entre os primatas. Quando os antropólogos falam de uma cultura humana normalmente se referem ao estilo de vida total, socialmente adquirido, de um grupo de pessoas, que inclui os modos pautados e recorrentes de pensar, sentir e atuar”. Veja como para esse autor, há a preocupação em ressaltar que a cultura existe de FORMA RUDIMENTAR entre os mamíferos, mas apenas entre os humanos ela é SOCIALMENTE ADQUIRIDA, não é herdada biologicamente. Anthony Giddens (1989) - “Cultura se refere aos valores que compartilham os membros de um grupo, às normas que estabelecem e os bens materiais que produzem. Os valores são ideais abstratos, enquanto que as normas são princípios definidos ou regras que as pessoas devem cumprir”. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 29 Para Giddens, o conjunto de regras, valores e a produção de bens materiais é o que define o que é cultura. Em comum o que se pode perceber é a tentativa de abarcar todas as realizações humanas, representadas em dois níveis complementares que são as realizações materiais e as imateriais. Entre as materiais, podemos citar todo o universo de coisas fabricadas pelo ser humano, de arados até ônibus espaciais. Entre as imateriais estão nossas crenças, conhecimento, arte, idéias e todos os sentimentos. Os autores que enfatizam os aspectos materiais argumentam que eles são importantes uma vez que somos a única espécie a transformar a natureza de forma sistemática, mesmo quando não há necessidades que afetem a sobrevivência. Outros autores, entretanto, entendem que nossas maiores realizações estão contidas nos aspectos imateriais, uma vez que somos a única espécie dotada da capacidade de abstração (pensar em coisas que não estão presentes, criar, imaginar). Mas não usamos essas capacidades realizadoras de qualquer forma, e sim de acordo com regras, normas e hábitos estabelecidos coletivamente. O ponto sobre o qual parece haver muita polêmica é a visão que cada autor tem de ser humano. Aqueles que dão maior importância às nossas realizações materiais procuram ressaltar a nossa capacidade adaptativa, mostrando a cultura como sendo uma forma de solução da sobrevivência, onde grupo social, recursos e meio ambiente se combinam para determinar os hábitos de um povo. Para eles, as técnicas desenvolvidas para solucionar todos os tipos de empresa humana, que vão de uma simples pescaria às necessidades comunicativas, passando por todo tipo de engenhos que nos cercam é que definem propriamente a cultura. Aqui, podemos dizer que cultura equivale a soluções práticas para a existência humana. Outros autores entendem que a solução prática para a vida humana é uma conseqüência de outras capacidades, que muito mais do que nos fazer capazes de fabricar instrumentos, nos faz diferentes de todas as outras espécies existentes. São as capacidades de criar, planejar, prever, avaliar, imaginar, atribuir significado e modificar a natureza não Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 30 apenas por necessidade de sobrevivência, mas por necessidade de se sentir bem. Podemos denominar isto de capacidade de simbolização. Não construímos o mesmo tipo de prédio para servir a qualquer uso, para cada fim encontramos uma arquitetura. Não é apenas pelos aspectos práticos que o fazemos, mas porque cada espaço deve carregar significados que orientem os indivíduos e os faça compreender como devem se comportar. Os templos são diferentes dos teatros, as casas diferentes dos escritórios (ou pelo menos deveriam ser!). A funcionalidade de cada um desses espaços é tão importante quanto o que nos faz sentir através de suas formas e cores. As formas de nossa casa nos transmitem sensações de pensamentos diferentes de um escritório ou de um templo, através dos símbolos que criamos para cada um deles. Para os autores que defendem a preponderância desse aspecto, cultura equivale à nossa incansável capacidade intelectiva de carregar o mundo de símbolos. Resposta a necessidades práticas, ou respostas a necessidades intelectivas, a cultura é uma forma de estarmos no mundo. Ela nos orienta em cada situação da vida social, como um modelo que recebemos e sobre o qual passamos a vida operando pequenas modificações. Vamos ver mais adiante, que algumas regras presentes nas culturas podem ser modificadas, suprimidas, desgastadas; enquanto outras são mais difíceis de negociar. “É assim, e pronto”. Ou seja, há aspectos mais dinâmicos e outros mais permanentes em cada cultura. Concluindo essa discussão, entre todas as definições de cultura que foram apresentadas, hoje em dia na Antropologia, o consenso gira em torno de nossa capacidade de simbolização. Temos necessidades tão importantes quanto a sobrevivência orgânica e a reprodução da espécie, que são necessidades psíquicas, intelectuais, espirituais, ou como você prefira chamá-las. Não somos apenas um “animal fabril”, somos um “animal simbólico”. Agora vamos retomar a visão do senso comum a respeito de cultura. Lembra-se que observamos que no uso cotidiano, cultura é um bem que pode ser adquirido, acumulado e assim distinguir as pessoas umas das outras? Pois é, na ciência esse pensamento é Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 31 considerado equivocado. Se cultura é algo que define nossa espécie, não existe ser humano que tenha ou não cultura, como não existe ser humano que tenha mais cultura que os outros. A cultura é algo que se realiza na vida social, que define a qualidade que essa convivência vai adquirindo, em um processo que nunca pára. Portanto, não existe um povo que tenha “mais cultura”, ou uma “cultura mais avançada”. Para afirmar isso, teríamos que escolher entre todas as culturas humanas, uma única que fosse tomada como medida e parâmetro para julgarmos todas as outras. E cientificamente, isso não é possível. Afirmar que a cultura do povo norte-americano é a melhor, por exemplo, significa colocar no centro a história um único povo, que todos os outros deveriam seguir como modelo – em todos os seus aspectos descritos acima como valores, idéias, soluções práticas e assim por diante. Então, aqueles que mais se aproximam da cultura deles seriam “avançados”, enquanto os que estivessem perdendo a corrida para se assemelhar seriam “atrasados”. Isso é um pensamento equivocado, pois será que a cultura tomada em sua totalidade pode ser julgada “boa” ou “avançada”? Você considera por exemplo, um “avanço” o fato dos hábitos alimentares norte-americanos serem responsáveis por uma população com problemas graves de obesidade e sobrepeso? Você considera ainda, um “avanço” a relação que esses mesmos indivíduos estabeleceram com o código de leis, que os leva a moverem processos uns contra os outros ao invés de tentar uma solução pelas vias normais do contato social? Quando uma única cultura passa a ser modelo e referência para o comportamento de todas as outras, o que temos não é um consenso. É um problema. O fato de que em cada lugar exista uma cultura diferente, não é algo que tenha que ser solucionado, isso é próprio de nossa espécie. A cada experiência social deve corresponder um conjunto de valores e práticas únicos. Nenhum povo pode repetir a história dos outros como se fosse uma receita. O mundo do trabalho no Brasil é diferente do argentino, do americano ou do europeu, e todos são diferentes entre si. O que promove essa diferença é a cultura. Vamos fazer uma metáfora usando a informática para auxiliar no aprofundamento dessa questão. A mente humana corresponde a um “disco rígido” Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 32 (hardware), que apesar de capaz de muitas tarefas, não consegue realizar nada sem um programa (software). Esse programa é a cultura. Cada sociedade desenvolve um tipo diferente de programa para disponibilizar aos seus indivíduos, que aprendem como operá-lo através do processo que denominamos de SOCIALIZAÇÃO. É por isso que em cada cultura os indivíduos reagem todos mais ou menos da mesma forma em relação a uma situação. Faz parte da cultura brasileira torcer para os times e a seleção de futebol. Já nos Estados Unidos, esse esporte não mobiliza o interesse da população, que se interessa muito mais por um esporte quase ausente no Brasil que é o beisebol. Interesse é uma das formas de expressão do que estamos chamando aqui de VALORES. Cada cultura valoriza o interesse de seus indivíduos por certos tipos de esportes, alimentos, vestimentas, crenças e assim por diante. Não é possível nos dedicarmos a tudo ao mesmo tempo. Cada povo uma cultura. Cada cultura um conjunto diferente de valores. Isso é o que chamamos de DIVERSIDADE CULTURAL. Em resumo, o conceito de cultura é utilizado em dois registros bem diferentes: o do senso comum e o da ciência antropológica. No primeiro caso, podemos notar que cultura é utilizada para distinguir numa sociedade aqueles que receberam uma educação mais refinada, e, portanto podemos discriminar pessoas ao dizer que “não tem cultura”. Para a antropologia, cultura é um conceito que define nossa imensa capacidade de criar diferentes soluções para a vida humana. Este é o campo de estudos da antropologia social. LEIA OS TEXTOS INDICADOS NA BIBLIOGRAFIA DESTE CONTEÚDO ANTES DE INICIAR OS EXERCÍCIOS PROPOSTOS. Tente pesquisar também sobre os temas abordados em artigos científicos disponíveis em vários sítios da Internet. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 33 Questões aula 02 20) A espécie humana é dotada de um mesmo equipamento biológico. Para se manter vivo, independente do sistema cultural ao qual pertença, ele tem que satisfazer um número determinado de funções vitais, como a alimentação, o sono, a respiração, a atividade sexual, etc. Mas, embora estas funções sejam comuns a toda a humanidade: A) não podemos afirmar que o ser humano é o mesmo como espécie, pois de um meio ambiente para outro temos variações genéticas. B) a maneira de satisfazer a todas essas funções varia de uma cultura para outra, o que demonstra que a cultura não faz parte de uma herança biológica. C) o ser humano depende inteiramente das condições climáticas e do ecossistema para sobreviver. D) independente do sistema cultural e das características do meio ambiente, a capacidade de adaptação é o que determina a sobrevivência da nossa espécie. E) cada sociedade evolui para um tipo diferente de característica humana. 21) Em 1871, TYLOR definiu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética. Além dessa definição, encontramos em nosso dia-a-dia frases que definem cultura como: “fulano tem muita cultura”. Essas duas formas de definir cultura podem ser corretamente colocadas da seguinte maneira: A) ambas são idênticas, pois afirmam que a diferença de comportamento entre cada indivíduo é resultado de suas características inatas– que nascem com os indivíduos. B) elas definem fenômenos diferentes. A primeira frase diz respeito à evolução biológica da humanidade, enquanto a segunda fala da evolução cultural de uma pessoa. C) ambas mencionam a importância dos processos de aprendizado, mas no caso de Tylor é um conceito científico que pode ser aplicado universalmente, e no segundo caso, há uma tentativa de diferenciar as pessoas, e é de uso do senso comum. D) essas definições se preocupam em demonstrar a importância da transmissão de conhecimentos através do perfil genético de um grupo social ou mesmo de um indivíduo. E) essas frases definem fenômenos relacionados com a maior ou menor capacidade de transmitir e receber conhecimentos, ou seja, explica como em algumas culturas existe mais educação e em outras menos. 22) Alfred KROEBER afirma que existe uma diferença muito grande entre a evolução biológica dos animais e do ser humano. Para fundamentar sua idéia, ele cita o fato que os ursos polares desenvolveram ao longo de muitas gerações grossas camadas de pelos para sobreviver ao clima de seu meio ambiente, enquanto o ser humano ao invés de desenvolver pelos, utiliza roupas e cobertas. Ao realizar essa comparação, o autor está: A) demonstrando a importância da superioridade humana em relação aos outros animais, uma vez que nossa espécie é capaz de se adaptar a qualquer meio ambiente. B) demonstrando a inferioridade da espécie humana, que depende dos recursos extra-orgânicos (exteriores ao corpo) para sobreviver, enquanto os outros animais são capazes de desenvolver características ideais de adaptação. C) ressaltando as diferenças entre animais e seres humanos, baseando-se em conceitos exclusivos da biologia; essa ciência é a única a definir de forma coerente e correta essa diferença. D) demonstrando que a evolução biológica do ser humano é diferente, pois nossa espécie não necessitou de uma adaptação biológica aos diferentes meios. A cultura se mostrou como uma forma de adaptação ainda melhor e superior, pois possibilita a adaptação a qualquer ambiente sem necessidade da lenta adaptação genética. E) afirmando que apenas com a cultura é possível uma espécie evoluir; como os animais não utilizam a cultura, eles não evoluem. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 34 23) Leia esse trecho do livro CULTURA – um conceito antropológico (LARAIA, R. B, pgs. 33-34) e responda de acordo com a alternativa correta: “Uma série de estudiosos tentou analisar, sob esse prisma, o desenvolvimento das instituições sociais, buscando no passado as explicações para os procedimentos sociais da atualidade. (...) por detrás de cada um destes estudos predominava, então, a idéia de que a cultura desenvolve-se de maneira uniforme, de tal forma que era de se esperar que cada sociedade percorresse as etapas que já tinham sido percorridas pelas ‘ sociedades mais avançadas’.” Esse trecho descreve corretamente a seguinte teoria: A) relativismo cultural. B) progresso cultural. C) socialização. D) evolucionismo social. E) desenvolvimento padrão. 24) Chamamos de DIVERSIDADE CULTURAL o processo descrito corretamente como se segue: A) a cada sociedade humana corresponde um diferente padrão de comportamento, técnicas de sobrevivência e trabalho, valores, tradições e hábitos. B) uma mesma sociedade se transforma ao longo do tempo, de forma que cada geração tem uma experiência diferente de vida. C) o meio ambiente determina as características de uma cultura. D) a herança genética determina as características de uma cultura. E) todas as sociedades humanas podem ser consideradas e classificadas a partir de seu grau de evolução material e tecnológica. 25) Entre as muitas teorias modernas sobre a cultura, o livro de LARAIA, “Cultura – um conceito antropológico”, na pg. 62 destaca a de Clifford GEERTZ, através do trecho que se segue: “Assim, para Geertz, todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa [ um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras e instruções que governam nosso comportamento concreto ], e este programa é o que chamamos de cultura.” Com essa definição de Geertz, é correto afirmar: A) a cultura é resultado de uma herança genética. B) qualquer criança está apta a ser socializada em qualquer cultura existente. C) os modelos culturais variam tanto que é impossível uma criança receber a cultura de outro lugar durante sua vida. D) os mecanismos de controle social nos tornam aptos a receber qualquer programa biológico. E) não podemos determinar como cada indivíduo vai agir dentro de sua cultura, pois seu programa pode ser diferente do que controla os outros. 26) De acordo com o pensamento predominante na Antropologia, a partir da obra de Alfred KROEBER, é correto afirmar que para a espécie humana existem coisas como instinto materno, instinto sexual, instinto filial, instinto de conservação? A) Sim, pois qualquer espécie viva possui esses instintos e age orientado por eles, e isto não é diferente com a nossa espécie. B) Não, uma vez que o ser humano evolui, deixa de utilizar os instintos em seu comportamento cotidiano. C) Sim, temos inúmeros exemplos capazes de demonstrar que o ser humano, em situações limite sempre vai agir de acordo com seus instintos, esquecendo completamente as orientações de ordem técnica, moral, das tradições, das crenças ou de qualquer tipo de ética e valores de sua própria cultura. D) Não, pois em cada cultura a reação a situações pode variar imensamente, e as soluções culturais podem ser mais importantes que as instintivas, como no caso dos filhos esquimós que levam seus velhos pais para as planícies para que sejam devorados por ursos. E) Não, pois os instintos interferem apenas no comportamento de indivíduos isolados, que não dependem de um grupo social. ( Sugestão : leia o texto do autor LARAIA indicado na bibliografia deste conteúdo.) Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 35 27) Muito antes do surgimento da Antropologia, havia um debate sobre os elementos que diferenciam o comportamento humano dos demais animais. Jean Jacques Rousseau, em 1775, defende a seguinte idéia: A) que o ser humano se diferencia das demais espécies porque é superior biologicamente; possui inteligência, capacidades de uso da razão, e também habilidades motoras para fabricar instrumentos. B) a diferença, para Rousseau está baseada no fato do ser humano ter alma, pois é a única espécie capaz de reconhecer a criação divina. C) somos todos dependentes de um governo centralizado que mantenha o comportamento baseado em regras, leis e normas; a moral é o que diferencia o ser humano das demais espécies. D) o que nos faz diferentes é nossa racionalidade e a cultura letrada, erudita. E) o papel central na transformação de nossa espécie de animais em seres humanos se deve à educação, sem a qual não seríamos muito diferentes das demais espécies. (Sugestão : Leia o capítulo “Antecedentes históricos do conceito de cultura” na obra de Roque de Barros LARAIA, indicada na bibliografia.) 28) A palavra “cultura” foi utilizada ao longo da história com muitos significados que divergem conforme o uso local. Dentre os vários exemplos que podem ser apontados, o que mais se aproxima da idéia de um conjunto de costumes característicos de um povo e suas tradições, é o que se segue: A) o uso francês da palavra cultura associado ao cultivo do conhecimento. B) o uso original da palavra cultura associado à capacidade humana de aperfeiçoar as espécies. C) o uso alemão da palavra cultura associado à nação como representante de um povo em especial. D) o uso atual do senso-comum que associa cultura a educação refinada. E) o uso científico da palavra cultura associado ao costume de cultivar espécies diferentes. 29) Sobre a frase de Franz Boas citada a seguir, responda o que se pede abaixo. “A cultura inclui todas as manifestações dos hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo na medida em que são afetadas pelos costumes do grupo em que vive, e os produtos das atividades humanas na medida em que são determinados por tais costumes”. De acordo com o autor, os indivíduos se relacionam com a sociedade de acordo com a seguinte característica: A) As reações de cada um de nós é resultado das atividades humanas e dos produtos que cada uma é capaz de realizar; B) Cada cultura é afetada de forma diferente pelas atividades individuais; por isso não é possível reagir às suas influências; C) Ao reagir contra as influências dos costumes de seu grupo, o indivíduo pode deixar de ser determinado por ele; D) Os indivíduos reagem à sua cultura conforme são influenciados por ela; E) A cultura pode ser afetada pelas reações dos indivíduos, mas estes também são afetados pelos costumes do grupo. 30) A definição do conceito de cultura por Edward TYLOR é a que se segue: "um conjunto complexo que inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a lei, a moral, os costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade". Nesse autor, o que está enfatizado sobre o conceito de cultura, é que: A) a cultura é algo complexo que não pode ser explicado completamente; B) que as crenças e o conhecimento de uma sociedade dependem das capacidades de cada um; C) que a cultura é definida como resultado de uma aquisição, portanto, não é inata; D) como membro de uma sociedade adquirimos outros hábitos e capacidades; E) ao incluir os conhecimentos, a arte, as crenças e a moral podemos explicar nossas capacidades conforme o conjunto da sociedade. 31) Para o senso comum, definir cultura está freqüentemente associada com o que segue: A) os hábitos de um povo que podem influenciar o comportamento individual; B) uma forma de diferenciar pessoas que receberam educação letrada das que não a receberam; C) comparar hábitos de diferentes povos para poder compreender o ser humano; Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 36 D) praticar sistematicamente o preconceito para evitar influências culturais alheias; E) considerar como válido o senso científico que utiliza esse conceito. 32) A maior parte de nossa comunicação diária tem como finalidade narrar, descrever, lembrar, conceituar, coisas que não estão presentes. Ao fazer isso, retiramos todas as coisas de seus contextos originais, que não pode ser reproduzido em toda a sua riqueza e complexidade, e escolhemos alguns de seus aspectos a serem ressaltados. Assim é que nós SIMBOLIZAMOS as experiências vividas. De acordo com a afirmação acima, assinale a frase que expressa a simbolização das experiências vividas através da percepção sensível do mundo (= quando prestamos atenção ao mundo a partir de nossa sensibilidade e não apenas com a capacidade racional): A) É preciso relativizar as experiências da diversidade cultural para compreender a dinâmica do contato étnico, por isso sempre que nos deparamos com o diferente procuramos uma atitude sem preconceito; B) Para demarcar a passagem das estações do ano muitos povos mantêm festas tradicionais com espírito comemorativo, principalmente relacionadas ao cultivo de alimentos – festa da primavera, festa do milho, festa da uva, podem ser exemplos; C) Há muitos séculos o ser humano tem se deparado com as questões sobre a essência do conhecimento; D) Em todos os lugares onde um grupo humano fixa residência, há necessidade de gerar recursos de sobrevivência utilizando o meio ambiente, por isso utilizamos apenas o necessário de forma sustentável e planejada; E) Quando se forma uma tempestade há possibilidade da ocorrência de raios e trovões. 33) Franz BOAS desenvolveu a teoria do PARTICULARISMO HISTÓRICO, chamada Escola Cultural Americana. Entre seus pressupostos, é correto assinalar: A) Sua teoria busca apoio nas ciências naturais para comprovar a origem biológica dos fenômenos culturais; B) Cada cultura segue os seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que essa sociedade enfrentou; C) Devemos compreender a cultura como um fenômeno puramente intelectivo de base filosófica, assim podemos explicar a importância dos símbolos para a Humanidade; D) Cada hábito cultural deve estar relacionado com a necessidade de sobrevivência de um grupo; assim a particularidade de cada cultura se dá em função da criação de tecnologias diferentes; E) Não é possível compreender a diversidade cultural sem considerar a história universal humana que nos coloca em diferentes graus de evolução. 34) A teoria de Alfred KROEBER acentua a importância de considerar a cultura como um aspecto SUPERORGÂNICO na evolução do ser humano como espécie. Isso está corretamente relacionado com a seguinte afirmação: A) Existe diversidade cultural porque o aspecto orgânico do povo que compõe cada cultura é igualmente diverso; B) O prefixo super, relacionado ao orgânico procura enfatizar que o ser humano é uma espécie organicamente superior às demais, por isso desenvolve cultura; C) Procura ressaltar o fato que o ser humano desenvolve soluções de adaptação ao meio através de recursos extra orgânicos, ou seja, a cultura, por isso se diferencia das demais espécies que dependem totalmente dos mecanismos orgânicos necessários para a evolução; D) Para ela a cultura depende da capacidade de cada povo desenvolver um superorganismo que o possibilite se adaptar a qualquer meio ambiente; E) Concorda com a tese do determinismo biológico que defende que o comportamento de um povo está determinado por suas características orgânicas. 35) O uso cultural dos símbolos como forma de comunicação depende da rotinização dos significados atribuídos a cada um deles (= tornar rotineiro). Essa afirmação está: A) correta, pois apenas utilizamos símbolos em hábitos rotineiros como os rituais através dos quais expressamos as nossas crenças; B) errada, uma vez que os símbolos não dependem da rotinização, e sim das tradições de um povo; Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 37 C) correta, pois os símbolos são uma construção cultural e não um conteúdo inato, por isso dependem do aprendizado e do uso rotineiro para serem compreendidos; D) dependendo do contexto a afirmação pode estar correta ou errada; está correta apenas quando nos referimos aos símbolos como forma de comunicação e está errada quando nos referimos aos símbolos como recurso para os indivíduos poderem se relacionar uns com os outros; E) errada, os símbolos dependem apenas de sua coerência uns com os outros e seus significados são sempre óbvios, evidentes. 36) Assinale a frase abaixo que corresponde corretamente à teoria da cultura como sistema adaptativo: A) A tecnologia, a economia de subsistência e os elementos da organização social diretamente ligada à produção constituem-se em respostas culturais possíveis de uma comunidade ao meio ambiente; B) A cultura é um sistema simbólico resultante da criação acumulativa da mente humana, sendo exemplos dos domínios culturais o mito, a arte, o parentesco e a linguagem; C) O pensamento humano está submetido a regras inconscientes, que são um conjunto de princípios que controlam as manifestações empíricas de um dado grupo; D) A cultura é um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras e instruções que governam o comportamento; E) A cultura é um sistema de símbolos e significados, compreendendo categorias ou unidades e regras sobre relações e modos de comportamento. 37) Sobre a definição moderna do conceito de cultura, assinale a alternativa correta: A) existe um consenso na Antropologia que define cultura como sendo apenas um sistema adaptativo do Homem ao meio; B) existe um consenso na Antropologia que define cultura como sendo apenas um sistema simbólico relacionado à capacidade intelectiva humana, para a qual as soluções adaptativas são resultado e não origem de nossas criações; C) não existe consenso na Antropologia para a definição de cultura, pois ainda não há pesquisas suficientes para embasar qualquer afirmação, e podemos considerar inclusive a validade das teses do determinismo biológico ou do determinismo geográfico; D) as teoria modernas para o conceito de cultura, consideram que nossa espécie age de acordo com um padrão cultural universal e inato; E) os antropólogos definem a cultura de muitas formas, divergindo na ênfase a cada elemento do comportamento humano - adaptativo ou simbólico, mas isso não significa que não sabem exatamente o que é esse conceito. 38) “A cada sociedade humana corresponde um diferente padrão de comportamento, técnicas de sobrevivência e trabalho, valores, tradições e hábitos.” A frase acima define o conceito de : A) Evolucionismo social. B) Diversidade cultural. C) Seleção natural. D) Cultura tradicional. E) Etnocentrismo. 39) Simbolizar é uma característica humana que possibilita o comportamento cultural de nossa espécie. A capacidade de simbolização pode ser associada na evolução de nossa espécie e em qualquer contexto cultural a: A) Capacidade de atribuir significado ao mundo; pensar no que não está presente e conseguir comunicar aos outros nossa experiência. B) Acreditar apenas em coisas divinas ou sobrenaturais, criando crenças que devem estar baseadas em símbolos reais e verdadeiros. C) Criar um alfabeto e métodos de escrita e leitura para índios e sociedades que ainda não desenvolveram essa habilidade. D) Utilização da cultura material como forma de expressão imaterial ou biológica. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 38 E) Algumas teorias, como a do Ponto Crítico, que afirma que começamos a simbolizar quando nossa evolução foi concluída. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 39 Conteúdo do 1º bimestre – PROVA B-1 2. A CULTURA 2.2 - As principais características da cultura como visão de mundo: herança cultural e formas de compreender o mundo, a participação dos indivíduos na cultura. Textos básicos: LARAIA, Roque de B. – “A cultura condiciona a visão de mundo do homem”; “A cultura interfere no plano biológico”; “Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura”, in CULTURA – um conceito antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 21ª Ed, 2007. Pp. 67 – 86. Textos complementares sugeridos: RIBAS, João C. “O olhar”, in GUERRIERO, Silas (org). ANTROPOS E PSIQUE – o outro e sua subjetividade. SP: Olho d´Água, 2003. Pp 87-96. O tema da segunda parte do livro de LARAIA, aborda exemplos de como a cultura afeta nossas vidas em sentidos muito mais profundos do que imaginamos. Muitas vezes julgamos nossas atitudes, preferências e reações como se fossem “naturais”, como se assim tivéssemos nascido. Entretanto, os estudos antropológicos elucidaram ao longo de todo o séc. XX o quanto somos também moldados pelo meio social que nos circunda desde o nascimento. Esses estudos ampliaram a nossa compreensão sobre diversidade cultural sim, mas muito além disso, trouxeram uma nova visão sobre o ser humano. Sem dúvidas a nossa “natureza” (diga-se herança genética), pode ser imensamente responsável por muitos atributos individuais, mas sem a ação da cultura, não teríamos a complexidade da humanidade. A natureza sozinha não constrói um ser humano como o conhecemos. COMO OPERA A CULTURA Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 40 baseado no livro “Cultura - Um Conceito Antropológico”, de Roque LARAIA 1) A CULTURA CONDICIONA A VISÃO DE MUNDO DO HOMEM Homens de culturas diferentes enxergam o mundo de forma diferente. Mas, a realidade não é apenas UMA? ** Não! O Homem é condicionado pela sua cultura, a ver o mundo. Em cada cultura VARIA IMENSAMENTE o que somos capazes de perceber à nossa volta, e como explicamos o que nos cerca e o que sentimos. Ruth BENEDICT escreveu: “A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas.” Para uma pessoa da cidade, a floresta é um conjunto desordenado de árvores, ao passo que para os índios que nela vivem, p.ex., ela tem um SIGNIFICADO QUALITATIVO e uma REFERÊNCIA ESPACIAL. O oposto também é verdadeiro, ou seja, uma pessoa do campo vê na cidade uma coleção confusa de ruas e edifícios, além de um movimento desordenado de pessoas e automóveis. Ao passo que para os que nela vivem, a cidade possui uma ORDEM física e espacial, e o movimento possui um sentido lógico. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as POSTURAS CORPORAIS são assim produtos de uma HERANÇA CULTURAL. Da mesma forma como cada família pode deixar aos seus descendentes uma herança material (patrimônio familiar), a nossa sociedade nos deixa uma HERANÇA de valores, modos de agir e pensar, conhecimentos, e assim por diante. É parte da nosso PATRIMÔNIO CULTURAL, seja material ou imaterial. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 41 Então, temos que a CULTURA influencia nossas vidas em diversos níveis: o a moral; o as noções de higiene pessoal; o os sentimentos; o nossa alimentação; o os critérios de beleza; o as necessidades e o uso da tecnologia; o o que entendemos como SAÚDE e também a DOENÇA; o nosso gestual e a forma como utilizamos o corpo, entre tantos outros. Assim, podemos identificar facilmente indivíduos de diferentes culturas por características como: o Modo de agir, de vestir, de caminhar, de comer, ou mesmo pela mais simples delas - a língua que cada um deles fala. o Desde que fase de nossas vidas essa influência acontece? o Desde o parto, somos condicionados pela nossa cultura. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 42 Da esquerda para a direita: África, Índia, Inglaterra, Nova Zelândia, Brasil. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 43 2) A CULTURA INTERFERE NO PLANO BIOLÓGICO Ao longo de nossas vidas o nosso corpo físico é intensamente afetado pelas nossas experiências culturais. Para manter tradições, obedecer a regras e principalmente, para nos sentirmos INCLUÍDOS (o que dá aquela sensação de confiança e autoestima, quando nos sentimos parte de um todo, quando “pertencemos” a um lugar social), nosso corpo físico é submetido frequentemente a exigências. Portanto, o que o autor chama de “PLANO BIOLÓGICO” é exatamente nossa forma física, saúde e aparência corporal. Pense em quantas situações ao longo de nossas vidas nosso corpo é atingido em função de experiências culturais. Para lembrar alguns exemplos: - o tipo de parto que cada cultura oferece e considera melhor; - perfuração ou alargamento de lóbulos, lábios, pálpebras; - técnicas de desenhos ou formação de saliências na pele como tatuagens, escarificações e implantes subdermais; - a dieta cotidiana que pode incluir desde insetos; carnes dos mais variados tipos e partes de animais (cruas ou cozidas); ingestão de bebidas alcoólicas ou qualquer outra que altere igualmente a percepção e reações; alimentos processados industrialmente; vegetais, raízes, sementes, folhas, frutas e flores; grãos e castanhas. Neste item você pode ter considerado algumas coisas muito normais e outras repugnantes. Pense que se você tivesse sido socializado em outra cultura, suas escolhas poderiam ter sido completamente invertidas. - formas de tratamento de doenças que pode incluir uma imensa lista como a ingestão de fitoterápicos, preparados químicos conhecidos como remédios; rituais que envolvem ou não a participação e presença física do doente que pode ser submetido a todo tipo de intervenção passiva ou ativa – as vezes o doente precisa ingerir, inalar, sugar outras vezes ele é sugado; cortes, incisões, perfurações, com ou sem anestesias, e muitos outros tipos. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 44 - modelagem do corpo com muitas técnicas diferentes como dietas, cirurgias e implantes, fisiculturismo ou treinos especiais (militares, esportivos, rituais ou de espetáculos); - uso de vestuário e adornos corporais. Neste item você pode se perguntar como nossa indumentária pode interferir no plano biológico, mas é possível sim. As famosas “mulheres girafas” da Tailândia (Ásia), que desde os cinco anos começam a utilizar argolas no pescoço com o objetivo de esticá-los;as mulheres chinesas que durante séculos enfaixavam os pés para evitar seu livre crescimento; o processo de treinamento das modelos ocidentais que para serem vistas com roupas e acessórios à venda pela indústria da moda se submetem a dietas incriveis de emagrecimento e treino para o controle do corpo, movimento e expressões faciais na passarela. - a participação em festas e ocasiões especiais, que além de exigir o controle da postura e gestual em função da utilização de vestimentas especiais, exigem também a submissão (em alguns casos) de horas em jejum e em seguida horas de ingestão de uma quantidade incrível de alimentos e bebidas; - a submissão a rotinas que podem gerar lesões físicas e/ou desconfortos psicológicos dos mais variados graus; - o desenvolvimento de doenças psicossomáticas; a reação do organismo na forma de doença a experiências negativas; Você pode fazer o exercício de encontrar outros e tantos inúmeros exemplos. Não resta dúvidas do quanto submetemos nossos corpos em função das experiências culturais. Interpretamos isso como algo “natural”. Entretanto é muito comum a reação de espanto, indignação ou repúdio ao que os “outros” fazem com seus corpos. Ter a vida de uma modelo da moda pode parecer normal entre nós, mas pode ser considerado incompreensível aos outros, tanto quanto perfurar lábios para o uso de botoques nos parece. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 45 Da esquerda para a direita: Kayapó (Xingú, Brasil) foto de Jean P. DUTILEUX Foto em revista de forma física e saúde Sumotori Tailandesa Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 46 3) OS INDIVÍDUOS PARTICIPAM DIFERENTEMENTE DE SUA CULTURA É impossível todos os indivíduos de um grupo terem exatamente o mesmo comportamento, apesar de compartilharem a mesma “visão mundo”. A individualidade está garantida em primeiro lugar pelo fato de que nem uma pessoa pode sozinha conhecer e dominar todos os conhecimentos, a história e o conjunto de valores de seu próprio povo. Somos socializados e aprendemos ao longo da vida aquilo que é mais importante para sermos aceitos e participarmos de uma cultura. Mas nossa participação é sempre diferente de um indivíduo para o outro. Em que critérios se baseiam essas diferenças individuais? as diferenciações baseadas no sexo dos indivíduos: Com exceção de algumas sociedades africanas - nas quais as mulheres desempenham papéis importantes na vida ritual e econômica -, a maior parte das sociedades humanas permite uma mais ampla participação na vida cultural aos elementos do sexo masculino. as diferenciações baseadas na idade dos indivíduos: Uma criança não está apta a exercer as funções dos adultos, portanto os motivos biológicos ficam explícitos nesses casos. Porém, há impedimentos etários totalmente arbitrários e criados pela nossa cultura: p.ex., por que podemos ter licença para dirigir e votar aos 18 anos, e não aos 16, ou 20? as diferenciações baseadas na impossibilidade de TODOS os indivíduos serem socializados da MESMA forma: Alguns aspectos se sobrepõem a outros, alguns traços são reforçados e outros não: Einstein era um gênio na física, mas provavelmente um desastre ao piano, e incapaz de pintar um quadro. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 47 É impossível que todos nós recebamos as MESMAS informações durante nosso crescimento, portanto existe um espaço na cultura, onde o grupo não determina totalmente sua vida. as diferenciações baseadas nas diferenciações de classe social: Nas sociedades que diferenciam os indivíduos de acordo com o pertencimento a determinadas classes sociais, existem tendências e limites para a socialização, que impedem que aqueles que estão mais abaixo na pirâmide social, tenham acesso a grande parte da cultura produzida pelo seu grupo. 4) A CULTURA TEM UMA LÓGICA PRÓPRIA Neste capítulo o autor trabalha com a seguinte idéia: temos explicações para o mundo, que são resultantes da cultura na qual somos socializados. Assim, as “nossas explicações” sempre nos parecem mais lógicas, mais corretas, mais apropriadas, que as explicações dos “outros”. Entretanto, temos que considerar que muitas vezes não é apenas por “falta de conhecimento”, ou por “ignorância” que um grupo social pode parecer “SEM RAZÃO”. Vamos a alguns exemplos do livro. Laraia cita o exemplo (pg. 88) de uma conhecida sua que perguntou a um caipira paulista “como é que o sol morre todos os dias no Oeste e nasce no Leste”. E a resposta obtida foi: “Ele volta apagado durante a noite”. Muitos podem concluir que ele não sabia explicar, e “inventou” uma resposta tão simples quanto seu nível de informação sobre o sistema solar. De fato, ele não domina a explicação científica, mas sua “invenção” teve que necessariamente utilizar A LÓGICA DA CULTURA CAIPIRA. Fosse ele um gaúcho, muito provavelmente sua “explicação” fosse outra. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 48 Mesmo ao “inventar” explicações, nosso esforço intelectual de obter resposta sempre será coerente com o sistema cultural no qual estamos inseridos, pelo qual somos profundamente influenciados. Mediante situações que exigem uma lógica, ela sempre será a “nossa lógica” e não a lógica alheia. A lógica de uma cultura muitas vezes forma o que os antropólogos denominam “sistema de classificação” ou ainda “sistema de categorias”. São conceitos que, a princípio parecem simples, mas que servem para explicar toda uma infinidade de eventos, sejam sociais ou naturais. Para dar um bom exemplo baseado na cultura brasileira, podemos tomar o conceito de “inveja”, ou “olho gordo”. Esse conceito forma todo um sistema de classificação e ordenação de mundo para muitos brasileiros. Quando um acontecimento pessoal ou alheio parece “sem explicação”, a categoria do “olho gordo” entra em ação. Desemprego, doença, perda de patrimônio, casamentos desfeitos, muito eventos com impacto negativo na vida das pessoas são explicadas através da “inveja”. Dificilmente as pessoas se contentam com explicações racionais que tornam a “vítima” única e completamente responsável pelo que lhe aconteceu; a categoria da “inveja”, entretanto, deixa todos satisfeitos com a explicação. Isto é um conceito que forma um sistema de ordenação de mundo. 5) A CULTURA É DINÂMICA Todo ser humano tem capacidade de questionar seus próprios hábitos e mudálos. Toda cultura muda com o tempo. Mas, por que a impressão que algumas culturas mudam mais do que outras, que parecem “congelar” no tempo? O ritmo de mudanças de uma cultura obedece à lógica da satisfação de seus indivíduos com relação às suas soluções, de ordem prática ou simbólica. Quando as soluções deixam de ser suficientes, ocorrem as mudanças. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 49 Essas podem ter duas fontes: a) Interna, quando se trata da dinâmica do próprio sistema cultural; b) Externa, quando as mudanças ocorrem em função do contato com outro sistema cultural. Essas fontes podem determinar o ritmo mais lento ou rápido das mudanças. Segundo LARAIA (pg. 96), as mudanças decorrentes da dinâmica interna podem ser quase imperceptíveis a um observador externo. A menos que tenham sido decorrentes de invenções tecnológicas exemplares ou de eventos históricos de grande impacto como revoluções e guerras internas. Já a mudança decorrente dos contatos entre muitas culturas determina um ritmo mais rápido ao longo de um pequeno espaço de tempo. Atualmente é quase inexistente alguma cultura que não tenha contato com outras, sendo o fenômeno de dinâmica cultural mais estudado. Ainda existem alguns poucos grupos isolados no mundo, em especial na Amazônia brasileira, de onde eventualmente temos notícias desse tipo de fenômeno, chamado de “etnias isoladas”. No mês de maio de 2008, o mundo se surpreendeu com fotos que estão disponíveis no jornal eletrônico “Terra Magazine”, e que traz na abertura da matéria assinada por Altino Machado, de Rio Branco (Acre): “Após quase 20 horas num avião monomotor, o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai, comandou um sobrevôo que resultou nas primeiras fotografias dos índios de uma das quatro etnias isoladas que vivem na fronteira do Acre com o Peru. As mulheres e suas crianças fugiram para a floresta em busca de proteção, enquanto os guerreiros da tribo se posicionaram e reagiram atirando flechas no avião.” http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2903379-EI6581,00.html Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 50 FOTO DE GLEISON MIRANDA, publicada no mesmo endereço eletrônico disponível acima. ALGUMAS IMPORTANTES CARACTERÍSTICAS DAS CULTURAS! CADA CULTURA (seu povo) ESCOLHE DENTRE OS ELEMENTOS DE UM OUTRO GRUPO, AQUELES QUE ACHA POSITIVO ADOTAR OU NÃO. Isso significa que para a Antropologia pode ser questionável afirmar por exemplo que os índios (ou os brasileiros, ou qualquer grupo cultural) não têm nenhuma escolha quando são influenciados por outras culturas. APENAS EM CASOS DE DOMÍNIO ECONÔMICO E/OU POLÍTICO É QUE UM GRUPO SE VÊ OBRIGADO A ABRIR MÃO DE SEUS PRÓPRIOS COSTUMES E ADOTAR OS DOS DOMINANTES. Adotar comportamentos típicos de outras culturas pode ser resultado de imposições pela violência, pela conquista ou pela exposição excessiva (podemos pensar na mídia). * Lembre-se de consultar a bibliografia indicada antes de realizar os exercícios! Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 51 Questões tópico 2 – a cultura 40) Ao afirmar que a cultura interfere na lógica de mundo com a qual uma sociedade vê o mundo, estamos afirmando que: A) cada sociedade herda uma lógica de mundo independente da cultura herdada; por isso a cultura se transforma ao longo do tempo. B) Ao interpretar a realidade vivida e os próprios sentimentos humanos, os valores e símbolos de nossa cultura são referenciais fundamentais. C) A lógica de mundo determina como uma cultura pode se organizar, assim o ser humano não tem escolha no que se refere à sua herança cultural. D) A lógica cultural é independente da vontade coletiva e da experiência da sociedade. E) A forma como vemos a realidade não tem qualquer relação com a lógica cultural que herdamos, e sim com a interferência do meio. 41) Sabemos que a cultura interfere no plano biológico dos indivíduos. A esse respeito é correto afirmar que: A) Ao evoluir culturalmente uma cultura proporciona a evolução biológica aos indivíduos, pois ambas não podem ser separadas. B) Não é possível observarmos claramente essa interferência, uma vez que é uma teoria antropológica e não da biologia. C) Em cada cultura o ser humano dispõe de um plano biológico distinto, assim não podemos comparar o organismo de alguém da cultura árabe com outros da cultura ocidental, por exemplo. D) A cultura possibilita conhecermos melhor nosso plano biológico, através da evolução de conhecimentos que desvendam seu funcionamento. E) As doenças psicossomáticas são exemplos visíveis da forma como os hábitos de uma cultura afetam nossa saúde. 42) Partindo do princípio de que a cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo, pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas. Escolha a alternativa correta: A) A visão de mundo determina as respostas e o comportamento humano a partir da sociedade em que está inserido. B) O processo de alimentar-se é característica de todo ser vivo, portanto, o homem se alimenta de uma mesma maneira em qualquer que seja a cultura de que faça parte. C) Não há diferenças entre as visões de mundo, a cultura sempre se apresenta de uma mesma forma seja qual for a sociedade. D) Um índio amazonense concebe o mundo e a sua forma de vida da mesma maneira de um paulistano que sempre viveu na cidade de São Paulo. E) Na concepção de mundo, todo ser humano deve se submeter aos seus instintos e desprezar a cultura em que vive. 43) Alguns africanos que foram transportados violentamente como escravos para um continente desconhecidos passaram a apresentar uma apatia profunda, que podia provocar a morte. Denominouse a essa doença o nome de “banzo”. Esse é um dos fatos que prova que: A) os africanos não tinham tanta capacidade de se adaptar ao novo continente e condições de vida diferentes da anterior. B) a cultura africana não facilitava a motivação para uma nova situação. C) a cultura interfere no funcionamento biológico de seus indivíduos. D) o novo continente não facilitou a adaptação dos africanos, que sofreram a seleção natural. E) deveriam ter sido escravizados no próprio continente africano para evitar essas mortes. 44) Leia o texto abaixo e responda o que se pede: Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 52 “Anorexia Nervosa é um transtorno do comportamento alimentar que se desenvolve principalmente em meninas adolescentes e caracteriza-se por uma grave restrição da ingestão alimentar, busca pela magreza, distorção da imagem corporal e amenorréia (suspensão da menstruação). (...)Acrescentando a todas estas dificuldades* o apelo da moda e o culto à magreza, dá para entender que ser mulher e adolescente, no mundo de hoje, é um duplo fator de risco para o desencadeamento de um transtorno alimentar.” Cybelle Weinberg, publicado pelo “Portal Psi”, no endereço eletrônico: http://www.redepsi.com.br [*] no texto original a autora descreve o quadro psico-social de transformações muito observadas na puberdade. É possível perceber através da descrição feita pela autora que: A) em nossa cultura, todos os adolescentes têm sua forma física e saúde afetados pelos apelos da moda e o culto à magreza. B) não há como evitar o desencadeamento da anorexia nervosa, pois faz parte da visão de mundo dos adolescentes. C) ser mulher e adolescente no mundo de hoje é um fator de risco para a saúde. D) os apelos da cultura da moda e do culto à magreza são fatores de risco para o desencadeamento de um transtorno alimentar. E) o transtorno alimentar entre as adolescentes é comum apenas quando elas fazem parte do mundo da moda, onde o apelo à magreza se transformou em culto. 45) Leia a seguinte afirmação: “Mesmo em um país de maioria católica, encontramos crenças e práticas de muitas outras religiões.” Essa afirmativa está corretamente associada ao que segue: A) uma vez que os indivíduos participam diferentemente de sua cultura, é possível que muitos deles sejam estimulados a participar de religiões diversas. B) todas as culturas devem estimular a diversidade religiosa uma vez que a visão de mundo impede a existência de uma única crença. C) a presença de muitas religiões tem relação com o etnocentrismo que caracteriza as culturas mais antigas. D) as lentes através das quais enxergamos o mundo se tornam mais precisas quanto mais religiões uma cultura tiver. E) a presença de muitas religiões é um sinal de que uma cultura não possui visão de mundo. 46) Leia a seguir a parábola de Roger Keesing: “Uma jovem da Bulgária ofereceu um jantar para os estudantes americanos, colegas de seu marido, e entre eles foi convidado um jovem asiático. Após os convidados terem terminado os seus pratos, a anfitriã perguntou quem gostaria de repetir, pois uma anfitriã búlgara que deixasse os seus convidados se retirarem famintos estaria desgraçada. O estudante asiático aceitou um segundo prato, e um terceiro – enquanto a anfitriã ansiosamente preparava mais comida na cozinha. Finalmente, no meio de seu quarto prato o estudante caiu ao solo, convencido de que agiu melhor do que insultar a anfitrião pela recusa da comida que lhe era oferecida, conforme o costume de seu país”. (Apud LARAIA, Cultura – um conceito antropológico, 2005: 72) O trecho acima descreve corretamente o seguinte: A) que os envolvidos estão tentando impor seu ponto de vista como o mais correto a todos que estão presentes. B) que devemos deixar de lado nossas regras sempre que estamos perante o diferente. C) que quando pessoas de culturas diferentes estão em contato, necessariamente elas seguem impulsos instintivos, deixando sua cultura em segundo plano. D) que os envolvidos estão praticando o relativismo cultural, por isso não conseguem chegar a um consenso sobre a atitude correta a ser tomada na situação. E) que a cultura condiciona a nossa visão de mundo, ficando claro nesse tipo de situação que cada um procura agir de acordo com seus valores próprios, sem perceber os valores dos outros. 47) Leia o trecho a seguir: Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 53 “(...) os índios Jê, do Brasil, correlacionam a relação sexual com a concepção, mas acreditam que só uma cópula é insuficiente para formar um novo ser. É necessário que o homem e a mulher tenham varias relações para que a criança seja totalmente formada e torne-se apta para o nascimento. (...) E se ocorrer que a mulher tenha, em um dado período que antecede ao nascimento, relações sexuais com outros homens, todos estes serão considerados pais da criança e agirão socialmente como tal.” (LARAIA, R., 2005: 90) O trecho acima corresponde corretamente do ponto de vista da Antropologia ao que segue: A) os índios Jê precisam ser alertados que está comprovado cientificamente que uma única cópula é suficiente para gerar um embrião que se desenvolverá normalmente, e também que a poligamia deve ser reprimida. B) as crianças da tribo Jê crescem com problemas de comportamento quando a mãe tem relações sexuais com outros homens além de seu marido, pois não conseguem entender corretamente quem é o pai. C) nessa tribo, a lógica cultural forma um sistema de ordenação de mundo em que a gravidez, a reprodução humana e a paternidade supõem um conjunto de atos por parte dos envolvidos que os tornam co-responsáveis pela integridade do novo ser que é gerado. D) sendo dinâmica, a cultura Jê integra em seu sistema cultural regras de comportamento sem lógica, pois associa um evento de ordem natural que é a gravidez, a eventos de ordem moral, que é a poligamia. E) na visão de mundo Jê, a mulher tem que se submeter a exigências imorais, como copular muitas vezes para engravidar, além de arcar com as conseqüências de gerar um filho com muitos pais. 48) Toda cultura muda com o passar do tempo, pois uma das características dela é a DINÂMICA. As mudanças em um grupo cultural podem acontecer em função das influências: A) internas, que acontecem principalmente quando os indivíduos desse grupo percebem que precisam se diferenciar das gerações anteriores, sobretudo pais e avós. B) internas, que acontecem quando as soluções da herança cultural já não satisfazem os indivíduos ou quando há uma grande descoberta; e externas, quando o contato com outros povos traz novas formas de comportamento e soluções de mundo. C) internas, que acontecem apenas quando o conhecimento acumulado é suficiente para uma revolução tecnológica ou de comportamento; e externas, que acontecem quando uma guerra atinge a população modificando assim seu comportamento. D) externas, que podem acontecer tanto em função da inclusão de indivíduos de outro grupo cultural quanto em função de eventos naturais como secas, inundações, terremotos e assim por diante. E) modernas, pois toda sociedade tende a abandonar soluções muito tradicionais, uma vez que os indivíduos preferem as “novidades”. 49) Leia o trecho abaixo: “Antigamente os jovens entravam em conflito sobre valores sociais, políticos, econômicos, religiosos, estéticos e comportamentais (brigavam pelo direito de usar os cabelos compridos e vestir uma calça velha-azul-e-desbotada). (...) As crianças e os jovens do início do terceiro milênio não vivem um sonho coletivo de mudança social. Seu sonho é meramente subjetivo, tribal e plural. São mais propensos à discussão sobre assuntos menores do cotidiano como os games, amigos, namoro, aparência, do que os ‘grandes temas’ da década de 1970. Os pais mais à esquerda já não conseguem conversar com os filhos os assuntos que eles, na sua época, consideravam importantes. Também, não conseguem fazê-los cumprir as pequenas coisas: regrar a hora de eles voltarem para casa, o tempo de ficar nos games, ler os jornais e revistas.” (Raimundo DE LIMA, Revista Espaço Acadêmico, nº 61, Junho 2006, disponível no endereço eletrônico http://www.espacoacademico.com.br/061/61lima.htm) Esse texto está corretamente associado com a seguinte afirmação A) a cultura tem uma lógica própria, assim quando uma geração é pressionada procura novas soluções mesmo que desagradem os mais velhos. B) a cultura é dinâmica, e as mudanças as vezes podem colocar em conflito interesses e valores das gerações mais velhas com as novas. C) a visão de mundo dos mais velhos está incorreta, e os jovens devem buscar novas formas de comportamento mesmo que a sociedade esteja em conflito com essa atitude. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 54 D) a lógica de mundo da nova geração está incorreta e os mais velhos deveriam orientar melhor seus próprios filhos para garantir um comportamento mais adequado. E) a cultura é dinâmica, e esse conflito de gerações vai necessariamente levar a novas mudanças que acabem com qualquer comportamento indesejado. 50) Um bombeiro pode ser excelente no exercício de sua profissão, mas pode falhar quando colocado em uma situação que exige apenas foco de atenção baseada no raciocínio intelectual durante muitas horas. A explicação da Antropologia para este fato é: A) a cultura é dinâmica, por isso não podemos exigir que um indivíduo treinado para uma função tenha sucesso em qualquer outra. B) a cultura tem uma lógica própria, por isso respeita as habilidades naturais de cada indivíduo. C) a cultura interfere no plano biológico dos indivíduos, por isso alguém que foi socializado em uma profissão não consegue mais desenvolver habilidades para as outras. D) os indivíduos participam diferentemente de sua cultura, assim cada um recebe muitas informações e treinamento para algumas funções, mas não para todas. E) a cultura condiciona a visão de mundo do homem, por isso o bombeiro não consegue desenvolver habilidades intelectuais. 51) É muito comum ouvirmos a narrativa de pessoas que se mudam de região ou de país e que não conseguem se adaptar aos hábitos locais ou ao novo convívio social. A explicação da Antropologia para este fato é: A) a cultura interfere no plano biológico, por isso os indivíduos não aceitam hábitos diferentes daqueles que já adquiriram. B) a cultura é dinâmica, e os costumes mudam tanto de uma região e de um país para outro que os indivíduos não conseguem ter tempo para se adaptar. C) a cultura condiciona a visão de mundo do homem, por isso muitos indivíduos enfrentam dificuldades de adaptação a uma nova forma de relação com o mundo. D) os indivíduos participam diferentemente de sua cultura, por isso de uma região para outra os hábitos podem ser muito diferentes e provocar essa dificuldade. E) a cultura tem uma lógica própria, o que gera indivíduos incapazes de se adaptar a uma nova lógica. 52) Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura, e essa diferenciação pode ser baseada no sexo biológico dos indivíduos. Assim, mulheres e homens possuem diferentes oportunidades. Essa constatação pode ser associada ao que segue: A) a cultura interfere no plano biológico, por isso os homens são mais aptos a ocupar mais espaços e maior importância na sociedade. B) existem exceções de sociedades onde a mulher ocupa um amplo espaço, mas na maioria dos exemplos que dispomos historicamente, é o homem que o faz. C) as mulheres precisam compreender que só depende delas mudar a realidade do privilégio dado aos homens. D) a lógica de nossa cultura não pode contrariar os valores predominantemente masculinos que estruturam nossa visão de mundo. E) não existe desigualdade entre as oportunidades e o espaço social ocupado por homens e mulheres em nossa cultura. 53) Conforme Laraia, “a cultura interfere no plano biológico”, sobretudo quando: A) Se faz necessária uma seleção das crianças, nos grupos indígenas, de modo a manter as melhores características das tribos, condição indispensável à sua conservação. B) A sociedade submete os jovens a rituais de iniciação, a exemplo do ritual da “tucandeira”. C) Ocorre a cura de doenças em função da fé do doente na eficácia do remédio e também no poder dos agentes culturais. D) Ocorre a cura de doenças numa dada sociedade em função do conhecimento atingido. E) A família introduz suas crenças particulares na educação dos filhos. 54) O conceito de “visão de mundo” está corretamente associado a: Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 55 A) a perspectiva a partir da qual os indivíduos e seu grupo social enxergam o mundo, reunindo valores e conhecimentos. B) as lentes através das quais uma cultura alheia impõe uma forma de pensar e agir. C) uma lógica que é imposta aos indivíduos através da influência interna e externa de um grupo social. D) Quando o mundo passa a ter alguma lógica e os indivíduos conseguem transformar a natureza para sobreviver. E) quando os indivíduos conseguem ver todas as características de sua cultura e como ela opera. 55) A cultura de um grupo social é uma matriz de referência de comportamento a todos os indivíduos. É possível observarmos certo padrão de valores e hábitos que caracteriza cada grupo humano. Entretanto, a Antropologia afirma que os indivíduos participam de forma diferenciada de sua cultura. Aponte a alternativa com exemplos corretos que confirmem as frases acima. A) Os indivíduos têm formas diferentes de participar de sua cultura em consequência de sua herança genética que pode favorecer certos tipos de comportamento ou mesmo dificultá-los. B) Essa diferenciação ocorre pois cada grupo cria mecanismos de diferenciação que podem se basear na classe social, na idade, no sexo e pela impossibilidade de todos receberem a totalidade das informações do conjunto de sua cultura. C) Nem sempre essa diferenciação se baseia nos mesmos elementos; cada cultura distingue seus indivíduos a partir de traços que são determinados através do meio ambiente ou mesmo a partir da biologia. D) Os indivíduos se diferenciam dentro de uma cultura sempre que a visão de mundo interfere no plano biológico; isso ocorre porque a cultura é dinâmica. E) Apesar de afirmar que os indivíduos se diferenciam dentro de uma cultura, a Antropologia ainda não pode afirmar porque isso ocorre; existem duas teorias que defendem idéias diferentes - a do Ponto Crítico e a teoria adaptativa. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 56 2.3 - A diversidade cultural: etnocentrismo e relativismo cultural; relações étnico-raciais. Bibliografia básica: “Pensando em partir”, “Primeiros movimentos”, in ROCHA, E. O QUE É ETNOCENTRISMO, SP: Brasiliense, 12ª ed., 1996. Relações étnico-culturais. “Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana.” Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. MEC, Brasília: 2004. Texto disponível eletronicamente no endereço, http://www.espacoacademico.com.br/040/40pc_diretriz.htm Textos complementares: BOAS, Franz. “Raça e Progresso”, in CASTRO, C. (org.) FRANZ BOAS – Antropologia Cultural, Jorge Zahar, 2004, PP. 67-86. MINER, Horace. Ritos Corporais entre os Nacirema, disponível na Web, http://www.aguaforte.com/antropologia/nacirema.htm “Os métodos da etnologia”, in CASTRO, Celso (org.) Franz BOAS - ANTROPOLOGIA CULTURAL, Jorge Zahar, 2004. Objetivos: neste item o aluno deve ser capaz de considerar a identidade como um processo de construção cultural e o contato com a diferença como características da condição contemporânea. Refletir sobre o papel das tradições e das mudanças culturais em diversas situações e contextos. * Sugestão de endereços da Internet sobre os temas deste conteúdo: - Para conhecer sobre a diversidade de etnias indígenas no Brasil: Instituto Sócio Ambiental, http://www.socioambiental.org/, especialmente o link “Povos indígenas do Brasil”. - Comunidade virtual de Antropologia, especialmente o link para a Revista “Sexta-Feira”, http://www.antropologia.com.br Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 57 - o texto "Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana" está disponível eletronicamente no seguinte endereço: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pc_diretriz.htm DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO Relativismo cultural e etnocentrismo são conceitos básicos da Antropologia para a compreensão de fenômenos que envolvem CONTATO CULTURAL, ou seja, o contato entre universos culturais DIFERENTES. Esses conceitos se referem a “julgamentos” que podemos ter quando em contato com o “outro” (alguém com padrões culturais diferentes do nosso). Esses julgamentos são responsáveis pela qualidade de nosso contato com a diversidade. Quando o outro tem padrões de comportamento, hábitos e valores muito diferentes dos nossos próprios é possível reagirmos de forma positiva ou negativa a isso. Julgar positivamente ou negativamente o comportamento alheio, tem relação com as atitudes de etnocentrismo ou com o exercício de relativismo que podemos utilizar. RELATIVISMO CULTURAL É considerar o mundo DO PONTO DE VISTA DO OUTRO, entendendo seu sistema simbólico, seus próprios valores de mundo como beleza, justiça, honra, medo, e assim por diante. É deixar de tomar a NOSSA própria cultura (visão de mundo) como medida para julgar os outros. ETNOCENTRISMO Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 58 O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (isso é denominado etnocentrismo). Ao pensar de forma etnocêntrica as pessoas depreciam o comportamento daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade. Comportamentos etnocêntricos resultam em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas e idéias ou valores de outros sistemas culturais são vistas como absurdas. O etnocentrismo é um comportamento universal. É comum a crença de que a sua própria sociedade é o centro da humanidade. A antropologia trabalha com alguns conceitos centrais que vamos passar a aprofundar neste tópico. Cultura, diversidade cultural, relativização e etnocentrismo serão fundamentais para compreender o debate científico e da sociedade em geral em torno do comportamento coletivo humano. O encontro com o diferente suscita reações e atitudes que se vêm vinculadas à posição de poder ou submissão das pessoas na sociedade, bem como de preconceitos e verdades pré-estabelecidas que o senso comum reproduz. A cultura não é uma RECEITA de mundo, no sentido de ser algo inquestionável, sempre inconsciente que controla rigorosamente a todos os indivíduos. Podemos recorrer a uma metáfora para facilitar a compreensão sobre a relação entre os padrões culturais que herdamos/repetimos, e nossa atuação individual: “A mente humana corresponde a um “disco rígido” (hardware), que apesar de capaz de muitas tarefas, não consegue realizar nada sem um programa (software). Esse programa é a cultura.” Vamos lembrar que um software é um programa determinado e fechado, mas que aqui em nossa metáfora, “operando” a cultura há sempre um ser humano. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 59 Somos dotados de criatividade, subjetividade, carregamos histórias pessoais e coletivas. Assim, interferimos o tempo todo no “programa” que recebemos. A cultura não é apenas um modelo, um quadro de referência, ela é uma forma de acesso às possibilidades humanas. Há uma dinâmica na relação entre cultura e sujeito, entre sujeito e história, entre indivíduo e grupo. Se pensarmos que a cada cultura corresponde uma diferente “visão de mundo”, percebemos que os indivíduos se organizam mentalmente para estar no mundo de acordo com os valores introjetados de sua cultura. Tornamos “nosso” aquilo que é cultural. Exercitando. Vamos pensar sobre os sentimentos humanos. Obviamente, nossas emoções são universais. Amor, ódio, paixão, rivalidade, raiva, afeto, ironia, alegria, euforia e tudo quanto possamos lembrar agora, fazem parte da humanidade. Entretanto, as EXPERIÊNCIAS QUE SUSCITAM este ou aquele sentimento, e a forma como expressamos o que sentimos isso é cultural. Muitas situações que fazem um brasileiro rir podem não ter o mesmo efeito em pessoas de outros povos. Ou ainda, situações como o funeral que exigem circunspecção e tristeza em algumas culturas podem exigir expressões de alegria em outras. O exercício de relativizar é se colocar na condição do outro. Pois bem, muitas vezes fazemos julgamento equivocados do comportamento alheio, simplesmente pelo fato de desconhecer as motivações que levaram a tal ou qual atitude. Quando não temos a “chave simbólica” que permite a relativização dos costumes, tendemos a nos fechar em nosso etnocentrismo. Tudo bem, precisamos relativizar, não é mesmo? Sim, é correto que tenhamos reações mais respeitosas e éticas com os “outros”. Mas tanto o relativismo cultural como o etnocentrismo podem ser encontrados em diferentes graus, e quando praticados de forma radical, se tornam destrutivos das relações humanas. Quer dizer que relativizar demais pode ser perigoso? Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 60 Sim! Quando apenas relativizamos tudo, aceitando qualquer atitude alheia como normal, natural e aceita, podemos correr o risco de não ter mais referencial ético de mundo. Em termos práticos, isso significaria, por exemplo, tornar aceito como normal as mutilações dos órgãos genitais femininos praticados em algumas sociedades de cultura mulçumana, principalmente em comunidades africanas. Percebe que deve existir um limite para a prática do relativismo? Relativizar deve ser algo estimulado socialmente, mas dentro de padrões de respeito à integridade física, psíquica e moral do outro. O oposto também é verdadeiro. Etnocentrismo é sempre ruim? Não! Na verdade, todas as culturas praticam etnocentrismo de alguma forma. Quando reagimos com aversão ao fato da alimentação em algumas culturas incluir pratos com animais como insetos, cães ou lesmas (o famoso “escargot” francês), preferindo um bom arroz com feijão, estamos sendo um pouco etnocêntricos. Isso é necessariamente ruim? Bem, na medida em que pode servir para reforçar nossa identidade cultural e nos trazer bem estar dentro de nosso próprio padrão cultural, não é uma atitude ruim. Mas quando a aversão ao outro é tão grande que precisamos excluí-lo, destruir seus costumes forçosamente ou mesmo agredi-lo física e moralmente, estamos atingindo um grau de etnocentrismo inaceitável. O relativismo extremo pode levar à ausência de noções éticas. O etnocentrismo extremo pode levar ao genocídio e às práticas racistas / preconceituosas. Relativismo cultural e etnocentrismo supõem a presença da DIFERENÇA. Esse “outro” que aparece nas frases acima, pode estar ao nosso lado. Atualmente o mundo todo reflete de uma forma mais intensa sobre o convívio entre as diferentes culturas/etnias. As relações étnico-culturais são todas as situações nas quais diferentes culturas/etnias são colocadas em contato, ou precisam negociar interesses, debater questões em comum. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 61 Que tal pontuar algumas questões e situações do mundo atual nas quais as relações étnico-culturais estão no centro dos debates e suscitam a reflexão? São questões que trazem à tona o relativismo cultural e o etnocentrismo, além de boas doses de ética, justiça e novos parâmetros para as relações humanas. Essas questões / situações seriam: - Qual é a realidade dos povos indígenas que convivem com a nossa sociedade nacional aqui no Brasil? E quais são suas reivindicações? - Qual é a importância da eleição de Barack Hussein Obama como Presidente dos Estados Unidos da America? - Como resolver os conflitos entre Israel e a Palestina? - Quais são os principais argumentos a favor e contra a política de cotas para afrodescendentes ingressarem nas universidades públicas brasileiras? Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 62 - Como e por que é exercido o preconceito contra nordestinos nas regiões sul e sudeste do Brasil? As respostas a essas questões não possuem um consenso, são polemicas sociais. Elas dependem em grande parte da posição e da capacidade de imparcialidade de quem as responde. De qualquer forma, pode-se caracterizar certas respostas como resultado de atitudes etnocêntricas ou relativistas. Dependendo da perspectiva a partir da qual se avalia essas questões, podemos obter respostas muito desencontradas. Em um mundo globalizado, onde o contato entre as diferentes culturas e povos é cada vez mais intenso e necessário, existe uma preocupação geral e a tendência a considerar reprováveis as atitudes que resultem em discriminação, preconceito, exclusão ou práticas moralmente/fisicamente agressivas. A garantia dos direitos humanos e as lutas pelo tratamento igualitário entre os povos têm trazido à tona importantes discussões sobre as relações étnico-culturais. O que nos leva de volta ao conceito de CULTURA. Cada cultura desenvolve um sistema simbólico que permite aos indivíduos se relacionarem dentro de uma mesma linguagem de mundo. Ocorre que durante muitos séculos, um relativo isolamento entre os povos teve como resultado o surgimento de muitas etnias diferentes ao redor do mundo. Vamos desenvolver o conceito de ETNIA. Segundo o dicionário HOUAISS: Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 63 Etnia. ANTROPOL coletividade de indivíduos que se diferencia por sua especificidade sociocultural, refletida principalmente na língua, religião e maneiras de agir; grupo étnico [Para alguns autores, a etnia pressupõe uma base biológica, podendo ser definida pó uma raça, uma cultura ou ambas; o termo é evitado por parte da antropologia atual, por não haver recebido conceituação precisa]. Na história da Antropologia, desde final do século XIX teve início um movimento de recusa às teorias evolucionistas, que relacionavam a base biológica das populações humanas com a cultura. Quais eram os pressupostos do EVOLUCIONISMO SOCIAL? Parte da idéia de que haveria uma “escala evolutiva” entre os povos. De acordo com esse pensamento, poderíamos encontrar povos/culturas “mais evoluídos” e outros “menos evoluídos”. O resultado óbvio foi o sentimento de superioridade de algumas culturas sobre outras, que justificou decisões políticas como invasões, extermínios e a prática da discriminação e do racismo. Esse pensamento partia do pressuposto que a cultura é determinada pela herança genética de uma população. Ao recusar essas teorias, a antropologia substituiu o conceito de RAÇA (de base extremamente biologizante) pelo de ETNIA. Atualmente é consenso na antropologia, que a cultura não é determinada pelo padrão de herança genética de uma população. O conceito de “raça” mostra-se impreciso uma vez que tenta determinar divisões em uma espécie que é única: o ser humano. Raça é uma construção social, e não uma realidade biológica. O conceito de etnia, contrariamente ao de raça, dá ênfase aos aspectos da herança cultural de um povo como forma de caracterizar a diferença de comportamento entre as várias populações humanas. Sempre que o assunto envolve questões de conflito de interesses entre populações, e este conflito revela questões culturais de qualquer abrangência, trata-se de questões étnico-raciais. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 64 Esses conflitos podem se revelar com diferentes graus de expressão e intolerância. Um povo pode expressar seu preconceito, racismo ou ódio, tanto por questões bastante específicas como a religião, ou os hábitos de vestuário / alimentação / higiene, ou ainda através de repúdio total ao outro. Entretanto não existe intolerância mais aceitável ou menos aceitável, simplesmente pelo fato dela abranger apenas um aspecto da cultura alheia, ou por ter se tornado tão profunda que apenas se resolve com o extermínio desse outro. É necessário perceber que a intolerância em qualquer dos casos é desnecessária, condenável e pouco efetiva no sentido de resolver conflitos de interesses entre dois ou mais povos. Um povo pode e deve saber valorizar suas próprias características sem que seja necessário diminuir, discriminar ou repudiar os que são diferentes. Percebemos que há um uso político dessas intolerâncias, e que serve como justificativa para ações que atinjam moral, física e socialmente muitos povos. Abaixo, um trecho do documento “Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana”, publicado pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. MEC, Brasília: 2004 e que pode ser encontrado na íntegra no endereço eletrônico: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pc_diretriz.htm Esse trecho traz importantes conceitos e revela uma importante questão das relações étnico-raciais no Brasil atualmente. Questões introdutórias O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe à divulgação e produção Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 65 de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial - descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada. É importante salientar que tais políticas têm como meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos. É necessário sublinhar que tais políticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim como de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. Estas condições materiais das escolas e de formação de professores são indispensáveis para uma educação de qualidade, para todos, assim como o é o reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos descendentes de africanos. Políticas de Reparações, de Reconhecimento e Valorização, de Ações Afirmativas A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de discriminações. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 66 Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art. 205, que assinala o dever do Estado de garantir indistintamente, por meio da educação, iguais direitos para o pleno desenvolvimento de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou profissional. Sem a intervenção do Estado, os postos à margem, entre eles os afro-brasileiros, dificilmente, e as estatísticas o mostram sem deixar dúvidas, romperão o sistema meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiça, ao reger-se por critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de privilégios para os sempre privilegiados. Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem oferecer garantias a essa população de ingresso, permanência e sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio histórico-cultural afrobrasileiro, de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como para atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem com qualificação uma profissão. A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei 10639/2003, que alterou a Lei 9394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas. Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde a crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 67 que os não negros, é por falta de competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os negros. Reconhecimento requer a adoção de políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos diferentes níveis de ensino. Reconhecer exige que se questionem relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou explicitamente violentas, expressam sentimentos de superioridade em relação aos negros, próprios de uma sociedade hierárquica e desigual. Reconhecer é também valorizar, divulgar e respeitar os processos históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade, desde as formas individuais até as coletivas. Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, à sua descendência africana, sua cultura e história. Significa buscar, compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele, menosprezados em virtude de seus antepassados terem sido explorados como escravos, não sejam desencorajados de prosseguir estudos, de estudar questões que dizem respeito à comunidade negra. Reconhecer exige que os estabelecimentos de ensino, freqüentados em sua maioria por população negra, contem com instalações e equipamentos sólidos, atualizados, com professores competentes no domínio dos conteúdos de Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 68 ensino, comprometidos com a educação de negros e brancos, no sentido de que venham a relacionar-se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que impliquem desrespeito e discriminação. Políticas de reparações e de reconhecimento formarão programas de ações afirmativas, isto é, conjuntos de ações políticas dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória. Ações afirmativas atendem ao determinado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o objetivo de combate ao racismo e a discriminações, tais como: a Convenção da UNESCO de 1960, direcionada ao combate ao racismo em todas as formas de ensino, bem como a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Discriminações Correlatas de 2001. Nos trechos em itálico e sublinhado estão destacados alguns importantes princípios das políticas de ações afirmativas traçadas pelo Programa Nacional de Direitos Humanos. Vamos a algumas questões que estão esclarecidas nos trechos em destaque: o quais populações são alvos da preocupação sobre a condição de exclusão ou tratamento preconceituoso? o qual o argumento do documento sobre a ênfase nas políticas de reparação voltadas à comunidade de afrodescendentes pelo Estado brasileiro? o em que âmbitos da vida social o tratamento desigual ao negros requer mudanças para obtermos justiça e direitos iguais? o como o documento define “ações afirmativas”? Sabemos historicamente a dimensão destrutiva dos discursos sobre uma pretensa “pureza racial” e sabemos das imensas possibilidades de construir relações étnicoraciais mais democráticas e igualitárias. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 69 Concluindo esse conteúdo, vamos ler um trecho do texto de FRANZ BOAS, indicado na bibliografia complementar desse tópico, nas páginas 85 e 86: “Não importa quão fraco o argumento em favor da pureza racial possa ser, nós compreendemos seu apelo social em nossa sociedade. Embora as razoes biológicas aduzidas possam não ser relevantes, a estratificação da sociedade em grupos sociais de caráter racial ira sempre levar à discriminação de raça. Tal como em todos os outros agrupamentos humanos bem marcados, o individuo não é julgado como um indivíduo, mas como membro de sua classe. Podemos ter uma razoável certeza de que, onde quer que os membros de diferentes raças formem um único grupo social com laços fortes, os preconceitos e antagonismos raciais irão perder sua importância. Eles podem mesmo vir a desaparecer inteiramente. Enquanto insistirmos numa estratificação segundo camadas raciais, devemos pagar um preço alto na forma de luta inter-racial será melhor par nos continuar como estamos, ou devemos tentar reconhecer as condições que levam aos antagonismos fundamentais que nos atormentam?” Para compreender a importância das discussões que envolvem as relações étnico-culturais atualmente, leia abaixo uma das questões dissertativas do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) realizado pelo MEC anualmente. ENADE 2006 – Prova de FORMAÇÃO GERAL para todos os cursos (QUESTÃO 9 – DISCURSIVA): Sobre a implantação de “políticas afirmativas” relacionadas à adoção de “sistemas de cotas” por meio de Projetos de Lei em tramitação no Congresso Nacional, leia os dois textos a seguir. Texto I “Representantes do Movimento Negro Socialista entregaram ontem no Congresso um manifesto contra a votação dos projetos que propõem o estabelecimento de cotas para negros em Universidades Federais e a criação do Estatuto de Igualdade Racial. As duas propostas estão prontas para serem votadas na Câmara, mas o movimento quer que os projetos sejam retirados da pauta. (...) Entre os integrantes do movimento estava a professora titular de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Yvonne Maggie. ‘É preciso fazer o debate. Por isso ter vindo aqui já foi um avanço’, disse.” (Folha de S.Paulo – Cotidiano, 30 jun. 2006, com adaptação.) Texto II “Desde a última quinta-feira, quando um grupo de intelectuais entregou ao Congresso Nacional um manifesto contrário à adoção de cotas raciais no Brasil, a polêmica foi reacesa. (...) O diretor executivo da Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), frei Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 70 David Raimundo dos Santos, acredita que hoje o quadro do país é injusto com os negros e defende a adoção do sistema de cotas.” (Agência Estado-Brasil, 03 jul. 2006.) Ampliando ainda mais o debate sobre todas essas políticas afirmativas, há também os que adotam a posição de que o critério para cotas nas Universidades Públicas não deva ser restritivo, mas que considere também a condição social dos candidatos ao ingresso. Analisando a polêmica sobre o sistema de cotas “raciais”, identifique, no atual debate social, a) um argumento coerente utilizado por aqueles que o criticam; (valor: 5,0 pontos) b) um argumento coerente utilizado por aqueles que o defendem. (valor: 5,0 pontos) Agora, vamos analisar o quadro de correção elaborado para a prova, chamado de “Padrão resposta”, que nada mais é do que uma grade de correção para as questões dissertativas em que constam os pontos como deveriam ter sido abordados pelos estudantes para obter o valor considerado. PADRÃO DE RESPOSTA – ENADE 2006 QUESTÃO 9 Tema – Políticas Públicas / Políticas Afirmativas / Sistema de Cotas “raciais” a) O aluno deverá apresentar, num texto coerente e coeso, a essência de um dos argumentos a seguir contra o sistema de cotas. - Diversos dispositivos dos projetos (Lei de cotas e Estatuto da Igualdade Racial) ferem o princípio constitucional da igualdade política e jurídica, visto que todos são iguais perante a lei. Para se tratar desigualmente os desiguais, é preciso um fundamento razoável e um fim legítimo e não um fundamento que envolve a diferença baseada, somente, na cor da pele. - Implantar uma classificação racial oficial dos cidadãos brasileiros, estabelecer cotas raciais no serviço público e criar privilégios nas relações comerciais entre poder público e empresas privadas que utilizem cotas raciais na contratação de funcionários é um equívoco. Sendo aprovado tal estatuto, o País passará a definir os direitos das pessoas com base na tonalidade da pele e a História já condenou veementemente essas tentativas. - Políticas dirigidas a grupos “raciais” estanques em nome da justiça social não eliminam o racismo e podem produzir efeito contrário; dando-se respaldo legal ao conceito de “raça”, no sentido proposto, é possível o acirramento da intolerância. - A adoção de identidades étnicas e culturais não deve ser imposta pelo Estado. A autorização da inclusão de dados referentes ao quesito raça/cor em instrumentos de coleta de dados em fichas de instituições de ensino e nas de atendimento em hospitais, por exemplo, pode gerar ainda mais preconceito. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 71 - O sistema de cotas valorizaria excessivamente a raça, e o que existe, na verdade, é a raça humana. Além disso, há dificuldade para definir quem é negro porque no País domina a miscigenação. - O acesso à Universidade deve basear-se em um único critério: o de mérito. Não sendo assim, a qualidade acadêmica pode ficar ameaçada por alunos despreparados. Nesse sentido, a principal luta é a de reivindicar propostas que incluam maiores investimentos na educação básica. - O acesso à Universidade Pública que não esteja unicamente vinculado ao mérito acadêmico pode provocar a falência do ensino público e gratuito, favorecendo as faculdades da rede privada de ensino superior. (valor: 5,0 pontos) b) O aluno deverá apresentar, num texto coerente e coeso, a essência de um dos argumentos a seguir a favor do sistema de cotas. - É preciso avaliar sobre que “igualdade” se está tratando quando se diz que ela está ameaçada com os projetos em questão. Há necessidade de diferenciar a igualdade formal ( do ordenamento jurídico e da estrutura estatal) da igualdade material (igualdade de fato na vida econômica). Ao longo da História, manteve-se a centralização política e a exclusão de grande parte da população brasileira na maioria dos direitos, perpetuando-se o mando sobre uma enorme massa de população. É preciso, então, fazer uma reparação. - Não se pode ocultar a diversidade e as especificidades sociopolíticas e culturais do povo brasileiro. O princípio da igualdade assume hoje um significado complexo que deve envolver o princípio da igualdade na lei, perante a lei e em suas dimensões formais e materiais. A cota não tira direitos, mas rediscute a distribuição dos bens escassos da nação até que a distribuição igualitária dos serviços públicos seja alcançada. - Não se pode negar a dimensão racial como uma categoria de análise das relações sociais brasileiras. A acusação de que a defesa do sistema de cotas promove a criação de grupos sociais estanques não procede; é injusta e equivocada. Admitir as diferenças não significa utilizá-las para inferiorizar um povo, uma pessoa pertencente a um determinado grupo social. - A utilização das expressões “raça” e “racismo” pelos que defendem o sistema de cotas está relacionada ao entendimento informal, e nunca como purismo biológico; trata-se de um conceito político aplicado ao processo social construído sobre diferenças humanas, portanto, um construto em que grupos sociais se identificam e são identificados. - Na luta por ações afirmativas e pelo Estatuto da Igualdade Racial se defende muito mais do que o aumento de vagas para o trabalho e o ensino; defende-se um projeto político contra a opressão e a favor do respeito às diferenças. - Dizer que é difícil definir quem é negro é uma hipocrisia, pois não faltam agentes sociais versados em identificar negros e discriminá-los. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 72 - As Universidades Públicas no Brasil sempre operaram num velado sistema de cotas para brancos afortunados, visto que a metodologia dos vestibulares acaba por beneficiar os alunos egressos das escolas particulares e dos cursinhos caros. - Pesquisas revelam que, para as Universidades que já adotaram o sistema de cotas, não há diferenças de rendimento entre alunos cotistas e não-cotistas; os números revelam, inclusive, que no quesito freqüência os cotistas estão em vantagem (são mais assíduos). (valor: 5,0 pontos) * LEIA OS TEXTOS INDICADOS NA BIBLIOGRAFIA E CONSIDERE SUAS POSSIBILIDADES DE RESPOSTAS PARA ESSA QUESTÃO DO ENADE. *LEMBRE-SE DE LER OS TEXTOS INDICADOS NA BIBLIOGRAFIA ANTES DE REALIZAR OS EXERCÍCIOS REFERENTES AO CONTEÚDO. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 73 Questões tópico 2.3 56) O conceito de etnia veio a substituir o de raça, pois: A) era uma necessidade de modernização dos referenciais conceituais tradicionais das ciências a partir dos movimentos sociais da década de 1960. B) as mudanças políticas do séc. XX que trouxeram a hegemonia norte-americana impediram a continuidade do uso do conceito de raça, pois tratava-se de uma teoria européia. C) não existe base científica que comprove a validade do uso do conceito de raça, e os abusos ideológicos de povos dominantes que o utilizaram como justificativa histórica para subjugar e exterminar povos, trataram de bani-lo. D) o conceito de etnia faz parte do senso comum, sendo melhor interpretado que o conceito de raça. E) a identidade racial é um conceito menos abrangente que o de identidade étnica; apesar do primeiro ser mais explicativo, considera-se menos útil da perspectiva antropológica, daí a preferência pelo conceito de etnia. 57) O ato de forçar a um grupo a adotar a cultura dominante, está associado a: A) atribuição de identidade cultural autêntica. B) é uma forma de aculturação como tentativa de modernização cultural. C) conflito étnico ou conflito de identidade. D) característica das relações entre diferentes culturas. E) atitude anti-etnocêntrica. 58) A prática do preconceito étnico é comum e tem sido determinantemente combatida e desacreditada principalmente pelas ciências humanas, como forma de convivência no mundo contemporâneo. À prática do preconceito podemos associar corretamente os conceitos de: A) relativismo cultural e integração cultural; B) tolerância interétnica e diversidade cultural; C) intolerância interétnica; etnocentrismo; estereótipo; D) multiculturalismo e identidade racial; E) identidade contrastiva e identidade relacional. 59) A prática do preconceito étnico é comum e tem sido determinantemente combatida e desacreditada principalmente pelas ciências humanas, como forma de convivência no mundo contemporâneo. À prática do combate ao preconceito dentro das ciências humanas podemos associar corretamente os conceitos de: A) relativismo cultural e diversidade étnica; B) tolerância interétnica e diversidade cultural; C) intolerância interétnica; etnocentrismo; estereótipo; D) multiculturalismo e identidade racial; E) identidade contrastiva e identidade relacional. 60) “Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias constituiriam um fator de importância primordial entre as causas das diferenças que se manifestam entre as culturas e as obras das civilizações dos diversos povos ou grupos étnicos. Eles nos informam, pelo contrário, que essas diferenças se explicam antes de tudo pela história cultural de cada grupo. Os fatores que tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma das características específicas do Homo Sapiens”. (Declaração redigida por vários cientistas em 1950, no pós-nazismo, no encontro da Unesco em Paris) “Nada, no estado atual da ciência, permite afirmar a superioridade ou a inferioridade intelectual de uma raça em relação à outra”. Claude Lévi-Strauss, “Raça e cultura” Os dois pensamentos citados acima têm como objetivo: A) confirmar as teses que atribuíram características e aptidões raciais inatas. B) afirmar que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 74 C) negar a grande diversidade cultural da espécie humana. D) negar as teses deterministas biológicas, lutando contra o preconceito racista e todas as tentativas de discriminação e de exploração. E) legitimar a hierarquia de raças. 61) “Folha - A senhora leu as declarações do presidente da Universidade Harvard, Lawrence Summers, que sugeriu que diferenças biológicas inatas entre homens e mulheres poderiam explicar a existência de um número menor de pesquisadoras nas ciências exatas? Collin - Ele disse isso? Folha - Disse. Collin - É um comentário estúpido. Isso me lembra de um comentário de um jornalista que disse que o nível das universidades francesas tinha caído por causa do número grande de mulheres que estavam estudando. Ele foi processado e, no processo, várias mulheres levaram livros de sua autoria para a mesa do juiz. Elas encheram a mesa com livros e ganharam o processo. Folha - No entanto, testes oficiais aplicados em estudantes no Brasil e em outros países do mundo mostram que meninos têm, em média, melhor desempenho em matemática, enquanto meninas têm notas melhores em português ou em sua língua materna. Negar essas diferenças não prejudica o entendimento dessa questão? Collin - Mesmo se essas estatísticas que você citou forem realmente corretas, elas têm que ser analisadas a partir do contexto cultural. Se for realmente verdade, e não estou dizendo que é, isso não permite dizer que essas diferenças ocorrem por razões naturais. Uma menina que recebeu menos incentivo da família do que um garoto poderá ter desempenho pior, mesmo se estudar na mesma classe. Essas diferenças, caso existam, são muito sensíveis ao contexto cultural.” (Jornal Folha de São Paulo, Segunda-feira, 2 de maio de 2005, “ENTREVISTA DA 2ª” com FRANÇOISE COLLIN, por ANTÔNIO GOIS) De acordo com a posição que Françoise Collin assume nesta entrevista, qual das afirmações abaixo é INCORRETA : A) as diferentes aptidões de homens e mulheres não se devem a causas naturais. B) homens e mulheres agem diferentemente sobretudo por terem sempre recebido um aprendizado diferenciado. C) é falso que as diferenças de comportamento existentes entre pessoas de sexo diferentes sejam determinadas geneticamente. D) uma menina que recebeu menos incentivo de seu grupo cultural para gostar de matemática tenderá a ter um desempenho mais fraco do que o de um menino que tenha sido estimulado a gostar das ciências exatas. E) a constituição genética feminina é o que determina o pior desempenho das mulheres em matemática. 62) Sobre o relativismo cultural, é correto afirmar: A) É uma forma de encarar a diversidade cultural rejeitando qualquer etnocentrismo, ao propor que a cada cultura corresponde uma lógica própria, e que devemos respeitar o ponto de vista de seus indivíduos, sem tentar impor rótulos. B) É uma teoria baseada nos princípios estruturalistas desenvolvidos por Lévi-Strauss, que defende que não há nenhuma característica universal que iguale o ser humano. C) O relativismo defende que todas as culturas tendem a se assemelhar com o passar do tempo, e que ao difundir nossos hábitos estamos colaborando com esse processo. D) Deriva das concepções antropológicas que defendem que existe uma única cultura que deu origem a todas as outras. E) É uma teoria profundamente influenciada pelo evolucionismo e que defende privilégios às culturas mais avançadas. 63) A incapacidade de aceitar a visão de mundo de outra cultura como válida, correta ou aceitável está associado ao que segue: A) política de reparação. B) etnocentrismo. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 75 C) socialização. D) relativismo cultural. E) política afirmativa. 64) Podemos apontar como exemplos de “políticas afirmativas” para resgatar a condição social de um grupo dentro de uma sociedade que praticou exploração e preconceito contra uma etnia: A) mudanças no currículo educacional que valorizem a experiência histórica desse grupo; instituição de cotas para acesso ao ensino público superior; valorização de sua cultura. B) obrigatoriedade de frequência a escolas de uso exclusivo de indivíduos dessa etnia; proibição de casamentos interraciais para garantir a integridade étnica de cada grupo. C) instituição de modelos de comportamento aceitáveis para que os indivíduos desse grupo se sintam mais integrados à sociedade; banir o uso de imagens dos indivíduos desse grupo étnico em publicidade e livros didáticos; tornar obrigatório o uso de vestimentas étnicas. D) utilizar com maior frequência imagens dos indivíduos desse grupo étnico em publicidade e livros didáticos; legalizar práticas criminosas de grupos radicais que se supõem defensores de direitos étnicos. E) conscientizar toda a população da necessidade do convívio étnico baseado na democracia e direitos plenos; atribuir privilégios legais aos indivíduos das etnias em desvantagem social em todas as instâncias da vida coletiva. 65) Das situações abaixo, assinale aquela que tem relação com o conceito de RELATIVISMO CULTURAL: A) estabelecer um modelo de sociedade ideal baseado na experiência de uma nação bem sucedida economicamente no cenário mundial e tentar reproduzir seu modo de vida e seus valores. B) recusar idéias, valores e hábitos de um grupo étnico considerado inferior e aceitar as de grupos étnicos considerados superiores. C) julgar uma cultura a partir de seus próprios valores e hábitos, e não a partir de valores dominantes de uma cultura que se impõe sobre as demais. D) aceitar qualquer tipo de imposição de uma cultura alheia como forma de mostrar capacidade de se colocar no lugar do outro. E) socializar adequadamente os indivíduos de uma cultura dentro dos padrões esperados de comportamento para que todos se sintam incluídos. 66) Em seu texto “O etnocentrismo”, Claude Lévi-Strauss afirma que é muito antiga a atitude que “consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais, morais, religiosas, sociais e estéticas mais afastadas daquelas com que nos identificamos”. A respeito do comportamento etnocêntrico , assinale a alternativa INCORRETA : A) Consiste numa visão de mundo em que nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através de nossos valores, nossos modelos, e nossas definições do que é a existência. B) As apreciações negativas dos padrões culturais dos povos diferentes nunca foram utilizadas para justificar a violência praticada contra “o outro”. C) É uma atitude universal, pois todos os indivíduos crêem que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão. D) Significa a supervalorização da própria cultura em detrimento das demais. E) A propensão em considerar o nosso modo de vida como o mais natural e o mais correto pode levar a numerosos conflitos sociais, tais como a xenofobia, o racismo, as guerras étnicas, o preconceito e os estigmas, a segregação e a discriminação baseadas na raça, na etnia, no gênero, na idade ou na classe social. 67) leia o texto: “Em 1991, o então presidente americano, Bush, ansioso por restaurar uma maioria conservadora na Suprema Corte americana, encaminhou a indicação de Clarence Thomas, um juiz negro de visões políticas conservadoras. No julgamento de Bush, os eleitores brancos (que podiam ter preconceitos em relação a um juiz negro) provavelmente apoiariam Thomas porque ele era conservador em termos de legislação de igualdade de direitos, enquanto os eleitores negros (que apóiam políticas liberais em questões de raça) apoiariam Thomas porque ele era negro”. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 76 Com base no texto o que está presente nas intenções de Bush? Assinale a alternativa que mais diretamente se relaciona ao texto: A) O jogo político estratégico de conquista de poder. B) Uma manifestação política com base no jogo das identidades. C) A necessidade de construir a igualdade de raça na Suprema Corte americana. D) Uma manifestação de demonstração de que em seu governo não havia preconceito de raça. E) A necessidade de atender os políticos conservadores e os políticos liberais. 68) Quando um Estado se propõe a colocar em prática um conjunto de ações políticas dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, é corretamente denominado de: A) Concepção etnocêntrica de sociedade com políticas moderadoras. B) Políticas de identidade baseadas em padrões raciais. C) Políticas de reparações que formam programas de ações afirmativas. D) Conjunto de políticas de Estado raciais. E) Multiculturalismo racial baseado em programas de privilégios sociais. 69) As apreciações negativas dos padrões culturais dos povos diferentes foram muitas vezes em nossa História utilizadas para justificar a violência praticada contra “o outro”. Esse tipo de comportamento é conceituado pela Antropologia como: A) Etnocentrismo. B) Relativismo cultural. C) Diversidade étnico-cultural. D) Multiculturalismo. E) Políticas afirmativas e de reparação. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 77 2.4 - A cultura na sociedade atual: nacionalidade, cultura popular e erudita; meios de comunicação; poder e cultura. BIBLIOGRAFIA BÁSICA: SANTOS, J. L. O QUE É CULTURA, SP: Brasiliense, 2006 “A cultura em nossa sociedade”, in. pp. 51-79; “Cultura e relações de poder”, pp. 80-86. É muito comum que as pessoas em seu dia-a-dia não se dêem conta que nossos hábitos, costumes, valores morais ou formas de julgamento são o resultado de um processo histórico de nosso grupo social. Entretanto, facilmente consegue-se relacionar a nossa vida material como a tecnologia, por exemplo, como resultante de um processo complexo de desenvolvimento que envolve conhecimento e condições técnicas-econômicas de implantação. Isso porque, no primeiro exemplo, estamos falando de um aspecto imaterial, simbólico, da cultura humana. Em geral, as pessoas tendem a naturalizar mais essa dimensão humana, dando como certo que se trata de algo que não procede de escolhas e muito menos de formas coletivas de vivência. O fato é que a história de qualquer grupo social interfere o tempo todo em seu presente, sendo impossível separarmos a cultura de um povo de sua história. As diferentes histórias de cada povo podem ser interpretadas antropologicamente, como estratégias locais de sobrevivência e reprodução, mas não se encontram desvinculadas da história da espécie humana como um todo. Assim, podemos afirmar que estamos em um mesmo momento da história de nossa espécie, em âmbitos que envolvem nossa evolução e nossa relação com o meio ambiente. Entretanto, cada povo em seu local específico, é o resultado das relações entre os indivíduos e seu grupo social. Como resultado das interferências pessoais em um dado Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 78 conjunto de instituições, regras, leis e tecnologia que formam uma totalidade social é que podemos perceber a CARACTERÍSTICA, a ESPECIFICIDADE de uma cultura. É possível observar um grupo social a partir de sua perspectiva histórica, e como resultado percebemos que cada grupo é único, mesmo quando passa por eventos semelhantes e utiliza as mesmas convenções sociais. Portanto, a cultura nesse caso, é um elemento agregador que promove a intermediação das relações entre os indivíduos. Mas quando observamos a passagem do tempo (= história) em dois grupos diferentes que utilizam o mesmo referencial cultural, percebemos que não é possível encontrar os mesmos resultados. Esta é a base do que denominamos CULTURA REGIONAL. No Brasil, temos a existência de regiões geográficas que definem regiões culturais diferentes. A experiência histórica em cada uma delas determinou características particulares dentro da grande totalidade que chamamos de “cultura brasileira”, ou cultura nacional. Assim como ocorre com os regionalismos, ocorre também com relação à sociedade nacional. Portanto as culturas regionais e nacionais se referem sempre a experiências compartilhadas por uma população durante um período de tempo suficiente para deixar marcas nas relações sociais, na visão de mundo desse povo. Neste âmbito é que reside a questão da relação indivíduo-sociedade. Ao mesmo tempo em que cada um de nós é marcado pela história de nosso grupo social, também marcamos essa história, com a possibilidade de reforçar certos comportamentos, repetindoos e mantendo-os atuantes, ou recusando-os e enfraquecendo sua importância. Somos ao mesmo tempo resultados de uma HERANÇA cultural e produtores dessa herança para as próximas gerações. Não nos damos conta disso em nosso cotidiano, e a única forma de consciência disso se expressa através da necessidade pessoal em defender e preservar certos traços de comportamento e recusar outros. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 79 Se partirmos dessa compreensão de cultura como resultado da vida sóciohistórica dos indivíduos que atuam em um grupo, podemos então detalhar alguns aspectos importantes da vida cultural em nossa sociedade atualmente. Nossas condições materiais de existência afetam nossas condições psíquicas e culturais, e vice-versa. Em nossa sociedade, existe a questão do pertencimento a classes sociais, ou em outras palavras, da renda como determinante das posições na hierarquia social. Assim, notamos certos padrões de comportamento que se associam a padrões de consumo, e que por sua vez se associam a um conjunto de valores morais, ou estéticos, ou de gosto, capazes de criar grupos de pessoas que se identificam e mantêm características e hábitos próprios. Para facilitar a compreensão desse fenômeno, utilizamos os conceitos de cultura popular, cultura erudita e cultura de massa. Vamos ao texto indicado para leitura na bibliografia deste módulo para esclarecer essa classificação da cultura. José Luiz dos SANTOS explica: Comecemos por esta última indagação, a qual é bem antiga na história das preocupações com cultura. É que, a partir de uma idéia de refinamento pessoal, cultura se transformou na descrição das formas de conhecimento dominantes nos Estados nacionais que se formavam na Europa a partir do fim da Idade Média. Esse aspecto das preocupações com a cultura nasce assim voltado para o conhecimento erudito ao qual só tinham acesso setores das classes dominantes desses países, esse conhecimento erudito se contrapunha ao conhecimento havido pela maior parte da população, um conhecimento que supunha inferior, atrasado, superado, e que aos poucos passou também a ser entendido como uma forma de cultura, a cultura popular. As preocupações com cultura popular são tentativas de classificar as formas de pensamento e ação das populações mais pobres de uma sociedade, buscando o que há de específico nelas, procurando entender a sua lógica interna, sua dinâmica e principalmente, as implicações políticas que possam ter. (...) De fato, ao longo da história a cultura dominante desenvolveu um universo de legitimidade própria, expresso pela filosofia, pela ciência e pelo saber produzido e controlado em instituições da sociedade nacional, tais com a universidade, as academias, as ordens Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 80 profissionais (de médicos, advogados, engenheiros e outras). Devido à própria natureza da sociedade de classes em que vivemos, essas instituições estão fora do controle das classes dominadas. Entende-se por cultura popular as manifestações culturais dessas classes, manifestações diferentes da cultura dominante, que estão fora de suas instituições, que existem independentemente delas, mesmo sendo suas contemporâneas. (Santos, J.L. 2006, pp.54-55) A conclusão é que denominamos cultura erudita toda a produção material e imaterial resultante de conhecimento intelectual e técnicos especializados, letrados, que dependem de treinamento constante e dedicação – de tempo e de investimentos financeiros. Já a cultura popular é uma produção resultante de conhecimentos da tradição oral, do convívio e da informalidade. O treinamento normalmente é proporcionado com baixos investimentos, ou mesmo como estratégia de sobrevivência. São artistas, artesãos, ou trabalhadores que dominam sua técnica de forma autodidata e reproduzem aprendizados que passam de geração a geração. E quanto à cultura de massa? Bem, é um fenômeno que depende da existência dos meios de comunicação de massa como o rádio, a televisão, o cinema, a imprensa, a Internet e assim por diante. A cultura de massa resulta do trabalho empresarial sobre produtos e artistas tanto da cultura erudita quanto da cultura popular. Não há criadores espontâneos da cultura de massa. Há empresários e técnicos, atrelados a uma empresa (editoras, gravadoras, produtoras, grupos de comunicação) que visa lucro com os produtos culturais. Eles se apropriam dessa cultura através de contratos e divulgam todo tipo de produção cultural através do mercado para que as pessoas adquiram esse material. São classificados como “de massa”, porque o mesmo conteúdo atinge um imenso número de pessoas ao mesmo tempo. A massa é ao mesmo tempo um fenômeno quantitativo, pois são muitas pessoas, e psicológico. O indivíduo que faz parte da massa responde de forma imatura ao que recebe. Repete as opiniões alheias, pois não é capaz de ter opinião própria, e tem uma relação mais emocional que crítica em relação ao gosto. Gosta porque todos gostam, porque está na moda, e assim o inclui em um movimento; gosta porque esse Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 81 consumo lhe dá status e uma boa visibilidade social. Na massa, o indivíduo gosta de ser diferente, mas igual. Quer ter personalidade, mas não quer chamar a atenção. Portanto podemos falar em uma cultura popular de massas, e uma cultura erudita de massas? Sim! Para exemplificar, os livros que se tornam campeões de vendas, normalmente são um exemplo da cultura erudita de massas. Já a maior parte dos programas televisivos de auditório, exemplifica a cultura popular de massa. Esse tipo de programa se baseia na antiga receita do circo, um palco e uma audiência que espera ser entretida por um apresentador que lhes proporciona carisma, admiração e que lhes mostra a vida como um espetáculo. A cultura de massa é um importante fenômeno econômico, cultural e psicológico de nossa sociedade atualmente. É uma referência de estilo de vida, de informação, de diversão. Os indivíduos se sentem seguros ao reproduzir o gosto da indústria cultural de massa. Algumas escolas de estudo dos fenômenos sociais relacionadas aos meios de comunicação de massa conceituam diferentemente essa reação da população ao funcionamento da cultura de massa. Há os que se referem a esse comportamento como “alienado”. Segundo essa escola, ao participar do consumo cultural de massa, todos somos alienados, pois perdemos a capacidade racional de crítica. A massa prefere o entretenimento, a diversão descomprometida ao envolvimento com produtos e gostos que exigem reflexão, sensibilidade ou percepção aguçada. Já outros teóricos, defendem que a cultura de massa é o “espírito” de nosso tempo. Além de estar presente em todos os aspectos da nossa vida, a cultura de massa substitui necessidades até mesmo de devoção religiosa. Agora idolatramos pessoas da mídia, cuja fama ou merecimento são passageiros e questionáveis. E isso não é propriamente uma alienação, e sim uma característica da cultura de nossa época. Quem é que não tem nostalgia de programas e até mesmo de propagandas de sua infância? Até mesmo nossa biografia e memória afetiva dependem da exposição aos produtos dessa indústria cultural. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 82 Essa indústria se beneficia da padronização de gosto, da homogeneização, e para isso os estimula, incentivando e valorizando o comportamento padronizado. O espaço que a mídia dá ao padrão é infinitamente maior que o espaço dado ao diferente, o exótico, o de difícil aceitação pela massa. E assim, sem receber nada de realmente original ou que não seja meramente divertido, o gosto sempre vai reproduzir a adesão aos mesmos tipos de produtos culturais. É um círculo vicioso: a indústria cultural é que modela o gosto da massa, ou a massa é quem exige esse tipo de cultura? Uma pequena parcela de nossa sociedade tem acesso à cultura erudita, que se dá através de escolas e universidades muito seletivas. E também a cultura popular depende do envolvimento e interesse populares, que extrapolam os objetivos de mercado. Esses tipos de cultura não pretendem se tornar produtos de sucesso. Eles circulam em meios onde o interesse está para além da atenção da mídia e da carreira bem sucedida empresarialmente. Assim, não é possível compreendermos nossa relação com a cultura em nossa sociedade, sem considerarmos a influência e os propósitos da cultura de massa. Este é um exercício de redação temática e reflexiva. Portanto você pode utilizar tanto os conceitos trabalhados neste módulo, como dos textos indicados ou de pesquisa pessoal sobre esse conteúdo. O objetivo é fazer um exercício de sensibilização da percepção sobre os fenômenos da cultura contemporânea. Para isso você deve fazer uma redação de no mínimo dez linhas e no máximo 30 linhas, a partir da seguinte proposta: Observe a reação das pessoas em situação de exposição a produtos da indústria cultural, como ver vitrines da moda, assistir a filmes de sucesso ou ler publicações como revistas de grande tiragem e circulação. Pense em eventos para grandes multidões como espetáculos musicais ou esportivos. Faça uma reflexão onde você é capaz de expor ao leitor a influência da mídia e dos espetáculos de massa no comportamento dos indivíduos. Peça a um colega ou um professor que leia seu texto e faça uma auto-avaliação onde você considere algumas habilidades que puderam ser trabalhadas. Como sugestão: Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 83 - o foco na questão abordada: está colocado de forma adequada, você está sendo objetivo, está sendo repetitivo ou não, consegue abordar os aspectos mais relevantes? - o ritmo de seu texto: introdução ao tema, desenvolvimento e conclusões. Lembre-se de ler os textos da bibliografia antes de realizar os exercícios deste conteúdo! Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 84 Questões 2.4 70) A história de um povo pode interferir de muitas formas em sua cultura. Podemos perceber isso principalmente através do que segue: A) A história precisa ser conhecida pelos indivíduos de um grupo, do contrário eles não podem ser influenciados por ela. B) É através da relação com a história através de uma herança cultural, que não se dá de forma consciente, que os indivíduos atuam em uma sociedade. C) Apesar de percebermos a influência da história em nossa cultura, não existe qualquer tipo de pesquisa cientifica que comprove isso. D) Os mesmos fenômenos históricos afetam de forma idêntica culturas que são diferentes. E) É principalmente através da cultura material que percebemos a influência da história em nossa cultura, pois a cultura imaterial não nos influencia tanto. 71) Leia o trecho a seguir e escolha entre as alternativas aquela que corresponde ao pensamento expresso pelo autor: “Da mesma forma, como a cultura erudita é desde sempre associada com as classes dominantes, sua expansão pode ser vista como uma expansão colonizadora. A ampliação de seus domínios como, por exemplo, através da expansão da rede de escolas e de atendimento médico, pode ser entendida como uma forma de controle social, que mantêm as desigualdades básicas da sociedade em benefício da minoria da população.” (SANTOS, J.L. O QUE É CULTURA, pg. 56) A) para o autor, a divisão entre cultura erudita e popular mostra uma relação de poder, pois uma minoria tem acesso ao conhecimento erudito, mas não toda a população. B) ele demonstra como a compreensão de como dividimos entre cultura erudita e popular tem interesse apenas para os médicos e professores que ocupam cargos públicos para atendimento à população. C) conclui que as desigualdades da sociedade poderiam ser resolvidas se a classe dominante providenciasse a expansão das redes de educação e atendimento à saúde da população. D) o autor se posiciona nitidamente a favor da colonização e da expansão das desigualdades básicas que atingem de forma inaceitável a minoria da população. E) a expansão da rede de escolas e de atendimento médico podem ser exemplos de cultura erudita e cultura popular respectivamente. 72) Em nossa sociedade os meios de comunicação de massa fazem parte da paisagem social moderna. Esta afirmação pode ser considerada correta se associada às seguintes observações: A) Nossa sociedade estabelece uma hierarquia de status através da imposição de uma mesma cultura para todos os indivíduos. A essa imposição denominamos cultura de massa. B) Não podemos saber exatamente que tipo de influência cultural cada indivíduo recebeu em nossa sociedade, pois as culturas erudita, popular e de massa são muito semelhantes entre si. C) A história cultural recente de nossa sociedade revela que os indivíduos já não se relacionam mais com seu passado como era o costume nas gerações anteriores. As pessoas não são influenciadas pela história de sua cultura. D) Esses meios estão presentes em todas as esferas de nossa vida social tais como a religião, a profissão, o lazer, a educação ou a política; eles difundem formas de comportamento e estilos de vida. E) Apesar da influência da cultura de massa no gosto de grande parcela da população, os indivíduos que fazem parte da massa não se deixam influenciar em termos de comportamento pelo gosto alheio. 73) Podemos afirmar que a massa é um fenômeno ao mesmo tempo quantitativo e psicológico. Essa colocação está: A) Errada, pois a massa significa apenas uma grande quantidade de pessoas, não atingindo a afetividade dos indivíduos. B) Correta, pois a massa é ao mesmo tempo um fenômeno demográfico de concentração urbana, e psicológico, uma vez que os indivíduos são influenciáveis pelos produtos dessa cultura. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 85 C) Correta, pois ao mesmo tempo em que falar em massa significa falar em um grande número de pessoas, elas são afetadas psicologicamente, pois resistem às possíveis influências dos meios de comunicação de massa, o que as torna estressadas. D) Errada, pois não é possível perceber como o fenômeno associado à existência de uma massa de pessoas pode afetar psicologicamente os indivíduos. E) Correta em termos, pois ao mesmo tempo em que podemos perceber que fazer parte da massa significa que há muitas pessoas envolvidas em processos semelhantes, não há evidências de que isso possa afetar psicologicamente os indivíduos. 74) Quando pensamos a cultura de um grupo social, é possível ressaltar diferentes aspectos que a caracterizam. É muito comum associarmos essa cultura a modos de ser e sentir que são característicos desse grupo, que são seu patrimônio. Essa ênfase da cultura como patrimônio de um povo está associado a que tipo de cultura? A) cultura erudita. B) cultura de classe. C) cultura popular. D) cultura de massa. E) cultura patrimonial. 75) Quando pensamos a cultura de um grupo social, é possível ressaltar diferentes aspectos que a caracterizam. É muito comum associarmos essa cultura ao modo de vida que resulta das condições econômicas desiguais entre grupos ou setores dentro de uma sociedade. Essa ênfase da cultura como expressão de desigualdade social está associado a que tipo de cultura? A) cultura erudita. B) cultura de classe. C) cultura popular. D) cultura de massa. E) cultura patrimonial. 76) Atualmente é nítida a grande influência dos meios de comunicação de massa como a televisão, o cinema e a Internet na vida cultural de todos os povos. Quase todo o conteúdo que circula nesses meios, como filmes, novelas, reality shows, publicidade, é chamado de “indústria cultural”. Isto porque são produtos feitos de forma padronizada para atingir um imenso numero de pessoas ao mesmo tempo, como os bens produzidos em uma indústria. Esse tipo de cultura que predomina como forma de expressão em nossa sociedade está associado a que tipo de cultura das listadas abaixo? A) cultura erudita. B) cultura de classe. C) cultura popular. D) cultura de massa. E) cultura patrimonial. 77) Assinale a alternativa com exemplos que predominam no pensamento comum como traços que definem a cultura brasileira, ou o brasileiro como diferente de outros povos: A) a ausência do preconceito; a valorização de nosso patrimônio popular; a valorização de nossa história como chave para solucionar problemas atuais. B) a influência da diversidade étnico-cultural e a capacidade de soluções políticas que resultam em uma sociedade com poucas desigualdades. C) certos comportamentos como o “jeitinho” e a capacidade conciliatória que evita conflitos profundos em nossa sociedade. D) a aparência física que nos diferencia dos demais povos e a intolerância religiosa a diferentes tradições. E) formas de pensar e agir que fazem parte de nosso comportamento comum como a formalidade e a dedicação ao pensamento técnico-racional; a importância dada a componentes da vida social como a hierarquia e o bem comum. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 86 78) Questão do ENADE 2006 – Prova de Conhecimentos Gerais para todos os cursos avaliados, (QUESTÃO 3) Jornal do Brasil, 3 ago. 2005. Tendo em vista a construção da idéia de nação no Brasil, o argumento da personagem expressa: A) a afirmação da identidade regional. B) a fragilização do multiculturalismo global. C) o ressurgimento do fundamentalismo local. D) o esfacelamento da unidade do território nacional. E) o fortalecimento do separatismo estadual. 79) A população brasileira se constitui como um grupo para o qual colaboraram historicamente diferentes povos que trouxeram para o nosso território sua cultura. No início de nossa história nacional, portugueses, índios e africanos formavam a sociedade brasileira. Entretanto, a importância da colaboração de índios e africanos em nossa cultura nacional é constantemente diminuída, e as vezes desprezada. Isto se deve ao que segue: A) Os brasileiros preferem considerar as influências européias dos portugueses ou franceses em nossa cultura do que as africanas e indígenas. B) Porque, de fato, a colaboração dessas etnias foi bem inferior à dos europeus. C) As populações indígenas nativas e os africanos trazidos para nosso território sempre tiveram uma cultura inferior à dos portugueses, por isso ela é descartada. D) Existe muita resistência por parte dos descendentes de africanos e índios em aceitar que sua cultura tenha colaborado para nossa formação. E) Resulta da ocupação do poder político e econômico em nossa sociedade, que é formada por uma elite que valoriza muito a influência dos europeus. 80) Baseados na história brasileira, sabemos que a elite que ocupou durante muito tempo o poder político e econômico, valorizou muito mais a influência do povo europeu como formador de nossa cultura nacional, ao mesmo tempo desvalorizou outros. Assinale abaixo a alternativa que aponta os “esquecidos” da história de nossa cultura: A) Algumas etnias indígenas e a população do Nordeste. B) A população migrante e algumas etnias africanas. C) A cultura norte-americana e os descendentes de etnias africanas. D) As etnias indígenas e africanas. E) Os descendentes de índios e algumas etnias africanas. 81) Atualmente é comum que conheçamos cada povo através do nome da nação à qual pertencem. Não nos lembramos de suas etnias, mas de seu território e de sua constituição como unidade política. Conhecemos a cultura de cada povo através de sua experiência dentro desse modelo de pertencimento a uma nação. Esse tipo de cultura na qual enfatizamos o aspecto da vida comum de um povo dentro de seu Estado nacional é denominada? A) Cultura erudita. B) Cultura de classe. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 87 C) Cultura popular. D) Cultura de massa. E) Cultura nacional. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 88 3 - A SOCIEDADE 3.1 - Identidade cultural na atualidade: multiculturalismo, tribalismo urbano e pesquisa antropológica. BIBLIOGRAFIA BÁSICA: KEMP, K. “Identidade cultural”, in GUERRIERO, S (Org.). ANTROPOS E PSIQUE. O outro e sua subjetividade. São Paulo: Ed. Olho D’água, 5ª. Ed., 2004. LAPLANTINE, F. “Os pais fundadores da etnografia – Boas e Malinowski”, in Aprender Antropologia, Brasiliense, PP.75-92. Bibliografia complementar: HALL, Stuart. IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE, Rio de Janeiro: DP&A, 2003, 7ª ed. PASSADOR, Luiz Henrique. O campo da antropologia: constituição de uma ciência do homem, in ANTROPOS E PSIQUE – o outro e sua subjetividade, SP: Olho d´Água, 2003. pp 29-49. Sugestão de sítios da Internet: “Tribos de Brasília” – blog editado por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília: http://bsbtribos.blogspot.com/, acessado em 10/03/2009, 21:12. “Moda e Tribos Urbanas” – blog editado por Queila Ferraz Monteiro, Professora de História da Indumentária e Tecnologia da Confecção em diversos cursos superiores e de pós-graduação: http://www.fashionbubbles.com/2006/moda-e-tribosurbanas/, acessado em 10/03/2009, 21:00. DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO Segundo Stuart HALL: MULTICULTURAL: características sociais e problemas de governabilidade apresentados por sociedades com diferentes comunidades culturais. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 89 MULTICULTURALISMO: estratégias e políticas usadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade em sociedades multiculturais. Muitos países no mundo de hoje são sociedades multiculturais, e enfrentam muitos problemas políticos para que todos se sintam INCLUÍDOS; não apenas com direitos iguais, mas que sejam igualmente valorizados como parte de uma sociedade múltipla. Portanto o debate do multiculturalismo nos leva aos conceitos de IDENTIDADE CULTURAL, e consequentemente de DIFERENÇA CULTURAL. Quem é igual a quem em uma sociedade multicultural? Ou mais, quem quer ser igual a quem, quem quer ser diferente e mesmo assim tratado igualmente? Identidade versus Diferença – São conceitos inseparáveis e mutuamente determinados: não temos como perceber ou definir uma identidade cultural sem relacionar com alguma outra que é DIFERENTE dela. Diferença, ou o direito à diferença: conjunto de princípios que organizam elementos culturais e princípios de valores de inclusão e exclusão, capazes de informar o modo como indivíduos marginalizados são posicionados e construídos em teorias sociais dominantes, práticas sociais e agendas políticas. Boaventura de Souza Santos, um iminente sociólogo da atualidade tem uma frase que colabora de forma excepcional para a compreensão do debate sobre a identidade e o direito à diferença. Qual seja: “As pessoas têm direito a serem iguais sempre que a diferença as tornar inferiores; contudo, têm também direito a serem diferentes sempre que a igualdade colocar em risco suas identidades.” O conceito de identidade cultural permite compreender os processos através dos quais os indivíduos passam a tomar como “gosto” ou “preferência pessoal” um conjunto que expressa sua subjetividade e o coloca nas relações interpessoais de forma a sentir que pertence a um coletivo. A identidade cultural de um grupo se manifesta tanto externamente, através de práticas coletivas próprias, rituais, vestuário e adornos corporais, por exemplo; como Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 90 intersubjetivamente, quando cada indivíduo entende como próprio de si mesmo um conjunto de hábitos e formas de sensibilidade que foram coletivamente constituídas. Para constituir uma identidade, os indivíduos passam pelos processos de socialização, endoculturação, recebem a visão de mundo de sua cultura, introjetam os valores. Todos os conceitos trabalhados anteriormente nos outros módulos fazem parte dos processos de identificação. A diferença está no seguinte ponto. A cada cultura corresponde um imenso e vasto repertório de hábitos, saberes, valores, técnicas. Nenhum indivíduo, de qualquer cultura que seja, pode conhecer, entrar em contato e experimentar a totalidade desse conjunto. Ao entrar em contato com diferentes setores e ordens da sociedade, cada indivíduo entra em um processo de identificação, onde os elementos de sua subjetividade vão se reorganizando em função de novas experiências. A cada uma delas o sujeito avalia qual seu grau de envolvimento e como delas se aproxima. Perguntas como: “Fazer isso, DESTA forma, me dá prazer?”; “Eu me sinto bem ao pensar sobre esse assunto DESTA maneira?”; “Eu considero justo que as pessoas tomem ESTA tal atitude em tal situação?”; “Eu percebo beleza NESTA forma de aparência social?” Tais questionamentos fazem parte da capacidade de REFLEXÃO que cada um de nós possui, e que nas sociedades contemporâneas faz parte de uma exigência para nossos posicionamentos e atitudes. Somos o tempo todo “cobrados” a uma “opinião pessoal”, a um “estilo pessoal”, a uma “atitude pessoal”, a “ter personalidade” (que no senso comum é um conceito difuso e polissêmico). Somos cobrados a “ter identidade” (também uma outra noção do senso comum bastante confusa, pois entende que podemos “perder” nossa identidade). Bem, em nossa trajetória pessoal e os contatos sociais que vão se sucedendo ao longo da vida, temos a oportunidade de obter informações ou participar de diferentes grupos que relacionam os elementos culturais de forma original e passam a construir uma “identidade própria”. Nesse contato, podemos nos identificar mais, ou menos com cada tipo Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 91 de comportamento, nos fazendo mais próximos ou distantes de uma ou outra forma de identidade coletiva. Essa identidade pode ser compreendida dentro dos seguintes processos: o - relacional: é “em relação” ao outro que afirmamos nossa identidade. o - processual: faz parte de um sistema complexo (pois inclui a referência dada pelo grupo, a subjetividade, as relações entre os vários grupos com diferentes identidades e assim por diante), e contínuo ao longo da vida de cada indivíduo. o - contrastiva: para que se destaque de forma única, cada grupo precisa se fazer contrastar dos demais. A referência da diferença é o que faz a identidade. Nas sociedades modernizadas atualmente, podemos encontrar um amplo espectro de grupos que se identificam de forma bem distinta, o que faz com que pareça que identidade é sempre uma questão de escolha, uma opção. Mas não é exatamente assim que acontece no cotidiano das pessoas. Para cada grupo social existem identidades que são hegemônicas, ou seja, dominantes em relação a muitas outras. Estamos falando sobre a forma como certos grupos exercem PODER sobre outros. As identidades hegemônicas correspondem a modelos do padrão moral, que são impostos a todos os indivíduos dessa dada sociedade, tanto através de mecanismos de socialização, como através da punição moral e da vigilância através de normas e leis. Desta forma, há como um “padrão” de comportamento social, e desde que as atitudes dos indivíduos se enquadrem dentro desse padrão aceito, a identidade cultural de um ou outro grupo que crie uma identidade será aceita pela maioria que segue o modelo imposto. Entretanto, existem processos de constituição de grupos com identidades que de alguma forma negam ou entram em conflito com esse padrão hegemônico. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 92 Nesse caso, a sociedade tenta reprimir o processo de desenvolvimento dessas identidades, tratando os indivíduos participantes através de estratégias que geram exclusão social – o estereótipo, o estigma, o preconceito. Quando há uma severa desaprovação relacionada a certa identidade social, seus participantes passam a receber um tratamento social desigual cuja mensagem bastante clara é: “não aceitamos sua identidade”. Ser estigmatizado em função de características de comportamento ou crenças é algo que podemos encontrar em referência a diversas identidades sociais ao longo da história. O estereótipo se realiza quando a sociedade cria uma imagem mental (um imaginário) falso com idéias que reduzem a identidade cultural de um certo grupo a conteúdos que pretendem denegrir, diminuir a importância desse tipo de comportamento. É como comumente se diz, “rotular alguém”. Os critérios que possibilitam criar essas idéias não possuem comprovação e não são demonstráveis, mas possuem força moral sobre a maioria dos indivíduos do grupo. O preconceito é um julgamento estabelecido previamente a qualquer conhecimento aceitável. É um conceito sobre pessoas que é pré-estabelecido. Um préconceito de fato, pois se organiza em torno de associações lógicas questionáveis e sem contato com a realidade sobre a qual pretende afirmar qualquer coisa. Essas associações fazem a ligação entre características físicas e conteúdo mental, psicológico ou moral dos “outros”. “Os negros são inferiores”, “as louras são burras”, “os pobres são ladrões” são afirmações carregadas de preconceito. O termo “minorias sociais” surge a partir da década de 70 do séc. XX. Ele procurava designar a existência de grupos dentro da sociedade contemporânea, cujos traços característicos ou comportamento expresso não correspondiam ao modelo hegemônico. Por que essa referência de dimensões? Minoria e maioria? Exatamente a o que elas se referem? Apenas ao número de pessoas? Entendia-se que estatisticamente, a maioria das pessoas correspondia às expectativas dos padrões morais que regem a conduta dentro de nossa sociedade. Também Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 93 correspondia ao termo maioria, por conseguir impor através da hegemonia um modelo padrão de identificação. À minoria corresponderia então grupos estatisticamente inferiores, e inferiores também em termos de poder ou alcance para fazer valer a legitimidade de sua identidade coletiva. Atualmente o conceito de minoria se refere a essa dimensão da posse do poder de controle sobre a moral da sociedade ou da ausência desse mesmo poder. À posse do discurso sobre os direitos ou da ausência do reconhecimento social de direitos iguais. Não existe mais a noção de maioria ou minoria estatística, mesmo porque essa questão é muito relativa ao universo social ao qual esse ou aquele grupo pode estar relacionado. Num certo contexto a minoria é realmente menor estatisticamente em relação a certo universo de pessoas, mas em outro contexto essa minoria pode representar até mesmo uma maioria estatística. Uma minoria pode ser constituída por traços básicos de uma etnia, ou de uma forma de orientação da sexualidade, ou de uma crença. Um determinado grupo social passa a ser reconhecido como “minoria social” quando vem de alguma forma se expressar, exigindo um tratamento que não gere exclusão social ou desigualdade de direitos aos cidadãos. Um dos traços marcantes da sociedade contemporânea tem sido exatamente esse. Setores da sociedade que possuem características marcantes o suficiente para que lhes seja atribuída uma identidade, e que se organizam em torno de reivindicações de direitos sociais. É uma nova forma de atuação política, que foge dos padrões tradicionais e se organiza em torno de propostas de ação que gere impacto positivo, esclarecimento e receptividade da sociedade. São as chamadas “ações afirmativas”, cuja mobilização procura gerar um debate na sociedade em termos de direitos de igualdade e reverter situações de preconceito, estigma ou estereótipos. Afinal, quando as pessoas tomam contato com a realidade do outro há uma possibilidade de se abandonar preconceitos. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 94 São chamadas minorias hoje, principalmente grupos étnicos que em muitos lugares são oprimidos por sua condição de origem; grupos de orientação sexual não heterossexual (homossexuais, transgêneros, travestis, bissexuais); grupos de orientação religiosa não católica ou protestante. Ao lado das chamadas minorias sociais, podemos encontrar grupos que se organizam em torno de propostas de lazer, consumo, atividades lúdicas, arte e que em alguns casos, a atuação política se faz também presente. São as chamadas “tribos urbanas”. Em grandes cidades do mundo todo, desde o final da II Guerra Mundial, podemos testemunhar o fenômeno da formação desse tipo de constituição de uma coletividade. Com o crescimento do mercado capitalista de consumo, surgiu uma forma de expressão de identidades que com ele dialoga, as vezes rejeitando os mecanismos que seduzem os indivíduos a participar dele, as vezes colaborando para aumentar seu repertório. Esses grupos se constituem em torno de estilos de vida, construindo uma estética própria, atividades de sociabilidade, valores e rituais que os diferenciam da sociedade em geral. Vamos citar alguns: “rappers”, “metaleiros”, “jipeiros”, “skatistas”, “emos”, “góticos”, “moto bikers”, “modernos primitivos” (que praticam muitos estilos de modificação corporal como tatuagens, piercings, implantes, escarificação entre outros). Os grupos que se organizam em torno de estilos de vida, formando essas “tribos” são a expressão de novas formas de sensibilidade social. Normalmente, o senso comum considera “exagero” e reprime ou procura desmoralizar através do estigma, as pessoas que participam dessas tribos. O que esse fenômeno social nos mostra, para além do que o senso comum consegue compreender, é que atualmente os indivíduos procuram refletir sobre sua subjetividade e expressá-la de formas criativas e originais. Através da convivência nesses grupos, experimentam novas formas de convívio social e colocam em jogo novos valores. Sem a pretensão de se tornarem hegemônicos, eles provocam na sociedade uma reflexão sobre nossos padrões de conduta. E sobre a pesquisa antropológica? Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 95 Qual sua importância para essa temática das identidades contemporâneas? A pesquisa de campo reescreveu a história da antropologia. Ela veio a ser uma alternativa às chamadas “pesquisas de gabinete”, que se caracteriza por manter o pesquisador distante da vida real dos indivíduos que pretende conhecer. A partir do contato direto entre pesquisador e cultura pesquisada, os pressupostos sobre cultura e comportamento humano sofreram mudanças importantes. Nesse tipo de pesquisa, o cientista passa um longo período de tempo convivendo na cultura que quer conhecer. Ele se torna o que chamamos de “observador participante”. Ou seja, ele não chega com questionários prontos e não se preocupa com a quantidade de respostas obtidas para a mesma questão. Sua principal preocupação é obter “informantes”, que são pessoas que lhe facilitam o trânsito, os contatos e debatem com o pesquisador sobre suas dúvidas a respeito do que está sendo observado. Ele também não se limita a ser um observador, mas passa a participar de algumas atividades com seus anfitriões, procurando se colocar sempre que possível no lugar do outro. O principal portanto, é tentar encontrar uma perspectiva de abordagem desse outro, que seja diferente do olhar imparcial e distante do observador de laboratório. Ao observar, mas também participar, o pesquisador tem a oportunidade de utilizar o “olhar antropológico”. Ao mudar sua própria subjetividade, o pesquisador promove uma mudança interna de valores e permite que o outro seja interpretado dentro de seu próprio conjunto de conceitos, dentro de sua própria visão de mundo. Após a permanência em campo, o pesquisador se retira, física e subjetivamente. Esse distanciamento posterior é o período de reflexão sobre os dados obtidos, quando ele pode garantir que não estará sendo etnocêntrico, mas também procura evitar o risco de se transformar no outro. Como cientista, é necessária uma imparcialidade em seu discurso, e Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 96 há a procura de um meio termo, no qual o pesquisador consiga falar sobre o outro sem ser etnocêntrico, de fora para dentro, ou etnocêntrico, de dentro para fora. Assim, ele deve procurar a elaboração de uma interpretação que possa garantir a imparcialidade. Não está “em defesa” de ninguém, nem de sua própria cultura, nem da do outro. Os relatos produzidos pelos antropólogos em campo são chamados de “etnografias”, que literalmente significa o registro escrito da experiência étnica. As técnicas de observação de campo da antropologia passaram a influenciar muitos campos de estudo, que passaram a produzir pesquisas semelhantes. O resultado é que temos hoje uma grande produção de textos, teorias, teses e artigos que abordam ENCONTROS COM O OUTRO. Podemos refletir melhor sobre as relações com a diversidade. LEIA OS TEXTOS INDICADOS NA BIBLIOGRAFIA ANTES DE INICIAR OS EXERCÍCIOS PROPOSTOS! Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 97 Questões 3º tema 82) Uma característica marcante das identidades culturais no mundo globalizado contemporâneo é a que segue: A) a imposição de um único modelo referencial para a constituição das identidades, anulando a possibilidade da diversidade cultural; B) tem predominado a consciência sobre a necessidade de respeitar a diversidade cultural, por isso existe uma intensa troca de experiências culturais para definir todas as identidades atualmente; C) as identidades nacionais passam a ser mais importantes que as identidades globalizadas e desenraizadas; D) deixa de existir um único modelo de referências simbólicas para a construção das identidades, surgindo um número imenso de identidades grupais dentro de uma mesma sociedade; E) existe uma maior flexibilidade para que cada sociedade escolha qual cultura quer adotar como modelo; esse processo é portanto unicamente de caráter político, pois pressupõe que uma sociedade se posicione criticamente em relação ao multiculturalismo presente na mundialização (globalização) cultural. 83) As definições de ESTIGMA e ESTEREÓTIPO, podem ser aplicadas como se segue: A) Ao ser estigmatizado um indivíduo pode se libertar dos estereótipos associados à sua identidade, utilizando de forma autêntica os elementos que caracterizam suas escolhas reflexivas. B) O estigma pode ser uma característica simbólica, enquanto o estereotipo precisa ser baseado em características físicas, como certos tipos de vestuário, trejeitos ou interferências no corpo. C) Tanto o estigma como o estereótipo são instrumentos de referência para que possamos perceber a identidade do outro, sabendo como nos relacionar. D) O estereótipo associado a certas identidades sociais não possui qualquer relação com os estigmas que podem marcar a imagem social desse tipo de comportamento. E) Existe uma tendência de certos setores conservadores dos costumes de uma sociedade em estigmatizar certos traços de uma identidade, que passam então a ser utilizados como motivadores de práticas discriminatórias e preconceituosas, acabando por construir estereótipos que atingindo indistintamente todos que utilizarem tais traços. 84) O preconceito além de ser um mecanismo etnocêntrico de proteção das identidades sociais e culturais também pode funcionar como uma venda que impede os sujeitos de ver o mundo. A) sim, a afirmativa está correta, pois o preconceito e o etnocentrismo são as únicas práticas possíveis para que as diferenças culturais e valorativas dos sujeitos possam ser preservadas gerando uma visão que adapta o sujeito à sua própria cultura. B) sim, a afirmativa está correta, pois o preconceito é uma forma exacerbada de etnocentrismo e isso impede os sujeitos de atingirem uma experiência social mais próxima da totalidade que pode ocorrer quando incluímos o outro. C) não, a afirmativa está errada, pois o preconceito não é um mecanismo etnocêntrico e sim uma forma de intolerância com a diferença. D) não, a afirmativa está errada, pois a visão de mundo dos sujeitos não pode ser pode ser limitada pelo preconceito, e sim pelos filtros simbólicos da realidade. E) tudo é relativo, e muitas vezes o preconceito pode ajudar a aproximar as pessoas. 85) A importância da pesquisa de campo na observação antropológica do outro, pode ser corretamente associada com: A) pelo fato de terem oportunidade de conviver com o “outro”, os antropólogos podem compreender melhor e desenvolver planos de ação mais viáveis para as culturas estudadas, interferindo naquela realidade. B) o antropólogo necessita apoio áudio-visual de uma equipe especializada, pois a permanência em campo exige o registro imediato de todas as situações vividas. C) a antropologia aconselha aos pesquisadores que não abram mão de seus próprios valores, não se deixando influenciar pelo “outro” na experiência da observação participante. D) esse tipo de pesquisa exige uma mudança de valores por parte do pesquisador, para que seja possível compreender o “outro” a partir de sua própria visão de mundo. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 98 E) o objetivo da pesquisa de observação participante é dar voz ao “outro”; ao dar oportunidade do outro se posicionar, o antropólogo pode permanecer imparcial, sem se deixar influenciar pelas opiniões de seus entrevistados. 86) Realizar a pesquisa de observação participante exige uma mudança na subjetividade do pesquisador. Essa afirmação: A) está correta, pois como observador ele deve ignorar as opiniões das pessoas entrevistadas com o objetivo de obter imparcialidade em seu trabalho científico. B) está errada, pois a imparcialidade exige uma atitude de antipatia do pesquisador em relação aos entrevistados, para que não se envolva com eles. C) está correta, uma vez que o observador necessita estabelecer uma relação de empatia com os entrevistados, colocando-se no lugar do outro sem, entretanto, tomar partido em relação a ele. D) está errada, uma vez que ao partir para a pesquisa de campo o antropólogo deve ignorar tanto sua subjetividade quanto a dos entrevistados, mantendo uma atitude de empatia. E) está parcialmente correta, pois além de mudar a sua própria subjetividade, a pesquisa antropológica tem como um dos objetivos mudar também o ponto de vista do nativo. 87) Constituem elementos através dos quais podemos perceber a identidade e a manipulação simbólica que uma “tribo urbana” realiza: A) a coerência e a previsibilidade de seu comportamento perante os outros; B) a presença de traços que permitem aos “outros” reconhecê-los, podendo estar em sua vestimenta, gírias, crenças entre outros; C) a coerência e a previsibilidade de seus traços específicos como forma de distinguir-se dos demais; a coerência e a previsibilidade de seus traços específicos como forma de distinguir-se dos demais; D) a seleção totalmente arbitrária e incoerente de características que os tornem irreconhecíveis perante os outros; E) o “estilo” que se resume à sua aparência. 88) Malinowski foi o primeiro antropólogo a desenvolver a metodologia de pesquisa de campo que caracteriza até hoje a Antropologia. O tipo de pesquisa por ele criado é chamado de: A) Estruturalismo. B) Pesquisa de observação participante. C) Metáfora orgânica. D) Pesquisa de modelos culturais e diversidade. E) Antropologia Cultural. 89) Para LAPLANTINE, no livro “Aprender Antropologia” (pg. 81), o autor Malinowski foi responsável pela antropologia se tornar uma “ciência” da alteridade (da relação com o outro). Foi nesse momento que a antropologia recusa as teorias evolucionistas. Isso foi possível a partir de sua obra porque: A) ele se dedicou ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura, pois realizou as primeiras pesquisas de campo. B) é Malinowski o autor responsável por apontar incoerências e erros nas pesquisas de campo. C) sua obra permitiu encontrar exemplos suficientes para contrariar a teoria de que cada cultura tem uma lógica particular. D) o evolucionismo social se tornou tão radical que proibia os cientistas de realizar pesquisas de campo, e ele conseguiu superar tais limites. E) suas teses interessavam às elites que ocupavam o poder naquele momento, e isso permitiu um grande avanço das pesquisas e reflexões sobre a alteridade. 90) Para compreender mais profundamente o outro, aqueles comportamentos que são diferentes do nosso, é preciso reviver em si mesmo os sentimentos desse outro. Assim alcançamos o verdadeiro sentido da alteridade. Nas frases acima estão os princípios do(a): A) etnocentrismo Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 99 B) tribalismo urbano C) multiculturalismo D) sociedade contemporânea E) observação participante 91) Quando as tradições culturais de um grupo constituem o único modelo de referência para a construção da identidade cultural de seus indivíduos, podemos caracterizar essa sociedade como: A) comunidade relacional; B) sociedade tradicional; C) sociedade moderna; D) grupo complementar de identidade; E) modelo de diversidade cultural. 92) Quando as tradições culturais de um grupo deixam de ser o único modelo de referência para a construção da identidade cultural de seus indivíduos; além das tradições, os meios de comunicação podem influenciar os valores coletivos. Então podemos caracterizar essa sociedade como: A) comunidade relacional; B) sociedade tradicional; C) sociedade moderna; D) grupo complementar de identidade; E) modelo de diversidade cultural. 93) Leia o trecho do artigo de José Magnani, transcrito abaixo, utilize os conhecimentos adquiridos sobre o tema, e selecione a alternativa correta: Um primeiro significado, mais geral, de tribo urbana, tem como referente determinada escala que serve para designar uma tendência oposta ao gigantismo das instituições e do Estado nas sociedades modernas: diante da impessoalidade e anonimato destas últimas, tribo permitiria agrupar os iguais, possibilitando-lhes intensas vivências comuns, o estabelecimento de laços pessoais e lealdades, a criação de códigos de comunicação e comportamento particulares. Em outro contexto, tribo evoca o ‘primitivo’ e designa pequenos grupos concretos com ênfase não já em seu tamanho, mas nos elementos que seus integrantes usam para estabelecer diferenças com o comportamento ‘normal’: os cortes de cabelo e tatuagens de punks, carecas, a cor da roupa dos darks e assim por diante. (http://www.aguaforte.com/antropologia/magnani1.html.) A) as tribos urbanas refletem a tentativa de alguns jovens de fugir da massificação imposta pelo ritmo das grandes cidades e do capitalismo. B) as tribos urbanas refletem o comportamento selvagem de alguns jovens que não possuem cultura. C) tribos urbanas são os aglomerados de jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho. Como índio também não está acostumado a trabalhar, deu-se o nome de “tribo” a estes grupos. D) o jovem que participa de uma tribo urbana é um arruaceiro, sem cultura. E) tribos urbanas é um nome diferenciado para designar um bando de delinqüentes. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 100 94) Veja as imagens abaixo e assinale a alternativa que corresponde aos conceitos que mais se aproximam de cada uma delas consecutivamente: (1) (2) (3) (4) Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 101 (5) A) Diversidade cultural; etnocentrismo; xenofobia; ultra nacionalismo; multiculturalismo. B) Nacionalismo; educação multicultural; xenofobia ou racismo; nacionalismo; multiculturalismo. C) Racismo; estereótipo cultural; nacionalismo; multiculturalismo; ultra nacionalismo. D) Xenofobia; diversidade cultural; inclusão social; racismo; diversidade étnica. E) Multiculturalismo; diversidade cultural; tribalismo urbano; xenofobia; etnocentrismo. 95) “As pessoas que moram em aldeias pequenas, aparentemente remotas, em países pobres, do terceiro mundo, podem receber, na privacidade de suas casas, as imagens e as mensagens das culturas ricas, consumistas (...) através de aparelhos de TV ou de rádios portáteis (...) a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelo sistema de comunicação globalmente interligados”. Com base nessa frase citada acima, as identidades sofrem que tipo de ação? Assinale a alternativa correta: A) Se fortalecem, tornando-se mais regionais. B) Se fragmentam, a ponto de desaparecer. C) As identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições e parecem flutuar livremente. D) Não são afetadas, pois elas se constituem ao longo da vida e não mudam. E) As identidades ganham um novo sentido em função da globalização e da homogeneização mundial dos sistemas. 96) Leia a reportagem a seguir: Intolerância contra estrangeiros cresce na Suíça Considerado famoso por propaganda racista, ultradireitista Partido do Povo Suíço (SVP) é o maior do país Associated Press Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 102 Reprodução Preconceito: Cartaz do partido SVP promete 'criar segurança' ZURIQUE - De acordo com uma pesquisa divulgada em junho de 2006, um terço dos suíços é declaradamente xenófobo. Doudou Diène, relator especial da ONU para o racismo, afirmou recentemente que o racismo é uma grave questão na Suíça, principalmente porque as autoridades locais não acreditam que o problema seja sério. Segundo organizações de direitos humanos, a Suíça registrou 113 casos de violência relacionadas ao racismo em 2007, 30% a mais que em 2006. Segundo analistas, isso explica o crescimento do ultradireitista Partido do Povo Suíço (SVP), o mais votado nas eleições de 2007, com 29% dos votos. Na ocasião, o partido propôs expulsar estrangeiros e proibir que meninas muçulmanas usassem véus. Nos últimos anos, o SVP ganhou espaço com propagandas racistas. Em uma delas, ovelhas brancas chutam para fora da Suíça ovelhas negras. Em outra, o partido afirma que o aumento da criminalidade na Suíça ocorreu por causa da imigração. Em 2007, o partido conseguiu aprovar uma nova lei de naturalização que submete a aprovação da nacionalidade suíça a uma votação secreta feita pela comunidade onde vive o estrangeiro. A Suíça tem a maior população de imigrantes da Europa. Cerca de 1,5 milhão de pessoas, o equivalente a 25% da população, é de imigrantes. (publicado no jornal Estadão online, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009, 11:17, caderno INTERNACIONAL – Europa; http://www.estadao.com.br/internacional/not_int322757,0.htm ) Compare com a outra reportagem abaixo: FOLHA ON LINE Cotidiano Saiba mais sobre o caso da brasileira Paula Oliveira na Suíça da Folha Online A advogada brasileira Paula Oliveira, 26, que mora na Suíça, afirmou ter sido espancada por supostos skinheads em uma estação de trem nos arredores de Zurique, no dia 9 de fevereiro, e teve parte do corpo retalhado por estilete. Ela disse ainda que estava no terceiro mês de gestação de gêmeos e que havia sofrido aborto após a agressão.(...) A brasileira deixou no dia 17 de fevereiro o Hospital Universitário de Zurique, onde estava internada após a suposta agressão. No dia seguinte, ela passou oficialmente de vítima a suspeita no caso. O Ministério Público de Zurique abriu um processo penal contra ela por falsa denúncia, depois que exames mostraram que Paula não estava grávida no momento da suposta agressão, como ela tinha declarado às autoridades. Com a decisão, Paula não poderá deixar o país até o fim das investigações. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 103 No dia 19 de fevereiro, o Ministério Público confirmou que a brasileira mentiu sobre as agressões que afirmou ter sofrido e também sobre a gravidez. O depoimento foi colhido no dia 13. De acordo com o comunicado feito pela Promotoria, Paula admitiu que fez os ferimentos em si mesma. O órgão investiga se o ato foi planejado e se há outras pessoas envolvidas. (Publicado pela Folha online, 25/02/2009 - 12h02, http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u509078.shtml ) De acordo com o conteúdo das reportagens, a leitura correta da perspectiva da Antropologia é a que segue: A) A Suíça tem sofrido muito com a invasão de estrangeiros e para garantir o bem estar de seus cidadãos a sociedade tem se organizado contra essa presença; a brasileira em questão nada mais fez do que denunciar atos de xenofobia e reivindicar seus direitos. B) Tem crescido na Suíça a presença de imigrantes estrangeiros e uma das reações dessa sociedade tem sido o etnocentrismo; a brasileira utilizou do recurso do relativismo cultural para tentar se beneficiar do conflito etnocêntrico. C) Tem crescido na Suíça a presença de imigrantes estrangeiros e uma das reações dessa sociedade tem sido a xenofobia; o caso da brasileira pode ser atribuído a uma ação política individual que envolve questões como conflitos étnicos, de identidade e a importância dos meios de comunicação de massa atualmente. D) Das questões envolvidas, a mais importante se refere ao bem estar dos cidadãos suíços que, como mostra a imagem do cartaz reproduzido na reportagem, precisam se defender da presença da diversidade cultural. E) Através das reações da sociedade suíça, que ficam nítidas no cartaz de campanha política reproduzido na reportagem, percebemos a urgência no mundo contemporâneo da solução para as questões de convívio multicultural; uma das ações mais efetivas como política afirmativa é apoiar atos como o da brasileira. Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 104 Gabarito dos Testes: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 C E C B A B C C E A C B A B D E C D E 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 B C D D A B D E C E C B B B C C A E B A 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 B E A C D A E C B B D C B C A B 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 C C C A D E A B A C B B C A 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 B A D B C B D C A E D E 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 D E B D C B B A E B C A B C C Homem e Sociedade – material desenvolvido pela UNIP – disponível, também, para o aluno no site da universidade. 105